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C. A.

Ferrinho

ABC

do

Jogo de Damas

1996
O MOTIVO
Raciocínio, concentração, faculdade de analisar com precisão antes de
tomar decisões, criação artística, controle nervoso, etc., etc., são
qualidades que o Jogo de Damas pode desenvolver. O reconhecimento
deste fato levaram diversos estabelecimentos de ensino a contratar
professores para ministrar este esporte como complemento do currículo
escolar.
A procura de professores para ensinar o Jogo de Damas foi maior que
a disponibilidade e a improvisação se tornou uma necessidade onde o
conhecimento do Jogo de Damas e a Pedagogia geralmente não se
completavam, isto frente à perplexidade de organizadores e divulgadores,
agora aprendizes de feiticeiro.
Este trabalho é, assim, fruto dessa situação e da preocupação de
auxiliar o ensino dos fundamentos mais elementares do Jogo de Damas.
Ele é dirigido às pessoas que, sem o apoio de literatura especializada,
chamaram a si a difícil tarefa de tornar agradável, simples e acessível o
ensino deste belo esporte, poderoso instrumento para ajuda do
desenvolvimento intelectual de nossa juventude.
Confiamos na criatividade do professor para complementar e
desenvolver a matéria aqui apresentada.
O TABULEIRO
Vamos conhecer o tabuleiro. COLUNAS formadas pelas oito casas
claras e escuras alinhadas na vertical
Além das casas escuras (onde se joga) (Diagrama 2).
e as casas claras, o tabuleiro comporta 3
elementos importantes e que são: Diagrama 2
DIAGONAIS formadas pelo alinha-
mento das casas pelos seus vértices
(Diagrama 1).

Diagrama 1

a b c d e f g h

TRAVESSAS formadas pelas oito


casas claras e escuras alinhadas na
horizontal (Diagrama 3).

As diagonais têm as seguintes deno-


minações:
Diagrama 3

Grande diagonal
8
7
Bidiagonal 6
5
Tridiagonal 4
3
Grande retângulo 2
1
A NOTAÇÃO
Para que se possam "escrever" e "ler" O lance é "escrito" indicando a casa de
os lances e assim poder registrar o desen- saída e a casa de chegada, separadas por um
rolar de uma partida, o desenlace ou análise hífen, assim: c3-d4. No caso de tomada o
de uma posição, enfim "escrever" e "ler" os hífen é substituído por um "x": c3xe5.
movimentos das peças, torna-se necessário Vamos dar um exemplo da anotação
conhecer a NOTAÇÃO. dos primeiros lances de uma partida.
Convencionou-se que as COLUNAS
são assinaladas, a partir do lado esquerdo
das brancas, pelas letras de a a h 1. c3-d4 b6-c5
(Diagrama 2). 2. d4xb6 a7xc5
As TRAVESSAS, a partir do lado das 3. b2-c3 f6-g5
brancas, são numeradas de 1 a 8 (Dia- 4. c3-d4 c5-b4
grama 3).
Desta forma, todas as casas do Quando se deseja comentar que o lance
tabuleiro têm "nome": ele é determinado é bom, coloca-se uma exclamação "!" depois
pelo cruzamento da coluna com a travessa do lance e se o lance é mau assinala-se com
nessa casa (Diagrama 4); a letra primeiro uma interrogação "?", desta forma: c3-d4! ou
seguida do algarismo. f6-e5?.

Diagrama 4

8 d8
d8
7
8
6
5
4 f4
3
2
1 a1

a b c d e f g h
AS REGRAS PRINCIPAIS

Do início Da coroação
6. A pedra branca que chegar à tra-
1. As pedras brancas são colocadas, vessa 8 ou pedra preta que chegar à
no início da partida, nas casas escuras, nas travessa 1 será promovida a dama. A
travessas 1, 2 e 3 e as pedras pretas nas coroação é assinalada colocando-se sobre
travessas 6, 7 e 8 (Diagrama 5). a pedra coroada outra pedra da mesma cor.
7. Não será coroada a pedra que,
numa tomada, apenas passe pela travessa
Diagrama 5 de coroação.

Da tomada
8. A tomada é obrigatória.
9. A pedra tanto toma para a frente
como para trás.
10. A tomada denomina-se simples se
toma apenas uma peça e em cadeia se
captura mais de uma peça no mesmo lance.
11. Se no mesmo lance existir mais de
uma forma de tomar, é obrigatório obedecer
à "Lei da Maioria", ou seja, fazer o lance que
tome o maior número de peças (Diagra-
A casa escura do canto do tabuleiro
ma 6).
fica à esquerda do jogador
Diagrama 6

2. O tabuleiro coloca-se de forma que a


casa escura do canto do tabuleiro fique à
esquerda do jogador.
3. O primeiro lance é sempre das
brancas.

