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11º ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIÊNCIA POLÍTICA

31/7/2018 a 3/8/2018 - Universidade Federal do Paraná

Área Temática 08 - Participação Política

JUVENTUDE UNIVERSITÁRIA E POLÍTICA: A DESCRENÇA NAS INSTITUIÇÕES


PARLAMENTARES E O CRESCIMENTO DOS COLETIVOS

Olívia Cristina Perez


Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Resumo: A pesquisa analisa as práticas e discursos dos coletivos universitários, com foco
na relação dos mesmos com os partidos e as instituições parlamentares. Para tanto foram
feitas dezesseis entrevistas qualitativas com todos os coletivos universitários da cidade de
Teresina/PI e análise das postagens dos cento e setenta coletivos universitários com
páginas na rede social digital facebook. Os resultados mostram o distanciamento discursivo
dos coletivos em relação à política partidária e parlamentar. Os coletivos se apresentam
como mobilizações fluidas, horizontais, sem a necessidade de intermediários, especialmente
de partidos. Contextualizando esse distanciamento, são apresentados dados do
Latinobarômetro de 2010, 2013 e 2015 acerca da confiança dos jovens universitários nos
partidos e no Congresso. Com base nesses resultados são tecidas reflexões sobre as
causas e possíveis impactos do aumento da atividade política distante de instituições
basilares do sistema democrático.
Palavras-chave: Coletivos; Movimentos Sociais; Juventude.
INTRODUÇÃO

Os jovens vêm se organizando nos chamados coletivos, tanto nas universidades


quanto nas redes sociais digitais, onde promovem debates com pautas feministas e
antirracistas. O termo coletivo remete a um tipo de organização fluida, não hierárquica e
discursivamente distante da política partidária parlamentar e das organizações mais
tradicionais.
São poucos os estudos que tratam especificamente dos coletivos. Os trabalhos que
existem pontuam algumas das suas características, tais como: pautas múltiplas,
horizontalidade, fluidez e presença nas mídias digitais (MAIA, 2013). Os estudos também
apontam que os coletivos são formas de mobilização sociais pequenas e não
institucionalizadas – o que os distancia da literatura sobre organizações não governamentais
e associações. Parecem mais próximos das explicações sobre movimentos sociais (cf.
BORELLI e ABOBOREIRA, 2011).
No entanto, os coletivos não podem ser entendidos somente com as explicações
sobre movimentos sociais (GOHN, 2017). A autora explica que os coletivos não são
movimentos sociais, embora possam se transformar ou se autodenominar como
movimentos sociais. Os movimentos sociais teriam: opositores, identidade mais coesa,
projeto de sociedade, liderança, base, assessoria e laços de pertencimento, seriam,
portanto, mais estruturados. Os coletivos considerariam os movimentos sociais engessados,
tradicionais e centralizadores (GOHN, 2017).
Em pesquisa recente que teve o objetivo de definir o que são os coletivos, Perez e
Souza (2017) constataram que não existe um único tipo de coletivo, mas sete deles:
coletivos universitários, coletivos que discutem clivagens sem ligação com a universidade,
coletivos vinculados a partidos políticos e/ou movimentos estudantis, coletivos que atuam
com causas sociais, coletivos de artes, coletivos promotores de eventos e coletivos
empresariais. Tais coletivos combinam pautas e práticas consolidadas com temas e formas
de comunicação contemporâneas.
Dentre esses coletivos, a presente pesquisa se concentra nas práticas e discursos
dos coletivos universitários, que são aqueles formados por jovens que frequentam a
universidade e desenvolvem suas ações principalmente nesses espaços. A pesquisa analisa
as características dos coletivos universitários e a relação com a crescente descrença nas
instituições parlamentares.
Para cumprir tal tarefa, o trabalho tem como primeiro objetivo específico descrever os
coletivos universitários. Essa descrição é realizada por meio da análise de dados coletados
em entrevistas qualitativas com dezesseis coletivos universitários que atuam na cidade de
Teresina, capital do estado do Piauí. Complementando a análise, foram sistematizadas
informações sobre todos os coletivos universitários com páginas na rede social facebook
(cento e setenta).
O discurso e a prática dos coletivos expressam um distanciamento dos partidos e
arenas parlamentares. Para compreender o que diferencia os coletivos das organizações
políticas parlamentares, é feita uma sistematização dessas diferenças a partir do discurso
dos coletivos.
Contextualizando o distanciamento discursivo dos coletivos em relação aos partidos
e às arenas parlamentares, são apresentados dados do Latinobarômetro de 2010, 2013 e
2015, que medem a confiança dos jovens universitários nos partidos e no Congresso. Os
dados situam o ano de 2013 como o pico dessa descrença. Para compreender tais
resultados, são retomados estudos sobre o contexto político de crise das instituições
brasileiras expressadas nas chamadas Manifestações de Junho de 2013.
Os jovens têm capacidade de inovação, ruptura e produção política (VOMMARO,
2015). São eles os responsáveis por grandes manifestações, tal como aquelas que levaram
ao impeachment do ex-presidente Collor em 1994. Por isso, pensar a política feita pela
juventude possibilita a compreensão dos principais conflitos que atravessam as sociedades
contemporâneas, bem como seus dilemas e saídas.
A pesquisa contribui com o campo de reflexão sobre participação política ao analisar
crescentes formas de mobilização, discursivamente novas. A diferença dessas formas está
na recusa a instituições parlamentares (tais como partidos políticos e Congresso) tidos como
hierárquicas e engessadas. O estudo aponta para a reflexão sobre os limites e
possibilidades das mobilizações políticas contemporâneas, especialmente em um contexto
em que as instituições democráticas vêm sofrendo ataques e retrocessos. É urgente refletir
sobre as origens, ações e consequências das mobilizações políticas que negam a política
partidária e parlamentar.

