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Hipnose !

Méáica
e
Oáonto[ógica
5lp[icafões Práticas
%pnose %édica e Odonto{ógica
J2Lp{icaçõesPráticas

Milton H. Erickson, M.D.


da
American Society for Clinical Hypnosis

Participação de
Seymour Hershman, M D.
Ex-presidente eco-fundador, ASCH
Irvíng I. 5ecter, D. D. S.
Ex-presidente e historiador, ASCH

Novo prefácio de
J eifrey K. Zeíg, Fh. D.
Presidente, The Milton H. Erickson Foundation mc.
Phoenix, Arizona, EUA

Editorial Psy II
1994
Título original:
The pra.ctical application of medical and dental hypnosis

Conselho editorial:
José Carlos Vitor Gomes
Maria Aparecida Lavo

Revisão técnica:
Helena Bazanelli Prebianchi (psicóloga clínica, professora
e supervisora do Instituto de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas; formação em hipnose
e psicoterapia ericksoniana, com Jeffrey K. Zeig, pela
Milton H. Erikson Foundation Inc.).

Uma produção José Carlos Vitor Gomes - Organização


do movimento de hipnose ericksoniana no Brasil.

Direitos reservados para língua portuguesa:


WORKSHOPSY - Uvraria, Editora e Promotora de Eventos
Fone: (0192) 31.9955
Caixa Postal 691
CEP: 13020-400
Campinas - São Paulo - Brasil

Proibida a reprodução total ou parcial por qualquer meio de


impressão em forma idêntica, resumida ou modificada, em língua
portuguesa ou qualquer outro idioma.
Prefácio à eáifão Erasi{eira

Eu fui convidado pelo meu caro amigo e colega,


José Carlos Vitor Gomes, para escrever um prefácio para a
tradução brasileira do The practícal applícatíon of medícal
and dental hypnosís. Eu sou muito grato pelos esforços do
José Carlos e de seus colaboradores em tornar esse livro
disponível para os colegas que falam a língua portuguesa.

Esse livro de Erickson, Hershrnan e Seeter foi pu-


blicado pela primeira vez em 1961 e é valioso por várias
razões: (1) Ele foi o segundo livro tendo Erickson como co-
autor. (2) Foi um dos primeiros livros nos quais se faz re-
ferência aos seminários didáticos. (3) Suas informações
continuam atuais apesar dos anos que já se passaram.

o tema fundamental do The practícal applícatíon of


medícal and dental hypnosís é a hipnose. Mais do que
isso, esse é um livro sobre comunicação eficiente. A hip-
nose pode ser vista como um modelo de comunicação para
influenciar a comunicação. Não importa se os clínicos
usam ou não hipnose. De qualquer maneira eles podem
retirar dela uma variedade de técnicas para aplicação na
sua vida diária sem ter a necessidade de fazer qualquer
indução formal de transe. Está claro que todo clínico, in-
dependentemente da abordagem que ele professa, pode
sempre aprimorar seus métodos de comunicação terapêu-
tica.

Para mim foi um previlégio viajar para o Brasil nos


últimos anos participando das conferências organizadas
pelo José Carlos para os profissionais brasileiros. Eu te-
nho visto crescendo cada vez mais o entusiasmo e o inte-
resse fecundo pelos métodos ericksonianos no Brasil e a
tradução desses materiais faz com que eles se tornem
cada vez mais acessíveis. Mais urna vez, José Carlos pro-
vou ser merecedor de nosso reconhecimento pela sua de-
dicação imensa, pelo seu empenho em contribuir para tor-
nar os métodos terapêuticos contemporâneos disponíveis
para os colegas do seu país.

Jelfrey K. Zeíg, Ph.D.


Diretor
The Milton H. Erickson Foundalion lnc.
Phoenlx. Arizona. EUA
Março de 1994
Prefácio de Jeffrey K. Zeig, Ph. D 9
Introd ução 15
1 - Um esboço da história e das teorias da hipnose 17
2 - Sugestão e suscetibilidade hipnótica......................... 29
3 - O fenômeno da hipnose............................................. 47
4 - Técnicas de indução.................................................. 101
5 - Aplicações clínicas da anestesia cirúrgica 157
6 - Hipnose em obstetrícia ······ 165
7 - Hipnose em crianças................................................. 183
8 - Aplicações clínicas da hipnose na medicina geral...... 201
9 - Aplicações clínicas da hipnose na psiquiatria............ 237
10 - Hipnose em odontologia............................................ 263
11 - Hipnose em psicologia............................................... 307
Bibliografia 327
Indice remissivo............ 335
Prefácio

