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24/04/2017 Os 10 melhores quadrinhos de super­heróis de todos os tempos | Revista Bula

Os 10 melhores quadrinhos de super­heróis de todos os tempos

POR EDSON ARAN
EM IDEIAS

Os quadrinhos de super­heróis são a narrativa épica do nosso tempo. Não temos mais Ulisses,
Poseidon e Homero, mas temos Doom Patrol, a Irmandade Dadá e Grant Morrison. Não faça essa
cara. As pessoas ouviam as narrativas de Homero para escapar do quotidiano chato da Grécia
Clássica. Nós lemos quadrinhos de ação pelo mesmo motivo. Não há nada de novo sob o sol. Ou
melhor, há sim: super­heróis com colãs multicoloridos! Bang! Pflot! Zum!

O Cavaleiro das Trevas — Texto e arte de
Frank Miller

Esta HQ aparece em 10 entre 10 listas de melhores
quadrinhos de todos os tempos, então vamos nos
livrar dela logo de cara. Escrita e desenhada por
Frank Miller na sua fase mais criativa, a série
redefiniu o Batman como o vigilante psicótico e
obsessivo que todos nós amamos. Numa Gothan
City futura e violenta, um Bruce Wayne de 60 anos
veste novamente o colã para combater o crime. A
HQ mostra como a figura do Batman causa impacto
na sociedade, com acalorados debates sobre direitos
humanos e uma legião de imitadores que tomam a
justiça em suas mãos com resultados desastrosos. A
história termina em uma luta entre o morcego e
Superman, que virou uma espécie de superagente
do governo americano (é a inspiração para o filme
“Batman Vs Superman”, de Zack Snyder, aquele
indigente mental). Frank Miller usa o recurso do
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discurso interior, o que na época era uma novidade,
mas que depois se transformou numa muleta pro
autor em obras bastante inferiores como “Sin City” e
o abominável “300”. Ainda hoje, é uma excelente
novela gráfica, embora o reacionarismo de Miller já
estivesse todo lá.

Watchmen — Texto de Alan Moore e arte de
David Gibbons

“Watchmen” sempre é citada junto com “O Cavaleiro
das Trevas” como “as obras que redefiniram os
super­heróis”. É um erro. Embora contemporâneas,
são duas HQs completamente diferentes.
“Watchmen” é libertária e irônica com os vigilantes
mascarados, retratados como tipos perigosos e
fascistas. O grande vilão da história (olha o spoiler) é
o super­herói Ozymandias, que decide forjar uma
invasão alienígena para acabar com uma guerra
nuclear entre EUA e a União Soviética e, portanto,
salvar o mundo. Mas esse ato heroico redime seus
crimes? E, afinal, quem deu a ele o direito de decidir
quem vive e quem morre? “Quem vigia os vigilantes?
/ Who watches the Watchmen?” é a pergunta que
percorre e define a obra. Muito diferente de “O
Cavaleiro das Trevas”, que faz apologia do
vigilantismo. Detalhe: se você conheceu essa história
pelo filme medonho de Zack Snyder, aquele
indigente mental, você viu coisas que não podem ser
desvistas. O quadrinho é a obra de um gênio (Alan
Moore) e as alterações que Snyder faz na história
destroem o conceito de toda a trama.

Doom Patrol — Texto de Grant Morrison,
arte de Richard Case e outros

A “Doom Patrol” escrita pelo escocês Grant Morrison
não costuma frequentar este tipo de “top ten”, o que
é inexplicável, já que a HQ é, de muitas maneiras,
superior até mesmo a “Watchmen”. Enquanto Alan
Moore traz os super­heróis para o mundo real, Grant
Morrison os leva para o mundo surreal. É um
universo povoado por pinturas que engolem cidades,
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ruas conscientes e ônibus movidos a LSD. Criado
em 1963, “Doom Patrol” nunca foi um quadrinho
mainstream, mas Morrison levou a inadequação ao
extremo quando assumiu o título em 1989. Ele
acrescentou personagens bizarros como Crazy Jane
(uma garota de múltiplas personalidades, cada uma
com um poder diferente) e Danny, The Street, que
é… bem, uma rua viva! Ah, sim. Danny também é
gay. Os maiores adversários da Patrulha do Destino
são a Irmandade Dadá comandada por Mr Nobody.
Na primeira aparição, eles usam uma pintura que
devora Paris. Na segunda, pegam a bicicleta de
Albert Hofmann, o inventor do LSD, para fazer um
tour pelos Estados Unidos. Por onde passa, a
bicicleta transforma tudo em psicodelia. Até hoje, 26
anos depois, a “Doom Patrol” de Grant Morrison
continua única, original e desconcertante.

