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ISSN 2177-3548
[1]Instituto Nicodemos Borges e Universidade São Judas [2] [3] Universidade São Judas | Título abreviado: Categorização de comportamentos em sessões de
coaching | Endereço para correspondência: Rua Itapeva, 26 – Conj. 901 – Bela Vista – São Paulo – SP – CEP: 01332-000 | Email: nicodemos@nicodemosborges.
com.br | DOI: 10.18761/pac.2016.029
A globalização econômica, política e tecnológica são comportamentais, com foco nas demandas trazi-
fatores que influenciam diretamente no desenvolvi- das pelo cliente ou familiares. Moura e Venturelli
mento social. O avanço destes fatores fez com que (2004) definem terapia como um processo direcio-
aumentassem as exigências para os indivíduos se nado pelo terapeuta, com sequência lógica e orga-
tornarem cada vez mais flexíveis, ágeis e se adapta- nizada de procedimentos psicológicos que produ-
rem às mudanças, alcançando assim seu autogeren- zem mudanças comportamentais no cliente.
ciamento e desenvolvimento pessoal e profissional De acordo com Marçal (2010), o termo Terapia
(Elisa & Yoshida, 2007). Ainda de acordo com Elisa Comportamental foi introduzido por Skinner em
e Yoshida (2007), para os indivíduos se adaptarem a 1953 num projeto de pesquisa, mas só foi utilizado
todas as exigências feitas pela sociedade, seja no âm- em uma produção científica em 1954. Contudo, se
bito profissional ou pessoal, se faz necessário a busca considerarmos que as práticas de intervenção sobre
por profissionais capacitados que os direcionem para comportamentos respondentes também devem ser
atingirem seu autodesenvolvimento. tidas como parte desse tipo de psicoterapia, pode-se
Um destes profissionais, que há muito tem- dizer que a Terapia Comportamental inicia a partir
po é procurado, é o terapeuta. Segundo Meyer e de 1920 (Sant’Ana, 2004), com John B. Watson.
Vermes (2001), o trabalho exercido pelo terapeuta As décadas de 70 e 80 foram marcadas pelo sur-
tem como função promover aumento das contin- gimento da terapia cognitivo-comportamental, já a
gências reforçadoras da vida do cliente através de década 90 foi quando emergiu a análise do com-
mudanças comportamentais que façam com que portamento clínica (Simões Filho, 2014), que seria
ocorra a minimização do sofrimento do indivíduo. um dos nomes mais atualizados para se referir a
As autoras ainda ressaltam que o terapeuta é um Terapia Comportamental. De acordo Pérez-Alvarez
profissional capacitado para utilizar procedimentos (2006, citado por Simões Filho, 2014), a ascensão
específicos que venham a auxiliar o cliente. da terapia comportamental ocorreu devido ao “de-
Starling (2010) aponta que “é tarefa do terapeu- senvolvimento da análise do comportamento, do
ta explorar, em benefício do cliente, as diversas téc- behaviorismo radical, como um desdobramento da
nicas disponíveis para o manejo do seu problema e análise funcional, sobretudo no campo do compor-
auxiliá-lo a mudar o seu comportamento na dire- tamento verbal, por conta de limitações da terapia
ção por ele desejada.” (p. 226). Ireno (2007) diz que cognitivo-comportamental” (p. 4).
as habilidades e conhecimentos adquiridos pelo te- Para Vandenbergue (2011), a terapia com-
rapeuta, poderão ajudar o cliente que o procura a portamental no Brasil é nomeada como tera-
resolver seus problemas. pia analítico-comportamental e se desenvolveu
Oliveira e Borges (2007) descrevem que o te- a partir da análise do comportamento. O autor
rapeuta é procurado para ajudar o cliente mudar a ainda aponta que outros nomes têm sido utili-
forma como pensa e age em determinadas situações zados para se referir a essa prática, tais como:
e, também, auxiliar o cliente a responder de forma Análise Comportamental Clínica e Terapia por
que poderá gerar consequências que diminuam o Contingências de Reforçamento. Além disso,
sofrimento vivenciado em determinada situação. pode-se considerar que as práticas de Terapia
Assim, entende-se que o terapeuta é o profis- Comportamental Dialética (DBT), Psicoterapia
sional buscado com intuito de prestar auxílio ao Analítica Funcional - FAP e a Terapia de Aceitação
cliente, cujas técnicas e conhecimentos utilizados e Compromisso – ACT, tratam-se de modelos tera-
por este profissional deverão ter como objetivo aju- pêuticos que integram a Terapia Comportamental
dar o cliente a solucionar a demanda apresentada ou Analítico-Comportamental.