A história da hipnose no século XX reflete principal-


mente a contribuição do gênio criador, o psiquiatra Milton H.
Erickson, M. o. Se fôssemos fazer uma lista com as figuras mais
importantes da história da hipnose no século XVIII, uma delas
seria Mesmer; no século XIX seriam Braid, Esdaile, Liébault,
Bernheim e Charcot; e, no século XX, foi sem dúvida Erickson
quem dominou quase que sozinho a hipnose modema, legiti-
mando-a e colocando-a numa condição de respeitabilidade jun-
to à comunidade profiSSional e neste sentido revolucionou a
sua prática.
Antes de Erickson, a hipnose possuía um modelo auto-
ritário, baseado no hipnotizador, o qual "implantava" sugestões
diretas num sujeito passivo. Erickson desenvolveu um modelo
baseado no paciente, ajustando a hipnoterapia de forma indire-
ta, para eliciar forças (ou recursos) que pudessem ser utilizadas
em passos estratégicos. Com isso ele mudou a direção da hip-
nose. Na prática tradicional, a hipnose era dirigi da de fora para
dentro (outside in), ou seja, ela era conduzi da como uma série
de comandos ditados pelo hipnotizador ao paciente. O trabalho
de Erickson parte de dentro para fora (inside out) e métodos in-
diretos eram utilizados para despertar forças do paciente, ao in-
vés da aplicação de sugestões poderosas dirigidas contra um
paciente passivo. Erickson formulou os conceitos centrais da
hipnose modema. Suas contribuições jogaram as sementes de
uma nova hipnose sem jamais fundamentar-se nos trabalhos
dos seus predecessores.
No entanto, muitos colegas e seguidores de Erickson
passaram a seguir suas propostas e expandiram a aplicação
dos seus métodos em muitas direções. Alguns dos seus discí-
pulos preferidos são precisamente os co-autores deste livro; um
deles é SeynlOur Hershman, M.o., médico e clínico geral e o ou-
tro é Irving I. Secter, D. o. S., M.A, dentista e mestre em psico-
logia. Os três acabaram se constituindo nos principais condu-
tores dos Seminários sobre osJWldnrnentos da hipnose, um gru-
po que viajou o país nos primeiros anos da década de 50, ensi-
nando profissionais, em workshops, sobre hipnose clínica. Em
1957 os principais professores dos Seminários sobre os JWlda-
mentos da hipnose criaram a Sociedade Americana de Hipnose
Clínica (ASCH) e os seminários e\-entualmente passaram a ser
uma das atividades educacionais da ASCH. Outros conferencis-
tas notáveis dos seminários sobre hipnose foram William Kro-
ger, Mn, Edward E. Aston, n n S., David Cheek, M. n, e Leslie
LeCron. Na década de 50 os participantes desses seminários
eram principalmente médicos e dentistas, e este livro foi dirigi-
do para estes profissionais. Atualmente a prática hipnótica mu-
dou e tomou-se área dos psicoterapeutas bem como psicólogos
e profissionais de saúde mental mais sofisticados. Os ensina-
mentos dirigidos ao grupos de participantes nos Seminários so-
bre os fundamentos da hípnose e sobre a abordagem indireta da
hipnose ericksoniana aplicam-se, contudo, a todos os profissio-
nais médicos, odontólogos e de psicoterapia.
Neste livro você encontrará princípios fundamentais da
hipnose ericksoniana dos quais listei dez importantes postulados:

Considere o seguinte trecho, que contrasta duas abor-


dagens distintas:

Para a produção de uma surdez hipnótica, poder-se-ia empre-


gar a abordagem direta dessa forma: "Enquanto eu conto até
dez, você vai sentir-se cada vez mais surdo, até que. finalmen-
te. chegando ao dez. você será incapaz de ouvir qualquer coi-
sa."

Por outro lado. numa abordagem indireta poder-se-ia proceder


da seguinte maneira: "Eu tenho curiosidade de saber como se
sente uma pessoa que perdeu a audição. Será que os sons são
bem audíveis num primeiro instante e depois vão desaparecen-
do gradualmente na distãncia? Tenho curiosidade em saber se
a pessoa sentar-se numa cadeira e inclinar-se em direção ao
som ..."

O método indireto é uma grande contribuição de Erick-


son para o campo da hipnose e da psicoterapia e merece um
cuidadoso estudo por todos os profissionais de saúde.
Milton Erickson inventou o transe interacional, que a
grande maioria dos profissionais de hipnose, principalmente os
que usam o método indireto, aplíca em seu trabalho com pa-
cientes essencialmente passivos. Para Erickson, o transe era
uma comunicação bilateral. Os pacientes hipnotizados deve-
riam ter diálogos contínuos e extensos com Erickson. Supu-
nha-se que esse diálogo fortaleceria o transe, sem interferir de
forma nenhuma no desenvolvimento do estado sonambúlico es-
tável (transe profundo). Neste livro você encontrará trechos que
explicarão o transe interacional que era uma das chaves da téc-
nica de indução formal de Eríckson. A diferença entre o mestre
e o aprendiz é que o mestre usa transe interacional, enquanto
que o aprendiz continua a trabalhar com um paciente relativa-
mente inativo.

