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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES


HISTÓRIA DA ARTE E CURADORIA

MAYARA MOREIRA

ARTE MODERNA: OS ISMOS A PARTIR DO IMPRESSIONISMO

CURITIBA
2019
MAYARA MOREIRA

ARTE MODERNA: OS ISMOS A PARTIR DO IMPRESSIONISMO

Trabalho de Conclusão de Módulo


apresentado como requisito parcial à
obtenção do título de Especialista em
História da Arte e Curadoria, da Escola de
Comunicação e Artes, da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná.

Orientador: Prof. Amélia Siegel Corrêa

CURITIBA
2019
A gramática, a mesma árida gramática,
transforma-se em algo parecido a uma
feitiçaria evocatória; as palavras
ressuscitam revestidas de carne e osso, o
substantivo, em sua majestade
substancial, o adjetivo, roupa transparente
que o veste e dá cor como um verniz, e o
verbo, anjo do movimento que dá impulso
à frase.
(BAUDELAIRE, Charles)
1 INTRODUÇÃO

Esse relatório busca elucidar a conjuntura de fatos culturais e históricos que


levaram ao surgimento do Impressionismo, como uma revolução não apenas técnica
e formal na produção artística da época, mas também na conformação da arte como
um sistema de consumo. Além de todas as correntes de vanguarda originadas a
partir do aprofundamento das questões levantadas no Impressionismo.
2 DESENVOLVIMENTO

2.1 IMPRESSIONISMO E REVOLUÇÃO

O termo Impressionismo foi cunhado pejorativamente pelo crítico de arte


Louis Leroy em artigo publicado no jornal satírico Le Charivari, em 25 de abril de
1874, após sua visita no Salão dos Recusados, exposição das obras rejeitadas pelo
júri do salão oficial, que inaugurara dez dias antes no antigo ateliê do fotógrafo
Nadar em Paris, 35 Boulevard des Capucines. Na publicação, Leroy relata, em
forma de diálogo com o paisagista Joseph Vincent, seu percurso até o quadro de
número 98, intitulado ‘Impression, Soleil levant’ (1872) de Claude Monet, cuja
descrição denota grande desdenho: “Impressão, eu tinha certeza. Eu me dizia
também, visto que estou impressionado, deve haver impressão aí dentro... E que
liberdade, que naturalidade na composição! Um papel de parede rudimentar é
melhor executado que essa marinha! ”.

Imagem 1 – MONET, Claude. Impression, Soleil levant, 1872


Fonte: Musée Marmottan

Em contrapartida, num artigo publicado pelo jornal Le Siècle alguns dias


depois, o crítico Jules Castagnary fala positivamente do grupo: “Se quisermos
caracterizá-los em uma palavra, será necessário conceber uma nova terminologia.
Eles são impressionistas não no sentido de que representam a paisagem, mas na
sensação que a paisagem transmite. ”. O termo é reproduzido por outros críticos,
pelo público e pelos próprios artistas: “Certa manhã um de nós não havia o preto,
então se serviu de azul: o impressionismo estava nascendo”, escrevera Renoir. “O
tema é secundário, o que eu quero retratar é o que existe entre mim e o tema”,
acrescentou Monet.
Stéphane Mallarmé, poeta, crítico literário contemporâneo dos
impressionistas e até mesmo amigo próximo de alguns dos artistas, propõe uma
análise que aponta o movimento como sintoma de uma crise tripla: metafísica,
estética e política.
A revolução impressionista é primeiramente uma transformação do
tratamento do elemento luz na pintura. Como resultado da nova técnica, muito
teorizada na época, a pintura ao ar-livre. Propaga a difusão horizontalizada da luz
entre os objetos, em detrimento da verticalidade adotada nas obras dos grandes
mestres da arte teológica do passado. No quadro ‘Le Linge’ (1875), de Édouard
Manet, o tema é revelado pela luz. Usando um vestido azul, uma jovem mulher lava
roupas enquanto algumas já estão secando no varal; entre as flores do jardim, a
criança admira as atividades de sua mãe. A iluminação natural do dia penetra e
interfere em todos os componentes da cena, se tornando ela própria o tema central
do quadro, ou seja, o tema fica subjugado à técnica.
Imagem 2 – MANET, Édouard. Le linge, 1875
Fonte: Barnes Foundation