na terapia. A despeito da falta de consenso sobre seu nome
A respeito da psicoterapia, alguns autores apre- ou da data de seu início, a Terapia Comportamental
sentam diferentes definições, dentre eles Guilhardi tem acumulado conhecimento prático e científico a
(2004) aponta que a terapia se define por interações respeito de sua prática (Banaco, 2012), facilitando
entre cliente e terapeuta e tem o objetivo de alte- inclusive na formação de novos profissionais para
rar comportamentos do cliente a partir de técnicas atuarem nessa área.
Além do terapeuta, outro profissional buscado ensinar as pessoas a pensar e a refletir para buscar
atualmente para ajudar os clientes a se desenvolve- o conhecimento “no fundo de si mesmas”. O autor
rem é o coach. Silva (2010) cita o coach como o pro- ressalta que, após aproximadamente 2.500 anos, a
fissional responsável pela condução do processo de forma de trabalho desenvolvida antigamente por
coaching, aquele que irá auxiliar o coachee (cliente Sócrates é a inspiração para o coaching. Assim, é
de coaching) a alcançar seus objetivos de autode- possível afirmar que, assim como no caso da tera-
senvolvimento. A autora levanta a importância do pia comportamental, não há consenso a respeito da
coach ter amplo conhecimento e formação teórica origem do coaching.
em temas relacionados ao desenvolvimento huma- A respeito das duas modalidades de interven-
no, além de uma vasta experiência profissional. ção citadas, terapia comportamental e coaching,
Para Bloch, Mendes e Visconte (2012), o coach pode-se observar que os diversos autores afirmam
deve liderar o coachee no processo de busca pelo tratarem-se de processos que ajudam na melhora
alcance do autodesenvolvimento, para isso o coa- do repertório comportamental do indivíduo. A esse
ch deve levar o indivíduo a fazer questionamentos respeito, Franchi e Sierra (2007) afirmam que o tra-
para que atinja o seu objetivo; sendo que, segundo balho do coach, assim como o do terapeuta, pode
Marques (2013), é por meio de questionamentos ser entendido como processo que auxilia o cliente
que o coach induz o coachee às reflexões. Além dis- no seu autodesenvolvimento e no crescimento pro-
so, o último autor também destaca que o papel do fissional e pessoal.
profissional de coaching é apoiar o coachee, acom- Borges (2015) reafirma que tanto o coaching
panhando-o e mensurando os resultados de suas quanto a terapia comportamental são modalida-
ações, bem como motivá-lo até alcançar suas metas. des de intervenções cujos objetivos são auxiliar
A respeito do coaching, Franciscato, Ferreira e as pessoas em seu desenvolvimento, sendo ambas
Walter (2010) o definem como um processo que intervenções autocorretivas buscadas pelo próprio
contribui na obtenção de resultados mais rápidos cliente.
e com qualidade, e que auxilia no descobrimento Ainda de acordo com Borges (2015), apesar de
de novos talentos. Ascama (2004) define o coaching haver semelhanças entre essas práticas, também há
como a relação entre coachee e coach, sendo este diferenças. Entre as distinções, uma das principais
último o responsável por utilizar diversas técnicas e parece estar relacionada ao tipo de demanda que
métodos com a finalidade de ajudar o cliente iden- leva o cliente a procurar uma ou outra modalidade
tificar e atingir seus objetivos. de intervenção. No caso da terapia, os clientes ge-
Borges (2015) se refere ao coaching como uma ralmente estão em sofrimento e buscam ajuda para
modalidade de intervenção que visa promover re- mudar as contingências que diminuam as condi-
pertório de autogerenciamento norteado por obje- ções aversivas. Já no coaching, os clientes procuram
tivos de desenvolvimento. Para isso, o profissional o coach sem sofrimento aparente, a ajuda seria por
de coaching lança mão de técnicas e procedimentos manejar contingências de modo a produzir mais
de intervenção, sendo o trabalho norteado por um condições apetitivas. O autor considera que essas
objetivo comportamental ou produto de compor- diferentes contingências é que controlam a afir-
tamento, o qual deve ser delineado no início do mação de muitos autores que afirmam que terapia
processo de coaching pelo cliente, com o auxílio do é para população clínica enquanto que coaching
profissional. é para população não-clínica. Além disso, é mais
Parte da comunidade de coaching aponta que consensual na área de coaching que pessoas em
o processo surgiu em meados dos anos de 1970 no condição de vulnerabilidade não estão aptas a pro-
meio esportivo, em específico no Tênis (Oliveira, cessos de coaching, não estão coachable.
