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Pós-graduação em Educação Continuada,

Flexível e a Distância

Metodologia da Pesquisa
e Produção Científica

Brasília, agosto de 2008


Elaboração
Maurício Silva – Mestre em Planejamento e Estratégia Organizacional; Pós-
Graduado em Metodologia do Ensino Superior e Didática do Ensino Superior;
Graduado em Pedagogia; Especialista/Conteudista e Tutor em Disciplinas de
Cursos de Ensino a Distância.

Desenho educacional, avaliação e adequação de linguagem


Heliane Maria Bergo

Revisão lingüística
Maria Luiza David

Projeto visual gráfico e arte-final


Isis Florêncio de Albuquerque

Arte-final
Alinne Paula da Silva
Rui Carlos de Oliveira

DOCUMENTO DE PROPRIEDADE DO CETEB


TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Nos termos da legislação sobre direitos autorais, é proibida a reprodução total ou


parcial deste documento, por qualquer forma ou meio – eletrônico ou mecânico,
inclusive por processos xerográficos de fotocópia e de gravação – sem a permissão
expressa e por escrito do CETEB.
Sumário
Apresentação .................................................................................... 4

Mapa do Caderno ............................................................................ 6

Início de conversa ............................................................................ 7

Provocação – O senso comum e a ciência ......................................... 11

UNIDADE 1 – Conhecimento e Ciência .............................................. 14


Texto único – O conhecer e os tipos de conhecimento ...................... 14

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica ....................................................... 23


Texto 1 – Ciência, metodologia e pesquisa ....................................... 23
Texto 2 – Métodos Científicos ........................................................... 33
Texto 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa ................................. 42

UNIDADE 3 – Elaboração de trabalho científico ................................ 54


Texto 1 – O trabalho científico: características e linguagem .............. 54
Texto 2 – Citações e referências bibliográficas................................... 58

UNIDADE 4 – Produção acadêmica ................................................... 66


Texto único – Desmistificando os documentos acadêmicos............... 66

Para (não) finalizar – O método científico ......................................... 75

Bibliografia ...................................................................................... 77

Metodologia da Pesquisa e Produção Científica 3


Os principais objetivos de um curso ou disciplina de iniciação científica são:

a. despertar a vocação científica e incentivar talentos potenciais entre

Apresentação estudantes;
b. introduzir o universitário e o pós-graduando no domínio do método
científico;
c. estimular o desenvolvimento do pensar cientificamente e da
criatividade, decorrentes da situação vivenciada no confronto direto
com os problemas da pesquisa;
d. despertar no graduando ou pós-graduando uma nova mentalidade
em relação à pesquisa;
e. aumentar o envolvimento discente na produção científica.

Normalmente quando se fala em metodologia científica tendemos a rejeitar


a idéia de execução do trabalho, por acreditarmos que tende a ser um
processo complexo e exaustivo, envolvendo uma gama de técnicas e recursos
sofisticados.

É importante ressaltar que a diferença existente entre as pesquisas realizadas


por cientistas e as realizadas pelos estudantes universitários ocorre somente
em relação ao propósito a que se destinam e não nos métodos utilizados;
desta forma, os objetivos da disciplina metodologia científica (ou qualquer
outro nome que lhe seja atribuído) é basicamente orientar os novos e futuros
pesquisadores no caminho a ser seguido e, para isso deve ensinar, exercitar,
habilitar o estudante a refazer cientificamente caminhos já percorridos.

Nossa intenção com esta disciplina é apresentar os principais conceitos e


métodos científicos utilizados numa pesquisa científica, mas, principalmente,
desmistificar a idéia preconcebida de complexidade, por meio de várias
reflexões com exemplos práticos, atuais.

Essa disciplina desenvolve os conceitos conhecer e conhecimento; os tipos de


As instituições acadêmicas têm, a rigor, obrigatoriedade legal de promover a conhecimento; discute o que é ciência, metodologia e metodologia científica,
iniciação científica do corpo discente. Para isso, todas trabalham normalmente, analisando métodos, técnicas e instrumentos de pesquisa; apresenta os
no início de seus cursos, uma disciplina que objetiva orientar e conceitar requisitos necessários para se fazer uma redação técnico-científica adequada
com relação às metodologias e técnicas, os trabalhos acadêmicos a serem e objetiva e esclarecimentos básicos sobre tipos de trabalhos científicos
desenvolvidos durante o curso, nas diversas disciplinas. elaborados no meio acadêmico.

Metodologia da Pesquisa e Produção Científica 4 Apresentação


Organização do Caderno

Provocação – O senso comum e a ciência

Competências e habilidades Unidade 1 – Conhecimento e Ciência


Texto único – O conhecer e os tipos de conhecimento
A seguir apresentamos um quadro com as competências e as habilidades
que se espera sejam desenvolvidas no estudo desta disciplina. Nesse mesmo Unidade 2 – Pesquisa Científica
quadro, apresentam-se as bases tecnológicas (saberes). Texto 1 – Ciência, metodologia e pesquisa
Texto 2 – Métodos Científicos
Competência Habilidade Bases tecnológicas (saberes)
Texto 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa
Produzir Caracterizar os tipos de O conhecer e os tipos de
conhecimentos conhecimento. conhecimento
Unidade 3 – Elaboração de trabalho científico
científicos Caracterizar o conhecimento
científico Texto 1 – O trabalho científico: características e linguagem
Elaborar uma Conceituar ciência, Ciência, metodologia e Texto 2 – Citações e referências bibliográficas
metodologia de metodologia e pesquisa. pesquisa
pesquisa Unidade 4 – Produção acadêmica
Reconhecer a pesquisa Métodos científicos
como um processo criativo e Texto único – Desmistificando os documentos acadêmicos
Técnicas e instrumentos de
organizado.
pesquisa Para (não) finalizar – O método científico
Identificar os vários passos
para realização de uma
pesquisa. Bibliografia
Caracterizar métodos de
pesquisa.
Identificar técnicas de
pesquisa.
Utilizar a Identificar as características O trabalho científico:
linguagem essenciais da redação características e linguagem.
acadêmica acadêmica. Citações e referências
Realizar citações e referências bibliográficas
bibliográficas
Adotar princípios éticos na
produção científica.
Elaborar Caracterizar os diversos tipos Produção acadêmica
documentos de documentos acadêmicos. – desmistificando os trabalhos
científicos Elaborar pré-projeto de acadêmicos.
pesquisa.

Metodologia da Pesquisa e Produção Científica 5 Apresentação


Mapa do caderno

Metodologia da Pesquisa e Produção Científica 6


Início de Conversa A – Características do material didático

O material didático de cada componente curricular estará estruturado em um


No meio acadêmico, deve-se ter em mente que constituem fatores fascículo único, impresso e online, denominado Caderno de Estudos e Pesquisa
imprescindíveis para o sucesso a autodisciplina e a responsabilidade na – CEPes.
condução da própria aprendizagem.
O CEPes está organizado em Unidades e cada unidade em um ou mais textos
Nessa disciplina, utilizaremos vários recursos para facilitar o processo de básicos.
aprendizagem. Haverá momentos de reflexão, de produção e de análise de
Você vai observar que usaremos ícones para indicar a você o tipo de recurso e/ou
textos, tanto em atividades individuais quanto colaborativas.
atividade proposto. Eles funcionam como organizadores da aprendizagem.
Para melhor resultado, será imprescindível participar ativa e produtivamente
São propostos no CEPes tipos variados de atividades, e a abordagem dos
das atividades, utilizando, principalmente, os seguintes procedimentos:
conteúdos pode ocorrer por meio dos seguintes caminhos de aprendizagem.
• ler compreensivamente;
• fazer uma leitura de reconhecimento do texto;
• assinalar as dúvidas que forem surgindo nesta primeira leitura;
• selecionar e providenciar todas as referências bibliográficas sugeridas
para consulta e estabelecer um horário para a realização destas 1. Mergulho no tema – Abordagem teórica. Trata-se de atividade
leituras; individual de análise teórica dos conteúdos. É o caso dos textos básicos e
• executar os exercícios propostos e disponibilizá-los no espaço das leituras complementares.
determinado, elaborando respostas/ textos claros, objetivos, em
linguagem direta;
• fazer anotações, esquemas e resumos;
• desenvolver temas;
• redigir trabalhos; 2. Aprender com o outro – Abordagem colaborativa. Trata-se
de atividade a ser desenvolvida com colegas. Podem ser propostos assim
• fazer fichas catalográficas dos livros estudos/lidos;
estudos de caso, atividades de laboratório, fóruns etc.
• participar de todas as atividades propostas pelo tutor.

Recursos de aprendizagem

Você contará, neste curso com o Caderno de Estudos e Pesquisa – CEPes impresso
e online, além dos recursos de interatividade da plataforma. Assim, você 3. Aprender fazendo – Abordagens pela prática. Você encontrará
realizará seus estudos utilizando o meio mais adequado para o momento. atividades como pesquisas, resolução individual de problema, desafio,
atividade lúdica, elaboração de texto etc.

Metodologia da Pesquisa e Produção Científica 7 Início de Conversa


Veja, a seguir, as seções do material e os tipos de atividades que poderão ser
propostos a você.

Unidade – Bloco de conteúdos apresentados em um ou mais textos.


Provocação – Recurso (texto, poema, anedota, imagem etc.)
Textos básicos – textos elaborados pelo professor para desenvolvimento dos apresentado no início do Caderno para provocar reflexões a respeito de suas
conteúdos. Vêm precedidos pelo ícone Mergulho no tema. experiências, seus conhecimentos e seus sentimentos em relação à disciplina.
Trata-se do ponto de partida do trabalho.

Apresentação – Destaca a abordagem proposta para o


componente curricular e as competências e habilidades pretendidas. Detalha- Para refletir – Questões que suscitam reflexões com o objetivo de
se a organização dos conteúdos. instigá-lo a enriquecer os conhecimentos adquiridos, apresentadas ao longo
dos textos, na Provocação e no Para (não) finalizar.

Competências e habilidades – Apresenta as competências e


habilidades definidas para o estudo do componente curricular. O que você pensa disto? – Questões colocadas no início dos
textos para estimulá-lo a pensar a respeito de seus conhecimentos prévios
sobre o assunto. Essas questões visam ajudá-lo a se posicionar em relação
ao tema, revendo os conhecimentos e as experiências anteriores. Além disso,
servem como indicadores para que o Professor/tutor compreenda as eventuais
dificuldades e possa auxiliá-lo a resolvê-las.
Mapa do caderno – Apresenta os conteúdos do componente
curricular, destacando a hierarquia e a ligação entre eles. Tem como finalidade
possibilitar a visão geral do CEPes.

Janela – Textos, exemplos, reflexões, atividades e sugestões para


enriquecer, concretizar, apresentar novas visões sobre o tema abordado nos
textos. Possibilita o acesso à visão de outros autores.
Início de conversa – Orientações preliminares para o estudo do
componente curricular.

Para pesquisar – Questões propostas para estimulá-lo a ampliar


e contextualizar seus conhecimentos, analisar de forma mais profunda a sua

Metodologia da Pesquisa e Produção Científica 8 Início de Conversa


realidade e buscar novas soluções. É importante que você resgate a sua vivência
profissional, refletindo sobre ela.

Você deve discutir as questões em sua comunidade de origem, além de interagir


com colegas e professores e, após a realização das pesquisas, apresente um Resolução de problema – Atividade prática de aplicação dos
relato no Memorial. conteúdos sob a forma de problema a ser solucionado por você, individual ou
colaborativamente.

Leia, assista ou acesse – Indicações de leituras, vídeos, áudios,


sites na Internet, que tratam dos assuntos em estudo. Estudo de caso – Atividade prática de aplicação dos conteúdos
em estudo, sob a forma de caso a ser analisado por você, individual ou
colaborativamente.

Laboratório – Indica uma atividade prática para ser realizada


individualmente ou em grupo.
Trabalho de Conclusão de Curso – Apresenta atividade específica
para o Trabalho de Conclusão de Curso.

Você é o autor! – Atividades de produção de texto com uso de


linguagem verbal e não verbal, desenvolvidas com vistas a estimular a sua
autoria. As atividades podem ter como objetivos: sintetizar e enriquecer as Para (não) finalizar – Texto(s) (história, poema, reportagem),
idéias do texto; apresentar resultados de pesquisas, elaborar o posicionamento infográfico, imagens etc. ao final da disciplina com a intenção de instigá-lo a
pessoal sobre um tema de forma crítica, sistematizar idéias o texto etc. prosseguir seus estudos na área.

Atividades lúdicas / Desafios – Atividades relacionadas ao tema, Bibliografia – Apresenta bibliografia utilizada ao longo dos
com abordagem lúdica. textos.

Metodologia da Pesquisa e Produção Científica 9 Início de Conversa


Chat – Ferramenta de bate-papo on-line, utilizada mediante agendamento
prévio do tutor. Tutorial de uso da ferramenta disponível na plataforma.

Atividade extra – Atividade não constante do CEPes, acrescentada


pelo tutor ao seu processo de avaliação.

B – Ferramentas da plataforma Fórum – Ferramenta de interação assíncrona do grupo, utilizada


de acordo com agenda disponibilizada pelo tutor, na qual você discute os
A plataforma do curso apresenta um conjunto de ferramentas que facilitam o temas propostos por ele, analisa e comenta as respostas dos colegas. Tutorial
seu estudo, dentre as quais destaczmos as que se seguem. de uso da ferramenta disponível na plataforma.

Webconferência – Ferramenta de interação on-line, utilizada


Memorial – Instrumento preparado para possibilitar o registro
mediante agendamento prévio do tutor, que cadastra os alunos em cada
da sua caminhada no Curso: conhecimentos prévios, reflexões, pesquisas,
atividade específica. Tutorial de uso da ferramenta disponível na plataforma.
experimentos, exercícios, textos produzidos etc. À medida que realizar as
atividades, você deve registrar as respostas na ferramenta Memorial, disponível Mensageiro – Ferramenta de troca de mensagens dentro da plataforma.
na plataforma, para análise do tutor. O Memorial possibilita ao tutor solicitar, Tutorial de uso da ferramenta disponível na plataforma.
na própria ferramenta, a revisão ou reformulação do trabalho. Você poderá
Webmail – Ferramenta de envio de mensagens para os endereços eletrônicos
igualmente pedir esclarecimentos ao tutor, apresentar argumentos, publicar
das pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem. Tutorial de uso
a nova versão do trabalho etc. na ferramenta, que guarda o histórico de toda
da ferramenta disponível na plataforma.
a interação ocorrida entre vocês. Tutorial de uso da ferramenta disponível na
plataforma. Esteja atento às atividades propostas. A maioria deve ser registrada no
Memorial. Você encontrará essa indicação em cada uma delas. Mas há também
atividades em grupo realizadas por meio das ferramentas Grupo de Projeto
e Fórum.

Esteja atento ao Calendário de Atividades e aos avisos disponibilizados na


Glossário – Explicação de termos específicos que podem ser
plataforma e/ou enviados a você por meio da ferramenta Mensageiro ou por
desconhecidos, disponível na plataforma.
e-mail.

