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carragenas carragenas

carragenas do tipo Kappa frio ou a quente, as do


(κ) e lota (ι). tipo Iota e Kappa além
A espécie mais co- de serem amplamente
nhecida de carragena utilizadas como agentes
é a Chondrus crispus espessantes em produtos
(irish moss), que cresce que se preparam a altas
ao longo das costas do temperaturas, também
Atlântico Norte, sendo permitem a obtenção de
que as principais áreas de géis estáveis em água à
recolta são as províncias temperatura ambiente
marítimas do Canadá, o sem necessidade de refri-
Estado do Maine, nos Es- geração.
tados Unidos, a Bretanha, Quimicamente, as
na França, e a Península carragenas são poligalac-
Ibérica. Sua coloração é tanos, polímeros sulfata-
vermelho escura e apa- Chondrus crispus dos de moléculas alterna-
renta-se vagamente a das de D-galactose e 3-6
maços de salsa. Cresce nas rochas a G. Bourgade patenteou um processo anidro-D-galactose (3,6-AG) unidas por
uma profundidade de até três metros. de purificação, mas foi somente nos ligações α(1-3) e β(1-4) glicosídicas.
A maior parte ainda é colhida com um anos de 1930 que foram construídas As moléculas de galactose e 3,6-AG
tipo de ancinho, a partir de pequenos as primeiras instalações industriais, na encontram-se parcialmente substituí-
barcos. Essas algas são levadas até uma Costa Leste dos Estados Unidos, para das por grupos sulfato e parcialmente
área de secagem ou usina de secagem, suprir comercialmente grandes volumes substituídas por grupos sulfato e pi-
onde é retirado cerca de 80% da água. de extratos de carragenas. ruvato, razão pela qual as carragenas
Um pouco menos de 20% de umidade é As carragenas possuem a particulari- apresentam-se geralmente como sais
mantido para preservar a qualidade das dade de formar colóides e géis em meios de sódio, potássio ou cálcio. O conteúdo
algas e facilitar o transporte até a planta aquosos a concentrações muito baixas. e distribuição dos grupos éster sulfato
de extração. Esses géis são transparentes e termor- nessas moléculas são responsáveis pelas
Hoje, outras algas vermelhas estão do- reversíveis, tendo uma ampla variedade diferenças primárias entre os diversos
minando em importância como matéria- de texturas, desde muito elásticas e tipos de carragenas. A proporção dessas
prima para fabricação de carragena, coesas, até géis firmes e quebradiços, diferentes frações também varia em
ampliando o espectro das proprieda- dependendo da combinação das frações função da espécie, do habitat e da época
des que podem ser alcançadas. Essas que se utiliza. da colheita das algas. Inicialmente, as
espécies importantes são as Euchema carragenas foram subdivididas em duas

TIPOS E APLICAÇÃO
cottonii e Euchema spinosum, ambas Os principais tipos famílias, em função da sua solubilidade
da família das Solieriaceae. São algas em KCl (cloreto de potássio). As frações
de águas mais quentes que podem ser A carragena pode ser separada em solúveis foram designadas pelo prefixo

NOS ALIMENTOS
encontradas nas costas das Filipinas e diferentes tipos: Lambda, Kappa, Iota, Kappa (κ), enquanto que as insolúveis
da Indonésia. Servem para produzir as Mu e Nu, das quais Lambda, Kappa e foram chamadas de Lambda (λ).
carragenas de tipo Kappa (κ) e Iota (ι). Iota são as principais. Mais tarde, as classificações foram
A carragena foi extraída de algas As carragenas do tipo Lambda po- baseadas no número, na posição dos
pela primeira vez em 1837. Em 1871, dem atuar como agente espessante a agrupamentos sulfatos e na presença
Extraída de algas marinhas vermelhas, a carragena é um hidrocolóide
utilizado em diversas aplicações na indústria alimentícia como espessante,
gelificante, agente de suspensão e estabilizante.

