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A CAIXA DE HISTÓRIAS: NO PROCESSO DO ENSINO DA LEITURA E

FORMAÇÃO DO LEITOR AUTÔNOMO

Lílian Cristina Blume MORAIS (D.E. Mirante do Paranapanema)

ISBN: 978-85-99680-05-6

REFERÊNCIA:

MORAIS, Lílian Cristina Blume. A Caixa de


Histórias: no processo do ensino da leitura e
formação do leitor autônomo. In: CELLI –
COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E
LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais... Maringá,
2009, p. 582-591.

JUSTIFICATIVA

Este projeto originou-se de uma experiência desenvolvida com alunos da 4a


série do ensino fundamental em uma escola particular (Colégio Novo Mileniun) e
outra estadual (E.E. Arthur Ribeiro) na cidade de Teodoro Sampaio-S.P.
Para que houvesse um interesse maior pela leitura nas escolas, era necessário
um projeto que direcionasse a leitura em sintonia com o lúdico. Segundo Souza (1992):

Leitura é, basicamente, o ato de perceber e atribuir significados


através de uma conjunção de fatores pessoais com o momento e o
lugar, com as circunstâncias. Ler é interpretar uma percepção sob as
influências de um determinado contexto. Esse processo leva o
indivíduo a uma compreensão particular da realidade (Souza,
1992,p.1).

Apresento, como prática pedagógica enriquecedora ao estímulo à leitura, uma


“caixa de histórias” confeccionada com materiais recicláveis, com a intenção de
estimular os alunos as leituras realizadas em sala de aula. No início, foi uma grande
brincadeira, onde a professora contava histórias utilizando a “caixa”; primeiramente os
livros eram escolhidos pela professora, de acordo com a faixa etária e centro de
interesses dos alunos, mas ao desenrolar do projeto os próprios alunos poderão escolher
os livros para contarem suas histórias utilizando-se do recurso pedagógico sugerido pela
professora.
Num primeiro momento, a história escolhida foi “Chapeuzinho Amarelo”, de
Chico Buarque e ilustrações do cartunista e escritor Ziraldo. As personagens foram

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elaboradas a partir das ilustrações do livro, pintados e colados em papéis, assim também
o cenário foi elaborado, tudo a partir do livro.
Ao terminar o trabalho de confecção do material, a professora contou a história
“Chapeuzinho Amarelo” aos alunos da 4a série. Depois, os próprios alunos deveriam
apresentar a história aos demais colegas da escola, numa sala especialmente preparada
para isso. Os alunos da 1a, 2a, 3a séries e da pré-escola assistiram a apresentação dos
alunos da 4a série. Cerca de 5 alunos participaram da manipulação dos personagens da
história (Chapeuzinho Amarelo, Lobo e Monstros, além da presença de um narrador).
Após a apresentação da história, os alunos da 4a série questionavam seus colegas a
respeito de todos os “medos” que possivelmente as crianças sentissem e o porquê.
Todos participaram de uma forma bem animada, pois além de ser uma história
divertida, o recurso utilizado despertou ainda mais a curiosidade e a participação de
todos os alunos (os contadores de história e os expectadores). Essa atividade fez com
que as crianças tivessem interesse em ler as histórias contadas pelos alunos da 4a série.
Aqueles que não participaram da manipulação dos personagens ou mesmo do narrador,
ficaram encarregados de organizar a sala para receber as professoras de outras séries e
seus alunos. Além do estímulo à leitura e a escrita, houve uma preocupação em preparar
um ambiente interessante aos demais colegas. Também foi necessária uma preparação
dos alunos no sentido de melhorarem a leitura, a entonação da voz, o momento de
participar fazendo alguns gestos ou mesmo expressões corporais. Os alunos também
assistiram a um vídeo com a animação da história contada, assim poderiam utilizar-se
de recursos orais para melhorar a apresentação (esse vídeo foi gravado da T.V. Futura –
Livros Animados).
Foi necessário que a professora fizesse reflexões sobre a importância da
leitura e os possíveis interesse de leitura, analisando os diversos livros existentes na
escola para que pudesse elencar alguns para ser apresentados. Também com esse
estudo, possibilitou a descoberta da leitura enquanto construção de significados,
valorizando o texto literário e a imaginação do leitor.
Esse projeto foi elaborado com a intenção de estimular a leitura e fazer com
que os alunos procurassem mais a biblioteca da escola, adquirindo o hábito de ler e
assim levando-os a escrever mais e melhor, pois muitos dos alunos apresentam
dificuldades de leitura e principalmente de escrita.

