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CURITIBA
2019
MATHEUS RIBEIRO DE RAMOS
CURITIBA
2019
Agradecimentos
1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................................8
1.1. JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 9
1.2. OBJETIVO .......................................................................................................... 9
1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 9
1.4. MÉTODO .......................................................................................................... 10
2. DESENVOLVIMENTO ............................................................................................. 12
2.1 A ESTRUTURA E DINÂMICA DA PSIQUE E O PROCESSO DE
INDIVIDUAÇÃO ...................................................................................................... 12
2.1.1 A função transcendente e o símbolo na auto regulação psíquica ............ 16
2.1.2 Progressão e regressão da libido e a vivência simbólica da
transformação no processo de individuação ...................................................... 18
2.2 A ALQUIMIA COMO REALIZAÇÃO DA PSIQUE NO PROCESSO DE
INDIVIDUAÇÃO ........................................................................................................................ 22
2.2.1 As operações e fases alquímicas como processo de individuação na
psique .................................................................................................................... 33
2.2.2 A polarização energética na coniunctio e o efeito da união dos opostos
para o desenvolvimento da consciência ............................................................. 42
2.3. O MOVIMENTO ROSACRUZ; E O MANIFESTO “O CASAMENTO ALQUÍMICO
DE CHRISTIAN ROSENKREUTZ” ........................................................................................ 47
2.3.1 Primeiro dia................................................................................................... 53
2.3.2. Segundo dia ................................................................................................. 55
2.3.3 Terceiro Dia................................................................................................... 59
2.3.4 Quarto dia ..................................................................................................... 63
2.3.5 Quinto dia ..................................................................................................... 68
2.3.6 Sexto dia ....................................................................................................... 71
2.3.7 Sétimo dia ..................................................................................................... 77
2.4. ANÁLISE SIMBÓLICA DO MANIFESTO “O CASAMENTO ALQUÍMICO DE
CHRISTIAN ROSENKREUTZ”; PRIMEIRO DIA – O CONVITE .................................... 79
2.4.1 Segundo dia – Os quatro caminhos ............................................................ 88
2.4.2 Terceiro dia – A balança dos artistas.......................................................... 94
2.4.3 Quarto dia – A fonte de Hermes; Decapitação das personagens régias .. 97
2.4.4 Quinto dia – Visita à Senhora Venus......................................................... 103
2.4.5 Sexto dia – Regeneração das personagens régias .................................. 107
2.4.6 Sétimo dia – O retorno à pátria.................................................................. 112
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 115
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 118
O Uno é todas as coisas e não é nenhuma delas. Ele é o princípio
(arché) de todas as coisas; e, se não é nenhuma delas, no entanto é todas as
coisas de um modo transcendente, pois, de certo modo, elas estão no Uno. Ou
melhor, nem todas estão nele, mas estarão. Então, como todas as coisas
provêm do Uno, que é simples e não tem em si multiplicidade alguma e nem
mesmo dualidade alguma? É pelo fato de nada haver nele que todas as coisas
provêm dele. Para que o Ser possa existir, o Uno não é Ser, mas sim o gerador
do Ser. Podemos dizer que este é o primeiro ato da geração: nada possuindo e
nada buscando em sua perfeição, o Uno transbordou e sua superabundância
produziu algo diverso dele mesmo. O que foi produzido voltou-se de novo para
a sua origem e, contemplando-a e sendo por ela preenchido, tornou-se a
Inteligência. O ato de ter-se detido e se voltado para o Uno deu origem ao Ser;
o ato de ter contemplado o Uno deu origem à Inteligência. O ato de ter-se
detido e se voltado para o Uno a fim de contemplá-lo tornou-o simultaneamente
Ser e Inteligência. Desse modo, tornando-se semelhante ao Uno por
contemplá-lo, repetiu o ato do Uno e emitiu um grande poder.
