Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Este artigo faz um levantamento de práticas potencias que evidenciam as narrativas, por meio
da resposta generativa de sistemas audiovisuais inteligentes ao usuário, seja por escolhas,
histórico ou manipulação técnica. Para elencar as potencialidades, a pesquisa realiza um
levantamento teórico atrelado a estudos de caso de produções experimentais que evidenciam o
desenvolvimento de novas formas narrativas. As análises incluem historicidade,
responsividade, colaboração, campo exploratório, construção generativa e posicionamento de
usuários. Dessa forma, a pesquisa contribui para uma análise sobre novas práticas narrativas,
que geram desafios comunicacionais para compreender tanto a produção, quanto a fruição dos
conteúdos
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho analisa as apropriações de interface e estética pela narrativa audiovisual e suas
diversas formas de significação para a construção de sistemas audiovisuais inteligentes. De
forma a dialogar com pesquisas já realizadas por meio de um estudo exploratório, este
artigo aponta práticas potenciais para o processo de criação, distribuição e consumo de um
produto, ou sistema, audiovisual contemporâneo. De modo geral, é possível identificar
processos de migração dos dispositivos, das interfaces que buscam entender o cenário de
exposição do conteúdo, das imagens que englobam cada vez mais dados, e por isso são
escalonáveis, e principalmente do espectador, que cada vez mais se configura como usuário
interator e co-autor da narrativa.
Dessa forma, torna-se pertinente analisar como os novos recursos, baseados em uma
postura mais ativa do expectador, afetam a extensão do universo narrativo.
Tradicionalmente, histórias são contadas por diretores e produtores usando recursos
1
Trabalho apresentado no DT 4 – Comunicação Audiovisual do XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região
Nordeste realizado de 07 a 09 de julho de 2016.
2
Pesquisador LAVID-UFPB e-mail: rafaelmtoscano@gmail.com
3
Doutor em Ciências, professor dos Programas de Pós-graduação em Jornalismo (PPJ) e Pós-graduação em Computação,
Comunicação e Artes (PPGCCA), da UFPB. e-mail: valdecir@ci.ufpb.br
1
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
2
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
que “Não devemos, portanto, permitir que a (forma cinema) se imponha como um dado
natural, uma realidade incontornável” (ibdem, 2009, p.5). Prosseguindo o pensamento,
Dubois (2013) elenca uma nova configuração de cinema que marca toda evolução, ruptura e
correlação ao modelo tradicional. A este fenômeno o autor atribui o termo pós-cinema.
Outro elemento que aponta essa transferência de espaço, e dispositivo, é a própria
fragilidade do ideal de cinema. Considerando que o ambiente ideal de projeção (sala escura,
silêncio, equipamento de projeção e de áudio adequados) muitas vezes está ausente, e que
nem sempre a narrativa é clássica, com uma história estruturada, muitos filmes são
atracionais, abstratos ou experimentais Maciel (2009).
Filmes nativos da internet ou filmes digitais são apontados como “Filmes que não utilizam
o meio apenas como método de distribuição, mas incorporam sua flexibilidade” (PERCY
apud BERNARDES, 2015, p.14). A partir deste conceito, damos início a discussão acerca
dos fatores que descrevem a natureza digital dos filmes.
O período/etapa do cinema apontado pelos autores como digital é a base para a construção
do percurso a seguir. A possibilidade de uma representação numérica comum, possibilita ao
vídeo, que antes era uma experiência de fluxo, se relacionar como um sistema de arquivos
flexíveis e manuseáveis. Essa dinâmica de narrativas fluídas e adaptativas trazem novos
caminhos de fruição Cirino (2010). De acordo com Manovich (2001), as características
identificadoras das novas mídias são: representação numérica, automação, modularidade,
variabilidade e transcodificação. Um pequeno aprofundamento nesses conceitos é
importante para a identificação de apropriações estéticas que fogem da construção
tradicional. Cirino (2010) relaciona as definições propostas por Manovich (2001) e
exemplifica no trecho a seguir.
