Você está na página 1de 8

Estudo comparativo de controladores de Mamdani e Sugeno

para controle de tráfego em interseções isoladas

Michelle Andrade1; Maria Alice Prudêncio Jacques2

Resumo: Na definição de um controlador fuzzy que modele o conhecimento do especialista e promova o controle desejado de um
determinado sistema, o projetista precisa selecionar, inicialmente, o tipo básico de controlador a ser projetado. Isto é, precisa definir se
o controlador será do tipo proposto por Mamdani ou Sugeno. Na literatura são encontrados controladores semafóricos fuzzy dos dois
tipos sem que, no entanto, referência seja feita às razões que levaram à adoção de um tipo em detrimento do outro. Visando cobrir essa
lacuna, este trabalho analisa as principais características dos dois tipos de controladores, e compara as respostas e os efeitos dos mes-
mos no controle de diferentes volumes de tráfego em uma interseção isolada. Os resultados mostram que o controlador de Sugeno apre-
senta nítidas vantagens sobre o de Mamdani para a aplicação considerada.

Abstract: In defining the fuzzy controller that models specialist knowledge and promotes the desired control of a specific system, the
planner needs to select firstly the basic type of controller to be projected. In other words, it is necessary to define if the controller will
be the type proposed by Mamdani or Sugeno. In the literature, there are fuzzy traffic controllers from the two types without there being
any explanation as to the choice of one over the other. With a view to filling this loophole, this study analyses the main characteristics
of both controller types, and it compares their answers and results in controlling different traffic volumes at an isolated intersection.
Results indicate that the Sugeno controller presents clear advantages vis a vis Madami’s in the application considered.

1. INTRODUÇÃO de conjuntos fuzzy (Mamdani e Assilian, 1975). Iden-


Em 1973 Zadeh publicou um artigo que lançou as ba- tificando algumas dificuldades para a utilização do
ses para a utilização da lógica fuzzy na análise de sis- processo de decisão adotado no controlador de Mam-
temas e processos de decisão cuja complexidade, se- dani, Takagi e Sugeno (1983) propuseram um método
gundo o autor, não permitia a utilização de técnicas de tomada de decisão simplificado, baseado na lógica
matemáticas convencionais. Nesse trabalho foi cunha- fuzzy, onde somente o antecedente das regras é forma-
do o termo algoritmo fuzzy, definido como “um con- do por variáveis fuzzy. O conseqüente de cada regra é
junto ordenado de instruções fuzzy cuja execução pro- expresso por uma função linear dos valores observa-
duz uma solução aproximada para um determinado dos das variáveis que descrevem o estado do sistema
problema” (Zadeh, 1973). De acordo com Kikuchi (variáveis de entrada). Este tipo de controlador é refe-
(1991), o emprego de algoritmos fuzzy para a aborda- rido na literatura como controlador de Sugeno (Lee,
gem e solução de problemas na área de transportes se 1990a; Zimmermann, 1996; MathWorks, 2008).
justifica em função do grau de incerteza associado a Os controladores de Mamdani e Sugeno sofreram
vários desses problemas, como é o caso do controle do aprimoramentos ao longo do tempo e têm sido utiliza-
tráfego em interseções semaforizadas. dos para diferentes aplicações (Lee, 1990a). Atual-
A utilização de algoritmos fuzzy na solução de pro- mente estão disponíveis em pacotes computacionais,
blemas de controle foi iniciada com o trabalho pionei- com diferentes recursos para implementação dos seus
ro de Mamdani (1973, apud Sugeno, 1985), motivado componentes, o que facilita o desenvolvimento de
pelos trabalhos de Zadeh. No controlador desenvolvi- controladores fuzzy para a solução de diferentes pro-
do foi adotado um método para o processo de decisão blemas de controle a partir da seleção de um desses
baseado em regras do tipo “SE A ENTÃO B”, nas tipos básicos. A escolha do tipo de controlador a ado-
quais tanto o antecedente quanto o conseqüente são tar e, na seqüência, a forma de implementação dos
valores de variáveis lingüísticas, expressos por meio seus diferentes componentes, exige do projetista um
conhecimento geral dos aspectos teóricos envolvidos
em cada solução possível e, além disso, uma prévia
1
Michelle Andrade, Departamento de Engenharia Civil e Ambien- noção do impacto de cada escolha (tipo de controlador
tal, Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília. Brasília,
DF, Brasil (e-mail: maccivil@gmail.com). e implementação dos componentes) sobre a resposta
2
Maria Alice Prudêncio Jacques, Departamento de Engenharia do controlador e sobre a eficácia do controle por ele
Civil e Ambiental, Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasí- produzido.
lia. Brasília, DF, Brasil (e-mail: mapj@unb.br).
No caso dos controladores semafóricos fuzzy, cujo
Manuscrito recebido em 8/7/2008 e aprovado para publicação em primeiro modelo foi desenvolvido por Pappis e Mam-
9/10/2008. Este artigo é parte de TRANSPORTES, volume XVI, dani (1977), a literatura mostra que a maioria dos tra-
número 2, de dezembro de 2008. ISSN: 1415-7713.

