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Arcanos - e - Mitos - Hermeticos - PDF Filename - UTF-8''Arcanos e Mitos Hermeticos PDF
Arcanos - e - Mitos - Hermeticos - PDF Filename - UTF-8''Arcanos e Mitos Hermeticos PDF
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Copyright: O 2006
Vera Facciollo
Organizadora da obra:
Karen Gisele Facciollo
Fotos e ilustrações:
Arquivos da autora
ilustração de capa:
Stanislas Klossowski de Rola
Alchimie
Revisão de textos:
Fabiana Silvestre
Editoração eletrônica:
Soraia Korcsik Medeiros
Projeto gráfico:
Yangi Design
(www.yangidesign.com.br)
Esta obra é dedicada a
Muito obrigada
Agradeço de coração às pessoas que trabalharam com comovente
desprendimento para a realização deste livro. À minha filha Karen Gisele,
versátil, competente e incansável colaboradora. À Dolores Ugarte, sempre
vibrante e encorajadora, verdadeira expert em missões difíceis. E a
A. J. Gevaerd, corajoso pioneiro e admirável editor, cujo empenho e
de sua equipe finalmente tornou possível esta edição.
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Índice
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Capa - Contracapa
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Introdução
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sábios gregos que desejassem ampliar sua cultura tinham de viajar para o
Egito. Alexandria foi, durante alguns séculos, a Meca científica da
Antigüidade. Heródoto, o próprio Pitágoras e Tales de Mileto foram
exemplo disso. A Mitologia Egípcia, que foi, em grande medida, a fonte
inspiradora da Mitologia Grega, era extremamente rica e variada. Sua
preocupação era codificar em símbolos todo o conhecimento científico,
filosófico, religioso e mágico da época. Seus monumentos, templos,
estátuas, figuras, pirâmides, túmulos, murais e pinturas são autênticos
tratados de Astronomia, Medicina, Matemática, Alquimia e Esoterismo.
Basta saber compreender e interpretá-los corretamente, o que, aliás, não é
tarefa fácil.
A Esfinge de Gizé, por exemplo, é, além de um templo onde se faziam
cerimônias de iniciação, uma síntese simbólica dos quatro elementos da
natureza, tais como utilizamos no estudo astrológico atual. Sua figura
representa os quatro signos fixos do Zodíaco, cada um pertencente a um
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O advento de Hermes
Se existe uma figura a quem se pode realmente atribuir a paternidade
da Astrologia, é certamente Hermes Trismegisto - o Três Vezes Mestre - um
ser versado simultaneamente nas artes da Astrologia, da
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Um mestre na Babilônia
peixe, que, auxiliado por outras divindades igualmente vindas do mar, trouxe
ao povo da Babilônia a civilização e os conhecimentos científicos. Conta
também a história da criação do mundo, de acordo com as lendas locais, e
inclui um relato da Astrologia e Astronomia da época. O segundo e terceiro
livros contêm uma detalhada cronologia da história da Babilônia e da
Assíria, começando com os Dez Reis Antes do Dilúvio, depois a história do
próprio dilúvio, seguida da restauração da monarquia, com a longa linhagem
dos reis após o dilúvio.
Textos acadianos escritos nos antigos caracteres cuneiformes, em
tabuinhas de barro, confirmam quase tudo que foi narrado por Beroso.
Conta-se que Beroso, já velho, foi viver numa ilha grega, Cos, onde fundou
a Escola das Ciências Secretas. Vitrúvio, sábio e famoso arquiteto e
engenheiro romano do primeiro século antes de nossa era, o descreve como
"o primeiro de uma longa lista de astrólogos de gênio que brotaram
diretamente das nações caldéias". A sabedoria e habilidade de Beroso como
astrólogo impressionaram de tal forma seus contemporâneos que, após sua
morte, lhe erigiram uma estátua. Como homenagem à veracidade de suas
predições astrológicas, fizeram essa imagem dotada de uma língua de ouro
maciço.
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Por outro lado, quem ler atentamente o Livro de Enoch pode levantar
uma teoria bem diferente a respeito do mistério das origens da Astrologia.
Trata-se de um livro apócrifo, que foi subtraído do conjunto dos textos
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bíblicos oficiais, nos quais, porém, Enoch é bastante citado como profeta e
filho de Caim. Crê-se que foi escrito por volta do século III a.C, sendo,
portanto, contemporâneo de Beroso. Em seus versículos numerados, o Livro
de Enoch fala de "anjos" ou "filhos do Céu". Estes viram como as mulheres
da Terra eram formosas, as desejaram e tiveram filhos com elas. Foi então
que surgiram os gigantes. Eram malvados e, após consumirem toda a
colheita dos homens, se voltaram contra estes para devorá-los também.
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Capítulo 02
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pretende ao mesmo tempo preservar segredos astrológicos e alquímicos.
Medusa era uma mulher de aspecto muito feio e assustador. Em lugar dos
cabelos, tinha cobras que lhe saíam do couro cabeludo. Sua pele era escura e
metálica, as unhas tinham formato de garras terríveis, soltava uivos
lancinantes e possuía o dom de petrificar à distância qualquer ser que se
aproximasse e fosse visto por ela. Morava no alto de uma montanha e ao seu
redor havia estátuas humanas em atitudes variadas de ataque: eram os heróis
malsucedidos que tinham ousado invadir seus domínios e haviam sido
transformados em pedra. Era o terror da região.
Certo dia, o rei Polidectes festejava seu aniversário com amigos e
heróis quando Perseu, um dos filhos de Zeus, bastante animado pelo vinho
que tomara, propôs dar ao rei um presente excêntrico: a cabeça da Medusa.
O rei divertiu-se com a idéia de tal presente, mas o aceitou, forçando Perseu
a providenciar a entrega. Ao voltar a si de sua bebedeira, e lembrando-se da
louca oferta, Perseu entrou em depressão e sentou-se numa pedra para
meditar sobre o que faria. Apareceu-lhe então Hermes, o mensageiro dos
deuses, que lhe perguntou a razão de tal tristeza. Ciente dos perigos que
Perseu passaria numa missão daquelas, Hermes lhe prometeu ajuda. De fato,
um pouco mais tarde, retornou trazendo ao herói alguns itens muito
especiais para a arriscada tarefa: uma espada para cortar a cabeça do
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monstro; um saco de couro bem vedado para guardar a cabeça cortada, para
que os olhos da Medusa não continuassem a petrificar quem a visse;
pequenas asas para colocar nos pés, e tornar o passo mais leve, de modo a
não despertar a atenção da Medusa; e finalmente um capacete, que tornaria
Perseu invisível.
Provido de tais apetrechos, a tarefa do herói ficou muito fácil, e ele se
desincumbiu a contento, levando ao rei o presente prometido. Do pescoço
cortado do monstro brotam então duas grandes figuras: o gigante Crisaor e o
cavalo alado Pégasus. Segundo a lenda, a cabeça da Medusa foi
transformada numa constelação e colocada no céu, ao lado da do próprio
Perseu. Este é representado nas cartas celestes segurando a cabeça da
Medusa, e ao lado o cavalo Pégasus, que se encontra nas vizinhanças, entre
as constelações de Áries e de Aquário. Um dos olhos da Medusa, que
corresponde à estrela Algol, fica hoje próximo do 26ª do signo zodiacal do
Touro. A explicação simbólica da lenda é, do ponto de vista astrológico, a
seguinte: no mapa de nascimento de uma pessoa, onde essa estrela Algol
estiver colocada como um significador da vida,
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tal pessoa corre o risco de ser decapitada, tal como foi a Medusa. Era uma
forma de preservar esse conhecimento sobre a influência dessa estrela no
mapa astral. Já a explicação alquímica é mais complexa: a Medusa
representa o mineral bruto, tal como retirado da mina - a nossa Pedra Bruta é
de natureza feminina, é escura como a figura mitológica, possui escórias em
estrias, que se parecem com cobras, é de caráter metálico e leva o iniciado
ao caminho da Pedra Filosofal.
Para que não haja dúvidas sobre o caráter alquímico da lenda, surgem
dois personagens do corpo mutilado da Medusa: Crisaor e Pégasus. Crisaor,
em grego, significa ouro, e nos remete à interpretação de que o final da obra
nos levará à possibilidade de fabricar ouro. Em segundo lugar, dá-nos uma
dica importante quanto aos cristais sólidos que se produzem após a primeira
manipulação ao forno, substância que leva o nome de Azoth e que é
considerada a verdadeira matéria-prima da Obra Alquímica - essa primeira
manipulação se chama, muito sugestivamente, cortar a cabeça do corvo!
Pégasus possui asas, e na Alquimia, asas significam uma substância
volátil, que se desvanece no ar. De fato, a segunda substância que nasce da
mesma manipulação é um espírito muito volátil, que precisa ficar bem
fechado - hermeticamente - num vaso, para que não se desvaneça. Aí vem
então a lenda complementar de Belorofonte, outro herói que se encarregará
de domar Pégasus, colocando-lhe um firme cabresto e usando-o a partir de
então como seu meio de transporte. Essa manipulação primeira, que reúne
três substâncias - sal, enxofre e mercúrio - produz, exatamente como na
destilação da cana-de-açúcar, de um lado o álcool - o espírito - e de outro o
melado - o Azoth - que precisará ser refinado e purificado até que se
transforme em açúcar. Do mesmo modo, o Azoth necessitará de posteriores
manipulações, até que se purifique e possa ser utilizado no futuro como um
poderoso agente. Assim vemos como um mito, ao mesmo tempo em que
orienta os iniciados como um roteiro oculto de operações secretas, de uma
ciência mais que secreta, esconde dos olhos dos não-iniciados tais segredos,
por trás da roupagem inocente dos símbolos.
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Capítulo 03
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desenho, sem esquecer sua agilidade ao volante e seus naturais dotes
oratórios. Segundo o conceituado astrólogo Alan Leo, a combinação de Sol
em Virgem - em 07 de setembro - e a Lua em Gêmeos fazem o nato
amistoso e hospitaleiro, e o levam a mudar freqüentemente de ocupação, ou
a seguir duas ocupações ao mesmo tempo. De fato, é extremamente comum
que os brasileiros tenham duas atividades ou dois empregos - às vezes em
duas profissões diferentes. Os grandes defeitos dessa combinação tão
mercurial são: a leviandade, a superficialidade, a duplicidade, a indisciplina
e a irreverência.
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tendência de seguir a carreira médica. Quem não conhece o talento natural
que temos todos para dar receitas? E lembremo-nos de que o Brasil tem
produzido médicos, cirurgiões, dentistas, higienistas e terapeutas da mais
alta qualificação. Mas, chegou o momento de falarmos um pouco desse
nosso ascendente em Aquário. E essa posição que faz o brasileiro inventivo,
criativo, independente, individualista e ansioso por liberdade. Vem daí sua
atração pela mecânica, aviação, circo, futebol - afinal, Aquário rege as
pernas! - fotografia, televisão, cinema, aparelhos elétricos, discos voadores
e... Astrologia.
Já produzimos, graças a esse ascendente, alguns gênios e expoentes
que contribuíram de maneira significativa para a arte, cultura, ciência,
literatura, invenções magníficas - como o avião, a máquina fotográfica e a
máquina de escrever, invenções de brasileiros que outros pretensamente
criaram primeiro - e os esportes mundiais. São exemplo disso Santos
Dumont, Carlos Gomes, César Lattes, Rui Barbosa e Pelé. Por alguma
estranha razão, quase todos só puderam demonstrar seus talentos no
estrangeiro. E por outras estranhas razões, muitas das nossas invenções nos
foram subtraídas, ou seu valor menosprezado, e sua glória roubada.
Foi o caso do avião, por Santos Dumont, que fez sua prova diante de
milhares de pessoas, em plena Paris, vencendo o prêmio de Mais Pesado que
o Ar, em 23 de outubro de 1906. A invenção foi contestada pelos irmãos
Wright, cuja experiência não foi testemunhada por ninguém, a não ser eles
mesmos, não foi filmada nem fotografada, e dela só há registro de três curtos
- 30 segundos! - saltos no ar de uma geringonça que não voava em absoluto.
Foi também o caso da máquina de escrever, inventada pelo padre
paraibano Francisco João de Azevedo, e apresentada em 16 de novembro de
1861 na Exposição Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco. O
padre Azevedo foi até premiado por D.Pedro II por seu invento, mas sua
máquina, que se parecia com um piano pequenino, conforme explicava o
catálogo, não foi enviada à Exposição Internacional de Londres por falta de
espaço no pavilhão brasileiro! A invenção foi mais tarde aproveitada por
Remington, que levou a fama do invento.
Foi igualmente o caso de Hércules Florence, francês de nascimento,
mas radicado muito jovem em Campinas. Acredita-se que ele precedeu
Daguerre e Niepce na criação das técnicas que levaram à invenção da
fotografia. Temos, pois, material humano de valor inestimável, mas que
nunca
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Nosso ouro de Minas Gerais, por exemplo, após um longo périplo por
Portugal e França, foi parar na Inglaterra.
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O reconhecimento da nossa independência custou aos cofres de D. Pedro I a
módica quantia de 8 milhões de libras esterlinas! E onde está o dispositor da
nossa conjunção Lua-Júpiter? Na 8ª casa - nossas reservas servem para pagar
dívidas externas!
Mas nem tudo é tão ruim quanto às relações exteriores. Afinal, temos
aí na 7ª casa nada menos que a bela Vênus. Nossos diplomatas têm uma
formação extraordinária, e o Brasil já produziu notáveis nomes, de prestígio
internacional, como Rui Barbosa - a "águia de Haia" - o barão de Rio Branco
e Afonso Arinos, chamados à mesa de conversações mundiais. É essa 7ª casa
a maior garantia que temos de relações pacíficas com o resto do mundo.
Num planeta sacudido por tantas guerras e convulsões terríveis, não é este
um consolo valioso?
Mas há um outro ponto que se destaca de maneira mais decisiva e
marcante e que trata da feliz promessa de um papel importante na construção
do mundo do futuro. Trata-se da nossa conjunção Urano-Netuno em
Capricórnio, signo de governo e de ordem política. É neste país que se está
engendrando a organização política e social que será vivida no Terceiro
Milênio. Numa síntese feliz e pioneira, o Brasil juntará a experiência do
capitalismo - Urano - e do socialismo - Netuno - criando um regime de
natureza mista e eclética, universal e livre, como convém a um ascendente
em Aquário. Nosso sistema tupiniquim, depois de alguns erros, tropeços e
escorregões, poderá ser exibido no mundo como um modelo curioso de
simbiose política, e nossa sociedade mostrará talvez uma estranha fusão de
tecnologia ultra-avançada - Urano - com energias mágicas obtidas através de
um saber transcendente - Netuno. Essa é talvez a imagem mais próxima
daquilo que será a Era de Aquário, na qual o Brasil se fará representar, sem
sombra de dúvida, não apenas como o celeiro alimentar e energético do
mundo, mas como um exemplo humano de progresso, liberdade e paz.
