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Resumo
E
ste trabalho compara e avalia os valores de tempos de reverberação TR
medidos em dois edifícios didáticos da Universidade Federal do Paraná
construídos em épocas diferentes. O TR de cada sala foi medido
segundo a norma ISO 3382-1. O presente trabalho apresenta
simulações referentes ao TR e Índice de Transmissão da Fala – STI . Nas
simulações realizadas com o software ODEON, é observada a influência de
diferentes materiais de acabamento sobre o TR e sobre o STI. As simulações
Paulo Henrique Trombetta
Zannin indicaram para uma das salas do bloco JB, com TR médio de 2,5 s, a necessidade
Laboratório de Acústica Ambiental de substituição de alguns materiais de acabamento, especialmente no piso e no
– Industrial e Conforto Acústico, teto, por outros materiais com maior coeficiente de absorção sonora. Os resultados
Programa de Pós-Graduação em
Recursos Hídricos e Engenharia das simulações apontam para a redução de quase 2 s no TR após a substituição dos
Ambiental, Mestrado Profissional materiais do teto e piso. Com relação ao STI, a situação inicial apontava valores
em Meio Ambiente Urbano e
Industrial, Programa de Pós-
entre 0,39 e 0,42, o que classificava como “ruim” a inteligibilidade segundo os
Graduação em Educação Física e padrões estabelecidos pela norma IEC 60268-16. A redução do TR conduziu os
Enfermagem resultados simulados para o STI a se situarem entre 0,73 e 0,76, sendo então a
Universidade Federal do Paraná
Centro Politécnico, Bairro Jardim inteligibilidade classificada pela norma IEC, como “boa”.
das Américas, Curitiba – PR – Brasil
Caixa Postal 19011 Palavras-chave: Acústica. Salas de aula. Tempo de Reverberação. Simulações
CEP 81531-990 computacionais. Índice de Transmissão da Fala.
Tel.: (41) 3361-3433
E-mail: zannin@ufpr.br
Abstract
This study compares and evaluates the reverberation times (RT) measured in two
Andressa Maria Coelho
Ferreira
classroom buildings at the Federal University of Paraná, which were built in
Laboratório de Acústica Ambiental different decades. The RT of each room was measured according to the ISO/3382-
– Industrial e Conforto Acústico, 1 standard. This paper presents simulations of RT and the speech transmission
Universidade Federal do Paraná
E-mail: arqferreira@yahoo.com.br index (STI). In the simulations performed with the software ODEON, the influence
of different materials on those indexes is analyzed. For one of the classrooms in
David Queiroz de Sant’Ana
the BG building, whose measured mean RT was 2.5 s, the simulations indicated
David Queiroz Arquitetura S. S. the need to replace some of the finishing materials, especially on the floor and
Ltda. ceiling, for others with greater sound absorption coefficient. Results of the
Av. República Argentina, 452 cj.
1102, Água Verde, Curitiba – PR – simulations pointed to a reduction in almost 2 s in RT. With respect to STI, the
Brasil initial situation pointed to values between 0.39 and 0.42, which meant that
CEP 80240-210
Tel.: (41) 3085-8400
intelligibility was poor, according to limits set by the IEC 60268-16 standard. The
Email: david@davidqueiroz.arq.br reduction in RT led STI values to range between 0.73 and 0.76, rendering
intelligibility as good, according to the IEC 60268-16 standard.
Recebido em 27/11/08 Keywords: Acoustics. Classroom. Reverberation time. Computer simulations. Speech
Aceito em 03/03/09 transmission index.
Figura 2 – Fotografia da sala SATE-03 do Setor de Ciências Sociais Aplicadas: Jardim Botânico
Bloco das Ciências Sociais Aplicadas: forro com vigas aparentes; e piso vinílico nas
Jardim Botânico salas e nas circulações (Figura 2).
