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Angelo Maximiliano Torrezan

Minhas experiencias com cantigas de roda e brincadeiras cantadas são muito


superficiais, não que as mesmas nunca tenham existido, pois desde de a minha mais
longínqua memoria resgato que algumas delas se fizeram presentes em uma ou outra
ocasião, mas isso não pode ser afirmado com certeza. Venho de uma família onde sou
o único filho, cresci com poucos amigos, meus únicos divertimentos foram meus
próprios brinquedos, fantasiando e dialogando com minhas imaginações em um terreno
imenso com muitas arvores e espaço suficiente para construir universos infindáveis de
possibilidades para uma criança com imaginação fértil.
Minha mãe não brincava comigo, era uma pessoa muito fechada em seu mundo,
meu pai passava o dia todo no trabalho e por isso também não tinha tempo para se
dedicar às necessidades de uma criança, não que isso tenha me feito infeliz, não é essa
a questão e tão pouco reivindico um passado diferente, as coisas foram como foram.
No entanto, minhas brincadeiras não se fizeram envoltas as brincadeiras cantadas, no
entanto, fantasiava nos contos de fada, aprendi a ler muito cedo, me virava com belos
livros e lindas gravuras, aprendendo que existiam possibilidades de entender o mundo
além dos muros da minha casa.
Sempre fui muito sério, introvertido, pouco interessado em situações coletivas,
mesmo na escola relutava para ter de me envolver em situações onde tinha de me
envolver com muitas atividades em grupo, por isso não consigo lembrar dessas cantigas
na escola, talvez as tenha ignorado. A vida vai passando e em dado momento até
esquecemos por completo que tais cantigas existem, depois que comecei a estudar
música passei a entrar em contato com elas, aprender a tocar cirandas e marchinhas
remetentes à essa época mágica em que toda criança vive de alguma maneira.
Devido ao meu trabalho enquanto psicólogo, estou entrando em contato
novamente com essa musicalidade, tenho estudado os contos de fada como forma de
compreensão de papeis que assumimos inconscientemente em nossas vidas e
caminhos de elaboração para superar tais dificuldades, no entanto, não é só isso, as
cantigas de roda estão intimamente ligadas à isso, pois referenciam aos primórdios da
vida de cada pessoa, onde muitos dos traumas também tem seu início. Infelizmente, eu
não tive muitas experiencias com tais brincadeiras, sou realmente limitado para me
sentir inclusive a vontade em deixar-me envolver por elas, mas não desmereço sua
importância na vida de ninguém, tão pouco na minha, pois é através dessas cantigas
que despertamos elementos arquetípicos essenciais para compreender quem
realmente somos e o que carregamos dentro de nós, despertando assim um caminho
de superação de nossas limitações.

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