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Revista Filosófica de Coimbra
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venção das forças militares que precisamente neste momento em que escrevo
destroem uma inexistente Cabul , ainda submetida a um desprezível regime dos
talabâ (singular : talibã) incapaz de estudar e praticar o espírito de vida que habita
a mensagem do Alcorão e, por conseguinte , miserável desfiguração do islamismo
que me habituei a conhecer : cultura da tradução, do acolhimento , da mediação e
da hospedagem, dos progressos científicos, enfim , daquelas formas de arte que
se desenvolvem como arabescos porque no seu coração habitam os contornos
inexplicáveis das virgens prometidas ao que é digno de paz, salam.
mais acertado o lema sob cuja égide de facto o presente Encontro científico se
pôde reunir: Henrique de Gand enquanto transformador do pensamento filosófico
do século XIII. Para o provar, basta seguir as várias sessões que passamos a relatar
de maneira desigual embora pela ordem da sua apresentação.
Como vem sendo tradição (embora tudo indique doravante de difícil sus-
tentação no plano do método) os trabalhos iniciaram-se com o tema metafísico e
teológico. Com a competência de neoplatonista que internacionalmente se lhe
reconhece, o Prof. Carlos STEEL (KUL) interrogou-se sobre o qualificativo de
«platónico» que tem sido atribuído ao Gandavense (a atribuição foi v.g. divulgada
por Marsilio Ficino 1). Com o título «Henricus Gandavensis Platonicus'?» a sua
comunicação em língua inglesa foi sobretudo um pormenorizado exame aos
primeiros artigos da Summa, tendo sido particularmente sublinhada a tansfor-
mação epistemológica de uma distinção que em Platão é cosmológica; assim, no
art. 2, qu. 2, o duplo exemplar do T meu (facnui! arque elaboratim, e pc rpcntum
arque immutabile) passa a ser visto, por Henrique, como razão de conhecimento
das coisas: enquanto species accepta a re e causa rei (fol. IOr).
O Dr. Juan Carlos FLORES (Boston College), que defendeu recentemente o
seu doutoramento centrado no exame das páginas trinitárias cia Sitinina, e tendo
como objecto formal de estudo o lema da substância e da relação como modos
do Ser incriado, aproveitou a oportunidade para publicitar uma parte da sua
dissertação. Apesar do tom ambicioso do título, «Intellect and Will as a Nature:
Connecting Theology, Metaphysics and Psychology in Hcnry of Ghent», ele
mostrou-nos de forma impecável a identidade em Deus da relação e da substância
e que as emanações interiores que constituem a Trindade são as causas das
emanações exteriores ou criativas. Nunca será demais sublinhar a relevância da
doutrina trinitária num teólogo cristão, mas o que houve de notável nesta
comunicação prende-se ao contributo para unia definição clara da categoria da
relação como figura económica do pensar de Henrique de Gand. O tema, aliás.
tem sido inteligentemente estudado pelo Prof. Jos DECORTE (KUL) - a alma
organizadora deste Colóquio que infelizmente nos deixou logo na quinzena
seguinte, vítima de um criminoso acidente de viação - cuja lição, «Relation and
Substance in Henry of Ghent's Metaphysics», representou, sem o sabermos
então, a sua derradeira palavra sempre atenta à novidade da teoria Gandavensc,
tão crítica quer em relação a Aristóteles quer em relação a Tomás de Aquino.
Como homenagem dolorosamente sentida a este nosso Amigo (Zwevezele 1954
1 Vd. no entanto o nosso « EI uso de AristóteIes por Enrique de Gande^> in Enciclopedia Ibérica
de Filosofia (Madrid, no prelo).
hierárquica das noções, tão henriquinas, verurn, ventas e sincera ventas. Propôs-
-se a sua leitura em confronto com a teoria de Tomás de Aquino a fim de destacar
a função sistemática da teoria por parte de Henrique. Esta comunicação teve,
assim, a virtualidade da crítica e da problematização: qual a plausibilidade da
distinção verum/veritas? Qual o papel da fórmula da adaequatio em Henrique?
E do conceito de ars divina? E do seu duplo estatuto ontológico e epistemológico,
que já tinha sido abordado, em ângulo distinto, por C. Steel?
No mesmo dia em que entregou pronto o manuscrito do que será o mais
recente volume dos Opera Omnia (Summa art. 47-52), o Prof. Markus FÜHRER
(Augshurg Collegc, Min.) falou sobre «Henry of Ghcnt and the Paradox of Self-
Deception» com a particularidade, única no Colóquio, de fai.cr dialogar tal tema
com o contributo da filosofia analítica. A sua tese pretendeu provar como o
tratamento henriquino se distingue do contemporâneo ao integrar-se no quadro
do domínio da vontade humana e não no estado cognitivo da mente humana.
Daqui se seguiu a curiosa tentativa de mostrar como Henrique de Gand resolveria
com originalidade o paradoxo daquele que se engana a si próprio mediante
distinções relativas lá tese da supremacia da vontade sobre o intelecto.
O signatário, Prof. Mário S. de CARVALHO (Universidade de Coimbra) abriu
os trabalhos do terceiro dia procurando reconstituir «The Unwritten section of lhe
'Summa'», sobretudo aquela que deveria tratar «De Creaturis Como se sabe,
este problema ainda ene aberto foi inaugurado por R. Macken na introdução à
edição crítica do primeiro volume da Sotaina e à medida que os volumes forem
publicados o problema poder-se-á clarificar. No entretanto, procurou-se definir
com cautela e conjectural idade o plano de um futuro «De Creaturis», dando relevo
à sua compatibilidade com o nexo da tripla causalidade (final, formal e eficiente)
tão característica do Gandavense.
Seguiu-se a contribuição do Dr. Mathias LAARMANN (Buba-Universitát
Bochum) «Die Lehre von Gott aIs dem Erstgewollten hei Hcinrich von Gent im
Kontext der thcologischen Diskussion des 13. Jahrhunderts». A doutrina de Deus
como prinnmi volitum, que já foi objecto de vários estudos e autores, merecia esta
leitura sistemática em contexto que incidiu. agora, sobre o Quudlibcl XIII, q. 9
e que irá constituir decerto referencia obrigatória dada a feliz prol'undidade e
exaustividade com que, em fidelidade ao escrito de Henrique, o autor tratou da
divisão do bem, bonunl, aspecto cuja indagação é de inaugural importância.
Com o Dr. Martin STONE (University of London) regressou-se aos temas
cada vez mais presentes da filosofia prática: «Hcnry of Ghent on Human Action
and Freedom», foi uma abordagem que, por provir de unia não especialista, soube
situar o contributo de Henrique de Gand a uma luz estimulante de novas reflexões,
sobretudo por não se restringir ao quadro da chamada superioridade da vontade
sobre o intelecto, perspectiva abundantemente tratada, como já se viu.
