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PUC-SP
SÃO PAULO
2011
CLAUDIA MOREIRA DOS SANTOS
PUC - SP
2011
ii
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
iii
Aos meus pais,
pelo exemplo digno de vida,
e ao meu marido, Robinson,
pela compreensão e apoio permanentes.
iv
AGRADECIMENTOS
v
A todas as minhas colegas de curso, especialmente, Ângela, Rosânia e
Fernanda pelo carinho, companheirismo e com as quais tive a honra de partilhar
medos, alegrias e sonhos.
vi
EGÍGRAFE
vii
CLAUDIA MOREIRA DOS SANTOS
RESUMO
Não é incomum e nem causa estranheza se, no trânsito de uma avenida, ouvirem-se
frases como: 'Lugar de mulher é na cozinha' ou 'Vá pilotar no fogão', como se a
mulher estivesse invadindo um terreno que não lhe pertencesse. Sempre me intrigou
essa diferença na consideração da mulher, quanto às suas atividades e seus
deveres, em contraposição aos do homem. Se imaginarmos que o mundo é uma
vasta coleção de coisas e de pessoas, poder-se-ia pensar que as pessoas teriam
direito a essas coisas. Assim, ao entrar em contato com as ideias de Fowler (1991)
sobre 'categorização' e 'grupo', decidi-me a pesquisar o assunto. A comunicação
humana, segundo Fowler (1991), envolve sistemas de crenças, sistemas de
categorias, ‘graus de discriminação’, que representam o mundo de acordo com as
necessidades das sociedades em que ocorre a comunicação. Na medida em que
categorizamos uma pessoa, continua o autor, como tendo atributos ou
comportamentos fortemente previsíveis, a categoria pode enrijecer-se em um
estereótipo. Segundo o autor, a categorização é a base discursiva para práticas de
discriminação. O autor é um dos idealizadores da ‘Linguística Crítica’, segundo a
qual, a análise feita com instrumentos linguísticos próprios e com referência a
contextos históricos e sociais relevantes pode trazer a ideologia, normalmente
escondida pela habitualização do discurso, à superfície para inspeção. Como em
nossos dados constam também algumas imagens que apareceram na página do
jornal em questão, apoiamo-nos em Macken-Horarik (2004), que analisa a
contribuição complementar entre imagens (ilustrações) e palavras (do texto), no
processo da construção de significados. O objetivo desta pesquisa é comparar, à luz
da Linguística Crítica (Fowler, 1991), com apoio metodológico da Linguística
Sistêmico-Funcional (Halliday, 1985; 1994), a categorização da mulher e a do
homem na primeira página, do jornal Folha de S. Paulo. Para tanto, a pesquisa deve
responder às seguintes perguntas: (a) Com que frequência a mulher ou o homem
são citados na primeira página do jornal Folha de S. Paulo? (b) Que tipo de atividade
exercem homens e mulheres citados nessa página? (c) Que escolhas léxico-
gramaticais revelam a ideologia subjacente à figura da mulher e à do homem? O
corpus desta pesquisa compõe-se das primeiras páginas das 30 edições do mês de
abril de 2010 do jornal Folha de S.Paulo. Na LSF, considero a TGR (Teoria de
Gêneros e Registro), proposta por Eggins e Martin (1997), bem como contribuições
mais recentes que a teoria tem recebido, tais como a Avaliatividade de Martin (2000)
e os conceitos de papel desempenhado e papel projetado, de Thompson e Thetela
(1995), além de outros recursos retóricos, como a chamada 'política do apito do cão'
(dog whistle politics) (COFFIN & O'HALLORAN, 2006) ou o 'contrabando' de
informação (LUCHJENBROERS; ALDRIDGE, 2007).
viii
CLAUDIA MOREIRA DOS SANTOS
ABSTRACT
It isn’t neither uncommon nor surprising when we hear on the streets male drivers
crying to a female driver: ‘Go to the kitchen!’ or ‘Cooking is what you should be
doing!’ as if women who dare drive had invaded a man’s territory. I have always felt
puzzled by such attitude towards women’s chores against men’s duties. If we picture
the world as a vast collection of things and people one could understand such rights.
Therefore, getting acquainted with Fowler’s ideas on women’s categorization and
groupings made me decide to go deep inside it. Human communication, according to
Fowler, involves belief systems, labeling arrangements and degrees of
discrimination, which all together represent the world according to the needs of the
societies where communication takes place. As we proceed with categorization of
people, we go on assigning persons specific attributes and associating them with
strongly predictable behaviors in a way that the categories end up turning into
stereotypes. According to Fowler, categorization is a discursive basis for
discrimination. He is one of the creators of Critical Linguistics which says that
analysis made with appropriate linguistic tools and related to relevant social and
historical contexts may reveal the ideology hidden under the surface of ordinary
discourse and display it for inspection. Because there are also images which we
picked up from the newspaper and included in this study, we refer to Macken-Horarik
(2004) to account for the complementary contribution of image (artwork) and
verbiage (text panel) to the meaning-making process. The objective of this study is to
compare the categorization of women and men on the first page of Folha de S. Paulo
newspaper, under the light of Critical Linguistics (Fowler 1991), with the support of
Systemic Functional Linguistics (Halliday, 1985; 1994). For this purpose, the study
shall answer the following questions: (a) How often are women or men cited on the
first page of Folha de S. Paulo newspaper? (b) What type of activities do women and
men cited on these pages are engaged in? (c) Which lexico-grammatical choices
does the ideology behind the image of woman and man reveal? The corpus of this
research is composed by the first pages of the thirty editions of Folha de S. Paulo in
April 2010. From Systemic Functional Linguistics, I consider the TGR (Theory of
Genres and Register), proposed by Eggins and Martin (1997), as well as more recent
contributions that such theory has received, such as Martin´s Appraisal Theory
(2000) and the concepts of Thompson and Thetela´s enacted and projected roles
(1995), and some other rhetoric features as well as the so-called ‘dog whistle politics’
(COFFIN & O'HALLORAN, 2006) or smuggling of information (LUCHJENBROERS;
ALDRIDGE, 2007).