1 ESTUDOS SOBRE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E COLETIVOS

Os jovens reinventam novas formas de agir politicamente que convivem e se


entrelaçam com organizações já consolidadas. Dentre essas novas formas de organização
vêm chamando atenção nos espaços universitários os coletivos. A nomenclatura coletivo
não é nova, tampouco as organizações que se auto intitulam desse jeito. No entanto, a
utilização do nome coletivo tem crescido, como se fossem novas formas de mobilização,
distantes das organizações burocráticas e hierárquicas.
Conforme Maia (2013), o que distingue o coletivo dos outros movimentos é o fato
dele não ter uma pauta permanente de ação, ele “pode agregar múltiplas demandas, e, por
meio de debates periódicos, são definidas quais as pautas prioritárias, a partir da conjuntura
política que é mantida em permanente análise.” (MAIA, 2013, p. 69). A horizontalidade —
entendida como ausência de liderança — seria outra característica dos coletivos (MAIA,
2013). Ou seja, não haveria um líder que falasse em nome dos outros, a liderança seria
partilhada por todos.
É importante ressaltar que os coletivos não são homogêneos. Em pesquisa que teve
o objetivo de definir o que são os coletivos, Perez e Souza (2017) entrevistaram todos os
vinte e um coletivos (a partir da autodefinição) de Teresina e analisarem as postagens de
todos os coletivos com páginas no facebook (setecentos e vinte e cinco). Os autores
constataram que existem sete tipos de coletivos: de artes, universitários, que discutem
clivagens sem ligação com a universidade, vinculados a partidos políticos e/ou movimentos
estudantis, que atuam com causas sociais, promotores de eventos e empresariais. Tal
definição considerou os sujeitos que compõem os coletivos e suas finalidades.
Em suma, os coletivos seriam fluidos (aparecem e desaparecem com facilidade e a
permanência neles seria circunstancial), fragmentados, sem liderança, autônomos, com
pautas múltiplas e temporárias e forte presença na internet (BORELLI; ABOBOREIRA, 2011;
MAIA, 2013; GOHN, 2017; PEREZ; SOUZA, 2017).
Tais características aproximam os coletivos dos novos movimentos sociais, surgidos
na Europa a partir da década de 1960. Autores como Melucci (1989) e Touraine (2006)
explicaram que os movimentos daquele contexto expressavam demandas simbólicas no
lugar da classe social, principal bandeira de luta dos movimentos sociais clássicos. Os
novos movimentos sociais seriam fluidos, horizontais e apartidários (MELUCCI, 1989).
No Brasil, os movimentos sociais que se multiplicaram durante o período da ditadura
militar, em especial na década de 1970, também ficaram conhecidos como novos
movimentos sociais. Conforme um estudo que é referência no assunto (SADER, 1988), os
movimentos daquela época produziram sujeitos coletivos pautados em novos padrões de
sociabilidade mais horizontais e cientes do que lhes é de direito. Diferentes dos movimentos
sociais anteriores à ditadura que lutavam por mais serviços, os novos movimentos sociais
almejavam a conquista de direitos, inclusive o direito a participar das decisões públicas.
A Constituição Brasileira de 1988 normatizou diversas demandas dos novos
movimentos sociais. Além dos mecanismos de participação semidireta como Plebiscito,
Referendo e Inciativa Popular de Lei, a Constituição determina a obrigatoriedade da
“participação da população” (artigo 204, inciso II, que trata da Assistência Social) e a
“participação da comunidade” (artigo 198, inciso III, da área da Saúde) nas políticas
públicas.
A participação da população organizada em associações nas políticas públicas tem
influência no ideal da democracia direta. A democracia direta pressupõe que todos os
cidadãos decidam sobre os assuntos públicos, sem a necessidade de representantes
eleitos. Esse regime é associado ao modo de governo que prevalecia na Grécia Antiga,
mesmo que se saiba que as decisões gregas eram restritas aos cidadãos (excluindo
mulheres, estrangeiros e escravos). Jean-Jacques Rousseau no clássico O Contrato Social,
([1762] 2014) é uma fonte de inspiração para diversas teorias (cf. PATEMAN, 1992) que
defendem que o próprio povo deve sancionar as leis as quais vai se submeter, sem a
necessidade de representação.
Nas sociedades contemporâneas o regime que prevalece é a democracia
representativa, em que os tomadores das decisões são escolhidos por meio da eleição.
Várias críticas são tecidas a esse regime, em especial o fato de que os representantes se
distanciam dos anseios dos representados (cf. PATEMAN, 1992). Para corrigir e alargar a
possiblidade de vocalização e atenção aos interesses da população são propostos
mecanismos de inclusão da sociedade civil organizada nas decisões públicas.
Impulsionada por tal concepção e para concretizar as diretrizes legais, cresceram
nas décadas de 1990 e 2000 as Instituições de Participação (IPs), tais como Conselhos
Gestores, Orçamentos Participativos e Conferências de Políticas Públicas. A título de
exemplo, em 2001 existiam 25.752 Conselhos nos 5.560 municípios brasileiros (IBGE,
2001). Os estudos iniciais celebravam essas importantes conquistas, principalmente pela
capacidade de incluir a chamada sociedade civil nas decisões públicas (SANTOS;
AVRITZER, 2002).
Além da possibilidade de inclusão da população nas decisões públicas, existe nas
IPs uma preocupação com o processo de tomada de decisão — tema de reflexão da
democracia deliberativa. Conforme a democracia deliberativa, que tem em Habermas seu
principal autor, não basta que as decisões públicas sejam tomadas por representantes
eleitos, tampouco que os cidadãos sejam incluídos por meio de mais votação: interessa a
forma como as decisões são construídas. Para essa vertente teórica as decisões devem ser
construídas após um amplo processo de discussões, em que todos possam participar com
igualdade de condições. As opiniões devem ser justificadas, para que se chegue a um
entendimento geral; e elas não podem ser estanques: o processo de reformulação das
decisões deve ser contínuo (GUTMANN; THOMPSON, 2007).
Com a eleição do Partido dos Trabalhadores (PT) para o governo federal em 2003,
diversos membros de movimentos sociais passaram a ocupar cargos públicos.
Acompanhando tais transformações, cresceram os estudos que apontaram a interação
socioestatal (ABERS e VON BÜLOW, 2011; ABERS, SERAFIM e TATAGIBA, 2014),
inclusive problematizando as diversas formas de interação e suas consequências. Um
esforço dessa agenda é comprovar que as interações entre interesses sociais organizados e
Estado definem o próprio âmago da construção da ordem política em si (LAVALLE;
SWAKO, 2015).
No entanto, a política brasileira sofreu uma reviravolta. As eleições de 2014
aprofundaram e externalizaram uma divisão política no Brasil. Inclusive, a vitória do PT nas
urnas foi questionada. Seguiram-se denúncias de corrupção evidenciando o ativismo político
judicial e a seletividade da mídia brasileira. Esses fatores ajudaram enfraquecer o governo,
fortalecendo o PMDB no Congresso Nacional, o que culminou com a eleição de Eduardo
Cunha para presidência da Câmara dos Deputados em 2015. Foi o então deputado Eduardo
Cunha quem deu o início ao processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff,
