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7.1 INTRODUÇÃO
o propósito deste capítulo é o de examinar o processo de acumulação de capacidades
tecnológicas (com ênfase na maneira e velocidade dessa acumulação) ao longo de diferentes
modelos de industrialização no Brasil: do modelo à base de substituição de importações ao
modelo à base de economia aberta. Diferentemente do capítulo anterior, neste capítulo a
ênfase recai sobre um conjunto de empresas baseadas em produtos (eletrônica de consumo,
motocicletas e seus fornecedores). Além de examinar a trajetória de acumulação tecnológica
dessas empresas, este capítulo escrutina as principais estratégias de aprendizagem tecnoló-
gica usadas pelas empresas para construir e acumular suas capacidades tecnológicas para
atividades de produção e de inovação ao longo do período de 1970 a 2006, como representa-
do de maneira simplificada na Figura 7.1 a seguir.
Ademais, as empresas aqui examinadas localizam-se no Pólo Industrial de Manaus, como
mostrado na Figura 8.2.
Aprimoramento de
Mecanismos de Acumulação de
indicadores de
aprendizagem capacidades
performance
tecnológica tecnológicas
competitiva
\...
v
t
Foco deste capítulo
FIGURA 7.1
'Este capítulo deriva de Ariffin & Figueiredo (2001, 2004); Figueiredo (2008a, 2008b).
A Experiência de Empresas de Eletrônica de Consumo, Motocicletas e Bicicletas 179
li"
Subsidiárias de EMNs(a)
Eletroeletrônicas (EE) 6 3 3 1 13 5 18 I
Motocicletas e 1 O 2 O 3 6 9 I
bicicletas (MCB) I
Fornecedores 2 O 6 O 8 11 19 j
principais !
Total 9 3 11 1 24 22 46 !
Notas: (a) Apenas empresas estrangeiras; (b) Finlândia, Alemanha, e França; (c) Empresas de Manaus ou do Sudeste e Sul do Brasil.
180 Capítulo 7
trônicos e o setor de motocicletas e bicicletas foram responsáveis por 52,4% do total. Cabe
ressaltar que o PIE do Pólo Industrial de Manaus corresponde a mais de 50% do PIE do Es-
tado do Amazonas, e cerca de 2% do PIB nacional.
Com o estabelecimento de uma grande área industrial no coração da floresta Amazônica,
o governo federal buscou não somente estimular o desenvolvimento econômico daquela re-
gião, mas também integrá-Ia às demais regiões do país. Enquanto outras iniciativas interna-
cionais implementadas por diversos governos àquele período eram baseadas em um modelo
orientado para a exportação (tais como os relativos à Índia, Malásia, Coréia do Sul e Taiwan),
o Pólo Industrial de Manaus foi originalmente concebido para suprir o mercado interno.
Embora tendo sido originalmente criado como uma zona de livre comércio, ao longo dos
anos o PIM transcendeu suas funções comerciais e tornou -se um pólo industrial. Dois níveis
de incentivos fiscais - federal e estadual- apóiam as atividades do PIM. No âmbito federal,
estes incentivos incluem: (i) redução de até 80% nos impostos sobre insumos importados
necessários ao processo de manufatura; (ii) isenção de impostos sobre produtos manufa-
turados internamente; (iii) redução de até 75% dos impostos sobre rendimentos baseados
no lucro líquido; e (iv) isenção dos impostos de integração social (PIS) e segurança social
(COFINS) para transações ocorridas no contexto do Pólo Industrial de Manaus. No âmbito
estadual, os incentivos dizem respeito a compensações - de 55% a 100% - no imposto de
valor agregado. Em 2004, o regime fiscal de Manaus, incluindo estes incentivos, foi prorro-
gado até o ano de 2023.
A existência desta estrutura de incentivo fiscal levantou diversas controvérsias e desa-
provações no Brasil. Entretanto, um estudo cuidadoso- mostra que o volume de recursos
financeiros transferidos ao governo federal, sob a forma dos impostos coletados no estado
do Amazonas, é mais elevado do que aquele recebido pelo estado na forma de incentivos
fiscais.
Além desta estrutura de incentivos fiscais, há um regime de imposto baseado na lei das
tecnologias da informação e das comunicações (Tf.C)do início dos anos de 1990. Ao contrá-
rio da estrutura genérica de incentivo-imposto que esteve vigente em Manaus desde os anos
de 1960, o regime de imposto sob a lei da nc é um tipo de incentivo relacionado à perfor-
mance, especificamente para atividades inovadoras.
O Pólo Industrial de Manaus abriga cerca de 500 empresas, das quais aproximadamente
140 de investidores internacionais, de 17 diferentes setores industriais. Sete desses setores
respondem por 90% de suas receitas totais: química, descartáveis, eletroeletrônico, informá-
tica, termoplásticos, motocicletas e bicicletas e relojoaria. As receitas anuais combinadas
cresceram de US$ 8,3 bilhões em 1990 para US$ 18,9 bilhões em 2005. Em 1990, as exporta-
ções representavam somente 1,5% das receitas totais do Pólo; entretanto, desde a desregula-
mentação e abertura da economia brasileira no início dos anos de 1990, essa proporção tem
crescido sistematicamente, tendo atingido 5,2% em 1999 e 13% em 2006. Durante o período
de 1992-2004, as exportações cresceram, em média, 20,5% ao ano, comparadas ao cresci-
mento anual de 3,8% para o período de 1988-1992.
A partir desta seção introdutória, a Seção 7.2 descreve brevemente a evolução das princi-
pais fases do Pólo Industrial de Manaus à luz dos modelos de industrialização no Brasil. A
Seção 7.3 apresenta evidências sobre a acumulação de capacidades tecnológicas nas empre-
sas estudas. As estratégias de aprendizagem para o desenvolvimento dessas capacidades são
examinadas na Seção 7.4. As conclusões do capítulo são apresentadas na Seção 7.5, seguidas
de sugestões de questões para professores e estudantes.
TABELA 7.2 Algumas das principais mudanças no regime. de. política industrial no Brasil
Algumas implicações
para a política no Pólo
Período Características-chave ~os regimes políticos Industrial de Manaus
Final dos anos de Introdução de um regime protecionista com base
1950: configuração em tarifas ad vaIarem. O governo federal teve um
da política poder arbitrário para controlar o nível de importações
protecionista. e estabeleceu a Lei do Similar Nacional (a "Lei do
Similar"), sob a qual um produto poderia somente ser
importado se pudesse ser provado que um produto
similar não era produzido no Brasil.
Década de 1960 - Expansão das barreiras não-tarifárias baseadas sobre: Início das atividades
início da década de (i) uma lista de 1.300 produtos que não foram manufatureiras.