Definição e origem espalhadas pelo mundo, como Costa do são as Gigartina, Chondrus e Iridaea,
ADITIVOS & INGREDIENTES

ADITIVOS & INGREDIENTES


Marrocos, França, Irlanda, Brasil (Costa pertencentes à família Gigartinace-
A carragena foi descoberta em 1785, do Rio Grande do Norte), Chile, Ásia ae, que crescem em águas frias, e as
na cidade de Carragheen, próxima ao (Indonésia e Filipinas) e outras. A China Euchema e Hypnea, pertencendo, res-
condado de Waterford, ao Norte da Irlan- é o maior produtor mundial de algas. pectivamente, às famílias Solieriaceae e
da, onde as algas eram utilizadas para au- As carragenas são um grupo de polis- Hypneaceae, as quais nascem em águas
mentar a viscosidade do leite consumido sacarídeos naturais que estão presentes mais quentes.
pela população. Foi inicialmente batizada na estrutura celular de algas do tipo As Gigartinaceae produzem carra-
de carrageen ou irish moss. Hoje, exis- Rodophyceae. As principais variedades genas do tipo Kappa (κ) e Lamba (λ),
tem muitas regiões produtoras de algas utilizadas para a extração de carragena enquanto as Solieriaceae produzem Euchema spinosum Euchema cottonii