Os objetos só são observáveis graças à sua dependência da luminosidade,


que por sua vez, se manifesta na sua realidade física, como descreve a ciência e
também na sensibilidade estritamente retiniana do olhar que a observa. Essa
percepção colocou o campo artístico sob uma nova ótica e uma consequente
revolução metafísica. Claude Monet desenvolveu estudos detalhados executando
séries de um mesmo tema durante diversas horas a fim de captar o efeito transitório
da luz. Da Catedral de Rouen foram trinta telas no total.
Imagem 3 – MONET, Claude. La Cathédrale de Rouen, 1893/1894
Fonte: https://elizabatz.com/2017/06/21/the-gothic-cathedral-in-rouen-france/la-catedral-de-
rouen-monet/

O desenvolvimento das novas técnicas de representação exige dos artistas


um descondicionamento do olhar que os conduzirá a uma nova experiência estética.
Segundo H.U. Gumbrecht, uma cena qualquer do cotidiano sob uma luz excepcional
e modificação dos moldes situacionais pode sim se tornar uma experiência estética.
Logo, o artista que despe seu olhar da roupagem acadêmica apreendida na sua
formação e se liberta das convenções formais de representação, promove uma
revolução estética independente do seu tempo e gera imagens polissêmicas.
Enquanto os artistas clássicos primavam pelo desenho e a o caráter intelectual de
suas obras, a partir do movimento impressionista eles enfatizam a cor e
sensibilidade, se preocupando deliberadamente com questões de representação e
pintura.

“O artista impressionista é um pintor modernista que, dotado de uma


sensibilidade do olhar fora do comum, esquece tanto os quadros que estão
aglomerados nos museus por séculos, quanto a educação ótica da academia
(desenho e perspectiva, coloridos). Com o hábito de observar franca e
primitivamente os espetáculos luminosos ao ar livre, se propõe a ver naturalmente e
pintar ingenuamente o que vê. ”
“O impressionista vê e retrata a natureza tal como é, ou seja, unicamente em
vibrações coloridas. Nem desenho, nem luz, nem modelo, nem perspectiva, nem
claro-escuro, essas classificações infantis: na realidade tudo isso se resolve com
vibrações coloridas, então, na tela deve se submeter expressamente por vibrações
coloridas. ”
(Jules LAFORGUE, esboço de um estudo escrito em 1883)

Para além da luminosidade, outros aspectos formais estabelecidos pelas


normas acadêmicas até então, passaram por reformulações. A fotografia acabara de
nascer, liberando a pintura do contrato de representação com a realidade. O frame
das cenas se afasta do ideal simétrico para dialogar com o entorno do campo visível
e se aproximar do enquadramento da técnica instantânea da fotografia. Em alguns
casos como no ‘Le déjeuner sur l’herbe’ (1862) de Manet, a técnica é levada às
últimas consequências causando certa confusão de perspectiva: denominado
planarismo, a horizontalização dos planos.
Imagem 4 – MANET, Édouard. Le déjeuner sur l’herbe, 1862
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Le_d%C3%A9jeuner_sur_l%27herbe#/media/File:%C3%89douard_
Manet_-_Le_D%C3%A9jeuner_sur_l%27herbe.jpg

