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ENEM-2014: Publicidade infantil em


questão no Brasil

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JOSÉ QUERINO DE MACÊDO NETO


Se o conceito censitário de publicidade entende o uso de recursos estilísticos da
linguagem, a exemplo da metáfora e das frases de efeito, como atrativo na vendagem de
produtos, a manipulação de instrumentos a serviço da propaganda infantil produz
efeitos que dão margem mais visível ao consumo desnecessário.
Com base nisso, estabelecem-se propostas de debate social acerca do limite de
conteúdos designados a comerciais televisivos que se dirigem a tal público. Faz-se
preciso, no entanto, que se ressaltem as intenções das grandes empresas de comércio: o
lucro é, sobretudo, ditador das regras morais e decisivo na escolha das técnicas
publicitárias. Para Marx, por exemplo, o capital influencia, através do acúmulo de
riquezas, os padrões que decidem a integração de um indivíduo no meio em que ele se
insere — nesse caso, possuir determinados produtos é chave de aceitação social,
principalmente entre crianças de cuja inocência se aproveita ao inferir importâncias na
aquisição.
Em contraposição a esses avanços econômicos e aos interesses dos grandes
setores nacionais de mercado infanto-juvenil, os órgãos de ativismo em proteção à
criança utilizam-se do Estatuto da Criança e do Adolescente para defender os direitos
legítimos da não-ludibriação, detidos por indivíduos em processo de formação ética. Não
obstante, a regulamentação da propaganda tende a equilibrar os ganhos das empresas
com o crescente índice de consumo desenfreado.
Cabe, portanto, ao governo, à família e aos demais segmentos sociais estimular o
senso crítico a partir do debate em escolas e creches, de forma a instruir que as
necessidades individuais devem se sobrepor às vontades que se possuem, a fim de coibir
o abuso comercial e o superconsumo.

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JUAN DA COSTA
Muito se discute acerca dos limites que devem ser impostos à publicidade e
propaganda no Brasil - sobretudo em relação ao público infantil. Com o advento do meio
técnico-científico informacional, as crianças são inseridas de maneira cada vez mais
precoce ao consumismo imposto por uma economia capitalista globalizada - a qual
preconiza flexibilidade de produção, adequando-se às mais diversas demandas. Faz-se
necessário, portanto, uma preparação específica voltada para esse jovem público, a fim
de tornar tal transição saudável e gerar futuros consumidores conscientes.
Um aspecto a ser considerado remete à evolução tecnológica vivenciada nas
últimas décadas. Os carrinhos e bonecas deram lugar aos "smartphones", videogames e
outros aparatos que revolucionaram a infância das atuais gerações. Logo, tornou-se
essencial a produção de um marketing voltado especialmente para esse consumidor
mirim - objetivando cativá-lo por meio de músicas, personagens e outras estratégias
persuasivas. Tal fator é corroborado com a criação de programas e até mesmo canais
voltados para crianças (como Disney, Cartoon Network e Discovery Kids), expandindo o
conceito de Indústria Cultural (defendido por filósofos como Theodor Adorno) - o qual
aborda o uso dos meios de comunicação de massa com fins propagandísticos.
Somado a isso, o impasse entre organizações protetoras dos direitos das crianças
e os grandes núcleos empresariais fomenta ainda mais essa pertinente discussão. No
Brasil, vigoram os acordos isolados com o Poder Público - sem a existência de leis
específicas. Recentemente, a Conanda (Comissão Nacional de Direitos da Criança e do
Adolescente) emitiu resolução condenando a publicidade direcionada ao público infantil,
provocando o repúdio de empresários e propagandistas - que não reconhecem
autoridade dessa instituição para atuar sobre o mercado. Diante desses posicionamentos
antagônicos, o debate persiste.
Com o intuito de melhor adequar os "consumidores do futuro" a essa realidade, e
não apenas almejar o lucro, é preciso prepará-los para absorver as muitas informações.
Isso pode ser obtido por meio de campanhas promovidas pelo Poder Público nas escolas
(com atividades lúdicas e conscientizadoras) e na mídia (TV, rádio, jornais impressos,
internet), bem como a criação de uma legislação específica sobre marketing infantil no
Brasil - fiscalizando empresas (prevenindo possíveis abusos) - além de orientação aos
pais para que melhor lidem com o impulso de consumo dos filhos (tornando as crianças
conscientes de suas reais necessidades). Dessa forma, os consumidores da próxima
geração estarão prontos para cumprirem suas responsabilidades quanto cidadãos
brasileiros (preocupados também com o próximo) e será promovido o desenvolvimento
da nação.

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MARIA EDUARDA DE AQUINO CORREA ILHA


De acordo com o movimento romântico literário do século XIX, a criança era um
ser puro. As tendências do Romantismo influenciavam a temática poética brasileira
através da idealização da infância. Indo de encontro a essa visão, a sociedade
contemporânea, cada vez mais, erradica a pureza dos infantes através da influência
cultural consumista presente no cotidiano. Nesse contexto, é preciso admitir que a
alegação de uma sociedade conscientizada se tornou uma maneira hipócrita de esconder
os descaso em relação aos efeitos da publicidade infantil no país.
Em primeiro plano, deve-se notar que o contexto brasileiro contemporâneo é
baseado na lógica capitalista de busca por lucros e de incentivo ao consumo. Esse
comportamento ganancioso da iniciativa privada é incentivado pelos meios de
comunicação, que buscam influenciar as crianças de maneira apelativa no seu dia-a-dia.
Além disso, a ausência de leis nacionais acerca dos anúncios infantis acaba por
proporcionar um âmbito descontrolado e propício para o consumo. Desse modo, a má
atuação do governo em relação à publicidade infantil resulta em um domínio das
influências consumistas sobre a geração de infantes no Brasil.
Por trás dessa lógica existe algo mais grave: a postura passiva dos principais
formadores de consciência da população. O contexto brasileiro se caracteriza pela falta de
preocupação moral nas instituições de ensino, que focam sua atuação no conteúdo
escolar em vez de preparar a geração infantil com um método conscientizador e
engajado. Ademais, a família brasileira pouco se preocupa em controlar o fluxo de
informações consumistas disponíveis na televisão e internet. Nesse sentido, o despreparo
das crianças em relação ao consumo consciente e às suas responsabilidades as tornam
alvos fáceis para as aquisições necessárias impostas pelos anúncios publicitários.
Torna-se evidente, portanto, que a questão da publicidade infantil exige medidas
concretas, e não um belo discurso. É imperioso, nesse sentido, uma postura ativa do
governo em relação à regulamentação da propaganda infantil, através da criação de leis
de combate aos comerciais apelativos para as crianças. Além disso, o Estado deve
estimular campanhas de alerta para o consumo moderado. Porém, uma transformação
completa deve passar pelo sistema educacional, que em conjunto com o âmbito familiar
pode realizar campanhas de conscientização por meio de aulas sobre ética e moral. Quem
sabe, dessa forma, a sociedade possa tornar a geração infantil uma consumidora
consciente do futuro, sem perder a pureza proposta pelo Movimento Romântico.

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MARIANA PEREIRA PIMENTA


A publicidade vem sendo valorizada com a constante globalização, onde o
marketing se apropria em atingir diferentes parcelas populacionais. A questão da
publicidade infantil vem ganhando destaque no cenário mundial, sendo criticadas suas
grandes demandas dirigidas à criança, persuadindo-as em favor do consumismo.
Com a crescente classe média do país, onde milhares de brasileiros são
favorecidos pelos créditos governamentais, o consumismo vem afetando toda essa
parcela populacional, deixando no passado a falta de eletrodomésticos e a participação
social favorecida as elites. Com participação das principais mídias, agrava o abuso do
imaginário infantil ao mesmo tempo em que favorece na distinção do benéfico e maléfico
ao padrão de vida individual.
É cabível que a anulação da publicidade infantil põe em xeque os ideais
democráticos, confrontando tanto as famílias como o mercado publicitário,
discriminando tal faixa etária ao mesmo tempo prejudicando o mercado consumidor,
fator que pode levar a uma crise interna e abdicar do desenvolvimento comercial de um
país subdesenvolvido.
Portanto, a busca da comercialização muitas vezes abrange seu favorecimento
através do imaginário infantil com os ideais seguidos por seus ídolos. Entretanto, é de
responsabilidade dos pais na conscientização do bom e/ou ruim, em conjunto com a
escolaridade infantil na abdicação do consumismo ao mesmo tempo em que o governo
estude medidas preventivas que busquem o controle da exploração publicitária sem que
atrapalhe o andar econômico do país.

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NATHALIA CARDOZO
Produtos e serviços são necessários a qualquer sociedade. Dentre eles, estão
serviços de planos de saúde, financiamento de moradias, compra de roupas e alimentos,
entre outros elementos presentes no âmbito social. A publicidade e a propaganda
exercem papel essencial na divulgação desses bens. No entanto, é preciso atenção por
parte dos consumidores para analisar e selecionar que tipos de propagandas são
fidedignas, e no caso de publicidade direcionada a crianças e adolescentes, essa medida
nem sempre é possível.
Em um primeiro plano, é importante constatar que as crianças não possuem
capacidade de analisar os prós e contras da compra de um produto. Nesse sentido, os
elementos persuasivos da propaganda têm grande influência no pensamento dos
indivíduos da Primeira Idade, já que personagens infantis, brinquedos e músicas
conhecidas por eles estimulam uma ideia positiva sobre o produto ou serviço anunciado,
mas não uma análise do mesmo. Infere-se, assim, que a utilização desses recursos é
abusiva, uma vez que vale-se do fato de a criança ser facilmente induzida e do apego às
imagens de caráter infantil, considerando apenas o êxito do objetivo da propaganda:
persuadir o possível consumidor.
Além disso, observa-se que as ações do Conselho Nacional de
Autorregulamentação Publicitária (Conar) são importantes, porém insuficientes nesse
quesito. O Conar busca, entre outros aspectos, impedir a veiculação de propagandas
enganosas, porém respeita o uso da persuasão. Assim, ao longo dos anos, pode-se
perceber que o Conar não considera o apelo infantil abusivo e permitiu a transmissão de
propagandas destinadas ao público infantil, já que essas permanecem na mídia. Diante
desse raciocínio, é possível considerar a resolução do Conselho Nacional de Direitos da
Criança e do Adolescente (Conanda) válida e necessária para a contenção dos abusos
propagandísticos evidenciados.
Tendo em vista a realidade abusiva da propaganda infantil, é necessário que o
Conar e o Conanda trabalhem juntos para providenciar uma análise ainda mais criteriosa
dos anúncios publicitários dirigidos à primeira infância, a fim de verificar as técnicas de
indução utilizadas. Ademais, a família e o sistema educacional brasileiro devem
proporcionar às crianças uma educação relacionada a questões analíticas e
argumentativas para que, já na adolescência, possam distinguir de maneira cautelosa as
intenções dos órgãos publicitários e a validez das propagandas. Dessa forma, será
possível conter os abusos e estabelecer justiça nesse contexto.

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RAPHAEL LUAN CARVALHO DE SOUZA


Durante o século XX, o estímulo à produção industrial, por Getúlio Vargas, e o
incentivo à integração nacional, de Juscelino Kubitschek, foram fatores que
possibilitaram a popularização dos meios de comunicação no Brasil. Com isso, cresceu
também a publicidade infantil, que busca introduzir nas crianças, desde cedo, o princípio
capitalista de consumo. No entanto, essa visão negativa pode ser significativamente
minimizada, desde que acompanhada de uma forte base educacional que auxilia as
crianças a discernir por meio do desenvolvimento de senso crítico próprio.
É indiscutível a presença de fatores prejudiciais nas propagandas dirigidas a essa
faixa etária. Segundo o conceito de felicidade, discutido na filosofia da antiguidade por
Aristóteles, a eudaimonia é alcançada com a união equilibrada entre razão e satisfação de
prazeres. Contudo, evidencia-se que, na infância, o indivíduo não possui ainda
discernimento racional suficiente, o que faz com que a criança, ao ter acesso a
publicidades, pense que o produto divulgado é extremamente necessário. Isso acarreta,
de forma negativa, a formação de jovens e adultos excessivamente consumistas.
Entretanto, essa tendência pode ser revertida se somada à instrução adequada do
público-alvo do mercado publicitário infantil. Segundo a tábula rasa de John Locke,
nascemos como uma folha em branco, sem conhecimento, e o adquirimos por meio da
experiência. A partir desse pensamento, é possível entender que é função dos pais educar
as crianças, haja vista que estas são influenciadas pelo meio em que vivem. Com o apoio
da base familiar, somada à escolar, cria-se o senso crítico, que possibilita a gradativa
menor influência da linguagem publicitária. Desse modo, evidencia-se que o poder de
persuasão do mercado apelativo não é absoluto.
Por fim, entende-se que, embora a publicidade infantil seja preocupante, tal
efeito é reduzido com o desenvolvimento do senso crítico, seja na base familiar, seja na
escolar. A fim de atenuar o problema, o Estado deve implementar, no ensino de base,
projetos educacionais de análise de linguagens com o auxílio do Ministério da Educação
e Cultura e governos municipais, visando a evidenciar, para a faixa etária infantil, a suma
relevância da consciência sobre reais necessidades de consumo. Dessa forma, a folha em
branco ao nascer poderá ser preenchida, formando cidadãos, de fato, conscientes.

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ROSELY COSTA SOUSA


A grande preocupação hoje, nas políticas públicas, é propiciar um melhor
atendimento integral à criança, principalmente no que se refere ao desenvolvimento
moral, social, político e cultural enquanto sujeito ativo e participante dos plenos direitos e
deveres na sociedade, conforme as normas declaradas no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).
Sabe-se que a educação, tanto nas escolas quanto no lar, é a melhor opção para se
chegar a um objetivo promissor, além de promover o desenvolvimento integral da
criança, porém tal fato tem sofrido mudanças ultimamente decorrentes do avanço
tecnológico e de inovações ideológicas quanto à forma de aprimorar e preparar a criança,
desde o nascimento, para receber as informações que há no mundo exterior. Diante disso,
as escolas e os pais devem preocupar-se em desenvolver na criança, o seu lado
consumidor, através de situações do dia a dia, auxiliando-a e orientando-a a se tornar um
bom consumidor, sendo necessário e importante para se obter uma aprendizagem
significativa da sua realidade.
Em relação à publicidade infantil, percebe-se que a tendência das empresas e
fabricantes de produtos infantis é aumentar seus negócios e divulgar seus produtos
infantis tendo como alvo, o universo infantil, o que isso, sobretudo, recai nas
responsabilidades dos adultos que acabam cedendo-a a adquirir, de forma compulsiva, o
produto anunciado.
No Brasil, a publicidade infantil é comum, principalmente em datas
comemorativas tais como Dia das Crianças e Natal, porém defende e apoia a legislação
que controla e evita abusos do setor que realiza tal publicidade.
No entanto, espera-se que a publicidade infantil assuma um caráter educativo, apesar de
ser persuasivo, não afetando os direitos e os deveres da criança, dentro das normas
contidas na legislação do país. As escolas e, sobretudo os pais, devem orientar as crianças
a tornarem-se bons consumidores, realizando a escolha certa do produto, conscientes de
suas atitudes na sociedade em adquirir tal produto a fim de não tornarem-se
consumidoras compulsivas.

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ANTÔNIO IVAN ARAÚJO


A publicidade infantil movimenta bilhões de dólares e é responsável por
considerável aumento no número de vendas de produtos e serviços direcionados às
crianças. No Brasil, o debate sobre a publicidade infantil representa uma questão que
envolve interesses diversos.
Nesse contexto, o governo deve regulamentar a veiculação e o conteúdo de
campanhas publicitárias voltadas às crianças, pois, do contrário, elas podem ser
prejudicadas em sua formação, com prejuízos físicos, psicológicos e emocionais.
Em primeiro lugar, nota-se que as propagandas voltadas ao público mais jovem podem
influir nos hábitos alimentares, podendo alterar, consequentemente, o desenvolvimento
físico e a saúde das crianças. Os brindes que acompanham as refeições infantis ofertados
pelas grandes redes de lanchonetes, por exemplo, aumentam o consumo de alimentos
muito calóricos e prejudiciais à saúde pelas crianças, interessadas nos prêmios. Esse
aumento da ingestão de alimentos pouco saudáveis pode acarretar o surgimento precoce
de doenças como a obesidade.
Em segundo lugar, observa-se que a publicidade infantil é um estímulo ao
consumismo desde a mais tenra idade. O consumo de brinquedos e aparelhos eletrônicos
modifica os hábitos comportamentais de muitas crianças que, para conseguir
acompanhar as novas brincadeiras dos colegas, pedem presentes cada vez mais caros aos
pais. Quando esses não podem compra-los, as crianças podem ser vítimas de piadas
maldosas por parte dos outros, podendo também ser excluídas de determinados círculos
de amizade, o que prejudica o desenvolvimento emocional e psicológico dela.
Em decorrência disso, cabe ao Governo Federal e ao terceiro setor a tarefa de
reverter esse quadro. O terceiro setor – composto por associações que buscam se
organizar para conseguir melhorias na sociedade – deve conscientizar, por meio de
palestras e grupos de discussão, os pais e os familiares das crianças para que discutam
com elas a respeito do consumismo e dos males disso. Por fim, o Estado deve regular os
conteúdos veiculados nas campanhas publicitárias, para que essas não tentem convencer
pessoas que ainda não têm o senso crítico desenvolvido. Além disso, ele deve multar as
empresas publicitárias que não respeitarem suas determinações. Com esses atos, a
publicidade infantil deixará de ser tão prejudicial e as crianças brasileiras poderão crescer
e se desenvolver de forma mais saudável.

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DANDARA LUIZA DA COSTA


“O ornamento da vida está na forma como um país trata suas crianças”. A frase
do sociólogo Gilberto Freyre deixa nítida a relação de cuidado que uma nação deve ter
com as questões referentes à infância. Dessa forma, é válido analisar a maneira como o
excesso de publicidade infantil pode contribuir negativamente para o desenvolvimento
dos pequenos e do Brasil.
É importante pontuar, de início, que a abusiva publicidade na infância muda o
foco das crianças do que realmente é necessário para sua faixa etária. Tal situação torna
essas crianças pequenos consumidores compulsivos de bens materiais, muitas vezes
desapropriados para determinada idade, e acabam por desvalorizar a cultura imaterial,
passada através das gerações, como as brincadeiras de rua e as cantigas. Prova disso são
os dados da UNESCO afirmarem que cerca de 85% das crianças preferirem se divertir
com os objetos divulgados nas propagandas, tornando notório que a relação entre ser
humano e consumo está “nascendo” desde a infância.
É fundamental pontuar, ainda, que o crescimento do Brasil está atrelado ao tipo
que infância que está sendo construída na atualidade. Essa relação existe porque um país
precisa de futuros adultos conscientes, tanto no que se refere ao consumo, como às
questões políticas e sociais, pois a atenção excessiva dada à publicidade infantil vai gerar
adultos alienados e somente preocupados em comprar. Assim, a ideia do líder Gandhi de
que o futuro dependerá daquilo que fazemos no presente parece fazer alusão ao fato de
que não é prudente deixar que a publicidade infantil se torne abusiva, pois as crianças
devem lidar da melhor forma com o consumismo.
Dessa forma, é possível perceber que a publicidade infantil excessiva influencia
de maneira negativa tanto a infância em si como também o Brasil. É preciso que o
governo atue iminentemente nesse problema através da aplicação de multas nas
empresas de publicidade que ultrapassarem os limites das faixas etárias estabelecidos
anteriormente pelo Ministério da Infância e da Juventude. Além disso, é preciso que essas
crianças sejam estimuladas pelos pais e pelas escolas a terem um maior hábito de ler,
através de concessões fiscais às famílias mais carentes, em livrarias e papelarias, distando
um pouco do padrão consumista atual, a fim de que o Brasil garanta um futuro com
adultos mais conscientes. Afinal, como afirmou Platão: “o importante não é viver, mas
viver bem”.

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GEOVANA LAZZARETTI SEGAT


A propaganda é a principal arma das grandes empresas. Disseminada em todos
os meios de comunicação, a ampla visibilidade publicitária atinge seu principal objetivo:
expor um produto e explicar sua respectiva função. No entanto, essa mesma função é
distorcida por anúncios apelativos, que transformam em sinônimos o prazer e a compra,
atingindo principalmente as crianças.
As habilidades publicitárias são poderosas. O uso de ídolos infantis, desenhos
animados e trilhas sonoras induzem a criança a relacionar seus gostos a vários produtos.
Dessa maneira, as indústrias acabam compartilhando seus espaços; como exemplo as
bonecas Monster High fazendo propaganda para o fast food Mc Donalds. A falta de
discussão sobre o assunto é evidenciada pelas opiniões distintas dos países. Conforme a
OMS, no Reino Unido há leis que limitam a publicidade para crianças como a que proíbe
parcialmente – em que comerciais são proibidos em certos horários -, e a que personagens
famosos não podem aparecer em propagandas de alimentos infantis. Já no Brasil há a
autorregulamentação, na qual o setor publicitário cria normas e as acorda com o governo,
sem legislação específica.
A relação entre pais, filhos e seu consumo se torna conflituosa. As crianças
perdem a noção do limite, que lhes é tirada pela mídia quando a mesma reproduz que
tudo é possível. Como forma de solucionar esse conflito, o governo federal pode criar leis
rígidas que restrinjam a publicidade de bens não duráveis para crianças. Além disso, as
escolas poderiam proporcionar oficinas chamadas de “Consumidor Consciente” em que
diferenciam consumo e consumismo, ressaltando a real utilidade e a durabilidade dos
produtos, com a distribuição de cartilhas didáticas introduzindo os direitos do
consumidor. Esse trabalho seria efetivo aliado ao diálogo com os pais.
Sérgio Buarque de Hollanda constatou que o brasileiro é suscetível a influências
estrangeiras, e a publicidade atual é a consequência direta da globalização. Por
conseguinte é preciso que as crianças, desde pequenas, saibam diferenciar o útil do fútil,
sendo preparados para analisar informações advindas do exterior no momento em que
observarem as propagandas.

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JULIANA NEVES SILVA DUTRA


A Revolução Industrial, ocorrida inicialmente na Inglaterra durante o século
XVIII, trouxe a necessidade de um mercado consumidor cada vez maior em função do
aumento de produção. Para isso, o investimento em publicidade tornou-se um fator
essencial para ampliar as vendas das mercadorias produzidas. Na sociedade atual,
percebe-se as crianças como um dos focos de publicidade. Tal prática deve ser restringida
pelo Estado para garantir que as crianças não sejam persuadidas a comprar determinado
produto.
A partir da mecanização da produção, o estímulo ao consumo tornou-se um fator
primordial para a manutenção do sistema capitalista. De acordo com Karl Marx, filósofo
alemão do século XIX, para que esse incentivo ocorresse, criou-se o fetiche sobre a
mercadoria: constroi-se a ilusão de que a felicidade seria alcançada a partir da compra do
produto. Assim, as crianças tornaram-se um grande foco das empresas por não
possuírem elevado grau de esclarecimento e por serem facilmente persuadidas a
realizarem determinada ação.
Para atingir esse objetivo, as empresas utilizam da linguagem infantil, de
personagens de desenhos animados e de vários outros meios para atrair as crianças. O
Conselho Nacional de Direitos de Criança e do Adolescente aprovou uma resolução que
considera a publicidade infantil abusiva, porém não há um direcionamento concreto
sobre como isso vai ocorrer. É imprescindível uma maior rigidez do Estado sobre as
campanhas publicitárias infantis, pois as crianças farão parte do mercado consumidor e
devem ser educadas para se tornarem consumidores conscientes.
Logo, o Estado deve estabelecer um limite para os comerciais voltados ao público
infantil por meio da proibição parcial, que estabelece horários de transmissão e faixas
etárias. Além disso, o uso de personagens de desenhos animados em campanhas
publicitárias infantis deve ser proibido. Para efetivar as ações estatais, instituições como a
família e a escola devem educar as crianças para consumirem apenas o que é necessário.
Apenas assim o consumo consciente poderá se realizar a médio prazo.

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ENEM-2015: A persistência da violência


contra a mulher na sociedade brasileira

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FÁBIO LOPES JÚNIOR


A Revolução Francesa foi responsável por levar ao mundo os ideais de liberdade,
igualdade e fraternidade. Desde lá, de fato, o movimento feminista busca a
universalização dos direitos civis e sociais, promovida pela Revolução. Entretanto, é
notório que os valores patriarcalistas, os quais consideram a mulher inferior ao homem,
insistem em permear as diversas instâncias sociais brasileiras, inserindo a inverdade de
um possível controle masculino sobre o corpo da mulher, o que desemboca em crimes de
violência e assédio contra elas.
Nesse sentido, a educação familiar e escolar oferecida aos meninos difere, ainda,
da oferecida às meninas. Dessa maneira, é possível observar que desde pequenas, as
crianças recebem valores conservadores que separam socialmente homens e mulheres
por diferenças biológicas, oferecendo privilégios aos primeiros. Assim, quando adultos,
os indivíduos ajudam a propagar o machismo, de modo que a superioridade idealizada
pelo homem chega a passar despercebida pela sociedade civil, como a exemplo do
sucesso obtido por músicas que incitam, claramente, a violência contra as mulheres.
Ademais, as políticas públicas de combate à violência doméstica e ao feminicídio,
por exemplo, encontram dificuldades na falta de denúncias. Nesse contexto, os diversos
assédios morais e físicos sofridos diariamente pelas mulheres não recebem a devida
punição. Isso pode ser ilustrado pela campanha lançada nas redes sociais, em outubro de
2015, intitulada “#PrimeiroAssédio”, na qual as mulheres traziam à tona relatos de atos
de violência masculina que não foram devidamente punidos.
Em suma, a violência é fruto de valores machistas persistentes na sociedade.
Portanto, é necessário que a escola e as famílias, como agentes educadores, mostrem aos
seus filhos que as diferenças biológicas entre homens e mulheres não são fatores de
superioridade e inferioridade, consoante o pensamento da filósofa ilumina Mary
Wollstonecraft, “a mente não tem gênero”. Além disso, ONGs de defesa da mulheres
devem, por meio das redes sociais, apresentar as diversas formas de denúncia e os
direitos garantidos a elas pela Constituição. Por fim, é importante que as grandes mídias
apresentem em suas novelas e programas exemplos de mulheres bem-sucedidas e
independentes de uma presença masculina, de modo a atenuar o machismo.

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ANA SANTANA MOIOLI


Figuras como Simone de Beauvoir, pensadora francesa, revolucionaram a
discussão sobre igualdade de gênero em escala global, dando grande força ao movimento
feminista nas últimas décadas. Inspirada na teoria existencialista de seu parceiro Sartre,
Simone propôs que a existência precede a essência em todos os seres humanos, homens
ou mulheres, de modo que a hierarquização ligada ao sexo biológico fosse uma completa
convenção social. Apesar disso, no Brasil, o gênero feminino ainda encontra grandes
dificuldades a serem superadas, com ênfase na persistente violência contra a mulher.
Embora já tenha havido notáveis avanços nessa luta, a mulher brasileira ainda é
vítima de diversos tipos de agressões. A Lei Maria da Penha, que estabelece punições aos
agressores, é um exemplo de conquista do movimento, tendo levado à justiça mais de 330
mil casos entre setembro de 2006 e março de 2011, segundo dados divulgados pela revista
“IstoÉ”. Por outro lado, neste mês de outubro, discute-se no poder legislativo a ideia de
tornar novamente proibido o aborto em casos de estupro. Isto representa o risco de
inúmeras mulheres (sobretudo as menos favorecidas), cuja dignidade já foi ferida no
abuso sexual, perderem suas vidas em abortos clandestinos. Desse modo, é importante
reconhecer que já houve, sim, vitórias, mas ainda se veem fortes resistências à batalha
feminina.
Algo que contribui para o enraizamento da noção de inferioridade da mulher na
mente dos brasileiros e, portanto, para a persistência de tal violência é a representação
feminina na mídia. Mesmo em 2015, comerciais de cerveja, por exemplo, reduzem a
figura das brasileiras a objetos sexuais, cujo único objetivo é servir os homens. Ao mesmo
tempo, propagandas de produtos de limpeza a reproduzem a ainda existente relação
aparentemente natural entre a mulher e a cozinha, sendo o marido o único capaz de
trabalhar na sociedade e sustentar a família. Assim, a diferenciação entre gêneros torna-se
quase inconsciente, o que acaba servindo como justificativa para que os números de
mulheres agredidas não sejam levados tão a sério.
Os apontamentos acima evidenciam a necessidade de que sejam tomadas
medidas a fim de proteger a mulher brasileira. O Estado deve ampliar a legislação
voltada para a publicidade que expõe a figura feminina. É também preciso que escolas
públicas e privadas invistam em discussões sobre gêneros, visando desconstruir
convenções sociais. A mídia, na mesma linha, em vez de reificar a mulher, deveria
promover programas de conscientização sobre o tema. Por fim, cabe à sociedade
pressionar o governo em nome da regulamentação da prática do aborto, cuja proibição
representa a falta de reconhecimento de uma violência em massa contra as mulheres.

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AMANDA DELLA TOGNA TORRES


O preconceito contra o sexo feminino é um problema que assola o cotidiano pós-
moderno, sendo inúmeras as formas por meio das quais tal discriminação se apresenta.
Seja por meio da violência física, psicológica, sexual ou patrimonial, as mulheres têm
sofrido nas mãos de agressores que veem no sexo feminino um elemento "frágil",
ideologia que é a completa antítese das democracias contemporâneas, supostamente
liberais e igualitárias. Nesse contexto, deve-se discutir a persistência da violência contra a
mulher na sociedade brasileira.
Desde os primórdios da civilização, foi criado um estereótipo que reservava às
mulheres apenas as funções domésticas e de procriação, excluindo a possibilidade de seu
ingresso nas esferas da política ou mesmo do trabalho. Todavia, tal estereótipo vem
sendo desconstruído, ao passo que as mulheres conquistam mais espaço nas relações
sociais, políticas e econômicas ao redor do mundo. Toma-se como exemplo as lideranças
políticas alemã, argentina e, principalmente, brasileira: hoje, tais cargos são exercidos por
mulheres, realidade improvável há algumas décadas.
Todavia, ideologias preconceituosas e agressivas ainda são inerentes à sociedade
brasileira, constituindo um entrave ao progresso da nação como um todo. Este quadro se
torna evidente ao serem apresentados dados disponibilizados no site da revista "Istoé":
no período de setembro de 2006 a março de 2011, mais de 330 mil processos com base na
Lei Maria da Penha foram instaurados nos juizados e varas especializados. É no mínimo
incoerente que, em pleno século XXI, junto a um cenário pautado pelas ideias de
igualdade e liberdade como base fundamental de toda e qualquer democracia, ainda
existam milhares de mulheres sofrendo por agressões de natureza absolutamente
injustificável.
Assim, é imprescindível que medidas sejam tomadas para a compleição de uma
democracia justa e igualitária em sua plenitude. Desse modo, cabe ao Governo tornar
mais rígida a legislação concernente ao bem-estar do sexo feminino, tomando as devidas
providências quando algo estiver em desacordo com o que prega a Lei; às escolas, cabe o
dever de instruir as gerações futuras quanto à igualdade entre os cidadãos de uma
democracia, conscientizando-os do caráter absurdo presente em atos discriminatórios e
agressivos. Por fim, lança-se um apelo às vítimas, ressaltando-se que a denúncia é a
forma mais eficiente de se combater o problema. Afinal, à guisa de Simone de Beauvoir, o
opressor não seria tão forte se não encontrasse cúmplices entre os próprios oprimidos.

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CECÍLIA MARIA LIMA


Historicamente, o papel feminino nas sociedades ocidentais foi subjugado aos
interesses masculinos e tal paradigma só começou a ser contestado em meados do século
XX, tendo a francesa Simone de Beauvoir como um dos expoentes do movimento por
igualdade de gênero. Conquanto tenham sido obtidos avanços no que diz respeito aos
direitos civis, a violência contra a mulher é uma problemática persistente no Brasil, uma
vez que ela se dá–na maioria das vezes– no âmbito doméstico. Esse fato se deve às
dificuldades em denunciar o agressor e à vergonha de se expor e assumir a condição de
vítima.
Com efeito, ao longo das últimas décadas, a mulher ganhou notável destaque nas
representações políticas e no mercado de trabalho. As relações na vida privada, contudo,
ainda obedecem a uma lógica machista em muitas famílias. Nesse contexto, a agressão
parte de um pai, irmão, marido ou filho, condição de parentesco essa que desencoraja a
vítima a prestar queixas, visto que há um vínculo sanguíneo e afetivo que ela teme
romper.
Outrossim, é válido salientar que a violência de gênero está presente em todas as
camadas sociais. Ela se revela não apenas nas marcas físicas de um assassinato ou
estupro, mas também nos atos de misoginia e ridicularização da figura feminina em
hábitos culturais como piadas e músicas populares. Essa é a opressão simbólica da qual
trata o sociólogo Pierre Bourdieu: a violação aos Direitos Humanos não consiste somente
no embate físico, ela está, sobretudo, no ato de perpetuar preconceitos que atentam
contra a dignidade de um grupo social.
Destarte, o Brasil está alguns passos à frente de outros países em relação ao
combate à violência contra mulheres, tendo em vista, por exemplo, a Lei Maria da Penha.
Entretanto, é necessário endurecer as penalidades para coibir essa prática. Assim, uma
iniciativa plausível tomada pelo Congresso Nacional no intuito de tipificar o feminicídio
como crime de ódio e hediondo deve fazer com que agressores tenham penas maiores a
cumprir. Em contrapartida, o Estado deve aumentar o número de delegacias de apoio à
mulher com turnos de 24 horas para que a sociedade também colabore denunciando. O
debate sobre essa questão deve ser permanente nas escolas e no meio social, pois só
assim é possível transformar maus preconceitos em uma cultura de paz.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

ISADORA FURTADO
A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira é um
problema muito presente. Isso deve ser enfrentado, uma vez que muitas mulheres sofrem
diariamente com esta questão. Nesse sentido, dois aspectos fazem-se relevantes: o legado
histórico-cultural e o que é previsto por lei.
Segundo a História, a mulher sempre foi vista como inferior e submissa ao
homem. Prova disso é o fato de elas poderem exercer direitos políticos, ingressarem no
mercado de trabalho e escolherem suas próprias roupas muito tempo depois do gênero
oposto. Esse cenário, juntamente aos inúmeros casos de violência contra as mulheres,
corroboram a ideia de que elas são vítimas de um legado histórico-cultural. Nesse
ínterim, a cultura machista foi a que prevaleceu ao longo dos anos e enraizou-se na
sociedade contemporânea, mesmo de forma implícita à primeira vista.
Conforme previsto pela Constituição Brasileira, todos são iguais perante à lei,
independente de cor, raça e gênero, sendo a isonomia salarial, aquela que prevê o mesmo
salário para os que desempenham a mesma função, também garantida por lei. No
entanto, o que se observa em diversas partes do país é a gritante diferença entre os
salários de homens e mulheres, principalmente se esta for negra. Esse fato causa extrema
decepção e constrangimento a elas, as quais sentem-se inseguras e sem ter a quem
recorrer. Desse modo, medidas fazem-se necessárias para solucionar a problemática.
Diante dos argumentos supracitados, é dever do Estado proteger as mulheres da
violência, seja física ou moral, criando leis mais rígidas e punições mais severas para
aqueles que cometem agressões contra as mulheres. Some-se a isso investimentos em
educação, valorizando e capacitando os professores, no intuito de formar cidadãos mais
comprometidos com o bem-estar de todos.

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LUANA NATÁLIA DE SENA


Simone de Beauvoir, filósofa francesa e nome importante do feminismo do século
XX, já advertiu: não se nasce mulher, torna-se. Ou seja, não há nada na biologia feminina
que determine sua inferioridade frente aos homens. Essa submissão, creditada pelo
machismo e imposta socialmente às garotas desde a tenra infância, faz da mulher objeto
e, por isso, alvo de inúmeras atrocidades, como a violência. Tal pensamento arcaico de
que mulheres são posses de terceiros e não seres autônomos é decisivo para a existência
dessa realidade. É preciso uma união entre mulheres cientes de seus direitos e uma
sociedade que preze pelo bem estar dos seus cidadãos para mudar o atual quadro
brasileiro.
Ditados populares, como o famoso "em briga de marido e mulher ninguém mete
a colher", demonstram a falta de empatia em relação às mulheres que vivem em
relacionamentos abusivos, tidos por muitos como fato normal. Não raro a violência chega
a ser romantizada, principalmente em novelas: se bateu é porque ama. Toda essa
alienação contribui para a existência de mulheres inseguras e assombradas, que não
conseguem aproveitar plenamente sua liberdade com medo de represálias de um
parceiro.
Ademais, além da violência física por parte de cônjuges, a mulher é passível de
outros tipos de violência no momento em que sai às ruas, haja vista a cultura do estupro
e do assédio que vigora no país. Apesar de relatar o contexto de outra nação latino-
americana, Isabel Allende, em "A Casa dos Espíritos", demonstra que, devido ao mesmo
passado colonial, o Brasil assemelha-se bastante aos seus vizinhos, visto que o livro é
palco de variados casos de estupros cometidos por um patrão que pensa ser dono de suas
empregadas.
A violência contra a mulher persiste no país, portanto, devido ao sexismo e ao
machismo de suas instituições. Para reverter essa cruel realidade, é possível que as
universidades criem cursos de extensão junto às áreas de Psicologia, Serviço Social e
Filosofia destinados à realização de palestras que versem sobre as consequências do
feminicídio na sociedade. Também, cabe ao governo melhorar o serviço das delegacias
destinadas à mulher, a fim de que a vítima seja acolhida por profissionais preparados.
Por fim, o movimento feminista, aliado à mídia, deve promover campanhas destinadas a
empoderar cada vez mais mulheres, para que elas não sejam silenciadas como foram suas
avós.

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PAULA VITÓRIA MACEDO


Há algumas décadas, era comum que a mulher estivesse associada apenas aos
papéis de mãe, esposa e dona de casa. Através dos movimentos sociais ocorridos entre as
décadas de 1970 e 1980, essa situação mudou: a mulher conquistou seu espaço no
mercado de trabalho e na sociedade, passando a ter direitos políticos, por exemplo.
Entretanto, apesar das conquistas, entre elas a Lei Maria da Penha, a mulher continua a
sofrer diversos tipos de violência, decorrentes do pensamento machista e patriarcal que
ainda são perpetuados na sociedade brasileira.
Ainda que a violência física e sexual sejam as mais óbvias, são várias as formas
como se pratica a violência contra a mulher. Um dessas formas é a violência psicológica,
praticada através dos ideais de beleza impostos pela mídia e pela sociedade, os quais
reificam o corpo feminino. Prova disso é que as mulheres ainda são utilizadas como
objetos para a satisfação e admiração masculina em propagandas de cerveja, por
exemplo. Outra forma de violência é a moral: mulheres continuam sendo assediadas no
trabalho, nas ruas e nos transportes coletivos. Somada ao assédio no trabalho, está ainda
a disparidade de salários entre homens e mulheres: dados do IBGE apontam que o
salário da mulher pode chegar a ser 30% inferior ao de homens que ocupam o mesmo
cargo. Já a violência sexual é justificada socialmente através da cultura de estupro, por
meio da qual a culpa é atribuída a vítima. Dessa maneira, mulheres continuam sendo
privadas de sua liberdade para vestir sair ou ser o que quiserem.
Sendo assim, essas formas de violência, que muitas vezes passam despercebidas
pela sociedade, são frutos de uma cultura machista que ainda prevalece no Brasil. Afinal,
apesar de todas as conquistas que a mulher obteve e das leis que a protege, não houve
quaisquer reformas que possibilitassem a quebra das estruturas que sustentam e
justificam essas violências. Dessa forma, meninos continuam sendo educados para
comandar a mulher enquanto meninas continuam sendo educadas para serem donas de
casa. Esse modelo binário de educação de gênero é o principal fator que permite a
persistência da violência contra a mulher.
Nesse contexto, faz-se necessário mudar o pensamento machista sob o qual a
violência se sustenta. Assim, em primeiro lugar, o Estado deve regular as propagandas
que reificam o corpo feminino. Somado a isso, deve promover a igualdade entre os
salários bem como deve garantir segurança das mulheres nos transportes coletivos e nas
ruas, através de investimentos em segurança pública. Em segundo lugar, deve-se
implementar nas escolas e universidades uma educação de gênero por meio da qual se
desconstrua, paulatinamente o pensamento patriarcal.

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RAPHAEL LUAN CARVALHO DE SOUZA


Ao longo do processo de formação do Estado brasileiro, do século XVI ao XXI, o
pensamento machista consolidou-se e permaneceu forte. A mulher era vista, de maneira
mais intensa na transição entre a Idade Moderna e a Contemporânea, como inferior ao
homem, tendo seu direito ao voto conquistado apenas na década de 1930, com a chegada
da Era Vargas. Com isso, surge a problemática da violência de gênero dessa lógica
excludente que persiste intrinsecamente ligada à realidade do país, seja pela insuficiência
de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social.
É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas
do problema. De acordo com Aristóteles, a política deve ser utilizada de modo que, por
meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível
perceber que, no Brasil, a agressão contra a mulher rompe essa harmonia, haja vista que,
embora a Lei Maria da Penha tenha sido um grande progresso em relação à proteção
feminina, há brechas que permitem a ocorrência dos crimes, como as muitas vítimas que
deixam de efetivar a denúncia por serem intimidadas. Desse modo, evidencia-se a
importância do reforço da prática da regulamentação como forma de combate à
problemática.
Outrossim, destaca-se o machismo como impulsionador da violência contra a
mulher. Segundo Durkheim, o fato social é uma maneira coletiva de agir e de pensar,
dotada de exterioridade, generalidade e coercitividade. Seguindo essa linha de
pensamento, observa-se que o preconceito de gênero pode ser encaixado na teoria do
sociólogo, uma vez que, se uma criança vive em uma família com esse comportamento,
tende a adotá-lo também por conta da vivência em grupo. Assim, o fortalecimento do
pensamento da exclusão feminina, transmitido de geração a geração, funciona como forte
base dessa forma de agressão, agravando o problema no Brasil.
Entende-se, portanto, que a continuidade da violência contra a mulher na
contemporaneidade é fruto da ainda fraca eficácia das leis e da permanência do
machismo como intenso fato social. A fim de atenuar o problema, o Governo Federal
deve elaborar um plano de implementação de novas delegacias especializadas nessa
forma de agressão, aliado à esfera estadual e municipal do poder, principalmente nas
áreas que mais necessitem, além de aplicar campanhas de abrangência nacional junto às
emissoras abertas de televisão como forma de estímulo à denúncia desses crimes. Dessa
forma, com base no equilíbrio proposto por Aristóteles, esse fato social será
gradativamente minimizado no país.

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VALÉRIA ALVES
A submissão da mulher em uma sociedade patriarcalista como a brasileira é
um fato que tem origens históricas. Por todo o mundo, a figura feminina teve seus
direitos cerceados e a liberdade limitada devido ao fato de ser considerada mais "frágil"
ou "sensível", ainda que isso não pudesse ser provado cientificamente. Tal pensamento
deu margem a uma maior subjugação da mulher e abriu portas a atos de violência a ela
direcionados.
Nessa perspectiva, a sociedade brasileira é pautada por uma visão machista. A
liberdade feminina chega a ser tão limitada ao ponto que as mulheres que se vestem de
acordo com as próprias vontades, expondo partes do corpo consideradas irreverentes,
correm o risco de serem violentadas sob a justificativa de que "estavam pedindo por
isso". Esse pensamento perdura no meio social, ainda que muitas conquistas de
movimentos feministas –pautados no existencialismo da filósofa Simone de Beauvoir -
tenham contribuído para diminuir essa percepção arcaica da mulher como objeto.
Diante disso, as famílias brasileiras com acesso restrito à informação
globalizada ou desavisadas a respeito dos Direitos Humanos continuam a pôr em prática
atos atrozes em direção àquela que deveria ser o centro de gravitação do Lar. A violência
doméstica, em especial física e psicológica, é praticada por homens com necessidade de
autoafirmação ou dependentes de drogas (com destaque para o álcool) e faz milhares de
vítimas diariamente no país. Nesse sentido, a criação de leis como a do feminicídio e
Maria da Penha foram essenciais para apaziguar os conflitos e dar suporte a esse grupo
antes marginalizado.
Paralelo a isso, o exemplo dado pelo pai ao violentar mulher tem como
consequência a solidificação de tal prática no psicológico dos filhos. As crianças, dotadas
de pouca capacidade de discernimento, sofrem ao ver a mãe sendo violentada e tem
grandes chances de se tornarem adultos violentos, contribuindo para a manutenção das
práticas abusivas nas gerações em desenvolvimento e dificultando a extinção desse
comportamento na sociedade.
Desde os primórdios, nas primeiras sociedades formadas da Antiguidade até
hoje, a mulher luta por liberdade, representatividade e respeito. O Estado pode contribuir
nessa conquista ao investir em ONGs voltadas à defesa de direitos femininos e ao
mobilizar campanhas e palestras públicas em escolas, comunidades e na mídia,
objetivando a exposição da problemática e o debate acerca do respeito aos direitos
femininos. É importante também a criação de um projeto de distribuição de histórias em
quadrinhos e livros nas escolas, conscientizando as crianças e jovens sobre igualdade de
gênero de forma divertida e interativa.

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ANA BEATRIZ ÁLVARES SIMÕES


De acordo com o sociólogo Émile Durkheim, a sociedade pode ser comparada a
um “corpo biológico” por ser, assim como esse, composta por partes que interagem entre
si. Desse modo, para que esse organismo seja igualitário e coeso, é necessário que todos
os direitos dos cidadãos sejam garantidos. Contudo, no Brasil, isso não ocorre, pois em
pleno século XXI as mulheres ainda são alvos de violência. Esse quadro de persistência
de maus tratos com esse setor é fruto, principalmente, de uma cultura de valorização do
sexo masculino e de punições lentas e pouco eficientes por parte do Governo.
Ao longo da formação do território brasileiro, o patriarcalismo sempre esteve
presente, como por exemplo na posição do “Senhor do Engenho”, consequentemente foi
criada uma noção de inferioridade da mulher em relação ao homem. Dessa forma, muitas
pessoas julgam ser correto tratar o sexo feminino de maneira diferenciada e até
desrespeitosa. Logo, há muitos casos de violência contra esse grupo, em que a agressão
física é a mais relatada, correspondendo a 51,68% dos casos. Nesse sentido, percebe-se
que as mulheres têm suas imagens difamadas e seus direitos negligenciados por causa de
uma cultural geral preconceituosa. Sendo assim, esse pensamento é passado de geração
em geração, o que favorece o continuismo dos abusos.
Além dessa visão segregacionista, a lentidão e a burocracia do sistema punitivo
colaboram com a permanência das inúmeras formas de agressão. No país, os processos
são demorados e as medidas coercitivas acabam não sendo tomadas no devido momento.
Isso ocorre também com a Lei Maria da Penha, que entre 2006 e 2011 teve apenas 33,4%
dos casos julgados. Nessa perspectiva, muitos indivíduos ao verem essa ineficiência
continuam violentando as mulheres e não são punidos. Assim, essas são alvos de torturas
psicológicas e abusos sexuais em diversos locais, como em casa e no trabalho.
A violência contra esse setor, portanto, ainda é uma realidade brasileira, pois há
uma diminuição do valor das mulheres, além do Estado agir de forma lenta. Para que o
Brasil seja mais articulado como um “corpo biológico” cabe ao Governo fazer parceria
com as ONGs, em que elas possam encaminhar, mais rapidamente, os casos de agressões
às Delegacias da Mulher e o Estado fiscalizar severamente o andamento dos processos.
Passa a ser a função também das instituições de educação promoverem aulas de
Sociologia, História e Biologia, que enfatizem a igualdade de gênero, por meio de
palestras, materiais históricos e produções culturais, com o intuito de amenizar e,
futuramente, acabar com o patriarcalismo. Outras medidas devem ser tomadas, mas,
como disse Oscar Wilde: “O primeiro passo é o mais importante na evolução de um
homem ou nação. ”

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AMANDA CARVALHO MAIA CASTRO


A violência contra a mulher no Brasil tem apresentado aumentos significativos
nas últimas décadas. De acordo com o Mapa da Violência de 2012, o número de mortes
por essa causa aumentou em 230% no período de 1980 a 2010. Além da física, o balanço
de 2014 relatou cerca de 48% de outros tipos de violência contra a mulher, dentre esses a
psicológica. Nesse âmbito, pode-se analisar que essa problemática persiste por ter raízes
históricas e ideológicas.
O Brasil ainda não conseguiu se desprender das amarras da sociedade patriarcal.
Isso se dá porque, ainda no século XXI, existe uma espécie de determinismo biológico em
relação às mulheres. Contrariando a célebre frase de Simone de Beavouir “Não se nasce
mulher, torna-se mulher”, a cultura brasileira, em grande parte, prega que o sexo
feminino tem a função social de se submeter ao masculino, independentemente de seu
convívio social, capaz de construir um ser como mulher livre. Dessa forma, os
comportamentos violentos contra as mulheres são naturalizados, pois estavam dentro da
construção social advinda da ditadura do patriarcado. Consequentemente, a punição
para este tipo de agressão é dificultada pelos traços culturais existentes, e, assim, a
liberdade para o ato é aumentada.
Além disso, já o estigma do machismo na sociedade brasileira. Isso ocorre porque
a ideologia da superioridade do gênero masculino em detrimento do feminino reflete no
cotidiano dos brasileiros. Nesse viés, as mulheres são objetificadas e vistas apenas como
fonte de prazer para o homem, e são ensinadas desde cedo a se submeterem aos mesmos
e a serem recatadas. Dessa maneira, constrói-se uma cultura do medo, na qual o sexo
feminino tem medo de se expressar por estar sob a constante ameaça de sofrer violência
física ou psicológica de seu progenitor ou companheiro. Por conseguinte, o número de
casos de violência contra a mulher reportados às autoridades é baixíssimo, inclusive os
de reincidência.
Pode-se perceber, portanto, que as raízes históricas e ideológicas brasileiras
dificultam a erradicação da violência contra a mulher no país. Para que essa erradicação
seja possível, é necessário que as mídias deixem de utilizar sua capacidade de
propagação de informação para promover a objetificação da mulher e passe a usá-la para
difundir campanhas governamentais para a denúncia de agressão contra o sexo
feminino. Ademais, é preciso que o Poder Legislativo crie um projeto de lei para
aumentar a punição de agressores, para que seja possível diminuir a reincidência. Quem
sabe, assim, o fim da violência contra a mulher deixe de ser uma utopia para o Brasil.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

KAIO NOBUYASHI KOGA


O Brasil cresceu nas bases parternalistas da sociedade europeia, visto que as
mulheres eram excluídas das decisões políticas e sociais, inclusive do voto. Diante desse
fato, elas sempre foram tratadas como cidadãs inferiores cuja vontade tem menor
validade que as demais. Esse modelo de sociedade traz diversas consequências, como a
violência contra a mulher, fruto da herança social conservadora e da falta de
conscientização da população.
Casos relatados cotidianamente evidenciam o conservadorismo do pensamento
da população brasileira. São constantes as notícias sobre o assédio sexual sofrido por
mulheres em espaços públicos, como no metrô paulistano. Essas ações e a pequena
reação a fim de acabar com o problema sofrido pela mulher demonstram a normalidade
da postura machista da sociedade e a permissão velada para o seu acontecimento. Esses
constantes casos são frutos do pensamento machista que domina a sociedade e descende
diretamente do paternalismo em que cresceu a nação.
Devido à postura machista da sociedade, a violência contra a mulher permanece
na contemporaneidade, inclusive dentro do Estado. A mulher é constantemente tratada
com inferioridade pela população e pelos próprios órgãos públicos. Uma atitude que
demonstra com clareza esse tratamento é a culpabilização da vítima de estupro que,
chegando à polícia, é acusada de causar a violência devido à roupa que estava vestindo.
A violência se torna dupla, sexual e psicológica; essa, causada pela postura adotada pela
população e pelos órgãos públicos frente ao estupro, causando maior sofrimento à
vítima.
O pensamento conservador, machista e misógino é fruto do patriarcalismo e deve
ser combatido a fim de impedir a violência contra aquelas que historicamente sofreram e
foram oprimidas. Para esse fim, é necessário que o Estado aplique corretamente a lei,
acolhendo e atendendo a vítima e punindo o violentador, além de promover a
conscientização nas escolas sobre a igualdade de gênero e sobre a violência contra a
mulher. Cabe à sociedade civil, o apoio às mulheres e aos movimentos feministas que
protegem as mulheres e defendem os seus direitos, expondo a postura machista da
sociedade. Dessa maneira, com apoio do Estado e da sociedade, aliado ao debate sobre a
igualdade de gênero, é possível acabar com a violência contra a mulher.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

JOSÉ MIGUEL ZANETTI TRIGUEIROS


A violência contra a mulher no Brasil ainda é grande. Entretanto, deve haver uma
distinção entre casos gerais (que ocorrem independentemente do sexo da vítima) e casos
específicos. Os níveis de homicídios, assaltos, sequestros e agressões são altos, portanto, o
número de mulheres atingidas por esse índice também é grande. Em casos que a mulher
é vítima devido ao seu gênero, como estupros, abusos sexuais e agressões domésticas, as
Leis Maria da Penha e do Feminicídio, aliadas às Delegacias das Mulheres e ao Ligue 180
são meios de diminuir esses casos.
O sistema de segurança no Brasil é falho. Como a violência é alta e existe uma
enorme burocracia, os casos denunciados e julgados são pequenos. Além do mais, muitas
mulheres têm medo de seus companheiros ou dependem financeiramente deles, não
contando as agressões que sofrem. Dessa forma, mais criminosos ficam livres e mais
mulheres se tornam vítimas.
Alguns privilégios são necessários para garantir a integridade física e moral da
vítima, como a Lei Maria da Penha, que é um marco para a igualdade de gênero e serve
de amparo para todo tipo de violência doméstica e já analisou mais de 300 mil casos. Há
também medidas que contribuem para reduzir assédios sexuais e estupros, como a
criação do vagão feminino em São Paulo e a permissão para que ônibus parem em
qualquer lugar durante a noite, desde que isso seja solicitado por uma mulher.
Também é alarmante os casos que envolvem turismo sexual. Durante a Copa do
Mundo de 2014, houve um grande fluxo de estrangeiros para o Brasil. Muitos vêm
apenas para se relacionar com as mulheres brasileiras, algo ilegal, que que prostituição é
crime. Não bastasse, o pior é o envolvimento de menores de idade. Inúmeros motivos
colocam crianças e adolescentes nessa vida, como o abandono familiar, o aliciamento por
terceiros e até sequestros.
Portanto, para reduzir drasticamente a violência contra a mulher, deve ocorrer
uma intensificação na fiscalização, através das Leis que protegem as vítimas femininas.
No que se refere à punição dos criminosos, deve ocorrer o aumento das penas ou até
atitudes mais drásticas, como a castração química de estupradores (garantindo a
reincidência zero). Para aumentar o número de denúncias, a vítima deve se sentir
protegida e não temer nada. Por isso, mobilizações sociais, através de propagandas e
centros de apoio devem ser adotadas. Todas essas medidas culminariam em mais
denúncias, mais julgamentos e mais prisões, além de diminuir os futuros casos, devido às
prisões exemplares.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

JÚLIA GUIMARÃES CUNHA


O feminismo é o movimento que luta pela igualdade social, política e econômica
dos gêneros. Hodiernamente, muitas conquistas em prol da garantia dessas igualdades já
foram alcançadas – a exemplo do direito ao voto para as mulheres, adquirido no Governo
Vargas. Entretanto, essas conquistas não foram suficientes para eliminar o preconceito e a
violência existentes na sociedade brasileira.
De acordo com o site “Mapa da Violência”, nas últimas três décadas houve um
aumento de mais de 200% nos índices de feminicídio no país. Esse dado evidencia a baixa
eficiência dos mecanismos de auxílio à mulher, tais como a Secretaria de Políticas para as
mulheres e a Lei Maria da Penha. A existência desses mecanismos é de suma
importância, mas suas ações não estão sendo satisfatórias para melhorar os índices
alarmantes de agressões contra o, erroneamente chamado, “sexo frágil.”
Mas, apesar de ser o principal tipo, não é só agressão física a responsável pelas
violências contra a mulher. Devido ao caráter machista e patriarcal da sociedade
brasileira, o preconceito começa ainda na juventude, com o tratamento desigual dado a
filhos e filhas – comumente nota-se uma maior restrição para o sexo feminino. Além
disso, há a violência moral, ainda muito frequente no mercado de trabalho. Pesquisas
comprovam que, no Brasil, o salário dado a homens e mulheres é diferente, mesmo com
ambos exercendo a mesma função. Ademais, empresas preferem contratar funcionários
do sexo masculino para não se preocuparem com uma possível licença maternidade.
É evidente, portanto, que ainda há entraves para garantir a segurança da mulher
brasileira. Desse modo, o Estado deve, mediante a ampliação da atuação dos órgãos
competentes, assegurar o atendimento adequado às vítimas e a punição correta aos
agressores. Além disso, cabe às empresas a garantia de igualdade no espaço laboral,
pagando um salário justo e admitindo funcionários pela sua qualificação, livre de
preconceitos. Por fim, é dever da sociedade o respeito ao sexo feminino, tratando
igualmente homem e mulher. Assim, alcançar-se-á uma sociedade igualitária e de
harmonia para ambos os gêneros.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

SOFIA DOLABELA CUNHA SAÚDE BELÉM


É inegável o fato de que, na sociedade brasileira contemporânea, a igualdade de
gêneros é algo que existe apenas na teoria. Medidas como a criação da Lei Maria da
Penha e da Delegacia da Mulher, apesar de auxiliarem na fiscalização contra a violência
ao sexo feminino e na proteção das vítimas, são insuficientes e pouco eficazes, algo
comprovado através da alta taxa de feminicídios ocorridos em nosso país, além dos
enormes índices de relatos de vítimas de violência.
O aumento notório de crimes contra a mulher realizados na última década deve-
se a inúmeros fatores. A completa burocracia presente nos processos de atendimento às
vítimas de estupro, por exemplo, refuta mulheres que apresentam traumas e não recebem
acompanhamento psicológico adequado, sendo orientadas a realizar o exame de corpo
de delito, procedimento, por vezes, invasivo. Além disso, é comum que o relato da vítima
tenha sua veracidade questionada, não recebendo a atenção necessária. Com o
afastamento de possíveis denúncias, não há redução no número de assassinatos e de
episódios violentos.
A cultura machista em que estamos inseridos dissemina valores como a
culpabilização da vitima: muitas vezes, a mulher se cala porque pensa que é a culpada
pela violência que sofre. Acredita-se, também, que apenas a violência física e sexual deve
ser denunciada, ou que a opressão moral é algo comum. A passividade diante de tais
situações cede espaço para o crescimento de comportamentos violentos dentro da
sociedade.
Tendo em vista as causas dos altos índices de violência contra a mulher no Brasil,
é necessário que haja intervenção governamental para aprimorar os órgãos de defesa
contra tais crimes, de modo a tornar o atendimento mais rápido e atencioso. O mais
importante, no entanto, é atingir a origem do problema e instituir em escolas aulas
obrigatórias sobre igualdade de gênero, apresentando de forma mais simples conceitos
desenvolvidos, por exemplo, por Simone de Beauvoir, de modo a desconstruir desde
cedo ideias preconceituosas que são potenciais estimulantes para futuros
comportamentos violentos.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

RICHARD WAGNER CAPUTO NEVES


Desde o Iluminismo, já sabemos – ou deveríamos saber – que uma sociedade só
progride quando um se mobiliza com o problema do outro. No entanto, quando se
observa a persistência da violência contra a mulher no Brasil em pleno século XXI,
percebe-se que esse ideal iluminista é verificado na teoria e não desejavelmente na
prática. Muitos importantes passos já foram dados na tentativa de se reverter esse
quadro. Entretanto, para que seja conquistada uma convivência realmente democrática,
hão de ser analisadas as verdadeiras causas desse mal.
Em uma primeira abordagem, é importante sinalizar que, ainda que leis como a
“Maria da Penha” tenham contribuído bastante para o crescimento do número de
denúncias relacionadas à violência – física, moral, psicológica, sexual – contra a mulher,
ainda se faz presente uma limitação. A questão emocional, ou seja, o medo, é uma causa
que desencoraja inúmeras denúncias: muitas vezes, a suposta submissão econômica da
figura feminina agrava o desconforto. Em outros casos, fora do âmbito familiar, são
instrumentos da perpetuação da violência o medo de uma retaliação do agressor e a
“vergonha social”, o que desestimula a busca por justiça e por direitos, peças-chave na
manutenção de qualquer democracia.
Em uma análise mais aprofundada, devem ser considerados fatores culturais e
educacionais brasileiros. Por muito tempo, a mulher foi vista como um ser subordinado,
secundário. Esse errôneo enraizamento moral se comunica com a continuidade da
suposta “diminuição” da figura feminina, o que eventualmente acarreta a manutenção de
práticas de violência das mais variadas naturezas. A patriarcal cultura verde-amarela,
durante muitos anos, foi de encontro aos princípios do Iluminismo e da Revolução
Francesa: nesse contexto, é fundamental a reforma de valores da sociedade civil.
Torna-se evidente, portanto, que a persistência da violência contra a mulher no
Brasil é grave e exige soluções imediatas, e não apenas um belo discurso. Ao Poder
Judiciário, cabe fazer valer as leis já existentes, oriundas de inúmeros discursos
democráticos. A mídia, por meio de ficções engajadas, deve abordar a questão instigando
mais denúncias – cumprindo, assim, o seu importante papel social. A escola, instituição
formadora de valores, junto às Ong's, deve promover palestras a pais e alunos que
discutam essa situação de maneira clara e eficaz. Talvez dessa forma a violência contra a
mulher se faça presente apenas em futuros livros de história e a sociedade brasileira
possa transformar os ideais iluministas em prática, e não apenas em teoria.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

ENEM-2016: Caminhos para combater a


intolerância religiosa no Brasil e Caminhos
para combater o racismo no Brasil

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LARISSA FERREIRA
Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas "Memórias
Póstumas" que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa
miséria. Talvez hoje ele percebesse acertada sua decisão: a postura de muitos brasileiros
frente a intolerância religiosa é uma das faces mais perversas de uma sociedade em
desenvolvimento. Com isso, surge a problemática do preconceito religioso que persiste
intrinsecamente ligado à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta
mudança de mentalidade social.
É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas
do problema. Conforme Aristóteles, a política deve ser utilizada de modo que, por meio
da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível
perceber que, no Brasil, a perseguição religiosa rompe essa harmonia; haja vista que,
embora esteja previsto na Constituição o princípio da isonomia, no qual todos devem ser
tratados igualmente, muitos cidadãos se utilizam da inferioridade religiosa para externar
ofensas e excluir socialmente pessoas de religiões diferentes.
Segundo pesquisas, a religião afro-brasileira é a principal vítima de
discriminação, destacando-se o preconceito religioso como o principal impulsionador do
problema. De acordo com Durkheim, o fato social é a maneira coletiva de agir e de
pensar. Ao seguir essa linha de pensamento, observa-se que a preparação do preconceito
religioso se encaixa na teoria do sociólogo, uma vez que se uma criança vive em uma
família com esse comportamento, tende a adotá-lo também por conta da vivência em
grupo. Assim, a continuação do pensamento da inferioridade religiosa, transmitido de
geração a geração, funciona como base forte dessa forma de preconceito, perpetuando o
problema no Brasil.
Infere-se, portanto, que a intolerância religiosa é um mal para a sociedade
brasileira. Sendo assim, cabe ao Governo Federal construir delegacias especializadas em
crimes de ódio contra religião, a fim de atenuar a prática do preconceito na sociedade,
além de aumentar a pena para quem o praticar. Ainda cabe à escola criar palestras sobre
as religiões e suas histórias, visando a informar crianças e jovens sobre as diferenças
religiosas no país, diminuindo, assim, o preconceito religioso. Ademais, a sociedade deve
se mobilizar em redes sociais, com o intuito de conscientizar a população sobre os males
da intolerância religiosa. Assim, poder-se-á transformar o Brasil em um país
desenvolvido socialmente, e criar um legado de que Brás Cubas pudesse se orgulhar.

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VANESSA MENDES
De acordo com Albert Camus, escritor argelino do século XX, se houver falhas na
conciliação entre justiça e liberdade, haverá intempéries de amplo espectro. Nesse
sentido, a intolerância religiosa no Brasil fere não somente preceitos éticos e morais, mas
também constitucionais estabelecidos pela Carta Magna do país. Dessa forma, observa-se
que a liberdade de crença nacional reflete um cenário desafiador seja a partir de reflexo
histórico, seja pelo descumprimento de cláusulas pétreas.
Mormente, ao avaliar a intolerância religiosa por um prisma estritamente
histórico, nota-se que fenômenos decorrentes da formação nacional ainda perpetuam na
atualidade. Segundo Albert Einstein, cientista contemporâneo, é mais fácil desintegrar
um átomo do que um preconceito enraizado. Sob tal ótica, é indubitável que inúmeras
ojerizas religiosas, presentes no Brasil hodierno possuem ligação direta com o passado,
haja vista os dogmas católicos amplamente difundidos no Brasil colônia do século XVI.
Assim, criou-se ao longo da historiografia, mitos e concepções deturpadas de religiões
contrárias ao catolicismo, religião oficial da época, instaurou-se, por conseguinte, o medo
e as intolerâncias ao diferente. Desse modo, com intuito de atenuar atos contrários a
prática da religiosidade individual, cabe ao governo, na figura do Ministério da
Educação, a implementação na grade curricular a disciplina de teorias religiosas,
mitigando defeito histórico.
Além disso, cabe ressaltar que a intolerância às crenças burla preceitos
constitucionais. Nessa perspectiva, a Constituição Brasileira promulgada em 1988, após
duas décadas da Ditadura Militar, transformou a visão dos cidadãos perante seus direitos
e deveres. Contudo, quase 20 anos depois de sua divulgação, a liberdade de diversos
indivíduos continua impraticável. À vista de tal preceito, a intolerância religiosa
configura-se uma chaga social que demanda imediata resolução, pois fere a livre
expressão individual. Dessa maneira, cabe ao Estado, como gestor dos interesses
coletivos, a implementação de delegacias especializadas de combate ao sentimento
desrespeitoso e, até mesmo violento, às crenças religiosas.
Destarte, depreende-se que raízes históricas potencializam atos inconstitucionais
no Brasil. Torna-se imperativo que o Estado, na figura do Poder Legislativo, desenvolva
leis de tipificação como crime hediondo aos atos violentos e atentados ao culto religioso.
Ademais, urge que a mídia, por meio de novelas e seriados, transmita e propague a
diversidade religiosa, com propósito de elucidar e desmistificar receios populacionais.
Outrossim, a escola deve realizar debates periódicos com líderes religiosos, a fim de
instruir, imparcialmente, seus alunos acerca da variabilidade e tolerância religiosa.
Apenas sob tal perspectiva, poder-se-á respeitar a liberdade e combater a intolerância de
crença no Brasil, pois como proferido por Karl Marx: as inquietudes são a locomotiva da
nação.

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HELÁRIO SILVA NETO


O Período Colonial do Brasil, ao longo dos séculos XVI e XIX, foi marcado pela
tentativa de converter os índios ao catolicismo, em função do pensamento português de
soberania. Embora date de séculos atrás, a intolerância religiosa no país, em pleno século
XXI, sugere as mesmas conotações de sua origem: imposições de dogmas e violência. No
entanto, a lenta mudança de mentalidade social e o receio de denunciar dificultam a
resolução dessa problemática, o que configura um grave problema social.
Nesse contexto, é importante salientar que, segundo Sócrates, os erros são
consequência da ignorância humana, Logo, é válido analisar que o desconhecimento
acerca de crenças diferentes influi decisivamente em comportamentos inadequados
contra pessoas que seguem linhas de pensamento opostas. À vista disso, é interessante
ressaltar que, em algumas religiões, o contato com perspectivas de outras crenças não é
permitido. Ainda assim, conhecer a lei é fundamental para compreender o direito à
liberdade de dogmas e, portante, para respeitar as visões díspares.
Além disso, é cabível enfatizar que, de acordo com Paulo Freire, um seu livro
"Pedagogia do Oprimido", é necessário buscar uma "cultura de paz". De maneira
análoga, muitos religiosos, a fim de evitar conflitos, hesitam em denunciar casos de
intolerância, sobretudo quando envolvem violência. Entretanto, omitir crimes, ao
contrário do que se pensa, significa colaborar com a insistência da discriminação, o que
funciona como um forte empecilho para resolução dessa problemática.
Sendo assim, é indispensável a adoção de medidas capazes de assegurar o
respeito religioso e o exercício de denúncia. Posto isso, cabe ao Ministério da Educação,
em parceria com o Ministério da Justiça, implementar aos livros didáticos de História um
plano de aula que relacione a aculturação dos índios com a intolerância religiosa
contemporânea, com o fito de despertar o senso crítico nos alunos; e além disso,
promover palestras ministradas por defensores públicos acerca da liberdade de expressão
garantida pela lei para que o respeito às diferentes posições seja conquistado. Ademais, a
Polícia Civil deve criar uma ouvidoria anônima, tal como uma delegacia especializada,
de modo a incentivar denúncias em prol do combate à problemática.

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LARISSA CAVALCANTI
O ser humano é social: necessita viver em comunidade e estabelecer relações
interpessoais. Porém, embora intitulado, sob a perspectiva aristotélica, político e
naturalmente sociável, inúmeras de suas antiéticas práticas corroboram o contrário. No
que tange à questão religiosa no país, em contraposição à laicização do Estado, vigora a
intolerância no Brasil, a qual é resultado da consonância de um governo inobservante à
Constituição Federal e uma nação alienada ao extremo.
Não obstante, apesar de a formação brasileira ser oriunda da associação de
díspares crenças, o que é fruto da colonização, atitudes preconceituosas acarretam a
incrédula continuidade de constantes ataques a religiões, principalmente de matriz
africana. Diante disso, a união entre uma pátria cujo obsoleto ideário ainda prega a
supremacia do cristianismo ortodoxo e um sistema educacional em que o estudo acerca
das disparidades religiosas é escasso corrobora a cristalização do ilegítimo desrespeito à
religiosidade no país.
Sob essa conjectura, a tese marxista disserta acerca da inescrupulosa atuação do
Estado, que assiste apenas a classe dominante. Dessa forma, alienados pelo capitalismo
selvagem e pelos subvertidos valores líquidos da atualidade, os governantes
negligenciam a necessidade fecunda de mudança dessa distópica realidade envolta na
intolerância religiosa no país. Assim, as nefastas políticas públicas que visem a coibir o
vilipêndio à crença – ou descrença, no caso do ateísmo – alheia, como o estímulo às
denúncias, por exemplo, fomentam a permanência dessas incoerentes práticas no Brasil.
Porém, embora caótica, essa situação é mutável.
Convém, portanto, que, primordialmente, a sociedade civil organizada exija do
Estado, por meio de protestos, a observância da questão religiosa no país. Desse modo,
cabe ao Ministério da Educação a criação de um programa escolar nacional que vise a
contemplar as diferenças religiosas e o respeito a elas, o que deve ocorrer mediante o
fornecimento de palestras e peças teatrais que abordem essa temática. Paralelamente,
ONGs devem corroborar esse processo a partir da atuação em comunidades com o fito de
distribuir cartilhas que informem acerca das alternativas de denúncia dessas desumanas
práticas, além de sensibilizar a pátria para a luta em prol da tolerância religiosa.

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VINÍCIUS DE LIMA
A Constituição Federal de 1988 – norma de maior hierarquia no sistema jurídico
brasileiro – assegura a todos a liberdade de crença. Entretanto, os frequentes casos de
intolerância religiosa mostram que os indivíduos ainda não experimentam esse direito na
prática. Com efeito, um diálogo entre sociedade e Estado sobre os caminhos para
combater a intolerância religiosa é medida que se impõe.
Em primeiro plano, é necessário que a sociedade não seja uma reprodução da
casa colonial, como disserta Gilberto Freyre em “Casa-Grande Senzala”. O autor ensina
que a realidade do Brasil até o século XIX estava compactada no interior da casa-grande,
cuja religião era católica, e as demais crenças – sobretudo africanas – eram
marginalizadas e se mantiveram vivas porque os negros lhe deram aparência cristã,
conhecida hoje por sincretismo religioso. No entanto, não é razoável que ainda haja uma
religião que subjugue as outras, o que deve, pois, ser repudiado em um estado laico, a
fim de que se combata a intolerância de crença.
De outra parte, o sociólogo Zygmunt Bauman defende, na obra “Modernidade
Líquida”, que o individualismo é uma das principais características – e o maior conflito –
da pós-modernidade, e, consequentemente, parcela da população tende a ser incapaz de
tolerar diferenças. Esse problema assume contornos específicos no Brasil, onde, apesar do
multiculturalismo, há quem exija do outro a mesma postura religiosa e seja intolerante
àqueles que dela divergem. Nesse sentido, um caminho possível para combater a rejeição
à diversidade de crença é desconstruir o principal problema da pós-modernidade,
segundo Zygmunt Bauman: o individualismo.
Urge, portanto, que indivíduos e instituições públicas cooperem para mitigar a
intolerância religiosa. Cabe aos cidadãos repudiar a inferiorização das crenças e dos
costumes presentes no território brasileiro, por meio de debates nas mídias sociais
capazes de desconstruir a prevalência de uma religião sobre as demais. Ao Ministério
Público, por sua vez, compete promover ações judiciais pertinentes contra atitudes
individualistas ofensivas à diversidade de crença. Assim, observada a ação conjunta entre
população e poder público, alçará o país a verdadeira posição de Estado Democrático de
Direito.

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DESIRÉE ABBADE
Em meados do século passado, o escritor austríaco Stefan Zweig mudou-se para
o Brasil devido à perseguição nazista na Europa. Bem recebido e impressionado com o
potencial da nova casa, Zweig escreveu um livro cujo título é até hoje repetido: “Brasil,
país do futuro”. Entretanto, quando se observa a deficiência das medidas na luta contra a
intolerância religiosa no Brasil, percebe-se que a profecia não saiu do papel. Nesse
sentido, é preciso entender suas verdadeiras causas para solucionar esse problema.
A princípio, é possível perceber que essa circunstância deve-se a questões
políticas-estruturais. Isso se deve ao fato de que, a partir da impunidade em relação a
atos que manifestem discriminação religiosa, o seu combate é minimizado e
subaproveitado, já que não há interferência para mudar tal situação. Tal conjuntura é
ainda intensificada pela insuficiente laicidade do Estado, uma vez que interfere em
decisões políticas e sociais, como aprovação de leis e exclusão social. Prova disso, é,
infelizmente, a existência de uma “bancada evangélica” no poder público brasileiro.
Dessa forma, atitudes agressivas e segregacionistas devido ao preconceito religioso
continuam a acontecer, pondo em xeque o direito de liberdade religiosa, o que evidencia
falhas nos elementos contra a intolerância religiosa brasileira.
Outrossim, vale ressaltar que essa situação é corroborada por fatores
socioculturais. Durante a formação do Estado brasileiro, a escravidão se fez presente em
parte significativa do processo; e com ela vieram as discriminações e intolerâncias
culturais, derivadas de ideologias como superioridade do homem branco e darwinismo
social. Lamentavelmente, tal perspectiva é vista até hoje no território brasileiro. Bom
exemplo disso são os índices que indicam que os indivíduos seguidores e pertencentes
das religiões afro-brasileiras são os mais afetados. Dentro dessa lógica, nota-se que a
dificuldade de prevenção e combate ao desprezo e preconceito religioso mostra-se fruto
de heranças coloniais discriminatórias, as quais negligenciam tanto o direito à vida
quanto o direito de liberdade de expressão e religião.
Torna-se evidente, portanto, que os caminhos para a luta contra a intolerância
religiosa no Brasil apresentam entraves que necessitam ser revertidos. Logo, é necessário
que o governo investigue casos de impunidade por meio de fiscalizações no
cumprimento de leis, abertura de mais canais de denúncia e postos policiais. Além disso,
é preciso que o poder público busque ser o mais imparcial (religiosamente) possível, a
partir de acordos pré-definidos sobre o que deve, ou não, ser debatido na esfera política e
disseminado para a população. Ademais, as instituições de ensino, em parceria com a
mídia e ONGs, podem fomentar o pensamento crítico por intermédio de pesquisas,
projetos, trabalhos, debates e campanhas publicitárias esclarecedoras. Com essas
medidas, talvez, a profecia de Zweig torne-se realidade no presente.

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SAMANTA FERREIRA
É notória a necessidade de ir de encontro à intolerância religiosa no país vigente.
Diante disso, averigua-se, desde o período da colonização brasileira, um esforço
etnocêntrico de catequização dos indígenas nativos, como forma de suprimirem suas
crenças politeístas. Tal processo de aculturação e subjugo acometeu também os negros
africanos, durante todo contexto histórico de escravidão, os quais foram, não raro,
coisificados e abominados por suas religiões e cultos. Por essa razão, faz-se necessário
pautar, no século XXI, o continuismo desse preconceito religioso e dos desdobramentos
dessa faceta caótica.
Segundo Immanuel Kant, em sua teoria do Imperativo Categórico, os indivíduos
deveriam ser tratados, não como coisas que possuem valor, mas como pessoas que têm
dignidade. Partindo desse pressuposto, nota-se que a sociedade brasileira, decerto, tem
ido de encontro ao postulado filosófico, uma vez que há uma valoração negativa às
crenças de caráter não tradicionais, conforme a mentalidade arcaica, advinda de uma
herança histórico-cultural, como o Candomblé, o espiritismo e o Islamismo. Tal realidade
é ratificada ao se destacar a agressão física e moral oriunda de um movimento
promovido pelo Pastor Lucinho, no Rio de Janeiro, o qual incitou um levante contra a
manifestação religiosa do Candomblé, segundo notícia da Folha de São Paulo. Por essa
razão, torna-se inegável a discriminação velada e, não raro, explícita existente contra às
diversas religiões no Brasil.
Como desdobramento dessa temática e da carência de combate às díspares
formas de intolerância religiosa, faz-se relevante ressaltar a garantia de liberdade de culto
estabelecida na Constituição de 1988. Nesse sentido, de acordo com o Artigo 5º da Carta,
todos os indivíduos são iguais perante a lei, sem distinção de nenhuma natureza,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de assegurar a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade e à segurança. O que se nota, pois, na contemporaneidade, é a
inoperância desse direito constitucional e do cumprimento da laicidade estatal, haja vista
a mínima expressividade desse Estado, ainda em vigor, no que tange à proteção do
cidadão e à legitimidade da livre manifestação religiosa no país.
Por tudo isso, faz-se necessária a intervenção civil e estatal. O Estado, nesse
contexto, carece de fomentar práticas públicas, tal como a inserção na grade curricular do
conteúdo "Moral e Ética", por meio do engajamento pedagógico às disciplinas de
Filosofia e Sociologia, a fim de que seja debatido a temática do respeito às manifestações
religiosas e que seja ressignificado a mentalidade arcaica no que tange à tolerância às
religiões. É imperativo, ainda, que a população, em parceria com as escolas, promovam
eventos plurissignificativos e seminários, por meio de campanhas de caráter popular,
para que diversos líderes religiosos orientem os civis, sem tabus e esteriótipos, sobre suas
crenças, de modo a mitigar a intolerância religiosa de modo efetivo. Só assim, o país
tornar-se-á mais plural e justo.

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JÚLIA MITIE OYA


O Brasil é um país com uma das maiores diversidades do mundo. Os
colonizadores, escravos e imigrantes foram essenciais na construção da identidade
nacional, e também, trouxeram consigo suas religiões. Porém, a diversidade religiosa que
existe hoje no país entra em conflito com a intolerância de grande parte da população e,
para combater esse preconceito, é necessário identificar suas causas, que estão
relacionadas à criação de estereótipos feita pela mídia e à herança do pensamento
desenvolvido ao longo da história brasileira.
Primeiramente, é importante lembrar que o ser humano é influenciado por tudo
aquilo que ouve e vê. Então, quando alguém assiste ou lê uma notícia sobre políticos da
bancada evangélica que são contra o aborto e repudiam homossexuais, esse alguém tende
a pensar que todos os seguidores dessa religião são da mesma maneira. Como já disse
Adorno, sociólogo que estudou a Indústria Cultural, a mídia cria certos esteriótipos que
tiram a liberdade de pensamento dos espectadores, forçando imagens, muitas vezes
errôneas, em suas mentes. Retomando o exemplo dos evangélicos, de tanto que são
ridicularizados por seus costumes e crenças na televisão e na internet e pelos jornais
destacarem a opinião de uma parte dos seguidores dessa religião, criou-se um modelo do
"típico evangélico", que é ignorante, preconceituoso e moralista, o que, infelizmente, foi
generalizado para todos os fiéis.
Além disso, percebe-se que certos preconceitos estão enraizados no pensamento
dos brasileiros há muito tempo. Desde as grandes navegações, por exemplo, que os
portugueses chamavam alguns povos africanos de bruxos. Com a vinda dos escravos ao
Brasil, a intolerância só aumentou e eles foram proibidos de praticarem suas religiões,
tendo que se submeter ao cristianismo imposto pelos colonos. É por isso que as práticas
das religiões afro-brasileiras são vistas como "bruxaria" e "macumba" e seus fieis são os
que mais denunciam atos de discriminação (75 denúncias entre 2011 e 2014).
Portanto, é possível dizer que, mesmo existindo o artigo 208 do código penal, que
pune os crimes de intolerância religiosa, ela ainda é muito presente. Para combatê-la, é
preciso acabar com os esteriótipos, ensinando desde cedo a respeitar todas as religiões.
Então, o governo federal deve deixar obrigatória para todos os colégios (públicos e
privados) a disciplina Ensino Religioso durante o Ensino Fundamental. Outro caminho é
o incentivo das prefeituras para que a população conheça as religiões como elas
realmente são, e não a imagem criada pela mídia nem aquela herdada desde a época
colonial, promovendo visitas aos centros religiosos, palestras e programas na televisão e
no rádio.