24 TRANSPORTES, v. XVI, n. 2, p. 24-31, dezembro 2008


balhos adotou o controlador tipo Mamdani, pelo me- que são baseados nas funções de implicação fuzzy e
nos em termos conceituais gerais, especificando as em operadores de composição para a definição da saí-
saídas das regras como conjuntos fuzzy (Jacques et al., da fuzzy do controlador. Já os do segundo grupo dis-
2002a). Enquanto análises sobre o impacto das dife- pensam a definição de funções de implicação e opera-
rentes possibilidades de implementação de alguns e- dores para a inferência. Os controladores do tipo
lementos do controlador semafórico fuzzy podem ser Mamdani, referidos nesta seção como controlador de
encontradas na literatura (Jacques et al., 2002b, 2002c Mamdani, são baseados no primeiro grupo, e os con-
e 2003), estudos voltados à avaliação do impacto da troladores do tipo desenvolvido por Takagi e Sugeno,
escolha do tipo básico do controlador no desenvolvi- aqui referidos como controlador de Sugeno, fazem
mento de controladores semafóricos fuzzy não encon- parte do segundo grupo.
tram-se disponíveis. Nos dois tipos de controladores a ação de controle é
O objetivo do presente trabalho é dar continuidade obtida por meio da definição de um conjunto de ins-
aos estudos realizados no âmbito da Universidade de truções (ou regras) de controle fuzzy, isto é de um al-
Brasília e da Universidade de Tecnologia de Helsinki goritmo fuzzy. Essas regras são do tipo GMP (Genera-
para o desenvolvimento de controladores semafóricos lized Modus Ponens), e uma dada regra (Ri) pode ser
fuzzy para interseções isoladas, por meio da investiga- apresentada como:
ção do efeito provocado pela escolha do tipo do con-
trolador (Mamdani ou Sugeno) sobre a resposta do Antecedente: x é A’ e y é B’
dispositivo às solicitações do tráfego e sobre o desem- Regra (Ri): se x é Ai e y é Bi então z é Ci
penho do fluxo de tráfego. Apresenta, inicialmente, Conseqüente: z é C’i
uma descrição dos controladores de Mamdani e de
Sugeno, expondo suas diferenças conceituais e indi- onde x and y são variáveis lingüísticas relacionadas ao
cando como eles podem ser implementados com o estado do processo e z é a variável lingüística de con-
auxilio de um programa computacional que disponha trole; A’, Ai, B’, Bi, C’i e Ci são conjuntos fuzzy de x, y
de recursos específicos para este fim, como é o caso e z nos universos de discurso U, V e W, respectiva-
do programa MATLAB® (MathWorks, 2008). Na se- mente. Como será apresentado a seguir, no caso do
qüência, o estudo de caso realizado para investigar o controlador de Sugeno, o conseqüente da regra não é
impacto dos dois tipos de controladores é descrito. Foi um conjunto fuzzy.
analisada a operação de uma interseção isolada for-
2.1. Controlador de Mamdani
mada por duas vias de sentido único de circulação,
uma via principal e outra secundária, sob três níveis Este controlador tem como base o trabalho pioneiro de
diferentes de volume de tráfego. A análise é efetuada Mamdani, publicado em 1973 (Mamdani, 1973). No
a partir dos resultados da simulação da operação do algoritmo fuzzy do controlador, cada regra é uma pro-
tráfego, realizada com o uso do programa HUTSIM posição condicional fuzzy, e diferentes relações fuzzy
(Kosonem, 1999). em U x V x W podem ser dela derivadas.
Os estudos relacionados ao emprego de controlado- A implementação de cada regra é feita mediante a
res semafóricos fuzzy para o controle de interseções definição de operadores para o processamento do an-
isoladas, tanto com base em simulações da operação tecedente da regra e da função de implicação que irá
do tráfego quanto em alguns testes de campo, têm a- definir o seu conseqüente. A ação do controlador fuzzy
presentado resultados promissores (Niittymäki e Ne- é definida pela agregação das n regras Ri que com-
vala, 2001). Assim, contribuições ao aperfeiçoamento põem o algoritmo, mediante o uso do conectivo “tam-
do processo de desenvolvimento desses controladores, bém”, o qual pode ser implementado por diferentes
como a descrita no presente trabalho, se revestem de operadores. Esta agregação resulta no conjunto fuzzy
importância no contexto atual da demanda dos gesto- C, que define a saída do controlador C. A saída efetiva
res de tráfego por dispositivos de controle cada vez do controlador é então obtida por meio de um proces-
mais eficazes. so de defuzificação aplicado ao conjunto C.
As diferentes possibilidades para a implementação
dos conectores das regras, das funções de implicação e
2. TIPOS DE CONTROLADORES FUZZY do processo de defuzificação são amplamente discuti-
Os controladores fuzzy descritos na literatura são clas- das na literatura (ver, por exemplo, Lee 1990a e
sificados em função das características gerais do seu 1990b) e não serão tratadas no presente trabalho. O
método de tomada de decisão. Embora diferentes mé- impacto da adoção de algumas dessas possibilidades,
todos sejam apresentados na literatura (ver Lee, e da definição dos conjuntos fuzzy associados às vari-
1990b), de acordo com Sugeno (1985) eles podem ser áveis de entrada do controlador semafórico fuzzy, fo-
reunidos em dois grandes grupos. O primeiro reúne os ram objeto de pesquisas anteriores (Jacques et al.,