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carragenas carragenas

de pontes 3’,6’-anidro nos resíduos D- Propriedades físico- cálcio. O resfriamento tende a gelificar
-galactopiranosilos. Isso levou a quatro químicas a solução. A força de gel e a consistência
grandes famílias: Kappa, Beta, Lambda dependem da concentração da solução
e Omega. Entre as principais propriedades da e da sensibilidade da carragena aos íons
Porém, a classificação antiga conti- carragena destacam-se a solubilidade, de cálcio.
nua sendo a mais usada e as carragenas gelificação, viscosidade, estabilidade, re- A carragena tipo Lambda é solúvel
que possuem importância comercial atividade, interatividade e pH. A Tabela 1 em leite frio devido à sua insensibili-
são divididas em Kappa (κ), Iota (ι) e apresenta um resumo das propriedades dade à presença de íons de potássio e
Lambda (λ). físico-químicas e microbiológicas das cálcio. As carragenas Kappa e Iota são
A posição e o número de grupos de carragenas. insolúveis em leite frio, porém podem
éster sulfato, bem como o conteúdo ser utilizadas eficazmente para espessar
de 3,6-AG determinam as diferenças Solubilidade ou gelificar soluções de leite frio quando
primárias entre os tipos de carragena Todos os tipos de carragena são so- usadas em conjunto com um fosfato,
Kappa, Iota e Lambda. Maiores níveis lúveis em água quente a temperaturas como o tetra-sódio pirofosfato (TSPP).
de éster sulfato implicam em menor acima da temperatura de fusão do gel. Todos os tipos de carragena são
força de gelificação e baixa tempera- A amplitude normal de temperaturas é relativamente insolúveis em soluções
tura de solubilização. A carragena tipo de 40ºC a 70ºC, dependendo da concen- concentradas de açúcar à temperatura
Kappa contém de 25% a 30% de éster tração e da presença de cátions. ambiente. Entretanto, as carragenas tipo
sulfato e de 28% a 35% de 3,6-AG. A Em água fria, somente a carragena Kappa e Lambda são solúveis em soluções
carragena tipo Iota contém de 28% a tipo Lambda e os sais de sódio dos tipos com até 65% de açúcar a temperaturas
35% de éster sulfato e de 25% a 30% Kappa e Iota são solúveis. Os sais de superiores a 70ºC.
de 3,6-AG. A carragena tipo Lambda potássio e cálcio das carragenas Kappa A carragena tipo Iota é de difícil
contém de 32% a 39% de éster sulfato e Iota não são solúveis em água fria, dissolução em soluções concentradas de
e não contém 3,6-AG. porém exibem expansão por hidratação açúcar a qualquer temperatura.
As carragenas Kappa costumam ser considerável em função da concentra- As carragenas Iota e Lambda são
divididas em dois tipos: Kappa I e Ka- ção, tipos de cátions presentes, tempe- solúveis em soluções concentradas de
ppa II. As Kappa I contém entre 24% e ratura da água e condições de dispersão. sal a altas temperaturas (20% a 25% de
25% de éster sulfato e entre 34% e 36% Todos os tipos de carragena são solú- cloreto de sódio). A carragena Kappa é
de 3,6-AG. Devido a esse alto teor de veis em leite quente, porém alguns tipos insolúvel. gelificação é básico para soluções de sal/gel dependem da concentração de peso molecular. Maior peso molecular,
3,6-AG, essas carragenas formam géis são intensamente afetados por íons de carragenas tipo Kappa e Iota. Sais de cátions. O aumento da concentração de maior concentração ou diminuição da
firmes e quebradiços, em água Gelificação potássio ou cálcio são necessários para sais de potássio ou cálcio em soluções temperatura da solução aumentam con-
e em leite, com certa sinérese. TABELA 1 - PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS Soluções quentes de carra- a obtenção do gel em água, porém não aquosas resultará no aumento da tem- sideravelmente a viscosidade.
E MICROBIOLÓGICAS
Oferecem boa retenção de água. genas Kappa e Iota possuem a são necessários em leite. peratura de gelificação.
Propriedades físico-químicas
As carragenas do tipo Kappa II habilidade de formar géis ter- As carragenas Kappa e Iota formam Viscosidade Estabilidade
Aparência Pó amarelado
apresentam um conteúdo entre morreversíveis através do seu gel em água somente na presença de A viscosidade de soluções de carrage- A solução de carragena é bastante
Granulometria Mesh 200
24% e 26% de éster sulfato e 32% resfriamento. Esse fenômeno certos cátions. A Kappa carragena é na deve ser determinada em condições estável em pHs neutros ou alcalinos.
Umidade máx. 18%
e 34% de 3,6-AG. Formam géis ocorre devido à formação de uma sensível ao íon potássio e produz géis onde não exista nenhuma tendência de Entretanto, pHs baixos afetam a sua
Absorção de água máx. 75 c.c.
firmes e elásticos, tanto em água estrutura de dupla hélice pelos rígidos e quebradiços em soluções aquo- gelificação da solução. Quando uma so- estabilidade, especialmente a altas tem-
Proteína bruta 0,50% - 0,70%
como em leite. Apresentam baixa polímeros da carragena. Em tem- sas com sais de potássio. O gel de Kappa lução quente de carragena é resfriada, a peraturas. A diminuição do pH causa a
sinérese e reatividade muito alta Gordura bruta 0,30% - 0,50%
peraturas acima da temperatura carragena apresenta sinérese (extrusão viscosidade aumenta gradualmente até hidrólise do polímero da carragena, re-
Cinzas brutas máx. 15%
com o leite. de fusão do gel, os polímeros da espontânea de água através da superfície que seja atingida a temperatura de gelifi- sultando na diminuição da viscosidade e
O tipo Iota contém entre 30% Materiais orgânicos estranhos máx. 1,0%
carragena existem na solução do gel em repouso) e quanto maior a cação. À medida que se inicia a formação da força de gelificação. Entretanto, uma
e 32% de éster sulfato e entre Materiais insolúveis estranhos máx. 1,0%
como espirais aleatórias. concentração de potássio na solução do gel, há um aumento repentino e in- vez formado o gel, mesmo a pHs baixos
28% e 32% de 3,6-AG. Forma géis Sal pH 1,5% a 20°C 7,0 a10,0
Durante o resfriamento da maior será a sinérese. A Iota carragena tenso da viscosidade. Portanto, a medida (3,5 a 4,0) não há mais ocorrência da
elásticos em água e leite, com Força de geI, água, sal 1,5%, 0,2% KCl, 20ºC 500 a 1.200g/cm2 solução, uma rede tridimensional é sensível ao íon cálcio e produz géis de viscosidade de soluções de carragena hidrólise e o gel permanece estável. Para
baixa sinérese. Apresenta boa Força de geI, água, sal 1,5% a 20ºC 100 a 350g/cm2
de polímeros é formada onde as macios e elásticos em soluções aquosas deve ser determinada a temperaturas aplicações práticas, é importante estar
Força de geI, leite, sal 0,5% a 20ºC 500 a 2.000g/cm2
estabilidade aos ciclos congela- hélices duplas constituem os com sais de cálcio. A Iota carragena não suficientemente altas (75ºC) para evitar atento às limitações da carragena em
Viscosidade água, sal 1,5% a 75ºC 30 a 300cps
mentodescongelamento. pontos de junção das cadeias de apresenta sinérese. A força de gel é di- o efeito da gelificação. A concentração meios ácidos (solução e gel). O proces-
ADITIVOS & INGREDIENTES