Do movimento

4. A pedra anda só para a frente, em


A pedra é obrigada a tomar
diagonal, uma casa de cada vez. para g5

5. A dama desloca-se para a frente e 12. Numa tomada em cadeia, a peça


para trás, nas diagonais onde estiver colo- pode passar mais de uma vez pela mesma
cada, quantas casas quiser. casa vazia (Diagrama 7).
Diagrama 7 Diagrama 9

A pedra c1, na tomada em cadeia, As quatro tomadas são opcionais


pode passar duas vezes pela
casa vazia e3
15. As peças tomadas só serão reti-
13. Numa tomada em cadeia, é radas do tabuleiro após terminado o lance
proibido tomar a mesma peça mais que uma de tomada.
vez (Diagrama 8).

Diagrama 8
Da vitória

16. Ganha a partida o jogador que


capturar todas as peças adversárias ou as
deixar sem movimento possível.
17. A partida é considerada ganha
quando o adversário se recusa a cumprir o
regulamento.

Do empate

A dama é obrigada a tomar 4 pedras


e parar na casa e5 porque não 18. O jogador interessado pode exigir o
pode tomar a pedra f4 empate se tiverem sido jogados 20 lances
duas vezes sucessivos só de damas.
19. Quando a mesma posição se
apresente pela terceira vez com o mesmo
14. A pedra e dama têm o mesmo valor jogador com o lance, o jogador interessado
para tomar ou ser tomada (Diagrama 9). pode exigir o empate.
A COMBINAÇÃO