Sempre que necessitar solicite esclarecimentos e ajuda aos tutores.

Conte sempre conosco.


Biblioteca – Espaço para publicação de textos para uso da
turma, disponível na plataforma. Tutorial de uso da ferramenta disponível na Bons estudos.
plataforma.

Metodologia da Pesquisa e Produção Científica 10 Início de Conversa


As imagens mais comuns são as seguintes:

• o gênio louco, que inventa coisas fantásticas;

Provocação • o tipo ex-cêntrico, excêntrico, fora do centro, manso, distraído;


• o indivíduo que pensa o tempo todo sobre fórmulas incompreensíveis
ao comum dos mortais;
• alguém que fala com autoridade, que sabe sobre que está falando, a
quem os outros devem ouvir e ... obedecer.

Veja as imagens da ciência e do cientista que aparecem na televisão. Os agentes


de propaganda não são bobos. Se eles usam tais imagens é porque eles sabem
que elas são eficientes para desencadear decisões e comportamentos. É o que
foi dito antes: cientista tem autoridade, sabe sobre o que está falando e os
outros devem ouvi-lo e obedecê-lo. Daí que imagem de ciência e cientista
pode e é usada para ajudar a vender cigarro. Veja, por exemplo, os novos
tipos de cigarro, produzidos cientificamente. E os laboratórios, microscópios
e cientistas de aventais imaculadamente brancos enchem os olhos e a cabeça
dos telespectadores. E há cientistas que anunciam pasta de dente, remédios
para caspa, varizes, e assim por diante.

O cientista virou um mito. E todo mito é perigoso, porque ele induz o


comportamento e inibe o pensamento. Este é um dos resultados engraçados (e
trágicos) da ciência. Se existe uma classe especializada em pensar de maneira
correta (os cientistas), os outros indivíduos são liberados da obrigação de
pensar e podem simplesmente fazer o que os cientistas mandam. Quando o
médico lhe dá uma receita você faz perguntas? Sabe como os medicamentos
Leia o texto que se segue, de autoria de Rubem Alves e, em seguida, realize as funcionam? Será que você se pergunta se o médico sabe como os medicamentos
atividades propostas. funcionam? Ele manda, a gente compra e toma. Não pensamos. Obedecemos.
Não precisamos pensar, porque acreditamos que há indivíduos especializados
O senso comum e a ciência e competentes em pensar. Pagamos para que ele pense por nós. E depois ainda
dizem por aí que vivemos em uma civilização científica... O que eu disse dos
“A ciência nada mais é que o senso comum refinado e disciplinado.” médicos você pode aplicar a tudo. Os economistas tomam decisões e temos
G. Myrdal de obedecer. Os engenheiros e urbanistas dizem como devem ser as nossas
cidades, e assim acontece. Dizem que o álcool será a solução para que nossos
O que é que as pessoas comuns pensam quando as palavras ciência ou cientista automóveis continuem a trafegar, e a agricultura se altera para que a palavra
são mencionadas? Faça você mesmo um exercício. Feche os olhos e veja que dos técnicos se cumpra. Afinal de contas, para que serve a nossa cabeça?
imagens vêm à sua mente. Ainda podemos pensar? Adianta pensar?

Metodologia da Pesquisa e Produção Científica 11 Provocação


Antes de mais nada é necessário acabar com o mito de que o cientista é uma A aprendizagem da ciência é um processo de desenvolvimento progressivo do
pessoa que pensa melhor do que as outras. O fato de uma pessoa ser muito senso comum. Só podemos ensinar e aprender partindo do senso comum de
boa para jogar xadrez não significa que ela seja mais inteligente do que os não- que o aprendiz dispõe.
jogadores. Você pode ser um especialista em resolver quebra-cabeças. Isto não
o torna mais capacitado na arte de pensar. Tocar piano (como tocar qualquer A aprendizagem consiste na manutenção e modificação de capacidades ou
instrumento) é extremamente complicado. O pianista tem de dominar uma habilidades já possuídas pelo aprendiz. Por exemplo, na ocasião em que uma
série de técnicas distintas – oitavas, sextas, terças, trinados, legatos, staccatos pessoa que está aprendendo a jogar tênis tem a força física para segurar a
– e coordená-las, para que a execução ocorra de forma integrada e equilibrada. raquete, ela já desenvolveu a coordenação inata dos olhos com a mão, a ponto
Imagine um pianista que resolva especializar-se (note bem esta palavra, um dos de ser capaz de bater na bola com a raquete. Na verdade, com a prática ela
semideuses, mitos, ídolos da ciência!) na técnica dos trinados apenas. O que aprende a bater melhor na bola. . . Mas bater na bola com a raquete não é parte
vai acontecer é que ele será capaz de fazer trinados como ninguém – só que ele do aprendizado do jogo de tênis. Trata-se, ao contrário, de uma habilidade que
não será capaz de executar nenhuma música. Cientistas são como pianistas que o jogador possui antes de sua primeira lição e que é modificada na medida em
resolveram especializar-se numa técnica só. Imagine as várias divisões da ciência que ela aprende o jogo. É o refinamento de uma habilidade já possuída pela
– física, química, biologia, psicologia, sociologia – como técnicas especializadas. pessoa. (David A. Dushki (org.). Psychology Today – An Introduction. p. 65).
No início pensava-se que tais especializações produziriam, miraculosamente,
uma sinfonia. Isto não ocorreu. O que ocorre, freqüentemente, é que cada [...]
músico é surdo para o que os outros estão tocando. Físicos não entendem os
O que é o senso comum?
sociólogos, que não sabem traduzir as afirmações dos biólogos, que por sua
vez não compreendem a linguagem da economia, e assim por diante.
Prefiro não definir. Talvez simplesmente dizer que senso comum é aquilo que
não é ciência e isto inclui todas as receitas para o dia-a-dia, bem como os
A especialização pode transformar-se numa perigosa fraqueza. Um animal que
ideais e esperanças que constituem a capa do livro de receitas.
só desenvolvesse e especializasse os olhos se tornaria um gênio no mundo das
cores e das formas, mas se tornaria incapaz de perceber o mundo dos sons e
E a ciência? Não é uma forma de conhecimento diferente do senso comum.
dos odores. E isto pode ser fatal para a sobrevivência.
Não é um novo órgão. Apenas uma especialização de certos órgãos e um
controle disciplinado do seu uso.
O que eu desejo que você entenda é o seguinte: a ciência é uma especialização,
um refinamento de potenciais comuns a todos. Quem usa um telescópio ou
Você é capaz de visualizar imagens? Então pense no senso comum como as
um microscópio vê coisas que não poderiam ser vistas a olho nu. Mas eles nada
pessoas comuns. E a ciência? Tome esta pessoa comum e hipertrofie um dos
mais são que extensões do olho. Não são órgãos novos. São melhoramentos
seus órgãos, atrofiando os outros. Olhos enormes, nariz e ouvidos diminutos.
na capacidade de ver, comum a quase todas as pessoas. Um instrumento
A ciência é uma metamorfose do senso comum. Sem ele, ela não pode existir.
que fosse a melhoria de um sentido que não temos seria totalmente inútil,
E esta é a razão por que não existe nela nada de misterioso ou extraordinário.
da mesma forma como telescópios e microscópios são inúteis para cegos, e
pianos e violinos são inúteis para surdos. Extraído de:
ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e a suas regras. Disponível
A ciência não é um órgão novo de conhecimento. A ciência é a hipertrofia de em: <http://www.livrosparatodos.net/downloads/filosofia-da-ciencia.html>. Acesso
capacidades que todos têm. Isto pode ser bom, mas pode ser muito perigoso. em: 27 jun. 2008.
Quanto maior a visão em profundidade, menor a visão em extensão. A tendência
da especialização é conhecer cada vez mais de cada vez menos.

Metodologia da Pesquisa e Produção Científica 12 Provocação


Para refletir 1 Leia, assista ou acesse

Que reflexões o texto lhe sugere? A obra completa de Rubem Alves está disponível para download em:
http://www.livrosparatodos.net/downloads/filosofia-da-ciencia.html.

http://www.igeo.ufrj.br/gruporetis/tecnica/modules/wfdownloads/
singlefile.php?cid=1&lid=34

Memorial

Registre suas reflexões no Memorial.

Você é o autor 1

Redija um pequeno texto a respeito da sua visão da Ciência.

Memorial

Publique seu texto no Memorial.

Metodologia da Pesquisa e Produção Científica 13 Provocação


UNIDADE 1 – Conhecimento e Ciência

conhecer “é uma relação que se estabelece entre o sujeito que


conhece e o objeto conhecido...”
Texto único – O conhecer e os tipos O produto dessa relação é uma forma de apropriação da realidade a que
de conhecimento denominamos de conhecimento.
Aranha e Martins (2003, p.52) afirmam que o conhecimento consiste no:
esforço psicológico pelo qual procuramos nos apropriar intelectualmente
dos objetos. Quando falamos em conhecimento podemos nos referir ao
ato de conhecer ou ao produto do conhecimento: o primeiro diz respeito
à relação que se estabelece entre a consciência que conhece e o objeto a
ser conhecido, enquanto o segundo é o que resulta do ato de conhecer,
ou seja, o conjunto de saberes acumulados e recebidos pela tradição.

Observe a seguinte cena:

1
O que você pensa disto?

• O que é conhecer?
• Quais os tipos de Para iniciar precisamos nos fazer o seguinte
conhecimento usados questionamento: “O que é conhecer? O que
para explicar o mundo?
é conhecimento? Como conhecemos? Estas
questões são muito complexas, constituindo
o centro de um ramo da Filosofia, a
Epistemologia ou Teoria do Conhecimento.

Memorial Para fins didáticos desta disciplina, vamos


adotar aqui uma visão mais simples e direta
Registre sua resposta no deste conceito, apresentada por Cervo e Como explicá-la? Você poderia dizer que:
Memorial. Bervian (2002, p. 7):

UNIDADE 1 – Conhecimento e Ciência 14


• trata-se de um desocupado, que não quer nada com a vida; Para Cervo e Bervian (2002, p. 7) se usarmos o caminho dos sentidos teremos
um conhecimento sensível. Esse tipo de conhecimento é “encontrado tanto nos
• trata-se de vítima do sistema capitalista que exclui grande parcela da
animais quanto no homem”. Quando pretendemos um tipo de conhecimento
população do acesso aos bens de consumo, conforme o demonstram
que não é sensível, a exemplo de “conceitos, verdades, princípios e leis, temos
as pesquisas X e Y;
um conhecimento intelectual”.
• se encontra assim para aprimoramento espiritual, pois essa é a vontade
de Deus; Conhecimento empírico ou de senso comum
• ele não quer ou não tem uma casa para morar;
• está em situação difícil por castigo de Deus, em função de ter se
comportado mal, conforme o salmo...;
• é vítima da exclusão social;
• é preciso entender em que consiste a exclusão social, a miséria e suas
causas etc.

Essas considerações remetem a vários tipos de conhecimento. Existem diversos


caminhos e respostas que utilizamos para conhecer a realidade. Podemos
classificar as respostas ao questionamento que fizemos anteriormente em
quatro tipos de conhecimento: o conhecimento sensível (empírico, vulgar ou
de senso comum); o conhecimento religioso, o conhecimento filosófico e o
conhecimento científico. Vejamos.
O conhecimento empírico, também conhecido como vulgar ou de senso comum,
• Explicações de senso comum: trata-se de um desocupado, que não é normalmente adquirido nas vivências do dia-a-dia, por meio de ensaios e
quer nada com a vida; que ele está naquela situação porque não quer tentativas que resultam em erros e acertos. Assim, conhecemos o fato e sua
ou não tem uma casa para morar; ordem aparente, encontramos explicações concernentes à razão de ser das
coisas e das pessoas. Trata-se de conhecimentos adquiridos independentemente
• Explicações de cunho religioso: que se encontra assim para aprimorar- de estudos, pesquisas ou aplicações de métodos, transmitidos entre as pessoas,
se espiritualmente, pois essa é a vontade de Deus; que está em de geração para geração como verdade, muitas vezes como parte das antigas
situação difícil por castigo de Deus, em função de ter se comportado tradições. Como exemplo deste conhecimento, podemos citar a utilização de
mal, conforme o salmo...; determinadas ervas como medicamentos, sob a forma de chás e/ou emplastos
• Explicações de caráter científico: trata-se de vítima do sistema para tratamentos de saúde.
capitalista que exclui grande parcela da população do acesso aos bens
Bochensky, (1961, apud Cervo e Bervian, 2002 p.7) afirma que:
de consumo, conforme o demonstram as pesquisas X e Y; que é vítima
da exclusão social; Nossas possibilidades de conhecimento são muito, e até tragicamente,
pequenas. Sabemos pouquíssimo e, aquilo que sabemos, sabemo-lo
• Explicações de caráter filosófico: que é preciso entender em que muitas vezes superficialmente, sem grande certeza. A maior parte de
consiste a exclusão social, a miséria e suas causas etc. nosso conhecimento somente é provável. Existem certezas absolutas,
incondicionais, mas estas são raras.

UNIDADE 1 – Conhecimento e Ciência 15 TEXTO ÚNICO – O conhecer e os tipos de conhecimento


O conhecimento popular tem como objetivo encontrar respostas imediatas Ao longo da História da Filosofia, muitos pensadores têm tratado da
para os problemas do dia-a-dia, abordando qualquer tema. São utilizados os questão do conhecimento. As concepções de conhecimento modificam-
sentidos, a memória e até a fé. se, dependendo do contexto histórico em que vivem. Você, com certeza, já
sabe que etimologicamente Filosofia significa amor ao conhecimento. Os
Conhecimento religioso ou teológico filósofos se dedicam a conhecer a verdade: o que é, onde se encontra e como
se alcança. Esses questionamentos referem-se ao processo de conhecimento:
Uma outra classe de explicações que usamos o que é conhecer, como e o que conhecemos. Vamos entender essa busca dos
com freqüência para entender a realidade filósofos analisando o pensamento de dois filósofos gregos da Antiguidade:
é o conhecimento religioso. Esse é o tipo de Platão e Aristóteles.
conhecimento que procura compreender No século IV a.C. Platão, discípulo de Sócrates,
as divindades e seus poderes, para explicar procurava compreender se podemos ter um
os fenômenos naturais e sociais. Para isso, conhecimento verdadeiro sobre o mundo.
estuda-se e procura-se aplicar a palavra das
divindades. De acordo com Galiano (1986), Ele concebia o universo dividido em dois
quando falamos do conhecimento teológico, mundos:
estamos nos referindo às explicações que têm
por base qualquer crença religiosa. Segundo o • mundo sensível – da experiência
autor: imediata, concreta. Trata-se do
mundo das aparências, que é como
De modo geral, o conhecimento teológico apresenta respostas para uma cópia deformada do mundo
questões que o homem não pode responder com os conhecimentos inteligível.
vulgar, científico ou filosófico. Assim, as revelações feitas pelos deuses ou
em seu nome são consideradas satisfatórias e aceitas como expressões de • mundo inteligível – das idéias ou das
verdade. Tal aceitação, porém, racional ou não, tem necessariamente de essências verdadeiras que constituem
resultar da fé que o aceitante deposita na existência de uma divindade. o Ser. Consiste no mundo do imutável,
GALIANO (1986, p. 20) isto é, do que existe sempre da mesma
forma, permanecendo inalterado. Herma de Platão – Museu
Conhecimento filosófico Capitolinos – Roma

Segundo Platão, podemos conhecer por meio dos sentidos ou da razão. O


conhecimento adquirido pelos sentidos é mutável, transitório e contraditório.
Este conhecimento não é confiável, porque só nos permite conhecer o mundo
como se apresenta em determinado momento e não na sua essência, isto é o
Ser real. O conhecimento do Ser pode ocorrer pelo intelecto, pela razão ou
pensamento, que alcança as idéias, isto é, a essência das coisas.