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Capítulo 04
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"Astra inclinant, non necessitant" (Os
astros inclinam, mas não obrigam)
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potencialidade para o mal não nos adviria do nosso próprio horóscopo
"infeliz"? E se nascemos com tal horóscopo "infeliz", isso não tinha que ser
necessariamente a conseqüência de um erro anterior?!
Há certamente um sofisma neste raciocínio, na presumida
potencialidade para o mal: ela existe não apenas no horóscopo "infeliz", mas
também no "feliz". E assim a pergunta se alonga para muito mais além, e
teríamos que questionar sobre o porquê da existência do mal em si. Mas isso
pertence ao campo da Metafísica, não mais da Astrologia. Ainda que a
explicação espiritualista nos deixe em paz novamente com o Criador, ela não
resolve, à primeira vista, a questão do livre-arbítrio, de acordo com a visão
astrológica. De certa forma, a proposta reencarnacionista nega o livre-
arbítrio quando nos leva a concluir que nosso horóscopo é fruto inevitável de
nossas ações passadas. Isso seria o mesmo que dizer: uma vez estabelecido o
horóscopo de nascimento - "feliz" ou "infeliz" - tudo que nele está
prometido, agradável ou desagradável, terá necessariamente que se realizar,
para que nossas "dívidas" passadas sejam pagas e os méritos "cobrados" aos
que nos deviam - "Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos
àqueles que nos ofenderam". Não seria uma forma de pedir a abreviação
dessa espécie de "vendetta" cósmica?
Por esse raciocínio, no entanto, notamos que a inevitabilidade do
nosso destino transcende os limites do horóscopo, que corresponde à nossa
atual encarnação, e se estende aos futuros horóscopos que herdaremos. As
"dívidas" atuais são pagas, os méritos são "cobrados" e o "saldo" resultante
se transfere para a encarnação futura, segundo um horóscopo que lhe
corresponde em número e medida, e assim sucessivamente. Mas a resposta
reencarnacionista certamente não nega o livre-arbítrio. Pelo contrário, o
exalta. Ela nos diz que as circunstâncias da vida - nós traduziremos por "as
condições astrológicas do nascimento" - nos colocam diante de certas
escolhas, e são essas escolhas que irão determinar a espécie de vida - nós
diremos "o horóscopo" - futura que teremos.
De fato, a inevitabilidade não está na escolha que fazemos, mas nas
condições astrológicas que a puseram diante de nós - e estas sim são fruto de
nossos atos passados. A forma de nossa escolha é livre e ditada unicamente
pela nossa vontade. E ela que determina as "flutuações" do nosso "saldo"
kármico, calcando os pratos da balança para cima ou para baixo. Em suma,
movimentamos a nossa conta bancária do "céu", acumulando reservas para
as vidas futuras ou dilapidando as já existentes, de acordo com as ações
presentes, que são opções livres diante de fatos inevitáveis. Não resta dúvida
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de que, colocada desta forma, a explicação espiritualista nos satisfaz muito
mais amplamente do que qualquer teoria materialista. Ela torna compatível
um aparente determinismo com o nosso conceito de justiça e adapta a visão
astrológica a parâmetros filosóficos muito mais aceitáveis para o espírito
racional. Resta ainda, porém, explicar de que maneira as circunstâncias
astrológicas inevitáveis, pois que já estão estabelecidas quando nascemos, se
colocam diante de nós para escolha - essa voluntária - e qual seria na
verdade o nosso grau de liberdade nessa escolha, dado que esta mesma não
poderia estar livre das próprias circunstâncias astrológicas que as
produziram.
A transmutação astrológica
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somente os interessados no campo esotérico chegam a estudar. De qualquer
forma, existe uma opção possível, e está entre os vários planos de vivência
de um aspecto ou posição astrológica - seja no mapa de nascimento, seja nas
progressões e trânsitos durante a vida. Como nos ensina Hermes
Trismegisto, "existem vários planos de causalidade, porém, nada escapa à
lei". Creio que esta frase resume o que se pode dizer de mais importante em
matéria de livre-arbítrio. Podemos "jogar" entre os vários planos causais,
mas não podemos simplesmente fugir a um aspecto ou influência, qualquer
que seja.
Quais serão esses "planos de causalidade"? Podemos enumerar cinco
deles, os mais comuns em nossa vida terrestre: lº) plano físico; 2°)
emocional; 3º) social; 4º) profissional e 5º) simbólico. O plano físico é o
preferido da maioria das pessoas. É através da saúde que mais
freqüentemente resgatamos nosso karma. No exemplo do aspecto de
Saturno, que mencionamos há pouco, é uma fratura, que nos imobiliza numa
camada de gesso, ou uma doença prolongada, que nos amarra a um leito de
hospital. No plano emocional, é uma depressão, que nos subtrai a alegria de
viver, nos afasta dos amigos e da família e nos obriga a passar por
tratamentos penosos. Pode ser também uma dor moral, um medo, uma
preocupação, uma pesada responsabilidade que nos assusta e rouba nossa
paz de espírito.
No plano social, a influência se dilui entre pessoas de nosso convívio
- a família, os amigos, os colegas de estudo e trabalho. Saturno cria
distancia, esfria relacionamentos, separa e chega a destruir vidas ao nosso
redor. Pouco poder de decisão nos compete neste plano, já que nele
dependemos de terceiros, e, mesmo que façamos nossa parte para evitar as
piores conseqüências, nada podemos fazer a respeito da vontade alheia. O
plano profissional é, em parte, um desdobramento do social, mas merece
algumas considerações especiais. Na nossa atividade profissional cotidiana,
vivemos aspectos astrológicos através de clientes, por exemplo. É como uma
"transferência" da força do aspecto para outras pessoas. Assim, ao invés de
sofrermos nós uma fratura, atendemos um cliente que acaba de ter uma. Ao
invés de termos uma perda financeira, recebemos no escritório um cliente
que faliu.
A vivência neste plano é particularmente reconhecível nas atividades
que podemos denominar "sacerdotais", ou seja, naquelas em que se
subentende um aconselhamento ou prestação de socorro. É o caso, por
exemplo, dos médicos, psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, assistentes
sociais, sacerdotes e astrólogos, é claro. Finalmente, o plano simbólico é o
mais sutil. Em nossos sonhos e pesadelos "descarregamos" os medos,
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angústias, preocupações e desejos reprimidos. Ao sonharmos com uma
guerra, por exemplo, vivemos um aspecto negativo de Marte; sonhando com
cemitério, campos devastados, desertos e pragas domésticas, "gastamos" um
Saturno negativo. E assim por diante.
A vivência simbólica é mais freqüente do que pensamos nesta Era
Moderna. Após a invenção do cinema e dos jogos computadorizados, abriu-
se para nós mais uma opção de "descarga" de aspectos negativos. Assistimos
a um filme de guerra e, quanto mais violento, mais o planeta Marte se
declara satisfeito; vemos um filme de Kung-Fu, e Plutão - quem sabe
também Marte, Saturno, Netuno e Urano, todos juntos! - ficam em paz
conosco. Um drama de amor - quanto mais lacrimal, melhor - e aí gastamos
a dor que nos produziria Vênus num drama autêntico. Um bom videogame
simula com perfeição um combate aéreo - quem sabe lá gastamos o risco de
um acidente de verdade!
O segredo da vivência simbólica é a transferência do sofrimento físico
para um plano intelectual ou emocional, não raro tão ou até mais intenso
ainda do que seria o drama físico, só que compactado num pequeno espaço
de tempo - o tempo que dura o filme ou o jogo. Se medíssemos as lágrimas
derramadas por alguns telespectadores durante um só capítulo de certas
novelas, é provável que superem as que dispenderiam numa separação
conjugai. Ou se aferíssemos a pulsação e os batimentos cardíacos de um
garoto enquanto mede forças com seu videogame, certamente entenderíamos
a descarga de energia que isso representa para Urano ou Marte em mau
aspecto.
Aos artistas, o reino dos símbolos destinou uma válvula especial para
cada mau aspecto: pinte para si mesmo um quadro triste, e lá se vai a
quadratura de Saturno, transformada nas tintas de uma paisagem
melancólica; componha uma marcha militar, e Marte se gratifica com ela;
escreva uma poesia nostálgica, e Vênus se delicia; escave na pedra a
escultura de um pequeno monstro, e Plutão desejará levá-la para sua coleção
particular. Não há mau aspecto de Saturno com Plutão que resista a uma
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diária. Outro exemplo interessante disso está em Van Gogh, outra vítima do
mau aspecto Saturno-Plutão, que passou a vida a pintar cenas de miséria
humana; ou Victor Hugo, com o mesmo aspecto, que teve uma enorme
produção literária, mas cuja obra mais famosa foi exatamente a que retrata
as mais tristes cenas da exploração humana: "Os Miseráveis".
Percebemos por estes exemplos uma das possibilidades de usar nosso
livre-arbítrio: podemos transferir a vivência dos aspectos astrológicos de um
plano para outro. Como já dissemos, essa transferência é inconsciente na
maioria dos casos. Mas pode tornar-se consciente quando a pessoa conhece
Astrologia, identifica ou prevê os aspectos que a afetam e assume a
responsabilidade de desviar a força do aspecto para outra direção. Em geral,
basta a vontade forte para promover a transferência. Entretanto, é sempre útil
empregar um ponto de apoio, como um filme, uma novela, o jogo certo ou a
criação artística, pois não deixam de ser formas mágicas de defender-se dos
aspectos nefastos.
Neste capítulo sobre as vivências simbólicas, cabe ainda citar as do
gênero cerimonial, que são em geral aplicadas de forma programada,
intencional. É o caso das ordens iniciáticas, como a Maçonaria e a Rosacruz.
Em ambas, tal como nas antigas cerimônias do Egito, determinados ritos
simulam a morte do candidato à iniciação nos mistérios. Foram criadas com
a finalidade de preparar o candidato para o verdadeiro momento da sua
morte, mas também para fazê-lo sofrer a morte simbólica para a vida
profana, e seu renascer para uma nova vida de iniciado.
No Egito - e ainda hoje nas lojas maçônicas mais preocupadas com a
perpetuação dos antigos segredos - tais cerimônias desencadeavam enorme
força mágica, onde mantras especiais e uma poderosa egrégora se somavam
para produzir no profano um formidável impacto. Exatamente a força desse
impacto era capaz de "descarregar" as energias negativas de sua existência
profana, e, de quebra, resolvia os maus aspectos astrológicos que pudessem
abreviar indevidamente o curso de sua vida.
Conheci certa vez uma senhora que passava por um período crítico na
vida. Sua convivência em família era problemática, tinha conflitos com o
marido, a atividade profissional ia mal, tudo estava naufragando. Desejou
morrer, porém, não lhe passava pela idéia suicidar-se, fosse por sua
formação religiosa, fosse porque tinha filhos menores para criar. Mas, tendo
algum conhecimento quanto aos ritos simbólicos, preparou para si mesma
um "funeral". Sozinha em casa, e, em absoluto segredo, cercada por quatro
velas acesas, deitou-se
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na cama, cobriu-se com um pano negro e, através de uma prática que lhe era
familiar, entrou em "alfa", programando-se para retornar dali a algumas
horas. Voltou à vigília consideravelmente aliviada das tensões e muito mais
preparada para enfrentar suas dificuldades. A pequena cerimônia serviu-lhe,
portanto, às mil maravilhas para descarregar os pesados problemas que
vivia.
Tão poderoso foi seu singelo ritual solitário, do qual se absteve de
falar com qualquer pessoa da família, que, na manhã seguinte, a filha menor,
com quem tinha uma ligação mais afetuosa, entrou correndo em seu quarto,
tomada de prantos convulsivos, e gritando: "Mamãe, mamãe, eu sonhei que
você tinha morrido!". A sua "morte cerimonial" tinha sido gravada tão
fortemente na memória astral - ou akasha, como se diz em sânscrito - que
sua filha foi capaz de captar a imagem em sonhos.
É assim, através de mensagens que impregnam dimensões mais sutis,
que se opera a "descarga" dos aspectos que ameaçam a pessoa nos planos
mais grosseiros. Os sacerdotes e os grandes iniciados das antigas ordens de
magos conheciam o processo pelos quais tais mensagens melhor se gravam
na memória da natureza - e do candidato aos mistérios - de forma que a
própria aura, assim como os corpos mais sutis da pessoa, ficavam
assinalados com a experiência. Assim, poderiam ser reconhecidos por outro
mago, ainda que muitas vidas se tivessem passado. Na verdade, a vivência
"teatralizada" funciona como se a experiência tivesse ocorrido de fato na
vida da pessoa. Pelo menos, para fins astrológicos, o processo é muito
eficiente.
Citando mais uma vez Hermes Trismegisto, sua primeira lei nos
ensina que o todo - ou o universo - é mental. É como dizer que tudo que
existe à nossa volta e que nos parece tão sólido, opaco e pesado, não passa
de energia pura - apenas um pouco mais condensada. Curiosamente, em uma
de suas peças pouco conhecidas, A Tempestade, Shakespeare nos diz algo
bem semelhante: "0 mundo é feito da mesma matéria de que se fazem os
sonhos". Sendo assim, o universo é como uma imensa máquina de
videogame, com cenários virtuais muito aperfeiçoados, e nós não passamos
de pequenos personagens igualmente virtuais, que lutam, trabalham,
estudam, sofrem, amam, têm filhos, guerreiam e morrem.
