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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA

MARIA TAYLANA MARINHO MOURA

SISTEMAS AMBIENTAIS E SUBSÍDIOS AO ORDENAMENTO


TERRITORIAL DO MUNICÍPIO DE ITAPAJÉ-CE:
AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECURSOS HÍDRICOS

FORTALEZA – CEARÁ
2018
2

MARIA TAYLANA MARINHO MOURA

SISTEMAS AMBIENTAIS E SUBSÍDIOS AO ORDENAMENTO TERRITORIAL DO


MUNICÍPIO DE ITAPAJÉ-CE: AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE
RECURSOS HÍDRICOS

Dissertação apresentada ao Curso de


Mestrado Acadêmico em Geografia do
Programa de Pós-Graduação em
Geografia do Centro de Ciência e
Tecnologia da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito parcial à obtenção
do título de mestre em Geografia. Área de
concentração: Análise Geoambiental e
Ordenação do Território nas Regiões
Semi-Áridas e Litorâneas.

Orientador: Prof. Dr. Marcos José


Nogueira de Souza.

FORTALEZA-CEARÁ
2018
3
4

MARIA TAYLANA MARINHO MOURA

SISTEMAS AMBIENTAIS E SUBSÍDIOS AO ORDENAMENTO TERRITORIAL DO


MUNICÍPIO DE ITAPAJÉ-CE: AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE
RECURSOS HÍDRICOS

Dissertação apresentada ao Curso de


Mestrado Acadêmico em Geografia do
Programa de Pós-Graduação em
Geografia do Centro de Ciência e
Tecnologia da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito parcial à obtenção
do título de mestre em Geografia. Área de
concentração: Análise Geoambiental e
Ordenação do Território nas Regiões
Semi-Áridas e Litorâneas.

Aprovada em: 22 de março de 2018.

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________________________
Prof. Dr. Marcos José Nogueira de Souza (Orientador)
Universidade Estadual do Ceará-UECE

_______________________________________________________________
Prof. Dra. Andréa Bezerra Crispim
Centro Universitário Católica de Quixadá-UNICATÓLICA

_______________________________________________________________
Dr. Cleyber Nascimento de Medeiros
Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará-IPECE
5

A Deus, autor da minha vida e detentor


nesta grande jornada. À minha família
(mainha, pai, irmão e esposo) pessoas que
tanto amo e sempre me deram total apoio.
Dedico também às duas mulheres que
muito me incentivaram a almejar o
mestrado, Telma e madrinha Vanda,
minhas estrelas que brilham em outra
dimensão, mas sempre presentes em meu
coração.
6

AGRADECIMENTOS

Sozinhos não chegamos em lugar nenhum. A fé em Jesus Cristo impulsionou-me a


seguir firme e forte na caminhada. E que seja feita a vossa vontade, Senhor!
Aos meus pais, Moura e Aurilene, e meu irmão Wallaf, que sempre me apoiaram. Por
toda fé, amor e carinho durante essa jornada.
Um agradecimento especial ao meu esposo Franclin, por tamanha dedicação, amor e
companheirismo. Obrigada por ter sido minhas “pernas” durante os trabalhos de
campo.
À minha madrinha-mãe Vanda (In Memoriam), que me disse: “Filha, você será uma
grande mulher! Se Deus permitir, eu verei você tornar-se Mestre e Doutora! ”. A ela a
minha eterna gratidão!
À minha cunhada Telma (In Memoriam), que muito me incentivou a almejar o
mestrado. Um ser de luz que me ensinou na simplicidade que estamos nesse mundo
para cumprir uma missão.
Ao professor-orientador Marcos Nogueira, o maior incentivador de minha pesquisa,
que acompanhou, orientou e contribui para o meu crescimento acadêmico e
profissional. Com ele estou aprendendo, de maneira mais sutil, como ser uma
profissional de ética, pesquisadora e educadora de respeito.
Aos familiares itapajeenses, pela simplicidade e orgulho de viver na Pedra D’água.
Ao Cleyber Nascimento e Andrea Crispim, agradeço a disponibilidade e grandes
contribuições concedidas à minha pesquisa durante a qualificação e defesa de
mestrado.
As minhas amigas Ana, Danielle e Tatiany, por compartilharem tantos momentos de
alegria e de desespero durante esta trajetória.
Ao Grupo de Estudo ANGEO. Lugar de estudo e aprendizado, Laboratório de Estudos
Geoambientais (LAGEO) e Laboratório de Geoprocessamento e estudos aplicados
(LABGEO).
Agradeço também aos meus amigos do LAGEO: Patrícia, Denise, Karinne, Guilherme,
Daniele e Andrea, pessoas que sempre se dispuseram a me ajudar.
À minha grande amiga Karinne Wendy, que sempre, com alegria e tranquilidade,
esteve presente nesta jornada, com sua ajuda indispensável.
À minha amiga Elenizia, por todo apoio e disponibilidade e pelos esclarecimentos na
interpretação linguística do abstract.
7

Aos meus amigos que sempre me incentivaram, George de Castro, André Mattos,
Dayane Frota, Pierre Leite, Henia Sales, Michele Freitas, Michele Alves e Leninha.
Agradeço aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em
Geografia (PROPGEO), que não mediram esforços para o desenvolvimento do meu
mestrado. Em especial à funcionária Adriana Livino dos Santos Holanda, secretária
do PROPGEO, pela sua eficiência e atenção.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
bolsa de estudos de mestrado.
8

“A chuva trouxe água para encher o pote,


dentro da água tem um espelho cheio
d’água”.
(Tribalistas)

“Não tenho vocação para a política e não


quero ser político. Quero apenas colaborar
com as políticas públicas e com os
políticos que merecem meu respeito”.
(Aziz Ab’Sáber)
9

RESUMO

O município de Itapajé localiza-se na região de planejamento Litoral Oeste/ Vale do


Curu, a aproximadamente 124 km da capital Fortaleza, Ceará. O mesmo encontra-se
inserido no Núcleo de Desertificação Irauçuba Centro-Norte e no Maciço da
Uruburetama, ambientes com intensa pressão sobre os recursos naturais,
consequentemente, com graves desequilíbrios ambientais e socioeconômicos. Dessa
forma, coloca-se como objetivo geral propor subsídios à conservação da natureza e
ao ordenamento territorial, dialogando com as políticas públicas de recursos hídricos
instituídas durante a seca de 2010 a 2017, no contexto do município de Itapajé. Para
alcançar os objetivos foi aplicada a metodologia dos anos padrões de Monteiro (1976)
e a proposta metodológica da qualidade ambiental e limites de tolerância ao uso e
ocupação dos sistemas ambientais, Souza (2015). 2010 foi classificado como ano
seco, porém do ponto de vista climatológico. 2016 ano normal, mas com
características de seca hidrológica. A maioria das políticas públicas de recursos
hídricos foram instaladas no sistema ambiental de planícies, do ponto de vista do
potencial hídrico. Em relação à qualidade ambiental e aos limites de tolerância ao uso
e ocupação dos sistemas ambientais, em alguns setores, o estado de conservação
vem acarretando transformações e uma série de impactos ambientais que excederam
a capacidade de suporte dos sistemas ambientais, desencadeando mudanças
significativas na dinâmica da paisagem e comprometimento dos recursos naturais.

Palavras-chaves: Políticas Públicas de Recursos Hídricos. Sistemas Ambientais.


Qualidade Ambiental. Ordenamento Territorial.
10

ABSTRACT

The municipality of Itapajé is located in the Litoral Oeste / Curu Valley planning region,
approximately 124 km from Fortaleza, Ceará. It is inserted in the Irauçuba Center-
North Desertification Nucleus and the Uruburetama Massif, environments with intense
pressure on natural resources, consequently serious environmental and
socioeconomic imbalances. Thus, the general objective is to propose subsidies for
nature conservation and land use planning, in dialogue with public water resources
policies instituted during the drought of 2010 to 2017, in the context of the municipality
of Itapajé. In order to reach the objectives, Monteiro's standard years methodology
(1976) and the methodological proposal of environmental quality and limits of tolerance
to the use and occupation of environmental systems were applied, Souza (2015). In
2010 it was classified as a dry year, but from a climatological point of view. In 2016
normal year, but with characteristics of hydrological drought. Most of the public water
resources policies were installed in the plains environmental system from the point of
view of water potential. Regarding the environmental quality and limits of tolerance to
the use and occupation of environmental systems, in some sectors the state of
conservation has brought about transformations and a series of environmental impacts
that exceeded the support capacity of environmental systems, triggering significant
changes in the dynamics of the landscape and commitment of natural resources.

Keywords: Public Policies of Water Resources. Environmental Systems.


Environmental Quality. Land use planning.
11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de Localização do município de Itapajé-Ceará. ....................................... 23


Figura 2 - Localização do SAB, contextualizando com a área de estudo. ........................ 27
Figura 3 - Mapa do Monitor de Secas no Ceará durante os meses de junho e
dezembro, nos anos de 2014, 2015 e 2016. ........................................................ 30
Figura 4 - Fluxograma metodológico dos aspectos avaliados como essenciais para a
conservação da natureza e para o ordenamento territorial. ............................. 40
Figura 5 - Fluxograma das fases metodológicas e dos procedimentos técnico-
operacionais utilizados no desenvolver da pesquisa. ...................................... 44
Figura 6 - Localização da Região de Planejamento do Litoral Oeste / Vale do Curu e
sua inserção no Semiárido Brasileiro, Ceará. .................................................... 54
Figura 7 - Planície fluvial do riacho Pedra d’água, em abril de 2017 (A) e planície do
rio Caxitoré em dezembro de 2017(B), Itapajé Ceará. Ambientes com
coberturas sedimentares e áreas com alto potencial hidrogeológico. ............ 60
Figura 8 - Planícies de acumulação com coberturas sedimentares alúvio-coluviais em
ambientes de altitudes distintas, porém com o mesmo potencial
hidrogeológico. Localidade Pedra d’água, em abril de 2017 (A) e Baixa
Grande, em dezembro de 2017 (B), Itapajé-Ceará. ............................................. 61
Figura 9 - Localização e vazão dos poços tubulares, e incidências do controle
estrutural no embasamento cristalino e os depósitos aluviais e coluviais,
Itapajé-Ceará. ....................................................................................................... 62
Figura 10 - Feições dissecadas na Vertente Ocidental da serra da Uruburetama,
localidades Baixa Grande (A) e Boa Vista (B), em dezembro de 2017, Itapajé-
Ceará. .................................................................................................................... 64
Figura 11 - Feições da Vertente Centro-Ocidental distanciada do modelado dissecado
do maciço, intercalados por depressão sertaneja e planície alveolar,
localidade Pedra D’Água, em julho de 2012, Itapajé-Ce. ................................... 65
Figura 12 - Formas erosivas oriundas de processos de pedimentação, eventualmente
com feições moderadamente dissecadas e aplainadas, com ocorrências de
cristas e inselbergs, localizadas nos distritos de São Tomé (A) e Baixa
Grande (B), Itapajé-Ceará. ................................................................................... 66
Figura 13 - Formas erosivas em feições de cristas e inselberg, inseridos em meio a
depressão sertaneja, localidade Jorge no município de Itapajé-Ceará............ 67
Figura 14 - Média anual da série histórica de 2001 a 2016 nos postos de Itapajé, Santa
Cruz e Irauçuba, Ceará. ....................................................................................... 73
12

Figura 15 - Cachoeira do riacho Pedra d’água UTM (44619m E/ 9585123m N) localizada


na Vertente Norte-Oriental da serra da Uruburetama, localidade Pedra
d´água, em abril de 2017, Itapajé-Ce. .................................................................. 77
Figura 16 - Passagem molhada nos riachos Pedra d’água e São Tomé UTM (449419m
E/ 9581201m N), localidade Serrote do Meio (A). Passagem molhada no rio
Caxitoré UTM (449897m E/ 9581434m N), localidade Paraíso (B), em abril de
2017, Itapajé-Ce. ................................................................................................... 78
Figura 17 - Sangrador da Barragem do rio São Tomé, UTM (446163m E/ 4580070m N),
localidade Serrote do Meio (A). Açude de abastecimento público do distrito
Serrote do Meio, UTM (448462m E/ 9582858m N) (B), em abril de 2017,
Itapajé-Ce. ............................................................................................................. 78
Figura 18 - Vista para o Ipuzinho durante o mês de julho de 2016, UTM (439853m E/
9595161m N) localidade Ipu (B), em julho de 2016, Itapajé-Ce.......................... 79
Figura 19 - Dinâmica espaço-temporal das isoietas no período do ano seco de 2010. ..... 80
Figura 20 - Balanço hídrico do ano seco (2010), posto Itapajé, Santa Cruz e Irauçuba,
respectivamente. Legenda: (REP) Reposição hídrica e (DEF) Deficiência
hídrica. (Prec) Precipitação; (ETP) Evapotranspiração Potencial e (ETR)
Evapotranspiração Real. ..................................................................................... 81
Figura 21 - Dinâmica espaço-temporal das isoietas no período do ano normal de 2016....83
Figura 22 - Balanço hídrico do ano seco (2010), posto Itapajé, Santa Cruz e Irauçuba,
respectivamente. Legenda: (REP) Reposição hídrica e (DEF) Deficiência
hídrica. (Prec) Precipitação; (ETP) Evapotranspiração Potencial e (ETR)
Evapotranspiração Real. ..................................................................................... 84
Figura 23 - Volume armazenado no reservatório Ipuzinho (2014-2018), em Itapajé-
Ceará. .................................................................................................................... 85
Figura 24 - Volume armazenado nos reservatórios Caxitoré e Jerimum (2004 a 2018) -
Ceará. .................................................................................................................... 86
Figura 25 - Espécies do tipo arbóreo, localizadas na vertente centro-ocidental e na
vertente norte-oriental da serra da Uruburetama, Barriguda (A) Ipê roxo (B)
e Catolé (C). Em abril e dezembro de 2017, Itapajé-Ce. ..................................... 90
Figura 26 - Vertente centro-ocidental (A e B) e vista panorâmica (A1 e B1) da depressão
sertaneja, planícies e cristas residuais, durante o mês de julho dos
respectivos anos de 2012 e 2013, localidade Pedra D’água, Itapajé-Ce........... 91
Figura 27 - Capela de Nossa Senhora da Penha no distrito de Santa Cruz, Itapajé-Ce. .... 92
Figura 28 - Estimativa da população de Itapajé, Ceará. ....................................................... 94
Figura 29 - PIB per capita do ano de 2013 e sua distribuição pelos principais setores
da economia do município de Itapajé, Ceará. .................................................... 95
13

Figura 30 - Estimativa da população de Itapajé, Ceará. ....................................................... 95


Figura 31 - Barragem municipal (Ipuzinho) e balneário Soledade em julho de 2017,
Itapajé-Ce. ............................................................................................................. 96
Figura 32 - Centro comercial de Itapajé e vista panorâmica do distrito sede. .................... 97
Figura 33- Depósito de areias nas proximidades da planície fluvial do riacho São
Francisco no distrito de Iratinga (A) e Caeira na divisa entre Itapajé e
Pentecoste (B), em abril de 2017......................................................................... 97
Figura 34 - Localização das áreas requeridas para a mineração no município de Itapajé-
Ceará. .................................................................................................................... 98
Figura 35 - Agricultura permanente no platô da vertente Norte-Oriental e agricultura
temporária em uma crista residual no entorno da depressão sertaneja, em
julho de 2017 e 2016, respectivamente, Itapajé-Ce. ........................................... 99
Figura 36 - Pasto natural com criação de bovinos, localidade São Joaquim e pasto
plantado com criação de caprinos, localidade Baixa Grande, em dezembro
de 2017, Itapajé-Ce. ............................................................................................ 100
Figura 37 - Ocupações urbanas em áreas que deveriam ser recobertas por mata ciliar.
(A) Riacho São Francisco no centro urbano de Itapajé e (B) na sede do
distrito Itatinga, em abril de 2017. ..................................................................... 101
Figura 38 - Prática de queimadas em áreas de cobertura vegetal das caatingas e mata
seca, em julho de 2016, Itapajé-Ceará. ............................................................. 101
Figura 39 - Polo turístico, Camping-Frade de Pedra. ......................................................... 102
Figura 40 - Práticas de turismo religioso na Pedra dos Ossos, distrito da Baixa Grande.102
Figura 41 - Caminhão particular abastecendo a cisterna de placas de um morador da
localidade Jorge (A). Poço tabular instalado pelo Exército Brasileiro, com
vazão de 5m3/h (B). Em dezembro de 2016, Itapajé-Ce.................................... 106
Figura 42 - Representação esquemática do sistema de dessalinização.............................107
Figura 43 - Sistema de dessalinização da comunidade Pedra D’água, inoperante desde
o ano de sua instalação, 2015 ........................................................................... 108
Figura 44 - Sistema dessalinizador (A) com tanque de criação de Tilápia (B) - PAD.
Localidade Jardim, em dezembro de 2017, Itapajé-Ce. ................................... 109
Figura 45 - Cisterna de placa na localidade Tubiba, no distrito de Baixa Grande, a
aproximadamente 700 m de altitude. Em dezembro de 2017, Itapajé-Ce. ...... 109
Figura 46 - (A) Sangrador da Barragem Ipuzinho em julho de 2017, onde atingiu 99% da
sua capacidade máxima. (B) Motobomba com capacidade de bombear 240
m3/h em horários de pico, dezembro de 2017, em Itapajé-Ce. ....................... 110
Figura 47- Políticas Públicas de Recursos Hídricos (2010-2016) dimensionadas por
setor censitário, considerando o contingente populacional, Itapajé-Ce. ....... 112
14

Figura 48 - Políticas Públicas de Recursos Hídricos (2010-2016) dimensionadas nos


sistemas ambientais do município de Itapajé-Ce. ........................................... 113
Figura 49 - Localização das Áreas Protegidas, no que tange a RPPN Mãe-da-Lua e as
APPs do município de Itapajé-Ceará. ............................................................... 118
Figura 50 - Limites da RPPN Mãe-da-Lua, localidade Pé da Serra da Santana, entre os
distritos de Pitombeira e Serrote do Meio, ao sul do município de Itapajé-
Ce................... ..................................................................................................... 120
Figura 51 - Subsistemas Ambientais do município de Itapajé em relação a área do
município. ........................................................................................................... 126
Figura 52 - Subsistema ambiental de planície fluvial (A) e planície alveolar (B),
recobertas por culturas rotativas e permanentes ............................................ 129
Figura 53 - Subsistema da superfície de pedimentação aplainada (A) e superfície de
pedimentação moderadamente dissecada (B), Itapajé-Ce. ............................. 131
Figura 54 - Subsistema ambiental da Vertente Norte-Oriental da Serra da Uruburetama,
vista do vilarejo Santa Cruz, UTM (441834 m E / 9594607 m N; 442178 m E /
9594661 m N), em julho de 2016, Itapajé-Ce. .................................................... 132
Figura 55 - Subsistema ambiental da Vertente Centro-Ocidental, Pedra do Frade (A) e
vista para a BR-222, novo trecho que substitui a antiga “curva da morte”
(B), Itapajé-Ce. .................................................................................................... 133
Figura 56 - Subsistema ambiental da Vertente Ocidental, localidades Baixa Grande e
Chapada, em dezembro de 2017 e fevereiro de 2018. ..................................... 134
Figura 57 - Espécies bem características da mata seca e da mata sub-úmida, RPPN
Mãe-da-Lua, Serra das Vertentes. Em janeiro de 2018, Itapajé-Ce. ................ 140
Figura 58 - Algumas espécies de mamíferos catalogadas na RPPN Mãe-da-Lua, Serra
das Vertentes, Itapajé-Ce. Macaco-prego (Cebus libidinosus) (A); Caititus
(Pecari tajacu) (B); Veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) (C) e Gato-
maracajá (Leopardus tigrinus) (D). ................................................................... 140
Figura 59 - Mata ciliar recobrindo áreas de APPs de cursos d’água, na planície fluvial
do riacho São Tomé/Pedra D’água (A); no vale entalhado pelos cursos
d’água na vertente norte-oriental (B) e na vertente centro-ocidental (C-D),
Itapajé-Ce. ........................................................................................................... 141
Figura 60 - Superfícies rochosas, com lajedos ou lajedões, seguindo planos de fraturas
(marmitas) e recobertas por Caatinga em nível de qualidade ambiental
satisfatória. Superfície de pedimentação moderadamente dissecada,
limites entre Itapajé e Umirim. ........................................................................... 142
15

Figura 61 - Depressão moderadamente dissecada recoberta por vegetação secundária


regressiva, apresenta qualidade ambiental muito baixa ou desestabilizada.
Distrito Baixa Grande, em abril de 2017, Itapajé-Ce. ....................................... 142
Figura 62 - Encosta da vertente norte-oriental com cobertura de bananeiras,
apresentando qualidade ambiental muito baixa ou desestabilizada. Em
dezembro de 2017, Distrito Soledade, Itapajé-Ce. ........................................... 143
Figura 63 - Superfície de pedimentação aplainada com vista para a vertente ocidental
(A), localidade Três Olhos D’água; encosta da vertente ocidental após
queimada (B) e superfície aplainada em situação drástica (C), apresentando
qualidade ambiental extremamente baixa. ....................................................... 144
16

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Mapa Básico de Itapajé.......................................................................................... 55


Mapa 2 - Geologia do município de Itapajé ......................................................................... 57
Mapa 3 - Geomorfologia do município de Itapajé ............................................................... 59
Mapa 4 - Hipsometria do município de Itapajé. ................................................................... 70
Mapa 5 - Declividade do município de Itapajé. .................................................................... 71
Mapa 6 - Pluviometria ........................................................................................................... 74
Mapa 7 - Recursos Hídricos Superficiais. ........................................................................... 76
Mapa 8 - Mapa Pedológico. .................................................................................................. 89
Mapa 9 - Uso e Cobertura da Terra no município de Itapajé (2012) ................................. 103
Mapa 10 - Sistemas ambientais do município de Itapajé. .................................................. 135
Mapa 11 - Unidades de Intervenção e meio ecodinâmico .................................................. 138
17

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Categorias, as quais definem a intensidade de seca no Mapa do Monitor. ..... 29


Quadro 2 - Ações emergenciais e estruturantes de segurança hídrica do Plano de
convivência com a seca do Estado do Ceará, Brasil......................................... 33
Quadro 3 - Especificações operacionais dos mapas e figuras, elaborados durante a
pesquisa ............................................................................................................... 49
Quadro 4 - Critérios para cálculo do ano padrão ................................................................. 52
Quadro 5 - Classificação de anos padrão nos postos pluviométricos adotados entre os
anos de 2001 a 2016. ............................................................................................ 52
Quadro 6 - Precipitação de 2010 em relação à média histórica (2001-2016). ..................... 82
Quadro 7- Precipitação de 2016 em relação à média histórica (2001-2016). ..................... 82
Quadro 8 - Ações emergenciais e estruturantes de segurança hídrica no município de
Itapajé-Ceará durante o período da seca plurianual 2010-2016. ..................... 105
Quadro 9 - Histórico e evolução da legislação. .................................................................. 120
Quadro 10 - Unidades de Intervenção e meio ecodinâmico dominante nos subsistemas
ambientais do município de Itapajé-Ce ............................................................ 136
Quadro 11 - Aspectos essenciais para a conservação da natureza e para o ordenamento
territorial: unidade de intervenção, qualidade ambiental e limites de
tolerância ao uso e ocupação dos sistemas e subsistemas ambientais do
município de Itapajé-Ce. .................................................................................... 146
18

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA Agência Nacional das Águas


APP Área de Preservação Permanente
ASA Articulação no Semiárido Brasileiro
ASDs Áreas Susceptíveis à Desertificação
BDG Banco de Dados Geográficos
BNB Banco do Nordeste Brasileiro
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
COGERH Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
CEDEC Coordenadoria Estadual de Defesa Civil
CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
DER Departamento Estadual de Rodovias
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral
DOU Diário Oficial da União
EIA Impacto Ambiental
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FNE Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste
FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
GPS Global Positioning System
GEOSGB Sistema de Geociências do Serviço Geológico do Brasil - CPRM.
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDACE Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará
INSA Instituto Nacional do Semiárido
IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
ITR Imposto Territorial Rural- ITR
LAGEO Laboratório de Geografia Física e Estudos Geoambientais
LANDSAT Land Remote Sensing Satellite
MDE Modelo Digital de Elevação
MMA Ministério do Meio Ambiente
19

MI Ministério da Integração
NASA Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica
OLI Operacional Land Imager
OMM Organização Meteorológica Mundial
OT Ordenamento Territorial
PAE-CE Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação
Mitigação dos Efeitos da Seca.
PNOT Política Nacional de Ordenamento Territorial
PDDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
RIMA Relatório de Impacto Ambiental
RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural
SAB Semiárido Brasileiro
SAAE Serviço Autônomo de Água e Esgoto
SDA Secretaria do Desenvolvimento Agrário
SEARA Secretaria de Estado de Assuntos Fundiários e
Apoio à Reforma Agrária
SIAGAS Sistema de Informações de Águas Subterrâneas
SIG Sistemas de Informações Geográficas
SIRGAS Sistemas de Referência Geocêntrico para as Américas
SOHIDRA Superintendência de Obras Hidráulicas
SRH Secretaria de Recursos Hídricos
SRTM Shuttle Radar Topographic Mission
SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
UECE Universidade Estadual do Ceará
UTM Universal Transversa de Mercator
ZEE Zoneamento Ecológico-Econômico
20

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 21
2 BASES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS........................................ 25
2.1 O FENÔMENO DAS SECAS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO............. 25
2.2 ANÁLISE GEOAMBIENTAL................................................................ 32
2.3 UNIDADES DE INTERVENÇÃO E MEIO ECODINÂMICO................. 34
2.4 CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA PARA O ORDENAMENTO
36
TERRITORIAL.....................................................................................
2.5 FASES METODOLÓGICAS E PROCEDIMENTOS TÉCNICO-
OPERACIONAIS................................................................................. 40
2.5.1 Levantamento bibliográfico.............................................................. 43
2.5.2 Levantamento de campo................................................................... 45
2.5.3 Estruturação do banco de dados e elaboração dos mapas
46
temáticos............................................................................................
3 CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE
ITAPAJÉ.............................................................................................. 52
3.1 LITOTIPOS, GEOFORMAS E ÁGUAS SUBTERRÂNEAS................. 54
3.2 CLIMA E ÁGUAS SUPERFICIAIS....................................................... 70
3.2.1 Análise hidroclimática espaço-temporal (2010-2017).................... 77
3.3 SOLOS E BIODIVERSIDADE.............................................................. 85
4 USO E COBERTURA DA TERRA NO MUNICÍPIO DE ITAPAJÉ E
AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECURSOS HÍDRICOS DURANTE
A SECA 2010-2017............................................................................. 90
4.1 HISTÓRICO DE USO E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO.................... 90
4.2 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS.................................................... 92
4.3 USO E COBERTURA DA TERRA....................................................... 94
4.4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECURSOS HÍDRICOS......................... 102
5 SUBSÍDIOS À CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E AO
ORDENAMENTO TERRITORIAL....................................................... 114
5.1 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE ITAPAJÉ............. 114
5.2 VETORES DE PRESSÃO E TENDÊNCIAS: ELEMENTOS A
CONTROLAR...................................................................................... 122
21

5.3 OS SISTEMAS AMBIENTAIS: CAPACIDADE DE SUPORTE............ 123


5.4 QUALIDADE AMBIENTAL, LIMITES DE TOLERÂNCIA DOS
SISTEMAS AMBIENTAIS E UNIDADES DE INTERVENÇÃO........... 134
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................ 150
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 155
22

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de uma Política Nacional de Ordenamento do Território


(PNOT) pressupõe uma série de estratégias e abordagens em escalas regionais e
locais, que propiciem um direcionamento ordenado, sem que haja baixas taxas de
crescimento socioeconômico de um país, estado ou município. Por outro lado, que
evite o desperdício de recursos naturais.
A concepção de uma Política Conservacionista conjectura o uso adequado
dos recursos naturais, através dos meios que mais se adequem a cada ambiente, sem
degradação. Por outro lado, a conservação, recuperação ou preservação dos bens
naturais requer medidas que trazem implicações políticas, econômicas e sociais
(SOUZA,1988).
Dado o exposto, no Semiárido Brasileiro, os recursos naturais são sempre
condicionantes dos processos de uso e ocupação do território. Assim, a ligação da
sociedade com a terra está integralmente associada ao poder e aos diversos meios
de atividades socioeconômicas. Cumpre ressaltar que o sistema econômico atual
suprime, demasiadamente, essas potencialidades naturais.
Não se pretende expor ideias de uma sociedade vitimizada pelas condições
climáticas, mas sim, levar em consideração os fatores de dimensão geoambiental e
as formas de uso e ocupação da terra no (SAB). Segundo Souza (2006), estas práticas
seculares resultaram em um cenário atual de degradação dos sistemas ambientais,
em alguns casos formando Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASDs), como por
exemplo, Irauçuba e Sertões do Centro-Norte. Esse núcleo é constituído por seis
municípios, incluindo Itapajé.
Dentre os principais problemas ambientais desencadeados nesse núcleo,
destaca-se a degradação dos solos e da cobertura vegetal, com perda alarmante da
biodiversidade, onde os processos erosivos ocorrem em ritmo acelerado (PAE-CE,
2010). Por outro lado, por mais que Itapajé esteja inserido nesse núcleo, o mesmo
não está classificado como área de alta suscetibilidade à desertificação, como é o
caso de Irauçuba, Santa Quitéria, Miraíma e Canindé (CEARÁ, 2010).
O município escolhido para a presente pesquisa é Itapajé, localizado na
região Norte do Ceará, a aproximadamente 124 km da capital Fortaleza. Ver Figura 1.
Segundo o IBGE (2015), sua faixa territorial corresponde à 436,33 km2,
23

compartimentados nos distritos de Itapajé, Pitombeiras, Iratinga, Cruz, Aguaí, São


Tomé, Soledade, Baixa Grande e Serrote do Meio.

