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Prezado(a) Aluno(a),
No presente módulo você irá estudar as Políticas Sociais no Brasil nas suas
dimensões históricas, teóricas e metodológicas. Para melhor estruturação do
tema nosso conteúdo foi dividido conforme o sumário abaixo:
Índice:
1- Introdução
2– As políticas Sociais na História
2.1 – No Velho Continente
2.2 - No Brasil
3- Instituições Assistenciais e outras iniciativas de suporte a Política Social Estatal
4- O componente assistencial na Política Social
4.1 – Histórico da prática da assistência
4.2 – A Assistência e o Estado
5– O Estado e as Políticas Sociais
5.1 – O Estado Neoliberal
5.2 – O Brasil e o Neoliberalismo
5.3 - Welfare State ou Estado de Bem-Estar social
5.3.1 – Surgimento do Welfare State no Brasil
6- O Estado e as Políticas Sociais na Contemporaneidade
7- Políticas Sociais; padrões atuais
8- Conclusões
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Capítulo 4: Serviço Social e Política Pública
1. POLÍTICAS SOCIAIS
Conforme nos coloca Faleiros, tais políticas ora são vistas como mecanismos de
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Capítulo 4: Serviço Social e Política Pública
“As políticas sociais, apesar de apareceram como compensações isoladas para cada
caso, constituem um sistema político de mediações que visam à articulação de
diferentes formas de reprodução das relações de exploração e dominação da força
de trabalho entre si, com o processo de acumulação e com as forças políticas em
presença”. (Faleiros, 2004)
Neste sentido, a objetivação das políticas sociais não responde a todas as carências
e nem a todas as reivindicações dos movimentos socialmente organizados, pois é
condicionada ao nível de pressão exercida pelas classes dominantes sobre as ações
estatais, a fim de que seja viabilizado o mínimo ante as demandas colocadas pelos
trabalhadores, a serem atendidas a baixos custos. Diante disso, as ações estatais
tendem prioritariamente a objetivar a reprodução da força de trabalho a fim de
garantir a reprodução do capital, razão última pela qual é fundamental que o
trabalhador se mantenha vivo e produtivo. Para tanto, ele precisa alimenta-se,
morar, estudar, ter saúde, vestir-se a fim de estar apto a trabalhar e produzir
riquezas.
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Capítulo 4: Serviço Social e Política Pública
Através das políticas sociais, o trabalhador repõe certos desgastes de sua força de trabalho,
obtém benefícios que constituem para a reprodução de seus filhos ou para sua manutenção
quando estiver excluído do mercado de trabalho. É por isso que se afirma que as políticas
sociais constituem mecanismos de reprodução da força do trabalho.
É importante lembrar que as políticas sociais articulam-se com o processo econômico, tanto na
manutenção do trabalho como no estímulo à demanda global de bens e serviços no mercado.
(Faleiros, 2004:41)
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Capítulo 4: Serviço Social e Política Pública
Esta situação pode ser confirmada quando contemplamos a Lei dos Pobres ( Poor
Law), editada na Inglaterra, em 1601 e considerada por alguns estudiosos como o
marco da criação da assistência social. Esta lei regulamentou a instituição de
auxílios e socorros públicos aos necessitados, dando-lhes o direito de serem
auxiliados pela paróquia. Fundamentados nela, os juízes da Comarca tinham o
poder de lançar imposto de caridade, que seria pago por todos os ocupantes e
usuários de terras, e nomear inspetores em cada uma das paróquias, visando
receber e aplicar o montante arrecadado.
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extrema. Sob a lógica bismarckiana foram criados uma série de seguros sociais
destinados aos trabalhadores. Em 1883, foi criado o seguro-doença, obrigatório
para os trabalhadores da indústria, financiado por contribuições dos empregados,
empregadores e do Estado. Em 1884, criou-se o seguro de acidente de trabalho
com o custeio a cargo dos empregadores. Já em 1889, foi instituído o seguro de
invalidez e velhice, custeado pelos trabalhadores, empregadores e Estado.
