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Apucarana - PR
2017
O Plano Complexo
1
1.1.Os números complexos
Os números complexos têm sua origem na dificuldade encontrada em resolver
certas equações algébricas tais como x2 = −1. Como não existe número real cujo
quadrado seja −1, esta equação só terá solução se introduzirmos um novo conceito de
número com a propriedade
√ de que seu quadrado seja −1. Esse número, comumente
designado por i ou −1 é chamado de unidade imaginária.
Combinando-se a unidade imaginária com números reais a e√b, somos √ levados aos
números complexos da forma a + bi como, por exemplo, −1 + 3i, 5 − 9i.
Definição 1.1.1
Um número complexo é qualquer número da forma z = a + bi, onde a e b são
números reais e i é a unidade imaginária.
Um número complexo x + yi = 0 se x = 0 e y = 0.
Operações aritméticas Números complexos pode ser somados, subtraı́dos, mul-
tiplicados e divididos. Essas operações são definidas a seguir, considerando z = a + bi
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Capı́tulo 1. O Plano Complexo
e w = c + di:
z a + bi ac + bd bc − ad
Divisão: = = 2 2
+i 2 .
w c + di c +d c + d2
As leis comutativa, associativa e destributiva se aplicam aos números complexos.
z1 + z2 = z2 + z1 ;
Lei comutativa:
z1 · z2 = z2 · z1
z1 + (z2 + z3 ) = (z1 + z2 ) + z3 ;
Lei associativa:
z1 (z2 z3 ) = (z1 z2 )z3
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Capı́tulo 1. O Plano Complexo
Solução:
z1 z1 z2 z1 z2 (2 − 3i) (4 − 6i)
(a) = = =
z2 z2 z2 z2 z2 (4)2 + (6)2
−10 − 24i 5 6
= = − − i.
52 26 13
1 1 z2 z2 (4 − 6i)
(b) = = =
z2 z2 z2 z2 z2 (4)2 + (6)2
4 − 6i 1 3
= = − i.
52 13 26
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Capı́tulo 1. O Plano Complexo
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Capı́tulo 1. O Plano Complexo
1.1.1. Exercı́cios
1. Reduza à forma a + bi cada uma das expressões complexas seguintes:
(f ) (3i − 1) 2i + 13 ;
(a) (3 + 5i) + (−2 + i);
√ + 4i) − (1 − 2i);
(b) (−3 √ (g) 7 − 2i 2 − 2i5 ;
(c) ( 3 − 2i) − i[2 − i( 3 + 4)]; (h) (2 + 3i)2 ;
(d) (3 − 5i)(−2 − 4i); (i) (4 − 2i)2 ;
(e) 1 + 3i − 65 + 3i ;
(j) 1 + 2i + 3i2 + 4i3 + 5i4 + 6i5 .
1 1+i
(b) . (f ) .
4 − 3i 1−i
1+i 1
(c) . (g) .
3 − 2i 1+i
30
3−i
(d) . 1+i
−1 + 2i (h) .
1−i
8. Verifique as seguintes relações:
√ " √ 2# √
2 1 − i 2 (1 − i 3) 2(1 + 2 3)
(a) Re[−i(2−3i) ] = −12; (b) √ = −1; (c) Im = .
2+i −2 + i 5
9. Demonstre que
|α + β|2 + |α − β|2 = 2|α|2 + 2|β|2
quaisquer que sejam os números complexos α e β. Faça um gráfico para verificar a se-
guinte interpretação geométrica: a soma dos quadrados do lado de um paralelogramo
é igual a soma dos quadrados de suas diagonais.
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Capı́tulo 1. O Plano Complexo
1.2.Representação polar
Considerando a representação geométrica de um número complexo z, chama-se
argumento de z ao ângulo θ formado pelo eixo Ox e o vetor Oz.
isto é,
z1 z2 = r1 r2 [cos(θ1 + θ2 ) + i(θ1 + θ2 )].
Vemos assim que o produto de dois números complexos é o número cujo módulo
é o produto dos módulos dos fatores e cujo argumento é a soma dos argumentos dos
fatores (Fig.1.4).
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Capı́tulo 1. O Plano Complexo
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Capı́tulo 1. O Plano Complexo
z1 z2 . . . zn = r1 r2 . . . rn [cos(θ1 + θ2 + · · · + θn ) + i sin(θ1 + θ2 + · · · + θn )]
isto é
(cos θ + i sin θ)−n = cos(−nθ) + i sin(−nθ).
