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I

HELY LOPES MEIRELLES


ARNOLDO WALD
GILMAR FERREIRA MENDES

MANDADO
DE SEGURANÇA
EAÇÕES
CONSTITUCIONAIS
32fl.edição,
atualizada de acordo com a Lei n. 12.016/2009

com a colaboração de
RODRIGO GARCIA DA FONSECA

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• MANDADO DE SEGURANÇA
EAÇÕES CONSTITUCIONAIS
HELY LOPES MEIRELLES

© 1990 - VERALICE CELlDONlO LOPES MEIRELLES

I" edição: 1967: 2" edição: 1969: 3" edição: 1975: 4" edição: 1976:
S" edição: 1978: 6" edição: 1979: 7" edição: 1980: 8" edição: 1981:
9" edição: 1983: 10a edição. 1985: II" edição: 1987: 12" edição: 1989: HOMENAGEM
13" edição. I" tiragem: 1989: 2" tiragem: 1991; 14" edição: 1992:
IS" edição: 1994: 16" edição: 1995: 17" edição: 1996: 18" edição: 1997:
19" edição: 01. 1998: 20a edição: 09.1998: 21a edição. I" tiragem: 08. 1999:
2" tiragem: 03.2000: 22a edição: 09.2000: 23" edição: OS.2001: Ao meu pai, a quem prometi editar seus livros sempre atualizados.
24" edição: 04.2002: 2S" edição: 01.2003: 26" edição. Ia tiragem: 08.2003: Primeiro porque acredito que isso contribuird para o Direito Público Bra-
2" tiragem: 03.2004; 27" edição: 06.2004; 28" edição: 08.200S; sileíro; segundo porque essa é afonna de senti-lo vivo e amda presente.
29" edição: OS.2006: 30a edição: 04.2007: 31 a edição: 04.2008. Meu pai. eterno professor.
Meu pai. amigo dos amigos. da família, dos empregados. dos vizinhos
e ate dos immigos ...
ISBN 978-85-7420-964-7
Meu pai. homem de caráter. homem de convicções. homem sem pre-
ço.
Direitos reservados desta edição por
Meu pai, poeta na juventude. inteligente. vivo e espirituoso.
MALHEIROS EDITORES LTDA.
Rua Paes de Araújo. 29. conjunto 171 Meu paí. silencíoso na dor. humilde nas homenagens.
CEP 04531-940 - São Paulo - SP Meu paí. apoio nos acertos e nos desacertos.
Tel.: (lI) 3078-7205 - Fax: (11) 3168-5495 Meu paz, que adorava plantas e ammaIS.
URL: www.malheiroseditores.com.br Meu pai. que acreditava no nosso Pais.
e-mail: malheiroseditores@terra.com.br Meu pai. trabalhador até a morte.
A este homem. que sempre teve fé na vida, amor pelas pessoas, pelo
trabalho e pelo Brasil.
CompOSIção
PC Editorial Ltda. Ao ser humano que muito lutou contra os seus defeitos e evoluíu.
A ele, que deixou um vazio enonne aos que o conheceram.
A ele, que tinha tanta luz e um sorriso tão doce...
Capa: O meu amor eterno.
Criação: Nádia Basso
Arte: PC Editorial Ltda São Paulo. agosto de 1990
VERALICE CELlDONIO loPES MElRELLES

Impresso no Brasil
Printed in Brazi/
08.2009
UNl'JER5!Dft,DE FUMEC
6iblioteca oa FCH
Prefácio da 32ª Edição

A presente monografia foi publicada, pela primeira vez, em


1967, e desde então, sucederam-se 32 edições, das quais 13 em vida
de HELY LOPES MEIRELLES e 19 após o seu falecimento. Já foram
editados cerca de 200.000 exemplares, que inspiraram decisões dos
tribunais e ampararam as razões de advogados e procuradores.
Em quatro décadas, mudaram o mundo, o Brasil e o Direito,
mas o livro de HELY continua sendo profundamente atual, esgo-
tando anualmente suas edições, como tambem tem acontecido com
os demais livros de sua autoria, e, em particular, com o seu Direito
Administraftvo Brasileiro atualmente em 35' edição.
Assim, mantenbo. a afirmação que fizemos, há mais de vinte
anos, no sentido de considerar que a história do nosso direito ad-
ministrativo se divide em dois períodos: o anterior e o posterior à
obra de HELY, que funciona, assim como um divisor de águas entre o
antigo e o moderno.
A reedição e a atualização da obra de HELY LOPES MEIRELLES
constituem um dever que tinbamos em relação à memória do Mestre
e Amigo, que renovou o nosso Direito Administrativo e sintetizou
adrniraveimente as melbores lições a respeito do mandado de se-
gurança. Por outro lado, a sociedade brasileira e os meios jurídicos
não podiam perder uma monografia tão rica em ensinamentos, que
inspirou e continua a influenciar o legislador e a maioria dos julgados
na matéria.
Não há dúvida de que manter víva a obra de HEr.Y LOPES MEIREL-
LES é a melbor homenagem que lbe poderiamos prestar, garantindo a
permanência do uso dos seus livros pelos magistrados, advogados,
membros do Ministério Público e estudantes de Direito do nosso País,
mediante um esforço de adaptação às novas regras jurídicas, sem a
qual as obras mais importantes envelbecem e se tomam obsoletas.
8 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS PREFÁCIO DA 32' EDIÇÃO 9

Já dizia RUI BARBOSA que, mais do que erigindo estátuas, é com A partir da 22' edição, contamos com a colaboração do eminente
a publicação das suas obras completas que cabe homenagear os gran- constitucionalista e Presidente do Supremo Tribunal Federal, profes-
des juristas. No caso de HELY LOPES MElRELLES, as sucessivas edições sor GlLMAR FERREIRA MENDES, acrescentando à obra uma Sexta Parte,
de todos os seus livros, que estão sendo republicados, constituem o de sua autoria exclusiva, que se refere á ação direta de inconstitucio-
resultado da convergência de um esforço comum da sua família - e nalidade (ADI), á ação declaratória de constitucionalidade (ADC), á
especialmente de sua filha VERA MElRELLES -, dos vários atualizado- inconstitucionalidade por omissão, ao controle incidental de normas
res e da MALHEIROS EDITORES com o interesse constante dos leitores, e à representação interventiva. Todas essas matérias enquadram-se
que mantiveram. sua fidelidade ao eminente jurista. na linha dos assuntos que HELY LOPES MElRELLES pretenderia tratar,
Conservou-se, assim, o ritmo das reedições que a obra logrou numa obra destinada a examinar os principais instrumentos de defesa
durante a sua vida, assegurando-lhe uma espécie de imortalidade dos direitos individuais, sob os ãngulos do Direito COlistitucional,
subjetiva, no diálogo sempre renovado que o Autor mantém com os Administrativo e Processual.
seus leitores. Em edições subseqüentes, incluimos um capítulo a respeito da
Como a 13" edição, a última ainda revista pelo Autor, datava ação de improbidade e acrescentamos outro referente à argüição de
de 1989 e contava 197 páginas, introduzimos, a partir da J4ã edição, descumprimento de preceito fundamental (ADPF), cuja importãncia
novos capítulos a respeito da ação civil pública, que foi objeto de tem crescido nos últimos anos e que é da autoria do professor GlLMAR
oportuna complementação legislativa em 1990. MENDES. Também demos especial atenção á recente evolução legisla-
tiva abrangendo o exame das medidas provisórias e a jurisprudência
Do mesmo modo, incluímos notas e comentários em relação ao do STF, do STJ e dos demais tribunais do pais.
mandado de segurança coletivo, á ação popular e á ação civil pública,
A partir da 3Ql1 edição, além de continuar a fazer a atualização
analisando inclusive os efeitos da Lei 8.437, de 30.6.1992, que, em da jurisprudência, deu-se especial atenção às repercussões, nas várias
alguns dos seus aspectos, adotou a posição preconizada por HELY
ações e nos diversos recursos, da Emenda Constitucional n. 45 e das
LOPES MElRELLES, dela se distanciando, todavia, em outros pontos.
modificações do Código de Processo Civil nos últimos anos (Leis ns.
Considerando que, em relação ao mandado de segurança indi- 11.111/2005, 11.187/2005, 11.232/2005, 11.276/2006, 11.277/2006,
vidual e â ação popular as posições jurisprudenciais e doutrinárias já 11.280/2006, 11.418/2006, 11.419/2006 e 11.448/2007), havendo
se tinham consolidado, não havendo modificações relevantes, maior mudanças no regime do recurso de agravo, a permissão da intimação
atenção foi dada, nas edições seguintes, mas anteriores â presente, á eletrôDÍca, a previsão do indeferimento de inicial repetitiva e a decre-
evolução dos julgados em relação ao mandado de segurança coletivo, tação de oficio da prescrição, entre outras modificações relevantes.
à ação civil pública e ao mandado de injunção, cuja ímportãncia no Por sua vez, o Min. GlLMAR FERREIRA MENDES, além de atualizar
cenário juridico brasileiro tem aumentado recentemente. os vários capítulos de sua autoria, acrescentou ao livro uma Décima
Nos acréscimos feitos, nós nos mantivemos fiéis á orientação e Parte a respeito da reclamação constitucional, que tem adquirido,
ao pensamento de HELy LOPES MElRELLES, tentando vislumbrar quais recentemente, uma maior importãncia como remédio para preservar
seriam suas reações diante da hipertrofia da ação civil pública e da a competência do STF.
consolidação construtiva que se realizou em tomo do mandado de As provas da 32' edição já estavam em fase de revisão quando o
injunção, embora talvez nem sempre tenhamos conseguido acompa- Senado aprovou a nova legislação do mandado de segurança, que foi
nhar seu estilo, que traduz a personalidade do Autor. sancionada, pelo Presidente da República, em 7.8.2009, passsando
No passado, analisamos também os efeitos de Lei 9.139, de a Lei n. 12.016 a substituir a legislação anterior. De imediato, pas-
30.11.1995, que alterou os dispositivos referentes ao agravo de samos a fazer a revisão do livro para adaptá-lo à nova lei de modo
instrumento, com importantes reflexos em relação à impetração do a evitar que a obra ficasse obsoleta. O trabalho, que tivemos que
mandado de segurança contra atos judiciais. realizar, foi maior do que o inicialmente previsto pois, além de modi-
10 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS

ficações substanciais da lei anterior, tivemos que excluir referências


e discussões jurisprudenciais que se tornaram ultrapassadas.
Pensamos que a nova lei conseguiu consolidar e modernizar a
nossa legislação na matéria, dando-lhe maior harmonia e coerência,
além de reunir, num único diploma, matérias que se encontravam
esparsas em vários textos legislativos de épocas distintas. Manteve-
se, na lei, o espírito do mandado de segurança e a jurisprudência dos
tribunais, sem alterar substancialmente as restrições existentes em Ao Leitor
relação ao seu uso e as normas referentes li suspensão das liminares, (Nota à 13" edição)
matérias que estavam excluídas da competência dos autores do an-
teprojeto. Em 1967 publicamos este fascfculo sobre mandado de seguran-
Todo novo diploma legal está sujeito li interpretação construtiva ça e ação popular. visando a sintetizar os conceítos relativos aos dois
da jurisprudência e da doutrina, que nem sempre pode ser prevista in- institutos processuais de prática cotidiana na nossa Justiça.
tegralmente nas obras publicadas logo após a promulgação do texto, O opúsculo se esgotou tão rapidamente que o reeditamos em
como é o presente caso. Assim sendo, os comentários à nova lei nem sucessivas edições até 1987, adaptando-o â Emenda Constitucional
sempre podem ser considerados definitivos, mas se inspiraram nos 1/69 e normas subseqüentes. acrescendo o onglnal com ampliações
estudos feitos pela Comissão, que a elaborou, e pretenderam manter doutrinárias e jurisprudenciazs, mas conservando sempre o sentido
a estrutura da obra, com a maior fidelidade possível ao pensamento prático da obra.
de HELY LOPES MEIRELLES. Na 11" edição acrescentamos um breve estudo sobre ação civil
Se o livro passou das duzentas páginas iniciais para as atuais pública institUída pela Lei n. 7.347, de 24.7.85, por tratar de maté-
mais de novecentas foi em virtude da criação de novos institutos e ria conexa com a ação popular na defesa de interesses difosos da
técnicas juridicas e da evolução do mandado de segurança, da ação sociedade.
civil pública e do controle da constitucionalidade. Houve, assim, Na 12" edição atualizamos todo o texto pela Constituição de
importantes modificações e, até, uma nova posição construtiva, 5 de outubro de 1988. estudando os institutos novos - mandado de
assumida pelo Supremo Tribunal Federal, dando maior eficiência segurança coletlvo, mandado de injunção e "habeas data ",
e rapidez ao processo judicial e garantindo a segurança juridica, já
Nesta 13" edição aprimoramos alguns conceitos e acrescenta-
agora considerada como verdadeiro principio constitucional.
mos jurisprudência recente, para tornar o estudo cada vez mais c/aro
Agradecemos as sugestões de magistrados, professores, mem- e preCISO, embora modesto e deliberadamente sintético.
bros do Ministério Público e advogados, que têm permitido que o
livro se mantenha em dia com os acórdãos mais recentes. São Paulo, setembro de 1989
Continuando a contar com a colaboração de RODRIGO GARCIA DA o AUToR
FONSECA, a presente edição conserva o espírito e a visão dos institutos
que caracterizam a obra desde a sua elaboração, há mais de quarenta
anos.
ARNOLDO WALD

São Paulo, 15 de agosto de 2009 .i


Sumário'

Prefácio da 32" Edição ........................................................:.......... 7


Ao Leitor ......................................................................................... II

PRIMEIRA PARTE
MANDADO DE SEGURANÇA ó k
1. Conceito e legitimidade ............................................................ 25
2. Natureza processual ................................................................. 30
3. Ato de autoridade ..................................................................... 30
4. Direito individual e colewo, líquido e certo ........................... 33
5. Objeto ....................................................................................... 36
6. Cabimento ................................................................................ 39
Ato de que caiba recurso administrativo .................................. 39
Ato judicial ................................................................................ 40
Ato disciplinar .......................................................................... 48
Ato de dirigente de estabelecimento particular ........................ 49
O mandada de segurança e a arbitragem ................................ 50
7. Prazo para impetração ............................................................. 57
8. Partes ........................................................................................ 60
lmpetrante ................................................................................. 61
lmpetrado .................................................................................. 62
Ministério Público .................................................. .................. 69
Terceiro prejudicado ................................................................. 70
9. Litisconsórcio e assistência ..................................................... 71
10. Competência ............................................................................. 75
Varas privativas ........................................................................ 80
11. Petição inicial e notificação ..................................................... 81
12. Liminar ..................................................................................... 85
13. Suspensão da liminar ou da sentença ..................................... 95
Suspensão de liminar ......... ....................................................... 100
14. Informações ............................................................................. 103

* v. o indice Alfabético-Rernlssivo no final desta obra.


14 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS sUMÀRIO 15

15. Sentença ................................................................................... 105 7. A ação civil pública no Estatuto da Criança e do Adolescente 226
16. Execução .................................................................................. 108 8. A ação civil pública e as infrações da ordem econômica ....... 229
17. Recursos ................................................................................... 113 9. A ação de improbidade admillistrativa .................................... 230
18. Coisajulgada ............................................................................ 119 A ação de improbidade administrativa e a ação civil pública . 232
19. Mandado de segurança coletívo ............................................... 121 A competênclO para julgamento da ação de ImprobIdade ad-
20. Questões processuais ............................................................... 129 ministrativa .......................................................................... 235
Tramitação nas férias forenses ................................................. 129 As partes na ação de improbidade administrativa ................... 242
Julgamento no Tribunal ............................................................ 130 Outras questões processuais ..................................................... 249
Alteração do pedido .................................................................. 130 ConsIderações finais ................................................................. 256
Alteração dos fundamentos ....................................................... 131 10. A recellte evolução da ação civil pública. Usos e abusos. AlIá-
Argüições incidentes ................................................................. 131 lise de sua patologia
Desistência da impetração ....................................................... 132 Da importância das caracteristicas do instituto ...................... 259
Prevenção de competência e litiscOnsÓrclO unitário ................ 133 Da recente patologia das ações públicas ................................. 266
Atendimento do pedido antes da sentença ................................ 134 Conclusões ................................................................................ 284
Valor da causa .......................................................................... 134
QUARTA PARTE
21. A nova lei .................................................................................. 135
MANDADO DE INJUNÇÃO --
SEGUNDA PARTE
I. Conceito e objeto ...................................................................... 287
AÇÃOPOPULAR éi)V-- 2. Competêllcia e procedimellfo ................................................... 290
1. COl/ceito .................................................................................... 148 3. Julgamellto ............................................................................... 294
2. Requisitos da ação ................................................................... 150 4. Recursos ................................................................................... 300
3. Fins da ação ............................................................................. 155 5. Execução .................................................................................. 301
4. Objeto da ação .......................................................................... 158
QUINTA PARTE
5. Partes ........................................................................................ 161
6. Competêllcia ............................................................................. 165 "HABEASDATA" ----
,\
7. Processo e limillar 1. COl/ceito e objeto ...................................................................... 303
Processo ........................................................................... ......... 168 2. Competência ............................................................................. 308
Liminor ..................................................................................... 169 3. Legitimação e procedimento .................................................... 309
8. Selltellça ................................................................................... 173 4. Julgamento e execução ............................................................ 311
9. Recursos ................................................................................... 177 5. O "Izabeas data" na Lei 11. 9.507/97 ........................................ 313
10. Coisa julgada ............................................................................ 178 O acesso extrajudicial às informações ..................................... 313
11. Execução .................................................................................. 180 O cabimento do "habeas data" ................................................ 316
A ação judiCial .......................................................................... 317
TERCEIRA PARTE
Algumas questões processuais .................................................. 322
AÇÃO CIVIL PÚBLICA Prova pre-constiluida ............................................................... 322
"--
1. COllceito e objeto ...................................................................... 183 'v- Limites do procedimento ........................................................... 323
2. Legitimação das partes e os poderes do Ministério Público ..... 193· ov.. Aplicação analógIca do Código de Processo Civil .................. 323
3. Foro e processo ........................................................................ 204 Recursos e liminar .................................................................... 324
4. Responsabilidade do réu e a s""tel/ça ..................................... 212 Honorórios de advogado .......................................................... 325
5. A ação civil pública no mercado de capitais ........................... 219 Litisconsórcio e assistência ...................................................... 326
6. A ação civil pública e a defesa do consumidor ....................... 222 Valor da causa e competência .................................................. 326
16 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS SUMÁRIo 17

Desistência e perda de objeto ................................................... 327 RequisItos da petição iniCIai e admissibilidade da ação .......... 383
Prazo para impetração ............................................................. 327 Modificação da petição inicIal ................................................. 385
Prevenção .............................................••••................................ 328 Cadeia normativa da norma impugnada .................................. 386
Coisa julgada .......................•.................................................... 328 Intervenção de terceiros e "amicus curiae" ............................. 388
Informações das autoridades das quais emanou o ato norma-
/
SEXTA PARTE", tivo e manifestações do Advogado-Geral da União e do
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Procurador-Geral da República .......................................... 389
AÇÃO DECLARATÓRlA DE CONSTITUCIONALIDADE Apuração de questõesfáticas no controle de constitucionali-
E AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE dade ..................................................................................... 390
POR OMISSÃO 5. Medida cautelar .......................................................... :............ 392
6. Decisão ..................................................................................... 393
I - FORMAÇÃO HISTÓRICA DO CONTROLE ABSTRATO DE
NORMAS ................................................................................... 330 III - AÇÃO DECLARATÓRlA DE CONSTITUCIONALIDADE
A Constituição de 1988 ............................................................. 334 i. Criação da ação ....................................................................... 393
ALei n. 9.868. de IO.lI.99. e aLei n. 9.882. de 3.12.99 .......... 339 A Lei n. 9.868. de 10.lI.99 ....................................................... 414
2. Legitimidade ............................................................................. 414
Il-AÇÃO D/RETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Demonstração da existêncía de controversiafudictai na ação
1. Legitimidade ............................................................................. 339 declaratária de constituCIOnalidade .................................... 414
Presidente da República ........................................................... 341 3.0bjeto ....................................................................................... 419
Mesas do Senado e da Câmara ................................................ 344 Leis e atas normativos federais ................................................ 420
Governador de Estado/Assembléia Legislativa e relação de 4. Parâmetro de controle ............................................................. 422
pertinência ........................................................................... 344 5. Procedimento ........................................................................... 423
Governador do Distrito Federal e Câmara Distrital ............... 345 Requisitos da petição inicial e admissibilidade da ação .......... 423
Procurador-Geral da República ............................................... 348 Intervenção de terceiros e "am/cus curiae" ............................. 425
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil ............ 349 Procedimento ............................................................................ 427
Partidos políticos ...................................................................... 349 Apuração de questõesfáticas no controle de constitUCIonali-
O direito de propositura das confederações smdicalS e das en- dade ..................................................................................... 427
tidades de classe de âmbito nacional .................................. 350 6. Medida cautelar ....................................................................... 428
2. Objeto ....................................................................................... 357 7. Decisão ..................................................................................... 429
Leis e atas normativos federais ................................................ 358
Leis e atas normativos estaduais .............................................. 365 IV - AÇÃO D/RETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR -.;:
Leis e atas normativos distritais ............................................... 365 OMISSÃO
Atas legislativos de efeito concreto .......................................... 366 1. introdução ................................................................................ 429
Direito pré-constitucional ......................................................... 370 2. Pressupostos de admissibilidade
Projetas de lei ........................................................................... 372 ConsIderações preliminares ..................................................... 435
Ato normativo revogado ........................................................... 373 Legitimação para agir .............................................................. 443
A problemática dos tratados ..................................................... 374 3.0bjeto
Lei estadual e concorrênCIa de parâmetros de controle ........... 375 Considerações preliminares ..................................................... 445
3. Parâmetro de controle ............................................................. 377 Omissão legislativa. Considerações preliminares .................... 445
Constituição .............................................................................. 378 A omissão parcial ..................................................................... 449
Direito federal ........................................................................... 380 Casos relevantes de omissão legislativa nafurisprudêncía do
4. Procedimento ........................................................................... 383 STF ....................................................................................... 453
18 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÚES CONSTITUCIONAlS sUMÁRIo 19

OmiSsão de providência de indole administrativa. Exercicio de Eficticia "erga omnes" na declaração de inconstitucionalidade
poder regulamentar ............................................................. 455 proferida em ação declaratória de constitucionalidade ou
Omissão de medidas ou atas administrativos ........................... 456 em ação direta de inconstitucionalidade ............................. 504
4. Procedimento A eficticia "erga omnes" da declaração de nulidade e os atas
Considerações geraIs ................................................................ 457 smgulares praticados com base no ato normativo declarado
Cautelar .................................................................................... 458 inconstitucional ................................................................... 504
5. Decisão A eficdcia "erga omnes n da declaração de inconstitucionali-
Considerações preliminares ..................................................... 459 dade e a superveniência de lei de teor idêntico ................... 505
Suspensão de aplicação da nonna eIvada de omissão parcial Conceito de "efeito vinculante" ............................................... 506
e/ou aplicação excepcIOnal ................................................. 463 LImites objetivos do efeito vinculante ........................... :........... 508
Suspensão dos processos .......................................................... 467 LImites subjetivos ...................................................................... 515
. guIsa de conclusão ................................................................ 468 Efeito vinculante de decisão proferida em ação direta de in-
constitucionalidade .............................................................. 516
V-AS DECISÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO DE Efeíto Vinculante da cautelar em ação declaratória de consti-
NORMAS E OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE tucionalidade ....................................................................... 518
INCONSTITUCIONALIDADE Efeito Vinculante da deCIsão concessiva de cautelar em ação
Procedimento de tomada de decisões ....................................... 468 direta de inconstituCIonalidade ........................................... 520
Declaração de nulidade ............................................................ 469 Efeito vinculante de decisão indeferitárza de cautelar em ação
Extensão da declaração de inconstituCionalidade ................... 469 direta de inconstitucionalidade ........................................... 523
A interpretação confonne â Constituição ................................. 474
AdmIssibilidade e limites da interpretação conforme à Cons- Si:rrMA PARTE /,
tituição ................................................................................. 476 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO ·V\
Entre a interpretação conforme e a decisão manipulativa de DE PRECEITO FUNDAMENTAL
efeitos aditivos ..................................................................... 477
I. Introdução. Origens da lei sobre a argüição de descumpri-
A declaração de constitucIOnalidade das leis ........................... 482
mento de preceito fundamental ............................................... 529
A declaração de constitucionalidade e a "leI ainda A controvérsia sobre a constitucionalidade da Lei n. 9.882/99 537
constitucional" .................................................................... 483 InCIdente de mconstituclOnalidade e argãição de descumpri-
Declaração de inconstitucionalidade com efeitos "ex tzme" e mento ................................................................................... 539
declaração de inconstitucionalidade com efeitos "ex nunc" 484 Características processuG/s ...................................................... 544
As decisões proferidas na ação direta de inconstitucionalidade A argãição de descumprimento de preceito fundamental na
por omissão e sua eficticia mandamental ............................ 491 JurisprudêncIa do STF ......................................................... 545
A limitação de efeitos e o art. 27 da LeI n. 9.868/99 ................ 492 2. Legitimidade para argiiir o descumprimellto de preceito fUll-
A aplicação do art. 27 da Lei 9.868/99 najurisprudência do damental
STF .............•.......................•................................................. 495 Considerações preliminares ..................................................... 547
Legitimação ativa ..................................................................... 549
VI - SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES EM Controversia judicial ou jun'dica nas ações de caráter ínciden-
CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE tal ......................................................................................... 549
EficáCia "erga omnes" e a declaração de constitucionalidade 498 InexistênCIa de outro meio eficaz: princípio da subsidiariedade 551
LimItes objetivos da eficácia "erga omnes ",' a declaração de 3. Objeto da argüição de descumprimento de preceito fUllda-
constitucíonalidade da norma e a reapreciação da questão melltal
pelo STF ............................................................................... 501 ConSiderações preliminares ..................................................... 559

UNIVERSIDADE FUMEC
8iblioteca da FCH
20 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS sUMÁRIo 21

Direito pré-constitucional ......................................................... 559 Controle Incidental de normas e parâmetro de controle .......... 615
Lei pré-constitucional e alteração de regra constitucional de 3. O controle incidental de normas no STF
competência legislativa ....................................................... 570 Considerações preliminares ..................................................... 616
O controle direto de constitucionalidade do direito municzpal Possibilidade de declaração incidental de inconstitucIOnalida-
em face da Constituição Federal ......................................... 572 de pelo STF sem que se verifique a relevância da aplica-
Pedido de declaração de constitucionalidade (ação declarató- ção da lei para o caso concreto ........................................... 617
ria) do direito estadual e municipal e argüição de descum- O recurso extraordintirto contra decisão de Juizados EspeciaIS
primento ............................................................................... 573 Federais e contra decisão dos TribunaIS de Justiça nos ca-
A lesão a preceito decorrente de mera interpretação judicial .. 574 sos repetitivos ...................................................................... 619
Contrariedade à Constituição decorrente de decisão judicral Repercussão geral e controle incidental de constitucionalidade
sem base legal (oufondada emfalsa base legai) ................ 575 noSTF .................................................................................. 623
OmISsão legislativa no processo de controle abstrato de normas Controle preventivo de projeto de emenda constitucional em
e na Grgüição de descumprimento de preceito fondamental .. 577 mandado de segurança ........................................................ 628
O controle do ato regulamentar ............................................... 579 O papel do Senado Federal ...................................................... 628
4. Parâmetro de controle A suspensão pelo Senado Federal da execução de lei declarada
Considerações preliminares ..................................................... 579 inconstitucIonal pelo STFna Constituição de 1988 ............ 637
Preceito fondamental e princípio da legalidade: a lesão a pre- Repercussão da declaração de inconstitucionalidade profen-
ceito fondamental decorrente de ato regulamentar ............. 583 da pelo STF sobre as decisões de outros tribunais .............. 639
5. Procedimento ........................................................................... 586 A suspensão de execução da lei pelo Senado e mutação consti-
Requisitos da petição iniCIal e admissibilidade das ações ....... 586 tuCIOnal ................................................................................ 640
Informações e manifestações do Advogado-Geral da União e 4. Notas peculiares sobre o controle incidental na Constituição
do Procurador-Geral da República ..................................... 587 de 1988
Intervenção de terceIros e "amicus curtae" ............................. 588 Considerações preliminares ..................................................... 654
Apuração de questões fáticas e densificação de informações A ação CIvil público como instrumento de controle de consti-
na ação de descumprimento de preceito fondamental ........ 589 tucionolldade ....................................................................... 654
6. Medida cautelar ....................................................................... 589 "Causa petendi" aberta do recurso extraordinário ................. 662
O controle incidental e a aplicação do art. 27 da Lei n. 9.868/
7. As decisões do STF na argüição de descumprimento
.99 ......................................................................................... 662
Procedimento de tomada de decisões ....................................... 591
A guisa de conclusão ................................................................ 668
Técnicas de decisão. efeitos da declaração de ilegitimIdade.
segurança e estabilidade das decisões ................................ 592 NONA PARTE

OITAVA PARTE
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA
1. Introdução ................................................................................ 670
O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS /."
2. Pressupostos de admissibüidade da representação interventiva
NO DIREITO BRASILEIRO
Considerações preliminares ..................................................... 674
1. Introdução ................................................................................ 594 Legitimação ativa "ad causam" ............................................... 675
2. Pressupostos de udmissibüidude do controle concreto Objeto da controversía ............................................................. 677
Requisitos subjetlvos ................................................................. 602 Representação interventiva e atos concretos ............................ 679
Requisitos objetivos .................................................................. 603 Representação interventiva e recusa â execução de leI federal 681
Participação de "amicus curtae ". do Ministério Público e de 3. Parâmetro de controle ............................................................. 682
outros interessados no incidente de inconstitucionalidade 4. Procedimento
perante os Tribunais ............................................................ 613 Considerações gerais ................................................................ 689
.! I
i

22 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS sUMÀRlo 23

Procedimento da representação interventiva segundo a Lei n. 5. Ação declaratória de constitucionalidade no âmbito estadual 762
4337/64 e o Regimento Interno do STF .............................. 690 6. A argiiição de descumprimento de preceito fundamental e o
Cautelar na representação interventiva ................................... 692 controle de atos municipais em face da Constituição Federal
Procedimento da representação interventtva - Necesszdade de Considerações gerOls ................................................................ 764
nova fel ................................................................................ 693 7. O controle da omissão legislativa no plano estadual ou dis-
5. Decisão ..................................................................................... 697 trital .......................................................................................... 765
6. À guisa de conclusão ............................................................... 701 8. O controle de constitucionalidade no âmbito do Distrito Fe-
deral
DÉCIMA P ARTE ~
Considerações preliminares ..................................................... 767
A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF <'0 A possibilidade de instituição de ação direta no âmbito 110 Dis-
1. Considerações preliminares .................................................... 703 trito Federal ......................................................................... 770
2. Objeto da reclamação .............................................................. 708 9. Reclamação no âmbito estadual .............................................. 773
A reclamação para preservar a competência do STF .............. 709 10. Eficácia "erga omnes" das decisões proferidas em sede de
A reclamação para assegurar a autoridade das decisões do controle abstrato no âmbito estadual
STF. Considerações gerais .................................................. 717 Considerações preliminares ..................................................... 775
A reclamação para assegurar o cumprimento de decisão de
mérito em ação dtreta de inconstitucíonalidade e ação de- ./ APÊNDICE
claratória de constitucionalídade ........................................ 718 ",
Cabimento da reclamação para preservar autoridade de de- 1. Constituição da República Federativa do Brasil.
cisão do STF em cautelar concedida em ação declaratória de 5 de outubro de 1988 ........................................................... 781
de constitucionalidade e em ação dtrela de inconstitucíona- , 2. Súmulas do STF e do STJ ....................................................... 785
[idade ................................................................................... 725 ;\ 3. Legislação sobre mandado de segurança individual e coletivo
3. Decisão em argüição de descumprimento de preceito funda- LeI n. 12.016. de 7.8.2009 ........................................................ 788
mental e reclamação ................................................................ 729 Quadro comparativo entre a Lei n. 1.533/1951. o Projeto de
4. Súmula vinculante e reclamação constitucional .................... 733 lei n. 5.067/2001 e a Lei n. 12.016/2009 ............................... 794
5. Reclamação e suspensão da execução de lei pelo Senado ..... 735 4. Legislação sobre ação popular
6. Procedimento Lei n. 4.717. de 29.6.1965 ........................................................ 811
Lmhas gerais ............................................................................ 740 ::: 5. Legislação sobre ação civil pública
7. Conclusão ................................................................................. 743 y, Lei n. 7.347. de 24.7.1985 ........................................................ 818
LeI n. 9.008. de 21.3.1995 ........................................................ 822
DÉCIMA PRIMEIRA PARTE '
/" Lein. 7.853. de 24.10.1989 ...................................................... 825
O CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE r, LeI n. 7.913. de 7.12.1989 ........................................................ 826
DO DIREITO ESTADUAL E DO DIREITO MUNICIPAL LeI n. 8.069. de 13.7.1990 ........................................................ 827
1. Considerações preliminares .................................................... 745 LeI n. 8.078. de 11.9.1990 ......................................................... 831
2. Controle do direito estadual e municipal na Constituição de LeI n. 8.429. de 2.6.1992 .......................................................... 836
1988 e a coexistência dejurisdições constitucionais estaduais LeI n. 10.257. de 10.7.2001 (Estatuto da Cidade. art. 52) ....... 845
e federal .................................................................................... 746 Lei n. 10.628. de 24.12.2002 .................................................... 845
3. Concorrência de parãmetros de controle ................................ 756 Lei n. 10.671. de 15.5.2003 (Estatuto de Defesa do Torcedor.
4. Parâmetro de controle estadual e questão constitucional arts. 3", 40 e 41) ..................................................................... 846
federal
ConsIderações prelimmares ..................................................... 759 I Lei n. 10.741. de 1.10.2003 (Estatuto do Idoso. arts. 69-92) ... 846
Projeto de Emenda Constitucional do Senador Jutahy

t
Recurso extraordinárto e norma de reprodução obrígatóna ... 759 Magalhães .................................................................................... 851
24 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS

6. Legislação sobre concessão de medidas cautelares e tutela


antecipada
Lei n. 8.437. de 30.6.1992 ........................................................ 853
Lei n. 9.494. de 10.9.1997 ........................................................ 854
7. Legislação sobre agravo, com repercussões na utilização do
mandado de segurança
Lei n. 9.139. de 30.11.1995 ....................................................... 856
Lei n. 10.352. de 26.12.2001 .................................................... 858
Lei n. 11.187. de 19.10.2005 ..................................................... 861 PRIMEIRA PARTE
8. Legislação sobre "habeas data" MANDADO DE SEGURANÇA
Lei n. 9.507. de 12.11.1997 ....................................................... 862
Lei n. 11.111. de 5.5.2005 ......................................................... 867 1. Conceíto e legi/ímidade. 2. Natureza processual. 3. Ato de autoridade.
9. Legislação sobre intervenção da União Federal nos processos 4. Direito mdividual e cole/IVO. liqUido e certo. 5. Objeto. 6. Cabimento.
Lei n. 9.469. de 10.7.1997 ........................................................ 869 7. Prazo para lmpetração. 8. ParJes. 9. Litisconsórclo e assIstên-
cia. 10. Competêncla. JI. Petição micial e notificação. 12. Limmar.
10. Legislação sobre ação direta de inconstitucionalidade, ação J 3. Suspensão da limmar ou da sentença. 14. Informações. J5. Sentença.
declaratória de constitucionalidade ação direta de inconsti-
J 16. Execução. 17. Recursos. 18. Corsa julgada. 19. Mandado de segu-
tucionalidade por omissão e argüição de descumprimento de rança cole/IVO. 20. Questões processualS.2i. A nova ler.
preceito fundamental
Lei n. 9.868. de 10.11.1999 ....................................................... 869 1. Conceito e legitimidade
AnteproÍeto de Lei n. ... (disCiplina legal da ação direta de in-
constitucionalidade por omissão) .......................................... 879 Mandado de segurança I é o meío constitucíonal posto à dis-
Lei n. 9.882. de 3.12.1999 ........................................................ 881 posição de toda pessoa fisíca ou juridíca, órgão com capacídade
11. Legislação sobre representação interventiva
ProÍeto de Lei do Senado n. 51, de 2006 .................................. 888 1. Sobre mandado de segurança consultem-se 05 segumtes autores pátrios:
12. Leis de modernização do processo civil Castro Nunes. Do Mandado de Segurança, 1946; Luís Eulália de Bueno Vidigal. Do
Mandado de Segurança, 1953~ Themistocles Brandão Cavalcantl. Do Mandado de
Lein. 11.417. de 19.12.2006 ..................................................... 890 Segurança, 1957; Amoldo Wald, Do Mandado de Segurança na Prática JudiciárIa.
Lei n. 11.418. de 19.12.2006 ..................................................... 893 1968 (4Jl ed., revÍsta e atualizada com a colaboração de Ana Maria Goffi Flaquer
Lei n. 11.419. de 19.12.2006 ..................................................... 895 Scartezzim, 2003); Ary Florêncio Guimarães. O MinistérIO Público no Mandado de
Lei n. 11.672. de 8.5.2008 ......................................................... 902 Segurança. 1959; Othon Sidou, Do Mandado de Segurança, 1959; Celso Agrícola
Barbi, Do Mandado de Segurança. 1960; Carlos Alberto Menezes Direito, Manual
Índice alfabético-remissivo ............................................................ 905 do Mandado de Segurança, 1991; Victor Nunes Leal. "Questões pertInentes ao man-
dado de segurança". RDA 11/73; Alcides de Mendonça Lima. "Efeitos do agravo de
petIção no despacho concessivo de medida límmar no mandado de segurança", RT
272122; Alfredo Buzaid, Do Mandado de Segurança. Saraiva, 1989. e RT258/35;
Seabra Fagundes, O Controle dos Atas Adminzstrativos pelo PoderJudiciárzo, 1957,
pp. 293 e 55., e tb. "A nova Constituíção e o mandado de segurança". RDA 89/l;
CaIO TáCIto. "O mandado de segurança e o poder nonnatIvo da Administração",
RDA 46/246; Hamílton de Moraes e Barros, As Liminares do Mandado de Segu-
rança, 1963~ José Carlos Barbosa Moreira. Mandado deSegurança-Ação Popular
- Ação Direta de Declaração de InconstitUCionalidade (Indicações de Doutrina e
Junsprudência), 1964, e tb. "Mandado de segurança e condenação em bonorànos
de advogado", RDPG 23150; Jorge Salomão, Execução de Sentença em Mandado
de Segurança, 1965; Luiz Rodolfo de Araújo Júnior, Do LiuscollSorcio PasSIVO em
Mandado de Segurança, 1965~ Josê Manoel de Arruda Alvim Neto, "Mandado de
26 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 27

processual, ou universalidade reconhecida por lei, para a proteção de pessoa, qualquer uma delas poderá requerer a correção judicial (art.
direito individual ou coletivo,2 liquido e certo, lesado ou ameaçado 12 , § 32 , da Lei n. 12.016/09).
de lesão por ato de autoridade, não amparado por habeas corpus ou Não só as pessoasfisicas ejurídicas podem utilizar-se e ser pas-
habeas data, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções síveis de mandado de segurança, como tambem os órgãos públicos
que exerça (CF, art. 52, LXIX e LXX; ar!. 12 da Lei n. 12.016, de
despersonalizados, mas dotados de capacidade processual, como as
7.8.2009).3 Caso o direito ameaçado ou violado caiba a mais de uma
Chefias dos Executivos, as Presidências das Mesas dos Legislativos,
segurança e sua aplicabilidade ao Direito Tributário'" RDP 5/41; Clenicio da Silva os Fundos Financeiros, as Comissões Autônomas, as Agências Regu-
Duarte, "Execução de sentença em mandado de segurança", RDP 8/115; Sérgio de ladoras, as Superintendências de Serviços e demais órgãos da Admi-
Andréa Ferreira, "A natureza mandamental-condenatóría do mandado de seguran- nistração centralizada ou descentralizada que tenham prerrogativas
ça", RDP 22149, e th. "O mandado de segurança e o ato legislativo", RDPG 24/38;
Ulderico Pires dos Santos, O Mandado de Segurança na Doutrina e na JuriSpro.-
ou direitos próprios ou coletivos a defender.'
dência. Forense, 1973; Celso Ribeiro Bastos, Do Mandado de Segurança. Saraíva, Respondem também em mandado de segurança as autoridades
1978: Carlos Mário da Silva Velloso, "Do mandado de segurança", RDP 55-56/333; judiciárias quando pratiquem atas administrativos ou profiram de-
Kazuo Watanabe. Controle Junsdicional e Mandado de Segurança contra Atos
Judiciais. Ed. RT. 1980; Jose Cretella Jr.• Comentàn'os Os LeiS do Mandado de cisões judiciais que lesem direito individual ou coletivo, líquido e
Segurança, Saraiva, 1980. e tb. Do Mandado de Segurança, Forense, 1980; Mílton certo, do impetrante.
Flaks. Mandado de Segurança - Pressupostos da lmpetração, Forense. 1980; Níl-
son Ramon, Do Mandado de Segurança, Curitiba, 1980; Celso Ribeíro Bastos, Do Na ordem privada, podem impetrar segurança, além das pessoas
Mandado de Segurança, Saraíva, 1982; AsSOCIação Paulista do Ministéno Público, e entes personificados, as universalidades reconhecidas por lei,
Curadoria de Mandados de Segurança. ed. APM. 1984; Pinto Ferreira, Teorza e como o espólio, a massa falida, o condomínio de apartamentos. Isto
Prútica do Mandado de Segurança, SaraiVa, 1985; Celso Antônio Bandeira de
Mello, Adílson de Abreu Dallart, Sérgio Ferraz, Lucia VaUe Figueiredo e Carlos porque a personalidade jurídica e independente da personalidade
Máno da Silva Velloso, Curso de Mandado de Segurança, Ed. RT, 1986; Lúcia VaJle judiciária, ou seja, da capacidade para ser parte em juízo; esta é
FigueIredo, Mandado de Segurança, 6ll ed.• São Paulo, MalheIros Editores, 2009; um minus em relação àquela. Toda pessoa física ou juridica tem,
Sérgio Ferraz, Mandado de Segurança, 311. ed.• Malheiros Editores. 2006; Cármen
LucIa Antunes Rocha, "Do mandado de segurança", RevLSta de Informação LegLSla- necessariamente, capacidade proçessual, mas para postular em juizo
tiva, 1986, pp. 131 e 55.; 1. J. Calmon de Passos. Mandado de Segurança Cole/iVo. nem sempre é exigida personalidade jurídica; basta a personalidade
Mandado de lnjunção e "Habeas Data" - Constituição e Processo, Forense. 1989; judiciária, isto é, a possibilidade de ser parte para defesa de direItos
Michel Temer, "Algumas notas sobre o mandado de segurança coletivo. o mandado
de injunção e o habeas data", RPGE-8P 30/11; Carlos Ari Sundfeld, "Anotação próprios ou coletivos.5
sobre o mandado de segurança coletivo", RPGE-5P 29/163: Lucia Valle Figueiredo. O essencial para a impetração é que o impetrante - pessoa física
"Mandado de segurança na Constituição de 1988", RDP 87/81, e "Breves reflexões
ou jurídica, órgão público ou universalidade legal - tenha prerroga-
sobre o mandado de segurança no novo texto constitucional", RT 635/24; Celso
Agrícola 8arbi, "Mandado de segurança na Constituição de 1988", RT 635119;
Alfredo Buzaid., "Mandado de segurança, mjunctions e mandamus", RePro 5317; sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder. qualquer pessoa tisica ou jurídica
Vicente Greco Filho. Tutela Constitucional das Liberdades, São Pauto. 1989. e sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que
Mandados de Segurança e de lnjunção - Estudos de Direito Processual Constitu- categoria for e sejam quais forem as funções que exerça".
cional em Memõria de Rona/do Cunha Campos. sob a coordenação do Min. Sálvio 4. Nosso mandado de segurança inspirou-se no juicio de amparo do Direito
de Figueiredo Teixeíra, São Paulo. Saraíva, 1990. Mexicano, que vigora desde 1841, para a defesa de direito individuai, líquido e certo.
Ressalte-se que as obras indicadas foram editadas na vigência da antiga lei contra atos de autoridade. Para um panorama atual da matéria não só no México e no
disciplinadora do mandado de segurança (Lei n. 1.533/51), substituída pela Lel n. Brasil, como no resto da América Latina e das influênCIas recíprocas das legislações
12.016, de 7.8.2009. e da junsprudência dos vàrios países, v.: Eduardo Ferrer MacGregor, "EI amparo ibe-
2. O mandado de segurança para defesa de ínteresses coletivos, por suas pe- roamencano (estudio de derecho procesal constitucional comparado)", RePro 143n9.
culiaridades e para melhor SIstematização da matéria, mereceu tratamento em ítem 5.1ames Goldschmidt, Derecho Procesal Civil, 1936, p. 162; Jose Alberto dos
â parte (n. 19). Reis, Comentarz'os ao Código de Processo Civil Português. JJ123. 1944; Lopes da
3. Art. 1.Q da Lei D. 12.016/09: "Conceder-se-à mandado de segurança para Costa, Direito Processual Brasileiro. l/286, 1941; Víctor Nunes Leai. "Personalidade
proteger direito líquido e certo, não amparado por haheas corpus ou habeas data. judiciána das Câmaras MunicipaIS", RDA 15/46, e STF, RTJ 69/475.
i
I' 28 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 29

tiva ou direito, próprio ou coletivo, a defender e que esse direito se O mandamus preventivo tem sido muito utilizado em matéria
apresente liquido e certo ante o ato impugnado. tributària, em especial para proteção contra a cobrança de tributos
Quanto aos orgãos públicos, despersonalizados mas com prer- inconstitucionais. Embora não seja cabível o mandado de segurança
rogativas próprias (Mesas de Câmaras Legislativas, Presidências de contra lei em tese (Súmula n. 266 do STF), a edição de nova legis-
Tribunais, Chefias de Executivo e de Ministério Público, Presidên- lação sobre tributação traz em si a presunção de que a autoridade
cias de Comissões Autônomas etc.), a jurisprudência é uniforme no competente irá aplicá-la. Assim, a jurisprudência admite que o con-
reconhecimento de sua legitimidade ativa e passiva para impetrar tribuinte, encontrando-se na hipótese de incidência tributária prevista
mandado de segurança (não para ações comuns), restrito à atuação na lei, impetre o mandado de segurança preventivo, pois há uma
funcional e em defesa de suas atribuições institucionais.6 ameaça real e um justo receio de que o fisco efetue a cobrança do
Quanto aos agentes políticos que detenham prerrogativas fun- tributo. Neste sentido, há várias decisões do STllO
cionais específicas do cargo ou do mandato (Governadores, Prefei- Por outro lado, muito se discutiu sobre os efeitos da eventual
tos, Magistrados, Parlamentares, Membros do Ministério Público e prática, ainda no curso do processo, do ato que o mandado de segu-
dos Tribunais de Contas, Ministros e Secretàrios de Estado e outros), rança preventivo visava impedir, havendo quem defendesse que a
também podem impetrar mandado de segurança contra ato de au- impetração perdia o seu objeto e a parte devia ajuizar novo mandado
toridade que tolher o desempenho de suas atribuições ou afrontar de segurança, desta feita repressivo. Ajurisprudência do STJ, porém,
suas prerrogativas, sendo freqüentes as impetrações de membros de é no sentido de considerar que o mandado de segurança preventIVO
corporações contra a atuação de dirigentes que venham a cercear sua não fica prejudicado pela prática do ato, devendo este ser anulado e
atividade individual no colegiado ou, mesmo, a extingnir ou cassar desconstituído na hipótese de concessão da segurança. 11
seu mandato.7
De acordo com o ar!. 32 da lei ora em vigor, o writ também pode O processo do mandamus, justamente por tratar-se de ação de
ser impetrado por titular de direito liquido e certo decorrente de direi- rito especial de indole constitucional, tem prioridade sobre todos
to de terceiro, a fuvor do direito originário, se o seu titular não o fizer, os demais processos, à exceção do habeas corpus (art. 20 da Lei n.
no prazo de 30 dias contados da sua notificação judicial.8 12.016/09).
O mandado de segurança normalmente é repressivo de uma
o STJ vem entendendo que o mandado de segurança preventivo pode propIciar
ilegalidade já cometida, mas pode ser preventivo de uma ameaça de uma tutela simplesmente declaratória (REsp n. 81.218~DF. ReI. Min. Ari Pargendler.
direito liquido e certo do impetrante. Não basta a suposição de um RDR 6/229). Acórdão do TRF_SIl Região. no entanto, afinnou que "o mandado de
direito ameaçado; exíge-se um ato concreto que possa pôr em risco o segurança não pode ser utilizado como se fora uma ação declaratâna, promovendo
direito do postulante" o acertamento de uma situação Jurídica, com eficáCia para o futuro" (MS n. 1.608-
012002-CE, ReI. Des. Fed. Elio Siqueíra, RT 820/415).
Entendemos que o mandado de segurança não cabe para a declaração de um
6. SlF. RDA 45/319. RTJ69/475; TJRS.RDA 15/46.561269; TlPR. RT301l590,
direito em tese, mas pode ter feição declaratóna diante de uma ameaça concreta ao
3211529; TJRJ,RT478/181; TASP, RDA 54/166, 72/267, 731287.RT337/373, 339/370;
TJSP. RDA 981202, 108/308, RT3711120. direito do impetrante, claramente caracterizada com a inicial, hipótese na qual se
reveste de caràter preventivo, antecipando-se á ocorrência da violação do direito e
7. TJMT, RT 517/172; TlPR. RDA 1ll/313, RT 442/193; TASP, RT320/479;
conferindo real efetividade à tutela junsdicional. Sobre a segurança preventiva, v..
TJSP, RDP 28/239. RT 2471284.
adiante. o n. 15, Sentença.
8. Com a ressalva de que se deve respeitar, tambem nesse caso. o prazo deca-
dencíal previsto no art 23, Ín verbis: "O direito de requerer mandado de segurança 10. REsp n. 38.268-8-SP, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 19.9.94,
extinguir-se-à decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciêncía, pelo interes- p. 24.655; EDREsp n. 18.424-CE. ReI. Min. Humberto Gomes de Barros. RDR
sado, do ato ímpugnado", 51126; REsp o. 80.578-SP, ReI. Min. Milton LulZ Pereira, RDR 51175; e REsp n.
9 ....A segurança preventiva pressupõe a existêncía de efetiva ameaça a direito,
ameaça que decorre de atas concretos da autoridade pública" (STF. MS D. 25.009-DF.
ReI. Min. Carlos VeHoso. RTJ 194/594).
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90.089-SP, ReI. Min. Ati Pargendler. DJU 6.4.98. p. 78.
H. RMS n. 5.051-3-RJ. ReI. Min. Ati Pargendler. RSTJ 751165 e RMS n.
6.l30-RJ. ReI. Min. Edson Vidigal, RSTJ 119/566.

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30 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 31

2. Natureza processual a pretexto de exercê-Ias. Por autoridade. entende-se a pessoa fisica


investida de poder de decisão dentro da esfera de competência que
O mandado de segurança, como a lei regulamentar o considera, 12
é ação civil de rito sumário especial, destinada a afastar ofensa ou lhe é atribuída pela norma legal.
ameaça a direito subjetivo individual ou coletivo. privado ou públi- Deve-se distinguir autoridade pública do simples agente pú-
co, através de ordem corretiva ou impeditiva da ilegalidade, ordem, blico. Aquela detém, na ordem hienirquica, poder de decisão e e
esta, a ser cumprida especificamente pela autoridade coatora, em competente para praticar atos administrativos decisórios, os quais,
atendimento à notificação judicial. Sendo ação civil, o mandado de se ilegais ou abusivos, são suscetíveis de impuguação por mandado
segurança enquadra-se no conceito de causa, enunciado pela Consti- de segurança quando ferem direito liquido e certo; este não pratica
tuição da República, para fins de fIXação de foro e juizo competentes atos decísórios, mas simples atos executórias e, por isse, não está
para o seu julgamento quando for interessada a União Federal (art. sujeito ao mandado de segurança, pois é apenas executor de ordem
109, I e VIII) e produz todos os efeitos próprios dos feitos contencio- superior. Exemplificando: o porteiro é um agente público, mas não
sos. Distingue-se das demais ações apenas pela especificidade de seu é autoridade; autoridade é o seu superior rnerarquico, que decide
objeto e pela sumariedade de seu procedimento, que Ibe é próprio, naquela repartição pública. O simples executor não é coator em sen-
aplicando-se, subsidiariamente, as regras do Código de Processo tido legal; coator é sempre aquele que decide, embora muitas vezes
Civil. Visa, precipuamente, à invalidação de atas de autoridade ou também execute sua própria decisão, que rende ensejo à segurança.
à supressão de efeitos de omissões administrativas capazes de lesar Atos de autoridade, portanto, são os que trazem em si uma decisão.
direito indivídual ou colettvo. líqUido e certo. e não apenas execução. I4
Qualquer que seja a origem ou natureza do ato impuguado Para fins de mandado de segurança. contudo, consideram-se
(administrativo, judicíal, civil, penal, policial, militar, eleitoral, atas de autoridade não só os emanados das autoridades públicas
trabaIbísta etc.), o mandado de segurança será sempre processado e propriamente ditas, como também os praticados por representan-
julgado como ação civil, no juízo competente. 13 tes ou orgãos de partidos políticos; administradores de entidades
autárquicas; e, ainda, os dirigentes de pessoas juridicas ou as pes-
3. Ato de alltoridade soas naturais no exercício de atribuições do poder público (art. Iº,
§ 1., da Lei 12.016/09).15-16 Não cabe, todavia, a impetração contra
Ato de autoridade é toda manifestação ou omissão do Poder os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de
Público ou de seus delegados, no desempenho de suas funções ou empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessIO-
nárias de serviço público (art. Iº, § 2º, da Lei n. 12.016/09). Não se
12. O mandado de segurança está regulamentado pela Lei Federal n. 12.016. de
7.82009. que substituiu a Lei n. 1.533, de 31.12.51. e incorporou em um só diploma consideram, tampouco, atos de autoridade passíveis de mandado de
legai a maIOr parte das normas pertinentes li matéria.. revogando no ensejo. a teor de segurança, os praticados por pessoas ou instituições particulares cuja
seu art 29, a menCIonada Lei n. 1.533/51; a Leí n. 4.166. de 4.12.62. que modificava atividade seja apenas autorizada pelo Poder Público, como são as
a redação de dispositivos da LeI n. 1.533/51; a Lei n. 4.348. de 26.6.64. que estabe w

Ieeia nonnas processuais para o mandado de segurança; a Leí n. 5.021. de 9.6.66.


14. O art. @, § 3.0., da Lei n. 12.016/09, tem a seguinte redação: "Considera-se
que dispunha sobre o pagamento de vencimentos e vantagens concedidos a servidor
público em mandado de segurança; o art. 32 da Lei n. 6.014, de 27.12.73 e o art. 12 autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a
da Lei n. 6.071, de 3.7.74, que adaptavam ao novo Código de Processo Civil a leí do ordem para a sua prábca",
mandado de segurança; o art. 12 da Lei n. 6.978, de 19.1.82 e o art. 2.0. da Leí n. 9259, 15. A Lei n. 12.016f09 supnmiu a referência a "funções delegadas do poder
de 9.1.96, que modificaram a redação do § I" do ar!. I" da LeID. 1.533/51. público", aludindo ao "exercício de atribuições do poder público"_
13.Assimjá decidiu o STF: uMandado de segurança é ação civil, ainda quando 16. No STJ, admitindo a impetração contra ato ilegal e abusivo de dingente
impetrado contra ato de JUIZ criminal, praticado em processo penal. Aplica-se, em de sociedade de economia mista concessionâna de serviços de energia elétrica que
conseqüência, ao recurso extraordinàrio interposto da decisão que o julga o prazo cortou o fornecimento de energia para locaIS cujos pagamentos estavam em dia: REsp
estabelecido no Código de Processo Civil" (RTJ831255). n. 174.085-GO, ReI. Min.José Delgado,DJU21.9.98. p. 96.
,r
32 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 33

organizações hospitalares, os estabelecimentos bancários e as insti- ou da Mesa que entendem direta e exclusivamente com as atribui-
tuições de ensino, salvo quando desempenham atividade delegada ções e prerrogativas da Corporação.2o Daí não se conclua, entretanto,
(STF, SÚOlula n. 510). que todo e qualquer ato desses órgãos constitua interna corporis
Equiparam-se a atas de autoridade as omissões administrativas vedado à apreciação judicial. Não é assim, pois atos e deliberações
das quais possa resultar lesão a direito subjetivo da parte, ensejando do Legislativo existem regrados pela Constituição, pela lei e pelo
a impetração de mandado de segurança para compelir a Administra- Regimento e, nestes casos, pode - e deve - o Judiciário decidir sobre
ção a pronunciar-se sobre o requerido pelo impetrante e, durante a sua legitimidade.
inércia da autoridade pública, não corre o prazo de decadência para
i: a impetração.'7
l' 4. Direito individual e coletivo, líquido e certo
Os atas judiciais não transitados em julgado - acórdão, sentença
'I,
"
I ou despacho - configuram atas de autonaade passiveis de manda- Direito individual, para fins de mandado de segurança, e o que
I do de segurança, desde que ofensivos de direito liquido e certo do pertence a quem o invoca e não apenas li sua categoria, corporação
I ou associação de classe. É direito próprio do impetrante. Somente
impetrante e, nos termos do art. 3·, inciso II, da Lei n. 12.016109,
I desde que contra os mesmos não caiba recurso com efeito suspensi- este direito legitima a impetração. Se o direito for de outrem não
vo. Tambem os atas administrativos praticados por magistrados no autoriza a utilização do mandado de segurança, podendo ensejar
desempenho de funções de administração da justiça sujeitam-se à ação popular ou ação civil pública (Leis ns. 4.717/65 e 7.347/85).21
correção por via do mandamus. A Constituição de 5.10.88 criou o mandado de segurança co-
O rigor da SÚOlula n. 267 do STF, que não admitia mandado de letivo, hoje tambem regulamentado pela Lei n. 12.016109. Direitos
segurança contra ato judicial, já fora mitigado pela própria Corte, no coletivos, para fins de mandado de segurança, são os propriamente
teor deste acórdão: "O STF tem abrandado a rigidez do entendimento coletivos (assim entendidos os transindividuais, de natureza indi-
jurisprudencial inscrito na SÚOlula n. 267 para permitir o conheci- visivel, de que seja titular grupo de pessoas vinculadas por relação
mento de ação de segurança impugnadora de decisão jurisdicional juridica básica); e os individuais homogêneos (decorrentes de origem
que, impugnável por meio de recurso devolutivo, seja causadora de comum e da atividade ou situação específica do grupo), pertencentes
dano irreparável ao impetrante da medida",18 a uma coletividade ou categoria representada por partido politico,
por organização sindical, por entidade de classe ou por associação
Os atos praticados por parlamentares na elaboração da lei, na
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano
votação de proposições ou na administração do Legislativo en-
(art. 5., LXX, "a" e "b", da CF e art. 21 da Lei n. 12.016/09).
tram na categoria de atas de autoridade e expõem-se a mandado
de segurança, desde que infrinjam a Constituição ou as normas 20. Sobre os atos interna carpam v. Heíy Lopes Meirelles. Direito AdmInistra-
regimentais da Corporação e ofendam direitos ou prerrogativas do tivo Brasileiro. 35i1 ed., MalheJIOs Editores, 2009, cap. XI. item 6.
impetrante. 19 No STF. sobre o descabimento de mandado de segurança contra ato interna
corpons do Legislatívo: MS n. 23.920-DF, Rei. Min. Celso de Mello, lnfonnattvo
No entanto, não se sujeitam à correção judicial a lei regular- STF22214: MS n. 21.754-5-RJ, ReI. desig. Min. Francisco RezeI<, DJU21.2.97.
mente votada e promulgada, bem como os atos interna corporis do 21. O STF editou a Súmula n. 101, segundo a qual "o mandado de segurança
Legislativo, que são aquelas deliberações do Plenário, das Comissões não SUbStituI a ação popular". O STJ mantêm a mesma jurisprudência. eXIgindo, para
o cabimento do mandado de segurança. que o direito postulado seja do própno unpe-
17. STF, RTJ74/833. trante. ou dos integrantes da entidade que requer o mandado de segurança. e que a sua
concessão lhe traga benefiCIO direto. A simples anulação de ato que se pretende ilegal,
18. STF, DJU 8,1 0.88 e RTJ 95/339, 1031215. sem conferimento ao autor de nenhum beneficio próprio, unplicana a convolação
19. STF, RTJ 99/1.032, 139/783, 190/552, RDA 45/291, 74/267, 78/224, do mandado de segurança em ação popular (MS n. 4.452-DF. ReI. Min. Demócrito
133/144: TJSP, RT258/251, 357/168. Reinaldo, AD V 97, ementa 77.336).
,r
34 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 35

A entidade que impetrar mandado de segurança deve fazê-lo acompanhem a inicial?4 salvo no caso de documento em poder do
em nome próprio, mas em defesa dos seus membros que tenham um impetrado (art. 62, § IQ, da Lei \2.016/09)25 ou superveniente às in-
direito ou uma prerrogativa a defender judicialmente.22 formações. Admite-se também, a qualquer tempo, o oferecimento de
Direito líquido e certo23 é o que se apresenta manifesto na sua parecer jurídico pelas partes, o que não se confunde com documento.
existência, delimítado na sua extensão e apto a ser exercitado no O que se exige é prova pré-constituída das situações e fatos que em-
momento da impetração. Por outras palavras, o direito invocado, basam o direito invocado pelo impetrante.26
para ser amparável por mandado de segurança, hã de vir expresso em Quanto à complexidade dos fatos e à dificuldade da interpre-
norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua apli- tação das normas legais que contêm o direito a ser reconhecido ao
cação ao impetrante: se sua existência for duvidosa; se sua extensão impetrante, não constítuem óbIce ao cabimento do mandado de
ainda não estiver delimitada; se seu exercicio depender de situações segurança, nem impedem seu Julgamento de mérito." Isto porque,
i e fatos ainda indeterminados, não rende ensejo li segurança, embora embora emaranhados os fatos, se existente o direito, poderà surgir
possa ser defendido por outros meios judiciais. líquido e certo, a ensejar a proteção reclamada. Da mesma forma, já
'.\
,'I Quando a lei alude a direito líqUido e certo, esta exigindo que decidiu o TJSP que: "As questões de direito, por mais intrincadas e
I esse direito se apresente com todos os requisitos para seu reconhe- difIceis, podem ser resolvidas em mandado de segurança" 28 O STJ
cimento e exercício no momento da impetração. Em última análise, jã admitiu, por exemplo, a aplicação da teoria da desconsideração
direito líquido e certo ti direito comprovado de plano. Se depender da personalidade jurídica em sede de mandado de segurança, desde
de comprovação posterior, não é líquido, nem certo, para fIns de que a prova pré-constituída se mostre apta a caracterizar a fraude que
segurança. Evidentemente, o conceito de liquidez e certeza adotado dá ensejO à incidência da chamada dísregard doctrzne. 29 O STF, por
pelo legislador do mandado de segurança não é o mesmo do legisla-
dor civil (art. 1.533 do Código Civil). É um conceito impróprio - e 24. Em fundamentado despacho, oDes. SylvlO do Amarai, Vice-Presidente do
TJSP, mandou desentranhar prova documental apresentada depoís das informações.
mal-expresso - alusivo à precisão e comprovação do direito quando declarando que "é indiscutivelmente descabida, em face da natureza deste processo,
deveria aludir à precisão e comprovação dos fatos e situações que a pretensão do impetrante, de produzir- novos documentos. em complementação
ensejam o exercício desse direito. àqueles com que instruiu a micíal" (despacho publicado no DJE 16.4.83, p. 12). No
mesmo sentido: TJSP. RT255/371. 264/459. 441165).
Por se exigir situações e fatos comprovados de plano é que não 25. "Recusando a autoridade coatora fornecer prova ofiCIal. em seu poder, deve
há instrução probatória na mandado de segurança. Há, apenas, uma o magistrado,julgador do writ, pressupor a existência da prova em favor da impetran-
dilação para informações do impetrado sobre as alegações e provas te. aplicando-se as devidas sanções â. autoridade coatora" (STJ, RMS n. 12.783-BA,
ReI. Min. Paulo Medina, DJU25.4.2005, p. 362).
oferecidas pelo impetrante, com subseqüente manifestação do Mi-
26. ''Não é correta a assertiva de que, em sede de mandado de segurança, o
nistério Público sobre a pretensão do postulante. Fixada a lide nestes Poder Judiciário não examma provas. Tal exame é necessário, para que se avalie a
termos, advirã a sentença considerando unicamente o direito e os certeza do direito pleIteado. Vedada, no processo de mandado de segurança, e a coleta
fatos comprovados com a inicial e as informações. de outras provas, que não aquelas oferecidas com a InlClal. as informações e eventuaIS
pronunciamentos de litisconsortes.A prova há de ser pre--con!'>tlblid::l Nn f'nt~ntn I">nr
As provas tendentes a demonstrar a liquidez e certeza do direi- maIS volumosa que seja, ela deve ser examinada" (STJ.}
to podem ser de todas as modalidades admitidas em lei, desde que Humbertn Gomes de Barros. RSTJ 121/49).
Por outro lado. sendo a hipótese de ato omissIvo q1.
22. Remete-se o leitor aos comentários do n. 19, sobre mandado de segurança praticar de oficio, não se exige a prova da omissão proP]
coletivo. va}, bastando a demonstração de que a autoridade lmpe
agJr (STF. RMS n. 22.032-DF, ReI. Min. Morerra Alves,
23. A atual expressão direito líqUido e certo substituIU a da legislação cria·
dora do mandado de segurança. direito certo e incontestàve/. Nenhuma satisfaz. 27. STF. RTJ 11111.280.
Ambas são unprôprías e de significação equivoca, como procuraremos demonstrar 28. TJSP. RT254/104; TJMT. RT 4461213.
no texto. 29. RMS n. 12.873-SP. ReI. Min. Fernandn Gonçal
UNIVERSIDADE i"UM~(
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36 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 37

sua vez. editou a SÚInula n. 625. segundo a qual "controvérsia sobre ser declarada inconstitucional pela via do mandamus. Somente as
matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança". leis e decretos de efeítos concretos tornam-se passiveis de mandado
de segurança. desde sua publicação. por serem equivalentes a atos
5. Objeto administrativos nos seus resultados imediatos.33
Por leis e decretos de efoítos concretos entendem-se aqueles
O objeto do mandado de segurança será sempre a correção de
que trazem em si mesmos o resultado específico pretendido. tais
ato ou omissão de autoridade. desde que ilegal e ofensivo a direito
como as leis que aprovam planos de urbanização. as que fixam limi-
individual ou coletivo. líquido e certo, do impetrante.
tes territoriais. as que criam municípios ou desmembram distritos.
Este ato ou omissão poderá provir de autoridade de qualquer as que concedem isenções fiscais. as que proíbem atividades ou con-
um dos três Poderes. Só não se admite mandado de segurança contra dutas individuais; os decretos que desapropriam bens. os que fixam
atas meramente normativos (lei em tese), contra a coisa julgada30 e tarifas. os que fazem nomeações e outros dessa espécie. Tais leis
contra os atos interna cOrporis31 de órgãos colegiados. E as razões ou decretos nada têm de normativos; são atas de efeitos concretos,
são óbvias para essas restrições: as leis e os decretos gerais, enquan- revestindo a forma imprópria de lei ou decreto por exigências admi-
to normas abstratas. são insuscetíveis de lesar direitos. salvo quando nistrativas. Não contêm mandamentos genéncos. nem apresentam
proibitivos; a coisa julgada pode ser invalidada por ação rescísória qualquer regra abstrata de conduta; atuam concreta e imediatamente
(CPC. art. 485) e os atos interna corporis, se realmente o forem, não corno qualquer ato administrativo de efeitos específicos. individuais
se sujeitam à correção judicial. ou coletivos. razão pela qual se expõem ao ataque pelo mandado de
Vê-se, portanto. que o objeto normal do mandado de segurança segurança. 34
é o ato administrativo específico. mas por exceção presta-se a atacar Em geral. as leis. decretos e demais atos proibitivos são sempre
as leis e decretos de efeitos concretos, as deliberações legislativas e de efeitos concretos. pois atuam direta e imediatamente sobre seus
as decisões judiciais para as quaIs não haja recurso com efeito sus- destinatários.
pensivo. capaz de impedir a lesão ao direito subjetivo do impetrante.
Por deliberações legislativas atacáveis por mandado de segu-
A lei em tese, como norma abstrata de conduta, não é atacável
rança entendem-se as decisões do Plenário ou da Mesa ofensivas
por mandado de segurança (STF. SÚInula n. 266), pela óbvia razão
de direito individual ou coletívo de terceiros. dos membros da
de que não lesa. por si só, qualquer direito individual.32 Necessária
Corporação. das Comissões.35 ou da própna Mesa. no uso de suas
se torna a conversão da norma abstrata em ato concreto para expor-
atribuições e prerrogativas institucionais. As Câmaras Legislativas
se à impetração. mas nada impede que. na sua execução. venba a
não estão dispensadas da observância da Constituição. da lei em
30. A Lei n. 12.016/09. art. 5u, me. III, previu, de modo expresso. que não serà geral e do Regimento Interno em especia1. 36 A tramitação e a forma
concedida segurança contra deCIsão transitada em julgado. nos exatos termos da
SÚInula n. 268 do S1F. 33. STF. RDA 57/198, RF 1941118: AgRgAI n. 271.528-3-PA, ReI. Min. Se-
31. Sobre interna corporis. v. o que escrevemos (Hely Lopes Meirelles. Direito púlveda Pertence. RT 859/166: TJSP, RDA 55/174. 61/214. RT 229/367. 243/114.
Admmísfratívo Brasileiro, 3511 ed., Malheiros Editores, 2009, cap. XI, item 6). 250/290.271/497.276/508.306/308. 313/130. 319/93. No STJ: EDREsp n. 40.055-
Deixamos de excluir do âmbito do mandado de segurança os chamados atas 4-SP. ReI. Min. Antônio de Pádua Ribeiro. DJU9.6.97, p. 25.494.
políticos, porque não passam de atos das altas autoridades, praticados com Imediato 34. T1MT. RT 235/954: TJPR. RJ 49/426: TJSC. RF 195/283: TJSP. RT
fundamento constitucional. Mas. se desbordarem da Constituíção e lesarem direito 242/314.289/152. 291/171. 441166. 455/51.
individual ou cofetivo. líquido e certo. sujeitam-se ao controle de legalidade. inclu- 35. Em matéria de ato de Comissão Parlamentar de Inquênto, o STF entende
síve pelo mandamus (cf. Hely Lopes Meírelles. Direíto AdministratIvo BrasileIro. que fica prejudicado o mandado de segurança sempre que a CPI concluir seus tra-
35' ed., Malhetros Editores. 2009. cap. XI. item 6). balhos e se extmguIr. seja aprovado ou não seu relatóno final (decisão unâmme do
32. "Descabe mandado de segurança para promover declaração de inconstitu- Tribunal Pleno. MS n. 23.971-DF. ReI. Min. Celso de Mello. RTJ 182/192).
cionalidade de lei" (STJ. RMS n. 11.484-MG. ReI. Min. Aldir Passarinho Jr.. DJU 36. STF. RTJ 99/1.032. RDA 45/291. 74/267. 78/224, 133/144: TJSP. RT
26.6.2006). 258/251.357/168. Ernjulgamento de 25.42007. o Pleno do STF, por unanimidade.
38 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 39

dos atas do Legislativo são sempre vinculadas às normas legaís que 6, Cabimento
os regem; a discricionariedade ou soberania dos corpos legislativos
só se apresenta na escolha do conteúdo da lei, nas opções da votação A regra é o cabimento de mandado de segurança contra ato de
e nas questões interna corporís de sua organízação representativa.37 qualquer autoridade, mas a lei o excepciona contra o 'L~mp()!,~e
Nesses atas, resoluções ou decretos legislativos cabeci a segurança recurso administrativo com efeito suspensivo. independente de cau-
quando ofensivos de direito individual público ou privado do impe- ção: contra decisão õu despacho judicial para o qual haja recurso
trante, como cabeci também contra a aprovação de lei pela Câmara, processual eficaz com efeito suspensivo. ou possa ser corrigido pron-
ou sanção pelo Executivo, com infringência do processo legislativo tamente por via de correição; e contra a decisão judicial transitada
pertioente, tendo legitimidade para a impetração tanto o lesado pela emjulgado (art. 5' da Lei n. 12.016/09, com as restrições adiante
aplicação da norma ilegalmente elaborada quanto o parlamentar pre- oferecidas). .
judicado no seu direito público subjetivo de votá-la regularmente. 3s
Ato de que caiba recurso adminístrativo - Quando a lei veda
Por decisões judiciais, para [ms de mandado de segurança, que se impetre mandado de segurança contra "ato de que caiba
entendem-se os atas jurisdicionaís praticados em qualquer proces- recurso administrativo com efeito suspensivo, mdependente de
so civil, criminal, trabalhísta, militar ou eleitoral, desde que não caução" (art. 5', I), não está obrigando o particular a exaurir a via
caiba recurso com efeito suspensivo (art. 5', inciso II, da Lei n. administrativa para, após, utilizar-se da via JudiciaL Está, apenas,
12.016/09).39 Desde que a decisão ou a diligência não possa ser sus- condicionando a impetração à operatividade ou exeqüibilidade do
tada por recurso processual capaz de impedir a lesão, nem permita ato a ser impugnado perante o Judiciário. Se o recurso suspensivo
a intervenção corredonal eficaz do órgão disciplinar da Magistra- for utilizado, ter-se-a que aguardar seu julgamento, para atacar-se o
tura, contra ela cabe a segurança. Quanto aos atas administrativos ato final; se transcorre o prazo para o recurso, ou se a parte renuncia
praticados por autoridades judiciárias ou órgãos colegiados dos à sua interposição, o ato se toma operante e exeqüível pela Adminis-
tribunais, sujeitam-se a mandado de segurança em situação idêntica tração, ensejando desde logo a impetração. O que não se admite é
aos das autoridades executivas.40 a concomitância do recurso administrativo (com efeito suspensivo)
com o mandado de segurança, porque, se os efeitos do ato já estão so-
seguíu o voto do Relator. Min. Celso de Mello. e acolheu o MS ll. 26.441~DF. im- brestados pelo ~o hí.ecirqulco, nenbuma lesão produzirá enquan-
petrado por quatro deputados federaís da Oposição contra deliberação do Pleuma
da Câmara dos Deputados que desconstituira o ato de criação da chamada "CPI do
to não se tomar exeqüível e operante. Só então podeci o prejudicado
Apagão Aéreo", O Tribunal entendeu. naquele caso. que estavam em jogo "direitos pedir o amparo Judicial contra a lesão ou a ameaça a seu direito. 41
fundamentais impregnados de matéria constitucional". O acórdão ainda está pendente O que se exige sempre - em qualquer caso - é a exeqüibilidade ou a
de publicação. operatividade do ato a ser atacado pela segurança: a exeqüibilidade
37. Sendo o ato do Congresso Nacional de natureza mlema corporis. o manda- surge no momento em que cessam as oportunidades para os recursos
do de segurança contra ele ímpetrado não pode ser conhecido (STF. MS n. 2 L754-5-
ru, ReI. deSlg. Min. Francisco RezeI<, DJU212.97). suspensivos; a operativ/dade começa no momento em que o ato pode
38. STF, MS n. 24.642-DF, ReI. Min. Carlos Velloso, RTJ 190/552. No entanto, ser executado pela Administração ou pelo seu beneficiário.
não cabe o mandado de segurança para o controle preventivo da constitucionalidade Atas administrativos existem que, por serem denegatórios da
de projeto de lei, sob pena de quebra do sistema de divisão constitucional dos Po-
deres, pOIS no modelo brasilerro a intervenção do Judiciário na análise do conteúdo pretensão do particular, não são exeqüívels por qualquer das partes,
da legíslação somente se dá de modo repreSSIVO. após a edição da leI (STF, MS n. como, p. ex., o indeferimento de uma licença para construir. Nem por
24.138-DF. ReI. Min. Gilmar Mendes, RTJ 184/608). Em sentido contrário, aclmi- isso deixarão de ensejar mandado de segurança, a partir do momento
tindo tal controle preventivo em caso de projeto de leí ~om efeitos concretos, que em que se tomarem conbecidos.
invadiria atribuições do Executivo: acórdão unâníme do Orgão Especial do TOO no
MS n. Ll9812000, ReI. Des. Paulo Sérgio Fabião, RF 369/319.
41. Se impetrado na pendência de recurso administrativo dotado de efeito
39. STF. RTJ69/544, 70/504, 811879, 89/159. 911181, RT5211270.
suspensivo, o mandado de segurança deve ser extinto por carênCIa de ação. Neste
40. STJ, RMS n. 15.087-SP, ReI. Min.A1dir Passarinho Jr.• DJU22.42008. sentido: STF. MS n. 24.5 li-DF, ReI. Min. Marco Aurélio, RTJ 196/176.
40 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 41

o efeito normal dos recursos administrativos é o devolutivo; efeito suspensivo do ato judicial impuguado, é cabível a impetração
o efeito suspensivo depende de norma expressa a respeito. Assim para resguardo do direito lesado ou ameaçado de lesão pelo próprio
sendo, de todo ato para o qual não se indique o efeito do recurso Judiciário. Só assim há de se entender a ressalva do inc. II do art. 5"
hieràrquico cabe mandado de segurança. Mas a lei admite ainda, da lei reguladora do mandamus, pois o legislador não teve a intenção
mandado de segurança contra ato de que caiba recurso administrativo de deixar ao desamparo do remédio heróico as ofensas a direito líqui-
com efeito suspensivo. desde que se exija caução para seu recebi- do e certo perpetradas, paradoxalmente, pela Justiça.
mento. O termo caução está empregado no sentido amplo e vulgar Inadmissível é o mandado de segurança como substitutivo do re-
de garantia comum, equivalente a depósito em dinheiro, titulos, bens curso próprio, pois por ele não se reforma a decisão impugnada, mas
asseguradores da instância administrativa, ou mesmo fiança bancária. apenas se obtém a sustação de seus efeitos lesivos ao direito líquido
No caso de omissão da autoridade, o mandado pode ser impetra- e certo do impetrante, até a revisão do julgado no recurso cabível. Por
do independentemente de recurso hierárquico, desde que no prazo de isso mesmo, a impetração pode - e deve - ser concomitante com o
120 dias contados do momento em que se esgota o prazo estabelecido recurso próprio (apelação, agravo, correição parcial), visando unica-
em lei para a autoridade impetrada praticar o ato. 42 mente a obstar lesão efetiva ou potencial do ato judicial impuguado.
"
, Se o impetrante não interpuser. no prazo legal, o recurso adequado,
Ato judicial- Outra matéria excluída do mandado de segurança tornar-se-a carecedor da segurança, por não se poder impedir inde-
é a decisão ou despacho judicial contra o qual caiba recurso especí- finidamente, pelo mandamus, os efeitos de uma decisão preclusa ou
fico apto a impedir a ilegalidade. ou admita reclamação correcional transitada em julgado, salvo se a suposta "coisa julgada" for juridica-
eficaz." A legislação anterior se referia especificamente à correição, mente inexistente ou inoperante em relação ao impetrante.44
o que o texto atual (art. 5", inc. TI, da Lei n. 12.016/09) não faz; mas a Fiéis a essa orientação, os tribunais têm decidido. reiterada-
interpretação deve continuar a ser a que prevalecia, se a reclamação mente, que é cabível mandado de segurança contra ato judicial de
for eficaz no caso. Se o recurso ou a correição admissível não tiver qualquer natureza e instância, desde que ilegal e VIOlador de direIto
líquido e certo do impetrante e que não haja possibilidade de coi-
42. V. n. 7. Prazo para Impetração.
bição eficaz e pronta pelos recUrsos comuns.45 Realmente, não há
43. STF. Súmula n. 267.
Quando o ato judicial for praticado por autoridade incompetente, e possível motivo para restrição da segurança em matéria judicial, uma vez que
a utilização da reclamação, junto ao tribunal ad quem competente, Justamente para
a preservação de sua competêncIa (v., p. ex., arts. 103. I. "I", e 105, L "f', da CF. 44 E o caso, p. ex., da impetração do mandado de segurança por terceIrO que
prevendo a reclamação para o STF e para o STJ, para a preservação da competência não foi parte na relação processuai da qual emanou a deCIsão atacada. Em tal hi-
e da autoridade das deCisões das respectivas Cortes). A existêncIa da reclamação. pótese, inexígivel a mterposíção do recurso, podendo ser manejado o mandado de
porém, por SI só, não deve ser motivo para o afastamento definitivo da possibilidade segurança diretamente. consoante a jurisprudência consolidada na Súmula n. 202 do
de impetração de mandado de segurança. Além de a reciamação não ser um recurso STJ. Da mesma fçmna. o STJ acatou mandado de segurança Impetrado diretamente
propnamente dito e ostentar diferenças processuaIS com relação à correíção parcial contra a distribuíção de uma ação, considerando "a distribuição dos feitos mero ato
(ou reclamação correicional), referidas no art. 52, n. da antiga Lei n. 1.533/51 e pn:-processual. de disciplina interna do juízo ou tribunal ( ...), prescindindoMse do
na SúmuJa n. 267 do STF. nem todos os Estados incorporaram a reclamação ao recurso prévio tal como exigido nas Impetrações contra ato JUdiCIal agravãvel" (RMS
respectIvo Tribunal de Justiça em suas legíslações locais. e podem surgir dúvidas n. 304-MA. ReL Min. GuelfOS Leite, DJU28.5.90, p. 4.730). O STJ, amda, admi"u
quanto ao seu cabimento em casos específicos. Assim, em certas situações concretas a lmpetração diretamente contra o deferimento de protesto judiCial contra a alienação
o instrumento da reclamação padeci representar remédio processual msuficíente de bens, uma vez ineXIstente na legislação processual a preVIsão de qualquer recurso
para a pronta proteção do direito líquido e certo violado. Em tais cenãrios. deve ser (RMS n. 9.570-SP, ReL Min. Sálvio de FigueIredo TeIXeira, RDR 13/364; RMS n.
aceIto o uso do mandado de segurança. Sobre o tema, v., adiante, o estudo sobre a 16.406-SP. ReL Min. Humberto Gomes de Barros. DJU 1.9.2003, p. 217).
Reclamação no STF (parte X deste livro), o bem-fundamentado acórdão da Corte 45. STF, RTJ 6/189,70/504,71/876,74/473. 81/879. 84/1.071, RDA 94/122.
Especial do STJ no RMS n. 17.524-BA, Rela. Min. Nancy Andrighi, DJU 11.9.2006. RT 160/284; TFR, RTFR 6/224; TJRS, RT 423/210; TJSP, RT 248/127. 393/150,
e o artIgo de Flávio Henriques Unes Pereira, "Configurada a hipótese de recJamação. 434/63; TASP.RT314/401, 351/416. 351/419. 419/194, 430/140, 445/139, 447/131,
estaria inviabilizado, necessariamente, o manejo do mandado de segurança?", Revista 449/141,450/169,451/133.497/18.523/131. Ainda no TJSP: MS n. 342.805-4/3-SP.
Interesse Público 381123-133. ReI. Des. Sílvio Marques Neto,j. 2.6.2004, BoletlmAASP 2.402l3J49.
42 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 43

a Constituição da República a concede amplamente "para proteger do Presidente que indeferisse a suspensão de liminar (art. 4" da Lei
direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas 4.348/64), tendo sido a mesma revogada no julgamento da SSeg n.
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for 1.945_AL.48
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica, no exercício de atri-
No entanto, é importante ressaltar que a mera existêncIa de
buições do Poder Público" (art. 5·, LXIX). Provenba o ato ofensor do
recurso processual cabível não afasta o mandado de segurança se tal
Executivo, do Legislativo ou do Judiciário, o mandamus é o remédio
recurso é insuficiente para coibir a ilegalidade do Judiciário e impe-
heróico adequado, desde que a impetração satisfaça seus pressupos-
dir a lesão ao direito evidente do impetrante. Os recursos processuais
tos processuais. Até mesmo contra a concessão de medida cautelar
é cabível mandado de segurança, para sustar seus efeitos lesivos a não constituem fins em si mesmos; são meios de defesa do direito das
direito individual ou coletivo líquido e certo do impetrante.46 partes, aos quais a Constituição aditou o mandado de segurança, para
suprir-lhes as deficiências e proteger o indivíduo contra os abusos
Em caso envolvendo matéria tributária, o Plenário do STF rom- da autoridade, abrangendo, inclusive, a autoridade judiciária. Se os
peu com antiga e farta jurisprudência da Casa, e admitiu a interposi- recursos comuns revelam-se ineficazes na sua missão protetora do
ção de mandado de segurança diretamente contra ato jurisdicional do
direito individual ou coletivo, líquido e certo, pode seu titular usar,
Presidente da Corte (com um único voto vencido, do Min. Sepúlveda
excepcional e concomitantemente, o mandamus.49
Pertence), concedendo á União liminar para deferir a suspensão de
segurança obtida pela parte contrária junto ao TRF da 2' Região - sus- Generalizou-se o uso do mandado de segurança para dar efeito
pensão, esta, que havia sido indeferida pelo Min. Presidente do STF.47 suspensivo aos recursos que não o tenham, desde que interposto o
Vale ressaltar que, à época, estava ainda em vigor a Súmula 506 recurso cabiveL50 Neste caso, também é possivel a concessão da
do STF, pela qual se considerava incabivel o agravo contra decisão liminar dando efeito suspensivo ao recurso até o Julgamento do man-
dado de segurança. Para essa liminar, devem concorrer a relevânCia
Merece menção um mteressante acórdão do STF no qual se admitiu o cabimen-
to de mandado de segurança., no âmbito do STJ. em face de acórdão em embargos 48. RTJl86/112.
de declaração em recurso especial no qual havia sido imposta multa ao embargante- 49. A jurisprudência do STF, tradicionalmente. repelia a possibilidade de lm-
impetrante. Reconheceu o STF que, em tese. caberiam novos embargos declaratênos petração de mandado de segurança contra ato junsdicional praticado no âmbito da
daquele acôrdão, mas a parte corria o risco de elevação da multa de 1% para 10% própria Corte (v., p. ex., o AgRgMS n. 24.542-DF. ReI. Min. Celso de Mello, RTJ
sobre o valor da causa; ou caberia recurso extraordinário. mas este estaria fadado 193/324). No entanto, em situação extraordinãna.. configurada a absoluta urgência da
ao insucesso, por não haver matéria constitucional em debate. Assim. na prática. os medida., em virtude da realização imínente de uma vultosa licitação. o Min. Nélson
recursos teoricamente cabíveis seriam íneficazes para a proteção do direito da parte, Jobim, na Presidência do STF, deferiu liminar em mandado de segurança lmpetrado
razão pela qual era de se admitir a ÍIDpetração do mandado de segurança diretamente diretamente pelo Presidente da República contra ato Junsdicional do Min. Carlos
contra o ato judicial (S1F. RMS n. 25.293-0-SP, ReI. Min. Carlos Ayres Britto. RF Britto na relatoria daADIn n. 3.273-DF, pois não havia tempo hábil para o Julgamen-
387/265). O caso retornou ao STJ para julgamento de mérito, e a Corte Especial de~ to de agravo regimental antes da consumação do dano (Notícias do STF, 17.8.2004,
negou a segurança. admitindo em tese. porém, a possibilidade )urídica da impetração. disponível na Internet no sítio do STF). Em outro caso excepcIonal, o Min. Cézar
em obediência ao aresto do STF (MS n. 9.575~SP. ReI. Min. Teori Albino Zavasck.i, Peloso deferiU medida limmar em mandado de segurança (MS n. 25.853-DF) impe-
DJU21.2.2008). trado diretamente contra a limínar deferida pelo Min. Marco Aurélio em mandamus
46. TJSP, RT 512/87. Neste mandado de segurança, por nós requerido. o Vice~ anterior (MS n. 25.846-DF), sustando seus efeitos. também em virtude da falta de
Presidente do TJSP. Des. Adriano Marrey, concedeu a limInar para sustar os efeitos tempo hábil para a utilização de qualquer outro remédio processual.
da sentença concessíva de medida cautelar inominada que, por via oblíqua, admitia a No STJ. no entanto, a junsprudêncla firmou-se no sentido de que "as decisões
execução de sentença rescisória de contrato de concessão sobre a qual pendia apela~ proferidas pelas Turmas e Seções do STJ não podem ser atacadas via mandado de
ção com efeito suspensívo. Como o recurso interposto da decisão concessíva da cau- segurança, porque, ao apreciarem os casos que lhes são submetidos, no exerclclo da
telar que visava à execução da sentença de merito não tinha efeito suspensivo. somen- função jurisdicional. estas atuam em nome do Tribunal. e não como instância ínfenor
te atraves da limínar no mandado de segurança contra essa ilegal "medida cautelar'" dentro do próprio" (acórdão da Corte Especial no AgRgMS n. 11.259-DF, ReI. Min.
puderam ser obstados os seus efeitos. atê a confirmação pelo acórdão supra-indicado José Delgado, RT 8501203).
e subseqüente reforma da sentença concessiva da "cautelar', no recurso prãprio. 50. S1F, RTJ 81/879, RT 5211270; 1FR. RDA 138/181; TASP, RT 351/415.
47. MS n. 24.159, Rela. Min. EUen Gracie,RTJl88/145. 591/132 .

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44 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 45

do fundamento do pedido e a iminência de dano irreparável ou de anteriormente, é inegável ser da tradição da jurisprudência brasileira
dificil reparação ao impetrante; ou seja, o periculum in mora e o a aceitação do mandado de segurança para atribuição de efeito sus-
fumus bonijuris. pensivo a recurso dele desprovido.52
Na prática, porém, a sístemática do agravo de instrumento, in- Embora o parágrafo úníco do art. 558 do CPC dê ao relator da
troduzida a partir da Lei n. 9.139/95 acarretou uma grande redução apelação o poder de atribuir o efeito suspensivo nos mesmos moldes
do número de mandados de segurança impetradosjunto aos tribunais. do agravo de instrumento, há algumas dificuldades práticas que po-
A concessão do efeito suspensivo ao agravo de instrumento passou a demjustificar a impetração. Com efeito, o processamento do recurso
ser cabível nos próprios autos do recurso, interposto diretamente no de apelação se faz iniciaimente na primeira instância, e os autos
tribunal (cf. arts. 527, III, e 558 do CPC), não sendo mais necessária, podem demorar a chegar às mãos do relator no tribunal. HiI situações
em principio, a impetração com tal finalidade.51 O efeito suspensivo em que a falta do efeito suspensivo durante este periodo de tempo po-
continua vinculado, entretanto, à presença dos requisitos do fumus derá causar dano irreparável à parte, e o mandado de segurança é um
boni juris e do periculum in mora, como se depreende da redação do meio rápido e eficaz de evitá-Io.53 No entanto. é preciso reconhecer
art. 558 do CPC, que dá ao relator do agravo de instrumento o poder que caiu em certo desuso o emprego do mandado de segurança para
de suspender a decisão agravada, até o Julgamento do recurso, "nos atribuir efeito suspensivo a recurso.
casos de prisão civil, adjudicação, remição de bens, levantamento de Em razão do principio da instrumentalidade das formas. os
dinheiro sem caução idónea e em outros casos dos quais possa resul- tribunais vêm, de um modo geral, aceítando o pedido de efeito sus-
tar lesão grave e de difícil reparação. sendo relevante a fundamenta-
pensivo através dos mais variados meios, inclusive medida cautelar
ção ( ... )" (grifos nossos). Os mesmos pressupostos são exigidos para específica para tal fim 54 e requerimento avulso. Vai-se até mais longe
a concessão do chamado "efeito suspensivo ativo", consistente na
em algumas situações, com a aceitação de pedidos inominados para
antecipação da tutela recursal (art. 527, III, do CPC, com a redação
a antecipação de tutela recursal. No caso das apelações, o § 4" do art'
dada pela Lei n. 10.352/01).
523 do CPC, com a redação da Lei n. 10.352/200 I, passou a permitir
A nosso ver, continua a existir a possibilidade de impetração de o agravo de instrumento dirigido diretamente ao tribuna!. e não mais
mandado de segurança para atribuição de efeito suspensivo a apela- necessariamente retido, quando estiverem em jogo os efeitos em que
ções que não o tenham, como nas hipóteses dos vários incisos do art. a apelação é recebida. 55 Assim, vem-se consolidando a utilização do
520 do CPC e em outras situações previstas em lei especial, como
nas apelações em mandados de segurança e nas ações de despejo, 52. Sobre o tema, ver acõrdão do STJ no RMS n. 353-SP, ReI. Min. Luiz Vicen-
desde que configurada a relevância dos fundamentos e presente o te Cernicchiaro, RT 627/197.
perigo de dano irreparável ou de dificil reparação. Afinal, como visto 53. Em julgamentos posteriores avigência da Lei n. 9.139/95, o STJ jã aceItou
o cabimento do mandado de segurança para dar efeito suspenSIVO a apelação que não
o tenba - REsp n. 142.209-RO, ReI. Min. Garcia Vieira, DJU 18.5.98, p. 34; REsp
51. Houve, porém, um acórdão do STJ no qual se admitiu que poderia continuar n. 135.222-MG, Rei. Min. Waldemar ZveIter, DJU 1.6.98, p. 85. Admitindo em tese
a haver a impetração do mandado de segurança para dar efeito suspensivo a agravo a Impetração para atriburr efeito suspensívo a apelação que normalmente não o tem,
de instrumento. se o pedido feito ao relator fosse indeferido (ruAS n. 6.685-ES. ReI. ainda que denegando a segurança em virtude das crrcunstâncias do caso concreto:
Min. Humberto Gomes de Barros. DJU 10.3.97, p. 5.895: "Após o advento da Lei STJ, RMS n. 5.243-PR, ReI. Min. Carlos Alberto Menezes Direito. DJU7.5.2001,
9.139/95. o Mandado de Segurança para imprimir efeito suspensivo só é admissível p.137.
após o recorrente formular e ver indeferido o pedido a que se refere o art. 558 do Có-
digo de Processo Civil" - a integra do acórdão está na RSTJ 95/56). Na mesma linha, 54. No STJ, defendendo o cabimento de medida cautelar para o pedido de
o RMS n. 7.246-RJ, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, RSTJ90/68. Endossando atribuíção de efeito suspenSIVO para apelação que normalmente não o tem: RMS n.
este entendimento. artIgo de José Rogerio Cruz e Tucci. "Sobre a atividade decisória 15.669-SP, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 30.6.2003, p. 133. Na dou-
do refator do agravo de instrumento", RF 338/412. Como remédio constitucional e trIna, v. Luiz Camargo Pinto de Carvalho, "Observações em torno do mandado de
garantIa fundamental. o mandado de segurança não deve ser rejeitado por excessIvos segurança e da ação cautelar para conferir suspensividade a recurso", RDTJRJ27/29.
tecnicismos processuais, devendo prevalecer sempre a efetiva proteção do direito 55. O § 4" do art. 523 do CPC fOI revogado polo art. 3' da Lei n. 11.187, de
liquido e certo da parte. 19.10.2005. No entanto. a regra veiculada por tal dispositivo foi incorporada na
46 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 47

recurso de agravo para a busca do efeito suspensivo ii apelação, em venham a incidir os efeitos da decisão proferida, não se aplicando no
lugar do mandado de segurança. caso a SÚInula n. 267 do STF.58
É de se observar, no entanto, que o quadro pode voltar a se mo- Inadmissivel é, entretanto, o mandado de segurança contra a
dificar na prática dos Tribunais, no futuro próximo. As mais recentes coisa julgada (art. 5', inc.lll, da Lei n. 12.016/09, que adotou o en-
modificações no regime do agravo de instrumento, em especial a tendimento já consolidado pelo STF na SÚInula n. 268), só destrutí-
partir da Lei n. 11.187/2005, ampliaram os poderes do relator para vel por ação rescisória, a menos que o julgado seja substancialmente
converter o recurso em retido e restringiram o cabimento do agravo inexistente ou nulo de pleno direito, ou não alcance o impetrante nos
interno, ou regimental, no tocante às decisões em tomo do efeito sus- seus pretendidos efeitos, como observamos acima.59
pensivo e da retenção (novos inciso II e parágrafo único do art. 527 Tratando-se de ato pratícado em processo de competência do
do CPC). Assim, é provável que volte a crescer o número de impe- Juizado Especial, e na ausência de recurso previsto em lei, a juris-
trações de mandados de segurança na busca de efeito suspensivo ne- prudência admite a impetração de mandado de segurança com maior
gado em despacho monocrático do relator de agravo de instrumento,
tendo em vista a previsão legal de irrecorribilidade desta decisão.56 58. É o entendimento sufragado pelo Excelso Pretóno (RE D. 80.191, j.
O STJ já vem aceitando, em decisões mais recentes, a impetração de 28.4.1977, RTJ 87/96), também adotadn pelo antigo TFR (MS n. 92.512-RJ, DJU
mandado de segurança diretamente contra certos atos irrecorriveís do 22.4.1982) e pelo STJ (ROMS n. 150-DF, j. 3.4.1990. DJU 7.5.1990, e ROMS n.
964-0,j. 7.10.1992, DJU9.1l.!992, e Lex-JSTJ e TRFs 47/20), com apoIo na dou-
relator do agravo de instrumento na sua modalidade atua!.57 trina liderada por José Frederico Marques, Miguel Seabra Fagundes e Celso Neves.
~~ A jurisprudência tem admitido a impetração do mandado de V. Amoldo Wald, "Mandado de segurança contra ato judicial - Cabimento quando
segurança contra atos judiciais independentemente da interposição unpetrado por terceiro (uma ínterpretação construtIva da SÚInula 267)", RPGE-SP
12/575-603, JunJ1978. O cabimento do mandado de segurança diretamente contra
de recurso sem efeito suspensivo quando ocorre violação frontal ato jUdiCIal, quando impetrado por terceiro prejudicado que não foi parte no processo,
de norma juridica, por decisão teratológica, ou nos casos em que a vem sendo seguidamente reconhecido pelo STJ. Neste sentido. RlvIS n. 683-0-PB,
impetração é de terceiro, que não foi parte no feito, embora devesse ReI. Min. José de Jesus, RSTJ 50/469; RMS 6.317-SP, ReI. Min. Eduardo Ribelfo.
dele participar, usando o remédio heróico para evitar que sobre ele RSTJ84/177. A matéria acabou sendo objeto da SÚInuJa n. 202 do ST1, segundo a
qual "a impetração de segurança, por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona
à mterposição de recurso". Já se decidiu. no entanto. que, caso o terceiro opte por
nova redação do capu! do art. 522 do CPC. de acordo com o art. ln da mesma Lei n. interpor o recurso Judicíal, estará sujeito à respectIva deCIsão, sendo imprestável o
11.18712005. mandado de segurança unpetrado cumulativamente (ST1, RlvIS n. L665-BA. ReI.
56. Sobre o tema. v. Clito Fornacian Jr.• "O renascer do mandado de segurança Min. Ari pargendler. DJU 6.9.99, p. 77; e AgRgMC n. 4.276-PB, ReI. Min. Castro
contra ato jurisdicional", RevISta Jurídica. n. 344, p. 11,junJ2006; e José Maria Rosa Filho, DJU 25.3.2002, p. 268). Em outra decisão. porem. salientou-se que, sendo
Tesheíner. "Mandado de segurança contra ato do relator em agravo de instrumento", a interposição do recurso postenor a impetração. não há que se falar em preclusão
RevISta Jurídica 352/95. fevJ2007. consumativa que prejudique a ação mandamentaJ.. não podendo ser esta afetada pela
57. Aceitando a impetração direta contra ato do relator que converteu o agravo sorte do recurso (STJ, RlvIS n. 13.065-MA, ReI. Min. Sálvio de Figueiredo TeIXeira,
de ÍDstnunento em retido, com base no art. 527, fi. do CPC. na redação da Lei n. DJU3.6.2002, p. 208).
11.187/2005 (STJ. RMS n. 22.847-MT, Rela. Min. Nancy Andrighi, DJU26.32007, O STl também admIte a lmpetração direta pela própria parte litigante, indepen-
RePro 149/219, RF 396/359 e RDR 38/295; RMS n. 24.654-PA, Rela. Min. Nancy dentemente da interpOSIção do recurso eventualmente cabível, no caso de ato judicial
Andrighi. DJU 19.12.2007). Na Corte Especial dn STJ, no mesmn sentido: RMS n. flagrantemente ilegal, seguindo a jurisprudênCIa do STF (RMS n. 6.422-SC, ReI.
25.934-PR, Rela. Min. Nancy Andrighi,j. 27.11.2008. No TJSP: RePro 154/197. Min. José de Jesus, DJU 17.3.97, p. 7.431). Em Igual sentido o Tribunal Pleno do
Com fundamentação semelhante, admitindo a impetração diretamente contra TRF da 5' Região (MS n. 48.782-PE, ReI. Juiz Hugo Machado, AASP 1994, p. 21).
a decisão que índeferiu o efeito suspensivo pleiteado em agravo de instrumento, por 59. Já entendiam os tribunais no sentido de que não se aplicaria a SÚJnuJa n. 268
ser a mesma igualmente irrecornvel no regime da Leí D. 11.18712005: STJ. Me D. do STF. atualmente consagrada no art 5n• m. da Lei n. 12.016/09, quando o mandado
14.561-BA, Rela. Min. Nancy Andrighi, DJe 8.1 0.2008. de segurança fosse impetrado por terceIro. que não foi parte no feito em que a decisão
Na doutrina. Alexandre Freítas Câmara. "O agravo interno do direíto processual atacada transItou emíulgadn (STJ. RMS n. 7.087-MA, ReI. Min. Cesar Asfor Rocha,
cívil brasileiro", RevlSta do IAB 96/32, 2008. reconhece ser hoje '~uridicamente posw RSTJ97/227; RMS n. 14.554-PR, ReI. Min. Francisco Falcão, DJU 15.12.2003, p.
sivel a impetração de mandado de segurança contra tais decísões monocráticas que. 181, eRDR 34/274; RMS n. 22.741-RJ, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU
por força de leI. são tidas por irrecorriveis por agravo interno", 18.6.2007).
48 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 49

liberalidade, perante a respectiva Turma Recursal; mas a Justiça Não por outro motivo, a Lei n. 12.016/09 excluiu os atas disci-
Comum, em princípio, não pode se imiscuir em tais questões.60 No plinares das hipóteses em que não é cabível mandado de segurança
entanto, tratando-se de decisão do Juizado Especial acerca de sua (ar!. 52).
própria competência. o STJ admitiu o uso do mandado de seguran-
ça junto ao Tribunal de Justiça do respectivo Estado, sob pena de Ato de dirigente de estabelecimento particular - No passado,
a matéria acabar excluída de qualquer tipo de controle da Justiça a jurisprudência hesitava em relação à admissibilidade de mandado
Comum. 6 ! de segurança contra ato de dirigente de estabelecimento particular,
Quanto aos atas não judiciais, embora praticados pelos órgãos como são as escolas fiscalizadas pelo Governo, como também as
do Poder Judiciário, são considerados administrativos e passíveis de entidades paraestatais que realizam atividades delegadas pelo Poder
segurança em igualdade com os do Executivo."2 observadas apenas Público.
as normas de competência para o seu julgamento, segundo a autori- Os §§ 1· e 2· do ar!. 12 da Lei n. 12.016/09 esclarecem defmiti-
dade judiciária que os expediu. vamente a matéria, ao prever que se equiparam às autoridades, os re-
presentantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de
--/
Ato disciplinar - A legislação vigente (Lei n. 12.016/09, ar!. 52), entidades autàrquicas, bem como os dirigentes de pessoas juridicas
ao contrário da anterior, não veda a utilização do mandado contra ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público,
atas disciplinares. Já sustentamos (até a 12' edição deste livro) o incluindo, portanto, os administradores de empresas públicas, de so-
descabiroento de mandado de segurança contra ato disciplinar, ciedade de economia mista e de concessionárias de serviço público,
salvo naqueles casos indicados na antiga Lei n. 1.533/51 (art. 5", apenas no que disser respeito às mencionadas atribuições do poder
inc. 11I), "quando praticado por autoridade incompetente ou com público. Excluem-se expressamente dessa espécie, assim, os atas de
inobservância de formalidade essencial". Entretanto. diante de me- gestão comercial por eles praticados.
fuláveis argumentos do culto Min. Carlos Mário VeIloso,63 apoiado Dessa forma. necessário se torna distinguir os atas praticados
em fundamentado acórdão do antigo TFR, 64 rendemo-nos ao seu no exercício de atribuições do poder público (art. 1", § 12 , da Lei n.
entendiroento, que considera a restrição da lei incompatível com a 12.016/09),65 dos atas realizados no interesse interno e particular do
amplitude constitucional do mandamus. Realmente. se a Constituição estabeleciroento, da empresa ou da instituição. Aqueles podem ser
vigente concede a segurança para proteger todo direito líquido e certo atacados por mandado de segurança; estes, não. Assim, quando o
não amparado por habeas corpus, qualquer que seja a autoridade diretor de uma escola particular nega ilegalmente uma matricula."'
ofensora (art. 5·, LXIX), não se legitima a exclusão dos atas discipli- ou a empresa pública ou mista comete uma ilegalidade no desem-
nares que, embora formalmente corretos e expedidos por autoridade
competente, podem ser ilegais e abusivas no mérito, a exigir pronta 65. A Lei 1.533/51 fazia referência a "funções delegadas do Poder Público". Já
correção mandamental. a Lei n. 12.016/09. alude ao "exercicio de atribuições do poder público",
66. Aceitando a impetração em face de ato de diretor de estabelecimento
particular de cosmo que retlvera abusivamente documentos de aluno: TJRJ, A{lC n.
60. Exemplificativamente. no STJ: REsp n. 690.553-RS. ReI. Min. Gílsan
10.846198, ReI. Des. Luiz FIIX, reg. 6.8.99: TJSP, ApC o. 45.937-5, ReI. Des. Barreto
Dipp, DJU 25.4.2005: RMS o. 16.124-RS, Rei. Min. Félix Fischer, DJU20.3.2006.
Fonseca, AASP 2.156/141. No entanto,já se decidiu que matéria relatIva ao regimen-
61. V. a discussão na decisão da Corte Especial do STJ no RMS n. 17.524-BA, to Interno de instituição particular de ensíno não enseja o cabimento de mandado de
Rela. Min. Nancy Andrighi, DJU 11.9.2006.
segurança, posto ausente a delegação do poder público: TJDF. REG n. 49.496/98.
62. STJ, RMS n. 15.087-SP, ReI. Min. Aldir Passarinho Jr.. DJU22.4.2008. ReI. Des. Valter Xavier, RT77li315.
63. Carlos Mário da Silva Velloso. "Do mandado de segurança", RDP 55- Sobre a distinção entre os atos delegados e aqueles mterna corporis de diri-
561333: e, n'Jurisprudêncla. v.. oesse sentido: STF, RDA 1301186, RTJ 10811.317: gente de ínstituíção particular de ensino: STJ, CComp n. 38.159-MS. ReI. Min. Teori
TJES, RT3941396. Albino Z.vascki, DJU 4.8.2003, p. 212. V. ainda o CComp n. 38.767-GO, ReI. Mio.
64. MS n. 85.850-DF. Humberto Gomes de Barros, DJU 30.6.2003, p. 124.

