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OPINIÃO DO PROFESSOR:
O QUE VOCÊ ACHA QUE DEVE
MUDAR NO ENSINO MÉDIO?
TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO
Escola Bosque implanta plataforma da Microsoft
Education e mostra resultados surpreendentes
ww w.p n l d2018.com .b r
Kelly Cardoso
Professora do
Ensino Médio
CONHEÇA AS OBRAS
APROVADAS
Geografia: Espaço e identidade Geografia das Redes
Boa leitura!
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caminhos do Ensino Médio no Brasil TEMPOS MODERNOS,
TEMPOS DE SOCIOLOGIA
A Sociologia, assim como a
12
Filosofia, deixou de ser obrigatória
OPINIÃO DO PROFESSOR
em 2008. O que isso significa para
Professores respondem ao
o futuro da disciplina?
questionamento: “O que vocês acham
que devem mudar no Ensino Médio?”
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LANÇAMENTOS DE GRAMÁTICA E
QUÍMICA COMPLETAM A SÉRIE BRASIL
18 42
A HISTÓRIA E A LUTA
TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO
PELA PLURALIDADE
Escola Bosque implanta plataforma
O currículo de História na
da Microsoft Education e mostra
BNCC foi ponto central de um
resultados surpreendentes
debate importante, mas ainda
pouco compreendido: a luta
pela pluralidade
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TECNOLOGIA: PROTAGONISTA Coordenação
OU CENÁRIO EM SALA DE AULA? Helena Poças Leitão
A pedagoga Francisca Paris ajuda
Jornalista Responsável
a refletir sobre tecnologia e a
resistência dos educadores em
Tânia Pescarini (MTB 0077719)
inseri-la em sala de aula Produção de textos
Tânia Pescarini
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DIVERSIDADE EM SALA DE AULA Edição de Arte e Diagramação
Saber lidar com a diversidade em Z1 Propaganda
suas várias dimensões é um aspecto
crucial para o êxito do processo de Revista EM Foco é uma publicação gratuita voltada para
ensino e aprendizagem professores do Ensino Médio.
OS DESAFIOS DO
NOVO ENSINO MÉDIO
Não existe uma resposta única para os desafios que o Ensino Médio
enfrenta no Brasil. Entretanto, mudanças significativas passam,
necessariamente, por melhores formação e condições de trabalho para os
professores, além de uma cultura de valorização do conhecimento.
O Ensino Médio (EM) no Brasil não vai bem: de contato com o professor. Para pensarmos qual
altas taxas de evasão escolar, notas baixas em seria o melhor caminho para o Ensino Médio aqui
avaliações unificadas, violência. A Medida Provisória no Brasil, precisamos levar em conta as realidades
no 746 (2016), agora transformada em Lei no sociais e culturais plurais dos nossos jovens. Afinal,
13.415/2017, tenta combater o que é encarado o Brasil tem muitas faces e é relativamente recente
por diversos especialistas como um dos principais o projeto de contar com todos os adolescentes
problemas do Ensino Médio em nosso País: a falta entre 15 e 17 anos na escola.
de atratividade da escola para os jovens. Por isso,
o currículo foi flexibilizado, instituindo 5 diferentes ENSINO MÉDIO PARA TODOS: UMA META RECENTE
itinerários formativos. O diagnóstico de falta de
Até a década de 1970, no Brasil, o Ensino Médio
atratividade da escola apoia-se em diferentes
era um luxo a que tinham direito somente os
pesquisas. Uma delas, organizada pela Fundação
filhos da elite que pretendiam seguir rumo à
Victor Civita — O que pensam os jovens de baixa
universidade. Naquela época, essa etapa do
renda sobre a escola? —, indica que, muitas vezes,
ensino era dividida entre o científico, o clássico e
os adolescentes não veem sentido na escola. Sem
o normal. A universidade era restrita até mesmo
que haja conexão entre a escola e o projeto de
a mulheres de famílias abastadas: muitas faziam
vida dos adolescentes, muitos deles optam por
apenas o curso normal. Essa realidade mudou
abandonar os estudos a fim de trabalhar.