levando seu vice, Michel Temer, ao posto de presidente do Brasil em agosto de 2016.
Os indícios da grave crise política brasileira já estavam dados na onda de
Manifestações que tomou conta do país em meados de 2013. As chamadas Manifestações
de Junho de 2013 expressavam insatisfações com temas sociais (saúde, educação,
transporte) e com a política institucional. As manifestações tiveram como estopim a
reivindicação por parte do Movimento Passe Livre para que a tarifa na cidade de São Paulo
não sofresse aumento e, em última instância, fosse gratuita — atendendo ao direito humano
de ir e vir. Assim, em junho de 2013, milhões de jovens se organizaram ocupando ruas e
edifícios públicos durante vários dias, expressando as limitações dos avanços políticos e
sociais do Brasil nos últimos anos (VOMMARO, 2015).
Relacionada a essas insatisfações, as Manifestações de 2013 expressaram o
distanciamento da política parlamentar: “[...] as massas nas ruas afirmam o desejo de
exercício da política sem mediações institucionais [...]” (TATAGIBA, 2014, p. 41). O
distanciamento dos partidos também marcou as Manifestações da época, inclusive os
manifestantes eram hostis à presença de partidos e seus militantes (TATAGIBA, 2014).
Acompanhando esses posicionamentos, proliferaram nas Manifestações de 2013 os
coletivos. Os coletivos rechaçam o vínculo com partidos políticos, sindicatos, ou igrejas,
pautando a luta de forma direta, sem a necessidade de mediadores. (VOMMARO, 2015).
Inclusive, o crescimento de coletivos apartidárias e discursivamente distantes da
política partidária e parlamentar já poderiam indicar o teor e consequências de
manifestações. Conforme Vommaro (2015, p. 62): “Más allá de la sorpresa que pudieron
haber causado en algunos sectores y analistas estas movilizaciones, si nos enfocamos en lo
que acontecía entre los colectivos juveniles de Brasil desde tiempo atrás surgen varios
elementos que pueden contribuir a su comprensión. “ Ou seja, a desconfiança em relação à
política parlamentar e o crescimento de coletivos que se colocam como apartidários já
expressavam o descontentamento com a política e os políticos, que foram o mote das
Manifestações.
Nesse sentido, Mesquita (2008) associa a emergência dos coletivos à suposta crise
da representação política. Conforme o autor, os jovens perderem o respaldo de instituições
como movimentos estudantis, sindicatos e partidos políticos existentes antes da década de
1980 para expressar suas demandas e incluir a juventude. Os coletivos preencheriam esse
espaço necessário para a vocalização dos anseios da juventude.
As manifestações de São Paulo foram o disparador para outros protestos em várias
cidades do Brasil. A onda de manifestações incorporou demandas que extrapolaram a
questão do transporte, abarcando críticas aos serviços públicos, aos gastos excessivos do
governo e à corrupção. A pauta da corrupção foi privilegiada em protestos posteriores, que
se transformaram em pedidos de impeachment à presidenta Dilma e em aversão aos
Partidos dos Trabalhadores. O discurso de ódio ao PT ficou mais evidente nas eleições para
presidente em 2014 (TATAGIBA, 2014).
Em todas essas manifestações a internet foi central. Em comum, as Manifestações
de 2013 no Brasil, a “Primavera Árabe” no Oriente Médio, os “Indignados” em Madri e o
Ocupe Wall Street em Manhattan, indicam que não é mais possível ignorar a importância
das novas mídias tecnológicas na formação de identidades coletivas entre os jovens
(BAQUERO; BAQUERO; MORAIS, 2016, p. 992). As novas formas de tecnologias de
comunicação e informação não são apenas um canal de comunicação e visibilidade dos
movimentos. Em especial, as redes sociais digitais, constituem um componente relevante
para compreender a constituição dessas organizações: as redes formam um território de
ação política em que se produzem disputas em torno do seu controle; além do que é lá que
novos membros são formados (VOMMARO, 2015).
Para nomear recentes mobilizações tais como as Manifestações de Junho de 2013
ou o Occupy Wall Street, teóricos vêm utilizando o termo novíssimos movimentos sociais
(DAY, 2005; AUGUSTO; ROSA; RESENDE, 2016; GOHN, 2017). Os novíssimos
movimentos sociais seriam plurais, autônomas, horizontais e apartidários (AUGUSTO;
ROSA. RESENDE, 2016) características distantes das estruturas institucionalizadas
(GOHN, 2017).
O canadense Richard Day (2005) argumenta que os movimentos criados após a
década de 1980 (movimentos de resistência indígena, organizações feministas e ativismos
antiglobalização) devem ser considerados novíssimos movimentos sociais, pois seguem a
lógica da afinidade e não da hegemonia.
Os movimentos hegemônicos estariam ligados às tradições liberal e marxista que
dominaram e ação política ao longo do século XX. Para esses movimentos a mudança seria
alcançada com a conquista das forças que exercem controle hegemônico — mas, ainda
assim, mantendo a natureza hegemônica de tal controle. A premissa central da hegemonia é
a suposição de que a mudança social efetiva só pode ser alcançada simultaneamente e em
massa, em todo um espaço nacional ou supranacional (DAY, 2005). Conforme
posicionamento do autor, os objetivos hegemônicos seriam uma forma de opressão
intrinsecamente autoritária.
Os projetos dos novíssimos movimentos sociais seguiriam uma lógica de afinidade,
na medida em que estão enraizados em autonomia e na descolonização, desenvolvendo,
para tanto, novas formas de auto-organização. Essas novas formas de auto-organização
podem funcionar em paralelo ou como alternativas às formas existentes de organização
social, política e econômica. A lógica da afinidade está presente no anarquismo libertário
como recusa ao Estado e as formas de relações hegemônicas, permitindo assim que cada
grupo desenvolvesse sociabilidades distintas sem obedecer a um único projeto em comum
(DAY, 2005).
A mobilização política entre os jovens contrários ao Estado e aos partidos tem
relação com a descrença nessas instituições. Conforme investigação conduzida por
Baquero, Baquero e Morais (2016) em Porto Alegre e Curitiba nos de 2015 e 2016,
os jovens associam a política com expressões como “corrupção”, “ladroagem” e
“oportunismo”; enquanto os políticos são associados com “alienação”, “corrupção”,
“falsidade” e “inutilidade”. Esse mesmo trabalho ressalta a diminuição da atividade política
da juventude. Isso não significa que os jovens estejam deixando de ter atividade política,
mas que a mesma alterou-se: nos coletivos a política é exercida negando a política,
entendida como a atividade de membros de partidos em instituições.
O distanciamento da política parlamentar merece atenção na medida em que, como
ensinam os teóricos da cultura política: “Quanto maior o nível de legitimidade [do regime
democrático] mais fortalecida está a ordem política e quanto mais a ordem política se
consolida maior a probabilidade de sua persistência.” (BAQUERO; BAQUERO; MORAIS,
2016, p. 990). Nesse sentido, experiências contínuas de caráter negativo com o
desempenho das instituições políticas podem desembocar no declínio de apoio e obediência
a normas (BAQUERO; BAQUERO; MORAIS, 2016) colocando em risco a própria
democracia.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa contou com procedimentos metodológicos qualitativos e quantitativos.1