1.:
50 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 51

penho da atribuição delegada, cabe segurançaP Mas, quando tais proferidas no exterior, sujeitas á homologação pelo STJ, como quais-
entidades, por seus dirigentes, realizam atividade civil ou comercial quer outras sentenças judiciais estrangeiras (Lei n. 9.307/96, art. 35,
estranha à delegação, respondem perante a Justiça como particulares e CF, art. 105, l, "i", com a redação da EC n. 45/2004). Na condução
desvestidos de autoridade pública, e por isso só se sujeitam às ações da arbitragem, "o árbitro é juiz de fato e de direito" - conforme de-
comuns, excluido o mandamus. Tal é o caso de uma escola, de uma termina o art. 18 da Lei n. 9.307/96.
sociedade de economia mista ou de uma empresa pública que prati-
A importância crescente da arbitragem no Direito brasileiro e na
ca um ato ou celebra um contrato sujeitando-se exclusivamente ao
Direito Privado, no mesmo plano dos particulares e sem qualquer prática dos negócios ensejou um exame do cabimento do mandado
privilégio administrativo. de segurança antes da constituição do tribunal arbttral ou no decorrer
do mencionado processo, com a finalidade de garanttr o respeito aos
Afora as exclusões constitucionais do campo do mandado de direitos líquidos e certos das partes ou até de terceiros. Na realidade,
segurança, não se justifica qualquer outra restrição ao seu cabimento. a melhor doutrina reconhece que há, na arbitragem, uma verdadeira
Afastar a impetração pela complexidade da matéria, quando o direito parceria entre os árbitros e o Poder Judiciário, que tem uma dupla
pode ser reconhecido por esta via judicial, é comodismo do julgador
função de apoio e de controle, antes de iniciado o processo arbitral,
que não encontra apoio na instituição do mandamus.
durante o curso do procedimento e após a sua conclusão.6'
o mandado de segurança e a arbitragem6' -ALei n. 9.307/96 Efetivamente, de acordo com a lei, o juiz pode intervir para
(Lei de Arbitragem) deu grande impulso ao instituto da arbitragem fazer com que se inicie a arbitragem, seja por faltar, na cláusula com-
no Brasil, atribuindo força obrigatória às cláusulas compromissórias promissória, um elemento importante, mas não essencial, seja em
existentes em contratos que abrangem direitos patrimoniais disponí- virtude da oposição de um dos signatários do instrumento no qual a
veis. O Decreto n. 4.311, de 23.7.2002, por sua vez, promulgou no mesma foi incluida,10 seja, ainda, quando uma autoridade administra-
Brasil a Convenção de Nova York de 1958, sobre o reconhecimento e tiva ou judicial impede seu funcionamento. Tanto antes de iniciada a
a execução de sentenças arbitrais estrangeiras, que foi ratificada pelo
69. Corno já tivemos a oportunidade de observar, "existem (.. :) situações nas
Decreto Legislativo n. 52, de 25.4.2002. Com isso, o país inseriu-se quais a intervenção do juiz se faz necessária, na qualidade de auto.ndade de apOiO,
definitivamente no cenário das arbitragens internacionais. para que os atas dos árbitros possam prodUZIr plenamente seus efeitos e para que o
A sentença arbitral passou a ter a força de uma sentença judi- procedimento arbitral se desenvolva normal~ente", send.o certo que "nã~ se trata de
interferênCia entre as junsdições estatal e arbItral, mas, SIm, de cooperaçao de _esfor-
cial, dispensada qualquer homologação pelo Poder Judiciário (Lei ços com a finalidade de distribuir a justiça, funç~o estatal de,~egada, por decls~.o das
n. 9.307/96, arts. 18 e 31), a não ser no caso das sentenças arbitrais partes. ao tribunal arbitral, em vrrtude de delegaçao do Estado (Amoldo Wald, A re-
cente evoiução da arbitragem no Direito brasileirO (1996-2001)", m: Pedro A. Batista
67. S1F, RTJ 66/442, RDA 72/206. RT 329/840,479/221, e Súmula n. 510; Martms e José Mana Rossam Garcez (coareis.), Reflexões sobre Arbitragem - "ln
STJ, REsp n. 100.941·CE e n. 101.596·CE. ambos ReI. Min. Ari Pargendler, DJU Memonam" do Desembargador Cláudio Vianna de Lima, LTr. 2002, pp. 156-157).
13.10.97, p. 51.558. estes sobre o cabimento de mandado de segurança contra ato 70. O art 72 da Lei n. 9.307/96 prevê: "Art. 72 . Existmdo cláusula compromis-
praticado por funcionáno do Banco do Brasil SA. no exercício de delegação federaI. sória e havendo resistência quanto à instituição da arbitragem" poderâ a parte mteres-
Nestes casos, reconheceu-se. inclUSIve, a legitimidade da Fazenda para a interposi- sada requerer a citação da outra parte para comparecer em juÍZo a fim de lavrar-se o
ção de recurso contra a sentença concessíva da segurança. Segundo outra decísão do compromIsso, desígnando o JUíz audiênCia especIal para tal fim.
STJ. "cabe mandado de segurança contra atos das sociedades de economia mista, nas "(... ).
licitações públicas efetuadas por elas" (REsp D. 202.157-PR, ReI. Min. Humberto "§ 72 . A sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso
Gomes de Barros, DJU 2 1.22000, p. 94). No mesmo seotido: REsp n. 299.834-RJ, arbitral."
ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU25.2.2002, p. 222. A matéria acabou oh-
A competência do Poder Judiciário é. no caso, subsidiária, pois o juiz só atuará
Jeto da Súmula D. 333 do STJ: "Cabe mandado de segurança contra ato praticado em
se o regulamento aplicável à arbitragem não tiver preViS?O para resolver__ o cas~.
licitação promovida por SOCIedade de econonua mista ou empresa pública".
Assim, muitas Câmaras de Arbitragem autonzam seu presIdente ou outro orgão da
. 68. Sobre o tema: Arnoldo Wald e Rodrigo Garcia da Fonseca, "O mandado de entidade a suprir as omissões da parte que se nega a assinar o termo (ata de mIssão ou
segurança e a arbitragem", Revista de Arbitragem e Mediaçãa-RAM 13/11. terms ofreference) ou não índica um dos árbitros.
52 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 53

arbitragem como, eventualmente, durante o andamento da mesma as cujo controle da legalidade da decisão dos arbitras se dá apenas a
medidas cautelares e provísórias podem ser concedidas pelo Poder posteriOr!, após a prolação da sentença arbitra[.14 Assim, não cabe
Judiciário, que também as dará em seguida, a pedido dos árbitros?' ao juiz togado, em mandados de segurança ou em quaisquer outras
Finalmente, após ter sido proferida a decisão arbitral, admite-se o ações judiciais, criar embaraços ao inícío ou ao andamento da arbitra-
recurso á Justiça para sua execução, se necessário, ou para sua anula- gem, pois a primeira oportunidade de julgamento da competência dos
ção, nos casos e nos prazos legalmente previstos (arts. 32 e 33 da Lei árbitros deve ser reservada a eles próprios, sob o crivo de um controle
n. 9.307/96, Lei de Arbitragem). judicial, num segundo momento, após a prolação da sentença arbi-
Até agora, na maioria dos casos o mandado de segurança foi tral, mas nunca antes.
utilizado para garantir a realização da arbitragem. Tratava-se de Nos casos acima mencionados o mandado de segmança tínha
evitar que um ato de autoridade administrativa ou judicial impedisse como objeto ato praticado por autoridade administrativa. Mas tam-
o funcionamento do processo arbitral. Assim, em dois mandados de bém se pode conceber sua impetração contra atas ilegais do Poder
segurança - impetrados, o primeiro, em 1998 e o segundo julgado Judiciário, como quando impedem ilegalmente a realização da ar-
liminarmente em 2006 e defmitivamente em 2008 - entenderam. bitragem ou interferem no andamento do respectivo processo, não
sucessivamente, os Desembargadores integrantes do Conselbo Es- havendo recurso eficaz de efeito imediato. 75
pecial do TJDF e os Ministros que compõem a la Seção do STJ, Em outras hipóteses, o mandado de segurança vem sendo
que praticava ilegalidade a autoridade administrativa que impedia, utilizado para garantir os efeitos práticos secundários da sentença
direta ou indiretamente, a realização da arbitragem ou se substituía arbitral, quase que na forma de uma "execução sui generis". Neste
aos árbitros para tomar decisão de mérito que, em virtude de cláusula sentido, há uma série de precedentes do Superior Tribunal de Justiça
compromíssória, era da competência dos mesmos, justificando-se, em impetrações contra atas de funcionários da Caixa Económica
pois, a impetração do mandado de segurança. As autoridades con- Federal que recusaram a liberação de valores de FGTS, não obstante
tra as quais os writs foram concedidos eram, na primeira decisão, a dispensa do empregado estivesse formalizada em sentença arbitral.
o Tribunal de Contas do Distrito FederaF2 e, no segundo caso, o A I" e a 2a Turmas do STJ seguidamente reconheceram a validade
Ministro da Ciência e Tecnologia,73 sendo ambos os acórdãos muito das sentenças arbitrais homologatórias da dispensa, e sua equivalên-
bem fundamentados e constituindo decisões que hão de liderar nossa cia as sentenças judiciais, de modo a obrigar a instituição financeira
jurisprudência no futuro. a permitir a movimentação das contas do FGTS pelo empregado
O que não se deve admítir, a princípio, é o uso do mandado de despedido.7• E incabível, no entanto, a impetração com a finalidade
segurança para impedir o início da arbitragem ou interromper seu
andamento. Afinal, prevalece nos procedimentos arbitrais o princípio 74. V. os arts. 8"e 20 da Lei de Arbitragem.
da competência-competência (Kompetenz-Kompetenz), segundo o O princípIO da competência-competência aplicado a arbitragem vem sendo
prestigiado pejo STJ. como se pode verificar, p. ex., em decisões como na MC n.
qual o tribunal arbitral deve ser o primeiro juiz da sua própria com- 13274-SP, Rela. Min. Nancy Andnghi, DJU 20.9.2007, RAM 18/357; no MS n.
petência, em prioridade cronológica com relação ao Poder Judiciário, 11.308-DF, ReI. Min. LUlz Fux. DJU 19.5.2008, RAM21/286; e na Me n. 14.295-SP,
Rela. Min. Nancy Andnghi. DJU 13.6.2008, RAM19/167.
71. o art. 22, § 42. daleí esclarece que: "Ressalvado o disposto no § 2-"-, haven- Na doutrina, v. Rodngo Garcia da Fonseca, "O princípio competência-compe-
do necessidade de medidas coercitivas ou cautelares. os àrbitros poderão solicita-las tência na arbítragem - Uma perspectiva brasileira", RAM9/277.
ao órgão do Poder Judiciário que seria, origmanamente. competente para julgar a 75. V. nossos comentários em parte antenor deste mesmo capítulo. referente
causa", ao mandado de segurança contra ato JudiCIal. V.. ainda, acõrdão do TJSP no MS n.
72. MS n. 1998.00.2.003066-9. cujo acôrdão foi publicado na Revista de DireI- 381.782-4/2-00, ReI. Des. Octávio Helene, RAM 11/246.
to Bancàrio e do Mercado de CapitaiS e da Arbitragem-RDBMCA 8/359. 76. A titulo exemplificatIVO: REsp n. 778.154-BA. ReI. Min. Teori AlbI-
73. AgRgMS n. 11.308-DF. cujo acórdão foi publicado no DJU de 14.8.2006, no Zavascki, DJU 24.10.2005; REsp n. 777.906-BA, ReI. Min. Jose Delgado,
p. 251. e na RAM 11/194. V. aínda o acôrdão final de concessão da segurança no MS DJU 14.112005. Ambos os acórdãos citam vãrios outros precedentes do STJ. A
n. 1I.308-DF, ReI. Min. Luiz Fux. DJU 19.5.2008, RAM21/286. legitimidade ativa para a impetração ê da prôpna parte, e não da Câmara de Ar-
54 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 55

de obtenção de declaração de validade da sentença arbitral, pois é entendemos que pode ser impetrado o mandado de segurança 81 As-
a própria lei que já lhe atribuí a força de titulo executivo judicial, sim, p. ex., um terceiro que não participou de arbitragem realizada
equivalente às sentenças proferidas no âmbito do Poder Judiciário.77 no Brasil e não assinou a convenção (cláusula compromissória ou
O que não mereceu ainda um posicionamento manso e pacífico, compromisso) e que tenba direito líquido e certo lesado, em virtu-
nem da jurisprudência, nem da doutrina, é a viabilidade de utilizar de de sentença arbitral final, pode, em nosso entender, recorrer ao
o mandado de segurança contra decisão ilegal dos árbitros, que fira mandado de segurança, como poderia fazê-lo quem não foi parte no
direito certo e líquido, nos mesmos casos em que é admitido em re- processo judicial e sofreu lesão de direito líquido e certo em vrrtude
lação às sentenças proferidas pelos juizes. Se no passado a resposta da sentença proferida. 82
era certamente negativa, por não ser o árbitro considerado autorida- Já com relação às próprias partes na arbitragem, não nos parece
de para os fins da legislação própria, a situação mudou em virtude que possam fazer uso do mandado de segurança contra decisões dos
da equiparação, feita pelo legislador, da decisão arbitral à sentença árbitros. Embora as sentenças arbitrais tenbam hoje a mesma força
judiciaU8 das sentenças judiciais e o árbitro seja juiz de fato e de direito da cau-
Em conseqüência, cabe aplicar as SÚlnulas ns. 267 do STF79 sa que lhe é submetida para apreciação, consoante detennina a Lei n.
e 202 do STJ"° nos casos de decisões ilegais dos tribunais arbitrais 9.307/96, nãoé menos verdade que o árbItro carece de força coer.ci-
quando lesivas em relação a direitos de terceiros, que não podem tiva para impor suas decisões às partes. O poder de coerção continua
pedir a anulação da sentença arbitral. reservado aos magistrados, membros do Poder Judiciário. Assim,
com relação às decisões interlocutórias dos árbitros que ordenam às
O requisito para permitir a impetração, neste caso, é a existência
partes que façam ou deixem de fazer algo surgem três possibilidades:
de direito líquido e certo de terceiro violado por ato ilegal ou abusivo
a) a parte obedece espontaneamente; b) a parte não obedece. e o Ju-
dos árbitros que não possa ser corrigido por recurso com efeito sus-
diciário é acionado para fazer cumprir a decisão (v., p. ex., o art. 22.
pensivo. No caso da arbitragem, equiparam-se aos recursos a ação
§§ 2' e 4", da Lei n. 9.307/96); c) a parte não obedece, e a arbitragem
anulatória e os embargos do devedor, com as medidas cautelares
segue seu curso. sendo que a não-observância da ordem dos árbitros
que podem dar-lhes efeito suspensivo. Não cabendo qualquer dos
poderá ser levada em conta pelos mesmos por ocasião da sentença.
dois remédios processuais, e diante de decisão arbitral defmitiva,
Na primeira hipótese, se a parte não se insurgíu contra a ordem
bitragem de onde tenha emanado a sentença arbitral (TRF~2ll Região. ApCMS D. arbitral e a cumpriu espontaneamente, não há que se cogitar da impe-
2006.51.01.017603-2-RJ. ReI. Des. Fed. Paul Erik Dylrund. RAM 15/228; TRF-l' tração de mandado de segurança. A prática voluntária do ato esvazia
Região. ApMS n. 2003.36.00.0088361-MT. ReI. Des. Fed. Daniel Paes Ribeiro, J. qualquer interesse processual no ajuizamento do writ. Na segunda
3.12.2004; TRF-3' Região. ApMS n. 2003.61.00.037361-0-SP. Reí. Des. Fed. Vesna
Kolmar,J. 15.5.2007). situação. há uma ordem judicial que implementa a decisão do árbItro,
77. V. acõrdão do TRF_2lt Região CItado na nota anterior (RAM 15/228) e
parecer de AntÔnIO Cabral. "Sentença arbitraL Título executIvo. Desnecessidade de 81. A não ser no caso da arbitragem conduzida no extenor. hipótese na qual.
mandado de segurança para dar eficácia à decísão arbitral. Falta de mteressa de agir". mesmo sendo a parte brasileIra. qualquer controle da legalidade do procedimento
RAM 15/191. arbitral deve ser feito exclusivamente no local da arbitragem, so podendo a autoridade
78. O art. 31 da Lei n. 9.307/96, pondo fim a longa discussão da doutrina e da judiCial brasileira conhecer das questões eventualmente SUSCItadas por ocasião da ho-
jurisprudência, esclarece que: uArt. 31. A sentença arbitral produz. entre as partes mologação da sentença. Antes da homologação o Judiciário brasileiro é indiferente ao
e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder que ocorre no exterior. da mesma forma como o eem relação ã ação JudiCiai em curso
JudiciárIo e, sendo condenatória, constítui título executivo" em país estrangerro. V. o leading case na matéria. envolvendo. de um lado. a Renault
79. V. nossos comentários anteriores em relação ao mandado de segurança con- e, de outro, a CAOA: TJSP, 25il. Câmara da Seção de Direito Pnvado, Ap. d Rev.
tra ato judicial. A SÚIDuia n. 267 do STF tem a seguinte redação: "Não cabe mandado 985.413-0-1, J. 20.6.2006. ReI. Des. AntôniO Benedito RibeIrO Pinlo. RAM 11/222.
de segurança contra ato judicial passiveI de recUI'5O ou correíção"_ 82. V. a parte fmal dos nossos comentários antenores referentes ao mandado
80. A Súmula n. 202 do STJ tem o seguinte teor. nA impetração de segurança de segurança contra ato Judicial. e em p&-ticular a nota de rodapé 58 do presente
por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona á interposição de recUI'5o" capítulo.
56 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 57

e aí a parte podem manejar os recursos cabíveis no âmbito do Poder o mandado de segurança é garantia fundamental das pessoas fi-
Judiciário, tampouco se justificando qualquer impetração, na linha sica e jurídica, mas não deve representar uma porta aberta ao tumulto
da já citada Súmula n. 267 do STF. Por fim, na terceira hipótese a processual, retirando as arbitragens do seu trilho natural, extraJudi-
desobediência à ordem do árbitro não traz qualquer conseqüência ne- cial. Afora a hipótese do terceiro que não anuiu ii arbitragem e dela
gativa imediata á parte. Somente se o árbitro vier a considerar a con- não participou - e, portanto, pode impetrar o mandado de segurança
duta de alguma forma relevante, sob um viés negativo, por ocasião nas mesmas condições e cirCunStânCias em que pode fazê-lo em face
da prolação da sentença arbitral, é que estará caracterizado algum de decisões judiciais -. não vemos como as próprias partes da arbi-
tipo de prejuízo ao direito da parte. Ocorre que a Lei de Arbitragem tragem possam empregar o mandado de segurança contra decisões
prevê as hipóteses de nulidade da sentença arbitral e as formas de sua do árbitro ou do tribunal arbitral. A defesa judicial dos interesses
impugnação judicial (v. os arts. 32 e 33 da Lei n. 9.307/96). Assim, das partes da arbitragem deve se dar pelos meios outorgados pela
se e quando estiver caracterizada finalmente a violação ao direito da própria Lei n. 9.307/96. não se vislumbrando, pois, no caso, o uso
parte. esta tem meios processuais ordinários cabíveis para sua defe- do mandamus.
sa. Como aftrn1;ldo acima, a ação anulatória e os embargos, com as
medidas cautelares que podem dar-lhes efeito suspensivo. devem ser 7. Prazo para impetração
entendidos como impeditivos processuais ao cabimento do mandado
de segurança, dentro do espírito do enunciado sumular n. 267 da O prazo para impetrar mandado de segurança ti de cento e vinte
Suprema Corte. dias,85 a contar da data em que o interessado tiver conhecimento
'>- É preciso ponderar que a submissão ao Poder Judiciário. pela oficial do ato a ser impugnado. Este prazo é de decadência do direito
via do mandado de segurança, das questões entregues pela própria lllmpetração e, como tal, não se suspende nem se interrompe desde
vontade das partes ii via arbitral subverte a lógica da arbitragem. que que iniciado.'6 Como a CF de 1988. no art. 5º. LXIX, nada diz a
deve ser solucionada de modo célere e fora do âmbito judicial. A ar- respeito de prazo fatal para a impetração de mandado de segurança,
bitragem é guiada sobretudo pela autonomia da vontade das partes, questionou-se nos Tribunais se a fixação de tal prazo decadencial por
que podem escolher a lei aplicável - ou mesmo a eqüidade, normas legislação ordinária seria constitucional. O STF decidiu a matéria
internacionais e, até. principios gerais do Direito, que constituem a editando a Súmula n. 632, em que reconheceu a constitucionalidade
"ordem arbitral internacional" -, o procedimento e os próprios árbi- do prazo decadencial do art. 18 da antiga Lei n. 1.533/51 (cuJo teor
tros. A regra geral é no sentido de que as impugnações judiciais aos foi mantido no art. 23 da Lei n. 12.016/09).
eventuais vícios do procedimento arbitral devem ser feitas a poste- A fluência do prazo só se inicia na data em que o ato a ser im-
riori. tão-somente por ocasião do controle da validade da sentença pugnado se toma operante ou exeqüível, vale dizer. capaz de produzir
arbitral fmal, pelos meios próprios.
85. Há um Projeto em curso no Congresso Nacional (Projeto de Lei D.
Assim. o mandado de segurança não pode servir de veículo á 4.661109) de aumentar o prazo de impetração para um ano, o que não nos parece
indevida "judicialização" da arbitragem. Não pode constituir uma necessário. nem mesmo útil.
forma de anti-suit injunction,83 que não é mais admissível em nosso 86. Nesta linha, já se decidiu que a superveniêncla de fénas forenses não sus-
pende ou interrompe o prazo decadencml para a impetração de mandado de segurança
Direito." (STJ, RMS n. 1O.138·CE, ReI. Min. Ruy Rosado deAguíar, DJU 15.3.99). Na mesma
linha: RMS n. 16.896·MG. ReI. Min. Jorge SearteZZlnI, DJU25.4.2005, p. 349. No
83. Emmanuel Gaillarei. Aspec/s Philosophiques du DI'Oi/ de ['Arbitrage Inter- entanto, embora o prazo seja decadencíal. hã jurisprudência acatando a sua prorroga-
na/lonal, Boston. Martmus Nijhoff. 2008, pp. 106-125. ção para o primeiro dia útil subseqUente, se o últuno dia cair em fenado forense (STJ,
84. Arnoldo Wald, "As antt-suit lnjunctions no direito brasileiro", RAM9/29- RMS n. 2.428·PR. ReI. Min. Cid Flaquer Scartezzml. DJU 9.2.98, p. 29). Em sentido
43; e Emmanuel Gaillard, Anti-Suit lnjunctians in International Arbitratlon, Nova contrário, não admitindo a prorrogação: STJ, RMS D. 13.062-MG, Relo Min. Mílton
York, Juns, Publishing Ine., 2005, p. 2. Luiz PereU1l, DJU23.9.2002, pp. 225-226.
58 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 59

lesão ao direito do impetrante. Até então, se é insuscetível de causar impetração, porque nenhum gravame ocorre para a parte que se uti-
dano ao destinatário, é inatacável por mandado de segurança, porque lizou do recurso administrativo enquanto pendente seu julgamento;
este visa, precípuamente, a impedir ou fazer cessar os efeitos do para este (ato com recurso dependente de caução) a lei abriu exceção
ato lesivo a direito individual ou coletivo. Ora, enquanto o ato não â regra geral da inimpugnabilidade judicial dos atos administrativos
estiver apto a produzir seus efeitos, não pode ser impugnado judi- sujeitos a recurso com efeito suspensivo, porque a mera exigência de
cialmente. Até mesmo a segurança preventiva só podeci ser pedida garantia (depósito em dinheiro, títulos, bens ou fiança bancària) já
ante um ato perfeito e exeqüível, mas ainda não executado. Enquanto constitui um gravame à parte, ensejando a segurança para a 1ll1ediata
o ato estiver em formação, ou com efeitos suspensos, ou depender invalidação do ato ilegal.
de formalidades complementares para sua operatividade, não se nos Sem que se façam essas distinções e se examine a situação
antolha passível de invalidação por mandado de segurança. particular do ato impugnado, em face dos recursos administrativos
Quando a lei diz que o direito de requerer mandado de seguran- admitidos, não se pode fixar o momento em que principia a fluir o
ça extinguir-se-á cento e vinte dias após a ciência do ato impugnado prazo de decadência da impetração. Os tribunais têm decidido aprio-
(arl. 23 da Lei n. 12.016/09), está pressupondo o ato completo, ope- risticamente que a interposição de recursos administrativos por si só
rante e exeqüfvelP Não é, pois, o conhecimento oficioso do ato que relega o início do prazo da impetração do mandado para após seu
deve marcar o início do prazo para a impetração, mas sim o momento julgamento. Tal generalização não é exata, porque isto depende dos
em que se tomou apto a produzir seus efeitos lesivos ao impetrante. efeitos do recurso interposto e até mesmo da eXigência ou dispensa
Se o ato é irrecorrivel ou apenas passível de recurso sem efeito sus- de caução.
pensivo, contar-se-á o prazo da publicação ou da íntimação pessoal É de se lembrar que o prazo para impetração não se conta da
do ínteressado;88 se admite recurso com efeito suspensivo, contar-se-a publicação da lei ou do decreto normativo, mas do ato administrativo
do término do prazo para o recurso (se não for interposto) ou da inti- que, com base neles, concretiza a ofensa a direito do ímpetrante,91
mação do julgameuto fmal do recurso (se interposto regularmente).89 salvo se a lei ou o decreto forem de efeitos concretos, caso em que se
Observamos, porém, que o pedido de reconsideração, na via admi- expõem â invalidação por mandado de segurança desde o dia em que
nistrativa, não interrompe o prazo para a impetração da segurança, entraram em vigência.
salvo se a lei lhe der efeito suspensivo.9o
Nos atos de trato sucessivo, como no pagamento de vencimen-
Há que distinguir, ainda, o ato que admite recurso com efeito tos ou outras prestações periódicas, o prazo renova-se a cada ato.
suspensivo independentemente de caução, do que só o admite me- Também não corre durante a omissão ou inércia da Admimstração
diante caução. Para aquele, a lei de mandado de segurança veda sua em despachar o requerido pelo interessado. 92
87. Segundo o STJ. sendo o mandado de segurança preventivo. não se aplica o
Quanto ao prazo para a impetração, é de cento e vinte dias a con-
prazo deeadeneíal de 120 dias (REsp n. 617.587-MG. ReI. Min. Castro Melnl, DJU tar da ciência oficial do ato impugnado, como já vimos. Surge, aqui,
28.3.2008). uma dúvida a ser esclarecida: se o mandado for impetrado perante
88. No entanto, se houver a publicação do ato na imprensa oficial. a posterior juizo incompetente e remetido ao competente, contar-se-á daquele
intimação pessoal da parte não lhe reabre o prazo para a impetração (STF, MS D.
22.961-3·MT, ReI. Min. Sydney Sanehes.RT768/135).
ou deste o prazo decadencial? O STF já decidiu que não ocorre a
89. STJ, RMS n. 2.073·RJ. ReI. Min. Felix Fischer, DJU30.3.98, p. 95.
90. STF. Súmula 430: "O pedido de reconsideração na via adminístrativa não 91. STF,RTJ961376
interrompe o prazo para o mandado de segurança". V. TFR, AMS n. 75.108-PR, DJU 92. STF, RTJ 74/833; RMS n. 24.736· 7·DF, ReI. Min. JoaqUIm Barbosa. RT
29.9.77, p. 6.633. No STJ. esclarecendo que o pedido de reconsideração ou a rener 841/193; STJ, REsp n. 50.697-2-RJ, ReI. Min. Demoen'o Reinaldo, DJUI9.9.94, p.
vação de pleito admínístrativo anteriormente indeferido não têm o condão de repor o 24.665; REsp n. 11O.714-BA, ReI. Min. Adhemar Maeíel, DJU 6.10.97, p. 49.932;
prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança: RMS n. 11.604-MG. REsp n:il4.631-PA, ReI. Min. Fernando Gonçalves,DJU 19.12.97, p. 67.552; RMS
Rela. Min. Eliana Calrnon.DJU29J02001. n. 11.866-PE, ReI. Min. Edson Vidigal, DJU 18.122000, p. 219.
60 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 61

caducidade se o mandamus foi protocolado a tempo, ainda que no As partes ilegítimas devem ser liminarmente excluídas da
juizo incompetente"J e realmente é o que se infere do disposto no § causa; e, sendo essa ilegitimidade do inlpetrante ou do inlpetrado, o
22 do art. ll3 do CPC. processo há que ser extinto, na forma do art. 267, V, do CPC.97
Observe-se, finalmente, que cessa o prazo decadencial desde a
data da impetração, pelo qual não bá caducidade intercorrente, mas ~ Impetrante - O inlpetrante, para ter legitimidade ativa, há de ser
pode haver prescrição da ação com a paralisação do processo por o titular do direito individual ou coletivo, líquido e certo, para o qual
mais de cinco anos, prazo máximo e geral para todas as postulações pede proteção pelo mandado de segurança. Tanto pode ser pessoa
pessoais do particular contra a Administração. física como juridica, órgão público ou universalidade patrimonial
privada, embora a Lei n. 12.016/09 se refíra a pessoas ·físicas ou
Tratando-se de lmpetração contra ato omissivo da Administra-
juridicas (art. 12).98 Quando for pessoa física ou juridica, pode ser
ção, o Plenário do STF já decidiu que o prazo decadencial de cento
nacional ou estrangeira, domiciliada em nosso Pais ou fora dele.9' O
e vinte dias começa a correr a partir do momento em que se esgotou
que se exige é que o impetrante tenha o direito invocado e que este
o prazo legal estabelecido para a autoridade inlpetrada praticar o ato
direito esteja sob a jurisdição da Justiça brasileira.
cuja omissão se ataca.94-95 Tratando-se de ato omissivo continuado, O -'
prazo decadencial renova-se periodicamente, por envolver obrigação O fato de o mandado de segurança estar incluido entre os
de trato sucessivo.96 direitos e garantias fimdamentais (CF, art. 52, LXIX) não exclui
sua utilização por pessoas jurídicas, nem por órgãos públicos
despersonalizados,lOo nem por universalidades patrimoniais. Isto
8. Partes porque o. constituíntc brasileiro não restringiu seu uso à pessoa
1iumana(c-õmõ~ fez com o habeas corpus); instituíu-o como meio
As partes iniciais no mandado de segurança são o impetrante
(titular do direito), o impetrado (autoridade coatora) e o Ministério constitucional hábil a proteger indiscriminadamente direitos de
Público (parte pública autónoma). Sem essa integração ativa e pas- quaisquer titulares, personalizados ou não, desde que tais titulares
siva não se completa a relação processual formadora da lide. Além disponham de capacidade processual para defendê-los Judicialmente
destas partes iniciais no mandado de segurança, outros interessados quando lesados ou ameaçados de lesão por ato ou omissão de auton-
poderão ingressar no feito desde que tenham legitimidade para estar 97. Regtstre-seque foi vetado. quando da sanção à Lei n. 12.016109, o art. 6Jl, §
ao lado do inlpetrante ou do impetrado como litísconsortes. com a 4S', do respectivo projeto. que previa a possibilidade de o impetrante emendar a inicial
ressalva de que não se admite o ingresso de litisconsorte ativo após o em dez dias. caso a autoridade coatora suscitasse ser parte ilegítima, pelas razões a
seguir transcritas: "A redação conferida ao dispositivo durante o trâmite legislativo
despacho da inicial (art. 10. § 22 , da Lei n. 12.016/09). permite a interpretação de que devem ser efetuadas no correr do prazo decadenclal de
120 dias eventuais emendas à petição iníClal com VIStas a corrigir a autoridade unpe-
93. STF. RTJ60/865; TJMT,RT494/164. trada Tal entendimento prejudica a utilização do remédio constitucional, em espeCial,
94. MS o. 23.126-DF. ReI. Min. llrnar Gaivão. RTJ 175/128. V. amda, oa I' ao se considerar que a autoridade responsâvel pelo ato ou otnÍssão impugnados nem
Tunna, o RMS o. 23.987-DF, ReI. Min. Moreira Alves, RTJ 185/588. sempre é evidente ao cidadão comum".
95. O projeto que deu origem à Lei D. 12.016/09 prevía. em caso de mandado 98. Como já salientamos, tratando-se de direitos fundamentaiS constitucional-
de segurança por omíssão. a contagem do prazo a partir da notificação Judicíal ou mente protegidos. a interpretação deve ser a mais ampla possIveL
extIaJudicial da autoridade. mas a regra sofreu veto presidencial quando da sanção â 99. No STF, admitindo a impetração de mandado de segurança por estrangerro
Lei n. 12.016/09. residente 00 Extenor: RE n. 215.267-6-SP, Rela. Min. EUen GrneIe, RT 792/199 e
96. STF. RMS o. 24.214-4-DF, Rela. Min. EUeo Gracie, DJU 1.7.2005, p. 88; RTJ 177/965. V. ainda a limmardeferida pelo Min. Celso de MeUo no HC n. 94.016-
STJ, REsp n. 337.151-AC, ReI. Min. Vicente Leal, DJU 422002, p. 604, e MS o. SP. DJe 10.4.2008 ("o siIdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado no Brasil, tem
7.522-DF. ReI. Min. Vicente Leal, DJU 6.5.2002, p. 239. No mesmo sentido: STJ. plena legitimidade para impetrar os remédios constituCIOnais, como o mandado de
REsp n. 440.559-DF. ReI. Min. Fernando Gooçalves, DJU 30.9.2002, p. 316; MS segurança ou, notadamente, o habeas corpus").
o. 11.50ó-DF, Rela. Min. Eliana Calmon, RT 855/211; MS o. 11.893-DF, ReI. Min. 100. TJRS. RDA 15/46, 56/269; TJSP. RDA 54/166. RT 304/392; TASP. RT
Nllsoo Naves. RT 859/181. 274n48.
62 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 63

dade. O essencial é que o impetrante tenha direito subjetivo próprio mandado dentro do prazo para as informações, como litisconsorte do
(e não simples interesse) a defender em juíZO.101-I02 Não hã confun- impetrado (art. 7", inc. II, da Lei n. 12.016/09).108
dir interesse com direito subjetivo e, principalmente, com direito Anteriormente, entendia-se que essa situação ocorria nas impe-
subjetivo líquido e certo, que é o único protegível por mandado de trações contra autoridades federais e estaduais, ainda que o impetrado
segurança, e ao qual não se pode negar a proteção do remédio pro-
fosse o Chefe do Executivo, porque este não representa em juízo a
cessual. 103 É verdade que a legislação anterior era mais generica ao
referir-se, no art. !., a "alguém" e não às pessoas fisicas e juridicas.
entidade que governa, a qual só pode ser representada judicialmente !
por seus procuradores (CPC, art. 12, I). Mas quanto ao Município
O direito subjetivo do impetrante pode ser privado ou públi- a situação e diferente, porque o Prefeito é também seu representan-
co, exclusivo ou pertencente a varias titulares ou, mesmo, a toda te em juizo (CPC, art. 12, Il), e, assim sendo, quando rngressa no
uma categoria de pessoas. O que se exige é que o impetrante possa processo já representa a Fazenda municipal para todos os efeitos
exercê-lo individual ou coletivamente. Daí porque as sociedades, as
legais. 109 Portanto, hã que se distinguir a posição processual da enti-
associações, as corporações profissionais, os sindicatos e os partidos
dade a que pertence o impetrado, pois a União, os Estados, o Distrito
políticos têm legitimação ativa para requerer mandado de segurança
Federal e os Territórios só ingressarão nos autos, como litisconsortes,
em beneficio de seus associados. Outra observação que se impõe é a
de que pelo mandado de segurança não se defende direito da coletivi- por seus procuradores,lIo ao passo que o Município já integra a lide
dade, mas tão-somente - repetimos - direito subjetivo, individual ou com o ingresso do Prefeito no processo. Se, porem, a autoridade im-
coletivo. I04 Para a proteção dos interesses da comunidade o remédio petrada e informante não for o Prefeito, o Municipio não integrará a
adequado é a ação popular constitucional, insubstituivel por manda- lide enquanto não o requerer por seu representante legaL
do de segurança,105 ação civil pública, ou mandado de injunção. l06 Essa discussão perdeu interesse, pois a Lei n. 12.016/09 manda
........... '\
dar ciência em todos os casos ao órgão de representação judicial da
~ Impetrado - O impetrado é a autoridade coatora, e não a pessoa juridica representada que, para este fim específico, passa a ter
pessoa juridica ou o órgão a que pertence e ao qual seu ato e impu- poderes para receber citação, independentemente da regulamentação
tado em razão do oficio. 107 A entidade interessada deve ingressar no administrativa da matéria (art. 7". Il).
10 1. A propósito, o STF já decidiu que: "Des:cabe mandado de segurança quan- haver litIsconsórclo entre a autoridade coatora e o ente de direIto público legitima-
do o impetrante não tem em vísta a defesa de direíto subjetivo. mas mero interesse do, pois este último seria a própria parte. da qual a pnrneira seria mero órgão (STJ,
reflexo de normas objetivas" (RTJ 120/328). REsp n. 99.271-CE, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, RSTJ93/117; REsp n.
102. Tendo em vista o caráter mandamental da sentença concessíva de segu- 86.030-AM. ReI. Min. Peçanha Martins, DJU28.6.99, p. 75; REsp n. 216.678-MS,
rança, comumente relativa a direitos personalíssimos e intransmissívels. o STF vem ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 21.2.2000, p. 96; REsp n. 385.214-
entendendo que o falecimento do .lIDpetrante acarreta a extInção do process~. ;1:5- PR, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU31.3.2003, p. 152).
cabendo a habilitação dos eventuais herderros, ressalvadas a estes as ViaS ordmanas 108. "Art. 7fJ.. Ao despachar a iníciaI, o juizordenarn: (...); II-que se dê ciência
para as reivmdicações dos efeitos financeiros reflexos da impetração (MS n. 22.130- do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica mteressada, envlando-
5-RS, ReI. Min. MoreltllAlves,RT7431l70). No STJ: REsp n. 32.712-PR, ReI. Min. lhe cópIa da iniCiai sem documentos, para que, querendo. mgresse DO feito;"
Edson Vidigal, DJU 19.10.98, p. ll9.
109. Diante da freqUente confusão dos impetrantes entre Município, Prefeitura
103. STF, RTJ 6/400, RDA 43/308: TJSP, RT 182/251, 1851774, 218/346. e Prefeito. o STF admítlll que: "Para efeito de legitunidade ad causam, as expressões
264/199. MUnlcipzo e Prefeitura se equivalem" (RTJ 961759). Mas no ngor jurídico esses
104. STF. RTJ 59/599; TJSP, RT2571357. vocábulos têm sentido diverso: MunícíplO é pessoa jurídica; Prefeitura é orgão; e
105. STF, SÚInula n. 101. Prefeito eagente.
106. V.• adiante, n. 19 (mandado de segurança coletívo). 110. No Estado do Rio de Janeiro, o art. 228 do Código de OrganiZação e
107. Conforme art. 62 da Lei n. 12.016/09, de que se trata mais adiante, ~ p_~s~ Divisão Judiciánas estabelece que a Procuradoria-Geral do Estado deve ser ouvida
soa jurídica de direIto público a que pertence o coator será litisconsorte nec~s_s_án<?.. sempre que o mandado de segurança for impetrado contra ato de autoridade arlnums-
de modo que figurará ao lado da autoridade lmpetrada, sem substituí-la ou excluí-la traova estadual. O processo é nulo se não' houver a inomação da Procuradoria (TJRJ.
da lide. Superou-se asSIm, o entendimento de alguns julgados que enunciavam não ApC n. 2.041/91, ReI. Des. SérgIO Mariano,RDTJRJ 121223).
64 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 65

Em conclusão. enquanto no passado. a pessoa jurídica era sim- Ê autoridade coatora, para os efeitos da lei. a pessoa que ordena
____.'
ples assistente.- passou agora a ser litisconsorte. ou omite a prática do ato impugnado e o superior que baixa nonnas
/ A autoridade coatora será sempre parte na causa, e, como tal. gerais para sua execução. 1I2 Não há confundir, entretanto. o simples
deverá prestar e subscrever pessoalmente as informações no prazo executor material do ato com a autoridade por ele responsável.
de dez dias, atender às requisições do juízo e cumprir o determinado Coator é a autoridade superior que pratica ou ordena concreta e
com caráter mandamental na liminar ou na sentença. Quanto aos especificamente a execução ou inexecução do ato impugnado e res-
efeitos patrimoniais da decisão final, serão suportados pela Fazenda ponde pelas suas conseqüências administrativas; executor e o agente
subordinado que cumpre a ordem por dever bierárquico, sem se
Pública atingida pelo ato do coator, esteja ou não representada no
responsabilizar por ela. Por exemplo, numa imposição fi~cal ilegal,
processo. Por outras palavras. a execução específica ou in natura
atacável por mandado de segurança. o coator não é nem o Ministro
do mandado cabe á autoridade coatora e os efeitos patrimoniais da
ou o Secretário da Fazenda que expede instruções gerais para a ar-
condenação tocam à entidade a que pertence o coator. Em face dessa
recadação de tributos. nem o funcionário subalterno que cientifica o
situação processual estabelecida pela lei. ficou dispensada a citação contribuinte da exigência tributária; o coator é o chefe do serviço que
da Fazenda, bastando a notificação da autoridade coatora, e a ciência arrecada o tributo e impõe as sanções fiscais respectivas, usando do
do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica (art. 7Q , seu poder de decisão, 113
inc. II. da Lei n. 12.016/09) para a instauração da lide. A dispensa da
Incabivel é a segurança contra autoridade que não disponha de
citação, conquanto constitua uma anomalia procedimental. encontra
competência para corrigir a ilegalidade impugnada. ll4 A impetração
justificativa na necessidade de simplificação e celeridade do processo
deverá ser sempre dirigida contra a autoridade que tenha poderes
do mandado de segurança. III
e meios para praticar o ato ordenado pelo Judiciário; tratando-se,
De acordo com o § 3Q do art. 6" da Lei n. 12.016/09. "considera- porém. de simples ordem proibitiva (não fazer), é admissivel o wrít
se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou contra o funcionário que está realizando o ato ilegal, a ser impedi-
da qual emane a ordem para a sua prática", do pelo mandado. Um exemplo esclarecerá as duas situações: se
Evita-se. assim, a alegação do subordinado de se ter limitado a a segurança objetiva a efetivaçãb de um pagamento abusivamente
cumprir ordens que recebeu do seu superior. Embora a lei estabeleça
a alternativa "ou" quanto à caracterização do coator, pode o impe- 112. STF. AJ 50/3; TJDF. AJ 50/439; TJSP. RT202l190. 266/208. 271/504. No
STJ, porem. há decisões aplicando a chamada "teoria da encampação'" entendendo
trante requerer a segurança simultaneamente contra quem praticou o que se toma parte legítima aquele que. sem estar legitimado em pnncfplO. acaba por
ato e contra quem mandou executá-lo. encampar o ato da autoridade que lhe é subordinada (STJ, RMS n. 15.040-SP, Rela.
Min. Eliana Calmon. RF3701299; EDRMS n. 16.057-PE. ReI. Min. Humberto Gomes
111. TRF-3' Região. ApCMS n. 1999.03.006824-3-MS. ReI. Des. Fed. Newton de Barros. DJU 17.11.2003, p. 202; REsp n. 574.981-RJ, Rela. Min. Eliana Calmon.
de Lucca, ReviSta Tributana 44/348. RF375/328; REsp n. 706.171-MG. Rela. Min. Eliana Calmon. RT8431204). No en-
No entanto. ameia na vigência da legislação anterior. o STJ decidiu que, "em:" tanto. "~lém da mani.festaçãO acerca do menta do mandamus por parte da autoridade
a~ontada coatora, eXige-se, para fins da aplicação da 'teoria da encampação', vinculo
bora a pessoa jurídica de direito público a que está v1ncuJada a autoridade coatara
não seja parte imcial no mandamus, a ela caberà suportar os efeitos patrimoniaIs da hlerarquico Imediato entre aquela autoridade e a que devena, efetivamente, ter figu-
decisão tina!, e, conseqüentemente, faz-se necessâria a mtimação pessoal do seu re- rado no feito" (STJ, AgRgMS n. 24.116-AM. ReI. Min. Félix Fischer. DJU2.62008).
presentante judicial, legitimado para recorrer da decisão concessiva da ordem" (REsp 113. Nesta linha. no STJ: RMS n. 7.164-RJ. ReI. Min. Ari pargendler, DJU
n. 704.713-PE. Rela. Min. Laurita Vaz,DJe 13.102008). Em linha semelhante. o STF 9.9.96, p. 32.343 ("a autoridade coatora no mandado de segurança não é aquela
entendeu ser nulo o processo de mandado de segurança a partir da falta de intunação qu~ dá ínstruções ou edita ordens genéncas, e SIm a que faz por individualiza-las,
da sentença à pessoa jurídica de direito público que suportará os respectivos efeitos, aplIcando-as em concreto"), e AgRgMS n. 4,467-DF. ReI. Min. Anselmo Santiago,
por violação ao devido processo legal (AgRgAgRgAI n. 431.264-4-PE. ReI. Min. DJU 16.9.96, p. 33.663 ("considera-se autoridade coatora a pessoa que ordena ou
Cézar Peluso. RePro 154/170). A Lei n. 12.016/09 estabeleceu essa obrigação sob a omite a práttca do ato impugnado e não o superior que o recomenda ou "baIXa normas
forma de notificar ou cientificar do feito à procuradoria ou departamento análogo da para a sua execução").
pessoa jurídica. 114. TJSP. RT321/141; TJSC.RT4921198.
66 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 67

retido, o mandado só poderá ser dirigido à autoridade competente deve - determinar a notificação da autoridade certa. corno medida de
para inclui-lo na folha respectiva; se visa á não efetivação desse economia processual, e. sendo incompetente. remeter o processo ao
mesmo pagamento, poderá ser endereçado diretamente ao pagador, juízo competente (CPC. art. 113, § 2Q).1l7-118 Isto porque a complexa
porque está na sua alçada deixar de efetivà-Io diante da proibição estrutura dos órgãos administrativos nem sempre possibilita ao im-
judicial. Essa orientação funda-se na máxima ad impossibília nemo petrante identificar com precisão o agente coator, principalmente nas
tenetur, ou seja, ninguém pode ser obrigado afazer o impossível. Se repartições fazendárias que estabelecem imposições aos contribuin-
as providências pedidas no mandado não são da alçada do impetrado, tes por chefias e autoridades diversas.
O impetrante é carecedor da segurança contra aquela autoridade, por
O coator poderâ pertencer a qualquer dos Poderes e a qualquer
falta de legitimação passiva para responder pelo ato impugnado. 11S
das entidades estatais ou às suas organizações autárquicas'ou paraes-
A mesma carência ocorre quando o ato impugnado não foi praticado
tatais, bem corno aos serviços concedidos, permitidos ou autorizados.
pelo apontado coator.
Considerar-se-à a autoridade federal, estadual ou municipal, para fins
Não obstante a logicidade desse entendimento, vem ocorrendo de mandado de segurança, quando as conseqüências patrimoniais
concessão de segurança inexeqüível contra autoridade que não é a do ato impugnado refletirem nas respectivas Fazendas ou entida-
coatora ou que não tem competência para praticar o ato ordenado. Tal
se verifica, p. ex., quando a ordem é dada a um Secretário de Estado 117. TJSP. RT 576/69. O STF e o STJ, entretanto. vêm consolidando a Jurispru-
para nomear um funcionário, ato da competência do Governador, dência no sentido de que a errônea indicação da autoridade coatora implica na extin-
única autoridade que poderia expedir tal decreto, mas que não fora ção do processo por ilegitimidade pasSIva ad causam, não cabendo ao juiz ou tribunal
chamada na impetração. Noutros casos, a ordem judicial determina a detenninar, de oficio, a SUbStItuIÇão da parte lmpetrada (STF, RMS n. 22.496-1-DF,
Rei.!vlin. Sydney Sanches, RT7421174; STF, MS n. 22.970-2-DF, ReI. Min. MoreIra
prática de um ato inferior contrário a um ato superior não invalidado. Alves. DJU 24.4.98. p. 5; STJ. MS n. 4.212-DF. ReI. Min. Vicente Cemlcchiaro.
Em todas essas hipóteses o mandado não pode ser cumprido, deven- DJU2.6.97. p. 23.751; STJ. MS n. 4.645-DF. ReI. Min. Milton Luiz Pererra,DJU
do o impetrado esclarecer a Justiça sobre a impossibilidade jurídica 16.6.97, p. 27.308; STJ. MS n. 3.850-DF, ReI. Min. Anselmo San"ago. DJU 18.8.97.
de sua execução."6 p. 37.778; STJ. REsp n. 4.839-DF. ReI. Min. Ari Pargendler. DJU 162.98, p. 3; STJ.
RMS n. 66-DF. ReI. Min. Adbemar Maclel. RSTJ 100/95; CComp n. 28.133-DF.
Muito se tem discutido - e os tribunais ainda hesitam - se a ReI. Min. Garcia Vieira. DJU 8.5.2000, p. 52; MS n. 13.696-DF. Rela. Min. Eliana
errônea indicação da autoridade coatora conduz à carência da im- Calmon, DJe 13.10.2008). Há, todavia, decisões em sentido contrário (p. ex., STJ,
petração ou admite correção para o prosseguimento do mandado RMS n. 24.217-PA. ReI. Min. Napoleão Nunes Mala Filho. DJe 10.11.2008). Por
outro lado, se a autoridade coatora indicada pelo impetrante efetivamente praticou
contra o verdadeiro coator. Sempre sustentamos que o juiz pode - e o ato objeto do writ, amda que fosse admmistratIvamente mcompetente para tanto,
será parte passiva legítima para responder à impetração (STJ. RMS n. 6.894-PA,
115. «Não há falar-se em direito líquido e certo a ser amparado por mandado de ReI. Min. José Dantas, RSTJ961376). Outras deCisões, amda, atribuem legitimidade
segurança quando o pedido deduzido na micial ê impossivel de ser atendido pela au- á parte que, embora não fosse, em principio, a legitimada, acaba por encampar o ato
toridade coatora" (STF.AgRgMS o. 24.189-DF. Rei. Min. Eras Grau, RTJ 196/173). da autoridade que lhe é subordinada (STJ, RMS n. 15.040~SP. Rela. Min. Eliana Cal-
No STJ, extinguindo a impetração por ilegitimidade passiva. na linha aqUI de- mono RF 370/299. e REsp n. 574.981-RJ. Rela. Min. Eliana CalmoD. RF 375/328).
fendida por Hely Lopes Merrelles: MS n. 12.700-DF. ReI. Min. Humberto Martins. Lembre~se, apenas, que se exige, para fins da aplicação da "teoria da encampação",
DJU29.6.2007. No caso. o mandado de segurança se dirigiu contra o Presidente do "vinculo hierárquico imediato entre aquela autoridade e a que deveria, efetivamente,
Banco Central do Brasil. porem objetivando afastar comandos de resoiução do Con- ter figurado no feito", como já mencionado (STJ, AgRgMS n. 24.116~AM. ReI. Min.
selho Monetário Nacional, "não podendo o Presidente do BAeEN dar cumprimento Félix Fischer. DJU2.6.2008).
a qualquer ordem emanada do Poder Judiciário na eventual hipôtese de provimento Se indicada na inicial a autoridade coatora correta, porem impetrado O manda-
deste mandamus". mus perante órgão judicial incompetente, cabe a aplicação do art. 113, § 211, do CPC,
I I 6. A propôsito, o antigo Tribunal Federal de Recursos decidiu: "A impossi- remetendo-se os autos a quem de direíto, consoante a jurisprudênCIa mrus recente do
bilidade jurídica do pedido não decorre apenas de sua inadmissão pelo ordenamento STF (AO n. 1.137-0-DF/AgRg, ReI. Min. Cézar Peluso. RT8421105).
jurídico, mas de sua inviabilidade, evidencíada pela propria situação fáuca que torna 118. O art. @, § 42, do projeto que deu origem a Lei n. 12.016/09, que previa a
induvidosa prImafaeie a sua unprocedêncla" (AI n. 41.593, j. 28.4.81, ReI. Min. possibilidade de o ímpetrante emendar a iniciai em dez dias, caso a autoridade coatora
Carlos Madeira). SUSCItasse ser parte ilegítima, foi vetado, quando da sanção à referida lei.
68 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 69

des por elas controladas ou delas tenham recebido a concessão ou Em tais casos, se proferida a decisão administrativa antes da senten-
autorização (ar!. 22 da Lei n. 12.016/09). As atribuições delegadas. ça e a nova autoridade responsável pela decisão tiver foro ou juizo
embora pertencentes à entidade delegante. colocam como coator o diferente da ínferior, os autos do mandado de segurança deverão ser
agente delegado que praticar o ato impugnado (STF, Súmula n. 510). remetidos ao juiz ou tribunal competente para proferir o julgamento.
Assim sendo. se uma autoridade municipal aceitar delegações do O particular beneficiàrio ou participe do ato impugnado deve
Estado-membro ou da União. responderà por essas atribuições como ser cientificado da impetração não para prestar ínformações (que são
autoridade estadual ou federal, perante os juízos privativos dessas privativas da autoridadecoatora), mas para apresentar a defesa de seu
entidades. direito como litisconsorte.
-', Nos órgãos colegiados. considera-se coator o Presidente que
subscreve o ato impugnado e responde pela sua execução; nos atas Ministério Público - O Ministério Público é oficiante necessá-
complexos. o coator e a última autoridade que neles íntervém para rio no mandado de segurança, não como representante da autoridade
seu aperfeiçoamento. mas a jurisprudência tem exigido a notificação coatora ou da entidade estatal a que pertence, mas como parte públi-
de todos os que participaram do ato; 1I9 nos atos compostos. o coator ca autônoma incumbida de velar pela correta aplicação da lei e pela
é a autoridade que pratica o ato principal; nos procedimentos ad- regularidade do processo. Dai porque, ao oficiar nos autos, não está
ministrativos. o coator e a autoridade que preside a sua realização. no dever de secundar as ínformações e sustentar o ato impugnado
quando verifique a sua ilegalidade.
A autoridade superior que, dentro de sua atribuição, avoca o
O dever funcional do Ministério Público é o de manifestar-se
ato ínferior. passa a responder por suas conseqüências, deslocando
sobre a impetração, podendo opínar pelo seu cabimento ou descabi-
o mandado de segurança para o juízo ou foro competente. Mas a
mento. pela sua carência e, no merito, pela concessão ou denegação
avocação só é admissivel antes de impetrada a segurança, mesmo
da segurança, bem como sobre a regnlaridade ou não do processo,
porque esta só cabe contra ato operante e exeqüível e aquela pres-
segundo sua convicção pessoal, sem estar adstrito aos interesses da
supõe o ato admínistrativo em formação e ainda não operante ou
Administração Pública na manutenção de seu ato.
não exeqüível. I20 Admitir-se a avocação do ato impugnado depois
de ínstaurada a ínstância judicial seria frustrar a finalidade corretiva Quanto aos fatos, o Mínistério Público não os pode negar ou
do mandado de segurança, com a deslocação sucessiva do feito, em confessar, porque isto é matéria das ínformações, privativa do impe-
razão da substituição do impetrado ao talante da Administração. trado, mas. quanto ao dirello, tem ampla liberdade de manifestação.
O que pode ocorrer - e freqüentemente ocorre - é a superação do ato dada a autonomia de suas funções em relação a qualquer das partes.
impugnado, por decisão de autoridade ou tribunal superior, quando o Da mesma liberdade desfruta o Ministéno Público para interpor os
mandado é admitido simultaneamente com recurso hieràrquico sem recursos cabíveis, com prazos duplicados. nos expressos termos do
efeito suspensivo ou com efeito suspensivo dependente de caução. ar!. 188 do CPC.
Segundo o ar!. 84 do CPC, a falta de intimação do Mínistério
119. STF.DJU 4.10.63. RDA 53/216; TJSP. RT343/189. 477/74. Público acarreta nulidade do processo, a partir do momento em que
120. Como visto acima. porém. o STJ vem aplicando a chamada "teoria da deveria oficiar no feito. se não for suprida pela manifestação superior
encampação". Quando o ato Impugnado foi praticado pela autoridade mferior. e mes- da Procuradoria-GeraL 121
mo na ausência de avocação previa. se a autoridade superior se opõe â impetração.
defendendo o menta do mesmo, passa a ser esta a legitimada passíva (neste sentido. Antes da edição da Lei n. 12.016/09, o STJ vinha decidindo
exemplificativamente. RF3701299 e 375/328; RT843/204). que não basta a mera intimação do órgão do MÍnistério Público no
No entanto. repita-se, "além da manifestação acerca do mento do mandamus
por parte da autoridade apontada coatora, exige-se, para fins da aplicação da <teoria 121. AJUfÍsprudência majoritária do STF e do STJ e no sentido de que a in-
da encampação', vínculo hieràrquico imediato entre aquela autoridade e a que de- tervenção do Ministério Público no Tribunal supre a falha na primeira msmncla, nos
veria, efeuvamente. ter figurndo no feito" (STJ. AgRgMS n. 24.\l6-AM. ReI. Min. processos em que a leI obriga a sua partlclpação (REsp n. 146.668-SP, Relo Min.
Félix Fischer. DJU2.6.2008). Peçanba Martms.RSTJ 1341199).
70 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 71

mandado de segurança, sendo indispensàvel que o parquet realmente julgado no prazo de que dispõem as partes,126 como também pode
oficiasse no feito. Interpretando o art. IOda Lei n. 1.533/51,122 o STJ utilizar-se do mandamus para impedir lesão a direito seu, líquido e
julgou nulo O processo onde não houvesse efetivo pronunciamento certo, mesmo que a sentença ou o acórdão admita recurso ao seu al-
do Ministério Público.123 cance. 127 Tratando-se de litisconsorte necessario não chamado à lide,
O Tribunal Pleno do STF já decidiu, porém, que se o mandado é cabível até mesmo o recurso extraordinário, em razão da nulidade
de segurança for indeferido de plano, a intervenção do Ministério do processo:"·
Público não é obrigatória. 124
";/ A propósito, ensina Raul Annando Mendes, em douta monogra-
fia, que: "O terceiro prejudicado pode recorrer extraordinariamente,
Em virtude do disposto no art. 12 e seu parágrafo úníco da Lei
segundo o art. 499 do CPC. O terceiro prejudicado é aquele que,
n. 12.016/09,125 a falta de pronunciamento do Ministério Público, no
embora não sendo parte na lide, sofre gravame com a decisão da ins-
prazo improrrogável de dez dias, não pode mais impedir o prosseguI- tância ordinária. É figura autônoma, isto é, não vinculada ao autor, ao
mento do feito, com a decisão da segurança. Conclui-se que, se dada réu ou ao prefalado litisconsorte. Defende direito seu, pelo quê não
ciência, o Ministério Público não se manifestar no prazo legal, tal depende de qualquer das partes no processo. Sua intervenção pode
fato não ensejará a nulidade do processo. Por outro lado, decorridos ocorrer depois da sentença, sem que se possa falar em supressão de
os dez dias, o impetrante podem notificar o Ministério Público para instância, ou violação do princípio constitucional do duplo grau
que devolva o processo. de jurisdição, pois o seu recurso provido devolve ii instância a quo
Quid]uris se houver interesse da Administração ou de incapaz todo o conhecimento da matéria". 129
a ser representado ou assistido pelo Ministério Público? A nosso ver,
devem intervir no feito outro membro da Procuradoria, funcionando 9. Litisconsórcio e assistência
um como parte autônoma e outro como defensor ou curador de quem
o exige. O litisconsórcio ti admitido no mandado de segurança por ex-
pressa disposição da lei que o regulamentaPO Há dúvidas quanto
Terceiro prejlldicado - O terceiro prejlldicado por decisão em
126. STF, RTJ 59/596, 100/1.316; RE n. 93.432-GO. DJU 13.3.81; RE n.
mandado de segurança para o qual não foi citado pode recorrer do
91.246-BA. DJU 18.12.81; TFR. AMS n. 79.056-RJ, DJU20.4.78; ApC n. 52.246-
RJ, DJU28.11.79; AMS n. 99.029-Ri, DJU27. 10.83.
122. o teor do dispositivo era o seguínte: ..Art 10. Findo o prazo a que se refere
127. STF,RTJ641777, 8V618, 87/96, 88/890, 100n42, 103/1.074, 104/257; RT
o item I do art 70. e ouvido o representante do Minístério Público dentro em cinco 517/227. Súmulan. 202 do STJ.
dias. 05 autos serão conclusos ao juiz. independente de solicitação da parte, para a
128. STF, RTJ71n2, 80/611, 87/479; RE n. 74.347-2-DF, DJU 19.5.78, p.
decisão. a qual deverá ser proferida em cinco dias, tenham sido ou não prestadas as
3.466.
ínfonnações pela autoridade coatora",
129. Raul Annando Mendes, Da InterposIção do Recurso extraordináriO, São
123. Neste sentido: REsp n. 13.948 AM. ReI. Min. Américo Luz, DJU
w
Paulo, Sara.va, 1984, p. 74.
18.11.91, p. 16.521; REsp n. 73.887-AM, ReI. Min. Mílton Luiz Pereira, DJU 130. Art. 24 da Leí n. 12.016/09, com a seguinte redação: "Aplicam-se ao man-
20.5.96; REsp n. 9.738-O-AM, ReI. Min. José de Jesus Filho, RSTJ 59/205; EDREsp dado de seguraoçaos arts. 46 a49 da Lei n. 5.869, de 11 dejaoelfo de 1973 -Código
n. 9.209-0-AM, ReI. Min. Peçanha Martins, RT7031159; EDREsp n. 9.271-8-AM, de Processo Civil",
ReI. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, RDR 4/128; EDREsp n. 29.430-I-AM, ReI. Os art. 46 a 49 do CPC têm a segumte redação:
Min. Antônio de Pádua Ribeiro, RSTJ 96/17.
..Art. 46. Duas ou maIS pessoas podem litigar. no mesmo processo, em conjun-
124. AgRgMS n. 23.514-DF, ReI. Min. Maurício Corrêa, RTJ 173/511. to. ativa ou passivamente, quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de
125. O art. 12 tem a segUInte redação: "Findo o prazo a que se refere o ínClSO I obrigações relativamente à lide; II - os direitos ou as obngações denvarem do mesmo
do caput do art. 7fJ. desta LeI, o juiz ouvirà o representante do Ministério Público, que fundamento de fato ou de direIto; m - entre as causas houver conexão pelo objeto
opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias. Paràgrafo único. Com ou ou pela causa de pedir, IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de
sem o parecer do Ministério Público, os autos serão conclusos ao JUíz, para a decisão, fato ou -de direito. Parágrafo UlllCO. O JUIZ poderá. limítar o litlsconsórcio fac_u.L~~
a qual deverá ser necessariamente proferida em 30 (trInta) dias", quanto ao número de litigantes, quando este comprometer a rápidãSõíuÇãôao litígio
72 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 73

ao cabimento da assistência, embora tivesse sido esta admitida nas julgamento: no litísconsórcio irrecusável. a causa pertence a cada um
edições anteriores deste livro. l3l Efetivamente, o art. 24 da Lei n. isoladamente, mas, como é comum o interesse das partes e conexa
12.016/09, corresponde ao art. 19 da Lei n. 1.533/51. com a redação a relação de direito, a decisão do pedido de um influirà na do outro,
dada pela Lei n. 6.071/74,132 referindo-se tão-somente âs disposições razão pela qual o litisconsórcÍo não poderà ser recusado por qualquer
do Código de Processo Civil que tratam do litisconsórcÍo (arts. 46 dos litigantes: no litisconsórclO recusável. as pretensões são autôno-
a 49) e não às que regulam a assistência. Diante dessa previsão, mas, mas, como há afinidade entre as causas, por um ponto comum
caberà ao juiz verificar, preliminarmente, se ocorrem as hipóteses de fato ou de direito, permite-se a reunião das ações se com isto
estabelecidas no Código de Processo Civil (arts. 46 a 49) para deter- concordarem as partes, por economia processual e com o intuito de
minar, permitir ou negar o ingresso de terceiros no feito. Parece-nos se evitar decisões teoricamente conflitantes.
admissivel também o litisconsórcÍo no mandado de segurança cole- A propósito, observamos que, nas impetrações em que há be-
tivo, desde que a pretensão desses intervenientes coincida com a dos neficiários do ato ou contrato impuguado, esses beneficiários são
impetrantes originàrios. litisconsortes necessários, que devem integrar a lide, sob pena de
Convem distinguir, desde logo, as três modalidades de litíscon- nulidade do processo. 133 Pode também o terceiro prejudicado pela
sórcio possIveis em nosso Direito Positivo: o necessano, o irrecu- sentença ou a entidade a que pertence o coator ingressar no feito com
sável e o recusável, sendo que estas últimas espécies são também o recurso cabivel.
chamadas facultativo impróprio (litísconsórclo irrecusável, mas não Na prática, vinha sendo admitida a intervenção de litísconsorte
necessário) e facultativo próprio (o que não obriga a qualquer das ativo depois de estabelecida a relação processual, com a prestação
partes e pode ser recusado por ambasl. das informações pelo coator. Tal proceder foi devidamente rechaça-
No litisconsórcio necessário, a causa pertence a mais de um em
conjunto e a nenhum isoladamente, razão pela qual a ação não pode 133. STF, RTJ 641777; TJBA, RT 419/366; TAMG, RT 4381253; TJMG, RT
4771220; TJSP. RT39l/192, 430153.
prosseguir sem a presença de todos no feito, sob pena de nulidade do
Em matéria de mandado de segurança contra ato judicial. o beneficiário do ato
impugnado será sempre litisconsorte pasSIVO necessano (STJ, IUvIS n. 5.570-PA, Rei.
ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para resposta, que Min. Adhemar Macie!, DJU 14.4.97, p. 12.702).
recomeça da intimação da decísão. O TFR editou a Súmula n. 145 sobre a matéria, dispondo que "extingue-se o
"Art. 47. Há litisconsórcio necessário. quando, por disposição de lei ou pela processo de mandado de segurança., se o autor não promover, no prazo assinado. a
natureza da relação jurídica, o JUIZ tiver de decidir a lide de modo unifonne para citação do litisconsorte necessãrio" O STJ contmua a aplicar o mesmo prmcipio
todas_as part~s,; caso em que aeIíêaéla da sentença dependem da citação de todos os (RMS n. 3.049-0-RJ, ReI. Min. Sálvio de Figueiredo. DJU 19.9.94; RMS n. 6.178-
~consol:tes no processo. Parâgrafo Unica. O JUiz ordenará ao autor que promova a SP, ReI. Min. Hélio Mosirnann, DJU 18.12.95, p. 44.539: EDREsp n. 60.069-3-RS,
citação de todos 05 liusconsortes necessários. dentro do prazo que assinar, sob pena ReI. Min. Milton LulZ Peretra. AASP 1995, p. 24-e; EDRMS n. 6.487, ReI. Min. Sál-
de declarar extinto o processo. vio de FigueIredo, DJU24.3.97, p. 9.017; RMS n. 6.860-RJ, ReI. Min. Cid Flaquer
"Art. 48. Salvo dispOSIção em contrário. os litisconsortes serão considerados. Scartezzmi, DJU22.9.97, p. 46.512). Ajurisprudência do STJ assmala., inciusíve,
em suas relações com a parte adversa., como litigantes distintos; os atas e as omIssões que não se aplica à hipótese a regra do § II:! do art. 267 do CPC, entendendo, portan-
de um não prejudicarão nem beneficiarão os outros. to, ser dispensâvel a intimação pessoal da parte, para que se decrete a extrnção do
«Art. 49. Cada litisconsorte tem o direito de promovera andamento do processo processo (RMS n. 6.507-RJ, ReI. Min. Vicente Leal, DJU 12.5.97, p. 18.844). Não
e todos devem ser intimados dos respectivos atas." obstante, se a parte requereu a cítação do litisconsorte e recolheu as custas judiclals,
131. Houve, na Vigência da lei anterior, jurisprudênCia e doutrina afinnando o mandado de segurança não pode ser extinto (STJ. RlvIS n. 7.635-GO, ReI. Min.
ser cabível no mandado de segurança apenas o litisconsórcio. mas não a asSistência Carlos Alberto Menezes Direito, DJU 14.4.97, p. 12.734; e, por analogia, a Súmuia
(p. ex.: STJ, AgRgMS n. 5.690-DF, ReI. Min. José Delgado, DJU24.9.2001, p. 232. n. 106 do STJ).
No STF, também pelo descabimento da assistência em mandado de segurança: MS n. No STF, v. ainda as Súmulas ns. 631 ("Extingue-se o processo de mandado de
24.414-DF, ReI. Min. CézarPeluso,j. 4.9.2003,RTJ 188/663). segurança se o impetrante não promove. no prazo assinado. a CItação do litIsconsorte
132. O art. 19 da Lei n. 1.533/51, com a redação dada pela Lei n. 6.071174, paSSIVO necessário") e 70 I ("No mandado de segurança impetrado pelo Ministério
dispunha o segumte: "Aplicam-se ao mandado de segurança os artigos do Código de Público contra decisão proferida em processo penal, é obngatória a Citação do réu
Processo Civil que regulam o litisconsórclO"_ como litisconsorte {Jassivo").
74 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 75

do pela Lei n. 12.016/09, em seu art. lO, § 2', que exige o ingresso na líde depois de cento e vinte dias do ato impugnado, porque isto
do litisconsorte antes de despachada a inicial. De fato, como já significaria prorrogação do prazo fatal de decadência estabelecido no
escrevemos nas edições anteriores, essa prática se nos afigura art. 23 da Lei n. 12.016/09. 139
atentatória aos principios processuais que regem o litisconsàrcio, Quanto ao assistente - embora não o consideremos, em tese,
pois que só é admissivel na instauração da lide ou no decêndio das cabível no mandado de segurança l40 -, pode ingressar nos autos a
, informações. 134 qualquer tempo, com aquiescência das partes, recebendo o proces-
<

i
,
""'--\. Quanto ao Iitísconsorte passivo, há que se distinguir o necessa- so no estado em que estiver e manifestando-se sempre na liuba do
i
no e o facultativo. Aquele terá que integrar a lide e poderá fazê-lo a assistido, pois não é parte na ação e não pode inovar a lide. Pode
qualquer tempo, espontaneamente ou por determinação do juiz; este apenas reforçar a postulação da parte a que assiste. Não se confunda,
só poderá ingressar no processo no decêndio das informações e com portanto, o assistente com o litisconsorte, pois cada um tem situação
aquiescência de ambas as partes, não cabendo ao juiz ordenar sua processual diferente na demanda. 141
participação no feito, mas tão-somente admiti-la se houver concor-
dância do impetrante e do impetrado. ':::\
10. Competência
Entendemos que, em virtude do texto dos arts. 6". caput,135 e
7., inc. II,I36 da Lei n. 12.016/09, a pessoajurldica interessada (que A competência para julgar mandado de segurança define-se pela
o coator integra ou á qual se ache vinculado, exercendo as suas atri- categoria da autoridade coatora e pela sua sede funcional. 142 Normal-
buições) é litisconsorte necessário, não se identificando com o im- mente, a Constituição da Repúblíca e as leis de organização judiciária
petrado. mas sofrendo os efeitos da sentença que vier a ser proferida. especificam essa competência, mas casos há em que a legIslação é
O não chamamento de litisconsorte passivo necessario nos omissa, exigindo aplícação analógica e subsídios doutrinários. É o
autos acarreta a nulidade do julgamento, e essa nulidade pode ser ar- que veremos a seguir.
güida e reconhecida até mesmo em recurso extraordinário interposto
A competência dos tribunais e juízos para o julgamento de
pelo terceiro prejudicado, no prazo comum para as partes. 137
mandado de segurança, mandado de injunção e habeas data está dis-
Quanto ao litisconsorte passivo facultativo, sua ausência no pro-
cesso não invalida a sentença, 138 como também não cabe seu ingresso 139. STF, RTJ6/630, RDA 56/285.
140. Entendemos. todavia. que pode caber a íntervenção da União ou de outras
134. o STJ recusa a formação do litisconsõrcio ativo em mandado de segurança pessoas Jurídicas de direito público que não sejam litisconsortes necessàrios no pro-
após o deferimento da limínar, por implicar em contrariedade ao prtncipío do juiz cesso, com base no arl 52. e respectivo parágrafo, da Lei n. 9.469. de 10.7.1997 (v.
natural (REsp n. 87.641-RS, ReI. Min. Ari Pargendler, DJU 6.4.98, p. 75; REsp n. o texto no Apêndice).
89.581-PR. ReI. Min. Ari Pargendler, DJU29.6.98, p. 139). No mesmo sentido: REsp
n. 24.743-RJ, ReI. Min. Edson Vidigal, DJU 14.9.98, p. 94. 141. No STF, não admitindo a figura do assistente em mandado de segurança:
135. Arl &1 da Lei D. 12.016/09: "A petição micíal. que deverá preencher os MS o. 24.414-DF, ReI. Min. Cézar Peluso, RTJ 188/663. No STJ, Igualmente afir-
requisitos estabelecidos pela lei processual. será apresentada em 2 (duas) V1as com os mando ser incabível a assistênCIa em mandado de segurança. mas citando doutnna
documentos que mstruirem a primeira reproduzidos na segunda e indicarâ, além da e jurisprudência nos dois sentidos: AgRgMS n. 5.690-DF. ReI. Min. Jose Delgado,
autoridade coatora, a pessoa juridica que esta mtegra. ã qual se acha Vinculada ou da DJU24.9.2001, p. 232. Em acórdão posterior, porem. o STJ admitiu o ingresso de
qual exerce atribuições". asslstente em mandado de segurança. afmnando a inexistência de óbice, a qualquer
136. Art. 7íJ. da Leí n. 12.016/09. me. II: "Ao despachar a inicial. o JUIZ arde· tempo e independentemente do grau de jurisdição, Justamente na linha preconizada
nara: (...) II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa por Hely Lopes Meirelles em edições anteriores do presente livro (REsp n. 616.485-
jurídica interessada. enviando-lhe cópia da ínícíal sem documentos, para que, que· DF, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU 22.5.2006).
rendo. íngresse no feito; (...)", 142. STJ, CComp n. 17.438-MG, ReI. Min. Felix Fischer, DJU20.1O.97, p.
137. STF, RTJ31/238, 57/859, 88/890, RT 517/227; v. tb. SÚIDulas ns. 631 e 52.969: "Irrelevante, para fixação de competência. a matéria a ser discutida em Man-
701 do STF e 145 do extinto TIR. dado de Segurança, posto que é em razão da autoridade da qual emanou o ato, dito
138. STF, RTJ 68/442, RT 487/234,513/283. lesívo. que se determma qual o Juizo a que deve ser submetida a causa".
MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 77
76

criminada na Constituíção da República de 1988, cujos dispositivos Observamos que a Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Lei
estão transcritos no n. 1 do Apêndice.!43 Complementar n. 35, de 14.3.79) reafinnou a competência de todos
Quanto aos mandados de segurança contra atos das autoridades os tribunais para '~ulgar, originariamente, os mandados de segurança
federais não indicadas em nonnas especiais ou das entidades priva- contra seus atos, os dos respectivos Presidentes e os de suas Câmaras,
Turmas ou Seções" (ar!. 21, VI).!45
das, no exercício de delegação federal, a competência é das Varas da
Justiça Federal, nos limites de sua jurisdição territorial, com recurso Para os mandados de segurança contra atos das autoridades es-
para o TRF.!44 taduais e municipais, o juízo competente será sempre o da respectiva
comarca, circunscrição ou distrito, segundo a organização judiciária
143. A competência dos Tribunais Superiores definida na Constituição Federal de cada Estado, observados os princípios constitucionats e legais
costuma ser interpretada restritivamente. Assim, por exemplo. o STF se julgou incom- pertinentes. Lembramos que a Constituição atribui o julgamento do
petente para apreciar mandado de segurança unpetrado contra ato do Conselho Su-
penor do Ministério Público Federal. apesar de ser o órgão colegiada presidido pelo
Prefeito ao Tribunal de Justiça (ar!. 29, VlII), donde se conclUI que
Procurador-Geral da República (MS D. 22284-MS. Rei. pIo acórdão Mio. Umar Gai- os mandados de segurança, mandados de injunção e habeas dolo
vão. RTJ 179/616). Em outro caso decidiu-se que o STF é incompetente para aprecIar impetrados por essa autoridade ou contra ela serão julgados origina-
mandado de segurança contra ato praticado peto Vice-Procurador-Geral da República, riamente por esse Tribunal. 146
amda que no exercicio de delegação outorgada pelo Procurador-Geral da República.
tendo em vista a SÚInula D. 510 da Suprema Corte (MS D. 24.732-DF. ReI. Min. Celso As nonnas estaduais de organização Judiciária podem instituir
de Mello. Informattvo STF 348/3). Na mesma linha. o STJ editou a Súmula n. 177. Tribunais, Câmaras ou Varas privativos para a Fazenda Pública esta-
segundo a qual se considera incompetente para julgar, origmariamente, mandado de
segurança contra ato de órgão colegíado presidido por Mimstro de Estado.
No entanto, é importante observar que o STF vem se considerando competente e não pelo TRF, consoante a Súmula n. 55 do STJ ("Tribunal Regional Federal não e
para julgar os mandados de segurança impetrados contra atos do Conselho Nacional competente para julgar recurso de decisão proferida por juiz estadual não investido
de Justiça (CNJ). A competência originâna do STF em matéria de mandados de se- de jurisdição federal"), V. a decisão da la Seção do STJ no CComp n, 54.140-PB,
gurança está elencada na alínea "d" do inciso I do art. 102 da CF, e não lista os atos Rela. Min. Eliana Calmon, DJU 2.5.2006 (o caso era de mandado de segurança lm-
do CNJ. A alínea "r", do mesmO inCISO, porem, com a redação da Emenda Constltu- petrado contra dingente de concesslOnària de energia elétnca. no exercíCIO de função
cional n. 45, atribui ao STF a competência para julgar as ações contra o Conselho
U
delegada federal).
Nacional de Justiça e o Conselho NaCIonal do Ministério Público", e isto vem sendo Vale notar que o art. 22 da antiga Lei n. 1.533/51 considerava federal a autori-
o suficiente para o estabelecimento desta competência. ExemplificatIvamente, o STF dade coatora quando as conseqüênCias de ordem patrimonial do ato objeto do manda-
concedeu a segurança contra ato proferido pelo CNJ, no MS n. 26.700-RO, ReI. Min, mus tlvessem de ser suportadas pela União "ou pelas entidades autárquicas federais".
Ricardo Lewandowski. DJe 27.6.2008. Por sua vez, o arl 22 da LeI n. 12.016/09 refere-se à União e, genericamente, ás enti-
144. Se o ato impugnado tiver sido praticado por entidade privada. ou mesmo dades por ela controladas. Poder-se-ia COgItar de que, a partir da alteração iegisiatlva,
estadual, mas dentro do exercíCIO de delegação federal, a competência para o Julga- a competência paraJulgamento de mandado de segurança impetrado contra ato prati-
mento do mandado de segurança sero da Justiça Federal (STJ, CComp n. 15.575-BA, cado pordingente de sociedade de economia mista tivesse passado à Justiça Federal.
ReI. Min. Cláudio Santos, RDR 71162), No mesmo sentido: CComp n. 20,140-MG, Tal interpretação, todavia, parece esbarrar, em prinCiPIO, nas nonnas constitucionaiS
ReI. Min. SálvlO de Figueiredo TeixelIll, DJU 20.3.2000, p. 34; CComp n. 38.767- que prevêem a competência ratlone persanae da Justiça Federal (art. 109, mClSO I.
00, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 30.6.2003. p. 124; CComp n. CF 1988), nas quaís não se encontra alusão às SOCIedades de economia mista.
38.159-MS, ReI. Min. TeoriAlbino Zavascki, DJU 4.8.2003, p. 212, e RDR 28/210; 145. V. CF, art. 93; SÚInula n. 624; STJ. SÚInula n. 41.
CComp n.40.060-SP, ReI. Min. Castro Meira,DJU7.6.2004, p. 153;AgRgCComp n. 146. A diVIsão da competência entre os TJs e os TAs era definida pela Lei Orgâ-
52.414-PB, ReI. Min. TeoriAlbino Zavascki,RT847/154; REsp n. 849.121-SC, ReI. nica da MagIstratura Nacional (Lei Complementar n. 3Sn9. art. 108). Com o advento
Min. LUlZ Fux, DJU 12.5.2008. No I' TACSP: AI n. 1.081.888-3, Rei. Juiz Matheu, da ConStItuição de 1988, a competência dos TribunaiS passou a ser maténa defmida
Fontes, RT 809/261. na ConstituIção de cada Estado (arl 125, § ln). As competênCias originàrias dos Tri-
No STF, com relação à competência da Justiça Federal para o julgamento de bunaIS locais disciplinadas nas respectivas Constituições Estaduais devem ser enten-
mandado de segurança impetrado contra ato de Junta Comercíal, por ser órgão su~ didas numerns clausus. Assím. não prevista expressamente a competência originârla
bordinado admmIstratlvamente ao Estado, mas exercendo tecnIcamente autoridade para certo tlpo de processo, hâ de se seguir a regra geral de sua atribuição ao juízo de
federal: RE n. 199.793-I-RS, ReI. Min. Octávio Gallotti,RDB 10/139 eRTJl751778. primeiro grau, não podendo ser elidida por norma regimental (STF. RE n, 265,263-
Se o mandamus ttver sido ajUIZado erroneamente Junto á Justiça estadual, 6-00, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, RT 815/167). Os TribunaIS de Alçada foram
porem, o eventual recurso deverá ser apreciado pelo respectivo Tribunal de Justiça, extintos com a Reforma do JudiciárIo aprovada através da EC n. 45/2004 (art. 42).
78 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 79

dual e municipal, suas autarquias e entidades paraestatais, segundo considerar-se-á federal a autoridade coatora se houver repercussão do
a conveniência do serviço forense, como poderão dar juizo privile- ato (objeto do litígio) sobre a União ou entidade por ela controlada
giado para determinadas autoridades responderem por seus atos em (ar!. 22 da Lei n. 12.016/09 15°).
mandado de segurança, desde que não desloquem a competência ter- Se a impetração for dirigida a juizo incompetente, ou no decor-
ritorial do foro natural. 147 Assim, um Delegado de Polícia respondera rer do processo surgir fato ou situação jurídica que altere a competên-
sempre na comarca em que atua, como um Secretário de Estado ou o cia julgadora, o Magistrado ou o Tribunal devera remeter o processo
Prefeito da Capital sera chamado necessariamente no foro da Capital ao juízo competente. 151
perante o juízo a que originariamente couber a impetração (Vara ou
A íntervenção da União, do Estado ou de suas autarquias no
Tribunal, conforme a organízação judiciária de cada Estado).
feito desloca a competência, respectivamente, para a Justiça Federal
Para a fixação do juízo competente em mandado de segurança, ou para a Vara privativa estadual. Mas para essa deslocação de com-
não interessa a natureza do ato impugnado; o que importa tO a sede petência hã de ocorrer interesse direto e jurídico do interveniente, e
da autoridade coatora e sua categoria funcional, reconhecida nas nor-
mas de organização judiciária pertinentes. 14'.14" Excepcionalmente, hunal de JuslIça (CComp n. 38.190-MG, Rei. Min. Ari Pargendler, DJU 19.5.2003,
p. 120). Ajurísprudêncla do STF e no mesmo sentido (BD no MS n. 25.087-9-SP,
147. STF, RDA 561296, RT2831825; TFR, RDA 591321; TJPR, RT 2481571; ReI. Min. Carlos Ayres Bntto. RePro 149/213). Sendo o ato Impetrado praticado por
TJRJ, RT 3041796; TJSP, RT 2771214,2971358; TASP, RT 2351386,2921475, juiz federal no exercício das atribUições de Juízado Especial Federal, a competênCia
" ' , 3141513; v. SÚInula n. 206 do STJ. para o julgamento é da respectiva Turma Recursal Federal. e não do TRF (STJ, REsp
--..::, 148. STF, RTJ92f931; TlSP, RJTJSP 421243. n. 690.553-RS, ReI. Min. Gílson'Ljipp,1:lJU-25.4.2005: RMS n. 16.124-RS, ReL
Em caso de impetração de mandado de segurança por autarquia federal contra Min. Félix Fischer, DJU 20.3.2006); a matéria também foi apreciada pela Turma
ato de juiz de direito estadual de prímeU"a ínstância. o Plenário do STF entendeu, por Nacional de Uniformização das Decisões das Turmas Recursals dos JUtzados Es-
maíana. que a competência para o julgamento era do TRF. A conclusão decorreu da peCIais FederaIS (proc. n. 2005.71.95.019553-6, Rei. JUIZ Federal Marcos Roberto
conjugação da norma COnstItuCIOnal que define a competência da Justiça Federal (CF. Araújo dos Santos, DJU 4.4.2008). Esta competência traz repercussões para efeitos
n
art. 109. com o principio processual da hierarquia (RE D. 176.881-9~RS, ReI. desig. de cabimento de recursos aos Tribunais Superiores, pOIS o STJ não vem admitindo
Min. !lmar Gaivão. DJU 6.3.98. integra do acórdão disponível na Internet. W1Vlv.Sif. recurso especial ou ordinário contra decisão de Turma Recursal (v. n. 17, adiante,
gov.brl. Na mesma linha: TRF-l' Região, MS n. 450,337-DF, ReI. Juiz Aloisio Pal- sobre Recursos).
melrn Lima. DJU21.8.2000, p. 3; TRF-5' Região, MS n. 50.934-PE, ReI. JuizAraken A Corte EspectaI do STJ, no entanto. por maioria. admitIu a impetração de
MarIZ, DJU29.8.97, p. 69.193. mandado de segurança perante o Tribunal de Justiça do Estado contra decisão
Em sentido oposto. a Iii Seção do STJ decidiu que o mandado de segurança im- de Juízado Especial Cível quando estava em questão o controle da competêncIa do
petrado pelo INSS contra juiz estadual deveria ser julgado pelo respectivo Tribunal de Juizado, e não o mérito de uma decisão. Afirmou o STJ que, embora não se admita
Justiça estadual, apesar de, naquela hipótese, o magístraclo lmpetrado estar no exer- a interferência da JustIça Comum no menta dos julgados dos Juizados EspeCiais. a
cício de competência delegada federal e de a impetrante ser uma autarquia federal autonomia destes últimos não pode prevalecer de modo absoluto quando se tratar de
(CComp n. 30.ot8-MA, ReI. Min. Mílton LUlz Pereíra, DJU 17.6.2002, p. 182). A 2' decisão acerca de sua propna competência para conhecer das causas que Ibes são
Seção do STJ tambem decidiu pela competêncía do Tribunal de Justiça estadual para submetidas. Nessa linha, é possível a Illlpetração do mandado de segurança junto ao
julgar mandado de segurança ímpetrado pela CEF contra ato de juiz estadual (CComp Tribunal de Justiça exatamente para o exerci'clO de tal controle (RMS n. 17.524-BA,
n. 3L210-SC, ReI. Min. Castro Filho. DJU 26.4.2004). Em julgados postenores, Rela. Min. Nancy Andrighi. DJU 11.9.2006). Em tais casos, o mandado de segurança
porém. o STJ aplicou o precedente do STF e reconheceu a competência do TRF para deve se dingtr ao tribunal ao qual está vinculado o juizo que praticou o ato reputado
julgar mandado de segurança ímpetrado por empresa pública federal contra ato pra- lesivo; se o ato foi praticado por Juizado EspeCIal Estadual, é o Tribunal de Justiça
ticado por juiz estadual (RMS n. 18.l72-SP, ReI. Min. Teori Albino Zavascki, DJU do respectIvo Estado que deve julgar a impetração. ainda que a matéria envolva a
4.10.2004; RMS n. 18.198-SPe 18.200-BA, ambos ReL Min. Francisco Falcão,DJU alegação de eventual competência da Justiça Federal (STJ, RMS n. 24.014-MG. Rela.
1.7.2005: CComp n. 46.512-RN. Rela. Min. Denise Arruda. DJU 5.9.2005; CComp Min. Nancy Andrlghi. DJU 10.3.2008).
n. 45.709-SP. ReI. Min. Luiz Fux,DJU 18.9.20061. 150. O art. 211 da Lei n. 1.533 tinha disposição idêntica, mas se referia tão so-
No TRF-311 Região, afinnando a competência do TJSP para julgar mandado de mente à União e às entidades autárquicas. O novo texto foi mais amplo. abrangendo
segurança ímpetrado contra ato de juiz estadual mesmo sendo a matéria afeta â Jus- também. além das autarquias, as demais entidades controladas pela União (como as
tiçaFederaJ: MS n. 98.03.024818-9-SP, ReL Des. Fer!. ManoelAlvarez, RT817140L empresas públicas e as socíedades de economia mista).
149. A 211 Seção do STJ decidiu que a competência para julgar mandado de 15!. STF, Pleno, AO n. 1.137-0-DFIAgRg, ReI. Min. Cézar reluso, RT
segurança contra ato de Juizado Especial Cível ê da Turma Recursal, e não do Tri- 8421105.
80 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 81

não apenas interesse indireto, fático ou circunstancial no desfecho Nem mesmo a Súmula n. 556 do STF autoriza a deslocação
da demanda. do mandado de segurança para Varas Cíveis, da JuslIça ordinária
Estadual, pOiS que essa Súmula só contempla os litígios de Direito
Varas privativas - Nas comarcas em que haja Varas privativas privado, em que as entidades paraestatais (empresas públicas e so-
das Fazendas Públicas o juizo competente para mandado de seguran- ciedades de economia mista) discutam questões decorrentes de atas
ça será sempre o dessas Varas, conforme o ato impugnado provenha negociais, e não de atas administrativos resultantes de suas funções
de autoridade federal, estadual ou municipal, ou de seus delegados, delegadas, assemelhadas às de concessionários de serviços públicos.
por outorga legal, concessão ou permissão administrativa. O que não E assim é porque, no primeiro caso, aquelas entidades aluam como
se concebe é que, havendo juizos especializados, possam as Varas partíclIlares, e, no segundo, seus dirigentes agem como alltoridades.
Cíveis comuns conhecer e decidir mandados de segurança contra Observamos, finalmente, que, com impropriedade, se têm de-
atas de autoridade ou de delegados do Poder Público, visto que a nominado de mandado de segurança "crimmal", "eleitoral", "traba-
competência dos juizes cíveis é unicamente para solucionar questões lhista". os que são impetrados perante essas Justiças. Há manifesto
de Direito Privado entre particulares, e não de Direito Público, entre equívoco nessas denominações, pois todo mandado de segurança é
os administrados e a Administração.lS2-1S3-154 ação civil, regida sempre pelas mesmas normas da Lei n. 12.016/09
e do Código de Processo Civil, qualquer que seja o JUizo competente
152. Nesse sentido decidiu o então Presidente do TJSP, Des. Young da Costa
para julgá-lo. Para fins de segurança não importa a origem do ato im-
Manso, em fundamentado despacho de suspensão de liminar (proe. 169-0), no qual
conclUIu que "a mleml deveria ter sido distribuída li Justiça Federal (por se tratar de pugnado, nem a natureza das funções da autoridade coatora, visto que
ato de delegado federal), e nunca a um dos Juizos CíveIS da comarca de São Paulo. todos se sujeitam ao preceito nIvelador do inc. LXIX do art. 5º da CF.
que têm çompetênc18 exclusiva para o exame e julgamento de causas de ínteresse
privado" (DJE 3.4.80, p. 10). Este despacho roí suscitado por petição do Prof. Ar- ~--.
noldo Wald. que demonstrou a incompetência da Vara Cível perante a qual estava 11. Petição inicial e notificação
sendo processado mandado de segurança contra ato de um dingente de sociedade de
economia mista federal. atuando por delegação da União. A petição inicial de mandado de segurança deverá indicar a
153. A Constiruíção de 1988 definiu a competência da Justiça Federal ratione autoridade coatora e a pessoa jurídica que integra ou à qual está vin-
personae no inCISO I do art. 109, ali incluíndo a União, as autarquias e as empresas
públicas federais. Como as sociedades de economia mista não são referidas no do pelo administrador de sociedade de economia mIsta ê de gestão. não tendo ocorri-
dispositivo constttucional. a competêncIa para julgamento de eventual mandado de do delegação do Poder Público. descabe o mandado de segurança, por mexisttr ato de
segurança contra atas de seus dirigentes será da Justiça Comum Estadual. mesmo que autoridade, conforme o art. ln, § 2.0., da Lei n. 12.016109. Mantemos, pOIS, o mesmo
a União seja a controladora. a não ser que exerçam competência delegada Como já entendimento referido na nota anterior, considerando que ou o ato e, de autoridade
exposto anteriormente, parece-nos, em principio, que esse entendimento se mantém, federal, estadual ou munICipal, ensejando a competência. respectivamente, da Justiça
porquanto se trata de norma constitucional, mesmo diante da redação do art. 2S1 da LeI Federal ou das Varas da Fazenda Pública Estadual ou Muntclpal da Justiça Estadual,
n. 12.016/09. que outorga à Justiça Federal a competência parajulgaros mandados de ou não hli ato de autoridade e descabe o mandado de segurança Cabe salientar, aliás,
segurança impetrados contra atas cUJos efeitos patnrnomals tenham de ser suportados Que as decisões do STJ não examinaram, nos casos acima citados, o cabImento do
por entidades controladas peia União, em cUJo gênero se íncluinam as sociedades mandado, mas tão-somente a competênCia para o seu julgamento.
de economia mista. Recorde-se que a antiga Lei n. 1.533/51. em seu art. 2.0., aludia Haveci sítuações, entretanto, a serem interpretadas restritivamente. em que
tão-somente às entidades autàrqulcasfederalS. o ato de dingente de sociedade de economia mista poderâ ser objeto de ataque por
Com relação à Rede Ferroviária Federal, v. CComp n. 17.441-RJ. STJ. ReL meio de mandado de segurança, quando ficar caracterizada a delegação do Poder
Min. César Asfor Rocha, DJU 17.3.97, p. 7.425. No menCIOnado caso, o STJ Público. li o caso, freqUentemente, de atos praticados no âmbito de privatizações de
entendeu ser competente o Juiz da Iii Vara da Fazenda Pública do Rio de Janeiro. sociedades de economia mista., que expressam deCIsões de caráter eminentemente
Tese análoga foi abraçada pelo STF nos CComp de 05. 0013705-MA, DJU28.8.95, governamental.
0004846-RS. DJU 16.8.93. e 0016544-MG, DJU 5.8.96, com base nas Súmulas ns. 154. O STJ vem decidindo que a competência das varas privativas. porem,
42, do STJ, e 251, 517 e 556, do STF. dependem da competência territorial para o julgamento. Neste sentido, foí editada a
Outras decisões salientam que, quando se trata de mandado de segurança contra Súmula n. 206. A existênCia de vara pnvativa só desloca a competência no mesmo
ato de dirigente de pessoa jurídica de direito privado praticado no exercíCIO de-dele- território, não tendo força para atrair processos CUjas competências temtonats sejam
gação do Poder Público Federal, a competência e da Justiça Federal. Se o ato pratica- de outras comarcas.
82 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 83

culada. Além de atender às exigências do art. 282 do CPC, deve ser a remeter cópia autenticada do mandado para o ministério ou órgão
apresentada com cópias de seu texto e de todos os documentos que a a que se achem subordinadas e ao Advogado Geral da União, ou a
iostruem, para encaminhamento ao impetrado, juntamente com o ofi- quem tiver a representação judicial da União, Estado, Municipio
cio de notificação. Essas cópias dispensam autenticação notarial, mas ou entidade apresentada como coatora (art. 92 da Lei n. 12.016/09).
devem ser rubricadas pelo advogado do impetrante, que responderá A norma reflete medida de cautela do legislador, com o fim de garan-
pela sua exatidão. Havendo necessidade de documento em poder tir que os prejudicados tomem ciência da decisão e possam exercer
do impetrado ou de repartição pública que o sonegue, o impetrante prontamente sua defesa.
, i( poderá pedir ao juiz que o requisite no origioal ou por cértidão, para A notificação de litísconsortes passivos deverá ser feita tambem
completar a iostrução do processo. 155 por oficio, a ser entregue por oficial de justiça nos limites ~erritoriais
~ Deferindo a inicial, o juiz ordenará a notificação pessoal do da comarca. Se residentes fora da comarca, o oficio deverá ser envia-
/ impetrado, o que e feito por oficio acompanhado das cópias da inicial do por via postal com aviso de recebimento, conforme determinação
e documentos, com a fixação do prazo de dez dias para prestação expressa da Lei n. 12.016/09. O que não se concebe é a expedição
das informações. No mesmo despacho, determinará que seja dada de precatória, por incompatível com a celeridade do processo do
ciência do feito ao órgão de representação Judicial da pessoa jurídica mandamus. E o que se recomenda na doutrina 158 e tem sido feito na
interessada e a intimação dos interessados que devam integrar a lide prática forense. I5• L:::::..
e se manifestará sobre a medida liminar, se pedida pelo impetrante. A Lei n. 8.710/93 alterou a sistemática do Código de Processo
A notificação do impetrado (coator), da pessoa jurídica e dos demais Civil em matéria de citações e intimações. De acordo com a atual
interessadosI 56 (litisconsortes passivos necessários) equivale à cita- redação do art. 222 do CPC, a regra geral e a da citação pelo correio,
ção, pois dela fluirá o decêndio para as informações e ingresso na perfeitamente aplicável ao rito célere do mandado de segurança.
causa. I57 Em caso de deferimento da liminar, as autoridades admi- O novo parágrafo tinico do art. 154 do CPC, introduzido pela Lei
nistrativas estão obrigadas, no prazo de 48 horas de sua notificação, n. 11.280/06, por sua vez, autoriza os Tribunais, no âmbito de suas
respectivas jurisdições, a disciplinar "a prática e a comunicação
155. Preceitua a Lei n. 12.016/09. art. 62: "A petição iniCIal. que deverá preen- oficial dos atos processuais por ineios eletrônicos", Esta utilização
cheros requisItos estabelecidos pela leí processual. sem apresentada em 2 (duas) vias prática das facilidades da informática poderá ser muito mteressante
com os documentos que instruírem a primerra reproduzidos na segunda e indicam. e agilizar ainda mais a realização das notificações e intimações, im-
além da autoridade coatora. a pessoa Jurídica que esta integra, aqual se acha vincu- primindo maior rapidez ao andamento do mandado de segurança. I60
lada ou da qual exerce atribuíções. § lll. No caso- em que o documento oecessàrio â
prova do alegado se ache em repartIção ou estabelecimento público ou em poder de Aliàs, a Lei n. 12.016/09 admite amplamente o uso de meios eletrô-
autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro. o juiz ordenará. nicos, que deverão obedecer as regras da Infra-Estrutura de Chaves
preliminarmente, por oficío. a exibição desse documento em onginal ou em cópia Públicas Brasileira (ICP). A inicial quando requerida por fax ou
autêntica e marcam, para o cumprimento da ordem. o prazo de 10 (dez) dias. O escri-
vão extrami copias do documento para juntá-las â segunda via da petIÇão. § 211• Se a
outros meios eletrônicos deverá ter o seu texto origioal apresentado
autoridade que tiver procedido dessa maneIra for a própria coatora. a ordem far-se-à nos cinco dias subseqüentes (ar!. 4", § 22 ). O juiz também poderà
00 próprio instrumento da notificação". notificar a autoridade por meios eletrônicos, desde que assegurada
156. Art. 711 da Lei o. 12.016/09: "Ao despachar a imcíal. o juiz ordenará: a autenticidade do documento (art. 4", § 22 ). Note-se que, embora a
I - que se notifique o coator do conteudo da petição micíal. enviando-lhe a segunda Lei n. 11.419/06, que regulamenta o processo eletrônico, não exija
via apresentada com as cópias dos documentos. a fim de que. no prazo de 10 (dez)
dias, preste as informações; II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação
judicíal da pessoa jurídica ínteressada. envíando-lhe cópia da imcial sem documentos. 158. Celso Agricola Barbi, Do Mandado de Segurança, 3i1. ed.. Forense, p. 222.
'Para que, querendo, ingresse no feito; (...)", 159. Despacho do Des. Adriano Marrey, na Vice-Presidência do TJSP, nos MS
157. Não se arlmíte o aditamento â. petição ínicial depois de fixados os pontos os. 273.709-SP e 280.739-SP.
controvertidos do processo. uma vez notificada a autoridade coatora e prestadas as 160. Ampliando 2. possibilidade de utilização de melaS eletrôrucos no processo
informações (STJ, MS n. 4.196-DF, ReI. Min. Félix Fischer, DJU 17.8.98, p. 14). judicial em geral, em dezembro/2006 foi editada a Lei n. 11.419.
84 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 85

apresentação do original impresso, prevalece a legislação específica agravo ao colegiada (art. lO, § I", da Lei 12.016/09), como, aliás, já
do mandado de segurança. 161 decidiu o STJ,163
As íotimações aos advogados das partes serão feitas por pu- Anteriormente, o despacho de indeferimento da inicial, por
blicações no órgão oficial, na forma comum, mas a notificação do não adentrar o mérito da segurança, se confIrmado em apelação, ou
julgado, para ser cumprido pelo impetrado, deve ser feita direta e proferido em acórdão originário, não ensejava recurso ordinário ou
pessoalmente ao coator, por oficio do juiz, com ordem judicial. extraordinário. Este entendimento, todavia, foi superado com o ad-
~> Quanto ao Míoistério Público, receberá os autos após o prazo vento da Constituição Federal de 1988, que não restringe os recursos
para as informações, para manifestar-se dentro do prazo impror- extraordinãrios à decisão de mêríto. l64
rogável de dez dias (ar!. 12, capul, e paragrafo único, da Lei n. Apenas do acórdão no agravo "regimental" é que a parte poderá
12.016/09). eventualmente interpor o recurso ordinãrio para o STJ,165 que so-
Se na inicial houver pedido de requisição de documentos, e for mente é cabível contra decisão colegiada. l66 Se o mandado de segu-
caso de deferimento, o juiz ordenará, preliminarmente, a exibição rança for de competência origíoãria de Tribunal Superior, o recurso
dos originais ou o fornecimento de certidões ou de cópias autentica- cabível será o ordíoário para o STF (CF, art. 102, II, "a").
das, dentro de dez dias, e, após sua apresentação, ordenara a notifi-
cação e as íotimações devidas; se os documentos estiverem em poder ':0 12, Liminar
do próprio coator, a requisição será feita com a notificação (art. 6",
§§ 12 e 22 , da Lei n. 12.016/09). A medida liminar é provimento cautelar admitido pela própria
Indeferindo a inicial, por não ser caso de mandado de segu- lei de mandado de segurança "quando houver fundamento relevante
rança, por falha insuprível de requisitos processuais, ou quando e do ato impugnado puder resultar a íoeficácia da medida, caso seja
decorrido o prazo legal para impetração, os autos serão arquivados, finalmente deferida" (art. 72 , III, da Lei 12.016/09). Para a conces-
se desse despacho não for interposta apelação (art. 10, § 10, da Lei
12.016/09). Pela nova sistemática do Código de Processo Civil, o 163. RMS n. 1.292-RJ, ReI. Min. Waldemar ZveIter, RT685/183; RMS n.
juiz deverá, primeiro, mandar suprir as falhas da íoicial, no prazo 6.740-RJ, Rei. Min. Cid Flaquer Scartezzini, DJU29.9.97, p. 48.239.
de dez dias, e só após a omissão da parte é que proferirá o despacho 164. A mícíai do mandado de segurança não pode ser liminarmente indeferida
íodeferitório (CPC, ar!. 284, parágrafo único). Essa oportunidade por razões de mento (STJ, RMS n. 4.618-MS, ReI. Min. Félix Fischer, DJU5.5.97,
p. 17.602; RMS n. 12.532-DF, ReI. Min. Millon LUIZ PereIra, DJU23.9.2002, p.
de correção da íoicial se nos antolha de íoteira aplicação ao pro- 224), especialmente antes da instauração da relação processual, com a notificação da
cedimento do mandado de segurança, para economia e celeridade autoridade coatora e a intimação do Mínístério Público (TJPR, ApCiv n. 34.768-2.
processuais na impetração. 162 ReI. Des. Altarr PalimccI, ADV 1997, p. 739, ementa 80.658).
O art. 285-A do CPC, introduzido pela LeI n. 11.277/2006, diSCIplina que,
Se o mandado de segurança for da competência originária de "quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no JUízo já houver sido
tribunal, e o relator indeferir a inicial monocraticamente, cabera proferida sentença de total Improcedência em outros casos idênticos. poderá ser
~nsada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor. da anteriormente
161. Também a Resoiução n. 350. de 29.112007. do STF. no art 40, dispõe que ?rolatãdâ», ·Cnou=se. assím. uma hipótese de "indefenmento da InICial" de plano.
a apresentação de petição eletrâmca com certificação digitai dispensa a apresentação com apreCiação do merito da demanda. antes inexistente no sistema processual brasi-
postenor dos origínals. leIrO. É de se esperar que esse dispositivo legal passe a ser empregado pelos juizes e
162. Em consonância com o entendimento de Hely Lopes Meirelles. admi- TribunaIS pátrios em casos de mandados de segurança repetitIvos.
tindo a detenmnação de emenda de imcIai de mandado de segurança: STJ, REsp n. 165. CF, art 105,11, "b"; RMS n. 7274-AM, ReI. Min. SálvlO de Figueiredo
38.957-RS, ReI. Min. Ari Pargendler, ADV 1997, p. 388, ementa 78.766 e REsp n. Teixeira, DJU 5.5.97, p. 17.053; RMS n. 7.824-RS, Rei. Min. Waldemar Zvelter,
94.503, ReI. Min. Ari Pargendler, DJU25.5.98, p. 79. Caso a lnícial do mandado de DJU 9.6.97, p. 25.532; RMS n. 6.477-RO, ReI. Min. Cid Flnquer Scartezzini, DJU
segurança esteja endereçada a órgão Judicial incompetente, cabe a remessa dos autos 17.11.97, p. 59.559.
ao JUizo competente. e não a extinção do feito (STF. Pleno, AOr n. L137-0.DF/AgRg, 1.66. "Da decisão singular do relator não cabe recurso ordinário para o STr'
ReI. Min. Cézar Peluso, RT 842/105). (RMS n. 15.805-SC, ReI. Min. Fontes de Alencar, DJU 9.6.2003, p. 306).
86 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 87

são da liminar, devem concorrer os dois requisitos legais, ou seja, da liminar do depósito do valor do tributo controvertido. Como o
a relevância dos motivos em que se assenta o pedido na inicial e a próprio Código Tributário Nacional, ao dispor sobre a suspensão
possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ao direito do impe- da exigibilidade do crédito tributário, trata em locais diversos do
trante se vier a ser reconhecido na decisão de mérito - fomus boni depósito do montante e da liminar em mandado de segurança (art.
jUriS e pericu{um in mora. 167 A medida liminar não é concedida como 151, II e IV), entendia-se que a liminar acrescida do depósito podia
antecipação dos efeitos da sentença final, é procedimento acautelador constituir uma dupla exigência, sem fundamento legal. Alegava-se
do possível direito do impetrante, justificado pela iminência de dano que, ao condicionar a concessão da medida liminar à realização do
irreversível de ordem patrimonial, funcional ou moral se mantido o depósito, o Juiz estava, na verdade, indeferindo a liminarpo O STJ
ato coator até a apreciação definitiva da causa. 168 Por isso mesmo, chegou a decidir que, presentes os pressupostos, o juiz ef!! obrigado
não importa prejulgamento, não afirroa direitos, nem nega poderes à a concedê-Ia, vedada a imposição de caução. 17 ! 1/
Administração. Preserva, apenas, o impetrante de lesão irreparável, . v
A Lei n. 12.016/09, em seu art. 7', mc. m, consignou expres-
, sustando provisoriamente os efeitos do ato impugnado. samente a possibilidade de condicionamento da liminar â prestação
~ Diante da reforma do Código de Processo Civil, que passou a de garantia, ao facultar ao juiz exigir do impetrante caução, fiança
admitir a figura da antecipação da tutela no procedimento ordinàrio ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa
(Lei n. 8.952/94, dando nova redação aosartS:27fe 461 doCPC), juridica interessada, Iitisconsorte passiva necessária.
manifestamo-nos no sentido de que caberia examinar se seria ou não
Embora teoricamente o reconhecimento de direito líquido e cer-
recomendável a atualização da legislação do mandado de segurança
para que passasse a contemplar, expressamente, uma medida liminar to não deva ser condicionado a uma contragarantia por parte do im-
não apenas cautelar, mas em determinadas sítuações também antecI- petrante, há casos nos quais tal procedimento se justifica no interesse
patória do provimento final. A Lei n. 12.016/09 a admitiu, ao proibir de ambas as partes, podendo o titular do direito lesado exercê-lo de
qu-éseja dada em
aeterrninadas hipóteses específicas. 169 imediato e tendo a autoridade uma garantia de pleno ressarcimento
no caso de modificação final da decisão proferida. Neste sentido,
A liminar não é uma liberalidade da Justiça; é medida acaute-
escrevemos na atualização da 16".edição deste livro, que "o condicio-
ladora do direito do impetrante, que não pode ser negada quando
ocorrem seus pressupostos, como também não deve ser concedida namento da concessão da liminar à prestação de garantia não nos pa-
quando ausentes os requisitos de sua admissibilidade. rece inconstitucional, embora, no passado, tenha havido decisão dos
Tribunais Superiores dispensando-a. Mas é preciso que o juiz tenha
Na vígência da Lei n. 1.533/51, tornou-se comum os juizes
um poder discricionário, ao fixar o montante e a forma da garantia, a
deferirem medida liminar em mandado de segurança admitindo a
prestação de caução, em que pese a inexistência de previsão legal
fim de não inviabilizar a utilização do recurso".
naquele diploma. Nos últimos tempos, a apresentação de caução Concebemos, pois, que se dê ao juiz. na matéria. uma faculdade
cresceu especialmente em matéria tributária, dependendo a eficácia que deverá exercer dentro dos critérios de razoabilidade e proporcio-

167. Como ocorre com todas as decísãesjudiciais, por exigência constitucíonal 170. STJ, EDREsp n. 107.450-MG, ReI. Min. Ari Pargendler, DJU 24.3.97.
(CF. art 93. IX), o deferimento da limmar deve ser fundamentado. não bastando a p.9.003.
mera afirmação genérica de estarem presentes seus requisitos, sob pena de nulidade: 171. RMS n. 273-SP, ReI. Min. Armando Rolemberg, DJU 5.11.90, p. 12.416;
STJ, RMS n. 25.462-RJ, Rela. Min. Nancy Andrighi, DJe 20.10.2008. RMS n. 360-SP, ReI. Min. Peçanl!a Martins, DJU23.9.91, p. 13.068; RMS n. 269-
168. TRF-3' Região. ApMS n. 97.03.024957-4-SP, Rela. Juiza Sylvi. Steiner, O-SP, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 22.11.93, p. 24.890; REsp n.
RT753/399. 73.394-MG, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros. DJU 18.12.95, p. 44.521; REsp
169. Art. 72 ) § SU. da Lei D. 12.016/09: "§ 511• As vedações relaCIonadas com a n. 83.893-MG, ReI. Min. José Delgado,DJU 15.4.96, p. 11.503; REsp n. 90.225-DF.
concessão de liminares prevIstas neste artigo se estendem a tutela antecipada a que ReI. Min. José Delgado, DJU 14.10.96, p. 38.946; RMS n. 448-0-SP. ReI. Min. César
se referem os arts. 273 e 461 da Lei n. 5.869, de 11 de Janeíro de 1973 - Código de Asfor Rocha. RSTJ 60/165; RMS n. 3.042-8-RJ, ReI. Min. Peçanha MartIns. RDR
Processo Civil". 2/184; REsp n. 47.818-SP, ReI. Min. Hélio Mosnnann, DJU 15.6.98. p. 99.

