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nalmente,  1939.

  Durante  seis  anos,  em tos,  um  tempo  que  não  deixou  tempo
Fernando  de  Noronha  e  na  Ilha  Grande, para  sentimentos  de  medo.  Em  sucessi­
até a anistia de abril de 1945, o militan­ vos  textos,  encontros  e  declarações,
te  comunista  viveu  nos  cárceres  do  Es­ Marighella  engrossa  e  fortalece  as  legi­
tado  Novo.  Depois  disso,  veio  o  perío­ ões  de  dissidentes  do  PCB.  Em  dezem­
do  de  destacada  atuação  na  Assembléia bro  de  1966,  desliga­se  da  Comissão
Constituinte  (Marighella  foi  eleito  de­ Executiva  e  em  agosto  de  1967  vai  à
putado  pela  Bahia  com  um  terço  dos reunião  da  Olas  em  Havana,  onde  fica
votos  dados  aos  comunistas  no  Estado), sabendo  que  fora  expulso  do  partido.
a  cassação  do  mandato,  a  tenaz  atuação Volta ao Brasil decidido a criar um agru­
partidária  semiclandestina  como  alto pamento  revolucionário  que  evitasse  a
dirigente em São Paulo, a viagem à Chi­ inflexibilidade  e  morosidade  dos  parti­
na  em  1953  e  1954,  o  impacto  da  reve­ dos  comunistas:  surge  o  embrião  da
lação  dos  crimes  de  Stalin,  em  1956. ALN.  Mas  não  convém  relatar  em  deta­
Os  fatídicos  anos  60  se  abrem  com  a lhe  o  conteúdo  dessas  páginas  finais.
integral  dedicação  à  militância  e  à  luta Convido  o  leitor  a  trilhar  ele  mesmo  o
interna  no  PCB  até  o  golpe  e  a  prisão percurso  que,  fechando  o  círculo  inexo­
subseqüente  e  a  volta  à  liberdade,  gra­ rável  do  destino,  leva  de  volta  aos
ças  aos  mecanismos  liberais  ainda  vi­ instantes  finais  de  Marighella.  Comple­
gentes. O imediato pós­golpe de 64 apa­ ta­se  a  longa  viagem.  Embora  trágica,
rece como um turbilhão de acontecimen­ uma  bela  e  digna  viagem.

Antonio Carlos Mazzeo
Estado  e  burguesia  no  Brasil:  origens  da  autocracia  burguesa.  2ª  ed.
(revista)  São  Paulo:  Cortez  Editora,  1997  —  144  páginas.
Marcos Del Roio (Professor de Ciência Política da FFC­Unesp, Marília)

A  reedição  desse  livro  de  Antonio Creio  que  a  marginalização  do  tema
Carlos  Mazzeo,  numa  corajosa  e  elo­ da  origem  e  da  natureza  da  dominação
giável  iniciativa  da  Cortez  Editora,  é de  classe  no  Brasil  é  devida  a  pelo  me­
muito  bem  vinda,  até  para  evidenciar nos  dois  elementos  interligados:  um,  a
ainda uma vez a atual carência de debate imposição  de  uma  hegemonia  liberal  que
sobre a origem e a natureza da formação se  pretende  inserida  na  ordem  imperial
social  brasileira.  E  isso  precisamente  no global  do  capital  e  que  prescinde  de  um
momento em que os “clérigos” das sem­ horizonte  político­cultural,  atendo­se  a
pre  mesmas  classes  dirigentes  da  nova falsa  universalidade  do  mercado;  dois,  a
ordem  liberal,  se  preparam  para  o  espe­ convicção  de  que  essa  é  uma  questão
táculo  de  exaltação  do  início  do  sexto suficientemente  resolvida  ou  mesmo  su­
século  de  uma  nação  que  nunca  se  fez perada.  Creio  ainda  que  essa  segunda
enquanto  tal. proposição  não  pode  ser  dissociada  da