Como os coletivos são novos e pouco conhecidos, primeiramente optou-se por fazer uma

1
A pesquisa aqui apresentada é parte de um projeto maior que tem como objetivo definir e
compreender os diversos tipos de mobilização política dos jovens, incluindo os coletivos. O projeto
“Como os cidadãos estão se organizando? Formas, pautas, estratégias e influência das mobilizações
sociais contemporâneas” é realizado em conjunto com os seguintes membros do grupo de pesquisa
da UFPI "Democracia e Marcadores Sociais da Diferença": Prof. Dr. Bruno Mello Souza, Iara
investigação exploratória por meio de entrevistas semiestruturadas com membros de todos
os coletivos que atuam na cidade de Teresina — capital do estado do Piauí.
Para selecionar os objetos de pesquisa partiu-se da auto definição das organizações
como coletivos. A seleção do local de atuação dos sujeitos entrevistados foi feita com base
no critério de conveniência. Definida a cidade, as entrevistas começaram com os coletivos
que atuavam dentro da universidade. Os outros coletivos foram selecionados por meio de
notícias de jornais, buscas na internet e por indicação dos membros dos próprios coletivos.
Ao todos foram localizados vinte e um coletivos, dentre os quais dezesseis eram formados
por universitários que atuavam dentro de universidades, por isso foram escolhidos para a
reflexão deste trabalho.
Com o intuito de ampliar a compreensão do fenômeno, foram também investigados
todos os coletivos que possuíam páginas na rede social digital mais utilizada atualmente no
Brasil: o facebook. Na busca feita para a pesquisa, primeiramente o descritor coletivo e
coletiva2 foram digitados no espaço da busca no mês de junho de 2017. O banco de dados
foi formado por setecentos e vinte e cinco páginas de coletivos. Dentre todos esses, 23,5%
(170) foram classificados como coletivos universitários e, por isso, são retomados para a
presente reflexão.
Foram investigadas as seguintes informações retiradas das páginas de todos os
coletivos cadastrados no Facebook: nome, região, ano de criação, composição, objetivo,
tema principal, existência de interseccionalidades (se sim, com qual causa/grupo), principais
interlocutores, práticas mais comuns, conteúdo das postagens mais recentes, (observadas a
partir das últimas cinco postagens), afirmação de que há horizontalidade, autonomia,
apartidarismo, ausência de burocracia/formalização, opinião sobre política parlamentar, se o
coletivo faz críticas e, em caso afirmativo, contra quem3. A confecção do banco de dados
ocorreu no mês de junho de 2017 por uma equipe treinada para tanto.
Reunidos os dados, os conteúdos foram analisados para captar as práticas e a
relação dos coletivos universitários com partidos e instituições parlamentares (tais como o
Congresso e instituições de participação). A análise de conteúdo é uma técnica bastante
utilizada nas pesquisas qualitativas com o objetivo de verificar a frequência em que ocorrem
determinadas construções em um texto, permitindo assim sistematizar as informações
reunidas. (BARDIN, 2006).

Cavalcanti Melo, Maria Clara Paiva, Brenda Thereza Alencar Lobão Leite Félix, Geovana Azevedo da
Costa, Adriana Marina Cabello e Caroline Bandeira.
2 A busca abarcou também o termo coletiva, pois as entrevistas revelaram que alguns coletivos

feministas por vezes adotam o nome, reafirmando assim a questão de gênero.


3 Embora as informações pesquisadas sejam de livre acesso, ou seja, as páginas são abertas a todos

que queiram consultá-las, optou-se por não citar o nome dos coletivos. Foram suprimidos também
trechos que os identifiquem.
Ressalta-se que a pesquisa capta o discurso dos coletivos a partir de entrevistas e
postagens na internet. Não houve participação de fato nas reuniões dos mesmos para
constatar as diferenças entre discurso e prática. Logo, se as análises apontam para o
distanciamento dos partidos e das instituições parlamentares, isso não significa que os
partidos estejam ausentes, ou que não haja hierarquia nas decisões dos coletivos.
Ciente de que os discursos e práticas dos coletivos estão relacionados com
percepções sociais acerca da política, foram levantados dados do Latinobarômetro sobre
confiança no Congresso e nos partidos nos anos de 2010, 2013 e 2015.4
O Congresso foi escolhido por se tratar de uma instituição central na democracia
representativa, já que nele atuam os representantes na esfera federal. Além do Congresso,
auferiu-se a confiança nos partidos, considerando o distanciamento dos partidos apontado
pelos coletivos.
Os dados do Latinobarômetro são analisados de forma comparativa: os jovens
universitários (aqueles que estão estudando, mas ainda não completaram o ensino superior)
são comparados com os jovens em geral; também são comparados os dados por gerações
(compara-se jovens de 16 a 29 anos, com adultos de 29 a 59 anos e idosos com mais de 60
anos)5 e por período (anos de 2010, 2013 e 2015).6 Dessa forma, foi possível perceber se a
confiança nas instituições parlamentares difere entre os jovens universitários e jovens em
geral, entre gerações e entre períodos.

3 PRÁTICAS DOS COLETIVOS UNIVERSITÁRIOS

Os coletivos universitários são formados por estudantes do ensino superior que


atuam dentro das universidades. Esses coletivos se distinguem, por exemplo, dos coletivos
de artes, por discutirem a identidade de grupos e por proporem ações que desconstruam
preconceitos promovendo, assim, a inclusão de grupos com mais dificuldade de acesso a
direitos, tais como mulheres, negros, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros
(conhecidos pela sigla LGBTT). Aliadas a essas pautas, questões mais consolidadas dos
jovens universitários, como a luta pela inclusão e permanência dos estudantes nas

4 O Latinobarômetro reúne um amplo estudo sobre opinião pública. São aplicados anualmente por
volta de 20.000 questionários nos países da América Latina (Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia,
Costa Rica, Chile, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, com exceção de Cuba). A série
histórica anual disponível no site do projeto se inicia no ano de 1995. São disponibilizados os dados
até o ano de 2015, excetuando os anos de 1999 e 2012.
5 A separação etária obedece aos critérios do IBGE, embora a distinção das gerações não sejam

possíveis apenas pelo critério etário, desconsiderando o contexto cultural e as vivências dos sujeitos.
6 O ano de 2010 foi escolhido como ponto de partida para a análise temporal pois a pesquisa no

facebook indicou que a maior parte dos coletivos foram criando entre os anos de 2012 a 2016
(65,5%) com pico em 2016 (16,7%).
universidades, também é um tema central, conforme demonstra o Gráfico 1:

Gráfico 1 – Temas principais dos coletivos universitários


com páginas no facebook

feminismo 40.4%
movimentos estudantis e grupos de partidos 15.2%
LGBTT 12.9%
racismo 11.7%
arte, cultura e/ou comunicação 7.0%
meio ambiente/natureza/causa animal/saúde 4.1%
acesso/uso das cidades/periferia 2.3%
classe social/categoria profissional 1.8%
anarquista 1.2%
anticapitalista 0.6%
juventude 0.6%
outros 2.3%

Fonte: A autora, 2018.