OBJETIVOS

Este projeto teve como objetivo desenvolver e incentivar o gosto pela leitura e
proporcionou momentos agradáveis em sala de aula através das apresentações das
histórias infantis utilizando o recurso pedagógico que estimulou ainda mais as crianças:
a caixa de histórias.
Tendo em vista a formação de cidadãos leitores, os alunos da 4a série da
E.E.Arthur Ribeiro (rede estadual de ensino) e Colégio Novo Milleniun (COOTRE-
Cooperativa de Trabalho Educacional de Teodoro Sampaio), participaram da execução
do projeto para divulgar a importância do ato de ler bons livros, despertando o interesse
pela expressão oral, dramatização, elevando a freqüência dos alunos à biblioteca, e
assim conseqüentemente utilizando-se do recurso oral e lingüístico, melhorando a
leitura e a escrita.
Vivenciando as histórias através das leituras e da própria imaginação do leitor,
utilizando-se dos recursos lingüísticos, os alunos poderão melhorar a sua desenvoltura

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na leitura e na escrita, apropriando-se do código e participando de forma efetiva à
sociedade, que cada vez mais exige a apropriação desse código.

METODOLOGIA

A partir de evidências detectadas na escola em relação à prática de leitura, foi


proposto um trabalho diferenciado onde alunos e professores poderiam integrar-se na
arte de contar histórias. Com o intuito de melhorar a leitura e a escrita nas crianças,
tendo como fonte inspiradora um recurso pedagógico que poderia ser confeccionado
com a ajuda dos próprios alunos ou da professora: a caixa de histórias.
Esse recurso é importante como forma de explorar a criatividade dos alunos, a
socialização entre as crianças (os próprios alunos da 4a série apresentam as histórias aos
colegas menores, sendo a maior parte do trabalho centralizado com os alunos maiores,
mas o resultado final -apresentações e leituras das histórias- socializado entre todos os
alunos da pré-escola à 4a série).
A escolha dos elementos que farão parte da equipe de contadores de histórias
poderá ser feita pela professora, destacando aqueles que num primeiro momento, têm a
melhor leitura para a narração, e os demais serão sugeridos pela professora ou mesmo
pelas crianças, sendo voluntários para participarem como animadores das personagens
da história (as personagens serão confeccionadas de acordo com o livro adotado). O
interessante é que as crianças se esforçam para melhorarem a leitura e assim serem
escolhidos para fazerem a narração. Isso é um estímulo que acaba contribuindo com a
desenvoltura dos alunos em relação à leitura e à escrita.
A atuação dos alunos apresentando as histórias infantis demonstra que a leitura
é acessível e prazerosa, e propõe que o leitor faça parte do processo, sendo um
coadjuvante que possibilita a discussão e a socialização das idéias contidas no livro.
Assim, o ato físico de ler pode até ser solitário, mas nunca deixa de ser solidário
(Cosson, 2006, pág.:27).
Sabemos que é papel da escola fazer com que os alunos se constituam leitores
de fato, assim como é tarefa do professor estimular esse hábito, objetivando prepará-los
para seu desempenho social.
Coloca-se então a necessidade de estabelecer critérios para a seleção de
diferentes livros de literatura infantil disponíveis nas bibliotecas escolares, o que
possibilita um contato com diferentes gêneros como fábulas, contos de fadas, ficção,
poesia, textos informativos, etc. É importante também que toda a escola esteja
envolvida nesse projeto, pois além dos professores de todas as séries envolvidas,
teremos contato com a bibliotecária, com a coordenadora que possibilitará a
concretização do evento (apresentações na caixa de história, proporcionando um
ambiente favorável às apresentações), além da direção e até mesmo dos funcionários,
que estarão orientado e ajudando as crianças a se dirigirem à sala de apresentações, no
momento indicado.
Esse projeto será interdisciplinar, contará com a colaboração de todos os
envolvidos na escola, percebendo as potencialidades e experiências anteriores dos
alunos, criando situações onde o livro de literatura infantil seja alvo de curiosidades,
vivências e sonhos, além de possibilitar as reflexões sobre as idéias contidas nos livros.

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RESULTADOS PARCIAIS

Durante a execução das histórias contadas com a “caixa”, percebeu-se um


grande entusiasmo das crianças na própria preparação e organização das histórias, além
do interesse em melhorar a leitura para que a apresentação obtivesse o melhor
desempenho possível. Sentiam-se preocupados em saber se os colegas gostariam ou
não, despertando um sentimento de confiança neles próprios melhorando os
relacionamentos existentes, pois saberiam que um dependeria do outro, numa ação
solidária.
Após a apresentação da primeira história (Chapeuzinho Amarelo, de Chico
Buarque), os alunos da primeira série fizeram várias produções sobre a história contada,
utilizando-se de escritas e também de ilustrações que lembravam detalhes da história,
com todos os personagens secundários, além da personagem principal (anexo 1).
Já uma aluna da 2a série fez uma produção de texto onde evidenciou a
intertextualidade: em sua produção, colocou certas características que lembravam as da
personagem principal da história contada (em anexo a atividade da aluna).
O grande desafio do professor é manter o diálogo permanente, propondo
situações-problemas e incentivando a superação desses desafios e garantindo a
formação de cidadãos leitores e participativos, dentro da sociedade. Para isso, é
fundamental que se apropriem do código escrito para que possam usufruir e participar
de maneira efetiva da sociedade. Segundo Magnani (1989):

Passando obrigatoriamente pela concepção de escola e de sociedade


que queremos, a formação do leitor envolve também a diversidade
como princípio norteador dos critérios de seleção e utilização dos
textos e da reflexão sobre a formação do gosto das pessoas-alunos,
não só para um vir-a-ser, mas também para um aqui e agora,
principalmente político. [grifos da autora] Maria do Rosário M.
Magnani. Leitura, literatura e escola (1989).

