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Análise das Características Elétricas dos

Trechos de 280 m de Altura propostos para


Interconexão Tucuruí-Macapá-Manaus
E. C. M. Costa, A. J. G. Pinto, S. Kurokawa, J. H. A. Monteiro and J. Pissolato

 projeto de integração da região Norte ao Sistema Interligado


Abstract – This article shows an analysis of the Nacional, que será realizada por meio da construção de uma
longitudinal electric parameters of a three-phase transmission linha de transmissão interligando a usina hidrelética de
line/section using a 280-meter high steel tower. This Tucuruí às cidades de Macapá e Manaus [1, 2].
characteristic, the height of the line conductors and distance Este projeto, conhecido como interligação Tucuruí-
between them are intrinsic related to the longitudinal and Macapá-Manaus ou Linhão Tucuruí-Manaus, resultará em
transversal parameters of the line. By this means, an accurate uma linha de circuito duplo de 500 kV-AC entre a usina de
study was carried out in order to show the electric variations Tucuruí e a região de Manaus, contemplando subestações
between a transmission line using the new technology and a intermediárias nos municípios de Anapú, Almeirim, Oriximiná
e Silves. O Amapá será interligado ao SIN por meio de uma
three-phase conventional 440 kV line for a wide range of
linha de circuito duplo de 230 kV a partir da subestação
frequencies and a variable soil resistivity.
rebaixadora 500/230 kV Juruparí, localizada em Almerim
Index Terms – Transmission line, steel towers, line parameters,
(PA). Também está prevista a construção de subestações em
electromagnetic transients. Laranjal do Jarí e Macapá [1, 2].
A fig. 1 apresenta um mapa com a interligação Tucuruí-
I. INTRODUÇÃO Macapá-Manaus [2].

O SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO, com tamanho e


características que permitem considerá-lo único em
âmbito mundial, funciona de forma integrada no Sistema
Interligado Nacional (SIN), que é formado por empresas de
energia elétrica das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste,
Nordeste e parte da região Norte. Apenas um pequeno
percentual da capacidade de produção de energia elétrica do
país (em torno de 3,4%) não está integrada ao SIN,
constituindo pequenos sistemas isolados localizados
principalmente na região amazônica, de acordo com dados do
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS, 2011).
Na região amazônica, os principais mercados consumidores
de energia elétrica são as cidades de Manaus e Macapá, sendo Fig. 1. Interligação Tucuruí-Macapá-Manaus.
que Manaus possui o maior sistema elétrico isolado da região
Norte, com aproximadamente 400.000 consumidores com A interligação Tucuruí-Macapá-Manaus é um grande
características de consumo, por classe, semelhantes aos desafio para a engenharia, pois a linha de transmissão terá
grandes centros industriais do sul e sudeste do país. Em 2005, extensão de aproximadamente 1800 km. Ademais, um outro
o parque gerador de Manaus tinha potência nominal superior a desafio será o tamanho das estruturas metálicas utilizadas em
1000 MW, sendo que 75% dessa energia era fornecida por diversos trechos dessa linha, composta por dezenas de torres
unidades termelétricas antigas e obsoletas [1]. com altura em torno de 280-300 metros. Tais torres são
Além do alto custo financeiro e ambiental, o sistema necessárias para que a linha esteja acima da copa das árvores,
elétrico da região Norte é pouco robusto e de baixa eficiência evitando assim o desmatamento de grandes áreas de mata
energética tanto na geração como na transmissão. Estes fatos, nativa. Outro objetivo da construção desses trechos é a
aliados ao elevado crescimento da região Norte, travessia de grandes distâncias sobre a bacia Amazônica,
principalmente da região de Manaus, deram origem a um destancando a travessia sobre a ilha de Jurupari, no Pará, que
divide o rio Amazonas em dois vãos de aproximadamente
1750 metros e 2100 metros [1, 2].
E. C. M. Costa (educosta@dsce.fee.unicamp.br), A. J. G. Pinto Atualmente existem tecnologias que permitem a construção
(ajinno@dsce.fee.unicamp.br), J. H. A. Monteiro e J. Pissolato
(pissolato@reitoria.unicamp.br) estão vinculados à Universidade Estadual de de trechos de linhas de transmissão com mais de 2500 metros
Campinas – Unicamp. de extensão. Toma-se como exemplo a linha de transmissão
S. Kurokawa (kurokawa@dee.feis.unesp.br) está vinculado à Unesp – que atravessa o rio Yangtze, na província de Jiangsu, na
Univ. Estadual Paulista, Ilha Solteira, Brasil. China. Nesta linha, as torres possuem 349 m de altura e o
espaçamento entre duas torres consecutivas é de 2.3 km, como Na fig. 3, a fase 1 encontra-se a 28 metros em relação ao
mostra a fig. 2. Essas mesmas torres são equipadas com solo, enquanto que as fases 2 e 3 situam-se a 24.4 m de altura.
elevadores cilíndricos que permitem o acesso até o topo da Os cabos para-raios (condutores 4 e 5) estão a 36 metros de
estrutura [3]. altura.
O tamanho das torres, bem como o tipo de solo da região
amazônica tornam a interligação Tucuruí-Macapá-Manaus
uma linha de transmissão com características elétricas únicas
no Brasil e no mundo. Até o presente momento não se tem
trabalho algum investigando criteriosamente as variações
elétricas para esse novo sistema, bem como as possíveis
sobretensões de origens diversas às quais essa linha está
susceptivel.
Neste trabalho será realizado um estudo comparativo dos
parâmetros longitudinais e transversais de um trecho de linha
convencional (fig. 3) e de um trecho não convencional,
baseado nas caracteristicas da torre ilustrada na fig. 2. Para
levar em conta as características do solo da região amazônica,
os parâmetros da linha serão calculados considerando diversos
valores da resistividade do solo (que depende das condições
climáticas e da composição geológica).

