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O ENSINO DE CLIMATOLOGIA NOS LIVROS DIDÁTICOS DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DAS ESCOLAS MUNICÍPAIS E ESTADUAIS DE VIÇOSA -MG View project
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INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, os problemas ambientais urbanos têm sido acelerados pelas
ações antrópica, como por exemplo, o uso e ocupação desordenada das encostas,
corroborando de forma imediata para perda de bens materiais e vidas humanas (PINGUELLI
ROSA; LACERDA, 1997, 1997).
Dentre os vários problemas ambientais urbanos que afetam o Brasil, podem-se
destacar os movimentos de massa. Os movimentos de massa são fenômenos naturais que
estão associados à evolução do relevo e apresentam grande importância no Brasil, pois devido
às suas condições climáticas, chuvas intensas no verão e, geomorfológicas, com grandes
maciços montanhosos, está muito susceptível a ocorrências dos mesmos (GUIMARÃES et
al., 2008).
O movimento de massa consiste no deslocamento de materiais sólidos e/ou viscosos ao
longo de uma vertente. A mobilização de material deve-se à sua condição de instabilidade e o
deslocamento de material ocorre em diferentes escalas espaciais e temporais, variando de
rastejamentos a movimentos muito rápidos (FERNANDES; AMARAL, 1996).
Segundo Guidicini e Nieble (1976), os movimentos de massa ou movimentos coletivos
de solos e de rochas têm sido objeto de amplos estudos nas mais diversas latitudes, não
apenas por sua importância como agentes atuantes na evolução das formas de relevo, mas
também em função de suas implicações práticas e importância do ponto de vista das
consequências a que a sociedade está sujeita com a existência deles. Dentre as várias formas e
processos de movimentos de massa, destacam-se os deslizamentos nas encostas, em função da
sua grande persistência e interferência nas atividades do homem, da extrema variância de sua
escala, da complexidade de causas e mecanismos, além da variabilidade de materiais
envolvidos (FERNANDES; AMARAL, 1996).
Diversos fatores podem afetar a estabilidade das encostas, tais como: as características
lito-estruturais do embasamento rochoso, o gradiente da encosta e a forma da encosta
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BERTOLINO; FIALHO; MARCHIORO E BAPTISTA
(SELBY, 1982 e SIDLE et al., 1985), as propriedades físicas e mineralógicas dos solos, a
intensidade da chuva e umidade antecedente (VARGAS JR.et al., 1985 e MONTGOMERY et
al., 1997) e a presença ou não da vegetação (GREENWAY, 1987). Esses fatores, associados à
ação antrópica, tornam o entendimento dos movimentos de massa um assunto extremamente
complexo.
Segundo Selby (1993), dentre os critérios geralmente utilizados para a diferenciação
dos movimentos de massa destacam-se o tipo de material, a velocidade e o mecanismo do
movimento, o modo de deformação, a geometria da massa movimentada e o conteúdo de
água.
De acordo com divisões e classificações dos movimentos de massa, baseados em
Varnes (1978), Guidicini e Nieble (1984) e IPT (1991), há quatro tipos: corridas, quedas,
rastejos e escorregamentos. Este último pode ser subdividido em rotacionais e translacionais.
Segundo Guidicine e Nieble (1984) e IPT (1991), os escorregamentos rotacionais apresentam
uma superfície de ruptura curva, côncava, que desloca normalmente uma grande quantidade
de material de forma rotacional. Este tipo de escorregamento está relacionado a regiões com
formações de pacotes de solos bem desenvolvidos. Os escorregamentos translacionais são
caracterizados por apresentarem um plano de ruptura abrupto, bem definido, planar, e por
serem movimentos de curta duração. As quedas de blocos estão associadas a quedas de rocha
ou solo, sendo movimentos rápidos, em queda livre pela ação da gravidade e, típicos de áreas
muito íngremes, estando associados à presença de fraturas nas rochas ou a um desgaste na
base da encosta.
Existe, na atualidade, uma diversidade de metodologias aplicadas aos estudos de
movimentos de massa, tais como inventários de cicatrizes, análises estatísticas de correlação,
mapa de riscos e modelagem determinística, que utilizam modelos matemáticos.