TRANSPORTES, v. XVI, n. 2, p. 24-31, dezembro 2008 25


2002b, 2002c, 2003; Vaz, 2006). ficam desabilitados. O programa apresenta diferentes
opções ao usuário para a configuração dos componen-
2.2. Controlador de Sugeno
tes do sistema e, para a maioria dos campos, também
O controlador de Sugeno (Takagi e Sugeno, 1983) permite a definição de outras alternativas.
consiste numa simplificação do controlador de Mam-
dani, onde o conseqüente de cada regra é definido
como uma função das variáveis lingüísticas de entra- 3. ESTUDO DE CASO
da. Isto é, a regra geral Ri pode ser escrita como: A avaliação do desempenho dos controladores de
Mamdani e Sugeno foi realizada a partir da implemen-
Regra (Ri): se x é Ai e y é Bi então z = fi (x, y) tação de dois controladores de cada tipo, definidos
com base em elementos básicos comuns. O funciona-
O resultado de cada regra é, portanto, um valor nu- mento dos controladores foi então testado para o con-
mérico (não um conjunto fuzzy), que assume como trole de uma interseção isolada formada por duas vias
peso o valor da pertinência resultante do processamen- de sentido único, uma principal e outra secundária.
to do antecedente da regra. Essa determinação dispen- Este teste foi realizado através da simulação da opera-
sa, portanto, a definição de uma função de implicação ção do tráfego no local, com o auxílio do programa
específica. A resposta final do controlador é obtida HUTSIM (Kosonen, 1999).
pela média ponderada das respostas das regras indivi- 3.1. Descrição das características gerais do
duais. Isto é, neste tipo de controlador não cabe pro- controlador semafórico fuzzy
cesso de defuzificação.
O controlador básico, que foi implementado posteri-
O valor de z pode também ser definido como um
ormente como controlador de Mamdani e Sugeno,
valor constante, que pode ser interpretado como um
possui as características básicas a seguir descritas.
conjunto fuzzy com a característica especial de apre-
sentar um único valor com pertinência igual a um e 3.1.1. Variáveis de entrada e saída do
todos os demais com pertinência zero. Este tipo de controlador
conjunto fuzzy é denominado singleton, e o seu em- As variáveis que descrevem o estado do sistema a ser
prego permite a definição de regras com valores de controlado (variáveis de entrada) são “Fila” (na apro-
saída que representam uma classificação da resposta ximação que está recendo indicação vermelha) e
do controlador, sem alterar a forma simplificada da “Chegada” (número de veículos presentes nos 100 m
determinação da resposta final do controlador. próximos à linha de retenção da aproximação que está
2.3. Implementação dos controladores em recebendo sinal verde). A variável “Fila” pode assu-
programa computacional mir os valores “pequena”, “média”, “longa” e “qual-
quer”, que são definidos como conjuntos fuzzy. No
A implementação de um controlador fuzzy, para fins
caso da variável “Chegada”, os valores possíveis são
de utilização efetiva, requer o uso de programas com-
“zero”, “pouca”, “média”, “muita” e “qualquer”. Os
putacionais. Atualmente, alguns programas de uso
conjuntos fuzzy associados a estas variáveis, mostra-
geral dispõem de módulos específicos para facilitar a
dos na Figura 1, são os mesmos definidos no estudo
realização desta tarefa, como é o caso do Fuzzy Logic
de Santos (2003), mais especificamente, o Caso 4 de-
Toolbox do MATLAB®, usado neste trabalho para
finido naquele trabalho. Dentre os casos estudados por
implementar os dois tipos de controladores em estudo.
Santos (2003) o Caso 4 apresentou os melhores resul-
O programa permite ao usuário definir os quatro
tados nas simulações realizadas em termos de atrasos
