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Histeria e Feminilidade PDF
Histeria e Feminilidade PDF
HISTERIA E FEMINILIDADE
Rio de Janeiro
2008
Maria Beatriz de Souza Rangel
HISTERIA E FEMINILIDADE
Rio de Janeiro
2008
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
SISTEMA DE BIBLIOTECAS
Rua Ibituruna, 108 – Maracanã
20271-020 – Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21) 2574-8845 Fax.: (21) 2574-8891
FICHA CATALOGRÁFICA
102p. ; 30 cm.
HISTERIA E FEMINILIDADE
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Gloria Sadala (Doutora/UFRJ) - orientadora
_______________________________________________________________
Maria Anita Carneiro Ribeiro (Pós-doutora/PUC-Rio) - UVA
_______________________________________________________________
Malvine Zalcberg (Doutora/PUC-Rio) - UERJ
Aos meus pais, minhas irmãs e meus sobrinhos, pelos anos de incentivo
e amor.
À Glória Sadala, por supervisionar a minha prática clínica e orientar este
trabalho aqui apresentado, sempre com tanto cuidado.
À minha analista Sara Leibovici.
Aos professores neste curso: Maria Anita Carneiro Ribeiro, Vera Pollo
Flores e Antonio Quinet pelos ensinamentos.
Às companheiras de estudo neste Mestrado.
Aos amigos e amigas, que tanto me incentivaram.
E especialmente, às minhas pacientes mulheres, que sem elas este
trabalho não seria realizado.
RESUMO
1. INTRODUÇÃO, p. 9
2. CAMINHOS DA FEMINILIDADE, p. 13
2.1 O QUE FREUD NOS DIZ SOBRE A FEMINILIDADE?, p. 13
2.2 A FEMINILIDADE NO ENSINO LACANIANO, p. 26
2.2.1 SOBRE O GOZO DA MULHER, p. 32
2.3 A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO MÃE-FILHA PARA A MULHER, p. 34
3. A MULHER E SUAS MÁSCARAS, p. 43
3.1 UMA BREVE PASSAGEM PELAS CONTRIBUIÇÕES DE ALGUNS AUTORES AO
DESENVOLVIMENTO SEXUAL DA MULHER NOS ANOS 20, p. 43
3.2 A MASCARADA FEMININA, p. 49
3.3 A FALTA DO SIGNIFICANTE “FALA” NA CLÍNICA DA MULHER, p. 55
4. HISTERIA, p. 58
4.1 UMA ABORDAGEM HISTÓRICA: ANTECEDENTES DA PSICANÁLISE, p. 58
4.1.1 DE CHARCOT A FREUD, p. 61
4.2 NASCEDOURO DA PSICANÁLISE: FREUD E SEUS ESTUDOS SOBRE A
HISTERIA, p. 73
4.3 COM LACAN, p. 76
5. HISTERIA E FEMINILIDADE, p. 80
5.1 CLÍNICA DIFERENCIAL: A HISTÉRICA E A MULHER, p. 80
5.1.1 A PSICANÁLISE, O INCONSCIENTE, A LINGUAGEM E O SONHO, p. 80
5.1.2 A BELA AÇOUGUEIRA, p. 86
5.1.3 POSIÇÃO HISTÉRICA E POSIÇÃO FEMININA, p. 89
5.2 POR FIM... O CASO DORA, p. 93
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS, p. 97
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p. 101
APÊNDICE, p. 106
1. INTRODUÇÃO
quando foi desenvolvido como trabalho final: A relação mãe e filha e suas
vicissitudes.
enigma.
mulher busca no parceiro algo que preencha a sua falta, o seu vazio.
Muitas vezes, a busca da mulher pela análise ocorre devido ao fracasso
em uma relação amorosa. Sua angústia é de se perder, de não ser amada. Sua
de algo que a represente. Cada mulher deve, portanto, encontrar uma saída
impossível de dizer.
desejos: o que é uma mulher? Ele se cala diante da tarefa de responder essa
feminilidade. Esta é vista por Freud como um enigma. Ele se refere à mulher
etiologia da histeria.
Nesse mesmo texto Freud tenta responder o que ele chama de “enigma
da mulher”. Já Lacan, nos anos 70, chama esse enigma de “enigma do gozo
feminino”.
pensa que a mulher tem algo mais para além do falo: um gozo enigmático. Não
tendo o falo, a mulher se faz de falo e se oferece para ser amada por um
homem.
desejo feminino não é obturado pelo desejo de filho como no texto freudiano.
Açougueira. Ela cria um desejo não realizado pedindo a seu marido que a prive
daquilo que mais gosta: o caviar, seu prato predileto. A inteligente paciente
que seus desejos não foram realizados. A mulher histérica procura um mestre
que queira saber sobre seu mistério, mas, acaba por castrar o mestre de seu
saber mostrando-o impotente para dar conta dela. Colocar-se como objeto de
desejo na fantasia de um homem lhe é difícil. Ela se furta deste lugar de objeto,
da ordem da mulher.
2. CAMINHOS DA FEMINILIDADE
feminilidade.
de um tornar–se mulher, visto que ela, menina, não nasce como tal. É preciso
pênis.
todos, um dia, se defrontaram com uma mulher e seu desejo. Portanto, para a
crianças pequenas são citadas por outros autores, segundo Freud, como
pequena não faz uma articulação direta entre diferença sexual anatômica e
imposto pelo participante mais forte (o pai) ao mais fraco (a mãe), adotando o
criança se deparar com as manchas de sangue na cama dos pais, ela irá
considerar o fato como uma confirmação de sua concepção. Isso servirá como
prova de que o pai agrediu a mãe. Diante de tal conexão podemos explicar o
relação à castração.
fundador, conceito que organiza o ser humano em torno das diferenças dos
sexos.