A obrigatoriedade de fazer o lance de 14 - 1. h2-g3 h4xf2; 2. g1xe1


tomada dá origem, em determinadas situa- 15 - 1. d2-e3 d4xf2; 2. g1xg5. Se 1. ... f4xd2;
2. c1xc5
ções, a que a ação e controle dos lances
16 - 1. g5-h6 e7xg5; 2. h6xd2
fique de iniciativa de apenas um dos joga- 17 - 1. c5-d6 a7xc5; 2. d6xd2. Se 1. ... e7xc5;
dores. Assim, uma série de lances terão de 2. b6xb2
ser feitos obrigatoriamente pelo adversário 18 - 1. f4-g5 2. h2xf4; 2. g5xc5. Se 1. ... h6xf4;
sem que este possa tomar qualquer decisão 2. g3xc3
sobre eles visto se tratarem somente de 19 - 1. c3-d4 f6xd4; 2. h2-g3 h4xf2; 3. g1xa7
tomadas. 20 - 1. d4-e5 f6xd4; 2. f2-e3
Esta série de lances forçados origina 21 - 1. f4-e5 d6xf4; 2. c3-b4 a5xc3; d2xf8
uma das mais apaixonantes manobras do 22 - 1. a3-b4 c5xa3; 2. h2-g3
23 - 1. f2-g3 h2xf4; 2. d2-c3
jogo de damas: a combinação.
24 - 1. c1-b2 a3xe3; 2. f2xh8
Essa circunstância, quando um dos 25 - 1. c5-d6 c7xg3; 2. f2xd8
jogadores passa a controlar a dinâmica de 26 - 1. g3-f4 d6xd2; 2. f4xf8
uma série de lances, geralmente com o 27 - 1. c3-b4 a5xe5; 2. f2xb6
objetivo de obter uma vantagem material ou 28 - 1. f4-e5 f6xd4; 2. h4-g5 h6xf4; 3. g3xa1
posicional ou a vitória imediata, é na ver- 29 - 1. e5-d6 c7xe5; 2. a5-b6 a7xc5; 3. b4xd2
dade o belo espetáculo de uma coreografia 30 - 1. d4-c5 d6xc5; 2. f4-e5 f6xe5; 3. h2-g3
que causa silenciosos aplausos. h4xf2; 3. g1xc1
Nem sempre a combinação é consu- 31 - 1. e3-d4 g5xc5; 2. c1-b2 a3xc3; 3. f2xh8
32 - 1. c3-b4 a5xe5; 2. e1-d2 g3xc3; 3. b2xb6
mada. Muitas vezes ela é apenas uma
33 - 1. c3-b4 a5xe5; 2. c1-b2 a3xe3; 3. f2xh8
ameaça latente que impede a ação do 34 - 1. d2-e3 f4xd2; 2. c3xe1 a5xc3; 3. b2xh8
adversário, frustando planos, mas nem por 35 - 1. e3-d4 c5xe3; 2. f4xd2 h6xf4; 3. d2-e3
isso perde sua beleza. f4xd2; 4. e1xc7
Vamos conhecer agora algumas combi- 36 - 1. d2-e3 f4xd2; 2. c3xe1 a5xc3; 3. e1-d2
nações simples com seus nomes para que c3xg3; 4. h2xb8
possamos melhor identificá-las e, talvez, 37 - 1. b4-c5 b6xd4; 2. d2-e3 f4xd2; 3. e1xg7
memorizá-las. h6xf8; 4. h4xd8
38 - 1. h4-g5 h6xf4; 2. g3xc7 d8xb6; 3. b4xh6
39 - 1. a3-b4 a5xc3; 2. b2xf6 e7xg5; 3. g3xa5
40 - 1. c1-b2 a3xc1; 2. e3-f4 c1xg5; 3. h6xb8
41 - 1. e3-f4 c5xg5; 2. h6xb8
42 - 1. b2-c3 f4xb4; 2. a5xg7
43 - 1. e3-d4 g5xe3; 2. c3-b4 a5xe5; 3. f2xd8
44 - 1. c3-d4 g5xe3; 2. a3-b4 a5xe5; 3. f2xd8
45 - 1. g3-f4 g5xe3; 2. c5-b6 c7xe5; 3. f2xh8
SOLUÇÕES 46 - 1. e3-d4 g5xc5; 2. c3-b4 d6xf4; 3. b4xb8
47 - 1. f2-g3 h4xf6; 2. e1-f2 g5xe3; 3. f2xd8
48 - 1. f2-e3 h4xd4; 2. b4-a5 e5xg3; 3. a5xa1
10 – 1. d2-c3 b4xd2; 2. c1xg5 49 - 1. e1-f2 e3-d2; 2. f2-g3 h4xf2; 3. g1xe1
11 - 1. b2-c3 d4xb2; 2. c1xc5. Se 1. ... b4xd2; 50 - 1. h4-g5 f4-e3; 2. g5-f6 e7xg5; 3. h6xd2
51 - 1. a3-b4 c3-b2; 2. b6-c7b8xd6; 3. b4-c5
2. c1xc5
12 - 1. g3-f4 e5xg3; 2. h4xd4. Se 1. ... e3xg5; d6xb4; 4. a5xa1
2. h4xd4 52 - 1. c3-d4 c5-b4; 2. d4-e5 d6xd2; 3. e1xa5
13 - 1. e5-f6 e7xg5; 2. h6xd2 53 - 1. e3-f4 e5-d4; 2. f4-g5 f6xf2; 3. g1xa3
54 - 1. e3-f4 e5-d4; 2. f4-g5 f6xf2; 3. g1xe7
COMBINAÇÃO DIRETA 2X1

10 11 12

13 14 15

16 17 18
COMBINAÇÃO DIRETA 3X2

19 20 21

22 23 24

COMBINAÇÃO COM LEI DA MAIORIA


25 26 27
COMBINAÇÃO “NAPOLEÃO”

28 29 30

COMBINAÇÃO “REQUEBRADA”

31 32 33

COMBINAÇÃO “PULO DO GATO”

34 35 36
COMBINAÇÃO “CORTE E RECORTE”

37 38 39

COMBINAÇÃO “RABO DE ARRAIA”

40 41 42

COMBINAÇÃO “SANDUÍCHE”

43 44 45
COMBINAÇÃO “CASCATINHA”

46 47 48

COMBINAÇÃO “PESCADOR”

49 50 51

COMBINAÇÃO “BICHO”

52 53 54
O VALOR DO CENTRO

O domínio do centro é um dos princí- até à coroação em contraste com a pedra


pios estratégicos que pode nortear o desen- a5, colocada na mesma travessa mas na
volvimento da partida e ele se torna mais lateral, que só poderá atingir 5 casas antes
acentuado à medida que o número de da coroação, como podemos observar no
pedras vai diminuindo. diagrama 56. Isto demonstra que a pedra
De uma forma bem simples, os exem- central e5, em relação à pedra lateral a5,
plos dos diagramas 55 a 60 tentam demons- tem mais mobilidade e poder de ação.
trar o valor das pedras centrais.