Comparação do tempo de reverberação e índice de transmissão da fala STI em salas de aula construídas em 127
décadas diferentes
14h00 e 17h00, com as portas e as janelas das para um computador e tratados com o auxílio do
salas de aula fechadas e em dias sem chuva. programa Qualifier Qualifier BK 7830 (BRÜEL
Em cada sala foram medidos cinco pontos. Cada & KJAER..., 2006). Esse programa realiza o
ponto representa uma combinação de posição processamento das curvas de decaimento sonoro
relativa entre a fonte sonora e o microfone de e calcula o Tempo de Reverberação,
captação. A fonte sonora foi posicionada sobre o possibilitando também sua avaliação gráfica.
eixo da sala de aula a 2 m do quadro negro, onde Avaliadas as salas, escolheu-se uma para se
o professor costuma permanecer. realizarem simulações computacionais com o
A Figura 3 mostra o esquema de posicionamento programa de computador Odeon 9.0 (ODEON
da fonte sonora denominada P1 e dos cinco A/S, 2007). Optou-se pela sala “D”, uma sala do
pontos de locação dos microfones referenciados Bloco das Ciências Sociais Aplicadas do Jardim
na figura pelos números ímpares 1, 3, 5, 7 e 9, Botânico, visto que sua qualidade acústica não
adotados para as medições. atendia de forma satisfatória aos padrões
nacionais e internacionais para salas de aula ou
O método utilizado para a obtenção do Tempo de auditórios em que a ênfase de uso seja a palavra
Reverberação foi o Método do Ruído falada.
Interrompido (Interrupted Noise Method),
seguindo o prescrito, para esse tipo de medição, As simulações foram realizadas em duas etapas.
pelas normas ISO 3382:1997 (ISO, 1997) – A primeira consiste na aplicação das equações
Acoustics – Measurement of the reverberation tradicionais (Sabine e Eyring) para a predição do
time of rooms with reference to other acoustical Tempo de Reverberação de recintos fechados. As
parameters e pela ISO 3382-1 – Acoustics – equações podem ser observadas nos itens (a) e (b)
Measurement of room acoustic parameters – Part abaixo.
1: Performance rooms (ISO, 2006), que vem a (a) equação de Sabine:
ser uma revisão da norma ISO 3382:1997. Ambas 0,163V
as normas apresentam a seguinte definição para TR = (1)
A
Interrupted Noise Method: “método de obtenção
de curvas de decaimento por registro direto do onde TR é o Tempo de Reverberação do(s)
decaimento do nível de pressão sonora após a recinto(s); V é o volume da sala em m3; e A é a
excitação de uma sala com um ruído de banda área de absorção.
larga ou de banda delimitada” (tradução nossa). A é definido pelo produto da área de dada
Para a medição dos tempos de reverberação foi superfícies pelo coeficiente de absorção sonora α
utilizado um analisador em tempo real de dois característico de seu material. Além dos
canais BK 2260, o qual emite um sinal sonoro – elementos construtivos da sala de aula, devem-se
ruído rosa – para o amplificador de potência BK considerar as áreas de absorção sonora dos
2716, que está conectado à fonte sonora do elementos adicionais de funcionalidade do
decaédrica BK 4296. O som gerado é, então, ambiente (lousa, mesas, carteiras escolares e
captado por um microfone conectado ao pessoas), bem como a atenuação sonora do ar.
analisador BK 2260, o qual calcula A área total de absorção de uma sala pode então
automaticamente o Tempo de Reverberação para ser expressa como a soma das parcelas da Tabela
cada freqüência do espectro de interesse,
1.
conforme uma programação prévia do analisador.