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JOÃO VÍTOR PONTE


O Brasil foi formado pela união de diversas bases étnicas e culturais e,
consequentemente, estão presentes em também várias religiões. Entretanto, nem essa
diversidade nem a liberdade religiosa garantida pela Constituição Cidadã faz com que o
país seja respeitoso com as diferentes crenças. Fazendo uma analogia com a filosofia
kantiana, a intolerância existente pode ser vista como o resultado de fatores inatos ao
indivíduo com o que foi incorporado a partir das experiências vividas.
Em primeiro lugar, é notória a dificuldade que há no homem em aceitar o
diferente, principalmente ao se tratar de algo tão pessoal como a religião. Prova disso é a
presença da não aceitação das crenças alheias em diferentes regiões e momentos
históricos, como no Império Romano antigo, com as perseguições aos cristãos, na Europa
medieval, com as Cruzadas e no atual Oriente Médio, com os conflitos envolvendo o
Estado Islâmico. Também pode-se comprovar a existência da intolerância religiosa pela
frase popular “religião não se discute”, que propõe ignorar a temática para evitar os
conflitos evidentes ao se tratar do assunto. Desse modo, nota-se que a intolerância não se
restringe a um grupo específico e é, de certa forma, natural ao ser humano, o que, porém,
não significa que não pode e deve ser combatida.
Além da intolerância inata ao homem, há fatores externos que intensificam o
problema. No cenário brasileiro, o processo colonizador e seus legados, que perduram
até hoje, são os principais agravantes desse preconceito. Desde a chegada dos europeus
no país, as religiões diferentes da oficial são discriminadas. Logo no início da
colonização, o processo de catequização dos nativos foi incentivado, o que demonstra o
desrespeito com as religiões indígenas, e, décadas depois, com o início do tráfico
negreiro, houve também perseguição às religiões afro-brasileiras e a construção de uma
imagem negativa acerca delas. Toda essa mentalidade perpetuou-se no ideário coletivo
brasileiro e, apesar das ameaças legais, faz com que essas religiões sejam as mais afetadas
pela intolerância atualmente.
É necessário, pois, que se reverta a mentalidade retrógrada e preconceituosa
predominante no Brasil. Para tal, o Estado deve veicular campanhas de conscientização,
na TV e na internet, que informem a população sobre a diversidade religiosa do país e a
necessidade de respeitá-las. Estas campanhas também podem, para facilitar a detecção e
o combate ao problema, divulgar contatos para denúncia de casos de intolerância
religiosa. Concomitantemente, é fundamental o papel da escola de pregar a tolerância já
que, segundo Immanuel Kant, “o homem é aquilo que a educação faz dele”. Portanto, a
escola deve promover palestras sobre as diferenças crenças do país, ministradas por
especialistas nas áreas ou por membros dessas religiões, a fim de quebrar estereótipos,
preconceitos e tornar os jovens mais tolerantes.

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MARCELA ARAÚJO
No limiar do século XXI, a intolerância religiosa é um dos principais problemas
que o Brasil foi convidado a administrar, combater e resolver. Por um lado, o país é laico
e defende a liberdade ao culto e à crença religiosa. Por outros, as minorias que se
distanciam do convencional se afundam em abismos cada vez mais profundos, cavados
diariamente por opressores intolerantes.
O Brasil é um país de diversas faces, etnias e crenças e defende em sua
Constituição Federal o direito irrestrito à liberdade religiosa. Nesse cenário, tomando
como base a legislação e acreditando na laicidade do Estado, as manifestações religiosas e
a dissseminação de ideologias fora do padrão não são bem aceitas por fundamentalistas.
Assim, o que deveria caracterizar os diversos "Brasis" dentro da mesma nação é motivo
de preocupação.
Paradoxalmente ao Estado laico, muitos ainda confundem liberdade de
expressão com crimes inafiançáveis. Segundo dados do Instituto de Pesquisa da USP, a
cada mês são registrados pelo menos 10 denúncias de intolerância religiosa e destas 15%
envolvem violência física, sendo as principais vítimas fieis afro-brasileiros. Partindo
dessa verdade, o então direito assegurado pela Constituição e reafirmado pela Secretaria
dos Direitos Humanos é amputado e o abismo entre oprimidos e opressores torna-se,
portanto, maior.
Parafraseando o sociólogo Zygmun Bauman, enquanto houver quem alimente a
intolerância religiosa, haverá quem defenda a discriminação. Tomando como norte a
máxima do autor, para combater a intolerância religiosa no Brasil são necessárias
alternativas concretas que tenham como protagonistas a tríade Estado, escola e mídia. O
Estado, por seu caráter socializante e abarcativo deverá promover políticas públicas que
visem garantir uma maior autonomia religiosa e através dos 3 poderes deverá garantir,
efetivamente, a liberdade de culto e proteção; a escola, formadora de caráter, deverá
incluir matérias como religião em todos os anos da vida escolar; a mídia, quarto poder,
deverá veicular campanhas de diversidade religiosa e respeito às diferenças. Somente
assim, tirando as pedras do meio do caminho, construir-se-á um Brasil mais tolerante.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

IGOR GIOVANNETTI
A Constituição nacional prevê a liberdade de credo e de expressão religiosa,
sendo crimes de intolerância considerados graves e de pena imprescritível. No entanto, é
comum ouvir piadas sobre "macumbeiros" e, em alguns casos, violência física contra
praticantes do candomblé. O combate dessas atitudes pressupõe uma análise histórica e
educacional.
Por razões diacrônicas, certas religiões são estigmatizadas como "inferiores". No
Período Colonial brasileiro, era nítida a preocupação dos jesuítas e da Coroa Portuguesa
em "cristianizar" os indígenas e, posteriormente, os negros africanos. Em "Casa Grande e
Senzala", o sociólogo Gilberto Freyre defende que a cultura foi formada nestes três
pilares: nativo, colonizador e escravo. De fato, a resistência dos índios e dos negros
rendeu uma herança imaterial híbrida, contudo, a tradição etnocentrista permanece. A
sociedade, muitas vezes, repete visões preconceituosas, pois ainda não houve um efetivo
pensamento crítico, uma conscientização que contrariasse o senso comum.
O ensino formal também corrobora a problemática. As escolas, por serem o
espaço de formação cidadã do indivíduo, deveriam estar abertas para amplas discussões
e para promoção de valores coletivos. Não é o que se vê, por exemplo, no privilégio da
religião cristã – ensaios teatrais natalinos, homenagem a santos e a anjos – em detrimento
das restantes. A grade curricular também não explora de forma profunda as matrizes
culturais afrobrasileiras (as mais discriminadas), como a umbanda (uma fusão do
cristianismo, do espiritismo e dos orixás negros).
Tendo em vista a desconstrução da herança etnocentrista, cabe à sociedade civil
(desde estudiosos ativistas a familiares) incentivar o pluralismo e a tolerância religiosa,
através de palestras e de núcleos culturais gratuitos em praças públicas. Por outro lado,
são necessárias ações do Estado na defesa de festivais escolares afrobrasileiros e na
reforma da grade curricular de História e de Sociologia, por meio da formação de
comissões especiais na Câmara dos Deputados, com participação de especialistas na área
de Educação, objetivando a uma educação mais aberta e democrática. Assim, será
possível formar cidadãos que entendam, que respeitem e que se orgulhem de sua cultura.

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THAÍS OLIVEIRA
Se houver duas religiões, cortar-se-ão os preços. Se houver trinta, viverão em paz.
Na Idade Moderna, o filósofo iluminista Voltaire foi um importante defensor da
liberdade de culto e da harmonia entre as diversas crenças. Já no Brasil do século XXI
existe um retrocesso: embora haja muita diversidade religiosa, ainda há a necessidade de
ser comemorar o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa – a qual é um crime
vergonhoso cuja persistência é uma mácula.
Não há como negar que esse tipo de intolerância é fruto da colonização, pois o
encontro cultural entre portugueses, os quais manifestavam o Catolicismo, e povos
politeístas foi devastador. Uma vez que os colonizadores impuseram sua fé para
submeter ameríndios e africanos ao seu poder ocorreu um processo de aculturação, ou
seja, perda ou modificação de suas culturas. Ademais, somente após quase 391 anos de
predominância católica, o Estado tornou-se laico em 1891 devido à proclamação da
República, no entanto o governo não faz nada para realizar a inclusão social das etnias
oprimidas ou estimular o respeito mútuo entre os cidadãos. Por isso, infelizmente, os atos
de violência e opressão por motivos religiosos, sobretudo contra adeptos das religiões de
matriz africana, continuam ocorrendo.
Portanto, medidas são necessárias para combater efetivamente esse crime. O
MEC deve criar um projeto de conscientização para ser desenvolvido nas escolas, a qual
promova passeios turísticos aos templos de várias religiões, além de apresentações
artísticas e palestras a fim de ensinar a crianças e adolescentes a importância de conhecer
e respeitar a pluralidade das crenças. Cabe ao Ministério da Cultura e à Secretaria dos
Direitos Humanos realizar campanhas combativas permanentes, as quais devem ser
divulgadas por meio da mídia. Outrossim, é fundamental que o Poder Legislativo
desenvolva o “Estatuto da Tolerância Religiosa”, para esclarecer melhor os direitos e
deveres dos cidadãos a respeito do tema. Também, é preciso que os sacerdotes brasileiros
de todas as religiões unam-se com o objetivo de determinar a realização de palestras e
discussões nas igrejas para estimular o convívio harmônico e evitar qualquer tipo de
radicalismo.
Logo, a adoção dessas propostas possibilitará que a data de 21 de janeiro deixe de
ter mero caráter simbólico, os casos de intolerância religiosa diminuam no país e nossa
chaga histórica seja curada.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

SOPHIA RODRIGUES
O Darwinismo social, ideal surgido no século XIX, calcava-se na ideia de que
existem culturas superiores às outras. O preconceito, então, passou a ter um viés
científico, numa tentativa de justificar a dominação de indivíduos menos favorecidos. No
entanto, mesmo sendo uma ideia antiga, ainda encontra respaldo em diversas ações
humanas, como os constantes casos de intolerância religiosa no Brasil, cujos efeitos
contribuem para a dissolução da coletividade e prejudicam o desenvolvimento do ser.
Em primeiro plano, vale ressaltar que a população brasileira apresenta muitos
resquícios da época da escravatura, a qual teve como sustentáculo o eurocentrismo, que
recusava os valores de povos considerados primitivos. A parte disso, a identidade
nacional formou-se ignorando expressões culturais de índios e negros, por exemplo, fator
responsável por marginalizar determinados indivíduos e perpetuar o ódio ao
desconhecido. Desse modo, atos de repressão e discriminação a religiões ferem a
liberdade de repressão e podem gerar um "círculo vicioso" de segregação social, nocivos à
sociedade democrática.
Outro fator importante reside no fato de que as pessoas estão vivendo tempos de
"modernidade líquida", conceito proposto pelo sociólogo Zygmunt Bauman, o qual
evidencia o imediatismo das relações sociais. Atualmente, pode-se notar que o fluxo de
informações ocorre em grande velocidade, fenômeno que muitas vezes dificulta uma
maior reflexão acerca dos dados recebidos, acostumando o ser a apenas utilizar o
conhecimento prévio. O indivíduo, então, quando apresentado a outras ideologias, tem
dificuldade em respeitá-las, uma vez que sua formação pessoal baseou-se somente em
uma esfera de vivência, o que pode comprometer o convívio social e o pensamento
crítico.
Fica evidente, portanto, que a intolerância religiosa precisa ser combatida. Como
forma de garantir isso, cabe ao Ministério da Cultura, em parceria com grandes canais de
comunicação de concessão estatal, desenvolver campanhas publicitárias que estimulem o
respeito às diferentes vertentes religiosas, como forma de garantir a coletividade do
corpo social. Ademais, cabe ao Ministério da Educação, em conjunto com prefeituras,
para um amplo alcance, o estabelecimento de aulas de sociologia, dentre outras, que
permitam a apresentação de diferentes religiões, a fim de contribuir para o
desenvolvimento pessoal e o o pensamento crítico. Assim, a sociedade brasileira poderá
garantir o exercício da cidadania a todos os setores sociais e, finalmente, ultrapassar
antigos paradigmas.

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ENEM-2017: Desafios para a formação


educacional de surdos no Brasil

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ISABELLA BARROS CASTELLO BRANCO


Na obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, o realista Machado de Assis
expõe, por meio da repulsa do personagem principal em relação à deficiência física (ela
era “coxa), a maneira como a sociedade brasileira trata os deficientes. Atualmente,
mesmo após avanços nos direitos desses cidadãos, a situação de exclusão e preconceito
permanece e se reflete na precária condição da educação ofertada aos surdos no País, a
qual é responsável pela dificuldade de inserção social desse grupo, especialmente no
ramo laboral.
Convém ressaltar, a princípio, que a má formação socioeducacional do brasileiro
é um fator determinante para a permanência da precariedade da educação para
deficientes auditivos no País, uma vez que os governantes respondem aos anseios sociais
e grande parte da população não exige uma educação inclusiva por não necessitar dela.
Isso, consoante ao pensamento de A. Schopenhauer de que os limites do campo da visão
de uma pessoa determinam seu entendimento a respeito do mundo que a cerca, ocorre
porque a educação básica é deficitária e pouco prepara cidadãos no que tange aos
respeito às diferenças. Tal fato se reflete nos ínfimos investimentos governamentais em
capacitação profissional e em melhor estrutura física, medidas que tornariam o ambiente
escolar mais inclusivo para os surdos.
Em consequência disso, os deficientes auditivos encontram inúmeras
dificuldades em variados âmbitos de suas vidas. Um exemplo disso é a difícil inserção
dos surdos no mercado de trabalho, devido à precária educação recebida por eles e ao
preconceito intrínseco à sociedade brasileira. Essa conjuntura, de acordo com as ideias do
contratrualista Johm Locke, configura-se uma violação do “contrato social”, já que o
Estado não cumpre sua função de garantir que tais cidadãos gozem de direitos
imprescindíveis (como direito à educação de qualidade) para a manutenção da igualdade
entre os membros da sociedade, o que expõe os surdos a uma condição de ainda maior
exclusão e desrespeito.
Diante dos fatos supracitados, faz-se necessário que a Escola promova a
formação de cidadãos que respeitem às diferenças e valorizem a inclusão, por intermédio
de palestras, debates e trabalhos em grupo, que envolvam a família, a respeito desse
tema, visando a ampliar o contato entre a comunidade escolar e as várias formas de
deficiência. Além disso, é imprescindível que o Poder Público destine maiores
investimentos à capacitação de profissionais da educação especializados no ensino
inclusivo e às melhorias estruturais nas escolas, com o objetivo de oferecer aos surdos
uma formação mais eficaz. Ademais, cabe também ao Estado incentivar a contratação de
deficientes por empresas privadas, por meio de subsídios e Parcerias Público-Privadas,
objetivando a ampliar a participação desse grupo social no mercado de trabalho. Dessa
forma, será possível reverter um passado de preconceito e exclusão, narrado por
Machado de Assis e ofertar condições de educação mais justas a esses cidadãos.

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MARIA BEATRIZ NEVES


Na obra “Eichmann em Jerusalém”, a filósofa Hannah Arendt desenvolve “as
banalidades do mal”, termo que aponta a passividade das pessoas frente aos impasses
que assolam a sociedade.De maneira análoga, o preconceito de parte significativa da
população em relação aos surdos e à falta de preparo e de infraestrutura adequada na
maioria das instituições de ensino para recebê-los enquadram-se nesse conceito filosófico,
uma vez que se constituem como desafios para a formação educacional dos indivíduos
portadores de surdez. Dessa forma, é necessário discutir os aspectos sociais e políticos
inerentes à questão no Brasil, em prol da promoção do bem coletivo, proposto por
Rousseau.
Em primeira análise, é valido ressaltar que a discriminação em relação às pessoas
surdas ainda é latente no Brasil hodierno. Nesse contexto, não obstante a isonomia ser
assegurada pelo quinto artigo da “Constituição Cidadã” — promulgada em 1988, no
Governo de Sarney —, esse grupo continua marginalizado na contemporaneidade, posto
que são alvos comuns de injúrias e de ações preconceituosas, a exemplo do bullying
sofrido por crianças com deficiência auditiva nas escolas. Ademais, tal preconceito
estende-se aos ambientes de trabalho, uma vez que muitas empresas deixam de contratar
candidatos portadores de surdez, ainda que estes possuam a qualificação requerida. Essa
realidade evidencia e ratifica o pensamento do historiador Maquiavel, de que os
preconceitos têm raizes mais profundas que os princípios, posto que são persistentes
ainda no século XXI e dificultam a consolidação de uma formação educacional de
qualidade a essa parcela social.
Em segunda análise, infere-se que a falta de preparo dos professores e de uma
infraestrutura adequada aos surdos são inegáveis. Nesse prisma, muitas escolas não
possuem educadores preparados academicamente para instruir as pessoas portadoras de
surdez, uma vez que estes devem ser auxiliados por meio de Libras durante todo o
processo formacional. Além disso, poucas instituições têm infraestrutura adequada para
fornecer a completa assistência aos alunos surdos, devido aos baixos investimentos
governamentais quanto aos recursos necessários, o que prejudica a formação e a
integração desses indivíduos futuramente no mercado de trabalho, o qual já apresenta
pouca abertura para as pessoas portadoras de deficiência. Tal conjuntura enquadra-se no
estado anômico de Durkheim, o qual caracteriza uma sociedade ausente de valores
coletivos, logo, desorganizada, demonstrando a imprescindibilidade de politicas públicas
mais efetivas quanto à educação dos surdos no Brasil.
Evidencia-se, portanto, a necessidade de que os desafios inerentes à formação
educacional dos surdos sejam enfrentados com urgência no Brasil. Para isso, é substancial
que o Ministério da Educação invista mais vultosamente na capacitação dos professores e
na infraestrutura das instituições de ensino, por meio de cursos qualificativos para os
educadores sobre técnicas didáticas voltadas aos alunos portadores de deficiência
auditiva e pela melhoria dos recursos em sala — material didático e meios assistivos —,
com o intuito de assegurar uma instrução educacional efetiva a essas pessoas. Outrossim,
é mister que a escola, como potencial formadora opinativa, insira o ensino de Libras a

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todos os estudantes e realize palestras nas salas de aula sobre a importância da inclusão
dos surdos com profissionais da área — psicólogos e sociólogos —, a fim de coibir o
preconceito e formar futuros cidadãos mais inclusivos. Dessa maneira, o corpo-social
tornar-se-á mais próximo do bem coletivo de Rousseau, mitigando, assim, “as
banalidades do mal”, discorridas por Hannah Arendt.

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MARCUS VINÍCIUS MONTEIRO DE OLIVEIRA


No Brasil, o início do processo de educação de surdos remonta ao Segundo
Reinado. No entanto, esse ato não se configurou como inclusivo, já que se caracterizou
pelo estabelecimento de um “apartheid” educacional, ou seja, uma escola exclusiva para
tal público, segregando-o dos que seriam considerados “normais” pela população.
Assim, notam-se desafios ligados à formação educacional das pessoas com dificuldade
auditiva, seja por estereotipação da sociedade civil, seja por passividade governamental.
Portanto, haja vista que a educação é fundamental para o desenvolvimento econômico do
referido público e, logo, da nação, ela deve ser efetivada aos surdos pelos agentes
adequados, a partir da resolução dos entraves vinculados a ela.
Sob esse viés, pode-se apontar como um empecilho à implementação desse
direito, reconhecido por mecanismos legais, a discriminação enraizada em parte da
sociedade, inclusive dos próprios responsáveis por essas pessoas com limitação. Isso por
ser explicado segundo o sociólogo Talcott Parsons, o qual diz que a família é uma
máquina que produz personalidades humanas, o que legitima a ideia de que o
preconceito por parte de muitos pais dificulta o acesso à educação pelos surdos. Tal
estereótipo está associado a uma possível invalidez da pessoa com deficiência e é
procrastinado, infelizmente, desde o Período Clássico grego, em que deficientes eram
deixados para morrer por serem tratados como insignificantes, o que dificulta, ainda
hoje, seu pleno desenvolvimento e sua autonomia.
Além do mais, ressalte-se que o Poder Público incrementou o acesso do público
abordado ao sistema educacional brasileiro ao tornar a Libras uma língua secundária
oficial e ao incluí-la, no mínimo, à grade curricular pública. Contudo, devido à falta de
fiscalização e de políticas públicas ostensivas por parte de algumas gestões, isso não é
bem efetivado. Afinal, dados estatísticos mostram que o número de brasileiros com
deficiência auditiva vem diminuindo tanto em escolas inclusivas – ou bilíngues -, como
em exclusivas, a exemplo daquela criada no Segundo Reinado. Essa situação abjeta está
relacionada à inexistência ou à incipiência de professores que dominem a Libras e à
carência de aulas proficientes, inclusivas e proativas, o que deveria ser atenuado por
meio de uma maior gerência do Estado nesse âmbito escolar.
Diante do exposto, cabe às instituições de ensino com proatividade o papel de
deliberar acerca dessa limitação em palestras elucidativas por meio de exemplos em
obras literárias, dados estatísticos e depoimentos de pessoas envolvidas com o tema, para
que a sociedade civil, em especial os pais de surdos, não seja complacente com a cultura
de estereótipos e preconceitos difundidos socialmente. Outrossim, o próprio público
deficiente deve alertar a outra parte da população sobre seus direitos e suas
possibilidades no Estado civil a partir da realização de dias de conscientização na urbe e
da divulgação de textos proativos em páginas virtuais, como “Quebrando o Tabu”. Por
fim, ativistas políticos devem realizar mutirões no Ministério ou na Secretaria de
Educação, pressionando os demiurgos indiferentes à problemática abordada, com o fito
de incentivá-los a profissionalizarem adequadamente os professores – para que todos
saibam, no mínimo, o básico de Libras – e a efetivarem o estudo da Língua Brasileira de

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Sinais, por meio da disponibilização de verbas e da criação de políticas públicas


convenientes, contrariando a teórica inclusão da primeira escola de surdos brasileira.

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YASMIN LIMA ROCHA


A formação educacional de surdos encontra, no Brasil, uma série de empecilhos.
Essa tese pode ser comprovada por meio de dados divulgados pelo Inep, os quais
apontam que o número de surdos matriculados em instituições de educação básica tem
diminuído ao longo dos últimos anos. Nesse sentido, algo deve ser feito para alterar essa
situação, uma vez que milhares de surdos de todo o país têm o seu direito à educação
vilipendiado, confrontando, portanto, a Constituição Cidadã de 1988, que assegura a
educação como um direito social de todo o cidadão brasileiro.
Em primeira análise, o descaso estatal com a formação educacional de deficientes
auditivos mostra-se como um dos desafios à consolidação dessa formação. Isso porque
poucos recursos são destinados pelo Estado à construção de escolas especializadas na
educação de pessoas surdas, bem como à capacitação de profissionais para atenderem às
necessidades especiais desses alunos. Ademais, poucas escolas são adeptas do uso de
libras, segunda língua oficial do Brasil, a qual é primordial para a inclusão de alunos
surdos em instituições de ensino. Dessa forma, a negligência do Estado, ao investir
minimante na educação de pessoas especiais, dificulta a universalização desse direito
social tão importante.
Em segunda análise, o preconceito da sociedade com os deficientes apresenta-se
como outro fator preponderante para a dificuldade na efetivação da educação de pessoas
surdas. Essa forma de preconceito não é algo recente na história da humanidade: ainda
no Império Romano, crianças deficientes eram sentenciadas à morte, sendo jogadas de
penhascos. O preconceito ao deficiente auditivo, no entanto, reverbera na sociedade
atual, calcada na ética utilitarista, que considera inútil pessoas que, aparentemente menos
capacitadas, têm pouca serventia à comunidade, como é caso de surdos. Os deficientes
auditivos, desse modo, são muitas vezes vistos como pessoas de menor capacidade
intelectual, sendo excluídos pelos demais, o que dificulta aos surdos não somente o
acesso à educação, mas também à posterior entrada no mercado de trabalho.
Nesse sentido, urge que o Estado, por meio de envio de recursos ao Ministério da
Educação, promova a construção de escolas especializadas em deficientes auditivos e a
capacitação de profissionais para atuarem não apenas nessas escolas, mas em instituições
de ensino comuns também, objetivando a ampliação do acesso à educação aos surdos,
assegurando a estes, por fim, o acesso a um direito garantido constitucionalmente.
Outrossim, ONGs devem promover, através da mídia, campanhas que conscientizem a
população acerca da importância do deficiente auditivo para a sociedade, enfatizando em
mostrar a capacidade cognitiva e intelectual do surdo, o qual seria capaz de participar da
população economicamente ativa (PEA), como fosse concedido a este o direito à
educação e à equidade de tratamento, por meio da difusão do uso de libras. Dessa forma,
o Brasil poderia superar os desafios à consolidação da formação educacional de surdos.

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LARISSA FERNANDES SILVA DE SOUZA


A Declaração Universal dos Direitos Humanos – promulgada em 1948 pela ONU
– assegura a todos os indivíduos o direito à educação e ao bem-estar social. Entretanto, o
precário serviço de educação pública do Brasil e a exclusão social vivenciada pelos
surdos impede que essa parcela da população usufrua desse direito internacional na
prática. Com efeito, evidencia-se a necessidade de promover melhorias no sistema de
educação inclusiva do país.
Deve-se pontuar, de início, que o aparato estatal brasileiro é ineficiente no que
diz respeito à formação educacional de surdos no país, bem como promoção da inclusão
social desse grupo. Quanto a essa questão, é notório que o sistema capitalista vigente
exige alto grau de instrução para que as pessoas consigam ascensão profissional. Assim, a
falta de oferta do ensino de libras nas escolas brasileiras e de profissionais especializados
na educação de surdos dificulta o acesso desse grupo ao mercado de trabalho. Além
disso, há a falta de formas institucionalizadas de promover o uso de libras, o que
contribui para a exclusão de surdos na sociedade brasileira.
Vale ressaltar, também, que a exclusão vivenciada por deficientes auditivos no
país evidencia práticas históricas de preconceito. A respeito disso, sabe-se que, durante o
século XIX, a ciência criou o conceito de determinismo biológico, utilizado para legitimar
o discurso preconceituoso de inferioridade de grupos minoritários, segundo o qual a
função social do indivíduo é determinada por características biológicas. Desse modo,
infere-se que a incapacidade associada hodiernamente aos deficientes tem raízes
históricas, que acarreta a falta de consciência coletiva de inclusão desse grupo pela
sociedade civil.
É evidente, portanto, que há entraves para que os deficientes auditivos tenham
pleno acesso à educação no Brasil. Dessa maneira, é preciso que o Estado brasileiro
promova melhorias no sistema público de ensino do país, por meio de sua adaptação às
necessidades dos surdos, como oferta do ensino de libras, com profissionais
especializados para que esse grupo tenha seus direitos respeitados. É imprescindível,
também, que as escolas garantam a inclusão desses indivíduos, por intermédio de
projetos e atividades lúdicas, com a participação de familiares, a fim de que os surdos
tenham sua dignidade humana preservada.

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ALAN DE CASTRO NABOR


Sob a perspectiva filosófica de São Tomás de Aquino, todos os indivíduos de uma
sociedade democrática possuem a mesma importância, além dos mesmos direitos e
deveres. No entanto, percebe-se que, no Brasil, os deficientes auditivos compõem um
grupo altamente desfavorecido no tocante ao processo de formação educacional, visto
que o país enfrenta uma série de desafios para atender a essa demanda. Nesse contexto,
torna-se evidente a carência de estrutura especializada no acompanhamento desse
público, bem como a compreensão deturpada da função social deste.
O filósofo italiano Norberto Bobbio afirma que a dignidade humana é uma
qualidade intrínseca ao homem, capaz de lhe dar direito ao respeito e à consideração por
parte do Estado. Nessa lógica, é notável que o poder público não cumpre o seu papel
enquanto agente fornecedor de direitos mínimos, uma vez que não proporciona aos
surdos o acesso à educação com qualidade devida, o que caracteriza um irrespeito
descomunal a esse público. A lamentável condição de vulnerabilidade à qual são
submetidos os deficientes auditivos é percebida no déficit deixado pelo sistema
educacional vigente no país, que revela o despreparo da rede de ensino no que tange à
inclusão dessa camada, de modo a causar entraves à formação desses indivíduos e, por
conseguinte, sua inserção no mercado de trabalho.
Além disso, outra dificuldade enfrentada pelos surdos para alcançar a formação
educativa se dá pela falta de apoio enfrentada por muitos no âmbito familiar, causada
pela ignorância quanto às leis protetoras dos direitos do deficiente, que gera uma letargia
social nesse aspecto. Esse desconhecimento produz na sociedade concepções errôneas a
respeito do papel social do portador de deficiências: como consequência do
descumprimento dos deveres constitucionais do Estado, as famílias – acomodadas por
pouca instrução – alimentam a falsa ideia de que o deficiente auditivo não tem
contribuição significante para a sociedade, o que o afasta da escolaridade e neutraliza a
relevância que possui.
Logo, é necessário que o Ministério da Educação, em parceria com instituições de
apoio ao surdo, proporcione a este maiores chances de se inserir no mercado, mediante a
implementação do suporte adequado para a formação escolar e acadêmica desse
indivíduo – com profissionais especializados em atende-lo -, a fim de gerar maior
igualdade na qualificação e na disputa por emprego. É imprescindível, ainda, que as
famílias desses deficientes exijam do poder público a concretude dos princípios
constitucionais de proteção a esse grupo, por meio do aprofundamento no conhecimento
das leis que protegem essa camada, para que, a partir da obtenção do saber, esse
empenho seja fortalecido e, assim, essa parcela receba o acompanhamento necessário
para atingir a formação educacional e a contribuição à sociedade.

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MATEUS PEREIRA ROSI


Segundo o pensamento de Claude Lévi-Strauss, a interpretação adequada do
coletivo ocorre por meio do entendimento das forças que estruturam a sociedade, como
os eventos históricos e as relações sociais. Esse panorama auxilia na análise da questão
dos desafios para a formação educacional dos surdos no Brasil, visto que a comunidade,
historicamente, marginaliza as minorias, o que promove a falta de apoio da população e
do Estado para com esse deficiente auditivo, dificultando a sua participação plena no
corpo social e no cenário educativo. Diante dessa perspectiva, cabe avaliar os fatores que
favorecem esse quadro, além de o papel das escolas na inserção desse sujeito.
Em primeiro plano, evidencia-se que a coletividade brasileira é estruturada por
um modelo excludente imposto pelos grupos dominantes, no qual o indivíduo que não
atende aos requisitos estabelecidos, branco e abastado, sofre uma periferização social.
Assim, ao analisar a sociedade pela visão de Lévi-Strauss, nota-se que tal deficiente não é
valorizado de forma plena, pois as suas necessidades escolares e a sua inclusão social são
tidas como uma obrigação pessoal, sendo que esses deveres, na realidade, são coletivos e
estatais. Por conseguinte, a formação educacional dos surdos é prejudicada pela
negligência social, de modo que as escolas e os profissionais não estão capacitados
adequadamente para oferecer o ensino em Libras e os demais auxílios necessários,
devido a sua exclusão, já que não se enquadra no modelo social imposto.
Outro ponto relevante, nessa temática, é o conceito de Modernidade Líquida de
Zygmunt Bauman, que explica a queda das atitudes éticas pela fluidez dos valores, a fim
de atender aos interesses pessoais, aumentando o individualismo. Desse modo, o sujeito,
ao estar imerso nesse panorama líquido, acaba por perpetuar a exclusão e a dificuldade
de inserção educacional dos surdos, por causa da redução do olhar sobre o bem-estar dos
menos favorecidos. Em vista disso, os desafios para a formação escolar de tais deficientes
auditivos estão presentes na estruturação desigual e opressora da coletividade, bem
como em seu viés individualista, diminuindo as oportunidades sociais e educativas dessa
minoria.
Logo, medidas públicas são necessárias para alterar esse cenário. É fundamental,
portanto, a criação de oficinas educativas, pelas prefeituras, visando à elucidação das
massas sobre a marginalização da educação dos surdos, por meio de palestras de
sociólogos que orientem a inserção social e escolar desses sujeitos. Ademais, é vital a
capacitação dos professores e dos pedagogos, pelo Ministério da Educação, com o fito de
instruir sobre as necessidades de tal grupo, como o ensaio em Libras, utilizando cursos e
métodos para acolher esses deficientes e incentivar a sua continuidade nas escolas, a fim
de elevar a visualização dos surdos como membros do corpo social. A partir dessas ações,
espera-se promover uma melhora das condições educacionais e sociais desse grupo.

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THAIS FONSECA LOPES DE OLIVEIRA


Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma enorme pedra
morro acima eternamente. Todos os dias, Sísifo atingia o topo do rochedo, contudo era
vencido pela exaustão, assim a pedra retornava à base. Hodiernamente, esse mito
assemelha-se à luta cotidiana dos deficientes auditivos brasileiros, os quais buscam
ultrapassar as barreiras as quais os separam do direito à educação. Nesse contexto, não
há dúvidas de que a formação educacional de surdos é um desafio no Brasil o qual
ocorre, infelizmente, devido não só à negligência governamental, mas também ao
preconceito da sociedade.
A Constituição cidadã de 1988 garante educação inclusiva de qualidade aos
deficientes, todavia o Poder Executivo não efetiva esse direito. Consoante Aristóteles no
livro "Ética a Nicômaco", a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos, logo se
verifica que esse conceito encontra-se deturpado no Brasil à medida que a oferta não
apenas da educação inclusiva, como também da preparação do número suficiente de
professores especializados no cuidado com surdos não está presente em todo o território
nacional, fazendo os direitos permanecerem no papel.
Outrossim, o preconceito da sociedade ainda é um grande impasse à
permanência dos deficientes auditivos nas escolas. Tristemente, a existência da
discriminação contra surdos é reflexo da valorização dos padrões criados pela
consciência coletiva. No entanto, segundo o pensador e ativista francês Michel Foucault,
é preciso mostrar às pessoas que elas são mais livres do que pensam para quebrar
pensamentos errôneos construídos em outros momentos históricos. Assim, uma
mudança nos valores da sociedade é fundamental para transpor as barreiras à formação
educacional de surdos.
Portanto, indubitavelmente, medidas são necessárias para resolver esse
problema. Cabe ao Ministério da Educação criar um projeto para ser desenvolvido nas
escolas o qual promova palestras, apresentações artísticas e atividades lúdicas a respeito
do cotidiano e dos direitos dos surdos. - uma vez que ações culturais coletivas têm
imenso poder transformador - a fim de que a comunidade escolar e a sociedade no geral -
por conseguinte - conscientizem-se. Desse modo, a realidade distanciar-se-á do mito
grego e os Sísifos brasileiros vencerão o desafio de Zeus.

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BEATRIZ ALBINO SERVILHA


Durante o século XIX, a vinda da Família Real ao Brasil trouxe consigo a
modernização do país, com a construção das escolas e universidades. Também, na época,
foi inaugurada a primeira escola voltada para a inclusão social de surdos. Não se vê,
entretanto, na sociedade atual, tal valorização educacional relacionada à comunidade
surda, posto que os embates que impedem sua evolução tornam-se cada vez mais
evidentes. Desse modo, os entraves para a educação de deficientes auditivos denotam
um país desestruturado e uma sociedade desinformada sobre sua composição bilíngue.
A princípio, a falta de profissionais qualificados dificulta o contato do portador
de surdez com a base educacional necessária para a inserção social. O Estado e a
sociedade moderna têm negligenciado os direitos da comunidade surda, pois a falta de
intérpretes capacitados para a tradução educativa e a inexistência de vagas em escolas
inclusivas perpetuam a disparidade entre surdos e ouvintes, condenando os detentores
da surdez aos menores cargos da hierarquia social. Lê-se, pois, é paradoxal que, em um
Estado Democrático, ainda haja o ferimento de um direito previsto constitucionalmente:
o direito à educação de qualidade.
Além disso, a ignorância social frente à conjuntura bilíngue do país é uma
barreira para capacitação pedagógica do surdo. Helen Keller – primeira mulher surdo-
cega a se formar e tornar-se escritora – definia a tolerância como maior presente de uma
boa educação. O pensamento de Helen não tem se aplicado à sociedade brasileira, haja
vista que não se tem utilizado a educação para que se torne comum aos cidadãos a
proximidade com portadores de deficiência auditiva, como aulas de Libras, segunda
língua oficial do Brasil. Dessa forma, torna-se evidente o distanciamento causado pela
inexperiência dos indivíduos em lidar com a mescla que forma o corpo social a que
possuem.
Infere-se, portanto, que é imprescindível a mitigação dos desafios para a
capacitação educacional dos surdos. Para que isso ocorra, o Ministério da Educação e
Cultura deve realizar a inserção de deficientes auditivos nas escolas, por meio da
contratação de intérpretes e disponibilização de vagas em instituições inclusivas, com o
objetivo de efetivar a inclusão social dos indivíduos surdos, haja vista que a escola é a
máquina socializadora do Estado. Ademais, a escola deve preparar surdos e ouvintes
para a convivência harmoniosa, com a introdução de aulas de Libras na grade curricular,
a fim de uniformizar o laço social e, também, cumprir com a máxima de Nelson Mandela
que constitui a educação como segredo para transformar o mundo. Poder-se-á, assim,
visar a uma educação, de fato, inclusiva no Brasil.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

MARIA FERNANDA GURGEL


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, há 45 milhões de
indivíduos portadores de alguma deficiência no País. Apesar do amplo contingente
populacional e dos avanços nos direitos dessa camada da sociedade, esses brasileiros não
dispõem de uma inclusão educacional plena, sobretudo os surdos. Esse cenário
desafiador demanda a adoção de medidas mais eficientes por parte do Poder Público e
de instituições formadoras de opinião a fim de garantir uma melhor qualidade de vida
aos deficientes auditivos.
De fato, o acesso à educação pelos indivíduos surdos é assegurado pela
Constituição de 1988 e pelo mais recente Estatuto da Pessoa com Deficiência. No Brasil,
entretanto, há uma discrepãncia entre o que é defendido por tais instrumentos jurídicos e
a realidade excludente vivida por essa população. Esses indivíduos sofrem, diariamente,
com a escassez de materiais didáticos adaptados e com a insuficiente formação de
profissionais, que, muitas vezes, são incapazes de oferecer uma educação em Libras.
Além disso, grande parte dos brasileiros desconhece tais legislações, o que dificulta a
inclusão plena dos deficientes auditivos e evidencia uma atuação negligente do Estado.
Ademais, de acordo com o pensandor Vygotsky, o indivíduo é fortemente
influenciado pelo meio em que está inserido, o que ressalta a importância de certos
setores da sociedade, a exemplo de famílias e escolas, na formação cidadã dos brasileiros.
Mesmo com essa ampla relevância, diante da persistência de atos discriminatórios contra
os surdos no âmbito escolar, como a recusa de matrícula, a segregação em turmas
especiais e o bullying, fica evidente o desrespeito que tifica como crime qualquer
comportamento intolerante contra os portadores de necessidades especiais, incluindo os
surdos.
Portanto, a fim de garantir a devida formação educacional dos deficientes
auditivos, cabe ao Poder Público, por meio da destinação de mais recursos ao Instituto
Nacional de Educação de Surdos, garantir uma melhor capacitação dos professores e
uma maior disponibilização de materiais adaptados, além de promover informes
educativos, mediante as redes sociais, sobre a existência do Estatuto da Pessoa com
Deficiência. Ademais, cabe às escolas garantir, por meio de palestras para os pais de
alunos, o devido incentivo de amplos diálogos entre os membros do núcleo familiar,
possibilitando uma reflexão quanto ao respeito às diferenças no âmbito domiciliar desde
a infância.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

MARIA JULIANA COSTA


Em razão de seu caráter excessivamente militarizado, a sociedade que constituía
a cidade de Esparta, na Grécia Antiga, mostrou-se extremamente intolerante com
deficiências corpóreas ao longo da história, tornando constante inclusive o assassinato de
bebês que as apresentassem, por exemplo. Passados mais de dois mil anos dessa prática
tenebrosa, ainda é deploravelmente perceptível, sobretudo em países subdesenvolvidos
como o Brasil, a existência de atos preconceituosos perpetrados contra essa parcela da
sociedade, que são o motivo primordial para que se perpetue como difícil a escolarização
plena de deficientes auditivos. Esse panorama nefasto suscita ações mais efetivas tanto
do Poder Público quando das instituições formadoras de opinião, com o escopo de
mitigar os diversos empecilhos postos frente à educação dessa parcela social.
É indubitável, de fato, que muitos avanços já forma conquistados no que tange à
efetivação dos direitos constitucionais garantidos aos surdos brasileiros. Pode-se
mencionar, por exemplo a classificação da Libras - Língua Brasileira de Sinais- como
segundo idioma oficial da nação em 2002, a existência de escolas especíais para surdos no
território do Brasil e as iniciativas privadas que incluem esses cidadãos como partícipes
de eventos - como no caso da plataforma do Youtube Educação, cujas aulas sempre
apresentam um profissional que traduz a fala de um professor para a língua de sinais.
Apenas medidas flagrantemente pontuais como essas, contudo, são incapazes de tornar a
educação de surdos efetiva e acessível a todos que necessitam dela, visto que não só a
maioria dos centros educacionais está mal distribuida no país, mas também a
disponibilidade de professores específicos ainda é escassa, além da linguagem de sinais
ainda ser desconhecida por grande parte dos brasileiros.
No que tange à sociedade civil, nota-se a existência de comportamentos e
ideologias altamente preconceituosas contra os surdos brasileiros. A título de ilustração, é
comum que pais de estudantes ditos "nomais" dificultem o ingresso de alunos portadores
de deficiência auditiva em classes não específicas a eles, alegando que tal parcela tornará
o "ritmo" da aula mais lento; que colegas de sala difundam piadas e atitudes maldosas e
que empresas os considerem inaptos à comunicação com outros funcionários. Essas
atitudes deploravelmente constantes no Brasil ratificam a máxima atribuída ao filósofo
Voltaire: "os preconceitos são a vazão dos imbecís".
Urge, pois, a fim de tornar atitudes intolerantes restritas à história de Esparta,
que o Estado construa mais escolas para deficientes auditivos em municípios mais
afastados de grandes centoros e promova cursos de Libras a professores da rede pública -
por meio da ampliação de verbas destinadas ao Ministério da Educação e da realização
de palestras com especialistas na educação de surdos -, em prol de tornar a formação
educacional deles mais fácil e mais inclusiva. Outrossim, é mister que instituições
formadoras de opinião - como escolas, universidades e famílias socialmente engajadas -
promovam debates amplos e constantes acerca da importância de garantir o respeito e a
igualdade de oportunidades a essa parcela social, a partir de diálogos nos lares, de
seminários e de feiras culturais em ambientes educacionais. Assim, reduzir-se-ão os
empecilhos existentes hoje em relação à educação de surdos na Nação e formar-se-ão

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

cidadãos mais aptos à empreender a necessidade de respeito a eles, afinal, segundo o


filósofo Immanuel Kant: "O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele".

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

JÚLIA KÖCHLER
Em Esparta, na Grécia Antiga, as pessoas com deficiência física, como os surdos,
eram sacrificados, pois o Estado não acreditava no potencial deles em um contexto de
guerras. Mesmo que essa não seja mais uma realidade na sociedade contemporânea, os
surdos ainda enfrentam diversos desafios para a sua formação educacional no Brasil, seja
pela falta de recursos assistivos, seja pela dificuldade de inclusão social no âmbito
escolar.
Em primeiro plano, percebe-se que as escolas com alunos surdos incluídos não
apresentam todos os recursos assistivos necessário para garantir o pleno
desenvolvimento das habilidades funcionais desses estudantes. Exemplo disso são as
escolas de Educação Básica, as quais não possuem docentes preparados para se
comunicarem eficientemente com esses alunos, assim como não possuem materiais
didáticos especializados para o ensino de Libras. Nessa perspectiva, fica evidente que o
sistema educacional brasileiro não garante o total aperfeiçoamento intelectual dos
deficientes auditivos.
Além das dificuldades na aprendizagem, o caráter excludente das instituições de
ensino também é um desafio para os surdos, devido a falta de integração social através
da comunicação nas escolas. Segundo a célebre escritora Hellen Keller, "A tolerância é o
resultado mais sublime da educação." Essa máxima, entretanto, não está sendo
devidamente efetivada, tendo em vista que a Libras não é amplamente difundida na
educação brasileira, o que resulta na exclusão social dos surdos e compromete o
desenvolvimento de suas habilidades sociais.
Frente aos desafios enfrentados pelos surdos no que tange a sua formação
educacional, faz-se necessário, portanto, que o Governo Federal capacite os professores e
adapte os mecanismos de ensino por meio de cursos profissionalizantes em Libras, bem
como materiais didáticos completos e específicos para a formação intelectual desses
alunos, com o objetivo de garantir aos deficientes auditivos o pleno desenvolvimento de
suas habilidades. Ademais, o Estado junto às empresas de serviço público devem oferecer
o ensino de Libras em todos os setores da sociedade, a fim de melhorar a comunicação
dos surdos com a população e, consequentemente, implementar a inclusão social. Assim,
será possível continuar a acelerar o processo de superação dos desafios vividos desde a
Antiguidade.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

IZABELA DAL PAZZOLO MOTA


A educação é um direito inalienável de todos os cidadãos brasileiros. Entretanto,
a acessibilidade àqueles que apresentam algum tipo de deficiência configura-se como um
grande impasse na inclusão de todos os indivíduos. Com isso, surge a problemática dos
desafios para a formação educacional de surdos no Brasil, que cresce intrinsecamente
ligada à realidade dos país, seja pela ineficácia das políticas públicas vigentes, seja pela
cultura acerca do deficiente auditivo no país.
É indubitável que a questão legislativa e a sua aplicação contribuem para o
problema a respeito da educação inclusiva. Pessoas portadoras de qualquer deficiência,
como a surdez, têm seu direito à educação garantido pela Constituição e pelo Estatuto da
Pessoa com Deficiência. Contudo, cenários como a falta de profissionais aptos a suprirem
as necessidades dessa parte da população, assim como a ausência de um maior
entendimento dos fatores que impedem de exercerem plenamente seu direito,
impossibilitam sua eficiência. Tais legislações apresentam resultados insuficientes, já que
não são capazes de possibilitar uma conjuntura na qual a educação inclusiva represente
uma opção viável a todos os surdos.
Segundo pesquisas realizadas pelo Inep, sofreu uma diminuição o número de
surdos matriculados em escolas da educação básica. De acordo com Durkheim, o fato
social é a maneira coletiva de agir e pensar. Ao seguir essa linha de pensamento, observa-
se que o impasse na promoção da inclusão do deficiente auditivo encaixa-se na teoria do
sociólogo, uma vez que, se um indivíduo cresce em um círculo social que inferioriza o
surdo e não o trata como merecedor de uma educação igualitária, tende a adotar um
determinado comportamento também devido à vivência. Assim, o preconceito da
sociedade à inclusão do surdo em todas as esferas da educação, transmitido de geração
em geração, funciona como fator "sine qua non" dessa cultura, perpetuando o problema.
Visando valorizar a educação inclusiva e criar condições indispensáveis para o
seu sucesso, é preciso que o Estado promova a capacitação e a formação de professores
para surdos plenamente competentes. Por meio de cursos especializados, que auxiliem
no entendimento total das necessidades dos deficientes auditivos que lhes proporcione o
aprendizado das ferramentas necessárias para a comunicação, poder-se-á aumentar a
inclusão e, lentamente, mudar a cultura rumo à valorização de idiossincrasias e de
singularidades.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

MARIANA CAMELIER MASCARENHAS


Na antiga Esparta, crianças com deficiência eram assassinadas, pois não
poderiam ser guerreiras, profissão mais valorizada na época. Na contemporaneidade , tal
barbárie não ocorre mais, porém há grandes dificuldades para garantir aos deficientes –
em especial os surdos – o acesso à educação, devido ao preconceito ainda existente na
sociedade e à falta de atenção do Estado à questão.
Inicialmente, um entrave é a mentalidade retrógrada de parte da população, que
age como se os deficientes auditivos fossem incapazes de estudar e, posteriormente,
exercer uma profissão. De fato, tal atitude se relaciona ao conceito de banalidade do mal,
trazido pela socióloga Hannah Arendt: quando uma atitude agressiva ocorre
constantemente, as pessoas param de vê-la como errada. Um exemplo disso é a
discriminação contra os surdos nas escolas e faculdades – seja por olhares maldosos ou
pela falta de recursos para garantir seu aprendizado. Nessa situação, o medo do
preconceito, que pode ser praticado mesmo pelos educadores, possivelmente leva à
desistência do estudo, mantendo o deficiente à margem dos seus direitos – fato que é tão
grave e excludente quanto os homicídios praticados em Esparta , apenas mais
dissimulado.
Outro desafio enfrentado pelos portadores de deficiência auditiva é a
inobservância estatal , uma vez que o governo nem sempre cobra das instituições de
ensino a existência de aulas especializadas para esse grupo – ministradas em Libras –
além da avaliação do português escrito como segunda língua. De acordo com Habermas,
incluir não é só trazer para perto, mas também respeitar e crescer junto com o outro. A
frase do filósofo alemão mostra que, enquanto o Estado e a escola não garantirem direitos
iguais na educação dos surdos – com respeito por parte dos professores e colegas – tal
minoria ainda estará sofrendo práticas discriminatórias.
Destarte, para que as pessoas com deficiência na audição consigam o acesso
pleno ao sistema educacional , é preciso que o Ministério da Educação, em parceria com
as instituições de ensino, promova cursos de Libras para os professores, por meio de
oficinas de especialização à noite – horário livre para a maioria dos profissionais – de
maneira a garantir que as escolas e universidades possam ter turmas para surdos,
facilitando o acesso desse grupo ao estudo. Em adição, o Estado deve divulgar
propagandas institucionais ratificando a importância do respeito aos deficientes
auditivos, com postagens nas redes sociais, para que a discriminação dessa minoria seja
reduzida, levando à maior inclusão.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

ÚRSULA HASPARYK
A plena formação acadêmica dos deficientes auditivos, uma parcela das
chamadas Pessoas com Deficiência (PCD), é um direito assegurado no recém aprovado
Estatuto da Pessoa com Deficiência, de 2015, também conhecido como Lei da
Acessibilidade. Além de um direito legalmente garantido, a educação para esse grupo
social é sociologicamente analisada como essencial para uma sociedade tolerante e
inclusiva. Entretanto, observa-se o desrespeito a essa garantia devido ao preconceito,
muitas vezes manifestado pela violência simbólica, e à insuficiência estrutural
educacional brasileira.
Nessa conjuntura, é necessário destacar as principais relevâncias de se garantir
aos surdos a plena formação acadêmica. Segundo Hannah Arendt, em sua teoria sobre o
Espaço Público, os ambientes e as instituições públicas – inclusive as escolas e as
faculdades – têm que ser completamente inclusivas a todos do espectro social para
exercer sua total funcionalidade e genuinidade. Analogamente, para atuarem como
aparato democrático, tais instituições devem ser preparadas e devem garantir o espaço e
a educação para os deficientes auditivos, constituindo, assim, uma sociedade
diversificada, tolerante e genuína. Além disso, outra importância é o cumprimento dos
direitos à educação e ao desenvolvimento intelectual , assegurados no Estatuto da PCD e
na Constituição Federal de 1988, que não discrimina o acesso à cidadania a nenhum
grupo social, sendo, dessa forma, uma obrigação constitucional.
Contudo, observam-se algumas distorções para essa garantia educacional.
Infelizmente, os surdos são alvo de preconceito e são vistos erroneamente como
incapazes. Isso é frequentemente manifestado na forma de violência simbólica, termo do
sociólogo Pierre Bordieu, que inclui os comportamentos, não necessariamente agressivos
física ou verbalmente, que excluiriam moralmente grupos minoritários, como a PCD,
exemplificados na colocação desses indivíduos em postos de trabalho menos valorizados
e menos remunerados. Adicionalmente , nota-se que outra manifestação dessa violência é
a falta de uma infraestrutura escolar de qualidade com professores capacitados e com
material adequado para garantir a devida formação educacional. Consequentemente, as
vítimas dessa agressão simbólica tenderiam a se isolar, gerando, por exemplo, evasão
escolar e redução da procura pela qualificação profissional e acadêmica por esses
deficientes.
Dessa forma, é necessário que, para garantir o ensino de qualidade e estruturado,
o Ministério da Educação leve profissionais educadores especialistas em Libras para
capacitar os professores já atuantes acerca do ensino aos deficientes auditivos e da
adaptação às suas necessidades particulares na sala de aula. Isso deve ser feito com
palestras instrucionais para os docentes de toda a hierarquia pedagógica.
Complementarmente, o Ministério da Saúde deve disponibilizar profissionais, como
psicólogos, que dêem o apoio e o estímulo para a continuidade educacional dos
deficientes e desconstruam, com atividades lúdicas e interativas com todos os alunos,
como simulações da surdez, os preconceitos acerca desse grupo social.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

LORENA MAGALHÃES DE MACEDO


No convívio social brasileiro, parte considerável da população apresenta alguma
deficiência. Nessa conjuntura, grande parcela dos surdos, em especial, não tem acesso a
uma educação de qualidade, o que fomenta maior empenho do Poder Público e da
sociedade civil, com o fito de superar os desafios para a efetiva inclusão desses
indivíduos no sistema educacional.
Sob esse viés, muitos deficientes auditivos encontram dificuldades para acessar o
Ensino Fundamental, Médio ou Superior, visto que diversas instituições de ensino
carecem de uma infraestrutura adaptada a esses indivíduos, como intérpretes da Libras
durante as aulas. Tal panorama representa a violação da Constituição Federal de 1988 e
do Estado da Pessoa com Deficiência, os quais são mecanismos jurídicos que asseguram
o acesso à educação como um direito de todos os deficientes. Isso atesta a ineficiência
governamental em cumprir prerrogativas legais que garantem a efetiva inclusão dos
surdos na educação.
Ademais, em muitas instituições de ensino, deficientes auditivos ainda são
vítimas de xingamentos e até de agressões físicas por parte de outros alunos, ações que
caracterizam o bullying. Nesse contexto, o filósofo iluminista Voltáire já afirmava:
“Preconceito é opinião sem conhecimento”. Tal máxima, mesmo séculos depois,
comprova que atos intolerantes são, em geral, consequências de uma formação moral
deturpada, a qual não privilegiou princípios, por exemplo, a tolerância e o respeito às
diferenças como essenciais para a convivência harmônica em uma sociedade tão
heterogênea. Desse modo, verifica-se a ineficácia de famílias e escolas em desestimular,
rigorosamente, qualquer ação de caráter discriminatório contra surdos.
Portanto, a fim de garantir que surdos tenham pleno acesso à formação
educacional, cabe ao Estado, mediante o redirecionamento de verbas, realizar as
adaptações necessárias em todas as escolas e as universidades públicas, como o
oferecimento de cursos gratuitos que capacitem profissionais da educação para se
comunicarem em Libras e a contratação de mais intérpretes da Libras para atuarem
nessas instituições. Outrossim, famílias e escolas, por meio de, respectivamente, diálogos
frequentes e palestras, devem debater acerca da aceitação às diferenças como fator
essencial para o convívio coletivo, de modo a combater o bullying e a formar um
paradigma comportamental de total respeito aos deficientes auditivos.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

JOÃO PEDRO BELLUZO


Na antiga pólis de Esparta, havia a prática da eugenia, ou seja, a segregação dos
denominados “imperfeitos”, como, por exemplo, os deficientes. Passados 2000 anos, o
preconceito contra esse grupo ainda prevalece socialmente e afeta, principalmente, a área
da educação. Nesse contexto, os surdos são grandes vítimas da exclusão no processo de
formação educacional, o que traz desafios e a busca por autonomia e pela participação de
pessoas com essa deficiência no espaço escolar brasileiro.
Para o filósofo francês Voltaire, a lei essencial para a prática da igualdade é a
tolerância. Porém, nas escolas, onde as diferenças aparecem, essa característica não se
concretiza. Nesse ambiente, a surdez se torna motivo para discriminação e para o
bullying, contrariando o objetivo da educação de elevar e emancipar o indivíduo, como
defende o sociólogo Paulo Freire, idealizador da educação brasileira. Dessa forma, os
surdos, segregados, encontram um alicerce frágil, para alcançar o desenvolvimento de
seus talentos e habilidades.
Além disso, nota-se que as instituições escolares não oferecem suporte adequado
para os deficientes auditivos. Com isso, a independência e a participação desses
indivíduos são comprometidas, o que acentua as desigualdades. Essa ideia se torna
paradoxal quando comparada à Declaração Universal dos Direitos Humanos e à
Constituição Federal (1988), documentos de alta hierarquia, comprovando a necessidade
de incluir e assistir a população surda nos processos educacionais brasileiros.
Portanto, conclui-se que deve-se tomar medidas que incluam os surdos na
educação, assegurando o desenvolvimento desse grupo. As escolas devem, então,
promover a assistência a esses deficientes, por meio da disponibilização de voluntários
que dominem a linguagem de Libras, principal forma de comunicação da população
surda, com o objetivo de inserir as pessoas com essa deficiência nas salas de aula,
facilitando também o aprendizado. A mídia deve, ainda, mostrar, com exemplos, a
igualdade que deve prevalecer no ambiente escolar, acabando com o preconceito e com o
bullying. Com essas medidas, a eugenia social será minimizada e os deficientes auditivos
serão incluídos nos processos educacionais brasileiros.

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100 REDAÇÕES NOTA 1000 NO ENEM

EDUARDA JUDITH JACOME SILVA


Após a Segunda Guerra Mundial, a ONU promulgou a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, a qual assegura, em plano internacional, a igualdade e a dignidade da
pessoa humana. Entretanto, no Brasil, há falhas na aplicação do princípio da isonomia no
que tange à inclusão de pessoas com deficiência auditiva. Consequentemente, a formação
educacional é comprometida, o que pressupõe uma análise acerca dos entraves que
englobam esta problemática.
Em primeiro lugar, cabe pontuar que as instituições de ensino apresentam, em
sua maioria, um sistema pouco inclusivo. Embora a Lei Brasileira de Inclusão (LBI)
atenda a Convenção do Direito da Pessoa com Deficiência, realizada em 2006 pela ONU,
sua finalidade encontra obstáculos, seja na estrutura escolar vigente, seja na falta de
preparo do corpo docente. Prova disso são as escolas regulares e as universidades que
não se adequaram à comunicação em Libras, bem como exames avaliatórios que não
garantem tal acessibilidade. Nesse sentido, os surdos recebem uma educação frágil,
desigual e excludente.
Além disso, a ineficiente integração no âmbito escolar/acadêmico resulta em
efeitos fora dele. Conforme afirmou Aristóteles, é preciso tratar igualmente os iguais e
desigualmente os desiguais, na medida exata de suas desigualdades. Contudo, a
instrução de aristotélica não é vista na prática, uma vez que o mercado de trabalho
oferece poucas oportunidades, ainda que o deficiente auditivo tenha concluído o ensino
superior. Paralelamente a isso, o comportamento contemporâneo, o qual prioriza o
individualismo e a competição, intensifica a exclusão visto que a deficiência em questão é
alvo de uma visão equivocada de incapacidade funcional. Desse modo, as implicações de
uma educação que não se adapta às diferenças são visíveis.
Diante do exposto, faz-se necessária uma complementação nas instituições
sociais secundárias a fim de promover uma formação educacional coerente com as leis e
as resoluções. Para tanto, o Ministério da Educação deve impor diretrizes de um projeto
pedagógico inclusivo, como a obrigatoriedade de aulas de Libras na graduação de
professores, bem como cursos para os formados. Ademais, o Estado, através do corpo
legislativo, deve propor incentivos fiscais às grandes empresas que instituírem um
percentual proporcional na contratação de pessoas com alguma restrição física, incluindo
a auditiva. Assim, os direitos básicos inerentes à vida e à liberdade, consagrados na Carta
Magna, poderão ser cumpridos.

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Prezado estudante,

Essa é uma cartilha elaborada por 31 dos 55 alunos nota 1000 na redação
do Exame Nacional do Ensino Médio 2018. Ela foi produzida a partir da
união espontânea desses estudantes a fim de ajudar outros, como você, e
com o intuito de servir de inspiração e exemplo para a evolução textual de
futuros vestibulandos.

Aqui você encontrará uma seção para cada autor, contendo o espelho da
sua redação, o texto transcrito e uma confirmação da pontuação máxima.
Elas estão organizadas em ordem alfabética, mas não há ordem certa para
leitura :).

A nossa mensagem para todos é a da democratização da educação.


Visamos alcançar o maior número de pessoas com essa iniciativa, sem
restrições: por isso, essa cartilha é gratuita e pública na internet.
Acreditamos que conhecimento é adquirido para ser compartilhado.
Queremos que, a partir da nossa experiência, esse resultado tão almejado
se torne mais acessível, e que, em 2019, tenhamos mais que 55 de nós. 60,
70, 80, 100 notas mil, em 2019.

Somos de todas as regiões e estados do Brasil. Somos de todas as idades,


desde a Letícia com 15 até a Thais com 28 anos. Somos formandos e somos
treineiros, alguns ainda vestibulandos a fazer o exame novamente. Somos
mulheres e homens, de maioria feminina. Somos brasileiros propondo-se a
amenizar a discrepância na desigualdade das redes pública e privada de
ensino. Mas, antes de tudo, somos seres humanos como quaisquer outros.

Todos nós tivemos que fazer, na redação, uma proposta de intervenção


para melhorar o país. Está aí — essa é a nossa verdadeira proposta de
intervenção.

Lucas Felpi
@lfelpi

ATENÇÃO: Sob hipótese nenhuma esse material poderá ser revendido. Ele é inteiramente gratuito e
estará disponível no formato digital a todos. Além disso, caso professores, blogs, portais, ou cursos
tenham interesse em compartilhar ou adotar a cartilha, pedimos que a copiem na íntegra, sem
fragmentá-la, e mantenham os créditos. O trabalho foi feito pelos próprios autores, com direito de
uso para este documento, e não está aplicado a outras fontes sem prévia autorização.

1
Sumário
André Bahia​ ​18 anos | Janaúba - MG 4

Carolina Mendes Pereira​ 1​ 8 anos | Natal - RN 7

Clara de Jesus​ 1​ 8 anos | Aracaju - SE 10

David Klinsman​ 2
​ 0 anos | Imperatriz - MA 13

Fabricio Vitorino​ ​ 1​ 8 anos | Rio Claro - SP 16

Fernanda Carolina Santos​ ​18 anos | Belo Horizonte - MG 19

Iohana Freitas​ 1​ 8 anos | Brasília - DF 22

Isabel Petrenko​ ​18 anos | Rio de Janeiro - RJ 25

Isabella Campolina​ ​20 anos | Sete Lagoas - MG 28

Ívina Araújo​ ​ ​21 anos | Santa Quitéria - CE 31

Jamille Borges​ ​ ​18 anos | Aracaju - SE 34

Laís Mesquita​ 1​ 8 anos | Fortaleza - CE 37

Laura Elisa Viana​ ​ 1​ 8 anos | Mariana - MG 40

Letícia Sant'Anna​ ​15 anos | Aracaju - SE 43

Lívia Taumaturgo​ ​ ​18 anos | Fortaleza - CE 46

Lucas Felpi​ 1​ 7 anos | Cotia - SP 49

Luisa Leite​ 1​ 8 anos | Belo Horizonte - MG 52

Maria Eduarda Fionda​ ​ ​18 anos | Rio de Janeiro - RJ 55

Maria Fernanda Brandão​ ​17 anos | Niterói - RJ 58

Mariana Oliveira​ ​19 anos | Teresina - PI 61

Mattheus Cardoso​ ​17 anos | Rio das Ostras - RJ 64

Melissa Fiuza​ 1​ 7 anos | Fortaleza - CE 67

Natália Patrício​ ​ 2
​ 0 anos | Brasília - DF 70

Pedro Assaad​ 2
​ 0 anos | Rio de Janeiro - RJ 73

Rylla Varela​ 1​ 9 anos | Ipanguaçu - RN 76

Sílvia Fernanda Lima​ 1​ 7 anos | Niterói - RJ 79

Thais Saeger​ 2
​ 8 anos | Niterói - RJ 82

Tiago Henrique Rodrigues​ ​16 anos | Guarabira - PB 85

2
Vanessa Tude​ ​19 anos | Nova Iguaçu - RJ 88

Vitoria Azevedo​ ​18 anos | Volta Redonda - RJ 91

Yuri Faquini​ 1​ 7 anos | Juiz de Fora - MG 94

Agradecimentos 97

3
André Bahia
18 anos | Janaúba - MG

Foto: Reprodução/Inep

"
Segundo Steve Jobs, um dos fundadores da empresa “Apple”, a tecnologia
move o mundo. Contudo, os avanços tecnológicos não trouxeram apenas
avanços à sociedade, uma vez que bilhões de pessoas sofrem a
manipulação oriunda do acesso aos seus dados no uso da internet. Nesse

4
sentido, esse processo é executado por empresas que buscam
potencializar a notoriedade dos seus produtos e conteúdos no meio
virtual. Sob tal ótica, esse cenário desrespeita princípios importantes da
vida social, a saber, a liberdade e a privacidade.

De acordo com Jean Paul Sartre, o homem é condenado a ser livre. Nessa
lógica, o uso de informações do acesso pessoal para influenciar o usuário
confronta o pensamento de Sartre, visto que o indivíduo tem sua liberdade
de escolha impedida pela imposição de conteúdos a serem acessados.
Dessa forma, a internet passa a ser um ambiente pouco democrático e
torna-se um reflexo da sociedade contemporânea, na qual as relações de
lucro e interesse predominam. Faz-se imprescindível, portanto, a
dissolução dessa conjuntura.

Outrossim, é válido ressaltar que, conforme Immanuel Kant, o princípio da


ética é agir de forma que essa ação possa ser uma prática universal. De
maneira análoga, a violação da privacidade pelo acesso aos dados virtuais
sem a permissão das pessoas vai de encontro à ética kantiana, dado que se
todos os cidadãos desrespeitassem a privacidade alheia, a sociedade
entraria em profundo desequilíbrio. Com base nisso, o uso de informações
virtuais é prejudicial à ordem social e, por conseguinte, torna-se
contestável quando executado sem consentimento.

Em suma, são necessárias medidas que atenuem a manipulação do


comportamento do usuário pelo controle de dados na internet. Logo, a fim
de dar liberdade de escolha ao indivíduo, cabe às empresas de tecnologia
solicitar a autorização para o uso dessas informações, por meio de
advertências com linguagem clara, tendo em vista a linguagem técnica
utilizada, atualmente, por avisos do tipo. Ademais, compete ao cidadão
ficar atento a essa questão, de modo a cobrar e pressionar essas empresas.
Enfim, a partir dessas ações, as tecnologias, como disse Steve Jobs,
moverão o mundo para frente.
"
André Bahia

5
Foto: Reprodução/Inep

6
Carolina Mendes Pereira
18 anos | Natal - RN

Foto: Reprodução/Inep

"
Em sua canção "Pela Internet", o cantor brasileiro Gilberto Gil louva a
quantidade de informações disponibilizadas pelas plataformas digitais
para seus usuários. No entanto, com o avanço de algoritmos e
mecanismos de controle de dados desenvolvidos por empresas de

7
aplicativos e redes sociais, essa abundância vem sendo restringida e as
notícias, e produtos culturais vêm sendo cada vez mais direcionados - uma
conjuntura atual apta a moldar os hábitos e a informatividade dos
usuários. Desse modo, tal manipulação do comportamento de usuários
pela seleção prévia de dados é inconcebível e merece um olhar mais
crítico de enfrentamento.

Em primeiro lugar, é válido reconhecer como esse panorama supracitado


é capaz de limitar a própria cidadania do indivíduo. Acerca disso, é
pertinente trazer o discurso do filósofo Jürgen Habermas, no qual ele
conceitua a ação comunicativa: esta consiste na capacidade de uma
pessoa em defender seus interesses e demonstrar o que acha melhor para
a comunidade, demandando ampla informatividade prévia. Assim,
sabendo que a cidadania consiste na luta pelo bem-estar social, caso os
sujeitos não possuam um pleno conhecimento da realidade na qual estão
inseridos, e de como seu próximo pode desfrutar do bem comum - já que
suas fontes de informações estão direcionadas -, eles serão incapazes de
assumir plena defesa pelo coletivo. Logo, a manipulação do
comportamento não pode ser aceita em nome do combate, também, ao
individualismo e do zelo pelo bem grupal.

Em segundo lugar, vale salientar como o controle de dados pela internet


vai de encontro à concepção do indivíduo pós-moderno. Isso porque, de
acordo com o filósofo pós-estruturalista Stuart-Hall, o sujeito inserido na
pós-modernidade é dotado de múltiplas identidades. Sendo assim, as
preferências e ideias das pessoas estão em constante interação, o que não
pode ser limitado pela prévia seleção de informações, comerciais,
produtos, entre outros. Por fim, seria negligente não notar como a
tentativa de tais algoritmos de criar universos culturais adequados a um
gosto de seu usuário criam uma falsa sensação de livre-arbítrio e tolhe os
múltiplos interesses e identidades que um sujeito poderia assumir.

Portanto, são necessárias medidas capazes de mitigar essa problemática.


Para tanto, as instituições escolares são responsáveis pela educação digital
e emancipação de seus alunos, com o intuito de deixá-los cientes dos
mecanismos utilizados pelas novas tecnologias de comunicação e
informação e torná-los mais críticos. Isso pode ser feito pela abordagem da
temática, desde o ensino fundamental - uma vez que as gerações estão,
cada vez mais cedo, imersas na realidade das novas tecnologias -, de
maneira lúdica e adaptada à faixa etária, contando com a capacitação
prévia dos professores acerca dos novos meios comunicativos. Por meio,
também, de palestras profissionais das áreas da informática que

8
expliquem como os alunos poderão ampliar seu meio de informações e
demonstrem como lidar com tais seletividades, haverá um caminho
traçado para uma sociedade emancipada.
"
Carolina Mendes Pereira

Foto: Reprodução/Inep

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Clara de Jesus
18 anos | Aracaju - SE | @_claradejesus_

Foto: Reprodução/Inep

"
“Black Mirror” é uma série americana que retrata a influência da tecnologia
no cotidiano de uma sociedade futura. Em um de seus episódios, é
apresentado um dispositivo que atua como uma babá eletrônica mais

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desenvolvida, capaz de selecionar as imagens e os sons que os indivíduos
poderiam vivenciar. Não distante da ficção, nos dias atuais, existem
algoritmos especializados em filtrar informações de acordo com a
atividade “online” do cidadão. Por isso, torna-se necessário o debate acerca
da manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na
internet.

Primeiramente, é notável que o acesso a esse meio de comunicação


ocorre de maneira, cada vez mais, precoce. Segundo pesquisa divulgada
pelo IBGE, no ano de 2016, apenas 35% dos entrevistados, que
apresentavam idade igual ou superior a 10 anos, nunca haviam utilizado a
internet. Isso acontece porque, desde cedo, a criança tem contato com
aparelhos tecnológicos que necessitam da disponibilidade de uma rede de
navegação, que memoriza cada passo que esse jovem indivíduo dá para
traçar um perfil de interesse dele e, assim, fornecer assuntos e produtos
que tendem a agradar ao usuário. Dessa forma, o uso da internet torna-se
uma imposição viciosa para relações sócio-econômicas.

Em segundo lugar, o ser humano perde a sua capacidade de escolha.


Conforme o conceito de “Mortificação do Eu”, do sociólogo Erving
Goffman, é possível entender o que ocorre na internet que induz o
indivíduo a ter um comportamento alienado. Tal preceito afirma que, por
influência de fatores coercitivos, o cidadão perde seu pensamento
individual e junta-se a uma massa coletiva. Dentro do contexto da internet,
o usuário, sem perceber, é induzido a entrar em determinados sites devido
a um “bombardeio” de propagandas que aparece em seu dispositivo
conectado. Evidencia-se, portanto, uma falsa liberdade de escolha quanto
ao que fazer no mundo virtual.

Com o intuito de amenizar essa problemática, o Congresso Nacional deve


formular leis que limitem esse assédio comercial realizado por empresas
privadas, por meio de direitos e punições aos que descumprirem, a fim de
acabar com essa imposição midiática. As escolas, em parceria com as
famílias, devem inserir a discussão sobre esse tema tanto no ambiente
doméstico quanto no estudantil, por intermédio de palestras, com a
participação de psicólogos e especialistas, que debatam acerca de como
agir “online”, com o objetivo de desenvolver, desde a infância, a capacidade
de utilizar a tecnologia a seu favor. Feito isso, o conflito vivenciado na série
não se tornará realidade.
"
Clara de Jesus

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Foto: Reprodução/Inep

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David Klinsman
20 anos | Imperatriz - MA | @davidklinsman

Foto: Reprodução/Inep

"
Para o pensador francês Pierre Bourdieu, “aquilo que foi criado para ser
um instrumento de democracia, não deve ser convertido em uma
ferramenta de manipulação“. Essa visão, embora correta, não é efetivada
no hodierno cenário global, sobretudo no Brasil, posto que se tornou

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frequente a manipulação do comportamento do usuário pelo controle de
dados na internet, nas diversas relações cotidianas. Isso ocorre, ora em
função do despreparo civil, ora pela inação das esferas governamentais
para conter esse dilema. Assim, hão de ser analisados tais fatores, a fim de
que se possa liquidá-los de maneira eficaz.

A priori, é imperioso destacar que a manipulação da conduta dos usuários,


pelo controle dos seus dados nas plataformas virtuais, é fruto do
despreparo civil para lidar com a influência das tecnologias. Isso porque,
mediante a ausência de uma orientação adequada, os indivíduos são
expostos, cotidianamente, a conteúdos selecionados por algoritmos que
direcionam os materiais, segundo os gostos pessoais. Esse panorama se
evidencia, por exemplo, quando se observa a elaboração superficial de um
“ranking“ diário de informações em plataformas digitais como “Twitter”,
em que o grau de relevância da disposição de conteúdos já é
pré-determinado. Logo, é substancial a alteração desse quadro que vai de
encontro à possibilidade de escolha inerente ao homem.

Outrossim, é imperativo pontuar que a manipulação dos atos de usuários


da internet, devido ao controle de dados desse público, deriva, ainda, da
baixa atuação dos setores governamentais, no que concerne à criação de
mecanismos que coíbam tais recorrências. Isso se torna mais claro, por
exemplo, ao se observar o recente cenário das eleições ocorridas em países
da América Latina, como Colômbia, México e Brasil, em que a difusão
desordenada de informações equivocadas, sem efetivas intervenções do
Estado, induziram o comportamento do eleitor. Ora, se um governo se
omite diante uma questão tão importante, entende-se, assim, o porquê de
sua continuação. Desse modo, faz-se mister a reformulação dessa postura
estatal de forma urgente.

Depreende-se, portanto, a necessidade de se combater a manipulação do


comportamento dos usuários pelo controle de dados na internet. Para
tanto, cabe ao Ministério da Educação — ramo do Estado responsável pela
formação civil — inserir, nas escolas, desde a tenra idade, a disciplina de
Educação Digital, de cunho obrigatório em função da sua necessidade,
além de difundir campanhas instrucionais, por meio das mídias de grande
alcance, para que o sujeito aja corretamente segundo as próprias
necessidades e escolhas. Ademais, o Governo Central deve impor sanções
a empresas, em especial as virtuais, que criam perfis de usuários para
influenciar suas condutas, por via da instauração de Secretarias planejadas
para a atuação no ambiente digital, uma vez que tais plataformas
padecem de fiscalizações efetivas, com o fito de minorar o controle de

14
comportamentos por particulares. Quiçá, assim, tal hiato reverter-se-á,
sobretudo na perspectiva tupiniquim, fazendo “jus”, deveras, àquilo que
fora apregoado pelo pensador francês Bourdieu.
"
David Klinsman

Foto: Reprodução/Inep

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Fabricio Vitorino
18 anos | Rio Claro - SP | @_fabriciovds_

Foto: Reprodução/Inep

"
Após o fim da Guerra Fria, em 1990, e o estabelecimento do capitalismo em
praticamente todo o mundo, as empresas utilizam-se cada vez mais dos
meios midiáticos e da tecnologia para promoverem seus produtos de

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maneira direcionada e flexibilizada aos consumidores. Com efeito, nota-se
crescente número de pessoas consumistas e endividadas, problema
agravado na contemporaneidade. Assim, cabe a análise acerca de causas,
consequências e possível solução da problemática.

Mormente, é importante ressaltar os fatores que possibilitaram o aumento


da influência midiática. Adorno e Horkheimer, dois importantes filósofos
da escola de Frankfurt, definiram como indústria cultural a padronização e
massificação dos produtos como forma de lucratividade. Tais métodos,
aliados às facilidades que a tecnologia traz em rastrear os sites de compras
visitados pelo consumidor, permitem a manipulação das pessoas por meio
de propagandas direcionadas. Desse modo, como dito por Theodor
Adorno, os cidadãos têm a liberdade de escolher sempre a mesma coisa;
algo grave, tendo em vista o ferimento do direito de escolha do indivíduo.

Vale também ressaltar os efeitos desse fenômeno. De acordo com uma


pesquisa publicada no portal G1, os brasileiros passam cerca de 4 horas
diárias conectados à rede. Como grande parte do conteúdo na internet é
moldada ao usuário, é cada vez mais comum encontrar pessoas que
passam horas assistindo, ouvindo ou lendo coisas de interesse próprio, pois
essas pessoas são bombardeadas diariamente com sugestões que
atendem ao seu perfil. Dessa maneira, os indivíduos têm sua opinião e
comportamento moldados inconscientemente, podendo criar padrões
consumistas, algo que gera endividamento e desperdício e precisa mudar
urgentemente.

Depreende-se, portanto, que o controle dos dados na internet pode ser


muito prejudicial ao cidadão e necessita de mais atenção. O governo
federal, como instituição regulamentadora da internet e propaganda, deve
criar medidas que controlem e reduzam a publicidade direcionada, por
meio da fiscalização e criação de leis que exijam a transparência das
empresas. Espera-se, com isso, que os brasileiros possam ter a liberdade de
escolha garantida e, assim, sejam menos manipulados pela mídia, como
Adorno e Horkheimer defendiam.
"
Fabricio Vitorino

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Foto: Reprodução/Inep

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Fernanda Carolina Santos
18 anos | Belo Horizonte - MG

Foto: Reprodução/Inep

"
No filme “Matrix“, clássico do gênero ficção científica, o protagonista Neo é
confrontado pela descoberta de que o mundo em que vive é, na realidade,
uma ilusão construída a fim de manipular o comportamento dos seres
humanos, que, imersos em máquinas que mantém seus corpos sob

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controle, são explorados por um sistema distópico dominado pela
tecnologia. Embora seja uma obra ficcional, o filme apresenta
características que se assemelham ao atual contexto brasileiro, pois, assim
como na obra, os mecanismos tecnológicos têm contribuído para
alienação dos cidadãos, sujeitando-os aos filtros de informações impostos
pela mídia, o que influencia negativamente seus padrões de consumo e
sua autonomia intelectual.

Em princípio, cabe analisar o papel da internet no controle do


comportamento sob a perspectiva dos sociólogo contemporâneo
Zygmunt Bauman. Segundo o autor, o crescente desenvolvimento
tecnológico, aliado ao incentivo ao consumo desenfreado, resulta numa
sociedade que anseia constantemente por produtos novos e por
informações atualizadas. Nesse contexto, possibilita-se a ascensão, no
meio virtual, de empresas que se utilizam de algoritmos programados
para selecionar o conteúdo a ser exibido aos internautas com base em seu
perfil socioeconômico, oferecendo anúncios de produtos e de serviços
condizentes com suas recentes pesquisas em sites de busca ou de
compras. Verifica-se, portanto, o impacto da mídia virtual na criação de
necessidades que fomentam o consumo entre os cidadãos.

Ademais, a influência do meio virtual atinge também o âmbito intelectual.


Isso ocorre na medida em que, ao ter acesso apenas ao conteúdo
previamente selecionado de acordo com seu perfil na internet, o indivíduo
perde contato com pontos de vistas que divergem do seu, o que
compromete significativamente a construção de seu senso crítico e de sua
capacidade de diálogo. Dessa maneira, surge uma massa de internautas
alienados e despreocupados em checar a procedência das informações
que recebem, o que torna ambiente virtual propício à disseminação das
chamadas “fake news“.

