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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Processo Nº. : 0001754-32.2015.8.05.0229

Classe : RECURSO INOMINADO


Recorrente(s) : BANCO ITAUCARD S A

Recorrido(s) : LUIZ FERNANDO OLIVEIRA BARBOSA

Origem : VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS-STO ANTÔNIO


DE JESUS
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

VOTO- E M E N T A

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. CONTRATO DE COMPRA E VENDA


DE MOTOCICLETA. COBRANÇA INDEVIDA DE JUROS NA OPERAÇÃO.
AUSÊNCIA DE PROVAS ACERCA DA LEGITIMDIADE DA COBRANÇA.
RESCISÃO CONTRATUAL . RÉ QUE NÃO RESTITUIU O VALOR INTEGRAL
PAGO. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA E SOLIDÁRIA DA EMPRESA FORNECEDORA DOS MEIOS DE
PAGAMENTO. RESTITUIÇÃO EM DOBRO. DANOS MORAIS NÃO
CONFIGURADOS. SENTENÇA MANTIDA.

1. Trata-se de recurso inominado conta sentença que julgou parcialmente o


pedido, nestes termos: “ Em face ao exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o
Pedido para condenar as acionadas, solidariamente, a restituírem, em dobro, os valores referentes
aos juros que foram embutidos indevidamente na fatura da parte autora, ou seja, o valor de R$
1.715,86 (**), corrigidos desde o pagamento das faturas. Deverão incidir juros legais (1% a.m)
desde a citação....”

2. O recorrente busca a reforma da sentença, aduzindo, em síntese, a sua


ilegitimidade passiva, por ser mero meio de pagamento, não tendo participado
diretamente da operação que resultou na cobrança indevida, e no mérito, que não
há que se falar em qualquer falha na prestação dos serviços que lhe possa ser
imputada, requerendo por fim a improcedência do pedido pela ausência de
responsabilidade no presente caso.

3. A demonstração do fato básico para o acolhimento da pretensão é ônus do


autor, segundo o entendimento do art. 373, inciso I, do NCPC, partindo daí a
análise dos pressupostos da ocorrência do fato gerador do dano alegado.
4. No que tange à preliminar de ilegitimidade passiva argüida pela recorrente,
rejeito-a, haja vista tratar-se de responsabilidade solidária, e por se tratar de
empresa que compõe o elo de fornecimento da prestação do serviço em tela,
consistente na disponibilização para realização do pagamento do produto
pelo consumidor, não podendo portanto furtar-se à responsabilidade por
eventuais danos causados ao consumidor, parte hipossuficiente nessa
relação, com fundamento na teoria do risco da atividade.

5. A sentença vergastada não merece reparos. Em que pese o quanto alegado


pelo réu, não consta dos autos a prova de fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito da parte autora. A versão autoral, por seu turno, além de dotada de
verossimilhança, está embasada por elementos de prova que fortalecem a tese
apresentada. Fora demonstrada a cobrança indevida de parcela atinente a juros no
contrato de compra e venda celebrado, ocorrendo posteriormente a rescisão
contratual a pedido da parte acionante, o que fora atendido pela 2ª acionada;
inobstante, o valor restituído pela ré não abarca as parcelas dos juros pagos,
inexistindo causa jurídica para a retenção de tais valores.

1. Resta indene de dúvidas acerca da existência de


responsabilidade solidária da empresa que serviu de intermediária na operação,
como meio de pagamento. Nesse sentido diz a jurisprudência do STJ:

SOLIDÁRIA DO BANCO QUE ADMINISTRA O CARTÃO


E DA EMPRESA TITULAR DA BANDEIRA. RISCO DA
ATIVIDADE.

Consumidor. Recurso Especial. Ação de compensação por


danos morais. Embargos de declaração. Omissão, contradição
ou obscuridade. Não ocorrência. Recusa indevida de pagamento
com cartão de crédito. Responsabilidade solidária.
'Bandeira'/marca do cartão de crédito. Legitimidade passiva.
Reexame de fatos e provas. Incidência da Súmula 7/STJ.
- Ausentes os vícios do art. 535 do CPC, rejeitam-se os
embargos de declaração.
- O art. 14 do CDC estabelece regra de responsabilidade
solidária entre os fornecedores de uma mesma cadeia de
serviços, razão pela qual as 'bandeiras'/marcas de cartão de
crédito respondem solidariamente com os bancos e as
administradoras de cartão de crédito pelos danos decorrentes da
má prestação de serviços.
- É inadmissível o reexame de fatos e provas em recurso
especial.
- A alteração do valor fixado a título de compensação por danos
morais somente é possível, em recurso especial, nas hipóteses
em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se
irrisória ou exagerada. Recurso especial não provido. (STJ -
RECURSO ESPECIAL : REsp 1029454 RJ 2008/0026223-
1, Relatora Min. NANCY ANDRIGHI, julgamento em
01/10/2009, Terceira Turma)

2. Patente a falha na prestação dos serviços, tendo agido com acerto o


magistrado sentenciante ao condenar as rés na restituição em dobro dos valores
cobrados a título de juros contratuais, diante da inexistência de provas acerca da
legitimidade da cobrança de tais parcelas quando da contratação.
3. Presentes, ademais, os requisitos caracterizadores da responsabilidade
objetiva e de caráter solidário, sendo que a jurisprudência em uníssono assentou
que todas as empresas que compõem o elo de fornecimento de um dado serviço,
ainda que não tenham tido a participação direta no ato, devem ser
responsabilizadas quando da ocorrência de danos ao consumidor. O art. 14 do
CDC, dispondo sobre a responsabilização do fornecedor pelo fato do produto ou
serviço, preleciona que: “Art. 14. O fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”

4. Logo, a sentença fustigada é incensurável, e por isso merece confirmação


pelos seus próprios fundamentos. Em assim sendo, servirá de acórdão a súmula
do julgamento, conforme determinação expressa do art. 46, da lei n°. 9099/95,
segunda parte: “O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com
indicação suficiente do processo sucinta e dispositiva. Se a sentença for confirmada
pelos seus próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão”.
5.
. ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER DO RECURSO INTERPOSTO E
NEGO-LHE PROVIMENTO, para manter a sentença objurgada pelos próprios
fundamentos. Custas processuais e honorários advocatícios pela recorrente,
que arbitro em 20% sobre o valor da condenação.

Salvador, Sala das Sessões, 23 de Fevereiro de 2016.


BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo Nº. : 0001754-32.2015.8.05.0229

Classe : RECURSO INOMINADO


Recorrente(s) : BANCO ITAUCARD S A

Recorrido(s) : LUIZ FERNANDO OLIVEIRA BARBOSA

Origem : VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS-STO ANTÔNIO


DE JESUS
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, CÉLIA MARIA
CARDOZO DOS REIS QUEIROZ –Presidente, MARIA AUXILIADORA SOBRAL
LEITE – Relatora e ALBÊNIO LIMA DA SILVA HONÓRIO, em proferir a seguinte
decisão: RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a
ata do julgamento. Custas processuais e honorários advocatícios pela
recorrente, que arbitro em 20% sobre o valor da condenação.

Salvador, Sala das Sessões, 23 de Fevereiro de 2016.


BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente

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