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CRIANÇAS!
Mussolini
Foto e postal de propaganda em que o Duce exibe o seu amor pelas crianças
Venceremos! Mussolini
Postal ilustrado
Se Mussolini amava as crianças, era natural que estas lhe retribuíssem esse sentimento, como não parece
restar dúvida em face deste desenho de A. Micheli, capa do livro Duce Nostro, de 1933. Meia dúzia de
pimpolhos, incluindo um bebé, disputam um retrato do amado Duce – uma espécie de super-pai, que o título
do livro assimila ao Padre Nostro, o Pai Nosso que está no céu.
La preghiera del “Balilla”
Enquanto um bebé Balilla fardado recebe “aprovisionamento” ao colo de Rosina, outro puxa um canhão de
brinquedo. No berço, dois bebés burgueses brincam com o cãozinho e, segundo a legenda, exultam quando
vêem chegar o rei com Benito (Mussolini) e o papá.
Postais ilustrados dos anos 20, de Aurelio Bertiglia, o ilustrador especialista em fascismo infantil.
.
A consciência política destes bebés era muito precoce.
Estes miúdos Balilla limparam o nariz a uma bandeira vermelha rasgada.
Na capa deste livro da primeira classe, o edifício da escola é um fascio littorio, o emblema do fascismo.
Os Balillas mais novitos chamavam-se filhos ou filhas da loba. Em Portugal copiou-se para lusitos,
primeiro escalão da Mocidade Portuguesa. Repare-se no M de Mussolini no peito. Na farda da Mocidade
Portuguesa, o S de Salazar situava-se na fivela do cinto.
A pedrada de Giovanni Battista Perasso, dito o Balilla, mitificada pela propaganda fascista.
Caderno escolar de 1929, alusivo à pedrada do Balilla de 1746
A propaganda de tema infantil não se destinava só aos jovens,
tinha uma função importante junto dos adultos. A atenção
votada pelo regime à juventude, as qualidades positivas
associadas à infância e os valores familiares, como a
disciplina, a obediência e a autoridade paterna, eram
sugeridos por essa propaganda e utilizados na tentativa de
coonestar, humanizar e legitimar o fascismo. Também a
rebeldia juvenil interessava ao regime, mas canalizada para os
seus fins políticos.
FIAT BALILLA
“Eis-nos aqui…
cheios de ardor
cheios de amor
pela Ítala terra.”
Um fascistazinho rico, de cassetete chic,
polainas e cigarro na mão! Aí vai o campeão,
“pronto para a represália, pronto para a
expedição” (uma expedição de pancada nos
adversários políticos).
O travesso e disparatado Pinóquio não queria entrar para a organização Balilla, mas foi aliciado a aderir por um
pedaço de chocolate e a possibilidade de ver cinema grátis. Uma vez membro, o fantoche tornou-se num Balilla
entusiasta e até conseguiu a adesão à organização juvenil de dois seus comparsas rebeldes (vestígios da raposa
e do gato de Collodi). Esta história é relatada em Pinóquio entre os Balillas. Novas travessuras do célebre
fantoche e seu arrependimento, publicada em 1927, cuja capa se vê abaixo.
Fascistização da banda desenhada
Após a Grande Guerra, a banda desenhada conheceu forte expansão em Itália. Logo no começo
de 1923, os fascistas reagiram, lançando Il Balilla, revista de histórias aos quadradinhos
centradas em personagens heróicas italianas. Em 1927 surgiu La Piccola Italiana, destinada às
meninas. Mas a banda desenhada de origem americana recolhia as preferências do público
infantil, especialmente nos anos 30, quando foram lançadas as primeiras revistinhas com as falas
em balões, em lugar das tradicionais legendas sob as imagens. A revista Topolino, tradução
italiana de Mickey Mouse, apareceu em 1932 e teve êxito imediato. Em 1935, surgiu o semanário
I Tre Porcellini (Os Três Porquinhos), outro grande sucesso. Todavia, a crescente popularidade dos
comics americanos e dos bonecos de Walt Disney – apesar da amizade pessoal deste por
Mussolini – começou a tornar-se num problema político. Foram lançadas várias revistinhas com
personagens italianos, mas a bonecada de Disney e as histórias de cowboys e super-heróis
americanos ameaçavam “perverter” os princípios formadores da nova geração.
Desenhos de A. Burattini.