Quarteto Fantástico — Texto de Stan Lee e
Jack Kirby, arte de Jack Kirby

O “Quarteto Fantástico” é o quadrinho que dá origem
ao Universo Marvel. Além de ser o primeiro gibi de
super­heróis da editora, também introduz o conceito
da continuidade. Ou seja, se Nova York é destruída
numa edição, a cidade permanece aos cacos na
revista seguinte. Isso foi a grande revolução proposta
por Lee­Kirby, já que as histórias da DC, então
hegemônica no gênero super­heróis, eram todas
autocontidas. Mas a série fica realmente boa,
quando Lee deixa o roteiro também aos cuidados de
Jack Kirby. A imaginação prodigiosa de Kirby cria os
Inumanos, Galactus — O Devorador de Mundos,
Pantera Negra e o reino de Wakanda e mais um
monte de tramas cósmicas variadas. Dizem que os
roteiros escritos por Stan Lee são mais humanos e
cheios de dilemas morais, enquanto os de Jack Kirby
são fluxos criativos tão intensos que deixam essas
coisas em segundo plano. É verdade. Mesmo assim,
o “Quarteto Fantástico” é um dos melhores
quadrinhos de super­heróis de todos os tempos.
Talvez o melhor.

Os Eternos — Texto e arte de Jack Kirby
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Os Eternos — Texto e arte de Jack Kirby

Nos anos 70, o livro “Eram os Deuses Astronautas”,
do escritor suíço Erich von Däniken, virou um best­
seller mundial. O autor buscava na arqueologia e
mitologia evidências de que alienígenas haviam feito
contato com os seres humanos no passado distante.
Kirby parte dessa premissa para criar uma trama que
contrapõe duas raças manipuladas geneticamente
por extraterrestres: os Eternos e os Deviantes. Os
Eternos são os deuses e heróis da nossa mitologia e
os Deviantes, claro, os monstros e demônios. A
história começa com a descoberta de uma pirâmide
asteca que contém armas bizarras e avançadas.
Descobre­se que os deuses cósmicos, chamados
Celestiais, estão a caminho da Terra para julgar suas
criações e decidir se o planeta merece existir ou não.
Pena que a história não termina, pois a revista não
vendia e acabou cancelada depois de um ano. Muita
gente tentou retomar a história sem sucesso. Até
Neil Gaiman quebrou a cara com uma HQ insossa e
preguiçosa em 2007. Os Eternos ainda esperam
autores que tenham respeito pelo conceito original
de Jack Kirby.

A Liga Extraordinária — Texto de Alan
Moore e arte de Kevin O’neill

A Liga não é o melhor trabalho de Alan Moore, mas é
o mais divertido. O autor reúne heróis da literatura da
Belle Époque numa espécie de “Liga da Justiça”
steampunk. O grupo é formado por Allan
Quartermain (de “As Minas do Rei Salomão”), Mina
Murray (de “Drácula”), Capitão Nemo (de “Vinte Mil
Léguas Submarinas”), Mr Hyde (de “O Médico e o
Monstro”) e Hawley Griffin (de “O Homem Invisível”).
Eles são recrutados pelo serviço secreto inglês,
comandado por um misterioso homem chamado “M”,
que eles supõe ser Mycrof Holmes, o irmão de
Sherlock, que desapareceu nas cataratas de
Reichenbach, na Suíça. Sua missão é encontrar um
combustível chamado “carborite” que pode fazer o
Império Britânico vencer a corrida espacial que
disputa com a França. Isso os leva a se meter numa

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guerra no submundo de Londres entre Fu Manchu
(dos livros de Sax Rohmer) e James Moriarty (o
arquinimigo de Sherlock Holmes). A série tem ainda
inúmeros personagens secundários pinçados da
literatura da época e encontrá­los é um jogo dos
mais divertidos. Por exemplo: o segundo em
comando no submarino Náutilus é Ishmael, o
narrador de “Moby Dick”. Kevin O’Neill não é apenas
um ilustrador, mas um co­autor. Sua Londres é
gótica, industrial, suja. Sua Paris é azul, cheia de
chaminés e fumaça. A Liga teve várias continuações,
mas a primeira série é a melhor de todas. As demais
são inferiores, mas valem a leitura.