1996, p. 135).
197).
quando ela o compara com o órgão sexual do menino, percebe que “se saiu
mal”, ou seja, sente como uma injustiça feita a ela, justificativa para sua
que o temor da castração não é aplicável no caso dela. Além disso, a castração
ameaça está no medo de não ser amada. Freud, em 1914, escreve: “Sua
indica que entre eles há uma diferença referente ao tipo de escolha objetal,
compensar as restrições que lhes são impostas pela sociedade. Estas amam
Segundo Freud, tais mulheres exercem o fascínio sobre os homens, não só por
causa da bela estética, mas também por uma questão de combinação; o sujeito
a castração não pelo viés de uma ameaça que não lhe diz respeito e sim pela
tenho (o pênis), então me ame. O apelo ao amor pode ser interpretado como
mais simples que no menino, por implicar em assumir o lugar da mãe e ter o
experiências.
Nesse artigo ele questiona como a menina abandona a mãe, seu objeto
original, e toma o pai como seu novo objeto de amor. Investigando a partir
Freud, insatisfeito com sua teoria, irá, neste artigo de 1925, apresentar
uma nova descrição de Édipo feminino, ou seja, propor uma nova teoria sobre
castração.
identifica como algo superior ao seu pequeno órgão. Ao perceber isto, torna–se
afetuosa da menina com mãe. A mãe é a responsável pela falta do pênis. Outro
pênis, [...] é um ponto no qual ela não pode competir com os meninos, e que
assim seria melhor para ela abandonar a idéia de fazê–lo.” (FREUD, (1925),
1996, p. 284).
realização do seu complexo edípico: troca da zona erógena (do clitóris para
alguns aspectos das descobertas enunciadas seis anos antes. Ele irá expor a
abre mão de sua atividade fálica, de sua sexualidade em geral. Esta via a
feminilidade.
afirmará que muitos fenômenos da vida sexual feminina podem ser explicados
entretanto também torna–se motivo para que ela se revolte contra a pessoa
como ilustração o brincar, tal como Freud o fez em seu artigo Mais além do
reação ativa quando recebe uma impressão passiva. O brinquedo utilizado tem
irá brincar de ser médico, enquanto seu irmão menor será o alvo indefeso. Há
papel ativo.
reagiam com medo e gritos de raiva quando suas mães aplicavam lavagens
retais. Uma observação feita por Ruth Mack Brunswick o fez compreender o
primeiras sensações genitais ocorrem quando estão sendo limpas pela mãe ou
babá. Para ele, isto poderá justificar o fato de, posteriormente, nas fantasias o
transição para o objeto paterno. Como Freud, afirmamos que: “O caminho para
1931–Sexualidade Feminina.
de Édipo e o de castração.
o que ocorre com os meninos, observa que aquele é mais difícil e complexo, ao
contrário do que pensava em 1924, pois inclui justamente duas tarefas extras.
Aqui ele retoma as duas tarefas que a mulher tem que realizar no decorrer do
tem influência na escolha objetal da mulher, pois para ela ser amada é mais
necessário que amar. A inveja do pênis produz efeitos, visto que a mulher
tende a valorizar seus encantos como forma de compensar a sua inferioridade
sexual original.
pré–edípica:
e nesta a menina procura eliminar a mãe e tomar seu lugar junto ao pai.
respostas. Como, muito bem, nos diz Dunker: “A feminilidade é uma questão
2001, p. 9).
Freud propõe uma partilha dos sexos a partir do falo - ter ou não ter o
quer “a” mulher, indaguemos o que quer “uma” mulher. Ele nos diz: “Agora, o
outro lado. O que eu abordo este ano é o que Freud deixou expressamente de
lado, o Was will das Weib? O que quer uma mulher?” (LACAN, (1972-73),
1985, p. 108).
lacaniana depara–se com a questão de ser o falo, justamente por não tê–lo. “É
pelo que ela não é que ela pretende ser desejada ao mesmo tempo que
amada. Mas ela encontra o significante de seu próprio desejo no corpo daquele
É preciso ocupar o lugar de “ser o falo” para se tornar objeto causa de desejo.
Para isso, ela na posição feminina terá que rejeitar uma parcela essencial da
feminilidade, se apresentar com o sinal de menos, como “objeto a” na relação
com o homem. Enfim, estar marcada pela castração, castração esta que a
feminilidade.
que a verdadeira mulher só existe “sob a condição de existir sem pão, sem
pouso, sem amigos, sem marido e sem filhos”, (BLOY apud SOLER, 2005, p.
22), de outra maneira, ela envolve algo que se articula ao sacrifício do ter,
mulher da de mãe. A seu ver, a verdadeira mulher é aquela que escolhe ser
mais mulher do que mãe, ou melhor, é aquela que coloca em segundo plano
sua condição materna. Carneiro Ribeiro em seu artigo “Ela anda em beleza,
como a noite” ressalta: “Lacan nos diz que a verdadeira mulher só está
presente no ato [...] quando cai fora do significante, lançando-se neste espaço
Essa é uma das figuras míticas dos grandes romances que sacrifica tudo para
do gozo.
a castração está referida. A visão dos órgãos genitais do outro sexo dá início
ao complexo de castração para menina. (ver página 14, item 2.1). A menina ao
desejo para o sujeito. É o pai quem garante uma relação simbólica com o
1
Conferência proferida em 9 de Maio de 1958 em Munique.
mais além dela própria. O falo não é uma fantasia, um objeto e nem tão pouco
Quanto à função do falo, Lacan nos diz que o falo é um significante que
outro, ...”. (LACAN, (1958), 1998, p. 701). Pela via do significante, a relação
ser e o homem no do ter. Este último, na verdade, não é possuidor do falo. Ele
possui um pênis que é investido de valor fálico. A relação com o falo irá
de ter para proteger o que possui, a mulher faz máscara de ser para encobrir o
que não tem, fazendo-se assim de falo. Como já dissemos, é exatamente pelo
Lacan nos sugere que, na partilha dos sexos, o homem possui a forma
“homem serve... de conector para que a mulher se torne esse Outro para ela
mesma, como o é para ele”. (LACAN, (1958), 1998, p. 741). Quinet em 1995
2
Congresso que teve sob o nome de Colóquio Internacional de Psicanálise de 5 a 9 de
Setembro de 1960 em Amsterdam.
