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A CIÊNCIA HUMBOLDT NA E A GÊNESE

DA GEOGRAFIA FÍSICA MODERNA


Antonio Carlos Vitte
Professor no Departamento de Geografia da Unicamp
Pesquisador CNPq

Kalina Salaib Springer


Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Unicamp
Bolsista CAPES

Introdução. dados coletados pelos viajantes. É nesse sen-


tido, que mais do que descrição ou a sistema-
O objetivo desse trabalho é demonstrar que tização de um inventário e sua correspondente
a geografia física moderna possui sua gênese hierarquização e distribuição em um espaço 1 Para Lenoir (1981), a natur-
na ciência humboldtiana, que, por sua vez se geométrico, que caracterizava a superfície da philosophie pode ser classificada
em três fases, uma transcenden-
desenvolveu as partir de uma relação dialética Terra até o século XVIII e sua transição para o tal kantiana, uma romântica do-
entre a naturphilosophie romântica1 (LENOIR, XIX (CAPEL, 1995); antes, a geografia física minada pela filosofia-da-nature-
representou a possibilidade de reflexão sobre za de Schelling e pela concepção
1981), com o mecanicismo newtoniano. orgânica de kosmos e uma ter-
a natureza e a conseqüente construção simbó- ceira corrente, a naturphiloso-
Na matriz da naturphilosophie romântica, lica sobre a superfície da Terra e distribuição phie metafísica, dominada pela
filosofia da natureza de Hegel.
podemos localizar as reflexões de Schiller, espacial da natureza na mesma e suas relações
Schelling, Goethe e Alexander von Humbol- com a cultura.
dt. No entanto, para Georges Gusdorf (1985) Essa posição da geografia física frente à cons-
é um tanto complexo e perigoso situar Ale- trução da modernidade foi garantida por um
xander von Humboldt apenas na naturphiloso- profundo debate filosófico, cujo amalgama
phie romântica, pois para o autor (GUSDORF, foram à noção de espaço e a crítica radical a
op.cit) Humboldt está na encruzilhada epistê- ciência mecanicista do século XVII.
mica entre Schelling, Schopenhauer e Hegel,
pois ao mesmo tempo em que manifesta fortes Os motores que promoveram a desconstrução
traços do idealismo romântico, marcado pelo da concepção cartesiana-newtoniana de maté-
vitalismo; permite a entrada do materialismo ria e mecânica da matéria, fundamentos me-
schopenhauriano transformado pela metafísica tafísicos para se pensar o espaço e a natureza;
de “O mundo como vontade e representação” foi a revolução francesa e, de outro lado, a re-
(SCHOPENHAUER, 2005) e pela complexa volução kantiana, onde as noções de matéria,
noção de matéria e ciência que caracterizou a movimento como desenvolvidas nos Primei-
discórdia entre Schpenhauer e Hegel (VITTE, ros Princípios Metafísicos da Ciência da Na-
2007). tureza, de 1768 (KANT, 1990) e as noções de
teleologia da natureza e de experiência estéti-
A nosso ver, a gênese da geografia física mo- ca, desenvolvida na Crítica do Juízo de Kant,
derna situa-se justamente nesse contexto filo- em 1790 (KANT, 1995), foram fundamentais
sófico e epistemológico, cuja maior preocupa- para des-teologizar a natureza e inventar a su-
ção era justamente qualificar a superfície da perfície da Terra e por conseqüência a geogra- A Ciência humboldtiana e a
gênese da geografia física
Terra, a partir de uma enorme quantidade de fia física. moderna

