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Cristina Martins A Prevalencia de Crimes Violentos PDF
Cristina Martins A Prevalencia de Crimes Violentos PDF
Porto Alegre
2018
CRISTINA MARIA DOS REIS MARTINS
Porto Alegre
2018
CRISTINA MARIA DOS REIS MARTINS
Aprovada em:___________________________________
__________________________________
Prof. Dra. Letícia Maria Schabbach
__________________________________
Prof. Dra. Marília Patta Ramos
__________________________________
Doutorando em Sociologia Fernando de Gonçalves
3
4
Dedico este trabalho a minha mãe Eny dos Reis Martins, ao meu
pai Gilberto Martins (in memorian).
AGRADECIMENTOS
O objetivo deste trabalho foi analisar a distribuição espacial dos crimes violentos nos bairros
de Porto Alegre, identificando a existência de relação entre eles e as condições
socioeconômicas dos locais onde ocorrem. A unidade de análise empregada nesse estudo
foram os 94 bairros do município. Com a análise estatística descritiva, foram identificados e
caracterizados os bairros que concentram os crimes violentos letais intencionais (homicídios
dolosos) e não letais (roubos de veículos e roubos), para o período 2016-2017. Por meio da
análise estatística inferencial foram calculadas as correlações entre os indicadores de crimes
violentos e os socioeconômicos para as dimensões população, infraestrutura, renda, trabalho e
educação, conforme dados do Censo Demográfico (IBGE, 2010). Os bairros com maior
número de casos de homicídios dolosos estavam localizados nas zonas periféricas da cidade,
ao norte e ao sul; já os roubos de veículos e os roubos, além dos bairros da zona norte,
também se destacaram os das zonas centrais e da zona leste. A análise estatística inferencial
apontou que as dimensões socioeconômicas avaliadas têm influência sobre a ocorrência de
homicídios dolosos, no entanto, para os roubos de veículos e para os roubos, verificou-se que
tais dimensões foram pouco explicativas, dada a ambivalência da variável renda. Os locais
com maior nível de renda tendem a ser mais atrativos para os crimes contra o patrimônio, em
função do maior número de vítimas em potencial nesses locais. Contudo, a menor disparidade
de renda entre os estratos da população implicaria na redução da desigualdade social e da
suscetibilidade a criminalidade.
ABSTRACT
The objective of this study was to analyze the spatial distribution of violent crime in the
neighborhoods of Porto Alegre, identifying the existence of a relationship between them and
the socioeconomic conditions of the places where they occur. The analysis unit used in this
study was the 94 districts of the municipality. With the descriptive statistical analysis,
neighborhoods that concentrate intentional lethal violent crimes (intentional homicides) and
non-lethal (vehicle robberies and robberies) were identified and characterized for the period
2016-2017. The correlations between violent and socioeconomic indicators for the population,
infrastructure, income, labor and education, according to data from the Demographic Census
(IBGE, 2010), were calculated using inferential statistical analysis. The neighborhoods with
the highest number of malicious homicides were in the outskirts of the city, to the north and
south; already the robberies of the vehicles and the robberies, besides the districts of the zone
north, also stood out those of the central zones and the east. The inferential statistical analysis
pointed out that the socioeconomic dimensions evaluated have an influence on the occurrence
of intentional homicides. However, for vehicle theft and robbery, it was verified that these
dimensions were not very explanatory, given the ambivalence of the income variable. Higher
income earners tend to be more attractive for crimes against equity, given the greater number
of potential victims at these sites. However, the lower income disparity between the
population strata would mean reducing social inequality and susceptibility to crime.
Figura 1 – Estimativa da população residente, nos bairros de Porto Alegre 2017 ................... 30
Figura 2 - Vítimas de homicídios dolosos, por faixa etária, em Porto Alegre 2016 - 2017 ..... 33
Figura 3 - Proporção dos homicídios dolosos nos bairros de Porto Alegre 2017 .................... 37
Figura 4 - Proporção dos roubos de veículos nos bairros de Porto Alegre 2017 ..................... 38
Figura 5 - Proporção dos roubos nos bairros de Porto Alegre 2017......................................... 39
Figura 6 - Proporção dos roubos de aparelhos celulares nos bairros de Porto Alegre 2017 .... 40
LISTA DE GRÁFICOS
Tabela 1 - Área territorial, população total , densidade demográfica e frota de veículos nos 21
municípios e no Rio Grande do Sul 2017 ................................................................................. 16
Tabela 2 - Área territorial, população total, densidade demográfica e frota de veículos no
município de Porto Alegre e no Rio Grande do Sul 2017 ........................................................ 29
Tabela 3 - Ocorrências consumadas e registradas de homicídios, roubos e roubos de veículos
nos bairros de Porto Alegre 2016 - 2017 .................................................................................. 31
Tabela 4 - Taxas de homicídios dolosos para cada 100.000 habitantes nos bairros de Porto
Alegre 2016 - 2017 ................................................................................................................... 32
Tabela 5 - Vítimas de homicídios dolosos, por sexo, em Porto alegre 2016 - 2017 ................ 32
Tabela 6 - Vítimas de homicídios dolosos, por cor, em Porto Alegre 2016 - 2017 ................. 33
Tabela 7 – Proporção dos homicídios dolosos nos bairros de Porto Alegre 2016 - 2017 ........ 35
Tabela 8 - Proporção de roubos de veículos nos bairros de Porto Alegre 2016 - 2017 ........... 37
Tabela 9 - Proporção dos roubos nos bairros de Porto Alegre 2016 - 2017 ............................. 39