1980: permitidos para ser importados (o assim chamado
intensificação "anexo C"); (ii) foi exigido a todas as empresas a
da política submissão prévia de seu plano anual para importações
protecion ista. ao governo federal; (iii) o acesso aos subsídios fiscais
Política e ao crédito subvencionado foi condicionado ao
protecionista conteúdo doméstico de um projeto de investimento.
e voltada para As importações eram feitas sob os regimes especiais
dentro do país concedidos aos exportadores (drawback) ou eram bens
de capital não-competitivos e intermediários.
Período de 1985- As novas políticas procuraram (formalmente) reduzir a Estabelecimento da política
88: a "nova política redundância na estrutura tarifária para baixar as tarifas baseada num grau mínimo
industri-al" . da fabricação de 90 para 43%, e reduzir o número de de nacionalização de
regimes especiais. Entretanto, na prática, tais medidas componentes de produtos
tiveram pouco impacto: (i) as tarifas e os impostos fabricados em Manaus.
continuaram a conduzir a uma proteção redundante Definição dos limites
em virtualmente todos os setores; as barreiras não- máximos de importação
tarifárias e a "Lei do Similar" permaneceram. anual.
Certamente, tais reformas não foram tão radicais
como anunciado formalmente, em particular devido à
forte oposição dos grupos de interesse de produtores
locais.
Industrialização Início da década de As reformas introduzidas pela administração Collor A política de "mínimo
à base de 1990: consolidação em março de 1990 representaram a principal ruptura conteúdo nacional" de
economia aberta, da política de com o regime protecionista do passado. Tais reformas componentes de produtos
exportadora liberalização cobriram três áreas: (i) o anexo de C (a lista de 1.300 foi substituída pela
e exposta à comercial sequida produtos com proibição de importação) foi eliminado; "política de processo de
competição global pela estabilização (ii) todas as barreiras não-tarifárias relevantes foram produção básico (mínimo)".
macroeconõmica de removidas; (iii) introdução de um programa de 4 anos Forte preocupação
meados da década da redução de tarifas para trazer todas as tarifas para com a performance na
de 1990. uma faixa de 0-40%. As reduções foram realizadas exportação. Todas as
como programadas até o outubro 1992, quando o empresas foram forçadas
governo federal-decidiu avançar o calendário por 6 a obter a certificação na
meses. Em 1994, o "Plano Real" foi introduzido a 1509000. Emergência
fim de conseguir a estabilização macroeconõmica. ou fortalecimento dos
Esta política, até agora, provou ser bem-sucedida institutos de pesquisa
no controle da inflação e em estabilizar a economia e laboratórios das
brasileira. Início da implementação da nova lei de TIC universidades estimulados
(1991). e suportados por
recursos originados da
implementação da lei de
TIC.
A Experiência de Empresas de Eletrônica de Consumo, Motocicletas e Bicicletas 183
BOXE 7.1
A indústria de bens de consumo eletrônicos no Brasil surgiu durante a década de 1960 sob a política de substituição de im-
portações (Psl) e um mercado pesadamente protegido. Este mercado se expandiu durante a década de 1970 como resultado
do crescimento econômico e a expansão de consumo de bens duráveis no Brasil.
Como foi o caso na maioria dos países em desenvolvimento, o Brasil começou a receber um considerável número de subsidi-
árias de empresas multinacionais (ETNs)a partir da década de 1960. Ao final da década de 1960, havia cerca de 20 empresas
de produtos eletrônicos no Brasil, das quais três eram estrangeiras. A implementação da política de "reserva de mercado"
(Lei nº 7.232, 1984) estimulou o surgimento da indústria local de produtos eletrônicos no Brasil. Ao final da década de
1980, havia perto de 23 empresas de semicondutores no Brasil, com algumas localizadas em Manaus. Todavia, as medidas
de liberalização comercial adotadas pelo governo federal em março de 1990 conduziu a uma drástica redução nas tarifas de
importação historicamente altas no Brasil (de 114% em 1966 para 21 % em 1993). Adicionalmente, houve a decretação da
nova lei da tecnologia da informação e da comunicação (TIC) (Lei nº 8.248,1991) que proporcionou incentivos fiscais para
os produtos finais em vez dos componentes.
Conseqüentemente, 20 das 23 empresas de semicondutores que estavam em operação durante a década de 1980 desapare-
ceram da indústria no início da década de 1990. A receita da produção de semicondutores no Brasil caiu de US$ 200 milhões
em 1989 para US$ 54 milhões em 1998, refletindo uma ausência Giecoordenação e de políticas industrial e de tecnologia
suplementares, e mesmo uma divergência entre elas, em relação ao complexo de eletrônicos.
No final da década de 1980, o Brasil foi ficando para trás na indústria eletrônica, especialmente na produção de semicon-
dutores e outros componentes, enquanto países como Malásia, Coréia do Sul e Taiwan, que tinham adotado uma estrutura
institucional caracterizada pela convergência entre ações do governo e da indústria. durante a década de 198CJ,tomavam à
dianteira. Isto ocorreu apesar do fato de essespaíses terem iniciado de um estágio relativamente baixo de desenvolvimento
na indústria eletrônica. Como resultado, o segmento de componentes eletroeletrônicos (semicondutores, por exemplo) no
Brasil tornou-se permanentemente enfraquecido.
184 Capítulo 7
- que até essa data tinha sido ausente no Brasil- e o fortalecimento de organizações rela-
cionadas a metrologias). Diversas empresas no Brasil, e em Manaus, contrataram empresas
de consultoria para responder a esta política governamental introduzindo um número técni-
cas de gestão da produção e de inovações organizacionais .
. Reconhecendo os impactos das reformas da liberalização do comércio nas empresas em
Manaus, no início dos anos 1990, a Suframa procurou transformar-se de um mero regulador
fiscal em uma ativa agência de desenvolvimento para a região amazônica. Desde então, a
Suframa pode ser vista como parte de uma iniciativa a longo prazo do governo para desen-
volver esta região do Brasil e faz parte da estrutura institucional (e macroorganizacional)
para o desenvolvimento industrial na região.
Como uma de suas respostas à política industrial federallançada em abril de 1990, a Su-
frama tomou medidas para forçar às empresas a obter a certificação da ISO 9002 até 1992.
Esta política levou as empresas a rever suas atividades tecnológicas, Os resultados deste
estudo sugerem que esta medida compulsória contribuiu para mover diversas das empresas
da amostra para o Nível 2 de acumulação de capacidade em 1993, especialmente para as
atividades de organização e processo da produção e centradas em produto.
