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A Constitucionalização Do Processo Penal PDF
A Constitucionalização Do Processo Penal PDF
DIRETORIA DA
GESTÃO 2013/2014
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente: Mariângela Gama de Magalhães Gomes
1ª Vice-Presidente: Helena Regina Lobo da Costa
2o Vice-Presidente: Cristiano Avila Maronna
1ª Secretária: Heloisa Estellita
2o Secretário: Pedro Luiz Bueno de Andrade
1o Tesoureiro: Fábio Tofic Simantob
2o Tesoureiro: Andre Pires de Andrade Kehdi
Diretora Nacional das Coordenadorias Regionais e Estaduais: Eleonora Rangel Nacif
Assessor da Presidência: Rafael Lira
CONSELHO CONSULTIVO
Ana Lúcia Menezes Vieira
Ana Sofia Schmidt de Oliveira
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OUVIDOR
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Boletim: Rogério FernandoTaffarello
Comunicação: Cristiano Avila Maronna
Cursos: Paula Lima Hyppolito Oliveira
Estudos e Projetos Legislativos: Leandro Sarcedo
Iniciação Científica: Ana Carolina Carlos de Oliveira
Mesas de Estudos e Debates: Andrea Cristina D’Angelo
Presidente
Ana Lúcia Menezes Vieira
Secretário-geral
Rafael Lira
Coordenador-Chefe
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Guilherme Suguimori Santos
Matheus Silveira Pupo
Conselho Editorial
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Antonio Baptista Gonçalves, Arthur Felipe Azevedo Barretto, Átila Machado, Camila Garcia,
Carlos Henrique da Silva Ayres, Christiany Pegorari Conte, Danilo Ticami, Davi Rodney Silva,
Diogo Henrique Duarte de Parra, Eduardo Henrique Balbino Pasqua, Érica Akie Hashimoto,
Fabiana Zanatta Viana, Fábio Suardi D’ Elia, Francisco Pereira de Queiroz, Gabriela Prioli Della
Vedova, Giancarlo Silkunas Vay, Guilherme Suguimori Santos, Humberto Barrionuevo Fabretti,
Ilana Martins Luz, Janaina Soares Gallo, José Carlos Abissamra Filho, Luiz Gustavo Fernandes,
Marcel Figueiredo Gonçalves, Marcela Veturini Diorio, Marcelo Feller, Matheus Silveira Pupo,
Milene Maurício, Rafael Lira, Rafael Serra Oliveira, Ricardo Batista Capelli, Rodrigo Dall’Acqua,
Ryanna Pala Veras, Thiago Colombo Bertoncello e Yuri Felix.
APRESENTAÇÃO
Resumo: O Código de Processo Penal apresenta, há muito tempo, profunda desatualização. Com
a promulgação da Constituição Federal de 1988, além de defasado, evidenciou grande
inadequação com os ditames constitucionais. Nesse sentido, foram promovidas reformas pontuais,
que, em parte, aproximam os dois estatutos. Entretanto, embora avance rumo à
constitucionalização, o Código mantém dispositivos conflitantes com esse ideal. Ademais, os
próprios dispositivos processuais reformados reiteram alguns dos antigos vícios e, sob o pretexto
de mais eficaz combate à criminalidade, reduzem ou ignoram as garantias fundamentais, previstas
na Constituição Federal.
Palavras-chave: Código de Processo Penal; constitucionalização; garantias fundamentais; avanços
e retrocessos.
Abstract: For many years, the Brazilian Code of Criminal Procedures has shown to be deeply
outdated. With the enactment of the 1988 Federal Constitution, in addition to its outdated
status, it also showed a great inadequacy with the constitutional principles. In this sense, specific
reforms were promoted with the intention of bringing both statutes closer. However, although
the code is moving forward towards constitutionalization, some of its provision are still
conflicting in relation to its ultimate goal. Furthermore, the provisions which have been changed
still reaffirm some of the old vices and under the justification of fighting crime more effectively,
they reduces or ignore some fundamental guarantees that are provided for in Federal
Constitution.
Key words: Code of Criminal Procedure; constitutionalization; fundamental guarantees; advances
and retrocession.
Pode parecer, à primeira vista, que o legislador se veja perdido no emaranhado de novas
leis que visam à atualização e também por decorrência de uma opção reformadora em capítulos
estanques e por isso desencontrados, resultando na incoerência referida.
O que se denota, contudo, é que não se trata de equívoco apenas, mas as marchas e
contramarchas no sentido de uma verdadeira constitucionalização do processo penal, não raro,
decorrem de opção inspirada em cultura de exacerbação do combate à criminalidade, por
imposição da influência midiática e pseudoconsenso comunitário (opinião pública ou
“publicada”).