Ainda na Inglaterra, agora em 1941, foi elaborado por Lord Beveridge o Plano
Beveridge que propôs a organização de um sistema de proteção social que
assegurasse as pessoas do nascimento até a morte. Consistiu em promover uma
fusão das medidas esparsas já existentes, relativas à seguridade social; em ampliar
e consolidar os vários planos de seguro social, em padronizar os benefícios e incluir
novos. Teve como objetivo constituir um sistema de seguro social que garantisse ao
indivíduo proteção diante de certas contingências sociais, tais como a indigência ou
incapacidade laborativa. Neste sistema, os direitos foram considerados universais,
destinados a todos os cidadãos incondicionalmente e o Estado deveria garantir
mínimos sociais a todos em condições de necessidade. O financiamento do sistema
deveria ser proveniente dos impostos fiscais e a sua gestão pública, estatal. Seus
princípios básicos foram: a unificação institucional e a uniformização dos
benefícios.
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2.2 - No Brasil
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Assim a questão social, subsídio das políticas sociais, assumiu uma qualidade
diferenciada nos grandes centros urbanos e industriais, originada do crescimento
quantitativo do proletariado, da solidificação dos interesses comuns no interior
desta categoria profissional e da solidariedade política e ideológica que
perpassavam o seu conjunto, abrindo a possibilidade da ascensão de um projeto
social alternativo à dominação burguesa. Dentro desta realidade “a questão social
deixa de ser apenas contradição entre abençoados e desabençoados pela fortuna,
pobres e ricos, ou entre dominantes e dominados, para constituir-se,
essencialmente, na contradição antagônica entre burguesia e proletariado...”
(Iamamotto, 1993).
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A referida lei estabeleceu ainda que ante a primeira categoria atendida, a dos
ferroviários, cada uma das empresas de estrada de ferro deveria ter uma caixa de
aposentadoria e pensão para seus empregados. Além disso, promoveu a instituição
de quatro benefícios principais que atingiram primeiramente a mesma categoria,
por ser esta uma das mais bem organizadas e por agregar trabalhadores que
atuavam em um dos setores-chave da economia da época. Tais benefícios foram:
medicina curativa; aposentadoria por tempo de serviço, velhice ou invalidez;
pensões para dependentes e auxílio-funeral. O custeio deles ficou a cargo das
empresas e dos trabalhadores.
As CAPs foram as formas originárias da previdência social brasileira, junto com os Institutos de
Aposentadoria e Pensão (IAPs). (Behring e Boschetti, 2008:80)
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Capítulo 4: Serviço Social e Política Pública
Segundo Medeiros (2001), as políticas surgidas no Brasil, no início dos anos de 1920 tinham a
função de atuar como instrumentos de controle dos movimentos de trabalhadores no país. Sua
estratégia era antecipar algumas demandas e com isso restringir a legitimidade das lideranças
trabalhadoras nas reivindicações sociais e limitar a capacidade de mobilização dos trabalhadores
em geral.
“No caso brasileiro é possível afirmar, salvo exceções, que até 1930 a consciência
possível em nosso país não apreendia a pobreza enquanto expressão da questão
social. Quando esta se insinuava como questão para o Estado, era de imediato
enquadrada como “caso de polícia” e tratada no interior de seus aparelhos
repressivos. Os problemas sociais eram mascarados e ocultados sob forma de fatos
esporádicos e excepcionais. A pobreza era tratada como disfunção pessoal dos
indivíduos.”
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Cabe ressaltar, seguindo Marcelo Medeiros (2001) em sua leitura de Barcellos (1983, p. 17-18),
que as políticas sociais implementadas no período anterior à Revolução de 1930, em sua
maioria, foram fragmentadas e emergencialistas. Os conflitos entre capital e trabalho eram
regulados por legislações esparsas e equacionados basicamente pelo aparato policial. Questões
de saúde pública eram tratadas pelas autoridades locais, não havendo por parte do governo
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A educação era atendida por uma rede escolar muito reduzida, de caráter elitista e
acadêmico, que visava preparar alunos para a formação superior. As reformas da
época (escola nova) ocorriam regionalmente e de forma parcial, ou seja, não
faziam parte de uma política global de educação. A previdência era
predominantemente privada, organizada por empresas e categorias profissionais, e
a questão habitacional não era considerada objeto de política pública.