Archer & Armstrong — Texto de Fred Van
Lente, arte de Cleyton Henry

A dupla foi criada por Barry Windsor Smith nos anos
90, mas só decolou em 2012, com a recriação de
Fred Van Lente. Armstrong é Aram Anni­Padda, um
imortal de 10.000 anos que nasceu na antiga
Suméria e está por aí bebendo e correndo atrás de
mulheres. Archer é um perito em artes marciais
treinado por uma seita cristã fundamentalista para
matar Armstrong, considerado um demônio.
Naturalmente, eles acabam virando amigos e juntos
enfrentam sociedades secretas das mais bizarras
como monges budistas­nazistas, os black blocs (que
usam um bloco quadrado como máscara), o 1% (o
1% mais rico da população mundial) e freiras
travestis assassinas. Os roteiros misturam todo tipo
de teoria conspiratória numa trama que nunca se
leva muito a sério. Até agora, um dos melhores
quadrinhos da década.

The Umbrella Academy — Texto de Gerard
Way e arte de Gabriel Bá

Esse quadrinho é surpreendente por muitos motivos.
O principal deles é que o autor do texto é Gerard
Way, cantor da bandinha emocore “My Chemical
Romance” e que todo mundo acreditava ser uma
espécie de Michel Teló que fala inglês.
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Surpreendentemente, Way se revelou um autor culto
e inovador. Inspirado pela “Doom Patrol”, de Grant
Morrison, ele inventou uma família disfuncional de
super­heróis cheia de personagens cativantes, entre
eles, Spaceboy, Number Five, the Horror e The
White Violin. Em 1977, um evento desconhecido e
inexplicável faz com que nasçam 43 bebês com
superpoderes. A maioria das crianças morre, mas
sete delas são adotadas por Richard Hargreeves, o
Mr. Monocle, que as educa na The Umbrella
Academy. Dezessete anos mais tarde, os “irmãos” se
reúnem no velório de Mr. Monocle e descobrem que
um deles se transformou em super­vilão. Imagine um
filme dos “Vingadores” escrito e dirigido por Wes
Craven. É isso. A arte é do brasileiro Gabriel Bá que,
assim como O’Neil em “A Liga”, é quase um co­autor.

Planetary —Texto de Warren Ellis e arte de
John Cassaday

Planetary é um delírio pop pós­moderno que junta
numa mesma trama monstros japoneses, super­
heróis, pulp fiction, cinema de ação chinês e mais um
monte de referências do cinema, quadrinhos e
literatura. O “Planetary” do título é uma organização
misteriosa que financia um grupo de “arqueólogos do
impossível” composto por Elija Snow, Jakita Wagner
e “Drummer”. Os três saem pelo mundo em busca de
objetos estranhos e fora de contexto, como, por
exemplo, o martelo de um deus nórdico que dá
superpoderes a quem o empunha. Neste mundo
meta­ficcional, eles enfrentam a oposição de outro
grupo superpoderoso, “Os Quatro”, uma versão
distorcida e maléfica do “Quarteto Fantástico”. A
partir daí, Ellis­Cassaday exploram e satirizam
elementos de toda a ficção pop produzida no século
20. “Planetary” é um filhote de “A Liga
Extraordinária”, mas tem vigor suficiente para ficar de
pé sozinho.

Supreme — texto de Alan Moore e arte de
Rob Liefeld e outros

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“Supreme” é uma cópia do Superman criada em
1992 por Rob Liefeld para a editora Image. Liefeld é
considerado o pior desenhista de super­heróis do
mundo (é verdade), mas em 1997, ele fez a coisa
certa: convidou Alan Moore para assumir o título e
“Supreme” finalmente voou. Em vez de se afastar de
Superman, Moore fez o oposto: “transformou”
“Supreme no Superman. Ele inventou um passado
para o personagem recriando não apenas histórias
ao estilo dos anos 50 e 60, mas também as capas
dessas revistas “falsas”, tiras de jornais da época e
até “cartas de leitores”. Na história, o autor assume
que o atual “Supreme” é apenas a versão
“reformulada” mais recente do personagem. Com
esses truques metalinguísticos e uma trama ao
mesmo tempo contemporânea e saudosista, Moore
transformou o “Superman Wanna Be” num herói
melhor que o original. A DC, claro, não aprendeu a
lição. A versão atual do Superman que usa camiseta
de marombeiro e calça jeans é uma abominação
perante Deus e os homens.

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