Controle Externo da Administração Pública Estadual
PARECER MINISTERIAL nº 666/2016 - GPMC
Processo n.º: 201500047001320/303
Origem: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE GOIAS Interessado(a): SECIMA - SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE, RECURSOS HIDRÍCOS, INFRAESTRUTURA, CIDADES E ASSUNTOS METROPOLITANOS Assunto: 303-PROCESSOS DE FISCALIZAÇÃO - ATOS-AUDITORIA OPERACIONAL Relator(a): SAULO MARQUES MESQUITA Auditor: MARCOS ANTONIO BORGES
EMENTA: AMBIENTAL. ADMINISTRATIVO.
AUDITORIA DE NATUREZA OPERACIONAL. Impropriedades legais identificadas quando da execução da auditoria. Ausência de Plano Estadual de Recursos Hídricos no Estado de Goiás pelo período de 16 anos, em clara inobservância às determinações legais. Ausência de identificação dos responsáveis. Conveniência de se continuar o procedimento fiscalizatório. Expedição de recomendações.
1 – RELATÓRIO
Tratam os autos de Auditoria Operacional realizada no
Sistema de Gestão de Recursos Hídricos, em conformidade com a Resolução Normativa nº 001 de 18/03/2015, a qual estabeleceu o Plano de Fiscalização no âmbito do Tribunal de Contas do Estado de Goiás para o exercício de 2015, com o objetivo de avaliar o processo de formulação e implementação da política pública estadual, “de importância crucial à sustentabilidade ambiental e econômica” (Relatório nº 001/2015 – fl. TCE 007).
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO 1.1 – DO RELATÓRIO DE AUDITORIA
Analisou-se o “planejamento das ações em relação às
estratégias e requisitos técnicos e legais pertinentes”, a “concessão de outorgas, com base nos critérios e normas técnicas correlatas”, a “disponibilização e aplicação dos recursos financeiros com base nas normas legais correspondentes” e a “implementação de sistema de informações para a avaliação e controle do uso dos recursos hídricos” (fl. TCE 007). Para tanto, adotou-se metodologicamente “pesquisas bibliográficas”, “consultas a estudiosos e pesquisadores da área”, “análise da legislação pertinente, manuais operacionais, dados e documentos da SECIMA (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos)”, “entrevistas semiestruturadas com as equipes técnicas e gestores das áreas correlatas da Secretaria, com os principais usuários de recursos hídricos do estado: Saneamento de Goiás (SANEAGO), Federação da Agricultura de Goiás (FAEG) e Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG)” e “técnicas específicas da auditoria operacional para a formação de diagnóstico sobre a situação atual, dentre elas, Análise Stakeholder, Análise Swot, Diagrama de Verificação de Riscos e Diagrama Situacional” (fls. TCE 007/013). Em geral, as investigações foram subsidiadas em critérios derivados dos “princípios gerenciais, técnicos e operacionais prescritos na Lei Federal nº 9.433/1997 – Política Nacional de Recursos Hídricos” (fl. TCE 011). Em 1991, Goiás já havia instituído seu primeiro Plano Estadual de Recursos Hídricos e Minerais, por meio da Lei Estadual nº 11.414/1991, para o quadriênio 1991-1994. Posteriormente, para o quadriênio 1995-1998, o Plano foi reformulado por meio das Leis Estaduais nº 13.040/1997 e 13.061/1997. Em observância à legislação federal, foi instituída a Política Estadual de Recursos Hídricos, pela Lei Estadual nº 13.123/1997, a
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO qual estabelece normas de orientação política e sistema integrado de gerenciamento de recursos hídricos, o qual é composto “pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos, pelos Comitês de Bacias Hidrográficas e pelo Órgão Gestor com a definição dos instrumentos de gestão a serem aplicados no estado: Outorga de direito de uso dos Recursos Hídricos; Cobrança pelo uso dos Recursos Hídricos; e o Plano Estadual de Recursos Hídricos” (fl. TCE 020). São estes os achados da auditoria: i. “Ausência de planejamento no âmbito estadual para o gerenciamento dos recursos hídricos”; ii. “Insuficiência de recursos financeiros para atender a demanda e não disponibilidade dos recursos da compensação financeira das hidrelétricas de acordo com a legislação”; iii. “Deficiência na concessão e controle de outorgas”; iv. “Ausência de outorga para lançamento de efluentes”; v. “Falta de fiscalização dos empreendimentos outorgados e dos irregulares ou clandestinos”; vi. “Deficiência do sistema de informação e não disponibilização dos dados e informações à sociedade”; e vii. “Ausência de avaliação e monitoramento da gestão estadual de recursos hídricos”. Na opinião da Gerência de Fiscalização os achados retratam (fl. TCE 053) “o quadro amplo e diversificado de vicissitudes e dificuldades, que reflete a perspectiva histórica da formulação e implementação da política de recursos hídricos no estado de Goiás, permeada por lacunas, descontinuidades e deficiências que perduram há anos, que comprometem o sistema como um todo e sinalizam a falta de prioridade e valorização da temática no âmbito das políticas públicas estaduais.” Em sua proposta de encaminhamento, ressaltando “a importância da gestão das águas” e a essencialidade de “uma abordagem sustentável dos recursos hídricos e do meio ambiente por parte do órgão ambiental”, sugeriu-se para corrigir a i. “ausência de planejamento”: a realização de “planejamento com ações integradas em conformidade com a legislação pertinente”; a estruturação e fortalecimento dos Comitês de Bacia Hidrográfica de forma a exercerem efetivamente suas funções; A
