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revisão review
uma análise a partir da literatura sobre testagem
Abstract According to current global AIDS Resumo Segundo as diretrizes globais atuais,
guidelines, HIV testing is key to the success of the a realização do teste anti-HIV é crucial para o
‘treatment as prevention’ (TasP) strategy and the sucesso da estratégia do ‘tratamento como pre-
control of AIDS. In view of Brazil’s commitment venção’ (TcP) e controle da Aids. Dado o com-
to these guidelines, this article characterizes the promisso do Brasil com essa política, este artigo
principles and justifications underpinning TasP objetiva caracterizar os princípios e justificativas
and discusses implementation challenges. The do TcP e discutir os desafios da sua implementa-
analysis draws on a systematic review of the lit- ção. A reflexão é orientada por uma revisão siste-
erature (2005 to 2015) on recruitment and testing mática da literatura internacional de 2005 a 2015
strategies for men who have sex with men. This sobre estratégias de captação e oferta do teste do
approach was adopted based on the assumption HIV entre homens que fazem sexo com homens
that current knowledge on HIV testing can offer (HSHs). Tal escolha parte do pressuposto de que
1
Laboratório de Educação valuable insights into the foundations of global a produção acadêmica é uma fonte relevante para
em Ambiente e Saúde, AIDS policies and their uptake in local contexts. compreender os fundamentos e apropriações das
Instituto Oswaldo Cruz, Based on the analysis of the 65 articles selected, políticas globais de Aids nos contextos locais. Se-
Fiocruz. Av. Brasil 4365/
Pavilhão Lauro Travassos, we suggest that TasP represents a shift in the AIDS gundo a análise dos 65 artigos selecionados, a TcP
Manguinhos. 21045-900 prevention paradigm. There is an overlap between opera uma transformação no paradigma preven-
Rio de Janeiro RJ Brasil. prevention and care and the new approach places tivo. Prevalece uma superposição entre prevenção
monteiro.simone.fiocruz@
gmail.com major emphasis on biomedical and psychological e assistência, sugerindo maior peso aos conheci-
2
Programa de Pós- knowledge. The TasP approach fails to address mentos e práticas biomédicos. Esse enfoque não
Graduação em Saúde the factors associated with HIV vulnerability and contempla o enfrentamento de fatores estruturais
Coletiva, Universidade
Federal de São Paulo. São the stigma surrounding AIDS and undermines associados à vulnerabilidade ao HIV e ao estig-
Paulo SP Brasil. the participation of activists and PLWHA as au- ma da Aids e a participação de ativistas e PVHA
3
Departamento de Políticas tonomous producers of preventive of preventive como produtores autônomos de praticas preventi-
e Instituições de Saúde,
Instituto de Medicina Social, practices. We argue that, to ensure the effective vas. Argumentamos que a efetividades da TcP no
Universidade do Estado implementation of TasP in Brazil, it is necessary Brasil requer uma discussão sobre a garantia dos
do Rio de Janeiro. Rio de to discuss issues such as the protection of human direitos humanos e problemas estruturais e pro-
Janeiro RJ Brasil.
4
Instituto de Estudos rights and the structural problems facing Brazil’s gramáticos do sistema público de saúde.
de Saúde Coletiva, public health system. Palavras-chave Revisão sistemática, Testagem,
Universidade Federal do Rio Key words Systematic review, Testing, HIV/ HIV/Aids, Prevenção, HSH
de Janeiro. Rio de Janeiro
RJ Brasil. AIDS, Prevention, MSM
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Monteiro SS et al.
Em 2014 foi lançada pela UNAIDS a proposta pos populacionais que apresentam condições de
de eliminar mundialmente a Aids até o ano 2030 vida particulares6. Foi introduzido ao longo dos
pelo cumprimento da meta intitulada “90-90-90”, anos 2000, a partir de evidências dos benefícios
que significa testar 90% da população com HIV, do diagnóstico oportuno e início da TARV, para
tratar 90% dos casos positivos e manter 90% das prevenção e cuidado de determinados grupos
pessoas em tratamento com carga viral indetec- populacionais, como gestantes, pessoas com tu-
tável1. O governo brasileiro assumiu o cumpri- berculose, DST ou infecções oportunistas e pas-
mento dessa meta e reiterou o compromisso em sou a coexistir com o VCT. Ilustra essa lógica a
2015 no Rio de Janeiro e em Genebra em 20162. implementação, na atenção básica, do teste de
O ‘Tratamento como Prevenção’ (TcP) foi HIV no pré-natal e no parto, visando a preven-
elaborado como uma estratégia central para al- ção da transmissão vertical do vírus da gestante
cançar a meta 90-90-90 pela possibilidade de para o bebê.