No interior do Topolino era intercalada
propaganda política, como retratos e
citações de Mussolini. Neste caso, o Duce
justifica a chamada da juventude italiana às
armas (guerra da Etiópia) como um caso de
“suprema necessidade”, tratando-se de
assegurar “a potência e a glória da Pátria”.
Um pouco menos idílica é esta corrida a pontapé que um ras etíope leva, com os seus fiéis guerreiros em
debandada. Os soldadinhos de camisa negra nunca perdem o sorriso, como se tudo não passasse de uma
brincadeira.
A perfídia dos invadidos…
Aqui vai outro ras em fuga, de nada lhe valendo a insígnia da Cruz Vermelha, perfidamente usada como
escudo. A caixa de balas dum-dum (proibidas pela Convenção de Haia de 1899) também ostenta igual
camuflagem. A baioneta de um pimpolho italiano avança para os fundilhos de um soldadinho etíope caído.
Um exército de bons samaritanos
Com os maus postos em fuga, é a altura de os invasores servirem o arroz e o cereal ao povo. Um pequeno
camisa negra até pôs o avental. Dois meninos etíopes parecem incrédulos com a fartura.
Supressão da escravatura
Aqui se explica que os italianos foram à Etiópia para quebrar as grilhetas do povo escravizado.
“Onde tremula a bandeira italiana, aí está a liberdade!” – afirma o edital colado na parede.
Faccetta Nera
“Carinha negra” foi uma canção criada em 1935 como meio de justificação e mobilização para a invasão da
Etiópia, ocorrida meses depois. Refrão: “Carinha negra, bela abissínia, espera, espera, que a hora se avizinha.
Quando estivermos juntos de ti, nós te daremos outra lei e outro rei.” O elemento feminino da canção também
era suposto ter um efeito mobilizador sobre o soldado italiano, numa mescla de fantasia erótica e política.
Fascismo para a Etiópia
Uma menina loura de saia plissada, segurando o fascio littorio, saúda à romana os meninos etíopes, enquanto
um avião militar italiano sobrevoa a cena, pelo sim pelo não.
O mapa do Império
De novo a menina loira de saia plissada, com dois soldadinhos e um camisinha negra, ajudados por um menino
etíope, a pintarem o mapa da Etiópia, Somália e Eritreia com as cores italianas.
Os cadernos escolares durante a guerra da Etiópia
Os livros para crianças e os livros escolares em particular foram na Itália fascista um veículo de
propaganda maciça entre os jovens. Também os cadernos escolares, concebidos pelo Estado,
de capas ilustradas a cores e contendo textos curtos, atingiam um público infantil vastíssimo
em todo o país. Algumas capas relatavam a vida de Mussolini, outras tinham Balillas por
protagonistas, outras ainda enalteciam figuras históricas. Umas despertavam o sentimento
bélico, outras elogiavam certos comportamentos juvenis tidos por exemplares.
A guerra de agressão à Etiópia, um dos dois únicos países de África que na primeira metade do
séc. XX escapavam ao colonialismo, foi oportunamente aproveitada em 1935-1936 como
assunto de doutrinação para os cadernos escolares.
A guerra imperialista da Etiópia foi nesses cadernos justificada com considerações humanitárias, como a
abolição da escravatura.
O tema da educação do indígena africano era muito glosado nos cadernos escolares, provando as intenções
civilizadoras do invasor. Neste caderno mostra-se “a primeira escola indígena sob a bandeira tricolor italiana”.
A valorização e integração disciplinada dos jovens etíopes segundo modelos organizativos europeus (fascistas)
era outro objectivo proclamado do invasor. Aqui se mostra um desfile de “Balillas” indígenas, dispensados da
camisa negra.
Também a libertação da mulher etíope servia para justificar a invasão. Na capa deste caderno escolar italiano é
relatado o “estranho rito matrimonial” de uma tribo da Etiópia. O homem comprava a mulher num ajuste com
a mãe dela. A esposa, resistindo com unhas e dentes ao marido imposto, era chicoteada por este até à
“submissão total ao seu legítimo senhor”.
Subitamente, neste caderno escolar a mensagem torna-se muito diferente.
O objectivo dos italianos na África Oriental revela-se numa imagem e na sua legenda: SUBMISSÃO.
Imagens infantis na propaganda da II Guerra
Mundial
Todas as imagens foram colhidas na internet e são presumivelmente do domínio público. As imagens de livros e cadernos
escolares italianos provêm de DIA Banca dati di immagini per la Didattica, http://www.indire.it/archivi/dia/index.php