57
55

O diagrama 55 mostra que a pedra No diagrama 57 vemos a força das


central e5 tem ação sobre 4 casas (d4, f4, duas pedras centrais c3 e f4 que podem imo-
d6 e f6) enquanto que a pedra lateral a5 bilizar 4 pedras laterais adversárias.

56 58

O rápido domínio do centro, no diagra-


tem ação apenas sobre duas casas (b4 e ma 58, com o lance 1. g3-f4 leva à imobili-
b6). Além disso, a pedra central e5 tem zação das 3 pedras laterais pretas depois
condições de se movimentar por 9 casas
de 1. ... g7-f6; 2. c1-d2 f6-g5; 3. f4-e5, como Outro exemplo do poder da pedra cen-
podemos observar no diagrama 59. Este é tral contra as pedras laterais é mostrado no

59 60

um exemplo típico de final de partida cujo diagrama 60, onde as pedras pretas a7, b8
plano estratégico se orientou para o domínio e c7 ficam restringidas no seu desenvolvi-
central. mento pela pedra branca central c5.
A OPOSIÇÃO
Seguem-se algumas noções elementa- No diagrama 63 as brancas estão na
res de oposição. oposição, porque depois de 1. e1-d2 b8-c7;
Denomina-se oposição quando uma pe- 2. d2-c3 c7-d6; 3. c3-d4 as pretas terão que
dra, pela sua posição frente à adversária, a se entregar.
tomará por esta ser forçada a fazer o lance.
Vejamos o diagrama 61. As brancas jogam 63

61

O mesmo não acontece no diagrama 64


porque depois de 1. b2-c3 b8-c7; 2. c3-d4
c7-d6 são as pretas que estão na oposição.
1. e3-d4 e agora a preta, por ser forçada a
jogar, terá que se entregar. Diz-se estar na
oposição quando um dos lados faz com que 64
suas pedras, uma a uma, se defrontam com
as adversárias, uma a uma, forçando-as a
se entregarem, como podemos ver no dia-
grama 62.

62

No diagrama 65 também as pretas


estão na oposição mas não têm condições
de segurarem a pedra branca: 1. d2-e3 (se
1. d2-c3? as pretas ganham porque conse-
guem fazer oposição à pedra branca) b8-c7;
2. e3-f4 c7-d6; 3. f4-g5 d6-e5; 4. g5-h4 e as
brancas conseguem escapar da oposição.
Os diagramas 63, 64 e 65 são exem- No diagrama 66 as brancas estão na
plos simples para iniciação de exercícios oposição. A sequência dos lances será:
de cálculo mental; mostram-nos posições 1. c1-b2 b4-a3; 2. b2-c3 f8-e7; 3. d2-e3
elementares para exemplificar a opo- e7-f6; 4. e3-f4 e as brancas completam a
sição. oposição.
65 Somamos as pedras brancas e pretas
que estão nas colunas a, c, e e g (ver
diagrama 2) ignorando as que estão nas
outras colunas. Se o número de pedras for
ímpar, quem tem o lance está na oposição.
Assim, no diagrama 61 existe apenas uma
pedra na coluna e (as colunas a, c e g estão
vazias), portanto número ímpar. Como as
brancas têm o lance, são estas que estão na
oposição.

67

Se a pedra preta f8 do diagrama 66


estivesse na casa g7, como acontece no
diagrama 67, seriam as pretas que estariam