diminuição do vírus circulante na população, Assim, desde meados da década de 1990 a
rompendo a cadeia de transmissão. Para tanto, política de Aids no Brasil já inclui como diretriz
o diagnóstico deve ser o mais precoce possível, a promoção do diagnóstico precoce da infecção
seguido da disponibilização da terapia antirre- pelo HIV7. O tema passa a ganhar destaque na
troviral (TARV). A estratégia se baseia em evi- política nacional, identificado no plano estraté-
dências sobre a proteção dos antirretrovirais e o gico nacional e no acordo de empréstimo entre
baixo risco de transmissão quando a carga viral é o Governo Brasileiro e o Banco Mundial (AIDS
indetectável3,4. Caberia ao setor saúde promover II). Progressivamente campanhas de testagem
a ampliação da testagem, especialmente para os são lançadas e amplia-se a sua oferta no Sistema
grupos mais afetados (denominados de ‘popula- Único de Saúde (SUS).
ções-chave’), identificar os casos positivos e asse- Embora a ênfase na testagem do HIV nas
gurar acesso e adesão ao tratamento. políticas de saúde seja prévia à introdução do
No TcP ganham protagonismo os novos re- TcP, existem diferenças relevantes em relação ao
cursos biotecnológicos de testagem (teste rápido, significado do teste em cada uma das estratégias
teste via fluido oral) e as estratégias de ampliação mencionadas. O VCT orienta-se pelo paradigma
dos locais de testagem para além dos serviços de da excepcionalidade do exame na identificação
saúde. Assim, domicílios, organizações não go- do HIV, fundamentado no princípio da autono-
vernamentais (ONGs) e locais de sociabilidade mia e promoção de ações de prevenção e acon-
e interação sexual, tornam-se alternativas para selhamento. O PICT e o TcP se caracterizam
realizar o teste em horários ampliados. Trata-se pela perspectiva de normalização da testagem,
de uma resposta à Aids na qual a ‘farmaceuticali- informado pela valorização dos benefícios cole-
zação’5 tanto rege o tratamento individual, como tivos, decorrentes do acesso ao tratamento, em
domina a racionalidade sobre a prevenção. O detrimento do direito à autonomia individual.
foco prioritário passa a ser os indivíduos já aco- Aqui a testagem ocupa um lugar privilegiado,
metidos pela infecção do HIV, sendo necessário principalmente entre as populações consideradas
identificá-los e encaminhá-los para tratamento. de maior risco ao HIV, uma vez que o conheci-
A diminuição da carga viral é um objetivo não mento do estado sorológico se torna uma condi-
só do tratamento individual, como do controle ção fundamental para a prevenção e controle da
sanitário. epidemia pelo potencial de intervir na cadeia de
Antes da formulação do TcP, as estratégias de transmissão do HIV. Tal perspectiva aponta para
testagem existentes, como o Voluntary Counseling uma nova lógica da prevenção, centrada na iden-
Testing (VCT) e a Provider-Initiated HIV Testing tificação e tratamento das pessoas infectadas.
and Counseling (PICT), igualmente objetivavam No Brasil, o conceito do TcP foi introduzi-
identificar pessoas com sorologia positiva. No do pelo governo em dezembro de 2013 a partir
caso do VCT o teste visa atender as demandas da aprovação8 do Protocolo clínico e diretrizes te-
espontâneas e promover o diálogo e a reflexão rapêuticas para manejo da infecção por HIV em
sobre os contextos de risco e vulnerabilidade. adulto; este recomenda o início precoce da TARV
Datada da década 1980, essa abordagem orien- entre adultos com HIV, independentemente do
tou a criação dos Centros de Testagem e Aconse- estágio clínico da infecção ou da contagem do
lhamento voluntário (CTA) para a população em CD4, respeitando o consentimento do usuário9.
geral em todas as regiões do país. Além de manter a testagem no pré-natal, par-
Já o PICT se define pelo encaminhamento to e entre pessoas com tuberculose ou IST, como
profissional para o exame do HIV de alguns gru- sífilis e hepatites, o Ministério da Saúde (MS)
1795
Quadro 1. Termos identificados no MESH (Medical Subject Headings) e no DeCS (Descritores em Ciências da
Saúde.