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88 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 89 " /
"r----

nalidade aos quais se refere a jurisprudência do Supremo Tribunal A mesma preocupação teve o legislador na edição da vIgente lei
Federal. discíplinadora do mandamus, ao estatuir a faculdade de o juiz exigtr
E interessante notar que. quando foi baíxada a Medida Provisó- garantia do impetrado.
ria n. 375. em 23.11.93 - que não se converteu em texto legislativo O juiz. desembargador ou ministro que conceder a liminar pode-
- previa no seu art. 52 que a decisão concessiva de medida liminar rá revogá-la a qualquer tempo. desde que verifique a desnecessidade
ou cautelar devia "estabelecer. quando necessário. como condição dessa medida. como poderá restabelecê-la se fatos superveruentes
da eficácia da concessão. a prestação de garantia acauteladora do indicarem sua conveniência. 174 Salvo se revogada ou cessada. seus
interesse exposto a risco", efeitos persistirão até prolação da sentença (art. 7". § 3". da Lei n.
Na ocasião. embora três dos ilustres Ministros do STF tenbam 12.016/09). '
entendido que a referida Medida Provisória era integralmente incons- Se e certo que a liminar não deve ser prodigalizada pelo Judiciá-
titucional, a maioria do Tribunal rejeitou a argüição de inconstitucio- rio, para não entravar a atividade normal da Adnunistração. tambem
nalidade em relação ao acima referido dispositivo legal. 172 não deve ser negada quando se verifiquem seus pressupostos legais.
---\ A matéria ensejou nova discussão em virtude da Medida Provi- para não se tomar inútil o pronunciamento final a favor do impetran-
sória n. 1.570. de 26.3.97. que no seu ar!. 22 acrescentou ao art. IQ da te. Casos há - e são freqüentes - em que o tardIO reconbeclmento
Lei n. 8.437. de 30.6.1992. um § 4". com a seguinte redação: "sem- do direito do postulante enseja seu total aniquilamento. Em tais
pre que houver possibilidade de a pessoa juridica de direito público hipóteses. a medida liminar impõe-se como providência de política
requerida vir a sofrer dano. em virtude da concessão da liminar, ou
de qualquer medida de caráter antecipatório. o juiz ou o relator deter-
judiciária. deixada à prudente discrição do juiz. !
A Lei n. 12.016109 proíbe a concessão de medida liminar "que
minará a prestação de garantia real ou fidejussória",
tenba por objeto a compensação de créditos tributários. a entrega de
O Supremo Tribunal Federal. apreciando aADIn n. 1.576. con- mercadorias e bens provenientes do exterior. a reclassificação ou
siderou inconstitucional o mencionado artigo. pela escassa maioria equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a
de seis votos contra cinco. tendo sido vencidos os Ministros Marco extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza" (art. 7°,
Aurélio. Nélson Jobim, Octávio Gallotti. Sydney Sanches e Moreira § 2°).
Alves. 173
A Súmula n. 212 do STJ. conforme a redação alterada pela I'
A maioria entendeu que a mencionada disposição inviabilizaria Seção do STJ. em 11.5.2005, já previa que a "compensação de crédi-
ou. ao menos. dificultaria o amplo acesso à Justiça. Comparando os tos tributários não pode ser deferida em ação cautelar ou por medida
dois textos - da MP n. 375 Gulgado constitucional) e da MP n. 1.570 liminar cautelar ou antecipatória" ,175
(considerado inconstitucional em medida liminar) - verifica-se que
a diferença básica consiste na retirada, pelo segundo. da liberdade
de apreciação do juiz quanto à necessidade e forma da contraga- 174. O STJ decidiu que a liminar deferida peto relator, e confirmada pelo cole-
giada em Julgamento de agravo regimental, não pode ser depOIS revogada em despa-
rantia a ser prestada. encontrando-se fórmula razoável e eqüitativa cho smgular do relator (REsp n. 126.261-PR, ReI. Min. Jose Arnaldo. DJU29.9.9_7.
(proporcional) de solução do conflito de interesse. atendendo-se às p. 48.280). Entendemos, entretanto, que deve ser ressalvada a hipótese de revogaçao
peculiaridades de cada caso concreto e admitindo-se eventualmente da Iimmar em VIrtude de fato supervemente, não aprecmdo pelo coleglado quando do
o depósito da quantia em litígio quando for o caso, como ocorre es- julgamento do agravo regimental, Situação na qual o relator não estará se sobrepondo
ao entendimento da maioria.
pecialmente na área fiscal. 175. Com aLeí Complementarn. 104, de 10.01.2001, Introduziu-se no Código
Tributáno NaCIonal o art. 170-A. que desautonza a compensação antes do trânSIto
172. O acórdão do STF fOI publicado no DJU20.6.97, p. 28.467 (ADIn n. 975- em Julgado da decisão. Houve quem se insurgisse contra o dispositivo, alegando que
3-DF. ReI. Min. Carlos Velloso I. seria InconstitucIonal. mas a norma não foi objeto de declaração de InconstItuClQ-
173. DJU de 6.6.2003, p. 29 e InfonnatIVo STF 67/1. nalidade pelo STF. O STJ, ao alterar a redação da Súmuta n. 212, em 2005, teve a

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90 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 91
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~ A vedação à concessão de liminar que vise a obter liberação de poder-se-ia cogitar de eventual inconstitucionalidade dessas restri-
mercadorias e bens de procedência estrangeira já existia na legislação ções, considerando que desigualariam os impetrantes no mandado de
anterior (Lei n. 2.770, de 4.5.56). Tem-se entendido, entretanto, que segurança, em detrimento do servidor público, quando a Constituição
essa vedação só se refere a produtos de contrabando, e não aos bens da República não faz essa distinção ao instituir o mandamus. A Lei
importados ou trazidos para o Pais como bagagem sobre os quais as n. 12.016/09, todavia, tratou simplesmente de incorporar ao texto
autoridades passem a fazer exigências ilegais ou abusivas para seu norma legal já existente, que não foi objeto de declaração de incons-
desembaraço. tituCIOnalidade e sempre foi aplicada pela Justiça.
Os preceitos referentes aos funcionários (cuja proibição já cons- ALei n. 4.862, de 29.11.65, em seu art. 51, revogou o art. 39 da
tava das Leis 4.348, de 26.6.94 e 5.021, de 9.6.66, ambas revogadas Lei n. 4.357, de 16.7.64, que proibia liminar em maléríafiscal contra
pelo art. 29 da Lei n. 12.016/09) são extensivos aos servidores de a Fazenda Nacional, passando a admiti-Ia, pelo tempo limitado de
todas as entidades estatais e suas autarquias, dada a generalidade da sessenta dias. Com a Lei n. 12.016/09, essa proibição deixou de exis-
norma. 176-177 De acordo com o ar!. 14 da Lei n. 12.016/09, os recur- tir, ressalvados os casos de compensação em relação aos quais, como
sos de oficio ou voluntários, em tais casos, terão efeito suspensivo. visto, não é admitida a concessão da liminar.
A Lei n. 12.016109 não fixa prazo de vigência para a medida
oportunidade de ratificar o entendimento de que não cabe concessão de liminar para liminar, que se manterá em vigor até a prolação da sentença, salvo se
compensação de crédito tributâno.
revogada ou cassada (ar!. 7Q , § 3Q ). Estabelece ainda, no art. 7Q , § 4",
176. A Lei n. 8.076. de 23.8.90, proibiu as liminares contra a maíoría das leis
que constituíram o Plano Collor. que, deferida a liminar, o processo terá prioridade para julgamento.
177.A Lei n. 8.437. de 30.6.92 que dispõe sobre a concessão de medidas cau- Recorde-se. neste passo, que antenonnente a regra estabelecida
telares contra atos do Poder Público. transcrita no Apêndice, determina no seu art. para a subsistência da medida liminar era de noventa dias, contados
111, § 311.; «Não será cabível medida liminar que esgote, no todo ou em parte, o objeto da data da respectiva concessão, prorrogáveis por mais trinta dias,
da ação", Como o caput do artigo se refere ao procedimento cautelar e às ações de
natureza cautelar ou preventiva. entendemos que a regra não se aplica ao mandado quando o juíz justificasse o acúmulo de serviço impeditivo do julga-
de segurança, pelo fato de o legislador a ele não se referir expressamente, como o fez mento de mérito neste prazo (art.l o, "b", da Lei n. 4.348/64, revoga-
em vários outros artigos da mesma lei, e aínda em virtude da natureza específica que da pelo art. 29 da Lei n. 12.016109). De qualquer modo, entendia-se
o mstituto tem no Direíto brasileiro. Neste sentido, hã decisão da lã Seção do STJ: que apenas o transcurso do prazo da liminar era Incapaz de acarretar
AgRgMS n. 8.l30-DF, ReI. Min. LUlz Fux, DJU3.6.2002, p. 139. No atua! sistema
constItucional brasileiro. no qual o amplo acesso à Justiça e o devido processo legal automaticamente a sua extinção, sendo necessário que o juiz decla-
são reconhecidos como direItos e garantias fundamentais, parte da doutrina tem rasse a cessação de seus efeitos, pois poderiam ocorrer situações
entendido que a proibição de concessão de medidas liminares e de constitucíona- excepcionais que justificassem sua subsistência por maístempo.'7 8
lidade no mínimo duvidosa (J. E. Carreira Alvun, "Medidas limmares e elementos
co-naturais do sistema de tutela jurídica", RT734/66). Pensamos que cabe aplicar. no
caso, o critério da razoabilidade, podendo o legislador fixar certas diretrizes para o no Código de Processo Civil as mesmas restrições existentes para o mandado de
magIstrado. como, aliás. tem entendido o STF. Neste sentido. a Exposição de Motivos segurança.
da Medida Provisória n. 1.570. do então Ministro da Justiça Nélson Jobim. e poste- "Tal como anotado l'elo Ministro Sepúlveda Pertence, 'essa últIma lei tradUZIU
riormente integrante STF, salienta que: resposta amanifestação daquele entusiasmado e bem intencIonado abuso da cauteiar
"Há muito vem o Judiciãrio, por intermédio do Supremo Tribunal Federal. inommada ( ... ) que vmha provocando um fenômeno lDUSltado na prática brasileira. a
reconhecendo a legitunidade de limitações ou condicionamentos ao poder geral de ruga do mandado de segurança para a ação cautelar mommada, porque. em relação a
cautela dos juízes. As Leis ns. 2.770, de 1956,4.348, de 1964, e a Lei n. 5.021, de esta. não vigoravam as vedações e limitações antecedentes do mandado de seguran-
1966. estabeleceram condicIonamentos expressos â liberação de bens importados e ça, nem mesmo a suspensão de liminar ou da sentença pelo Presidente do Tribunal
à concessão de vantagens pecuniárias. ã reclassificação ou à concessão de aumentos competente para o recurso' (ADIn 223, Relator Ministro Sepúlveda Pertence. RTJ
de serviços mediante decísão liminar em mandado de segurança. Tal como anotou o 132, p. 571 (587)."
Ministro Sepúlveda Pertence. tais precedentes não sofreram resístências quanto a sua 178. O Orgão Especial do TJRJ decidiu que a persistência da liminar após o
constltuclonalidade (ADIn 233, RTJ 132, p. 581 (586). Já sob o impéno da Consti- decurso·do prazo da Lei n. 4.348/64 era matéria de discncionariedade do magistrado,
tuição de 1988, a Leí n. 7.969, de 1989. estendeu às medidas cautelares disciplinadas em face do poder geral de cautela, recomendando-se a sua manutenção se SUbslStts-
92 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 93

A revogada Lei n. 4.348/64, no seu art. 2~, já estabelecia as conceder quanto da que denegar a liminar. Já nos casos de competên-
condições para decretação da caducidade da medida liminar, as quais cia originária dos tribunais, caberá agravo ao órgão competente do
foram mantidas no art. 82 da Lei n. 12.016/09: "será decretada a tribunal que integre, contra a decisão do relator que a concede ou a
perempção ou caducidade da medida liminar ex officio ou a requeri- denega (art. 16, parágrafo único l. Em caso de concessão da liminar.
mento do Ministério Público quando, concedida a medida, o impe- esta poderá ser cassada a qualquer tempo pelo Presidente do Tribu-
trante criar obstáculo ao normal andamento do processo ou deixar de nal competente para o recurso, desde que solicitado pela entidade
promover, por mais de 3 (três) dias úteis, os atos e as dílígências que interessada e ocorram seus pressupostos legais. 180 Desta cassação do
lhe cumprirem", Presidente cabe agravo regimental, sem efeito suspensivo, a ser in-
Na vigência da Lei n. 1.533/51, considerava-se irrecorrivel o terposto no prazo de cinco dias, para o Tribunal por ele pr~sidido.181
despacho que negasse a liminar. 179 Hoje, por força do art. 7~, § 1~, da Muito se discutiu acerca da persistência da medida liminar após
Lei n. 12.016/09, cabe agravo de instrumento tanto da decisão que a sentença denegatória do mandado. De início, os tribunais sustenta-
ram indiscriminadamente sua subsistência enquanto não transitasse
sem os motIvos que haviam ensejado a própria concessão da medida (AgRgMS D. em julgado a rejeição do mandamus,182 mas a jurisprudência mais
277/96, ReI. Des. Antômo Lindberg Montenegro, RDTJRJ35/130). recente do STF passou a considerar cessados seus efeitos com a sen-
179. Ajurisprudêncía predominante era no sentido de que. em mandado de
segurança oríginârio de tribunal, o despacho do relator que deferisse ou denegasse a
tença de denegação (STF, Súmula n. 405).183
medida liminar era ato sujeIto ao prudente arbftrio do juízo Vários regimentos inter-
nos de tribunais dispõem. inclusive. expressamente sobre o descabimento de agravo 180. Acórdão da Corte Especial do STJ admitiu que, concedida a limmar por
regImentai, sendo certo que deverão ser agora adaptados à LeI D. 12.016/09. O linico membro do TRF, o cabimento do pedido de suspensão da limmar ao Presidente do
recurso cabível seria, apenas no caso de concessão. a cassação ou suspensão pelo STJ. fundado na possibilidade de grave lesão ã ordem, ã saúde, ã segunUlça e à eco-
Presidente do Tribunal competente para o recurso. A favor desta irrecorribilidade, no nomia públicas, não afasta, no âmbito local. o cabimento de agravo regimental para
STF:AgRgMS n. 21.684-1-RO, ReI. Min. Sydney Sanches. DJU24.9.93, p. 19.575; apreciação de eventuais vicias na decisão. error in procedendo ou error in judicando
AgRgMS n. 21.21I-0-DF, ReI. Min. Sydney Sanches, RT687/212; TJSP, AgRgMS (AgRgPet n. 1.018-PR, ReI. Min. Antômo de Pádua Ribeiro, RSTJ 118117). Como v,s-
n. 11.975-0/6-01, ReI. Des. Odyr Porto, RT663/69; TJRJ, MS n. 776/93. ReI. Des. to, o entendimento foí mantido na LeI n. 12.016/09. que prevê ambas as possibilidades.
Paulo Sérgio Fabião, RDR 2/265. O STF decidiu, porém, que o pedido de suspensão de liminar deferida mono-
Considerando ser irrecorrivel o despacho denegatóno da liminar em mandado eraticamente por relator em Tribunal de segundo grau não depende do esgotamento
de segurança. o STJ já admitiu a impetração de outra ação de segurança diretamente da jurisdição no Tribunal de origem, com a prévia mterposIção do agravo regImental
contra a referida deCisão (R1v1S n. I I.115-SP. ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, no âmbito local. podendo ser encamínhado diretamente ao Presidente do Tribunal
DJU29.5.2000, p. 1I7). Superior para o qual caiba o futuro recurso (AgRgPet n. 2.455-PA, ReI. pi o acordão
Na doutrina, porém, já havia vozes discordantes. com argumentos de peso. e Min. Gilrnar Mendes. Informativo STF 300/1).
especialmente com exemplos nos quais a parte fica irremediavelmente prejudicada 181. Lei 12.016109, art. 15: "Quando. a requerimento de pessoajuridica de di-
pela ímpossibilidade de recurso. Neste sentido. por exemplo, um curto e objetivo reito público interessada ou do Ministéno Público e para eVItar grave lesão á ordem,
artigo do Min. Miguel Ferrante. "DeCIsão denegatória de liminar em mandado de â saude. asegurança e aeconomia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber
segurança. Recorribilidade", RF 305/341. Admitindo a interposíção de agravo regi- o conhecimento do respectlvo recurso suspender, em deCisão fundamentada. a exe-
mental contra o despacho do relator que indefere a medida liminar, houve também cução da liminar e da sentença, dessa decisão caberâ agravo, sem efeito suspensivo,
acórdão da I' Seção do STJ: AgRgMS n. 4.646-DF, ReI. Min. Adbemar Maclel. DJU no prazo de 5 (cinco) dias, que serâ levado a julgamento na sessão seguinte à sua
1.12.97, p. 62.657. mterposição" ,
Não obstante, o STF acabou por editar a Súmula n. 622. no sentido do desca- 182. STF,AJ 120/90. RT236/302; TJRS. RJ53/118; TJSP, RT227/148. A favor
bimento de agravo regimental contra decísão do relator - em casos de competênCIa dessa onentação, Y.: Alcides de Mendonça Lima, "Efeitos do agravo de peti1~0 no
originária de Tribunai, portanto - que concede ou indefere limmar em mandado de despacho conceSSIVO de medida limmar em mandado de segurança", RF 178/4 ; RJ
segurança. Hoje. a referida sUmula está superada, em face do disposto no art. 16, 28171, RT272/22. Contra: Seabra Fagundes, O Controle dos Atas AdminIStrativos
parágrafo Úfilco. da Lei n. 12.016/09. pelo Poder Judiciárta, 1957, p. 348. nota 4; Celso Agrícola Barbí, Do Mandado de
Com relação ao mandado de segurança impetrado na primeira instância, Segurança, 1960,p. 117.
encontram-se antigos precedentes do STJ admitindo a mterposlção de agravo de 183. SÚInula n. 405 do STF: "Denegado o mandado de segurança pela sentença,
mstrumento contra a decisão concessiva da liminar (REsp n. 213.716-RJ. ReI. Min, ou no julgamento do agravo. dela mteIposto. fica sem efeito a liminar concedida,
Garela Vieira, RDR 151214). retroagindo os efeitos da decísão contràna""
94 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 95

No mesmo sentido detennína o art. 72 , § 32 , que "os efeitos da Desde a substituição do agravo de petição pela apelação em
medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a pro- mandado de segurança, o juiz inferior já não podia modificar a
lação da sentença ", Não deve a liminar, afinal, subsistir sempre até sentença e alterar a situação do julgado após a decisão de mérito,
o trânsito em julgado da sentença denegatória, sob pena de se retirar gerando dificuldades para a preservação do direito a ser protegido
do juiz o poder de revogá-la quando verificasse sua inconveniência pelo mandamus. Diante dessa situação, entendemos que cabe ao
ou desnecessidade, ou seja, tomar irrevogável uma decisão caracte- Presidente do Tribunal e, subseqüentemente, ao relator da apelação
risticamente precária e provisória. Daí porque a lei facultou ao juiz prover sobre a liminar que se fizer necessária ou ínconveníente, após
que preside o processo a discrição necessária para conceder ou negar, a prolação da sentença. ISS
manter ou revogar a suspensão do ato, segundo as peculiaridades do Uma vez cassada a limínar ou cessada sua eficacia, voltam as
caso ajuizado. ls4 coisas ao status quo ante. Assim sendo, o direito do Poder Público
fica restabelecido in totum para a execução do ato e de seus con-
Nas edições anteriores. no silêncio da lei. entendíamos caber as seguintes dis- sectários, desde a data da limínar. Mas, se no periodo da suspensão
tinções (31' ed. deste livro, 2008, p. 91):
"Se o juíz cassa expressamente a limmar ao denegar a segurança. não nos pa-
limínar (ou da sentença concessiva da segurança, posterionnente
rece admissivei seu restabelecimento pela sÓ interposição do recurso cabível contra refonnada) forem praticados atos geradores de direito subjetivo para
a decisão de merito; se o juiz silencia na sentença sobre a cassação da liminar, e de o impetrante ou para terceiros, ou consumadas situações definitivas,
entender-se mantida até o julgamento da mstãncia superior. se o JUiZ expressamente tais atos e sítuações deverão ser considerados válidos e subSistentes,
ressalvar a subsistência da liminar até a sentença passar em julgado, toma-se mani- pois se constituíram ao amparo de uma ordem judicial eficaz durante
festa a persistência de seus eleitos enquanto a decisão estivesse pendente de recurso. sua vígência. 186-187
"Sendo a medida liminar uma providêncía cautelar, de preservação do direIto ,/
ínvocado pelo impetrante, é concedida por fundamentos diversos e independentes V"""
dos da deCIsão de merito. Por isso, não basta que o juiz se manifeste sobre o mérito, 13, Suspensão da liminar ou da sentença
denegando o mandado, para que fique automaticamente invalidada a medida liminar.
Ê preCISO que o julgador a revogue explicitamente para que cessem seus efeitos.
O s6 fato de denegar a segurança não unporta afirmar a necessidade da liminar, A suspensão da liminar ou dos efeitos da sentença concessiva é
porque ela visa a preservar os danos irreversíveis para o impetrante. e esta possibili- providência admitida pela Lei n. 11'.016/09 (art. 15) "para evitar gra_
dade pode subSistir atê que a sentença passe em julgado, negado o direito pleiteado. ve lesão á ordem, à saúde, á segurança e à economia públicas", Essa
Enquanto pende recurso, a sentença denegatória ê reformáveí, e, cama tal, nenhum suspensão cabe ao Presidente do Tribunal competente para conbecer
efeito produz em relação á suspensão provisõna do ato. O que sustenta ou invalida
a limmar. a nosso ver, ê pronunciamento autônomo do juíz sobre sua persistência ou
do recurso respectivo e só poderá ser requerida pela entidade ou
'--.;\ insubsistência"_ órgão interessado e pelo Ministério Público, o qual não era expressa-
~.) 184. Analisando as particularidades do caso concreto, o STJ já admitiu a mente autorizado pela antiga Lei n. 1.533/5 I. O dispositivo deve ser
concessão de medida cautelar para restabelecer liminar que fora cassada quando da Interpretado de fonna extensiva, no sentido de que não só a entidade
denegação da segurança, dando efeito suspensivo a recurso ordinário (AgRgPet n. pública, como também o órgão ínteressado têm legitimidade para
531-2-ES, ReI. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, RSTJ99/l06). No mesmo sentido:
AgRgMC n. 3.485-RJ, ReI. Min. Garcia Vieua, DJU24.9.2001, p. 236; AgRgMC n.
5.557-RJ, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU9.l2.2002, p. 316; REsp n. 463.159-SP. 185. A opinião de Hely Lopes MeireUes é hoje ainda mais arunl, tendo em Vista
ReI. Min. FranclUlli Netto. DJU 25.4.2005, p. 270. A possibilidade de o Tribunal os poderes concedidos ao relator, que pode atribUIr o efeito suspensIVO a agravos de
ad quem reV1gorar os efeitos de limmar cassada por sentença denegatóna de segu- InStrumento e apelações normalmente recebidos apenas no efeito devolutivo (CPC.
rança nos parece perfeitamente consentânea com as recentes reformas da legislação art. 558, com aredação da Lei o. 9.139/95).
processual cívil. notadamente com a redação dada ao art. 558 do CPC pela Lei D. 186. Nesse sentido, em diferentes casos, v.: STF, RTJ33/280. 33/501, 4lf251,
9.139/95, que dá ao relator o poder de conceder o efeito suspensivo a recursos que 41/593, 4lf857, 87/722, 104/1.284, RDA 1l4/288. 134/217, 1l9/828; TFR. Ag
não o tenham. Embora não menCIone a apelação em mandado de segurança, o dis- 39.074-RN, DJU7.11.79, p. 8.333.
positivo legal pode ser aplicado anaIogicamente. No STJ: REsp n. 422.587-RJ, ReI. 187. Na bibliografia referente ás medidas liminares destaca·se a obra de R
Min. Garcm Vieua, DJU28.1O.2002, p. 241; RMS n. 351-SP, ReI. Min. AntÔnIO de Reís Frtede, JUIZ Federal no Rio de Janeiro, mtitulada Aspectos FundamentaIS das
Pádua Riberro, RSTJ96/175. Medidas Liminares, Rio. Forense Universitária. 1993.
96 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 97

pleitear a suspensão da liminar, e ainda as pessoas e órgãos de Direi- de Direito Público interessada, senão tambêm ás pessoas e ás entida-
to Privado passiveis da segurança e que suportarem os seus efeitos. des privadas que tenham de suportar os efeitos da medida. A todos
A lei há que ser interpretada racionalmente, para a consecução dos aqueles que figurarem na ação de segurança. e que forem alcançados
fins a que se destina.!88-!S9 pela sentença concessiva do writ. deve conferir-se o direito de pedir
f
A propósito, decidiu o então Presidente do STF. Min. Antônio a suspensão da medida", !90
Neder. que "o direito de pedir a suspensão da segurança deve ser con- Sendo a suspensão da liminar ou dos efeitos da sentença uma
cedido não só ao Procurador-Geral da República e à pessoa jurídica providência dràstica e excepcional. só se justifica quando a decisão
possa afetar de tal modo a ordem pública, a economIa, a saúde ou
188. A questão tornou-se especialmente delicada apôs a expansão das conces- qualquer outro interesse da coletividade que aconselhe sua sustação
sões de serviços públicos a empresas privadas e as privatizações ocorridas nos últi- até o julgamento final do mandado.
mos anos. As concessionárias privadas, por exercerem servíços públicos, representam
mUlto mais do que seus proprios mteresses índividuaís. sendo delegatárías de funções Interpretando construtivamente e com largueza a "ordem públi-
de claro interesse público. ASSIm. na defesa dos mteresses da comunidade. devem tais ca". o então Presidente do TFR (e posteriormente Ministro do STF)
empresas privadas ter a possibilidade de requerer aos Presidentes dos Tribunais a sus- José Néri da Silveira explicitou que nesse conceito se compreende a
pensão de limmares ou seguranças que afetem a prestação dos serviços concedidos.
Esta é a interpretação raCIonal e construtiva que merece a lei. ordem administrativa em geral. ou seja. a normal execução do servi-
189. Um acórdão do STJ entendeu que as empresas públicas se equiparam âs ço público. o regular andamento das obras públicas. o devido exercí-
"entidades de direito público" para efeitos de legitimidade para requerer suspensão de cio das funções da Administração pelas autoridades constituídas."!
segurança. assim como as sociedades de economia mIsta que desempenham atividade Realmente, assim há que ser entendido o conceito de ordem pública
económica de interesse público. apesar da personalidade de direito privado que osten-
tam - na hipótese, reconheceu-se a legitimidade do pedido de suspensão de segurança para que o Presidente do Tríbunal competente possa resguardar os
por parte de concessionárias de servíços de telefonia (REsp n. 50284-SP. ReI. Min. altos mteresses administrativos. cassando liminar ou suspendendo
Peçanha Martins, DJU 12.6.2000, p. 87. RSTJ 136/152). No exercicio da Presidêncía os efeitos da sentença concessiva de segurança quando tal providên-
do STJ. na 8S n. 1.031-PE. DJU23.4.2002. o Min. Nílson Naves teve o ensejo de cia se lhe afigurar conveniente e oportuna. .. .'
aflrmar que, "para promover pedido de suspensão de segurança, ê parte legítima 'a ~-

pessoa jurídica de direito público mteressada' (art. 4i! da Lei n. 4.348/64) ou, con- Presentes os pressupostos de plausibilidade do direito invocado
forme a jurisprudência desta Corte, as empresas públicas e socIedades de economía e urgência na concessão da medida, o Presidente do Tribunal poderá.
mISta. quando pa!eote o inleresse público (v.g., AgRgPet n. 1.489-BA, AgRgSSeg n. inclUSIve. conferir ao pedido efeito suspensivo liminar. a teor do art.
632-DF. REsp n. 50.284-5-SP)"
Decisão semelhante âs do STJ já fora tomada pelo Tribunal Pleno do STF,
reconhecendo a legitimidade de empresa pública prestadora de serviço público para 190. STF. SS n. 114-SP. RTJ921939. No STJ. admitmdo o pedido de suspensão
pedir a suspensão de liminar que a afetava (AgRgSSeg n. 202~DF. ReI. Min. Rafael formulado por empresa pública - com personalidade jurídica de direIto privado -
Mayer. DJU 52.88. p. 1.380). quando no exercício de delegação do Poder Público: AgRgSS n. 632-DF, ReI. Min.
Antómo de Pádua RibeIrO. DJU 22.6.98, p. L
Em alguns casos mais recentes, ao longo do ano de 2005, e sempre com base
em interpretação ampliativa da legitimidade prevísta na Lei n. 8.437/92, foram adrm- 191. TFR, SS n. 4.405-SP, DJU7.12.79, p. 9221. Compreende-se no conceIto
tidas suspensões de liminares requeridas atê mesmo por empresas estritamente priva- de ordem pública a preservação da adequada prestação junsdiclOnal (STJ, Corte
EspeCIal. AgRg na SS n. 1.784. ReI. Min. Preso Barros Monletro, DJU 10.12.2007);
das, desde que concessionârias de servIços públicos, e por fundos de pensão ligados a 11 preservação do poder de autotutela da Admimstração (STJ, Corte Especial, AgRg
estataIS. São exemplos a SL n. 196~RJ, pedida pela Light, a SL n. 221-RJ, pedida pela na S8 n. 1.612. ReI. Min. Preso Barros Monteiro, DJU9.1O.2006); a manutenção do
Vang, e as SL ns. 128-RJ e 222-DF, requeridas por vârios fundos de pensão (PREVI. poder de polícia da Admmlstração (STJ, Corte EspeCial, AgRg na SLS n. 268, ReI.
PETROS. FUNCEF e outros), todas relatadas e deferidas pelo Min. Edson Vidigal Min. Preso Barros Monteiro. DJU 11.12.2006; STJ. Corte Especial, AgRg na SS n.
(dec1sões disponíveis na mtegra no sítio do STJ na Internet, http://www.stj.gov.br). 1.498, ReI. Min. Pres. Edson Vidigal. DJU29.8.2005); a interferência nos cnténos de
Na mesma linha, admitindo a legitimidade processual ativa de pessoas jurídicas de conveniência e oportunidade da Administração (STJ, Corte Especial, AgRg na SS n.
direito privado para o pedido de suspensão, desde que no exercício de função delega- 1.521, Rei. Min. Preso Edson VidigaI,DJU 10.4.2006); a preservação das competên-
da do Poder Público, como as concessionárias de serviço público: STF, SL n. III-DF, cias públicas das Agências Reguladoras (STJ, Corte Especial, AgRg na SLS n. 162,
Rela. Min. EUen Grncie. DJU2.8.2006; SL n. 251-SP. ReI. Min. Gilmar Mendes, DJe ReI. Min. Preso Edsnn Vidigal. DJU 1.8.2006; STJ, Corte EspeCIal, AgRg na SLS n.
4.8.2008; SL 274-PR, ReI. Min. Gilmar Mendes. DJe 3.2.2009; STJ, SL n. 313-CE. 163, Rei: Min. Preso Edson Vidigal. DJU27.3.2006; STJ, Corte EspeCIal, AgRg na
ReI. Min. Barros Monterro, DJU 2 1.9.2006. SL n. 57, ReI. Min. Preso Edson Vidigal. DJU 6.9.2004).

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J, ~.~:
98 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 99

15, § 4", da Lei n. 12.016/09. 192 A lei estatui, outrossim, que as limi- suspensão ao Presidente do Tribunal competente para conhecer de
nares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma úníca eventual recurso especial ou extraordinário, na hipótese de indeferi-
decisão, podendo o Presidente do Tribunal estender os efeitos da mento do pedido suspensivo ou de provimento de agravo interposto
suspensão a liminares supervenientes, mediante simples aditamento contra decisão que tenha deferido a suspensão (art. 15, § 12 , da Lei n.
do pedido original (art. 15, § 5·).193 É de ressaltar que a interposição 12.016/09).196 Caberá o pedido para o mesmo órgão julgador na hi-
de agravo de instrumento contra decisão concessiva de limínar não pótese de desprovimento do agravo de instrumento interposto contra
tem o condão de prejudicar nem de condicionar de alguma forma o decisão concessiva de liminar (art. 15, § 22).197 .
pedido de suspensão, nas ações movidas contra o poder público e A Lei n. 12.016/09, assim como o fazia a legislação anterior do ~_.
seus agentes (art. 15, § 32 ).194 mandado de segurança, autoriza de forma expressa tão-somente o
A lei impõe ao Presidente do Tribunal o dever de motivar o reexame da liminar concedida. Não obstante, a sua denegação pode
despacho suspensivo de modo a evidenciar as razões que justificam ser tão prejudicial â parte quanto sua concessão. EqüitatlVO é que o
e legitimam o ato, mas fica ao seu alto critério a valoração da con- Presidente do Tribunal competente tanto possa suspender como con-
veniência e oportunidade da suspensão. 195 Se for suspensa a liminar, ceder ou restabelecer a liminar até o julgamento final do mandado,198
ou os efeitos da sentença, cabe agravo regímental, sem efeito sus- e assim já decidira o TJSP em acórdão pioneiro. 199
pensivo, como já vimos precedentemente. Caberá novo pedido de O Regimento Interno do STF defere competência ao seu Presi-
dente, a requerimento do Procurador-Geral ou da pessoa jurídica de
192. A norma já constava da Leí n. 8.437/92, art. 45', § 7fl , com a redação dada Direito Público interessada, para evitar grave lesão à ordem, à sande,
pela MP n. 2.180-35/01.
193. Anonnajá constava da Citada Lei n. 8.437/92, art 42, § 8.\1, com a redação
dada pela MP n. 2.180-35/01. 196. Mesmo antes da edição da Lei n. 12.016/09, as SÚInulas ns. 506 STF
194. A Lei n. 12.016/09 incorporou. nesse ponto. o art. 42, § &1, da Lei n. ("O agravo a que se refere o art 42 da Lei 4.348, de 26.6.1964, cabe, somen~e, do
8.437/92, com a redação dada pela MP n. 2.180-35/01. ~espacho do Presidente do Supremo Tribunal Federal que defere a suspensão da
195. Segundo o STJ. a apreCIação do Presidente do Tribunal se limita aos hrmnar, em mandado de segurança: não do que a denega") e a 217, STJ ("Não cabe
reqUisitos da lei - possibilidade de lesão grave a ordem, à smide, à segurança ou à agravo de deCIsão que indefere o pedido de suspensão da execução da liminar, ou da
econODlla públicas - não cabendo qualquer discussão a respeito do menta do manda- sentença em mandado de segurança") já não mais vigoravam. O Plenãrio do STF, em
do de segurança (STJ, AgRgSSeg n. 524-PE, ReI. Min. Bueno de Souza, RSTJ93/17, 2002, admitiu o agravo contra despacho do Presidente que indefenra a suspensão de
e AgRgSSeg n. 7l8-AM, ReI. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, RSTJ 119/117; SSL segurança (SS n. 1.945-AL, v.Notiáas doSTF 19.12.2002, "STF confinna: usmeiros
n. 755-GO, ReI. Min. Barros Monterro, DJU 11.10.2007; SSL n. 784-RJ, ReI. Min. de Alagoas têm que pagar ICMS sobre exportações de açucar", Internet: stfgov.br, e
Barros Monterro, DJU 5.12.2007; Corte Especial, AgRg ED na SS n. 1.936, Rei. Min. DJU 2.8.2002), superando o entendimento sumulado (v. integra do voto do Relator
Preso César Asfor Rocha, DJU7.5.2009). De acordo com aiurí~PG!9-ªJ.19-ª-.IH:~gOl:p.!­ Min. Gilmar Mendes, lnJannollVo STF 63.2003, pp. 3-4). Jã a SÚlnula n. 217 do STJ
Dante do STJ o pedido de suspensão não se presta ao exame de error in procedendo fOi cancelada pela Corte Especial do STJ em 23.10.2003.
ou de errar ln judicando, o que deve ser perseguido atraves dos recursos preVIstos 197. Tais normas já constavam da Lei n. 8.437/92. art. 42, §§ 42 e 511, conforme
na leglslação processual (AgRgPet n. 1.236-RJ, DJU 13.5.2002, p. 136; AgRgPet n. redação dada pela MP n. 2.180-35/01.
1.323-ES, DJU26.52003, p. 242). O STF, por outro lado, vem entendendo que cabe ~98. A propósito, o então Presidente do TJSP, Des. Young da Costa Manso,
ao Presidente do Tribunal apreciar também a plausibilidade das alegações de mérito profe~u despacho restabelecendo liminar em mandado de segurança impetrado por
do ente público requerente da suspensão. requisito equivaiente ao do fomus bonijUrlS PrefeIto contra o Presidente da Câmara Municípal que lhe havia cassado o mandato,
de uma medida cautelar (AgRgSSeg n. 1.149-9-PE. ReI. Min. Sepúlveda Pertence, e, com a sentença denegatória da segurança, o Juiz revogou a liminar. Tendo havido
RT 742/162 - apreciando também a constitucionalidade do procedimento de sus- pedido de restabelecunento daquela limmar, o Presidente do Tribunai o acolheu para
pensão de segurança). O Plenário do STF, DO entanto. ressaltou. em outro julgado. a sustar o afastamento do Prefeito até o Julgamento da apelação, e justificou a decisão
possibilidade de concorrência e independência das vias, afirmando que "o pedido de por se ~tar de impetração de umãâutoridãde'côIitrnõutrà. 'Houve agravo regimentai
suspensão de segurança não impede a formulação, pelo mesmo requerente, de pedido e o Plenmo do TJSP, por maioria de votos, confinnou o despacho agravado (AgRg-
autônomo para a concessão de excepcional efeito suspensivo a recurso extraordinário MS n. 995-0, acórdão de 3.6.80. EsseJulgado se nos afigura Justo eJurídico, abnndo
articulado contra aquela mesma decisão. desde que observados os requisitos proces- novas perspectIvas para uma interpretação racional e construtIva dos casos de reexa-
suais própnos a cada uma das especies" (QO-Pet fi. 2.676-6-MS, Rei. Min. Gilmar me de limmares em mandado de segurança.
Mendes, DJU 8.9.2006). 199.AgRgnoMSn. 17.526-1,j. 18.10.81.
100 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 101

à segurança e à economia pública, para suspender, em despacho ,,' Inicialmente o STF entendia que se a liminar fosse concedida
fundamentado, a execução de liminar ou da decisão concessiva de pelo juiz de primeira instância e o Presidente do Tribunal local ne-
mandado de segurança proferida em única ou última instância pelos gasse a suspensão não seria cabível um novo pedido de suspensão
Tribunais locais ou federais (cf. arts. 297 e 317). dirigido ao Tribunal Superior?03
~ Suspensão de liminar - Liminar em mandado de segurança
No entanto, o Presidente do STJ já acatou pedido de suspensão
de liminar quando a medida fora concedida em primeira instância,
concedida por juiz de primeiro grau é passível de suspensão pelo suspensa pelo Presidente do Tribunal local e posteriormente resta-
Presidente do Tribunal competente,2oo nos termos do art. 15 da Lei belecida em sede de agravo regimentaJ.204 Considerou-se, naquela
n. 12.016/09. Quando a liminar é concedida pelo Presidente ou oportunidade, que a suspensão era relativa ao ato do Tribunal Re-
Vice-Presidente do Tribunal, já decidiu o STF, em sessão plenária gional Federal, que restabelecera uma liminar atraves da decisão no
de 8.5.86, que o pedido cabível era para o próprio Supremo, não o agravo regimental.
agravo regimental interposto perante o Tribunal estadual, porquanto
competente para apreciar esse pedido seria, no caso, o Presidente do O que em outra oportunidade a Corte Especial do STJ enten-
STF.201 deu inviável, por votação majoritária, é o pedido de "suspensão da
suspensão". A pedido do Estado da Bahia e de uma empresa pública
Com a criação do STJ, que é o órgão competente para julgar estadual, o Presidente do TJBA concedera a suspensão de uma limi-
os recursos, em única ou última instância, dos TRFs e dos Tribunais
nar obtida pelo Município de Barreiras, sendo que este, entâo, pediu à
dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, entendemos que a
Presidência do STJ a suspensão da suspensão concedida localmente,
competência para cassação da liminar ou suspensão da sentença é de de modo a restabelecer a liminar de primeira instância. No STJ pre-
seu Presidente, coerentemente com o decidido, anteriormente, pelo
valeceu o entendimento de que "os dispositivos legais de regência
STF (art. 21, XIII, "c", do Regimento Interno do STJ), salvo se a
não autorizam o manejo de suspensão de liminar contra decisão
matéria for de indole constitucional.202 monocrática de suspensão de liminar" e "não há previsão legal para
pedido de suspensão da suspensão"}O'
200. Há acórdão do STJ no sentido de que não cabe recurso espeCIal sobre a
marena da suspensão da liminar (AgRgAI n. 121.340-MG, RSTJ93/179l. No mesmo Com a MP n. 2.180-35, de 24.8.2001. foram acrescentados os
sentido, STJ, AgRgAI n. 146.215-RJ, ReI. Min. Ari Pargend1er, RSTJ99/108, e REsp novos §§ 32 e 4" ao art. 4" da Lei n. 8.437/92, estabelecendo expres-
n. 116.832-MG, ReI. Min. Peçanha Martins, DJU28.2.2000, p. 73.
samente que, negada a suspensão da liminar no tribunal de segundo
201. ReeI 172-S-SP. RT 6121201. Ajurisprudência maIS recente, no entanto,
admite a interposIção do agravo regimentai no Tribunal local. sem prejuízo da possi w
grau, e negado tambem o respectivo agravo regimental, caberá novo
bilidade do pedido de suspensão da liminar para o Presidente do Tribunal Superior, pedido de suspensão ao STF ou ao STJ, sendo a matéria constitucio-
cada um com seus pressupostos específicos de cabimento (STJ, RSTJ 118/17). O nal ou legal, conforme o caso. Da mesma forma, de acordo com o
pedido de suspensão da liminar, porem. não depende da prévia interposição do agravo novo § 52, igualmente acrescentado pela MP n. 2.180-35, o novo pe-
regimental no ãmbito do Tribunal de origem (STF, AgRgPet n. 2.455-PA. ReI. para o
dido de suspensão aos Tribunais Superiores também pode ser formu-
acórdão Min. GiImar Mendes, Informativo STF 300/1 l.
Assim. o esgotamento recursal na instância de origem não e pressuposto do
lado depois de negado provimento, na segunda instância, ao recurso
cabimento do pedido de suspensão de liminar (STF. AgRgSL n. 118-RJ, Rela. Min.
Ellen Grncie, RT 872/111 l. pensão. Se o pedido de suspensão for ajUizado erroneamente junto ao STF, abordando
202. Na realidade. a matéria em discussão no mandado de segurança influirá matéria infraconstItuclonal. nada impede que seja refeito perante o STJ. ou vice-versa
na definição da competência para a apreciação do pedido de suspensão. Se o funda- (STF, AgRgSL n. 56-2-AM, Rela. Min. EUen Gracie, RT855/177l.
mento jurídico da decIsão a ser suspensa tiver índole constitucional, em princípio sem 203. RTJl65/812.
cabível ao final um recurso extraordinário ao STF - e, portanto. a competência para 204. Min. Antônio de Pádua Ribeiro. desp. 9.7.98 na Pet n. 980-SP. no caso da
a suspensão da liminar ou da sentença será do Presidente do STF. Sendo a matéria privatização da Telebrâs.
em questão de indole mfraconstítucional- e, portanto. estabelecida a competência do 205. AgRgSL n. 848-BA. ReI. para o acôrdão Min. Fernando Gonçalves, DJe
STJ no âmbito recursal-, estende-se ao Presidente do STJ a competência para a sus- 22.9.2008.
102 MANDADO DE SEGURANÇA
MANDADO DE SEGURANÇA 103

interposto contra a liminar concedida no primeiro grau. Assim, ficou


ultrapassada a posição anteriormente defendida pelo STF no sentido presidente do Tribunal vigorará até o trânsito em julgado da decisão
do descabimento do novo pedido. Tais dispositivos da MP 2.180- de mérito na ação principal". A lei, portanto, acabou consagrando a
35 foram considerados constitucionais pelo STF, no julgamento da jurisprudência do STF.21O A Lei n. 12.016/09 deixou de tratar da ma-
ADIn 2.251-DF, mterposta contra uma edição anterior das mesmas téria., mantendo, assim. o regime anteriormente vigente.
regras, por 7 votos a 4, em 23.8.2000. No mesmo sentido dispôs a Lei Deferida pelo Presidente do STF a suspensão da eficacia de
n. 12.016/09 (art. 15, § 10). medida Iimínar em mandado de segurança. a Justiça local não pode
Mantém-se, t':.davia, a competência do Presidente do STF para conceder tutela antecipada em ação ordinaria versando sobre o mes-
suspender as declsoes do STJ nos casos previstos pelo art. 15 da L . mo objeto. 211
n. 12.016109,j~ tendo sido a mesma exercida, mais recentemente, n~ O Mínistro Sepúlveda Pertence, no exercicio da Presidência do
tocante a declsao que reajustou o valor das aposentadorias em 147%. STF. acatou parecer do Procurador-Geral da República, Dr. Geraldo
O STF decidiu que, deferida a suspensão da execução de liminar Brindeiro, e entendeu que não seria cabível a suspensão de liminar
e~ mandado de segurança, o eventual julgamento de mérito conces- obtida peia parte. em sede de agravo de instrumento, mediante efeito
SIVO da segurança também deverá ficar com os seus efeitos automati- suspensivo. que revigorou liminar anteriormente revogada. Enquanto
camente Suspensos até o respectivo trânsito emjulgado.206 A decisão contracautela excepcional, a suspensão só deveria ser admitida nos
fundamentou-se no § 32 do art. 297 do Regimento Interno do STF casos expressamente previstos em. 212
, I segundo o qual "a suspensão de segurança vigorará enquanto pende; Contrariando a jurisprudência anterior da própria Corte Supre-
o recurso, ficando sem efeIto, se a decisão concessiva for mantida ma, o Pienario do STF admitiu a impetração de mandado de seguran-
pelo Supremo Tnbunal Federal ou transitar emjulgado"207 A matéria ça diretamente contra a decisão do Presidente da Casa que indeferira
acabou sendo objeto da SÚInula n. 626 do STF.20B a suspensão de segurança, concedendo, assim, uma liminar no novo
. O STJ,_ao contrário, decidiu que a suspensão da liminar vigora mandamus para deferir a suspensão antes pleiteada e negada.213
ate a prolaçao da sentença, dependendo a continuação da suspensão Se na instãncia inferior for cassada, revogada ou reformada a li-
- agora da sentença - de novo requerimento da parte interessada.209 minar ou sentença cuja suspensão se pediu. fica prejudicada a medida
. _A questão acabou merecendo tratamento legislativo, com a de contracautela. 214
edlçao do § 9" do art. 4J! da Lei n. 8.437/92, através da MP n 2 180
35, de 24.8.2001, estabelecendo que "a suspensão deferida'pel~ ~
14. Infonnações
206. Reei n. 718-PA. ReI. Min. Celso de MeUo,). 30.4.98. RTJ 1881762. As tnfonnações constituem a defesa da Administração. Devem
tence Z;;;. No mesmo sentido: STF. AgRgSS n. 780-PI. ReI. Min. Sepúlveda Per-
, :r 165/130, AgRgSS n. 2,906-I-PA. Rela. Min. EUen Gracíe, RT 85811 58, ser prestadas pela própria autoridade argüida de coatora,'15 no prazo
P~r D.utro lado, o Plenma do STF decidiu que.o pedido de suspensão da limmar
fica prejUdICado se. antes de ele ser aprecIado, já tIver sido proferida a senten a 210. O STJ vem acatando a regra do § 9' do arL 4Jlda Lei n. 8.437/92 (Reei n.
ação pnnclpal. .A. decISão fOi em maténa de ação cívil pública, mas o precede~ten: 1.141-BA. Rei. Min. Nilson Naves, DJU22,9.2003, p. 248; AgRgRecl n. 2.809-RJ.
plenamente.~phcavel aos mandados de segurança (AgRgPetn. 2.227-1-RS RIM" ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJe 10.11.2008),
Marco AurelIo, DJU24.5.2002, p. 54). • e. m,
211. STF. AgRgRecL n. 655-7. InJonnotivo STF 77, p. 4.
208: "A suspensão da limmar em mandado de segurança. salvo detennin _ 212. STF. Pet n. 1.247-0-Mr, DJU2.6.97, p, 23.679,
em C~~tráno da deCIsão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da dec~;:~
213. MS n. 24.159. Rela. Min. EUen Grade (v. NoticiOS do STF26.6.2002, "Su-
definitiva d~ concessão da segurança ou. havendo recurso, até a sua manutenção elo
Sup~emo Tnbunal Fede~l, desde que o objeto da liminar deferida coincida, to~ ou premo derruba ísenção tributária de distribuidora de petróleo", Internet: stj.gov.brl.
parcialmente, Com a da Impetração." 214. STF. QOAgRgPetn. 1.318-DF. Rei. Min. Celso de MeUo, RTJ 194/464,
i,i 209. STJ. REsp n. 97.838-RS, Rei. Min. Milton LuÍZ Pereírn.RSTJ99174. 215. TFR, AMS n. rOO.967-SP, DJU 1.3.84 e AMS n. 101.l67-SP. DJU8.3.84,
sendo Relator em ambas o Min. Carlos Maderra..
104 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 105

improrrogável de dez dias (art. 7", inciso II, da Lei n. 12.016/09).216 de litisconsortes: aqueles podem entrar no feito a qualquer tempo,
Podem ser subscritas por advogado, mas juntamente com a autorida- porque não se aproveitam da sentença; estes, como são alcançados
de responsável pelo ato sub judice, porque a responsabilidade admi- pelos efeitos da decisão, devem ingressar no mandado até a prestação
nistrativa é pessoal e intransferivel perante a Justiça. A Administra- das informações, salvo se o juiz o determinar posteriormente. Dai
ção só se faz presente em mandado de segurança até a prestação das por diante, são inalteráveis a lide e as partes. Em tese, com a Lei n.
informações, pela autoridade contra quem é impetrada a ordem.217 12.016/09, não mais caberia, todavia, a assistência.
Dai por diante, o processo pode - e deve - ser acompanbado por Ede se reiterar que a ausência de citação ou de ciência dada ao
procurador habilitado nos autos, mas as ordens de execução da segu- litisconsorte necessário no processo enseja a nulidade do julgamento,
rança serão sempre dirigidas â própria autoridade coatora e por ela que pode ser obtida até mesmo em recurso extraordinário.·como já
cumpridas direta e imediatamente, sob pena de incidir no crime de demonstramos precedentemente (n. 9).220
desobediência (art. 26, da Lei n. 12.016/09, e CP, art. 330). Somente f:;:.~
as intimações sobre a tramitação do processo e recursos é que serão 15_ Sentença
feitas na pessoa do procurador habilitado nos autos.
Nas informações, o impetrado deverá esclarecer minuciosamen- A sentença em mandado de segurança poderá ser de carência
te os fatos e o direito em que se baseou o ato impugnado. Poderá ofe- ou de merito, se antes não tiver sido indeferida a petição irncial por
recer prova documental e pericial já produzida. Se a prova depender não ser caso de impetração, não atender as exigências formais da lei
de outra repartição, fora de sua jurisdição, deverá indicá-Ia e solicitar ou quando decorrido o prazo legal para impetração (art. !O, da LeI
requisição pelo juiz. O que não se permite é o pedido de prova futura, n. 12.016/09). A carência ocorre quando o lITlpetrante não satisfaz os
a ser produzida em juízo. pressupostos processuais@as condições do direito de agrr, tal como
A falta das informações pode importar confissão ficta dos fatos previsto no art. 267, VI, do CPC.221 A sentença de mérito decidirá
argüidos na inicial, se isto autorizar a prova oferecida pelo impetran-
220. V. SÚlDula n. 631 do STF.
te. 218 As informações merecem credibilidade, até prova em contrário,
221. Na prática, ocorre de juizes afinnarem a carência de ação por falta de
dada a presunção de legítimidade dos atos da Administração e da provas que demonstrem o alegado direIto líquido e certo, extinguindo o processo
palavra de suas autoridades.219 sem Julgamento do menta. Em taIS situações, no entanto, a carência de ação não é a
Se com as informações vierem documentos, deve ser aberta solução maIS adequada, e o tribunal de segundo grau não está Impedido de apreciar
desde logo o merito da impetração. Asslm, já decidiu o STJ que: "Quando a senten M

vista ao impetrante para sua manifestação, e, após, os autos irão ao ça decide pela ínocorrência de direito líquido e certo, entendendo controversos os
Ministério Público, para seu parecer sobre todo o processado. fatos. ou porque certa circunstância deveria ter sido comprovada, decide de meritzs.
Com as informações encerra-se a fase instrutória do processo Destarte, se o Tribunai ad quem entender de modo contrário. vale dizer, entendendo
incontroversos os fatos, ou que é prescmdível a comprovação da circunstância que
de mandado de segurança e fecha-se a possibilidade do ingresso a sentença entendera de comprovação necessâna, podem completar o Julgamento,
de litisconsortes passivo no feito, salvo se o juiz determinar a inte- praticando a operação de fazer incidir a nonna de Direlto Positivo aos fatos incon-
gração da lide por litisconsorte necessário. Já vimos que o ingresso troversos. deferindo ou indeferindo a segurança, sem que isto represente víolação ao
do litisconsorte atívo não será admitido após o despacho da petição duplo grau de junsdição" (REsp n. 523-SP. Rei. Min. Carlos Máno Velloso, RSTJ
61372). Na mesma linha: EDRMS n. 14.881-DF. ReI. Min. Humberto Gomes de
inicial. Não se confunda, porém, a intervenção de assistentes com a Barros, DJU 15.12.2003, p. 181.Asolução ê consentânea ainda com a nova redação
do § 3' do art. 515 do CPC, dada pela Lei n. 10.352. de 26.122001, segundo a qual
216. O dispositivo manteve o teor do art 7n, me. l, da Lei n. 1.533/51, alterada nos casos de extinção do processo sem julgamento do merito o tribunal pode Julgar
pela Lei n. 4.348/64. desde logo a lide se a causa versar sobre questão exclusivamente de direito e estiver
217. TJSP, RDP 28/237. em condições de imediato julgamento. O STF. no entanto. decidiu que este disposi-
218. STF,RTJ6/192. tIvo legal -não se aplica em recurso ordinário constitucional referente a mandado de
219. TFR, AMS n. 84.840, DJU28.l1.79, ReI. Min. Carlos Mário Velloso. segurança, ficando restrito a hipóteses de competênCia ongmâna de JUízo, e não de
106 MANDADO DE SEGURANÇA
MANDADO DE SEGURANÇA 107

sobre o direito invocado, apreciando desde a sua existência até a sua a mesma razão de decidir em ambas as hipóteses. Embora se reitere
liquidez e certeza diante do ato impugnado, para concluir pela con- a ilegalidade em casos idênticos, haverá sempre necessidade de uma
cessão ou denegação de segurança. 222' 223 decisão para cada caso, sem que os efeitos da sentença anterior se
O mandado de segurança admite decisão repressiva e preventiva convertam em regra para as situações futuras. E assim é porque a
(art. 1°). E repressíva quando visa a corrigir ilegalidade já consu- sentença concessiva da segurança apenas invalida O ato impugnado,
mada; é preventiva quando se destina a impedir o cometimento de deixando intacta a norma tida por ilegal ou inconstitucIOnal até que
ilegalidade iminente. Em ambos os casos são necessárias a indicação outra norma de categoria igualou superior a revogue, ou o Supremo
do objeto e a comprovação da iminência da lesão a direito subjetivo Tribunal Federal suspenda sua execução em virtude de inconstítu-
do impetrante. Não basta a invocação genérica de uma remota POS- cionalidade. . k
sibilidade de ofensa a direito para autorizar a segurança preventiva; Entretanto, em casos especiais, pode a concessão de uma V--
exige-se prova da existência de atos ou situações atuais que eviden- segurança estender-se a atos futuros entre as mesmas partes, por
ciem a ameaça temida. decorrentes da mesma situação de fato e de direito, como, p. ex., no
Não se confunda - como freqüentemente se confunde - seguran- auferimento de uma isenção ou redução de imposto a prazo certo
ça preventiva com segurança normativa. O nosso sistema judiciário ou para determinada quantidade de mercadoria produzida ou im-
admite aquela e rejeita esta. portada parceladamente, ou, ainda, quando o ato impugnado venha
Segurança preventiva é a que se concede para impedir a con- a ser praticado sucessiva e parcialmente até completar o todo a que
sumação de uma ameaça a direito individual em determinado caso; o impetrante tenha direito. Nessas hipóteses, a segurança concedida
segurança normativa seria a que estabelecesse regra geral de conduta no primeiro mandado é válida e operante para todos os casos iguais
para casos futuros, indeterminados.224 A Justiça Comum não dispõe entre as mesmas partes, dispensando sucessivas impetrações, desde
do poder de fixar normas de conduta, nem lhe é perrnítido estender a que o impetrante requeira e o juiz defira a extensão da ordem pedida
casos futuros a decisão proferida no caso presente, ainda que ocorra na inicial.
Na sentença, o juiz deverá decidir sobre o pedido da inicial,
Tribunal Superior (EDRMS n. 24.309-DF, ReI. Min. Marco Aurélio, J. 17.2.2004, condenando o vencido nas custas. 225 Segundo o art. 25 da Lei n.
Informativo STF 337/3). 12.016/09, que consolidou o entendimento da jurisprudência do-
222. Aplica-se ao processo de mandado de segurança o art. 462 do Código minante (STF, SÚInula n. 512, contrariada, porem, por acórdãos do
de Processo Civil. cabendo ao juiz Rl'reciar os fatos supervenientes que possam ter
influência no julgamento da causa (STJ. RMS n. 6.566-SP. ReI. Min. Anselmo San- TJRJ, do TJRS226 e do próprio ST]227), não cabe condenação do ven-
tiago, RSTJ 94/362; RMS n. 11331-SP. ReI. Min. Francisco Peçanha Martins, DJU
28.102002, p.261). O princiPIO aplica-se em qualquer grau de jurisdição. Nesta li- 225. Julgado do TJPR entendeu que, concedida a segurança, as custas não
nh~ o STF extmgUlu impetração em sede de recurso ordinário por reconhecer a perda devem ser pagas pela própna autoridade coatora. mas pela pessoa jurídica de direito
do mteresse processual decorrente de fato superveniente (ato de autoridade superior â público a que ela esteja Vinculada (Remessa Necessana n. 50.700-0. Rel. Des. Teimo
apontada como coatom, ao qual seria ínoponível a eventual sentença no mandado de Cherem, ADV 1997, p. 627, ementa 80.084).
segurança): RMS n. 2I.I06-DF, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, RTJ 165/508. 226. TJRJ, RDPG 31/159,34/139, eApC n. 31.201,J. 19.6.84; TJRS, RJTJRS
223. De acordo com a nomenclatura utilizada na Lei n. 12.016/09. na esteira 1021462.
da j~sprudência. dos tribunais superiores. a expressão "denegação da segurança" 227. Rompendo com uma tradição judiciária, que reiteradamente negava ho-
meluJ tanto a hipãtese de aprecíação do ménto quanto a extinção do processo sem norários de advogado nos mandados de segurança, a la Turma do STJ. em vános
Julgamento de menta, nos casos do art. 267 do CPC. em que se admíte a renovação julgados, entre os quais se destacam 05 referentes aos REsp ns. 6.860-RS e 17.124-0-
do pedido, desde que dentro do prazo decadencla! (art. 6", §§ 5' e 6"). RS, consagrou., por malOna, a tese de que são cabíveis 05 honorários, no caso. Outras
22~. Sobre a ~atureza da segurança preventIva e a invíabilidade de lmpetração
Tunnas do STJ continuaram a aplicar a SÚIDula n. 512 do STF. entendendo mcabivel
com carater normatIvo: STJ, RMS n. 15.943-RJ. ReI. Min. Jo~Amaldo da Fonseca. a condenação em honorários advocatíclOs no processo de mandado de segurança.
DJU8.9.2003, p. 344, citando a doutnna de Hely Lopes MeireIles. Na mesma linha: A Corte Especial, Julgando embargos de divergência entre acórdãos da @ Turma e
REsp n. 341.559-SP, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 15.12.2003, p. 186. da la Turma, acabou afastando definitivamente o principio da sucumbéncla no man-
dado de segurança. apesar de vários votos vencidos bem fundamentados (EDREsp
108 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 109

cido em honorários advocatícios. Nas edições anteriores. contudo. meio inidôneo para amparar lesões de natureza pecuniária. Absolu-
Hely Lopes Meirelles defendia seu cabimento. consoante o art. 20 tamente, não. A segurança pode prestar-se li remoção de obstáculos
do CPC. que finnou o principio da sucumbência em substituição ao a pagamentos em dinheiro, desde que a retenção desses pagamentos
da culpa ou dolo processual. Desde que o mandado de segurança é decorra de ato ilegal da Administração, como, p. ex., a exigência de
uma causa. vale dizer, uma ação civil, deveria haver a condenação condições estranhas li obrigação do credor para o recebimento do que
, I
I' do vencido em honorários, não importando que o rito dessa ação seja lhe é devido. Neste caso, o juiz poderá ordenar o pagamento, afastan-
especial, mesmo porque nas demais ações especiais o principio da do as exigências ilegais.no O que negamos. de inicio. e a utilização
, I' !
, '
sucumbência sempre foi aplicado sem restrições. da segurança para a reparação de danos patrimoniais, dado que seu
:::J 16. Execução 230. Assun, tem entendido o Superior Tribunal de JustIça que o mandado de
segurança é instrumento hábil para "assegurar ao impetrante o direito de preferência
A execução da sentença concessiva da segurança é imediata. no recebimento dos IDAs, respeitadas as datas dos respectIvos pagamentos. sem
qualquer distinção entre créditos escriturais e créditos cartulares" (Mandado de
especifica ou in natura. isto é, mediante o cumprimento da provi- Segurança n. 4.506, julgado em 9.4.97, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros). No
dência determinada pelo juiz. sem a possibilidade de ser substituída mencionado acórdão, entendeu o STJ que não é lícíto à União condiCIOnar o resgate
pela reparação pecuniária. Se houver danos patrimoniais a compor, de título á sua transfonnação em "titulo escntural". Na ocasião, o Ministro Peçanha
Martms afastou a mcidência da SúmuIa n. 269 do STF. entendendo que existe direí-
far-se-á por ação direta e autônoma, salvo a exceção contida na Lei to líquido e certo dos credores do Estado ao recebimento dos vaiares que lhes são
n. 5.021/66, concernente a vencimentos e vantagens pecuniárias de devidos, cabendo ao Poder Judiciário velar para que sejam mantidos os direItos de
servidores públicos, posteriores li impetração (arl. 14, § 40, da Lei preferênCIa de acordo com as datas de vencunento. sem qualquer distinção descabida.
n. 12.016/09), reconhecidos na sentença concessiva, os quais se li- Da mcsma forma, o STJ afastou a incidência da SÚlnu1a n. 269 do STF em mandado
de segurança que tratava de excfusão ilegal de parcelas de proventos do impetrante,
quidam por cálculo do contadorZ" e se executam nos próprios autos ainda que a concessão do writ viesse a resultar no pagamento das referidas verbas
da segurança. 229 Isto não significa que o mandado de segurança seja (RMS n. 3.172-PR, ReI. Min. Félix Fischer, DJU 10.62002,? 222). O que estava
em jogo no caso, confonne a lição de Hely Lopes Melrelles. era o afastamento de ato
n. 27.879-4-RJ. ReI. Min. Nílson Naves. RSTJ521349). O tema terminou objeto de ilegal, e não a cobrança pura e simples.
edição de SúmuJa também pelo Supenor Tribunal de Justiça (Súmula n. 105). No STF, em setembro/2004 decidiu-se que "é cabível a interposição de manda-
228.A liquidação por cálcuío do contador foi extinta a partir da Lei n. 8.898/94. do de segurança visando ao pagamento das parcelas retroativas oriundas de promoção
Se a apuração do valor da condenação depender apenas de cálculo aritmético. cabe na carrerra militar, uma vez que tal hipótese não consubstancia ação de cobrança, mas
ao credor Iniciar a execução mediante a apresentação de memória discnminada e tem o escopo de sanar omissão da autoridade coatora quanto ao integral cumpnmento
atualizada do cálculo. Atualmente, a liquidação de sentença é regida pelos arts._:l7S-~ das portanas editadas pelo Ministro de Estado da Justiça., restando íncontroversas a
~~15-H_g9__ÇRç,. com a redação dãI:êífi.1T232. de22J:2:2005. a qual revogou os liquidez e certeza do direito dos Impetrantes" (RMS n. 24.953-O-DF. Rei. Min. Carlos
arts. 603 a 611 do CPC. Velloso. RT 833/161).
Em principio. os efeitos financeiros da sentença mandamentai. quando cabíveIS. A l.íl Seção do STJ, em junhol2006. decidiu pelo cabimento de mandado de
se limitam a correr a parnr da data da ímpetração. não podendo retroagir (STJ, Pet segurança contra ato OmISSIVO do Ministro do Estado do Planejamento. Orçamento
n. 2.604-DF, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU 30.82004). "Consoante a jurispru- e Gestão que extrapolou o prazo para o pagamento de indemzações a anistIados
dência do STJ, o pagamento de verbas atrasadas em sede de mandado de segurança políticos, não obstante a comunicação regular para pagamento feita pelo Ministro da
restringe-se ás parcelas existentes entre a data da Impetração e a concessão da ordem" Justiça e a previsão de dotação orçamentária (MS n. 11.506-DF. Rela. Min. Eliana
(STJ. Reei n. 2.017-RS. Rela. Min. Jane Silva, DJe 15.10.2008). V. a SÚlnula n. 271 Calmon, RT 855/21 1). Em linha similar, em novembro12006 a 3.í1 Seção do STJ con-
doSTF. cedeu mandado de segurança em face do Ministro da Defesa. o qual deixara de pagar
No entanto. em casos excepcionais, vem sendo admitida a retroatividade dos verbas prevIstas no orçamento para reparações econômlcas a anistiados políticos
efeitos financeiros resultantes da concessão da segurança., em prestígio da efetlvidade (MS n. 11.893-DF. ReI. Min. Nílson Naves. RT859/181). Em ambos os casos não
da deCISão judiCIal (STJ. MS n. 12.397-DF, ReI. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe se vislumbrou a lmpetração como substítutiva de ação de cobrança. mas tendo como
16.6.2008). escopo o afastamento de omIssão ilegal, cuja conseqUência era o pagamento, que
229. Sobre o tema., v. Daniel Roberto Hertei. "Execução e efetivação do man- configurava direito líquido e certo dos ÍInpetrantes.
dado de segurança", Revista Ibero-Americana de DireIto Público XXIl96-106, ln "Em se tratando de um ato administratIvo decisório passível de Impugnação por
trimestre/2006. melO de mandado de segurança, os efeitos financeiros constituem mera conseqUêncIa
!lO MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANçA

objeto próprio é a invalidação de atos de autoridades ofensivos de 12.016/09). O mandado vale como ordem legal para ' d'
~ireito individual líquido e certo.231
, d Olme lat
primento o que nele se determina, e, ao mesmo tem
' di' po, marca o "
A decisão -liminar ou definitiva - é expressa no mandado para mento a p ar!ir o qua o Impetraote, beneficiãrio da se"n~n . ,"
fi ' t d ,,--,ça, passa
que o coator cesse a ilegalidade. Esse mandado judicial é traosmitido a ad~ enr o asdas vantagens de,correntes do writ. Se o ato ordenado
por oficio ao iropetrado, sendo que, nos casos de urgência, poderá jU IClaImente epende de tramItação e formalidades admí ' tratj'
rfl'- d "., lllS vas
usar telegrama, radiograma, fax ou documento eletrônico (ar!. 13 e para sua pe elçao, evera IlllClar-se imediatamente seu processamen_
parágrafo único, com remissão ao art. 4º e seus parágrafos, da Lei n. to regular,
,.1-.1'
sob pena
..
de conSIderar-se desatendida a ordem• salvo nos
manuauo~ mexeQd,üveis, como j~ vimos precedentemente (n. 8), caso
do ato admmistrauvo impugnado. Não há utilização do mandamus como ação de em que o_lmpetra . o devera ofiCIar ao juiz. explicando a situação. 232 t;.:...
~\cobrança" (STJ. MS n. l2.397-DF. ReI. Min. Arnaldo Esteves Lima. DJe 16.62008).
~ 231. O STF e o STJ vêm decidindo que o mandado de segurança pode servIr
O nao atendImento do mandado judicial caracteriza o crime
para a devolução de multas ou sanções pecuniárias impostas ilegalmente ao impetran~ de desobediência à ordem legal (CP, art. 330 e art. 26 da Lei n.
te. A devolução do dinheiro e cons' d um efeito secwulário da senten a ue anula 12;016/09), e po: ele responde o impetrado renitente, sujeitando-se
~ rep~~o a reposição das AA!1es ao stl!-~o ante (no STF, RMS D. ~te mesmo a pnsao em flagrante, dada a natureza permanente do de-
22.739-DF, ReI. Min. Octávio Gallotti. RTJl64/l74; RMS n. 22.959-9-DF. ReI. Min.
Mauricio Corrêa. DJU 9.10.98; no STJ. REsp n. 29.950-4-SP, ReI. Min. Vicente Cer- lIto, sem prejUlZO das sanções administrativas e da aplicação da Lei
nícchiaro,DJU 1.3.93; REsp n. l69.226-SC, ReI. Min. Vicente Leal, RSTJ 109/365). n. 1.079, de 10.4.50. que disciplina os crimes de responsabilidade
Na mesma linha o acórdão da li Turma do STJ no REsp D. 410371-DF. Rei. Min. quando cabíveis. • ,
Francisco Falcão, DJU3.112003 e RT8221208. No caso, discutia-se a devolução de Cumpn'da a ordem jU 'd"IClal, exaure-se o conteúdo mandamen- ~
multa ilegalmente cobrada pelo Banco Central a uma instittllÇão financerra. Decidiu-
sc, por unanimidadc, na hipótese, não apenas que a devolução dos valores ilicitamente tal da sentença. restando apenas seu efeito condenatório para o
apropriados era cabível em sede de mandado de segurança. como resultado prático pagamento das CUStas,233 a ser exigido nos mesmos autos, na forma
do desfazimento da ilegalidade e da reposição das partes ao status quo ante, mas processual comum.
tambem que tal devolução deveria ser feita em especÍe, independentemente da expe-
dição de precatório. O STJ também acatou a viabilidade do mandado de segurança A execução provisória'34 foi estendida à sentença concessiva
para determinar a incidênCIa de correção monetária sobre os depositas em cruzados da segurança pela Lei n. 6.071. de 3.7.74. A Lei n. 12.016/09, em
novos bloqueados pelo Plano Collor (por exemplo: STJ. REsp n. 90.000-SP. ReI. Min.
Demócrito Rem.ldo, DJU 15.9.97; REsp n. l27.083-SP, ReI. Min. Humberto Gomes
de Barros, DJU9.l2.97; e particulannente o REsp n. 90.407-SP, ReI. Min. Ari Par- . 232.~A mexeqüibiI~dade da sentença tanto pode ser íntrinseca â própria deCisão
gendler, DJU24.8.98, p. 47), para corrigir o cálculo de juros ilegalmente reduzidos em (mcompetencla da autondade apontada como coatora para a prática do ato) quant
precatório judicial devido em decorrência de condenação Imposta à Fazenda (RMS n. pode decorrer de fato supervemente (por exemplo, se um deputado obtiver' a segu~
l5.963-PR. ReI. Min. LulZ Fux, RDR 36/241), bem como para assegurar o respeIto à rança p~ ser remtegrad,? no I?andato. q.u: fOI cassado, mas a legislatura já se tiver
ordem cronológica e â devida remuneração de correção monetária e juros no pagamen- encerrado, em tal sltuaçao, a mexeqülbdIdade deverâ ser Igualmente reconhecida.
to de IDAs (por exemplo: MS n. 6.735-DF. ReI. Min. José Delgado. DJU 8.5.2000, res~alvando-se ao Impetrante o a.cesso as Vias ordinârias para a reparação dos even-
p. 51; MS n. 8.60 l-DF, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 10.3.2003, p. 79). tual~ danos comprovados). Em SItuação idêntica ado exempio aqUi apontado o STJ
Em tais hipóteses, a concessão da segurança garante à parte o recebimento de determl- deCIdiu .que, "ante o decurso de prazo do mandato do prefeito municipal, m~stra-se
nadas verbas pecuniãrias como conseqüência lógica do reconheCImento da ilegalidade se~ objeto o mandado.de segurança para cassação de medida judicial que deter-
do ato praticado pela autoridade coatora. tal como no caso da devolução das multas minou o seu afastamento do cargo" (RMS n. 10.973-RN, Rei. Min. Castro Meira,
iliCItamente arrecadadas. Especificamente com relação aos critérios de correção mo- DJU 17.~1.2003.~. ~39). No ~~ Região considerou-se ter perdido o objeto a
netária e juros de IDAs, a 1a Seção do STJ decidiu recentemente, por maioria. voltar Imp~traçao qu~. objenvava garantrr a parte a realização de provas de um concurso
atrãs e modificar o entendimento já solidificado em inúmeros acórdãos anteriores, ves~bular que ja fora encerrado (RT 867/418). Em qualquer das hipÓteses a execução
passando a aplicar a SÚInula n. 269 do STF e concluindo pelo descabimento da via da lurunar ou da sentença serà juridicamente Impossível. •
processual do mandado de segurança (MS fi. 8.737-DF, ReL Min. Francisco Falcão, 233:~jurisprudê,n~ia consolidou-se no sentido do descabimento de condenação
j. 23.4.2003, Informativo STJ 170). Com a devida vênía, acreditamos que esta nova em honoranos advocaticlOs em mandado de segurança. consoante as Súmulas ns. 512
posição deveria ser revista, pois é exageradamente restritiva. retirando das partes uma do STF e 105 do STJ, tendo a Lei n. 12.016/09, por isso, a vedado expressamente
eficaz e célere arma processual de combate â arbitrariedade. Não hã que se confundir no seu art 25.
taís situações de repressão a um ato ilegal com os pedidos de Simples cobrança ou de ~ 23~: Sobre .execução provlsôría em mandado de segurança v. o excelente artigo
reparação de danos, que não são cabíveis pela via do mandado de segurança de Candldo R. Dmarnarco na RT5431125.
112 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 113

seu art. 14. § 3", trata da possibilidade de se executar provisoria- 17. Recursos
mente a sentença que conceder a segurança, ressalvando os casos
em que é vedada a concessão de liminar. Daí não se pode concluir Os recursos agora cabíveis. especificamente, em mandado de
segurança, com fulcro na Lei n. 12.016/09, são os seguintes: o agra-
que essa provisoriedade exija a caução e a carta de sentença referi-
das no art. 588 do CPC.235 E assim já se decidiu,>36 pois. se a limi- vo de instrumento, da decisão do juíz de primeiro grau que conceder
nar normalmente é executada independentemente desses requisitos, ou negar a lin1inar (art. 7", § 1"); nos casos de competência originária
dos tribunais, agravo da decisão do relator que conceder ou denegar
ilógico seria exigi-los para execução da decisão do mérito, ainda
a liminar, ao órgão competente do tribunal que integre (art. 16, pa-
que sujeíta a recurso.
rágrafo único); apelação, da decisão que apreciar o mérito, decretar
O mandado de segurança tem rito próprio e suas decisões são a carência ou indeferir a inicial (arts. 10 e 14: CPC, art. 296);238 re-
sempre de natureza mandamental, que repele o efeito suspensivo e curso de oficio ou voluntário, da sentença que conceder a segurança
protelatório de qualquer de seus recursos. Assim sendo, cumprem-se (art. 14, §§ 1" e 2");239 agravo regimental. do despacho do Presidente
imediatamente tanto a liminar como a sentença ou o acórdão conces- do Tribunal que suspender a execução da sentença ou cassar a limi-
sivo da segurança, diante da simples notificação pelo juiz prolator nar (art. 15: Regimento Interno do STF, art. 297); recurso especial
da decisão, independentemente de caução ou de carta de sentença, e extraordinário das decisões proferidas em única instância pelos
ainda que haja apelação ou recurso extraordinário pendente.237 tribunais, nos casos legalmente previstos: e recurso ordinário (art.
A provisoriedade da sentença não transitada em julgado só se maní- 18), qualquer que seja o valor da impetração,240 desde que o acórdão
festa nos aspectos que não tolhem a ordem contida na notificação do incida nos permiSSIVOS constitucionais (CF, arts. 102, II, "a", e 104,
julgado. Sem esta presteza na execução ficaria invalidada a garantia II, "b") e seja denegada a segurança.24 !
constitucional da segurança. Além disso, é de se recordar que para a
238. O art. 285-A do CPC, introduzido pela Le! n. 11.277, de 7.2.2006, disc!-
suspensão dos efeitos da sentença concessiva da segurança hã recur- plina que. "quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no JUizo jã
so específico ao Presidente do Tribunal (Lei n. 12.016/09, art. 15), o houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idêntiCOS.
que está a indicar que essa suspensão não pode ser obtida por via de poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da
apelação ou de qualquer outro recurso genérico. anteriormente prolatada", Trata-se de hipótese de "indeferimento da imcial" de pla-
no. com apreciação do ménto da demanda. antes ineXIstente no sistema processual
A decisão denegatória da segurança ou cassatória da liminar brasileiro, do quai cabe apelação, na fauna do § ln do mesmo art. 285-A do CPC.
produz efeito liberatório imediato quanto ao ato impugnado, ficando Por outro lado, deve ser anotado que, de acordo com o § ln do art 518 do CPC.
introduzido pela Lei n. 11.276, de 7.2.2006. "o juIZ não recebem o recurso de apela-
o impetrado livre para pratica-lo ou prosseguir na sua efetivação ção quando a sentença estiver em conformidade com SÚInuia do Superior Tribunal
desde o momento em que for proferida. As intimações ou comunica- de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal",
ções dessas decisões não são mandamentaís, servindo apenas para a 239. O reexame necessário é cabível mesmo quando a impetração se dinge
fluência de prazo para recurso, tendo em vista que não hã qualquer contra ato de SOCIedade de economia mista (STJ, REsp n. 254.063-PR, Rei. Min. José
Arnaldo da Fonseca, DJU29.4.2002, p. 274).
ordem judicial a cumprir quando a segurança é denegada ou a limi- A Lei n. 10.35212001 cnou o § 29. do art. 475 do CPC. afastando a remessa ex
nar é cassada ou revogada. officro, dentre outras hipóteses. nos casos em que o direIto controvertido for de valor
inferior a 60 salárIos mínimos. O STJ. no entanto, entendeu que tal dispositIvo não
se aplica nos mandados de segurança, prevalecendo para estes a regra específica do
235. O art. 588 do CPC foí revogado pelo art. 9'1 da Le! n. 11.232, de 22.122005. art 14, § ln, da Lei n. 12.016/09, que SUbStituI determinação idênttca constante do art.
A matéria de execução provisória e caução está hoje regulada pelo art. 475-0 do 12, parágrafo Unico, da Lei n. 1.533/51 (REsp n. 788.847-MT, Rela. Min. Eliana
CPC, rntroduzido pela mesma Le! n. 11.23212005. Calmon, DJU 5.6.2006).
236. TFR. Ap. n. 38.1l5-MG, DJU 11.6.76, e Ap. n. 84.890-SP. DJU 31.10.79; ~. 240. STF, RTJ85/972, 88/964.
TJRJ, RT519/226. No TRF-5' R., ApC n. 92.731-PE, RTJE 173/128. 241. Ajurisprudência vem entendendo que a expressão constitucIonal "deCIsão
-...;.>.

237. STF, RE n. 70.655-RS, DJU24.9.71, p. 5.135. denegatória'" tanto rnclui as decisões de denegação da segurança por questões de mé-
MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 115
114

rito quanto aquelas de extinçãO do processo sem apreciação do mérito. Assim, sempre Cabe ao STJ recurso especial contra decisão de unica ou última
que a segurança deíxar de ser concedida, a decisão será denegatóna, e o recurso
cabíveL nos mandados de segurança de competência ongínária dos tribunais será o instância dos TRFs ou dos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal
ordinâno (no prazo de quínze dias), e não o especíaI ou extraordinãrio (neste sentido, e Territórios, quando "contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes
STF. RMS n. 21.106-DF, Rei. Min. Sepúlveda Pertence, RTJ 165/508; AgRgMS n. vigência; julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face
21.112-1-PR, ReI. Min. Celso de Mello, DJU29.6.90. p. 6.220; RMS n. 21.597-RJ, de lei federal; der a lei federal interpretação divergente da que lhe
ReI. Min. Celso de Mello. RTJ 1861217; STJ, RMS n. 4.965-5-SP. ReI. Min. LuiZ ' outro tn'bunaI" (CF" art 105, m, ''''
Vicente Cemicchiaro. RSTJ 71/163; RMS fi. 4.883-PI. ReI. Min. Fernando Gon- haja atn'butdo a a '''')
c.242 Ore-
çalves, RSTJ 92/378; RMS n. lO.275-MG. ReI. Min. Humberto Gomes de Barros. curso extraordinário, para o STF, só é admissivel quando a decisão
RSTJ 123/51). Mesmo o acórdão que julga prejudicado o mandado de segurança se "contrariar dispositivo desta Constituição; declarar a inconstitucio-
assemelha âquele que o denega, para efeitos de cabimento do recurso ordinâno (STJ, nalidade de tratado ou lei federal; julgar válida lei ou ato d~ governo
REsp n. 17.846-GO. ReI. Min. Ari Pargendler. DJU25.62001. p. 166). Em sentido
contrário, não conhecendo de recurso ordinário interposto contra acórdão que dera local contestado em face desta Constituição" (CF, art. 102, m, "a"
pela extinção de mandado de segumnça em razão da perda de objeto: STJ. RMS n. a H
C"), e "o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das
12.278-SP, ReI. Min. Milton Luiz Pereira, DJU 23.9.2002, p. 224. A mteIposição de questões constitucionais discutidas no caso" (CF, art. 102, § 3", com
recurso denominado como especial em lugar do recurso ordinárieF, cabível, é consi-
derada como erro grosseiro. afastando a aplicação do princípIO da fungibilidade e a redação da EC n. 45/2004).243
impedindo seu conhecimento (STJ. REsp n. 101.066-SP, ReI. Mio. João Otávio de Cabem, ainda, genericamente, os demais recursos contemplados
Noronha. RT 835/162). O recurso ordinàrío tem a mesma natureza de uma apelação. pelo Código de Processo Civil (art. 496), desde que no proce.ssa-
devolvendo ao Tribunal Superior o conhecímento de toda a maténa em discussão
(RMS o. 6.566-SP, ReI. Min.Anselmo Santiago,RSTJ941362). O STJ vem admitindo mento da impetração venham a ocorrer as sttuações que os ensejam,
a aplicação do prindpío da fungibilidade quando a parte denomina recurso ordinâno a saber, agravo de instrumento e embargos de declaração,244 bem
de apelação, aproveitando o ato processual e julgando o mérito do recurso (RMS n. como a apelação de terceiro prejudicado (CPC, art. 499) e o recurso
; 'i
1.634. Rei. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 16.3.98, p. 35. eRMS n. 12.550- adesIVO (CPC, art. 500). Até mesmo o incidente de uniformização de
RI. Reia. Min. Eliana Calmon. Infonnatívo STJ 88).
jurísprudência (CPC, art. 476), como é agora denominado prolixa-
O STF. no entanto, decidiu que o § 30 do art 515 do CPC, com a redação da Lei
n. 10.35212001. não se aplica em recurso ordimino constitucional referente a man- mente o prejulgado, eadmissível em mandado de segurança, perante
dado de segurança. ficando restrito a hipóteses de competência ongínária de juízo, e
não de Tribunal Superior. no caso, do STJ (EDRMS n. 24.309-DF. ReI. Min. Marco O STJ vem entendendo incabível o agravo de InStrumenta contra despacho do
Aurélio. DJU 30.4.2004). Segundo a referida regra, quando o processo for extinto Presidente do Tribunal a qua que inadmíte recurso ordinãno, por falta de preVIsão
sem julgamento do menta. o Tribunal poderá julgar desde logo a lide. se a causa ver- legal (AgRgAJ n. 457.477-RJ, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU 12.8.2003). Deve
sar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. ser salientado. no entanto, que. a exemplo da apelação, estando o recurso ordmano
O STF deu provímento ao recurso. mas devolveu os autos para o STJ proferir o novo devidamente preparado, e sendo tempestivo, o indeferimento d~ seu proce,ssamento
Julgamento. Na mesma linha: RMS n. 24.789-DF, ReI. Min. Eros Grau,RTJ 192/692, constituí usurpação da competência do Tribunal ad quem- razao pela qual deve ser
e RMS n. 22.180-5-DF, ReI. Min. Eros Grau, DJU 12.8.2005. No âmbito do STJ, po- admitida a reclamação no Tribunal Superior, para forçar sua admissão.
rem, há jurisprudência em sentido contrâno, admitindo a aplicação do 8ft. 515, § 3lJ, Não hli recurso ordinário para o STJ contra acórdão proferido em mandado de
do CPC em sede de recurso ordinário em mandado de segurança (RMS n. 15.877-DF, segmança Impetrado contra ato de JuiZado EspeCIal (STJ, AgRgAJ n. 347.549-SP,
ReI. Min. Teori Albino Zavascki. DJU 21.6.2004). Note-se que neste caso a parte Rel. Min. Ari Pargendler, DJU 4.6.2001. p. 179). Tampouco se admite o recurso
atacou a deCIsão do STJ junto ao S1F, e lá foram negados a suspensão da segurança ordinário de mandado de segurança julgado por Tunna Recursal de JUlZ8do Especl8l
e o efeito suspensivo ao recurso extraordinário. não obstante o defenmento ínicial de (STJ. RMS n. 13.295-BA. ReI. Min. Ruy Rosado de Aguíar, DJU 4.2.2002. p. 361).
uma limmar (v. a discussão no acórdão daApC n. 813-1·DF. Rei. deslg. Min. Cézar 242. Na linha da SÚInula n. 203 do STJ. não cabe recurso espec181 contra deCi-
Peloso. DJU 1.9.2006). Ainda no STJ, aplicando por analogia o art. 515. § 3'. do são proferida por ôrgão de segundo grau dos Juízados EspeCIais.
CPC, ao recurso ordinàno em mandado de segurança e citando vários precedentes: 243. V. a Leí n. 11.418, de 19.12.2006.
RMS n. 25.462-RJ, Rela. Min. Nancy Andrighi. DJe 20.10.2008. Tais decisões mdi- 244. Sustentamos antes o cabimento de embargos ínfringentes em apelações
cam a possibilidade de que o terna venha a ser rediscutido na Suprema Corte. decididas por maioria. mas o STF. pela Súmula .n. 597. dectaro.u mcabível ~sse
Na mesma direção do STJ, não vemos motivos para a não-aplicação da nonna, recurso em mandado de segurança. Ajurisprudêncla do STJ tambem se consolIdou
que ê salutar e contribuí para a celeridade e a economia processuSlS. no sentido do descabimento dos embargos tnfringentes em apelação em mandado
No silêncIO da legislação. deve-se entender o prazo para a interposição do recurso de segmança (Súmula o. 169 do STJ). A SÚlDula n. 294 do STF tambem já prevía a
ordinâno como sendo de 15 dias, por aplicação analógica do art. 33 da Lei n. 8.038/90 inadmissibilidade dos infringentes contra decisão do STF em mandado de segurança.
(STF. RMS n. 22.295-O-DF. ReI. Min. Marco Aurélio. DJU30.6.2000. p. 90). A LeI n. 12.016/09 é expressa em negar seu cabimento (art. 25).
MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 117
116

qualquer Tribunal. Não são cabíveis os embargos infringentes, por em que é vedada a concessão de Iiminar.248 Manteve a lei ora vigente
força do art. 25 da Lei n. 12.016/09, nem tampouco embargos de a sistemática trazida pela Lei n. 6.071, de 3.7.74, que, ao ensejo de
~ divergência, confo~e a jurisprudência do STF.245 adaptar as normas do mandado de segurança ao novo Código de Pro-
Quanto ao cabunento do agravo de mstrumento contra deci- cesso Civil, submeteu a sentença concessiva a recurso de oficIO e
são interlocutória proferida no curso do processo do mandado de declarou que poderia ser executada provisoriamente (art. 12, pará-
segurança, parece-nos que no andamento do feito podem sobrevir grafo unico, da antiga Lei n. 1.533/51, com a redação dada pela Lei
decisões inteiramente contrárias à lei processual e prejudiciais à par- n. 6.071/74). Essa "execução provisória", em mandado de segurança,
te. Ficarão sem recurso oportuno tais provimentos? Visto que a Lei difere daquela referida pelo art. 588 do CPC para as outras sentenças,
n. 12.016/09 especificou o cabimento de agravo de instrumento nas como já demonstramos precedentemente (n. 16).249 .
hipóteses que menciona, mas não excluiu a possibilidade genérica de Os prazos para recursos são os fixados no Código de Processo
agravo de instrumento previsto no art. 522 do CPC, entendemos que Civil, contando-se em dobro para a Fazenda Pública, para o Minis-
este pode ser aplicável na tramitação da segurança de modo excep- tério Público (art. 188)250 e para litisconsortes com procuradores
cional, como meio de impugnação de decisões nitidamente prejudi- diferentes (art. 191). Para responder ao recurso em contra-razões. o
ciais, quando não conflitar com as prescrições da sua lei especial nem prazo é o singelo para todas as partes, pois o Código não abriu eXCe-
contrariar a indole do mandamus. ção para o mandado de segurança e este, por SeU rito especialíssimo
~ O agravo de instrumento típico e a sua modalidade retida,246 afi- de remédio heróico, só admite alargamentos de prazos processuais
nal, não conflitam com a norma específica do mandado de segurança, quando a leI expressamente os determine. No caso, não Se pode en-
nem contrariam sua indole de remédio heróico, célere na sua tramita- tender que a ampliação genérica do art. 191 - "para falar nos autos"
ção, pois eSSeS recursos, não tendo efeito suspensivo, não impedem o -importe duplicação do prazo de contra-razões, pnvilégio, esse, não
caminhamento da impetração, nem obstaculizam Seu julgamento de especificamente concedido à Fazenda Pública, ao Ministério Público
mérito; apenas asseguram regularidade em seu processamento. Daí o ou às partes que tenham mais de um procurador nos autos. Essa a
SeU cabimento, como medida excepcional de resguardo procedimen- Unica interpretação que se coaduna com a natureza urgente e manda-
'. ,tal da segurança. mental das decisões em mandado de segurança.
.:c'l O efeito dos recursos em mandado de segurança é somente o Observamos, ainda, que somente a Fazenda Pública, ou seja,
devolutivo, porque o suspensivo seria contrário ao caráter urgente e a União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas autarquias, é
auto-executório da decisão mandamentaL247 Pontue-se que a Lei n.
12.016/09 não autoriza, entretanto, a execução provisória nos casos 248. Em relaçãO aos recursos contra deCisões concessivas de reclassificação ou
equiparação de servidores públicos, vencimentos e vantagens, a exceção já constava
. 245. O Plemino do STF. por malOna, entendeu incabíveis embargos de diver- da Lei n. 4.348/64. que nesses casos impunha o efeito suspensivo (arts. 5ll e 7U) •
gênCia opostos em face de acórdão proferido em sede de recurso ordinário em man- 249. A Lei n. 8.076/90. no seu art. lU, parágrafo Uxuco, sujeitava ao duplo grau
dado de segurança (EDRMS n. 22.926-DF, ReI. Min. Mw<o Aurélio,). 19.2.2003, de junsdição. determinando que somente produziriam efeitos apos a sua confirmação
lnfonnallvo STF 298/1 l. peio respectivo Tribunal, as sentenças concessIvas de mandado de segurança contra a
246. Na redação do art. 522 do CPC dada pela Lei n. 11.187, de 19.10.2005, legislação que constitui o chamado "Plano ColIor",
o agravo retido passou a ser a regra. ou a modalidade típIca, ao passo que o agravo O TRF da 3a Região proclamou a mconstituclOnalidade do referido paragrafo
de instrumento de apreciação imediata pelo Tribunal ad quem tornou-se a exceção. ónico do ar!. 12 da Lei n. 8.076/90, em sessão do seu Plenmo realizada em 25.4.91,
247. STJ. RMS n. 8.320-SP. ReI. Min. Peçanha Martins, DJU 19.12.97, p. no MS n. 90.03.375625-5. entendendo que a disposição legal impugnada limitava a
67.468. Em situações excepcionais. no entanto, a jurisprudência vem admitindo competência do Poder Judiciário, constítucíonalmente assegurada. Em decorrênCIa.
o efeito suspensívo à apelação contra a sentença denegatóna da segurança. ou ao foram denegados vãrios mandados de segurança impetrados pelo Banco Central ~ontra
recurso ordinário no caso de julgamento onginário em Tribunal, de modo a garantir atos de juizes de 111 instância que deixaram de aplicar a norma legal que o Tnbunal
a persístêncía dos efeitos da liminar até o julgamento do recurso, evítando o pereciw considerou InconstItucional (v. MS n. 37.791. reg. 90.03.38434-7, do qual foi Relatara
menta do direito do impetrante (v., portados: RMS n. 351-SP, Rei. Min. Antôruo de a d. Juiza Annarnana Pimentel. ln RTRF da 3a Região-71282 e ss., julho-setembrof91).
Pádua RibeIro, RSTJ96/175). V.. amda, ns. 6 e 12. supra. 250. I' TACSP, AI n. 748.149-0, Rel.JUlz Correía Lima, RT750/297.
MANDADO DE SEGURANÇA 119
118 MANDADO DE SEGURANÇA

que goza do privilégio da duplicação dos prazos para recurso, não e/ltidade a que pertencer o coator,2S4 sempre que concedida a segu-
se estendendo tal prerrogativa às entidades paraestatais (empresas rança ou a liminar, porque sobre ela recairão os encargos da conde-
públicas, sociedades de economia mista, fundações instituídas pelo nação ou da suspensão do ato (art. 14, § 2~, da Lei n. 12.016/09). Em
Poder Público, serviços sociais autônomos), nem aos concessionários geral, são aplicáveis nas impetrações todas as regras de tramitação
dos recursos que não forem incompatíveis com as especificidades
de serviços públicos que impetrarem ou responderem a mandado de
segurança. Essas entidades ou empresas de personalidade privada só do mandamus.
contarão o prazo em dobro se a lei federal lbes conceder expressamen-~ Na pendência do recurso, o recorrente pode manifestar a de-
te o privilégio, equiparando-as, para esse efeito, à Fazenda Pública. sistência a qualquer tempo, índependentemente de anuêncía das
demais partes, conforme o disposto no art. 501 do CPC.2~5 Mas não
A contagem do prazo para recurso em mandado de segurança
há desistência passivei do recurso ex officio (art. 14, § I·, da Lei n.
flui da intimação oficial do julgado, e não da notificação à autoridade
12.016/09).
coatora para o cumprimento da ordem (STF, Súrnula n. 392). Corre
''-,\ nas férias o prazo para recurso extraordinário e agravo. 2S1 Transitada em julgado a sentença concessiva ou denegatória da
segurança, desde que tenha apreciado o mérito, só por ação resciso-
.::;0. A interposição dos recursos pode ser feita pelos impetrantes, ria poderá ser desfeito o decidido, por constituir coisa julgada em
impetrados,252 Ministério Público, litisconsortes (não confundir sentido formal e material, como veremos a seguir. No entanto, se a
com simples assistentes), terceiros prejudicados,253 bem como pela decisão não decidir o mérito, não impedirá que, por ação própria, o
impetraote pleiteie os seus direitos (art. 19 da Lei n. 12.016/09).
251. STF, RT 5321268.
I
" ! 25~_ O ~TF decidiu. em ca,,? Isolado, que: "Em tema de mandado de segurança. Prevê o ar!. 17 da Lei n. 12.016/09, ademais que "nas decisões
O coator e notIficado para prestar mfonnações. Prestadas estas. sua intervenção cessa. proferidas em mandado de segurança e nos respectivos recursos,
Não tem ele legitimidade para recorrer da decisão deferitôna do mandamus. A legiti~ quando não publicado, no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data
mação cabe ao representante da pesso8Jurídica mteressada" (acõrdão unânime da la
T., ReI. Min. Soares MOOoz, RE o. 97.282-9-PA, DJU 24.9.82).
do Julgamento, o acórdão senL$..ttQ.sJi.tui.d~LP_elas respectivas no~~
. Nas ediçõ~ anteriores~ discordamos desse entendimento. pois o impetrado, ,!qui&'}Í,gcil.S,. ÍIldep-el1~te.n.tem.ente...de revis~o" .
que mtegrou a lIde desde as mformações. não pode ser alijado do processo na fase Inspirando-se nos dispositivos do art. 17 da Lei n. 1.533/51, o
de recurso. Poderá haver apelação conjunta ou separada, sem exclusão do impetrado art. 20 da Lei n. 12.016/09 determinou que, à exceção do habeas cor-
como têm admitido os outros Tribunais e o próprio STF em casos anteriores. '
pus, os processos de mandado de segurança e os respectivos recursos
Em posição intermediária., decidiu a Corte Especial do STJ: "Tem legitimidade
para recorrer, no mandado. de segurança. em principio. o orgão público, e não o impe- terão prioridade sobre todos os demais procedimentos Judiciais.
trado, que age como substltuto processual da pessoa jurídica na pruneíra fase do writ.
Ao impetrado faculta-se. não obstante. a possibilidade de recorrer como assistente li- ~
ttsconsorcial, ou como terceU'O. apenas a fim de prevenir sua responsabilidade pessoal 18. Coisa jlllgada
por eventual dano decorrente do ato coator. mas não para a defesa deste ato em grau
recursat, a qual incumbe à pessoa Jurídica de Direito Público, por seus procuradores A coisa julgada pode resultar da sentença concessiva ou dene-
legalmente constituídos" (REsp o. l80.6l3-SFJEDiv, Rela. Min. ElÍllna Calmoo, RF gatória da segurança, desde que a decisão haja apreciado o mérito da
3801298). Citando este pre<:edente da Corte Especial. a 6' Turma do STJ decidiu que pretensão do impetrante e afumado a existência ou a inexistência do
u a autoridade coatora apenas tem legitimidade para recorrer de sentença que concede direIto a ser amparado.2S6 Não faz coisa julgada, quanto ao merito
a se~ça quando tal recurso objetiva defender interesse propno da dita autoridade",
E. maIS, que"o prefeito municipal. na qualidade de autoridade coatora, não possui o
254. STF, RTJ1l81377; TJSP. RT 828/212.
prazo dobrado para recurso, sobretudo porque o alcaide municipal não se confunde
255. Neste sentido. admitindo a desistência do recurso mesmO depois de mi-
com a Fazenda Pública, esta o ente que suporta o ônus da decisão do mandado de
ciado o julgamento, pendente de finalização por um pedido de vista: STJ, RMS n.
segurança" (REsp o. 264.632-SP, Rela. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJU
19.11.2007). Pacificando a controvêrsia., a Lei n. 12.016/09 estatui expressamente que 20.582-G0. ReI. deslg. Min. Luiz Fux, DJU 18.10.2007.
se estende à autoridade coatora o direIto de recorrer (art. 14, § 2-2 ). 256. Alfredo Buzaid, "Do maodado de segurança", RT258/35; Celso Agricola
Barbi.Do Mandado de Segurança, 1976, p. 255; STF, RT4591252.
253. STF, RTJ85/266, RT3411509.
120 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 121

do pedido, a decisão que apenas denega a segurança por incerto ou mas partes, incidente sobre objeto do mesmo ~ênero (mercadorias,
ilíquido o direito pleiteado, a que julga o impetrante carecedor do serviços, atividades etc.). Neste caso, não se venfica a cOlsaJulgada,
mandado e a que indefere desde logo a inicial por não ser caso de por faltar à decisão anterior um dos pres.supostos de sua ocorrênc~,
segurança ou por falta de requisitos processuais para a impetração ou ou seja, a vinculação da sentença pnmItiva ~e.~~~()ÉJ!~_(~nao
pelo decurso do prazo para impetração (art. 10 da Lei n. 12.(}16/09). a objeto do mesm.<!.-g~n.ero). Ter-se-á, aqui, apenas um precedente
Quando a lei diz que a decisão do mandado de segurança não judicial; nunca a coisajulgada, em acepção jurídica própna.
impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie seus direitos e Mas, desde que se forme regularmente a coisa julgada, em sen-
os respectivos efeitos patrimoniais (art. 19) e possibilita a renovação tença de mandado de segurança, tem "força de lei nos limites da lide
do pedido quando a sentença denegatória não lhe houver apreciado o e das questões decididas" (CPC, art. 468), e, portanto, não há razão
mérito (art. 6", § 6"), é de entender-se que a Justiça poderá manifes- para se permitir sua desconstituição por aç.ão ordinária, quando e
tar-se, sempre, sobre a matéria não decidida no mandado anterior. Daí certo que unicamente a rescisona podem faze-lo (CPC, art. 485). DaI
não se pode concluir, data venia dos que entendem em contràrio,257
porque o próprio STF, dando o exato sentido e alcance de sua Súmula
que, sendo a segurança denegada por qualquer motivo, ficará aberta a n. 304, consignou que, quando a decisão profenda em mandado de
via ordinàriapara a reapreciação da mesma questão. Não nos parece segurança conclui que não assiste direito ao impetrante, apreCIando
assim, porque tal exegese conduz à negação da coisajulgada, pelo só o mérito, o único modo de atacar ares judicata assim formada é a
fato de a decisão ser contrària á pretensão do impetrante. O que a lei ação rescisÓria.258 Com efeito, a expressão contida na indigitada SÚ-
ressalva é a composição dos danos pelas vias ordinàrias, exatamente mula, "não fazendo coisa julgada", equivale a dizer-se: quando não
porque essa indenização não pode ser obtida em mandado de segu- fizer coisa julgada contra o impetrante, não impede o uso da ação
rança. Por outro lado, assinala o legislador que o interessado poderá própria. Por outro lado, quando fizer coisa julgada, impede o uso de
renovar o pedido em outro mandado, enquanto o juiz não o denegar outra ação ou, mesmo, de outro mandado de segurança. Mas IstO so
pelo mérito. ocorre nas sentenças regulares, pois as sentenças nulas não fazem
Nada impede, entretanto, que a mesma parte impetre sucessi- coisa julgada, sabido que o ato nulo não gera efeitos jurídicos váli-
vos mandados de segurança com o mesmo objeto, desde que por dos, e, por isso mesmo, a decisão nula, ainda que supere os prazos de
fundamentos diversos. Já então não ocorre renovação do mandado, recursos específicos, pode ser atacada e invalidada por mandado de
MSe;;tido a qu~i se refere, opondo a restrição do art. 6", § 6". segurança, porque seus efeitos e sua execução não passam de atas
Haverá, em tal caso, impetração inteiramente nova, apenas entre as ilegais, produtos do abuso de poder, reprimíveis pelo mandamus nos
mesmas partes figurantes em mandado anterior. Nessas hipóteses não termos constitucionais.
há cOISa Julgada impeditiva do novo mandado, !l0rque não oc~. Quanto à coisa julgada no mandado de segurança coletivo,
mesma razão de pedir, embora confluam os dois outros reqUIsitos da que mereceu pela primeira vez tratamento da legislação ordinária,
res judicata. remete-se o leitor ao item subseqüente.
/ .
Para que sutja a coisa julgada, em sentido formal e material, é
indispensável a tríplice identidade de pessoas, cC!!!Sa e W<ztg,: as par- 19. Mal/dado de segllral/ça coletivo259
tes hão de ser as mesmas; o fundamento de pedir o mesma e o objeto
õ mesmo, e il;lc;apen..s assemelhad,,:Muitocomum é a repetiç;léidõ A Constituição de 1988 admitiu o mandado de segurança co-
ãtéi-aouSlvo, já considerado ilegal em outro mandado entre as mes- letivo, a ser impetrado por partido político com representação no