Assim, faz-se necessária a atuação do Ministério da Educação, em parceria


com a mídia, na educação da população — especialmente dos jovens,
público mais atingido pela influência digital — acerca da necessidade do
posicionamento crítico quanto ao conteúdo exposto sugerido na internet.
Isso deve ocorrer por meio da promoção de palestras, que, ao serem
ministradas em escolas e universidades, orientem os brasileiros no sentido
de buscar informação em fontes variadas, possibilitando a construção de
senso crítico. Além disso, cabe às entidades em governamentais a
elaboração de medidas que minimizem os efeitos das propagandas que
visam incentivar o consumismo. Dessa forma, será possível tornar o meio

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virtual um ambiente mais seguro e democrático para a população
brasileira.
"
Fernanda Carolina Santos

Foto: Reprodução/Inep

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Iohana Freitas
18 anos | Brasília - DF

Foto: Reprodução/Inep

"
Por consequência da Revolução Científica, o acesso à tecnologia favorece
contato com uma farta veiculação de informações, as quais são
constantemente manipuladas. Nesse sentido, o controle de dados

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presente da internet reverbera uma arquitetura de comportamento da
sociedade, sendo imperiosa a ampliação de medidas a fim de minimizar os
impactos ocasionados por esse cenário. Ademais, é fulcral ressaltar a
ausência de pensamento crítico como causa, bem como os prejuízos
sociais fomentados em decorrência disso.

Em primeiro plano, urge analisar a falta de criticismo dos usuários


mediante a internet. Nesse contexto, a falta de percepção crítica acerca
das informações adquiridas nas redes por parte dos indivíduos implica
uma falsa ideia de liberdade de escolha, já que os meios de comunicação
definem a noção de mundo do seus usuários. Com efeito, tal conjuntura é
análoga a “menoridade intelectual”, proposta por Kant, a qual caracteriza a
falta de autonomia dos indivíduos sobre seus intelectos, uma vez que a
sociedade torna-se refém da manipulação de dados da internet e,
consequentemente, tem seu comportamento moldado.

Outrossim, questões sociais estão intimamente ligadas ao controle de


informações na internet. Nesse âmbito, a cegueira moral, fenômeno
exposto por José Saramago em sua obra ”Ensaio sobre Cegueira“,
caracteriza a alienação da sociedade frente às demais realidades sociais, a
qual é fomentada pela restrição do pleno acesso à informação pelos meios
de comunicação. Dessa feita, as redes sociais propiciou a formação de
“bolhas sociais“, de modo a manipular o comportamento do indivíduo,
além de restringir sua ideia acerca da conjuntura vivida.

Em síntese, medidas devem ser efetivadas a fim de mitigar os impactos


causados pelo controle de dados na internet. Desse modo, as escolas
devem promover a educação em informática, por meio de aulas sobre uso
consciente da tecnologia e da informação — as quais utilizam
computadores e celulares — com vistas a induzir o pensamento crítico
desde a infância. Além disso, cabe à sociedade efetivar o uso consciente da
internet, por intermédio do policiamento acerca da obtenção de
informações, as quais devem ser originadas de fontes confiáveis — com o
intuito de assegurar uma mudança de pensamento social. Dessa forma,
garantir-se-á o combate à manipulação do comportamento do usuário
pelo controle de dados na internet.
"
Iohana Freitas

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Foto: Reprodução/Inep

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Isabel Petrenko
18 anos | Rio de Janeiro - RJ | @ipetrenkod

Foto: Reprodução/Inep

"
Em “O jogo da imitação”, o personagem Alan Turing prejudica o avanço da
Alemanha nazista, quando consegue decifrar os algoritmos
correspondentes ao projeto de guerra de Hitler. Diante disso, pode-se
observar, desde a segunda metade do século XX, a relevância do

25
conhecimento tecnológico para atingir certos objetivos. Contudo,
diferentemente desse contexto, atualmente, utiliza -se, muitas vezes, a
tecnologia não para o bem coletivo, como no filme, mas para vantagens
individuais, mediante a manipulação de dados de usuários da internet.
Destarte, é fundamental analisar as razões que tornam essa problemática
uma realidade no mundo contemporâneo.

Em primeiro lugar, cabe abordar a dificuldade de regulação dos sites


quanto ao acesso aos dados de quem está inserido no ambiente virtual.
Segundo o filósofo Kant, a pessoa é um fim em si mesma, e não um meio
de conseguir atingir interesses particulares. Nesse sentido, rompe- se com
tal lógica humanista ao verificar-se que, hoje, muitas empresas
transformam o consumidor em um instrumento de lucro. Isso ocorre
porque os entraves para o controle da manipulação, caracterizados pela
dificuldade de identificação dos agentes de tal ação, inviabilizam a
proteção dos usuários, sobretudo nas redes sociais, que são o principal elo
de ligação das pessoas com as empresas e suas propagandas publicitárias.
Por conseguinte, os indivíduos são bombardeados por anúncios, que
contribuirão para traçar perfis individuais, direcionar o consumo e, ainda,
influenciar as escolhas e os gostos de cada um.

Ademais, outro fator a salientar é a falta de informação no que tange à


internet. Com o advento da Terceira Revolução Industrial, nota-se uma
população cada vez mais rodeada de tecnologia, porém, despreparada
para lidar com ela. Percebe-se, em grande parte das instituições de ensino,
que a educação é incompleta, visto que, apesar de, desde a infância, ter
contato com computadores e celulares, a criança cresce sem saber
discernir corretamente quais dados podem ser públicos e como
protegê-los de sistemas inteligentes. Logo, é mister providenciar uma
reconfiguração no ensino para formar indivíduos conscientes dos riscos
que a internet pode oferecer.

Torna-se evidente, portanto, que a manipulação do comportamento do


usuário é nociva ao direito dele à privacidade. Assim, cabe ao Executivo
combater a manipulação de dados, mediante o investimento no Ministério
de Ciência e Tecnologia, que aprimorará a fiscalização dos sistemas virtuais
das empresas e desenvolverá um setor de tecnologia da informação, rumo
à ampla proteção dos usuários do ambiente cibernético. Outrossim,
compete ao Legislativo inserir na grade curricular disciplinas como
Informática e Educação Tecnológica, por meio da alteração na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação, a qual permitirá um suporte de ensino
sobre as ameaças aos dados virtuais e sobre como lidar com as redes

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sociais, a fim de criar uma maior preocupação com a segurança das
informações. Dessa forma, será possível construir uma sociedade mais
autônoma e menos guiada pelos interesses empresariais.
"
Isabel Petrenko

Foto: Reprodução/Inep

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Isabella Campolina
20 anos | Sete Lagoas - MG | @isabellacampolina

Foto: Reprodução/Inep

"
Em meados do século XX, durante o período da Segunda Guerra Mundial,
foi desenvolvida a internet. A princípio, tal ferramenta tinha como objetivo
facilitar a comunicação bélica e, por isso, era restrita a um determinado

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grupo de pessoas. Entretanto, após o término da guerra a internet foi
difundida e alcançou novos públicos. Além disso, foram atribuídas novas
funções à ferramenta que contribuíram para sua popularização.
Atualmente, a tecnologia virtual faz parte da vida da maior parte da
população brasileira, seja para lazer, seja para trabalho. Contudo, embora a
internet ofereça acesso a todo tipo de conteúdo, ela se vale de
mecanismos de controle de dados que manipulam a disposição das
informações. Dessa maneira, em razão do Capitalismo e do ensino
tradicionalista, a manipulação do comportamento do usuário pelo controle
de dados da internet torna-se evidente e problemático.

Em primeiro plano, o sistema econômico capitalista corrobora o problema,


na medida em que se vale do ambiente virtual para obter lucro com o
desenvolvimento do comércio online. Isso pode ser verificado com o
aumento de lojas e, consequentemente, de propagandas virtuais. Com
isso, foram desenvolvidos padrões de rastreamento de dados do usuário a
fim de personalizar as propagandas de acordo com o tipo de consumidor.
Esse mecanismo contribui para o aumento das vendas, já que o indivíduo
é sutilmente persuadido a comprar um produto que, provavelmente, já o
interessava. Dessa forma, cada cidadão é afetado diretamente por
mecanismos de venda e nem sempre tem conhecimento disso,
prejudicando, pois, a democracia pela restrição indireta da liberdade
individual.

Ademais, o falho sistema de ensino — no que diz respeito às novas


tecnologias — contribui para ocorrência do problema. Isso se confirma
com a permanência de um ensino tradicionalista, que exclui os aparelhos
tecnológicos da rotina escolar, em oposição à constante modernização dos
aparelhos. Estes, ao invés de serem incorporados à vida escolar para serem
compreendidos e ressignificados como ferramentas úteis ao
conhecimento, são duramente combatidos das salas de aula por serem
majoritariamente utilizados para entretenimento. Assim, sem o
conhecimento a respeito das possíveis maneiras de se usar internet e dos
mecanismos nela presentes, o usuário torna-se vulnerável diante da
manipulação do seus dados, o que prejudica harmonia social do espaço
virtual e, por consequência, a plena vivência da cidadania.

Logo, a fim de mitigar o problema é preciso isto: que o Ministério da


Educação integre à grade curricular o ensino sobre o uso seguro e
consciente da internet por meio da realização de projetos que expliquem e
exemplifiquem como o controle de dados é feito e como isso afeta o
indivíduo. Tal ação deverá alertar os cidadãos para que eles se tornem mais

29
autônomos ao usar a ferramenta. Além disso, o Governo Federal deve criar
campanhas que sejam veiculadas às mídias abordando o tema em
questão. Dessa maneira, a parcela da população que não frequenta mais a
escola também é informada e alertada para se precaver.
"
Isabella Campolina

Foto: Reprodução/Inep

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Ívina Araújo
21 anos | Santa Quitéria - CE | @ivina_araujo

Foto: Reprodução/Inep

"
Em um dos episódios da série televisiva “Black Mirror“, é retratada a
aceitação de padrões de comportamentos na Internet pelo indivíduo
como uma forma de ser aceito pela sociedade mesmo que, muitas vezes,

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este discorde daqueles. De maneira similar à realidade, nota-se que, no
Brasil, a questão da manipulação dos usuários no ambiente virtual em
nada difere do enredo ficcional citado, pois a falta de um questionamento
contundente pelas esferas midiático e social acerca da temática é uma
marca constante neste país. Diante disso, é imprescindível discutir novas
metodologias ativas no intuito de estimular o desenvolvimento do senso
crítico dos cidadãos e eliminar as mazelas trazidas pela problemática.

Nesse sentido, observa-se a influência midiática na atual conjuntura, já


que, desde a Revolução Técnico-Científica, com a criação de artigos
tecnológicos de preço acessível e que possibilitam o acesso a informações
em escala global, até a contemporaneidade, com a popularização dessas
tecnologias devido ao surgimento das redes sociais, por exemplo, nota-se
que o indivíduo encontrou nesses produtos uma forma de expressar seus
pensamentos e de ter acesso a conhecimentos variados. Todavia, ao
mesmo tempo em que a mídia proporciona essa liberdade também a
limita, utilizando para isso o emprego de algoritmos que regulam o fluxo
de informações que chegam os usuários, a exemplo da plataforma digital
Netflix. Por conseguinte, há a criação de uma “bolha“, em que os indivíduos
possuem acesso apenas a conteúdos de seu interesse, o que interfere
negativamente na formação do seu pensamento por não abordar
integralmente os assuntos existentes. Desse modo, o jovem, por ainda
estar construindo sua personalidade, é facilmente suscetível a adquirir os
conteúdos sem o devido questionamento, impossibilitando o pleno
desenvolvimento de seu senso crítico.

Nessas circunstâncias, deve-se ressaltar a importância econômica da


problemática. Em face disso, Adorno traz em seus trabalhos o conceito de
Indústria Cultural, em que há uma objetificação do homem pela mídia,
passando este a seguir os comportamentos ditados pela seara midiática.
Seguindo essa linha de pensamento, as empresas que utilizam os dados
dos usuários presentes na Internet para promover seus produtos estariam
interessados não no bem-estar do indivíduo, mas nas benesses
econômicos, promovendo a circulação de ideias e mercadorias com
ausência de um conteúdo crítico, permitindo com isso a massificação
desses comportamentos. Dessa maneira, entende-se essa questão como
uma problemática cuja resolução deve ser imediata.

Destarte, é mister a união entre a seara midiática e a sociedade afim de


mostrar a essencialidade da reeducação dos cidadãos para a eliminação
dessa prática na sociedade. Para tanto, a mídia, em parceria com as
instituições privadas, deve reformular os algoritmos presentes nos meios

32
midiáticos, adotando formas mais abrangente de disponibilizar os
conteúdos de forma integral nas mídias, no intuito de proporcionar uma
maior variedade de opções aos indivíduos. Ademais, em sinergia com a
sociedade, deve propor a discussão da temática mediante a criação de
campanhas publicitárias e programa de debates, em busca de estimular o
indivíduo a desenvolver o seu senso crítico e instigar a busca de
conhecimento de forma mais completa. Só assim será possível evitar que
casos, como da série “Black Mirror”, venham a ocorrer.
"
Ívina Araújo

Foto: Reprodução/Inep

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Jamille Borges
18 anos | Aracaju - SE | @jamiilleborges

Foto: Reprodução/Inep
"
A série britânica “Black Mirror” é caracterizada por satirizar a forma como a
tecnologia pode afetar a humanidade. Dentre outros temas, o seriado
aborda a influência dos algoritmos na opinião e no comportamento das
personagens. Fora da ficção, os efeitos do controle de dados não são
diferentes dos da trama e podem comprometer o senso crítico da

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população brasileira. Assim, faz-se pertinente debater acerca das
consequências da manipulação do comportamento do usuário pelo
controle de dados na internet.

Por um lado, a utilização de algoritmos possui seu lado positivo. A internet


surgiu no período da Guerra Fria, com o intuito de auxiliar na comunicação
entre as bases militares. Todavia, com o passar do tempo, tal ferramenta
militar popularizou-se e abandonou, parcialmente, a característica
puramente utilitária, adquirindo função de entretenimento. Hoje, a
internet pode ser utilizada para ouvir músicas, assistir a filmes, ler notícias
e, também, se comunicar. No Brasil, por exemplo, mais da metade da
população está “conectada” – de acordo com pesquisas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) -, o que significa a consolidação
da internet no país e, nesse contexto, surge a relevância do uso de dados
para facilitar tais ações.

Por outro lado, o controle de dados ressalta-se em seu lado negativo.


Segundo o sociólogo Pierre Levy, as sociedades modernas vivem um
fenômeno por ele denominado “Novo Dilúvio” – termo usado para
caracterizar a dificuldade de “escapar” do uso da internet. Percebe-se que
o conceito abordado materializa-se em apontamentos do IBGE, os quais
expõem que cerca de 85% dos jovens entre 18 e 24 anos de idade
utilizaram a ferramenta em 2016. Tal quadro é preocupante quando
atrelado aos algoritmos, pois estes causam, principalmente, nos jovens a
redução de sua capacidade crítica – em detrimento de estarem sempre
em contato com informações unilaterais, no tocante ao ponto de vista, e
pouco distoantes de suas próprias vivências e opiniões -, situação
conhecida na Sociologia como “cognição preguiçosa” – a qual culmina na
manipulação do ser.

Entende-se, portanto, que é necessário que a população entenda os riscos


do controle de dados. Desse modo, cabe às escolas desenvolverem a
percepção dos perigos da “cognição preguiçosa” para a formação da visão
de mundo dos seus alunos, mediante aulas de informática unidas à
disciplina de Sociologia – voltadas para uma educação não só técnica, mas
social das novas tecnologias -, a fim de ampliar nos jovens o interesse por
diferentes opiniões e, consequentemente, reduzir os efeitos adversos da
problemática. Posto isso, será superado o controle do comportamento do
usuário e não mais viveremos em um Brasil análogo à trama de “Black
Mirror”.
"

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Jamille Borges

Foto: Reprodução/Inep

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Laís Mesquita
18 anos | Fortaleza - CE | @laismcamara

Foto: Reprodução/Inep

"
A maior parte da população mundial do século XXI tem acesso à internet,
porém esse limitado devido ao uso que “sites” e aplicativos dão aos dados
de seus usuários. Tais informações, em geral, são usadas para restringir o

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contato destes apenas àquilo que se alinha ao pensamento deles e para
difundir padrões e atitudes dominantes, manipulando, portanto, o
comportamento de seus usuários.

Em primeira análise, a restrição do acesso a informações ocorre por meio


da disponibilização ao usuário apenas daquilo que está associado a
conteúdos que foram bem avaliados por ele. As consequências disso foram
mostradas em um episódio da série “Black Mirror“, no qual um professor
separou a turma em dois grupos e forneceu a cada um informações
diferentes sobre o mesmo assunto. Ao colocar os alunos para debater,
conflitos surgiram, pois cada grupo tomou as informações que recebeu
como verdade absoluta. Isso mostra que o acesso a informações
selecionadas pode influenciar comportamentos negativamente.

Ademais, o controle de dados impulsiona a indústria cultural, teoria criada


pelos sociólogos Adorno e Horkheimer. Segundo esta, a cultura de
determinado local é substituída por uma que se sobressai, fenômeno
intensificado pelo controle de dados, uma vez que os elementos da cultura
ser difundida são vinculados a postagem com conteúdo de interesse do
usuário. Isso causa perda de identidade dos povos devido ao desapego a
tradições e símbolos da cultura destes em prol de uma cultura única.

Tendo em vista a problemática debatida, fica evidente que medidas


devem ser tomadas. Cabe, então, aos desenvolvedores de “sites“ e de
aplicativos a não restrição de informações e a desvinculação de padrões
culturais estrangeiros a postagens. Isso deve ser feito por meio do fim de
algoritmos que enquadrem os usuários em perfis e que valorizam
elementos de outras culturas em detrimento da cultura destes. Assim, eles
terão amplo acesso aos conteúdos disponíveis na internet sem abandonar
as suas tradições, ajudando a reverter a teoria da indústria cultural e a
situação apresentada em “Black Mirror“.
"
Laís Mesquita

38
Foto: Reprodução/Inep

39
Laura Elisa Viana
18 anos | Mariana - MG | @lauraelisav

Foto: Reprodução/Inep

"
O Marco Civil da Internet, lei aprovada em 2014, assegura aos cidadãos
brasileiros direitos e deveres referentes ao uso dos espaços virtuais na
contemporaneidade. Embora seja uma importante conquista por reiterar a

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liberdade de expressão e o direito à privacidade, essa legislação está
ameaçada pela manipulação do comportamento dos usuários pelo
controle de dados na internet, prática que favorece os interesses de
grupos empresariais e políticos. Nesse cenário, a falsa liberdade de escolha
e a padronização dos pensamentos emergem como empecilhos para a
manutenção de uma sociedade dialógica e igualitária.

Em primeiro plano, torna-se evidente que a massificação de um padrão


cultural restringe progressivamente o espaço da individualidade, do
inovador e do diferente, limitando e padronizando as opções subjetivas
individuais. Com efeito, o filósofo T. Adorno identificou a ascensão da
indústria cultural, que busca transformar elementos da cultura erudita
para padronizá-los e, assim, estabelecer uma relação de dependência
entre produtor e receptor que exclui as particularidades de um contexto
multilateral. Em decorrência disso, o mundo globalizado reforça, por meio
de propagandas direcionadas de acordo com os dados pessoais de cada
usuário, uma cultura ideologicamente predominante, minimizando o
apoio a qualquer tipo de movimento contracultural.

Nesse mesmo viés, soma-se à padronização cultural a dominação


ideológica, que condiciona o pensamento dos cidadãos inseridos no
mundo virtual aos objetivos de agentes detentores do poder, os quais
podem decidir sobre conteúdos que devem ou não ser veiculados nas
redes sociais. Tal reificação do usuário, tratado como um banco de dados a
ser manipulado, amplia o que o sociólogo Pierre Bourdieu definiu como
violência simbólica: uma engrenagem conservadora, hodiernamente
representada, também, pela internet, responsável por manter o prestígio e
a soberania das classes dominantes em detrimento do respeito aos
direitos dos oprimidos.

Diante desse panorama, antes que a internet seja transformada em


instrumento de manipulação, é preciso intervir. Logo, cabe ao Ministério
da Educação abordar a importância dos múltiplos pontos de vista na
esfera virtual, mediante palestras, projetos e debates, a fim de mitigar a
homogeneização das manifestações individuais, uma vez que o convívio
social implica diálogo e consenso. Além disso, faz-se necessário que o
Estado amplie a fiscalização do uso de informações pessoais por
corporações políticas e empresariais, por intermédio da criação de órgãos
de denúncia online, os quais inserirão os usuários nesse processo, com a
finalidade de controlar o domínio elitista sobre os limites e possibilidades
do indivíduo. Desse modo, o Brasil poderá vivenciar aquilo que o Marco

41
Civil determinou: igualdade e segurança no paralelo universo virtual,
indissociável da realidade do século XXI.
"
Laura Elisa Viana

Foto: Reprodução/Inep

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Letícia Sant'Anna
15 anos | Aracaju - SE | @leticiaosantanna

Foto: Reprodução/Inep

"
A sociedade distópica retratada no longa-metragem “Matrix“ era
controlada por uma inteligência artificial que ocasionava a ilusão de
livre-arbítrio das pessoas, a qual era erroneamente interpretada como

43
decisão inerente ao ser humano. Para além da ficção, o poder de alienação
e manipulação dos indivíduos a partir do controle de dados na internet é
uma realidade provocada pelas plataformas de comunicação e redes
sociais no Brasil e no mundo.

Em primeiro lugar, é importante salientar que a popularização da internet


favoreceu o preenchimento ágil e completo dos bancos de dados das
redes sociais em decorrência das informações fornecidas pelos próprios
usuários. Sob essa perspectiva, o acesso a tais dados mostrou-se bastante
perigoso nos quesitos de privacidade e principalmente de liberdade de
escolha dentro do universo cibernético. Tendo em vista a real dimensão do
domínio que os algoritmos da internet têm sobre as pessoas, muitas
plataformas virtuais se beneficiaram com o poder e capital gerados pela
administração das opiniões de massa, como ocorreu com o “Facebook“ em
2016 que direcionou as propagandas políticas de Donald Trump para os
usuários que, de acordo com o banco de dados, seriam mais propícios a
votar nesse candidato, fazendo com que ele vencesse as eleições.

Em segundo lugar, é necessário ressaltar que a influência excessiva e


silenciosa da internet sobre as decisões dos indivíduos reduz
drasticamente a sua liberdade e cognição, tornando a sociedade menos
crítica e inteligente. Nesse viés, fica nítida a supressão da autonomia e
vontade, fatores imprescindíveis para que haja liberdade na visão do
filósofo Pico della Mirandola e, sem ela, não haveria sentido na existência
humana. Sendo assim, as filtragens de informações para alienar o usuário
da internet funcionam como meios para anular a opinião individual e
consequentemente retirar, de forma rigorosa e gradual, a racionalidade
humana, devendo ser combatidas.

Portanto, medidas são necessárias para evitar a manipulação do


comportamento do usuário pelo controle de dados na internet. Cabe ao
Ministério da Educação implantar o ensino crítico aos jovens por meio de
aulas a serem ministradas por especialistas da área cibernética e por
psicólogos que ensinem o valor da opinião de cada um e desmistifiquem o
poder alienador das plataformas virtuais a fim de formar cidadãos não
influenciáveis e entendedores do mundo em que vivem. Só assim, a
ignorância dar espaço a razão nas sociedades contemporâneas e a
realidade do filme “Matrix” não será repetida no mundo real.
"
Letícia Sant'Anna

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Foto: Reprodução/Inep

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Lívia Taumaturgo
18 anos | Fortaleza - CE | @liviatmg

Foto: Reprodução/Inep

"
Segundo as ideias do sociólogo Habermas, os meios de comunicação são
fundamentais para a razão comunicativa. Visto isso, é possível mencionar
que a internet é essencial para o desenvolvimento da sociedade.

46
Entretanto, o meio virtual tem sido utilizado, muitas vezes, para a
manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados,
podendo induzir o indivíduo a compartilhar determinados assuntos ou a
consumir certos produtos. Isso ocorre devido à falta de políticas públicas
efetivas que auxiliem o indivíduo a “navegar”, de forma correta, na internet,
e à ausência de consciência, da grande parte da população, sobre a
importância de saber utilizar adequadamente o meio virtual. Essa
realidade constituiu um desafio a ser resolvido não somente pelos poderes
públicos, mas também por toda a sociedade.

No contexto relativo à manipulação do comportamento do usuário,


pode-se citar que, no século XX, a Escola de Frankfurt já abordava sobre a
“ilusão de liberdade do mundo contemporâneo”, afirmando que as
pessoas eram controladas pela “indústria cultural”, disseminada pelos
meios de comunicação de massa. Atualmente, é possível traçar um
paralelo com essa realidade, visto que milhões de pessoas no mundo são
influenciadas e, até mesmo, manipuladas, todos os dias pelo meio virtual,
por meio de sistemas de busca ou de redes sociais, sendo direcionadas a
produtos específicos, o que aumenta, de maneira significativa, o
consumismo exacerbado. Isso é intensificado devido à carência de
políticas públicas efetivas que auxiliem o indivíduo a “navegar”
corretamente na internet, explicando-lhe sobre o posicionamento do
controle de dados e ensinando-lhe sobre como ser um consumidor
consciente.

Ademais, é importante destacar que grande parte da população não tem


consciência da importância da utilização, de forma correta, da internet,
visto que as instituições formadoras de conceitos morais e éticos não têm
preconizado, como deveriam, o ensino de uma "polarização digital”, como
faz o projeto Digipo (“Digital Polarization Iniciative”), o qual auxilia os
indivíduos a acessarem páginas comparáveis e, assim, diminui, o
compartilhamento de notícias falsas, que, muitas vezes, são lançadas por
moderadores virtuais. Nesse sentido, como disse o empresário Steve Jobs,
“A tecnologia move o mundo”, ou seja, é preciso que medidas imediatas
sejam tomadas para que a internet possa ser usada no desenvolvimento
da sociedade, ajudando as pessoas a se comunicarem plenamente.

Portanto, cabe aos Estados, por meio de leis e de investimentos, com um


planejamento adequado, estabelecer políticas públicas efetivas que
auxiliem a população a “navegar”, de forma correta, na internet, mostrando
às pessoas a relevância existente em utilizar o meio virtual racionalmente,
a fim de diminuir, de maneira considerável, o consumo exacerbado, que é

47
intensificado pela manipulação do comportamento do usuário pelo
controle de dados. Além disso, é de suma importância que as instituições
educacionais promovam, por meio de campanhas de conscientização,
para pais e alunos, discussões engajadas sobre a imprescindibilidade de
saber usar, de maneira cautelosa, a internet, entendendo a relevância de
uma “polarização digital” para a concretização da razão comunicativa, com
o intuito de utilizar o meio virtual para o desenvolvimento pleno da
sociedade.
"
Lívia Taumaturgo

Foto: Reprodução/Inep

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Lucas Felpi
17 anos | Cotia - SP | @lfelpi

Foto: Reprodução/Inep

"
No livro "1984" de George Orwell, é retratado um futuro distópico em que
um Estado totalitário controla e manipula toda forma de registro histórico
e contemporâneo, a fim de moldar a opinião pública a favor dos

49
governantes. Nesse sentido, a narrativa foca na trajetória de Winston, um
funcionário do contraditório Ministério da Verdade que diariamente
analisa e altera notícias e conteúdos midiáticos para favorecer a imagem
do Partido e formar a população através de tal ótica. Fora da ficção, é fato
que a realidade apresentada por Orwell pode ser relacionada ao mundo
cibernético do século XXI: gradativamente, os algoritmos e sistemas de
inteligência artificial corroboram para a restrição de informações
disponíveis e para a influência comportamental do público, preso em uma
grande bolha sociocultural.

Em primeiro lugar, é importante destacar que, em função das novas


tecnologias, internautas são cada vez mais expostos a uma gama limitada
de dados e conteúdos na internet, consequência do desenvolvimento de
mecanismos filtradores de informações a partir do uso diário individual. De
acordo com o filósofo Zygmund Baüman, vive-se atualmente um período
de liberdade ilusória, já que o mundo globalizado não só possibilitou novas
formas de interação com o conhecimento, mas também abriu portas para
a manipulação e alienação semelhantes vistas em “1984”. Assim, os
usuários são inconscientemente analisados pelos sistemas e lhes é
apresentado apenas o mais atrativo para o consumo pessoal.

Por conseguinte, presencia-se um forte poder de influência desses


algoritmos no comportamento da coletividade cibernética: ao observar
somente o que lhe interessa e o que foi escolhido para ele, o indivíduo
tende a continuar consumindo as mesmas coisas e fechar os olhos para a
diversidade de opções disponíveis. Em um episódio da série televisiva
Black Mirror, por exemplo, um aplicativo pareava pessoas para
relacionamentos com base em estatísticas e restringia as possibilidades
para apenas as que a máquina indicava – tornando o usuário passivo na
escolha. Paralelamente, esse é o objetivo da indústria cultural para os
pensadores da Escola de Frankfurt: produzir conteúdos a partir do padrão
de gosto do público, para direcioná-lo, torná-lo homogêneo e, logo,
facilmente atingível.

Portanto, é mister que o Estado tome providências para amenizar o


quadro atual. Para a conscientização da população brasileira a respeito do
problema, urge que o Ministério de Educação e Cultura (MEC) crie, por
meio de verbas governamentais, campanhas publicitárias nas redes sociais
que detalhem o funcionamento dos algoritmos inteligentes nessas
ferramentas e advirtam os internautas do perigo da alienação, sugerindo
ao interlocutor criar o hábito de buscar informações de fontes variadas e
manter em mente o filtro a que ele é submetido. Somente assim, será

50
possível combater a passividade de muitos dos que utilizam a internet no
país e, ademais, estourar a bolha que, da mesma forma que o Ministério da
Verdade construiu em Winston de “1984”, as novas tecnologias estão
construindo nos cidadãos do século XXI.
​"

Lucas Felpi

Foto: Reprodução/Inep

51
Luisa Leite
18 anos | Belo Horizonte - MG

Foto: Reprodução/Inep

"
A Revolução Técnico-Científico-Informacional, iniciada na segunda metade
do século XX, inaugurou inúmeros avanços no setor de informática e
telecomunicações. Embora esse movimento de modernização tecnológica

52
tenha sido fundamental para democratizar o acesso a ferramentas digitais
e a participação nas redes sociais, tal processo é acompanhado pela
invasão da privacidade de usuários, em virtude do controle de dados
efetuado por empresas de tecnologia. Tendo em vista que o uso de
informações privadas de internautas pode induzí-los a adotar
comportamentos intolerantes ou aderir a posições políticas, é
imprescindível buscar alternativas que inibam essa manipulação
comportamental no Brasil.

A princípio, é necessário avaliar como o uso de dados pessoais por


servidores de tecnologia contribui para fomentar condutas intolerantes
nas redes sociais. Em consonância com a filósofa Hannah Arendt, pode-se
considerar a diversidade como inerente à condição humana, de modo que
os indivíduos deveriam ser habituados a convivência com diferentes.
Todavia, a filtragem informações efetivada pelas redes digitais inibe o
contato do usuário com conteúdos que divergem dos seus pontos de
vistas, uma vez que os algoritmos utilizados favorecem publicações
compatíveis com perfil do internauta. Observam-se, por consequência,
restrições ao debate e à confrontação de opiniões, que, por sua vez,
favorecem a segmentação da comunidade virtual. Esse cenário dificulta o
exercício da convivência com a diferença, conforme conforme defendido
por Arendt, o que reforça condutas intransigentes como a discriminação.

Em seguida, é relevante examinar como o controle sobre o conteúdo que é


veiculado em sites favorece a adesão dos internautas a certo viés
ideológico. Tendo em vista que os servidores de redes sociais como a
“Facebook“ e “Twitter” traçam o perfil de usuários com base nas páginas
por eles visitadas, torna-se possível a identificação das tendências de
posicionamento político do indivíduo. Em posse dessa informação, as
empresas de tecnologia podem privilegiar a veiculação de notícias,
inclusive daquelas de procedência não confirmada, com o fito de reforçar
as posições políticas do usuário, ou, ainda, de modificá-las para que se
adequem aos interesses da companhia. Constata-se, assim, a possibilidade
de manipulação ideológica na rede.

Portanto, fica evidente a necessidade de combater o uso de informações


pessoais por empresas de tecnologia. Para tanto, é dever do Poder
Legislativo aplicar medidas de caráter punitivo às companhias que
utilizarem dados privados para a filtragem de conteúdos em suas redes.
Isso seria efetivado por meio da criação de uma legislação específica e da
formação de uma comissão parlamentar, que avaliará as situações do uso
indevido de informações pessoais. Essa proposta tem por finalidade evitar

53
a manipulação comportamental de usuários e, caso aprovada, certamente
contribuirá para otimizar a experiência dos brasileiros na internet.
​"

Luisa Leite

Foto: Reprodução/Inep

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Maria Eduarda Fionda
18 anos | Rio de Janeiro - RJ

Foto: Reprodução/Inep

"
Da ficção à realidade

George Orwell, em sua célebre obra “1984”, descreve uma distopia na qual
os meios de comunicação são controlados e manipulados para garantir a

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alienação da população frente a um governo totalitário. Entretanto, apesar
de se tratar de uma ficção, o livro de Orwell parece refletir, em parte, a
realidade do século XXI, uma vez que, na atualidade, usuários da internet
são constantemente influenciados por informações previamente
selecionadas, de acordo com seus próprios dados. Nesse contexto,
questões econômicas e sociais devem ser postas em vigor, a fim de serem
devidamente compreendidas e combatidas.

Convém ressaltar, em primeiro plano, que o problema advém, em muito,


de interesses econômicos. Segundo o sociólogo alemão Theodor Adorno, a
chamada “Indústria Cultural”, visando o lucro, tende a massificar e
uniformizar os gostos a partir do uso dos meios de comunicação. Sob esse
viés, é possível depreender que a utilização de dados dos internautas por
determinados grupos empresariais constitui uma estratégia de divulgação
da produtos e pensamentos conforme seus interesses. Dessa maneira,
ocorre a seleção de informações e propagandas favoráveis a essas
empresas, levando o usuário a agir e consumir inconscientemente, de
acordo com padrões estabelecidos por esses grupos.

Outrossim, o mau uso das novas tecnologias corrobora com a perpetuação


dessa problemática. Sob a ótica do teórico da comunicação Marshall
McLuhan, “os homens criam as ferramentas e as ferramentas recriam o
homem”. Nessa perspectiva, é perceptível que o advento da internet,
apesar de facilitar o acesso à informações, contribui com a diminuição do
senso crítico acerca do conteúdo visualizado nas redes. Isso ocorre,
principalmente, por conta do bombardeamento constante de
propagandas e notícias, muitas vezes, sem a devida profundidade e sem o
acompanhamento de análises de veracidade. Consequentemente, os
internautas são cada vez menos estimulados a questionar o conteúdo
recebido, culminando, então, em um ambiente favorável à manipulação
de comportamentos.

É possível defender, portanto, que impasses econômicos e sociais


constituem desafios a superar. Para tanto, o Poder Público deve restringir
o acesso de empresas a dados pessoais de usuários da internet, por meio
da elaboração de uma legislação eficaz referente ao problema. Ademais, a
mídia, associada a ONGs, deve alertar a população sobre as mazelas de não
questionar o conteúdo acessado em rede, por meio de campanhas
educativas. Isso pode ocorrer com a realização de narrativas ficcionais
engajadas, como novelas e seriados, e reportagens que tratem do tema, a
fim de contribuir com o uso crítico das novas tecnologias. Assim, será
possível restringir, de fato, a distopia de Orwell à ficção.

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​"

Maria Eduarda Fionda

Foto: Reprodução/Inep

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Maria Fernanda Brandão
17 anos | Niterói - RJ | @mf_brandao

Foto: Reprodução/Inep

"
De acordo com o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, “o homem toma
os limites do seu próprio campo de visão como os limites do mundo”.
Atualmente, essa conduta é potencializada pela seleção parcial dos dados
expostos na internet decorrente da influência global das indústrias

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capitalistas. Tal realidade, uma vez desconhecida pela população, pode
influenciar e manipular o comportamento do usuário de maneira
despercebida e prejudicar o seu senso crítico, inibindo, assim, a plena
liberdade de escolha. Diante disso, faz-se necessária a adoção de medidas
capazes de assegurar esse direito civil aos brasileiros.

A princípio, é importante ressaltar a intrínseca relação entre a alienação e a


interferência na conduta do indivíduo. De fato, o processo de filtração dos
dados expostos virtualmente é desconhecido em parte, senão todo, pela
população. Nesse contexto, segundo o escritor brasileiro Gilberto
Dimenstein, só existe opção quando há informação. Sob essa ótica,
observa-se que o indivíduo, ao ser privado — mesmo que parcialmente —
do conhecimento, não possui as ferramentas fundamentais para tomar
uma decisão consciente. Por conseguinte, os usuários da internet, com
sentimento de liberdade ilusório, assumem comportamentos não naturais,
mas sim induzidos pela seleção das informações disseminadas.

Vale analisar, ainda, a influência das empresas multinacionais e


internacionais como fator preponderante para a manipulação do indivíduo
a partir dos conteúdos expostos. Nesse viés, o fenômeno da “Aldeia Global“,
proposto pelo filósofo canadense Marshall McLuhan, expressa a ideia de
que, com a dinamização dos meios de comunicação, evidencia-se o
constante acesso a novos conhecimentos. Contudo, em vista do poder do
capital sobre tais meios, esse processo tende a priorizar a disseminação de
dados os quais convém serem expostos em consonância com os interesses
empresariais. Com efeito, percebe-se um entrave para a democracia
virtual, pois diretrizes privadas não precisam, necessariamente, atender ao
papel social do acesso pleno à informação. Dessa forma, os internautas são
vistos apenas como potenciais consumidores e, com o uso de
propagandas e notícias filtradas, tornam-se peões no jogo chamado
“capitalismo“, no qual os jogadores são as empresas e o prêmio é o lucro.

Fica claro, portanto, que medidas são necessárias a fim de atenuar a


manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na
internet. Logo, é imperativo que o Ministério da Educação, junto aos
veículos midiáticos, mobilize-se por meio de palestras e campanhas sociais
as quais atentem para a filtração virtual das informações. Isso ocorrerá
com o propósito de aprimorar o senso crítico da população e, então,
reduzir a influência das empresas globais sobre suas ações. Ademais, cabe
ao Legislativo brasileiro propor leis de regulamentação com o intuito de
promover a democracia nos meios de comunicação. A partir dessas

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intervenções, será possível que os brasileiros enxerguem o mundo sem os
limites impostos por sua visão ou pela seleção de conteúdos na internet.
​"

Maria Fernanda Brandão

Foto: Reprodução/Inep

60
Mariana Oliveira
19 anos | Teresina - PI | @marianaoliveiran

Foto: Reprodução/Inep

"
Consoante o filósofo Jean Jacques Rousseau, “o homem nasce livre e por
toda parte encontra-se acorrentado“. A partir dessa ideia, infere-se que,
apesar de o ser humano possuir a liberdade de escolher produtos e gostos,
é, na atualidade, manipulado pelo controle de dados na internet, que tem

61
exercido coerção sobre o comportamento do indivíduo. Tal problemática
ocorre devido, entre outros fatores, à ausência de informação e à falta de
fiscalização desses mecanismos.

Nesse sentido, o desconhecimento sobre o assunto corrobora a existência


do problema. Diante desse fato, a obra “1984“, do escritor George Orwell,
apresenta uma sociedade na qual há uma manipulação exercida pelo
“grande irmão“. De maneira análoga, nos dias atuais, o controle dos gostos
e o estímulo ao consumo exacerbado, por meio de propagandas e de
notícias nas redes sociais, além da divulgação de produtos e de serviços na
internet, moldam o comportamento da população de acordo com o que é
desejado. Nesse cenário, a ausência não só de campanhas informativas nas
mídias sociais, como também de debates e de palestras nas escolas e nas
comunidades, dificulta o esclarecimento e o desenvolvimento crítico dos
indivíduos, logo, torna-se árduo reverter a situação.

Ademais, a ineficácia de mecanismos de fiscalização do controle de dados


também agrava essa problemática. Segundo o conceito de indústria
cultural, dos sociólogos Theodor Adorno e Max Horkheimer, há uma
massificação da cultura como forma de padronização do ser humano, com
a escolha de produtos criados próprios para o mercado. Nessa perspectiva,
seguindo esse viés, nota-se que a internet faz uso dessa ideia, uma vez que,
muitas vezes, busca introduzir no indivíduo, de forma coercitiva e
generalizada, noções prontas que atendam às exigências dos meios de
manipulação. Desse modo, a ineficácia de leis que fiscalizem e que
regulamentem essas intenções, como o Marco Civil da Internet no Brasil,
contribui para a perpetuação desse quadro deletério.

Portanto, a manipulação do comportamento do usuário pelo controle de


dados na internet é um problema que aflige a sociedade atual e que
necessita ser combatido. Para tanto, é dever do Estado, por meio do
Ministério da Educação e de suas secretarias e em parceria com as
famílias, inserir nas escolas públicas e nas privadas, desde as séries iniciais,
a educação digital, com a inserção não só de aulas na grade curricular, mas
também de debates e de palestras com especialistas no assunto, com o
intuito de desenvolver senso crítico dos indivíduos, para que esses possam
adquirir discernimento e serem capazes de tomar decisões. Outrossim, é
fundamental que o governo federal, por intermédio de parcerias
público-privadas, amplie a fiscalização dos mecanismos de manipulação,
ao tornar efetivas leis como as do Marco Civil da Internet, a fim de dissolver
esse mal e de gerar homens livres de suas próprias escolhas.

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​"

Mariana Oliveira

Foto: Reprodução/Inep

63
Mattheus Cardoso
17 anos | Rio das Ostras - RJ

Foto: Reprodução/Inep

"
O advento da internet possibilitou o avanço das formas de comunicação e
permitiu maior acesso à informação. No entanto, a venda de dados
particulares de usuários se mostra um grande problema. Apesar dos
esforços para coibir essa prática, o combate a manipulação de usuários por

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meio de controle de dados representa um enorme desafio. Pode-se dizer,
então, que a negligência por parte do governo e a forte mentalidade
individualista dos empresários são os principais responsáveis pelo quadro.

Em primeiro lugar, deve-se ressaltar a ausência de medidas


governamentais para combater a venda de dados pessoais e a
manipulação do comportamento nas redes. Segundo o pensador Thomas
Hobbes, o estado é responsável por garantir o bem-estar da população,
entretanto, isso não ocorre no Brasil. Devido à falta de atuação das
autoridades, grandes empresas sentem-se livres para invadir a privacidade
dos usuários e vender informações pessoais para empresários que
desejam direcionar suas propagandas. Dessa forma, a opinião dos
consumidores é influenciada, e o direito à liberdade de escolha ameaçado.

Outrossim, a busca pelo ganho pessoal acima de tudo também pode ser
apontado como responsável pelo problema. De acordo com o pensamento
marxista, priorizar o bem pessoal em detrimento do coletivo gera
inúmeras dificuldades para a sociedade. Ao vender dados particulares e
manipular o comportamento de usuários, empresas invadem a
privacidade dos indivíduos e ferem importantes direitos da população em
nome de interesse individuais. Desse modo, a união da sociedade é
essencial para garantir o bem-estar coletivo e combater o controle de
dados e a manipulação do comportamento no meio digital.

Infere-se, portanto, que assegurar a privacidade e a liberdade de escolha


na internet é um grande desafio no Brasil. Sendo assim, o governo federal,
como instância máxima de administração executiva, deve atuar em favor
da população, através da criação de leis que proíbam a venda de dados
dos usuários, a fim de que empresas que utilizam essa prática seja punidas
e a privacidade dos usuários seja assegurada. Além disso, a sociedade,
como conjunto de indivíduos que compartilham valores culturais e sociais,
deve atuar em conjunto e combater a manipulação e o controle de
informações, por meio de boicotes e campanhas de mobilização, para que
os empresários então se pressionados pela população e sejam obrigados a
abandonar a prática. Afinal, conforme afirmou Rousseau: “a vontade geral
deve emanar de todos para ser aplicada a todos”.
​"

Mattheus Cardoso

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Foto: Reprodução/Inep

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Melissa Fiuza
17 anos | Fortaleza - CE | @melf1_

Foto: Reprodução/Inep

"
Immanuel Kant, filósofo iluminista, argumentava que a menoridade é o
estado em que o homem se encontra manipulado e sem a capacidade de
pensar por conta própria, dependendo dos outros para que suas ações se
concretizem. Nesse sentido, Kant afirmava que a saída para essa triste
realidade é o esclarecimento, ou seja, o uso da razão para que o indivíduo

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se emancipe. No entanto, o que se observa na atualidade é o contrário do
que o filósofo pregava, uma vez que o controle de dados na internet
favorece a manipulação dos usuários, a qual não é combatida pelas
escolas, que não oferecem educação tecnológica, e pelo Poder Público,
que não pune empresas que comercializam esses dados.

De fato, as escolas, como formadoras de opinião, têm um papel


importante no combate à manipulação dos indivíduos pelo controle de
dados na internet, já que a adoção de uma postura crítica é essencial para
que as pessoas se informem acerca dos aplicativos que utilizam. Porém,
essas instituições não oferecem educação tecnológica, o que contribui
para que as empresas manipulem o comportamento dos usuários, e eles
não percebam, sendo induzidos a ler ou a consumir o conteúdo oferecido.
Assim, a maioria da população permanece na menoridade de Kant, e as
empresas de internet aproveitam-se disso, controlando a opinião do
público.

Além disso, muitos aplicativos vendem os dados coletados para grandes


empresas, as quais, sabendo dos gostos de cada tipo de público,
desenvolvem propagandas direcionadas, o que aumenta seus lucros.
Infelizmente, essa situação é consequência da omissão governamental, já
que o Poder Público não pune, adequadamente, os responsáveis pelos
aplicativos que vendem os dados de seus usuários. Nesse contexto, Johann
Goethe já afirmava que a maior necessidade de um Estado é a de
governantes corajosos, e o pensamento do autor exemplifica bem a
importância do Governo para a diminuição da impunidade dessas
empresas.

Portanto, atitudes para a reversão da problemática supracitada são


necessárias. Para isso, a escola, com seu poder transformador, deve
disponibilizar educação tecnológica, por meio de aulas de Filosofia e de
Sociologia, as quais devem dar enfoque às problemáticas relacionadas aos
meio de comunicação e às redes sociais, impulsionando a criação de senso
crítico, com o fito de que cada indivíduo não permita o controle de suas
preferências por empresas cibernéticas. Ademais, o Poder Público,
demonstrando a coragem referida por Goethe, deve punir, corretamente,
empresas que venderem dados de seus usuários, mediante aumento de
penas e de multas, para que esse processo seja coibido.
​"

Melissa Fiuza

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Foto: Reprodução/Inep

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Natália Patrício
20 anos | Brasília - DF

Foto: Reprodução/Inep

"
A utilização dos meios de comunicação para manipular comportamentos
não é recente no Brasil: ainda em 1937, Getúlio Vargas apropriou-se da
divulgação de uma falsa ameaça comunista para legitimar a implantação

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de um governo ditatorial. Entretanto, os atuais mecanismos de controle de
dados, proporcionados pela internet, revolucionaram de maneira negativa
essa prática, uma vez que conferiram aos usuários uma sensação ilusória
de acesso à informação, prejudicando a construção da autonomia
intelectual e, por isso, demandam intervenções. Ademais, é imperioso
ressaltar os principais impactos da manipulação, com destaque à
influência nos hábitos de consumo e nas convicções pessoais dos usuários.

Nesse contexto, as plataformas digitais, associadas aos algoritmos de


filtragem de dados, proporcionaram um terreno fértil para a evolução dos
anúncios publicitários. Isso ocorre porque, ao selecionar os interesses de
consumo do internauta, baseado em publicações feitas por este, o sistema
reorganiza as informações que chegam até ele, de modo a priorizar os
anúncios complacentes ao gosto do usuário. Nesse viés, há uma pretensa
sensação de liberdade de escolha, teorizada pela Escola de Frankfurt, já
que todos os dados adquiridos estão sujeitos à coerção econômica. Dessa
forma, há um bombardeio de propagandas que influenciam os hábitos de
consumo de quem é atingido, visto que, na maioria das vezes, resultam na
aquisição do produto anunciado.

Somado a isso, tendo em vista a capacidade dos algoritmos de selecionar o


que vai ou não ser visto, esses podem ser usados para moldar interesses
pessoais dos leitores, a fim de alcançar objetivos políticos e/ou econômicos.
Nesse cenário, a divulgação de notícias falsas é utilizada como artifício para
dispersar ideologias, contaminando o espaço de autonomia previsto pelo
sociólogo Manuel Castells, o qual caracteriza a internet como ambiente
importante para a amplitude da democracia, devido ao seu caráter
informativo e deliberativo. Desse modo, o controle de dados torna-se
nocivo ao desenvolvimento da consciência estética dos usuários, bem
como à possibilidade de uso da internet como instrumento de politização.

Evidencia-se, portanto, que a manipulação advinda do controle de dados


na internet é um obstáculo para a consolidação de uma educação
libertadora. Por conseguinte, cabe ao Ministério da Educação investir em
educação digital nas escolas, por meio da inclusão de disciplinas
facultativas, as quais orientarão aos alunos sobre as informações pessoais
publicadas na internet, a fim de mitigar a influência exercida pelos
algoritmos e, consequentemente, fomentar o uso mais consciente das
plataformas digitais. Além disso é necessário que o Ministério da Justiça,
em parceria com empresas de tecnologia, crie canais de denúncia de “fake
news”, mediante a implementação de indicadores de confiabilidade nas
notícias veiculadas – como o projeto “The Trust Project” nos Estados

71
Unidos – com o intuito de minimizar o compartilhamento de informações
falsas e o impacto destes na sociedade. Feito isso, a sociedade brasileira
poderá se proteger contra a manipulação e a desinformação.
​"

Natália Patrício

Foto: Reprodução/Inep

72
Pedro Assaad
20 anos | Rio de Janeiro - RJ | @pedroassaad

Foto: Reprodução/Inep

"
As primeiras duas décadas do século XXI, no Brasil e no mundo
globalizado, foram marcadas por consideráveis avanços científicos, dentre
os quais destacam-se as tecnologias de informação e comunicação (TICs).
Nesse sentido, tal panorama promoveu a ampliação do acesso ao

73
conhecimento, por intermédio das redes sociais e mídias virtuais. Em
contrapartida, nota-se que essa realidade impôs novos desafios às
sociedades contemporâneas, como a possibilidade de manipulação
comportamental via dados digitais. Desse modo, torna-se premente
analisar os principais impactos dessa problemática: a perda da autonomia
de pensamento e a sabotagem dos processos políticos democráticos.

Em primeira análise, é lícito postular que a informação é um bem de valor


social, o qual é responsável por modular a cosmovisão antropológica
pessoal e influenciar os processos de decisão humana. Nesse raciocínio, as
notícias e acontecimentos que chegam a um indivíduo exercem forte
poder sobre tal, estimulando ou suprimindo sentimentos como empatia,
medo e insegurança. É factual, portanto, que a capacidade de selecionar -
via algoritmos - as reportagens e artigos que serão vistos por determinado
público constitui ameaça à liberdade de pensamento crítico. Evidenciando
o supracitado, há o livro " Rápido e devagar: duas formas de pensar", do
especialista comportamental Daniel Khaneman, no qual esse expõe e
comprova - por meio de décadas de experimentos socioculturais - a
incisiva influência dos meios de comunicação no julgamento humano.
Torna-se clara, por dedução analítica, a potencial relação negativa entre a
manipulação digital por dados e a autonomia psicológica e racional da
população.

Ademais, é preciso compreender tal fenômeno patológico como um


atentado às instituições democráticas. Isso porque a perspectiva de
mundo dos indivíduos coordena suas escolhas em eleições e plebiscitos
públicos. Dessa maneira, o povo tende a agir segundo o conceito de
menoridade, do filósofo iluminista Immanuel Kant, no qual as decisões
pessoais são tomadas pelo intelecto e influência de outro. Evidencia-se,
assim, que o domínio da seletividade de informações nas redes sociais,
como Facebook e Twitter, pode representar uma sabotagem ao Estado
Democrático.

Em suma, a manipulação comportamental pelo uso de dados é um


complexo desafio hodierno e precisa ser combatida. Dessarte, as
instituições escolares - responsáveis por estimular o pensamento crítico na
população - devem buscar fortalecer a capacidade de julgamento e
posicionamento racional nos jovens. Isso pode ser feito por meio de
palestras, aulas e distribuição de materiais didáticos sobre a filosofia
criticista e sociologia, visando aprimorar o raciocínio autônomo livre de
influências. Em paralelo, as grandes redes sociais, interessadas na
plenitude de seus usuários, precisam restringir o uso indevido de dados

74
privilegiados. Tal ação é viável por intermédio da restrição do acesso, por
parte de entidades políticas, aos algoritmos e informações privadas de
preferências pessoais, objetivando proteger a privacidade do indivíduo e o
exercício da democracia plena. Desse modo, atenuar-se-á, em médio e
longo prazo, o impacto nocivo do controle comportamental moderno, e a
sociedade alcançará o estágio da maioridade Kantiana.
​"

Pedro Assaad

Foto: Reprodução/Inep

75
Rylla Varela
19 anos | Ipanguaçu - RN | @ryllamelo

Foto: Reprodução/Inep

"
A obra musical "Admirável Chip Novo", da cantora Pitty, retrata a
manipulação das ações humanas em razão do uso das tecnologias, que
findam por influenciar o comportamento dos indivíduos. Não obstante, tal
questão transcende a arte e mostra-se presente na realidade brasileira

76
através da filtragem de dados na internet e sua utilização como
ferramenta de determinação de atitudes, consequência direta do interesse
do mercado globalizado e da vulnerabilidade dos usuários. Assim, torna-se
fundamental a discussão desses aspectos, a fim do pleno funcionamento
da sociedade.

Convém ressaltar, a princípio, o estabelecimento do comércio virtual e sua


contribuição para a continuidade da problemática. Quanto a esse fator, é
válido considerar a alta capacidade publicitária da web, bem como sua
consolidação enquanto espaço mercantil - possibilitador de compra e
venda de produtos. Sob esse aspecto, o célebre geógrafo, Milton Santos,
afirma a existência de relação entre o desenvolvimento técnico-científico e
as demandas da globalização, justificando, assim, a constante oferta de
conteúdos culturais e comerciais que podem ser adquiridos pelos usuários,
de modo a fortalecer o mercado mundial e o capitalismo.

Paralelo a isso, a imperícia social vinculada ao déficit em letramento digital


fomenta a perpetuação do impasse. Nesse viés, as instituições
educacionais ainda não são eficazes na educação tecnológica, por não
contarem com estrutura profissional e material voltada ao tema. Ademais,
a formação de indivíduos vulneráveis possibilita a ação do mecanismo que
pode transformar comportamentos, tornando-os passíveis de alienação.
Essa conjuntura contraria o Estado proposto pelo filósofo John Locke -
assegurador de liberdade -, gerando falsa sensação de autonomia e
expondo internautas a um ambiente não transparente, em que decisões
são previamente programadas por outrem.

Em suma, faz-se imprescindível a tomada de medidas atenuantes ao


entrave abordado. Posto isso, concerne ao Estado, mediante os Ministérios
da Educação e Ciência e Tecnologia, a criação de um plano educacional
que vise a elucidar a população quanto aos riscos da navegação na rede e
à necessidade de adaptação aos novos instrumentos digitais. Tal projeto
deve ser instrumentalizado na oferta de aparelhos tecnológicos às escolas,
para a promoção de palestras e aulas práticas sobre o uso da tecnologia,
mediadas por técnicos e professores da área, objetivando a qualificação
dos usuários e a prevenção de casos de manipulação de atitudes. Dessa
maneira, o Brasil poderá garantir a liberdade de seus cidadãos e o Estado
lockeano poderá ser consolidado.
​"

Rylla Varela

77
Foto: Reprodução/Inep

78
Sílvia Fernanda Lima
17 anos | Niterói - RJ

Foto: Reprodução/Inep

"
No livro Admirável Mundo Novo do escritor inglês Aldous Huxley é
retratada uma realidade distópica na qual o corpo social padroniza-se pelo
controle de informações e traços comportamentais. Tal obra fictícia, em
primeira análise, diverge substancialmente da realidade contemporânea,

79
uma vez que valores democráticos imperam. No entanto, com o influente
papel atribuído à internet, configurou-se uma liberdade paradoxal
tangente à regulamentação de dados. Assim, faz-se profícuo observar a
parcialidade informacional e o consumo exacerbado como pilares
fundamentais da problemática.

Em primeiro plano, a estruturação do meio cibernético fomenta a


conjuntura regida pela denominada denominada pós-verdade, traduzida
na sobreposição do conhecimento fundamentado por conotações
subjetivas de teor apelativo. Nesse contexto, como os algoritmos das
ferramentas de busca fornecem fontes correspondentes às preferências
de cada usuário, cria-se uma assimilação unilateral, contendo
exclusivamente aquilo que promove segurança emocional ao indivíduo e
favorece a reprodução automatizada de pensamentos. Desse modo, com
base nas premissas analíticas do escritor francês Guy Debord, pelo fato de
o meio digital ser mediatizado por imagens, o sujeito é manipulado de
forma alienante, mitigando do seu senso crítico e capacidade de
compreender a pluralidade de opiniões.

Outrossim, a detenção de dados utilizada para a seleção de anúncios


fomenta o fenômeno do consumismo. Sob esse viés, posto que a
sociedade vigente é movida pelo desempenho laboral e pela
autoexploração, como preconizou o filósofo sul-coreano Byung Chul-Han,
o consumo apresenta-se como forma de aliviar as inquietações resultantes
desse quadro e alternativa para uma felicidade imediata. Então, na medida
em que os artigos publicitários exibidos na internet são direcionados
individualmente, o estímulo à compra denota-se ainda mais magnificado,
funcionando como fator adicional à busca por alívio paralelamente à
construção de hábitos desequilibrados e prejudiciais.

Portanto, minimizar os impactos negativos da inserção no ciberespaço não


se apresenta como tarefa fácil, porém, tornar-se-á possível por meio de
uma abordagem educacional. Dessa forma, o Ministério da Educação deve
elaborar um projeto de educação digital tendo com perspectiva basilar o
ensino emancipatório postulado pelo filósofo alemão Theodor Adorno.
Essa ação pode ser constituída por frequentes debates incluindo
problematizações e a criação de reformulações conscientes relacionadas
aos perigos delimitados pela manipulação do comportamento online nos
ensinos Fundamental II e Médio das escolas públicas e particulares. Tal
medida deve incluir a mediação de professores de Sociologia e Filosofia,
além de especialistas em Cultura Digital, com o objetivo de modular nos
alunos autonomia e criticidade no uso da internet. Enfim, será possível a

80
construção de uma juventude responsável e dificilmente manipulada, sem
nenhuma semelhança a obra de Aldous Huxley.
​"

Sílvia Fernanda Lima

Foto: Reprodução/Inep

81
Thais Saeger
28 anos | Niterói - RJ | @thaisaeger

Foto: Reprodução/Inep

"
É fato que a tecnologia revolucionou a vida em sociedade nas mais
variadas esferas, a exemplo da saúde, dos transportes e das relações
sociais. No que concerne ao uso da internet, a rede potencializou o

82
fenômeno da massificação do consumo, pois permitiu, por meio da
construção de um banco de dados, oferecer produtos de acordo com os
interesses dos usuários. Tal personalização se observa, também, na
divulgação de informações que, dessa forma, se tornam, muitas vezes,
tendenciosas. Nesse sentido, é necessário analisar tal quadro,
intrinsecamente ligado a aspectos educacionais e econômicos.

É importante ressaltar, em primeiro plano, de que forma o controle de


dados na internet permite a manipulação do comportamento dos
usuários. Isso ocorre, em grande parte, devido ao baixo senso crítico da
população, fruto de uma educação tecnicista, na qual não há estímulo ao
questionamento. Sob esse âmbito, a internet usufrui dessa vulnerabilidade
e, por intermédio de uma análise dos sites mais visitados por determinado
indivíduo, consegue rastrear seus gostos e propor notícias ligadas aos seus
interesses, limitando, assim, o modo de pensar dos cidadãos. Em meio a
isso, uma analogia com a educação libertadora proposta por Paulo Freire
mostra-se possível, uma vez que o pedagogo defendia um ensino capaz de
estimular a reflexão e, dessa forma, libertar o indivíduo da situação a qual
encontra-se sujeitado - neste caso, a manipulação.

Cabe mencionar, em segundo plano, quais os interesses atendidos por tal


controle de dados. Essa questão ocorre devido ao capitalismo, modelo
econômico vigente desde o fim da Guerra Fria, em 1991, o qual estimula o
consumo em massa. Nesse âmbito, a tecnologia, aliada aos interesses do
capital, também propõe aos usuários da rede produtos que eles acreditam
ser personalizados. Partindo desse pressuposto, esse cenário corrobora o
termo "ilusão da contemporaneidade" defendido pelo filósofo Sartre, já
que os cidadãos acreditam estar escolhendo uma mercadoria diferenciada
mas, na verdade, trata-se de uma manipulação que visa ampliar o
consumo.

Infere-se, portanto, que o controle do comportamento dos usuários possui


íntima relação com aspectos educacionais e econômicos. Desse modo, é
imperiosa uma ação do MEC, que deve, por meio da oferta de debates e
seminários nas escolas, orientar os alunos a buscarem informações de
fontes confiáveis como artigos científicos ou por intermédio da checagem
de dados, com o fito de estimular o senso crítico dos estudantes e, dessa
forma, evitar que sejam manipulados. Visando ao mesmo objetivo, o MEC
pode, ainda, oferecer uma disciplina de educação tecnológica nas escolas,
através de sua inclusão na Base Comum Curricular, causando um
importante impacto na construção da consciência coletiva. Assim,
observar-se-ia uma população mais crítica e menos iludida.

83
​"

Thais Saeger

Foto: Reprodução/Inep

84
Tiago Henrique Rodrigues
16 anos | Guarabira - PB | @tiagohrpg

Foto: Reprodução/Inep

"
O Marco Civil da Internet, criado em 2014, assegura o uso livre e
democrático nas redes comunicativas. Porém, na realidade
contemporânea, é evidente que o monitoramento das atividades dos
usuários online por parte de empresas implica a perda da privacidade dos

85
indivíduos que utilizam a internet. Com isso, a influência dos interesses
empresariais, bem como o descaso governamental frente a tal
problemática corroboram para a manutenção da mesma.

Em primeiro plano, vale destacar que, com o avanço no compartilhamento


de informações, o controle de dados se tornou essencial para a divulgação
de propagandas direcionadas às preferências dos usuários das redes de
comunicação. Nesse sentido, a manipulação dos anúncios se assemelha ao
processo de dominação descrito pelo sociólogo Foucault ao analisar o
modelo panóptico, pois o monitoramento das ações dos indivíduos é de
suma importância para a manutenção do poder de forma discreta. Nisso,
observa-se como o controle do comportamento dos indivíduos restringe a
privacidade deles.

Paralelamente a essa dimensão empresarial, o descaso do Estado,


principalmente na esfera legislativa, contribui para a permanência do uso
não autorizado de informações pessoais para fins comerciais. Conforme o
sociólogo alemão Dahrendorf, no livro "A lei e a ordem", a anomia é a
condição social em que as normas reguladoras dos comportamentos das
pessoas perdem sua validade. De forma análoga a esse pensamento,
nota-se que as leis que regulamentam os atos na internet encontram-se
em um estado de anomia, pelo fato de serem infringidas, por vezes, sem
qualquer punição ao infrator.

Portanto, é notório que a manipulação dos dados de pesquisa dos utentes


se configura como um problema relativo à fragilidade das leis na rede.
Logo, o Congresso Nacional deveria elaborar uma legislação que
reforçasse os direitos e deveres dos usuários no ambiente virtual, por meio
de reuniões com especialistas em segurança digital, com o fito de
amenizar os crimes de roubos de dados por empresas. Assim, o Governo
reverteria o estado de anomia na internet.
"
Tiago Henrique Rodrigues

86
Foto: Reprodução/Inep

87
Vanessa Tude
19 anos | Nova Iguaçu - RJ | @vanessatude

Foto: Reprodução/Inep

"
O mundo conheceu novos equipamentos ao longo do processo de
industrialização, com destaque para os descobrimentos da Terceira
Revolução Industrial, que possibilitou a expansão dos meios de

88
comunicação e controle de dados em inúmeros países. Entretanto, as
ferramentas recém descobertas foram utilizadas de forma inadequada,
como por exemplo, durante a Era Vargas. Com efeito, a má utilização
dessas tecnologias contribui com a manipulação comportamental dos
usuários que se desenvolve devido não só à falta de informação popular
como também à negligência governamental.

Primeiramente, vale ressaltar o efeito que a falta de informação possui na


manipulação das pessoas. Consoante à Teoria do Habitus elaborada pelo
sociólogo francês Pierre Bourdieu, a sociedade possui padrões que são
impostos, naturalizados e, posteriormente, reproduzidos pelos indivíduos.
Nessa perspectiva, a possibilidade da coleta de dados virtuais, como sites
visitados e produtos pesquisados, por grandes empresas ocasiona a
divulgação de propagandas específicas com o fito de induzir a efetivação
da compra da mercadoria anunciada ou estimular um estilo de vida.
Assim, o desconhecimento dessa realidade permite a construção de uma
ilusão de liberdade de escolha que favorece unicamente às empresas.
Dessa forma, medidas são necessárias para alterar a reprodução, prevista
por Bourdieu, dessas estratégias comerciais que afetam negativamente
inúmeros indivíduos.

Ademais, a influência de milhares de usuários se dá pela negligência e


abuso de poder governamental. Durante a Era Vargas, a manipulação
comportamental dos brasileiros foi uma realidade a partir da criação do
Departamento de Imprensa e Propaganda que possuía a função de
fiscalizar os conteúdos que seriam divulgados nos meios de comunicação
usando o controle da população. Nos dias atuais, com o auxílio da internet,
as pessoas estão mais expostas, uma vez que o governo possui acesso aos
dados e históricos de navegação que possibilitam a ocorrência de uma
obediência influenciada como ocorreu na Era Vargas. Desse modo, urge a
extrema necessidade de alterações estruturais para a ocorrência de uma
liberdade comportamental de todos.

Impende, portanto, que a manipulação do comportamento através do


controle de dados na internet deixe de ser realidade. Nesse sentido, cabe
ao Governo, por meio do aumento da parcela de investimentos com
prioridade, fiscalizar e punir instituições que utilizem essa estratégia de
direcionamento através de multas e aumento na cobrança de impostos.
Essa iniciativa tem a finalidade de propor o uso adequado das tecnologias
descobertas durante, e posteriormente, a Terceira Revolução Industrial e,
consequentemente, erradicar a manipulação comportamental dos
indivíduos através dos dados coletados na internet.

89
​"

Vanessa Tude

Foto: Reprodução/Inep

90
Vitoria Azevedo
18 anos | Volta Redonda - RJ | @vitoria_azevedo_

Foto: Reprodução/Inep

"
A Terceira Revolução Industrial, ocorrida no século XX, trouxe diversas
novas tecnologias que fomentaram os processos de conexões do mundo,
como a internet. Nesse viés, embora tal rede virtual tenha tornado-se
demasiadamente difundida na atualidade e seja benéfica em diversos

91
aspectos, esse meio também é usado para um objetivo nefasto: alienação
populacional. Sobre essa perspectiva, seja pela interferência na capacidade
de escolha do indivíduo, seja pela colaboração com o consumo
desmedido, a manipulação dos usuários da internet extremamente nociva
para a sociedade.

Em primeiro plano, a liberdade dos cidadãos de terem suas próprias


opções é prejudicada por essa mazela. Dessa forma, é imprescindível citar
que no livro 1984, de George Orwell, o “Grande Irmão” observa e controla o
comportamento do corpo social por meio de uma “teletela“. Sob essa ótica,
a internet manipulada tem papel parecido no período atual, em que o
internauta fica refém de imagens, de notícias e de assuntos baseados em
algoritmos definidos por programas de computador. Desse modo, o
indivíduo, majoritariamente, tem apenas uma falsa sensação de liberdade,
uma vez que torna-se alienado pela rede e não tem verdadeira capacidade
de escolha.

Ademais, o consumismo exacerbado é corroborado pela manipulação de


dados do mundo virtual. Nesse sentido, cabe salientar que, segundo IBGE,
mais de 60% da maioria das pessoas utilizam a internet. Dessa maneira,
com tal número significativo de cidadãos conectados, empresas do
mundo capitalista — consolidado após a guerra fria — pagam por
impulsionamento de seus produtos direcionados a possíveis
consumidores. Nesse cenário, muitos indivíduos, mesmo sem capital para
compra, são ingenuamente fascinados pelas vitrines virtuais, o que pode
acarretar dívidas e, por conseguinte, perda de bem-estar.

Portanto, torna-se evidente que a manipulação das ações dos internautas


pelo controle de dados na espaço virtual causa consequências maléficas
para população. Posto isso, para mitigar a problemática, cabe ao Governo
Federal, juntamente com o Ministério da Ciência e Tecnologia,
regulamentar como os dados dos usuários são utilizados na internet, por
meio da criação de programas capazes de bloquear sistemas que tenham
objetivo de alienar a população para determinados assuntos, com o fito de
garantir uma real liberdade de escolha para os cidadãos. Outrossim, é
obrigação do Ministério da Educação, em parceria com as escolas, ensinar
ao indivíduo, desde a infância, não apenas a consumir — de modo
responsável —mercadorias no meio virtual, mas também a reconhecer
propagandas que usem os dados do internauta como meio de
impulsionamento, mediante brincadeiras lúdicas e dinâmicas nos
aparelhos eletrônicos, a fim de garantir melhor qualidade de vida para o

92
corpo social na fase adulta. Sendo assim, essas medidas podem ajudar a
minimizar as manipulações dos usuários.
​"

Vitoria Azevedo

Foto: Reprodução/Inep

93
Yuri Faquini
17 anos | Juiz de Fora - MG | @yurifaquini

Foto: Reprodução/Inep

"
Para o sociólogo Manuel Castells, o advento da “Era da Informação”
significou uma mudança nas relações de poder. Enquanto, na “Era
Industrial”, o cenário era regulado pela posse dos meios de produção, na

94
nova fase, o domínio político, econômico e social tornou-se vinculado ao
controle da produção, do processamento e do compartilhamento de
dados. Tal transformação favoreceu que o meio virtual, por meio de
algoritmos, adquirisse a capacidade de manipular o comportamento de
internautas de acordo com suas preferências, prática a qual, uma vez
sustentada pela ausência de autonomia dos indivíduos na “internet”,
constitui o alicerce para o surgimento das “bolhas virtuais”.

Em primeira análise, o controle da atividade dos usuários da rede é


possibilitado pela navegação sem autonomia no espaço digital, visto que
esta facilita o direcionamento do internauta a páginas ou grupos
específicos. Quanto a isso, o filósofo italiano Umberto Eco afirma que a
“internet” originou uma “legião de imbecis”, sendo o ambiente virtual
desprovido de hierarquia. Assim, a qualidade dos “sites” acessados e a
escolha dos itens pesquisados são determinadas pelo próprio sujeito, o
qual depende de sua responsabilidade para não ser manipulado. Nesse
sentido, a escola emerge como um decisivo agente de socialização, já que,
ao formar cidadãos mais autônomos, contribui para diminuir a influência
de mecanismos de filtragem nos indivíduos.

Além disso, a seleção do conteúdo exibido aos usuários com base no seu
histórico leva à formação das “bolhas virtuais”, considerando que eles são
direcionados, sobretudo nas redes sociais, para páginas nas quais é
compartilhado um mesmo interesse. Segundo o médico e criador da
psicanálise Freud, um indivíduo, ao ser inserido em um grupo específico,
tende a suprimir suas peculiaridades para assumir as características
predominantes no ambiente em que se encontra. No caso da “internet”,
esse fenômeno, além de ocorrer, é agravado, uma vez que a própria
escolha de integrantes de um espaço é feita a partir de opiniões
convergentes.

Portanto, a manipulação de pessoas no meio digital, favorecida pela falta


de autonomia nesse contexto, leva à formação de grupos os quais só
compartilham um único interesse. Logo, cabe às escolas, instituições que
desenvolvem sujeitos autônomos, a tarefa de alertar acerca da
necessidade de navegar com responsabilidade pela internet, por meio de
palestras e discussões sobre o assunto, envolvendo as disciplinas de
Filosofia e Sociologia, a fim de formar cidadãos que não sejam controlados
pelas ferramentas virtuais. Ademais, as redes sociais, principal espaço
causador das “bolhas” de pensamentos e gostos, deve facilitar a interação
de ideias divergentes, mediante a criação de páginas voltadas para a troca

95
de opiniões. Só assim, o controle de indivíduos na “Era da Informação” será
solucionado.
​"

Yuri Faquini

Foto: Reprodução/Inep

96
Agradecimentos
Menção dos autores a professores, cursos e instituições decisivos para os seus
resultados:

Assessoria Clara Pimentel Profª. Dayana Mendes


Colégio Ari de Sá Cavalcante Profª. Débora Menezes
Colégio CEC Diocesano Prof. Diego Silva
Colégio da Luz Profª. Fátima Rodrigues
Colégio e Curso pH Prof. Felipe Moraes
Colégio Farias Brito Prof. George Rocha
Colégio Franciscano Regina Pacis Profª. Guianezza Saraiva
Colégio Master Sul Prof. Hermeson Veras
Colégio Rio Branco Profª. Jaciara Castro
Coordenador Fabrício Pires Prof. João Paulo
Curso EliteMaster Prof. José Jorge
Curso G8 Prof. Julião Ferreira
Curso Seja Mais Profª. Karine Aragão
Curso Sistema Fator Prof. Leandro Bolivar
Curso Danielle Velasco Prof. Marco Tukoff
Descomplica Profª. Márcia Imamura
E.E.E.I. Prof. Marciano de Toledo Piza Profª. Márcia Pelachin
IFRN Prof. Mario Santanna
Lógico Cursos Aliados Prof. Napoleão Junior
ProENEM Profª. Nádia Assaad
Profª. Alexandra Mansur Profª. Nelândia Teodoro
Profª. Amanda Dinucci Profª. Osmararina
Profª. Beatriz Calmon Profª. Paloma Abdallah
Prof. Breno Leite Prof. Rafael Dias
Prof. Bruno Cruz Prof. Rafael Santana
Profª. Cainã Vilanova Prof. Renato Passos
Profª. Camila Borges Prof. Romulo Bolivar
Profª. Camilla Borges Profª. Roseane Carvalhal
Profª. Clarissa Maranhão Prof. Thiago Lanne
Profª. Danielle Velasco Prof. Waldyr Imbroisi
Prof. David Gonçalves

97
98
Prezado estudante,

Seja bem-vindo a mais uma cartilha! Aqui você vai encontrar 44 das 53
redações nota máxima do Enem 2019, a respeito do tema "Democratização
do acesso ao cinema no Brasil". Os textos foram concedidos por espontânea
e livre vontade dos autores e, por isso, essa é uma cartilha extraoficial.

Essa iniciativa começou no ano passado, comigo e outros 30 alunos que


nos propomos a disponibilizar nossos textos gratuitamente. E, mal
sabíamos, a cartilha explodiu. Tornou-se manchete nos grandes jornais,
virou livro didático nas salas de aula, material-base para professores. E foi
um simples gesto de união e compartilhamento.

É com esses valores que damos continuidade para uma segunda versão
desse material. Desde o Alagoas ao Rio Grande do Sul, dos 16 aos 28 anos,
cada um dos 44 autores aqui reunidos ficam imensamente felizes em te
ajudar a chegar mais alto; em te ajudar a superar, por exemplo, os
obstáculos de uma rede de ensino público deficitário.

Para cada autor, você vai ver o espelho da redação e o


texto transcrito. Mas, se você conhece a cartilha de
2018, sabe que nós fazemos questão de te certificar
das notas: para gastar menos papel, escaneando o QR
Code ao lado você encontra todos os comprovantes da
nota 1000 de cada um em uma pasta do Google Drive.

Além disso, caso queira imprimir essa cartilha, dê preferência à versão


reduzida (aqui) que foi feita para não desperdiçar tanta tinta ou folhas.

Por último, pessoalmente, preciso dizer que fico muito orgulhoso de olhar
para trás e ver a proporção dessa iniciativa. Disse no texto introdutório da
de 2018 que "essa é a nossa verdadeira proposta de intervenção". E, foi.
Esse ano, vários autores dessa cartilha me agradeceram pela do ano
passado, porque eles, assim como você agora, estavam lendo ela. :')

Lucas Felpi

ATENÇÃO: Sob hipótese nenhuma esse material poderá ser revendido. Ele é inteiramente gratuito e
está disponível no formato digital a todos. Caso professores, portais, ou cursos tenham interesse em
compartilhar ou adotar a cartilha, pedimos que mantenham os créditos e divulguem o material.

1
Sumário
Alana Miranda Delfino 4
Aldillany Maria Rodrigues 6
Amanda Rocha 8
Ana Clara Socha 10
Ana Flávia Pereira 12
Ana Teresa Rodrigues 14
André Cecílio 16
Augusto Fernandes Scapini 18
Bruna Guarçoni 20
Caio Henrique Alves Moreira 22
Carlos Eduardo Immig 24
Caroline Baptista 26
Damirys Machado Maciel 28
Daniel Gomes 30
Eduarda Amorim 32
Emmanuelle Gomes de Faria 34
Gabriel de Lima 36
Gabriel Melo 38
Gabriel Merli 40
Gabriela Alencar 42
Guilherme Mendes Vaz 44
Gustavo Lopes 46
Isabella Cardoso 48
Isabelle Moreira 50
João Pedro Bonfim 52
Juliana Souza 54
Jurandi Campelo 56
Laura Brizola 58

2
Letícia Islávia 60
Lívia Bonin 62
Lívia Ribeiro 64
Lucas Rios 66
Luísa Dornelas 68
Maria Antônia Barra 70
Markyel Flabio Araujo 72
Matheus Adriano 74
Nathalia Vital 76
Nayra Amorim 78
Pedro Luís Ladeira Mello 80
Raquel Merisio 82
Stela Lopes 84
Thiago Nakazone 86
Vinicius Adriano 88
Vitória Castro 90
Agradecimentos 92

3
Alana Miranda Delfino
21 anos | Uberlândia - MG | @alanamirandad

Foto: Reprodução/Inep

4
"Ao longo do processo de formação da
sociedade, o pensamento cinematográfico consolidou-se
em diversas comunidades. No início do século XX, com os regimes
totalitários, por exemplo, o cinema era utilizado como meio de dominação à
adesão das massas ao governo. Embora o cinema tenha se popularizado,
posteriormente, como entretenimento, nota-se, na contemporaneidade, a sua
limitação social, em virtude do discurso elitizado que o compõe e da falta de
acesso por parte da população. Essa visão negativa pode ser
significativamente minimizada, desde que acompanhada da desconstrução
coletiva, junto à redução do custo do ingresso para a maior acessibilidade.
Em primeira análise, é evidente que a herança ideológica da produção
cinematográfica, como um recurso destinado às elites, conservou-se na
coletividade e perpetuou a exclusão de classes inferiores. Nessa perspectiva,
segundo Michel Foucault, filósofo francês, o poder articula-se em uma
linguagem que cria mecanismos de controle e coerção, os quais aumentam
a subordinação. Sob essa ótica, constata-se que o discurso hegemônico
introduzido, na modernidade, moldou o comportamento do cidadão a
acreditar que o cinema deve se restringir a determinada parcela da
sociedade, o que enfraquece o princípio de que todos indivíduos têm o
direito ao lazer e ao entretenimento. Desse modo, com a concepção
instituída da produção cinematográfica como diversão das camadas altas, o
cinema adquire o caráter elitista, o qual contribui com a exclusão do
restante da população.
Além disso, uma comunidade que restringe o acesso ao cinema, por
meio do custo de ingressos, representa um retrocesso para a coletividade
que preza por igualdade. Nesse sentido, na teoria da percepção do estado da
sociedade, de Émile Durkheim, sociólogo francês, abrangem-se duas
divisões: "normal e patológico". Seguindo essa linha de pensamento,
observa-se que um ambiente patológico, em crise, rompe com o seu
desenvolvimento, visto que um sistema desigual não favorece o progresso
coletivo. Dessa forma, com a disponibilidade de ir ao cinema mediada pelo
preço — que não leva em consideração a renda regional —, a democratização
torna-se inviável.
Depreende-se, portanto, a relevância da igualdade do acesso ao cinema
no Brasil. Para que isso ocorra, é necessário que o Estado proporcione a
redução coerente do custo de ingressos por região, junto à difusão da
importância da produção cinematográfica no cotidiano, nos meios de
comunicação, por meio de anúncios, a fim de colaborar com o acesso
igualitário. Ademais, a instituição educacional deve proporcionar aos
indivíduos uma educação voltada à democratização coletiva do cinema,
como entretenimento destinado às elites, por intermédio de debates e
palestras, na área das Ciências Humanas, como forma de esclarecimento
populacional. Assim, haverá um ambiente estável que colabore com a
acessibilidade geral ao cinema no país."