Figura 1 – Mapa de Localização do município de Itapajé-Ceará.

Fonte: Elaborado pela autora.

De acordo com Silva (2000), no início do século XIX, o município de Itapajé


era caracterizado pelo predomínio do binômio gado-algodão, que foi a base do
desenvolvimento econômico da região. O município ocupa a parte meridional da Serra
da Uruburetama e os núcleos urbanos se formaram na paisagem acidentada do vale
do rio Caxitoré.
De acordo com Souza e Oliveira (2006), do ponto de vista geoambiental,
os enclaves úmidos e sub-úmidos da serra de Uruburetama estão fortemente
descaracterizados, principalmente, pelo desmatamento indisciplinado para fins de
utilização agrícola e de extração madeireira.
Nessa perspectiva, Oliveira e Carrasco (2003) apontam que essa forte
concentração humana causou uma intensa pressão sobre os recursos naturais,
provocando graves desequilíbrios socioambientais.
24

Levando em consideração esses aspectos, Itapajé destaca-se na


bananicultura, atividade que pode ser um dos fatores atuais que, associada ao manejo
indevido do solo, possa a vir comprometer a vegetação nativa, inclusive em áreas de
nascentes. Em razão dessas ações, podem resultar processos erosivos,
assoreamento dos rios e de barragens.
Nesse contexto, por meio de uma pesquisa que contemplou a bacia
hidrográfica do rio Curú, Gorayeb et al. (2005) afirmam que a caatinga, tanto nas
serras, como nos sertões de Itapajé, encontra-se em níveis fortemente degradados.
Em vista dos argumentos apresentados, emergem algumas perguntas
norteadoras: Qual o comportamento da dinâmica hidroclimática do município de
Itapajé durante a seca 2010-2017? Quais e como foram distribuídos os projetos de
políticas públicas de recursos hídricos no município? Quais os sistemas ambientais e
suas respectivas potencialidades e limitações? Quais os limites de tolerância ao uso
e ocupação que descumprem a legislação ambiental no território municipal? Como os
aspectos legais do ordenamento territorial são geridos no município? Qual o estado
de conservação dos sistemas ambientais? Qual a importância do Estado de
Conservação para a continuidade dessas políticas públicas de recursos hídricos?
Diante dessas questões, coloca-se como objetivo geral da presente
pesquisa de dissertação: propor subsídios à conservação da natureza e ao
ordenamento territorial, dialogando com as políticas de recursos hídricos instituídas
durante a seca de 2010 a 2017, no contexto do município de Itapajé-Ceará. Para
alcançar o objetivo geral proposto, são definidos os objetivos específicos a seguir:

a) Caracterizar os componentes geoambientais com destaque à dinâmica


hidroclimática local durante a seca 2010-2017.
b) Analisar as formas de uso e cobertura da terra.
c) Avaliar as políticas públicas de recursos hídricos implantadas no
território municipal durante a seca de 2010 a 2017.
d) Compreender a qualidade ambiental e os limites de tolerância ao uso e
ocupação dos sistemas e subsistemas ambientais, em consonância
com a legislação ambiental pertinente.

O semiárido brasileiro vem enfrentando uma situação preocupante devido


aos seis anos consecutivos de secas, caracterizando-se com chuvas abaixo da média
25

entre os anos de 2010 a 2017, exceto o ano de 2011. O déficit hídrico ainda repercute
no primeiro bimestre de 2018.
Diante desse cenário, pesquisas científicas tornam-se ainda mais
relevantes, por se tratar de uma das regiões semiáridas mais populosas e povoadas
do planeta. Outro fator a considerar é a necessidade de estudos em escalas
municipais, para melhor detalhar os reflexos sociais das secas e a eficácia, ou não,
das políticas públicas de recursos hídricos tidas como emergenciais.
Por outro lado, a pesquisa contribuirá com os estudos já realizados na
dimensão do maciço de Uruburetama e de pesquisas sobre o núcleo de desertificação
de Irauçuba/Sertões do Centro-Norte.
Destarte, por mais que nesse território municipal não predominem
características marcantes de áreas suscetíveis à desertificação, compreender a
qualidade ambiental e os limites de tolerância ao uso e ocupação dos sistemas e
setores ambientais estratégicos são aspectos cruciais para direcionar cenários
desejáveis à conservação da natureza e ao ordenamento territorial.
26

2 BASES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS

2.1 O FENÔMENO DAS SECAS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Delimitação do Semiárido Brasileiro

Em uma explanação geral, o geógrafo Ab’ Saber (1999) aponta que o


Semiárido é um território físico, ecológico e antropogeográfico, que possui problemas
de ordem natural e social, onde os condicionantes do clima semiárido, propiciaram o
domínio morfoclimático das Caatingas, com temperaturas médias anuais muito
elevadas, baixa umidade, escassez e irregularidade de chuvas, além das ocorrências
de secas prolongadas.
A compartimentação regional é de suma importância para o planejamento
territorial de um país, para assim direcionar as políticas públicas para cada qual,
variando de acordo com suas necessidades peculiares. Dessa forma, para
compreender o conceito de região geográfica, Corrêa (2000) entende que essa é uma
extensão territorial, onde as combinações entre os fenômenos humanos e naturais
conferem-lhe unidade e individualidade.
Nessa perspectiva, uma primeira abordagem para a delimitação da região
de clima semiárido do país se deu através do Polígono das Secas, criado pela Lei
nº175, do ano de 1936. Segundo Brasil (2005), é sugerível a não utilização desse
espaço, como instrumento legal de delimitação das áreas do Nordeste sujeitas às
secas. Ressalva que o Polígono das Secas ainda é utilizado para arrecadação do
Imposto Territorial Rural- ITR, segundo a Lei Nº 9.393, de 19 de dezembro de 1996.
Após a criação do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste
(FNE), no ano de 1989, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE) ficou responsável pela primeira delimitação do Semiárido, com uma área
correspondente a 764.522 km2 de extensão. A metodologia seguida foi a de Lins e
Burgos (1989), na qual o critério considerado foram as isoietas iguais ou inferiores a
800 mm.
Em março do ano de 2005, como base nas conclusões do Grupo de
Trabalho Interministerial, instituído pela Portaria Interministerial N° 6 de 29 de março
de 2004, o Ministério da Integração publicou os critérios de delimitação do SAB:
precipitação pluviométrica média anual inferior a 800 milímetros (isoieta de 800mm);
27

índice de aridez de até 0,5, calculado pelo balanço hídrico que relaciona as
precipitações e a evapotranspiração potencial, no período entre 1961 e 1990 e os
riscos de seca maior que 60%, tomando-se por base o período entre 1970 e 1990
(BRASIL, 2007). Em virtude dos critérios mencionados, a Resolução nº 107/2017, de
23 de novembro de 2017, estabelece a atual delimitação do SAB. Ver Figura 2.

Figura 2 – Localização do SAB, contextualizando com a área de estudo.

Fonte: BRASIL (2017). Resolução nº 107/2017. Elaborada pela autora.

A resolução citada implementou novos municípios no SAB, constituindo


1.262 municípios. No estado do Ceará, o semiárido abrange 95% do território, o
equivalente a 175 dos seus 184 municípios, com exceções: Paraipaba, Paracuru,
Fortaleza, Eusébio, Aquiraz, Pindoretama, Itaitinga, Pacatuba e Maracanaú (BRASIL,
2017).
28

A Seca plurianual 2010 a 2017

Os Sertões possuem o clima seco e, desde a época colonial, é marcado


por secas periódicas registradas. Apesar da semelhança física e socioeconômica que
há entre os estados do semiárido afetados por esse fenômeno, é importante que haja
estudos que priorizem suas especificidades, até mesmo em escala municipal.
De acordo com Ab’ Saber (1999), esse fenômeno ocorre em um período
aproximado de 12 em 12 anos, com intervalos de secas anuais (AB’ SABER, 1999).
Segundo Marengo e Alves (2016), a frequência e duração dos períodos de secas
tendem a aumentar nos climas futuros do SAB. Essa realidade gera preocupações
entre gestores de recursos naturais e formuladores de políticas públicas. Apesar de
não haver registros de mortes humanas desde as secas de 1970, o êxodo rural é um
processo ainda comum nessa região (MARENGO; ALVES, 2016).
Por outro lado, Castro (1992) aponta que o discurso da seca no semiárido
brasileiro foi propagado por meio de uma visão determinista, na qual a natureza
semiárida é o sujeito e a sociedade seu objeto, tornando-se uma sociedade vitimada
pelo seu meio.
Segundo Souza (2006) “por seca entende-se o fenômeno que ocorre
naturalmente quando a precipitação registrada é significativamente inferior aos
valores normais, provocando um sério desequilíbrio hídrico que afeta negativamente
os sistemas de produção dependendo dos recursos da terra” (SOUZA, 2006, p.37).
O fenômeno da seca é classificado em três tipos: Climatológica, que ocorre
quando a pluviosidade é baixa em relação às normais da área; hidrológica, quando a
deficiência ocorre no estoque de água dos rios e açudes; edáfica, quando o déficit de
umidade é constatado no solo (CAMPOS, 2014).
No entanto, é importante levar em consideração os processos históricos de
uso e cobertura da terra do SAB. De acordo com Souza (2006), os sistemas
ambientais do semiárido nordestino ficaram sujeitos à degradação, devido às várias
formas de manejo incorretas do solo através do desmatamento, da extração de
madeira, de queimadas, dentre outras ações. Acredita-se que essas condições,
associadas às insuficiências de políticas públicas de recursos hídricos, tornam maior
a vulnerabilidade às secas no SAB.
O fenômeno das secas não é uma realidade apenas do SAB. Várias regiões
do globo são afetadas por prolongadas secas, expondo a riscos várias populações
29

humanas. Por isso tudo, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) organizou, em


março do ano de 2013, um evento em Genebra, na Suiça, com temática sobre as
políticas públicas nacionais e internacionais aplicadas ao fenômeno das secas, que
contou com a participação de 84 países, inclusive o Brasil. Segundo a OMM (2013),
entre os objetivos do evento destacou-se a importância da criação de redes de
observação nacional e regional dos efeitos das secas.
Em outubro do ano de 2013, a capital Fortaleza-Ceará, sediou o seminário
intitulado “Secas, impactos e respostas: uma análise da seca de 2012-2013”. Segundo
a Agência Nacional das Águas (ANA) (2014), durante o evento foi proposta uma
metodologia de monitoramento e uma rede de informação, nomeada de Monitor de
Secas, de responsabilidade da ANA e em parceria com outros órgãos brasileiros, por
exemplo, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME).
A Figura 3 apresenta o Monitor de Secas no Ceará durante os meses de
julho e dezembro, nos anos de 2014, 2015, 2016 e 2017, contextualizando o Ceará e
o município de Itapajé. Segundo Martins et al. (2015), o Monitor de Secas produz um
mapa mensal que descreve o estado atual da seca em toda a região Nordeste, por
meio de uma metodologia que conceitua diferentes indicadores, sendo o nível de
severidade da seca objeto de validação local, adotando as categorias do Quadro 1:

Fonte: Quadro 1 – Categorias, as quais definem a intensidade de seca no Mapa do Monitor.


Descrição Impactos Possíveis
Seca Fraca Entrando em seca: veranico de curto prazo diminuindo plantio, crescimento de culturas ou
pastagem. Saindo de seca: alguns deficits hídricos prolongados, pastagens ou culturas não
completamente recuperadas.
Seca Moderada Alguns danos às culturas, pastagens; córregos, reservatórios ou poços com níveis baixos,
algumas faltas de água em desenvolvimento ou iminentes; restrições voluntárias de uso de
água solicitadas.
Seca Grave Perdas de cultura ou pastagens prováveis; escassez de água comuns; restrições de água
impostas.
Seca Extrema Grandes perdas de culturas / pastagem; escassez de água generalizada ou restrições.
Seca Perdas de cultura / pastagem excepcionais e generalizadas; escassez de água nos
Excepcional reservatórios, córregos e poços de água, criando situações de emergência.
Adaptado do National Drought Mitigation Center, Lincoln, Nebraska, EUA e Martins et al. (2015).
30

Figura 3 – Mapa do Monitor de Secas no Ceará durante os meses de junho e dezembro, nos anos de 2014, 2015 e 2016.

Fonte: Monitor de Secas (2014, 2015, 2016). Elaborado pela autora.


31

Durante o mês de junho de 2014, após quadra chuvosa, o Ceará


apresentou um quadro predominante de seca moderada, alastrando-se para uma
seca extrema e excepcional em dezembro, inclusive no município de Itapajé.
Em julho de 2015, a região Sul e Centro-Sul do Ceará encontrava-se sob
seca extrema e excepcional, diferentemente da região Norte, que não apresentou
seca relativa. Porém em dezembro, a seca extrema e a excepcional contiveram
praticamente todo o território cearense. No ano de 2016, o quadro se agravou, em
pleno mês de junho já preponderava as secas grave e extrema. Em dezembro de
2016, a seca excepcional e extrema encerrou praticamente todo o Ceará.
Os reflexos da seca 2010-2017 no Ceará ainda são sentidos no ano atual
de 2018, no que tange ao baixo volume hídrico dos principais açudes. Segundo a
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), o volume de suporte
dos reservatórios do Ceará equivale a 20,00 bilhões de m 3, porém, em 2017, o aporte
de armazenamento registrou 1, 75 bilhões m3 e, entre 2012 a 2016, o aporte médio
foi de apenas 0,89 bilhões m3, volume hídrico inferior a 10% da capacidade de suporte,
ver Figura 4.

Figura 4 – Histórico dos aportes hídricos dos açudes monitorados pela Cogerh entre
2010 a 2017, no Ceará.

Fonte: Cogerh adaptado por Sakamoto (2017).

Segundo o Diário Oficial, no ano de 2017, 148 municípios do estado


decretaram situação de emergência, inclusive Itapajé. Ainda convém lembrar a
importância da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil-CEDEC, para o registro das
incidências de riscos e desastres por todo o Brasil. No que tange ao município de
Itapajé, foram registrados, entre 2010 a 2016, oito chamados, variando entre seca e
estiagem.
32

Políticas Públicas de Recursos Hídricos no Semiárido Brasileiro

Em relação às políticas públicas de recursos hídricos, conceito calcado em


ações e práticas para atender à segurança hídrica da sociedade. De acordo com
Campos (2014), a repercussão mundial da Grande Seca de 1877 a 1879 no Nordeste
foi o estopim para a formulação do conceito de políticas públicas de secas, voltadas
para os recursos hídricos. Nesse período, o governo reconheceu as secas como
problema nacional, passando a agir no sentido de solucioná-las.
Segundo Campos (2014), durante a Conferência Mundial do Meio
Ambiente de 1992, a Rio 92, as políticas de secas foram apresentadas em três
capítulos da Agenda 21:

1) O Capítulo 3 trata do combate à pobreza;


2) o Capítulo 12 aborda o manejo de ecossistemas frágeis e a luta contra a
desertificação e a seca;
3) e o Capítulo 18 trata da proteção da qualidade e do abastecimento dos
recursos hídricos com aplicação de critérios integrados no desenvolvimento,
manejo e no uso da água. (CAMPOS, 2014, p. 80).

No contexto geral, essas propostas permitem que cada país adote recursos
e meios para a erradicação da pobreza. No Brasil, vários programas têm sido
implantados em âmbito nacional e estadual. Cabe mencionar o Bolsa Família, o
Programa 1 milhão de cisternas, o Água para Todos e o Seguro Safra (CAMPOS,
2014).
Durante a seca plurianual, Fortaleza recepcionou o “Seminário de
Avaliação da Seca de 2010-2016 no Semiárido Brasileiro”, evento ocorrido entre os
meses de novembro e dezembro do ano de 2016. Retomaram ao debate as políticas
de secas já retratadas na Agenda 21 da Rio 92. Ao final do evento, formulou-se uma
carta com os principais assuntos discutidos, entre eles os impactos negativos que
atingiram praticamente todos os setores da economia, principalmente a agricultura de
sequeiro. (FUNCEME, 2016).
No estado do Ceará, algumas ações em caráter emergenciais e
estruturantes estão sendo adotadas. Segundo Ceará (2015), as ações emergenciais
são essenciais para que a água chegue o mais rápido possível às localidades.
Contudo, essas não se tratam de uma solução efetiva e duradoura.
As ações estruturantes abrangem políticas a médio e longo prazo, que
visem a melhoria da qualidade de vida e segurança hídrica. Segundo Ceará (2015),
33

essas devem contemplar o saneamento básico, o reuso das águas, o apoio ao setor
produtivo e a modernização da gestão das águas, incentivando a geração de
conhecimento e a inovação por meio de estudos e pesquisas, inclusive as ações
ambientais (CEARÁ, 2015). O Quadro 2 apresenta exemplos de ações emergenciais
e ações estruturantes que visam a segurança hídrica no Estado do Ceará.

Quadro 2 – Ações emergenciais e estruturantes de segurança hídrica do Plano de convivência


com a seca do Estado do Ceará, Brasil.

SEGURANÇA HÍDRICA
Ações Emergenciais Ações Estruturantes
Carros pipas Transferência hídrica
Adutoras Sistema de abastecimento de água
Poços Cisternas
Rede de abastecimento Barragens
Transferência hídrica Reuso de água
Controle de demanda
Adutoras
Ações ambientais

Fonte: CEARÁ (2015). Elaborado pela autora.

2.2 ANÁLISE GEOAMBIENTAL

Para melhor compreender a contextualização do SAB, utilizam-se, na


presente pesquisa, conceitos relacionados à Análise Geoambiental. Segundo o BNB
(2005), esse critério é dotado de rigor científico, principalmente por considerar o jogo
de relações mútuas que ocorrem entre os componentes naturais.
Por isso, complementam Souza e Oliveira (2011) que essa abordagem é
pautada na interdisciplinaridade e possui uma finalidade prática precípua de servir
como instrumento técnico de manejo dos recursos naturais, visando à proteção dos
sistemas ambientais.
Segundo Alves, a análise ambiental, do ponto de vista jurídico, tem seu
fundamento no artigo 225, § 1º, inciso IV, da Constituição Federal1. Através do Estudo
de Impacto Ambiental (EIA), as potencialidades e limitações de determinados
ambientes podem ser identificados. Acredita-se que essa abordagem teórico-

1Artigo 225, § 1º, inciso IV - “[...] exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade poten-
cialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental [...]”.
34

metodológica pode ser base para um Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) 2,


completo e interdisciplinar.
Ainda nesse contexto, a Análise Geoambiental é calcada na
fundamentação Geossistêmica. “Os geossistemas acentuam o complexo
geoambiental e, por consequência, a sua dinâmica. (SOUZA; OLIVEIRA;
GRANGEIRO, 2002, p. 27).
De acordo com Bertrand (1969), o Geossistema é um conceito geográfico
e não está isolado dos sistemas socioeconômicos que se sucedem sobre o espaço.
“O geossistema aparecerá agora, por sua vez, como uma estrutura natural funcional
e como um produto do trabalho social” (BERTRAND, 1969, p. 59).
Segundo Guerra (2014), a teoria geral geossistêmica dá uma nova
ferramenta aos estudos da paisagem, tendo por principal característica a dinâmica
sistêmica entre os componentes naturais. Dessa forma, torna-se possível associar as
relações sociedade e natureza. De acordo com Suertegaray (2006), a compreensão
das mediações físico-naturais e sociais auxilia o conceito de expressar a inter-relação
do ser humano com o seu entorno.
Para que possamos melhor compreender um geossistema, tem-se de
avaliar o potencial ecológico, a exploração biológica e a ocupação antrópica (LIMA;
SOUZA; MORAIS, 2000). Por outro lado, entende-se que toda a sociedade está sobre
algum sistema ambiental e a caracterização de cada um é essencial para o
planejamento ambiental de um território, principalmente, em razão de que todos esses
ambientes possuem características naturais, meio ecodinâmico e formas de uso e
ocupação distintas. Desse modo, a delimitação e caracterização dos sistemas
ambientais é fundamental para o próprio processo de reprodução das sociedades e
configura-se como a base para um Zoneamento Ecológico- Econômico (ZEE).
Segundo Souza (2015), nos sistemas ambientais, os componentes naturais
mantêm relações mútuas entre si e estão sujeitos às trocas de matéria e de energia.
Nessa perspectiva, os condicionantes geoambientais são relativos ao suporte
(litotipos, geoformas e águas subterrêneas), ao envoltório (clima e águas superficiais)
e à cobertura (solos e biodiversidade) (SOUZA, 2015).

2 A expressão RIMA refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental. Segundo a resolução


CONAMA N° 1, de 23 de janeiro de 1986, Art. 2°. “Dependerá de elaboração de estudo de impacto
ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental (Rima), a serem submetidos à aprovação do
órgão estadual competente, e do Ibama em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modifi-
cadoras do meio ambiente [...]”.
35

A identificação e a delimitação das unidades geoambientais/ sistemas


ambientais resultam do agrupamento de áreas com relações mútuas entre os fatores
do potencial ecológico (fatores abióticos) e os da exploração biológica (fatores
bióticos). Os subsistemas ambientais/ setores ambientais estratégicos são
indicadores capazes de definir parcelas naturais homogêneas contidas em cada
sistema ambiental (SOUZA, 2015).
Convém destacar uma expressão relevante para a Análise Geoambiental:
a capacidade de suporte dos sistemas e setores ambientais estratégicos. Segundo
Souza, op. cit., essa avaliação tem como referência as potencialidades, que indicam
os pontos favoráveis e atividades compatíveis com os limites de tolerância3 de cada
sistema ou com a qualidade ambiental4. Com as limitações, consideradas o oposto,
ou seja, as deficiências de recursos naturais e das vulnerabilidades ao uso e
ocupação. Souza, op. cit., apresenta alguns exemplos práticos de potencialidade e
limitações, que podem ser identificadas nos sistemas e setores ambientais
estratégicos:
 Potencialidades: boa disponibilidade dos recursos hídricos; solos férteis e
profundos; biodiversidade conservada; topografias favoráveis; paisagens
exóticas; pluviometria regular, atrativos turísticos, etc.
 Limitações: Escassez de recursos hídricos; solos rasos e afloramentos
rochosos; baixa fertilidade dos solos; irregularidade pluviométrica; balanço
hídrico deficitário; sítios urbanos desfavoráveis à expansão das cidades;
processos erosivos ativos; alta suscetibilidade à erosão e baixa resiliência.
De acordo com Souza, op. cit., a denominação dos sistemas ambientais
deve ser feita com base em topônimos do relevo ou pela literatura geomorfológica.
Por exemplo, a depressão sertaneja é um termo geomorfológico, mas também pode
ser utilizado para nomear o sistema ambiental.
Partindo de uma caracterização em nível regional, as condições
geoambientais do SAB são diversas. De acordo com Souza et al. (2006), essa região
possui oito unidades de paisagens geoambientais, cada qual com suas limitações e

3 Segundo Souza (2015), limite de tolerância dos sistemas ambientais é uma expressão que parte da
incidência dos processos morfodinâmicos e pedogenéticos, além de informações sobre o atual estado
dos componentes geoecológicos.

4 “A qualidade ambiental expressa o estado de conservação dos sistemas e setores ambientais e da


biodiversidade, além das tendências da sucessão ecológica, derivando para progressiva ou regres-
sividade”. (SOUZA, 2015, p. 155).
36

potencialidade, dividindo-se em: planaltos sedimentares, depressão sertaneja norte e


depressão sertaneja sul, planalto da Borborema, maciços residuais, chapada
Diamantina e encostas do planalto Baiano, tabuleiros costeiros, planícies costeiras e
grandes planícies fluviais.
Por outro lado, em se tratando de escala de planejamento em dimensão
estadual, exemplificando o Ceará, a compartimentação geoambiental compreende os
seguintes domínios naturais: planície litorânea; tabuleiros costeiros; planícies
ribeirinhas; planalto da Ibiapaba; chapada do Araripe; chapada do Apodi; maciços
residuais: serras úmidas e serras secas e os sertões (SOUZA, 2000, 2007).
Dessa forma, acredita-se que esse conceito aqui exposto será aplicado no
decorrer da pesquisa, porém, em escala municipal, para que haja um melhor
detalhamento das unidades geoambientais. Os conceitos a seguir também serão
cruciais para o desenvolver da metodologia empregada na pesquisa.

2.3 UNIDADES DE INTERVENÇÃO E MEIO ECODINÂMICO

Muito se tem discutido sobre os desafios para o desenvolvimento


sustentável nas sociedades do SAB. De tal modo que minimizar os impactos
negativos, que modificam a dinâmica natural dos ambientes, torna-se importante, até
mesmo para a elaboração dos ZEEs.
Segundo Tricart (1977), a organização do espaço, ou seja, a ação humana
inserida na dinâmica natural, consiste na intervenção em um meio determinado.
Dessa forma, Tricart, op cit., expõe, em sua obra ‘Ecodinâmica’, a noção de
estabilidade morfodinâmica. Esse conceito se aplica ao modelado terrestre, à interface
atmosfera-litosfera, de tal modo que o objetivo dessas relações resulta na pedogênese
(grau de evolução dos solos) e na morfogênese (grau de evolução da estrutura e
processos naturais) dos ambientes, para uma possível reorganização dos territórios.
Dessa forma, Tricart (1977) classificou os ambientes de acordo com sua ecodinâmica:
estáveis, integrades e fortemente instáveis.
Pela observação desses aspectos, compreende-se que a ecodinâmica dos
ambientes e a terminologia intervenção dos ambientes, também conceituada por
Tricart, tornam-se hoje elementar para a compreensão conceitual-metodológica que
dá suporte à tomada de decisões pré-definidas em um ZEE.
37

O fluxograma metodológico do ZEE-MMA (BRASIL, 2003, 2006) aponta as


unidades de intervenção como uma fase do prognóstico das diretrizes metodológicas
do ZEE5. Essas áreas são propostas a partir das potencialidades e limitações de cada
unidade de terras identificadas no diagnóstico, criando condições preliminares para a
formalização das zonas. (BRASIL, 2003, 2006).

As unidades de intervenção são áreas delimitadas em função da correlação


dos produtos sintéticos gerados nas fases anteriores. Correspondem ao
elemento básico resultante da partição do espaço geográfico em função de
características semelhantes que o individualizam em relação às demais
áreas. As diferentes unidades de intervenção constituirão, também, um plano
de informação do banco de dados. Assim, as diferentes unidades de
intervenção serão detalhadas de acordo com sua função, tipo de intervenção
requerida, com prioridades de ações a serem consideradas pelo Governo
Federal e pelos gestores que atuam nas respectivas áreas. ” (BRASIL, 2003,
2006, p. 17).

Souza (2015) complementa que as unidades de intervenção, representam


uma primeira aproximação do zoneamento. Acredita-se que os parâmetros adotados
pela análise geoambiental, principalmente na geografia física, são capazes de
propiciar grandes contribuições para o Zoneamento Ambiental e o Zoneamento
Ecológico-Econômico (ZEE).
No que tange à delimitação dessas unidades de intervenção, Souza, op.
cit. e Souza et al. (2009) consideram que ocorre em função da fragilidade ou do grau
de estabilidade ecodinâmica do ambiente e da capacidade de suporte dos sistemas
ambientais, em face do uso e ocupação do solo, além de considerar os critérios
referentes a legislação ambiental.
Dessa forma, através de pesquisas desenvolvidas na região semiárida,
Souza et al, op. cit., definem as seguintes unidades de intervenção: áreas frágeis com
ecodinâmica fortemente instável; áreas medianamente frágeis com ecodinâmica de
transição e áreas medianamente estáveis com ecodinâmica estabilizada.

