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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO

DE SÃO PAULO,

Origem: Autos nº ______ /__Vara ______de_______

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, pelo Promotor de Justiça


signatário, no uso de suas atribuições legais, vem perante Vossa Excelência, com
fundamento nos arts. 496, I, 499, § 2º, 513 e seguintes do, Código de Processo Civil,
interpor RECURSO DE APELAÇÃO oportunidade em que oferece, apartadamente,
suas razões.

Solicita-se, pois, o recebimento do recurso, posto que adequado e tempestivo e sua


incontinenti remessa ao Tribunal ad quem, acompanhado das razões que adiante seguem.

São Paulo, 02 de outubro de 2017.

Luiz

Promotor de Justiça

PROTOCOLO: xxx

APELANTE: Ministério Público do Estado de São Paulo

APELADO: Escola Municipal de Rosana

I - DOS FATOS
O Ministério Público do Estado de São Paulo propôs Ação Civil Pública em face
de Munícipio De Rosana do Estado de São Paulo em razão de irregularidades com
a falta de vagas para a realização de matrículas nas escolas públicas de educação
infantil fundamental que culminaram em grave violação aos direitos da Criança e
ao adolescente.
Segundo exposto na petição inicial, o município de Rosana, fechou escolas e não
providenciou a abertura de vagas suficientes para o atendimento de população, Os
documentos que acompanham a petição da ação civil pública, acostados aos autos,
demonstram a relevância do direito alegado, isto é, há evidências da prática de
violação ao ensino infantil fundamental.
Efetuou-se o pedido de tutela de urgência em razão de as crianças não terem
acesso à escola e correrem o risco de perderem o ano letivo.
Contudo, o magistrado indeferiu a tutela liminar fundamentando a sua decisão no
fato de o direito à educação ser um direito social e, por isso, teria natureza de
norma programática não cabendo ao judiciário interferir na Administração Pública
para concretizar tais direitos.
Sucedeu, Agravo de Instrumento por parte do Ministério Público, no qual o
recurso foi conhecido e provido no Tribunal.
Porém, após decisão do Tribunal, o juiz de primeiro grau sentenciou a ação,
julgando-a extinta sem o julgamento do mérito. Foram opostos embargos de
declaração para que esclarecesse a sua decisão, mas foram eles acolhidos. Na
sentença, o magistrado fundamenta que deveriam ter sido propostas ações
individual, de conhecimento ou até mesmo Mandados de Segurança para discutir
as peculiaridades de casa um dos casos, não sendo a ACP o meio processual
adequado.
Além disso, alegou que não pode haver a interferência do Poder Judiciário nas
políticas públicas, em razão de impossibilidade de interferir na discricionariedade
dos atos administrativos sendo inadequada a judicialização da medida.
Inconformado com a decisão, o Ministério Público do Estado de São Paulo,
interpõe, nesta oportunidade, recurso de apelação e apresenta as suas razões

II – DO DIREITO.

A) DO EFEITO SUSPENSIVO ATIVO


Conforme consta no Art.227 É dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além
de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
Desta forma, encontrando-se inequivocamente presentes neste caso, os requisitos
do “fumus boni iuris” e do “periculum in mora”, requerendo o Ministério Público
do Estado do São Paulo ora agravante, que seja dado provimento ao presente
recurso de apelação para o fim de, concedendo-se o efeito ativo pleiteado, deferir-
se a tutela antecipada em favor do MP, determinando-se que os o Município
forneça as vagas na escola Municipal de que necessitam os alunos para seus
estudos, conforme garantia da constituição.

DO MÉRITO RECURSAL

B) DA CORREÇÃO DA VIA ELEITA (ACP)


Em sua decisão, o magistrado afirmou que a via processual eleita pelo Ministério
Público seria inadequada para satisfazer sua pretensão, eis que deveria ser
proposto ações individuais, de conhecimento ou remédio constitucional mandado
de segurança.
No entanto, a premissa embasadora da sentença atacada é falaciosa, fazendo-se
necessária a sua reforma.
Isto porque a Promotoria de Justiça atua na proteção do patrimônio público e
social, e, desta forma, tem como atribuição a defesa do patrimônio público, da
legalidade, da moralidade administrativa, da ordem jurídica, dos pilares da
democracia, dos interesses sociais e republicanos.
Ademais, segundo preceituam os artigos 127, 129 e 208, incisos II e III da
Constituição Federal, são atribuições do Ministério Público, entre outras, a defesa
dos interesses sociais e individuais indisponíveis, bem como zelar pelo efetivo
respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
assegurados na Constituição Federal, pois veja:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: […] II - zelar pelo
efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos
direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a
sua garantia; III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos; [...]