2009). Já para Chiavenato (2002), o coaching não Apesar de haver muita discussão a respeito de
é um processo novo, sendo este criado e inspirado coaching, seu corpo de conhecimento científico
pelo filósofo Sócrates. Segundo o autor, este proces- ainda carece de desenvolvimento. Blanco (2006)
so que atualmente é intitulado como coaching, era afirma que é escassa a produção acadêmica sobre
utilizado pelo filósofo como método pedagógico de coaching, sendo ela encontrada, principalmente em
rapeutas de uma mesma formação parecem iniciar a interação da terapia com o abandono do trata-
a sessão e conduzi-la de forma que facilite o relato mento. Esse estudo contou com a participação de
do cliente. Para isso, solicitam relatos, reflexões, são uma terapeuta analítico-comportamental, que as-
empáticos e interpretam. Ainda é visto que clientes sumiu a posição também de pesquisadora; e uma
de semelhante faixa etária parecem comportar-se cliente, que já havia abandonado processos tera-
de maneira similar, mesmo com queixas diferentes. pêuticos anteriores. O processo terapêutico cujos
No decorrer da terapia, estabelecem relações entre dados foram utilizados contava com 22 sessões,
fatos, fazem relatos, traçam metas, concordam e sendo que deste total apenas quatorze foram grava-
pouco se opõem ao que é dito pelo profissional. das e transcritas. Após a 22º sessão, a cliente aban-
Nesta mesma linha, Zamignani e Meyer (2014) donou o processo terapêutico e as autoras fizeram
desenvolveram outro estudo com base no SiMCCIT. uma análise das sessões a partir da categorização
Tal pesquisa teve como objetivo testar a aplicação das sessões transcritas, a fim de compreenderem
do SiMCCIT na categorização de três sessões tera- melhor a interação terapêutica que havia sido es-
pêuticas (sessões 3, 11 e 17), para representar três tabelecida.
diferentes momentos do processo terapêutico. O Os resultados da pesquisa de Sadi e Meyer
estudo contou com a participação de um terapeuta (2014) indicaram que houve uma diminuição nas
analítico-comportamental, com 25 anos de experi- categorias Empatia e Facilitação. Apesar destas ca-
ência clínica e uma cliente de 32 anos, com queixas tegorias mostrarem-se importantes para o estabe-
relacionadas a problemas matrimoniais. As sessões lecimento e manutenção do vínculo, auxiliarem na
foram registradas pelo pesquisador, com a autori- criação de um ambiente terapêutico não punitivo
zação dos participantes, por meio de gravação de e acolhedor com um cliente borderline, as autoras
vídeo e para realizar a categorização dos comporta- ressaltaram que houve uma diminuição na ocor-
mentos foi utilizado o software The Observer. rência destas categorias. Sadi e Meyer (2014) jus-
Os autores realizaram uma análise descritiva tificaram que este resultado pode estar relacionado
das sessões, visando identificar padrões de intera- ao crescimento da frequência de relatos da cliente,
ção que ocorreram durante as três sessões selecio- sem estabelecer relações, com a possível intenção
nadas. Dentre os resultados obtidos, Zamignani e de esquivar-se de temas aversivos ou que remetes-
Meyer (2014) apresentaram a duração e o total de sem algum vínculo entre terapeuta-cliente.