UNIDADE 1 – Conhecimento e Ciência 16 TEXTO ÚNICO – O conhecer e os tipos de conhecimento


Fonte: http://www.xtec.es/~jortiz15/caverna.hhm
Existem, na visão de Platão, quatro graus de conhecimento: crença, opinião,
raciocínio ou intuição intelectual. Os dois primeiros são ilusórios e os dois
últimos possibilitam o conhecimento filosófico. É necessário exercitar o
raciocínio para treinar e purificar o pensamento intelectualmente, de forma a
obter as intuições das idéias verdadeiras ou essências das coisas – o Ser.
Para explicar sua visão do conhecimento, Platão desenvolveu o Mito da Caverna,
no qual mostra como vivemos presos a um mundo ilusório pelo conhecimento Leia, assista ou acesse
imediato que apreendemos pelos sentidos.
Leia o Mito da Caverna em:
Observe a imagem.
http://www.ft.org.br/site/painel/html/mito.html
Leia a versão de Maurício de Sousa para o Mito da Caverna no seguinte
endereço:
www.monica.com.br/comics/piteco/welcome.htm.

UNIDADE 1 – Conhecimento e Ciência 17 TEXTO ÚNICO – O conhecer e os tipos de conhecimento


1o Sensações – apreendemos a realidade prazerosamente por meio dos sentidos
Aristóteles, conhecido filósofo grego, deixou-nos vários e temos prazer em olhar o mundo e as coisas. Por exemplo, quando observamos
ensinamentos e dentre seus pensamentos registramos paisagens em diversas ocasiões. Aristóteles aponta que o conhecimento se
aqui o que mais nos chama a atenção para este inicio inicia pela apreensão dos sentidos e essas percepções provocam pequenas
de jornada. Ele nos diz que o Ser Humano tem por alterações no organismo, em função das informações captadas por ele.
natureza o desejo de conhecer, falando sobre o prazer
2o Memória – guardamos os conhecimentos captados pelos sentidos. No nosso
das sensações e destacando as visuais como as mais
exemplo, captamos as variações que ocorrem na paisagem.
prazerosas. Afirma que mesmo sem a pretensão de
conhecer, aprendemos muito por meio dela, mais do 3o Experiência – estabelecemos associações entre os conhecimentos obtidos
que por qualquer outro sentido. pelos sentidos e armazenados na memória, concluindo e preparando-nos para
enfrentar novas ocorrências de seqüências de fatos afins aos conhecimentos
Aristóteles – Cópia do Veja, no infográfico que se segue, o processo de
original de Lysippos
anteriores. Por exemplo, captamos por meio dos sentidos que em determinado
conhecimento para Aristóteles.
– Museu do Louvre dia o céu ficou vermelho e o tempo esfriou. Como guardamos esse fato na
Paris – França memória, na próxima vez que o céu ficar vermelho esperaremos que venha
o frio na seqüência. Com isso, adotamos uma medida prática que é nos
agasalharmos.
4o Arte ou técnica – sabemos como fazer algo artística ou tecnicamente;
conhecemos as regras de produção de algo, o porquê desse algo, suas causas.
Esse conhecimento possibilita que ensinemos a outros como fazer algo,
a seguir regras. Trata-se de um conhecimento não só prático, mas em que
sabemos o que estamos fazendo e porque o que fazemos resulta num produto
determinado. Por exemplo, dizemos que uma pessoa conhece a técnica de
fazer uma mesa quando ela não só sabe como fazer uma mesa, mas está
ciente de precisar seguir regras e procedimentos para obter as dimensões
corretas, de modo que seja adequada para comer ou escrever.
5o Ciência ou saber teórico – apreendemos conceitos e princípios abstratos,
que consistem nas leis da natureza. Trata-se da etapa mais elevada do processo
de conhecimento, também chamada de episteme. Esse tipo de conhecimento
contemplativo não tem um objetivo prático e sim o conhecimento da verdade.
O desejo de conhecer é inerente ao ser humano.
Aristóteles diferente de Platão aceita a condição humana como real, ainda que
tenhamos limitações, e reconhece que é a partir dela que construímos o nosso
conhecimento, por meio das etapas descritas anteriormente.
Os pensamentos dos dois filósofos mostram claramente vários níveis de
conhecimento, considerando o empírico como a forma mais elementar de
conhecer.

UNIDADE 1 – Conhecimento e Ciência 18 TEXTO ÚNICO – O conhecer e os tipos de conhecimento


As explicações dos filósofos para a realidade, conforme já dissemos, variam de Analítica. Desenvolveram-se, a partir da Fenomenologia, diversas tendências,
acordo com o contexto histórico, político, social etc. em que vivem. com destaque para o existencialismo. A vertente analítica deu origem a diversas
filosofias da ciência e da linguagem.
Na transição do pensamento grego para o medieval, encontramos
principalmente os padres da Igreja Católica, dentre os quais o maior destaque Esperamos que essa breve síntese do desenvolvimento do pensamento filosófico
foi Santo Agostinho, procurando aproximar o pensamento filosófico grego ocidental tenha possibilitado a você perceber o quanto o nosso entendimento
às idéias cristãs, movimento conhecido como Patrística. Ao longo da Idade é influenciado pelo contexto em que vivemos. Cada época dessas influenciou
Média, predominou a Escolástica, uma forma de pensar que consolidou a os conhecimentos empíricos, religiosos, filosóficos e científicos.
associação entre a filosofia e a teologia cristã, com seu apogeu no século XIII,
na filosofia de Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274). Conhecimento Científico
O Renascimento, movimento cultural ocorrido
do século XIV ao século XVII, transformou
profundamente o pensamento moderno. O
filósofo francês René Descartes (1596 – 1650)
constituiu-se em um marco numa época em
que a reflexão filosófica passou a receber
forte influência da ciência moderna. A crença
nas possibilidades da ciência e da razão gera
um grande otimismo, expresso no movimento
conhecido como Iluminismo.
Nesse período, temos o surgimento das
sociedades denominadas de democráticas,
René Descartes
que procuravam a integração das idéias de
liberdade individual e igualdade social. Como marcos importantes desse Se lhe fosse solicitada a indicação de formas de melhorar a performance de
período destacam-se a Revolução Francesa e a independência dos Estados um atleta, a menos que você possua conhecimentos técnicos, construídos pelo
Unidos da América. método científico, provavelmente apontaria sugestões de acordo com o senso
comum, como uma alimentação adequada, dormir bem, muito treinamento
A Idade contemporânea inicia-se com o declínio do otimismo característico etc.
do pensamento moderno. O filósofo alemão Georg W. Friedrich Hegel (1770-
1831) é considerado um grande elemento de transição da Filosofia moderna Com certeza trata-se de medidas que contribuem para o bom desempenho de
por criar um sistema filosófico muito vasto, que evidenciou um conjunto de um atleta. Entretanto, existem, também, recursos científicos que contribuem
limitações dessa etapa da história, inaugurando o pensamento contemporâneo. de forma mais efetiva para a performance dos esportistas, a exemplo da
Surgem, a partir da segunda metade do século XIX, pensadores como Friedrich psicologia esportiva que contribui para a redução ou eliminação dos efeitos da
Nietzsche e Karl Marx que, com suas críticas à sociedade e ao pensamento, ansiedade, do estresse e o aumento da auto-estima; da fisiologia aplicada aos
influenciam fortemente não só o desenvolvimento da Filosofia, mas, também, treinamentos de alta performance, dentre outros.
da Política, da Arte e da Ciência, entre outros. No século XX, observam-se
Na matéria Doping Genético, publicada na Revista Isto É (2008), Luciana
claramente duas vertentes de pensamento que ainda hoje influenciam o
Sgarbi denuncia: “Equipes de Futebol, beisebol, e atletismo querem selecionar
pensamento de filósofos, cientistas, artistas etc.: a Fenomenologia e a Filosofia

UNIDADE 1 – Conhecimento e Ciência 19 TEXTO ÚNICO – O conhecer e os tipos de conhecimento


atletas através do DNA e formar craques com manipulação de genes”. Segundo Barros e Lehfeld (2000, p.36) afirmam que:
a autora, todos os treinadores sonham em melhorar a performance de seus
O senso comum representa a pedra fundamental do conhecimento
atletas, por isso vem sendo cogitada a terapia denominada Doping genético,
humano e estrutura a captação do mundo empírico imediato, para se
haja vista os exemplos que se tem da transmissão de dotes esportivos em transformar posteriormente em um conteúdo elaborado que, através do
várias famílias. Assim, utilizando os conhecimentos da genética, poder-se-ia bom senso, poderá conduzir às soluções de problemas mais complexos
melhorar a performance. e comuns até as formas de solução metodicamente elaboradas e que
compõem o proceder científico.
É para essa modalidade que alguns times de futebol estão olhado, na
tentativa de importar, para si, os “tratamentos genéticos” que podem O conhecimento científico, a exemplo da situação descrita no artigo que
fortalecer sobretudo os músculos dos atletas. comentamos, é obtido por meio de procedimentos que permitem investigar
Equipes européias como o Manchester United, Real Madrid, Celtic e o a realidade, de forma organizada, tais como: classificação, comparação,
San Francisco Giants pensam em contratar o cientista escocês Henning aplicação dos métodos, análise e síntese. O pesquisador extrai do contexto
Wackerhage para ‘fazer testes genéticos em atletas, na busca de indícios social, ou do universo, princípios e leis que reestruturam um conhecimento
de um potencial de alto nível’. Outros sonham mais longe. ‘O técnico de válido e considerado universal.
um grande time me procurou para saber se eu poderia injetar em todos
os jogadores o gene que , em minhas experiências nos laboratórios, De acordo com Cordeiro (2001) é importante ressaltar que este conhecimento
transformou camundongos em super-ratos, com músculos incrivelmente procura alcançar a verdade dos fatos, independentemente da escala de valores
potentes’, diz H. Lee Sweeney, responsável pelo departamento de e das crenças dos cientistas, pois resulta de pesquisas metódicas e sistemáticas
Fisiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Pensilvânia. da realidade.
(SGARBI, 2008, p.97.)
Hoje, a ciência é entendida como uma busca constante de explicações e de
soluções, de revisão e de reavaliação de seus resultados, apesar dos limites
para sua execução. Nesta busca, sempre mais rigorosa, a ciência pretende
aproximar-se cada vez mais da verdade por meio de métodos que proporcionem
controle sistemático e métodos de acompanhamento e revisão dos saberes
detectados.
A ciência é um processo, em construção, de explicação da realidade que
procura renovar-se e reavaliar-se constantemente. Para exemplificar este tipo de
conhecimento e, continuando na mesma linha de pensamento, podemos citar
Leia, assista ou acesse. a medicina atual, na qual vemos os pesquisadores dedicarem anos de estudos
para chegar à identificação de um novo procedimento ou medicamento capaz
Se possível leia o artigo comentado: de curar uma doença.

SGARBI, Luciana. Doping Genético, Revista Isto É, Rio de Janeiro, n. 2010,


ano 31,p 96-97, mai. 2008. Disponível em: <www.terra.com.br/istoe/
edicoes/2010/artigo88185-1.htm>.

UNIDADE 1 – Conhecimento e Ciência 20 TEXTO ÚNICO – O conhecer e os tipos de conhecimento


Para refletir 2

Após a leitura do artigo Os Tropeços da Razão, faça um exercício


reflexivo e procure identificar relações com situações práticas
conhecidas ou vivenciadas por você.
Para pesquisar 1

Localize exemplos de conhecimentos científicos aplicados a uma área de


seu interesse. Discuta suas descobertas com colegas e pessoas da sua
convivência, analisando os custos e os efeitos das descobertas sobre a vida
da sociedade. Memorial
Registre suas reflexões no Memorial.

Memorial

Registre no Memorial os exemplos selecionados e a síntese das discussões Para pesquisar 2


efetuadas.
Com base na reflexão anterior e com apoio de pesquisas bibliográficas
e/ou de internet identifique uma situação concreta que tenha sido
divulgada pela mídia local ou nacional.
Discuta a situação selecionada com familiares, colegas de trabalho e
colegas do Curso.

Leia, assista ou acesse

Leia o artigo Os tropeços da razão de Claudio de Moura Castro, disponível Memorial


em: <http://veja.abril.com.br/031203/ponto_de_vista.html>.
Registre a situação selecionada e as principais reflexões realizadas em
sua discussão do tema.

UNIDADE 1 – Conhecimento e Ciência 21 TEXTO ÚNICO – O conhecer e os tipos de conhecimento


Você é o autor 2

Após a conclusão da atividade de pesquisa faça uma redação estabelecendo


um paralelo entre a matéria e o artigo Os Tropeços da Razão.

Memorial

Publique o seu trabalho no Memorial.

UNIDADE 1 – Conhecimento e Ciência 22 TEXTO ÚNICO – O conhecer e os tipos de conhecimento


Unidade 2 – Pesquisa Científica

A ciência é uma atividade humana voltada à investigação sistemática do


mundo em todas as suas instâncias, por meio dos sentidos e do raciocínio.
Texto 1 – Ciência, metodologia e Ela procura, classifica e relaciona fatos ou fenômenos com a intenção de
encontrar os princípios gerais que os governam. Muitos conhecimentos do
pesquisa senso comum são validados pela ciência. A observação de objetos e ocorrências
do dia-a-dia são suficientes para que se tenha certezas a respeito de muitos
fatos ou fenômenos, outros, entretanto, precisam passar pelo crivo da ciência
para se tornarem mais confiáveis. Segundo Fachin (2001, p. 15) “nota-se que
conhecimentos tradicionais, verificáveis, foram aceitos, cooperando com várias
descobertas científicas”.

Uma cena como essa retratada


ao lado é pouco provável, pois
as observações do cotidiano são
suficientes para que se perceba
desde tenra idade que não
tem lógica. Os conhecimentos
2 científicos são sistemáticos,
portanto ordenados segundo
O que você pensa disto?
princípios lógicos e expõem
interpretações e relações entre
• O que é pesquisa?
os fatos-fenômenos assim
• O que metodologia? como a regularidade de suas
ocorrências.

Fachin (2001, p.22)


afirma que “a ciência é
Memorial sempre algo incompleto:
acumula conhecimentos
A história da ciência se mistura com a história e está constantemente se
Escreva suas respostas no do método científico.
Memorial. renovando por meio de novas
descobertas”.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 23


teórica, desconsiderando a prática. Encontram-se, entretanto, nessa época,
experiências de resgate do pensamento de Aristóteles no tocante à Física, à
Astronomia, além dos conhecimentos de alquimia, que muito contribuíram
para o desenvolvimento dos experimentos de laboratórios, embora proibidos,
no início do século XIV, em bula papal.