Da mesma forma que nos nossos sofisticados programas para jogos de
vídeo, os personagens lutam, enfrentam obstáculos, tentam salvar sua pele e
a da amada princesa, enfrentam adversários impiedosos, e, conforme nossa
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habilidade em lidar com a máquina, sobrevivem ou morrem. "Ganham-se"
vidas adicionais, de acordo com méritos previamente estipulados nas
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planeta não visível - e a terceira é a Alquimia, governada por Plutão - o
terceiro planeta não visível. As três chaves são dadas aos mortais como
instrumentos para superar o karma, reduzindo o número de reencarnações
obrigatórias. No Jogo Cósmico, são "prêmios extra" conquistados através de
méritos muito especiais, méritos que se adquirem levando uma vida austera,
renunciando a prazeres frívolos e dedicando-se ao serviço do próximo e da
humanidade. Tais são, em síntese, as regras desse jogo. Entretanto, mesmo
conhecedor de vários destes recursos, há momentos em que o domínio de
nosso destino fica realmente ameaçado. É quando os acontecimentos estão
nas mãos de terceiros - estes sem qualquer acesso ao conhecimento das
regras do jogo.
No exemplo anterior, a influência de Saturno poderia, entre outras
conseqüências, trazer a doença e até a morte de uma pessoa querida -
geralmente idosa - como o pai ou a mãe. Mas, como persuadir certos
velhinhos obstinados de que já passaram da idade de subir em telhados para
limpar as calhas? Como convencê-los de que precisam tomar os remédios
nas horas certas, mesmo quando já se sentem curados? E assim, alguns de
nossos aspectos nefastos são vividos de maneira bem desagradável, sem que
tenhamos tempo de intervir. Estes fatos servem para nos mostrar que está
razoavelmente em nosso poder modificar o karma pessoal, mas que o de
outrem geralmente foge à nossa competência. Há poucos exemplos de que
alguém conseguiu alterar o destino de outra pessoa. É o caso de mães que
salvam a vida de um filho - seja por um gesto heróico, seja pelo poder de
orações - ou de amantes apaixonados, quando o heroísmo e a abnegação
igualmente entram em cena.
Nestes casos, de imediato se percebe a intervenção de três fatores,
todos dotados de um incrível poder mágico e transformador: o amor, o
sacrifício e a fé. Não é raro que, para salvar o filho, se dê em troca a vida da
mãe - o mesmo ocorrendo entre os amantes. Assim é a norma do jogo: você
pode salvar outra vida, contanto que entregue a sua. Às vezes, a simples
disposição de dar a vida em troca de outra é suficiente para resgatá-la. Em
ambas as possibilidades, o amor foi o preço inestimável pago para se obter o
prêmio da outra vida. Aprendemos aqui uma regra de ouro do Grande Jogo:
o amor - não o amor passional ou possessivo, mas o amor-doação, o amor
capaz do sacrifício maior - é uma das formas de redenção, quiçás a mais
poderosa de todas. A fé é outra força redentora, mas, como diz São Paulo,
nada vale se não houver amor.
Falemos um pouco sobre o livre-arbítrio quando se trata do mapa
astral de um criminoso ou de um viciado. Há mapas simplesmente
"terríveis", dos quais um astrólogo deduzirá com facilidade acontecimentos
trágicos e
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alta cota de dor e sofrimento. Diríamos talvez que tais indivíduos, com
tendências notáveis para o vício ou o crime, tiveram pouca chance de evitar
seu triste destino, pelo mapa astral que lhes coube. Mas, o mesmo mapa
astral, violento e terrível, pode ser encontrado em indivíduos cuja vida foi
inteiramente dedicada ao benefício da humanidade, e que deixaram uma
obra magnífica para a posteridade. No entanto, eles encontraram um destino
trágico, com perseguições, prisão, tortura, mutilação, perda de tudo e de
todos que lhes foram caros, e finalmente morreram nas piores circunstâncias.
Citemos o caso de Giordano Bruno, o grande iniciado do século XV,
que, após permanecer preso por sete anos, sofrendo as mais terríveis
torturas, morreu na fogueira da Inquisição; de Ludwik Zamenhof, o criador
do esperanto, cuja família foi assassinada e os bens confiscados pelos
nazistas; de Jan Amós Comenius, um dos mais admiráveis educadores de
todos os tempos, cuja família também foi assassinada, a casa e a preciosa
biblioteca foram queimadas, e que morreu no exílio; o célebre sábio e
alquimista Sendivogius, preso e torturado até a morte; ou William Wallace,
o herói libertador da Escócia, cuja vida foi objeto de um filme recente,
Coração Valente - perseguido, traído, a esposa assassinada, e, por fim,
barbaramente torturado e decapitado; ou Mahatma Gandhi, iniciado, sábio e
libertador da Índia, um dos maiores homens da Terra, preso a maior parte de
sua vida, perseguido e brutalmente assassinado. Seus mapas astrológicos
certamente mostram o destino trágico que tiveram. Mas suas vidas foram
limpas, suas obras, beneméritas e suas almas, abnegadas.
Ao nascer, o homem recebe uma pequena coleção de instrumentos de
trabalho: um recebe uma machadinha, uma régua, uma pá. Outro ganha um
martelo, um lápis, uma faca. O primeiro vai usar a machadinha para cortar
lenha, a régua para desenhos arquitetônicos, a pá para plantar árvores. 0
segundo vai usar o martelo para arrombar janelas alheias, o lápis para contar
o dinheiro que roubou, a faca para matar. Antes de nascer escolhemos os
instrumentos de trabalho com os quais viremos ao mundo. Esta é a parte que
não poderemos mudar. Durante a vida, porém, recebemos a liberdade de
optar pelo uso que faremos desses instrumentos. É neste setor que mais
podemos exercitar o livre-arbítrio. Inclusive, eventualmente, por nosso
mérito, aplicação e inteligência, talvez consigamos criar nós mesmos alguns
novos instrumentos, ou aperfeiçoar os que já temos. Podemos ainda
melhorar o uso daqueles que recebemos sem um "manual de instruções".
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sadias e benéficas que Saturno nos propõe, por que não aceitá-las? Acaso
darão mais trabalho que um osso quebrado ou uma crise suicida? Talvez
assim pareça, para alguns, à primeira vista, mas aqueles que aceitarem o
desafio e assumirem voluntária e prazerosamente esse lado positivo, poderão
saborear, como um delicioso manjar, o gosto de uma vitória íntima, uma
batalha ganha sobre nós mesmos - e sobre as poderosas forças vindas do
espaço -; e sentirão como a pesada nuvem de Saturno, com seu imposto
inexorável, se desvanecerá por si, deixando apenas um rastro de satisfação,
uma consciência de poder e de saber que faz o homem crescer internamente
e sentir-se mais perfeito, mais sábio e mais próximo do Criador.
Ao fim da quadratura avaliamos o seu saldo, e, com surpresa,
descobrimos que criamos qualquer coisa de maravilhoso, que deixamos uma
semeadura fértil, cujos frutos colheremos por muitos anos; que gerações
seguidas nos recordarão com gratidão por uma obra admirável que legamos,
e que um tempo de resignação e esforço dedicado levantou todo um edifício
sólido, durável e belo, que nos abrigará da intempérie e mostrará seu valor e
utilidade futura. Enfim, diremos que a tarefa não foi assim tão penosa, e,
além de tudo, nos deixou mais ricos de alguma forma. Tal como Tom
Sawyer, o famoso personagem de Mark Twain, aprenderemos que caiar um
muro não era afinal uma punição, e nem sequer um trabalho, mas uma
atividade simples, onde a alma sem preconceito poderia encontrar alegria e
até mesmo certo encanto. É assim, apenas com uma nova disposição de
espírito, que o chumbo de Saturno se transforma no ouro solar. Como nos
ensina o velho Hermes: "A verdadeira transmutação é uma arte mental".
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Capítulo 05
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etimológico o verbo fazer. Não é difícil extrair daí a palavra latina Re, que
quer dizer coisa. Res-Publica = Coisa Pública. Do seu conceito solar, Ra
trouxe para as línguas modernas a equivalência da palavra Rei; em latim,
Rex. No sânscrito, Ry ou Ray quer dizer Rei, ou Reinar. Não tem outro
significado o Ri final da palavra Oshiri - que deu o nome Osíris. O O-shi
quer dizer "o nome de Deus". Assim, o significado completo de Osíris fica
como: o nome de Deus, Rei.
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e tonais, além dos simples valores fonéticos, que qualquer idioma utiliza - os
seguintes: o hebraico, o hieroglífico, a escrita hierática, o fenício arcaico e o
vattan. Todos eles possuem 22 caracteres, e sua representação gráfica
identifica todos entre si por uma semelhança impressionante. Conclusões
muitíssimo interessantes podem ser acrescentadas se incluirmos nessa lista
os caracteres do grego arcaico, que, entretanto, utilizava um alfabeto de 26
símbolos, fugindo assim de uma regra clássica que, como vamos ver,
empresta um significado cósmico ligado às próprias origens do universo, ao
poder criador do verbo - ou da palavra - e à força mágica dos sons quando
pronunciados da forma adequada.
Veremos que, não só por direitos de antigüidade, mas pelo valor
cabalístico - vale dizer zodiacal - é mais conveniente estudar os caracteres
do sânscrito e principalmente do vattan. Os símbolos do vattan, segundo os
Vedas - escrituras sagradas dos brâmanes - se prestam de maneira admirável
a correspondências numéricas, produzindo combinações que revelam, por
variados somatórios, semelhanças e resultados gráficos, sonoros, musicais,
morfológicos, astrológicos, vibratórios, Cromáticos, arquitetônicos,
matemáticos, etc, que lançam uma luz inesperada no sentido etimológico de
palavras de igual significado em idiomas bem diferentes. Trata-se de um
alfabeto esquemático, formado por quatro símbolos básicos, que se
compõem ou se desdobram para formar sons e palavras cujo sentido deve ser
somado, da mesma forma como se faz com seus valores numéricos.
Os símbolos básicos são: o ponto, a linha, o círculo e o triângulo. O
idioma vivo, tal como era falado, é o sânscrito, a língua sagrada em que
estão escritos os textos vedas. O som A era um traço. 0 som N era o círculo,
ou semicírculo. O som M era o ponto. O som P era o triângulo. As demais
letras são combinações estilizadas dos quatro símbolos básicos. As
equivalências fonéticas do vattan, sânscrito e línguas latinas são as que se
seguem, associadas à respectiva correspondência numérica, zodiacal-
planetária e musical. Três letras não possuem equivalência zodiacal-
planetária. São chamadas as Três Letras Constitucionais, algo como os Três
Símbolos Primordiais da Criação:
A, cujo símbolo é um traço, vertical, horizontal ou inclinado; equivale
ao Alef hebraico, Alfa grego, início de quase todo alfabeto fonético. No
Tarô, corresponde ao Mago, o Homem Perfeito, a Unidade, o princípio dos
Atos, a vontade divina;
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Esquerda: sons produzem formas. Numa placa vibratória com areia fina, o som "dó
maior" gera este desenho. Direita: desenho formado na placa vibratória por uma
seqüência musical
Conclusão
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Capítulo 06
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filósofo Benedict de Spinoza. Este foi convidado por seu editor, Jarig Jellis,
a viajar para Haia, a fim de averiguar pessoalmente os fatos. A transmutação
feita pelo médico era assunto de comentários em toda a cidade, e Jellis
pressentiu que ali encontraria uma grande matéria para publicar. Spinoza,
prudente, visitou primeiramente o ourives Brechtelt, que havia recebido das
mãos de Helvetius o cadinho ainda quente da fundição. O ourives lhe contou
então que, ao fazer o teste da inquartação, que se faz juntando três partes de
prata pura para cada parte de ouro a ser avaliado, havia achado o tal ouro
muito estranho, pois toda a prata adicionada no teste se havia convertido
igualmente em ouro!
Spinoza completou a sindicância entrevistando o próprio Helvetius,
que lhe mostrou o cadinho, assim como o ouro convertido, e prometeu
publicar tudo em detalhes. O filósofo relatou os resultado de sua pesquisa
numa carta dirigida a Jallis em 25 de março de 1667, que foi fielmente
reproduzida em 1805 na Alemanha, na obra Notícias sobre o assunto das
Transmutações, de autoria de Christian Gottlieb von Murr. Um relato em
tudo semelhante a estes de Van Helmont e Helvetius nos foi deixado pelo
filósofo italiano Berigard de Pisa. Várias transmutações foram efetuadas de
maneira quase pública, ou, pelo menos, na presença de diversas testemunhas,
que, invariavelmente, se cercaram de todas as precauções para evitar a
fraude. Algumas delas merecem ser contadas, levando em conta a
idoneidade absoluta das testemunhas e os altos cargos por elas ocupados.
Em agosto de 1693, em seu palácio, o duque Christian Eisenberg de
Saxe Gotha efetuou a transmutação de 750 gramas de chumbo em prata
pura. Ele também havia recebido o pó transmutatório de um desconhecido,
desta vez pelo correio. O Dr. Wilhelm Tentzel, historiógrafo da Casa de
Saxe-Gotha, e autor de uma publicação oficial do ducado, nos dá conta que
"foram cunhadas apenas sete medalhas com o chumbo transmutado em
prata muito fina e durante uma configuração astrológica particular de
Vênus e Marte". A medalha teria assim um caráter de talismã.
Entretanto, o duque era ele mesmo um profundo conhecedor de
Alquimia, conforme nos atesta o próprio Tentzel. Naquela época ele já seria
possuidor do segredo da Pedra Filosofal, pois em 1684 havia feito cunhar
uma única medalha em ouro alquímico produzido por ele mesmo no enorme
laboratório de seu palácio de Eisenberg. Nela está representado, numa das
faces, o escudo da família de Saxe com a coroa ducal, e a data 1684; na
outra face, uma palmeira, conhecido símbolo alquímico que se reporta ao
72
No laboratório, os alquimistas medem com precisão as quantidades e proporções das
substâncias e a regulagem do fogo para a cocção do "ovo"
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seu nome grego, phoenix, a lendária ave egípcia gerada pelo Sol e adorada
em Heliópolis. Ao redor da palmeira, os dizeres enigmáticos "Sat cito quia
sat bene", que se pode traduzir por "assaz cedo, porquanto assaz bem".
O irmão mais velho do duque Christian, e que veio a ser Frederico I
de Saxe-Gotha, foi outro estudioso da Alquimia, tendo com certeza atingido
a plenitude de seus mistérios. Há uma carta reveladora que ele enviou ao seu
conselheiro privado, Von Echt, com respeito à aquisição de uma propriedade
na qual estava muito interessado: "Seria lucrativo comprá-la, diz ele, se ao
menos tivéssemos fundos suficientes. E se meus projetos derem certo até o
Natal, teremos dinheiro bastante para comprar dez vezes mais. Mas há aqui
um segredo, que não posso revelar, para que não se riam de mim caso eu
não tenha sucesso". Ora, ele parece ter tido êxito, pois nesse mesmo ano ele
fez cunhar em ouro vários florins com sua efígie numa das faces e símbolos
alquímicos na outra, cercados de dizeres alusivos ao seu sucesso. Também
na mesma época ele fez numerosas doações milionárias a igrejas e obras de
caridade.
