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exclusão e liberdade
[ Black Identity between exclusion and freedom
DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i63p103-120
3 HALL, Stuart. The Work of Representation. In: _____. Representation, Cultural Representations and Signifying
Practices. Londres/Nova Deli: Thousands Oaks/Sage, 1997, p. 61.
4 LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da sexualidade. In: _____. O corpo educado: Pedagogias da sexualidade.
Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p. 9.
5 BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, Guacira Lopes (org.). O
corpo educado. Pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p. 155.
6 Nunca é demais assinalar que tanto para o Movimento Negro quanto para a sociologia e a antropologia que
se debruça sobre o tema, a palavra “raça” não se refere ao conceito biológico de raças humanas, amplamente
rechaçado pelo conhecimento científico hoje vigente. Tal conceito se refere à construção social que reúne em
si características físicas (percebidas culturalmente) e dados culturais. Este último conceito de raça, relacionado
à identidade negra, foi reinvindicação do Movimento Negro Unificado (MNU) no Brasil. O MNU defendeu tal
posição quando surgiu como interlocutor político importante no final dos anos 1970, na luta pela derrubada
no regime militar. Durante os anos de ditadura, falar da questão racial era considerado impatriótico, alvo de
repressão e o dado “raça” retirado de pesquisas oficiais. O MNU considerou como negros, além dos pretos,
os que antes eram classificados como “pardos”. Nessa mesma época, de forma independente, no plano das
ciências sociais, os trabalhos de Carlos Hasenbalg, de 1979, e de Nelson do Valle e Silva, de 1980, mostraram,
inequivocamente, com base nos dados do IBGE, as desigualdades econômicas e sociais existentes entre brancos
e negros, ou seja, entre brancos e aqueles que se autodefinem como pretos e pardos. A partir desses trabalhos,
essas diferenças não puderam mais ser explicadas por conjunturas históricas resultantes do escravismo nem
como meras diferenças econômicas e políticas capazes de serem subsumidas a diferenças de classe de renda. No
plano político, o MNU ressignificou o termo raça, inclusive para combater o racismo, forjando nova conotação
para o conceito de identidade negra, ligando-a à cultura e ao restabelecimento da memória histórica da diáspora
africana. No plano as ciências sociais, o termo raça foi adotado para designar as diferenças de oportunidades de
vida, de cultura e de formas de tratamento peculiares ao grupo de afrodescendentes, daí por diante chamados
de negros. Cf. GUIMARÃES, Antônio Sergio Alfredo. Como trabalhar com “raça” em Sociologia. Educação e
Pesquisa, vol. 29, n. 1, p. 93-107, 2003.
7 LOURO, Guacira Lopes. Op. cit., p. 8.
8 Idem, ibidem.
9 Cf. MELUCCI, Alberto. O jogo do Eu: a mudança de si em uma sociedade global. São Leopoldo Editora Unisinos,
2004.
10 BRAH, Avtar. Diferença, diversidade e diferenciação. Cadernos Pagu, n. 26, jan.-jun. 2006.
11 LACLAU, Ernesto, 1990, p. 33 apud STUART, Hall. Op. cit., 2000, p. 110.
12 HALL, Stuart. Da diáspora: Identidade e mediações culturais. Trad. Adelaine La Guardiã Resende. Belo
Horizonte/Brasília, Editora UFMG/Representação da UNESCO no Brasil, 2003, p. 346.
13 NASCIMENTO, Elisa Larkin. O sortilégio da cor: identidade, raça e gênero no Brasil. São Paulo: Summus,
2003, p. 32.
14 MEMMI, Alberto. Retrato do colonizador precedido pelo retrato do colonizado. Trad. Ronald Corbisier e
Mariza Pinto Coelho. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, p. 81.
15 FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato Silveira. Salvador: Edufba, 2008.
Somos tentados a exibir o significante “negro” como um dispositivo que pode agregar
a todos negros e negras, policiando as fronteiras políticas, simbólicas e posicionais
como se fossem genéticas. […] “Negro” não é uma categoria de essência numa direção à
homogeneidade, existe um conjunto de diferenças históricas e experiências que devem
ser consideradas e que localizam, situam e posicionam o povo negro20.
29 HALL, Stuart. Identidade cultural e diáspora. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de
Janeiro: Iphan, 1996, p. 70.
30 Esse termo, utilizado por Gayatri Chakravorty Spivak, se refere à prática da essencialização das identidades
como estratégia de grupos subalternizados, para obtenção de direitos. Cf. SPIVAK, Gayatri C. Pode o subalterno
falar?. Trad. Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa e André Pereira. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2010.