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O tipo Lambda apresenta o Ponto de fusão 50°C - 70°C
polímero. O resfriamento adicio- retamente proporcional à concentração de carragena na solução é em geral de samento de soluções de carragena com
maior conteúdo de éster sulfato, Ponto de gelificação 30°C - 50°C
nal causa a agregação dos pontos de carragena e sais. A concentração de 1,5% em peso do volume de água. As pH baixo a altas temperaturas por um
aproximadamente 35%, e 0% de Solubilidade Água em ebulição
de junção para formar a estrutura cátions superior a um certo limite im- carragenas disponíveis comercialmente tempo prolongado deve ser evitado.
3,6-AG. Pela ausência de 3,6-AG, Propriedades microbiológicas de gel tridimensional. A presença plicará na diminuição da força de gel. O apresentam em geral viscosidades varian-
não gelifica e, devido ao seu alto Contagem de aeróbios totais < 5.000 UFC/g de alças na cadeia, bem como o gel formado é termorreversível e pode do de 5 a 800cps, medidas a 75ºC em Reatividade
grau de sulfatação, é a carrage- E. coli Ausente
número, tipo e posição dos gru- ser submetido a ciclos de aquecimento soluções de 1,5% de carragena. A visco- Uma das propriedades que diferen-
na mais solúvel em água e leite Salmonella Ausente
pos de éster sulfato têm efeitos e resfriamento sem considerável altera- sidade de soluções de carragena depende ciam a carragena de outros hidrocolói-
frio, propiciando assim uma alta Contagem coliformes totais < 100 UFC/g
importantes nas propriedades de ção na estrutura do gel (pH neutro). As da concentração, temperatura, presença des é a sua habilidade de interagir com
Análise efeuadas pelo método 3M Petnifilm
viscosidade. gelificação. Esse mecanismo de temperaturas de gelificação e fusão do de outros solventes, tipo de carragena e as proteínas do leite. A alta reatividade