A mulher utiliza o homem como traço distintivo da função fálica [...]
por um lado, ela é igual ao homem podendo se espelhar nele a partir
deste traço distintivo do falo inserindo-se na ordem fálica; por outro
lado, tem algo totalmente diferente, para-além do falo. Essa divisão a
constitui como um Outro para si mesma. (QUINET, 1995, p. 17).
Freud, em 1914, coloca a cura pelo amor como sendo uma forma da
como neurótica duvida: será que ele me ama? A mulher, desta forma, pergunta
algum sinal.
uma mulher deseje o(a) seu(ua) parceiro(a) é preciso que este se apresente
como faltoso. Para a mulher, em sua forma de amor erotomaníaca, essa falta é
demonologia para dizer que o desejo feminino visa o parceiro sexual, aquele
que está diante do véu. O amor, por sua vez, encontra-se por trás do véu,
castração”.(QUINET,1995, p. 19).
Véu
amante castrado
parceiro sexual homem morto – Cristo
desejo na mulher e o amor. Isso irá fazer com que Lacan, nos anos 70,
proponha o desdobramento da sexualidade feminina como vinculada ao gozo
concepção jurídica do termo. Para ele, a noção de gozo, se trata de gozar de, o
Pommier: “Em Psicanálise, esse termo é útil porque permite falar simplesmente
de gozo sofreu diversas modificações. O ponto que nos interessa aqui é o que
relacionado à função fálica, se trata de um outro gozo que não o gozo fálico.
seja, a mulher não se situa totalmente na norma fálica. E isso que daí escapa,
mulher possui um gozo que escapa à ordem do ter e do ser. Uma mulher sente
que parte dela está presa no gozo fálico, e a outra parte situa-se no gozo do
Outro, ou gozo do corpo, gozo do qual nada se sabe... só se pode supô-lo; está
MULHER
que à mãe falta um símbolo específico de seu sexo, busca nesta um modo que
uma, tanto mãe quanto filha, passar pelo luto da separação no que diz respeito
à questão da feminilidade.
falta dessa identificação que nunca poderá ser preenchida. Mas que artifícios
acessórios que a enfeite e que facilitem serem desejadas pelos homens, assim
como a mãe é pelo pai. Desta forma, a mãe estaria traçando um percurso de
feminilidade para que a filha o utilize mais tarde. Essa seria a porta para o
caminho da filha no processo de tornar–se mulher para si mesma.
aceitar a perda.
menina entra no Édipo em busca de obter do pai o que não tem e, no seu caso
relação da filha com o pai não fará desaparecer a relação primária desta com a
mãe. Estamos aqui falando de um resto, em nível de Édipo, que não pode ser
simbolizado.
que “lhe atrasa”, “lhe sufoca”, “atrapalha seu trabalho”, “tira sua privacidade a
ponto de não poder transar com o marido”. Sua apnéia (fato que a trouxe para
análise) expressa claramente a relação mal resolvida com a mãe. Seu discurso
queixoso que no início da análise estava voltado para uma possível traição do
mãe substituta. Esta última irá surgir sempre de diversas formas no discurso de
Freud, esta nunca havia procurado casos amorosos com homens, vivendo
tranqüilamente com a mãe. Era filha única e o pai morrera anos atrás. A jovem
Certa vez, a conversa de sua chefe idosa (por ela descrita da seguinte
forma: “Ela tem cabelos brancos como minha mãe”) com o jovem amante
despertou sua desconfiança. Achou que este último falara com a “dama de
Freud conclui que a chefe era uma substituta da mãe e que esta primeira
colocou afastada de homens até seus 30 anos. O amor não é pela mãe que
então a prova de ser a destinatária do dom paterno de uma criança. “Não foi
ela quem teve o filho, mas sua rival inconscientemente odiada, a mãe”.
procurando outro objetivo para sua libido. O desejo de um filho, o amor dos
(1920), 1996, p. 170). A análise da jovem para Freud revelou que a amada
dama era uma substituta da mãe.
homens para mãe [...], poderia afastar algo que até então fora parcialmente
ressaltar que a mãe, ainda jovem, via a filha, de acordo com Freud, como uma
pois a partir dela uma série de questões surgem. Quantas vezes já escutamos:
mãe–filha.
descreve o olhar raivoso de sua mãe: “Quando eu era pequena minha mãe,
nas horas de briga, ficava por cima de mim com os olhos inquietos, feito uma
seguida relata: “Teve uma vez, também em uma briga, minha mãe virou para
mim e disse que meu pai teria que escolher entre eu e ela”. Ainda questiona:
seu desejo incestuoso. Ser homossexual, nesse caso, surge como defesa ao
desejo pelo pai. Diante do desejo, ela retorna à relação com a mãe. Podemos
observar que a própria briga com a mãe nos sugere uma relação incestuosa
também com a mãe.
devastação. Esse termo pode se referir ao que uma mãe representa para a
1995, p. 127).
do pai é de dizer que o objeto que satisfaz à mãe não é a criança, e sim o falo.