II. CÁLCULO DOS PARÂMETROS ELÉTRICOS DE LINHAS DE


TRANSMISSÃO TRIFÁSICAS
Uma linha de transmissão é caracterizada por seus
parâmetros elétricos longitudinais e transversais. Os
parâmetros longitudinais são caracterizados por uma
Fig. 2. Linha de transmissão projetada com torres de 350 metros de altura. resistência e uma indutância variaveis em função da
frequência, enquanto que os parâmetros transversais são
Observa-se na fig. 2, a estrutura metálica de uma dessas descritos por capacitâncias e condutâncias entre fases e entre
torres e no centro o elevador cilindrico circundado por fase e solo. Estes parâmetros estão distribuídos ao longo do
escadaria. Essa tecnologia torna-se útil quando a manutenção comprimento da linha e, no caso dos parâmetros longitudinais,
utilizando helicopteros não é possível e assim parte da como descrito anteriormente, são variáveis em função da
operação pode ser realizada utilizando elevadores ou a frequência [4].
escadaria auxiliar [3]. Os parâmetros longitudinais de linhas de transmissão
A torre de transmissão mostrada na fig. 2 é, sem dúvida, dependem das características geométricas do sistema, do tipo
muito maior que as estruturas utilizadas em linhas de de condutor utilizado nas fases, do meio onde os condutores
transmissão convencionais, em torno de 20 a 40 metros. De estão imersos (no ar, no caso de linhas aéreas) e das
forma comparativa, as torres utilizadas atualmente na China características do solo. Quanto à variação destes parâmetros
são cerca de 50 metros mais altas que a Torre Eiffel, em Paris. em função da frequência, a mesma ocorre devido aos efeitos
Uma estrutura geométrica convencional, para uma linha de solo e pelicular [4]. No caso das capacitâncias transversais da
440 kV com circuito simples, é descrita em detalhes na fig. 3. linha, as mesmas são calculadas em função das características
geométricas do sistema e do meio em que os condutores da
linha estão imersos. Em linhas aéreas é usual desconsiderar o
4 5 (7.51; 36)
efeito da condutância transversal [5].
Os parâmetros longitudinais de uma linha com n fases dão
origem à matriz de impedância longitudinal [Z] e à matriz de
1 admitância transversal [Y]. Uma breve revisão sobre o cálculo
2 3 (9.27; 24.4) dos parâmetros elétricos de linhas de transmissão aéreas é
descrita a seguir.
3.6 m