5
Aldillany Maria Rodrigues
20 anos | Girau do Ponciano - AL | @aldillanymaria

Foto: Reprodução/Inep

6
"A Constituição brasileira de 1988 assegura a
todos os indivíduos do amplo acesso aos bens culturais do
país. No entanto, na prática, tal garantia é deturpada, visto que o
contato com a cultura — por meio dos cinemas — não se encontra efetivado na
sociedade nacional. Esse cenário nefasto ocorre não só em razão do deficitário
incentivo à valorização cultural nas escolas, mas também devido à excessiva
mercantilização da cultura. Logo, faz-se imperiosa a análise dessa conjuntura,
com o intuito de mitigar os entraves para a consolidação dos direitos
constitucionais.
Em primeira análise, vale destacar que durante o Renascimento
Cultural — movimento artístico e intelectual ocorrido na transição da Idade
Média para a Idade Moderna — a cultura era valorizada e usada como uma
maneira de transmitir conhecimentos. Hodiernamente, entretanto, a situação
é pouco observada na sociedade brasileira, uma vez que o acesso ao cinema,
como forma de expandir a construção dos saberes, encontra-se pouco
ampliado. Esse panorama lamentável acontece porque a maioria das escolas,
instituições essenciais para a formação de indivíduos engajados
culturalmente, interessa-se, geralmente, apenas pela transmissão de
conteúdos técnicos, negligenciando estimular as habilidades socioculturais.
Evidencia-se, portanto, que a restrita ida aos cinemas relaciona-se com o
deficitário incentivo contato com essa modalidade de entretenimento por
parte dos colégios.
Ademais, vale ressaltar que, de acordo com os sociólogos da Escola de
Frankfurt, a cultura tornou-se um instrumento voltado para a obtenção de
lucros. Nesse viés, a excessiva mercantilização dos bens culturais, como os
cinemas, segrega áreas periféricas, nas quais grande parte da população é
desprovida de amplos recursos financeiros para acessar tais meios de lazer.
Desse modo, constata-se que a concentração dos cinemas em áreas
privilegiadas economicamente, atestada pela óptica frankfurtiana, fere os
princípios constitucionais e impede a democratização do acesso a esse meio
de entretenimento.
Verifica-se, então, a necessidade de ampliar o acesso ao cinema no
Brasil. Para isso, faz-se imprescindível que o Ministério da Educação e da
Cultura, por intermédio de minicursos, instrua os educadores — especialmente
os docentes em sociologia, haja vista o conhecimento cultural inerente a tal
curso — a elucidar em suas aulas a importância da valorização dos bens
culturais para a ampliação do conhecimento, a fim de estimular os alunos a
irem aos cinemas. Paralelamente, precisa-se que a sociedade civil organizada,
mediante a criação de projetos de lei, os quais tornam obrigatória a
descentralização dos cinemas, pressione o Poder Judiciário a aprová-los, com
o objetivo de democratizar o acesso a esse meio de entretenimento. Assim,
tornar-se-á possível a construção de uma sociedade permeada pela efetivação
dos elementos elencados na Magna Carta."

7
Amanda Rocha
21 anos | Itaituba - PA | @amandabossam

Foto: Reprodução/Inep

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"A construção dos feudos, muros que delimi-
tavam uma determinada área no período da Idade Média,
segregou milhares de pessoas e impossibilitou o acesso a bens que
somente a nobreza podia usufruir. Semelhante a essa época, no contexto
brasileiro contemporâneo, o cinema é um dos inúmeros meios de
democratizar a cultura, mas ainda é "feudalizado", já que grande parte da
população continua alheia a esse serviço . Então, tanto a concentração das
salas de teledramaturgia em regiões mais desenvolvidas economicamente,
quanto os exorbitantes preços dos ingressos e alimentos, vendidos com
exclusividade pela empresa proprietária, mutilam a cidadania e consagram
importantes simbologias de poder.
Nessa perspectiva, a cultura é imprescindível para a identidade de um
povo e, indubitavelmente, o cinema é uma fundamental ferramenta de
inclusão e de propagação de valores sociais. Entretanto, de acordo com o
geógrafo Milton Santos, no texto "Cidadanias Mutiladas", a democracia,
extremamente necessária para a fundamentação cultural do indivíduo, só é
efetiva quando atinge a totalidade do corpo social, ou seja, na medida em
que os direitos são universais e desfrutados por todos os cidadãos. Dessa
maneira, a concentração das salas de cinemas em áreas com alto
desenvolvimento econômico e o alheamento de milhares de pessoas a esse
serviço provam que não há democratização do acesso à cultura
cinematográfica no Brasil, marginalizando grande parcela da sociedade
desprovida de recursos financeiros.
Outrossim, os preços abusivos de ingressos, a divisão das salas em
categorias de conforto e a proibição de entrada de bebidas e alimentos, que
não sejam vendidos no estabelecimento, dividem, ainda mais, a sociedade.
Isso pode ser explicado pelo teórico Pierre Bourdieu, o qual afirma que todas
as minúcias de um indivíduo constituem simbologias que são
constantemente analisadas pelo corpo social, isto é, o poder de compra, as
características pessoais e o acesso a bens e serviços refletem quem é o
homem para outrem. Dessa forma, o alto custo praticado pelas redes
cinematográficas violenta simbolicamente aqueles que não conseguem
contemplar as grandes telas e aumenta a desigualdade.
Portanto, cabe à iniciativa privada, em parceria com os estados e
municípios, promover a interiorização das salas de teledramaturgia, por meio
da construção de novos empreendimentos em áreas distantes dos polos
econômicos e da redução dos custos para o consumidor de baixa renda,
incentivando, então, a cultura mais democrática. Além disso, é
responsabilidade da Ancine, Agência Nacional de Cinema, estabelecer um
canal de comunicação mais efetivo com o telespectador, por intermédio de
aplicativos e das redes sociais interativas, para que denúncias e reclamações
sobre preços abusivos possam ser realizadas. Como efeito social, a
democratização do cinema no Brasil será uma realidade, destruindo, assim,
barreiras e "feudos" sociais."

9
Ana Clara Socha
21 anos | Brasília - DF | @anaclarasocha

Foto: Reprodução/Inep

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"Embora a Constituição Federal de 1988
assegure o acesso à cultura como direito de todos os
cidadãos, percebe-se que, na atual realidade brasileira, não
há o cumprimento dessa garantia, principalmente no que diz respeito ao
cinema. Isso acontece devido à concentração de salas de cinema nos
grandes centros urbanos e à condição cultural de que a arte é direcionada
aos mais favorecidos economicamente.
É relevante abordar, primeiramente, que as cidades brasileiras foram
construídas sob um viés elitista e segregacionista, de modo que os centros
culturais estão, em sua maioria, restritos ao espaço ocupado pelos
detentores do poder econômico. Essa dinâmica não foi diferente com a
chegada do cinema, já que apenas 17% da população do país frequenta os
centros culturais em questão. Nesse sentido, observa-se que a segregação
social — evidenciada como uma característica da sociedade brasileira, por
Sérgio Buarque de Holanda, no livro "Raízes do Brasil" — se faz presente até
os dias atuais, por privar a população das periferias do acesso à cultura e
ao lazer que são proporcionados pelo cinema.
Paralelo a isso, vale também ressaltar que a concepção cultural de
que a arte não abrange a população de baixa renda é um fator limitante
para que haja a democratização plena da cultura e, portanto, do cinema.
Isso é retratado no livro "Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus, o
qual ilustra o triste cotidiano que uma família em condição de
miserabilidade vive, e, assim, mostra como acesso a centros culturais é
uma perspectiva distante de sua realidade, não necessariamente pela
distância física, mas pela ideia de pertencimento a esses espaços.
Dessa forma, pode-se perceber que o debate acerca da
democratização do cinema é imprescindível para a construção de uma
sociedade mais igualitária. Nessa lógica, é imperativo que Ministério da
Economia destine verbas para a construção de salas de cinema, de baixo
custo ou gratuitas, nas periferias brasileiras por meio da inclusão de seu
objetivo na base de Diretrizes Orçamentárias, com o intuito de
democratizar o acesso à arte. Além disso cabe às instituições de ensino
promover passeios aos cinemas locais, desde o início da vida escolar das
crianças, mediante autorização e contribuição dos responsáveis, a fim de
desconstruir a ideia de elitização da cultura, sobretudo em regiões
carentes. Feito isso, a sociedade brasileira poderá caminhar para
completude da democracia no âmbito cultural."

11
Ana Flávia Pereira
20 anos | Uberlândia - MG | @anaflavia_pereira

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12
"Na obra "Brasil: uma biografia", as historiado-
ras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling apontam ao leitor as
idiossincrasias da sociedade brasileira. Dentre elas destaca-se "a
difícil e tortuosa construção da cidadania". Embora o país possui uma das
legislações mais avançadas do mundo, muito do que nela se prevê não se
concretiza. Tal fato é evidenciado no âmbito da democratização do acesso ao
cinema, tendo em vista que apesar dos brasileiros possuírem o acesso à
cultura como direito constitucional, a ineficiência do Estado associado a uma
cultura de aceitação por parte dos brasileiros faz com que a cidadania não
seja gozada por todos de maneira plena.
Em primeiro plano, a ineficiência do Estado em aplicar leis que
garantam o acesso à cultura restringe a cidadania dos indivíduos. Seja pela
dificuldade em administrar recursos em um território de dimensões
continentais, seja pela falta de interesse dos órgãos públicos em promover o
desenvolvimento sociocultural democrático das regiões afastadas do centro
vanguardista nacional, existe uma parcela significativa da população sem
acesso ao cinema. Dados oficiais do governo indicam que atualmente existem
2200 salas de cinema no país, entretanto, o Brasil possui mais de 200 milhões
de habitantes, o que indica que a democratização do entretenimento
cinematográfico é um processo lento e até mesmo o utópico.
Ademais, a aceitação da restrição da cidadania por parte dos brasileiros
provém de um ensino ineficaz e muitas vezes inexistente que acarreta falta de
conhecimento sobre os direitos individuais. No livro "Vidas Secas" de
Graciliano Ramos, o protagonista Fabiano, desprovido do acesso ao
conhecimento, acabava sendo explorado e humilhado por aqueles que detém
o saber. Nesse viés, sendo a arte uma mera reprodução da realidade, hoje são
milhares os fabianos no Brasil. Dessa forma, a ampliação do acesso à cultura
por meio do cinema é imperativa para alertar os brasileiros sobre sua
condição de marginalização cultural e para inserí-los no acesso à arte.
Portanto, pode-se inferir que a democratização do acesso ao cinema no
Brasil é um tema relevante e que carece de soluções. Sendo assim, cabe ao
Governo Federal direcionar recursos para regiões marginalizadas do eixo
vanguardista brasileiro, por meio da definição de uma agenda econômica que
democratize o acesso à cultura, a fim de promover o desenvolvimento
sociocultural igualitário dos cidadãos. Além disso, cabe ao Ministério da
Educação promover palestras, em associação com a indústria
cinematográfica, bem como incentivar a produção de curta-metragens, no
intuito de conscientizar os brasileiros sobre o direito do acesso à cultura e
sobre o papel do cinema na emancipação individual das amarras sociais.
Assim, a construção da cidadania será facilitada e os fabianos se tornarão, de
fato, cidadãos plenos."

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Ana Teresa Rodrigues
18 anos | Fortaleza - CE | @annateresar

Foto: Reprodução/Inep

14
"No filme "A Invenção de Hugo Cabret",
o protagonista de 12 anos enfrenta grandes dificuldades
ao tentar frequentar o cinema de sua cidade, pois esse era consi-
derado um passatempo exclusivo das classes mais abastadas. Assim como
retratado no longa, não há, ainda, a plena democratização do acesso ao
cinema no Brasil, tendo em vista que a maior parte dos locais exibidores
de filmes encontra-se nas áreas urbanas do país e o acesso a esse meio de
entretenimento demanda condições econômicas pouco compatíveis com
a realidade de muitos indivíduos brasileiros.
Constata-se, a princípio, que, segundo o Artigo 6º da Constituição
Federal, todo cidadão tem direito ao lazer. Contudo, nota-se que não há o
pleno exercício da Lei ao observar que apenas 20% dos brasileiros
frequentam os cinemas de suas cidades, como afirmado pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada. Esse infeliz cenário está fortemente
atrelado ao fato de que as empresas exibidoras, em sua maioria, estão
concentradas nos centros urbanos do país, pois existe, ainda no século 21,
o pensamento de que os cidadãos de pequenas e médias cidades não
possuem interesse pela chamada "sétima arte", perpetuando, assim, uma
realidade de exclusão social e elitização da cultura.
Ressalta-se, ademais, que o acesso ao cinema é dificultado pela
questão econômica, dado que, para frequentar tais locais, é necessária
uma quantia monetária, a qual pode ser significativa para a população de
baixa renda. Dessa forma, sem possuir condições econômicas favoráveis,
muitos indivíduos não enxergam o cinema como um meio de
entretenimento compatível com suas realidades, programática já
denunciada pelo cineasta Alejandro G. Iniarrítu, o qual, em seu discurso
após vencer o Oscar de Melhor Diretor em 2017, criticou a visão lucrativa e
pouco inclusiva das empresas de cinema.
Tendo em vista que foi discutido, é necessário, portanto, que os
governos estaduais promovam uma maior inclusão dos cidadãos no acesso
aos cinemas, por meio de investimentos financeiros os quais visem à
criação de locais exibidores as pequenas e médias cidades. Ademais, as
empresas exibidoras, por meio de incentivos governamentais, deverão
diminuir a demanda monetária necessária para assistir os filmes, para que,
dessa maneira, indivíduos de quaisquer classes sociais possam ter acesso
aos cinemas de sociedades e, assim, cenas como a retratada em "A
Invenção de Hugo Cabret" não aconteçam, também, na realidade."

15
André Cecílio
28 anos | Belo Horizonte - MG | @salinhapaporeto

Foto: Reprodução/Inep

16
"Um dos principais elementos de uma socie-
dade humana é a produção cultural. Por meio dela, o povo
registra sua história, seu pensamento e sua visão de mundo, o que
contribui para a construção de uma memória coletiva mais forte e permite a
ampliação do conhecimento crítico promovida pelo contato com essas
produções. Atualmente, um importante constituinte do espectro cultural é o
cinema, que, embora possua um relevante papel social, encontra-se, no Brasil,
muito restrito a parcelas mais privilegiadas da sociedade, o que é grave.
A referida importância do cinema na sociedade se explica pelo fato de,
como forma de arte, filmes funcionarem por meio da "mímesis" — conceito de
Aristóteles que se refere à capacidade de obras artísticas representarem a
realidade de forma simulada circula o que possibilita a vivência indireta de
situações variadas e leva, potencialmente, à compreensão da vida em
sociedade e das relações humanas, o que pode promover efeitos educativos
ou conscientizadores. Nesse sentido, ao retratar, mesmo que de forma
ficcional, traços (positivos ou negativos) presentes nas relações sociais, o
cinema pode gerar reflexões e críticas profundas, que podem, por sua vez,
culminar em melhorias na sociedade e fortalecimento de ideais ou grupos.
Por exemplo, a obra "Jogo da Imitação", ao retratar a atuação de Alan turing
na criação de computadores, bem como seu drama por ser homossexual em
uma sociedade intolerante, ressalta o quão grave é a manutenção de um
pensamento homofóbico. Da mesma forma, filmes como "Batismo de
Sangue", que traz denúncias sobre a Ditadura Militar no Brasil, evidenciam as
mazelas desse regime e valorizam ideais democráticos, essenciais para a vida
em sociedade. Assim, um acesso ao cinema potencializa valores cruciais para
a harmonia social.
Todavia, ocorre, no Brasil, uma nítida elitização do acesso a esse tipo de
arte. O baixo número de salas e a concentração destas em shopping centers
de grandes cidades tornam produções cinematográficas inacessíveis a grande
parte da população, visto que muitas cidades nem sequer tem estrutura para
exibi-las. Além disso, os altos preços fazem com que, para mais de um terço
da população, que, segundo o IBGE, tem renda familiar de até 2 salários
mínimos, ir ao cinema seja uma atividade inviável. Assim, nega se o direito ao
acesso à cultura, provido na Constituição, e aos benefícios do cinema.
Portanto, o Ministério da Cultura deve ampliar o número de salas de
cinema e diminuir os preços dos ingressos, por meio de subsídios (como
insenções (sic) fiscais a empresas que praticarem preços populares) dados a
instituições para que abram novas salas em regiões em que, hoje, o acesso a
filmes é difícil. Com isso, será alcançado o objetivo de tornar o cinema mais
presente na vida de daqueles com menos renda, potencializando os efeitos
dessa arte em todos os âmbitos sociais."

17
Augusto Fernandes Scapini
17 anos | Goiânia - GO | @idg4f0s13

Foto: Reprodução/Inep

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"Aristóteles, grande pensador da Antigui-
dade, defendia a importância do conhecimento para a
obtenção da plenitude da essência humana. Para o filósofo, sem a
cultura e a sabedoria, nada separa a espécie humana do restante dos animais.
Nesse contexto, destaca-se a importância do cinema, desde a sua criação, no
século XIX, até a atualidade, para a construção de uma sociedade mais culta. No
entanto, há ainda diversos obstáculos que impedem a democratização do acesso
a esse recurso no Brasil, centrados na elitização do espaço público e causadores
da insuficiência intelectual presente na sociedade. Com isso, faz-se necessária
uma intervenção que busque garantir o acesso pleno ao cinema para todos os
cidadãos brasileiros.

De início, tem-se a noção de que a Constituição Federal assegura a todos


os cidadãos o acesso igualitário aos meios de propagação do conhecimento, da
cultura e do lazer. Porém, visto que os cinemas, materialização pública desses
conceitos, concentram-se predominantemente nos espaços reservados à elite
socioeconômica, como os “shopping centers”, é inquestionável a existência de
uma segregação das camadas mais pobres em relação ao acesso a esse recurso.
Essa segregação é identificada na elaboração da tese da “subcidadania”, escrita
pelo sociólogo Jessé Souza, que denuncia a situação de vulnerabilidade social
vivida pelos mais pobres, cujos direitos são negligenciados tanto pela falta de
ação do Estado quanto pela indiferença da sociedade em geral. Fica claro, então,
que o acesso ao cinema não é um recurso democraticamente pleno no Brasil.

Como consequência dessa elitização dos espaços públicos, que promove a


exclusão das camadas mais periféricas, é observado um bloqueio intelectual
imposto a essa parte da população. Nesse sentido, assuntos pertinentes ao saber
coletivo, que, por vezes, não são ensinados nas instituições formais de ensino, mas
são destacados pelos filmes exibidos nos cinemas, não alcançam as mentes das
minorias sociais, fato que impede a obtenção de conhecimento e, por
conseguinte, a plenitude da essência aristotélica. Essa situação relaciona-se com
o conceito de “alienação”, descrito pelo filósofo alemão Karl Marx, que caracteriza
o estado de insuficiência intelectual vivido pelos trabalhadores da classe operária
no contexto da Revolução Industrial, refletido na camada pobre brasileira atual.

Portanto, fica evidente a importância do cinema para a construção de uma


sociedade mais culta e a necessidade da democratização desse recurso. Nesse
âmbito, cabe ao Ministério da Educação e da Cultura promover um maior acesso
ao conhecimento e ao lazer, por meio da instalação de cinemas públicos nas
áreas urbanas mais periféricas – que deverão possuir preços acessíveis à
população local –, a fim de evitar a situação de alienação e insuficiência
intelectual presente nos membros das classes mais baixas. Desse modo, o
cidadão brasileiro poderá atingir a condição de plenitude da essência, prevista
por Aristóteles, destacando-se, logo, das outras espécies animais, através do
conhecimento e da cultura."

19
Bruna Guarçoni
17 anos | Sete Lagoas - MG | @brunaguarconi

Foto: Reprodução/Inep

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"A terceira fase do Modernismo vigorou,
no Brasil, durante o Período Liberal-Democrático, apresen-
tando como uma de suas propostas artísticas a retratação das
“Sociedades Liminares” – tradicionalmente excluídas do projeto cultural
brasileiro – nas obras cinematográficas. Tal movimento, conhecido como
“Cinema Novo”, embora objetivasse a integração de povos historicamente
invisibilizados, não obteve êxito na democratização do cinema no país, haja
vista o não comparecimento daqueles aos cinemas da época. Esse panorama,
ainda vigente na contemporaneidade, é atestado não só pelo crescente índice
de pirataria nas artes visuais, como pela constante mobilização de ongs na
exibição de filmes em ambientes desprovidos do acesso ao cinema.
Em primeira análise, constatam-se as amplas taxas de comercialização
de filmes pirateados, sobretudo, nos centros urbanos. Essa problemática
atenta, pois, para o descumprimento de um dos artigos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, o qual trata dos direitos autorais de
produções artísticas, gravemente feridos pela comercialização de filmes
reproduzidos ilegalmente. Entretanto, tal cenário nada mais é do que um
reflexo do acesso restrito a tais conteúdos, em razão dos altos preços cobrados
pelas sessões de cinema, induzindo, assim, os indivíduos menos favorecidos a
optarem pela pirataria – menos onerosa e, portanto, mais adequada ao seu
diminuto poder de compra.
Vale ressaltar, ainda, a realização, por instituições não governamentais,
de projetos inclusivos que contam com sessões de filmes em ambientes
comunitários não contemplados pelo acesso à tv ou à internet. Exemplo disso
foi a transmissão do filme “Cidade de Deus” na comunidade onde ocorreram
as filmagens, a fim de oferecer aos próprios atores a possibilidade de
assistirem ao longa. Destarte, evidencia-se a negligência estatal na
democratização do cinema, visto que os referidos projetos são iniciativa de
instituições privadas – aspecto abordado por Axel Honneth, o qual afirma ser
dever do Estado a garantia do acesso às manifestações culturais, fato não
verificado no país.
Urge, pois, que medidas sejam tomadas com o intuito de se coibir o
problema discorrido. Ao Governo Federal, caberia a ampliação de ambientes
comunitários de exibição de filmes no país, a fim de se democratizar o acesso
ao cinema. Para isso, deveria haver não só a redução do valor dos ingressos
nos cinemas já existentes, mas também a expansão de instalações que
transmitiriam filmes gratuitamente em locais afastados dos centros urbanos.
Desse modo, em consonância a um dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, propostos pela ONU para 2030, o Brasil mobilizar-se-ia quanto à
redução das desigualdades, tarefa imprescindível na edificação de um Estado
Democrático, de modo a romper com a marginalização das sociedades
liminares, verificada desde os Anos Dourados."

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Caio Henrique Alves Moreira
22 anos | Belo Horizonte - MG

Foto: Reprodução/Inep

22
"Na passagem do século XX para o século
XXI, o acesso ao cinema sofreu lamentáveis mudanças
no contexto brasileiro: as salas de exibição, antes difusas por
todo o território nacional, passaram a se concentrar somente em meios
urbanos e economicamente favorecidos. Derivado do sistema econômico
vigente, esse novo cenário priva inúmeros brasileiros do universo
cinematográfico, evidenciando a vergonhosa disparidade socioeconômica
do país e representando uma ameaça à cidadania dessa população.
Dessarte, urge a adoção de estratégia para reverter esse panorama.
Nesse sentido, é fundamental compreender como a massificação da
cultura, característica inerente ao capitalismo, contribui para a
consolidação da problemática abordada. Para isso, é pertinente considerar
a ideia de “indústria cultural”, formulada pelos filósofos Adorno e
Horkheimer, a qual aborda a produção cultural como uma mercadoria
destinada à comercialização em grande escala. Dessa forma, a
disponibilidade de produções culturais para consumo, a exemplo do
cinema, é inviabilizada em regiões economicamente desfavorecidas, visto
que não representam um mercado expressivo. Assim, populações rurais ou
periféricas são desrespeitadas quanto ao direito de acesso igualitário a
informações e serviços, tornando evidente os efeitos da desigualdade
social no que concerne à obtenção de direitos.
Outro importante aspecto a ser considerado é a relevância do acesso
ao cinema para uma comunidade. É inegável a contribuição do setor no
bem-estar social, na medida em que proporciona atividades de lazer e
convívio. Além disso, conforme pesquisas realizadas no campo da
psicanálise, conteúdos midiáticos como filmes são fundamentais para
manter a integridade psíquica do cidadão, uma vez que proporcionam
satisfações psicológicas aos anseios que a própria sociedade
contemporânea, em função dos incessantes estímulos ao consumismo,
naturaliza no indivíduo. Dessa forma, a ampliação do acesso ao universo
cinematográfico é fundamental para a promoção de uma democracia
plena.
Portanto, é necessária a atuação estatal para democratizar o acesso
ao cinema. Para tanto, cabe ao Ministério da Cidadania elaborar uma
diretriz de investimento voltada à difusão das salas de exibição
cinematográfica em regiões carentes, a fim de proporcionar infraestrutura
adequada para fornecer a atividade. Isso pode ser feito a partir da
construção de salas de cinema abertas ao público em geral e com
transmissão de filmes periodicamente nessas comunidades, permitindo o
acesso igualitário ao conteúdo, bem como a integração social efetiva."

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Carlos Eduardo Immig
18 anos | Estância Velha - RS | @carlinhosimmig

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24
"Ao longo de toda a história brasileira,
diversos entraves foram encontrados na tentativa de
desenvolvimento da nação. Infelizmente, dentre eles, destaca-se,
devido à sua recorrência na conjuntura hodierna, a difícil democratização do
acesso ao cinema no Brasil. A partir de uma análise desse impasse, percebe-se
que ele está vinculado não só à desigualdade regional — que é enorme no país —,
mas também à ineficácia do Estado na solução desse infortúnio.
Em primeiro plano, é incontrovertível a grande concentração de
investimentos em apenas algumas partes do Brasil, ao passo que em outras eles
inexistem. Em 1808, ao chegar ao Rio de Janeiro, a família real, com o intuito de
modernizar a cidade para seu próprio proveito, construiu muitos ambientes de
difusão de cultura — como a Biblioteca Nacional —, além de fomentar a criação de
infraestrutura para futuros projetos, como salas de cinema. No entanto, desde o
século XIX, tais investimentos ocorreram apenas nos grandes centros
populacionais do país, o que negligenciou locais menos favorecidos — como o
Norte e o Nordeste —, e fez com que, segundo dados do site "Meio e Mensagem",
apenas cerca de 17% da população possa ir frequentemente ao cinema. Dessa
forma, evidencia-se que a desigualdade regional, que existe desde o período
colonial, é um dos fatores primordiais na elitização do acesso ao cinema, o que
faz com que ele não seja democrático.
Ademais, é irrefutável a ineficiência das autoridades na resolução desse
problema, visto que ele persiste no contexto atual. De acordo com o filósofo e
sociólogo iluminista, John Locke, esse fato configura uma quebra do contrato
social, uma vez que, ao revogar o "Estado de Natureza" — momento em que o
homem não é obrigado a seguir leis e tem total liberdade —, com objetivo de ser
governado pelo Estado, os cidadãos esperam que esse amenize as mazelas
sociais e promova a igualdade de direitos a todos, o que não ocorre atualmente
no Brasil. Desse modo, o contrato é diariamente quebrado no país, posto que os
habitantes de regiões mais carentes nem sequer têm acesso à cultura presente
em salas de cinemas, o que, lamentavelmente, aumenta a desigualdade social e
impede que todos tenham as mesmas oportunidades. Logo, é inegável que essa
situação, que ocorre devido às disparidades regionais, apenas intensifica,
porquanto o governo não age em prol da resolução dela.
Portanto, partindo-se do pressuposto de que a democratização do acesso
ao cinema no Brasil é árdua, é mister que medidas sejam implementadas para
solucionar essa problemática. Sendo assim, o governo, por ser o responsável por
esse impasse, deve, por meio da construção de cinemas em locais menos
favorecidos, garantir o acesso de todos os cidadãos a esses ambientes culturais,
com o fito de que todos os brasileiros possam ter, finalmente, iguais condições de
usufruir dos filmes exibidos nas salas de cinemas. Isso, consequentemente,
acarretará uma diminuição da desigualdade sociorregional vigente no território
nacional e uma melhor qualidade de vida à população. Somente dessa maneira o
Brasil poderá se desprender das amarras da colonização e progredir em direção
ao futuro mais justo e mais humano."

25
Caroline Baptista
19 anos | Rio de Janeiro - RJ

Foto: Reprodução/Inep

26
"A aquisição de novas tecnologias permitiu o
desenvolvimento de diversos setores do Brasil, o que facilita
a obtenção de conhecimentos e conteúdos de forma rápida e prá-
tica. Contemporaneamente, o cinema é um dos setores do país que se
expande ao longo dos anos, transmitindo informações aos diferentes públicos.
Entretanto, o acesso ao cinema ocorre de modo desigual entre os indivíduos
presentes na sociedade brasileira. Nesse contexto, essa diferença no acesso
aos recursos cinematográficos persiste interpenetrada no país como
subproduto da desigualdade entre as classes e regiões brasileiras e da
alienação social diante desse panorama.
Em uma primeira perspectiva, a desigualdade histórica brasileira
apresenta íntima relação com a existência desse cenário. Segundo o filósofo
Jean-Jacques Rousseau, em sua obra "Contrato Social", a desigualdade social
surgiu com base na noção da propriedade privada e na disputa por poder e
riquezas entre os indivíduos. Essa ideia encontra-se materializada no processo
de formação histórica do Brasil, o qual foi marcado pela disputa por riquezas
entre as regiões e grupos sociais, instaurando um cenário de desigualdade
que dificulta o acesso ao cinema pelos grupos menos favorecidos
financeiramente. Dessa forma, é indubitável que as disparidades existentes
entre as regiões e classes dificultam a democratização do acesso ao cinema,
uma vez que apenas as regiões desenvolvidas apresentarão os recursos
financeiros necessários para comentar a instalação de cinemas.
Em uma segunda análise, a alienação social contribui para a
persistência da disparidade no acesso ao cinema. A filósofa alemã Hannah
Arendt, em "Banalidade do Mal", refletiu sobre o resultado do processo de
massificação da sociedade, o qual forma os indivíduos incapazes de realizar
julgamentos morais, tornando-se alienados e aceitando as situações sem
questionar. O pensamento da filosofia está relacionado ao contexto de
alienação da sociedade brasileira no qual os sujeitos sociais se calam diante
das questões que prejudicam grupos menos favorecidos, desconsiderando a
importância de determinados recursos, como acesso ao cinema, para o
cumprimento de direitos sociais. Nesse contexto, é essencial superar esses
paradigmas que prejudicam diversos indivíduos.
Verifica-se, portanto, que a desigualdade, em paralelo à compactação
social, é um fator fundamental para a persistência desse panorama. A fim de
formar uma sociedade justa e igualitária, o Poder Executivo Federal, além de
superar desigualdades históricas, deve desenvolver projetos do governo que
informem a sociedade sobre a importância de agir para garantir a igualdade
no acesso ao cinema. Essa medida deve ser realizada por meio de debates
oferecidos por profissionais que estudam dados estatísticos sobre o problema,
garantindo o convencimento social. Com a realização dessa medida, será
possível usufruir do avanço tecnológico de modo positivo para o país."

27
Damirys Machado Maciel
16 anos | Cabedelo - PB

Foto: Reprodução/Inep

28
"Na Antiguidade Clássica, a cidade de
Atenas continha um espaço de participação e discussão
coletiva limitada ao pequeno contingente de indivíduos conside-
rados cidadãos na época: a Ágora. Assim também ocorre na conjuntura
social brasileira: o cinema, veículo de importantes questões acerca do
cotidiano da população, encontra-se fora do alcance de grande parcela do
país, impedido de exercer seu papel de cidadã. Nesse sentido, a inércia
governamental na estruturação de projetos de extensão do cinema a mais
ambientes e a concentração do acesso ao universo cinematográfico nas
áreas de ocupação das elites destacam-se na perpetuação do problema.
Em primeiro plano, é imprescindível verificar a negligência do Poder
Público um entrave para a democratização dos cinemas brasileiros.
Consoante ao pensamento do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, na
medida em que o Estado isenta-se da garantia dos direitos do cidadão, há
um descumprimento do contrato social elaborado junto a sociedade.
Dessa maneira, essa insuficiência do aparato institucional no atendimento
às demandas da nação não só contribui para o descaso com a
coletividade, mas também transgride um bem assegurado na Constituição:
o acesso ao lazer.
Sob essa perspectiva, vale ressaltar ainda a segregação socioespacial
que determina a abrangência da exibição de filmes em escala nacional.
Nas palavras do jornalista Zuenir Ventura, esse processo promove a
construção de uma "cidade partida", na qual os instrumentos que
possibilitam o exercício da cidadania estão disponíveis apenas nos locais
de maior renda da região. Desse modo, os indivíduos cujas condições
financeiras restringem-nos de frequentar essas imediações são privados do

pleno reconhecimento como cidadãos tais quais os indivíduos proibidos
de entrar na Ágora ateniense.
Registra-se, portanto, a persistência de obstáculos estruturais no
decorrer do procedimento de universalização do alcance ao cinema no
Brasil. Diante disso, o Ministério da Cidadania, na figura das Secretarias
Municipais, deve desenvolver um programa de democratização das
plataformas de transmissão de filmes, por meio da ampliação da emissão
de vales-cultura, a exemplo do modelo britânico, e da realização de
exibições de obras cinematográficas nas comunidades menos favorecidas
com o intuito de preservar a extensão da prática cidadã. Permitir-se-á, por
conseguinte, a abertura da Ágora moderna a todos os brasileiros."

29
Daniel Gomes
25 anos | Fortaleza - CE

Foto: Reprodução/Inep

30
"O filme ‘’Cine Hollywood’’ narra a chegada
da primeira sala de cinema na cidade de Crato, interior do
Ceará. Na obra, os moradores do até então vilarejo nordestino têm
suas vidas modificadas pela modernidade que, naquele contexto, se traduzia na
exibição de obras cinematográficas. De maneira análoga à história fictícia, a
questão da democratização do acesso ao cinema, no Brasil, ainda enfrenta
problemas no que diz respeito à exclusão da parcela socialmente vulnerável da
sociedade. Assim, é lícito afirmar que a postura do Estado em relação à cultura e
a negligência de parte das empresas que trabalham com a ‘’sétima arte’’
contribuem para a perpetuação desse cenário negativo.
Em primeiro plano, evidencia-se, por parte do Estado, a ausência de
políticas públicas suficientemente efetivas para democratizar o acesso ao cinema
no país. Essa lógica é comprovada pelo papel passivo que o Ministério da Cultura
exerce na administração do país. Instituído para ser um órgão que promova a
aproximação de brasileiros a bens culturais, tal ministério ignora ações que
poderiam, potencialmente, fomentar o contato de classes pouco privilegiadas ao
mundo dos filmes, como a distribuição de ingressos em instituições públicas de
ensino básico e passeios escolares a salas de cinema. Desse modo, o Governo atua
como agente perpetuador do processo de exclusão da população mais pobre a
esse tipo de entretenimento. Logo, é substancial a mudança desse quadro.
Outrossim, é imperativo pontuar que a negligência de empresas do setor –
como produtoras, distribuidoras de filmes e cinemas – também colabora para a
dificuldade em democratizar o acesso ao cinema no Brasil. Isso decorre,
principalmente, da postura capitalista de grande parte do empresariado desse
segmento, que prioriza os ganhos financeiros em detrimento do impacto cultural
que o cinema pode exercer sobre uma comunidade. Nesse sentido, há, de fato,
uma visão elitista advinda dos donos de salas de exibição, que muitas vezes
precificam ingressos com valores acima do que classes populares podem pagar.
Consequentemente, a população de baixa renda fica impedida de frequentar
esses espaços.
É necessário, portanto, que medidas sejam tomadas para facilitar o acesso
democrático ao cinema no país. Posto isso, o Ministério da Cultura deve, por meio
de um amplo debate entre Estado, sociedade civil, Agência Nacional de Cinema
(ANCINE) e profissionais da área, lançar um Plano Nacional de Democratização ao
Cinema no Brasil, a fim de fazer com que o maior número possível de brasileiros
possa desfrutar do universo dos filmes. Tal plano deverá focar, principalmente, em
destinar certo percentual de ingressos para pessoas de baixa renda e estudantes
de escolas públicas. Ademais, o Governo Federal deve também, mediante
oferecimento de incentivos fiscais, incentivar os cinemas a reduzirem o custo de
seus ingressos. Dessa maneira, a situação vivenciada em ‘’Cine Hollywood’’ poderá
ser visualizada na realidade de mais brasileiros."

31
Eduarda Amorim
16 anos | Goiânia - GO

Foto: Reprodução/Inep

32
"Durante a primeira metade do século XX, as
obras cinematográficas de Charlie Chaplin atuaram como
fortes difusores de informações e de ideologias contra a exploração
e o autoritarismo no continente americano. No contexto atual, o cinema
permanece como um importante veículo de conhecimento, mas. No Brasil, não
há o acesso democrático a essa mídia em decorrência das disparidades
socioeconômicas nas cidades, as quais fomentam a elitização dos ambientes de
entretenimento, e da falta de investimentos em exibições populares, as quais,
muitas vezes, são realizadas em prédios precários e não são divulgadas. Portanto,
é imperativo promover mecanismos eficientes de integração dos telespectadores
para facilitar o contato com filmes, proeminentes na introdução dos cidadãos.
Tendo em vista a realidade supracitada, destaca-se a crescente
discrepância entre as classes sociais nos grandes centros habitacionais, o que leva
a modificações no espaço. Essa visão condiz com as ideias de Henri Lefebvre, uma
vez que, para o sociólogo, o meio urbano é a manifestação de conflitos, o que
pode ser relacionado à evidente segregação socioespacial dos cinemas. Nesse
viés, a concentração de salas de exibição em áreas nobres está vinculada às
desigualdades sociais e configura a elitização do acesso aos filmes em locais
públicos em função do encarecimento dos serviços ao longo dos anos. Dessa
forma, para uma grande parte dos brasileiros, o entretenimento e o aprendizado
por meio das obras cinematográficas, como visto no início do século XX, se
tornam inviáveis, restringindo o contato com novos ideais e inibindo a
mobilização da sociedade em prol de seus valores.
Além disso, a insuficiência de recursos destinados a exibições em teatros
populares é um fator que dificulta a democratização do cinema no Brasil. Isso
porque, apesar de Steve Jobs, um dos fundadores da empresa “Apple”, ter
corroborado com a ideia do mundo virtual como influenciador ao constatar que a
“tecnologia move o mundo”, as redes sociais não são utilizadas pelos órgãos
públicos para divulgar apresentações cinematográficas nos centros culturais,
presentes em diversas regiões do país. Aliada à falta de visibilidade, a
precariedade infraestrutural dos prédios onde tais eventos ocorrem reduz a
qualidade de experiência e desencoraja muitos de frequentarem os locais, apesar
dos menores preços. Assim, torna-se clara a necessidade de investimentos par
garantir o contato com os filmes, essenciais para a instrução e para a integração
dos indivíduos.
Desse modo, é imprescindível democratizar o acesso ao cinema no Brasil.
Para isso, cabe às prefeituras disponibilizar a experiência cinematográfica à
população urbana menos privilegiada, por meio de eventos de exibição em áreas
periféricas – os quais devem fornecer programações internacionais e nacionais a
custos reduzidos -, com o intuito de evitar o processo de elitização cultural em
virtude de disparidades socioeconômicas. Ademais, compete ao Ministério da
Cidadania promover a visibilidade dos centros culturais nas redes sociais e
investir em reformas periódicas, a fim de assegurar a manutenção dos locais. Com
essas medidas, assim como na época de Charlie Chaplin, a sociedade terá o maior
contato com as novas ideias e as informações do mundo contemporâneo."

33
Emmanuelle Gomes de Faria
18 anos | Belo Horizonte - MG | @manufariag

Foto: Reprodução/Inep

34
"No Artigo 215º da Constituição Federal
Brasileira de 1988, é garantido a todos os cidadãos o
acesso à cultura, afirmando a importância desse direito aos
indivíduos. As práticas culturais existentes no Brasil, atualmente, são diversas,
como as exibições de arte em museus, as peças teatrais e os filmes
reproduzidos nos cinemas. No entanto, há uma clara falta de democratização
desses espaços, sobretudo naqueles que disponibilizam obras
cinematográficas, pela falta de pessoas provenientes de classes sociais baixas
frequentadoras desses locais, fortalecendo, portanto, a elitização da arte e dos
produtos culturais. Sendo assim, é perceptível a importância de se discutir
essa temática, que demanda medidas eficazes nos âmbitos sociais e
econômicos.
Em primeira análise, o cinema é um importante canal de promoção da
cultura e da educação, por exibir diversas visões ideológicas que ultrapassam
as barreiras conteudistas impostas pelas instituições tradicionais e formais de
ensino. Segundo o filósofo John Locke, os seres humanos nascem como folhas
em branco e, ao longo de suas vidas, vão moldando-se e formando suas
personalidades a partir de suas experiências. Dessa forma, é possível
relacionar a relevância do senso crítico promovido pelos filmes no cinema e a
formação mais abrangente dos indivíduos sociais. Em suma, o acesso a esses
locais por todos os cidadãos é fundamental para a construção de uma
comunidade diversa, engajada e ativa.
Em segunda análise, no entanto, a garantia do direito previsto na
Constituição citada anteriormente, sobre o acesso da população a espaços
culturais, como o cinema, não é, de fato, concebida no Brasil. Segundo o
escritor Gilberto Dimenstein, em sua obra “O Cidadão de Papel”, nem sempre
as leis presentes nos documentos oficiais nacionais são cumpridas,
desencadeando uma realidade em que os indivíduos são reconhecidos e
amparados pelo Estado apenas no papel. Esse cenário é presente no Brasil
pois não há a democratização de eventos cinematográficos, pois estes
ocorrem em espaços elitizados, como shoppings, e com preços inacessíveis à
comunidade de baixa renda. Dessa maneira, apenas parte dos cidadãos
conseguem chegar nesses locais e usufruir dos produtos culturais oferecidos,
gerando um quadro de segregação desses espaços e da arte promovida por
eles. Tendo em vista a problemática supracitada, medidas são necessárias
para resolvê-la.
Portanto, cabe ao Ministério da Educação, com a finalidade de ampliar
o senso crítico ao democratizar o acesso à cultura, promover sessões de
cinema gratuitas em locais públicos, como em praças, em parques e em
centros culturais. Essa iniciativa deve ser realizada por meio do auxílio de
empresas privadas relacionado a artes visuais, que devem oferecer todo o
aparato necessário. Dessa forma, ocorrerá a aproximação da arte
cinematográfica com o público diverso e a garantia do Artigo 215º será
efetivada."

35
Gabriel de Lima
20 anos | Rio de Janeiro - RJ | @gabrdelima

Foto: Reprodução/Inep

36
"O longa-metragem nacional "Na Quebrada"
revela histórias reais de jovens da periferia de São Paulo, os
quais, inseridos em um cenário de violência e pobreza, encontram
no cinema uma nova perspectiva de vida. Na narrativa, evidencia-se o papel
transformador da cultura por intermédio do Instituto Criar, que promove o
desenvolvimento pessoal, social e profissional dos alunos por meio da sétima arte.
Apresentando-se como um retrato social, tal obra, contudo, ainda representa a história de
parte minoritária da população, haja vista o deficitário e excludente acesso ao cinema no
Brasil, sobretudo às classes menos favorecidas. Todavia, para que haja uma reversão do
quadro, faz-se necessário analisar as causas empresariais e educacionais que contribuem
para a continuidade da problemática em território nacional.
Deve-se destacar, primeiramente, o distanciamento entre as periferias e as áreas
de consumo de arte. Acerca disso, os filósofos Adorno e Horkheimer, em seus estudos
sobre a "Indústria Cultural", afirmaram que a arte, na era moderna, tornou-se objeto
industrial feito para ser comercializado, tendo finalidades prioritariamente lucrativas. Sob
esse prisma, empresas fornecedoras de filmes concentram sua atuação nas grandes
metrópoles urbanas, regiões onde prevalece a população de maior poder aquisitivo, que
se mostra mais disposta a pagar maior valor pelas exibições. Essa prática, no entanto,
fomenta uma tendência segregatória que afasta o cinema das camadas menos abastadas,
contribuindo para a dificuldade na democratização do acesso a essa forma de expressão
e de identidade cultural no Brasil.
Ademais, uma análise dos métodos da educação nacional é necessária. Nesse
sentido, observa-se uma insuficiência de conteúdos relativos à aproximação do indivíduo
com a cultura desde os primeiros anos escolares, fruto de uma educação tecnicista e
pouco voltada para a formação cidadã do aluno. Dessa forma, com aulas voltadas para
memorização teórica, o sistema educacional vigente pouco estimula o contato do
estudante com as diversas formas de expressão cultural e artística, como o cinema,
negligenciando, também, o seu potencial didático, notável pela sua inerente natureza
estimulante. Tal cenário reforça a ideia da teórica Vera Maria Candau, que afirma que o
sistema educacional atual está preso nos moldes do século XIX e não oferece propostas
significativas para as inquietudes hodiernas. Assim, com a carência de um ensino que
desperte o interesse dos alunos pelo cinema, a escola contribui para um afastamento
desses indivíduos em relação ao cinema, o que constitui um entrave para que eles,
durante a vida, tornem-se espectadores ativos das produções cinematográficas brasileiras
e internacionais.
É evidente, portanto, que a dificuldade na democratização do acesso ao cinema
no Brasil é agravada por causas corporativas e educacionais. Logo, é necessário que a
Secretaria Especial de Cultura do Ministério da Cidadania torne tais obras mais
alcançáveis ao corpo social. Para isso, ela deve estabelecer parcerias público-privadas com
empresas exibidoras de filmes, beneficiando com isenções fiscais aquelas que provarem,
por meio de relatórios semestrais, a expansão de seus serviços a preços populares para
regiões fora dos centros urbanos, de forma que, com maior oferta a um maior número de
pessoas, os indivíduos possam efetivar o seu uso para o lazer e para o seu
engrandecimento cultural. Paralelamente, o Ministério da Educação deve levar o tema às
escolas públicas e privadas. Isso deve ocorrer por meio da substituição de parte da carga
teórica da Base Nacional Comum Curricular por projetos interdisciplinares que envolvam
exibição de filmes condizentes com a prática pedagógica e visitas aos cinemas da região
da escola, para que se desperte o interesse do aluno pelo tema ao mesmo tempo em que
se desenvolve sua consciência cultural e cidadã. Nesse contexto, poder-se-á expandir a
ação transformadora da sétima arte retratada em "Na Quebrada", criando um legado
duradouro de acesso à cultura e de desenvolvimento social em território nacional."

37
Gabriel Melo
17 anos | Natal - RN | @gabrielm06_

Foto: Reprodução/Inep

38
"Para o filósofo escocês David Hume, a
principal característica que difere o ser humano dos outros
animais é o seu pensamento, habilidade que o permite ver aquilo
que nunca foi visto e ouvir aquilo que nunca foi ouvido. Sob essa ótica, vê-se que
o cinema representa a capacidade de transpor para a tela as ideias e os pensamentos
presentes no intelecto das pessoas, de modo a possibilitar a criação de novos
universos e, justamente por esse potencial cognitivo, ele é muito relevante. É
prudente apontar, diante disso, que a arte cinematográfica deve ser democratizada,
em especial no Brasil – país rico em expressões culturais que podem dialogar com
esse modelo artístico –, por razões que dizem respeito tanto à sociedade quanto às
leis.
Em primeiro lugar, é válido frisar o cinema dialoga com uma elementar
necessidade social e, consequentemente, não pode ser deixado em segundo plano.
Para entender essa lógica, pode-se mencionar o renomado historiador holandês
Johan Huizinga, o qual, no livro "Homo Ludens", ratifica a constante busca humana
pelo prazer lúdico. É exatamente nessa conjuntura que se insere o fenômeno
cinematográfico, uma vez que ele, ao possibilitar a interação de vários indivíduos na
contemplação do espetáculo, faz com que a plateia participe das histórias, de modo
a compartilhar experiências e vivências. É perceptível, portanto, o louvável elemento
benfeitor dessa criação artística , capaz de garantir a coesão da comunidade.

Em segundo lugar, é oportuno comentar que o cenário do cinema supracitado


remete ao arcabouço jurídico do país. Isso porque o artigo 215 da Constituição
Federal é claro em caracterizar os bens culturais como um direito de todos,
concebidos com absoluta prioridade por parte do Estado. Contudo, é desanimador
notar que tal diretriz não dá sinais de plena execução e, para provar isso, basta
analisar as várias pesquisas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (
IPHAN ) que demonstram a lamentável distribuição das práticas artísticas –dentre
elas, o cinema--, uma vez que estão restritas a poucos municípios brasileiros. Vê-se,
então, o perigo da norma apresentada findar em desuso, sob pena de confirmar o
que já propunha Dante Alighiere, em "A Divina Comédia": "As leis existem, mas quem
as aplica?". Esse cenário, certamente, configura-se como desagregador e não pode ser
negligenciado.

Por fim, caminhos devem ser elucidados para democratizar o acesso ao


cinema no Brasil, levando-se em consideração as questões sociais e legislativas
abordadas. Sendo assim, cabe ao Governo Federal – órgão responsável pelo bem-estar
e lazer da população – elaborar um plano nacional de incentivo à prática
cinematográfica, de modo a instituir ações como a criação de semanas culturais
nacionais, bem como o desenvolvimento de atividades artísticas públicas. Isso pode
ser feito por meio de uma associação entre prefeituras, governadores e setores
federais —já que o fenômeno envolve todos esses âmbitos administrativos—,os quais
devem executar periódicos eventos, ancorados por atores e diretores, que visem exibir
filmes gratuitos para a comunidade civil.Esse projeto deve se adaptar à realidade de
cada cidade para ser efetivo. Dessa forma, o cinema poderá ser, enfim,
democratizado, o que confirmará o que determina o artigo 215 da Constituição.
Assim, felizmente, os cidadãos poderão desfrutar das benesses advindas dessa
engrandecedora ação artística."

39
Gabriel Merli
18 anos | São Caetano do Sul - SP | @gabmerli

Foto: Reprodução/Inep

40
"Na obra "A Invenção de Hugo Cabret", é
narrada a relação entre um dos pais do cinema, Georges
Mélies, e um menino órfão, Hugo Cabret. A ficção, inspirada na
realidade do começo do século XX, tem como um de seus pontos centrais
o lazer proporcionado pelo cinema, que encanta o garoto. No contexto
brasileiro atual, o acesso a essa forma de arte não é democratizado, o que
prejudica a disponibilidade de formas de lazer à população. Esse problema
advém da centralização das salas exibidoras em zonas metropolitanas e do
alto custo das sessões para as classes de menor renda.
Primeiramente, o direito ao lazer está assegurado na Constituição de
1988, mas o cinema, como meio de garantir isso, não tem penetração em
todo território brasileiro. O crescimento urbano no século XX atraiu as
salas de cinema para as grandes cidades, centralizando progressivamente
a exibição de filmes. Como indicativo desse processo, há menos salas hoje
do que em 1975, de acordo com a Agência Nacional de Cinema (Ancine).
Tal fato se deve à falta de incentivo governamental — seja no âmbito fiscal
ou de investimento — à disseminação do cinema, o que ocasionou a
redução do parque exibidor interiorano. Sendo assim, a democratização do
acesso ao cinema é prejudicada em zonas periféricas ou rurais.
Ademais, o problema existe também em locais onde há salas de
cinema, uma vez que o custo das sessões é inacessível às classes de renda
baixa. Isso se deve ao fato de o mercado ser dominado por poucas
empresas exibidoras. Conforme teorizou inicialmente o pensador inglês
Adam Smith, o preço decorre da concorrência: a competitividade força a
redução dos preços, enquanto os oligopólios favorecem seu aumento.
Nesse sentido, a baixa concorrência dificulta o amplo acesso ao cinema no
Brasil.
Portanto, a democratização do cinema depende da disseminação e
do jogo de mercado. A fim de levar os filmes a zonas periféricas, as
prefeituras dessas regiões devem promover a interiorização dos cinemas,
por meio de investimentos no lazer e incentivos fiscais. Além disso, visando
reduzir o custo das sessões, cabe ao Ministério da Fazenda ampliar a
concorrência entre as empresas exibidoras, o que pode ser feito pela
regulamentação e fiscalização das relações entre elas, atraindo novas
empresas para o Brasil. Isso impediria a formação de oligopólios,
consequentemente aumentando a concorrência. Com essas medidas, o
cinemas será democratizado, possibilitando a toda a população brasileira
o mesmo encanto que tinha Hugo Cabret com os filmes."

41
Gabriela Alencar
19 anos | Brasília - DF | @_gabinaredacao

Foto: Reprodução/Inep

42
"No século XX, a Escola de Frankfurt se
aplicou sobre o estudo das tecnologias na dissemina-
ção da cultura. Sob esse viés, esperava-se que as massas tives-
sem um acesso mais democrático aos bens culturais, dada a ampla
presença do meio técnico-informacional entre a população. No Brasil,
contudo, tal expectativa não se efetivou, haja vista as dificuldades relativas
à democratização do acesso ao cinema, demandando a intervenção
governamental acerca dessa problemática. Ademais, é preciso entender a
importância do cinema no contexto da plena cidadania, bem como a
razão de o consumo desse bem não ser totalmente inclusivo.
A princípio, nota-se o papel significativo do cinema na vida dos
cidadãos, pois essa modalidade artística, enquanto representação da
realidade, serve para formar o pensamento crítico dos indivíduos. Nesse
sentido, o Cinema Novo exemplifica bem tal perspectiva, uma vez que
denunciava as mazelas sociais das décadas de 1960 e 1970,
impulsionando o engajamento dos brasileiros em prol da liberdade de
expressão e da garantia de seus direitos. Assim, constata-se que esse bem
cultural é demasiadamente importante para fomentar a cidadania por
meio do diálogo entre a arte e a sociedade, evidenciando a premência de
ser democratizado.
Simultaneamente, percebe-se que o acesso ao cinema, no Brasil, vai
ao encontro das desigualdades socioespaciais típicas do país. Isso porque
as regiões Sul e Sudeste têm sido privilegiadas em detrimento das outras
desde o período colonial, porquanto os ciclos desenvolvimentistas, como o
da cana-de-açúcar, o do ouro e o do café, favoreceram a concentração de
riquezas e, portanto, de infraestrutura. Consequentemente, a oferta de
lazer também é desigual, o que exclui as populações já marginalizadas
historicamente da disseminação cultural através do cinema.
Diante do exposto, fica clara a necessidade de democratizar o acesso
a esse bem cultural devido aos seus benefícios para a sociedade brasileira.
Para tanto, o Ministério da Cidadania, responsável pela promoção da
cultura, deve ampliar as ações de democratização do cinema em parceria
com os governos estaduais e os municipais. Isso será feito mediante um
pacote de ações a serem incluídas na Lei Plurianual, a saber: destinação de
recursos de forma mais igualitária para todas as regiões, com foco na
infraestrutura de lazer, como cinemas rotativos e em espaços públicos -
parques, por exemplo - a fim de fugir da conjuntura elitista dos cinemas
em “shoppings”, além da redução de impostos sobre a distribuição de
filmes, com vistas a tornar o acesso a esses bens mais barato para a
população em geral, cumprindo, assim, a premissa da Escola de Frankfurt
quanto à disseminação cultural."

43
Guilherme Mendes Vaz
25 anos | Novo Hamburgo - RS | @mvguilherm

Foto: Reprodução/Inep

44
"De acordo com Cláudio Mazzili, professor
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vivemos
em uma sociedade classista e hierarquizada em função do capital,
na qual se instaura a lógica da discriminação e não a desejada inclusão social.
Esse pensamento permite estabelecer um paralelo com a precária
democratização do acesso ao cinema no Brasil, uma vez que essa importante
fonte cultural está, majoritariamente, concentrada em zonas de alto poder
aquisitivo. Entretanto, se usada de forma a auxiliar na democratização cultural —
principalmente nas zonas periféricas —, o cinema pode ser uma importante
ferramenta no avanço educacional do país.
Deve-se pontuar, de início, que o Brasil é, infelizmente, um país
estratificado e desigual. Desde a sua gênese (considerando-se a perspectiva
ibérica), a América foi pensada como uma colônia de exploração, na qual a
educação não só era desestimulada, como era proibida. É dentro desse contexto
exploratório que se estruturou a sociedade brasileira, a qual tem — como uma das
consequências “modernas” — a gentrificação, isto é, o afastamento dos indivíduos
com baixo poder aquisitivo dos grandes centros urbanos, o que os deixa ainda
mais distantes da infraestrutura social destina à educação, à cultura e ao
entretenimento educativo. Ora, percebe-se, portanto, que essas áreas
privilegiadas com acesso à cultura — como o cinema — são de exclusividade
daqueles que têm altas rendas. Em contrapartida, nas periferias, nas zonas rurais
e nas áreas menos valorizadas a democratização do acesso ao cinema é
praticamente nula, o que agrava a situação de vulnerabilidade social desses
cidadãos.
Contudo, a democratização do acesso ao cinema — se feita de modo a
beneficiar os menos favorecidos, os quais representam a maior parte da
população — é uma importante ferramenta na desconstrução das amarras
coloniais, e, posteriormente, em uma reformulação educacional que vise ao
acesso democrático à cultura para todo cidadão brasileiro. Tomemos como
exemplo uma situação hipotética na qual um sujeito que reside na periferia tem,
todas as noites, a possibilidade de interagir com a comunidade e de adquirir
conhecimento por meio de um cinema ao ar livre, o qual traz como conteúdo
filmes, documentários e palestras. Torna- se evidente que esse indivíduo, além de
ter acesso à cultura, terá uma forma de entretenimento que o beneficiará tanto
individualmente quanto socialmente, visto que o conhecimento será útil em
todas as áreas da sua vida.
Portanto, concluí-se que a precária democratização do acesso ao cinema
no Brasil está intrinsecamente ligada às heranças coloniais. Entretanto, medidas
educacionais podem ser tomadas para reverter esse cenário. Posto isso, cabe ao
Ministério da Educação, responsável pelo desenvolvimento educacional do país,
criar um projeto de instalação cinematográfica ao ar livre nas regiões periféricas,
as quais apresentarão programação cultural — como filmes e documentários —,
por meio de verbas provenientes da contribuição pública, para que essa
sociedade classista, como evidenciado por Mazzili, seja transformada em uma
comunidade democrática e educacionalmente homogênea."

45
Gustavo Lopes
19 anos | Fortaleza - CE | @gustavolopest

Foto: Reprodução/Inep

46
"No século XIX, os avanços tecnológicos
e científicos proporcionaram às populações novas alter-
nativas de lazer, dentre as quais se pode citar o cinema. No Brasil,
atualmente, tal forma de diversão tem se destacado, uma vez que promove a
interação com o público de maneira singular, isto é, gera muitas emoções aos
indivíduos. Apesar disso, verifica-se que, em nosso país, o acesso ao cinema
não é disponibilizado a todos os cidadão, seja pela falta de investimentos, seja
pelo alto custo cobrado por empresas para assistir a um filme. Assim, tendo
em vista a importância desse lazer, ele deve ter seu acesso democratizado, a
partir da resolução de tais entraves.
Sob esse viés, pode-se apontar as poucas verbas direcionadas à
construção e à manutenção de cinemas, especialmente nas pequenas cidades
brasileiras, como uma das causas do problema em questão. Acerca disso,
sabe-se que boa parte da população que vive em áreas rurais ou suburbanas
sofre com a falta de acessibilidade a tal meio de diversão. Prova dessa
realidade é o filme “Cine Hollyúde”, lançado no Brasil, o qual mostra a
dificuldade das pessoas que habitam no interior em assistir à primeira obra
cinematográfica transmitida na cidade, devido à precariedade estrutural do
cinema local. Tal cenário também é observado fora da ficção, visto que, por
causa dos poucos investimentos, indivíduos das regiões pobres do país
possuem mínima ou nenhuma interação com essa forma de lazer.
Ademais, nota-se, ainda, uma intensa elitização dos cinemas, porquanto
o preço cobrado pelo ingresso de uma sessão é alto, o que limita a ida a esse
lugares de exibição de filmes. Sobre isso, percebe-se que, como a busca por
tal lazer aumentou, de acordo com dados do “site” “Meio e mensagem”, as
empresas exibidoras estão cada vez mais visão ao lucro em detrimento de
uma diversão e interação pública. Isso ocorre, segundo o pensador Karl Marx,
graças à busca excessiva por capital (dinheiro), tornando o cinema apenas
como um “lugar lucrativo”. Desse modo, a democratização do acesso a esses
locais torna-se distante da realidade vivida.
Portanto, cabe ao Governo investir em projetos que facilitem o acesso
ao cinema, principalmente nas regiões interioranas, por intermédio do auxílio
financeiro a empresas exibidoras, a fim de descentralizar os locais em que há
transmissões de filmes. Outrossim, compete às ONGs, como organizações que
visam suprir as necessidades populacionais, realizar campanhas em prol de
salas bem estruturadas e de reduções do preço cobrado pelos ingressos das
sessões cinematográficas, por meio das redes sociais e dos outros veículos de
comunicação, com o objetivo de democratizar a ida ao cinema e de, dessa
maneira, afastar-se da realidade narrada no filme “Cine Hollyúde”.

47
Isabella Cardoso
21 anos | Anápolis - GO | @bellaolivecard

Foto: Reprodução/Inep

48
"De modo ficcional, o filme "Cine Holiúdi"
retrata o impacto positivo do cinema no cotidiano das
cidades, dada a sua capacidade de promover o lazer, sociali-
zação e cultura. Entretanto, na realidade, tais benefícios não atingem toda
a população brasileira, haja vista a elitização dos meios cinematográficos e
a falta de infraestrutura adequada nos cinemas existentes. Sendo assim,
urge a análise e a resolução desses entraves para democratizar o acesso ao
cinema no Brasil.
A princípio, é lícito destacar que a elitização dos meios
cinematográficos contribui para que muitos brasileiros sejam impedidos
de frequentar as salas de cinema. Isso posto, segundo o filósofo inglês Nick
Couldry em sua obra "Por que a voz importa?", a sociedade neoliberal
hodierna tende a silenciar os grupos menos favorecidos, privados dos
meios de comunicação. A partir disso, é indubitável que a localização dos
cinemas em áreas mais nobres e o alto valor dos ingressos configuram
uma tentativa de excluir e silenciar os grupos periféricos, tal como discute
Nick Couldry. Nesse viés, poucos são os indivíduos que desfrutam do
direito ao lazer e à cultura promovidos pela cinematografia, o qual está
previsto na Constituição e deve ser garantido a todos pelo Estado.
Ademais, vale postular que a falta de infraestrutura adequada para
todos os cidadãos também dificulta o acesso amplo aos cinemas do país.
Conquanto a acessibilidade seja um direito assegurado pela Carta Magna e
os cinemas disponham de lugares reservados para cadeirantes, não há
intérpretes de LIBRAS nas telas e a configuração das salas — pautada em
escadas —, não auxilia o deslocamento de idosos e portadores de
necessidades especiais. À luz dessa perspectiva, é fundamental que haja
maior investimento em infraestrutura para que todos os brasileiros sejam
incluídos nos ambientes cinematográficos.
Por fim, diante dos desafios supramencionados, é necessária a ação
conjunta do Estado e da sociedade para mitigá-los. Nesse âmbito, cabe ao
poder público, na figura do Ministério Público, em parceria com a mídia
nacional, desenvolver campanhas educativas — por meio de cartilhas
virtuais e curta-metragens a serem veiculadas nas mídias sociais — a fim de
orientar a população e as empresas de cinema a valorizar o meio
cinematográfico e ampliar a acessibilidade das salas. Por sua vez, as
empresas devem colaborar com a democratização do acesso ao cinema
pela cobrança de valores mais acessíveis e pela construção de salas
adaptadas. Feito isso, o Brasil poderá garantir os benefícios do cinema a
todos, como relata o filme "Cine Holiúdi"."

49
Isabelle Moreira
18 anos | Guapimirim - RJ | @imaginamed

Foto: Reprodução/Inep

50
"A Constituição Federal de 1988 ― norma
de maior hierarquia do sistema jurídico brasileiro ― garan-
te o acesso ao lazer. No entanto, a população se mostra distante da
realidade prometida pela norma constitucional, haja vista que os cinemas
brasileiros recebem um público cada vez menor. Dessa forma, entende-se
que a desigualdade regional, bem como a elitização do acesso ao cinema
apresentam-se como entraves para a inclusão na esfera cinematográfica.
Em primeiro plano, é necessário ressaltar que o acesso ao cinema é
mal distribuído no território brasileiro. A esse respeito, em 1956, durante o
governo de Juscelino Kubitschek, multinacionais se instalaram no Brasil,
majoritariamente, nas regiões Sul e Sudeste. Desse modo, na
contemporaneidade, o país expandiu sua preferência regional para a
indústria cinematográfica, de modo que as regiões Norte e Nordeste ainda
apresentam-se excluídas a esse acesso ao lazer, pelo fato de as empresas
preferirem construir os cinemas em grandes metrópoles as quais lhes
darão mais lucro. Nesse viés, enquanto parcela do país for privilegiada, o
direito constitucional será uma realidade distante para parte da
população.
Ademais, outro fator é responsável pela deficiência da
democratização no âmbito cinematográfico: a elitização do acesso.
Segundo o filósofo Pierre Lévy, toda tecnologia cria seus excluídos, de fato,
a população de baixa renda é mantida excluída no que diz respeito à
tecnologia do cinema, devido à segregação socioespacial. Nesse sentido,
grande parcela dos cinemas se localizam em "shoppings centers", com
ingressos caros que nem todos podem pagar. Desse modo, é necessário
que medidas sejam tomadas para garantir o acesso a todas as classes.
Fica evidente, portanto, que nem todos tem acesso ao cinema como
entretenimento. Nesse contexto, cabe ao Ministério da Cultura ― órgão
responsável pelo sistema cultural brasileiro ― garantir à população a
oportunidade de frequentar um cinema, por intermédio de políticas de
descontos na compra de ingressos de acordo com a renda, a fim de incluir
toda sociedade no "mundo cinematográfico". Dessa forma, os brasileiros
verão o direito garantido pela Constituição como uma realidade próxima."

51
João Pedro Bonfim
19 anos | Vitória da Conquista - BA

Foto: Reprodução/Inep

52
"Na sua origem, o cinema era um mecanismo
de registro de momentos significativos e tinha cunho científico,
mas, pouco antes do início do século XX, ele foi apresentado ao mundo
como, além de entretenimento, uma arte e, ao longo dos anos, ganhou forte
repercussão internacional. Foram representados em vídeo personagens famosos,
tais como Mickey Mouse, o Batman, o "Superman", entre outros, que conseguiram
grande sucesso ao redor do planeta. O cinema, contudo, evoluiu, à medida que o
tempo passou, e, hoje, não é apenas uma forma de diversão para as massas, mas
também um meio de expor visões de mundo, capaz de formar opiniões de
grande valor. Assim, devido a seus muitos benefícios, é imprescindível
democratizar seu acesso no Brasil.
O cinema cumpre um importante papel de conscientizar as pessoas. O
filme "O Grande Ditador", de Charles Chaplin, por exemplo, traz consciência a
respeito do preconceito contra os judeus, pois retrata a Alemanha por volta de
1940, época em que era dominada por um regime nazista, o qual pregava o
antissemitismo. Esse filme também apresenta um contexto que se assemelha ao
cenário político atual do Brasil, já que retrata a opressão de um governo ditatorial,
fenômeno cujo conhecimento é muito importante na contemporaneidade, uma
vez que grupos que defendem o autoritarismo e outras medidas
anti-democráticas têm surgido e ganhado espaço no território nacional. Desse
modo, os filmes têm grande peso na conscientização do povo brasileiro acerca de
problemas como o preconceito e a ameaça à democracia.
Além disso, a sétima arte, como é chamado o cinema, funciona como uma
importante fonte de informações. Os documentários, filmes que, como sugere o
nome, documentam períodos, acontecimentos históricos e contextos
geopolíticos, são de extrema importância para a construção de opiniões e de
conhecimento por parte dos brasileiros. O documentário "Brasil, um país
violento", da Rede Globo, como exemplo, traz dados relevantes sobre a violência
no país e captura a atenção dos espectadores, devido à dramaticidade das cenas.
Dessa maneira, os documentários conseguem unir a beleza da arte à transmissão
de informações; são, pois, indispensáveis à nação brasileira, haja vista que
contribuem sobremodo para a formação do pensamento crítico nacional.
Portanto, em vista da grande relevância que essa arte possui, o governo
brasileiro e os shoppings (locais onde os filmes, em sua maioria, são exibidos), em
parceria, deve fornecer, universal e democraticamente, cinema aos brasileiros,
principalmente nas zonas rurais, nas tribos indígenas que queiram acesso aos
filmes, nas periferias das cidades e nas favelas, visto que essas áreas foram,
historicamente, deixadas à margem da sociedade, durante muitas décadas. Tal
ação deve ser feita por meio do estabelecimento de salas de cinema próximas
esses lugares. Essas salas, por sua vez, precisarão ter seus ingressos parcialmente
custeados pelo governo, de modo a baratear o acesso dos mais pobres às obras
cinematográficas. Isso será realizado para que, como consequência, todos os
habitantes da nação, ricos ou pobres, tenham acesso digno a essa tão importante
forma de arte. Ao fazer isso, o Brasil conseguirá, por fim, democratizar o acesso
aos filmes."

53
Juliana Souza
18 anos | Rio de Janeiro - RJ | @julianaesp

Foto: Reprodução/Inep

54
"Segundo o filósofo Friedrich Nietzsche,
a arte existe para impedir que a realidade nos destrua. Sob
essa ética, é inegável a crucialidade das expressões culturais para
a promoção do bem-estar do homem moderno. No entanto, ao se
observar o caráter excludente do acesso ao cinema no Brasil, é notório que
essa imprescindibilidade não tem sido considerada no país. Nesse sentido,
pode-se afirmar que a negligência governamental e a escassa abordagem
do problema agravam essa situação.
Primeiramente, é válido destacar que a displicência estatal colabora
com esse cenário. De acordo com o Artigo 6º da Constituição Federal do
Brasil, promulgada no ano de 1988, todo cidadão brasileiro tem direito ao
lazer. Entretanto, ao se analisar a concentração de cinemas nas áreas de
renda mais alta das grandes cidades, é indiscutível que essa premissa
constitucional não é valorizada pelo governo nacional. Dessa maneira, é
importante salientar que essa má atuação do Estado provoca o acesso
desigual essa atividade de exibição por parte da população e,
consequentemente, garante a condição de subcidadania de diversos
indivíduos.
Além disso, é pertinente ressaltar que a insuficiente exposição dessa
problemática contribui para a não democratização desse programa
cultural. Nessa perspectiva, muitas vezes, a mídia negligência o debate
acerca da ausência de lazer nas periferias urbanas e no interior do país, o
que faz com que a carência de cinemas nessas regiões não seja
denunciada. Dessa forma, é indubitável que a pouco abordagem midiática
com relação ao caráter restritivo do universo cinematográfico proporciona
a perpetuação da concentração regional dessa atividade de exibição.
Torna-se evidente, portanto, que o acesso não democrático ao
cinema no Brasil é um entrave que precisa ser solucionado. Sendo assim, o
Estado deve investir na ampliação do alcance desse programa cultural, por
meio da capitalização das empresas exibidoras. Isso pode ocorrer, por
exemplo, com a concessão de subsídios fiscais a instituições privadas que,
comprovadamente, promovam a construção de cinemas nas áreas
carentes do país, a fim de que a acessibilidade a essa atividade de exibição
seja garantida de forma igualitária. Ademais, a mídia deve elaborar
reportagens de denúncia, as quais exibam a carência desse tipo de lazer
nas periferias urbanas. Desse modo, certamente, a afirmação de Nietzsche
será vivenciada por todos os cidadãos brasileiros."

55
Jurandi Campelo
17 anos | Fortaleza - CE | @jurandicampelo

Foto: Reprodução/Inep

56
"Com o advento da Revolução Técnico-
-Científico-Informacional, o cinema se desenvolveu
amplamente — sobretudo por conta do aditamento dos inves-
timentos nessa área. Nesse sentido, o acesso a esse tipo de arte é de
notória importância, pois propicia uma série de benefícios, como o
desenvolvimento cognitivo do indivíduo e a percepção crítica da
sociedade. Não obstante, no Brasil, falhas quanto à democratização do
acesso ao cinema — por conta da inadimplência governamental e da
ausência de importância dada pela sociedade — atenuam sua
funcionalidade. Portanto, são necessárias medidas capazes de garantir
esses benefícios.
Sob essa óptica, o filósofo austríaco Sigmund Freud — em sua teoria
desenvolvimentista — tratou da influência do meio na formação cognitiva
do indivíduo. Acerca dessa lógica, a exposição à arte cinematográfica é
capaz de desenvolver o raciocínio e de atuar positivamente no
subconsciente humano. Contudo, a insuficiência das políticas públicas de
incentivo ao cinema restringem o acesso a esse meio, o que atenua a ação
desenvolvimentista deste. A título de exemplo, o Brasil — segundo a
ANCINE — é um país que possui elevados índices de segregação quanto ao
acesso ao universo cinematográfico. Destarte, é necessário maior
protagonismo por parte dos governantes.
Outrossim, Charlie Chaplin — célebre ator e diretor britânico —
reiterou a importância do cinema na configuração de uma perspectiva
crítica da sociedade. Nesse viés, o cinema é capaz de gerar o debate acerca
de problemas do cotidiano, que, por muitas vezes, são aceitos
indevidamente e, ao analisar os temas abordados, é capaz de promover
notórias melhorias no âmbito social. Todavia, grande parte da sociedade
não valoriza as obras cinematográficas, por enxergá-las, tão somente,
como uma forma de entretenimento. Faz-se premente, pois, campanhas
informativas capazes de descaracterizar essa errônea visão.
Dessarte, os governantes, por meio da diminuição do custo de
acesso aos cinemas — possibilitada por parcerias público-privadas — devem
acessibilizar o acesso a essa forma de cultura, com o fito de propiciar o
desenvolvimento cognitivo da população. Ademais, as escolas e as
universidades, mediante palestras e debates, devem informar a população
a respeito da importância do cinema, com o objetivo de configurar um
comportamento crítico quanto às falhas da sociedade. Dessa forma, será
possível dissociar a atual conjuntura, aproximando-se dos ideais de Freud e
Charlie Chaplin."

57
Laura Brizola
20 anos | Novo Hamburgo - RS | @laurabrzola

Foto: Reprodução/Inep

58
"A democratização do acesso ao cinema no
Brasil é um processo que encontra desafios nos âmbitos
culturais e institucionais do país. Isso pode ser explicado pelo distancia-
mento entre a cultura popular brasileira e os filmes disponíveis para o público,
bem como pela ausência de investimentos estatais nas produções nacionais.
Dessa forma, é preciso intervir de modo a tornar o cinema um produto da
democracia brasileira.
A indústria cinematográfica prejudica a democratização do cinema ao
sobrepor culturas estrangeiras — como super-heróis americanos — à cultura do
país. Devido ao fato de que o cidadão brasileiro não reconhece elementos de
sua vivência (como os regionalismos) naquilo que é veiculado,
majoritariamente, pelas mídias desse setor, seu repertório de lazer passa a
não incluir a opção do cinema. Evidencia-se esse fenômeno no dado
divulgado pelo site Meio e Mensagem, que afirma que apenas 17% da
população frequenta o cinema. Dessa maneira, a popularização da arte em
questão se dará pelo retrato do cotidiano do povo, como efetuado pelo
cineasta Glauber Rocha na década de 1970, com o "Cinema Novo", que
aproximou as camadas populares ao abordar aspectos do Brasil com uma
perspectiva nacionalista. Assim, o acesso ao cinema deve ser democratizado
pela apropriação brasileira da produção cultural: teremos mais "Lampiões" e
menos "Lanternas-verde".
Ademais, o desafio da ausência de investimento estatal deve ser
enfrentado para que o acesso ao cinema seja difundido. Segundo a área de
conhecimento "Epistemologia da Geografia", os processos sociais apresentam
o princípio de interconexão: existem por fatores humanos e físicos, não
podendo ser analisados separadamente. Nesse sentido, o fenômeno de
democratização da arte cinematográfica é explicado por fatores humanos
(supracitados) e por fatores físicos, que são institucionais. O Estado brasileiro
não financia a cultura do cinema como deveria, a exemplo dos cortes de
verbas anunciados pelo Governo, em 2019, para Agência Nacional de Cinema
(ANCINE). Como consequência disso, a confecção dessa arte é inviabilizada e
sua democratização "física", que poderia ser feita com a ampliação das
produções nacionais, também. Logo, urge a necessidade de investir na difusão
do patrimônio cinematográfico do Brasil.
Portanto, a fim de democratizar o acesso ao cinema no Brasil e
aproximá-lo da cultura popular, o Estado deve adotar medidas de priorização
dos investimentos no cinema. Isso pode ser feito por meio de políticas de
patrocínio aos cineastas que retratarem o país, com foco nas características
de cada região. Além disso, tais produções podem ser reproduzidas em
associações de moradores e escolas, levando ao povo sua identidade. Nesse
caminho, o cinema será uma arte de acesso popular — uma arte que imita a
vida."

59
Letícia Islávia
19 anos | Teresina - PI | @let.islavia

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60
"De acordo com a Constituição de 1988,
todos os cidadãos possuem o direito ao lazer na comu-
nidade. Contudo, na atual sociedade brasileira, há uma ínfima
democratização do acesso aos cinemas devido, majoritariamente, à
negligência governamental e à má formação socioeducacional.
A priori, vale ressaltar o Pacto Social, do contratualista John Rawls,
ao inferir que o Estado deve garantir os direitos imprescindíveis dos
indivíduos, como o lazer e o bem-estar. No entanto, é evidente o
rompimento desse contrato quanto aos cinemas brasileiros, visto que
existe uma concentração desses espaços nas áreas de maiores rendas, o
que torna um ambiente excludente para uma parcela da sociedade. Assim,
é notória a ineficácia estatal na integração desse tipo de lazer para toda a
população, pois, com a grande distância dos locais periféricos aos centros
urbanos e o elevado custo para ter esse acesso, os cidadãos se
desestimulam a frequentarem os cinemas.
Além disso, alude-se ao pensamento do intelectual Paulo Freire, ao
evidenciar que, "se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem
ela tampouco a sociedade muda". Sob essa perspectiva, percebe-se a
importância do estímulo nas escolas ao acesso dos jovens ao cinema, haja
vista que existem muitos jovens que não conhecem seus direitos ao lazer,
como o pagamento do valor de meia entrada nos cinemas por estudantes.
Dessa forma, as instituições de ensino possuem uma importante função na
democratização desse acesso, colaborando para que os cidadãos possuam
um acesso aos seus direitos e o hábito de frequentarem os cinemas.
Portanto, urge ao governo federal, aliado às esferas estadual e
municipal, descentralizar os cinemas, por meio da ampliação das redes
cinematográficas em todo o Brasil e nos locais periféricos das cidades, com
a finalidade de permitir que toda a sociedade tenha esse acesso, sem
haver uma locomoção de longa duração e com custo acessível aos
indivíduos de baixa renda. Ademais, compete à Escola, em parceria com as
empresas cinematográficas, orientar os adolescentes a frequentarem os
cinemas, por intermédio de projetos pedagógicos (como atividades
lúdicas, filmes e documentários) que elucidem sobre a importância da
crítica dos cinemas e como adquirir os direitos ao acesso ao lazer, a fim de
aumentar o número de telespectadores dessa arte. Com isso, efetivar (sic) o
que garante a Constituição de 988, melhorando a democratização desse
acesso."

61
Lívia Bonin
18 anos | Limeira - SP | @liviabonin

Foto: Reprodução/Inep

62
"Com o início da ditadura de Getúlio Vargas
em 1937, a necessidade do governo de perpetuação no
poder resultou no surgimento do cinema estadonovista enquanto
mecanismo de exaltação da nação, a fim de gerar uma identidade nacional
que promoveria apoio popular ao regime. Diante desse cenário, torna-se
evidente que o meio cinematográfico configura um importante instrumento
cultural e político que deve, portanto, ter um acesso democratizado no Brasil.
Nesse sentido, convém analisar o processo de expansão do cinema brasileiro
no contexto de uma urbanização concentradora e, ainda, a importância de
sua democratização para a difusão de conhecimento no país.
Em primeiro plano, é fundamental compreender que a dificuldade de
acesso ao cinema por parte das camadas populares marginalizadas é
consequência direta da falta de planejamento atrelado à questão social
durante o processo de urbanização brasileira. Isso porque, na década de 1950,
o governo de JK promoveu, através do plano do "Tripé Econômico", a
industrialização do Brasil e o consequente crescimento das cidades sem que
houvesse, no entanto, uma política pública que ampliasse o acesso aos
recursos advindos dessa modernização. Dessa maneira, entende-se que o
cinema, enquanto mudança tecnológica intensificada no referido processo,
tornou-se um entretenimento restrito aos indivíduos econômica e
socioespacialmente favorecidos, o que representa um obstáculo à busca pela
democratização do meio cinematográfico.
Além disso, o acesso ao cinema garante a efetivação do livre
pensamento através da propagação de um conteúdo altamente reflexivo. De
acordo com os iluministas Diderot e D'Alembert, autores da "Enciclopédia", a
democratização da educação é fundamental no combate à alienação dos
cidadãos, garantindo aos mesmos sua efetiva liberdade. Dessa forma,
entende-se que o cinema torna-se um instrumento educacional importante
na medida em que apresenta o entretenimento como meio de reflexão social,
o que contribui com a construção de cidadãos críticos dentro da democracia
brasileira.
Diante do exposto, é necessário que as Câmaras Municipais, em
parceria com as Secretarias da Cultura, combatam os efeitos negativos do
"Tripé Econômico" através de investimentos na construção de cinemas
municipais em regiões marginalizadas, a fim de evitar que a desigualdade
socioespacial seja um obstáculo à difusão de cultura no Brasil. Paralelamente,
o Ministério da Educação deve garantir a efetivação da Liberdade proposta
pela "Enciclopédia" por meio da inserção, na grade curricular do Ensino
Fundamental, de aulas que promovam análises de filmes com fins educativos,
visando ao desenvolvimento da criticidade dos alunos. Assim, poder-se-á
retornar a importância cultural e política do cinema estadonovista através da
democratização do acesso ao meio cinematográfico no atual cenário
brasileiro."