Ler os casos de Erickson é muitas vezes como ler contos


de O. Henry. Há um discreto desenlace e de repente o sintoma é
resolvido. No entanto, Erickson se parecia mais a um artesão -
trabalhava meticulosamente em pequenos passos. Atuando em
um modelo diretivo, convidava os pacientes a cumprir as tarefas
mais simples possíveis no momento. Após realizar essas tarefas
menores, o paciente, de repente, fazia as mudanças maiores.

A hipnose é uma terapia sintomática. No entanto, ela


não é superficial. As pessoas beneficiam-se imensamente quan-
do conseguem controlar seus sintomas. Ainda que seja aparen-
temente pequena a mudança, quando os sintomas são transfor-
mados em geral ocorre um efeito "bola de neve" e o estado do
paciente melhora.

Como humanista, Erickson percebeu que a terapia de-


veria ser centrada no paciente e não no terapeuta. Ele recomen-
dava aos terapeutas pensar em "o que meu paciente quer fazer
agora?" ao invés de pensar "o que eu, o terapeuta, devo fazer
agora?" Ao mesmo tempo, Erickson era extremamente confian-
te. Ele queria que seus pacientes soubessem que eles poderiam
realizar coisas, tal como desenvolver uma anestesia. A confian-
ça e o interesse de Erickson, na habilidade dos pacientes em
conseguir êxito, eram comunicados verbal e não verbalmente.

A indução hipnótica é antes de mais nada a indução da


cooperação. É uma forma como ambos, terapeuta e paciente,
juntam forças para superar as dificuldades do paciente. A hip-
nose busca prender a atenção do paciente para maximizar sua
colaboração construtiva com o terapeuta.

Erickson aconselhava a seus alunos que "o hipnotizador


deve estar sempre consciente quanto ao que ele estava comuni-
cando ao sujeito". Usava a comunicação com a precisão de um
cirurgião manejando um bisturi. Focalizava as palavras e suas
implicações; os comportamentos não-verbais e as implicações
dos mesmos.

Erickson ensinava seus discípulos a utilizarem os sinto-


mas. Observe cuidadosamente no final deste livro o caso de
uma criança que emitia grunhidos freqüentes. Melhor do que
desafiar o sintoma, Erickson levou o menino para a sua sala e o
estimulou a aumentar a freqüência dos grunhidos. Esta nova
freqüência poderia continuar por um dia inteiro. Depois, foi su-
gerido, indiretamente, que aquele comportamento poderia ser
aumentado ainda mais. Em uma semana, por iniciativa pró-
pria, o menino abandonou o hábito, porque lhe parecia incômo-
do mantê-Io.

Estudando as transcrições de Erickson neste livro, de-


verá ficar claro que ele trabalhou arduamente para individuali-
zar sua abordagem. Evitava constantemente as abordagens de-
terministas, protegendo as diferenças individuais de cada pa-
ciente. Erickson criou formas livres de hipnose e terapia para
adaptar-se aos valores e ao estilo das pessoas com quem traba-
lhava.
A abordagem psiquiátrica de Milton H. Erickson M.D.
era extremamente prática. Ela tinha por objetivo ajudar os pa-
cientes a assegurarem-se das melhores possibilidades para vi-
ver efetivamente. O promover mudanças era prioritário em rela-
ção ao adquirir insight sobre um passado imutável. Senão, veja-
mos a seguinte citação: "Uma das propostas da hipnose e da
hipnoterapia é a conscientização do paciente de que ele não
tem somente um passado extremamente importante; ele tam-
bém tem um presente que é mais importante e um futuro ainda
mais importante do que o presente e o passado."
As aplicações próticas da hipnose médica e odonto16gica
é interessante inclusive a partir de um ponto de vista histórico.
Pode-se ver o quanto a hipnose evoluiu desde a publicação ori-
ginal deste livro. Enquanto a maioria das informações contidas
aqui é atual e extremamente útil, alguns conceitos já estão sen-
do revisados. Por exemplo,a hipnose é operacionalmente defini-
da como um aumento da suscetibilidade à sugestão. Nos seus
últimos trabalhos, Erickson diminuiu a ênfase dada à impor-
tància da sugestão como um conceito central em hipnose. Na
medida em que Erickson progredia, passou a enfatizar a impor-
tància da identificação, do acesso, do desenvolvimento e utiliza-
ção dos recursos intemos da pessoa. Em algumas transcrições
de indução, apresentadas aqui, os profissionais sugerem que os
pacientes adormeçam profundamente. Os profissionais moder-
nos raramente usam esta metáfora.
Este livro contém uma grande variedade de informações
importantes sobre trabalhos com todos os tipos de problemas
clínicos. Através da transcrição selecionada e cuidadosà dos
textos de Erickson, neste livro, pode-se ver como fazia a hipno-
se e a ensinava a seus discípulos. Profissionais de todas as
áreas poderão aprender não apenas alguns dos métodos mais
importantes de hipnose, mas também algumas das formas de
comunicação mais eficientes para serem aplicadas com seus
pacientes.