66

No diagrama 63 temos número ímpar


de pedras nas colunas a, c, e e g (1 pedra
na coluna e). Como o lance é das brancas,
são estas também que estão na oposição.
Nos diagramas 64 e 65 não temos
nenhuma pedra nas citadas colunas.
Considerando zero como par e o lance
pertencendo às brancas, são as pretas que
na oposição, o que se comprovará depois estão na oposição.
dos lances 1. d2-e3 b4-c3; 2. e3-f4 g7-f6. No diagrama 66 temos apenas 1 pedra
A troca direta é uma manobra tática nas referidas colunas. Como o lance é das
com grande influência na oposição pela fa- brancas e o número de pedras consideradas
culdade que tem de invertê-la. Assim, no é ímpar, a oposição é das brancas.
diagrama 67, as brancas inverterão a oposi- Já no diagrama 67 temos duas pedra
ção, que pertencia às pretas, depois da tro- nas coluna a, c, e e g. Pertencendo o lance
ca: 1. d2-c3 b4xd2; 2. c1xe3 g7-f6; 3. e3-f4. às brancas são as pretas que estão na
Já no diagrama 66 as brancas, que oposição. De posse destes dados, a análise
estão na oposição, como vimos acima, se fica facilitada para as brancas pela recomen-
fizerem a troca passarão a oposição para as dação da troca direta para inverter a opo-
pretas: 1. d2-c3? b4xd2; 2. c1xe3 f8-e7; sição.
e3-d4 e7-d6 com oposição. Neste método para determinar a quem
pertence a oposição temos dois caso de ex-
Existem vários métodos para se deter- ceção: se as casas a7 e b8 (o mesmo para
minar a quem pertence, em dado momen- g1 e h2) estiverem ocupadas por duas pe-
to, a oposição. Mostraremos um método dras de cores diferentes, estas duas pedras
simples. não devem ser consideradas, o que vale
dizer, não devem ser contadas (ver diagra- A "troca paralela" é caracterizada pelo
ma 68). fato de que a pedra que captura não é
capturada. Esta modalidade de troca não
68 inverte a oposição. Acompanhemos o
desenvolver dos lances no diagrama 70,
onde, pela

70

Outra exceção é o detalhe mostrado


no diagrama 69 (ou, para as pretas, o equi-
valente: pedra branca em g1 e pedra preta
contagem das pedras nas travessas a, c,
e e g, a oposição pertence às brancas:
69 1. e1-d2 d6-c5; 2. d2-c3 a3-b2; 3. c3-b4
c5xa3; 4. a1xc3 e, depois da troca, as
brancas conservaram a oposição. Verifica-
mos aqui que a pedra c5 que captura a
pedra b4 não é capturada na troca.

71

em g3). Quem construir este detalhe estará


sempre na oposição devido ao lance reserva
b6-a7 (ou g3-h2 para as pretas).

_____

O diagrama 71, onde a oposição


Denomina-se "troca direta" quando a pertence às brancas, é mais um exemplo de
pedra que captura é capturada. Assim, no "troca paralela" onde os lances têm o
diagrama 67 vemos que a pedra b4 depois seguinte desenvolvimento: 1. e1-d2 h4-g3;
de tomar a pedra c3 é tomada pela pedra 2. d4-e5 f4xd6; 3. h2xf4 d6-c5; 4. d2-c3 e
c1. Isto é "troca direta" e ela tem a faculdade as brancas conservaram a oposição mesmo
de inverter a oposição, como já dissemos. havendo uma troca.
O BLOQUEIO
Imobilizar as forças adversárias, Diagrama 73 - 1. b4-c5 d4xb6; 2. a3-b4
deixando-as sem movimentos satisfatórios e as brancas agora vão tomar duas pedras e
ou possíveis, é também um dos importantes ganhar.
princípios que devem orientar nosso plano Diagrama 74 - 1. e3-f4 e5-d4; 2. f4-e5
de jogo. d4xf6; 3. g3-f4 bloqueando definitivamente
O bloqueio é, assim, o fato de as pedras pretas.
conseguirmos restringir a ação do Diagrama 75 - 1. d4-e5 d6xf4; 2. g1-h2
adversário a ponto de que ele tenha que com bloqueio que deixa às pretas apenas o
perder material o que o levará à derrota. lance 2. ... f4-e3 com consequente derrota.
Isto, se é conseguido por vezes através do
sacrifício de peça, é normalmente Diagrama 76 - A mesma idéia de blo-
conseguido com manobras muito bem queio do diagrama 72 apresentado com uma
delineadas. O conhecimento anterior de manobra mais sofisticada: 1. f2-e3 c3-d2;
diversos tipos de bloqueio ajuda a 2. e3-f4 g5xe3; 3. g3-f4 e3xg5; 4. c1xe3.
orientação do plano de jogo. Diagrama 77 - 1. g3-f4 e3xg5; 2. b2-c3
Os diagramas 72 a 77 são bloqueios b4xd2; 3. c1xe3 com bloqueio das forças
simples conseguidos com o sacrifício de adversárias. Não salva as pretas a manobra
uma pedra. Os diagramas 78 a 80 mostram- 3. ... g5-f4; 4. e3xe7 g7-f6; 5. e7xg5 h6xf4
nos algumas posições clássicas de bloqueio. porque depois de 6. g1-f2 h8-g7; 7. f2-g3
Diagrama 72 - 1. e5-d6 e7xc5; 2. b2-a3 e as f4-e3; 8. g3-f4 e3xg5; 9. h4xh8 as brancas
pretas, depois de entregarem duas pedras, ganham.
perdem.
74
72