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO realização de “integração entre as Superintendências da SECIMA, de forma a realizar um planejamento mais efetivo e consistente”; o fortalecimento da “articulação com os municípios para a maior participação dos mesmos nos comitês”; a implementação de “instrumentos para o monitoramento e aferição da operacionalização/execução do Plano Estadual de Recursos Hídricos, em conformidade com os critérios, normas, metas e objetivos propostos, e com os recursos disponíveis ao longo de sua vigência”; o cumprimento da “legislação quanto ao disposto no art. 140 da Constituição Estadual para assegurar recursos financeiros e mecanismos institucionais necessários à proteção dos recursos hídricos de forma geral”. Para a ii. “insuficiência de recursos financeiros para atender a demanda e não disponibilidade dos recursos da compensação financeira das hidrelétricas de acordo com a legislação”: a avaliação com consequente apresentação de estudo “de majoração das taxas de vistoria e análise de outorga para aprovação e instituição da lei pelo Governador do Estado”; a efetiva aplicação dos recursos orçamentários em ações que visem a conservação dos recursos hídricos”; a solicitação por meio de instrumentos legais e formais ao Governo do Estado a disponibilização dos recursos da compensação financeira das hidrelétricas à SECIMA, de modo a serem “prioritariamente aplicados em programas de recursos hídricos”. Quanto à iii. “deficiência na concessão e controle de outorgas”, à iv. “ausência de outorga para lançamento de efluentes” e à v. “falta de fiscalização dos empreendimentos outorgados e dos irregulares ou clandestinos”: a adoção de sistema de outorgas que “possibilite maior confiabilidade e controle dos dados apresentados, “padronizando e estabelecendo critérios para ‘análise técnica’ dos processos de concessão de outorga”; o estabelecimento de “mecanismos para registrar mensalmente o número de outorgas concedidas por bacia hidrográfica, mesmo que manualmente, de forma a controlar a vazão concedida em cada área”; A realização de “outorga de lançamento de efluentes”; o
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO estabelecimento de um “regulamento com base em parâmetros técnicos nacionais outorgáveis, adequando-o à realidade do estado”; a realização de vistorias aos empreendimentos outorgados, com a fiscalização da “captação nas bacias hidrográficas do estado com vistas a coibir usos clandestinos, irregulares e desmedidos dos recursos hídricos”; a regulamentação “por meio de normativas internas” das “fiscalizações referentes ao uso dos recursos hídricos, reforçando a competência da Gerência de Fiscalização”. Por fim, no que diz respeito à vi. “deficiência do sistema de informação e não disponibilização dos dados e informações à sociedade” e à vii. “ausência de avaliação e monitoramento da gestão estadual de recursos hídricos”: a adoção de “práticas para compilação dos dados existentes de forma a utilizá-los como subsídio para o planejamento”; o desenvolvimento de “sistemas integrados e consistentes para a disponibilização dos dados de acordo com a legislação, gerindo as informações de modo a processá-las para a previsão e controle das ações ocorridas nas bacias hidrográficas, capacitando o pessoal técnico e envolvendo a sociedade”; a estruturação da “área de TI para subsidiar a implantação, efetivação e acompanhamento das políticas públicas ambientais”; o fortalecimento das “ações de planejamento de forma a propiciar o acompanhamento” de seus resultados; e a utilização de “indicadores para mensurar as metas alcançadas e que os dados avaliados sejam considerados para o replanejamento”. Via Memorando nº 006/2015 – o qual não consta dos autos –, a SECIMA informou à Gerência de Fiscalização que “o último Plano Estadual de Recursos Hídricos – PERH, foi aprovado em 1995, ficando em vigor até 19998” (fl. TCE 022). Em 1999, desenvolveu-se base para a atualização do plano, a qual não foi concluída. Nos anos de 2002 e 2004 foram apresentados pela Superintendência de Recursos Hídricos ao Conselho Estadual do Meio Ambiente “dois planos de aplicação de recursos do Fundo Estadual do Meio Ambiente – FEMA, com o objetivo de
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO contratar consultoria para realizar a atualização do Plano”, tendo ambas sido aprovados, mas não executados (fl. TCE 023). Segundo constatou a Gerência de Fiscalização dessa Corte de Contas, tal situação afronta o art. 21 da referida Lei Estadual nº 13.123/1997, no qual se determina que “o plano estadual de recursos hídricos deverá ser encaminhado à Assembleia Legislativa, aprovado por lei, com prazo de vigência de quatro anos” (fl. TCE 024), encaminhamento que deve se dar até o final do primeiro ano do mandato do Governador do Estado. Em igual sentido, pontuou-se que no relatório de atividades emitido pela SECIMA não se encontram “as informações determinadas pela Lei 13.123/97, nem mesmo quanto à situação dos recursos hídricos”. O Gerente de Planejamento, pelo Memorando nº 006/2015 – também ausente dos autos –, informou que “na inexistência de Plano Estadual de Recursos Hídricos vigente não é enviado relatório da situação dos recursos hídricos no Estado à Assembleia”, apenas se elaborando “um relatório anual das atividades executadas pela Superintendência de Recursos Hídricos”, o qual é apresentado “ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CERH” (fl. TCE 024). Em resposta especialmente quanto a esta conjectura, o Superintendente de Recursos Hídricos, pelo Ofício nº 1083/2015-GAB – novamente ausente –, “salientou que, quanto ao plano de recursos hídricos, de fato o Estado de Goiás ficou alguns anos sem atualização do plano ou instrumento similar”, o que não significa que “a Política Estadual de Recursos Hídricos” tenha ficado “estagnada, pois foram constituídos o Plano Estratégico de Recursos Hídricos dos Rios Tocantins e Araguaia e o Plano do Rio Paranaíba” (fl. TCE 049).