O notável especialista de Avicena, Dr. Jules JANSSENS (K.U.L) demonstrou
uma vez mais a amplitude, o valor e as limitações do conhecimento que Henrique
2 Gostaríamos , cm qualquer caso , de deixar a seguinte nota informativa , sobretudo para uma
época mais tardia: no grupo dos Serviras ( devo esta primeira informação ao Prof. José PEREIRA)
temos bs nomes de: HENRICUS ANTONIUS BURGUS. Henrici Gandaven .çis paradora theologica
ei philosophiccr, 1627: BENEDETO ANGELO MARIA CANALI (± 1734), Cursos philosophicus ad
mentem Henrici de Gandia; MICHELANGELO GOSIO, Sunana philo s ophica ad nrentent Henrici
Gandaren s is, 1641 ; GIORGIO SOGIA ( t 1701) - [Maltese ?]; ANGELO MARIA VENTURA, Magisti
Henrici de Gandia philos ophica tripartita , 1701. Um nome Trinitariano : ANTONIO DE ZAMBRANA
DAVILOS ( 1695), Comrnentariurn ia Prologum Sententiarum Magistri Henrici Gandavensis;
mais próximo do tempo de Henrique de Gand , o seu discípulo JOÃO de ANNEUX (c. 1250/70-
-1328), Miroir des ruis (em francês medieval), Tractatus de obedientia exhibenda pastoribus a laicis
vel de cont'essionibus , e l ractaius contra Fratres ( editados por S. Stracke - Neumann, Mammendorf
1996).
referir que esta tarefa foi precedida pela viva comunicação do Prof. Kent
EMERY Jr. (University of Notre Damc, Ind.) intitulada «An Edition of Hcnry of
Ghent's Quodlihet III: The Status Quaestionis». Se o autor pretendeu fornecer aos
novos colaboradores algumas indicações sobre o tipo de trabalho que os espera,
o seu crítico tiro foi sobretudo certeiro ao visar de forma severa todas as
instituições europeias e norte-americanas que, governadas exclusivamente por
critérios económico-financeiros (ou economicistas, como se diz entre nós de forma
ridícula), põem em risco a prossecução do notável e imperioso trabalho histórico-
-filológico que é a edição crítica. Seria desolador que o século XXI esquecesse
uma das mais belas criações do século XIX voltando-lhe as costas sobran-
ceiramente, i.e., promovendo o esquecimento do lugar de onde viemos na terrível
qualidade de senhores do ocaso.
s Henrv of Ghenl. Proceedings «[lhe /n 'rnutiunul Colloquium un the Oceasion a¡Nie 70oth
Annivercm_v ef His Death (/293), editcd hy W. VANHAMEL (Lcuven University Press, 1996. 457pp):
J. AERTSEN. Transcendental Thought in Henry of Ghent; J.V. BROWN. Henry's Thcory of Know-
ledge: Henry of Ghent on Avicenna and Augustine; M.S. de CARVALHO. The Prohlem of the Pos-
sible Eternity of the World according to Henry of Ghent and His Historians: J. DECORTE. Henry of
Ghent on Analogy. Critica] Retlexions on Jean Paulus ' Interpretation; J. RECORTE. Aristotelian
Sources in Henry of Ghent (Workshop): J.Mc EVOY. The Sources and the Significance of Henry of
Ghent' s Disputed Question 'Is Friendship a Virtuc'?': L. HÓDL. 'Copia' und Schultradition der Summa
des Heinrich von Gent; J. JANSSENS, Some Elements of Avicennian Influcnce on Henry of Ghent's
Psychology; M. LAARMANN. Gos as 'Primum cognitum'. Some Remarks on the Theory of Initial
Knowledge of 'Esse' and God According to Thomas Aquinas and Henry of Ghent; S.P. MARRONE.
Henry of Ghent in Mid-Career as Interpreter of Aristotle and Thomas Aquinas: P. PORRO. Possihililà
ed 'esse essentiae' in Enrico di Gand: B.B. PRICE. Henrv of Ghent and the Tension ei Econotnies:
R.J. TESKE, Henry of Ghent's Rejection of the Principie: 'Omne quod movetur ah alio movetur':
Ch. TROTTMANN, Henri de Gand, Source de Ia Dispute sur Ia Vision Rcllexive; G.A. WILSON,
Supposite in the Philosophy of Henry of Gheni: P. PORRO. An Historical Image of Henry of Ghent:
P. PORRO, Bibliography.
a De maneira exclusiva , ou apenas parcialmente lidando com Henrique de Gand, vd. os nossos
estudos seguintes : « Para a História da Possibilidade e da Liberdade . João Duns Escoro , Guilherme
de Ockham e Henrique de Gand», Itinerarium 40 (1994), 145-180; «Para um outro modelo de
Investigação das Relações entre razão e fé no século XIII», Itinerartum 41 (1995), 19-44;«A 'Summa'
de Henrique de Gand», Revista Filosófica de Coimbra, 4 (1995), 439-449; em parceria com J. F. Mei-
rinhos - «Chronique nationale - Portugal (1989-1995 )», Bulletin de Philosophie Médiévale 37 (1995),
249-266; «' Inter Philosophos non mediocris contentio '. A propósito de Pedro da Fonseca e do contexto
medieval da distinção essência/existência », in Quodlibetaria . Miscellanea studiorunt in honorem Prol:
J. M. da Cru;. Pontes anho iubilationis suae offertae Conintbrigae MCMXCV. Cura Marii A. San-
tiago de Carvalho , iuvamen praestante Josephi Francisco Meirinhos, ( Mediaevalia . Textos e Estudos,
7-8), Porto, 1995, 529-562; Henrique de Gand. Sobre a Metafísica do Ser no Tempo (Questões
Quodlibéticas 1, 7/8-9 e / 0). Edição bilingue . Versão do latim , introdução e notas; Prefácio e
restabelecimento crítico do texto latino de Raymond Macken ( Colecção Textos Filosóficos 41), Lisboa,
Edições 70 , 1996, 175 p .; « A essência da matéria prima em Averróis Latino ( com uma referência a
Henrique de Gand)», Revista Portuguesa de Filosofia 52 (1996), 197-221; «La pensée d'Henri de
Gand avant 1276: Les erreurs concernant Ia création du monde d ' après Ia ' Lectura Ordinaria Super
Sacram Scripturam'», Recherches de Théologie ancienne et ,nédiévale 63 (1996 ) 36-67 ; «Raimundo
LlulI, Sigério de Brabante e o problema do primeiro hotneni », Revista Filosófica de Coimbra 5 (1996).