Tabela 10 - Proporção dos roubos de aparelhos celulares nos bairros de Porto Alegre 2016 -
2017 .......................................................................................................................................... 40
Tabela 11 – Bairros com maior e menor proporção de homicídios dolosos em Porto Alegre
2016-2017 ................................................................................................................................. 41
Tabela 12 - Bairros com maior e menor proporção de roubos de veículos em Porto Alegre
2016-2017 ................................................................................................................................. 42
Tabela 13 - Bairros com maior e menor proporção de roubos em Porto Alegre 2016 - 2017 . 43
Tabela 14 – Modelos de associação entre a proporção de homicídios dolosos e os fatores
socioeconômicos ....................................................................................................................... 44
Tabela 15 - Modelos de associação entre a proporção de roubos de veículos e roubos e os
fatores socioeconômicos ........................................................................................................... 46
LISTA DE SIGLAS
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 20
2.1 CRIMINALIDADE, VIOLÊNCIA E TEORIA ECONÔMICA ........................................ 20
2.2 CRIMINALIDADE, VIOLÊNCIA E DESIGUALDADE SOCIAL ................................. 21
2.2.1 Criminalidade e desigualdade social ............................................................................ 21
2.2.2 Criminalidade, desigualdade social e urbanização ..................................................... 23
3 METODOLOGIA................................................................................................................ 26
4 CRIMES VIOLENTOS E DESIGUALDADE SOCIAL NOS BAIRROS DE PORTO
ALEGRE ................................................................................................................................. 29
4.1 CRIMES VIOLENTOS CONTRA A VIDA E O PATRIMÔNIO NOS BAIRROS DE
PORTO ALEGRE .................................................................................................................... 30
4.1.1 Prevalência dos crimes violentos nos bairros de Porto Alegre .................................. 30
4.1.2 Distribuição espacial dos crimes violentos nos bairros de Porto Alegre .................. 35
4.1.2.1 Homicídios dolosos nos bairros de Porto Alegre ......................................................... 35
4.1.2.3 Roubos de veículos nos bairros de Porto Alegre .......................................................... 37
4.1.2.2 Roubos nos bairros de Porto Alegre ............................................................................. 38
4.2 CRIMES VIOLENTOS E CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS NOS BAIRROS DE
PORTO ALEGRE .................................................................................................................... 41
4.2.1 Características socioeconômicas dos bairros com maiores e menores casos de
crimes violentos ....................................................................................................................... 41
4.2.2 Relação entre os crimes violentos e as características socioeconômicas ................... 43
6 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 48
APÊNDICE 1 .......................................................................................................................... 53
15
1 INTRODUÇÃO
Embora o Brasil esteja situado entre os países com maior número absoluto de
homicídios, a incidência de mortes violentas não ocorre de forma homogênea no país. Em
2014, apenas 1,45% dos 5.570 municípios brasileiros concentrava em torno de 50% do total
de casos de homicídios. Em 2015, esse percentual passou para 1,96%, chegando a 2,2% em
2016, quando os homicídios estavam concentrados em apenas 123 municípios brasileiros
(IPEA, 2018).
Em Minas Gerais, em 2015, em um estudo sobre a evolução da dinâmica da
criminalidade, por meio da classificação dos municípios em ordem decrescente do
quantitativo de crimes violentos, foram identificados 14 municípios que concentravam 72%
dos crimes violentos ocorridos no estado e 35% da população estadual (SEDS, 2015).
Nesse mesmo ano, um estudo identificou que mais da metade dos homicídios no
município do Rio de Janeiro, 55,2% do total, concentrava-se em 10% dos bairros do
município, sendo que, a quase totalidade dos fatos, 85,2%, estava concentrada em 35% dos
bairros (CERQUEIRA, 2016).
No Rio Grande do Sul, em 2016, para uma maior efetividade na redução da
criminalidade, foram identificados os municípios que concentravam 85% das ocorrências de
crimes violentos contra a vida e o patrimônio. Conforme o estudo, foram reconhecidos 21
municípios que abrangiam 85,98% das ocorrências de homicídios, roubos e roubos de
veículos e, que somavam 47,67% da população do estado. Mais da metade dos latrocínios
(61,11%) concentrava-se nesses municípios (SSP-RS, 2016).
Quanto à distribuição espacial dos 21 municípios, observou-se que eles estavam
localizados nas áreas de maior concentração urbana do Rio Grande do Sul: 11 deles na Região
Metropolitana de Porto Alegre (Porto Alegre, Alvorada, Canoas, Viamão, Gravataí, São
Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Cachoeirinha, Guaíba e Esteio), dois na Região
Metropolitana da Serra Gaúcha (Caxias do Sul e Bento Gonçalves), dois na Aglomeração
Urbana do Sul (Pelotas e Rio Grande), dois na Aglomeração Urbana do Litoral Norte
(Tramandaí e Capão da Canoa) e os quatro restantes (Santa Maria, Passo Fundo, Santa Cruz
do Sul e Lajeado) no interior do Estado.
Em 2017, os 21 municípios somavam 47,95% da população estadual em uma área
correspondente a 4,97% do território do Estado, com uma densidade demográfica média de
406 habitantes por km². Esses municípios também concentravam 46,75% da frota estadual de
veículos (Tabela 1).