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Naturphilosophie e Ciência. cessidade de se pensar em um sistema de co-
nhecimentos empíricos possíveis: ou seja, um
O século XVIII foi fortemente impregnado sistema de conhecimento (geografia física),
pelo sentimento de Naturphilosophie nas re- em que a partir da premissa de uma unidade
flexões filosóficas e científicas. Em primeiro da natureza, articulasse o transcendental com
lugar, haveria nesse sentimento uma expec- o empírico, em um movimento, onde a finali-
tativa de explicação global da natureza. Por dade da natureza fosse o eixo transversal da
isso, pode-se entender desde a relação entre reflexão.
fenômenos físicos, químicos, biológicos, etc.,
como elementos necessariamente interconec- A questão da sensibilidade.
tados numa explicação do mundo – um kós-
mos, até uma compreensão dessa totalidade O século XVIII pode ser considerado como a
como, digamos, resultado de uma unidade que idade da sensibilidade (RISKIN, 2002), onde
ressoaria em domínios interligados – ciência, as críticas as concepções mecanicistas e mate-
moral, estética. Em segundo lugar, há uma rialistas que eram desenvolvidas pelos newto-
relação necessária com Kant e, conseqüen- nianos perdurava na explicação da natureza e
temente, com Newton. A filosofia de Kant é dos fenômenos naturais.
também um acerto de contas com Newton:
trata-se de, entre outras coisas, explicar a fí- A discussão sobre a sensibilidade surgiu com
sica newtoniana através da razão pura – o que o empirismo, doutrina que pregava que o co-
não significa, por outro lado, que Kant apenas nhecimento era originário da observação e do
se mova em torno dessa intenção ou que ele experimento, que afetaria a sensação do ob-
simplesmente corrobore, na sua concepção de servador (RISKIN, 2002, p.1). Ainda segundo
razão, as idéias de Newton. Por isso, é fun- a autora (RISKIN, 2002, p.1), para Diderot a
damental reconhecer a importância da obra de sensibilidade seria motivada pela capacidade
Kant nesse debate: desde a Crítica da razão de o observador em receber as impressões ex-
pura até os Princípios metafísicos da ciência ternas dos objetos. Essa capacidade seria dada
da natureza e a Crítica do Juízo. Em linhas pelo movimento do mesmo, que provocaria
gerais, uma questão que estes textos buscam no observador um sentimento que descreveria
resolver é a articulação entre mecanismo e fi- a sensação física e emocional em relação ao
nalidade. objeto.