Os dados medidos em campo foram transferidos A é dado por: A = Aa+Ab+Ae+AP+AI(m²) (2)
9,00 metres
8,00
3 9
7,00
6,00
P1
5,00
5 X O
4,00
3,00
Y
1 7
2,00
1,00
0,00
Odeon©1985-2007
Comparação do tempo de reverberação e índice de transmissão da fala STI em salas de aula construídas em 129
décadas diferentes
(HOHMANN; SETZER; WEHLING, 2004). do ruído no ambiente de interesse. A norma ISO
Neste trabalho foram utilizados os valores para o 3382 (1997), assim como o referendado por
coeficiente de absorção do ar conforme Heckl e pesquisadores como Bistafa e Bradley (2000),
Müller (1995). Sant’Ana, (2008), Zannin e Zwirtes (2009),
A reprodução das condições existentes em Zannin; Passero e Sant’Ana, (2009), recomenda
modelos estatísticos e de computador aumenta a avaliações nas freqüências entre 125 Hz e 4.000
Hz. Entretanto, para situações onde a fala é
confiabilidade de sua utilização em projeto e na
predição de situações ainda inexistentes. Neste atividade principal, como é o caso de salas de
trabalho, para a calibração dos modelos, foram aula, torna-se mister efetuar uma análise mais
apurada nas freqüências de 500, 1.000 e 2.000 Hz
utilizados os coeficientes de absorção sonora
dispostos na Tabela 2 para cálculo do Tempo de (ANSI, 2002).
Reverberação. Ainda que analisada banda a banda, um valor
único é freqüentemente utilizado para expressar o
Tempo de Reverberação de uma sala. Esse valor
Resultados e discussões é a média aritmética dos tempos de reverberação
Os valores de Tempo de Reverberação obtidos para as freqüências de 500 Hz, 1.000 Hz
encontrados nas salas de aula do centro e 2.000 Hz (FRANÇOIS; VALLET, 2001). A
politécnico, sem ocupantes, são apresentados no Tabela 3 mostra os valores do Tempo de
Figura 4. Reverberação médios para as salas de aula
desocupadas e mobiliadas.
Para a avaliação do Tempo de Reverberação, a
medição do TR, deve ser feita a análise espectral
ÁREA DE TEMPO DE
VOLUME
ABSORÇÃO REVERBERAÇÃO
SALAS V (m³)
MÉDIA (m²) TR (s)
A 367,18 67,99 0,8
B 294,74 58,87 0,6
C 294,74 58,73 0,7
D 294,74 58,89 0,6
E 367,18 67,99 0,9
F 367,18 61,07 0,9
G 564,93 71,98 1,1
H 330,53 45,16 0,9
Tabela 3 – Tempo de Reverberação como média aritmética dos Tempos de Reverberação nas
freqüências de 500, 1.000 e 2.000 hz nas salas do centro politécnico
Comparação do tempo de reverberação e índice de transmissão da fala STI em salas de aula construídas em 131
décadas diferentes
Figura 5 – Estimativa de áreas de absorção em função do TR desejado
Forro Prisma Decor – Isover do Brasil1 0,64 0,72 0,66 0,84 0,91 0,90
Piso de parquet de madeira sobre concreto2 0,20 0,15 0,10 0,10 0,05 0,10
Fonte: 1 Isover do Brasil; 2 Odeon S.A.