A principal pauta dos coletivos universitários é o feminismo (40,4%). A discussão


sobre a categoria gênero enquanto construção social e a luta pelo empoderamento das
mulheres é um dos temas com maior repercussão nos dias atuais. Embora com críticas ao
atraso, a universidade vem acolhendo essa temática, em parte pressionada pelos
estudantes, que disseminam tais conhecimentos, principalmente nas redes sociais.
O terceiro tema mais debatido entre os coletivos universitários é a questão LGBTT,
com foco no combate à discriminação que lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transgêneros sofrem dentro e fora das universidades. Uma mudança comportamental pode
ser inclusive observada nas universidades brasileiras: alunxs vem assumindo que não se
identificam com seus gêneros biológicos, obrigando professores e colegas a se adequarem
aos seus novos gêneros e nomes sociais.
Em quarto lugar, 11,7% dos coletivos universitários discutem e combatem o racismo.
A despeito de tantas evidências acerca do racimo no Brasil e nas universidades, ainda
existem posicionamentos contrários ao seu reconhecimento e inclusão dos negros. Os
coletivos vêm chamando para si essa discussão, exigindo das universidades
reconhecimento das dificuldades associadas à cor/raça/etnia no Brasil e políticas de
inclusão e permanência dos estudantes negros.
As lutas pelo reconhecimento de identidades já eram bandeiras dos movimentos
sociais que se multiplicaram na década de 1960 (MELUCCI, 1989; TOURAINE, 2006). Logo,
com uma nova roupagem, os coletivos trazem discussões marcantes das sociedades
contemporâneas apontadas pelos teóricos dos novos movimentos sociais.
Os coletivos também lutam por temas conhecidos entre os estudantes, a exemplo da
pauta estudantil e organização partidária (tema de 15,2% dos coletivos). Os movimentos
estudantis e grupos ligados a partidos políticos foram reunidos sob a mesma categoria, pois
o movimento estudantil em sua maior parte está ligado a partidos (em geral à esquerda no
espectro político-ideológicos). De modo semelhante, os universitários ligados a partidos
políticos militam em favor dos direitos dos estudantes dentro das universidades. Então, não
é possível dissociar o movimento estudantil da orientação partidária por meio das
informações disponibilizadas pelo facebook (embora possa acontecer, ou seja, uma
tendência à dissociação do movimento estudantil com partido político, mesmo dentro da
universidade). No mesmo sentido, nas entrevistas os coletivos que defendiam os direitos
dos estudantes eram também ligados a partidos políticos.
Esses dados revelam que, embora discursivamente o próprio termo coletivo denote
uma forma de organização distante da política institucional-partidária, os partidos políticos e
movimentos históricos, como o estudantil, também estão atuando politicamente dentro e fora
das universidades e redes sociais.
No entanto, ao invés de adotarem como nome as siglas dos partidos ou das
entidades as quais pertencem, os coletivos preferem se autonomear dessa forma. Pelo
nome da maioria dos coletivos entrevistados, nem era possível reconhecer a ligação
partidária. Era preciso perguntar algumas vezes para descobrir que o coletivo era ligado a
um partido político. Isso já demonstra a tentativa de distanciamento dos partidos.
Em menor proporção, 7% dos coletivos atuam em prol das artes (teatro, música e
dança, por exemplo); 4,1% dos coletivos universitários debatem questões como meio
ambiente, natureza, causa animal e saúde, conforme definição dos mesmos; enquanto 2,3%
tratam do acesso à cidade; 1,8% estão ligados a sindicatos e categorias profissionais (e
ainda assim se definem como coletivos); a pauta anarquista apareceu em 1,2% deles e a
anticapitalista em 0,6%.
No entanto, essas pautas não estão isoladas. Uma das grandes novidades dos
coletivos é a tônica na interseccionalidade de suas discussões, de forma declarada ou não.
Os coletivos que discutem feminismo são os que mais apresentam interseccionalidade, na
medida em que ou se declaram, ou suas postagens contém a defesa de clivagens diferentes
daqueles que são suas bandeiras principais. A interseccionalidade mais comum é com a
temática racial (23%) seguida pela defesa de direitos para a população LGBTT (16,4%). A
interseccionalidade de clivagens sociais tais como gênero e raça vêm sendo apontada pela
literatura com fundamental para análise das dificuldades por quais passam determinados
grupos (CRENSHAW, 2002).
Os coletivos são influenciados ao mesmo tempo em que influenciam os debates
sobre identidades nas universidades. Surgem em um contexto de proeminência de
discussões relacionadas ao preconceito – tanto em sala de aula quanto nas esferas
governamentais – o que gerou legislações e políticas públicas determinadas a corrigir erros
históricos e possibilitar um pouco mais de igualdade de oportunidades.7
Cabe ressaltar que as lutas dos coletivos não são unificadas. Existe centenas de
coletivos pulverizados, cada um discutindo um tema sob uma vertente. Não há, por
exemplo, um coletivo feminista unificado, mas coletivos feministas e antirracistas, feministas
classistas, feministas radicais, etc. No sistema representativo, a unificação das lutas, em
geral com temas classistas e ideológicos, é conduzida por partidos. Os coletivos rechaçam
não só os partidos, mas também as lutas unificadas.
Outra grande diferença dos coletivos em relação a mobilizações clássicas é que eles
não se diferenciam pela posição de classe dentro do processo de produção, tampouco pelo
posicionamento ideológico à esquerda ou à direita. Todos os coletivos entrevistados se
posicionam à esquerda, conforme os próprios entrevistados, mas o discurso classista, com
ideologias de classe, não é o principal tema desses novos atores. Isso não significa que os
coletivos não tenham discursos e práticas relativos à classe, ou pobreza e riqueza, mas que
entre os coletivos universitários (geralmente de universidades públicas) a clivagem classe
não é preponderante. Talvez nem pudesse ser, vide a perseguição que os próprios
professores sofrem em relação a aulas com conteúdos marxistas, ou mesmo considerando
a ascensão de movimentos de direita ultraconservadores, também dentro das
universidades. O fato de a pauta dos coletivos ser principalmente identitária e pulverizada,
pode ter relação com a ascensão de movimentos à direita.
Quanto à criação dos coletivos universitários, as entrevistas revelaram um
descontentamento dos jovens em relação à ausência de discussões sobre identidades
dentro das universidades, por isso a necessidade de proporem debates e ações de inclusão.
Na percepção dos jovens entrevistados, a universidade se esquiva da discussão e da
atuação com questões fundamentais para a convivência em sociedade, em consonância
com debates atuais e, por isso, eles devem pressionar a entrada desses temas.
A percepção de que o problema é a falta de ação diante de questões urgentes também
aparece nas páginas virtuais dos coletivos. Conforme uma das páginas pesquisadas: “o ponta pé
inicial do coletivo tenha sido ter voz”, pois os seus criadores sentiam que existiam injustiças que