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derrota  cultural  do  marxismo  e  sua  falta O  ponto  de  partida  para  a  fundamen­
de  perspectiva  histórica  revolucionária, tação  dessa  crítica  e  da  busca  de  alterna­
no  momento  que  se  descortina  a  globa­ tivas  explicativas  para  a  compreensão  da
lização  do  capital. gênese e natureza da formação social bra­
Por  seus  méritos  e  possíveis  insufici­ sileira  foi  encontrado  na  obra  de  Caio
ências, o livro de Antonio Carlos Mazzeo Prado  Jr.  Como  se  sabe,  para  o  historia­
está  aí  para  lembrar­nos  da  necessidade dor  paulista,  a  particularidade  da  forma­
de  disputar  a  identidade  e  o  futuro  do ção  brasileira  era  localizável  na  sua  ori­
Brasil  com  multisseculares  classes  diri­ gem  como  empreendimento  mercantil
gentes  deste  país.  Para  recordar  que  o lusitano  voltado  para  o  mercado  euro­
conhecimento  científico  do  movimento peu.  O  Brasil  seria  desde  sempre  uma
do  real  é  o  fundamento  de  uma  ação  po­ grande empresa mercantil capitalista que,
lítica  transformadora  desse  mesmo  real. em  busca  de  lucros  exorbitantes,  via­se
Por  esses  mesmos  motivos  esse  pequeno na  contingência  de  apelar  para  relações
livro,  na  circunstância  em  que  é  repu­ de  trabalho  escravistas.  Nessa  leitura,  o
blicado,  serve  também  como  meio  de tema  da  revolução  enquanto  processo  de
contraposição  a  uma  certa  historiografia tomada  do  poder  político  se  esvanecia,
despolitizada  que  só  faz  afiançar  o  atual pois,  no  Brasil  tratava­se  de  superar  as
estado  de  coisas. sobrevivências  das  relações  escravistas
de  trabalho  e  atualizar  o  capitalismo,
O  trabalho  de  Antonio  Carlos  Mazzeo
lutando  por  aquilo  que  o  atual  senso  co­
—  apresentado  como  dissertação  de
mum  de  certa  esquerda  chama  de  cida­
mestrado em Sociologia na USP em 1986
dania.  Embora  não  seja  esse  o  local  a
—  pode  ser  visto  como  um  produto  tar­
adequado  para  essa  discussão,  parece­me
dio  de  um  debate  que  foi  muito  rico  no
inegável  a  proximidade  da  visão  históri­
interior  da  universidade  na  década  de  70
co­política  de  Caio  Prado  Jr.  com  certas
e  início  da  década  seguinte,  embora  com
proposições  reformistas  da  Segunda  In­
raízes  solidamente  fincadas  na  conjun­
ternacional,  um  particular  economicismo
tura  política  e  teórica  localizada  em  tor­
e  o  entendimento  da  revolução  como
no  da  ruptura  institucional  de  1964  e  da
algo  que  ocorre  mas  não  se  faz.
derrota das esquerdas. A característica de
fundo  dessa  discussão  foi  a  busca  de  hi­ De  todo  modo  a  concepção  de  Caio
póteses  explicativas  alternativas  àquela Prado  Jr.  foi  explicitamente  retomada  na
identificada  na  chamada  tradição  tercei­ busca  de  novas  luzes  para  a  interpretação
ro­internacionalista,  na  qual,  sem  qual­ da  realidade  brasileira  por  autores  que
quer  mediação  ou  dúvida  cabível,  foi atingiram  uma  influência  significativa
jogada a extensa obra de Nelson Werneck como os casos de Fernando Novaes e João
Sodré  (numa  injustiça  histórica  que  está Manoel  Cardoso  de  Mello.  Para  esses,  o
tardando  a  ser  sanada).  Essa  tradição, Brasil  na  sua  gênese  se  confundia  com
como  se  sabe,  identificava  a  presença  de uma  empresa  mercantil  inserida  no  antigo
aspectos  feudais  na  formação  social  bra­ sistema colonial. Não é também o caso de
sileira,  os  quais,  na  marcha  da  revolução discutir  a  falta  de  rigor  conceitual  da
democrática  burguesa  deveriam  ser  eli­ importante  tese  (e  livro)  de  Novaes,  mas
minados  pela  ação  convergente  das  for­ sim  de  reconhecer  que  essa  interpretação
ças  nacional­populares,  incluídas  aí  par­ se  tornou  hoje  hegemônica  na  academia  e
celas  da  burguesia. em  círculos  culturais  mais  amplos.