A partir da análise da literatura será reconhecido por esse trabalho que, além da significação
inicial, o sistema audiovisual tem como atributo a justaposição de blocos informacionais
3
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
contendo cenas, ou pequenas unidades dramáticas, que podem ser conectadas entre si. A
construção do coeficiente de adaptação, ou melhor, da responsividade (seção 4.2), é o que
confere ao sistema a perspectiva de expandir os limites da narrativa.
Sobre a dimensão do segundo sujeito da narrativa (o usuário) Cannito (2010) afirma que o
espectador não busca apenas a superfície da história, ele quer entrar na imagem. Esse
posicionamento do público é definido por Jenkins (2008) como cultura participativa. A
partir desse entendimento ativo do usuário Cirino (2012b) classifica a participação do
público em três níveis: 1) Interpretativo; 2) Transmídia; 3) interativo; com base nessa
classificação podemos expandir o entendimento dessa presença.
Sobre o modo interpretativo, “Um receptor de informação, a menos que esteja morto, nunca
é passivo” (LÉVY, 2010, p.79). O caráter interpretativo também é definido por
(SANTIAGO JÚNIOR, 2004, p.4). “O espectador bordwelliano não é, porém, um leitor
ideal, mas uma entidade hipotética executora de operações relevantes para construir uma
estória fora da representação do filme”. A estrutura fílmica independente da presença ou
não da interação compõem um acervo de símbolos e signos que serão organizados e
processados pelo espectador.
4
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
Podemos considerar ainda a abordagem relacionada por Cirino (2010), em que o interator
está diante de dois modos de fruir o filme: através da visibilidade ou da fantasmagoria.
Sobre a ausência de interface, ou fantasmagoria, o autor considera tal prática como uma
capacidade ilusória de imersão Cirino (2012b). Uma vez que na ausência de mediadores
gráficos o posicionamento do usuário pela interatividade se volta para metáforas e
multicritérios visuais Morais et al. (2012).
5
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
4. Práticas potenciais
A ruptura com o valor de culto a imagem, trouxe à tona o valor do manuseio técnico e
discursivo. Atrelado a um posicionamento ativo dos usuários, novas dinâmicas foram
surgindo, como o cinema digital, o cinema expandido, o cinema expandido digitalmente, o
cinema interativo, o cinema quântico/neurocinema e, finalmente, o live cinema Maciel
(2009), Aly (2012). De modo a dialogar com os estudos desenvolvidos e apresentados, este
trabalho relaciona dinâmicas de apropriação de estética e interface, de forma a contribuir
com o levantamento já documentado.
6
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
7
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
Em concordância com a fala anterior (ECO apud CIRINO, 2012b) afirma que essas
estruturas dão novo significado a relação entre conteúdo e usuário. “Uma mais articulada
noção do conceito de forma, a forma como um campo de possibilidades”. Sendo assim é
possível reconhecer a historicidade ou responsividade como um atributo da narrativa
interativa que busca expandir o campo reativo e gerar um valor narrativo complexo para o
processo.
8
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
O termo construção generativa foi utilizado neste trabalho para representar sistemas
audiovisuais inteligentes que fazem uso de dados do usuário, ou do dispositivo de
reprodução, para construir relações narrativas. A capacidade de um software gerar
agrupamentos narrativos que se relacionam com a estrutura de módulos de forma
responsiva é apresentada por Manovich (2001) como o princípio da automação. Com o
intuito de ilustrar essa dinâmica foi escolhido o projeto Bear 71 5desenvolvido pela National
Film Board.