Testing testeo Testagem
anonymous testing pruebas anónimas testes anônimos
Serologic test pruebas serológicas testes sorológicos, sorodiagnóstico
Aids serodiagnosis serodiagnóstico del sida Não identificado no DECS
Prevention prevención Prevenção
Aids Sida Aids
Counseling consejería Aconselhamento
testing strategies estrategias de testeo Não identificado no DECS
Termos presentes na literatura indexada, mas NÃO reconhecidos no MESH e DECS
testing methods Métodos de testeo Métodos de testagem
mobile HIV testing _____________ _____________
mobile testing _____________ _____________
mobile unit _____________ _____________
treatment as prevention _____________ _____________
combination HIV prevention _____________ _____________
HIV prevention Prevención del VIH Prevenção do HIV
HIV prevention strategies _____________ _____________
POC Point of Care _____________ _____________
home-based _____________ _____________
self-testing
community-based
community mobilization
MSM HSH HSH
Homosexual homosexual homossexual
Bisexual bisexual bissexual
assessment acceso acesso
Barriers barreras barreiras
willingness aceptabilidad aceitabilidade
tudo descreve uma experiência na Tailândia que verificando no caso brasileiro, o recente financia-
envolveu ONGs, proprietários de locais de socia- mento público para ONGs/Aids têm se centrado
bilidade homossexual e lideranças comunitárias; na ampliação da oferta de teste. Num cenário de
o que favoreceu o diálogo entre pesquisadores e a escassos recursos internacionais, tal fato colabo-
população alvo sobre temas relevantes para pre- ra para mudanças no seu papel tradicional de
venção50. Além da descrição ou avaliação de inter- controle social e advocacy57, reforçando sua po-
venções envolvendo testagem, encontramos tra- tencialidade de auxiliar nas ações de diagnóstico
balhos em que as ONGs colaboram no desenho conduzidas por equipes biomédicas.
e condução da pesquisa25,41,43,51. Em alguns casos,
membros das ONGs são coautores do artigo22,43,51.
Todavia, em outros trabalhos, as ONGs assu- Discussão
mem somente um papel auxiliar nas estratégias
de prevenção, ajudando na captação de sujeitos As principais diferenças entre as estratégias do
para testagem, haja vista sua experiência e aces- VCT e do TcP, identificadas na literatura sobre
so com HSHs e PVHA22,24,30,49. Ademais, espaços testagem do HIV na última década e sistemati-
comunitários e sedes de organizações passam a zadas no Quadro 3, atestam a emergência de um
ser alternativas para realizar testagem em horá- novo paradigma preventivo, centrada no TcP.
rios ampliados e para além dos serviços de saúde. Este caracteriza-se pela expansão e diversificação
Há artigos em que as ONGs são coadjuvantes na da oferta de testagem, visando ampliar o diag-
revisão de instrumentos e captação de partici- nóstico e a testagem de rotina passa a ser pres-
pantes para os estudos30,51-54. Tal enfoque sugere crita como estímulo às práticas preventivas. Na
o predomínio de uma perspectiva de prevenção literatura, as considerações de tipo sociológico
que concentra o savoir-faire nos profissionais de ou psicossocial sobre a prevenção são reduzidas
saúde, atribuindo às ONGs uma função secun- a discussões pontuais acerca das motivações ou
dária, restrita ao seu capital de acesso aos sujeitos barreiras para testagem e tratamento. O aconse-
considerados chave, como HSHs, homens negros lhamento articulado à testagem, centrado na re-
e latinos. Depreendemos que as ONGs ganham flexão e diálogo entre aconselhador e usuário/a,
um novo status quando se aborda o tratamento presente na racionalidade do VCT58-61, perde seu
como prevenção. Valoriza-se menos o que elas protagonismo; a repetição do teste se torna uma
têm a dizer sobre prevenção e sexualidade e des- meta, diferenciando-se da concepção da repeti-
taca-se sua importância na aproximação aos gru- ção do teste como uma falha de prevenção indi-
pos para captação para a testagem ou pesquisas. vidual ou programática.