componentes principais do sistema de inferência fuzzy,
e paradas veiculares. Estes conjuntos são derivados do
que são: fuzificação dos valores das variáveis de en-
controlador básico utilizado no trabalho de Andrade e
trada e aplicação dos operadores que podem estar pre-
Jacques (2005), definidos a partir do estudo de
sentes no antecedente das regras (“e” e “ou”); impli-
Niittymäki e Pursula (2000). Já a variável que descre-
cação do antecedente sobre o conseqüente (função de
ve a saída do controlador é denominada “Extensão”, e
implicação); agregação dos conseqüentes de todas as
pode assumir os valores “zero”, “curta”, “média” e
regras definidas; e a defuzificação do conjunto C de
“longa”. Os conjuntos fuzzy que representam esses
resposta. No MATLAB®, antes de iniciar a definição valores são definidos de forma diferente para os dois
dos componentes do sistema, o usuário deve indicar se tipos controladores e serão posteriormente apresenta-
o seu controlador é do tipo Mamadani ou Sugeno. De- dos.
pendendo do tipo selecionado, são liberados os cam-
pos pertinentes para a entrada dos dados. Isto é, se for
selecionado o controlador de Sugeno, por exemplo, os
campos referentes à função de implicação, ao termo
de agregação “também” e ao método de defuzificação
26 TRANSPORTES, v. XVI, n. 2, p. 24-31, dezembro 2008
(a) Conjuntos fuzzy da variável “Fila” (b) Conjuntos fuzzy da variável “Chegada”
Figura 1: Conjuntos fuzzy de entrada do controlador básico

c) se uma extensão for calculada como inferior a 2


3.1.2. Base de regras
(dois) segundos, a extensão é concedida mas, ao
O conjunto de regras utilizado para o desenvolvimen- seu final, nenhuma outra extensão é possível.
to dos dois controladores é o apresentado na Tabela 1,
formado por 14 regras. Esta base de regras também foi 3.2. Descrição do controlador do tipo
empregada no trabalho de Andrade e Jacques (2005). Mamdani
Os controladores de Mamdani testados (Controladores
Tabela 1: Base de regras adotada
1 e 3), além dos aspectos básicos já descritos, tiveram
Regra Se a “Fila” é e a “Chegada” é Então a “Extensão” é os valores de suas variáveis de saída definidos pelos
1 Qualquer Zero Zero conjuntos fuzzy mostrados na Figura 2.
2 Pequena Pouca Curta
3 Média Pouca Zero A função de implicação adotada foi a de Mamdani,
4 Longa Pouca Zero implementada com o operador “mínimo”, e o método
5 Pequena Média Média
6 Média Média Curta
de defuzificação adotado foi o método do centro de
7 Longa Média Curta gravidade, que assegura uma superfície de controle
8 Pequena Muita Longa suave e contínua. Na Figura 3 são apresentadas, a títu-
9 Média Muita Média
10 Longa Muita Média lo de ilustração, a base de regras implementada no
11 - Pouca Curta MATLAB® e a superfície de resposta correspondentes
12 - Média Média
13 - Muita Longa ao Controlador 3.
14 Longa Qualquer Zero Os Controladores 1 e 3 apresentam como principal
diferença o comprimento das suas extensões de tempo
Para a implementação do antecedente das regras nos de verde, fruto da partição diferenciada do universo de
dois controladores foi utilizado o operador “mínimo” discurso da variável extensão, na definição dos con-
para o conectivo “e”. juntos fuzzy a ela associados em cada controlador (ver
3.1.3. Condições gerais da operação Figura 2). O Controlador 3 responde com extensões
maiores, especialmente para chegadas veiculares pe-
Na operação do controlador simulada no programa
quenas.
HUTSIM, os seguintes procedimentos são adotados:
a) tempo mínimo de verde igual a 5 segundos para
as duas aproximações;
b) máximo de 5 (cinco) extensões sucessivas de
verde para cada aproximação;