16
Tabela 1 - Área territorial, população total, densidade demográfica e frota de veículos nos 21 municípios e no
Rio Grande do Sul 2017
Indicador 21 Municípios Rio Grande do Sul 21 municípios / RS (%)
Área territorial (km²) 13.369,88 268.753,29 4,97
Estimativa da população total (habitantes) 5.429.244 11.322.895 47,95
Densidade demográfica (habitantes/km²) 406 42
Frota de veículos 3.094.798 6.620.257 46,75
Fonte: Observatório Estadual da Segurança Pública do Rio Grande do Sul; Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE); Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul (DETRAN-RS).
1
A prevalência mede o número de casos em uma população em um dado ponto no tempo, refletindo a proporção
em relação ao total, já a incidência mede o número de novos casos, a taxa de ocorrência.
2
Para Goffman (2004) a noção geral de desvios diz respeito ao comportamento considerado destoante de um
membro individual que não adere ao conjunto de normas e valores partilhados pelo grupo de indivíduos. Para
Durkheim (1995) o desvio decorre de uma desordem social que leva os indivíduos à anomia, a qual envolve a
incapacidade de internalizar as regras sociais diante do enfraquecimento dos vínculos que ligam o indivíduo à
sociedade. Já Merton (1958) considera que a anomia ocorre quando os indivíduos não conseguem atingir as
metas estabelecidas pelas sociedades, que valorizam, em geral, o sucesso material, para o qual nem todos
dispõem de meios para alcançá-lo (PINTO, 2017).
18
desigualdade pode não ser significativa em agregados mais abrangentes, como países e
regiões, mas se revelar um fator importante para a compreensão da violência em micro-
espaços sociais. (SCHABBACH, 2016, p. 187-188)
Assim, a observação dos espaços intramunicipais permite uma maior acuracidade na
análise da relação entre a incidência de crimes violentos e seus possíveis determinantes
socioeconômicos.
Com isso, essa pesquisa tem como unidade de análise os 94 bairros do município de
Porto Alegre, e como indicadores de crimes violentos os homicídios dolosos, os roubos e os
roubos de veículos.
O estudo busca responder às seguintes questões: (A) QUAIS SÃO OS BAIRROS DE
PORTO ALEGRE QUE CONCENTRAM OS MAIORES NÍVEIS DE CRIMINALIDADE
VIOLENTA, CONSIDERANDO HOMICÍDIOS DOLOSOS E ROUBOS? (B) QUAIS OS
FATORES SOCIOECONÔMICOS CORRELACIONADOS COM A VIOLÊNCIA NOS
BAIRROS DE PORTO ALEGRE?
O objetivo deste trabalho é analisar a distribuição espacial dos crimes violentos nos
bairros de Porto Alegre, verificando a existência de relação entre eles e as condições
socioeconômicas dos locais onde ocorrem.
Os objetivos específicos compreendem:
a) Identificar a distribuição espacial e os padrões de localização dos crimes
violentos contra a vida (homicídios) e o patrimônio (roubos) nos bairros de
Porto Alegre;
b) Verificar a existência de relação entre os fatores socioeconômicos e os crimes
violentos nos bairros de Porto Alegre, verificando se existem padrões distintos
conforme o tipo de crime violento: homicídios dolosos versus roubos.
Parte-se da hipótese de que áreas com baixo desenvolvimento socioeconômico e
vulnerabilidade social tendem a uma maior concentração de crimes violentos.
Essa pesquisa busca contribuir para o desenvolvimento dos estudos sobre a
criminalidade e a violência, com intento de produzir tanto uma reflexão teórica no campo das
ciências sociais quanto trazer subsídios para políticas públicas de segurança mais efetivas.
Estas políticas, em geral, visam controlar fatores que reduzam a sensação de
insegurança e de medo dos cidadãos, uma vez que os cidadãos acabam segregando-se em seus
espaços privados e abandonando a convivência nos espaços públicos em função da percepção
de medo. A prevalência desses crimes nos territórios, além dos prejuízos no presente, produz
19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A relação entre a desigualdade de renda e a criminalidade foi abordada nos anos 1970
por Gary Becker (1968) e Isaac Ehrlich (1973). Com base na teoria econômica da escolha
racional, os autores entendem que a opção por atividades ilegais decorre de decisões
individuais. Os indivíduos optam pela criminalidade, por meio de um cálculo racional, que
visa à maximização da utilidade individual, em que o agente avalia os custos marginais
(punições) e os benefícios marginais (renda gerada na atividade econômica), que podem
decorrer da atividade criminosa. A criminalidade não seria inerente aos agentes, mas
relacionada aos benefícios líquidos, dados os custos de oportunidade no mercado legal
(RESENDE;ANDRADE, 2011; BARTZ; QUARTIERI; MENEZES, 2018).
21
3
Para Bauman, a sociedade contemporânea é a sociedade em que o consumo abundante de bens é a medida de
uma vida bem-sucedida. A posse de determinados objetos, caracteriza a adoção de certos estilos de vida, que são
condições necessárias para felicidade e até para a própria decência e dignidade humana. O consumismo é a força
propulsora da sociedade, que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a estratificação social. No entanto,
22
o ciclo produtivo cria constantemente novas metas de consumo, fazendo com que os consumidores nunca
atinjam a satisfação plena (BAUMAN, 2008).
23
4
A metropolização pode ser entendida como um processo de concentração populacional e de atividades
econômicas em determinada região, que extrapola os limites das jurisdições municipais que constituem este
espaço. A denominada região metropolitana também se caracteriza pela presença de um município central, com
alta densidade populacional e econômica, que, na relação com os demais municípios e com outros espaços
urbanos, no país e fora dele, apresenta funções “complexas e diversificadas”. Desta forma, a metrópole se
caracteriza e se distingue por esta capacidade de interconexão e complexidade nas funções, e não somente pela
24
que se inclui o avanço da criminalidade, que apresenta forte correlação com outras
características sociais e econômicas dos territórios. Com isso, algumas teorias com
fundamentação sociocultural, tendo como base a idéia de frustração quanto à privação do
sucesso econômico, que levaria ao uso pelos indivíduos de meios ilícitos, buscam explicar a
dinâmica espacial do crime, considerando os aspectos do desenvolvimento socioeconômico
dos territórios.