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carragenas carragenas

da carragena no leite deve-se à forte in- que essas interações aumentam sinergi- marinhas, tais como luminosidade, hidrólise do polímero ou por eliminação pensão, controlam a fluidez e conferem agentes retentores de água devido a
teração eletrostática entre os grupos de camente a consistência do gel em cerca nutrientes, temperatura e oxigenação do agrupamento sulfato em C6 e forma- sensação tátil bucal de gordura. sua alta capacidade de absorver água
éster sulfato negativamente carregados de 10 vezes. da água. Algas de diferentes espécies ção de uma ligação anidra. As carragenas permitem alcançar e formar géis. Essa capacidade lhes
da molécula da carragena, com a micela As carragenas Kappa e Iota apre- e fontes produzem carragenas dos di- No processo de filtração/clarifica- um amplo espectro de texturas; podem permite reter a água ou umidade na-
de caseína do leite que possui regiões de sentam forte interação com os íons ferentes tipos (Kappa, Iota e Lambda). ção, o extrato aquoso quente passa por dar corpo a um líquido, conferi-lo to- tural de produtos que foram sujeitos a
forte carga positiva. Outra forma de in- de potássio e cálcio, respectivamente. Algumas espécies de algas podem pro- um primeiro estágio de filtração mais dos os graus de espessura possível ou, processamento térmico.
teração é através de pontes entre grupos A presença deles aumenta a dureza, a duzir carragenas de composição mista, grosseira para retirar os resíduos das inclusive, deixá-lo no estado sólido. Em As carragenas são indicadas para es-
de éster sulfato da carragena com resí- fragilidade, a temperatura de gelifica- como Kappa/Iota, Kappa/Lambda ou algas. Em um segundo estágio, adiciona- altas temperaturas, as carragenas apre- tabilizar as emulsões e espumas devido a
duos carboxílicos dos aminoácidos que ção e a sinérese de seus géis em água. Iota/Lambda. As espécies produtoras -se um auxiliar de filtração, como a terra sentam baixa viscosidade, facilitando sua alta capacidade de formar matrizes
compõem a proteína. A reatividade com Os sais de sódio não afetam a textura de carragena tipo Kappa são a Hypnea diatomácea, por exemplo, sendo filtrado assim o seu processamento e manuseio. 3-D e sua forte interação eletrostática.
proteínas depende de muitos fatores, desses géis. Os sais de sódio e potássio Musciformis, a Gigartina Stellata, a sob pressão. As carragenas Lambda atuam como Em certas aplicações, suas proprie-
como concentração de carragena, tipo de polifosfatos e citratos ajudam na so- Eucheuma Cottonii, a Chondrus Crispus Desse polimento se obtém um dades espessantes tixotrópicas ajudam
de proteína, temperatura, pH e ponto lubilidade das carragenas em soluções e a Iridaea. As espécies produtoras de xarope transparente contendo carrage- a estabilizar emulsões, inibindo a co-
isoelétrico da proteína. Esse fenômeno frias e quentes, diminuindo a viscosida- carragena tipo Iota são a Gigartina Teedi na em solução. alescência e posterior separação
de interação e reatividade da carragena de devido ao fato deles sequestrarem e a Eucheuma Spinosum. As espécies O processo de purifica- das fases.
com as proteínas do leite, em combina- os íons divalentes. Além disso, ajudam produtoras de carragena tipo Lambda ção é baseado na capaci- No leite, as carragenas
ção com sua habilidade de formar gel a manter a estabilidade das carragenas são em geral do gênero Gigartina. dade das carragenas em Kappa em concentração
e reter água, torna-o um ingrediente em meios ácidos. O processo de extração para produ- formar um precipitado. muito baixa produzem a
eficaz para a estabilização e gelificação ção industrial da carragena é baseado No processo de concen- formação quase imper-
de produtos lácteos. pH nas suas duas principais propriedades, tração, o xarope obtido na ceptível de um gel, o que
Os géis e soluções à base de carra- que são a solubilidade em água quente etapa anterior passa por permite manter sólidos em
Interatividade gena são estáveis em pH entre 4 e 12. e a insolubilidade em solvente orgânico um procedimento de preci- suspensão sem conferir mui-
A Kappa carragena apresenta uma A ação combinada de temperatura e polar. O processo industrial se compõe pitação que pode ocorrer seja ta viscosidade à bebida láctea.
sinergia incomum com a goma de al- acidez pode gerar uma degradação das de várias fases, sendo as principais o na presença de um excesso de As aplicações de carragena
farroba (LBG) em sistemas aquosos. carragenas, provocando assim a hidróli- tratamento inicial, a extração, filtração/ álcool, por precipitação dos estão concentradas na indústria
O gel obtido da mistura de carragena se do conjunto, e tendo como resultado clarificação, concentração, moagem e polissacarídeos na forma de alimentícia, podendo ser divididas
com LBG apresenta um considerável uma perda de viscosidade e dureza. A blending. polímeros, eliminando-se assim em sistemas lácteos, aquosos e
aumento de força de gel, melhora na ca- máxima estabilidade das soluções está Antes de qualquer processamento as pequenas moléculas; seja de bebidas.
pacidade de retenção de água, redução a pH 9,0 e não se deve processá-las a deve-se eliminar todas as impurezas pos- forma mais seletiva, pela adição de Entretanto, diversas outras aplica-
de sinérese e uma alteração da textura quente com pH inferior a 3,5. A pH 6,0 síveis, tais como sais, areias, conchas, íons metálicos. Isso pode ser feito ções de carragena já existem atualmen-
do gel de quebradiça para elástica. ou superior, as soluções contendo carra- etc. A lavagem é seguida pela operação com a adição de um sal quaternário te para uma grande variedade de apli-
A Iota carragena apresenta sinergia genas resistem a condições normais de de secagem em estufa e moagem para de amônio (por exemplo, brometo de cações industriais. A carragena possui
com os amidos. Um sistema que con- processo, como no caso de esterilização otimizar o contato entre as algas e os cetiltrimetilamônio ou CTAB) ou pela diversas funções de acordo com a sua
tenha uma mistura de Iota carragena de latas de alimentos à base de peixe solventes nas diversas operações sub- adição de uma solução diluída de KCl. aplicação: gelificação, espessamento,
e amido apresenta um aumento de e carne para pet foods. Em sistemas sequentes. Nessa fase também ocorre Após secagem por evaporação a estabilização de emulsões, estabilização
viscosidade até 10 vezes superior à vis- ácidos recomenda-se adicionar às carra- a despigmentação; as algas moídas são vácuo, o produto é moído até obter-se de proteínas, suspensão de partículas,
cosidade de um sistema que contenha genas o mais tarde possível no processo tratadas com acetona, álcool fervendo um pó branco ou bege claro, com o controle de fluidez e retenção de água.
somente o amido. ou antes da operação de enchimento. e éter para solubilizar as gorduras no tamanho de partículas desejado. O pó espessante, tanto em processos a frio Em sobremesas do tipo gelatina, o
Desta forma, a carragena Iota torna- intuito de extrair parte importante dos obtido é inodoro e insípido. quanto a quente. As Iota e Kappa II poder gelificante das carragenas Iota
se muito útil para a alteração de textura, Processamento pigmentos. Antes de ser comercializado, o são também amplamente usadas como e Kappa, em combinação com LBG
palatabilidade e propriedades de pro- As carragenas são compostos muito produto passa por uma etapa (blen- agentes espessantes em produtos que clarificado, permite obter uma grande
cesso de sistemas baseados em amido. As carragenas podem ser refinadas solúveis em água e esta propriedade é ding) na qual é diluído com a adição passam por processamento a quente. variedade de texturas. Esses tipos de
As carragenas do tipo Kappa I e II (gel claro, transparente, alto grau de aproveitada na fase de extração. Depois de açúcares e misturado com sais para As carragenas Iota e Kappa produ- sobremesas são estáveis a temperatura
são altamente reativas com as proteínas pureza) ou semi refinadas (gel opaco, das algas serem lavadas, para tirar as alcançar as características gelificantes zem géis estáveis em água, a tempera- ambiente e não necessitam de refrige-
do leite, em particular com a Kappa com muita celulose e fibra, baixo grau impurezas, a extração da carragena é e espessantes oferecidas por cada marca tura ambiente, não havendo necessidade ração para sua elaboração e endureci-
caseína. A alta reatividade da carra- de pureza). Para carragenas semi refina- efetuada com água em altas tempera- ou produto. de refrigeração. Dependendo do blend mento. Pode-se produzir sobremesas do
gena no leite deve-se a forte interação das, o processo de produção é sempre turas, em processo denominado de hot Obviamente, nas várias fases da de carragenas utilizado, uma grande tipo gelatina, totalmente transparente
eletrostática entre os grupos sulfatos, o mesmo. Para carragenas refinadas extract. produção existem operações de contro- variedade de textura de gel pode ser e com textura fresca e agradável ao
ADITIVOS & INGREDIENTES