(a) Controlador 1 (b) Controlador 3


Figura 2: Conjuntos fuzzy da variável de saída do controlador de Mamdani

TRANSPORTES, v. XVI, n. 2, p. 24-31, dezembro 2008 27


(a) Regras (b) Superfície de controle
Figura 3: Base de regras e Superfície de resposta do Controlador 3

tinência 1 são superiores no Controlador 4, na ordem


3.3. Descrição do controlador do tipo Sugeno
de 66%.
Para efeito da descrição do controlador de Sugeno, A base de regras e a respectiva superfície de respos-
cabe apenas acrescentar que, em conjunto com as ca- ta do Controlador 4, implantado no MATLAB®, são
racterísticas descritas na seção 3.1, a variável de saída apresentadas na Figura 5 a título de exemplo do fun-
foi definida com base nos conjuntos singleton mostra- cionamento do controlador de Sugeno.
dos na Figura 4.
Os conjuntos singletons da variável extensão foram 3.4. Características da situação de controle
definidos a partir dos pontos de máximo da mesma considerada
variável dos controladores do tipo Mamdani (contro- Conforme já mencionado nos itens anteriores, o con-
ladores 1 e 3), os quais já foram utilizados em estudos trole é realizado sobre uma interseção isolada, com
anteriores tais como o de Bingham (1998) e de An- duas vias de aproximação perpendiculares, compostas
drade e Jacques (2005). Assim, os Controladores 2 e 4 de duas faixas de trânsito de sentido único. A veloci-
também diferem entre si somente quanto aos conjun- dade operacional da via é de 60 km/h e o tráfego é
tos fuzzy da variável extensão, cujos valores com per- composto apenas de carros de passeio.