Plotino
8
1. INTRODUÇÃO
1.1. JUSTIFICATIVA
1.2. OBJETIVO
1.4. MÉTODO
2. DESENVOLVIMENTO
não podem ser integrados unicamente por via racional, pois, o processo de
integração arquetípico na psique é simbólico e dialético. O processo simbólico
é uma vivência na imagem e da imagem, o que está em consonância com as
meditações realizadas pelos alquimistas, que também consistiam em um
diálogo interior com essas imagens, sendo possível estabelecer uma relação
do trabalho alquímico com a técnica da imaginação ativa, que busca
estabelecer relação com as imagens anímicas da psique tendo a finalidade de
ampliá-las e integrá-las na consciência, unindo as instâncias psíquicas que
estiverem em relação de oposição. (JUNG, 2000)
A anima e o animus são arquétipos do inconsciente coletivo e instâncias
opostas no psique. A anima é a personificação do feminino na psique
masculina e o animus a personificação do masculino na psique feminina,
portanto, o desenvolvimento a ser empreendido sobre essas instâncias é na
efetivação de relação entre o masculino e feminino presente em cada indivíduo.
Este momento do processo de individuação é profundo e exige grande
quantidade de energia psíquica para a elaboração do material simbólico
referente a essa relação. (JUNG, 2000)
A relação com a anima é um empreendimento de coragem, um teste
para as forças espirituais e morais do homem, sendo a anima um fator de
grande importância na psique masculina, pois ela mobiliza emoções e afetos,
ela intensifica, exagera, falseia e mitologiza todas as relações emocionais,
principalmente as relações do homem com o seu sexo oposto. A anima
enquanto arquétipo natural, conforme exposto por Jung (2000), constitui-se na
soma de todas as afirmações do inconsciente, da mente primitiva, da história
da linguagem e da religião, ela é o a priori dos humores, reações e de todas as
espontaneidades psíquicas:
Ela é algo que vive por si mesma, e o que nos faz viver; é uma vida
por detrás da consciência, que nela não pode ser completamente
integrada, mas da qual pelo contrário esta última emerge. Afinal de
contas, a vida psíquica é em sua maior parte uma vida inconsciente e
cerca a consciência de todos os lados. (JUNG, 2000, p.37).
exige diálogo e vivência na imagem, fato que era realizado pelos alquimistas e
constitui-se no principal meio para o desenvolvimento do opus. (JUNG, 2009)
Segundo Jung (2009), existe uma atitude espiritual em relação ao opus,
onde é possível traçar um paralelo entre as transformações alquímicas e o
desenvolvimento moral e intelectual do ser humano, fato esse comumente
tratado na alquimia, na qual a mente do artifex estava ligada à obra, não
apenas como mediadora dos processos de transformação, mas também como
origem e ponto de partida para a consumação da meta. A atitude mental do
alquimista frente ao opus era de essencial importância para o desenvolvimento
de ambos:
Alphidus diz o seguinte: Sabe, não poderás obter essa ciência sem
primeiro purificar o teu espírito diante de Deus, isto é, até que
erradiques toda corrupção do teu coração. Segundo a Aurora
Consurgens, a casa do tesouro da sabedoria hermética repousa
sobre o fundamento de catorze virtudes principais: saúde, humildade,
santidade, castidade, força, vitória, fé, esperança, amor, bondade,
paciência, moderação, atitude ou compreensão espiritual e
obediência. (JUNG, 2009, p. 282-283).
prima matéria relaciona-se com a psique pelo fato do ego consciente ter a sua
gênese a partir do inconsciente, que é indiferenciado, por vezes caótico, no
entanto uma potencialidade de vida. O ego desenvolve-se a partir da
diferenciação do todo inconsciente nas quatro funções psíquicas que estão em
relação de oposição e que estruturam a psique consciente, sendo elas a
intuição-sensação e pensamento-sentimento. Para que o processo
psicoterapêutico e de transformação da personalidade ocorram com sucesso
as características fixas e unilaterais da psique precisam ser reduzidas à sua
forma primeira e indiferenciada, é necessário um retorno à prima matéria.
Psicologicamente esse fato corresponde aos aspectos indiferenciados do
inconsciente e que não estão em uma relação fixa na personalidade, e por isso
possuem toda a carga de energia psíquica para a transformação. (EDINGER,
1995)
Os alquimistas sempre salientaram que a prima matéria não pode ser
produzida, pois ela já existe a priori e está em todo tempo e em todos os
lugares como um potencial para a transformação, questão que se relaciona
com o encontrar do material que será objeto de trabalho na psicoterapia. Ou
seja, o material que será trabalhado na análise pode ser encontrado em todas
as experiências cotidianas do indivíduo, sejam elas humores, afetos e demais
reações:
Apesar de seu grande valor interior, a prima matéria tem uma
aparência exterior desagradável, razão pela qual é desprezada,
rejeitada e atirada ao lixo. Trata-se a prima matéria como o servo
sofredor citado em Isaías. Psicologicamente, isso significa que a
prima matéria está na sombra, naquela parte da personalidade tida
como a mais desprezível. Os aspectos mais dolorosos e humilhantes
de nós mesmos são os próprios aspectos a serem trazidos à luz e
trabalhados. (EDINGER, 1995, p. 32).
partir foi embora sem dizer uma única palavra, ao alçar voo tirou um som
estridente de sua trombeta que todo o morro que servia de firmamento para a
casa de Rosenkreutez estremeceu. (AMORC, 2015).