361-384; « Conspecto do Desenvolvimento da Filosofia em Portugal ( Séculos X111-XV)», Revista
Espaitola de Filosofia Medieval 4 (1997), 131-155; Roteiro Tentútico-Bibliogrú(ico de Filosofia
Medieval ( Colecção Textos Pedagógicos e Didácticos 6), Lisboa, Edições Colibri-Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra , 1997, 98 p ; « A Idade Média filosófica terá sido aristotélica ?», Humanita,r
50 ( 1998) 41)9-506;«Prole gúmcno% para uiva remissão do horizonte Iti,lnri al da evidencia ,aile,i:ma-•,
ir] Descartes. Reflexão .cobre a Aludrrnidude. Actas do Colóquio Internacional (Porto 18-20 de
Novembro de 1996). Coordenação de Maria Jose finto Canlisla e Jose Francisco Meirinhos. Tucuns
Fundação Eng António de Almeida, 1995, p. 121-151:<Iloman e Naturcia em Ilenrigne de Gand,
uma mudança de rumo na antropologia :wguslinistu Vrritas 4-1: 3 (10')'i), p. 671)-694: •Mediecal
Inlluences In lhe Coimbra Connncntarics (An Inquine Isto lhe Foundations ol Jrsuit Educatiou),.
l'atrìaticu et Medirreruliu 20 (1999), p. 19-37;„Suórez: Tempo e Duração,., in 17,utri.cru .Surirr (l ? 11'-
1617). Tradi(vm e Modernidade. Coordenação de A. Cardoso, A.M Martins & L.R. dos Santo,. Lisboa:
Edições Colibri, 1999, p. 65-S0:'.Sohre o Projecto do 'Traclatus de productione crcatuiae'de Ienrique
de Gari(]>,, Mediarralia. Tectos e banidos 11-12 (1997), 211-230:,.Le Lam_age de la Cieation cl LEnjeu
de Ia Causalité dans quelqucs Textos Théologiqucs 'De iEternitate Mundi'« til L'Elabnatio„ du
Vocabulaire Philosopliique an Aluem A,ge. Acres du Colloque international de Louvain-lu-Neuve et
Leuven 12-14 septembre 1998 organise par Ia S.I.E.P.51. edites par J. Hamcsse et C. Steel. 'furnhoul:
Brepois 2000, 293-321; A Novidade do Ahutdo: Henrique de Gand e a Aleta(í.cira da Tempnrulidurle
no Século XIII Lisboa: Fundação Calouste Gulhenkian - Fundação para a Ciência e a Tescnologia
(Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas). 2001. (i84p : Fsmdos Sobre AIro,o Pais e
Outros Franri.ccanos (Séculos X111-XV), Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda (Estudos Gerais.
Série Universitária), 2001, 347p.: «O que significa pensar? Henrique de Gand em 12,86 e os 1lorizonles
da problemática rnonopsiquista: 'Contra fundamenta Arislotelis°'» Reri.sta Filo,uof ca de Coimbra
10 (2001) 69-92: «The Concept of Time According to The Coimbra Connnentaries» , li) 77te Medi-
eval Concept o(Time. Siudies on Me Seholaatie Debate anil lts Rei eption in Lar/r Modero l'hiln.cu-
phv, edited hy P. Porro, Leiden - Boston - Kdln: E.J. Brill. (Studien und Teste zur Geistesgeschielite
des Mittelal(ers 75), 2001, 353-382.
L'université sans condition, um dos quatros títulos que marcaram este ano a rentrée
derridiana t , bem poderia, muito simplesmente, chamar-se A desconstrução da Univer-
sidade. Com efeito, esta obra, que materializa unia conferência proferida em inglês na
Universidade de Standford, na Califórnia, em Abril de 1998, com o título inicial de
L'arenir de la profession ou L'unirer'site sons condition (grâce aux " Hummnilés'', cc qui
pourrait avoir lira demain ), é a cena de um apelo do filósofo-escritor-professor de língua
francesa, Jacques Derrida, ò Universidade. Um apelo na Forma de uma /e 'faroç'ao ou de
uma profissão de fé na Universidade. Não tanto na que existe, hoje, mas na Unircrsidcule
por vir, naquela que, a partir da sua própria história, urge reinventar e que aqui, nesta obra,
o filósofo saúda sob a designação de «univcrsilé sans condition '. 1Inia Universidade que,
se vier, se vier a ter lugar (a profissão de Je é também uni desejo e unia promessa! Note-
-se o itálico do subtítulo: «ce qui pourrait (Ivoir tico...>,), vem ^rak-a.c h.r "Humanidades.'
a outras ''Hunurnidade.c» elas tanibéni ainda por rir: «ceei - cun/essa o iacipit desta obro
que é também unia obra ''sobre" a obra - seta sons dou te comeu' une profcssion de foi:
Ia profcssion de foi d'un prolesscur ]...] im appcl cri forme de profcssion de foi: foi en
I'université et , cri elle , foi eu Ies Humani(és de demain.», (p. 11 ). Fé, pois, 1 iiiversidade
e nas '' Humanidades " de amanhã. Numa palavra, /é no amanhã que, conto sugere o título
pensativo 2 De quoi demain..., é menos o futuro do que o porvir. Fé no porvir graças a
uma Universidade que se pensa e se vive como palco de «une libcrté inconditionnclle de
questionnement et de proposition.», (p.11), e que é por isso e por princípio «un ultime
liou de résistance critique - et plus que critique - à tous les pouvoirs d'appropriation
dogmatiques et injustes», (p. 14). Unia Universidade incondicionalmente livre na sua
instituição, palavra , escrita e pensamento. O que deixa pressentir nesta "tese" derridiana
em forma de profissão de fé, neste «engagement déclaratif», (p. 1 1 ), uni apelo, não menos
urgente e imperativo, a uma responsabilidade, ela também, incondicional.
1 Os outros são: Papier Machine, Galiléc, Paris, 2001; Atlan. Gallimard, Paris, 2001 e, com
E. Roudinesco, De quoi demain..., Fayard/Galiléc, Paris, 2001.
2 Um título ditado por um poema de V. Hugo: «Spectrc toujours naasqué qui noas suis à cote h
eôte. / Et qu'on nomme demain! / Oh! Demain, c'est Ia grande chore!/ De quoi demain sera-t-il fait'h».
«Napoléon tt«, Les chanis du crépuscule (1835). Pléiade, tome, 1. Gallimard, Paris, 1964, p. 834.
mondialisation», (p. 13). Testemunha uma tal organização o facto de a renovada Decla-
ração dos «Direitos do Homenrn (1948) e a instituição do conceito jurídico de «Crime
contra a Humanidade» (1945) terem lugar no âmbito de um direito iniernaciona/, cuja
emergência e vigência é suposto velar pela dita «nurndinlizafão» em curso. Daí que, indis-
pensável e problemático, o conceito de homem deva, de novo e diferentemente, ser dis-
cutido, pensado e reelaborado e, com ele, o campo incenso dos registos do discurso e do
saber que ele dita e inspira. E o espaço próprio - ainda que transformado e/ou a transformar
e sempre em transformação - para acolher e levar a cabo uma tal discussão e reelaboração
é a Universidade e, nela, os departamentos de "Humanidades". Unias "Humanidades"
necessariamente distanciadas do sentido conservador e humanista que, regra geral, se lhes
associa e as determina, assim como aos seus antigos cânones. Unias "Humanidades"
capazes de repensar o registo metafísico da sua conceptualidade e da sua história que, pelo
espírito aporético que anima o seu pensamento, reclama Derrida, deve, no entanto, ser
protegida e conservada a todo o preço, (p. 22). Umas "Humanidades", enfim, repensadas e
reinventadas ou desconstruídas e, justamente porque transversal ou obliquamente presentes
e actuantes por todo o lado onde o "próprio" do honrem está em questão, já não apenas
confinadas ao habitual espaço das Letras. Nem sequer talvez jáí confinadas a um deter-
minado espaço!