O sistema audiovisual Bear 71, é uma aplicação audiovisual interativa e colaborativa que
apresenta a história do Parque Nacional de Banff, com foco na conscientização da relação
do homem e espaço (fauna e flora). A premissa inicial do projeto é acompanhar o trajeto de
um urso que foi identificado pelo rastreador de número 71. A partir desta apresentação, o
usuário se depara com um ambiente virtual que representa toda a extensão geográfica do
parque. Esta interface é extremamente rica em dados, como: câmeras de monitoramento,
4
Disponível no site: http://www.shell.com.au/aboutshell/lets-go-tpkg/sound-of-energy.html
5
Disponível no site: http://bear71.nfb.ca/#/bear71
9
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
Uma segunda significação pode ser atribuída ao termo construção generativa, relacionada à
aplicação da estrutura de módulos narrativos para construir uma interface por meio da
visualização dos dados. O Bear 71 aplica essa dinâmica de modo a reforçar a espacialidade
do parque. Pequenos módulos de vídeo são distribuídos pela superfície de acordo com seu
posicionamento geográfico e pela composição da premissa narrativa do autor e dos
usuários.
Estruturas audiovisuais com base nos dados do usuário são práticas potencias para geração
de conteúdo personalizado. Outra aplicação dessa dinâmica são as ações do facebook6, que
através de um algoritmo constrói vídeos personalizados para cada um dos usuários com
base nas atividades e interações na plataforma. De forma geral, essas aplicações são válidas
para relacionar os rastros de navegação afim de retomar a historicidade do usuário e
promover uma relação com a marca, ou simplesmente, com o universo temático narrativo
em questão. Outro case que ilustra bem o potencial desta dinâmica é o documentário
interativo Limbo7. O filme coleta dados de email, mídias sociais, câmera e microfone, para
inserir as informações na estrutura narrativa como mecanismo de validar o argumento do
filme, mantendo um memorial coletivo e digital construído, que normalmente se perde ao
longo dos anos.
A relação entre mundo real e mundo da tela se dá pelo recorte visual escolhido pelo diretor,
logo pontos de interesse do usuário podem ficar de fora Block (2010). “Desse modo
elementos do extraquadro são desconsiderados como parte consumível. [...]. No entanto, há
cenários em que os elementos tanto do extraquadro quanto do intra quadro possuem
6
Disponível no site: http://newsroom.fb.com/news/2016/02/friends-day/
7
Disponível no site: http://inlimbo.tv/en/documentary
10
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
relevância” (TOSCANO; BECKER, 2015, p.1). Somado a essa questão dois fenômenos
enriquecem a discussão: 1) Evolução constante das resoluções em vídeo (4K,8K,16K); 2)
Crescimento do consumo de vídeo por dispositivos móveis; sobre esta relação,
Como exemplo dessa dinâmica, podemos citar o Instituto Fraunhofer, que desenvolveu um
experimento objetivando a criação de imagens panorâmicas de altíssima resolução para
eventos ao vivo, através de 5 câmeras 2K. O agrupamento das câmeras de forma a originar
uma imagem super wide com uma deformação óptica possibilita ao usuário que se depara
com a imagem escalável em um dispositivo móvel uma experiência diferenciada. É possível
definir essa nova percepção através da aplicação de dois conceitos básicos do audiovisual:
deformação óptica e movimento relativo, em que o usuário tem a percepção de
espacialidade e profundidade do movimento. Ao invés dos experimentos tradicionais de
zoom que simulam unicamente o deslocamento de uma máscara virtual nos eixos X e Y da
8
With recent capturing systems for UHD video, new types of media experiences are possible where end users have the
possibility to choose their viewing direction and zoom- ing level. Different examples of such interactive region-of- interest
(ROI) video streaming have been demonstrated or deployed. For example, in the entertainment sector, web streaming and
mobile app solutions are available that cover events with a 360-degree video camera.
11
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
Este conceito de campo exploratório apresenta grande potencial para a relação entre vídeos
de altíssimas resoluções e dispositivos móveis, redirecionamento de pontos de interesse e
relação ativa do usuário. Como vimos, outras aplicações que expandem este conceito são a
integração com a colaboração de usuários, vídeo 360 graus e realidade virtual.
5. Conclusão
12
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
REFERÊNCIAS
13
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/2016
LÉVY, P. Cibercultura. Traducao Calos Irineu Da Costa. 34. ed. São Paulo: [s.n.]. v. 3
MACIEL, K. A Forma Cinema: Variações e Rupturas. In: Transcinemas. Contra cap ed.
Rio de janeiro: p. 431,2009.
14