ix
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Relação processos/participantes.............................................. 13
Quadro 2 - As três metafunções (fonte: HALLIDAY, 1994) ....................... 14
Quadro 3 - Exemplo de análise de N-Rema (fonte: FRIES,1995).............. 15
Quadro 4 - Oferecimento e pedido, bens & serviços ou informação
(fonte:HALLIDAY, 1994)........................................................... 19
Quadro 5 - Funções da fala e respostas (fonte: HALLIDAY, 1994)............ 20
Quadro 6 - Avaliação (Fonte: Martin, 2000)................................................ 23
Quadro 7 - Análise de Afeto (fonte: MARTIN, 2000a)................................ 25
Quadro 8 - Análise de Julgamento (fonte: MARTIN, 2000a)...................... 25
Quadro 9 - Análise de Apreciação (fonte: MARTIN, 2000a)....................... 26
Quadro 10 - Atividades exercidas por homens e por mulheres.................... 37
Quadro 11 - O contexto social/situacional do texto 1................................... 40
Quadro 12 - Relação processos/participantes.............................................. 40
Quadro 13 - Análise do sistema da Transitividade da notícia 1............... 41
Quadro 14 - Análise da metafunção interpessoal da notícia 1..................... 42
Quadro 15 - Análise da metafunção textual da notícia 1.............................. 43
Quadro 16 - Análise da questão visual da notícia 1..................................... 44
Quadro 17 - Notícia veiculada na primeira página do jornal em 15/04/10.... 45
Quadro 18 - O contexto social/situacional da notícia 2................................ 45
Quadro 19 - Análise do sistema da Transitividade da notícia 2............... 45
Quadro 20 - Análise da metafunção interpessoal da notícia 2..................... 46
Quadro 21 - Análise da metafunção textual da notícia 2.............................. 48
Quadro 22 - O contexto social/situacional da notícia 3................................. 49
Quadro 23 - Análise do sistema da Transitividade da notícia 3.................... 50
Quadro 24 - Análise da metafunção interpessoal da notícia 3..................... 51
Quadro 25 - Análise da metafunção textual da notícia 3.............................. 52
Quadro 26 - Análise da questão visual da notícia 3..................................... 52
Quadro 27 - Notícia veiculada na primeira página do jornal em 01/04/10.... 53
Quadro 28 - O contexto social/situacional da notícia 4................................. 53
Quadro 29 - Análise do sistema da Transitividade da notícia 4.................... 53
Quadro 30 - Análise da metafunção interpessoal da notícia 4..................... 54
Quadro 31 - Análise da metafunção textual da notícia 4.............................. 56
x
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
xi
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 1
1.1. Justificativa.......................................................................................... 5
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................... 6
2.1. A Análise do Discurso, segundo Fairclough..................................... 7
2.2. A Linguística Crítica............................................................................ 8
2.2.1. A discriminação............................................................................ 10
2.3. A relação entre língua e ideologia...................................................... 11
2.4. A Linguística Sistêmico-Funcional.................................................... 12
2.4.1. O Novo-Rema.............................................................................. 15
2.4.2. Língua e contexto........................................................................ 15
2.4.3. Teoria de Gêneros e Registros.................................................... 17
2.4.4. A Metafunção interpessoal........................................................... 19
2.4.4.1. A modalização.................................................................... 21
2.4.5. A Avaliatividade (Appraisal).......................................................... 23
2.4.5.1. Token de Atitude................................................................ 27
2.4.5.2. O Fenômeno da Propagação Avaliativa............................ 28
2.5. A abordagem intertextual ou translinguística................................... 29
2.5.1. Intertextualidade, coerência e sujeitos......................................... 30
2.6. A comunicação visual......................................................................... 30
2.6.1. As ferramentas............................................................................. 32
3. METODOLOGIA.......................................................................................... 33
3.1. Dados.................................................................................................... 33
3.2. Procedimentos de análise dos dados................................................ 34
4. ANÁLISE...................................................................................................... 35
4.1. Frequência de citação de homens e mulheres................................. 35
4.2. Atividade exercida por homens e por mulheres............................... 37
4.3. A avaliação do homem e da mulher: As escolhas léxico-
gramaticais........................................................................................... 38
4.3.1. Texto I: Beijinho, Beijinho, Tchau, Tchau..................................... 39
4.3.2. Texto II: Ex-performer erótica assessora governo do Pará......... 45
4.3.3. Texto III: Solteira e vaidosa, líder da greve dos professores vai
adotar menina.................................................................................. 49
xii
4.3.4. Texto IV: Campanha tem início com ‘scripts’ fáceis de antever... 53
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................................................. 56
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 61
xiii
Introdução − 1
1. INTRODUÇÃO
tipo, as nossas relações com essa pessoa são simplificadas, pois pensamos nela
em termos das qualidades que atribuímos à categoria já pré-existente em nossas
mentes. Mais adiante esclarecemos as noções de 'categoria' e 'grupo', segundo o
autor.
