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TEXTOS DIVERSOS: Tatuagem – Alguém o tinha perdido na véspera, à noite?

Enfermeira inglesa de 78 anos manda tatuar mensagem no peito – Não, não – disse o pai. – Ele não estava lá na noite anterior. Senão eu
pedindo para teria percebido ao voltar para casa.
não proceder a manobras de ressuscitação em caso de parada cardíaca. – Então – disse Nasreddin –, o homem que perdeu o ouro tinha se
(Mundo Online, 4, fev., 2003) levantando ainda mais cedo. Você está vendo que esse negócio de
levantar cedo não é bom para todo mundo.
Ela não era enfermeira (era secretária), não era inglesa (era brasileira) e
não tinha 78 anos, mas sim 42; bela mulher, muito conservada. Mesmo (CARRIÈRE, Jean-Claude. O círculo dos mentirosos: contos filosóficos do
assim, decidiu fazer a mesma coisa. Foi procurar um tatuador, com o mundo inteiro. São Paulo: Códex, 2004.)
recorte da notícia. O homem não comentou: perguntou apenas o que
era para ser tatuado. 5- O diálogo entre pai e filho permite entender que
– É bom você anotar – disse ela – porque não será uma mensagem tão (A) pai e filho não se dão bem. (B) pai e filho têm os
curta como essa da inglesa. mesmos hábitos.
Ele apanhou um caderno e um lápis e dispôs-se a anotar. (C) pai e filho encontraram um saco de ouro. (D) pai e filho pensam
– “Em caso de que eu tenha uma parada cardíaca” – ditou ela –, “favor de forma diferente.
não proceder à ressuscitação”.
Uma pausa, e ela continuou: 6- O uso do vocábulo “então”, que abre a fala final de Nasreddin, serve
– “E não procedam à ressuscitação, porque não vale a pena. A vida é para que apresente ao seu pai
cruel, o mundo está cheio de ingratos.” (A) a conclusão que tirou da resposta. (B) a hora de encerrarem
Ele continuou escrevendo, sem dizer nada. Era pago para tatuar, e aquela conversa.
quanto mais tatuasse, mais ganharia. (C) a justificativa para acordar mais tarde. (D) a hipótese de que
Ela continuou falando.(...). Àquela altura o tatuador, homem vivido, já estava com a razão.
tinha adivinhado como terminaria a história (...). E antes que ela
contasse a sua tragédia resolveu interrompê-la. O silêncio do rouxinol
– Desculpe, disse, mas para eu tatuar tudo o que a senhora me contou, [...]
eu precisaria de mais três ou quatro mulheres. Na época de Salomão, o melhor dos reis, um homem comprou um
Ela começou a chorar. Ele consolou-a como pôde. Depois, convidou-a rouxinol que possuía uma voz excepcional. Colocou-o numa gaiola em
para tomar alguma coisa num bar ali perto. que nada faltava ao pássaro e na qual ele cantava, horas a fio, para
Estão vivendo juntos há algum tempo. E se dão bem. (...). Ele fez uma encanto da vizinhança.
tatuagem especialmente para ela, no seu próprio peito. Nada de muito Certo dia, em que a gaiola havia sido transportada para uma varanda,
artístico (...). Mas cada vez que ela vê essa tatuagem, ela se sente outro pássaro se aproximou, disse qualquer coisa ao rouxinol e voou. A
reconfortada. Como se tivesse sido ressuscitada, e como se tivesse partir desse momento, o incomparável rouxinol emudeceu.
vivendo uma nova, e muito melhor, existência. Desesperado, o homem levou seu pássaro à presença do profeta
Salomão, que conhecia a linguagem dos animais, e lhe pediu que
(Moacyr Scliar, Folha de S. Paulo, 10/03/2003.) perguntasse ao pássaro o motivo de seu silêncio.