73 75
76 78

77

79

O diagrama 78 mostra-nos um bloqueio


clássico. Depois de 1. c1-d2 às pretas só
resta 1. ... c5-d4 e após 2. b4-c5 d6xb4;
3. a3xe3 as brancas têm o caminho aberto
para a coroação.
No bloqueio do diagrama 79 as três 80
pedras brancas a5, c5 e d4 imobilizam as
quatro pedras pretas a7, b6, b8 e c7. Depois
de 1. e1-f2 d8-e7; 2. f2-g3 e7-f6; 3. g3-f4
f6-e5; 4. d4xf6 b6xd4 as brancas ganham
por terem restringido e atrasado o
desenvolvimento das pretas.
O bloqueio clássico do diagrama 80
força as pretas a perderem uma pedra
porque não podem 1. ... f6-g5 devido a
2. e1-f2 g5xe3; 3. f2xh8. Se 1. ... e5-d4 as
brancas com 2. f4-e5 d6xf4; 3. g3xc3
ganham pedra.
A FORÇA DA DAMA
A pedra que na sua marcha atinge a a3, a5 e b4. Se no diagrama 85 existir mais
oitava casa do tabuleiro é promovida a dama uma pedra preta, por exemplo em c5, depois
e adquire grande mobilidade e raio de ação. de 1. h8-a1 b4-c3; 2. a1xa7 a pedra a3
Embora se considere que a dama seja passa para dama.
superior a duas pedras, sua força é muito
relativa frente às pedras.
Quatro pedras são facilmente domina- 83
das pela dama nas posições dos diagramas
81, 82 e 83.

81

84

82

85

A dama na bidiagonal, na posição do


diagrama 84, consegue dominar 3 pedras,
assim: 1. h2-b8 f6-e5; 2. b8xh6 h4-g3;
3. h6-e3 g3-h2; e3-g1.
Na grande diagonal, diagrama 85, a
dama não domina mais que duas pedras,
salvo no caso de três pedras colocadas em
Nos exemplos acima a dama vale-se 88
do domínio de uma diagonal e do fato de
que as pedras estão colocadas antes dessa
diagonal.

86

Não há possibilidade de evitar que a


pedra c3, no diagrama 89, seja coroada.
Contudo, devido à sua grande mobilidade, a

89
No diagrama 86 temos um caso de
domínio de duas pedras sem que estas
estejam colocadas antes de uma diagonal
definida que a dama possa ocupar como nos
exemplos anteriores. 1. c1-f4 c7-b6; 2. f4-e3
b6-a5; 3. e3-d2; g7-f6; 4. d2-c3 f6-g5; 5. c3-
d2 g5-h4; 6. d2-c1 e depois da entrega de
uma das pedras a dama domina a outra
facilmente.

87

dama branca tem condições de manobrar


para que a dama preta recém coroada seja
capturada, assim: 1. b8-f4 c3-b2; 2. f4-e5
b2-a1 (se 2. ... b2-c1; 3. e5-f4 c1xg5;
4. h6xf4); 3. e5-b8 e as brancas ganham no
tema "bipolar".

90

Duas pedras centrais podem, por


vezes, ser dominadas pela dama a exemplo
do diagrama 87: 1. h6-f8 d6-e5; 2. f8-g7 e5-
f4; 3. g7xc3! f4-g3 (se 3. ... f4-e3; 2. c3-e1);
4. c3-d4 g3-h2; 5. d4-g1.
A mesma idéia de ganho é válida para
a posição do diagrama 88: 1. a7-b8 d6-c5
(se 1. ... d6-e5; 2. b8xf4! d4-c3; 3. f4-c1);
2. b8-a7 c5-b4; 3. a7xe3! seguido de
4. e3-c1.
Diagrama 90: 1. d8-a5 e3-f2: 2. a5-b6 gramas 92 (1. f2-e3 d4xf2: 2. a1xf6xd8xa5
f2-g1 (se 2. ... f2-e1; 3. b6-f2 e1xg3; xe1xh4) e 93 (1. e5-f6 d8xg5; 2. f2-e3 h4xf2;
4. h2xf4); 3. b6-a7 h4-g3; 4. h2xf4 g1-h2; 3. c1xh4xd8xb6xd4xa1).
4. a7-b8 h2xe5; 5. b8xh2.
92
91