Mattar (2008) destaca algumas conquistas importantes para a Ciência na


“Ciência consiste em Europa, na Idade Média, a exemplo do monge Roger Bacon que propunha
agrupar fatos para que o uso de lentes para melhorar a visão, embora o funcionamento dos olhos
leis gerais ou conclusões fosse desconhecido e da introdução do sistema hindu-arábico, a simbolização
possam ser tiradas deles”.
visual das quantidades, considerada uma conquista intelectual tão importante
Charles Darwin quanto o alfabeto. Em 1224, a Escola de Medicina de Salermo foi oficialmente
reconhecida na Europa e posteriormente começaram a surgir hospitais em
várias cidades européias.

No século XIII, desenvolveu-se, na Inglaterra, a chamada Escola de Oxford


que foi um movimento renovador da filosofia e das ciências na Idade Média,
O desenvolvimento da ciência capitaneado por Robert Grosseteste e seus seguidores, dentre os quais
encontravam-se vários monges. Francis Bacon foi um seguidor da Escola de
Oxford, alguns séculos mais tarde, e desempenhou um papel importante no
Os primeiros indícios de método científico surgiram na Grécia Antiga e
desenvolvimento da Ciência.
registros históricos mostram que no Antigo Egito já se utilizavam métodos de
diagnóstico médico. Alexandria notabilizou-se, na Antiguidade, como o grande Merece destaque a invenção da imprensa, no final do Renascimento, para o
centro de estudos das diversas ciências, sendo criado lá, por volta de 300 a.C., crescimento da Ciência.
o Museu de Alexandria, com laboratórios, observatórios, sala de anatomia,
jardins botânicos e zoológicos etc. Foi a primeira instituição científica criada e Os princípios fundamentais do método científico
financiada pelo estado. se consolidaram com o surgimento da Física nos
séculos XVII e XVIII. Como exemplo podemos citar
Aponta-se que um grande avanço no método científico ocorreu no começo o fato de Francis Bacon, em seu trabalho Novum
da civilização islâmica, no século VII, principalmente no uso de experimentos Organum (1620) – uma referência ao conjunto
para decidir entre duas hipóteses. Em Bagdá, no século VIII, foi criada a Casa das obras de lógica de Aristóteles, denominado
da Sabedoria, um centro de estudos que reuniu sábios e tradutores das obras Organon – especificar um novo sistema lógico para
gregas clássicas e de obras científicas trazidas da China, Índia e Alexandria. melhorar o velho processo filosófico do silogismo.
Os árabes se desenvolveram muito na Astronomia, Medicina,Trigonometria,
Ótica, Geografia, Metereologia, Geologia etc. O advento da Burguesia gerou o contexto para
a revolução científica do século XVII, que trouxe
No mundo cristão europeu medieval, assistiu-se à tentativa de conciliar mudanças radicais ao pensamento moderno. De
razão e fé. A Igreja opunha-se à difusão da ciência, numa época marcada acordo com Aranha e Martins (2003, p. 177):
por um paradigma teogônico, que colocava Deus no centro de todas as
explicações. A herança grega, na Idade Média, restringia os estudos à base

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 24 TEXTO 1 – Ciência, metodologia e pesquisa


O renascimento científico deve ser compreendido, portanto, como a
expressão da nova ordem burguesa. Os inventos e descobertas são
inseparáveis da nova ciência, já que para o desenvolvimento da indústria,
a burguesia necessita de um saber que investigue as forças da natureza
a fim de usá-las em seu benefício. A ciência não é mais submissa à
teologia; deixa de ser um saber contemplativo, formal e finalista, para,
indissoluvelmente ligada à técnica, servir à nova classe.

Enquanto a Antiguidade e a Idade Média tinham como


inquestionáveis a existência do objeto e da capacidade
do homem de conhecer; o pensamento moderno
caracteriza-se pelo racionalismo, que levou o homem
a duvidar da existência do próprio objeto. Temos aí
Descartes duvidando de tudo, até que se convença da Revolução industrial – máquina de Richard Hartmann
própria existência: “Penso, logo existo”. A dúvida é a Alemanha
René Descartes base do método cartesiano.
O século XX assiste à exploração de fontes diversificadas de energia. A passagem
do uso do vapor à eletricidade representou oportunidade de importantes
Galileu Galilei dedica-se a teorizar a respeito do método avanços na indústria e na vida das pessoas. A energia atômica revolucionou
científico, o que gera a separação entre filosofia e ciência, a visão das ciências, transformando a ciência das certezas em ciência da
que até aqui vinham entrelaçadas. O teocentrismo cede probabilidade.
lugar ao antropocentrismo. Assim, o saber ativo contrapõe-
se ao saber contemplativo das eras anteriores, o homem A racionalidade e a consciência representam apenas uma camada da
encontra-se no centro das decisões e interesses. psique humana, que é também determinada por processos inconscientes
e irracionais sobre os quais o ser humano não tem controle; não é possível
Galileu com seus estudos ocasionou um importante prever os fenômenos nucleares, já que seus movimentos são irregulares
desenvolvimento da Astronomia, que constituiu a e desordenados; tempo e espaço não são absolutos, mas relativos;
principal área de avanços científicos da época, tendo Galileu Galilei o universo está em constante expansão; os átomos são estruturas
se destacado nessa área, além dele, Copérnico, Kepler e Newton. Os estudos praticamente vazias, e não maciças; a matéria é descontínua.
desse grupo, partindo de Galileu, deram origem à Física moderna. Por mais paradoxal que possa parecer, o intenso desenvolvimento da
ciência, no século XX, acabará abalando a crença do ser humano num
Temos à época teorias antagônicas como o Racionalismo e o Empirismo, que universo regido por leis e passível de ser conhecido em seus mínimos
contribuem para o afastamento da visão teocêntrica. detalhes. Ao contrário, o progresso científico do século passado levou o
ser humano a perceber que só pode compreender o mundo em que vive
Com a Revolução Industrial, ciência e indústria influenciam-se mutuamente. pela lei das probabilidades, por meio de aproximações que, em geral, são
Surgem invenções importantes associando ciência e tecnologia, visando passíveis de erro. A ciência passa a conviver com a idéia de que o acaso
resolver os problemas surgidos nas indústrias. As ciências vão ganhando desempenha papel primordial no universo, assim como o próprio ser
espaços importantes. Como exemplo temos o desenvolvimento da química, humano. Deus joga dados, e a ciência não é epistemológica e tampouco
da física e da matemática. ontologicamente neutra. (MATTAR, 2008, p. 18.)

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 25 TEXTO 1 – Ciência, metodologia e pesquisa


Pesquisa Tipos de pesquisa

A pesquisa consiste na execução de um conjunto de ações e de Existem diversas classificações de pesquisa, de acordo com o aspecto
estratégias integradas e harmonizadas seqüencialmente, para considerado. Demo (2000, p. 20-21), relata quatro tipos de pesquisa, de acordo
a geração de conhecimento original, de acordo com certas com o objeto de estudo:
exigências e condições.
• Pesquisa teórica – é aquela que tem como objetivo “reconstruir
Ander-Egg (apud Lakatos, 2001, p.155) define pesquisa como “um teorias, conceitos, idéias, ideologias, polêmicas” com a finalidade de
procedimento reflexivo sistemático controlado e crítico, que permite descobrir aprofundar os fundamentos teóricos e posteriormente aprimorar as
fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento”. O práticas.
resultado desta busca reflexiva é conhecer verdades parciais.
• Pesquisa metodológica – dedica-se “a inquirir métodos e
Gil (2002, p.19) também fala em “procedimento racional e sistemático” e procedimentos a serviço da cientificidade, polêmicas e paradigmas
acrescenta que, para ser realizada pesquisa são imprescindíveis métodos e metodológicos, usos e abusos, tanto em âmbito mais epistemológico,
caminhos técnicos, que estão entre os chamados procedimentos científicos. quanto de controle empírico”;
Sobre este alicerce funda-se o edifício da ciência, na qual a construção dos • Pesquisa empírica – dedica-se “a tratar a face empírica e fatual
conhecimentos é forjada com rigor, cuidado e parâmetros que oferecem da realidade, de preferência mensurável; produz e analisa dados,
segurança e legitimidade às informações descobertas. procedendo sempre pela via do controle empírico e fatual, cujo
extremo já se torna empirista”;
Podemos então concluir que
• Pesquisa prática – relaciona-se “à práxis, ou seja à prática histórica
pesquisa é toda atividade geradora de conhecimento, tecnologia
em termos de usar conhecimento científico para fins explícitos de
ou patente, assim como as investigações docentes e as pesquisas
intervenção, nesse sentido não esconde a sua ideologia; ao contrário,
realizadas nos Programas de Iniciação Científica, nos Trabalhos
reconstrói o conhecimento a serviço de certa ideologia, sem com isso
de Conclusão de Cursos e nos Programas de Pós-Graduação das
necessariamente perder de vista o rigor metodológico.”
Instituições de Ensino Superior.
Alerta o autor que, como nenhum tipo de pesquisa é auto-suficiente , na prática
combinamos todos eles, com predominância de um ou outro tipo.

Leia, assista ou acesse

Leia o artigo O que é fazer pesquisa? do Prof. Gilberto Teixeira em: http://
www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=21&texto=1347.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 26 TEXTO 1 – Ciência, metodologia e pesquisa


o percurso da pesquisa dependem do pesquisador, constituindo-se em uma
espécie de auto-retrato. Daí a necessidade de o pesquisador/estudante ou
grupo responsável por um projeto ou pesquisa científica estar bem sintonizado
e possuir alguns requisitos básicos, que variam de instituição para instituição,
e também de acordo com os objetivos do trabalho a ser realizado.

Dentre os principais requisitos de um pesquisador destacam-se:

• Fundamentação técnico-científica;
• Adequação das competências do pesquisador aos objetivos da
proposta. No caso de pesquisas avançadas exige-se que o currículo do
pesquisador esteja incluído na base de dados do CNPq – Plataforma
Lattes;
• Dedicação – recomenda-se ao profissional que for realizar uma
pesquisa individualmente ou em grupo, não estar participando de
Einstein Darwin outro projeto em andamento, de forma a evitar uma sobrecarga de
atividades e conseqüentemente um prejuízo a um ou a ambos os
O(s) pesquisador(es) projetos;
• Produção intelectual (constante do currículo) – todo candidato a
A pesquisa científica, de acordo com sua abrangência, pode envolver uma pesquisador deve se preocupar em manter uma produção intelectual
equipe de pesquisadores e auxiliares. constante;
• Experiência comprovada em projetos anteriores (exceção somente para
É importante abordarmos algumas características desejáveis na equipe de pes-
quisa ou quadro de pesquisadores. as pesquisas realizadas no campo acadêmico e no caso de auxiliares
de pesquisa que, via de regra, são estudantes de graduação e pós-
A pesquisa acadêmica é normalmente individual e o estudante deve se informar graduação);
sobre as normas e procedimentos adequados para realização da atividade. No • Formação em áreas de graduação e/ou pós-graduação compatíveis
caso específico desse Curso o Trabalho de Conclusão de Curso – TCC é realizado com o tema proposto.
individualmente, de acordo com o disposto na Resolução 1/2007 do Conselho
Nacional de Educação, com assistência permanente de um orientador, tanto A metodologia de Pesquisa
na parte metodológica quanto temática da ênfase selecionada, tendo como
meta aprofundar e aplicar os conhecimentos. A Metodologia é a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e
exata de toda ação desenvolvida no método (caminho) do trabalho
A cada etapa, desde a escolha do tema; a definição da forma de problematizá-
de pesquisa. É a explicação do tipo de pesquisa, do instrumental
lo; a escolha dos métodos e instrumentos a serem utilizados; a seleção dos
autores e dos documentos que servirão como arcabouço teórico; a linguagem utilizado, do tempo previsto, da equipe de pesquisadores e da
a ser adotada na elaboração final do documento, seja ele um relatório, uma divisão do trabalho, das formas de tabulação e tratamento dos
monografia, uma dissertação ou uma tese, enfim, todos elementos e todo dados, enfim, de tudo aquilo que se utilizou no trabalho de
pesquisa. (BELLO, 2008, p.20)

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 27 TEXTO 1 – Ciência, metodologia e pesquisa


O método científico pode ser utilizado de forma contínua e crescente, para
desenvolver modelos mais úteis, precisos e abrangentes. Como exemplo
desta afirmação podemos citar que quando Einstein desenvolveu a teoria da
relatividade, não refutou a teoria da gravidade de Isaac Newton, e sim fez uma
expansão daquela teoria. Vale destacar que o método científico não é uma
receita, ele requer inteligência, imaginação, criatividade e sistematização.
Metodologia científica
É comum ouvirmos que importantes avanços na ciência ocorreram por acaso
ou por acidente, no entanto, o que é possível afirmar é que fatos assim Metodologia científica refere-se à forma como funciona o conhecimento
qualificados foram parcialmente acidentais, uma vez que os responsáveis por científico.
estas descobertas já haviam aprendido a pensar cientificamente diante de algo
novo e interessante. A metodologia científica tem sua origem no pensamento de Descartes, que foi
posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo físico inglês Isaac Newton.
Os progressos da ciência são acompanhados de muitas horas de trabalho Descartes propôs chegar à verdade através da dúvida sistemática e da decomposição
cuidadoso, que segue um caminho mais ou menos sistemático na busca de do problema em pequenas partes, características que definiram a base da pesquisa
respostas a questões científicas. Esse caminho é denominado de método científica.
científico.
O Círculo de Viena acrescentou a esses princípios a necessidade de verificação e o
método indutivo.
Para que possamos afirmar que uma pesquisa é confiável torna-se necessário
o cumprimento de alguns requisitos essenciais à sua realização. Assim, a Karl Popper demonstrou que nem a verificação nem a indução serviam ao método
metodologia de pesquisa precisa integrar a formação acadêmica de todos científico, pois o cientista deve trabalhar com o falseamento, ou seja, deve fazer
aqueles que buscam construir e desenvolver conhecimentos, podendo ser uma hipótese e testar suas hipóteses procurando não provas de que ela está certa,
introduzida nos primeiros anos da formação do estudante, com metodologia mas provas de que ela está errada. Se a hipótese não resistir ao teste, diz-se que
e linguagem adequada ao nível dos alunos. Isso porque, ao contrário do que ela foi falseada. Caso não, diz-se que foi corroborada. Popper provou também
muitos pensam, o ensino, em qualquer nível e grau, deve apoiar-se na pesquisa que a ciência é um conhecimento provisório, que funciona através de sucessivos
científica como fonte de produção de novos saberes, em lugar de se restringir falseamentos, ao contrário do conhecimento religioso, que trabalha com “verdades
à simples reprodução do que já se encontra definido como conhecimento. eternas”. No entanto, a religião não tem nenhum compromisso com a razão.