A metropolização e seus efeitos foram abordados pela Escola de Chicago, que
considerou que o crescimento acelerado das cidades gerou transformações econômicas,
demográficas, assim como mudanças nas interações entre os habitantes. Como consequência
dessas mudanças, houve uma tendência de desorganização social, dada a perda de influência
dos controles sociais tradicionais sobre os indivíduos, com aumento dos problemas
relacionados a doenças e crimes, entre outros. Uma vez que o crescimento econômico dessas
áreas não foi acompanhado por investimentos em infraestrutura adequada, surgiram áreas
segregadas, marcadas pela precariedade de condições de moradia e serviços, vulneráveis à
criminalidade, entre outros aspectos (SCHABACH, 2011; CUNHA, 2017).
Em regiões delimitadas por classes de renda, a existência de áreas de baixa renda
tende a ser naturalizada, em que a frustração quanto à aquisição econômica é limitada por
valores locais de parentesco e lealdade. Sendo que a incidência criminal nessas áreas está
relacionada a forças externas à comunidade, que ensejam comportamentos de bravura e honra,
prevalecendo nelas os crimes contra a pessoa, dentro de um controle social informal (FELIX,
2002). Assim, os homicídios tendem a se distribuir entre cidades de todos os tamanhos, uma
vez que se relacionam, em grande parte, com a mediação violenta de conflitos entre os
membros de um mesmo grupo, baseada em valores tradicionais de honra (KLEINSCHMITT;
LIMA; WADI, 2011). Este pode ser o caso, por exemplo, dos coletivos vinculados ao tráfico
de drogas.
Já os grandes centros urbanos, com maior desenvolvimento econômico, atraem
migrantes, dissociados do controle social informal das suas comunidades de origem, que
buscam emprego e melhores condições de vida. O adensamento de pessoas possibilita uma
maior difusão de informações e conscientização sobre a desigualdade social e quanto à
existência de meios legítimos e ilegítimos de sucesso econômico, o que facilita o acesso à
prática criminal, sobretudo de crimes contra o patrimônio. A vulnerabilidade ambiental
decorrente da deterioração e atomização das estruturas físicas dos centros urbanos intensifica
concentração das atividades, que também é uma das características de outros tipos de aglomerados urbanas
(GARSON; QUEIROZ RIBEIRO; RIBEIRO, 2010).
25
3 METODOLOGIA
5
A correlação mede o grau de associação entre duas variáveis, que variam concomitantemente. A análise de
regressão, por meio do cálculo das correlações, identifica a existência de uma relação funcional entre uma
variável dependente e variáveis explicativas, independentes (AGRESTI; FINLAY, 2012).
28
igual à correlação múltipla ao quadrado entre os escores dos fatores estimados e os valores
reais do fator, podendo ser correlacionados. Os modelos construídos com base nos escores
fatoriais, seguindo o método da análise dos componentes principais, permitem resolver
problemas de multicolinearidade no uso de múltiplas variáveis (MILOCA; CONEJO, 2009).
Para a população foi obtido um fator que comutou as diferentes faixas etárias divididas
em crianças, adolescentes, adultos e idosos. A infraestrutura resultou em dois fatores que
comutaram a presença e ausência de infraestrutura básica, sendo: serviços de luz elétrica,
coleta de lixo, água e esgoto, qualidade das moradias e a densidade de pessoas por domicílio.
Foi também usado o indicador domicílios vagos, que não foi fatorado.
Para dimensão educação foi obtido um conjunto de fatores relacionados à expectativa
de anos de estudo, atendimento e frequência escolar, crianças fora da escola e analfabetismo.
Para renda e trabalho o conjunto de fatores foi definido a partir de indicadores sobre a
distribuição de renda da população, renda média, per capita, razão ricos/pobres, percentual de
pobres e extremante pobres e as taxas de desocupação e atividade da população.
Os cálculos foram realizados com o uso do software Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS).
29
Porto Alegre, a capital do estado do Rio Grande do Sul, é formada por 94 bairros 6 em
uma área territorial de 471,85 km², que corresponde a menos de 1% da área total do estado.
Conforme o censo do IBGE, em 2010 a população do município era de 1.409.351 habitantes,
13,2% da população do estado, com uma densidade populacional igual a 2.837,53 hab./km².
Em 2017, conforme as estimativas populacionais, o município alcançou 1.484.941 habitantes
(Tabela 2).
Tabela 2 - Área territorial, população total, densidade demográfica e frota de veículos no município de Porto
Alegre e no Rio Grande do Sul 2017
6
Lei municipal no. 12.112 de 22 de agosto de 2016. (PORTO ALEGRE, 2016).