O rouxinol disse a Salomão:
1- O trecho da crônica que mostra que o cronista inspirou-se em um – Antigamente eu não conhecia nem caçador, nem gaiola. Depois me
fato real é apresentaram a uma armadilha, com uma isca bem apetitosa, e caí nela,
(A) a notícia, retirada da Internet, que introduz a crônica. levado pelo meu desejo. O caçador de pássaros levou-me, vendeu-me
(B) as manobras de ressuscitação praticadas pelos médicos. no mercado, longe da minha família, e fui parar na gaiola deste homem
(C) a reprodução da conversa entre a secretária e o tatuador. que aí está. Comecei a me lamentar noite e dia, lamentos que este
(D) a história de amor entre a secretária e o tatuador. homem tomava por cantos de gratidão e alegria. Até o dia em que outro
pássaro veio me dizer: “Pare de chorar, porque é por causa dos seus
2- O fato gerador do conflito que constrói a crônica é a secretária gemidos que eles o mantêm nessa gaiola”. Então, decidi me calar.
(A) ser mais jovem que a enfermeira da notícia. (B) concluir que a Salomão traduziu essas poucas frases para o proprietário do pássaro. O
vida não vale a pena. homem se perguntou: “De que adianta manter preso um rouxinol, se ele
(C) achar romântica a história da enfermeira (D) ter se envolvido não canta?”. E lhe devolveu a liberdade.
com o tatuador.
CARRIÈRE. Jean-Claude. O círculo dos mentirosos: contos filosóficos do
3- Um trecho do texto que expressa uma opinião é mundo inteiro. São Paulo: Códex, 2004.
(A) “Mesmo assim, decidiu fazer a mesma coisa.”
(B) “O homem não comentou; perguntou apenas o que era para ser 7- O fato que gera o conflito na história é o pássaro
tatuado.” (A) possuir uma voz excepcional. (B) ter emudecido. (C) ser um
(C) “A vida é cruel, o mundo está cheio de ingratos.” rouxinol. (D) encantar a vizinhança.
(D) “Ela começou a chorar. Ele consolou-a como pôde.”
8- No trecho “...cantava, horas a fio, para encanto da multidão.”, a
4- O trecho do texto que retrata a consequência após o encontro da expressão “horas a fio” tem o sentido de
secretária com o tatuador é (A) de vez em quando. (B) durante muito tempo.
(A) “Foi procurar um tatuador, com o recorte da notícia”. (C) pousado em um fio. (D) sem cobrar por isso.
(B) “Ele apanhou um caderno e um lápis e dispôs-se a anotar”.
(C) “E antes que ela contasse a sua tragédia resolveu interrompê-la”. 9- A decisão de não mais cantar, comunicada pelo rouxinol a Salomão,
(D)” Estão vivendo juntos há algum tempo. E se dão bem”. que a traduziu para o homem, teve, como consequência, o homem
(A) não entender a tradução. (B) ficar desesperado. (C) libertar o
É preciso se levantar cedo? rouxinol. (D) silenciar o rouxinol.
A partir do momento em que a lógica popular desenrola diante de nós
sua sequência de surpresas, é inevitável que vejamos surgir a figura do 10- O trecho do texto que contém uma opinião é
grande contador de histórias turco, Nasreddin Hodja. Ele é o mestre (A) “Na época de Salomão, o melhor dos reis,...”
nessa matéria. Aos seus olhos a vida é um despropósito coerente, ao (B) “Pediu que perguntasse ao pássaro o motivo de seu silêncio.”...
qual é fundamental que nós nos acomodemos. (C) “Comecei a me lamentar noite e dia,...”
Deste modo, quando era jovem ainda, seu pai um dia lhe disse: (D) “E lhe devolveu a liberdade.”
– Você devia se levantar cedo, meu filho.
– E por quê, pai?
– Porque é um hábito muito bom. Um dia eu me levantei ao amanhecer
e encontrei um saco de ouro no meu caminho.

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