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Reduzidas aos seus mais simples elementos, a via secretora atua em duas etapas.
A primeira etapa ocorre no retículo endoplasmático (RE) rugoso (Figura 14-1, etapa 1).
Como descrito no Capítulo 13, proteínas solúveis e de membrana recém-sintetizadas são
translocadas para o RE, onde se dobram na sua conformação adequada e recebem
modificações covalentes, como pontes dissulfeto e carboidratos ligados ao N e ao O.
Quando as proteínas recém-sintetizadas estão adequadamente dobradas e receberam
suas modificações corretas no lúmen do RE, elas passam à próxima etapa da via
secretora: o transporte para e pelo Golgi.
A segunda etapa da via secretora pode ser resumida como se segue. No RE, as
proteínas de carga são empacotadas em vesículas transportadoras anterógradas (com
movimento para frente, Figura 14-1, etapa 2). Essas vesículas são fundidas, formando
um compartimento achatado ligado à membrana, conhecido como cisterna do cis-Golgi
ou rede do cis-Golgi ("cisterna" é um compartimento que mantém água ou líquidos).
Algumas proteínas, principalmente as que atuam no RE, são recuperadas da cisterna do
cis-Golgi para o RE por meio de um grupo distinto de vesículas transportadoras
retrógradas (movimento para trás) {etapa 3). Uma nova cisterna do cis-Golgi com sua
carga de proteínas desloca-se fisicamente da posição eis (próxima ao RE) à posição
trans (mais distante do RE) em etapas sucessivas, tornando-se primeiro uma cisterna do
medial-Golgi e, depois, uma cisterna do trans-Golgi (etapa 4). Esse processo, conhecido
como maturação da cisterna, envolve principalmente o transporte retrógrado de
vesículas (etapa 5) que recuperam enzimas e outras proteínas que residem no Golgi das
cisternas mais posteriores para as mais anteriores, "maturando", assim, o cis-Golgi para
o medial-Golgi e o medial-Golgi para o trans-Golgi. As proteínas secretoras movem-se
pelo Golgi e podem receber mais modificações nos carboidratos ligados por glicosil
transferases específicas que estão alojadas em diferentes compartimentos do Golgi.
As proteínas da via secretora finalmente são direcionadas para uma rede
complexa de membranas e vesículas, denominada rede trans-Golgi (TGN, de trans-
Golginetwork). A TGN é o principal ponto de ramificação da / via secretora. E nesse
ponto que uma proteína pode ser carregada em diferentes tipos de vesículas e, portanto,
trafegar para diferentes destinos. Dependendo do tipo de vesícula par a qual a proteína é
carregada, ela será transportada à membrana plasmática e secretada imediatamente,
armazenada para liberação posterior ou levada aos lisossomos {etapas 6 a 8). O
processo pelo qual uma vesícula se move, fusiona-se com a membrana plasmática e
libera seu conteúdo é conhecido como exocitose. Em todos os tipos celulares, pelo
menos algumas proteínas são secretadas continuamente, enquanto outras são
armazenadas no interior das células até que um sinal para exocitose as libere. As
proteínas secretoras destinadas aos lisossomos são transportadas, em primeiro lugar, por
vesículas da rede trans-Golgi, para um compartimento denominado endossomo tardio;
as proteínas são então transferidas para os lisossomos pela fusão direta do endossomo
com a membrana lisossomal.
A endocitose está relacionada mecanisticamentecom a via secretora. Na via
endocítica, as vesículas brotam para dentro da membrana plasmática, levando as
proteínas de membrana e seus ligantes para a célula (ver Figura 14-1, direita). Após a
internalização por endocitose, algumas proteínas são transportadas para os lisossomos
por meio dos endossamos tardios enquanto outras são recicladas para a superfície
celular.
Os três principais tipos de vesículas revestidas têm sido caracterizados de acordo com o
tipo distinto de proteínas de revestimento e com a polimerização reversível de um grupo
distinto de subunidades proteicas (Tabela14-1 ). Cada tipo de vesícula, denominada
conforme sua proteína de revestimento primária, transporta proteínas de carga de uma
organela para outra organela alvo.
• COPII: vesículas de transporte de proteínas do RE para o Golgi.
• COPI: vesículas que transportam principalmente as proteínas na direção retrógrada
entre as cisternas do Golgi e o cis-Golgi e de volta para o RE.
• Clatrina: vesículas de transporte de proteínas da membrana plasmática (superfície
celular) e da rede trans-Golgi para os endossamos tardios.
Acredita-se que cada etapa do tráfego mediado por vesículas utilize algum tipo
de revestimento de vesícula. Entretanto, um complexo de proteínas específicas de
revestimento ainda não foi identificado para cada tipo de vesícula. Por exemplo, as
vesículas que movem proteínas do trans-Golgi para a membrana plasmática durante a
secreção constitutiva ou regulada apresentam um tamanho uniforme e uma morfologia
sugestiva de que sua formação é direcionada pela união de uma estrutura de
revestimento regular. Mesmo assim, porém, os pesquisadores ainda não identificaram
proteínas de revestimento específicas circundando essas vesículas.
O esquema geral do brotamento das vesículas, mostrado na Figura 14-6a, aplica-
se a todos os três tipos conhecidos de vesículas revestidas. Os experimentos com
membranas isoladas ou artificiais e proteínas de revestimento purificadas mostraram
que a polimerização das proteínas de revestimento na face citosólica da membrana de
origem é indispensável para produzir a alta curvatura da membrana, típica das vesículas
de transporte de cerca de 50 nm de diâmetro. As micrografias eletrônicas de reações de
brotamento de vesículas in vitro muitas vezes revelam estruturas que mostram discretas
regiões separadas da membrana de origem com uma capa densa acompanhada pela
curvatura característica de uma vesícula completa (Figura 14-7). Essas estruturas,
normalmente chamadas de brotos vesiculares, parecem ser intermediários visíveis após
o início da polimerização do revestimento, mas antes do desprendimento completo da
vesícula da membrana parental. Acredita-se que as proteínas de revestimento
polimerizadas parecem formar um molde curvilíneo que promove a formação do broto
da vesícula, aderindo-se à face citosólica da membrana.
FIGURA EXPERIMENTAL 14-7 Os brotos vesiculares podem ser visualizados durante as reações
de brotamento in vitro. Quando os componentes purificados do revestimento COPll são incubados com
as vesículas isoladas do RE ou com as vesículas artificiais de fosfolipídeos (lipossomos), a polimerização
das proteínas de revestimento na superfície da vesícula induz o surgimento de brotos altamente curvados.
Nesta micrografia eletrônica de uma reação de brotamento in vitro, observe o revestimento diferente da
membrana, que aparece como uma camada proteica escura, presente nos brotos vesiculares. (De K.
Matsuoka et ai., 1988, Ce// 93 (2):263.)