Daí que, fiel ã sua tradição, não a rejeitando portanto, apenas enjeitando o seu registo
metafísico, o novo conceito ele ''Humanidades'', aqui proposto pelo filúsofo sol) a desig-
nação ele noras Hnmanidude.c, deva doravante incluir (p. 22), para além da literatura e das
línguas, as artes não discursivas, as teorias da tradução, a filosofia e o direito, a crítica,
aquilo que, nos países de cultura anglo-saxónica, se designa por "rheorr. a saber, unir
articulação original de teoria da literatura, filosofia, linguística, antropologia, psicanálise,
etc., e, sohrettido, a própria <li' s nstri(çs3a - o mais radical e justo dos pensamentos: aj'en
appclle au droit ã Ia déconstruction - coa/e.r.ca - comme droil inconditionnel de poser des
questions critiques non seulement à 1'liistoire du concept d'homnie, trais à I'histoire même
de la notion de critique, à Ia forme et ã l'autorité ele la question, a la forme intcrrogative
de la pensée. Car cela - /ns/iliea Derrida - implique le droit de le Iairc af/irmatii•emeor
et perforotatirement, c'est-à-dire cn prodi isant eles événcmcni> (p. 14-15). As noras
Humanidades, isto é, as lhunattidade.c em de.cconsirução, compreendem, cm sumia, as ciên-
cias ditas do homem e da cultura: sem que a especificidade de cada disciplina seja, de
todo, dissolvida, as "Hwnonidadcs" franquearão agora as suas tradicionais fronteiras disci-
plinares, num exercício menos de inter-disciplinaridade do que de contaminação e,
portanto , ele transvcrsalidade, e as suas interrogações manifestar-se-ão também nos depar-
tamentos de genética, ele ciências naturais, medicina, teologia e até mesmo, dir. Derrida,
(p. 65), de matemática. Numa palavra, por todo o lado em que a ync.ctãn do homem apela e
se dá a pensar. Por todo o lado em que ele é o «objecto<, cm torno do qual, trans-
versalmente , elas se reúnem no cultivo da sua respectiva e indefectível singularidade. Daí
que esta "tese" derridiana , na forma de profissão de ¡é, na Universidade seja também uma
interrogação acerca das estruturas institucionais e das configurações interdisciplinares
decorrentes da sua des-re-construção. Uma interrogação que, na era do ciberespaço, indicia
a locomoção da própria topologia do campu.s universitário.
Por outro lado, se é certo que tais "Humanidades" não se restringem trais ao espaço
das Faculdades de Letras, a que tradicionalmente estavam confinadas, elas são no entanto
inspiradas por qualquer coisa que tens nelas a sua sede própria. Qualquer coisa que tem
nelas o lugar privilegiado da sua salvaguarda e do seu cultivo. Qualquer coisa que é assim
corno que a sua véspera e a primeiríssima das suas tarefas - assim como que a origem da
sua origem e o fio do seu próprio cultivo, a saber, o absoluto de um princípio de
incondicionalidade: «ce principe d' incondilionnalité se présenre, - profere Derrida - à
sans limite envers Ia vérité. Sans doure le statut et le devenir de Ia vérité, comme Ia valeur
de Ia vérité, donnent -ils lieu à des discussions infinies (vérité d'adéquation ou vérité de
révélation , vérité comme objet de discours théorico-cons(atifs ou d'événements poético-
-performatifs, etc. ). Mais cela se discute justement, - enfàtica - de façon privilégiée, dons
l'Université et dans les départements qui appartiennent aux Humanités.», (p. 12). Dir-
-se-á, por isso, que a desconstrução das "Humanidades", aqui proposta pelo filósofo-
-professor-escritor, é ou deverá ser, ipso facto, uma desconstrução da Universidade a ter
lugar na própria Universidade, e que unia tal desconstrução é, como antes referimos, uma
imensa profissão de fé, uma incondicional profissão de fé no "futuro" - no "futuro" das
artes e das "Humanidades", no "futuro" da Universidade e do/s saber/es, no "futuro" do
humano, da democracia, da profissão, da profissão de professor, de professor de filosofia,
... Um amor impossível do impossível, a desconstrução é unia confiança no porvir do
que vem e que , no absoluto da sua vinda, só pode vir de surpresa: sem horizonte. Sem
antecipação, previsão e pré-compreensão. Antes e diferentemente do saber, logo do como
tal e de um certo como se, cuja autoridade funda e justifica a ontologia, a fenomenologia,
a filosofia do conhecimento, da ciência e das artes que, deterrninanremente, instituem as
" Humanidades ", e de que esta obra é tanibéni a desconstrução.
E que este singular pensamento do talvez e do aconiecimenio que, aqui, leva a cabo
a desconstrução da Universidade através da própria desconstrução das "Humanidades", uni
pensamento paradoxal que é também uma desconstrução da forma Cética do pensar, uni
pensamento que, porque ditado pelo incondicional, associa fé e saber, inscreve a fé ou o
endereçamento a no saber para declarar o seu saber-crer na Universidade por rir, é também
uma desconstrução da speech act theorv de Austin (p. 67, 73-78) que, é sabido, distingue
entre acros con.stalivos e actos perforntati 'os: «ce qui arrues, ce ìt quoi 1'on arrive ou qui
nous arrive , 1'événement. Ie lieu de I'avoir liei - 1 ..1 se muque du periormatml, du pouvoir
performatif, comme du conslatil. Et cela peut arriver dans et par Ics Ilunnuiilcs. (p. 24).
Como se de uni fio puxado a «Signaturc, événcment, contexto» (em Marees de la
philosophie, Minuit, Paris, 1972, trad. port. Res ed. Porto) e a Linrded inc... (Galiléc, Paris,
1990), se tratasse, esta obra continua a já antiga polémica de Derrida com a, entretanto
clássica, speeclr ael t/ieorv, da qual se demarca, em razão de ela, ao cultivar uma certa
ideia de soberania, tanto do humano quanto da Universidade, confirmar também ainda unia
certa ideia de Universidade que, justamente, está aqui cm questão desconstruir. Singular
pensamento do acontecimento, a desconstrução é também unia desconstrução da speeclr
act theory de Austin: uma desconstrução, justamente, não uma destruição. O que implica
a afirmação respeitosa daquilo mesmo que se desconstrói - é a paleunimia como «método»
de leitura! Uma afirmação que, «tout cri reconnaissant Ia puissance, la légitimité et la
nécessité de cette distinction entre constatif ct performatif,», (p. _24), uma distinção que,
sublinha Derrida, «aura été un ^,rand événcment de cc sièclc - et il aura d'abord été
- sublinha também - un événcment académiquc» (p. 24), não deixa de, no mesmo -,esto.