Para Lenoir (1981) a questão da teleologia ou Para RISKIN (2002, p.1) esse seria o gérmen
finalidade é o conceito central para a noção de do pensamento do belo e do maravilhoso da
organismo e, conseqüentemente, para a biolo- natureza, que seria caracterizado por fenôme-
gia nascente – pensada através de Kant e de nos singulares da natureza. Desse processo
sua Crítica do Juízo (1790). evoluiria o pensamento sobre as emoções do
observador perante a beleza natural, sendo a
A finalidade é o produto da causalidade, para base para o surgimento de paisagem no século
os artefatos humanos, essa compreensão não XVIII.
suscita grande problema, mas para a natureza,
como pensar a finalidade? Ainda mais se con- De uma sensação física, a sensibilidade evolui
siderarmos que os fenômenos naturais estão para a noção de sensibilidade moral, permi-
no tempo e no espaço, submetidos a uma cau- tindo já no século XVIII a busca de relações
salidade mecânica. E, no entanto, a partir da entre o belo natural e o desenvolvimento mo-
experiência devemos construir leis universais ral das nações.
(a priori) e leis particulares (empíricas), uma
vez que os fenômenos naturais são desigual- A sensibilidade passou a guiar os trabalhos
mente distribuídos na superfície a Terra. científicos no campo da psicologia, da medi-
cina, da história natural e da geografia física;
A necessidade que se colocava então era a ne- interferindo nas metodologias de pesquisa,
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nas epistemologias e nas estratégias de uso A partir de um considerável acumulo de nú-
das técnicas e experimentos. É assim, que du- meros e mensurações, a consciência de uma
rante a naturphilosophie alemã, a união entre enorme variedade de fenômenos, e, acima de
a sensibilidade e a ciência, gerou a concepção tudo, a consciência metafísica da unidade da
de uma visão estética da natureza, que guiou a natureza e da necessidade de se estabelecer
construção de uma interpretação geográfica da leis transcendentais, ou seja, gerais, Humbol-
superfície da Terra. dt, fundamentado ontologicamente nas no-
ções de estética da Terceira Crítica (KANT,
Há, assim, uma relação estreita entre as ci- 1995) e experiência estética de F. Schiller,
ências naturais e o romantismo (CUNNIN- desenvolverá o método da observação da pai-
GHAM E JARDINE, 1990), marcada por uma sagem como postura científica de se registrar a
forte introspecção, reflexão e pela sensibili- organicidade da natureza e estabelecer as suas
dade, cimentada pela forte relação entre arte, relações causais. Motivado pelo vitalismo de
natureza e ciência. Blumembach e de Schelling (RICHARDS,
2002) e pelos avanços na ciência newtoniana,
A geografia física, surgida no contexto da principalmente com os instrumentos de me-
naturphilosophie, foi o produto da união en- didas, Humboldt procederá a uma explicação
tre o sentimentalismo e o empirismo, donde física da natureza, a partir de uma precisão nas
as suas teorias científicas foram o produto de mensurações, com o desenvolvimento de ino-
uma relação complexa entre a sensibilidade e vações gráficas, cartográficas e no estabeleci-
o newtonianismo, representada pela ciência mento de relações causais entre os elementos
humboldtiana. da natureza e os processos da mesma, em um
contexto regional.
A Ciência Humboldtiana e a Geografia
Física. Essa posição epistemológica leva ao que Bru-
no Latour chamou de vida em laboratório, ou
No século XVIII, as pesquisas nas ciências seja, a ciência humboldtiana inovou e produ-
naturais foram fortemente impulsionadas pela ziu a modernidade na interpretação da nature-
faculdade estética e por uma forte crítica à za, pois conseguiu congelá-la, ou seja, trans-
concepção cartesiana-newtoniana de matéria, formar o que é móvel, dinâmico, em imóvel,
o que acarretou uma profunda reforma na fi- para com isso manipulá-la, ou seja, torná-la de
losofia natural, com o surgimento da geografia fato, objeto de pesquisa e intervenção.
física.
Conseqüências epistemológicas e metodoló-
As pesquisas sobre a natureza e sua quali- gicas da ciência humboldtiana para a geo-
ficação resultaram no século XVIII de uma grafia física.
profunda correlação entre a sensibilidade, a
imaginação e a estética, que irão redefinir os A mensuração.
experimentos e a mensuração, uma vez que, a
partir das influências da filosofia-da-natureza A concepção de mensuração desenvolvida por
de Schelling (LENOIR, 1981), a natureza foi Humboldt, que será fundamental para o sur-
tomada com uma visão orgânica e de vitalis- gimento da cartografia temática, bem como
mo. para vários gráficos, isolinhas e perfis, que,
cada qual, demonstrando a noção de organici-
Nesse contexto, o esforço da ciência hum- dade e totalidade da natureza, fundamentado
boldtiana, situada na tensão entre a naturphi- em uma concepção transcendental de nature-
losophie romântica e a metafísica; foi o de za, não pode ser desconectada de sua época
estabelecer uma visão integral da natureza e e do contexto filosófico. Assim, não podemos
ao mesmo tempo leis particulares baseadas na deixar de considerar que os grandes tratados A Ciência humboldtiana e a
mensuração precisa e no uso da sensibilidade. de Alexander von Humboldt, foram gestados gênese da geografia física
moderna

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durante a nova química de Lavoisier, da noção assim como essa matriz estética será impor-
de magnetismo e fluido elétrico de Coulomb, tante para a construção da noção de unidade
descobertas que alteraram a cognição e a sen- regional da natureza, cuja síntese pode ser re-
sibilidade do século XVIII. Obviamente, que presentada pela pintura de paisagem
o caldo que impregnou essas descobertas foi
a revolução francesa e sua estética do terror. O que perpassa a ciência humboldtiana e
que a geografia física é a grande herdeira, é a
É nesse contexto de naturphilosophie e a cons- crença ontológica no conceito de espaço, que
trução de uma nova metafísica da natureza, se manifesta na noção de espacialidade, cria-
que a physique du monde de Humboldt, pro- da por Humboldt, onde a noção de paisagem
curou reavaliar criticamente o conceito global será a síntese do transcendental, manifesta em
de interação das forças físicas da natureza. princípios mecânicos e estéticos.