Em julho de 1716, um Adepto - talvez Lascaris, um nome que aparece
freqüentes vezes no panorama alquímico da Europa - organizou em Viena,
não uma, mas toda uma série de transmutações, às quais ele não esteve
presente. Uma delas foi feita a 19 de julho daquele ano, e foi objeto de uma
descrição minuciosa em forma de ata. Dela nos dá fé o notário juramentado
do Império - o equivalente ao nosso atual tabelião - Georges Henri Paricius.
Eis o resumo do relato:
O cenário: a rica residência de alguns nobres da Áustria. Há à
disposição um requintado equipamento de laboratório. E então aí se reúnem
altos dignitários do Santo Império.
Os personagens: Joseph, conde de Wurben e Freudenthal, conselheiro
privado de Sua Majestade Imperial e vice-chanceler do Reino da Boêmia; o
barão Wolfgang von Metternich, príncipe de Brandeburg, e seu irmão
Ernest, conde de Metternich, conselheiro privado de Sua Alteza Real da
Prússia e ministro delegado na Corte Imperial de Viena; Culmbach e
Onoldin, conselheiro privado e delegado no Conselho do Império; e
Wolfgang Philipp Panzer, conselheiro Áulico do Príncipe Schwartzenburg, e
também seu filho, Johann Christoph Pantzer, sendo estes últimos os donos
da casa. O distinto grupo trabalhava em segredo no laboratório, e, com uma
partícula ínfima de pó filosofal, pretendia descrever com precisão uma
experiência de transmutação de cobre em prata. A novidade da experiência
74
era que os objetos da transmutação (duas peças) não foram fundidos, mas
apenas aquecidos. A primeira peça - uma moedinha de cobre - foi pesada
previamente e depois aquecida sobre carvões. Em seguida, foi retirada das
brasas e sobre ela se pincelou rapidamente o bastão de cera que envolvia a
partícula do pó. Ocorreu então um pequeno acidente. A moeda, ainda não
transmutada, e parcialmente colada ao pó de projeção, caiu na água
reservada para o resfriamento das peças; a moeda, vermelha ao cair na água,
se tornara branca ao sair dela. Obviamente, as propriedades do pó haviam
sido transferidas para a água, e então eles atiraram a segunda peça,
levemente aquecida, dentro da mesma água - e a recolheram instantes
depois, igualmente transformada na mais pura prata.
Várias moedas foram assim atiradas na água, uma a uma, e os efeitos
anotados em detalhe, sendo que a penúltima peça mostrou uma transmutação
apenas parcial, e a última não apresentou qualquer mudança, tendo já,
naturalmente, se esgotado o poder transmutatório do pó dissolvido na água.
A ata da experiência foi redigida no correr da mesma, e em seguida assinada
por todos os presentes. As moedinhas, conforme a praxe, foram repartidas
entre os operadores. A ata finaliza com a importante observação de que todas
as moedas haviam aumentado de peso, um mistério tão bom quanto o da
própria transmutação. Essa ata possui um valor muito especial, sendo um
dos raros documentos por assim dizer "oficiais" a comprovarem a realidade
da transmutação.
Outra experiência que vale a pena mencionar foi procedida no recinto
da Universidade de Praga, a 06 de setembro de 1728, desta vez perante todos
os professores reunidos. O objeto da transmutação foi uma moeda de baixo
valor, já fora de circulação, que recebeu previamente o atestado de um
ourives quanto à sua baixa porcentagem de prata. Como garantia adicional,
foi marcada, a golpe de martelo, com letras identificadoras, a fim de evitar
qualquer possibilidade de troca ou fraude. Aqueceu-se a pequena peça sobre
carvões em brasa, tal como na experiência de Viena, e por cima dela se
colocou uma partícula do pó transmutatório.
O pozinho girou várias vezes sobre a moeda, e em seguida esta foi
retirada das brasas e esfriada. Verificou-se que estava inteiramente
transmutada em prata puríssima, o que foi atestado por um ourives. A moeda
foi cortada em vários pedacinhos, e estes distribuídos entre os presentes. O
relato desta experiência foi elaborado por Johann Jacob Geelhausen, doutor
em Filosofia e em Medicina, professor da Universidade Imperial de Praga.
Uma transmutação efetuada em Praga em janeiro de 1648 foi igualmente
comemorada com a cunhagem de uma medalha em ouro alquímico, esta
agora com dimensões bastante avantajadas. Várias dessas moedas e
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medalhas podem ser contempladas dos museus de Praga, cidade que parece
ter sido uma espécie de paraíso dos alquimistas durante uns três séculos.
Pouco após a morte do rei Gustavo Adolfo, em 1632, foi cunhada uma
moeda de circulação corrente, com motivos alquímicos - os emblemas do
enxofre e do mercúrio. Desta vez não se comemorava uma transmutação,
mas se fazia uma homenagem ao rei tombado nos campos de batalha, em
defesa da causa protestante. Uma tradição local relata que a presença desses
símbolos alquímicos na moeda de Gustavo Adolfo se deve ao fato de ter a
cidade de Erfurt oferecido ao rei trinta mil ducados de ouro filosofal. Outro
caso curioso foi a cunhagem de dois thalers - moeda corrente - em ouro e
prata de procedência alquímica, pelo príncipe Ernst-Ludwig von Hesse-
Darmstadt, em 1716. Ele era apaixonado pela Alquimia, mas não tinha
alcançado êxito na sua busca da Pedra Filosofal. Como era já um hábito, ele
recebeu certo dia, pelo correio, uma remessa anônima de duas amostras de
pó transmutatório, uma para a prata, outra para o ouro, acompanhadas de
instruções para sua utilização. Dois especialistas contemporâneos nos dão
conta da origem alquímica dos metais em que as moedas foram cunhadas,
explicando que o ouro foi suficiente para cunhar apenas algumas centenas de
ducados.
O segredo alquímico não consiste apenas na obtenção de ouro e prata.
Ele permite também alcançar a "panacéia universal", ou seja, o remédio
contra todas as moléstias que afligem o homem - e igualmente aplicável a
todo o reino vegetal e animal. Sob a forma de um elixir, atribui-se-lhe o
poder de curar qualquer doença, rejuvenescer e prolongar a vida. Bebido
periodicamente na quantidade e na época certa, torna o homem imortal e
permanentemente jovem - embora não o possa preservar na hipótese de
morte violenta, conforme veremos.
Os relatos de rejuvenescimento através do elixir são
consideravelmente mais difíceis de se documentar, e o próprio Bernard
Husson, sempre tão criterioso em reunir fatos comprovados e o quanto
possível verificáveis, se mostra cauteloso em aceitar histórias baseadas numa
só testemunha. Mas ele cita um caso interessante, que foi presenciado por
um médico francês de nome Hauton, em 1665. Ele conhecia de perto o Sr.
de Saint-Clair Turgot, homem rico, já entrado em anos e um confesso
76
A Serpente Ouroboros, inserida num antigo texto alquímico grego, expressa a repetição
circular e contínua das operações alquímicas
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alquimista. Certo dia, o alquimista deu por terminada - com êxito - sua busca
do elixir da longa vida, e, após elogiar suas fantásticas virtudes, o Sr. Turgot
bebeu uma boa dose dele. Também ofereceu uma colherada a um velhote
que o visitava de vez em quando, mas este, desconfiado, engoliu a
contragosto algumas gotas, e foi embora.
Apenas em casa, o pobre velho sentiu-se muito mal, coberto de
terríveis suores. Ao descobrirem os parentes que ele havia tomado alguma
beberagem estranha, mandaram depressa procurar o alquimista, para que
enviasse um remédio capaz de desfazer o mal que causara. 0 alquimista foi
encontrado morto, estendido em seu laboratório. Quanto ao velho, depois de
passar vários dias com muita febre, perdeu todos os dentes, o cabelo, as
unhas e toda a pele do corpo. Mas, depois, seu cabelo, que antes era todo
branco, renasceu preto, os dentes, pele e unhas voltaram a crescer, e ele
readquiriu o vigor físico da juventude. O Sr. Hauton, nossa testemunha,
reviu o velho em Paris 38 anos após esta aventura, e o achou na mais perfeita
saúde, contando já 113 anos de idade.
Um segundo relato que nos fala do precioso elixir se refere ao famoso
conde de Saint Germain. É uma das figuras mais enigmáticas de que se tem
notícia. Sua existência histórica é comprovada, mas dela só se conhece um
curto período, que começa em 1743, em Londres, quando a justiça inglesa o
prendeu como suspeito de espionagem. Horace Walpole, conde de Orford,
escritor e cronista da época, nos conta: "Lá está ele, preso há dois anos, e se
recusa a dizer quem é e de onde vem, mas admite que não usa seu
verdadeiro nome". Foi descrito como um homem de estatura mediana, de 45
anos mais ou menos, muito amável e conversador.
Passou alguns anos na Alemanha, e freqüentou a corte de Luís XV em
1758. Mme. Pompadour o descreve então como um homem de seus 50 anos,
com uma fisionomia delicada, espiritual, que se vestia com simplicidade,
mas muito bom gosto. Usava belos diamantes nos dedos, na tabaqueira e no
relógio. Foi íntimo de Luís XV, que lhe concedia entrevistas particulares.
Essa intimidade despertou o ciúme do ministro Choiseul e acabou sendo a
causa de sua desgraça e de seu exílio.
Consta que passou os últimos anos de vida no castelo de Hesse, onde
teria morrido em 27 de fevereiro de 1784. Entretanto, sua "morte" ocorreu
durante uma das ausências do proprietário do castelo, o que deixa pelo
menos uma dúvida. Ele efetuou duas transmutações na corte francesa, na
presença de numerosas testemunhas, e deixou bem claro que possuía o elixir
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As três matérias iniciais da Alquimia: sal, enxofre e mercúrio, representados por
personagens antropomórficos, A operação corresponde às "águias", durante a qual se
"colhem'' o espírito aquoso e o azoth
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da longa vida, que o usava sempre que era muito mais velho do que parecia.
Citava fatos históricos de séculos passados narrando pequenos detalhes,
como se tivesse estado presente. Referia-se a diálogos mantidos com figuras
históricas de 200 anos antes, interrompendo-se no meio da frase, como se
finalmente se tivesse dado conta de que ninguém entenderia nem acreditaria.
Falava todos os idiomas conhecidos, sem qualquer sotaque.
Sua história é bem documentada entre 1743 e 1784. Assim, se
quisermos comprovar se possuía o elixir, seria necessário procurar o
testemunho de pessoas que o tivessem conhecido antes ou depois dessas
duas datas limite. De fato, a Condessa de Gergy, embaixatriz da França junto
ao Estado de Veneza, encontrou o conde de St. Germain na casa de Mme.
Pompadour e ficou estupefata. Ela afirmou haver conhecido em Veneza, 50
anos antes, um nobre estrangeiro incrivelmente parecido com o conde,
porém, com outro nome. Ela naturalmente perguntou se por acaso não teria
sido seu pai ou um outro parente, mas o conde lhe confirmou que era ele
mesmo, em pessoa, que vivera em Veneza no século anterior, e para prová-
lo, lhe repetiu palavras e circunstâncias que só poderiam ser do
conhecimento de ambos. Nessa época, ele continuava a aparentar os mesmos
50 anos de idade.
Mas há um outro testemunho bastante intrigante da longevidade do
conde de St. Germain: Sir Winston Churchill, o primeiro ministro da
Inglaterra durante os duros anos da II Guerra. Ele mesmo nos conta em sua
autobiografia a história desse encontro, numa rua de Londres, semidestruída
pelos bombardeios alemães. Ante a situação insustentável do país, ele
acabara de tomar a terrível decisão de, no dia seguinte, render-se às forças
de Hitler. O estranho encontro lhe soou como um feliz presságio, e Churchill
decidiu esperar mais um pouco. No dia seguinte, a Alemanha cessou os
bombardeios sobre Londres, relaxando a pressão sobre a Inglaterra e
encetando a invasão da Rússia.
Eugène Canseliet, único discípulo do alquimista contemporâneo
Fulcanelli, nos apresenta um relato sobre seu reencontro com o mestre,
desaparecido trinta anos antes. Fulcanelli, já bastante idoso quando de sua
presumida morte, contaria nessa época cerca de 114 anos de idade, porém,
seu cabelo era preto, seus dentes, perfeitos e sua aparência era a de um
homem de 50 anos.
Nem sempre a vida dos alquimistas - fossem eles autênticos Adeptos,
fossem meros assopradores - foi um mar de rosas, como pode parecer à
primeira vista. Edward Kelly, por exemplo, nascido em Worcester,
Inglaterra, em 1555, foi um dos famosos assopradores. Após encontrar uma
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seu nome como autor da obra de Cosmopolita. Morreu, ao que parece, muito
pobre, cheio de achaques e bem velho, segundo nos relata Desnoyer,
secretário da rainha Maria de Gonzaga, da Polônia.
Uma outra hipótese, entretanto, foi sugerida pelo alquimista
contemporâneo Eugène Canseliet. Sendivogius seria na verdade o mesmo
Cosmopolita, que simulou sua própria morte, tratou-se com seu milagroso
elixir, curou-se e adotou outro nome. Teria em seguida se casado com a ex-
esposa de Cosmopolita - ou seja, sua própria esposa - e, afinal, assinou a
obra da qual era de fato autor.
A desgraça ocorrida a alguns Adeptos ensinou a todos a necessidade
de ser prudente e discreto. A cupidez dos poderosos, a perseguição religiosa
e a curiosidade do segredo representaram sempre os perigos maiores para os
iniciados, e até para os que fingissem possuir o segredo, como foi o caso dos
assopradores.
A igreja, que hoje se volta contra a Astrologia, começou em 1317 a
condenação oficial dos alquimistas, com a bula Spondent Pariter,
proclamada pelo Papa João XXII. "Os alquimistas nos enganam e prometem
o que não podem. Ordenamos que todos esses homens deixem para sempre
o país, assim como aqueles que mandam produzir para si o ouro e a prata e
se pessoas do clero estiverem compreendidas entre os alquimistas, estas não
encontrarão graça e serão privadas da dignidade eclesiástica". Pasmem,
mas era na época público e notório que o próprio papa João XXII se
entregava à Alquimia e deixou, após sua morte, tal soma de riquezas que
toda a corte lhe atribuiu origem hermética. E bem possível que tivesse
utilizado dos serviços de outros alquimistas - já que é bastante duvidoso que
ele mesmo tenha alcançado o conhecimento necessário para tal. Como
vemos, a história se repete.