93
Também no diagrama 91 não se pode
evitar a coroação da pedra g3 mas as
brancas têm condições de eliminar a dama
preta que acaba de coroar-se com uma bela
manobra só possível pela grande mobilidade
que a dama possui: 1. a5-e1 g3-h2;
2. a5-b4! a7-b6 (se 2. ... h2-g1; 3. b4-a5
g1xb6; 4. a5xc7); 3. c5xa7 h2-g1; 4. b4-c5
g1xb6; 5. a7xc5.
O raio de ação da dama permite, por
vezes, tomadas de grande efeito como as
que, por exemplo, são mostradas nos dia-
O BLOQUEIO DA DAMA
Diagrama 94 - 1. e7-f8! e3xh6 (se 1. ...
Alguém disse que não é o grande e3xc1; 2. f8-h6 c1xg5; 3. h6xc1); 2. d2-c1
número de peças que dificulta o cálculo, com bloqueio na tridiagonal.
mas sim o grande número de casas vazias. Diagrama 95 - 1. b4-a5 c3xe1; 2. e7-h4
É precisamente nos finais com poucas com bloqueio no grande retângulo
peças, onde o tabuleiro parece oferecer
grande liberdade, que o conceito de
ocupação desses espaços vazios se torna
importante e decisivo, dominando casas e
96
diagonais estratégicas, com o objetivo de
limitar os movimentos do adversário,
Assim, em que pese toda a mobilidade
e raio de ação da dama, esta pode estar
sujeita a restrições em seus movimentos e
ficar bloqueada pelas peças adversárias.
Acompanhemos a ilustração destes casos
nos diagramas 94 a 95.

94

Diagrama 96 - 1. e1-f2 g1xa1 (se 1. ...


g1xh8; b2-a1); 2. g7-h8 com bloqueio
"bipolar".

97

95

Diagrama 97 - 1. c7-b8 f4-e3 (se 1. ...


f2-g3; 2. b8-a7 g3-f2; 3. g1xe3 h2-g1;
4. e3-d4 g1xc5; 5. a7xg1); 2. g1-f2! e3xg1;
3. b8-a7 com bloqueio na bidiagonal.
No diagrama 98 temos um bloqueio na interessante bloqueio denominado "tema
bidiagonal mais elaborado. O plano de jogo eslavo". 1. g1-f2 oferecendo um aparente
apresentado apressa o remate da partida: imediato empate para as pretas, 1. ... d2-e1
1. c1-d2 h4-g3: 2. d2-e3 forçando a pedra
preta a coroar-se na bidiagonal, 2. ... g3-h2;
3. d6-c7 h2-g1: 4. c3-d4 g1-h2; 5. c7-b8
h2-g1; 6. b8-h2.
99

98

(também perderia 1. ... d4-c3 devido a


2. f2-e3 d2xf4; 3. h2xa1; o correto seria
1. ...d2-c1); 2. f2-e3! d4xf2; 3. h2-g1 e a
A cilada colocada pela brancas na dama preta, para qualquer casa que for,
posição do diagrama 99 se baseia num será tomada juntamente com a pedra.
A PRISÃO DA DAMA

A prisão não deixa de ser um tipo de h4xd4; 2. d2-c3 d4xb2; 3. h6-c1 e a dama
bloqueio, apenas com a diferença de que no preta com suas duas pedras ficam sem
bloqueio a dama ainda pode movimentar-se movimentos possíveis.
para se entregar. Na prisão, a dama,
usualmente acompanhada de uma ou mais 101
pedras, ficam, ela e as acompanhantes, sem
movimentos possíveis. É, em jogo prático,
um caso pouco frequente mas nem por isso
de desprezar.

100

As brancas, na posição do diagrama


102, preparam uma cilada jogando 1. g1-h2
e depois de 1. ... h8-d4?; 2. c7-d8! d4xg1;
3. d8-a5 h4xf2; 4. a5-e1 a dama preta fica
presa junto com sua acompanhante.