5
Parte II - Projeto ZEE Brasil: Diretriz Metodológica<http://www.itcg.pr.gov.br/arquivos/File/4
diretrizes_2006_parte2.pdf>.
38

2.4 CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA PARA O ORDENAMENTO TERRITORIAL

O território é um conceito chave da Geografia, mas também é abordado em


outras áreas do conhecimento, na antropologia, na saúde, nas políticas públicas, etc.
Cada vez mais, esse termo torna-se multidisciplinar. Segundo Santos (2006), de uma
forma bem restrita, o termo território torna-se um nome político e jurídico, que se refere
a uma entidade territorial de um dado país, estado, município e outros.
Segundo Moreira (2006), o ordenamento territorial é uma relação dialética
entre a sociedade e o espaço. Para Soares (2009), o mesmo conceito pode ser
definido por meio de enfoques sociológicos e econômicos.
“A relação da Geografia com o ordenamento territorial se dá, cada vez
mais, de uma forma real e necessária” (ALMEIDA, 2006, p. 349). Dessa forma, a
presente pesquisa destaca o vínculo sociedade-natureza, apresentando as
dimensões sociais e as políticas de ordenamento territorial.
Segundo Morais (2005), o ordenamento territorial visa estabelecer um
diagnóstico geográfico do território, indicando tendências e aferindo demandas e
potencialidades, almejando articular as políticas públicas setoriais, com vistas a
realizar os objetivos estratégicos do governo.
Para Santos (2005), a ordenação do território implica certos tipos básicos
de intervenção, que constituem as etapas do processo de ordenamento: legislar,
elaborar planos e executar os planos aprovados.
Contudo, na ausência de uma Política de Ordenamento Territorial Federal,
a Lei 10.683/03, do ano de 2003, estabeleceu o Ministério da Integração Nacional e o
Ministério da Defesa como os responsáveis pelo Ordenamento Territorial (OT).
Segundo Brasil (2006), o documento Subsídios para a definição da Política Nacional
de Ordenamento Territorial–PNOT é um instrumento que destaca o desafio conceitual
do OT, além de apresentar justificativas para a criação de uma PNOT do Brasil. O
mesmo material difere: ordenamento territorial como um conceito em construção;
gestão ambiental com um viés meramente administrativo e que possui articulações
entre o público e o privado e planejamento territorial como conjunto de diretrizes e
ações políticas programadas (BRASIL, 2006).
De acordo com Brasil, op. cit. dentre os instrumentos de planejamento
territorial vigentes no Brasil destacam-se:
39

Na área ambiental: Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), os Planos


Diretores de Bacias Hidrográficas, os Planos de Manejo de Unidades de
Conservação.
Nas cidades: os Planos Diretores e seus mais variados instrumentos de
gestão territorial urbana.
Nas áreas de assentamento rural: os PDA’s (Projetos Demonstrativos), o
Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do MDA/SDT. (BRASIL,
2006, p. 33).

Segundo o PNOT- Brasil (2006), o conceito operacional de ordenamento


territorial pode seguir:

a) Uma visão estática, como um conjunto de arranjos formais, funcionais e


estruturais de um grupo social ou uma nação.
b) Uma visão histórica, associando a origem dos processos econômicos,
sociais, políticos e ambientais.
c) Uma visão de gestão, que constitui políticas públicas e ações que visem
o equilíbrio regional e a organização física do espaço.

Dá-se destaque ao ordenamento territorial para fins de gestão ambiental.


Para Almeida (2006), são várias as metodologias aplicadas a esta abordagem, porém
uma característica em comum são os mapas temáticos, que servem de base para
avaliações e decisões. Dentre esses mapas destacam-se: mapa de zoneamento
geográfico das unidades ambientais e mapa de zoneamento ecológico- econômico. “
[...] sem o conhecimento do meio físico, cometemos o desordenamento territorial”
(ALMEIDA, 2006, p. 348).
Por outro lado, Brown et al. (1971 apud Almeida, 2006) definiram unidades
geoecológicas, que servem como base para a determinação do grau de atividade que
o ambiente poderia suportar, sem perder a qualidade ambiental. O produto final dessa
metodologia foi o mapa geológico ambiental.
Dá-se destaque à proposta metodológica de Souza (2015), que aponta o
mapeamento dos sistemas ambientais e aplicações práticas para a conservação e o
ordenamento territorial. A Figura 5 indica o fluxograma das etapas metodológicas dos
aspectos tidos com essenciais, para a conservação da natureza e para o ordenamento
territorial.
40

Figura 5 – Fluxograma metodológico dos aspectos avaliados como essenciais para a


conservação da natureza e para o ordenamento territorial.

Fonte: Adaptado de Souza (2015).

Nessa abordagem, a avaliação da capacidade de suporte dos sistemas e


setores ambientais estratégicos evidencia as atividades compatíveis com os limites
de tolerância de cada sistema e a qualidade ambiental, na qual se encontram os
mesmos. Destaca-se a necessidade de classificar os tipos de uso e cobertura da terra,
para, assim, analisar a qualidade ambiental dos sistemas e setores ambientais
estratégicos (SOUZA, 2015).
41

De acordo com Souza, op. cit., qualidade ambiental refere-se ao atual


estado de conservação dos sistemas e setores ambientais estratégicos e às
tendências da sucessão ecológica. Deste modo, Souza, op. cit. faz a seguinte
classificação:
a) Fitoestabilizada: quando predomina remanescentes da vegetação
primária e a sucessão ecológica próximas de características originais,
em estado de preservação, após longo período de pousio.
b) Derivada com dinâmica progressiva: quando ocorre alterações de
parciais a moderadas nas funções dos componentes naturais e a
vegetação encontra-se em sucessão ecológica secundária e a
recuperação dessas áreas pode ocorrer após longos períodos de
pousio.
c) Derivada ou desestabilizada com dinâmica regressiva: quando
ocorrem alterações muito significativas nos componentes naturais,
derivando para níveis muito baixos ou desestabilizados nas sucessões
ecológicas secundárias, tendendo para condições que inviabilizem a
recuperação ou para o estado de degradação.
d) Degradada: quando ocorrem alterações drásticas dos atributos e
funções dos componentes naturais, em que os níveis de qualidade
ambiental são extremamente baixos ou irreversivelmente degradados.

Após essa análise qualitativa dos sistemas e setores ambientais


estratégicos, Souza, op. cit., estabelece limites de tolerância ao uso e ocupação dos
sistemas e setores ambientais estratégicos:
a) Muito baixa tolerância: considera-se os preceitos da Legislação
Ambiental, especificamente as Áreas de Preservação Permanente
(APP) e áreas fitoestabilizadas.
b) Baixa tolerância: considera-se não só o Novo Código Florestal vigente,
mas também áreas de grande importância biológica; maior grau de
conservação, distanciamento de vetores de pressão sobre a
biodiversidade; elevado estado de conservação; remanescentes
florestais de dinâmica ambiental progressiva; nascentes e “olho d’água”
com características naturais.
42

c) Tolerância mediana: considera-se as áreas com solos medianamente


profundos; planícies alveolares; áreas com vegetação parcialmente
suprimida com solos moderadamente conservados e sucessão
ecológica com tendência progressiva; áreas com médio a baixo riscos
de incidência de deslizamento de terra e de blocos rochosos.
d) Alta tolerância: considera-se as áreas dotadas de solos profundos e
medianamente profundos e declives abaixo de 15%; áreas com
estabilidade ecodinâmica ou de transição; áreas com baixo riscos de
incidência de deslizamento de terra e de blocos rochosos; interflúvios
tabulares com solos e vegetação conservadas.

2.5 FASES METODOLÓGICAS E PROCEDIMENTOS TÉCNICO-OPERACIONAIS

A fase dos procedimentos metodológicos, em uma pesquisa acadêmica,


requer o detalhamento dos métodos e técnicas a serem aplicados, para, assim,
almejar os resultados finais.
Desse modo, os procedimentos metodológicos necessitam estar de acordo
com os objetivos da pesquisa. Destarte, a organização do presente estudo baseou-se
nos níveis de abordagem metodológica de Silva (1987 apud SOUZA; OLIVEIRA,
2011).
Na presente pesquisa, estas fases foram seguidas sistemicamente, ou
seja, partindo de uma análise integrada.

1. Analítico – Visa identificar os componentes geoambientais e seus atributos


e propriedades e o contexto socioeconômico;
2. Sintético – Caracteriza-se pelos arranjos espaciais, os sistemas de uso e
ocupação e as organizações introduzidas pelas atividades econômicas;
3. Dialético – Confronta as potencialidades e limitações inerentes a cada
unidade espacial, com as organizações impostas pela sociedade e os
problemas emergentes em face da ocupação e apropriação dos bens
naturais. (SILVA, 1987 apud SOUZA; OLIVEIRA, 2011, p. 51).

Durante a fase analítica foi feita a caracterização dos seguintes


componentes: suporte (litotipos, geoformas e águas subterrâneas); envoltório (clima
e águas superficiais); cobertura (solos, biodiversidade e contexto socioeconômico).
Para analisar a dinâmica espaço-temporal hidroclimática, entre os anos de 2010 e
2016, aplicou-se a metodologia de Monteiro (1976), considerando o comportamento
hidroclimático de anos secos e anos normais. A análise geoambiental sucedeu na
43

delimitação dos sistemas e subsistemas ambientais e nas respectivas capacidades


de suporte e características dominantes, baseando-se na metodologia de Souza
(2000, 2005 e 2015).
Na fase sintética, foi necessário compreender o histórico de uso e
ocupação do município e a dinâmica das atuais classes de uso e cobertura da terra,
para melhor interpretar os arranjos espaciais. Seguidas do levantamento dos aspectos
socioeconômicos da seca, não partindo do pensamento determinista, no qual o
ambiente modifica a sociedade, mas sim, à luz das atividades de uso e ocupação da
terra. Além disso, aferir a eficácia, ou não, das políticas públicas de recursos hídricos
nas comunidades do município de Itapajé.
Em se tratando da fase dialética, a priori foi necessário apresentar
características intrínsecas da legislação ambiental do município. Em relação aos
aspectos tidos como essenciais para a conservação da natureza e para o
ordenamento territorial, foram seguidas as etapas metodológicas propostas por Souza
(2015), detalhadas avante.
Com o propósito de dialogar as relações sociedade e natureza no semiárido
brasileiro, buscou-se compreender as unidade de intervenção, qualidade ambiental e
limites de tolerância ao uso e ocupação dos sistemas e subsistemas ambientais,
visando a importância do ordenamento territorial, almejando a conservação e
recuperação de áreas degradadas e para que as políticas públicas direcionadas ao
SAB sejam dimensionadas por todo o território, principalmente nas áreas prioritárias
do ponto de vista do estado de conservação dos sistemas ambientais, já que o próprio
Plano Estadual de Convivência com a Seca: ações emergenciais e estruturante,
Governo Estadual do Ceará (2015), considera que as ações ambientais, enquadram-
se como política estruturante.
A Figura 6, a seguir, representa, de maneira sistemática, as fazes
metodológicas e procedimentos técnico-operacionais adotados na presente pesquisa.
44

Figura 6 – Fluxograma das fases metodológicas e dos procedimentos técnico-operacionais


utilizados no desenvolver da pesquisa.

Fonte: Elaborada pela autora.


45

2.5.1 Levantamento bibliográfico

O levantamento bibliográfico conduzirá todas as fases da pesquisa, na qual


os materiais impressos e digitais são cruciais para a caracterização do objeto de
estudo e para o levantamento das questões que nortearam a pesquisa.
Além na revisão conceitual destacada anteriormente, foi gerado um
inventário das contribuições de trabalhos acadêmicos e pesquisas desenvolvidas por
órgãos e instituições que abrangeram Itapajé, não necessariamente em escala
municipal.
Através do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UECE
(ProPGeo), destacam-se quatro pesquisas de dissertações que encerram Itapajé e
áreas adjacentes, seguidas de suas contribuições.
Gorayeb (2004) realizou uma análise geoambiental e dos impactos
ambientais na bacia hidrográfica do rio Curu, destacando o nível de desmatamento
das caatingas e das matas ciliares. Apesar da diferença de escala de abordagem,
essa temática auxiliou a compreender a dinâmica das paisagens ao longo do tempo.
Silva (2005) propõe subsídios ao planejamento agrícola na serra de
Uruburetama, baseando-se na análise ambiental. Apesar da diferenciação de escala
de abordagem e escala de mapeamento de 1:200.000, esse trabalho contribuiu
bastante na caracterização dos componentes geoambientais e delimitação dos
sistemas ambientais do município de Itapajé.
Aguiar (2014) ressalta o estado de conservação e capacidade de suporte
dos setores ambientais estratégicos da vertente úmida da serra de Uruburetama.
Destaca-se uma considerável parcela da vertente úmida da serra que inclui Itapajé,
onde são caracterizados o atual estado de conservação inerentes às respectivas
classes de uso e ocupação da terra, além da delimitação de Áreas de Preservação
Permanente (APP).
Damasceno (2016) elaborou um diagnóstico ambiental da sub-bacia do rio
Caxitoré, através de um índice de deterioração físico-natural. Vários afluentes desse
rio nascem e percorrem o território de Itapajé, inclusive uma significativa parcela da
planície fluvial do rio Caxitoré.
Salientam-se outras pesquisas importantes para a caracterização da área,
inclusive em periódicos, a exemplo de Souza, Santos e Oliveira (2012), que enfatizam
os sistemas ambientais e capacidade de suporte na bacia hidrográfica do rio Curu. A
46

pesquisa aponta as irregularidades pluviométricas do semiárido e os índices


deficitários do balanço hídrico durante quase todo o ano, tópico para os próximos
capítulos.
Por outro lado, Oliveira e Souza (2015) evidenciam os solos predominantes
em áreas de experimentação do núcleo de desertificação de Irauçuba- Ce, tornando-
se uma base para o levantamento de solos do município de Itapajé.
Dá-se destaque ao Programa de Ação Estadual de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca-PAE (2006). Essa pesquisa resultou
em um plano de ações para o quadriênio 2010-2013, visando compromissos e
programas voltados para a conservação e preservação dos recursos naturais, dos três
núcleos de desertificação já configurados do Ceará, I Irauçuba Centro-Norte, II
Inhamuns e III Jaguaribe. A presente pesquisa contemplará o município de Itapajé,
pertencente ao núcleo de desertificação de Irauçuba Centro-Norte.
Outra obra importante é o Zoneamento Ecológico-Econômico das áreas
susceptíveis à desertificação do núcleo I- Irauçuba/Centro-Norte, publicada em 2015
pela FUNCEME. Esse documento resultou em um mapeamento de escala de
1:100.000 para cada município que encerra o núcleo, como o mapa dos sistemas
ambientais, o de uso e ocupação da terra, o das unidades de intervenção e o mapa
do ZEE.
Em se tratando da historicidade do município, Silva (2000), em sua obra
‘Sob as vistas do Monge lendário’, realiza um guia detalhando os distritos de Itapajé e
as questões mais relevantes do período do binômio gado-algodão.
Para a sintetização dos dados socioeconômicos do censo (2010) do IBGE,
foi utilizado o perfil básico municipal de Itapajé (2016), elaborado pelo Instituto de
Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE).
O plano estadual de convivência com a seca: ações emergenciais e
estruturantes Ceará (2015), ressalta o contexto geral das políticas públicas
dimensionadas por todo o Ceará. Já para os dados específicos do município, foi
realizado um levantamento através de visitas aos órgãos públicos e organizações:
Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará (SRH), Secretaria de Desenvolvimento
Agrário do Ceará (SDA), a Caritas diocesana de Itapipoca, a Coordenadoria Estadual
de Defesa Civil do Ceará (CEDEC) e a Defesa Civil municipal.
Foram apurados os documentos municipais: Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano (PDDU) de Itapajé (2000) e o Plano Plurianual (PPA)
47

2018/2021, além de visitas à secretaria de Desenvolvimento Agrário e Meio Ambiente


e à secretaria de Cultura, desporto e Turismo de Itapajé.

2.5.2 Levantamento de campo

Essa etapa consistiu na análise empírica da paisagem, bem como na


validação dos dados obtidos na produção cartográfica, aproximando-se da realidade
e para alimentar o Banco de Dados Geográficos de Itapajé. Destaca-se que os dados
primários da pesquisa foram constituídos por meio de entrevistas direcionadas para
enfatizar um olhar para a seca 2010-2016.
Foram realizados oito trabalhos de campo durante toda a pesquisa. A
princípio, o reconhecimento da área ocorreu durante os meses de fevereiro de 2015
e julho de 2016, ou seja, desde a elaboração do projeto de pesquisa. Tornou-se
possível registrar o cenário ambiental onde encontravam-se algumas comunidades
visitadas, à mercê das políticas públicas de recursos hídricos para enfrentar a seca
prolongada. Durante essas atividades de campo, foi feita uma das trilhas da Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mãe-da-Lua, um refúgio da biodiversidade
situada na Serra das Vertentes, limítrofe com o município de Tejuçuoca. Era uma das
poucas “manchas verdes” em meio ao cenário seco da depressão sertaneja.
No mês de julho de 2016, foi feita visita de campo nos distritos serranos
de São Tomé, Aguaí, Cruz e Soledade, além da sede municipal. Especificamente,
para colher pontos das localidades, averiguar as matas ciliares, recursos hídricos,
nascentes e a situação do açude João Lira Magalhães, principal fonte de
abastecimento hídrico da sede municipal.
Durante o mês de dezembro de 2016, realizou-se trabalho de campo em
comunidades dos sertões de Itapajé, especificamente nos distritos de Baixa Grande,
que passava por uma grande crise hídrica. Nessa etapa, foram coletados os primeiros
pontos das obras e políticas públicas de recursos hídricos. Também foi importante
para auxiliar no mapeamento temático, principalmente na identificação das tipologias
de uso.
O quarto trabalho de campo ocorreu no mês de abril de 2017. Percorremos
os distritos de Baixa Grande, Serrote do Meio, Pitombeiras, Iratinga, São Tomé, Aguaí
e a sede Itapajé. Através desse levantamento realizado em plena quadra chuvosa, foi
possível registrar os principais cursos d’água do município, além de coletar pontos de
48

dessalinizadores e poços profundos. Esse campo foi crucial para compreender a


espacialização pluviométrica do município.
Dessa forma, o quinto trabalho de campo ocorreu no dia 31 do mês de julho
de 2017, no final da quadra chuvosa, na qual percorremos o distrito de Soledade e
visitamos a Barragem municipal João Lira Magalhães, período no qual o mesmo
atingiu 99% da capacidade hídrica. No entanto, notou-se um contraste com outros
distritos, onde o armazenamento de água dos açudes não atingia 10% de sua
capacidade. No mesmo mês, o município decreta situação de emergência.
Durante o mês de outubro, foram visitadas as Secretarias de
Desenvolvimento Agrário e Meio Ambiente, além da secretaria de Cultura, Desporto e
Turismo, considerando como a sexta operação de campo.
No mês de dezembro, foram realizados os últimos trabalhos de campo,
visitando os distritos de Serrote do Meio, Soledade e Baixa Grande, com o intuito de
analisar a qualidade ambiental dos sistemas ambientais e visitar as comunidades
atendidas pelo Programa Água Para Todos e o Programa Água Doce.
Por fim, o último trabalho de campo ocorreu em fevereiro de 2018, nas
localidades Lagoinha, Mulungu e Armador, comunidades atendidas pelos programas
já citados.

2.5.3 Estruturação do banco de dados geográficos e elaboração dos mapas


temáticos

A escolha da escala de trabalho depende, em primeira instância, dos


objetivos propostos pela pesquisa e o tamanho da área a ser trabalhada. O
mapeamento temático, especificamente o geomorfológico, o dos sistemas ambientais
e qualidade ambiental, unidades de intervenção e políticas públicas de recursos
hídricos, seguiram a escala de trabalho de 1:25.000, compatível com a dimensão
territorial do município que é 436,33 km2.
Na pesquisa cartográfica foi feito o levantamento de mapas impressos e
dados digitais, nos formatos shapefile e geotiff. Após a coleta, foram estruturados em
ambiente SIG (Sistema de Informação Geográfica), a maioria dos mapas foram
elaborados no software livre Qgis. Os mapas de hipsometria e da espacialização
pluviométrica, foram elaboradas no ArcGIS 10.4.1 for Desktop Student Trial, número
de autorização: EVA302836772. O sistema de georreferenciamento utilizado é a
49

Projeção Universal Transversa de Mercator-UTM. Fuso 24S/Datum: Sirgas 2000. O


Quadro 3 mostra os detalhes operacionais do mapeamento básico e temático.

Quadro 3 – Especificações operacionais dos mapas e figuras, elaborados durante a pesquisa.


(continua)
Mapa Básico
Com o objetivo de representar, espacialmente, os elementos básicos cartográficos e a
localização da área de estudo); Localidades (trabalho de campo, 2016 e 2017); Limites
municipais e distritais (IBGE, 2015); Vias e Recursos hídricos (Imagem de satélite SPOT 5,
Google Earth, 2016 e ALOS SENSOR PALSAR/UAF, 2010, com resolução espacial de 12,5
metros); Áreas urbanas (IBGE, 2010); Curvas de nível com a equidistância de 25 metros.
Mapa de Declividade
Declividade e Relevo sombreado (ALOS SENSOR PALSAR/UAF, 2010); e MDE do satélite
ALOS SENSOR PALSAR/UAF, 2010, com resolução espacial de 12,5 metros.
Através do MDE a declividade da área foi reclassificada em porcentagem (%), para se adequar
aos parâmetros da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA. Para a
obtenção dos dados foi utilizado a caixa de ferramentas na extensão Sextante no módulo
GRASS, especificamente o algoritmo “r-reclass”. A reclassificação agrega os valores dos
pixels, seguindo os intervalos das classes.
Mapa Hipsométrico
Hipsometria e Relevo Sombreado (ALOS SENSOR PALSAR/UAF, 2010) e MDE do satélite
ALOS SENSOR PALSAR/UAF, 2010, com resolução espacial de 12,5 metros.
Mapa de Geologia
Mapa geológico do Estado do Ceará, 2003 (Escala 1:500.000/CPRM); Carta geológica folha
Irauçuba, 2008 (Escala 1:100.000/CPRM); Alvéolos mapeados com detalhes compatíveis a
escala de 1:25.000 (Imagem de satélite SPOT 5/IPECE, 2012, resolução espacial de 2,5
metros; ALOS/SENSOR AVNIR2/IBGE, 2010, resolução espacial de 10 metros) e Relevo
Sombreado (ALOS SENSOR PALSAR/UAF, 2010).
Mapa Geomorfológico
Mapeamento da compartimentação e feições de relevo com detalhes compatíveis a escala de
1:25.000 (Imagem de satélite SPOT 5/IPECE, 2012, resolução espacial de 2,5 metros;
ALOS/SENSOR AVNIR2/IBGE, 2010, resolução espacial de 10 metros); Curvas de nível com
a equidistância de 25 metros e Relevo Sombreado (ALOS SENSOR PALSAR/UAF, 2010).
Metodologia: Projeto RADAMBRASIL (Folha SA.24 Fortaleza,1981).
Localização e vazão dos poços tubulares, e incidências do controle estrutural no
embasamento cristalino e os depósitos aluviais e coluviais
Os poços tubulares foram tabulados e disponíveis pelo Sistema de Informações de Águas
Subterrâneas (SIAGAS), da CPRM. Utilizou-se o método IDW (Ponderação do Inverso da
Distância) para interpolar os dados de vazão dos poços. O arquivo shp das áreas mapeadas
na escala 1:25.000, com planície fluvial e planície alveolar, foram sobrepostas, para
compreender a maior incidência de perfuração de poços nessas áreas, além de sobrepor o
shp do controle estrutural (CPRM, 2003 e 2006), para possíveis investigações de áreas com
potencial a perfuração poço fissural.
Mapa Pluviométrico
Foi utilizado a tabulação da média anual entre os anos de 2001 a 2016, dados disponibilizados
pela FUNCEME, 2001-2016. Após a inserção dos pontos no ambiente SIG, testou-se os
métodos de interpolação dos postos e calculou-se o IDE- Índice de Dependência Espacial. O
método Krigeagem ordinária, modelo esférico, foi o que resultou na forte dependência espacial
entre os dez postos pluviométricos, justificando sua escolha para interpolação e geração do
mapa pluviométrico e das isoietas, com equidistância de 25 mm.
Mapa dos Recursos Hídricos Superficiais
Cursos d'água e corpos d'água, mapeamento compatível com a escala de 1:25.000 (Imagem
de satélite SPOT 5, 2012) e MDE do satélite ALOS SENSOR PALSAR/UAF, 2010, com
resolução espacial de 12,5 metros, auxílio das imagens do Google Earth, 2016 e toponímia do
shape de Bacias Hidrográficas, COGERH, 2008 além de trabalho de campo; Divisores de água
50

(Delimitação automática de bacias, ajustes compatíveis com as curvas de nível com a


equidistância de 25 metros e Relevo Sombreado (ALOS SENSOR PALSAR/UAF, 2010).
Na delimitação automática foi utilizado os algoritmos ‘Terrain Analysis- Hidrology’ e ‘Fill Sinks
(wang e liu) do SAGA 2.1.2 (System for Automated Geoscientific Analyses), uma extensão do
QGIS. As visitas de campo no período chuvoso foram essenciais para coleta de pontos em
passagens molhadas, barragens e açudes e os principais cursos d’água.

Mapa Pedológico
Mapeamento de solos do Ceará,1988 (Zoneamento Agrícola do Estado do Ceará, na Escala
de 1:600.000 elaborado pela SEARA e disponibilizado pelo IDACE); mapeamento dos
Neossolos Flúvicos com escala compatível a 1: 25.000 através da (Imagem de satélite SPOT
5, Google Earth, 2016 e ALOS SENSOR PALSAR/UAF, 2010, com resolução espacial de 12,5
metros). Metodologia: Manual Técnico de Pedologia, 2015.
Mapa dos Sistemas e Setores Ambientais Estratégicos
Mapeamento dos Sistemas e Subsistemas Ambientais com detalhes compatíveis com a
escala de 1:25.000 (Imagem de satélite SPOT 5/IPECE, 2012) resolução espacial de 2,5
metros; (ALOS/SENSOR AVNIR2/IBGE, 2010), resolução espacial de 10 metros e Relevo
Sombreado (ALOS SENSOR PALSAR/UAF, 2010). Material de base: Zoneamento
Geoambiental da Região de Irauçuba. Metodologia: Marcos José Nogueira de Souza.
Mapa de Uso e Cobertura da Terra
Utilizou-se a base cartográfica da FUNCEME (2015), elaborado originalmente com detalhes
compatíveis a escala de 1:100.000, por meio do método de segmentação. As imagens
utilizadas foi o sensor TM do satélite Landsat 5, nas bandas 5, 4 e 3, datadas de jul/2011 e a
imagem RAPIDEYE, resolução espacial de 5 m, datadas de 2012 (FUNCEME, 2015). Para
ajustar-se ao manual de uso e cobertura da terra (IBGE, 2013), a presente pesquisa adaptou
as classes e ajustou manualmente as feições, com o auxílio de pontos coletados nos trabalhos
de campo.
Mapa das políticas públicas de recursos hídricos 2010-2017
Após o levantamento das políticas públicas de recursos hídricos emergenciais e estruturantes,
por meio de visitas aos órgãos e organizações e através da checagem de campo e coleta de
pontos, os dados foram tabulados e gerados três arquivos no formato shp: feição de pontos
referindo-se aos poços, dessalinizadores e sistema de abastecimento de água; feição de
pontos das cisternas de placas, distribuídas pontualmente pelo centroide dos setores
censitários, pelo método de Quebras Naturais (jenks), já que os dados disponíveis pela
Caritas diocesana de Itapipoca, possuíam apenas os nomes dos proprietários e da localidade
situada. Dessa forma agrupou-se a quantidade de cisternas por localidades e depois por setor
censitário. A outra feição refere-se as linhas das principais rotas da operação pipa.
Mapa das áreas protegidas: APPs e RPPN Mãe-da-Lua
Utilizou-se a base cartográfica da FUNCEME (2015). Foram mapeadas apenas as áreas com
declives acima de 45 graus. A escala de mapeamento foi de 1:100.000, sendo adotada uma
unidade mínima de mapeamento. No caso de Itapajé, na escala adotada foram identificadas
pequenas áreas com declives acima de 45 graus, as quais foram descartadas em virtude da
unidade mínima de mapeamento (FUNCEME, 2015). A RPPN Mãe-da-Lua utilizou-se a
poligonal disponibilizada pelo ICMBio.

Mapa das unidades de intervenção


Através do mapeamento dos sistemas ambientais foi possível analisar a ecodinâmica dos
ambientes e agrupa-los seguindo a metodologia de Tricart, 1975, adaptado por Souza (2010).

(Conclusão).
Fonte: Própria autora.
51

Balanço hídrico e dinâmica hidroclimática

Os postos e os dados pluviométricos que abrangem a área de estudo são


monitorados e disponibilizados pela FUNCEME. O município possui três postos
pluviométricos: Santa Cruz, localizado na parte oriental da serra de Uruburetama, na
qual os dados disponíveis são a partir do ano 2001; o posto de Itapajé, localizado nas
proximidades da sede municipal, especificamente em um vale acidentado; o posto de
São Joaquim, localizado na depressão sertaneja, possui dados incompletos de 2015
até 2016. Dessa forma, os dados foram utilizados apenas para o cálculo da média
anual e para a interpolação.
Ao observar as médias pluviométricas do posto de Irauçuba, a 15 km de
distância do posto São Joaquim, nota-se semelhança entre ambos. Dessa forma, o
posto da sede de Irauçuba foi necessário para compreender a dinâmica hidroclimática
dos sertões de Itapajé, por meio da classificação de Monteiro (1976), além da análise
do balanço hídrico.
O período histórico considerado será de 2001 a 2016, correspondendo a 15
anos de análise. Os dados foram tabulados a partir da organização e realização do
tratamento estatístico das informações, com a geração de gráficos e tabelas.
Para a obtenção do extrato do balanço hídrico, inicialmente foram estimados
os elementos de temperaturas médias mensais com a utilização do programa CELINA
(COSTA, 2008). Os dados de precipitação e temperatura foram inseridos na planilha
de balanço hídrico do Departamento de Ciências Exatas, Área de Física e
Meteorologia – DCE – ESALQ / USP (ROLIM E SENTELHAS, 1998), para, assim,
gerar o balanço hídrico correspondente aos postos de Itapajé, Santa Cruz e Irauçuba.
Para a escolha do ano padrão e do ano seco, adotou-se a proposta
metodológica de Monteiro (1976), através do cálculo do coeficiente de variação anual
obtido em porcentagem, a partir dos resultados da média histórica, os totais
pluviométricos anuais e desvio padrão, dados a serem tabulados no Excel. Para os
mapas das isoietas e para o balanço hídrico, considerou-se o ano mais seco e o ano
classificado como normal, na escala temporal de 2010 a 2017. O Quadro 4 apresenta
os critérios a serem adotados para a escolha do ano padrão anual e ano seco.
52

Quadro 4 – Critérios para cálculo do ano padrão.