A modelagem matemática vem se tornando ao longo dos últimos anos uma importante
ferramenta de análise teórica e experimental nas mais diversas áreas do conhecimento
(FERNANDES, 2001; GUIMARÃES et al., 2003, GOMES, 2005; GUIMARÃES et al.,
2008). Trabalho conduzido por Guimarães et al. (2009), utilizando o modelo Shalstab,
permitiu verificar as áreas susceptíveis aos escorregamentos associados à condição de
precipitação diária no Parque da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro, evidenciando o papel
desse elemento climático sobre esse importante agente morfogenético da paisagem.
Entendendo então, que a precipitação pluvial é um importante agente deflagrador dos
movimentos de massa no ambiente Tropical quente e úmido, tal como onde está a maior parte
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CONCEPÇÕES E ENSAIOS DA CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA
SILVA E FIALHO (0RG.), 2012.
do território brasileiro e o Sudeste, o estudo da relação entre a precipitação e os movimentos
de massa de uma determinada região gera a possibilidade de planejamento, sobretudo
ambiental, a partir da observação da variabilidade atmosférica. Intrinsecamente relacionado a
isto, observa-se o agravamento de problemas socioambientais, uma vez que estes sejam
gerados pela falta de um melhor gerenciamento ao nível dos municípios (FIALHO et al.,
2005), tendo em vista que nem sempre existem instrumentos adequados para tal
caracterização.
Em função da necessidade de análise envolvendo a relação entre movimentos de
massa e precipitação pluvial, este trabalho consiste na exploração e compreensão da dinâmica
pluviométrica do município de São Gonçalo, situado na Região Metropolitana do Estado do
Rio de Janeiro e sua relação com os movimentos de massa na região.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
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BERTOLINO; FIALHO; MARCHIORO E BAPTISTA
Estudos de mapeamentos geológicos na região foram realizados pelo DRM (1979 e
1981) e por Meis (1976), Meis e Amador (1974 e 1977), Monteiro et al. (1974) e Ferrari
(2001).
A área de estudo está inserida na folha cartográfica Baía de Guanabara que compõe
juntamente com as folhas de Maricá, Itaboraí e Petrópolis, domínios geológicos do
Quaternário, Terciário, Mesozoico e Pré-Cambriano.
Os domínios geológicos que possuem maior representatividade na região são
formações do Pré-Cambriano, dentre elas destacam-se duas unidades: a) pEIIgf – Unidade
Gnaisse Facoidal – compreende (granada) biotia – plagioclásio – K feldspatos, gnaisses
homegêneos, com características estruturais semioftálmicas (gnaisse facoidal e semifacoidal).
Presença rara de lentes de leptinitos e rochas da suíte charnokítica. Contatos transicionais para
a Unidade Cassorotiba e b) pEIIcs – Unidade Cassorotiba – compreende (granada) – biotita-
plagioclásio – K feldspato ganisses homogêneos, dominantemente porfiroblásticos e com
estrutura nebulítica. Matriz quartzodiorítica a granodiorítica, de granulação média e fina, com
porfiroblastos de K-feldspato, em geral microclima. Foliação incipiente a bem desenvolvida,
presença local de porções migmáticas heterogêneas da Unidade Santo Eduardo, não
mapeáveis à escala. Contatos transicionais para as Unidades Santo Eduardo, São Fidélis e
Gnaisse Facoidal.
O clima da região é do tipo AW, cujo período mais seco ocorre nos meses de maio e
outubro com totais pluviométricos mensais inferiores a 100 mm. Neste período, cerca de
55,0% do total pluviométrico está concentrado nos meses de maio e julho, sendo agosto o mês
mais seco com total inferior a 20 mm. A estação chuvosa acontece entre os meses de
novembro e abril com totais pluviométricos superiores a 100 mm. Cerca de 30,0% do total
acumulado está concentrado no mês de janeiro, no qual, em geral, registra-se um total de
chuva superior a 200 mm. A temperatura média anual é de cerca de 25,1°C com extremos
registrados, até hoje, de 10,8°C em julho de 2007 e 40,6°C em outubro de 2005. Em geral, a
região apresenta temperaturas quentes e alta umidade relativa do ar, em média 74,0%, na
maior parte do ano (BERTOLINO et al., 2007).
Diversos estudos vêm sendo desenvolvidos no município de São Gonçalo pelo
Laboratório de Geociências (UERJ/FFP). O enfoque central está associado às discussões dos
movimentos de massa que ocorrem na região e suas relações com os eventos pluviométricos,
tipos de solos e condutividade hidráulica (SILVA, 2006; SOUZA, 2007; SILVA, 2007;
MARTINS, 2009; MERAT, 2011 e WEMELINGER, 2011).