31 SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo”: Raça, hierarquia e poder na
construção da branquitude paulistana. Tese de doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012, p. 40.
32 Idem, p. 41.
“Ser branco” tanto quanto “ser negro”, para além da tonalidade que reveste o corpo
dos seres humanos, representam “valores”, significados. Para além do branco está a
brancura, e tudo quanto essa condição de branco “simbolicamente” representa para
o negro43.
53 Elisa Larkin Nascimento, no livro O sortilégio da cor: identidade, raça e gênero no Brasil, compreende o
processo de formação de identidade como um fluxo de identificações, ou seja, um “conjunto de referenciais
de que dispõe o indivíduo para medir suas ações e orientar suas atitudes perante si mesmo, aos outros e à
sociedade” (Op. cit., p. 32). Essa autora ressalta que a construção da identidade negra autorreferenciada só será
possível a partir de elementos capazes de remeter as identificações dos afro-brasileiros às raízes africanas.
Assim, entendemos que, segundo a autora, a construção de uma identidade positiva entre os afro-brasileiros
passaria por um processo de valorização da cultura negra e de diferentes etnias africanas.
54 Manifesto fruto da "Marcha Zumbi dos Palmares contra o racismo, pela cidadania e a vida", realizado pelo
Movimento Negro no dia 20 de novembro de 1995. Esse documento, entregue ao então presidente Fernando
Henrique Cardoso, continha propostas e reivindicações de combate ao racismo, discriminação racial e as
desigualdades sociais. O trecho expressa a necessidade de reforma e revisão dos currículos escolares, uma
das reivindicações do Movimento Negro na esfera da educação. Cf. ROSEMBERG, Fúlvia. A criança pequena
e o direito à creche no contexto dos debates sobre infância e relações raciais. In: Educação infantil, igualdade
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ceituais&category_slug=agosto2012pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 23 mar 2016.
55 A lei n. 11.645, de 10 de março de 2008, altera a lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela lei
n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
56 SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves. Aprendizagem e ensino das africanidades brasileiras. In: MUNANGA,
Kabengele (org.). Superando o racismo na escola. Brasília: BMEC/Secretaria de Educação Fundamental/MEC/
UNESCO, 2000, p. 151.
57 COSTA, Sidiney Alves. Militância do Movimento Negro na formação de professores em direitos humanos.
Revista Segurança Urbana e Juventude, vol. 1, n. 1, 2008.
58 HALL, Stuart. Op. cit., 2003.
59 SÃO BERNARDO, Augusto Sergio dos Santos. Identidade racial e direito à diferença Xângo e Thémis. Brasília.
Dissertação de mestrado. Brasília: Universidade de Brasília, 2006.
60 Idem, p. 152.
61 MONTEIRO, Aloisio Jorge de Jesus. Fronteira, cultura e exclusão: debates do nosso tempo. Border, Culture,
Exclusion; Contemporary Issues, n. 31, p. 119-128, jan.-jun. 2011.
62 Idem, p. 124.
63 MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. A recente produção científica sobre currículo e multiculturalismo no
Brasil (1995-2000): Avanços, desafios e tensões. Revista Brasileira de Educação, n. 18, set.-dez. 2001, p. 76.
Ser negro é, além disto, tomar consciência do processo ideológico que, através de
um discurso mítico acerca de si, engendra uma estrutura de descobrimento que o
aprisiona numa imagem alienada, na qual se reconhece. Ser negro é tomar posse desta
consciência e criar uma nova consciência que reassegure o respeito às diferenças e que
reafirme uma dignidade alheia a qualquer nível de exploração. Assim, ser negro não é
uma condição dada, a priori, é um vir a ser. Ser negro é tornar-se negro66.
Nesse sentido, nota-se que a reconstrução do “ser negro” passa por um processo de
conscientização e valorização da negritude e pela construção política e sociocultural
de sua identidade. Segundo Nilma Lino Gomes, reconhecer-se numa identidade
“supõe, portanto, responder afirmativamente a uma interpelação e estabelecer
um sentido de pertencimento a um grupo de referência”67. Assim, uma escola apta
a favorecer as diferenças e o diálogo entre os indivíduos de diferentes grupos
étnico-raciais permite, ao educando negro, desconstruir estereótipos e preconceitos
em relação à sua origem e adquirir sentimento de pertença, que pode conduzi-lo
a atuar em defesa dos valores de seu grupo étnico-racial. A escola não pode ser
espaço de alienação da negritude e de expropriação do corpo negro, mas espaço que
Considerações Finais
SOBRE AS AUTORAS
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