A carta que foi entregue estava lacrada por um pequeno selo no qual
continha uma cruz ansata e no centro possuía uma inscrição em latim: “in hoc
signo vinces”, ou seja, “por esse signo vencerás”. Com precaução,
Rosenkreutz abriu a carta, o conteúdo estava escrito em letras de ouro sobre
um fundo azul. Os versos eram os seguintes:
Este é o dia, este é o dia, este é o dia das Bodas Reais; Se a ela és
convidado por ter merecimento, se Deus te elegeu para a alegria.
Sobe então ao pináculo. Coroado com três templos imponentes para
contemplar a história. Toma muito cuidado! Se não te purificastes
com diligência, as bodas poderão te causar danos. Desgraça ao
vacilante, que se cuide aquele que é volúvel demais! (AMORC, 2015,
p. 143).
descida ao fosso a anciã, mãe do ancião que lançou a corda pela primeira vez,
consolou os prisioneiros que não conseguiram a liberdade. Informando que em
um tempo vindouro todos seriam iguais e teriam as mesmas oportunidades.
Logo em seguida o fosso foi fechado ao som de clarins e tambores, e
entregaram para cada um dos libertos sete moedas de ouro comemorativa e
viática. Em um lado da moeda estava gravada a imagem de um sol nascente, e
do outro havia a frase “Deus Lux Solis” , ou seja, Deus Luz Solar. No final
foram dispensados e incitados a servir os semelhantes sem revelar nada do
que lhe foi confiado. (AMORC, 2015).
Rosenkreutz ficou com dificuldades para caminhar por causa dos
ferimentos que os grilhões da prisão causaram em seus pés. Neste momento
os clarins começaram a tocar de maneira súbita, fato que lhe causou pavor e
fez com que acordasse sobressaltado. Apenas após certo tempo acordado que
percebeu que tudo foi um sonho. Ficou preocupado e impressionado e ainda
parecia sentir os ferimentos nos pés. De qualquer forma ele compreendeu que
Deus havia permitido a sua presença no casamento secreto e oculto. Então
preparou-se para a viagem, colocando uma veste de linho branco, circundou-se
com uma faixa vermelho sangue, colocada por cima dos ombros em forma de
cruz e colocou quatro rosas vermelhas no chapéu como sinal de identificação.
Como mantimentos para a viagem levou pão, sal e água, antes de partir
realizou uma prece pedindo proteção a Deus em sua caminhada, e jurou não
usar para proveito egoísta os ensinamentos que estava prestes a receber.
Assim termina o primeiro dia. (AMORC, 2015).