De fato, as mudanças políticas no início da década de 1990 varreram do mercado várias
empresas que não foram capazes de enfrentar a competição globalizada trazidas por tais
mudanças. Por exemplo, com mencionado anteriormente, todas aquelas 20 empresas de
componentes eletrônicos que foram fechadas o fizeram em conseqüência da abertura da
economia brasileira. Outra empresa que foi duramente atingida pelas mudanças foi a Sharp
Brasil, uma das empresas de sucesso em eletrônica em operação nas décadas de 1970 e 1980
no país. Após as reformas políticas, as empresas passaram por um drástico processo de de-
terioração durante meados da década de 1990.
É certo, no entanto, que durante a década de 1980, havia empresas brasileiras inovadoras
na indústria eletrônica em Manaus (p. ex., Sharp Brasil, Gradiente e Itautec), Com base na
métrica de capacidade utilizada neste estudo, ao final da década de 1980 tais empresas cons-
tituíram capacidade de Níveis 2 ,e 3 para processos e organização da produção e atividades
relacionadas a produto. Por exemplo, um estudo de caso baseado numa cobertura de longo
prazo indica que a Sharp Brasil foi capaz de desenhar e desenvolver o primeiro videocassete
no Brasil baseado em sua própria capacidade inovadora relacionada a produto (Níveis 4 e
5). A empresa operou quase independentemente de sua empresa-mãe no Japão. Em meados
da década de 1980, a Sharp Brasil tinha criado uma respeitável estrutura organizacional em
Manaus para desenho e desenvolvimento de produtos.
Todavia, durante meados da década de 1990 a Sharp Brasil começou a deteriorar e foi
permanentemente fechada em 2001: a empresa foi debilitada por uma violenta luta de poder
e má administração após a morte de seu fundador em meados da década de 1990. Surpreen-
dentemente, nove entre 10 gestores de alto nível e líderes industriais entrevistados na reali-
zação do trabalho de campo deste estudo sobre a percepção das reformas estruturais, apon-
taram a reforma de 1990 como uma das melhores medidas políticas tomadas pelo governo
brasileiro. Conforme uma associação de líderes industriais em Manaus apontou:
"Se o Brasil não tivesse tomado essas medidas durante o início da década de 1990,
a indústria brasileira e de Manaus estaria hoje desatualizada e não competitiva. E os
consumidores estariam pagando um alto custo em termos de variedade, qualidade e
preço de produtos".
A evidência das entrevistas com líderes industriais, empresariais e acadêmicos em Ma-
naus e São Paulo também sugeriram que um mercado interno fechado e aprisionado e a
ausência de toda a estrutura institucional para proteger os direitos do consumidor até 1990
abasteceriam os fabricantes com um baixo nível do interesse para a qualidade do produto
final. Como um gerente superior indicou:
"Até O final dos anos de 1980 a maioria das indústrias no Brasil geralmente sofria
da preguiça tecnológica; quando a economia foi aberta, diversas empresas acorda-
ram para a realidade da competição real e começaram a funcionar para sua sobre-
vivência; a indústria brasileira teve que ser agitada até acordar para a realidade do
mundo".
A Experiência de Empresas de Eletrônica de Consumo, Motocicletas e Bicicletas 185
TABELA 7.3 Métrica para aferição de capacidades tecnológicas da indústria eletroeletrônica (em empresas de
economias emergentes)
Níveis de
capacidade Processo e organização da Atividades relacionadas a Atividades relacionadas a
teçnológica produção produto equipamentos
Capacidades tecnológicas inovadoras
Nível 6 Design avançado para produtos Desenvolvimento de processos Líder regional ou internacional
Inovador e equipamentos de ponta. Líder e software para produzir e em P&D, desenvolvimento de
(baseado em regional ou global de equipamento testar chips e produtos HDD produtos, centros àSICs ou
pesquisa) CNC, protótipos, estampagem, e miniaturizados e de alto de design de software. P&D
moldagem e instrumental de alta desempenho. Produção time-to- em novas linhas de produtos
precisão. volume. Pesquisa em materiais usando tecnologia de ponta,
,..
- avançados e novas especificações wafers maiores, chips e HDD de
melhor desempenho. P&D em
para fabricar produtos de ponta.
cristalografia, magnetologia e
materiais avançados.
Nível 5 P&D para especificações e Inovação radical na organização. Prototipia rápida, design VLSi.
Inovador design de novo instrumental CIM com clientes, vendedores Design elétrico de embalagem.
- avançado de alta precisão, equipamento ou grupo. Análise detalhada Design de substrato e
automatizado ou sistemas de de defeitos. Desenvolvimento componentes. Análise de materiais
produção. Patentes. Criação de manufatura, FA e software e superfície. Aperfeiçoamento para
de centros de treinamento em TestCAD. Patentes. centros de design regionais ou
moldagem e instrumental de internacionais. Serviços de design
precisão ou moldagem em plástico para grupo de ETNsou clientes.
de precisão, com universidades.
Nível 4 Implementação de equipamento Processos de automação, produção Centro de design aperfeiçoado
Inovador automatizado. flexível e multiqualificada. para firma separada. Design
intermediário Centro de design de equipamento Reengenharia. Desenvolvimento de próprio de produto para mercados
aperfeiçoado para empresa novas especificações. Capacidade locais ou regionais. Design
separada. Design de prensagem e para passar à produção, para testagem e solução de
moldagem. Instrumental de alta diretamente de P&D ou através de problemas DFT/DFD. ISO 9001,
precisão, estampagem em metal HQ. desenvolvimento de software,
progressiva, moldagem por injeção engenharia de sistemas.
de plástico.
Nível 3 Reparação de defeitos no Criação de departamentos Criação de departamentos
Inovador básico equipamento. Cópia e mera de processos, produção ou de engenharia de produtos e
adaptação de projetos/ engenharia industrial. Melhoria design de produtos. Design de
especificações existentes. de layout e solução de problemas produto para manufatura (DFM).
Instalação de equipamento. para otimizar a produção. ISO Desenvolvimento de produtos
Centros de desenvolvimento 9002, SPC, QCC, TQM, Testagem eficientes em termos de custo para
para prensagem, moldagem in circuit, burn-in. Sistemas MRP mercados locais ou diferenciados.
e instrumental. Engenharia/ ou JIT. Design cosmético e mecânico.
componentes de metal e plástico
de alta precisão.
(continua)
186 Capitulo 7
TABELA 7.3 Métrica para aferição de capacidades tecnológicas da indústria eletroeletrônica (em empresas de
economias emergentes) (continuação)
Níveis de
sapacidade Processo e organização da Atividades relacionadas a Atividades relacionadas a
tecnológica produção produto equipamentos
Capacidades tecnológicas de produção
I
Nível 2 Manutenção rotineira de Fluxo de processos, ajuste de Reprodução de especificações fixas
Operacional ferramenta ria e equipamentos. linha. Montagem de' componentes de controle de qualidade rotineira
renovado Manutenção Preventiva Total separados para montagem para manter padrões vigentes:
(TPM) Manutenção Produtiva completa. CKD: montagem controle de qualidade in-line.