Primeiramente, considera-se o esquema da fig. 4, sendo i e


k dois condutores aéreos de uma linha genérica, enquanto que
i´ e k´ são as respectivas imagens desses condutores. As
distâncias entre duas fases e fase-imagem são descritas como
dik e Dik. A distância entre a fase i e sua respectiva imagen é
dada por hi. Por ultimo, o ângulo entre os traçados indicando
as distâncias Dik e hi é dado por i. Portanto, com base nos
dados geométricos da estrutura das torres e nas constantes
Fig. 3. Linha trifásica convencional de 440 kV.
fisicas do meio, os elementos próprios da matriz de
impedâncias [Z] são separados em três componentes: a
impedância externa própria, a impedância própria devido ao
efeito solo e a impedância interna devido ao efeito pelicular
nos cabos e subcondutores [6]. Zsolo ii  Rii ( , ii )  jLii ( , ii ) (6)
i Zsolo ik  Rik ( , ik )  jLik ( , ik ) (7)
dik
k
Nas equações (6) e (7), Rii(, ii), Lii(, ii), Rik(, ik) e
hi Lik(, ik) são calculados por meio das séries de Carson e são
Dik funções dos ângulos ii e ik e dos parâmetros  e .
i
O ângulo ik pode ser calculado a partir da fig. 4 e o ângulo
k
solo ii é igual a zero. Os parâmetros  e  são descritos como [7]:

f
  8  5 104 h i (8)
solo
f
  4  5 104 Dik (9)
solo
k’

i’ Nas equações (8) e (9), solo é a resistividade do solo sobre
o qual os condutores estão dispostos.
Fig. 4. Sistema de condutores O campo magnético interno a um condutor dá origem a
uma impedância própria denominada interna ou impedância
Desse modo, para os condutores mostrados na fig. 4, devido ao efeito pelicular. Na fig. 4, a impedância interna Zintii
define-se a impedância longitudinal própria Zii e a mútua Zik do condutor i é definida como sendo [8]:
como sendo:
Z ii  Zext ii  Zsolo ii  Zint ii (1) j m i ber(m ri )  j bei(m ri )
Zint ii  (10)
2  ri ber '(m ri )  bei '(m ri )
Z ik  Zext ik  Zsolo ik (2)
sendo:
2  f i
Na eq. (1), Zii, Zextii , Zsoloii e Zintii são, respectivamente, a m (11)
impedância longitudinal própria total, a impedância externa i
própria, a impedância própria devido ao efeito solo e a
impedância interna do condutor i; sendo esta última função do Nas equações (10) e (11), i, ri e i são: a resistividade, o
efeito pelicular do condutor. raio e a permeabilidade do i-ésimo subcondutor do feixe,
Na equação (2), Zik é a impedância longitudinal mútua respectivamente. Os termos ber e bei são as funções de
entre os condutores i e k, que é constituída pela impedância Kelvin, enquanto que os termos ber’ e bei’ são as derivadas
externa mútua Zextik e pela impedância mútua devido ao efeito dessas mesmas funções [9].
solo Zsoloik. Para os condutores mostrados na fig. 4, define-se a matriz
As impedâncias externas próprias e mútuas dos condutores de coeficientes de potencial [P] a partir dos elementos
mostrados na fig. 4 são escritas como sendo [6]: genéricos abaixo [7]:

0  2 hi  1  2h 
Zext ii  j  ln  (3) Pii  ln  i  (12)
 2 0  ri
2   ri  
 D  1 D 
Zext ik  j  0 ln  ik  (4) Pik  ln  ik  (13)
2   dik  2 0  dik 
sendo:
Nas equações (12) e (13), 0 é a permissividade do vácuo
 2  f (5) cujo valor é 8.854 ηF/km [9].
A partir da matriz [P], obtém-se a matriz de capacitâncias
Em que o termo f descreve a variável frequência. [C] para os condutores i e k por meio da seguinte relação:
Nas equações (3) e (4), hi e ri são, respectivamente, a altura
e o raio do condutor i. Os termos dik e Dik são a distância entre [C]  [P]1 (14)
os condutores i e k e a distância entre o condutor i e a imagem
do condutor k, respectivamente. A constante 0 é a A matriz de admitâncias transversais pode ser expressa
permeabilidade magnética no vácuo, cujo valor é 4π.10 -4 então como sendo:
H/km. [Y]  j  [C] (15)
As indutâncias própria e mútua resultantes do efeito solo
sobre os condutores i e k são descritas pelos termos Zsoloii e
Zsoloik. Na fig. 4, essas impedâncias são descritas como [7]:
III. ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS DAS A. Parâmetros elétricos longitudinais
REPRESENTAÇÕES CONVENCIONAL E NÃO CONVENCIONAL A fig. 6, logo a seguir, mensura a diferença entre as
O comportamento dos parâmetros elétricos longitudinais e resistências relativas às representações convencional e não
transversais em função da frequência de linhas de transmissão, convencional, considerando a resistividade do solo variável:
bem como comportamento eletromagnético frente a 100, 1000 e 10000 Ωm. As curvas pontilhadas indicadas por
transitórios de origens diversas, estão intrinsicamente "a" mostram a relação entre as resistências mútuas enquanto
relacionados às caracteristicas geométricas e fisicas da linha e que as curvas indicadas por "b" mostram a relação entre as
seus condutores. Ademais, o solo sobre o qual a linha de resistências próprias. Nessa mesma figura, a resistência da
transmissão é projetada exerce uma grande influência sobre representação convencional é denominada Rc enquanto que a
suas caracteristicas elétricas. resistência da representação não convencional é dada por Rn.
Serão mostrados resultados para duas linhas de A variação entre os parâmetros das duas representações é
transmissão, sendo uma linha de transmissão trifásica mensurada por meio da simples relação Rc/Rn.
convencional de 440 kV e a outra uma linha suportada por
torres de altura elevada, 300 m, tal como descrito
anteriormente. A linha típica será denominada ao longo da
análise como a representação convencional, enquanto que a
linha com torres de altura elevada será denominada como
representação não convencional.
As duas representações apresentam silhuetas semelhantes,
no entando, as configurações geometricas das fases e da torre
apresentam variações de acordo com as descrições de um dos
fabricantes. Ou seja, as representações apresentam variações
na altura das fases e distância entre elas, tal como descrito em
detalhes na fig. 5.

Fig. 6. Variação entre as resistências das representações convencional e não


convencional, considerando a resistividade do solo variável: 100 Ωm (curva
1), 1000 Ωm (curva 2) e 10000 Ωm (curva 3).