peso grande, quatro pequenos, e dois grandes colocados bem à parte. A vestal
dividiu os convidados em sete fileiras e escolheu de cada fileira um convidado
para pesar os pesos. (AMORC, 2015)
Iniciando o processo, um pajem agrupou os convidados de acordo com a
categoria de cada um antes de fazê-los subir na balança. Primeiro subiram os
imperadores, nobre e sábios, e no final os falsos clérigos e os falsos
alquimistas. No final o número de convidados que conseguiu passar pelo
processo com êxito foi muito pouco, no entanto eles receberam da vestal uma
veste de veludo vermelho e um ramo de louros. Prosseguindo, chegou a vez
dos nove restantes que dormiram no chão do salão de jantar. Rosenkreutz foi o
oitavo a ter que equilibrar os pesos, e depois de ter conseguido realizar o
equilíbrio, recebeu o favor de libertar qualquer um dos convidados que não
conseguiram equilibrar os pesos. Ele decidiu libertar o primeiro imperador que
deu início ao processo, e neste instante a vestal percebeu a rosa que
Rosenkreutz segurava na mão. Por intermédio de seu pajem, ela lhe pediu a
rosa, e Rosenkreutz lhe deu de bom grado. (AMORC, 2015)
Às dez horas da manhã, iniciou-se um debate para decidir o
comportamento a ser adotado aos indignos, vários pareceres foram analisados,
no entanto especificamente o parecer de um príncipe amigo de Ronsekreutz foi
levado em consideração pela vestal. Segundo o príncipe, as pessoas de alta
posição deveriam ser levadas para fora do castelo; os das categorias seguintes
seriam expulsos nus; os da quarta seriam açoitados com varas e uma matilha
de cães seria posta a persegui-los; os que haviam dormido no salão poderiam
deixar o lugar sem nenhuma punição; e os que se comportaram de maneira
indecente na refeição seriam punidos no corpo e na alma. A execução da
sentença seria comunicada ao meio dia. (AMORC, 2015)
A todos foi concedida uma refeição, e a mesa estava coberta de veludo
vermelho e as taças eram de ouro e prata. Rosenkreutz e seus companheiros
receberam da parte do Noivo, um tosão de ouro com um leão alado sobre ele e
ocuparam uma mesa superior, onde conseguiam visualizar quem lhes serviam,
ao contrário dos convidados que não passaram no teste da balança. A vestal
chegou ao jantar adornada também com o tosão de ouro e com o leão, e
recebeu de um pajem uma taça de ouro, destinada pelo rei aos bem sucedidos
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uma faixa dourada, que se aproximou da fonte do jardim e ali se ajoelhou nas
duas patas dianteiras. De pé na fonte havia um leão, que pegou a espada
desembainhada que tinha sob as garras e a partiu em duas; os pedaços caíram
na fonte. Depois ele rugiu, e uma pomba branca trouxe no bico um ramo de
oliveira, e entregou ao leão que se apressou em engoli-lo, o que o acalmou.
(AMORC, 2015)
Após todos esses acontecimentos, receberam permissão para visitar
algumas partes importantes do castelo antes de conhecerem o Rei no dia
seguinte. Todos os convidados foram acompanhados pelos seus pajens.
Rosenkreutz começou visitando os túmulos dos Reis, o que lhe ensinou mais
que todos os livros, e neste local se encontrava uma maravilhosa fênix. Em
seguida visitou a biblioteca e por fim uma sala espaçosa que continha no
centro um globo terrestre de trinta pés de diâmetro, foi permitido a ele visitar o
interior do globo, onde no centro não havia nada além de uma tábua redonda
que servia de assento para contemplar os ornamentos que ali dentro havia.
Rosenkreutz passou tempo considerável dentro do globo que quase perdeu o
horário do jantar. (AMORC, 2015)
Após o jantar, dois jovens com archotes precederam uma procissão
com sete vestais, sendo a última uma Rainha. Um grupo de quatro vestais; a
primeira estava com os olhos voltados para o chão, como sinal de humildade; a
segunda também era uma vestal de atitude casta e pudica; a terceira teve um
sobressalto ao adentrar no salão, porque ela não conseguia controlar suas
alegrias; a quarta expressava seu amor e generosidade através de buquês de
flores que trazia nas mãos. Depois dessas vestais apareceram mais duas,
vestidas de maneira mais luxuosa. A primeira tinha uma veste toda azul,
semeada de estrelas de ouro; a outra estava vestida toda de verde, com listras
vermelhas e brancas. A procissão chegou ao final quando uma vestal apareceu
caminhando sozinha, a sua cabeça estava coroada e seu olhar estava mais
voltado para o céu do que para a terra e todos acharam que se tratava da
Rainha das núpcias, mas não era o caso. Em seguida todos caíram de joelhos
diante dessa vestal, que logo depois lhe disse que deveriam na verdade elevar
os olhos ao Criador, buscando infundir-se de seu supremo poder para
perseverar na senda. (AMORC, 2015)
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Os pesos que foram utilizados na balança dos artistas ainda estavam lá,
e a Rainha deu a ordem para que fossem levados para a primeira sala do
castelo. A vestal de Roenkreutz e seus amigos pegaram o peso da Rainha, e
levaram-no para ser suspenso na primeira sala. No centro dessa sala erguia-se
um genuflexório, ao redor do qual todos se ajoelharam formando um círculo e
todos rogaram preces para que as bodas se cumprissem para a glória de Deus.