Para Humboldt, as ciências naturais não deve- Para Humboldt, um instrumento de pesquisa
riam ficar presas apenas a conceitos antigos e tem a finalidade de, ao mensurar, influenciar
concepções desenraizadas da empiria. A ciên- a sensibilidade, e, a partir disso, a organizar a
cia deveria fazer uso de gráficos, linguagens matéria da natureza, que para Humboldt é uma
simbólicas universais que de tal maneira que força vital.
pudessem expressar resultados confiáveis.
A crença no vitalismo levou Humboldt a utili-
Em suas pesquisas de geologia, Humboldt zar uma série de instrumentos, desde aqueles
adotou a química e a termometria de Lavoi- que detectavam pequenas mudanças químicas,
sier, as técnicas de mensuração dos ângulos, até o barômetro. Para ele, isso era necessário
desenvolvidas por Coulomb. Durante a prepa- para “... analyze the total impression made
ração para a viagem para a América, comprou by nature on our organs” (LANGE E JAHN,
instrumentos modernos e de precisão em Vie- 1973, p.584).
na e Paris (DETTELBACH, 1990).
Assim, os gráficos expressavam as mensura-
Para Humboldt, o uso de instrumentos pre- ções precisas e procuravam representar a reali-
cisos, mensuração precisa, demandava o uso dade física, com que a natureza se manifestava
de uma linguagem precisa e uma sensibilida- ao observador, ou seja, marcado por uma forte
de especial para o registro da organicidade- sensibilidade, o observador poderia registrar
totalidade da natureza. Para isso, o trabalho as forças imateriais da natureza que plasmam
geográfico necessitava de um amplo realismo a paisagem.
matemático com equações algébricas desen-
volvidas, criações gráficas e cartográficas, de MAPEAMENTOS E CONSTRUÇÕES
tal forma que se pudesse “transcendentalizar” GRÁFICAS.
a existência de substâncias puras em compos-
tos, sempre utilizando a sensibilidade para a Os mapas, como o de isolinhas, talvez o mais
construção de arquétipos da natureza. famoso gráfico de Humboldt, expressava jus-
tamente o testemunho do poder e precisão da
A partir do cânone regional, a diversidade da observação da natureza. Para Humboldt, um
natureza é transcendentalizada e conjuntamen- gráfico ou um mapa possuía o poder de comu-
te com a experiência estética, as leis universais nicar a outros homens a beleza da natureza,
poderiam ser construídas, o que explicaria a tendo também um efeito educativo (RICOT-
distribuição geográfica das paisagens naturais. TA, 2003).