lhe assinalar os limites e de a exceder, excedendo a performatividade dos acontecimentos
por ela produzidos graças a uma outra ''ideia'' de acontecimento - graças a unia outra rindo
ou acontecimentalidade do acontecimento. Aquela que, ditada pelo princípio de incoruli-
cionalidade, é e faz a cena da desconstrução. Para além do fins do profético capíndo
preliminar e da sétima e definitiva hipótese que o /V e ítltinto capitulo deste livro nos
destina, Derrida redi-lo claramente em nota de rodapé: «j'essaierai - (li,-, - de situei le point
oó Ia performativité est elle-mane déhordée par 1'expéricnce de I'érénenrent, par
I'exposition inconditionnellc à ce qui vient ou à qui vient. La performativité se trouve
encore, comme le pouvoir du langage en général, du cõté de cette souveraineté que je
voudrais, si difficile que cela paraisse, distinguer d'une certame inconditionnalité en
général , d'une inconditionnalité sans pouvoir.», (p. 15).
o filósofo - ce que nous pourrions, pour era appeler à elle, appeller l'université sans
condition : le droit principie) de tout dire, fút-ce au titre de Ia tiction et de l'expérimentation
du savoir, et le droit de le dire puhliquement, de le publier.», (p. 16). E esta liberdade
incondicional na qual, cultivando-a, a Universidade se deveria cultivar, unia liberdade
coextensiva a todo o campo [do saber] académico, não se confunde, notemo-lo, com a
dita liberdade académica, que pressupõe: antecede-a, excede-a e justifica-a. É uma
liberdade incondicional, extravagante ou hiperbólica, que se traduz num princípio de
resistência, de dissidência ou mesmo de desobediência, a todos os poderes que a tentam
domar-dominar.
E é precisamente a incondicionalidade desta liberdade, onde se manifesta o princípio
de uma palavra e de um pensamento absolutamente livres, que, traçando aos olhos de
Derrida o perfil da instituição universitária, por um lado, distingue a universidade de todas
as outras instituições de investigação ao serviço de finalidades e de interesses económicos
de todo o tipo, por outro, dita a necessidade de ela se inquietar e se perguntar até que ponto,
em que medida, deverá a organização da sua investigação e do seu ensino ser financiada,
logo directa ou indirectamente controlada - « disons par cuphémisme - diz Derrido -
"sponsorisée "», (p. 19). No exercício desta lógica, que deveria suscitar a maior das
inquietudes político- institucionais , as "Humanidades" são, como se sabe, muitas veies
reféns dos departamentos de ciência pura ou aplicada que concentram os investimentos
supostamente rentáveis de capitais estranhos ao inundo académico (p. 19). Ora, é graças
a esta incondicionalidade, que deve animar a Universidade, unia incondicionalidade que,
sobretudo, as "Humanidades" devem pensar e, de entre elas, a literatura e a filosofia/
/ desconstrução cm primeiro lugar, que Derrida leva a cabo a desconstrução de unia tal
lógica.
Mas, observa o filósofo dando conta do paradoxo que inspira e magnetiza o seu
pensamento da Universidade, se esta incondicionulidude constitui, ent princípio e de jure,
a Força invencível da própria Universidade, ela é também, cm contrapartida, o sintoma de
uma imensíssima e incontornável vulnerabilidade. O estandarte da sua indefectível impo-
tência tanto como o da sua excepcional soberania. E que unia tal incondtcinnululadr
designa a sua justiça sem poder. Porque abstracta e hiperbólica, nunca unia tal incon-
dicionalidade é efectiva, antes exibe «1'impuissance de I'université, Ia fragilité de ses
défcnses devant tous les pouvoirs qui la commandent, l'assiégcnt et tentent de se
l'approprier. Parce qu'elle est étrangère au pouvoir, parte qu'clle est hétèrogène au principc
de pouvoir, l'université est aussi sans pouvoir propre. C'est pourquoi - justifico Derrida -
nous parlons ici de l'mtiversité saras condition.», (p. 18). S'eni condição é, pois, menos
um predicado da Universidade do que a sua própria incondição. Do que a uicondiç-Ó(; da
Universidade como instituição justa na sua hiper-responsável prossecução da verdade.
Que ela seja sem condição significa finalmente que ela é, ao mesmo tempo e portanto
paradoxalmente, incondicionalmente livre ou hiperbolicaniente responsável e c.ctrenra-
mente vulnerável - sem poder. Sede do culto da verdade e da luz, das luzes de amanhã, a
Universidade enquanto instituição é, observa Derrida, «sans condition», «sans pouvoir»,
«sans défense » : «parce qu'elle est absolument indépcndante, l'université est aussi - nota
o filósofo - une citadelle exposéc. Elle est offcrte, elle reste à prendre, souvent vouée à
capituler sans condition. Partout ou elle se rend, elle est prête à se rendre. Parce qu'elle
n'accepte pas qu'on fui pose des conditions, elle est parfois contraente, cxsanguc. abstraite,
elle
à se rendre aussi sans condition. Oui, - declara, sem ilusões, Derrida - cite se rend,
se vend parfois, elle risque d'être simplement à occuper, à prendre, à acheter, prête à
devenir la succursale de conglomérats et de firmes internationales», (p. 18-19). Neste
contexto, a pergunta que se coloca, que Derrida nesta obra coloca, uma pergunta que, faz
antes
questão de sublinhar, não é apenas do foro económico, jurídico, ético ou político, mas
pp. 473-486
Revista FilosOJica de Coimbra - n .° 20 (2001)
480 Revista Filosófica de Coimbra
refere esta obra, se, na tormenta que ameaça hoje a Universidade, e nela umas disciplinas
mais do que outras, uma tal força de resistência, uma tal liberdade incondicional de tudo
dizer no espaço público, tem lugar em toda a Universidade, a verdade é que as "Huota-
nidades" são o lugar único e privilegiado para a pensar. De facto, faz Derrida questão de
precisar: se é certo que o princípio de liberdade, de autonomia, de resistência, mesmo de
desobediência ou de dissidência é coextensivo a toda a Universidade, a todo o campo do
saber universitário, a verdade é que o seu lugar de apresentação, de reelaboração e de
discussão temática são as "Humanidades" (p. 22). O que reitera a referência à excelência,
mas também à responsabilidade das Humanidades em desconstrução no seio da instituição
universitária, «- là - sublinha Derrida - oú il ne s'agit de rien de moins que de re-penser
le concept d'homme, Ia figure de l'humanité en général , et particulièrement celle que
présupposent ce que nous appelons , dans l'université, depuis des siècles, les Humanités.»,
(p. 21). As "Humanidades", declara Jacques Derrida, são «par excellence [...] cc lieu de
présentation de soi du principe d'inconditionnalité», (p. 23). Uma excelência a que o
filósofo-escritor tanto apela como justifica, como sempre, pela via de unia leitura sucinta
e atenta da própria história das "Humanidades". Esta história, lembrará, - e é a matéria
do capítulo 11- apesar dos limites que não deixará de lhes anunciar, dá já um voto de
excelência às "Humanidades" pelo lugar que lhes reserva na Universidade.