O Governo Provisório que então foi instaurado frente à situação política do país,
tendo a frente Getúlio Vargas, reviu e ampliou a legislação social vigente e a
implantou de forma ampla. Em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria
e Comércio e houve uma aceleração da ampliação do Seguro Social que foi
progressivamente vinculado a uma política estatal para a classe operária. As Caixas
de Aposentadorias e Pensões (CAPS), que antes abrangiam as empresas
individualmente, passaram a contemplar categorias profissionais, através dos
Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) criados em 1933, que englobaram
paulatinamente significativa parcela dos assalariados urbanos dos setores privado e
estatal e ofereceram, além dos benefícios de aposentadoria e pensão, serviços de
saúde.
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Dentro das ações sociais implementadas pelo governo de então sob essa ideologia,
em 1939 foram regulamentadas a Justiça do Trabalho e a nova Legislação Sindical
que vinculava as entidades sindicais ao Ministério do Trabalho e a Justiça do
Trabalho. Essa nova legislação trabalhista, trouxe novas bases para política de
regulamentação do trabalho e a organização política dos trabalhadores. Em 1940,
foi decretado o Imposto Sindical, que se constituiu em uma contribuição
compulsória anual equivalente a um dia de trabalho exigida de todos os
trabalhadores assalariados dos setores privados, independentemente de sua filiação
a qualquer sindicato, sendo esta recolhida pelas empresas e entidades
previdenciárias.
Cabe ressaltar que a criação deste imposto estava ligada à preocupação de impedir
o esvaziamento dos sindicatos atrelados ao poder estatal, entidades que tiveram
arrefecidas as suas funções políticas reivindicatórias e foram transformadas em
centros assistenciais complementares à Previdência Social. Os recursos arrecadados
através deste imposto foram utilizados para sustentar todo o funcionamento do
sindicalismo oficial, alimentar o Fundo Sindical destinado a manter programas
assistenciais amplos e para montar serviços assistenciais que constavam de: agência
de recolocação, assistência à maternidade, assistência médico-dentária, assistência
jurídica, cooperativa de crédito e consumo, colônias de férias e atividades
esportivas. Ainda naquele ano foi também decretado o Salário Mínimo Legal e
criado o Sistema de Alimentação de Previdência Social (SAPS), com o objetivo de
fornecer alimentação adequada aos trabalhadores.
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Segundo Iamamoto,
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Conforme Sposati:
Ressalta-se que no período entre 1946 e 1964, instrumentos legais foram criados
com vistas a viabilizar um governo democrático. Entretanto, o populismo, marca
das ações estatais assumidas pelo governo anterior, continuou sendo um traço
importante na relação Estado/sociedade.
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Alguns autores colocam que este período foi caracterizado por um avanço no
processo de centralização institucional e por uma maior abrangência da proteção
social a novos grupos sociais, porém, dentro de um padrão seletivo, heterogêneo e
fragmentado. Grande parte dos programas pressupunham a contribuição prévia
ante a concessão de benefícios.
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Ela acabou sendo encampada e financiada pelo governo com o concurso das
grandes corporações, tais como a Confederação Nacional da Indústria e a
Associação Comercial, e teve também a colaboração das senhoras da sociedade. Foi
uma instituição organizada sobre uma estrutura nacional, com órgãos centrais,
estaduais e municipais; mobilizou e coordenou obras particulares e instituições
públicas; e supriu as deficiências da rede assistencial através de iniciativas
próprias. Funcionou também como repassadora de verbas para obras assistenciais
particulares.