Os resultados apresentados na fig. 6 mostram que, em


baixas frequências, as resistências longitudinais de ambas as
representações são similares. No entanto, verifica-se que para
frequências superiores a 10 kHz, as resistências próprias e
mútuas relativas à representação convencional apresentam um
maior perfil em função da frequência que a representação não
convencional. Observa-se também que a variação entre as
resistências é mais sensível para baixos valores da
Fig. 5. Configuração geométrica das representações convencional e não resistividade do solo.
convencional. A fig. 7 mostra a relação entre as indutâncias mútuas das
representações convencional e não convencional entre as fases
Na fig. 5, os feixes de condutores A, B e C constituem as B e C (figura 5), considerando a resistividade do solo variável:
fases da linha enquanto que os condutores 1R e 2R são os 100 Ωm, 1000 Ωm e 10 kΩm. A indutância da representação
cabos para-raios. Os condutores das fases são do tipo convencional é denominada por Lc enquanto que a indutância
Grosbeak, com 1.021 cm de raio, espaçados 0.4 m um do da representação não convencional é denominada por Ln.
outro. Os cabos para-raios são do tipo EHWS-3/8" e são
implicitamente representados na modelagem das duas
representações de linha [10]. Considerou-se que as duas linhas
operam com tensão nominal de 440 kV.
Inicialmente foram calculados os parâmetros longitudinais
e transversais da representação convencional e não
convencional, cujas silhuetas são descritas na fig. 5. Estes
parâmetros foram calculados para frequências inferiores a 1
MHz. Vale ressaltar que nessa faixa encontra-se grande parte
do conteúdo harmônico presente em fenômenos
eletromagnéticos transitórios; decorrentes de descargas
atmosféricas, operações de manobras e chaveamentos. Além
disso, a metodologia utilizada no cálculo dos parâmetros
(descrita anteriormente em II) apresenta uma performance
Fig. 7. Variação entre as indutâncias mútuas das representações convencional
adequada dentro da faixa de frequências estipulada. e não convencional, considerando a resistividade do solo variável: 100 Ωm
(curva 1), 1000 Ωm (curva 2) e 10000 Ωm (curva 3).
Com base nos resultados apresentados na fig. 7, conclui-se 13.22 3.67 3.67 
que as indutâncias mútuas calculadas para representação [Cc ]   3.67 12.64 1.38  ηF/km (16)
convencional em função da frequência são maiores que as
 3.67 1.38 12.64 
indutâncias mútuas associadas à representação não
convencional, independentemente do tipo de solo e da faixa de  9.73 2.81 2.81
frequências. Em baixas frequências, a diferença entre as duas [Cn ]   2.81 10.34 3.64  ηF/km (17)
representações é praticamente entre 6% a 8%, enquanto que
 2.81 3.64 10.34 
em frequências próximas de 1 MHz, a diferença varia entre
13% a 16%, dependendo da resistividade do solo.
As indutâncias próprias associadas às duas linhas foram As matrizes expressas por (16) e (17) são associadas às
calculadas e analisadas com o mesmo embasamento aplicado capacitâncias das representações convencional e não
as indutâncias mútuas. Na fig. 8 é descrita a variação Lc/ Ln convencional, respectivamente. Verifica-se que as
para as indutâncias próprias: capacitâncias aparentes da representação não convencional são
menores que as capacitâncias aparentes da representação
convencional. Com base em uma analise qualitativa das
equações descritas em (12)-(15) e com base na geometria das
torres, os resultados obtidos das capacitâncias em (16) e (17)
eram previsíveis.
Com base nas características dielétricas descritas nas
matrizes (16) e (17), pode-se acrescentar que a representação
composta por torres não convencionais pode apresentar
menores perdas devido ao efeito corona e eventuais descargas
destrutivas entre fases e entre fase-terra.