Ano Padrão (Comportamento Anomalias do Cv


Hidroclimático) e Ano Seco
Ano seco -30 ≥ Cv
Tendente a seco -30 < Cv < -15
Ano normal -15 ≤ Cv ≤ 15
Fonte: Monteiro (1976).

Entende-se que a dinâmica hidroclimática do município de Itapajé é


diversificada, de tal maneira que a escolha metodológica de anos padrões exigiu
critérios pré-definidos para a escolha espaço-temporal na qual findaram a pesquisa.
O ano de 2012, por exemplo, Marengo et al (2016) afirmam que foi o ano mais seco,
dentre o período da seca plurianual de 2010-2015. Segundo os mesmos, de 1961 a
2012, as maiores secas registradas no semiárido, do ponto de vista hidroclimático,
foram a dos anos de 1998 e 2012. Porém, na área de abrangência do posto de Santa
Cruz em Itapajé, o ano de 2012 não entrou na classificação de ano seco, apenas
tendeu a seco.
Um outro exemplo, é o ano de 2017, no qual a média pluviométrica de
Santa Cruz atingiu 1.116 mm, classificando-se como ano normal; a média de Itapajé
atingiu 931,2 mm, classificando-se como ano tendendo a chuvoso e em Irauçuba a
média foi 338,2 mm, classificando-se como ano seco. Desse modo, o ano seco
adotado foi 2010 e ano normal 2016. O Quadro 5 apresenta a aplicação do coeficiente
de variação anual e a classificação de Monteiro (1976).

Quadro 5 – Classificação de anos padrão nos postos pluviométricos adotados entre


os anos de 2001 a 2016.

Fonte: FUNCEME, 2016; metodologia de Monteiro 1976. Elaborado pela autora.


53

Qualidade ambiental e limites de tolerância ao uso e ocupação dos sistemas e setores


ambientais estratégicos.

A qualidade ambiental expressará o atual estado de conservação dos


sistemas ambientais, dando ênfase à biodiversidade, às tendências da sucessão
ecológica e à capacidade de recuperação e /ou restauração. É nessa fase que serão
estabelecidos limites de tolerância ao uso e ocupação dos sistemas e setores
ambientais estratégicos. Avaliaram-se as relações sociedade e natureza no SAB,
dialogando com as políticas públicas de recursos hídricos e apontando subsídios à
conservação da natureza e ao ordenamento territorial.
Para aplicar a metodologia de Souza (2015), o mapeamento dos sistemas
e subsistemas ambientais, o mapa de uso e cobertura da terra e o mapeamento das
áreas protegidas, além do contexto da legislação ambiental do município, auxiliaram
na análise qualitativa da qualidade ambiental e limites de tolerância ao uso e ocupação
dos sistemas ambientais. Criou-se uma tabela, associando a qualidade ambiental e
os limites de tolerância dos sistemas ambientais. Para detalhar o atual estado de
conservação, o trabalho de campo foi crucial para a identificação de áreas com
tendência à sucessão e regressão ecológica e outras com capacidade rápida,
mediana ou longa de recuperação, justificando-se a definição de setores ambientais.
As unidades de intervenção foram delimitadas paralelamente, correlacionando as
informações.
54

3 CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITAPAJÉ

O município de Itapajé está incluso na Região do Semiárido Brasileiro.


Encontra-se inserido na região de planejamento do Litoral Oeste / Vale do Curu, como
indica a Figura 7, delimitada por critérios ambientais e socioeconômicos para
aplicações administrativas instrumentalizadas pelo setor público, do exercício do
poder regulatório do Estado do Ceará ou, por exemplo, da implementação de políticas
públicas (IPECE, 2015). O Mapa 1 refere-se à cartografia básica de Itapajé.

Figura 7 – Localização da Região de Planejamento do Litoral Oeste / Vale do Curu e sua


inserção no Semiárido Brasileiro, Ceará.

Fonte: IPECE (2015). Elaborada pela autora.


55

Mapa 1- Mapa Básico de Itapajé

Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do município de


Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos hídricos
56

A cartográfica básica atualizada do município apresenta os limites


municipais, distritais e os pontos de localidades visitadas durante a pesquisa de
campo. O município abrange uma área de 436,33 km2 distribuída em nove distritos.
Os principais acessos à sede municipal são: a BR-222, para quem vem no sentido
Fortaleza; pela CE-243, que interliga Itapajé a Uruburetama e a CE-168, interligando
Itapajé e Itapipoca. Identificaram-se alguns sinais convencionais associados às
características naturais do município, como as curvas de nível (25 m), cursos d’água
e corpos d’água. Dessa forma, o mapeamento referido detalhou caracteres essenciais
do território municipal, auxiliando na interpretação do mapeamento geoambiental e na
contextualização socioeconômica.
No que tange aos critérios tidos como essenciais para a caracterização
geoambiental, destacam-se a multidisciplinaridade e o inter-relacionamento, ambos
associando os componentes de suporte, envoltório e cobertura.

3.1 LITOTIPOS, GEOFORMAS E ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

A Litosfera, camada de suporte da terra, foi formada por séries de


processos endógenos e exógenos, resultando na morfoestrutura e geoformas, em
constante evolução. A litologia é o componente natural mais antigo, na qual os demais
elementos posteriormente se desenvolvem, como as feições de relevo e o potencial
hidrogeológico. A caracterização dessas, tanto em escala regional como nas locais,
precisa de estudos detalhados, que resultem em uma compartimentação capaz de
subsidiar diferentes obras de infraestrutura, além de subsidiar o planejamento de
áreas urbanas e rurais.
O município de Itapajé está inserido na porção noroeste da Província
Borborema, especificamente no domínio geotectônico Ceará-Central. Limitado a
oeste pelo Lineamento Transbrasiliano e a leste pelo Lineamento Senador Pompeu.
Esse domínio é subdividido, segundo Arthaud et al. (2015), em quatro principais
unidades lito-estruturais: núcleo arqueano; embasamento paleoproterozóico;
cobertura neoproterozóica, representada pelo Grupo Ceará e o Complexo Tamboril-
Santa Quitéria. A área em estudo está representada pelo Complexo Ceará e pelo
Complexo Tamboril - Santa Quitéria. O Mapa 2 apresenta o mapeamento geológico
baseado na junção de duas bases cartográficas da CPRM (2003 e 2008).
57

Mapa 2- Geologia do município de Itapajé

Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do município de


Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos hídricos
58

O mapa acima permitiu identificar as unidades litoestratigráficas, litotipos e


outras informações relacionadas à Geologia, como os lineamentos estruturais,
fraturas e zonas de cisalhamento, espacializadas no município de Itapajé.
Em relação aos domínios morfoestruturais e sua cronologia, Souza (1988)
afirma que os domínios dos escudos e maciços cristalinos se materializam na
depressão sertaneja, cristas / inselberg e nos maciços residuais, datadas do pré-
cambriano. Os domínios de coberturas sedimentares do cenozóico são delineadas por
formas de acumulação recente, evidenciando as planícies.
Por outro lado, um mapeamento geomorfológico requer diversas
atribuições técnicas e conhecimentos interdisciplinares. O Projeto RADAMBRASIL foi
um forte instrumento metodológico para a interpretação e caracterização dos recursos
naturais do Brasil. Destarte, ao se tratar de mapeamento geomorfológico, o mesmo
ainda hoje é referência no país. Segundo Barbosa et al. (1984), durante a quarta fase
do Projeto RADAMBRASIL, constatou-se a necessidade de ordenar os fatos
geomorfológicos mapeados, seguindo uma taxonomia hierarquizada, assim definidas:
domínios morfoestruturais; regiões geomorfológicas; unidades geomorfológicas e
tipos de modelados, além da letra símbolo, indicando as categorias de formas.
Levando em consideração estes aspectos, foi elaborado o mapeamento
geomorfológico do município de Itapajé, na escala de 1:25.000. O Mapa 3 exibe as
referidas taxonomias geomorfológicas no contexto do município, assim delimitadas:
Planícies, formas de acumulação de letra símbolo (A), representando 10%
do território municipal, distribuídas na planície fluvial (Apf) e na planície
alveolar (Apa).
Maciço residual da serra da Uruburetama, formas dissecadas de letra
símbolo (D), representando 65% do território municipal, distribuídas nas
vertentes: norte-oriental; centro-ocidental e ocidental.
Depressão sertaneja, formas erosivas de letra símbolo (E), apresentando
25% do território municipal, distribuídas nas seguintes feições: inselbergs e
cristas residuais; superfície de pedimentação aplainada; superfície de
pedimentação dissecada.
59

Mapa 3- Geomorfologia do município de Itapajé

Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do município de


Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos hídricos
60

Domínio dos depósitos sedimentares / Planícies

Nas coberturas sedimentares do Quartenário, destacam-se as aluviões


(NQc), constituídas por sedimentos argilo-arenosos, cascalhos e conglomerados,
onde formaram-se as planícies fluviais e alveolares. Segundo Souza (2000), as
planícies fluviais são áreas encravadas na depressão sertaneja, áreas planas e que
resultaram da acumulação fluvial, sempre bordejando as calhas dos rios. A Figura 8
apresenta, respectivamente, a planície fluvial do riacho Pedra d’água e a planície
fluvial do rio Caxitoré, com exposição de sedimentos aluviais. Ambas foram
registradas durante a 1º quadra chuvosa de 2017. O potencial hidrogeológico desses
ambientes propicia a instalação das conhecidas “cacimbas”, abundantes no território
de Itapajé.

Figura 8 – Planície fluvial do riacho Pedra d’água, em abril de 2017 (A) e planície do rio
Caxitoré, em dezembro de 2017(B), Itapajé Ceará. Ambientes com coberturas sedimentares e
áreas com alto potencial hidrogeológico.

A B

Fonte: Própria autora.

Ainda se tratando de coberturas sedimentares, destacam-se as planícies


alveolares, ambientes recobertos por sedimentos aluviais e coluviais, que se
desenvolvem nas áreas de suavização topográfica dos vales entalhados por
drenagem superficial, que exibe forte controle estrutural. Quando ocorre essa
suavização, a diminuição do gradiente dos rios favorece a ocorrência dos processos
de sedimentação (SOUZA; OLIVEIRA, 2006).
61

A Figura 9 é representada por áreas com ocorrências de planícies aluviais,


respectivamente: na localidade Pedra d’água, os colúvio-aluviões destacam-se em
meio ao escudo cristalino, com altitudes de no máximo 145 m; na localidade da Baixa
Grande, a planície encontra-se encravada na Vertente Centro-Ocidental, na porção
subúmida e platô do maciço da Uruburetama, em altitudes superiores a 600 m.

Figura 9 – Planícies de acumulação com coberturas sedimentares alúvio-coluviais em


ambientes de altitudes distintas, porém com o mesmo potencial hidrogeológico. Localidade
Pedra d’água, em abril de 2017 (A) e Baixa Grande, em dezembro de 2017 (B), Itapajé-Ceará.

A B

Fonte: Própria autora.

Tratando-se do potencial hidrogeológico e de sua exploração através de


poços tubulares, o Sistema de Informações de Águas Subterrâneas-SIAGAS, do
Serviço Geológico Brasileiro-CPRM, é uma importante base de dados cartográficos
para o conhecimento hidrogeológico do país, tornando possível a execução de
projetos hídricos em ambientes públicos e privados.
De 1998 a 2014, o SIAGAS registrou no município de Itapajé um total de
305 poços tubulares. Com a predominância de terrenos cristalinos, as águas
subterrâneas são escassas. Dominam nos depósitos alúvio-coluviais e nos aquíferos
fissurais, este último incluindo no embasamento cristalino. Na Figura 10, nota-se que
os poços são mais representativos nos depósitos coluviais e aluviais, devido à alta
permoporosidade das rochas sedimentares.
62

Figura 10 – Localização e vazão dos poços tubulares e incidências do controle estrutural no


embasamento cristalino e os depósitos aluviais e coluviais, Itapajé-Ceará.

Fonte: Poços: SIAGAS, 2017; Controle estrutural: CPRM, 2003 e 2008. Elaborada pela autora.

Segundo os dados do Serviço de Informação de Águas Subterrâneas


(SIAGAS), a profundidade média dos poços tubulares, representados a seguir, é de
67,47 m. Segundo Alievi et al (2012), o tipo de rocha é crucial para a profundidade
máxima atingida por um aquífero. As rochas sedimentares expõem porosidade em
grandes profundidades, determinando a capacidade de armazenamento da água nas
rochas, em seus poros, fendas ou capilares. É o caso das planícies fluviais e
alveolares.
Constatou-se que, na maior extensão do município, sobrelevam vazões
que não ultrapassam 2,55 metros cúbicos por hora. Os poços com vazões entre 2,55
a 6 m3/hora estão localizados, em sua maioria, ao sul do município, por exemplo, na
planície fluvial do rio Caxitoré. A maior concentração de poços é na sede municipal de
63

Itapajé, em razão do adensamento populacional e da demanda do comércio e


indústria calçadista. As localidades com menor potencial hidrogeológico localizam-se
no distrito da Baixa Grande, onde a perfuração de poços, em sua grande maioria, não
ultrapassa a vazão de 2 m3/hora. Em algumas localidades, como o Jorge, oito poços
registraram 0,33 m3/hora, em uma profundidade de 87 m.
Nota-se, ao sul do município, uma área com vazão de 4-6 m3/hora bem
expressiva, especificamente na localidade Prainha, no distrito de Iratinga. A área
compreende planície alveolar e coincide com a existência de zonas de cisalhamento
compressional e fraturas.

Domínio dos escudos e maciços antigos / Maciço residual da Serra da


Uruburetama

Os maciços residuais são gerados por processos de erosão diferencial e


são sustentados por rochas graníticas e quartzíticas, pois são mais resistentes aos
processos erosivos em relação ao embasamento cristalino / depressão sertaneja
(BRANDÃO, 2015).
Com base nas características morfoclimáticas, foi possível delimitar três
feições de relevo: Vertente Norte-Oriental e Vertente Centro-Ocidental, ambas
pertencentes à unidade dos granitoides Santa Quitéria, constituído por granito,
granodiorito e quartzo sienito; Vertente Ocidental, localizada à sotavendo da serra,
onde predomina a unidade Tamboril-Santa Quitéria, com litologias de gnaisses e
metatexisto.
Em se tratando do potencial hidrogeológico, Alievi et al. (2012) ressaltam
que essas rochas possuem baixa capacidade de armazenamento de água, diminuindo
conforme a profundidade, devido ao fato da rocha tornar-se mais maciça e com menor
quantidade de fendas. Os poços tubulares perfurados em localidades do platô da
serra, por exemplo, Camará, Santa Cruz, Soledade e Jardim, apresentaram vazão
entre 0,5 a 2 m cúbico por hora. As rochas fissuradas são passíveis de detectar águas
armazenadas próprias para o consumo, pois os altos teores de salinidade inviabilizam
o consumo humano.
Segundo Souza et al. (1979), as vertentes orientais são, via de regra,
submetidas aos efeitos de maiores precipitações, expondo as encostas de barlavento.
Nas vertentes úmidas e subúmidas a dissecação ocorre em formas de topos aguçados
64

ou convexos. A morfogênese química predomina nesses ambientes, também


chamados de brejo de altitudes, quando posicionados mais próximos do litoral.
Por outro lado, nas vertentes secas os processos estão associados à
morfogênese física, onde a desagregação mecânica das rochas propicia um forte
acúmulo de matacões de rochas metamórficas e graníticas nas vertentes íngremes,
destacando solos pouco profundos e rasos (SOUZA et al., 1979).
O maciço residual da serra da Uruburetama possui formas dissecadas em
cristas, colinas, lombas alongadas, vales em forma de V e planícies alveolares.
(SOUZA; OLIVEIRA, 2006). A Figura 11 apresenta feições dissecadas da Vertente
Centro-Ocidental no distrito da Baixa Grande, entre cotas altimétricas de 500 a 835
m.

Figura 11- Feições dissecadas na Vertente Ocidental da serra da Uruburetama, localidades


Baixa Grande (A) e Boa Vista (B), em dezembro de 2017, Itapajé-Ceará.

A B

Fonte: Própria autora.

Segundo Moreira e Gatto (1981), ao norte da localidade Baixa Grande, o


relevo é mais compacto, com médias altimétricas de 850 m, entalhado por vales
profundos e encostas íngremes, cortadas por vales em sentido transversal. O trabalho
citado refere-se à caracterização geomorfológica da folha AS.24 Fortaleza, do projeto
RADAMBRASIL. Através da figura acima é possível verificar o nível de detalhamento
supracitado, em que a dissecação da Vertente Ocidental coincide com o entalhamento
dos vales e a suavização topográfica propicia o adensamento populacional.
65

O Sul da vertente centro-ocidental difere do restante do maciço. Os relevos


mostram-se menos dissecados. A Figura 12 apresenta a dinâmica das feições dessa
vertente, intercaladas por planícies alveolares.

Figura 12- Feições da Vertente Centro-Ocidental distanciada do modelado dissecado do


maciço, intercaladas por depressão sertaneja e planície alveolar, localidade Pedra D’Água, em
julho de 2012, Itapajé-Ce.

Fonte: Própria autora.

Domínio dos escudos e embasamento/ Depressão sertaneja

Entre as áreas elevadas do Maciço de Uruburetama, formaram-se zonas


aplainadas, onde os processos denudacionais suplantaram os agradacionais,
formando vastas superfícies erosivas e pediplanadas.
A depressão sertaneja apresenta mudanças de natureza litológica e
edáfica, superfície de erosão truncando diferentes tipos de rochas e expondo variadas
associações de solos. O aplainamento é desenvolvido por processos de pediplanação
associados à semiaridez. A dinâmica morfogenética da depressão sertaneja está
correlacionada com as condições climáticas e com a cobertura vegetal (SOUZA et al.,
1979).
No que concerne aos aspectos geológicos, essas feições estão inseridas
no Complexo Ceará, com as seguintes unidades litoestratigráficas: unidade Canindé,
(litologia preponderante de paragnaises e granitódes); unidade Independência,
(constituído por micaxisto, paragnaisses e quartzitos); unidade Ceará, (constituída por
66

metacalcários) e unidade Tamboril-Santa Quitéria, (composta por anfibiolito, gnaisse,


rochas calcissilicática), etc.
Em se tratando do potencial hidrogeológico, Alievi et al. (2012) ressaltam
que essas rochas possuem baixa capacidade de armazenamento de água, diminuindo
conforme a profundidade, devido ao fato da rocha tornar-se mais maciça e com menor
quantidade de fendas.
Na área de estudo, foi possível caracterizar três feições na depressão
sertaneja: superfície de pedimentação aplainada; superfície de pedimentação
moderadamente dissecada; inselbergs e cristas residuais. A Figura 12 apresenta a
superfície moderadamente dissecada no distrito de São Tomé e a superfície aplainada
no distrito da Baixa Grande.

Figura 13 – Formas erosivas oriundas de processos de pedimentação, eventualmente com


feições moderadamente dissecadas e aplainadas, com ocorrências de cristas e inselbergs,
localizadas nos distritos de São Tomé (A) e Baixa Grande (B), Itapajé-Ceará.

A B

Fonte: Própria autora.

As altitudes da depressão sertaneja variam entre cotas de 100 a 225 m. As


formas erosivas que apresentam a superfície de pedimentação aplainada possuem
altitudes que não ultrapassam 150 m. Nessas áreas, os processos de pediplanação e
o recuo paralelo da vertente ocidental subúmida seca foram mais atuantes em razão
do efeito de sotavento do maciço de Uruburetama, associados também à erosão das
chuvas, por mais que sejam escassas e irregulares.
A superfície de aplainamento com inselbergs e cristas residuais formam o
piemont, ou seja, superfície de piso, modeladas pelos agentes erosivos. Considerando
67

os ciclos erosivos em climas secos, observa-se que, na depressão sertaneja, ocorrem


extensas superfícies aplainadas interrompidas por relevos isolados, compostos por
maciços residuais e pequenas cristas e inselbergs isolados (BÉTARD et al., 2007).
Ver Figura 14.

Figura 14 – Formas erosivas em feições de cristas e inselberg, inseridos em meio a depressão


sertaneja, localidade Jorge, no município de Itapajé-Ceará.

Fonte: Própria autora, dezembro de 2016.

De acordo com Souza et al. (1979), as cristas são geralmente ambientes


despidos de solos ou de vegetação e, quando a pedogênese se efetiva, conduzem à
formação de Neossolos Litólicos. O potencial hidrogeológico desses ambientes é
baixo, exceto em áreas com rochas fissurais e a presença de fraturas e lineamentos,
como apresenta-se na localidade Camorim, com vazão que atinge entre 2 a 2,55 m
cúbico por hora.
O Modelo Digital de Elevação (MDE) foi crucial para compreender a
dinâmica das feições do relevo terrestre. Segundo Chagas (2010), os MDEs são
visões simplificadas da realidade e os erros são inevitáveis, no entanto, com o avanço
das geotecnologias e do sensoriamento remoto, a qualidade desses instrumentos de
análise do modelado terrestre estão cada vez mais evoluídos.
O MDE, visualizado no Mapa 4, subsidiou a extração das curvas de nível e
a interpretação da drenagem superficial, além de gerar a declividade do município.
Em relação à hipsometria, observou-se que os ambientes serranos atingiram cotas de
até 1.065 m. No entanto, o IPECE (2010) identificou uma cota máxima de 1085 metros,
68

considerando o quarto maior pico do estado do Ceará, o Morro do Coquinho,


localizado na divisa dos municípios de Itapajé e Itapipoca.
A partir do MDE, foram geradas as classes de declividade representadas
no Mapa 5, baseando-se em metodologia da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária-EMBRAPA, (2004). Ressalta-se que o conhecimento adequado da
declividade permite elaborar cenários com diversas aplicações e restrições, como as
Áreas de Preservação Permanente (APP), Lei 12. 727/2012, que foram estabelecidas
a partir de critérios geomorfológicos, principalmente as áreas de encostas, segundo o
art. 4°, inciso V, da Lei 12. 727/2012, são vertentes ou partes destas com declividade
superior a 45°, o equivalente a 100% na linha de maior declive.
O detalhamento do declive do terreno auxilia na construção civil e em outras
diversas formas de uso. A EMBRAPA, por exemplo, considera a declividade do relevo
como fator limitante à suscetibilidade à erosão do solo. Nessa perspectiva, a
caracterização de cada classe de declividade é assim definida:
Relevo plano: terras que apresentam suscetibilidade à erosão
insignificante, onde os solos ocorrem em relevo plano (0-3%) (PEREIRA E NETO,
2004). Na depressão sertaneja do município de Itapajé, semelhante ao que ocorre em
várias regiões do semiárido, o relevo plano é uma potencialidade, mas os tipos de uso
e ocupação da terra acarretam várias limitações ao ambiente. O desmatamento das
caatingas associado às queimadas são práticas que tornam o solo suscetível à
erosão, processo este acelerado durante as chuvas torrenciais. Em Itapajé, o relevo
plano representa uma área aproximada de 47,29 km2, equivalente a 11% do território.
Relevo suave ondulado: terras com discreta suscetibilidade à erosão, onde
os solos ocorrem em relevo suave ondulado (3-8%), admitindo-se uma erodibilidade
moderada (PEREIRA E NETO, 2004). Abrange uma área de aproximadamente 85,14
km2, correspondendo a 30% do território municipal.
Relevo ondulado: superfície pouco movimentada, exibindo declives
acentuados (8-13%), representando a maior extensão, aproximadamente 157,44 km 2,
o que equivale a 37% do território.
Forte ondulado: terras que apresentam acentuada suscetibilidade à erosão
(20-45%) (PEREIRA E NETO, 2004). Abrange uma área de aproximadamente 85,14
km2, representando 20% do território municipal.
69

Montanhoso: terras com suscetibilidade à erosão muito acentuada (45-


75%) (PEREIRA E NETO, 2004). Representam uma área de 7,56 km 2, equivalente a
2% do território.
Escarpado: nessas declividades, os riscos ambientais são extremos
(>75%) (PEREIRA E NETO, 2004). Abrange uma pequena área de 0,57 km2,
equivalente a 0,001%.
70

Mapa 4- Hipsometria do município de Itapajé.

Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do


município de Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos
hídricos
71

Mapa 5- Declividade do município de Itapajé.

Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do município de


Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos hídricos
72

3.2 CLIMA E ÁGUAS SUPERFICIAIS

O clima e as águas superficiais referem-se ao componente do envoltório,


que mantêm relações mútuas com o suporte e a cobertura (SOUZA, 2015). Para o
conhecimento do clima de uma determinada área é necessário compreender o
mecanismo e a dinâmica das chuvas, bem como os sistemas de circulação atuantes
na região de estudo. Há estreita relação do clima local com as águas superficiais.
Esses componentes naturais têm suma importância para a manutenção da vida e o
desenvolvimento socioeconômico.
Segundo Xavier (2001), a medida da chuva, a temperatura e a umidade,
integram os elementos climáticos supostos como básicos. O município de Itapajé
possui características climáticas próprias da região semiárida do Nordeste.
Entre os mecanismos responsáveis pelos fenômenos meteorológicos em
escala de macroclima, Zanella e Sales (2011) destacam: Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT); Sistemas Frontais e El Niño / Oscilações Sul (ENOS). Na escala
de mesoclima, predominam: Linhas de Instabilidade (LI); Perturbação Ondulatórias
nos Alísios (POA); Complexos Convectivos de Mesoescala (CCMs) e os Vórtices
Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN). Na escala de microclima: Brisa Marítima, Brisa
terrestre e Circulação Orográfica.
Dar-se-á destaque à Circulação Orográfica. Segundo Ayoade (2003), a
precipitação orográfica é associada à elevação do ar úmido sobre altitudes, seja em
relevo de serras, planaltos ou montanhas. Esse mecanismo meteorológico, associado
a esses relevos, depende também da estabilidade atmosférica, da umidade da massa
de ar e do alinhamento relativo aos ventos que trazem as chuvas. Na área de estudo,
o sentido dos ventos é de leste para oeste, caracterizando o platô úmido do maciço
de Uruburetama e a vertente delimitada como Norte-Oriental.
Pela observação dos aspectos analisados, tornou-se necessário traçar o
perfil pluviométrico de Itapajé, através da série histórica de quinze anos em três postos
pluviométricos. O intervalo de tempo escolhido foi determinado pela disponibilidade
dos dados, equivalentes aos anos de 2001 a 2016, dos respectivos postos: Irauçuba,
localizado na depressão sertaneja, em situação geográfica de sotavento da serra, com
altitude de 120 m; Itapajé, localizado na planície alveolar com altitude de 200 m, a
aproximadamente 600 m de distância da sede municipal; Santa Cruz, localizado na
vertente Norte-Oriental da serra, em altitude de 600 m.
73

Segundo dados da FUNCEME (2017), a média da série histórica de trinta


anos do posto de Itapajé, equivale a 844,6 mm. Esta observação abrange os anos de
1988 a 2017. A Figura 14 apresenta a média pluviométrica ao longo de quinze anos
no município de Itapajé, também considerando os dados do posto de Irauçuba.

Figura 15 – Média anual da série histórica de 2001 a 2016 nos postos de Itapajé, Santa Cruz e
Irauçuba, Ceará.

Média anual (mm) na série histórica de 15 anos


1500
1154

1000 800
497
500

0
Itapajé Santa Cruz Irauçuba

Fonte: Elaborado pela autora, baseado na FUNCEME (2017).