30
7
Foram desconsiderados os fatos com bairros não identificados, que somaram em torno de 12,6% das
ocorrências. O total de ocorrências se refere aos delitos: homicídio doloso, homicídio culposo, homicídio doloso
de trânsito, furtos, furto de veículo, roubos, latrocínio, roubo de veículo, extorsão, extorsão mediante sequestro,
estelionato, delitos relacionados à corrupção, delitos relacionados à armas e munições, entorpecentes – posse,
entorpecentes – tráfico, contra a pessoa, contra a criança e o adolescente, contra a dignidade sexual, contra a
família, delitos de trânsito, outros fatos, ameaça, lesão corporal, lesão corporal seguida de morte, sequestro e
cárcere privado e contravenções. Dados brutos fornecidos pela SSP-RS, com extração em: 15/04/2018. Os dados
representam um recorte temporal que retrata os fatos registrados na data da atualização da base de dados, sujeito
ainda a alterações provenientes da revisão de ocorrências duplicadas, apuração de informações oriundas de
investigações, diligências, perícias, correção do fato no final da investigação policial, entre outros (SSP-RS).
31
Tabela 3 - Ocorrências consumadas e registradas de homicídios, roubos e roubos de veículos nos bairros de
Porto Alegre 2016 - 2017
Gráfico 1 - Quantidade de bairros com ocorrências de homicídios dolosos, por faixas, em Porto Alegre 2016 -
2017
Quanto aos homicídios, 25% dos municípios registraram taxas abaixo de 10 mortes
para cada 100 mil habitantes, porém, a metade deles registrou taxas acima de 30 mortes para
cada 100 mil habitantes, no período analisado (Tabela 4).
Tabela 4 - Taxas de homicídios dolosos para cada 100.000 habitantes nos bairros de Porto Alegre 2016 - 2017
Taxa de homicídios dolosos / Taxa de vítimas de homicídios dolosos /
Indicador 100.000 habitantes 100.000 habitantes
2016 2017 2016 2017
Taxa mínima 0,0 0,0 0,0 0,0
Taxa máxima 495,1 249,7 396,1 291,3
Média do município 50,6 39,7 52,1 43,6
Taxa Mediana 38,4 32,1 35,9 34,3
Desvio padrão 68,8 44,2 63,6 49,8
25% bairros (1º. quartil) 7,9 9,2 4,5 8,8
50% bairros (2º. quartil) 38,4 32,1 35,9 34,3
75% bairros (3º. quartil) 69,7 57,1 73,8 64,4
100% bairros (4º. quartil) 495,1 249,7 396,1 291,3
Fonte: Elaboração da autora.
No período analisado, a maior parte das vítimas era do sexo masculino (90,9%),
destacando-se um aumento de 4,8% das vítimas mulheres entre 2016-17 (Tabela 5).
Tabela 5 - Vítimas de homicídios dolosos, por sexo, em Porto alegre 2016 - 2017
(%) Total (%) Total (%) Total
Δ% Acumulado
Sexo 2016 vítimas 2017 vítimas vítimas
(2017/2016) (2016-2017)
2016 2017 (2016-2017)
Total Homens 709 91,8 582 89,8 -17,9 1.291 90,9
Total Mulheres 62 8,0 65 10,0 4,8 127 8,9
Total Sexo Não Informado 1 0,1 1 0,2 0,0 2 0,1
Total Município 772 100 648 100,0 -16,1 1.420 100,0
Fonte: Elaboração da autora.
33
Em relação à cor/raça, 50,7% das vítimas eram brancos, 28,9% pretos e 5,8% pardos.
Considerando que, conforme o Censo IBGE 2010, em torno de 80% da população da cidade
se auto declarou branca, constata-se, no período 2016-17, uma tendência de sobre vitimização
de não-brancos. Destaca-se, ainda, que entre 2016-17 a redução das vítimas de cor branca foi
mais que o dobro (14,4%) do que a das vítimas de cor preta (Tabela 6).
Tabela 6 - Vítimas de homicídios dolosos, por cor, em Porto Alegre 2016 - 2017
(%) Total (%) Total (%) Total
Δ% Acumulado
Cor 2016 vítimas 2017 vítimas vítimas
(2017/2016) (2016-2017)
2016 2017 (2016-2017)
Total Branca 388 50,3 332 51,2 -14,4 720 50,7
Total Preta 212 27,5 199 30,7 -6,1 411 28,9
Total Parda 43 5,6 39 6,0 -9,3 82 5,8
Total Cor Não Informada 129 16,7 78 12,0 -39,5 207 14,6
Total Município 772 100 648 100,0 -16,1 1420 100,0
Fonte: Elaboração da autora.
Quanto à faixa etária das vítimas, mais de 70% delas tinham até 30 anos de idade, os
mais jovens, entre 0 a 17 anos, somavam em torno de 25% do total de mortes (Figura 1).
Figura 2 - Vítimas de homicídios dolosos, por faixa etária, em Porto Alegre 2016 - 2017
Gráfico 2 – Quantidade de bairros com ocorrências de roubos de veículos em Porto Alegre 2016 - 2017
Gráfico 3 – Quantidade de bairros com ocorrências de roubos em Porto Alegre 2016 - 2017
Gráfico 4 – Quantidade de bairros com ocorrências de roubos de aparelhos celulares em Porto Alegre 2016 -
2017
A análise descritiva dos dados demonstrou que os crimes violentos incidem na quase
totalidade dos bairros de Porto Alegre, porém, eles tendem a se concentrar em alguns locais,
que somam o maior número de casos.