nas décadas seguintes, quando jovens das classes
trabalhadoras passaram a cursar o Ensino Médio,
PARA PENSARMOS QUAL SERIA O MELHOR em parte devido a mudanças no mercado de
CAMINHO PARA O ENSINO MÉDIO AQUI NO trabalho e na economia mundial. Ainda hoje,
BRASIL, PRECISAMOS LEVAR EM CONTA
poucos adolescentes concluem o EM na idade
AS REALIDADES SOCIAIS E CULTURAIS
PLURAIS DOS NOSSOS JOVENS. certa (até os 19 anos): apenas 56,7%, segundo
o levantamento Todos Pela Educação (2016). E
muitos jovens entre 15 e 17 anos ainda estão
A flexibilização do currículo pode ajudar nesse
fora da escola: 1,7 milhão, segundo estimativas
sentido. No entanto, o mesmo documento lembra
mais conservadoras. Milhares de outros brasileiros
que a falta de atratividade está ligada a outros
continuam presos no Ensino Fundamental.
fatores, como infraestrutura precária e falta de
segurança, pouco uso e baixa valorização da Em outras palavras, o Brasil ainda não alcançou
tecnologia em sala de aula, absenteísmo e falta a universalização do Ensino Médio. Contudo, a
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Os desafios do Novo Ensino Médio
metas, no mais das vezes, abstratas, penso que implementação da Base Nacional Comum
precisamos primeiro dar aos nossos estudantes Curricular e da reforma do Ensino Médio está
— todos os estudantes — condições mínimas de no professor. No fim do dia, é ele que faz a
estudo, ou seja, facilitar a coexistência entre sua coisa acontecer”, afirma Olavo. Hoje, a profissão
formação escolar e a realidade social e cultural não é muito atrativa por razões já conhecidas:
em que se inserem”, acredita Lyra. “Também os salas superlotadas, pouco tempo para planejar
professores precisam de condições básicas para atividades, salários ruins, entre outras. Mas há
fazer um trabalho de qualidade. Nossas professoras razões culturais que podem estar atrapalhando,
e nossos professores, na imensa maioria das vezes, tais como a sociedade que valoriza resultados
em nenhum sentido dispõem dessas condições, rápidos e posições de liderança, relegando
seja em termos salariais, seja de tempo disponível atividades técnicas e conhecimentos a segundo
para uma formação continuada e aprimorada, nem plano. Países com educação de alta qualidade são
sequer para a preparação das aulas e avaliações. aqueles em que a profissão docente é valorizada
Não fosse tudo isso já suficientemente ruim, e está entre as mais disputadas. São os casos da
projetos de criminalização das atividades docentes, Coreia do Sul e da Finlândia, por exemplo.
como o ‘Escola Sem Partido’, podem, se forem
adiante, tornar o quadro ainda menos atrativo para Talvez não seja necessário olhar muito longe para
o magistério”, diz. ter uma ideia de como tornar o magistério atrativo
para profissionais talentosos. Temos uma história
“Se pudesse eleger uma etapa do ensino onde de sucesso no Brasil mesmo. Aqui, a carreira de
mais se acumulam problemas, elegeria o Ensino
professor em universidades federais está entre
Fundamental II. Muitos problemas atribuídos ao
as mais disputadas e é valorizadíssima. Seus
Ensino Médio, como alta distorção idade-série vêm
profissionais são comprometidos com a produção,
lá de trás”, aponta Ocimar. Para ele, uma reforma
exigentes com a qualidade do ensino em suas
real do EM envolveria necessariamente um amplo
instituições, respeitados pela sociedade e para
programa de formação de professores.
eles não faltam oportunidades de crescimento
Olavo lembra que melhorar a educação significa profissional, pessoal e intelectual — como viagens,
valorizar o professor. “O grande desafio da congressos, contatos com outras culturas — etc.
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OPINIÃO DO PROFESSOR:
O QUE VOCÊ ACHA QUE DEVE
MUDAR NO ENSINO MÉDIO?