Tabela 5 – Coeficientes de absorção sonora dos materiais utilizados para correção do TR na sala “d” do
jardim botânico
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
TEMPO (s)
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
125 250 500 1000 2000 4000
SALA A 3,5 2,4 1,5 1,2 1,1 1,1
SALA B 3,2 2,4 1,5 1,3 1,2 1,1
SALA C 3,9 2,3 1,9 1,8 1,6 1,4
SALA D 3,6 3,7 2,7 2,6 2,2 1,7
SALA E 4,0 3,8 3,2 2,6 2,4 2,6
SALA F 3,4 3,0 2,5 2,3 2,0 1,5
SALA G 2,8 2,4 1,7 1,4 1,3 1,2
FREQÜÊNCIA (Hz)
Figura 6 – Valores dos Tempos de Reverberação medidos nas salas do Jardim Botânico, sem ocupantes e
mobiliada
Comparação do tempo de reverberação e índice de transmissão da fala STI em salas de aula construídas em 133
décadas diferentes
Figura 7 – Superfícies sugeridas para o tratamento acústico
Energy parameters
g
b
c
d
e
f R9 Ponto 5
b
c
d
e
f
g R7 Ponto 4
0,7 b
c
d
e
f
g R5 Ponto 3
b
c
d
e
f
g R3 Ponto 2
0,65 b
c
d
e
f
g R1 Ponto 1
0,6
0,55
0,5
0,45
0,4
T30 (s)
0,35
0,3
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
63 125 250 500 1000 2000 4000 8000
Odeon©1985-2007 Frequency (Hz)
Figura 8 – Tempos de Reverberação simulados para a sala “D” tomados ponto a ponto
Foi sugerida na simulação a substituição do piso 2.000 Hz, para salas de aula com volume menor
vinílico encontrado na sala existente por um do que 283 m3.
revestimento de madeira (parquet) – material A Figura 8 apresenta os Tempos de Reverberação
bastante comum nas construções brasileiras.
simulados ponto a ponto para a sala “D”,
Além do piso, o teto foi tratado, revestindo-se conforme posicionamento de pontos apresentados
toda sua superfície, exceto as bases das vigas, na Figura 3.
revestidas com um forro de alta absorção sonora,
modelo Prisma Decor, também disponível no Por meio dessa simulação constatou-se que a
mercado da construção civil. As áreas tratadas pequena quantidade de absorção disponível
são apresentadas na Figura 7. atualmente na sala de aula “D” do jardim
botânico produz um ambiente excessivamente
Verificou-se que a troca de revestimentos
reverberante para sua função, porém, após a
produziu um ambiente com uma reverberação em indicação de novos materiais de revestimento,
torno de 0,6 s, o que satisfaz as recomendações percebeu-se que sua condição acústica passou de
da norma ANSI S12.60, a qual estabelece como
desfavorável a adequada. O aumento da absorção
valor ótimo de referência 0,6 s para o Tempo de sonora proposto para a sala “D” fez com que o
Reverberação nas freqüências de 500, 1.000 e Tempo de Reverberação ficasse concordante com
Parâmetro
ponto 1 ponto 2 ponto 3 ponto 4 ponto 5
energético
STI 0,4 0,42 0,39 0,39 0,39
Tabela 7 – Índice de Transmissão da Fala simulado para os pontos de medição avaliados in situ –
reprodução das condições de campo
Comparação do tempo de reverberação e índice de transmissão da fala STI em salas de aula construídas em 135
décadas diferentes
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 metres
STI > 0,84
0,82
0,79
0,77
0,74
8,00 metres
0,72
0,69
0,67
0,64
6,00
0,62
P1 0,59
0,57
4,00
0,54
0,52
0,49
2,00 0,47
0,44
0,42
0,39
0,00
0,37
Figura 9 – STI para a sala de aula “D” conforme características arquitetônicas identificadas em campo
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 metres
STI > 1,00
0,98
0,95
0,93
0,90
8,00 metres
0,88
0,85
0,82
0,80
6,00
0,77
P1 0,75
0,72
4,00
0,70
0,67
0,65
2,00 0,63
0,60
0,57
0,55
0,00
0,52
Figura 10 – Simulação do STI para a sala de aula “D” conforme substituição do revestimento do piso e
adição de absorção no teto
Parâmetro
ponto 1 ponto 2 ponto 3 ponto 4 ponto 5
energético
STI 0,76 0,75 0,73 0,75 0,73
Tabela 8 – Índice de Transmissão da Fala simulado para os pontos de medição avaliados in situ –
substituição do revestimento do piso e adição de absorção no teto
Comparação do tempo de reverberação e índice de transmissão da fala STI em salas de aula construídas em 137
décadas diferentes
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