A localização dos postos foi crucial para compreender a dinâmica


pluviométrica do município de Itapajé, considerando-se que o posto de Irauçuba e
Itapajé se enquadram nas isoietas com valores inferiores ou iguais a 800 mm,
atendendo um dos critérios tidos como base para delimitação do SAB. Os dados do
posto de Santa Cruz refletem-se nas condições pluviométricas favoráveis dos
chamados ambientes de exceção, ou de brejos de altitudes, inseridos no contexto do
semiárido.
Além da quantificação e interpretação dos postos acima apresentados, foi
necessário tabular a média pluviométrica dos municípios limítrofes: Apuiarés,
Pentecoste, Umirim, Tejuçuoca, Miraíma, Itapipoca e Uruburetama. Assim, fez-se
espacializar, no Mapa 6, a média pluviométrica aproximada dos anos de 2001 a 2016.
As representações de amostras pontuais são dadas por diversos métodos
de interpolação. Que apresetou menor erro quadrático médio (EQM) e alto índice de
dependência espacial. Segundo Anjos (2017), essa estimativa geoestatística
considera a variabilidade local e global, procurando minimizar os efeitos inferenciais.
74

Mapa 6- Pluviometria

Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do


município de Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos
hídricos
75

O posto pluviométrico de Irauçuba, apresentou, na série de quinze anos,


uma média anual de 497 mm e o posto São Joaquim, no distrito de Baixa Grande em
Itapajé, com apenas doze anos de série histórica completa, registrou uma média de
515 mm, ou seja, ambos com valores inferiores às médias apresentadas na legenda
do mapa pluviométrico. O resultado diferenciado desse método não considerou
apenas o raio de circunferência do posto, mas sim de todo o seu entorno. Por meio
do Índice de Dependência Espacial (IDE) dos postos pluviométricos, foi possível
verificar que os dez pontos interpolados resultaram em uma forte dependência
espacial, equivalente a 75,37%.
Em relação às condições geográficas do mapa pluviométrico, observa-se
que área norte-oriental do maciço de Uruburetama apresenta uma média
pluviométrica 890 a 1.010 mm. Em anos chuvosos, como o de 2009, a média atingiu
1.844 mm. Em relação às condições edáficas, ocorrem Argissolos Vermelhos-
Amarelos e a vegetação.
As médias das chuvas de 710 a 890 mm abrangem a vertente centro-
ocidental do município de Itapajé, incluindo também a superfície de pedimentação
moderadamente dissecada, justificando a feição geomorfológica com os processos
ocorrentes no Quaternário em períodos mais úmidos, acarretando na dissecação do
relevo. As áreas do município que apresentam médias de 520 a 710 mm,
especificamente no distrito de Baixa Grande, abrangem a vertente ocidental e a
superfície de pedimentação aplainada, ambientes em que os processos da
morfogênese, associados ao posicionamento geográfico de sotavento do maciço,
propiciam a dinâmica espacial das chuvas e as fortes características de semiaridez.
No que tange às águas superficiais do município, 95% do território
corresponde à Bacia Hidrográfica do Rio Curu (BHC) e apenas 5% à Bacia
Hidrográfica Litorânea. O Mapa 7 apresenta os divisores de águas do município e suas
respectivas sub-bacias, além dos principais cursos e corpos d’água.
A BHC possui 8.528 km² de extensão e abrange quinze municípios. A bacia
é de grande relevância socioeconômica, devido suas potencialidades para atividades
de irrigação, apesar de sujeita às secas periódicas. Segundo Studart (1988), a BHC
foi a pioneira do Ceará em termos de gerenciamento de recursos hídricos,
especificamente em 1996, quando constituíram o primeiro comitê de bacias
hidrográficas.
76

Mapa 7- Recursos Hídricos Superficiais.

Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do município de


Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos hídricos
77

Os divisores de sub-bacias da BHC foram identificados na vertente norte-


oriental, representada a leste pela sub-bacia Frios e oeste pela sub-bacia Caxitoré.
Ao sul do município, a Serra das Vertentes é um divisor de águas da sub-bacia
Tejuçuoca e da sub-bacia do rio Caxitoré. Dá-se destaque à última, por representar
95% do território de Itapajé. O rio Caxitoré percorre uma distância de 80 km, desde
sua nascente, em uma crista residual localizada no município de Irauçuba, até
desaguar no rio Curú, entre os municípios de Umirim e São Luiz do Curu. Seus
principais afluentes nascem na Serra da Uruburetama, no território de Itapajé.
Destacam-se os cursos d’água seguinte: Escorado, São Francisco, Coitezinho, São
Joaquim, Balança, Frade, Aguaí, Pedra d’água, São Tomé, etc. A Figura 16 apresenta
a cachoeira que se formou pela ação gradativa do riacho Pedra d’água, esculpindo
rochas graníticas ao longo do seu alto curso.

Figura 16 – Cachoeira do riacho Pedra d’água UTM (44619m E/ 9585123m N), localizada na
Vertente Norte-Oriental da serra da Uruburetama, localidade Pedra d´água, em abril de 2017,
Itapajé-Ce.

Fonte: Própria autora.

Em razão do regime intermitente dos cursos d’água da região, ao longo de


afluentes e do rio Caxitoré, foram construídas passagens molhadas para facilitar a
mobilidade e o acesso de algumas comunidades durante o período chuvoso. A Figura
17 refere-se aos registros de água durante a segunda quadra chuvosa do ano de
2017. Para ter acesso às comunidades de Paraíso, Pipuca e Pitombeira é necessário
atravessar a passagem molhada do riacho Pedra d’água/São Tomé e a do rio
Caxitoré.
78

Figura 17 – Passagem molhada nos riachos Pedra d’água e São Tomé UTM (449419m E/
9581201m N), localidade Serrote do Meio (A). Passagem molhada no rio Caxitoré UTM
(449897m E/ 9581434m N), localidade Paraíso (B), em abril de 2017, Itapajé-Ce.

A B

Fonte: Própria autora.

Em relação aos corpos d’água barrados, foram mapeados vários açudes


de pequeno porte, entre privados e públicos. A Figura 18 retrata um barramento do
riacho São Tomé, durante o período chuvoso (A). Os barramentos para fins de
abastecimento público são: açude do Serrote do meio (B), açude São Miguel, açude
João Lira Magalhães, açude Caxitoré, localizado na divisa dos municípios Itapajé,
Umirim e Pentecoste e o açude Jerimum, localizado em Irauçuba.

Figura 18 – Sangrador da Barragem do rio São Tomé, UTM (446163m E/ 4580070m N),
localidade Serrote do Meio (A). Açude de abastecimento público do distrito Serrote do Meio,
UTM (448462m E/ 9582858m N) (B), em abril de 2017, Itapajé-Ce.

A B

Fonte: Própria autora.

O açude João Lira Magalhães, conhecido popularmente por Ipuzinho, é o


maior barramento do município, responsável pelo abastecimento do distrito sede
79

desde a data da sua inauguração, em 11 de maio de 2013. Segundo o Serviço


Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Itapajé, a barragem comporta até 4,3 milhões
de metros cúbicos. A Figura 19 registra a vista panorâmica da barragem, durante o
mês de julho de 2016, período no qual a mesma atingiu 2,26 milhões de m3,
equivalentes a 53,4% de sua capacidade total.

Figura 19 – Vista para o Ipuzinho durante o mês de julho de 2016, UTM (439853m E/ 9595161m
N) localidade Ipu (B), em julho de 2016, Itapajé-Ce.

Fonte: Própria autora.

3.2.1 Análise hidroclimática espaço-temporal (2010-2016)

A dinâmica espaço-temporal das condições hidroclimáticas de um


ambiente é de fundamental importância para compreender a dinâmica dos sistemas
ambientais.
Monteiro (1976) estabelece relações disciplinares ao tratar-se dos
conceitos de ano seco, ano normal e ano chuvoso. Do ponto de vista da Meteorologia,
o ano seco ocorre quando a pluviosidade total se afasta do parâmetro das médias
normais. Para a Geografia, além de ser importante sobrepor o modo de distribuição
das chuvas no decorrer do ano, também deve-se considerar as atividades e
necessidades humanas, na organização e exploração do espaço geográfico, não
consciderando apenas a estatística meteorológica.
Nesse primeiro momento, pretende-se caracterizar os parâmetros
hidroclimáticos do ano seco de 2010 e do ano normal de 2016, assim definidos, após
80

aplicação da metodologia de Monteiro (1976). Por outro lado, o balanço hídrico


climatológico tem por objetivo caracterizar o clima de uma determinada região,
baseando-se na classificação climática de Thornthwaite, método empregado para fins
agronômicos e para fins de planejamento regional, municipal ou local (SENTELHAS;
ANGELOCCI, 2012).
A Figura 20 apresenta as isoietas com equidistância de 25 mm do ano seco
de 2010 e a Figura 21 exibe o balanço hídrico do mesmo.

Figura 20 – Dinâmica espaço-temporal das isoietas no período do ano seco de 2010.

Fonte: Elaborada pela autora, baseado na FUNCEME (2017).


81

Figura 21 – Balanço hídrico do ano seco (2010), posto Itapajé, Santa Cruz e Irauçuba, respectivamente. Legenda: (REP) Reposição hídrica e (DEF)
Deficiência hídrica. (Prec) Precipitação; (ETP) Evapotranspiração Potencial e (ETR) Evapotranspiração Real.

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em FUNCEME (2017). Programa da ESALQ/USP, metodologia de Rolim, et al. (1988).
82

Através das isoietas da média anual de 2010, é perceptível a


heterogeneidade da distribuição de chuvas no município de Itapajé. O Quadro 6
apresenta o percentual das chuvas em 2010 em relação ao esperado na média
histórica de 2001 a 2016.

Quadro 6- Precipitação de 2010 em relação à média histórica (2001-2016).

Postos Média anual da série histórica Média anual Precipitação de 2010 (%) em
pluviométricos (2001-2016) das isoietas em relação à média histórica.
2010
Itapajé 800 mm 375 a 475 mm 46 a 60% da média histórica
Santa Cruz 1.154 mm 500 a 550 mm 43 a 48% da média histórica
Irauçuba 497 mm 225 a 250 mm 45 a 50% da média histórica
Fonte: Elaborada pela autora, baseado na FUNCEME (2017).

Em relação ao balanço hídrico do município, ilustrado na Figura 21 acima,


os três postos não apresentaram Excedente Hídrico (EXC), ou seja, o solo não atingiu
sua capacidade máxima de retenção de água, consequentemente, inviabilizando a
recarga dos recursos hídricos superficiais. Já a Deficiência Hídrica (DEF) perdurou
durante todo o ano, pois ocorreu uma elevada diferença entre a Evapotranspiração
Potencial (ETP) e a Evapotranspiração Real (ETR). No posto de Irauçuba, a DEF foi
reduzida durante o mês de abril, em razão dos 140 mm registrados, ressaltando como
a chuva no semiárido é mal distribuída. Durante os meses de março e abril,
respectivamente, nos postos Santa Cruz e Itapajé, a precipitação superou a ETP e
ETR, porém não foi suficiente para ocorrer excedente hídrico.
Em se tratando do ano normal de 2016, o Quadro 7 apresenta a
precipitação de 2016 em relação à média histórica. O referido ano atingiu médias
dentro da média, apesar da zona que abrange o posto de Santa Cruz não ter atingido
a média histórica, o coeficiente de variação ficou dentro da normalidade. A Figura 22
apresenta a espacialização das isoietas e os índices pluviométricos.

Quadro 7- Precipitação de 2016 em relação à média histórica (2001-2016).

Postos Média anual da série histórica Média anual Precipitação de 2016 (%) em
pluviométricos (2001-2016) das isoietas em relação à média histórica.
2016
Itapajé 800 mm 725 a 800 mm 90 a 100% da média histórica
Santa Cruz 1.154 mm 850 a 975 mm 76 a 87% da média histórica
Irauçuba 497 mm 550 a 700 mm 40 % acima da média histórica
Fonte: Elaborada pela autora, baseado na FUNCEME (2017).
83

Figura 22 – Dinâmica espaço-temporal das isoietas no período do ano normal de 2016.

Fonte: Elaborada pela autora, baseado na FUNCEME (2017).

No que tange ao balanço hídrico de 2016, representado na Figura 23, Santa


Cruz foi o único posto que apresentou o excedente hídrico, especificamente no mês
de janeiro, no qual a precipitação atingiu 300 mm, e nos meses de fevereiro a maio,
no qual os picos de precipitação variaram entre 80 a 180 mm, favorecendo a recarga
hídrica de águas superficiais e a absorção de água no solo. Por mais que o posto de
Itapajé não tenha atingido o EXC, as chuvas da 1º e 2º quadra chuvosa foram
favoráveis à recarga do açude Ipuzinho. Segundo a COGERH e FUNCEME (2018),
em 2016, a barragem atingiu 61% de sua capacidade.
84

Figura 23 – Balanço hídrico do ano seco (2010), posto Itapajé, Santa Cruz e Irauçuba, respectivamente. Legenda: (REP) Reposição hídrica e (DEF)
Deficiência hídrica. (Prec) Precipitação; (ETP) Evapotranspiração Potencial e (ETR) Evapotranspiração Real.

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em FUNCEME (2017). Programa da ESALQ/USP, metodologia de Rolim, et al. (1988).
85

A DEF, no ano de 2016, permaneceu com elevados índices, segundo


Marengo, et al (2016), quando as chuvas são escassas ou mal distribuídas no tempo
(veranicos), o número de dias com déficit é maior. Em virtude dos fatos mencionados,
o posto de Itapajé e, principalmente, o posto de Irauçuba enquadram-se nessa
realidade, de maneira que, no mês de janeiro, o acúmulo de chuva foi de 200 mm em
Irauçuba e no distrito de Baixa Grande em Itapajé, decrescendo bruscamente para 60
mm, nos meses de fevereiro a abril, e 20 mm, nos meses de maio a junho. Esses
quantitativos observados resultaram na ETP elevadíssima durante todo o ano de
2016, aspectos esses que também estão associados aos anos consecutivos secos e
tendendo a secos.
Na análise hidroclimática espaço-temporal de 2010 a 2016, buscou-se
relacionar o volume de armazenamento de água dos açudes que abrangem as
isolinhas do recorte espacial. Na área de estudo, o posto pluviométrico Itapajé está
localizado nas proximidades do açude Ipuzinho. A Figura 24 apresenta dados
referentes a julho de 2013 até janeiro de 2018. A barragem é pequena, mas encontra-
se em posicionamento geográfico estratégico, pois todos os seus cursos d’água são
semi-perenes e até mesmo perenes, situados em isolinhas com médias acima de
1.000 mm. Em julho de 2016, o volume do reservatório atingiu aproximadamente 60%
da capacidade de armazenamento. Em julho de 2017, atingiu 99%.

Figura 24 – Volume armazenado no reservatório Ipuzinho (2014-2018), em Itapajé-Ceará.

Fonte: COGERH e FUNCEME (2018).


86

O reservatório Caxitoré, localizado a Leste de Itapajé, nas divisas com


Umirim e Pentecoste e o reservatório Jerimum, localizado no município de Irauçuba,
nas proximidades da divisa com Itapajé, obtiveram baixos volumes de armazamento
de água durante os anos consecutivos de seca. Observa-se, na Figura 25, que, em
2010, apesar de representar-se como ano seco, o armazenamento de água atingiu
aproximadamente 75% em ambos, justificado pela ocorrência da média pluviométrica
acima do normal, no ano de 2009. Em 2016, ano considerado normal, os dois
reservatórios registraram volumes entre 0 a 2%, fundamentando-se como uma seca
hidrológica.

Figura 25 – Volume armazenado nos reservatórios Caxitoré e Jerimum (2004 a 2018) - Ceará.

Fonte: COGERH e FUNCEME (2018).


87

Em vista dos argumentos apresentados, a serra da Uruburetama que


abrange 65 % do território de Itapajé, tem o relevo como fator condicionante do clima
local, que possibilita a atuação do mecanismo de Circulação Orográfica, fator
preponderante para o dinamismo e a caracterização do clima, não desconsiderando
as influências de mecanismos meteorológicos regionais.

3.3 SOLOS E COBERTURA VEGETAL

Os componentes naturais relacionados à cobertura terrestre são os solos e


as condições fitoecológicas dos ambientes. Através de processos morfogenéticos e
morfodinâmicos é que se desenvolvem o manto de intemperismo, caracterizando-se
de acordo com a preponderância da morfogênese ou da pedogênese. Em relação à
vegetação, a mesma torna-se o reflexo das condições edáficas, da quantidade
pluviométrica e das atividades socioeconômicas de suas populações.
Para a elaboração do Mapa 8, procurou-se ajustar o traçado das unidades
de solos mapeadas na escala de 1:600.000 da EMBRAPA (1988), adaptando-o aos
Sistemas de Classificação de Solos (2006). No município de Itapajé ocorrem,
basicamente, os seguintes tipos de solos: Argissolos Vermelho-Amarelos, Luvissolos,
Neossolos Litólicos, Neossolos Flúvicos e Planossolos, cujas principais características
são apresentadas a seguir, segundo informações de Oliveira e Souza (2015) e
Brandão (2003).
Argissolos (PVA) são bem ou moderadamente drenados, com cores
vermelho-amarelos e normalmente recobrem a vertente norte-oriental e vertente
centro-ocidental da serra da Uruburetama, abrangendo também a porção Leste da
Serra das Vertentes. Na superfície moderadamente dissecada, são associados a
Neossolos Litólicos e Luvissolos.
O horizonte A desse solo é frequentemente moderado, com textura arenosa
e franco-argilosa-arenosa. O horizonte B varia entre gradual e abrupta, argilosa. Em
relação ao uso agrícola dos Argissolos, destaca-se a bananicultura e outras frutíferas,
além da agricultura de sequeiro.
Luvissolos (TC) são rasos ou pouco profundos, moderadamente drenados,
ácidos e neutros com argila de atividade alta. Na superfície pediplanada,
especificamente no sul do distrito Baixa Grande, os Luvissolos estão associados aos
88

Neossolos Litólicos. Na superfície moderadamente dissecada, estão associados aos


Argissolos, entre os distritos de Pitombeira e Serrote do Meio.
Os Luvissolos possuem horizonte A fraco com textura arenosa ou média.
No horizonte B predomina estrutura moderada a forte e textura argilosa a média. Entre
os fatores limitantes ao uso agrícola, destacam-se a falta de água, a pedregosidade e
a susceptibilidade à erosão.
Neossolos Litólicos (RL) são rasos a muito rasos, pouco desenvolvidos,
bem drenados, com pedregosidade e com rochas na superfície. Ocorrem
principalmente em elevações residuais como inselbergs e cristas, na maioria das
vezes, associados a Afloramentos de Rochas. Na vertente ocidental e parte da
vertente centro-ocidental, RL estão associados a Luvissolos e Argissolos.
Os Neossolos Litólicos apresentam horizonte A com rochas ou sobre um
horizonte C pouco espesso. A textura varia de arenosa até siltosa, são
moderadamente ácidos. Entre as limitações para o uso agrícola destacam-se a
deficiência hídrica, pedregosidade, afloramentos rochosos e relevo acidentado.
Planossolos (Sx) são solos minerais imperfeitamente ou mal drenados,
desenvolvidos sobre rochas como gnaisse-granito e anfibolito, normalmente
relacionados ao relevo plano da superfície pediplanada. Suas ocorrências expressivas
são nas localidades Armador, Lagoinha e Jorge. O horizonte A é predominantemente
fraco a moderado, com textura arenosa. O horizonte B é composto por argila. Os Sx
estão associados a Afloramento de Rochas e Neossolos Flúvicos.
Em relação ao estado de conservação desses solos, sua ocorrência está
associada à intensificação da semiaridez, devido às práticas seculares de uso e
ocupação da terra. O excesso de água no período chuvosos e o ressecamento
ocorrente durante o período seco limitam a produtividade agrícola.
Neossolos Flúvicos (RU) são moderadamente profundos a muito
profundos, moderada a imperfeitamente drenados. Originam-se a partir da deposição
de sedimentos colúvio-aluviais, recobrindo as planícies fluviais e planícies alveolares.
Esses solos estão associados a Planossolos Nátrico e Argissolos. O horizonte A ou
Ap dos RU são normalmente fracos a moderado, com textura de arenosa a argilosa.
Possuem alta fertilidade natural e grande potencial agrícola, desde que sejam
respeitados os períodos de inundações.
89

Mapa 8- Mapa Pedológico.

Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do município de


Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos hídricos
90

No que tange à cobertura vegetal que recobre os solos do município, há


ocorrência de Caatingas, destacando o extrato herbáceo, arbustivo e arbóreo em
algumas áreas conservadas, além da vegetação de Mata Seca e pequenos resquícios
de Mata Ciliar.
Nas vertentes do maciço de Uruburetama, que abrangem o território de
Itapajé, a forte descaracterização da cobertura vegetal não permitiu identificar
espaços recobertos por Mata Úmida, também conhecida como Mata Plúvio-Nebular
ou resquícios de Mata Atlântica, exceto em um pequeno setor do distrito de Santa
Cruz. O processo de uso e ocupação da terra resultaram em coberturas antrópicas,
por meio de cultivos e plantações diversas, principalmente a fruticultura. Segundo
Redies (2012), ocorrem mata sub-úmida na Reserva Particular do Patrimônio Natural
(RPPN) Mãe-da-Lua, na localização geográfica da serra das Vertentes, em uma área
de 5-7 hectares no alto da serra, numa elevação de 600 metros, ocorrendo muitas
espécies, como a Barriguda, recobertas por lianas, epífitas e samambaias. A Figura
26 apresenta algumas espécies nativas identificadas do extrato arbóreo, como a
Barriguda (Ceiba glaziovii), localizada na RPPN Mãe-da-Lua (A), o Ipê rosa
(Handroanthus) (B) e a (Syagrus cearenses), popularmente conhecida
como catolé ou coco-babão (C), ambos localizados na vertente norte-oriental da serra
da Uruburetama.

Figura 26 – Espécies do tipo arbóreo, localizadas na vertente centro-ocidental e na vertente


norte-oriental da serra da Uruburetama, Barriguda (A), Ipê roxo (B) e Catolé (C). Em abril e
dezembro de 2017, Itapajé-Ce.
A B

Fonte: Própria autora.


91

Em geral a Mata Seca é uma vegetação intermediária entre a floresta


úmida e as caatingas, recobrindo a serra nos pequenos setores em pousio ou de
atividade agrícola inativa. Dentre suas espécies, destacam-se: Imburana (Amburana
cearenses), Angico (Anadenanthera colubrina), Aroeira (Myracrodruon
urundeuva), Pau-d’arco (Tabebuia spp), etc.
As Caatingas recobrem áreas à sota-vento da Serra da Uruburetama. Com
a escassez hídrica refletindo-se em diferentes padrões fisionômicos e florísticos, as
espécies lenhosas da caatinga têm sido suprimidas e exploradas através de
finalidades as mais diversas, como a construção de cercas, extração de lenha para
consumo doméstico e de carvão (OLIVEIRA; SOUZA, 2015).
A Figura 27 representa a dinamicidade da vegetação na análise espaço-
temporal das paisagens. Por meio da vista panorâmica (A1 e B1) da Pedra da
Saramanta, vertente centro-ocidental (A e B), na localidade Pedra d’água, foi possível
observar o comportamento da Caatinga durante dois anos seguidos, julho de 2012 e
julho de 2013. É notório como a quantidade de chuva recebida no fim da 2º quadra
chuvosa (abril a junho) foi mais representativa no ano de 2013 do que 2012. Entre
algumas das espécies da Caatinga identificadas, destacam-se: Jurema Preta (Mimosa
hostilis); Trapiá (Crateva tapia); Catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul), etc.

Figura 27 – Vertente centro-ocidental (A e B) e vista panorâmica (A1 e B1) da depressão


sertaneja, planícies e cristas residuais, durante o mês de julho dos respectivos anos de 2012 e
2013, localidade Pedra D’água, Itapajé-Ce.

A B

A1 B1

Fonte: Própria autora.


92

4 USO E COBERTURA DA TERRA NO MUNICÍPIO DE ITAPAJÉ E AS POLÍTICAS


PÚBLICAS DE RECURSOS HÍDRICOS DURANTE A SECA 2010-2016

4.1. HISTÓRICO DE USO E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO

Os índios Guanacés, também conhecidos por Anacés, foram os primeiros


habitantes a povoar o território que hoje pertence ao município de Itapajé. Porém,
depois de algum tempo, colonizadores chegaram àquelas terras (SILVA, 1994).
Em meados do século XVII, ocorreram algumas mudanças políticas e
econômicas no Brasil, iniciando-se com a retirada dos holandeses, seguidas da queda
do preço do açúcar, entre outras, impulsionando os imigrantes portugueses a
buscarem nos sertões pastos para a criação de gado (SILVA, 1994).
Com o monopólio de sesmarias, a coroa portuguesa ergueu fazendas em
alguns lotes e, consequentemente, fundou novos povoados. Assim, as terras de
Itapajé, entre o limite que vai desde o poço Mulungu, Riacho Barra do Rio Caxitoré,
até o Norte da Serra da Uruburetama, originalmente tinham sido concedidas a
Domingos Teixeira, conforme o registro do Livro 10 das sesmarias, pág. 126 e 127
(SILVA, 2000).
De acordo com Silva (2000), o atual distrito de Santa Cruz foi a primeira
sede do município, por ter sido o pioneiro em receber um grande contingente
populacional, formando-se o povoado de Santa Cruz da Uruburetama. A Capela de
Nossa Senhora da Penha, construída em meados do século XVIII, ainda hoje é a
principal referência religiosa, sediando diversos eventos evangelísticos. Ver Figura 28.

Figura 28 – Capela de Nossa Senhora da Penha no distrito de Santa Cruz, Itapajé-Ce.

Fonte: Batista Castro (2010).


93

A Serra da Uruburetama teve importante papel no desenvolvimento


econômico local, visto que, a partir de 1777, foi chão de um processo que estava se
expandindo pelo território cearense: o binômio gado-algodão. Durante muito tempo, o
Ceará se beneficiou dessas atividades e Itapajé acompanhou esse caminho.
Justificando, assim, o aumento da sua população e da circulação de pessoas na
região (SILVA, 1994).
Em 1849, o povoado de Santa Cruz ganhou status de Vila de Santa Cruz
da Uruburetama. Vale ressaltar que naquele período o estado do Ceará ainda era
província de Pernambuco6. No entanto, vários conflitos pela sua independência
surgiam por todo o seu território, inclusive na vila de Santa Cruz da Uruburetama, que
permaneceu sede. Em meados do século XIX, outro povoado, conhecido como São
Francisco do Ipús, começou a ganhar destaque no município. Isso se deu por causa
da recuperação de uma estrada7 que ligava Fortaleza a Sobral e que passava pelas
terras de Itapajé, exatamente onde se localizava este povoado. São Francisco de Ipús,
tornou-se então, definitivamente, sede do município (SILVA, 2000).
Os anos de 1877-1879 foram de grande estiagem no estado do Ceará. A
prosperidade, que até ali havia se comemorado por conta do binômio gado-algodão,
naquele momento foi sucumbida pela seca, causando a migração de um terço da
população do interior do estado para a capital Fortaleza, assim como para outros
estados do país (SILVA, 1994).
Depois dessas intempéries climáticas, o município passou a desenvolver
outras atividades socioeconômicas, sem deixar de lado a plantação de algodão, que
passou a ser cultivado em menor escala, até que, na década de 1980, abandonou-se
definitivamente seu cultivo. A praga do bicudo devastou todas as plantações. Daí em
diante, o cultivo de bananeiras passou a ser a principal atividade econômica da região,
associado à agropecuária (SILVA, 2000).
Em 30-12-1943, o município de São Francisco mudou a denominação
oficial, passando a chamar-se Itapajé, Pelo Decreto Estadual n.º 1.114. Mais tarde,
em 1951, é instituído o município de Itapagé pela Lei Estadual n.º 1.153
(PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAPAJÉ, 2017).

6 O Ceará emancipou-se somente após a Proclamação da República Brasileira, no ano de 1889.


7 Hoje conhecida como BR – 222.
94

4.2 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS

O município de Itapajé possui atualmente sete distritos, com contingente


populacional de 48.350 habitantes, dos quais 70% residem em área urbana e 30% em
área rural, segundo dados do IBGE (2010). A densidade demográfica é de 112,33
(hab. /km2). A Figura 29 indica a estimativa populacional do município segundo dados
do IBGE.

Figura 29 – Estimativa da população de Itapajé, Ceará.

Fonte: IPECE (2016).

Em relação ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), segundo o censo


do IBGE (2010), trata-se do equivalente a 0,623. Itapajé coloca-se em 63° no ranking
dos municípios cearenses.
Segundo IPECE (2016), o Índice de Desenvolvimento Social de Oferta
(IDS-O) atinge a estatística de apenas 0,352, colocando-se em 141º lugar no ranking
dos municípios cearenses. Números preocupantes, pois refletem a situação precária
em que o mesmo se encontra. Segundo a CAGECE – Companhia de Água e Esgoto
do Ceará (2016), apenas 22,14% do município possui esgotamento sanitário.
Na questão de emprego e renda, o IPECE (2016) divulgou que 25% da
população de Itapajé encontra-se em condição de extrema pobreza, com rendimento
domiciliar per capita com valor mensal de até R$ 70,00, segundo o IBGE (2010).
A indústria de transformação é responsável por gerar a maior parte dos
empregos formais do município, principalmente, a indústria calçadista “Paquetá”.
Contudo, o PIB per capita de Itapajé atingiu R$ 8.965 em 2013. A Figura 30 mostra a
distribuição do PIB pelos principais setores da economia, onde prevalece o setor de
serviços.
95

Figura 30 – PIB do ano de 2013 e sua distribuição pelos principais setores da economia do
município de Itapajé, Ceará.

Fonte: Adaptado do IPECE (2016).

Percebe-se que o PIB do município passou por grandes oscilações nos


últimos anos, como indica a Figura 31.
De 2009 a 2011, o PIB mais que duplicou, chegando a 14.264 R$ em 2011.
Hipoteticamente, esses dados se relacionam com o período chuvoso acima da média
histórica, registrado nos anos de 2009 e 2011, favorecendo os setores econômicos do
município. Segundo o IPECE (2015), a produção agrícola segue a mesma tendência
dos índices de precipitação. No ano de 2012, o PIB reduziu-se pela metade e não
ocorreram grandes variações durante os anos de 2013 e 2015. Possivelmente, esse
declínio pode estar associado aos consecutivos anos de seca.