A própria menção de membros do clero praticando Alquimia é
sintomática, mostrando que era atividade muito comum nos conventos e
mosteiros. De fato, vários Adeptos foram padres e monges, a exemplo do
beneditino Basilio Valentin. Temos, enfim, documentação farta e confiável
que comprova a realidade das transmutações nas mais variadas épocas,
circunstâncias e lugares do mundo. São abundantes os testemunhos, dados
numerosas vezes por sábios que antes se mostraram adversários da Arte
Hermética, de tal forma que se torna irracional e anticientífico negar tais
evidências. As medalhas e moedas estão por aí, repartidas entre os
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A Via Seca da Alquimia - sugerida pela jornada através do deserto. Nesta fase se
colhem as "cinzas"
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Os quatro elementos - fogo, terra, ar e água - presentes no estudo da Astrologia e da
Alquimia
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formações. Ao contrário do que muita gente pensa, a Alquimia não nasceu
nem foi cultivada apenas na Idade Média, mas constitui parte de um
patrimônio de conhecimentos com remotíssima antigüidade, fazendo
conjunto com outras disciplinas imbuídas do mesmo sentido iniciático e
sendo todas mutuamente complementares. Acostumamo-nos a denominar
essas disciplinas de Ciências Herméticas.
Trata-se na verdade de um vasto conjunto de matérias cujo teor é tão
extenso quanto pode ser o conhecimento do próprio universo, uma vez que
esse era o verdadeiro objetivo das Ciências Herméticas - explicar o universo,
sua origem, constituição, funcionamento, suas leis, suas metas, sua ordem e
até sua finalidade. Dentro desse contexto, a explicação do universo traria em
seu bojo a explicação do homem, assim como de toda a criação e da própria
divindade. Explicar o universo foi também um dos maiores desafios do
século XX, e segue sendo hoje. No entanto, a ciência atual pretende explicar
tudo do ponto de vista racionalista, deixando de lado qualquer coisa que
tenha aspecto religioso ou que mencione algo como um Criador. A própria
história do Big Bang, pretensamente a história da origem do universo, afirma
que tudo começou com uma grande forma energética, ou ovo cósmico, que
explodiu, dando início às galáxias, sóis e sistemas solares, etc. Mas é
bastante óbvio que desse modo fica sem explicação de onde e como surgiu o
tal ovo. "Nuvens de hidrogênio", respondem os sábios atuais, mas a pergunta
continua - e o hidrogênio, de onde veio e como se formou? A idéia do ovo
não é tão má, afinal, mas está claro que necessita de um complemento.
Ora, a ciência antiga jamais teve qualquer problema em admitir a idéia
de um Criador incriado, uma inteligência una e superior, dotada de todos os
atributos necessários à grande tarefa de produzir o universo. Alguém que
sempre existiu, portanto não teve início: e estava resolvido o problema da
geração do ovo; infinito, o que responde à questão do "o que há no fim do
mundo?", ou o que encontraremos se viajarmos indefinidamente, sempre na
mesma direção? Outros universos, outras galáxias, outros sistemas, etc, etc,
já que o universo criado por Deus não passa de uma expressão fenomênica
do próprio Deus, e portanto tão infinito quanto Ele.
Eterno, portanto, satisfaz à pergunta do "até quando existirá o
universo?" - a resposta é "sempre". Embora possa apresentar ciclos de
destruição e reconstrução, como nos ensina a Doutrina Brahmânica, que
compara esses ciclos à respiração divina, expirando e criando universos,
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criptogramas e absurdos propositais. Os próprios autores confessam que
usam tal linguagem para confundir e afastar os curiosos. No entanto, essa
mesma linguagem que desencoraja os leigos é extremamente clara para o
estudioso autêntico, que reuniu conhecimentos universais do simbolismo
astrológico, das leis de Hermes, da observação sistemática e cuidadosa da
Mãe Natureza, e para aquele que passou anos debruçado sobre os textos de
antigos filósofos, aprendendo idiomas extintos, decifrando o código
arquitetônico de antigos monumentos, catedrais, estátuas, inscrições,
papiros, baixos-relevos e rituais iniciáticos.
Mas o elemento que melhor distingue a Alquimia das outras duas
irmãs é seu caráter de "dom divino", de "revelação". De fato, os autores
insistem muito nesse pormenor. Não basta estudar, ler, trabalhar no forno, é
preciso rezar, é preciso esperar que Deus, Ele mesmo, opere o milagre da
revelação e abra o espírito do estudante para o secreto mister. Quais os
objetivos do alquimista? Afora o folclórico uso da Pedra Filosofal para
fabricar ouro a partir do chumbo, ela também serve como um fantástico
elixir - que garante algo próximo da juventude eterna, saúde, a imortalidade
e felicidade a seus possuidores.
No entanto, não parece que tanto segredo seria necessário para estas
duas finalidades. Tudo leva a crer que algo muito mais importante se
escondia por trás de todo esse mistério. Autores modernos falam de um
"estado superior de consciência", que seria alcançado simultaneamente com
a elaboração e a conquista da Pedra Filosofal. Algo como um "saber total",
uma "revelação interior", um "despertar completo da consciência", sem
paralelo nas experiências com Yoga ou Magia. Recordo aqui uma passagem
bíblica de Gênesis, quando Deus expulsou do Éden Adão e Eva por terem
comido da árvore do conhecimento do Bem e do Mal: "Eis que o homem
tem-se tornado como um de nós, conhecendo o Bem e o Mal. Ora não
suceda que estenda sua mão e tome também da árvore da vida, e coma e
viva eternamente". Na rebelião da serpente do Paraíso se vislumbra o
segredo da imortalidade. Ao comer a maçã, o homem já se tornara igual aos
deuses - importante notar que o "deus" da Gênesis só fala de si mesmo, na
primeira pessoa do plural: o homem se torne como "um de nós" - portanto
capaz de compreender e certamente de repetir seus "milagres".
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Estuda em profundidade as leis da natureza e procura, em seu
trabalho, não apenas segui-las, mas copiá-las. Sua cultura deve ser universal
e vasta, abrangendo vários idiomas e o pensamento dos filósofos antigos,
começando por Hermes, passando por Platão, Aristóteles, Pitágoras e
terminando com Paracelso, Basile Valentin, Eireneu Filaleto, Nicholas
Flamel e mais trinta outros filósofos consagrados, que tiveram a
preocupação de deixar uma obra escrita para que o segredo não se
perdesse de todo. As matérias-primas que utiliza são minerais conhecidos e
comuns, e seu processo se assemelha, segundo os melhores filósofos, a uma
agricultura celeste, exigindo perseverança, uma paciência inesgotável,
repetição incansável de operações, com inúmeros erros, fracassos e reinícios.
0 tempo necessário para descobrir os processos secretos e completar a obra
varia de dois a cinqüenta anos.
Vários artistas explodiram junto com seus fornos, muitos morreram
sem jamais atingir o fim da obra, a maioria só a atingiu na velhice. Os que
chegaram ao magistério, porém, alcançaram o conhecimento da estrutura da
matéria, a origem do universo e a essência da vida. Passaram a pertencer a
uma hierarquia de homens superiores que possivelmente governa e
administra secretamente as energias da Terra, preservando-a contra o
vandalismo da ciência moderna, materialista, destrutiva e sem consciência.
Seus membros vivem anônimos entre nós, protegidos por modestos
disfarces, escondidos na multidão, orientando estudantes mais adiantados da
Arte Magna, instruindo intelectuais, cientistas e pessoas-chave da nossa
civilização, de forma a evitarem, ou pelo menos retardarem os cataclismas
que o homem sempre desencadeia à sua volta quando atinge certo estágio
tecnológico.
Mas, vamos ver mais de perto um alquimista em seu laboratório. Ele
reúne, sob condições muito especiais, duas matérias que denomina
simplesmente Sol e Lua, ou um lobo e um leão, um dragão e um guerreiro,
Apoio e Diana, etc. Simbolizam os dois princípios, masculino - sal - e
feminino - mercúrio - cujas naturezas inimigas devem ser provocadas,
através de uma terceira substância - enxofre ou fogo secreto - para um
violento combate, ao fim do qual ambos sucumbem. Daí nasce um novo
Mercúrio - o filho - de natureza hermafrodita, que é chamado de "o primeiro
dissolvente". Na segunda etapa da Obra, um novo combate químico se
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(representada pela águia, equivalente do Escorpião sob a forma sublimada,
ou a água em forma de vapor) e o Ar (signo de Aquário), que é a face
humana.
A Esfinge é considerada esotericamente a representação da aliança
feita entre os elementais, ou "anjos", que criaram o mundo sob forma física,
material, e os homens, a cuja guarda esse mundo foi entregue. No templo
interior da Esfinge se realizavam, na Antigüidade, os rituais de iniciação
egípcia, e até hoje o poderoso significado mágico do monumento é
perpetuado, seja pelos rituais iniciáticos mantidos pelas ordens maçônicas,
seja pela presença espiritual de altos magos que conduzem, em plano astral,
os candidatos à iniciação nos primeiros mistérios.
A Esfinge é igualmente um monumento alquímico, certamente o maior e o
mais evidente de quantos existem. Representando os quatro signos fixos do
Zodíaco, mostra a essência da Obra Alquímica, que é a "fixação do volátil".
Sob a forma sublimada da Águia, ela mostra a necessidade de aperfeiçoar a
água - cujo elemento simboliza o Escorpião - até que ela evapore, adquirindo
asas, ou seja, tornando-se volátil.
O elemento terra, de quem toma o corpo, e portanto, a sua maior
parte, representa o reino mineral, no qual deve o artista trabalhar, além de
dar idéia, possivelmente, do peso com que participa esse elemento no
cumprimento da tarefa alquímica. Repousando sobre patas de leão, mostra
que toda a Obra é fruto da purificação ígnea, que tanto é feita através do
fogo comum como por intermédio de um fogo simbólico - significando as
energias solares - que, como lembra a Lenda de Prometeu, libertará o
homem. A cabeça humana da Esfinge reflete a finalidade última da Obra - a
salvação do homem, a construção do ser perfeito, o despertar da
superconsciência, o domínio da natureza pelas forças do espírito purificado.
Um exemplo muito interessante de correspondência entre o mito
astrológico e o mito alquímico é demonstrado na Lenda de Perseu. A
história desse herói é a narrativa simbólica de uma das etapas da Pedra
Filosofal. Mas vamos à parte que, de perto, toca à Astrologia. Perseu havia
prometido a Polidectes a cabeça da Medusa, monstro negro coberto de
escamas de dragão, cabelos em forma de serpente, mãos de bronze e asas de
ouro - a própria imagem da matéria-prima da pedra, que é sempre
apresentada como escura, suja, coberta de escória, e malcheirosa. Aliás, a
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outro animal qualquer que simbolize a mesma substância bruta e negra.
Quando surge a cor branca, simbolizada ora por um cisne, ora por lírios, ora
pela roupagem branca de um personagem, liberta-se o espírito metálico que
estava aprisionado na matéria primitiva.
Astrologicamente, a cabeça cortada da Medusa é representada, na
Constelação do Perseu, pela estrela Algol, que, devidamente colocada no
mapa astral de uma pessoa, provoca a sua decapitação - real ou simbólica. E
a estrela mais brilhante da constelação do Perseu é a Alpherat, que possui
um significado de liberdade, perfeitamente identificado na imagem de
Pégasus levantando vôo. É o espírito metálico que se desprende do corpo
físico e se liberta, para poder depois servir de instrumento para aperfeiçoar
metais, torná-los puros e, conforme a Arte Alquímica, transmutá-los em
prata ou em ouro, metais que, na escala evolutiva dos minerais, ocupam o
ponto mais alto.
Mas a proposição mais interessante - e que pode emprestar um rumo
altamente esotérico ao estudo da Astrologia - é a velha máxima de Hermes,
que todo estudante de Astrologia aprende: "Nada está parado, tudo se move;
tudo vibra". Diz um alquimista do século XX, Fulcanelli: "Neste mundo tudo
é vida e movimento. A atividade vital, muito aparente nos animais e nos
vegetais, não o é menos no reino mineral, embora exija do observador uma
atenção mais aguda. Os metais efetivamente são corpos vivos e sensíveis,
como o testemunham o termômetro de mercúrio, os sais de prata, os
fluoretos, etc. Que são a dilatação e a contração, senão dois efeitos do
dinamismo metálico, duas manifestações da vida mineral?", questiona. Ele
continua dizendo que não basta ao filósofo anotar somente o alongamento
duma barra de ferro sujeita ao calor. "É preciso investigar qual é a vontade
oculta que obriga o metal a dilatar-se. Sabe-se que os metais, sob a
impressão das radiações calóricas, afastam os seus poros, distendem as suas
moléculas, aumentam de superfície e de volume. De outro modo,
desabrocham, como nós mesmos fazemos sob os benéficos eflúvios solares",
explica Fulcanelli. De acordo com ó alquimista, não se pode negar que tal
reação tem uma causa profunda, imaterial, "pois não saberíamos explicar,
sem essa impulsão, que outra força obrigaria as partículas cristalinas a sair
da sua aparente inércia".
A idéia de que haja um princípio vital - e mesmo um princípio
inteligente - na matéria metálica se confirma com a observação de que os
artefatos produzidos pelo homem, seja sob a simples influência climática,
seja submetidos a tensões contínuas - como os motores,
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ou dias o que a natureza levaria eras inteiras para completar. Pois, dizem os
filósofos, ao citar a obra A Pedra Filosofal, de São Tomás de Aquino:
"Ninguém duvida que estes metais ter-se-iam transformado por si mesmos
em prata e ouro, se tivessem permanecido na mina o tempo necessário à
manifestação da ação da natureza". Curiosa afirmação, que nos recorda a
promessa esotérica do retorno do homem ao fim de seu resgate kármico, ao
seu divino Criador. Purgado pelo sofrimento, elevado pelo conhecimento,
purificado pelo sacrifício, salvo pela fé, o homem deverá, ao fim do seu
ciclo evolutivo, reintegrar-se com a divindade, da qual, por um misterioso e
longínquo acidente, se separou. Assim, a matéria impura - o dragão
escamoso dos alquimistas
- martirizada, calcinada e sublimada pela arte do filósofo, retornaria à ma téria
original, pura e imaculada, e voltaria a participar da essência solar,
transmutada em ouro - ou da essência lunar, transmutada em prata.