1.2 – DAS CONSIDERAÇÕES DO SECRETÁRIO DE ESTADO DE MEIO
AMBIENTE, RECURSOS HÍDRICOS, INFRAESTRUTURA, CIDADES E ASSUNTOS METROPOLITANOS
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO Pelo Despacho nº 745/2015, o Conselheiro Relator determinou a intimação do Secretário de Estado de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos para apresentar as considerações que entender necessárias (fl. TCE 064). A resposta se encontra em fls. TCE 070/144. Cada uma das deficiências apontadas foi respondida pelo atual Superintendente de Recursos Hídricos, Bento Godoy Neto, no sentido de que (fl. TCE 083) os avanços realizados e os procedimentos em fase de execução devem ser levados em conta no referido relatório, pois demonstram de forma concreta que a Política Estadual de Recursos Hídricos está em franca implementação no Estado de Goiás e ainda que as ações constantes do Planejamento Estratégico/Cronograma de Ações tão somente poderão ser executados tempestivamente com a disponibilização dos recursos e mão de obra necessários, o que extrapola a competência desta Superintendência de Recursos Hídricos e depende da garantia de suprimento destas demandas por parte da alta direção da SECIMA.
Em geral, as colocações do Superintendente foram, em
suas próprias palavras, no sentido de reiterar e complementar “os esclarecimentos e considerações já apresentados por meio do memorando SRH nº 108/2015”, lembrando que a equipe responsável pelo relatório “esteve em contato com servidores desta SRH por algumas vezes” (fl. TCE 071). Quanto à ausência de planejamento no âmbito estadual, reconhece mais uma vez que o Estado de Goiás ficou alguns anos sem atualização do plano de recursos hídricos ou instrumento similar, ressaltando que esta falta não implicou em uma estagnação da política pública, apontando para tanto planos estratégicos desenvolvidos dos anos de 2009 a 2013, recursos arrecadados junto ao Banco Mundial para a elaboração de novo Plano Estadual de Recursos Hídricos – PERH, consultas públicas realizadas com a participação de 1.200 pessoas no
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO total, pontuando que a referida elaboração está de acordo com a normativa relevante (fl. TCE 073/074). Quanto à realização de ações integradas, nomeou uma série de instrumentos legais lavrados que “demonstram que o Estado está planejando suas ações quanto aos recursos hídricos” (fl. TCE 075). Quanto à estruturação e fortalecimento dos Comitês de Bacias Hidrográficas, o Superintendente informou estar o Estado de Goiás dividido em 11 unidades de Planejamento e Gestão, das quais 08 já têm comitês instalados, a abranger aproximadamente 75% do território estadual, com projeto em andamento para contratação ou dotação de pessoal próprio para integrar a estrutura da Secretaria Executiva dos Comitês de Bacias Hidrográficas, bem como a criação do Fórum Goiano dos Comitês de Bacias Hidrográficas e a realização no Estado do XVII Encontro Nacional dos Comitês de Bacias (fls. TCE 075/076). Quanto à promoção da integração entre as superintendências da SECIMA, apontou que a fiscalização dos recursos hídricos a nível estadual é realizada pela Superintendência de Licenciamento e Qualidade Ambiental em consonância com a Superintendência de Recursos Hídricos, o que comprovaria “a integração entre as áreas”, visto se tratarem de “políticas com focos distintos, porém com ações integradas” (fl. TCE 076). Quanto à “falta de fiscalização dos empreendimentos outorgados e dos irregulares ou clandestinos”, o Superintendente repetiu os mesmos apontamentos quanto à atuação em consonância de ambas as Superintendências (fl. TCE 082). Quanto ao fortalecimento da articulação com os municípios, disse que estes possuem “assentos em todos os comitês de bacias hidrográficas e são fortemente encorajados a participarem de ações de capacitação e conhecimento sobre o sistema de gestão de recursos hídricos”, citando três eventos realizados entre 2013 e 2015 com tais intentos (fl. TCE 076).