Figura 31 – Produto Interno Bruto Per Capita (R$ 1,00) no período de 2009 a 2015. Itapajé,
Ceará.

Fonte: Adaptado do IPECE (2016).


96

4.3 USO E COBERTURA DA TERRA

Ao longo do tempo, as práticas de exploração da natureza foram se


intensificando, juntamente com as técnicas mais aperfeiçoadas de uso e manejo
desses recursos. A ligação do homem com a terra está inteiramente associada ao
poder e aos diversos meios de sustento, por meio de cultivos e plantações.
Segundo o IBGE (2013), o levantamento de uso e cobertura da terra indica
a distribuição geográfica da tipologia de uso, dada por meio de padrões homogêneos
da cobertura da terra.
Assim, as classes de uso e cobertura da terra seguiram os critérios do IBGE
(2013), ver Mapa 9, onde foram mapeadas as seguintes classes:
a) Águas: lazer e desporto, captação para abastecimento, pesca
extrativista artesanal;
b) Áreas antrópicas não agrícolas: áreas urbanas e mineração;
c) Áreas antrópicas agrícolas: agropecuária, agricultura permanente,
agricultura temporária/silvicultura, solo exposto/pousio;
d) Áreas de vegetação natural: mata ciliar/extrativismo vegetal, caatinga
arbustiva/extrativismo vegetal e animal.
Dentre as diferentes formas de uso da água, destacam-se a captação para
o abastecimento, a pesca artesanal, lazer e desporto de contato primário, ver Figura
32. Os balneários estão localizados nos distritos de São Tomé e Soledade (B). O uso
da barragem Ipuzinho como balneário (A) é uma prática que deveria ser proibida e
fiscalizada, pois trata-se da água para o abastecimento público da sede municipal.

Figura 32 – Barragem municipal (Ipuzinho) e balneário Soledade em julho de 2017, Itapajé-Ce.

A B

Fonte: Própria autora.


97

Por outro lado, a área urbana corresponde à sede de Itapajé e às sedes


distritais. Dá-se destaque à sede municipal, por apresentar os setores do comércio,
serviços e indústria, principalmente a calçadista. A Figura 33 (A) apresenta o centro
comercial de Itapajé, enquanto a Figura 33 (B) apresenta a vista panorâmica da sede
municipal.

Figura 33 – Centro comercial de Itapajé e vista panorâmica do distrito sede.

A B

Fonte: Própria autora e José Ribamar Ramos (2016).

Em relação à mineração que ocorre no município, é destinada à construção


civil e à indústria de cerâmica. Dentre os recursos minerais não metálicos, destacam-
se a areia, nas proximidades do riacho São Francisco, no distrito de Iratinga, a argila
e o calcário, como aponta a Figura 34.

Figura 34 – Depósito de areias nas proximidades da planície fluvial do riacho São Francisco no
distrito de Iratinga (A) e Caeira na divisa entre Itapajé e Pentecoste (B), em abril de 2017.

A B

Fonte: Própria autora.


98

Segundo a Agência Nacional de Mineração-DNPM (2017), as áreas


requeridas para a mineração no município de Itapajé, abrangem setores do maciço da
Uruburetama, da Serra das Vertentes, da depressão sertaneja e das planícies fluviais.
A maioria das áreas solicitadas para a mineração encontra-se em fase de pesquisa.
A Figura 35 apresenta a localização dessas zonas, requeridas pelo setor industrial e
construção civil.

Figura 35 – Localização das áreas requeridas para a mineração no município de Itapajé-Ceará.

Fonte: SIGMINE/DNPM (2017). Elaborada pela autora.

Por outro lado, buscou-se sobrepor a poligonal da Reserva Particular do


Patrimônio Natural, destacando que todo o seu entorno está requerido para a
mineração, uma área considerada Zona de Amortecimento. Segundo Brasil (2010), o
Art. 1º da Resolução N° 428, de 17 de dezembro de 2010, ressalva:
99

Art. 1º O licenciamento de empreendimentos de significativo impacto


ambiental que possam afetar Unidade de Conservação (UC) específica ou
sua Zona de Amortecimento (ZA), assim considerados pelo órgão ambiental
licenciador, com fundamento em Estudo de Impacto Ambiental e respectivo
Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), só poderá ser concedido após
autorização do órgão responsável pela administração da UC ou, no caso das
Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN), pelo órgão responsável
pela sua criação. (BRASIL, Resolução N° 428, de 17 de dezembro de 2010).

Em relação as áreas antrópicas agrícolas, convém lembrar que as


atividades voltadas para a agricultura no município, dividem-se em cultivos
permanentes e temporários, associados à silvicultura e à criação de animais de
pequeno porte. A bananicultura é o principal cultivo permanente, abrangendo toda a
Vertente Norte-Oriental e Vertente Centro-Ocidental, em áreas de platô (Figura 35 A),
em encostas íngremes e em vales, enfatizando-se em uma área altamente
descaracterizada pelo uso e ocupação secular.
Nos cultivos da agricultura temporária destacam-se: feijão, jerimum, milho,
hortaliças, legumes e outros. Ver Figura 36 (B). Essas práticas são adotadas por
pequenos produtores rurais, a chamada agricultura familiar ou de subsistência.
Abrangendo áreas da vertente Centro-Ocidental, planícies alveolares, planícies
fluviais e na depressão sertaneja, com criação paralelamente de ovinos e caprinos,
complementam as atividades socioeconômicas do agricultor rural.

Figura 36 – Agricultura permanente no platô da vertente Norte-Oriental e agricultura temporária


em uma crista residual no entorno da depressão sertaneja, em julho de 2017 e 2016,
respectivamente, Itapajé-Ce.

A B

Fonte: Própria autora.

A agropecuária está relacionada às pastagens naturais e plantadas, com


criação de gado. Segundo o IBGE (2010), as pastagens naturais do município, Figura
37 (A), equivalem a 169 estabelecimentos, abrangendo uma área de 6.729 hectares.
100

As pastagens plantadas, Figura 37 (B), ocorrem em 16 estabelecimentos, o


equivalente a 292 hectares (IBGE, 2010).

Figura 37 – Pasto natural com criação de bovinos, localidade São Joaquim e pasto plantado
com criação de caprinos, localidade Baixa Grande, em dezembro de 2017, Itapajé-Ce.

A B

Fonte: Própria autora.

Além dos problemas ambientais acarretados pela agropecuária extensiva,


a mesma ainda se faz presente no município, com ocorrência de estabelecimentos
em áreas degradadas e inaproveitáveis. Nessas áreas, o contingente populacional é
baixíssimo, com fazendas e pequenos vilarejos em seu entorno.
O solo exposto ou em pousio refere-se aos setores que a degradação
resultou na perda das funções naturais dos componentes geoambientais, no quais os
processos morfogenéticos predominam, associados às práticas de agropecuária
extensiva. Os inselbergs e lajedos foram delimitados nessa classe.
No que diz respeito às áreas de vegetação natural, a mata
ciliar/extrativismo vegetal são áreas recobertas por matas, destinadas à preservação
permanente ou áreas de Reserva Legal. O extrativismo vegetal não é a única forma
de uso nessas áreas, acrescentam-se a agricultura e as ocupações residenciais, como
indica a Figura 38, ocupando áreas de preservação permanente. São os chamados
conflitos de uso e cobertura da terra. Para que essa realidade se converta em costume
sustentável, são necessários programas de educação ambiental e recuperação das
áreas ecologicamente alteradas, voltados para as comunidades tradicionais.
101

Figura 38 – Ocupações urbanas em áreas que deveriam ser recobertas por mata ciliar. (A)
Riacho São Francisco no centro urbano de Itapajé e (B) na sede do distrito Iratinga, em abril de
2017.

A B

Fonte: Própria autora.

As áreas com caatinga arbustiva, ou até mesmo mata seca, abrangem


setores da serra e da depressão sertaneja. As atividades socioeconômicas praticadas
são o extrativismo vegetal e animal, um exemplo bem comum é a retirada de madeira
para a produção artesanal de carvão vegetal. A Figura 39 apresenta queimadas na
Vertente Centro-Ocidental da Serra da Uruburetama, possivelmente para destinar ao
uso agrícola.

Figura 39 – Prática de queimadas em áreas de cobertura vegetal das caatingas e mata seca,
em julho de 2016, Itapajé-Ceará.

Fonte: Própria autora.


Por outro lado, as atividades ligadas ao ecoturismo nessas áreas de
vegetação natural não são uma prática comum no município, porém um dos atrativos
naturais que chamam atenção dos aventureiros são as diversas feições graníticas,
102

que propiciam belezas paisagísticas, como a Pedra do Frade, cartão postal e


toponímia de Itapajé (no tupi: Frade de Pedra). A Figura 40 refere-se ao Polo turístico
do Frade de Pedra, onde são feitas visitas guiadas e até mesmo camping. A Pedra
dos Ossos, Figura 41, é uma rocha com microforma de “taffone”, (cavidade natural
com forma circular). Conhecida na região através de relatos históricos pertencentes à
cultura popular, fez desse ambiente uma área de romarias.

Figura 40 – Polo turístico, Camping-Frade de Pedra.

Fonte: Juciélio Cruz e Maikon Rios (2015).

Figura 41 – Práticas de turismo religioso na Pedra dos Ossos, distrito da Baixa Grande.

Entrada na capela pela frente e escadaria Topo da rocha

Entrada do tafone na lateral Dentro do taffone


Fonte: Própria autora.
103

Mapa 9- Uso e Cobertura da Terra no município de Itapajé (2012) Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do município de
Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos hídricos
104

4.4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECURSOS HÍDRICOS

É de conhecimento geral que a água é um recurso natural essencial à vida


no planeta e elemento que sempre direcionou a ocupação do território. Nessa
concepção, o gerenciamento dos recursos hídricos é crucial para o desenvolvimento
socioeconômico, conservação da natureza, qualidade e segurança hídrica de uma
nação.
Segundo a Política Nacional de Recursos Hídricos do Brasil, lei nº 9.433,
de 8 de janeiro de 1997, a água é um bem de domínio público, além de ser um recurso
natural limitado e dotado de valor econômico (BRASIL, 1997).
O Decreto de 22 de março de 2005, estabelece a Década Brasileira da
Água, cujos objetivos são a implementação de políticas, programas e projetos que
visam o gerenciamento sustentável da água, além de assegurar a participação da
sociedade civil (BRASIL, 2005).
Por outro lado, a Política Estadual de Recursos Hídricos do Ceará, lei nº
11.996, de 24 de julho de 1992, art. 4º do capítulo IV, institui a Outorga de direito de
uso dos Recursos Hídricos. Todavia, os empreendimentos que desejam usufruir dos
recursos hídricos superficiais ou subterrâneos dependem da autorização da
Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará (SRH) (MAIA, 2004).
Ainda convém lembrar que as parcerias entre Governo Federal e Governo
Estadual são essenciais para a execução de projetos e programas, no combate aos
efeitos socioeconômicos da seca meteorológica, hidrológica e edáfica.
Para garantir a resiliência do homem no espaço geográfico semiárido, é
necessária a aplicação de políticas públicas emergenciais e estruturantes, no âmbito
da segurança hídrica e da segurança alimentar.
Neste contexto, buscou-se fazer um levantamento dos projetos e
programas com fins na segurança hídrica do município de Itapajé, durante o período
da seca plurianual de 2010 a 2017. As ações emergenciais e estruturantes
consolidadas no município estão exemplificadas no Quadro 8 e no Mapa 10 onde
essas políticas públicas de recursos hídricos estão espacializadas.
105

Quadro 8 – Ações emergenciais e estruturantes de segurança hídrica no município de Itapajé-


Ceará, durante o período da seca plurianual 2010-2016.

SEGURANÇA HÍDRICA
Ações Emergenciais Ações Estruturantes
Abastecimento d’água com carro pipa; Implantação de Sistema Simplificado de
Abastecimento de Água (SSAA) - Água para
Todos;
Instalação de sistema simplificado com chafariz; Implantação de Sistema Simplificado de
Instalação e eletrificação, com chafariz, de Abastecimento de Água (SSAA) com
poços existentes na zona rural - Água para dessalinizador - Água Doce;
Todos;
Perfuração, instalação, teste, eletrificação e Instalação de cisternas de placas – Programa
manutenção de novos poços; Um Milhão de Cisternas (PM1C);
Construção direta de novos poços na sede Construção da barragem João Lira Magalhães
municipal e na zona rural pelo Fecop - Fundo (Ipuzinho).
Estadual de Combate à Pobreza, ambos
realizados pela Sohidra.

Fonte: DEFESA CIVIL, EXÉRCITO BRASILEIRO, SDA, SRH, SOHIDRA e CARITAS de Itapipoca
(2017). Elaborado pela autora.

Ações emergenciais

Dentre essas, destacam-se as ações da operação carro pipa e instalação


de sistema simplificado com chafariz, através do programa “Enfrentamento à seca no
Ceará”, gerenciadas pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC), em
parceria com o Ministério da Integração Nacional (MI).
O 10º Depósito de Suprimento é a atual organização militar responsável
pela operação pipa, em parceria com a Defesa Civil de Itapajé. O principal ponto de
captação de água para abastecer os caminhões pipa é na CAGECE de Itapipoca, mas
nem sempre ocorreu dessa forma. Entre os anos de 2010 a 2012, a água era retirada
de poço profundo, hoje inexistente, ou através da captação do açude Caxitoré, porém
a seca hídrica reduziu o volume de água da barragem para apenas 2 a 3%.
As rotas da operação pipa não variaram nos últimos anos, distribuídas nos
seguintes itinerários: Pedra Branca, Monte Alegre, Mulungu, Capim Açu, Salitre,
Armador e Lagoinha. Segundo o Exército Brasileiro, aproximadamente 3.398 pessoas
são atendidas mensalmente pela operação pipa no município.
Por outro lado, como as operações ocorrem por meio de licitações, nas
quais empresas concorrem às vagas desta prestação de serviço, ressalta-se a
importância da fiscalização, desde a fase de licitação até as operações, para se evitar
106

casos de ações ilícitas, praticadas por empresas, pipeiros e organizações


encarregadas.
A operação carro pipa não é o suficiente para atender a demanda da
população citada acima. A Figura 42 (A) foi registrada na localidade Jorge, atendida
pela rota Pedra Branca. Segundo os moradores, há algumas semanas o caminhão
pipa não passava na comunidade, então a única forma de acesso à água era comprar
de caminhoneiros.
O Exército Brasileiro realizou a perfuração de um poço profundo em uma
rocha fissural, que resultou na vazão de 5m 3/h, água em ótimas condições de
consumo. A Figura 42 (B) refere-se ao poço citado, na localidade Pedra D’água. Por
mais que a instalação esteja em uma propriedade privada, a obra é pública e deverá
beneficiar a comunidade.

Figura 42 – Caminhão particular abastecendo a cisterna de placas de um morador da


localidade Jorge (A). Poço tabular instalado pelo Exército Brasileiro, com vazão de 5m3/h
(B). Em dezembro de 2016, Itapajé-Ce.

A B

Fonte: Própria autora.

A SOHIDRA executou a perfuração de poços e instalação de pequenos


sistemas de abastecimento, pelo Programa do Fundo Estadual de Combate à Pobreza
(FECOP). Segundo moradores da localidade Camorim, a obra funciona e foi crucial
para enfrentar os anos consecutivos de seca. Essa comunidade está situada no
Núcleo de Desertificação Irauçuba Centro-Norte.
107

Ações estruturantes

Entre os programas estruturantes que visam a segurança hídrica da


população de Itapajé, destacam-se o Água Doce (PAD), Água Para Todos, a
construção da barragem Ipuzinho e as cisternas de placas.
O programa Água Doce é um sistema de dessalinização, constituído por
dois subcomponentes: recuperação de sistemas já instalados e implantação de
sistemas de dessalinização novos (BRASIL-MMA, 2012). A Figura 43 representa as
etapas desse sistema.

Figura 43 – Representação esquemática do sistema de dessalinização adotado pelo PAD.

Fonte: BRASIL-MMA (2012).

Segundo Ceará (2014), foram realizados estudos em quatorze


comunidades do município de Itapajé, resultando em um diagnóstico técnico, social e
ambiental, testes de bombeamento em poços tubulares, além da realização de
análises bacteriológicas das águas armazenadas em cada domicilio. Após o
diagnóstico, foi constatado que os poços localizados nas comunidades Pedra D’água,
Serrote do Meio, Pé de Serra de Santana, Mulungú e Jardim estavam em condições
de vazão e salinidade satisfatórias, propiciando a instalação do sistema de
dessalinização.
No entanto, deste o ano 2015 até o primeiro trimestre do ano de 2018, o
sistema instalado na comunidade Pedra D’água nunca operou. A justificativa
concedida pela Secretaria de Desenvolvimento do Meio Ambiente e Agricultura do
município é a inexistência de energia trifásica no local. A Enel, conhecida
anteriormente como Companhia Energética do Ceará (COELCE), iniciou os
108

processos liminares de substituição da energia monofásica em 2017, porém não há


previsão de instalação. Enquanto isso, algumas pessoas da localidade se deslocam à
comunidade vizinha Serrote do Meio em busca de água doce e potável. A Figura 44
apresenta a obra pública em situação de abandono.

Figura 44 – Sistema de dessalinização da comunidade Pedra D’água, inoperante desde o


ano de sua instalação, 2015. Foto registrada em fevereiro de 2018, Itapajé-Ce.

Fonte: Própria autora.

O sistema dessalinizador da comunidade Mulungú possui a maior vazão, o


equivalente a 5 mil litros de água por hora, no entanto pouco usufruída pelos
moradores do vilarejo. Isso ocorre pelo potencial hidrogeológico da área, que propicia
outras formas de abastecimento individual, por exemplo, as “cacimbas”. Segundo o
técnico operador do sistema na comunidade, localidades vizinhas, como o Salgado,
representam a maioria no consumo da água do dessalinizador.
Os outros sistemas de dessalinização encontram-se operantes. Segundo
moradores da comunidade Pé de Serra de Santana, durante os anos de 2014 a 2017,
o dessalinizador e as cisternas de placas foram as únicas fontes de água potável.
O programa PAD também atende a localidade Jardim, situada entre a
Vertente Centro-Ocidental e Vertente Ocidental. A comunidade se destaca pela
organização, pois é a única que o sistema de produção é atuante. A água com os
rejeitos é tratada e destinada a tanques de piscicultura, para a criação da espécie
Tilápia (Pseudocrenilabrinae), como indica a Figura 45, a seguir.
109

Figura 45 – Sistema dessalinizador (A) com tanque de criação de Tilápia (B) - PAD.
Localidade Jardim, em dezembro de 2017, Itapajé-Ce.

A B

Fonte: Própria autora.

Diferente das ações estruturantes de uso coletivo, as cisternas são de uso


particular, ver Figura 46. Segundo a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) e a
Caritas Diocesana de Itapipoca, foram instaladas 852 cisternas de placas durante
2010 a 2016, distribuídas por todos os distritos de Itapajé.

Figura 46 – Cisterna de placa na localidade Tubiba, no distrito de Baixa Grande, a


aproximadamente 700 m de altitude. Em dezembro de 2017, Itapajé-Ce.

Fonte: Própria autora.

Em relação ao Programa Água Para Todos, foi instituído pelo Decreto nº


7.535, de julho de 2011, com o intuito de promover a universalização do acesso à
água, em áreas rurais, para a segurança hídrica, agrícola e alimentar, principalmente,
para as famílias em situação de vulnerabilidade social. Destacam-se no município de
Itapajé a instalação de 6 projetos de abastecimento simplificado, entre a parceria do
Ministério da Integração e a Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA).
110

As comunidades contempladas foram: Pedra D’água, São Minguel de Baixo, Aguaí


Lagoinha e Baixa Grande.
Segundo os moradores das localidades Pedra D’água e Lagoinha, o
sistema de bombeamento que fornece água nas residências nunca operou. A
justificativa é a falta de aparelhos de manutenção do motor, além da inexistência de
energia trifásica nas comunidades. A população pressupõe que o programa comece
a funcionar no período de campanha política de 2018.
Por outro lado, a barragem João Lira Magalhães (Ipuzinho) foi inaugurada
em maio de 2013 e evitou o colapso de abastecimento no distrito sede durante o
período de seca. No final da segunda quadra chuvosa de 2017, a barragem atingiu
99% da sua capacidade de suporte, que equivale a 4.250.000 m3. O Serviço
Autônomo de Água e Esgoto de Itapajé (SAAE) é responsável pelo tratamento e pela
distribuição da água encanada para os bairros do distrito sede. Ver Figura 47.

Figura 47 – (A) Sangrador da Barragem Ipuzinho em julho de 2017, onde atingiu 99% da sua
capacidade máxima. (B) Motobomba com capacidade de bombear 240 m3/h em horários de
pico, dezembro de 2017, em Itapajé-Ce.

A B

Fonte: Própria autora.

Cabe salientar que a adutora utilizada desde a inauguração da barragem,


até o 1º trimestre de 2018, é remanescente do sistema de abastecimento antigo, uma
adutora com décadas de uso e que necessita, urgentemente, ser substituída, para
evitar o desabastecimento temporário. Segundo o extrato de contrato de nº
074/2014/COGERH (2014), a contratante, Companhia e Gestão dos Recursos
Hídricos do Ceará, firma contrato com a construtora Granito LTDA, para a construção
da adutora de abastecimento do município. Até o atual 1º trimestre de 2018, a obra
não foi executada.
111

Mapa 10- Políticas públicas de recursos hídricos do município de Itapajé (2010-2016)

Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do município de


Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos hídricos
112

Avaliação das Políticas Públicas de Recursos Hídricos

Ao avaliar as políticas públicas de recursos hídricos, dimensionadas no


território de Itapajé, buscou-se analisar: sua distribuição pelo contingente populacional
dos setores censitários e pelos sistemas ambientais, considerando as potencialidades
e limitações naturais. Ver Figuras 48 e 49.
Os setores censitários que possuem os maiores contingentes
populacionais e a maior quantidade de políticas públicas encontram-se localizados ao
Norte do distrito de Baixa Grande, nos bairros do centro municipal, atendidos pela
água da barragem Ipuzinho e na sede do distrito de Iratinga. O contingente
populacional desses setores censitários referidos equivale a 894 a 2.061 habitantes.

Figura 48 – Políticas Públicas de Recursos Hídricos (2010-2016) dimensionadas por setor


censitário, considerando o contingente populacional, Itapajé-Ce.

Fonte: Elaborado pela autora.


113

Ao Sul do município, nas localidades Pedra D’água, Ação e Serrote do


Meio, há um número considerável de políticas públicas de recursos hídricos, porém o
contingente populacional, ao comparar-se com os setores citados acima, é menor,
variando entre 42 a 681 habitantes.
Analisando as políticas públicas espacializadas nos sistemas ambientais, a
maior parte da população está inserida no sistema ambiental de planície,
principalmente, nas planícies alveolares, com aproximadamente 22.000 habitantes,
distribuídos em uma área de aproximadamente, 40 km 2, ou seja, 45 % da população
está inserida em apenas 10% do território.

Figura 49 – Políticas Públicas de Recursos Hídricos (2010-2016), dimensionadas nos sistemas


ambientais do município de Itapajé-Ce.

Fonte: Elaborado pela autora.


114

A maioria dos poços tubulares foram perfurados e instalados em áreas de


planícies, por ser um ambiente dotado de sedimentos alúvio-coluviais, com solos
permeáveis e potencial a infiltração de água, consequentemente, resultando em áreas
com boas vazões. É nesse sistema ambiental que três dessalinizadores do Programa
Água Doce foram instalados e quatro sistemas simplificados de abastecimento,
através do Programa Água Para Todos.
Em relação ao maciço residual e à depressão sertaneja, ambos
decorrentes do embasamento cristalino, têm como uma de suas limitações naturais a
baixa capacidade hidrogeológica. Analisando os dados do Sistema de Informação de
Águas Subterrâneas (SIAGAS), aproximadamente cinquenta poços foram perfurados
nesses sistemas ambientais, com o intuito de atender a segurança hídrica durante os
anos de secas, desses apenas vinte poços encontram-se ativos.
O poder público municipal de Itapajé precisa adotar práticas
conservacionistas para atender à segurança hídrica de suas populações,
principalmente as que residem nas áreas da Vertente Ocidental e da Depressão
Sertaneja, ambientes nos quais se desencadeiam processos de degradação.
Pode-se concluir que a maior parte da população do município possui
acesso a água, mesmo com os seis anos consecultivos de seca. A construção da
Barragem Ipuzinho foi crucial para o abastecimento da sede municipal, e para manter
os setores de serviço e o industrial. Em relação aos pequenos produtores rurais, que
dependem da pequena açudagem, os efeitos negativos na agricultura foram de
grande magnitude.

Água não se nega a ninguém

A ocorrência da maior seca das últimas décadas (2010-2016) nos impõe


um olhar prioritário para o enfrentamento desse desafio, a seca hidrológica, que atinge
o território do Semiárido Brasileiro.
Parafraseando Ab’ Saber (1999, p.24), “[...] a mais grave e repelente falácia
sobre o Nordeste seco ocorre quando se pretende ensinar o nordestino a conviver
com a seca. Trata-se de atitude pretensiosa que atinge em cheio a dignidade de uma
das populações rurais mais briosas e sofridas de todo o país”. Corroborando com o
autor, as populações rurais do semiárido, que residem em áreas mais críticas de
115

escassez hídrica, sabem mais do que ninguém racionar a água e conviver em


períodos de chuvas regulares e de escassez.
O discurso da escassez hídrica é o que fomenta a “indústria da seca”,
sustentada pelas políticas públicas de recursos hídricos, decorrentes de ações ilícitas,
como as licitações forjadas, quebras de contrato, obras intermináveis, como por
exemplo, a transposição do rio São Francisco. No município de Itapajé, temos como
exemplos, as obras instaladas em 2015 e 2016, que nunca operaram. Talvez, na
espera das campanhas políticas de 2018, no velho discurso de benefícios à
população.
Políticas públicas de recursos hídricos e a segurança hídrica das
populações humanas não são benefício, são um direito. De acordo com Souza (2011),
a Assembleia Geral da ONU reconheceu, em julho de 2010, o acesso à água potável
como um direito humano fundamental. No Brasil, a proposta de Emenda à
Constituição, que dá nova redação ao art. 6º da Constituição Federal de 1988,
acrescentando a água, ratifica: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho,
a moradia, a água, o lazer, a segurança, a previdência, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição” (SOUZA, 2011, p.2).
A água tem que ser pensada como um bem comum, elemento crucial para
o ordenamento territorial. Segundo Gonçalves (2012, p. 151);

É sempre bom lembrar que a água é fluxo, movimento, circulação. Portanto,


por ela e com ela flui a vida e, assim, o ser vivo não se relaciona com a água:
ele é água. É como se a vida fosse um outro estado da matéria água, além
do líquido, do sólido e do gasoso – estado vivo. (GONÇALVES, 2012, p.151).

Assim, as políticas públicas de recursos hídricos, quando são bem


estruturadas, aplicadas e fiscalizadas, podem melhorar a qualidade de vida e oferecer
segurança hídrica às populações humanas. Dessa forma, a conservação dos sistemas
ambientais é fundamental para a continuidade das políticas públicas de recursos
hídricos.
116

5 SUBSÍDIOS À CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E AO ORDENAMENTO


TERRITORIAL

5.1 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE ITAPAJÉ

Brasil, Lei Nº 12.727, de 17 de outubro de 2012–Novo Código Florestal

O Novo Código Florestal instituído pela lei nº 12.651, de 25 de maio de


2012, estabelece:

[...] normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de Preservação


Permanente e as áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o
suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos
florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais, e prevê
instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos
(BRASIL, 2018).

No artigo primeiro, almejando o desenvolvimento sustentável, essa lei traz


como princípios básicos os seguintes:

I - afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas


florestas e demais formas de vegetação nativa, bem como da biodiversidade,
do solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático, para o
bem estar das gerações presentes e futuras;
II - reafirmação da importância da função estratégica da atividade
agropecuária e do papel das florestas e demais formas de vegetação nativa
na sustentabilidade, no crescimento econômico, na melhoria da qualidade de
vida da população brasileira e na presença do País nos mercados nacional e
internacional de alimentos e bioenergia;
III - ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas,
consagrando o compromisso do País com a compatibilização e harmonização
entre o uso produtivo da terra e a preservação da água, do solo e da
vegetação;
IV - responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas
para a preservação e restauração da vegetação nativa e de suas funções
ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais;
V - fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação para o
uso sustentável do solo e da água, a recuperação e a preservação das
florestas e demais formas de vegetação nativa;
VI - criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a
preservação e a recuperação da vegetação nativa e para promover o
desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis (BRASIL, 2018).

Esses princípios são essenciais para a aplicação da legislação no Brasil,


pois a preservação tanto de suas florestas como das matas nativas, assim com os
elementos bióticos e abióticos, são importantes para a geração atual e,
117

principalmente, para as futuras. Segundo o art. 4º do capítulo II são consideradas,


primeiramente, áreas de preservação permanente:

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,


excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura
mínima de: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
II- 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de
largura;
III- 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a
50 (cinquenta) metros de largura;
IV- 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a
200 (duzentos) metros de largura;
V- 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200
(duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
VI- 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura
superior a 600 (seiscentos) metros (BRASIL, 2018).