Na segunda sala a vestal suspendeu o peso de Rosenkreutz e lhe encaminhou
para os seus aposentos na companhia de seu pajem. Ao dormir, Rosenkreutz
teve um sonho no qual passava a noite toda a sacudir uma porta, até que
finalmente conseguiu abrir. E despertou com a luz do dia. (AMORC, 2015)
Rainha utilizava, eram tão brilhantes que ficou impossível contemplá-la. Foi
solicitado ao Casal Real para que cada convidado se apresentasse por si
próprio, e depois da apresentação cada um foi acompanhado por sua vestal até
a porta de saída do salão. Neste local se encontravam três admiráveis tronos
reais organizados em semicírculo; o do meio estava acima dos outros. No
primeiro trono estava um rei de barbas grisalhas acompanhado de sua esposa,
que possuía uma admirável beleza; no terceiro trono havia um rei negro no
auge do seu vigor, e ao seu lado uma anciã sem coroa, mas coberta por um
véu; no trono do meio estavam dois adolescentes que usavam uma coroa de
louros, e acima deles estava suspensa uma coroa. Rosenkreutz não os achou
tão belos quanto os havia imaginado. (AMORC, 2015)
Próximo ao trono mais alto, um pequeno cupido voava ao redor da coroa
e brincava com ela, às vezes ameaçava atirar nos convidados com seu arco e
flecha e se mostrou muito travesso. Diante da Rainha estava um altar de
radiante beleza, e nele havia um livro negro apenas dourado nas bordas. Ao
lado do livro havia um círio sobre um castiçal que ardia sem cessar, os
convidados não teriam percebido que se tratava de uma chama se o cupido
não se divertisse soprando-a de vez em quando; havia também um globo
terrestre girando sobre si mesmo; um pequeno carrilhão tendo em cima uma
pequena fonte de onde escorria continuamente um fio de água límpida cor de
sangue; por fim uma caveira que servia de refúgio a uma serpente branca que
nunca saía de sua morada. (AMORC, 2015)
Depois que saíram da sala onde foi feita a apresentação ao Rei, foram
fazer a primeira refeição do dia. Neste momento apareceu novamente o cupido,
que foi enviado por sua Majestade Real com ordem de fazer os convidados a
tomar um gole da bebida que havia em uma taça de ouro. No meio tempo, um
baile foi improvisado e Rosenkreutz assistiu a tudo como espectador, pois seu
espírito mercurial se recusava a participar na dança pelo fato de há muito
tempo ter esquecido essa arte. A vestal principal logo anunciou que uma peça
teatral seria realizada com o objetivo de agradar Sua Majestade Real antes de
sua partida, e que todos estavam convidados a participar do espetáculo no
Templo Solar. (AMORC, 2015)
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caixões. Cada caixão era guardado por oito homens mascarados, e foram
levados ao mausoléu que ficava no centro do famoso jardim do castelo, e lá
foram enterrados em seis covas; as lápides foram colocadas no recinto e
lacradas. Terminados os falsos funerais, a vestal presidente fez um discurso,
no qual dizia que os convidados não poupassem esforços para auxiliar na
ressureição das personalidades reais. E para realizar esse processo, deveriam
ir até a torre do Olimpo, onde poderiam obter o remédio necessário para o
objetivo. (AMORC, 2015)
Os convidados seguiram para o ancoradouro onde seis navios estavam
atracados, todas as vestais prenderam neles ramos de louros e repartiram os
convidados pelos sete navios. Cada um dos navios possuía um grande
pavilhão e um signo particular, cinco deles estavam marcados pelos signos dos
Cinco Corpos Regulares, o de Rosenkreutz estava marcado pelo globo. Na
frente encontrava-se o navio A, que na opinião de Rosenkreutz transportava o
Mouro e dozes músicos, e o seu signo era uma pirâmide. Ao lado dele estavam
os navios B,C e D. Rosenkreutz encontrava-se no navio C, e no centro
estavam as mais belas embarcações, E e F que estavam ornamentadas com
ramos de louro, e suas bandeiras foram pintadas com as imagens do Sol e da
Lua. O navio G transportava quarenta vestais. (AMORC, 2015)
Ao adentrarem no alto mar, sereias, ninfas e deusas do mar os
aguardavam para lhes enviar uma jovem Nereida, que tinha como objetivo lhes
entregar um presente em homenagem pelas bodas. O presente consistia em
uma pérola engastada, grande, redonda e com belo brilho, jamais vista no
velho mundo. Após terem aceitado o presente, a ninfa solicitou que
concedessem uma audiência à suas companheiras e esperassem por algum
tempo. Todos concordaram e os navios foram posicionados com os maiores no
centro e os outros ao redor, de modo a formar um pentágono. Feito isso, as
ninfas formaram círculos e cantaram em coro:
Nada nesta terra é melhor do que o belo e nobre amor que nos iguala
a Deus; e que tudo ilumina. Assim, ao Rei este canto enviamos, que
todo o mar ecoe, nós perguntamos, vós respondeis. Quem nos
transmitiu a vida? O amor. Quem nos concedeu a graça? O amor.