Evocando esta história, Derrida invoca Kant, o da terceira Crítica, (§ 60), para dar
conta, quer dos limites clássicos tradicionalmente impostos às "Humanidades", por aqueles
mesmos que, paradoxalmente, lhes demonstravam a necessidade, quer para apelar à urgên-
cia de as repensar. O limite, um dos aspectos do limite, revela-se no facto de Kant
reivindicar para as "Humanidades" clássicas o papel de unia mera propedêutico às belas-
-artes, mais do que a sua prática efectiva. Mas, ainda que unia mera introdução às artes,
as "Humanidades" são, defende Kant, da ordem do saber: do saber do que e e não do
que deve ser, é certo. Com a intenção de ir mais longe, Derrida enfatizará porém dois
aspectos da proposta kantiana: por uni lado, o facto de as "Humanidades" serem pers-
pectivadas apenas como uma propedêutica das práticas artísticas ou inventivas, por outro,
o facto de serem ciências.
Sublinhando o primeiro dos aspectos referidos, Derrida notará que, para Kant, as Hunra-
niora deveriam preparar sem prescrever: elas são um ronlreeunenrn preliminar e um estudo
que favorece a comunicação e a sociabilidade legal dos homens. Um estudo que dá o gosto
do sentido comum da luunaniclade (allgerneinen Menschen sinn ). Ou seja, rc-afirma ou lê,
bem herdando, Derrida: para além de um certo humanismo, as Hmnaniora têm, para Kant,
um perfil teórico que manifestamente privilegia o discurso constativo e a fornia "saber":
as "Humanidades" deveriam ser ciências, O esquecido de uma tal tese é justamente o prin-
cípio de incondicionalidade na sua génese e espírito próprios. Pelo que, no estilo do c...c
- nern...nem, inerente ao registo aporético da desconstrução, Derrida vai desconstruir a tese
de Kant: por um lado , e na linha de «Mochlos» (Du droit à Ia philosophie), critica o teore-
tismo da lógica kantiana relativamente às "Humanidades", onde vê uni grave limite. Um
limite que interdita aos humanistas , não só a produção de obras, em sentido desconstrutivo,
como a produção de enunciados prescritivos ou perforinativos em geral. Numa palavra,
por um tal limite não há acontecimento - nem em termos desconstrutivos nem sequer nos
termos da Speech Act Theorv. Logo, não há nem inventividade nem porvir.
Por outro lado, Derrida saúda na mesma lógica kantiana a dignidade outorgada às
"Humanidades" - são ciências! Logo são para ser levadas a sério! As Letras não são, pois,
"tretas", como, às vezes, demasiadas vezes, se ouve dizer! Neste sentido, a mesma lógica
permite a Kant subtrair a faculdade de filosofia - para ele, a faculdade das faculdades de
Letras - a qualquer poder exterior, nomeadamente ao do Estado - ao poder político-
-jurídico -, assegurando-lhe assim uma liberdade incondicional de dizer a verdade - desde
que, novo limite imposto por Kant, o fizesse dentro da Universidade ! " Comentário" de
Derrida : não é seguro que um tal intuito tenha alguma vez sido, de facto e de direito, obser-
vado . Em todo o caso ele é hoje, nos tempos do ciberespaço , inobservável . E no entanto,
e paradoxalmente , defende Derrida , apesar dos riscos, o espaço académico deve ser
simbolicamente protegido por uma espécie de imunidade absoluta - como se fosse
inviolável! Apesar de todos os riscos - ensimesmamento , torre de marfim , etc., etc. -,
apesar dos riscos de auto - imunidade perigosa e nefasta, «cette liberté ou cette imunité de
l'Université, et par excellence de ses Humanités, nous devons - proclama Derrida - les
rcvcndiquer en nous y engageant de toutes nos forces », (p. 45-46). Uma imunidade graças
à qual será possível à Universidade e, nela, à s "Humanidades " abrirem-se ao exterior sem,
cvn nutda, abdicarem da sua singularidade e da sua singular soberania . Tal é a aposta
derridiana . Tal é o que está em jogo . Uma aposta que, para ser bem compreendida, puxa
ainda outro dos fios que entretecem a obra kantiana : o do «conto se ». Mas, diferentemente
do que se passa quer em Kant [onde o «como se» ( als ob ), estando, embora e nomea-
damente, na génese das obras de arte , (§ 27, 34, 60 ), ainda acredita a separação oposicional
da natureza e da liberdade , ou seja, ainda se mantém no âmbito da condicionalidade onto-
-gnosio-lógica], quer no registo da performatividade da Speech Act Theohy, o «como se»
derridiano é, apesar da aparente condicional idade , ( se), ditado e aberto pelo referido
princípio de incondicionalidade . Ele diz a singular im-possibilidade da incondicionali-
dade, dizendo a sua possibilidade: dizendo a possibilidade da incondicionalidade ético-
- desconstrutiva . Por este outro e diferente « como se» repensa Derrida, por um lado, a ideia
de trabalho e de mundialização , [ cap. III], por outro , a da abertura da Universidade ao
exterior . Notemos sumariamente em que termos.
Pelo primeiro dos aspectos referidos , e à luz deste outro « como se », os cap . II e III
desta obra perscrutam sucintamente , através da sua história , que se confunde com a do
mundo, alguns dos traços que fazem o sentido do "trabalho " ( work, Arbeit , Werk, labor),
distinto da acção e da prática, e de «mundo », a fim de pôr à prova duas teses que,
associadas , circulam hoje como dois lugares-comuns : por um lado , a ideia de «fim dó
trabalho» , por outro , a de mundialização do mundo . A ideia de «fim do trabalho », asso-
ciada à de mundialização , é aqui uma referência , indirecta, a alguns textos de Marx e
Lenine [que viam na redução progressiva do dia de trabalho um processo conducente ao
desaparecimento do Estado ( p. 56)] e, directa , à obra de Jeremy Rifkin, The end of the
work: the decline of the global labor force and the dawn of the post-market era, (G.P.
Putnam ' s Sons, NY, 1995 ). Obra que confessamente se interessa, Derrida cita, «"aux
innovations technologiques et à I'économisme qui nous poussent à l'orée d'un monde sans
travailleurs , ou presque "», (p. 55). Obra que, refere muito justamente Derrida, ilustra uma
espécie de doxa, hoje assaz difundida , a propósito dos efeitos daquilo que o seu autor
designa por «terceira revolução industrial »: a saber, a do ciberespaço, da micro-informática
e da robótica ( p. 57). Sem negar que, por acção da tecnociência , algo de grave se passa e
está em vias de acontecer ao «trabalho », à realidade e ao conceito do trabalho , tanto como
ao de «mundo » e ao estar- no-mundo do que ainda se chama homem ; sem negar que isto
que se passa vai no sentido de uma certa mundialização , ( p. 58), mas duvidosa de que
isto que se passa esteja, de facto, na origem de uma terceira revolução , - certa, no entanto,
da inexistência de uma quarta zona para dar trabalho aos desempregados do mundo
mundializado ( p. 57) -, a ironia oblíqua, incondicionalmente lúcida e triste , de Derrida,
não só se interroga acerca das consequências que um proclamado «fim do trabalho » traria
à Universidade , como das que tragicamente traz para uma larga franja da humanidade
vítima, tanto da capitalização do mundo, quanto da inflação ideológica daqueles que a
pensam e a põem a circular em conceitos apressados e mal talhados - tais como os de «fim
do trabalho » e de «mundialização », por exemplo. Desta, de novo , mais uma vez de novo,
à travers une histoire do travail, qui n'est pas simplement ]e métier, puis du métier qui
n'est pas toujours Ia profession, puis de Ia profession, qui n'est pas toujours celle de
professeur, je voudrais relier cette problématique de I'université sans condition à un gage,
à un engagement, à une promesse, à un acte de foi, à une déclaration de foi, à une
profession de foi. Dans l'université, cette profession de foi articule de façon originale Ia
foi au savoir, et par excellence dans ce lieu de présentation de soi du principe
d'inconditionnalité qu'on surnommera les Humanités.», (p. 23). Um princípio de incondi-
cionalidade que, limite da Universidade na própria Universidade, dita as 7 hipó-teses que,
quais 7 mísseis enviados por Derrida à Universidade moderna, inspiram e redigem esta
obra e que, de modo telegráfico o seu IV e último capítulo precipita. Anotemo-las.