Executada doze anos antes do Salão Impressionista, essa obra participou do


Salão dos Recusados de 1863 chocando o público com a presença de um nu
feminino sem justificativas alegóricas ou mitológicas. Manet se inspira no ‘Il concerto
campestre’ (1509) de Tiziano, pintor do renascimento italiano, substituindo as figuras
mitológicas por personagens reais do cotidiano parisiense da época: seu irmão, seu
cunhado, um amigo escultor e sua modelo preferida, Victorine Meurent, também
retratada em ‘Olympia’ (1863). Negligencia a paisagem ao fundo, abandona os
degrades e exagera nos contrastes, dando a impressão que os modelos retratados
não compõem a mesma cena. Com pinceladas destacadas que prenunciam o
Impressionismo, ele rompe completamente com a arte acadêmica para manifestar
seu espírito livre e inovador.
De acordo com Bertrand Marchal, os pintores impressionistas cumprem pela
arte uma redução naturalista do divino. Os jardins de Monet, os bailes de Renoir, as
bailarinas de Degas, o espetáculo de encantamento com que Berthe Morisot retrata
a banalidade da vida cotidiana, concedendo um caráter sagrado à realidade a partir
da exploração da luz.
Não é possível determinar uma hierarquia entre os pintores, logo eles ficam
sujeitos às oscilações do mercado, que indicam uma relação de baixa confiança
entre produtor e consumidor. Porém, uma dinâmica que permanece válida, ainda
que apenas para fins especulativos. Com a queda do prestígio e inadequação da
academia artística nessa era pós-industrial de novas formas de representação e de
visualidade (fotografia, cinema, etc.), simultâneo ao nascimento do sistema de
comunicação de massa como solução ao escoamento da produção industrial. O
mercado artístico redireciona seus autores e vai consolidando um sistema de
consumo, composto pelos artistas que produzem, os críticos que fabricam opinião,
os marchands que incitam a compra e o público que absorve. Um grande destaque
nesse sistema foi Paul Durand-Ruel, filho de comerciantes de materiais artísticos.
Trabalhando na loja da família que fornecia matéria prima para artistas como
Bouguereau, Cabanel, Delacroix, Paul enxergava potencial nos pintores cuja
produção artística se desvinculava do academicismo. Ele propõe um contrato de
exclusividade com os renovadores de paisagem Camille Corot e Jean-François
Millet. Em 1869, Paul amplia sua galeria e para incentivar os artistas com os quais
trabalha, cria o periódico Revue internationale de l’art et de la Curiosité e organiza
exposições consagradas a um único artista por vez, estruturadas com discurso
crítico e intelectual sobre sua obra para agregar valor econômico.

2.2 ANÁLISE DA OBRA: DEGAS, Edgar. La petite danseuse de quatorze


ans, 1880 (Musée d’Orsay – Paris)
Imagem 5 – DEGAS, Edgar. La petite danseuse de quatorze ans, 1880
Fonte: https://www.histoire-image.org/fr/etudes/degas-sculpteur-realisme-audacieux-petite-
danseuse-14-ans

Degas era muito sensível ao universo das bailarinas. Tema que o permitiu
estudar inúmeras maneiras do corpo humano, seja em repouso ou em movimentos
complexos. Inclusive as cores e tonalidades desse meio eram motivos do fascínio do
artista. Mais da metade das suas obras, entre desenhos, pastéis, óleo sobre tela e
esculturas, representam as jovens meninas do elenco de balé da Ópera de Paris do
século XIX. ‘La petite danseuse de quatorze ans’, também conhecida como ‘Grande
danseuse habillée’, é uma escultura de Marie Geneviève van Goethem, segunda de
três filhas de imigrantes belgas domiciliados num bairro pobre de Paris. Seu pai,
alfaiate e sua mãe, lavadeira, tinham problemas financeiros constantes. Marie, assim
como suas irmãs, frequentaram as aulas de balé da Ópera de Paris, onde meninas
de baixa renda eram aceitas a partir dos dez anos em busca da ascensão social
através da dança. No entanto, a realidade das jovens dançarinas, que eram
vulgarmente chamadas de “petits rats” da Ópera, era obscura pois após os
espetáculos, os senhores da burguesia aguardavam-nas na coxia para encontros
sexuais. Momentos que podemos observar em algumas obras de Degas, inclusive,
onde ele mostra o cotidiano das bailarinas e em segundo plano, as silhuetas desses
homens. O destino da maioria das jovens dançarinas, na melhor das hipóteses, era
se tornarem cortesãs.
Imagem 6 – DEGAS, Edgar. Estudos para La petite danseuse de quatorze ans
Fonte: http://pictify.saatchigallery.com/956640/edgar-degas-quotla-petite-danseuse-de-14-
ansquot-la-triste-storia-di