257. Seabra Fagundes, O Controle dos Atas Administrativos pelo Poder 258. STF. RTJ 55/698, RTJ 58/735.
Judiciáno, 1957. p. 337, mfine; Luiz Eulálio de Bueno Vidigal, Do Mandado de 259. Sobre o mandado de segurança coletivo, v.: J. J. Caimon de Passos, Man-
Segurança, 1953,p. 151. dado de Segurança ColelIvo, Mandado de Iryunção e "Habeas Data" - Constlluzção
124 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 125

interesses difusos, que deverão ser protegidos pela ação civil públi- acórdão do STJ defendeu igualmente a necessidade de anuência
ca.'66 Neste sentido, o parágrafo linico do art. 21 da Lei n. 12.016/09 dos associados, pois cada qual poderia preferir ajuizar a sua própria
estabelece, nos incisos I e II, que os direitos protegidos pelo manda- demanda, escolhendo e sustentando os argumentos juridicos que
do de segurança coletivo podem ser propriamente coletivos - quando entendesse mais relevantes.'6. Segundo esta decisão, a denegação
indivisíveis, porém pertencentes a um grupo ou categoria de pessoas da segurança coletiva seria oponível a todos os associados, os quais,
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação juridica portanto, deveriam ter a opção de opinar sobre a impetração. Outras
básica - ou individuais homogêneos - da mesma forma pertencentes decisões judiciais sustentaram que a exigência de autorização seria
â totalidade ou a parte dos associados ou membros do impetrante. dispensável, pois a hipótese seria de legitimação extraordinária, e
Não se fez menção, na legislação, aos direitos difusos, o que reforça não se confunde com qualquer tipo de representação ou m'1lldato.269
. o entendimento aqui exposto. A matéria acabou sumulada no STF no sentido da dispensa da au-
'"
.2..> A natureza juridica desta substituição processual no mandado torização específica;270 essa desnecessidade da autorização especial
de segurança coletivo foi, no passado, objeto de debate na juris- foi explicitada no caput do art. 21 da Lei n. 12.016/09. Assim, não
prudência. Parte dos tribunais exigía que. a associação estívesse é necessária a autorização expressa em assembléia, bastando que a
expressamente autorizada por seus filiados para ajuizar a demanda, entidade impetrante se enquadre, por sua natureza e seus estatutos,
por cada membro individualmente ou através de assembléia?67 Um como um dos legitimados pela alínea "b" do inciso LXX do art. 52
da Constituíção, rol reiterado no art. 21 da Lei n. 12.016/09.
266. O Mirusténo Público tem impetrado alguns mandados de segurança na Quanto á extensão da coisa julgada, objeto de preocupação no
qualidade de defensor de direitos difusos. de guardião da ordem jurídica em gemI.
Algumas declsõesjudicíaís admítem esta modalidade de tmpetração (no STJ: RM.:S primeiro acórdão do STJ acima citado (RSTJ73/166), entendemos,
n. 5.895-DF, ReI. Mio. AssIS Toledo, DJU 5.2.96, p. 10410, e RDR 41225; RMS n. desde a promulgação da Constituição, que se deveria aplicar o
9.889-MG. ReI. Min. Gílson Dipp, DIU 15.3.99, p. 264). Como mencionado, enten- mesmo principio já inserto na legislação pertinente â. ação popular
demos que se um determinado ato é atentatório a direItos difusos, e não a direitos (art. 18 da Lei n. 4.717/65) e á ação civil pública (art. 16 da Lei n.
individuais, o Ministério Público poderá intervír para reprimi-lo. mas não pela via do
mandado de segurança. e, sim. atraves de ação civil pública. Do contrário se estaria 7.347/85), no sentido de que apenas a sentença de concessão da
consagrando um mandado de segurança coletivo anômalo, fora das hipóteses previs- segurança faz sempre coísa julgada coletiva. A denegação da ordem
tas expressamente na Constituíção (arl SII. LXX). coletiva, por outro lado, só prejudi~ria o~Yl<."illªl.l1Land_ªilº de segu-
Em impetração de Estado-membro da Federação em defesa de interesses da rança individual quando' fundada em mérito, e não quando baseada-
população local. contra ato do Presidente da República, o Tribunal Pleno do STF
decidiu que a tutela dos interesses difusos da população do Estado estaria processual- ;a falta da provapré-=CÕnstitUid~ dó·di~elto'líquido e certo alegado.
mente restrita ãs hipóteses prevIstas na Leí da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85), Afmal, em tais sítuações, a denegação da segurança ocorre sem que
e a impetração de mandado de segurança coletivo está sujeita aenumeração taxativa
do art 50. Lxx. da CF (partidos políticos. organizações smdicaís. entidades de clas- 268. @Turma, Rei. Min. LUlZ Vicente Cernicchiaro, RlvrS n. 3.365-1-GO,
se e assocIações): MS n. 21.059-RJ, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, RTJ 133/652. RSTJ73/166
AdemaiS, em mandado de segurança ímpetrado pelo Procurador-Geral da República 269. Nesta linha, no STF, o RE n. 141.733-I-SP. ReI. Min. limar Gaivão, RT
afirmou-se que "a legitimidade ad causam no mandado de segurança pressupõe que 720/310, RE n. 181.438-I-SP, ReI. Min. Carlos Velloso, RT734/229, e RMS n.
o impetrante se afinne titular de um direIto subjetivo PfÔpriO" (S1F. Tribunal Pleno, 21.514-3-DF, ReI. Min. Marco Aurélio,ADV94. ementa 64.267. e. no STJ, o MS n.
MS n. 21.239-DF, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU23A.93, p. 6.920). 4.126-DF, ReI. Min. Demócrito Remaldo, RT729/134, e RMS n. 3.298-PR, ReI. Min.
° correto enquadramento dos casos de cabimento do mandado de segurança e
da ação civil pública é extremamente relevante. na medida em que são marcantes as
Jose Arnaldo. DJU24.2.97, p. 3.347 (integra do acórdão publicado na RSTJ96/363),
e amda o RMS n. 12.748-TO, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU 11.3.2002, p. 217, e
diferenças em termos de legitimidade ativa e passíva, procedimento e competência MS o. 7.993-DF, Rela. Min. Launta Vaz, DJU23.11.2005.
°
para julgamento. acatamento de mandado de segurança com características de ação
civil pública nos parece ímplicar violação ao devido processo legal e afastamento do
270. No STF. v. acôrdãos unânimes do Tribunal Pleno: RE n. 193.382-8-SP.
ReI. Min. Carlos Velloso, RT738/224; MS n. 22.132-RJ, ReI. Min. Carlos Velloso,
juiz natural - garantias constitucionaís essenciais ao Estado Democrático de Direito. RTJ 166/166. Posteriormente, foi editada pelo STF a Súmula n. 629: nA lmpetração
267. TRF-4' Região, ApCMS n. 89.04.05981-0-RS, ReI. JUIZ Paím Falcão, de mandado de segurança coleuvo por entidade de classe em favor dos associados
RTJE 120/102, e TARS,ApC 0.190083980 Ret.Juiz Osvaldo Stefunello,RT6681159. independe da autorização destes",
126 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 127 . /
V
os indivíduos - verdadeiros titulares do direito debatido - tenham a Vale ressaltar que o art. 22..A da Lei n. 9.494/97, criado atraves
oportunidade de intervir no processo e produzir as suas razões e os de medida provisória sucessivamente reeditada,273 estabeleceu que
seus documentos. O caput do art. 22 da Lei n. 12.016/09 não chega "a sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta
a tocar neste ponto, apenas limitando subjetivamente os efeitos da por entidade associa~va na defesa dos i~teresses e direitos dos seus
I sentença "aos membros do grupo ou categoria substituídos pela associados abrangera apenas os subStItUldos que tenham, na data da
I, impetrante". Porém, não nos parece que o texto legal prejudique ou propositura da ação, domicílio no âmbito da competência.ter:'tonal
afaste a interpretação aqui defendida, podendo ser construída uma do órgão prolator", Por outro lado, o paragrafo umco dispoe que
exegese que alinhe o regime da coisa julgada no mandado de segu- "nas ações coletivas propostas contra entidades da Administração
~\ rança coletivo com aquele das demais ações coletivas. direta, autárquica e fundacional da União, dos Estados do Distrito
~ O § I" do art. 22, em dispositivo assemelhado ao do art. 104 do Federal e dos Municípios, a petição micial deverá obngatoriamente
CDC, estabelece que o mandado de segurança coletivo não induz estar instruida com a ata da assembléia da entidade associativa que
Iitispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa jul- a autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados
gada não beneficiarão o impetrante individual se este não requerer a e indicação dos respectivos endereços". O STJ vinha considerando
desistência do seu próprio mandado de segurança em trinta dias a par- estas regras aplicáveis aos mandados de segurança coletivos, exigindo
tir da ciência da impetração coletiva?71 Há, por sinal, jurisprudência a indicação do rol dos associados e a ata da assembléia de autorização
esclarecendo que "o ajuizamento de mandado de segurança coletivo para a impetração coletiva por associações e sindicatos?74 No entanto,
por entidade de classe não inibe o exercicio do direito subjetivo de considerando-se a jurisprudência do STF Citada acima, fazendo uma
postular, por via de writ individuai, o resguardo de direito líquido e clara distinção entre a legitimação constitucional extraordinária para
certo, lesado ou ameaçado de lesão por ato de autoridade, não ocor- a propositura de mandado de segurança coletivo,21' e aquela legitima-
rendo, na hipótese. os efeitos da Iitispendência". 272 Esta aproximação ção para a mera representação coletiva dos associados em juizo?76 a
das legislações para demandas coletivas, aliás, reforça o entendimento Suprema Corte não aplicou as regras do art. 22..A da Lei n. 9.494/97
de que o regime da coisa julgada seja semelhante, limitando-se os aos mandados de segurança coletivos. Com efeito, o STF acabou por
efeitos coletivos desta ás hipóteses de julgamento de merito. reformar uma das decisões do STJ· mencionadas acima - a do MS n.
Assim, dentro do prazo decadencial de 120 dias, o individuo 6.318-DF -, determinando a volta dos autos para que aquela Corte
inserido no âmbito de uma possível impetração coletiva pode op- julgasse o mérito da impetração, independentemente da indicação
tar por impetrar o seu próprio mandado de segurança individual; do rol dos associados da entidade impetrante ou da ata de assembléia
ajuizado também o mandado de segurança coletivo, ele poderá autorizadora do ajuizamento do writ. 277 Ajurisprudência mais recente
prosseguir com a sua ação individual (e aí a decisão de merito no do STJ passou a dispensar o requisito de autorização ou relação no-
seu processo, em relação a ele, prevalece sobre aquela do coletivo), minal dos substituídos para a impetração de mandado de segurança
ou pedir a desistência da sua impetração. Se não tiver impetrado a coletivo,278 entendimento alinhado com o texto do ar!. 21 da Lei n.
ação individual, e permanecer inerte, estará aderindo ao resultado 12.016/09. Em matéria de §§~.ordináriascoleti,,~, no entanto, e
final daquela coletiva. Evita-se, desta forma, que o indivíduo seja com base na norma constitucional prevista no inciso XXI do art. 5",
inadvertidamente prejudicado por uma impetração coletiva juridica-
mente deficiente ou mal fundamentada, pois reserva-se a cada um a 273. MP n. 2.180-35, de 24.8.2001.
274. I' Seção do STJ, o MS n. 6.307-DF, ReI. Min. Garcia Vieira, DJU
opção de perseguir o direito por sua própria conta e risco.
25.10.99, p. 33. e na 3' Seção o MS n. 6.318-DF, ReI. Min. Fenmndo Gonçalves,
271. Ver exaustivo acórdão do TRF-II Região. CItando vários outros preceden- DJU 11.9.99, p. 40.
!esJurisprudenciaIs sobre a maténa (ApCMS n. 1997.01.00.055740-2-DF. Rela. Juíza 275. CF, ar!. 5', LXX.
Assusete Magalhães. RT756/387). 276. CF, ar!. 5', XXI.
272. STJ, MS n. 7.S22-DF. ReI. Min. Vicente Leal.DJU 6.5.2002, p. 239. e MS 277. STF, RMS n. 23.566-DF, ReI. Min. Moreíra Alves. RT 803/14 L
n. 7.570-DF, ReI. Min. Vicente Leal, DJU 10.6.2002, p. 140. 278. Na 3' Seção, v. MS n. 7 .993-DF, Rela. Min. Launla Vaz, DJU23.l 1.2005.
128 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 129

o STF exige a autorização expressa dos filiados para o ajuizamento segurança coletivo, por não constar da relação dos legitimados aos
da demanda.279 quais se refere o texto constítucional.2 89
Os tribunais têm entendido que o direito alegado deve ter vín- O mandado de segurança coletivo segue o mesmo procedimeuto
culo com o objeto da entidade impetrante, ou com a atividade de individual, â exceção de que a liminar só poderá ser concedida após
seus associados, mas não se exige que este direito seja peculiar e a audiência do representante judicial da pessoa juridica de direito
próprio daquela classe (no STF, o já citado RE n. 181.438-1-SP 280). público pertinente. que deverá se pronunciar em 72 horas (art. 22, §
Mesmo em matéria fiscal é admissível a impetração coletiva se o 20. da Lei n. 12.016/09). Trata-se de repetição do que já constava do
direito líquido e certo for relativo ao não pagamento de um imposto art. 2° da Lei n. 8.437, de 30.6.92. 290
intimamente ligado à atividade dos associados da impetrante, como
já decidiram o STF281 e o TRF da 3' Região. 282 Segundo decisão 20. Qllestões processllais
do STJ, o mandado de segurança coletívo não é via adequada para
O mandado de segurança ainda apresenta questões processuais
Sindicato pleitear a tutela de interesse que não seja da categoria, de
debatidas pela doutrina e pela jurisprudência, sobre as quais tecere-
grupo ou de pessoas a ele filiadas. 283
mos breves considerações nas epigrafes que se seguem.
--i A OAB tem legitimidade para impetrar mandado de segurança
contra ato de efeItos concretos afetando o exercicio da advocacia e Tramitação nas férias forenses - Em razão de seu caràter emer-
suas prerrogativas,284 mas não contra atos estranhos à profissão.285 gencJaI e da preferência legal sobre todas as demais causas, ~xc<et-,,-­
. O mesmo raciocínio se aplica às associações de magistrados?86 o habeas COl'QUS (Leis ns. 12.016/09, art. 20, e 4.410/64. art. 10),
-, O partido político só pode impetrar mandado de segurança co- õiiiãllêlado--de segurança deve ser processado e julgado nas férias
letivo para a defesa de seus próprios filiados, em questões políticas, forenses coletivas, como, aliàs, já decidiram alguns Tribunais esta-
quando autorizado pela lei e pelo estatuto, não lhe sendo possivel duais?9l Não se justifica sua tramitação apenas para apreciação da
pleitear, por exemplo, os direitos da classe dos aposentados em lirmnar, pois que, se negada, contínua em nsco de perecimento o di-
geral,287 ou dos contribuintes, em matéria tributária.288 reito do impetrante, nem sempre restabelecido em toda sua plemtude
De acordo com a jurisprudência do STF, o Estado-membro da com a concessão final do mandamits; se concedida a liminar, poderâ
Federação não tem legitimidade ativa para impetrar o mandado de ser prejudicada a Administração pelo tempo em que ficou inibida de
atuar, até a denegação final da segurança. Em qualquer hipótese, não
279.AgRgRE n. 225.965-DF. ReI. Min. Carlos Velloso, lnJonnallVa STF 14013, se legitima a paralisação do feito durante as férias forenses coletivas,
e AO n. 152-RS, ReI. Min. Carlos Velloso. Infonnatívo STF 162/1; V., aínda: Paulo sob pena de se frustrar sua celeridade e desvirtuar seus objetivos
Brossard, "Legitimação processual de assocIação para representar seus filiados em
JUízo ou fora dele, mediante autorização específica". RTDP 45/149. constitucionais e legais de amparo pronto e eficiente de direitos
280. RT7341230. individuais ou coletivos lesados ou ameaçados de lesão por ato de
281. RE n. 157.234-5-DF, Rei. Min. Marco Aurélio. RT7241228. autoridade. No entanto. o STJ decidiu reiteradas vezes que devem ser
282. ApCMS n. 14.298. RTRF-3' Região 15/244. suspensos os prazos para interposição de recursos em mandados de
283. REsp n. J10.224-SP. ReI. Min. Humberto Gomes de Barros. DJU 17.5.99. segurança. por aplicação da regra geral do art. 179 do CPC.292
p.131.
284. TJSP. MS n. 136.826-1. ReI. Des. Jorge Almeida. RT665n9. 289. MS n. 21.059-I-RJ. ReI. Min. Sepúlveda Pertence. RF 3171213 e RT
285. TRF-2' Região. ApCMS n. 91.02.J7184-8·RJ. ReI. JUIZ Celso Passos. 669/215.
ADV92. ementa 60.603. 290. Segundo o STJ. a concessão da liminar. antes de decorrido o prazo para a
286. STF. MS n. 21.282-9-DF. ReI. Min. Carlos Velloso. RT7291116, e MS n. manifestação do Estado. no mandado de segurança coletivo. ê nula (REsp n. 88.583-
21.291-8-RJ. ReI. Min. Celso de Mello.ADV96. ementa 73.192. SP. ReI. Min. Humberto Gomes de Barros. DJU 18.11.96, p. 44.847).
287. STJ, MS n. 197-DF. ReI. Min. Garcia Vieira. RSTJ 121215. 291. TJPR, RT 522/175; TJSP. RT 192/274. 495/84. 534198.
288. STF. RE n. 196.J84-AM. Rela. Min. Ellen Gracle.DJU 18.2.2005. eRTJ 292. V.• p. ex.• REsp n. 489.903-RS, ReL Min. Jo,é Delgado. RF 3731243.
19411.034. citando precedentes.
130 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 131