CRÍTICA MARXISTA  ž 143
Tanto  que  essa  visão  foi  incorporada uma leitura que inverte Caio Prado Jr. da
e enriquecida por autores mais claramente “direita”  para  a  “esquerda”.  No  entanto,
identificados  com  a  tradição  marxista, o  texto  de  Antonio  Carlos  Mazzeo  tem
como  Carlos  Nelson  Coutinho,  Leandro como  referências  teóricas  importantes
Konder  e  Luíz  Werneck  Vianna,  com  a José  Chasin  e  Florestan  Fernandes,  mui­
proposição  da  categoria  de  origem to  particularmente  no  que  tange  a  tese
leniniana  da  “via  prussiana”  para  expli­ central do livro que afirma existir no Bra­
car o desenvolvimento capitalista e a ori­ sil  uma  autocracia  burguesa.  Para  esses
gem  do  Brasil  moderno.  Ao  contrário  de autores,  em  busca  de  uma  explicação  da
Caio Prado Jr. que dava pesada ênfase no natureza  da  ditadura  militar  de  1964,
arcaísmo  presente  no  Brasil,  todos  esses havia  se  configurado  uma  autocracia  em
autores  enfatizavam  a  modernidade  ca­ função  da  gênese  colonial  do  capitalis­
pitalista  e  suas  potencialidades,  decor­ mo  brasileiro,  contra  a  qual  a  burguesia,
rendo  daí  a  perspectiva  política  da  ne­ estruturalmente  determinada,  não  pode
cessidade de amplas alianças para a cons­ romper.  Em  decorrência  dessa  análise,  a
trução  da  democracia,  ainda  dentro  dos democracia  no  Brasil  só  poderia  emergir
marcos  do  capitalismo. em  função  da  ação  das  massas  trabalha­
Quase  que  em  paralelo  foi  se  confor­ doras, de modo que o regime que se des­
mando  uma  nova  hipótese  alternativa  de dobrou  da  chamada  “transição”,  nada
explicação  da  formação  social  brasilei­ mais  seria  que  a  institucionalização  da
ra.  Por  obra  de  Jacob  Gorender,  Ciro autocracia  burguesa.
Flamarion Cardoso e Décio Saes chegou­ O  objetivo  de  Mazzeo  é  precisamente
se a uma elaboração teórica que percebia buscar  a  gênese  ontológica  dessa  auto­
no  Brasil  a  existência  de  um  particular cracia  no  período  colonial,  preocupan­
modo  de  produção  gerado  pela  expan­ do­se com a questão do Estado que emer­
são  européia:  o  escravismo  colonial.  À ge  nesse  processo.  Para  tal  utiliza  o  ins­
parte a dificuldade em se explicar o nexo trumental  teórico­metodológico  forneci­
com  o  mercado  mundial,  poder­se­ia do  pelo  último  Lukács.  Defendendo  a
questionar,  entre  outras  coisas,  se  há  al­ natureza  capitalista  das  formações  soci­
gum limite lógico e histórico para a con­ ais  coloniais  e  debatendo  com  as  expli­
formação  de  novos  modos  de  produção. cações  alternativas,  Mazzeo  busca  esta­
Mas  como,  mais  uma  vez,  essa  não  é belecer  a  particularidade  histórica  do
questão  para  ser  respondida  em  poucas Estado brasileiro. A conclusão de Mazzeo
palavras,  o  objetivo  é  apenas  localizar  o é  que  a  autocracia  burguesa  no  Brasil  é
contexto  do  livro  de  Antonio  Carlos decorrência  da  “via  colonial”  do  desen­
Mazzeo  e  os  interlocutores  que  ele  não volvimento  capitalista,  segundo  a  hipó­
se  esquiva  de  estabelecer. tese  aventada  por  Chasin.
Mazzeo  se  insere  numa  certa  leitura Mas  a  “via  colonial”  incorpora  tam­
da obra de Caio Prado Jr., presente desde bém  aspectos  da  “via  prussiana”  (vista
os  anos  60,  que  observa  a  revolução como particularidade histórica do desen­
como  sendo  inevitavelmente  de  caráter volvimento  capitalista  na  Alemanha),
socialista,  num  país  que  esta  inserido podendo  então,  num  esforço  maior  de
desde  sua  gênese  na  dialética  do  merca­ concretização, ser qualificada como “via
do  mundial  do  capitalismo.  Ou  seja,  é prussiano­colonial”,  que  se  manifesta