Fowler é um dos idealizadores da ‘Linguística Crítica’, segundo a qual a
análise feita com instrumentos linguísticos próprios e com referência a contextos
históricos e sociais relevantes, pode trazer a ideologia, normalmente escondida pela
habitualização do discurso, à superfície para inspeção. Segundo ele, nas ciências
sociais e nas humanidades, ‘crítica’ é em geral usada para referir-se a perspectivas
teóricas e metodologias que têm como objetivo alterar a ordem social e política
existentes. A Linguística Crítica, portanto, envolve a análise ideológica do conteúdo
textual em geral implícito, e baseia-se na visão de que os textos não são neutros
como parecem; isso porque os processos sociais que levam a escolhas conscientes
são escondidos ou feitos opacos na codificação linguística.
Em termos metodológicos, concordamos com Fowler e também com
Fairclough (1992), que, da sua posição de linguistas críticos, elegem a Linguística
Sistêmico-Funcional (LSF), proposta por Halliday (1985; 1994) e seus seguidores
para servir de base de sua análise, pois acreditam que essa teoria lance luzes sobre
a relação língua e contexto, através de dois ramos do contexto social: (a) o contexto
cultural ou gênero, pois o reconhecimento de um gênero permite regular a leitura
sobre um sistema de expectativa, inscrevê-la numa trajetória previsível (VIGNER,
1988); (b) o contexto situacional ou registro e suas variáveis de Campo, Relações e
Modo; e (c) o contexto ideológico, já que esse afeta a semântica e estrutura do
texto – fato que Campo, Relações e Modo não são suficientes para caracterizá-la
(BANKS, 2005).
Assim, segundo Li (2010), uma premissa básica a todas elas, apesar das
várias abordagens referentes à análise crítica, é que o uso da língua no discurso
implica significados ideológicos, bem como a existência de restrições discursivas
nesse uso e nos significados implicados (VAN DIJK, 1993; FOWLER, 1996;
FAIRCLOUGH, 1995). A visão funcional da LSF - das escolhas linguísticas como
índices de significados - cruza com a análise crítica, afirma Li. Com seu foco na
seleção, categorização e ordenação do significado nas micro-estruturas no nível da
oração mais do que no macro-nível do discurso, a LSF é especialmente útil para
uma análise sistemática, que enfoca os traços linguísticos no micro-nível dos textos
Introdução − 4
1.1 JUSTIFICATIVA
A formação de um leitor crítico deve ser o objetivo da escola. Para isso, faz-se
necessária a adoção de um conceito de leitura que privilegie a negociação e a
construção de interpretações "situadas"; um conceito de leitura como prática social,
que dê conta dos vários tipos de conhecimento que interagem nos processos
interpretativos: conhecimento linguístico-textual, conhecimento prévio do mundo, de
práticas sociais gerais e discursivas (FAIRCLOUGH, 1992; BAYNHAM, 1995 E
MOITA LOPES, 1996).
Sou professora de Língua Portuguesa tanto na rede pública quanto na
particular, e tenho constatado que o texto jornalístico tem sido o motivador de muitas
aulas de compreensão da escrita em nossas salas de aula, em praticamente todos
os níveis de ensino. Ora, a estrutura de um texto jornalístico, sob pressão das
circunstâncias sociais da comunicação, incorpora valores e crenças, já que, como
diz Fowler (1987, p. 67), "Não há representação neutra da realidade". Dizer que a
voz de um jornal é um construto institucional, e, por conseguinte, impessoal na
origem, não é dizer que não seja pessoal no estilo. A linguagem empregada será a
versão do jornal da linguagem do público para quem é endereçada, continua o autor.
Padrões de vocabulário mapeiam os registros e seus usuários; enfatizam
preocupações especiais, projetam valores sobre o assunto do discurso; a sintaxe
analisa ações e estados, moldando as pessoas com papéis e atribuindo a elas
responsabilidade; afirmam-se ou implicitam-se temas recorrentes e generalizações.
Se o leitor do jornal julgar que o modo coloquial de discurso é-lhe familiar e
confortável, acaba considerando a ideologia que sua estrutura incorpora como um
'senso comum', e a aceita.
Nesse sentido, Macken-Horarik (2003) menciona o trabalho de Bakhtin (1953
[1986]), que conscientizou os linguistas para o caráter profundamente ‘endereçador’
dos textos tratados como monológicos, e fala em textos que ensinam implicitamente,
em especial itens de conteúdo de certos valores éticos, que assim engajam os
leitores no processo da leitura.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
ideias nas cabeças das pessoas, mas de uma prática social que está firmemente
enraizada em estruturas sociais materiais e concretas, orientando-se para elas.
construída apenas em termos do léxico usado, mas que a nossa escolha das
estruturas linguísticas para representar (aspectos de) eventos, processos ou estados
é tão significativa do ponto de vista das ideologias que eles refletem e assim
constituem.