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO Quanto à insuficiência de recursos financeiros, informou já haverem sido realizados “estudos de majoração de taxas de outorga”, mas também da participação do Estado no PROGESTÃO – Pacto das Águas, “com a definição de metas a serem atingidas, que representam a evolução do Sistema de Gestão no Estado, contribuindo também para a evolução do Sistema Nacional (R$ 3.750.000,00)” (fl. TCE 077). Quanto às deficiências na concessão e controle de outorgas, disse que a Superintendência conta atualmente “com um sistema desenvolvido especificamente para os procedimentos de licenciamento ambiental, ajustado para que pudesse atender às necessidades da gestão de recursos hídricos” (fl. TCE 077), o qual se encontra atualmente em “fase de desenvolvimento do software”, executado pela Gerência de Tecnologia da Informação da SECIMA. Escreveu também a respeito da Portaria nº 181/2015, por meio da qual se estabeleceu os critérios da concessão de outorgas, adotados “objetivando a necessidade de maior eficiência, padronização e aperfeiçoamento das análises técnicas relativas à emissão de outorgas do direito de uso das águas de domínio do Estado” (fl. TCE 077). Em continuidade, referiu-se ao Manual Técnico de Outorgas, à padronização dos procedimentos relativos à outorga e a obtenção da Certificação ISO 9001 de qualidade (fl. TCE 081). Importante destacar que quando a Gerência de Fiscalização se pronunciou especificamente sobre o dito manual, apontou que algumas de suas previsões legais não foram efetivamente implementadas e que os próprios técnicos justificaram tal situação “em razão das deficiências de elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos e de Bacias Hidrográficas”, deficiências que prejudicam “tanto as questões ambientais quanto de uso dos recursos hídricos” (fl. TCE 039). Quanto à ausência de outorga para lançamento de efluentes, argumentou que ela não foi adotada “pois depende da finalização e aprovação do Plano Estadual de Recursos Hídricos –
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1.3 – DA TRAMITAÇÃO
Em acordo com a determinação do Relator, os autos
foram remetidos a este Ministério Público de Contas. Por meio do Despacho nº 90/2016 – GPMC (fls. TCE 146/147), o parquet pugnou “pela necessidade de atuação prévia da Unidade Técnica competente para que os presentes autos sejam corretamente instruídos”. Assim foi determinado – Despacho nº 156/2016 (fl. TCE 148) –, e feito, conforme Instrução Técnica nº 1/2016 (fl. TCE 150/157). A Gerência de Fiscalização –
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2 – FUNDAMENTAÇÃO
As recomendações propostas pela equipe de
fiscalização são pertinentes. Como colocou tanto a Auditoria como a Unidade Técnica, a presente Auditoria Operacional merece ser conhecida e discutida em plenário. Não obstante, como pode ser percebido do relatório, algumas incongruências e questionamentos surgem dos fatos constatados pela equipe, e não são por ela investigados, de modo que um número considerável de perguntas permanece em aberto.
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Do circunscrito no presente caso concreto, parece
aceitável concluir pela necessidade de Plano Estadual de Recursos Hídricos – PERH atualizado, condição imprescindível, ainda que, por evidente, não suficiente, para se almejar a perfeita efetivação da respectiva política pública. Como argumentado pelos próprios servidores da Superintendência de Recursos Hídricos, muitas das atuais deficiências da sua não implementação decorrem da ausência do dito instrumento legal. É de todo significativo que sua importância tenha sido reconhecida pelas legislaturas federal e estadual. Na Lei Federal nº 9.433/1997 se estabelece como primeiro instrumento da Política Nacional de Recursos Hídricos, em seu art. 5º, inciso I, justamente os Planos de Recursos Hídricos. No art. 6º eles são definidos como “planos diretores que visam fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos”, sendo, conforme o art. 7º, “planos de longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o período de implementação de seus programas e projetos”, tendo como conteúdo mínimo (incisos I a X): o diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos; a análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo; o balanço entre disponibilidades e demandas futuras de recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais; metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis; medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implementados, para o atendimento das metas previstas; prioridades para a outorga de direitos
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO meio do art. 21 que o plano estadual de recursos hídricos deve ser encaminhado à Assembleia Legislativa “até o final do primeiro ano do mandato do Governador do Estado”, sendo aprovado por lei e “com prazo de vigência de quatro anos”. Além disto, cabe ao Poder Executivo a publicação de relatório anual sobre a situação dos recursos hídricos do Estado de Goiás e relatórios sobre a situação dos recursos hídricos das bacias hidrográficas, objetivando dar transparência à administração pública e subsídios às ações dos Poderes Executivo e Legislativo de âmbito municipal, estadual e federal. (art. 22)