Fan55 analisa criticamente a relação entre tes- Diante da efetivação do TcP no contexto bra-
tagem do HIV e organizações comunitárias ao sileiro, citada na introdução, cabe refletir sobre
abordar a contratação, pelo governo, de ONGs suas potenciais implicações, tendo em vista que
na China para ampliar a realização de testes em os principais aspectos dessa política se contra-
HSHs. O trabalho mostra como a testagem se põem às diretrizes históricas da resposta nacional
mercantiliza na relação entre o Estado e as ONGs, ao HIV/Aids, como: a promoção do preservati-
possibilitando a emergência de novas formas de vo, o ideário dos direitos das PVHA e o enfren-
vigilância por parte do Estado e um novo tipo de tamento do estigma da Aids e das desigualdades
atuação comunitária. Nesse processo de terceiri- sociais, de gênero e sexuais.
zação, a testagem realizada pelas ONGs promove A implementação do modelo preventivo da
uma espécie de coming out, pois revela a prática meta 90-90-90 colide com a tradição da resposta
homossexual de sujeitos antes contabilizada pelo brasileira ao HIV/Aids, uma vez que sugere uma
governo como transmissão heterossexual. superposição entre prevenção e assistência, de-
Numa perspectiva crítica, a participação das signando maior peso aos conhecimentos e prá-
ONGs apenas como suporte às ações de testagem, ticas biomédicos e psicológicos, em detrimento
promovidas pelo Estado, compromete o papel do da combinação desses com os saberes sociais. A
ativismo na construção de ações de prevenção e prevenção deixa de ser um compromisso de to-
controle social56. Em um contexto em que a testa- dos e de cada um, pautada na criação de condi-
gem é informada por avanços tecnológicos e pela ções para a escolha de formas de proteção e pas-
retórica técnico-econômica, é preciso observar sa a priorizar a identificação e o tratamento das
detidamente como as ONGs enfrentarão o desa- pessoas infectadas. A testagem de rotina ocupa
fio de agir perante tal dispositivo sem descaracte- um lugar privilegiado, uma vez que a prevenção
rizar sua função de controle social. Como vem se baseada no tratamento oportuno depende do
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conhecimento do estado sorológico. Tal abor- mento deva ser vista com cautela. O incentivo ao
dagem se opõe à estratégia de testagem volun- diálogo entre parceiros para uso do preservativo,
tária e aconselhamento, focada na divulgação a atuação política dos grupos afetados, o enfren-
de informações, diálogo e reflexão dos contextos tamento do estigma e das desigualdades sociais e
de vulnerabilidade, que orientou as políticas de de gênero e a luta pelos direitos das PVHA, que
enfrentamento da epidemia desde os primeiros caracterizaram a resposta brasileira ao HIV/Aids,
anos desta6,58-60. ficam ameaçados no contexto do TcP diante da
Embora baseada em modelos matemáticos, falta de apoio e recursos.
que lhe oferecem uma suposta coerência interna, Questionamentos acerca das implicações
a proposta do TcP tem sido objeto de críticas, seja operacionais, éticas e políticas das novas diretri-
pela eventual falta de suporte para quem se testa zes de prevenção também têm sido assinalados
ou pelo fato do teste positivo não garantir o iní- em âmbito internacional. Segundo pesquisado-
cio imediato e a adesão ao tratamento62. Ademais, res e ativistas, as práticas preventivas tendem a
a implementação do TcP depende do funciona- se reduzir à esfera assistencial, em detrimento do
mento eficiente do setor saúde para garantir o enfrentamento dos contextos de vulnerabilidade
acolhimento e retenção do usuário no serviço, in- que facilitam a infecção em determinados grupos
cluindo pronto atendimento, manejo dos efeitos ou populações56,65,66.
adversos da medicação e busca ativa dos faltosos.