102
O diagrana 100 mostra-nos uma idéia
de prisão que já fazia parte da literatura
espanhola do Século XVI. As brancas
prendem a dama preta da seguinte forma:
1. d2-e3 g1xa1 (se 1. ... g1xb2; 2. a3-b4
a5xc3; 3. c1xa3); 2. a3-b4 a5xc3; 3. c1-b2 e
agora as pretas são obrigadas a jogar
3. ... c3-d2 e depois de 4. e1xc3 a dama fica
sem movimento possível.
Também consta da literatura espanhola
de séculos atrás a idéia de prisão que
acontece no diagrama 101, assim: 1. h2-g3
A FORÇADA
São empates os finais de 2 damas A terceira condição é dominar a tridia-
contra 1 ou de 3 damas contra 1 se esta gonal. Para defendê-la, restam à dama soli-
dominar a grande diagonal. No entanto, se tária 4 casas: a3, b4, e7 e f8. As três damas
as três damas dominarem a grande diagonal têm uma manobra tática para expulsar a da-
a vitória será conseguida por um método ma solitária da tridiagonal jogando 6. g1-e3,
chamado "Forçada". Apesar de existirem formando a posição do diagrama 105.
pelo menos três métodos de se conseguir a
vitória, será exposto o mais simples e o mais 104
fácil de aprender. Ele é bastante antigo e a
literatura espanhola do Século XVI já o
mostrava com riqueza de detalhes.

103

Restam agora apenas 2 casas para a


dama solitária defender a tridiagonal e que
são b4 e e7. A casa f8 ficou proibida devido
a 7. h8-g7 f8xh6; 8. e3-c1 h6xe3; 9. c1xh6.
Da mesma forma a casa a3 é fatal para a
Vamos partir do diagrama 103. Para
dama solitária devido a 7. h8-b2 a3xc1;
melhor noção do que é a ocupação do
8. f4-h6 c1xf4; 9. h6xc1.
tabuleiro pelas damas, assinalamos as
diagonais dominadas e, consequentemente,
os espaços que vão restando para a dama 105
solitária.
Já dissemos que a primeira condição
para se obter a vitória é que as três damas
dominem a grande diagonal, função que no
diagrama 103 é desempenhada pela dama
em a1.
A segunda condição é dominar a
bidiagonal cujo processo, a partir do dia-
grama 103, é o seguinte: 1. e1-g3 g1-a7; 2.
g3-h2 a7-b6; 3. c1-f4 b6-g1 retardando a
ocupação da bidiagonal por parte das três
damas; 4. a1-h8 fazendo um tempo de
espera, 4. ... g1-c5 a dama solitária, na
eminência de perder a bidiagonal, passa a Assim, a dama solitária continua de-
defender a tridiagonal; 5. h2-g1 c5-b4 fendendo a tridiagonal jogando 6. ... b4-e7.
completando a segunda condição com a Para qualquer outro lance as três damas
ocupação da bidiagonal. O diagrama 104 ocupariam a tridiagonal imediatamente. Ago-
mostra-nos as diagonais dominadas pelas ra com 7. h8-c3 é dominada a casa b4 que
três damas. restava para a dama solitária poder conti-
nuar defendendo a tridiagonal o qua a força Se no início da ocupação da bidiagonal
a abandoná-la (diagrama 106). as três damas dominassem primeiro a
diagonal a3-f8 em lugar da diagonal c1-h6,
106 as três damas formariam os triângulos nas
posições dos diagramas 109 ou 110. Obser-
vemos que as posições em que se formam
os triângulos são todas semelhantes e a
forma de obter o ganho, a partir da formação
dos triângulos, é também semelhante.
Vamos retomar o desenvolvimento do
método após os lances 7. ... e7-d8; 8. f4-d6
que deram origem ao diagrama 107. Esta é
a posição base para se obter imediatamente
o ganho. Agora a dama solitária só tem duas
continuações: 8. ... d8-a5 (A) e 8. ... d8-h4
(B):

A dama solitária só tem duas casas (A) 8. ... d8-a5; 9. d6-b4 a5-c7; 10. e3-
livres: d8 ou h4. Se 7.... e7-d8 as três damas b6 c7xa5; 11. c3-e1 a5xc3: 12. e1xa5.
formam o triângulo com 8. f4-d6. Se 7. ...
e7-h4 o triângulo forma-se com 8. e3-c5. (B) 8. ... d8-h4; 9. d6-b4 h4-g3; (se
Os diagramas 107 e 108 mostram a 9. ... h4-d8; 10. e3-b6 d8xa5: 11. c3-e1
formação dos triângulos e o completo domí- a5xc3; 12. e1xa5) 10. e3-f2 h4xe1: 11. b4-a5
nio do tabuleiro, deixando à dama solitária e1xb4; 12. a5xe1
apenas 4 casas livres e que são os vértices
do grande retângulo.
109
107

108 110

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