IV. CONCLUSÃO
Este estudo apresenta algumas conclusões importantes
sobre esta forma emergente de transmissão de energia elétrica.
Fig. 8. Variação entre as indutâncias próprias das representações convencional
Primeiro, com base nas análises realizadas no domínio da
e não convencional, considerando a resistividade do solo variável: 100 Ωm frequência, foi demonstrado que as indutâncias mútuas da
(curva 1), 1000 Ωm (curva 2) e 10000 Ωm (curva 3). representação não convencional em 60 Hz, com base na
estrutura de torre com mais de 280 metros, são
Com base nos resultados apresentados na fig. 8, observa-se aproximadamente 7% a 9% menores quando comparadas às
que ao contrario das resistências e indutâncias mútuas, as indutâncias calculadas a partir de um trecho de linha
indutâncias próprias apresentam variações muito pequenas, utilizando torres convencionais, com aproximadamente 36
praticamente nulas para altas resistividades do solo e discretas metros. Por outro lado, as resistências próprias e mútuas
quando considerada uma baixa resistividade do solo, e em calculadas a partir das duas configurações apresentam valores
altas frequências (como descrito pela curva 1). No entanto, de muito próximos em 60 Hz, demonstrando que as variações
forma geral, as diferenças entre as duas representações de geométricas entre as duas torres não implica em variações
linhas, associadas as variações das indutâncias próprias, significativas na potência ativa dissipada ao longo do sistema
podem ser consideradas desprezíveis dentro da faixa de de transmissão.
frequência estudada. De forma geral, variações mais acentuadas são observadas
De modo geral, com base no conjunto de curvas em frequências mais elevadas, acima de 10 kHz, entre as
apresentado nas figuras 6, 7 e 8, pode-se concluir que o trecho resistências e indutâncias calculadas a partir das duas
de linha não convencional, devido principalmente às representações. As resistências (próprias e mútuas) e
distâncias entre as fases e a altura elevada dos condutores, indutâncias mútuas apresentam variações mais acentuadas em
apresenta menores valores para os parâmetros longitudinais altas frequências, próximas a 1 MHz, principalmente devido a
em comparação com a representação convencional. Esse diferença de altura entre as representações e a variação das
comportamento é mais acentuado em baixas resistividades do distâncias entre as fases. Além disso, a representação da linha
solo, o que vem a ser o caso da região amazônica, não convencional mostrou-se mais sensíveis à variação da
caracterizada por um solo arenoso e com elevado índice resistividade do solo, mais especificamente para baixos
pluviométrico. valores. Todas as características apresentadas até então
resultam em variações no campo eletromagnético mútuo entre
B. Parâmetros elétricos transversais
as fases e no retorno da corrente através do solo, que por sua
Neste item são analisadas as matrizes com as capacitâncias vez, podem resultar em transitórios eletromagnéticos com
aparentes associadas as representações de linha convencional e níveis de tensão e correntes mais acentuados sobre a seção de
não convencional, cujas silhuetas são descritas na fig. 5. Com linha utilizando as torres de altura elevada.
base nas equações (12)-(15) foram obtidas as seguintes Outras questões importantes devem ser levadas em conta
matrizes: no estudo dessa nova tecnologia. Primeiramente, a região
amazônica é caracterizada por alta umidade do solo devido às
precipitações diárias, grandes bacias hidrográficas, umidade
do ar e áreas de várzea. Portanto, a resistividade do solo é em REFERÊNCIAS
geral muito baixa, possibilitando maiores níveis de [1] W. M. Frota. “Melhorias estruturais de suprimentos para os sistemas
sobretensões sobre o sistema de transmissão em destaque elétricos isolados de Manaus e Macapá”, Revista T & C Amazônia,
neste artigo. Outra questão se refere à altura elevada das torres vol. 3, n. 6, pp.23-29, 2005.
e ao posicionamento dos cabos para-raios. Devido à altura da [2] G. N. D. De Doile, R. L. Nascimento. “Linhão Tucuruí-1800 km de
integração regional”, Revista T & C Amazônia, vol. 8, n. 18, pp.58-62,
torre e ao alto índice ceráunico da região amazônica, as fases
2010.
dessas seções de linha estão mais sujeitas a descargas [3] Technique catalog. Hebei Eissun Communication Equipment CO.
atmosféricas, pois os cabos para-raios não oferecem uma (2010, November) Available: http://www.hebeicomms.com/cp1.htm.
blindagem efetiva. Todos esses aspectos são temas de futuros [4] S. Kurokawa, F. N. R. Yamanaka, A. J. Prado, L. F. Bovolato, J.
estudos e devem ser estudados com critério para a Pissolato. “Representação de Linhas de Transmissão por meio de
Variáveis de Estado levando em Consideração o Efeito da Freqüência
implementação adequada dessa nova tecnologia de
sobre os Parâmetros Longitudinais”, Revista Controle & Automação,
transmissão. vol. 18, n. 3, pp. 337-346, 2007.
[5] J. A. Martinez, B. Gustavsen, D. Durbak. “Parameters determination
AGRADECIMENTOS for modeling system transients – Part I: overhead lines”. IEEE Trans.
on Power Delivery, vol. 20, n. 3, pp. 2038-2044, 2005.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível [6] L. Hofmann. “Series expansions for line impedances considering
Superior (CAPES/Processo 4570-11-1) e ao Conselho different specific resistances magnetic permeabilities and dielectric
Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico permittivities of air and ground”, IEEE Trans. on Power Delivery, vol.
(CNPq). 18, n. 2, pp. 564-570, 2003.
[7] H. W. Dommel, “EMTP theory book”, Vancouver, 1986.
[8] W. Mingli, F. Yu, “Numerical calculations of internal impedance of
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Proc. Gener. Transm. Distrib, vol. 151, n. 1, pp. 67-72, 2004.
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[10] S. Kurokawa, J. Pissolato, M. C. Tavares, C. M. Portela, A. J. Prado.
“Behavior of overhead transmission line parameters on the presence of
ground wires”. IEEE Trans. on Power Delivery, vol. 20, n. 2, pp.
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