provas, preparação de aulas, entre outros. Logo,
não acho que adianta muito mudar o currículo sem
que haja preocupação em melhorar a infraestrutura
da Educação. Quanto à reforma do Ensino Médio,
acho que ela tem vários pontos em aberto e cito
quatro como exemplos: primeiro, essas questões de
infraestrutura mal foram comentadas e precisam
ser debatidas. Segundo, de forma simplificada,
as escolas escolherão quais áreas elas vão querer
Letícia Vieira, aprofundar: se são as humanas, as biológicas ou
Professora de Geografia do
todas, por exemplo. Mas como será feita essa
Ensino Fundamental II e do
Ensino Médio escolha? Eu acho que o vestibular ainda terá papel
importante na definição da grade de aulas e me
“Não devemos pegar os exemplos internacionais preocupa a possibilidade de, em determinadas
e aplicar na realidade educacional brasileira sem regiões, não haver uma ou outra disciplina
refletir sobre nossas particularidades. Por exemplo, disponível para o aluno que queira aprendê-la. E
falta infraestrutura nas escolas públicas e privadas. isso é um terceiro problema: como vamos lidar
Essa é a primeira questão que o governo deveria com as diferenças regionais e conseguir ofertar
enfrentar antes de aumentar carga horária dos todas as possibilidades do novo currículo a todos
alunos. As escolas precisam de infraestrutura para os alunos? A quarta questão é que parte do Ensino
que professores, alunos e funcionários consigam Técnico poderá ser feito em empresas. Porém,
passar o dia lá: papel higiênico nos banheiros, qual proteção legal os alunos vão ter? Esse estágio
lugar para tomar banho depois de treinos, salas será remunerado? Quantas horas o aluno poderá
de estudos, computadores e internet, entre outras trabalhar? Haverá alguma ajuda de custo? Essas
coisas. Além disso, o ideal seria que o professor regras não estão muito claras e corremos o risco
pudesse arrumar a sala de forma antecipada para de, nesse momento, Ensino Técnico ser entendido
a dinâmica de aula que ele pensou. Para isso, como uma forma de mão de obra superbarata
seria necessário repensar a sala de aula. Também para as empresas. Enfim, existem muitas outras
deveríamos repensar o número de alunos nas questões associadas ao Novo Ensino Médio. Porém,
salas: com 30, 40 ou mais alunos numa sala, o eu escolhi algumas mais básicas para ilustrar o
professor não consegue dar a atenção necessária quanto o tema ainda está incerto. Até acho que
ao aprendizado individual. Também temos que existam ótimas pessoas trabalhando com esse
remunerar melhor os docentes e considerar mais assunto, mas falta transparência e um diálogo
o trabalho feito fora da sala de aula: correção de mais claro com a população.”
12
Opinião do Professor
Paulo Crispim,
Professor de Sociologia
do Ensino Médio
“O Ensino Médio
ao acesso à educação pública de qualidade.
universalizado no Brasil
Uma reforma de Ensino Médio conduzida
ainda é uma utopia. Em um
sem debate e sem consulta aos órgãos e
país que apresenta imensas
categorias organizadas e suas representações é
desigualdades, a maioria dos
inconcebível, e os elementos citados são condição
jovens não consegue encerrar
primária para quaisquer mudanças envolvendo
o ciclo básico de ensino. Muitos
o último ciclo do Ensino Básico. Por fim, defendo
abandonam a escola justamente nesse
uma mudança estrutural, e não retórica, acerca dos
período, seja por necessidade econômica, seja pela
desafios da educação pública e de qualidade voltada
desvalorização que o conhecimento e o estudo
para o Ensino Básico: radicalizar a democracia
sofrem em um modelo de sociedade consumista.
e a participação direta dos atores envolvidos
A primeira mudança que deveria ocorrer seria a
com a prática educacional, incluindo estudantes;
transferência das decisões das políticas curriculares
descentralizar as decisões para os estados a
voltadas para o Ensino Médio do MEC para
partir da formação de conselhos deliberativos, que
conselhos deliberativos, compostos pela sociedade
atenuem a influência e os interesses econômicos
civil organizada e por sindicatos dos professores,
em detrimento dos interesses políticos; retirar o
organizações estudantis, gestores educacionais,
discurso do mercado das Secretarias de Educação,
trabalhadores da Educação e representantes do
que apresenta exames padronizados, estímulo à
poder legislativo do Estado, além de demais atores
mediocridade e linguagens oriundas das relações
envolvidos com a luta diária pela Educação. Esses
de trabalho enxertadas na Educação; e demais
conselhos deveriam ter paridade de representações,
aspectos que acompanhamos diariamente na
contando, inclusive, com eleições bianuais diretas
sociedade brasileira.”
por parte dos professores da rede pública básica
e professores das universidades públicas na área
de Educação de cada estado. É urgente retirar as
políticas e as decisões que atingem realidades
e contextos distintos dos interesses privados de Ana Paula
grupos econômicos que atuam como lobistas, de Barros Jorge,
Professora de
impondo o discurso, a linguagem e as propostas Língua Portuguesa do
que beneficiam o mercado da Educação em Ensino Médio
Gilda Albuquerque
Professora de História
14
BNCC do Ensino Médio
A Constituição de 1988 garante o direito desempenho dos alunos mais e menos favorecidos
universal à educação. A efetivação desse direito, do ponto de vista socioeconômico é grande.