Na própria normativa se determina o local de discussão
e aprovação do projeto de lei referentes ao PERH, isto é, ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos (art. 28). Em igual sentido, nela se estabelece que a aplicação dos recursos da conta especial de recursos hídricos do Fundo Estadual do Meio Ambiente – FEMA “deverá ser orientada pelo plano estadual de recursos hídricos” (art. 42) e que a aplicação do produto decorrente da cobrança pela utilização dos recursos hídricos se dará de acordo com o previsto pelo PERH. O art. 30 prevê a criação de “Comitê Coordenador do plano estadual de recursos hídricos”, ao qual se atribuiu a coordenação da “elaboração periódica do plano estadual de recursos hídricos” (inciso I), prevendo o estabelecimento de sua organização por “regulamento, devendo contar com apoio técnico, jurídico e administrativo dos órgãos e entidades estaduais competentes” (art. 31). Por fim, o parágrafo único do art. 48 determinou a reorganização da Diretoria de Recursos Hídricos da então Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos para incluir “entre as suas atribuições, estruturas e organização, as unidades técnicas e de serviços necessários ao exercício das funções de apoio ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos e participação no Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos – CORHI”. Da leitura do último dispositivo citado, percebe-se que a legislatura estadual determinou expressamente ao Poder Executivo que
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO se reestruturasse de modo a se compatibilizar com a Política Estadual de Recursos Hídricos. Se o fato de que o “Estado de Goiás ficou alguns anos sem atualização de plano de recursos hídricos ou instrumento similar” já mostra que tal compatibilização no mínimo demorou a acontecer, a confusa história legal da Secretaria de Meio Ambiente – a receber as mais diversas denominações no decorrer dos anos e mandatos – o comprova.
2.1.1 – HISTÓRIA LEGAL DA SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS
HÍDRICOS
Na Lei Estadual nº 13.456/1999, por meio da qual se
reestruturou por mais uma vez o Poder Executivo do Estado de Goiás, em seu art. 7º, alínea “o”, item 7, se dispõe ser competência da então Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos a “coordenação da elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos previsto no art. 140 da Constituição Estadual em harmonia com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a Secretaria de Indústria e Comércio e a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento”. O Decreto nº 5.516/2001, por meio do qual o então Governador do Estado aprovou o Regulamento Interno da dita secretaria, em seu art. 4º, inciso IX repete a redação do dispositivo acima citado. Já em seu art. 12, inciso I, estabelece ser a Superintendência de Recursos Hídricos competente para “promover a elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos”. Para então, no art. 21, inciso II, determinar expressamente como atribuição do Superintendente de Recursos Hídricos o desenvolvimento, em cooperação com órgãos e entidades encarregas de estabelecer a política estadual de recursos hídricos, “as funções técnicas e administrativas necessárias à utilização racional dos recursos hídricos das bacias hidrográficas do Estado”.
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO Em 2003, pelo Decreto nº 5.858 de 11 de novembro de 2003, altera-se mais uma vez o regulamento da referida secretaria. Contudo, ela continua competente para elaborar o PERH (art. 3º, inciso IX), competência que internamente vai alocada à Superintendência de Recursos Hídricos (art. 12, inciso I). Agora, expressamente, se determinou caber ao Superintendente de Recursos Hídricos “responsabilizar-se pela coordenação da elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos” (at. 21, inciso XIII, ênfase adicionada). Esta estrutura se repetirá anos depois, em 2014, com o Decreto nº 8.269, o qual, em seu art. 19, inciso II, diz caber ao Superintendente de Recursos Hídricos “dirigir a elaboração de Plano Estadual de Recursos Hídricos”, e continuará no regulamento de 2016, visto que no Decreto nº 8.580 deste ano se constata em seu art. 36, inciso II a mesma redação, qual seja: Art. 36. São atribuições do Superintendente de Recursos Hídricos: I – (...) II – Dirigir a elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos.
Muito bem. Diante do acima exposto, importante
destacar que em 05 de setembro de 2003 deu-se publicação ao Decreto nº 5.824, no qual o então e ora atual Governador Marconi Ferreira Perillo Júnior instituiu “Grupo Técnico de Coordenação e Elaboração – GTCE para, no prazo de 90 (noventa) dias da publicação deste Decreto, coordenar, organizar e subsidiar tecnicamente a elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos – PERH” (art. 1º). No parágrafo único, ficou estabelecido que o GTCE seria coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMARH, com sua composição se dando por representantes de inúmeras secretarias, agências, federações, associações, e também pela Saneamento Goiás S/A – SANEAGO e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Ao Presidente do Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CERHI caberia dar posse aos membros do GTCE no prazo de 30 (trinta) dias (art. 2º).