Diante dessa ação do pai, a criança poderá deixar de acreditar ser esse objeto
satisfatório.
filha está em poder separar seu próprio corpo do corpo da mãe e do corpo da
outra mulher.
Uma jovem em análise descreve tal dificuldade: “Não sei dizer onde
começo... Não tenho noção de espaço entre mim e minha mãe... Quem eu
significante. O olhar da mãe, em muitos casos, fará com que a filha se separe e
de se separar dela.
ela continue mais facilmente alienada a esse desejo, o que dificulta a filha
Essa ligação tão íntima, pelo risco de se tornar mortífera, não pode durar
para sempre. Isso vale tanto para mãe quanto para filha. A mãe precisa ter
de sair, uma vontade de saber o que se é para além daquilo que o Outro possa
dizer, para além daquilo inscrito no Outro”. (SOLER, 1997, p. 62/63). O Outro
do ser. Ele sofre, tem um forte sentimento de ser um vazio, de ser nada.
A paciente é uma histérica e, como tal, não tolera sua posição feminina.
na posição subjetiva de “ser nada”, o que de certa forma aponta para falta de
interessa pelo seu corpo e não por sua inteligência. Desta forma, se furta do
como “mulher não suficientemente boa” prefere ficar sozinha a sofrer. Tentando
mostrar sua inteligência, declara revanche aos homens mostrando como eles
são um “lixo”. Paula é aquela que trabalha, ganha dinheiro, banca a casa.
Soler (1997) nos coloca que isso ocorre porque um sujeito histérico se
duvidar de haver lugar para ele no Outro. É por isso que tenta sempre tornar o
desejo deste.
3. A MULHER E SUAS MÁSCARAS
[...] Lacan aponta que, no que tange à feminilidade, a melhor saída está do lado do ser... Para
Jones e Klein.
perda do amor dos pais. Desta forma, a expectativa em possuir uma criança
sua vez, ao complexo de castração como sendo esse uma fase normal do
desenvolvimento feminino.
castração na mulher.
clínica.
posterior haveria a negação da vagina, sendo esta uma defesa aos ataques
sintomas neuróticos das mulheres, para ela, não é desencadeada por tal
inveja.
vagina pela via de sua apropriação sádica, a menina, em seu próprio corpo,
menina deve renunciar à fase fálica, em dado momento, e deslocar sua zona
Por outro lado, Deutsch faz uma crítica a Freud ao não acreditar no fato
inveja é, de modo geral, uma tendência comum a todas as crianças, ainda mais
desenvolvimento da menina.
3
Sexualidade feminina, volume 21 das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.
4
Feminilidade, volume 22 das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.
que a mulher ocupa na cultura, e respaldados na diferença anatômica entre os
primariamente feminino. Hèlène Deutsch, nesse caso, não abre mão de que o
menino, ambos, neste aspecto, teriam que lutar para adquirir atividade e
Deutsch na hipótese filogenética. Para explicar tal hipótese, ela faz referências
reprodutora. A dor, tanto no ato sexual quanto no parto, teria que ser suportada
coloca entre a filha e o pai. Desta forma, a mulher estaria mais dependente de
construção do superego.
fantasia de ser penetrada por ele no coito. A não realização dessa fantasia
teríamos o complexo peniano, ou abrir mão de sua ligação erótica com o pai e
desenvolver uma atitude vaginal positiva. Então, tal inveja seria uma regressão
5
Que significa desaparecimento.
Em 1928, o debate se torna ainda mais intenso com Melanie Klein,
quando esta declara suas hipóteses. Para ela, o complexo de Édipo atua na
como objeto de gratificação oral e não possuir um pênis para si. Tal desejo é, a
seu ver, expressão das tendências edípicas e não produto de seu complexo de
castração.
primitivas da menina com sua mãe e depois com o pai, e também devido ao
desenvolvimento libidinal.
retornarmos, primeiramente, ao que Lacan nos ensina no final dos anos 50,
mulher para encobrir, camuflar, esconder a sua falta se mascara de ser, ser o
falo.
castração produz, envolve o ter/não ter o falo. A mulher freudiana está do lado
Através da mascarada, a mulher faz algo com sua falta com o objetivo
possível resposta para a pergunta: o que quer uma mulher? Ela quer que sua
não totalmente referida à função fálica, ela recorre às máscaras frente à não
posse de uma identidade feminina. Caldas Ribeiro escreve: “De um lado, elas
sujeito feminino: a mascarada deixa claro que cabe à mulher fazer-se mulher,
66). Cada mulher irá inventar, de uma maneira criativa e subjetiva, o que fazer
com a falta-a-ser. Freud acredita que a mulher não nasce mulher e sim se torna
uma.
significação fálica, ou seja, pretende ter para esconder. Isso irá fazer com que
a-ter e faz semblante de que tem, está na mesma posição de um homem que
castração.
feminina e afirma que esta não deixa de ser uma construção do feminino. Para
ele não existe uma essência feminina. Ao contrário, a seu ver, o feminino se
constrói.
