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Universidade Federal de Roraima

Departamento de Engenharia Civil


CIV-10 – Mecânica dos Solos I

Aula 11: Movimento da água no


solo

Docente: Mariana Ramos Chrusciak, M.Sc.


mariana.chrusciak@ufrr.br
marychrusciak@gmail.com
Universidade Federal de Roraima CIV-10 – Mecânica dos Solos I
Departamento de Engenharia Civil Aula 11

1. Importância
Os problemas, mais graves, de construção estão relacionados
com a presença da água no solo.
Principalmente:
 na estimativa da vazão que percolará através do maciço e da
fundação de barragens de terra,
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1. Importância
Os problemas, mais graves, de construção estão relacionados
com a presença da água no solo.
Principalmente:
 em obras de drenagem,
 rebaixamento do nível d’água,
 adensamento, etc.
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2. Motivação para estudo


Morro do Bumba – RJ, 2010
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2. Motivação para estudo


Barragem São Tadeu – MT,
2008
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2. Motivação para estudo

BARRAGEM CAMARÁ – PB, 2004


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2. Motivação para estudo

Mucajaí – RR, 2012


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3. Conceitos
Os solos têm, com frequência, a maior parte ou a totalidade de
seus poros ocupados por água, que, quando submetida a uma
diferença de potencial hidráulico, flui através dos poros
interconectados, fissuras e/ou outros caminhos preferenciais.
A facilidade com que a água flui através de um meio poroso,
como o solo, constitui uma importante propriedade conhecida
como permeabilidade.
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3. Conceitos
Ou seja, a permeabilidade é a propriedade que indica a maior ou
menor facilidade que o solo possui de percolar água no seu interior.
A permeabilidade de um solo é quantificada pelo coeficiente de
permeabilidade. Um termo análogo a permeabilidade é
condutividade hidráulica.
Chamamos de percolação o fluxo da água através do solo.
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3. Conceitos
Diferentes tipos de solos apresentam diferentes coeficiente de
permeabilidade, ou seja, a água terá maior facilidade de passar
por um solo (mais grosso, por exemplo) do que por outro (um
mais fino). No exemplo abaixo a água percolará mais rápido
pela areia do que pela argila
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4. Conceitos de Carga
Qualquer partícula de fluido (em repouso ou em movimento)
possui uma quantidade de energia proveniente das seguintes
componentes.
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4. Conceitos de Carga
O fluxo de água é a resposta de mudanças de energia (ou
energia potencial total) entre dois pontos. A energia num ponto
pode ser definida pela Equação de Bernoulli. Considerando um
fluido não viscoso e incompressível.
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4. Conceitos de Carga
Carga Total = ht = hp + he + hv

Como a velocidade de percolação da água através do solo


é muito pequena, a energia cinética consequentemente
também é. Como as cargas de elevação e pressão são
muito maiores podemos considerar hv igual a zero.
Carga Total = ht = hp + he
OBS.:
 Só haverá fluxo quando se tem diferença de energia total;
 O fluxo só ocorre do ponto de maior carga total para um
ponto de menor carga total.
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5. Regime de escoamento nos solos


Reynolds (1883) verificou que o escoamento pode ser de dois
tipos: laminar (sob certas condições) e turbulento.
Escoamento ocorre com uma trajetória retilínea. Caso contrário,
é dito turbulento.
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5. Regime de escoamento nos solos


Reynolds variou o diâmetro “D” e o comprimento “L” do
conduto e a diferença de nível “h” entre os reservatórios,
medindo a velocidade de escoamento “v”.
Os resultados constam na Figura 6.1.b, onde estão plotados, o
gradiente hidráulico “i = h/l” versus a velocidade de
escoamento “v”.
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5. Regime de escoamento nos solos


Verifica-se que há uma velocidade crítica “vc” abaixo da qual o
regime é laminar, havendo proporcionalidade entre o gradiente
hidráulico e a velocidade de fluxo.
Para velocidades acima de “vc” a relação não é linear e o regime
de escoamento é turbulento.
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5. Regime de escoamento nos solos


Ainda segundo Reynolds, o valor de “vc” é relacionado
teoricamente com as demais grandezas intervenientes através
da equação:
Re = Vc . D . γ / μ . g
onde:
Re = número de Reynolds, adimensional e igual a 200;
vc = velocidade crítica;
D = diâmetro do conduto;
γ = peso específico do fluído;
μ = viscosidade do fluído;
g = aceleração da gravidade.
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5. Regime de escoamento nos solos