Marie foi admitida na Ópera aos treze anos e pousou para o artista com
quatorze. Quatro anos mais tarde, sua irmã mais velha, é detida após cometer um
furto. Então, Marie que já se prostituía, acumula uma série de faltas no curso e
acaba por ser dispensada do grupo. Com 17 anos, alvo de uma má reputação, tem
um trágico fim. Porém, seria imortalizada através do trabalho de Degas, que
ambicionava romper com o academicismo escultural e desconstruir o ideal de beleza
vigente. Entretanto, as críticas da época reagiram violentamente acusando-o de uma
representação grosseira e animalesca, comparável à um macaco ou uma figura
asteca, classificando o trabalho como taxidermista. Em detrimento de materiais
nobres como o mármore e o bronze, Degas escolheu executar a escultura em cera
colorida para se aproximar ao aspecto da pele humana. Após sua morte em 1917,
foram descobertas mais de 50 estátuas de cera no seu ateliê, restauradas por seu
fiel amigo e também escultor, Paul-Albert Bartholomé. Em 1921, Adrien-Aurélien
Hébrand fabricou um molde de ‘La petite danseuse’ para preservar todos os seus
detalhes em uma reconstrução em bronze. As primeiras peças e a original se
mantiveram com a família dele até 1955, quando o colecionador Paul Mellon as
compra com reservas de usufruto para a Galeria Nacional de Arte de Washington. O
museu realizou uma radiografia do protótipo cuja estrutura se revelou em vários
pincéis que sustentam os braços e pernas.
Imagem 7 – DEGAS, Edgar. Radiografia de La petite danseuse de quatorze ans
Fonte:
https://get.google.com/albumarchive/116785872448386935525/album/AF1QipPShPWYOGlEJrsi
LItKHffuU6jhQgis_kRL9xGk/AF1QipPALECJ-
vqGU3NhEi_GGARxJimEEqXowRGwMSsK?source=pwa#6103282432601534450

Imagem 8 – DEGAS, Edgar. La petite danseuse de quatorze ans. Exemplar nu em Ny Carlsberg


Glyptotek – Copenhagen/Dinamarca)
Fonte:
https://en.wikipedia.org/wiki/Little_Dancer_of_Fourteen_Years#/media/File:La_Petite_Danseuse
_de_Quatorze_Ans_by_Edgard_Degas,_1881_-_Ny_Carlsberg_Glyptotek_-_Copenhagen_-
_DSC09283.JPG

A escultura tipo vulto, observável de qualquer ângulo, é instalada sobre um


sóculo quadrado de madeira. Incarna uma jovem bailarina, com semblante sério e
concentrado. A esbelteza do seu corpo remete à uma criança malnutrida. Em
posição estirada, eleva o rosto para o alto e fixa as mãos paralelamente nas costas.
Tem o busto ereto, os ombros direcionados para trás e clavículas acentuadas. Ela
tem os joelhos valgos e o pé direito colocado adiante de seu corpo. Com atitude de
repouso, está na quarta posição do balé clássico. Transitando entre o real e o
fabuloso. Ao mesmo tempo que não tem a escala real de uma jovem menina, suas
proporções em 98 centímetros de altura provocam um efeito incômodo. A obra se
aproxima tanto da realidade que o artista chega ao ponto de vesti-la com um
verdadeiro tutu em tule e sapatilhas de bailarina, assim como uma peruca de
cabelos amarrados por um laço de cetim. Atualmente, cada museu a veste com um
tutu diferente.
A escultura foi anunciada pela primeira vez no catálogo da quinta edição do
Salão dos Impressionistas, em Paris no ano de 1880. Porém, as modificações de
escala e estrutura obrigaram Degas a adiar sua divulgação. No ano seguinte, com
mais dez dias de atraso, ele finalmente expõe ‘La petite danseuse’ em uma redoma
de vidro para afirmar seu status de obra de arte. Em contrapartida, ela escandalizou
o público e a crítica, pelas técnicas empregadas e sobretudo pelo tema, uma vez
que entre a sociedade da época, o balé da Ópera de Paris escondia um sistema de
pedofilia e prostituição.