Possibilitar um ambiente onde haja acesso a livros de qualidade, que esteja


direcionado ao interesse dos alunos e favorecer um momento dialógico onde possa
expressar suas idéias e compartilhá-las com os demais, tendo um conhecimento sobre
os vários tipos de texto, e incentivando o hábito pela leitura é função da escola.
O papel do professor é de suma importância, pois proporciona uma ampliação
dos conhecimentos, favorecendo uma visão mais crítica e garantindo a participação
efetiva do aluno nesse processo de ensino-aprendizagem, que há algum tempo atrás esse
espaço era exclusivo do professor.

Considerando que o gosto pela leitura se constrói através de um longo


processo onde sujeitos desejam encontrar nela uma possibilidade de
interlocução com o mundo, espera-se que o professor seja um agente
fundamental na mediação entre alunos e material, um impulsionador
e guia no sentido de um contato cada vez mais intenso e desafiador
entre o leitor e a obra a ser lida (Souza, 1997 p. 69).

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Apesar de todos os problemas que a escola, de uma maneira geral vem
enfrentando (falta de recursos principalmente), poderemos superar isso através de
políticas públicas que incentivem a melhoria da qualidade de ensino, além de práticas
pedagógicas que favoreçam o estímulo à leitura e a escrita, envolvendo professores,
alunos, coordenadores, gestores, pais, enfim todos os que participam desse processo de
ensino-aprendizagem e contribuem de maneira direta ou indireta, descobrindo meios de
superar os problemas que afetam toda a sociedade e que são refletidos na escola.

NÚMERO DE ALUNOS QUE PARTICIPARAM DO PROJETO:


“A CAIXA DE HISTÓRIAS”

E.E. Arhur Ribeiro

4a série B 32 alunos

Número de alunos que participaram como expectadores do projeto:

Pré-escola 23 alunos
1a série A 32 alunos
1a série B 34 alunos
2a série A 31 alunos
2a série B 32 alunos
3a série A 35 alunos
3a série B 36 alunos
4a série A 31 alunos
Total dos alunos no projeto 254 alunos

Colégio Novo Milleniun

Número de alunos que participaram da execução do projeto:

4a série 21 alunos

Número de alunos que participaram como espectadores do projeto:

Maternal 12
Pré I 10
Pré II 08
Pré III 18
1a série 29
2a série 18
3a série 20
Total 115

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Retiradas de livros na biblioteca - Mês: Junho/2006

•Percebe-se um número
90 significante de alunos que
80 freqüentaram a biblioteca
1a A fazendo retiradas de livros,
70 evidenciando a sala em que o
1a B projeto “Caixa de Histórias
60 2a A foi desenvolvido.
50 2a B
40 3a A
30 3a B
20 4a A
4B
10
0

587
Retirada de livros na biblioteca no mês de
agosto/2006

82

66 66
1aA
55
1aB
2aA
29 2aB
23 25
3aA
9
3aB
4aA
1
4aB
1aA, 1aB, 2aA, 2aB, 3aA, 3aB, 4aA,
4aB,

G r á f ic o r e t ir a d a s d e l i v r o s n o m ê s d e s e t e m b ro /2 0 0 6

140 129

117 116 115


120
1 04

100

75
80

60
42
33
40

20

0
1

1a A , 1a B , 2a A , 2a B , 3 a A , 3a B , 4a A , 4 a B

588
Retirada de livros- Outubro/2006

400
360
350
1a A
300 1a B
250
231 2a A
200 2a B
149 141
150
3a A
3a B
100
52
33 41 4a A
50 16
4a B
0
1

1a A; 1aB; 2aA;2a B; 3a A; 3a B; 4a A; 4aB

Retiradas de livros no mês de


novembro/2006

300
243
200 197

95 105 100
100 73
42 56
0
1aA 1aB 2aA 2aB 3aA 3aB 4aA 4aB

589
Retirada de livros na biblioteca
mês: fevereiro/2007

20 19 1aA
16 1aB
15 2aA
10 8 2aB
7
3aA
5 4 4
3aB
0 0 4aA
0
1 4aB

Retirada de livros da biblioteca mês:


março/2007

300
233
200

100 80 94
59
19 19 34 24
0
1aA 1aB 2aA 2aB 3aA 3aB 4aA 4aB

REFERÊNCIAS

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo:Contexto, 2006.

BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. Ilustrações de Ziraldo.- 8a ed.-Rio de


Janeiro: José Olímpio, 2000.

MAGNANI, Maria do Rosário M. Leitura, literatura e escola. Apud COSSON, Rildo.


Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.

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SOUZA, Renata Junqueira. Sala de leitura: formando pequenos leitores. In: Nuances
Revista do Curso de Pedagogia, Presidente Prudente. Volume 3, no 3, 1997.

SOUZA, Renata Junqueira. SOUSA, A. C. (org). Nas teias do saber: ensaios sobre
leitura e letramento. 1a edição: Meioimpresso Produções, 2005.

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