Conclusão:
Existe proporcionalidade entre velocidade de escoamento
laminar e gradiente hidráulico.
Denominado o coeficiente de proporcionalidade entre “v” e “i”
de permeabilidade ou condutibilidade hidráulica “k”, tem-se:

v=k.i
LEI DE DARCY
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6. Experimento de Darcy
Henry Philibert Gaspard Darcy (10 de junho de 1803 – 03
janeiro de 1858) foi um engenheiro francês, que fez diversas
contribuições importantes para o sistema hidráulico.
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6. Experimento de Darcy
Nasceu em Dijon, França.
Apesar da morte de seu pai, em 1817, quando tinha 14 anos,
sua mãe foi capaz de pedir dinheiro emprestado para pagar por
seus tutores.
Em 1821 ingressou na École Polytechnique (Escola Politécnica),
em Paris, e dois anos mais tarde foi transferido para a École des
Ponts el Chaussées (Escola de Pontes e Estradas).
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6. Experimento de Darcy
Darcy, em 1850, verificou como os diversos fatores geométricos,
influenciavam a vazão da água, expressando a equação:
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6. Experimento de Darcy
Vazão é diretamente proporcional a área da seção transversal A;
Vazão é inversamente proporcional ao comprimento percolado Δs;
Vazão é diretamente proporcional a diferença de carga hidráulica,
ϕ1-ϕ2.
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7. Lei de Darcy
Lei de Darcy´é uma equação matemática simples que resume
perfeitamente as diversas propriedades de lençol freático de um
aquífero, incluindo:
- Se não há gradiente de pressão ao longo de uma distâcia, não
ocorre fluxo (isto é uma condição hidrostática);
- Se existe um gradiente de pressão, o fluxo vai ocorrer na direção
da maior pressão para menor pressão;
- Quanto maior o gradiente de pressão (para um mesmo solo),
maior a taxa de descarga
- A taxa de descarga será sempre diferente em diferentes formações
(ou mesmo através o mesmo material, em uma direção diferente),
mesmo se o gradiente de pressão for o mesmo.
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7. Lei de Darcy
A vazão dividida pela área indica a velocidade com que a água sai
da areia.
Esta velocidade, v, é chamada de velocidade de percolação. Logo:

A lei de Darcy é válida para fluxo laminar → no de Reynolds (R) <


2000
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8. Fatores que afetam a permeabilidade


Influência do fluido percolante
A condutividade hidráulica de um solo também está relacionada
às propriedades do fluido percolante (Olson & Daniel, 1981), o que
pode ser observado considerando-se que:

Sendo:
 k = condutividade hidráulica, considera os
k  k . parâmetros físicos
 k´= permeabilidade intrínseca ou especifica do
solo, função do meio percolante;
 = peso específico do líquido percolante;
 = viscosidade do líquido percolante.
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8. Fatores que afetam a permeabilidade


Influência do fluido percolante
 peso específico do fluído;
 viscosidade do fluído;
 temperatura →influencia as duas propriedades anteriores
(principalmente a viscosidade). Convenciona-se tomar como
referência o coeficiente de permeabilidade a 20oC.
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8. Fatores que afetam a permeabilidade


Influência do solo
 Tamanho da partícula
Quanto > o diâmetro da partícula > o diâmetro dos vazios > o “k”
 Índice de vazios
Quanto > e > o “k”
Composição mineralógica
Dependendo do tipo de mineral “k” muda
Ex.: Para um mesmo índice de vazios, a caulinita é mais permeável
que a montmorilonita
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8. Fatores que afetam a permeabilidade


Grau de saturação do solo
Como a percolação de água não remove todo o ar existente no
solo, bolhas de ar são obstáculos ao fluxo d’água
LOGO Quanto > S (grau de saturação) > o “k”
Forma do grão
“k” equidimensionais > “k” lamelares
“k” esféricos > “k” angulares
Anisotropia
O solo geralmente não é isotrópico quanto a permeabilidade →
principalmente solos sedimentares, solos residuais de rochas
sedimentares e metamórficas xistosas ou bandeadas e solos
compactados.
Kh > 5, 10 ou 15 x Kv → bastante comum nestes solos.
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8. Fatores que afetam a permeabilidade


Estrutura dos solos
- solos argilosos → estrutura floculada determina maior
permeabilidade que a dispersa;
- solos compactados → pelo mesmo efeito, solos compactados no
ramo seco são mais permeáveis que quando compactados no
ramo úmido, mesmo com o mesmo índice de vazios;
- solos residuais → maiores permeabilidades em virtude dos
macroporos (vazios entre os agregados de partículas)
EX.: “k” floculado > “k” disperso