Continuando, diz Fowler, a comunicação humana envolve sistemas de
crenças, sistemas de categorias, ‘graus’ de discriminação, que representam o
mundo de acordo com as necessidades das sociedades em que ocorre a
comunicação. A língua, entre os meios humanos de comunicação, é uma forma
altamente efetiva de codificar representações de experiência e valores. O léxico (o
dicionário mental) estoca ideias em compartimentos estruturados de acordo com
certas relações lógicas, isto é, de posição, de complementaridade, de inclusão, de
equivalência (e.g., ‘homem: mulher’, ‘pais: filho’; ‘legal: ilegal’; ‘moderado;
extremado’, etc.), desenvolvendo princípios em direção a conceitos-chave e
relações. Além disso, continua o autor, não é somente a estrutura taxonômica do
vocabulário-chave que é importante para que a categorização fique evidente; é
também vital que os sistemas de significados sejam conservados vivos e familiares,
através de enunciação regular em contextos apropriados.
Portanto, diz o autor, a língua fornece nomes para as categorias e assim
ajuda a estabelecer seus limites e relações; e o discurso permite que esses nomes
sejam falados e escritos frequentemente, contribuindo assim para a aparente
realidade e atualidade de uma categoria. O vocabulário é taxonomicamente
organizado: as relações de sentido entre palavras efetuam a classificação da
experiência e ideias apropriadas à ideologia da comunidade do discurso. A força do
discurso, facilitando e mantendo a discriminação contra 'membros' de 'grupos', é
notável, segundo Fowler. O autor julga que o uso da língua pode ser sexista,
respondendo a paradigmas ideológicos no discurso que atribui a mulheres em
especial o status preconceituoso em certos aspectos. Nesse sentido, a
representação em um meio semiótico como a língua é inevitavelmente um processo
estruturador, e valores e proposições implícitos são continuamente articulados de tal
forma, que o discurso é sempre uma representação de um certo ponto de vista.
À medida que categorizamos uma pessoa como tendo atributos ou
comportamentos fortemente previsíveis, diz Fowler, a categoria pode enrijecer-se em
um estereótipo, um modelo mental extremamente simplificado que não consegue ver
os traços individuais, mas apenas valores que acreditamos ser apropriados para
Fundamentação Teórica − 10
2.2.1 A discriminação
Essas metafunções agem juntas: cada palavra que dizemos realiza as três
metafunções. Em sendo assim, tudo que expressamos linguisticamente quer dizer,
simultaneamente, três coisas: alguma coisa (ideacional) dita a alguém (interpessoal)
de algum modo (textual).
Veja como o exemplo: 'Ele estudou inglês no passado', seria analisado nessas
metafunções, conforme apresenta o Quadro 2. Mas, antes apresentamos o Quadro
1, que mostra o sistema da Transitividade, pertencente à metafunção ideacional, que
representa os eventos das orações em termos de fazer, sentir ou ser, envolvendo: (i)
participantes; (b) processos; e (c) circunstâncias. Os integrantes das demais
metafunções podem ser visualizados no mesmo quadro.
Processo Participantes
Material Ator, Meta, Extensão, Beneficiário
Comportamental Comportante, Comportamento, Fenômeno
Mental Experienciador, Fenômeno
Existencial Existente
Relacional Identificativo: Característica, Valor
Atributivo: Portador, Atributo
Verbal Dizente, Receptor, Verbiagem-receptor-alvo
Quadro 1: Relação processos/participantes
Fundamentação Teórica − 14
2.4.1 O Novo-Rema
Hasan e Fries (1995) dizem que para a LSF, Rema é tudo menos o Tema. O
que significa que existe muita coisa dentro do Rema, mas não significa que tudo que
esteja aí tenha a mesma função. Assim, Fries (1995) destaca o Novo dentro do
Rema, (unindo, assim, o sistema do Tema/Rema com o sistema da informação
Dado/Novo), chamando esse elemento de N-Rema (e o que resta do Rema ele
chama de Outros). O que seria esse N-Rema? Vamos analisar um exemplo, dado
por ele:
Adeus às armas
1. No fim do verão daquele ano, moramos numa casa de uma vila que se via
através do rio e da planície próximos da montanha.
N-Rema (Prev s) N-Rema (Skip 3)
ocorrem a fim de entender a qualidade dos textos: por que um texto significa o que
significa, e por que ele é avaliado como o é. Língua e contexto estão
interrelacionados, tanto que sem um contexto não somos capazes, em geral, de
dizer que significado está sendo construído. Portanto, ao fazermos perguntas
funcionais, não é suficiente enfocarmos somente a língua, mas a língua usada em
um contexto. Mas quais as feições desse contexto afetam o uso da língua? Para
responder a essa questão, os sistemicistas lançam mão de dois conceitos: registro
e gênero. Hoje, a ideologia também participa desse contexto, como veremos.
(a) Gênero
(b) Registro
(c) Ideologia
Gêneros e Registros, que explicamos a seguir. Os textos têm estruturas geradas por
escolhas sistêmicas em três planos de comunicação semiótica: gênero (contexto
cultural), registro (contexto situacional) com suas variáveis de Campo, Relações e
Modo. De um lado, o texto constrói significados Ideacionais sobre a realidade. Além
disso, o texto diz algo sobre a atitude do autor em relação ao tópico e seu papel no
relacionamento com os leitores. Este é o significado Interpessoal. Finalmente, o
texto, através do significado Textual, diz algo sobre como ele é organizado como um
evento linguístico (isto é, que é um texto escrito, e deve ser lido como tal).
A relação entre os componentes da linguagem - as metafunções ideacional,
interpessoal e textual - e as variáveis de contexto - campo, relações e modo -,
respectivamente, é chamada de realização. Lido da perspectiva do contexto, a
realização se refere ao modo como os diferentes tipos de campo, relações e modo
condicionam os significados ideacional, interpessoal e textual; lido da perspectiva da
linguagem, a realização se refere ao modo como as diferentes escolhas ideacionais,
interpessoais e textuais constroem diferentes tipos de campo, relações e modo.