7 O Estatuto da Igualdade Racial, Lei nº 12.288, foi promulgado em julho de 2010; o Estatuto das
Pessoas com Deficiência, Lei nº 13.146, em 2015; leis que visam o combate à violência contra a
mulher, como a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340) data de 2006 e a recente Lei do Feminicídio (Lei
nº 13.104 de 9 de março) de 2015. No tocante aos direitos LGBTTs (lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transgêneros), houve avanços proporcionados pelo poder judiciário como, por exemplo, o
reconhecimento pelo STF (Supremo Tribunal Federal) da equiparação da união homossexual à
heterossexual, em 2011.
deveriam ser debatidas e combatidas. A internet permite que os jovens que defendem menos
preconceitos e inclusão possam se manifestar, além de possibilitar que esses mesmos e outros
jovens formem suas identidades.
A principal prática dos coletivos universitários com páginas no facebook (42,7%
deles) é a promoção de palestras, encontros, cursos e rodas de conversa em que são
discutidos textos e questões cotidianas vivenciadas pelo grupo ou noticiadas pela mídia.
Trata-se de um importante espaço de reafirmação de identidade e divulgação de questões
emergentes. As rodas de conversas seriam diferentes dos debates pelo seu caráter mais
informal, sem conflitos e sem a necessidade de regras que determinem quem tem a fala ou
em quanto tempo deve ser feita a réplica. Os coletivos inventam nomes para distanciar suas
práticas daquelas regidas por normas formais e hierárquicas. Além de ensinarem e
aprenderem sobre o tema, os universitários organizam protestos e convocam seus pares
para manifestações públicas.
Embora não seja compartilhado entre todos os coletivos, 3% dos coletivos
universitários declararam a ausência de hierarquias ou de lideranças em suas organizações,
assim como o apartidarismo. Essas características também apareceram nas entrevistas:
mais da metade dos dezesseis entrevistados destacou o distanciamento dos partidos e a
ausência de liderança nas decisões. Um exemplo típico de coletivo universitário que destaca
tais características é assim descrito no facebook:

O Coletivo feminista [...] surgiu em 2012 através da iniciativa de estudantes


da Universidade Federal [...] que, percebendo a falta de espaço e debate
sobre a situação das mulheres na instituição e as tantas situações sexistas
a qual somos expostas diariamente, iniciaram um grupo de conversa/debate
para discutir a condição das mulheres na universidade (e todas as questões
que aqui se encaixam) sob a perspectiva feminista. Nos organizamos de
forma horizontal e auto gestionada, ou seja, sem hierarquias e divisão de
cargos, apenas divisão de tarefas. Autônomo, o Coletivo não tem vínculo
com outras organizações partidárias, o que não exclui que pessoas
organizadas em outras esferas ajudem a construir o coletivo e, portanto,
esteja presente um diálogo aberto com quaisquer ideologias. Entendemos
que a luta feminista é interseccional e necessária para desnaturalizar,
combater e superar as relações sexistas existentes na sociedade. Por isso,
pautamos também discussões transversais de classe e raça.

Notam-se nesse trecho várias particularidades aqui apontadas como típicas de


coletivos universitários: o trabalho com feminismo, a importância da interseccionalidade, a
prática de promover debates e rodas de conversa. Os coletivos universitários seguem essa
linha em suas postagens, inclusive fazendo muitas críticas a políticos e a grupos que
manifestam práticas opressoras (machistas, racistas e homofóbicos, principalmente).

4 O DISTANCIAMENTO DA POLÍTICA INSTITUCIONAL E PARLAMENTAR


RESSALTADO PELOS COLETIVOS UNIVERSITÁRIOS

Os coletivos fazem política, mas rechaçam a aproximação com o próprio termo.


Quando questionado sobre a prática política dos coletivos, um entrevistado respondeu “Não,
a gente não mexe com política.” Percebe-se nesse trecho a associações de política com
política partidária, por isso, ao rechaçar a política, os jovens estariam se distanciando da
política via partidos em instituições parlamentares — essa sim fonte de descrença. Essa
associação já havia sido apontada por Baquero, Baquero e Morais (2016) em pesquisa
realizada em Porto Alegre e Curitiba nos de 2015 e 2016, em que os jovens associaram a
política com expressões como “corrupção”, “ladroagem” e “oportunismo”; enquanto os
políticos são associados com “alienação”, “corrupção”, “falsidade” e “inutilidade”.
No entanto, os coletivos formados por jovens estão fazendo política, ainda que
discursivamente distante da política partidária. Ao ser questionado sobre o paradoxo de
fazer política, mas sem política, outro entrevistado respondeu que: “A gente fala de política
sim. Mas quando a gente tá falando de uma política partidária, é sobre ter um partido, não!”.
Ou seja, a política partidária brasileira é fonte de descrença e distanciamento. Mas isso não
significa imobilismo, afinal, conforme um entrevistado: “A gente não está querendo nenhum
dos partidos que estão aí, mas estamos lutando”.
É importante frisar que existem membros de partidos nos coletivos e alguns deles
são formados pela juventude de partidos de esquerda. Mas, mesmo esses, se
autodenominam coletivos, sem fazer referência ao partido a que estão ligados. A ligação
com partidos políticos, que já foi uma demonstração de politização, é ocultada por alguns
coletivos.
Tanto o caráter apartidário, quanto o antipartidarismo, aparece no discurso dos
coletivos. No primeiro caso, é permitido que os membros sejam de partidos, no entanto, as
orientações partidárias não devem se sobressair nas decisões. Por exemplo, quando
perguntado para um dos entrevistados se os membros dos coletivos faziam parte de algum
partido, ele respondeu que: “Cara, se são, é uma coisa bem interiorizada, fora da
associação.” Isso significa que os participantes daquele coletivo não explicitam suas
filiações partidárias e elas não devem guiar as decisões, ainda que seja admitida a filiação.
O caráter apartidário é diferente do antipartidarismo, que também aparece no
discurso dos coletivos. Para os antipartidários, os partidos retiram a autonomia dos
indivíduos, tolhendo suas liberdades de pensar e agir. Por isso um coletivo pontua que: “[...]
A gente não tem um partido, a gente não tem nada. Então nosso lugar é a favor do povo e
aquilo dali fique melhor pra todos”.
Esse tipo de discurso aparece em coletivos anarquistas e não anarquistas, indicando
que a questão da autonomia, tão caro ao ideal anarquista, está sendo uma das
características dos novíssimos movimentos sociais, assim como apontou Richard Day
(2005) pensando nos movimentos antiglobalização, e Augusto, Rosa e Resende (2016) que
refletem sobre o Movimento Passe Livre no Brasil. O caráter autônomo dos coletivos pode
ser exemplificado pelo seguinte trecho:

[O coletivo] tem total autonomia de partidos políticos e a questão dos


partidos políticos não é algo que diz respeito [...] mas as pessoas [...] tem
liberdade de organização política para se organizar em um partido se elas
desejarem, então existem algumas pessoas que se organizam em partido,
mas que isso são instâncias diferentes que a gente tenta ao máximo manter
a nossa autonomia a essas outras organizações.

Não é possível compreender o distanciamento dos coletivos em relação à


organizações partidárias e parlamentares de forma descontextualizada. A descrença com os
partidos e a política institucional no Brasil é contextual e geral. Prova disso são os dados do
Latinobarômetro que indicam que a confiança dos jovens universitários no Congresso vem
diminuindo ao longo dos anos:

Gráfico 2- Confiança no Congresso entre universitários

2010 2013 2015

49.1% 48.4%
40.3%
32.9% 31.5% 33.0%
27.4%
16.1%
8.2% 9.7%
1.6% 1.8%

Muita Alguma Pouca Nenhuma

Fonte: A autora, 2018, a partir dos dados do Latinobarômetro (2010, 2013 e 2015).

Conforme o gráfico 2, em 2010 apenas 8,2% dos jovens que ainda estão estudando,
mas não concluíram o ensino superior, tinham muito confiança no Congresso; em 2013 esse
percentual baixou para 1,6%; em 2015 houve ligeira melhora em relação à confiança no
Congresso passando para 1,8%. Maiores oscilações são observadas quando os
universitários responderam que tem alguma confiança no Congresso: nesse item, 2013
apresenta o mais baixo índice (9,7%). O que mais chama atenção no gráfico 2 é a crescente
pouca confiança no Congresso: era de 31,5% em 2010; 40,3% em 2013 e 49,1% em 2015.
A total desconfiança no Congresso teve seu pico em 2013 (época das Manifestações de
Junho de 2013), no entanto, os índices baixaram para 33% em 2015.
Os dados sobre a confiança no Congresso são um retrato da percepção dos jovens
em relação à política parlamentar. A baixa confiança não é a explicação para o crescimento
dos coletivos, mas certamente, a multiplicação de organizações que discursivamente negam
a política parlamente tem relação com os índices de desconfiança em relação à arena
parlamentar.
A desconfiança em relação ao Congresso não é sentida apenas entre os jovens
universitários. Conforme os dados do Latinobarômeteo, entre os jovens de 16 a 25 anos,
incluindo todas as escolaridades, os percentuais são semelhantes: em 2010 eram 8,6%
aqueles que tinham com muita confiança no Congresso; em 2013, o percentual caiu para
5,3%; em 2015 baixou para 3%. Quando se compara as gerações, percebe-se que essa
desconfiança é geral e mais acentuada entre os jovens: os idosos são os que têm mais
confiança no Congresso, embora, assim como nos jovens e adultos, a desconfiança venha
aumentando. Resultados semelhantes podem ser constatados quando se analisa a
confiança dos jovens universitários nos partidos políticos:

Gráfico 3 - Confiança nos partidos entre universitários

2010 2013 2015

52.2%
49.3%
45.7%
43.4%
37.0%

25.3%
21.1%
11.1%
4.2% 6.2% 4.4%
0.0%

Muita Alguma Pouca Nenhuma

Fonte: A autora, 2018, a partir dos dados do Latinobarômetro (2010, 2013 e 2015).