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CONCEPÇÕES E ENSAIOS DA CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA
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METODOLOGIA
A caracterização climática da região foi realizada utilizando-se dados provenientes da
Estação Meteorológica Urbana de São Gonçalo, instalada no campus da UERJ-FFP, que se
encontra entre as coordenadas 22º49’55,97’’S e 43º4’25,52’’W (Figura 2). Para o
desenvolvimento deste trabalho foram utilizadas informações e observações diárias entre o
período de maio de 2004 a dezembro de 2011.
A Estação Meteorológica da UERJ-FFP possui equipamentos essenciais para a mensuração
climatológica como pluviógrafo, pluviômetro, heliógrafo, termômetros de máxima, de
mínima, de bulbo seco e úmido, barômetro aneroide de Fischer, evaporímetro de piche,
anemômetro, geotermômetros, tanque de evaporação e poço tranquilizador (Figura 2). As
mensurações diárias são realizadas às nove horas da manhã, no horário oficial de Brasília, e às
dez horas da manhã no horário de verão, de acordo com as normas oficiais do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET).
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BERTOLINO; FIALHO; MARCHIORO E BAPTISTA
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CONCEPÇÕES E ENSAIOS DA CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA
SILVA E FIALHO (0RG.), 2012.
Atlântico), exerce uma sensível influência nesse caso: as precipitações pluviométricas
crescem na proporção direta da altitude.
Porém, a posição interior no recôncavo da Guanabara favorece a invasão frequente do
sistema polar móvel, cujas propriedades, em contato com a massa tropical atlântica,
determinam ocorrência de chuvas, mais notadamente no verão, como também favorece uma
posição de abrigo dos ventos regionais predominantes de sudeste (Figura 3), para os
municípios litorâneos, como o Rio de Janeiro. Em razão da posição geográfica de São
Gonçalo, em dias de tempo bom é de noroeste, mudando para nordeste, quando da entrada de
sistemas extratropicais. Além de favorecer a ocorrência de calmarias, que são mais intensas
nos meses de dezembro e janeiro, com 13,1 e 34,4% respectivamente.
Em relação aos totais pluviais anuais, analisando a carta de pluviosidade do Estado do Rio de
Janeiro produzida pela CPRM (http://www.cprm.gov.br/arquivos/pdf/rj/chuvas/chuvas_aspectos.pdf),
demonstram que a região da Baía de Guanabara registra valores inferiores a 1.200 mm, porém estes
ainda são superiores aos do Médio Vale do Rio Paraíba do Sul (1.100mm/ano) e da Região dos Lagos,
com totais inferiores a 1.000 mm/ano.
Figura 3. Direção predominante dos ventos de sudeste na cidade do Rio de Janeiro e Baixada
da Guanabara, quando do predomínio do Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul (ASAS).
Fonte: Fialho (2010, p. 28).
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BERTOLINO; FIALHO; MARCHIORO E BAPTISTA
Ao compararmos a temperatura do ar entre a Estação do INMET (Santos Dumont) e
São Gonçalo, mais uma vez a questão do abrigo do recôncavo transparece (Figuras 4 e 5).
Principalmente, para a temperatura máxima (varia entre 37,0ºC e 41,2ºC), que em São
Gonçalo, ao longo de todo o ano, é superior a Santos Dumont. Porém, quanto à temperatura
mínima, observa-se uma inversão, pois apesar de mais exposto aos ventos, Santos Dumont
está em uma área mais urbanizada e verticalizada comparada a São Gonçalo, que apesar de
mais de 1 milhão de habitantes, ainda registra um ambiente urbano de predominância de casas
com quintais e esparsas verticalização, apenas no centro do município.
Figura 4 - Variações da Temperatura média máxima dos anos de 2004 a 2011 e das Normais
Climatológicas para 30 anos.
Figura 5- Variações da Temperatura média mínima do ar entre os anos de 2004 a 2011 e das
Normais Climatológicas para 30 anos.
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CONCEPÇÕES E ENSAIOS DA CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA
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Os valores de precipitação do período de 2004 a 2011 demonstram índices
pluviométricos de 428 mm, 958 mm, 827 mm, 920 mm, 1.167 mm, 1.197, 1.387 e 962 mm,
respectivamente, apresentando uma média de 1.060 mm (Figura 6).