São essas noções de significado no texto e sua correlação com as dimensões
contextuais, que dão à abordagem da TGR dois temas comuns.
desenvolver uma teoria sobre a língua como um processo social e uma metodologia
que permita uma descrição detalhada e sistemática dos padrões linguísticos.
Além dos contextos sociais acima mencionados, gênero e registro, outro
contexto foi mencionado - o ideológico -, que não foi elaborado e nem recebeu
propostas de análise. Nesse sentido, Banks (2005) mostra, sem descartar o
embasamento teórico da LSF, como as ideologias afetam diferentemente as
metafunções semânticas dos textos. Sua pesquisa focaliza áreas de escolhas
linguísticas que refletem os diferentes modos pelos quais os escritores constroem
um assunto. O autor tenta provar que a análise de Campo, Relações e Modo levaria
a uma ideia equivocada dos textos, já que há textos idênticos tomados nesses
aspectos, porém diferentes do ponto de vista ideológico.
Produto
permutado → (a) bens & serviços (b) informação
Papel na
permuta ↓
(i) oferta 'oferecer' 'afirmação'
Você quer um café? Ela lhe oferece um café.
(a) pedido 'ordem' 'pergunta'
Me dá um café! O que você quer?
Quadro 4: Oferecimento e pedido, bens & serviços ou informação
(fonte:HALLIDAY, 1994)
Fundamentação Teórica − 20
Se você me diz algo, diz Halliday, com a finalidade de conseguir que eu faça
algo para você, tal como 'beija-me!' ou 'desapareça!', ou que eu lhe dê algum objeto,
como em 'me passa o sal!', o produto permutado é estritamente não-verbal: o que
está sendo pedido é um objeto ou uma ação, caso em que a língua serve para
ajudar no processo. Essa é uma troca de bens & serviços. Mas se você me diz algo
com a finalidade de conseguir que eu lhe diga algo, como em 'É terça-feira'? ou
'Quando foi a última vez que viu seu pai? ', o que está sendo solicitado é uma
informação: a língua é o fim bem como o meio, e a única resposta que se espera é
verbal. Veja quadro 5 abaixo:
a) desempenhados, realizado pelo ato de fala por si, ou seja, o participante não
pode desempenhar esses papéis (aqui eles examinam as perguntas e as
ordens);
b) projetados, em que tratam da questão da (i) rotulação dos falantes/ouvintes
(aqui eles examinam os elementos de tratamento (senhor, você) e (ii) da
atribuição dos papéis que exercem na transitividade (ator, meta etc).
2.4.4.1 A modalização
AFETO – emoções
RITA Eu adoro esta sala. Eu adoro aquela janela. E você gosta também?
FRANK O quê?
APRECIAÇÃO – estética
RITA Sabe, a Rita Mae Brown, que escreveu Rubyfruit Jungle? Você leu esse livro? Ele é
fantástico.
(a) A Atitude
Martin (2000a) sugere que cada tipo de Atitude envolve sentimentos positivos
e negativos e que JULGAMENTO e APRECIAÇÃO podem ser interpretados como
institucionalizações de AFETO, que evoluiu para socializar os indivíduos em vários
sentidos de comunidades de sentimento – Julgamento como um Afeto
recontextualizado para controlar o comportamento (o que devemos ou não fazer),
Apreciação como um Afeto recontextualizado para dirigir o gosto (que coisas são
dignas).
Fundamentação Teórica − 25
JULGAMENTO
Estima social Positivo (admira) Negativo (critica)
Normalidade afortunado, elegante azarado, retrógrado
Capacidade Vigoroso fraco
Tenacidade Heróico covarde
Sanção social Positivo (elogia) Negativo (condena)
Veracidade honesto, confiável manipulativo
Propriedade generoso, ético corrupto, mau
Quadro 8: Análise de Julgamento (fonte: MARTIN, 2000a)
APRECIAÇÃO
Positiva Negativa
Reação: impacto atraente aborrecido
Reação: qualidade Belo repulsivo
Composição: equilíbrio harmonioso discordante
Composição: complexidade preciso, detalhado insignificante
Avaliação profundo, desafiador reacionário
Quadro 9: Análise de Apreciação (fonte: MARTIN, 2000a)
(b) O Compromisso
(c) A Gradação
1
Halliday (1994), em vez de considerar a divisão dos verbos em transitivos e intransitivos, chama-os
de processos e os classifica em seis tipos: materiais, mentais, relacionais, comportamentais,
existenciais e verbais.
Fundamentação Teórica − 28
"Não pode haver enunciado que não re-atualize outros" (Foucault). O termo
'intertextualidade' foi cunhado por Kristeva no final dos anos 1960, ao tratar da obra
de Bakhtin. Embora o termo não seja de Bakhtin, o desenvolvimento de uma
abordagem intertextual (ou 'translinguística', segundo ele) para a análise de textos
foi o maior tema de seu trabalho e estava estreitamente ligado à sua teoria de
gênero.
Bakhtin (1966) destaca a omissão pelos ramos principais da linguística do fato
de os textos e os enunciados serem moldados por textos anteriores aos quais eles
estão 'respondendo', e (moldados) por textos subsequentes que eles 'antecipam'.