Jeifrey K. Zeig, Ph. D.


Diretor, The Milton H. Erickson Foundation
Phoenix, Arlzona
Introáução

o conteúdo deste livro foi adaptado a partir dos seminá-


rios apresentados nos Estados Unidos durante vários anos. Es-
tes seminários eram conduzidos em lÚvel de pós-doutorado,
para médicos, dentistas e psicólogos. Para evitar ser repetitivo,
foram feitas algumas revisões. Para as induções e outras técni-
cas, preservou-se a fluência das conversações, que foram trans-
critas tal corno aparecem originahnente nas gravações, para
que o leitor possa captar a seqüência completa e possa inter-
pretar bem os acontecimentos.
Cada co-autor é um profissional ativamente engajado
na sua especialidade. Este fato é importante porque dá firmeza
e legitimidade aos casos apresentados e às técnicas demonstra-
das. Todas as discussões teóricas são baseadas em experiên-
cias do dia-a-dia, em materiais clínicos e problemas cotidianos.
É impossível colocar em forma de livro todas as nuan-
ces que aparecem numa situação real de ensino. Boa parte das
idéias aqui apresentadas será explicada, de alguma forma, nas
várias perguntas e respostas, que ajudarão a complementar as
abordagens individuais dos co-autores. É importante ressaltar,
todavia, que nada poderá substituir adequadamente a partici-
pação real numa situação de treinamento interpessoal ativo.
Este livro não pretende ser um substituto para o treinamento
indispensável e tem utilidade limitada enquanto for apenas lido
e desvinculado da vivência clínica. Corno material de apoio para
treinamentos, ele preenche as necessidades mais importantes,
mas não corresponde ao mínimo suficiente para isentar o estu-
dante da necessidade da participação em alguma forma de trei-
namento.
Seminários e textos servem apenas corno início do trei-
namento para o emprego da hipnose em sua atividade. Além
deste ponto, é essencial praticar, analisar, discutir com outras
pessoas para aumentar sua experiência tanto quanto lhe for
possível. Quando dois ou mais estudantes são suficientemente
nnidos e encontram-se de vez em quando, a troca de experiên-
cias e pontos de vista ajuda a prover um treinamento espontâ-
neo e continuo, com a troca formal ou informal de um aconse-
lhamento mútuo.
PSa ser claro. nenhum seminário ou texto pode prover
o treir8..--:--,en:o básico para nenhum residente, ginecologista,
~_es:esista. dentista, cirurgião, psicólogo ou psiquiatra. É ne-
cessário que cada especialista faça o seu treinamento especial
básico e possa aplicar seus métodos e técnicas à sua área espe-
cífica, beneficiando-a com o emprego da hipnose. Inevitavel-
mente, as várias discussões dos problemas no seio de cada
uma das especialidades têm nuances que também se aplicam
2s c..:':Tas.Cada especialista que procura aplicar a hipnose está
:":::~_:::c cem pessoas e com problemas de natureza humana. In-
:::e~e:-.:::e=-.:e:-:-_e=-_te da especialidade de cada profissional e das
:::....:'e::-e::-.:~ :;:~,,: '"-s::e c"da LLu. algumas da lições aqui apre-

rar""::::-.::::-5e
::: :;:=-~=-.c::;:~c
:::e =J.l:e
a hipnose é uma técnica
psicológica, quanto mais os r;ro::ss;onais tiverem conhecimento
e eX'Periênciaa respeito da natureza humana e sua psicodinâ-
mica comportamental, mais efetivamente poderão usá-Ia. Mi-
nal. todos aqueles que usam hipnose na arte de curar encon-
::-cüão o que necessitam para familiarizar-se com essa área. Se
c=,seryarmosos processos psicológicos que são ativados quando
a hipnose é aplicada, obteremos ganhos definidos nessas bases.
i\lém desse ponto, irá depender dos incentivos pessoais e de es-
tudos suplementares das literaturas psicológica e psiquiátrica.

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