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Elementos de introdução para a leitura do texto de Marx e Engels (texto 3):

- A "ideologia alemã" é um texto que não chegou a ser publicado na época que foi
produzido. A primeira vez que foi publicado foi em 1932, através do instituto Marx-
Engels em Moscou. O texto foi arquivado e sofreu a crítica voraz dos ratos -
literalmente. Há partes do manuscritos que estão perdidas por conta disso.

- O livro é uma crítica à filosofia dominante da filosofia da época, em especial a que


vigorava na Prússia. É um texto de crítica ao grupo de pessoas chamadas "Jovem
Hegelianos" ou "Hegelianos de Esquerda". Entre eles, estariam Bruno Bauer, David
Strauss, Ludwig Feuerbach e Max Stirner.

- A filosofia hegeliana integra elementos de áreas de conhecimento que hoje


chamaríamos de história, arte, religião, filosofia e mesmo psicologia. Sua filosofia é
comumente identificada como "idealista". Esta caracterização surge a partir da ideia de
um dos principais conceitos de Hegel, que é o "espírito" ou "mente" ("Geist" em
alemão). O "Espírito" para Hegel seria o principal agente histórico; ao mesmo tempo, o
desenvolvimento histórico é o processo de progressiva realização do espírito. Em outras
palavras, o espírito em Hegel está em constante movimento e transformação, ao mesmo
tempo sempre em direção a si mesmo e se expandindo. As transformações históricas
seriam esse momento de realização do Espírito e/ou mente. Em outras palavras, a ideia
de uma concepção hegeliana da História é "ideal", no sentido de que o tempo é processo
de conflito, acomodação e superação do que Hegel chama de “princípios”. Estes seriam
lógicas estruturantes de um povo num determinado momento. Esses princípios são
expressos mais claramente na religião e na filosofia desses povos, mas não são
exatamente elas. O termo “idealismo” se deve ao fato que estes princípios são essências
ideais, como "totalidade" e "individualidade" (enquanto conjunto de ideias).

A filosofia hegeliana é dialética. Ela não nega a diferenciação entre espírito e natureza,
sujeito e objeto, etc. Estes elementos estão em constante relação, tranformando uns aos
outros e se transformando no processo. Contudo, o processo de realização do espírito é
também o processo de superação (dialética) destas dicotomias. A palavra utilizada em
alemão para falar desta superação é "Aufhebung", que significa ao mesmo tempo
"superar", "aniquilar" e "conservar". Por isso, algumas pessoas atribuem a Hegel a ideia
de que a lógica de "tese" sendo seguida por uma "antítese", culminando em uma
"síntese". Contudo, esta formulação é de outro filósofo (Fichte).

Para Hegel, a história é o processo de realização do Espírito porque o Espírito só existe


como aquilo que sobrevive às contradições. A história viva, digamos assim, seria quase
irracional, quase que pura violência e confusão. A História lembrada depois reconhece
os elementos racionais que foram se afirmando e reconhece um processo de formação
de uma racionalidade que avança aos poucos. Sem a rememoração não teria
propriamente sentido na história. É um caso de passagem do ser em si para ser para si,
em que o objetivo não existe sem que o sujeito participe da sua constituição.

- Parte do hegelianismo (no sentido de pessoas que se basearam no pensamento de


Hegel) interpretou o Estado Moderno (o Prussiano, no caso) enquanto encarnação deste
Espírito (chamado também de Espírito Absoluto). O Estado seria a forma ideal de
superação de conflitos, ao mesmo tempo garantidor do fim destes e a expressão deste
pacto social. O Estado também seria a expressão máxima e o garantidor da razão e da
liberdade, sendo toda a História anterior o processo de superação dos limites a estes
conceitos. Para este grupo, a dialético do mundo teria chegado ao fim, e com isso a
própria história. o mundo teria alcançado a perfeição - ou o mais próximo possível a
isso.

- O grupo que fez esta primeira leitura de Hegel foi chamado de "Velhos hegelianos" ou
"Hegelianos de direita" pelo grupo que o sucedeu. Os chamados "jovens hegelianos" ou
"hegelianos de esquerda". Eles mantinham a filosofia da história hegeliana, mas
acreditavam que a dialética ianda não estava completa. Esta sensação se dava por um
lado pelo papel da religião (vista como fonte de irracionalidade) na sociedade prussiana;
por outro, na ausência de liberdades (especialmente religiosas e políticas) da sociedade
prussiana. O grupo começou então a escrever críticas à religião e ao sistema político
prussiano. Karl Marx participou deste grupo, mas começou a se afastar dele conforme
sua crítica se deslocava da religião para a propriedade de capital enquanto elemento de
estruturação do poder do "estabilshment".
- "A ideologia alemã" é uma crítica que antagoniza e radicaliza esta filosofia. Ela é uma
primeira redação de princípios filosóficos que vão se contrapor àqueles princípios de
entendimento do mundo do grupo de jovens hegelianos. Por isso, é um marco no
sentido da construção de um entendimento materialista do mundo, criticando e
contrapondo o entendimento idealista hegeliano.

- As críticas que aparecem no texto seguem neste sentido: embora Bruno Bauer,
Feuerbach etc fossem compreendidos como radicais e materialistas, Marx e Engels os
criticam por serem pouco radicais e materialistas.

- Um dos elementos principais expressos no texto é a ideia de que o desenvolvimento


histórico não é uma sucessão de conflitos de ideias ou de debates (e "fraseologias"), mas
de relações sociais, de forças produtivas, relações de produção. Que antes da filosofia
ou categorias analíticas, seres humanos precisam comer, beber, vestir.

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