Leia, na janela, o texto Metodologia científica. Thomas Kuhn percebeu que os paradigmas são elementos essenciais do método
científico, sendo os momentos de mudança de paradigmas chamados de revoluções
científicas.

Mais recentemente, a metodologia científica tem sido abalada pela crítica ao


pensamento cartesiano elaborada pelo filósofo francês Edgar Morin. Morin propõe,
no lugar da divisão do objeto de pesquisa em partes, uma visão sistêmica, do
todo. Esse novo paradigma é chamado de Teoria da complexidade (complexidade
entendida como abraçar o todo).

(Extraído de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Metodologia_cientifica. Acesso em: 10 jun.2008.)

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 28 TEXTO 1 – Ciência, metodologia e pesquisa


Procedimentos e características essenciais ao método da definição de objetivos, ou seja, pressupõe um conjunto de respostas,
científico explicações possíveis para as observações a respeito das questões levantadas e
as medidas correspondentes.
A execução de uma pesquisa com rigor científico pressupõe a escolha de um
tema e a definição de um problema a ser investigado. Essa definição dependerá Seguindo com o nosso exemplo, apontamos algumas prováveis hipóteses a
dos objetivos que se pretende alcançar. A partir daí elabora-se um projeto de serem elencadas pelo pesquisador para responder às questões: Qual a posição
pesquisa, definindo os caminhos a serem seguidos na investigação. do professor nessa situação? Como ele deve se comportar?

O método científico envolve os seguintes procedimentos básicos: Hipóteses

a. Caracterização do problema • Os professores decidem questionar a Direção da Escola e convocam uma


reunião de professores e demais profissionais para assumirem uma posição
O processo se inicia com a caracterização do problema delineado em dimensões única na Instituição;
técnicas e operacionais viáveis, delimitadas e objetivas, isto é, quantificações, • Os professores deixam de lado seus princípios éticos e assumem passivamente
observações e medidas que permitem delimitar a situação a ser pesquisada. a decisão da Direção;
Responde a questões tais como: O que acontece? Em que medida?
• Os professores simplesmente não cumprem a decisão da Direção e passam
a conviver em constante conflito no ambiente de trabalho;
Imaginemos a seguinte situação: um acadêmico precisa elaborar um projeto
de pesquisa no final do curso de Pedagogia e ao procurar definir o seu • Alguns professores assumem a posição de se desligarem da Instituição,
projeto observa que existem divergências entre os professores de uma Escola utilizando o recurso da transferência.
Pública, em relação à condução de atividade de educação religiosa como tema
transversal. Propõe-se a realizar uma pesquisa visando compreender como os c. Previsões
professores conduzirão esse processo e as razões que motivam suas ações.
A análise das diversas hipóteses, objeto do trabalho, ocorre por meio de
Problema: deduções lógicas, desenvolvidas conforme uma metodologia científica que
responde à questão: como fazer?, de forma coerente com os cenários da
A Direção da escola exige que todos os professores realizem tarefas com pesquisa, os recursos disponíveis para sua execução e a finalidade ou aplicação
fundamentos religiosos, de acordo com uma linha previamente definida por esperada dos resultados.
ela, porém, escola pública trata-se de uma instituição laica, não cabendo
nenhuma opção religiosa. Qual a posição do professor numa situação dessa? Essa etapa gera um conjunto de ações planejadas com base nas deduções
Como ele deve se comportar? realizadas.

b. Estabelecimento de hipóteses Exemplo:

Delimitado o problema de pesquisa, o próximo passo é o estabelecimento de O pesquisador analisa as hipóteses e deduz que no corpo docente da escola
um conjunto de hipóteses a respeito da relação existente entre as variáveis, há professores que:
na forma de respostas plausíveis para o problema ou de explicações do
fenômeno-problema, em proposições que podem ser testadas a partir de • preferem não tratar da questão religiosa;
dados e observações levantados pelo pesquisador para servir como indicadores
• preferem abordar a questão religiosa de acordo com a própria opção;

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 29 TEXTO 1 – Ciência, metodologia e pesquisa


• não gostam de ser coagidos, independente de aprovarem ou não a opção e utensílios. Para isso, este tipo de pesquisa normalmente é desenvolvido em
da direção; campo ou laboratórios. Este método é tido como exemplar na construção de
conhecimentos rigorosamente verificados e cientificamente comprovados.
• não possuem opinião formada e preferem seguir o grupo etc.
Podemos concluir que experimentação envolve a observação, manipulação e
Com base nas deduções define que para realização da pesquisa é importante controle do efeito produzido em uma dada situação. Diante de uma situação
utilizar o método quantitativo, mesclado com o qualitativo, e o procedimento nova, o cientista formula uma hipótese a partir da qual realiza o experimento,
mais apropriado é inquirir os próprios professores a respeito de como buscando as evidências. De posse dos resultados experimentais, o cientista
acham que deve ser conduzida a educação religiosa na Escola, qual a sua habilita-se a fazer as elaborações teóricas.
opção religiosa, se se encontram preparados para tratar o assunto de forma
imparcial etc. Para isso será utilizada a técnica da entrevista, pois a partir das Para maior segurança nas conclusões, toda experiência deve ser controlada,
respostas será possível avaliar o posicionamento dos profissionais em relação isto é, realizada com técnicas que permitam descartar as variáveis passíveis de
ao comportamento desejado pela Direção da Escola e mensurar o nível de mascarar o resultado.
satisfação da equipe.
Por exemplo
d. Investigação / Experimentação
o pesquisador pode concluir que não basta entrevistar os professores, sendo
O trabalho científico pode envolver vários tipos de investigação. Dencker e necessário também ouvir os alunos e as famílias, já que são diretamente
Da Viá (2001) alertam para a necessidade de se conhecer as categorias de interessados na questão. Para isso pode adotar questionários, realizar reuniões
investigação, sua abrangência e atividades envolvidas. Podem ser utilizadas etc.
no trabalho científico investigações não experimentais e experimentos
diversificados. As hipóteses precisam ser válidas para observações feitas no passado, no
presente e no futuro. As hipóteses da pesquisa do nosso exemplo devem
Conforme já discutimos, o trabalho científico tem como base um conhecimento continuar válidas em qualquer época, ou seja, as hipóteses devem ser
do senso comum que será investigado com vistas à sua transformação em suficientemente abrangentes para abarcar situações semelhantes, mesmo em
conhecimento científico. A investigação não experimental consiste na momentos diferentes.
observação de experiências do cotidiano. É o caso daquela realizada com a
finalidade de definir um problema de pesquisa, identificar possíveis hipóteses Uma forma de validar as hipóteses do nosso exemplo seria replicar a pesquisa
etc. em outra escola.

O procedimento conhecido como experimento consiste na e. Descrição


realização de atividades controladas para testagem das hipóteses
definidas sobre a situação proposta. O experimento precisa ser replicável, ou seja, capaz de ser reproduzido. No
exemplo em questão, ao término da pesquisa, é necessário produzir um
Uma experiência científica traduz-se na montagem de uma estratégia documento científico no qual se apresentem os fundamentos adotados, os
concreta a partir da qual se organizam diversas ações observáveis direta ou procedimentos utilizados e os resultados obtidos.
indiretamente, de forma a provar a veracidade ou falseabilidade de uma dada
hipótese, para estabelecer relações de causa e efeito entre fenômenos. Além O caminho da experimentação pode ser sintetizado no infográfico que se
de ocorrer por meio dos sentidos tátil, olfativo, gustativo, visual e auditivo a segue.
experiência pode envolver a utilização de todo um aparato de equipamentos

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 30 TEXTO 1 – Ciência, metodologia e pesquisa


Você é o autor 3

Escreva, com suas palavras, um conceito de metodologia.

Escolha um colega da turma, selecionando um nome na lista fornecida pelo


Tutor e encaminhe seu conceito, por e-mail; não esquecendo de colocar no
texto, seu nome e o espaço para seu colega colocar o dele.

Lembre-se: cada colega de turma somente poderá receber um conceito,


portanto escolha na lista fornecida na plataforma o colega que vai analisar
o seu conceito.

Quando você receber o e-mail de um colega, leia o texto elaborado por ele
e veja se está claro ou se precisa fazer algum acréscimo. Depois que fizer a
“correção” devolva o e-mail para o autor.

Após receber de volta seu conceito, veja se você concorda com a sugestão
do colega reformulando-o se julgar procedente.

Memorial

Registre no Memorial o seu conceito original, as sugestões do colega,


Fonte: Dencker; Da Viá, 2001, p.56. identificando-o, e o conceito reformulado, se for o caso.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 31 TEXTO 1 – Ciência, metodologia e pesquisa


Para refletir 3

1. Existem algumas Instituições Acadêmicas que estão questionando a real


necessidade de se colocar a disciplina Metodologia Científica nos currículos
de seus cursos de graduação e pós-graduação. Que conseqüências
poderiam decorrer da retirada da disciplina dos currículos?

2. O sujeito não chega vazio em um trabalho de investigação sobre um


dado fenômeno uma vez que o pesquisador vai construindo seu olhar a
partir de sua história (BRANDÃO, 1987, p. 87).

Você concorda com a afirmação de Brandão?

Memorial

Registre suas reflexões no Memorial.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 32 TEXTO 1 – Ciência, metodologia e pesquisa


Em outras palavras:

O método é o procedimento que permite estabelecer conclusões


de forma objetiva, enquanto a técnica é um sistema de princípios
Texto 2 – Métodos científicos e normas que auxilia na aplicação dos métodos, justificando-se
por sua utilidade.

Portanto, o método é o procedimento que se segue para estabelecer o


significado dos fatos e fenômenos para os quais se dirige o interesse científico,
enquanto a técnica é o procedimento prático que se deve seguir para levar a
cabo uma investigação.

A atividade científica é alavancada pela motivação, isto é, por uma disposição


íntima para buscar novos caminhos e soluções. Essa motivação, em muitos
casos, indica os caminhos a serem percorridos no processo de investigação. Por
exemplo, na pesquisa teórica, o pesquisador está voltado para satisfazer uma
necessidade intelectual de conhecer e compreender determinados fenômenos;
na pesquisa aplicada, ele busca orientação prática à solução imediata de
problemas concretos do cotidiano e assim cada método tem uma necessidade
a ser satisfeita.

Percebe-se que a função social de uma pesquisa traz implícita a cosmovisão do


3 pesquisador e também a sua maneira de conceber a ciência.

O que você pensa disto? Vamos iniciar este texto retomando os Vamos discutir alguns métodos, iniciando pelos métodos indutivo e dedutivo,
conceitos de método e técnica. que “são, antes de mais nada, formas de raciocínio ou de argumentação e,
• Qual a diferença entre como tais, são formas de reflexão, e não de simples pensamento.” (CERVO E
método e técnica? • Método – consiste no caminho a BERVIAN, 2002, p. 31).
• Quais os métodos ser seguido mediante uma série de
científicos que você operações e regras prefixadas, aptas
conhece?
Método Indutivo
para alcançar o resultado proposto;
Indução é um processo mental que
• Técnica – é a maneira de percorrer parte de fatos, fenômenos, dados
esse caminho. particulares, suficientemente
constatados, para deles
O método se faz acompanhar da técnica, que extrair uma verdade geral ou
Memorial
é o instrumento que o auxilia na procura de universal, não contida nas partes
Escreva sua resposta no
determinado resultado: informação, invenção, examinadas.
Memorial tecnologia etc.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 33 TEXTO 2 – Métodos científicos


Portanto, o método indutivo parte do particular (situação concreta) para o O método dedutivo faz o caminho inverso ao do indutivo, ou seja, o
geral (teoria), ou seja, trata-se de um método empirista. racionalismo.

O método indutivo foi sistematizado por Francis Bacon. Seus passos são os Dedução é o processo mental que parte das verdades estabelecidas
seguintes: para a análise dos fatos e fenômenos particulares, verificando sua
adequação à teoria, usando-os para comprová-la. Esse método
• observação dos fatos ou fenômenos e análise parte do geral para o particular, ou seja, do corpo teórico para as
com vistas a identificar as suas causas; situações concretas.
• descoberta da relação entre os fatos ou
Os passos do método dedutivo são os seguintes:
fenômenos, estabelecendo comparações entre
eles. • compreensão das bases teóricas (verdades universais);
• generalização da relação encontrada na • análise dos fatos e fenômenos concretos;
etapa anterior para situações semelhantes (não
observadas). Francis Bacon • estabelecimento de relação entre a teoria e os casos particulares,
comprovando a primeira.
É importante adotar alguns cuidados ao utilizar o método indutivo: ter certeza
de que a relação a ser generalizada é realmente essencial; certificar-se de que O uso desse método envolve cuidados dentre os quais destacamos: certificar-
a generalização seja feita para fatos ou fenômenos idênticos aos observados e se de que a explicação possui bases teóricas sólidas, aplica-se à situação
realizar número suficiente de análises ou experimentos de forma que a amostra particular analisada e estabelece relação entre as explicações e as premissas, o
seja representativa da população. que constitui o ponto central do método.

Método Hipotético Dedutivo


Método Dedutivo
Karl Raymund Popper, formulador do método
hipotético-dedutivo, afirma consistir esse
método na construção de conjecturas, que
devem ser submetidas aos mais diversos testes
possíveis: crítica intersubjetiva, controle mútuo
pela discussão crítica, publicidade crítica e
confronto com os fatos, para ver quais hipóteses
sobrevivem como mais aptas na luta pela vida,
resistindo, portanto, às tentativas de refutação
e falseamento. Karl Raymund Popper

Popper (apud Lakatos e Marconi, 1991, p.67) contestava o método indutivo,


considerando que a indução

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 34 TEXTOmetodologia


TEXTO 1 – Ciência, 2 – Métodos ecientíficos
pesquisa
não se justifica, pois leva a volta ao infinito, na procura de fatos que a
confirmem, ou ao apriorismo, que consiste em admiti-la como algo já
dado como simplesmente aceito, sem a necessidade de ser demonstrada,
justificada.

Veja, a seguir, o esquema dos passos do método hipotético-dedutivo para


Popper, sistematizados por Lakatos e Marconi, 1991, p.67):

• Aparecimento do problema, normalmente em função de conflitos


entre expectativas e teorias.

• Conjectura sobre possível explicação nova, com a dedução de


proposições a serem testadas.

• Testes de falseamento, visando refutar as proposições por meio de


procedimentos como a experimentação e a observação. As hipóteses
refutadas deverão ser reformuladas e testadas novamente. Se forem
confirmadas serão consideradas provisoriamente válidas.

Segue-se um fluxograma detalhando os passos do método, conforme proposto


por Popper.

Fonte: Lakatos e Marconi, 1991, p.65.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 35 TEXTO 2 – Métodos científicos


Método Positivista • observação objetiva (neutra) dos fenômenos; é preciso que o sujeito
que produz o conhecimento coloque um limite entre ele e o objeto de
estudo.

• valorização exclusiva do fenômeno, ou seja, que somente pode ser


conhecido por meio da observação e da experiência.

• segmentação da realidade, significa a compreensão de que totalidade


ocorre por meio da compreensão das partes que a compõem.