2.3 OS ISMOS DA ARTE MODERNA

Conforme o livro Modernidade e Modernismo, a maneira como classificamos


e associamos obras de arte e a situação na qual as inserimos, relativiza a maneira
como as vemos. Para classificar o que é a Arte Moderna, é necessário estabelecer
os pontos de referência relevantes a partir do contexto, das características e
categorias.
O moderno, por definição, é o que é atual, do presente. Enquanto adjetivo,
se contrapõe aos remanescentes do passado, sejam eles recentes ou distantes,
mas que sejam tidos como tradicionais. Igualmente, também podemos entender
como as diferenças dentro do presente e em relação ao passado. Mas se falamos
de uma perspectiva temporal, é um período na História, assim como sua produção
artística baseada em determinados critérios. Por exemplo, ao mesmo tempo que na
década de 1870 a 1880 ainda havia uma produção pictórica acadêmica que seguia
os cânones clássicos (William-Adolphe Bouguereau e Alexandre Cabanel), surgiam
pinturas revolucionárias com temas contemporâneos e técnica mais livre (Édouard
Manet, Claude Monet, Berthe Morisot). Charles Baudelaire, poeta boêmio e teórico
de arte classifica os artistas do segundo caso como um grupo com um amplo
conjunto de interesses, que ele chama de modernité: uma atitude específica para
com o presente na construção de um sentido diferente. Uma experiência particular
de modernidade que não é estática, ou seja, está em constante transformação.
Se sobrepostos num plano linear, os movimentos de vanguarda se
localizariam na extremidade posterior à Arte Moderna, cujo engajamento daqueles
que tinham compromisso social e político se deu por estratégias para questionar,
além das convenções formais e formas de representação, as instituições culturais e
estruturas de poder. São eles:
• Fauvismo: movimento exclusivamente francês, teve o nome criado pelo
crítico de arte Louis Vauxcelles, após visita ao Salão de Outono de 1905 no Grand
Palais. A sala VII, onde estavam expostas obras de jovens pintores, ficou conhecida
como “La cage des Fauves” em função das cores vibrantes e como foram postas
nas telas. A reação do público, que não estava habituado com esse tipo de pintura,
foi violenta. Camille Mauclair, crítico do jornal Le Figaro descreve metaforicamente:
“lata de tinta arremessada na cabeça do público”. Ocorreu simultaneamente ao
Expressionismo na Alemanha, que apesar da similaridade na representação, é
caracterizado por uma atmosfera angustiante. A dinâmica do fauvismo é mais
positiva e vigorosa. O desenho figurativo tende à simplificação das formas e a cor é
utilizada livremente, sem corresponder necessariamente à realidade. A paleta
cromática é intensa e as pinceladas são vivas e marcadas. As cores são trabalhadas
em manchas ou planos, com alto contraste entre si. Não há degrades nem nuances.
É um movimento de continuidade aos estudos iniciados por Cézanne no
Impressionismo, com a simplificação das formas e o trabalho das cores. Os
principais fauvistas foram Henri Matisse e André Derain.
O fauvismo abre portas para uma abstração cada vez mais marcada na sua
composição formal e se torna fio condutor para o surgimento da arte abstrata
posteriormente. Muitos artistas vão perseguir questionamentos a respeito da cor,
como Yves Klein e Mark Rothko.
Imagem 9 – MATISSE, Henri. Calme et Volupté, 1904
Fonte: http://iqa-cert.com/henri-matisse-coloring-pages/henri-matisse-coloring-pages-elegant-
file-henri-matisse-1904-luxe-calme-et-volupte-oil-on-canvas/

