RESUMO
ABSTRACT
1 Estudante de Graduação 3º. ano do Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo, email: lucoferre@
gmail.com
2 Orientador do trabalho. Professor do Curso Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo, email: atconsentino@
gmail.com
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LUÍZA COFERRE DOS SANTOS E ANDRÉ TEZZA CONSENTINO
INTRODUÇÃO
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PUBLICIDADE DIRIGIDA ÀS CRIANÇAS: A REGULAMENTAÇÃO NA ERA DIGITAL
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Também com grande força no cenário nacional, atua o Instituto Alana, uma
ONG criada e presidida pelos principais acionistas do Grupo Itaúsa. O Instituto
Alana tem a missão de “honrar a criança” e “atua em atividades e projetos em prol do
desenvolvimento das capacidades plenas e da defesa dos direitos das crianças e dos
adolescentes”.6
A ONG também é responsável, desde 2006, pelo programa Criança e Consumo,
cujo objetivo está em “divulgar e debater ideias sobre as questões relacionadas à
publicidade dirigida às crianças, assim como apontar caminhos para minimizar e
prevenir os prejuízos decorrentes dessa comunicação mercadológica”.7
Em decorrência da comunicação mercadológica apontada pelo Instituto Alana,
a ONG luta pela proibição da publicidade dirigida ao público infantil, através de um
Projeto de Lei (PL n° 5.921/2001) que intenciona acrescentar um parágrafo ao artigo
37 do Código de Defesa do Consumidor a fim de proibir “a publicidade destinada a
promover a venda de produtos infantis”.8
Certifica-se, inclusive, que o Superior Tribunal de Justiça tem decidido no
sentido de entender como abusivas publicidades direcionadas às crianças. Um
exemplo disso ocorreu em 2016, com a marca Pendurata Alimentos, na campanha
“É hora de Shrek”9. A ação era composta por um comercial televisivo interpretado
por uma criança e dispunha como destaque a seguinte frase: “Olha só o meu relógio,
que demais! Eu juntei cinco embalagens do ‘Gulosos’ e mais cinco reais e ganhei um
relógio do Shrek Terceiro!”.
Posteriormente, a publicidade denunciada pelo Instituto Alana foi proibida
e caracterizada como duplamente abusiva. Para o STJ, o fato de ser a publicidade
direcionada às crianças já faz dela abusiva, e além disso, o contexto do anúncio foi
entendido como “manipulador” do universo infantil, por meio da “venda casada”.
Nesse sentido, o professor titular do departamento de psicologia da USP, Yves de
La Taille, destaca a respeito do discernimento da criança:
6 INSTITUTO ALANA. Disponível em: < http://alana.org.br/saiba-mais/ >. Acesso em 20 jun. 2016.
7 INSTITUTO ALANA. Crianças e Consumo. Disponível em: <http://alana.org.br/project/crianca-e-consumo/>. Acesso
em 20 jun. 2016.
8 Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=43201>. Acesso em 20
jun. 2016.
9 Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/arquivos/2016/4/art20160419-10.pdf>. Acesso em 20 jun. 2016
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PUBLICIDADE DIRIGIDA ÀS CRIANÇAS: A REGULAMENTAÇÃO NA ERA DIGITAL
O consumo está em todo lugar: nas vitrines, no comportamento dos pais, nas
embalagens, no cinema, nas ruas. A publicidade é parte de um todo muito
maior. Educar para um consumo responsável e sustentável é tarefa de todos.
E a melhor forma de educação não é a censura do mundo (o que é inútil, pois
impossível), mas mediá-lo de forma crítica. Nesta mediação, cabe aos pais
frustrar o desejo de consumo dos filhos, algo que vem sendo negligenciado por
muitos, e é uma das causas de consumo desenfreado entre as crianças. (TEZZA,
2016, n.p.)
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apresenta expansão nos canais pagos. Contudo, é evidente que nos dias atuais as
mídias como televisão e rádio não possuem o mesmo impacto de décadas passadas.
Com os avanços da Internet, as novas mídias ganham cada vez mais relevância e a
sociedade já não é passiva da informação, como quando atuava como receptora linear
da televisão.
Tendo em vista que meio de comunicação é uma das definições para a mídia,
cabe lembrar a clássica ideia de Marshall McLuhann, de que “o meio é a mensagem”.
Para o autor, o interesse não está na mensagem em si, e sim na influência e mudança
que o meio causa em sociedade.
Percebe-se, de fato, que o desenvolvimento da internet possibilitou novas formas
de comunicação através de diferentes redes sociais, canais online e sites em que a
informação pode ser acessada em tempo real, ampliando a interação do público com
o conteúdo veiculado.
Manuel Castells aplicou seus estudos a respeito da sociedade conectada e avanços
tecnológicos analisando a Internet como o meio pelo qual a sociedade habita em
rede globalizada, sendo a Internet a “espinha dorsal” da atual sociedade. “A Internet
passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da Era da Informação: a
rede”. (2003, p. 7).
Sabendo disso, é possível analisar ainda melhor como os avanços tecnológicos
tornaram a sociedade conectada e mais acessível para informação, tanto para fatores
positivos quanto negativos. De acordo com Marisa Costa, “as crianças de hoje nascem
dentro da cultura consumista e crescem modelando-se segundo seus padrões e suas
normas”. (2009, p. 35-36).