1.2.1. Exercı́cios
1. Determine o argumento dos números complexos abaixo, escreva-os na forma polar
e represente-os geometricamente.
1
a) z = −2 + 2i e) z = √
−1 − i 3
√
b) z = 1 + i 3 f ) z = −1 − i
√
c) z = − 3 + i −3 + 3i
g) z = √
5 1+i 3
i
d) z = −4
1+i h) z = √
3−i
2. Reduza os números z1 e z2 abaixo à forma polar e determine as representações
z1
polares de z1 z2 e .
z2
√
√ 3−i 3
a) z1 = 3 + 3i, z2 =
2
√
b) z1 = 1 + i, z2 = 3 + i
√
c) z1 = 1 − i, z2 = −1 + i 3
3. Mostre que cos 3θ = cos3 θ − 3 cos θ sin2 θ e que sin 3θ = − sin3 θ + 3 cos2 θ sin θ.
Sugestão: Desenvolva (cos θ + i sin θ)3 pela fórmula do binômio e pela Fórmula de De
Moivre.
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Capı́tulo 1. O Plano Complexo
z = ρ(cos φ + i sin φ)
e usando a Fórmula de De Moivre obtemos
ρn = r, nφ = θ + 2kπ,
θ 2kπ
φk = + , k = 0, 1, . . . , n − 1.
n n
No caso particular a = 1 obtemos as raı́zes n-ésimas da unidade: 1, ω, ω 2 , . . . , ω n−1 ,
onde
2π 2π
ω = cos + i sin .
n n
A Fig.1.6 ilustra o caso n = 6.
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Capı́tulo 1. O Plano Complexo
√
n
θ θ 2kπ 2kπ
z = r cos + i sin cos + i sin ,
n n n n
ou seja,
√
θ θ
z= n
r cos + i sin ω k , k = 0, 1, . . . , n − 1.
n n
Esta expressão nos diz que as raı́zes n-ésimas de um número complexo podem ser
obtidas como o produto de uma raiz n-ésima do número, precisamente
√
n
θ θ
z0 = r cos + i sin ,
n n
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Capı́tulo 1. O Plano Complexo
√
3
Figura 1.7: 8
logo,
x2 − y 2 + 2xyi = −7 − 24i,
donde
x2 − y 2 = −7, xy = −12
resolvendo essa última equação em relação a x e substituindo na primeira, obtemos
uma equação quadrática para y 2 , cuja solução é y 2 = 16 (como y é real, y 2 > 0).
Logo y = ±4 e x = ∓3,donde
√
−7 − 24i = ±(3 − 4i).
1.3.1. Exercı́cios
1. Calcule as raı́zes abaixo.
√ √ √
a) −4; b) (1 + i 3)1/2 ; c) 3
i;
√ √ p √
d) −i e)(−1 + i 3)1/4 f) −1 − i 3.
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Capı́tulo 1. O Plano Complexo
a) z 2 − 2z + 2 = 0 b) z 2 + (1 − 2i)z + (1 + 5i) = 0.
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Funções Analı́ticas
2
2.1.Conjuntos no plano complexo
Daremos aqui as definições de alguns conjuntos e elementos do plano complexo
que serão usados na caracterização de funções complexas..
p
Consideremos z0 = x0 + iy0 . Como |z − z0 | = (x − x0 )2 + (y − y0 )2 é a distância
entre os ponto z = x + iy e z0 , os pontos que satisfazem a equação
|z − z0 | = ρ, ρ > 0,
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
Exemplo 2.1.2
São conjuntos abertos do plano complexo:
(a) Im z < 0.
(b) −1 < Re z < 1.
(c) |z| > 1.
(d) 1 < |z| < 2.
ρ1 < |z − z0 | < ρ2 ,
2.1.1. Exercı́cios
1. Descreva geometricamente a região determinada por cada uma das seguintes
condições:
c) − π < arg z < π, |z| > 2; f) 1 < |z − 2i| < 2; i) |2z + 3| > 4.