Artigo 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de: [...] I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os
que a ela não tiveram acesso na idade própria;

Dessa forma, independentemente da tutela individual, as ações coletivas como as


ACP são um instrumento eficaz de proteção, tendo o magistrado de primeiro grau
erroneamente entendido de forma contrária.
C) A SEPARAÇÃO DOS PODERES E A INTERVENÇÃO JUDICIAL
O Magistrado alega que não pode haver interferência do Poder Judiciário nas
políticas públicas em razão de impossibilidade de interferir na discricionariedade
dos atos administrativos sendo inadequada a judicialização da medida.
No entanto, não merece prosperar tal entendimento, Na Constituição Cidadã o
Ministério Público foi concebido como “instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa jurídica do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”
Neste contexto, a Carta Política de 1988 avançou no que se refere à garantia dos
direitos fundamentais, com previsão de remédios jurídicos para sua proteção, tais
como a Ação Civil Pública, atribuindo ao Ministério Público a defesa dos direitos
sociais.
Assim, o Ministério Público, instituição do Estado brasileiro, responsável por
zelar pelos direitos coletivos e individuais indisponíveis, tem o dever de monitorar
as políticas públicas que visem à preservação dos direitos humanos, notadamente,
a da educação. Portanto, o parquet ao identificar as irregularidades e distorções
existentes, através de mecanismos jurídicos e extrajudiciais pode compelir os
Poderes Públicos a efetivarem as medidas adequadas a fim de atingir os objetivos
consignados na Carta Magna. Conforme consta no Art.2º os poderes
independentes e harmônicos entre si.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Essa obrigação do órgão ministerial está devidamente gravada em três incisos do
art. 129 da Constituição Federal, a saber:
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

(…)

II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância
pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas
necessárias a sua garantia;

III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do


patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos;

IV – promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de


intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; ”

Não há, portanto, nenhuma ingerência ou interferência do Poder Judiciário sobre


as funções do Executivo, mas simplesmente o cumprimento do papel
constitucional de tornar efetiva a norma constitucional patentemente descumprida
pelo Município no presente caso.

D) DO DIREITO À EDUCAÇÃO
O perfil constitucional de atuação do Ministério Público, no desempenho de
seu múnus a defesa inderrogável do direito à educação como essência do princípio
da dignidade da pessoa humana, extraído da Constituição da República e dos
documentos universais vigentes na seara dos direitos humanos. A história desses
alunos excluídos, crianças sem acesso ao ensino fundamental, não pode mais ser
ignorada, especialmente pelo Ministério Público.

Harmoniza a Constituição no que refere ao assegura mento da educação infantil


para todas as crianças é o desafio de todos nós, os brasileiros, e, de forma especial,
do Ministério Público, enquanto guardião da ordem jurídica e, por consequência,
a Educação de Qualidade para todos.

O Art.208 da CF/88 Preconiza:

Art.208 O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia


de:

I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos


de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº
59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)

II – progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela


Emenda Constitucional nº 14, de 1996)

III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,


preferencialmente na rede regular de ensino;

IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de


idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,


segundo a capacidade de cada um;

VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio


de programas suplementares de material didático escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
59, de 2009)

§ 1º – O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º – O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua


oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º – Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental,


fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à
escola.

No mesmo sentido o Art. 211 da CF/88:

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão


em regime de colaboração seus sistemas de ensino. [...]

§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na


educação infantil.

3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino


fundamental e médio.

§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito


Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar
a universalização do ensino obrigatório.

§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular.

E) DA ABSOLUTA PRIORIDADE NO ATENDIMENTO

Este procedimento tem trâmite prioritário garantido pela norma da Prioridade


Absoluta, prevista no artigo 227 da Constituição Federal.

O tema desta solicitação é a falta de vagas na Escola Municipal, em desacordo


com o previsto nos artigos 227, da Constituição Federal e 4º, parágrafo único,
alínea b, e os artigos 53 e 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que
preveem o dever do Estado, da Família e da Sociedade de garantirem com
prioridade absoluta os direitos das crianças, destacando-se, no texto
infraconstitucional a primazia no atendimento nos serviços públicos, como se
pode verificar da leitura do citado artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: (...)

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;


”(g.n.)

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não


tiveram acesso na idade própria;

VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares


de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

Deste modo, por força do mandamento dos artigos citados acima, é clara a
obrigação do poder público de manter aberta a Escola Municipal de Rosana, pois
são garantidos às crianças não só a prioridade absoluta na garantia do direito à
educação, bem como a primazia no atendimento nos serviços públicos ou de
relevância pública, como é o caso da educação
Por tudo o que foi exposto, não resta dúvidas da existência de interesse público na
tutela jurisdicional pleiteada por este órgão ministerial.

Como tratado alhures, é necessária a propositura de Ação Civil Pública para tutela
de princípios a educação e sociais, eis que é de interesse público a devida
observância a estes preceitos.

Isto posto, não há que se falar de “inadequação da via eleita”, pois o meio
processual escolhido pelo autor é o correto a ser utilizado no caso em tela, por se
tratar da defesa de direitos coletivos.

III - DO PEDIDO
Ante o exposto, a alegação do juízo a quo de que a via eleita escolhida pelo
Ministério Público seria inadequada não merece prosperar, eis que amplamente
demonstrado a presença do interesse público no caso em tela.
Nesse passo, considerando os argumentos expostos alhures, requer-se o
PROVIMENTO do presente apelo para reformar a sentença fustigada, a fim de
que a petição inicial seja recebida pelo juízo a quo e siga seu curso natural.

Termos em que
Pede deferimento.
São Paulo, xxx de xxx de xxx.

_________________________________
Promotor de Justiça

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