63
Lívia Ribeiro
18 anos | Belo Horizonte - MG | @livia.ribeiro15

Foto: Reprodução/Inep

64
"Segundo o filósofo grego Aristóteles, a ar-
te desempenha o papel de imitar a realidade, permitindo
àquele que a aprecia experimentar outras visões do real e apren-
der com elas. Nesse sentido, o cinema, uma vez que se constitui como
forma de arte, tem a função não só de entretenimento, mas também de
ferramenta de ensino. Contudo, a realidade brasileira demonstra um
contexto de “elitização” das artes cinematográficas, excluindo diversos
grupos sociais desse processo educativo, sobretudo aqueles que possuem
menor renda.
De acordo com a Constituição Federal, todo cidadão tem direito à
educação de qualidade e ao lazer. Sendo o cinema um instrumento de
promoção de ambos esses direitos, torna-se evidente a importância da
garantia do acesso amplo a ele. Assim, dialogando com as ideias de Paulo
Freire, patrono da educação brasileira, investir na democratização do
cinema é incentivar um ensino libertador, o qual estimule os cidadãos a
buscar verdadeiramente o conhecimento, ao contrário de uma “educação
bancária” – conteudista. Ao sintetizar aprendizado e entretenimento, o
cinema colabora, assim, para a educação freireana.
No entanto, a realidade do Brasil reflete uma evidente exclusão
social no que se refere ao acesso às salas de cinema no país. Em um
contexto de concentração de renda, dados apontam que apenas cerca de
um quinto dos brasileiros que demonstram interesse por filmes
frequentam as salas, revelando que o principal ambiente de propagação
dessa forma de arte apresenta um público seleto, sendo o motivo mais
comum os altos valores cobrados pelos ingressos. Diante desse cenário de
desigualdade, a divulgação do cinema de forma democrática torna-se um
desafio, exigindo ações que revertam essa realidade.
Dessa forma, a fim de promover o acesso amplo a formas
alternativas de educação libertadora, cabe ao Ministério da Educação e
Cultura investir na criação de salas de cinema de acesso gratuito, por meio
da criação de novos cursos de Cinema nas Universidades Federais e a
instalação desses ambientes de reprodução de filmes sob administração
das faculdades, garantindo a prioridade de pessoas de baixa renda,
incentivando, assim, a democratização das artes cinematográficas e o
aprendizado dos estudantes e espectadores."

65
Lucas Rios
18 anos | Belo Horizonte - MG

Foto: Reprodução/Inep

66
"O cinema se tornou uma tecnologia com
grande potencial expressivo e, por essa razão, é considerado
uma forma de arte. Simultaneamente, apresenta elevado valor lú-
dico, prova pelo recente sucesso de obras como "Coringa" e "Vingadores:
Ultimato". Infelizmente, no contexto brasileiro, nem todos têm amplo
acesso a tal maravilha. Nesse sentido, percebe-se a existência de
problemas sociais e econômicos que dificultam a democratização dessa
atividade no país.
Segundo o economista Ludwig von Mises, um dos grandes nomes da
Escola Austríaca de Economia, o homem quando em liberdade, tende a
agir buscando a maximização de sua felicidade. Sob essa ótica, nota-se
que indivíduos com baixo poder aquisitivo priorizarão serviços de
necessidade básica (como alimentação, saúde e moradia) em detrimento
de atividades culturais, uma vez que aqueles, por serem essenciais à
sobrevivência, lhes farão mais felizes que estes. Assim, a fragilidade
econômica torna-se um fator de exclusão de certas parcelas da população
nacional do mundo cinematográfico.
Além disso, de acordo com o Índice de Liberdade Econômica
desenvolvido pela Heritage Foundation, o Brasil está entre os piores países
para abrir uma empresa. Isso é resultado da alta complexidade tributária e
burocrática, que resulta em maiores custos tanto para empreendedores
quanto para consumidores. Por não ser imune a tal fenômeno, o setor do
cinema sofre com as mesmas consequências, que restringem ainda mais a
participação popular nas sessões. Dessa forma, a abertura e simplificação
desse mercado são medidas necessárias para democratizá-lo, dado que
reduzem os preços.
Diante do exposto, evidenciam-se os desafios sociais e econômicos
para o pleno acesso da população brasileira às obras cinematográficas.
Cabe, então, ao Ministério da Cidadania, por ter herdado as funções do
extinto Ministério da Cultura, criar, por meio de parcerias com as empresas
do setor, entradas gratuitas periódicas para a população de baixa renda, de
modo a facilitar a sua participação nas salas de cinema e,
consequentemente, popularizar o acesso à cultura. Paralelamente, o
Ministério da Economia deve estimular, através de medidas provisórias, a
redução de impostos e regulações no mercado citado. Desse modo,
concretizar-se-ão os seus valores lúdico e artístico, que serão apreciados
pelo povo brasileiro como um todo."

67
Luísa Dornelas
20 anos | Belo Horizonte - MG

Foto: Reprodução/Inep

68
"A primeira exibição pública do cinema ocor-
reu no ano de 1895 na França e, aos poucos, difundiu-se para
todas as nações, sendo ainda uma grande fonte de entretenimento,
inclusive no Brasil. Além disso, é notória sua função social ao proporcionar aos
espectadores tanto uma atividade de lazer quanto uma propagação de
informações e de conhecimentos, como os documentários e os filmes contendo
alusões históricas. Nesse viés, a Constituição brasileira de 1988 determina o
direito ao entretenimento a todos os cidadãos, assegurando o princípio da
isonomia. Entretanto, o acesso aos cinemas no país vem deixando, grandemente,
de ser democrático, sobretudo devido à segregação espacial e aos elevados
custos, ferindo o decreto, o que demanda ação pontual.
Decerto, o processo de urbanização brasileiro ocorreu de forma acelerada e
desorganizada, provocando o surgimento de aglomerados no entorno dos centros
urbanos. Diante dessa conjuntura, essas periferias sofrem, de modo geral,
históricas negligências governamentais, como a escassez de infraestrutura básica,
de escolas e de hospitais. Não obstante, tais regiões também carecem de espaços
de lazer, como os cinemas, que, majoritariamente, concentram-se nas áreas
centrais e de alta renda das cidades. Assim, corrobora-se a teoria descrita pelo
filósofo francês Pierre Lévy de que “toda nova tecnologia gera seus excluídos”.
Portanto, o cinema, sendo uma inovação técnica, promove a segregação dos
indivíduos marginalizados geograficamente.
Ademais, a maioria dos cinemas pelo Brasil cobram altos valores pelos
ingressos das sessões, o que se torna inviável para grande parte da população,
haja vista a situação econômica de crise que o país enfrenta, em que muitos
indivíduos se encontram desempregados ou possuem baixa renda familiar. Desse
modo, descumpre-se a determinação da Constituição Cidadã de igualdade de
acesso ao lazer pela população, especialmente um entretenimento tão difundido
entre a sociedade e de grandes benefícios pessoais, como a aquisição de
informações e a ampliação da criticidade. Por fim, ratifica-se a tese desenvolvida
pelo jornalista brasileiro Gilberto Dimenstein acerca da Cidadania de Papel, isto é,
embora o país apresente um conjunto de leis bastante consistente, elas se atêm,
de forma geral, ao plano teórico. Logo, a garantia de igualdade de acesso ao
cinema pelos cidadãos não é satisfatoriamente aplicada na prática,
impulsionando a segregação social.
Observa-se, então, a necessidade de democratização dos cinemas no Brasil.
Para tanto, é preciso que a Ancine – Agência Nacional de Cinema – amplie o
acesso da população aos cinemas. Isso ocorrerá por meio do incentivo fiscal às
empresas do ramo, orientando a construção de mais cinemas nas regiões
periféricas, a redução dos preços dos ingressos e a concessão de gratuidade de
entrada para a parcela da sociedade pertencente às classes menos favorecidas,
como indivíduos detentores de renda familiar inferior a um salário mínimo. Dessa
forma, mais brasileiros terão a possibilidade de acesso aos cinemas e, finalmente,
a isonomia será garantida nesse contexto, reduzindo a desigualdade entre a
população."

69
Maria Antônia Barra
19 anos | Bias Fortes - MG | @maria_barra

Foto: Reprodução/Inep

70
"O filme “Bastardos Inglórios”, ao contextualizar
cenas em meados do século XX, retrata o caráter elitista das
exibições de cinema, uma vez que eram espaços de socialização das
classes ricas da época. Na contemporaneidade, embora seja mais amplo, ainda há
entraves a serem superados quanto à democratização do acesso às salas
cinematográficas no Brasil. Nesse sentido, os resquícios de uma herança
segregacionista no que diz respeito à frequência de locais de cinema, geram a
dificuldade de manter esse hábito em grande parte da população, o que perpetua a
problemática.
Nessa linha de raciocínio, é fundamental ressaltar que a urbanização tardia e a
constante gentrificação de espaços citadinos brasileiros são responsáveis pela
permanência de costumes elitistas. Com efeito, o geógrafo Milton Santos, ao estudar
a organização das cidades do Brasil, postula que o processo rápido e desorganizado
de construção urbana provocou a marginalização de grande parte dos cidadãos.
Desse modo, o acesso a shopping centers e demais espaços de lazer, como os
cinemas, ficou restrito àqueles que possuem meios para tal, ou seja, à parcela da
população que mora perto desses locais centrais – a elite -, ou que possui recursos
para se deslocar e consumir esses produtos culturais – também a elite. Assim, no que
tange à exibição de filmes, há resquícios de um caráter segregacionista, visto que a
marginalização e a gentrificação excluem a massa populacional dos espaços
cinematográficos, mantendo a problemática.
Por conseguinte, a dificuldade de manter o hábito de frequentar tais locais
impede a democratização do acesso ao cinema. Nesse aspecto, a teoria do sociólogo
Pierre Bourdieu acerca de “capital cultural” vai ao encontro da realidade brasileira.
Em seus postulados, Bourdieu discute a influência das referências socioespaciais nos
costumes do indivíduo, concluindo que o desenvolvimento de valores que incluam
certa cultura é imprescindível à manutenção dos costumes referentes à ela. Sendo
assim, a herança elitista de frequência às salas cinematográficas e demais
plataformas de exibição impede a construção de um capital cultural em parte
significante da população do país, prejudicando sua democratização. Um exemplo
disso é o relato da autora Carolina Maria de Jesus, em seu livro “Quarto de despejo”,
no qual ela conta que, por residir na periferia, o dinheiro que seus filhos gastariam
para assistir aos longas no cinema não era suficiente nem para pagar seus
deslocamentos até lá.
Portanto, visando mitigar os entraves à resolução da problemática, algumas
medidas são necessárias. Primeiramente, cabe ao Governo Federal criar programas de
apoio à cultura cinematográfica, por meio de sistemas de assistência às famílias
carentes e especialmente distantes dos centros de lazer, como "vales cultura", junto a
"vales transporte", para que os processos conceituados por Milton Santos (como
gentrificação, que é a expulsão de indivíduos de uma área para a construção de
espaços elitizados) não interfiram no acesso populacional ao cinema. Por fim, é dever
das escolas promover formas de desenvolvimento de valores referentes à cultura
cinematográfica, através de exibições extra-classe, como em gincanas e trabalhos
lúdicos, a fim de que tanto os alunos, quanto os pais possam construir o "capital"
postulado por Bourdieu, de de modo que tenham interesse de frequentar os espaços
de plataformas de filmes, ampliando, então, o acesso a elas. Enfim, o cenário
retratado no longa "Bastardos Inglórios" não será reproduzido no Brasil, haja vista que
o aporte ao cinema será democratizado."

71
Markyel Flabio Araujo
18 anos | Caicó - RN | @markkyel

Foto: Reprodução/Inep

72
"A partir do avanço do desenvolvimento das
grandes cidades brasileiras, ocorrido durante o século XX,
decorrente do alastramento do capitalismo e do êxodo rural, o país
passou por certas transformações que marcaram o modo de vida das populações
dessas cidades, como o crescimento do número de salas de cinema em
estabelecimentos comerciais. Nesse contexto, é notável que a prática de
frequentar o cinema se configura como uma forma de entretenimento/lazer no
dia a dia das pessoas; no entanto, é perceptível que o acesso a tal ambiente não é
garantido a 100% da população brasileira, o que pressupõe uma discussão acerca
da problemática.
A princípio, vale citar a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948, que garante a
todo indivíduo o direito ao bem-estar social, assim como o acesso ao lazer. Assim,
todo indivíduo é passível de uma vida digna, que tenha o mínimo de acesso à
cultura e ao lazer. Nesse viés, o cinema pode ser visto como uma forma de
entretenimento capaz de oferecer aos seus espectadores uma "fuga da realidade",
possibilitando um momento de descontração e lazer que muitas pessoas
necessitam para superar as frustrações diárias advindas do estresse
contemporâneo que assola a sociedade.
Por outro lado, é necessário, indubitavelmente, destacar o fato de o Brasil
ser um país extremamente desigual socialmente, que não possui uma
democratização do acesso ao lazer. O país, que atualmente possui uma
população de cerca de 210 milhões de habitantes, ainda enfrenta a enraizada
divisão social promovida desde o processo de colonização, ocorrida no século XVI.
Essa perspectiva pode ser comprovada pelas palavras do renomado escritor
brasileiro Ariano Suassuna: "Que é muito difícil você vencer a injustiça secular,
que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos
despossuídos". Nesse sentido, é possível concluir que a precariedade do modo de
vida de uma parcela da população marginalizada pela sociedade impossibilita
que uma parte dos brasileiros desfrute de certas regalias, como, no caso, o acesso
ao cinema.
Portanto, medidas cabíveis são necessárias para uma amenização ou
possível superação do impasse. Cabe ao Congresso Nacional formular leis que
garantam a inserção da população marginalizada em locais públicos como as
salas de cinema, por meio de políticas públicas, como a criação de conjuntos de
cinema localizados em regiões distantes dos centros das grandes cidades (em
periferias ou bairros mais carentes), assim como em cidades localizadas no
interior do país. Outra ação eficaz é a criação de "carteirinhas" para pessoas de
baixa renda das cidades demograficamente maiores, para que possam frequentar
cinemas com, por exemplo, metade do preço cobrado pelas empresas; tal ação
pode ser firmada a partir de uma parceria público-privada entre o Estado e
empresas fornecedoras do serviço. Com isso, o acesso a locais como o cinema
será mais justo e igualitário , e o país terá, assim, um avanço no quesito
"democratização do acesso à cultura e ao lazer", previsto pela ONU."

73
Matheus Adriano
22 anos | São Luís - MA | @andradefmatheus

Foto: Reprodução/Inep

74
"O poeta Sebastião Uchoa Leite já
mencionou que o cinema era uma de suas grandes
inspirações em razão das diferentes perspectivas que este pode
dar sobre o mundo. Portanto, o cinema, enquanto ferramenta de reflexão,
beneficia a população brasileira, mas enfrenta, lamentavelmente, desafios
para a democratização de seu acesso em escala nacional. Isso se deve, por
um lado, a um padrão cinematográfico que não contempla as diversidades
regionais e, por outro, a uma elitização da “sétima arte”, afastando-a das
periferias.
Em primeiro lugar, o Brasil reproduz, majoritariamente, filmes
americanos, de padrão “hollywoodiano”, que não contemplam as
expressões regionais brasileiras. Segundo o filósofo Emmanuel Lévinas,
uma sociedade justa deve respeitar a alteridade de seus membros, de
modo que sua exclusão é uma forma de violência. Assim, o cinema
regional aparece como um símbolo da cultura local, e seu incentivo é um
modo de respeitar a alteridade dessas parcelas da sociedade, incluindo-as
na cultura do cinema.
Além disso, o cinema, no Brasil, tem tido alcance restrito às classes
sociais privilegiadas, que possuem fácil acesso a shopping centers, onde a
maioria dos cinemas se concentra, ou renda suficiente para manter
serviços de streaming, como o Netflix. De acordo com o sociólogo Pierre
Bourdieu, a facilidade de acesso a obras de arte pode ser chamada de
“capital cultural”, e sua acumulação é uma maneira de reproduzir a
desigualdade social. Nesse sentido, levar o cinema às periferias é um passo
essencial para a democratização de seu acesso no Brasil e para a
distribuição do “capital cultural” entre todos.
Em conclusão, o incentivo ao cinema regional brasileiro e a difusão
da “sétima arte” nas periferias são caminhos possíveis para a
democratização do seu acesso no Brasil. Para isso, o Ministério da
Cidadania, por meio de editais públicos, deve oferecer patrocínio à
produção de filmes regionais, em especial nos interiores brasileiros, com a
finalidade de difundir o cinema regional. Concomitantemente, os Governos
estaduais, por meio de suas secretarias de cultura, devem criar campanhas
de exibição de filmes nas periferias, atendendo às especificidades de cada
estado, para difundir o acesso a esse meio artístico a todos os brasileiros."

75
Nathalia Vital
24 anos | Arapiraca - AL

Foto: Reprodução/Inep

76
"Com a consolidação do capitalismo ocorrida
ao final da Guerra Fria o cinema sofreu transformações para
adequar o seu conteúdo à demanda de consumo desse modelo.
Desde então, o cinema tornou-se um dos principais meios de acesso e
difusão da cultura, no entanto, o Brasil enfrenta desafios para democratizar
o acesso ao cinema à população, seja pelo baixo incentivo para
frequentá-lo — fruto da negligência escolar em estimular o apreço pelos
filmes —, seja pela escassez de cinemas.
Nesse contexto, para o filósofo Aristóteles, o desenvolvimento de
virtudes e aptidões ocorre por meio de uma educação eficiente. Todavia, a
prática deturpa essa teoria no tocante à falha das escolas em estimular o
apreço pelos filmes, uma vez que não há projetos específicos nas aulas
para cultivar tal sentimento. Por conseguinte, se o incentivo não é
promovido, os indivíduos não desenvolvem a necessidade de ir ao cinema,
bem como não entendem a importância dele para obter um maior
conhecimento cultural e, desse modo, a democratização do acesso aos
serviços cinematográficos torna-se cada dia mais difícil.
Além disso, o acesso ao cinema também é dificultado em razão da
ausência ou escassez de cinemas em regiões periféricas, pois não há
incentivos governamentais para a instalação deles nesses locais. Sob tal
aspecto, essa falha decorre do pensamento de que o serviço
cinematográfico não é lucrativo em cidades onde o cinema não é
frequentado regularmente, entretanto, muitas vezes, as pessoas deixam de
consumí-lo em razão de não haver um cinema perto de suas residências e
do alto preço dos ingressos, os quais não são acessíveis para quem possui
baixas condições financeiras. Destarte, segundo o filósofo Jürgen
Habermas, a inclusão e o amparo à população devem ser prerrogativas
para um convívio social justo e harmonioso e, por isso, a construção de
mais cinemas irá proporcionar uma maior inclusão na sociedade e o
acesso ao cinema será ampliado.
Logo, cabe o Ministério da Educação alterar a grade curricular de
ensino — mediante a inserção de aulas de cinema nas disciplinas de
História e Sociologia, as quais trabalhem um filme por semana — a fim de
cultivar o apreço por filmes e, assim, estimular a ida ao cinema. Ademais,
compete ao Governo Federal junto à Secretaria Nacional da Cultura
investir na construção de cinemas nas cidades periféricas, com preços
acessíveis à comunidade, com o intuito de ampliar o acesso ao cinema no
Brasil de forma igualitária. Dessa maneira a democratização do acesso ao
cinema ocorrerá plenamente."

77
Nayra Amorim
18 anos | Pau dos Ferros - RN | @_nayraamorim

Foto: Reprodução/Inep

78
"No Brasil, apesar de a Constituição Federal
de 1988, em seu artigo 215, garantir acesso à cultura a
todos os brasileiros, nota-se que muitos cidadãos não usufruem
dessa prerrogativa, tendo em vista que uma grande parcela social não tem
acesso ao cinema. Dessa forma, esse cenário comprometedor exige ações
mais eficazes do poder público e das instituições de ensino, a fim de
assegurar a igualdade de acesso ao universo cinematográfico.
Efetivamente, é notório o desacordo que existe entre o que é
assegurado pela Constituição e a realidade do país, uma vez que muitos
municípios não possuem cinemas ou espaços destinados à exposição de
filmes, séries e documentários. Esse nefasto paradigma atesta, sobretudo,
uma grande desigualdade no acesso à cultura do país, tendo em vista que em
grandes cidades, como o Rio de Janeiro, o cinema é mais valorizado. Além
disso, vale ressaltar que tal desigualdade fere a Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948, a qual assegura a produção cultural e lazer como
um direito de todos. Logo, é fundamental que o poder público desenvolva
medidas, como a construção de mais espaços destinados aos espectadores,
com o intuito de que os anseios do artigo 215 tenham realmente vigor.
Ademais, outro fator preponderante é que, apesar da modernização do
universo cinematográfico, o qual, atualmente, possui filmes em “3D” e salas de
cinema bastante equipadas, muitos brasileiros não conseguem arcar, por
exemplo, com o custo do ingresso ou, até mesmo, o espaço destinado à
exibição de filmes, como shopping center, é distante do local onde essas
pessoas residem, inviabilizando, assim, o acesso à cultura previsto na
Constituição. Esse panorama conflituoso explicita a necessidade das
instituições de ensino em atuar de forma mais efetiva, promovendo, por
exemplo, “noites do filme” na comunidade que se sejam gratuitas, a fim de
democratizar o acesso ao cinema, sendo essa uma forma de entretenimento
da população, bem como de transmissão de conhecimento.
Portanto, cabe ao poder público intensificar os investimentos no acesso
à produção cultural do país, sobretudo, ao cinema, mediante replanejamento
orçamentário, que viabilize a destinação de mais verbas para a construção de
cinemas nos municípios, com o propósito de que mais brasileiros possam
usufruir dessa importante ferramenta para o lazer. Outrossim, as instituições
de ensino, como as escolas e as universidades, devem promover a
democratização do acesso ao cinema, por meio da exibição gratuita de filmes
em, por exemplo, auditórios e quadras escolares em horários noturnos, com o
fito de que todas as parcelas sociais possam ser atendidas."

79
Pedro Luís Ladeira Mello
17 anos | Niterói - RJ | @pedroluis_26

Foto: Reprodução/Inep

80
"O cinema, considerado a sétima arte, é um
importante meio de difusão do conhecimento, entreteni-
mento e cultura. Por oferecer tamanha carga intelectual, ele deveria
ser de fácil acesso a todos. No Brasil, entretanto, percebe-se que, no
decorrer dos anos, o acesso a essa arte tornou-se pouco democrático
devido a fatores históricos e à reduzida a atuação estatal para resolver essa
problemática.
Em primeira análise, cabe ressaltar a histórica concentração das
salas de cinema nos principais centros urbanos do país. Pelo fato de tais
lugares terem abrigado as principais atividades econômicas nacionais —
mineração em Minas Gerais, produção de café no eixo Rio de Janeiro-São
Paulo, industrialização no Sul e no Sudeste —, esses centros concentraram
grande parte da elite urbana brasileira. Com isso, a fim de atender a essa
elite, um número maior de complexos investimentos culturais foram
realizados nessas regiões — como a Reforma Pereira Passos no Rio de
Janeiro. Por consequência, os estabelecimentos de cinema aglutinaram-se
nessas áreas, com poucos indo para o restante do país. Assim, uma grande
parte da sociedade ficou marginalizada do acesso ao cinema.
Além disso, deve-se analisar a ineficiência do Estado na
democratização desse acesso. Segundo o sociólogo Sérgio Buarque de
Holanda, o brasileiro é, desde a colonização, marcado por um
individualismo exacerbado que o leva a se apropriar do público para fins
particulares. Essa característica contribui para que muitos políticos pouco
ajam para entender os anseios do povo, como ter um acesso mais
facilitado ao cinema. Dessa forma, há uma reduzida atuação do Estado em
busca da democratização dessa forma de entretenimento.
Consequentemente, o atual cenário de exclusão de um número
considerável de cidadãos da possibilidade de adquirir cultura, por meio do
cinema, mantém-se presente no país.
O acesso pouco democrático ao cinema, em território nacional, é,
portanto, uma problemática de raízes históricas e atuais a ser combatida.
Nesse sentido, a Secretaria de Cultura deve, por meio de parcerias
público-privadas com empresas do ramo dos cinemas, investir na
construção de salas de cinema em regiões, até então, desprovidas desse
estabelecimento. Essas parcerias devem oferecer incentivos fiscais e, em
troca, a Secretaria deverá conseguir recursos e equipamentos de qualidade
para utilizar nessas novas salas. O objetivo dessa proposta é desconcentrar
as salas de cinema no país, aumentar sua oferta em todo o território e,
assim, democratizar o acesso ao cinema. Dessa forma, a carga intelectual
dessa sétima arte poderá ser mais bem difundida no país."

81
Raquel Merisio
20 anos | Linhares - ES | @raquelmerisio

Foto: Reprodução/Inep

82
"Karl Marx, pensador alemão, acredita que os
indivíduos devem ser analisados de acordo com o contexto
de suas situações sociais, já que produzem suas existências em grupo.
Nessa lógica, torna-se pontual compreender a questão do acesso ao cinema no
Brasil e os meios para haver a democratização na sociedade. A partir disso, faz-se
relevante entender que os ínfimos investimentos dos institutos de ensino em
estimular a valorização do cinema e da cultura e a persistência da
vulnerabilidade social requerem um quadro a ser revertido.
Em primeira análise, observa-se que Edgar Morin, sociólogo francês, afirma,
com conceito de "pensamento sistêmico", que é preciso ir além de um
pensamento linear, sendo necessário se preocupar com as relações de causa e
efeito. Essa questão é pertinente, uma vez que muitas escolas têm o foco
direcionado aos vestibulares e ao mercado de trabalho e negligenciam as
abordagens sociais como o debate sobre o cinema e sobre os valores
transmitidos por esse meio intelectual. Isso se torna preocupante, visto que sem a
formação de estudantes como cidadãos que apreciam a arte audiovisual, há a
permanência de sentimentos de descaso à cultura. É indiscutível, então, que haja
maior atenção dos institutos de ensino em abranger os assuntos sociais, para que
as relações de causa e efeito sejam priorizadas com a construção de alunos
envolvidos nas questões culturais e, assim, possa existir maior valorização e
ingresso dos cinemas no país.
Ademais, outra razão fundamental para a consolidação desse pensamento
é o fato de que John Locke, filósofo inglês, pontua que o Estado deve garantir os
direitos dos cidadãos como a manutenção do acesso às áreas culturais e de lazer.
Nesse caso, o equívoco eclode no erro de se acreditar que esses direitos são
assegurados com efetividade em todas as classes sociais. Sabe-se que tal relato
não pode ser afirmado, pois é notório que o que prevaleceu no Brasil é a
desigualdade social, a qual prova que as pessoas de regiões minoritárias são mais
vulneráveis ao meio e não têm acesso aos centros culturais como cinema devido
à falta de políticas públicas voltadas a essa questão. Diante desse quadro, não se
pode adiar a preocupação dos órgãos governamentais em promover áreas
cinematográficas nas regiões pobres, para que se crie uma relação de
pertencimento com a garantia dos direitos e, desse modo, exista a
democratização dessa arte no país.
O posicionamento assumido demanda, portanto, duas Medidas pontuais. A
princípio, os institutos escolares, responsáveis pela construção pessoal e social,
devem estabelecer como meta a flexibilização das metodologias aplicadas à
educação, por meio de aulas dinâmicas e transdisciplinares que abordem as
questões sociais como a valorização do cinema, para que os estudantes se
interessem pela cultura audiovisual e, assim, exista maior acesso nesse ramo. A
outra ação precisa ser fomentada pelo Ministério da Cidadania, juntamente às
ONGs, no sentido de intensificar os centros artísticos nas classes mais carentes,
por intermédio da implementação de cinemas abertos à população, a fim de que
haja acesso das práticas cinematográficas com equidade. Com esses
direcionamentos, os indivíduos, como advoga Marx, irão coexistir de forma mais
integral na sociedade com a democratização da cultura audiovisual."

83
Stela Lopes
18 anos | Belo Horizonte - MG | @stela.terra_

Foto: Reprodução/Inep

84
"A questão do acesso ao cinema, ape-
sar de não ser amplamente discutida, é um problema
muito expressivo no Brasil atualmente. A gravidade do qua-
dro é evidenciada pelos dados do site Meio e Mensagem: 83% da
população brasileira não frequentam tal ambiente. Nesse contexto,
percebe-se que o acesso ao cinema não é democratizado e convém
analisar as causas e impactos negativos dessa situação na sociedade.
Em primeiro lugar, é preciso compreender as causas dessa
problemática. Em um mundo marcado pelo capitalismo, é comum que,
cada vez mais, seja fortalecido o sistema de mercantilização do lazer, ou
seja, este passa a ser vendido por empresas em forma de mercadoria.
Nesse sentido, nota-se que, muitas vezes, parcelas da população com
condições financeiras mais baixas acabam não conseguindo ter acesso às
atividades de lazer, como o cinema, devido aos preços, geralmente,
inacessíveis. Além disso, outro fator que contribui para a falta do amplo
acesso da população ao cinema é a localização no interior dos shoppings,
os quais, normalmente, estão situados nos centros das grandes cidades, o
que acaba dificultando o acesso de moradores de bairros mais afastados.
Dessa forma, o cinema no Brasil torna-se um ambiente elitizado.
Em segundo lugar, é importante salientar os impactos negativos
desse quadro na sociedade. Tendo em vista que a parcela mais pobre da
população, geralmente, não consegue arcar com os custos de frequentar o
cinema e sabendo que o acesso ao lazer é um direito garantido pela
Constituição Federal, percebe-se a ocorrência da "cidadania de papel",
termo cunhado pelo escritor paulista Gilberto Dimenstein, que diz respeito
à existência de direitos na teoria (Constituição), os quais não ocorrem, de
fato, na prática. Sob essa perspectiva, nota-se que a falta de
democratização do acesso ao cinema gera exclusão social das camadas
menos favorecidas e impede que elas possam usufruir de seus direitos.
Portanto, é mister que o Ministério da Infraestrutura, em parceria
com o Ministério da Cultura, construa cinemas públicos, por meio da
utilização de verbas governamentais, a fim de atender a população que
não pode pagar por esse serviço, fazendo com que, assim, o acesso ao
cinema seja democratizado e essa parcela da sociedade deixe de usufruir
apenas de uma "cidadania de papel"."

85
Thiago Nakazone
17 anos | Recife - PE | @thiagonakazone

Foto: Reprodução/Inep

86
"Os filmes, além de proverem entreteni-
mento, têm uma função social muito importante: a de
denúncia. O movimento do Cinema Marginal, por exemplo, ocor-
rido na segunda metade do século XX, tornou-se único por retratar as mais
diversas desigualdades de nosso país. Por conta desse caráter tão plural,
democratizar o acesso à Sétima Arte no Brasil se faz extremamente
necessário. Contudo, quanto a isso, existem vários desafios, sendo os
principais: a desuniforme distribuição do parque exibidor e o alto preço
cobrado pelos ingressos.
De início, sabe-se que, quando surgiram em terras tupiniquins, os
cinemas eram de rua, com um único ambiente com capacidade para mais de
500 pessoas. Entretanto, a crescente onda de violência nas cidades — muito
bem retratada pelo longa-metragem brasileiro “Tropa de Elite” — fez com que
tal cenário mudasse completamente. No panorama atual, a maior parte dos
centros de exibição antigos foram demolidos, sendo substituídos por novos
complexos multissala. Esses últimos, por sua vez, afastaram-se das periferias e
abrigaram-se nos shoppings centers, capazes de fornecer um pouco mais de
segurança. Tal realidade prova, tristemente, que a criminalidade nas
metrópoles contribuiu para a centralização do parque exibidor em áreas ricas,
dificultando o acesso pelos mais pobres — um verdadeiro empecilho.
Outrossim, esse mercado — monopolizado por grandes corporações —
tornou-se bastante caro. Os altos preços cobrados por um ingresso não são
uma realidade muito viável: para diversos brasileiros com dificuldades
financeiras, o lazer dificilmente é tratado como prioridade. O país, inclusive,
conta com mais de 10 milhões de desempregados — a maior taxa dos últimos
anos —, segundo o IBGE. Engana-se, porém, que pensa que, no nosso circuito
filmográfico, não há demanda: basta ver o notável número de espectadores
nas segundas e quartas-feiras, dias de promoção. Essa delicada situação
mostra que, infelizmente, os valores abusivos espantam os consumidores e
constituem outro importante desafio.
Sabendo disso, portanto, as Secretarias de Segurança Pública
necessitam, através de ações com a Polícia Civil, criar um eficiente programa
de combate à violência urbana contendo canais de denúncia e agentes
especializados, a fim de, novamente, tornar as ruas amigáveis à instalação de
complexos de exibição. O Ministério da Economia deve, por fim, estimular
pequenos empreendedores desse mercado, por meio de empréstimos e de
incentivos fiscais, visando ampliar o parque exibidor, promover a concorrência
e, assim, abaixar os preços dos ingressos. Dessa forma, busca-se democratizar
o acesso ao cinema e superar as desigualdades retratadas no movimento
marginal."

87
Vinicius Adriano
17 anos | Belém - PA | @vini.adriano

Foto: Reprodução/Inep

88
"No longa-metragem ganhador do Oscar
“A invenção de Hugo Cabret”, narra-se o cotidiano de um
jovem garoto órfão que, apesar de viver - sob precárias condições
- em uma estação de trem parisiense, frequenta, clandestinamente, uma sala
de cinema próxima ao seu lar como uma forma de afastar-se de sua infeliz realidade.
Tal obra fictícia, além de expor um dos benefícios da ida a esse tipo de
estabelecimento, também denuncia a desigualdade do acesso à arte
cinematográfica, semelhantemente ao que ocorre no Brasil contemporâneo. Nesse
âmbito, faz-se necessário analisar dois entraves acerca do óbice social apresentado: os
elevados custos para a entrada em cinemas - incompatíveis com a condição
financeira de camadas populares - e a falta de mobilização cidadã em prol da
equidade dos direitos relacionados a essa situação.

Primordialmente, é válido pontuar a política de preços altos como um


obstáculo à democratização da Sétima Arte no território nacional. Isso ocorre devido
ao ineficiente quantitativo de medidas governamentais para modificar as tabelas de
custos estabelecidas por empresas privadas (responsáveis pela distribuição de obras
cinematográficas), promovendo um impedimento a comunidades de baixa renda no
que tange ao acesso aos locais em pauta. Entretanto, atualmente, observa-se uma
gradativa mudança na postura estatal em relação a esse cenário, a exemplo da
criação do cinema Líbero Luxardo na cidade de Belém, desenvolvido pelo governo do
estado do Pará para oferecer entretenimento (tanto nacional, quanto estrangeiro) de
qualidade por preços econômicos. Apesar desse notório progresso, ainda é imperiosa
a problemática supracitada, uma vez que projetos (como o exposto) são minoritários
comparadas a outras regiões do país.

Ademais, deve-se explicitar que considerável parcela da sociedade não busca


reverter a situação da desigualdade do acesso ao cinema no Brasil. Tal estorvo advém
de uma despreocupação dos cidadãos em exigir reformulações nos setores públicos
(como o Ministério da Cidadania) encarregados de garantir a possibilidade de
apreciação das múltiplas formas de arte por todos, o que define esse comportamento
negligente como um “eclipse de consciência”, termo - conforme o literato português
José Saramago, no romance “Ensaio sobre a cegueira” - utilizado para sintetizar a
ideia da falta de sensibilidade do indivíduo perante os imbróglios enfrentados pelo
próximo, nesse caso, o contingente populacional desprovido da oportunidade de
desfrute às produções cinematográficas. Por conseguinte, sob efeito desse fenômeno,
considerável parte dos brasileiros fomenta a invisibilização do empecilho social em
evidência, afastando as pessoas necessitadas das salas de projeção.

Portanto, cabe ao Poder Executivo - instituição de alta relevância para o país -


potencializar projetos sociais para a construção de locais de exibição de filmes
nacionais e internacionais no território, por meio da cessão de capital público aos
órgãos competentes, a fim de efetivar a democratização da apreciação do cinema aos
cidadãos. Paralelo a isso, o Ministério da Educação deve mudar o comportamento
passivo da comunidade acerca do combate ao óbice em questão, por intermédio de
palestras em escolas e em universidades, visando reverter o preocupante cenário
reiterado e, assim, desvencilhar parte da sociedade do “eclipse de consciência” que a
acomete."

89
Vitória Castro
19 anos | Teresina - PI | @dicasdavitmil

Foto: Reprodução/Inep

90
"Em sua obra "Cidadãos de Papel", o
célebre escritor Gilberto Dimenstein disserta acerca da
inefetividade dos direitos constitucionais, sobretudo, no que se
refere à desigualdade de acesso aos benefícios normativos. Diante disso, a
conjuntura dessa análise configura-se no Brasil atual, haja vista que o acesso
ao cinema, no país, ainda não é democrático. Esta realidade se deve,
essencialmente, à falta de subsídios para a infraestrutura nas regiões
periféricas e à urbanização desordenada das urbes.
Sob esse viés, é importante ressaltar que a logística de instalação de
salas de cinema, nas cidades pequenas, é precária. Nesse sentido, segundo o
Contrato Social ― proposto pelo contratualista John Locke ―, cabe ao Estado
fornecer medidas que garantam o bem-estar coletivo. Contudo, a
infraestrutura das cidades pequenas e médias é, muitas vezes, pouco dotada
de incentivos para a construção de salas de exibição de filmes, como centros
de lazer ― dotados de praça de alimentação, por exemplo. Com isso, uma
parcela expressiva da população é excluída dessa atividade cultural, o que,
além de evidenciar o contexto discutido por Gilberto Dimenstein, vai de
encontro ao Contrato Social. Desse modo, políticas públicas eficazes
tornariam possível a maior acesso ao direito de cultura, garantido pela Magna
Carta de 1988, por meio do cinema.
Além disso, o crescimento urbano desordenado gerou a concentração
de cinemas em determinadas áreas da cidade, o que excluiu, principalmente,
os locais pouco evidenciados pelo mercado imobiliário. Nessa linha de
raciocínio, o geográfico Milton Santos atribuiu ao inchaço urbano desenfreado
o surgimento de processos como a Gentrificação, a qual "expulsa" a parcela de
indivíduos de baixa renda da sua moradia. Devido a isso, a distribuição de
salas de cinema ocorreu de maneira desigual, privilegiando áreas nobres. Por
conseguinte, as favelas ― localidades em aparatos sociais ― possuem pouco ou
nenhum acesso à arte cinematográfica, o que evidencia um exército de
"cidadãos de papel". Assim, o cinema pode ampliar o seu alcance mediante a
ação de setores sociais que forneça infraestrutura de filmes.
Portanto, para a efetiva democratização do acesso ao cinema no Brasil,
é importante que o Governo Federal, por intermédio de subsídios tributários
estaduais, forneça a descentralização das salas cinematográficas do território,
a partir da instalação de unidades de cinema nas regiões que não possuem ―
com aparato qualificado, variedade de exibições e praça de alimentação ―, a
fim de proporcionar a cultura do cinema para a parcela de cidadãos excluída.
Ao mesmo tempo que isso, cabe ao Ministério da Cultura ― principal órgão
intermediador de políticas culturais no país ― propor um vale cinema para
aqueles que não possuem renda suficiente para a compra, com direito a pelo
menos duas oportunidades mensais, para que o direito aos filmes não seja
restrito por critérios censitários. Dessa forma, poder-se-á atenuar a
desigualdade discutida por Dimenstein."

91
Agradecimentos
Menção dos autores a pessoas/instituições decisivas para seus resultados:

Ana Carolina Campos Instituição Farias Brito


Ana Luiza Pinheiro Isadora Almeida
Ana Paula Almeida Isadora Castro
Ana Paula Coelho Ivanete Amaral
André Aleixo de Oliveira Joshua Matheus
André Luís Mello Júlia Bossa
Andréia Faria Juliana Nery
Annie Karoline dos Santos Juliano Rocha
Aryane Gonçalves Julie Camarão
Astrid Mello Klesia Rodrigues
Beatriz Lima Laise Amaral
Bianca Costa Laiza Canto
Bruna Coelho Laura Grigoletto
Bruna Gomes Leonardo Lacerda
Caio César Letícia Gondim
Caliehl La-Rocque Luan Ribeiro
Canal História Online Luana Andrade
Carlos Eduardo Nylander Luciana Souza do Espírito Santo
Cartilha Redação a Mil 2018 :) Lucivaldo do Espírito Santo
Cláudia de Souza do Espírito Santo Luiz Fellipe Pinheiro
Cristiane Bastos Maria Clara Campelo
Curso Ao Pé da Letra Maria Luiza Guedes
Curso Dois Pontos Maria Luiza Pinheiro
Curso Lúmen Maria Socorro Lopes Teixeira
Curso Opção Certa Mariana Serra
Danilo Oliveira Marina Carvalho
Deborah Castro Pré-Vestibular Determinante
E.E. Sagrada Família II Prof. Adhemar Nogueira
Edielse Amaral Prof. Alan Nicoliche
Elaine Lima Prof. Alex Romero
Colégio Master Sul Prof. Anderson Calé
Felipe Guarçoni Prof. Aracy
Flora Araújo Prof. Bite
Francisca Nelândia S. Silva Prof. Carlos Benjoino (Bidu)
Francisco Jurandi Teixeira Prof. Carlos Eduardo Araújo
Gabriela Cavalcante Prof. Diogo D'lppolito
Gabriely Victor Prof. Eduardo Pereira
Gusttavo Quintas Prof. Felipe Alves
Hadassa Helez Prof. Felipe Garcia de Medeiros
Iasmyn Lídia Prof. Filipe R. Vuaden
Iasser Sampaio Prof. Filipe Vuaden
Idalmo Faria Prof. Frajola
IFAL Prof. Hélcio Aguiar
IFRN Prof. João Limares

92
Prof. Jorge Alberto Tajra
Prof. Júlio César Profª. Karol Sales
Prof. Leidson Macedo Profª. Katilini Oliveira
Prof. Lucas Lippi Profª. Leandra Guerino
Prof. MacDowell Profª. Leda d'Aguila
Prof. Marcelo Batista Profª. Luciana Lima
Prof. Marcelo Lima Profª. Luciene Teixeira
Prof. Marcos Vilhena Profª. Lussandra Drummond
Prof. Murillo Antônio Profª. Marcela Castro
Prof. Paulo Faria Profª. Márcia Reis
Prof. Ragi Profª. Maria Pereira
Prof. Raphael Hormes Profª. Maria Raquel
Prof. Roberson Calegari Profª. Marina Ferraz
Prof. Robinson Bucci Profª. Marina Ferreira
Prof. Rodrigo Soares Ribeiro Profª. Miriane Dayrell
Prof. Rodrigo Vaz Rui Profª. Mirvana Luz
Prof. Rogi Profª. Nicinha Câmara
Prof. Thalles Eduardo Profª. Patrícia Lima
Prof. Thiago Braga Profª. Priscila Germosgeschi
Prof. Thiago Morais Profª. Raquel Vetromilla
Prof. Tibério Secondes Profª. Raysa Ferreira
Prof. Vinicius Oliveira Profª. Regina Lustosa
Prof. Waydlle Silva Profª. Roberta Panz
Profª. Adriana Laquis Profª. Roberta Panza
Profª. Allana Mátar Profª. Rosana Castro
Profª. Amanda Campos Profª. Rozângela de Cássia
Profª. Ana Cláudia Santos Profª. Sabrina (Curso Poliedro)
Profª. Ana Paula Colaço Profª. Sílvia (Curso Ao Pé da Letra)
Profª. Ana Paula Rocha Profª. Simone Motta
Profª. Andrea Silva Massari Profª. Solange Brum
Profª. Andreia Abade Profª. Solange (Bernoulli)
Profª. Camila Colares Profª. Telma Tennille
Profª. Carolina Vilela Profª. Viviane Faria
Profª. Clarissa Maranhão Rinaldi Bossa
Profª. Crystianne Mendonça Rodrigo Vinicius
Profª. Duda Gonçalves Rosângela Bossa
Profª. Duda Salabert Samara Lopes Teixeira
Profª. Fátima Amaral Sânia Flávia Ribeiro
Profª. Fernanda Bérgamo Sarah Soeiro
Profª. Fernanda Féliz Litron Sergio Merli
Profª. Fernanda Zara Silvia Sansoni
Profª. Flávia Iêda Vanessa Alves G. Silva
Profª. Franciellen Mendes Vinicius Lara
Profª. Gabriela Said Vitor Yasser
Profª. Giovane Fernandes Oliveira Vitório Oliveira
Profª. Jana Rabelo Vívian Duarte
Wanderley Magalhães

93
0
Prezado estudante,

Bem-vindo à Cartilha Redação a Mil - 3ª edição. Essa é uma cartilha que


nasceu em 2019, elaborada por 31 alunos nota 1000 do Enem 2018,
continuada em 2020, com 44 notas 1000 do Enem 2019, e perpetuada hoje
com mais 24 estudantes nota 1000 do Enem 2020. No total, são quase 100
redações nota 1000 compiladas e distribuídas gratuitamente por este
projeto, mais do que qualquer site ou fonte jamais encontrou :).

O objetivo é ampliar os horizontes de quem está treinando redação para o


Enem e dar a chance de estudar textos diferentes, de pessoas diferentes,
com escritas diferentes, que chegam à nota máxima da mesma forma;
mostrar que não existe um só caminho certo, mas múltiplos; e valorizar o
conhecimento adquirido como algo a ser compartilhado e democratizado.

Esse ano, temos uma novidade especial e muito requisitada para a cartilha:
análises exclusivas de todas as redações! Eu chamei a minha professora da
época de escola, Prof.ª Débora Menezes, que me ensinou tudo o que eu sei
e me levou até o 1000, para se juntar ao projeto e fazer parte de tudo isso.
E, para isso, contamos com o apoio do Colégio Rio Branco ao projeto, o
qual agradeço imensamente!

As análises destacam aspectos diferentes das redações que chamaram


atenção, e todas foram baseadas nos critérios de correção da cartilha dos
corretores 2019, fornecida em 2020 pelo Inep. É importante frisar que a
análise de cada redação não mostra tudo que foi responsável pela nota
1000, porque seriam análises enormes, mas destacar um ou dois fatores
serve para enfatizar as diferentes abordagens e qualidades dos textos. A
nota 1000 na redação é atingida a partir do gabarito das 5 competências:

Competência 1: Norma Culta (desvios gramaticais + estrutura


sintática) - 0 a 200 pontos

Competência 2: Adequação ao tipo textual + Abordagem completa


do tema + Uso de repertório sociocultural - 0 a 200 pontos

Competência 3: Projeto de texto - 0 a 200 pontos

Competência 4: Uso de conectivos - 0 a 200 pontos

Competência 5: Proposta de intervenção - 0 a 200 pontos

1
Para cada autor, você vai ver o espelho da redação, o
texto transcrito e os comentários da Débora. Porque
fazemos questão de te certificar das notas, escaneando o
QR Code ao lado, você encontra todos os comprovantes
de nota máxima dos participantes.

Além disso, caso queira imprimir essa cartilha, dê preferência à versão


reduzida (aqui) que foi feita para não desperdiçar tinta ou folhas.

Por último, venho contar aqui uma novidade em primeira mão, que temos
preparado há muito tempo em segredo, e é emocionante estar tão perto
de lançar pro mundo! Eu, juntamente com a Débora, vou lançar em agosto
um curso completo de Redação Enem, do início ao fim, que vai explicar
tudo — tudo mesmo —, que você precisa saber saindo do zero e chegando
nas notas mais altas! É o primeiro curso feito por um aluno nota 1000 e
uma professora especialista, e definitivamente o curso de redação mais
completo da internet. Esse é o Redplay — O treinamento Redação Enem
nota 1000! Você, leitor da cartilha, já vai ter um desconto especial de 10%
no curso com o cupom REDAMIL10 quando lançar. O curso lança em
agosto e você não vai querer perder a chance de maratonar tudo que a
gente preparou pra você até o Enem! Fica ligado em lucasfelpi.com.br ;)

Muito boa sorte nos estudos, tenha confiança em si mesmo e saiba que as
pessoas que escreveram esses textos também já estiveram no seu lugar:
sem saber por onde começar, não achando que conseguiriam, e muitas
delas inclusive lendo esta mesma cartilha no ano passado. Ano que vem,
pode ser você!

Lucas Felpi

2
Sumário
Tema 1 | "O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira" 6

Adrielly Dias 7

Espelho 7
Transcrição 8
Análise 9

Aécio Filho 10
Espelho 10
Transcrição 11
Análise 12

Alan Albuquerque 13
Espelho 13
Transcrição 14
Análise 15

Aline Soares 16
Espelho 16
Transcrição 17
Análise 18

Anna Beatriz Torres 19


Espelho 19
Transcrição 20
Análise 21

Ingrid Ascef 22
Espelho 22
Transcrição 23
Análise 24

Isabela Saraiva 25
Espelho 25
Transcrição 26
Análise 27

Isabella Bernardes 28
Espelho 29
Transcrição 29
Análise 30

Isabella Gadelha 32
Espelho 32
Transcrição 33
Análise 34

3
Ivan Carlos Silva 35
Espelho 35
Transcrição 36
Análise 37

Juan Sampaio 38
Espelho 38
Transcrição 39
Análise 40

Julia Motta 41
Espelho 41
Transcrição 42
Análise 43

Julia Vieira 44
Espelho 44
Transcrição 45
Análise 46

Larissa Cunha 47
Espelho 47
Transcrição 48
Análise 49

Ludmila Coelho 50
Espelho 50
Transcrição 51
Análise 52

Luiz Pablo Oliveira 53


Espelho 53
Transcrição 54
Análise 55

Maria Julia Passos 56


Espelho 56
Transcrição 57
Análise 58

Matheus Vitorino 59
Espelho 59
Transcrição 60
Análise 61

Nathaly Nobre 62
Espelho 62
Transcrição 63
Análise 64

4
Raíssa Fontoura 66
Espelho 66
Transcrição 67
Análise 68

Ramon Ribeiro 69
Espelho 69
Transcrição 70
Análise 71

Sofia Vale 72
Espelho 72
Transcrição 73
Análise 74

Tema 2 | "O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil" 76

Savicevic Ortega 78
Espelho 78
Transcrição 79
Análise 80

Tema 3 | "A falta de empatia nas relações sociais no Brasil" 82

Gabriela Traven 83
Espelho 83
Transcrição 84
Análise 85

Agradecimentos 87

5
Tema 1:
"O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira"
Enem 2020 Impresso

Foto: Reprodução/Inep

6
Adrielly Dias
18 anos | Conselheiro Lafaiete - MG | @adrielly_dias

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

7
Transcrição

"No filme estadunidense “Joker”, estrelado por Joaquin Phoenix, é


retratado (sic) a vida de Arthur Fleck, um homem que, em virtude de sua
doença mental, é esquecido e discriminado pela sociedade, acarretando,
inclusive, piora no seu quadro clínico. Assim como na obra cinematográfica
abordada, observa-se que, na conjuntura brasileira contemporânea, devido a
conceitos preconceituosos perpetuados ao longo da história humana, há um
estigma relacionado aos transtornos mentais, uma vez que os indivíduos que
sofrem dessas condições são marginalizados. Ademais, é preciso salientar,
ainda, que a sociedade atual carece de informações a respeito de tal assunto,
o que gera um estranhamento em torno da questão.

Em primeiro lugar, faz-se necessário mencionar o período da Idade


Média, na Europa, em que os doentes mentais eram vistos como seres
demoníacos, já que, naquela época, não havia estudos acerca dessa temática
e, consequentemente, ideias absurdas eram disseminadas como verdades. É
perceptível, então, que existe uma raiz histórica para o estigma atual
vivenciado por pessoas que têm transtornos mentais, ocasionando um
intenso preconceito e exclusão. Outrossim, não se pode esquecer de que,
graças aos fatos supracitados, tais indivíduos recebem rótulos mentirosos,
como, por exemplo, o estereótipo de que todos que possuem problemas
psicológicos são incapazes de manter relacionamentos saudáveis, ou seja, não
conseguem interagir com outros seres humanos de forma plena. Fica claro,
pois, que as doenças mentais são tratadas de forma equivocada, ferindo a
dignidade de toda a população.

Em segundo lugar, ressalta-se que há, no Brasil, uma evidente falta de


informações sobre transtornos mentais, fomentando grande preconceito e
estranhamento com essas doenças. Nesse sentido, é lícito referenciar o
filósofo grego Platão, que, em sua obra “A República”, narrou o intitulado “Mito
da Caverna”, no qual homens, acorrentados em uma caverna, viam somente
sombras na parede, acreditando, portanto, que aquilo era a realidade das
coisas. Dessa forma, é notório que, em situação análoga à metáfora abordada,
os brasileiros, sem acesso aos conhecimentos acerca dos transtornos mentais,
vivem na escuridão, isto é, ignorância, disseminando atitudes
preconceituosas. Logo, é evidente a grande importância das informações, haja
vista que a falta delas aumenta o estigma relacionado às doenças mentais,
prejudicando a qualidade de vida das pessoas que sofrem com tais
transtornos.

Destarte, medidas são necessárias para resolver os problemas


discutidos. Isto posto, cabe à escola, forte ferramenta de formação de opinião,
realizar rodas de conversa com os alunos sobre a problemática do preconceito
com os transtornos mentais, além de trazer informações científicas sobre tal
questão. Essa ação pode se concretizar por meio da atuação de psiquiatras e
professores de sociologia, estes irão desconstruir a visão discriminatória dos
estudantes, enquanto que aqueles irão mostrar dados/informações relevantes
sobre as doenças psiquiátricas. Espera-se, com essa medida, que o estigma
associado às doenças mentais seja paulatinamente erradicado."

8
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Projeto de texto estratégico!

A Adrielly apresenta um texto que se destaca pela escolha estratégica dos


repertórios socioculturais e pelo bom desenvolvimento deles dentro dos
parágrafos. Assim, ela consegue fazer uma discussão consistente acerca de
todos os elementos presentes na frase temática: estigma / doenças mentais /
sociedade brasileira.

A estratégia pensada por ela pode ser vista por meio do seguinte projeto:
utilização de um repertório — o filme “Joker” ou "Coringa" — como forma de
apresentar o tema ao leitor. Em seguida, ligar a temática do repertório com as
problemáticas que serão desenvolvidas em seu texto:

1. a marginalização de indivíduos portadores de doenças mentais


(o estigma)

2. a falta de informação acerca das doenças mentais por parte da


sociedade (uma causa do estigma)

Vale ressaltar que o uso de um repertório é uma boa estratégia, mas não a
única, para iniciar a introdução. No decorrer do texto, a Adrielly separa cada
problemática acima em um parágrafo e discorre sobre cada uma delas por
meio da estratégia:

repertório
+ problemática do parágrafo

Podemos perceber que ela encontrou uma forma clara de organizar suas
ideias. E você, já encontrou a sua?

Em relação à gramática do texto, podemos ver que praticamente não há erros


ou desvios, apenas 1 no 1º parágrafo quando comete um deslize de
concordância ao escrever “é retratado a vida [...]”. Neste caso, a forma correta
seria “é retratada a vida”. Os conectivos aparecem de maneira expressiva em
todos os parágrafos. A proposta de intervenção apresenta os 5 elementos
(agente, ação, modo/meio, efeito e detalhamento) e esses estão claros e fáceis
de serem identificados no último parágrafo.

Parabéns pelo projeto de texto, Adrielly!

9
Aécio Filho
17 anos | Natal - RN | @aeciopffilho

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

10
Transcrição

"Manoel de Barros, grande poeta pós-modernista, desenvolveu em suas


obras uma “teologia do traste”, cuja principal característica reside em dar valor
às situações frequentemente esquecidas ou ignoradas. Seguindo a lógica
barrosiana, faz-se preciso, portanto, valorizar também a problemática das
doenças mentais no Brasil, ainda que elas sejam estigmatizadas por parte da
sociedade. Nesse sentido, a fim de mitigar os males relativos a essa temática,
é importante analisar a negligência estatal e a educação brasileira.

Primordialmente, é necessário destacar a forma como parte do Estado


costuma lidar com a saúde mental no Brasil. Isso porque, como afirmou
Gilberto Dimenstein, em sua obra “Cidadão de Papel”, a legislação brasileira é
ineficaz, visto que, embora aparente ser completa na teoria, muitas vezes, não
se concretiza na prática. Prova disso é a escassez de políticas públicas
satisfatórias voltadas para a aplicação do artigo 6º da “Constituição Cidadã”,
que garante, entre tantos direitos, a saúde. Isso é perceptível seja pela
pequena campanha de conscientização acerca da necessidade da saúde
mental, seja pelo pouco espaço destinado ao tratamento de doenças mentais
nos hospitais. Assim, infere-se que nem mesmo o princípio jurídico foi capaz
de garantir o combate ao estigma relativo a doenças psíquicas.

Outrossim, é igualmente preciso apontar a educação, nos moldes


predominantes no Brasil, como outro fator que contribui para a manutenção
do preconceito contra as doenças psiquiátricas. Para entender tal
apontamento, é justo relembrar a obra "Pedagogia da Autonomia", do patrono
da educação brasileira, Paulo Freire, na medida em que ela destaca a
importância das escolas em fomentar não só o conhecimento
técnico-científico, mas também habilidades socioemocionais, como respeito e
empatia. Sob essa ótica, pode-se afirmar que a maioria das instituições de
ensino brasileiras, uma vez que são conteudistas, não contribuem no combate
ao estigma relativo às doenças mentais e, portanto, não formam indivíduos da
forma como Freire idealizou.

Frente a tal problemática, faz-se urgente, pois, que o Ministério Público,


cujo dever, de acordo com o artigo 127 da "Constituição Cidadã", é garantir a
ordem jurídica e a defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis,
cobre do Estado ações concretas a fim de combater o preconceito às doenças
mentais. Entre essas ações, deve-se incluir parcerias com as plataformas
midiáticas, nas quais propagandas de apelo emocional, mediante
depoimentos de pessoas que sofrem esse estigma, deverão conscientizar a
população acerca da importância do respeito e da saúde mental. Ademais, é
preciso haver mudanças escolares, baseadas no fomento à empatia, por meio
de debates abertos sobre temas socioemocionais."

11
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Ótimo uso dos repertórios!

O Aécio mostrou que sabe trabalhar com os repertórios dentro dos


parágrafos. Repare que, quando um repertório aparece, não é apenas citado,
pois ele preocupou-se em analisá-lo e relacioná-lo com o tema. Ele traz o seu
ponto de vista logo em seguida e contextualiza o repertório com a discussão
do parágrafo. Isso é o que chamamos de repertório produtivo.

O Aécio fez o que é exigido para chegar à nota máxima da competência que
avalia o repertório sociocultural, a Competência 2. Ele trouxe repertórios...

1. ...validados pelas áreas do conhecimento


a. Manoel de Barros - Literatura;
b. a obra “Cidadão de Papel” - Literatura;
c. a Constituição Cidadã - cunho legislativo;
d. Paulo Freire - argumento de autoridade.

2. ...relacionados ao tema
a. Todos os repertórios utilizados estão ligados a pelo menos um
dos elementos da frase temática: estigma / doenças mentais /
sociedade brasileira.

3. ...produtivos/bem desenvolvidos na discussão proposta


a. Todos foram bem ligados à discussão feita dentro do parágrafo ao
qual cada um pertence.

É importante frisar que o Aécio conseguiu tornar todos os repertórios


produtivos, mas bastava que um fosse produtivo para alcançar os 200 pontos
da Competência 2. Precisamos concordar que ficou bonito de ver! :)

Sobre os outros aspectos que levaram à nota mil, podemos destacar uma boa
organização do projeto de texto, com retomada de repertório — a Constituição
Cidadã — no final do texto. Além disso, temos duas propostas de intervenção,
para não deixar nenhuma problemática sem uma possível solução.

Cuidado: basta apenas 1 proposta de intervenção completa para que se


chegue aos 200 pontos na Competência 5. Porém, é necessário checar se
todos os problemas do seu texto são abordados na proposta. Caso não, é
importante trazer mais uma proposta (sem precisar ser completa) para que o
projeto de texto esteja bem organizado. O uso de conectivos em todos os
parágrafos, sem nenhum erro no emprego desses recursos, também
garantiram a nota 1000.

12
Alan Albuquerque
20 anos | Rio de Janeiro - RJ | @alaalbuquerque

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

13
Transcrição

"Na obra “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, o


protagonista Policarpo é caracterizado como um doente mental por familiares
e colegas de profissão devido ao seu ufanismo, sendo segregado da
sociedade em um hospício. Atualmente, na realidade brasileira, os verdadeiros
doentes mentais são tão estigmatizados quanto o fantasioso Policarpo, sendo
tratados e observados com preconceito por considerável parcela da
população. Assim, faz-se necessário analisar os alicerces que sustentam esse
estigma, a citar, a ausência de ensino sobre a temática e a falta de empatia
característica da contemporaneidade, no sentido de buscar desbancar tais
bases prejudiciais.

Inicialmente, a falta de um conteúdo voltado aos transtornos mentais


na formação educacional brasileira possibilita o desenvolvimento de
concepções preconceituosas. No conto “O Alienista”, de Machado de Assis, um
médico acaba encarcerando a população de uma cidade inteira, já que não
existiam métodos precisos para reconhecer as doenças mentais, ou seja, todas
as decisões dele estavam permeadas de desconhecimento. Analogamente à
obra, o cidadão que não conhece, minimamente, os transtornos da mente
tenderá a criar suposições erradas, tomando ações equivocadas. Logo, a
ignorância e o preconceito prevalecem.

Ademais, a manutenção dessa ignorância é fortalecida pelos ideais


narcisistas valorizados hodiernamente, os quais, muitas vezes, desvalorizam o
diferente. Segundo o filósofo Byung Chul-Han, o século XXI é dominado por
uma sociedade do desempenho, na qual a individualidade é extremada em
detrimento do altruísmo. Nesse panorama, o indivíduo, imerso em si mesmo,
não consegue enxergar e aceitar a pluralidade de seres humanos que o
circundam. Dessa forma, o cidadão brasileiro, inserido nessa lógica, nega o
doente mental e classifica-o como anormal, reforçando estigmas danosos.

Infere-se, portanto, que o preconceito associado às doenças mentais no


Brasil precisa ter suas fundações desfeitas. Para tanto, o Ministério da
Educação deve, com o suporte do Ministério da Saúde, inserir a discussão
acerca das doenças mentais nas escolas, por meio de alterações na Base
Nacional Curricular Comum, as quais afetarão as disciplinas de filosofia,
sociologia, biologia e literatura, a fim de formar cidadãos mais tolerantes e
conhecedores dos transtornos mentais. Além disso, o Ministério da Família
deve fomentar a empatia social, utilizando-se de publicidades que valorizem
atitudes altruístas, visando à redução do individualismo. Quiçá, nessa via, os
policarpos modernos não serão segregados."

14
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Proposta de intervenção clara e completa!

O Alan consegue apresentar um texto claro e objetivo. Ele opta por iniciar a
redação por meio de um repertório sociocultural bem relacionado ao tema —
a obra literária “Triste Fim de Policarpo Quaresma" — e de terminar o texto
retomando esse repertório e relacionando-o à proposta de intervenção.

Falando de proposta, vale destacar dois fatores que foram cruciais para que
ele tenha conseguido os 200 pontos nesta competência:

1. a presença dos 5 elementos na proposta


2. organização e clareza para que eles fossem identificados sem que
restassem quaisquer dúvidas

Vamos analisar:

Agente: Quem deve fazer?


“O Ministério da Educação, com o suporte do Ministério da Saúde” — o
agente responsável pela ação é claro e específico.

Ação: O que deve ser feito?


"Deve inserir a discussão acerca das doenças mentais na escola” — a
ação é facilmente identificada e precedida pelo verbo “dever”. Vale
lembrar que poderia ser outro verbo, o importante é marcar que a ação
está por vir.

Modo/meio: Como essa ação deve ser realizada?


“Por meio de alterações na Base Nacional Curricular Comum” — a
utilização do conectivo “por meio de” demarca claramente o elemento
modo/meio.

Efeito: Qual é a finalidade dessa ação?


“A fim de formar cidadãos mais tolerantes e conhecedores dos
transtornos mentais” — o efeito da proposta criada é bem demarcado
pelo conectivo que o precede: “a fim de”.

Detalhamento: Há algum elemento com uma informação a mais?


“As quais afetarão as disciplinas de filosofia, sociologia, biologia e
literatura” — há uma especificação do modo/meio e isso já conta como
um detalhamento desse elemento.

Viram como é importante trazer uma proposta bem organizada?


#ArrasouAlan

15
Aline Soares
18 anos | João Pessoa - PB | @ensinaline

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

16
Transcrição

"O filme O Coringa retrata a história de um homem que possui uma


doença mental e, por não possuir atendimento psiquiátrico adequado, ocorre
o agravamento do seu quadro clínico. Com essa abordagem, a obra revela a
importância da saúde psicológica para um bom convívio social.
Hodiernamente, fora da ficção, muitos brasileiros enfrentam situação
semelhante, o que colabora para a piora da saúde populacional e para a
persistência do estigma relacionado à doença mental. Dessa forma, por causa
da negligência estatal, além da desinformação populacional, essas
consequências se agravam na sociedade brasileira.

Em primeiro lugar, a negligência do Estado, no que tange à saúde


mental, é um dos fatores que impedem esse processo. Nessa perspectiva, a
escassez de projetos estatais que visem à assistência psiquiátrica na
sociedade contribui para a precariedade desse setor e para a continuidade do
estigma envolvendo essa temática. Dessa maneira, parte da população deixa
de possuir tratamento adequado, o que resulta na piora da saúde mental e na
sua exclusão social. No entanto, apesar da Constituição Federal de 1988
determinar como direito fundamental do cidadão brasileiro o acesso à saúde
de qualidade, essa lei não é concretizada, pois não há investimentos estatais
suficientes nessa área. Diante dos fatos apresentados, é imprescindível uma
ação do Estado para mudar essa realidade.

Nota-se, outrossim, que a desinformação na sociedade é outra


problemática em relação ao estigma acerca dos distúrbios mentais. Nesse
aspecto, devido à escassez da divulgação de informações nas redes midiáticas
sobre a importância da identificação e do tratamento das doenças
psicológicas, há a relativização desses quadros clínicos na sociedade. Desse
modo, assim como é retratado no filme O Lado Bom da Vida, o qual mostra a
dificuldade da inclusão de pessoas com doenças mentais na sociedade, parte
da população brasileira enfrenta esse desafio. Com efeito, essa parcela da
sociedade fica à margem do convívio social, tendo em vista a prevalência do
desrespeito e do preconceito na população. Nesse cenário, faz-se necessária
uma mudança na postura das redes midiáticas.

Portanto, vistos os desafios que contribuem para o estigma associado


aos transtornos mentais, é mister uma atuação governamental para
combatê-los. Diante disso, o Ministério da Saúde deve intensificar a criação de
atendimentos psiquiátricos públicos, com o objetivo de melhorar a saúde
mental da população e garantir o seu direito. Para tal, é necessário um
direcionamento de verbas para a contratação dos profissionais responsáveis
pelo projeto, a fim de proporcionar uma assistência de qualidade para a
sociedade. Além disso, o Ministério de Comunicações deve divulgar
informações nas redes midiáticas sobre a importância do respeito às pessoas
com doenças psicológicas e da identificação precoce desses quadros.
Mediante a essas ações concretas, a realidade do filme O Coringa tão somente
figurará nas telas dos cinemas."

17
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Ideias muito bem conectadas!

O texto da Aline apresenta um excelente domínio dos conectivos em todos os


parágrafos. Isso faz com que todas as ideias estejam bem relacionadas e,
consequentemente, o leitor consiga ter uma leitura fluida. Perceba que todas
as afirmações são explicadas/justificadas/esclarecidas, e isso se dá, muitas
vezes, pelo bom uso dos conectivos.

No 1º parágrafo, aparecem as expressões: “Com essa abordagem”, “além da”, "o


que", “dessa forma”, e “essas consequências”.
O filme O Coringa retrata a história de um homem que possui uma doença
mental e, por não possuir atendimento psiquiátrico adequado, ocorre o agravamento do
seu quadro clínico. Com essa abordagem, a obra revela a importância da saúde
psicológica para um bom convívio social. Hodiernamente, fora da ficção, muitos
brasileiros enfrentam situação semelhante, o que colabora para a piora da saúde
populacional e para a persistência do estigma relacionado à doença mental. Dessa
forma, por causa da negligência estatal, além da desinformação populacional, essas
consequências se agravam na sociedade brasileira.

No 2º parágrafo: “No que tange a”, "esse processo", "nessa perspectiva", “desse
setor”, “essa temática”, “dessa maneira”, “o que resulta na”, “no entanto”,
“apesar da”, “essa lei”, “pois” , “nessa área”, “diante dos fatos apresentados” e
"essa realidade".
Em primeiro lugar, a negligência do Estado, no que tange à saúde mental, é
um dos fatores que impedem esse processo. Nessa perspectiva, a escassez de projetos
estatais que visem à assistência psiquiátrica na sociedade contribui para a precariedade
desse setor e para a continuidade do estigma envolvendo essa temática. Dessa maneira,
parte da população deixa de possuir tratamento adequado, o que resulta na piora da
saúde mental e na sua exclusão social. No entanto, apesar da Constituição Federal de
1988 determinar como direito fundamental do cidadão brasileiro o acesso à saúde de
qualidade, essa lei não é concretizada, pois não há investimentos estatais suficientes
nessa área. Diante dos fatos apresentados, é imprescindível uma ação do Estado para
mudar essa realidade.

Se tirássemos os conectivos, provavelmente teríamos um texto pouco


articulado e, talvez, com menos informações, já que alguns conectivos
auxiliam no acréscimo de informações dentro do parágrafo. Tal fato faz com
que a autora, ao colocar um conectivo, sinta a necessidade de desenvolver
melhor as informações.

A riqueza no uso dos conectivos pode ser vista, também, nos parágrafos
posteriores (3º e 4º). Há, ainda, a presença obrigatória de conectivos no início
de pelo menos 2 parágrafos. Neste texto, a Aline optou por colocar
"Outrossim" no 3º e “Portanto” no 4º. "Outrossim" não é a primeira palavra do
parágrafo, mas está no primeiro período e cumpre com a função de ligar os
parágrafos, então é mais do que válido! Parabéns, Aline! :)

18
Anna Beatriz Torres
20 anos | Rio de Janeiro - RJ | @1moldetorres

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

19
Transcrição

"Edvard Munch, pintor expressionista, na obra “O grito”, retratou a


angústia, o medo e a desesperança no semblante de uma personagem
rodeada por uma atmosfera de profunda desolação. Para além do quadro, no
Brasil, o sentimento de milhares de indivíduos assolados por incapacitantes
doenças mentais é, em muitos casos, semelhante ao ilustrado pelo artista.
Nesse panorama, a compactuação da sociedade e os altos custos dos
tratamentos favorecem a perpetuação do estigma na sociedade brasileira.
Cabe-se, então, alcançar medidas efetivas de combate a essa triste realidade
de desespero ilustrada pelo artista.

Em uma primeira análise, sob a ótica social, faz-se necessário refletir


acerca da banalização do sofrimento psíquico na contemporaneidade. Isso
porque, ao se desvalorizar a dor emocional, o indivíduo doente não recebe o
apoio necessário do corpo social e de seus familiares, haja vista o grande
estigma e a desconstrução, em suas mínimas expressões, da importância da
busca pelo correto tratamento em decorrência da humilhação sofrida pelo
paciente. Michel Foucault, nesse sentido, a partir do conceito de
Normalização, definiu que há, na sociedade, a repetição de comportamentos
sem a devida reflexão crítica dessa conduta, sendo assim, a reprodução de
atitudes preconceituosas contra a população atingida por doenças mentais é
subproduto do desconhecimento social da relevância do suporte coletivo para
a melhoria do estado mental. Com isso, o estigma associado aos transtornos
mentais favorecem a replicação de atitudes egoístas.

Ademais, em segundo plano, o elevado custo no tratamento das


doenças mentais fomentam a caótica conjuntura atual do país. Essa
correlação pode ser estabelecida em decorrência dos altos valores dos
medicamentos e das consultas psicológicas, o que afasta a população menos
favorecida do acompanhamento extremamente necessário à sua
sobrevivência. Segundo o Conselho Federal de Psicologia, o valor médio da
sessão de terapia é de cento e cinquenta reais por visita, isso revela o caráter
excludente do acesso ao tratamento para a população mais pobre. Nesse
contexto, aqueles que necessitam do auxílio psiquiátrico ficam reféns da falta
de apoio governamental para arcar com os altos valores do tratamento. Dessa
forma, a desigualdade estrutural do Brasil afeta os doentes.

Torna-se evidente, portanto, que o preconceito social e o grande abismo


econômico do país favorecem a perpetuação do estigma à doença mental.
Para reverter esse quadro, é preciso que o Poder Executivo – por intermédio
do Ministério da Saúde - faça, em conjunto com os familiares do doente, a
promoção e o incentivo ao tratamento psicológico. Isso deve ocorrer por meio
da contratação de psicólogos e da criação de projetos – como o “Cada vida
conta”, que valorizem a sobrevivência-, a fim de oferecer consultas com preços
populares e alertar a população da importância de cuidar da saúde mental.
Espera-se, assim, que os sofrimentos emocionais retratados pelo pintor
Munch pertençam apenas ao plano artístico."

20
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Expressividade é o nome dela!

A Anna Beatriz apresentou uma redação recheada de forte colocação do


ponto de vista. O que mais chama a atenção em seu texto é o espaço que ela
dedica em cada parágrafo para marcar a sua opinião. Percebemos parágrafos
com análises profundas e enfatizadas pelo uso de adjetivos, o que acaba
sendo uma boa estratégia para demarcar sua opinião.

Por exemplo, no 3º parágrafo, em que o objetivo era falar sobre o elevado


custo no tratamento das doenças mentais, aparece, na verdade, um período
expressivo e com opinião fortemente marcada:

“[...] isso revela o caráter excludente do acesso ao tratamento


para a população mais pobre. Nesse contexto, aqueles que
necessitam do auxílio psiquiátrico ficam reféns da falta de apoio
governamental para arcar com os altos valores do tratamento. Dessa
forma, a desigualdade estrutural do Brasil afeta os doentes.”

Os termos em destaque mostram uma escolha vocabular precisa e expressiva,


marcando, assim, claramente o seu ponto de vista. Se tirássemos os adjetivos,
teríamos apenas informações comentadas em vez de um texto opinativo.

É possível ver essa estratégia em toda a redação, deixando evidente que a


Anna Beatriz não tem dúvidas sobre sua opinião a respeito do tema!

21
Ingrid Ascef
24 anos | Campinas - SP | @ingridascef

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

22
Transcrição

"Na obra “Quincas Borba”, de Machado de Assis, é mencionada a


trajetória de Rubião que, após receber grande herança e atrair vários amigos,
é acometido por uma enfermidade mental, fazendo com que seus conhecidos
se afastassem e que fosse abandonado em um hospital psiquiátrico. Fora da
ficção, o estigma associado às doenças mentais também é presente na
sociedade brasileira, haja vista que muitos indivíduos com transtornos dessa
ordem são excluídos da sociedade e que muitas pessoas com sintomas de
desequilíbrio mental não buscam ajuda.

Em primeiro lugar, é relevante destacar que o estigma associado às


doenças mentais faz com que as pessoas acometidas por essas enfermidades
sejam excluídas do meio social. Nesse sentido, Nise da Silveira, médica
psiquiatra, revelou que muitas famílias se envergonham por terem um ente
com transtornos mentais e optam por o deixar, de forma vitalícia e quase sem
visitas, em hospitais especializados. Desse modo, o preconceito com doenças
mentais na sociedade brasileira gera a ocultação, em clínicas médicas, das
pessoas que não se enquadram dentro de um perfil esperado de
normalidade, engendrando a exclusão social.

Ademais, o estigma e a falta de informação sobre doenças mentais


fazem com que muitos indivíduos, com sintomas dessas patologias, não
busquem ajuda especializada. Nesse contexto, pesquisas aventadas pela
Organização Mundial de Saúde revelaram que menos da metade das pessoas
com os primeiros sinais de transtornos, como pânico e depressão, procura
ajuda médica por temer julgamentos e invalidações. Assim, o preconceito da
sociedade brasileira com as doenças mentais faz com que a busca por
tratamento, por parte dos doentes, seja evitada, aumentando, ainda mais, o
índice de brasileiros debilitados por essas mazelas.

Portanto, é necessário que o Estado, em conjunto com o Ministério da


Saúde, informem a população sobre o que são, de fato, as doenças mentais e a
importância do tratamento para que o estigma associado a elas finde. Tal
tarefa será realizada por meio de expansivas campanhas publicitárias nos
veículos de comunicação em massa, como a internet e a televisão, com
profissionais de saúde especializados no assunto, o que fará com que o povo
brasileiro seja elucidado sobre essas patologias rapidamente. Sendo assim,
episódios de abandono e preconceito associados a transtornos mentais, como
o de Rubião, estarão apenas nos livros."

23
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Parágrafo bem elaborado utilizando apenas a coletânea!

Diferente do que muitos estudantes pensam, não é necessário ter repertório


sociocultural em todos os parágrafos. Além disso, é possível utilizar os textos
motivadores fornecidos pelo Enem para embasar uma parte de sua
argumentação, e foi exatamente o que a Ingrid fez!

Ela iniciou seu texto com um repertório sociocultural — Quincas Borba, de


Machado de Assis. Em seguida, citou um novo repertório — a médica Nise da
Silveira — e pronto! No 3º parágrafo, não encontramos um repertório
sociocultural, mas sim uma argumentação pautada em informações da
coletânea: pesquisas da OMS.

A Ingrid conseguiu trazer uma nova discussão para seu texto, com uma nova
análise, sem precisar de mais um repertório da sua cabeça para isso. Ela
mostrou que é possível, e super produtivo, utilizar também os textos da
coletânea. Mas atenção, não é permitido copiar as informações! Em vez disso,
extraia o assunto e/ou a ideia e crie sua própria argumentação, assim como a
Ingrid fez. Arrasou!

Por falar em repertório, chamo a atenção para um ponto. Neste texto, há uma
citação a respeito da médica Nise da Silveira. Ainda caberia, dentro do
parágrafo, uma breve (mas breve mesmo) contextualização sobre a
importância da médica para a temática e a psiquiatria. Isso para mostrar ao
leitor os grandes feitos dela no ramo da medicina e valorizar ainda mais o seu
repertório. Novamente, trata-se apenas de uma dica para quando você for
citar uma personalidade notória.

Parabéns, Ingrid!

24
Isabela Saraiva
21 anos | Brasília - DF | @iisabeauty

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

25
Transcrição

"A Organização Mundial da Saúde trouxe, para a atualidade, um


conceito ampliado de saúde, o qual abrange a promoção de uma vida
saudável não só por meio do corpo físico, como também por meio da
integridade psicológica. Contudo, apesar da importância dessa atualização,
ainda existe um forte estigma associado às doenças mentais, o qual também
se reverbera no contexto brasileiro. Sob esse enfoque, destacam-se aspectos
sociais e profissionais. Assim, medidas são imprescindíveis para sanar tal
impasse.

Primordialmente, deve-se pontuar que aqueles que possuem algum


tipo de transtorno psicológico são, normalmente, os primeiros a reafirmarem
um juízo de valor negativo com relação à sua própria saúde. Nesse aspecto,
evidencia-se que, na sociedade brasileira, existe um notório construto de
naturalização dos sintomas indicadores de problemas psíquicos, o que
desencoraja a busca por auxílio médico. Nesse viés, pode-se analisar o óbice
sob a perspectiva da filósofa Simone de Beauvoir. De acordo com sua análise,
mais escandalosa que a existência de uma problemática é o fato de a
sociedade se habituar a ela. Ao traçar um paralelo com a temática das
doenças psiquiátricas, aponta-se que os indícios da existência de um
problema de ordem mental são comumente vistos como frescura e, assim,
são normalizados. Dessa maneira, torna-se uma realidade a resistência à
busca por ajuda psicológica e, consequentemente, a associação de estigmas
às doenças mentais.

Em segunda análise, é importante frisar que, no Brasil, é evidente a


estigmatização de pessoas com doenças psíquicas no âmbito trabalhista.
Nesse sentido, esse público é, não raro, excluído do mercado de trabalho,
devido ao discurso de que são incapazes de exercer as atividades profissionais.
Nessa senda, é possível mencionar o sociólogo Herbert Spencer, autor da
teoria do Darwinismo Social. Consoante sua abordagem, as pessoas mais
adaptadas socialmente – no caso, as que possuem a saúde psicológica íntegra
– tendem a conquistar e a permanecer nas posições privilegiadas do corpo
social. Em posse desse discurso excludente, muitos empregadores justificam
a lamentável prática do capacitismo no cenário empregatício. Dessa forma,
reforçam-se, cada vez mais, estigmas negativos atrelados à imagem dessa
parcela social.

Em suma, ainda persiste, no Brasil, a estigmatização das doenças


mentais. Logo, é necessário que o Ministério da Saúde – responsável por
efetivar processos relacionados à saúde pública no país – deve atuar
diretamente na desconstrução do imaginário de que problemas psicológicos
são normais ou frescura, ao veicular, nos meios de comunicação de massa,
campanhas educativas que abordem a importância de procurar ajuda
psicológica. Além disso, é necessário que o Poder Legislativo – a quem cabe a
função de criar normas – elabore uma lei de cotas para pessoas com
transtornos mentais, por meio de Emenda Constitucional. Com essas
medidas, objetiva-se liquidar efetivamente o problema do estigma associado
a doenças mentais. Desse modo, a atualização do conceito de saúde realizada
pela OMS será consolidada no contexto brasileiro."