• Pontilhismo: denominado divisionismo na Itália e cromo-luminarismo na


França, é um fenômeno artístico derivado do neo-impressionismo. Se caracteriza
pela técnica de justaposição individual de pontos ou pinceladas, em detrimento do
método tradicional de mistura de pigmentos na paleta de pintura. Análogo ao
quadrícromo divisional utilizado por impressoras que agrupam pontos de ciano,
magenta, amarelo e preto para obter uma imagem, ou monitores eletrônicos com
escalas de vermelho, verde e azul. Ou seja, requer da capacidade ótica do
espectador para resultar numa gama completa de tons. Com a herança da
prevalência da luz impressionista, os divisionistas acreditavam que através dessa
técnica poderiam atingir a máxima luminosidade cientificamente possível. Um dos
principais nomes da corrente, o pintor francês Georges Seurat desenvolveu seu
trabalho com base nos estudos do químico francês Michel Eugène Chevreul e do
físico americano Ogden Rood. Após a morte de Seurat, Paul Signac se torna o
principal representante da técnica, que também pode ser observada em alguns
quadros de Vincent van Gogh e Robert Delaunay.
Imagem 10 – SEURAT, Georges. Um dimanche après-midi à la Grande Jatte, 1884
Fonte: Art Institute of Chicago

• Nabismo: composto por discípulos de Paul Gauguin, foi um coletivo de


pintores simbolistas e entusiastas do esoterismo e da teosofia, reunidos na
Academia Julian em Paris. O nome Nabis, que significa ‘profetas’ em hebreu, traduz
a busca espiritual do grupo e de renovação estética através do imaginário e da
subjetividade. O movimento se subdividiu em duas correntes: a primeira de caráter
sagrado, conduzida por Maurice Denis e sua vontade de reformular a arte religiosa
por meio da simplificação formal. Influenciada pelo sintetismo de Gauguin, que
recomendava o desprendimento da realidade para uma representação real, guiada
unicamente pelo espírito do artista. A segunda mais profana, com traços que
remetem aos temas mundanos de Edgar Degas, com retratos elegantes, cenas de
interiores burgueses, banhos femininos, etc. Os nabis cultivavam profunda
admiração pela arte japonesa e reivindicavam o direito da pintura decorativa,
atuavam em diversas áreas como ilustração e teatro. Em publicação na revista Art et
Critique de 1890, Maurice Denis rebatiza o movimento de neo-tradicionismo: “um
quadro, antes de ser um cavalo de batalha, uma mulher nua, ou qualquer outra
narrativa, é essencialmente uma superfície plana coberta por um determinado
arranjo de cores”. Abaixo a pintura que inaugurou o movimento:
Imagem 11 – SÉRUSIER, Paul. Le talisman, 1888
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_S%C3%A9rusier#/media/File:Serusier_-
_the_talisman.JPG

• Dadaísmo: no contexto da Primeira Guerra Mundial, o movimento


dadaísta surge num território neutro, em Zurique na Suíça, como uma reação contra
a brutalidade daquele tempo. Tanto na Europa quanto na América, jovens artistas
como o escritor Hugo Ball, o pintor e arquiteto Marcel Janco, o artista visual Marcel
Duchamp e o poeta e fundador da corrente, Tristan Tzara, tentam remodelar a arte
com leveza, liberdade e humor. Se reúnem no Cabaret Voltaire para apresentar e
assistir manifestações artísticas. Com jogos de palavras, buscam atribuir a elas uma
conotação positiva a fim de refutar a linguagem e a lógica operandi. Nas artes
visuais, uma imagem Dada se caracteriza pela espontaneidade da sua criação,
explorando o caráter performático da ação.
Imagem 12 – Primeira exposição dadaísta em Berlim, 1920
Fonte: https://zoraburden.weebly.com/dada-100-cabaret-voltaire-zurich.html