Tudo isso resulta na expansão da intervenção estatal e na redução das garantias
fundamentais previstas na Carta Magna, como será analisado a seguir.
É o que se pode extrair do art. 5.º, LV, da Constituição: “aos litigantes, em processo judicial
ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes”.
Essa exigência, no CPP, ocorreu com a Lei 9.296/1996, que deu novo tratamento à
citação por edital, passando a presumi-la não efetivada, ao contrário do regime anterior. De fato,
pela redação original do Código, publicava-se o edital e se considerava o acusado formalmente
citado, declarando-o revel, se não comparecesse.
Pois bem. Ainda que tardia, a lei de 1996 trouxe um avanço constitucional ao processo penal.
Mas essa lei, ao dar nova redação ao art. 366 do CPP, pecou pela imprecisão e veio com
uma lacuna importante, que provocou perplexidade e até hoje não foi satisfatoriamente
preenchida.1
A incorreção consiste em que deveria ter constado “se, expedido e publicado o edital” e
não citado por edital, porque, na realidade, o acusado normalmente não é efetivamente citado.
Além disso, na atualidade, o art. 366 apresenta outra inadequação: não se trata mais de ausência
do acusado ou seu advogado, mas sim de apresentação de defesa (art. 396 da Lei 11.719/2008).
Entretanto, importa é que não se presume sua citação e sim que não tenha efetivamente
sido citado, tanto que fica suspenso o processo e também o prazo prescricional.
O maior problema é que não ficou definido um prazo para a suspensão da prescrição. Essa
indeterminação, de acordo com a doutrina, traduz as seguintes consequências: viola a
Constituição, quanto à imprescritibilidade e quanto ao prazo razoável do processo; quanto ao
1
“Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do
prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso,
decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.”
processo, cria dificuldade em relação à prova e no que concerne ao Direito Penal abala a
legitimação da pena.
A solução apontada para o impasse foi a aplicação do art. 109 do Código Penal, pelo
máximo da pena cominada, conforme a Súmula 415 do Superior Tribunal de Justiça: “O período
de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada”.
Entretanto, ainda assim, considera-se muito extenso o prazo, sendo a opção criticada pelas
mesmas razões mencionadas, propondo-se que seja adotado o parâmetro da pena mínima.
A mesma Lei passa a exigir que o interrogatório seja feito em presença de advogado, o qual
anteriormente apenas aparecia nos demais atos da instrução processual.
2
“Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes
de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas.
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.”
3
“Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se resta algum fato para ser esclarecido, formulando as
perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante.”
ocorrer no mesmo ato, de forma que a efetividade da prerrogativa dependeria de maior ou menor
diligência e, sobretudo, independência do advogado, de difícil concretização quando se trata de
defensor dativo.
De qualquer modo, em que pese a ressalva, essa última legislação representou indiscutível
avanço constitucional do processo penal.
A Lei 11.719/2008, fez constar no art. 400 do CPP que o interrogatório seja o último ato
da instrução, resolvendo o problema referido no parágrafo anterior e consolidando o
posicionamento de que se trata de ato preponderantemente de defesa, pois se o acusado optar por
formular a autodefesa terá prévio conhecimento das demais provas.
Quando a Constituição completou seu vigésimo aniversário, em 2008, foi publicada a Lei
11.690, alterando alguns artigos do Código sobre as prova, embora mantendo o chamado
contraditório diferido ou postergado em relação às provas irrepetíveis, com destaque para as
perícias, justamente as provas mais acreditadas por serem técnicas.
Essa questão poderá ser solucionada no projeto de lei sobre a investigação criminal, se
adotar, como previsto, a participação da defesa nessa fase procedimental, uma vez que, salvo
exceções justificadas, nada impede que o defensor participe da persecução desde seu início.
A reforma “não teve coragem para romper com a tradição brasileira de confundir atos de
prova com atos de investigação, com graves reflexos na eficácia probatória deles”.5 E, para agravar, o
legislador acrescentou a expressão “exclusivamente” ao dispositivo em questão, anulando a
proibição do uso de prova realizada no inquérito policial e, portanto, fora do contraditório.