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO Da pesquisa realizada por esse Ministério Público não foi possível encontrar qualquer documentação a respeito dos trabalhos desenvolvidos por este Grupo Técnico de Coordenação e Elaboração. De qualquer forma, supostamente, a existência da criação do GTCE deveria ser desnecessária, em razão da previsão legal da formação de Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos – CORHI (conforme art. 30 da Lei Estadual nº 12.123/1997) que, como a própria nomenclatura denuncia, foi desenhado justamente para tanto, isto é, a coordenação e elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos. No mesmo sentido, é ainda mais curioso o fato de que pouco mais de um mês depois, por meio do já citado Decreto nº 5.858, ainda na suposta vigência de um Grupo Técnico para tanto, se determinou a responsabilidade do Superintendente de Recursos Hídricos por coordenar a elaboração do referido plano. Em seus achados, a equipe de fiscalização pontuou que a Superintendência de Recursos Hídricos enviara ao CERH dois planos de aplicação de recursos do FEMA visando a elaboração do plano, nos anos de 2002 e 2004, como acima relatado. Coincidentemente, antes da criação e depois de transcorridos os 90 dias de prazo para o GTCE desenvolver o PERH, submetendo-o ao mesmo CERH. Assim, são fortes os indícios de que a atuação do GTCE se não inexistente, foi completamente ineficaz. Não é outra a conclusão que se pode tirar de todas as deficiências e ausências apontadas pela equipe de fiscalização. Em suma, a estrutura organizacional da SECIMA não tem sido movimentada de maneira eficiente com vistas à promoção do uso racional dos recursos hídricos, se é que se pode falar em alguma movimentação nos aproximados 16 anos em que o Estado de Goiás permaneceu sem Plano Estadual de Recursos Hídricos. Ou, em outras palavras e mais sinteticamente: não existe Política Pública Estadual de Recursos Hídricos de fato. Argumentar que outros instrumentos foram desenvolvidos ao longo deste período, ao invés de fundamentar alguma atuação por parte do órgão, demonstrando sua pro-atividade, bem como “não-estagnação”
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO da Política Estadual de Recursos Hídricos, no entender desse Ministério Público, pelo contrário, apresenta o completo descaso do Poder Executivo para com qualquer tipo de racionalidade jurídico-ambiental. Afinal, como desenvolver outros instrumentos sem saber se alinhados com a realidade dos recursos hídricos estatais, realidade esta apreendida justamente por meio do Plano Estadual de Recursos Hídricos? Em outras palavras, e mais amplamente: o que dá razão à utilização racional dos recursos hídricos? Uma primeira está presente implicitamente nos argumentos da Superintendência de Recursos Hídricos, segundo a qual, seria a eficiência da atuação estatal na implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos. Há alguma validade neste entendimento. Na Lei Federal nº 9433/1997, em seu art. 5º e incisos subsequentes se estabelece, como já dito, os instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, sendo eles os planos de recursos hídricos, o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água, a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos, a cobrança pelo uso de recursos hídricos, a compensação a munícipios e o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos. Ao se utilizarem destes instrumentos previstos em lei e conforme os procedimentos a serem observados, também determinados de igual maneira, as autoridades públicas atuam de maneira racional. É a lei que racionaliza a atuação em uma sociedade livre. Não é outro o fundamento por trás da exigência de se aprovar em lei o PERH, com o consequente procedimento daí decorrente, qual seja, sua elaboração pela SRH e posterior discussão, emenda e aprovação enquanto Projeto de Lei pelos membros do CERH. De fato, conforme o art. 8º da referida normativa, os Planos de Recursos Hídricos são elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o País. Segundo a Superintendência, seria evidência favorável à atuação estatal, por exemplo, o fato de no ano de 2009 se ter constituído o Plano Estratégico de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO dos Rios Tocantins e Araguaia. A própria equipe de fiscalização nomeia outros planos, referentes a bacias hidrográficas, surgidos durante o diapasão que vai de 1999 até 2015. Contudo, isto não conseguiria suprir a ausência de um Plano Estadual. Os próprios técnicos o denunciaram, mas também o próprio Conselho Estadual de Recursos Hídricos reconhece sua imprescindibilidade. Na Resolução nº 09 de 04 de maio de 2005, este órgão, dentre outras coisas, ao dispor sobre a regulamentação de outorgas, determinando os critérios para tanto, ressalva no § 3º do art. 12 que “o critério adotado no caput deste artigo [referente à “vazão adotada como referência para a outorga do direito de uso das águas de domínio do Estado de Goiás”] será válido enquanto não forem estabelecidos novos critérios com base nos resultados dos planos de recursos hídricos” (ênfase adicionada). Em outras palavras, a constituição de planos os mais diversos, vinculados às bacias hidrográficas adscritas ao território estatal, pouco diz a respeito da eficiência da atuação estatal diante da ausência de plano estadual atualizado em conformidade com a legislação estadual. Se se é para realmente falar em eficiência, basta reproduzir o seguinte parágrafo escrito pela equipe de fiscalização (fls. TCE 012/013): O Estado de Goiás, apesar de ser naturalmente beneficiado com diversas fontes desses recursos, já enfrenta problemas de oferta hídrica como é o caso da Bacia do Rio dos Bois, no sul do Estado, na qual, um dos seus mananciais, o Rio Santa Barbara, se encontra no seu limite de concessão de outorgas. Na região leste do estado, no município de Cristalina, precisamente na Bacia do Rio São Marcos, que se trata de uma das maiores áreas irrigadas do país, na qual está a montante da Usina Hidrelétrica de Batalha, foi identificado conflito de âmbito nacional. [A]inda, a Bacia do Rio São Marcos abrange parte dos municípios de Cristalina (GO), Unaí e Paracatu (MG, e uma pequena porção do Distrito Federal (DF). Nos últimos anos a agricultura irrigada na cultura dos grãos, como milho, soja e feijão vem crescendo nessa área. Com o crescimento acelerado da agricultura foi necessária uma realocação de água, de forma a acomodar a irrigação existente, sem que houvesse uma redução excessiva na geração de energia na Usina Hidrelétrica de Batalha.[A]lém dos conflitos do Rio São Marcos, existem outros nos municípios de Caldas Novas e
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO Rio Quente, onde a outorga de direitos de uso está suspensa; e áreas de Goiás com restrições ao processo de outorga. Sendo assim, a gestão adequada dos recursos hídricos se reveste de importância crucial à sustentabilidade ambiental em Goiás, com impactos que serão sentidos pela geração atual e por gerações futuras.