• Surrealismo: após constatar a incapacidade do Dadaísmo de


reconstruir valores positivos em contraposição à arrogância racionalista do final do
século XIX, os surrealistas abandonam o movimento para criar o seu próprio,
publicando o Manifesto Surrealista em 1924 onde eles definem: “Automatismo
psíquico puro pelo qual pretendemos expressar, seja verbalmente, seja de outra
maneira, o funcionamento real da mente. O pensamento, excluso de qualquer
controle racional e preocupação estética ou moral. O surrealismo se baseia na
crença de uma realidade superior de determinadas formas de associação antes
negligenciadas, na supremacia dos sonhos e na dinâmica desinteressada da
mente.”. Idealizado pelo escritor André Breton, o surrealismo se aplica inicialmente
na literatura com experimentos de linguagem manifestada de forma espontânea.
Rapidamente o conceito se estende para as artes plásticas, fotografia e cinema.
Num contexto onde se desenvolvem os estudos do inconsciente e das forças
irracionais pelo psicanalista Sigmund Freud, os artistas surrealistas buscam
evidenciar a teoria da liberação do desejo, inventando técnicas de reprodução dos
mecanismos dos sonhos. Inspirados na obra do pintor italiano Giorgio de Chirico,
reconhecida como fundadora da estética surrealista, eles se esforçam para
minimizar o papel da consciência e da intervenção deliberada da vontade. O
frottage, método de produção criativa através da fricção de uma ferramenta de
desenho sobre uma superfície texturizada, de Max Ernst, os desenhos automáticos
de André Masson, as raiografias de Man Ray são os primeiros exemplos. Pouco
depois, Joan Miró, René Magritte e Salvador Dalí produzem imagens oníricas que
organizam elementos díspares. A primeira exposição coletiva do grupo aconteceu
um ano após sua formação em Paris e atingiu renome internacional. A notoriedade
foi reforçada durante a Primeira Guerra Mundial com a imigração da maioria dos
artistas para os Estados-Unidos, onde sua influência fica evidente no Action Painting
de Jackson Pollock por exemplo.

Imagem 13 – DALÍ, Salvador. La persistència de la memòria, 1931


Fonte: http://cronicadexalapa.com/30-anos-sin-el-surrealismo-de-salvador-dali-genio-
indescifrable/

• Cubismo: representado por Pablo Picasso e Georges Braque, o


movimento surge como uma reação ao naturalismo das obras do século XIX
rompendo com as noções de profundidade e revolucionando a representação formal
através da geometrização. Muito influenciado pelo purismo de Cézanne, que em
muitas obras revisitou a perspectiva renascentista deformando volumes e planos. O
cubismo subdivide-se em três períodos:
Cubismo Analítico (1908-1912): analisa a forma natural e a reduz em
uma simples geometria de duas dimensões com pouca variação de cor. Os artistas
desconstroem o espaço e os objetos utilizando colagens e ilusões de ótica.
Cubismo Sintético (1912-1919): nesse período as colagens e a
sobreposição de cores e objetos se intensificam.
Cubismo Órfico (1914-1920): tem relação com a mitologia grega e as
doutrinas de Pitágoras. Os artistas se encaminham para uma maior abstração a fim
de expressar um ideal de existência infinito.