No Senado Federal, o texto recebeu emenda para que fosse retirada a expressão
“exclusivamente”, sob o argumento de que as informações colhidas na investigação não são provas
produzidas de acordo com o contraditório, não devendo sequer ser levadas em consideração pelo
juiz criminal. Mas, tal emenda não foi acolhida pelo relator na Câmara, Dep. Flávio Dino, que
assim se justificou:
“A supressão pretendida pelo Senado faria com que o órgão jurisdicional fosse
impedido de considerar qualquer elemento informativo da fase de inquérito. Ora,
por determinação constitucional, todas as decisões judiciais devem ser
fundamentadas, de tal forma que o julgador só deve levar em consideração
informações contidas em inquérito policial se o fizer de forma razoável. Deve,
4
CPP: “Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não
podendo fundamentar sua decisão nos elementos exclusivamente informativos colhidos na investigação, ressalvadas as
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”.
5
LOPES JUNIOR, Aury. Bom para quê(m)? Boletim do IBCCRIM, ano 16, n. 188, p. 9, jul. 2008.
Vê-se, pois, que no tocante à prova antecipada (repetível ou não) o legislador produziu
mais um retrocesso em relação à necessidade de constitucionalização do processo.
E a justificativa do relator da lei comprova a assertiva feita no início: não são apenas
equívocos, mas deliberada intenção de “endurecimento” contra a criminalidade, embora se
ressalvando, sempre, a “observância às garantias do acusado”.
O Código de Processo Penal somente passou a tratar do tema na reforma introduzida pela
Lei 11.690/2008, que alterou a redação do art. 157.6
O Código de Processo Penal determina não apenas a rejeição da prova ilícita, mas
também seu desentranhamento do processo, o que constitui avanço em relação à maior efetividade
da garantia fundamental em questão.
Considera-se que não haverá nexo de causalidade quando, por exemplo, após uma
atividade ilegal dos agentes policiais, a prova surgir por outro ato não ligado à ilicitude.
6
“São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a
normas constitucionais ou legais.
§ 1.º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade
entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.
§ 2.º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da
investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
§ 3.º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial,
facultado às partes acompanhar o incidente.
§ 4.º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão
(VETADO).”
7
DEZEM, Guilherme Madeira. Da prova penal. Campinas-SP: Milennium, 2008. p. 135-137.
Destarte, pode-se afirmar que a mesma lei, de um lado, representou avanço, mas, de
outro, grande retrocesso no tocante à constitucionalização do processo penal.
O Código, em sua redação original, dispunha no art. 156: “(...) o juiz poderá, no curso da
instrução ou antes de proferir sentença, determinar, de ofício, diligências para dirimir dúvida sobre
ponto relevante”. Essa disposição sempre se mostrou controvertida. De um modo geral, entendia-
se que às partes cabia oferecer espontaneamente a prova dos fatos que alegassem, em seu próprio
interesse, facultando-se ao juiz, supletivamente, a fim de apurar a verdade, chamar para si a tarefa
de demonstrar o que uma das partes não quis, não soube, ou não pôde fazer.
8
PITOMBO, Cleunice Valentim Bastos. Considerações iniciais sobre a Lei 11.690/08. Disponível em:
<http://www.ibccrim.org.br>. Acesso em: 18 jul. 2008.
9
CHOUKR, Fauzi Hassan. Processo penal à luz da Constituição. Bauru: Edipro, 1999. p. 16.
O fato de o juiz ter a gestão da prova significa que lhe cabe apreciar, deferindo ou não, as
provas propostas pelas partes. “Porém, é preciso destacar que esse poder de gestão não pode ir ao ponto
de facultar a produção de prova pelo juiz, sob pena de grave violação ao princípio do processo
acusatório”.10
Ocorre que tal poder judicial não apenas foi mantido pela Lei 11.690/2008, como foi
ampliado, com a nova redada dada ao art. 156.11
Aury Lopes Jr.12 assinalou que “o art. 156 sempre foi um grande problema, especialmente
para aqueles comprometidos com o sistema acusatório-constitucional, incrivelmente, ficou pior!”.
Nessa mesma linha, Marcos Zilli,13 apesar de concordar com a atividade instrutória
judicial, justificando-a como “condição indispensável para a adequada e justa prestação jurisdicional
e para a composição dos interesses públicos contrastantes que permeiam o processo penal”, não poupa
críticas ao legislador, afirmando:
10
MACHADO, Antonio Alberto. Curso de processo penal. 4. São Paulo: Atlas, 2012. p. 462.
11
“A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de
iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade,
adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a
realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.”
12
LOPES JUNIOR, Aury. Op. et loc. cits.
13
ZILLI, Marcos. O pomar e as pragas. Boletim do IBCCRIM, ano 16, n. 188, jul. 2008.
14
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. São Paulo: Atlas, 2012. p. 326.