ocorrências das categorias de respostas verbais do É possível verificar que o uso de categorização
terapeuta e do cliente nas sessões analisadas. da interação entre o profissional e o cliente nas
Zamignani e Meyer (2014) discorrem que é co- pesquisas de clínica analítico-comportamental tem
mum que no início da terapia o profissional solici- ajudado a lançar luz sobre os aspectos relevantes
te mais relatos (de informação) devido ao profis- desta interação, o que não só permite o aperfeiço-
sional possuir poucos dados a respeito do cliente. amento daquela prática como também pode con-
Contudo, no caso que analisaram isso não aconte- tribuir com a formação de novos profissionais.
ceu, pois desde as primeiras sessões houve verbali- Diante disso, O presente estudo pretende utilizar
zações espontâneas por parte da cliente. Assim, as o SiMCCIT (Zamignani, 2007) para investigar as
categorias de comportamentos do terapeuta mais interações envolvidas entre o profissional e o clien-
frequentes foram Interpretação, Solicitação de refle- te em processos de coaching. Mais especificamente,
xões e Aprovação. Enquanto as categorias mais fre- este estudo teve como objetivo categorizar os com-
quentes do cliente foram Relatos (de informações), portamentos verbais vocais do profissional e do
Estabelecimentos de relações e Concordâncias cliente que ocorrem em um processo de coaching.
(com o que era dito pelo terapeuta).
Sadi e Meyer (2014) também realizaram um
estudo com base no SiMCCIT, neste caso foi ca-
tegorizado um processo terapêutico de um cliente
diagnosticado com Transtorno de Personalidade
Borderline. O objetivo da pesquisa foi de relacionar
Figura 1: Percentual de ocorrência dos comportamentos verbais vocais emitidos pelo coach durante as
sessões nº 02, 05 e 09.
Uma das categorias que se apresentou com bai- que o cliente faça descrições de comportamentos e
xa frequência no processo de coaching analisado quando o profissional solicita ao cliente informa-
foi Empatia. Os resultados apontam que aparen- ções sobre fatos. O que parece também ocorrer no
temente esta categoria não pareceu ser a principal coaching na relação coach-coachee. Apesar da cate-
característica do papel do coach. Talvez porque não goria se apresentar frequente na terapia e no coa-
é característica do coaching ser acolhedor (no sen- ching é provável que a função em cada intervenção
tido de cuidar, “dar colo”) com o cliente. Apesar da seja diferente, –na terapia o objetivo pode ser levan-
pouca frequência a Empatia ocorreu em todas as tar informações para a elaboração da avaliação/in-
reuniões categorizadas, possivelmente pois apesar terpretação (e.g., Leonardi, Borges & Cassas, 2012),
do coaching se tratar de uma intervenção objetiva enquanto que no coaching a função de Solicitar in-
e diretiva, é importante que o coach aceite, e seja formações pode ser para fazer com que o cliente
apoiador do coachee, contribuindo para a busca por observe seu comportamento para que ele próprio
melhora de desempenho (Clutterbuck, 2008). ganhe autoconhecimento e posteriormente possa
Assim, entende-se que apesar da baixa ocorrên- estabelecer relações entre os eventos – pois não é
cia de Empatia, ela se faz presente na prática do coa- papel do Coach levantar informações para avaliar
ching, mas não como principal categoria inerente ao ou interpretar.
papel do coach. Nas pesquisas sobre processo psicote- Referente à categoria Facilitação, verifica-se
rápico, foi possível encontrar resultados que sugerem que foi mais frequente na última sessão analisada.
frequência semelhante às encontradas neste estudo Hipotetiza-se que isso se deve pelo cliente já estar
(e.g. Oliveira, 2014; Zamignani & Meyer, 2014). mais capacitado a se auto-observar, autoanalisar e
Na Figura 1 também foi possível observar que autocontrolar, exigindo menos participação do co-
todas as categorias ocorreram em todos os encon- ach, pois, de acordo com Borges (2015), estes com-
tros, e comparando cada uma delas entre as três portamentos são ensinados no coaching.