entretanto, enfrenta inúmeros desafios de Enquanto alunos de escolas federais e privadas,
ordem orçamentária e administrativa, seja do cujos pais cursaram Ensino Superior ou Pós-
ponto de vista de recursos humanos, seja da -Graduação, podem ultrapassar os 600 pontos
logística. Enquanto nos últimos 29 anos esforços como nota média no ENEM, as notas de alunos de
significativos foram empregados para ampliar o escolas municipais ou estaduais, cujos pais não
acesso à escola, garantias de aprendizado para estudaram, nem sequer alcançam 450 pontos.
as crianças que estavam na escola também
não eram completamente asseguradas. A Base A lista de desigualdades continua em áreas
Nacional Comum Curricular (BNCC) é uma como infraestrutura, acesso a bens culturais
tentativa de garantir o direito ao conhecimento. e produções científicas, acesso à orientação
“A Constituição de 1988 estabelece o direito à profissional e auxílio na formulação de um
educação mas não explica como efetivar esse projeto de vida.
direito”, afirma Olavo Nogueira Filho, gerente
geral da ONG Todos pela Educação. “A BNCC é DESAFIOS: ARTICULAÇÃO COM A REFORMA DO
importante para a concretização do direito à ENSINO MÉDIO E IMPLEMENTAÇÃO
educação”, acredita.
Na primeira semana de abril de 2017 foram
A garantia de que todos os jovens de 15 a apresentadas ao Conselho Nacional de Educação
18 anos, além dos alunos matriculados na (CNE) a BNCC do Ensino Fundamental e da
modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Infantil. Os documentos trazem
terão o direito a um conteúdo mínimo é também marcos como parâmetros de aprendizagem
uma tentativa de mitigar um dos principais para bebês e crianças menores de 6 anos e a
problemas da educação brasileira: a desigualdade. obrigatoriedade do ensino de Inglês. No entanto,
Alguns indicadores preocupam nesse sentido. a BNCC para o Ensino Médio ainda está em
Por exemplo, o Brasil ainda tem 12,9 milhões discussão. A expectativa é que sua base chegue
de analfabetos (PNAD/ 2016), pessoas que não ao CNE até o final de 2017. Assim que a BNCC
conseguem ler ou escrever uma sentença simples. for aprovada pelo Conselho e sancionada pelo
Entre essa população, mais da metade (6,5 Ministério da Educação (MEC), escolas particulares
milhões) é composta por idosos com mais de 60 e redes estaduais de ensino deverão elaborar
anos. Observaram-se avanços principalmente nas
currículos que incorporem simultaneamente o
últimas duas décadas. O percentual de jovens
novo documento e os percursos formativos (Lei
que concluem o Ensino Médio (EM) antes dos
no 13.415/2017). A expectativa é de que 60% do
19 anos cresceu de 41,4% em 2005 para 56,7%
tempo seja dedicado à carga regular e 40% à
em 2014 (PNAD). Contudo, quando avaliamos
carga horária flexível.
as notas do Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM), observamos que ainda persistem muitas Pensar o conteúdo da Base Nacional Comum
desigualdades na educação. A diferença entre o Curricular do Ensino Médio não será uma tarefa
15
TODOS OS ALUNOS TERÃO TODO O CONTEÚDO DA
BNCC NOS 3 PRIMEIROS SEMESTRES. DEPOIS PODERÃO
ESCOLHER SEUS ITINERÁRIOS FORMATIVOS.
Mariana Guglielmo,
Pesquisadora da Fundação Getulio Vargas (FGV)
HABILIDADES E COMPETÊNCIAS
simples. “Todos os alunos terão todo o conteúdo da A Base Nacional Comum Curricular define não
BNCC nos 3 primeiros semestres. Depois poderão somente conteúdos básicos a serem ensinados
escolher seus itinerários formativos”, acredita a todos os alunos do Ensino Médio em cada
Mariana Guglielmo, pesquisadora da Fundação disciplina, como também delimita uma série de
Getulio Vargas (FGV) e autora de livros didáticos de habilidades e competências. Dez competências
História. “Não se sabe se nos diferentes itinerários gerais da BNCC mobilizam o desenvolvimento
formativos os alunos irão aprofundar conteúdos interpessoal e intrapessoal, além do cognitivo.