Imagem 14 – PICASSO, Pablo. Les demoiselles d’Avignon, 1907


Fonte: https://www.etsy.com/sg-en/listing/583495978/picasso-les-demoiselles-davignon-1907

• Futurismo: teorizado pelo escritor italiano Filippo Marinetti no Manifesto


do Futurismo em 1909, o movimento se caracteriza por uma busca de expressão
pictórica, dentro de uma conjuntura de pré-guerra e ambiência tensa onde jovens
artistas desejam mudar o mundo radicalmente destruindo os valores do passado. De
temperamento combativo, alguns chegam a defender com extremismo valores
radicais. Eles são fascinados pelo modernismo e pela máquina, sobretudo pelas
máquinas de guerra. São nessas bases que eles acreditam construir um novo
mundo, fundado no poder da máquina. A motivação do movimento é revolta e
revolução. Com influência cubista, não raro se observam formas geométricas nas
obras, porém em desacordo com o caráter estático, buscam dinamismo e
velocidade. Quanto mais rápido um corpo se move no espaço, mais abstrata se
torna a percepção dele. Manet já havia questionado a percepção das cores e formas
em movimento tentando reproduzi-los no quadro de uma corrida de cavalos, onde o
que se percebe não são os objetos em cena, mas o movimento deles. Com os
avanços tecnológicos da fotografia e do cinema, os futuristas vão aperfeiçoar esse
conceito decompondo o movimento de maneira precisa. Ainda que o tema das
máquinas de guerra seja frequente, em muitos casos a representação do movimento
é abordado com leveza e um certo humor como no caso de ‘Dynamism of a dog on a
leash’ (1912) de Giacomo Ball. Outros nomes que se destacaram: Umberto Boccioni,
Carlo Carrà, Gino Severini e Luigi Russolo.

Imagem 15 – BALLA, Giacomo. Dynamism of a dog on a leash, 1912


Fonte: https://geracaotristecooldebraslia.bandcamp.com/album/dinamismo-de-um-c-o-na-
coleira
3 CONCLUSÃO

Analisando o contexto no qual o Impressionismo se desenvolve, inicialmente


como uma revolução formal onde os artistas começam a questionar as normas
canônicas das academias, podemos entender como a nova proposta é absorvida
pelo público e consequentemente, a dinâmica gerada no mercado artístico como um
regime de consumo. Assim como os estudos cada vez mais detalhados dos
conceitos formais e fenômenos socioculturais abordados pelos movimentos de
vanguarda do início do século XX.
REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS:

LAFORGUE, Jules. Textes de critique d’art. Réunis et présentés par Mireille


Dottin. Lille : Presses universitaires de Lille, 1988.
MARCHAL, Bertrand. La Religion de Mallarmé. Paris : José Corti, 1988.
MALLARMÉ, Stéphane. Œuvres complètes. Tome II. Édition de la
Bibliothèque de la Pléiade, établie par Bertrand Marchal. Paris : Gallimard, 2003.
FRASCINA, Francis; NIGEL, Blake; FER, Briony; GARB, Tamar;
HARRISON, Charles. Modernidade e Modernismo – A pintura francesa no Século
XIX. São Paulo : Cosac Naify, 1998.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Pequenas crises: experiência estética nos
mundos cotidianos. In: Comunicação e experiência estética. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2006.

WEBGRÁFICAS:

https://education.francetv.fr/matiere/arts-visuels/cinquieme/article/les-debuts-de-l-
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http://www.ladilettantelle.com/article-les-femmes-dans-la-peinture-impressionniste-
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https://francearchives.fr/fr/commemo/recueil-2013/40063

https://www.spectacles-selection.com/archives/expositions/fiche_expo_I/impression-
soleil-levant-V/charivari/le-charivari.htm

http://www.leparisien.fr/culture-loisirs/et-monet-fit-grande-impression-16-08-2016-
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https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/as-trinta-telas-da-catedral-de-
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https://www.grandpalais.fr/fr/article/qui-est-paul-durand-ruel
https://www.histoire-image.org/fr/etudes/degas-sculpteur-realisme-audacieux-petite-
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http://www.le-pointillisme.com/pratique.html

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