É de se anotar, porém, que aEC n. 45/2004 limitQll a possi- da decisão de !llérito. Mas é óbvio que, se a impetração for feita com
bilidade de férias coletivas no âIDbito do Judiciário aos Tribunais desconhéClmento -dos fundamentos integrais do ato impugnado, pelo
§.l!Reriores, com o novo inciso XII do art. 93 da CF ("a atividade não fornecimento oportuno de certidão de inteiro teor desse ato, só
jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos apresentada com as informações ou posteriormente a elas, pode o im-
juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que não petrante adequar o pedido aos fundamentos do ato, até então não re-
houver expediente forense normal, juizes em plantão permanente"). velados pela autoridade coatora, pOIS que esta não hã de tirar proveito
~ yróprii\ malí~i~, e. feita essa adequação,-líciloé,lO jüizjulgar
'.. Julgamento no Tribunal- Dispõe a Lei n. 12.016, de 7.8.2009 ã causa levando em consideração o que ficou esclarecido nos autos.
que, na instância superior, os processos de mandado de segurança e
os respectivos recursos devem ser levados a julgamento na primeira Alteração dos flllldamentos - Não pode o Impetrante, nem o
sessão que se seguir á data "!!!..<lue forem conclusos ao relator (art. juiz, alterar os fundamentos do pedido na inicial. pois que, "no man-
20, § 12) e que, nos casos de competência originária do~tlibllllais, dado de segurança, a violação da norma jurídica é o próprio fato que
assegura-se a defesa oral na.se.ssão do julgaIDento (ârt. 16). Pode-se legitima a impetração". E compreende-se facilmente essa orientação
eniender, tanto no julgamento dos mandados de segurança de com- jurisprudencial, porque no mandamus não são os fatos que estão em
petência originária dos tribunais, quanto no julgamento de apelações litígio, mas sim a legalidade do ato da autoridade coatora perante o
e recursos ordinários. que a norma não exclui a necessidade de pu- direito líquido e certo do impetrante. Por isso e que a lide fica vin-
blicação em pauta nem o direito de as partes produzirem sustentação culada aos próprios fundamentos juridicos da impetração, não sendo
oral.293 admitido ao juiz apresentar outros fundamentos para conceder ou
denegar a segurança.295
Alteração do pedido - No curso da lide não pode o pedido em
mandado de segurança ser ampliado ou alterado, nem tendo em vista ArgI1ições incidentes - O processo de mandado de segurança
os adminiculos de novos documentos probantes, nem tendo por fun- não admite argüições incidentes, como a de falsidade, embargos
damento a informação da autoridade ou o parecer do representante do de terceiro, atentado, existência ou inexistência de relação jurídi-
Ministério Público. Assim vêm decidindo os Tribunais,294 com apoio ca etc. 296 E assim ê porque o rito especial do mandamus se baseia
analógico em disposição geral do Código de Processo Civil (art. 264) fundamentalmente na prova documental exibida pelo impetrante e
e atentos a que com a inicial e as informações fixam-se os pontos na informação da autoridade impetrada: aquela com presunção de
~~~ertidos da lide, esiãbIíiZi~se o pedido e de!imitií~seõ·ciímE~ validade formal; esta com presunção de verdade adminIstrativa. Se
uma ou outra contrariar a realidade, já não haverá direito líquido
293. Já decidiu o STJ, anteriormente. que a colocação do feito em mesa por par~ e certo a ser decidido no feito, sendo dispensãvel o procedimento
te do relator, sem a previa mtunação das partes, é causa de nulidade, sendo aplicàveis
as regras do art. 552 do CPC. Nesse sentido RM:S n. 8.442-Se. ReI. Min. Fernando incidental, pois que, ao final, será proclamada a inviabilidade do
Gonçalves. RSTJ 107/397; REsp n. 154.835-CE. ReI. Min. Adhemar Maciel, DJU mandamus, transferindo-se o litígio para as vias ordinárias, para me-
23.98. p. 72; RMS n. 5.783-RS. ReI. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJU
18.2.2002, p. 402. este último Citando ainda a SÚInula n. 117 do STJ. segundo a .:.,. ----
1II9r cogniçãoda causa.
~_.- Inadmissível é a discussão incidente, no boja
qual "a inobservância do prazo de 48 horas, entre a publicação e o julgamento sem a 295. STF, RTJ85/314; TJSP, RJTJSP 95/164.
presença das partes. acarreta a nulidade", A ausência de intimação da sessão de jul-
296. STF. Pleno, RTJ 40/227. E possível. no entanto, a declaração mcidente
gamento ao litisconsorte necessàno também acarreta a nulidade, por cerceamento de
de ínconstxtucIOnalidade de ato nonnativo no processo de mandado de segurança,
defesa (STJ. EDRMS n. 17.990-RS, ReI. Min. Félix Fischer, RT859/186).AnuJado o
matéria que ê estritamente de direito: STJ, EDRMS n. 11.603-ES. ReI. Min. Hum-
julgamento por falta de intimação dos advogados, a renovação deve ser precedida de
berto Gomes de Barros, DJU27.82001, p. 224; desde que a inconstituCIonalidade
íntirnação regular para o novo ato, sob pena de persistência da nulidade (STJ. RlvIS n.
em questão seja colocada realmente de modo mcidental e não se configure a irn-
14.950-SP,.Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar. DJU 30.9.2002, p. 262).
petração contra a lei em tese. com pedido principal centrado na declaração de sua
294. STF, RTJ 60/244, 631784; TJSP, RT 546/53; STJ. MS n. 4.196-DF, ReI. inconstitucIOnalidade: STJ. RMS n. 11.484-MG, Rei. Min. Aldir Passarinho Jr., DJU
Min. Félix Fischer. DJU 17.8.98, p. 14. 26.6.2006.
132 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 133

da impetração. Se, p. ex., a falsidade é evidente, desnecessário é o mologação da desistência do recurso, porém, ac~eta o tránsito em
incidente, porque será reconhecida mesmo sem essa formalidade; se 'ulgado da decisão recorrida, e, portanto não eqUIvale, em seus efel-
não é evidente, só poderá ser aclarada fora do mandado de segurança. {os, à desistência da própria impetração do mandado de segurança.
Não é possível desistir do recurso ex officio (art. [4, § [Q, da Lei n .
.../ Desistência da impetração - O mandado de segurança, visando
12.0[6/09).
unicamente à invalidação de ato de autoridade, admite desistência a
qualquer tempo, independentemente de consentimento do impetra- Prevenção de competência e litisconsórcio unitário - A regra
do?97 Realmente, não se confundindo com as outras ações em que há em mandado de segurança é a inexistência de prevenção de compe-
direitos das partes em confronto, o impetrante pode desistir da impe- tência por impetração anterior entre as mesmas partes e COIT';.Pedidos
tração, ou porque se convenceu da legitimidade do ato impugnado, conexos ou conseqüentes. Isto porque cada impetração representa
ou por qualquer conveniência pessoal, que não precisa ser indicada um feito processual autônomo.300 Não se aplicam, portanto, à ação de
nem depende de aquiescência do impetrado. Portanto, não havendo segurança as normas dos arts. [02 a 106 e 253 do CPC, conc~rnentes
simile com as outras causas, não se aplica o disposto nõ' § 4º do art. ii prevenção por conexão e continência. Nem se pode considerar a
I 'Wdõ CPC para a extinção do processo por desistência.298 impetração como feito acessório de qualquer outra c~u~a, por .n;als
Se a desistência for de recurso, e não da impetração em si, abrangente que seja a ação precedente. Mas, se a declsao do htigto
aplica-se o art. 501 do CPC, que autoriza a mesma a qualquer tempo, anterior afetar necessariamente a impetração posterior, ocorrera o que
independentemente da anuência de quem quer que se]a.299 A ho- a doutrina considera um Hlitisconsórcio unitário" 1que exige decisão
idêntica para todos os que se encontram na mesma situação fática_ e
297. STF. RTJ881290, 114/552; TIRS, acórdão unâníme do Plenário no MS u.
processual, impondo-se, neste caso, a prevenção do jUiZO e a reunlao
22.972,j. 7.5.79. No STF. reafirmando a possibilidade de desistênCia da Lmpetração,
a qualquer tempo. índependentemente da anuência do lmpetrado e sem necessidade das Causas por conexão. Tal é o que se verifica, p. ex., quand? vanos
de oitiva do Ministério Público: REIAgRg n. 167224-2. ReI. Min. Néri da SilveIra, acionistas impugnam separadamente uma mesma assemb[ela, que
DJU7.4.2000, lnformotívo STF 184/2; AgRgRE n. 232.049-9-RJ, ReI. Min. Mau- 301
não pode ser julgada válida por uma sentença e inválida por outra.
riCIO Corrê., RT809/173; AgRgRE n. 357.642-9-SP. Rela. Min. EUen Grncle, DJU
9.5.2003, p. 58; AgRgRE n. 287.978-SP, ReI. Min. Carlos Britto, lnformouvo STF O mandado de segurança com o objetivo de atribuição de
321/1; REn. 349.603-4-SC/AgRg, ReI. Min. Carlos Britto, RT835/157; EDivEDRE efeito suspensivo a recurso é intimamente ligado ao processo que
n. 167.263-3-MG, ReI. Min. Sepúlveda Pertence. RDR 34/130; AgRgRE n. 258.257-
o originou, e os tribunais consideram que ele gera prevenção para o
3-RS. ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 13.12.2006. A desistência pode se dar
até mesmo dep01s do Julgamento do recurso extraordinâno. se o acórdão ainda não futuro recurso a ele relacionado (ou e distribuido por dependência,
tiver sido publicado: STF, AI n. 37736l-7-DFIED/AgRg, Rela. Min. EUen Grncle, se O recurso já se encontrar no tribunal). Por outro lado, a profusão
RT837/142. recente de mandados de segurança na Justiça Federal, especíalmente
Uma decisão da 2a Turma do STF. no entanto, contranou a Jurisprudência con- em matéria trihutária, fez com que os feitos entre as mesmas partes
solidada da Corte e se manifestou contrariamente â possibilidade de deSistência do
mandado de segurança sem o assenttmento da parte contrâna se jã proferida sentença passassem a ser distribuidos por dependência. Embora tecnicamente
de mérito desfavorável ao ímpetrante (STF, AgRgAl n. 221.462-7-SP, ReI. Min. incorreta, esta forma de distribuição busca evitar que a parte frau-
Cézar Peluso. DJU 24.8.2007). Resta aguardar se este acórdão representam uma mu- de a livre distribuição e o princípio constitucional do juiz natural,
dança na orientação jurisprudenclal do STF, ou se ficará isolado em caso específico.
desistindo dos vários mandados de segurança até que consiga uma
298. STF, AgRgRE n. 262.149-8-PR. ReI. Min. Sepúlveda Pertence, RT
7921202; STJ, REsp n. 61.244-6-RJ, ReI. Min. Antôruo de Pádua RibeIro. AD V 1997, distribuição conveniente para a sua causa. 302
p. 403, ementa 78.857; AgRgRMS n. 12394-MG, ReI. Min. Hamílton Carvalhido,
RT 799/188; REsp n. 373.619-MG, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 300. TJSP. RT 482176,504/79.
15.12.2003, p. 187. 301. Jose Carlos Barbosa Moreira, LitlSCOnsÓrclO Unitano. Rio de Janeiro,
Em sentido contrário. mandando aplicar o § ~ do 3rt 267 do CPC aos mandados Forense. 1972, pp. 21 e 55. _ .
de segurança: STJ, RMS n. 11.l74-MG, Rela. Min. Eliana Calmon. RSTJ 133/167. 302 A Lei n. 11.280, de 16.2.2006. criou um novo inCISO li e modIficou a
299. STJ, RMS n. 20.582-00, ReI. deslg. Min. LuizFux.DJU 18.10.2007. redação d~ inciso II do art. 253 do CPC, ampliando as hipóteses de distribUição de

UNIVERSIDADE FUM:EC
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134 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 135

Atendimento do pedido antes da sentença - O atendimento do estimativa do impetrante. O impetrado podera impugnar o valor da
pedido antes da sentença tem suscitado dúvidas sobre se deve ser cansa, que será decidido de plano pelo juiz, ouvido previamente o
julgada a impetração pelo mérito ou considerado o perecimento do impetrante.306
objeto. 303 Entendemos que a segurança há que ser julgada pelo méri- Em razão da natureza constitucional do mandado de segurança,
to, pois a invalidação do ato impugnado não descaracteriza sua ilega- para recurso extraordinário é irrelevante o valor que se lhe atribnír.307
lidade originária; antes, a confirma. O julgamento de mérito toma-se
necessário para definição do direito postulado e de eventuais respon-
sabilidades da Administração para com o impetrante e regresso con- 21. A nova lei
tra o impetrado.304 Só se pode considerar perecido o objeto quando, A recente Lei n. 12.016, de 7 de agosto de 2009, qne di.sciplina o
por ato geral, aAdministração extingue a causa da impetração, como, mandado de segurança individnal e coletivo marca uma nova fase na
p. ex., ao desistir de uma obra ou ao suprimir um cargo que estivesse história do instituto que foi - e continna sendo - tão importante para
em licitação ou concurso, e sobre o julgamento houvesse mandado a sociedade brasileira. Tendo surgido há 75 anos, com a Constituição
de segurança para alterar a classificação dos concorrentes. Nessas de 1934,308 preenchen uma lacuna decorrente das restnções ao uso do
hipóteses, sim, ocorrerá perecimento do objeto da segurança. habeas corpus que, a partir de 1926, passou a proteger tão-somente
a liberdade de locomoção. Para todos os demais direito individuaiS
Valor da causa - O mandado de segurança, como as demais que pudessem ser evidenciados, desde logo, concebeu-se um novo
ações civis, exige que na petição ÍDÍcial se declare o valor da cau- instituto que pudesse ter efeitos imediatos e obrigar a autoridade coa-
sa. Este valor deverá corresponder ao do ato impugnado, quando tora a restabelecer a situação jurídica anterior ao ato manifestamente
for suscetível de quantificação.'05 Nos demais casos, será dado por inconstitucional ou ilegal.
feitos por dependêncía, justamente para evitar expedientes de· burla ao principio do A primeira legislação da matéria foi elaborada em 1936309 e ou-'
JUIZ naturaL Ira, mais abrangente e moderna em 1951,310 tendo sofrido numerosas
303. No STJ. vem prevalecendo a opíníão pela extinção do processo. como no
MS n. 5.364-DF, Rei. Min. Ari Pargendler,DJU 16.2.98, p. 4 ("Atendida, rndependen-
modificações em textos esparsos. Havia, pois, no fim do século pas-
temente de ordem judicIai. a pretensão articulada no mandado de segurança, o respec~ sado, a necessidade imperativa de reunir todas as disposições referen-
tivo processo deve ser extinto sem Julgamento de menta, por perda de objeto"). No tes ao mandado de segurança num texto único e coerente, adaptado
mesmo sentido, no STJ, MS n. 4.l68-DF. ReI. Min. Luiz Vicente Cernícchiaro, DJU ás novas condições decorrentes da evolução do pais em mais de meio
1.6.98, p. 27; MS n. 3.875-3-DF, ReI. Min. Luiz Vicente Cemicchiaro, DJU 17.8.98,
p. 14; MS n. 7.220-DF, ReI. Min. Milton LulZ Pereira, DJU 23.9.2002, p. 216; RMS
306. TJRJ, Agn. 4.082, de 18.8.81.
n. 11.331-SP, ReI. Min. Francisco PeçanhaMartins, DJU28.l0.2002, p. 261.
Em sentido contrário, confonne a posíção de Hely Lopes Meirelles, e afir- 307. STF, RE n. 96.087-2-RS. DJU 12.4.82 e RT 562/253. No regime da Cons-
mando a continuação do interesse da parte mesmo apôs o atendimento do pedido. tituíção de 1988 não mais prevalece a restrição do valor da causa para efeito de
que. na hipôtese, fora a expedição de uma CND em obediência â liminar deferida cabimento de recurso aos tribunais superiores.
no mandamus, certidão. esta, cuja prazo já expirara por ocasião do julgamento: STJ, 308. O art. 113,33, da Consbtuição de 16.7.1934, assegurava o mandado de
REsp n. 294. 147-RS, ReI. Min. Homberto Gomes de Barros,DJU 18.3.2002, p. 176. segurança nos seguintes tennos:
304. Em matéria de ação popular. entendendo que a revogação do ato impugna- "Art 113. A Constituíção assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no
do, por si só, pode não ser sufiCIente para caractenzar a perda do objeto da demanda: paIs a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistênCIa, aseguran-
STJ, REsp n. 79.860-SP, ReI. Min. Ari Pargend1er, RSTJ951166. ça individual e à propriedade. nos teanos segumtes: (... ).
305. TFR. Ag. n. 39.597-RJ. DJU 10.10.79; TJRJ, Ag. ns. 2.665, de 17.4.80, "33) Dar-se-ã mandado de segurança para defesa de direito. certo e incontes-
4.082, de 18.8.81,4.087, de 18.9.81, e 4.089, de 5.1.82, eAp n. 17.505, de 16.3.82. tàvel. ameaçado ou VIolando por ato manifestamente inconstitucIonal ou ilegal de
Se o direito a ser protegido pela ímpetração do mandado de segurança possuir qualquer autoridade. O processo será o mesmo do habeas corpus, devendo ser sempre
expressão econômica imediata e quantificável. o valor da causa deve refletir o pro- ouvida a pessoa de direito público interessada. O mandado não prejudica as ações
veito econômico persegúido na ação (STJ. REsp n. 436.203-RJ, Rela. Min. Nancy petitórias competentes."
Andoghi, DJU 17.2.2003, p. 273, e REsp n. 745.595-SP, ReI. Min. Teoo Albiuo 309. LeI n. 191, de 16.1.1936.
ZavascU DJU 27.6.2005, p. 297). 310. Lei n. 1.533, de 31.12.1951, que foi comentada nas edições anteriores.
\ i
136 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 137

século. Devia. também, ser uma lei equilibrada e eficiente, permitin- Congresso Nacional em 7.8.2001, com uma Exposição de Motivos
do o julgamento rápido do litígio, garaotindo os direitos individuais que resume as inovações da Lei.
e respeitando o direito de defesa tanto da autoridade coatora como da É a seguinte Mensagem que transcrevemos pela sua importância
entidade pública que ela integra. histórica e pela sintese que fez do novo diploma legal:
A nova lei procurou atender a esses imperativos, tendo sido o
projeto inicialmente elaborado por uma Comissão de Juristas, que foi ~ Mensagem n. 824
nomeada, em 1996, pelo Ministro da Justiça e da qual participaram Srs. Membros do Congresso Nacional,
magistrados e professores.3ll
Nos termos do art. 61 da ConstitUIção Federal, submeto à elevada
O projeto de lei, que se transformou na lei vigente, foi encami- deliberação de Vossas Excelências, acompanhado da ExpOSição de
nhado pelo Advogado-Geral da União e pelo Ministro da Justiça ao Motivos dos Srs. Advogado-Geral da União e Ministro de Estado da
Justiça, o texto do projeto de lei que "Disciplina o mandado de segu-
311. A Comissão fOI nomeada pela Portaria n. 634. de 23.10.1996, que tem o rança individual e coletivo. e dá outras providênclas"-
seguinte teor:
Brasília, 7 de agosto de 200 I
"Considerando que a Constituição de 1988 imprimiu, em alguns aspectos, nova
conformação aos ínstitutos do mandado de segurança. da ação cívil pública, da ação EM! n. 00006 - AGUIMJ
popular e da representação interventiva; Em 16 de abril de 2001
"Considerando a instituIção do mandado de injunção e do habeas data; Exmo. Sr. Presidente da República,
"Considerando a nova conformação emprestada ao controle abstrato de normas Submetemos à consideração de Vossa Excelência o anexo projeto
! i I (ação direta de InconstItucionalidade) e a institUição da ação declaratôria de constItu- de lei que "Disciplina o mandado de segurança individual e coletlvo, e
cionalidade e da ação direta de inconstItucIonalidade por omIssão resolve:
dá outras providências". calcado em proposta da Comissão de juristas
"1. Constiturr, no âmbito do Mimstério da Justiça, COmI'ssão composta pelos
seguintes Jurístas: Ada Pellegrini Grinover, Ãlvaro Villaça de Azevedo. Antômo
constituída pela Portaria n. 634, de 23 de outubro de 1996, presidida
Janyr DaU' Agnol Júnior, Arnoldo Wald. Caio Tácito, Carlos Alberto DireIto. Gilmar pelo professor CalO Tácito e da qual foram Relator e Revisor, res-
Ferreira Mendes. Lmz Roberto Barroso. Manoei André da Rocha. Roberto Rosas e pectivamente, o professor Arnoldo Wald e o Ministro Carlos Alberto
Ruy Rosado de Aguiar Júníor, para: Direito.
"a} formular proposta de reforma das leis que dispõem sobre: 2. Decorridos maIS de sessenta e cinco anos da introdução do
"r - ação popular; mstituto do mandado de segurança no direito processual pela Carta
"II - ação civil pública; Política de 1934 e quase meio século após a edição da Lei n. 1.533, de
"m - mandado de segurança; 31 de dezembro de 1951, que o regulamentou de modo slstemàtico,
"IV - representação interventiva e evidenciou~se a necessidade de atualizar a legislação sobre a matéria,
"b) propor projetos de lei sobre: considerando as modificações constituclOnais acerca do tema e as al-
"I - mandado de inJunção; terações legais que sofreu. Não bastasse ISSO, o mandado de segurança
"II - habeas data: gerou ampla jurisprudência sobre seus maIS variados aspectos. que está
"rn - ação direta de inconstitucionalidade; sedimentada em sUmulas dos tribunaIS.
"IV - ação declaratôria de inconstitucionalidade; e 3. Nesse contexto, o projeto se integra no mOVImento de reforma
"V - ação direta de inconstitucionalidade por omissão. legal que busca a maior coerênCia do sistema legislativo, para facilitar
"2. A Comissão terá como Coordenador o Professor Caio TáCItO. o qual desig-
nará Relator.
o conhecimento do Direito vígente aos profissionaís da área e ao cida-
dão. mediante a atualização. por consolidação em diploma tinico, de
"3. A Comissão deverá concíuir seus estudos e apresentar as propostas deles
decorrentes no prazo de 120 dias. a contar da sua Instalação. todas as normas que regem a mesma matéria.
"4. Os trabalhos da Comissão, considerados de interesse público. serão reali- 4. Também inspiraram a COlOlssão importantes conqUIstas juns-
zados sem remuneração. prudencíais. como, por exemplo. sobre impetração contra decisões dis-
"S. O apOlo necessário à consecução dos trabalhos serã prestado pela Secretana ciplinares e por parte de terceiro contra deCIsões judiCIaIS. bem como
de Assuntos Legislativos. (... )." a adequada defesa pública, de modo a oferecer ao Poder Judiciáno os
138 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 139

elementos necessános a um julgamento imparcial. com a preservação 12. As vedações relacionadas com a concessão de liminares
dos interesses do Tesouro Nacional. estendem-se à tutela anteCIpada a que se referem os arts. 273 e 461 do
5. Em princípIo. foram mantidas a redação e a sistemática das re· Código de Processo Civil (art. 7", § S").
gras vigentes, a fim de evitar divergêncIas de ínterpretação em matérias 13. Na hipótese de paralisação do andamento do processo, por
sobre as quaís a jurisprudência já se consolidou. culpa do ímpetrante. ou omissão de atos ou diligências a seu cargo, o
6. Ao conceituar o mandado de segnrança e defirur o seu campo projeto prevê que seja decretada a perempção ou caducidade da medida
de atuação. o projeto mantém. em linhas gerais. o Direito anterior. liminar (art. 82 ).
indicando como destinatário qualquer pessoa tisica ou jurídica~ em 14. A fim de assegurar a adequada defesa da Admirnstração, a
garantia de direIto líquido e certo. Equipara ao conceito de autoridade proposta determina que a autoridade coatora remeta ao Ministéno ou
os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores ao órgão ao qual está subordinada e à Advocacia-Geral da União ou
de entidades da Admmístração descentralizada e delegada. excluídos, entidade local correspondente o mandado notificatório com as infor-
contudo, do âmbito do instituto, os atas comercíaís de empresas pu~ mações cabíveis (art. 9").
blicas. sociedades de economia ~ éoncesslonáiios de serviços 15. Os casos de indeferimento da petição inicial e do recurso cabi-
públicos (art. I", § 2"). vel são esclareCidos, de modo adequado, assun como o momento até o
qUalSerá-adIDftido o litísconsórcío atívo. a fim de respeitar o principio
7. No caso de urgência da impetração e da comunicação da de- dó jUiz nàtuiál (lirt. 10). _.
CÍsão, a proposta admíte o uso de fax e de outros meios eletrônicos de
autenticidade comprovada, adotando o disposto na Lei n. 9.800, de ----r-b. DeCcirndo o prazo para que o coator preste as informações e a
26 de maio de 1999, que "permite às partes a utilização de sistema de
entidade. querendo. apresente a sua defesa, os autos serão encammha-
transmissão de dados para a prática de atos processuais" (arts. 4" e 13).
dos ao Ministério Público. se a matéria f9r.çfe i.nteresse público ou so-
,, ,
'
8. Na esteira da jurisprudência dos tribunais. o mandado de se-
cial, com o prazo ímprorrogáVel de -dez dias, para opinar. Em seguida.
op-rocesso serà concluso. com ou sem parecer, para que o magistrado
e
gnrança cabivel contra sanções disciplinares ou, independentemente profira sentença, no prazo de trinta dias (art. 12). Assim, em tese. o jul-
de recurso hierárquico. contra omissões da autoridade. apôs sua noti- gamento em primeiro grau de jurisdição deverá ocorrer em dois meses
ficação judicial ou extrajudicial. Igualmente calcado na doutrina e na a partir do íngresso do impetrante em juízo.
jurisprudência. o projeto considera autoridade coatora a que praticou 17. O projeto assegura à autoridade coatora o direito de recorrer,
o ato e aquela de quem emanou a ordem. Se suscítada pelo indicado matéria amda controversa na Junsprudência (art. 14, § 2').
coator a ilegitunidade passiva, admite-se a emenda da inicial no prazo
18. Com base em precedentes do Supremo Tribunal Federal e
de dez dias (art. 6").
do Superior Tribunal de Justiça, a proposta prevê a possibilidade de a
9. Para que a pessoajuridica de direito público mteressada possa pessoa Juridica de direito público SOliCItar a suspensão de medida limI-
apresentar a defesa de seu ato. o projeto determina que esta receba nar. ou sentença, ao presidente de um dos tribunaís superiores. quando
cópia da petíção inicial. extraída dos autos pelo cartório. sem docu- denegado pelo presidente do órgão julgador da segunda instânCia ou
mentos, sendo-lhe facultado o mgresso no feito (art. 7"). Tal medida já em agravo contra decisão deste (art. IS).
é utilizada em alguns Estados e se justifica em virtude das determina, 19. Abrigando maténa que. em grande parte, apenas consta dos
ções da Constituição vigente, que separaram as funções do Ministério RegImentos Internos, o projeto regula o processo do mandado de
Público e da Advocacia-Geral da União. segnrança nos casos de competência onginària dos tribunais (art. 16).
10. São mantidas. no projeto. as restrições impostas em leis 20. Não sendo publicado o acórdão no prazo de tnnta dias con-
especiais. que. em determinados casos. vedam tanto a concessão da tados da data do julgamento, é facultada sua SUbStituIÇão pelas notas
medida liminar como a execução da decisão antes de seu trânsito em taquígráficas. independentemente de revísão.
julgado. Também está prevista a possibilidade de o juiz exigir garantia 21. Regulam-se os recursos contra as decisões do mandado de
do lIDpetrante para que possa ser concedida liminar (art. 72 , III. e § 22 ). segnrança proferidas em Úlllca instância (art. 18).
11. Os efeitos da medida líminar, salvo se revogada ou cassada. 22. O projeto trata, aínda. do mandado de segnrança coletivo que,
são mantidos até a prolação da sentença, dando-se prioridade aos feItos embora cnado pela Constituição de 1988, ainda não mereceu discíplina
nos quais tenba sido concedida (art 7", §§ 32 e 4"). pela legislação ordinària (arts. 21 e 22).
140 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 141

23. Constam, amda, outras disposições a respeito do prazo para a mais de meio século. Com esse objetivo, define as hipóteses de aceI-
ímpetração do mandado de segurança, da inviabilidade da interposIção tação da ação e as de sua rejeíção, prevê a ordem dos procedimentos.
dos embargos ínfringentes e do descabimento da condenação ao paga- os limítes processuais. além de unificar as regras relativas ao writ in-
mento dos honorários de sucumbência, sem prejuizo da aplicação de dividual e ao coletivo, atualizando-as com espeque nas mais modernas
sanções no caso de litigância de má-fé (arts. 23 e 25). orientações jurísprudenciais e facilitruido. dessemodo, sobremaneira
24. O projeto equipara o não-cumprimento pelas autoridades a atuação dos profissionais do direito e o entendimento do cidadão
administratívas das decisões proferidas em mandado de segurança comum. cujas garantias. a propósito. expande.
ao cnme de desobediência previsto no art. 330 do Código Penal, sem E de se ressaltar que o presente Projeto de Lei, de autoria da
prejuizo da aplicação das sanções administrativas cabíveis (ar!. 26). Presidência da República, tem como origem a portaria conjunta da
25, Com essas medidas, além de complementar a legislação Advocacia-Geral da União, na epoca comandada pelo atualPresidente
ordinária em matérias nas quais e omissa. o projeto cuida de garantir do Supremo Tribunal Federal, MinIstrO GiImar Mendes, e do Minis-
maior eficiência ao instituto, conferindo poder coercítivo específico tério da Justiça, e e fruto do trabalho de uma comissão de renomados
às decisões nele proferidas e organízando mais adequadamente os juristas, presidida pelo Professor Caio Tácito, em que constavam. entre
serviços judiciários de modo a permitir o julgamento rápido das ações outros, como relator e revisor, o Professor Arnoldo Wald e o então
mandamentais. Ministro Carlos Alberto Direito.
26. Estas. em sintese. Sr. Presidente. as normas que ora submete- Já na justificação de motívos, extrai-se o fundamento e a neces-
mos ao elevado descortino de Vossa Excelência, destínadas a atuaJizar sidade de atualizar a legIslação sobre o mandado de segurança, hoje
e aprimorar o sistema judiciãrio vigente. em relação a Ínstituto que regida pela Lei n. 1.533, de 31 de dezembro de 1951, mcorporando as
tem garantido adequadamente os direitos individuaÍs e se tornou um alterações que sofreu, bem como a prátIca adminístrativa e a defesa
dos instrumentos mais lmportantes do Estado de Direito e do sístema da Fazenda Pública, os procedimentos nos tribunais e a junsprudêncIa
democrático. construída e consolidada ao longo de mais de meio seculo.
Respeitosamente: Assím. ao mesmo tempo em que optou-se por manter a redação
GiImar Ferreira Mendes - Advogado-Geral da União; Jose Gre- e a sistemática das regras vigentes. traz diversas ínovações. entre as
gori - Ministro de Estado da Justiça. quaIS destacamos: a) a possibilidade de uso de fax e meIOS eletrômcos,
em consonância com a LeI 9.800/99; b) amplia-se a possibilidade de
impetração do writ contra partidos políticos ou seus õrgãos~ c) a pessoa
oProjeto de Lei n. 5.067, de 2001, foi aprovado na Câmara dos jurídica de direito público ínteressada passa a receber cópÍa da iniCIai,
Deputados com três emendas de redação apresentadas pelo Relator para que possa apresentar a defesa de seu ato; d) acolhe ainda dispo-
Deputado Antonio Carlos Biscaia. A primeira complementou o texto sições de leIS especiais que tratam da concessão de liminares em sede
do § 4" do art. 6", para mandar observar o prazo decadeneial do man- de mandado de segurança; e) prevê a faculdade do juiz exigir garantía
dado de segurança no caso de emenda da inicial. A segunda emenda como condição para a concessão de liminar, e outras mdicadas no
explicitou, no art. 26, que o descumprimento de ordem judicial relatório.
constituía crime de desobediência. A terceira propôs uma inversão na A principal inovação do Projeto entretanto. reside na regulamen-
ordem entre os artigos 28 e 29. tação do Mandado de Segurança CoJetivo, previsto na Constituição de
1988, mas amda não disciplinado pela legislação ordinãna.
No Senado foram inicialmente apresentadas 14 emendas, poste- Acreditamos enfim. que a presente proposição trarâ enorme con-
riormente retiradas. No Parecer n. 941 de 2009 (projeto de Lei da Câ- tribuição ao processo judicial como um todo e em especial elementos
mara - PLC n. 125, de 2006), do Senador Tasso Jereissati, aprovado necessários a julgamento unparcial, em que se preservem os mteresses
pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, em 24.6.2009, dos particulares. em posição de equilíbrio com a admínistração, de
foí salientado que: forma rápida, mas justa.
Em relação às emendas apresentadas, conquanto louvâvel a
"No meríto, o PLC n. 125, de 2006, aprimora as regras do manda- iniCIatIva do nobre Senador Valter Pereira, que ofereceu á. matéria
do de segurança, que teve o seu disciplinamento original assentado ha quatOIze emendas. com o ínegável desejo de aprimoro-la. não temos,
142 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 143

desafortunadamente, como acolhê-las. Não obstante a juridicidade inicial, no caso de ser suscitada a sua ilegitimidade pela autoridade
de todas elas. optamos, em função da oportunidade rustórica que ora coatora.313
vívenciamos de dotar a legislação. imediatamente, de aperfeíçoamen~
Enquanto a lei anterior tinha 21 artigos, a nova lei tem 29 ar-
tos a tanto esperados pelos operadores do direito, por aprovar o texto
como veío da Câmara dos Deputados. fumado na convicção a respeíto tigos, sendo que grande parte do texto anterior foi mantida, com
do elevado nível técnico do projeto aprovado nessa Casa do Congres. eventuais pequenas modificações de redação para fins de atualização.
50 Nacional. Ocorre que. diante das circunstâncias, entendemos que Podemos afumar que a fmalidade da nova lei foi a moderniza-
retomar o projeto à Câmara dos Deputados. retardando ainda maIs a ção e simplificação do mandado de segurança, que tinha sofrido uma
vigêncía de medidas que se fazem já há muíto tempo mais do que ne- banalização, sendo quase transformado em ação ordinária e passando
cessàrías, não seria uma boa medida. Apenas por ísso, por estas razões a ter a demora, no seu julgamento, análoga ou um pouco menor do
de ordem prática. somos obngados a rejeitar as emendas apresentadas, que os demais feitos. Era preciso devolver ao mandado a agilidade
tendo em vista que, a nosso sentir, já etempo de entregar â sociedade
de verdadeiro comando de execução imediata contra a Administra-
uma legislação renovada e ínovadora. como a que ora se nos apresenta.
ção, que neste sentido era rustoricamente assemelhado ao habeas
Temos a convicção de que o texto já é um grande avanço no sentido de
regrar aquela que, ao lado do habeas corpus e do habeas data, fOnDa corpus, sem as dificuldades práticas de andamento que caracterizam
o triunvirato das ações judiciais cidadãs. sem as quais se toma índisCll~ os outros processos judiciais. Simplicidade, eficiência, rapidez no
tivelmente débil o exercício da cidadania e, especialmente, a proteção julgamento foram as diretrizes que a Comissão pretendeu dar à nova
contra os abusos perpetrados pelo Estado e seus agentes. legislação.
Convem ressaltar aínda que se poderia levantar a questão do Não lhe cabia, por outro lado, rediscutir determinadas restrições
prazo decadencíal para a propositura do mandado de segurança, flxado decorrentes da legislação anterior em relação â concessão de liminar
neste projeto em 120 dias, e que foi obJeto de alteração pelo Projeto de no mandado de segurança, no campo tributário e no direito adminis-
Lei do Senado n. 368. de 2007, de autoria do Senador Marco Macie!. trativo, especialmente em relação à classificação dos funcionários
Aprovado com emenda, por acordo, na CCI, em fins de 2008, esse
públicos, devendo tão-somente consolidar as normas existentes na
projeto alterou o prazo para 365 dias. Como foi decisão terminativa e
matéria.3l4 O mesmo ocorreu em relação aos casos de suspensão de
não houve recurso para apreciação em plenário. o PLS foi remetido á
Cãmara dos Deputados em 11 de fevereiro de 2009. A proposta aprova- segurança.3l5
da na CCI poderá ser incorporada á futura lei, que resulte do presente
projeto. caso seja aprovado. mediante oportuna alteração naquela Casa contagem do prazo de 120 dias em vista da ausência de penodo razoãvel para a pra w

tica do ato peja autoridade e, em especial, pela possibilidade da autoridade notificada


do Congresso Nacional, do objeto do PLS do Senador Marco Maclel,
não ser competente para suprir a omissão."
fazendo-o incidir sobre a nova lei e não sobre a Lei n. 1.531, de 1951." 313. "Art. @.Apetição iniciai, que deverá preencher os requisitos estabelecidos
pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) VIas com os documentos que instrui-
o Presidente da República vetou o parãgrafo único do art. 5", rem a primeira reproduzidos na segunda e indicarâ. além da autoridade coatora, a pes-
que tratava do mandado de segurança contra omissões da autoridade, soa Jurídica que esta integra. â qual se acba vinculada ou da qual exerce atribuições. (... ).
no prazo de 120 (cento e vinte) dias, após sua notificação judicial ou "§ 41l. (Vetado) (o texto vetado tinha a seguinte redação: "SUSCItada a ilegitimidade
pela autoridade coatora, o impetrante poderá emendar a inicial no prazo de dez dias").
extrajudicial312 e o § 4R do art. 6º, que fixava prazo para a emenda da
"Razão do veto: A redação conferida ao dispositivo durante o trãrmte legislati-
vo pennite a mterpretação de que devem ser efetuadas no correr do prazo decadenctal
312. "Art. 52. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: (... ). de 120 dias eventuaIs emendas â petição inicíal com vistas a corrigrr a autoridade
"Parágrafo Unico. (Vetado)" (o texto vetado tinha a seguinte redação: "O man~ impetrada. Tal entendimento prejudica a utilização do remédio constitucional, em
dado de segurança poderá ser impetrado, independentemente de recurso hierárquico, especial, ao se considerar que a autoridade responsãveI pelo ato ou omissão impug w

contra omissões da autoridade, no prazo de cento e vínte dias. após sua notificação nados nem sempre é evidente ao cidadão comum," --_._. - -
judicial ou extrajudicIal"). 314. Quanto âs vedações à concessão de lirmnar:
"Razão uo veto: A exigência de notificação previa como condição para a pro w O art. 7JJ., § 2u• da Lei n. 12.016/09, proíbe a concessão de medida liminar que
positura do Mandado de Segurança pode gerar questionamentos quanto ao inicio da tenha por ohjeto (i) a compensação de créditos trihutànos; (ii) a entrega de mercado-
144 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 145

nas e bens provenientes do exterior; e (ili) a reclassificação ou equIparação de servi- Foi, pois, feito um grande esforço para dar maior velocidade e
dores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento eficiência ao processo, antecipando-se os autores do anteprojeto às
de qualquer natureza.
metas do "Pacto Republicano" e da Emenda Constitucional n. 45,
(i) Compensação de créditos tributários: a SÚInula o. 212 do STJ. conforme
a redação alterada pela IA Seção do STJ em 11.5.05, jã previa que a "compensação fixando-se, para todas as partes e intervem entes no processo, prazos
de créditos tributários não pode ser deferida em ação cautelar ou por medida liminar rigidos que deverão ser obedecidos, com penalidades para os que não
- cautelar ou antecipatória", os obedecerem.
(ü) Entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior: o art. 1SI. da Lei
D. 2.770, de 4.5.56, já previa que "nas ações e procedimentos judiciais de qualquer
Ajurtsprudência dos tribunais foi adotada pela lei, em numero-
natureza. que V1sem a obter a liberação de mercadorias. bens ou coisas de qualquer sos artigos, aumentando a segurança Jurídica já, agora, considerada
especie procedentes do Estrangeiro, não se concedem, em caso algum, medida pre- como um princípio constitucional,316
ventiva ou limmar que. direta ou indiretamente. ímporte na entrega da mercadoria, Se houve grande preocupação de garantir os direitos do impe-
bem ou coisa",
Entretanto, como escrevemos no primeiro item desta primeira parte, entendia- trante. não se descuidou da defesa tanto do impetrado como da pes-
se que essa vedação referir-seRia apenas a produtos de contrabando. e não aos bens
importados ou trazidos para o País como bagagem sobre os quaís as autoridades fi- "§ 29.. O Presidente do Tribunal poderá ouvir o autor e o Ministéno Público, em
zessem exigências ilegais ou abusivas para seu desembaraço. setenta e duas horas. (Redação dada pela Medida ProvlSoria n. 2.180-35. de 2001)
[Não tem equivalente na Lei 12016109]
(ili) Reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão
de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza: já "§ 3l:!. Do despacho que conceder ou negar a suspensão. caberei agravo, no prazo
constava da antiga Leí 4.348, de 26.6.1994, que "não será concedida a medida limIDar de cinco dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte a sua interpOSIção.
(Redação dada pela Medida Provisoria n. 2.180-35. de 2001) (Norma constallte do
de mandados de segurança impetrados visando li reclassificação ou eqUIparação de
arL 15. "caput", "infine u , da Lei 12.016/09}
servidores públicos. ou a concessão de aumento ou extensão de vantagens" (art 52) e
"§ 4l:!. Se do julgamento do agravo de que trata o § 3l:! resultar a manutenção
que "o recurso voluntâno ou ex officio interposto de decisão concessiva de mandado
de segurança, que Importe outorga ou adição de vencimentos ou ainda reclassificação ou o restabelecunento da decisão que se pretende suspender, caberá novo pedido de
funCIOnai. terá efeito suspensivo" (art (}!l). suspensão ao Presidente do Tribunal competente para conhecer de eventual recurso
especíal ou extraordinário. (Incluído pela Medida ProvisÓrIa n. 2.180-35. de 2001)
Por sua vez. no art. 1l:! da antiga Lei 5.021, de 9.6.1966, previa-se que "não se (O texto e'semelhanteao do arL 15, § II!., da Lei 12.016/09]
concedem limínar para efeito de pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias" "§ 5l:!. É cab[vel tambl!m o pedido de suspensão a que se refere o § 4l:!, quando
a servidor público civil. negado provimento a agravo de lDstnunento ínterposto contra a limmar a que se
Escrevemos no primerro item referido. que "poder-se-Ia cogitar de eventuai refere este artigo. (lneluido pela Medida Provisória n. 2.180-35, de 2001) [O texto é
inconstitucIonalidade dessas restrições. considerando que desigualariam os Impe- idêntico ao do art 15, § 21!.. da Lei 12.016/09]
trantes no mandado de segurança, em detrimento do servidor público, quando a "§ (}!l. A interpOSIção do agravo de instrumento contra liminar concedida nas
COnstituição da República não faz essa distinção ao instituir o mandamus. A Lei ações movidas contra o Poder Público e seus agentes não prejudica nem condiciona
n. 12.016/09. todavia, tratou simpiesmente de incorporar ao texto norma legal já o julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo. (Incluído pela Me-
eXIstente, que não foi objeto de declaração de inconstttucíonalidade e sempre fOi dida ProVisóna n. 2.180-35. de 2001) [O texto é idêlltico ao do arL 15, § 31!.. da Lei
aplicada pela Justiça", 12.016/091
315. Em relação à suspensão de segurança: as normas relativas â suspensão "§ 7'J. O Presidente do Tribunal poderá conferir ao pedido efeito suspensivo
de segurança (art 15 e parâgrafos)já constavam do art. 49- da Lei 8.437/92. com reda- liminar, se constatar. em juizo previo. a plausibilidade do direito invocado e a urgên-
ção dada pela Medida ProvIsóna 2.180-35. de 2001, cujo texto eo seguinte: cia na concessão da medida. (Incluído pela Medida ProvISórIa n. 2.180-35. de 2001)
"Art. 49. Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conheCImento do [O texto é idêntico ao do arL IS, § 41!.. da Lei 12.016/091
respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas "§ 8lJ• As liminares cujo objeto seja idêntIco poderão ser suspensas em uma
ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do Ministério lÍnica deCIsão, podendo o Presidente do Tribunal estender os efeitos da suspensão a
Público ou da pessoa jurídica de direIto público interessada, em caso de manifesto liminares supervenientes, mediante SImples aditamento do pedido original. (Incluído
interesse público ou de flagrante ilegitunidade, e para evitar grave lesão à ordem, li pela MedidaProvlSórIa n. 2.180-35. de 2001) [O texto é idêntico ao do arL 15, § 51!..
saúde, à segurança e à economia públicas. [Este texto. semelhante ao do ari. 42 da da Lei 12.016/09]
antiga Lei 4.348/64~foi mantido no ari. 15, "caput", da Lei 12.016/091 "§ 9l:!. A suspensão deferida pelo Presidente do Tribunal vigorará até o trânsito
"§ 19.. Aplica-se o disposto neste artigo li sentença proferida em processo de em julgado da decisão de mérito na ação principal. (Inciuído pela Medida ProvisÓrIa
ação cautelar inominada. no processo de ação popular e na ação CIvil pública, enquan- n. 2.180-35. de 2001)."
to não transitada emjulgado. 316. MS n. 24.268-MG, Rela Min. Elleo GmeIe,i. 5.2.2004,RTJ 19l1922.
146 MANDADO DE SEGURANÇA MANDADO DE SEGURANÇA 147

soa jurídica interessada, cuja atuação como litisconsorte necessário do - que se caracteri~a como líquido e certo - do poder exercido pela
foi definida, superando-se discussões processuais que existiam na autoridade coatora. A medida que vai aumentando a prepotêncía do
vigência da legislação anterior. Estado, impõe-se a criação de recursos mais eficazes para a defesa
Matéria controversa foi a faculdade de exigência, pelo juiz, em do indivíduo na suas relações com o Poder Público. Ao desenvolvi-
certos casos e ao seu critério. da caução para assegurar o ressarci- mento das atribuições da União deve corresponder maior intensidade
mento da pessoa jurídica. Além de prática consagrada por algnns tri- e celeridade na defesa dos direitos individuais. a fim de se manter o
bunais, trata-se de garantia dupla, tanto para o ímpetrante como para equilíbrio entre os interesses da coletividade e a liberdade de cada
a pessoa jurídica. Efetivamente, em certos casos, o juiz pode entender cidadão.
que o direito do impetrante é, à primeira vista, certo e líquido, mas O mandado de segnrança é, assim, o instrumento harmonioso e
não quer conceder a medida liminar se não souber que, no caso de aperfeiçoado que garante a liberdade individual. a dignidade humana
revogação ou cassação, a União ou outra entidade pública terá como e a intangibilidade das conquistas da civilização contra o arbítrio do
ser ressarcida de imediato. A caução razoável e facultativa tem sido poder governamental.
considerada uma exigência que não fere a Constituição e amplia o
campo de utilização do mandado de segnrança em litigios de grande
vulto. Não é aplicável, em nosso entender, aos ímpetrantes de menor
poder aquisitivo, pois os mesmos não terão litigios que justifiquem
a caução ou fiança. que só deveria ser exigida nos casos de grande
valor econômico.
Com a nova lei, será possível termos um mandado de segnran-
ça julgado em primeira instância em menos de dois meses e cuja
apelação não tarde mais do que um semestre, quando hoje as ações
ordinárias ainda demoram longos anos.
Cabe lembrar a situação especial, de maior densidade, do man-
dado de segnrança como instrumento de proteção do indivíduo ou do
grupo, contra atos ilegais e abusivos do poder, colocando-se, como
lembrava Alfredo Buzaid, em primeiro lugar na "gradação da eficiên-
cia das medidas judicíais".317
Em conclusão podemos afirmar que, para a nova lei, o mandado
é um processo de natureza e tramitação especial, que se torna neces-
sário e ímprescindível diante da maior densidade do direito defendi-

317. Alfredo Buzaid. nos seus artigos "Juicio de amparo e mandado de segu-
rança", publicado na Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, v. 56, p. 221, e
I "Do mandado de segurança", publicado na RevISta de Direito Admmistrativo, v. 44.
p. 27, escreve que: "A adoção pura e simples do processo sumário como regra para
tratamento geral das causas em juízo, embora represente um elevado ideal da ciêncltl,
não basta para justificar a eXlgêncía da criação do mandado de segurança; a razão de
ser desse novo mstItuto, que visa á composíção de conflitos de interesse entre o par-
ticular e a adminIstração pública. não está tanto nas vantagens que podem resultar de
uma redução de atas e termos. quanto na necessidade de conferir uma tutela especial
a uma categoria de direitos públicos subjetivos".
AÇÃO POPULAR 149

nistrativos - ou a estes equiparados - ilegais e lesivos do patnmónio


federal. estadual e municipal, ou de suas autarquias, entidades para-
estatais e pessoas jurídicas subvencionadas com dinheiros públicos.
A Constituição vigente, de 5.10.88. mantendo o conceito da
Carta anterior, aumentou sua abrangência, para que o cidadão possa
"anular ato lesivo ao património público ou de entidade de que o
Estado participe, â moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
SEGUNDA PARTE património hÍstórico e cultural" (art. 5·, LXXIII). Assim, pós termo â
AÇÃO POPULAR dúvida se abrangeria também os atos praticados por entidádes para-
estatais (sociedades de economia mista, empresas públicas, serviços
1. Conceito. 2. RequISitos da ação. 3. Fins da ação. 4. Objeto da ação. 5. sociais autónomos e entes de cooperação), além dos órgãos da Admi-
Partes. 6. Competência. 7. Processo e liminar. 8. Sentença. 9. Recursos. nistração centralizada.
10. Cotsajulgada. 11. Execução.
E um instrumento de defesa dos interesses da coletividade,
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utilizável por qualquer de seus membros. Por ela não se amparam
direitos individuais próprios, mas sim interesses da comunidade.
1. Conceito O beneficiário direto e imediato desta ação não é o autor; é o povo,
titular do direito subjetivo ao governo honesto. O cidadão a promove
Ação popular l é o meio constitucional posto á disposição de em nome da coletividade, no uso de uma prerrogativa cívica que a
qualquer cidadão para obter a invalidação de atos ou contratos a<lmi-
Constituição da República lhe outorga.2
1. Sobre ação popular consultem-se: Seabra Fagundes. "Da ação popular". RDA Presentemente a ação popular acha-se regulamentada pela Lei
6/1, e tb. "Posição do autor nas ações populares", RDPG 2/1; João Coelho Branco,
"Ação popular", RDA 25/429; Nélson Carneiro. "Das ações populares cívís no Direito
n. 4.717, de 29.6.65, que lhe dá o rito ordinário, com algumas alte-
brasilerro", RDA 25/468: Rafael Bieisa, nA ação popular e o poder discricionârio da rações, visando à melhor adequação aos objetivos constitucionais de
Admímstração", RDA 38/40: José Frederico Marques. "As ações populares no Direí- legalidade administrativa.3 Mas observe-se que essa lei é anterior â
to brasileiro", RDA 52/42; Ovídio Bernrudi, "Ação de enriquecimento ilíCIto e ação
popular", RDA 68/412; Alfredo Buzaid, "Ação popular". RDA 84/321; José Carlos
Barbosa Morerra, "Ação popular", RDPG 121738, e tb. "Problemas da ação popular", "A ação popular e os atos das companhias mistas", ín O Direito na Década de 80.
RDA 85/395; R. A. Amaral Vierra, "Ação popular", RDA 89/443; Roberto Rosas, Ed. RT. 1985, p. 125; Wagner Brússo!o Pacheco. "Condições da ação popular", RDP
"Ação popular contra ato de Câmara MunIcIpal''' RDP 5/189~ Pinto Ferreira. "Da 721113; Geraldo Ataliba, "Ação popular na ConstItuição brasileIra", RDP 761110;
ação popular constItucional", RDP 20/32; Jorge Luiz de Almeida. "A ação popular Luiz Jose de Mesquita, "O Ministério Público na ação popular". RT 574/24; Alcebía-
e o Ministéno Público", RT 436/279; Ary Florêncío Guimarães. Aspectos da Ação des da Silva Minhoto Jr., Teona e Pratica da Ação Popular Conslltucional, Ed. RT,
Popular de Natureza Civil, Curitiba, 1957: Jose de Moura Rocha, Da Ação Popular, 1985; Péricles Prade, Ação Popular, Saraiva. 1986. Mais recentemente, Luiz Manoel
Recife, 1968: Jose Afonso da Silva, Ação Popular ConstitucIonal, 2& ed., São Paulo, Gomes Júnior, Ação Popular - Aspectos Polémicos, Rio de Janeiro, Forense, 2001.
Malheiros Editores. 2007~ Paulo Barbosa de Campos Filho, Ação Popular Constitu- 2. Tendo em vista que o autor popular litiga em prol da sociedade, e não em be-
cional, São Paulo, 1968; Jose Carlos Barbosa Moreira. "A ação popular do Direito neficio própno, é incabível a reconvenção em sede de ação popular. como já decidiu
brasileiro como instrumento de tutela jurisdicIOnal dos chamados 'direítos difusos"', o STJ: REsp n. 72.065-RS, ReI. Min. Castro Merra, RePro 137/201.
in Studi in Onore di Ennco Tul/io Liebman, IVI2.673. Roma, Giuffrê. 1979 (separata); 3. Esta lei resultou do Projeto Bilac Pinto (substitutIvo ao Projeto n. 2.466/52)
Mário Bento MartIns Soares. "Ação popular - Singularidades e controvêrslas do ins- e do Anteprojeto de nossa autoria, solicitado pelo ex~Ministro Seabra Fagundes, in-
tituto", RDP 53-54/179; Hely Lopes Meirelles. "Património de socíedade civil e ação cumbido pelo então Ministro da Justiça Mílton Campos de redigrr o texto final. Nosso
popular', in Estudos e Pareceres de Direito Público. rv/92, Ed. RT, 1981; António Anteprojeto era sintético e propunha um rito especial assemelhado ao do mandado
Raphael Silva Salvador. "Ação popular". Justiria 180/161; Arnoldo Wald., "Desca- de segurança, com expressa pemnssão para a suspensão liminar do ato impugnado,
bimento de ação popular, RT 557/34; "Ação popular para anulação de contrato", RT O que foi suprimido pelo Congresso Nacíonal ao votar a lei. Agora, pela estranha
521/53, e "Descabimento de ação popular",RT557/34; "Ação popular- Da ilegitimi- modificação íntroduzida pelo art. 34 da Lei n. 6.513. de 20.12.77 (que dispõe sobre
dade passiva da sociedade de economia mista" ,RT 600/28~ Sérgio de Andréa Ferreira. locaIS de mteresse turístiCO), acrescentou-se o § ~ ao art. 52 da Lei deAção Popular

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150 AÇÃO POPULAR ACÃOPOPULAR 151

Constituição de 1967 e à Emenda de 1969,4 pelo quê deve ser enten- têm qualidade para propor ação popular (STF. Súmula 365). Isso por-
dida à luz do novo texto constitucional. que tal ação se funda essencialmente no direito político do cidadão,
Entretanto, a ação popular vem sendo desvirtuada e utilizada que. tendo o poder de escolher os governantes. deve ter. também. a
como meio de oposição política de uma Administração a outra, o que faculdade de lhes fiscalizar os atos de administração.
exige do Judiciário redobrada prudência no seu julgamento, para que O segundo requisito da ação popular é a ilegalidade ou ilegiti-
não a transforme em instrumento de vindita partidária,5 nem impeça midade do ato a invalidar, isto é. que o ato seja contrário ao Direito.
a realização de obras e serviços públicos essenciais à comunidade por infringir as normas específicas que regem sua prática ou por se
que ela visa a proteger.6 desviar dos princípios gerais que norteiam a Administração Pública,
Vejamos. em síntese. as características da ação e as peculiarida- Não se exige a ilicitude do ato na sua origem, mas sim a ilegalidade
des de seu procedimento. na sua formação ou no seu objeto. Isto não significa que a Consti-
tuição vigente tenha dispensado a ilegitimidade do ato. Não. O que
o constituinte de 1988 deixou claro é que a ação popular destina-se
2. Requisitos da ação a invalidar atos praticados com ilegalidade de que resultou lesão ao
O primeiro requisito para o ajuizamento da ação popular é o de patrimônio público. Essa ilegitimidade pode provir de vicio formal
que o autor seja cidadão brasileiro. isto é. pessoa humana. no gozo ou substancial. inclusive desvio de finalidade. conforme a lei regula-
de seus direitos cívicos e políticos. requisito. esse. que se traduz na mentar enumera e conceitua em seu prôprio texto (art. 22 • "a" a "eH).
sua qualidade de eleitor. Somente o individuo (pessoa fisica) munido O terceiro requisito da ação popular é a lesividade do ato ao pa-
de seu título eleitoral poderá propor ação popular, sem o quê será trimônio público. Na conceituação atual. lesivo é todo ato ou omissão
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,
,, carecedor dela. Os inalistáveis ou inalistados. bem como os partidos administrativa que desfalca o erário ou prejudica a Administração,
políticos. entidades de classe ou qualquer outra pessoa jurídica, não assim como o que ofende bens ou valores artísticos. cívicos. cultu-
raís. ambientais ou históricos da comunidade. E essa lesão tanto pode
(Leí n. 4.717/65), para permitir a "suspensão liminar do ato lesivo impugnado", mas ser efetíva quanto legalmente presumida. visto que a lei regulamentar
sem quaiquer condicIOnamento, nem índicação do recurso cabível contra a limínar, o estabelece casos de presunção de'lesividade (art. 42), para os quais
que enseja a aplicação analólPca das limítações e dos recursos admissíveis em liminar basta a prova da prática do ato naquelas circunstâncias para conside-
de mandado de segurança. E o que procuraremos demonstrar, adiante, ao cuidar do
rar-se lesivo e uulo de pleno direito. 7 Nos demais casos impõe-se a
processo (n. 7).
Outra modificação introduzida pela mesma Lei n. 6.513177 está no § 11l: do art.
dupla demonstração da ilegalidade e da lesão efetiva ao patrimônio
lU da Lei n. 4.717/65, que recebeu o acrescuno de uma palavra, para proteção do protegivel pela ação popular.
patrimômo turistlco, mas isto já se achava compreendido, implicitamente, no texto Sem estes três requisitos - condição de eleitor, ilegalidade e
primitivo. No mais, o processo da ação continua o mesmo: rito ordinãrio com as mo-
dificações estabelecidas nos arts. 72 e 55. da Lei especial n. 4.717/65. lesividade -. que constituem os pressupostos da demanda. não se
4. E, obviamente, â ConstitUIção de 1988. viabiliza a ação popular.
5. A ação popular não deve ser utilizada para fins emmentemente políticos,
objetos da discricionanedade dos Poderes Executlvo e Legislativo. taIS como a con- 7. STF. RTJ 103/683. Embora haja casos de lesão presumida, esta presunção
testação à nomeação de Conselheiro de Tribunal de Contas do Estado (TJRJ. EI n. deve neceSSBnamente decorrer da lei, e admite prova em contrâno (STJ. REsp n.
!
; !
11/98, ReI. Des. Laerson Mauro, RevISta de Direito do TJRJ37/153) ou a cassação 400.075-MG. ReI. Min. Luiz Fux, DJU23.9.2002, p. 244). A reallesividade do ato
de mandato de parlamentar (TJR1, Duplo Grau n. 183/96. Rei. Des. Sérgio Cavalieri impugnado, ou a ocorrência de situação na qual a lesividade é legalmente presumida,
Filho,). 11.3.97), deve ser concretamente provada na ação. não bastando meras SUpOSIções (TJSP. ApC
6. A experiência vem demonstrando que a vigente Lei de Ação Popular está n, 149.490-1-6. ReI. Des. Alfredo Migliore. RT 6741116; TJRJ. Remessa Ex-OJlic1o n,
a exígir uma compieta reformulação em seu texto. não 56 para conceituar melhor 22/93. ReI. Des.ltamarBarbalho, RDR 2/341; TRF-2' Região.ApC n. 94.02.16495-
seus objetivos como para agilizar seu processamento e impedir que tais causas se 2, ReI. Juiz Alberto Nogueira, RT735/426). Por exemplo, não cabe ação popular para
eternízem na Justiça, sem julgamento. numa perene ameaça aos administradores sustar a discussão de projeto de ieí, por totai ausência de ieslvidade (TJSP. ApC n.
chamados a JUiZo. 36.791-1. Rel. Des. Camargo SampaIo. RT581169),
152 AÇÃO POPULAR AÇÃO POPULAR 153

Embora os casos mais freqüentes de lesão se refiram ao dano Mas ti de observar-se que a ação popular não autoriza o Judiciá-
pecuniário, a lesividade a que alude o texto constitucional tanto rio a ínvalidar opções administrativas ou substituir criténos técnicos
abrange o patrimônío material quanto o moral, o estético, o espiritual, por outros que repute mais convenientes ou oportunos, pois essa
o histórico. Na verdade, tanto é lesiva ao patrimônio público a alie- valoração refoge da competência da Justiça e é privativa da Admi-
nação de um imóvel por preço vil, realizada por favoritismo, quanto nistração. O pronunciamento do Judiciário, nessa ação, fica limitado
a destruição de um recanto ou de objetos sem valor econômÍco, mas . unicamente à legalidade do ato e à sua lesividade ao patrimônio
de alto valor histórico, cultural, ecológico ou artístico para a coleti- público. Sem a ocorrência desses dois vicios no ato impugnado não
vidade local. Por igual, tanto lesa o patrimônio público o ato de uma procede a ação. lO ,/

autoridade que abre mão de um privilégio do Estado, ou deixa pere- Como assínalado no n. 1, a Constituição de 1988 alterou as
cer um direito por incÚTIa adminístrativa, como o daquela que, sem finalidades da ação popular, o que deflui da comparação do texto
vantagem para a Administração, contrai empréstimos ilegais e one- do art. 153, § 31, da EC n. 1 com a redação dada ao ar!. 52, LXXIII,
rosos para a Fazenda Pública. Tais exemplos estão a evidenciar que já transcrito. Alguns autores e acórdãos quiseram ver na ínovação
a ação popular é o meio idôneo para o cidadão pleitear a invalidação constitucional não só a ampliação do obJeto da ação mas, aínda, a
desses atos, em defesa do patrimônio público, desde que ilegais e mudança dos requisitos da mesma, dispensando a ilegalidade do ato
lesivos de bens corpóreos ou dos valores éticos das entidades estatais, desde que atentasse contra a moralidade pública. Na realidade, não
. autárquicas e paraestatais, ou a elas equiparadas. nos parece ter sido essa a intenção do legislador, que tão-somente
Desse entender não dissente Bielsa, ao sustentar, em substan- pretendeu valorizar novos ínteresses não patrimoniais, dando-lhes a
cioso estudo, que a ação popular protege interesses não só de ordem proteção adequada pela ação popular. Enquanto a sua finalidade, no
patrimonial como, também, de ordem moral e cívica. E acrescenta passado, era simplesmente patrimonial, visando à anulação de atos
textualmente o autorizado Publicista que "o móvel, pois, da ação lesivos ao patrimônío de entidades públicas, o constituinte de 1988
popular não é apenas restabelecer a legalidade, mas também punir ou admitiu sua utilização também em relação a valores não econômicos,
reprimír a imoralidade administrativa. Nesse duplo fim vemos a vir- como a moralidade administrativa, o meio ambiente e o patrimônio
tude desse singular meio jurisdicional, de evidente valor educativo"g
Entender-se, restritamente, que a ação popular só protege o está restrito ao prejuízo material aos cofres públicos (STF. RE n. 170.768-2-SP. ReI.
patrimônio público material é relegar os valores espirituais a plano Min. I1mar Gaivão, RT769/146l.
secundário e admitir que a nossa Constituição os desconhece ou os Em certas situações os pnnclplos em jogo são tão relevantes que a lesividade
a autorizar o manejo da ação popular decorre da prõpria VIolação ii ordem Jurídica
julga índignos da tutela juridica, quando, na realidade, ela própria estabelecida. Por exemplo. a lesividade pode decorrer da Inobservância da obrigação
os coloca sob sua égide (CF, arts. 23, VI, 24, VI, 170, VI, e 225). de liCitar (STJ. REsp n. 582.030-DF, ReI. Mio. Teon Albino Zavascki, RDR 35/308.
Esta proteção constitucional não deve ser apenas nominal, mas real, e AgRgAl n. 636.917-DF, ReI. Min. João Otávio Noronha. DJU9.11.2007l, ou da
Violação à impessoalidade da Administração (TJSP, ApC n. 625.859.5/5-00, ReI. Des.
traduzíndo-se em meios concretos de defesa, tais como a ação po- Magalhães Coelho. RT863/249). Em taís casos, o prejuizo estritamente material pode
pular para a ínvalidação de atos lesivos desses valores. Se ao Estado ser difícil de provar, ou meramente potenCIai, mas a importância dos valores constitu-
incumbe proteger o patrimônio público, constituido tanto de bens cionais feridos e suficiente para Justificar o emprego da ação popular.
corpóreos como de valores espirituais, de irrecusável lógica ti que o 10. STF. RTJ96/1.370, 96/1.379. 103/638; TFR, EJ-TFR 38/1; TJRS. RJTJRS
cidadão possa compeli-lo, pelos meios processuais, a não lesar esses 97/247,1011357, RDP 19/186;TJSC,RDP 51-52/223; TJMG, RT576/223; TJSP, RT
434/88. 438/93, 503/65, 516/68, 527/66, 531181. 548/57.
valores por atos ilegais da AdmínlStração.9 No STJ: REsp n. 100.237-RS, ReI. Min.Ari Pargendler, DJU26.5.97, p. 22.510
- "O exame dos atos admimstratIvoS se dá sob o ponto de vista da respectiva legalida-
8. Rafael Bielsa, "A ação popular e o poder discnciommo da Admmistração", de e da sua eventualleslvidade ao patrimônio público (Lei n. 4.717, de 1965, art. 2(1),
RDA 38/40. ou simplesmente da legalidade nos casos em que O prejuizo ao patrimônio público é
9. Com razões assemelhadas às expostas por Hely Lopes MeirelIes, há acórdão presumido (Lei n. 4.717~·de 1965-. art. ~); o Julgamento sob o ângulo da conveniênCia
do STF entendendo que o prejuizo autorizador do ajUlzamento de ação popular não do ato admínístrativo usurpa competêncl'a da Administração",
154 AÇÃO POPULAR AÇÃO POPULAR 155

histórico e cultural, mantendo-se sempre a exigência de ilegalidade. popular. A moral pura, quando afastada do direito positivo, envolve
Assim, exige-se o binômio ilegalidade-lesividade para a propositura crenças pessoais, inclusive religiosas, que podem variar de pessoa
da ação, dando-se tão-somente sentido mais amplo à lesividade, que para pessoa. Permitir que o juiz invalide um ato formalmente legal da
pode não importar prejuizo patrimonial, mas lesão a outros valores, Administração, sob o único fundamento de que este ato seria imoral,
,,--:protegidos ~ela Co~stituiÇão.ll _ . , , •, implica em colocar o administrador público em permanente incer-
_._, Nesta lmha, diversos acordãos continuam a eXIgIT o duplo VICIO teza. O Judiciário poderia, sob o pretexto da defesa da moralidade,
-lesividade e ilegalidade - do ato impugnado para que seja cabível estabelecer uma ou outra prioridade para a Administração, e, desta
a propositura da ação popular. 12 O STJ julgou que "para ensejar a forma, acabaria intervindo no âmbito da conveniência do ato, o que
propositura de ação popular, não basta ser o ato ilegal, deve ser ele não deve ser admitido dentro do sistema de separação trillartite dos
lesivo ao patrimônio público"," poderes. Aliás, neste aspecto, ajurisprudência continua repelindo a
intervenção do partiéular e do juiZ no poderdis~riciõíiano~daÃ..ilmi~
O desvio de poder da Administração, quando obedece a lei ape-
nis1!"x~~I'.úbh<:a, pois a conveniência e a oportunida_cl~-ºª.ª!!!'!I'ão da
nas formalmente, afastando-se de seus objetivos,já é há muito tempo
~<fníinistraçãonão estão-sujeitos ao controle judicial. l5 --
considerado como uma modalidade de ilegalidade dentro do nosso
Direito Administrativo, ensejador do cabimento de ação popular. 14 Admitir que qualquer cidadão conteste a validade de um ato ad-
ministrativo praticado por agente competente, de acordo com a lei e
A noção de pura "imoralidade", porem, nos parece excessiva-
os regulamentos aprovados pelos Poderes Constitucionais legítimos,
mente vaga e subjetiva para que se permita o ajuizamento de ação
apenas com base no conceito vago de imoralidade, e deixar a sorte da
II. STJ, EDivREsp D. 14.868-RJ, Rel. Min. José Delgado, RevISta de Diretto
Administração ao sabor variável e influenciável da opinião pública
Renovar-RDR 33/200. e dos humores políticos. Se a Administração age dentro da lei, sem
No TJRJ. v. interessante discussão do tema no caso do contrato entre o Muni- desvio de finalidade, não há como aceitar a intervenção do Poder
cipio do Rio de Janeiro e a Fundação Guggenheím para a construção de um museu.. Judiciário atraves da ação popular. 16
i cuja execução fOI suspensa em sede de ação popular. A deCIsão JudicíaI abordou os
! ' aspectos da ilegalidade e da lesividade de fonna ampla. aprecIando não apenas o O direito de propor ação p<?pular prescreve em cinco anos,
comprometImento financeíro do Munícipío. mas também outros aspectos imatenaís. consoante o art. 21 da Lei n. 4.717/65. Em princípio, conta-se a
como a submissão do contrato a legislação estrangeíra e a previsão de solução de prescrição a partir da data da publicidade do ato lesivo ao patrimônio
controvérsías através de arbitragem confidencial, no exterior, em víolação ao princí- público (STJ, AgRgAI n. 636.917-DF, ReI. Min. João Otávio Noro-
pIO da publicidade (AI n. 7.839/2003. ReI. Des. Ademir Paulo Pimentel, RDBMCA
221423). nba, DJU9.11.2007). É de se observar que atualmente a prescrição
12. Assim, por exempio, o TRF da 5i Região (Remessa Ex-Officio D. 85.024. deve ser decretada de oficio pelo juiz da causa, de acordo com a LeI
ReI. Juiz José Delgado, RF 334/328) e o TJSP (ApC n. 258.986-1, ReI. Des. Mu- n. 11.280, de 16.2.2006, que deu nova redação ao § 52 do art. 219 do
nhoz Soares, RJTJSP 179/17 e ApC n. 214.815-1-9. ReI. Des. Barbosa Pererra, CPC e revogou o art. 194 do CC de 2002.
RT 714/116). No TJRJ: ApC n. 10.690/00, Rela. Desa. Mariana Pereira Nunes, j.
13.3.2001, reg. 11.6.2001. No TRF-4' R.: ApC n. 2001.70.00.000102-3-PR, ReI. Des.
fedeml Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, RePro 1311219.
\\
3. Fins da ação
13. REsp n. 1l1.527-DF, ReI. Min. Garcia Vieira, DJU20.04.98, p. 23, inte-
gra do acórdão em RDR 14/226. De modo semelhante. a decisão nos EDeclREsp A ação popular tem fins preventivos e repressIvos da atívidade
n. 109.301-MG, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros. RSTJ 104/73, no REsp n.
250.593-SP, ReI. Min. GarcIa VieIra, DJU 4.9.2000, p. 126, no REsp n. 185.835- administrativa ilegal e lesiva ao património público, pelo quê sempre
RJ, ReI. Min. GarcIa Vieira, RDR 20/242, no REsp n. 400.075-MG, ReI. Min. LulZ
Fax, DJU23.9.2002, p. 244, e, ainda, em bem fundamentado acórdão da I' Seção, IS. TJSP, ApC n. 224.352-1/3, ReI. Des. Correia Lima, RF 334/365 e ApC
nos EDivREsp n. 260.821-SP, ReI. Min. João Otávio Noronha. RePro 140/206, RF n. 241.510-1, ReI. Des. Felipe FerreIra, RJTJSP 180/17; TRF-4' R .. ApC n.
3891278 e RDR 38/168. 2001.70.00.000102-3-PR, ReI. Des. Fed. Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz,
14. Hely Lopes Meirelles. Direito Admimstrativo Brasileiro. 35!! ed.. São Paulo. RePro 131/219.
Malheiras Editores, 2009, p. 114. 16. Castro AguIar. "O pnncípio da moralidade adrmmstrativa", CDT 19/146.
156 AÇÃO POPULAR AÇÃO POPULAR 157

propugnamos pela suspensão Iimínar do ato impugnado, visando â Em última análise, a finalidade da ação popular é a obtenção
preservação dos superiores interesses da coletividade. da correção nos atas administrativos ou nas atividades delegadas
Como meio preventivo de lesão ao patrimônio público, a ação ou subvencionadas pelo Poder Público. Se, antes, só competia aos
popular poderá ser ajuizada antes da consumação dos efeitos lesivos - órgãos estatais superiores controlar a atividade governamental, hoje,
do ato; como meio repressivo, poderá ser proposta depois da lesão, pela ação popular, cabe também ao povo intervir na Administração,
para reparação do dano. Esse entendimento deflui do próprio texto para invalidar os atas que lesarem o patrimômo econômico, adminIS-
constitucional, que a toma cabivel contra atos lesivos do patrimônio trativo, artístico, ambiental ou histórico da comunidade. Reconhece-
público, ~em indicar o momento de sua prop.o~itura. se, assim, que todo cidadão tem direíto subjetivo ao governo honesto.
Na ampla acepção administrativa, ato é a lei, o decreto, a re- Os direitos pleiteáveis na ação popular são de carnter civico-
solução, a portaria, o contrato e demais manifestações gerais ou administrativo, tendentes a repor a Admínistração nos limites da le-
especiais, de efeitos concretos, do Poder Público e dos entes com galidade e a restaurar o patrimônio público de desfalque sofrido. Por
funções p.fblicas delegadas ou equiparadas. Ato lesIVO, portanto, é isso mesmo, qualquer eleitor é parte legitima para propô-la como,
toda manifestação de vontade da Administração danosa aos bens e também, para intervir na qualidade de Iitisconsorte ou assistente do
interesses da comunidade. Esse dano pode ser potencial ou efetivo. autor, ou, mesmo, para prosseguir na demanda se dela desinteressar-
Assim sendo, não é necessário que se aguarde aconversão do atoem se o postulante origimirio (art. 6<', § 5Q).
fato administrativo lesivo ~ar" se intentar a ~ç!.D:_ Por fim, lembramos que a ação popular é inconfundível com
o mandado de segurança e colima fins diversos, razão pela qual
':::- ~~t~s'".lIl esses argumentos<!e..'!.aturez.<!..i!!riª,i~a,.~staria_ o
bom senso a aconselhar a invalidação dos atos lesivos, antes mesmo tais remédios judiciais não podem ser usados indistintamente (STF.
Súmula 101).
qUeproduiàniseusefeitos. De acrescentâi-se, ai,;.da, quecertói atas,
se consumados, seriam írreparnveis, tais como a destruição de bens Cada um tem objetivo próprio e específico: o mandado de se-
de valor histórico, ecológico ou artístico, a transformação de parques gurança presta-se a invalidar atas de autoridade ofensivos de direito
e logradouros públicos e outros mais que retiram a originalidade do individual ou coletivo, líquido e certo; a ação popular destina-se
objeto, da obra, ou da própria Natureza, o que justifica a sustação ã anulação de atas ilegítimos e lesivos do patrimônio público. Por
preventiva do ato. I7 aquele se defende direito próprio; por esta se protege o interesse da
comunidade.'9 ou, como modernamente se diz, os interesses difusos
Outro aspecto que merece ser assinalado é que a ação popular
da sociedade.2°
pode ter finalidade corretiva da atividade adminístrativa ou supleti-
va da inatividade do Poder Público nos casos em que devia agir por o cabimento de ação popular em face de omíssão da Administração, e citando a
expressa imposição legal. Arma-se, assim, o cidadão para corrigir a douIrma de Hely Lopes Melrelles: TJSP,ApC n. 153.521-5/8-00, ReI. Des. Torres de
atividade comissiva da Administração como para obrigá-Ia a atuar, Carvalho, RT788/242. No STI: REsp n. 889.766-SP, ReI. Min. Castro Meira, DJU
quando sua omissão também redunde em lesão ao patrimônio pó- 18.10.2007. A omissão hã de ser aferivei concretamente, porém, diante de uma obri M

gação de agir objetiva, não cabendo a ação popular diante de mera alegação gem!r1ca
blico.'8 de inércia do Poder Público em determinada área da Administração (TJSP, ApC n.
436.596-5/l-00, ReI. Desa. Regma Capistrnno, RT 850/265).
17. Neste sentido. reconhecendo o duplo carnter da ação popular. repressivo ou 19. Os Tribunats têm admítido a ação popular como adequada para a anulação de
preventivo: SIT, AOrn. 506-AC, ReI. Min. Sydney Sanches, RTJ 168122. resoluções de Câmaras Municipais que concedem ilegalmente remuneração a vereado--
18. Paulo Barbosa de Campos Filho, uAção popular constitucional", RDA 38/1; res (SIT, RDA 73/290; TJSP, RDA 58/166, 2691214, 280/175); para invalidar elevação
Orestes Ranelletti. Le Guarentigie della GiustizIQ nella Pubblica Amministrazione. de subsidios de Prefeito durante a legislatura (TISP, RT 264/483, 270/428, 273/436;
1934, p. 510. TASP, RT2321398, 237/447, 289n04); para anular venda ilegal de bem público (TISP,
O STJ já decidiu que a ação popular, na sua modalidade de ataque à omissão RDA 4612I5, 55/165,RT250/159, 2771270); para anular Isenção fiscal concedida ilegal-
da administração, não está SUjeita ao prazo prescricíonal de cinco anos do arL 21 da mente (TJSP, RDA 691241, RT313/178, 328/163); para anular verba pessoal de Deputa-
Lei n. 4.717/65 (REsp n. 36.490-SP, ReI. Min. Ari Pargendler, RSTJ90/107). Sobre dos (TJSP. RDA 99/227); para. anular autorização para extração de madeira em floresta
158 AÇÃO POPULAR AÇÃO POPULAR 159

Advertimos. também. que a ação popular continua válida para a fases. Essa lei, conquanto haja alargado o âmbito da ação e desfeito
defesa do meio ambiente?1 embora seja mais própria. agora. a ação dúvidas sobre seu cabírnento, peca pelo excesso de casuismo e apre-
civil pública, ínstituida pela Lei n. 7.347. de 24.7.85, para resguardo senta defeitos de técnica em alguns de seus dispositivos. Advirta-se,
dos interesses difosos da sociedade. 22 aínda, que a norma em exame deve ser interpretada e aplicada à luz
do novo texto da Constituição da República (art. 52, LXXIII).
Ajurisprudência do antigo TFR entendia ser descabível a ação
popular quando o ato íncriminado não pode ser desfeito em virtude A lei regulamentar, além dos atos de entidades públicas cen-
de já ter produzido todos os seus efeitos. não devendo confundir- tralizadas e descentralizadas, acrescentou outros passíveis de inva-
I t
se com a ação de responsabilidade civil, que tem outros requisitos lidação, e tais são os de sociedades mútuas de seguros nas quais a
!' e finalidades distintas. Neste sentido decidiu, no AI n. 41.593-RJ, União represente os segurados ausentes; empresas públicas;.servlços
pela sua 3' Turma, que a impossibilidade da desconstituição do ato sociais autónomos; instituições ou fundações para cuja crlação ou
por motivos fáticos configura a inviabilidade da ação, por ter obJeto custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais
impossivel, corno bem salientou o eminente Min. Carlos Madeira. de 50% do património da receita ânua; empresas incorporadas ao
·I[ , relator do feito. património da União. do Distrito Federal, dos Estados e dos Municí-
_ _ _-o pios; e os de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvenciona-
i'
das pelos cofres públicos (art. 12 ). Abrangeu, assim. os atos de todas
4. Objeto da ação
as pessoas juridicas de Direito Privado nas quais o Poder Público
O objeto da ação popular é o ato ilegal e lesivo ao patrimônio tenba ínteresses econômicos predominantes em relação ao capital
público. partícular. 23 Mas a ação só é cabível contra atos dessas entidades
Regulamentando o parágrafo constitucional que ínstitui a ação (STF, RTJ95/1.l21).
popular (ar!. 141, § 38, da CF de 1946), a Lei n. 4.717, de 29.6.65, Dentre os atos com presunção de ilegitimidade e lesividade,
dispôs sobre o seu objetivo e tramitação processual em todas as suas sujeitos à anulação popular, a mesma lei enumera: I - a adnussão
ao serviço público remunerado CO!l1 desobediência ás condições de
protetora (TJSP, RDA 1101257; TJMG, RT 4371195); para anular criação de Secretana habilitação. ás normas legais, regulamentares ou constantes de ins-
Mumcipai contra a LeI Orgânica dos MunÍcípíos (TJSP. RDA 114/289); para anular truções gerais; II - a operação bancária ou de crédito real realizada
doação de bem público (STF. RTJ711497); para anular criação de cargo sem iniciativa
do Executivo (STF, RDA 128/550). O STJ já teve o ensejo de reafirmar que a ação po-
irregularmente; III - a empreitada, a tarefa e a concessão de servIço
i
• i pujar busca combater o ato lesivo ao patrimôruo público, e não a proteção de interesses público contratadas sem concorrência, ou com edital irregular. ou
de particulares (REsp n. 36.534-1-DF, ReI. Min. Hélio Mosimann, RT7181265). com limitação discriminatória para os concorrentes; IV - as modi-
20. Cf. Jose Carlos Barbosa Moreíra. UA ação popular do Direito brasileirO ficações Oll vantagens em contratos que não estiverem previstas em
como instrumento de tutelajurisrucional dos chamados 'interesses difusos .... separata
do v. IV dos Shldi in Onore di Ennco Tu/lio Liebman. Roma, 1979; Ada Pellegriní
lei ou nos respectivos ínstrumentos; V - a compra e venda de bens
Grinover. "A tutela jurisdicIOnal dos interesses difusos", RPGE 121111. móveis e imóveis realizada irregularmente ou por preço superior ou
21. Sobre o cabimento da ação popular em matéria ambientai, v.: STJ, REsp inferior ao real; VI - a concessão irregular de licença de importação
n. 889.766-SP, ReI. Min. Castro Meira, DJU 18.10.2007. Na doutrIna; LulZ Manoel e exportação; VII - a operação irregular de redesconto; VIII - o
Gomes Jr. e Ronaldo Fenelon Santos Filho, "Aspectos relevantes da ação popular
ambiental: diferenças em relação â ação popular disciplinada pela Lei n. 4.717/1965" .
empréstimo irregular concedido pelo Banco Central da República;
•1
RePro 144/38. IX - a emissão, quando efetuada sem observância das normas consti-
22. v., adiante, Terceíra Parte, sobre Ação Civil Pública. Como se verá na refe M
tucionais, legais e regulamentares que regem a espécie (art. 42).
rida Terceira Parte. ação civil pública e ação popular. embora possam cOMexistir, não
se confundem, tendo cada uma as suas finalidades especificas. A natureza da sentença
é diferente. num e noutro tipo de ação. Neste sentido, e ressaltando a maior abrangên- 23. No STJ. admitindo a ação popular contra o SEBRAE, entidade pamestatai.
cia da ação popular com relação à ação civil pública: TThfG, ApC n. 104.892-5. ReI. constituída na forma de servIço social autônomo e mantida por contribuições parafis-
Des. Cláudio Costa,ADV 1999, p. 356, em. 87.885. cais: REsp n. 530.206-SC, ReI. Min. José Delgado, DJU 19.12.2003, p. 358.
160 AÇÃOPOPULAR AÇÃO POPULAR 161

Afora os casos específicos acima indicados, rendem ensejo a Também ê incabível a ação popular contra ato de conteúdo
anulação pela ação popular os atos das entidades enumerados no art. jurisdicional, contra o qual as partes devem manejar os recursos
12 que contenham qualquer desses vícios: incompetência de quem os processualmente admissíveis, como decidiu o STF em ação proposta
praticou; vicio de forma; ilegalidade do objeto; inexistência dos moc contra a liminar concedida pelo Min. Nélson Jobirn estendendo o
tivos; ou desvio de finalidade (art. 2' e parágrafo único l. A própria lei "auxílio-moradia" aos juizes federais (AOr n. 672-DF, ReI. Min.
I íncumbiu-se de conceituar os vídos que enumerou comO ensejadores Celso de Mello,Informatívo STF 180/3; na mesma linha: STF, AgRg
i da anulação. mas admitiu tambem que outros podem ocorrer. segun- Pet n. 2.018-9-SP. ReI. Mín. Celso de Mello, DJU 16.2.2001 e RTJ
do a natureza do ato e as prescrições legais específicas para sua prá- 186/141). O STJ, no entaoto, já admitiu a ação popular como VIa
tica (art. 32). Deste modo. ficou evidenciado que a discriminação da própria para obstar a acordo judi(:~al, mesmo já passado emjulgado,
lei não e exaustiva. admitindo novas hípóteses de atos ou contratos se o cidadão demonstrar o "daiJ.õ ao erário resultaote da transação. Na
ínvalidáveis pela ação popular, desde que ocorram os pressupostos hipótese. tratava-se de acordo formalizado em ação de desapropria-
de ilegalidade e lesividade ao patrimônio público,24 a que se refere a ção (REsp n. 906.400-SP. ReI. Min. Castro Meira. DJU 1.6.2007).
nova Constituição da República.25
Dentre os atas ilegais e lesivos ao patrirnônio público pode estar ~ 5. Partes
até mesmo a le!cle efeitos concretos. isto é. aquela que já em si traz
as cons~qüênc'iasÍInediatas de sua ~tuação. como a que desaprop~ Já vimos que o sufeito ativo da ação será sempre o cidadã02' -
bens. a que concede isenções. a que desmembra ou cria municípios, pessoa física no gozo de seus direitos políticos -, IstO é. o eleitor; os
a que fixa limites territoriais e outras dessa especie. Tais leis só o são sujeítos passivos podem ser diversos. 29 Deverão ser citadas para a
em sentido formal. visto que materialmente se equiparam aos atos ação. obrigatoriamente, as pessoas juridicas. públicas ou pnvadas,
adminístrativos e. por isso mesmo, são atacáveis por ação popular
ou por mandado de segurança, conforme o direito ou o ínteresse por A propôsito. v. nosso parecer ln Estudos e Pareceres de Direito Público, IX/368
elas lesado,26 mas é incabível a ação popular contra a leI em tese. 27 e ss.
Os tribunaIS vêm seguidamente ressaltando que a ação popular não pode servIr
como subsbtuto da ação direta de Inconstitucionalidade, Justamente por não se prestar
24. Entendemos passiveI de invalidação por ação popular o registro de lotea- ao ataque li lei em tese (TJSC,ApC n. 21.944, Rei. Des. Xavier Vieira, RT623/155,
mento em desacordo com a legislação pertmente, porque tal ato, sobre ser ilegal, ê e ApC n. 01.001230-3. ReI. Des. César Abreu. RT 796/392; TJRJ. ApC n. 4.457/89.
Iesívo ao patnrnônio urbanístIco munIcipal. Essa hipótese, a nosso ver, enquadra-se ReI. Des. Cláudio Vianna de Lima, RDTJRJ7/213; TJSP. ApC n. 263.596-1/1, ReI.
nà conceituação ampla do art. 12 , § 112, da lei em exame, que considerapatnmômo pú- Des. Barreto Fonseca, ADV 1997, p. 724. ementa 80.590; ApC n. 77.119-5/0, ReI.
blico "os bens e direitos de valor econômlco, artístico. estétIco, histõrico ou turístico", Des. Sidnei Beneti. RT7831267; TJMG,ApC n. 178.622-7/00. ReI. Des. Hugo Bents-
25. A partir da Constituição de 1988, tem havido um grande número de ações san., RT 786/397). No STF há acórdão bem fundamentado rejeitando a utilização de
populares voltadas contra a publicidade dos orgãos públicos. via de regra se alegando a ação popular para disfarçadamente substituir a ação direta de Inconstltucionalidade
promoção pessoal dos governantes. A regra sobre a publicidade dos entes públicos ê ri~ por omissão, inclUSive usurpando a competência constitucIOnalmente reservada ã
gida (CF, art 37, § 111 ), e por vezes é Violada. dando margem â propOSitura da ação popu- Suprema Corte: Recl. n. I.017-SP, Rei. Min. Sepúlveda Pertence. Informativo STF
lar (p. ex.: TJSP, ApC n. 275.679.1/3-00. ReI. Des. Sérgio Pitombo. BoI. AASP n. 2.022. 383/3 e RTJI94/44.
p. 305-j;ApC n. 263.817-111. ReI. Des. Yoshiaki lchibara, RT7431263).Aquestão deve 28. O STF já sumulou que: "Pessoa jurídica não tem legitImidade para pro-
ser analisada com cuidado, porem. e caso a caso, pois muitas vezes a publicidade e ne- por ação popuiar" (Súmula 365). Nem o partido político tem legitimidade ativa
cessána na própna defesa dos mteresses estataís (TJRJ,ApC n. 2.035/94, ReI. Des. José para a propOSItura da ação popular (TJRJ, ApC D. 25.253/2001, ReI. Des. Waiter
Rodnguez Lema, RDR 4/3 I 7; EI n. 189/96. ReI. Des. Carlos Ferran,j. 18.12.96; Duplo d'Agostino, DJE 7.8.2003, p. 416).
Grau n. 33 li98, ReI. Des. Walter Felippe D' Agostino. DOE 29.1 0.98). 29. O pólo passivo da ação popular é carnctenzado por um litisconsórclo ne-
26. STJ. REsp n. 501.854-SC. ReI. Min. Luiz FUJ<, DJU24.11.2003. p. 222. cessário Simples (STJ. REsp n. 879.999-MA. ReI. Min. LUlz Fux. DJe 22.9.2008).
Sobre leIS e decretos de efeitos concretos v. o que escrevemos precedentemente, no Todas as pessoas elencadas no art. 6D da Lei n. 4.717/65 devem ser obngatonamente
D. 5 da Pnrnerra Parte. citadas para participar do feito, mas a SItuação de cada uma deve ser analisada indi-
27. TASP. RDA 38/256.·68/218. RT 220/367.310/509; TFR, RDA 144/91; vidualmente, sendo perfeitamente possivel' a procedência dos pedidos com relação a
TJDF. RDA 35/48; TJSP. RT 5 15n5. alguns réus e a improcedência com relação a outros.
AÇÃOPOPULAR AÇÃO POPULAR 163
162

em nome das quais foi praticado o ato a ser anulad030 e mais as auto- Em qualquer caso, a ação deverá ser dirigida contra a entidade
ridades,juncionários ou administradores que houverem autorizado, lesada, os autores e participantes do ato e os beneficiários do ato ou
aprovado, ratificado ou praticado pessoalmente o ato ou firmado o contrato lesivo ao patrimônio público. É o que se infere do disposto
contrato impugnado,31 ou que, por omissos, tiverem dado oportuni- no art. 62, § 22 ,
dade à lesão, como, também, os beneficiários diretos do mesmo ato A pessoa jurídica de Direito Público ou Privado chamada na
ou contrato (art. (2).32 Se a ação visar a ato ou contrato lesivo em ra- ação poderá contestá-Ia ou não. como poderá, até mesmo, encampar
zão de avaliação inexata, há de ser citado também o avaliador, como o pedido do autor. desde que isso se afigure útil ao interesse público,
co-responsável pela lesividade, podendo ser dispensado, neste caso, a juízo exclusivo do representante legal da entidade ou da empresa
o chamamento dos que apenas confiaram na avaliação. (art. 62, § 32 ).33 A inovação processual é das mais relevantes, pois
permite que o réu confesse tacítamente a ação, pela revelia, ou a con-
30. Se o ato questionado na ação foí praticado por sociedade de economIa fesse expressamente, passando a aluar em prol do pedido na ínicíal,
:I mista com personalidade e patrirnõnio próprios, descabe a inclusão do Estado, mero
controlador daquela., como reu na ação (STJ, REsp n. 879.999-MA. ReI. Min. LUlZ
Fux. DJe 22.9.2008).
em defesa do patrimônio público. Estas hipóteses são muito comuns
nos casos em que o ato ou contrato impugnado é da Administração
.1' i,, 31. A hipótese é de litisconsórcio passívo necessàno. e_ a ~l~ d!! citaçã~.~_e anterior e a lesividade só vem a ser descoberta pela Administração
" qualquer d(is' funcionàrios ou autoridades partiCIpes do ato ou con~!~ u:ng~gnado ~ subseqüente, não vinculada à conduta de sua antecessora. Mas nada
~nul~"d<: do l"'.'"essoJTJSC, ApC n. 01.001230-3, ReI. Des. César Abreu, impede que o próprío administrador em cuja gestão se praticou, ve-
RT796/392). No mesmo sentido: TJRJ, ApC n. 4.367/96. ReI. Des. AmauI)' Amnda
de Souza, RF 364/360, e TRF-4" R., ApC n. 2001.70.00.000102-3-PR. ReI. Des. rificando a ilegalidade e a lesívidade de tal ato. confesse a ação para
federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz. RePro 1311219. facilitar a restauração do direito.
32. Todos os beneficiários diretos do ato impugnado são litisconsortes pasSIVOS Os litisconsortes e assistentes do autor são expressamente ad-
necessários, e a falta. de sua citação para Ocontraditóri~__ e causa de nulidade abso- mitidos pela lei (art. 62, § 5º), de onde inferimos e sustentamos, nas
luta do procesS;;'(STJ, RESp n. 13.493-0-RS, ReI. -Min. Demócrito Reinaldo, RSTJ
43/332). primeiras edições, serem inadmissíveis os litisconsortes e assistentes
Na forma do inciso n do § 2D. do art. 7D. da Lei da Ação Popular. a citação dos passivos. Agora, penitenciamo-nos desse entender, por verificarmos
beneficiários pode ser feita mediante a publicação de edital, se asSlffi optar o autor. que a só referência à assistência e ao litisconsórcio ativos não exclui
No TJRJ: ApC n. 17.96212002, Rela. Desa. Leila Mariano, DJE 26.6.2003, p. 349. No os intervenientes passivos que tenham legítimo interesse na defesa da
entanto. esta regra deve ser interpretada com tempernrnentos, país o pedido de c1tação
editalícía deve ser fundamentado em necessidade pràtica para o bom desenvolVImen- causa, taIS como os funcionários não citados para integrar a lide mas
to da demanda. "Na ação popular, a CItaçãO não poderá ser realizada por edital se que, se procedente a ação e declarada sua culpa no ato ou contrato
conhecidos o reu. sua qualificação e endereço. em respeito ao direito â ampla defesa" lesivo, poderão ser regressivamente responsabilizados pelo dano (art.
(TJSC, ApC n. 01.001230-3, ReI. Des. César Abreu, RT796/392).
11). Estes. inegavelmente, poderão ingressar na ação como Iitiscon-
Note-se que a lei fala em beneficiáno direlo. o que significa dizer que o favo-
recido. remota ou indiretamente não deve ser incluído no pólo pasSIVO. ressalvado sortes ou assistentes do réu."
apenas ao próprio o direíto de ingressar no feito como assistente does) reu(s), se
qUIser e demonstrar efetivo interesse jurídico na causa. 33. No entanto, uma vez que tenha assumido uma pOSIção no processo, seja no
Em ação na qual se discutía a emissão irregular de títulos públicos. o STJ pólo passivo ou no ativo. a pessoa jurídica interessada não podem maIS mudar sua
decidiu que os adquírentes de boa-fé dos títulos em questão não podiam ser caracte- postura. As relações processuaIS se estabilizam com o oferecimento das contestações
rizados como "beneficiários diretos" da fraude. e, portanto. não eram litisconsortes dos réus ou da concordância com o pedido. Assim, por exemplo, tendo contestado a
necessmos na ação popular. sendo dispensável sua citação (STJ, RMS n. 14.351-SC, ação, não poderá a pessoa Jurídica de direito público depo1S passar a pugnar pela pro-
ReI. Min.Franclsco Falcão, DJU3.2.2003, p. 263, e RDR 26/191). cedênCia dos pedidos da ação popular. Neste sentido: Arnoldo Wald. «Ação popular
Sobre a necessidade de análise do comportamento e da boa-fé dos terce1- para anulação de contrato", RT 521/53. Na direção oposta, porem. admitindo que até
ros alegadamente beneficiários do ato ímpugnado na ação popular. STJ, REsp n. o momento do trânsito em julgado o ente de DireItO Público podena modificar o pólo
575.551-SP, ReI. desig. Min. José Delgado, DJU 12.4.2007. O acórdão eslá transcrito processual assumido: Luiz Manoel Gomes Jr., uAção Popular - Alteração do pólo pro-
e comentado por Lulz Manoel Gomes Jr. e Miriam Fecchio Chueiri, "Ação popular. cessual", RePro 125/183 e decIsão do TJSP no AI D. 455.896-5/0-00, RePro 141/210.
Contratação irregular. Devolução dos vatores recebidos. Inexistência de enriqueci- 34. TJPR. Ap. 1.314/75, j. 8.8.79. Serão Iitisconsortes passivos necessários na
mento sem causa. Necessidade da análise da boa-fé dos contratados", RePro 150/187. ação popular t~~!e-ª- que puderem vi~_~~~_~feras. ~dividuais atingidas,
164 AÇÃO POPULAR AÇÃO POPULAR 165

o Ministério Público tem posição singular na ação popular: e impede que o autor popular desista expressamente da ação e com
parte pública autónoma'5 incumbida de velar pela regularidade do isso concorde o Ministério Público, para sua homologação regular,
processo, de apressar a produção da prova e de promover a responsa- se ambos se convencerem da inexistência de fundamento para seu
bilidade civil ou crimíoal dos culpados. prosseguimento e houver concordância dos réus.38
'c. '::, Como parte pública autónoma, o Ministério Público tem liber-
dade para manifestar-se, a final, a favor ou contra a procedência da Competência
i \
ação, pois O que a lei veda (ar!. 6", § 49-) e que assuma a defesa do
A competência para processar e julgar ação popular é de-
ato impugnado ou dos reus, isto e, que contradite a inicial, promova
terminada pela origem do ato a ser anulado. Se este fOl praticado,
provas ou pratique outros atos processuais contra os autores. Mas,
autonzado, aprovado ou ratificado por autoridade, funcionárIo ou ad-
na manifestação final, deverá opinar no sentído em que a prova
ministrador de árgão da União, entidade autárquica ou paraestatal
indicar, pela procedência ou improcedência da ação, por se tratar de
da União ou por e/a subvencionada, a competência é do juiz federal
conduta caractenstíca da Institnição.36 Se houver abandono da ação,
da Seção Judiciária em que se consumou o ato. Se o ato impugnado
caber-lhe-a promover seu prosseguimento, em lugar do autor omisso,
foi produzido por órgão, repartição, servIço ou entidade do Estado
I se reputar de interesse público seu julgamento (ar!. 92).37 Isso não
l', ou por e/e subvencIOnado, a competência e do JUiz que a organização
judiciária estadual indicar como competente para julgar as causas de
consoante a regra do art. 47 do CPC, pois a todos é assegurado o devido processo interesse do Estado. Se o ato impugnado foi produzido por órgão,
legal (CF, art. 5n, LIV), ímpondo-se a nulidade da relação processual na ausência de
eítação dos mesmos (STJ. REsp n. 480.712-SP, ReI. Min. Luiz Fux, DJU20.6.2005, repartição, servIço ou entidade de MunicípiO ou por este subven-
p. 124).
35. A posição do Ministério Público nas ações populares não é pacífica na gitimidade para propor ação popular'. Por uma questão de lógica, se a pessoa jurídica
doutnna, sustentando Paulo Barbosa de Campos Filho, em douta monografia, que não pode propor a ação isoladamente. tampouco poderá prosseguir na mesma sem a
é "de verdadeíro litisconsorte" do autor (cf. Ação Popular ConstituCionaL. 1968, p. presença de um cidadão ou do Ministério Público ao seu lado. Da mesma forma, se o
133), do que. com a devida vênia, discordamos, porque ele não está vinculado aos autor popular e o Ministério Público não recorrerem da sentença ou do acôrdão que
ínteresses do mlclador da ação. como. também. não se subordina aos interesses da extinguir ou julgar Improcedente a ação popular. a pessoa Jurídica de direito público
Admimstração na defesa do ato impugnado. mteressada não ostentará legitimidade ou mteresse para recorrer sozínha, e o eventual
Para José Afonso da Silva, o Ministério Público tem na ação popular uma recurso por ela interposto não deverá ser conhecido.
posição multifána, atuando como "a) oficIante e fiscal da lei; b) ativador das provas 38. Dependendo do desenrolar do processo, também e possível o pedido de
e auxiliar do autor popular, c) parte pnncipal: d) substítuto do autor. e) sucessor do extinção do processo com relação a!11guns reus e o prossegyimento ~_o-".tra QS dem.?~
autor; f) titular originário da ação popular. como simples cidadão" (cf. Ação Popu- sem que pãiã-tUilõseja IlI!cessâria a publicação dos editais referidos no art. 9U-dã Lei
lar Conslitucwnal. 211 ed .• São Paulo, MalheIros Editores, 2007, p. 190, e tb. in RT daAção Popular (STJ, REsp n. 556.386-SP, Rei. Min. João OtáVIO de Noronha, DJU
36617). Vê-se que este conceituado publicIsta admíte o Minístério. Público como 23.11.2007 eRF395/434).
"parte" na ação popular, embora lhe atribua outras posições menos relevantes. Sobre as funções do Minísterio Público na ação popular. v. o fundamentado
36. Esse entendimento tem sido sufragado pelo Ministério Público paulista. estudo de LUlz José de Mesquita., "O Mimstérío Público na ação popular', RT574/24.
pois em reiteradas oportunidades seus Membros. de primeira ede segunda mstânclas, Considera-se indispensável a oibva do Mimstério Público na ação popular, sob
manifestaram-se, a fmal, pela improcedêncta da ação popular, corno se pode confe- pena de nulidade do processo (STJ, REsp n. 80.108~PA, Rei. Min. Peçanha Martms,
rir nos seguintes casos: TJSP. ApC n. 257.746; 58 Vara da Fazenda Estadual. proc. DJU 11.9.2000, p. 233; a ementa referewse erroneamente a "ação cIvil pública". mas
1.040175; 6' Varo da Fazenda Estadual, proe. 1.196/77, e ApC n. 285.903, do TJSP. o corpo do acordão esclarece que a hipótese julgada era de ação popular). Ajunspru-
37. Sobre a noana do art. 92 da Lei n. 4.717/65 e sua obngatória observâncl3 dência dommante dos TribunaIS Superiores, no entanto, com relação aos processos
antes da exunção do feito, v.: STJ, REsp n. 554.532-PR. ReI. Min. Castro Meira, DJU nos quais a intervenção do Ministério Público é obngatóna, entende que se o Par-
28.3.2008. Note-se que o dispositivo legal se refere expressamente ao Ministério quel não tiver se pronunCIado na pnrneira mstâncla a falha pode ser suprida com a
Público ou a outro cidadão como possíveís continuadores da ação abandonada. As- manifestação no segundo grau de junsdição. Neste sentido, especificamente em caso
sim. deve entender-se que a pessoa jurídica de direito público mteressada, amda que de ação popular. admitindo que a manifestação oral do representante do Parquet na
tenha optado por secundar o autor popular. não poderá prosseguir sozinha na ação em sessão de julgamento supre a eventual ausência de mtervenção por escrito nos autos:
caso de abandono ou desistência por parte daquele. Não sõ a lei deixou de prever a TRF-1' R., ApC 96.01.34374-!-DF, ReI. Des. federal Carlos Costa Mayer Soares,
possibilidade. como a Súmula n. 365 do STF dispõe que "pessoa jurídica não tem le- RT837/360.

'I
II I
166 ACÃO POPULAR ACÃO POPULAR 167

cionado, a competência e do juiz da comarca a que o MunicípIO o ato lesivo; quando interessar simultaneamente ao Estado e ao Mu-
interessado pertencer e que, de acordo com a organização judiciária nicípio, será competente o Juiz das causas do Estado, havendo juizo
do Estado respectivo, for competente para conhecer e julgar as causas privativo dos feitos da Fazenda estadual (Lei n, 4.717, art. 5', § 20 )41
de interesse da Fazenda municipal (Lei n. 4.717/65, art. 52, e Lei n. Finalmente, a propositura da ação prevenirá a jurisdição do juizo
5.010/66, arts. 10 a 15).39 para todas as ações que forem posteriormente intentadas contra as
Esclareça-se que a ação popular, ainda que ajuizada contra o mesmas partes e sob os mesmos fundamentos, diz o § 3º do art. 52 da
Presidente da República, o Presidente do Senado, o Presidente da Lei n. 4.717/65, reafirmando princípio geral já previsto no Código de
Câmara dos Deputados, o Governador ou o Prefeito, serà processada Processo Civil.42
e julgada perante a Justiça de primeiro grau (Federal ou Comum).40
41. Se a rê da ação popular for SOCiedade de economia mista, em pnndpio a
Para fms de competência, equiparam-se aos atos da União, do competência e da Justiça Comum Estadual. mesmo que o controle acionário seja
Distrito Federal, dos Estados ou dos Municípios os atos das pessoas federal. a não ser que fique comprovado o mteresse jurídico da União, de autarquia
criadas ou mantidas por essas pessoas jurídicas de Direito Público, ou de empresa pública federal no processo, conforme a redação do art. 109, l. da
bem como os atos das sociedades de que elas sejam acionistas e os Constituição (STJ, CComp n. 3.569-9-PB, Rei. Min. GarCia Vierra,ADV93, ementa
62.598, em ação proposta contra o Banco do Brasil).
das pessoas ou entidades por elas subvencionadas em relação às
A Lei n. 9.469/97 autonzou o mgresso da União nas ações em que soeíedades
'. quaIs tenham interesse patrimonial (Lei n. 4.717, art. 52, § 12 ). de economia mista sob seu controle sejam partes, mesmo que o seu interesse seja
'. Quando o pleito interessar simultaneamente á União e a qual- exclUSivamente econômico e mdireto (art. 52. caput e parágrafo único). Ingressando
quer outra pessoa ou entidade, serâ competente o juiz das causas da a União no feito. a competência sem deslocada para o foro federal. A Justiça Estadual
não tem competência sequer para rejeitar o mgresso da União no feito, pois so a
União, isto e, o JUiz federal da Seção Judiciária em que se verificou Justiça Federal pode decidir acerca do interesse manifestado formalmente nos autos
- os quais, portanto, devem ser imediatamente remetidos para o juízo federal (STF,
39. O Plenário do STF decidiu. em dezembro de 2000. que a competência para AI n. 514.634-RJ, Rei. Min. Celso de MeUo, Infonnatrvo STF38214; STJ, Súmula n.
processar a ação popular se afere não somente pela ongem do ato impugnado. mas 150: "Compete à Justiça Federal decidir sobre a eXIStência de mteresse juridico que
também peta finalidade que busca a demanda. Assim, entendeu ser de competênCia justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas").
da Justiça Eleitoral de primeira ínstâncía, e não da Justiça Federal. ação popular pro- 42. No caso da pnvatização da Cia. Vale do Rio Doce. em que houve uma ver-
posta contra os membros de TRE em função de alegadas irregularidades em eleição. dadeira enxurrada de ações populares. o STJ decidiu que"o Juizo da Ação Popular é
Tratando-se de matéria com cunho eleitoral. afastou-se a competência da Justiça universal''. Impondo-se a reunião de todas as ações conexas. com fundamentos juri-
Federal, para se fixar a da Justiça Eleitoral (AOr-QO n. 772-SP, ReI. Min. MoreIra dicos íguais ou assemelhados (CComp n. 19.686-DF, ReI. Min. Demócnto Reinaldo.
Alves, Infonnativa STF215/1). RSTJ 106/15; CComp n. 22.I23-MG, ReI. Min. Demócrito Reinaldo, DJU 14.6.99,
40. STF, Pet. n. 1.546, ReI. Min. Celso de MeUo. Infonnativo STF 121/3, p. 100). A necessidade de reunião dos processos a respeIto da pnvatlzação da Cia.
CItando vários precedentes; AgRgPet n. 2.018-9-SP. ReI. Min. Celso de MeIloo RT Vale do Rio Doce. mclusive para efeitos de julgamento conjunto das apelações no
788/173; STJ, RMS n. 2.621-PR, ReI. Min. Adhemar Maciel, DJU23.6.97, p. 29.072. TRF-I m Região, fOI reafinnada pelo STJ na ReeI. n. 2.259-PA. ReI. desig. Min. Jose
O Tribunal Pleno do STF. porém, por maioria. decidiu ser de sua competência ori- Delgado, DJe 17.11.2008. Acreditamos que a tendênCia deva ser no sentido da ado-
gtnaria o julgamento de ação popular na qual, pela sua natureza peculiar. a deCIsão ção da tese do 'Juízo umversal", atê como meio de Viabilizar a defesa dos réus, que
pudesse criar um conflito entre um Estado e a União (ReeI. 424-4-RJ. Rei. Min. é extremamente dificil em certos casos rumorosos de repercussão nacional - como
Sepúlveda Pertence, RT7381206). A competênCia origmàna do STF para julgar ação detenninados processos polêmícos de privattzação - nos quais ações populares são
popular em caso de potencial ~~ fede~~. com base no disposto no art. 102, ajUIZadas as centenas, por todo o território naCIonal. A concentração dos feitos num
l, "r', da CF. foi reafmnada nos julgamentos da ReeI. n. 3.331-RR. ReI. Mín. Carlos mesmo JUizo e uma forma de se dar aos rêus a possibilidade de exercerem o seu direi-
Britto, RT 857/175, e da ACOr/QO n. 622-8-RJ, ReI. desig. Min. Ricardo Lewan· to de defesa na plenitude, observando-se a garantia constitucIOnal do devido processo
dowski. DJU 15.2.2008. O STF também vem se considerando competente para as lega1. Evita-se. amda, a balb1!rdia jurídica de deCISÕes eventualmente contráditónas
açàes populares nas quais haja interesse de todos os membros da Magjstratura ou de aparecerem em diversos-pontos do pais. Concordando com o 'juízo universal" da
mais da metade dos membros de um tribunal, por aplicação da alínea "n" do mciso ação popular, e Citando o precedente da pnvatIZação da Cia. Vale do Rio Doce: TJSC.
1 do art. 102 da CF (AOr n. 506-AC, ReI. Min. Sydney Sanches, RTJ 168/22, e AOr ApC n. 01.001230-3, ReI. Des. César Abreu, RT796/392. Detenrunando a reunião
n. 672-DF, Rei. Min. Celso de Mello, Informativo STF 180/3). V. aínda a Questão de ações populares e ações ciVIS públicas com objetivos comuns de anulação de lici-
de Ordem na AOr n. 859-0-AP, ReI. para o acórdão Min. MauriCIO Corrêa, DJU tação sobre o Porto de ltaJai: STJ, CComp n. 36.439-SC, ReI. Min. LUlz Fux, DJU
1.8.2003, p. 102. 17.11.2003, p. 197,
168 AÇÃO POPULAR AÇÃO POPULAR 169
'. ,
_.'
7. Processo e liminar A Constituição de 1988 isentou de custas e de ônus da sucum-
bêncla o autor popular, salvo comprovada ma-fé (art. so, LXXIII).
Processo - A ação popular, como consta da lei regulamentar,
segue o rito ordinário. com as seguintes modificações: no despacho Dúvidas têm surgido sobre se a ação popular corre nas férias
forenses. Entendemos que não, por se tratar de ação de procedimento
inicial o juiz ordenará a citação de todos os responsáveis pelo ato
ordimirio (art. 72), mas o pedido de suspensão liminar do ato impug-
impugnado e a intimação do Ministério Público, que é interveniente
nado (art. S2, § 4<') deve ser apreciado nas férias, por ter natureza
obrigatório na ação; requisitará os documentos necessários, mar-
análoga á dos "atos-necessmos á conservação de direitos" (CPC, art.
cando o prazo de quinze a trinta dias para atendimento; ordenará a
174, I), e mais que isso, de preservação do patrimônio público, que e
citação pessoal dos que praticaram o ato e a citação edital e nominal
a sua fmalidade primordiaL
dos beneficiários, se o autor assim o requerer (arL 7", I e II);43 deci-
dirá sobre a suspensão liminar do ato ímpugnado, se for pedida (art. Lembre-se que as férias coletivas do Judiciário são agora res-
S', § 4<'). Aos citados por edital, se revéis, dar-se-â curador especial. tritas aos Tribunais Superiores, desde que a EC n. 4S/2004 as vedou
expressamente "nos juizos e Tribunais de segundo grau", através do
Citada, a pessoa juridica interessada na demanda poderá contes-
novo inciso XII ao art. 93 da CF.
tar, abster-se de contestar ou encampar expressamente o pedido na '-, '.
-. '.
inícial (art. 6", § 3'). Tomada qualquer dessas posições, define-se a
- ' Liminar - A liminar em ação popular está agora expressamente
lide, não podendo mais alterar-se a defesa, mesmo que mude o gover-
admitida pelo § 4<' do art. S2 da Lei n. 4.717/6S, introduzido pelo art.
nante ou a direção da entidade." Se assim não fosse, a cada mudança
34 da Lei n. 6.513, de 20.12.77, que assim dispõe: "Na defesa do
de governo ou substituição de diretoria abrir-se-ia nova oportunida-
patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo impug-
de de defesa, incompatível com a fixação da lide. A Administração
nado". Conquanto plenamente justíficavel esse j:>rovim~!!!o_caEtel~,
Pública é una e perene, dai por que .a mudança de seus agentes não
como já o haviamos proposto no anteprojeto com O qual colaboramos
modifica a situação processual assumida por seus antecessores.
para a feitora da lei de ação popular, não podemos aplaudir o enxerto
O prazo para contestação é de vinte dias, prorrogável por mais ~aragr~o em exame, porque feito sem eXigência de requiiÜtos
vinte, a requerimento dos interessados, se dificil a obtenção da prova mínimos para a concessão da liminar, nem flxação do prazo para sua
documental. Esse prazo é comum a todos os contestantes (art. 7", IV), vigênCia, nem indicação do recurso cabível desse despacho. Sem es-
sendo inadmissivel reconvenção, porque o autor não pleiteia direito ses condicionamentos, a liminar, ao invés de apresentar-se como um
própno contra o réu (STJ, REsp n. 72.06S-RS, ReI. Min. Castro Mei- instrumento de proteção ao patrimônio público, erige-se numa perene
ra, RePro 137/201). ameaça à Admmistração, pela possibilidade sempre presente de pa-
Se até o despacho saneador não houver requerimento de prova ralisação de suas obras e serviços - sem limites legais e sem prazo
pericial ou testemunhal, o juiz o saneará e concederá vista sucessiva - por simples arbítrio do juiz, em decisão soberana e irrecorrivel.
de dez dias ao autor e ao réu para alegações, sendo-lbe os autos con- As preocupações do Professor Hely Lopes Merrelles foram, pos-
c1usos nas quarenta e oito horas seguintes. Se houver prova a ser pro- teriormente, atendidas pelo legislador, pois a Lei n. 8.437, de 30.6.92,
duzida em audiência, o processo seguirá o curso ordinário (art. 7', V). determinou, no seu art. 1', § 3', que: "Não seni. cabível medida limi-
nar que esgote, no todo ou em parte, o objeto da ação". Embora a lei
43. Importante ressaltar, porém. que a citação editalícla e exceção, por unplicar faça alusão as medidas cautelares, mencionou de modo específico, no
notificação fieta do demandado, com grande risco de que este não tome efetIVs ciência
tempestIva da exístência da ação e tenha sua defesa prejudicada. Assím. não deve ser art. 12, § 22, que o disposto no parágrafo anterior não se aplicava ao
admitida em razão de simples pedido imobvado do autor, quando o réu a ser Citado processo de ação popular, devendo a contrario sensu ser considerado
tiver endereço certo e conhecido. "Na ação popular, a citação não podem ser realizada que o § 32 incide no referido processo.
por edital se conhecidos o teu., sua qualificação e endereço. em respeíto ao direIto à
ampla defesa" (flSC, ApC n. OL001230-3, ReI. Des. César Abreu, RT796/392). A nosso ver, embora o art. 22 da Lei n. 4.717/6S determine a
44. V. Amoldo Wald. "Ação popuiar para anulação de contrato", RT 521/53. aplicação subsidiária do Código de Processo Civil li ação popular, a
170 AÇÃO POPULAR AÇÃO POPULAR 171

prévia existência de um regramento detalhado com relação á medida Dizer-se que na ação popular a liminar poderá ser cassada em
liminar (em especial as nonnas da Lei n. 8.437/92) exclui a aplicação agravo de instrumento, ou obstada por mandado de segurança, ou
da antecipaçã~ ~ tutela (nova r~dação dos arts; 273 e-461 do Código suprimida em correíção parcial, é desconhecer a realidade, O agravo
de Processo CIVIl, dada pela LeI n. 8.952/94). E a solução decorrente não tem efeito suspensivo e a fonnação do instrumento leva meses
da Lei de Introdução ao Código Civil, art. 22 , § 22 . Não obstante para completar-se e subir ao Tribunal;50 o mandad~ de segurança é
tem ocorrido a concessão de tutelas antecipadas, e a MP n. 1.570, d~ dispendioso e tardo no seu Julgamento, e a correlçao parCIal e ma-
26.3.97, no seu art. 12 , mandou aplicar-lhes as limitações já existen_ dequada, por visar a corrigir erro ín procedendo, e não in judicando.
tes para liminares em geral (Leis ns. 4.348/64, 5.021/66 e 8.437/92). Dai justificar-se o pedido de suspensão da liminar ao Presidente do
A inconstitucionalidade desta medida provisória foi suscitada mas o Tribunal, com aplicação analógica e construtiva das dispo~ições as-
STF denegou a medida liminar em relação ao seu art. 12 • A medida semelhadas do mandado de segurança, para evitar-se dano iminente
provisória foi depois convertida na Lei n. 9.494/97 (v. Apêndice de e irreparável, se consumado.
Legislação).
Sem esse controle, a liminar ora instituída deixa de ser um pro-
O STJ vem entendendo que a restrição do art. 22 da Lei n. vimento de proteção ao patrimônio público para erigir-se em ato de
8.437/92 (proibição de concessão de liminar antes da audiência da arbítrio do juiz, inaceitável dentro da ordem juridica vigente. Mas,
pessoa juridica de direito público, em prazo de setenta e duas horas), concedida com prudência e justificativa legal, a liminar impedirá o
não se aplica ás ações populares. 45 dano de muitos atos irreversíveis e a destruição de muitos bens in-
'.', Ora, é contrária à índole do Estado de Direito e do sistema substituiveis da Administração.
judiciário de duplo grau de jurisdição a decisão única e irrecorrivel. Também neste particular, o legislador seguiu a linha traçada
I' Assim sendo, não se pode conceber um despacho de tal gravidade e nas ediçães anteriores da presente obra, pois o art. 4º da Lei n. 8.437
com tal repercussão na vida administrativa do País sem limites, sem atribuiu ao Presidente do Tribunal, ao qual couber o conhecimento do
prazo e sem recurso algum. São de aplicar-se, portanto, por analo- respectivo recurso, competência para suspender, em despacho fim-
gia, nos seus efeitos cautelares, as mesmas regras processuais que damentado, a execução da liminar. nas ações movidas contra o Poder
regem a concessão da liminar em mandado de segurança, os mesmos Público, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa juridica
fundamentos justificadores da medida, o mesmo prazo de vigência e de direito público interessada. em caso de manifesto interesse público
os mesmos recursos (pedido de cassação ao Presidente do Tribunal ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão á ordem, à
competente para julgar o recurso de mérito e, subseqüentemente, saúde, á segurança e à economia públicas,SI
agravo regimental para o Plenário, se cassada a liminar).
Entretanto, os Tribunais não têm admitido o pedido de cassação da 50. o texto refere~5e ao regime do agravo de Instrumento antes das alterações
liminar pelo Presidente,46 entendendo cabivel o agravo de instrumento,47 das Leis ns. 9.139/95, 10.35212001 e 11.18712005.
o mandado de segurança" e até mesmo a correição parcia1.49 51. O STJ vem em algumas oportunidades flexibilizando a mterpretação da
lei, para reconhecer legitimidade também às sociedades de economia mista para o
pedido de suspensão de limmar. se presente o mteresse público, como pod: ocorrer no
45, REsp n. 73.083-DF, ReI. Min. Fernando Gonçalves, ADV 1998, p. 84, caso de concessionárias de servIços públicos (REsp n. 50.284-SP. ReI. Mm. Peçanha
ementa n. 81.723, e REsp n. 147.869-SP, ReI. Min. Adhemar Maciel, RSTJ 105/193. Martins, RSTJ 136/152; AgRgPet n. 1.489-BA, DJU22.1O.2001), Em oulros casos
4~. ODes. Young da Costa Manso, quando Presidente do TJSP. cassou liminar mais recentes. ao longo do ano de 2005. e com base em mterpretação elástica da le-
concedida em ação popular (prae. n. 487·0. DJE 3.9.80), mas seu despacho foÍ refor- gitimidade prevista na Lei n. 8.437/92, foram admitidas até mesmo as suspensões de
mado, por maIoria de votos, em agravo regimental, no qual ficou dito que o recurso liminares requeridas por empresas estritamente privadas. desde que concessionãrias
cabível contra a limínar seria o agravo de Ínstrumento. de servIços públicos, e por fundos de pensão ligados a estataís. São exemplos a SL
47. TJSP, RT 549/56. n. 196-RJ, pedida pela Ligh~ a SL n, 221-RJ, pedida pela Varig, e as SL ns. 128-RJ
48. TFR, MS n. 89.456-RJ, Plenáno,j. 3.6.80. e 222-DF, requeridas por vános fundos de pensão (PREVI, PETROS, FUNCEF e
: :! outros), todas relatadas e deferidas pelo Min. Edson Vidigal (decisões dísponivels
49. Conselho da Justiça Federal, proc. n, 240/CG-80-DF.
na íntegra no sitio do STJ na Internet: http://www.slj.gov.brj. Na mesma linha: SL n.
172 AÇÃO POPULAR AÇÃO POPULAR 173
~

Em procedimento diverso daquele adotado em relação ao agravo de instrumento contra a decisão de concessão de liminar não
mandado de segurança (art. 15 da Lei n 12.016/09) faculta-se ao prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão.
Presidente do Tribunal ouvir, previamente, o autor e o Ministério No § 72 autoriza-se ao presidente do tribunal a deferir a suspensão
Público, em setenta e duas horas (art. <\Q, § 22 , da Lei n. 8.437/92, liroinarmente, se plausível o direito invocado e urgente a concessão
com a redação dada pela MP n. 2.180-35, de 2001). da medida. O novo § 82 permite a concessão da suspensão com
A partir da edição da Lei n. 9.139/95, o agravo de instrumento efeitos retroativos, tornando sem
,<,
efeito qualquer ato executivo que
passou a ser interposto diretamente no tribunal competente, e não tenha ocorrido, quando a liroilar tiver esgotado no todo ou em parte
mais na primeira instância, acelerando sensivelmente o seu anda- o objeto da ação ou tiver sido deferida em flagrante ofensa à leI ou à
mento. Por outro lado, o relator passou a ter o poder de atribuir efeito jurisprudência de Tribunal Superior. O § 92. por sua vez, .disciplina
suspensivo ao recurso nas hipóteses de dano irreparável ou de dificil que, havendo várias liminares com objeto idêntico, poderão elas
reparação e relevante argumentação de direito. Assiro, também ai ser suspensas em uma única decisão, a qual poderá ter seus efeItos
as preocupações de Hely Lopes MeireIles foram atendidas, pois o estendidos a outras limínares semelbantes supervenientes, mediante
agravo de instrumento transformou-se em mais um meio de defesa da simples aditamento ao pedido original. No julgamento da ADIn n.
Administração - e dos réus em geral- com relação ás liminares que 2.251-DF, o STF considerou todos estes dispositivos constituCIOnais,
possam colocar a sua atividade em risCO. 52 à exceção do § 82• cuja vigência foi suspensa. A Medida Provisóna
em tela foi sucessivamente reeditada, sendo a última versão a MP
A MP n. 1.984-18, de 1.6.2000, acrescentou os §§ 32 a 9" ao n. 2.180-35, de 24.8.2001, a qual se encontra em vigor por prazo
art. <\Q da Lei n. 8.437/92. De acordo com o novo texto legal, do indetermmado até que seja expressamente revogada ou aprovada, na