da BNCC ou se os professores ensinarão conteúdos Esses três desenvolvimentos deverão ser
extras”, lembra. Também não está definido se a articulados. Mariana Guglielmo acredita que esse
Base vai apontar os conteúdos, assim como as será um grande desafio para os professores.
habilidades e competências, a serem trabalhados “Poucos professores vão conseguir articular os
nesses itinerários. desenvolvimentos intrapessoal, interpessoal
e cognitivo. Como o professor trabalhará a
Outro aspecto desafiador da articulação entre
resolução de conflitos? Ele não tem formação
BNCC e reforma do Ensino Médio é a transição
para isso”, afirma.
do Ensino Fundamental II para o Ensino Médio.
“A construção do Ensino Médio foi rompida e a Algumas das competências gerais da BNCC
Base do Ensino Médio terá necessariamente que também esbarram em desafios de infraestrutura.
trabalhar com a BNCC do EF II. Afinal, a Base Por exemplo, o documento menciona o uso
Nacional Comum Curricular é uma só”, lembra criativo e significativo das tecnologias digitais.
Olavo Nogueira. Além disso, para que a Base Segundo dados do PNE, em 2015 apenas 22,6%
chegue às salas de aula, um grande esforço de das escolas de Ensino Médio no Brasil contavam
adaptação dos currículos estaduais e municipais com infraestrutura adequada. Para ser assim
deverá ser conjuntamente empregado. O Brasil considerada, a infraestrutura de uma escola precisa
tem mais de 5 mil municípios, e elaborar um contar com os seguintes itens: acesso à energia
currículo voltado para cada um deles não é um elétrica; abastecimento de água tratada; rede
processo simples. “Não seria esse o momento de pública de esgotamento sanitário; quadra esportiva;
os estados pensarem em liderar uma articulação laboratório de ciências, biblioteca ou sala de leitura;
com os municípios?”, indaga Olavo. e acesso à internet de banda larga.
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BNCC do Ensino Médio
gerais da BNCC
Exercitar a curiosidade intelectual e
Valorizar e utilizar os conhecimentos recorrer à abordagem própria das
historicamente construídos sobre o mundo ciências, incluindo a investigação, a
físico, social e cultural para entender e
1 reflexão, a análise crítica, a imaginação
explicar a realidade (fatos, informações, e a criatividade, para investigar causas,
fenômenos e processos linguísticos, elaborar e testar hipóteses, formular e
culturais, sociais, econômicos, científicos, resolver problemas e inventar soluções
tecnológicos e naturais), colaborando para com base nos conhecimentos das
a construção de uma sociedade solidária. diferentes áreas.
2
17
A HISTÓRIA E A LUTA
PELA PLURALIDADE
O currículo de História da Base Nacional Comum Curricular foi
ponto de um debate importante, porém pouco compreendido: a luta
pela pluralidade. Duas leis — a Lei no 10.638/2003, que estabelece
a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Africana e Afro-
-Brasileira, e a Lei no 11.645/2008, que modifica e complementa
a Lei anterior, tornando obrigatório o ensino de História e Cultura
Africana, Afro-Brasileira e Indígena —, tentam equilibrar uma
narrativa compatível com a sociedade plural em que vivemos e
com métodos internos da disciplina.
Para uma criança parda, negra ou indígena no de maneira geral. A cultura europeia, considerada
Brasil, é quase impossível não se sentir deslocado mais sofisticada, precisaria ser assimilada por
dentro da própria pátria diante da enorme qualquer cidadão com ambição de conquistar
representatividade de crianças e adultos brancos um bom emprego, além de sucesso material e
na televisão, no cinema, em anúncios, revistas social, uma vez que nossas instituições e nossos
e livros didáticos — sem mencionar as inúmeras modelos econômico e político são influenciados
referências culinárias, comportamentais e de por construções ocidentais. Daí sua proeminência
moda, que pouco têm a ver com a natureza e na literatura escolar e acadêmica. Mesmo quando
o clima que vivenciamos aqui. A criança não se falava sobre cultura e literatura indígena e
precisa ser negra, parda ou indígena para africana, os assuntos eram tratados por meio de
estranhar o Papai Noel sentado em uma cadeira uma perspectiva europeia.