(a) Controlador 2 (b) Controlador 4


Figura 4: Valores da variável de saída do controlador de Sugeno

(a) Regras (b) Superfície de controle


Figura 5: Base de regras e superfície de resposta do Controlador 4

28 TRANSPORTES, v. XVI, n. 2, p. 24-31, dezembro 2008


Foram realizadas 10 simulações de 1 hora para cada las 3 e 4 os resultados dos testes realizados são apre-
um dos controladores testados e para cada nível de sentados em termos de “S”, para indicar diferenças
volume estudado (Tabela 2), totalizando 120 horas de significativas, e “NS”, caso contrário.
simulação.
4.1. Controladores 1 e 2
Tabela 2: Tabela 2: Volumes de tráfego simulados (dados em O desempenho do tráfego, analisado através das vari-
veículos/hora)
áveis “atraso médio” e “percentual de paradas veicula-
Volume Via principal Via secundária TOTAL res”, foi melhor sob o controle do tipo Sugeno, espe-
Baixo 600 200 800 cialmente para os volumes alto e médio. Tal vantagem
Médio 1.200 400 1.600 foi verificada tanto para a interseção como um todo,
Alto 1.800 600 2.400
quanto para a as aproximações consideradas individu-
almente (via principal e via secundária). Destes resul-
O controle semafórico estabelecido na simulação é tados, apenas em um caso (paradas veiculares para a
bifásico para uma interseção isolada totalmente atuada via secundária sob volume alto) o controlador de
sob o modo de controle fuzzy. Foram testados quatro Mamdani apresentou resultados melhores, sendo que a
controladores fuzzy, sendo dois do tipo Mamdani diferença observada para o controlador de Sugeno,
(Controladores 1 e 3) e dois do tipo Sugeno (Contro- para este caso, foi não significativa sob o teste de hi-
ladores 2 e 4). pótese realizado (Tabela 3). Para o volume baixo os
Através da análise das superfícies de resposta dos resultados mostram que o controlador de Sugeno ten-
Controladores 3 e 4, observa-se que o controlador do de a beneficiar a via secundária, trazendo prejuízo
tipo Sugeno (com variável de saída singletons) tende a para a via principal, e conseqüentemente, para a inter-
dar extensões menores que seu correspondente com seção.
saída do tipo fuzzy (controlador de Mamdani).
Tabela 3: Diferença percentual entre os resultados dos
controladores 1 e 2, e significância segundo o teste de
4. RESULTADOS OBTIDOS Hipótese
Controladores 1 e 2 Diferença Percentual (DP)
As análises foram realizadas por pares de controlado- Variável Aproximação V. Alto V. Médio V. Baixo
res: Controladores 1 e 2 (Tabela 3), e Controladores 3 -10.7 -4.4 2.3
Interseção
e 4 (Tabela 4). S S NS
As diferenças percentuais dos valores médios dos ATRASO Via -12.0 -1.7 8.9
MÉDIO Principal S NS S
resultados de simulação para os pares de controladores (s) Via -8.5 -9.3 -14.2
foram apresentadas no sentido de facilitar as análises Secundária S S S
comparativas. Para este fim, o controlador de Mamda- Interseção
-8.0 -3.0 3.7
S NS S
ni foi adotado como o elemento de referência para o
PARADAS Via -12.9 -2.5 10.9
estudo proposto (ver Equação 1). VEICULARES Principal S NS S
VS i − VM i ( %) Via 0.4 -4.0 -12.1
DP = ⋅ 100 (1) Secundária NS NS S
VM i Via -18.5 -21.3 -19.2
VERDE Principal S S S
onde, DP: diferença percentual; MÉDIO Via -25.9 -16.3 -3.6
VSi: valor médio da variável i fornecido pelo (s) Secundária S S S
controlador Sugeno; COMPRIMENTO
Interseção
-17.0 -14.4 -8.1
VMi: valor médio da variável i fornecido pelo DE CICLO (s) S S S

controlador de Mamdani. S: diferença significativa; NS: diferença não-significativa


Foram realizados, também, testes de hipótese de i-
gualdade entre médias para a avaliação da diferença Na análise da resposta do controlador, os resultados
dos controladores testados em termos de medidas de apresentaram diferenças significativas, para um nível
desempenho do tráfego (atraso médio e número de de significância de 5%. Pode ser observado que tanto
paradas veiculares) e da resposta dos controladores os tempos médios de verde quando o ciclo médio fo-
(tempo médio de verde e comprimento médio de ci- ram maiores para os controladores do tipo Mamdani.
clo). Para tanto, foi adotado o nível de significância Sendo assim, fica evidente que o tipo de controlador
α = 5%. Para a realização dos testes, os resultados de utilizado impacta significativamente na resposta do
simulação (10 horas para cada caso) podem ser consi- controlador (tempo de verde e tempo de ciclo).
derados conjuntos de dados emparelhados para cada 4.2. Controladores 3 e 4
hora de simulação independente, uma vez que o simu- Ao avaliar as medidas de desempenho do tráfego, por
lador utilizado permite gravar um padrão de chegadas meio das diferenças percentuais de atraso médio e de
veiculares e reutilizá-lo para vários testes. Nas Tabe-