4.1.2 Distribuição espacial dos crimes violentos nos bairros de Porto Alegre
Tabela 7 – Proporção dos homicídios dolosos nos bairros de Porto Alegre 2016 - 2017
Taxas de Taxas de
Bairro / Bairro / POA ocorrências de ocorrências de
Bairro / POA Bairro / POA (%)
Bairro POA (%) Acumulado (%) homicídios / 100 homicídios / 100 mil
(%) 2017 2016-2017
2016 2016-2017 mil habitantes habitantes
2016 2017
Restinga 5,92 9,08 7,33 7,33 74,7 92,2
Santa Tereza 7,76 4,36 6,24 13,57 132,2 60,0
Lomba do Pinheiro 6,21 5,58 5,93 19,50 72,1 52,3
Mário Quintana 5,50 5,58 5,54 25,04 97,4 79,7
Rubem Berta 5,08 5,41 5,23 30,27 103,3 88,7
Sarandi 4,37 4,71 4,52 34,79 49,4 42,9
Cristal 3,53 2,79 3,20 37,99 74,5 47,5
Santa Rosa de Lima 3,24 2,97 3,12 41,11 61,9 45,7
Passo das Pedras 2,68 3,14 2,89 43,99 113,7 107,4
Vila Jardim 3,81 1,40 2,73 46,72 194,8 57,6
Partenon 2,96 2,27 2,65 49,38 41,5 25,6
Jardim Carvalho 3,24 1,75 2,57 51,95 86,2 37,4
Fonte: Elaboração da autora.
36
Tabela 8 – Proporção dos homicídios e vítimas de dolosos, taxas de ocorrências e de vítimas de homicídios
dolosos nos bairros de Porto Alegre 2017
População dos bairros /
Ocorrências de homicídios 2017 Vítimas de homicídios 2017 população Porto Alegre
2017
Taxas de Taxas de
Bairro Bairro / Bairro /
ocorrências de Bairro / vítimas Habitantes
Bairro / POA POA Habitantes
homicídios / POA homicídios / acumulado
POA (%) acumulado acumulado (%)
100 mil (%) 100 mil (%)
(%) (%)
habitantes habitantes
Restinga 9,08 9,08 92,2 8,49 8,49 97,6 3,80 3,80
Mário Quintana 5,58 14,66 79,7 6,48 14,97 104,6 2,70 6,50
Lomba do Pinheiro 5,58 20,24 52,3 5,86 20,83 62,1 4,12 10,62
Rubem Berta 5,41 25,65 88,7 5,56 26,39 103,0 2,35 12,98
Sarandi 4,71 30,37 42,9 5,71 32,10 58,8 4,24 17,21
Santa Tereza 4,36 34,73 60,0 4,32 36,42 67,1 2,81 20,02
Centro Histórico 3,32 38,05 46,0 3,09 39,51 48,5 2,78 22,80
Passo das Pedras 3,14 41,19 107,4 3,40 42,90 131,3 1,13 23,93
Farrapos 2,97 44,15 85,0 2,62 45,52 85,0 1,35 25,28
Santa Rosa de Lima 2,97 47,12 45,7 2,78 48,30 48,4 2,51 27,78
Cristal 2,79 49,91 47,5 2,78 51,08 53,5 2,27 30,05
Hípica 2,27 52,18 66,2 2,16 53,24 71,3 1,32 31,37
Fonte: Elaboração da autora.
Figura 3 - Proporção dos homicídios dolosos nos bairros de Porto Alegre 2017
No período entre 2016-2017, 51,2% dos roubos de veículos ocorreram em 19% dos
bairros de Porto Alegre (18 deles), 24,56% foram registrados em apenas cinco entre os 94
bairros da cidade: Rubem Berta, Sarandi, Petrópolis, Floresta e Partenon (Tabela 8).
Tabela 8 - Proporção de roubos de veículos nos bairros de Porto Alegre 2016 - 2017
Bairro / POA (%) Bairro / POA (%) Bairro / POA (%) Bairro / POA Acumulado (%)
Bairro
2016 2017 2016-2017 2016-2017
Rubem Berta 8,76 9,05 8,91 8,91
Sarandi 5,20 5,28 5,24 14,15
Petrópolis 4,45 4,26 4,35 18,51
Floresta 2,99 3,13 3,06 21,57
Partenon 3,26 2,73 2,99 24,56
São João 2,84 2,81 2,83 27,38
Jardim Itu 2,55 2,72 2,63 30,02
Navegantes 2,60 2,35 2,47 32,49
Passo da Areia 2,69 2,22 2,45 34,94
Vila Ipiranga 2,93 1,99 2,45 37,39
Rio Branco 2,30 2,06 2,18 39,57
Menino Deus 1,94 1,93 1,94 41,51
38
Bairro / POA (%) Bairro / POA (%) Bairro / POA (%) Bairro / POA Acumulado (%)
Bairro
2016 2017 2016-2017 2016-2017
Ipanema 1,70 1,76 1,73 43,24
São Geraldo 1,33 1,97 1,65 44,89
Jardim Sabará 1,65 1,59 1,62 46,51
Tristeza 1,67 1,52 1,59 48,11
Cristo Redentor 1,64 1,48 1,56 49,66
Teresópolis 1,48 1,58 1,53 51,19
Fonte: Elaboração da autora.
Figura 4 - Proporção dos roubos de veículos nos bairros de Porto Alegre 2017
Tabela 9 - Proporção dos roubos nos bairros de Porto Alegre 2016 - 2017
Bairro / POA (%) Bairro / POA (%) Bairro / POA (%) Bairro / POA Acumulado
Bairro
2016 2017 2016-2017 (%) 2016-2017
Centro Histórico 13,47 13,07 13,27 13,27
Rubem Berta 4,64 5,44 5,04 18,31
Partenon 3,68 3,41 3,55 21,85
São João 3,40 2,76 3,08 24,94
Navegantes 3,25 2,45 2,85 27,79
Floresta 2,80 2,82 2,81 30,60
Sarandi 1,98 3,01 2,49 33,09
Rio Branco 2,68 2,23 2,45 35,54
Farroupilha 2,78 2,08 2,43 37,98
Cristal 2,66 2,06 2,36 40,34
Lomba do Pinheiro 2,11 2,17 2,14 42,48
Cidade Baixa 1,54 2,42 1,98 44,45
Praia de Belas 2,18 1,75 1,96 46,42
Restinga 1,86 1,97 1,92 48,34
Menino Deus 1,71 2,03 1,87 50,21
Fonte: Elaboração da autora.
