Minhas experiencias com cantigas de roda e brincadeiras cantadas são muito
superficiais, não que as mesmas nunca tenham existido, pois desde de a minha mais longínqua memoria resgato que algumas delas se fizeram presentes em uma ou outra ocasião, mas isso não pode ser afirmado com certeza. Venho de uma família onde sou o único filho, cresci com poucos amigos, meus únicos divertimentos foram meus próprios brinquedos, fantasiando e dialogando com minhas imaginações em um terreno imenso com muitas arvores e espaço suficiente para construir universos infindáveis de possibilidades para uma criança com imaginação fértil. Minha mãe não brincava comigo, era uma pessoa muito fechada em seu mundo, meu pai passava o dia todo no trabalho e por isso também não tinha tempo para se dedicar às necessidades de uma criança, não que isso tenha me feito infeliz, não é essa a questão e tão pouco reivindico um passado diferente, as coisas foram como foram. No entanto, minhas brincadeiras não se fizeram envoltas as brincadeiras cantadas, no entanto, fantasiava nos contos de fada, aprendi a ler muito cedo, me virava com belos livros e lindas gravuras, aprendendo que existiam possibilidades de entender o mundo além dos muros da minha casa. Sempre fui muito sério, introvertido, pouco interessado em situações coletivas, mesmo na escola relutava para ter de me envolver em situações onde tinha de me envolver com muitas atividades em grupo, por isso não consigo lembrar dessas cantigas na escola, talvez as tenha ignorado. A vida vai passando e em dado momento até esquecemos por completo que tais cantigas existem, depois que comecei a estudar música passei a entrar em contato com elas, aprender a tocar cirandas e marchinhas remetentes à essa época mágica em que toda criança vive de alguma maneira. Devido ao meu trabalho enquanto psicólogo, estou entrando em contato novamente com essa musicalidade, tenho estudado os contos de fada como forma de compreensão de papeis que assumimos inconscientemente em nossas vidas e caminhos de elaboração para superar tais dificuldades, no entanto, não é só isso, as cantigas de roda estão intimamente ligadas à isso, pois referenciam aos primórdios da vida de cada pessoa, onde muitos dos traumas também tem seu início. Infelizmente, eu não tive muitas experiencias com tais brincadeiras, sou realmente limitado para me sentir inclusive a vontade em deixar-me envolver por elas, mas não desmereço sua importância na vida de ninguém, tão pouco na minha, pois é através dessas cantigas que despertamos elementos arquetípicos essenciais para compreender quem realmente somos e o que carregamos dentro de nós, despertando assim um caminho de superação de nossas limitações.