6
Este texto precede duas grandes contribuições freudianas: A sexualidade feminina (1931) e
Feminilidade (1932).
verdadeira feminilidade, ela escreve: “O leitor pode perguntar-se como posso
Sobre tal equivalência exposta acima, Joan Rivière aposta que a única
modo de gozo primário e sim como uma forma de defesa contra a angústia
Tal mulher, tomada por uma forte angústia, teme ter cometido um erro:
reassegurar de que nada lhe aconteceria. Isso a leva atrair as investidas dos
figura do pai: um intelectual que tinha sido escritor antes de escolher a carreira
ao pai pelo significante escritor, ela rivaliza com ele como detentora do falo que
Rivière explica que sua paciente exibe o falo que teria roubado do pai e
se oferece a ele no plano sexual para não ser punida, disfarçando-se de mulher
objetivo de disfarçar sua masculinidade e evitar uma vingança por parte dos
homens que se sentiriam roubados de seus atributos: “como ladrão que mostra
seus bolsos e exige que nós o revistemos para provar que ele não detém os
destaca que, na partilha dos sexos, a inscrição do sujeito não está baseada em
uma diferença anatômica, como também acredita Rivière. O pênis surge como
maneira, a mulher recobre seu corpo com máscaras. Ela pode ser para o
homem o falo. Ele, homem, a mascara de falo ao tê-la como objeto de desejo
de sua fantasia. Sobre o desejo, Soler, em seu livro O que Lacan dizia das
Para Rivière, a mulher castrada é aquela que se deixa ser admirada pelo
homem. Observamos aqui uma certa proximidade com Lacan, pois este postula
no lugar de objeto a, para o homem. Para ser admirada, portanto, a mulher tem
que aceitar sua castração, seu sinal de menos, seu lugar de objeto a.
se apresenta sob o signo de uma falta. Soler nos diz: “Ela só é objeto sob a
apresentar sob o sinal do menos”. (2005, p. 34). Isto equivale ao que Lacan
MULHER
que o Outro lhe responda: O que é uma mulher? A falta do significante está no
para a analista, chora ao telefone, diz que quer morrer e afirma: Estou
ela, a analista tem neste momento o que ela não tem: um namorado, tem o
está dilacerada, sente–se um lixo: feia e gorda. O que precisa fazer para tê-lo
de volta? Na analista fica depositada a resposta de como ser mulher, de como
frio, não lhe faz carinho e passa o dia sem beijá-la. Já o traiu várias vezes: “já
que não tenho isso com ele, vou procurar em outros”. Como mulher sente-se
infeliz, não tem nem mais vontade de se arrumar para sair com o namorado.
uma mulher desejada. Como mesmo diz, seu valor como mulher está
totalmente atrelado ao namorado. Relata também que sempre abre mão de sua
faço tudo por nada. Abdicam de sua própria vida querendo que o outro lhes dê
faz seu ser depender, em grande parte, do amor. Através do amor, ela busca
uma sustentação para seu ser, ou melhor, ela visa obter uma harmonia para
sua indefinição. É no encontro com o desejo do homem que dela se faz uma
mulher amada. Se, para uma mulher, a prova essencial do desejo do Outro
falha: “um buraco se abre sobre seus pés pelo qual ela escorregará facilmente
mulher, não passa pelo amor. Sua preocupação gira em torno da dúvida, em
considera que como mulher deveria ter para ser desejada e refere-se a uma
atriz da Globo que é invejada por muitas mulheres. Ela diz: Gostaria de ser
como essa atriz... Não pelo corpo escultural e os seios de silicone, mas sim
pela forma que os homens a vêem... Eles babam por ela... Adoraria ser olhada
de mesma forma.
venera, através do seu próprio corpo, o mistério da Outra mulher, que detém o
segredo daquilo que ela é”. (p. 35). Segundo ele, não é apenas através do
iniciado com a mãe e perpetuado nas relações com as outras mulheres, que a
relação da filha com a mãe na relação de uma mulher com outra. O que está
histéricas a descoberta da transferência, estas devem o dar-lhes, através de sua escuta, uma
(LIBÓRIO, 1991)
PSICANÁLISE
manuais ajudariam a acalmá-lo. Eis o que Hipócrates diz a esse respeito: “Esta
mulheres de uma certa idade, mais do que às jovens; [...]”. (TRILLAT, 1991, p.
trazia em seu seio um animal sem alma. Tal crença deu suporte às teorias da
– o gozo do sexo não podia ser um remédio devido ao fato da natureza não ser
demônio, a feitiçaria tinha o poder sobre o corpo daquele a quem quer fazer
documentos daquela época (século XV) nos mostram que não houve
modificação9.
movimento cultural teve início no século XIV na Itália e no século XVI no norte
“possuídas” destacando que elas não eram responsáveis por seus atos. Era
9
Freud concluiu em 1893, Charcot, que a teoria de uma divisão (splitting) da consciência já
estava presente na Idade Média, quando a possessão demoníaca era vista como causa dos
fenômenos histéricos. Era preciso somente trocar a terminologia religiosa daquela época
obscura e supersticiosa pela linguagem científica.
uma etiologia da histeria. A primeira, uma corrente organicista na Grã-
Esse período é marcado pelo abandono da teoria uterina que reinava desde
de uma desordem das paixões e não está ligada a uma doença orgânica do
cérebro. A histeria era tida como uma alienação mental, uma afecção do
hereditariedade, na degenerescência.
(filosofia), que apesar de não terem relação direta com sua futura profissão,
Essa será a via para obter o considerável rendimento necessário para montar o
lar de classe média em que ele e sua futura esposa insistem. Freud, até então,
não havia adquirido experiência clínica com pacientes, coisa que nunca obteria
Ele espera que a cocaína possa ajudar seu colega Ernst von Fleischl-Marxom,
da histeria.
campo motor e visual. Tais áreas são encontradas com mais freqüência no
tronco do que nos membros e têm preferência por determinados locais que nas
observação clínica.
Funda uma seção clínica, na qual eram internados para tratamento pacientes
greve.
Charcot tem à sua disposição um estúdio de fotografia, um serviço de
trabalho, rompe com a tradicional visita médica ao leito dos doentes, fazendo
curar ou tratar seus doentes. Ele trata a histeria como sendo um tópico da
1886 e publicado setenta anos mais tarde, resume o que Charcot realiza no
estudo clínico da histeria. Até aquele momento, a palavra histeria não tem um
da histeria.
paciente.