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
Figura 2.1:
É importante notar que, para caracterizar uma função, não basta especificar a lei
de correspondência f ; é preciso especificar também o domı́nio de definição D. Entre-
tanto, frequentemente consideramos funções dadas em termos de relações analı́ticas
bem definidas w = f (z), sem especificar o domı́nio de definição. Nestes casos, fica
subentendido que o domı́nio de definição de f é o maior subconjunto de números com-
plexos z para os quais tenha sentido a expressão analı́tica f (z). Por exemplo,quando
falamos ”seja a função
3z − 5
w= ”,
(z − i)(z + 7)
estamos usando esta relação para especificar a lei de correspondência f que liga z a w;
ao mesmo tempo fica subentendido que o domı́nio desta função é o plano complexo,
exceto os pontos z = i e z = −7.
Uma função da variável complexa z pode assumir valores puramente reais. Por
exemplo, p
f (z) = |z| = x2 + y 2 , onde z = x + yi,
é uma função real da variável complexa z.
A cada função w = f (z) de uma variável complexa z = x + yi estão associadas
duas funções reais das variáveis reais x e y, dadas por
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
Assim, se z = x + yi então
onde u, v : D ⊂ R2 −→ R.
Por exemplo, sendo f (z) = z 2 + 3z − 5, temos
u = x2 − y 2 + 3x − 5, v = 2xy + 3y.
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
se, para cada > 0, existir um δ > 0 tal que |f (z) − L| < sempre que 0 <
|z − z0 | < δ.
f (z) L1
(iii) lim = , se L2 6= 0.
z→z0 g(z) L2
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
d
Regra da cadeia: f (g(z)) = f 0 (g(z))g 0 (z).
dz
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
e assim
f (z + ∆z) − f (z) ∆x + 4i∆y
lim = lim .
∆z→0 ∆z ∆z→0 ∆x + i∆y
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
2.2.1. Exercı́cios
Nos problemas de 1 a 8, expresse a função indicada na forma f (z) = u + iv.
1. f (z) = 6z − 5 + 9i 5. f (z) = z 3 − 4z
2. f (z) = 7z − 9i z − 3 + 2i 6. f (z) = z 4
1
3. f (z) = z 2 − 3z + 4i 7. f (z) = z +
z z
4. f (z) = 3z 2 + 2z 8. f (z) =
z+1
3 2 z4 − 1
13. lim(4z − 5z + 4z + 1 − 5i) 15. lim
z→i z→i z − i
5z 2 − 2z + 2 z 2 − 2z + 2
14. lim 16. lim
z→1−i z+1 z→1+i z 2 − 2i
z x+y−1
17. lim 18. lim
z→0 z z→1 z−1
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
Nos problemas 27 a 30, defina os pontos para os quais a função indicada não será
analı́tica.
z 2i
27. f (z) = 29. f (z) =
z − 3i z2
− 2z + 5iz
z3 + z z − 4 + 3i
28. f (z) = 2 30. f (z) = 2
z +4 z − 6z + 25
Note que, se uma função complexa f (z) = u(x, y) + iv(x, y) for analı́tica em
domı́nio D então as funções reais u e v satisfazem as equações de Cauchy – Riemann
(2.3.1) em todo ponto de D.
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
Exemplo 2.3.1
A função polinomial f (z) = z 2 + z é analı́tica para todo z e f (z) = (x2 − y 2 +
x) + i(2xy + y). Assim, u(x, y) = x2 − y 2 + x e v(x, y) = 2xy + y. Para qualquer
ponto (x, y), vemos que as equações de Cauchy – Riemann são satisfeitas:
∂u ∂v ∂u ∂v
= 2x + 1 = e = −2y = − .
∂x ∂y ∂y ∂x
Exemplo 2.3.2
Mostre que a função f (z) = (2x2 + y) + i(y 2 − x) não é analı́tica em qualquer
ponto.
∂u ∂v
= 4x e = 2y
∂x ∂y
∂u ∂v
=1 e = −1.
∂y ∂x
∂u ∂v ∂u ∂v
Das igualdades acima vemos que = − , para todo (x, y), mas =
∂y ∂x ∂x ∂y
somente nos pontos sobre a reta y = 2x. Contudo, em pontos sobre essa reta, não
existe qualquer vizinhança onde f é diferenciável. Portanto, f não é analı́tica em
nenhum ponto do plano complexo.
Para que a recı́proca do teorema 2.3.1 tenha validade é preciso uma hipótese
adicional sobre as funções reais u e v.
Teorema 2.3.2 (Critério para analiticidade)
Suponha que as funções reais u(x, y) e v(x, y) tenham derivadas parciais de pri-
meira ordem contı́nuas em um domı́nio D. Se u e v satisfizerem as equações de
Cauchy – Riemann em todos os pontos de D, então a função complexa f (z) =
u(x, y) + iv(x, y) é analı́tica em D.