26
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Argumentação que não parte do repertório!

Sim! Aqui, a Isabela fugiu do esquema "citação de repertório abrindo a


argumentação do parágrafo". Muitos alunos preferem iniciar suas
argumentações partindo de um repertório, e isso não é um problema,
trata-se, apenas, de mais uma estratégia dentre tantas outras. No entanto, a
Isabela resolveu ir pelo caminho inverso e vamos confessar que deu mais do
que certo! Reparem que, em seus dois parágrafos de desenvolvimento (2º e 3º
do texto), ela utiliza a seguinte estratégia:

apresentação da ideia central do parágrafo, com uma tese clara


+ apresentação de um repertório como forma de reforçar sua tese

Ainda no parágrafo, ela finaliza com uma reflexão que foi iniciada lá na tese,
reforçada pelo repertório e complementada por uma análise que une tudo
isso no final. Digamos que ela fecha com chave de ouro.

Vale destacar que ela não fez a sua argumentação depender do repertório,
mas sim o contrário. Parece que o repertório depende da tese no início do
parágrafo, e ele aparece só para dar maior credibilidade às ideias boas que a
Isa apresenta. Isso é, sem dúvida, um ponto que merece nossos aplausos.

Vamos lembrar que fazer o processo inverso — primeiro repertório e depois


análise — não é nenhum problema e inclusive vimos diversos textos nota 1000
que utilizam essa estratégia. No entanto, é importante sabermos que existem
outras formas de construirmos nossa argumentação e chegarmos na mesma
nota, assim como a Isabela fez.

Há, no início do último parágrafo, um pequeno equívoco que ocorreu,


provavelmente, na hora da Isa passar o texto a limpo. Ela escreveu a frase
“Logo, é necessário que o Ministério da Saúde [...] deve atuar diretamente na
desconstrução do imaginário[...]”. Para que a estrutura da frase estivesse
correta, ela deveria ter escrito “Logo, o Ministério da Saúde [...] deve atuar
diretamente na desconstrução do imaginário[...]”. Nesse caso retirei o “é
necessário que”, pois provavelmente o trecho estava em uma primeira versão
do rascunho, mas não faz sentido com a versão final que ela construiu. Outra
opção seria manter o trecho “é necessário que” e trocar o verbo em seguida,
em vez de escrever “deve atuar” por “atue”, assim teríamos “é necessário que
o Ministério da Saúde atue[...]”. Esse pequeno equívoco não prejudicou sua
nota, visto que na competência 1 são permitidos desvios pontuais. Além disso,
não há outros problemas de mesma natureza no texto.

Continue diferenciando-se, Isa!

27
Isabella Bernardes
20 anos | Rio de Janeiro - RJ | @bella.motiva

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

28
Transcrição

"O filme "Coração da Loucura" — que narra a história da psiquiatra Nise


da Silveira — retrata a desumanização sofrida pelos indivíduos que possuem
psicopatologias, o que dificulta a realização de tratamento adequado e a
inserção social destes. Nesse sentido, a temática da obra está intimamente
ligada à sociedade brasileira atual, visto que o estigma associado às doenças
mentais é um problema que restringe a cidadania no país. Com efeito, hão de
ser analisadas as causas que corroboram esse grave cenário: a desinformação
e a mentalidade social.

Nesse viés, é necessário pontuar que a falta de informação acerca das


doenças mentais precisa ser superada. A esse respeito, o jornalista André
Trigueiro, em seu livro "Viver é a Melhor Opção", afirma que parte expressiva
dos cidadãos portadores de alguma disfunção mental possui dificuldade em
viver de forma mais saudável devido à falta de conhecimento sobre sua
condição. Sob essa perspectiva, constata-se que grande parte dos brasileiros
desconhece a diferença entre tristeza e depressão ou ansiedade e estresse,
por exemplo — tal como denunciado por André Trigueiro. Dessa forma,
embora a psiquiatria e a psicologia tenham avançado no que diz respeito ao
controle dos sintomas das psicopatologias, o fato de esse tema ser silenciado
impede que muitos tenham acesso à saúde mental e faz com que o
sofrimento psíquico seja reduzido a uma "frescura" ou sentimento passageiro.
Assim, enquanto a desinformação se mantiver, o Brasil permanecerá distante
da inclusão dessa parcela da sociedade.

Ademais, a mentalidade social preconceituosa existente no território


nacional dificulta a superação dos estigmas no que tange as disfunções
mentais. Nesse cenário, o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, em sua obra
"O Homem Cordial", expõe o egoísmo presente na sociedade brasileira — que
tende a priorizar ideais particulares em detrimento do bem estar coletivo.
Desse modo, observa-se que as doenças mentais são frequentemente
associadas à incapacidade ou fraqueza por destoarem do ideal inalcançável
de perfeição cultivado no ideário nacional, o que faz com que muitos cidadãos
sejam alvo de preconceito e exclusão, fatos que demonstram o egoísmo ainda
presente na mentalidade brasileira. Por conseguinte, evidencia-se a
necessidade da construção de valores empáticos e solidários no Brasil: fator
imprescindível na construção de uma sociedade igualitária e democrática.

Portanto, o Ministério da Educação deve promover a informação segura


a respeito das doenças mentais desde os primeiros anos da vida escolar por
meio da adição de uma disciplina de saúde mental à Base Nacional Curricular,
além de realizar campanhas informativas na mídia, visando à plena educação
psicossocial da população. Somado a isso, o Ministério da Saúde pode dirimir o
preconceito por intermédio da divulgação de vídeos em suas redes sociais
que contem a história de portadores de doenças mentais — ressaltando a
necessidade de desenvolver a empatia e o respeito — a fim de que a
sociedade seja mais democrática e inclusiva. Com essas medidas, "Coração da
Loucura" será apenas um retrato passado do Brasil, que será socialmente justo
e promoverá de forma efetiva a saúde mental de seus cidadãos."

29
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Pensa numa proposta de intervenção coerente!

Quando falamos de projeto de texto, pensamos que esse nome só se refere à


organização das ideias entre os parágrafos, mas se engana quem pensa assim.
É importante olharmos para a coerência daquilo que estamos apresentando
na nossa redação. Essa ideia vale também para a proposta de intervenção!

Muitos alunos preocupam-se em apenas colocar os 5 elementos da proposta e


esquecem de tentar criar uma ação coerente com todos os demais elementos
e também com a discussão do texto. A Isabella criou um belo exemplo de
proposta clara, completa e coerente. Veja:

Os problemas trabalhados no seu texto foram “a desinformação da sociedade”


e “a mentalidade social preconceituosa”. Logo, espera-se que a sua proposta
tente minimizar esses 2 problemas. Ela apresenta uma primeira proposta que
sugere promover informação segura acerca das doenças mentais — o que
dialoga com a questão da desinformação. Na segunda proposta, ela sugere a
diminuição do preconceito por meio da divulgação de vídeos em redes sociais
para ressaltar a empatia e o respeito — o que dialoga com a questão da
mentalidade social. Assim, ela não deixa nenhuma problemática sem solução.

Em relação à coerência dos elementos, podemos ver que a Isa escolheu muito
bem cada um deles:

● Na 1ª proposta, ela sugere uma ação que envolve mudanças na


educação. Portanto, ela indica um agente coerente para isso: o
Ministério da Educação. Em seguida, ela escolhe como meio de
viabilizar a ação um modo/meio que ainda compete ao Ministério da
Educação: mexer na Base Nacional Comum Curricular.

● Na 2ª proposta, para a questão da diminuição do preconceito com as


doenças mentais, ela traz um agente que tem maior credibilidade para
falar sobre o assunto e, assim, convencer as pessoas sobre sua
importância: o Ministério da Saúde. O modo/meio escolhido foi uma
ferramenta que pode ser utilizada pelo Ministério da Saúde e que tem
grande impacto na mentalidade das pessoas: as redes sociais. Então, ela
junta um responsável de respeito, uma ação coerente e um modo/meio
que liga todo mundo.

Fala se não é uma proposta linda de ver?

30
Isabella Gadelha
18 anos | Castanhal - PA

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

31
Transcrição

"Nise da Silveira foi uma renomada psiquiatra brasileira que, indo contra
a comunidade médica tradicional da sua época, lutou a favor de um
tratamento humanizado para pessoas com transtornos psicológicos. No
contexto nacional atual, indivíduos com patologias mentais ainda sofrem com
diversos estigmas criados. Isso ocorre, pois faltam informações corretas sobre
o assunto e, também, existe uma carência de representatividade desse grupo
nas mídias.

Primariamente, vale ressaltar que a ignorância é uma das principais


causas da criação de preconceitos contra portadores de doenças psiquiátricas.
Sob essa ótica, o pintor holandês Vincent Van Gogh foi alvo de agressões
físicas e psicológicas por sofrer de transtornos neurológicos e não possuir o
tratamento adequado. O ocorrido com o artista pode ser presenciado no
corpo social brasileiro, visto que, apesar de uma parcela significativa da
população lidar com alguma patologia mental, ainda são propagadas
informações incorretas sobre o tema. Esse processo fortalece a ideia de que
integrantes não são capazes de conviver em sociedade, reforçando estigmas
antigos e criando novos. Dessa forma, a ignorância contribui para a
estigmatização desses indivíduos e prejudica o coletivo.

Ademais, a carência de representatividade nos veículos midiáticos


fomenta o preconceito contra pessoas com distúrbios psicológicos. Nesse
sentido, a série de televisão da emissora HBO, "Euphoria", mostra as
dificuldades de conviver com Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), ilustrado pela
protagonista Rue, que possui a doença. A série é um exemplo de
representação desse grupo, nas artes, falando sobre a doença de maneira
responsável. Contudo, ainda é pouca a representatividade desses indivíduos
em livros, filmes e séries, que quando possuem um papel, muitas vezes, são
personagens secundários e não há um aprofundamento de sua história. Desse
modo, esse processo agrava os esteriótipos contra essas pessoas e afeta sua
autoestima, pois eles não se sentem representados.

Portanto, faz-se imprescindível que a mídia - instrumento de ampla


abrangência - informe a sociedade a respeito dessas doenças e sobre como
conviver com pessoas portadoras, por meio de comerciais periódicos nas
redes sociais e debates televisivos, a fim de formar cidadãos informados.
Paralelamente, o Estado - principal promotor da harmonia social - deve
promover a representatividade de pessoas com transtornos mentais nas artes,
por intermédio de incentivos monetários para produzir obras sobre o tema,
com o fato de amenizar o problema. Assim, o corpo civil será mais educado e
os estigmas contra indivíduos com patologias mentais não serão uma
realidade do Brasil."

32
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Vocabulário diversificado para evitar a repetição de palavras!

Vocês devem ter ouvido falar que não é interessante repetir a mesma palavra
diversas vezes na sua redação, tanto dentro do parágrafo quanto no texto
como um todo. A Isa sabe bem disso e se esforçou para evitar essas
repetições.

Logo no 1º parágrafo, podemos ver que ela traz 2 formas diferentes para se
referir a uma mesma ideia: “transtornos psicológicos” e “patologias mentais”,
para evitar repetir sempre o termo “doenças mentais”. Além disso, ela utiliza o
conectivo “desse grupo” para não repetir a expressão “das pessoas com
transtornos mentais”. Durante o texto, há, ainda, outras expressões que se
encaixam no mesmo caso: “portadores de doenças psiquiátricas", "transtornos
neurológicos", "sobre o tema", "desses indivíduos", "essas pessoas" (conectivos
de retomada) e "distúrbios psicológicos”.

Reparem no cuidado que ela teve em selecionar termos que, apesar de se


referirem ao mesmo universo, não são iguais, assim evitando a repetição de
palavras. Isso não quer dizer que não possa haver uma repetição ou outra na
sua redação! Inclusive, neste próprio texto, vemos que a Isa cita "patologias
mentais" no 1º parágrafo e depois usa novamente o termo lá no último
parágrafo. Mas isso não soa como repetição, pois aparece em momentos bem
distantes e pontuais no texto.

Parabéns, Isabella!

33
Ivan Carlos Silva
25 anos | Fortaleza - CE | @ivancarloseat e @ivancarlossilvamelo

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

34
Transcrição

"No livro “Quincas Borba”, de Machado de Assis, o protagonista, Pedro


Rubião, morreu louco e sozinho, após fugir do hospício, sendo que ele era
frequentemente estigmatizado enquanto vivo. Fora da ficção, no Brasil atual,
a situação das pessoas com problemas mentais também é preocupante, seja
pelo preconceito sofrido, seja pela falta de tratamento humanizado. Diante
desse quadro, é necessário que ações sejam tomadas, tanto pelas escolas
quanto pelo Poder Público, com o fito de solucionarmos esse problema.

Nesse contexto, como os transtornos mentais não são tão facilmente


verificáveis quanto problemas físicos, é comum que as pessoas acometidas
desse tipo de doença sejam alvo de preconceito de pessoas às quais, muitas
vezes, acham que aquilo é “frescura”. Infelizmente, esse preconceito, às vezes
devido à falta de conhecimento do tema, traz efeitos devastadores, pois
desestimula o doente a procurar tratamento precoce, quando é mais fácil o
tratamento. Assim, o tratamento tardio faz que, por exemplo, a depressão seja
a doença mais incapacitante, segundo a Organização Mundial de Saúde.

Outrossim, o tratamento de doenças mentais, no Brasil, não é feito de


forma humanizada, muitas vezes excluindo o paciente do convívio social.
Mesmo o conhecido psiquiatra Juliano Moreira tendo implantado, no início do
século XX, a ideia de um tratamento mais voltado a tentar reintegrar os
doentes à sociedade, isso não foi suficiente para que se eliminasse a lógica do
manicômio como uma prisão, na qual quem entra dificilmente sai.

Portanto, é notória a estigmatização sofrida pelos doentes mentais no


Brasil, o que se faz necessário extinguir. Para tanto, cabe às escolas educarem
os alunos a respeito do tema, por meio de palestras, de modo que os futuros
adultos não ajam com preconceito. Ademais, cabe ao Poder Público, por meio
do Executivo, aprimorar os programas de saúde mental, com vistas a haver
um tratamento mais humanizado, que tente reinserir o paciente à sociedade,
fazendo que, consequentemente, diminua-se os afastamentos devido à
depressão.

Por fim, com essas medidas, ter-se-á um Brasil diferente daquele de


“Quincas Borba”, no qual Pedro Rubião era estigmatizado até pela criança que
ele salvara."

35
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Boa utilização de conectivos!

O Ivan Carlos sabe que é necessário haver presença expressiva de conectivos


dentro do texto para ganhar os 200 pontos na Competência IV. Portanto, é
possível ver em toda a redação que ele não economizou nos conectivos:

No 1º parágrafo, temos: “sendo que”, No 3º parágrafo: “Outrossim” —


"também", “seja… seja”, “Diante desse conectivo que liga as ideias entre os parágrafos
quadro”, “tanto… quanto” , “com o fito —, “mesmo o…”, “isso” e “na qual”
de” e “esse problema”.
No 4º parágrafo: “Portanto” — conectivo
No 2º parágrafo: “Nesse contexto” — que liga as ideias entre os parágrafos —, “o
conectivo que liga as ideias entre os parágrafos que", "para tanto”, “por meio de”, "de
— “como", "tão… quanto”, “desse tipo”, modo que", “ademais”, “com vistas a” e
“as quais”, "aquilo", "esse preconceito", “consequentemente”.
“devido a”, “pois”, "quando", “assim”,
Há, ainda, um 5º parágrafo com o
“por exemplo” e “segundo…”
fechamento do texto. Nele, temos:
“Por fim” — conectivo que liga as ideias entre
os parágrafos —, “com essas medidas” e
“daquele”.

Dois pontos importantes:

1. Não há um número exato de conectivos exigido por parágrafo, o que


você não pode fazer é: não colocar conectivo ou só um ou dois. Traga
mais do que isso para garantir presença expressiva em cada parágrafo.

2. Como já mencionado em outra análise, é obrigatório que ter conectivos


no início de pelo menos 2 parágrafos, ligando as ideias entre parágrafos.
No texto do Ivan Carlos, ele utiliza no início de quase todos, exceto no
primeiro, justamente por ser o início o texto.

A presença ou ausência dos conectivos pode definir se sua nota será máxima
ou não. Muitos estudantes esquecem desses elementos ou têm dificuldades
em colocá-los no texto, por isso é importante o treino!

Aproveito para trazer uma observação sobre a expressão “fazer que”, que
aparece 2 vezes no texto: "Assim, o tratamento tardio faz que..." e "fazendo que,
consequentemente...". Apesar de gramaticalmente correta, quando
escrevemos “faz que” parece que está faltando algo, não? Já quando
utilizamos “faz com que”, a frase fica muito mais fluida/harmônica. O leitor
tende a aceitar melhor (sonoramente) a segunda opção. A língua permite as
duas formas, mas se puderem, prefiram a expressão “faz com que” quando a
intenção for apontar a consequência de uma ação. Parabéns, Ivan Carlos!

36
Juan Sampaio
21 anos | Paulo Afonso - BA

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

37
Transcrição

"Durante a Idade Média, as doenças mentais eram associadas à falta de


fé, resultando no julgamento de muitas pessoas como hereges. Apesar de
datar de séculos passados, o estigma dos transtornos mentais ainda é
perceptível no contexto atual, com destaque ao caso do Brasil. Nesse sentido,
a persistência dessa discriminação é causada devido tanto à falta de empatia,
como à insuficiência estatal no acolhimento das vítimas. Assim, é evidente a
necessidade de intervir sobre essa triste realidade de caráter medieval.

A princípio, o exercício escasso da empatia na sociedade brasileira


contribui com a manutenção do estigma das doenças mentais. Segundo o
filósofo prussiano Immanuel Kant, os indivíduos devem agir conforme o dever
moralmente correto, levando em consideração a existência do outro e criando
uma lei universal. Entretanto, esse princípio, chamado de imperativo
categórico, não é plenamente executado no Brasil, visto que as práticas
preconceituosas contra pessoas com problemas psicológicos contradiz a
moral de respeito às diferenças individuais. Nessa perspectiva, serve de
exemplo o pensamento errôneo no qual o indivíduo que sofre de certas
condições psíquicas, como a bipolaridade, seria incapaz de agir na sociedade,
desvalorizando seu caráter. Dessa forma, nota-se que esse desrespeito precisa
ser desmotivado.

Ademais, a atitude insuficiente do Estado em acolher as vítimas


precariamente potencializa a estigmatização. De acordo com os preceitos da
Constituição Federal, o governo tem a obrigação de garantir a igualdade de
tratamento entre os cidadãos, independente de quaisquer condições
pré-existentes. Porém, essa justiça não é comprida (sic) como deveria, já que
milhares de indivíduos sofrem com preconceito associado a condições
mentais. Tal fato está relacionado à falta de centros dedicados a receber
denúncias e a punir os agressores, carência essa mais evidente nas zonas
rurais. Com isso, milhares de brasileiros mentalmente doentes permanecem
desamparados, indo contra as ideias de igualdade da Constituição.

Portanto, percebe-se a prioridade de desestimular o estigma relativo a


doenças mentais. Para tanto, é necessário que o Ministério da Educação
realize projetos escolares que ensinem o comportamento empático para com
aqueles com condições psíquicas clínicas, por meio de aulas e de palestras
que ensinem o respeito ao próximo, para que a capacidade dessas pessoas
não seja duvidada, permitindo a consolidação do imperativo categórico. Além
disso, o Ministério da Segurança deve instalar centros de apoio, em especial
no campo, que recebam denúncias e investiguem casos de estigmatização.
Dessa maneira, o pensamento medieval de desqualificação dos mentalmente
doentes será melhor combatido."

38
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Parágrafos de desenvolvimento construídos com estratégia bem pensada!

O Juan fez um texto que transparece certo treino antes da prova. Como
assim? É possível ver, por meio da estratégia que utiliza para compor seus dois
parágrafos de desenvolvimento, que ele testou e achou uma forma segura e
eficiente de apresentar suas ideias. Encontrar uma estratégia de organização
que funcione na sua redação é importante para que você vá muito mais
confiante para a prova.

No texto do Juan, vemos os parágrafos de argumentação seguindo


exatamente a mesma estrutura de organização das ideias, havendo apenas a
mudança do conteúdo de cada um. Vamos ver a estrutura que ele fez:

Problemática (o que será trabalhado no parágrafo)


+ repertório (escolhido estrategicamente para causar uma contraposição)
+ conectivo de oposição de ideias + contra-argumentação (opinião do autor)
+ justificativa da contra-argumentação (marcada aqui pelo “visto que”)
+ reflexão resultante do que disse anteriormente (aprofundamento das ideias)
+ breve conclusão (também marcada por um conectivo apropriado)

Então, basicamente a estratégia do Juan é: apresentar um problema, escolher


um repertório que vá contra a ideia que ele defende, trazer a opinião dele logo
em seguida para quebrar o argumento do repertório, justificar o seu ponto de
vista para dar força ao seu argumento, reforçar com mais uma reflexão ao seu
favor (para não ter dúvidas de que ele sabe do que está falando) e finalizar
com uma conclusão. O Juan poderia ter feito o 2º parágrafo de
desenvolvimento de forma diferente, mas escolheu trazer a mesma estrutura
para ambos, o que não é um problema! Isso mostra que ele encontrou um
caminho seguro para sua escrita.

Outro ponto interessante a destacar é a escolha dos repertórios. Muitos alunos


passam um bom tempo procurando por repertórios que sejam favoráveis ao
seu ponto de vista, no entanto o Juan fez o contrário: colocou dois repertórios
que, em vez de irem a favor de sua tese, são contrários a ela. Trata-se de uma
forma de reforçar a tese por meio da oposição de ideias: eu tenho um ponto
de vista, procuro um repertório que defenda o contrário dele, e em seguida
mostro que a ideia do repertório pode ser derrubada por meio do meu ponto
de vista. Estratégia válida e bem utilizada no parágrafo.

Gostei de ver, Juan!

39
Julia Motta
17 anos | João Pessoa - PB | @julia.mottac

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

40
Transcrição

"O século XXI é marcado por um estilo de vida corrido e estressante, em


que os habitantes das cidades brasileiras são diariamente cobrados por
eficiência e produtividade, seja nas escolas ou nas empresas. Por isso, ocorreu
uma explosão no número de casos das doenças mentais no Brasil, tornando-o
o país mais depressivo da América Latina, segundo a Organização Mundial da
Saúde. Apesar do aumento da incidência dessas enfermidades, existe, na
sociedade brasileira, um enorme estigma associado às doenças mentais que
precisa ser urgentemente combatido. Esse estigma é causado pela falta de
discussão sobre o tema no cotidiano e tem como consequência o
agravamento do desafio de combater os transtornos psicológicos.

De início, é notório que existe uma grande dificuldade em debater as


questões mentais no mundo atual. Essa situação é exemplificada em um
episódio de 2019 do seriado americano “One day at a time”, em que Penelope
teme ser julgada por sua família se compartilhar seu diagnóstico de
ansiedade, mesmo quando sua filha Elena demonstra sinais de que também
apresenta a doença. Ainda que a cena se passe nos Estados Unidos, o
contexto retratado é muito comum na sociedade brasileira, em que o medo
de ter sua condição desmerecida e considerada irrelevante impede a
discussão sobre essa temática pelos cidadãos na sua vida diária. Isso alimenta
a formação de um estigma, já que as pessoas acometidas por esses
transtornos se isolam da comunidade por esse receio e passam a ser
consideradas estranhas pela sociedade ao seu redor.

Por conseguinte a identificação e o combate das enfermidades mentais


são dificultados. Isso ocorre porque, de acordo com o psiquiatra Neury
Botega, os sintomas mais comuns das principais fragilidades psicológicas são
parecidos com os de outras condições menos graves, como a TPM. Desse
modo, como as doenças mentais são estigmatizadas e não debatidas entre os
habitantes do Brasil, quando um cidadão começa a apresentar os sintomas,
ele é mais propenso a pensar que se trata de algo corriqueiro, que não merece
muita atenção, e falha em procurar ajuda especializada. Porém, sem o
tratamento específico e precoce, os desequilíbrios da mente se tornam
extremamente incapacitantes, prejudicando a saúde física, a disposição, a
qualidade de vida e até a longevidade dos afetados.

Logo, tendo em vista o estigma associado às doenças mentais presente


na sociedade brasileira, é mister que o Ministério da Saúde promova
campanhas midiáticas para conscientizar a população sobre a gravidade
dessas enfermidades. Essas campanhas deverão ser feitas com vídeos e
publicações nas redes sociais, utilizando profissionais de saúde que
expliquem o que são esses transtornos, quais os seus sintomas e como
procurar tratamento, em linguagem clara e acessível. Ademais, é necessário
que essas ações visem combater as desinformações acerca da problemática
presentes no senso comum, incentivando a conversa sobre o tema em todos
os setores do país. Assim, será possível amenizar o estigma existente e ajudar
aqueles acometidos pelas doenças."

41
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Abordagem e desenvolvimento do tema construídos com maestria!

Quando lemos o texto da Julia temos a sensação de que ela estudou a fundo o
tema! Isso é possível devido à forma como ela discorre sobre as problemáticas
que o envolvem, indo, muitas vezes, além do que ela se propôs a falar no
parágrafo. Ou seja, em seus parágrafos de argumentação, ela não apenas
explica os problemas que apresentou lá no 1º parágrafo do texto, como
também complementa-os com consequências e análises que nos levam a
diversas reflexões.

Este texto nos permite ter uma visão completa do tema e não apenas um
pequeno recorte. Já informo que não é simples fazer isso, pelo contrário, é
arriscado, pois podemos ampliar demais nossa argumentação, deixarmos
pontas soltas e acabarmos fugindo do nosso objetivo principal. Mas esse não
foi um problema para Julia, ela desafiou e deu certo! Repare no que ela fez:

1. Para a apresentação do tema, há uma explicação do porquê existir um


número alto de pessoas com doenças mentais hoje em dia, ou seja, há
um olhar cuidadoso para a causa do problema e uma explicação
detalhada disso. Ao final, há, ainda, uma consequência de tal situação.

2. Em seguida, surge uma explicação relacionada às dificuldades de se


lidar com a causa do estigma na sociedade. Há um repertório que
retrata o problema nos Estados Unidos, e na sequência a Julia traz a
questão para o Brasil, não dizendo apenas “o mesmo acontece no
Brasil”, mas sim apresentando o porquê disso acontecer no país, qual é
a consequência dessa situação e trazendo uma explicação detalhada
dessa consequência.

3. Agora faça o teste: leia o segundo parágrafo de argumentação (3º do


texto) e veja como ela vai conduzindo nossa leitura e fazendo com que
concordemos com as reflexões feitas, devido às explicações detalhadas
e claras que ela apresenta.

4. Ao final do texto, sentimos que a Julia conseguiu nos convencer por


completo daquilo que ela tinha apenas apresentado no 1º parágrafo.

Foi uma boa condução do leitor durante o texto, Ju, merece palmas!

42
Julia Vieira
18 anos | Imperatriz - MA | @juliaavvieira

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

43
Transcrição

"No filme estadunidense “Coringa”, o personagem principal, Arthur Fleck,


sofre de um transtorno mental que o faz ter episódios de riso exagerado e
descontrolado em público, motivo pelo qual é frequentemente atacado nas ruas.
Em consonância com a realidade de Arthur, está a de muitos cidadãos, já que o
estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira ainda configura
um desafio a ser sanado. Isso ocorre, seja pela negligência governamental nesse
âmbito, seja pela discriminação dessa classe por parcela da população
verde-amarela. Dessa maneira, é imperioso que essa chaga social seja resolvida, a
fim de que o longa norte-americano se torne apenas uma ficção.

Nessa perspectiva, acerca da lógica referente aos transtornos da mente no


espectro brasileiro, é válido retomar o aspecto supracitado quanto à omissão
estatal nesse caso. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é o
país com maior número de casos de depressão da América Latina e, mesmo
diante desse cenário alarmante, os tratamentos às doenças mentais, quando
oferecidos, não são, na maioria das vezes, eficazes. Isso acontece pela falta de
investimentos em centros especializados no cuidado para com essas condições.
Consequentemente, muitos portadores, sobretudo aqueles de menor renda, não
são devidamente tratados, contribuindo para sua progressiva marginalização
perante o corpo social. Esse contexto de inoperância das esferas de poder
exemplifica a teoria das Instituições Zumbis, do sociólogo Zygmunt Bauman, que
as descreve como presentes na sociedade, mas que não cumprem seu papel com
eficácia. Desse modo, é imprescindível que, para a completa refutação da teoria
do estudioso polonês, essa problemática seja revertida.

Paralelamente ao descaso das esferas governamentais nessa questão, é


fundamental o debate acerca da aversão ao grupo em pauta, uma vez que ambos
representam impasses para a completa socialização dos portadores de
transtornos mentais. Esse preconceito se dá pelos errôneos ideais de felicidade
disseminados na sociedade como metas universais. Entretanto, essas concepções
segregam os indivíduos entre os “fortes” e os “fracos”, em que os fracos,
geralmente, integram a classe em discussão, dado que não atingem os objetivos
estabelecidos, tal como a estabilidade emocional. Tal conjuntura segregacionista
contraria o princípio do “Espaço Público”, da filósofa Hannah Arendt, que defende
a total inclusão dos oprimidos — aqueles que possuem algum tipo de transtorno,
nesse caso — na teia social. Dessa maneira, essa celeuma urge ser solucionada,
para que o princípio da alemã se torne verdadeiro no país tupiniquim.

Portanto, são essenciais medidas operantes para a reversão do estigma


associado às doenças mentais na sociedade brasileira. Para isso, compete ao
Ministério da Saúde investir na melhora da qualidade dos tratamentos a essas
doenças nos centros públicos especializados de cuidado, destinando mais
medicamentos e contratando, por concursos, mais profissionais da área, como
psiquiatras e enfermeiros. Isso deve ser feito por meio de recursos liberados pelo
Tribunal de Contas da União — órgão que aprova e fiscaliza feitos públicos—, com
o fito de potencializar o atendimento a esses pacientes e oferecê-los um
tratamento eficaz. Ademais, palestras devem ser realizadas em espaços públicos
sobre os malefícios das falsas concepções de prazer e da importância do
acolhimento das pessoas doentes e vulneráveis. Assim, os ideais inalcançáveis não
mais serão instrumentos segregadores e, finalmente, a situação de Fleck não
mais representará a dos brasileiros."

44
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Acréscimo de observações que fazem a diferença nos períodos!

A Julia consegue utilizar muito bem as palavras em prol de sua opinião.


Certamente ela sabe intercalar as frases e dar ênfase naquilo que deseja
chamar a atenção! Vamos analisar um trecho em que, por meio do acréscimo
de observações, a análise se torna muito mais interessante e completa:

“Nessa perspectiva, acerca da lógica referente aos transtornos da


mente no espectro brasileiro, é válido retomar o aspecto supracitado
quanto à omissão estatal nesse caso.”

Repare que ela poderia ter escrito simplesmente: “Nessa perspectiva, é válido
retomar a questão relacionada à omissão estatal nesse caso.” Se eu retiro as
frases que estão entre as vírgulas e que servem para
esclarecer/complementar as informações para o leitor, tenho apenas um
trecho simples, sem muita elaboração. Retirei um trecho que retoma um
ponto que já tinha sido tratado antes no texto: “acerca da lógica referente aos
transtornos da mente no espectro brasileiro”. Troquei, ainda, algumas palavras
para mostrar que a escolha do vocabulário também torna o texto mais/menos
atrativo: “aspecto supracitado quanto” por “a questão relacionada”.

No trecho seguinte, vemos, novamente, um bom acréscimo de observações


feito pela Julia, visando sempre deixar as informações bem claras e
acompanhadas de sua opinião. Destaco as partes que ela acrescenta e que
causam esse efeito:

“[...] o Brasil é o país com maior número de casos de depressão da


América Latina e, mesmo diante desse cenário alarmante, os
tratamentos às doenças mentais, quando oferecidos, não são, na
maioria das vezes, eficazes.”

Façam o teste: tirem os trechos em destaque e vejam como o texto fica pobre
em informação. E assim ocorrerá em todo o texto: sempre que pode, ela coloca
uma observação entre os períodos e enriquece sua argumentação!

Gostaria de chamar a atenção para uma situação específica que ocorre nesta
redação: quando aparece o trecho “a fim de que o longa norte-americano se
torne apenas uma ficção” (fim do 1º parágrafo), faltou esclarecer que, na
verdade, o desejo da Julia era de que o ocorrido com Arthur Fleck, no longa
norte-americano, se tornasse apenas ficção, e não o longa metragem inteiro,
porque ele já é uma ficção. Ou seja, faltou especificar a questão do
personagem para que a frase ficasse mais coerente. É um deslize muito
pontual que não prejudicou o texto. Como não há outros pontos assim na
redação, o projeto de texto não perdeu nota. Ju, arrasou!

45
Larissa Cunha
21 anos | Maricá - RJ | @jalecoinformativo

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

46
Transcrição
"Na obra “O Alienista”, o autor Machado de Assis aborda a questão das
doenças mentais, já no período do Realismo literário - século XIX, - por meio do
personagem Doutor Bacamarte. No enredo, nota-se o empenho do protagonista
de aprisionar os diagnosticados na “Casa Verde”, local que se assemelha aos
manicômios, na tentativa de isolá-los da sociedade. Apesar do ínterim entre a
publicação do livro e o contexto hodierno, percebe-se que as doenças de cunho
psíquico ainda são estigmatizadas no Brasil. Nesse viés, torna-se crucial analisar
as causas desse revés, dentre as quais se destacam a omissão do Estado e o
preconceito da sociedade.

De início, é imperioso notar que a indiligência do governo potencializa os


estigmas associados às doenças mentais. Depreende-se que, na obra “Os
Bruzundangas”, o pré-modernista Lima Barreto já expunha que a ausência das
garantias constitucionais estava no âmago das problemáticas daquela nação. Sob
essa ótica, sua tentativa de criar um país fictício com os mesmos entraves do
Brasil é ratificada, sobretudo no que tange ao precário engajamento estatal para
com as doenças mentais, uma vez que a saúde é um direito previsto pela
Constituição Cidadã e tal cláusula não é garantida de forma efetiva. Isso ocorre
devido ao caráter esporádico de campanhas de conscientização a respeito da
necessidade do diagnóstico e do tratamento das enfermidades psíquicas, que se
apresentam restritas aos meses de destaque ao combate da depressão e do
suicídio, por exemplo. Por conseguinte, parte substancial dos brasileiros ainda
percebe as doenças mentais como estigma, o que contribui para a ínfima busca
por tratamento. Destarte, fica nítido que a negligência do Estado dificulta a
atenuação dos problemas relativos às enfermidades psíquicas.

Ademais, é justo perceber que o preconceito da sociedade contribui para o


estigma associado às doenças mentais. De acordo com a autora Daniela Arbex,
em sua obra “Holocausto Brasileiro”, o tratamento das pessoas com doença
mental no hospital "Colônia" era semelhante ao massacre dos campos de
concentração do regime nazista, principalmente pela perda da dignidade
humana. Nesse sentido, é possível inferir que, mesmo após o fechamento desse
centro de saúde, o caráter documental do livro ainda ilustra o modo como a
sociedade brasileira lida com a população vítima das enfermidades psíquicas,
visto que a marginalização dos doentes mentais ainda é uma tônica no país. A
gênese desse quadro encontra-se no modo errôneo com que boa parte dos
cidadãos lidam com tais patologias, vide sua descaracterização como verdadeiras
e sérias doenças. Em decorrência disso, muitas pessoas marginalizam os
diagnosticados com doenças como o transtorno bipolar e a ansiedade,
tratando-os de forma desrespeitosa. Dessa forma, a mudança do comportamento
social é vital para atenuar o legado de massacre dos doentes mentais que
ocorrera no hospital "Colônia".

Torna-se evidente, portanto, que o estigma associado às enfermidades


mentais ocorre devido à omissão do governo e ao preconceito da sociedade. Para
contornar esse problema, caberá à União o estímulo ao tratamento, por meio do
maior repasse de verbas aos posto (sic) de saúde, as quais serão destinadas para a
realização de campanhas, em todo o decorrer dos anos, que abordem como tema
principal a necessidade do combate às doenças mentais. Essa medida tem o afã
de tornar efetivo o tratamento das doenças psíquicas. Outrossim, é dever do
Ministério da Educação coibir o preconceito, por intermédio do aprimoramento
da Lei de Diretrizes e Bases, que incluirá a disciplina "Cidadania" na grade escolar,
com o fito de formar jovens engajados com a causa e, com isso, banir a
marginalização. Assim, finalmente, criar-se-á um Brasil livre das heranças do
Realismo no tratamento para com a sua população doente."

47
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Boa leitura = bons repertórios!

O texto da Larissa é um ótimo exemplo de como a literatura pode ser uma


forte aliada na construção dos seus argumentos. Normalmente, os alunos
dividem os repertórios em filmes/séries/filósofos/livros/fatos históricos. A Lari,
do início ao fim, faz uso de obras literárias, com explicações na medida certa,
ou seja, sem ocupar todo o parágrafo contando uma história, ao mesmo
tempo em que não deixa de contextualizar informações importantes. Lidar
com obras literárias é muito interessante e exige um bom conhecimento
daquilo que se apresenta. Vamos ver como ela fez?

1. A 1ª obra é "O Alienista", de Machado de Assis. Aqui vemos uma apresentação


do personagem, seguida de um breve resumo do enredo com ênfase na época
em que a obra foi escrita. Isso dá margem para a comparação feita em
seguida: apesar da obra se passar no século XIX, ainda vemos os mesmos
problemas hoje em dia (século XXI). Vejam que a escolha do repertório não é
apenas por se adequar ao tema, mas também pela reflexão que a obra
permite fazer por meio da comparação temporal.

2. A 2ª obra é "Os Bruzundangas", de Lima Barreto. Aqui dá-se ênfase à


intencionalidade da obra, ou seja, falar sobre a ineficiência da aplicação da
Constituição. Isso se relaciona perfeitamente com o fato do Estado não dar a
devida atenção à questão das doenças mentais e, portanto, não garantir o
direito à saúde da população, como determina a Constituição. Ao citar a obra
de Lima Barreto, Larissa mostrou que tanto no início do século XX — época em
que o livro foi escrito — quanto hoje em dia, há um descaso estatal com os
direitos previstos na Constituição.

3. A 3ª obra é "Holocausto Brasileiro", de Daniela Arbex. Aqui vemos uma


abordagem acerca do tratamento dado às pessoas com doenças mentais. O
livro fala sobre as atrocidades cometidas dentro de um manicômio em Minas
Gerais entre os anos 1930 e 1980. Larissa utilizou esse repertório devido à
marginalização das pessoas com doenças mentais por meio de inúmeros atos
de extrema desumanização, o que pode ser visto não só na obra do século XX,
como também hoje em dia.

Uma observação interessante é que as obras foram citadas em uma ordem


temporal de acontecimentos: começa no século XIX, passa pelo início do XX e
termina nos anos 1930-80. Não sei se foi intencional, mas ficou bem coerente!

A utilização da literatura permite, além de um link do enredo com o problema


do tema, uma análise histórica, visto que uma obra literária, muitas vezes,
reflete características sociais/culturais da época em que é escrita. Logo,
podemos dizer que foi uma ótima estratégia de argumentação da Larissa.
Parabéns, Lari!

48
Ludmila Coelho
18 anos | Vitória - ES | @ludmilacoelho_

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

49
Transcrição

"Na obra “O alienista”, de Machado de Assis, a narrativa introduz a


temática de saúde mental e dos transtornos psíquicos, abordando as
dificuldades e os preconceitos sofridos por pessoas com doenças
psiquiátricas. Embora seja uma obra ficcional, a produção literária possui,
infelizmente, verossimilhança notável, uma vez que apresenta um tema de
elevada relevância e de apregoada presença na sociedade brasileira: o
estigma associado às doenças mentais. Diante desse cenário, é imperioso
ressaltar fatores que contribuem para a problemática, dando destaque à
negligência estatal e ao papel das redes sociais.

Primeiramente, cabe destacar que a saúde é um direito assegurado


constitucionalmente a todos os cidadãos brasileiros. Nesse viés, é pertinente
trazer o discurso do escritor Gilberto Dimenstein, de seu livro “Cidadão de
papel”, no qual ele conceitua os cidadãos de papel—indivíduos cujos direitos
constitucionais não são garantidos na prática. Dessa forma, depreende-se que
os tratamentos precários oferecidos pelo Estado ferem os direitos da parcela
da população que necessita de atendimento psiquiátrico adequado,
deixando-a na condição inaceitável descrita por Dimenstein.

Outrossim, é válido explicitar o papel das redes sociais na intensificação


do estigma relativo a distúrbios mentais. Nesse sentido, o documentário “O
dilema das redes” revela a maldade da utilização dessas redes sociais, visto
que ele retrata a dicotomia entre a exposição exagerada da vida de usuários e
a restrição do conteúdo compartilhado, que mostra apenas os melhores
aspectos da vida deles. Consecutivamente, tal cenário fomenta os indivíduos a
omitirem seus problemas, silenciando problemas como as doenças mentais.
Desse modo, a falta de exposição e discussão da temática resulta no
agravamento do preconceito contra doentes psíquicos.

Portanto, são necessárias medidas capazes de mitigar a problemática.


Para tanto, urge que, a fim de garantir um serviço de saúde de qualidade a
todos os cidadãos, o Ministério da Saúde, por meio do direcionamento de
verbas governamentais, crie centros especializados no tratamento de doentes
mentais, de modo a incentivar as pessoas a buscarem ajuda médica e
democratizar o acesso à saude. Ademais, o Ministério da Educação deve
proporcionar rodas de conversa nas escolas por intermédio de um programa
nacional de combate à discriminação da saúde mental, evitando seu
silenciamento e motivando maior conhecimento acerca do assunto. Assim, a
realidade brasileira poderá ser diferente do contexto apresentado em “O
alienista”."

50
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Diferentes formas de relacionar o repertório com o tema!

Ludmila mostrou que não se encaixa no grupo dos participantes que utilizam
todos os repertórios da mesma forma ou que escolhem somente um tipo de
repertório ― o que também não é errado, é só mais uma dentre tantas
estratégias que os estudantes escolhem.

Em seu texto, ela utiliza desde repertórios que discutem diretamente o tema
("O alienista" – 1º parágrafo), até repertórios que inicialmente não se articulam
com a temática, mas que, por meio da relação de sentido feita pela
participante, passam a ser pertinentes ao tema e bem desenvolvidos
("Cidadão de papel" e "O dilema das redes"). Essa é uma estratégia muito
interessante, pois muitas vezes você não consegue encontrar um repertório
relacionado diretamente ao tema e se frustra com isso.

A Ludmila foi pelo caminho inverso da maioria ao citar a obra "Cidadão de


papel" e o documentário “O dilema das redes”, pois ambos não discutem
sobre estigma ou doença mental, mas permitem que seja traçada uma linha
coerente entre eles e os elementos do tema. A participante conseguiu
estabelecer uma relação entre a obra "Cidadão de papel" e a questão das
doenças mentais por meio de um elemento que as une: a Constituição. A
reflexão é simples: segundo a Constituição, todo cidadão tem direito à saúde,
mas se tem crescido o número de doenças mentais, fica claro que esse direito
não ocorre na prática, apenas no papel. A obra "Cidadão de papel" fala
exatamente de direitos que só existem no papel. Pronto, temos um link feito!

Com o documentário "O dilema das redes", acontece a mesma situação:


apesar do tema central não ser sobre estigma ou doença mental, é possível
estabelecer o link a partir da ideia de que o documentário trata de assuntos
que intensificam o aparecimento de doenças mentais e aumentam o
preconceito. Além disso, devido ao fato das redes sociais não abrirem espaço
para dificuldades e vulnerabilidades dos usuários, automaticamente não se
tem uma brecha para falar sobre as doenças mentais.

Para utilizar tal estratégia, é preciso conseguir explicar com clareza em seu
texto sobre a relação que você está tentando estabelecer entre o repertório e
o tema da redação.

Ludmila já deixou claro que é mestra no assunto!

51
Luiz Pablo Oliveira
23 anos | Aracaju - SE | @luiiizpablo

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

52
Transcrição

"O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de pessoas com depressão


na América Latina, segundo a OMS. No entanto, tem-se observado que -
apesar dessa alarmante realidade - a sociedade brasileira ainda apresenta
estigmas relacionados às doenças mentais. Isso decorre, sobretudo, devido à
lacuna educacional e ao silenciamento acerca das patologias psíquicas. Desse
modo, é evidente a premência de sanar a problemática em questão.

Diante desse cenário, é fulcral reconhecer que a ignorância sobre os


transtornos mentais é uma das causas da existência desses paradigmas. A
respeito desse contexto, é válido rememorar a ideia associada ao filósofo
Francis Bacon, a qual relaciona o conhecimento ao poder, isto é, afirma que o
saber fornece meios para alterar o panorama vivido. Nesse sentido, é
transparente que – por desconhecerem os sintomas, os procedimentos e as
doenças mentais - os indivíduos não buscam ajuda e agravam, ainda mais, o
seu quadro. Logo, é notória a necessidade de educar a sociedade brasileira
para que essa conjuntura seja atenuada e preconceitos sejam quebrados.

Ademais, é visível que as doenças mentais são verdadeiros tabus para


os cidadãos do Brasil e essa é outra motivação para a perpetuação desse
problema. Nesse viés, é mister ressaltar o pensamento do sociólogo Habermas
quanto à fala, pois ele acredita que o debate é o caminho para a melhoria na
qualidade de vida da população. A par desse raciocínio, é possível constatar
que a falta de diálogo só dificulta a vida dos doentes, porque eles se
bloqueiam em conversas sobre o tema por temerem a reação de outrem.
Semelhantemente ao retratado na série "Grey's Anatomy”, que apresentou o
receio em falar do transtorno psicológico que estava sofrendo, por conta do
medo de ser segregada e descredibilizada em seu ambiente de trabalho.
Dessa forma, é essencial que essa temática seja debatida, objetivando o fim
do desconhecimento e do preconceito no que se refere a essas patologias.

Destarte, para que o Brasil reduza suas posições em relação ao ranking


das doenças mentais, faz-se necessário que o Ministério da Saúde
implemente campanhas publicitárias e palestras - de caráter informativo e
conscientizador - sobre saúde mental. Essas ações se concretizarão por meio
da mídia- através de reportagens, de comerciais e de exposições em novelas-,
como também das escolas- por intermédio de aulas temáticas e de debates
sobre o assunto-, a fim de possibilitar informação a todos, visando à mitigação
eficiente e rápida dos preconceitos sobre os transtornos psicológicos,
consoante afirmou o filósofo Bacon."

53
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Diferenciação na escolha das problemáticas!

No texto do Luiz, vamos analisar a escolha das seguintes problemáticas:

1. a lacuna educacional da população


2. o silenciamento acerca das patologias psíquicas

Destaquei esses pontos, pois normalmente uma das problemáticas dos textos
envolve diretamente o Estado/Governo, porque os estudantes tendem a se
sentirem mais seguros quando podem embasar as causas dos problemas em
instituições que deveriam evitá-las, como o Governo. Já o Luiz foi por outro
caminho: decidiu não falar diretamente da alçada governamental, mas sim de
outros pontos que envolvem o tema, e se saiu muito bem, mostrando que é
possível falar do tema sem ficar preso a discussões que envolvem o Governo.

Para a problemática 1, ele afirma que a sociedade desconhece as questões


relacionadas aos transtornos mentais, não busca ajuda e acaba por agravar o
problema. Vejam que ele joga a questão para a ignorância da população. Claro
que, ao final do texto, ele direciona a solução deste problema para um
responsável que domina o assunto ― o Ministério da Saúde ―, mas não
embasa a argumentação em cima da falta de ações governamentais, como é
comum aparecer em muitos textos. Acredito que isso seja um diferencial em
seu texto.

Para a problemática 2, ele fala a respeito da falta de diálogo sobre as doenças


mentais entre a população, o que dificulta a quebra do preconceito em
relação ao tema. Novamente, o Luiz prefere pautar a argumentação numa
esfera social do problema, o que deu muito certo.

Destaquei essas observações para mostrar que você não é obrigado a citar o
Governo para tudo! Dá para ampliar um pouquinho mais o olhar e trazer
outras estratégias de argumentação.

Parabéns, Luiz!

54
Maria Julia Passos
20 anos | Niterói - RJ | @majupassos_

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

55
Transcrição

"A obra “O Holocausto brasileiro”, da escritora e jornalista Daniela Arbex,


retrata as péssimas condições do maior hospital psiquiátrico do país, na cidade de
Barbacena. Nesse livro, os pacientes são tratados por meio de métodos arcaicos e
invasivos, desde agressões até choques elétricos, demonstrando a violência
sofrida por indivíduos portadores de transtornos psíquicos. Assim, além de expor
os abusos do sistema de saúde da época, o texto também é muito atual, uma vez
que o preconceito e a omissão estatal perpetuam o estigma associado às doenças
mentais.

Em primeiro lugar, cabe ressaltar que a desinformação da sociedade


brasileira é o principal catalisador da discriminação. De fato, o avanço da
tecnologia é responsável pela rápida disseminação de notícias, principalmente no
mundo digital, mas isso não significa que os cidadãos se encontram mais
conscientes. Dessa forma, mesmo que diversos estudos atuais comprovem a
relevância dos cuidados para com a saúde mental e a legitimidade dos distúrbios
psicológicos, os flagelos da intolerância ainda se mostram presentes.
Consequentemente, os indivíduos com depressão, ansiedade ou outras condições
especiais convivem em um ambiente degradante, o qual é marcado por
preconceitos e tabus estruturais, enfrentando constantemente a invisibilidade
social. De acordo com a escritora nigeriana Chimmamanda Adichie, a rotulação
das pessoas através de certa característica física marcante é responsável pela
criação de histórias únicas que não representam a realidade. Nesse viés, ao criar
estigmas baseados no estereótipo de que pessoas com doenças mentais seriam
inferiores ou incapazes, a sociedade míope alimenta uma visão eugenista e tóxica,
limitando as diversas possibilidades de manifestação do ser humano e a
importância da pluralidade.

Ademais, a ausência de compromisso do Estado para com a saúde mental


dos cidadãos é outro ponto que fomenta a problemática. De certo, a falta de
incentivos na área da psiquiatria e na acessibilidade é a realidade da política do
país, resultando nos diagnósticos tardios e na própria exclusão de uma parcela
significativa da sociedade. Segundo o filósofo John Rawls, em sua obra “Uma
teoria da justiça”, um governo ético é aquele que disponibiliza recursos
financeiros para todos os setores públicos, promovendo uma igualdade de
oportunidades a todos os cidadãos. Sob essa óptica, torna-se evidente que o
Brasil não é um exemplo do pensamento desse teórico, visto que negligencia as
dificuldades enfrentadas pelos portadores de doenças mentais, submetendo-os à
periferia da cidadania.

Fica exposta, portanto, a necessidade de medidas para mitigar o estigma


associado aos transtornos psíquicos. Destarte, as Secretarias de Educação devem
desenvolver projetos nas escolas, por meio de palestras e de dinâmicas
educativas, levando médicos e pacientes para debaterem sobre o preconceito
enfrentado no cotidiano, uma vez que o depoimento individual sensibiliza os
estudantes, com a finalidade de ultrapassar estereótipos negativos. Outrossim, o
Ministério da Saúde deve redistribuir as verbas, priorizando as áreas da psiquiatria
e psicologia, direcionando maiores investimentos nesse setor negligenciado pelo
Estado. Por fim, será possível criar um país mais democrático, afastando a
realidade dos absurdos retratados na obra da escritora Daniela Arbex."

56
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Palavras que marcam o ponto de vista!

A Maria Julia sabe muito bem marcar a sua opinião dentro do texto. Durante
toda a sua argumentação, ela faz uso de algumas expressões que reforçam a
sua tese. Esse é um ponto importante do texto dissertativo-argumentativo,
pois, ao ler a sua redação, o avaliador precisa enxergar explicitamente a sua
opinião, do começo ao fim. A estratégia da Maju foi: avaliar com adjetivos o
máximo possível daquilo que estiver falando. Vamos ver alguns trechos.

No 1º parágrafo, ela diz:

“[...] os pacientes são tratados por meio de métodos arcaicos e


invasivos, desde agressões até choques elétricos [...]”

Os adjetivos “arcaico” e “invasivo” marcam uma colocação de ponto de vista


da Maria Julia. Retire os adjetivos e veja como o trecho perde poder de
argumentação: “os pacientes são tratados por meio de agressões e choques
elétricos”. Repare como muitas vezes temos a oportunidade de colocar nossa
opinião no texto, mas não prestamos atenção. A Maria Julia não perdeu tempo
e já deu um jeitinho de destacar uma avaliação.

No 2º parágrafo, vemos o trecho:

“[...] os indivíduos com depressão, ansiedade ou outras condições


especiais convivem em um ambiente degradante [...]”

O termo “degradante” é uma marca clara da opinião da autora. O mesmo


acontece com o trecho:

“[...] a sociedade míope alimenta uma visão eugenista e tóxica [...]”

...em que as palavras “míope”, “eugenista” e “tóxica” cumprem com a função


de trazer um ponto de vista da participante.

Perceba que todos esses trechos poderiam ser escritos sem essas marcas de
opinião, mas tornariam o texto menos expressivo/argumentativo. Atente-se à
forma como eles deixam claro o ponto de vista no decorrer da redação. A
Maria Julia avaliou as informações o máximo que pode, o que, com certeza,
contribuiu para a sua nota 1000.

Parabéns, Maju!

57
Matheus Vitorino
21 anos | Maceió - AL | @medicinathings

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

58
Transcrição

"A série "13 Reasons Why", pertencente ao catálogo da Netflix, narra a


história de Hanna Backer: vítima de "bullying" no colégio, a jovem, que não
teve amparo nem da escola e nem do Estado, comete suicídio. Fora da ficção,
especialmente no Brasil, país mais depressivo da América Latina, cenas como
essa são comuns, cada vez mais, devido ao estigma atribuido às doenças
mentais. Dessa forma, urge analisar as causas, as consequências e desenvolver
estratégias concretas para reverter esse quadro.

Diante desse cenário, sabe-se que, no ambiente escolar, existe uma


carência na abordagem básica - quais são, como se manifestam e o que fazer
- das doenças psicossomáticas. Isso porque a Base Nacional Comum
Curricular não apresenta uma disciplina que aborde tal temática. Segundo
Rubem Alves, importante educador brasileiro, as escolas podem ser
comparadas a asas ou a gaiolas, ou seja, podem proporcionar voos ou
condições de alienação. Nesse sentido, os colégios funcionam como gaiolas,
pois permitem que os estudantes permaneçam desprovidos de informações
pertinentes sobre as patologias mentais. Consequentemente, muitas pessoas
passam a estereotipar e a discriminar quem precisa de ajuda e, assim, ao
banalizar o sentimento e o sofrimento do outro, de modo a reduzir a
“frescura”, essa estigmatização perversa dificulta - ainda mais - a procura de
ajuda profissional (psicólogos e psiquiatras), como aconteceu com a
protagonista da série.

Além disso, nota-se que o Estado também contribui para a persistência


do estigma em relação às doenças mentais, haja vista que não estimula o
autoconhecimento e pouco investe na contratação de profissionais
especializados. De acordo com o filósofo Friedrich Hegel, o Estado deve
proteger os seus filhos. Entretanto, a prática deturpa a teoria, pois, apesar da
existência do “Setembro Amarelo”, campanha que incentiva a valorização da
vida, nos demais meses, pouco (ou nada) é feito para ensinar às pessoas que
ninguém é perfeito, que todos temos limitações e a importância de saber
procurar ajuda. O fator preocupante é que as Unidades Básicas de Saúde,
muitas vezes, não possuem psicólogos e psiquiatras para ajudar a quem,
porventura, precisar.

Portanto, o Ministério da Educação deve, com urgência, iniciar a


abordagem das doenças mentais nas escolas, por meio de uma alteração na
BNCC, a qual insira uma disciplina específica ou inclua, nos demais meses do
ano, palestras e simpósios, ministrados por especialistas, a fim de reduzir os
estigmas e, assim, estimular a promoção de autoconhecimento. Ademais,
compete ao Ministério da Saúde ampliar os investimentos em saúde mental, a
partir do aumento do salário dos psicólogos e dos psiquiatras das Unidades de
Saúde. Dessa maneira, o Estado poderá proteger, de fato, os seus filhos e
evitar finais trágicos, como o de Hanna Backer."

59
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Texto repleto de estratégias!

Na redação do Matheus, vemos uma série de estratégias para relacionar as


informações e manter a coerência textual. Vamos analisar algumas delas:

1. Matheus escolheu apresentar o tema por meio da série "13 Reasons


Why". A maneira como ele utiliza o repertório para mostrar as
problemáticas é interessante — ele contextualiza a série e já insere as
problemáticas do texto na contextualização, enquanto ainda fala da
história, trazendo uma relação completa da série com a vida real:

“a jovem, que não teve amparo nem da escola e nem do Estado, comete suicídio”

A relação se torna ainda mais completa devido ao fato do Matheus


conseguir trazer uma série em que a personagem sofre diretamente
com a falta de apoio da escola. Assim, o leitor já fica sabendo, de uma
maneira muito natural, que o texto abordará a falta de amparo da
escola e do Estado em relação às doenças mentais.

2. No 2º parágrafo, há uma abordagem acerca da gestão escolar em


relação ao tema “doenças mentais”. Aqui vemos como a falta de
informação, num local que deveria discutir a temática citada, gera a
proliferação de estigmas. Para elucidar isso, Matheus cria uma relação
entre a ideia de Rubem Alves — que escolas podem ser comparadas a
asas ou gaiolas — e a má administração das escolas, associada aqui às
gaiolas. A estratégia fica ainda mais interessante quando ele retoma o
que foi vivido pela personagem da série 13RW para mostrar as
consequências dessa falta de apoio da instituição escolar. Retomou um
repertório e ainda o conectou com outra parte do texto!

3. No 3º parágrafo, ele utiliza a estratégia da contra-argumentação. Ele


escolhe citar a campanha do “Setembro Amarelo” para mostrar que,
mesmo existindo algo que teoricamente deveria auxiliar no problema —
mostrou o lado oposto de seu ponto de vista —, o que se vê é uma
movimentação mínima ou nula para resolver de fato a situação — ponto
de vista mais forte quebrando o argumento anterior.

4. Por último, Matheus cria a proposta de intervenção e novamente faz


um link com a série “13 Reasons Why" ao citar que a ação sugerida
evitará finais trágicos como o da personagem da série.

Apenas um detalhe: no 1º parágrafo, aparece "nem da escola e nem do


Estado". O correto seria o uso da vírgula, com "nem da escola, nem do Estado".
Já que não há outros desvios, não houve perda de nota. Matheus, você
mandou muito bem!

60
Nathaly Nobre
19 anos | Maceió - AL | @nathalynobre

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

61
Transcrição

"A obra cinematográfica brasileira “Nise: O Coração da Loucura” retrata


a luta de Nise da Silveira pela redução dos estigmas nas alas psiquiátricas e
nas formas de tratamento enfrentadas por pacientes com enfermidades
mentais, na medida em que desumanizavam estes. Nesse contexto, é
evidente a perpetuação do preconceito em relação às doenças psíquicas, pois
são, em sua maioria, menosprezadas e omitidas no cenário hodierno do Brasil.
Assim, faz-se necessário investir em educação voltada à questão da saúde
mental, bem como romper com paradigmas da forma de vida
contemporânea.

A princípio, sob a óptica do filósofo grego Aristóteles, a educação é um


caminho fundamental para a formação da vida pública, à proporção que
coopera para o bem-estar da cidade. Diante dessa perspectiva, a manutenção
da estrutura deficitária da propagação de conteúdo de saúde mental, na
sociedade brasileira, agrava o desenvolvimento de doenças psíquicas, visto
que retira do cidadão o acesso ao conhecimento. Portanto, a não ministração
de aulas e de eventos os quais abordem sobre essa temática promove,
lamentavelmente, a disseminação de tabus falaciosos e a redução da busca
por tratamento adequado — ao passo que o crescimento das enfermidades é
avassalador.

Além disso, o modo de vida extremamente exaustivo atual é catalisador


da problemática, uma vez que nega o cultivo das práticas do autocuidado em
prol do máximo rendimento. De maneira análoga, de acordo com Byung-Chul
Han, filósofo sul-coreano, em seu ensaio “Sociedade do Cansaço”, vive-se a
insana procura do ser humano pela alta produtividade em quaisquer meios,
mesmo que retire dele os prazeres e a sanidade física e mental. Destarte, há a
banalização do aspecto psíquico, porquanto é visto como desnecessário na
vivência hodierna e, por conseguinte, a ansiedade e a depressão são
absurdamente neutralizadas em razão das poucas políticas públicas
incentivadoras e conscientizadoras.

Logo, cabe ao Ministério da Educação o investimento em aulas


específicas sobre a saúde mental, por meio de Planos Nacionais da Educação
e de eventos tanto escolares quanto ao grande público, haja vista a
importância do máximo alcance possível, com a ministração de psicólogos e
psiquiatras, a fim de garantir a visão aristotélica e de romper com os tabus
preconceituosos. Ademais, o Estado deve promover políticas públicas de
incentivo ao autocuidado, a exemplo de espaços destinados ao convívio
humano e ao bem-estar, com o fito de quebrar com os paradigmas
vivenciados por Nise da Silveira."

62
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Acréscimo de conetivos = parágrafos bem desenvolvidos!

O texto da Nathaly chama a atenção pelo bom desenvolvimento de seus


parágrafos. Isso é possível devido ao acréscimo de conectivos após cada
informação: não vemos um texto expositivo, com ideias não desenvolvidas,
justamente pela estrutura do raciocínio criada em cada parágrafo. Vamos
analisar o segundo parágrafo de desenvolvimento (3º do texto):

Logo na primeira linha, vemos uma afirmação:

"Além disso, o modo de vida extremamente exaustivo atual é


catalisador da problemática [...]”

Muitos alunos colocariam um ponto final aqui, pois pensariam não ser
necessário acrescentar nenhuma outra informação. No entanto, a Nathaly
continua o período com o conectivo “uma vez que”, o que a obriga a trazer
mais conteúdo para seu parágrafo, neste caso uma causa para o que foi dito.

Dando continuidade às ideias, o próximo período se inicia com “De maneira


análoga”, o que indica que haverá alguma comparação. Neste caso, foi a
citação do ensaio “Sociedade do Cansaço”, acompanhada de uma explicação
de sua relação com o tema:

“[...] vive-se a insana procura do ser humano pela alta produtividade


em quaisquer meios [...]”

Repare que, novamente, poderia haver uma finalização do período, pois a


informação já foi exposta. Contudo, a participante opta por trazer uma
observação a mais e, para isso, acrescenta o conectivo “mesmo que”:

“[...] mesmo que retire dele os prazeres e a sanidade física e mental [...]”

O parágrafo continua com o conectivo “destarte”, mostrando que haverá


uma conclusão em seguida:

“Destarte, há a banalização do aspecto psíquico [...]"

Claro que já sabemos que a frase não terminará nessa conclusão, pois a
Nathaly colocou um novo conectivo, neste caso foi o “porquanto”, que passa
a ideia de explicação/justificativa:

“[...] porquanto é visto como desnecessário na vivência hodierna [...]”

Quando a gente pensa que acabou, ela consegue complementar ainda mais
as ideias! No meio da última frase explicativa há, ainda, o conectivo “por
conseguinte”, que marca um efeito do que foi dito anteriormente:

63
“[...] por conseguinte, a ansiedade e a depressão são absurdamente
naturalizadas em razão das poucas políticas públicas incentivadoras e
conscientizadoras.”

É importante entendermos que todas as relações de sentido que foram


construídas em apenas 1 parágrafo, só foram possíveis devido aos conectivos.
Caso tirássemos essas expressões tão importantes, correríamos o risco de
termos um parágrafo com várias ideias apenas expostas, largadas sem
desenvolvimento. Faça a análise dos demais parágrafos e veja que sempre há
conectivos introduzindo novas informações e, consequentemente, tornando
as ideias bem explicadas.

Nathaly, parabéns pelo texto bem articulado!

64
Raíssa Fontoura
20 anos | São Paulo - SP | @rahfontoura_ e @raissanosestudos

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

65
Transcrição

"De acordo com o filósofo Platão, a associação entre saúde física e mental
seria imprescindível para a manutenção da integridade humana. Nesse contexto,
elucida-se a necessidade de maior atenção ao aspecto psicológico, o qual, além
de estar suscetível a doenças, também é alvo de estigmatização na sociedade
brasileira. Tal discriminação é configurada a partir da carência informacional
concatenada à idealização da vida nas redes sociais, o que gera a falta de suporte
aos necessitados. Isso mostra que esse revés deve ser solucionado urgentemente.

Sob essa análise, é necessário salientar que fatores relevantes são


combinados na estruturação dessa problemática. Dentre eles, destaca-se a
ausência de informações precisas e contundentes a respeito das doenças
mentais, as quais, muitas vezes, são tratadas com descaso e desrespeito. Essa falta
de subsídio informacional é grave, visto que impede que uma grande parcela da
população brasileira conheça a seriedade das patologias psicológicas, sendo
capaz de comprometer a realização de tratamentos adequados, a redução do
sofrimento do paciente e a sua capacidade de recuperação. Somada a isso, a
veiculação virtual de uma vida idealizada também contribui para a construção
dessa caótica conjuntura, pois é responsável pela crença equivocada de que a
existência humana pode ser perfeita, isto é, livre de obstáculos e transtornos. Esse
entendimento falho da realidade faz com que os indivíduos que não se encaixem
nos padrões difundidos, em especial no que concerne à saúde mental, sejam
vítimas de preconceito e exclusão. Evidencia-se, então, que a carência de
conhecimento associada à irrealidade digitalmente disseminada arquitetam esse
lastimável panorama.

Consequentemente, tais motivadores geram incontestáveis e sérios efeitos


na vida dos indivíduos que sofrem de algum gênero de doença mental. Tendo
isso em vista, o acolhimento insuficiente e a falta de tratamento são
preocupantes, uma vez que os acometidos necessitam de compreensão, respeito
e apoio para disporem de mais energia e motivação no enfrentamento dessa
situação, além de acompanhamento médico e psicológico também ser essencial
para que a pessoa entenda seus sentimentos e organize suas estruturas
psicológicas de uma forma mais salutar e emancipadora. O filme “Toc toc” retrata
precisamente o processo de cura de um grupo de amigos que são diagnosticados
com transtornos de ordem psicológica, revelando que o carinho fraternal e o
entendimento mútuo são ferramentas fundamentais no desenvolvimento
integral da saúde. Mostra-se, assim, que a estigmatização de doentes mentais
produz a escassez de elementos primordiais para que eles possam ser tratados e
curados.

Urge, portanto, que o Ministério da Saúde crie uma plataforma, por meio
de recursos digitais, que contenha informações a respeito das doenças mentais e
que proponha comportamentos e atitudes adequadas a serem adotados durante
uma interação com uma pessoa que esteja com alguma patologia do gênero,
além de divulgar os sinais mais frequentes relacionados à ausência de saúde
psicológica. Essa medida promoverá uma maior rede informacional e propiciará
um maior apoio aos necessitados. Ademais, também cabe à sociedade e à mídia
elaborar campanhas que preguem a contrariedade ao preconceito no que tange
aos doentes dessa natureza, o que pode ser efetivado através de mobilizações em
redes sociais e por intermédio de programas televisivos com viés informativo. Tal
iniciativa é capaz de engajar a população brasileira no combate a esse tipo de
discriminação. Com isso, a ideia platônica será convertida em realidade no Brasil."

66
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Vocabulário diferenciado!

A Raissa fez um texto digno de aplausos no que tange à escolha das palavras.
Não é uma exigência utilizar palavras rebuscadas na redação, basta evitar
clichês/gírias/impropérios para ter um texto apresentável. Mas o que a Raissa
fez foi trocar alguns termos muito simples por outros que dão mais força e
clareza ao que ela está dizendo. Como isso acontece em todo o texto, temos
que considerar como um diferencial da sua redação.

Não temos como analisar todas as palavras do texto, então vamos nos ater a
apenas algumas delas:

● 1º parágrafo
○ Imprescindível = uma forma simples de dizer seria “importante/
indispensável”
○ Integridade humana = dentro do contexto algumas pessoas
diriam apenas “saúde do ser humano”
○ Concatenada = na forma simples, “ligada”
○ Revés = alguns diriam apenas “situação desagradável”

● 2º parágrafo
○ Ausência de informações precisas e contundentes = a galera que
tem pressa só colocaria “falta de informação”; aqui, além de deixar
o período mais expressivo, ela ainda consegue marcar o seu
ponto de vista
○ Veiculação virtual de uma vida idealizada = a maneira mais
simples de dizer seria “mostrar uma vida perfeita na internet”
○ Em especial no que concerne à saúde mental = muitos
escreveriam apenas “sobre a saúde mental”
○ A carência de conhecimento associada à irrealidade digitalmente
disseminada arquitetam esse lastimável panorama = se
reestruturássemos com palavras simples e menos expressivas,
teríamos algo como “a falta de conhecimento e as vidas falsas
que aparecem na internet levam ao problema atual”

Poderíamos ver muitas outras expressões bem elaboradas que a Raissa


apresentou, mas só com as acima já deu para ver que é importante
escolhermos as palavras com cuidado. Não precisamos ser tão detalhistas
quanto a Raissa (um dia, quem sabe, a gente chega lá — isso me inclui), mas
podemos trocar um trecho ou outro do nosso texto e deixá-lo muito mais
articulado!

Raissa, seu texto está lindo de ver ;-)

67
Ramon Ribeiro
15 anos | Macaúbas - BA | @ramon_142019

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

68
Transcrição

"Promulgada pela ONU em 1948, a Declaração Universal dos Direitos


Humanos garante a todos os cidadãos o direito ao respeito e ao bem-estar
social. No entanto, percebe-se que esse pressuposto não é empregado
adequadamente no país, em razão do estigma associado às doenças mentais
na sociedade brasileira, o que configura um problema a ser resolvido. Com
efeito, há de se examinar não somente a inoperância governamental no que
tange ao tratamento dos transtornos mentais, mas também a falta de
comprometimento das instituições de ensino como fatores ligados à
problemática em questão.

Em primeira análise, vale salientar que a negligência estatal influencia


consideravelmente no combate às doenças mentais. Sob esse viés, o filósofo
iluminista John Locke desenvolveu o conceito de Contrato Social, em que o
Estado seria responsável pelo bem-estar coletivo. Entretanto, a máquina
administrativa rompe a tese de Locke, uma vez que não proporciona o
investimento em programas que tencionem os tratamentos necessários às
pessoas que possuem doenças mentais. Nessa lógica, ainda que o artigo 196
da Constituição Federal assegure a saúde e o acesso aos serviços e ações que
a promovam, o Poder Público inoperante não proporciona o pleno
desenvolvimento dos cidadãos acometidos por essas enfermidades pela
escassez de aplicações financeiras nos projetos, acentuando o impasse, que
precisa ser mitigado.

Em segunda análise, cabe ressaltar que a ausência de participação


escolar em desconstruir os paradigmas relacionados às doenças mentais
constitui um agravamento desses entraves. Embora a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional assevere um ensino pautado na tolerância e valorize as
relações além das salas de aula, nota-se que essa prerrogativa não é
devidamente praticada nas instituições de ensino. Nessa perspectiva, a
carência de uma aprendizagem direcionada à diminuição de estigmas
associados às doenças psiquiátricas intensifica o problema no corpo social.
Prova disso, cita-se a exiguidade de planos pedagógicos, feiras instrutivas e
mesas-redondas nas escolas que visem a amenização do preconceito às
doenças mentais. Logo, uma intervenção torna-se substancial para conter os
desafios do quadro hodierno.

Portanto, é fundamental a atenuação do estigma associado aos


transtornos psíquicos. Nesse sentido, o Ministério da Saúde deve realizar
aplicações financeiras nos programas de tratamento das doenças mentais,
por meio da elaboração, votação e sanção de uma Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) que destine o montante básico aos projetos,
periodicamente, para se certificar do investimento neles. Ademais, compete
ao MEC –no exercício de seu papel constitucional- viabilizar o
comprometimento das escolas com o intuito de desconstruir os paradigmas
sociais acerca das doenças psiquiátricas, mediante debates ao longo do ano
letivo, sequências didáticas e discussões temáticas entre alunos e o corpo
docente. Dessa forma, a sociedade brasileira pode desfrutar do respeito e do
bem-estar social, previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos."

69
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Boa colocação do ponto de vista: tese!

Muitos estudantes apontam dificuldades na hora de criarem a famosa tese!


Alguns afirmam não saber como construí-la, outros não sabem se ela está
clara o suficiente. Já o Ramon conseguiu apresentar uma tese bem clara e
logo no 1º parágrafo, o que é fundamental para alcançar a nota máxima.

A redação começa com uma citação de dois pontos da Declaração Universal


dos Direitos Humanos (estratégia a qual alguns alunos recorrem para iniciar o
texto). A citação é acompanhada de uma contraposição de ideias, marcada
pelo conectivo “no entanto”, e que levará ao tema. Ou seja, Ramon começa
dizendo que todos possuem direitos, como os previstos na Declaração, mas
que eles não ocorrem na prática, haja vista o estigma que permeia a
sociedade em relação às doenças mentais. Pronto! Ele já apresentou o tema
por completo.

Como ainda falta mostrar quais são as problemáticas e qual é a opinião do


Ramon em relação ao tema, ele continua o parágrafo trazendo essas duas
informações. Ao colocar as duas problemáticas que serão desenvolvidas no
texto, ele já aproveita para colocar seu ponto de vista:

“há de se examinar não somente a inoperância governamental no


que tange ao tratamento dos transtornos mentais, mas também a
falta de comprometimento das instituições de ensino como fatores
ligados à problemática em questão.”

Percebam que ele traz uma avaliação ao utilizar palavras como “inoperância
governamental” e “falta de comprometimento”. Como essas expressões são
claramente a opinião dele, visto que outra pessoa poderia discordar e trazer
outra avaliação, temos a sua tese dentro da apresentação das problemáticas.

Vale ressaltar que essa é apenas uma das muitas estratégias que existem para
marcar a tese no texto. O Ramon escolheu trazer a opinião com a
apresentação dos problemas, mas poderia ter feito isso de maneira separada,
ou seja, ter trazido ao final do parágrafo uma frase com a sua opinião sobre o
tema, sem necessariamente estar junto de outros elementos. Vamos lembrar,
ainda, que a tese é importante porque toda a argumentação que virá após a
sua introdução deve ter como objetivo defendê-la.

Parabéns pela colocação da tese, Ramon!

70
Sofia Vale
19 anos | Belém - PA | @sofia_lv

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

71
Transcrição

"No livro “O papel de parede amarelo”, é narrada a história de uma mulher


que passa a apresentar uma constante tristeza e, por isso, isola-se do convívio
social. Contudo, esses sinais de má saúde mental são ignorados pelo marido da
personagem, resultando no desenvolvimento de uma condição psicológica
incapacitante na protagonista. Fora da ficção literária, o drama descrito é
comparável com a realidade de muitos brasileiros, os quais, ao apresentarem
sintomas de doenças mentais, são discriminados pela sociedade, em razão do
estigma que associa seu sofrimento à fraqueza ou à anormalidade. Nesse sentido,
é pertinente destacar o desconhecimento do tema como causa e o agravamento
de problemas de saúde como consequência dessa problemática.

Inicialmente, deve-se entender que a associação entre má saúde mental e


fraqueza, estigma muito comum no Brasil, é resultado do desconhecimento
acerca do funcionamento da mente humana. Em razão desse desconhecimento,
muitos propagam a ideia de que desentendimento familiar, frustração em
relacionamentos amorosos e dificuldade de adaptação aos padrões sociais não
são justificativas para o abatimento emocional, julgando como escolha da pessoa
afetada a permanência em suas dificuldades. Todavia, tal ideia desconsidera que
não são preocupantes apenas as patologias medicáveis, mas também a
dificuldade em lidar com desafios cotidianos, os quais, mesmo parecendo
simples para alguns indivíduos, podem ser sérios para outros. Dessa forma, o
contexto brasileiro pode ser sintetizado pela seguinte frase do poeta alemão
Goethe:“Não há nada mais assustador que a ignorância em ação”, porquanto
ignorância em relação aos sentimentos do outro tem efeitos assustadores na
saúde dos cidadãos.

Consequentemente, todo esse estigma associado à saúde mental resulta


no encobrimento das emoções de muitos brasileiros, o que retarda ou impede o
tratamento de suas patologias e agrava seus problemas. Isso se explica pela
vergonha de sua condição psicológica, pudor motivado pelo rótulo de fraqueza
-em casos de depressão ou de estresse- ou de anormalidade -em casos de
bipolaridade e de esquizofrenia, por exemplo. A partir dessa pressão social, muitas
pessoas, ao se privarem de ajuda médica, podem atingir situações extremas
como a necessidade de internação ou o suicídio, problemática crescente no país.
Assim, fica evidente que o suicídio pode ser evitado por meio do combate ao
estigma associado a doenças psicológicas, pois, segundo a OMS, ele é causado,
em 90% dos casos, por transtornos mentais, sendo urgente a mudança do quadro
nacional supracitado.

Portanto, cabe ao Ministério da Saúde, por meio de parceria com as escolas,


desenvolver um programa de assistência e informação relacionado a doenças
mentais, disponibilizando cartilhas que ajudem os estudantes a entender os
sinais de má saúde psicológica, a fim de combater a ideia de que ela é sinônimo
de fraqueza ou anormalidade. Esse mesmo ministério deve, também, desenvolver
campanhas, em universidades e repartições públicas, que incentivem a procura
de profissionais da saúde mental em casos de transtorno, a fim de evitar o
suicídio. Somente assim, a história dos brasileiros com doenças mentais será
diferente da narrada em “O papel de parede amarelo.'"

72
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Boa escolha dos argumentos!

Sofia falou com propriedade sobre o tema! Explicou, exemplificou e defendeu


o seu ponto de vista. Vamos analisar quais foram os argumentos escolhidos
por ela a partir da seleção de problemas apresentados:

As problemáticas escolhidas pela Sofia foram:

Uma causa: o desconhecimento do tema “doenças mentais”; e


Uma consequência: agravamento dos problemas de saúde

Tendo essas duas problemáticas em mãos, Sofia teve que pensar em como
desenvolvê-las durante o texto. Para isso ela escolheu os seguintes
argumentos:

● Para falar do desconhecimento do tema (causa), há a explicação acerca


da associação equivocada que as pessoas fazem entre má saúde
mental e fraqueza, o que resulta no preconceito. Para exemplificar essa
afirmação, ela cita situações que fazem parte do cotidiano das pessoas
e que são julgadas por muitos como frescuras: brigas nos
relacionamentos, dificuldades nas relações sociais, etc. Ela fecha a
discussão retomando a ideia inicial de que tudo isso acontece porque as
pessoas são ignorantes, e para isso ela cita um pensamento do Goethe,
que dialoga com a discussão.

● A argumentação continua com a consequência dos fatos relatados


anteriormente, o que marca a segunda problemática. Ela afirma que
tudo que foi dito inibe as emoções das pessoas e agrava o problema.
Para exemplificar tal afirmação, ela cita novamente fatos do cotidiano
das pessoas, como a vergonha que muitos sentem em falar sobre suas
emoções mediante a pressão e rótulos impostos pela sociedade. A ideia
é finalizada dando uma brecha para a proposta, pois Sofia afirma que
diante de tudo que foi mencionado, é necessário que haja mudanças.
Logo, vemos claramente um efeito dominó em seu texto, em que uma
ideia desencadeia a outra.

Sofia não precisou procurar por inúmeros repertórios e elaborar reflexões


complexas, pelo contrário, ela optou pelo o que acontece na realidade das
pessoas. Houve a utilização de uma obra literária para apresentar o tema no
início do texto e no meio da argumentação uma pequena citação de Goethe,
mas o que domina sua redação é outra questão. Os argumentos escolhidos
são pautados em exemplos que acontecem na sociedade. Há explicações
muito claras de como as problemáticas afetam as pessoas. Isso mostra que a

73
Sofia refletiu sobre o tema e abordou-o de uma forma simples e muito
verdadeira, o que torna sua redação sensível ao tema e causa a aproximação
entre o leitor e o texto, tamanha é sua descrição da realidade. Faz muito
sentido a estratégia utilizada por ela: se estou falando de problemas sociais
que afetam milhares de pessoas, nada mais justo do que mostrar
detalhadamente como esses problemas ocorrem no dia a dia da sociedade.

Garota esperta!

74
Tema 2:
"O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil"
Enem 2020 Digital

75
Foto: Reprodução/Inep

76
Savicevic Ortega
20 anos | Recife - PE | @savicevicortega

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

77
Transcrição

"A segunda fase do Modernismo brasileiro teve a crítica social e o


regionalismo como principais características do período artístico. Nesse
movimento literário, os escritores buscaram denunciar em suas produções os
problemas que permeavam as regiões brasileiras, os quais intensificavam as
desigualdades entre elas. Ao sair do contexto da literatura, percebe-se que as
disparidades regionais, denunciadas pelos escritores de 1930, ainda são
latentes na sociedade brasileira. Sob esse viés, é imprescindível compreender
as origens dessas diferenças e de que modo elas reverberam sobre o Brasil.