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negativamente carregados, da molécula existem três métodos atualmente em- As algas moídas são aquecidas em le de processo destinadas a garantir a conseguida, desde coeso e muito elás- paladar.
de carragena com a micela da caseína pregados: drum drying, precipitação por água a 90ºC, com pH ligeiramente qualidade do produto acabado. tico até duro e quebradiço. Em sucos de frutas, o uso de car-
que possui regiões de forte carga posi- álcool e gel press. alcalino (8-9), no qual as carragenas O poder de gelificação das carrage- ragena do tipo Kappa II e/ou Lambda
tiva. Outra forma de interação é através Como já mencionado, a carragena são supostas como estáveis. Neste pH Aplicação em nas é muito maior no caso do leite do propicia maior estabilidade na polpa e
de pontes entre o grupo éster sulfato da é obtida de diversos gêneros e espécies é possível aumentar o rendimento em alimentos que na água. Devido a sua interação confere maior corpo à bebida, dando
goma e resíduos carboxílicos dos amino- de algas marinhas da classe Rodophyta. carragenas, desagregando as ligações com a caseína do leite, com a metade da assim uma sensação mais agradável
ácidos que compõem a proteína. Ambos O teor de carragena nas algas varia de entre as carragenas e as proteínas. As carragenas atuam como emul- concentração que seria usada em água, ao paladar. O pH das bebidas deve ser
os mecanismos ajudam a estabilizar as 30% a 60% do peso seco, dependendo Um pH ácido ou básico demais pode sificante, gelificante e estabilizante; obtém-se no leite uma textura similar. superior a 3,5 e o processo não deve
emulsões à base de leite e observa-se da espécie da alga e das condições destruir as moléculas de carragenas, por mantém também partículas em sus- As carragenas Kappa são excelentes envolver condições extremas de calor,