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
Exemplo 2.3.3
x y
Para a função f (z) = −i 2 , temos
x2 +y 2 x + y2
∂u y 2 − x2 ∂v ∂u 2xy ∂v
= 2 2 2
= e =− 2 2 2
=− .
∂x (x + y ) ∂y ∂y (x + y ) ∂x
∂u ∂v ∂v ∂u
f 0 (z) = +i = − . (2.3.2)
∂x ∂x ∂y ∂y
Por exemplo, sabemos que f (z) = z 2 é diferenciávem em todo z. Com u(x, y)x2 −
y 2 , ∂u/∂x = 2x, v(x, y) = 2xy e ∂v/∂x = 2y, vemos que
∂u ∂v ∂u ∂v
= 2x, = −2y e = 0, =0
∂x ∂y ∂y ∂x
que as equações de Cauchy – Riemann são satisfeitas apenas quando y = −x. Porém,
como as funções u, ∂u/∂x, ∂u/∂y, ∂v/∂x e ∂v/∂y são contı́nuas em todos os pontos,
temos que f é diferenciável na reta y = −x, sendo que (2.3.2) define a derivada
f 0 (z) = 2x = −2y.
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
∂ 2u ∂ 2u
+ =0
∂x2 ∂y 2
descreve, dentre outros fenômenos fı́sicos, problemas envolvendo a distribuição de
temperaturas em regime permanente (independente do tempo). Essa equação dife-
rencial parcial também desempenha um papel importante em outras áreas da ma-
temática aplicada. De fato, as partes real e imaginária de uma função analı́tica não
podems ser escolhidas arbitrariamente pois tanto u quanto v tem que satisfazer a
equação de Laplace. É essa ligação entre funções analı́ticas e a equação de Laplace
que torna as variáveis complexas tão essenciais no estudo da matemática aplicada.
Definição 2.3.1 (Funções Harmônicas)
Uma função de valor real φ(x, y) que tenha derivadas parciais de segunda ordem
contı́nuas em um domı́nio D e que satisfaça a equação de Laplace é chamada de
função harmônica.
Teorema 2.3.3
Suponha que f (z) = u(x, y) + iv(x, y) seja uma função analı́tica em um domı́nio
D. Então, as funções u(x, y) e v(x, y) são funções harmônicas em D.
∂2u ∂2v
+ = 0.
∂x2 ∂y 2
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
Exemplo 2.3.4
(a) Verifique que a função u(x, y) = x3 − 3xy 2 − 5y é harmônica em todo o plano
complexo. (b) Obtenha a função harmônica conjugada de u.
∂u ∂ 2u ∂u ∂ 2u
= 3x2 − 3y 2 , = 6x, = −6xy − 5, = −6x
∂x ∂x2 ∂y ∂y 2
e assim,
∂ 2u ∂ 2u
+ = 6x − 6x = 0.
∂x2 ∂y 2
Logo u satisfaz a equação de Laplace, o que mostra que u é harmônica.
(b) Como a função harmônica conjugada deve satisfazer as equações de Cauchy –
Riemann, devemos ter
∂v ∂u ∂v ∂u
= = 3x2 − 3y 2 e =− = 6xy + 5. (2.3.3)
∂y ∂x ∂x ∂y
∂v
= 6xy + h0 (x).
∂x
Substituindo esse resultado na segunda equação de (2.3.3) obtemos h0 (x) = 5, e
portanto h(x) = 5x + C. Consequentemente, a função harmônica conjugada de u é
v(x, y) = 3x2 y − y 3 + 5x + C. A função analı́tica é
2.3.1. Exercı́cios
Nos problemas 01 e 02, a função dada é analı́tica para todo z. Mostre que as equações
de Cauchy–Riemann são satisfeitas em todos os pontos.
Nos problemas de 03 a 08, mostre que a função indicada não é analı́tica em qualquer
ponto.
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Capı́tulo 2. Funções Analı́ticas
x y
07. f (z) = x2 + y 2 08. f (z) = +i 2
x2 +y 2 x + y2
Nos problemas 09 a 13, utilize o Teorema 2.3.2 para mostrar que a função indicada é
analı́tica em um domı́nio apropriado.
09. f (z) = ex cos y + iex sin y
2 −y 2 2 −y 2
10. f (z) = ex cos(2xy) + iex sin(2xy)
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