Onde está a nossa origem? No amor. Como ficamos quando o
perdemos? Sem amor. Quem nos gerou? O amor. Por quem somos
nutridas? Pelo amor. Quem são os nossos pais? O amor. Como
explicar sua paciência? Pelo amor. Que permite que nos dominemos?
O amor. Pode-se igualmente encontrar o amor? Pelo amor. Onde
revela ele suas boas obras? No amor. Quem pode unir dois espíritos?
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Neste portal encontrava-se o guardião vestido de azul, sobre o qual o Rei fez o
seguinte comentário:
Era um célebre e eminente astrólogo, que tinha sido beneficiado com
favores do Rei meu primo. Ora, aconteceu que ele agiu mal com a
Senhora Vênus, uma vez que a contemplara em seu leito. Como
punição, tinha recebido a função de guardião do primeiro portal, até
que aparecesse alguém para libertá-lo. (AMORC, 2015, p. 259)
isso estavam presos. O que predomina nesse ambiente é a força instintiva dos
prisioneiros para conseguirem a liberdade, o que tinha como consequências
ferimentos físicos nas tentativas de fuga. (JUNG, 2009).
Portanto, o sonho com a torre marca a nigredo e calcinatio na jornada de
Rosenkreutz. A nigredo relaciona-se com a sombra e com o momento inicial de
purificação que o alquimista deveria passar no começo do opus alquímico,
como também com a obtenção da prima matéria que será objeto de
transformação no opus. A prima matéria de Rosenkreutz consiste em seus
pensamentos, na sua moral e em tudo àquilo que ele desconhece de si mesmo
e que possui um caráter confuso e caótico. Já a calcinatio está simbolizada
nesse sonho na característica instintiva de Rosenkreutz e dos demais
prisioneiros para saírem da torre e passarem por um processo de purificação, o
fogo da calcinatio está relacionado à libido, ao desejo e ao instinto. Aspectos
que tiveram grande influência nesse momento inicial do opus. (JUNG, 2009).
O diálogo com o inconsciente, simbolizado neste primeiro dia, começa
com os conteúdos do inconsciente pessoal e dos que constituem a sombra,
após essa etapa segue-se com os conteúdos arquetípicos do inconsciente
coletivo. Esse diálogo tem como objetivo diminuir a dissociação e
unilateralidade da consciência, e para que ele seja atingido é necessário haver
um conflito de opostos na psique tornando possível a unificação e a totalidade.
Além da tomada de consciência dos opostos, esse processo acarreta na
experiência do “reconhecimento de outro” em si mesmo, que consiste em um
aspecto com natureza de difícil compreensão e com vontade diferente da
psique objetiva. Este aspecto simbolicamente representa o gênio, deus e o que
se oculta no mais íntimo de cada um, seja de maneira psíquica ou somática.
Os alquimistas representaram esse aspecto no Mercúrio, como uma fonte de
todos os opostos e representação de cada traço do inconsciente. (JUNG,
2013).
A sombra representada na experiência da torre por Rosenkreutz
corresponde a uma personalidade negativa do eu, ou seja, ela é composta por
todas as características de existência desagradável e deplorável, e pelo fato de
serem inconscientes sombra e anima se relacionam. O problema dos opostos
ocasionado pela sombra possui papel fundamental na alquimia, conduzindo à
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“parte pelo todo”, e indicar a “parte principal”, que é o princípio, ou seja, a caput
mortum (cabeça morta) que em seu sentido original simboliza a cabeça morta
de Osíris com tendências para o preto, e posteriormente o mercúrio dos
filósofos alquimistas que é caraterizado pela morte e ressureição ou
transformação em um corpo incorruptível. No Novum Lumem Chemicum se diz:
Ó nosso céu! Ó nossa água e nosso mercúrio! Ó cabeça morta ou
escória do nosso mar [...] E estes são os apelidos da avezinha de
Hermes que nunca descansa. Esta avis Hermetis (ave de Hermes) é
o corvo, do qual se diz: e sabei que a cabeça ou principio da arte é o
corvo que voa sem asas na escuridão da noite e na claridade do dia.