Esta é a atual situação apreendida pela equipe de
fiscalização, indubitavelmente resultado da atuação temerária, irracional e ilegal do Poder Executivo do Estado de Goiás. Se se a racionalidade é aferida especialmente pela eficiência da atuação estatal, inquestionavelmente, a constituição de planos estratégicos fica muito aquém do que a sociedade, legalmente, tinha por expectativa. Importante frisar que a interpretação apresentada pelo pessoal da Superintendência de Recursos Hídricos, de que com a ausência de elaboração, discussão e envio do PERH por parte do Poder Executivo ter-se-ia iniciado como que período de vacância, até a posterior redação de novo plano, se encontra equivocada. Por consequência, no entender deste Ministério Público, todos os atos praticados neste suposto “período de vacância” seriam suspeitos de irregularidades, diante da ilegalidade maior, esta devidamente constada, que foi a omissão do Poder Executivo, resultante na ausência por próximos 16 anos de Plano Estadual de Recursos Hídricos. Resoluções e outros “instrumentos similares”, para usar a equívoca expressão do Superintendente de Recursos Hídricos, não o substituem – nem podem, hierarquicamente falando. A própria resolução acima citada do CERH o reconhece. Bem como a Gerência de Planejamento da SECIMA, talvez sem o saber, ao explicar a ausência de elaboração e encaminhamento de relatório anual da situação dos recursos hídricos do Estado de Goiás em razão da ausência do PERH. Na pior das hipóteses, e parece ser o presente caso, a única interpretação válida é de que, na ausência da atualização prevista legalmente, o Plano então aprovado continuou em vigor até sua posterior substituição de direito. Deste modo, a SECIMA não se eximira de realizar e enviar os relatórios anuais, consistindo tal atuação em omissão ilegal.
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO Sustentar o contrário seria dizer que uma primeira omissão, evidentemente ilegal – qual seja, a ausência de elaboração de PERH atualizado –, justificaria, no sentido de tornar legal, uma segunda omissão – a não-elaboração e consequente encaminhamento de relatórios anuais sobre a situação dos recursos hídricos do Estado. Nas raras situações em que o sistema jurídico é articulado no sentido de legitimar um ato ilegal em razão da ilegalidade da situação a ele contraposta, como nas chamadas excludentes de ilicitude, no âmbito do direito criminal, um ponto está estruturalmente presente de modo generalizado e ausente no caso em discussão: o indivíduo que comete o segundo ilícito em relação ao primeiro não é também por ele responsável. Esta diferença é de tamanha importância que, se ausente, inaplicável a excludente de estado de emergência, por exemplo. Assim, como argumentado, transplantar relevante raciocínio para o presente contexto é incorrer inequivocamente em absurdo, porque concorrem para ambas as omissões associação de indivíduos inseridos no mesmo organismo, qual seja, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos, e assim, agindo em conserto, sob a direção do secretário da pasta. Diante da constatação da ilegalidade e da aferição da coletividade por ela responsável, necessário seria passar à individualização das condutas, de modo a viabilizar a responsabilização dos agentes envolvidos, o que não foi feito pela equipe de auditoria. E nem é possível fazê-lo neste momento, dado o estado de instrução dos autos.