cercada por neve falsa e vestindo uma roupa Nos últimos anos, no entanto, observamos
desconfortável enquanto o termômetro marca um movimento de recuperação da História
30 graus Celsius. Esse processo, conhecido e da cultura de povos africanos e de nativos
como aculturação, ocorre quando duas ou mais americanos, culminando na criação das Leis
culturas se encontram e um grupo abre mão no 10.638/2003, que estabelece a obrigatoriedade
de sua cultura para assimilar outra. Em um do ensino de História e Cultura Africana e
contexto histórico de colonização, uma cultura é Afro-Brasileira, e no 11.645/2008, que tornou
colocada como superior, enquanto as demais são obrigatório o ensino de História e Cultura Africana,
relacionadas ao “subdesenvolvimento”. Foi o que Afro-Brasileira e Indígena. Não é um movimento
aconteceu no Brasil e no restante das Américas, que acontece somente no Brasil: o Fundo das
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A história e a luta pela pluralidade
A tecnologia possibilitou transformações em nosso também aumenta, de modo que esses aparelhos
mundo de modo antes inimaginável. hoje podem ser considerados instrumentos
facilitadores, podendo apoiar o aprendizado de
Dispositivos móveis fazem parte de nossa
maneiras inusitadas, tanto fora como dentro das
vida, provendo um acesso sem precedentes à
salas de aula.
comunicação e à informação. Hoje, grande parte
da população usa aplicativos nos dispositivos Apesar do reconhecido conceito sobre seu
móveis, e há estimativas de que a quantidade de potencial educativo e de aprendizagem, os
dispositivos móveis já supere o número total da dispositivos móveis costumam ser banidos
população mundial. de escolas, principalmente durante as aulas,
momento legítimo e instituído de organização de
Muitos usuários afirmam que o WhatsApp, o
situações de aprendizagem. Proibições como essa
LinkedIn, o Spotify e o aplicativo de navegação
baseiam-se no julgamento de que os dispositivos
Waze são muito importantes em seu cotidiano.
móveis são nocivos à aprendizagem escolar.
Em outras palavras, as pessoas argumentam que
precisam de aplicativos de smartphone voltados Há, entre os professores, uma percepção de
para muitos aspectos de sua existência, do que o celular atrapalha o andamento das aulas,
transporte ao entretenimento, e de redes sociais assim como queixas de que os telefones celulares
para conexão com seus grupos de amigos. distraem os alunos. É possível. Porém, sem
os telefones celulares, os estudantes também
O uso de aplicativos propagou-se, sobretudo, entre
se distraem; a diferença é que antes eles se
os jovens. Pesquisas de mercado revelam que
distraíam com outras ocorrências. Algo que
mais de 80% dos adolescentes entre 15 e 17 anos
também pode causar a distração nos alunos é
de idade têm smartphones.
o desinteresse pelo assunto discutido em sala, e
Assim, podemos observar que à medida que não necessariamente a presença de um telefone
os dispositivos se tornam mais robustos, celular. Professores também compartilham da
funcionais e baratos, o potencial pedagógico deles ideia de que os alunos podem usar celulares para
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tecnologia: protagonista ou cenário em sala de aula?
Saiba mais:
www.seriebrasilensinomedio.com.br/
Livros Caderno de Livros Portal
impressos Revisão para digitais exclusivo
o 3o ano
A Série Brasil – Ensino Médio tem como propósito contribuir para a formação de
cidadãos conscientes de seu papel na transformação da sociedade. As coleções
apresentam um conjunto de propostas que privilegia tanto a assimilação dos conteúdos
curriculares como o exercício de uma postura crítica, possibilitando ao aluno construir
uma opinião independente e uma leitura própria do mundo.
DIVERSIDADE EM SALA DE AULA
Saber lidar com a diversidade em suas várias dimensões é um aspecto
crucial para o êxito do processo de ensino e aprendizagem. O tema é
recorrente, mas, às vezes, pode ser mal interpretado. Afinal de contas,
a diversidade se apresenta em diferentes aspectos, como em tempos de
aprendizado, trajetórias de vida, origem social, cultura familiar... Nessa
reportagem, professores e diretores de escola revelam como lidam com
o desafio de encontrar o método mais eficiente para cada aluno.