Total. Reprodução de itens completa: PCBA e montagem de Pequenas modificações de design
invariáveis de equipamento. produto. para atender a produção ou o
Melhoria da eficiência a partir da mercado.
experiência com tarefas existentes.
Testagem rotineira. I
Nível 1 Manutenção básica, mas SKD: montagem de componentes, Controle de qualidade rotineira I
Operacional fornecedores de equipamento somente montagem final para manter padrões básicos:
básico estacionados na fábrica. Montagem de kits: desmontagem inspeção de produtos entrantes e
e remontagem PPC: planejamento acabados, inspeção de produtos
e controle da produção. expedidos.
Organização do fluxo básico de
processos. Somente testagem
visual.
Nota: PPC (Production Planning and Controti, SKD (Semi-Knocked Down); CKD (Complete Knocked Down); SCP (Statistic Control of
Process); QCC (Quality Control Circ/es); TQM (Total Quality Management); MRP (Manufacturing Requiring Planning); JIT (Just-in-Time);
PCBA (Printed Circuit Board Assembled); ASIC (Application Specific Integrated Circuit); VLSI (Very Large-Scale Integrated).
\
TABELA 7.4 Capacidades tecnológicas da indústria de motocicletas e bicicletas (em empresas de economias
emergentes)
Níveis de
capacidade Processo e Grganizaçãa da Atividades relacionadas a Atividades relacionadas a
tecnológica produção produto equipamentos
" .... Capacidades tecnológicas inovadoras
Nível 7 Pesquisa em materiais avançados e Líder regional ou internacional em P&D para projeto e especificação
Inovador novas especificações para fabricar P&D. Projeto e desenvolvimento de novas fábricas e máquinas.
avançado produtos de ponta. Pesquisa local de todos os produtos. P&D para especificações de design
em novos processos a partir de Lançamentos de produtos de ferramenta ria de alta precisão,
engenharia e P&D. inovadores (" conceito"). equipamento automatizado ou
P&D em materiais avançados. sistema de produção. Patentes.
Centro de treinamento em
moldagem e ferramenta ria de
precisão ou moldagem, com
universidades.
Nível 6 Envolvimento em desenvolvimento Lançamento de produtos de classe Manufatura de linhas de produção
Inovador de novos processos e software, mundial, via P&D e engenharia. completas e/ou partes para outras
intermediário em nível mundial, via~~squisa Criação de centro de design e indústrias assistindo fundição,
superior e engenharia. Envolvimento em desenvolvimento de produtos. usinagem, solda, estamparia,
introdução de novos projetos. Prototipagem rápida. Design de pintura e montagem. Assistência
Desenvolvimento sistemático de componentes. Serviço de design técnica contínua a outras
fornecedores locais (90-100%) para o grupo. empresas do grupo.
para produção de insurnos (rede
-;- - - --
supply chain).
(continua)
A Experiência de Empresas de Eletrônica de Consumo, Motocicletas e Bicicletas 187
TABElA 7.4 Capacidades tecnológicas da indústria de motocicletas e bicicletas (em empresas de economias
emergentes) (continuação)
Níveis de
capacidade Processo e organização da Atividades relacionadas a Atividades relacionadas a
tecnológica produção produto equipamentos
Nível 4
Inovador pré-
Processos de automação para
inovação (p. ex., sistema de
Aprimoramento sistemático das
especificações. Licenciamento
Autonomia para revisão das
máquinas (sem assistência
I
intermediário controle junto ao processo, de novas tecnologias. Produção técnica). Engenharia de processo
, automação para acelerar fluxo própria de partes das peças. reversa básica e detalhada.
de processo), produção flexível Desenvolvimento de fornecedores Manufatura de JIGs, ferramentas
e multiqualificada. Capacidade locais com diminuição de de estamparia e dispositivos.
-
de passar para a produção importação de insumos (80-90% Manutenção própria completa.
diretamente de P&D ou da matriz. de fornecimento local). DesigJl de Ferramentaria de alta precisão,
Análise detalhada de falhas (p. ex., produto para manufatura (DFM). estampagem por injeção de
FMEA). plástico.
TABELA 7.4 Capacidades tecnológicas da indústria de motocicletas e bicicletas (em empresas de economias
emergentes) (continuação)
Níveis de
capacidade
tecnológica
Processo e organização
produção
da Atividaáes relacionadas a
produto
Atividades relacionadas a
equipamentos
I
I
Nível 1 Disposição da tecnologia Produção de número limitado Manutenção básica, mas
Operacional adquirida em forma de rotina de modelos. Produção somente fornecedores de equipamentos
básico na planta. Organização do fluxo para o mercado nacional. presentes na fábrica para prestar
básico de SKD: montagem Compra de projetos em kits auxílio. Domínio básico em
de componentes, somente semidesmontados. Produção SKD. manutenção de ferramentas e
montagem final. Montagem Controle de qualidade rotineiro equipamentos.
. de kits: desmontagem e para manter padrões básicos:
inspeção de produtos entrantes e inspeção de produtos entrantes e
remontagem. Implantação de ppc. acabados, inspeção de produtos
Testagem somente visual. expedidos.
Nota: PPC (Production Planning and Controti; SKD (Semi-Knocked Down); CKD (Complete Knocked Down); SCP (Statistic Control of Process); QCC
(Quality Control Circ/es); TQM (Total Quality Management); MRP (Manufacturing Requiring Planning); JIT (Just-in-Time).
Atividades
tecnológica por organização da centradas em relacionadas a organização em relacionadas a organização da centradas em relacionadas a
setor produção produtos equipamentos da produção produtos equipamentos produção produtos equipamentos
Inovação ,
baseada em O O O 1· 1· 1· O O O
pesquisa (não alcançado) (não alcançado) (não alcançado) (11 %) (11%) (11%) (não alcançado) (não alcançado) (não alcançado)
Nível 6
Inovadora
11 O O 2 1 1 1 O O II
avançada j :'
(61%) (não alcançado) (não alcançado) (22%) (11%) (11%) " (5%) (não alcançado) (não alcançado)
NíveiS »
r-rt
X
"O
Inovação ~
14 3 2 3 1 2 7 1 1 ;:;;;
intermediária :::>
(78%) (17%) (11 %) (33%) (11 %) (22%) (37%) (5%) (5%) r»
Nível 4 n I õõ'
a.