2.2 – O ESCOPO DA AUDITORIA OPERACIONAL, O PAPEL REGIMENTAL DO
MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS E AQUELAS PERGUNTAS EM QUE SE PERSISTE POR CONTINUAR SEM RESPOSTAS
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO Dentre as competências do Tribunal de Contas do Estado de Goiás, determinadas também pelo art. 1º da Lei Estadual nº 16.168/2007, em seu inciso V, inclui-se a realização por inciativa própria de auditorias de natureza operacional nas unidades dos Poderes do Estado. Por meio da Resolução Normativa nº 001/2006 o colegiado dessa Corte de Contas aprovou normas e procedimentos relativos à espécie de auditoria, nomeada Auditoria de Natureza Operacional – ANOP. No art. 1º, tem-se que até a elaboração de “manual de auditoria deste Tribunal, serão utilizadas a metodologia e as técnicas constantes no manual de auditoria de natureza operacional do Tribunal de Contas da União, aprovado pela Portaria nº 144, de 10 de julho de 2000”. Posteriormente, com a publicação por parte do Instituto Rui Barbosa das Normas de Auditoria Governamental – NAG, ainda que não expressamente, a respectiva normativa passou também a orientar os trabalhos realizados no âmbito desse Tribunal de Contas. Da comparação entre uma e outra normativas, percebe-se que o escopo dado pelas Normas de Auditoria Governamental – NAG é ao menos explicitamente mais extenso que o do manual do Tribunal de Contas da União. A primeira ao definir auditoria operacional, em seu item 1102.1.2, assim dispõe: “exame de funções, subfunções, programas, ações (projetos, atividades, operações especiais), áreas, processos, ciclos operacionais, serviços e sistemas governamentais (...) pautado em critérios de economicidade, eficiência, eficácia, efetividade, equidade, ética e proteção ao meio ambiente, além dos aspectos de legalidade”. Enquanto no manual, para o mesmo conceito, se tem a seguinte definição, em seu primeiro parágrafo: “Auditoria operacional (ANOp) é o exame independente e objetivo da economicidade, eficiência, eficácia e efetividade de organizações, programas e atividades governamentais, com a finalidade de promover o aperfeiçoamento da gestão pública”.
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO Da abrangência sugerida pelas NAGs decorre a determinação de que quaisquer impropriedades legais “convenientemente” identificadas deverão ser documentadas e levadas ao “conhecimento superior do TC para tomada de providências”, conforme item 4508.1. A fiscalização da legalidade, alinhada a princípios de racionalidade processual, implica o posicionamento por parte desse parquet não só pela possibilidade, indo além, isto é, pela necessidade de se aproveitar da equipe de fiscalização consolidada para se aprofundar quanto à cadeia de omissões resultante no diapasão de dezesseis anos sem Plano Estadual de Recursos Hídricos. Ocorre que, diversamente, malgrado ter sido identificado os fatos acima discutidos pela equipe de fiscalização, esta se privou de sobre eles se aprofundar. Sob esta perspectiva, entende o Ministério Público de Contas caber ao relator que decida acerca da conveniência de se aprofundar neste sentido.
III – CONCLUSÃO
Deste modo, entende este Ministério Público ser de
grande seriedade as deficiências encontradas pela equipe de fiscalização, deficiências que em último caso se ligam à ausência, por 16 anos, de Plano Estadual de Recursos Hídricos atualizado. Neste sentido, concorda com os apontamentos e sugestões realizadas pela equipe de fiscalização, entendendo-os como pertinentes à alterar positivamente a situação da Política Estadual de Recursos Hídricos. Por outro lado, diante do longo lapso temporal em que o Estado de Goiás permaneceu sem Plano Estadual de Recursos Hídricos, a apontar a inoperância, bem como a desorganização, da SECIMA, entende pela importância de se aprofundar a fiscalização de modo a identificar os indivíduos responsáveis pela perpetuação de tal situação, juridicamente
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Endereço: AV. UBIRAJARA BEROCAN LEITE, Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO inaceitável, a resultar em um número incalculável de possíveis danos aos recursos hídricos estaduais, e tão somente recentemente alterada. Do exposto, sugere-se ao Conselheiro Relator que avalie a conveniência de se dar continuidade ao procedimento fiscalizatório, determinando que a equipe responsável pela elaboração do relatório de auditoria promova diligências com a finalidade de se apurar os responsáveis pelas condutas ou omissões que resultaram no descumprimento dos preceitos legais afetos à matéria, em especial no que se refere à elaboração, aprovação, encaminhamento ao Governador e, finalmente, envio à Assembleia Legislativa de Plano Estadual de Recursos Hídricos enquanto projeto de lei.
É o parecer.
Entranhe-se, registra-se, numere-se e rubrique-se.
Encaminhe-se ao Exmo(a). Conselheiro(a) Relator(a).
Gabinete da Procuradora de Contas Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa,
em Goiânia, 29 de agosto de 2016.
Maisa de Castro Sousa Barbosa
Procuradora de Contas do MPjTCE/GO
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Email: mcsousa@tce.go.gov.br / mpjtce@tce.go.gov.br Drª Maisa de Castro Sousa Barbosa Fone: (62) 3201-9000 / Ramal: 9049 Digitally signed by MAISA Endereço: DE CASTRO AV. UBIRAJARA SOUSA BEROCAN LEITE, BARBOSA:86843575153 Nº 640 ST. JAÓ - CEP 74.674-015, Goiânia-GO Date: 2016.08.29 17:38:25 -03:00 Reason: Assinado digitalmente por login e senha