Método Estruturalista

Auguste Comte Émile Durkheim

O método positivista enfatiza que a ciência constitui a única fonte de


conhecimento, estabelecendo forte distinção entre fatos e valores; é um método
geral do raciocínio proveniente de todos os métodos e técnicas particulares
(dedução, indução, observação, experiência, comparação, analogia e outros).
Ferdnand de Saussure Jakobson Claude Lévi Strauss Louis Althusser
Os principais representantes deste método são Comte e Durkheim, ambos Língüística Antropologia Sociologia
acreditam que a sociedade possa ser analisada da mesma forma que a natureza.
Assim, a Sociologia tem como tarefa o esclarecimento de acontecimentos O Estruturalismo como corrente metodológica foi elaborado na França por
sociais constantes e recorrentes. Seu papel fundamental é explicar a sociedade meio de uma luta aberta contra o Existencialismo, representado por Sartre, e
para manter a ordem vigente. contra as formas de pensamento historicista, incluindo o marxismo.
No Brasil, temos fortes influências do positivismo e como máxima desse Os estruturalistas consideram que os fenômenos da vida humana não são
método podemos citar o emprego da frase “Ordem e Progresso” em nossa inteligíveis isoladamente. Por essa razão, é necessário compreender as relações
bandeira nacional, que foi extraída da fórmula máxima do Positivismo: “O entre eles, ou seja, a estrutura que se encontra por detrás das variações
amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim”. Essa frase tenta particulares, constituídas pelos fenômenos.
passar a imagem de que cada coisa em seu devido lugar conduziria para a
perfeita orientação ética da vida social. Assim, o método estruturalista leva em consideração, principalmente, o estudo
das relações existentes entre os elementos. Como principais representes desse
Comte propôs os seguintes passos concebidos para o método positivista: método podemos destacar Ferdinand Saussure e Jakobson, na Lingüística; Lévi-
Strauss, na Antropologia e Radcliffe-Brown e Althusser, na Sociologia; Piaget
na Psicologia; Lacan, na Psicanálise.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 36 TEXTOmetodologia


TEXTO 1 – Ciência, 2 – Métodos ecientíficos
pesquisa
O método estruturalista possui duas etapas: a primeira vai do concreto Sócrates criou o método da Ironia e Maiêutica, que se
para o abstrato e, na segunda, do abstrato para o concreto, dispondo, na desenvolvia assim: ele fazia uma pergunta, ouvia resposta,
segunda etapa, de um modelo para analisar a realidade concreta dos diversos perguntava de novo refutando a resposta até eliminar as
fenômenos. certezas do interlocutor. Essa é a fase chamada de Ironia.
No segundo momento, a Maiêutica, voltava perguntando
para que o interlocutor reconstruísse seu conhecimento
de forma mais crítica, eliminando as contradições.

Veja, na janela, uma explicação a respeito da Ironia e da


Maiêutica.
Leia, assista ou acesse
Sócrates
Em entrevista ao jornalista Paulo Moreira Leite , da revista Veja, o professor
Claude Lévi-Strauss, aos 75 anos, fala de suas recordações do Brasil, das
sociedades primitivas, das distorções que a seu ver sofreu o pensamento
estruturalista e de suas peculiares idéias sobre arte moderna, além de
manifestar um profundo ceticismo com relação ao futuro da civilização.
Leia o conteúdo desta entrevista no seguinte endereço: http://veja.abril.
com.br/especiais/35_anos/ent_strauss.html .

Método Dialético
A palavra ironia vem do grego eironeia, que significa perguntar fingindo
ignorar. Ironia, em grego, tem o sentido de interrogação, questionamento.
A palavra maiêutica, também de origem grega, vem de maieutiké, que
significa relativo ao parto.
Portanto, o método de Sócrates tinha um momento de interrogação visando
eliminar as incertezas e um momento de gestação das novas idéias.

Platão considerava dialética como sinônimo de filosofia, pois é o método mais


eficaz de aproximação do mundo das idéias. Propunha o diálogo como técnica
para atingir o verdadeiro conhecimento.
Friedrich Engel e Karl Marx
Aristóteles considerava dialética como a lógica do provável, do que parece
O conceito de dialética tem sua origem na Grécia antiga. Alguns o atribuem ao aceitável para todos, ou para a maioria das pessoas ou para os pensadores
filósofo Zenon e outros a Sócrates. mais ilustres.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 37 TEXTO 2 – Métodos científicos


Muitos outros pensadores fizeram a sua interpretação da dialética. O método
dialético ganhou muita força na Idade Moderna com Hegel (dialética idealista)
e Marx e Engels (dialética materialista). De acordo com os pensadores, as bases
teóricas modificam-se, o olhar também, porém os procedimentos se mantêm.
Leia, assista ou acesse
A aplicação da dialética à investigação científica envolve uma análise objetiva
e crítica da realidade, para aprofundar o seu conhecimento com vistas à
Você poderá ler mais a respeito do método dialético em
transformação.
http://www2.pucpr.br/reol/index.php/DIALOGO?dd1=730&dd99=view
Observe que o método parte do princípio de que no universo nada está isolado,
tudo é movimento e mudança, tudo depende de tudo. Assim, a dialética
realiza-se pela reflexão a respeito da relação sujeito e objeto, confrontando as
variáveis e suas contradições para chegar a uma síntese. Veremos a seguir os métodos quantitativo e qualitativo, assim classificados em
função do tratamento dispensado aos dados de pesquisa.
Constituem categorias fundamentais do método dialético:
Método Quantitativo
• Totalidade – a compreensão do objeto de estudo só é possível se
o considerarmos na totalidade, tendo em vista a necessidade de
estabelecer as bases teóricas para sua transformação.

• historicidade – a contextualização do problema de pesquisa é


essencial para sua compreensão, assim é importante, para entendê-
la, identificar o autor, sua intenção, o momento e o local da pesquisa
etc.

• Contradição – o método dialético sempre parte da análise crítica


do objeto a ser pesquisado, procurando identificar as contradições
internas em cada fenômeno estudado. Considera que só assim é
possível encontrar as variáveis determinantes do fenômeno.
Para Minayo e Sanches (1993, apud Teixeira, 2001, p.24) a pesquisa
Identificam-se no método dialético os seguintes passos: quantitativa utiliza a linguagem matemática para descrever as causas de um
fenômeno e as relações entre variáveis. Esse método considera a realidade
• elaboração da tese, ou seja, a afirmação inicial. como formada por partes isoladas; não aceita outra realidade que não seja os
fatos a serem verificados; busca descobrir as relações entre fatos e variáveis;
• elaboração de antítese, ou seja, de uma oposição à tese; visa o conhecimento objetivo; propõe a neutralidade científica; rejeita os
conhecimentos subjetivos; adota o princípio da verificação; utiliza o método
• elaboração da síntese, ou seja,do conflito resultante da análise da das ciências naturais – experimental-quantitativo – e propõe a generalização
tese e da antítese surge a síntese. Esta, por sua vez transforma-se em dos resultados obtidos. Caracterizando-se finalmente pelo emprego da
tese para um novo ciclo, com a colocação de nova antítese resultando quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no
em nova síntese e assim por diante. tratamento delas por meio de técnicas estatísticas.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 38 TEXTOmetodologia


TEXTO 1 – Ciência, 2 – Métodos ecientíficos
pesquisa
Método Qualitativo O exemplo mais próximo de nossa realidade, nos dias atuais, é a questão
protagonizada pelos políticos brasileiros que passam a fazer parte dos
noticiários nacionais com envolvimentos em escândalos financeiros, pessoais,
éticos e morais. A comunicação hoje é muito investigativa e procura fazer
com que os profissionais desse seguimento estejam bem sintonizados com
os procedimentos científicos para elaborarem uma notícia completa e com
o máximo de informações e detalhes do fato explorado.

• transcrições de trechos de documentos, correspondências, registros


variados

O melhor exemplo desse tipo de utilização ou técnica é o trabalho realizado


por arqueólogos ou historiadores. Muitas vezes, passam anos a fio tentando
montar um único documento ou traduzir um registro arcaico encontrado
em escavações ou uma teoria não comprovada.

• gravações ou transcrições de entrevistas e discursos


O método qualitativo contrapondo o método quantitativo, não emprega um Este é o recurso mais utilizado pelos jornalistas. Quando da elaboração
referencial estatístico como base do processo de análise de um problema. de uma matéria para veiculação nos meios de comunicação, eles são
Esse método privilegia os dados qualitativos das informações disponíveis. compelidos a realizar um verdadeiro trabalho científico, pois descrevem
o problema; elaboram as hipóteses; deixam claros os objetivos e passam
Tendo em vista a sua importância e considerando ser esse um método
a levantar todos os dados e informações para, ao final, apresentarem ao
muito utilizado atualmente no meio acadêmico, vamos analisá-lo com
público um verdadeiro trabalho científico, após a conclusão de todos os
mais detalhes. Primeiramente vamos entender os dados trabalhados nesse
passos e procedimentos científicos no processo elaborativo.
método.
• interações entre indivíduos, grupos e organizações
De acordo com Patton, 1980 e Glazier, 1992 (apud Dias, 2000, p.1)
constituem dados qualitativos: Continuando na mesma linha de pensamento inicial dos exemplos,
podemos descrever como modelo de interações entre indivíduos, grupos
• citações das pessoas a respeito de suas experiências
e organizações o caso dos professores que são induzidos pela Direção da
Como exemplo podemos citar o presente estudo, em que, a todo Escola a trabalhar o tema religião de forma transversal no currículo escolar.
instante, estamos recorrendo à técnica da citação, lembrando outros A pesquisa proposta terá necessariamente de passar pelos três níveis de
autores e estudiosos que já realizaram trabalhos e utilizaram os mesmos discussão.
recursos e também já foram citados por outros autores.
Como características essenciais da pesquisa qualitativa podemos destacar:
• descrições detalhadas de fenômenos e comportamentos
• o ambiente natural – constitui sua fonte direta de dados;

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 39 TEXTO 2 – Métodos científicos


• o pesquisador – constitui o principal instrumento; termos quantitativos e sujeitos a uma interpretação ou manipulação estatística,
com a intenção de se encontrar ou detectar relações entre eles, permitindo,
• os dados coletados – predominantemente descritivos, conforme assim, a realização de uma generalização sobre a natureza ou o significado dos
descrito anteriormente; dados analisados.

• a preocupação com o processo – superior à dedicada ao produto; Os testes estatísticos permitem determinar numericamente tanto a probabilidade
de acerto de uma determinada conclusão, como a margem de erro de um
• o significado que as pessoas conferem aos objetos, acontecimentos coeficiente obtido. Os procedimentos estatísticos fornecem considerável reforço
e à própria vida – é objeto da atenção do pesquisador; às conclusões obtidas, sobretudo mediante experimentação, observação,
análise e prova.
f. a análise dos dados – ocorre basicamente em um processo indutivo,
ou seja, parte-se da análise das situações particulares para chegar à Como exemplo, podemos citar uma pesquisa entre os participantes deste curso
generalização. de pós-graduação de educação, visando caracterizar o perfil da turma.

Uma técnica muito utilizada quando se realiza uma pesquisa com o método O método estatístico envolve os seguintes passos:
qualitativo é o estudo de caso, que será analisado no próximo texto.
• coleta dos dados – envolve os procedimentos de levantamento de
Método Estatístico informações. Normalmente se utiliza uma amostra da população
pesquisada (cerca de 20% do universo);

• organização – os dados coletados são organizados em intervalos;

• descrição dos dados – os dados são descritos conforme a organização


anterior;

• Cálculo – etapa de cálculo dos coeficientes;

• interpretação de coeficientes – a técnica da amostragem permite


chegar a conclusões válidas e realizar previsões que se aproximam
muito da realidade, sendo a margem de erro pequena quando se
trabalha com a Estatística descritiva. Uma outra linha de interpretação,
da Estatística inferencial ou indutiva, trabalha com a medida da
margem de incerteza, fundamentada na teoria da probabilidade.

Este método, idealizado pelo estatístico social belga Quetelet, permite ao


pesquisador extrair dados ou representações simples, a partir da análise de
um conjunto complexo de dados. Esse método se caracteriza por promover
uma redução de fenômenos políticos, sociológicos, econômicos, sociais etc. a

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 40 TEXTO 2 – Métodos científicos


Para pesquisar 3 Para pesquisar 4

Pesquise na Internet exemplos de trabalhos/atividades realizados com os Escolha um colega da turma e, juntos, definam uma metodologia e
métodos descritos. elaborem uma situação em que a solução proposta utilize a metodologia
previamente selecionada pela dupla.

Memorial
Memorial
Registre sua pesquisa no Memorial. Não esqueça de colocar a autoria e o
endereço dos casos selecionados. Faça o seu registro pessoal da atividade desenvolvida, no Memorial.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 41 TEXTO 2 – Métodos científicos


A abordagem normalmente é feita por amostragem e as perguntas podem ser
feitas por telefone, correio (convencional ou eletrônico), face a face etc.
Texto 3 – Técnicas e instrumentos de
No survey utilizam-se como instrumentos questionários e entrevistas.
pesquisa
O questionário consiste em um conjunto de perguntas feitas diretamente a
um elemento da população pesquisada e é um dos recursos mais utilizados
para obter informações. Destacam-se as seguintes vantagens do uso do
questionário: envolve um baixo custo; apresenta as mesmas questões para
todas as pessoas, garante o anonimato e pode conter itens para atender a
finalidades específicas de uma pesquisa. Quando bem elaborado e aplicado
com critérios apresenta elevada confiabilidade nos resultados.

Os questionários podem ser utilizados para medir atitudes, opiniões e


comportamentos, dentre outras questões. Sua aplicação envolve alguns
materiais simples como lápis, papel, formulários etc. Podem ser aplicados
individualmente ou em grupos, por telefone, pelo correio e pela Internet.

Podem ser utilizadas, na elaboração do questionário, questões abertas,


fechadas, de múltipla escolha, de resposta numérica, ou do tipo sim ou não.