Floculado Disperso
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9. Determinação do coeficiente de permeabilidade


9.1. Métodos diretos
9.1.1. No Laboratório
a) Permeâmetro de carga constante
b) Permeâmetro de carga variável
9.1.2 No Campo
Maneira de Pressão Denominação Método de Prospecção
Realização Aplicada dos Ensaios
Carga Infiltração Sondagem, poços e
Nível Constante cavas
descarga Bombeamento Poços e sondagens
Carga Rebaixamento Sondagens e poços
Nível Variável descarga Recuperação Poços e sondagens
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9. Determinação do coeficiente de permeabilidade


9.1. Métodos diretos
9.1.1. No Laboratório
a) Permeâmetro de carga constante
A carga hidráulica é mantida constante durante
todo o ensaio.
Empregado principalmente para solos granulares.
Procedimento: Após garantida a constância de vazão, mede-se o
volume d’água (V) que percola pela amostra de comprimento (L)
em intervalos de tempo (t).
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9. Determinação do coeficiente de permeabilidade


9.1. Métodos diretos
9.1.1. No Laboratório
b) Permeâmetro de carga variável
A carga hidráulica varia durante o ensaio;
Usado para solos de baixa permeabilidade;
As vazões de ensaio são pequenas;
Procedimento: Após garantida a constância da vazão, faz-se leituras das
alturas inicial e final na bureta e o tempo decorrente.
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9. Determinação do coeficiente de permeabilidade


9.1. Métodos diretos
9.1.2. Em campo
a) Ensaio de bombeamento
Ensaio realizado a partir de um poço filtrante e uma série de poços
testemunhos. Empregado principalmente na determinação da
permeabilidade de camadas arenosas e pedregulhosas abaixo do
NA, sujeitas ao rebaixamento do lençol freático.
Hipóteses: massa de solo homogênea e isotrópica e
permeabilidade média em todo o meio.
A partir do momento em que se tem fluxo estacionário (válida a
Lei de Darcy):
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9. Determinação do coeficiente de permeabilidade


9.1. Métodos diretos
9.1.2. Em campo
a) Ensaio de bombeamento
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9. Determinação do coeficiente de permeabilidade


9.1. Métodos diretos
9.1.2. Em campo
b) Ensaios de infiltração - ensaio de tubo aberto
Mede-se a velocidade com que a água escoa por um tubo e infiltra
no terreno segundo superfícies esféricas concêntricas. Empregado
em terrenos permeáveis.
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9. Determinação do coeficiente de permeabilidade


9.2. Métodos indiretos
a) Formula de Hazen – Para areias

(cm/s)

em que:
De - é o diâmetro efetivo do solo, em centímetros ,
C - é um coeficiente que varia entre 90 e 120, sendo 100 um valor
freqüentemente utilizado .

Uma restrição que se impõe para utilização dessa fórmula é a de


que o coeficiente de não uniformidade (Cu) seja menor que 5.
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9. Determinação do coeficiente de permeabilidade


9.2. Métodos indiretos
b) Para argilas e Siltes – A partir do ensaio de adensamento

em que:
T - fator tempo, para a porcentagem de adensamento;
Hd - distância de drenagem;
T - tempo necessário para que ocorra a porcentagem de adensamento;
mv - coeficiente de deformação volumétrica;
 - massa específica da água.
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9. Determinação do coeficiente de permeabilidade


9.2. Métodos indiretos
c) Formula de Taylor (1967)

K - coeficiente de permeabilidade de Darcy;


C - fator de forma;
Ds - um diâmetro efetivo das partículas;
 - peso específico do fluido;
 - viscosidade do fluido;
e - índice de vazios do solo.
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10. Valores típicos para o coef. de permeabilidade


Ordem de grandeza do coeficiente de permeabilidade de solos
sedimentares
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10. Valores típicos para o coef. de permeabilidade


Para pedregulhos e mesmo em algumas areias grossas a
velocidade de fluxo é muito elevada e pode se ter fluxo turbulento
→ não é mais válida a Lei de Darcy.
Solos residuais e solos de evolução pedogenética → elevada
permeabilidade devido aos macroporos.
Ex: solo laterítico arenoso fino poroso (SP)
- estado natural → K ≈ 10-3 cm/s
- desagregado e recolocado no mesmo índice de vazios → K ≈ 10-5
cm/s
- compactado → K ≈ de 10-6 a 10-7 cm/s

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