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Também em 1946, sob o governo de Eurico Dutra, surgiu a Fundação Leão XIII,
oficializada por Decreto-lei da presidência da República. Foi a primeira grande
instituição assistencial que teve como objetivo trabalhar com os habitantes das
grandes favelas que, já naquela ocasião, concentravam significativa parcela da
população pobre dos grandes centros urbanos industriais, principalmente na cidade
do Rio de Janeiro, então Capital federal.
“As grandes favelas serão um dos pontos de encontro e aglutinação, nos grandes
centros industriais, dessa multidão de miseráveis mantidos na ociosidade forçada
em contrapartida ao trabalho excessivo de outras parcelas da população
trabalhadora: desempregados, subempregados, vítimas da indústria (mutilados,
viúvas, órfãos, crianças abandonadas, etc.), aposentados, elementos refugados
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Segundo Sposati:
Em 1960 foi instituída a Lei Orgânica da Previdência Social que unificou os critérios
de concessão de benefícios dos diversos institutos e os ampliou, assegurando o
auxílio-natalidade, auxílio-funeral, auxílio reclusão e assistência social. Em 1966,
houve a unificação, uniformização e centralização da previdência social, no
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), hoje Instituto Nacional de
Seguridade Social (INSS). Essa reforma previdenciária tirou dos trabalhadores a
gestão da Previdência Social que passou a ser tratada como uma questão técnica.
No que tange ao trabalhador, em 1966 foi criado o Fundo de Garantia por tempo de
Serviço (FGTS), instrumento que garantiu a possibilidade de rotatividade da mão de
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obra, pois eliminou a estabilidade do trabalhador que, antes deste dispositivo, não
podia ser dispensado após 10 anos de serviço na mesma empresa, a não ser por
justa causa. Neste período, foram instituídos ainda o Programa de Integração Social
(PIS), o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL) que se constituiu
em uma previdência rural que se manteve através de uma pequena taxação dos
produtores; e os Centros Sociais Urbanos (CSU).
As ações assistenciais advindas tanto do Estado quanto da iniciativa privada, que tiveram lugar
desde o início do século passado, foram reflexos das sequelas da questão social provocadas,
principalmente, pelo incremento da industrialização no país. Este processo deu origem a uma
classe operária que, através de sua paulatina organização, se constituiu em uma importante
força social e política, com potencial para desestabilizar o status quo dominante determinado
pela classe burguesa, detentora do capital. A partir dessa organização proletária significativa, os
capitalistas, com o concurso do Estado e de iniciativa da Igreja Católica promoveram iniciativas,
sendo que, paulatinamente, muitas delas foram se constituindo em ações encampadas e
oficializadas pelo poder estatal, embasando políticas sociais.
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Quando o Estado brasileiro passou a reconhecer a questão social como uma questão
política e assumir o seu equacionamento, a assistência começou a configurar-se
como uma área programática da ação governamental para prestação de serviços e
como mecanismo político para amortecimento de tensões sociais, adquirindo assim
nova amplitude. Além da criação de programas de assistência imediata aos
necessitados, o Estado assumiu a prestação de serviços sociais básicos e os
programas de desenvolvimento comunitários para comunidades e regiões
“estagnadas” socioeconomicamente.
Assim, a assistência nas políticas sociais públicas passou a ser considerada como
uma área específica de despesa do governo e tomou diversas denominações, tais
como: a assistência comunitária, a assistência social, podendo esta última ser
qualificada como um subprograma de políticas tais como: de saúde, habitacional,
educacional, ou como uma área específica da própria política social.
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Esta mesma autora pontua que em suas ações o Estado reforça o vínculo aparente
do assistencial porque este lhe permite responder às demandas colocadas de forma
precária e insuficiente, além de reiterar a tutela. Há nele uma tendência em
transformar os trabalhadores que recorrem aos programas assistenciais sob sua
chancela em grupos dependentes e frágeis, sem condições próprias de reversão de
seu quadro de pobreza.