sessões, observa-se que a categoria Informação Corrobora a hipótese de que a Facilitação está
ocorreu mais frequentemente nas sessões inicial e relacionada com maior autonomia do cliente o fato
final; Solicitação de relato apresentou maior frequ- deste resultado coincidir com o aumento da frequ-
ência na sessão intermediária; Solicitação de refle- ência de relatos do cliente. Assim, é possível que o
xão ocorreu mais nas sessões inicial e intermediá- profissional ficasse mais exercendo função de facili-
ria; e, Facilitação apresentou maior frequência na tador dos relatos de auto-observações, autoanálises
sessão final. e autocontrole do cliente. Zamignani (2007) descre-
Nos primeiros encontros Informação e ve que Facilitação indica atenção ao relato do clien-
Solicitação de reflexão apareceram com altas fre- te e sugere que ele continue falando. Esta categoria
quências nas sessões iniciais. De acordo com Gil é caracterizada por pequenas verbalizações do tera-
(2001), é comum num processo de coaching que o peuta ou expressões paralinguísticas que ocorrem
coach ajude o coachee refletir, pensar para que ele ao longo da fala do cliente.
estabeleça seus objetivos. Para isso, o profissional A Figura 2 apresenta os resultados obtidos a
deve dispor de informações precisas e fidedignas partir da categorização dos comportamentos ver-
para auxiliar o cliente. Aparentemente é comum bais emitidos pelo cliente durante as três reuniões
o coach dar explicações a respeito do coaching e de coaching analisadas. Foram encontradas seme-
esclarecer sobre procedimentos deste processo lhanças na frequência de parte das categorias das
(Informação) nas sessões iniciais, assim como so- sessões categorizadas com os resultados de outros
licitar que o cliente reflita (Solicitação de reflexão) estudos cujo foco era a psicoterapia.
para estabelecer seus objetivos. A partir dos dados apresentados na Figura 2, as
Solicitação de relato ocorreu com maior frequ- categorias verbais vocais do cliente que ocorreram
ência na sessão intermediária. Zamignani (2007) com maior frequência no processo de coaching fo-
aponta que Solicitação de relato ocorre ao longo de ram Relato, Relação, Concordância e Solicitação. Já
todo processo terapêutico, esta categoria é utiliza- as respostas verbais vocais menos frequentes foram
da quando o terapeuta realiza coleta dados, solicita Melhora, Meta e Oposição.
Segundo Sadi e Meyer (2014), a condução do bém indicaram essas categorias ocorrendo com
profissional influência nos comportamentos do menor frequência.
cliente, ressaltando que a audiência não punitiva É provável que a pouca frequência de ocor-
pode aumentar a probabilidade deste cliente confiar rências de Meta possa dever-se a essas já estarem
no profissional. As autoras acreditam que isso in- estabelecidas na primeira sessão de coaching. A
fluencia na tendência do cliente emitir mais Relatos despeito disso, o dado chama atenção, visto que
e ter baixa incidência da categoria Oposição. em processos de coaching, toda discussão é guiada
Uma vez que a função do coach é evocar ob- pelos objetivos/metas.
servações e reflexões em seu cliente por meio de Em relação à categoria Oposição é esperada
técnicas utilizadas durante o processo (Gadelha & sua baixa frequência, pois no processo de coaching
Teodoro, 2014), nota-se que as categorias Reflexão espera-se que o profissional não puna os relatos do
e Relato do coachee aparecem como respostas às cliente, mas sim o apoie e o instigue a aceitar seu
falas do profissional de coaching, quando este soli- funcionamento e buscar seu desenvolvimento, o
cita ao cliente um relato ou reflexão de algo. Assim, que pode diminuir o índice de Oposição e aumen-
observou-se, também, a relação entre a diminuição tar a ocorrência de relatos pelo coachee.