Que será fundamental para o desenvolvi- A concepção humboldtiana fundamentava-se


mento da cartografia temática em Humboldt e na premissa de que a natureza era dinâmica
da noção de perfil topogeográfico, como sínte- e as variáveis físicas eram irredutíveis, pois
se da relação entre o particular e o universal; seriam o produto simultâneo de várias cau-
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sas físicas. As isotermas, por exemplo, apesar
dos artifícios matemáticos, das mensurações Para Dettelbach (1990), Humboldt aperfei-
precisas, eram sempre irredutíveis, pois eram çoou o método das isolinhas de Meyer, na me-
fenômenos físicos, não pré-determinados ma- dida em que utilizou uma série de aparelhos
tematicamente, para mensurar o calor solar e correlacionou-
o com a distribuição da vegetação no globo,
Temperature and magnetism are not aperfeiçoada com uma tabela e gráficos des-
like those phenomena which, derived critivos, trabalhavam com o princípio da cor-
from a single cause or a central force, relação espacial. Essa correlação espacial foi
can ber freed of the influence of distur- alcançada metodologicamente na medida em
bing causes by restricting attention to que Humboldt considerou em um mesmo me-
the mean results of a great number of ridiano uma família de uma flora local e ob-
observations, in which these foreign servou a sua variação em frações ao longo do
effects reciprocally counteract and paralelo do equador. Considerou que a vegeta-
destroy one another. The distribution ção não apresentaria variações bruscas, como
of heat, like the declination and incli- a temperatura ou o magnetismo e em pontos
nation of the compass needle or the fixos do gráfico, considerou as possibilidades
intensity of magnetic force, is essen- de variações entre a vegetação e seu ambiente.
tially conditioned by location, compo-
sition of the soil, by the proper ability Considerações
of the earth’s surface to radiate heat.
One must beware of eliminating what Guiado pelo vitalismo e pelas reflexões sobre
is sought; one must not classify as fo- o influxo material de Blumembach, pela no-
reign and disturbing causes those upon ção de orgânico de Kielmeyer, assim como
which the most important phenomena pela noção kantiana de teleologia da natureza
in the distribution and the more rapid e de organismo, Humboldt desenvolveu a no-
or slow development of organic life es- ção de que há um vitalismo na natureza, uma
sentially depend. (HUMBOLDT, 1817, enteléquia que conduziu a relações e conexões
p. 462; In: FELDMANN, 1990, p.164- nas mais diferentes escalas entre as entidades
177). e que se manifesta na paisagem. A isso Hum-
boldt chamará inicialmente de “fisiogonomia”
Segundo Dettelbach (1990), o método das da paisagem, que permite não apenas o conhe-
isolinhas, Humboldt desenvolveu a partir dos cimento mecânico da natureza, da paisagem,
trabalhos do astrônomo e cosmógrafo, Tobias que é a fisiologia, mas também a descoberta
Meyer (1723-1762), professor em Göttingen de uma arqueologia da natureza, de tempos
e, que estava muito preocupado com a distri- acumulados. Essa noção de “fisiogonomia”
buição do calor na superfície da Terra. Dessa da paisagem evoluirá para os conceitos de fi-
preocupação, Meyer desenvolveu a partir de siologia e de geoesfera, que serão as bases de
equações de trigonometria, com coeficiente construção da moderna geografia física e que
indeterminado, a curva de distribuição do ca- tanto influenciará Charles Darwin.
lor solar sobre a superfície da Terra, a partir de
uma relação entre o calor solar e o magnetis- A ciência humboldtiana apresenta várias fa-
mo da Terra. ces, onde o projeto estético da naturphiloso-
phie definiu uma concepção teleológica, holís-
O cálculo de Meyer era essencialmente mate- tica e que a natureza e a cultura humana estão
mático e geométrico, o que incorria em falta profundamente interligadas.
de precisão, o que levou Humboldt a se preo-
cupar com as medidas geodésicas da Terra e a Ao mesmo tempo, Humboldt garantiu espa-
se preocupar com a construção de instrumen- ço para o surgimento da geografia física, que A Ciência humboldtiana e a
tos mais precisos. guiada por um senso estético, mas também por gênese da geografia física
moderna
um profundo conhecimento causal de relações
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entre os fenômenos, demonstrou que a geoes- ture. Paris, Payot, 1985.
fera é o produto de múltiplas causas e intera-
ções, redefinindo assim a lei da causalidade KANT, I. Princípios metafísicos da ciência
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Gusdorf, G., Le savoir romantique de la na-

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Resumo. Abstract.

O trabalho argumenta que a geografia física The study argues that the physical geogra-
surgiu a partir das reflexões e postulados da ci- phy emerged from the ideas and postulates
ência humboldtiana. Essa formada no contex- of science humboldtiana. That formed in the
to da naturphilosophie e no desenvolvimento naturphilosophie and the development of new
de novos instrumentos e avanços das ciências tools and advances in exact sciences, enabling
exatas, permitindo a construção de um modelo the construction of a model of nature and the
de natureza e superfície da terra baseado no earth’s surface based on the principle of trans-
princípio transcendental das leis universais da cendental universal laws of nature, material on
natureza, materializadas em princípios regio- regional principles.
nais.
Keywords: Humboldtian Science, Physical
Palavras-Chave: Ciência Humboldtiana; Ge- Geography; Naturphilosophie; Sensitivity;
ografia Física; Naturphilosophie; Sensibilida- Measurement.
de; Mensuração.

A Ciência humboldtiana e a
gênese da geografia física
moderna

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