Tabela 10 - Proporção dos roubos de aparelhos celulares nos bairros de Porto Alegre 2016 - 2017
Bairro / POA Bairro / POA (%) Bairro / POA (%) Bairro / POA Acumulado (%)
Bairro
(%) 2016 2017 2016-2017 2016-2017
Centro Histórico 19,46 13,19 16,89 16,89
Floresta 4,74 4,63 4,70 21,58
Rubem Berta 3,89 3,78 3,84 25,43
São João 3,60 3,67 3,63 29,05
Passo da Areia 3,63 2,98 3,36 32,42
Farroupilha 3,41 3,24 3,34 35,76
Partenon 3,26 2,77 3,06 38,82
Petrópolis 2,89 2,18 2,60 41,42
Rio Branco 2,71 2,29 2,53 43,95
Cristal 2,11 3,09 2,51 46,46
Restinga 1,70 3,67 2,51 48,97
Praia de Belas 2,41 2,61 2,49 51,46
Fonte: Elaboração da autora.
Figura 6 - Proporção dos roubos de aparelhos celulares nos bairros de Porto Alegre 2017
Quanto à distribuição espacial dos crimes violentos, observou-se que embora eles
incidam na quase totalidade dos bairros, o maior número de casos tende a se concentrar em
torno de 16% dos bairros, variando conforme o tipo de crime. Os bairros que concentram o
maior número de homicídios dolosos estão localizados nas zonas periféricas da cidade, ao
norte e ao sul. Os roubos de veículos, além da zona norte, incluem as zonas centrais e leste,
assim como os roubos.
No entanto, observou-se que os bairros Rubem Berta, Sarandi e Partenon estão entre
aqueles que mais concentram os três tipos de crimes violentos, conjuntamente. Os bairros
Cristal, Lomba do Pinheiro e Restinga estão entre os que mais concentram casos de
homicídios e roubos. Os bairros Floresta, Menino Deus, Navegantes, Rio Branco e São João
estão entre os bairros onde prevalecem os roubos de veículos e os roubos.
Os dez primeiros bairros com maior proporção de homicídios dolosos em 2017 foram
aqueles que registraram índices de desenvolvimento humano, expectativa de vida e renda per
capita, abaixo do índice municipal. Já os dez bairros onde não houve ocorrência de casos,
foram aqueles com indicadores acima dos índices para o município (Tabela 11).
O percentual de pobres também seguiu essa mesma tendência: os bairros com maior
quantidade de homicídios dolosos foram aqueles com maior percentual de pessoas pobres. No
entanto, para o índice de Gini ocorreu o oposto, os bairros com maior desigualdade de renda
em 2010, foram aqueles sem homicídios em 2017 e todos os 20 bairros apresentaram Gini
abaixo do índice para o município.
Tabela 11 – Bairros com maior e menor proporção de homicídios dolosos em Porto Alegre 2016-2017
Participação no total de Índice de
IDH-M Expectativa Renda per
Município / Região ocorrências de homicídios Gini % de pobres
2010 de vida 2010 capita 2010
dolosos (2016-17) 2010
Porto Alegre 100,0 0,805 76,4 0,600 1758,27 3,82
Restinga 7,33 0,661 73,0 0,421 578,59 9,74
Santa Tereza 6,24 0,738 75,5 0,441 1293,94 6,11
Lomba do Pinheiro 5,93 0,679 73,1 0,414 611,03 6,92
Mário Quintana 5,54 0,643 72,0 0,407 506,58 11,47
42
Tabela 12 - Bairros com maior e menor proporção de roubos de veículos em Porto Alegre 2016-2017
Participação no total de Índice de
IDH-M Expectativa de Renda per
Município / Região ocorrências de roubos de Gini % de pobres
2010 vida 2010 capita 2010
veículos (2016-17) 2010
Porto Alegre 100,0 0,805 76,4 0,600 1758,27 3,82
Rubem Berta 9,95 0,753 75,6 0,400 835,43 3,62
Sarandi 5,85 0,759 76,5 0,439 1138,96 4,17
Petrópolis 4,86 0,950 81,1 0,472 3791,59 0,20
Floresta 3,42 0,866 79,6 0,460 2075,36 1,84
Partenon 3,34 0,815 78,1 0,444 1512,10 2,94
São João 3,16 0,900 80,4 0,503 2756,12 0,56
Jardim Itu 2,94 0,852 79,2 0,455 1832,72 0,98
Navegantes 2,76 0,801 78,3 0,426 1226,76 2,15
Vila Ipiranga 2,74 0,888 79,9 0,450 1883,02 1,10
Passo da Areia 2,74 0,874 80,0 0,455 1997,33 0,68
Pedra Redonda 0,05 0,953 81,5 0,520 3931,41 0,87
Lageado 0,04 0,702 74,5 0,450 689,20 8,07
Jardim Europa 0,03 0,860 79,5 0,520 4058,17 1,55
Chapéu do Sol 0,02 0,660 72,2 0,422 552,24 8,13
Jardim Isabel 0,01 0,958 81,6 0,450 4403,05 0,39
Pitinga 0,01 0,668 72,9 0,414 572,12 7,57
São Caetano 0,01 0,708 74,8 0,453 706,81 7,81
Extrema 0,00 0,681 73,7 0,460 610,25 10,26
Sétimo Céu 0,00 0,886 80,0 0,493 2654,30 0,78
Boa Vista do Sul 0,00 0,710 74,9 0,423 707,05 4,70
Fonte: Elaboração da autora.