Figura 6 - Variação do total pluviométrico dos anos de 2004 a 2011 da Estação Meteorológica
da UERJ/FFP.
Ao analisar os dados, observa-se um acréscimo da precipitação a partir do mês de
novembro até abril. Esses meses apresentam na média geral um total de 769,3 mm, o que
representa 73,3% total médio de contribuição ao longo do ano. O período mais seco é de abril
a outubro, com 280,8 mm equivalendo a 26,7% de chuva anual (Tabela 1) e o mês de
precipitação mínima foi agosto (0,4 mm).
No período entre agosto (15,6 mm) e setembro (29,7 mm) foram registraram as
menores médias pluviais mensais e as menores máximas obtidas foram de 31,8 mm e 70,6
mm. Essas variações demonstram também desvios padrões baixos entre os meses de agosto e
outubro, refletindo em valores de variâncias menores. As menores médias e medianas também
foram encontradas para este período. Os maiores valores mensais de precipitação ocorreram
nos meses de março e abril, com 296,3 mm e 307,4 mm respectivamente. Esses períodos
representam os maiores valores de desvios padrões e variâncias.
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BERTOLINO; FIALHO; MARCHIORO E BAPTISTA
Tabela 1 – Dados da precipitação média (milímetros), média mediana, mínimo, máximo,
desvio padrão e variância das Normais Climatológicas (1961-1991) da Estação do Rio de
Janeiro (Santos Dumont).
Meses Média em 30 anos Média de Jan – Dez em 30 anos
(mm) (%) Média Total
Janeiro 114,7 9,8 Pontos 12
Fevereiro 105,3 9,0 Média 97,8
Março 103,3 8,8 Mediana 91,9
Abril 137,4 11,7 Somatório 1173,5
Maio 85,6 7,3 Mínimo 50,5
Junho 80,4 6,9 Máximo 169,0
Julho 56,4 4,8 Desvio padrão 32,51
Agosto 50,5 4,3 Variância 1056,7
Setembro 87,1 7,4
Outubro 88,2 7,5
Novembro 95,6 8,1
Dezembro 169,0 14,4
Total 1173,5 100
A partir da análise mensal pluviométrica (Figura 7), constata-se que o período seco
ocorre entre os meses de maio a outubro e o período úmido, ocorre entre os meses de
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novembro a abril. E, em tempo, nota-se uma significativa dissonância em determinados
meses, quando comparados às Normais Climatológicas (1961 a 1990), principalmente nos
meses de agosto de 2005, março e abril de 2010.
Figura 7 - Variação mensal da precipitação nos meses de janeiro a dezembro dos anos de
2004 a 2011 da Estação Meteorológica Urbana do Departamento de Geografia da UERJ/FFP.
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de maior magnitude (> 50 mm) estão associados ao período mais úmido, que vai de novembro
até abril, com exceção de agosto.
Tabela 3 - Análise percentual dos registros dos parâmetros pluviosidade e dias de chuva de
acordo com a concentração em período seco ou chuvoso.
Ano/Período Total Pluviométrico (%) Dias de chuva (%)
2004 – 2005 Seco 24,1 35,6
Úmido 75,9 64,4
20205 – 2006 Seco 25,4 42,4
Úmido 74,6 57,6
2006 – 2007 Seco 42,6 43,0
Úmido 57,4 57,0
2007 – 2008 Seco 31,4 36,6
Úmido 68,6 63,4
2008 – 2009 Seco 27,7 34,8
Úmido 72,3 65,2
2009 – 2010 Seco 23,4 43,9
Úmido 76,6 56,1
2010 – 2011 Seco 26,6 41,7
Úmido 73,4 58,3
Tabela 4 - Frequência da precipitação (mm) dos dias de chuva (24h) dos anos de 2004 a 2011.
Total de 2.515 dias de chuva
Frequência Total %
0 - 10 mm 2339 eventos 93
10 - 20 mm 108 eventos 4,3
20 - 30 mm 34 eventos 1,4
30 - 40 mm 18 eventos 0,7
40 - 50 mm 7 eventos 0,3
Maior que 50 mm 9 eventos 0,3
Na Tabela 5 estão apresentados os dados de frequência das chuvas ao longo dos anos.
Pode-se constatar que em todos os períodos, a frequência de chuva entre 0-10 mm representa
um percentual acima de 92,0 %, com exceção de 2004.