Diversidade em Sala de Aula
28
Diversidade em Sala de Aula
TECNOLOGIA PODE AJUDAR “Por exemplo, você pode gravar videoaulas e nelas
os alunos podem rever coisas que em sala não
Em uma aula puramente expositiva, o professor
conseguiriam. Depois você pode colocar material
pode não ter muita certeza de como a mensagem
sobre o mesmo assunto para os que têm mais ou
que pretendeu transmitir foi recebida por seus
menos dificuldade — artigos ou exercícios. Ou seja,
alunos de modo individual. Já em um modelo mais
é preciso criar o seu jeito de elaborar percursos
interativo, que faça uso de diversas linguagens, é
diferentes para seus alunos” , acredita Moises.
mais fácil receber um feedback do que cada um
está aprendendo. O professor Moises Zylbersztajn, “Os alunos têm perfis diferentes de aprendizado.
do Colégio Santa Cruz, acredita que a tecnologia Tem aluno que gosta mais de ler, tem aluno que
pode ser uma grande aliada. “A tecnologia não gosta mais de ouvir, tem aluno que aprende bem
resolve a questão, mas ela permite que você possa quando assiste a um vídeo ou quando faz um
produzir roteiros de trabalho e de estudo, além exercício. Há mil formas. Então, quando você tem
de diagnósticos que permitam ao aluno encontrar uma diversidade de opções para fazê-lo chegar
outros jeitos de estudar o conteúdo que você está àquele conhecimento, é mais fácil abraçar essas
trabalhando”, afirma. diferenças”, conclui.
29
AVALIAÇÃO: UMA
OPORTUNIDADE
DE APRENDIZADO
PARA TODOS
tendem a ser realizadas no final do ano, merecem indicadora da qualidade das escolas mundo afora.
reflexão do corpo pedagógico da escola. Quiçá se Não quero dizer com isso que os resultados do
dedicaria tanta reflexão às avaliações organizadas PISA não devam ser olhados. Não quero dizer com
por um corpo externo. Acaba-se criando um isso que a margem de erro do PISA o inviabilize.
cenário que dificulta a apropriação. O Brasil é um dos países onde o desempenho dos
jovens de 15 anos apresenta um dos maiores
crescimentos, inclusive em relação à OCDE, já que
“O BRASIL É UM DOS PAÍSES ONDE
a série histórica mostra a OCDE em declínio.
O DESEMPENHO DOS JOVENS DE 15
ANOS APRESENTA UM DOS MAIORES O problema é que projeções indicam que levaríamos
CRESCIMENTOS.” de 50 a 90 anos para ultrapassar a OCDE. Por quê?
Porque nossos resultados são baixos. Porém eles
são completamente compatíveis com as nossas
avaliações, inclusive com o SAEB e mesmo com
EM Foco — O PISA é uma boa referência
outras avaliações estaduais. O problema é gerar
para o Brasil? Quais são os desafios dessa
políticas para alterar o quadro da educação escolar,
avaliação?
de onde derivam parte dos resultados. Digo “parte”
Ocimar — O primeiro desafio do PISA é que não é porque as condições socioeconômicas das quais os
organizado pela Organização das Nações Unidas jovens derivam alteram os resultados sobremaneira.
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Se não mudarmos a maneira como as escolas
uma instituição com tradição em Educação. Essa trabalham, seja na reflexão sobre resultados
avaliação é organizada pela Organização para a gerados por avaliações externas, seja na reflexão
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), das avaliações internas, não veremos as mudanças
o que não lhe dá toda a legitimidade para ser a que queremos.
33
PARA OS PROFESSORES
DO ENSINO MÉDIO, GARANTIMOS OS
MELHORES SERVIÇOS EDUCACIONAIS.
Se você tem mais de 25 anos de idade, é provável O FUTURO DA SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO
que não tenha tido aulas de Sociologia no Ensino
Professores, estudantes e gestores de escolas
Médio (EM). A disciplina tornou-se obrigatória
públicas e particulares aguardam ansiosos a
em 2008 e, com a proposta de flexibilização
publicação da versão final da Base Nacional
do currículo na última etapa da Educação
Comum Curricular (BNCC) para saber como será,
Básica, acabou voltando a ser matéria optativa.
de fato, a organização do Ensino Médio após a
Para Raquel Balmant Emerique, professora,
flexibilização curricular. Afinal, a BNCC é que deve
pesquisadora e autora de livros didáticos, o
decidir aquilo que deverá ser ensinado a todos. No
principal desafio para o ensino de Sociologia
entanto, com o fim da obrigatoriedade do ensino
nas escolas está em sua legitimação perante os
de Sociologia na Educação Básica, é possível
estudantes, as famílias, os colegas e a sociedade
que diversas Secretarias Estaduais de Educação
de modo geral. Ou seja, ainda há muita gente
decidam cortar a matéria do currículo.