Embora aparentemente simples, a elaboração de um questionário envolve


conhecimentos e cuidados específicos, de forma a permitir coletar os dados
sem tendenciosidade.
4
O que você pensa disto? As etapas do desenvolvimento de um questionário são as seguintes: justificativa;
Existe uma grande diversidade de técnicas e definição dos objetivos; redação das questões e afirmações; definição do
• Quais as técnicas instrumentos de pesquisa. Vamos abordar aqui formato; pré-teste e revisão final.
e instrumentos de alguns dos mais utilizados.
pesquisa que você É importante saber que o questionário é fruto de um constante processo de
conhece?
Survey ou pesquisa ampla melhoria, de exames e revisões quantos forem necessários. Cada questão deve
ser analisada individualmente, para verificar se é mesmo importante, se não
O survey (pesquisa ampla) é uma é ambígua ou de difícil entendimento etc. Todas as indagações quanto ao
técnica de coleta de dados por conteúdo, forma, redação e seqüência devem ser feitas para cada questão.
inquirição, na qual se formula Uma vez concluída a revisão, feita pela equipe de pesquisa, o questionário
Memorial perguntas para obter informações estará pronto para o pré-teste.
a respeito de atitudes, hábitos,
motivos, opiniões. O pré-teste consiste na aplicação do questionário, em sua versão preliminar,
Registre sua síntese no
a um grupo de indivíduos com as características do público-alvo da pesquisa,
Memorial.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 42 TEXTO 2 – Técnicas e instrumentos de pesquisa


com vista a verificar a clareza e a adequação das questões. Os problemas a questionários. Por isso seu custo pode ser elevado, se o número de pessoas
detectados são analisados podendo originar mudança na redação, substituição a serem entrevistadas for muito grande. Em contrapartida, a entrevista pode
ou eliminação de questões. Após a revisão originada no pré-teste, o questionário fornecer uma quantidade de informações muito maior do que o questionário.
estará em condições de ser aplicado eficazmente na pesquisa. Um dos requisitos para aplicação dessa técnica é que o entrevistador possua
as habilidades para conduzir o processo.
Um exemplo conhecido nacionalmente, por todos os cidadãos,de uso desse
instrumento é o trabalho realizado pelo IBGE, quando da realização do senso Existem dois tipos de entrevistas: estruturada e não estruturada. No primeiro
demográfico, que atinge todos os quadrantes do território nacional brasileiro tipo, entrevista estruturada, as perguntas seguem uma seqüência pré-
e o que é mais importante, atinge todas as classes sociais. estabelecida, visando uma finalidade anteriormente determinada. No segundo
tipo, entrevista não estruturada, as perguntas são elaboradas em torno de
A entrevista é usada como um instrumento de survey e também como técnica tema do interesse dos entrevistados. O entrevistador poderá explorar o tema
independente. Vamos dar a ela esse tratamento. de modo a obter respostas mais claras.

Entrevista A realização da entrevista envolve dois passos importantes:

1o passo – planejar a entrevista: definir o objetivo; o local e o horário que


garantam a privacidade da entrevista, pois devem ser evitadas as interrupções
para não desviar o entrevistado do foco. Este cuidado se torna mais importante
quando o tema da entrevista envolve questões íntimas, que devem ser tratadas
de forma a preservar o sigilo. O planejamento deve prever, ainda, os recursos,
a exemplo do roteiro da entrevista e de fichas para anotações.

2o passo – desenvolvimento: é importante definir a melhor forma de abordar


o entrevistado para obter respostas verdadeiras e completas. É aconselhável
inicialmente “bater um papo” informal com o entrevistado, a fim de deixá-lo bem
à vontade; explicar o objetivo da entrevista e só então realizá-la, observando a
comunicação verbal e a não verbal e fazendo anotações de aspectos essenciais,
de forma abreviada para não desviar a atenção das respostas.

Ao longo da entrevista, é importante observar, também, cuidados tais como:


Chama-se entrevista a série de perguntas feitas por um • adaptar a linguagem ao nível do entrevistado;
entrevistador a uma pessoa ou a um grupo. Consiste em um • evitar questões longas, perguntando uma coisa por vez;
contato direto, face a face. • manter o auto-controle;
Trata-se de uma técnica flexível de obtenção de informações qualitativas sobre • evitar direcionar a resposta.
um projeto. A entrevista requer um bom planejamento prévio e habilidade do
Lembre-se que, são necessárias questões bem formuladas, para o sucesso
entrevistador para seguir um roteiro de questionário, com possibilidades de
de questionários e entrevistas. Veja, na janela, algumas orientações para a
introduzir variações que se fizerem necessárias durante sua aplicação. Em geral,
elaboração de perguntas.
a aplicação de uma entrevista requer um tempo maior do que o de respostas

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 43 TEXTO 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa


• objetividade – ir direto ao assunto. O aluno deve entender logo o que
está sendo perguntado;

• criatividade – fazer perguntas em tom de conversa e procurar despertar


o interesse e a vontade de criar, de buscar soluções;

• desafio – levar a pessoa a pensar, tirar conclusões e aplicá-las.


Habilidade de formular perguntas
Quando a intenção da pergunta é recuperar informações presentes na memória do
A pergunta é um recurso muito utilizado na maioria das profissões, porque, além entrevistado, a exemplo de acontecimentos, dados históricos etc., a pergunta deverá
de possibilitar interações, cria condições para que a pessoa raciocine e elabore as ser concisa, clara e objetiva; mas se quisermos que ela apresente novas soluções para
respostas. Pesquisadores, professores, médicos, vendedores, gestores etc. usam, os problemas, apresente novos usos para determinado objetivo, aplique teorias em
freqüentemente, perguntas e a qualidade das respostas tem grande influência novos contextos etc., a pergunta precisará conter, ainda, criatividade e desafio.
sobre suas atividades.
(Adaptado de Bergo, 2005 p. 25-26)
Uma pergunta bem formulada possibilita ao entrevistado entender claramente o
que está sendo perguntado e apresentar respostas também claras e completas.

As perguntas podem ser convergentes (levam a uma única resposta, previsível) ou


divergentes, que admitem várias respostas. As perguntas convergentes apresentam
pouco ou nenhum desafio. As divergentes envolvem processos mentais mais
complexos. Uma pessoa hábil na formulação de perguntas consegue, na maioria Experimentação
das vezes, criar um processo divergente mesmo para as questões que apresentam
resposta única. A experimentação consiste em um
conjunto de processos realizados
Portanto, esteja atento aos seguintes pontos:
para verificar as hipóteses
• nem todas as perguntas levam o indivíduo a pensar reflexivamente ou estabelecidas na pesquisa.
desenvolver processos mentais;
Realiza-se a experimentação para verificar
• determinados tipos de perguntas, que requerem fundamentação, relações de causa e efeito entre fatos
relacionamento, análise, organização de idéias, provocam a elaboração e fenômenos ou de antecedência e
mental. conseqüência. Busca comprovar se uma
variação numa causa ou antecedente provoca
Características de uma boa pergunta igual variação num efeito ou conseqüência.
As características essenciais de uma boa pergunta são as seguintes: Veja você que se aplica na experimentação
a lei do determinismo, a qual estabelece
• concisão – usar somente palavras necessárias para expor as questões;
que, em circunstâncias idênticas, as mesmas
• clareza – usar linguagem simples e direta, perguntar uma coisa de cada causas devem produzir os mesmos efeitos,
vez; em outras palavras, as leis da natureza são
constantes e fixas.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 44 TEXTO 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa


Cervo e Bervian (2002) relatam algumas regras propostas por Francis Bacon • Métodos de exclusão, de Stuart Mill – indica um número determinado
para a experimentação: de combinações para se chegar à coincidência solitária. A proposta de
Mill contém processos equivalentes às três tábuas de Bacon , além
• Alargar a experiência – aumentando gradativamente a intensidade da de um processo denominado método dos resíduos que consiste na
causa provável para verificar se o efeito sobre a possível conseqüência separação do fenômeno dos efeitos conhecidos de determinados
aumenta na mesma proporção. antecedentes, de forma a restar apenas o efeito dos antecedentes
não identificados, o que facilita a sua análise.
• Variar a experiência – aplicando a causa a outros objetos.
Observe que os métodos propostos se constituem em processos complexos. O
• Inverter a experiência – aplicando a causa contrária àquela em uso da experimentação requer que o pesquisador procure, primeiro, aprofundar
estudo, visando conferir se ocorre o efeito contrário ao esperado o conhecimento a respeito do método a ser utilizado, de forma a realizar o
originalmente. experimento com a segurança e o controle necessários.
• Recorrer aos casos da experiência – analisando as formas Observação
investigadas.

Bacon aconselha a utilização de 3 tábuas para organizar o uso do método:

• a tábua de presença – para registrar as formas investigadas


encontradas;

• a tábua de ausência ou de declinação – para anotar as situações em


que as formas investigadas não foram encontradas;

• a tábua de comparação – para registrar as variações que as formas


pesquisadas apresentam.

Existem várias propostas de métodos de experimentação.

• Método das coincidências constantes, de Bacon – baseia-se no


seguinte: dada a causa, obtém-se o efeito; alterada a causa, altera-se
o efeito; retirada a causa, desaparece o efeito.
Observação formal
• Método das coincidências constantes e coincidência solitária
– propõe que se isole um fenômeno de todos os seus antecedentes,
eliminando-os até que reste apenas um. Trata-se de uma proposta de
Observação informal
alto rigor científico, difícil de ser alcançado.
A observação é uma técnica que consiste em coletar os dados
diretamente da realidade.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 45 TEXTO 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa


Segundo Barros e Lehfeld (2000, p. 61): • Observação em grupo – realizada por várias pessoas
simultaneamente.
Observar é aplicar atentamente os sentidos a um objeto, para dele adquirir
um conhecimento claro e preciso. É um procedimento investigativo • Observação laboratorial – ocorre em experimentos artificialmente
de suma importância na Ciência, pois é através dele que se inicia todo organizados com vista à análise, exigindo intervenção direta do
estudo dos problemas. Portanto, deve ser exata, completa, sucessiva e observador.
metódica.

De acordo com Lakatos 1988 (apud Cervo e Bervian, 2002), a finalidade e A observação depende muito da habilidade do pesquisador em captar
a forma de execução a observação pode ser informal (assistemática ou informação por meio dos cinco sentidos, sem interferências ou julgamentos
não estruturada) ou formal (sistemática, estruturada); não-participante ou e registrá-las com fidelidade. Uma das vantagens dessa técnica é a de o
participante; individual, em equipe ou, ainda, laboratorial. pesquisador não se preocupar com as limitações das pessoas em responder
às questões. Entretanto, é um procedimento de custo elevado e difícil de ser
• Observação informal, não estruturada ou assistemática – trata-se conduzido de forma confiável, principalmente, quando se trata da obtenção
da observação realizada de forma espontânea, sem uma preparação de dados sobre comportamentos que envolvem alguma complexidade.
prévia ou instrumentos próprios. Utilizada para entender determinados
fenômenos, conhecer pessoas em outros contextos etc. Por exemplo: Estudo de caso
o professor observa seus alunos em uma festa ou durante o recreio
etc. O Estudo de caso é uma técnica
de pesquisa que consiste em
• Observação formal estruturada ou sistemática – trata-se da analisar de forma profunda
observação previamente programada, para a qual se estabelece o uma unidade concreta como:
que deverá ser observado, mediante a preparação de instrumentos uma instituição, um sistema,
de observação. um programa, uma pessoa
etc., com vistas a conhecer essa
• Observação não participante – é aquela em que o observador se
unidade, a partir de uma base
mantém em posição de observador e expectador, sem se envolver
teórica consistente.
com o objeto da observação. Em geral, esta técnica é aplicada com o
pesquisador isento em relação às situações, fatos ou pessoas que está No estudo de caso, o
observando. pesquisador não tem uma
proposta de intervenção como
• Observação participante – é realizada com o pesquisador integrado
procedimento de pesquisa.
ao grupo a ser estudado, como ator e observador ao mesmo tempo.
Utiliza procedimentos variados
Essa observação costuma receber críticas no meio científico por se
para analisar a unidade em estudo.
considerar muito difícil assegurar a isenção do pesquisador nessa
circunstância. De acordo com a finalidade básica, os estudos de caso podem ser:
• Observação individual – realizada individualmente.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 46 TEXTO 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa


• Exploratórios – têm como objetivo levantar informações preliminares A informação é fixada e transmitida
a respeito da unidade em estudo. Nesse caso, são muito usados para por meio de suportes variados: meio
elaboração de um projeto piloto de uma pesquisa ampla. impresso, vídeo, fotos etc.

• Descritivos – procuram detalhar como é a unidade em estudo. Veja, na janela, uma classificação dos
documentos quanto ao gênero, isto
• Analíticos – visam a problematização do seu objeto de estudo com é, quanto ao tipo de portador da
vista a confrontá-lo com uma teoria existente ou propor uma nova informação.
teoria que possa explicá-lo.

Lüdke e André (1986, p. 123) afirmam que o estudo de caso é um tipo de


pesquisa que apresenta características específicas tais como:

• a busca da descoberta de algo novo, pois se baseia no pressuposto de


que o conhecimento não é algo acabado;

• a ênfase na “interpretação em contexto” para uma apreensão mais


completa do fenômeno estudado;

• a busca em retratar a realidade estudada de forma completa e


profunda;
Classificação dos documentos quanto ao gênero
• a utilização de variadas fontes de informação;
Quanto ao gênero a classificação dos documentos é a seguinte:
• a revelação de experiências vicárias e a permissão de generalizações • Documentação Textual – Gênero de documento que utiliza como
naturalísticas; linguagem básica a palavra escrita. Envolve documentos manuscritos,
datilografados/digitados ou impressos. Exemplos: bilhete, certidão de
• a representação dos diferentes e, às vezes, conflitantes pontos de vista nascimento, relatório etc.
presentes em uma situação social e; • Documentação Audiovisual – Gênero documental que utiliza como
linguagem básica a associação do som e da imagem. Exemplos:
• a utilização de linguagem e forma mais acessível que os outros documentários que registram eventos, vistorias, espetáculos etc., em
relatórios de pesquisa. películas cinematográficas. Pode ser armazenada em videocassete, CD,
DVD etc.
Análise Documental • Documentação Cartográfica – Documentação que tem por objeto
registrar superfícies e estruturas. Exemplos: mapas e plantas.
Documento é o registro de uma informação independentemente • Documentação Fonográfica – Gênero documental que utiliza como
da natureza do suporte que a contém. linguagem básica o som. Exemplos: gravações de discursos, músicas,
shows, comícios, reuniões etc. Pode ser apresentada por meio de LP, CD e
fitas cassetes.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 47 TEXTO 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa


• Documentação Fotográfica – Conjunto de fotografias. Podem ser
Grupo focal
fotografias impressas, digitalizadas e em eslaides. Exemplos: registro de
eventos, fotos de áreas ou objetos vitoriados, pessoas etc.
• Documentação Iconográfica – Gênero documental que utiliza como
linguagem básica a imagem. Envolve desenhos e gravuras. Exemplos:
cartazes, gráficos, esquemas etc.
• Documentação Micrográfica – Conjunto de documentos armazenados
sob microformas tais como microfilmes, microfichas, isto é, documentos
microfilmados. Exemplos: extratos bancários, registros escolares,
documentos contábeis etc.
• Documentação Eletrônica – Conjunto de documentos digitalizados,
isto é, passados para meio eletrônico e armazenados em computadores,
disquetes, CD, DVD, fitas específicas. Exemplos: ofícios, relatórios, filmes,
plantas, mapas etc.