43
Tabela 13 - Bairros com maior e menor proporção de roubos em Porto Alegre 2016 - 2017
Participação no total de Índice de
IDH-M Expectativa de Renda per
Município / Região ocorrências de roubos Gini % de pobres
2010 vida 2010 capita 2010
(2016-17) 2010
Porto Alegre 100,0 0,805 76,4 0,600 1758,27 3,82
Centro Histórico 15,06 0,891 80,3 0,510 2632,73 0,47
Rubem Berta 5,72 0,684 75,6 0,400 835,43 3,62
Partenon 4,03 0,746 78,1 0,444 1512,10 2,94
São João 3,50 0,847 80,4 0,503 2756,12 0,56
Navegantes 3,24 0,723 78,3 0,426 1226,76 2,15
Floresta 3,19 0,805 79,6 0,460 2075,36 1,84
Sarandi 2,83 0,664 76,5 0,439 1138,96 4,17
Rio Branco 2,79 0,923 81,7 0,553 5279,11 0,59
Farroupilha 2,76 0,880 80,8 0,500 3417,25 0,36
Cristal 2,68 0,717 77,3 0,465 1691,86 4,27
Jardim Floresta 0,04 0,726 78,2 0,454 1159,63 2,04
Serraria 0,02 0,598 73,8 0,401 830,71 7,93
Chapéu do Sol 0,02 0,539 72,2 0,422 552,24 8,13
Jardim Europa 0,01 0,798 79,5 0,520 4058,17 1,55
Pitinga 0,01 0,546 72,9 0,414 572,12 7,57
Jardim Isabel 0,00 0,932 81,6 0,450 4403,05 0,39
São Caetano 0,00 0,595 74,8 0,453 706,81 7,81
Extrema 0,00 0,557 73,7 0,460 610,25 10,26
Sétimo Céu 0,00 0,829 80,0 0,493 2654,30 0,78
Boa Vista do Sul 0,00 0,599 74,9 0,423 707,05 4,70
Fonte: Elaboração da autora.
O modelo seis associou os roubos de veículos aos fatores relativos à taxa de atividade,
frequência escolar e domicílios não ocupados, partindo-se do pressuposto de que essas
variáveis representam uma maior circulação de pessoas e locais com menor vigilância, o que
repercutiria na presença de vítimas em potencial. Embora o maior nível de atividade e de
frequência escolar, e o número de domicílios não ocupados tenham a probabilidade de
impactar no aumento dos roubos de veículos, a capacidade explicativa dessas variáveis foi de
apenas 23,1%, conforme o coeficiente de determinação. Quanto aos domicílios não ocupados,
apesar da significância estatística, o impacto sobre a variável dependente seria pouco
46
significativo, para cada incremento de uma unidade nos domicílios vagos, haveria uma
variação de 0,001 nos roubos de veículos.
O modelo sete associou os roubos aos fatores relativos à renda da população mais
pobre, à renda em geral e aos domicílios não ocupados. Essa última variável seguiu a mesma
tendência apresentada para os roubos de veículos, com impacto pouco significativo. O
aumento da renda da população mais pobre parece impactar na redução dos roubos, todavia,
um aumento da renda em geral (média, per capita) produziria um efeito contrário. O aumento
da taxa de desocupação também produziu a probabilidade de redução dos roubos. Esses
resultados remetem aos juízos contraditórios já observados em outros estudos8 quanto à
capacidade explicativa do fator renda na variação dos crimes de roubos. Ou seja, por um lado,
sob o aspecto individual, o aumento da renda dos mais pobres pode levar a uma diminuição da
desigualdade, e, consequentemente, a redução dos crimes; por outro, no contexto, os crimes
contra o patrimônio tendem a incidir em locais com maior renda.
dos fatos. Os locais com maior população, menores níveis de renda, de educação e de piores
condições de infraestrutura tendem a ter uma maior incidência de homicídios dolosos. Este
resultado aproxima-se do encontrado por Schabbach (2016).
Para os modelos referentes aos roubos de veículos e aos roubos, verificou-se que a
capacidade explicativa das variáveis socioeconômicas referentes à infraestrutura, apesar de
significância estatística, produziu pouco impacto. Já os fatores relativos à renda apresentaram
resultados diferenciados, conforme já demonstrado. Todavia, conforme os seus coeficientes
de determinação, esses modelos também apresentaram pouca capacidade explicativa.
48
6 CONCLUSÃO
Na relação entre os crimes violentos e desigualdade social nos bairros de Porto Alegre,
observou-se que os bairros com maiores níveis de criminalidade violenta, considerando
homicídios dolosos, foram aqueles com os menores níveis de desenvolvimento humano, renda
e maior percentual de pessoas pobres. Isso, em certa medida, mostrou que áreas com baixo
desenvolvimento socioeconômico e maior vulnerabilidade social tendem a uma maior
concentração de crimes violentos. Por outro lado, a melhora nos indicadores de infraestrutura,
de renda e de educação tem impacto positivo para redução desses crimes.
50
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APÊNDICE 1