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carragenas carragenas

pois nessas condições a carragena perde comumente usadas na suspensão e es- As Tabelas 2 e 3 apresentam, respecti-
tabela II - Aplicações típicas de carragenas em água
parte da sua viscosidade. tabilização em produtos lácteos, como vamente, as aplicações de carragenas
Uso Função Tipos de carragena Quantidade (%) Em geléias e marmeladas, as carra- leites achocolatados, para estabilizar a em água e em leite.
Géis para sobremesa Gelificação Kappa+Iota 0,50 a 1,00 genas Kappa II e Iota são normalmente mistura e manter o cacau em suspensão.
utilizadas pelas suas propriedades geli- Os blends de Kappa II e Lambda são O mercado de
Geléias de baixo valor calórico Gelificação Kappa+Iota 0,50 a 1,00
ficantes e espessantes. As carragenas, também usados em leites aromatizados carragenas
Géis para produtos de consumo à base de peixe Gelificação
Kappa+goma de alfarroba
0,50 a 1,00 em combinação com os açúcares das para dar corpo e palatabilidade. Nos
Kappa+Iota
frutas, apresentam a vantagem de ter leites fortificados atuam como agente O maior produtor mundial de car-
Xaropes Suspensão, encorpamento Kappa, Lambda 0,30 a 0,50 uma textura mais estável durante a fase estabilizante das gorduras e proteínas ragenas são as Filipinas, com capaci-
Kappa, Lambda-sódio 0,10 a 0,20 de estocagem. adicionadas. dade de produção anual de 34.500 to-
Sucos de frutas e concentrados em pó Encorpamento, efeitos de polpamento Devido as suas excelentes proprieda- Nos leites reconstituídos, evapora- neladas. As Filipinas são responsáveis
Kappa, potássio/cálcio 0,10 a 0,20