TRANSPORTES, v. XVI, n. 2, p. 24-31, dezembro 2008 29


paradas veiculares para esse par de controladores, ob- Mamdani ou Sugeno.
servou-se que o controlador de Sugeno (Controlador
3) apresentou melhores resultados para a maioria das Para as condições de tráfego analisadas (volumes e
situações avaliadas, com apenas dois resultados con- características gerais da interseção considerada) o
trários, sendo que um deles foi não significativo (Ta- controlador do tipo Sugeno apresentou melhores re-
bela 4). sultados sob o desempenho do tráfego, bem como me-
nores tempo de verde e de ciclo, para os volumes ana-
Tabela 4: Diferença percentual entre os resultados dos lisados. No entanto, como existe a interação entre tipo
controladores 3 e 4, e significância segundo o teste
de Hipótese
de controlador e volume, a decisão pela escolha do
Controladores 3 e 4 Diferença Percentual (DP)
controlador tipo Sugeno deve ser precedida de uma
Variável Aproximação V. Alto V. Médio V. Baixo avaliação preliminar para verificar se, para o caso
Interseção
-23.2 -20.2 -9.1 considerado esse tipo de controlador é, efetivamente,
S S S o mais apropriado. Para tanto, um estudo nos moldes
ATRASO Via -28.7 -22.7 -1.1
MÉDIO Principal S S NS
do realizado no presente artigo é recomendado.
(s) Via -11.8 -15.1 -24.4 Vale ressaltar que as vantagens dos controladores
Secundária S S S do tipo Sugeno sobre os do tipo Mamdani observadas
-15.6 -13.9 -2.1 nesse estudo devem ser somadas às vantagens de con-
Interseção
S S NS
cepção destes controladores, uma vez que possuem
PARADAS Via -24.6 -20.3 3.8
VEICULARES Principal S S NS menos elementos a serem definidos. A função de im-
( %) Via 2.9 -2.1 -12.8 plicação e os métodos de defuzificação são elementos
Secundária S* NS S dispensáveis na concepção dos controladores do tipo
Via -20.9 -33.7 -41.9 Sugeno e, como pode ser observado na literatura (Jac-
VERDE Principal S S S
ques et al, 2002b e 2002c), impactam significativa-
MÉDIO Via -39.2 -42.9 -27.9
(s) Secundária S S S mente no processo do controle realizado.
COMPRIMENTO -23.8 -30.5 -27.1 É importante dar continuidade aos estudos relacio-
Interseção
DE CICLO (s) S S S nados à comparação dos controladores de Mamdani e
S: diferença significativa; NS: diferença não-significativa Sugeno avaliando condições geométricas e operacio-
*: caso significativo desfavorável ao controlador Sugeno nais diferentes das consideradas nesse estudo. Varia-
ções dos volumes médios de tráfego, movimentos de
As diferenças relativas à resposta dos controladores
conversão e a operação em rede devem ser considera-
(verde médio e comprimento de ciclo) foram todas
dos em estudos futuros.
significativas, e em todos os resultados as medidas do
controlador de Sugeno foi menor. Novamente, com-
prova-se a influência do tipo de controlador utilizado REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
na resposta de controle, bem como no desempenho do Andrade, M.; Jacques, M. A. P. (2005) Estudo para aprimoramento da
operação de controladores semafóricos fuzzy. In: XIX ANPET-
tráfego. Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes, 2005, Recife.
Os resultados obtidos (Tabelas 3 e 4) permitem ain- Rio de Janeiro: ANPET, 2005. v. 1. p. 817-828.
Bingham, E. (1998) Neurofuzzy Traffic Signal Control. Department of
da concluir que o desempenho do tráfego é, também, Engineering Physics and Mathematics. Helsinki Univerity of Tec-
afetado pela interação entre o tipo de controlador uti- nology.
Jacques, M.A.P., J. Niittymäki, and M. Pursula (2002a) Analysing Diffe-
lizado e os volumes a serem controlados. Através da rent Fuzzy Traffic Signal Controllers for Isolated Intersections.
realização de uma Análise de Variância, considerando Paper accepted for presentation at TRB 81st Annual Meeting. Ja-
os fatores “Controlador” e “Volume”, ficou efetiva- nuary 13-17, 2002, Washington, DC.
Jacques, M. A. P.; J. Nittymäki; M. Pursula, e I. Kosonen (2002b) The
mente comprovada a interação entre os fatores ao ní- impact of different approximate reasoning methods on fuzzy sig-
vel de significância de 5%, exceto para o atraso médio nal controllers. Anais do 13th Mini-Euroconference, 10 a 13 de
Junho de 2002, Bari – Itália, p.184 – 192.
na via secundária. Jacques, M. A. P.; J. Nittymäki; M. Pursula, e I. Kosonen (2002c) Analysis
of Different Defuzzyfication Methods Applied to Fuzzy Signal
Controller. In: XII Congresso Panamericano de Ingeniería de
5. CONCLUSÕES Tránsito y Transport. Quito – Equador.
Jacques, M. A. P.; D. B. L. M. Santos, M. Pursula e I. Kosonen (2003)
Diante dos resultados obtidos neste estudo é possível Studying the Importance of Fuzzy Sets Definitions for Fuzzy Sig-
observar que diferentes tipos de controladores impac- nal Controllers. In: Fourth International Symposium on Uncerta-
inty Modeling and Analysis – INSUMA 2003, Maryland, USA, p.
tam de modo significativo tanto na resposta do contro- 64 – 69.
lador, como também no desempenho do tráfego. Sen- Kikuchi, S. (1991) Aplication of fuzzy set theory to the analysis of trans-
do assim, é de suma relevância a atenção do projetista portation problems. In: Second International Conference on Ap-
plications of Advanced Technologies in Transportation Enginne-
na construção do controlador fuzzy, dentre os diversos ring. Minneapolis, Minnesota, August 18-21, 1991.
aspectos já apresentados na literatura, para a definição Kosonen, I. (1999) HUTSIM – Urban Traffic Simulation and Control
Model: Principles and Applications. Publication 100, Helsinki
do tipo de controlador a ser utilizado – se do tipo