Segundo ele, Charcot, posteriormente, reduz a conexão entre a neurose
sintomatologia multiforme que afirma imperar nela uma lei e uma ordem.
Freud afirma não ter visto nenhum sinal de que Charcot tentasse
científica, da mesma forma que fizera com a esclerose múltipla ou com a atrofia
muscular progressiva anos antes. Freud escreve que Charcot “não consegue
circunscrito e bem definido, que pode ser reconhecido nos casos extremos de
Depois que retorna para Viena, em 1886, Freud tem sua atenção voltada
valor terapêutico da hipnose está nas sugestões que são feitas. Sob hipnose,
(sintoma). Com Anna O.10, bastava Breuer ouvi-la sem interrompê-la para que
uma série de perturbações físicas datadas da época em que seu pai estava
doente. Anna, nos primeiros meses da doença do pai, dedicou sua energia a
acentuada.
10
Ela inventou a “cura pela conversa”, talking cure, que de forma jocosa chamava de limpeza
de chaminé.
caso clínico da Sra. Emmy von N. ilustra tais dificuldades. Parece ter sido esse
o primeiro caso a ser tratado por Freud pelo método catártico11. Sobre a
experiência original traumática junto com seu afeto pudesse ser introduzida na
Nos anos que se seguiram aos Estudos sobre a histeria, Freud vai
sua elaboração.
explorar o mundo desconhecido pelo resto de sua obra. Sem utilizar a hipnose
Freud verifica que novas lembranças aparecem e que é possível trazer à luz
11
Freud já gozava da confiança de Breuer e tinha tomado conhecimento do seu método antes
de 1885 quando foi para Paris.
teoria (FREUD, (1914), 1996). Na histeria, a conversão é o seu modo de
defesa.
pelo médico. Este resolve definitivamente sair de cena e partir em viagem com
das neuroses já está presente em ambos, assim como também pensada pelo
normalis dosim repetatur. Este último comentara com Freud sobre uma
sexual.
erógenas. Exatamente quatro meses depois (carta 59) escreve: “[...] O que
setembro do mesmo ano na carta 69 ele afirma: “[...] Não acredito mais em
uma criança passiva, passa a ter o próprio corpo erógeno da criança como
sexualidade fervilhante.
real de sedução.
carga traumática.
Dora12, a jovem paciente de Freud, nos ilustra tal processo. Após a cena
do beijo em que o Sr. K lhe dá estreitando subitamente a moça contra si, Dora
afirma:
suas pacientes nos quatro casos que narra nos Estudos sobre a histeria: Sra.
Emmy Von N., Miss Lucy R., Katharina e Srta. Elisabeth Von R.. Sobre esta
pela recusa ao sexo. É errado pensar que a histérica quer sexo e que estaria
12
Sobre quem falaremos mais no capítulo 5.
Enquanto insatisfeito, o histérico está protegido do perigo de viver a
Fliess. Nesse rascunho, anexado à carta 39, Freud busca diferenciar histeria,
que ela guarda segredo e coloca–se como enigma a ser decifrado. Entretanto,
ela acaba por castrar o mestre de seu saber mostrando–o impotente para dar
conta dela. A Bela Açougueira, paciente de Freud, nos ilustra tal mecanismo
um suposto saber sobre o que é ser mulher. É essa outra mulher que sabe ser
comparação com os meninos e insatisfeita com seu clitóris, abre mão de sua
Açougueira: esta cria um desejo não realizado pedindo a seu marido que a
prive daquilo de que mais gosta. A histeria sustenta esse desejo confundindo–o
13
Aula da Prof. Maria Anita C. Ribeiro ministrada em 8/12/2006 – disciplina: Conceitos
Fundamentais de Psicanálise. Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade/UVA).
14
Pergunta instigante formulada na aula da Prof. Maria Anita C. Ribeiro ministrada no dia
17/11/2006 – disciplina: Conceitos Fundamentais de Psicanálise. Mestrado em Psicanálise,
Saúde e Sociedade/UVA.
ali como objeto. Esses traços confirmam-se pela necessidade,
fundamental, que tem o obsessivo de se colocar como caucionador
do Outro, e também pelo aspecto Sem-Fé da intriga histérica.
(LACAN, (1960), 1998, p. 838).
A histeria inspirou Lacan a nomear uma das formas de laço social como
civilização. Esses laços, nos diz Quinet, aparecem nos atos de governar e ser
histéricas ensinaram. (QUINET, 2006, p.17). Mais adiante, o autor ressalta que
a histeria, aqui, não se refere à neurose do mesmo nome, e sim a uma maneira
de relacionamento humano.
Lacan, por sua vez, estabelece uma analogia entre discurso e cultura
governar, educar, psicanalisar e fazer desejar, visto que tais laços são
apresente é suposta histérica, a não ser que pensemos que seja louca. Isso é um erro clínico.
infância a evolução semântica da língua. Sobre isso Pollo nos diz: “Lacan
emprega a expressão freudiana hieróglifos da histeria para se referir à
(2003, p. 99).
que tem como manifestação tudo que é da ordem da linguagem. Em seu artigo,
metonímia faz a palavra deslizar de uma parte do objeto para outra, havendo
simbólico que nunca aparece isolado, mas sim articulado com outros
significantes. É preciso pelo menos dois significantes para que se crie um
que nenhum significante, nem S1, nem S2, basta para representá–lo
integralmente.