(Extraído de: SILVA e DANTAS, 2008)


É uma técnica participativa de sondagem, pesquisa e avaliação que permite
perceber os aspectos valorativos e qualitativos que regem um determinado
O trabalho de pesquisa, independente dos métodos e técnicas definidos, grupo, além de colher as principais idéias e sugestões. O grupo focal tem
normalmente se inicia com base em análise de documentos existentes sobre o por objetivo revelar experiências, sentimentos, percepções e preferências.
tema (fichas de anotações, relatórios, rascunhos de documentos). Essas informações são obtidas após a colocação de perguntas previamente
elaboradas, objetivas e que resultem em respostas concretas. Todas as respostas
Ao se realizar uma análise documental tem-se uma sensível redução no tempo são anotadas simultaneamente por duas pessoas para se evitar possíveis erros
e no custo da pesquisa, além do fato de esse procedimento desenvolver-se com de registro das informações. Ressalta-se que a espontaneidade é um fator
base em informações estáveis, disponíveis e que normalmente não dependem fundamental para o sucesso da aplicação da técnica. A análise dos dados é
de conhecimentos especializados para serem coletadas. A utilização dessa o produto final que sistematiza os pensamentos do grupo trabalhado, suas
técnica, separadamente, exige que a organização, alvo da pesquisa, tenha um percepções, idéias e principais sinalizações. O extrato de tudo isso, geralmente,
sistema de informações bem estruturado e consistente, a fim de garantir os é usado em conjunto com as informações obtidas por outros instrumentos.
dados necessários para um sucesso na elaboração do relatório.
Para esta técnica devem ser seguidas algumas orientações básicas:

a. as pessoas são convidadas para participar da discussão sobre


determinado assunto. Normalmente, os participantes possuem alguma
característica em comum. Por exemplo: compartilham das mesmas
Biblioteca características demográficas tais como nível de escolaridade, condição
social, ou são todos funcionários do mesmo setor de trabalho. O grupo
Leia, na Biblioteca, o texto Técnicas de redução de texto, que apresenta de discussão informal é organizado com pequeno número de pessoas
sugestões importantes para o trabalho de análise documental. (no máximo quinze) para incentivar a interação entre os membros,
com o propósito de obter informação qualitativa em profundidade;

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 48 TEXTO 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa


b. os participantes de um grupo focal são incentivados a conversar e de caráter mais analítico. As reuniões de Grupo Focal, normalmente, são
entre si, trocando suas experiências, relatando suas necessidades, realizadas em áreas especialmente preparadas para esse tipo de atividade. A
observações, preferências etc.; sala deve ser equipada com recursos para gravação da discussão, sendo que
esse fato deve ser comunicado aos participantes, assegurando-lhes anonimato
c. a conversação é conduzida por um moderador, cuja regra central é e uso exclusivo das gravações para as finalidades da pesquisa. Os participantes
incentivar a interação entre os participantes. O moderador incentiva também devem ser informados da existência de observadores da discussão.
a participação de todos, evitando que um ou outro tenha predomínio
sobre os demais, e conduz a discussão de modo que esta se mantenha A pesquisa por meio de Grupos Focais é uma ferramenta para gerentes do
dentro do(s) tópico(s) de interesse; serviço público interessados em saber mais sobre preferências específicas e
necessidades de seus clientes e/ou empregados. Trata-se de uma técnica flexível
d. cada sessão deve ter a duração de aproximadamente noventa
e pode contribuir trazendo novas idéias.
minutos;
e. a conversação concentra-se em poucos tópicos (no máximo cinco Tecnologias avançadas para Coleta de informações
assuntos);
Hoje, o maior aliado dos
f. o moderador tem uma agenda na qual estão delineados os principais pesquisadores para realização
tópicos a serem abordados. Esses tópicos são geralmente pouco de pesquisa bibliográfica e/ou
abrangentes, de modo que a conversação sobre os mesmos se torne documental é o computador,
relevante; pois com os recursos atualmente
g. há a presença de observador(es) externo(s), que não se manifesta (m), disponíveis e, com a rapidez com
para captar reações dos participantes. que novas facilidades surgem na
rede mundial de computadores
Os passos mais importantes na condução de um Grupo Focal são: selecionar os – Internet – é possível o acesso
participantes e escrever o guia do moderador (agenda). remoto e rápido a informações
em qualquer parte do planeta.
Antes de selecionar os participantes, devemos decidir de que grupo queremos A interligação ocorre com a
obter informações. Públicos-alvo muito diferentes não devem ser colocados disponibilização de dados
juntos porque um pode inibir os comentários do outro. Fatores como idade, e informações, provocando
posição social, posição hierárquica, conhecimento dos participantes e outras assim uma universalização dos
variáveis, podem influenciar na discussão. Os participantes podem ajustar o conhecimentos e propiciando
que vão dizer conforme a situação em que se encontrarem no grupo, por isso, oportunidade para que uma pesquisa contemple os mais diversificados
a definição do grupo-alvo deve ser a mais específica possível. pensamentos e opiniões.

O moderador deve preparar uma agenda que descreva os principais tópicos a Um exemplo de pesquisa via Internet foi relatado na matéria A pílula dos
serem abordados, os quais devem ser citados durante a discussão, por meio de cientistas, publicada na revista Isto É, em que a jornalista Luciana Sgarbi,
questões e pontos previamente anotados. Primeiramente devem ser discutidas apresenta o resultado de pesquisa realizada pela Internet, por uma conceituada
questões de caráter geral e abordagem fácil, para permitir a participação revista britânica, a Nature, a respeito da utilização da substância Ritalina (nome
imediata de todos. Esse cuidado possibilita obter envolvimento e fluidez na comercial da substância metilfenidato, lançada em 1956), na comunidade
conversação. Em seguida, podem ser apresentadas questões mais específicas científica, para melhorar o desempenho intelectual.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 49 TEXTO 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa


Essa substância é muito utilizada por estudantes e cientistas para “turbinar”o
cérebro aumentando em até 40% o nível de concentração e atenção e seu
efeito prolonga-se por 12 horas.

Leia, assista ou acesse


Atualmente encontram-se disponíveis vários endereços que contêm acessos
de busca, dentre os quais sugerimos:

Leia, assista ou acesse. • Allonesearch – http://www. allonesearch.com. Busca pessoas na rede.


• Alta Vista – http://br.altavista.com. Realiza busca por assuntos e
Eis a referência do artigo para o caso de você se interessar em o ler. categorias.
• CiteSeer.Ist – http://citeseer.ist.psu.edu. Realiza busca de literatura
SGARBI, Luciana. A pílula dos cientistas: porque os pesquisadores fazem científica.
uso de medicamento para hiperatividade na hora do trabalho. Revista ISTO • Google – http://www.google.com.br. Realiza busca por assuntos e
É, Rio de Janeiro, n. 2006, ano 31, p. 94, abril, 2008. categorias. Possui ferramenta especializada na busca de trabalhos
acadêmicos, na opção mais.
• Yahoo Brasil – http://www.yahoo.com.br.
• Star-Média – http://www.cade.com.br.

Encontram-se, também, metaferramentas que realizam as pesquisas


simultaneamente em vários sites de busca. Veja alguns exemplos:
Para refletir 4 • Dogpile – http://www.dogpile.com realiza as buscas simultâneas no
Google, Yahoo e Ask Jeeves)
Constantemente recebemos mensagens solicitando nossa participação • Metacrawler – http://www.metacrawler.com realiza buscas simultâneas
em enquetes/pesquisas a respeito dos mais variados assuntos, por e-mail no Google, Yahoo, About, Overture, Findwhat, Ask Jeeves, LookSmart,
ou quando acessamos determinadas páginas da Internet. Você acredita MIVA.
que tais resultados são confiáveis e podem servir de base para decisões • Tay – http://www.tay.com.br realiza buscas simultâneas em diversas
políticas, administrativas e para fundamentação científica de novas teorias ferramentas nacionais ou nas ferramentas nacionais selecionadas pelo
ou procedimentos? usuário.

A rede mundial de computadores cresce vertiginosamente a cada dia. É possível


encontrar de tudo na Internet, porém, se não soubermos realizar a pesquisa
Memorial podemos perder muito tempo com informações que não são relevantes para
o nosso propósito e não encontrar as que realmente nos interessam. Caso
Escreva sua resposta no Memorial. você não tenha o hábito de utilizar sites de busca, leia, na janela, algumas
orientações básicas.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 50 TEXTO 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa


Cabe um alerta aos estudantes ou profissionais que venham se valer dos dados
encontrados na Internet: nem sempre as fontes citadas são confiáveis. Deste
modo, devemos sempre ter o cuidado de checar as fontes citadas e, o que
é mais importante, sempre mencionar o endereço do qual foram retiradas
as informações que comporão a pesquisa, registrando também a data do
acesso.
Orientações para a pesquisa em sites de busca.
Para ilustrar essa situação citamos o artigo Sermões Plagiados, de Luiza
Seguem-se algumas orientações simples que visam facilitar a pesquisa em sites de Villaméa, publicado na Revista Isto É, no qual a autora relata que, após a
busca. descoberta de que os padres estavam copiando sermões da Internet, a Igreja
católica da Polônia tomou medidas drásticas, iniciando uma campanha de
• Se precisar localizar sites, frases ou termos específicos em sua consulta
sensibilização entre os cerca de 28 mil padres do país. Foi lançado, na Polônia,
basta digitar o trecho do site ou a frase entre aspas. Vejamos um exemplo.
o livro Plagiar ou não plagiar, com o intuito de estimular o debate a respeito
Suponhamos que você tenha ouvido o seguinte refrão de uma música:
Pela paz a gente canta a gente berra, pela paz eu faço mais eu faço do assunto. Os autores do livro contestam essa prática sob o argumento de
guerra. Para localizar informações como nome, autor, letra completa etc. que o sermão é um testemunho da própria fé e interrogam como se pode
Você coloca no site de busca o trecho entre aspas: “Pela paz a gente canta testemunhar com palavras alheias?
a gente berra, pela paz eu faço mais eu faço guerra.”

• Quando necessitar encontrar todas as palavras numa mesma página use


+ ou e.

• Se seu interesse for localizar qualquer uma dentre as palavras digitadas


utilize ou.

• Para eliminar palavras que não lhe interessam escreva o que procura entre
aspas e deixe de fora o que pretende eliminar na busca. Por exemplo. Leia, assista ou acesse.
Você quer localizar informações sobre importância da ginástica e resolve
que não lhe interessam os sites sobre academias. Você realiza a busca da
Se possível, leia o artigo em:
seguinte forma: “importância da ginástica” Academia de.
VILLAMÉA, Luiza. Sermões plagiados: para combater cópia de homilias,
igreja da Polônia lança livro e acena até com possibilidade de prisão.
Revista isto É. Rio de Janeiro, n. 2010, ano 31, p. 94, maio 2008.
Em geral os sites de busca apresentam a opção busca avançada que permite
refinar a pesquisa.

Observe que a forma de apresentação dos resultados varia entre os sites. Alguns
apresentam primeiramente os sites nos quais o termo ou expressão pesquisada
aparece com maior freqüência, outros dão prioridade aos sites mais visitados.

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 51 TEXTO 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa


A construção do questionário e o processo da entrevista)

Autores como Marie jahoda, com base nos trabalhos de Arthur Kornhausser e
Paul B. Sheatsley, indicam as normas que devem ser seguidas para a elaboração
Laboratório 1 de questionário e de entrevista, considerando o roteiro de entrevista, os
formulários que devem ser preenchidos pelo entrevistador e o questionário.
Localize, na ferramenta Grupo de Projeto, da Plataforma o seu grupo de Basicamente, as recomendações são as seguintes:
trabalho, já cadastrado pelo professor e juntos elaborem um questionário
para levantamento do perfil dos alunos matriculados nesse curso. Para A. Passos para a construção de questionário e/ou de entrevista:
realização desta atividade analise, o tutorial da ferramenta, disponível na
• Definir de forma precisa a informação que deve ser procurada.
plataforma.
• Decidir, a partir de critérios técnicos, que tipo de questionário deve ser
Veja nas instruções a respeito da avaliação, onde e como disponibilizar o usado.
questonário para análise dos demais grupos.
• Redação de um primeiro rascunho — roteiro ou questionário piloto.

• Revisão das perguntas.

• Pré-teste, mediante aplicação em amostra reduzida, do roteiro ou do


Fórum questionário piloto.

Analise os questionários desenvolvidos pelos outros grupos e apresente • Nova revisão das questões em face dos resultados do pré-teste.
sugestões para a consolidação em um único documento.
• Especificação detalhada dos processos que devem ser empregados na
aplicação.
Lembre-se, o modelo a ser criado deve seguir as orientações para formulação
de perguntas e desenvolvimento do questionário. B. Aspectos que devemos considerar na formulação das perguntas
— Guia para construção de questionário e/ou de entrevista:
Saiba como utilizar o Fórum analisando o tutorial da ferramenta que se
encontra na plataforma. a) Decisões referentes ao conteúdo da pergunta, levando em consideração
os objetivos do estudo e a necessidade da informação solicitada:

Veja, na janela, o texto A construção do questionário e o processo da entrevista, • As pessoas possuem a informação necessária para responder à
de Dencker e Da Viá (2001). pergunta?

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 52 TEXTO 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa


• O conteúdo da questão é suficientemente geral? A formulação está c) Decisões que devem ser tomadas quanto à forma da resposta dada a
isenta de elementos que condicionam a resposta? uma determinada pergunta:

• As respostas que forem obtidas exprimirão atitudes realmente gerais? • Qual a melhor forma de. responder: com um sinal, uma ou duas
(Ou são apenas aparentemente especfflcas?) palavras, ou um número? A questão fica melhor formulada de modo
aberto ou fechado?
• A distribuição das questões está equilibrada ou existe algum carregamento
que leve a determinadas direções? • No caso de o entrevistado ser solicitado a assinalar as respostas.
qual a melhor formatação: pergunta dicotômica (escolher entre
• As perguntas são concretas, específicas e diretamente ligadas à duas alternativas), múltipla escolha (o entrevistado pode assinalar
experiência pessoal de quem responde? mais de uma alternativa) ou escala (o entrevistado deve atribuir uma
nota às alternativas)?
• As pessoas têm possibilidade de fornecer as informações solicitadas?
• O pesquisador tem segurança de que as alternativas realmente
b) Decisões referentes à redação da pergunta: incluem todas as possibilidades de resposta?

• Existe a possibilidade de a pergunta ser mal interpretada? • Está claro para o entrevistado como ele deverá responder? A questão
é fácil, definida e adequada para o objetivo proposto?
• As frases utilizadas são simples e claras?
d) Decisões que devem ser tomadas quanto à ordem em que as perguntas
• As alternativas propostas correspondem às alternativas possíveis? são apresentadas:

• A pergunta é falha, não explicitando as suposições ou as conseqüências • A resposta pode ser influenciada pelo conteúdo das perguntas
não percebidas? anteriores?

• O quadro de referência utilizado é claro e uniforme para todas as pessoas • A pergunta aparece na seqüência, seguindo uma ordem natural?
que respondem ao questionário? Está em ordem psicologicamente correta?

• A pergunta está induzindo a resposta? • A pergunta é apresentada no lugar certo para despertar o interesse
e receber atenção suficiente do entrevistado?
• A redação da questão pode vir a despertar objeções na pessoa
entrevistada? • Existe possibilidade de o entrevistado resistir ao conteúdo da
pergunta?
• Uma outra forma de redação poderia trazer melhores resultados?
(Extraído de: DENCKER e DA VIÁ, 2001, p. 164-166.)
• Qual é a melhor maneira de fazer uma determinada pergunta? Direta ou
indiretamente?

UNIDADE 2 – Pesquisa Científica 53 TEXTO 3 – Técnicas e instrumentos de pesquisa

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