30 TRANSPORTES, v. XVI, n. 2, p. 24-31, dezembro 2008


University of Technology, Transportation Engineering, Espoo,
Finland, 1999, 248 p.
Lee, C. C. (1990a) Fuzzy Logic in Control Systems: Fuzzy Logic Control-
ler, Part I. IEEE Transactions on Systems, Man, and Cybernetics,
Vol. 20, No. 2, March/April 1990, pp. 404 – 418.
Lee, C. C. (1990b) Fuzzy Logic in Control Systems: Fuzzy Logic Control-
ler, Part II. IEEE Transactions on Systems, Man, and Cybernetics,
Vol. 20, No. 2, March/April 1990, pp. 419 – 435.
Mamdani, E. H. (1973) Aplications of fuzzy algorithms for control of
simple dynamic plant. Proc. IEEE 121, vol. 12, p. 1585-1588.
Mamdani, E. H. e Assilian S. (1975) An experiment in linguistic synthesis
with a fuzzy logic controller. Int. J. Man-Machine Studies, vol. 7,
p. 1-13.
MathWorks (2008) Getting Started Guide. Matlab®7.
Niittymäki, J. and M. Pursula (2000) Signal Control Using Fuzzy Logic.
Fuzzy Sets and Systems, Vol. 116, pp.11-22.
Niittymäki, J. and R. Nevala (2001) Fuzzy Adaptive Traffic Signal Control
– Principles and Results. In: Joint 9th IFSA World Congress and
20th NAFIPS International Conference, Vancouver, Canada, July
2001, 6 p.
Pappis, C. P.; H. Mamdani (1977) A Fuzzy Logic Controller for Traffic
Junctions. IEEE Transactions on Systems, Man and Cybernetics.
Vol. SMC-7, Nº 10.
Santos, D, B, (2003) Procedimento para a Construção dos Conjuntos
Fuzzy Utilizados em Controladores Semafóricos, Dissertação de
Mestrado,Universidade de Brasília, Brasília, DF.
Sugeno, M. (1985). An introductory survey of fuzzy control. Information
Sciences 36, p. 59-83.
Takagi, T. e Sugeno M. (1983) Derivation of fuzzy control rules from
human operator’s control action. IFAC Symposium on Fuzzy In-
formation, Knowledge Representation and Decision Analysis,
Marseille, p. 55-60.
Vaz, A M (2006) Estudos das Funções de pertinência para conjuntos fuzzy
utilizados em Controladores Semafóricos Fuzzy. Dissertação de
Mestrado, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Facul-
dade de Tecnologia Universidade de Brasília, DF, 158 p.
Zadeh, L. A. (1973) Outline of a new approach to the analysis of complex
systems and decision processes. IEEE Transactions on Systems,
Man, and Cybernetics, Vol. SMC-3, No. 1, p. 28-44.
Zimmermann, H.-J. (1996) Fuzzy Set Theory and Its Applications. 3rd
Edition. Kluwer Academic Publishers.

TRANSPORTES, v. XVI, n. 2, p. 24-31, dezembro 2008 31

Você também pode gostar