tinha como função, pela via da sugestão, remeter o paciente ao seu passado
mudar sua técnica para associação livre. Somente com o abandono da técnica
dizer sobre seu desejo, desejo este que é a metonímia da falta, que desliza de
Está para além da demanda: o que ela quer naquilo que ela disse? O problema
não é tanto saber o que o sujeito quer nos dizer, mas o que quer esse sujeito
que está dizendo. Cito: “[...] o desejo, [...], só é capturado na interpretação”, diz
importante ressaltar que nessa escuta, o analista não deve significar. A análise
faz perguntas sobre si, é aquele que se questiona, escolhe o sentido, enfim,
luta pela causa dos seus sintomas e se desindentifica dos significantes que
qual as fantasias dos pais, a cultura, são inscritas. É no campo do Outro que o
separação. Daremos, pela via da análise, voz a esse sujeito fazendo emergir
“que o sonho é um desejo realizado” afirmando que os seus desejos não foram
Eu queria oferecer uma ceia, mas não tinha nada em casa além de
um pequeno salmão defumado. Pensei em sair e comprar alguma
coisa, mas então me lembrei que era domingo à tarde e que todas as
lojas estariam fechadas. Em seguida, tentei telefonar para alguns
fornecedores, mas o telefone estava com defeito. Assim, tive de
abandonar meu desejo de oferecer uma ceia. (FREUD, (1900), 1996,
p. 181).
acordar cedo, praticar exercícios físicos e recusar os convites para jantar. Ela
relatou, rindo, que o marido conhecera um pintor que pedira para pintar seu
retrato. Seu marido, entretanto, sugeriu que ele pintasse parte do traseiro de
A esposa, por sua vez, implorara que o marido não lhe desse caviar, seu
prato predileto. Ela se encontrava apaixonada pelo marido e zombava muito
significava. Ela contou que há muito tempo, todas as manhãs, desejava comer
desejo não realizado na vida real e que significava a renuncia posta em prática.
Confessava ter ciúmes de uma amiga por causa dos elogios constantes de seu
marido sobre esta. Tal amiga era ossuda e magra e, felizmente o marido da
recentemente quando a paciente iria oferecer outro jantar e elogiou seus dotes
É como se, quando ela fez essa sugestão, a senhora tivesse dito a si
mesma: ‘Pois sim! Vou convidá-la para comer em minha casa só para
que você possa engordar e atrair meu marido ainda mais! Prefiro
nunca mais oferecer um jantar.’ O que o sonho lhe disse foi que a
senhora não podia oferecer nenhuma ceia, e assim estava realizando
seu desejo de não ajudar sua amiga a ficar mais cheinha. O fato de
que o que as pessoas comem nas festas as engorda lhe fora
lembrado pela decisão de seu marido de não mais aceitar convites
para jantar, em benefício de seu plano de emagrecer. (FREUD,
(1900), 1996, p. 182).
fora realizado, pois seu desejo era o de que sua amiga, que desejava engordar,
não se realizasse. A pessoa indicada no sonho da Bela Açougueira não era ela
mesma, e sim sua amiga. O salmão defumado que aparece no sonho, diz
Freud, é uma alusão à amiga que afirma desejar salmão e proibir-se de comê-
S “desejo de caviar”
s “desejo de um desejo insatisfeito”
aparece é o “salmão”. Este último vem substituir o caviar por efeito metafórico,
de substituição.
homem. Será que a Bela Açougueira olha sua amiga do ponto de vista do
Outro, no caso o marido? Isso nos leva a pensar o sujeito histérico e a questão
amiga magrela apresenta-se como enigma por causa do interesse discreto que
Mas, como pode uma outra ser amada (não basta, para que a
paciente pense nisso, que seu marido a considere?) por um homem
que não pode se satisfazer com ela [...]? Eis a questão esclarecida,
que é, em termos muito gerais, a da identificação histérica. (LACAN,
(1958), 1998, p. 632).
amiga, o mistério da sua sedução. Essa questão compromete o seu ser, ser o
falo, nem que seja um falo meio magrelo. (LACAN, (1958), 1998, p. 633).
complemento do desejo masculino. Para isso, ela deve não se sentir ameaçada
por retornar à posição de objeto do desejo e de gozo que foi um dia para mãe:
receio de ser reabsorvida nas malhas devastadoras da mãe.15 Faz-se
de fazer alguma coisa com o nada que marca sua condição feminina.
Há, por parte da mulher, uma esperança (e isso é uma ilusão) de que o
amor venha lhe dar a sustentação para o seu ser, de que ela consiga de
ligados. Quando ela sofre uma desilusão amorosa é o seu ser que oscila, ou
seja, vacila. O amor a identifica como mulher, daí a angústia de perda do amor.
do amor.
de “ser o falo” para, desta forma, se tornar objeto causa de desejo. Ela, na
15
Como vimos no capítulo 1: a devastação pode ser a mãe para filha ou o homem para a
mulher.
desejo de um homem.
objeto lhe é difícil. Podemos justificar tal fato com as condições vividas com a
mulheres verificamos que por trás da relação com o marido existe a relação
Uma mulher em posição histérica não quer ser um objeto de gozo para o
Outro e nem quer satisfazer o gozo do Outro. Sua questão passa por outros
satisfazê-lo.
Então, o que quer ela afinal? Ela que ser, quer gozar de ser o objeto
Outro. Nessa posição a mulher exige ser qualquer coisa para o Outro que não
seja objeto de gozo. Ela quer ser o objeto agalmático, precioso que sustenta o
desejo do homem. Daí encontra seu interesse pelo desejo do Outro. Ela
pergunta ao homem: Diz para mim o que sou para ti? Essa é a maior questão
da histérica. Sua vocação está em fazer o Outro dizer o que é para ele o objeto
mais precioso.
contato com a função viril justamente por não poder tolerar a posição de objeto.