Para Bakhtin, todos os enunciados são orientados retrospectivamente para
enunciados de falantes anteriores e prospectivamente para enunciados antecipados
de falantes seguintes. "Cada enunciado é um elo na cadeia da comunicação".
Fairclough (1992) diz que a rápida transformação e a reestruturação de
tradições textuais e ordens de discurso [mistura de gêneros] são um extraordinário
fenômeno contemporâneo, o qual sugere que a intertextualidade deve ser um foco
principal na análise de discurso. A intertextualidade é a fonte de muita da
ambivalência dos textos. Se a superfície de um texto pode ser multiplamente
determinada pelos vários textos que entram em sua composição, então tal mistura
de elementos pode tomar seu sentido ambivalente: diferentes sentidos podem
coexistir, e pode não ser possível determinar 'o' sentido.
A intertextualidade implica uma ênfase sobre a heterogeneidade dos textos e
um modo de análise que ressalta os elementos e as linhas diversos e
Fundamentação Teórica − 30
2.6.1 As ferramentas
(relações sociais e de identidade que atuam e são usadas nos textos); ideacional (a
representação empírica da realidade experiencial (ou, melhor, realidades) nos
textos; e significados textuais (os modos pelos quais os textos são feitos coerentes
e relacionados ao seu contexto). O princípio das metafunções forneceu aos
semioticistas categorias abstratas e gerais para a análise de diferentes sistemas
semióticos.
Kress and Van Leeuwen (1996) consideram três sistemas principais para
análise do significado nas imagens interativas, que incluem: o sistema de contato,
através do qual a imagem age sobre o expectador de alguma maneira (exigindo uma
resposta ou oferecendo uma 'informação' visual); o sistema de distância social,
através do qual o espectador é convidado a aproximar-se dos participantes
representados (distância social íntima), mantida a uma distância razoável (distância
social) ou 'na posição de afastamento' (distância impessoal); e dois grupos de
sistemas dentro de atitude: dimensão horizontal, que cria envolvimento dos
espectadores (por meio da frontalidade) ou afastamento (através da lateralidade), e
da dimensão vertical, que cria a relação de poder entre o espectador e participantes
representados (hierárquico ou solidário). Esses recursos visuais correspondem mais
ou menos aos sistemas linguísticos, tais como, os atos de fala, modo, pessoa e
recursos como a avaliação.
3. METODOLOGIA
3.1 Dados
a) Campo: assunto
b) Relações: o jornal e seus leitores
c) Modo: estruturação linguística do conteúdo
metafunções:
i. Metafunção ideacional
• Verificação do sistema da Transitividade.
4. ANÁLISE
23%
77%
A Tabela 1 mostra que o homem é citado três vezes mais que a mulher, o
que parece demonstrar que a participação da mulher na vida pública é tímida.
Esse fato ou (a) é uma justificativa de que seu papel se restrinja em geral aos
afazeres domésticos, ou (b) inversamente, que, devido a um tipo de
categorização, a própria mulher esteja convencida de que esse é o seu papel.
Isso nos convida a verificar o papel que é atribuído a homens e mulheres.
Análise − 37
90
Total de Atividades Distintas Citadas = 103
79
80
70
60
50
40
30
24
20
10
0
Atividades atribuídas a Mulheres Atividades atribuídas a Homens
HOMEM MULHER
Atividades equivalentes
aluno, assessor, candidato, candidato à assessora de gabinete, candidata à
presidência, chefe da casa civil, pai, presidente presidência, estudante, mãe, ministra-chefe
do país, senador, cantor, ministro [10] da casa civil, presidente do país, senadora,
cantora, ministra [10]
Atividades diferentes
advogado, analista, aposentado, arcebispo, atriz, conselheira da secretaria, guia,
artista, bispo, cardeal, chefe do STF, ciclista, jogadora de vôlei, mulher-bomba,
cirurgião, deputado, governador, juiz, padre, ombudsman, performer, psicóloga,
poeta, presidente do BC, chanceler, jogador de presidente de associação civil, rebelde,
futebol, papa, pároco, pedreiro, prefeito, relator, roqueira, sexóloga, visitante [...] (13)
secretário de estado, segurança, traficante, vice-
presidente do país [...] (69)
Quadro 10: Atividades exercidas por homens e por mulheres
Análise − 38
José Serra (no alto) recebe beijo da mulher, Mônica, após discurso em que (Serra)
fez balanço e (Serra) se despediu do cargo de governador; Dilma Rousseff, que
deixou a casa civil, (Dilma) cumprimenta a cigana Mirian Stanescon, conselheira
da Secretaria da Igualdade Racial. [FSP, 01/04/2010]
Processo Participantes
Material Ator, Meta, Alcance, Beneficiário
Comportamental Comportante, (Alcance)
Mental Experienciador, Fenômeno
Existencial Existente
Relacional Identificativo: identificado, Identificador
Atributivo: Portador, Atributo
Verbal Dizente, Receptor, Verbiagem, Alvo
Quadro 12: Relação processos/participantes
Análise − 41
● A METAFUNÇÃO IDEACIONAL
(1) Serra (no alto) recebe beijo da mulher, Mônica, após discurso em que
Meta Material Ator
(2) [...] Dilma Rousseff, que deixou a casa civil, (Dilma) cumprimenta
Ator Material Ator Material
Comentário
NOTA: A diferença está no fato de que Serra é Meta (Serra é beijado por Monica,
sua esposa) e Dilma é Ator (Dilma cumprimenta a cigana Mirian), mas essa
questão pertence à Metafunção Textual.