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num  regime  político  bonapartista  e  cuja ro,  ainda  na  primeira  metade  do  século
finalidade  é  a  manutenção  do  nexo  co­ XIX.  Essa  observação  talvez  sugira  que
lonial  e  autocrático.  Não  deixa  de  ser o título original do trabalho que se refe­
frustrante, porém, o fato do livro de An­ ria  à  gênese  da  autocracia  burguesa  no
tonio  Carlos  Mazzeo  se  deter  cronolo­ Brasil fosse mais condizente com o con­
gicamente  no  período  imediatamente teúdo, do que o nome estampado na capa
posterior  à  formação  do  Estado  brasilei­ do  livro.

Raul  K.  M.  Carrion  e  Paulo  G.


Fagundes Vizentini (orgs.)
Globalização,  neoliberalismo,  privatizações.  Quem  decide  este  jogo?
Editora  da  Universidade  Federal  do  Rio  Grande  do  Sul/Prefeitura  de
Porto  Alegre/Cedesp/RS
Mauricio C. Coutinho (Professor do Instituto de Economia da Unicamp.)

Globalização,  neoliberalismo,  priva­ da coletânea é o de fornecer uma espécie


tizações reúne os 22 ensaios apresentados de  antídoto  ideológico  de  médio  alcance:
a  um  seminário  sobre  o  significado  e  as ilustrado  e  acessível  a  um  leitor  culto,
aplicações  da  moderna  política  liberal, politizado  e  sem  treinamento  acadêmico
realizado  em  Porto  Alegre  em  julho  de específico  nas  diversas  áreas.
1997.  Além  da  introdução,  de  Paulo Embora  a  coletânea  seja  desigual  —  há
Vizentini,  as  contribuições  estão  agru­ ensaios  muito  bons  e  outros  nem  tanto  —
padas em quatro grandes áreas temáticas, pode­se  dizer  que  os  objetivos  dos  organi­
sendo  a  primeira  propriamente  concei­ zadores  foram  cumpridos,  particularmente
tual.  As  demais  áreas  incluem  relatos  de porque  as  contribuições  do  primeiro
experiências  nacionais  liberais,  uma segmento  (A  globalização,  o  neolibera­
discussão  sobre  aspectos  das  políticas lismo e o sistema financeiro internacional)
liberalizantes  no  Brasil,  além  de  uma assumem  a  árdua  e  necessária  tarefa  de
apresentação  específica  sobre  globali­ “começar  pelo  princípio”,  ou  seja,  explicar
zação  e  políticas  agrárias. o  significado  de  temas  tão  genéricos  e
O  propósito  do  livro  é  o  de  propor  ao esvaziados  quanto  globalização  e  neo­
leitor  não  especializado  nos  diversos liberalismo.  As  questões  cruciais  são
aspectos  das  políticas  liberais  uma exatamente  estas:  em  quais  aspectos  a
espécie de pano de fundo organizado para moderna  globalização  é  distinta  da  velha
o  entendimento  das  transformações  do experiência  econômica  internacional  do
mundo  moderno.  E,  já  que  globalização capitalismo?  o  que  de  fato  são  políticas
e neoliberalismo, em especial, constituem neoliberais?  As  respostas  são  exitosas,  a
vocábulos­chave  na  argumentação  ideo­ meu  juízo,  porque  os  autores,  ao  invés  de
lógica  contemporânea,  um  dos  objetivos insistirem  na  conhecida  (e  verdadeira)

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ROIO, Marcos Del. Resenha de: MAZZEO, Antonio Carlos. Estado e burguesia no Brasil:
origens da autocracia burguesa. São Paulo: Cortez Editora, 1997, 144 p. Crítica Marxista,
São Paulo, Xamã, v.1, n.7, 1998, p.142-145.

Palavras-chave: Estado; Burguesia brasileira; Autocracia; Formação Social Brasileira.

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