ro
Inovação básica 18 13 9 8 3 3 14 9 5 r-rt
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Nível 3 (100%) (72%) (50%) (89%) (33%) (33%) (74%) (47%) (26%) I
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Nota: (*) Desenvolvimento incompleto do nível de capacidade tecnolóqica. 9
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40% V f---- • Produtos
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20°1<o l2l Equipamentos e
10°1<o 0% 0% 0% 0% 0%0%0%0%0% atividades relatadas
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Nlvel 1 Nível 2 Nlvel 3 Nível 4 Nlvel 5 Nlvel 6
FIGURA 7.3 Número de empresas eletroeletrônicas que acumularam tipos e niveis especificos de capacidade
tecnológica
BOXE 7.2
A indústria de bicicleta surgiu no Brasil durante o início da década de 1900, por um imigrante empreendedor italiano, en-
quanto a produção de motocicletas iniciou em meados da década de 1970, por grandes empresas japonesas. Em 1975, no
auge da política de SI, o governo brasileiro proibiu a importação de motocicletas. Esta medida forçou empresas com a Honda
e a Yamaha a rever suas estratégias e a iniciar atividades de produção no Brasil. Enquanto a Honda decidiu concentrar suas
operações em Manaus, as operações da Yamaha foram totalmente estabeleci das em São Paulo até 1985, quando transferiu
parte de suas atividades para Manaus.
A unidade da Honda em Manaus representa um dos mais altos investimentos privados naquela área. Em 1977, a Honda
fez 27 .000 das 34.000 motocicletas produzidas no Brasil. Refletindo sua forte capacidade de produção, este número evoluiu
para 3.600 motocicletas por dia em 2006 (100 a 600 cc) respondendo por 79% do mercado no Brasil. Em meados da década
de 1990, próximo de 80% dos componentes para motocicletas foram adquiridos em Manaus devido à presença de uma
cadeia de aproximadamente 25 fornecedores. Alguns desses fornecedores foram particularmente atraídos pela Honda e pela
Yamaha durante a década de 1990. Por um lado, esses fornecedores (tanto estrangeiros como locais) foram para Manaus
atraídos, em parte, pelo regime de impostos e em parte pela estabilidade macroeconômica e o crescimento da economia
brasileira (seguindo o Plano Real). Isto, por sua vez, resultou no impressionante crescimento da indústria de motocicletas e
bicicletas no Brasil. Por outro lado, durante a década de 1990, com resultado da recessão econômica japonesa, um grande
número de empresas foi encorajada pelo governo japonês a intensificar as suas atividades manufatureiras externamente,
particularmente em países em desenvolvimento. A partir de 2007, a Honda Manaus tornou-se a maior fabricante mundial
de motocicletas.
A redução sistemática da tarifa de importação durante meados da década de 1990 (de 115,9% em 1987 para 16,7% em
1997) também favoreceu o surgimento de novas empresas de motocicletas e bicicletas no Brasil. Por exemplo, quatro novas
empresas de motocicletas iniciaram suas atividades em Manaus - na base de um SKD (Semí-Knocked Down) e mais tarde
em um CKD (Complete Knocked Down). Uma terceira grande empresa de bicicletas foi estabeleci da em 1996 em Manaus.
Com dois anos esta terceira empresa tinha suplantado as duas tradicionais empresas brasileiras existentes, tanto em termos
de atividade tecnológica como em participação de mercado. Em 2002, ela se tornou a maior produtora de bicicletas na
América Latina.
---------------------------------------------
60%
30% • Produtos
20%
D Equipamentos e
10% atividades relatadas
O%~~~~~~~~~==~-===~~====~-===~~
Nível 3 Nível 4 Nível 5 Nível 6
FIGURA 7.4 Número de empresas de motocicletas e bicicletas que acumularam tipos e níveis específicos de
capacidade tecnológica
50%
45%
40% • Processo e produção
35% empresariais
30%
25% • Produtos
20%
15% [] Equipamentos e
10% atividades relatadas
5%
O%~~~~-=~~~~~~~~~~~~~-===~~
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5 Nível 6
FIGURA 7.5 Número de empresas fornecedoras que acumularam tipos e níveis específicos de capacidade tec-
nológica
192 Capítulo 7
FIGURA 7.6 Configuração da cadeia de fornecedores ao redor das empresas de motocicletas no Pólo Industrial de Manaus
Relacionadas a
equipamentos
1/
~ 1_4_,8_______
I 2,8
F11
L:J)
Centradas em
produtos
I
~
10,9
I
~~~
5,8
__ ~ __ ~ U
2,7--y
__
Processo e
organização da 10,3
produção
o 5 10 15 20 25
Anos (média)
FIGURA 7.7 Velocidade média de movimento através de níveis de capacidade tecnológica nas empresas ele-
troeletrônicas
Relacionadas a
18
equipamentos
Centradas em
12,9
produtos
Processo e
organização da 11,9
produção
o 5 10 15 20 25 30
Anos (média)
FIGURA 7.8 Velocidade média de movimento através de níveis de capacidade tecnológica nas empresas de
motocicletas e bicicletas
194 Capítulo 7
Relacionadas
equipamentos a _"_w
1..... ""_Ç_"_., 8,8 &i§iíiíi!íí --'-"-.•••.••.3,8..•...•.'--
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Centradas em
produtos
I
~
7,8 ~
I
~
2,6 ~ __2 -yU
Processo e
organização da 7,1
produção
o 2 4 6 8 10 12 14 16
Anos (média)
FIGURA 7.9 Velocidade média de movimento através de níveis de capacidade tecnológica nos fornecedores
fornecedor local que adaptou um robô de uma fábrica de móveis italiana para obter uma alta
velocidade e precisão em revestimento e pintura de componentes plásticos para as empresas
eletroeletrônicas); reorganização do negócio e estruturas de gerenciamento inovadoras; e
desenvolvimento de software para controle de processos.
No Nível 5 de capacidade, há um fluxo reverso de conhecimento de Manaus para outras
subsidiárias estrangeiras (p. ex., fornecendo serviços de partida de fábrica, treinamento para :
a produção, sensores automáticos de tempo real para fluxo de processos para fábricas irmãs
no mundo). Isto parece sugerir que o alcance deste nível de capacidade, especialmente para
as subsidiárias transnacionais, significa que as empresas com tal nível de capacidade inova-
dora foram capazes de se envolver numa rede internacionalmente integrada de inovação.
sas do setor de motocicletas e bicicletas e quatro fornecedores não se moveram além dos
Níveis 1 e 2, durante o período da pesquisa. De fato, uma empresa local de motocicletas, a
qual entrou na indústria durante meados da década de 1990 estimulada por uma moeda fa-
vorável e baixas taxas de importação, experimentou uma séria crise financeira e de mercado
na época da pesquisa.