● A METAFUNÇÃO INTERPESSOAL
(1) Serra (no alto) recebe beijo da mulher, Mônica, após discurso em que
Papel projetado de nomeação: esposa
Avaliat: token de Atitude
(2) [...] Dilma Rousseff, que deixou a casa civil, (Dilma) cumprimenta
Comentário
continua
Análise − 43
continuação
A esse tipo de avaliação implícita - Avaliatividade evocada, para Martin (2000;
2003) - em que um significado ideacional pode ser “saturado” em termos avaliativos,
ou seja, interpessoais, é chamado pelo autor de token de atitude; mais
recentemente, foi chamado de dog whistle, o uso de significados aparentemente
neutros em termos avaliativos, mas que devem ser ‘entendidos’ como uma
mensagem negativa pela comunidade alvo [evidentemente já exposta
constantemente a certo tipo de avaliação] (MANNING, 2004, apud COFFIN e
O'HALLORAN, 2006).
● A METAFUNÇÃO TEXTUAL
(1) Serra (no alto) recebe beijo da mulher, Mônica, após discurso em que
Tema
(2) [...] Dilma Rousseff, que deixou a casa civil, (Dilma) cumprimenta
Tema Tema
Comentário
A QUESTÃO DO VISUAL
Transportando o que é válido na língua, para o meio visual, o que se poderia dizer
em relação à foto em foco é que:
(a) O Tema é Serra, sendo beijado por Mônica, na despedida de cargo oficial,
que traz 'aquilo de que se trata nas fotos'.
(b) Porém, a mensagem que o jornal tem para os leitores é a avaliação negativa
da candidata Dilma, a mensagem que está em foco, que tem peso, e que
deve permanecer na mente dos leitores.
Famosa em Belém por fazer cenas eróticas com cobras e atuar como DJ, a atriz
Elida Braz – atualmente com o pseudônimo de Lady Green, “a musa da
sustentabilidade” – será assessora especial no gabinete da governadora do Pará,
Ana Júlia Carepa (PT). O salário é de cerca de R$ 1.500. [FSP, 15/04/2010]
Quadro 17: Notícia veiculada na primeira página do jornal em 15/04/2010
● A METAFUNÇÃO IDEACIONAL
[EB é] Famosa em Belém por fazer cenas eróticas com cobras e atuar como [EB
Relacional Material Meta Material
é] DJ,
Relacional Atributo
a atriz Elida Braz – atualmente com [EB tem] o pseudônimo de Lady Green,
Portador Relacional Atributo
continua
Análise − 46
continuação
Comentário
● A METAFUNÇÃO INTERPESSOAL
Famosa em Belém por fazer cenas eróticas com cobras e atuar como DJ,
Avaliat:Julgamento positiva Avaliat: Julgamento negativa
Comentário
1. Papéis desempenhados:
Elida Braz recebe o papel desempenhado de nomeação: assessora do governo e
papel de portadora de atributos do processo relacional do sistema da Transitividade.
A seguir, veremos o desdobramento desses papéis analisando a Avaliatividade.
continua
Análise − 47
continuação
Downing (2003) trata do processamento de texto como um evento dinâmico em que
tanto o autor quanto o leitor desempenham papéis ativos, em que a negociação é
um elemento crucial de interação, já que antecipa e determina a natureza do
discurso que se desenrola. Nesse processo, o receptor reconstrói o mundo
projetado no discurso de acordo com seu próprio conhecimento cultural e pessoal, a
partir de pistas linguísticas e visuais apresentadas pelo autor.
● A METAFUNÇÃO TEXTUAL
[Ela é] Famosa em Belém por [Ela] fazer cenas eróticas com cobras e [Ela] atuar
como DJ, a atriz Elida Braz – atualmente com o pseudônimo de Lady Green, “a
musa da sustentabilidade” – [Ela] será assessora especial no gabinete da
governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT). O salário [dela] é de cerca de R$
1.500.
[Ela: tema]
Comentário
4.3.3 Texto III: Solteira e vaidosa, líder da greve dos professores vai adotar menina
● A METAFUNÇÃO IDEACIONAL
uma criança
Meta
com o aposto: MIN é solteira - MIN é vaidosa - MIN é líder da greve dos professores
com 3 processos Relacionais (é) ligados a Portador (MIN) e a Atributos (solteira, vaidosa, líder...)
Comentário
O exame do sistema de Transitividade, da metafunção Ideacional, mostra a profa.
Maria Izabel Noronha, solteira, vaidosa e líder de greve como participante Ator, no
processo Material (adotar), tendo como Meta a menina adotada. O Ator recebe 3
Atributos: solteira, vaidosa e líder de greve dos professores.
1
Para os propósitos da análise, vamos chamar Maria Izabel Noronha pela sigla MIN.
Análise − 51
● A METAFUNÇÃO INTERPESSOAL
uma criança
Comentário
1. Papéis desempenhados:
MIN recebe o papel desempenhado de nomeação: líder da greve dos professores
2. Avaliatividade: A avaliatividade deve levar em conta o contexto ou a posição
de leitura do leitor (MARTIN, 2000). Assim, levando em conta a adoção de uma
criança, temos o seguinte quadro:
Escolhas léxico-gramaticais Avaliatividade Poderia ser Mas no contexto de adoção de criança
pode ser
'solteira' token de Atitude positiva negativa
'vaidosa' token de Atitude positiva negativa
'líder da greve dos profs.' token de Atitude positiva negativa
Com base nisso, notemos que as escolhas linguísticas de avaliação explícita por
meio desses Atributos podem ser consideradas de avaliação de apreciação
positiva, porém, também constituem tokens de Atitude nesse contexto.