Ele é um espírito inquieto que não dorme, o lápis aereus et volatilis (a
pedra área e volátil), e portanto um ser de natureza formada de
opostos. Ele é o “céu” e ao mesmo tempo a “escória do mar. (JUNG,
2012, p. 329 – 330)
O corvo representa opostos em si, pelo fato de ser uma ave carrega o
simbolismo da ascensão e elevação para o que é imaterial, e ao mesmo tempo
simboliza a matéria em seu estado caótico. Para o cristianismo o corvo
consiste em uma alegoria para o diabo. Portanto, o corvo é um símbolo da
parte negra da alma e a pomba representa a parte luminosa e branca, a
albedo. A batalha entre o corvo e a pomba no segundo dia simboliza um
processo de tensão entre os opostos representada pela nigredo e a albedo,
fases essenciais para o desenvolvimento do opus alquímico. A libertação da
pomba representa de acordo com o seu simbolismo, o prelúdio de um estado
de iluminação ou da alvorada de uma nova personalidade desconhecida na
consciência através do processo de individuação. (JUNG, 2012)
Rosenkreutz precisa passar por três portais antes de chegar ao castelo
do Rei, e em cada portal ele recebe três insígnias com alguns dizeres
significativos para o objetivo do opus nesta obra. No primeiro portal, está
afixada uma placa com a advertência “Fora daqui, afastai-vos, ó profanos”, que
fortalece o fato de que os alquimistas vivenciavam o opus alquímico como algo
sagrado, e que apenas os verdadeiros iniciados à arte alquímica poderiam ter
acesso. A alquimia enquanto tradição hermética sempre manteve os seus
mistérios velados, enfatizando que somente os escolhidos achariam a chave de
compreensão de seus conteúdos. A primeira insígnia que ele recebe possui a
inscrição “S.C”, que significa “Constância pela santidade, amado noivo,
esperança, caridade”. O guardião reforça com Rosenkreutz que ele se lembre
do conteúdo desta insígnia no decorrer da trajetória, ela representa a retidão
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O terceiro dia, como nos dois anteriores, traz como uma questão
importante para a obra à atitude espiritual que o alquimista precisava ter em
relação a ela. Essa atitude significa que existe uma relação íntima e direta
entre o estado mental do adepto e o opus alquímico. O alquimista Dorneus
relata em Philosophia meditativa, que um indivíduo só poderá transformar os
outros em “Um”, se ele antes já tiver se transformado em “Um”. Isso significa
que o objetivo do trabalho alquímico é o de atingir a essência das coisas
através da totalidade, a qual psicologicamente é simbolizada pelo Si-mesmo. A
busca pela unidade na alquimia é o que fornece a direção para o adepto seguir,
em consonância ao processo de individuação a busca pela unidade é que
orienta o ego a constituir uma relação com o Si-mesmo. Diversos autores na
alquimia relacionam o opus à psique e suas funções, eles enfatizam o estudo
de livros e a meditação dos seus conteúdos para um bom entendimento do
processo:
Assim, Richardus Anglicus escreve em seu Correctorium fatuorum:
consequentemente, todos aqueles que desejam alcançar o benefício
desta Arte, devem dedicar-se ao estudo e haurir a verdade nos livros
e não nas fábulas inventadas ou obras mentirosas, porquanto esta
arte não será considerada verdadeira (muito embora o ser humano
esteja sujeito a muitas ilusões), a não ser depois de concluídos os
estudos e do conhecimento das palavras dos filósofos. (JUNG, 2009,
p. 269 – 271)
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPBELL, J. O Heroi de Mil Faces. 10. ed. São Paulo. Editora Pensamento.
1997
EDINGER, E.F. Anatomia da Psique. 10. ed. São Paulo: Cultrix. 1995.
JUNG, C.G. O Livro Vermelho: liber novus. 2. ed. Petrópolis: Vozes. 2013.
PLOTINO. Tratados das Enéadas. 1.ed. São Paulo: Polar Editorial. 2000.
PRIESNER, C. Alquimia: enciclopedia de una ciencia hermética. 1 ed.
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RODRIGUES, M.H. O Mito de Christian Rosenkreutz: Uma Visão A Partir
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