Até as duas antigas empresas nacionais de bicicletas observadas, ambas iniciaram em
Manaus em meados da década de 1970. Embora tenham sido as maiores e mais importantes
empresas no mercado brasileiro por décadas, ambas entraram na década de 1990 com ca-
pacidade de Nível 1 para as três funções tecnológicas. Seguindo a política de mudanças do
início da década de 1990, ambas as empresas quase quebraram por não conseguir enfrentar
a competição estrangeira. Um investidor brasileiro assumiu uma das empresas em meados
da década de 1990 e implementou uma ampla reestruturação corporativa para ajudar a em-
presa competitiva.
Não foi até o início da década de 2000 que esta empresa de bicicleta foi capaz de acumular
o Nível 2 de capacidade para processo e organização da produção. Somente em 2005, apro-
ximadamente 20 anos após sua entrada em Manaus, que esta empresa se moveu para o Nível
3 para esta função técnica e Nível 2 para as atividades relacionadas a produto e equipamen-
tos. O nível máximo de capacidade atingida pela segunda empresa foi o Nível 2 para as três
funções tecnológicas, e esta aparentemente falta de progresso pode ser devida em parte pela
erosão da participação de mercado da empresa.
Até o início dos anos de 1990, ambas as empresas de bicicleta operaram em um ambiente
altamente protegido, que não as estimulou a possuir atividades inovadoras e melhorar a
sua performance em relação aos competidores estrangeiros. Conforme um especialista da
indústria declarou:
"Quando a economia foi aberta, um grande número de bicicletas estrangeiras foi
despejado no Brasil. Nós então compreendemos o quão fraca as empresas locais es-
tavam em termos de eficiência técnica, qualidade de produto e preço, comparado aos
competidores internacionais."
Como conseqüência, muitos profissionais foram despachados a Manaus para realizar di-
ferentes tarefas, tais como o estabelecimento e balanceamento das fábricas, e a constituição
e organização de unidades de apoio (p. ex., controle de qualidade, manutenção, materiais,
engenharia e administração). Todas as posições administrativas e de supervisão foram assu-
midas por pessoal importado. Basicamente, as ligações de conhecimento com as empresas
de origem e irmãs foram concentradas no aprendizado de como organizar e realizar as ati-
vidades de produção.
Durante os anos de 1970, os níveis de automatização eram baixos e as fábricas tiveram
que empregar um grande número de operadores. As empresas recrutaram trabalhadores
para o chão de fábrica localmente ou de outras regiões no Brasil como o Sudeste e o Nor-
deste (p. ex., Ceará, Paraíba e Pernambuco). As sessões de treinamento eram realizadas por
técnicos e engenheiros experientes. Estas sessões envolviam, por exemplo, a montagem e a
desmontagem dos aparelhos de televisão, dos videocassetes, dos refrigeradores, e de partes
das motocicletas e de outros produtos até que os operadores tivessem aprendido os princí-
pios e a seqüência de operação relacionada.
Em paralelo, as empresas trouxeram para Manaus gestores, engenheiros, supervisores
e técnicos de suas empresas de origem e/ou irmãs de outros estados do Brasil ou de outros
países. Como o Brasil tinha se engajado na produção de produtos eletrônicos de consumo
e eletrodomésticos desde meados da década de 1950, especialmente nos estados do sudeste
como o Rio de Janeiro e São Paulo, a maioria das empresas em Manaus se voltou para esta
experiência de aprender com suas empresas de origem e/ou irmãs em como organizar suas
atividades de produção. Por exemplo, durante as décadas de 1970 e 1980, a Sharp Manaus
se engajou em uma série de visitas técnicas, programas de treinamento e atividades de co-
desenvolvimento com o Japão até que aprenderam a projetar e desenvolver produtos (p. ex.,
os videocassetes) construindo suas próprias capacidades. Durante a década de 1980, a brasi-
leira Gradiente estabeleceujoint-ventures como a JVC e a Nitendo, e mais tarde com a Nokia.
Através dessas parcerias, a Gradiente adquiriu conhecimento que foi crucial para constituir
capacidades inovadoras para atividades baseadas em produto.
Esta evidência sugere que durante o período da política de SI, algumas empresas se en-
gajaram numa variedade de processos de trazer conhecimento externo para acumular suas
capacidades. Entretanto, tais esforços de aprendizagem e as capacidades relacionadas não
eram suficientes para lidar com a competição feroz trazida pela abertura do início dos anos
de 1990. Em conseqüência, muitas empresas procuraram reorganizar seus processos de ne-
gócio e acumular novas capacidades para manter sua posição na indústria a partir de 1990.
Por exemplo, uma grande empresa de refrigeradores atravessou um processo de reestrutu-
ração do negócio, centrado especialmente em atividades inovadoras de produto. Os enge-
nheiros recentemente graduados foram recrutados para aprender e disseminar a abordagem
do Seis Sigma: em 2006, a empresa tinha quatro black belts. Adicionalmente, baseado em
engenharia simultânea, o "Projeto Liberdade" envolveu a interação entre engenheiros de Ma-
naus, São Bernardo (São Paulo), China e Suécia, conduzindo ao desenvolvimento de novos
modelos de microondas de 27 e de 38 litros.
Reagindo diferentemente, as empresas como a Ronda não atravessaram uma reestrutu-
ração radical de suas estratégias de aprendizagem, mas procuraram reforçá-Ias e atualizá-
Ias. Durante os anos de 1990, a Ronda continuou com a política de ter grupos de engenheiros
e de técnicos japoneses que permaneceram em Manaus por três anos. A idéia era criar um
fluxo constante de conhecimento na planta de Manaus. Paralelamente, todo ano grupos de
engenheiros e técnicos brasileiros permaneciam por 6 meses no Japão. Eles aprenderam não
somente questões técnicas, mas também administrativas e culturais. Todavia, "há cerca de
20 anos era duro ter os japoneses e os brasileiros trabalhando juntos", disse um gerente.
Uma outra estratégia de aprendizagem fortalecida na Ronda Manaus durante os anos
de 1990 era a difusão de grupos técnicos. Usando seus jalecos brancos, diversos gerentes,
engenheiros, técnicos, supervisores e operadores se reuniam diariamente para conduzir se-
minários, reuniões, grupos de discussão, negociações informais e sessões de solução de pro-
blemas. Estas estratégias de aprendizagem na Ronda Manaus ajudam a explicar os níveis de
capacidades inovadoras conseguidos na empresa.