Dizendo-as todas programáticas, o nosso filósofo-professor-escritor precisa, no en-
tanto, que 6 dessas "teses" têm um valor formal de recapitulação, enquanto que a sétima,
que, adverte, não é sabática ou dominal como acontece na Cidade de Deus agostiniana,
pois, porque ditada pelo princípio de incondicionalidade ética não porá fim "aos trabalhos"
do trabalho, tentará o passo para além delas em direcção à vinda insuspeita e inesperada
de um acontecimento por vir, onde se compromete a responsabilidade incondicional de
cada um/a - de cada professor/a, do/a professor(a) de filosofia antes de qualquer outro e
presente em todo e qualquer outro e, em primeiríssimo lugar, do professor(a)-des-
construtor(a). Sob o ditame da sétima "tese", aquela que (nos) apela ao trabalho e (nos)
lança num registo do acontecimento que excede o «conto se» do acontecimento per-
forniativo, Derrida traça o perfil sinuoso das Novas H nnanidades ditando-lhes as tarefas:
- «hipó-tese 1: «ces nouvelles Humanités - proclama - traiteraient de l'histoire de
I'homme, de l'idée de I'homme, de Ia figure et du "propre de I'hommc"», (p. 68). Estudo
que levaria a cabo a desconstrução dos binarismos oposicionais pelos quais, desde sempre,
o dito próprio do homem se determina, em particular o da oposição tradicional do vivente
dito humano e do vivente dito animal. Uma tarefa tendencialmente in-finita que
os poderosos petforntativos jurídicos que escandem a história moderna da humanidade do
homem e de entre os quais, pela urgência, Derrida salienta dois: por um lado, a declaração
dos Direitos do Homem (cuja designação já diz tudo acerca da sua proveniência e dos
pressupostos que subjacentemente a animam), por outro, o conceito de «crime contra a
humanidade», (p. 69).
- «hipó-tese 2: «ces nouvelles Humanités traiteraient [... [ - declara - de I' histoire de
Ia démocratie et de I'idéc de souveraineté, c'est-à-dire aussi. bico súr, des conditions ou
plutôt de l'inconditionnalité dont on sappose [...] que i'université, et en clle les Humanités,
en vivent.», (p. 69). A desconstrução do conceito de soberania atingiria, não apenas o
direito internacional, como os limites do Estado-nação, atingindo a conceptual idade dos seus
discursos jurídico-políticos, toda ela redegida em torno do sujeito ou do cidadão, (p. 70).
- «hipó-tese 3: «ces nouvelles Humanités traiteraient [...] - declara - de ('histoire du
"professer", de Ia "profession" et du professora(.», (p. 70). Uma história redigida, sublinha
Derrida, pelos pressupostos abraâmicos, bíblicos e, sobretudo, cristãos, do trabalho e da
confissão mundializada, mesmo onde ela se eleva para além da soberania do chefe de
Estado, do Estado-nação ou, em democracia, do "povo".
- «hipó-tese 4: «ces nouvelles Humanités traiteraient [...J de i'histoire de la littérature.
Non seulement - nota Derrida - de ce qu'on appelle couramment histoire des littératures
ou Ia littérature même, avec Ia grande question de ses canons [...] mais l'histoire du concept
de littérature, de ses liens aves Ia fiction et Ia force periormative du —comine si", de son
concept d'oeuvre, d'auteur, de signature, de langue nationale, de son lieu avec le droit de
tout dire...» , (p. 71).
- «hipó-tese 5: «ces nouvelles Humanités traiteraient [...] de ('histoire de Ia profession,
de Ia profession de foi, de Ia professionnalisation et du professorat.», (p. 71). O fio
condutor, sugere Derrida, poderia ser estudar o que se passa quando a profissão de fé, a
profissão de fé do professor, dá lugar, não apenas àquilo a que deve dar, a saber, ao
exercício competente de um saber no qual se tem fé, isto é, à aliança clássica do constativo
e do performativo, mas a obras singulares, a assinaturas, que são acontecimentos e que
afectam, sem destruir, os próprios limites do campo académico. Derrida e a heterogenei-
dade da sua obra imensa, e imensa justamente porque cultivada na fronteira que faz tremer
todas as fronteiras, são aqui o "exemplo-singular". O exemplo singular do professor que
falta - que faz falta...
- «hipó-tese 6: «ces nouvelles Humanités traiteraient donc enfin [...] de l'histoire du
"comme si" et surtout de I'histoire de cette précieuse distinction entre actes perfonnatifs
et artes constatifs 1...j 11 faudra hien [...1 étudier l'histoire et les limites de cette distinction
si décisive...», (p. 72).
- «hipó-tese 7: Perscrutar a vinda do que vem, segundo o princípio de incondicio-
nalidade, desconstruir a autoridade que, na Universidade e nas Humanidades, se dá a) ao
saber, ou pelo menos ao seu modelo de linguagem constativa; b) à profissão ou à profissão
de fé (ou pelo menos ao seu modelo de linguagem performativa; c) e ao operar do "como
se" performativo. Um perscrutar que é a cena da desconstrução como pensamento do
talvez, do acontecimento e do porvir.
Fernanda Bernardo
Nenhuma corrente da denominada " filosofia continental " poderia pretender pensar hoje
com a mesma liberdade perante a sua própria história que caracterizou muitas das suas
obras clássicas. A "filosofia continental" floresce na interpretação e reinterprelação da sua
história e no comentário, filológica e conceptualmente sempre mais aperfeiçoado, dos seus
clássicos. Apesar da importância desse trabalho, que constitui muitas vezes sem dúvida
pensamento filosófico genuíno, e que se pode alicerçar numa ontologia hermenêutica
apenas recentemente desenvolvida, a situação actual desta filosofia desperta também o
sentimento de que a sua época clássica ficou para trás, pelo menos até alguma imprevisível
renovação. Neste contexto, um motivo importante da atracção que a denominada filosofia
analítica pode exercer sobre o pensamento filosófico formado noutras tradições é o carácter
presente da sua discussão.