Os dados de distribuição, magnitude e frequência são de grande importância no
entendimento dos movimentos de massa na paisagem. Segundo (COELHO NETO, 1995) as
quantidades relativas de precipitações (volume), seus regimes sazonais ou diários
(distribuição temporal) e as intensidades de chuvas individuais (volume/duração) são algumas
características que afetam a natureza e a magnitude dos trabalhos geomorfológicos no meio
físico.
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CONCEPÇÕES E ENSAIOS DA CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA
SILVA E FIALHO (0RG.), 2012.
Tabela 5 - Frequência da precipitação (mm) dos dias de chuva (24h) por ano durante o
período de 2004 a 2011.
Frequência
De chuva 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
0-10 mm 88 360 265 282 329 307 344 364
10-20 mm 10 8 16 14 15 18 16 11
20-30 mm 2 0 6 7 3 6 7 3
30-40 mm 2 4 0 1 4 1 2 4
40-50 mm 0 1 0 1 1 3 1 0
> 50 mm 0 1 1 1 2 1 3 0
Total 102 374 288 306 354 336 373 382
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BERTOLINO; FIALHO; MARCHIORO E BAPTISTA
Tais resultados respondem aos questionamentos realizados por Fialho et al., (2005),
que especulavam se era possível São Gonçalo, situado a sotavento da Serra de Tiririca,
apresentar um grande número de eventos extremos (Chuvas convectivas intensas), bem como
a Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro (BRANDÃO, 1997, p. 33), que apresenta um sítio
semelhante a São Gonçalo.
Como demonstrado, a porção oeste da Baía de Guanabara, as chuvas de baixa
intensidade são mais frequentes, o que não demonstra uma forte relação dos movimentos de
massa com as chuvas intensas, conforme um grande número de trabalhos identifica,
principalmente para regiões serranas. Esses resultados também são corroborados em trabalho
desenvolvido por Salgado et al. (2007), que ao procurar analisar pluviosidade anual ao longo
da série histórica (1968-2002) para estações localizadas ao redor de São Gonçalo (Figura 9),
abarcando a região Serrana e a Baixada litorânea constatou que: “...a frequência de classes de
chuva nos anos-padrão evidenciou a tendência de que os anos mais chuvosos se caracterizarem por
precipitações mais fortes, enquanto nos anos-padrão positivos e habituais apresentaram os maiores
percentuais de chuvas diárias fracas (entre 0,01 e 5 mm)...” (SALGADO et al., 2007, p. 26).
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Comparando os resultados obtidos, pode-se verificar que, ao comparar a região da
baixada ao redor da Baía de Guanabara (Estações 10 e 11) e o sítio de sopé da serra do mar
(Estações 12, 13, 14, 15 e 16), identificou-se que a frequência dos dias de chuva classe fraca
(Tabela 6) representa 42,2% (Total pluvial médio entre os postos climatológicos 10 e 11) em
sítios de baixada e 30,4% (Total pluvial médio entre os postos climatológicos 12, 13, 14. 15 e
16) situadas no sopé da serra do Mar. Enquanto para situações de chuva intermediária e forte
o cenário se inverte. Na baixada, as chuvas intermediárias representam 49,5% e no sopé da
serra 50,1. Já as chuvas fortes, sua relação é de 8,4% na baixada e 19,7 no sopé da serra.
Tabela 6. Frequência de classes de chuva diária para a série histórica dos postos
climatológicos das áreas de estudo.
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CONCEPÇÕES E ENSAIOS DA CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA
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Constata-se o predomínio dos escorregamentos (72,1%), seguido pelas quedas de
bloco (27,9%). Os tipos de escorregamentos estão relacionados a diversos elementos da
paisagem tais como: condições topográficas, frequência e intensidade da precipitação, tipos de
uso e ocupação dos solos. Os escorregamentos translacionais apresentam um plano abrupto,
de ruptura planar, bem definido, além de serem movimentos rápidos e de curta duração
(GUIDICINI e NIEBLE, 1984, IPT 1991). Na literatura estes escorregamentos estão
associados a chuvas intensas, quando é elevada a poro-pressão positiva em uma superfície de
descontinuidade, alterando a estabilidade da encosta. Entretanto, ressalta-se também aqui a
importância de se avaliar o papel da umidade antecedente do solo. Este elemento associado às
frequentes precipitações antecedentes de baixa magnitude, intensidade e de longa duração,
conforme demonstrado neste estudo, podem estar propiciando o aumento da poro-pressão
positiva da água.