As áreas que ficam em volta das lagoas e lagos naturais que apresentam
a largura mínima citada abaixo também são consideradas APP’s.

I- 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20
(vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta)
metros;
II- 30 (trinta) metros, em zonas urbanas (BRASIL, 2018).

Além das áreas supracitadas, consideram-se as áreas que localizam-se no


entorno de reservatórios d’água artificiais, no entorno das nascentes e dos olhos
d’água perenes até 50 m, as encostas ou partes destas com declividade superior a
45°, as restingas, os manguezais, as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha
de ruptura do relevo, no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura
mínima de 100 metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir
da curva de nível correspondente a dois terços da altura mínima da elevação sempre
em relação à base, as áreas em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a
vegetação, em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima
de 50 metros, áreas de preservação permanente (BRASIL, 2018).
Dessa forma, buscou-se delimitar as áreas de APPs do município de
Itapajé, com fins de compreender quais os conflitos de uso e ocupação em áreas
protegidas, resultando em sistemas derivados em progressão ou regressão, do ponto
de vista da sucessão ecológica dos sistemas e subsetores ambientais do município e,
além disso, elemento crucial para a delimitação das unidades de intervenção. A Figura
50 apresenta a delimitação das APPs de Itapajé e a RPPN Mãe-da-Lua, a última
regida pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, pelo Snuc.
118

Figura 50 – Localização das Áreas Protegidas, no que tange a RPPN Mãe-da-Lua e


as APPs do município de Itapajé-Ceará.

Fonte: Adaptado de FUNCEME (2015) e ICMBIO. Elaborada pela autora.

No caso das APPs de encostas com declividade igual ou superior a 45°,


foram identificadas pequenas linhas de declive com valores superiores. Elas foram
descartadas em virtude da unidade mínima de mapeamento (FUNCEME, 2015).

Brasil, Decreto Nº 5.758, de 13 de abril de 2006 – Legislação em áreas protegidas

O Decreto nº 5.758, de 13 de abril de 2006, institui o Plano Estratégico


Nacional de Áreas Protegidas (PNAP), com seus princípios, diretrizes, objetivos e
estratégias, e dá outras providências. No que tange ao planejamento, fortalecimento
e gestão do Sistema Nacional de Unidades de Conservação SNUC, para estabelecer
119

e fortalecer os componentes federal, estaduais e municipais do Snuc, destacam-se


aqui algumas estratégias:

c) considerar as áreas suscetíveis à desertificação no estabelecimento das


áreas protegidas;
i) adotar medidas de precaução em áreas com indicativos de elevada
sensibilidade ambiental e sob ameaça, de modo a resguardar estes
ambientes para a futura criação de unidades de conservação;
n) estabelecer uma agenda de entendimentos com os setores
governamentais, nas três esferas de governo, com o objetivo de harmonizar
os sistemas federal, estadual e municipal de unidades de conservação, nos
diversos ordenamentos territoriais setoriais. (BRASIL, decreto nº 5.758, de 13
de abril de 2006, anexo).

Dado o exposto, é necessário que o município siga as diretrizes


estratégicas do decreto, já que a criação de UCs é sugerida em diversos documentos
que visam o ordenamento territorial. Segundo o PAE-Ceará (2010), em Itapajé não
predominam graves níveis de desertificação, no entanto, as políticas públicas devem
priorizar a recuperação das áreas degradas. A Lei, Nº 12.854, de 26 de agosto de
2013, fomenta e incentiva ações que promovam a recuperação florestal e a
implantação de sistemas agroflorestais em áreas degradadas. O PAE-Ceará (2010),
por exemplo, é um instrumento de mitigação dos efeitos da seca e sugere quatro sub-
programas: gestão dos recursos naturais e da população sustentável; convivência
com o semiárido e as mudanças climáticas e gestão pactuada e cidadania ambiental.

Brasil, Lei Nº 9.985, de 18 de julho de 2000 – Sistema Nacional de Unidades de


Conservação da Natureza.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC divide as


Unidades de Conservação em dois grupos diferenciados: de proteção integral, que
permitem apenas usos indiretos e as de uso sustentável, que permitem apenas o uso
parcial dos recursos naturais.
Segundo o SNUC, fazem parte das unidades de conservação de proteção
integral: Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural
e o Refúgio de Vida Silvestre. Enquanto a Área de Proteção Ambiental; Área de
Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de
Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável e a Reserva Particular do
Patrimônio Natural são unidades de uso sustentável.
120

Em Itapajé, existe uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, nomeada


Mãe-da-Lua. De acordo com o decreto nº 5.746, de 5 de abril de 2016, em seu artigo
primeiro a RPPN é:
[...] unidade de conservação de domínio privado, com o objetivo de conservar
a diversidade biológica, gravada com perpetuidade, por intermédio de Termo
de Compromisso averbado à margem da inscrição no Registro Público de
Imóveis (BRASIL, 2018).

De acordo com o ICMBIO (2018), o Brasil atualmente possui centenas de


Reservas Particulares do Patrimônio Natural, criadas com o intuito de sensibilizar o
cidadão para a conservação da biodiversidade, além de tornar o proprietário o titular
do imóvel. O Quadro 9 mostra o histórico e a evolução da legislação ambiental para
as Reservas Particulares do Patrimônio Natural.

Quadro 9 – Histórico e evolução da legislação.

Histórico e evolução da legislação para RPPNs


Lei Floresta: destinava espaços naturais para proteção por iniciativa do proprietário
1934
rural, denominados “Florestas Protetoras”.

Uma portaria do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) determinou o


1977 reconhecimento de terras privadas como “Refúgios Particulares de Animais Nativos”,
para proteger fazendas cujos proprietário não queriam permitir a caça em suas terras.

A Portaria nº277, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


1988 Renováveis (IBAMA), criou as “Reservas Particulares de Fauna e Flora”, que proibia
a caça e também amparava aqueles proprietários com interesses conservacionistas.

Decreto Federal nº 98.914: detalhou as regras para a conservação da natureza em


1990
terras privadas. Nesse momento, surge o conceito e as principais normas das RPPNs.

Decreto Federal nº 1.922: estabeleceu a possibilidades das RPPNs serem


1996
reconhecidas pelos órgãos ambientais estaduais e determinou seu caráter perpétuo.

Lei nº 9.985: deu às RPPNs o status de Unidade de Conservação, com a aprovação


2000
do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

Decreto Federal nº 4.340: regulamentou a Lei do SNUC, fazendo do Brasil o único


2002 país da América Latina a incluir as reservas privadas no seu sistema de áreas
protegidas oficial.

Decreto Federal nº 5.746: atualizou os procedimentos para criação e reconhecimento


2006
de RPPNs.
Fonte: Adaptado de REPAMS (2006). Elaborado pela autora.

De acordo com o art. 21 da lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, a finalidade


principal das RPPNs é conservar a diversidade biológica, por isso são admitidos
121

apenas a pesquisa científica, a visitação com objetivos turísticos, recreativos e


educacionais. A Figura 52 apresenta a RPPN Mãe-da-Lua, na localidade Pé da Serra
da Santana, entre os distritos de Pitombeira e Serrote do Meio, Itapajé.

Figura 52 - RPPN Mãe-da-Lua, localidade Pé da Serra da Santana.

Fonte: Própria autora.

A reserva possui 764,08 hectares, de acordo com Redies (2012), o nome


dado à reserva refere-se a uma ave, a “mãe-da-lua” (Nyctibius griseus), também
chamada “urutaú” (do Tupi = ave fantasma), espécie comum no local. A RPPN é
considerada um “santuário” para espécies da fauna. Segundo Redies (2012), 167
aves foram catalogadas, inclusive espécies raras, como o Jacu verdadeiro (Penelope
jacucaca, caititus (Pecari tajacu). Dr. Hermann Redies, biólogo e proprietário da
reserva, catalogou mamíferos que, nos dias atuais, são raros na Caatinga, devido,
principalmente, aos desmatamentos e queimadas. Dentre esses, destacam-se: o
veado-pardo (Mazama americana); o Gato-maracajá (Felis tigrina), considerado uma
espécie em extinção; o tamanduá ou mambira (Tamandua tetradactyla). Durante a
trilha realizada na área, um grupo de macacos prego (Simia apella) circundavam sobre
os galhos de árvores da Caatinga, demostrando agitação pela presença humana.
Por outro lado, dentre os fatores que ameaçam essa biodiversidade da
RPPN e do seu entorno, destacam-se: caça predatória e comercialização de animais
silvestres, queimadas, exploração de madeira clandestina e as requeridas áreas para
a mineração.
122

A maior parte da RPPN abrange a serra das Vertentes, também conhecida


como serra da Santana, uma crista residual com potencialidades para a mineração,
dada a litologia de quartzito, pertencente à unidade litoestratigráfica de
Independência, assim, todas as áreas da serra estão requeridas para a mineração.
Segundo o DNPM (2017), o status dos respectivos requerimentos estão em fase de
autorização de pesquisa. Sendo aprovadas, inicia-se a exploração de ferro e quartzito
para o uso de revestimento e indústria.
É imprescindível que todos se conscientizem que a supracitada RPPN é de
fundamental importância para salvaguardar os recursos naturais e a biodiversidade
das Caatingas, mantendo-se o equilíbrio natural e a conservação da mesma. Para
isso, além do papel da educação ambiental na circunvizinhança da reserva, também
é necessária a criação de uma UC que inclua outros setores da Serra das Vertentes.
Segundo o MMA (2007), a serra das Vertentes enquadra-se nas áreas
prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição dos benefícios da
biodiversidade brasileira. Assim, foi apresentado ao Conselho de Políticas e Gestão
do Meio Ambiente (CONPAM), no ano de 2014, uma proposta de criação de uma UC
na Serra das Vertentes, porém, com o fim do CONPAM, as atribuições competem à
Secretaria de Estado do Meio Ambiente (2015), que, até o momento, nada tem a
declarar sobre essa cogitação.

Brasil, Lei Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 – Política Nacional de Resíduos


Sólidos

No que tange à Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política


Nacional de Resíduos Sólidos, o município não cumpre o que rege o art.18, inciso I,
sobre a elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos. O que
se tem de mais recente é a proposta de regionalização da Secretaria das Cidades e
Secretaria de Meio Ambiente do Estado (2012), em que o projeto visa atender o
referente à Lei citada, por regiões de planejamento. Itapajé compreende a região do
Litoral Oeste/Vale do Curu, onde a proposta é requalificar três aterros sanitários:
Itapajé, Itapipoca e Paracuru.
Tratando-se de resíduos sólidos, o lixão do município está situado na
localidade Jorge, Figura 53 no distrito da Baixa Grande. Segundo o Plano Estadual de
123

Resíduos Sólidos (PERS) (2015), a estimativa de produção de resíduos sólidos, para


2018, em Itapajé, é de 35,03 toneladas por ano.

Figura 53- Lixão do município de Itapajé-Ce.

Fonte: Própria autora.

Brasil, Lei Nº 10.257, de 10 de julho de 2001 - Estatuto da Cidade

Regulamentos os Arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelecem


diretrizes gerais da política urbana e dão outras providências. O capítulo III refere-se
ao Plano Diretor (PDDU) como instrumento básico da política de desenvolvimento e
expansão urbana. Segundo o art. 40 da Lei N° 10.257, de 10 de julho de 2001:

§ 1o O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento


municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o
orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.
§ 2o O plano diretor deverá englobar o território do Município como um todo.
§ 3o A lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada
dez anos. (BRASIL, Lei N° 10.257, de 10 de julho de 2001).

Dessa forma, o projeto de Lei do PDDU de Itapajé é do ano de 2000,


elaborado pelo Consórcio DAA / Espaço Plano. No que dispõe da proteção ambiental,
o art. 226 ressalta que a política de meio ambiente tem por objetivos a preservação,
melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar
condições estratégicas de desenvolvimento socioeconômico e a melhoria da
124

qualidade de vida da população. No entanto, o município não desenvolve projetos de


recuperação de áreas degradas. Entretanto, estudos como o Zoneamento Ecológico-
Econômico do Núcleo de Desertificação Irauçuba Centro-Norte, Ceará (2015),
sugeriram as seguintes zonas em Itapajé: zonas para a preservação ambiental; zona
de recuperação ambiental; zona de uso sustentável.
Levando-se em consideração esses aspectos, o projeto de Lei Nº 25/2017,
de 25 de agosto de 2017, dispõe sobre o Plano Plurianual (PPA) de Governo do
Município de Itapajé para o quadriênio 2018-2021, compromete-se no Eixo 04 no que
tange ao fomento ao desenvolvimento do município:

Acompanhar serviços de coleta de lixo, buscando a melhoria na


prestação dos serviços;
Criar projeto para implantar a plena distribuição de águas em todas as
localidades rurais;
Desenvolver estrutura sanitária para feiras livres e mercado público;
Impulsionar ações de combate à desertificação, com atividades que
gerem renda ao produtor, construção de novas barragens subterrâneas
e pequenos barreiros. (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAPAJÉ, 2017).

A expectativa é que o município possa adequar-se, no que tange à


legislação ambiental. Que nesse quadriênio 2018-2021 obtenha-se êxito em
aplicações de projetos que visem à qualidade ambiental, concomitantemente, com o
desenvolvido econômico sustentável. Espera-se que pesquisas como o PAE-Ceará
(2010) e o ZEE do Núcleo de Desertificação Irauçuba Centro-Norte-Ceará (2015),
além da presente pesquisa, fomentem ações de políticas públicas no município e que
não sejam meros trabalhos engavetados.

5.2 VETORES DE PRESSÃO E TENDÊNCIAS: ELEMENTOS A CONTROLAR

O município de Itapajé compreende um mosaico de subsistemas


ambientais, partes inseridas em um ambiente de exceção do Semiárido, as serras e
planícies, e outras em áreas susceptíveis aos processos de desertificação. Essa
dinamicidade requer uma análise minuciosa dos problemas ambientais e vetores de
pressão configurados. Segundo Souza (2015), atribuindo um conjunto de diretrizes
nos elementos a controlar, principalmente em processos de licenciamento ambiental
de atividades e empreendimentos, desde que apoiados em instrumentos jurídicos já
existentes, como, por exemplo, as Leis citadas acima.
125

Entre os processos que desencadeiam na degradação dos sistemas e


subsistemas ambientais, destaca-se o desmatamento indiscriminado. Segundo Souza
(2011), isso ocorre em função do emprego de técnicas agrícolas rudimentares e
ocupação desordenada, acelerando os processos erosivos. Dessa forma, o
desmatamento da Caatinga, Mata úmida e Mata Seca intensificam gradativamente a
erosão do solo, consequentemente, o assoreamento dos cursos d’água, a extinção de
espécies da fauna e da flora, dentre outras.
Constata-se que a posição geográfica à sota-vento do Maciço da
Uruburetama resulta em condições naturais de semiaridez. No entanto, são os
processos de uso e ocupação da terra que intensificam os processos desencadeados
no Núcleo de Desertificação Irauçuba Centro-Norte, onde a dinâmica ambiental
assume características de regressividade. Assim, as chuvas torrenciais do período
chuvoso, tornam-se agentes erosivos de grande significado.
Em síntese, os vetores de pressão configurados no município de Itapajé
são: despejo de efluentes não tratados e assoreamento dos cursos d’água e corpos
hídricos barrados; passagens molhadas, alternando o regime hidrológico,
principalmente no rio Caxitoré; ocupação não compatível com os limites de tolerância
dos sistemas ambientais; abertura desordenada de estradas de baixo acesso;
queimadas; desmatamento; lixão; suscetibilidade à desertificação; bananicultura em
áreas de APPs; movimentos de massas; caça predatória e comercialização de
animais silvestres.
O despejo de efluentes não tratados nos cursos d’água ocorrem,
principalmente, na sede municipal. Concomitantemente é o maior adensamento
populacional e onde localiza-se o centro comercial. Os resíduos sólidos urbanos que
provêm de esgotos clandestinos, infelizmente, são uma prática identificada no centro
de Itapajé, indo contra o art. 237 § 1º do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do
Município de Itapajé (PDDU) (2000), pois o mesmo informa que:

Art. 237 - Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser


lançados nos recursos hídricos desde que tratados, e que não venham a
causar poluição de qualquer espécie. § 1º - Não será permitido o lançamento
de efluentes poluidores em vias públicas, galerias de águas pluviais ou valas
precárias. (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAPAJÉ, 2000).

Outra preocupação constante é o assoreamento dos cursos d’água e


corpos hídricos barrados, podendo acarretar outros problemas ambientais, trazendo
126

até mesmo riscos à vida. Segundo Ceará (2009), a Secretaria Nacional de Defesa
Civil registrou enxurradas e inundações durante a segunda quadra chuvosa do ano
de 2009, ocasionando a cheia do rio São Francisco, cujo processo de assoreamento
reduziu a seção de escoamento do mesmo, afetando cinco bairros da sede municipal
de Itapajé, além de acarretar danos nas zonas rurais dos outros distritos. A chuva
também acarretou movimentos de massas (CEARÁ, 2009).

5.3 OS SISTEMAS AMBIENTAIS: CAPACIDADE DE SUPORTE

A compartimentação geoambiental realizada torna-se um instrumento


básico para estabelecer as diretrizes das políticas de meio ambiente e subsidiar a
implantação de políticas públicas, especificamente no Semiárido e nos ambientes de
exceção, como é caso da serra da Uruburetama.
Segundo Souza (2011), os resultados e experiências, alcançados a partir
da década de 1970, são calcados no modelo sistêmico, método mais adequado para
incorporar a variável ambiental ao processo de organização territorial. Dessa forma, o
mesmo resulta de relações mútuas e de interação entre os componentes de suporte,
envoltório e cobertura da terra (SOUZA, 2011).
Por isso tudo, a análise geoambiental propicia a relação dialética entre os
processos naturais e os modelos de produção social do espaço geográfico. Assim, os
sistemas ambientais analisados em Itapajé compreendem: o Maciço Residual da
Serra da Uruburetama, Depressão Sertaneja e Planícies. A Figura 54 apresenta a
compartimentação dos subsistemas ambientais analisados no município de Itapajé.

Figura 54 – Subsistemas Ambientais do município de Itapajé em relação a área do município.

Subsistemas Ambientais de Itapajé-Ceará Planície Fluvial


em relação a área do município (%)
Planície Alveolar
2%
21% 8% Cristas Residuais e
3%
7% Inselbergs
Superficie de Pedimentação
Aplainada
Superficie de Pedimentação
15% Moderadamente Dissecada
Vertente Norte-Oriental

35% 9% Vertente Centro-Ocidental

Vertente Ocidental

Extensão territorial: 436,33 km2

Fonte: Própria autora.


127

Considerando os dados da população total de Itapajé, por setor censitário


do IBGE (2010), foi possível analisar como os habitantes estão distribuídos pelos
sistemas ambientais, assim, enriquecendo o contexto dos limites de tolerância de
cada subsistema ambiental. Dessa forma, a maior parte da população está inserida
no sistema ambiental de planície, especificamente nas planícies alveolares, com
aproximadamente 22.098 habitantes, distribuídos em uma área 39,52 km 2, ou seja,
aproximadamente 45,70% da população está inserida em apenas 10% do território.
No entanto, o maciço residual da serra da Uruburetama que abrange Itapajé é
ocupado por aproximadamente 15.558 hab por área de 265 km2, enquanto a
depressão sertaneja corresponde a aproximadamente 10.693 hab por uma área de
101 km2.
O Mapa 11, a seguir, refere-se à delimitação dos sistema e subsistemas
ambientais do município de Itapajé, com suas respectivas potencialidades e
limitações.

Sistema Ambiental das Planícies:

Constituem-se como as mais características formas de acumulação


decorrentes da ação coluvial e aluvial de origem Holocênica. Desta feita, apresentam
uma evolução incipiente da pedogênese, sendo os seus solos formados mais
comumente por camadas, sem relação pedogenética entre as mesmas. O
desenvolvimento destes ambientes se dá, via de regra, em função da perda da
capacidade dos cursos d’água em escavar seus vales, isto em decorrência da redução
do gradiente longitudinal dos rios (SOUZA, 1988).

Subsistemas das Planícies Fluviais

Abrangem uma área de 9,5 km2. Ocorrem dispersas na depressão


sertaneja, bordejando o rio Caxitoré e seus afluentes, formando estreitas faixas de
planícies, oriundas da acumulação de sedimentos aluviais, com declividade plana e
suave ondulada e altitudes entre 65 e 145 metros. Predominam Neossolos Flúvicos
(profundos, mal drenados com textura indiscriminada), Planossolos Nátricos (pouco
profundos, mal drenados, textura indiscriminada e com problemas de salinização),
revestidos por matas ciliares com carnaubais e campo de várzeas e em sua maioria
por vegetação secundária.
128

No que tange às potencialidades das planícies fluviais, destaca-se: é a


principal fonte hídrica subterrânea, aproveitamento agropecuário e silvicultura,
extração de argila e areia de forma controlada; extrativismo vegetal sustentável. Em
relação às limitações desses ambientes: são setores sujeitos a inundações sazonais,
alta vulnerabilidade à poluição e contaminação dos recursos hídricos, áreas
inadequadas para a ocupação urbana, áreas de APP de cursos d’água, com ou sem
presença de mata ciliar, segundo a Lei 12.727 de 17 de outubro de 2012.

Subsistema de Planícies Alveolares

Sua área corresponde a 30 km 2. É constituído por depósitos aluvionares e


coluviais, embutidas entre feições dissecadas da Serra da Uruburetama. As altitudes
variam entre 145 a 600 m com declividade de 0 a 3%, constituindo-se em seções
alargadas de vales com uso agrícola e chuvas acima de 710 mm anuais.
Dentre as suas potencialidades destacam-se as boas condições
topográficas e hidroclimáticas; solos profundos e alta fertilidade natural; potencial de
recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Em geral, suas limitações são derivadas
de inundações periódicas e drenagem imperfeita dos solos, inviabilizando atividades
agrícolas durante o período chuvoso; alta vulnerabilidade à poluição e contaminação
dos recursos hídricos.
Esses setores abrangem apenas 8% do território de Itapajé, porém são de
significativa importância socioeconômica para o município. A Figura 55 retrata a
planície fluvial do rio Caxitoré (A) e a planície alveolar a aproximadamente 400 m do
distrito sede. As atividades agrícolas permanentes são representadas por
bananicultura e as práticas rotativas variam entre hortaliças e leguminosas.
129

Figura 55 – Subsistema ambiental de planície fluvial (A) e planície alveolar (B), recobertas por
culturas rotativas e permanentes. Em julho de 2016, Itapajé-Ce.

A B

Fonte: Própria autora.

Sistema Ambiental da Depressão Sertaneja:

A Depressão Sertaneja compreende as superfícies pediplanadas ou


moderadamente dissecadas, além de cristas e inselbergs entre níveis do maciço
residual da Uruburetama, com acentuada diversificação litológica. Geologicamente, a
depressão sertaneja é caracterizada pela preponderante presença de rochas do
embasamento cristalino, fator que reflete nas demais características geoambientais
desses ambientes semiáridos. Esse sistema apresenta baixa permeabilidade dos
terrenos e baixo armazenamento de água subterrânea, a não ser em rochas
fraturadas. Os leitos dos rios na depressão sertaneja são mais largos e menos
profundos, há menor escavamento de vales e a drenagem é intermitente sazonal.

Cristas Residuais e Inselbergs

Têm por uma área de 13,5 km2, dispersa na superfície sertaneja, ocorrendo
como níveis de Cristas Residuais com altitudes de 200 a 650 m e fortes declives nas
vertentes e topos aguçados. A de maior expressão é a serra das Vertentes, localizada
entre os distritos Serrote do Meio e Pitombeira. Esse subsistema também abrange
morros isolados (Inselbergs), resistentes à erosão diferencial em rochas graníticas e
quartzíticas. Predominam Neossolos Litólicos (rasos a muito rasos, textura arenosa e
pedregosa) associada a Afloramentos de Rochas, Luvissolos e Argissolos. Este setor
130

é recoberto por Caatinga rupestre e arbustiva, com exceções de Caatinga arbórea,


Mata Seca e Mata sub-úmida na Serra das Vertentes.
Convém lembrar que esses setores possuem potencialidades à exploração
mineral; são ambientes com presença de nascentes e olhos d’água, além de potencial
paisagístico e de interesse ecológico para salvaguardar espécies nativas da flora e
fauna. No que concerne às limitações destacam-se: ausência de solos produtivos;
relevo com declives ondulados a forte ondulados; áreas inadequadas para a ocupação
urbana; áreas de APP de nascentes e olhos d’água, segundo a Lei 12.727, de 17 de
outubro de 2012.

Subsistema da Superfície de Pedimentação Aplainada

Representa uma área de 28,15 km2, com superfície de pedimentação em


topografias aplainadas, esculpidas em rochas metamórficas. A declividade varia de 1
a 3%, com leve caimento para fundos de vales muito pouco entalhados e com
drenagem de padrão dendrítico. As altitudes são entre 100 a 150 m; a média
pluviométrica é de 520 a 640 mm e abrange a sub-bacia hidrográfica do rio Caxitoré.
Predominam Neossolos Litólicos e Planossolos associados a Afloramentos Rochosos,
recobertos por Caatingas fortemente degradada.
Suas potencialidades consistem em relevo de topografia favorável à
expansão urbana; pecuária extensiva. Entretanto, as limitações desse setor é a
escassez e irregularidade de chuvas, tornando vulnerável a períodos de secas
prolongadas; solos rasos e alta suscetibilidade à erosão.

Subsistema da Superfície de Pedimentação Moderadamente Dissecada

Corresponde a 60,15 km2 de extensão. É uma depressão moderadamente


dissecada em morros e colinas baixas e suaves, com declividades que variam entre
3% a 8%, bordejando a planícies fluvial do rio Caxitoré. A erosão diferencial ocorre
sobre litologias de paragnaisses e micaxistos, com algumas ocorrências de
metacalcários; escoamento intermitente sazonal, com chuvas entre 640 e 810 mm
anuais. Predominam Luvissolos (pouco profundos, bem drenados, textura argilosa e
alta fertilidade natural) e Neossolos Litólicos, revestidos por Caatinga arbórea e
arbustiva, com atividades agropecuária e de silvicultura.
131

No que tange a suas potencialidades, os solos variam entre média a alta


fertilidade; uso agrícola com práticas agroflorestais e pecuária extensiva; relevo
favorável à expansão urbana e implantação viária; mineração controlada. Em relação
às limitações: escassez e irregularidade de chuvas; períodos de secas prolongadas;
ausência de recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Ver Figura 56.

Figura 56 – Subsistema da superfície de pedimentação aplainada (A) e superfície de


pedimentação moderadamente dissecada (B), Itapajé-Ce.

A B

Fonte: Própria autora.

Sistema Ambiental do Maciço Residual da Serra da Uruburetama:

São ambientes resultantes dos processos de erosão diferencial, cuja maior


resistência das rochas graníticas e rochas metamórficas, com predominância de
migmatitos, originou uma morfologia fortemente dissecada, se comparada às áreas
circunvizinhas. Devido à topografia acidentada, a rede de drenagem apresenta grande
capacidade energética, com vales em forma de “v” ou ligeiramente alargados, nos
setores de topografias mais suaves.

Vertente Norte-Oriental

Compreende uma área de 36,67 km 2, representada pelas vertentes úmida


e subúmida da Serra da Uruburetama; superfície dissecada em morros, lombas e
colinas, que caracterizam áreas de platô úmido, intercaladas por vales fechados em
formas de V; rochas graníticas com relevo de declives de até 75% e altitudes entre
132

900 a 1000m; índices pluviométricos variam entre 890 a 1010 mm anuais; rede fluvial
densa e escoamento de regime semi-perene a perene. Predominam Argissolos
Vermelho-Amarelos (profundos, textura argilosa, moderada, fertilidade natural alta) e
Neossolos Litólicos; mata úmida fortemente degrada por uso de culturas temporárias
e permanentes, como bananicultura e outras.
Entre as suas condições de potencialidades destacam-se: boas condições
hidroclimáticas; solos profundos e alta fertilidade natural; potencial de recursos
hídricos superficiais; patrimônio paisagístico e ecoturismo. Dentre as limitações:
topografia com elevados declives das vertentes, impróprias para expansão urbana e
agricultura; áreas de riscos a movimentos de massas; áreas de APP de encostas e
topos de morros regidos pela Lei 12.727 de 17, de outubro de 2012.
A Figura 57 retrata a sede do distrito de Santa Cruz, um dos primeiros
povoados formados na serra da Uruburetama e a primeira sede municipal de Itapajé.
Segundo Silva (2000), em meados do século XVIII, o vilarejo já tinha sua capela da
Santa Cruz, recebendo as excursões missionárias de frades religiosos, durante o
período histórico das “Santas Missões”. No século XIX, o povoado foi palco de
conflitos relacionados à Província do Ceará, período em que o Ceará continuava
subordinado a Pernambuco (SILVA, 2000). Esse breve contexto histórico relata o
quão antigo se deu o processo de uso e ocupação da terra na serra da Uruburetama,
contribuindo para compreender o atual estado de degradação dos sistemas e
subsistemas ambientais.

Figura 57 – Subsistema ambiental da Vertente Norte-Oriental da Serra da Uruburetama, vista


do vilarejo Santa Cruz, UTM (441834 m E / 9594607 m N; 442178 m E / 9594661 m N), em julho
de 2016, Itapajé-Ce.