Os jovens universitários confiam mais nos partidos do que no Congresso, talvez por
uma proximidade maior com os partidos. Os dados do gráfico 2 demostram que a
porcentagem de jovens universitários que confiavam muito nos partidos não se alterou
substancialmente entre os anos de 2010, 2013 e 2015, permanecendo baixa entre 4 e 6%.
Houve maior variação entre aqueles que com alguma confiança nos partidos: o índice caiu
bastante em 2013 (11,1%) com um significativo aumento em 2015 (43,4%). Mas, o que
chama a atenção no gráfico é o fato de ninguém ter expressado que não tem confiança
nenhum nos partidos em 2015, dados bem distantes de 2010, em que 49,3% dos
universitários jovens tinham nenhuma confiança nos partidos, ou em 2013, com 37% de
respostas atribuindo nenhuma confiança aos partidos. Novamente, quando se compara
entre gerações, os idosos têm mais confiança nos partidos.
Os dados do Latinobarômetro mostram como em 2013 a desconfiança nos partidos e
no Congresso foi maior que nos outros períodos. Não por acaso o ano de 2013 foi marcado
pelas manifestações pautadas no alargamento e efetivação de direitos, tais como o direito
ao transporte público e gratuito (VOMMARO, 2015).
A relação entre o surgimento dos coletivos e as Manifestações de Junho de 2013,
assim como as ocupações estudantis ocorridas em 2016, apareceu em cinco entrevistas.
Segundo os entrevistados, nesses espaços os estudantes entraram em contato com o
conceito e a ideia de coletivos. Justamente em um período de alta descrença no parlamento
e nos partidos, os coletivos se colocam como alternativa de atividade política. O
distanciamento dos partidos e o exercício da política sem mediações institucionais já era
apontado como características dos jovens que se manifestaram em Junho de 2013
(TATAGIBA, 2014).
A descrença dos jovens em relação à política dentre os coletivos pesquisados –
todos à esquerda – têm relação com a decepção com o Partido dos Trabalhadores. Havia
uma crença de que o PT faria reformas estruturais, pautados no interesse dos
trabalhadores, e isso não se concretizou como era esperado por parte da esquerda. A crítica
ao PT é comum entre os coletivos, afinal: “[o] PT que era aquele partido que a gente sabe
como é, a gente meio que se sentiu traído por esse governo.” O PT teria se distanciado das
suas bases e escolhido firmar alianças com partidos distantes ideologicamente. Conforme
outro entrevistado, o PT “[...] não chamou o povo pra lutar contra o golpe e o que se observa
agora, inclusive alianças entre os setores maiores do Partido dos Trabalhadores e outros
partidos.”
A defesa implícita da democracia deliberativa e da democracia direta aparece nas
entrevistas. Conforme a democracia deliberativa, as decisões devem ser tomadas após a
exposição de argumentos justificados e todos os cidadãos devem ter liberdade e igualdade
de exposição (GUTMANN; THOMPSON, 2007).
Os coletivos permitiriam a participação dos seus membros, ao contrário dos partidos
e instituições parlamentares que engessam o comportamento das pessoas ao dirigir sua
atuação segundo normas burocráticas e com base nas decisões autoritárias da liderança,
afinal: “Tem partidos que lhe instrui para ter uma forma de se expressar mais dirigista.
Porque o que a gente tem que fazer é coletivizar o conhecimento e fazer com que várias
pessoas se sintam empoderadas para poder falar.” É como se os partidos contaminassem
as discussões e decisões por sobreporem seus interesses aos do grupo. Por isso também a
recusa à declaração de lideranças, mesmo que se saiba quem são elas: assumir a liderança
significa ir contra o caráter participativo do coletivo.
Além da democracia deliberativa, o discurso dos membros do coletivo remete à
democracia direta, forma de decisão que não prescinde de representação, embora possa
haver práticas representativas. Um dos entrevistados pontua a necessidade de atuação
política de forma direta, nos seguintes termos: “Existe uma outra forma da gente construir
uma forma plural, independente, sem depender de partido, sem depender dessa galera.
Existe um outro caminho, um terceiro caminho. Mesmo que não seja uma forma eleitoral, é
mais direta mesmo.” Assim como já apontado por outro estudo (cf. VOMMARO, 2015), os
coletivos pontuam a democracia direta ao recusar intermediários, hierarquias e líderes na
prática política.
Esse tipo de coletivo Os coletivos dicursivamente distanciam de partidos políticos,
assim como não acreditam nas Instituições de Participação ou na aproximação dos
movimentos sociais com o Estado. A bandeira de participar das decisões públicas, cara aos
novos movimentos sociais que lutavam durante a redemocratização (cf. SADER, 1988) não
aparece nas pautas dos coletivos. Até a interação socioestatal, apontada pela literatura mais
recente (cf. ABERS e VON BÜLOW, 2011) é criticada pelos coletivos.

Há uma generalização por parte de algumas intepretações do discurso de alguns atores como
se fossem validos para todos os manifestantes. Nesse sentido, conforme Gonh (2018, p. 122) em
reação às Junho de 2013 eles “fazem parte de novas formas de associativismo urbano entre jovens
escolarizados, com origem predominante em camadas médias, conectados por redes digitais. Pesquisas
indicam que a maioria deles é organizada horizontalmente, atuando em coletivos ou novíssimos
movimentos sociais. São críticos das formas tradicionais da política, tal como se apresentam na
atualidade, especialmente por meio de partidos e sindicatos “. A conclusão de que se tratavam de
movimentos autônomos e apartidários parte principalmente da análise do MPL, o movimento que
impulsionou as passeatas e de coletivos com discurso anarquista. Mas os manifestantes que estiveram
nas Jornadas de Junho não se resumiam a organizações políticas anarquistas: a diversidade de atores é
uma das características do movimento. Logo, não é possível atribuir o antipartidarismo ou autonomia a
todos os manifestantes, com base no discurso de perto deles. A desconfiança nas instituições políticas
é um traço quase univer-
sal entre os jovens.
A decepção com a política leva esses jovens a recriarem práticas consideradas mais
genuínas, pautada por causas, com base na democracia direta e deliberativa, sem a
necessidade de orientações de líderes hierarquicamente superiores. Conforme apontou
Gohn (2017), os jovens se identificam com os coletivos por se distanciarem das formas que
repudiam: partidárias, centralizadas, hierárquicas e burocráticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os coletivos universitários vêm ganhando espaço nas universidades e nas redes
sociais digitais para se referir à união de pessoas em torno de um objetivo comum. O
discurso deles expressa a novidade e o distanciamento em relação à política parlamentar
partidária. Os coletivos promoveriam uma participação mais genuína e inclusiva, pautada
pela fluidez e horizontalidade.
O distanciamento dos jovens em relação à política parlamentar, incluindo partidos e
instituições parlamentares, pode ter implicações para o fortalecimento das instituições
democráticas. As instituições parlamentares poderiam ser aprimoradas pela luta dos
movimentos sociais, em especial dos jovens universitários. No entanto, quando os ativistas
se distanciam dessas instituições, diminuem a possibilidade de mudanças. Ademais, a
desconfiança em relação aos partidos e ao Congresso pode aumentar a possibilidade de
rompimento com essas duas instituições centrais para a democracia.
As posições antipartidárias ou apartidárias podem inclusive impulsionar projetos
como a Escola sem Partido e tantos outros posicionamentos que retiram de cena as
discussões ideológicas e as práticas políticas. Mesmo não sendo o objetivo dos coletivos, o
discurso presente em toda a sociedade (conforme os dados do Latinobarômetro) e
replicados/alimentos pelos coletivos pode levar a um esvaziamento da luta política,
associada a partidos.
Ademais, as lutas do coletivo expressam questões identitárias que são vistas de
forma interseccional (é comum a existência de vários coletivos feministas e antirracistas, por
exemplo). No entanto, nota-se que a perspectiva da classe social e transformações mais
profundas aparecem de forma minoritária entre as pautas dos coletivos. Isso não poderia ser
diferente, já que a luta classista é organizada por partidos políticos. O distanciamento dos
partidos e a pulverização de coletivos com pautas identitárias podem dificultar mudanças
mais profundas, exatamente em um momento em que elas são tão necessárias.
Isso não significa que os jovens estejam apáticos diante da forma como os
governantes estão decidindo. Pelo contrário, a presente pesquisa mostra como é intensa a
mobilização da juventude. No entanto, os próprios jovens devem pensar nas causas e
consequências da atividade política que nega as instituições políticas democráticas.
É esse o caminho apontado pela presente reflexão: mais pesquisas que analisem as
mobilizações feitas pela juventude. Considera-se que por meio dessas e de mais análises
será possível compreender melhor a crise pelo qual o país vem passando, bem como
pensar em alternativas de ação.

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