Vemos que o alquimista nunca deixa de admitir a existência dos dois
princípios, masculino e feminino, quer se trate de metais, de deuses ou de
planetas. A matéria purificada voltará tanto ao pai como à mãe, pois no caos
original ambos os princípios estão contidos juntos num mesmo arquétipo. O
alquimista é, portanto, alguém que reconhece que, em primeiro lugar, a mão
humana pode intervir positivamente na evolução da própria natureza,
continuando e auxiliando a tarefa do Supremo Criador, e em segundo lugar,
que o homem, ao mesmo tempo em que é sujeito à influência exterior, do
clima, dos astros, do meio ambiente, é também - ou pode vir a ser - agente
transformador e ativo nessa interação. Agindo sobre a matéria, atinge a
essência planetária que deu a ela origem e vida, portanto seu trabalho se
torna o de um agente cósmico de cunho evolutivo. O alquimista deixa de
submeter-se às influências dos astros para passar a modificar a própria
natureza desses mesmos astros.
Cremos que essa, sim, era a verdadeira razão por que eles tão
ciosamente guardaram seu segredo. "Aquele que compreende o Princípio de
Vibração [de Hermes] alcançou o Cetro do Poder", diz um iniciado
anônimo. Eis aqui um novo campo de estudos para os astrólogos, que lhes
irá requerer, sem dúvida, o mesmo tempo que já destinaram à Astrologia, ou
seja, quase uma vida inteira. A descoberta será tão maravilhosa quanto foi a
da nossa deusa Urânia, e suas compensações serão certamente infinitas.
Talvez não consigamos nunca encontrar a Pedra Filosofal, e isso na
verdade talvez não seja indispensável. Mas a própria busca, a pesquisa, a
leitura desses sábios antigos - um dos quais, Hermes,
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Um alquimista moderno
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Não há explicações muito claras sobre esse encontro, para o qual
Canseliet, de ordinário tão reservado quanto a endereços e informações que
pudessem levar à identificação de Fulcanelli, muito estranhamente, fornece
o nome da cidade e quase nos dá o nome do castelo. O fato deixa entrever
que esse lugar não está assim tão fácil de situar no mapa, e que não há
perigo de alguém de repente encontrá-lo. Uma explicação plausível é que
esse castelo, assim como seus bizarros habitantes, não está na dimensão
física, mas, como ensinam certas fontes herméticas, no estado de "jinas", ou
seja, está em corpo físico localizado no plano astral e, por conseguinte,
invisível à vista física e obedecendo as leis do mundo astral. Esse fato nos dá
idéias muito sugestivas quanto ao que realmente ocorre quando alguém
atinge o estágio de Adepto: liberta-se da condição de prisioneiro do mundo
físico e pode mover-se tranqüilamente de um universo a outro, de uma para
outra dimensão.
Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, o físico Jacques Bergier
- autor, junto com Louis Powels, do famoso livro 0 Despertar dos Mágicos -
teve um encontro com um alquimista que ele acredita ter sido Fulcanelli. Na
ocasião, o estranho homem o preveniu quanto aos riscos do uso da energia
do átomo - muito antes da primeira experiência nuclear americana - e
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próprio latim é uma língua helênica, ou, em última análise, uma herdeira da
antiga língua-mãe da humanidade, o vattan. Hoje em dia se consideram as
línguas latinas como indo-européias, o que está certamente mais próximo da
verdade histórico-etimológica.
Fulcanelli nos mostra, por outro lado, sua posição reencarnacionista
em seu segundo livro, o que é pelo menos uma surpresa, se cotejarmos com
os autores tradicionais da Alquimia, sempre tão prudentemente católicos! "0
velho de ontem é a criança de amanhã", nos diz ele, sugerindo
cautelosamente a idéia dos sucessivos renascimentos. Um mundo de
informações históricas, e de revelações curiosíssimas de fatos pouco
conhecidos, são um motivo de contínuo encantamento nessa leitura
fascinante e profundamente iniciática. É preciso ler devagar, com muito
critério e a mente aberta.
A leitura dessas duas obras é obrigatória para quem quer instruir-se no
simbolismo alquímico. É uma espécie de chave-mestra para o ingresso nesse
universo cheio de mistério que é a Ciência Hermética. Por outro lado, as
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históricas seria compensada da mesma forma que a água cobre o orifício que
abrimos? Outra personalidade, com horóscopo semelhante, assumiria o
papel vacante e conduziria a história por idênticos caminhos? Ou será que a
partir desse ponto um novo leque de alternativas se abriria e a história iria
seguir rumos diferentes?
Quem estuda Astrologia Mundial sabe que a seqüência histórica segue
direções bastante previsíveis. Diante de um certo quadro cósmico, pode-se
delinear os acontecimentos futuros dentro de uma excelente margem de
probabilidades. Donde se deduz que talvez a presença ou não de uma
personalidade faça pouca ou nenhuma diferença. De um modo ou de outro,
as circunstâncias se encarregam de levar o mundo na direção prevista por
aquele quadro cósmico. Isso me faz lembrar um curioso romance de ficção
científica.
O herói da historieta é um jornalista, e, em dado momento, por um
acaso ou mera curiosidade, abaixa a alavanca de um painel, numa máquina
desconhecida. Era um engenho extraterrestre com poderes incalculáveis. E
esse simples gesto provoca uma catástrofe de dimensões incríveis, altera a
marcha do Sol, os ritmos biológicos e a própria vida na Terra. Entra em cena
um cientista louco, que cria uma máquina do tempo. E ele mostra ao
jornalista a possibilidade de recuar no tempo até o instante em que ele faz o
gesto fatídico. A idéia é fazê-lo retornar ao passado já com o conhecimento
dos fatos futuros, e repetir todos os atos - menos, é claro, o de abaixar a
alavanca. Pois bem, a experiência tem êxito em tudo, menos num ponto:
sempre acontecia "alguma coisa" que fazia o pobre sujeito abaixar a tal
alavanca e lá vinha de novo a terrível catástrofe.
Depois de centenas de tentativas, o cientista conclui que a única
maneira de evitar a tal catástrofe é voltar no tempo e fazer com que o nosso
herói nunca tivesse nascido. Muito orgulhoso de sua proeza, o cientista volta
ao tempo atual, certo que dessa vez havia salvo o mundo do cataclisma. E
então ele ouve pelo rádio o noticiário e fica sabendo que a famigerada
engenhoca espacial havia explodido "sozinha" - e é claro que a bendita
alavanca tinha sido deslocada - e tudo afinal volta ao ponto de partida, com
a única e insignificante diferença que o herói da novela tinha deixado de
existir.
Como nos modernos computadores, tudo havia sido programado para,
num dado instante, a seqüência histórica obedecer a uma ordem de "sub-
rotina". "Go sub", diríamos na linguagem da cibernética. A idéia dessa
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comportamento que cabe num cérebro humano é quem sabe do tamanho de
uma galáxia. Há de fato quem compare as circunvoluções cerebrais com as
espirais galácticas. A semelhança, diga-se de passagem, é de pasmar. Dentro
de nosso programa interno, que nos é fornecido no mesmo instante da
concepção, já vem a instrução categórica, acoplada a uma infinidade de
dispositivos de segurança, totalmente à prova de violação e imune a qualquer
tipo de interferência externa: uma bomba-relógio perfeita. Depois de
acionada, poder algum evitará que seja detonada: essa instrução é a ordem
cósmica de nascer às tantas horas e minutos de um determinado dia, mês e
ano, a X graus de latitude e Y graus de longitude.
Por mais engenho e arte que possamos empregar, creio que jamais
possamos alterar a instrução cósmica do momento de nascer. Ou aquilo que
façamos, pensando alterar de algum modo aquela instrução, seja exatamente
o expediente de que se utiliza o "Grande Programador" para executar a
própria ordem contida na concepção. Noutras palavras, não há cirurgia capaz
de antecipar um nascimento, se ela não for feita exatamente para cumprir o
horário que já estava previsto na contagem regressiva. Pessoalmente,
acredito que a cesariana apenas salva vidas e talvez poupe algum sofrimento,
mas jamais antecipa um nascimento em relação àquilo que de fato estava
programado.
E assim viemos à luz, equipados com um mecanismo delicado,
terrivelmente complexo, repleto de engrenagens sutis e mutuamente
encadeados. Um corpo frágil, uma quantidade adequada de energia para o
movimento, a autoconservação, a procriação e a realização de certas tarefas,
segundo um programa de vida. É esse programa de vida que o astrólogo
chama de horóscopo. Parece bastante óbvio que não temos o poder de alterar
aquele programa básico. Para isso teríamos que tomar o lugar do nosso
progenitor cibernético. Seria um motim, um tremendo motim universal.
Imaginem nossos robôs, maquininhas tão dóceis e servis, de repente nos
expulsando da cabine de comando e alterando eles mesmo seus circuitos e a
seqüência das suas tarefas!
Não, nós não podemos mudar uma vírgula do nosso horóscopo de
nascimento, não podemos subtrair uma quadratura sequer e nem podemos
cogitar de suprimir um malfadado Saturno de seu incômodo alojamento - e
em todo lugar onde ele estiver, pode ser um hóspede aborrecido. Estamos
presos na ponta de uma corrente, como um cão de guarda perigoso. Quando
lemos o horóscopo de alguém, não fazemos mais que
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mostrar aonde está a ponta da corrente de cada um. Aí estão seus limites -
"Non plus ultra." Mas, ainda que amarrado, o cão se movimenta. Pode
correr, ladrar e até morder um intruso.
Será que, sem sair dos limites do nosso horóscopo, temos alguma
liberdade para escolher alternativas? Essa me parece a parte mais simples do
problema. Sim, a liberdade aí é quase total. Diante de um mau aspecto de
Urano, abrem-se as seguintes alternativas: romper relações com alguém, o
que nos fará sofrer; assumir uma postura mais independente perante a vida, o
que exigirá de nós mais decisão e coragem; passar um período de intensa
atividade que nos levará uma estafa nervosa e quem sabe aos limites de um
enfarte; viajar de avião e não saber se voltamos para contar como foi;
estudar Astrologia; ou sofrer um acidente de moto.
As pessoas "escolhem" entre essas e outras alternativas. Dentro de um
certo nível, essa escolha é totalmente inconsciente. Entretanto, é muito
conhecido o chamado Efeito de Somatização. Quando se tem mau aspecto
de Lua, e não queremos ter desgostos familiares, a opção é arranjar uma
úlcera de estômago. É como se devêssemos um "tributo lunar", e
escolhêssemos uma espécie de plano de pagamento - a curto ou a longo
prazo, com ou sem juros, no plano físico ou no plano mental, etc. Como
dizia o velho Hermes, "há vários planos de causalidade, porém, nada
escapa à lei".
Em resumo, se temos uma dívida com Saturno, temos que pagar na
moeda de Saturno. Só o que podemos escolher - e já é um privilégio - é a
forma de pagá-la. Entretanto, restam ainda duas faces do problema. A
primeira delas se resume nos questionamentos: "não se poderia por acaso
sonegar esse imposto? Não há mesmo a possibilidade de simplesmente não
pagar a dívida?". Parece que queremos praticar aí uma fraude contra o nosso
horóscopo. Mas, se pensarmos na mão-de-obra que nos vai consumir essa
fraude, é de se acreditar que a Providência, que tem lá em cima o controle da
nossa contabilidade astrológica, nos dará um prêmio extra se conseguirmos
praticá-la.
Essa fraude é a transmutação, e a segunda face do problema é qual a
fonte da energia para realizá-la? Vamos ver como se pode operar esse
milagre. Suponhamos alguém com um enorme potencial artístico: seria um
verdadeiro atentado obrigá-lo a ser agricultor. Aquele outro é um excelente
vendedor, o que é que ele faria num laboratório de Física? Aquela corrente à
qual estamos atados não é necessariamente uma prisão
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perpétua e desagradável. Nossa corrente nos aprisiona muitas vezes sob a
forma de um grande talento, uma vocação irresistível, que nos faz arrostar
todos os perigos do mundo e os obstáculos mais colossais. Perigos e
obstáculos são provas naturais, não são castigos da Providência. São testes
para verificar a energia de que somos capazes, e no fundo vão dar a própria
medida do nosso talento, porque, seja ele qual for, se é realmente grande,
perigos e obstáculos atuarão como estímulos para a realização; serão
desafios sedutores que apenas darão mais sabor à nossa vitória.
Isto não é mais um daqueles consolos ingênuos para os portadores de
horóscopos cobertos de quadraturas e oposições. É a minha visão autêntica
de astróloga e pesquisadora que mostra justamente esses horóscopos cheios
de dissonâncias correspondendo a pessoas muito realizadoras. Já, ao
contrário, mapas excessivamente "azuis" - ricos em trígonos e sêxteis -
representam personalidades frágeis e pouco dispostas para os grandes
combates da vida. O talento, entretanto, pode advir tanto de uma quadratura
como de um trígono. Apenas este último promete o êxito com menos esforço
e em menos tempo.
Mas existem casos em que o talento não aparece com tanta evidência,
não brilha como uma estrela de primeira grandeza. Será o caso de se
considerar uma pessoa medíocre? Ora, certamente, não se pode exigir que
todo artista se revele um Leonardo da Vinci. O que se tem a fazer é
desenvolver ao máximo o potencial que nos foi confiado. Entretanto, me
parece mais difícil de resolver o caso dos "talentos ingratos" - são as
vocações para as tarefas que o mundo burguês tem na conta de menos
nobres - por exemplo as tarefas da dona de casa, do pedreiro ou do limpador
de chaminés. Parodiando um filósofo oriental, eu direi apenas que ter uma
vocação é praticar voluntária e prazerosamente o que os outros só fariam
constrangidos.