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Ante este ponto de vista, no que tange ao prisma político, as ideias liberais
burguesas se constituíram contra o absolutismo da realeza europeia e pregaram a
legitimação do poder no consentimento dos cidadãos, através das instituições do
voto e da representação, da autonomia dos poderes e da limitação do poder
central. No aspecto ético, o liberalismo supôs a prevalência do estado de direito,
rejeitando o arbítrio, as lutas religiosas, as prisões sem culpa formada, a tortura e
as penas cruéis adotadas pelas monarquias. Pregou a garantia de direitos
individuais como a liberdade de pensamento, expressão e religião. Sob o paradigma
econômico, tais ideias se opuseram inicialmente à intervenção do poder dos reis
nos negócios, ingerência esta que se fazia por meio de procedimentos típicos da
economia mercantilista num contexto onde já se esboçava o desenvolvimento do
capitalismo.
As ideias liberais foram desenvolvidas por alguns pensadores dos séculos XVIII e XIX
e consolidaram a defesa da propriedade privada, dos meios de produção e de uma
economia de mercado baseada na livre iniciativa e na competição. O Estado
mínimo, ou seja, o Estado não intervencionista foi entendido como a forma de
estruturação viável deste organismo para assegurar o livre mercado porque os
defensores deste pensamento acreditavam (e acreditam) que o equilíbrio de todas
as dimensões inerentes à estruturação da vida pode ser alcançado pela lei da
oferta e da procura.
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que o Estado não deveria intervir na regulação das relações de trabalho nem se
preocupar com o atendimento das necessidades sociais. Paradoxalmente, porém,
ele deveria agir ante a garantia dos interesses liberais de estabelecimento do
mercado livre na sociedade civil.
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O fundamental nesse contexto do final do século XIX e início do século XX, é compreender que
nosso liberalismo à brasileira não comportava a questão dos direitos sociais, que foram
incorporados sob pressão dos trabalhadores e com fortes dificuldades para sua implementação e
garantia efetiva. (Behring e Boschetti , 2008:81)
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Alguns autores entendem que o Welfare State, através das políticas sociais
implantadas sob as suas diretrizes, trouxe um aumento à capacidade de consumo
das famílias dos trabalhadores e se traduziu em gastos estatais em habitação,
transporte e saneamento, o que incentivou a expansão da demanda agregada e o
desenvolvimento tecnológico. Além disso, propiciou a socialização dos custos
referentes aos riscos do emprego industrial e à reprodução da força de trabalho,
liberando reservas de capital privado para investimentos em outras áreas e
mantendo um exército industrial de reserva que garantia mão de obra em diversos
níveis de qualificação.
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Para alguns autores, porém, a volta contundente das ideias neoliberais ocorreu
efetivamente no final da década de 1970, quando os governos de diversos países,
inclusive o Brasil, adotaram seus princípios nos programas governamentais que
desenvolveram, enterrando definitivamente a perspectiva adotada pelo Welfare
State.
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Do ponto de vista estrutural, para Sposati (1989), uma das formas que o Estado
assume ao lidar com o manejo das políticas públicas é através da setorização e da
compartimentação de suas ações, com a criação de múltiplos programas e órgãos
que assumem maneiras diferenciadas, parceladas e desarticuladas de atendimento
à demanda colocada. Soma-se a este fato a autonomia relativa de cada setor da
ação governamental em relação aos outros e à sociedade. Há ainda o repasse da
execução de serviços sociais a entidades privadas e à sociedade civil, como
estratégia de conseguir solidariedade social, Assim sendo, as ações estatais são
diluídas entre o aparato próprio, conveniado e contratado com empresas privadas
que passam a ofertar serviços financiados pelo Estado.
Soma-se a este quadro a burocracia estatal contábil que estabelece limites ao uso
de recursos, processos e instrumentos de ação, tendo como consequência um
reducionismo do atendimento assistencial a ajudas parciais e fragmentadas que se
esgotam prematuramente.