Dados do IBOPE Nielsen Online mostraram que em maio de 2012, “internautas
com idade entre 2 e 11 anos permaneceram em média 17 horas conectados ao
computador”11. Em outra matéria divulgada pelo Ibope Inteligência, o instituto sinaliza
que naquele mês “o número de internautas de 2 a 11 anos de idade cresceu 15%”.12
Se compararmos as pesquisas realizadas pelo Ibope Inteligência no ano de 2012
com dados do ano de 2005, em que as crianças brasileiras de quatro a onze anos
de idade estavam expostas ao conteúdo televisivo por cerca de 4,5 horas diárias,
notaremos a migração da programação para as mídias online e mobile, tendo em vista
a mudança no hábito de consumo do público. Logo, as mídias online possuem grande
alcance sobre a população, inclusive concernente à criança, que trocou as horas na
frente da televisão por jogos no tablet ou canais de vídeos online, como o site Youtube.
Ao citar o site de vídeos Youtube, observa-se a recente matéria divulgada pela
BBC Brasil, em 18 de junho de 2016, a qual divulga novas denúncias do Instituto
Alana e órgão de Defesa do Consumidor acerca da publicidade destinada ao público
infantil. A denúncia diz respeito aos youtubers mirins (crianças que possuem
conta nessa rede social), divulgarem para seus seguidores vídeos de presentes que
receberam de diferentes empresas, como forma de destacar o produto para o público
11 IBOPE. Disponível em: <http://www.ibopeinteligencia.com/noticias-e-pesquisas/criancas-brasileiras-sao-as-que-
ficam-mais-tempo-conectadas-a-internet/>. Acesso em 20 jun. 2016.
12 IBOPE. Disponível em: <http://www.ibopeinteligencia.com/noticias-e-pesquisas/cresce-o-numero-de-criancas-que-
utilizam-a-internet-no-brasil/>. Acesso em 20 jun. 2016.
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Se publicidade para criança não pode na TV, porque poderia na internet? Para
o Idec, está claro que essa prática de enviar produtos para os youtubers mirins
é totalmente abusiva, porque usa uma criança para vender algo para outra
criança. Para nós, não existe legalidade em publicidade direcionada ao público
infantil.14
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que a publicidade sofreu, fazendo com que esta minorasse o incentivo às mídias
tradicionais como televisão e impressos, as quais são mais fáceis de fiscalizar, e
desenvolvesse o conteúdo para os meios digitais.
A marca em estudo não é exceção na alteração do meio de veiculação de
publicidade, uma vez que disponibiliza conteúdo em redes sociais e anúncios no
Google.
A indústria Pampili atua no segmento de calçados desde 1987 e ao longo dos
anos se especializou em calçados infantis. Hoje em dia, a empresa de grande porte
produz aproximadamente trinta e cinco mil pares diários de calçados, vendidos no
Brasil e mais quarenta países. Além dos calçados, a Pampili está presente no mercado
da moda vendendo roupas, acessórios, bolsas e perfumes para as meninas até quatorze
anos de idade.16
A fábrica da Pampili está situada no município de Birigui, em São Paulo. A cidade
é uma referência no setor de calçados infantis, por conta do número de indústrias que
atuam no mesmo segmento.
Com o histórico das indústrias disponibilizado no museu virtual da cidade, é
possível perceber em entrevista do fundador da Pampili, José Roberto Colli, que a
empresa desde o início buscou se adequar nas tendências do mercado, tendo “o olhar
voltado para o futuro”.17 Em 2004, a empresa optou por seguir um nicho de mercado
específico e restringiu a fabricação de calçados infantis para calçados infantis
femininos, uma vez que o consumo dos produtos para as meninas era de 40% a mais
que dos meninos.18
Com a reformulação da identidade da marca, que foi direcionada totalmente para
o público infantil feminino, a Pampili seguiu tendências tanto nos produtos como na
comunicação. Foi a primeira marca a priorizar anúncios televisivos nos canais de
assinatura, e posteriormente, a marca passou a investir parte do orçamento para as
mídias online e redes sociais, como aplicativos, Facebook, Instagram, Twitter, Blog
e YouTube.
A migração da marca para o universo online ocorreu em grande parte no ano de
2014, com um novo projeto que intencionava desenvolver o próprio conteúdo, sem
interferir na programação das crianças, fato que acontecia ao utilizar anúncios no
meio televisivo.
Junto com a Snack, empresa brasileira que agencia canais no YouTube, a Pampili
colocou em prática o conteúdo próprio da marca por meio do canal “Mundo da
Menina”, ao veicular vídeos com assuntos direcionados para o público alvo, utilizando
cinco atrizes mirins como apresentadoras dentro de um cenário que simula o quarto
das meninas.19
Dois anos após iniciar o conteúdo na rede social, o canal possui mais de um
16 Disponível em: <http://museubirigui.com.br/industria-de-calcados-pampili/>. Acesso em 8 de outubro de 2016.
17 Idem.
18 Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-exame-pme/edicoes/27/noticias/mundinho-cor-de-rosa-593508>.
Acesso em 12 de outubro de 2016.
19 Disponível em: <http://www.portalmakingof.com.br/pampili_lanca_canal_quotmundo_da_meninaquot_no_youtube.
html>. Acesso em 8 de outubro de 2016.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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