Uma questão surge: sou homem ou sou mulher? Essa resposta a histérica irá
denuncia o homem pela sua suposta falha. Tal queixa nos fala de seu lugar de
seu interesse o gozo sexual, pois ela se esquiva enquanto objeto de gozo na
(1951), faz a releitura do caso dessa jovem e esclarece a relação entre ela e a
Sra. K., relatando “o valor real do objeto que é a Sra. K para Dora. Isto é, não o
atribui o saber sobre o que é ser mulher. A Outra detém a chave do enigma a
ser decifrado.
5.2 POR FIM... O CASO DORA
feminilidade, especialmente a função que Dora atribui à Sra. K.. Para ela, a
Dora é levada a consultar Freud, aos 18 anos, por intermédio de seu pai.
Filha e pai mantêm um relacionamento de amizade com o casal K.. Este último
vive em uma espécie de relação a quatro com o par formado pelo pai e a filha.
A Sra. K. cuidara do pai de Dora, atingido por uma grave doença quando esta
marido da Sra. K.. Este sempre se mostrou muito amável para com ela,
ocupa com grande solicitude das duas crianças do casal K., ocupando de fato o
(1951).
pacto no qual ela, Dora, seria objeto de troca entre os dois homens. Freud
afirma:
ocupando-se dos filhos desta para que não perturbassem o casal. A paciente
Quando Dora defronta-se com propostas mais concretas do Sr. K., tal
harmonia é rompida. Dora esbofeteia o Sr. K. e exige que seu pai rompa
relações com o casal K.. Como seu pai não cede ao seu pedido, Dora vai
corpo da Sra. K., prevê uma possibilidade de ter acesso ao enigma de sua
feminilidade. Desta maneira, Dora visa na Outra mulher, na Sra. K., retornar ao
questionamento sobre seu ser. Esse aspecto não deve ser confundido com
homossexualismo.
Lacan enfatiza as palavras do Sr. K. na cena do lago como sendo elas
as responsáveis pela reação agressiva de Dora. Ela toma partido da Sra. K.,
quando o Sr. K. diz: minha mulher não está no circuito.16 O Sr. K. só tinha valor
para Dora na medida em que estivesse desejando a Sra. K.: era preciso que
Dora não pode tolerar que ele não se interesse por ela senão na
medida em que ele só se interesse por ela. [...] Se o Sr. K. só se
interessa por ela, é porque seu pai só se interessa pela Sra. K., e a
partir daí ela não pode mais tolerá-lo. (LACAN, (1956-57), 1995, p.
146).
que desejaria ser amada pelo Sr. K. e por seu pai à maneira pela qual a Sra. K.
do desejo que esse homem pode manter em relação a uma mulher. Ao marcar
16
“Ele não diz que sua mulher nada é para ele, e sim que, pelo lado de sua mulher, não há
nada [...]”. (LACAN, (1956-57), 1995, p. 146).
ser amada por um homem, ou seja, por seu pai, como a Sra. K. é amada por
da outra mulher, ser amada, admirada como ela, “ser como” ela em alguns
questiona: “Que diz Dora através de sua neurose? Que diz a histérica –
mulher? Sua questão é a seguinte: o que é ser uma mulher?”. (LACAN, (1955-
defesa.
possível.
que, para ele, é preciso que a menina realize uma série de mudanças em sua
mulheres. Freud também faz equivaler o tornar-se mulher com o tornar-se mãe,
e propõe a partilha dos sexos a partir do ter ou não o falo. Freud não consegue
a questão de ser o falo por não tê-lo. Para isso é preciso que o homem a tome
daquela que finge ser o que não é: o falo. Ao se fazer de falo para um homem,
centralizada em ter ou não ter o falo, para Lacan a dialética está entre o ser ou
Medéia, aquela que sacrifica a vida dos filhos, colocando a condição de mãe
gozo Outro, feminino, suplementar. Esse gozo Outro está além do falo e marca
a posição não-toda das mulheres na norma fálica. Dizer que uma mulher é não-
que antes era chamado de histeria, não é mais uma doença, mas sim um
histérica.
Com a psicanálise foi visto que a causa da histeria não podia ser
afetos: causa esta que viria estabelecer uma nova teoria da neurose histérica.
fórmula, sugerida por Soler em 1998, que opõe a mulher e a histérica: uma
mulher quer gozar, uma histérica quer ser. Cada qual tem uma forma de
uma mulher aceita ser objeto de desejo e pela mediação do homem se torna
que a mulher suporta ser objeto e na qual reconhece a castração nela mesma.
histérica se furta desse lugar, pois não suporta a sua castração. Por isso ela
ANDRÉ, S. O que quer uma mulher? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
CHARCOT, J-M. Grande Histeria. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / Rios
Ambiciosos, 2003.
________. Sobre as teorias sexuais das crianças. (1908) In: Edição Standard
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SOLER C. O sujeito e o Outro I. In: Feldstein, Richard; Fink, Bruce & Jaanus,
Marie (orgs). Para ler o Seminário 11 de Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1997.
________. O sujeito e o Outro II. In: Feldstein, Richard; Fink, Bruce & Jaanus,
Marie (orgs). Para ler o Seminário 11 de Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1997.
Produto da Dissertação
1. Introdução
2. Objetivo
sobre a feminilidade, este curso terá como objetivo fornecer subsídios teóricos
3. Público-alvo
4. Metodologia
5. Carga-horária
8 encontros distribuídos em 1 encontro semanal de 3 horas/cada.
6. Conteúdo programático
A feminilidade em Freud.
Modulo II – A histeria:
7. Referências bibliográficas
CHARCOT, J-M. Grande Histeria. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / Rios
Ambiciosos, 2003.