O contexto atual de crise do Sistema Único de
Saúde (SUS), caracterizado pela rotatividade dos Considerações finais
profissionais, serviços sucateados e com eventuais
problemas de abastecimento de medicações, po- As mudanças sobre o papel da testagem no mo-
dem implicar dificuldades para a efetividade do delo preventivo do TcP revelam o predomínio
TcP no país63. Demais obstáculos para a efetivida- de uma lógica mais tecnocrata e biomédica das
de do TcP referem-se às falhas no sistema de noti- intervenções, centrada nas barreiras de acesso
ficação, ao sub-registro de casos e à subestimação ao diagnóstico e tratamento e na testagem como
das tendências da epidemia no país7. estímulo a práticas de sexo seguro. Tal enfoque
Questiona-se ainda a não incorporação de não contempla o enfrentamento dos fatores res-
vários atores na construção de uma resposta ponsáveis pela maior vulnerabilidade ao HIV de
multifacetada à prevenção, capaz de dar con- sujeitos ou grupos populacionais e do estigma
ta da complexidade sociocultural e humana da da Aids e, consequentemente, compromete a ga-
epidemia64. Consideramos que a reconfiguração rantia dos direitos humanos, a participação de
das ações de prevenção decorrentes da prioriza- ativistas e PVHA como produtores autônomos
ção dos investimentos no diagnóstico e no trata- de ações e discursos preventivos e o combate da
1804
Monteiro SS et al.
discriminação e das desigualdades sociais e de veis ao HIV, centrado nos determinantes sociais
gênero. A falta de reflexões críticas acerca das que definem a maior suscetibilidade à infecção
implicações negativas do processo de biomedi- do HIV. Sua semelhança com o já criticado termo
calização12, que caracteriza a atual política global ‘grupo de risco’, nos remete para os efeitos nega-
de Aids56,66, pode comprometer conquistas histó- tivos da associação do HIV a grupos socialmente
ricas nas respostas do Brasil a epidemia, reconhe- marginalizados e dos alcances limitados da hege-
cidas internacionalmente. monia da biomedicina na definição da prevenção
Argumentamos que a expansão do acesso à e cuidado das PVHA.
testagem e aos benefícios do tratamento na re- O êxito das respostas sociais à epidemia no
dução da carga viral deve contemplar o potencial Brasil dependeu da participação ativa das pessoas
de sinergia entre as estratégias de prevenção his- e comunidades afetadas pelo HIV na definição e
tóricas e atuais e considerar a riqueza das con- implementação de políticas e ações de prevenção
tribuições com a sociedade civil67. Tal articulação e cuidado68. No atual cenário de acesso a tecnolo-
favorece a proposição de abordagens mais po- gias de diagnóstico diversificadas é preciso con-
tentes e inovadoras para a oferta dos serviços de siderar: os problemas estruturais da rede pública
saúde, incluindo a testagem para o HIV, paralelo de saúde para manejo dos casos positivos diag-
ao enfrentamento do estigma e das condições de nosticados, a fragilização dos movimentos sociais
vulnerabilidade dos grupos sociais. Como histo- e o contexto de desigualdades sociais e de gênero.
ricamente demonstrado, as ações de mobilização A análise da crítica sobre testagem permite reco-
comunitária e do ativismo social são igualmente nhecer seus aspectos positivos, como a ampliação
necessárias para o sucesso das respostas de pre- do acesso ao diagnóstico entre populações mais
venção de caráter biomédica66. vulneráveis ao HIV, bem como apontar os efeitos
A presente reflexão buscou indicar os limites negativos que precisam ser superados. Diante da
e os problemas da nova lógica da prevenção, cen- liderança já ocupada pelo Brasil na definição de
trada no diagnóstico e tratamento, visando dis- políticas internacionais e do fato do TcP ser re-
cutir suas distorções, equívocos e lacunas. Nessa cente no contexto nacional, futuras atualizações
direção, cabe problematizar o uso do termo ‘po- desta revisão irão possibilitar uma análise dos
pulações-chave’ ao invés de grupos mais vulnerá- efeitos dessa estratégia global no país.
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