Minha vocação é a minha força. Não importa se tenho um talento
pequenino ou brilhante, se é "nobre" ou "humilde" - ele constitui a minha
maior força, é a minha alavanca. E alguém já disse: "Dêem-me uma alavanca
e um ponto de apoio - e eu removerei a Terra da sua órbita". E o que será que
estamos fazendo com a nossa vocação? Recebemos do Criador uma grande
caixa de ferramentas e um quintal cheio de materiais de construção: é o
nosso mapa astral. O que fazemos com ele? Não adianta reclamar que faltam
tijolos ou que a pazinha veio quebrada. É trabalhar com o material que
existe, fabricar tijolos, se o projeto da nossa
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mente era um palácio e não um casebre; consertar a pazinha quebrada, se a
nossa alma tem o poder e a imaginação para fazê-lo. Se recebemos da matriz
cósmica uma pá quebrada e tijolos de menos, e ainda assim construímos um
palácio, isso quer dizer que lançamos mão de um poder oculto de criação e
de transformação. Usando peças de ferro-velho, montamos uma destilaria no
fundo do quintal; e com a seiva de plantas daninhas e queimando objetos
inúteis para fazer fogo, conseguimos fabricar o legítimo whisky escocês!
Aqui neste mundo tão medíocre isso vai dar cadeia na certa, mas mereceria o
prêmio Nobel da Transmutação, se ele existisse! Em suma, há no ser
humano uma fantástica energia criadora, que só espera ser domesticada para
se colocar a serviço do próprio homem. Na dissonância mesma do próprio
chamado "mau aspecto" astrológico está oculta a força transformadora -
porque é no mau aspecto que existe atrito e sem atrito não se produz energia.
E assim acabamos resolvendo a segunda face do problema: descobrimos que
a fonte da energia está nos assim chamados maus aspectos. De fato, é
preciso existir chumbo, para que possamos um dia transformá-lo em ouro.
Eis os limites do nosso livre-arbítrio. Reconhecê-los e aprender a conviver
com eles é um belo desafio para o homem sábio. Porém, superá-los,
transcender, transmutar, não é privilégio de uns poucos iniciados, é uma
conquista que está ao alcance de todos - exige apenas dedicação, força de
vontade e disciplina. E com estas qualidades vivas de Saturno que o aprendiz
chega ao Mestrado: arranhando e lixando lenta e conscientemente a Pedra
Bruta, até que por debaixo do chumbo escuro comece a aparecer o brilho do
ouro, e nele se refletirá o fogo do Sol.
Transmutar é uma arte sublime e é durante o seu aprendizado que
descobrimos a verdadeira essência das provas a que nos submete nosso
horóscopo. Por vezes, o teste nos supera, e chegamos a pensar que somos
maus aprendizes; finalmente concluímos que o verdadeiro teste não era de
"vencer" um aspecto, e sim de nos "submetermos" a ele. São duas etapas da
nossa evolução, e ambas são igualmente necessárias. Como disse São
Francisco de Assis: "Dai-nos forças, Senhor, para aceitar com resignação
tudo o que não pode ser mudado. Dai-nos coragem para mudar o que pode
e deve ser mudado. Mas dai-nos também sabedoria para podermos
distinguir o que pode e o que não pode ser mudado".
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do nosso planeta? Não estamos nós na Terra o tempo todo sujeitos a
poderosas radiações cósmicas, capazes de provocar mutações genéticas e
mesmo profundas alterações - positivas e negativas - na constituição dos
organismos vivos? Apresentando-se como biomédico, é espantoso que o
articulista do Correio Popular ignore as recentes descobertas a respeito das
conseqüências sobre a nossa vida, advindas do rompimento da camada de
ozônio - até porque foram objeto de intenso noticiário, mesmo na imprensa
popular. E não são apenas radiações solares que nos atingem. Uma
quantidade incrível de energias desconhecidas - e, diga-se de passagem,
muito mal explicadas pelo meio científico - estão a provocar transformações
sensíveis na vida terrestre. Qualquer biólogo as reconhece hoje, mas até bem
pouco tempo atrás, a ciência oficial as ignorava, talvez por serem demasiado
sutis, talvez porque não havia ainda descoberto um método, nem
desenvolvido aparelhagem capaz de detectá-las. Sucederá o mesmo um dia
com as energias que a Astrologia já conhece há milênios, e cujas leis
estabeleceu com profunda seriedade e impressionante exatidão, embora não
possa ainda explicar a sua natureza.
É fato que as pessoas se divertem com a leitura de horóscopos diários,
publicados pela imprensa. Também é fato que muitos lêem a coluna da
Astrologia como quem se recreia com palavras cruzadas, sabendo que as
previsões aí escritas raramente batem com a realidade. Mas é preciso
esclarecer que horóscopos diários são, em 98% dos casos, escritos por
jornalistas, não por astrólogos. E, afora o simbolismo e a linguagem típica,
tais matérias nada têm de Astrologia, não passando de folclore repetitivo e
superficial, destinado a ministrar inofensivos conselhos e mensagens de
otimismo. Assim, criticar a Astrologia baseando-se nas matérias jornalísticas
da imprensa diária equivale a julgar toda a Medicina através de uma receita
médica prescrita, digamos, por um vidraceiro.
Acontece que a Astrologia não é ainda uma profissão regulamentada,
de modo que qualquer pessoa, sem preparo algum para o assunto, pode auto-
intitular-se astróloga, ganhar espaço numa revista e publicar asneiras. Mas o
articulista não se limita a atacar a Astrologia que chamamos folclórica. Ele
menciona "estudos científicos feitos por astrônomos" - como se astrônomos
pudessem ter alguma autoridade para julgar uma ciência tão diferente da
deles como, por exemplo, é a Psicologia em relação à Botânica! Quais
astrônomos e quais estudos, o autor se esquece de citar. Mas, para nos
atermos ao nosso exemplo, seria recomendável que o psicólogo
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- nunca à sua refutação. Para concluir, vamos responder às "perguntas
embaraçosas" que sua revista dos Céticos nos propõe:
1ª) A probabilidade de que 1/12 da população tenha o mesmo tipo de
dia depende de fatores cósmicos que atingem uma região ou mesmo o
planeta como um todo; assim toda a cidade de Kobe sofreu com o terremoto
que a atingiu há alguns anos. O mundo todo sofreu com a 2ª Grande Guerra
- embora em diferentes medidas, conforme o país. Mas um bom astrólogo
pode identificar, com excelente precisão, dentro de uma população
conhecida, quais pessoas terão uma dor de barriga num determinado dia.
Entretanto, é importante que se diga, a Astrologia é uma ciência qualitativa,
e não quantitativa. Podemos prever muita chuva para um dado período - mas
não pretendemos dizer quantos milímetros de chuva cairão.
2ª) O momento da concepção também é estudado, e fornece
indicações interessantes quanto à formação do feto. O senhor biomédico
deveria estudar essa matéria, aprenderia muito com ela. No entanto, o
momento da concepção raramente é conhecido com precisão, o biomédico
deve saber bem disso. E quando a criança nasce, e respira, implanta-se nela
o horóscopo do nascimento. Antes de respirar, sua vida depende totalmente
da mãe. A Astrologia lida com a carta astral de alguém que já afirmou sua
independência vital. Quanto às crianças prematuras, ocorre o mesmo que
com as de tempo normal, ou com as de tempo excedido de gestação: só vale
o momento da primeira respiração.
3ª) Antes da descoberta de Urano, Netuno e Plutão, o mundo era
consideravelmente mais limitado. Os assuntos que eles regem na Astrologia
não existiam na consciência dos homens, e não fazia qualquer diferença que
existissem ou não, que fossem ou não colocados nos horóscopos das
pessoas. De que serviria Urano num mundo que não conhecia a eletricidade,
as máquinas, e os aviões - assuntos que ele domina? E para que se usaria
Plutão numa Terra que desconhecia a bomba atômica, o petróleo e os
computadores - coisas controladas pela influência deste planeta?
4ª) A influência dos astros não depende da sua distância. A influência
deles é possivelmente da mesma natureza que a luz, mas isso ainda é uma
hipótese. Sabemos, quase com certeza, que não se trata de influência
gravitacional, pelo menos não somente ela, portanto a "matemática
gravitacional" do nosso articulista não se aplica. A ciência descobrirá um dia
como tudo se processa, assim como descobriu as ondas hertzianas, os raios
gama, o ultra-violeta e o efeito Kyrlian.
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um charlatão? Que Einstein - a quem devemos um dos mais comoventes
testemunhos escritos em defesa da Astrologia - era um tolo, metido numa
"atividade fraudulenta"?
Para finalizar, brindamos os leitores com uma expressiva declaração
do astrônomo John O'Neill, Prêmio Pulitzer e editor de ciência do New York
Herald Tribune, em carta dirigida ao astrólogo Sydney Omarr: "Falo como
cientista que não se desviou da absoluta fidelidade aos mais altos padrões
da evidência em apoio da verdade. Desvio-me, isto sim, da atitude comum de
cientistas ao depositar mais confiança na observação direta da Natureza do
que nos livros de texto das autoridades humanas. A Astrologia é um dos
mais importantes campos para a pesquisa científica, em nossos dias, e um
dos mais negligenciados. A Astrologia, propriamente definida, é a ciência do
relacionamento do homem com seu ambiente celeste. É o conhecimento
organizado e acumulado do efeito sobre o homem das forças que atingem a
Terra, vindas do espaço circundante. Nada há de não científico,
absolutamente, no fato de se realizarem pesquisas nesse campo, e não existe
estigma algum que se lhe possa associar na mente de qualquer cientista ou
leigo. Os cientistas não podem olhar do alto a Astrologia, antes terão de
levantar os olhos para alcançar os horizontes mais elevados que os
astrólogos reservaram para eles. Os ataques à Astrologia, sem prévia e
extensa investigação feita por pessoas competentes, devem de agora em
diante ser vistos como prática antiquada, nada científica, intimamente
relacionada com a caça aos feiticeiros, e devem ser corretamente
diagnosticados como sintomas de paranóia profissional da parte dos
indivíduos atacantes".
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Capítulo 12
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A sétima raça atlante foi constituída pela raça amarela, origem dos atuais
povos asiáticos. Os povos atlantes, em ondas sucessivas, colonizaram os
outros continentes, povoando as Américas, a Europa e o norte da África,
dando origem assim aos povos indígenas do continente americano, aos
europeus atuais e aos egípcios, espalhando-se também por toda a Ásia. A
Raça Ariana parece começar na índia, até onde podemos rastreá-la
historicamente, mas certamente proveio diretamente das raças do Norte. As
raízes etimológicas nos levam aos idiomas indo-europeus, traçando
indubitável vínculo familiar. A Raça Ária se desdobra em sub-raças: ária-
primitiva, ária-semítica, iraniana, céltica, teutônica e eslava. Uma outra raça
ária aparecerá possivelmente na América. Durante o advento da sexta raça
haverá uma verdadeira unificação da grande família humana, com grandes
semelhanças raciais em toda parte.
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Capítulo 13
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Veículos da alma
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Lei do Karma
Os tipos humanos
A evolução humana, como vimos, provém dos mamíferos. A corrente
da vida, que irá, mais tarde, tornar-se a humanidade, manifesta traços
rudimentares de especialização, mesmo em suas fases primitivas de vida
elemental, mineral e vegetal. As características ficam mais perceptíveis
quando o ser atinge o reino animal. Essa vida, destinada a tornar-se humana,
compreende sete tipos fundamentais, apresentando cada tipo modificações,
quando de algum modo influenciado pelos outros. O estudo desses tipos
seria de grande valia aos psicólogos na compreensão dos enigmas da alma
humana. Esses tipos persistem através de todos os reinos que precedem o
humano. A vida que anima os cães é distinta da que anima os gatos; a que
anima os elefantes é por sua vez distinta das outras duas.
A vida do cão evoluiu nas formas dos lobos, chacais e outros caninos
antes de chegar ao cão doméstico, sua mais elevada forma de encarnação.
Da mesma maneira, outros tipos de vida animal, tais como o gato, o cavalo,
o elefante e o macaco, tiveram as suas primeiras encarnações nas formas
mais selvagens e pré-históricas das mesmas famílias. E uma perspectiva
impressionante ver como esses tipos animais se manifestam entre a
humanidade. Vemos então como a vida canina entra no reino humano sob a
forma de alma devocional - resultado dos sentimentos profundos de
dedicação incondicional a seu dono.
Os sete tipos são bastante perceptíveis. Nenhum é superior aos outros,
simplesmente todos são necessários ao grande drama da evolução. Segundo
o grande teósofo Jinarajadasa, são eles: o devocional,
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Dramático - ator
- devoto - mártir
- filosófico - autor
- executivo - guerreiro
Científico - teórico
- experimental
- reverencial
- teatral
Executivo - magnético -
dramático
Filosófico - sintético
- analítico
- artístico
- humanitário
Ritualístico - cerimonial
- simbólico
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O temperamento animal
Somos "descendentes", através da encarnação, de um certo tipo
animal. Assim, se nossa primeira forma animal foi um canídeo, seremos
sempre uma forma de vida canina, com todas as variantes possíveis. Uma
vez felino, sempre felino, e assim por diante - com raras exceções. Isto
explica certas preferências que manifestamos, ao chegarmos à encarnação
humana, por um determinado tipo de animal doméstico - ou mesmo
selvagem. É fácil reconhecer inclusive pela forma do rosto, pelo tipo do
corpo e pelo temperamento, qual animal foi nossa forma primitiva. Tudo
indica que os animais representados no Zodíaco - seja o ocidental, seja o
oriental - são as formas primitivas dos mamíferos dos quais descendemos.
No horóscopo de nascimento, vemos muitas vezes o animal típico no signo
ascendente ou solar. Os mais reconhecíveis são: o carneiro, o boi, o leão - e
sua longa lista de felinos - o cavalo, a cabra, o macaco, o porco, o rato, o
coelho, o cão, o camelo e o elefante.
O carneiro mostra no rosto humano uma forma triangular, testa alta,
temperamento doce e tímido. Serviçal, útil, fisicamente forte, teimoso e
trabalhador. É pontual, dedicado às suas obrigações, e dá ótimos operários,
militares de baixa patente, empregados de confiança e capatazes. O boi
apresenta o rosto largo, quadrado, olhos salientes, modos submissos e
propenso às tarefas que exijam rotina e dedicação. Tende às ocupações
práticas, dependentes e braçais. Dá as donas de casa de tempo integral, os
agricultores, os funcionários zelosos, os operários de pouca especialização,
mas de alta produção.