despacho que conceder ou negar o pedido de suspensão caberá fonna do art. 22 da EC n. 32, que modificou o regime jurídico das
, agravo em cinco dias - recurso, este, que poderá ser recebido com
i medidas provisórias. O antigo § 92 passou a ser o § 82 , e o dispositivo
efeito suspensivo (§ 32). Por outro lado, se for negado o pedido de tido como inconstitucional pelo STF não foi mais obJeto de reedição.
suspensão no segundo grau e também negado o respectivo agravo, F Ol introduzido ainda um novo § 92, estabelecendo que a suspensão
caberá novo pedido de suspensão ao Tribunal Superior competente deferida pelo Presidente do Tribunal vigorara até o trânsito em Julga-
para apreciação de futuro recurso extraordinário (STF) ou especial do da decisão de mérito na ação prinCipaL
(STJ) (§ <\Q).53 Na forma do § 52, o novo pedido de suspensão aos ~~\
Tribunais Superiores é cabível ainda quando negado proviroento,
na segunda instância, ao agravo de instrumento interposto contra a 8. Sentença
liminar deferida no primeiro grau. O § 6º explicitou que o eventual Sendo procedente a ação, o juiz deverá decretar. necessaria-
mente. a mvalidade do ato impugnado e as restituições devidas. con-
313-CE, ReI. Min. Barros Monteiro. DJU21.9.2006, em pedido formulado pela Cia. denando ao pagamento de perdas e danos os responsaveis pela sua
Energética do CearálCOELCE. No mesmo sentido: SL n. 765-PR, Rei. Min. Barros prática e os beneficiários de seus efeitos. ficando sempre ressalvada
Monteiro, DJU 8.10.2007; SL n. 789-AL, Rei. Min. Barros MonteirO, DJU 1.2.2008.
No STF, igualmente admitindo a legitimidade processual ativa de pessoas Jurídicas à Administração a ação regressiva contra os funcionários culpados
de direíto privado para o pedido de suspensão. desde que no exercício de função pelo ato anulado (art. 11 ).54 A lei distingue, portanto, três situações
delegada do Poder Público, como no caso das concessionârías de serviço público: SL
n. lll-DF, Reia. Min. EUen Oraeie. DJU2.8.2006; SL n. 251-SP, Rei. Min. Gilmar 54. OTFR, em acórdão da lavra do Min. Carlos MadeIra (AI n. 41.593-RJ) de-
Mendes. DJe 4.8.2008; SL 274-PR, ReI. Min. Gilmar Mendes. DJe 3.2.2009. cidiu que. na ação popular, "a sentença é preponderantemente constitutiva negativa,
52. V. ainda as Leis fiS. 10.35212001 e 11.18712005, que também modificaram mas também tem efeito condenatório". Sendo assim, só cabe a condenação em perdas
o regime dos recursos de ·agravo de lDstrumento e agravo retido. e danos se houver a desconstituíção do ato. Mais recentemente, o TRF da 2i1 Região
53. Para que se tenha acesso ao pedido de suspensão no Tribunal Supenor. decidiu no mesmo sentido. Se o ato for ilegal e lesivo deverá ser anulado e erradicado
porém. é precIso esgotar previamente a instância ordinária (STJ, AgRgSL n. 50-SC, do mundo jurídico; se for legal a ponlo de ser mantido, não cabe a condenação dos
ReI. Min. Édson Vidignl. RF 3771291). réus em indemzação por supostos preJuizos (Plenário, EIApC ns. 28.044-RJ e 28.045-
174 AÇÃO POPULAR AÇÃO POPULAR 175

a serem consideradas na sentença: a do ato impugnado (decretação da", que são os honorários de advogado (CF, art. 5", LXXIII, parte
de invalidade), a dos responsáveis pelo ato (réus) e a dos benefici- íinal).57 ,
ários do ato (co-réus), todos, em princípio, solidários na reparação o art. 14 determina, expressamente, que, se o valor da lesão
do dano. Ficara para ser decidida em ação regressiva somente a ficar comprovado no curso da ação, sera indicado na sentença; se
responsabilidade dos funcionários culpados, que não tiverem sido depender de avaliação ou perícia, sen; apurado em execução. 58
chamados na ação popular. O mesmo artigo estabelece os seguintes critérios para a condenação
.-' Mas a só invalidação do ato impugnado não acarreta automa- e execução do julgado: quando a lesão resultar da falta de algum pa-
ticamente a condenação de todos os que o subscreveram, ou dele gamento, a condenação impora o recolhimento devido, com juros de
participaram com manifestações técnicas ou administrativas, em mora e multa legal ou contratual, se houver; quando a lesão resultar
razão do cargo ou da função que exerciam. Necessário é que tenham da execução fraudulenta, simulada ou irreal de contrato, a condena-
agido com culpa ou dolo, pois os que cumpriram ordens superiores, ção versará sobre a reposição do débito, com juros de mora;59 quando
ou atuaram no desempenho regnlar de suas atribuições funcionais, o réu condenado receber dos cofres públicos, far-se-á a execução por
não ficam sujeitos a indenizações ou reparações pelo ato invalidado. desconto em folha até o integral ressarcimento, se assim mais convier
'It' A condenação, neste caso, será apenas do superior que ordenou ou
i praticou o ato ilegal e lesivo e de seus beneficiários." Por benefi- 57. Há discussão se os réus devem ser condenados em honorãrios de advogado
I ciários entendem-se aqueles funcionários que auferiram vantagens quando a ação ejulgada extinta, sem exame do mérito, em virtude da anulação ou

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diretas e imediatas do ato invalidado, e não os que, posteriormente,
contrataram regularmente obras ou serviços decorrentes daquele ato.
revogação administrativa do ato impugnado. Aqueles a favor da impOSição dos ônus
da sucumbêncía entendem que a anulação administrativa do ato Implicaria o reconhe-
cimento da procedência do pedido (RDA 1231290). Ficando caractenzado que os teus
! Invalidado o ato impugnado, a condenação abrangem, ainda, as deram causa à instauração do processo e à sua posterior extinção. e reconhecendo-se
indenizações devidas,56 as custas e despesas com a ação feitas pelo a correção da atuação do autor popular, o STJ decidiu que e cabível a condenação
autor, bem como honorários de seu advogado (art. 12). dos reus nos ónus da sucumbêncuL, mesmo que o feito tenha sido extmto por falta
de objeto (REsp n. 98.742-SP, ReI. Min. Adhemar Maclel, DJU 23.6.97, p. 29.083;
I Nas ações julgadas improcedentes o autor ficará, "salvo com- AgRgREsp n. 472.163-RS, ReI. Min. Jose Delgado, DJU 10.3.2003, pp. 132-133).
I provada ma-fé, isento de custas judiciais e de ônus da sucumbên- Pode ainda ser invocada a SÚlnula n. 38 do TRF-4i Região, que embom não seja
,I específica para ações populares, afinna o princípio de que os ônus da sucumbêncJa
RJ. ReI. Juiz Silveno Cabra!,j. 23.5.96). Na mesma linha.. apontando a impossibilida- são devidos mesmo que a ação seja extinta em virtude da perda do objeto por causa
de de pedido re5sarcitório aos cofres públicos sem a anulação do ato tido como lesivo: superveniente. Não obstante, nem sempre a revogação do ato impugnado implica
TJMG,ApC n. 141.093-5, ReI. Des. Hugo Bengtsson,ADVI999, p. 564, em. 89.021. confissão de procedência da demanda, e como o autor é sempre isento das custas e
Como se verâ na Terceira Parte. a natureza essencialmente constitutiva negatIva honoMos (salvo comprovada má-fé), a imposição da sucumbêncla em hipótese de
(ou desconstttutíva) da ação popular ê um de seus grandes traços distintivos da ação extinção do feito por perda do objeto podena ser considemda como uma VIolação
civil pública à isonomia das partes litigantes (STJ. REsp n. 28.833-RJ. Rei. Min. César Rocha.
RSTJ 54/203; TRF-2' Região, ApC 95.0228931-5-RJ, ReI. Juiz Arnaldo Lima, DJU
55. Com relação aos beneficiários, é necessário avenguar se agíram de má·fé,
pois do contrârio pode ser injustificàvel condenã-los a índenízar a Administração. V. 27.2.97). Por outro lado. a revogação do ato impugnado, por si só, pode não ser sufi-
STJ, REsp n. 575.551-SP, ReI. deSlg. Mio. Jose Delgado, DJU 12.4.2007 e RePro
ciente para caracterizar a perda do objeto da ação popular (STJ. REsp n. 79.860-SP.
ReL Min. Ari Pargendler. RSTJ 95/166).
1501188.
56. Reiterando a natureza preponderantemente desconstitutiva da ação popular, 58. A liquidação deve se restringír ao quanhlm debeatur. ou seja. à quantifi-
o STJ já decidiu que o pedido condenatório na ação popular não e conseqüência ne- cação do dano indenízãvel. A sentença de procedênCia da ação popular pressupõe
cessária da anulação do ato ou contrato impugnado, poís demanda a prova efetlva do a prova da efetiva lesão ao patnmõnio público no curso da fase de conhecimento.
prejui'zo causado aos cofres públicos. Embora a lesividade ao patrimônio público seja Neste sentido: STJ. REsp n. 121.431-SP. ReI. Min. João OtávIO de Noronha. DJU
requÍsito da ação. a lesão pode ser unaterial. Assi~ "o pressuposto da indenização e 25.4.2005, p. 256, e RDR 331307.
o desfalque patrimonial causado por ação ou omissão dolosa ou culposa. A condena- 59. Pela Lei n. 6.899, de 8.4.81, regulamentada pelo Dec. n. 86.649, de
ção em perdas e danos não ê mera decorrência lógíca da anulação do contrato. mas 25.11.81, tomou-se obrigatória a correção monetána em todos os débitos reconheci-
se exige a prova do dano causado ao eràrio" (STJ. REsp D. 663.889-DF, ReI. Min. dcs em juizo. A necessidade de atualização monetária dos débitos em geral tambêm
Castro Merra, RDR 40/351). foi amplamente reconhecida no CC de 2002, notadamente nos arts. 389 e 404.
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176 ACÃOPOPULAR ACÃO POPULAR 177

ao interesse público; a parte condenada a restituir bens ou valores 9. Recursos


ficará sujeita a seqüestro e penbora, desde a prolação da sentença
condenatória (§§ I" a 4"). As sentenças proferidas em ação popular são passiveis de recur-
so de oficIO e apelação voluntària, com efeito suspensivo, e das deci-
Além da invalidade do ato ou do contrato e das reposições e
sões interlocutórias cabe agravo de instnlmento (art. 19 e parágrafos
indenizações devidas, a sentença em ação popular não poderá impor
da Lei n. 4.717/65, com a redação dada pela Lei n. 6.014/73), salvo
qualquer outra sanção aos vencidos. Sua natureza civil não comporta
condenações políticas, administrativas ou criminais. da decisão concessiva da liminar, que, no nosso entender, é passiveI
de pedido de cassação ao Presidente do Tribunal competente para o
Se, no tinal da ação, ficar comprovada alguma infringência de
recurso de mérito (v. n. 7, retro).6! Quanto à decisão denegatlÍria da
norma penal ou falta disciplinar, a que a lei comine pena de demissão
limmar, continuamos a sustentar que é irrecorrivel, mas a i ª Câmara
ou rescisão do contrato de trabalho, o juiz determinará, de oficio, a
do TJSP admitiu agravo de instnunento, embora negando-lhe provi-
remessa de peças ao Ministério Público, à autoridade ou administra-
mento pelo mérito (v. nota 46 do n. 7, retro l.
dor a quem competir a aplicação da pena.
A sentença, em qualquer hipótese, deverá ser proferida dentro de O recurso de oficio só será interposto quando a sentença con-
quinze dias da conclusão dos autos, sob pena de ficar o juiz impedido cluir pela improcedêncza ou pela carência da ação. Inverteu-se,
de promoção durante dois anos e, na lista de antigüidade, ter descon- assim, a tradicional orientação desse recurso (que nas outras ações
tados tantos dias quantos forem os do retardamento da decisão. Essas é interposto quando julgadas procedentes), para a melhor preser-
sanções só poderão ser relevadas pelo órgão disciplinar da Magistra- vação do interesse público, visto que a rejeição da ação popular é
tura quando o motivo do atraso no julgamento for justificado e com- que poderá prejudicar o patrimônio da coletividade. lesado pelo ato
provado pelo juiz (art. 7", parágrafo úmcol. Essas mesmas normas impugnado. Este recurso é manifestado por simples declaração do
devem prevalecer nos Tribunais, pois não se concebe que o processo juiz na conclusão da decisão, mas, se o magistrado o omitir, deverá
da ação popular seja preferente em primeira instância e deixe de o ser o Tribunal considerá-lo interposto e reapreciar o mérito do julgado
nas instâncias supenores. inferior que deu pela improcedênçia ou pela carência da ação, avo-
A sentença proferida em ação popular que for contráría aos cando o processo."'
interesses do Poder Público poderá ser suspensa pelo Presidente A apelação voluntária cabe tanto da sentença que julgar pro-
do Tribunal ao qual cabe conbecer do respectivo recurso, enquanto cedente ou improcedente a ação como da decisão que der pela sua
não transitar em julgado, ex vi do art. 4" da Lei n. 8.437, de 30.6.92, carência. Terá sempre efeito suspensivo e seguirá a tramitação co-
dependendo de requerimento do Ministério Público ou da pessoa mum prevista no Código de Processo Civil, com a só peculiaridade
juridica de Direito Público interessada,"o e só se justificando a de que, no caso de improcedência ou carêncIa da ação, poderá ser
suspensão quando houver ilegitimidade, evitando-se grave lesão â interposta tanto pelo vencido como pelo Ministério Público ou por
ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. O Presidente do qualquer cidadão.
Tribunal poderá ouvir, previamente, o autor e o Ministério Público e
de sua decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, para o órgão do 61. Conforme anotação anterior. na sIstemática da Lei n. 9.139/95 o agravo
Tribunal competente para conbecer do mesmo. de instrumento passou a ser viável como um recurso efiCiente contra a deCisão con-
cessiva da liminar. com a vantagem de poder ser interposto por qualquer reu, e não
60. Ajurisprudêncla vem flexibilizando o entendimento no tocante à legitimi- apenas por pessoa Jurídica de Direito Público. como ê o caso dos pedidos de suspen-
dade para o pedido de suspensão com base na Lei D. 8.437/92, admitindo-o mesmo são dingidos ao Presidente do Tribunal. Assim. hoje deve ser admitido o agravo de
quando formulado por pessoa Jurídica de direito pnvado, desde que no exercido de instrumento também contra a deCisão concessiva da liminar.
função pública delegada, como na hipótese de concesslOnãrias de serviços públi- 62. Caso a ação seJa julgada parcialmente procedente cabe o recurso de ofiCIO
cos; Exemplificativamente, v.: STF. SL D. II I-DF. Rela. Min. Ellen Gracle. DJU quanto a·parte da decisão que fOI contr..ria à pretensão do autor popular (STJ. REsp
2.8.2006; STJ, SL n. 313-CE, ReI. Min. Barros Monteiro, DJU 21.9.2006. n. 189.328-SP, ReI. Min. Milton Luiz Pereira. DJU 1.7.2002, p. 219).
178 AÇÃO POPULAR AÇÃOPOPULAR 179

o dispositivo legal permíssivo dessa apelação (art. 19, § 2


Q
está
)
julgada, tanto que, se não forem indicadas novas provas, o réu poderá
a indicar que o titular do recurso é o povo, representado pelo orgão pedir a declaração de carência da ação, argüindo a impossibilidade
incumbido da defesa da sociedade. Assira sendo, quando a ação é jul- de propor-se outra demanda com o mesmo fundamento e as mesmas
gada procedente, não se admíte recurso de terceiros ou do Ministério provas.
Público, so podendo apelar os réus atingidos pela decisão. Os Procu-
radores da República ou os Promotores Públicos atuam sempre em Considerando que a sentença de procedência da ação tem efeitos
erga omnes, entendemos que não cabe a declaração de inconstituciO-
defesa dos interesses da comunidade, em favor da qual é intentada
a ação popular. Dai por que a lei proibiu esses agentes públicos de nalidade de lei ou ato normativo em sede de ação popular. O controle
recorrer em prol dos réus chamados na ação. concentrado de constitucionalidade é da competência exclusiva do
Supremo Tribunal Federal, na forma do art. 102, I, "a", da ConstitUI-
No mais, as decisões e despachos interlocutórios em ação popu- ção Federal.
lar ficam sujeitos a todos os recursos do Código de Processo Civil,
com interposição e efeitos normais. Não se pode dizer que o juiz, na ação popular, poderia exercer o
controle difuso da constitucionalidade. O controle difuso tem como
Aplicando subsidiariamente o art. 191 do CPC, o STJ já decidiu sua caracteristica essencial a restrição dos efeitos da eventual decla-
que deve ser contado em dobro o prazo para a interposição de recur- ração de inconstitucionalidade apenas às partes litigantes. Como a
sos em ações populares quando houver litisconsorles com procura- sentença de procedência da ação popular é oponlvel erga omnes, uma
dores diferentes (STJ, REsp n. 230. 142-RJ, ReI. Min. Garcia Vieira, declaração de inconstitucionalidade nela embutida implicaria em
DJU 21.2.2000).
usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal.
-_.1
O problema tem sido mais analisado em termos de ações civis
10. Coisa julgada públicas, nas quais as sentenças também podem ser oponíveis erga
A sentença definitiva produzirá efeitos de coisa julgada oponivel omnes, e a mesma questão tem se colocado com freqüência (ver
erga omnes, exceto quando a iraprocedência resultar da deficiência adiante o n. 8 da Terceira Parte l. A jurisprudência, em especial do
de prova, caso em que poderá ser renovada com idêntico fundamen- Supremo Tribunal Federal, tem reêonhecido que a ação civil pública
to, desde que se indiquem novas provas (art. 18). Essa renovação da não pode se tornar uma forma paralela de declaração de inconstitu-
ação tanto pode ser feita pelo mesmo autor como por qualquer outro cionalidade, e o mesmo raciocínio, pelas mesmas razões, se aplica á
cidadão. ação popular.
Ii necessário, portanto, distinguir três situações: a) sentença que O Supremo Tribunal Federaljájulgou que é de sua competência
julga procedente a ação; b) sentença que julga iraprocedente a ação, exclusiva o julgamento da validade de lei em tese, e que o julgamen-
por ser infundada; c) sentença que julga improcedente a ação, por to deste tema por juiz de primeiro grau implica em "usurpação da
deficiência de provas. Nos dois primeiros casos a sentença decide a competência do Supremo para o controle concentrado", acarretando
questão de mérito e, quando definitiva, tem eficácia de cOisajulgada, a nulidade do respectivo processo (ReeI. n. 434-1, ReI. Min. Francis-
oponível erga omnes. Quer dizer, não pode ser admitida outra ação co Rezek, RF 336/231).
com o mesmo fundamento e objeto, ainda que proposta por outro Em matéria específica de ação popular, vários ares tos reconhe-
cidadão. Se for proposta, pode o réu argüir a exceção de coisa jul- cem que ela não se presta para substituir a ação direta de inconstitu-
gada. Mas, se a sentença julgou iraprocedente a ação por deficiência cionalidade (TJDF, RDA 35/48; TJSC, RT 623/155; TOO, RDTJRJ
dãjJí-'ova, não decidiu a questão de mérito, por isso não terá eficácia 7/213; TJSP, RT703/63). Aliàs, a Constituição especifica, em dispo-
de coísa julgada, podendo ser intentada outra ação com o mesmo sição que deve ser entendida como numerus clausus, os legitiraados
fundamento, desde que sejam indicadas novas provas. Significa ape- à propositura da ação direta de inconstitucionalidade (CF, art. 103),
nas que o julgamento de deficiência da prova é que se tomou coisa não sendo viável o seu ajuizamento por qualquer pessoa. A ação po-
180 AÇÃOPOPULAR AÇÃO POPULAR 181

pular, que pode ser proposta por qualquer cidadão, certamente não é São pessoas legitimadas para promover a execução popular: a)
o instrumento apropriado para a declaração de inconstitucionalidade o autor popular; b) qualquer outro Cidadão; c) o representante do
de lei com efeitos gerais. Mimstério Público; d) as entidades chamadas na ação, amda que a
O Presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por tenham contestado.
sinal, já teve a oportunidade de suspender urna medida liminar que A legitimação do Ministério Público para intentar execução da
fora concedida, em ação popular, por juiz de primeíra instãncia, para ação popular é subsidiária e condicionada, conforme o disposto no
o fim de sustar os efeitos de Resoluções do Conselho Monetário Na- art. 16.63
cional e Circulares do Banco Central, todas relativas ao Proer - Pro- Note-se que o representante do Ministério Público somente
grama de Estimulo à Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional. deverá promover a execução se verificados a inercia do autor e o
No caso concreto, já havia Ação Direta de Inconstitucionalidade pe- desinteresse de outro cidadão, e após transcorrer o prazo de sessenta
rante o STF, sobre o mesmo tema, na qual a liminar fora mdeferida. dias da publicação do julgado condenatório de segunda instância. E
O Presidente do TRF - Juiz Leite Soares - reconheceu que a ação po- obrigado a promover a execução, verificados a inercia e o desinte-
pular não passava de urna renovação da ação direta, sendo incabivel resse, nos trinta dias subseqüentes, sob pena de falta grave. E se a
que um juiz proferisse uma decisão liminar sobre as normas em tese, sentença condenatória exeqüível for de primeira instâncza? A lei não
especialmente em sentido contrário ao já decidido pelo STF (SSeg n. o diz expressamente, mas é óbvio que também o Ministério Público
95.01.36857-2-DF, despacho de 20.12.95). poderá promover-lhe a execução, na omissão do autor popular, com
Nada disso significa, porém, que um ato que viole a Constitui- base no § 4" do art. 6".
ção não possa ser objeto de ataque em ação popular. A restrição diz A execução pode ser por quantia certa, quando a condenação
respeito a ato normativo, cuja declaração de inconstitucionalidade é versar sobre perdas e danos, ou impuser pagamento devido, ou de-
especificamente regulada na Carta Política. Nada obsta a que o ato terminar reposição de débito (art. 14, §§ 12 e 22 ), e para entrega de
puramente administrativo, quando contrário á Constituição Federal, COIsa certa, quando a condenação determinar a devolução de bens ou
seja impugnado através de ação popular. valores (art. 14, § 4").
Quando o reu condenado perceber dos cofres públicos, a exe-
11. Execução cução far-se-á por desconto em folha até o integral ressarcimento do
dano causado, se assim mais convier ao interesse público (art. 14,
A sentença transitada emjulgado constitui título para instaurar- § 32 ).
se a execução popular. Mas a "parte condenada a restituir bens ou A execução promove-se contra os réus condenados no proces-
valores ficará sujeita a seqiiestro e penhora, desde a prolação da so de conhecimento. Mas nem todos que contestaram a ação ficam
sentença condenatória" (art. 14, § 4"). Parece haver, aqui, ligeira sujeitos á execução. Desta estão excluídas as pessoas ou entidades
confusão. Se a condenação é para restituir bens ou valores, então a referidas no art. 12 da lei, pois o processo executório visa ao ressarci-
execução será para entrega de coisa certa. Pois "valores", aí, está mento da lesão que o ato impugnado causou ao patrimônio da pessoa
no sentido de coisas infungiveis. Essas é que devem ser restituídas. ou entidade sindicada. Não teria lógica que essa pessoa ou entidade,
Logo, não tem cabimento falar-se em penhora. O normal seria a ainda que tenha contestado a demanda, fosse condenada a pagar per-
imissão na posse. Mas, como se percebe do texto legal, a medida das e danos ou devolver bens ou valores a si mesma, como pondera
pode ocorrer desde a prolação da sentença condenatória. Conclui-se Jose Afonso da Silva em excelente monografia sobre o assunto. 64
que se trata de decisão de primeíra instãncia. Disso se mfere que a
lei instituiu, ali, não tanto uma medida executória, mas uma medida 63. STJ, AgRgEDivREsp n. 450.258-SP, ReI. Min. Lmz Fux, DJU 7.8.2006 e
cautelar incidente. Nessa hipótese, o termo seqiiestro está bem em- RT854/141.
pregado, mas penhora não. 64. José Afonso da Silva, Ação Popular Constltucional, 1968, p. 281.
182 AÇÃO POPULAR

Tendo em vista a aplicação subsidiária do Código de Processo


Civil às ações populares, por força do art. 22 da Lei n. 4.717/65, é
de ser observado o novo rito das execuções introduzido pela Lei n.
11.232, de 22.12.2005, no que couber.65

TERCEIRA PARTE
I! AÇÃO CIVIL PÚBLICA
Ii 1. Conceilo e objelo. 2. Legitimoção das partes e os poderes do Minzste M

-!' no Público. 3. Foro e processo. 4. Responsabilidade do ren e a sentença.


5. A ação cIvil pública no mercado de capitaIS. 6. A ação cIvil pública e
a defesa do consumidor. 7. A ação CIvil pública no Estatuto da Criança
e do Adolescente. 8. A ação cIVil pública e as Infraçães da ordem econô~
mIca. 9. A ação de tmprobidade adminIStratIVa. 10. A recente evoillção
da ação CIvil pública. Usos e abusos. Análise de sua patologia.

1. Conceito e objeto
Aação civil pública, I disciplinada pela Lei n. 7.347, de 24.7.85,2
é o instrumento processual adequado para reprimir ou impedir danos

1. Sobre a ação civil pública, v.: Antômo Augusto Mello de Camargo Ferraz.
Edis Milaré e Nélson Nery Jr., A Ação Civil Pública e a Tutela Junsdiczonal dos
Interesses Difusos, Saraiva, 1984~ Paulo Affonso Leme Machado, Ação Civil Pública
e Tombamento, Ed. RT, 1986~ Voltaire de Lima Marensi. "A ação civil pública e a
, I
tutela do meto ambiente", Ajuns 37/212. Dentre outros trabalhos, merecem destaque
as obras de Wolgran Junqueira FerreIra. A Ação Civil Pública, Julex Livros. 1987
[ ,
I' e Rodolfo Camargo Mancuso, Ação Civil Pública. 211 ed .• Ed. RT. E ainda. entre os
mais recentes. Rogério Lauria Tucci. nAção Civil Pública e sua AbUSIva Utilização
pelo Ministério Público", Ajurts 56/35, e Jose Rogério Cruz e TUCCl, "Código do
Consumidor e Processo Civil- Aspectos Polêmlcos", RT 671/32, e, do mesmo autor,
a conferência mtitulada. "Ação Civil Pública", proferida no I Ciclo de Estudos de
Direito Econômíco, realizado na Babia em junho de 1993, publicada peto InstJtuto
Brasileiro de Ciência Bancana naquele mesmo ano, pp. 221 e seguintes. No II Fórum
de Direito Econôm.tco. realizado em Foz do 19uaçu em 1995, trataram da matéria Ar-
noIdo Wald. Rogeno Lauria Tucci e Gilmar Mendes, CUjas palestras foram publicadas
pelo Instituto acima mencIOnado nos anais do conclave, 1995. pp. 97 a 136. Mais
recentemente: Humberto Theodoro Júmor, nAção Civil Pública. Operação Bancána
de Caderneta de Poupança. Inaplicabilidade de Ação Civil Pública. Inocorrêncl8 de
Relação de Consumo. Direitos Individuais Homogêneos. Carência de Ação e COJsa
Julgada", RT747/111; Galeno Lacerda, "Ação Civil Pública e Contrato de Depósito
65: Sobre o tema, v. Flávia Regina Ribeiro da Silva, uO cumprimento de sen~ em Caderneta de Poupança", RT7151l03; EIiana Calmon. "Ação Civil Pública. As-
tença na ação popular: algumas implicações da Lei n. 11.23212005", RePro 144/85. pectos Ligados â Competência", Revtsta AJUFE n. 55/46; Vera Lúcia R. S. Jucovsky,
186 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 187

Consumidor7 é todo aquele que se utiliza de produtos, atividades Bens e direitos 9 de valor artístico, estético, histórico, turistico
ou serviços de outrem, merecendo proteção do Estado (CF, arts. 5', e paisagistico são todos aqueles que constituem o patrimônio cultu-
XXXII, e 170, V).8
e Contratos. l2i1 ed .• Ed. RT. 1995, pp. 524 e ss. Nesta linha. reconhecendo que o
zar o manejo da ação civil pública (TJSP,ApC o. 273.480-515-00, ReI. Des.José San- mvestidor em caderneta de poupança não se caractenza como consumidor. acórdãos
tana, RT 838/21 7; ApC n. 365.030-5/8-00, ReI. Des. Walter Swensson, RT848/I2). do TlPR, ApC n. 38.377-7. ReI. Des. Maranhão de Loyola, RT 733/337, ApC n.
51.798-4. ReI. Des. Ângelo Zattar e ApC n. 46.398-7, ReI. Des. Jesus Sarrão. E do
Em matêna de desmatamento e obrigação de reflorestamento o STJ vem decI- I'TACSP, nos EI n. 643.209-9/01, relator o Juiz Opiee Blum. na ApC n. 579.654-5,
dindo que não se pode tmpor a obrigação de reparar o dano ambiental ao proprietário relator o JUIZ Carlos Alberto Hernández e na ApC n. 526.620-2, relator designado
da terra quejá a adquiriu desmatada (REsp os. 156.899-PR, 229.302-PR e 214.714- o Juiz Franklin NogueIra e ApC n. 580.677-5. ReI. Juíz Carlos Alberto Hemandez.
PR, todos relatados pelo Min. Garcia Vierra, RSTJl13n8. ADV2000, em. 92.237, e No STJ. após mtensos debates, prevaleceu o entendimento de aplicação genénca do
DJU27.9.99). Da mesma forma. se há poluição causada pelo Mumcípio, sem parti- Código de Defesa do Consumidor às atividades bancánas - posição consubstancmda
cipação do proprietário da área. este último não pode ser responsabilizado (TJSP, AI no enunCiado da SÚInuJa n. 297. segundo a qual "o Código de Defesa do Consumidor
n. 530.706.5/0-00. ReI. Des. Aguilar Cortez, RT 854/209). é aplicável às mstttuições financeiras". Ainda assím. a aplicação do Código de Defesa
7. Sobre consumidor, v.: Antônio Herman V. Benjamin. "O conceito jurídico do Consumidor âs operações de bancos não Significa que o JUIZ possa mterferir na
de consumidor', RT 628/67; Fábio Konder Comparato, "Proteção do cODsumidor: economia dos contratos bancânos sem que haja a prova cabal, caso a caso, da abusi-
importante capítulo do Direito Econômico", RDP 80/185. Consultem-se, ainda: vidade das taxas de juros e demaIS encargos empregados, mediante a demonstração
l. M. Othon Sidou, Proteção ao Consumidor. Rio, Forense, 1977; Carlos Alberto de que discrepam significatIvamente das médias praticadas no mercado, e não se
Bittar, Direitos do Consumidor, Rio. Forense Umversitâna, 1990; ComentariaS ao Justificam em decorrência de alguma peculiaridade de cada negocio partIcularmente
Código de Proteção do Consumidor, por diversos autores, coordenação de Juarez de considerado (v. acórdão da 2i1 S. do STJ no REsp n. 420.1 II-RS. ReI. Min. Ari Par-
Oliveua., São Paulo, Saraiva, 1991~ Geraldo VidigaI. Arnoldo Wald, Luiz Gastão Paes gendler, RDR 27/278).
de Barros Leães e Manoel Gonçalves Ferrerra Filho. Lei de Defesa do Consumidor, No STF a matéría foí objeto de decisão naADIn n. 2.591-DF. CUjO julgamento
publicação do IBCB (InstItuto Brasileiro de CiênCIa Bancária), 1991; As Garantias se encerrou em Junho/2006. tendo sido complementado por embargos de declaração
do Cidadão na Justiça, sob a coordenação do Mm. Sálvío de Figueiredo Teixeira, apreciados em 14.12.2006 (DJU29.6.2006 e 13.4.2007; v., ainda, RT855179). MUlto
São Paulo, Saraiva. 1993, e Arruda AlvIm e outros, Código do Consumidor Anotado, embora tenha prevalecido o entendimento de que as instItuições financeIras estão,
São Paulo. Ed. RT, 1991. Maria Antonieta Zanardo Donato. Proteção ao Consumi- em geral, SUjeItas âs normas do Código de Defesa do Consumidor, tendo em VISta a
dor: Conceito e Extensão, São Paulo, Ed. RT. 1994; Carlos Ferreira de Almeida, Os natureza de certas operações que pratIcam e a Importância das taxas de juros para a
Direitos dos Consumidores, Coimbra, Livraria Almedina. 1982. política económica., o JudiciárIo não pode pretender se substituir âs autoridades mo-
8. LeI n. 8.078/90 (Código do Consumidor). A legislação vigente define de netárias e modificar-lhes as deterrnmações. a pretexto de aplicar a lei consumerista.
modo específico o consumidor. o produtor. os serviços e os produtos. limítando a A matéria está bem explorada em vânos votos. em espeCial o do Relator deSIgnado,
sua mcidência em favor dos consumidores que adquirem ou utilizam os {lrodutos o Min. Eras Grau. Sobre o tema., comentando o acõrdão do STF. v.: Amoldo Wald,
ou os serviços na qualidade de destinatários finaIS. A Lei n. 10.671/2003 (Estatuto "A inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao custo do dinheIro",
de Defesa do Torcedor), por sua vez. equipara o torcedor de qualquer modalidade' RDB37/229.
desportiva ãõ-constifuidor. especíalmente para fins de defesa dos seus interesses em Cabe salientar. por fim. que. na ordem constttuclonai vigente, o usuário de
juizo (art. 40). servIço público não se confunde com o cQqsuI!l~dor. A CF. nos seus art:5. 175, parâ-
Por outro lado, em virtude da lei, os serviços que ensejam a prateção do consu- grafõUiiico, II, e 37, § 312 (com a redação da Emenda n. 19), trata especificamente
midor são tão-somente os fornecidos no mercado de consumo, mediante remunera- da diSCIplina dos direitos dos usuános de serviços públicos, ao passo que os direitos
ção, "inclusive os de natureza bancária. financeIra, de crédito e securitária, salvo as dos consumidores estão referidos no art. 512, XXXII. e no art. 48 do ADCT. A Carta
decorrentes das relações de. carnter trabalhista". Os servíços bancârios e finãnceiros Magna fez. portanto. uma distinção entre as duas categorias - ou seja: os usuãnos de
sobre õs·qtiaíS íncide o Código de Proteção ao Consumidor são tão-somente os presta- sefV1ços públicos, de um jado. e os consumidores em gerai, de outro. Sendo asSIm,
dos aos destinatários finais, que por eles são remunerados. Excluem-se. assun, da ârea na falta de previsão legislativa espectaI, não deve ser aceita a ação civil pública em
de íncidêncla da LeI do Consumidor todas as operações de poupança, de mercado de matéria de direitos índividuals homogêneos de usuârtos de serviços públicos, pois
capitais e os próprios depositos bancários. O entendimento dommante na doutrina é estes não se eqUIparam juridicamente aos consumidores. Sobre o tema, v. Amoldo
no sentido de não considerar maIS os empresttmos como sendo servIços ou produtos. Wald, LUlza Rangel de Moraes e Alexandre de M. Wald, O Direlto da Parcerza e a
'I De qualquer maneira, deve ser examinado se o mutuàrio ê realmente o destmatário Lei de Concessões, 2a ed., SaraIVa, 2004, pp. 164-166.
I,i· finai, o que não se coaduna com a própria finalidade do dinheiro, que continua 9. Sobre bens e direitos de valor artístico. estético, histónco, turistico e paisa-
: círculando e não é objeto de consumo. São, pois. serviços bancârios e financeiros gísttco. v.: Paulo Affonso Leme Machado. Ação Civil Pública e Tombamento, pp. 15
aos quais se aplica o Código do Consumidor a locação de caixa forte a particular e, e 16, e tb.'''Mirustérío Público, ambiente e patrimônio cultural", RevISta de lnfonna-
eventualmente. outras atividades análogas. Consulte-se Amoldo Wald. Obngações ção Legislativa 89/293.
188 ACÃO CIVIL PÚBLICA ACÃO CIVIL PÚBLICA 189

ral da comunidade, e, por isso mesmo, protegíveis pela ação civil tender que a ação civil pública venha a se tomar o remédio para to-
pública. dos e quaisquer problemas da sociedade contemporânea, e nem deve
Quanto aos bens a serem protegidos e ao próprio meio ambiente, ela mmar o sistema político, juridico e institucional que consagra a
não há necessidade de que estejam tombados, bastando que haja inte- liberdade de cada indivíduo vir ou não a Juízo reclamar aquilo que
resse público na sua preservação, mesmo porque o tombamento não entende devido. Se é verdade que as ações coletivas ajudam a desafo-
é condição da ação. Um rio, p. ex., nunca será tombado, mas nem por gar o Judiciário e a dar efetividade às decisões judiciais e à proteção
isso deixará de admitir a ação civil pública contra os seus poluidores. dos direitos difusos, não é menos certo que a regra geral no processo
i \ civil brasileiro ainda é a da ação individual, condizente com a ampla
Com o Estatuto da Cidade (Lel n. 10.257/2001), passou a ser
liberdade consagrada na Constituição Federal.
admítida a ação civil pública também em tema de defesa da ordem
urbanística. Espera-se que a ação civil pública possa representar o A Lei n. 7.347/85 (modificada pela Lei n. 8.078/90) é unica--
meio processual adequado para tomar efetiva a aplicação das inova- mente adjetiva, de caráter processual, pelo quê a ação e a condenação
doras normas de direito material do Estatuto da Cidade, na tentativa devem-básear-se em disposição de alguma norma substantiva, de
de solucionar os problemas cada vez maiores decorrentes da urbani- direito material, da União, do Estado ou do Müriicipio, que tipifique
zação acelerada e desorganizada no Brasil. lo ã1íiITação -a ser reconhecida e punida pelo Judiciário, independen-
temente de qualquer outra sanção administrativa ou penal em que
A MP n. 2.180-35 veio defrnir questões até certo ponto contro-
incida o infrator." Nem mesmo a ação popular exclui a ação civil
vertidas na jurisprudência, vedando explicitamente o cabimento de
ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos,
disponíveiS" (STJ. REsp n. 396.081-RS, Rela. Min. Mana Thereza de ASSIS Moura,
contribuições previdenciárias, FGTS e outros fundos institydonais DJe3.11.2008).
cujos beneficiários possam ser individualmentedeterminados (novo 13. O STF enfatizou que a ação civil pública não se pode fundamentar na ~~
parágrafo único do art. Iº da Lei n. 7.347/85). A norma legal tratou de dade, a não ser nos casos em que haja determmação legai expressa neste sentido. ao
esclarecer ainda mais o que já se podia depreender logicamente das julgar o Conflito de AtribUIções 35, em 2.12.87, peío seu Plenâno. sendo relator o
Min. Sydney Sanches. Tratava-se de ação civil pública mtentada pela Curadona de
regras antes vigentes. Os contribuintes" e os beneficiários de Jun.d~s Consumidores do Estado do Rio de Janeiro contra vãrios Bancos. com a finalidade
oficiais não são consumidores - e, portanto, não há lel que autorize de estabelecer novo regime J;lara o cheque especial. tendo sido SUSCitado o conflito
ii ação civil pública em defesa de seus interesses. l2 Não se pode pre- pelo fato de caber a regulamentação da matéria ao Poder LegIslatlVo e, por delegação
do mesmo, ao Conselho Monetãno NaCIOnal e ao Banco Central. O conflito foi jul-
ii·
, gado procedente, reconhecida a incompetência do Poder Judiciáno para estabelecer
No tema o STJ já decidiu que "não e possível unpor ao propnetâno atuaI que normas gerais em matéria bancaria, não cabendo ação civil pública para, modificar a
recrie prédio histórico destruído ou totalmente descaracterizado por obras feitas por legislação ou regulamentação eXistente. mesmo que seja com a finalidade de tornâ-la
terceiro décadas antes da aquisição, dando origem a novo prédio com características mais eqüilalIva (RT690/184).
distIntas" (REsp n. 1.047.082-MG, ReI. Min. Francisco Falcão, DJe 15.9.2008). A jurisprudênCIa pode ser considerada consolidada neste sentido, havendo
10. Sobre o Estatuto da Cidade, v.: Diógenes Gaspartni, O Estatuto da Cidade, VIDaS precedentes que afastam a possibilidade do emprego da ação Civil pública
NDJ, 2002~ Régís Fernandes de Oliveira., Comentanos ao Estahlto da Cidade, Ed. para amparar pretensão não respaldada pela legislação VIgente. ou no sentido de
RT. 2002; Adílson Abreu DaUari e SérgIO Ferraz (coords.), Estatuto da Cidade. Co- modificâ-Ia ou aditá-la, criando novas obngações ou vedações por via exclUSiva-
mentários a Lei Federal] 0.257/2001, 2i! ed.. Malheiros Editores, 2006. mente JudiCiaL Neste sentido. exemplificativamente, descabe ação civil pública
11. Sobre o descabimento de ação civil pública em matéria tributària, v. STF. para: mterfenr na competêncía do Banco Central para regular as auvidades bancárias
RE n. 195.056-PR, ReI. Min. Carlos Velloso, RTJ 185/302: STJ, REsp n. 737.232- (TJRJ, ApC n. 51.23212005. ReI. Des. Reínaldo Pinto Alherto, RDB 37/237, seguido
DF, ReI. Min. Teori Albino Zavascki. DJU 15.52006; e. em matéria previdenciária, dos comentanos de Rodrigo Garcia da Fonseca, "Ação CIvil pública. Descabimen-
v. STJ, AgRgREsp n. 404.656-RS, ReI. Min. Gílson Dipp, DJU 10.2.2003: REsp n. to. CompetênCia do Banco Central para regular a atIvidade bancária que não pode
369.822-PR, ReI. Min. Gilson Dipp, DJU 22.4.2003: REsp n. 502.61O·SC/AgRg, ser afastada pelo COC"); detenninar a interdição de cadeia e a remoção de presos
ReI. Min. Félix Fischer, DJU26.4.2004, p. 196. (TJSP, ApC n. 372.304.515-00, ReI. Des. Remaldo Miluzzl, RT 8561187); proibir a
12. "De acordo com tese adotada pela 31 Seção do STJ. o Ministéno Público fuhricação de cígarros (TJDF, ApC n. 2006.01.1.035955-3, ReI. Des. Jair Soares, RT
não tem legitimidade ativa ad causam para propor ação civil pública em defesa de di- 8571288);. alterar as regras de cobrança de taxas de lixai água e esgoto (TTh1G, ApC
reitos à percepção de beneficlOs previdenciários. por cuidarem de direitos índividuais fi. 1.0 I 05.03.10 1734-3/004. ReI. Des. Célia César Paduam. RT 8581352).
190 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PUBLICA 191

pública, visto que a própria lei admite expressamente a concomitân_ Apesar das diferenças entre as ações civis púbIícas e as ações
cia de ambas (art. IQ), bem como enseja medidas cautelares (TJSP, populares, que não podem ser desprezadas, é inegável, porém, que
RT637/80) e concessão de liminar suspensiva do fato ou ato impug_ ambas fazem parte de um mesmo sístema de defesa dos interesses
nado (arts. 4Jl e 12).14 difusos e coletivos. As regras aplicáveis a ambas, assim, devem
Embora o mesmo fato possa ensejar o ajuízamento simultâneo ser compatibilizadas e íntegradas numa interpretação sistemática.
de ação civil pública e ação popular, as finalidades de ambas as Dentro deste esforço de aproximação e coordenação das duas mo-
demandas não se confundem. Uma ação não se presta a substituir a dalidades de ações, e em virtude do silêncIO da Lei n. 7.347/85, é de
outra. Tendo em vista a redação do art. 11 da Lei n. 4.717/65, a ação se ter como aplicável às ações civis públicas, por aoalogia, o prazo
popular é predominantemente desconstitutiva, e subsidiariamente prescricional de cínco aoos previsto para as ações popular~s.17
I:
condenatória (em perdas e danos). A ação civíl pública, por sua vez, Por fim, entendemos que a ação civil pública não deve ser utili-
II como decorre da redação do art. 32 da Lei n. 7.347/85, é preponde- zada para a pura e sunples defesa do erário, o que não se coaduna com
rantemente condenatória, em dinheiro ou em obrigação de fazer ou as suas finalidades sociais, como já se decidiu na jurisprudência. JS
não fazer. 15 Ademais, a Constituição de 1988 vedou expressamente que o Minis-
A natureza distinta das sentenças proferidas nesses dois tipos tério Público atue como representante judicml ou consultor Jurídico
de ações, aliada às diferenças na legitiroidade para as causas, numa de entidades públicas (CF, art. 129, IX). A Fazenda e as empresas
e noutra hipótese, nos leva à conclusão de que não cabe ação civíl de capital público têm os seus próprios procUradóres, ple~anleníe
pública com pedido típico de ação popular, e vice-versa. Não obs- éãjiãcitados
,_o para a defesa de seus interesses, e não cabe ao Ministéno
-
tante, vêm se repetindo na prática diária do foro casos em que essas
distinções não são observadas pelos autores de ações civis públicas, 7301234 e TJMG. ApC n. 88.156-2, ReI. Des. Bernardino Godinho, ADV 1992, ementa
e já existe jurisprudência considerável sobre o tema. 16 60.l6S~ ApC o. 29.062-7, ReI. Des. Garcia Leão, JUrISprudênCia MineIra 128/23S; AI
n. 12.676-3, ReI. Des. José Loyol .. ADV 1995, ementa 68.249; ApC n. 22.962-5, ReI.
14. Sobre Política Nacional do Meio Ambiente v. a Lei D. 6.938, de 31.8.81 Des. Bernardino Godinho, ADV 1995, ementa 69.080; e ApC n. 10.061-0. ReI. Des.
(com as alterações introduzidas pela Lei D. 7.804, de 18.7.89), que deu as diretrizes José Loyola,RT7161253. Ressaltando as diferenças entre as duas modalidades de ações.
para a mencíonada Lei n. 7.347/8S. e apontando a maior abrangênCia da ação popular com relação â ação civil pública:
TJMG. ApC n. 104.892-5, ReI. Des. Cláudio Costa, ADV 1999, p. 356, em. 87.885.
A regulamentação da ação civil pública decorrente da legislação sobre sua utiliw
zação em â.reas específicas é objeto dos ns. S a 8 desta parte do Livro. 17. STJ, REsp n. 406.545-SP, ReI. Min. LulZ Fux. DJU9.12.2002, p. 292; REsp
n. 727.13I-SP, ReI. Min. LulZ Fux, DJU 23.4.2008; REsp n. 764.278-SP, ReI. Min.
15. O assunto foi mUlto bem explorado em artigo de Luís Roberto Barroso, Teori Albino Zavascki. DJU 28.S.2008. Em outro sentido, defendendo a incidênc18
nAção Popular e Ação Civil Pública. Aspectos Comuns e DistintIVOs", Cadernos de generica do prazo presencianal comum - vtntenário no regIme do Código Cívil de
Direito Constitucional e Ciência Política, n. 4, Ed. RT, pp. 233 e seguintes, e por 1916, e hoje reduzido a 10 anos, de acordo com o art. 205 do CC de 2002: STJ, REsp
Rogêno Launa TUCCI, "Ação Civil Pública e sua Abusiva Utilização pelo Ministério n. 331.374-SP, ReI. Min. Francisco Falcão, DJU8.9.2003, p. 221.
Público", Ajuns 56, pp. 47/49. O STJ, por sua vez, decidiu que: "Aação Civil pública Em materia de melO ambiente hã decisão do STJ entendendo que "!l_.<!s:.~o de .
não pode ter por objeto a condenação cumulativa em dinherro e em cumprimento ~~~ç"ª?~r~cup~!'3-çãO ambiental é ím.Qrescri~'y~I" (REsp n. 647.483-SC, ReI. Min.
de obngação de fazer ou não fazer. Se o legislador ordinârio disse 'ou', estabeleceu João Otávio Noronha, DJU22.1O.2007). Por outro lado, com base no art 37, § SU,
ele a alternativa" (REsp n. 94.298-RS, ReI. Min. Gare .. Vierra, DJU 21.6.99, p. 76). da CF, tambêm há precedente do STJ afumando a lmprescritibilidade da ação CIvil
Segundo o referido Julgado. que se baseou no art. 311 da Lei n. 7.437/85 e CUJa íntegra pública vísando à recomposição do patrimõnio público (REsp n. 403.IS3-SP, ReI.
se encontra publicada em RDR IS/204, o pedido da ação Civil pública deve se res- Min. José Delgado, RDR 351209).
tringir ou a uma condenação em dinheiro. ou a uma obrigação de fazer ou não fazer, A partir da VIgência da LeI n. 11.280, de 16.2.2006, a prescrição passou a ser
descabendo a cumulação de ambos os pleitos. Na mesma linha: REsp n. 247. I62-SP. passível de reconhecimento ex officio pelo juiz. na forma da nova redação do § 5.11 do
ReI. Min. Garcia Vieire, DJU 8.5.2000, e REsp n. 205.153-GO, ReI. Min. FrancISCO art 219 do CPC, combinada com a revogação do art. 194 do CC de 2002.
Falcão, DJU21.82000, p. 98, RSTJ 139155. 18. TJMG, ApC n. 90.19314. ReI. Des. Fernandes Filho. ADV 1998, p. 211,
16. Neste sentido, rejeitando a propositura de ação cívil pública com pedido ementa 82.743. No STJ: REsp n. 77.064-MG. ReI. Min. Hélio Moslrnann. DJU
caracteristico de ação popular, seja por impossibilidade jurídica vu por ilegitimidade· 4.10.99, não conhecendo do recurso especial do Mimsteno Público, que fora consI-
de parte: TJSP, AI n. 274.440-1, ReI. Des. Sérgío Pitombo. RJTJSP 1811122 e RT derado parte ilegítima para a defesa do erário munícípal.

..i
192 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 193

Público substituí-los em juizo, propondo ações civis públicas que ver- Assim, é razoável dizer que, depois de uma tolerância inicial,
sem exClusivamente sobre os interesses pecuniários destasentfdãdes. o Judiciário passou a reagir a uma tendência de hipertrofia da legiti-
Esta lfuha de raciocinio é reforçada por uma decisão da I' Turma d~ mação do Ministério Público em matéria de ações civis públicas, e
STJ na qual se reconheceu legitimidade âs empresas públicas para vem apresentando uma linbajurísprudencíal mais cautelosa e menos
o ajuizamento de ações civis públicas em matérias de seu interesse ampliativa. Nessa linha, a defesa do "patrimônio público" que se
(REsp n. 236.649-PB, ReI. para o Acórdão Min. Humberto Gomes de entende cabivel por parte do Ministério Público é de ser interpreta-
Barros. DJU 5.6.2000, p. 125. Ajurisprudência da l' Seção do STJ, no da no sentido de defesa da sociedade como um todo, de mteresses
: .. entanto. acabou se dirigindo noutro sentido, admitindo o ajuizamento realmente difusos, e não de direitos individualizáveis, ainda que
da ação CIvil pública, pelo Ministério Público, para a defesa do erário: pertencentes a entidades públicas. É dentro de tal espiritp que se
EDREsp n. 107.384-RS, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU21.8.2000; deve entender a Súmula n. 329, editada pelo STJ em agosto/2006
AgRgEDREsp n. 167.783-MG, ReI. Min. Ari Pargendler, DJU (segundo a qual "o Ministério Público tem legitimidade para propor
9.10.2000, p. 119); REsp n. 331.374-SP, ReI. Min. Francisco Falcão, ação civil pública em defesa do patrimônio público"), bem como a
DJU 8.9.2003, p. 221). Em outro julgado mais recente, porém, a 2' jurisprudência do STF na matéria, na mesma direção (AgRgAl n.
Turma do STJ decidiu pela ilegitimidade ativa do Ministério Público 491.081-SP, ReI. Min. Carlos Velloso, RTJ 190/791; AgRgRE n.
Federal para manejar ação civil pública com o objetivo de condenar 368.060-SP, ReI. Min. Eros Grau, RT 844/169; AgRgRE n. 302.522-
servidores públicos à devolução de valores percebidos a maior a ti- SP, ReI. Min. Gilmar Mendes, RT 873/124).
tulo de vencimentos e gratificações. A Turma entendeu que inexistia
qualquer interesse difuso ou coletivo, cabendo à União defender seus
.1-
2. Legitimação das partes e os poderes do Ministério Público
direitos pecuniários e buscar o ressarcimento dos montantes pagos a
maior aos seus próprios servidores (REsp n. 673.135-RJ, Rei. Min. A Lei n. 7.347/85 deu legitimidade ativa ao Ministério Público
Francmlli Netto, DJU 20.6.2005, p. 225). Posteriormente a ln Turma e âs pessoas jurídicas estatais,19 autárquicas20 e paraestatais,2' assIm
afastou a legitimidade do Ministério Público para discutir, em ação ci- como às associações destinadas à proteção do meio ambiente ou à
vil pública, o direito à reversão de bem imóvel ao domíniO municipal,
por se tratar de matéria de interesse ordinário do MuniciplO. Na referi- 19. Acórdão do ln TACivSP recusou legitimidade a um MuniCípio para a pro-
da decisão afirmou-se: "A função institucional do Ministério Público, positura de ação CIvil pública por ~!Bt__de.per!inência !e_mât1ca, afirmando não lhe
caber a defesa dos mteresses mdividuais homogéneos ou coletlvos de certos grupos
de promover ação civil pública em defesa do patrimônio público, de consumidores. A legitimidade do Município sô sena cabível em temas relaCIOna-
prevista no art. 129, III, da CE deve ser interpretada em harmonia dos ás atívidades e competências municípais (AI n. 1.069.770-2, ReI. JÚIZ Campos
com a norma do inciso IX do mesmo artigo, que veda a esse órgão Mello). V. a integra do acôrdão e a crítica de Lmz ManoeI Gomes Jr., discordando da
decisão, ln RT 8051133-15 L
assumir a condição de representante judicial ou de consultor jurídico
No STJ. acórdão da 311 Turma admitiu a legittmidade atíva do Distrito Fede-
das pessoas de Direito Público. Ordinariamente. a defesa judicial do rai "para promover ação civil pública, Visando à proteção de mteresses ou direitos
patrimônio público é atribuição dos órgãos da advocacia e da consul- coletivos de asSOCiados, na referida unidade federattva, de empresa prestadora de
taria dos entes públicos, que a promovem pelas vias procedimentais serviços de saude" (REsp n. 168.051-DF, ReI. Min. Antômo de Pádua Ribeíro, DJU
20.6.2005).
e nos limites da competência estabelecidos em lei. A mtervenção do
i 20. Segundo o STJ, porem, "autarquia estadual não tem, em regra, legitImidade
Ministério Público, nesse domínio, somente se justifica em situações
! para propor ação CIvil pública" (REsp n. 1.1011.789-PR, ReI. Min. José Delgado.
especiais, em que se possa identificar, no patrocínio judicial em defe- DJe 27.8.2008). A legitimidade expressa na lei está restrita às hipóteses relativas ás
sa do patrimônio público, mais que um interesse ordinário da pessoa fmalidades mstitucíonais de cada entidade.
jurídica titular do direito lesado, um interesse superior, da própria 21. Em interpretação elástica do texto legal. a }.II Turma do STJ entendeu que as
empresas públicas têm legitimidade para a propositura de ação civil pública (REsp D.
sociedade" (REsp n. 246.698-MG, ReI. Min. Teori Albino Zavascki. 236.699-PB. ReI. para o·Acórdão Min. Humberto Gomes de Banos. DJU 5.6.2000.
RF 381/327 e RDR 33/295). p.I25).
194 AÇÃO ClVIL PÚBLICA AÇÃO CML PÚBLICA 195

defesa do consumidor,u para proporem a ação civil pública nas Con- para O ajuizarnento dessa ação, por sua independêncta mstitucional
dições que especifica (art. 5'). Posteriormente, a Lei n. 11.448/2007 e atribuições funcionais. 24 Além disso, está isento de custas e hono-
acrescentou a Defensoria Pública no rol dos legitimados à sua propo-
situra. 23 Eevidente que o Ministério Público está em melhor posição uma espécie de Ministério Público "paralelo" em matéria de ação civil pública. Cada
um. Defensona e Ministério Público. tem suas atribuições dencadas na Constituição,
e fom delas as respecavas atuações não estarão legitimadas.
22. A ação coletlva proposta por associação que tenha por finalidade a defesa do
24. A CF. no seu art. 127, define asfunçães do Mimstério Público. esclarecen-
.• iI consumidor tambem abrange os consumidores não associados â autora (STJ. REs? n.
132.502-RS. ReI. Min. Barros MonteIrO. DJU IO.112003, p. 193; REsp n. 648.485_ do que esta Incumbido da defesa da ordem jurídica. do regeme democrático e dos
PRlAgRg, Rela. Min. Nancy Andnghi, RT833/190; REsp n. 651.037-PR, Rela. Min. interesSes sociaIS e individuaIS mdisponíveiS. E. no art. 129. TIl, lhe dá competénclG
Nancy Andnghi. DJU 13.9.2004. p. 241) e independe de autonzação especial ou da i;;;;promover o mquerito civil e a ação CiVil pública, para a proteção do patrimómo
apresentação da relação nommal dos associados (STJ. REsp D. 805.277-RS. Rela. público e social. do meIO ambiente e de outros Interesses difusos e coletivos.
Min. Nancy Andnghi, DJe 8.10.2008). Ampliando essa atribUIção. a Lei Complementar n. 75, de 20.5.93. que dispõe
Por outro lado, "as assocíações têm legitimidade atlva para propor ação civil sobre a organízação. as atribuições e o estatuto do Mimsténo Público da União,
pública vIsando li proteção de direItos e ~~S5J!~ _c;lj~<?s. coletivos ~ mdividu,!ls atribUi ao mesmo tempo competência para proteção de interesses individuais bomo~
bomogêneos. como substItuta processual- Legitimação extraordinária. mesmo que gêneos (art. 60), ora fazendo referência tão-somente aos indisponíveis (art. 6º-, Vil.
não se -trãte-de relação de consumo" (STJ, REsp n. 667.939~SC. Reta. Min. Eliana "d'}, ora não estabelecendo tal restrição (art. 6'1, XII).
Calmon, DJU 13.8.2007). Entendemos que a lei complementar só pode atribuir ao Mínistério Público a
AJurisprudêncIa do STF, no entanto, ê mais restritiva. Interpretando as normas defesa de interesses difusos e coietivos, não abrangendo a sua competêncIa a defesa
de defesa do consumidor em conjunto com a CF, em especIal o art. 50.. XXI. a Su~ de direitos índividuaís homogêneos disp6nívels: -
prema Corte vem entendendo que a legitimação da associação para a propositura de ,. . E o entendimento defendido por Rogen~ Launa Tucci (Ajurzs 56/43) e pela
ação coietiva depende de expressa autorização dos filiados (sobre o tema, com um jurisprudêncJa (acórdão da 4' C. Cível do TJSP na Ap. 162.175-1/4. RJTJSP 136/39.
apanhado dos precedentes, v. Paulo Brossard, "Legitimação processual de asSOCIação do qual fOI relator o emmente Des. Ney Almada e no quaí proferiu deciaração de voto
para representar seus filiados emjulzo ou fom dele. mediante autonzação específica", o Des. Cunha de Abreu).
RTDP 45/149). A matéria mereceu, mcluslve, tratamento legislatIvo. com o art. 2D-A Assim já julgou o TRF da 511 Região (Ape n. 44.336-RN, ReI. Juiz Nereu
da LeI n. 9.494/97, criado por medida provisória sucessivamente reeditada (v. :tvIP n. Santos, RTJE 154/107), em acórdão no qual fOI citado um precedente do TRF da 4l'
2.180-35, de 24.8.2001), estabelecendo que "a sentença civil prolatada em ação de Região (ApC n. 27.520-SC, ReI. Juiz Teori Albino Zavascki).
caráter colettvo proposta por entidade associativa na defesa dos interesses dos seus No mesmo sentido manifestouMse o então Presidente do TRF da 3íl Região, Dr.
associados abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propOSitura da Homar Cais. na SSeg 1.336-SP. na qual proferiu despacho, em 4.3.93, cassando a
ação, domIcílio no âmbito da competêncía temtorial do órgão prolator". liminar, concedida em primeira instância, por ter fundada dúvida quanto â idoneidade
23. Na doutnna, defendendo que a interpretação da Lei n. 11.448/2007 em da ação CIvil pública para a obtenção do pretendido resuitado (a revisão dos critenos
consonância com a CF. em espectai o art. 134. restringe a atuação da Defensona PÚ- de reajuste das prestações de financiamento pelo PES - Plano de Equivalência Sala-
blica âs causas ligadas às suas finalidades mstítucíonalS: e, portanto. _~ó pode ela agir ria!), "bem como quanto à legitimação do Ministério Público Federal para intentá-Ia
processualmente em defesa de pessoas comprovadamente carentes: André LUIS Alves na defesa de mteresses nitidamente pnvados" (DOE. Poder Judiciâno de São Paulo,
de Melo. "Defesa dos pobres. LimItes da Defensoria para ajuízar ação civil pública", 8.3.93, p. 112).
Consultor Jurldico. 27.8.2007, hup://conjur.estadao.com.brlstalldtext/58900.1. Em rdêntica posição já tinha assumido o Presidente do TRF da 311 Região nas SSeg
mterpretação um pouco mais ampla, admitindo que, além dos economicamente ca- 1.314 e 1.334, referentes a casos do seguro do PROAGRO. tendo na ocasião enten-
rentes, a Defensaria Pública também pode defender os interesses daqueles que sejam dido que não se legitima o Ministério Público no caso de propositura da ação civil
"SOCialmente vulneráveis", ou "necessitados do ponto de vista organizacional": Ada pública "na defesa de interesses nitidamente privados e plenamente dispomveis"
Pdlegrini Grinover. 'Legitimidãae da Defensaria Pública para ação civil pública'. O STF pacificou o entendimento no sentido de que o Mimsténo Público não
RePro 165/299. Em linha stmilar, afinnando que em matéria de direito do consurm- tem legitimidade ativa para discuttr a constitucionalidade ou legalidade da cobrança
dor hã uma presunção de fragilidade do consumidor perante o fornecedor do produto de tributos, pois o interesse do contribuinte é essencIalmente mdividual e disponivel
ou serviço, que autorizaria o manejo da ação clvil pública pela Defensaria: Manna (RE n. 195.056-1-PR, ReI. Min. Carlos VeUoso, RTJ 185/302; RE n. 213.631-0-
Mezzavilla Verri, "Legiamidade da Defensaria Pública na Lel da Ação Civil Pública: MG, ReI. Mio. limar Gaivão, RTJ 173/288; RE n. 206.781-4-MS, ReI. Min. Marco
há limites?", RePro 153/170. Aurélio, RT7941l93). Da mesma fonna, assoctações de defesa de consumidores não
De nossa parte. entendemos que a legitimidade da Defensaria Pública está vin- têm legitimidade para a proposItura de ação CIvil pública na defesa de direitos dos
culada diretamente âs suas funções defmidas na Constituição Federal. as quaís não contribulOtes (AI n. 382.298-RS/AgRg, ReI. Min. Gilmar Mendes, RTJ 190/360). O
podem ser ampliadas pela legíslação ordinària. Portanto, o tema deve ser mterpretado STJ tampouco admite a propOSItura de ação Civil-pública para discussão da constitu-
com razoabilidade e cuidado, de modo a não transformar a Defensoría Pública em CIOnalidade de tributos, pOIS o contribuinte não se eqUipara ao consumidor (REsp n.
196 AÇÃO CML PÚBLICA AÇÃO CML PÚBLICA 197

rários no caso de improcedência da demanda. Mas, mesmo que não 2.5.2006; REsp n. 776.639-SC. Rei. Min. FrancISCO Falcão, RT 851/176; REsp n.
seja o autor da ação, deverá nela intervir como fiscal da lei (art. 5', 920.217-RS, Rela. Min. Eliana CalmoD, DJU 6.6.2007). Em tais hipóteses não se
caracteriza um interesse público e SOCIal relevante, a ponto de autorizar a atuação
§ 1'), e, se, decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sen- do Mimstério Público. Como afirmou o Min. Alilir Passarinho Jr.• o fato de urna
causa envolver pessoas de baIXa renda não pode impressionar por si só, pOIS existem
57.465-0-PR, ReI. Min. Demócrito Reinaldo, RF 334/313, RTJE 147/184, REsp n. a Justiça Gratuita e a Defensona Pública, e não cabe ao Ministéno Público invadir
97.455-SP, ReI. Min. Demócrito Reinaldo, DJU 10.3.97, p. 5.903). A matéria acabou o exercício da Advocacia e interferir em relações estrItamente privadas (REsp n.
objeto de explicitação legislativa com o novo parágrafo único do art. }Jl. da Lei n. 198.223-MG, ReI. Min. Aldir Passarinbo Ir.. DJU 27.6.2005). Por outro lado, mais
7.347/85, introduzido pela MP n. 2.180-35, segundo o qual é vedado o cabimento recentemente, em caso envolvendo direItos relativos ao DPVAT, a 2a Seção do STJ,
de ação civil pública em matéria tributária. V.• mais recentemente: STJ. REsp n. por unanimidade. reafirmou a impossibilidade de aJutzamento de ação civil pública
845.034-DF. Rel. Min. José Delgado, DJU 11.6.2007. citando diversos precedentes. relativa a "direItos mdividuaís identificáveis e disponíveis, cuja defesa é própria da
Por sua vez., o pró{'rio Hely Lopes Meírelles. em parecer que deu, em matêria Advocacía'" e que "o fato de a contratação do seguro ser obrigatória e atihgrr a parte
de seguro médico, em 20.4.90. reconheceu que o Ministéno .público só tem com- da população que se utiliza de veiculos automotores não lhe confere a característIca
petêncIa para defender interesses e direitos difusos. e não os mteresses individuaIS. de indivisibilidade e indisponibilidade, nem sequer lhe atribui a condição de interesse
de relevânCia social a -ponto-dê1Oiiiá-Ia defensável via ação coletiva proposta pelo
mesmo quando homogêneos.
Ministêrio Público" (REsp n. 858.056-GO, ReI. Min. João Otàvio de Noronha, DJe
Mais recentemente. a ilegitimidade do Ministério Público nos casos de defesa 4.8.2008). A orientação deste julgado da 2i1 Seção, aliás, deve prevalecer sobre uma
de direitos individuais homogêneos. que se caracterizam pela sua disponibilidade, já decisão anterior da 3 il Turma, também em matéria de DPVAT. admitindo o cabimento
foi reconhecida pelo STJ em varias decisões de sua li!. Tunna. destacando-se, entre de ação civil pública movida pelo Parquet estadual (REsp n. 855.165-GO, Rela. Min.
outros, os acÓrdãos referentes aos REsp ns. 35.564 e 47.016-9. dos quais foram rela- Nancy Andrighi, DJe 13.3.2008 - acórdão impugnado por embargos de divergênCIa
tores, respectivamente, os emmentes Mins. Garcia Vieira e César Asfor Rocha. nos amda não julgados). A SImples chegada de casos como estes aos TribunaIS Supeno-
quaiS foi enfatizado que: "O Mimstério Público não tem legitlOlidade para promover e
res, porem, demonstração suficiente do grau de exagero e banalização em que se
ação civil pública para Impedir a prática de aumento de mensalidade escolar, {'ais chegou nos últImos tempos em tennos de utilização abUSiva deste nobre mstrumento
não se trata de defender direito difuso, nem de interesses ou direitos colctivos" (j. processual coletivo, que corre o nsco de desnaturação justamente em função de taIS
10.9.93 e 11.5.94). desvios (v. n. lO, adiante).
Esta jurisprudência consolidou-se no âmbito da lil Turma do STJ. como se Ainda assim, diante de casos excepcionais. verdadeiras situações de vida ou
vê de diversos outros arestas (REsp n. 37.171-6-SP, ReI. Min. Garcia Vieira, DJU morte. envolvendo problemas sérios de saúde com pessoas carentes, o STJ ocasio-
26.9.94, p. 25.608, REsp n. 53.074-I-SP, ReI. Min. Garcia Vieira. REsp n. 59.164- nalmente admite a ação civil pública movida pelo Mimstério Público em favor de um
3-MG. ReI. Min. César Asfor Rocha. RSTJ 78/114). Não obstante. a 4.iI. Turma tem ou alguns mdivíduos (p. ex.: REsp n. 699.599-RS, ReI. Min. Teori Albino Zavascki,
acórdãos em sentido contrano. admitindo a legitimidade do Minístério Público nos DJU26.22007; REsp n. 854.557-RS, ReI. Min. Luiz Fux, DJU 18.10.2007). Essa
casos de direítos coletivos do art 81, parágrafo único, II, do CDC (REsps ns. 38.176. legitimação extraordinàna, porém., só pode ser reconhecida quando hã leI específica,
DJU 18.9.95 e 39.757-0, DJU 24.4.95). Na mesma linha: REsp n. 457.579-DF, ReI. como ocorre com o Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo msuficiente a alega-
Min. Ruy Rosado de Aguiar, RF 371/311. Na 2i!. Tunna vem-se admitindo que o ção genenca de mteresse público (REsp n. 620.622-RS, Rela. Min. Eliana Calmon,
Ministério Público defenda mteresses individuais homogêneos através de ação civil DJU27.92007). V. aInda os EDivREsp n. 819.01O-SP, ReI. Min. TeoriAlbinoZavas-
pública. desde que demonstrado o interesse social relevante - como é a hipótese de cId, 29.9.2008, considerando o direito li saude como mdisponivel.
financiamentos habitacionals. por exemplo (AgRgREsp n. 229.226-RS, ReL Min. O STF, por sua vez, admitiu num acórdão a legitimidade auva do Mimsteno
Castro MelIll, RT828/172). Esta pOSIção, defendida pela 2' Turma e tambem pela 3' Público para o aJuizamento de ação CIvil pública "com vistas â defesa dos ínteresses
Turma (REsp n. 635.807-CE, Rela. Min. Nancy Andrighi, DJU 20.6.2005, p. 277), de uma coletividade" (RE n. 163.23I-SP, ReI. Min. Mauricio Corrêa, RTJ 178/377 - a
acabou se mostrando majoritária no âmbito da Corte Especial (REsp n. 171.283·PR/ hipótese versava sobre interesses dos alunos de um colégIO l. O precedente vem sendo
EDiv, ReI. Min. Peçanha Martins, DJU27.6.2005, p. 204), revertendo ajurisprudên- acatado no âmbIto do STF (ver RE n. 190.976-5-SP, ReI. Mm. limar GaIvão. DJU
cia subseqUente da própria 1i!. Turma (REsp n. 826.64I-RS. ReI. Mm. Teori Albino 62.98, p. 26-e). Em ambos os casos, entendeu o Excelso Pretóno que, sendo a educa-
Zavascki, RT 8531202 - num caso a respeito de forneCImento de medicamentos). ção "amparada conStituCIOnalmente como dever do Estado e obrigação de todos (CF,
Mesmo assim. nem aqueles julgadores mais benevolentes na aceítação da art. 205)" conseqüentemente estarIa o Minlsténo Público investido de legitimidade
legitimidade do Ministêrio Público em matéria de ação civil pública admitem a ad causam, por ser tratar de mteresses coletivos. O STF acabou por editar a Súmula n.
1! proposítura da ação para a defesa de um grupo restnto e reduzido de pessoas, ou de 643. segundo a qual "o MinIsténo Público tem legitimidade para promover ação civil
uma única pessoa. ainda que menor e carente, pois o Parquet não pode se transmudar pública cUJO fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares",
de substituto processual em representante de indivíduos específicos (STJ. REsp n. Em linha similar, o STF decidiu que era paSSIveI o ajuizamento de ação civil pública
682.823-RS, Rela. Min. Eliana Calmon. DJU 18.4.2005; REsp n. 94.307-MS, ReI. pelo Ministério Público para discutir as verbas orçamentànas destinadas à Educação,
j,
Min. João Otávio Noronba, DJU 6.62005; REsp o. 664.139-RS, ReI. Min. Castro pOIS em questão uma regra constitucional estabeiecendo mvestImentos minimos (CF,
MelIll, DJU 20.6.2005; REsp n. 236.161-DF, ReI. Min. Aldir Passarinho Jr., DJU ar!. 212): RE n. 190.938-MG, Rei. Min. Carlos Velloso, InJonnativo STF 419/3-4. Da
198 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 199

mesma fonn~ o STF também admitiu a legitimidade do Minísteno Público para a tença condenatória, a associação autora não promover a execução,
propositura de ação cívil pública voltada a discutir o preço de passagem em transporte deverá fazê-lo o Ministério Público (ari. 15).2;
coletivo (RE n. 379.495-SP, ReI. Min. Marco Aurélio. DJU 20.4.2006).
A Corte Especial do STJ admitiu a legitimidade do Ministério Público para o A prioridade do Ministéno Público para a propositura da ação
manejo de ação civil pública em defesa dos princípios regentes do acesso a cargos e das medidas cautelares convenientes está implícita na própria lei,
públicos por meio de concurso, pois configurado o interesse social relevante. No quando estabelece que "qualquer pessoa poderá e o servidor público
caso. fora aberto um novo concurso público para cargos de professores universltârios,
embora houvesse vários candidatos aprovados em concursos anteriores, aguardando deverá provocar a rniciatlva do Ministério Público, ministrando-lhe
convocação (EDivREsp n. 547.704-RN, ReI. Min. Cartos Alberto Menezes Direito, informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil e rndi-
I
,
iI
DJU 17.4.2006).
A tendência mais atual daJunsprudência, portanto, parece indicar no sentido de
cando-lhe os elementos de convicção" (ari. 6<'). A mesma lei determI-
na, ainda, que os juizes e TribunaIS que, no exercício de suas funções,
que, para surgrr a legitimidade do Parquel na seara da ação civil pública em tema de
direitos individuais homogêneos, faz-se necessâria a presença de elementos de indis- "tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura da
cutível interesse público e social na demanda. AssIm, é indispensàvel que, pairando ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as providên-
ao lado dos interesses individuais homogêneos em questão, haja também relevantes cias cabíveis" (ari. 72 ), e finaliza concedendo ao Ministério Público
aspectos públicos e sociais, como os relativos aos direítos â educação, â saude, ao
transporte, ã moradia ou à moralidade e fi eficiência da Admínistração, ou outros SI- a faculdade de "instaurar, sob sua presidência. znquérito civil,26 ou
milares. Como exemplos recentes desta linha jurisprudencial podem ser citados: STF,
EDeclAgRgRE n. 470.135-9-MT, ReI. Min. Cézar Peluso, RT 865/125; AgRgRE n. niveis. é inviável a defesa de tais direitos por intermédio da ação cívil pública" {REsp
472.489-RS, ReI. Min. Celso de MelIo, DJe 28.8.2008; STJ, REsp n. 470.675-SP. n. 578.677-PE, ReI. Min. José Arnaldo da Fonseca, RF 380/321 l.
ReL Min. Humberto Martm" DJU29.10.2007; EDivResp D. 644.821-PR, ReI. Mia Os limItes para o emprego da ação civil pública tampouco podem ser ampliados
Castro Merra., DJe 4.8.2008. Sobre os limItes dessa atuação de caráter eminentemente se a demanda for proposta por asSOCIação. em lugar do Ministeno Público. Assim,
socIal do MinIstério Público. v.: Teori Albino Zavascki, Processo Co/etivo. São Pau- p. ex., o STJ decidiu que descabe o aJuizamento de ação civil pública para obstar a
lo, Ed. RT, 2006, pp. 240-242. cobrança de muitas de trânsito em determinado Municipio. "por se tratar de direitos
A nosso ver, entretanto. a postura maís adequada é aquela proclamada em individuaIS homogêneos. identificãvels e divlslveis" dos condutores de veIculas lo~
ementa da lavra do Min. Garcia Vierra do STJ:"A legitimidade do Ministéno Público cais. que sequer podem ser caracterizados como consumidores (REsp n. 727.092-RJ.
epara cuidar de intere~es_~~i~.i~ 4ifusos ou c,?I~~:Ytls, : ..!!ã~p.arapatroc!nar ~!reitQs ReI. Min. FrancISCO Falcão, DJU 14.6.2007).
mdividuaIs privados e êIlsponíveis" (REsp n. 141.491-SC, DJU 4.5.98, p. 88). No Deve-se salientar que, em ação civil pública Intentada pelo IDEC contra InS-
iiiesiiiõSêiiuao é ã-emenia' clã lávrn do Min. Jose Delgado. no REsp n. 91.604-SP, tituição financerra, com a finalidade de pleitear a diferença de correção monetária,
DJU 15.6.98. p. 15: "O ordenamento jurídico concebe os interesses difusos como em favor dos poupadores. em decorrência de plano económICO, o mesmo desistiu da
sendo aqueles formados por elementos axíológicos cuja titularidade excede a esfera ação antes da cítação do réu, tendo o Ministéno Público assumido o pólo atlvo da
meramente individuai do ser humano, por pertencerem a todos que convivem em demanda, ratificando a inicial. Posteriormente, a ilegitimidade do autor fOi SUSCItada
ambiente SOCIal. Os direitos difusos se caracterizam pela impo!l?ibilidade de sua pelo reu e reconhecida pelo representante do Ministério Público funcionando na Vara,
~~entação, IStõ é. de alcançarem. apenas. um indivídu~: A extensão de entendi- como fiscal da lei, ensejando a extinção do processo pelo JUIZ (sentença da JUlZa
mento de InclUir na categona de direitos difusos ou coletivos, interesses puramente de Direito Dra. Lígia DonatI CaJon. de 5.10.93. nos autos 1.122/93. da comarca de
índividuais. gera desprestígio para a ação cívil pública, instrumento legal que os Osasco, confirmada em Apelação n. 641.143-8. ReI. JUIZ Roberto Caldeira Banoni).
protege, em face de descaracterizar a verdadeira função para a qual tal entidade pro-
cessua! foi cnada. A defesa de um grupo formador de um estamento social defmido A ilegitimidade ativa do Ministério Público foi também reconhecida em manda-
não se enquadra no âmbito da ação civil pública e, para tanto. não tem legitimidade o do de segurança ímpetrado contra sentença proferida em ação visando adissolução de
Mimstério Público". Em ação CIvil pública movida em defesa de mteresses de servi- SOCIedade admmistradora de cartão de crédito. tendo o acordão da 8a Câmara do TJSP
dores públicos do Estado de Goiás. a 511 Turma do STJ teve o ensejo de se manifestar sido da lavra do emmente Des. Régts de Oliveira (MS n. 190.511-1/9,]. 19.5.93).
na mesma linha, ressaltando que "os servidores públicos do mencionado Estado Reconheceu a decisão que havia direito líquido e certo do rêu de não ser processado
integram uma parte e não a coletividade como um todo. sendo certo que os mesmos pelo Ministério Público, por falta de competência do mesmo (RT 70017 1 e ss.).
possuem sindicato ou ente representatIVO equivalente que os possa defender em juizo. 25. A nova redação do art. 15 concede igual iniciativa aos demaIS legitimados.
A grandeza do MinIStério Público não pode servir de subsídio para legitimã-Io na de- 26. Sobre o inquerito civil merece transcrição a seguinte manifestação do Mi-
fesa destes interesses,já que a legitimação para tanto só ocorreria em caso de direitos nistro Jose Celso de Mello Filho. quando Assessor do Gabinete Civil da Presidência
mdisponíveis" (AgRgREsp n. 298.634-GO, ReI. Min. Gilson Dipp, DJU 25.2.2002, da República: "O projeto de iei que dispõe sobre a ação civil pública institui, de modo
p. 429). Ainda na 511 Turma do STJ. em maténa de vencimentos e beneficias de serví- inovador, a figura do inquérito civil. Trata~se de procedimento meramente adminis~
dores públicos: ''Tratando~se de interesses individuais. cujos titulares não podem ser trativo, de carâter pré-processual. que se realiza extrajudicmlmente. O mquérito civil,
enquadrados na definição de consumidores, tampouco caracterizam-se como indispo- de instauração facultativa, desempenha relevante função mstrumental. COnstitUI melO
200 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 201

requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, é possível em sede de ação direta, no controle concentrado de constitucionalidade, na
informações, exames ou peridas, no prazo que assinalar, o qual não fonna e com a legitimação estabelecidas na Constituíção. No STF, o leading case do
Plenâno foi o RE n. 195.056-I-PR. ReI. Min. Carlos Velloso, recurso do Mimsténo
poderá ser inferior a dez dias úteis" (art. 8", § I·). Público do Paraná contra o Mumcípio de Umuarama, acórdão publícado no DJU
Mas esses poderes atribuídos ao Ministério Público para a pro- 30.5.2003, Seção I, p. 30. e RTJ 185/302. A orientação foi mantida no Julgamento do
positura da ação civil pública não justificam o ajuizamento de lide RE n. 213.631-0-MG, ReI. Min.lImar Gaivão. DJU7.4.2000, p. 69. integra na RTJ
173/288. e ainda no RE n. 206.781-4-MS, ReI. Min. Marco Aurélio. RT7941I93. e
temerária ou sem base legalP nem autorizam a concessão de liminar nn AgRgRE n. 248.191-SP, ReI. Min. Carlos VeUoso. RTJ 183/751. A ilegitimidade
para a impugnação à cobrança-de tributos atraves de ação civil pública estende-se as
destinado a coligir provas e quaisquer outros elementos de convicção, que possam associações de defesa de consumidores: AI n. 382.298-RS/AgRg, ReI. Min. Gilmar
fundamentar a atuação processual do Mimstério Público. O inquénto clvil. em suma, Mendes, RTJ 190/360. No STJ a questão também foi pacificada. depOis de diversos
configura um procedimento preparatóno, destinado a viabilizar o exercícío respon- acórdãos da 111 e da 211 Tunnas.Assim, a III Seção do STJ, por unanImida'de, profenu
silvei da ação civil pública. Com ele. frustra-se a possibilidade, sempre eventual, acórdão afastando a possibilidade de ajuizamento pelo Mimsterio Público de ação
de mstauração de lides temerànas. A instauração do inquérito civil não obrigará o Civil pública em defesa de contribumtes (EDlREsp n. 181.892-MG, Rei. Min. GarcIa
Mimstério Público ao aJuizamenta da ação civil pública, desde que lhe pareçam m- Vieira. DJU 8.5.2000). Sobre a matéria há interessante artigo do Min. CarIos Mário
suficientes os elementos de convicção coligidos. Os titulares da ação civil pública, as da Silva Velloso, "Processo Judiciai tributário: medidas JudiCIaIS que o integram e
associações, inCIUS1Ve, possuem legitimidade autônoma para o ajuizamento da ação a legitimidade do Ministério Público para a ação Civil pública que tem por objeto o
civil pública. Podem ajUlzà-la antes do Ministério Público, ou durante a tramitação não-pagamento de um tributo", RDB 6/13. O tema em questão acabou sendo objeto
do ínquêrito civil ou, aínda, após eventual arquIvamento do mquerito civil" (nota de explicitação iegislativa com o novo paragrafo imico do art. lU. da Let n. 7.347/85,
constante do processo relativo ao projeto de que resultou a Lei n. 7.347/85). introduzido pela MP n. 2.180-35, segundo o qual ê vedado o cabimento de ação civil
Na linha do texto do Min. Jose Celso de Mello Filho, acima transcrito. a jU- pública em matéria tributària. V., maís recentemente: STJ. REsp n. 845.034-DF, ReI.
risprudência vem entendendo que a instauração do inquérito civil como antecedente Min. José Delgado, DJU 11.6.2007, citando diversos precedentes.
a propositura da ação cívil pública ê facultativa (neste sentido, p. ex.: STJ. REsp A possibilidade de ajuizamento de ação civil pública para a defesa de direitos
n. 152.447-MG. ReI. Min. Milton Luiz Pereira, DJU 2522002, p. 203, e REsp n. mdividuais disponíveIS restnngeMse, segundo a jurisprudênCia mais atual, e em cara-
476.660-MG, Rela. Min. EHana Calmon, DJU 4.8.2003, p. 274). Sobre o terna, v., ter extraordinário, as hipóteses de defesa de direítos homogêneos de consumidores
p. ex.: STJ, RMS n. 8.716-GO, ReI. Min. Milton Luiz Pereira, DJU25.5.98, p. I!. (conforme definição da legislação especifica), e desde que taIS direitos se instram
Entendemos, no entanto, que a fase préVIa do inquérito é altamente recomendável. num contexto de direitos sociais reconhecidos na Constituição. Assim, por exem-
por proporcionar uma chance aos mdiciados de apresentarem suas razões antes do plo, admite-se a ação CIvil pública para a discussão sobre mensalidades escolares,
ajuizamento da ação, eVitando at1tudes açodadas ou irrefletidas por parte do Minis- considerando-se que o direito à educação é protegido constItucionalmente. enquanto
tério Público. As provas colhidas no inquento, porém. têm valor relativo. e poderão interesse de toda a SOCiedade. No STF, o primeiro caso a ser decidido fOi o RE n.
ser contrariadas por outras provas produzidas no curso da ação. em obediêncía aos 163.231-3-SP, ReI. Min. MauríCiO Corrêa, RTJ 178/377. Posteriormente. o RE n.
pnnCÍ'plOs do contraditóno e do devido processo legal (v. REsp n. 476.660-MG, cita- I90.976-5-SP. Rei. Min. limar Gaivão, e o RE n. 185.360-3-SP, Rei. Min. Carlos
do acima, e REsp n. 644.994-MG, ReI. Min. João Otávio Noronha, DJU21.3.2005). Velloso, RDR 14/107, e SúmuJa n. 643. O mesmo entendimento vem prevalecendo
Sobre o tema, v.• amda: RonaIdo Pinheiro de Queíroz.. uA eficácia probatóna do no STJ. em diversos acôrdãos da 311 e da 411 Turmas (p. ex.: REsp n. 255.947-SP, ReI.
inquérito cívil no processo judicial: uma análise crítica da jurisprudência do STJ", Min. Carlos Alberto Menezes Direíto. RF366/21 O, em matéria de direito à aquisição
RePro 1461189. de casa própria). Na doutnna, v. o artigo de Amoldo Wald, "A ação Civil pública e o
Caso, no curso do inquérito cívil. o Ministério Público pretenda ter acesso a Direito Bancâno: a recente evolução junsprudencial", RDB 3/49. ASSim, podem ser
ínformações cobertas por proteção legal de Sigilo. é necessário que busque ordem objeto de ações Civis públicas, com temperamentos, pretensões relatIVas a direitos
judicial para compelir ã sua produção, pois do contrário a parte que as detém pode se como a educação, a saúde, a moradia, o transporte - enfim, questões de aita relevân-
recusar a fornecê-las (TJRJ, MS n. 2003.004.01033,j. 24.9.2003). cia pública e social, tratadas claramente na Constituição Federal. Traçando os limites
Nrdoutrina, defendendo a imperatividade da observânc1a do procedimento do dessa atuação de caráter emínentemente social do Mimsténo Público: Teori Albino
inquérito civil prévío em certas circunstâncias, de modo a preservar os direitos constI- Zavascki, Processo Co/etivo, São Paulo. Ed. RT, 2006, pp. 240-242.
tucionaiS dos réus desde antes da propositura da ação civil pública: AdíIson de Abreu Fora de tais SItuações extraordinárias, que merecem interpretação cautelosa e
Dallan, "Obngatonedade de realização de inquérito civil", RTDP 26/68. construtiva, impossível o ajutzamento de ação civil pública para a defesa de direitos
27. A jurisprudêncIa já se pacificou no sentido de que não cabe o ajlllzamento individuais, privados e disponíveIS, ainda que presente uma relação de consumo.
de ação CIvil pública para a discussão sobre cobrança de tributos. De um lado, o Nesta linha, dentre outros: STJ. REsp n. 141.491-SC, ReI. Min. Garcia VieIra, RT
interesse do contribuinte é individual e disponível, não se confundindo a figura do 7571149 e RF 346/260; REsp n. 171.283-PR, ReI. Min. Gare .. Vieira, DJU 10.5.99;
contribuinte com a do consumidor. regulada esta por legislação específica. De outra REsp n. -143.215-PB, ReI. Min. Gilsnn Dipp, DJU 7.12.98; REsp n. 114.908-SP.
parte, a discussão sobre a inconstitucionalidade de tributos com efeitos erga omnes só ReI. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJU 13.9.99. E mesmo que haja um interesse
202 AÇÃO CIVIL PUBLICA AÇÃO CIVIL PUBLICA 203

suspensiva de obras e serviços públicos ou particulares, regularmente Se o Ministério Público se convencer da inexistência de funda-
aprovados pelos órgãos técnicos e administrativos competentes, sob mento para a propositura da ação, promoverá o arquivamento dos
a simples alegação de dano ao meio ambiente. A petição inicial hã autos do inquerito civil ou das peças informativas. fazendo-o moti-
de vir embasada em disposição de lei que tipifique a ocorrência ou o vadamente e remetendo sua manifestação ao Conselho Supenor da
fato como lesivo ao bem a ser protegido, apresentando ou mdicando Instituição, para a deliberação final e as providências subseqüentes
as provas existentes ou a serem produzidas no processo, não bastando (ar!. 9·, §§ I' a 4"). Ajuizada a ação, dela não pode desistir o Minis-
o Juizo subjetivo do Ministério Público para a procedência da ação. 28 tério Público, por ser indisponível o seu objeto,29 mas, a final, diante
das provas produzidas, poderá opinar pela sua procedência ou impro-
socialmente relevante, e em tese passível de proteção pela via da ação civil pública, cedência, como o faz nas ações populares, cabendo ao juiz acolher
a defesa do MinIstério Público deve ser genénca, relativa a todos que se encontrem
em deternllnada SItuação, não se podendo aceítar a ação movida pelo Parquet para
ou não sna manifestação. Observamos. ainda, que, se a assocIação
a defesa de mteresses específicos de um ou outro mdivíduo. O Ministério Público autora desistir ou abandonar a ação, o "Ministério Público assumira
pode atuar na ação cívil pública como substituto processual da sociedade, mas não a titularidade ativa" (ar!. 5', § 3·).30
como representante de pessoas determinadas. No STJ, v. REsp D. 485.969~SP. DJU
4.4.2005, e REsp n. 682.823-RS, DJU 18.4.2005 (ambos Rela. Min. Eliana Calmon). A legitimidade ativa também dependerá, caso a caso, das atrI-
Por outro lado, tampouco se admíte a ação civil pública com o propÓSito de buições de cada órgão do Ministério Público. O STJ já julgou que,
discutIr a conveniência dos atos administratIvos legalmente afetos ao Poder Execu- sendo a matéria de atribuição do Mimstérío Público Estadual, não se
tivo. "As atividades de realização dos fatos concretos pela Admmistração dependem admite a propositura da demanda pelo Ministério Público Federal,
de dotações orçamentànas prévias e do programa de pnoridades estabelecido pelo
governante. Não cabe ao Poder Judiciário. portanto, determmar as obras que deve sequer em litisconsórCÍo ativo (RMS n. 4. 146-8-CE, ReI. Min. Vicen-
edificar. mesmo que seja para proteger o melO ambiente" (STJ, REsp n. 169.876-SP, te Leal, RSTJ 82/336).31 No entanto, iniciada a ação pelo Ministério
ReI. Min. José Delgado. RSTJ 114/98 e RTJE 173/103). "Ao Poder Executivo cabe a Público Estadual. decidiu-se que o Parquet Federal tem legitimidade
análise da conveniência e oportunidade da realização de obras públicas" (AgRgREsp
n. 263.173-GO. ReI. Min. Paulo Medina. DJU 10.3.2003, p. 144). A ação civil pu- para prosseguir com a ação na instância especial. inclusive recorren-
blica não pode quebrar a harmonia entre os Poderes, não autorizando o Judiciário a do (STJ, EDREsp n. 114.908-SP, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU
substituIr a Adrmnistração Pública no exercícío do seu poder discricionário assegu- 20.5.2002, p. 95, e Revista de Direíto Privado 13/300).
rado na Constituição e nas leiS. O JUizo de conveniência e oportunidade de atos da
Admímstração não pode ser transferido para o juiz da causa, que só pode obrigar o
admirustrador a praticar um ato vmculado. nunca. um que esteja dentro da sua esfera nando prioridades. realizações de obras ou alocações de recursos para finalidades
de discncíonariedade (STJ, AgRgREsp n. 252.083-RJ, Rela. Min. Nancy Andrighi. específicas. Tal como a ação popular, a ação civil pública não pennlte que o Julgador
DJU 26.3.2001, p. 415; TJSP, ApC n. 126.386-5/8-SP. ReI. Des. Vandercl Alvares. substitua os cntenos de oportunidade e conveniênCia do administrador público pelos
AASP2.23812.034. eRF3611183; TJRJ.ApC n. 14.225/2001. ReI. Des. Jayro FerreI- seus própnos (TJSP. ApC n. 236.237-1. ReI. Des. Walter TheodóSlo. RJTJSP 177/9.
ra. DJRJ 5.9.2002, p. 349). EI n. 217.788-1. ReI. Des. Marcus Andrade. RJTJSP 1811206).
O Ministerio Público também não pode, através de ação cívil pública, questio- 29. A propÓSIto, já decidiu o TJSP que: "Proposta ação CIvil pública pelo Mims-
nar a conveniêncIa da legislação regular e formalmente aprovada pelo Poder Legisia- tério Público, não pode mais dela deSistir, devendo prosseguir até o encerramento do
tivo. Como já decidiu o STJ: "O interesse local ê extenorizado pela vontade política. processo, isto e. até a prolação da sentença, uma vez que, partindo-se do conceito da
A lei local reflete o anseio da comunidade mediante a boca e a pena dos legisladores obngatoriedade de propô-la, decorre, naturalmente, a indisponibilidade desta mesma
eleitos pelo povo da região. Em conseqüência, o Ministério Público não pode, via ação" (RT 635/201).
ação civil pública, opor-se avontade manifestada pela comunidade através de lei. por- 30. Pela nova redação dada ao art. 52. § 311, a assunção da ação pelo MinIStériO
quanto os legísladores eleitos sobrepõem-se ao Parquet na revelação da real vontade Público caberá se a desistência for mfundada (art 112 da Lei n. 8.078/90).
comum. ( ... ). Exsurgíndo lei local defmido a necessidade de pedágio da via, impõe-se 31. Tratando-se de ação envolvendo socíedade de economia mista, ainda que
respeitar a vontade da comunidade, vetando-se ao Ministério Público transmudar-se de controle federal. o STJ já decidiu pela competência da Justiça Estadual e pela le-
em senhor dos mteresses sociais. contrapondo-se aos mesmos, a revelar-se <mais rea- gitimidade auva do Ministéno Público Estadual (STJ, REsp n. 200.200·SP. ReI. Min.
lista do que o rei'" (REsp n. 434.283-RS, ReI. Min. Luiz FUJ<, DJU 5.5.2003, p. 225). Mílton Luiz Pereira. v. Notícias do STJ28.8.2002, "STJ: Ministério Público Paulista
Sobre o tema, v. a nota de rodapé 13, retro, no ítem 1 desta Tercerra Parte. é parte legítima para propor ação contra Codesp", Internet: stj.gov.br). v., ainda:
28. A pretensa defesa do meio-ambiente não autoriza o Ministério Público ou Teori Albino Zavascki, "Ação civil pública: competênCia para a causa e repartição de
o Judiciário a ingressarem na órbita das atribuições do Poder Executivo. detenni- atribuições entre os órgãos do Minísténo Público", RDR 39/15.
204 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 205

A legitimação passiva estende-se a todos os responsáveis pelas fato lesivo ao meio ambiente ou ao consumidor pela facilidade de
situações ou fatos ensejadores da ação, sejam pessoas fisicas ou jurí- obtenção da prova testemunhal e realização de pericia que forem
dicas, inclusive as estatais, autárquicas ou paraestatais, porque tanto necessárias à comprovação do dano. Se, porém, a União, suas autar-
estas como aquelas podem infringir normas de Direito Material de quias e empresas públicas forem interessadas na condição de autoras,
proteção ao meio ambiente ou ao consumidor, incidindo na previsão rés, assistentes ou opoentes, a causa correrá perante os juízes federais
do art. 12 da Lei n. 7.347/85 e expondo-se ao controle judicial de e o foro será o do Distnto Federal ou o da Capital do Estado, como
suas condutas. 32-33 Em matéria de litisconsórcio a norma do art. 47 n.
determina a Constituição da República (art. 109, 35-36 Sendo o Es-
do CPC é aplicável subsidiariamente às ações civis públicas. Assim,
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havendo litisconsórcio necessário, todos os litisconsortes deverão ser 35. Acatando a posíção aqUi defendida por Hely Lopes MeireUes. o TRF
citados, sob pena de nulidade processual (STJ, REsp n. 405.706-SP, da 11 Região entendeu que o foro da Justiça Federal, por emanar da Constituição.
ReI. Min. LuizFux,ADV2003, p. 31, em. 104.388 eDJU23.9.2002, prevalece sobre o foro do local do dano (AI n. 94.01.03278-5-DF, ReI. Juiz Nel-
son Gomes da Silva, RePro 76/258). Na mesma linha, no TRF da 4A Região: AI n.
p.244). 1999.04.01.022654-7-SC, ReI. JUIZ José LulZ Borges Germano.RT774/428. O STJ.
porem, vinha decidindo que o foro deveria ser sempre o do local do dano, e se o caso
3, Foro e processo fosse de competência da JustIça Fed!ral o feito sena processado perante o JUIZ de Di~
relto Estadual local, com eventums recursos para o Tribunal Regional Federal da res-
A ação civil pública e as respectivas medidas cautelares deverão pectiva região, na forma dos §§ 22, 32 e 42 do artigo 109 da ConstItuição (CComp n.
2.473-0-SP, ReI. Min. Antômo de Pádua RibeIrO. RSTJ39/49, CComp n. 3.389-4-SP,
ser propostas no foro do local onde ocorrer o dano (arts. 22 e 4").34 ReI. Mio. Hélio Mosimann. RSTJ 50/30. CComp n. 15.411 ~R1, ReI. Mm. Demócrito
E justifica-se a fixação do foro na comarca em que se der o ato ou Reinaldo, ADV 1997. ementa 77.061). A maténa acabou objeto da Súmuia 183 do
STJ: "Compete ao Juiz Estadual, nas comarcas que não sejam sede de vara da Justiça
Federal, processar e julgar ação Civil pública, ainda que a União figure no processo."
32. o STJ entende ser o Estado parte passiva legítima para responder por ação
O STF. no entanto, julgou um caso em sentido contrário ao da Súmula n. 183 do STJ,
civil pública proposta em razão de danos ao melO ambiente: REsp n. 88.776-GO.
decidindo que o JUIzo federal tem competênCIa temtonal e funCIOnal sobre o local de
ReI. Min. Ari Pargendler. DJU 9.6.97, p. 25.501. No entanto, em principio não se
pode impor a obrigação de reparar o dano ambiental aquele proprietáno que já tenha qualquer dano e que o afastamento da jurisdição federal somente poderia ser admI-
adquirido a terra desmatada (STJ, REsp n. 156.899-PR, ReL Min. Garcia Vieira, tido em caso de regra legal ou constitucional expressa, como na hipótese das causas
RSTJ 113178). Da mesma forma. "não ê passivei ímpor ao propnetário atuaI que previdencianas mencionadas no § 32 do art. 109 da CF, o que não ocorre em maténa
recrie prédio histórico destruido ou totalmente descaracterizado por obras feitas por de ação CIvil pública, na Lei n. 7347/85. O julgado foi unânime, pelo Plemino do
terceiro décadas antes da aquiSIção. dando origem a novo prédio com caracteristicas STF (RS n. 228.955-9-RS, ReI. Min.l1mar Gaivão, DJU 14.4.2000, p. 56). ASSim, o
distintas" (STJ, REsp n. 1.047.082-MG, ReI. Min. Francisco Faicão, DJe 15.9.2008). STF adotou o entendimento exposto no texto original de Heiy, determínando que a
33. Sobre Mirustério Público e Ação Civil Pública, v. Teori Albino Zavascki, Justiça Federal processe e julgue todas as ações civis públicas em que forem partes
"Ministério Público, ação CIvil pública e defesa de direítos índividuais homogêneos", a União. suas autarquias ou empresas públicas. mesmo que não haja Vara Federal na
RF 333/123; LUCia Valle Figueiredo, "Ação Civil pública. Ação popular. A defesa comarca do locai do dano, uma vez que sempre havere um juiz federal com jurisdição
dos interesses difusos e coletivos. Posição do Ministêno Público", Revzsta AJUFE n. sobre aquela região (da Capital ou de cidade próxima). O Citado acórdão do STF. cuja
55/26; Galeno Lacerda. "Limites li atuação do Minísténo Público, no que concerne integra fOI publicadanaRTJ 172/992 e naRT779/167, acabou levando a la Seção do
no inquento civil e à ação civil pública. Limites no controle da atividade bancãria. STJ a cancelar o verbete da Súmula 183. no julgamento dos EDeclCComp n. 27.676-
Distinção entre operações e servíços de bancos. Só os servIços se enquadram nas BA, ReI. Min. José Delgado, DJU 5.3.200 1. p. 118. A jurisprudênCIa consolidou-se,
relações de consumo, sujeitos à fiscalização do MP", RF 333/194; Hugo Nigro portanto, no sentido de índicar como competente o foro federal que ostente com-
Mazzilli. "Das ações coletivas em matéria de proteção ao consumidor. O papel do petência terntorial e funCIOnal sobre o local onde ocorreu o dano discutido na ação
Ministério Público", JustUia 160/158; Luis Daníel Pereíra Cintra e Marco Antonio civil pública sempre que configurada uma das situações do art. 109, I, da CF. Neste
Zanellato. "O Mimstêrio Público e a defesa coletiva dos interesses do consumidor", sentido: STJ, CComp n. 90.722-BA, ReI. Min. TeonAlbino Zavasclci, DJe 12.8.2008.
JustUla 160/236; Nelson Nery, "O Minístério Público e sua legitimação para defesa 36. O art. 109, I. da CF não se refere ao Ministério Público Federal. ASSim.
do consumidor emjulzo", Juslitia 160/244. mesmo que este seja o autor da ação, a competência não será. desiocada para a Justiça
34. Não hã prerrogativa de foro para o julgamento de ação Civil pública., que Federal se a União ou suas autarquias ou empresas públicas não forem partes. Neste
deve ser processada na primeira instância mesmo que figure corno réu um Minístro sentido. na la Seção do STJ: nA propositura pelo Miwstêrio Público Federal de ação
de Estado ou o Presidente da República (STF, Pel n. 1.926~DF. ReL Min. Celso de civil pública com vistas à defesa de interesses difusos ou coletivos não é suficiente
Mello, InJonnolivo STF 181103). para a fixação da competênCIa da Justiça Federal" (CComp n. 34.204-MG, ReI. Min.
206 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PUBLICA 207

tado, suas autarquias ou entidades paraestatais interessados na causa, parágrafo único do art. 2· da Lei n. 7.437/85, introduzido pela MP n.
mesmo que a lei estadual lhes dê Vara ou Juízo privativo na Capital, 2.180-35, de 24.8.2001, "a propositura da ação prevenirá aJunsdição
ainda assim prevalece o foro do local do dano, pois a legislação es- do juizo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam
tadual de organização judiciária não se sobrepõe à norma processual a mesma causa de pedir ou o mesmo obJeto" 40 Entendemos que, de
federal que indicou o foro para a ação civil pública.37 acordo com a natureza da competência funclOnal que rege a matéria,
A competência para processamento da ação civil pública é de só cabe esta prevenção para as ações propostas em cada Estado da
natureza funcional (Lei n. 7.347/85, art. 22 ), e portanto absoluta e im- Federação, não se admitindo, por exemplo, que uma ação proposta
prorrogável.'· Assim, não se admite a reunião de ações propostas em em São Paulo possa fazer prevenção para outra ajuizada no Rio de
Estados diferentes, mesmo que sejam conexas. 39 De acordo com o Janeiro, ou vice-versa Cada uma das ações proporcionará uma deci-
são no âmbito da respectiva competência, como determina inclusive
Luiz Fux.. DJU 19.12.2002, p. 323). Sobre a matéria.. v. ainda o D. 9. tratando da ação o art. 16 da Lei da Ação Civil Pública. Se o pedido formulado na
de Improbidade admmistrativa. inicial de cada ação civil pública ajuizada nos diferentes locais, sobre
37. Neste sentido. no STJ. REsp D. 67.345-3-SC. ReI. Min. Demócnto Rei- o mesmo tema, pretender extrapolar a regra do art. 16, então, caso a
naldo. RSTJ 92/81. E entendimento pacífico no STJ que os Estados não têm foro
pnvilegiado, como a União. e sim juízo privativo, quando a ação e ajuizada em local caso, se deverá aferir a hipótese de incompetência absoluta - se hou-
que tenha Varas da Fazenda Pública (STJ. REsp n. 190.615-RS, ReI. Min. Garcia ver um foro adequado para a apreciação de tal pedido - ou, então, de
Vieira. DJU8.3.99). Entretanto, se houver Vara privativa da Fazenda no foro do local impossibilidade Juridica do pedido. Porém, não parece adequada a
do dano, dela será a competência nestes casos, combinando-se as normas federais e reunião de ações sujeitas a juízos de competência absoluta diversos,
estaduais. Note-se que o conceíto de entidades paraestatais inclui sociedades de eco-
nomia mista. como já decidiu o TJSP com relação à Eletropaulo (AI D. 017 .702~5-1.
ReI. Des. Yoshiaki Ichibara. RT7341317). Da mesma forma. atendido o requiSIto do 22.693-DF, ReL Min. José Delgado, RSTJ 120/27). Neste último caso, porem, as
local do dano, poderá haver deslocamento da competência para Varas especializadas vânas ações discutiam a privatização das empresas do Grupo Telebrâs, havendo.
dependendo do assunto tratado na ação e das regras de orgamzação judiciária de cada portanto. a alegação de um mesmo dano, sem um local definido de sua ocorrênCia,
Estado. Em São Paulo, por exemplo, a ação civil pública versando sobre materia de razão pela qual não se pode dizer que a jurisprudênCIa anterior esteja ultrapassada.
acidente de trabalho deve ser julgada na Vara de Acidentes de Trabalho. e não em Há deCisão do STJ determinando a reunião de ações civis públicas e ações po-
Vara Clvel (2'TACSP,AI n. 474.031, ReI. JUIZ S. Oscar Feltrin,AASP 1995, p. 2). pulares com fim comum de anulação de determinada liCitação: CComp n. 36.439-SC,
38. Sobre o tema: Jose Carlos Barbosa Morerra. "A expressão 'competêncla Rei. Min. Luiz Fux, DJU 17.11.2003, p. 197.
funcional' no art. 2' da Lei da Ação Civil Pública", RF380/179. Em hipótese de relação de continência entre ação proposta na Justiça Estadual
Em ação civil pública na qual se discutIa se a competência para o creden- e outra demanda antenor já em curso na Justiça Federal. ambas no mesmo Estado
ciamento e a autorização do funcionamento de entidade de ensmo era federal ou do Rio Grande do Sul, o STJ decidiu pela reunião dos processos na JustIça Federal
estadual, o STF entendeu caracterizada a hipótese de conflito federatIvo, atraindo (CComp n. 22.682-RS, ReI. Mln. FranclUlli Netto, DJU 12.5.2003, p. 206). Na
a competência ongmária da Corte Suprema. nos termos do art. 102, I. "f', da CF mesma linha: STJ, CComp n. 40.534-RJ. ReI. Min. Teorí Albino Zavascki, DJU
(ReI. Min. Sepúlveda Pertence. Infonnativo STF 398/3). Em outro caso no qual se 17.5.2004; CComp n. 90.722-BA, ReI. Mln. Teon Albino Zavasckí, DJe 12.8.2008.
víslumbrou um potencial conflito federativo o STF voltou a afirmar sua competência Nada impede. aliás, a reunião de ações ciVIS públicas conexas propostas em
originaria. nos termos do art. 102, 1., "f', da CF, e avocou a ação cIvil pública: RecI. Varas diferentes num mesmo foro, medida que é recomendável e segue as regras
n. 5.066-PR, ReI. Min. Joaquim Barbosa, DJe 14.10.2008. A mera presença no pólo gerais de conexão do Código de Processo Civil (TJRJ, AI n. 2.35512000. ReI. Des.
passivo de autoridades sujeitas a foro especial em matéria penal ou de mandado de LUIZ Fux. RF 358/265).
segurança, porém, em prinCipIO, não ê suficiente, por sí sô. para acarretar a compe- A competênCia do juizo falimentar não se estende para a apreciação de ação
tência origimma do Tribunal Superior (Pel n. 3.482-GO, ReI. Min. Carlos BrUto, civil pública referente a dano ambiental em imôveI da massa (STJ, CComp n. 40.971-
Informativo STF 397/8). RJ, ReI. Min. Barros Monterro. DJU 15.9.2004, p. 113).
39. Neste sentido, STJ, CComp n. 17.137-PE. ReI. Min. Ari Pargendler, DJU 40. No STJ, reumndo mais de 20 ações que combatiam o aumento de tarifas
2.9.96, p. 31.017, tendo ficado decidido que "a ação cívil pública ajuizada no Estado de telefonia autonzado pela ANATEL. com base no mencionado dispositivo legal:
de São Paulo não atrai aquela proposta no Estado de Pernambuco. para Julgamento CComp n. 39.590-RJ, ReI. Min. Castro Meira, DJU 15.9.2003 e RDR 27/239. Na
simultâneo, ainda que sejam conexas em razão da identidade de pedidos e de causas mesma linha. v. lirmnar do Min. Edson Vidigal no CComp n. 57.559-DF, relativo â
de pedir; são ações sujeItas a jurisdições diferentes". Noutra decisão maís recente, prorrogação dos contratos de concessão de telefonia fixa. deferida em 22.12.2005
porem, admitiu-se a reunião de ações propostas em Estados diferentes (CComp n. (íntegra dispomvel no sítio do Tribunal na Internet http://www.stj.gov.br).
208 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 209

pois o Direito Processual não admite que a conexão prorrogue a com- suspensão ao Presidente do Tribunal competente para conhecer do
petência absoluta, como se observou acima. respectivo recurso, formulado, a qualquer tempo, pela pessoa jurídica
Quanto ao processo dessa ação. é o ordinário, comum, do Códi- de Direito Público interessada, para "evitar grave lesão ii ordem, à
go de Processo Civil,4! com a peculiaridade de admitir medida limi- saúde, à segurança e à economia pública" (art. 12, § 1º).45 Em vir-
nar suspensiva da atividade do réu, quando pedida na inicíal, desde túde do disposto no art. 40, § 2", da Lei n. 8.437/92, o Presidente do
que ocorram o fumus bani juris e o periculum ln mora.42 A liminar Tribunal podem ouvir, previamente, o autor e o Ministério Público,
não poderá esgotar, no todo ou em parte, o objeto da ação (art. I", em cinco dias. E a razão daquele pedido está em que, muitas vezes,
§ 3", da Lei n. 8.437) e só poderá ser concedida após ter sido ouvido, a medida liminar, tolhendo obras, serviços ou atividades essenciais ii
em setenta e duas horas, o representante judicíal da pessoa jurídica comunidade, afeta o interesse público e justifica sua cassação até o
de Direito Público (art. 2" da Lei n. 8.437/92).43 Dessa liminar cabe julgamento fmal da causa. Do despacho concessivo da liminar cabe
agravo, interposto pelo réu (art. 12),44 e também pedido de sua agravo regimental para urna das Câmaras ou Turmas Julgadoras, no
prazo de cinco dias da sua publicação (art. 12, § I", infine).
41. Há decisões entendendo ser descabida a denunciação da lide em ação civil A MP n. 1.984-18, de 1.6.2000, acrescentou sete novos pará-
pública. Sendo a responsabilidade do reu da ação civil pública, vía de re~ objetiva, grafos ao art. 40 da Lei n. 8.437/92, disciplinando detalhadamente a
a denunciação implicaria na introdução de fundamento novo na demanda. ou seja., matéria de suspensão de liminares pelos presidentes dos tribunais e
na discussão em torno da culpa ou dolo na produção do dano (TJSP, AI D. 224.273-
112. Rei. Des. Antonio Mannsur, RT716/161). Tambemjá se afastou a denunciação
da lide em razão da incompetência do juiz da ação cívil pública para apreciação da execução da medida" (STJ, REsp n. 152.041-MG, ReI. Min. Mílton Luiz Pereira,
lide secundána (TJPR. AI n. 51.802-3, ReI. Des. Ulysses Lopes, RT743/3761. En- DJUI9.I!.200I).
tendemos que, na ausência de vedação expressa à denuncíação da lide em ação CIvil 45. Como a legitimidade para o pedido de suspensão da liminar e restrita às
pública, e aplicando-se o Código de Processo Civil subsidiariamente (art. 19 da Lei pessoas jurídicas de direito público, os demais réus eventualmente prejudicados
n. 7.347/85), o cabimento da intervenção de terceiros deve ser analisado caso a caso. pela liminar poderão pedir o efeito suspensivo para o seu agravo, se presentes os
Já se decidiu que são aplicã,veis â ação CIvil pública os prazos recursaís do pressupostos da Lei n. 9.139/95. No regime antenor, podia ser concedido o efeito
Código de Processo Civil (STJ, REsp n. I28.081-RS. ReI. Min. Gan:ia Vieira. RSTJ suspensIvo através da lmpetração de mandado de segurança (TJMO, AgRgMS n.
111161). Nesta linha, entendemos aplicâvel tambem a regra que concede o prazo em 5.571. Relo Des. Ayrton Mala. RT 664/134), o que, em nosso entendimento, ainda
dobro aos litisconsortes com procuradores diferentes. p'ode ocorrer excepcionalmente. como, por exemplo, no caso de fénas do tribunal.
E de se salientar, no entanto, que o STJ vem em alguns casos ampliando o leque dos
42. Há doutrina entendendo obrigatória a realização prévia do inquérito cívil legitimados para o pedido de suspensão de limmar, flexibilizando a interpretação da
como antecedente â propositura da ação civil pública e/ou_de sua medida cautelar, lei e reconhecendo legitimidade também às sociedades de economia mista quando
salvo em hipóteses excepcionais, como uma forma de garantia dos direitos constitu- presente o interesse público, como pode ocorrer no caso de concessionárias de
cionais dos reus (Adílson Abreu Dallari, "Obrigatonedade de realização de inquénto servtços públicos (REsp n. 50.284-SP, ReI. Min. Peçanha Malims, RSTJ 136/152;
civil", RWP 26/68). Ajurisprudência majontáría, no entanto, vem entendendo que a AgRgPet n. 1.489-BA, DJU22.1O.20011. Posteriormente. ao longo do ano de 2005,
instauração prevía do inquérito civil é facultativa (p. ex.: STJ, REsp D. 152.447-MG, e com base em mterpretação elásttca da legitimidade preVIsta na Lei n. 8.437/92, o
ReI. Min. Mílton LUlz Pererra, DJU25.2.2002, p. 203). Presidente _do STJ admitIu até mesmo suspensões de liminares requeridas por em-
43. A concessão da liminar antes de decorrido o prazo de setenta e duas horas presas estntamente pnvadas. desde que concessiomirias de serviços públicos, e por
após a intímação do representante do Estado vem sendo considerada nula (STF, fundos de pensão ligados a estataiS. São exemplos a SL n. 196-RJ. pedida pela Light,
AgRgPet n. 2.066-SP, Rei. Min. Carlos Velloso. RTJ 186/147; STJ, REsp n. 88.583- a SLn. 221-RJ, pedida pela Vang, e as SLns. 128 RJ e 222-DF, requeridas porvanos
M

SP. ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 18.11.96, p. 44.847). Há decisão no fundos de pensão (pREVI, PETROS, FUNCEF e outros), todas relatadas e deferidas
mesmo sentido do TJPR. AI n. 37.681-2, ReI. Des. Silva Wollf, ADV 1995, emenla pelo Min. Edson Vidigal (decISões disponí'vels na integra no sítio do STJ na Internet
70.855. Ainda no STJ, REsp n. 74.l52-RS, ReI. Min. Gan:ta Vieira. DJU 11.5.98, p. (http://www.slj.gov.brl.Namesmalinha:STJ.SLn.3l3-CE.Rel. Min. Barros Mon-
7; AgRgREsp n. 303206-RS, ReI. Min. Francisco Falcão, DJU 18.2.2002, p. 256; terro, DJU21.9.2006; SL n. 765-PR. ReI. Min. Barros Monteiro. DJU 8.10.2007; SL
MC n. 4219-MG, ReI. Min. Garda Vierra, DJU 17.62002, p. 192; REsp n. 220.082- n. 789-AL. ReI. Min. Barros Monteiro, DJU 1.2.2008. No STF, igualmente admitindo
GO, ReI. Min. João Otávio Noronha, DJU20.6.2005, p. 182; REsp n. 667.939-SC, a legitimidade processual ativa de pessoas jurídicas de direito pnvado para o pedido
Rela. Min. Eliana Calmon, DJU 13.8.2007. Na mesma linha. no TJRJ: Processo do de suspensão, desde que no exercicío de função delegada do Poder Público, como as
Conselho da Magistratura n. 761/95, ReI. Des. Marcus Faver,j. 8.2.96. concesslOruirias de serviço público: STF, SL n. III-DF, Rela. Min. EUen Graeie. DJU
44. "Conta-se o prazo para a interposição de agravo de instrumento, contra 2.8.2006;SL n. 251-SP, ReI. Min. Gilmar Mendes, DJe 4.8.2008; SL 274-PR. ReI.
deferimento de liminar em ação civil pública, da juntada aos autos do mandado de Min. Gilmar Mendes, DJe 3.2.2009.
210 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 211

ampliando o cabimento de tais pedidos pelos legalmente legitimados. Declaratória de Constitucionalidade n. 4-6-DF, ReI. Min. Sydney
Um deles, o § 82 , que permitia a suspensão de liminares com efeitos Sanches, tendo o STF deferido a medida liminar com efeitos erga
retroativos, foi considerado rnconstitucional pelo STF, no julgamento omnes, para o fim de cassar todas as tutelas antecipadas deferidas
da ADIn n. 2.25 I-DF. A medida provisória em tela foi sucessivamen- contra a Fazenda com base na inconstitucionalidade do dispositivo
te reeditada, sendo a última versão a MP n. 2.180-35, de 24.8.2001 legal (DJU21.5.99). O STJ vem aplicando o referido art. I" da Lei n.
(em vigor por prazo indeterminado, por força do art. 20 da EC n. 32). 9.494/97 na apreciação dos pedidos de suspensão de tutelas anteci-
O antigo § 92 passou a ser, agora, o § 82 , e se introduziu um novo padas (AgRg/SSeg n. 718-AM, ReI. Min. Antônio de Pádua Ribeiro,
§ 9º. mas o dispositivo tido como inconstitucional pelo STF não foi RSTJ 119/17). Uma decisão mais recente da Corte Especial do STJ,
mais objeto de reedição. porém, entendeu, por unanimidade, ser descabido no regime da Lei
Como a liminar é especificamente tratada na Lei n. 7.347/85, n. 8.437/92 o pedido de suspensão de ato executório de cumprimen-
entendemos que não se aplica â ação civil pública a antecipação da to de antecipação de tutela (AgRgPet n. l.307-PE, ReI. Min. Paulo
tutela (nova redação dos artigos 273 e 461 do Código de Processo Costa Leite, DJU 18.12.2000). Noutro caso, postenor, novamente
Civil, dada pela Lei n. 8.952/94).46 Tal como opinamos com relação admitiu-se a possibilidade de pedido de suspensão de antecipação
à ação popular, esta é a solução decorrente da Lei de Introdução ao de tutela (STJ, AgRgPet n. 1.489-BA, DJU 22.10.2001, p. 259). A
Código Civil, art. 22 , § 2º. Não obstante, tem ocorrido a concessão nosso ver, seria preferível escolher uma das seguintes alternativas:
de tutelas antecipadas, e vem se admitindo a suspensão das mesmas ou se entende incabivel a concessão da tutela antecipada na ação,
pelo Presidente do Tribunal, nos mesmos moldes da liminar (neste ou se permite sua suspensão pelo Presidente do Tribunal ad quem.
sentido, despacho do Presidente do TJRJ, Des. Thiago Ribas Filho, O que não parece adequado é que se possa obter a antecipação de
na Suspensão de Execução de Liminar n. 972.955, DJE 4.2.97, pp. tutela mas não esteja ela sujeita ao pedido de suspensão pelo Poder
4/5); e no STF, igualmente admitindo a suspensão de tutela anteci- Público. Resta aguardar uma maior sedimentação da junsprudência
pada concedida no segundo grau de jurisdição: AgRgSL n. 118-RJ, na matéria.
Rela. Min. Ellen Graeie, RT 872/111. A Medida Provisória n. 1.570, Outras disposições processuais são estabelecidas pela lei em
de 26 de março de 1997, no seu art. 12 , mandou aplicar ás tutelas exame, a saber: a multa cominada liminarmente só é exigível do réu
antecipadas as limitações já existentes para liminares em geral (Leis após o transito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será
4.348/64,5.021/66 e 8.437/92). A inconstítuclOnalidade desta Medi- devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento
da Provisória foi suscitada mas o Supremo Tribunal Federal dene- da cominação (art. 12, § 2º); havendo condenação em dinheiro, a
gou a medida liminar em relação ao art. 1º da Medida Provisória.47 indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um
A Medida ProvIsória foi depois convertida na Lei n. 9.494/97 (v. Conselho Federal;48 ou por Conselhos Estaduais de que participarão
Apêndice de Legislação l. O Presidente da República propôs a Ação necessariamente o Ministério Público e representantes da comunida-
de, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados
46. Nesta linha. o STJ já teve o ensejo de afirmar que "a natureza jurídica da li- (art. 13); o juiz poderá conferir efeito suspensivo a qualquer recurso,
minar proferida em ação CIvil pública ediversa da tutela antecipada regulada pelo art.
273 do CPC"; e que "a limmar proferida em ação CIvil pública possui regulamentação
para evitar dano irreparável ao recorrente (art. 14); o autor da ação
e requisitos próprios. como estabelecido na Lei n. 7.347/85" (REsp n. 161.656-SP. não está, em princípio, obrigado a adiantar custas, despesas ou hono-
ReI. Min. Francisco Peçanha Martms. DJU 13.8.2001). Em sede doutrinãria, o Min. rários periciais (art. 18).49
Teori Albino Zavasck.i aduzíu que os pedidos de antecípação de tutela extrapolam os
limites das atribuíções do Ministério Público, pOIS antecipam as prôpnas medidas
executivas e. asSIm, teridem a individualizar a finalidade da prestação jurisdicional 48. Este fundo está regulamentado, no âmbito federai, pelo Dec. 92.302, de
em beneficio de pessoas específicas, configurando mteresses particulares, em defesa 16.l.86.
dos quals não compete ao Parque! agIr (Processo Co{etivo, São Paulo, Ed. RT, 2006, 49. STJ, REsp n. 508.478-PR, ReI. Min. José Delgado, DJU 15.3.2004, p. 16l.
p.241). Em decisão posterior, no entanto, o STJ asSIm se manifestou: "Processual
47. ADIn n. L576-DF, ReI. Min. Marco Aurélio, Informativo STFn. 67, p. L civil - Ação civil pública - Adiantamento das despesas necessàrias à produção da
212 AÇÃO ClVlL PÚBLICA AÇÃO ClVlL PÚBLICA 213

o valor da causa deve ser fixado segundo as regras gerais do cipação em linhas de fmanciamento em estabelecimentos oficiais de
Código de Processo Civil. No entanto, dadas a natureza e as finalida_ crédito; suspensão de sua atividade (art. 14, r a IV).
des da ação civil pública, freqüentemente este valor será a princípio A Lei n. 7.347/85, mantendo a responsabilidade objetiva do réu,
inestimável ou imensurável, e em tais situações deverá ser observado aditou que a ação civil pública poderá ter por objeto a condenação em
um critério de razoabilidade.5o (neste sentido: TRF-I' Região, AI n. dínbeiro ou o cumprimento de obngação defazer ou não fazer (art.
2004.01.00.046425-5-MG, ReI. Des. Fed. Daniel Paes Ribeíro, RT 32 ). Esta imposição judicial de fazer ou não fazer é maIS racional que
858/413). a condenação pecuniária, porque, na maioria dos casos, o interesse
público é mais o de obstar â agressão ao meio ambiente ou obter
4. Responsabilidade do réu e a sentença a reparação direta e ín specie do dano do que de receber qualquer
quantia em dinheiro para sua recomposição, mesmo porque quase
O réu na ação civil pública tem responsabilidade objetiva pe- sempre a consumação da lesão ambiental é írreparável, como ocorre
los danos causados ao meio ambiente; por isso mesmo o autor não no desmatamento de uma floresta natural, na destruição de um bem
precisa demonstrar culpa ou dolo na sua conduta. Basta evidenciar o histórico, artístico ou paisagístico, assim como no envenenamento
nexo de causalidade entre a ação ou omissão lesiva ao bem protegi- de um manancial, com a mortandade da fauna aquática. 52 Na conde-
do no processo. 51 Essa responsabilidade objetiva provém da Lei n. nação à obrigação de fazer ou não fazer, o Juiz determinará o cum-
6.938, de 31.8.81, que, ao dispor sobre a Política Nacional do Meio primento da sentença ln specie, sob pena de execução específica ou
Ambiente, estabeleceu expressamente que "é o poluidor obrigado, de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível,
independentemente de existência de culpa, a índenizar ou reparar independentemente de requerimento do autor (art. 11).53
os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
Em matéria ambiental, justamente em razão do interesse público
atividade" (art. 14, § 12). Essa mesma lei relacionou as sanções ad-
de reparar o dano da forma mais efetiva possivel, sendo, ai, relevan-
ministrativas aplicáveis ao poluidor, sem prejuízo das penalidades
tes também a rapidez para a solução do problema e a mitigação da
definidas pela legislação federal, estadual e municipal, a saber:
degradação ocorrida, pode ser admissivel um acordo com os .polui-
multa simples ou diária; perda ou restrição de incentivos e beneficios
dores, mediante termo de ajustamento de conduta, especialmente
fiscais concedidos pelo Poder Público; perda ou suspensão de parti-
quando for verificada a impossibilidade fálica de retorno ao status
quo ante (nesta línba, no STJ: REsp n. 299.400-RJ, Rela. desig. Mín.
prova pericíal-Art. 18 da Lei n. 7.347/85 - .cPC, art. l~. Não e~ste, mesmo em se
tratando de ação CIvil pública. qualquer preVIsão nonnatlva que Imponha ao deman-
Eliana Calmon, DJU 2.8.2006). Embora a transação não seja a regra
dado a obrigação de adiantar recursos necessàríos para custear a produção de prova em ações civis públicas, trata-se de instrumento que pode funcionar
requerida pela parte autora. Não se pode confundir inversão do ônus da prova (= ônus em casos específicos com grande eficácia, viabilizando a melhor
processual de demonstrar a existência da um fato) com mversão do ônus financerro de
adiantar as despesas decorrentes da realização de atos processuais. A teor da SÚInula 52. O STJ já decidiu que em maténa de dano ambiental. em principio. não hã
n. 2321STJ, 'a Fazenda Pública, quando parte no processo. fica sujeíta â. exigênCia do que se falar em condenação por "dano moral coletivo". O dano moral vlOcula-se aos
depôsíto preVIa dos honorários do perito'. O mesmo entendimento deve ser aplicado sentimentos de dor e de sofrimento psíquico de caráter individual, incompatíveis com
ao Ministéno Público nas demandas em que figura como autor, inclusíve em ações a noção de transindividualidade, de indeterminabilidade do sujeito passivo e indivi-
civis públicas - Recurso especíal a que se nega provimento" (REsp n. 846.529-MS. sibilidade da ofensa e da reparação (REsp n. 598281-MG, ReI. Min. Teori Albmo