Temperos, molhos para pizza etc. Encorpamento Kappa 0,20 a 0,50


des de retenção de água, as Kappa I e II dos e cremes espessos, usa-se carragena por 80% do abastecimento mundial.
e Iota são amplamente usadas em carnes para dar corpo, estabilizar e deixar uma As fontes mais comuns são a E. cottonii
Leite Encorpamento, estabilização de gorduras Iota, Lambda 0,50 processadas para melhorar a textura e melhor sensação ao paladar. (Kappaphycus alvarezii, K.striatum) e
Cremes para café Emulsão, estabilização Lambda 0,10 a 0,20 corte de derivados de carnes, cujo pro- Nas emulsões lácteas, a carragena E. spinosum (Eucheuma denticulatum)
Cremes tipo chantilly Estabilizar emulsão, espalhar Kappa, Iota 0,10 a 0,30
cesso envolva aquecimento. Kappa é utilizada, por exemplo, em que, juntas, representam cerca de 75%
da produção mundial.
Pudins (não lácteos) Estabilização de emulsão Kappa 0,10 a 0,30 O consumo de algas está su-
jeito à regulamentação específica
tabela III - Aplicações típicas de carragenas em leite (laticínios) e os detalhes de sua composição
química e as variações entre as
Uso Função Tipos de carragena Quantidade (%)
espécies são necessárias para ob-
Gelificante de leite tenção de autorização para seu uso
Flans ou cremes cozidos Gelificação Kappa, Kappa+Iota 0,20 a 0,30 na alimentação humana. A França
foi o primeiro país europeu a esta-
Cremes preparados a frio
(c/ TSPP adicionado)
Espessamento/gelificação Kappa, Iota, Lambda 0,20 a 0,30 belecer regulamentação específica
sobre o uso de algas marinhas para
Pudins e recheios de tortas (à base de amido); mistu-
ra seca cozida c/ leite
Gelatinização do teor do amido Kappa 0,10 a 0,20 consumo humano. As algas na
Espanha são consideradas como
Produtos prontos para consumo Controle de sinérese, encorpamento Iota 0,10 a 0,20 novos alimentos e para efeito de
Produtos batidos controle o limite máximo de con-
Creme batido Estabilizar espalhamento Lambda 0,05 a 0,15
taminantes que apresentam foram
incluídas no grupo de vegetais
Estabilizar espalhamento, enlatados (RD 2420/78), mas não
Creme batido em embalagem tipo “spray” Kappa 0,02 a 0,05
estabilizar emulsão
há regulamentação específica para
Leites preparados a frio os produtos derivados de algas e
Leites aromatizados Suspensão, encorpamento Lambda 0,10 a 0,20 seu consumo é limitado.
Também são regularmente usadas em sorvetes como estabilizante secundário As algas vermelhas são eficientes na
Suspensão, encorpamento, estabilizar
Shakes
espalhamento
Lambda 0,10 a 0,20 produtos processados a frio e onde há inje- para ajudar no controle das proprie- produção de polissacarídeos sulfatados,
ção de salmoura, como presuntos e outros. dades de derretimento, retardar a for- como as carragenas e o ágar que chegam
Leites acidificados e sobremesas congeladas
As Kappa II e Iota também são em- mação de cristais de gelo e para evitar a representar mais de 70% do seu peso e
Iogurte Encorpamento, suspensão de frutas Kappa+goma de alfarroba 0,20 a 0,50 pregadas como liga para controle de a separação do soro. Tanto em milk têm razoável valor comercial.
Sorvete, leite congelado Evitar perda de soro e controle de fusão Kappa 0,010 a 0,030 umidade e como substituto de gordura shakes quanto em cremes montados, A carragena é usada na produção
em produtos recompostos à base de car- tipo chantilly, as carragenas são usadas de alimentos, principalmente pelas
Produtos à base de leite pasteurizado
ne, ave ou peixe, tais como hambúrgue- para estabilizar as emulsões e espumas. indústrias de laticínios (iogurtes, flans,
Chocolate, egg-nog aromatizados com sabor de fruta Suspensão, encorpamento Kappa 0,025 a 0,035 res, nuggets e salsichas. Em produtos lácteos fermentados, sorvetes, achocolatados) e embutidos
Leite desnatado Encorpamento Kappa, Iota 0,025 a 0,035 Nos mais variados tipos de sobreme- como por exemplo, nos queijos processa- (salsichas, presuntos), para a fabricação
sas gelificadas de leite é comum o uso de dos e similares, as carragenas propiciam de gelatinas e geleias, e como espessan-
ADITIVOS & INGREDIENTES

ADITIVOS & INGREDIENTES


Leite reconstituído Estabilização de emulsão, encorpamento Kappa, Iota 0,025 a 0,035
blends de diferentes tipos de carragenas, maior resistência à estrutura formada te em molhos e sopas.
Mistura cremosa para requeijão Consistência Kappa 0,020 a 0,035 especialmente Kappa II e Lambda. A pela caseína, melhoram as caracterís- Os alimentos respondem por 70% a
Produtos à base de leite esterilizado textura do produto final pode variar em ticas de textura e proporcionam maior 80% da produção mundial de carragena,
termos de dureza, cremosidade, coesão cremosidade quando necessário. estimada em cerca de 45.000 toneladas
Achocolatados etc. Suspensão, encorpamento Kappa 0,010 a 0,035
e elasticidade, dependendo principal- Na fabricação de iogurtes e bebidas à métricas por ano, sendo destinado 45%
Calorias controladas Suspensão, encorpamento Kappa 0,010 a 0,035 mente do blend utilizado. Amidos ou base de leite fermentado, as carragenas para os produtos lácteos e 30% para a
Evaporados Emulsão, estabilização Kappa 0,005 a 0,015 outros espessantes podem ser usados Kappa ajudam a estabilizar e espessar o carne e seus derivados. O mercado to-
em conjunto com as carragenas. iogurte e as polpas de frutas adicionadas tal de carragenas foi estimado em 300
Fórmulas para bebês Estabilização de gorduras e proteínas Kappa 0,020 a 0,040
As carragenas do tipo Kappa II são a esses produtos. milhões de dólares/ano.

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