Na verdade, não sabemos ainda como, ou se é possível, mediar estes dois campos
filosóficos. Por um lado, temos uma filosofia acusada por vezes de incapacidade de
enunciar ou fundar rigorosamente uma tese positiva, senão por via da citação de clássicos,
e de se esgotar na repetição da sua história passada. Por outro, um pensamento
tendencialmente anistórico (cf. 46), acusado de repetir argumentos cuja história ignora
(v. e.g. 19), de apresentar como descobertas teses já conhecidas há muito na história da
filosofia, ou de não saber integrar seriamente o riquíssimo conteúdo que o conhecimento
e a reflexão da história da filosofia, da história em geral ou da literatura podem trazer para
as diferentes áreas do pensamento.
O presente livro de Jales Ribeiro traz um importante contributo para a definição das
relações entre estes dois campos filosóficos. Uma vez contornada a relativa dificuldade
que possam apresentar noções como "proto-história", "meta-história", meta-filosofia",
"reconstrução histórica" ou "reconstrução racional", esta obra prende o leitor - e o pensador -
da primeira à última página, com o interesse de um romance histórico, cujas personagens
são as diferentes escolas da filosofia analítica, e cujo enredo é a sua posição em relação
à sua própria origem intelectual. Jates Ribeiro mostra como as diferentes versões que a
filosofia analítica elaborou para a sua própria origem e história, são um reflexo de pro-
fundas diferenças que atravessam a filosofia analítica. São assim evidenciadas divergências
que não se podem resumir a diferentes conclusões ou teses, discutidas, ou discutíveis dentro
dum fundo filosófico comum, mas que se assemelham muito mais a diferenças sobre a
própria natureza da filosofia analítica, dos seus objectivos e métodos. Tais divergências
patenteiam-se em filósofos ou correntes que são simplesmente referidas, ou abordadas de
modo mais prolongado, especialmente Russel (cf. 97ss.), o Círculo de Viena (36ss.), a
filosofia da linguagem corrente (cf. 84-85), Dummet (51ss.) e Rorty (62ss.), mas também,
e.g., Brentano, Frege, Moore, Wittgenstein, Carnap, Ayer, as denominadas "Escola de
Cambridge" (cf. 92, 119) e "Escola Americana", com Quine ou Putnam (cf. 94), bem como
produções mais recentes dos anos noventa (120, 124s.). Referidos são também autores
como Popper, Kuhn ou Feyerabend.
O autor mostra que a relatividade que resulta desta diversidade de perspectivas, não
é sentida somente pelo historiador, ou pelo observador exterior, mas também pelas próprias
escolas e correntes em questão. Uma tese central da obra é então que a posição destes
autores relativamente ;à sua própria história e génese é determinada por uma necessidade
dc justificação ou de unifuaçdo de correntes ou escolas filosóficas (cf. 36, 37, 128-129),
As diferenças acerca da história da sua origem assume um carácter normativo (cf. 131),
subordinado, antes de mais, ao interesse de cada autor e de cada escola em definir a
"prática analítica genuína" (27, 39, 128), com exclusão das outras.
Assim, a dissensão, que conduz a concepções duma história da filosofia analítica
incompatíveis entre si, poderiam exemplificar-se copiosamente. Russel, e.g., chegou a
"exclui[r] expressamente a sua própria filosofia do campo mais geral da filosofia da
análise" (100), opondo-se tanto à filosofia do Círculo de Viena, quanto à filosofia da
linguagem corrente (101, 110). Esta última tendência era por ele considerada como o
paradigma filosófico diametralmente oposto ao seu (cf. 99, 113). Russel incluía, pelo
contrário, numa corrente filosófica com objectivos aparentados aos seus, autores como
Moore e Whitehead e, talvez surpreendentemente, Husserl, (102). A "filosofia do Círculo"
(31), bem como a denominada filosofia da linguagem corrente, por sua vez, partilham da
perspectiva essencialmente "anistórica" da filosofia (98). Quanto à sua história, a filosofia
da linguagem corrente assume apenas a ruptura com Russel (46, 90) e com o Círculo de
Viena (45) e, no período dos anos cinquenta e sessenta, um só autor, a saber Ayer, assume
uma perspectiva histórica quanto à origem da filosofia analítica, fazendo-a remontar à
"tradição empirista britânica", com Locke, Hume, Moore, Russel e Wittgenstein (33, 38).
Num período mais tardio, Rorty e Dummett, por sua vez, "vêem o começo da filosofia
analítica na filosofia de Frege, emparceirando a de Russell [...1 com a „tradição cartesiana"
em filosofia" (26, cf. tb. 126). Mas, pelo contrário, observa Jales Ribeiro, "o nosso conceito
histórico actual de filosofia analítica [...] nos leva 1...1 a integrar aí de uma forma ou de
outra, quer Frege e Russel, quer o positivismo lógico em geral" (50).
Segundo esta última definição pertencem então, e.g., à filosofia analítica tanto a tese
geral da "redução linguística" dos problemas filosóficos, típica, e.g., de Wittgenstein e da
filosofia da linguagem corrente, quanto a sua oposta, defendida por Russel: "como ele [sc.
Russel] dirá, a linguagem só significa propriamente porque está em relação com o mundo"
(110). Do mesmo modo, as posições podem variar entre o particularismo e o ensaismo de
Russel (106), por um lado e, por outro, as pretensões sistemáticas presentes em Dummett
(54n., 118) ou também no "Círculo de Viena", com Neurath (129). Ou ainda, e.g., na
filosofia analítica tanto podem caber o fundacionalismo ou a problemática epistemológica
de Russel e Carnap (56) quanto os objectivos simplesmente terapêuticos de Wittgenstein.
Dentro deste contexto de relativização histórica duma filosofia que se pretende muitas
vezes anistórica, parece da maior importância a posição de Rorty (cf. 75), que considera
que a filosofia analítica, por não se ter sabido libertar da "problemática epistemológica"
e fundacionalista (66), ficou condenada ao fracasso e "a uma morte inevitável, a prazo"
(64). Assim, "o movimento analítico em geral esgotou todas as possibilidades históricas
do seu desenvolvimento enquanto tal ("analítico"), evidenciando com a sua morte, ao
encontro das filosofias de Wittgenstein, de Dewey, de Heidegger e da hermenêutica, o fim
da própria filosofia no seu conjunto" (67-68). A filosofia analítica seria então, segundo
Rorty, uma expressão histórica do fim da filosofia.
Diogo Ferrer
Forme ( 151-163); F. Worms: 'Signes ' entre ' Seus et non-sens '. Philosophie , scien-
ces humaines et politique dans l'oeuvre de Merleau-Ponty ( 165-183 ); J.-C.
Monod : Du 'rnarxisnte ivéberiert ' au 'nouveau libéralisme ': Weber dans 'Les
Aventures de la dialectique ' ( 185-201 ); P. Corcuff : Merleau - Pont'v ou l ' anahvse
politique au défi de l'inquiétude tnachiavélienrte ( 203-217 ); X. Guchet : Théorie
du liem social, technologie et philosophie : Sirnondon lecteur de Merleau-Ponty
(219-237); E. Bimbenet : ' La chasse sans prise ': Merleau - Ponty et le projet d'une
science de 1'itonune sans l'honune ( 239-259 ); M. Villcla-Petit : ' Qui voit?' Do
privilè,t; e de Ia pcinntre ehe;. Maurice Merleau-Ponte ( 261-278).
Artigos