ReI. Min. Teon Albino Zovascki, DJU7.5.2007). Zavascki, DJU 1.6.2006).
50. Neste sentido: TRF-l' Região, AI n. 2004.01.00.046425-5-MG, ReI. Des. 53. "Havendo mais de um causador de um mesmo dano ambiental, todos res-
Fed. Daniel Poes Ribeiro, RT 8581413). pondem solidariamente pela reparação. na forma do art. 942 do CC. De outro lado. se
51. "A responsabilidade CIvil do Estado por omissão é subjetiva, mesmo em se diversos forem os causadores da degradação ocorrida em diferentes locais, ainda que
tratando de responsabilidade por dano ao meío ambiente, uma vez que a iliCItude n~ contiguos, não há como atribwrMse a responsabilidade solidária adorando-se apenas o
comportamento omissIvo é aferida sob a perspectiva de que deveria o Est,ado ter agl- critério geográfico, por falta de nexo causal entre o dano ocorrido em um determinado
do conforme estabelece a lei" (REsp n. 647.483-SC. ReI. Min. João OtáVIO Noronha, lugar por atividade poluidora realizada em outro local" (STJ, REsp n. 647.483-SC,
DJU 22.1 0.2007). ReI. Min. João OtáVIO Noronha. DJU 22.1 0.2007).
214 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CML PÚBLICA 215

justiça possível, já que freqüentemente o ideal não existe, pois não ti iniciaL59 Diz, ainda, a Lei n. 7.347/85 que "a sentença civil fará coisa
realizável na prática. 54 julgada erga omnes, exceto se a ação for Julgada improcedente por
A defesa do reu na ação civil pública é restrita á demonstração deficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poden;
de que: a) não é o responsável pelo ato ou fato argüido de lesivo ao intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova
meio ambiente;55 ou b) não houve a ocorrência impugnada; ou c) a prova" (art. 16).60-61-62 O art. 2" da Lei n. 9.494, de 10 de setembro
ocorrência não é lesiva ao meio ambiente e sua conduta está auto-
rizada por lei e licenciada pela autoridade competente. Inútil será a 59. Como se viu no n. 1 desta TerceIra Parte, a ação Civil pública não ê cabível
para a desconstltUlção de determinado ato, pois este é um provimento jurisdiCional
alegação de inexistência de culpa ou dolo, porque a responsabilidade ÜplCO de ação popular.
do réu é objetiva. A mesma situação processual ocorre quando a ação 60. Na ação Civil pública não hã adiantamento de custas. emolumentos, hono-
visa à proteção ao consumidor.56 No entanto, em respeito às garantias rários periciaiS e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora,
constitucionais e legais do devido processo legal e do contraditório, salvo comprovada ma-fé, que enseja o ônus da sucumbêncla (CF, art. 512, LXXVII, ln
pode o réu produzir todas as provas necessmas à sua defesa. Neste fine; art. 18 da Lei n. 7.347. com a redação do arl 116 da Lei n. 8.078). No caso de
litigâncta de mfi-fé, a associação autora e seus diretores responsãvels pela propositura
particular, é importante ressaltar que a jurisprudência vem correta- da ação serão solidariamente condenados ao pagamento do décuplo das custas, sem
mente anotando que as provas eventualmente colhidas na fase do prejUízo da responsabilidade flor perdas e danos (art. 17 da Lei n. 7.347, com a reda-
inquérito civil têm valor relativo, e podem ser refutadas por contra- ção do art. 115 da leI n. 8.078).
provas idôneas produzidas no curso da ação civil pública.57 Asenten- 61. Como a sentença proferida na ação Civil pública faz coisa julgada erga
omnes entendemos que ela não pode ser utilizada com a fmalidade de declarar a
ça poderá condenar o réu na indenízação ou na obrigação de fazer ou inconStituCIOnalidade da lei, criando uma nova forma de controle não prevista pela
não fazer. 58 com as cominações processuais, conforme o pedido na Constituição e que violaria os principios bãsícos da Federação. Efetivamente. no
sistema vigente admite-se o controle da constitucionalidade, no caso concreto, pelo
54. Efetxvada a transação entre o autor da ação civil pública e o reu, não pode o JUIz smgular, e, de forma geral e abstrata, pelo STF, ao julgar a ação de argUição de
assistente ativo pretender desconsiderar o acordo e prosseguir no feito (STF. AgRgPet inconstitucIOnalidade. Ocorre que, especialmente nos casos da liberação de cruzados
bloqueados pelo Plano ColIor e na discussão dos efeitos da Lei n. 8.177, que regu-
n. 3.755-RR, ReI. Min. Carlos Britto,RT8731101).
lamentou a correção monetária dos créditos do Sistema Financeiro de Habitação. va-
55. Há decisão do STJ no sentido de que. se o particular adquinu a terra já
rias Juízes federaiS concederam limmares Pa!a suspender a aplicação da leI no âmbito
desmatada, não pode ser obrigado. em ação civil pública., a reparar o dano ao qual
de sua jurisdição. Tivemos, aSSim, leis federaiS que deixaram de ser aplicadas em
não deu causa (REsp n. 156.899-PR, ReI. Min. Garcia Vieira, RSTJ 113178). No mes-
vanos Estados, erga omnes mfringindo-se as normas constitucIOnais que asseguram
mo sentido. TJPR. ApC fl. 39.990-4. ReI. Des. Altair Pabtuccl, ADV 1998, ementa
a identidade e a unidade do Direito federal aplicado em todo o Pais. Várías decisões
84.168. dos Tribunais Regionais e do STJ acabaram suspendendo essas limmares. Na reali-
Na mesma linha. se há poluição causada peio Munidpio. sem partIcipação dade, entendemos que a ação civil pública não pode ser um sucedâneo local da ação
do proprietario da ârea. este último não pode ser responsabilizado (TJSP, AI n. de argUição de mconstitucionalidade, que tem foro próprio e exclusivo. O STF vem
530.706.5/0-00, ReI. Des. Aguilar Cortez, RT854/209). se manifestando contra esta tentativa de usurpação de sua competêncJa exclUSiva
56. Um acórdão do TJSP considerou que em matéria de ação civil pública para para o controie concentrado da constitucionalidade das leiS, que emana do art. 102, l,
reparação de danos a interesses difusos presume-se a solidanedade passiva dos réus "a", da Constituição Federal. Diversas liminares foram concedidas em Reclamações
(AI n. 268.306-2-0. ReI. Des. Paulo Franco. RT7351282). V., .mda, também no TJSP, nas quais o STF suspendeu as decisões de Juizes e tribunats locaiS que tratavam de
o AI n. 351.579-5/5. ReI. Des. Rui Stoco. RT825/145. Esta presunção, a nosso ver, inconstItuCIOnalidade de iels em sede de ações CIVIS públicas (neste sentido, Recla-
não pode ser tida como absoluta, pois pode haver casos em que a parcela de respon- mações ns. 562-3 e 560-7, ReI. Min. Moreira Alves. DJU2.1O.95; 559-3, Rei. Min.
sabilidade de cada um dos réus esteja perfeitamente delimitada, não se justificando a Carlos Velloso,DJU3.10.95; 561-5, Rei. Min. OCtáVIO Gallott,DJU28.9.95; 597-6,
imposição da solidariedade. ReI. Min. Marco Aurélio, DJU 28.3.96). Ao Julgar o ménto das reclamações, porém,
57. STJ. REsp n. 476.660-MG. Rela. Min. EHan. Calmon,DJU 4.8.2003, p. 274. o Plenmo do SrF, em certos casos, entendeu serem as mesmas descabidas por ra-
58. "Ação civil pública - Condenação cumulativa - Impossibilidade. A ação zões processuais, devendo a matêna ser aprecIada em sede de recurso extraordinâno.
civil pública não pode ter por objeto a condenação cumulativa em dinheiro e cum- Quanto ao menta do problema. no entanto, a questão fOI exammada em profundidade
pnrnento de obrigação de fazer ou não fazer. Se o legíslador ordinário disse ou, es- no acórdão unânime do Plemirio. na Reclamação n. 431-1-SP, ReL Min. FranCISCO
tabeleceu ele a alternativa" (STJ, REsp n. 94.298-RS, ReI. Min. Garcia VielIll. RSTJ Rezek (RF 336/231), e no voto vencido do Min. Marco Aurélio na Reclamação n.
121186). Na mesma linha: STJ, RESp n. 205.153-GO, ReI. Min. Francisco Falcão. 597-6-SP (RDB 1I129), assim como no parecer do Procurador-Geral Geraldo Brindei-
RSTJ 139155. ro, referente ao mesmo processo (CDT20/65). Ainda no STF: Reciamação D. 1.503-
216 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 217

3-DF, liminar deferida pelo Min. Mareo Aurélio, AASP 2.167/1; ReeI. n. 2.224-2-SP, de 1997, dá nova redação ao art. 16 da Lei n. 7.347/85, restringindo
ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 10.2.2006 e RePro 137/196. os efeitos da coisa julgada erga omnes aos "limites da competência
Da mesma forma, o STJ já decidiu que "a ação cIvil pública não pode ser utili- territorial do órgão prolator". A alteração esclarece melhor a extensão
zada com o fito de obter declaração de inconstitucíonalidade de norma legal" (AgR-
gAI 288.093-GO, ReI. Min. Gareia Vieira.. DJU 12.6.2000, p. 86). Na mesma linha: do texto já vigente, sem modificação substancial, na medida em que,
"Incabível a utilização da ação civíl pública objetivando a declaração de ínconstitu- pelo princípio federativo, não faz sentido a decisão do Poder Judiciá-
cíonalidade. ainda que incidental, de norma municipal" (STJ, REsp n. 135.184-GO, rio de um Estado ter efeitos gerais também em outro. 6)
ReI. Min. Mílton Luíz Pereira, DJU23.4.2001, p. 122); "A ação civil pública não
se presta como mstrumento de controle de constitucíonalidade. não substituindo a Em virtude do disposto no art. 4" da Lei n. 8.437, a sentença, até
ação direta de ínconsutucionalidade. objetivando declaração de inconstitucIonalida_ o seu trânsito em julgado, poderá ter os seus efeitos suspensos pelo
de de leI municipal" (AgRgREsp n. 293.682-DF, ReI. Min. Francisco Falcão, DJU Presidente do Tribunal ao qual couber o conhecimento do ,espectivo
30.9.2002, p. 169). recurso, nos mesmos casos e condições nos quais se admíte a suspen-
O TJSP já se manifestou no mesmo sentido do descabimento da ação cIvil são da liminar.
pública como um substItuto da ação direta de inconstitucIonalidade (ApC n. 228.335·
2. Rel. Des. Ricardo Brancato. RJTJSP 177121), e, no nivel de doutrina. há notável Na fase de execução serão aplicáveis, naquilo que for cabível
artigo do Dr. Gilmar Mendes, "Ação cIvil pública e controle de constitucIonalida_ e não contrariar a legislação específica da ação civil pública, as
de". II Fórum de Direito Econômico, publicação do Instituto Brasileiro de Ciência normas da Lei n. 11.23212005, que modificou diversos dispositivos
Bancária, 1995, pp. 123 e ss. No TJRJ. com base na doutrina de Amoldo Wald, pela
impossibilidade de declaração de inconstitucionalidade de leI em ação civil pública, do Código de Processo Civil. E o que já decidiu o TJPR (AgRgAI n.
ApC n. 1.648/98, ReI. Des. Luiz Roldão, ReVIsta de Direito do TJRJ 36/233. Ainda 369.361-8/0 I, ReI. Des. Leonel Cunha, RePro 146/254), e merece ser
no TOO: ApC n. 1999.01.19588, ReI. Des. Mílton Fernandes, ADV7/111, 2001, observado pelas demais Cortes de Justiça do país.
ementa 95.988. No TJGO: Duplo Grau n. 5-2470/195, ReI. Des. Leobino Chaves,RT
762/350. No TAPR,ApC n. 233.105-5, ReI. Juíz Carlos Mansur Arida, RT 825/39 1. Em principio, o mesmo ente que detenha a legitimação extra-
Sobre a matéria merecem destaque os artigos doutnnános de Humberto ordinária para a propositura da ação também poderá promover-lhe a
Theodoro Júnior. "Algumas observações sobre a ação CIvil pública e outras ações
coletivas", RT 788/57. e de Jose dos Santos Carvalho Filho, nAção civil pública e impede a repropositura de ação idêntica perante outro JUiz, pela mesma associação.
inconstituCIOnalidade íncidentai de lei ou ato normativo", RMPRJ 121101. sem que tenha sido sanado o ViCIO que acarretou a decretação da ilegitimidade
A jurisprudência que vem predominando mais recentemente nos Tribunais (STJ, REsp n. 191.934-SP, ReI. Min. Barros MonteIrO, DJU 4.12.2000, p. 72, RSTJ
Superiores. no entanto, faz a distinção entre a InconstItucionalidade de ato nonnativo 151/420 eRF354/29\). Na mesma linha: STJ, REsp n. 103.584-SP, ReI. Min. Sálvlo
que é o própno objeto da ação e a inconstitucionalidade que fi declarada incidental- de Figueiredo Teixeira.. DJU 13.8.2001, p. 159. Na Corte Especial do STJ: EDivREsp
mente, como mero fundamento de um detenninado pedido. admitindo a ação civil n. 160.850-SP, ReI. para o acórdão Min. Sálvio de Figueiredo Teíxeira. RDR 27/201,
pública nesta segunda hipótese (neste sentido: STF, RE n. 227.159-GO, ReI. Min. votação por ampla maioria.
Nén da Silveira, RTJ 186/690; ReeI. n. 600-SP, ReI. Min. Nén da Silveira, RTJ 63. V. o trabalho de Amoldo Wald e Donaldo Armelin. "Os límites temtoriais
189/418; RE n. 424.993-DF, ReI. Min. JoaquIm Barbosa, DJU 19.10.2007; STJ, da sentença prolatada em ação civil pública", RDBMC 33/315.
REsp n. 175.222-SP, ReI. Min. Franciulli Nelto, DJU 24.6.2002, p. 230; REsp n. No STJ. no entanto. uma decisão considerou "inócua" a limitação territorial
401.440-RO, Rela. Min. Eliana Calmoa, DJU 14.10.2002, p. 219; REsp n. 294.072- dos efeitos da coisa julgada estabelecidos na redação vigente do art. 16 da Lei da
DF, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU 9.12.2002, p. 319; REsp n. 419.781-DF, ReI. Ação Civil Pública e acabou dando dimensão nacional à eficacia da sentença em
Min. Luiz FUJ!, RF 370/309; REsp n. 44.574-DF, ReI. Min. LUlz Fux, RT8191\69; matéria de direito do consumidor: REsp n. 411.529·SP, Rela. Min. Nancy Andn-
EDREsp n. 439.539-DF, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU28.1O.2003, p. 186, e RF ghi. DJe 5.8.2008 (decisão da 3nTurma, por votação em escassa maioria de 3 a 2).
374/274; REsp n. 305.150-DFIEDiv, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU 30.5.2005). Entendemos, data maxima vema, que a decisão referida não deu a melhor solução â
Entendemos, data venia, que não há como se falar em declaração. incidental de in- questão. Não apenas a regra do art. 16 da Lei n. 7.347/85 está correta de um ponto
constitucionalidade em ação civil pública, justamente porque a decisão tem efeitos de vista sístêmlco, de harmonia do sistema processual como um todo. e das distribUi-
erga omnes. ASSIm. a inconstitucionalidade declarada, supostamente mctdenter ções constItuCIOnais de competência entre os vârios magistrados do país. como não
tantum. apenas para as partes daquele feito, vale na verdade erga omnes, para todos cabe ao mtérprete buscar uma justificativa elaborada para conclUir que o legjslador
os jurisdicionados na área de competência do jmz da ação. travestindo-se de controle editou norma Ínútil. Aliás, esta vem sendo a posição maJontána do STJ, limitando
concentrado de constItucIonalidade das leis. de forma anômala, inadmissivel e não territorialmente os efeitos da coisa julgada em ação civil pública, nos termos da leI. P.
prevista na Constituição Federal. ex: REsp n. 736.265-MS, ReI. Min. Luiz Fux, DJe 7.8.2008. acórdão unânime da 1i1
62. A sentença que dá pela extinção do processo em função da ilegitimidade Turma, citando vários precedentes, e EDivREsp n. 293.407-SP. ReI. Min. João OtáVIO
ativa da associação autora, embora tecmcamente não implique julgamento de mérito, de Noronha, DJU 1.8.2006, acórdão unânime da Corte EspectaL
218 ACÃO CIVIL PÚBLICA ACÃO CIVIL PUBLICA 219

liquidação e a respectiva execução, sem necessidade de autorização Alguns acórdãos do Tribunal de Justiça de São Paulo condena-
específica dos substituídos processuais. E necessário perquirir, no ram o MinIstério Público em honorários de advogado em ações CIvis
entanto, a viabilidade e a conveniência prática de tal liquidação e públicas julgadas improcedentes, mesmo na ausência de litigância de
execução coletiva, em especial quando os direitos em questão forem má-fé. Estas decisões têm como base o art. 81 do Código de Processo
nitidamente individualizáveis.64 Neste campo, o STF admitiu a legi- Civil. que atribui ao parquel, quando parte no processo, os mesmos
timidade do sindicato para a liquidação e execução de condenação poderes e ônus dos demais litigantes.67 O STJ, porém, como visto
proferida em ação coletiva por ele proposta em favor de trabalhado- acima, tem entendimento contrário, e só aplica o principio da sucum-
res, porem em votação de escassa maioria (RE n. 21O.029-RS, ReI. bência ao Ministério Público em caso de comprovada má-fé, como
desig. Min. Joaquim Barbosa, DJU 17.8.2007, e RE n. 213.111-3-SP, consta da legislação específica (art. 18 da Lei n. 7.347/85).~8
ReI. desig. Min. Joaquim Barbosa, DJU24.8.2007. No STJ também
já se admitiu que a associação autora de ação civil pública, na quali-
dade de substituta processual, pode passar a agír como representante 5. A ação civil pública no mercado de capitais
dos seus associados na fase de liquidação e execução, tratando-se ALei n. 7.913, de 7.12.89, decorreu de anteprojeto apresentado
de direitos individuais homogêneos, poupando-se, assim, os custos inicialmente ao Governo Federal pelo Presidente da Comissão de
de processos individuais (REsp n. 880.385-SP, Rela. Min. Nancy Valores Mobiliários - CVM, Prof. Arnoldo Wald, em 1988, e poste-
Andrighi, DJe 16.9.2008). v., ainda: Luiz Manoel Gomes e Jussara rionnente encaminhado pelo Poder ExecutIvo ao Congresso Nacio-
Suzi Borges Nasser Ferreira, "Liquidação e execução (cumprimen- nal, com a finalidade de moralizar O mercado de capitais, reprimindo
to de sentença): coletivos; sindicato; e legitimidade ativa", RePro
fraudes e distorções. Juntamente com dois outros projetos, que não
153/227). Trata-se de tema que merece atenção cuidadosa., e as pecu-
chegaram a ser aprovados pelo Congresso Nacional - um redefinindo
liaridades de cada situação concreta devem ser observadas.
os crimes e o outro aumentando as penalidades disciplinares por atos
No caso de improcedência da ação civil pública intentada pelo ilícitos ou irregulares praticados no mercado de capitais -, represen-
Ministério Público, há diversos julgados, tanto do STJ como dos vá- taram um esforço legislativo com a fmalidade de dar plena transpa-
nos Tribunais estaduais, entendendo que não cabe a condenação na rência às operações de Bolsa e de Mercado de Balcão, impedindo,
verba de sucumbência., por estar o autor da ação agindo no interesse outrossim, as operações dos "iniciados" que gozam de infonnações
da coletividade. 65 Por outro lado, considerando o principio constitu- privilegiadas (insider trading).
cional da responsabilidade objetiva do Estado, a I' Câmara Cível do
TJRS, ao apreciar a Ap. cível n. 592.00668-8, em 16.3.93, entendeu
67. Neste sentido, por exempl0.ApC D. 225.841~1-2. ReI. Des. Àlvaro Lazza-
que, quando a ação civil pública é proposta "em desalinho com O in- rini. RTJE 141/129.
teresse público", o Ministério Público nela tendo sucumbido, e sendo 68. REsp n. 26.l40-9-SP. ReI. Min. Antômo de Pádua Ribeiro, RSTJ 81/168;
órgão do Estado, a este cabe a responsabilidade pelos honorários de REsp n. 262.765-SP, ReI. Min. João OtáVIO Noronha, DJU 27.6.2005, p. 310. E de
sucumbência, devendo Imputar O valor da condenação em sua verba se ressaltar, porem. que os beneficias do art. 18 da Lei n. 7.347/85 alcançam apenas
a parte autora da ação civil pública, e não a parte ré, a qual não está dispensada do
orçamentária. 66 preparo dos recursos que interpuser e respondem pelos ónus sucumbencíais em caso
de derrota na demanda (STJ, REsp D. 578.787-RS. Rei. Min. Carlos Alberto Menezes
64. Neste sentido. "o que certamente foge dos limites da legitimação do Minis- DireIto, DJU 11.4.2005, p. 289). V., ainda: STJ, REsp n. 845.339-TO, ReI. Min. Luiz
tério Público são as providências jurisdicionais de interesse exclusivo dos particulares Fux,DJU3.3.2008; RePro 175/323.
lesados, como é o caso das medidas tendentes a individualizar. liquidar e executar. O STJ já decidiu, porem, que, uma vez configurado o desvio de finalidade
em beneficio de cada um deles, a sentença condenatóna genérica eventualmente pro- na propOSItura da ação civil pública, é inaplicável o art. 18 da Lei n. 7.347/85 e são
ferida" (Teori Albino Zavascki, Processo Coletivo, São Paulo, Ed. RT, 2006, p. 241). devidos os honoràrios sucumbenciais pelo autor derrotado (REsp ll. 1.011.789 PR, M

65. REsp 47.242-3-RS (94.0011952-6l,j. 19.9.94; Ap. civelI07.133-1, 5' C. ReI. Min. José Delgado. DJe 27.8.2008). O caso envolveu uma autarquia estadual que
Civil do TJSP, m RT639173. propôs medida cautelar preparatória de ação CIvil pública em situação descolada de
66. Boletim da AASP 1.806/317. suas finalidades mstitucionais.
220 AÇÃO CML PÚBLICA AÇÃO CIVIL PúBLICA 221

Trata-se de nova fonna de ação civil pública, que se explica é cabível sempre que ocorrerem os ilícitos administrativos ou penais
tanto pelo interesse público que existe no desenvolvímento de um definidos pela lei e pela regulamentação do mercado de capitais, que
mercado de capitais sadio como pela impossibilidade prática de ser abrangem as seguintes condutas:
obtido, de outra fonna, o ressarcímento dos danos muitas vezes sofri- a) operação fraudulenta, prátíca não eqüitatíva, manipulação de
dos por pequenos investidores. Estes, em geral, não têm as condições preços ou criação de condições artificiais de procura, oferta ou preço
econômicas para intentar uma ação judicial, que pode exigir a prova de valores mobiliários, importando a distorção do mercado:
de operações complexas e sofisticadas. b) compra ou venda de valores mobiliários, utilizando-se as par-
A legitimidade ativa é atribuída, de acordo com a Constituição, tes de infonnação relevante privilegiada (inszder trading); 70
ao Ministério Público, que pode agir ex OffICiO, em virtude ou não de c) omissão de infonnações relevantes por parte de quem estava
inquérito civil, ou mediante solicitação da CVM, que é a entidade in- obrigado a divulgá-Ias, bem como sua prestação de fonna incomple-
cumbida da fiscalização do mercado de capitais, nos tennos da Lei n. ta, falsa ou tendenciosa, que enseja a violação do principio da full
6.385/76, ou, ainda, em virtude de provocação de qualquer pessoa.59 disclosure (transparência completa).
Aplicando-se, todavia, a Lei n. 7.347/85 como fonte subsidiária, Há uma certa analogia entre as disposições da Lei n. 7.913/89 e
"no que couber" (ar!. 3" da Lei n. 7.913/89), admite-se que tenham as da chamada "lei do colarinho branco" (Lei n. 7.492/86), reprimin-
legitimidade ativa concorrente as pessoas mencionadas no art. 50 da do, ambas, condutas reprováveis no mercado de capitaIS, a primeira
lei da ação popular (a União, o Estado, o Município e as Associações no plano cível e a segunda no plano criminal.
que tenham como finalidade a proteção do investidor, aplicando-se o Ao contrário do que ocorre no campo da legislação do meio am-
art. 5", II, com sua nova redação, dada pela Lei n. 8.078). Se a ação biente, a Lei n. 7.913 não estabelece uma responsabilidade objetiva.
não for proposta pelo Ministério Público, caber-lhe-á exercer a fun- mas, tratando-se de conduta presumidamente culposa, por violar nor-
ção de cus/os legzS. mas legais ou administrativas, caberá ao réu a prova da inexistênCIa
de culpa, sendo a mesma presumidajuris /an/lIm.
Por outro lado, ex vz do disposto no art. 31 da Lei n. 6.385/76,
A finalidade da lei foi assegut\U" a indenização dos prejudicados
deverá ser citada a CVM para funcionar como amicus curiae. Evi-
pelas operações ilegais ou irregulares. Estes prejudicados são facil-
dentemente, a propositura da ação civil pública para evitar ou obter o
mente detectáveis, pelo fato de terem a situação objetiva de acionis-
ressarcimento de danos causados aos titulares de valores mobiliários tas ou debenturistas de empresas ou de negociadores dos títulos no
e aos investidores do mercado não impede que sejam intentadas as mercado. Por outro lado, a quantificação do prejuízo também é mais
ações próprias pelos prejudicados, na defesa dos seus interesses. fácil do que em outros campos. O legislador, no caso, inspirou-se na
A proteção legal destina-se aos investidores no mercado de class aclion (ação de classe) do Direito norte-americano, mas pre-
ações e debêntures e eventuais outros títulos emitidos por empresas feriu utilizar a fonna da ação civil pública, já regulada e em fase de
abertas ou a elas relativos, como é, p. ex., o caso das opções. A ação sedímentação no Direito brasileiro. Assim, no seu ar!. 2., a lei deter-
mina que, na fase da execução, os investidores sejam chamados por
69. Embora amda sejam pouco numerosos 05 casos de ações propostas com edital para integrar o feito e receber o valor correspondente ao seu
base na Lei n. 7.9 l3/89, já há notíCIa de algumas. Assim, por exemplo. o Ministério prejuizo. Na realidade, entendeu o legislador que na fase de conheci-
Público de São Paulo propôs ação para defesa dos ínteresses de credores lesados na
liquidação do Grupo Auxiliar (AI n. 152.132-1·0, ReI. Des. Franklin Nogueu:a, RT
6741l18). Tarnbem no TJSP, determmando o prosseguunento de ação ajuizada pelo 70. Em matêna de insider trading tem havido crescente utilização da ação Civil
Ministeno Público com base na Lei n. 7.913/89. aApC n. 15.149.4/9·00, ReI. Des. pública baseada na Lei n. 7.913/89. Em 2007, p. ex., a imprensa noticiou com des-
Franciulli Netto. RT753/209. taque a propOSItura de ações pelo Ministério Público Federal. com o apoio da CVM,
Na doutrina, v. Wanessa de Cássia Françolin. "Ação civil pública: foco na res- em VIrtude de negOCIações atípicas ocorridas no mercado logo antes das alienações
ponsabilidade por danos causados aos ínvestidores no mercado de valores mobiliários de controle dos Grupos Suzano e Ipiranga, e mclusive o defenrnento de liminares de
(Lei 7.913/89)".RePro 157/243. índisponibilidade de bens dos n:us.
222 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 223

mento do processo sem fixado o quantum da condenação, correspon_ coletiva do consumidor. Em primeiro lugar, passou a ser admitida a
dendo â responsabilidade dos réus, fazendo-se na fase da execução o ação pública não tão-somente nos casos expressamente previstos no
rateio da importância pelos prejudicados. Decorridos dois anos após art I" da Lei n. 7.347, na sua redação original, mas também em re-
a publicação do edital, o investidor que não se habilitou decai do seu lação a qualquer outro mteresse difuso ou coletívo (art. 110 da Lei n.
direito, e o saldo eventualmente remanescente da condenação passa 8.078). A nova legislação também faz a distínção entre os vários mte-
a ser recolhido como receita da União. resses que podem justificar a defesa coletiva, abrangendo os interes-
A grande inovação da Lei n. 7.913 consiste em fazer a simbiose ses ou direitos difosos, de natureza indivisivel, de que sejam titulares
entre a ação coletiva de conhecimento e a garantia do ressarcimento pessoas detennínadas e ligadas por circunstancias de fato (as vitimas
individual do prejudicado na fase da execução. Enquanto nas demais de ilegalidade no plano ecológico), os interesses ou direitos çolellvos,
ações civís públicas os efeitos se limitam à condenação dos culpados, de natureza indivisivel, de que seja titular grupo, categoria ou classe
que são obrigados a pagar uma indenização, com caráter, inclusive, de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária (membros de um
de pena privada, e, em tese, ao encaminhamento dos valores rece- condomínio, pessoas que contrataram com o mesmo fornecedor, em
bidos a um fundo, que atua na área na qual o ilícito foi cometido, virtude de instrumentos contendo cláusulas abusivas), e, fmalmente,
sem que haja um efetivo ressarcimento das vítimas, no caso da Lei os interesses ou direitos individuaIS homogêneos, decorrentes de
n. 7.913 a restituição ao statu quo ante não se faz somente no plano origem comum (vitimas de uma inundação provocada por culpa ou
coletivo, mas também no nível do indivíduo. A dificuldade técnica dolo) (art. 81 da Lei n. 8.078).
consiste no fato de ser a ação coletiva na fase de conhecimento, e Houve também uma ampliação da legitimidade atíva na ação
a execução de caniter, total ou parcialmente, individual. Há, assim, civil pública, que passou a abranger, além das pessoas mencionadas
uma aparente contradição com alguns dos principlos processuais bá- na Lei n. 7.347, o Distrito Federal, as entidades e os órgãos da Ad-
sicos, como os referentes aos efeitos da coisa julgada e á identidade ministração Pública indireta sem personalidade jurídica destinados
entre as partes na fase de conhecimento e execução do processo. Mas â proteção dos consumidores e as associações que não tenham sido
é preciso reconhecer que a própria legislação sobre a ação popular e, constituidas há mais de um ano, quando dispensado o requisito do
em seguida, a sobre a ação civil pública, como técnica de defesa dos
prazo de existência legal pelo juiz, diante do manifesto interesse
interesses difusos, abriram o caminho para novas concepções, nas
socral. A lei também passou a admitir o litisconsórcio facultativo do
quais, em certo sentido, há, na fase iniciai, uma substituição proces-
Ministério Público da União, dos Estados e do Distrito Federal na
sual na qual o autor atua no interesse das vítimas, que, após a decisão
defesa dos interesses do consumidor (nova redação dada ao art. 5" e
do mérito, habilitar-se-ão a receber o que lbes for devido.
seus pamgrafos da LACP pelo art. 113 do CDC).
Não há dúvida de que algumas dificuldades poderão surgir em
vírtude da legitimação concorrente do Ministério Público ou do au- A propositura da ação civil pública, porém, não impede o consu-
tor da ação civil pública e dos prejudicados para, em ação própria, midor de propor individualmente a sua própria demanda. A lei dispõe
pleitear as indenizações devidas. Uma das soluções preconízadas é expressamente que não há Jitispendência entre a ação mdividual e a
o Julgamento conjunto dessas várias ações, em virtude da conexão coletiva, podendo o consumidor, no entanto, requerer a suspensão da
entre elas existente, que, inclusive, geralmente, favorecem as vítimas sua ação para usufruir dos efeitos da decisão coletiva, ou perseguir
das ilegalidades praticadas. o seu direito individualmente (CDC, arts. 81 e 104). Nesta linha:
STJ, REsp n. l71.376-SP, ReI. Min. Garcia Vieira, DJU 14.9.96, p.
25; TRF-2ª R., ApC n. 97.02.4101l-8-RJ, ReI. Juiz Cruz Netto, RT
6, A ação civil pública e a defesa do consllmidor 762/431, e ApC n. 98.02.09979-1-RJ, ReI. Juiz Paulo Barata, RT
Cinco anos após a promulgação da lei da ação civil pública foi 772/419; TRF-4" R., ApC n. 2002.70.01.019777-0-RS, Rela. Desa.
promulgada a Lei n. 8.078, de 11.9.90, que ampliou a área de defesa Fed. Maria Lúcia Luz Leiria, RT824/386.
224 AÇÃO CNIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 225

Para dar maior eficiência e exigibilidade jurídica às obrigações sucessores, a chamada ação civil coletiva (art. 91)." O seu foro o e
assumidas por fornecedores de bens e serviços, determinou o legisla- do local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano. Tratando-se de pre-
dor que o compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências juizos de âmbito regional ou nacional, será o da Capital do Estado
legais, mediante cominações pecuniárias, fosse considerado titulo ou do Distrito Federal, respectivamente (ar!. 93).72 Seguindo técnica
executivo extrajudicial para os fins do art. 585 do CPC (§ 6" do ar!. análoga, mas diferente da prevista na lei da ação civil pública, a con-
5" da LACP, com a redação do art. 113 do CDC). vocação das vítimas é feita por edital logo que proposta a ação (ar!.
Admitiu-se, também, que só obrigaria o Ministério Público a 94), sendo a condenação genérica, se procedente o pedido (ar!. 95).
prosseguir no feito a desistência da causa, pelo autor, quando injus- A execução poderá ser coletiva, abrangendo, inclusive, as víti-
tificada (ar!. 5", § 3", da LACP, com a redação dada pelo art. 113 do mas cujas indenizações já tiverem sido calculadas, mediante .sentença
CDC). de liquidação (art. 98).73
A redação dos arts. II e 12 da lei da ação civil pública, que se
referiam à natureza da decisão a ser proferida, à concessão da medida 71. Interpretando-se as normas de defesa do consumidor em conjunto com a
CF. em especial O art. 512, XXI, hàJurisprudêncla do STF entendendo que a legitima-
liminar e às demais providências que o juiz pode tomar, foi aprimora- ção da assocíação para a propOSitura de ação coletiva depende de expressa autonza-
da no art. 84 da lei de proteção ao consumidor, dando maior eficiên- ção dos filiados (sobre o tema, com um apanhado dos precedentes. v. Paulo Brossard,
cia à atuação do magistrado e concedendo-lhe poderes mais amplos. "Legitimação processual de associação para representar seus filiados em JUizo ou fora
dele. mediante autorização específica", RTDP 45/149). A matéria também mereceu
O autor da ação somente passou a sofrer sanções no caso de ma- tratamento legislativo, com o art. 2IL A da LeI n. 9.494/97, cnado por medida provisó-
fé, desconsiderando-se a hipótese de ser a pretensão manifestamente ria suceSSIVamente reeditada (v. MP n. 2.180-35, de 24.8.2001), estabelecendo que "a
ínfundada~ ensejando. assim, mais um incentivo à proposítura da sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa
na defesa dos mteresses dos seus associados abrangera apenas os substituídos que te-
ação, que talvez não se justifique, propiciando verdadeira irrespon- nham, na data da propOSItura da ação. domicílio no âmbito da competência tem tonai
sabilidade, por nem sempre ser fácil evidenciar a existência de dolo do orgão prolator"_
de quem propôs a ação (art. 87 do CDC e nova redação dada pelo 72. A 2!1 Seção do STJ decidiu que nas ações fundadas no Código do Consu-
mesmo, no seu art. 115, ao art. 117 e seu parágrafo único da LACP). midor que digam respeito a questões de âmbito naCIOnal o foro tanto poderá ser o da
Capital de um Estado quanto o do Distrito Federal (CComp n. 17.533-DF. ReI. Min.
Nos casos de responsabilidade regressiva não se autorizou a Carlos Alberto Menezes Direito. DJU 30.10.2000, p. 120, e CComp n. 26.842-DF,
denunciação da lide, devendo a ação ser ajuizada em processo autô- ReI. desíg. Min. César Asfor Rocha. DJU 5.8.2002, p. 194). Também há deCIsão da
nomo, "facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos" 2i1 Turma do STJ (componente da lnSeção) em sentido idêntico: REsp n. 218.492-ES.
ReI. Min. Francisco Peçanha Martms, DJU 18.2.2002, p. 287. e RT799/192. A nosso
(art. 88 do CDC). ver, data venia, a mterpretação afastou-se do texto legal, que nos parece distmgulf a
Na realidade, a lei de proteção ao consumidor determina a apli- competênCIa das Capitais estaduaís para as ações de âmbito estadual. e a do Distrito
Federal para as ações de âmbito naCIonal. Aliás, esta foi a pOSição que prevaleceu na
cação subsidiária da lei da ação pública, ao mesmo tempo em que própria 2nSeção, em outro caso, no julgamento do CComp n. 28.003-RJ, Rei. Min.
a modifica e complementa (arts. 90, 81 a 88 e 110 a 117 do CDC). Nílson Naves. DJU 11.3.2002, p. 159 e RDR 26/128, tratando de ação CIvil pública
Importante ressaltar, no entanto, conforme já decidido pelo STF, que acerca da organlZRção do Campeonato Brasileiro de Futebol ProfiSSIonal.
a ação civil pública não pode ser manejada para a aplicação retroativa 73. Decisão do TRF-4JI Região afirmou que a execução de sentença condenatória
de ação CIvil pública não segue a regra gerai do Código de Processo Civil. e admitiu
do Código de Defesa do Consumidor a contratos que lhe são ante- que a execução por parte dos consumidores mdividualmente considerados podera ser
riores (RE n. 365.377-PR, Rela. Min. Cármen Lúcia, DJU 5.6.2007; promovida no foro dos seus respectivos donucílios, amda que a ação tenha sido mo-
RDB 40/208). vida noutro foro (ApC n. 2000.70.01.0050!3-O-PR, ReI. Juiz Alcides Vettorazzl. RT
796/432).
No cap. II do tíl. m a lei de proteção ao consumidor trata das
A Súmula n. 70 daquela Corte RegIonal, por sua vez.. afirma serem devidos
ações coletivas para a defesa dos interesses individuais homogê- honorários advocatíclos em execução de título Judicial oriundo de ação civil pública.
neos, admitindo que os legitimados para a ação civil pública possam Na ~xecução individual advinda de ação civil pública. com a contratação de ad-
propor, em nome próprio, mas no interesse das vítimas e dos seus vogado pelo exeqüente. é cabível a condenação em honorários advocatícios na forma
226 AÇÃO CIVIL PÚBLICA
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 227

A lei prevê que possa haver, no caso, duas espécies de condena_ tanto pela Constituição Federal (art. 227) como pela legislação ordi-
ções - a coletiva, em favor da comunidade, e a soma das individuais, nária referente â matéria.
em favor dos lesados ou seus sucessores.74 Se ocorrer concurso de
A Constituição Federal considera "dever da família, da SOCIeda-
créditos, será dada preferência â indenização dos prejuízos individu_
de e do Estado assegurar, à criança e ao adolescente, com absoluta
ais (art. 99). Decorrido um ano sem habilitação de interessados em
prioridade, o díreito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
número compatível com a gravidade do dano, os legitimados poderão
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à li-
promover a liquidação e execução da indenízação, que revertera para
berdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los
o fundo previsto pela lei da ação civil pública. Na realidade, mesmo a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
que seja reduzido o número de habilitados, deverão os mesmos ser violência, crueldade e opressão" (art. 227).
devidamente atendidos. O conceito de número compatível não é dos
O Estatuto da Criança e do Adolescente define minuciosamente
mais claros. A lei tem, no particular, como ocorreu no caso da Lei n.
os direitos constitucionais (arts. 106 a 109) e as garantias processuais
7.913, um aspecto plOneíro que merecera trabalho construtivo daJU-
(arts. 110 e 111), dedicando um capitulo específico à proteção judi-
risprudência e, na medida das necessidades, as reformas que deverão
ciai dos mteresses individuais, difusos e coletivos (arts. 208 a 224).
ser introduzidas pelo legislador, a fim de dar eficiência e rapidez ao
sistema, sem sacrificar os díreitos das partes. A lei assegura, entre outros, os seguintes direitos à criança e ao
adolescente:
a) ensino obrigatório (art. 208, I);
7. A ação civil pública no Estatuto da Criança e do Adolescente
b) atendimento especial aos portadores de deficiência (art. 208, Il);
ALei n. 8.069, de 13.7.90, que dispõe sobre o Estatuto da Crian- c) atendimento em creche e jardim de infãncia aos menores até
ça e do Adolescente (ECA) e dá outras providências, também previu seis anos (art. 208, III);
a utilização da ação civil pública para assegurar os díreitos garantidos d) ensino noturno regular (art. 208, IV);
e) programas suplementares .de oferta de material didátíco-
do § 4" do art. 20 do CPC (STJ, REsp n. 436.446-PR, ReI. Min. Humberto Gomes de
Barros, DJU31.3.2003, p. 161: AgRgREsp ns. 476.090-PR, 476.126-PR e 476.138, escolar, transporte e assistência à saúde do educando (art. 208, V);
ReI. Min. José Delgado. DJU 31.3.2003, p. 170). Na execução mdividual decorrente f) serviço de assistênCÍa social, visando â proteção da família e
de ação Civil pública não se aplica a exceção do art IILn da LeI fi. 9.494/97. e portan- dos menores (art. 208, VI);
to são devidos os honorários advocaticios tambem pela Fazenda Pública. se esta for
ré (STJ, REsp n. 701.675-RSIAgRg e REsp n. 701.768-RSIAgRg, ambos ReI. Min. g) acesso às ações e serviços de saúde (art. 208, VIT).
Félix Fischer. DJU 13.6.2005, p. 340). A matéria rOl pacificada na Corte Especial
O texto legal esclarece que a relação que consta do art. 208 não
em acórdão unânime nos EDivREsp o. 542.452-RS (ReI. Min. Jose Delgado. DJU
4.9.2006). V.. ainda. os EDivREsp n. 513.608-RS, ReI. Min. João Otávio de Noro- exclui a proteção judicial de outros interesses difusos ou coletivos,
nha. DJe 27.11.2008. O mesmo princípio - da incidência de honorârios advocaticios próprios da imancia e da adolescência, protegidos pela Constituição
em execuções índividuaís decorrentes de ações CIvis públicas - aplica-se âs ações e pela lei.
coletivas ajuizadas por sindicato, enquanto substituto processual (STJ, AgRgREsp n.
nO.839-PR, ReI. Min. Hamílton Carvalhido, DJU 1.8.2005: EDivREsp n. 668.705- Assim, cabem ações civis públicas para assegurar condições de
SC. ReI. Min. Hamilton Carvalhido, DJU 5.2.2007: EDivAI n. 654.254-RS, Rela. aleitamento matemo (contra o Poder Público, as instituições e os em-
Min. Eliana Calmon, DJU 25.2.2008). Sobre o tema.. o STJ acabou por aprovar o pregadores), na forma do art. 9º, atendimento da gestante, de acordo
enunCiado da SÚIDula n. 345. de seguinte teor. "São devidos honorários advocaticI'os com o art. 8º, condições de saúde e educação, ex vi do disposto nos
pela Fazenda Pública nas execuções de sentença proferida em ações colebvas, amda
que não embargadas", arts. 11, § 22 , e 54, etc.
74. Sobre as diferentes espécies de condenação, mclusive distingumdo com Conforme o caso, a ação pode ser intentada contra o Poder PÚ-
clareza os direitos difusos dos individuaIS homogêneos, v. acàrdão bem fundamenw blico, os hospitais (art. 10), as empresas de comunicação (art. 76), as
tado do l' TACSP naApC n. 206.455-516, ReI. JUIZ Roberto Bedaque. RF 3691333.
editoras (arts. 78 e 79) ou os pais ou responsáveis.
228 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 229

São partes legítimas para propor as ações civis fundadas em in- de má-fé, a mesma e seus dirigentes serão condenados a pagar as
teresses difusos ou coletivos o Ministério Público (arts. 210, I, e 201 custas em décuplo, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e
V), a União Federal, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal; danos (art. 218).
os Territórios e as associações legalmente constituídas que tenham
O Ministério Público poderá proceder a inquérito civil para ve-
finalidades institucionais (ar!. 210, II e 1m.
rificar a existência da ilegalidade, e, convencendo-se da inexistência
o rito a ser seguido e os prazos a serem observados, inclusive de fundamento para a propositura da ação, deverá o processo ser
para efeitos de mterposição de recursos, serão os da legislação pro- encaminhado ao Conselho Superior do Ministério Público, para que
cessual das ações civis públicas em geraJ.15 homologue ou rejeite a promoção de arquivamento (art. 223).
Dentro do espirito que informa a ação civil pública, a lei admite Finalmente, aplicam-se, subsidiariamente, às ações civis prevIs-
a execução específica, permitindo ao juíz que determine as providên- tas pela LeI n. 8.069 as disposições da Lei n. 7.347, de 24.7.85, com
cias necessárias para assegurar o resultado idêntico ou equivalente ao
a sua atual redação (dada pela Lei n. 8.078, de 11.9.90).
adimplemento da obrigação (ar!. 213). Poderão, também, os órgãos
públicos exigir dos interessados compromissos de ajustamento de
sua conduta às exigências legais, valendo o instrumento como titulo 8. A ação civil pública e as infrações da ordem ecollômica
executivo extrajudicial (art. 211). Se for aplicada multa diária ao reu,
A Lei n. 8.884, de 11.6.94, transformou o Conselho Administra-
o que poderá, inclusive, decorrer de decisão judicial não provocada
tivo da Defesa Econômica-CADE em autarquia, dispondo ainda so-
pela parte, a mesma só será exigivel após o transito em Julgado da
sentença, mas será devida desde a data do descumprimento (art. bre a prevenção e repressão das infrações contra a ordem econômica,
213, §§ 22 e 3°). Trata-se de forma de restabelecer o statll qllo ante. revogando grande parte da legislação anterior e tendo, por sua vez,
Há que se distingurr, porém, as obrigações concretamente impostas sido parcialmente modificada.
pela Constituição e pela lei, daquelas normas meramente diretivas A mencionada lei modificou a Lei n. 7.347, incluindo no art. I"
ou programáticas. Quanto a estas últimas, o Judiciário não pode se da mesma um inciso V, que tem a seguinte redação:
substituir ao Executivo e fazer opções administrativas quanto à con- "Regem-se pelas disposições desta lei (... ) as ações de responsa-
veniência e/ou oportunidade da realízação de obras ou prestação de bilidade por danos morais e patrimoruais causados:
serviços. Assimjájulgou o STJ.76
1- ( ... )
As multas reverterão ao Fundo gerido pelo Conselho dos Direi-
V - por infração da ordem econômica."
tos da Criança e do Adolescente do respectivo Municipio (art. 214).
Poderá o juiz conceder medida liminar e atribuir efeito suspen- O art. 5", II, da mesma Lei n. 7.347, tambem foi modificado
sivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte (arts. 213, § 12 , para nele incluir uma referência ii. ordem econômica e à livre con-
e 214). corrência.
No caso de condenação do Poder Público, o juíz determinará, Trata-se de ampliação do âmbito de utilização da ação civil
após o transito em julgado da sentença, a remessa de peças à autori- pública que, como vimos, só pode ser usada nos casos legalmente
dade competente para que seja responsabilizado civil e administrati- previstos, de modo que, a partir de 1994, também se torna um ins-
vamente o agente culpado. trumento para defesa de direitos individuais, difusos ou coletivos no
No caso de pretensão manifestamente infundada, a associação plano econômico.
autora responderá pela sucumbêncía (art. 218), e, havendo litigância Explica-se a inovação legislativa pelas modificações sofridas
pela economia brasileira, com a sua recente abertura para o capital
75. STJ, REsp n. 440.453-SP, Rel.Min. Luiz Fux, DJU7.42003, p. 238. estrangeiro, em virtude da globalízação que impera no mundo inteiro.
76. REsp n. 63.128-9-GO, ReI. Min. Adhemar Maciel, RSTJ85/385. A frrn de eVItar situações de dumping ou outras manobras ilegais, a
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 231
230 AÇÃO CML PÚBLICA

to no exercício de cargo público, revogando as Leis ns. 3.164/57


ação civil pública tem a necessária dimensão, densidade e velocidade
e 3.502/58. 79 Enquanto o seu cap. VI traz disposições de natureza
(em virtude da possibilidade de obtenção de medida liminar) para a
defesa dos direitos e interesses das empresas brasileiras, uma contra penal, o resto da lei trata das sanções e procedimentos administrati-
as outras ou em relação às multinacionais sediadas no Brasil ou que vos e civis. Daí nasceu, com a sua feição atual, a chamada ação de
operam no país. improbidade admimstrativa, tipo de ação que visa a apurar e punir a
prática de ilícitos na Administração Pública direta e indireta, além de
Tratando-se de legislação relativamente recente, parece-nos que recuperar os prejuízos em favor dos cofres públicos.
ainda foi pouco utilizada, até o presente momento. 77
Tem sido uma prática comum tanto do Ministéno Público
As ações civis públicas em matéria de infrações da ordem eco- quanto do Poder Judiciário o tratamento desta ação de improbidade
nômica seguem as regras gerais de competência. Assim, "a compe-
administrativa meramente como uma nova modalidade de ação civil
tência da Justiça Federal somente será deslocada na causa em que a
pública, freqüentemente chamando-a de "ação CIvil pública de im-
União, suas autarquias e suas fundações públicas participem efetiva-
. asslsten
. t es ou oponent es"78 probidade administrativa". Trata-se, a nosso ver, de prática de pouca
mente como autoras, res, .
técnica jurídica, pois a ação de improbidade administrativa tem
natureza, contornos e regramento próprios, não se confundindo com
9. A ação de improbidade administrativa aqueles específicos das ações civis públicas em geral. 80 O fato de ser
civil (em oposição a uma ação penal), ou ser pública, num linguajar
A Lei n. 8.429, de 2.6.92, foi editada para regular as sanções leigo (no sentido de proteger o patrimônio público, ou da legitimida-
aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilíci- de do Ministério Público para propô-la), não faz da ação de impro-
bidade administrativa uma ação civil pública no sentido juridico do
77. Sentença do MM. JUIZ da 12i1 Vara Cível de Porto Alegre afinnou que a termo. A confusão justifica, no entanto, a abordagem do tema na pre-
ação civil pública não serve para a apuração de perdas e danos coletivos de eventuais
consumidores prejudicados peta prática de abuso do poder ecOnÔ~lC? que devem sente obra, seja por estar se tornando um equivocado lugar-comum
ser objeto de ações individuaís (Proc. D. 01190027383, apud Jose lnacIO Gonzaga que merece ser comentado, seja em virtude da inegável conexidade
Franceschini, Introdução ao Direito da ConcorrêncIa. Malherros Editores, 1996, p.
261). A referida decisão Judicial se coaduna com a idéia de que a ação CIvil pública,
79. A Lei n. 8.429/92 foi objeto de ação direta de inconstitucionalidade movida
em matéría de defesa da ordem económica, deve ser um Instrumento de proteção do
pelo PTN (Partido Trabalhista Nacional) em razão de alegados Vicias .formals na fas~
mercado como um todo. e não de situações índividualizadas e específicas.
de tramitação legtslatIVa no Congresso Nacional. A respectiva medIda cautelar fOi
O TlSP julgou procedente ação civil pública proposta pelo Ministério Público mdeferida pelo STF. mantendo-se a vigência da iei como promulgada (ADInMC n.
contra cooperativa médica que proibia os seus cooperados de trabalharem junto a 2.182-DF, Rei. Min. MauriCiO Corrêa, RTJ 189/546). Postenormente fOI suscitada
outras entidades de saude. Entendeu-se caracterizado o abuso do poder econômlco, pelo Min. Marco Aurélio uma questão de ordem no sentido de decidir se o STF po-
com prejulzos aos consumidores e â liberdade de iniciativa dos médicos na região de dena ir além do pedido expresso na micia!. relativo a VICIaS formaIS da leI, e al;Jreclar
atuação da referida cooperativa (ApC n. 105.606-4/6, Relo Des. Ivan Sarton, ApV a prôpria constitucionalidade matenal de seus dispositivos, alguns dos quaIS são pc-
2001, em. 97.326). O caso é tíPICO de cabimento de ação civil pública em maténa Iêmicos. Em sessão realizada em 14.6.2007, por uma maioria de seis votos a cmco, o
de infração à ordem econômica, por haver repercussões num certo mercado. e não Pleno do STF entendeu que a análise da referida ADÚl n. 2.182-DF deve se res~grr
apenas com relação a indivíduos determinados.
às questões formaiS suscitadas pela autor da ação. sendo Juridicamente lmposslvel
O CADE vem entendendo que a pendência de ação civil pública sobre deter- naqueles autos a análise do teor material da Lei n. 8.429/92. !mclado o Julgamento.
minados fatos não afeta o andamento dos eventuais processos administratIVOS a eles no mento, o Min. Marco Aurélio votou pela mconstItuclOnalidade formal da Lei de
relacionados (Proc. Administrativo 121/92, apud lose InâCIO Gonzaga Franceschim, Improbidade Administrativa, por inobservância das regras da votação bicameraI. Já
ob. cit, p. 265). os Mins Cármen Lúcia Antunes Rocha e Ricardo Lewandowski votaram pela COnstI-
78. STJ. CComp n. 34.977-SP, Rela. Min. LauritR Vaz, DJU 7.4.2003. Não tucionalidade, julgando improcedente a ação. O julgamento encontra-se suspenso por
basta que a matéria seja em princíPIO do interesse do CADE para que se desloque pedido de vista do Min. Eros Grau.
a competência para a Justiça Federal. O deslocamento de competêncIa só ocorrerá 80. No mesmo sentido: ManoeI Alves Rabelo e Gilberto Fachettl, "A inexistên-
quando o CADE (ou algum outro dos entes listados no mClSO I do art. 109 da CF) cia de fi~gibi1idade entre a ação de ímprobidade administrativa (Lei n. 8.429/92) e a
ingressar efetívamente no feito, como autor. réu. assistente ou oponente, na forma da ação civil pública (Lei n. 7.347/85)", RePro 153/47.
iegíslação processual.
232 AÇÃO CNlLPÚBLlCA AÇÃO CML PÚBLlCA 233

dos temas, todos ligados aos interesses maiores de preservação de É evidente - embora a lei não o diga expressamente - que ha-
uma sociedade Justa, democrática e moralmente sadia. verá atas de improbidade que se enquadrarão em pelo menos duas
A ação de improbidade administrativa e a ação civil pública oU mesmo em todas as três categorias discriminadas. Pode-se dizer
- A Lei n. 8.429/92 disciplina exaustivamente a questão da improbi- mais, inclusive, que na maioria das vezes haverá tal superposição de
dade administrativa. Os arts. I" a 8° regulam as disposições gerais, tipos de improbidade. Um mesmo ato de improbidade pode gerar
definindo o escopo de incidência da norma. Importante ressaltar enriquecimento ilícito de alguém, causar prejuízo ao erário e violar
desde logo, porém, a amplitude da incidência da let, cobrindo os princípios da administração pública. Seria o caso, por exemplo, de
atas de improbidade praticados por qualquer agente público contra um funcionário que aceitasse suborno para assinar um contrato su-
a Administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Po- perfaturado. Há enriquecimento ilícito do funcionário e do contratan-
deres da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municfpios, te, prejUízo ao erário e violação de vários princípios da administração
ou ainda contra empresa incorporada ao patrímônio público ou para pública.
cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra, como Enquanto o art. 13 regula a obrigatoriedade e a publicidade das
disciplinam o art. I" e o seu parágrafo único. Mais sobre tais artigos declarações de bens daqueles que ocupem e exerçam cargos públicos,
iniciais se dirá adiante. os arts. 14 a 18 tratam do procedimento administrativo e do processo
O art. 9' regula os atas de improbidade administrativa que judicial decorrentes da aplicação da lei.
importam enriquecimento ilícito. O art. 10 trata dos atas de impro- Como dito acima, o cap. VI, compreendendo os arts. 19 a 22,
bidade administrativa que causam prejuÍZo ao erário. O art. II, por dispõe sobre regras penais.
sua vez, aborda os atas de ímprobidade administrativa que atentam
O art. 23 disciplina a prescrição para as ações destinadas á apli-
contra os principias da administração pública. Todos os três artigos
cação das sanções previstas na própria Lei n. 8.429/92. Diz o inciso
citados acima trazem, no capu!, uma definição genérica do ilícito e
I que a prescrição será de cinco anos após o término do exercício
listam, nos incisos, exemplificattvamente, tipos de atas que se enqua-
do mandato, do cargo em comissão ou da função de confiança," ao
dram na definição. Embora a redação dos mencionados dispositivos
passo que o inciso TI, nos casos de exercício de cargo efetivo ou em-
deixe claro não se tratar, nos incisos, de uma defmição numerus
prego, remete para o mesmo prazo previsto na legislação específica
clausus das modalidades de atas de improbidade, a interpretação tem
para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço
que ser cuidadosa e restritiva, na medida em que as gravíssimas san-
ções da lei não podem ser impostas sem uma certeza absoluta quanto público. 84
ao enquadramento ilícito dos atas questionados na ação. O tipo da Como se sabe, a Lei n. 7.437/85 destina-se â defesa do meio am-
improbidade - que é definido no capu! de cada um dos arts. 9', 10 e biente, do consumidor, dos bens e direitos de valor artístico, estético,
I I - merece uma interpretação semelhante â do tipo penal, que não histórico, turistico e paisagistico, dos direitos difusos e coletivos e da
comporta ampliação. Bt O art. 12 traz as penas da Lei n. 8.429/92 para ordem econômica (art. 1º). ALei da Ação Civil Pública, portanto, não
cada uma das modalidades de improbidade administrativa discrimi- trata especificamente de improbidade administrativa, que é justamen-
nadas nos artigos antecedentes - penas, estas, que independem das
demais sanções penais, civis ou administrativas previstas em legis- cada a pratIca de atas de ímprobidade no âmbito admmistrattvo, caberia representa-
ção ao Mimsteno Público para ajuizamento da competente ação. não a aplicação da
lação específica. 82 pena de demISsão" (S1F, RMS n. 24.699-9-DF, ReI. Min. Eros Grau. DJU 1.7.2005,
p. 56, e RTJ 195/64).
81. o Estatuto da Cidade (Le. n. 10.25712001), no art. 52, traz a tipificação de
83. V.: STJ, REsp n. 457.723-SP, Rela. Min. Eliana Calmou. DJU 25.8.2003,
uma série de outros atas de ímprobidade admlll1stratIva em que podem incorrer os
p. 282; TJSP, RT826/199.
prefeitos munícipals, para os fins da Lei n. 8.429/92.
84. Atualmente admite-se o reconheCImento da prescrição de oficio pelo JUIz.,
82. "Ato de improbidade. A aplicação das penalidades prevlstas pela Lei n.
conforme o disposto na nova redação do § 5ndo art. 219 do CPC. trazida pela Lei D.
8.429/92 não incumbe à Administração, eis que privativa do Poder Judiciário. Verifi-
11.280, de 16.2.2006, a qual também revogou o ar!. 194 do CC de 2002.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 235
234 AÇÃO CML PÚBLICA

A competêllcía para julgamento da ação de improbidade ad-


te o foco Unico da Lei n. 8.429/92. Assim, deve ser reconhecido que,
ministrativa - A Lei n. 8.429/92 nada diz sobre a competência para
pela regra da especialidade, a Lei n. 7.437/85 não se aplica aos casos a apreciação das ações que prevê. Com efeito, o art. 16 limita-se a
em que se alega improbidade administrativa e/ou se pede a comina- mencionar a possibilidade de ajuizamento da medida cautelar de
ção das penas previstas na Lei n. 8.429/92. seqüestro de bens "no juízo competente", sem esclarecer qual sena
Ainda que se entendesse estar a probidade administrativa in- este juízo.
cluída dentre os direitos difusos e coletivos da sociedade, por ser a Já se disse acima - e é inegável- que a chamada ação de impro-
moralidade um principio básíco e genérico da Administração Públi- bidade admínislraliva tem cunho civil (ressalvados, obviamente, os
ca, consagrado expressamente no art. 37 da CF, é preciso reconhecer aspectos criminais da Lei n. 8.429/92, a serem perseguidos em ação
que a Lei n. 8.429/92 é posterior, e regulou ínteíramente a matéria. penal própna, que não se confunde com a ação civil de improbidade,
Assim sendo, afastou por completo a incidência da Lei n. 7.437/85 aqui abordada). ObJetiva precipuamente a reparação do dano sofrido
nesta seara, consoante a regra do § 12 do art. 22 da LICC. pelo patrimônio público, em virtude do ato de improbidade impug-
Não se pode deixar de reconhecer, por outro lado, que a Lei n. nado, e a punição dos responsáveis, aí incluindo o perdimento dos
8.429/92 traz regras tanto de direito material quanto de direito pro- bens e vantagens obtidos ilicitamente e o seu afastamento da AdmI-
cessual, e não ressalvou a aplicação subsidiária da Lei n. 7.437/85. nistração Pública, tanto com a perda de cargos e funções como com a
Na parte processual, ao contrário, faz remissões ao Código de Pro- proibição de contratações futuras e a suspensão de direItos polítIcos.
cesso Civil, mas nunca à Lei da Ação Civil Pública. Ademais, en- Tais caracteristicas, no entanto, fazem da ação de improbidade ad-
ministrativa uma ação civil de forte conteudo penal, e com inegáveIS
quanto a ação civil pública se restringe ás condenações em dinheiro
aspectos políticos. 86 Este caráter claramente punitívo da ação de
ou em obrigação de fazer ou não fazer (art. 32 da Lei n. 7.437/85), a
improbidade administrativa traz sérios questionamentos quanto à
ação de improbidade adrnínistrativa tem por objetivo também a perda
competência para seu Julgamento em determinadas situações.
de cargos públicos e/ou de direitos políticos, bem como restrições
para contratações futuras com o Poder Público, seja diretamente ou Acresce, ainda, que, inegavelmente, diversos dos ilícitos "CI-
através de empresa da qual o réu seja sócio majoritário (art. 12 da vís" previstos na Lei n. 8.429/92 - para não dizer praticamente todos
Lei n. 8.429/92).
86. "A ação de improbidade adrnínistrattva e ação com assento constitucIonal
Além do mais, em matéria de ação civil pública a Lei n. (art. 37, § 40-) destínada a tutelar interesses superiores da comunidade e da cidadania.
7.437/85 determina que em caso de condenação em dinheiro dos réus Embora com elas não se confunda, assemelha-se. sob esse aspecto finalístlco, li ação
popular (CF, art. 5lJ, LXXIII. e Lei n. 4.717/65), à ação CIvil públicadestmada a tute-
a indenização deverá reverter a um fundo gerido por um Conselho lar o patnrnômo público e social (CF. art. 129, III. e Lei n. 7.347/85, art lSl) e, em face
Federal ou por Conselhos Estaduais (art. 13), ao passo que na ação de do seu caráter repreSSIVO, à própna ação penal pública" (STJ, REsp n. 577.804-RS,
improbidade administrativa a eventual indenização concedida na sen- ReI. Min. Teori Albino Zavascki. RePro 146/215). "Não hã dúvida de que as sanções
tença de procedência deverá reverter diretamente em favor da própria aplicãveIs aos atas de improbidade, previstas na Lei n. 8.429/92, não têm natureza
penal. Todavia. há inúmeros pontos de identidade entre as duas especies, seja quanto
pessoajuridica prejudicada pelo ilícito (art. 18 da Lei n. 8.429/92). à sua função (que e punitiva e com finalidade pedagógica e íntimidatóna. visando
A conclusão, portanto, só pode ser pela total inaplicabilidade da a inibir novas infrações), seja quanto ao conteúdo. Com efeito, não hã qualquer
diferença entre a perda da função pública ou a suspensão dos direItos politicas ou a
Lei da Ação Civil Pública para as hipóteses da ação de improbidade impOSIção de multa pecuniária, quando decorrente de ilícito penal e de ilíCito admi-
admínistrativa, visto ser a matéria regulada ínteÍfamente pela Lei n. nistrativo. Nos dois casos as conseqüências prnticas em relação ao condenado serão
8.429/92, tanto do ponto de vista substantivo quanto adjetivo.85 absolutamente idênticas" (Teori Albino Zavascki, Processo Coletivo. Clt., p. 109).
No TJRJ há decisão entendendo que a propositura de ação de improbidade
admínistratíva representa bis m idem indevido e deve ser extinta se já houve o ofere-
85. No entanto. admitindo a cumulação de pedidos fundados na Lei n. 7.347/85 cimento de demincIa pelo mesmo fato no Juizo penal: ApC n. 32.&8712007. Rei. Des.
e na Lei n. 8.429/92: STJ, REsp n. 434.66I-MS, Rela. Min. EHan. C.lmoo, DJU MárIo Guimarães Neto, RDTJRJ76/189.
25.8.2003, p. 280.
236 AÇÃO CNIL PÚBLICA AÇÃO CNiL PÚBLICA 237

- correspondem a tipos penais bem definidos, enquadráveis como Em importante julgado, o TRF da I" Região considerou a Jus-
crimes de responsabilidade. Assim, é preciso que o ordenamento tiça Federal, na primeira e na segunda instâncias, incompetente para
jurídico seja preservado como um todo orgânico e sistemático, evi- apreciar ação de improbidade administrativa ajuizada contra membro
tando-se incongruências, contradições e perplexidades que podem do Tribunal de Contas da União," aplicando, inclusive, a Lei Com-
surgir do julgamento simultâneo, em juízos ou tribunais distintos, plementar 35/79, pois só o próprio TCU poderia decretar a perda do
de ações, uma civil e outra penal, envolvendo os mesmos agentes cargo por sanção administrativa (não-penal).
públicos e os mesmos atas. E verdade que a Corte Especial do STJ, na RecI. n. 59l-SP,
Ora, a Constituição Federal dá ao STF a competência originária decidiu que não teria competência originária para apreciar ação de
para, nos crimes de responsabilidade, processar e julgar ministros iraprobidade administrativa proposta contra membro do ~T de São
de Estado e membros dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Paulo, que tinba prerrogativa de foro penal naquela Corte Superior.
Contas da União (art. 102, I, "c"). Da mesma forma, compete ao STJ Tal votação, porém, foi decidida por um único voto de desempate e
processar e julgar originariamente os desembargadores de Tribunais em circunstâncias especiais. 89
de Justiça, os membros dos Tribunais de Contas Estaduais, dos Tri- No âmbito do STF houve inicialmente manifestações isoladas,
bunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais do Trabalho, os como um despacho do Min. Celso de Mello na Recl. n. 1. li O-DF
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e (DJU 1.8.2000) num caso em que foi proposta ação de improbidade
os do Ministério Público Federal que oficiem perante Tribunais (art. administrativa contra um senador da República. Também naquele
105, I, "a"). Além do mais, as Constituições dos Estados dão aos caso o Tribunal Superior manteve a ação na primeira instância.
Tribunais de Justiça competência originária para o julgamento de As decisões acima citadas. data maxima venia. não extraíram
determinadas autoridades estaduais ou municipais quando acusadas todas as conseqüências da diferença entre a ação civil pública dis-
de crimes de responsabilidade. ciplinada na Lei n. 7.437/85 (estritamente civil, e cujo resultado
A conseqüência das constatações acima deve ser a incompetên- não redunda em perda de cargo ou de direitos políticos) e a ação de
cia dos juízes de primeira instância para processar e julgar com base improbidade administrativa, com suas repercussões quase-penais
na Lei n. 8.429/92 autoridades que estejam submetidas, em matéria aciraa comentadas.
penai, à competência originária dos Tribunais, inclusive do STF e É até compreensível que os Tribunais Superiores, assoberbados
do STJ. Não se pode admitir, numa interpretação sistemática e teleo- como estão com o crescente acúmulo de processos nos últimos anos,
lógica da ordem juridica, que autoridades com prerrogativa de foro queiram restringir sua própria competência. A linha de argiUTIenta-
penal possam ser julgadas por juízes de primeira instância em ações ção, inclusive, é no sentido de que não se poderia ampliar uma com-
de improbidade que discutam justamente atas com repercussões pe- petência definida na Constituição - segundo os defensores da tese
nais, e cujos desfechos podem se dar com a perda do cargo público - em camter numerus clausus. Se já têm dificuldades em lidar com os
e dos direitos políticos. Dentro do quadro institucional brasileiro pa- processos que existem, os Tribunais Superiores teriam ainda maiores
rece insustentável que um juiz de primeira instância possa decretar problemas para processar e julgar originariamente as inúmeras ações
a perda do cargo de um ministro de Estado, ou de um ministro de
Tribunal Superior, ainda que a ação julgada seja formalmente civil. 107/253. V., amda: Fernando Tourinho Filho, "Da competência pela prerrogativa de
Já tivemos, aliás, o ensejo de analisar a incompetência dos juizes função", RMPRJ211111, em especíal pp. 126-129.
de primeira instância nas ações de iraprobidade administrativa contra 88. ApC n. 1995.01.11616-6-DF. Rela. Juíza Eliana CalInoo, DJU 30.11.95,
p.82.941.
autoridades com prerrogativa de foro penal. 87
89. DJU 15.5.2000, p. 112. Julgamento posterior na mesma linha, em ação
de ímprobidade proposta contra conselheiro do Tribunal de Contas, ainda por aper-
87. Amoldo Wald e Gilmar Ferreira Mendes "Competéncía para julgar ação de tada maiona: Recl n. 780-AP. ReI. pI o acórdão Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJU
ímprobidade administratIva", Revista de Infonnaçãa LegISlatlva 1381213 e RePTO 7.10.2002, p. 161.
238 ACÃO ClVIL PÚBLICA ACÃO ClVIL PUBLICA 239

contra altas autoridades, que no Brasil de hoje são propostas dia após Ocorre que, em julgamento realizado em 15.9.2005, o Plenário
dia (algumas vezes de maneíra até irresponsável e como veiculo de do STF. por maioria, Julgou procedentes as ADIos ns. 2.797-DF e
vendeta política). 2.860-DF, e declarou a inconstitucionalidade dos novos §§ Iº e 2º do
Posteriormente, no entanto, o STF passou a encampar a tese da art. 84 do CPP com a redação dada pela Lei n. 10.628/2002. Preva-
incompetência do juíz de primeíra instância para apreciar ação de im- leceu o entendimento de que não poderia a leI ordinária dispor sobre
probidade administrativa envolvendo ministro de Estado. Destacam- competência originária dos Tribunais, matéria tratada taxativamente
se duas liminares, deferidas uma pelo Min. Nélson Jobim (Recl. n. na Constituição Federal. A tese do "foro privilegiado" em maténa de
2.138-DF, DJU 17.9.2002) e outra pelo Min. Gilmar Mendes (Recl. ação de improbidade administrativa parecia enterrada de vez.
n. 2. I 86-DF). Ambas as liminares foram fartamente fundamentadas, Poucos meses depois, porém, em 14.12.2005, foi retomado pelo
e estes processos acabaram proporcionando uma ampla discussão do Plenário do STF o julgamento da já mencionada Recl. n. 2.138-DF,
tema na Suprema Corte, nos demais Tribunais e na doutrina. Além relatada pelo Min. Nelson Jobim, na qual fora deferida a medida
da questão estrita da competência originária do STF, os Mins. Nel- liminar para sustar o andamento de ação de improbidade adminis-
son Jobim e Gilmar Mendes suscitaram ainda a impropriedade do trativa movida contra um ministro de Estado perante as instânCias
emprego da ação de improbidade administrativa em face de agentes ordinárias. O julgamento acabou novamente interrompido na mesma
políticos, cujo regime legal punitivo está previsto na Lei dos Crimes sessão, por um pedido de vista do Min. Joaquim Barbosa, muito
de Responsabilidade (Lei n. 1.079/50). Em seguida, no entanto, ao embora já houvesse uma maioria absoluta de seIS votos favoráveis iI
inves de clarear, o quadro se tornou ainda mais confuso. Foi editada confirmação da liminar e iI procedência da reclamação. Após novo
a Lei n. 10.628. de 24.12.2002, conhecida como Lei do Foro Prívl- adiamento, em virtude de questão de ordem suscitada na sessão do
leglado, modificando a redação do art. 84 do CPP e acrescentando dia 1.3.2007, o julgamento somente se encerrou em 13.6.2007, tendo
um novo § 22 , dispondo que "a ação de improbidade administrativa, o Pleno do STF reconhecido, por seis votos a cinco, a usurpação de
sua competência e determinado a extinção do feito na instância in-
de que trata a Lei n. 8.429, de 2 de junho de 1992, será proposta
ferior, fazendo uma clara distinção entre o regime jurídico punitivo
perante o Tribunal competente para processar e julgar criminalmente
aplicável aos agentes políticos, de uin lado (CF, art. 102, l, "c", e Lei
o funcionário ou autoridade na hipótese de prerrogativa de foro em
n. 1.079/50), e aos agentes administrativos em geral, de outro (CF,
razão do exercícIO da função pública, observado o disposto do § Iº" art. 37, § 40, e Lei n. 8.429/92).90
(o § Iº estende a competência especial por prerrogativa de função
mesmo que o inquérito ou a ação sejam iniciados após a cessação do Embora possa parecer, a princípio, contraditório, a mensagem
que o STF parece estar sinalizando é no sentido de que, apesar da
exercício da função pública - v. texto integral no Apêndice).
inconstitucionalidade formal da LeI n. 10.628/2002, a competência
A Lei n. 10.628/2002 foi imediatamente atacada no STF por Originária para o julgamento de ação de improbidade admimstrativa
duas ações diretas de inconstitucionalidade, uma movida pela Asso- será, sim, semelhante iI competência originária em matéria penal -
ciação Nacional dos Membros do Ministério Público - CONAMP por exemplo, no caso de ministro de Estado, a competência será do
(ADIo n. 2.797-DF) e outra pela Associação dos Magistrados Brasi- STF (ressalvado, porem, que a competência não se perpetua após a
leiros - AMB (ADIo n. 2.860-DF). Inicialmente, a liminar da ADIo saida do cargo, conforme o cancelamento da antiga SUmula n. 394
n. 2.797-DF foi indeferida por decisão do Min. limar Gaivão, de do STF, decidida pela própria Corte na apreciação do Ioq. n. 687).
7.1.2003. Com base nesta decisão, o STF entendeu ser de rigor a Esta competência decorre diretamente do sistema da Constituição
aplicação imediata do foro previsto na Lei n. 10.62812002 para as Federal, e, portanto, pode ser reconhecida pelo STF e pelo Judiciá-
ações de improbidade administrativa em curso (Recl n. 2.38 I -MGI
AgRg, ReI. Min. Carlos Britto, RTJ 192191), no que foi seguido em .90. O acôrdão foi publicado no DJe 18.4.2008. Para comentários a respeito do
menCIonado Julgado. v.: Nelson NasCImento Diz, "Junsprudêncla do STF - Foro por
inúmeros Julgados pelo país afora, inclusive no âmbito do STJ. prerrogativa de função", Revista de Direito do Estado-RDE 7/393.
240 AÇÃO ClVlL PÚBLICA AÇÃO CrvIL PÚBLICA 241

rio em geral. A procedência das ADln ns. 2.797-DF e 2.860-DF se Algumas decisões vêm reconhecendo a competência da Justiça
deu muito mais em atenção ao princípio da separação dos Poderes, Federal em tais hipóteses, em virtude de ser parte o Ministério Públi-
e na impossibilidade de tratamento pela via legislativa ordinária da co Federal, "órgão" da União"3
matéria relativa á competência dos Tribunais, abordada numeros Convém discutir o acerto de tal posicionamento, no entanto.
clausus na Constituição Federal. É a linha do clássico precedente A competência da Justiça Federal é definida na Constituição de for-
da Suprema Corte Norte-Americana "Marbury vs. Madison", no ma exaustiva. A competência residual é da Justiça dos Estados. O art.
qual se estabeleceu a possibilidade de julgamento da inconstitucio- 109, I, da CF estabelece a competência dos juízes federais para as
nalidade das leis justamente na hipótese de uma lei que ampliava a ações em que a União, entidade autárquica ou empresa pública fe-
competência do Tribunal. Resta aguardar os próximos julgamentos derai sejam partes, mas não menciona o Ministério Público Federal.
do STF para se ter uma visão mais nítida do entendimento da Corte
Constitucional sobre a matéria, que ainda não parece definitivamen- Por outro lado, tratar o Ministério Público Federal como "órgão"
te assentado.'l da União não parece estar de acordo com sua posição institucional na
Constituição de 1988. De fato, o art. 128 da Carta disciplina a eXIS-
Sendo assim, o tema certamente continuam a ser objeto de de- tência do Ministério Público da União (abrangendo o Federal, o do
bates na doutrina e na Jurisprudência pátrias, e ainda deverá ser mais
Trabalho, o Militar e o do Distrito Federal) e do Ministério Público
discutido e esclarecido no âmbito dos Tribunais Superiores.92
dos Estados, mas todos como parte de um único e indivisível Minls-
Outra questão ligada á competência, esta dentro das próprias tério Público, conforme tratado no art. 127. O Ministério Público Fe-
instãncías ordinárias, diz respeIto á competência da Justiça Federal derai, portanto, é parte do Ministério Público da União, que, por sua
ou da Justiça Estadual em ações movidas pelo Ministério Público vez, Ii parte do Ministério Público ialo sensu. Na sua disciplina cons-
Federal nas quais o suposto ato de improbidade tenha sido praticado titucional, por outro lado, são vedadas ao Parquel a representação
em detrimento de sociedade de economia mista federal. Por se tratar, judicial e a consuJtoriajuridica de entidades públicas (art. 129, IX).
na hipótese, de sociedade controlada pela União normalmente o in-
quérito é instaurado inicialmente pelo Ministério Público Federal, e Ademais, a própria Lei Orgâníca do Ministério Público Federal
a ação de improbidade dele resultante acaba sendo proposta perante (Lei Complementar n. 75/93) prevê que seus membros poderão oficiar
a Justiça Federal. perante a Justiça Estadual (arts. 37, II e parágrafo Unico, e 49, XV,
"d"), o que seria incompatível com seu foro necessariamente federal.
91. Na mesma linha da ReeI. D. 2.138-DF. v. a decisão do Min. Gilmar Mendes Não se presumindo palavras inúteis na lei, e não se cogitando de
na ReeI. D. 2. 186-DF, DJe 2.5.2008, publicada na íntegra. com comentários de Rocin- inconstituCIOnalidade, há de ser admitida a atuação do Ministério PÚ-
go GarCIa da Fonseca., na RDB 42/241. Reconhecendo a competêncía onginaria do blico Federal em causas de competência da Justiça Comum Estadual.
STF para julgar ação de improbidade admimstrattva contra Mimstro da própria Corte:
Pet n. 3.053-DF, Rela. Min. ElIen Gracíe.DJe 2.5.2008; Pet n. 3.211-DF, ReI. para Não bastasse o que se disse acima, a Súmula n. 42 do STJ afirma
o acôrdão Min. Menezes DireIto, DJe 27.6.2008. Em sentido aparentemente contrà- que "compete á Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas
no, porém: AgRgAl o. 653.882-SP, ReI. Mio. Celso de MelIo. DJe 15.8.2008 e RT
877/121 e Reei. n. 6.057-DF. ReI. Min. Celso de MelIo, DJe 3.2.2009.
cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes prati-
92. E possível. Inclusive, que a maténa venba a merecer novo tratamento no cados em seu detrimento".
âmbito do Poder Legislativo. Neste sentido, em julho/2007 foí apresentada urna Aliás, o STJ já afirmou que o principio da Súmula n. 42 também
Proposta de Emenda Constitucional (PEC), pelo deputado Paulo Renato de Souza
(PSDB/SP), no sentido da criação do Tribunal Superior da Probidade Admmistrativa, se aplica em matéria de ação civil pública, ao decidir pela competên-
o qual teria competêncía específica para Julgar ações penaIS e clveis relativas a atos
de improbidade envolvendo altas autoridades. Embora a proposta seja polêmíca. 93. Neste seotido há decisão do TRF da l' Região no AI n. 1999.010.00.03941-
principalmente em função dos custos que seriam gerados pela criação de um novo 4-MA. ReI. Juíz Olindo Menezes. DJU31.3.2000, p. 1.390 (citando um precedente
Tribunal Supenor. e um indicanvo de que o Congress<? pode VIr a lidar novamente do STJ no CComp n. 4.927~O-DF), bem como julgado do TRF da 2i Região no AI n.
com o tema. o que faria, provavelmente, através de PECo considerando a vida curta 98.02.25794-O-RJ, ReI. Juiz Júlio Martms, DJU28.9.1999. No STJ: CComp o. 4.927-
da Lel o. 10.62812002, derrubada 00 STF. DF, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros,DJU 4.10.93, p. 20.482.
242 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 243

da da Justiça Estadual e pela legitimação ativa do Ministério Público Na forma do art. [4, qualquer pessoa pode representar â auto-
Estadual em ação civil pública envolvendo sociedade de economia ridade administrativa competente para que instaure investigação em
mista federal (STJ, REsp n. 200.200-SP, ReL Min. Mílton Luiz Perei- tomo da prática de ato de improbidade. O procedimento administra-
ra. v. Noticias do STJ 28.8.2002, "STJ: Ministério Público paulista é tivo deverá observar a legislação pertinente ao órgão ou sociedade
parte legítima para propor ação contra Codesp", Internet: sij.gov.br). de que se trate, respeitados os princípios constitucionais da ampla
Não há motivo jurídico plausivel para não se adotar idêntico entendi- defesa e do devido processo legaL O art. 15 da Lei n. 8.429/92 de-
mento em matéria de ação de improbidade administrativa. termma que a comissão processante dê conhecimento da existência
Assim, salvo melhor juizo, uma ação de improbidade adminis- do procedimento administrativo ao Ministério Público e ao Tribu-
trativa em que forem partes uma sociedade de economia mista fede- nal de Contas pertinente, os quais poderão indicar representantes
ral e alguns de seus funcionários, ainda que proposta pelo Ministério para acompanhamento dos trabalhos. Havendo fundados· indícios,
Público Federal, poderia ser apreciada pela Justiça Comum Estadual a comissão representará ao Ministério Público ou à Procuradoria
(salvo, evidentemente, se a União, uma autarquia ou uma empresa do órgão para que tome as medidas judiciais previstas na lei, como
pública federal também fossem parte, caso em que incidiria - ai, sim disciplina o art. 16.
- a regra do inciso I do art. 109 da CF).94 Daí se verifica que o autor da ação de improbidade será, via de
regra, o Ministério Público (na qualidade de substltuto processual,
As partes na ação de improbidade administrativa - O art. 2Q em virtude de suas funções institucionais), ou a própria pessoa Jurí-
da Lei n. 8.429/92 define como agente público, para os seus efeitos, dica lesada (qualquer uma das listadas no art. Iº, conforme for o caso,
qualquer pessoa que ocupe mandato, cargo, emprego ou função numa tais como a União, um Estado, um Município ou uma empresa da
das entidades listadas no ar!. 12 , ainda que transitoriamente ou sem Administração indireta ou fundacional)?6 Ê o que consta expressa-
remuneração, e seja qual for a forma de investidura (eleição, nomea- mente da lei, inclusive no caput do ar!. 17. A propositura da ação por
ção, contratação, designação etc.). Estes são os agentes públicos que um não impede a iniciativa do outro, como já decidiu o Plenário do
se sujeitam aos rigores da lei.9' STF (RE n. 208.790-4-SP, ReI. Min. limar Gaivão, DJU 15.12.2000,
p. 105). Os réus serão, normalmente, os agentes públicos responsá-
94. Nesta linha. o STJ jã decidiu que o fato de o Ministério Público Federal
ser o autor da ação não ê suficiente para a fixação da competência da Justiça Fede- veis pela prática do ato de improbidade.
ral (CComp n. 34.204-MG, ReI. Min. Luiz FUJ(, DJU 19.12.2002, p. 323; REsp n. Embora haja quem defenda a responsabilidade civil objetiva
153.540-PB. Rela. Min. Eliana Calmon, DJU 8.3.2004, p. 202). No TRF-2' Região,
entendendo que a JustIça Federal e incompetente em ação de improbidade movida
dos agentes públicos em matéria de ação de improbidade admims-
contra funcionarios de SOCiedade de economia mista federal se a União não manifes- trativa, parece-nos que o mais acertado é reconhecer a responsabi-
tar interesse no feito: ApC n. 2000.02.01.000657-2. Rei. Des. Fed. Marcelo Pereira lidade apenas na modalidade subjetiva.97 Nem sempre um ato ilegal
da Silva,j. 1.7.2008. DJU7.7.2008. No mesmo acórdão decidiu-se que o Ministéno
Público Federal ê, em pnnclpio, parte ilegítima para a proposítura da ação de Impro- estejam de algum modo vinculadas ao Poder Público" (acórdão publicado no DJU
bidade adminIstrativa quando não estiver configurada uma das mpôteses do art. 109, 23.9.2002, p. 254).
I. da CF, sendo o caso, portanto, de legitimação ativa do Parque! estadual.
Tratando-se de reparação de danos a entidade puramente de direito privado,
95. O STJ decidiu recentemente que particulares no exercído de funções pu- sem traços de delegação pública, incabíveis a ação de improbidade adminístrativa e o
blicas delegadas também se caracterizam como agentes públicos para os efeitos da rito da lei n. 8.429/92, por inexistênCia de pertinência subjetlva da açãO (TJSP. ApC
Lei n. 8.429/92 (da mesma forma como seus atas são considerados atos de autoridade n. 282.268-4/5-00, ReI. Des. Carlos BiasottI, RDPriv 251335).
para efeitos de cabimento de mandado de segurança). Na bipótesejulgada tratava-se
de hospitais particulares conveniados ao SUS. Nas palavras do Min. Luiz Fux, rela- 96. A partrr da jurisprudênCia do STJ mencionada na nota anterior, tambêm se
tor do REsp n. 416.329-RS. "a denominação 'agentes públicos' refere-se genênca e pode Imaginar uma empresa privada como autora. desde que no exercíCIO de função
mdistintamente a todos os sujeitos que servem ao Poder Público, considerando-se um pública delegada.
<gênero' do qual são espécíes os agentes políticos, admmistratívos. honoríficos e de- 97. No STJ. consolidando o entendimento de que na ação de improbidade admi-
legados. o que faz com que os SUjeitos ativos dos atas de improbidade adminístrativa nistratIva prevalece a responsabilidade subjetiva, sendo do autor o ônus da prova do
não sejam apenas os servidores públicos, mas, tambêm. quaísquer outras pessoas que dolo ou culpa do reu: REsp n. 621.415-MG. Rela. Min. Eliana Calmon, RDR 37/263.
244 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 245

será um ato ímprobo. Um agente público eventualmente incompeten- deveres de boa administração, lealdade e boa-fé" (REsp n. 269.863,
te, atabalhoado ou negligente não é necessariamente um corrupto ReI. Min. Paulo Medina, DJU 3.1 1.2004, p. 168).100 Assim, para a
ou desonesto. 98 O ato ilegal, para ser caracterizado como ato de ação de ímprobidade "é indispensável a prova de existêncía de dano
improbidade, há de ser doloso ou, pelo menos, de culpa gravissima. ao patrímônio público" e a "prova do elemento subjetivo" (REsp n.
62J.415-MG, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU 30.5.2006, e RDR
A jurisprudência mostra-se hoje consolidada a respeito da
37/263).101 "A má-fé, consoante cediço, é premissa do ato ilegal e
matéria, exigindo-se a demonstração da má-fé do agente público improbo e a ílegalidade só adqUire o status de improbidade quando
para que ele seja responsabilizado com base na Lei da Improbidade a conduta antijuridica fere os principias constitucíonais da Admi-
Administrativa, aplicando-se o principio da razoabílidade, pois nistração Pública, coadjuvados pela má intenção do administrador"
nem sempre a mera ilegalidade de um determinado ato é suficiente (REsp n. 797.671-MG, ReI. Min. Luiz Fux, DJe 16.6.2008, e REsp
para caracterizar a improbidade do agente.99 Na feliz expressão do n. 879.040-MG, ReI. Min. Luiz Fux, DJe 13.11.2008).
STJ, "a lei alcança o administrador desonesto, não o inábil" (REsp
Ademais, na eventual aplicação das penas da Lei n. 8.429/92 o
n. 2\3.994-MG, ReI. Min. Garcia Vieira, DJU 27.9.99, p. 59). Judiciário deve observar o principio da proporcionalidade, sopesando
Ou, ainda: "O ato de improbidade, a ensejar a aplicação da Lei n. a extensão dos danos causados ao patrímônio público, o grau de cul-
8.429/92, não pode ser identificado tão-somente com o ato ilegal. pa do réu e se este obteve algum proveito próprio, e em qual monta,
A incidência das sanções previstas na lei carece de um p/us, tradu- em decorrência do ato de ímprobidade (STJ, REsp n. 794.155-SP,
zido no evidente propósito de auferir vantagem, causando dano ao ReI. Min. Castro Meira, DJU 4.9.2006).102
Erário, pela prática de ato desonesto, dissociado da moralidade e dos
Por outro lado, como a Lei n. 8.429/92 fala apenas em "agente
público", lato sensu, convém discutir o próprio cabimento da ação de
98. Marcelo Figueiredo. "Ação de improbidade admmIstrativa, suas peculiari-
dades e movaçôes", in Improbidade AdministratNa - Questões Polémicas e AtualS,
21 ed.. São Paulo. Malheiros Editores. 2003, pp. 336-337; José Miguel Garcia Medi- 100. Na mesma linha: STJ, REsp n. 480.387-SP, Rei. Min. Lmz Fux. DJU
na. "Ação civil pública. Improbidade administrativa. Possibilidade de mdefenmento 24.5.2004, p. 163; TJSP, RT825/229.
da petIção micial ante a ausência de ato de improbidade. Inteligência do art. 17. §§ 82 De outra parte, tampouco se deve unputar a improbidade ao sucessor no exer-
e lI, da LeI n. 8.429/92, c/c o art. 295 do CPC", RT 815/123-136; Edilson PereIra cicio do cargo daquele que praticou o ato impugnado pelo simples fato de não tê-lo
Nobre Júnior, "Improbidade administrativa: alguns aspectos controvertidos", RDA desfeito, se não for demonstrada sua culpabilidade específica (STJ, REsp n. 514.820-
235/71-73; Cláudio Ari MelIo. "Fragmentos teóricos sobre a moralidade adminis- SP, Rela. Min. Eliaoa Calmon, DJU 6.6.2005, p. 261 l.
trativa", RDA 235/113-115. Na mesma linha - e apontando. ainda. algumas pecu- 101. Na mesma linha. exigindo o dolo do agente público para a configuração
liaridades para as quais se deve atentar no caso de decisões colegtadas em empresas do ato de improbidade punível nos termos da Lei n. 8.429/92: STJ, REsp n. 939.142-
estatais: Carlos Ari Sundfeld e Jacintho Arruda Câmara, "Improbidade administrativa ru, ReI. Min. Luiz FUJ(, DJe 10.4.2008; REsp n. 727.13I-SP. ReI. Min. Lmz Fux,
de dirigente de empresa estatal''. RTDP 40/17-34. DJe 23.42008; REsp n. 734.984-SP, ReI. Min. LuiZ FUJ(, DJe 16.6.2008; REsp n.
99. No TJSP: ApC n. 185.161-513-00, ReI. Des. Antônio Rulli, ADV2002, p. 1.055.022-MT, Rei. Min. FraoCISCO Falcão, DJe 10.92008; REsp n. 511.095-RS, ReI.
751, em. 103.789; ApC n. 246245-1/6, ReI. Des. Marrey Neto, RT 735/265; ApC Min. LulZ Fux.. DJe 27.11.2008. Desde que caracterizada a conduta dolosa.. esta indis-
n. 091.277-5/2. ReI. Des. CUmaco de Godoy,j. 26.8.1996; ApC n. 190.356-5/5-00. pensável, não e forçoso, porem. que o dano ao erário tenha chegado a se concretizar,
ReI. Des. Rui Stoco, RT800/252; ApC n. 146.341-50/00, ReI. Des. Luiz Elias Tâm- para o cabimento da ação de improbidade. No STJ: REsp n. 604.151-RS. ReI. deslg.
bara,J. 5.2.2002; Elnfrs n. 146.591-5/1-01-SP, ReI. Des. Guerrieri Rezende, Boletim Min. Teor! Albino Zavascki, RDR 38/217.
AASP 2.371/88. No TRF-5' Região: ApC n. 99.05.48293-8, ReI. Des. Fed. Edilson 102. A modulação e a dosimetria das penalidades eventualmente impostas aos
Nobre. DJU 72.2002, p. 830; REO n. 185.968, ReI. Des. Fed. Araken Mariz, DJU réus de ações de unprobidade admmlstratíva. com a observânCIa dos principlos da
26.102001, p. j .324. No TlMG: ApC n. 1.0012.04.910508-8/001, Rei. Des. MacIel proporcionalidade e da razoabilidade, são decorrência lógica do sistema constitucional
Pereira, RT 836/278. No TlPR: ApC n. 305.640-0, ReI. Des. Marcos de Luca Fan- e legai que rege a Administração Pública em geral no Brasil e vêm expressamente
chin,RT848/305. consagradas no pa.rágrafo único do art. 12 da Lei n. 8.429/92. No STJ, exempIificati-
Nesta linha de entendimento. o STJ já decidiu que, "apesar de não sido o con- vamente: REsp n. 713.146-PR, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU22.3.2007; REsp n.
trato precedido de concurso, houve trabalho dos servidores contratados, o que impede 831.178-MG. ReI. Min. Luiz Fux. DJe 14.52008; EDeclREsp n. 593.522-SP, Rela.
a devolução dos valores correspondentes ao trabalho devido" (REsp n. 514.820-SP, Min. Eliana Calmon, DJe 23.6.2008; REsp n. 1.003.1 79-RO, ReI. Min. Teon Albino
Rela. Min. Eliana Calmon, DJU 6.62005, p. 26 n. Zavascki. DJe 18.82008; REsp n. 1.009.953-PR, ReI. Min. LUlZ Fux. DJe 23.10.2008.
246 ACÃO CIVIL PÚBLICA
ACÃO CIVIL PUBUCA 247

improbidade administrativa. em qualquer instância, quando estiver Poderão figurar ainda no pólo passivo da ação de improbidade
em discussão um ato tipico de agente político, e não propriamente de
administrativa os terceiros eventualmente coniventes com os agen-
agente administrativo. A distinção entre agentes políticos e agentes
tes públicos acusados. Com efeito, o art. 3" da Lei n. 8.429/92 diSCI-
administrativos é pacífica no ãrnbito do direito administrativo (v.,
plina que a mesma se aplica àquele que, ainda que não sendo agente
p. ex., Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro,
público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade,.ou
35" ed., São Paulo, Malheiros Editores, 2009, pp. 77-81). A questão
dele se beneficie direta ou indiretamente.
foi abordada pelo Min. Nélson Jobim na já citada decisão na RecL
n. 2. 138-DF, na qual S. Exa. ressaltou que "o sistema constitucional Com relação aos terceiros não-ocupantes de funções públicas,
brasileiro distingue o regime de responsabilidade dos agentes polí- são ainda mais inciSIvas as razões para que não venham a ser res-
ticos dos demais agentes públicos". A liminar foi confirmada pela ponsabilizados sem a demonstração do seu dolo. 104 É inaceitável que
maioria do Plenário do STF no julgamento de mérito da reclamação, o terceiro de boa-fé possa vir a ser envolvido na ação de improbida-
em 13.6.2007. A Corte Suprema fez, na oportunidade, uma clara de sem que tenha agido com a intenção de se beneficiar ilicitamente.
distinção entre o regime juridico punitivo aplicável aos agentes polí- Com muito mais razão, a responsabilidade do terceiro só se justifica
ticos, de um lado (CF, art. 102, I, "c", e Lei n. 1.079/50), e aos demais na modalidade subjetiva.
agentes públicos, de outro (CF, art. 37, § 4<'. e Lei n. 8.429/92).'03 Neste sentido, Fábio Medina Osório, Promotor de Justiça do
O STJ, citando justamente o precedente do STF, também já julgou Rio Grande do Sul, tece considerações apropriadas, apontado ser
no sentido da inaplicabilidade da Lei de Improbidade Administrativa desarrazoado pretender que o terceiro de boa-fé seja punido se agiu
à conduta do agente político que seja em tese punivel corno crime de com diligência e era incapaz de perceber a ilicitude do agente pu-
responsabilidade (REsp n. 456.649-MG, ReI. desig. Min. Luíz Fux, blico com quem lidou (Improbidade Administrativa, 2' ed., Síntese,
RF 391/437; v. ainda a liminar deferida pelo Min. Paulo Gallotti na 1998, p. 117).
Recl. n. 2.790-SC, DJe 26.5.2008). É passivei, por exemplo, que ocorram atos de improbidade
Não se coaduna com o ordenamento juridico pátrio que o Ju- na realização de uma liCitação que não foram do conhecImento do
diciário possa questionar a oportunidade ou a conveniência de uma público em geraL Aquele que apresenta uma proposta na forma de
determinada atuação governamental, da implementação de urna polí- edital, com toda a aparência de legalidade e sem qualquer relação
tica. Os agentes políticos podem ficar tolhidos na sua liberdade para com o ato de improbidade eventualmente ocorrido, não poderá ser
o desempenho das funções que lbes cabem, sob a ameaça constante depois responsabilizado pelo simples fato de ter vencido a concor-
de ações drásticas, que podem ocasionar a perda do cargo, a indispo- rência. No caso do terceiro beneficiário, que não é agente público,
nibilidade dos bens pessoais e até a suspensão dos direitos políticos. deve ser demonstrado na micial que este de alguma forma induzIU
Não pode haver improbidade administrativa. sequer em tese, na de- ou concorreu para a prática do ato, como diz o início do art. 3", Do
cisão política de se adotar um ou outro plano de governo. A decisão contrário a ação não lbe deve ser endereçada. ainda que se possa
de se fazer ou não uma obra é uma decisão do agente político, que extrair da situação de fato algum beneficio direto ou indireto por ele
em principio deve permanecer imune ao controle jurisdicional. Se auferido. lOS
houver ilícito na contratação, no procedimento licitatório, aí, sim,
surge a atuação eminentemente administrativa. esta passivei de ques- 104. "A responsabilização do particular como participe elou beneficiárIo do
tionamento em juízo se caracterizada a ilegalidade. ato de improbidade depende da prova de sua efetiva partIcipação dolosa" (TIAP.
ACivImprob n. 2812003, ReI. Des. Mmo Gurtyev, RT837/253).
105. Se houve, p. ex., a contratação de serviços, ameia que irregular. mas os
103. O acórdão foi publicado no DJe 18.4.2008. Na mesma linha da ReeI. D.
servíços foram prestados devidamente, não hã lesividade material, e não há que se
2.\38-DF, v. a decIsão do Min. GiImar Mendes na Reel. o. 2.186-DF, DJe 2.5.2008,
falar em devolução dos valores recebidos, sob pena de enriquecimento sem causa da
publicada na íntegra. com comentários de Rodrigo García da Fonseca, na RDB
Admmistração. Neste sentido: STJ. REsp n.· 511.095-RS. ReI. Min. Luiz Fux. DJe
421241.
27.11.2008.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 249
248 AÇÃO CIVIL PÚBLICA

aos mandados de segurança no sentido de que é indispensável o efe-


Quando a ação for proposta pelo Ministério Público a pes.soa tivo pronunciamento do Parquet, não bastando sua mera intimação.
jurídica interessada deverá ser citada para rntegrar o feito na quahda-
de de litisconsorte. I06 O § 3" do art. 17, com a redação dada pela Lei Outras questões processuais - No tocante às normas proces-
n. 9.366/96, faz remissão ao § 3" do ar!. 6" da Lei da Ação Popular, suais pertinentes à ação de improbidade administrativa há algumas
o qual autoriza este litisconsorte a atuar no pólo ativo, caso se con- outras questões que merecem comentàrio.
vença das alegações da inicial. Deve ser aceito, entretanto, que, ~aso Em primeiro lugar, é de se apontar que os arts. 14 e 15 da Lei
esteja convencida da inexistência de ilicitude e de ato de improbida- n. 8.429/92 disciplinam o inquérito prévio a propositura da ação de
de, possa a pessoa jurídica em questão se opor à ação proposta, ocu- improbidade administrativa. O inquérito é uma fase de inve~tigações
pando a posição de listisconsorte passiva (~inda que ~O?tra el~ ~ão e averiguações internas que antecede a fase judicial, procedido pela
tenba sido formulado qualquer pedido e seja ela, em ultima analIse, própria pessoa jurídica interessada ou pelo Ministério Público (art.
a beneficiària da eventual procedência do pedido, como disciplina o 22). O STJ ja teve o ensejo de decidir que não é obrigatória a existên-
art. 18 da Lei n. 8.429/92). Aplica-se, nesta situação, o princípio da cia de um inquérito anterior à ação de improbidade, pois os réus terão
ação popular pelo qual a pessoa jurídica interessada pode optar entre a oportunidade de exercício do amplo direito de defesa na própna
aderir ao autor ou contestar a ação. Nesta linba há precedente do TRF ação, emjuízo. I07 No entanto, parece ser recomendável a fase préVIa
da 4' Região (EDeclApC n. 97.04.53004-8-SC, Rela. Juiza M~ga do inquérito, cujas investigações e explicações dos acusados podem
Inge Barth Tessler, DJU 22.9.1999, p. 46). Pelos mesmos mollvos servir para evitar o aJuizamento açodado de ações de improbidade,
expostos anteriormente, na Segunda Parte desta obra, ns. 5 e 7, en- afetando desnecessariamente a reputação e a vida pessoal dos réus,
tendemos que, uma vez assumida noS autos a posíçãode litlsconsorte especialmente quando as eventuais irregularidades são discutíveis ou
passiva ou ativa, a pessoa jurídica interessada não mais podera alterar decorrem de situações complexas. !Os
sua postura no caso, estando estabilizada a lide. Vem surgindo a discussão em torno dos limites para a utilização
Além da participação obrigatória, no feito, da pessoa Jurídica de "provas emprestadas" em ação de improbidade administrativa.
diretarnente interessada no ato de improbidade questionado, a Fazen-
da Pública poderá promover as ações eventual,:,ente cabíveis ?a:" 107. RMS n. 11.537-MA, Rela. Min. Eliana Calmon, J. 6.2.2001. DJU
assegurar o integral ressarcimento do dano sofrido pelo patrirnoruo 29.10.2001. Informatwo STJ 83. Em matena de ação CIvil pública. e não especial-
mente de ação de improbidade admmístrativa. mas da mesma forma entendendo não
público (ar!. 17, § 22 ). ser obrigatório o preVIO processamento do mquerito civil: REsp n. 152.447-MG. ReI.
Finaimente, nas ações em que não atuar como parte o Minis- Min. Mílton LUlZ Pereira. DJU25.2.2002, p. 203, e REsp n. 476.660-MG. Rela. Min.
tério Público devera intervir como custos legis, sendo sua ausência E1iana Calmon, DJU 4.8.2003, p. 274.
No TRF-P' Região. da mesma forma entendendo que "o mquérito civil não
caso de nulidade do processo (art. 17, § 4') (TRF-lª Região,ApC n. é peça Imprescmdível ao oferecimento da ação civil de improbidade"; ApC n.
2005.30.00.00061O-8-AC, ReI. Des. Fed. Lino Osvaldo Serra Souza 2005.33.02.000132-2-BA, ReI. Des. Fed. Tourinho Neto, RT 8771362.
Segundo, RT 862/396). É de se aplicar quanto à aç.ão de improbida~e 108. Ê importante salientar. no entanto, que a Corte Especíal do STJ jã decidiu
administrativa, portanto, a jurisprudência consolIdada com relaçao que a fase de Investigação administrattva somente podera ser conduzida por aqueie
que esteja legitimado li propositura da ação judicial específica - ou seja, o Mimstêno
Público ou a pessoajuridica lesada pelo ato improbo (Pet n. 1.895-PR, Rela. Min.
106. Entendendo que o litisconsórcio seria meramente facultativo: STJ. REsp Eliana Calmon. DJU 15.9.2003, p. 225).
n. 506.511-MG, ReI. Min. LUlZ Fux, DJU 19.12.2003, p. 340; AI n. 483.616-MGI Tendo se desenrolado regularmente o inquerito civil previa. e havendo mdíclOs
AgRg, ReI. Min. Peçanh. Martins. DJU20.6.2005, p: 194. Dala vema, parece-nos fundados da eXIstênCIa de ato de improbidade e de dano ao patrimõruo público, os
que a hipótese é de litisconsõrcio necessarto: sendo .mdl~pensavel_a cltaçao da pessoa elementos nele coligidos podem ser utilizados para instnur a ação judicial de Impro-
jurídica afetada pelo suposto ato de ImprobIdade dIscutIdo na aç~o, sob pena de nu- bidade administratIva e a respectiva medida cautelar de seqüestro. nas quaIS se deverá
lidade do feito e desrespeito ao devido processo legal. Neste sentIdo, entendendo ser assegurar o direito de ampla defesa does) reu(s) (TJMG, AI n. 1.0093.06.010043-
a hip6tese de litisconsórcio necessàrio: TJSP, AI n. 540.348-5/4-00. Rei. Des. Walter 01001, ReI. Des. Almeida Melo, RT8551367).
Swenssnn, RT8591245.
250 ACÃO CIVIL PÚBLICA ACÃO CIVIL PÚBLICA 251

E comum o surgimento de elementos indicativos de improbidade do STF, por ambas as Turmas, pelo Plenário ou por manifestações
administrativa no bojo de inquéritos ou ações penais, e o Minis- isoladas de uma maioria dos ministros.
tério Público freqüentemente utiliza tais provas para embasar a
O art. 16 da Lei n. 8.429/92 prevê a possibilidade de proposi-
ação civil da Lei n. 8.429/92. O grande problema está situado nas
tura de ação de seqüestro dos bens do agente ou terceiro que tenha
interceptações teleronicas. A CF disciplina, no art. 5", XII, que o enriquecido ilicitamente, remetendo o procedimento para os arts.
sigilo das comunicações teleronicas só pod~ ser quebrado por ordem 822 e 825 do CPC. Embora a lei mencione o seqüestro, o tecnica-
judicial, "nas hipóteses e na forma que a leI estabelecer para ~ns de mente correto seria o arresto. A imprecisão jurídica, ai, é idêntica à
investigação criminal ou instrução processual penal"_ (a materia f~i existente na Lei n. 6.024/76, que trata da liquidação extrajudicial de
posteriormente tratada na Lei n. 9.296/9.6). Ora, a açao de unprobI- instituições financeiras e do seqüestro - que deveria ser arresto - dos
dade administrativa - embora de conteudos quase-penaIs, como se bens dos ex-administradores da entidades liquidandas (caput do art.
observou anteriormente - é, em última instância, uma ação civil. 45). A falta de técnica do legislador não prejudica a essência, que é a
A utilização em ação civil de provas obtidas por meio de intercepta- possibilidade de tornar indisponiveis os bens adquiridos ilicitamente
ção teleronica - ou em decorrência desta, segundo a tese dos "frutos em função da prática de ato de improbidade. lIo No entanto, o proces-
da árvore envenenada"IO' -, pode representar violação ao comando so cautelar é de ser observado, com seu rito próprio, como manda,
constitucional, o que acarretaria a ilicitude da prova e sua exclusão inclusive, a lei, expressamente, ao fazer remissão para o Código de
do processo, por força do inciso LVI do mesmo art. 5" da CF, que Processo Civil. Embora haja decisões admitJndo a decretação de
veda o emprego de provas ilícitas em quaisquer process~:. O tema indisponibilidade de bens na própria ação prinCIpal de improbidade
ainda não foi pacificado. Em caso no qual o TRF-Iª RegIao vedara administrativa (a qual observa o procedimento ordinário, como de-
o uso de provas obtidas por melO ~e interceptação telefônic.a para termina o caput do art. 17, com as adaptações constantes dos §§ 6ll..
fins de instrução de ação de ImprobIdade adminístratJva o Mm. Se- 12, introduzidos pela MP n. 2.225-45, de 4.9.2001), entendemos
púlveda Pertence, do STF, deferiu medida liminar conferin~o ef~ito incompatível a cumulação, pois o ordenamento processual brasileíro
suspensivo ao recurso extraordinário interposto pelo Mmlsteno não admite o processamento de medida cautelar no bojo de ação de
Público (v. STF, Recl.ACAgRg n. 4.944-BA, ReI. Min. Menezes procedimento ordinário.I" Deve ser salientado que a medida de se-
Direito, DJU 19.12.200n 'Por outro lado, no caso do inquérito penal qüestro (ou arresto) não se confunde com uma antecipação de tutela,
do "Mensalão" (Inq. n. 2.245-DF) o Min. Joaquim Barbosa, em de- pois tem o efeito de resguardar a situação de fato com a finalidade
cisão datada de 2.8.2007, autorizou o compartilhamento das provas de garantir a futura execução do julgado, e não o de antecipar esta
ali coibidas para fins de ajuizamento de ações de improbidade. ad- própria execução (o que implicaria mais do que a indisponibilidade
ministrativa "excetuando-se os documentos eventuahnente obtJdos dos bens, com sua alienação, sendo utilizados os recursos decorrentes
por meio de' interceptação teleronica decretada nos ~u:o.s", pOi: tais da mesma para o ressarcimento aos cofres públicos). Assim, indis-
documentos "são exclusivamente destJnados, por leI, a mstruçao de pensavel a propositura de ação cautelar, a ser autuada e processada
procedimentos criminais". A nosso ver, a postura adotada pelo Min. autonomamente. ll2
Joaquim Barbosa parece a mais condizente com o texto e o ~sp,:,to
das garantias constitucionais. No entanto, não se pode cons~dera-la 1l0. TRF-l' R..AI n. I995.01.33223-3-DF, ReI. Juiz EUStáqUIO Silveira, DJU
7.12.2000, p. Ill.
predominante, pelo menos antes de um posicionamento maIS firme
lll. Nesta linha, no STJ: REsp n. 50.2l7-9-DF, ReI. Min. José de Jesus Filho,
RSTJ68/38I; REsp n. 48.175-MG, ReI. Min. CarlnsAlberto Menezes Direíto,RSTJ
109. A doutrina da ilicitude das provas por contaminação ou derivação - a dou- 891205.
trina dasfroits oflhe poisonous tree - foi adotada onginalment~ pela ~u{l~ma ~o~ 112. A recente modificação do art. 273 do CPC. atravês da LeI D. 10.444. de
dos Estados Unidos da Amenca, porem foi abraçada no BrasIl pela Junsprudencla 7.5.2002! permite ao juíz que aceite um pedido de tutela cautelar ainda quando for-
do STF, ao menos em casos penais. V., neste sentido. exemplificativamente: RHC D.
mulado como provimento antecipatório. Entendemos que a nova regra, no entanto.
90.376-RJ, ReI. Mio. Celso de Mello, DJU 18.5.2007. merece ser interpretada com temperamentos. apenas quando houver fundada dúvida
252 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 253

Distribuída a ação cautelar ou ordinária. ficará prevento o juizo dera atingir bens impenhoraveis, como o salário do acusado, que tem
para todas as demais ações que venham a ser propostas com o mes- natureza alimentar e é imprescindível para sua subsistência. 1I6 A ma-
mo objeto ou causa de pedir, como reza o § 5" do art. 17, introduzido téria deve ser apreciada com prudência, de modo a não inviabilizar a
pelo art. 72 da MP n. 2.180-35, de 24.8.2001. Se aação principal for vida e as atividades profissionais dos réus. ll7 A indisponibilidade não
precedida da cautelar, dever~ ser proposta em 30 días da efetivação pode ser encarada como resultado automático da mera propositura da
daquela (caput do art. 17). E vedada expressamente a transação na ação de improbidade. Ela não se dá ípso jure, e està sujeita não só à
ação principal (art. 17, § 12 ), por se tratar a moralidade adminis- observância do procedimento cautelar, como â presença dos requisi-
trativa de principio constitucional de direito público, e, portanto, tos dofumus bonijuris e do pericu/um ln mora, como qualquer outra
indisponivel. cautelar. 11'
O STJ, tanto na I" quanto na2ªTurma, temjurisprudêncía fume
116. STJ, REsp n. 478.749-PR, ReI. Min. Lu!z FUJ(, DJU 17.11.2003, p.
na questão do alcance da medida que decreta a indisponibilidade de
208; TRF-I' R., AI n. 1999.01O.00.23278-3-PA, ReI. JUIZ Olinda Menezes, DJU
bens em matéria de improbidade administrativa. Não se admite a re- 13.10.2000, p. 28.
troatividade da lei para alcançar bens adquiridos antes de sua vigên- 117. STJ, MC n. 1.804-SP, Rela. Min. Eliana Cahnon, DJU 10.6.2002.
cia. e tampouco se podeni indísponibilizar bens adquiridos antes do "As decísões cautelares que determínam a indisponibilidade de bens dos réus
ato tido como de improbidade. ll3 A indisponibilidade, portanto, deve em ação de improbidade não podem atingir todos os seus bens. de forma indiscri-
se ater aos bens adquiridos após o ilícito, como seu fruto, e desde que minada e sem critério, como os ativos financeIros, Impossibilitando a sobreVIvência
do demandado e de seus familiares, tal como conta corrente, salário, proventos ou
posteriormente à vigência da própria Lei n. 8.429/92.'14 ganhos provenientes do trabalho. Da mesma forma, o pedido de mdisponibilidade
E importante ressaltar, ainda, que, por seu caráter instrumental, deve ter por base um valor, amda que proVISÓriO, do prejUízo ou do desvIO. não sendo
e não punitivo, a indisponibilidade deve atingir os bens dos réus na o bastante, para ISSO, a indicação do valor integral da verba do convênio. que pode
não ser o representativo do dano em apuração, impondo, asSIm, uma constrição além
medida em que bastem estritamente à garantia da futura indenização, do necessário" (TRF-lll Região, AI n. 2006.01.00.036057-I-BA, ReI. Des. Fed. Sauio
não se justificando a indisponibilidade indiscriminada e em bens de Casali Bahia, RT 865/359).
valor muito superior ao dano alegado. ll5 O seqüestro tampouco po- "Indevida a restnção sobre todos os l;lens do agravante, eis que, por ser pessoa
jurídica, o cumpnmento da medida liminar, face ao montante a ser indisponibilizado.
quanto à natureza da pretensão Iimínar do autor da ação. da mesma forma como se inviabilizana o prosseguímento de sua atividade empresarial. acarretando prejuízos
aplica o princípio processual da fungibilidade dos recursos. Se a impropriedade técm- aos seus empregados e, conseqUentemente. aos sujeitos que com ela mterngem co-
ea for flagrante o juíz deve exigtr a obediência ao rito cautelar. Do contráno a smgela mercialmente" (TJRJ. AI n. 28.163/2005, ReI. Des. Mâno Guimarães Neto, RDTJRJ
alteração do art. 273 do CPC implicam. na prátIca., a extinção do processo cautelar 74/141).
dentro do ordenamento processual brasilerro. 118. STJ, REsp n. 469.366-PR, Rela. Min. Eliana Calmon, DJU2.6.2003, p.
113. Podem ser citados: REsp n. 196.932-SP, ReI. Min. Garcia VieIra, DJU 285; AgRgREsp n. 422.583-PR, ReI. Min. José Delgado, RDR 26/175; TRF-4' R.,
10.5.1999; RMS n. 6. I 82-DF, ReI. Min. Adhemar Maciel, DJU 1.12.97, p. 58; RESp AJ n. 1999.04.01.095390-1, ReI. JUIZ Teor! Albino Zavascki, DJU 17.5.2000, p. 172.
n. 209.487-SP e REsp 209.491-SP, ambos ReI. Min. Garcia Vieira, DJU27.9.99, p. "A indisponibilidade de bens preVIsta no art. 7D. da Lei n. 8.429/92 depende da
56. No TJSP: AJ n. 164.928-5/O-SP, ReI. Des. Luis Gonzerla, AASP 2.204/1.761. existência de fortes mdícíos de que o ente público atmgído por ato de improbidade teM
114. No TJSP hã acôrdão bem fundamentado negando a liminar para a indis- nha sido defraudado patrirnonialmente ou de que o agente do ato tenhaMse ennquecido
ponibilidade de bens em caso de alegada Improbidade admimstratIva quando não em conseqUência de resultados advindos do ato ilíCltO. A medida prevIsta do art 7º-
demonstrado o nexo entre os atas descntos na ação e o acréscImo patrimomal havido da Lei n. 8.429/92 é atinente ao poder geral de cautela do juiz. prevIsta no art. 798 do
pelos reus (AJ n. 258.371.5-8, ReI. Des. José Roberto Bedaque, RF 370/351). CPC, pelo quê seu defenrnento exige a presença dos requiSitos do fumus boni iuns e
115. STJ, REsp n. 139.187-DF, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, RSTJ penculum ln mora" (STJ, REsp n. 731.084-PR, ReI. Min. João OtáVIO Noronha, DJU
135/123; REsp 226.863-GO, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 4.9.2000. 20.32006). Na mesma linha, ressaltando. ainda, que"o penculum ln mora SIgnifica
p. 123; TJMG,AJ n. 188.375-0/00, ReI. Des. Bady Cun, ADV2001, em. 97.930. o fundado receio de que, enquanto se aguarda a tutela definitiva, venham a ocorrer
A indisponibilidade de bens não e uma sanção em sí, mas apenas uma medida fatos que prejudiquem a aprecíação da ação principal" e que "a hipótese de dano
de garantIa destmada a assegurar a base patrimomal para a efetivação de uma even- deve ser provâ,vel. no sentido de se encaminhar em direção â. certeza. não bastando
tua! futura sentença condenatória (Teon Albino Zavascki. Processo Coletivo, ctt.. eventual possibilidade, assentada em meras conjecturas da parte interessada": REsp
p.108). n. 821.720-DF. ReI. Min. João Otàvio Noronha,DJU30.11.2007.
254 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 255

Por outro lado, o art. 82 da Lei n. 8.429/92 determina que o su- Quanto à necessidade de interpretação restritiva do art. 20 da Lei n.
cessor daquele que se enriquecer ilicitamente está sujeito às comina- 8.429/92 há precedente do STJ em caso no qual se afastou do cargo
ções da lei, até o limite da herança. Em primeiro lugar, esta extensão um prefeito municipal, por prazo certo, para a garantia da instrução
de responsabilidade só pode se aplicar à parte patrimonial, pois o processual. t20 O uso da Lei de Improbidade Admimstrativa não pode
Direito Brasileiro não admite a comunicação da culpa. O Sucessor transformar os acusados em automaticamente culpados, antes de
não poderá perder direitos políticos, cargos públicos ou ter restringi- devidameute processados e condenados. Os princípios constitucio-
do o direito de contratar com a Administração. Tais penalidades são nais da ampla defesa e do devido processo legal e, especialmente, o
personalíssimas e intransmissíveis. Poderá o sucessor, nos limites das da presunção de inocência devem ser respeitados e são essenctais a
forças da herança, responder pela indenização eventualmente devida, preservação do regime democrático.
mas ainda assim observados os mesmos limites aplicáveis ao próprio Empregando o princípio aplicável às ações populares e às
agente público acusado, como a preservação da disponibilidade dos ações civis públicas em geral, o STJ já decidiu que o autor de ação
bens adquiridos pelo de cujus antes do ato impugnado e antes da de improbidade não está sujeito aos ónus sucumbenciais em caso
vigência da própria Lei n. 8.429/92, pois não poderia a responsabili-
dade do sucessor ser superior à do sucedido. O falecimento do reu no 120. AgRgMC n. 3.048-BA, ReL Min. José Delgado. DJU6.1 1.2000, p. 192. V.
amda o REsp n. 550.l35-MG, ReL Min. Teori Albino Zavascki. DJU8.3.2004, p. 177.
curso do processo deve acarretar a imediata suspensão do feito, sob
O afastamento pela via judiCiai, amda que provisóno. de autoridades !egitima-
pena de nulidade, na forma dos dispositivos aplicáveis do Código de mente constituídas, eleItas. indicadas ou concursadas. como prefeitos, governadores,
Processo Civil. notadamente o art. 265. 11 • secretários. ministros de Estado, ou mesmo magistrados, para não falar do Presidente
da República, pode causar cnses delicadas e impasses mstltuclOnais, com repercus-
Por fim, o parágrafo úníco do art. 20 da Lei n. 8.429/92, inseri- sões imprevIsíveIS. É preciso que todos tenham a máxima cautela no trato com tais
do dentre as "disposições penais", admite o afastamento preventivo situações, interpretando a lei construtiva e responsavelmente.
do cargo do agente público acusado, que pode ser determinado pela No STF, v. deCisão do Min. Nélson Jobim. na PresidêncIa, com base no art. 20
autoridade judicial ou adminístrativa. Por constar da parte penal da da Lei n. 8.429/92, suspendendo limínar que determinara o afastamento de prefeito
mUnicIpal do cargo, âs vésperas de eleição (SSeg n. 2.525-RJ, DJU 3.11.2004). No
lei, e discutível se o referido dispositivo se aplicaria às ações civis de
STJ: MC n. 7.325-AL, ReI. Min. José Delgado, DJU 4.10.2004, p. 210: SL ns. 829-
improbidade. De qualquer modo, o pressuposto de tal afastamento é CE e 866-CE. ambas ReI. Min. Humberto Gomes de Barros. DJe 16.5.2008; e acór-
sua necessidade para a melhor instrução processual. O afastamento dão unâmme da Corte Especiai do STJ no AgRgSL n. 857-RJ. ReL Min. Humberto
visa a impedir o acusado de destruir provas, obstruir o acesso a elas Gomes de Barros, DJe 14.8.2008.
ou coagir testemunhas (aliás, esta faculdade atribuída ao JUiz reforça Importante observar. amda, que o afastamento limmar do cargo, com base na
Lei de Improbidade AdministratIva, ê essencIalmente instrumental, pOiS tem a fmali-
a tese da incompetência dos juizes de primeira instância em determi- dade de resguardar a instrução da ação. Não cabe o afastamento da autoridade a título
nadas ações de improbidade, pois não se pode admitir que um juiz de de antecipação da tutela, poís a perda da função pública está vínculada ao trânSito em
primeira instância ordenasse o afastamento do cargo de um ministro julgado da sentença condenatória, conforme o caput do art. 20 da Lei n. 8.429/92. V.,
de Estado ou de um membro de Tribunal Superior, cautelar e proviso- a respeito. a deCIsão do Min. Peçanha Martms, no exerciclo da Presidência do STJ,
na SLSeg n. 822-BA. de 8.2.2008. e a SL n. 916-BA. ReI. Min. Humberto Gomes
riamente, antes de transitada em julgado qualquer decisão condenató- de Barros, DJe 4.8.2008. Na mesma linha. e afIrmando. amda, que "a possibilidade
ria). Trata-se de medida violenta, que afasta o agente público antes de de afastamento in limine do agente público do exercícIO do cargo, emprego ou filn-
ele ter sido definitívamente julgado, e, portanto, merece interpretação ção, porquanto medida extrema. eXige prova incontroversa de que sua permanênCIa
poderâ ensejar dano efetivo à instrução processual, máxIme porque a hipotética pos-
estrita e cuidadosa, para que não se transforme em forma abusiva sibilidade de sua ocorrência não legitima medida dessa envergadura": STJ. REsp n.
de combate político ou de vingança pessoal e não viole as garan- 895.415-BA, ReI. Min. LUlZ Fux,DJe 17.12.2008.
tias do devido processo legal e da presunção de inocência de todos Na doutrina, da mesma forma salientando que o afastamento do cargo tem
quantos venham a ser acusados da prática de atas de improbidade. natureza essenCIalmente cautelar, cumpre função instrumental. enquanto meio de
assegurar a boa mstrução processual - e. portanto. não se confunde, em hipótese
Il9. TRF-I' R., ApC n. 1998.01O.00.16267-7-DF, ReL Juiz Hilton QueIroz, alguma. com uma antecIpação de tutela: Teori Albino Zavascki. Processo Coletivo,
DJU 15.12.2000, p. 421. ctt, pp. 125-126.
256 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PúBLICA 257

de improcedência da demanda, salvo comprovada má-fé (REsp n. Na sua última reedição, em vigor por prazo indeterminado por
577.804-RS, ReI. Min. Teori Albino Zavascki, RePro 146/215). Im- força da regra do art. 2" da EC n. 32, a MP n. 2.225-45, de 4.9.2001,