Deve ser lembrado que 11 das 46 empresas da amostra neste estudo são japonesas; e há
cerca de 27 empresas japonesas no Pólo Industrial de Manaus. A partir dos anos de 1980, e
198 Capítulo 7
200 Capítulo 7
A unidade de manutenção da Ronda é conhecida em Manaus por seu elevado nível téc-
nico baseado em técnicas avançadas e na excelente experiência. Como alguns meios locais
e fornecedores de pequeno porte não têm os recursos para estruturar (ou melhorar) suas
próprias unidades da manutenção, a Ronda aloca seus próprios técnicos para realizar algum
trabalho de manutenção, mas principalmente treina e mantém os fornecedores atualizados
no processo de produção, de equipamento e utiliza ferramentas técnicas de manutenção.
Como o proprietário de uma empresa de tamanho médio local disse: "Com essas interações
freqüentes com eles [Ronda], nós estamos aprendendo sempre novas técnicas; mantendo
nossa fábrica atualizada sem ter que pagar por um consultor".
Similarmente, uma pequena empresa local (em torno de 20 trabalhadores), de proprie-
dade de um casal de engenheiros químicos, que tinham se mudado do Nordeste do Brasil
para Manaus durante o começo dos anos de 1990, transformou-se em um fornecedor-chave
de peças galvanizadas para a Ronda. Como eles comentaram: "No início foi difícil atender
às expectativas de qualidade deles, mas nos deram um incentivo tremendo. Eles geralmen-
te vêm aqui, compartilham problemas e nos ajudam a melhorar o nosso trabalho". Esta é
evidência adicional que ajuda a explicar os níveis inovadores de capacidade em produto
encontrados nas empresas locais em Manaus. A Yamaha utiliza muitos dos fornecedores de-
senvolvidos pela Ronda em Manaus. A um grau inferior, a Yamaha procura emular o tipo de
relacionamento da Ronda com seus fornecedores, e desde 2002, a empresa tem aumentado
seu volume de operações em Manaus.
Em uma mais ambiciosa frente, a Ronda procura envolver seus fornecedores locais em
atividades comuns de desenvolvimento de produto: são convidados a participar dos estágio
iniciais de projeto. Numa empresa fornecedora pesquisada neste estudo, havia um retrato
enorme pendurado na parede de um dos últimos modelos da Ronda. O proprietário da em-
presa era orgulhoso em dizer que sua empresa tinha participado no processo de desenvolvi-
mento dessa motocicleta.
O comportamento proativo e baseado em aprendizado da Ronda foi encontrado igual-
mente em seus fornecedores de primeira linha. Um deles é uma empresa japonesa que for-
nece sistemas da embreagem para Ronda e para a Yamaha. Durante meados dos anos de
1990, esta empresa procurava por um fornecedor local de manutenção de equipamentos e
de fabricação de algumas peças e componentes. O gerente identificou uma pequena empre
local (com cerca de 12 trabalhadores qualificados) de propriedade de um engenheiro e um
ex-empregado da Embraer. Primeiro timidamente, este fornecedor local aceitou o desafio
de trabalhar com a empresa japonesa. Inicialmente, realizaram uma série de operações con-
juntas de manutenção. Mais tarde, seu relacionamento evoluiu em co-projeto e co-desenvol-
vimento de componentes. Em 2004, esta empresa local fornecia tudo de alguns pequenos
equipamentos a seu usuário japonês. Em 2006, a pequena empresa local previamente tímida
transformou-se em um fornecedor respeitado tanto de empresas de motocicletas e bicicletas
como de eletroeletrônica em Manaus para atividades diversas (p. ex., projeto e manutenção
do braço dos robôs). Um resultado da estratégia de desenvolvimento de fornecedores locai e
dos fluxos de conhecimento relacionados, conduzidos pelas empresas de DR, especialmente
a Ronda, foi a emergência de uma rede interconectada de empresas estrangeiras e locais
como representado na Figura 7.6.
Esta evidência indica que as atividades tecnológicas inovadoras das empresas, tais como
a Ronda Manaus, não estão mais confinadas a seus limites, mas tem-se espalhado sobre -
fornecedores (pequenas e médias empresas estrangeiras e locais). A presença de tal rede d -
fornecedores significa que uma grande subsidiária de EMN como a Ronda criou um tipo
"raiz regional".
Em termos da resposta de outras empresas às reformas políticas do começo dos anos •
1990, a Multibras (uma grande empresa de injeção plástica) se engajou em uma série de v .
gens internacionais para visitar as empresas de origem de seus usuários-chave (p. ex., a So _
a Panasonic, a Philips e a Ronda). A finalidade inicial era aprender deles sobre "a fabricaçã
classe mundial" (WCM). As entrevistas do trabalho de campo sugeriram que a execuçã
deste programa em Manaus, conduzida pela Multibras, disparou diversas ligações de apre
dizagem com fornecedores e empresas dos usuários. Adicionalmente, a Multibras ernpreg
uma empresa de consultoria para ajudar a rever seus processos de negócio. Paralelamen =
A Experiência de Empresas de Eletrônica de Consumo, Motocicletas e Bicicletas 201
Alguns gestores, todavia, expressaram alguma preocupação com a relativa baixa velocida-
de na qual o treinamento técnico e as organizações educacionais em Manaus (e no Brasil),
como o SENAI e o CEFET, tinham respondido as suas necessidades de treinamento. Para
alguns gestores, essas organizações necessitavam atualizar o programa de seus cursos e as
habilidades de seus instrutores, e assim atualizando suas facilidades técnicas. Por exemplo,
em Manaus havia uma escassez de técnicos qualificados em ferramentaria. "Como eles são
quase raros aqui, leva tempo para nós treinarmos nossos próprios técnicos", considerou um
gerente.
Considerando que as empresas são também geradoras de conhecimento, esta evidência
sugere que as empresas tendam a usar tais centros educacionais para suprir algumas de
suas necessidades básicas e genéricas de treinamento; mas elas projetam e executam seus
próprios programas da educação e formação para atender as suas necessidades específicas
de conhecimento.
Apesar da presença do SENAI em Manaus desde o final dos anos de 1950 e da demanda
para engenheiros pela indústria local, apenas a partir de 1973 que os primeiros cursos rela-
cionados à engenharia (p. ex., elétrico, eletrônico e mecânico) começaram a ser ensinados
em Manaus na Universidade Tecnológica do Amazonas (UTAM);e somente 13 anos mais
tarde a UTAMconseguiu realizar plenamente cursos de engenharia elétrica e mecânica. Em
1998, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM)começou a oferecer cursos de engenha-
ria elétrica e de produção; e mais tarde ofereceu um curso de engenharia de computação.
Por estas razões, desde os anos de 1970 as empresas brasileiras e estrangeiras do Pólo
Industrial de Manaus têm buscado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) novos en-
genheiros graduados para empregar. Durante a década de 1990, as empresas aumentaram
seu recrutamento de engenheiros das universidades no Nordeste do Brasil: UFPB, a Univer-
sidade Federal do Ceará (UFCE) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para as
atividades tão diversas quanto manutenção, sistemas de qualidade, gerência da produção e
desenvolvimento de produtos. Em 2000, as universidades em Manaus começaram a ser aju-
dadas pela UFPE a projetar e executar programas de pós-graduação em engenharia.