O felino apresenta duas variantes, a selvagem, que corresponde ao
leão - ou pantera, puma, jaguar, onça, etc - tem a face achatada, larga,
cabelos revoltos e temperamento altivo, com modos militares. A variante
doméstica é o gato, que tem uma face mais delicada, modos sinuosos, fala
macia. É indolente, diplomático e em geral só faz o que aprecia, não o que
lhe mandam. O primeiro tipo busca o poder, e comumente ocupa altos
postos ou está ao lado dos governantes; o segundo tipo busca a segurança
dos empregos pouco exigentes e fontes de renda permanentes. O cavalo tem
em geral alta estatura, estrutura óssea grande, especialmente na cabeça, que
é retangular, mandíbulas largas, dentes grandes. É dedicado, leal, serviçal,
generoso, dado às viagens, às causas humanitárias, às profissões artísticas -
(há muitos atores nessa categoria - alguns muito típicos, como
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mas com uma índole fiel, devotada e capaz de sacrifícios totais. Buscam
posições subalternas onde possam servir a alguém por toda uma vida. Podem
dar grandes idealistas ou fanáticos irrecuperáveis.
O elefante tem sempre um porte elevado e formas gigantes. Ossos
largos, cabeça grande, freqüentemente calva. Nariz desenvolvido, mãos e
pés enormes, tendência para comer muito e engordar. O temperamento é
geralmente dócil, generoso, disposto ao sacrifício e às grandes causas.
Laborioso, dedicado, ânimo forte, inteligente e sensível. Entretanto, é
temperamental, e, às vezes, revela uma disposição vingativa inesperada. Dá
bons comerciantes, intelectuais, viajantes e proprietários.
Ainda que cada ser humano traga em si as características corporais e
psicológicas de seu animal ancestral, o grau de evolução que for atingindo
no curso das encarnações fará com que sua inteligência se desenvolva, seus
sentimentos se refinem e seu corpo físico adquira beleza e perfeição. Quanto
mais próximo do topo da evolução, mais o tipo físico se afastará do
arquétipo animal, e mais se parecerá com o arquétipo hominal próprio de
cada raça ou cadeia evolutiva, rumo à perfeição.
Indo mais para trás na linha da evolução, cada espécie animal proveio
de um certo grupo do reino vegetal, e poderíamos, por exemplo, reconhecer
no elefante seu ancestral vegetal num majestoso jatobá ou numa seqüóia; no
coelho, um delicado jasmineiro; no leão, um frondoso carvalho; no cão, uma
linda roseira cheia de espinhos; no cavalo, uma nogueira ou uma oliveira -
árvores belas e úteis; no macaco, uma trepadeira, e assim por diante. 0
processo evolutivo mostra uma atividade incessante, onde se processa a
conversão do Um em Muitos. Não é um processo em que cada um luta por
si, mas em que cada qual chega à compreensão de que a sua mais alta
expressão depende do serviço prestado a outros, por serem todos parte do
um. A Evolução da Forma não é uma série de partes semelhantes
simplesmente acopladas, mas um todo constituído de partes diferentes em
que uma depende das outras.
Por outro lado, a Evolução da Vida não se limita a um único
temperamento, um único credo, um único modo de pensar, mas tem por
característica a diversidade de temperamentos, de formas, de credos e de
maneiras de servir, que se unem todos para cooperar com o cosmos e se
lançam na realização do Plano Divino. Nesse processo, nada ocorre por
acaso, tudo segue um plano inteligente e perfeito. Ao contrário do que
acreditam certas correntes de cientistas, a vida e os fenômenos do universo
não são
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seu nascimento foi marcado por fenômenos no céu, e também ele foi
perseguido pelo tirano Kansa, rei de Madura, que, temendo ser destronado
pelo recém-nascido, mandou degolar as crianças nascidas na época. A
família conseguiu fugir, e, anos mais tarde, se inicia a pregação de Krishna,
cuja prédica está registrada no Bhagavad Gita (0 Canto do Sublime). Sua
vida é narrada no Wishnu Purana e na epopéia denominada Mahabhárata. A
infância e a juventude de Krishna são idênticas às de Jesus, com a mesma
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Numa Pompílio, o segundo rei lendário de Roma, considerava Janus
como o deus que presidia as Corporações de Ofícios. Curiosamente, na
Idade Média, São João foi tomado como patrono das Corporações dos
Construtores, mostrando-nos a identidade das duas figuras. Até hoje, a
Maçonaria usa a expressão "Loja de São João", como um nome simbólico
para toda união ou agrupamento de iniciados, ou de todos aqueles que
tenham sido admitidos aos Mistérios. Seria o mesmo que dizer Loja de
Janus. Numa Pompílio deu o nome de Janus ao primeiro mês do ano -
Januarius (Janeiro) - e por esse motivo também se interpretou a sua dupla
face como o olhar que poderia ao mesmo tempo ver o ano que nascia e o ano
que acabava de expirar. Janus é, assim, uma personificação do signo de
Aquário, o primeiro signo do ano, e que se inicia exatamente em Janeiro.
Aquário é regido por dois planetas, Saturno - que representa o tempo, o
passado - e Urano - que representa o espaço e o futuro.
A prudência com que Saturno dotou Janus nos ensina que devemos
aproveitar a experiência do passado para nos prepararmos adequadamente
para o futuro. Janus bifronte representa também os dois solstícios - ou os
dois equinócios - ou ainda, a estação passada e a estação futura - chamando-
nos a atenção, na primavera ou no verão, para que tenhamos tudo preparado
com prudência para enfrentar o outono e o inverno. Conhecemos de Janus
também uma representação quadrifronte, significando, neste caso, a cruz do
espaço onde se cortam os dois solstícios e os dois equinócios - as quatro
estações do ano, assim como os quatro pontos cardeais, as quatro fases da
Lua e as quatro estações do dia: alvorecer, zênite, ocaso e nadir.
Pode-se fazer um paralelo entre Janus bifronte e os dois ladrões do
simbolismo cristão, um de cada lado do Sol-Cristo. O mau ladrão é a estação
que foge, que se esvai, e o bom ladrão é a estação que entra. As escrituras
bíblicas identificam a estação que termina como o ladrão que foge,
significando que, se não tivermos trabalhado na hora certa nas lides
agrícolas ou na construção, a estação foge, e com ela se vai nossa esperança
e nosso alimento. Os antigos romanos reverenciavam Janus como um
espírito benéfico que velava pela prosperidade das famílias e que impedia a
entrada dos gênios maléficos em suas moradias. Janua, em latim, significa
porta, e Janus se traduz como "uma passagem aberta de ambos os lados".
No primeiro dia do ano, os latinos - habitantes do Lácio - dedicavam a Janus
um sacrifício chamado Janual, composto de vinho e frutas;
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extraordinários é o Zodíaco Chinês, absolutamente semelhante ao Zodíaco
Maia - utilizando exatamente os mesmos animais para representar as
mesmas faixas do céu! Mais que similitude, trata-se com certeza de
parentesco, reportando-nos quase inevitavelmente a uma antiga fonte
comum, o continente perdido da Atlântida. Voltando à tradição romana,
sabemos que erigiram em honra a Janus dois templos famosos: o de Janus
Bifrons, construído próximo do fórum de Augusto, e o de Janus Geminius.
O primeiro foi edificado no 6º ano da fundação de Roma, era todo de
bronze, de forma quadrangular e muito pequeno, tanto que nele só cabia a
estátua dourada do deus, erigida no centro do templo. Tinha duas portas em
arco, uma defronte à outra, e as duas faces de Janus olhavam, uma para a
entrada e a outra para a saída. Era considerado o templo mais antigo de
Roma, e foi sempre um lugar sagrado, apesar das paredes já destruídas. O
segundo foi construído por Numa Pompílio para comemorar os tempos de
paz e os de guerra. Sua forma era também quadrangular, sem pórtico e sem
colunas, e tão espaçoso que nele podiam reunir-se o Senado romano e o
povo. Em tempos de paz, suas portas permaneciam fechadas com cem
ferrolhos e pesadas barras de ferro, a fim de dificultar sua abertura, como a
simbolizar que uma guerra nunca deve ser empreendida com leviandade,
nem por motivo fútil.
Varrão nos dá conta que as quatro faces do templo de Janus
representavam as quatro estações, e que havia nesse templo doze altares,
simbolizando os doze signos zodiacais e os doze meses do ano. A cabeça de
Janus figurava na proa dos barcos, e na moeda mais antiga dos romanos, o
"asse". Vemos, pois, que o simbolismo oculto das religiões - tanto antigas
como modernas - pode ser interpretado através dos eventos celestes, e, por
conseguinte, através da ciência que os estuda, a Astrologia. E ela nos aponta
para o drama solar, espécie de narrativa temática eternamente repetida e
perpetuada pelas tradições iniciáticas dos povos antigos e sempre protegida
sob o véu da alegoria.
Entretanto, o bom entendedor perceberá, por trás das parábolas, a
mensagem que os grande iniciados deixaram para as gerações futuras. E
essa mensagem nos remete para a contemplação da natureza e a
compreensão de seus mistérios. O cosmos, porém, só nos concederá
permissão para penetrar neles se tivermos o coração puro e a alma liberta
dos preconceitos, dos dogmas e dos grilhões culturais que nos impedem de
ver a verdade. Sempre nos ensinaram que a verdade nos liberta, Contudo,
para
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encará-la, é preciso armar-se daquela coragem que implica numa mudança
de estado de consciência. Ao contrário do que pensam muitos, essa mudança
não pode ser atingida apenas mediante um conhecimento ou busca racional.
É preciso ter a disposição de alma que nos leve a querer "nascer de novo".
Não se trata de uma morte física, mas da morte simbólica - é a morte do grão
de trigo, que dará nascimento à planta, cujo fruto, por sua vez, morrerá para
dar origem à sua descendência.
É a mensagem do "quem não nascer de novo não verá o Paraíso". É a
mensagem dos iniciados de todos os tempos, que mostraram, através do
drama solar, o exemplo que devemos seguir: morrer no ocaso para renascer
na próxima aurora. Enfim, para despertar o Cristo interno, que está dentro de
cada um de nós, além de uma vida virtuosa, é preciso ser tocado pelo amor
ao nosso semelhante e estar pronto para sacrificar-se por uma causa justa e
nobre. É o caminho dos santos, dos benfeitores da humanidade, dos grandes
yogues e dos grandes sábios. As Escolas de Mistérios - entre elas a
Maçonaria - criaram as cerimônias simbólicas, que colocam o neófito nessa
senda iniciática através de uma experiência transcendente que equivale à
morte. Ele renasce, em seguida, renovado, o espírito desperto, sua
consciência elevada para um outro patamar.
A palavra Cristo, ou Chrestos, foi usada por Esquilo, no século V a.C,
com o significado de profeta, aquele que sabe decifrar os oráculos, os sinais
do céu. No vocabulário de Justino-Mártir, Chrestos significava também
discípulo posto à prova, um candidato à iniciação que já percorreu o
caminho e está prestes a alcançar a meta. A proposta das escolas de iniciação
é dar ao candidato uma oportunidade de "nascer de novo". Vale dizer que ele
"morre" para o mundo profano, cheio de ilusões, trevas e tentações, e
"renasce" no mundo da luz. A partir daí, sua meta é tornar-se um Cristo, um
ser realizado, despertar o Átomo Nous - a Centelha Divina - contida em todo
ser inteligente. Para tal, deve vencer os três "animais" simbólicos do
presépio, que o cercam na vida profana: o burro - a ignorância; o cordeiro - a
debilidade; e o touro - as paixões brutais.
Vemos, pois, que o simbolismo das modernas religiões, cuja meta é
imitar o Messias, ou Salvador, está calcado no drama solar, contido e
explicado pelas tradições iniciáticas dos povos antigos. O Cristo-Sol está
crucificado entre dois solstícios e dois equinócios. Essa cruz do espaço,
tendo o Sol por centro, nos leva ao mistério do Karma, que nos aprisiona
pela Lei de Causa e Efeito. Só nos poderemos libertar dessa prisão quando
aceitarmos a Luz, que é a Consciência Desperta pelo Sol Meridiano da
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CANSELIET, Eugéne. L' Alchimie Expliqués Sur Ses Textes Classiques. Editora
Pauvert.
171
D' ESPAGNET, Jean. La Obra Secreta de Ia Filosofia de Hermes Trismegisto.
Tipográfica Editora Argentina. 1967.
PARACELSE. Traité Des Trois Essences Premieres; Le Trésor Des Trésors Des
Alchimistes; Discours De L'AIchimie. Editora Arché.
172
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RIPLEY, George. Les Douze Portes De L' Alchimie. Editora Guy Trédaniel.
ST. Thomas D' Aquin. Traité De La Pierre Philosophale Et L' Art De L' Alchimie.
Editora Arché-Milão.
VALENTIN, Basile. Azoth (Le Moyen De Faire L' Or Caché Des Philosophes)
Editora Arché.
173
VALOIS, Nicolas. Les Cinq Livres Ou La Clef Du Secret Des Secrets. &
Grosparmy, Nicolas. Le Trésor Des Trésors Editora La Table d' Emeraude.
VILANOVA, Arnaldo de. Le Chemin Du Chemin. Editora Arché.
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175
Esta obra foi impressa em novembro de 2006 pela Editora UFMS.
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Endereço: Estádio Morenão, Portão 14, Cidade Universitária.
79070-900 Campo Grande (MS). Fone: (67) 3345-7200.
Site: www.editora.ufms.br
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Vem
Facciollo
Filha e neta de botânicos,
Vera Facciolloteve uma
infância marcada pelo contato com a naturez
que despeitou nela a percepção de mundos m
sutis e o senso de observação científica do U
verso. Seguiu inicialmente carreira acadêmica
formando-se em Ciências Econômicas e Adm
trativas pela Universidade de São Paulo. Trab
lhou nessa área durante alguns anos, mas su
vida mudou radicalmente quando conheceu A
nio Facciollo Neto, seu mestre de Astrologia.
Tornou-se sua esposa e colaboradora nas pe
sas astrológicas e, mais tarde, professora na
escola por ele fundada, o Instituto Paulista de Astrologia. Iniciou-se maçom em
1974 e fundou em 1986 a GLADA (Grande Loja Arquitetos de Aquário), da qua
atualgrã mestrae grande comendadora do Grauuma 33, Potência Maçônica Mista,
que é reconhecida mundialmente pelo excelente trabalho ritualístico e pela pro
dade das instruções herméticas e humanística. Vera foi reeleita grã mestra po
várias gestões e é uma das autoridades mais respeitadas no que diz respeito
sença da mulher na Maçonaria, tendo publicado vários artigos e apresentado
sas teses sobre o assunto. Atualmente, leciona Astrologia e Ciências Hermétic
ministra cursos no Brasil e no exterior, além de se dedicar à yoga, à prática da
mia e aos estudos holísticos, humanitários e filosóficos.