Em primeira análise, é válido destacar a industrialização da Região


Sudeste como geradora das disparidades regionais. Esse fenômeno se deu de
forma desordenada e acelerada durante o século XIX, com a transferência do
eixo econômico para Minas Gerais, em virtude do ciclo aurífero. Assim,
indivíduos de todo o Brasil migraram para o novo polo industrial em busca de
oportunidades de trabalho e melhores condições de vida. Como resultado, o
intenso fluxo migratório provocou o desenvolvimento desenfreado da Região
Sudeste e a estagnação das demais, sobretudo a Região Nordeste, a qual,
durante o mesmo período, começou a sofrer com os problemas da seca,
situação retratada pelo artista Candido Portinari na tela "Os Retirantes",

Por conseguinte, as disparidades regionais acentuam problemas como


a desigualdade social e a pobreza. Tais consequências são geradas, segundo o
geógrafo brasileiro Milton Santos, pela hierarquização das regiões e
intensificadas pela globalização. Em sua obra "Por Uma Nova Globalização", o
geógrafo compara os problemas da desigualdade e da pobreza no Brasil e
explica o porquê do Produto Interno Bruto (PIB) ser tão discrepante dentro do
mesmo país. Provas dessa análise são dados referentes à renda per capita de
cada estado, divulgadas pelo IBGE em 2019, os quais evidenciaram que os 16
estados do Brasil com menor renda domiciliar pertencem às regiões Norte e
Nordeste. Essa concentração de renda promove, sem dúvidas, a segregação
socioespacial, uma vez que marginaliza os indivíduos não detentores de renda
favorável, os quais passam a ocupar locais insalubres e com péssimas
condições de saneamento.

Portanto, nota-se que as disparidades regionais precisam ser reduzidas.


Sendo assim, o Ministério da Economia, no papel de gestor orçamentário
federal, deve criar um plano desenvolvimentista para o redirecionamento dos
investimentos regionais. Esse redirecionamento deve ser realizado com base
no IDHM de cada município dos estados brasileiro (sic). Esse plano se dará por
meio do mapeamento das cidades mais conurbadas de cada região, a fim de
viabilizar o crescimento equitativo do Brasil e uma maior integração entre as
regiões. Somente assim, as denúncias realizadas pela geração regionalista de
1930 poderão ser objeto de estudo literário e não de uma realidade brasileira."

78
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Amplitude e complementaridade na escolha das problemáticas!

É muito comum lermos redações que trazem na introdução a seguinte


estrutura de frase: “Tal problema se deve a (X) e (Y)”, em que X e Y são os dois
tópicos que vão ser discutidos no texto. A redação do Savicevic apresenta duas
problemáticas no primeiro parágrafo, como esperado, mas de uma forma um
pouco mais ampla. Vamos analisar como ele escolheu apresentar as
informações e o impacto que isso teve no texto:

Ao apresentar as problemáticas, o participante utiliza a seguinte frase:

“é imprescindível compreender as origens dessas diferenças e de que


modo elas reverberam sobre o Brasil”

Vejam que é diferente de dizer “tal problema tem como causa o/a X e como
consequência o/a Y”. Ele diz apenas que irá discutir as causas e as
consequências. Não foi extremamente específico e isso não é um problema,
mas sim uma estratégia! Ao não trazer uma discussão em especial como
causa e outra como consequência, ele abre espaço para discutir mais de uma
delas. Isso não é uma regra, nem melhor ou pior do que outras formas de
apresentar as problemáticas, mas sim mais uma possibilidade.

Savicevic sabe que, ao selecionar esta forma de organização, ele precisará


mostrar um domínio maior do tema e tomar cuidado para não ampliar
demais a discussão. Sendo assim, vemos a seguinte seleção de argumentos
nos parágrafos de desenvolvimento:

Causa 1: a industrialização da Região Sudeste


Consequência 1: o desenvolvimento desenfreado da Região Sudeste e a
estagnação das demais regiões.
Causa 2: a hierarquização das regiões e a globalização
Consequência 2: a desigualdade social, pobreza e segregação socioespacial

Destaco dois pontos importantes para que esse projeto tenha dado certo:

1. Não há uma definição específica de quais serão as causas e


consequências trabalhadas no texto, mas sim uma indicação de que
elas irão ser discutidas. Isso já orienta o leitor sem precisar especificar
demais o que será dito. A estratégia é boa porque não limita a discussão
a um único ponto. Por exemplo, se Savicevic tivesse falado no 1º
parágrafo que a consequência do problema é exclusivamente "o
desenvolvimento desenfreado da Região Sudeste", ficaria preso a este
argumento e seria mais difícil acrescentar mais uma consequência (não
impossível, mas mais trabalhoso).

79
2. Há um diálogo entre as duas causas e também entre as duas
consequências, e isso permite que haja um trabalho em conjunto
durante o texto. Se Savicevic tivesse escolhido causas e consequências
muito distintas, provavelmente alguma delas iria ficar pouco
desenvolvida, sem espaço para aprofundamento no texto. No entanto,
como ele escolheu pontos que se interligam (industrialização/
desenvolvimento de uma região estagnação de outras hierarquização
das regiões/globalização/desigualdade social, pobreza e segregação
socioespacial), ficou mais fácil transitar entre um e outro. Além disso,
essa situação permite que, muitas vezes, uma informação
complemente a outra.

Parabéns, Savicevic, pela boa estratégia utilizada!

80
Tema 3:
"A falta de empatia nas relações sociais no Brasil"
Enem 2020 Reaplicação/PPL

Foto: Reprodução/Inep

81
Gabriela Traven
17 anos | Manaus - AM | @gabb.tr e @redwithgabi

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

82
Transcrição

'"Amai o próximo como a si mesmo." Essa citação, feita no livro sagrado dos
cristãos, a Bíblia, mostra a importância de promover a empatia ao próximo para o
bom funcionamento da sociedade. Entretanto, no cenário atual brasileiro, é
evidente a falta desse sentimento nas relações sociais, conforme pode ser visto no
número de casos de violência contra a mulher e de agressão aos indivíduos com
orientação sexual distinta. Assim, torna-se necessária a adoção de medidas pelos
órgãos governamentais e pela população, visando o retorno da harmonia
interpessoal.

Vale analisar, como fator primordial, a ausência de empatia expressa na


quantidade de crimes de feminicídio. Esse complexo da superioridade masculina
é consequência do período colonial, quando o homem era responsável pelos
negócios da família e enviado para estudar em Portugal, enquanto a mulher
atuava nas atividades domésticas e era preparada para ser mãe. A herança
histórica decorrente dessa época contribui para a formação de indivíduos do sexo
masculino sem compaixão pelo próximo, com a mentalidade machista de possuir
controle sobre os corpos de meninas e, portanto, ter direito de usá-los da maneira
que desejarem, causando o aumento do número de agressões e, em casos mais
graves, mortes, Desse modo, é fundalemtal a mobilização de educadores e
familiares para tentar modificar esse pensamento misógino.

Cabe avaliar, também, a falta de empatia retratada nos casos de violência


contra pessoas com orientação sexual distinta. Isso pode ser visto em um episódio
da série "Sex Education", no qual Eric, um adolescente homossexual, é agredido
na rua por estar com vestimentas consideradas femininas, resultando no
bloqueiro emocional do garoto. De maneira análoga ao seriado, casos de
discriminação à comunidade LGBTQ+ ocorrem diariamente no território brasileiro,
feitos por pessoas não ensinadas a respeitar os aspectos individuais de outros
indivíduos, podendo causar traumas profundos nas vítimas, quando elas não são
mortas. Portanto, torna-se fundamental a mediação dos governantes e da polícia
para garantir a segurança dessas pessoas.

Mediante os fatos expostos, é dever das escolas, por meio de parcerias com
as famílias dos estudantes, estabelecer um horário para dialogar sobre a
estruturação do pensamento machista na sociedade, mostrando a sua origem e
as consequências advindas do período colonial, para criar homens mais
simpáticos e, consequentemente, diminuir o número de casos de feminicídio.
Além disso, o Ministério da Cidadania, por intermédio de investimentos
governamentais, deve melhorar as delegacias de polícia, usando o capital
fornecido para promover rondas periódicas, instalação de mais câmeras e
atendimento psicológico gratuito para as vítimas de ataques homofóbicos, com o
intuito de assegurar segurança a pessoas de qualquer orientação sexual. Logo,
com a adoção dessas medidas, a citação feita na Bíblia poderá ser uma realidade.'

83
Análise
Prof.ª Débora Menezes

Um novo tema para um texto bem argumentado!

A Gabi fez a reaplicação do Enem 2020, em que o tema era: “A falta de


empatia nas relações sociais no Brasil”. Como ela foi a única nota 1000 do
país com esse tema, é interessante analisarmos qual foi o raciocínio traçado
por ela.

Na introdução, ela utilizou uma citação da Bíblia para falar sobre empatia e já
apresentar o tema. Em seguida, apresentou as problemáticas que aparecerão
nos seus parágrafos de argumentação:

1. o alto número de casos de violência contra a mulher


(informação que pode ter sido inspirada no texto 3 da coletânea)

2. o alto número de agressões aos indivíduos pertencentes à comunidade


LGBTQIA+

Ainda no primeiro parágrafo, ela já indica quais serão os agentes de sua


proposta de intervenção: os órgãos governamentais e a população.

No 1º parágrafo de desenvolvimento (2º do texto), Gabi discorreu sobre o


feminicídio — discussão da 1ª problemática — e trouxe como argumento um
fator histórico: o machismo presente desde o período colonial que se perpetua
até os dias atuais. Vemos, então, que ela traça uma linha cronológica do
problema para que tenhamos noção do porquê ele ainda existe. Ao final, ela
indicou quem serão os agentes que devem mudar esse problema:
educadores e familiares.

No 2º parágrafo de desenvolvimento (3º do texto), vemos uma abordagem


acerca da discriminação da comunidade LGBTQIA+ — discussão da 2ª
problemática. Para exemplificar, ela cita a série Sex Education, em que um
dos personagens sofre agressões por ser homossexual. Em seguida, Gabi fez
um link entre o que ocorre na série com a realidade vivida pela comunidade
no Brasil. É sempre importante estabelecermos essa relação entre o repertório
e a realidade da população. Ao final, ela trouxe novamente quem serão os
agentes para esta problemática específica: os governantes e a polícia.

Na conclusão, vemos duas propostas com os agentes que ela apresentou nos
dois parágrafos anteriores. Deu para ver que o leitor foi muito bem conduzido
durante a redação. Vemos no texto da Gabi um esquema bem organizado de
suas ideias, em que ela utiliza a mesma estrutura para os dois parágrafos de
argumentação, mudando apenas o assunto a ser tratado.

84
Provavelmente, esta foi a estratégia que a Gabi descobriu que funciona
para ela em um parágrafo de desenvolvimento:

breve contextualização do assunto


+ repertório
+ relação repertório/realidade
+ agente responsável

A organização do texto fez toda a diferença, assim como a boa escolha dos
argumentos e sua pertinência com o tema.

Gabi, ficou lindo!

85
Agradecimentos
Reconhecimento dos autores a pessoas/instituições decisivas para seus resultados:

@contextodoenem Iso Cursos


@ifmg.ourobranco Janine Ribeiro
Alexandre Magno Gomes Jarbas Sampaio Filho
Anderson Passos Jesus Cristo ✝
Aparecida Ribeiro João Guilherme
Bianca Cristina João Ribeiro
Breno Ribeiro João Vitor Piccoli Fontoura
Caroline Thaissa Juliana Braga
Claudiane Vale Julimar Sampaio
Cleilda Passos Karine Vieira Sampaio
Colégio CEI Kézia Nobre
Colégio Militar Dom Pedro II Leite Vestibulares
Colégio Motiva Letícia Cunha
Colégio Nota Dez (Dourados e Campo Luciana Fernandes
Grande) Luma e Ponto
Colégio Paraíso Matheus Freitas
Curso Anglo (unidade Tamandaré) Me Salva!
Curso no Alvo Natassia Andrade
Curso Otimiza Oriana Vila Verde
Curso Reciclagem Educacional PBcurso
Daniel Dimas Prof, Socorro Franco
Danielle Soares Prof,ª Cláudia Carvalho
Débora Lee Soares Prof. @adilsonribeiro367
Dereck Reis Prof. @filipeemanuel01
Descomplica Prof. Alex Pacheco
Edilson Gadelha Prof. André Felipe Santos
Eduardo Espíndola Fontoura Jr. Prof. Augusto F. Sampaio Rosa
Elizabeth Gadelha Prof. Bernardo Augusto
Equipe de Português da ESD Prof. Breno Leite
Erisvaldo Santos Prof. Chico Alves
Ernande Nobre Prof. Elton Marinho
Escola Internacional Cidade Viva Prof. Eluciano Lima
Escola Santa Teresinha Prof. Felipe Leal
Explicaê Prof. Julião Ferreira
Fábio Santos Prof. Luiz Souza
Flávia Cacho Prof. Marcelo Lopes
Flaviany Aparecida Piccoli Fontoura Prof. Pedro Lima
Francisco Vale Prof. Rafael Cunha
Fundação Bradesco Prof. Rodrigo Sales
Gabriel Fernandes Prof. Sérgio Lima
Gilmara Freitas Prof. Vinicius de Oliveira
Igor Gonçalves Prof.ª @ana_paula.m.a.carvalho
Ilda Souza Prof.ª Ana Catarina

86
Prof.ª Ana Paula Colaço
Prof.ª Auremita Rodrigues
Prof.ª Brenda Pinheiro
Prof.ª Camila Santiago
Prof.ª Carla MacPherson
Prof.ª Carol Achutti
Prof.ª Cláudia Regina Silva
Prof.ª Cleide Assunção
Prof.ª Cristina Margalho
Prof.ª Daiane Morales
Prof.ª Fabiana Lopes
Prof.ª Fernanda Pessoa
Prof.ª Hilda Nunes
Prof.ª Lorraine Zanutim
Prof.ª Magda Juliana
Prof.ª Mara Gasparotto
Prof.ª Nicinha Câmara
Prof.ª Priscila Germomosgeschi
Prof.ª Rafaella Freitas
Prof.ª Renata Osório
Prof.ª Roberta Matos
Prof.ª Verônica Monteiro
Prof.ª Verônica Pinheiro
Prof.ª Waldivia Ceccon
Redação Online
Renzo Estrela
Sandra Lee Soares
Sandra Valéria
Simone Martins
Sistema de Ensino Contextual
Solange Cunha
Somine Couto
Tânia Bernardes
Thábita Hanna
Thiers de Souza
Thizzah Cecília
Valdir Vila Verde
Vivian Lemos

87
0
Prezado estudante,

Chegamos à quarta edição da Cartilha Redação a Mil: uma cartilha que


simboliza a democratização da educação em um país que caminha no
sentido contrário. No último ano, pela primeira vez, o INEP deixou de lançar
sua cartilha oficial de redação. Mais uma vez, precisamos assumir essa
responsabilidade para nós mesmos. Nascida em 2019, a iniciativa surgiu da
união espontânea de 31 dos 55 participantes nota máxima do Enem 2018
em compartilharem seus textos voluntariamente. Desde então, o número
vem caindo e, em 2021, tivemos apenas 22 candidatos que alcançaram a
pontuação máxima na redação. 18 deles estão nesta cartilha.

Aqui você encontrará uma seção para cada autor,


contendo: o espelho da sua redação e o texto transcrito.
Elas estão organizadas em ordem alfabética, mas não há
ordem certa para leitura. Para garantir credibilidade,
reunimos os comprovantes da nota máxima de cada um
no QR Code ao lado:

Essa cartilha é gratuita e pública na internet. Acreditamos que a educação


é libertadora e que a escrita, para além do vestibular, é forma de expressão.
Esperamos que, a partir da leitura desses textos, você enxergue esse
resultado como mais próximo do seu alcance e sinta-se mais confiante em
expressar suas opiniões empregando repertórios, conectivos e muito mais.

Além disso, caso vá imprimir essa cartilha, dê preferência à versão reduzida


(bit.ly/reduzidamil4) para minimizar o desperdício de tinta e folhas.

Por fim, é um prazer imensurável trazer esse projeto à vida todos os anos.
Não tenho palavras para agradecer a paixão que foi demonstrada pelo
projeto e o quanto ele tornou-se material essencial aos estudos de milhões
de estudantes brasileiros. Esses 4 anos foram só o começo e estamos longe
de acabar. Digo por todos que passaram por aqui: contem conosco :).

Lucas Felpi

ATENÇÃO: Sob hipótese nenhuma esse material poderá ser revendido. Ele é gratuito e está
disponível no formato digital a todos. Professores, blogs, portais, e cursos que desejem compartilhar
textos retirados da cartilha devem manter os créditos do material para que este alcance mais
pessoas. O trabalho foi feito pelos próprios autores, com direito de uso para este documento, e não
está aplicado a outras fontes sem autorização prévia.

1
Sumário
Tema | "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil" 4

Alice Souza 5
Espelho 5
Transcrição 6

Andressa Nunes 7
Espelho 7
Transcrição 8

Beatriz Valentini 9
Espelho 9
Transcrição 10

Daiane Souza 11
Espelho 11
Transcrição 12

Emily Moraes 13
Espelho 13
Transcrição 14

Emmanuelle Severino 15
Espelho 15
Transcrição 16

Evely Lima 17
Espelho 17
Transcrição 18

Fernanda Quaresma 19
Espelho 19
Transcrição 20

Gabriel Borges 21
Espelho 21
Transcrição 22

Giovanna Dias 23
Espelho 23
Transcrição 24

2
Iasmin Schausse 25
Espelho 25
Transcrição 26

Luiza Mamede 27
Espelho 27
Transcrição 28

Maitê Maria 29
Espelho 29
Transcrição 30

Malu Souza 31
Espelho 31
Transcrição 32

Pedro Henrique Machado 33


Espelho 33
Transcrição 34

Rafaella Frutuoso 35
Espelho 35
Transcrição 36

Sarah Fernandes 37
Espelho 37
Transcrição 38

Yasmin Magrine 39
Espelho 39
Transcrição 40

Agradecimentos 41

3
Tema:
"Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil"
Enem 2021 Aplicação Regular

Foto: Reprodução/Inep

4
Alice Souza
18 anos | Feira de Santana - BA | @alicesouzx @studieswithli

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

5
Transcrição

"A Constituição Federal, promulgada em 1988, foi esboçada com o


objetivo de delinear direitos básicos para todos os cidadãos. Entretanto, tal
teoria não tem sido vista em metodologias práticas, uma vez que ainda há a
falta de registro civil de milhares de pessoas, impedindo-as de garantir o
acesso à cidadania no Brasil, o que gera a invisibilidade social. Tal invisibilidade
provoca inúmeras chagas, como a precarização do trabalho e a exclusão
democrática.

Diante desse cenário, é válido retomar o aspecto supracitado quanto à


precarização do trabalho laboral. Nesse contexto, é indiscutível que a ausência
do registro civil primordial - a certidão de nascimento - impossibilita a pessoa
de possuir outros documentos necessários para a vivência social, como, por
exemplo, a carteira de trabalho. Dessa forma, é afirmativo que tal lacuna
incorre na precarização do trabalho, uma vez que inviabiliza a efetivação dos
direitos laborais, como férias remuneradas, ou, em casos mais extremos, torna
o indivíduo vulnerável a trabalhos análogos à escravidão. Em consonância com
tal tese, é possível citar a obra “Casa-grande e Senzala“, do autor Gilberto
Freyre, na qual ele realiza uma comparação entre o Brasil hodierno e o Brasil
Colônia, em que o trabalho escravo - ou seja, o ato laboral precarizado - é um
instrumento de invisibilidade social. Sendo assim, torna-se evidente a
essencialidade dos registros civis na garantia dos direitos trabalhistas para
todos os brasileiros, o que, por sua vez, coopera em promover a visibilidade
cidadã.

Ademais, é essencial citar a exclusão democrática como uma das


principais consequências da falta de registros civis. Nessa perspectiva, é
notável que a já citada ausência da certidão de nascimento impede, também,
a realização do título de eleitor, documento necessário para o pleno exercício
da democracia brasileira. Sob esse viés, é possível relacionar tal tese ao
conceito de polifonia das cidades, desenvolvido pelo teórico Nick Couldry, no
qual ele afirma que a democracia é constituída pela atuação das vozes de
todos, e, por isso, onde não há a voz de alguém, não há democracia. Desse
modo, fica evidente que a ausência do registro civil impossibilita a
participação política, o que causa o silenciamento da voz daquele
pseudocidadão brasileiro.

Nota-se, portanto, a necessidade de reverter esse cenário de


invisibilidade social causado pela ausência do registro civil. Para tal, é
intrínseco que o Governo Federal, órgão de maior importância no âmbito
nacional, implemente mais Varas da Infância e da Juventude em locais de alta
procura por esses serviços. Tal ação deve ser realizada por meio da criação de
secretarias e/ou departamentos responsáveis por pesquisa e controle, a fim de
haver um mapeamento de cidades e regiões metropolitanas onde há maiores
índices de invisibilidade social, para, assim, suprir a demanda requerida para o
registro civil dos futuros cidadãos. Dessa forma, progressivamente haverá a
garantia da cidadania para todos os brasileiros."

6
Andressa Nunes
20 anos | Rio de Janeiro - RJ | @nunesandd

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

7
Transcrição

"Graciliano Ramos, em sua obra literária "Vidas Secas", expõe um


protagonista sertanejo marcado pela inferiorização de sua própria figura.
Nesse contexto, o personagem abordado abandona o entendimento de si
como cidadão e, por conseguinte, percebe-se como um "ninguém" ou, até
mesmo, como um animal. Em realidade, por sua vez, ultrapassa a esfera
ficcional e é presente no Brasil, na medida em que milhares de brasileiros são
acometidos por uma conjuntura de invisibilidade referente ao registro civil.
Esse fato configura-se como um impasse à garantia da cidadania e incentiva
perspectivas similares à narrativa mencionada. Os alicerces desse problema
são: a negligência estatal e a desigualdade no acesso à informação.

Diante disso, em uma primeira análise, é importante pontuar o dever da


máquina pública na proteção da cidadania de todo o corpo civil. Isso porque,
segundo a Constituição Federal, é função do Estado viabilizar aos brasileiros
uma vida digna, a qual pressupõe a garantia da atuação cidadã. No entanto, a
postura estatal é de descaso no que se refere à ampliação e à democratização
do registro identitário, documento básico para o entendimento pessoal e
alheio dos indivíduos como cidadãos preenchidos de direitos e de deveres.
Nesse quadro, essa temática é deixada em último plano nas discussões e nas
ações políticas e, então, encontra-se fadada ao apagamento. Como resultado,
inúmeras pessoas não têm suas existências reconhecidas pela estrutura
governamental e, dessa forma, são desassistidas em diversos âmbitos, posto
que suas vivências são desconsideradas. Logo, a inovação do governo oferece
somente prejuízos à dignidade da população.

Além disso, é válido perceber o panorama de assimetria social como


fator potencializador da problemática em debate. Segundo Ariano Suassuna,
ilustra pensador brasileiro, o território nacional está dividido em dois países
distintos: o dos privilegiados e o dos despossuídos. Sob essa lógica, o autor faz
um alerta a respeito da desigualdade de renda, de oportunidades e de acesso
à informação vigente no Brasil. Nesse sentido, percebe-se que populações
mais pobres padecem frente à carência de recursos e à ignorância. Esse
cenário dificulta a garantia da cidadania, visto que a desinformação torna a
sociedade passiva e inativa na busca por seus direitos. Dessa maneira, por não
reconhecerem a importância da documentação pessoal, por exemplo, muitos
indivíduos não registram seus filhos - conduta que dá margem à formação de
uma esfera de invisibilização de inúmeros cidadãos.

Portanto, são notórios os fatores que alimentam a árdua realidade


brasileira no que tange ao registro civil. O Governo Federal deve, pois, atuar na
efetivação do amparo documental da população, por meio da elaboração de
uma campanha nacional de democratização do acesso ao registro identitário,
o qual seja capaz de atuar em todas as regiões do pais. Isso terá como fim o
reconhecimento de todo o contingente populacional e a promoção da
cidadania plena e permanente - prerrogativa básica para o bem comum.
Cabe, ainda, o apoio da mídia televisiva - comunicadora de massas - na
informação civil acerca desse assunto, através da veiculação de comerciais
educativos nesse sentido. Essa ação terá como fim a difusão do conhecimento
referente à importância da conduta em pauta. Assim, os brasileiros poderão
escapar da ótica arquitetada por Graciliano Ramos."

8
Beatriz Valentini
19 anos | São Paulo - SP

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

9
Transcrição

"Durante a ascensão do nazismo, os judeus foram despojados de seus


direitos gradualmente, até que, por fim, tiveram seus documentos
apreendidos. Com isso, tornaram-se apátridas, estrangeiros em sua própria
terra. Nesse contexto, percebe-se um vínculo estreito entre cidadania e
registro civil, posto que a posse de documentos comprova o indivíduo como
cidadão possuidor de direitos. Essa relação também é perceptível no Brasil,
em que a ausência de documentação leva à invisibilidade e perpetua um ciclo
de vulnerabilidade.

A princípio, é preciso analisar como a falta de documentos conduz à


marginalização e à nulificação do indivíduo que não os possui. Vale lembrar
que, na Grécia Antiga, eram reconhecidos como cidadãos somente homens
livres e descendentes de pais gregos. Esse reconhecimento lhes concedia a
oportunidade de serem escutados, e a mesma coisa se dá no Brasil
contemporâneo: ser contemplado com um certificado de cidadão – neste
caso, uma certidão de nascimento – garante o reconhecimento do sujeito
como pertencente àquele local e, além disso, receptor de proteção e serviços
ofertados pelo Estado. Sob essa lógica, ser cidadão significa ter status elevado
à condição de ser de direitos, enquanto aqueles que não o são permanecem
vulneráveis, em uma posição marginal.

Ademais, convém compreender como o fato de não ser contemplado


com registro civil e seus benefícios corrobora a existência de um ciclo
mantenedor de indivíduos nulificados. Para a pensadora alemã Hannah
Arendt, os apátridas estão sujeitos ao chamado Estado de exceção, em que
são excluídos e explorados. No Brasil, é possível observar esse cenário nas
condições precárias às quais os invisibilizados têm de se submeter, a exemplo
de trabalhos análogos à escravidão e à impossibilidade de se obter educação
formal. Nessa perspectiva, pais não registrados não conseguem registrar seus
filhos, os quais têm de enfrentar as mesmas condições desumanas que seus
progenitores enfrentaram. É constituído, assim, um ciclo mantenedor da
invisibilidade.

Depreende-se, portanto, que o registro civil é garantidor do acesso à


cidadania no Brasil. Sua ausência leva à vulnerabilidade cíclica, que só pode
ser transposta pela aquisição de documentação pessoal. A fim de obtê-la, é
necessário que as autoridades competentes, utilizando a tecnologia disponível
como meio, elabore a criação de locais especializados em auxiliar pessoas
nessa situação a lidarem com toda a burocracia exigida. Somente assim todos
serão, verdadeiramente, filhos da pátria."

10
Daiane Souza
20 anos | Limoeiro - PE | @daiane.souzaa

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

11
Transcrição

"A obra modernista "Vidas Secas", produzida por Graciliano Ramos,


retrata a história de vulnerabilidade socioeconômica enfrentada por Fabiano e
seus dois filhos, os quais eram chamados por seu pai de filho mais novo e mais
velho, não possuindo seus nomes registrados durante o desenvolvimento do
enredo. Ao sair do campo literário e fazer uma análise da atual conjuntura
brasileira, nota-se ainda a invisibilidade associada ao acesso das pessoas ao
registro civil, visto que tal problema e negligenciado por diversos segmentos
sociais e políticos. A partir desse contexto, é fundamental entender o que
motiva essa situação irregular de documentação e o principal impacto para a
sociedade, a fim de que o acesso à Cidadania seja eficiente.

Diante desse cenário, percebe-se que a invisibilidade acerca da questão


do registro civil é motivada pela falta de uma política pública eficaz que
regularize essa problemática. Isso ocorre, principalmente, porque, como já
mencionado nos estudos da antropóloga Lilia Schwarcz, há a prática de uma
política de eufemismos no Brasil, ou seja, determinados problemas tendem a
ser suavizados e não recebem a visibilidade necessária. Sob essa ótica, é
perceptível que o reduzido debate sobre a importância da certidão de
nascimento e de outros documentos, bem como a baixa presença de
estratégias para facilitar o acesso a pessoas de baixa renda dificultam a
mudança dessa situação preocupante. Desse modo, enquanto a
desinformação e a assistência precária se mantiverem, a procura pelo registro
de nascimento será reduzida.

Outrossim, convém pontuar que o principal efeito negativo disso é o


afastamento desses grupos não registrados dos espaços públicos, em especial
da escola e do mercado de trabalho. Tal situação é discutida no livro "A
cidadania no Brasil: o longo caminho", do historiador José Murilo de Carvalho,
ao sustentar que a desigualdade social impede a construção de uma
sociedade mais justa e equitativa. Ao seguir essa linha de pensamento, à
medida que o indivíduo não tem seus documentos regularizados, a
possibilidade da inclusão no meio escolar e no laboral diminui, uma vez que
tais papéis são pré-requesitos para se matricular e ser, posteriormente,
contratado por uma empresa. A título de exemplo, o Brasil é o 9° país mais
desigual do mundo, conforme o IBGE. Dessa maneira, observa-se como esse
problema promove vulnerabilidade.

Portanto, a invisibilidade associada ao registro civil no Brasil precisa ser


revertida. Para isso, é fulcral que o Poder Executivo Federal, mais
especificamente o Ministério da Cidadania, estimule ações estratégicas para
ampliar o número de pessoas registradas oficialmente, principalmente nas
comunidades pobres. Essa iniciativa ocorrerá por meio da implantação de um
"Projeto Nacional de Incentivo à Formalização da Documentação Pessoal", o
qual irá contar tanto com o aumento do envio de assistentes sociais para
verificar a situação do registro nas residências. Isso será feito a fim de conter o
impacto social desse problema e aumentar a cidadania. Afinal, casos como o
do livro "Vidas Secas" precisam ser reduzidos."

12
Emily Moraes
19 anos | Curitiba - PR | @emilymoraesz

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

13
Transcrição

"No documentário “A cidadania é para todos”, disponibilizado pela


Netflix, é retratada a liberdade dos indivíduos na participação social. Nesse
sentido, é mostrado o aproveitamento da sociedade nos programas básicos
do Estado como a viabilidade educacional e o direito à moradia. Todavia, a
distribuição igualitária desse incentivo não é realizada de forma homogênea
no território brasileiro. Ademais, a parcela da sociedade que não está munida
da documentação principal, a certidão de nascimento, não possui acesso a
uma vida digna, e assim, realiza a tentativa migratória de forma ilegal.
Contudo, novas práticas governamentais devem ser implantadas.

Diante dessa perspectiva, apesar de ser gratuito e amparado pela Lei


9.534/1997, há um processo burocrático para emissão do documento,
principalmente, para negros e pessoas de baixa renda. Em conformidade com
uma reportagem exibida pelo Jornal da Record, em julho de 2021, é
perceptível a dificuldade da população negra e ribeirinha para obter a certidão
por se localizar longe do órgão omissor competente. Nesse contexto, é
perceptível que a localidade para a realização deste documento é de suma
importância. Por isso, é viável que todo cidadão saia da maternidade já
registrado ou que seja providenciado esse registro para a população sem
acesso.

Sobretudo, sem estarem identificadas essas pessoas estão


desamparadas pelo governo. Segundo uma entrevista divulgada pelo portal
de notícias UOL, em 2021, uma jovem negra relatou a dificuldade ao acesso à
saúde pública e no sonho de cursar uma graduação. Contou ainda, que a
família já havia feito uma tentativa de travessia de forma ilegal para outro país
ao atravessar a fronteira Brasil/Paraguai com o objetivo de buscar uma vida
melhor. Entretanto, essa é a realidade que milhares de cidadãos brasileiros
não registrados enfrentam diariamente.

Em síntese, novas medidas sociais devem ser elaboradas. Fica sob


incumbência do Ministério da Saúde (MS) em parceria com o Ministério da
Educação (MEC), dar competência às respectivas secretarias estaduais e
regionais para emitir essa documentação nos hospitais e maternidades ou em
creches/escolas. Para viabilizar o registro de cidadãos que não têm acesso aos
estabelecimentos citados, cabe ao Instituto de Identificação realizar visitas
periódicas mensais a fim de coletar dados e informações pessoais para o
registro. A documentação deverá ser entregue pessoalmente para o
solicitante. Em suma, a população identificada, terá acessibilidade aos serviços
e incentivos sociais disponibilizados pelo governo."

14
Emmanuelle Severino
20 anos | Belo Horizonte - MG | @manu.severino

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

15
Transcrição

"A cidadania, no contexto relativo à Grécia Antiga, era restrita aos


homens aristocratas, maiores de vinte e um anos, que participassem do
sistema político de democracia direta do período. Diferentemente dessa
conjuntura, a Carta Magna do Estado brasileiro, vigente na
contemporaneidade, concede o título de cidadão do Brasil aos indivíduos
nascidos em território nacional, de modo que a oficialização dessa condição
está atrelada ao registro formal de nascimento. Nesse contexto, convém
apresentar que, em virtude da ausência dessa documentação, diversas
pessoas passam a enfrentar um quadro de invisibilidade frente à estrutura
estatal e, com isso, são privadas da verdadeira cidadania no país.

Acerca dessa lógica, é necessário pontuar a dificuldade da parcela da


população brasileira, em situação de vulnerabilidade socioeconômica, no
acesso ao procedimento de registro civil. Sob esse viés, destaca-se que,
segundo relatório de 2019 do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, o Brasil é o sétimo país mais desigual do mundo, condição
que implica a existência de indivíduos tupiniquins detentores de rendas
extremamente baixas, as quais, muitas vezes, não são suficientes para fornecer
condições de vida dignas a essas pessoas. A essa linha de raciocínio, os
limitantes recursos financeiros podem impossibilitar o deslocamento desses
indivíduos até os cartórios, devido aos custos com transporte e, por
conseguinte, impedir a realização do registro. Assim, a acentuada
desigualdade social da nação dificulta a promoção da documentação pessoal,
especialmente, para as classes sociais menos abastadas.

Além disso, é importante relacionar a falta do documento de


nascimento com o sentimento de invisibilidade desenvolvido pelos indivíduos
sem registro, tendo em vista a privação dos direitos sociais, civis e políticos
desencadeada pela problemática discutida. Sob essa óptica, somente a partir
da certidão de nascimento, pode-se emitir as carteiras de identidade e de
trabalho, bem como o título de eleitor e o cadastro de pessoa física. Nesse
sentido, o acesso aos programas do governo, a exemplo do auxílio
emergencial - assistência financeira concedida durante a pandemia da
Covid-19 -, à seguridade social e ao exercício do voto dependem, diretamente,
da existência do registro civil. Portanto, a ausência da documentação formal
torna parte da população invisível socialmente, já que essas pessoas não
podem beneficiar-se dos serviços e das garantias do Estado Democrático de
Direito brasileiro.

Diante do exposto, conclui-se que o registro civil é um aspecto


intrínseco à cidadania no Brasil. Por isso, o Governo Federal deverá propiciar a
acessibilidade das populações mais carentes, que sofrem com a falta de
acesso à documentação, a esse tipo de serviço, por meio da articulação de
unidades móveis para os cartórios do país. No que tange a esse aspecto, os
veículos adaptados transportarão os funcionários dos órgãos de registro até as
áreas de menor renda “per capita” de seus respectivos municípios, um dia por
semana, com o intuito de realizar o procedimento formal de emissão dos
documentos de nascimento dos grupos sociais menos favorecidos
economicamente. Desse modo, um maior número de brasileiros acessará,
efetivamente, a condição de cidadão."

16
Evely Lima
20 anos | Lagoa de Velhos - RN | @evelylima__

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Foto: Reprodução/Inep

17
Transcrição

"A Constituição Federal de 1988, norma de maior hierarquia do sistema


jurídico brasileiro, assegura os direitos e o bem-estar da população. Entretanto,
quando se observa a deficiência de visibilidade do registro civil como forma de
garantir o acesso à cidadania no Brasil, verifica-se que esse preceito é
constatado na teoria e não desejavelmente na prática. Dessa forma, essa
realidade se deve à inoperância estatal e à alienação social.

Primeiramente, vale ressaltar que a débil ação do Poder Público possui


íntima relação com o revés. Acerca disso, Thomas Hobbes, em seu livro
"Leviatã", defende a obrigação do Estado em proporcionar meios que auxiliem
o progresso do corpo social. As autoridades, todavia, vão de encontro com a
ideia de Hobbes, uma vez que possuem um papel inerte em relação a
invisibilidade de pessoas sem o registro civil e, por consequência disso, dados
de uma pesquisa estabelecida pelo IBGE, em 2019, estima-se que mais de 2
milhões de pessoas não possuem a certidão de nascimento, mostrando um
alto teor de cidadãos em maioria pobres e negros, excluídos de existirem no
corpo civil. Assim, parcela dessas vítimas vive à margem da sociedade, pois
não existem políticas públicas eficazes como benefícios sociais. Desse modo, é
inadiável que a assistência a esses cidadãos seja alcançada, a partir de
medidas governamentais.

Ademais, uma grande parcela da população se mostra alienada. O


intitulado "Paradoxo da Moral", é um livro escrito pelo musicólogo Vladimir
Jankélévitch para exemplificar a cegueira ética do homem moderno, ou seja, a
passividade das pessoas frente aos impasses enfrentados pelo próximo. De
maneira análoga, percebe-se que a garantia de acesso à cidadania, encontra
um forte alicerce na estagnação social. Essa situação ocorre porque,
infelizmente, a sociedade não se movimenta em prol da erradicação dessa
problemática, pelo contrário, ela adquire uma posição individualista por não
mensurar como a falta de um registro civil causa como, a impossibilidade de
retirar outros documentos precisos. Logo, é essencial superar esses preceitos
que atestam, sobretudo, um cenário intolerante.

Fica evidente, portanto, a necessidade de garantir o acesso à cidadania


para todos no Brasil. Destarte, o Governo Federal, responsável por administrar
o povo e os interesses públicos, com o apoio do Ministério da Cidadania, a
partir de medidas governamentais destinadas à pasta, deve disponibilizar
benefícios financeiros sociais para cidadãos que não tenham como pagar a
retirada de um registro civil. Essa ação será realizada com o intuito de custear
a posse desse documento importante, para que também, a sociedade não
naturalize a intolerância que a permeia. Dessa maneira, com a conjuntura de
tais ações, os brasileiros verão o direito garantido pela Constituição, como uma
realidade."

18
Fernanda Quaresma
20 anos | Recife - PE | @fenunxs @estuda.fequa

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19
Transcrição

"Em “Vidas secas”, obra literária do modernista Graciliano Ramos,


Fabiano e sua família vivem uma situação degradante marcada pela miséria.
Na trama, os filhos do protagonista não recebem nomes, sendo chamados
apenas como o “mais velho” e o “mais novo”, recurso usado pelo autor para
evidenciar a desumanização do indivíduo. Ao sair da ficção, sem desconsiderar
o contexto histórico da obra, nota-se que a problemática apresentada ainda
percorre a atualidade: a não garantia de cidadania pela invisibilidade da falta
de registro civil. A partir desse contexto, não se pode hesitar – é imprescindível
compreender os impactos gerados pela falta de identificação oficial da
população.

Com efeito, é nítido que o deficitário registro civil repercute, sem dúvida,
na persistente falta de pertencimento como cidadão brasileiro. Isso acontece,
porque, como já estudado pelo historiador José Murilo de Carvalho, para que
haja uma cidadania completa no Brasil é necessária a coexistência dos direitos
sociais, políticos e civis. Sob essa ótica, percebe-se que, quando o pilar civil não
é garantido – em outras palavras, a não efetivação do direito devido à falta do
registro em cartório –, não é possível fazer com que a cidadania seja alcançada
na sociedade. Dessa forma, da mesma maneira que o “mais novo” e o “mais
velho” de Graciliano Ramos, quase 3 milhões de brasileiros continuam por ser
invisibilizados: sem nome oficial, sem reconhecimento pelo Estado e, por fim,
sem a dignidade de um cidadão.

Além disso, a falta do sentimento de cidadania na população não


registrada reflete, também, na manutenção de uma sociedade historicamente
excludente. Tal questão ocorre, pois, de acordo com a análise da antropóloga
brasileira Lilia Schwarcz, desde a Independência do Brasil, não há a formação
de um ideal de coletividade – ou seja, de uma “Nação” ao invés de,
meramente, um “Estado”. Com isso, o caráter de desigualdade social e
exclusão do diferente se mantém, sobretudo, no que diz respeito às pessoas
que não tiveram acesso ao registro oficial, as quais, frequentemente, são
obrigadas a lidar com situações humilhantes por parte do restante da
sociedade: das mais diversas discriminações até o fato de não poderem ter
qualquer outro documento se, antes, não tiverem sua identificação oficial.

Portanto, ao entender que a falta de cidadania gerada pela


invisibilidade do não registro está diretamente ligada à exclusão social, é
tempo de combater esse grave problema. Assim, cabe ao Poder Executivo
Federal, mais especificamente o Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos, ampliar o acesso aos cartórios de registro civil. Tal ação
deverá ocorrer por meio da implantação de um Projeto Nacional de Incentivo
à Identidade Civil, o qual irá articular, junto aos gestores dos municípios
brasileiros, campanhas, divulgadas pela mídia socialmente engajada, que
expliquem sobre a importância do registro oficial para garantia da cidadania,
além de instruções para realizar o processo, a fim de mitigar as desigualdades
geradas pela falta dessa documentação. Afinal, assim como os meninos em
“Vidas secas”, toda a população merece ter a garantia e o reconhecimento do
seu nome e identidade."

20
Gabriel Borges
22 anos | Porto Alegre - RS | @borgesgabo

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21
Transcrição

"Norberto Bobbio, cientista político italiano, afirma que a democracia é


um processo que tem, em seu cerne, o objetivo de garantir a
representatividade política de todas as pessoas. Para que o mecanismo
democrático funcione, então, é fundamental apresentar uma rede estatal que
dê acesso a diversos recursos, como alimentação, moradia, educação,
segurança, saúde e participação eleitoral. Contudo, muitos brasileiros, por não
terem uma certidão de nascimento, são privados desses direitos básicos e têm
seus papéis de cidadãos inviabilizados. Logo, deve-se discutir as raízes
históricas desse problema e as suas consequências nocivas.

Primeiramente, vê-se que o apagamento social gerado pela falta de


registro civil apresenta suas origens no passado. Para o sociólogo Karl Marx, as
desigualdades são geradas por condições econômicas anteriores ao
nascimento de cada ser, de forma que, infelizmente, nem todos recebem as
mesmas oportunidades financeiras e sociais ao longo da vida. Sob esse viés, o
materialismo histórico de Marx é válido para analisar o drama dos que vivem
sem certificado de nascimento no Brasil, pois é provável que eles pertençam a
linhagens familiares que também não tiveram acesso ao registro. Assim, a
desigualdade social continua sendo perpetuada, afetando grupos que já
foram profundamente atingidos pelas raízes coloniais e patriarcais da nação.
Dessa forma, é essencial que o governo quebre esse ciclo que exclui,
sobretudo, pobres, mulheres, indígenas e pretos.

Além disso, nota-se que esse processo injusto cria chagas profundas na
democracia nacional. No livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, é
apresentada a história de uma família sertaneja que luta para sobreviver sem
apoio estatal. Nesse contexto, os personagens Fabiano e Sinhá Vitória tem dois
filhos que não possuem certidão de nascimento. Por conta dessa situação
irregular, os dois meninos sequer apresentam nomes, o que é impensável na
sociedade contemporânea, uma vez que o nome de um indivíduo faz parte da
construção integral da sua identidade. Ademais, as crianças retratadas na obra
são semelhantes a muitas outras do Brasil que não usufruem de políticas
públicas da infância e da adolescência devido à falta de documentos, o que
precisa ser modificado urgentemente para que se estabeleça uma
democracia realmente participativa tal qual aquela prevista por Bobbio.

Portanto, o registro civil deve ser incentivado de maneira mais objetiva


no país. O Estado criará um mutirão nacional intitulado “Meu registro, minha
identidade”. Esse projeto funcionará por meio da união entre movimentos
sociais, comunidades locais e órgãos governamentais municipais, estaduais e
federais, visto que é necessária uma ação coletiva visando a consolidação da
cidadania brasileira. Com o trabalho desses agentes, serão enviados
profissionais a todas as cidades em busca de pessoas que, finalmente, terão
suas certidões de nascimento confeccionadas, além de receberem
acompanhamento e incentivo para a realização de cadastro em outros
serviços importantes do sistema nacional. Por conseguinte, o Brasil estará
agindo diretamente para repor suas injustiças históricas e para solidificar sua
democracia, de maneira que os seus cidadãos sejam vistos igualmente."

22
Giovanna Dias
19 anos | Recife - PE | @gisgdias_

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23
Transcrição

"Em sua obra “Os Retirantes”, o artista expressionista Cândido Portinari


faz uma denúncia à condição de desigualdade compartilhada por milhões de
brasileiros, os quais, vulneráveis socioeconomicamente, são invisibilizados
enquanto cidadãos. A crítica de Portinari continua válida nos dias atuais,
mesmo décadas após a pintura ter sido feita, como se pode notar a partir do
alto índice de brasileiros que não possuem registro civil de nascimento, fator
que os invisibiliza. Com base nesse viés, é fundamental discutir a principal
razão para a posse de documento promover a cidadania, bem como o
principal entrave que impede que tantas pessoas não se registrem.

Com efeito, nota-se que a importância da certidão de nascimento para


a garantia da cidadania se relaciona à sua capacidade de proporcionar um
sentimento de pertencimento. Tal situação ocorre, porque, desde a formação
do país, esse sentimento é escasso entre a população, visto que, desde 1500, os
países desenvolvidos se articularam para usufruir ao máximo do que a colônia
tinha a oferecer, visando ao lucro a todo custo, sem se preocupar com a
população que nela vivia ou com o desenvolvimento interno do país. Logo,
assim como estudado pelo historiador Caio Prado Júnior, formou-se um
Estado de bases frágeis, resultando em uma falta de um sentimento de
identificação como brasileiro. Desse modo, a posse de documentos, como a
certidão de nascimento, funciona como uma espécie de âncora para uma
população com escasso sentimento de pertencimento, sendo identificada
como uma prova legal da sua condição enquanto cidadãos brasileiros.

Ademais, percebe-se que o principal entrave que impede que tantas


pessoas no Brasil não se registrem é o perfil da educação brasileira, a qual tem
como objetivo formar a população apenas como mão de obra. Isso acontece,
porque, assim como teorizado pelo economista José Murilo de Carvalho,
observa-se a formação de uma “cidadania operária”, na qual a população mais
vulnerável socioeconomicamente não é estimulada a desenvolver um
pensamento crítico e é idealizada para ser explorada. Nota-se, então, que,
devido a essa disfunção no sistema educacional, essas pessoas não conhecem
seus direitos enquanto cidadãos, como o direito de possuir um documento de
registro civil. Assim, a partir dessa educação falha, forma-se um ciclo de
desigualdade, observado no fato de o país ocupar o 9° lugar entre os países
mais desiguais do mundo, segundo o IBGE, já que, assim como afirmado pelo
sociólogo Florestan Fernandes, uma nação com acesso a uma educação de
qualidade não sujeitaria seu povo a condições de precária cidadania, como a
observada a partir do alto número de pessoas sem registro no país.

Portanto, observa-se que a questão do alto índice de pessoas no Brasil


sem certidão de nascimento deve ser resolvida. Para isso, é necessário que o
Ministério da Educação reforce políticas de instrução da população acerca dos
seus direitos. Tal ação deve ocorrer por meio da criação de um Projeto
Nacional de Acesso à Certidão, a qual irá promover, nas escolas públicas de
todos os 5570 municípios brasileiros, debates acerca da importância do
documento de registro civil para a preservação da cidadania, os quais irão
acontecer tanto extracurricularmente, quanto nas aulas de sociologia. Isso
deve ocorrer, a fim de formar brasileiros que, cientes dos seus direitos, podem
mudar o atual cenário de precária cidadania e desigualdade."

24
Iasmin Schausse
21 anos | Niterói - RJ | @iaschausse

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25
Transcrição

"O conceito "Cidadanias Mutiladas", do geógrafo brasileiro Milton Santos,


explicita que a democracia só é efetiva quando atinge a totalidade do corpo
social. A partir dessa perspectiva, é possível observar que a realidade
contemporânea brasileira se distancia desse ideal democrático, visto que
inúmeros indivíduos ainda permanecem em uma situação de invisibilidade
acarretada pela ausência do registro civil- o qual atua como uma ferramenta
de garantia de acesso à cidadania no país. Desse modo, é essencial analisar os
principais propulsores desse contexto hostil: o descaso governamental e a
falha educacional.

Sob esse viés analítico, é importante destacar, a princípio, que a


inoperância estatal é um fator preponderante para a ocorrência dessa
problemática. Esse cenário decorre do fato de que, assim como pontuou o
economista norte-americano Murray Rothbard, uma parcela dos
representantes governamentais, ao se orientar por um viés individualista e
visar um retorno imediato de capital político, negligencia a conservação de
direitos sociais indispensáveis, como a garantia de registro civil. Em
decorrência dessa indiligência do poder público, cria-se um ambiente propício
para a precarização infraestrutural de locais especializados no aporte de
documentação pessoal- materializada na carência de cartórios, sobretudo, em
regiões mais afastadas dos centros urbanos. Logo, é notório que a omissão do
Estado perpetua o deficitário acesso à cidadania.

Além disso, é válido ressaltar que a lacuna no sistema de educação


potencializa essa conjuntura. Isso acontece porque, desde o século XX, com a
implementação de um formato tradicionalista de ensino pelo ex-presidente
Vargas, cristalizou-se um modelo educacional que negligencia o aprendizado
de temas transversais, a exemplo de concepções básicas acerca da cidadania.
Nessa perspectiva, com o desconhecimento de parte da população- oriundo
da escassez instrucional- sobre a relevância da garantia de direitos, há uma
invisibilização da situação sofrida por pessoas que não possuem acesso aos
documentos basilares, como a certidão de nascimento. Como consequência
disso, mantém-se o quadro de ausência de ações sociais efetivas no que tange
à reversão desse contexto, fragilizando, com isso, a isonomia presente nas
relações democráticas. Dessa forma, é imprescindível combater a falha do
processo educacional, visto que marginaliza uma classe da sociedade.

É evidente, portanto, a necessidade de medidas que solucionem os


desafios impostos à garantia de acesso à cidadania no Brasil. Por isso, o
Ministério Público- órgão responsável pela defesa dos interesses sociais- deve,
por meio da fiscalização da aplicação dos poderes estatais, pressionar o
Estado no que se refere ao aporte de infraestrutura ao setor que oferta o
registro civil, a fim de que a retirada desse documento seja ampliada para as
diversas regiões do país. Ademais, as instituições escolares públicas e privadas
devem, por intermédio de palestras, instruir os alunos acerca da importância
da documentação pessoal, com o objetivo de minimizar a invisibilização desse
tema e, com isso, estimular atitudes combativas à conjuntura de indivíduos
sem registro. Assim, o ideal do geógrafo Milton Santos será, de fato, uma
realidade no país."

26
Luiza Mamede
18 anos | Goiânia - GO | @luiza.mamede @luu.studiee

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27
Transcrição

"Uma das referências quando o assunto é democracia é a antiga cidade


grega Atenas, onde surgiu essa forma de governo com a participação popular
na política e a valorização da cidadania, a qual, contudo, era bastante restrita,
visto que excluía mulheres, estrangeiros e escravos. Nesse sentido, é possível
observar que o Brasil atual vive uma situação análoga à ateniense, dado que,
mesmo sendo uma democracia - neste caso, indireta - quase 3 milhões de
brasileiros, segundo projeção do IBGE, não possuem registro civil, não sendo,
por isso, reconhecidos como cidadãos. Assim, torna-se imprescindível discutir
essa situação, pois ela repete erros antigos ao privar grupos sociais da
participação democrática e se perpetua por conta da morosidade do Estado
que afeta direitos constitucionais.

Sob essa ótica, cabe frisar que a garantia de registro civil a todos os
brasileiros é essencial e urgente, porque permite a sua participação na
sociedade. Acerca disso, o filósofo grego Aristóteles, segundo o conceito de
Zoon Politikon, afirmava que o ser humano é um animal político e que a sua
finalidade é a obtenção da felicidade, adquirida ao exercer o que lhe é
substancial: pensar e viver em sociedade. Dessa forma, evidencia-se a
problemática da falta de acesso à cidadania no Brasil, uma vez que as pessoas
que não são reconhecidas pelo Estado, devido à falta de documentação, são,
por conseguinte, privadas da participação política e negligenciadas pela
sociedade, impedidas de exercer a sua finalidade e de alcançar a felicidade.

Ademais, é válido apontar que essa exclusão política e social vem sendo
perpetuada pela lentidão administrativa do Estado. Nesse contexto,
relembra-se que o sociólogo Gilberto Dimenstein, em sua obra “O Cidadão de
Papel”, afirma que, embora o Brasil possua um sólido aparato legislativo, ele
mantém-se restrito ao plano teórico. Dessa maneira, verifica-se a
materialização do apontado por Dimenstein no fato de que os direitos
previstos na Constituição Cidadã de 1988 não são garantidos a todos os
brasileiros na prática, o que ocorre em grande parte devido à burocracia e à
morosidade do Estado, que dificultam o registro dessas pessoas. Logo, sem
documento, esses cidadãos invisíveis são privados do pleno acesso aos seus
direitos constitucionais.

Portanto, infere-se que é mister que o Estado - cumprindo seu papel de


garantir a cidadania a todos os brasileiros e de efetivar a Constituição Federal -
combata as razões de sua própria lentidão, por meio do destino de verbas para
a construção de novas zonas de registro e para a contratação de profissionais
para esse fim. Isso deve ser feito a fim de que não mais existam grupos
excluídos da participação democrática, como ocorria em Atenas, e se
garantam a cidadania e os direitos, além da plena vivência política, a toda a
população do Brasil."

28
Maitê Maria
20 anos | João Pessoa - PB | @maitemariaa

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29
Transcrição

"No célebre texto “As Cidadanias Mutiladas”, o geógrafo brasileiro Milton


Santos afirma que a democracia só é efetiva à medida que atinge a totalidade
do corpo social, isto é, quando os direitos são desfrutados por todos os
cidadãos. Todavia, no contexto hodierno, a invisibilidade intrínseca à falta de
documentação pessoal distancia os brasileiros dos direitos
constitucionalmente garantidos. Nesse cenário, a garantia de acesso à
cidadania no Brasil tem como estorvos a burocratização do processo de
retirada do registro civil, bem como a indiferença da sociedade diante dessa
problemática.

Nessa perspectiva, é importante analisar que as dificuldades relativas à


retirada de documentos pessoais comprometem o acesso à cidadania no
Brasil. Nesse sentido, ainda que a gratuidade do registro de nascimento seja
assegurada pela lei de número 9.534 da Carta Magna, os problemas
associados à documentação civil ultrapassam a esfera financeira, haja vista
que a demanda por registros civis é incompatível com a disponibilidade de
vagas ofertadas pelos órgãos responsáveis, o que torna o processo lento e
burocrático. Sob tal óptica, a realidade brasileira pode ser sintetizada pelo
pensamento do sociólogo francês Pierre Bourdieu, o qual afirma que a
"violência simbólica" se expressa quando uma determinada parcela da
população não usufrui dos mesmos direitos, fato semelhante à falta de acesso
à cidadania relacionada aos imbróglios da retirada de documentos de
identificação no País.

Outrossim, é válido destacar a ausência de engajamento social como


fator que corrobora a invisibilidade intrínseca à falta de documentação. Fica
claro, pois, que a indiferença da sociedade diante da importância de assegurar
o acesso aos registros civis para todos os indivíduos silencia a temática na
conjuntura social, o que compromete a cidadania de muitos brasileiros, haja
vista que a posse de documentos pessoais se faz obrigatória para acessar os
benefícios sociais oferecidos pelo Estado. Sob esse viés, é lícito referenciar o
pensamento do professor israelense Yuval Harari, o qual, na obra “21 Lições
para o Século XXI”, afirma que grande parte dos indivíduos não é capaz de
perceber os reais problemas do mundo, o que favorece a adoção de uma
postura passiva e apática.

Torna-se imperativo, portanto, que cabe ao Ministério da Cidadania,


como importante autoridade na garantia dos direitos dos cidadãos brasileiros,
facilitar o processo de retirada de documentos pessoais no Brasil. Tal medida
deve ser realizada a partir do aumento de vagas ofertadas diariamente nos
principais centros responsáveis pelos registros civis, além do estabelecimento
de um maior número de funcionários, a fim de tornar o procedimento mais
dinâmico e acessível, bem como garantir o acesso à cidadania aos brasileiros.
Ademais, fica a cargo do Ministério das Comunicações estimular o
engajamento social por meio de propagandas televisivas e nas redes sociais,
com o fito de dar visibilidade à temática e assim assegurar os direitos
cidadãos."

30
Malu Souza
18 anos | Viçosa - MG | @malusouzan

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31
Transcrição

"Na obra "O Cidadão de Papel", o jornalista brasileiro Gilberto


Dimenstein disserta acerca da inefitividade dos direitos dos indivíduos, visto
que, apesar das inúmeras garantias elencadas pela legislação, elas ficam
restritas aos documentos oficiais e não são percebidas no cotidiano nacional.
Nesse sentido, o disposto pelo autor é vivenciado pelos seres que não
possuem registro civil no país e, consequentemente, por serem invisibilizados,
não possuem acesso à cidadania plena no Brasil. Diante disso, deve-se
pontuar a baixa informatividade do corpo social como causa e a negligência
dos direitos básicos dos seres como reflexo da problemática em questão.

Nesse contexto, é válido ressaltar, inicialmente, que a ausência de


conhecimento da população intensifica os casos de brasileiros sem
documentos. Isso porque, segundo o filósofo alemão Jürgen Habermas, a
democracia justa é fundamentada no diálogo e na troca de conhecimento
entre os seres e as instituições sociais. Contudo, os postulados do estudioso
não são aplicados na sociedade brasileira, uma vez que diversas entidades,
como a mídia e o poder público, falham em disseminar informações sobre a
relevância do registro de nascimento e sobre como proceder para gerar esse
tipo de documento.Prova disso é a escassez de campanhas governamentais e
midiáticas, direcionadas à massa populacional, que abordem a temática da
documentação pessoal. Desse modo, em virtude da desinformação, ocorre a
persistência da problemática no país e, como consequência, as pessoas sem
identificação são invisibilizadas, o que impede a consolidação de uma nação
que assegure os benefícios sociais a todos.

Por conseguinte, cabe salientar que a ausência de documentação


interfere no acesso dos direitos previstos por lei. Nesse cenário, a partir do
conceito de "cidadania mutilada", o geógrafo brasileiro Milton Santos postula
que as disposições da Carta Magna não contemplam todos os seres, como é o
caso dos indivíduos sem registro civil. Sob esse viés, o intelectual menciona
que a cidadania plena não é vivida por todos, já que, no caso de pessoas sem
documentação, o acesso à educação, à saúde e ao trabalho é limitado em
razão da exigência de identidade ou CPF para usufruir desses direitos.
Exemplo disso é o drama vivido por Alex, protagonista da série "Maid", que, por
não ter carteira de trabalho, não consegue matricular sua filha em uma escola
pública - a qual poderia ser frequentada por qualquer cidadão. Dessa forma,
verifica-se que as pessoas sem identificação não desfrutam de suas garantias
e, com efeito, não são percebidas - tanto pelo Estado quanto pelo corpo social
- como dignas e pertencentes ao país, o que afeta o bem-estar do ser.

Torna-se evidente, portanto, que medidas são necessárias para


modificar o panorama do registro civil no Brasil. Então, cabe à mídia, entidade
responsável por disseminar informações, por meio do incentivo fiscal do
governo, elaborar campanhas informativas, as quais devem ser didáticas e de
fácil entendimento, sobre a importância da documentação pessoal desde o
nascimento, no intuito de alertar a população e, por consequência, diminuir o
contingente de indivíduos sem identificação. Assim, os habitantes do Brasil,
poderão exercer a cidadania plena - diferentemente da mencionada por
Dimenstein."

32
Pedro Henrique Machado
17 anos | Rio de Janeiro - RJ | @phrezende1605

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33
Transcrição

"Para a filósofa estadunidense Nancy Fraser, o conceito de justiça social


funda-se em duas frentes, sendo uma delas a do reconhecimento, referente à
existência e à visibilidade de um determinado grupo ou indivíduo perante o poder
público e a sociedade. Nesse viés, a fim do efetivo asseguramento da cidadania de
seus indivíduos, o corpo estatal exige a materialização do existir de seus cidadãos
mediante documentos oficiais, os quais proporcionam o acesso a prerrogativas e
serviços que lhes cabem aos indivíduos registrados. No entanto, não raras são as
ocasiões em que não há tais registros, o que levanta debates acerca da importância
dos documentos civis e da devida regularização dos cidadãos à garantia de acesso à
cidadania plena e, portanto, à visibilidade, no Brasil, embasados, sobretudo, na
oportunidade de indivíduos alijados à sociedade ascenderem de condições de vida,
somada à possibilidade de estes construírem seu verdadeiro "eu". Tendo isso em vista,
o Estado deve agir visando à facilitação e à democratização de tal processo civil.

De início, é notório o caráter indispensável do registro civil na promoção da


cidadania, em especial, de indivíduos à margem da sociedade e da atuação do poder
público, possibilitando sua ascensão social. Segundo o geógrafo Milton Santos, o
Brasil vive um cenário de cidadanias mutiladas, em que, embora a Constituição
preveja, de forma universal e indistinta, o acesso a prerrogativas, estas não são
efetivamente consubstanciadas na prática, engendrando disparidades sociais
baseadas, principalmente, no poder econômico dos membros da sociedade. Nesse
contexto, pessoas em uma posição inferior da pirâmide social têm seus direitos
renegados, em uma estrutura baseada no capital, restando ao Estado o dever de,
ainda que parcialmente, complementar a iniciativa privada na oferta de serviços e de
prerrogativas mercantilizadas, em busca de uma conjuntura de maior equidade
social. Dessa forma, o registro civil, ao estabelecer a conexão indivíduo-poder público,
permite que este atue de forma localizada e eficiente sobre comunidades ou
cidadãos, com o fito de promover sua ascensão social, tendo o documento papel
primordial nesse intermédio.

Além disso, já em um âmbito existencialista, a regularização do indivíduo, ao


materializar sua existência, fornece um importante amparo na síntese de seu
verdadeiro "eu". Conforme o filósofo Jean-Paul Sartre, o homem é dotado de
liberdade para construir sua essência, mediante tomadas de decisões, porém apenas
quando sobre ela precede a existência humana. Nessa perspectiva, o fato de existir é
imprescindível para que o cidadão, em seu íntimo, seja capaz de, ao longo de sua
vivência, sintetizar quem ele realmente é, com toda a liberdade intrínseca a sua
existência. Desse modo, o registro civil de uma família, por exemplo, permitirá que
esta, sob um regime de supervisão e auxílio do Estado, seja atriz de sua própria
história, definindo a essência de cada um de seus membros e sintetizando, de forma
ativa, seu legado a gerações futuras, tornando-se mais visíveis a elas, ao corpo estatal
e à sociedade como um todo, o que ressalta a sua cidadania.

Portanto, em vista dos benefícios inerentes ao registro civil e sua facilitação, no


que se refere à cidadania, faz-se necessário que o Estado, através de parceiros entre as
esferas federal, estadual e municipal, democratize a retirada de documentos cidadãos,
por meio da construção de centros de registro e cartórios em zonas periféricas ou
interioranas, os quais disponibilizem atendimento integral e direcionado a indivíduos
de baixa renda que não tiveram a oportunidade de reivindicar seus documentos. A
finalidade de tal ação é ampliar e garantir o acesso à cidadania plena no Brasil, já que
esta só pode ser integralmente alcançada, na maioria dos casos, com, no mínimo, a
certidão de nascimento, justamente por informar o poder público a respeito de sua
existência como cidadão. Somente assim, poder-se-á construir um cenário de justiça
social e de reconhecimento igualitário dos indivíduos perante o corpo social e estatal,
universalizando prerrogativas e fazendo da sociedade uma instituição harmoniosa e,
em seu conjunto, cidadã."

34
Rafaella Frutuoso
23 anos | Macaé - RJ | @rafaafrutuoso

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Foto: Reprodução/Inep

35
Transcrição

"A Declaração Universal dos Direitos Humanos busca garantir a todos os


cidadãos pleno acesso aos direitos básicos, como saúde e educação, além de
preservar a integridade e dignidade da pessoa humana. Entretanto, tais
garantias são negligenciadas quando indivíduos não conseguem obter o
registro civil, documento que garante acesso à cidadania no Brasil e previne a
invisibilidade social. Dessa forma, a ausência desse documento causa a
marginalização do povo e impede a ascensão social dos brasileiros.

Deve-se destacar, primeiramente, que a falta da certidão de nascimento


gera a marginalização do corpo social. Nesse sentido, a obra "Vidas Secas", do
autor Graciliano Ramos, retrata a vida de indivíduos que, por não possuírem
registro civil, não possuem nomes próprios, não conseguem acesso aos
direitos mais básicos, como moradia e alimentação, e são submetidos à
situação análoga à escravidão. Desse modo, quando cidadãos não têm acesso
a esse documento, são excluídos da sociedade e não conseguem recorrer às
autoridades estatais para a defesa de seus direitos, visto que, para isso,
necessitam de documentos oficiais. Logo, compara-se que a ausência desse
registro causa a marginalização de indivíduos no Brasil.

Além disso, a falta dessa certificação civil impede a ascensão social dos
brasileiros. Sob essa perspectiva, a Constituição Federal Brasileira garante, em
seu 6° artigo, que todo cidadão tem direito de acesso à saúde, à educação, ao
trabalho, à moradia, entre outros, objetivando assegurar não só direitos
básicos, como também a possibilidade de ascender socialmente. Contudo,
quando uma pessoa não consegue obter esse documento, todas as suas
garantias fundamentais são negligenciadas, impedindo que esse cidadão
frequente a escola, obtenha registro trabalhista, acesse a universidade e
alcance bons salários e alto nível de instrução profissional. Com isso, a
ausência da certidão de nascimento impede a ascensão social dos brasileiros.

Portanto, para mitigar a invisibilidade causada pela inexistência do


registro civil e garantir o acesso à cidadania, cabe ao Governo Federal ampliar
as formas de obter a certidão de nascimento, por meio da criação de pontos
de registro civil em prédios públicos - como escolas e hospitais -, a fim de
facilitar e ampliar a obtenção desse documento. Ademais, as Organizações
não Governamentais - instituições sem fins lucrativos, que buscam defender
uma causa - devem organizar movimentos para cadastro civil, nas quais
conduzirão a população até o cartório mais próximo, para que se reduza o
número de brasileiros não registrados. Assim, o propósito principal da
Declaração Universal dos Direitos Humanos será realidade no Brasil."

36
Sarah Fernandes
21 anos | São José dos Campos - SP | @sarahh_paulista

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

37
Transcrição

"Ser é ser percebido

O clássico da literatura infantil inglesa "Oliver Twist" aborda as vivências


daqueles marginalizados durante a era vitoriana e a forma como eram
consideradas invisíveis por não pertencerem à lógica social. Essa percepção
sobre uma parcela considerável da população dialoga, analogamente, com a
realidade atual de inúmeros brasileiros que não possuem acesso aos seus
direitos civis por não apresentarem registros primários necessários à inserção
como cidadão no próprio país. Dessa forma, torna-se notório que a garantia
aos principais instrumentos de validação pessoal enfraquece problemáticas
estruturais da totalidade tupiniquim, pois a invisibilidade não só fortalece a
marginalização, como também mantém um ciclo de violações.

É nesse contexto que a máxima do Empirismo Radical "ser é ser


percebido" reforça a urgência em ser considerado um cidadão, uma vez que a
existência de um indivíduo diante do Estado ocorre substancialmente a partir
do registro da certidão de nascimento, ou seja, esse é o meio de ser percebido
como um agente social pela estrutura do país. Essa estrutura, segundo o
antropólogo belga Claude Lévi-Strauss, representa o conjunto de padrões
sociais nos quais as relações interpessoais estão ancoradas e, desse modo,
determina o papel do sujeito na comunidade. Como o registro civil, para obter
direitos no Brasil, e estrutural à lógica contemporânea, a individualidade só se
faz presente por meio dos documentos oficiais, o que promove, portanto, a
invisibilidade daqueles que não as possuem.

Além disso, tal apagamento identitário mantém o agravamento da


problemática presente entre as gerações de forma cíclica, pois pais invisíveis
geram filhos invisíveis ao país. Como é preciso ser registrado para ter acesso
aos princípios básicos para a manutenção da vida, os quais, de acordo com a
consolidação dos direitos civis durante o iluminismo francês, são a
prosperidade, a liberdade e todos os aspectos que envolvem a vida, como a
educação, a saúde, garantia de acesso à cidadania representa um caminho
para a valorização individual. Nesse cenário, a supressão da invisibilidade e,
consequentemente, a percepção pessoal pela totalidade brasileira marcam o
início do avanço social no país e o afasta, por fim, da realidade analisada em
"Oliver Twist, na qual as pessoas não eram reconhecidas como seres humanos
por não serem percebidas.

Há, portanto, a urgência de findar essa problemática notória na


estrutura do Brasil. Cabe, então, ao Ministério da Família e dos Direitos
Humanos, responsável pelo encabeçamento da manutenção da seguridade
social, promover, em parceria com prefeituras e sub-prefeituras, um aumento
da eficácia do registro civil nos municípios. Essa ação irá ocorrer por meio de
campanhas, as quais promoverão a conscientização sobre o acesso aos
direitos civis, e documento da contratação de funcionários dos Fóruns para
agilizar o registro, principalmente, das certidões de nascimento. Dessa
maneira, haverá a diminuição da marginalização de uma parcela populacional,
seja ativamente pela garantia do acesso a cidadania, seja pelo rompimento do
ciclo de invisibilidade."

38
Yasmin Magrine
19 anos | Juiz de Fora - MG | @yasminmagrine

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

39
Transcrição

"Na obra "Utopia", do escritor inglês Thomas More, é retratada uma


sociedade perfeita, na qual o corpo social se ausenta de conflitos e problemas.
No entanto, o que se observa na realidade contemporânea é o oposto ao que
o autor prega, tendo em vista que a invisibilidade de registro civil ainda
persiste na sociedade brasileira. Esse cenário antagônico é fruto tanto da
ausência de atuação estatal, quanto da escassez de conhecimento sobre a
importância desse registro. Desse modo, analisar intrinsecamente as causas
dessa problemática na sociedade é medida que se faz imediata.

Precipuamente, é fulcral pontuar a falta de atuação dos setores


governamentais, no que concerne à criação de mecanismos que coíbam tais
recorrências. Segundo Thomas Hobbes, o estado é responsável por garantir o
bem-estar da população, entretanto, isso não ocorre no Brasil. Devido à falta
de atuação das autoridades, o Brasil ainda se encontra com o índice de
pessoas sem documentação pessoal muito elevado. De acordo com o IBGE,
no sudeste, foram registrados 1,15 milhões de pessoas sem certidão de
nascimento, e isso se deve pelo fato de não haver políticas públicas que
informem sobre a importância da documentação. Dessa forma, faz-se mister a
reformulação dessa postura estatal de forma urgente.

Ademais, é imperativo ressaltar a escassez de informação da população


como promotora do problema. De acordo com a Constituição Brasileira, a
partir de 1997 o registro de nascimento tornou-se gratuito no país, o que
facilita o acesso a documentação àqueles que possuem dificuldades
financeiras. Partindo desse pressuposto, apesar da gratuidade do registro, a
problemática ainda persiste na sociedade, o que remete ao pensamento de
que a complexidade dessa invisibilidade ultrapassa o campo financeiro,
podendo ser vista como uma falta de conhecimento da população sobre as
leis do país. Tudo isso retarda a resolução do empecilho, já que a precariedade
informacional contribui para a perpetuação desse quadro deletério.

Assim, medidas exequíveis são necessárias para conter o avanço do


impasse na sociedade brasileira. Dessarte, com o intuito de mitigar a
invisibilidade e garantir a cidadania, necessita-se, urgentemente, que o
Tribunal de Contas da União direcione capital que, por intermédio do
Ministério da Educação, será revertido em ações sociais nas escolas e
faculdades, que visem passar prematuramente, informações do quão
importante é o registro civil na sociedade brasileira, através de palestras com
profissionais do meio estatal. Desse modo, atenuar-se-á em médio e longo
prazo, o impacto nocivo da invisibilidade e a coletividade alcançará a Utopia
de More."

40
Agradecimentos
Reconhecimento dos autores a pessoas/instituições decisivas para seus resultados:

Colégio Agostiniano NSF


Colégio de Aplicação da UFPE
Colégio Santa Marcelina de Belo
Horizonte
Colégio SESC - São José | Bom Jesus
Cursinho Me Salva! - @mesalvaoficial
Curso Redação Nota Mil
Escola Municipal de Ensino
Fundamental Leo Joas
Prof. Beto Ferreira - @betoredacao
Prof. Bruno Rodrigues - @trintalinhas
Prof. Peron Rios
Profª. Camilla Borges
Profª. Daniela Varejão
Profª. Elianay Zanella
Profª. Fernanda Brandão
Profª. Fernanda Pessoa -
@pessoafernanda
Profª. Fernanda Zara
Profª. Karla Santa Bárbara
Profª. Liu Lima - @profliulima
Profª. Lorena Leon
Profª. Luana Gabriela
Profª. Mariana Rosa -
@marirosaredacao @marirosafr
Profª. Raquel Prado -
@professoraraquelprado
PUCRS

41
0
Prezado estudante,

Seja bem-vindo à Cartilha Redação a Mil 5.0! Aqui estão reunidas 27 das 32
redações nota máxima do Enem 2022, muitas delas publicadas com exclusividade
nesta cartilha. Todos os textos foram concedidos por livre e espontânea vontade
dos autores para construir este documento extraoficial.

Para assegurar a credibilidade da cartilha, nós cruzamos os dados


de cada um dos autores com os microdados do Enem 2022,
disponibilizados pelo Inep. Cada aluno corresponde a uma das 32
notas mil oficializadas pelo instituto e os comprovantes da nota
de cada um estão reunidos no QR Code ao lado:

Em seguida, você encontrará uma seção para cada redação, contendo o espelho e
o texto transcrito. Elas estão organizadas em ordem alfabética, mas não há ordem
certa para leitura. Caso queira imprimir essa cartilha, dê preferência à versão
reduzida (bit.ly/reduzidamil5) para uma impressão econômica.

O lançamento da quinta edição desse projeto é a realização de algo muito além


do que eu jamais poderia imaginar. Um material popular que entrou nas salas de
aula, estantes de bibliotecas, e na boca dos estudantes de todo o Brasil. Assim
como muitos dos autores dessa edição, eu cresci junto das cartilhas. Todos os
anos lendo, transcrevendo, e investigando nomes de alunos nota 1000 de Norte a
Sul. São anos acumulando números de DDDs do país inteiro de jovens que só têm
uma coisa em comum: a nota da redação. Ou melhor, duas: a nota da redação e a
vontade de ajudar o próximo num processo que só desestimula a colaboração.

Esse ano tivemos mais redações nota mil do que no ano passado, e muitos dos
autores aqui hoje presentes liam essa cartilha para estudar. Só por isso tenho
muito a agradecer. Tenho me afastado das redes para focar nos estudos e carreira
profissional, mas se tem uma coisa que sempre esteve certa na minha mente é
que essa cartilha tinha que ser feita. Ela precisa continuar. Se tiver algo que fique
como meu legado na educação brasileira, que seja isso – como algo tão simples
pode mudar a história de milhões de pessoas.

A educação é libertadora e a escrita, para além do vestibular, é forma de


expressão. Espero que, a partir da leitura desses textos, você enxergue seu sonho
como mais próximo e sinta-se mais confiante em realizar essa prova. De
estudantes para estudantes, boa sorte. Já deu certo.

ATENÇÃO: Sob nenhuma hipótese esse material pode ser revendido. Ele é gratuito e disponível no formato digital a todos. Professores,
blogs, portais, e/ou cursos que desejem extrair textos desta cartilha devem manter os devidos créditos ao material. O direito de uso dos
textos foi estritamente concedido para este documento, e não pode ser aplicado a outras fontes sem autorização prévia.

1
Sumário
Tema | "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil" 5

Ana Alice Azevedo 6


Espelho 6
Transcrição 7

Ana Alice Freire 8


Espelho 8
Transcrição 9

Ana Carolina Angelim 10


Espelho 10
Transcrição 11

Ana Laura Torquato 12


Espelho 12
Transcrição 13

Carina Moura 14
Espelho 14
Transcrição 15

Fernanda Barbosa 16
Espelho 16
Transcrição 17

Flora Mello 18
Espelho 18
Transcrição 19

Giovana Fantoni Guimarães 20


Espelho 20
Transcrição 21

Giovanna Fagundes 22
Espelho 22
Transcrição 23

Julia Berge 24
Espelho 24
Transcrição 25

2
Juliana Moreau de Almeida Soares 26
Espelho 26
Transcrição 27

Laura Muniz de Lima Leitão 28


Espelho 28
Transcrição 29

Laura Tamires 30
Espelho 30
Transcrição 31

Letícia Marques 32
Espelho 32
Transcrição 33

Luís Felipe Alves Paiva de Brito 34


Espelho 34
Transcrição 35

Luis Gustavo Delfino Alcoforado 36


Espelho 36
Transcrição 37

Luiz Henrique Nogueira 38


Espelho 38
Transcrição 39

Maria Carolina Coelho ("Carol Contextualiza") 40


Espelho 40
Transcrição 41

Maria Clara Quintanilha Tavares 42


Espelho 42
Transcrição 43

Maria Eduarda Graciano 44


Espelho 44
Transcrição 45

Maria Fernanda Simionato de Lemes 46


Espelho 46
Transcrição 47

3
Mariana Horta Araujo 48
Espelho 48
Transcrição 49

Maria Victória Parizani 50


Espelho 50
Transcrição 51

Nicole Carvalho Almeida 52


Espelho 52
Transcrição 53

Rodrigo Junqueira Santiago Simões 54


Espelho 54
Transcrição 55

Samantha Souza 56
Espelho 56
Transcrição 57

Zeck Ferreira Gomes 58


Espelho 58
Transcrição 59

Agradecimentos 60

4
Tema:
"Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil"
Enem 2022 Aplicação Regular

Foto: Reprodução/Inep

5
Ana Alice Azevedo (ela/dela)
20 anos | Niterói - RJ | @anaalice_az

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

6
Transcrição
"Na primeira fase do Romantismo, os aspectos da natureza brasileira e
os povos tradicionais foram intensamente valorizados nas obras, criando um
movimento ufanista em relação a características nacionais. Tal quadro de
valorização, quando comparado à realidade, não foi perpetuado, apresentando
preocupantes desafios para a exaltação das comunidades nativas na
contemporaneidade. Nesse sentido, a problemática não só deriva da inércia
estatal, mas também do descaso social.
De início, é importante observar que a inércia governamental é uma das
principais barreiras para a valorização dos povos tradicionais. Nessa
perspectiva, de acordo com a Constituição Brasileira de 1988 é
responsabilidade do Estado garantir a preservação e a exaltação das
comunidades nativas, incluindo medidas voltadas para a proteção de suas
culturas. Entretanto, tal postulado é quebrado quando comparado à
contemporaneidade, haja vista que a maioria dos povos tradicionais, como
indígenas e quilombolas, não possui seus direitos estabelecidos, a exemplo da
demarcação de terras, sendo perversamente abandonada por um governo
que não oferece o suporte e o auxílio garantidos por lei. Por conseguinte, a
partir do momento que o Estado é passivo e negligente, as autoridades são
responsáveis tanto por estabelecer um equivocado cenário de quebra de
direitos constitucionais, quanto por criar um errôneo quadro de
desvalorização cultural da nação, já que as culturas das comunidades nativas
representam o patrimônio de todos os brasileiros. Desse modo, a postura
governamental vigente acentua a negligência perante os povos naturais do
país.
Além disso, o descaso social é outro desafio que alastra a desvalorização
de comunidades nacionais. Nesse viés, segundo o escritor Nelson Rodrigues,
isso ocorre devido ao Complexo Vira-Lata presente entre os indivíduos, em
que os brasileiros apresentam, em sua maneira, um sentimento de
inferioridade perante as nações exteriores, depreciando, assim, a cultura
nacional. Sob tal ótica, grande parte da população assume equivocadamente
um papel inerte e indiferente em relação à valorização das comunidades
nativas, uma vez que, devido ao errôneo sentimento depreciativo, não é capaz
de enxergar que a proteção e a exaltação dos povos tradicionais é de suma
importância para garantir a sobrevivência desses grupos e para a preservação
do patrimônio cultural da nação. Consequentemente, a visão míope e
deturpada da sociedade é responsável por formar um corpo social negligente
e indiferente acerca da própria história, ocasionando o abandono de parcelas
tradicionais e o esquecimento do legado cultural dos povos nativos.
Fica claro, portanto, que medidas necessitam ser tomadas para
solucionar a problemática. Nesse sentido, é preciso que o Estado elabore um
projeto de amplificação da valorização das comunidades tradicionais, por
meio do aumento de medidas de proteção a tais grupos, a exemplo da
intensificação da demarcação de terras, com o objetivo de reverter a postura
inerte dos órgãos governamentais, para que, dessa forma, os povos nativos
tenham seus direitos garantidos. Ademais, a mídia institucional deve criar
projetos de exaltação cultural, por intermédio da produção de campanhas
digitais que abordem a importância da preservação de traços nacionais com o
intuito de desconstruir o sentimento de inferioridade social, para que, dessa
maneira, seja possível reverter o descaso dos indivíduos perante a valorização
das comunidades nativas. Assim, os princípios de exaltação nacional presentes
no Romantismo poderão ser relacionados à realidade brasileira."