Fonte: Própria autora.


133

Vertente Centro-Ocidental

Corresponde a uma área de 142,27 km2, com a maior abrangência territorial


do município. Refere-se a vertente subúmida da Serra da Uruburetama, com
superfície dissecada em morros, lombas e cristas; as chuvas anuais variam entre 710
e 890 mm; a rede fluvial é densa e escoamento semi-perene; Predominam Argissolos
Vermelho-Amarelos e Neossolos Litólicos; vegetação de Mata Seca e Caatinga
arbórea fortemente degradada por uso de culturas temporárias e permanentes.
As potencialidades são dotadas de boas condições hidroclimáticas; boa
fertilidade de alguns tipos de solos; potencial de recursos hídricos superficiais;
patrimônio paisagístico e ecoturismo, Figura 58 (A). No que tange às suas limitações:
topografia com elevados declives, vertentes expostas e com matacões e caos de
blocos; áreas de riscos para movimentos de massa; impróprias para a expansão
urbana; áreas de APP em encostas e topos de morros, regidos pela Lei 12.727, de 17
de outubro de 2012.
As áreas de declives acentuados desse subsistema tornam trechos da BR-
222 e da CE-168 mais vulneráveis a acidentes de trânsito, especificamente, nas
curvas perigosas. A Figura 58 (B) retrata o novo trecho que substituiu a “curva da
morte”, um abismo de aproximadamente 50 m, em que várias carretas e carros de
passeio já tombaram, trazendo riscos à vida e a bens materiais.

Figura 58 – Subsistema ambiental da Vertente Centro-Ocidental, Pedra do Frade (A) e vista


para a BR-222, novo trecho que substitui a antiga “curva da morte” (B), Itapajé-Ce.

A B

Fonte: Jucielio Cruz, junho de 2017 e Studio W. Macedo: Aerial Photo and Video, junho de 2014.
134

Vertente Ocidental

Abrange uma área de 85,26 km 2, vertente subúmida seca da Serra de


Uruburetama; superfície dissecada em cristas intercaladas por vales, vertentes
rochosas expostas com predominância de migmatitos e relevo forte ondulado a
montanhoso, revestido por Neossolos Litólicos associado a Afloramentos Rochosos;
média das chuvas anuais entre 520 e 710 mm; regime fluvial intermitente e vegetação
de Caatinga arbustiva e rupestre descaracterizada pelas atividades de agricultura
temporária.
Potencialidades: atividades de exploração mineral controlada; patrimônio
paisagístico. Entre as limitações: topografia com elevados declives, vertentes
expostas e com matacões e caos de blocos; áreas de riscos para movimentos de
massa; solos rasos; escassez e irregularidade de chuvas; secas prolongadas;
ausência de recursos hídricos superficiais e subterrâneos; áreas de APP de encostas
e topos de morros regidos pela Lei 12.727, de 17 de outubro de 2012.
As populações que se firmaram nesse setor do município estão sujeitas a
dificuldades hídricas, semelhantes às populações da depressão sertaneja à sota-
vento do maciço de Uruburetama. A Figura 59 apresenta a sede do distrito da Baixa
Grande, situada geograficamente na Vertente Ocidental, além da vertente íngreme
tomada por matacões, formados pelos intensos processos de intemperismo físico.

Figura 59 – Subsistema ambiental da Vertente Ocidental, localidades Baixa Grande e


Chapada, em dezembro de 2017 e fevereiro de 2018.

Fonte: Própria autora.


135

Mapa 11- Sistemas ambientais do município de Itapajé.

Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do município de


Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos hídricos
136

5.4 QUALIDADE AMBIENTAL, LIMITES DE TOLERÂNCIA DOS SISTEMAS E


UNIDADES DE INTERVENÇÃO

Unidades de Intervenção e Meio Ecodinâmico

Além de caracterizar os componentes geoambientais e as potencialidades


e limitações dos sistemas e subsistemas ambientais, foram sugeridas as unidades de
intervenção, estabelecidas pelas condições ecodinâmicas de cada setor ambiental.
Segundo Souza (2015), a unidade de intervenção considera a ecodinâmica
da paisagem como critério básico para elaboração de ZEEs. Assim, para a elaboração
do ZEE do município de Itapajé, executado pela FUNCEME e SRH do Ceará em 2015,
as unidades foram delimitadas na escala de 1:100.000. A presente pesquisa adotou
uma escala de 1:25.000, resultando em uma cartografia temática minuciosa, voltada
para auxiliar na análise do estado de conservação dos sistemas e subsistemas
ambientais. Com base nas categorias das unidades de intervenção, levando-se em
consideração a ecodinâmica da paisagem, foi elaborado o Quadro 10.

Quadro 10 – Unidades de Intervenção e meio ecodinâmico dominante nos subsistemas


ambientais do município de Itapajé-Ce.
(continua)

Unidades de Intervenção e Meio


Ecodinâmico
Classificação Intervenções/ Siglas das Ecodinâmica dominante
Subsistemas unidades de
intervenção

Áreas Medianamente  Predominam os


Estáveis com processos pedogenéticos;
Ecodinâmica Área Medianamente AMEpa  capacidade de resiliência
Tendencial Estável de planície moderada;
Estabilizada alveolar  solos conservados;
 vegetação secundária
Área 39,52 km2 com práticas agrícolas.
Área Medianamente AMFpf
Frágil de planície
fluvial (rio Caxitoré e
afluentes)
137

Área Medianamente AMFc


Frágil de crista
residual (Serra das  Equilíbrio entre a
Vertentes) morfogênese e
Áreas Medianamente AMFvcoc pedogênese, tendendo a
Frágeis com Área Medianamente predominar ações
Ecodinâmica de Frágil da vertente morfogenéticas;
Transição centro-ocidental  capacidade de resiliência
(Serra de baixa;
Área 173,72 km2 Uruburetama)  solos em pousio
parcialmente
Área Medianamente AMFvnor conservados;
Frágil da vertente  solos com vulnerabilidade
norte-oriental (Serra à erosão;
de Uruburetama)

Área Frágil da Afspa


superfície de
pedimentação  Predominam os
aplainada processos
morfogenéticos;
Área Frágil da  muito baixa capacidade
Áreas Frágeis com superfície de de resiliência;
Ecodinâmica AFspmd
pedimentação  solos muito rasos e
Fortemente Instável moderadamente frequência de
dissecada afloramentos rochosos;
Área 178,72 km2  solos com vulnerabilidade
Área Frágil de Cristas AFci a erosão;
e Inselbergs

Área Frágil da
vertente ocidental AFvoc
(Serra de
Uruburetama)
(conclusão).
Fonte: Adaptado de SOUZA et. al. (2010).

O Mapa 12, a seguir, representa a espacialização das Unidades de


Intervenção e meio ecodinâmico do município de Itapajé.
138

Mapa 12- Unidades de Intervenção e meio ecodinâmico

Sistemas ambientais e subsídios ao ordenamento territorial do município de


Itapajé-Ce: Avaliação das políticas públicas de recursos hídricos
139

Qualidade ambiental

Tendo em vista os aspectos observados, a pesquisa resultou na análise


qualitativa do atual estado de conservação dos sistemas e subsistemas ambientais,
considerando a tendência da sucessão ecológica, derivando para a progressividade
ou regressividade. Ver Quadro 11.
Dessa forma, do ponto de vista dos níveis de conservação desses
ambientes, não se considerou que todo o subsistema ambiental esteja em condições
de qualidade ambiental homogênea, ou seja, há exceções dentro de cada subsistema
ambiental. Ao aplicar procedimentos de Souza (2011 e 2015), no que tange à
qualidade ambiental, materializada no estado de conservação dos sistemas
ambientais do munícipio de Itapajé, resultou na seguinte análise:
Os sistemas fitoestabilizados derivam de sucessões ecológicas
próximas das características da vegetação primária, após longo período de pousio,
como indica a Figura 60. Com essas características, apenas um setor foi identificado
no subsistema das cristas e inselbergs, especificamente na RPPN Mãe-da-Lua,
localizada na serra das Vertentes. Apresenta permanência da Caatinga e Mata sub-
úmida com rica biodiversidade, como demonstra na Figura 61. A Caatinga está em
recuperação há mais de 50 anos, sendo possível encontrar árvores de até 12 metros.
Cabe ressalvar que, por mais que este setor ambiental estratégico seja conservado,
considera-se que a manutenção do equilíbrio natural continue mantido,
principalmente, por ser um ambiente medianamente frágil com ecodinâmica de
transição.
140

Figura 60 – Espécies bem características da mata seca e da mata sub-úmida, RPPN Mãe-da-
Lua, Serra das Vertentes. Em janeiro de 2018, Itapajé-Ce.

Fonte: Leonardo Jales Leitão e Hermann Redies.

Figura 61 – Algumas espécies de mamíferos catalogadas na RPPN Mãe-da-Lua, Serra das


Vertentes, Itapajé-Ce. Macaco-prego (Cebus libidinosus) (A); Caititus (Pecari tajacu) (B);
Veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) (C) e Gato-maracajá (Leopardus tigrinus) (D).

A B

C D

Fonte: Hermann Redies.


141

Os sistemas derivados com dinâmica progressiva apresentam níveis


de qualidade ambiental satisfatória nas sucessões ecológicas secundárias. Sobre
estas condições, alguns setores foram identificados nos respectivos subsistemas
ambientais: planície fluvial; planície alveolar; superfície de pedimentação
moderadamente dissecada; vertente norte-oriental e vertente centro-ocidental.
A Figura 62 apresenta áreas pontuais de mata ciliar, sob as condições
citadas acima. Na planície fluvial do riacho São Tomé/Pedra d’água, especificamente
em uma propriedade privada, após longo período em pousio é notória a presença de
árvores como carnaúbas e outras espécies lenhosas, como no distrito Serrote do Meio
(A). Rochas recobertas por musgos (Bryophyta sensu stricto) foram identificados em
setores das vertentes norte-oriental e centro-ocidental. A declividade propicia a
formação de quedas d’água em forma de cachoeiras e cascatas, como, por exemplo,
a cachoeira da localidade Espírito Santo, na Vertente Norte-Oriental (B); a cachoeira
dos Ferros, na Vertente Centro-Ocidental (C) e a cachoeira da Pedra D’água, também
na vertente centro-ocidental (D). A Figura 63 refere-se a um setor da superfície de
pedimentação moderadamente dissecada, com presença de Caatinga com qualidade
ambiental satisfatória nas sucessões ecológicas secundárias.

Figura 62 – Mata ciliar recobrindo áreas de APPs de cursos d’água, na planície fluvial do
riacho São Tomé/Pedra D’água (A); no vale entalhado pelos cursos d’água na vertente norte-
oriental (B) e na vertente centro-ocidental (C-D), Itapajé-Ce.

A B

C D

Fonte: Própria autora, (A, B, D) e Marcílio Gomes (C) (2009).


142

Figura 63 – Superfícies rochosas, com lajedos ou lajedões, seguindo planos de fraturas


(marmitas) e recobertas por Caatinga em nível de qualidade ambiental satisfatória. Superfície
de pedimentação moderadamente dissecada, limites entre Itapajé e Umirim.

Fonte: Própria autora, abril de 2017.

Sistemas derivados com dinâmica regressiva apresentam qualidade


ambiental muito baixa ou desestabilizada, até mesmo nas sucessões ecológicas
secundárias, ou seja, possuem alterações significativas dos componentes naturais.
Abrigam, praticamente, toda a vertente norte-oriental e vertente centro-ocidental, além
de setores da depressão de pedimentação moderadamente dissecada. Isso decorre
dos vetores de pressão pertinentes, desmatamento, queimadas, erosão no solos,
ocupações rurais e preponderância da bananicultura, descaracterizando todo o
ambiente serrano. A Figura 64 representa um setor da depressão sertaneja
moderadamente dissecada, as espécies vegetais rebrotam no período chuvoso,
porém é nítido o estágio de sucessão ecológica secundária regressiva.

Figura 64 – Depressão moderadamente dissecada recoberta por vegetação secundária


regressiva, apresenta qualidade ambiental muito baixa ou desestabilizada. Distrito Baixa
Grande, em abril de 2017, Itapajé-Ce.

Fonte: Própria autora.


143

A Figura 65 apresenta uma encosta da Vertente Norte-Oriental, ocupada


por bananeiras. Assim, as chuvas associadas aos tipos de uso e cobertura da terra
no maciço propiciam a aceleração dos processos erosivos, incidindo em movimentos
de massas, consequentemente, acarretando riscos de deslizamento de blocos
rochosos e de terra.

Figura 65 – Encosta da vertente norte-oriental com cobertura de bananeiras, apresentando


qualidade ambiental muito baixa ou desestabilizada. Em dezembro de 2017, Distrito
Soledade, Itapajé-Ce.

Fonte: Própria autora.

Os sistemas degradados apresentam qualidade ambiental


extremamente baixa ou alterações drásticas dos atributos e funções dos componentes
geoambientais, abrangendo a vertente ocodental e a superfície de pedimentação
aplainada. Segundo Souza (2011), o uso e ocupação da terra, a pecuária extensiva,
a agressividade do clima semiárido como condicionante fundamental dos processos
morfodinâmicos, dentre outros fatores, têm modificado drasticamente as
características naturais do bioma das Caatingas e enclaves aqui constatados. Essa
degradação atinge os grupos sociais mais vulneráveis.
Segundo Souza (2006), a desertificação tem repercussões negativas, as
mais abrangentes resultando nos seguintes cenários: declínio na fertilidade natural
dos solos; intensificação do escoamento superficial, resultando em erosão laminar;
remoção do material coluvial na direção dos fundos de vales; degradação
generalizada da biomassa das caatingas, mata seca, mata ciliar, além da extinção da
fauna e flora; diminuição da produtividade agropecuária; secas periódicas causam
144

desequilíbrio na economia local, condicionando aumento da concentração de renda


nas mãos de poucos, desemprego crescente; a malha urbana é pouco articulada,
agravando a fragilidade econômica com a expansão dos processos de desertificação
(SOUZA, 2006). A Figura 66 apresenta o estado de conservação da superfície de
pedimentação aplainada e da vertente ocidental.

Figura 66 – Superfície de pedimentação aplainada com vista para a vertente ocidental (A),
localidade Três Olhos D’água; encosta da vertente ocidental após queimada (B) e superfície
aplainada em situação drástica (C), apresentando qualidade ambiental extremamente baixa.

A B

Fonte: Própria autora.

Limites de tolerância ao uso e ocupação dos sistemas ambientais

Souza (2011 e 2015) sugere padrões ambientais para servir como critério
normativo de tolerâncias altas ou baixas, admissíveis de gerenciamento e gestão dos
sistemas ambientais. Assim, os limites de tolerância configurados no município de
Itapajé são assim definidos: muito baixa tolerância; baixa tolerância e tolerância
mediana. Não foi identificada alta tolerância em nenhum subsistema ambiental.
145

Muita baixa tolerância são áreas protegidas, conforme a Lei nº 12.651,


de 25 de maio de 2012, que rege as APPs e a lei Nº 9.985, de 18 de julho de 2000,
da criação de Unidades de Conservação, no caso a RPPN Mãe-da-Lua:

a) Nas nascentes e “olhos d’água, num raio mínimo de 50 m de largura;


b) Ao longo dos rios e riachos, desde a cota do leito regular de 5 a 10m
com APP de 30 m nas margens direita e esquerda;
c) Ao redor de reservatórios artificiais, como por exemplo no açude
Ipuzinho. A preservação do seu entorno é crucial para a qualidade
hídrica;
d) No topo de morros e nas encostas, com declividade iguais ou
superiores a 45°;
e) Área fitoestabilizada na RPPN Mãe-da-Lua.

Baixa tolerância abrange setores dos sistemas ambientais serranos e a


depressão sertaneja aplainada. Deve-se considerar os seguintes critérios, além dos
preceitos normativos:

a) Áreas com alta importância biológica;


b) Subsistemas dotados de solos rasos ou medianamente profundos, em
vertentes curtas e íngremes, com recobrimento vegetação de sucessão
ecológica regressiva;
c) Maior grau de conservação da vegetação, quando comparada a outras
áreas;
d) Subsistemas recobertos por vegetação de sucessão ecológica
regressiva;
e) Áreas de riscos quanto à incidência de deslizamentos de terra,
deslocamento de blocos rochosos, alta suscetibilidade à erosão.
f) Áreas de alta susceptibilidade a secas prolongadas.

Tolerância mediana abrange a planície alveolar em qualquer que seja a sua


situação topográfica e a depressão moderadamente dissecada:

a) Solos medianamente profundos e conservados;


b) Áreas com riscos de médio a baixo quanto à incidência de deslizamento
de terra;
c) Áreas com riscos médios a altos de incidência de secas e de
susceptibilidade à erosão;
d) Recobrimento vegetal moderadamente conservado.
146

Quadro 11 – Aspectos essenciais para a conservação da natureza e para o ordenamento


territorial: unidade de intervenção, qualidade ambiental e limites de tolerância ao uso e
ocupação dos sistemas e subsistemas ambientais do município de Itapajé-Ce.

Unidades de Limites de tolerância


Intervenção e ao uso e ocupação dos
Meio Subsistemas Qualidade ambiental sistemas ambientais
Ecodinâmico

Áreas Planície alveolar Sistemas derivados com dinâmica Tolerância mediana


Medianamente progressiva.
Estáveis com
Ecodinâmica Planície fluvial Dinâmica regressiva em setores com Baixa tolerância
Tendencial mata ciliar descaracterizada.
Estabilizada
Dinâmica progressiva em setores com
mata ciliar.

Predominam setores com dinâmica Baixa tolerância


regressiva e qualidade ambiental muito
Vertente norte- baixa.
oriental Setor com dinâmica progressiva e Baixa tolerância
qualidade ambiental satisfatória nos vales
entalhados, recobertos por mata ciliar.
Predominam setores com dinâmica Baixa tolerância
Áreas
regressiva e qualidade ambiental muito
Medianamente
Vertente centro- baixa.
Frágeis com
Ecodinâmica de ocidental Setor com dinâmica progressiva e Muita baixa tolerância
Transição qualidade ambiental satisfatória nos
vales entalhados, recobertos por mata
ciliar.
Serra das Setor fitoestabilizado com preservação Muita baixa tolerância
Vertentes das sucessões ecológicas próximas da
vegetação primária.
RPPN Mãe-da-
Lua
Crista residual e Setores degradados, expõem baixas Muita baixa tolerância
inselbergs condições de qualidade ambiental.

Predominam os setores degradados, Baixa tolerância


expõe baixas condições de qualidade
Vertente ocidental ambiental.
Áreas Frágeis Setor com dinâmica progressiva e Baixa tolerância
com qualidade ambiental satisfatória nos
Ecodinâmica vales entalhados, recobertos por mata
Fortemente ciliar.
Instáveis
Superfície de Sistema degradado, expõem baixas Baixa tolerância
pedimentação condições de qualidade ambiental.
aplainada
Superfície de Setores derivados com dinâmica
pedimentação progressiva
moderadamente Tolerância mediana
dissecada Setores derivados com dinâmica
regressiva

Fonte: Adaptado de SOUZA (2011 e 2015).


147

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O relevo é fator condicionante do clima local, resultando em irregularidades


pluviométricas perante o território de Itapajé. Para compreender a dinâmica espaço-
temporal 2010-2016, a metodologia dos anos padrões possibilitou identificar o
coeficiente de variação anual dos postos pluviométricos de Itapajé, Santa Cruz e
Irauçuba, sendo 2010 o ano seco e 2016 ano normal.
A metodologia citada mostrou-se eficiente para interpretar a seca
climatológica. Tornou-se necessário observar os dados do volume acumulado nos
principais reservatórios que abrangem a espacialização das isoietas. Em 2010 os
reservatórios Caxitoré e Jerimum não registraram sérias diminuições no volume de
água armazenada, devido ao índice pluviométrico de 2009 ter registrado médias
acima do normal e alto volume de armazenamento. O ano de 2016 foi classificado
como ano normal, as chuvas não foram o suficiente para aumentar o volume de
armazenamento dos reservatórios Caxitoré e Jerimum. Apenas o açude Ipuzinho,
localizado em um local estratégico do ponto de vista hidroclimático, recebeu recarga.
Dessa forma, a seca hidrológica afetou drasticamente os cursos d’água e corpos
hídricos superficiais.
Na caracterização das atividades socioeconômicas e do mapeamento do
uso e cobertura da terra do município, o setor de serviços representa 69% do PIB,
seguido de atividades vinculadas à indústria, com 25%, e a agropecuária, com 6%.
Em relação aos reflexos socioeconômicos da seca plurianual 2010-2016, o PIB
reduziu-se drasticamente.
Os processos históricos de uso e ocupação expõem problemas evidentes
de degradação ambiental, motivados por vetores de pressão condicionados pelo
desmatamento, expansão urbana desordenada, poluição dos recursos hídricos e
pecuária extensiva.
Constatou-se que a agricultura permanente predomina na vertente Norte-
Oriental e na vertente Centro-Ocidental, devido à caracterização natural desses
subsistemas e de suas potencialidades. No entanto, a declividade e a ocupação das
vertentes indiscriminadas são as principais limitações desses ambientes.
Significativas extensões das matas ciliares dos cursos e mananciais d’água
encontram-se ocupadas por cultivos temporários e áreas de expansão urbana. Nas
áreas de APPs são expressivos os conflitos de uso da terra, principalmente através
148

das atividades relacionadas à agricultura, encontrando-se também, em menor escala,


a mineração e passagens molhadas, que causam impactos ambientais negativos à
dinâmica hidrológica e sedimentalógica.
A caatinga encontra-se bastante degradada, dando lugar às pastagens
plantadas em meio à depressão sertaneja. O uso extrativista indiscriminado para a
produção de carvão vegetal e extração de madeira para determinados fins são
práticas que aceleram os processos desencadeadores do núcleo de desertificação
Irauçuba Centro-Norte.
Tratando-se das políticas públicas de recursos hídricos, o contingente
populacional com menor assistência de políticas públicas de recursos hídricos habita
atualmente, em sua maioria, o distrito Baixa de Grande e a vertente Norte-Oriental,
especialmente no distrito Soledade, onde a principal fonte de abastecimento é oriunda
das nascentes e olhos d’água perenes.
A maioria das políticas públicas de recursos hídricos foram instaladas em
áreas estratégicas, do ponto de vista do potencial hídrico e do contingente
populacional. O sistema ambiental de planícies registrou a maior ocorrência de
perfuração de poços tubulares. Tornam-se necessários maiores investimentos nas
áreas da depressão sertaneja e da Vertente Ocidental, favorecendo a população
inserida nesse meio.
Em relação a situação de segurança hídrica de Itapajé, as ações
emergenciais e estruturantes amenizaram os efeitos da seca. O pequeno produtor
rural que depende da pequena açudagem, foram os maiores prejuticados, no que
tange a baixa produção de culturas temporárias e da agropecuária, principalmente
nos setores da depressão sertaneja e vertente Ocidental.
As ações ambientais também fazem parte das propostas de políticas
públicas de recursos hídricos. No entanto, ao longo desses anos, o município não
adotou nenhum programa que vise a recuperação de áreas degradadas e nem
projetos de manejo e recuperação de nascentes e matas ciliares nas margens dos
cursos d’água.
Realizou-se o mapeamento dos sistemas ambientais do município com
base na interpretação de imagens de satélite e trabalhos de campo. Foram avaliadas
as características naturais dominantes, capacidade de suporte (potencialidades e
limitações), meio ecodinâmico, qualidade ambiental e limites de tolerâncias ao uso e
ocupação dos sistemas e subsistemas ambientais.
149

Foram delimitados oito subsistemas ambientais no município, com seus


respectivos meios ecodinâmicos: áreas medianamente estáveis, com ecodinâmica
tendencial estabilizada: planície fluvial e planície alveolar; áreas medianamente
frágeis, com ecodinâmica de transição: serra das vertentes (RPPN Mãe-da-Lua),
vertente Centro-Ocidental , vertente Norte-Oriental; áreas frágeis, com ecodinâmica
fortemente instável: cristas residuais e inselbergs, superfície de pedimentação
aplainada, superfície de pedimentação moderadamente dissecada e vertente
Ocidental.
Em termos quantitativos, constatou-se que 10% do território de Itapajé são
áreas medianamente estáveis, com ecodinâmica tendencial estabilizada, sendo de
43% e 44% os percentuais para áreas medianamente frágeis, com ecodinâmica de
transição e áreas frágeis, com ecodinâmica fortemente instável respectivamente.
Dessa forma, a delimitação dos sistemas e o mapeamento das Unidades
de Intervenção e meio ecodinâmico representam importantes ferramentas para o
planejamento e ordenamento territorial. A caracterização das potencialidades e
limitações, sobretudo os limites de tolerância ao uso e ocupação dos sistemas
ambientais, apontam subsídios para a conservação da natureza.
Sob o ponto de vista da qualidade ambiental, nota-se, ainda, a ocorrência
de remanescentes de mata sub-úmida e caatinga arbórea, bem como rica
biodiversidade da fauna na Reserva Particular do Patrimônio Natural. Esse setor é
fitoestabilizado, mas os vetores de pressão como a caça predatória, queimadas e
áreas de interesse mineralógico na zona de amortecimento podem comprometer a
qualidade ambiental da RPPN.
Em alguns setores, o estado de conservação vem acarretando
transformações e uma série de impactos ambientais que excederam a capacidade de
suporte dos sistemas ambientais, desencadeando mudanças significativas na
dinâmica da paisagem e comprometimento dos recursos naturais, como verificado nas
áreas degradadas da superfície de pedimentação aplainada, na superfície de
pedimentação moderadamente dissecada e na vertente Ocidental.
Os sistemas derivados com dinâmica progressiva ocorrem, geralmente,
nos vales entalhados pela drenagem, margeados por matas ciliares. Esses ambientes
possuem baixa tolerância ao uso e ocupação dos sistemas ambientais e são áreas
regidas pelo Novo Código Florestal.
150

Os materiais geocartográficos produzidos na pesquisa permitiram


identificar os sistemas ambientais, com suas respectivas potencialidades e limitações,
as classes de uso e cobertura da terra, as políticas públicas de recursos hídricos
dimensionadas no município, as APPs e as unidades de intervenção e meio
ecodinâmico. Esses materiais, juntamente com todo o banco de dados gerados,
poderão subsidiar tomadas de decisões estratégicas para propagar a conservação da
natureza, contribuindo com propostas de recuperação de áreas degradadas e em
setores derivados com dinâmica regressiva.
Neste sentido sugere-se que sejam adotadas as seguintes ações
estratégicas:
a) Recomenda-se que haja a ativação dos programas instalados, como o
Água Doce e o Água Para Todos, nas comunidades Pedra D’água e
Lagoinha.
b) Ao Sul do distrito Baixa Grande há ocorrência de falhas e fraturas do
ponto de vista geológico, sugere-se que haja estudos para possíveis
perfuração de poços em rochas fissurais.
c) Realizar o controle ambiental dos efluentes residuais, comerciais e
industriais que são lançados nos rios São Francisco e Caxitoré, além
de seus afluentes.
d) Promover atividades de educação ambiental e de manejo para a
recuperação de nascentes e olhos d’água, para que haja o equilíbrio da
demanda hídrica para o reservatório Ipuzinho, responsável por
abastecer a sede municipal.
e) Execução de Zoneamento Ecológico-Econômico do município de
Itapajé, proposto pela FUNCEME (2015).
f) Criação da Unidade de Conservação da Serra das Vertentes, crista
residual que abriga uma rica biodiversidade das Caatingas, mata seca e
da mata sub-úmida. As nascentes e cursos d’água são de fundamental
importância para a drenagem da bacia hidrográfica do Curu. Além de
assegurar a preservação/conservação desse ambiente, a criação de
uma U.C favorece o desenvolvimento de atividades ligadas ao
ecoturismo e práticas de educação ambiental.
g) Criar Unidade de Conservação de Uso Sustentável, Reserva Particular
do Patrimônio Natural da Pedra do Frade, localizado na vertente centro-
151

ocidental da Serra da Uruburetama, com potencial paisagístico e


biodiversidade da mata seca e mata sub-úmida.
h) Elaboração de Plano de Redução de Riscos, com ênfase nos riscos
ambientais nas planícies fluviais e nas vertentes serranas. Tal plano
deve contemplar a adoção e prevenção de incidência de chuvas
concentradas, como, por exemplo, as ocorridas nos anos de 2009 e
2011, que acarretaram movimentos de massa.
i) Implementar políticas habitacionais com base no Estatuto das Cidades,
para evitar a expansão urbana, principalmente nas áreas das planícies
fluviais e encostas.
j) Recuperação de áreas degradadas na depressão sertaneja e na serra
da Uruburetama.

Convém lembrar que a avaliação das políticas públicas de recursos hídricos


distribuídas pelo território municipal, durante os anos de 2010 a 2016, implicou na
participação social, na qual as comunidades tiveram voz e suas contribuições foram
além do discurso determinista da seca, destacando que essas políticas públicas não
são um benefício, e sim um direito de acesso à água.
Finalmente, menciona-se que as políticas públicas de recursos hídricos e
as ações de ordenamento e gestão do território devem basear-se em estudos
integrados e interdisciplinares, com adoção de medidas que melhorem as condições
de vida da população e possibilitem a conservação da natureza.
152

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