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maior parte pelo setor privado; a alta dos juros, levando à inflação; o desemprego,
causando o aumento do trabalho informal; o incentivo à exportação em detrimento
das necessidades internas do país; a dificuldade de formulação de políticas
econômicas eficazes que determinaram indicadores econômicos lamentáveis, fatos
que levaram à queda do investimento externo no país, bem como no setor público
que acabou se endividando e gerando gastos desequilibrados, situação que trouxe
forte impacto para as políticas sociais. Este contexto configurou ainda uma crise
política a partir do ressurgimento de movimentos sindicais e populares.
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“A reforma, tal como foi conduzida, acabou tendo um impacto pífio em termos de
aumentar a capacidade de implementação eficiente de políticas públicas,
considerando sua relação com a política econômica e o boom da dívida pública.
Houve uma tendência de desresponsabilização pela política social, acompanhada
do desprezo pelo padrão constitucional de seguridade social as formulações de
política social foram capturadas por uma lógica de adaptação ao novo contexto.
Daí decorre o trinômio do neoliberalismo para as políticas sociais – privatização,
focalização/seletividade e descentralização”. (2004)
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Segundo levantamento feito por Behring e Boschetti (2008), até o ano de 2008
havia 17 Conselhos Nacionais que se desdobraram nos Estados e municípios nas
áreas de educação, saúde, trabalho, previdência social, assistência social,
segurança alimentar, cidades, desenvolvimento rural. Estes Conselhos se
organizaram também por segmentos sociais abarcando os interesses das mulheres,
crianças e adolescentes, idosos, negros; assim como por segmentos temáticos,
considerando execuções penais, questões penitenciárias e comunidade. Conforme
as autoras citadas, é possível estimar a existência de 20 mil conselhos nas mais
diversas áreas espalhados pelo território nacional.
Os Conselhos de Direito são instituições inscritas na Constituição Federal de 1988, criados por
lei e vinculados às instâncias do Poder Executivo (Federal, Estadual e Municipal), que devem se
responsabilizar por sua manutenção e funcionamento. Têm a proposta de se constituírem em
espaços públicos de uma nova forma de articulação entre Estado e sociedade e de afirmação de
direitos sociais. São permanentes, tem caráter deliberativo e estruturam-se sobre uma
organização paritária com assento assegurado a representantes do governo e da sociedade civil.
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8 - CONCLUSÃO
Diante do estudo sobre a instituição das políticas sociais no Brasil, depreende-se
que, historicamente, elas vieram se constituindo enquanto o resultado das
demandas apresentadas pela classe trabalhadora e seu equacionamento pelo
Estado, em um contexto de concessão e conquista, tendo em vista que sua
estruturação condiciona-se à tensão que se estabelece entre Estado e sociedade
civil.
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Referências Bibliográficas
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ed. revista – São Paulo; Moderna, 2003.
Barcellos, Tanya Maria Macedo (coord.). A Política Social Brasileira 1930-64: evolução institucional
no Brasil e no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: undação de Economia e Estatística, 1983.
Behring, Elaine Rossetti e Boschetti, Ivanete. Política Social: fundamentos e história. – 5ª ed. – São
Paulo; Cortez, 2008.
Faleiros, Vicente de Paula. O que é Política Social.- São Paulo: Brasiliense, 2004.- (Coleção
Primeiros Passos, 168)
Iamamoto, Marilda Vilela. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil:esboço de uma interpretação
histórico-metodológica.2ª ed. –Sp. Cortez, 1983.
Martinelli, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. 8ed. São Paulo: Cortez, 2003.
Medeiros, Marcelo. A trajetória do Welfare State no Brasil: papel redistributivo das plíticas sociais
dos anos 1930 aos anos 1990. IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília; Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, 2001. Disponível em <http://www.ipea.gov.br
Mestriner, Maria Luíza. O Estado entre a filantropia e a assistência social.- São Paulo: Cortez, 2001.
Sposati, Aldaíza de Oliveira et all. A Assistencia na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma
questão em análise. – São Paulo: Cortez, 1989.
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