Assim, poder-se-ia julgar que alguém com esses Atributos não seria a pessoa
mais indicada para a adoção de uma criança, já que provavelmente muito
ocupada com movimentos grevistas. E, é claro, há ainda boa parte da população
que não considera adequada uma mãe ser 'solteira' e 'vaidosa'. De qualquer
forma, parece perdurar a impressão de novidade, de inesperado, na informação
do texto, o que tem como base a categorização que sofre a mulher nesta
sociedade.
● A METAFUNÇÃO TEXTUAL
Solteira, vaidosa, líder da greve dos professores, vai adotar uma criança
Tema
Comentário
Notemos que os Atributos 'solteira', 'vaidosa' e 'líder em posição temática' ocupam
a posição de Tema da oração, revelando o posicionamento da autora em relação
àquilo que informa: parece que a colunista julga ser um fato inusitado alguém com
essas características adotar uma criança, assumindo o papel de mãe.
A questão do visual
Tomando por base o que Du Bois (1987) fala sobre 'peso no final' e 'foco no final',
significando com isso que é nessa parte da oração que se localizam a verdadeira
mensagem de um texto. Vimos que a relação Tema-Rema serve para não só
enfocar um elemento da oração, mas também marcar parte da informação como a
mensagem que, de fato, o autor quer que perdure na lembrança do leitor. A partir
disso, pela análise da foto, podemos depreender em relação à foto que
acompanha a notícia é que a mensagem que está em foco, que tem peso, e que
deve permanecer na mente dos leitores é o fato da presidente da APEOESP ser
solteira e vaidosa.
4.3.4 Texto IV: Campanha tem início com ‘scripts’ fáceis de antever
● A METAFUNÇÃO IDEACIONAL
do plebiscito.
Circunstância
continua
Análise − 54
continuação
Comentário
● A METAFUNÇÃO INTERPESSOAL
Comentário
continua
Análise − 55
continuação
os itens lexicais ‘pendurou-se’ (destinado à Participante – Ator, Dilma) e ‘fugiu’
(destinado ao Participante – Ator, José Serra) constituem processo material de
apreciação negativa – o que os colocam a princípio em condição de igualdade em
termos de Avaliatividade. Porém, a escolha do termo ‘pendurou-se´ do sistema da
Transitividade caracteriza por um token de atitude.
Luchjenbroers e Aldridge (2007) falam em frames, conjuntos de informação aceitos
culturalmente, que acompanham qualquer termo lexical. Os autores afirmam que
adequação do frame escolhido é também muito importante para ‘contrabandear
uma informação’, um termo usado quando uma informação (negativa) é
subrepticiamente inserida. Com base nisso, podemos observar que o termo
‘pendurou-se’ em relação ao termo ‘fugiu’, revela uma posição tendenciosamente
machista, encavalando outras informações além de negativa. Nesse contexto,
alguns significados se acrescentam àqueles proporcionados pela metafunção
ideacional, graças à avaliação direta de fenômeno relacionado a um intertexto
prévio, num processo chamado de logogênese [construção dinâmica do significado
conforme o texto se desenvolve], segundo Halliday (1992, 1993) e Halliday &
Matthiessen (1999).
O termo ‘pendurou-se’ carrega, socialmente, em determinados contextos, uma
conotação pejorativa: aquele que não tem personalidade própria, que se submete,
que está na dependência de, que está agarrado ou grudado. Isso revela a atitude
de julgamento por parte do autor, ao apresentar uma imagem estereotipada do
homem e da mulher.
Aproveitando a ocasião, White (2003), desenvolvendo o subsistema de
Compromisso na teoria da Avaliatividade de Martin, postula a distinção entre
enunciados monoglóssicos (afirmações não-dialogizadas) e enunciados
heteroglóssicos ou dialogísticos (nos quais se sinaliza algum compromisso com
posições alternativas/voz). Com base nisso, convém notar que o autor sinaliza sua
posição de afinidade em relação àquilo que informa, ao fazer uso de o adjunto de
modalização de frequência ‘natural’, reforçando o fato de ser comum e frequente a
pré-candidata “pendurar-se” no Presidente - o que demonstra uma atitude pouco
lisonjeira à Dilma.
Quadro 30: Análise da metafunção interpessoal da notícia 4
Discussão dos Resultados − 56
● A METAFUNÇÃO TEXTUAL
Campanha tem início com ‘scripts’ fáceis de antever
se, com direito a lágrimas e tudo, no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Natural.
plebiscito.
Comentário
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fica evidente, pelos resultados da pesquisa, a questão das escolhas que a língua
- como um sistema semiótico - permite fazer, em que determinada escolha
adquire significado contra as que deixaram de ser feitas, a saber:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COFFIN, C & O’HALLORAN, K. The role of appraisal and corpora in detecting covert
evaluation, Functions of language, v. 13, n. 1, p. 77-110, 2006.
HODGE, Robert & KRESS, Gunther. Social semiotics. Cambridge: Polity Press,
1988.
KRESS, G.; HODGE, R.I.V. Language and Ideology, Londres: Routledge, 1979.
Referências Bibliográficas − 62
THOMPSON, G & PULENG THETELA. The sound of one hand clapping: The
management of interaction in written discourse. Text, v.15. n. 1, p.103-127, 1995.