O art. 384, em sua redação original,15 conferia ao juiz a iniciativa de proceder à correção
da acusação, nos casos em que a pena permanecesse inalterada ou que fosse reduzida em face da
nova definição jurídica do fato, ou seja, de nova imputação. No caso de pena mais grave, embora
exigisse o aditamento, pelo Ministério Público, o juiz podia provocar a ação ministerial. Então,
além de outros problemas de redação e terminologia equivocada, havia dois problemas graves: no
primeiro caso, por não ser exigida a atuação do acusador e, no segundo, por ser possível sua
provocação pelo juiz, de forma que, em ambos, resultava severamente atingido o sistema
acusatório, tendo em vista que concedia iniciativa acusatória ao julgador.
Pela nova sistemática,16 deve ser feito o aditamento em qualquer hipótese e não apenas
quando a pena do novo crime for mais grave. E, na redação do caput, denota-se o afastamento da
iniciativa judicial de invocação do Ministério Público, para realizar o aditamento, eis que “... a
mutatio dependerá de iniciativa do Ministério Público”.17
15
“Se o juiz reconhecer a possibilidade de nova definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de
circunstância elementar, não contida, explicitamente ou implicitamente, na denúncia ou na queixa, baixará o processo,
a fim de que a defesa, no prazo de oito dias, fale e, se quiser, produza prova, podendo ser ouvidas até três testemunhas.
Parágrafo único. Se houver possibilidade de nova definição jurídica que importe aplicação de pena mais grave, o juiz
baixará o processo, a fim de que o Ministério Público possa aditar a denúncia ou a queixa, se em virtude desta houver
sido instaurado processo em crime de ação pública, abrindo-se, em seguida, o prazo de três dias à defesa, que poderá
oferecer prova, arrolando até três testemunhas.”
16
“Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em conseqüência de
prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público
deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em
crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
§ 1.º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código.”
17
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Op. cit., p. 643.
18
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 10. ed. São Paulo, Saraiva, 2013, p. 1112..
contrária, Antonio Alberto Machado19 interpreta que o juiz “deverá provocar o Ministério Público
para proceder ao aditamento”.
A nova ordem incorre no mesmo erro do sistema anterior à reforma, apenas deslocando
do caput para um parágrafo a inadequada faculdade de iniciativa do juiz. Contudo, Eugênio
Pacelli de Oliveira,20 embora referindo que o dispositivo seja criticável do ponto de vista do
sistema acusatório, não vislumbra ares de inconstitucionalidade.
A despeito de reiterar que “O art. 384, § 1.º, do Código de Processo Penal, determina que o
juiz deve provocar o órgão do Ministério Público para que proceda à mutatio libelli”, Machado21
formula crítica quanto à aplicação do art. 28, argumentando que “essa iniciativa do juiz pode
configurar uma autêntica violação ao princípio do processo acusatório”.
Em suma, o texto sobre a mutatio confirma que se pretendeu avançar, mas houve
simultâneo retrocesso quanto à constitucionalização das normas do processo, registrando-se, ao
mesmo tempo, incoerência sistêmica (em relação ao sistema constitucional) e também interna,
dos dispositivos do Código entre si.
19
Op. cit., p. 242.
20
Op. cit., p. 645.
21
Op. cit., p. 244.
22
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Op. cit., p. 645.
23
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal, cit. p. 1113.
3. Conclusão
Vê-se, claramente, que ainda existem muitos dispositivos do Código de Processo Penal
que não resistem a uma adequada filtragem constitucional, por decorrência de uma política
criminal baseada na “cultura da emergência”.
Com isso, o processo penal pode estar ganhando em eficiência ou funcionalidade, mas não
resguardará seu outro escopo, igualmente necessário, o garantismo.
4. Referências bibliográficas
CHOUKR, Fauzi Hassan. Processo penal à luz da Constituição. Bauru: Edipro, 1999.
LOPES JUNIOR, Aury. Bom para quê(m). Boletim do IBCCRIM, ano 16, n. 188, jul. 2008.
MACHADO, Antonio Alberto. Curso de processo penal. 4. São Paulo: Atlas, 2012.
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. São Paulo: Atlas, 2012.
PITOMBO, Cleunice Valentim Bastos. Considerações iniciais sobre a Lei 11.690/08. Disponível
em: <http://www.ibccrim.org.br>. Acesso em: 18 jul. 2008
QUEIRÓZ, Paulo. É realmente possível distinguir direito penal de política criminal? Disponível
em: <http://www.ibccrim.org.br>. Acesso em: 1.º abr. 2002.
ZILLI, Marcos. O pomar e as pragas. Boletim do IBCCRIM, ano 16, n. 188, jul. 2008.
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