7
Ana Alice Freire (ela/dela)
17 anos | Fortaleza - CE | @nalicelice

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

8
Transcrição
"Na minissérie documental “Guerras do Brasil.doc”, presente na
plataforma Netflix, o professor indígena Ailton Krenak propõe a reflexão acerca
da dizimação dos povos originários a partir de perspectivas atuais, em que é
retratada a história sob o olhar do esquecimento e da violência contra esses
povos, a despeito da sua riqueza cultural e produtiva. Essas formas de
desvalorização das comunidades tradicionais do Brasil são respaldadas, dentre
outros fatores, pela invisibilização histórica desses atores sociais no ensino
básico e pelo preconceito que rege o senso comum. Dessa forma, é
imprescindível a intervenção sociogovernamental, a fim de superar os desafios
mencionados.
Com efeito, cabe destacar a exclusão generalizada dos aspectos
históricos e culturais referentes às etnias tradicionais dentro do sistema
educacional como fator proeminente à perpetuação da desvalorização do
grupo em questão, uma vez que, sendo a escola um dos núcleos de
integração social e informacional, a carência de estímulos ao conhecimento
dos povos nativos provoca desconhecimento, e consequentemente, o cidadão
comum não tem base da informação acerca da indispensabilidade das
comunidades originárias à formação do corpo social brasileiro. Nesse sentido,
os versos “Nossos índios em algumas poucas memórias/Os de fora nos livros
das nossas escolas”, da banda cearense Selvagens a Procura de Lei, ilustram a
construção do ensino escolar pautada no esquecimento dessa minoria, de
maneira a ampliar sua desvalorização. Assim, é constatável a estreita relação
entre as lacunas na educação e o fraco reconhecimento dos povos e das
comunidades tradicionais.
Ademais, vale ressaltar o preconceito cultivado no ideário popular como
empecilho à importância atribuída aos povos nativos, posto que, em
decorrência da baixa representatividade em ambientes escolares, como
mencionado anteriormente, e do baixo respaldo cultural, marcado por
estereótipos limitantes e etnocentristas, isto é, que supõem superioridade de
uma etnia em relação à outra, há formação de estigmas sobre pessoas dessas
minorias e, por conseguinte, não há o reconhecimento de suas ricas
peculiaridade. Seguindo essa linha de raciocínio, é possível estabelecer
conexões entre a atualidade e a carta ao rei de Portugal escrita por Pero Vaz
de Caminha, no momento da chegada dos portugueses ao Brasil, de forma
que a perspectiva do navegador em relação ao indígena, permeada de
suposta inocência, maleabilidade e passividade, pouco alterou-se na
concepção atual, evidenciando a prepotência e a altivez que são implicações
da ignorância e do silenciamento das fontes tradicionais. Então, são
necessárias medidas de mitigação dessa problemática para o alcance do
bem-estar da sociedade.
Em suma, entende-se o paralelo entre a desvalorização dos povos
nativos e o apagamento histórico destes, além do preconceito sobre este
grupo, de modo a urgir atenuação do cenário exposto. Para isso, cabe ao
Ministério da Educação a ampliação do ensino histórico e cultural do acervo
tradicional, por meio da reformulação das bases de assuntos abordados em
sala de aula e da contratação de profissionais dessas etnias, com o objetivo de
pluralizar as narrativas e evitar a exclusão provocada por apenas uma história,
em consonância com o livro da escritora angolana Chimamanda Ngozie
Adichie “O perigo da história única”. Também, é papel dos veículos culturais,
como a mídia, a representação ampla e fidedigna desses grupos, com o fito de
minorar a visão estigmatizada do que foi construída. Com isso, o extermínio
simbólico denunciado por Krenak será minguado."

9
Ana Carolina Angelim (ela/dela)
20 anos | Teresina - PI | @carol.angelim

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

10
Transcrição
"O poema “Erro de Português”, do escritor modernista Oswald de
Andrade, retrata o processo de aculturação dos indígenas durante a
colonização do Brasil. Atualmente, no país, ainda existem inúmeros desafios
para a valorização de comunidades e povos tradicionais devido, sobretudo, à
ineficiência estatal histórica em assistir esses indivíduos e ao
desconhecimento, por grande parte da população, sobre a diversidade e a
importância desses grupos.
É necessário destacar, de início, o descaso do Poder Público em
assegurar, de maneira efetiva, os direitos fundamentais às comunidades
tradicionais. De fato, o Estado, historicamente, negligenciou a proteção de
organizações sociais distintas, tais quais ciganos, quilombolas e indígenas e,
muitas vezes, legitimou a dissolução da cultura desses povos, prova disso foi,
durante o período de Ditadura Militar, a adoção de uma política
assimilacionista, isto é, de integração dos grupos nativos aos costumes da
sociedade citadina como tentativa de extinguir determinadas tradições. Dessa
forma, as populações tradicionais são desvalorizadas e, não raro, não
reconhecidas pelo Governo, conjuntura que impossibilita seu pleno exercício
de dignidade, tendo em vista a dificuldade de acesso a direitos sociais
imprescindíveis para seu bem-estar e para a perpetuação de seus saberes ao
longo das gerações, necessários para a manutenção de uma identidade
coletiva associada ao reconhecimento de sua ancestralidade.
Além da ineficiência do Estado, o desconhecimento dessa diversidade
cultural por parte de muitos indivíduos acentua a desvalorização dos povos
tradicionais. Notadamente, a invisibilidade de comunidades históricas
compromete o desenvolvimento de senso crítico frente à importância dessas
organizações sociais para a construção identitária do país, cenário que
comprova o pensamento da escritora brasileira Cecília Meireles, em sua obra
“Crônicas da Educação”, na qual consigna: a educação é fundamental para a
orientação individual, ou seja, para a criticidade das inúmeras situações da
vida social. Conforme esse raciocínio, a sociedade não valoriza devidamente as
populações ancestrais e, diversas vezes, segrega essas coletividades por não
conhecer sua relevância para a cultura nacional, comprometendo, assim, a
manifestação de suas tradições relacionadas ao sentimento de pertencimento
e ao modo de viver em harmonia não só com o espaço,mas também com os
outros sujeitos.
É imprescindível, portanto, que Estado, aliado à esfera municipal e
estadual de poder, proteja, efetivamente, as comunidades tradicionais do
Brasil, por intermédio de políticas públicas voltadas para o reconhecimento
oficial de povos ancestrais negligenciados, como extrativistas e pescadores,
bem como para a promoção de direitos às diversas organizações culturais –
com a demarcação de terras indígenas e quilombolas e a visita periódica de
agentes do Governo que documentem as necessidades de cada grupo -, a fim
de proporcionar o exercício de dignidade para esses indivíduos. Urge,
também, que a escola possibilite o conhecimento sobre essas populações,
mediante palestras e aulas extracurriculares – com profissionais da área de
história e de antropologia, que demonstrem a importância dessas
comunidades -, com o intuito de incentivar a criticidade dos estudantes sobre
a valorização de povos tradicionais.”

11
Ana Laura Torquato (ela/dela)
20 anos | São João de Meriti - RJ | @laura_mp4

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

12
Transcrição
"O filme "Encanto" apresenta - por meio das memórias da avó da
protagonista - um cenário de conflito, marcado pelo desespero de uma aldeia
colombiana frente ao ataque e à consequente desterritorialização forçada de
centenas de indivíduos. Assim, embora desamparados e impactados pela
violência, os ancestrais de Mirabel, a personagem principal, tentam sobreviver,
enquanto comunidade, estabelecendo-se em outro local e perpetuando sua
cultura, sua sabedoria e seus costumes às futuras gerações. Fora dos limites da
ficção, a exclusão e a opressão que atravessam as comunidades e os povos
tradicionais do Brasil se expressam, assim como no filme, através de inúmeros
casos que revelam o cerceamento dos direitos sociais básicos desses grupos.

Dito isso, em um cenário de acentuada negligência estatal, indígenas,


quilombolas, populações ribeirinhas e outras identidades vivem em condições
de extrema vulnerabilidade, privados de serviços públicos essenciais como
educação, saúde, saneamento básico e afins. Nesse contexto, Milton Santos
estabelece o conceito de cidadania mutilada, que se refere a indivíduos que,
por conta das desigualdades socioeconômicas, têm seu status de cidadãos
ameaçado. Dessa forma, abandonados por um Estado que deveria assegurar
suas necessidades humanas básicas, esses grupos enfrentam, diariamente, a
precarização crescente de sua qualidade de vida e, consequentemente, do
exercício de sua cidadania. Assim, a valorização e a segurança dessas minorias
são ameaçadas pelo descaso e pela negligência de um governo que exclui e
fragiliza a identidade de seus cidadãos.

Ademais, para além da segregação que sofrem por parte do Estado, as


comunidades e povos tradicionais contam com manifestações de preconceito
e de violência que lhes são direcionadas por outros brasileiros. Com isso em
mente, a filósofa Marilena Chauí estabelece que uma sociedade, ao encarar a
intolerância e a exclusão como atitudes legítimas por parte de seus
governantes, instiga a população a agir de forma cada vez mais hierarquizada
e autoritária. Desse modo, aldeias indígenas, quilombos e outros territórios
ocupados por povos tradicionais são constantemente atacados por brasileiros
que reproduzem a violência do Estado para com esses grupos marginalizados.
Em um cenário como esse, o respeito e o cuidado que uma sociedade deveria
ter com seus integrantes são substituídos por situações em que a vida e a
integridade dos povos tradicionais são colocados em risco.

Em suma, a valorização e a preservação da cultura e da identidade de


comunidades brasileiras tradicionais exigem o acesso pleno desses indivíduos
aos seus direitos humanos básicos. Com isso em mente, o Estado - promotor
do bem-estar social - deve garantir, por meio da mobilização de recursos para
a elaboração de políticas públicas, o acesso à moradia, aos serviços básicos de
educação e saúde e ao saneamento básico, visando atender as demandas
desses grupos marginalizados. Concomitantemente, as escolas devem
assegurar aos brasileiros uma formação educacional que promova a inclusão,
através de um processo de ensino-aprendizagem que valorize a diversidade,
buscando mitigar as condições sociais degradantes denunciadas por Milton
Santos e por Marilena Chauí."

13
Carina Moura (ela/dela)
18 anos | Surubim - PE | @carinaabmoura

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

14
Transcrição

"Na segunda metade do século XVIII, os escritores da primeira fase do


Romantismo elevaram, de maneira completamente idealizada, o indígena e a
natureza à condição de elementos personificadores da beleza e do poder da
pátria (quando, na verdade, os nativos continuaram vítimas de uma
exploração desumana no momento em questão). Sem desconsiderar o lapso
temporal, hoje nota-se que, apesar das conquistas legais e jurídicas
alcançadas, a exaltação dos indígenas e dos demais povos tradicionais não se
efetivou no cenário brasileiro e continua restrita às prosas e poesias do
movimento romântico. A partir desse contexto, é imprescindível compreender
os maiores desafios para uma plena valorização das comunidades tradicionais
no Brasil.
Nesse sentido, é inegável que o escasso interesse político em assegurar
o respeito à cultura e ao modo de vida das populações tradicionais frustra a
valorização desses indivíduos. Isso acontece, porque, como já estudado pelo
sociólogo Boaventura de Sousa Santos, há no Brasil uma espécie de
"Colonialismo Insidioso, isto é, a manutenção de estruturas coloniais perversas
de dominação, que se disfarça em meio a avanços sociais, mas mantém a
camada mais vulnerável da sociedade explorada e negligenciada. Nessa
perspectiva, percebe-se o quanto a invisibilização dos povos tradicionais é
proposital e configura-se como uma estratégia política para permanecer no
poder e fortalecer situações de desigualdade e injustiça social. Dessa forma,
tem-se um país que, além de naturalizar as mais diversas invasões
possessórias nos territórios dos povos tradicionais, não respeita a forma de
viver e produzir dessas populações, o que comprova uma realidade destoante
das produções literárias do Romantismo.
Ademais, é nítido que as dificuldades de promover um verdadeiro
reconhecimento e valorização das comunidades tradicionais ascendem à
medida que raízes preconceituosas são mantidas. De fato, com base nos
estudos da filósofa Sueli Carneiro, é perceptível a existência de um
"Epistemicídio Brasileiro na sociedade atual, ou seja, há uma negação da
cultura e dos saberes dos grupos subalternizados, a qual é ainda mais
reforçada por setores midiáticos. Em outras palavras, apesar da complexidade
de cultura dos povos tradicionais, o Brasil assume contornos monoculturais,
uma vez que inferioriza e "sepulta" os saberes de tais grupos, cujas relações e
produções, baseadas na relação harmônica com a natureza, destoam do
modelo ocidental, capitalista e elitista. Logo, devido a um notório preconceito,
os indivíduos tradicionais permanecem excluídos socialmente e com seus
direitos negligenciados.
Portanto, faz-se necessário superar os desafios que impedem a
valorização das comunidades tradicionais no Brasil. Para isso, urge que o
Poder Executivo – na esfera federal – amplie a verba destinada a órgãos
fiscalizadores que visem garantir os direitos dos povos tradicionais e a
preservação dos seus territórios e costumes. Tal ação deve ser efetivada por
meio da implantação de um Projeto Nacional de Valorização dos Povos
Tradicionais, de modo a articular, em conjunto com a mídia socialmente
engajada, palestras e debates que informem a importância de tais grupos em
todos os 5570 municípios brasileiros. Isso deve ser feito a fim de combater os
preconceitos e promover o respeito às populações tradicionais. Afinal, o intuito
é que elas sejam tão valorizadas quanto os índios na primeira fase da literatura
romântica."

15
Fernanda Barbosa (ela/dela)
20 anos | São João de Meriti - RJ | @fernandammbarbosa

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

16
Transcrição

"Na série brasileira "Cidade Invisível", parte da trama é composta por


uma população ribeirinha – que utiliza os recursos da floresta e do rio para
subsistência – sendo ameaçada por uma empresa em busca de lucro com a
exploração da região. Fora da ficção, esse cenário é verossímil com a realidade
do país, já que há uma nociva marginalização dos povos tradicionais, como
indígenas, ciganos e populações ribeirinhas. Nesse sentido, a expansão do
capital e do preconceito são desafios importantes para a valorização desses
indivíduos.

Diante do exposto, nota-se que o crescimento econômico desenfreado


gera conflitos para as comunidades originais. Isso porque, atualmente, a
expansão do capital ocorre em detrimento da existência desses povos, já que,
no Brasil, a acumulação financeira está intimamente relacionada ao uso da
terra, ocupada, em parte, por grupos tradicionais. Um exemplo disso é o
fenômeno geográfico e econômico da invasão de espaços historicamente
indígenas pelos produtores de soja – principal produto do agronegócio
brasileiro – para plantarem mais e, assim, lucrarem mais com a exportação
dessa mercadoria. Sob tal ótica, os cidadãos nativos perdem brutalmente seus
territórios e seus direitos básicos de moradia devido à lógica empresarial de
lucrar a todo custo. Logo, o Estado precisa agir ativamente em relação a essa
situação hostil a que os indígenas estão sendo submetidos.

Ademais, observa-se que o preconceito é um obstáculo para o


enfrentamento da temática. Tal premissa deve-se à disseminação massiva –
oriunda de uma herança eurocêntrica que desvaloriza culturas distintas – de
estereótipos degradantes sobre grupos minoritários, como quilombolas e
ciganos. Consequentemente, há a criação, no imaginário social, de uma visão
negativa acerca desses povos, gerando uma marginalização e uma exclusão
deles em relação à sociedade. Para ilustrar, nota-se a animação "O Corcunda
de Notre Dame", na qual uma personagem cigana é fortemente
desrespeitada e invisibilizada socialmente devido ao preconceito contra essa
cultura. Fora das telinhas, apesar de ficcional, a obra retrata uma situação que
é a terrível realidade de muitos povos tradicionais. Então, essa discriminação
precisa ser urgentemente combatida pelas escolas.

Fica evidente, portanto, que mudanças são importantes para a


atenuação da atual conjuntura brasileira. A princípio, cabe ao Estado –
responsável pelo bem-estar do povo – mediar os conflitos entre empresários
agricultores e grupos tradicionais, por meio da proteção dos territórios
ocupados por essas minorias, da fiscalização constante de tais locais e da
aplicação de multas aos infratores, no afã de assegurar as moradas da
população nativa e de conter o avanço desmedido do capital.
Concomitantemente, é dever das escolas – principais responsáveis pela
formação crítica cidadã – impedir a disseminação de preconceitos contra
grupos tradicionais, por intermédio de palestras informativas e de rodas de
conversa sobre o tema, com o fito de educar a nova geração para incluir e para
acolher os pertences a esses povos. Assim, será possível, enfim, que a série
"Cidade Invisível" não seja mais tão verossímil com o contexto do Brasil."

17
Flora Mello (ela/dela)
18 anos | Brasília - DF | @flora.mello

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

18
Transcrição

"No livro “O triste fim de Policarpo Quaresma”, do autor modernista


Lima Barreto, é retratada a situação de um cidadão que, na tentativa de
valorizar as raízes da sociedade brasileira, propõe o estabelecimento do
tupi-guarani como idioma oficial do País. Nesse sentido, nota-se a
preocupação da personagem em destacar a relevância dos povos originários
na formação da identidade nacional. No entanto, fora da ficção, é evidente
que, na realidade hodierna, as comunidades tradicionais são constantemente
postas em segundo plano, seja pela negligência estatal no que se refere à
demarcação territorial, seja pela relação da sociedade capitalista com o meio
ambiente. Assim, medidas são imprescindíveis para contornar tais impasses.

Em primeiro lugar, é importante pontuar que a demarcação de terras


dos povos tradicionais não ocorre de maneira efetiva, o que expõe a ausência
do Estado na afirmação da relevância dessas comunidades. Sob essa ótica, é
válido refletir acerca da obra “O cidadão de papel”, do escritor brasileiro
Gilberto Dimenstein, a qual estabelece que, muitas vezes, as leis são sólidas na
teoria, mas não se concretizam na prática. Nesse viés, apesar de ser garantida
pela Constituição Federal de 1988, a regulamentação dos territórios
destinados às populações originárias não é considerada como deveria, o que
pode ser visualizado a partir das lutas sociais pelo reconhecimento das terras,
como o movimento “Demarcação já”. Desse modo, observa-se que a falta da
ação governamental constitui um desafio à valorização das comunidades
tradicionais.

Além disso, a relação do homem com o meio ambiente, no decorrer da


consolidação do sistema capitalista, foi estabelecida sem levar em
consideração a importância dos saberes ancestrais. Sob essa perspectiva, de
acordo com o geógrafo Milton Santos, a essência do espaço é social. Nessa
análise, em se tratando das populações tradicionais brasileiras, o convívio com
a natureza é pautado no equilíbrio entre a extração de recursos e a
sustentabilidade, o que gera a harmonia social e ambiental. Sendo assim, a
ascensão da lógica mercantil distanciou o indivíduo da percepção da terra
como provedora de vida, permitindo, cada vez mais, a aniquilação do
bem-estar ambiental. Dessa forma, é necessário reaproximar a sociedade dos
valores baseados na ancestralidade, com o objetivo de afirmar a importância
dos saberes tradicionais e de promover o cuidado com a natureza.

Portanto, é nítida a existência de desafios para a valorização de


comunidades tradicionais no Brasil. Diante disso, cabe ao Estado, na figura do
Ministério do Meio Ambiente - principal responsável pelo equilíbrio ambiental
brasileiro -, promover, por meio da regulamentação das terras indígenas e das
reservas extrativistas, a ampliação do reconhecimento dos valores ancestrais
pela população, a fim de destacar seu papel basilar na manutenção do meio
ambiente. Dessa maneira, a importância dessas comunidades será colocada
em pauta, como proposto em “O triste fim de Policarpo Quaresma”."

19
Giovana Fantoni Guimarães (ela/dela)
18 anos | Belo Horizonte - MG | @giovanafantoni

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

20
Transcrição

"O documentário “Guerras do Brasil”, que tem participação do ativista


indígena Ailton Krenak, apresenta, em seu primeiro episódio, a perspectiva
dos povos originários em relação ao processo de colonização brasileiro,
ressaltando a manutenção da luta dessas comunidades pela conservação da
cultura e preservação da natureza na atualidade. A partir desse cenário, é
necessário avaliar os obstáculos que impedem a valorização efetiva dos povos
tradicionais no Brasil, o que está associado à relação conflituosa com o modelo
econômico agroexportador brasileiro, bem como à visão de parte da
sociedade que inferioriza organizações sociais que se diferenciam do padrão
ocidental.

De início, é importante observar a contraposição existente entre a forma


como as comunidades originárias e uma parcela da população lidam com a
natureza. Nesse contexto, destaca-se o modelo de colonização do Brasil,
chamado de “colônia de exploração”, o qual estabeleceu uma economia
pautada na exploração dos recursos naturais em vista da possibilidade do
lucro. Esse tipo de visão, que é observado, na atualidade, pela manutenção de
um modelo econômico agroexportador, se opõe à visão dos povos tradicionais
em relação à natureza, os quais estabelecem uma íntima relação de
reciprocidade, identificando, nesse local, a sua fonte de sobrevivência e de
moradia. Como consequência dessas realidades opostas, alguns indivíduos
consideram a população originária contrária ao progresso econômico buscado
pelo capitalismo, o que impede a valorização do saber desses povos sobre a
natureza.

Além disso, percebe-se a existência de um pensamento que estabelece


uma relação de hierarquização entre os povos brasileiros, o que impede o
reconhecimento efetivo das comunidades tradicionais. Nesse sentido,
evidencia-se a disseminação, durante o processo de colonização brasileiro, do
mito do “Bom Selvagem”, em que os nativos foram caracterizados como
ingênuos e puros, sendo passíveis de serem civilizados pela cultura ocidental,
desconsiderando a organização social já existente entre esses povos.
Consequentemente, devido à desqualificação da noção própria de
organização dessas comunidades culturalmente diferenciadas, observa-se a
inferiorização de costumes e hábitos não ocidentais, impedindo uma visão de
igualdade que permite a valorização dos povos tradicionais.

Portanto, conclui-se que o Governo Federal, em parceria com o


Ministério da Educação, deve promover o reconhecimento das características
singulares de cada comunidade tradicional brasileira, por meio de debates
com lideranças desses grupos com a população, o que pode ser realizado em
instituições públicas, como as escolas, bem como em ambientes virtuais,
como as redes sociais, a fim de garantir a valorização plena desses povos que
pertencem à noção. Ademais, é relevante que se estabeleçam relações mais
amistosas entre o ser humano e a natureza, a partir da valorização dos saberes
tradicionais."

21
Giovanna Fagundes (ela/dela)
20 anos | Birigui - SP | @gihfagundes

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Foto: Reprodução/Inep

22
Transcrição

"De acordo com os pensadores estoicos, o ser humano deveria viver em


harmonia com a natureza, buscando um bem geral. Contudo, observa-se, no
Brasil, a desvalorização de pessoas que seguem tal proposta de respeito ao
meio natural, como as comunidades e povos tradicionais. Essa realidade é
fruto de um etnocentrismo histórico, além de refletir a lógica de perseguição
por lucro do sistema capitalista. Sendo assim, faz-se necessário analisar os
desafios desse cenário, a fim de garantir a igualdade a todos os brasileiros.

Nesse sentido, cabe ressaltar as raízes históricas da desvalorização dos


povos tradicionais, como os indígenas. Isso pode ser verificado no
etnocentrismo vigente no país desde a sua colonização, haja vista o desprezo
dos europeus pela população local, interpretando-a como “selvagem”. A partir
de então, os indígenas sofreram violência simbólica – termo apresentado pelo
sociólogo Pierre Bourdieu- pois, mesmo sem coerção física, estavam sujeitos a
diversas formas de manipulação, como a cultural. Prova disso foi a atuação dos
jesuítas no processo de cristianização desses indivíduos ao negar suas crenças
e impor a fé católica. Logo, a hierarquização dos povos é antiga no Brasil, fato
que desencadeou a desvalorização atual de certas comunidades.

Além disso, o país está inserido em um sistema capitalista de produção,


o qual visa, primordialmente, ao lucro. Segundo o conceito de reificação,
proposto pelo sociólogo Karl Marx, o valor do indivíduo está em sua
contribuição para o capitalismo. Sob essa óptica, tendo em vista que eles
buscam apenas a subsistência, os povos tradicionais são desvalorizados pela
sociedade, porque não colaboram, diretamente, com a geração de riqueza.
Desse modo, são apagados do corpo social e precisam reafirmar os seus
direitos, devido à violação de suas necessidades, como a natureza – produto
de exploração da esfera econômica.

Portanto, urge que a mídia televisiva, responsável pela difusão de


informações e entretenimento, por meio de documentários e novelas, retrate
o cotidiano de comunidades e povos tradicionais no Brasil, apresentando sua
cultura de forma positiva, com o intuito de legitimar os diferentes modos de
vida a romper com o etnocentrismo histórico. Ademais, cabe à escola,
instituição de transformação de valores, apresentar a natureza de uma
maneira desvinculada do capitalismo e ressaltar sua importância a todos.
Assim, espera-se um país que siga a proposta de estoicismo e valorize os
povos tradicionais."

23
Julia Berge (ela/dela)
23 anos | Rio de Janeiro - RJ | @juliabergem

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Foto: Reprodução/Inep

24
Transcrição

"O Romantismo foi um movimento literário do século XIX que ficou


marcado, em sua fase indianista, pela exaltação do indígena como herói
nacional de suma importância para a formação identitária dos brasileiros. A
atualidade, entretanto, distancia-se lamentavelmente dessa concepção ao
apresentar desafios para a valorização não apenas de tal etnia, mas de
comunidades e povos tradicionais como um todo. Nesse sentido, para reverter
essa problemática, é necessário compreender como a negligência do governo
e a falha da educação contribuem para constituir um cenário tão divergente
do proposto pela escola romântica.
De início, é fundamental ressaltar que o descaso governamental
desvaloriza os povos tradicionais do Brasil. O conceito "cidadãos de papel",
desenvolvido por Gilberto Dimenstein, diz respeito a indivíduos os quais,
apesar de possuírem garantias na teoria de um documento legal, não
possuem acesso prático a elas e são privados de direitos básicos que
asseguram sua dignidade. Sob tal ótica, percebe-se que a descrição formulada
pelo jornalista define fielmente a situação enfrentada pelos integrantes dessas
comunidades, uma vez que, apesar de munidos de aparatos constitucionais
de reconhecimento e preservação, são constantemente cuidados por um
governo negligente que não se preocupa em protegê-los ou conservá-los.
Esse quadro perverso é visível com a demarcação de territórios, a qual se torna
ineficiente por ser conduzida por governantes que não respeitam o caráter
topofílico de apego à terra de, por exemplos, ribeirinhos e pescadores e a
utilizam para aumentar o lucro advindo de atividades agropecuárias. Logo,
nota-se como a displicência do Estado prejudica a valorização de grupos
tradicionais ao corromper o lugar físico e, consequentemente, a existência
deles.
Ademais, é importante salientar que a educação, por ser falha, não dá a
devida importância às comunidades da tradição brasileira. "Escola gaiola" é
como Rubem Alves define a instituição de ensino que aprisiona o estudante a
concepções engessadas e pouco reflexivas. Nessa perspectiva, o educador
consegue definir com propriedade o sistema educacional do país, o qual, por
priorizar a aplicação de conteúdos técnicos e de provas, não desenvolve, em
crianças e adolescentes, a percepção da relevância real que os povos
tradicionais têm para a cultura. Esse panorama é perceptível na forma como
escolas abordam a celebração do Dia do Índio, no qual os indígenas são
reduzidas a adornos folclóricos e fantasias em detrimento de serem
valorizados por seus saberes e profundo conhecimento da natureza. Assim, ao
terem como base de conhecimento uma abordagem superficial e restrita
acerca dessa classe social, são formados adultos que não a valorizam e que
pode, até mesmo, causar o apagamento cultural dela.
Forma-se evidente, portanto, que é necessário contornar os desafios
para a valorização de comunidades e povos tradicionais. Nesse viés, cabe ao
Governo aprimorar políticas de demarcação de territórios por meio da
contratação de corpo técnico para realizar tal processo, a fim de que
integrantes desses grupos sejam protegidos e preservados. Além disso, o
Ministério da Educação deve investir em mecanismos culturalmente
educativos por meio do direcionamento de verbas à organização de
seminários e palestras, os quais, ao contarem com a participação de
indianistas e antropólogos, possam transmitir conhecimento real e profundo
acerca de figuras da tradição brasileira. Com base nessas medidas, é possível
que povos tão contribuintes para a cultura nacional sejam devidamente
respeitados e valorizados, assim como proposto pela literatura romântica
indianista do século XIX."

25
Juliana Moreau de Almeida Soares (ela/dela)
16 anos | Itamaraju - BA | @_ jumoreau

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Foto: Reprodução/Inep

26
Transcrição

"Declarado patrimônio imaterial brasileiro, o ofício das quebradeiras de


coco é exemplo da preservação de conhecimentos populares que marcam a
cultura, a economia e as relações interpessoais dos povos envolvidos.
Similarmente, muitos outros grupos tradicionais possuem saberes de extrema
importância e, no entanto, não recebem o respeito merecido, o que cria uma
urgente necessidade de promover a valorização dessas comunidades. Nesse
contexto, é válido analisar como a negligência estatal e a existência de uma
visão capitalizada da natureza representam desafios para a resolução de tal
problemática.

Diante desse cenário, nota-se a inoperância governamental como fator


agravante do descaso em relação às culturas tradicionais. Para a pensadora
contemporânea Djamila Ribeiro, é preciso tirar as situações da invisibilidade
para que soluções sejam encontradas, perspectiva que demonstra a falha
cometida pelo Estado, uma vez que existe uma forte carência de
conscientização popular sobre o assunto - causada pelo baixo estímulo
governamental a essas discussões, tanto nas salas de aula quanto no âmbito
político. Nesse sentido, fica evidente que, por não dar notoriedade à luta
desses povos, o governo permite o esquecimento e a minimização de seus
costumes, o que gera não somente a massiva perda cultural de um legado
cultivado por gerações, mas também o prejuízo da desestruturação
econômica de locais baseados nessas técnicas.

Ademais, percebe-se a influência de uma ideologia que mercantiliza o


ambiente na manutenção de tal entrave. ""Para a ganância, toda natureza é
insuficiente"" - a frase, do filósofo Sêneca, critica uma concepção recorrente na
atual conjuntura brasileira, segundo a qual o meio ambiente é visto como um
objeto para o lucro humano. Logicamente, tal visão mercadológica se choca
com o modo de vida experienciado pelos povos tradicionais, que vivenciam
um relacionamento respeitoso e recíproco com o ecossistema, fazendo uso de
seus recursos sem fins exploratórios. Por conseguinte, as comunidades que
vivem dessa intimidade com a natureza são altamente reprimidas pelas
classes que se beneficiam do uso capitalizado e desigual do meio natural,
como grandes empresas pecuaristas, que lucram da concentração de terras e
do monopólio comercial, o que exclui - ainda mais - a população originária e
resulta no declínio de sua cultura.

Portanto, cabe ao Estado - em sua função de promotor do bem-estar


social - estabelecer uma ampla fiscalização do uso comercial do meio
ambiente em áreas com maior volume de povos tradicionais, mediante a
criação de mais delegacias especializadas no setor ambiental, a fim de
garantir a preservação do estilo de vida desses indivíduos. Outrossim, é dever
do Governo Federal organizar uma campanha de valorização de tais grupos,
por meio da divulgação de informativos em redes sociais e da realização de
palestras em escolas, de modo a enfatizar a contribuição socioambiental
desses cidadãos, para, assim, conscientizar a população e possibilitar a
exaltação das culturas tradicionais brasileiras."

27
Laura Muniz de Lima Leitão (ela/dela)
20 anos | Rio de Janeiro - RJ | @laura.munizz

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28
Transcrição

"“Tu achas que sou uma selvagem/E que conheces o mundo/ Tu pensas
que esta terra te pertence.” Os versos do filme da Disney “Pocahontas”
revelam a percepção de uma indígena norte-americana diante da chegada de
colonizadores ingleses em sua terra. Nesse contexto de desvalorização dos
povos locais, evidencia-se a similaridade da obra com o cenário brasileiro, dada
a falta de reconhecimento atribuída às comunidades tradicionais do país.
Dessa forma, os desafios para a valorização de tais populações apoiam-se seja
na carente abordagem do tema na educação e na mídia, seja na lógica
predatória do mercado capitalista vigente no território nacional.

Nesse viés, constata-se que as escolas e os aparatos de comunicação do


Brasil, frequentemente, não se preocupam em proporcionar informações e
discussões sobre a temática. Sob essa perspectiva, o conceito de
“Epistemicídio”, cunhado pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos, revela o
apagamento e a posterior morte de modos de vida, de saberes e de valores de
grupos sociais, bem como o favorecimento dos desígnios do colonialismo em
detrimento da diversidade cultural. Tal ideia apresenta-se extremamente
presente na sociedade brasileira, uma vez que, na maioria dos casos, as
instituições escolares e os veículos midiáticos disseminam a cultura
hegemônica, negligenciando as tradições dos povos originários – a exemplo
da história do país ensinada nas salas de aula, baseada na perspectiva
europeia, além dos filmes, das músicas e dos livros disseminados na mídia. Por
conseguinte, por não ser suficientemente debatido nas principais instâncias
da nação, o reconhecimento dessas comunidades é dificultado, sendo, dessa
maneira, silenciado no país.

Ademais, a economia do Brasil, baseada principalmente no lucro, é


responsável por prejudicar a relação das populações tradicionais com a terra,
sua principal fonte de sobrevivência. Diante disso, o “Princípio da
responsabilidade”, ideia desenvolvida pelo filósofo Hans Jonas, defende que os
seres humanos devem tomar decisões comprometidas com a coletividade e
com o futuro social, e não apenas com interesses individuais a curto prazo. No
entanto, observa-se que as autoridades governamentais não cumprem tal
proposta, pois as demandas das sociedades dependentes diretamente da
natureza são gravemente afetadas perante a expansão da fronteira
agropecuária, as queimadas e os desmatamentos – práticas de interesse ao
agronegócio, indústria altamente lucrativa. Logo, a irresponsabilidade do
poder público impede a garantia da dignidade dos povos locais, os quais têm
sua fonte de moradia, de alimentação e de tradições destruída.

Portanto, frente à negligência da educação e da mídia e à lógica


predatória do mercado econômico, cabe ao Ministério da Educação, a fim de
promover maior reconhecimento às comunidades originárias no cenário
nacional, ampliar a discussão sobre esses indivíduos nas instituições de ensino
e na mídia, por meio da veiculação de campanhas educativas nos aparatos de
comunicação e da realização de palestras mensais sobre o assunto nas escolas
– as quais devem contar com a participação de povos locais. Além disso, o
Ministério Público deve minimizar a degradação do meio ambiente brasileiro,
por intermédio da elaboração de legislações e de fiscalizações mais rígidas
para as empresas do agronegócio, com o objetivo de garantir o direito pleno à
terra para as comunidades tradicionais. Assim, o sentimento de Pocahontas
não será reproduzido nesses sujeitos."

29
Laura Tamires (ela/dela)
18 anos | Uberlândia - MG | @laura.tamires

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Foto: Reprodução/Inep

30
Transcrição

"Em 2017, foi criada a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável


dos Povos e Comunidades Tradicionais, a qual objetiva a valorização e a
proteção das diferentes organizações sociais pelo Governo. Entretanto, o
reconhecimento desses povos não deve ser limitado ao Estado, visto que o
progresso da nação está diretamente relacionado às ações de todos os
cidadãos. Desse modo, é crucial a apreciação das comunidades características
do Brasil pelos indivíduos e, para isso, deve-se analisar duas vertentes: o
desconhecimento da população sobre o assunto e a omissão midiática.

Nesse viés, deve-se considerar a desinformação um desafio para o tema


em questão. Em vista disso, é notório mencionar a citação do sociólogo
francês Francis Bacon, ""o conhecimento é em si mesmo um poder."" Nesse
contexto, em virtude de um não saber, ocasionado pela falta de abordagem
sobre a temática nas escolas, as pessoas não adquirem conhecimentos sobre
os povos tradicionais, incluindo aspectos básicos como quem são e quais as
suas características, impossibilitando, então, a valorização, por parte dos
estudantes, das comunidades clássicas. Por conseguinte, os indivíduos não
obtêm poder para agir acerca de problemáticas relacionadas a essas
populações, dado que possuem uma sabedoria limitada ou inexistente do
assunto.

Ademais, pode-se associar a omissão midiática a um impasse para o


reconhecimento das comunidades clássicas no Brasil. Nessa conjuntura, é
válido comentar sobre o pensamento do escritor George Orwell, o qual afirma
que a mídia controla a massa. Dessa forma, devido ao desprezo dado pelos
canais midiáticos a esses povos, o que pode ser verificado na ausente
abordagem desse tema em novelas, propagandas ou notícias, os cidadãos
brasileiros, condicionados a refletir as posturas da mídia, passam a ignorar e
ver como pouco relevante esse tópico. Em decorrência disso, e somada à
desinformação vigente na sociedade contemporânea, as populações
características da nação não são devidamente reconhecidas e preservadas.

Portanto, é necessária a tomada de medidas para solucionar essa


problemática. Nesse cenário, o Ministério da Educação, órgão governamental
responsável por fornecer os ensinamentos necessários para o
desenvolvimento dos indivíduos, deve introduzir nas escolas a abordagem
sobre as comunidades tradicionais do Brasil, por meio de aulas obrigatórias
sobre esse assunto, com materiais didáticos informativos e dinâmicos, a fim
de promover o conhecimento dos estudantes acerca dessa temática e
impulsionar a apreciação dessas comunidades. Além disso, a mídia deve
inserir, em suas produções, conteúdos direcionados ao reconhecimento das
pessoas características da nação, mediante a introdução dessas pautas em
novelas, com a finalidade de valorizar essas populações e promover essa
postura nos cidadãos brasileiros."

31
Letícia Marques (ela/dela)
18 anos | São Benedito - CE | @leticiamed__

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Foto: Reprodução/Inep

32
Transcrição

"O conceito de "Cidadanias Mutiladas", proposto pelo geógrafo brasileiro


Milton Santos, explicita que a democracia só é efetiva quando atinge a
totalidade da população. A partir dessa perspectiva, é possível observar que a
realidade contemporânea se distancia desse ideal democrático, uma vez que,
no Brasil, os desafios para garantir a valorização de comunidades e povos
tradicionais ainda se perpetuam. Desse modo, é essencial analisar os
principais propulsores desse contexto hostil: o silenciamento das instituições
escolares e a manipulação midiática no que se refere à formação étnica do
Estado Nacional.

Diante desse cenário, é válido destacar a omissão escolar frente à


desvalorização de grupos sociais minoritários. Isso ocorre devido à
deterioração do papel formador do jovem na escola, visto que a ingerência
governamental prevê uma educação que limita a instrução social, de modo
que a sociedade não esteja preparada para lidar com os entraves que
impossibilitam o engajamento de comunidades étnicas diferentes e, muito
menos, propor caminhos para combater essa realidade no país. Essa reflexão
alcança forças no ensaio Pedagogia do Oprimido, cunhado pelo pedagogo
Paulo Freire, o qual caracteriza o ambiente escolar como uma ferramenta de
opressão que não habilita os sujeitos para a convivência enquanto o corpo
civil.

Além disso, é inegável como o desinteresse da mídia no que tange à


integração de povos tradicionais reflete na desapropriação identitária desses
grupos. De acordo com a antropóloga Lilia Schwarcz, desde a Independência
do Brasil, não há um ideal de coletividade – ou seja, uma "nação" consolidada,
ao invés de, meramente, um "Estado". Nessa perspectiva, os veículos de
comunicação, pautados num viés econômico e eurocêntrico, valorizam a
disseminação de seus conteúdos, marginalizando, assim, a abordagem de
problemas sociais que não evocam a atenção do público. Em consequência
disso, as comunidades quilombolas, indígenas, extrativistas e ribeirinhas são
cada vez mais apagadas da história do território brasileiro.

Urge, pois, que medidas sejam tomadas com o intuito de refrear o


problema discorrido. Cabe, portanto, ao Ministério do Desenvolvimento Social,
órgão responsável pela defesa dos interesses sociais, por meio de parcerias
com a mídia, criar palestras de valorização de grupos étnicos distintos, através
de aulas com historiadores e a distribuição de livros que retratem a
importância desses grupos para a formação da identidade do Brasil, com o fito
de reduzir os impactos nocivos da ideia de embranquecimento racial oriunda
da colonização e aumentar a visibilidade das populações tradicionais. Assim, o
ideal elaborado pelo geógrafo Milton Santos será, de fato, uma realidade no
país."

33
Luís Felipe Alves Paiva de Brito (ele/dele)
24 anos | Maceió - AL | @_luisfelipeb

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34
Transcrição

"O poeta modernista Oswald de Andrade relata, em ""Erro de


Português"", que, sob um dia de chuva, o índio foi vestido pelo português -
uma denúncia à aculturação sofrida pelos povos indígenas com a chegada
dos europeus ao território brasileiro. Paralelamente, no Brasil atual, há a
manutenção de práticas prejudiciais não só aos silvícolas, mas também aos
demais povos e comunidades tradicionais, como os pescadores. Com efeito,
atuam como desafios para a valorização desses grupos a educação deficiente
acerca do tema e a ausência do desenvolvimento sustentável.

Diante desse cenário, existe a falta da promoção de um ensino eficiente


sobre as populações tradicionais. Sob esse viés, as escolas, ao abordarem tais
povos por meio de um ponto de vista histórico eurocêntrico, enraízam no
imaginário estudantil a imagem de aborígenes cujas vivências são marcadas
pela defasagem tecnológica. A exemplo disso, há o senso comum de que os
indígenas são selvagens, alheios aos benefícios do mundo moderno, o que,
consequentemente, gera um preconceito, manifestado em indagações como
“o índio tem ‘smartphone’ e está lutando pela demarcação de terras?” – ideia
essa que deslegitima a luta dos silvícolas. Entretanto, de acordo com a Teoria
do Indigenato, defendida pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal
Federal, o direito dos povos tradicionais à terra é inato, sendo anterior, até, à
criação do Estado brasileiro. Dessa forma, por não ensinarem tal visão, os
colégios fometam (sic) a desvalorização das comunidades tradicionais,
mediante o desenvolvimento de um pensamento discriminatório nos alunos.

Além disso, outro desafio para o reconhecimento desses indivíduos é a


carência do progresso sustentável. Nesse contexto, as entidades
mercadológicas que atuam nas áreas ocupadas pelas populações tradicionais
não necessariamente se preocupam com a sua preservação, comportamento
no qual se valoriza o lucro em detrimento da harmonia entre a natureza e as
comunidades em questão. À luz disso, há o exemplo do que ocorre aos
pescadores, cujos rios são contaminados devido ao garimpo ilegal,
extremamente comum na Região Amazônica. Por conseguinte, o povo que
sobrevive a partir dessa atividade é prejudicado pelo que a Biologia chama de
magnificação trófica, quando metais pesados acumulam-se nos animais de
uma cadeia alimentar – provocando a morte de peixes e a infecção de
humanos por mercúrio. Assim, as indústrias que usam os recursos naturais de
forma irresponsável não promovem o desenvolvimento sustentável e agem de
maneira nociva às sociedades tradicionais.

Portanto, é essencial que o governo mitigue os desafios supracitados.


Para isso, o Ministério da Educação – órgão responsável pelo estabelecimento
da grade curricular das escolas – deve educar os alunos a respeito dos
empecilhos à preservação dos indígenas, por meio da inserção da matéria
“Estudos Indigenistas” no ensino básico, a fim de explicar o contexto dos
silvícolas e desconstruir o preconceito. Ademais, o Ministério do
Desenvolvimento – pasta instituidora da Política Nacional de Desenvolvimento
Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – precisa fiscalizar as
atividades econômicas danosas às sociedades vulneráveis, visando à
valorização de tais pessoas, mediante canais de denúncias."

35
Luis Gustavo Delfino Alcoforado (ele/dele)
17 anos | João Pessoa - PB | @luisgd_27

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

36
Transcrição

"Os elementos culturais, presentes há milhares de anos nas sociedades


humanas, têm papel fundamental na identificação e na coesão dos povos e
são consolidados por meio dos hábitos, costumes e crenças por eles
difundidos. Esse conjunto de traços, transmitido de forma intergeracional, se
faz imprescindível na preservação dessas comunidades, dentre elas, as
tradicionais e originárias presentes no Brasil. No entanto, a realidade nacional
contemporânea apresenta uma preocupante conjuntura de séria ameaça à
manutenção das tradições dessa parcela social, manifestada em especial pela
pouca visibilidade das diferentes culturas no ambiente escolar, bem como
pela negligência estatal na proteção do patrimônio das referidas sociedades.
Sob essa ótica, percebe-se a frágil atual condição dos grupos
sociais-tradicionais.

Diante desse cenário, é fundamental destacar a intrínseca relação entre


o caráter cidadão de um povo, que prevê o respeito e a valorização de distintas
culturas, e o nível educacional por ele adquirido. Nesse sentido, a ideia do
filósofo ocidental Immanuel Kant, de que o "homem não é nada além do que
a educação faz dele", sintetiza essa conexão, que estabelece a escola como
responsável pela formação cidadã de seus discentes, ao conectar suas
realidades com as diferentes populações, a exemplo dos indígenas no
contexto brasileiro. Tendo isso em vista, é possível compreender que a
precariedade do sistema educacional brasileiro e de sua base curricular
prejudica o êxito dessa mencionada formação, visto que escassos são os
modelos e focos curriculares que colocam nas culturas brasileiras tradicionais
o centro de seu estudo. Depreende-se, com isso, que a vigente base curricular
afasta os povos tradicionais do necessário reconhecimento social amplo.

Ademais, ainda acerca dessa referida valorização, ressalta-se o dever


estatal no reconhecimento e na preservação das comunidades tradicionais e
de seu arcabouço cultural, conforme estabelecido pela Carta Magna de 1988,
bem como por uma série de legislações que visam a proteção dos direitos
desses povos. Contudo, embora vasta, a teoria legal vai de encontro à
realidade prática, na qual os patrimônios materiais dessa parcela social, como
moradias e territórios, são constantemente violados por agentes de atividades
econômicas com alto poderio financeiro, a exemplo de mineradores e
latifundiários. A partir disso, constata-se uma inquietante inércia dos agentes
governamentais na resolução dos conflitos, dado que esses têm ampla
repercussão midiática, mas são tratados com perigosa banalização, e não
como crimes, por parte de certas esferas estatais. Conclui-se, portanto, que
essa omissão potencializa o enfraquecimento do patrimônio brasileiro.

Sendo assim, a fim de garantir a valorização dos povos tradicionais no


Brasil, é mister que o Ministério da Educação trace e aplique uma diretriz a ser
seguida pelas escolas de ensino básico, que, por meio de aulas, palestras e
visitas de campo a essas comunidades, integre a valorização das distintas
culturas nacionais ao currículo escolar, e dessa forma incentive a plena
formação social cidadã. Paralelo a isso, cabe ao Ministério Público, como
representante dos anseios populares, a devida fiscalização e cobrança legal
dos órgãos governamentais, para que esses aumentem a proteção de
territórios e patrimônios culturais dos povos autóctones, cumprindo dessa
maneira o seu dever constitucional."

37
Luiz Henrique Nogueira (ele/dele)
17 anos | Manaus - AM

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

38
Transcrição

"Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a parceria para a


garantia do desenvolvimento sustentável é uma das dezessete metas do
programa "Agenda 2030". Nesse viés, urge a problemática dos desafios para a
valorização de comunidades tradicionais no Brasil, visto que estas são
fundamentais para a manutenção benéfica dos ecossistemas e promovem a
sua conservação e preservação. Desse modo, é válido afirmar que a
fiscalização inadequada de práticas ambientais ilegais e a baixa efetividade de
políticas públicas destinadas aos povos supracitados são responsáveis pela
perpetuação do problema.

Convém ressaltar, mormente, que o monitoramento insuficiente de


ações ilícitas prejudiciais ao meio ambiente, como o desmatamento e as
queimadas, interfere negativamente no cotidiano de populações tradicionais.
Nesse sentido, a série "Aruanas" aborda as dificuldades enfrentadas por
mulheres que lutam contra esquemas criminosos na Amazônia e que tentam
assegurar a segurança e a sobrevida das comunidades inseridas nesse meio.
Fora da ficção, este cenário retratado reflete uma realidade marcada pela
impunidade e insegurança, reforçadas pela inércia estatal no combate e na
punição dos criminosos. Logo, os diversos povos ligados à natureza ficam
vulneráveis, o que reverbera o descaso governamental com as suas garantias
individuais e coletivas.

Ademais, as políticas promovidas pelo poder público para sanar


problemas que ameaçam a segurança e a permanência de saberes culturais
tradicionais carecem de plena eficiência. Nesse contexto, a Constituição
Federal de 1988 estabeleceu a demarcação de terras para os quilombolas,
representando um marco institucional na consolidação de seus direitos. No
entanto, as ações previstas encontram barreiras na sua execução relacionadas
aos interesses financeiros, à corrupção no sistema e aos métodos obsoletos de
promoção da proteção social coletiva. Em suma, é imprescindível que as
autoridades competentes tomem as medidas necessárias para solucionar a
problemática.

Portanto, a valorização de populações tradicionais brasileiras é


dificultada por fatores administrativos e sociais. Então, o Ministério do Meio
Ambiente deve criar um programa de combate às práticas ilegais nos
ecossistemas, mediante o enrijecimento de punições e o fortalecimento da
fiscalização, visando reduzir a impunidade. Além disso, o Ministério da
Cidadania deve realizar ações que promovam a segurança das comunidades,
através de incentivo à demarcação dos territórios e à atualização da legislação
vigente, com o objetivo de diminuir a violência e garantir a continuidade dos
conhecimentos socioculturais. Assim, com essas atitudes, os povos tradicionais
serão valorizados no Brasil."

39
Maria Carolina Coelho ("Carol Contextualiza", ela/dela)
28 anos | Niterói - RJ | @carolcontextualiza

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Foto: Reprodução/Inep

40
Transcrição

"A artista Tarsila do Amaral ganhou notoriedade, no século XX, por


exaltar a pluralidade da cultura brasileira. Em seus quadros “Abaporu” e “O
Mamoeiro”, por exemplo, a pintora Modernista presta uma homenagem aos
povos indígenas e aos pescadores artesanais, respectivamente, ao promover
um sentimento nacionalista e crítico. Todavia, na realidade contemporânea, a
valorização de comunidades e de povos tradicionais restringe-se ao cenário
artístico, já que, no Brasil, os direitos desses grupos são negligenciados devido
a raízes históricas e à ausência de políticas públicas. Assim, medidas são
necessárias para reverter esse cenário desafiador.
Sob esse viés, a desvalorização das populações tradicionais é histórica.
No século XVI, os colonizadores portugueses invadiram o território brasileiro e
catequizaram, além de violentarem, diversos indígenas. As ações agressivas
ocorreram por meio da imposição da fé cristã e da língua portuguesa, com o
fito de apagar as crenças e os valores dos povos originários, como os Pataxós e
os Guaranis. Hoje, infelizmente, os reflexos daquele período persistem: muitos
grupos perderam o contato com a língua materna e são marginalizados pela
sociedade, seja pela perseguição à cultura, seja pela perda de território.
Consequentemente, os nativos são vistos de forma estigmatizada, desde a
época da colonização, pois parte da sociedade os enxerga de forma “primitiva”
e inferiorizada, fruto de uma visão eurocêntrica. Desse modo, as comunidades
tradicionais sofrem com a falta de reconhecimento cultural, e o acesso à
informação é essencial para combater esse desafio histórico.
Além disso, a ausência de intervenção governamental prejudica a
proteção das comunidades e dos povos tradicionais da nação. Segundo o
conceito de “Cidadanias Mutiladas”, do geógrafo Milton Santos, a democracia
deve atingir todo o corpo social, no entanto, a máxima do autor parece não ter
sido cumprida, já que o Estado não fornece políticas públicas que garantam a
dignidade da população. De acordo com o jornal virtual “Nexo”, no Amazonas,
a comunidade ribeirinha vive sob condições de insalubridade, haja vista a falta
de saneamento básico na região, e é vulnerável a enfermidades, devido à
carência de postos médicos. Com efeito, observa-se que a cidadania de
grupos tradicionais está em risco, já que os direitos constitucionais, como o
acesso à saúde, não são respeitados. Logo, o reconhecimento da existência
desses povos e a valorização de suas vidas são imprescindíveis para a
preservação do bem-estar social e ambiental, uma vez que comunidades
ribeirinhas têm uma relação direta com a natureza, ao cuidar da flora e da
fauna, usando da pesca e da produção de produtos naturais para o seu
sustento.
Portanto, a resolução dessas dificuldades é urgente. A mídia, órgão de
alcance nacional de informações, deve criar conteúdos educativos sobre a
história dos povos tradicionais, como os indígenas. Isso pode ser feito por meio
de documentários e de novelas, a fim de combater a desinformação e o
preconceito. Ademais, o Governo Federal, instituição responsável pela garantia
de direitos dos brasileiros, precisa ofertar políticas públicas inclusivas às
regiões marginalizadas, por meio de verbas, destinadas aos governadores,
para a realização de obras associadas ao saneamento básico e à construção de
postos de saúde às populações ribeirinhas, além da demarcação de terras.
Dessa maneira, a brasilidade e a valorização da diversidade cultural dos povos
tradicionais, assim como as comunidades, serão valorizadas como pretendia o
Modernismo."

41
Maria Clara Quintanilha Tavares (ela/dela)
19 anos | Rio de Janeiro - RJ | @claraquintanilhaa

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Foto: Reprodução/Inep

42
Transcrição

"Durante o processo de colonização brasileiro, iniciado no século XVI, a


estratégia de dominação empregada pela Coroa Portuguesa consistia, além
da violência física para a escravização dos povos nativos, na violência cultural,
por meio da desvalorização dos costumes desses povos e da imposição de
seus próprios conceitos de comportamento e religiosidade. Como resultado
desse desrespeito à alteridade, a hegemonia europeia foi estabelecida na
América, e a identidade nacional foi construída com base, principalmente, em
princípios estrangeiros. Por essa razão, atualmente, dois séculos após a
Independência, a importância da cultura nativa ainda não foi resgatada.
Mesmo que a valorização de comunidades e povos tradicionais - não só
indígenas, mas também ciganos e pescadores, por exemplo - no Brasil, seja
essencial para a diversidade cultural do país, essa noção é ignorada para
benefício de dinâmicas econômicas.
Primeiramente, é preciso destacar a importância da valorização das
populações tradicionais brasileiras para a formação de uma nação rica em
diversidade cultural. Para as ciências sociológicas, a coexistência de diferentes
formas de organização social e expressão cultural é de grande valor para a
construção de uma comunidade plural, com aspectos identitários sólidos, na
medida em que o contato saudável entre perspectivas e realidades diversas
amplia as noções de tolerância e de respeito na sociedade. Nesse sentido, a
valorização dos povos tradicionais que têm como herança conhecimentos
ancestrais diversificados, transmitidos entre gerações por meio de suas
práticas e seus rituais, é indispensável para a formação de um acervo cultural
nacional extremamente rico, de acordo com a Sociologia.
Entretanto, essa valorização é negligenciada, principalmente, por conta
de uma lógica mercadológica. De fato, mesmo após o fim do domínio
lusitano, os povos originários do Brasil continuaram sob ameaça de violação
de seus direitos, diante da perpetuação das práticas exploratórias baseadas na
dinâmica capitalista. Com o fortalecimento do Ciclo da Borracha, por exemplo,
durante a Segunda Revolução Industrial, a atividade extrativista predatória e
ilegal, na Amazônia, aumentou intensamente, de modo que a invasão de
terras ocupadas por povos tradicionais tornou-se um artifício comum para a
obtenção do látex das seringueiras. Nesse cenário, os conflitos agrários
violentos ocasionaram o extermínio de populações locais e, como
consequência, a perda de suas tradições. Diante disso, é possível relacionar a
desvalorização dessas comunidades à lógica de exploração de recursos
naturais para garantia de lucro.
Fica claro, portanto, que a valorização dos povos tradicionais, no país,
apesar de ser importante para a diversidade cultural, enfrenta desafios
relacionados aos ideais capitalistas. Para mudar essa realidade, é preciso que,
além de estabelecer projetos educacionais que destaquem a necessidade de
preservação dessas populações, o Estado institua ações de combate às
práticas ilegais de invasão de terras, por meio do aumento da fiscalização das
áreas habitadas por povos ameaçados. Isso pode ser feito, por exemplo, com o
aumento do contingente de profissionais responsáveis por essa segurança, a
fim de garantir a sobrevivência dessas comunidades e, com isso, preservar
seus saberes. Assim, espera-se que a importância da cultura nativa seja, enfim,
resgatada e consolidada."

43
Maria Eduarda Graciano (ela/dela)
18 anos | São Lourenço - MG | @dudsgraciano

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Foto: Reprodução/Inep

44
Transcrição

"Conhecida como "Cidadã", a Constituição Federal de 1988, promulgada


durante o processo de redemocratização do Brasil, garante os direitos sociais,
políticos e civis de todos os cidadãos brasileiros, incluindo os povos originários.
No entanto, apesar da garantia constitucional, na atualidade, tal minoria ainda
sofre com a desvalorização e com o preconceito na sociedade, tendo seus
direitos negligenciados, em contraste com a Carta Magna. Tal exclusão tem
origem no racismo estrutural e é fomentada pelo desconhecimento
populacional. Assim, é preciso estudar maneiras de superar os desafios que
impedem a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil.

Em primeiro plano, cabe relacionar tal adversidade ao racismo


estrutural presente no país desde a colonização. Esse racismo foi sustentado e
estruturado por teorias etnocêntricas advindas dos paízes (sic) colonizadores,
os quais sustentavam a superioridade branca e a necessidade de catequizar os
nativos – que eram considerados inferiores. Paralelamente, tais teorias
eurocêntricas foram responsáveis por estruturar o racismo, marginalizar as
etnias e destruir o acervo cultural étnico do país, trazendo consequências até a
atualidade, visto que tais minorias ainda estão em situação de exclusão e
desvalorização. Logo, visto as consequências do etnocentrismo para a
sociedade contemporânea, é preciso incentivar a valorização das
comunidades originárias.

Ademais, outro desafio para a efetivação da valorização é o


desconhecimento populacional, já que a própria sociedade brasileira não
conhece a diversidade étnica brasileira e a identidade multiétnica do Brasil.
Nesse sentido, essa ignorância – originada pela educação também
etnocêntrica – impede tal valorização e auxilia na disseminação de
preconceitos. Nesse raciocínio, vale citar a série "Anne with an e", já que, na
obra, uma comunidade indígena sofre preconceito por parte da população
devido tal ignorância. Fora da ficção, a realidade não é diferente, visto que o
preconceito é vigente na sociedade brasileira. Dessa forma, é necessário
educar a população, a fim de acabar com o preconceito.

Fica evidente, portanto, a necessidade de incluir e valorizar tais povos, a


partir do combate às teorias etnocêntricas e ao preconceito. Com isso, o
Ministério da Educação e da Cultura – principal promotor da educação no país
– deve, com auxílio das mídias, criar campanhas publicitárias educativas com
intuito de educar a população brasileira sobre o assunto. Tais campanhas
devem contar com a perspectiva dessas minorias, a fim de incluí-las na
sociedade. Além disso, o mesmo órgão deve criar projetos nas escolas e
universidades, com participação dessas comunidades, a fim de conscientizar
também jovens e crianças sobre o assunto. Somente com tais medidas, a
Constituição Federal será obedecida, com os direitos de todos os brasileiros
garantidos."

45
Maria Fernanda Simionato de Lemes (ela/dela)
21 anos | Porto Alegre - RS | @mafesimionatol

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

46
Transcrição

"Historicamente, a partir da implementação das missões jesuíticas no


Brasil colonial, os povos nativos tiveram suas tradições suprimidas e seu
conhecimento acerca das peculiaridades territoriais menosprezado. Na
contemporaneidade, a importância dessas populações configura um fator
indispensável à compreensão da diversidade étnica do nosso país. Contudo,
ainda persistem desafios à valorização dessas comunidades, o que interfere na
preservação de seus saberes. Logo, urgem medidas estatais que promovam
melhorias nesse cenário.

Sob esse viés, é válido destacar a fundamentalidade dos povos


tradicionais como detentores de uma pluralidade histórica e cultural, que
proporciona a disseminação de uma vasta sabedoria na sociedade. Nesse
sentido, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) afirma
as heranças tradicionais desses grupos como constituintes do patrimônio
imaterial brasileiro. Dessa forma, sabe-se que a contribuição desses indivíduos
para a formação intelectual do corpo social engloba práticas de
sustentabilidade, agricultura familiar e, inclusive, confere a eles uma
participação efetiva na economia do país. Assim, evidencia-se a extrema
relevância dessas comunidades para a manutenção de conhecimentos
diferenciados, bem como para a evolução da coletividade.

Entretanto, a falta de representantes políticos eleitos para essa classe


ocasiona a desvalorização das suas necessidades sociais, que não são
atendidas pelos demais legisladores. Nesse contexto, a Constituição Federal
assegura direitos inalienáveis a todos os cidadãos brasileiros, abordando o
dever de inclusão dos povos tradicionais nas decisões públicas. Desse modo,
compreende-se que a existência de obstáculos para o reconhecimento da
importância de populações nativas se relaciona à ineficácia na incorporação
de representantes que sejam, de fato, interessados na perpetuação de saberes
e técnicas ancestrais propagados por esses grupos. Sendo assim, comprova-se
a ocorrência de um grave problema no âmbito coletivo, o qual impede a
garantia plena dos direitos básicos dessas pessoas.

Diante do exposto, denota-se a urgência de propostas governamentais


que alterem esse quadro. Portanto, cabe ao Estado - cuja função principal é a
proteção dos direitos de seus cidadãos - a implantação de mudanças no
sistema eleitoral, por meio da criação de cotas rígidas para a eleição de
políticos oriundos de localidades nativas. Tal reestruturação terá como
finalidade a valorização de povos tradicionais, reconhecendo a sua
fundamentalidade na composição histórica e cultural da sociedade brasileira."

47
Mariana Horta Araujo (ela/dela)
19 anos | Niterói - RJ | @_marianahorta

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48
Transcrição

"A Agenda ONU 2030, plano do qual o Brasil é signatário, prevê como
um de seus objetivos o desenvolvimento sustentável pautado no respeito à
diversidade cultural. No entanto, a realidade diverge do documento, tendo em
vista os desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no
Brasil, que dificultam a troca sustentável entre a sociedade e a natureza. Dessa
forma, é fundamental compreender como a falha educacional e a
governamental intensificam o infame cenário nacional vigente.

De início, convém analisar a negligência das instituições de ensino


como óbice à valorização de comunidades e povos tradicionais no país. Sob a
ótica da socióloga Martha Nussbaum, o conteúdo informacional a que o
indivíduo tem acesso modula a sua perspectiva e a sua forma de apreensão
da realidade, exercendo influência direta sobre suas ações diante de questões
sociais. Ao ser inserido em um contexto de pífia ou de inexistente abordagem
acerca da diversidade cultural brasileira, expressa principalmente nas
comunidades e nos povos tradicionais, o indivíduo apresenta uma formação
intelectual caracterizada por lacunas de conhecimento sobre a composição da
sociedade. Nesse sentido, o sujeito torna-se incapaz de valorizar diferentes
comunidades e povos tradicionais do território nacional, uma vez que não
apresenta informações suficientes sobre a existência e sobre as atribuições
desses grupos ao país - das quais destaca-se o amplo conhecimento da
natureza e da preservação para a manutenção da sua biodiversidade.

Além disso, vale ressaltar a falha governamental como desafio à


valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil. Sob esse viés, a
exportação de “commodities”, como a soja e o milho, realizada pelo
agronegócio brasileiro, contribui para o destaque do país como um dos
maiores produtores mundiais, fato que acarreta altos investimentos e apoio
governamental a esse setor. Embora benéfico para o PIB nacional, o modo de
produção agrícola moderno é nocivo aos povos e às comunidades tradicionais
do Brasil, visto que é marcado pela intensa exploração da terra e dos recursos
naturais, que são, majoritariamente, a base da vida desses grupos sociais -
tendo em vista o uso da natureza como meio de subsistência e como forma
de manter laços ancestrais ao longo de suas histórias. Nessa perspectiva, por
valorizar o desenvolvimento econômico em detrimento dos povos e das
comunidades, o governo brasileiro insere-se na teoria de “Instituição Zumbi”,
na qual o sociólogo Bauman afirma que, por não promoverem os aparatos
necessários ao desenvolvimento de uma sociedade - como os grupos
tradicionais - algumas instituições perdem o seu valor social. Assim, o governo
mostra-se um desafio para a valorização de populações tradicionais,
colocando em risco a identidade e a vida delas.

Portanto, ficam claros os óbices à valorização de povos e comunidades


tradicionais do Brasil. Para combatê-los, é dever do Ministério da Educação -
devido a sua responsabilidade sobre a formação intelectual dos brasileiros -
ampliar o conhecimento da população sobre os grupos tradicionais. Tal ação
será realizada por meio de projetos educacionais semanais - os quais serão
distribuídos por todo o território nacional - com a finalidade de tornar os
brasileiros aptos a valorizar os povos e as comunidades tradicionais do país.
Ademais, cabe ao Governo Federal promover apoio a esses grupos e a sua
forma de utilizar a natureza em detrimento do agronegócio. Como efeito, a
Agenda ONU será cumprida e os povos, valorizados."

49
Maria Victória Parizani (ela/dela)
20 anos | Rio de Janeiro - RJ | @maviparizani

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Foto: Reprodução/Inep

50
Transcrição

"Na obra "Iracema", datada do período romântico, é retratada a relação


entre uma mulher indígena e um homem branco, a fim de expressar o
nascimento do Brasil como resultado da harmonia entre diferentes povos: os
nativos e os recém-chegados europeus. No entanto, a realidade mostra-se
extremamente distante da ficção: os povos tradicionais brasileiros têm
enfrentado, desde o século XV, diversos desafios no que se refere à sua
valorização. Nesse contexto, destacam-se, sobretudo, a construção histórica do
padrão de vida eurocêntrico como o único socialmente aceito e o
favorecimento da busca pelo lucro em detrimento do respeito às
comunidades tradicionais.
Em primeiro plano, é necessário apontar que um dos maiores desafios
para a valorização das comunidades e povos tradicionais no Brasil é a adoção
histórica do modelo eurocêntrico como padrão no país. Nesse contexto, é
imprescindível citar a política de embranquecimento instaurada em solo
brasileiro no início do século XX: logo após o fim da escravidão e a
proclamação da República, os líderes políticos da época realizaram um
movimento, pautado em bases racistas e discriminatórias, de estímulo à
imigração de europeus para o Brasil, a fim de aumentar seu contingente no
país e, assim, "embranquecer" a população. Os resultados dessa política,
infelizmente, persistem até os dias de hoje: indivíduos pertencentes aos povos
tradicionais – indígenas, quilombolas, entre outros – continuam sendo alvo de
preconceitos, violência, além de não terem seus direitos reconhecidos por
muitos indivíduos pertencentes ao padrão eurocêntrico supracitado. Esse
cenário resulta na perpetuação da propagação de ideais falaciosos e
desrespeitosos referentes às comunidades tradicionais, o que intensifica os
ataques direcionados a elas e transforma o Brasil em um país cada vez mais
desigual e hostil.
Em segundo plano, é preciso citar a busca incessante e desmedida pelo
lucro como um grande desafio para a valorização de comunidades e povos
tradicionais no Brasil. Uma extensa parte desses grupos nutre relações de
respeito e reciprocidade com a natureza, retirando dela somente o necessário
para subsistência. Ao mesmo tempo, aos moldes do modelo neoliberal
vigente, as grandes empresas e o agronegócio operam a partir da busca pela
maximização dos lucros – o que contrasta com o ideal de preservação do meio
ambiente seguido pelos povos tradicionais, uma vez que a maior produção
tende a ser alcançada por intermédio de técnicas pouco sustentáveis, como o
extrativismo exacerbado. Nesse contexto, as empresas, que superam as
comunidades nativas em poder econômico – e, portanto, gozam
comparativamente de mais recursos –, invadem os espaços pertencentes aos
povos tradicionais e apropriam-se de terras que, moralmente, não são suas.
Essa realidade resulta em diversos conflitos, muitas vezes extremamente
violentos, que acarretam, infelizmente, a morte de inúmeros indivíduos de
grupos tradicionais. Desse modo, nesse lamentável cenário, milhares de vidas
são tratadas como menos importantes que a geração de lucro financeiro.
Portanto, torna-se evidente a desvalorização de comunidades e povos
tradicionais no Brasil, e é urgente sua superação. Para isso, cabe ao Ministério
da Educação a implementação de aulas obrigatórias sobre a importância
desses grupos para o país, a níveis fundamental e médio, por meio da inclusão
do assunto na Base Nacional Comum Curricular, que determina os conteúdos
mandatórios a todas as escolas brasileiras. Isso deve ser realizado a fim de que
a valorização de diferentes culturas seja ensinada desde cedo, o que evitará a
persistência do atual cenário de preconceito. Além disso, o Governo Federal
deve fiscalizar o respeito à preservação de terras dos povos nativos, para que
essas comunidades tenham seus direitos garantidos. Espera-se, desse modo,
que o Brasil torne-se um país cada vez mais justo e repleto de respeito."

51
Nicole Carvalho Almeida (ela/dela)
19 anos | Araguari - MG

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52
Transcrição

"No Brasil, o Artigo 1° da Constituição Federal de 1988 delibera a garantia


da cidadania e da integridade da pessoa humana como fundamento para a
instituição do Estado Democrático de Direito, no qual deve-se assegurar o
bem-estar coletivo. No entanto, hodiernamente, não há o cumprimento
efetivo dessa premissa para a totalidade dos cidadãos, haja vista os
empecilhos no que tange à valorização de comunidades e povos tradicionais
no país. Nesse viés, torna-se essencial analisar duas vertentes relacionadas à
problemática: a inferiorização desses grupos bem como a perspectiva do
mercado nacional.

Sob esse prisma, é primordial destacar a discriminação contra esses


indivíduos no Brasil. Nesse sentido, de acordo com o sociólogo canadense
Erving Goffman, o estigma caracteriza-se por atributos profundamente
depreciativos estabelecidos pelo meio social. Nesse contexto, observa-se a
maneira como os povos tradicionais, a exemplo dos quilombolas e dos
ciganos, sofrem a estigmatização na sociedade brasileira, pois são, muitas
vezes, considerados sujeitos sem utilidade para o crescimento econômico do
país, uma vez que as práticas de subsistência são comuns nessas
comunidades. Dessa forma, ocorre a marginalização desses grupos, fato o
qual os distancia da valorização no país.

Outrossim, é relevante ressaltar a perspectiva mercadológica brasileira


como fator agravante dessa realidade. Nessa conjuntura, segundo a obra "O
Capital” escrita pelos filósofos economistas Karl Marx e Friedrich Engels, o
capitalismo prioriza a lucratividade em detrimento de valores. Nesse cenário,
diversas empresas, no Brasil, estruturadas em uma base capitalista, atuam a
partir de mecanismos de financiamento e apoio às legislações que incentivam
a exploração de territórios ambientais habitados pelos povos tradicionais,
como a região amazônica, sem levar em consideração a defesa da
sociobiodiversidade nessas comunidades. Desse modo, há a manutenção de
ações as quais visam somente ao lucro no mercado corporativo e são
coniventes com processos de apropriação bem como de desvalorização dos
nichos sociais de populações tradicionais no país.

Portanto, são necessárias intervenções capazes de fomentar a


valorização desses indivíduos na sociedade brasileira. Para tanto, cabe ao
Ministério da Educação promover a mudança das concepções
discriminatórias contra as comunidades tradicionais, por meio da realização
de palestras periódicas nas escolas, ministrados por sociólogos e antropólogos,
as quais conscientizem os sujeitos acerca da importância desses povos para o
país, a fim de minimizar o preconceito nesse âmbito. Além disso, é dever do
Ministério da Economia impor sanções às empresas que explorem os
territórios habitados por essas comunidades, com o intuito de desestimular
tais ações. A partir dessas medidas, a desvalorização das populações
tradicionais poderá ser superada no Brasil."

53
Rodrigo Junqueira Santiago Simões (ele/dele)
18 anos | São Paulo - SP | @rodrigoo_ j.santiago

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Foto: Reprodução/Inep

54
Transcrição

"No livro “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, Ailton Krenak critica o
distanciamento entre a população brasileira como um todo e a natureza, o
que não se aplica às comunidades indígenas. Tal pensamento é
extremamente atual, já que não só indígenas como todas as populações
tradicionais têm uma relação de respeito mútuo com a natureza, aspectos
que as diferenciam do resto dos brasileiros. Com isso, a agressão ao meio
ambiente e o apagamento dos saberes ancestrais configuram desafios para a
valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil.

Primeiramente, é preciso compreender como a agressão ao meio


ambiente fere as comunidades tradicionais. Há séculos esses povos vêm
construindo suas culturas com respeito à natureza, tratando-a de forma
sustentável. Consequentemente, criou-se nesses grupos uma visão afetiva dos
recursos naturais, que se tornaram base para a manutenção de uma
identidade característica a cada uma dessas comunidades. No entanto, todos
os biomas brasileiros estão sendo constantemente ameaçados, seja pela
mineração, garimpo ilegal, desmatamento ou poluição, fatores que têm em
comum a priorização de ganho financeiro em detrimento da preservação
ambiental. Assim, parte da população, coloca em risco o maior patrimônio dos
povos tradicionais, a natureza, em busca de recursos naturais que trazem
benefícios restritos aos agressores, tornando o modo de vida dessas
comunidades impraticável. Portanto, com base na importância do meio
ambiente para as comunidades tradicionais, causar danos à natureza significa,
também, causar danos aos povos em questão.

Ademais, é de grande relevância entender como o apagamento dos


saberes ancestrais leva à desvalorização das populações tradicionais. Devido à
grande diversidade de povos tradicionais no Brasil, houve, em cada um deles,
a criação de um conjunto de conhecimentos, pensamentos, filosofias e
linguagens distintas, passado pelas gerações, ditando e mantendo vivo o
modo de vida que caracteriza identitariamente cada grupo. Entretanto, essa
bagagem epistêmica é muito pouco externalizada, pelo fato de que esses
saberes são coletivizados apenas em esferas menores, de forma a manter a
ancestralidade dos povos locais apenas entre si. Logo, todo conhecimento
produzido nessa perspectiva é desconhecido do grande público, sendo pouco
discutido e não fazendo parte da visão de mundo da maioria dos brasileiros.
Dessa forma, os saberes dos povos tradicionais são desconsiderados,
acarretando na desvalorização de todos esses grupos.

Em síntese, o impacto causado ao meio ambiente e a desconsideração


de seus saberes são grandes agentes de desvalorização das comunidades
tradicionais. Por isso, cabe ao Ministério do Meio Ambiente proteger os biomas
do país, através do endurecimento de punições contra crimes ambientais,
com a finalidade de salvaguardar o modo de vida de diferentes povos,
tornando possível a manutenção da diversidade cultural brasileira. Além disso,
o Ministério da Educação deve promover a discussão sobre os conhecimentos
das comunidades tradicionais, por meio da incorporação de conteúdos
relacionados a esses povos na grade curricular das escolas, a fim de divulgar a
visão de mundo desses grupos, fomentando uma convivência pacífica entre
toda a população."

55
Samantha Souza (ela/dela)
20 anos | Governador Valadares - MG | @samanthinhabr

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

56
Transcrição

"Em sua obra "O Cidadão de Papel", Gilberto Dimenstein aborda a


desvalorização de alguns indivíduos na sociedade brasileira, uma vez que boa
parte dos direitos humanos está apenas registrada no papel, ou seja, não está
sendo exercida na prática. Diante disso, no cenário hodierno, a visão do autor é
verificada na questão dos desafios para a valorização de comunidades e povos
tradicionais no Brasil. Nesse sentido, observa-se um delicado confronto que
tem como razões a negligência de leis, bem como a falta de informação.

Em primeira análise, vale ressaltar que a insuficiência da legislação


intensifica o desafio de conservar as diferentes organizações sociais. A
Constituição Brasileira de 1988 busca garantir a integridade dos seres vivos e o
meio em que vivem. Sob essa perspectiva, a esfera legislativa rompe esse
raciocínio em relação à cultura e à sociedade, visto que, muitas vezes, as
comunidades distintas não são reconhecidas, principalmente os quais
integram na importância da preservação do meio ambiente e do
envolvimento na economia, devido à escassez da implantação da lei, com
rigor, em reconhecimento de diversos povos da natureza e seus hábitos
culturais. Assim sendo, infere-se que a ação legislativa não foi capaz de
garantir a valorização de diferentes organizações sociais.

Em segunda análise, é importante destacar que a falta de informação


permite o desafio de preservar as comunidades e os grupos tradicionais. Em
sua obra "A República", Platão narra "A Alegoria da Caverna", em que os
prisioneiros acorrentados em uma cova veem somente sombras refletidas na
parede e eles acreditam que são reais. Nessa perspectiva, em situação análoga
à metáfora, no contexto atual, os brasileiros que não têm conhecimento
acerca das culturas e sociedades distintas vivem na escuridão, isto é, na
ignorância, haja vista que não reconhecem os diversos hábitos culturais e nem
preservam os territórios dos indígenas, quilombolas, pescadores e entre outros
devido à escassez da consciência dos intolerantes sobre a importância dessas
comunidades e povos tradicionais em proteger o meio ambiente. Dessa
forma, deduz-se que a ignorância contribuiu para a desvalorização dos grupos
dos saberes ancestrais.

Portanto, o governo – agente responsável por zelar pela nação –, em


parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, deve garantir o
reconhecimento das organizações sociais do ecossistema, por todo o Brasil,
por meio da aplicação da lei, com rigor, com o intuito de valorizar as
comunidades e os povos tradicionais da pátria verde-amarela, e também
preservar a natureza, para uma sociedade mais justa e igualitária. Ademais, é
necessário a realização de debates sobre o reconhecimento e a conservação
dos grupos da biodiversidade, a fim de que a população tome conhecimento
e valorize-os. Dessa maneira, feito isso, não haverá mais "cidadãos de papel",
consoante a visão de Dimenstein."

57
Zeck Ferreira Gomes (ele/dele)
22 anos | Montes Carlos - MG | @zeecagomes

Espelho

Foto: Reprodução/Inep

58
Transcrição

"Na música ''Imagine'', de John Lennon, é retratada uma sociedade que


se une, apesar das diferenças culturais, a fim de alcançar a felicidade. Assim
como na obra, fora da canção, a harmonia social é imprescindível para o
desenvolvimento de uma nação. Contudo, no Brasil, desafios como a
negligência estatal, somada à presença de um ideário colonial no
pensamento coletivo, prejudicam a valorização das comunidades e dos povos
tradicionais, impedindo a concretização dessa união. Desse modo, torna-se
fundamental a atuação do Estado para solucionar esse óbice.

Diante disso, é válido analisar, primeiramente, a improficuidade estatal


perante o cumprimento dos benefícios normativos. Nesse sentido, segundo a
Constituição Federal de 1988, todo cidadão brasileiro possui o direito à
educação, cabendo ao Estado a sua efetivação no corpo social. Todavia,
percebe-se, na realidade, que esse preceito não é difundido por completo,
haja vista que, em virtude da escassa mobilização governamental referente à
promoção das campanhas educacionais sobre as distintas comunidades
tradicionais que residem no Brasil, diversas pessoas desconhecem a
importância desses povos para a nação, a exemplo da utilização do
conhecimento indígena para a preservação das florestas nativas, o que
contribui para a desvalorização dessa população na atualidade. Logo,
conclui-se que as autoridades públicas devem promover ações
sensibilizadoras para reverter essa conjuntura.

Ademais, é imperioso postular como a perpetuação de um pensamento


retrógrado afeta a sociedade tradicional. Nesse contexto, durante a
colonização do Brasil, houve um processo de imposição da cultura
eurocêntrica dos colonos nas comunidades colonizadas, ocasionando uma
desvalorização dos povos tradicionais. Tendo isso em vista, observa-se, na
contemporaneidade, a existência desse fenômeno, dado que persiste a
exaltação de uma cultura globalizada em detrimento dos costumes das
comunidades originárias, o que gera, por consequência, o apagamento de
diversos hábitos tradicionais, como a mudança da vestimenta utilizada por
algumas tribos indígenas, destacando a adaptação à cultura hegemônica.
Dessa forma, faz-se essencial a criação de projetos governamentais que
combatam esse pensamento antigo.

Evidencia-se, portanto, que atitudes são necessárias, com o fito de


extinguir os desafios para a valorização das comunidades e dos povos
tradicionais no Brasil. Posto isso, o Estado deve, por meio do Ministério da
Educação - órgão federal detentor do papel educacional da nação-, realizar
parcerias com os meios de comunicação existentes, a exemplo dos canais
televisivos, com a finalidade de divulgar informações acerca da importância
das distintas populações que residem no país, elucidando os brasileiros e
eliminando a mentalidade colonial da sociedade. Somente assim, os
diferentes povos serão valorizados e a harmonia cantada por Lennon se
concretizará no Brasil."

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