da categoria Solicitação de reflexão pelo coach, de A categoria Melhora apresentou maior frequ-
modo que esta aparentemente interferiu na dimi- ência ao final do processo de coaching, na última
nuição da categoria Relações do coachee ao longo sessão categorizada (aumento de 10% em relação à
da sessão intermediária e final. primeira sessão categorizada), podendo estar rela-
As categorias com menor ocorrência de respos- cionado com o aspecto de que o processo já estava
tas verbais vocais foram Meta e Oposição, sendo chegando ao seu final e o cliente notou avanços em
esse resultado semelhante ao observado em estu- seu comportamento em relação ao objetivo esta-
dos a respeito de interação terapêutica (e.g. Sadi & belecido, pois como defende Chiavenato (2005) e
Meyer, 2014; Zamignani & Meyer, 2014), que tam- Borges (2015), o coaching é uma oportunidade para
o indivíduo melhorar sua performance, melhorar foram Informar, Solicitar relatos e Solicitar refle-
comportamentos que já apresenta e/ou aprender os xões, diferindo dos que são mais comuns em pro-
que carece. cessos psicoterápicos – Interpretar e Empatizar.
Outro dado que se apresenta é o total de ver- Esses dados sugerem que as práticas de coaching e
balizações do profissional e do cliente durante as psicoterapia são distintas.
reuniões de coaching. Tais resultados se encontram Apesar de práticas diferentes, parece haver com-
na Tabela 1, indicando o número de verbalizações portamentos em comum entre o terapeuta e o coa-
de cada um em cada uma das sessões avaliadas. ch, pois os resultados indicam que no coaching, as-
Tabela 1: Ocorrência de verbalizações de cada sim como na terapia, não é frequente o profissional
sessão Coach-cliente discordar, reprovar e/ou se opor ao que o cliente diz.
Outro hipótese que pode se levantar a partir dos
Sessão 2 Sessão 5 Sessão 9 resultados é que no processo de coaching há maior
Coach 498 358 194 quantidade de verbalizações que em processos tera-
Cliente 498 357 197 pêuticos. Contudo, essa diferença parece ser devido
ao maior tempo das sessões de coaching e não a um
maior número de verbalizações por minuto.
Pode-se dizer que o número absoluto de verbaliza- Por fim, é importante destacar também a efi-
ções em sessões de coaching foi maior que em ses- cácia de um sistema de observação assim como o
sões de psicoterapia (e.g. Oliveira, 2014). Contudo, SiMCCIT para a contínua evolução de pesquisas
a maior quantidade de verbalizações parece se de- tanto relacionadas à terapia quanto ao coaching;
ver ao tempo maior das sessões de coaching, isso sendo este sistema, capaz de produzir resultados
porque, avaliando a quantidade relativa de verbali- descritivos de acordo com os comportamentos que
zações em relação ao tempo, encontram-se núme- ocorrem em sessão, bem como auxiliar na com-
ros semelhantes. No presente estudo o número de preensão do funcionamento de um processo de
verbalizações por minuto variou entre 2,69 e 4,26, coaching.
enquanto que no estudo de Oliveira (sobre terapia) Vale lembrar que o presente estudo analisou um
variou entre 2,18 e 4,25. único processo de coaching sendo este um aspecto
Dada a semelhança na quantidade de verbali- a se considerar, especialmente quando se pretende
zações ocorridas nos dois processos, sugere-se que fazer generalizações a partir desses dados. Assim,
estudos futuros investigassem a duração dessas ver- sugere-se que mais estudos de processo sejam re-
balizações, para verificar se elas também se asseme- alizados a respeito de processo em coaching, seja
lham. utilizando-se desse mesmo método ou de outros,
visando aumentar a compreensão a respeito da
interação coach-coachee ou aumentar o poder de
Considerações finais generalização destes resultados. Além disso, novos
estudos podem contribuir, ainda, com as compara-
Apesar do crescimento do coaching nos últi- ções entre os processos de coaching e psicoterapia,
mos anos, há um déficit grande de estudos relacio- auxiliando na identificação de semelhanças e dife-
nados ao tema, especialmente no que se refere aos renças entre essas modalidades de intervenção.
processos que ocorrem no processo de coaching.
Nesse sentido, o presente estudo teve como pro-
pósito categorizar e analisar os comportamentos
verbais vocais que ocorrem num processo de co-
aching, utilizando como base para categorização o
Sistema Multidimensional para a Categorização de
Comportamentos na Interação Terapêutica.
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Informações do Artigo
Histórico do artigo:
Submetido em: 01/08/2016
Primeira decisão editorial: 09/11/2016
Aceito em: 10/02/2017
Editor: William F. Perez