No que diz respeito à educação em gestão de negócios em Manaus, o Instituto de Admi-
nistração e Economia do Amazonas (ISAE), relacionado à Fundação Getulio Vargas, abriu
caminho para a provisão de cursos de pós-graduação neste campo em Manaus em 1992.
Durante os últimos 15 anos, o ISAE teve quase 12.000 matrículas em diversos campos da
administração de negócios: das técnicas de gerenciamento do chão de fábrica e da produção
as de mercado, finanças, recursos humanos, TI, logística, gerência de custos, contabilidade
e gerência estratégica.
Esses cursos de pós-graduação em gestão, que duram normalmente 1 ano, são conside-
rados por gerentes como uma oportunidade para o compartilhamento informal de conhe-
cimento que às vezes pode evoluir em cooperação relacionada à tecnologia, conforme um
engenheiro comentou:
"Uma outra vantagem desses cursos é que nós passamos a conhecer o que outras
empresas em Manaus estão fazendo. Este ano (2006) nós começamos uma parceria
tecnológica com um fornecedor que evoluiu de uma interação informal durante o
curso de pós-graduação que eu estava fazendo".
Adicionalmente, o ISAE executou programas especiais baseados no desenvolvimento de
habilidades em TI para estudantes do nível médio. Há também programas para o desenvol-
vimento de habilidades de instrução para jovens e adultos nos Estados da Amazônia Legal.
Combinando a distância com o ensino frente a frente, tais programas envolveram aproxima-
damente 700.000 matrículas nos últimos 10 anos em diferentes estados do Amazonas. Foram
executados com base em parcerias entre o ISAE, os governos local e estadual e a indústria.
Até 2006, Manaus teve dois centros federais oferecendo instrução técnica de nível univer-
sitário (UFAMe CEFET), uma universidade de estado (UEA)e 14 universidades privadas for-
necendo tanto cursos de gestão de negócios como de engenharia e de nível de graduação e de
pós-graduação. Este é um conjunto respeitável de organizações de educação e treinamento.
Todavia, deve ser recordado que Manaus sofreu com uma severa falta de fontes locais de
educação de engenharia e de treinamento até pelo menos meados dos anos 1990. Além disso,
-------------------------
204 Capítulo 7
desde 2004. Todavia, como em outras partes do Brasil, alguns departamentos de universi-
dades mostraram uma grande resistência aos investimentos fornecidos pela indústria, es-
pecialmente por empresas estrangeiras, com base na lei da TIC. Enquanto alguns professores
deram as boas-vindas a tais investimentos, outros mostraram extrema resistência baseada
reações nacionalistas/xenofóbicas: alguns argumentam que, pelo engajamento neste tipo de
relacionamento com empresas, perderão sua autonomia acadêmica. As empresas também se
queixam que as universidades são demasiado lentas para entregar os resultados acordados
com as empresas ou para realizar novos projetos de cooperação.
Algumas empresas de consultoria em Manaus têm sido uma das fontes-chave para que as
empresas atualizem suas capacidades. Uma delas, a MAP Cardoso, tem uma elevada reputa-
ção em Manaus por seu trabalho em desenvolvimento em plantas e automatização de equi-
pamentos, desenvolvimento de software e hardware, e atividades inovadoras em processos e
nas atividades de organização da produção. Esta empresa de consultoria detém algumas pa-
tentes e presta serviços não somente para empresas em Manaus, mas também para grandes
empresas no Sul e Sudeste do Brasil, na Ásia e na Europa Oriental. Em Manaus, esta empre-
sa desenvolveu ligações com a maioria das empresas de EE e com Honda e a Yamaha.
No que diz respeito às organizações locais de planejamento em ciência e tecnologia e
organizações de financiamento, a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amazonas (SECT),
criada em abril de 2003, tem suportado as diversas interações entre empresas (não somente
do Pólo Industrial de Manaus) e organizações de apoio. Em 2006, sua agência do financia-
mento à pesquisa (Fapeam) abrangia 16 programas em implementação. Uma delas suporta
atividades de pesquisa em pequenas e médias empresas locais, em setores diferentes. A Tabe-
la 7.6 mostra alguns exemplos de resultados gerados para empresas em Manaus de suas in-
terações com organizações de apoio locais. Havia alguma associação positiva e significativa
entre estas ligações e as capacidades das empresas. Por exemplo, para empresas de EE, havia
uma correlação forte em termos de capacidade relacionada a equipamento (p < 0,05); dentro
das empresas de MCR havia uma correlação forte entre o número de ligações informais e os
níveis de capacidade para todas as três funções tecnológicas, especialmente para capacidade
relacionada a equipamento (p < 0,01). Com relação aos fornecedores, havia uma associação
Empresas deMÇB
~==
O"~
16,7 NE NE NE
Provisã6de it'lfbrnnaçãe~ 17,7 13,3 30 14,8 10 NE
Relatórios 22,6 NE 36,7 3,7 3,3 NE 7,7
NE 10 NE NE NE NE
NE 3,3 3,7 3,3 NE NE
NE NE NE NE NE NE
Outros" 1,1 1,8 NE 1,6 1,6 NE 4,1 2,7 NE
Notas: (a): Solução compartilhada de problemas, projetos de automação, introdução de inovações organizacionais, co-desenvolvimento relativo à
melhoria de atividades centradas em produtos e processo e organização da produção, e treinamento técnico para equipes dedicadas (capacidades
intermediárias a altamente inovadoras)
RH: ligações com Recursos Humanos
NE: não encontradas
206 Capítulo 7
positiva e significativa entre as ligações baseadas nos recursos humanos e níveis máximos da
capacidade das empresas dos fornecedores (p < 0,01).
Embora haja resultados interessantes para as empresas que emergem de suas interações
de aprendizagem com as organizações de apoio, alguns destes resultados são ainda provi-
sórios. Não obstante, a evidência do trabalho de campo sugeriu que a demanda por empre-
sas para os serviços de organizações de apoio locais tenham crescido, embora lentamente,
durante estes últimos anos (p. ex., Fucapi, FTP, Genius). Entretanto, na maioria dos casos,
especialmente as universidades, tem sido somente uma interação de sentido único em que
as empresas têm injetado recursos nas universidades e em institutos de pesquisa (ou os têm
criado), através da lei da TIC. Não obstante, se controlados adequadamente, estes inves-
timentos recebidos pelas organizações de apoio locais podem transformar-se numa fonte
crítica de capacidades das empresas em Manaus no futuro.