Vargas et al., (1986) comprovam que há a necessidade de se determinar o efeito da
intensidade das chuvas na estabilidade de uma encosta, destacando que é possível fazer
previsões da influência da intensidade das chuvas na estabilidade das encostas quando o
processo de infiltração atua como principal fator condicionante, pois como nos traz
Montgomery et al. (1997), em áreas íngremes, com cobertura de solo, com predominância de
fluxo subsuperficial da água infiltrada, pode ocorrer o aumento da pressão dos poros do solo
(poro-pressão positiva).
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BERTOLINO; FIALHO; MARCHIORO E BAPTISTA
acumulada de 44,1 mm, atingindo o bairro de Vila Três. Já no dia 20/07/2005, com dois dias
de chuva acumulada totalizando 29,9 mm, desses 28,6 mm no dia 19/07/2005, ocorreu um
novo evento de movimento de massa, atingindo o bairro Rocha. Em 27/09/2005, um novo
evento ocorreu no município de São Gonçalo, depois de quatro dias anteriores de chuva, que
totalizaram 17,9 mm, atingindo o bairro de Mutuaguaçu.
Tabela 7: Totais acumulados de chuva no município de São Gonçalo e sua relação com os
movimentos de massa.
Datas Total de chuva do dia Precipitação acumulada Dias de chuva
do evento (mm) (mm) anteriores
04/10/2004 3,0 34,6 4
11/01/2005 49,8 1,3 1
24/01/2005 62,6 0,3 1
26/01/2005 58,8 70,7 3
27/01/2005 4,4 129,5 4
28/01/2005 2,2 133,9 5
26/04/2005 14,8 32,8 1
27/04/2005 8,2 47,6 2
08/07/2005 6,1 33,8 3
11/07/2005 1,1 44,1 5
20/07/2005 1,2 29,9 2
27/09/2005 6,4 17,9 4
12/12/2005 14,4 11,2 1
13/12/2005 1,6 25,6 2
28/01/2006 88,4 8,4 3
31/01/2006 28,4 0 0
25/10/2007 8,8 74,9 3
28/10/2007 0,8 115,1 5
13/11/2007 0,6 48,5 1
22/01/2008 9,0 109,7 3
06/02/2008 8,8 54,2 5
08/03/2010 76,2 49,8 5
07/04/2010 20,0 230,1 3
08/04/2010 20,0 250,1 4
10/04/2010 3,1 275,5 5
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BERTOLINO; FIALHO; MARCHIORO E BAPTISTA
chuvas com uma hora de duração e com 30 mm/h de precipitação, em 90 mm/dia e quatro
dias, 110 mm.
Considerando ainda a Tabela 7, pode-se verificar que os totais diários de chuva
acumulados, com até um dia de antecedência, apresentaram um número de cinco casos de
eventos de movimentos de massa no município de São Gonçalo, apresentando totais
acumulados superiores a 12 mm. As classes de chuvas diárias iguais ou superiores a três dias
de antecedência aos movimentos de massa foram as que apresentaram as maiores frequências
dos eventos verificados. Os totais acumulados de chuva com até três dias de antecedência são,
em sua maioria, superiores a 70 mm. Para cinco dias de chuva acumulada diária, verificou-se
que os movimentos de massa do município de São Gonçalo foram em sua maioria associados
a chuvas superiores a 40 mm, atingindo em alguns casos 275,5 mm. O padrão apresentado
entre movimentos de massa e precipitação com duração igual ou superiores a três dias ocorre
devido a uma saturação progressiva e lenta do perfil de solo, minimizando a coesão do mesmo
e, aumentando a poro-pressão positiva, corroborando para torná-los mais instáveis e para
entrarem em movimentação.
Quando comparamos o padrão de relação entre precipitação pluvial e movimentos de
massa do município de São Gonçalo com as relações estabelecidas pela Geo-Rio e por
Amaral e Feijó (2004), consta-se que o padrão entre as chuvas acumuladas e os movimentos
de massa encontrados nesse trabalho em muito se assemelham, corroborando para evidenciar
o papel da chuva acumulada na deflagração dos movimentos de massa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os eventos de movimentos de massa no município de São Gonçalo utilizados para este
estudo indicaram uma forte relação com os totais diários de chuvas acumuladas superiores ou
iguais a três dias, corroborando para a necessidade de monitoramento contínuo no tempo e no
espaço, a fim de minimizar efeitos catastróficos sobre a sociedade civil.
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