que considera Sociologia uma disciplina pouco
necessária na grade curricular. A pesquisadora Uma reivindicação antiga de profissionais da área,
considera que ainda há muita incompreensão o ensino de Sociologia na Educação Básica ainda
acerca da disciplina. Além da pressuposição de enfrenta desafios. Tal como ocorre com Filosofia,
que seu conteúdo possa ser diluído em aulas de trata-se de uma das disciplinas com o maior
História e Geografia, por exemplo, sem prejuízos à índice de professores sem a titulação adequada no
formação do aluno, há ainda a pressão de grupos Ensino Médio. Segundo o Censo Escolar, 88% dos
sociais que temem “doutrinação ideológica” em profissionais que ministram aulas de Sociologia
sala de aula, quando, na verdade, o objetivo e 77% dos que dão aulas de Filosofia no EM
da matéria é levar ao estudante conhecimento não têm licenciatura na área. Isso acontece, em
científico sobre o mundo social. Em outras parte, porque a presença dessas disciplinas na
palavras, a Sociologia, como qualquer outra grade curricular é recente. Bianca Freire-Medeiros,
ciência, apresenta métodos, objetos de estudo e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP),
referências na literatura clássica, que compõe a atualmente alocada em Austin, Texas (EUA),
espinha dorsal da civilização ocidental. acredita que o fim da obrigatoriedade pode
36
Tempos Modernos, tempos de sociologia
38
Os DESAFIOS das AULAS de SOCIOLOGIA
39
LANÇAMENTOS DE
GRAMÁTICA E DE QUÍMICA
COMPLEMENTAM A
SÉRIE BRASIL
As escolas sabem que precisam mudar o formato EM Foco — Quais são os principais benefícios
de ensino voltado para essa nova geração de que a escola percebe após a implantação da
alunos. Agora, o que seria esse novo formato? Microsoft Education?
Como tornar a aula mais prazerosa para o aluno?
Silvia/Fátima — O pacote que adquirimos
Como conectar toda a comunidade escolar em
nos ajudou não só no âmbito pedagógico,
seus projetos? O que é, hoje em dia, ser uma
mas também na eficiência de gestão. Nossa
escola voltada para a tecnologia?
comunicação interna melhorou muito entre
Essas e outras perguntas não são fáceis de professores, pais e alunos.
ser respondidas pois não há uma fórmula do As ferramentas também ajudaram nas melhorias
sucesso ou um único caminho a trilhar. As escolas dos processos. Então, processos que eram
brasileiras estão se reinventando a cada dia, manuais passaram a ser digitais. Por exemplo,
recorrendo a tecnologias que facilitem a vida dos os semanários com os planejamentos das aulas
professores e que sejam atrativas para os alunos. dos professores eram feitos num caderno a mão;
agora, estão todos na plataforma. Essa mudança
Fomos conhecer a Escola Bosque, em São Paulo,
facilitou muito a vida dos professores, que
que implantou um pacote completo de recursos
puderam organizar melhor suas aulas, já incluindo
da Microsoft Education e atualmente é uma
no planejamento os recursos que utilizarão em
das escolas de referência na implantação da
cada aula, como vídeos, slides, fotos, entre outros.
tecnologia no ambiente escolar.
Caso o professor precise faltar, repor sua aula
A revista EM Foco conversou com Silvia será mais fácil também.
Scuracchio, diretora pedagógica da Escola Bosque,
e com Fátima Costa, coordenadora pedagógica do
colégio, para entender como se deu o processo “UM PONTO POSITIVO PARA OS
de implantação desse tipo de tecnologia na ALUNOS FOI O USO DA TECNOLOGIA
PARA DESENVOLVER SUAS LIÇÕES DE
instituição e quais são os principais benefícios e
CASA, TRABALHOS EM GRUPO, ENTRE
desafios dessa estratégia letiva.
OUTROS PROJETOS DA ESCOLA.”
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Tecnologia: casos de sucesso
Espaço da Microsoft Education dentro da escola: decoração lúdica e espaço aconchegante voltado para os alunos.
Professor pode corrigir as provas via plataforma e deixar recados para seus alunos ou por meios escritos ou por áudios.
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Fátima e Silvia com aluno no espaço escolar da Microsoft Education.
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Tecnologia: casos de sucesso
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Carla Sousa
Professora de História
do Ensino Médio