portante, porém, que os juizes apliquem a regra com cautela redobra- no seu ar!. 4", traz sete novos parágrafos ao art. 17 da Lei n. 8.429/92
da, perquirindo as reais intenções do autor em cada situação concreta, (§§ 6"-12). O § 6" determina que a iDÍcial venha instruida com do-
justamente para que a isenção não acabe servindo como mais um cumentos ou justificativas de indícios suficientes quanto à prática do
estímulo ao abuso no manejO da ação de improbidade por parte dos ato de improbidade e manda que se apliquem os princípios da litigân-
legalmente legitimados a intentá-la. cia de má-fé do Código de Processo Civil (arts. 16-18). Trata-se de
disciplina que objetiva, justamente, dissuadir aqueles que pretendam
Considerações finais - O combate à corrupção tem sido uma ajuizar demandas levianas, ou com inconfessáveis propósitos políti-
das maiores preocupações do povo brasileiro há muitos anos. É tema cos, de prosseguir com tais práticas reprováveis. .
dos debates eleitorais há várias décadas. A Lei de Improbidade Admi- O § 7 do art. 17 cria uma fase de defesa previa dos réus, com
2

nistrativa é importante instrumento de defesa da moralidade pública a possibilidade de juntada de razões escritas e documentos, após o
mas não é - e nem pode ser encarada como se fosse - a panacéia para quê o juiz poderá rejeitar a ação de plano, na forma do § 8". Somente
solucionar todos os males. Os exageros na luta contra a improbidade após a defesa prévia e que o juiz receberá a ação e mandará efetI-
administrativa podem gerar efeitos contrários aos pretendidos, des- vamente citar o réu (§ 92 ) - decisão, esta, impugnável por agravo
moralizando aquilo que poderia ser bem empregado e ter resultados de instrumento (§ 10). O objetivo do novo procedimento, que a
positivos. principio pode parecer repetitivo, é o de filtrar as ações que não
Indisponibilidade de bens e afastamento do cargo, dentre outras, tenham base sólida e segura, obrigando o juiz - com a possibilidade
são todas medidas que, quando aplicadas com parcimônia e respon- de recurso ao tribunal - a examinar efetivamente, desde logo, com
sabilidade, se transformam em fundamentais alicerces da proteção atenção e cuidado, as alegações e os documentos da inicial, somente
ao patrimônio público e do respeito aos princípios constJ.tucionais dando prosseguimento àquelas ações que tíverem alguma possibi-
lidade de êxito e bloqueando aquelas que não passem de alegações
da moralidade e da legalidade. O que não se pode admitir é o uso
especulativas, sem provas ou indícios concretos.l 22 O instituto da
desvirtuado da ação de improbidade administrativa, como ocorre
defesa preliminar, eXistente no direito penal para os funcionários pú-
muitas vezes, como veiculo de exibicionismo na mídia, de luta exclu-
blicos (CPP, art. 514), como antecedente ao recebimento da demin-
sivamente política ou de arma meramente vingativa ou oposicionista
eia, funciona como proteção moral para o agente público acusado,
e eleitoreira. Acusar um agente público de ter praticado ato de im-
para quem o simples fato de ser réu pode já implicar mancha na sua
probidade e ainda pretender indisponibilizar seu patrirnôDÍo pessoal
reputação. Abre-se a possibilidade de uma defesa antes de a ação ser
na pendência de uma ação que pode demorar anos é coisa muito
recebida, de molde a cortar pela raiz aquelas ações que se mostrem
séria, que não pode ser levada adiante de maneira irresponsável ou
levianas ou totalmente sem relação com a realidade dos fatos. 123
leviana. 121
Alguns abusos que vinbam sendo praticados acabaram levando 122. Não se exige a prova totalmente pre~constítuída para o ajuizamento da
ação de improbidade. e o autor tem o direIto de requerer a instrução probatona a
o Governo Federal a editar normas processuais adicionais relativas se realizar no curso do feito. No entanto, é necessãria a existênCIa, desde logo, de
ás ações de improbidade administrativa, que foram objeto de muito mdíclOs de matenalidade e autoria do ato de Improbidade, sob pena do indefenmento
debate na imprensa e de crítica sobretudo por parte de membros do liminar da demanda. V.• no STJ: REsp n. 811.664-PE, Rela. Min. Eliana Calmon,
DJU 15.3.2007.
Ministério Público.
Sobre o ônus da prova na ação de improbidade administratlva e o principio da
presunção de inocência dos réus, v.: José Miguel GarCIa Medina e Rafael de Oliveira
121. Sobre o emprego abusivo da ação de improbidade admmistrativa. v. Guímarães, "O ônus da prova na ação de Improbidade admimstrativa", RT 867/70.
decisão monocrática do Min. Gilmar Mendes. do STF, na ReeI. n. 4.810-RJ, DJU 123. A Citação do réu para apresentação de contestação na ação de improbi-
1.22007. dade administratlva sem que antes tenha havido a notificação para manifestação de
258 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PUBLICA 259

Também se definiu na MP n. 2.225-45/2001 que o juiz poderá o devido processo legal, sem sensacionalismos, muito se avançará
extinguir o processo a qualquer tempo se estiver convencido da made- no combate à corrupção e na preservação da moralidade adminis-
quação da ação de improbidade (§ 11), e que aos depoimentos e inqlÚ- trativa. '27
rições se aplicará o disposto no art. 221, caput e § I", do CPP (§ 12)}24
E fundamental que a ação de improbidade administrativa, para lO, A recente evolução da ação civil pública. Usos e abusos,
seu próprio bem, seja empregada com responsabilidade, naqueles Análise de sua patologia
casos em que realmente se vislumbre a prática de ilícitos. A fluidez
do conceito de moralidade administrativa exige que o ato de impro- Da importância das características do instituto - Como vimos,
bidade seja devidamente típificado na lei, não bastando a existência a ação civil pública, na sua atual regulamentação consti!)lcional e
de dúvidas ou questionamentos quanto à sua oportunidade e conve- legal, constitui uma inovação e uma conquista para a solução rápida
niênCIa (que se encontram dentro da discricionariedade do adminis- e eficiente dos conflitos de interesses, ensejando o acesso à JustIça de
trador público e são imunes ao controle judicial), mormente quando todas as classes sociais.
inexistente o prejuízo pecuniàrio ao patrimônio público. I25 Cabe indicar, inicialmente, a existência de um certo parentesco
Para manter seu prestígío e aceitação, não só na comunidade entre o mandado de segurança, a ação popular e a ação civil pública,
jurídica como em toda a sociedade brasileira, a ação de improbi- por serem remedios especiais, de natureza e origem constituCIOnal,
dade administrativa deve ser utilizada com rigor, mas dentro dos que se destacam e dissociam da técnica e até da filosofia tradicionais
conceitos de razoabilidade e proporcionalidade, evitando-se quais- do processo civil clássico. Essa analogia entre os três institutos é,
quer abusos.' 26 Observados estes princípios, e respeitado sempre ao mesmo tempo, técnica e filosófica, por se caracterizarem, todos
eles, pelo fato de serem instrumentos de conteúdo mais denso,12'
defesa préVia por escrito acarreta a nulidade do processo, que pode ser reconhecida refletindo o aprimoramento institucional do Estado de Direito, com
até mesmo em ação rescisóna (TRF-IJ1 R. AR n. 2002.01.00.041032-8-MG. Rei. alguma vinculação histónca com o habeas corpus, e destinando-se ii
Des. federal Olindo Menezes. RT 8411359). Não pode o magistrado pular uma fase
processual tida pelo legislador como indispensâvel; e, portanto. os réus em ação de
proteção do indivíduo contra o Poder Público, no caso do mandado
improbidade administratIva terno necessariamente o direito de apresentar defesa em de segurança, ou para a defesa da sàciedade, ou de seus membros, em
duas etapas distintas (TJRJ, AI n. 22.935/2004. ReI. Des. OtáVIO Rodngues, DJRJ casos especiais que justificam um procedimento mais rápido e a legi-
8.9.2005, p. 447). A citação irregular, porém, quando efetuada antes de aberta a fase timidade extraordinària, como ocorre nas hipóteses das ilegalidades
de defesa prevía. pode ser considerada para efeito de interrupção da prescrição (STJ,
REsp n. 799.339-RS, ReI. Min. TeoriAlbino Zavascki,RT853/200l.
que ensejam a lesão do patrimônio público, justificando a propositura
124. A lei processual penal, que passou a ser aplicável â ação de improbidade
admimstratlva, determina que certas autoridades serão inquiridas em dia. hora e local EDeclREsp n. 593.522-SP, Rela. Min. Eliana Calmon, DJe 23.6.2008; REsp n.
prevIamente acordados com o JUIZ, sendo que o Presidente e o Vice-Presidente da 1.003.179-RO, ReI. Min. Teori Albino Zavascki, DJe 18.8.2008; REsp n. 1.009.953·
República e os Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do STF PR. ReI. Min. LulZ Fux, DJe 23.10.2008; TJSP, ApC n. 318.822-5/3-00, ReI. Des.
podem optar pela prestação do depoimento por escrito. Fnmklin Nogueira, RT8441244; AR n. 546.045-5/5-00, ReI. Des. DéCIO Notarnngeli,
125. Nesta linha: TRF-I' R., ApC n. 1996.01.53556-0-DF, Rela. Juiza Eliana RePro 156/301; TJMG, ApC n. 272016-7/000, ReI. Des. Fernando Bràulio, ADV
Calmon, DJU 18.8.97, p. 64.072. 26/2005, em. 113.892.
126. V. Fábio Medina Osório, "Principio da proporcionalidade constitucional: ''Têm razão, assim, os que recomendam, amparados tambem em precedentes
Notas a respeíto da tipificação material e do sancl0namento aos atas de Improbi- da jurisprudêncIa, um JUizo mais flexível, baseado no princípIO da proporcionalidade,
dade adrnimstrabva reprimidns na LeI 8.429/92", RTDP 26/258; Emerson Garcia, apto a conter os excessos eventualmente decorrentes da aplicação da pena" (Teon
"Improbidade AdminIstrativa". RT 833nll. Sobre a necessidade de observância do Albino Zavascki. Processo Coletívo, CIt., pp. 120-121).
princípio da proporcíonalidade na aplicação de sanção decorrente da Lei n. 8.429/92. 127. Sobre o tema, recomenda-se a leItura do artigo de Edílson Pereira Nobre
avaliando-se o grau de culpa do reu e a intensidade do dano causado ao eràrio. con- Júnior, "Improbidade administratIva: alguns aspectos controvertidos", RDA 235/61-
forme a determmação, inclusive, do art. 12, parâgrafo umco: STJ. REsp n. 794.155- 91, bem atualizado doutrmària e jurisprudencialmente.
SP, ReI. Min. Castro Merra, DJU 4.9.2006; REsp n. 713.146-PR. Rela. Min. Eliana 128: Amoldo Wald. O Mandado de Segurança na Prática JlIdiciána, 3;). ed.,
Calmo", DJU22.3.2007; REsp n. 831.178-MG, ReI. Min. Lwz Fux, DJe 14.5.2008; Rio, Forense. 1968, n. 40, pp. 111 e 5S.
260 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 261

da ação popular, e da defesa dos interesses difusos, coletivos e homo- d) na necessidade de atendimento eficaz e rápido à justiça social.
gêneos individuais, no caso da ação civil pública. Assim sendo, e em virtude da sua finalidade, a ação civil públi-
São institutos que honram a ciência jurídica brasileira e revelam ca já fOI definida como sendo um "instrumento avançado da tutela
a sensibilidade do legislador e do Poder Judiciário em questões bá- junsdicional" .
sicas ligadas à proteção dos direitos individuais, à moralidade admi- Houve, na realidade, uma revolução renovadora do processo,
nistrativa, à ecologia, á proteção ao consumidor, à ordem econômica que se realizou meio século após a revolução que transformou o Di-
e ao patrirnônio cultural e artístico. Já tivemos o ensejo de afirmar reito Privado, ensejando sua socialização e modernização.
que, do mesmo modo que um país adquire dimensões internacionais
É uma revolução que consistiu na criação de um novo Direito
pela sua produção industrial ou pelo trabalbo cientifico ou artístico
Processual, e surgiu, ao lado do Direito tradicional, rompéndo com
nele realizado, a introdução de técnicas jurídicas mais sofisticadas
alguns dos princípios, que tinham sido sedimentados, nOS conflitos
para a proteção do individuo e o desenvolvimento da ciência jurídica,
interindividuais (Mauro Cappelletti).
para este fim, constituem elementos indiscutíveis da grandeza e da
importância de uma nação. Em determinados casos e areas, sentm-se a insuficiência das
soluções tradicionais para assegurar a adequada tutela aos novos
É por este motivo que um ilustre processualista espanhol já
direitos que foram surgindo.
disse, em relação ao mandado de segurança - mas a lição também se
aplica, por analogia, à ação civil pública -, que "os processualistas Os contratos de massas, vinculados à informática e à mudança
brasileiros sentem um verdadeiro fervor civico em relação a esta de tipo de civilização, à concentração urbana e às relações cada vez
instítuição, comparável ao orgulbo que os espanhóis sentem pelos mais desiguais entre as partes, passaram a eXIgir remédios de maior
processos forais de Aragão, os ingleses pelo habeas corpus e os me- densidade e eficiência, sob pena de frustração da Justiça.
xicanos pelo amparo. Este entusiasmo se justífica plenamente e tem Conseqüentemente, conceitos tradicionais, que eram válidos e
levado os jurístas brasileIrOS a estudar o assunto sempre que lhes é importantes para o Direito clássico, foram renovados, pelo Direito
dado apresentar teses ou relatórios em congressos internacionais ou Processual. Foi o que aconteceu com: a) a legitimidade e a substitui-
colaborar em obras estrangeiras" .12. ção processual; b) os efeitos da sentença e a coisa Julgada.
Na realidade, as várias novas técnicas processuais surgiram em Essa revolução processual viabilizou a proteção dos direitos
virtude da necessidade de atender determinados imperativos sociais ou coletivos, anteriormente esquecidos ou cuja proteção estava sendo
corrigir certas situações fáticas. Assim, encontram a sua razão de ser: frustrada no esquema clássico.
a) na desigualdade das partes (enquanto o processo tradicional Existe uma analogia entre essa renovação do processo e as evolu-
pressupõe a sua igualdade - que, em certos casos, se toma não mais ções que ocorreram, no Direito Privado, em relação a institutos como:
uma presunção, mas uma ficção); a) a responsabilidade civil, especialmente no tocante aos seus
b) na necessidade de criação de mecanismo para a defesa dos fundamentos, como a culpa e o risco;
grupos sociais (corpos intermediários), que são cada vez mais impor- b) a propriedade, à qual se atribuiu função social;
tantes na sociedade contemporânea, com substituição dos individuas
c) o contrato, que sofreu maior flexibilização e passou, em cer-
pelos grupos e respectivas entidades representativas;
tos casos, a ter efeitos eventuais contra terceiros e a ser suscetível
c) no papel que o processo assume como "instrumento de parti- de revisão judicial etc., dele se destacando o contrato de trabalbo, o
cipação popular" na fiscalização da aplicação do Direito; contrato administrativo e a relação de consumo, que passaram a ter
regunes especiais.
129. Niceto Alcalá-Zamora, "El mandato de seguridad brasileno visto por un
extranjero", in Ires Estudios sobre el Mandato de Seguridad Brasileiío, publicação do As transformações sofridas pelo Direito Privado, como as de-
Instituto de Derecho Comparado da UmversidadAutânoma de México. 1963, p. 100. correntes do Direito Judiciário, não significam o desaparecimento
262 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 263

do Direito clássico, mas a criação de um certo número de exceções A situação em maténa de Direito Processual e análoga, pois as
ás regras tradicionais. Assim, p. ex.. no tocante â responsabilidade novas normas não devem abalar nem afastar as antigas, cada uma
civil, a culpa do autor do dano continua sendo o fundamento básico delas tendo uma ãrea própria de incidência. Podemos, pois, afirmar
para que seja atribuida uma indenização à vítima, especialmente nas que à socialização e modernização do Direito Material correspondeu
relações interindividuais. A individualização da responsabilidade a criação de um direito de ações coletivas no campo do processo. Foi
e da pena, que é conquista da civilização ocidental, com base em o que o Prof. Watanabe denominou a molecularização do Direito
textos bíblicos, na filosofia grega e no Direito Romano, tomou-se Judiciário, em oposição à anterior atomização do mesmo. 131 Do mes-
atualmente, imperativo constitucional (art. 52, XLV e XLVI). Mas: mo modo que, em determinados setores, os conceitos tradicionais do
nas relações entre os grupos ou entre o individuo e o grupo, a culpa DireIto Privado não mais atendiam plenamente à adequada proteção
deixou de ser o único fundamento para o ressarcimento do dano, da vítima, como aconteceu em certos campos da responsabilidade
admitindo-se o risco profissional e até a obrigação de indenizar em civil,132 tambem no plano processual, para assegurar a defesa de
virtude do exercício de determinadas atividades. A necessidade da certos bens, valores e pessoas, foi necessário recorrer ás ações cole-
proteção da vítima ensejou a adoção excepcional da responsabilidade tivas. 133
objetiva, quando o dano é causado pelas pessoas juridicas de Direito Do mesmo modo que a revolução do Direito Privado, que foi
Público, e ainda nas relações de transporte, nos danos causados pela analisada por autores como Ripert, Savatier, Morin e outros, a revo-
energia nuclear etc. l3O lução processual é necessária e indispensàvel, mas, criando novos
instrumentos, exige que sejam manejados com prudência, do mesmo
Temos, assim, no campo do Direito Civil, como no Direito Judi-
ciário~ a possibilidade da vigência simultânea. em áreas distintas, de modo que o são os antibióticos, pelos medicas, e as armas atómicas,
pelos governos, e que sejam mantidos, nos seus campos próprios de
normas Juridicas de natureza e estrutura diversas refletindo principias
atividade, os instrumentos tradicionais e a dogmática clásSIca, que
juridicos que nem sempre são os mesmos. Essas normas de conteúdo
continuam a prestar relevantes serviços à ciência juridica.
divergente e destinadas a reger, algumas, as situações gerais e, outras,
as situações especiais ou específicas não se contaminam, nem se O uso generalizado e indiscriminado das ações civis públicas
comunicam necessariamente, embora possam exercer, umas sobre as como outrora do habeas corpus, dos interditos possessórios e do
outras, influência recíproca. próprio mandado de segurança, pode constituir séria ameaça à ordem
juridica e ensejar um clima de litigíosidade, insegurança e contesta-
Assim, no decorrer da história, tivemos Direitos comuns ou
ção generalizada, que é nocivo ao desenvolvimento do pais. O risco
gerais, ao lado de Direitos especiais. Foi o que aconteceu em Roma,
quando, ao lado do ius cívile, surgiram o Direito Pretoriano, de
131. Kazuo Watanabe. "Demandas colehvas e os problemas emergentes da prá~
origem jurisprudencial, e o ius gentium, aplicavel aos estrangeiros. Xis forense", in As Garantias do Cidadão na Justlça. obra coletiva organizada pelo
Do mesmo modo, na Inglaterra, tivemos, por longo tempo, e ainda Min. Sálvio de FigueIredo Teixeira, São Paulo. Saralva., 1993, p. 196.
temos, a conVivência da Common law e da Equity. No Direito conti- 132. Na década de 30, o Professor e Desembargador Virgílio de Sá Pereira
nental europeu e no Brasil, o Direito Privado, que se concentrava tra- ciamava contra as injustiças decorrentes da não reparação dos danos causados pelos
acidentes de bondes ponderando que a vítima não recebia indenização pois "os mo-
dicionalmente no Direito Civil, passou a se desmembrar de tal modo torneiros (dos bondes) têm culpa, mas não têm dinheíro e a Light tem dinheiro mas
que este tomou-se o Direito comum, enquanto o Direito Comercial e não tem culpa" (DecISÕes e Julgados, p. 18. e Arnoldo Wald, Questões de Responsa-
o Direito do Trabalho passaram a ser os Direitos especiais, o último bilidade Civil, Edições Cejup, 1990, p. 18). Deslocando-se da análise do comporta-
mento do autor do dano para apreciar o direito da vítima., a teoria moderna assegura. a
chegando a sair da órbita do Direito Privado para constituir, segundo todos, a mtegridade fíSlca, a saude e o direito asegurança (Arnoldo Wald, Obrigações
alguns autores, um terceiro gênero, integrando o Direito Social. e Contratos, 13' ed., São Paulo, Ed. RT, 1998, o. 264, p. 589).
133. Kazuo Watanabe, artigo cit ln nota 13 L No mesmo sentido, E. D. MonIZ
130. Arnoldo Wald. A Influência da Direíto Francês sobre o Direito Brasileiro de Aragão, "O Código de Processo Civil e a crise processual", RDA 187/37-47, e
no Domi'mo da Responsabt1idade Civil, Rio, Imprensa NacioDa~ 1953, pp. 70 e 55. numerosos outros estudos sobre a importânCIa crescente das ações coietlvas.
264 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CML PÚBLICA 265

apresentado é proporcional li. densidade e efetividade do remédio, Feitas essas ponderações, cabe lembrar que a introdução, em
como está ocorrendo em relação âs armas atômicas e aos antibióti- nossa legislação, da ação civil pública e dos seus principias bâsicos
cos, já antes referidos. não deve nem pode atingir:
O uso desenfreado dos novos remédios pode ameaçar a ma- A) Os principias constitucionais que garantem:
nutenção da ordem juridica e impedir o bom funcionamento da
a) o devido processo legal e o contraditório (devido processo
Administração, da Justiça e da Economia. Já o insuspeito defensor
legal substantivo e adjetívo);
das instituições democráticas e dos remédios processuais de maior
densidade que foi Hely Lopes Meirelles teve o ensejo de salientar, há b) a separação dos Poderes;
alguns anos atrâs, na presente obra. que "a ação popular vem sendo c) as competências respectivas da União, dos Estados e Muni-
desvirtuada e utilizada como meio de oposição política de uma Ad- cípios; .
ministração a outra, o que exige do Judiciário redobrada prudência d) a área de competência de cada magistrado.
no seu julgamento, para que não a transforme em instrumento de vin-
dicta partidária, nem impeça a realização de obras e serviços públicos B) O resto do sistema processual tradicional, que contínua em
essenciais li. comunidade que ela visa a proteger" .134 vigor, com as suas premissas e regras de procedimento, pois o Direito
especial não revoga o Direito geral.
E, em nota de rodapé, acrescenta que: "A experiência vem
demonstrando que a vigente lei de ação popular está a exigir uma Como já assinalamos, do mesmo modo que houve o abuso do
completa reformulação em seu texto, não só para conceituar melhor mandado de segurança, do qual se pretendeu fazer uma panacéia, há
seus objetivos como para agilizar seu processamento e impedir que uma certa tendência, atualmente, de generalizar o uso da ação civil
tais causas se eternizem na Justiça, sem julgamento, numa perene pública, sem que se atenda à sua verdadeira finalidade. No mandado
ameaça aos admimstradores chamados ajuizo"l35 de segurança, aos poucos, a lei, a jurisprudênCIa e a doutrina foram
A lição de Hely Lopes Meirelles aplica-se perfeitamente li. firmando parâmetros para impedir o seu abuso, ou seja, a sua utili-
atual utilização da ação civil pública na prática forense, como, aliás, zação como substituto de recurso, como forma de modificar decisão
demonstrou, em excelente artigo, intitulado "Ação civil pública e judiCial (a não ser nos casos de aberrações juridicas ou para o fim de
sua abusiva utilização pelo Ministério Público", o emmente Prof. concessão de efeito suspensivo a recursos, em situações especiais),
Rogério Lauria Tucci, Professor Titular de Processo na Faculdade de conforme se verifica pelas várias Súmulas do STF que trataram da
Direito da USP.136 matéria (Súmulas 101,266,268,269,271,304,429,474 e 511).
O mencionado artigo se inicia com as seguintes considerações: Uma condenàvel legislação posterior, de duvidosa constituciona-
"Este estudo resulta da verificação, em nossa lide forense quotidiana, lidade, está até ameaçando a integridade do instituto, chegando ao
da multiplicação de proposituras de ação civil pública, pelo Ministé- extremo oposto.
rio Público, que parece pretender transformar o importante instituto Pode-se afirmar que a tendência de generalizar o uso do manda-
juridico numa autêntica "panacéia geral para toda e qualquer situa- do de segurança fez com que perdesse a sua densidade e eficiênCIa,
ção", nas palavras candentes (empregadas alhures, para o mandado ocorrendo, em certo sentido, uma aplicação da Lei de Lavoisier no
de segurança), e bem apropriadas, de Kazuo Watanabe". campo Juridico. Efetivamente, a maior generalização no uso do remé-
dio enseja a sua menor eficiência. Ficou, assim, ameaçado o instituto
134. V. o fim do n. I da Segunda Parte. de se transformar numa verdadeira ação ordinária, em todos os senti-
135. Loe. cito na nota anterior. dos. Na realidade, com a sobrecarga de processos, O mandado de se-
136. Rogerio Lauria TucCI'. "Ação Civil pública e sua abusiva utilização pelo
Ministério Público", Ajuns 56/35-55. novembroJ92: estudo maIS recente, e na mesma gurança acabou só podendo ter efeitos imediatos, ou em tempo hábil,
. linha: Rogério Lauria TUCCl, "Ação civil pública: abUSIVa utilização pelo Ministério em virtude da concessão da medida liminar, pois, para o julgamento
Público e distorção pelo Poder Judiciário", RF 365/142 e RT 802127. do mérito do pedido, a demora tomou-se, evidentemente, excessiva.
266 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 267

Cabe salientar, finalmente, que a defesa do mandado de seguran- Mas, em principio, a sentença não tem o conteúdo e o alcance
ça, que estamos fazendo há cerca de quarenta anos, quando publica- da norma geral. Tal situação surge, todavia, na ação civil pública
mos o nosso primeiro livro a respeito da ação popular e da ação civil em virtude do que dispõe o art. 11 da Lei n. 7.347, que previu a
pública, é no sentido de prestigiá-los, sem deturpá-los. 137 possibilidade para o juíz de determinar, erga omnes, a prestação de
uma atívidade obrigatória ou a abstenção de uma atividade nociva.
Da recente patologia das ações públicas - Ao examinar a Acontece que o ar!. 11 deve ser interpretado sistematicamente com
recente evolução jurisprudencial das ações civis públicas, quatro o art. 5', II, da CF, de acordo com o qual "ninguém será obrigado a
aspectos merecem um exame especial: fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei" (em
1) as ações civis públicas intentadas com base na eqüidade, sem sentido formal). Assim, a atividade devida, à qual se refere o texto
respaldo legal, caracteri2ando o pedido juridicamente impossível e a legal, é a determinada por lei, e a atividade nociva é tão-~omente a
impropriedade da ação; ilegal e lesiva.
2) as ações civis públicas intentadas como substitutas das ações Conseqüentemente, a ação Civil pública não é instrumento de
diretas de inconstitucionalidade; eqüidade, de direito alternativo, ou de proteção de interesses não
consagrados pela lei. Por mais que a nossa legislação se refira a mte-
3) as ações civis públicas nas quais o juíz se atribui jurisdição
resses difusos, aplica-se a lição de Cappelletti, de acordo com a qual
nacional;
a ação pública protege "o mteresse difuso, na medida em que a lei
4) as ações civis públicas para defesa de direitos individuais substantiva o transforma em direito",
homogêneos e disponíveis, fora dos casos expressamente previstos
Neste sentido também se manifesta a doutrina pátria. conforme
pelo legislador.
se verifica pelo entendimento dos nossos mais eminentes Admmís-
A) As ações civis públicas e o Direito Material: "A função do trativistas, tais como:
Poder Judiciário consiste em fazer observar em concreto as normas I) Hely Lopes Meirelles: "ALei n. 7.347 é unicamente adjetiva,
juridicas existentes" (Calamandrei). de caráter processual, pelo quê a ação e a condenação devem basear-
A função judicante manifesta-se em dois atas, na lição de Kel- se em alguma norma substantiva, de Direito Material" (v. n. 1 desta
sen, consistindo em: a) estabelecer a exístência de um ato qualificado Terceira Parte);
como antijuridico civil ou penal, por uma norma juridica aplicável ao 2) Caio Tácito: "E licito ao juiz, no desempenho da atividade ju-
caso; b) aplicar a sanção civil ou penal prevista em lei. risdicional, do controle dos atas administrativos, proceder ao exame
Conclui-se que o ato jurisdicional não li inovativo (Calaman- do ato, podendo anulá-lo. Fica-lbe vedado, porém, decidir quanto ao
drei), constituindo tão-somente a especificação de norma preexIsten- merito do ato admmístrativo".138
te (donde a irretroatividade da lei). Na jurisprudência a matéria ficou muito clara em decisão pro-
Existem, evidentemente, algumas exceções, tais como: a) os dis- ferida pelo STF no Conflito de Atribuições 35, do qual trataremos
sídios coletivos previstos pela Constituição (art. 114, § 2'); b) outros logo em seguida, já referido na nota 13 do n. 1 desta Terceira Parte. D9
casos específicos em que o próprio legislador manda expressamente O que se reconhece, no Direito pátrio e estrangeíro, e a necessi-
aplicar a eqüidade (arts. 127 e 1.109 do CPC; normas sobre arbitra- dade de leis de proteção a determinados bensjuridicos (consumidor,
gem no CPC e na Lei n. 9.307/96; arts. 5' e 26 da Lei das Pequenas meio ambiente, direitos civis, mercado de capitais, ordem econô-
Causas; art. 6'>, V, do Código de Defesa do Consumidor). mica, criança e adolescente), para que possa funcíonar o sistema

137. Amoldo Wald. O Mandado de Segurança, Rio. publicação do DASP, 138. RDA 153/258.
1955. 139. RT690/184.
268 AÇÃO CIVIL PÚBLICA
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 269

processual em relação aos direitos coletivos e difusos. A modificação


"Não é O fato de alguém dirigir-se ao foro que iodica, a meu
processual, por si só, não importou alteração do Direito Substantivo, ver, que este alguém esteja pediodo a prestação jurisdicional, e sim
nem criação de novo Direito Material. mas tão-somente a estrutura- o exato teor daqUilo que se pede. Atentei, como de hábito, ao voto
ção de iostrumento adjetivo para a adequada e eficaz proteção dos do emmente Mio. Célio BOl]a. Grande parte do meu convencimento,
direitos substantivos já existentes e legalmente consagrados. que se formou durante o debate, deve-se a elementos trazidos à mesa
Concluimos, pois, que a regulamentação processual da ação ci- por S. Exa. Entretanto, o Mioistro Relator distioguiu, à luz do parecer
vil pública não é auto-alimentáveL Trata-se da criação e consagração do Ministério Público, no pedido vestibular, aquilo que teria por alvo
de um iostrumento processual da ordem juridica, na qual o adjetivo, uma forma qualquer de prestação jurisdicional, e aquilo em que a
por mais importante que seja, não pode prescindir do substantivo. parte postulante não pediu ao magistrado que aplicasse a legislação
Neste sentido o pronunciamento do então Procurador-Geral, e eXIstente - o produto do labor legislativo - ao caso concreto, mas que
hoje Ministro do STF, Sepúlveda Pertence, no Conflito de Atribui- cnasse a norma. Tal a hipótese, tendo sido possivel fazer essa distin-
ções 35, quando afirma: "Não basta o equipamento processual para ção, apreciaria acompanhar o voto do eminente Relator."
viabilizar a proteção daqueles ioteresses sociais que, sem lei, que os A Impropriedade da ação civil pública quando não fundada
converta em direitos co/elivos, o juiz entenda merecedores da pro- em norma legal expressa também tem sido reconhecida em des-
teção, ou, o que é pior, contra a lei que os proteja em determioada pa~hos do emioente Presidente do TRF da 3' Região, Dr. Romar
medida". 140 CaiS, que, na Suspensão de execução de liminar n. 1.336-SP (reg.
Na ementa do parecer do Ministério Público no Conflito de Atri- 93.03.25522-4), em 4.3.93, cassou liminar concedida em ação Civil
buições 35 consta o seguiote: "Proteção jurisdicional dos interesses pública, movida pelo Ministério Público, contra a Caixa Econômlca
difusos, Lei n. 7.347/85: limitação ao âmbito da função jurisdicional, Federal, objetivando a revisão dos critérios de reajuste das prestações
que não permite ao JUiz prestar tutela na ausência, em contrário, ou de financiamento pelo Plano de Equivalência Salarial (PES). Na sua
além da autorizada pela norma de Direito Material iocidente". decisão, salientou o douto Magistrado que, considerando o pedido,
tinha "fundada dúvida quanto à idoneidade da ação civil pública para
O Plenário do STF acompanhou o parecer, tendo concluído que
a obtenção do pretendido resultado, bem como quanto à legitimação
descabia a ação civil pública baseada na eqüidade.
ativa do Ministério Público para intentá-la na defesa de interesses
No mencionado caso (Conflito de Atribuições 35), em brilbante nitidamente privados".
voto, com um certo sabor anedótico, mas que bem retrata os riscos
O mesmo ilustre Magistrado também decidiu, em 10.3.93, na
que a generalização ou o uso indiscriminado da ação civil pública
SSeg n. 1.337-SP (reg. 93.03.24380-3), sustar os efeitos de medida
pode ensejar, o eminente Min. Francisco Rezek teve o ensejo de sa-
limioar concedida em ação civil pública, na qual se alegava a incons-
lientar que não admitia a ação civil pública sem que fosse embasada
titucionalidade do art. 6", § 1', da Lei n. 8.162, autorizando a movi-
em norma expressa de Direito Material. Afirmou S. Exa. que:
mentação pelos servidores públicos federais dos saldos das contas
''Figuro a situação seguiote: amanhã o Curador de Interesses Di- vinculadas ao FGTS. No seu despacho, esclareceu o Juiz Homar
fusos, no Rio de Janeiro, dirige-se a uma das Varas Cíveis da Capital, Cais que: "Inexiste litispendência entre ação direta de inconstitucio-
com toda a forma exterior de quem pede a prestação jurisdicional, e ?alidade proposta perante o tribunal competente e ação civil pública
requer ao Juiz que, em nome do bem coletivo, exonere o Ministro da mtentada perante juizo de primeiro grau, conquanto se procure por
Fazenda e designe em seu lugar outro cidadão, cujo luminoso curri- meio desta ioserir-se em nosso sistema uma nova e inconveniente
culum viria anexo. forma de controle de constitucionalidade. A verificação de tal ocor-
rência levou Arnoldo Wald a observar: 'Como a sentença proferida
140. ln "Memorial" apresentado ao STF por Arnoldo Wald no Conflito de na ação civil pública faz coisa julgada erga omnes, entendemos que
Atribuíções 35, p. 106.
ela não pode ser utilizada com a finalidade de declarar a inconstitu-
270 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 271

cionalidade da lei, criando uma nova forma de controle não prevista nistro Carlos Velloso). O STJ, por sua vez, concluiu, em julgamento,
pela Constituição e que violaria os principios básicos da Federação. que acaba de ser publicado e do qual foi relator o eminente Ministro
Efetivamente, no sistema vigente, admite-se o controle da constitu- SálvlO figueiredo Teixeira, que a utilização da ação civil pública pelo
cionalidade, no caso concreto, pelo juiz singular, e, de forma geral e IDEC em favor dos depOSitantes em cadernetas de poupança é muito
abstrata, pelo STF, ao julgar a ação de argüição de inconstituciona- discutível, não cabendo pois cautelar para atender aos interesses do
lidade. Ocorre que, recentemente, especialmente nos casos de libe- autor (Agravo na Medida Cautelar n. 1.427, inDJ de 28.6.1999).
ração de cruzados bloqueados pelo Plano ColIor e na discussão dos
efeitos da Lei n. 8.177, que regulamenta a correção monetária dos B) A ação civil pública não é forma paralela de declaração
creditos do Sistema Financeiro de Habitação, vários juizes federais de inconstitucionalidade: Acresce que, em várias oportunidades, a
concederam limínares para suspender a aplicação da lei no âmblto ação civil pública tem sido utilizada pelos juizes singula:res como
de sua jurisdição. Tivemos, assim, leis federais que deixaram de ser verdadeiro SUbslItuto da ação direta de inconstitucionalidade, com a
aplicadas em vários Estados, erga omnes, infringindo-se as normas diferença de ser a competência para o seu Julgamento do STF, como
constitucionais que asseguram a identidade do Direito federal aplica- manda a Constituição Federal.
do em todo o País. V árias decisões dos Tribunais Regionais e do STJ
acabaram suspendendo essas limínares. Na realidade, entendemos Ora, conhecemos no Direito brasileiro os controles abstrato e
que a ação civil pública não pode ser um sucedâneo local da ação de concreto. O abstrato é da competência exclusiva do STF e o concreto
argüição de inconstitucionalidade, que tem foro próprio e exclusivo' só se aplica em casos específicos ou de modo incidental. Como a
(Hely Lopes MeirelIes, Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação decisão da ação civil pública tem efeitos erga omnes, não pode en-
Civil Pública, Mandado de Injunção, "Habeas Data", 14Jl ed., atua- sejar o controle da constitucionalidade da lei por via disfarçada, com
lizada por Arnoldo Wald, pp. 126-127). usurpação da competência do STF.
"No caso específico, não se pode deixar de atentar para o fato Essa impossibilidade decorre da inviabilidade das duas conse-
de que o STF está prestes a concluir o julgamento da ADlnconst qüências alternativas:
613-4-DF, que examina a representação do Procurador-Geral da Re- a) ou a inconstitucionalidade é declarada localmente, tão-
pública sobre o § 12 do art. 6º da Lei n. 8.162/91. Tal circunstância, somente na área de competência do JUIZ, e, aplicando-se erga omnes,
por evidente, não tem o condão de paralisar eventuais Julgamentos cria um Direito Substantivo estadual diferente do naCÍonal e viola a
de ações que versam o controle concentrado daquela regra, efeito não Constituição, que estabelece a unidade do Direito Substantivo, ha-
previsto em nosso sistema juridico. Mas tratando-se, como se trata, vendo até a possibilidade de se criar um Direito específico aplicável
de medida liminar de caráter nitidamente satisfativo, tudo aconselha em detemIínada localidade, e não em todo o Estado, quando a área de
a que se suspenda sua execução, em nome do princípio da segurança jurisdição do juiz federal é inferior à do Estado, situação que ocorre
jurídica." no Estado do Paraná;
Conclui-se que somente em virtude de norma expressa de Direi- b) ou a inconstitucionalidade é declarada, pelo magistrado de
to Substantivo e que pode ser proposta a ação civil pública, não ca- primeira instância, para ter efeitos no plano nacional e há usurpação,
bendo extravasar desses limites, sob pena de deturpação do instituto. pelo juiz, da função do STF.
Aliás, neste sentido, se têm manifestado, recentemente, tanto O caráter excepcional do controle de constitucionalidade in
o Supremo Tribunal Federal como o Superior Tribunal de Justiça. abstracto foi salientado, no STF, pelo Min. Moreira Alves, que, a
O Excelso Pretória, em processo ainda em curso de julgamento, está respeito, afirmou: "O controle de constitucionalidade in abstracto
entendendo que, somente nos casos legalmente previstos é que a ação (principalmente em países em que, como o nosso, se admite, sem
pública pode ser utilizada, não sendo admissivel, por exemplo, em restrições, o incidenter tantum) é de natureza excepcional, e só se
matéria tributaria (RE 195-056,járeferido, inRDB 3/169, relator Mi- perrrute nos casos expressamente previstos pela própria Constituição,
272 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 273

como consectário, aliás, do princípio da harmonia e independência A tese do descabimento da utilização da ação cÍvil pública para
dos Poderes do Estado",141 afastar normas inconstitucionais teve. aliás, o ensejo de ser defendi-
O mesmo Magistrado teve, ainda. o ensejo de esclarecer, em da. em Congresso do Ministério Público e em outros pronunciamen-
recente trabalho doutrinário, que: "Por fim, a Constituição de 1988- tos, pelo Procurador da República Gilmar FerreÍra Mendes. 143
i I
ao contrário da Constituição de 1967 e da EC 1/69, que silenciaram Por sua vez. vários acórdãos consideraram a ação imprópria para
sobre preceito semelhante existente na EC 16/65 - declarou, no § 2' este fim, destacando-se os acórdãos do TARS que se manifestaram
do art. 125, que "cabe aos Estados a instituição de representação em ações civis públicas intentadas para que fosse devolvido aos con-
de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou tribuintes o lPTU inconstitucionalmente aumentado pelo MunicípIO.
municipais em face da Constituição estadual, vedada a atribuição Neste sentido decidiu a E. l' Câmara do TARS ao apreciar a Ap.
da legitimação para agir a um unico órgão", Com isso, não há mais c1veI191130194, em 10.12.91. esclarecendo. na ementa do acórdão:
duvida sobre se os Estados - como já o faziam sob o império da "Ação civil publica - Ação direta de inconstitucionalidade de tributo
Constituição de 1967 e da EC 1/69 - podem adotar, na defesa das travestida de ação civil pública - Descabimento",
Constituições estaduais, o controle de constitucionalidade das nor-
mas estaduais e municipais em abstrato. E, na Recl. 337, julgada em motivação, portanto, não Impede que, caso a caso, O STF venha a acolher recursos ex-
23.8.90, o STF manteve sua jurisprudência anterior, no sentido de traordinàrios contra as deCisões de tribunais lOCaIS que ameacem a unidade do direito
que não cabe aos Tribunais de Justiça dos Estados processar e julgar federal e/ou impliquem num índevido controle concentrado de constituclOnalidade
fora do âmbito da Suprema Corte.
ação direta em que se argüi a inconstitucionalidade de lei munícipal O ilustre Min. Relator lImar GaIvão, na Reclamação n. 602. teve o ensejO
em face da Constituição Federal, pois, em caso contrário, tendo os de salientar, todavia. que poderia o reclamante "questionar o cabimento da ação
acórdãos nessas ações eficácia erga omnes, a eles estaria vinculada a civil pública como instrumento de proteção de direItos individuaiS homogêneos; a
Suprema Corte, que, assim, não poderia exercer seu papel de guardiã legitimidade da substituição processual que se verificou no pólo atlVo; ou, mesmo,
a competência da Justiça paulista para compor danos tidos por verificados fora dos
da Constituição Federal no controle difuso de constitucionalidade da limites do Estado de São Paulo".
lei municipal declarada inconstitucional em ação dessa natureza", 142 Nos excelentes votos vencidos proferidos nas Reclamações ns. 597, 600 e
602, o Min. Marco Aurélio. adotando o parecer da Procuradona-Geral da República
141. RE 91.740-RS, RTJ93(1)/461-462. (CDT 20/65) e a posição da doutrina, concluIU que haVIa, na realidade, usurpação da
142. ln As Garantias do Cidadão na Justiça, obra coletiva coordenada pelo competência do Excelso Pretório. Após transcrever trechos deste livro, considerando
Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira. São Paulo, Saraiva. 1993, p. 14. ! ainda "mais mcisiva a lição de HeJy Lopes Meirelles. em Mandado de Segurança,
II, O Supremo Tribunal Federal teve o ensejo de cassar julgamentos de primeira Ação Popuiar: Ação Civil Pública, Mandado de Injunção, 'Habeas Data ..·. conclUi o
instânCia e liminares concedidas em ações Civis públicas que consideravam certas eminente Magistrado considerando que taIS "observações são urefutavels. Ê flagrante
nonnas inconstitucionais erga omnes, entendendo haver no caso verdadeíra usurpa- a impropriedade da ação Civil pública quando o julgamento não prescmde do exame
ção da competêncIa da Corte Suprema (Reclamações 434-1-SP, 557-7-MG, 559-7- da mconstttucionalidade de um certo ato normatIVO" (RDB lf129). No entanto, com
MG. 559-3-MG. 560-7-MG. 562-3-MG e 564-0-MG). supedâneo nas decisões proferidas nas Reclamações ns. 597, 600 e 602. o STF negou
No mesmo sentido a Reclamação n. 597-6-SP. ReI. Min. Marco Aurélio, DJU seguImento ás Reclamações ns. 557 (DJU 25.9.97), 559 (DJU 25.9.97), 560 (DJU
28.3.96. A maténa foi tratada com profundidade no acórdão unânime do Plenário do 19.11.97),562 (DJU 19.11.97) e 564 (DJU25.9.97), tornando sem efeíto as limmares
STF, na Reclamação n. 434-1-SP, ReI. Min. Francisco Rezelc, RF 336/231. V. ainda a então deferidas. Sobre a matêria - descabimento de declaração de inConstttucIona-
Reclamação n. 2.224-2-SP. ReI. Min. Sepúlveda Pertence, RePro 137/196. Também o lidade em ação civil pública - hà fundamentado trabalho forense de Arruda AlVim,
TJSP já se manifestou no mesmo sentido do descabimento da ação civil pública como publicado na RePro 82/256. No STJ. REsp n. 125.337-MG. ReI. Min. DemÓCrito
um substituto da ação direta de inconstitucionalidade (ApC n. 228.335-2, ReI. Des. Reinaldo, DJU 2.3.98. p. 19; REsp n. 591.963-MG. ReI. Min.Teon Albino Zavas-
Ricardo Brancato. RJTJSP 177121). Ao aprecíar o mérito de algumas reclamações, o cki. DJU9.12.2003, p. 251; REsp n. 516.914-PE. ReI. Min. Francisco Falcão. DJU
Supremo Tribunal Federal, por maioria, entendeu não haver. no caso, usurpação da 19.12.2005, p. 214; e AgRgREsp n. 678.91 I-MG. ReI. Min. Luiz Fux,DJU5.9.2005.
sua competência, como se verifica pelos acórdãos das Reclamações ns. 597 (DJU p.257.
2.2.2007),600 (DJU5.12.2003) e 602 (DJU 14.22003). Conforme anotado no Infor- 143. Gilmar Mendes. "Ação CIvil pública e controle da constitucionalidade", in
mativo STF n. 82, p. I, "predominou o entendimento de que não é passivei examinar II Fórum de Direito EconómiCO, publicação do IBCB (Instituto BrasileIro de Ciência
em reclamação a natureza Jurídica da ação civil pública", O indeferimento com tal Bancan.), 1995, pp. 123 a 136.
274 AÇÃO CIVIL PÚBLlCA AÇÃO CIVIL PÚBLlCA 275

oacórdão reconheceu que inexiste viabilidade da ação civil No sentido do descabimento da ação civil pública como substi-
pública para a defesa de ínteresses índividuais homogêneos e acres- tuta da ação de ínconstitucionalidade tambem manifestou-se o ilustre
centou que também era impropria a ação por pretender que fosse Presidente do TRF da 3" Região, Dr. Homar Cais, na já mencionada
reconhecida uma ínconstitucionalidade erga omnes. Foi a segninte a SSeg n. 1.337, referente à ação civil pública na qual foi alegada a
conclnsão da decisão: ínconstituclOnalidade do § 12 do ar!. Ii" da Lei n. 8.162/91, no tocante
"Existe aínda uma ontra razão a conduzir o raciocínio para idên- à movimentação de saldos vínculados ao FGTS por funcionános
tico resultaejo. É que, em se tratando de tributo acoimado de incons- públicos, em que nos honrou com citação de trecho que escrevemos
titucional, há a previsão constitucional da ação direta de ínconstitu- a respeito. 14'
cionalidade. O art. 102 da Constituição da República atribui ao STF Por sua vez, a Juiza Annamaria Pimentel, da 3' Turma do TRF
competêncIa para processar e julgar origínariamente a ação direta da 3' Região, concedeu, em 17.12.90, medida liminar e~ mandado
de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual. de segnrança contra medida limínar concedida por juiz federal, em
"O art. 97 da Constituição estadual atribui ao Tribunal de Justiça ação civil pública, que considerara ínconstitucional a regnlamentação
competência para processar e julgar a ação direta de ínconstitucio- do Banco Central que fez depender a aplicação do art. 192, § 3", da
nalidade de lei ou ato normativo estadual perante a Constituição CF da promulgação de lei complementar (MS n. 90.03.45384-5).
estadual e de leI municipal, perante a mesma e a Constituição Fede- Na realidade, foram numerosas as ações civis públicas íntenta-
rai, ínclusive por omissão. Ora, tanto a ação direta de ínconstitucio- das, em todo o País, seja para exigir a aplicação imediata do ar!. 192,
nalidade quanto a ação coletiva para a defesa de direitos individuais § 32 , da CF, alegando a ínconstitucionalidade da regulamentação do
homogêneos produzem efeitos erga omnes. Banco Central, que considerou que a mencionada norma não era
"Admitida, portanto, ação civil pública para obstar à cobrança auto-aplicável, dependendo de regnlamentação legal, seja para o
de tributo havido por inconstitucional, abre-se a possibilidade de reconhecimento erga omnes da ínconstitucionalidade dos vários di-
prolação de sentenças contraditórias, com efeitos ignalmente erga plomas legais que regnlamentaram a correção monetária nos últimos
omnes, o que resulta absurdo. Imagine-se, no caso do Rio Grande do anos, e, em particular, em relação ao Plano Collor.
Sul, uma ação civil pública, julgada pelo Tribunal de Alçada, afir- C) Extensão dajurisdição na ação civil pública: Problema mais
mando a inconstitucionalidade de um tributo municipal e uma outra delicado é o da extensão da jurisdição do magistrado na ação Civil
ação direta de ínconstitucionalidade julgada improcedente pelo Tri- pública, em virtude da redação da lei, que pode parecer ambigna, ao
bunal de Justiça. Qual decisão prevalecerá erga omnes? A proferida deixar de compatibilizar expressamente os principios da competência
em primeiro lugar? A proferida por último? A proferida pelo Tribunal funcional e territorial e a extensão de jurisdição do magistrado na
Superior? A simples possibilidade desse caos está a demonstrar a im- ação Civil pública, ensejando interpretações divergentes na doutrina
possibilidade de se admitir a ação civil pública quando possivel ação e na Jurisprudência.
direta de inconstitucionalidade."I« O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) estabele-
ce, em relação à Justiça estadual, a competência do juiz do local onde
144. .rrARS 811216-219. Ajunsprudência majoritária vem entendendo que a ocorre o dano, e, no caso de dano nacional ou regional, o da CapItal
ação cívil pública não é cabível para a discussão de inconsntucionalidades em matéria
de tributos. A uma, pela impossibilidade da declaração da inconstitucIOnalidade no
do Estado ou do Distnto Federal (art. 93), aplicando-se a norma, em
âmbito da ação cIvil pública; e a duas, pela inviabilidade da mesma em matéria de de- tese, a todos os casos de ação civil pública, em virtude do disposto
fesa do contribuinte. que não se confunde com a figura do consumidor (STJ. REsp fl. no ar!. 1\ 7 do CDC.
134.979-00. ReI. Min. Garcia Vieira, DJU 6.10.97, p. 49.903; REsp n. 124201-SP,
ReI. Min. Demócrito Reinaldo. ADVl998, p. 271, ementa 82.744; REsp n. 113.326- Se um único ato enseja danos nacionais ou regionais, a compe-
MS, ReI. Min. Arí Pargendler, RT7491233; REsp o. 90A06-MG, ReI. Mio. Garcia tência é do local onde foi sofrido o dano, ou da Capital do Estado;
Vieua, DJU 4.5.98, p. 78). No mesmo sentido o STF. 00 RE o. 195.056-11PR. cujo
acórdão consta no DJU30.5.2003, Seção I, p. 30, e RTJ 185/302. 145. DOE, Poder Judiciário, Estado de São Paulo. de 12.3.93,63(47)/107.
276 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PUBLICA 277

mas, se os prejuízos atingirem vários Estados, a liberdade de escolha restringiram a apreciar Iiminares, têm alcance apenas na Jurisdição
de foro não deve ser ilimitada, quando pleiteada a indenização pela de cada Juiz federal. '>147
totalidade dos danos. No mesmo sentido se pronunciou o Min. Carlos Mário Velloso,
Assim, se diversos atos idênticos ou análogos são praticados reconhecendo implicitamente que a Lei da Ação Civil Pública e o
em vários Estados ou Municípios e ensejam danos, a competência Código de Defesa do Consumidor não tinham ampliado a jurisdição
deve ser dos vários juízes, cada um competente em relação aos atas do JUiz, ao afirmar que:
praticados e danos sofridos na sua circunscrição judiciária, não se "O que deve ser dito é que temos, no momento, decisões diver-
admitindo que ocorra a extensão da competência de qualquer juiz, gentes proferidas por juizos competentes. Essas decisões divergen-
para que a sua sentença proferida erga omnes possa alcançar os réus tes, entretanto, haverão de existir, dada a regionalização da JuslIça
em todo o território nacional. Federal. Oportunamente, esses entendimentos serão uniformizados
Há. aliás, decisão do STJ reconhecendo que não há conexão entre por este STJ, quando a matéria aqui chegar através dos recursos
as ações civis públicas intentadas para fins análogos, nas várias regiões, apropriados.
que foi proferida no CComp n. 971 e cuja ementa é a seguinte: "Enquanto isso não ocorre, repito, é legilIma a divergência, con-
"Inexiste conflito de competência quando juízes federais, ainda vindo acentuar que fOI o Constituinte que o desejou, ao regionalizar
que vinculados a Tribunais Regionais diversos, apreciam causas a Justiça Federal. Lembro-me de que, nos trabalhos que antecederam
conexas em matéria de interesses difusos. à reforma judiciária - eu mesmo tive a oportunidade de participar de
"Possibilidade de repercussões diferentes nos vários Estados".146 algumas deles, inclusive no âmbito do antigo TFR -, essa questão veio
à baila, e se dizia que essa questão pesava contra a regionalização:
No mencionado acórdão, que se acha transcrito na obra do Min. poderiam os Tribunais Regionais divergir entre eles, e enquanto o STJ
Sálvio de Figueiredo Teixeira, O Processo Civil no STJ, e que trata não fosse chamado a se pronunciar, através dos recursos próprios, a di-
da proibição do uso do metanol, prevaleceu o voto do Min. Vicente vergência poderia causar problemas. Não obstante, o Constituinte quis
Cemicchiaro, para quem: a regionalização, e agiu bem, pois ~s vantagens são muito maiores.
"Dessa forma, considerando, especificamente, ainda, que haja "De modo que, Sr. Presidente, é passiveI entendimentos di-
unidade entre as partes que estão litigando, argúem fato semelhante vergentes nas diversas regiões da Justiça Federal. Aliás, isso não
e buscam a mesma solicitação, eventual contradição, julgamentos é apenas da Justiça Federal. Também na Justiça Comum estadual
diferentes, tanto no primeiro grau como no segundo grau de juris- isto poderá ocorrer, por isso que cada Estado tem o seu Tribunal de
dição, através dos juízes dos Tribunais Federais Regionais, poderão Justiça. E pode acontecer, também, na Justiça do Trabalho, porque
ser revistos e unificados no STJ. Apenas para dar um exemplo, seria também ela está regionalizada."I48
inteiramente lícito e perfeito que alguém promovesse demanda no
No mesmo sentido, o Presidente do TRF da 3" Região, Juiz
Rio de Janeiro contra a União Federal e outra pessoa, deduzindo a
Homar Cais, em despacho de 28.5.92, no proc. n. 92.03.35198-7
mesma causa de pedir, o fizesse em Brasília ou qualquer outra juris-
(SSeg 1.307), salientou que não havia a possibilidade de a decisão,
dição federal. Isso não atrai necessariamente a prevenção; não atrai
proferida em ação civil pública, abranger os interessados em todo o
a unidade de juizos. As decisões poderão ser unificadas, agora, no
STJ. Assim dispõe o comando constitucional. 147. SálvlO de Figueiredo Teixeira, oh. cit, p. 135. Segumdo a mesma linha.
"Os processos desenvolver-se-ão separadamente. As respecti- outro acórdão mais recente do STJ, no CComp n. 17.137~PE. ReL Min.Ari Pargen-
vas decisões terão eficácia na jurisdição de cada juízo. Acrescente- dler. DJU2.9.96, p. 31.017, esclareceu que"8 ação CIvil pública ajUizada no Estado
de São Paulo não atrai aquela proposta no Estado de Pernambuco, para julgamento
se. Apesar de manifestações de dois Tribunais Regionais, que se simultâneo, ainda que sejam conexas em razão da identidade de pedidos e de causas
de pedir, são ações sujeitas a Jurisdições diferentes",
146. Ementário do STJ2. ano 2,janeiro-abriV92. 148. Ob. Clt, p. 137.
278 AÇÃO ClVIL PÚBLICA AÇÃO ClVlL PÚBLICA 279

território nacional, pois "há que se ter presente que jurisdição nacio- ser utilizada quando prevista legalmente, aplicando-se-lhe o principio
nal têm apenas o STF e o STJ. Ajurisdição dos juizes federais cir- do numerus clausus. Assim, não cabe estender a sua atuação fora
cunscreve-se ao âmbito do respectivo Estado e a dos TRFs espraia-se dos limites fixados pelo legislador, que não admitem ínterpretações
pela correspondente Região, como decorre da ConstituIção Federal". extensivas, nem analógicas.
Podemos, pois, concluir que nem a Lei da Ação Civil Pública Como o art. lQ da Lei da Ação Civil Pública, com a redação
nem o Código de Defesa do Consumidor afastam os princípios que lhe deu o Código de Defesa do Consumidor, caracteriza as fi-
referentes â competência e jurisdição e as normas da organização nalidades da ação civil pública nos seus três primeiros íncisos (meio
judiciaria, limitando-se a estabelecer normas especiais, para prote- ambiente, defesa do consumidor e bens e direitos de valor artistico,
ção do economicamente mais fraco (parecidas com as referentes â estético, histórico, turístico e paisagisticol, em relação a esses casos
proteção do autor nas ações de alimentos etc. l, não tendo criado uma cabe a ação civil pública para defesa de todos os direitos previstos
competência nacional do juiz de primeira instância, quer pertença pela legislação e em particular pelo Código de Defesa do Consumi-
aos quadros da Justiça Federal ou Estadual, quando julga as ações dor, abrangendo, pois, tanto os ínteresses difusos quanto os coletivos
civis públicas. e os individuais homogêneos, todos bem definidos e caracterizados
No particular, diante das dúvidas suscitadas, entendíamos que se no art. 81 do CDC, o mesmo se aplicando as infrações da ordem
impõe a necessidade de melhorar a legislação existente. Neste sen- económica (Lei n. 8.884/94),
tido manifestou-se, aliâs, o Instituto de Estudos Avançados da USP, A contrario sensu, o ínc. IV do art. lQ não determina a finalidade
nas suas propostas para modificar alguns aspectos da estrutura do que deve ser protegida pela ação civil pública, admitindo que todas
Poder Judiciáno, propondo "centralizar, em Brasília, a competência elas o sejam, mas se refere tão-somente aos ínteresses que Justificam
para julgamento das ações coletivas, cujas decisões possam ter eficá- a sua propositura ao reconhecer o seu cabimento no caso de danos
cia nacional ou ínterestadual",149 causados tão-somente: "IV - a qualquer outro interesse difoso ou
Atendendo aos reclamos dos tribunais e da doutrina, aos quais coletivd'
nos referiamos nas edições anteriores da presente obra e numa ten- Assim sendo, o ínc. IV exclui do âmbito da ação civil pública
tativa de aperfeiçoamento da legislação vigente, a Lei n. 9.494, de os interesses individuais homogêneos nos outros casos, ou seja,
10.9.97, alterou a redação do art. 16 da Lei n. 7.347/85, esclarecendo naqueles não previstos nos três primeiros e no quinto incisos, acima
no seu art. 2Q que "a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos referidos.
limites da competência territorial do órgão prolator ( ... )", Assim, O problema abrange dois pontos:
buscou-se afastar a tentativa de atribuição de efeitos nacionais a a) a incompetência do Ministério Público para íntentar as ações
decisões meramente locais. Como já assinalado, o STF, em 16.4.97, para defesa de direito índividual homogêneo (arts, 127 e 129, m, da
rejeitou o pedido de liminar feito naADIn n. 1.576 contra o mencio- CF) que só se refere aos interesses difusos, coletivos e indisponíveis,
nado artigo, que constava da Medida Provisória n. 1.570/97. 150 matéria da qualjá tratamos no n. 2 desta Terceira Parte (na nota 19);
D) Do descabimento da ação civil pública para a defesa de b l a impropriedade da ação civil pública para a proteção de
direitos individuais homogêneos fora das hipóteses previstas nos direitos individuais homogêneos, que não se enquadrem nos três
três primeiros e no último incísos do art. 1º da Lei da Ação Civil íncisos pela interpretação sistemática do art. lQ, IV, e do art. 81. que
Pública (meio ambiente. consumidor. património público e social e define os direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, só se
ordem económica): Pela sua natureza, a ação civil pública só pode referindo o inc. IV do ar!. lQ aos dois primeiros (difusos e coletivos),
e não aos direitos individuais homogêneos.
149. Gazela Mercantil. 1.7.93. Alguns autores e membros do Mínistério Público consideram
150. ADIn n. 1.576-DF. ReI. Min. Marco Aurélio. Infonnaltvo STFn. 67, p, 1. que também os direitos Civis homogêneos, fora dos casos dos três
280 ACÃO CIVIL PÚBLICA ACÃO CIVIL PÚBLICA 281

primeiros incisos do art. I", poderiam ser defendidos em ação civil ou consome, do ponto de vista juridico, é o banco, embora, na reali-
pública, invocando o art. 117 do CDC, que introduziu na Lei da dade, não haja o consumo do dinheiro emprestado, não se podendo
Ação Civil Pública o art. 21, com a seguinte redação: "Aplicam-se confundir o consumo e a poupança; 152
à defesa dos direitos e interesses, difusos, coletivos e individuais, d) obtenção e restituição de dinheiro desviado por funcionário
no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o ou autoridade pública. 153
Código de Defesa do Consumidor". É relevante a junsprudência existente no sentido da interpreta-
Esquecem-se, todavia, de que a aplicação supletiva das normas ção que ora defendemos. Há varios acórdãos e sentenças que consi-
do Código de Defesa do Consumidor à Lei da Ação Civil Pública só deram o IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor) parte ilegítima
deve ocorrer, conforme determinação expressa do legislador, no que ad causam e a ação CIvil pública como sendo imprópria no caso de
couber, ou seja, nos casos em que o mencionado diploma (LACP) discussão de questões fiscais, de fmanciamentos e de complementa-
admite a proteção de uma das espécies de direitos aos quais se refere o ções de correção monetária.
seu art. I·. Deve, pois, prevalecer a interpretação lógíca e sistemática, Assim, um acórdão do TARS considerou incabivel a ação civil
que, em relação aos outros interesses e direitos (art. l",IV), só admite pública para defesa de interesses mdividuais homogêneos, ao mes-
a utilização da ação civil pública quando os mesmos forem coletivos mo tempo em que nela se discutia a constitucionalidade de normas
ou difusos. Não há, pois, como aplicar, por analogía, o Código de locais. No referido Julgado (ApC n. 191130194, in JTARS 81/216 e
Defesa do Consumidor para justificar a propositura da ação pública ss.) foi salientado que:
para defesa de direitos individuais homogêneos na hÍpótese do art. I',
"A questão primordial, aqui, é outra e diz respeito ao próprio
IV,daLACP. cabimento de ação civil pública, intentada com vistas â sustação da
Descabe, assim, a ação civil pública, entre outros casos, para: cobrança de tributo. O art. I. da Lei n. 7.347, de 24.7.85. que diSCI-
a) recuperação de imposto pago indevidamente (defendendo-se plina a ação civil pública, dispõe: 'Regem-se pelas disposições desta
interesse individual homogêneo tributário do contribuinte);I5! lei, sem prejuizo da ação popular, as ações de responsabilidade por
b) anulação de operações financeiras (matéria que, conforme o danos causados: I - ao meio ambiente; II - ao consumidor; III - a
caso, pode ser do ãmbito da ação popular); bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paIsa-
gístico; IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo' (este mc.
c) operações bancarias não referentes ao consumidor e, em par-
IV, que restara excluído da Lei n. 7.347, em decorrência de veto, veio
ticular, ações referentes a depósitos feitos em bancos, sob qualquer
a ser introduzido pelo art. 11 Odo Código de Defesa do Consumidor,
forma, inclusive caderneta de poupança, por inexistir, no caso, servi-
Lei n. 8.078, de 11.9.90).
ço prestado pelo banco e remunerado pelo cliente, não sendo, pois, o
banco um fornecedor, nem o cliente um consumidor. Examinando a "Da cO'1Íunção desses textos da Constituição e das leis, resulta
operação de depósito, poder-se-ia até chegar à conclusão contraria, indubitável o cabimento de ação civil pública para a tutela do meio
de que a pessoa que fornece o numeraria é o cliente e quem o utiliza ambiente, do consumidor, de bens e direitos de valor cultural e de
outros mteresses difusos ou coletivos. Com referência aos últimos.
151. STF, Pleno: RE n. 213.631-MG. ReI. Min. limar Gaivão, RTJ 173/288;
os úmcos que importam aqUI, li ineliminavel a exigência de que se
STJ: REsp n. 57.465-O-PR. ReI. Min. Demócrito Reinaldo, RF 334/313 e RTJE trata de interesses qualificáveis como difusos ou coletivos. A materia
147/184; REsp n. 97.455-SP, ReI. Min. Demócrito Remaldo,RDR 8/219,RF341/277 já não apresenta, hoje, as dificuldades que apresentou no passado.
e RSTJ 95/93; REsp n. 94.445-MG, ReI. Min. Hélio Mosimann, RSTJ 89/172; em virtude de definição legal.
TJSP, ApC n. 250.472-1, ReI. Des. Gomes Corrê.. RJTJSP 18119; l' TACSP, ApC
n. 515.461-6, ReI. JUIZ Roberto Bedaque, RT718/143, MS n. 609.362-3, ReI. Juiz
Nivaldo Baizano, RT723/383; TAPR. ApC n. 53.111-5, ReI. Juiz lrlanArco-Verde, 152. TJPR, ApC n. 38.377-7, ReI. Des. Manrnbão de Loyola, RT733/337 e RF
RT6911170; TJMG,ApC n. 71.256/2, ReI. Des. SérgIO LeUis Santiago, RT7421357 339/353. Parecer do Prof. Humberto Theodoro Júnior, RF 339/209.
(mesmo Tribunal e relator, RT7481368). 153. STJ, REsp n. 34.980-5-SP, ReI. Min. Peçanba Martms,RSTJ 65/352.
282 AÇÃO CIVlL PÚBLICA AÇÃO CIVlL PÚBLICA 283

"Efetivamente, O Código de Defesa do Consumidor vem-se No seu voto, esclareceu o douto Relator que:
preocupando com traçar limites entre direitos subjetivos e .meros!nte- "A Lei n. 7.347/85 trata, portanto, de uma ação especial, desti-
resses, no que seguiu, aliás, a tendência da doutrina e Junsprudencla nada a proteger certos interesses difusos antes não amparados pelas
modernas, traçou nítida distinção entre interesses ou direitos difusos. ações já existentes, não obstante a evidência de que a todo direito
interesses ou direitos individuais homogéneos. corresponde uma ação. Mas é certo que, especificamente, inexlstia
"Efetivamente, o art. 81, parágrafo único, do Código do Consu- disposição legal expressa que especificamente amparasse, com ação
midor dispõe: 'A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: própria, os bens e direitos protegidos pela Lei n. 7.347/85.
I _ interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste "Ao determinar que interesses se destinava especialmente a
Código, os transindividu~is, de na:ureza indivisivel, ,de que sejam garantir, nominando-os, e ao se referir, em seu art. 2·, ás ações a eles
titulares pessoas mdetermmadas e ligadas por CrrcunStãnClas de fato; correspondentes, ti óbvio que a lei não veio para amparar direitos já
II _ interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos determinadamente objeto de ações já instituídas, como ocorre com a
deste Código, os transindividuais de natureza indivisível deque seja ação popular p. ex., de objetos tão claramente definidos como os da
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre SI ou com Lei da Ação Civil Pública.
a parte contrária por uma :-elação jnridica ba.:e; III - interesses ou "Assim como a ação civil pública respondeu â evolução do
direitos individuais homogeneos, assun entendidos os decorrentes de tempo e da doutrina no sentido de dar tutela forte e explícita aos
origem comum'. interesses difusos, mediante instituíção de ação e autor institucional
"Destaca-se, assim, que os interesses ou direitos difusos e co- CCF, art. 129, III) à proteção do meio ambiente, do consumidor e
lelivos têm de comum a característica de serem transindividuais. de dos bens e direitos de valor artístico, estético~ hístórico~ turístico e
natureza indivisível. A divisibilidade apresenta-se, pois, como marco paisagístico, a ação popular se destina já á invalidação de atos ou
divisório entre os interesses difusos ou coletivos e os direitos indivi- contratos admimstrativos, ou a eles equiparados, com resultados,
duais. homogéneos ou não. Interesses divis/velS. individualt:áveis. que integram seu obJeto, de natureza também repressiva e reparado-
podem qualificar-se como direitos individuais homogéneos. Jamais ra do dano decorrente daqueles abusos administrativos.
como interesses difi/Sos ou colelívas. "Na especie. é lógico que o objeto da ação proposta - conde-
"Essa observação tem enorme importância no caso em exame, nação do reu a reparar o dano. repondo o valor despendido - pres-
porque a Lei n. 7.347/85 apenas admite ação civil pública nos casos supõe a anulação do ato ou contrato por sua lesividade e isso é pro-
acima indicados. ou seja, para a tutela do meio ambiente, para a tutela prio da ação popular, não se incluindo, outrossim, na previsão do
do consumidor, para a tutela de bens de valor cultural e para a tutela art. I" da Lei n. 7.347/85, a qual não veio para aperfeiçoar a Lei n.
de ~ outros interesses difusos ou co/etivos' , 4.717/65, mas trouxe objeto próprio, inconfundível com o daquela.
"No âmbito dessa lei, não há lugar para ação civil pública para "A condenação em dinheiro prevista pelo art. 13 da Lei n.
a tutela de direitos individuais homogéneos. Apenas no âmbito da 7.347 não e aquela de reposição aos cofres públicos de valores em
defesa do consumidor, regulada pela Lei n. 8.078, de 11.9.90, é que dinheiro deles ilicitamente retirados; antes, tem natureza mais am-
tem lugar essa extraordinária inovação que é a ação civil pública para pla, que pode atingir conotação de mera sanção isolada ou cumulada
a tutela de direitos individuais homogêneos." com outro tipo de cominação na sentença.
Por sua vez, a 2' Câmara do TJMG teve o ensejo, ao julgar a "Com razão a r. decisão recorrida ao reconhecer a improprie-
Ap. cível 88.156-2, da qual foi relator o Des. Bernardino Godinho, dade da ação e ao fazer referéncia à ilegitimIdade ativa, no caso de
de decidir que: "A via processual adequada para se obter a restitui- propositura da ação própria, ressalvado o direito do cidadão, como
ção de dinheiro desviado por prefeito municipal é a ação popular e titular da ação. Confirmo-a, por seus próprios fundamentos, assim
não a ação civil pública C... )", desprovendo o recurso."
284 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 285

São numerosas as decisões no mesmo sentido, inclusive em 3. A sua utilização é excepcional (RJTJSP 117/142), "devendo
primeira instancia, cabendo citar, entre outras, a decisão de 4.6.92 ser entendida nos seus justos limites",
do Juiz Federal Roberto Luiz Ribeiro Haddad, que, no processo n. 4. Sendo remédio excepcional, não deve ser ampliada a sua atua-
92.0056114-4, em ação civil pública do IDEC para indenizar os con- ção fora dos casos legalmente previstos, que constttuem verdadeiro
:i
tribuintes que pagaram o empréstimo compulsório sobre o consumo numerus clausus, aplicando-se o principio da taxatividade.
de gasolina ou álcool, extinguiu a ação, sem julgamento de mérito,
5. Não pode a decisão proferida ultrapassar a area de jurisdição
em virtude da "impossibilidade juridica do pedido de ação civil pú-
do juiz que julga O feito.
blica para proteger direitos individuais",
6. Conseqüentemente, uma atenção especial deve ser dada ao
Mais recentemente, em 23.7.93, o Juiz de Direito Osvaldo
deferimento ou indeferimento da petição inicial da ação civil públi-
Capraro, em exercício na 11' Vara Cível em São Paulo, considerou
ca, ocasião na qual já devem ser apreciadas, numa visão preliminar,
o IDEC parte ilegítima para propor ação civil pública na qual plei-
a competência do juiz, a possibilidade juridica do pedido, a im-
teou a complementação da correção monetária que seria devida aos
propriedade da ação e a legitimação das partes, até pelos prejuízos
depositantes em caderneta de poupança, em virtude do Plano Collor
(proc. 622/93-1). irreparáveis ou dificilmente reparáveis que podem advir da simples
propositura da ação.
Os argumentos em sentido contrário, por mais cultos que sejam
os seus autores, pretendem hipertrofiar o novo instituto e esquecem 7. Como a nova legislação criou um Direito especial, que vigo-
que, na medida em que ampliam desmedida e injustificadamente a sua ra paralelamente com o Direito comum, sua interpretação deve ser
área de atuação, perde o mesmo em credibilidade, pureza e eficiência. restrita aos casos que abrange, não se devendo aplicar suas regras -
nem mesmo por analogia - ao Direito tradicional, que continua com
Neste sentido, são muito oportunos os já invocados comentá- uma sistemática própria de normas e valores.
rios do Prof. Rogério Lauria Tucci, que, após citar a jurisprudência

r mais ortodoxa que existe na matéria, condena a utilização abusiva 8. As decisões judiciais em ação civil pública devem dar es-
"1
da ação civil pública pelo Ministério Público (Ajuris 56/49 e ss.), pecial atenção ao respeito ao principio do devido processo legal
'., substantivo e adjetivo.
Dessa orientação, aliás, não discrepa o Professor e Desembar-
gador Kazuo Watanabe quando afirma que "da correta propositura 9. Sempre que o interesse público for federal, a ação deve cor-
das demandas coletivas dependerá o êxito de todo o instrumental rer na Justiça Federal (matéria monetária regida pelo Banco Central.
processual criado pela Lei n. 7.347185, pelo Código de Defesa do decisão contra o Banco Central nos casos de bloqueio de cruzados
Consumidor e por outras leis especiais",154 novos em que se pedia também a isenção do IOF e a diferença da
I correção monetária, assim como casos que envolvem a jurisdição
COllclusões - Assim sendo e resumindo a evolução recente da administrativa do Banco Central e da Comissão de Valores Mobi-
melhor doutrina e jurisprudência a respeito da matéria, podemos liários e interesses individuais, nos chamados casos de atos bifaces,
concluir que: como a Incorporação de bancos etc.).
1. A ação civil pública não deve substituir outras ações. só 10. A interpretação do conceito de patrimõnio público e SOCial
devendo ser usada quando inextste outro instrumento processual ao qual se refere o art. 129, III, da CF pode ser ampla, abrangendo
.I para o fim almejado. Interesses materiais e morais, ou seja, direitos "espiritualmente va-
liosos" (RJTJRS 151/611 e ss.).
2. Não deve ser ''panacéia para toda e qualquer situação ",
11. Como salientado por Rogério Tuccí, estamos numa fase
154. "Demandas coletivas e os problemas emergentes da prnxis forense''. ín As . em que ocorre "a imperiosidade da conscientização da verdadeira
Garantias do Cidadão na Justiça, p. 196. utilidade da ação civil pública" (Ajurts 56/54).
286 ACÃO CIVIL PÚBLICA

Dizia Ripert que as grandes revoluções somente se concretizam


com a elaboração de leis que consolidam as suas conqUistas. Pode-
mos acrescentar que essas conquistas legislativas nada valerão se
não se transformarem em realidades asseguradas pelas decisões do
Poder Judiciário.
Cabe, pois, interpretar a lei em sentenças e acórdãos que reve-
lem, ao mesmo tempo, a firmeza, energia e independência dos ma-
gistrados e, por outro lado, a serenidad~ dojul~ador, a vis~o social e
QUARTA PARTE 'y-

econômica dos problemas e o respeIto a leI e a ConstItUlçao. MANDADODEINJUNÇÃO


Só assim poderemos, numa época em que necessitamos res-
tabelecer a prevalência dos princípios éticos, fazer com que o Di- 1. Conceito e objeto. 2. Competéncra e procedimento. 3. Julgamento. 4.
Recursos. 5. Execução.
reito exerça a sua função primordial, qu~ con~iste em subordi.nar a
economia e o Poder Público aos pnncípIOs baslCos da moralIdade
administrativa e da justiça comutativa e distributiva, num clima de 1. Conceito e objeto
ordem e segurança jurídica. Mandado de inJunção é o meio constitucional posto á disposição
de quem se considerar prejudicado pela falta de norma regulamenta-
dora que torne inviável o exercicio dos direitos e liberdades constitu-
cionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania (CF, art. 52, LXXI).
O objeto, portanto, desse mandado é a proteção de quaisquer
direitos e liberdades constitucIOnais, individuaisou colel:!vos, de pes-
soa física ou jurídica, e de franquias relaii;';;;; â~~~ionàH(ráde, à sooe:
raD:lapopulai e à êidàdania, que torne possivel sua fruição por inação
do Poder Público em expedir normas regulamentadoras pertinentes.
O nosso mandado de injunção não é o mesmo wrzt dos ingleses
e norte-americanos, assemelhando-se apenas na denominação. I É o
que se infere dos publicistas nacionais que já trataram do assunto. 2

1. Cf. H. W. R. Wade. Diritto Ammmistratlvo Inglese, trad. Italiana de Car-


melo Geraei, Milão, Giuffre, 1969. pp. 150 e S5.~ Oscar Rabasa.. El Derecho Anglo-
Amencano. 211 ed.. México. Pomia. 1982, pp. 136 e 55.; John Clarke Adams. "Breve
exposição sobre o Direito Administrativo norte-americano", RDA 53/56.
2. Alcebíades da S. Minhoto Ir., "DireIto AdIDlnistrativo e common law", RDP
33/116; Joacmn Wolfgang Stem, "O espírito do Direito inglês no regime jurídico da
Admmistração",RDP 49-50/154~ J. CretelIaIr., "O DireIto AdmmlStratiVO no sistema
common Iaw", RPGE-8P 1219: Arnoldo Wald. Do Mandado de Segurança na Pratica
Judiciária, 3a ed., Rio, Forense, 1968, pp. 65 e 55.; Pinto Ferreíra, Teoria e Prátlca
do Mandado de Segurança, 2il ed.• São Paulo, SaraIVa, 1985, p. 145: Galeno Lacerda,
"Eficâcia do mandado de injunção" e, th., "RequIsItos do mandado de IDJunçãO",
no jornal Zero Hora de 5.10.88 e 25.10.88; Adhemar FerreIra Maclel, "Conjecturas
288 MANDADO DE INJUNçÃO MANDADO DE INJUNçÃO 289

Referida ação, no Direito anglo-saxônio, tem objetivos muito soberania referida neste inciso é a soberania popular, expressa no art.
mais amplos que no nosso, pois que na Inglaterra e nOS Estados Uni- 14, e não a soberania do Estado, só invocável pelo próprio Estado no
dos o wrít of injunction presta-se a solucionar questões de Direito exercício de seus poderes absolutos e incontrastáveis.
Público e Privado, sendo cónsiderado um dos remédios extraordiná- Os pressupostos para o cabtinento do mandado de injunção são:
rios (extraordinary writs: mandamus injunstion ou prohibítion. quo (a) a existência de um direito constitucional, relacionado às liberda-
warranto e certiorari, oriundos do common law e da equity).3 des fundamentais, á nacionalidade, á soberania ou à cidadania; e (b) a
Não se pode confundir o mandado de injunção com o mandado de falta de norma regulamentadora que impeça ou prejudique a fiuição
segurança, visto que os objetivos de cada um são diversos. Toda maté- deste direito. Ausente um destes dois 'pressupostos, o caso não será
ria passível de mandado de segurança não é solucionável por mandado de mandado de injunção. 5
de injunção, e více-versa. O mandado de segurança protege qualquer Asstin, o mandado de injunção não é remédio para qualquer tipo
lesão a direito individual ou coletivo, líquido e certo; o mandado de in- de omissão legíslanva, mas apenas para aquela que afete o exercício
junção somente protege as garantias fundamentais constitucionalmente de direitos constitucionaIS fundamentais. Não serve, por exemplo,
especificadas na Carta Magna (CF, ar!. 52, LXXI),4 ou seja, relativas ao para obter a regulamentação dos efeitos de medida provisória reJeita-
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas da (STF, MI n. 415-4, ReI. Min. Octávio Gallotti,ADVI993, ementa
inerentes à nacionalidade, á soberania e à cidadania. Lembremos que a 62.273).
Tampouco será cabivel o mandado de inJunção para a discussão
sobre o mandado de injunção", no Jornal O Estado de S. Paulo de 1.11.88; Celso de constitucionalidade, ilegalidade ou descumprimento de norma em
Agrícola Barbi. "Proteçào processual dos direitos fundamentaís". Revista BrasileIra
de Direito Processual 57/13. Uberaba-MG. 1988: Jose Afonso da Silva. "Mandado vigor, pois apenas a falta de norma regulamentadora e que enseja a
de injunção, direito do cidadão", no Jornal do Brasil de 24.10.88;. RéglS Fernandes tinpetração (STF, Plenário, MI n. 703-9-DF, ReI. Min. Marco Auré-
de Oliveira. "Idéias sobre o mandado de inJunção", Boletim de DirettoAdmtNlstrativo lio, RT 8321154; STJ, Corte Especial, MI n. 40-DF, ReI. Min. Édson
111681, NDJ Ltda.; Herzeleide Maria Fernandes de Oliveira.. "O mandado de iDjUn-
ção", Revista de Informação Legzslativa 100/47; Celso Agricola Barbi, "Mandado de Vidigal, RT 665/172, e MI n. 67-CE, ReI. Min. Pedro Acioli, RSTJ
injunção",RT637n; MicheI Temer, "Algumas notas sobre o mandado de segurança 39/279; TJSP, Tribunal Pleno, MI n. 10.604-0, ReI. Des. Oliveira
coíetlvo, o mandado de injunção e o habeas data", RPGE-SP 3D/II: 10sé Carlos Cal Costa, j. 26.9.90).' Da mesma forma, se a parte sustenta que uma
Garcia, "Mandado de rnjunção", RDP 88fl13~ 1.1. Calmon de Passos, Mandado de regra constitucional lhe assegura um determinado direito e que a
Segurança Coletívo. Mandada de lnjunção e "Habeas Data" - ConstitUlção e Pro~
cesso, Forense, 1989. Para uma visão atuaIizada do instituto, fi luz da junsprudêncla mesma é auto-aplicàvel mas está sendo desrespeitada, não hà que
do STF, v. Vanice Regina Lirio do Valle,A Constnlção de uma Garantta COnstitUCIO- se falar em falta de norma regulamentadora, e portanto não cabe o
nal: Compreensão da Suprema Corte quanto ao Mandado de lnjunção. Lumen Juns, mandado de injunção (TJMG, MI n. 07, ReI. Des. Bernardino Godi-
2005. e Cláudio Pereira de Souza Neto. "Mandado de mjunção: efeitos de deCIsão e
âmbito de incidência", Boletim de Direita Administrativo-BDA julho12007, p. 792.
3. O writ ofmandamus euma ordem para fazer ou não fazer algo ilegal ou abu- 5. Acórdão unânime da Corte Especial do STJ: MI n. 169-DF. ReI. Min. Félix
sivo; o writ 01 injunction pode conter uma ordem para fazer (mandatoryj ou deixar Fischer, DJU25.3.2002, p. 156.
de fazer (prohibitory), podendo dirigir-se ao Poder Público ou ao partIcular. o quo 6. No P1enano do STF, AgRgMl n. 609-I-RJ, ReI. Min. Octávío Gallottl, RT
warranto é o meio pelo qual o Governo destitui quem ocupa cargo ilegalmente; o writ 785/153: "Se a causa de pedir da ação repousa sobre a suposta InconstituCionalidade
01 certtorarz destina-se â verificação da legitimidade dos_ atos admInlstrabvos e de de norma regularnentadora, e não na sua inexistência, inviável o uso do mandado
competência do funcIonano para pratica-los. O descumprunento de qualquer dessas de injunção, pOIS ausente seu pressuposto processual de admissibilidade, conforme
ordens importa cnme de desacato ao Tribuna! e sujeíta o infrator a pnsão (contempt disposto no art. 51!, LXXI, da CP'. Em outro caso, no qual a parte pretendia a subs-
of courO, enquanto permanecer desrespeitando a ordem (cf. Oscar Rabasa, ob. CIt, tituição da norma vigente, a seu ver insufiCIente, por outra maIS favorâvei. o Pleno
p.213). do STF reiterou que tais hipóteses não configuram a omissão legislativa autorizadom
4. O TOO já decidiu pelo cabimento de mandado de injunção para proteç.ão de da unpetração do mandado de injunção (AgRgMI n. 751-9-DF. ReI. Min. Ricardo
garantias fundamentais constantes não só da COnstitUIçãO Federal como tambem da Lewandowski, RT 869/161). No mesmo sentido, acórdão unânime da Corte Especta!
ConstituIção Estadual (MI n. 06/90, ReI. Des. José Carlos Barbosa Moreu., RDTJlU do STJ (MI.n. l21-DF, ReI. Min. Nilson Naves, DJU27.4.98, p. 57): "O defeIto da
10/83). norma não Justifica se pleIteie a inJunção"_
290 MANDADO DE INJUNÇÃO MANDADO DE INJUNÇÃO 291

nho, RF 3251201). Tampouco e cabível o mandado de injunção para órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral.' da Justiça do Trabalbo e
se buscar o cumprimento de norma regulamentadora já exístente que daJustiçaFederal(artl05,1, "h'V
estaria sendo desobedecida (STJ, Pet. n. 1.309-MA, ReI. Min. José Portanto, os juízos competentes para julgar mandado de injun-
Delgado, DJU 2.4.2001, p. 252). De um modo geral, pode-se dizer ção são o STF e o STJ, remanescendo competência para os demais
que o mandado de injunção !1~0 .§epresta. a resolver controvérsias tribunais e juizos federais ou estaduais, na forma que a lei pertinente
baseadas em normas em vigor, mas apenas e tão-somente a possibi- vier a dispor?
litar o exercício de um direito constitucional frustrado pela omissão
Cada Estado tem competência para legislar em matéria de com-
na edição da norma regulamentadora competente (STF, MI n. 14-DF,
ReI. Min. Sydney Sanches, RTJ 128/3; MI n. 388-2-SP, ReI. Min. petência dos Tribunais de Justiça, bem como dos JUÍZes estaduais de
Néri da Silveira, RT708/219). Nesta linha, o Plenário do STF decidiu primeira instância (Constituição Federal, art. 125). Em São Paulo o
que não cabe mandado de injunção quando a própria Constituição mandado de injunção contra autoridades tanto estaduais quanto muni-
regula provisoriamente o direito em questão, enquanto não aprovada cipaIS e da competência originária do Tribunal de Justiça (Constituição
a lei a que se refere (MI n. 628-8-RJ, ReI. Min. Sydney Sanches, RT de São Paulo, art. 74, V, e TJSP, ApC n. 235.873-1, ReI. Des. Ivan
809/167). Sartori, RJTJSP 176/92). No Rio de Janeiro a competência origmária
do Tribunal de Justiça e apenas para os mandados de injunção contra
Por fim, o direito resguardado pela via do mandado de injunção
autoridades estaduais, sendo do juiz de primeira ínstâncía quanto a
é aquele desde logo assegurado pela Constituição, porem pendente
autoridades municipais (Constituição do Rio de Janeiro, art. 158, IV,
de regulamentação. Se a Carta Política simplesmente faculta ~~ !egis:
"g", e TJRJ, ApC n. 4.321193, ReI. Des. Roberto Maron, ADV 1996,
lador a outorga de um direito, sem ordená-lo, o m.andado de illjunção. ementa 72.323).
éjundícamente impossív~I.(STF, MI n. I07-3-DF, ReI. Min. Moreira
AFiés:RT 677/235; MI n. 444-7-MG, ReI. Min. Sydney Sanches, De qualquer maneira, as regras de competência serão sempre
ADV 1994, ementa 67.809; MI n. 425-1-DF, ReI. Min. Sydney San- definidas em função do órgão ou autoridade a que caiba a edição
ches, AD V 1995, ementa 68.804). do diploma legal regulamentador (STF, MI n. 176-6-PE, ReI. Min.
Marco Aurélio, RT688/215).
. 2. Competência e procedimento
7. Quanto à. JustIça Eleitoral, a Constituíção da República, em seu art. 121.
§ 42, V, jã detenninou que lei complementar "dispam sobre a organização e com-
A Constituição da República diz competir originariamente o petência dos tribunaiS. dos juízes de direito e das juntas eleItorais", estabelecendo
julgamento do mandado de injunção ao STF quando a elaboração da que "das decisões dos TREs somente caberá recurso" quando denegarem mandado
norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, de injunção.
do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Fede- 8. O STJ não tem competênCIa para julgamento de mandado de mjunção em
ral, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do TCU, de um dos razão de ato da competência de Governador de Estado ou qualquer outra autoridade
estadual, pOIS a sua competênCia em matena de mandado de mjunção ê restp~
Tribunais Superiores ou do próprio STF (art. 102, I, "q"). Em recurso autoridades federais. como define a ConstItuIção e já decidiu a Corte EspeCial no MI
ordinário cabe ao STF julgar o mandado de injunção decidido em il.'97-5.RJ, ReI. Min. Jose de Jesus Filho, RSTJ 56/63.
única instância pelos Tribunais Superiores, se deneg~tória a decis~o 9. Na ausência de lei reguiamentadora, a junsprudência e a doutrina têm en-
. (art. 102, II, "a"). ---- tendido que cabe aplicar, por analogia, a legislação sobre mandado de segurança e
o Código de Processo Civil, sendo, assim. auto-aplicavel o texto constitucIOnal. sem
. ..J A mesma Constituição atribui competência ao Superior Tribunal de prejuízo de ser recomendável a elaboração de legislação ordinárIa sobre a matéria.
Justiça para processar e julgar originariamente O mandado de injunção Na questão da organização judiciâria, os Estados estão legislando sobre a matena. A
quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão, doutnna e aiguns magistrados têm criticado a norma constitucional que exclUi a com-
petênCIa do JUIZ federal para conhecer da injunção (Carlos Máno da Silva Velloso,
entidade ou autoridade federal, da Administração direta ou indireta, Os Tribunars FederaIS e a Justiça Federal. no II Fórum Jurídico realizado em Belo
excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos Honzonte a respeíto da ConstItUição de 1988. Forense Umverslt1na, p. 241).
292 MANDADO DE rNJUNçÃO MANDADO DE rNJUNçÃO
~ . 293
.
~,

Não existe, presentemente, legislação especifica para regrar o cabimento. Até porque o mandado de segurança há que se basear em
trâmite processual do mandado de injunção, o que nos leva a enten- norma legal, previamente estabelecida, e o mandado de h\Íunção só é
der passiveI a aplicação analógica das normas pertinentes ao man- cabível por falta da norma pertinente.
dado de segurança, visto este instituto guardar estreita semelhança
Observe-se que, em princípio, não há decadência nem prescri-
com aqueloutro. 10 A Jurisprudência tem adotado o rito do mandado
ção para a impetração do mandado de injunção, mas a lei processual
de segurança para o mandado de injunção, sem discrepância. .AssIm,
pertinente, que vier a ser expedida, poden; estabelecer limitação
dentre outras regras, não se admite a produção de provas no curso do temporal a respeito.
processo, pois o direito alegado deve ser comprovado com a inicilll
(TOO, MI n. 11189, ReL Des. Renato Maneschy, RT6741175). Ainda São partes no mandado de injunção o mteressado na norma
por analogia com o mandado de segurança, não se vem conceden- faltante - pessoa fisica ou juridica - e a autoridade competénte para
expedi-la. 12
do honorários advocatícios no mandado de injunção (TJSP, MI n.
120.787-5/4, ReI. Des. Sidnei Benetí, AASP 2.166/292-e). No entan- Embora não haja legislação específica, a Jurisprudência, após
to, será de toda conveniência que o Legislativo elabore lei especifica fase em que dominou a tendência contrária (despacho do Min. Marco
dispondo sobre o mandado de injunção, por ser instituto novo e sem Aurélio em 12.9.92, DJU 5.\0.92, pp. 17.037 e 17.038), vem admi-
jurisprudência pátria. tindo a ímpetração de mandado de itijunção coletivo, sendo legitima-
Entendemos cabível, eventualmente, até mesmo a medida das as mesmas entidades ás quais a Constituição deu a possibilidade
limÍnar como providência cautelar para evitar lesão a direito do de ajuízamento de mandado de segurança coletivo. Os requisitos,
impetrante do mandado de injunção, desde que haja possibilidade assim. se aproximam daqueles do mandado de segurança coleavo,
de dano irreparável se se aguardar a decisão final da Justiça. Se tal na medida em que a ínjunção coIetíva serà cabivcl quando o prejuízo
medida é cabível para a defesa de direito individual ou coletivo am- pela falta de norma regulamentadora afetar a todos os associados da
parado por lei ordinária, com mais razão há de ser para proteger os entidade impetrante (STF, MI n. 20-4-DF, ReI. Min. Celso de MeUo
direitos e prerrogativas constitucionais asseguráveis .pelo mandado RTJ 166/751; TJMO, MI n. 37.979-2, ReI. Des. Murilo Pereira, RT
de injunção, desde que ocorram os pressupostos do fumus boni juris 727/266; TOO, MI n. 01193, ReI. Des. Décio Ooes, DJE 6.2.97, p.
e do pericu[um in mora. II 151, ementa 28).13
Repetimos que o mandado de injunção não é sucedâneo do man-
dado de segurança e, por isso, não pode substitui-lo nos casos de seu 12. O STF não admíte a impetração de mandado de injunção por Estado da Fede-
ração (MI n. 395-5-PR, ReI. Min. MoreuaAlves. RT6911218). Somente tem legitirm-
dade anva para a ação o titular do direIto ou liberdade constitucional ou de prerrogabva
10. Lembramos que o Deputado federal por Pernambuco Maurílio FerreIra merente à nacIOnalidade, li soberanIa e li cidadania cujo exercicio esteja mvmbilizado
Lima já ofereceu projeto de lei que "regulamenta o mandado de mjunção e dá outras pela ausênCia da n~rma infraconstituclonal regulamentadora (STF. Plenáno, W/AgRg
providências" (Projeto n. 998/88). Este projeto fOI elaborado por uma Comissão de n. 595~~~ ReI. Mio. Car.los Velloso, RTJ 169/445). Com fundamentação semelhante, o
Juristas pernambucanos, a pedido da OABIPE, presidida pelo Prof. Nélson Saldanha TOO deCidIU pelo descab~ento da unpetração de mandado de injunção por Mumciino
e integrada pelos Profs. Romualdo Marques Costa, Bernadette Pedrosa e Nilzardo (ApC n. 13.742/2004. ReL Des. Marco Antômo lbrahim, RT 837/328).
Carneiro Leão; também o Senador Ruy Bacelar apresentou ao Senado Federal o . _No pólo passívo. a~ ~ontrário. somente podem figurar a União. os Estados, o
Projeto de Lei n. 76/88, para regular a mesma matéria. Entre os vános projetos Dlstnto Federal e os MUOICiplos. pOiS a eles compete a edição de atos nOrmatIvos não
elaborados. destaca-se o que foi aprovado por ocasião do VIII Pamel orgamzado se ,admi~ín~ o lÍtísconsôrcio passivo com partIculares supostamente beneficiados 'pela
em Vitóría. no Espirito Santo. em 20 e 21.12.88. e do q~Jq.Í}·,~lator o Prof. Celso mercla leglSlabva (STF. MI n. 502-8-SP. ReI. Min. MaunclO Corrêa, RT 729/110). A
Agrícola Barbi. que está transcrito no livro Mandados de Segurança e de Injunção. entidade de direito pnvado que sem futuramente obngada ao cumpnmento da norma
coàr-ifenãdõpêlo Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Saraiva. 1990, pp. 384 e 385. regulamentadora a ser elaborada, por SUa vez, tambem e parte passívajlegitima no man-
11. A junsprudência mais recente do STF. no entanto. não tem admitido a dado de IDJunção (STF,AgRgMln. 561-2-RJ. ReI. Min. OCtáViO daIlo"'. RT753/143).
medida limmar em mandado de injunção, e tampouco a propositura de ação cautelar . 13. 1:: i~di~pensàvel, portanto, que os associados da entidade impetrante sejam
incidental. Neste sentido o acórdão unâníme do Plenano no AgRgMC n. 124-2-PR. tItulares do d~relto constituCIOnal prejudicado pela falta de norma regulamentadora,
ReL Min. Marco Aurélio. RT832/153. pOIS do contrarIo caractenza-se a ilegitimidade atlVa para o ajuizamento do mandado
294 MANDADO DE INJUNÇÃO MANDADO DE INJUNÇÃO 295

Com base no inciso III do art. 82 da Constituíção, o Supremo mado a suprir a lacuna (dentre outros. MI n. 124-SP, ReI. Min. Sepúlveda Pertence,
RI? 148/653; MI n. 168-5-RS, ReI. Min. Sepúlveda Pertence. RT6711216; MI n.
Tribunal Federal firmou jurisprudência no sentido de que os sindi- 362-0·RJ, ReI. Min. FrancISCO RezeI<, RT7321139).
!' catos podem impetrar mandado de injunção em favor dos sindica- Mais recentemente, houve uma evolução na JurisprudênCIa da Suprema Cor-
lizados, tanto coletiva como individualmente (MI n. 342-4-SP, ReI. te, que concedeu o mandado de injunção não apenas com o fim de reconhecer a
11.1 Min. Moreira Alves, RT 713/240; MI n. 472-2-DF, ReI. Min. Celso existênCia da omissão, mas amda assmando um prazo a fim de que se ultimasse o
de Mello, RT 790/183; MI n. 102-PE; ReI. Min. Carlos Velloso, RTJ processo legislattvo faltante. sob pena de, vencido o prazo sem legiferação, passar "a
requerente a gozar da ímunidade requerida nos termos do art. 195, § 72., da CF" (MI
183/405). n. 232-1-RJ,RDA 188/155).
Indo rnrus longe ainda, uma minana relevante, liderada pelo Min. Marco Auré-
3, Julgamento lio, com a adesão justificada dos Mins. Carlos Mário Velloso e Célia BOIja. entendeu
que deVIa atender de modo concreto ao pedido, para evitar uma vltóna de Pirro, Viabi-
Ojulgamento do mandado de tnjunção compete as Cortes de Jus- lizando, desse modo, o exercício do direito constitucionalmente preVIsto. ASSim, aco-
tiça indicadas na Constituição da República (arts. 102, I, "q':, 102, II, lheu o pedido. estabelecendo que a Isenção da contribuição para a seguridade social
que a Constituição garante as entidades filantroplcas devena obedecer aos mesmos
"a", e 105, L "'h") e aos tribunais e juizes, federais e estaduaIs, que as requÍsitos fixados pelo Código Tributário Nacional quanto li imunidade relatlva aos
respectivas leis de organízação judiciária indicarem, conforme o previs- tributos, que beneficia as entidades menCIOnadas no § 72. do art. 195 da Carta.
to na mesma Constituição da República (arts. 121, § 40, V, e 125, § 12 ). Verifica~se. assim. que, não se limitando a declarar a omissão do legislador, o
STF, pela sua maIOria, determinou-que o Congresso se pronunciasse no prazo de seis
Nesse julgamento a Justiça determinará que o órgão competente meses, sob pena de ser considerada imune a entidade Impetrante, enquanto os votos mi-
(do Legislativo, do Executivo ou do próprio Judiciário) expeça a nor- noritários admitiam desde logo a isenção, flXROdo um cnténo em{Jrestado, por analogia.
ma regulamentadora do dispositivo constitucional dependente dessa ao Código Tributário Naciona1. De qualquer modo. tanto a maioria quanto a mmoria,
normatividade ou decidirâ concretamente sobre o exercido do direito pelas suas conclusões, ultrapassaram a fase na qual se identificavam, quanto aos seus
resultados práticos, a declaração de inconstitucionalidade por omIssão e o mandado de
do postulante, se entender dispensável a norma regulamentadora. injunção, reconhecendo que este poderia ter, para a parte, efeitos concretos, sUjeitos a
Contudo, não poderá a Justiça legislar pelo Cougresso Nacional, condição e prazo - no entender da maiona -, ou até imediatos':-para a_ria.
mesmO porque a Constituição manteve a independência dos Poderes A significativa mudança da compOSIção do STF nos últimos anos acabou por
colocar a discussão novamente em pauta. No MI n. 712-PA, cujo julgamento ainda
(art. 22). Em vista disso, o Judiciário decidirá o mandado de injunção, não se encerrou, os votos já proferidos pelos Mins. Eros Grau e Gilmar Mendes
ordenando à autoridade ímpetrada que tome as providências cabíveis, acenam com a possibilidade de autorizar o exercicio Imediato do direito restrIngido
fixando-lhe um prazo, se necessário. Essa decisão não fará coisa pela falta de norma regulamentadora - na hipótese, o direíto de greve no serviço
julgada erga omnes, mas apenas inter partes. Somente a n0l1l!a regu- público -, dentro de parâmetros fixados pela própna Corte. Sobre o caso, v. o aItigo
de Nélson Nascimento Diz. "O STF e o mandado de mjunção", ReVISta de Direito
lamentadora, expedida pela autoridade impetrada, tem aquele efeito, do Estado-RDE 3/363. Depois de diversos pedidos de Vista nos vários casos, em
cessando, com isso, a competência do Judiciário. I4 _ . ;, .- ....J.!> julgamentos encerrados conjuntamente em 25.10.2007, o Pleno da Suprema Corte,
por maIoria, acolheu os MI ns. 670·ES. 708-DF e 712-PA, sendo os dOIS pnmelros
de ínjunção coletIvo (STF. MI n. 627-SP, ReI. Mín. Nén da SilveIra, j. 22.4.2002, relatados pelo Min. Gilmar Mendes e o último pelo Min. Eras Grau. Naquela oportu-
.. InJonnattvo STF 26511). nidade o STF não só proclamou a omIssão legislativa, como propôs solução prática
~-:"-. 14. Imcialmente. ajunsprudência do STF em relação ao mandado de mjunção à mesma, enquanto perdurar. Os casos tratavam do exercl'cJO do direito de greve no
fOi no sentido de considerá-lo "uma declaração, pelo Poder judiciário. da ocorrência servIço público, e o Tribunai determinou a aplicação da legíslação generica de greve.
de omissão mconstitucional, a ser comunicada ao órgão legislatIVO inadimpíente para no que couber (Lei n. 7.783/89), até que a omissão legIslativa venha a ser suprida
que promova a mtegração normahva do dispositIvo constitucíonal nel_a ob~etl~ad~" com a edição da norma que a Constituição determma. Dezdjas antes, em 15.10.2007,
(MI n. 107-DF. ReI. Min. Moreira Alves). EqUiparava-se, assl~. a mjunçao a açao fora julgada a QO no MI n. 712-PA, cUJo acórdão fOI publicado no DJU23.112007,
direta de inconstitucionalidade por omíssão, posição que fOI cnncada por parte da RT869/157 eRF395/357. Naquela ocasião o Tribunal rejeitou pedido de deSIstência
doutnna, para a qual estaria sendo inócua a providênCia tomada, não alcançada a sua da ação em virtude de já estar mIciado o julgamento. Os acórdãos de mérito dos três
finalidade conslltuclOnal (RTJ 135/1). mandados de injunção acima referidos foram publicados no DJe 31.10.2008.
Esta jurisprudênCIa, embora muito discutida, fIrmou-se col? pequena maioria. Sobre taiS casos, ver dOIS mteressantes artIgOS (ambos publicados antes do
havendo vários acôrdãos dando pela procedência do mandado de lDjunção exclUSI- fim dos respectJvos julgamentos): Nelson NasC1IIlento Diz, "O STF e o mandado de
vamente para que o Poder Legislativo omisso fosse CIentificado do julgado e concla- injunção", Revista de Direlto do Estado-RDE 3/363, e Roberto LUÍS Lucchi Demo,
296 MANDADO DE INJUNçÃO MANDADO DE INJUNÇÃO 297

"As <medidas provísórias' do Poder Judiciário. O novíssimo perfil constttucionai do Esse alcance um tanto limitado do mandado de inJunção, decla-
mandado de mjunção a partir da histórica sessão plenãria do STF em 7.6.2006''. RF ratório e ordenatório, porem sem efetiva coerção e sem dar solução
389/509.
Assim, a partir dos JUlgados mais recentes" parece caminhar a Corte Suprema
prática imediata ao exercicio do direito do impetrante prejudicado
para dar novo ânimo ao instituto do mandado de InJunção, resgatando-o do certo os- pela omissão do legislador, foi defendido por Hely Lopes Meirelles
tracismo que viveu nos pnmerros 15 a 20 anos desde a edição da Constituição ~ederal desde a criação do instituto com a promulgação da Constituição Fe-
de 1988, para transformã-ío definitivamente em Instrumento de plena efetlvldade e deral de 1988. A afirmativa do paragrafo anterior no sentido de que o
eficácia na defesa de direitos fundamentais prejudicados peia mercia do legIslador.
Em outro mandado de injunção, além de declarar a inconstitucionalidade da nais e prerrogativas inerentes li naCionalidade, li soberania e li cidadanía sempre que
omissão legislativa, pois o Congresso não elaborou e promulgou a leí preVIsta no art. a falta de norma regulamentadora o impeça" (MI n. 24,). 26.10.88, ln RTJ 129/492),
811:. § 311, do ADCT, estabeleceu o STF prazo para que essa legislação fosse aprovada. vãrias decisões estaduais rejeItam essa limitação, que se mantêm nos' respectivos
E mais. estabeleceu uma sanção, embora não quantificada, ao decidir que. caso não votos vencidos. Assim, decidiu o TOO que o mandado de injunção não eXiste tão-
fosse ulomado o processo legislatívo no prazo fixado. ficava assegurada ao Impe- somente para as mencionadas finalidades, mas abrange, "da forma mais ampla possí-
trante "a faculdade de obter. contra a União, pela VI8 processual adequada, sentença vel, todos e quaisquer direitos pela Carta Magna assegurados", inclusive no tocante à
liquida de condenação à reparação consotucional devida, pelas perdas e danos que se fixação de venCImentos (MI n. 2/88. in Revista de Dirello do TJRJ 11146). O mesmo
arbitrem" (MI n. 283-5-DF, RTJ 135/882). Tribunal concedeu mandado de mjunção para reconhecer, até a entrada em vigor da
Idêntica posIção assumiu o STF no MI n. 384.cuja ementa e a segumte: "Com nova lei regulamentadora da maténa. o direito ao gozo de licença não remunerada
a persistência do estado de mora do Congresso NaCional, que, não obstante cIentifi- para determinados funclOnânos sem prejuízo dos direitos e vantagens vinculados a.
cado pelo STF, deiXOU de adimplir a obrigação que lhe foi imposta pelo art. 82 , § 32 , sua carreira (ReVIsta de Direito do TJRJ 10/84).
do ADCT/88. reconhece-se, desde logo, aos beneficiános dessa norma transItana a Por outro lado, esclareceu o TJSP que o mandado de injunção não se destina a
possibilidade de ajUIZarem. com fundamento no Direito Comum. a pertmente ação de constituir DireIto novo, nem a ensejar ao Judiciârio o anômalo desempenho das fun-
reparação econômica" (j. 5.8.93. m RDA 196/230 e ss.). ções normativas. que não é sucedâneo constltuclOnal das funções politiCO-Jurídicas
No mencionado julgamento. a maioria da Suprema Corte fixou. inclusive. as dos órgãos estataís ínadimplentes (MI n. 164.487-0. de São Paulo. j. em sessão
bases da indemzação a ser paga aos lmpetrantes. plenana de 7.4.93). Tampouco serve o mandado de mjunção para invadir a ãrea de
No mesmo sentido, no Tribunal Pleno do STF: lvfi n. 543-DF, ReI. Min. Nélson competência do Executivo, decidindo acerca da conveniência e da oportunidade da
Jobim, RTJ 1811464; MI n. 562-RS, Rela. Min. Ellen Gracie, RTJ 185/747. aplicação de dinheIro público (TJSP, Órgão Esp., MI n. 56.189-0/6, ReI. Des. LlllZ
Já se pode dizer que a junsprudência do STF consolidou-se no sentido de ~ue Tâmbara, AASP 2.194/1.683-j). Noutra linha, porém, alguns tribunaiS estaduais vêm
a persístêncla do estado de mora do Congresso NaCIOnal, quando. embora seguida- aceitando o mandado de ínjunção para supnr o VazIO leglslahvo e confenr de Ime-
mente notificado, deIXa de editar a norma cabível, autoriza o beneficiâno daquela a diato ao autor a fruição do direito constitucIOnal afetado pela omissão do legÍslador.
ajuizar ação de mdemzação com base no direito comum. AssImjãjulgaram o TJRS (Órgão Especial, MI n. 592.045.603, ReI. Des. DécioAn-
Em outro mandado de injunção maiS recente, porem, o Plenáno do STF, tratan- tômo Erpen, RF3251213) e o TJMG (Corte Supenor, MI n. 07, ReL Des. Bernardino
do da norma do § 3!l do art. 192 da CF -a limitação da cobrança de juros reaIS a 12%. Godinho, RT702l144).
que o próprio STF entendeu não ser auto-aplicãvel e depender de norma regulamen- A doutrina tambêm não e uniforme na maténa. Uma corrente entende que o
tadora para ter eficáCia -, deIXOU de assínalar prazo para o Congresso NaCIOnal supnr mandado de mjunção tem os mesmos efeitos que a declaração de inconstituciona-
a mora legIslativa, sustentando que "essa providêncIa excepCional. só se justificana lidade por omIssão. sendo este o entendimento do Prof. Manoel Gonçalves Ferreira
se o própno Poder Público, para além do seu dever de editar o I?rovlmento normativo Filho (Curso de Direito Constitucional, 17a ed., São Paulo, Saraiva, 1989, p. 277);
faltante, fosse. tambêm. o sujeito pasSIVO da relação de direito matenal emergente do outra entende ser viável a fLXação de prazo. e, eventualmente, a preVisão de sanção
preceito constitucional em questão" (MI n. 472-2-DF. Rei. Min. Celso de Mello. DJU no caso de madimplemento. Certos autores afirmam que, no mandado de ínjunção.
2.3.2001, p. 3; ficou vencido apenas o Min. Néri da SilveIra, admitindo a fixação do "o juiz deve estabelecer o modo pelo qual o direito deve ser exercido e ordenar o seu
prazo). Os votos dos Mins. Moreira Alves e Sepúlveda Pertence, juntamente com o cumpnmenta". Finalmente, vános autores e alguns magistrados esclarecem que. no
do Relator. esclareceram que a fixação do prazo só se aceIta quando e possivel dar mandado de injunção. como no mandado de segurança, o tribunal deve decidir o caso
alguma outra providênCia em favor do mteressado, caso persIsta a ínercla legislativa. concreto, conforme assmalam o Mimstro e Professor Adhemar FerreÍra Maciel (in
Se o Tribunal não poderá dar à parte, ainda que com imperfeição. algo que subst1tua Mandados de Segurança e de Injunção, p. 377), o Prof. Celso Barbi (ob. cit, p. 391)
o direito que se vê frustrado pela falta de norma reguíamentadora. como ê o caso e Jose Afonso da Silva (Curso de Direito Constituclonal Positivo, 3{}il ed .• São Paulo,
quando assegura desde logo uma pretensão indenizatória" ou um direito de Imunidade MalheIros Editores, 2008, p. 450).
tributàna, não faz sentido se fixar o prazo, pOIS mexistira qualquer sanção ou conse- Diante das dúvidas quanto ao desenvoivimento do instituto, houve até quem
qUência prática em razão do seu descumprimento. defendesse a sua extinção, substituindo o mandado de injunção pela autonzação aos
Enquanto alguns acórdãos do STF têm considerado o mandado de Ínjunção tribunais para que, no caso de omissão do legislador, formulassem, para o caso con-
como remédio destinado a "Viabilizar o exercício de direItos e liberdades constItuclO- creta, as normas e regulamentos não editados pelo Congresso.
298 MANDADO DE INlUNÇÃO MANDADO DE INlUNÇÃO 299

Judiciário não poderia, em hipótese alguma, criar a nonna em lugar Assim, em 30.8.2007 foijulgado o MI n. 721-DF, ReI. Min. Marco
do Congresso Nacional já constara da 13' edição da presente obra, Aurélio, no qual a Corte Suprema salientou uma natureza verda-
publicada em 1989. E, após intensos debates na doutrina e na juris- deiramente mandamental na concessão da injunção, viabilizando o
prudência, foi justamente a linha adotada pelo STF, como configura- exercício imediato do direito da parte prejudicado pela inércia do
do no MI n. 107-DF, ReI. Min. Moreira Alves, RTJ 135/1,J. 21.11.90. legislador ordinário. Tratava-se, na hipótese, de direito de servidora
Assim, a concessão do mandado de injunção implicaria tão-somente ao~inistério da Saúde à aposentadoria especial mencionada no art.
a comunicação ao Poder Legislativo do seu estado de mora, com a 40, § 4ll, da CF. O acórdão foi publicado no DJU30.1 1.2007.
fixação de um prazo para que a mesma fosse sanado. Pouco depois, na sessão de 25.10.2007, findou o julgamento dos
A contumaz omissão do Legislativo em várias áreas, no entanto, MI ns. 670-ES, 708-DF e 712-PA, os dois primeiros relatados pelo
acabou revelando a insuficiênCia da solução. O descumprimento do Min. GiImar Mendes, o últuno pelo Min. Eros Grau, cuja apreciação
prazo não trazia conseqüências práticas. Embora encarar o julga- se irnciara anos antes, porem fora interrompida por vários pedidos de
mento do mandado de injunção apenas como uma comunícação ao vista. Em tais casos, que eram impetrações colettvas a respeito do di-
Poder Legislativo fosse postura teoricamente perfeita do ponto de reito de greve dos servidores públicos, o STF reiterou a declaração do
vista estritamente jurídico, a prática passou a revelar sua ineficácia estado de mora do Congresso Nacional, já reconhecido em acórdãos
no mundo real. Os julgados em mandados de injunção foram siste- anteriores, e foi além, detenninando a aplicação da legislação genéri-
maticamente ignorados pelo Congresso Nacional, que persistia na ca de greve, no que couber (Lei n. 7.783/89), até que a omissão legis-
omissão ao longo de anos, não obstante repetidos pronunciamentos lativa venha a ser suprida com a edição da nonna que a Constituição
da Suprema Corte. detennina. Os três acórdãos foram publicados no DJe 31.10.2008. 16
Em casos subseqüentes o STF passou a admitir que a persistên- Passou a prevalecer, portanto, o entendimento de que a sistemá-
cia da mora do Congresso Nacional autorizava a parte a perseguir tica omissão do Poder Legislativo autoriza o Judiciário a garantir, de
perdas e danos pela unpossibilidade do exercício do direito atribuído alguma fonna, o exercicio dos direitos assegurados na Constituição,
constitucionalmente ou, quando viável, o próprio exercício de tal sem que isto represente violação ao principio da separação dos Pode-
direito, após detenninado prazO. 15 res. Trata-se de garantia mediante regulaçãoprQyj~óti"jo direito, e,
portanto, não se configura uma atividade verdadeiramente legiferante
Ao longo dos anos, porem, continuaram a ocorrer criticas na
do Judiciário. É, porém, indispensável à garantia da eficácia dos di-
doutrina e mesmo em votos vencidos no STF. Fortaleceu-se a cor-
reitos constitucionais violados pela inércia do legislador. Se e quando
rente que defendia a idéia de o próprio Judiciário regular o direito
editada a nonna específica pelo Congresso Nacional estará afastada a
prejudicado pela omissão do Poder Legislativo, enquanto perdurasse
tal omissão. Só assim se obteria uma decisão eficiente no âmbito do !.:l5ll~S'~o. i,:d~cíal.l'~vlsó_ri"o
mandado de ínjunção. Consoante as palavras do Min. Gilmar Mendes, "a solução pro-
posta pelo STF no caso do direito de greve do servidor público, no
Em 2007 reuniram-se as condições para a modificação dajuris-
sentido de adotar sentença de perfil aditivo, fixando os parâmetros
prudência. A composição do Plenário do STF pouco lembrava aquela
institucionais e constitucionais de definição de competência para a
dos primeiros julgamentos sobre o tema, e depois de quase duas
apreciação da matéria até a edição da legislação específica pertinente,
décadas de edição da Constituição Federal o Congresso Nacional
e, ainda, no que couber, da Lei n. 7.783/89, representou significa-
continuava em mora em diversas matérias, prejudicando o exercicio
tiva revisão da jurisprudênCia no que concerne à matéria e poderá,
efetivo de direitos legítimos reconhecidos na própria Carta Política.
16. Para uma exaustiva análise desta evolução junsprudencial, mclusive com
15. V. a nota de rodape anterior. Dentre outros: MI n. 232-1-RJ.RDA 1881155; trechos dos votos destes últirnosJulgados nos MI ns. 670-ES. 70B-DF e 712-PA, v.
MI n. 283-5-DF. RTJ 135/882; MI n. 384-RJ, RDA 196/230; MI n. 543·DF. RTJ artIgo do Min. Gilmar Mendes, "Mandado de IDjunção". Direito Público 191126-140,
181/464; MI n. 562·RS. RTJ 185/747. janejro~feverelfol2008.
300 MANDADO DE INJUNCÃO MANDADO DE INJUNCÃO 301

certamente, ter importantes reflexos na configuração do instituto do Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do TCU, de um dos Tribu-
mandado de injunção no Díreito Brasileiro".I7 nais Superiores ou do próprio STF (CF, art. 102, I, "q").
Como o mandado de injunção tem a natureza de ação, a repe- Independentemente do recurso contra decisão denegatória, a
tição de impetração idêntica a outra já apreciada, entre as mesmas parte irresiguada poderá mterpor recurso extraordinário para o STF
partes, sofre o óbice da coisa julgada, devendo o processo ser extinto quando a decisão proferida em única ou última instância contrariar
(STF, MI n. 532-SP, ReI. Min. MoreíraAlves, RTJ 165/76). dispositivos da própria Constituição ou julgar válida leI ou ato de
Por outro lado, atendida a pretensão da parte antes do julga- governo local contestado em face da mesma Consutuição (art. 102,
III, "a" e "c"). Obviamente, quando essas decisães afrontarem os
ii mento da causa, o mandado de mjunção devera ser considerado
díreitos, liberdades constitucionais e franquias concernentes à na-
prejudicado, pela perda do obJeto. Foi neste sentido a decisão do
Plenário do STF num caso no qual o Presidente da República já cionalidade, à soberania popular e à cidadania. A partír da EC n.
havia enviado ao Congresso Nacional um projeto de lei demandado 45/2004 o cabimento do recurso extraordinário depende ainda da
na impetração (AgRgMI n. 64 I -5-DF, ReI. Min. lImar Gaivão, DJU demonstração, pelo recorrente, da repercussão geral das questões
5.4.2002, p. 39), e em outro no qual, antes de julgado o mérito da constitucionais discutidas no caso (CF, art. 102, § 3" - v. a Lei n.
ação, foi editada a lei regulamentadora do dispositivo constitucional 11.418, de 19.12.2006).
em questão (AgRgMI n. 634-DF, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU Por sua vez, compete ao STJ processar e Julgar originariamente
25.11.2005, p. 6). o mandado de injunção quando a elaboração da norma regulamenta-
dora fo, atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da Ad-
Configura-se ainda a prejudicialidade, com a perda do objeto do
ministração direta ou indíreta, e excetuados os casos de competência
mandado de injunção, se na pendência da ação ocorrer a revogação
do STF e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça
da norma constitucional na qual se baseou a impetração (STF, MI n.
do Trabalho e da Justiça Federal (art. 105, I, "h"). A competência
593-1, ReI. Min. Moreira Alves, RT 808/169, e AgRgMI n. 646-DF,
para julgar o mandado de injunção desses órgãos infere-se do pró-
ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU26.8.2005, p. 6, e RTJ 195/749).
pno texto constitucional, uma vez que o legislador constItuinte não
expressou essa competência.
4. Recursos Cabe recurso especial para o STJ, e não recurso ordinário, das
decisões dos Tribunais Estaduais em mandados de injunção (STJ,
Os recursos cabiveis da decisão sobre o mandado de injunção
Petição n. 192-0-SP, ReI. Min. Hélio Mosimann, RSTJ 65/149).18
são somente os admitidos na própria Constituição. não podendo ser
estabelecidos outros tipos pelo STF, uma vez que o novo texto cons- Quanto aos prazos e tramitação dos recursos, serão os do Códi-
titucional não repete o § 32 do art. 119 da CF de 1969. Nem mesmo go de Processo Civil, na falta de legislação específica sobre o man-
uma futura Lei Orgânica da Magistratura poderá criar outros casos dado de injunção.
de recursos, pois que a Constituição vigente já enumera os princí-
pios que deverão ser observados na feitura daquela lei, todos estes 5. Execução
de caráter nitidamente organizacional e administrativo (CF, art. 93). O mandado de injunção é executado por meio de comunicação
Portanto, presentemente, só se admite o recurso ordinárIO contra de- ao poder, órgão ou autoridade competente para cumpri-la, nos termos
cisão denegatória do mandado de injunção (CF, art. 102. II, "a"), para indicados na decisão judicial. Essa comunicação equivale a ordem de
o STF, quando a autoridade coatora for o Presidente da República, o
,Ii . Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal. as
'I:
, ' 18. o STJ vem considerando erro grosseiro a interpOSição de recurso ordinario
!; em lugar de recurso especial, o que impede a aplicação do princípIO da fungibilidade
:i i 17. Gilmar Mendes, "Mandado de mjunção". Direito Público 19/140, janeiro- recursal (STJ, Pettção n. 612-MG, ReI. Min. Edson Vidigal, DJU 17.5.99, p. 217). No
fevereirol2008. mesmo sentido: STJ, Pet. n. 983-SP. ReI. Min. Edson Vidigal,DJU21.9.98.
302 MANDADO DE INJUNçÃO

execução do julgado, que e mandamental e poderá ser feita por ofi-


cio, com a transcrição completa da decisão a ser cumprida nos termos
II e condições do julgado. 19
I
Na execução, portanto, o ímpetrado deverá atender ao decidido,
i expedindo a norma regulamentadora conforme fixado pela Justiça ou
possibilitando ao impetrante exercer seu direito ou liberdade consti-
tucional ou, ainda, usufruir dos direitos inerentes à nacionalidade, so-
berania popular ou cidadania, nos termos estabelecidos pelo julgado. QUINTA PARTE
A decisão da Justiça, como já dissemos, faz coisa julgada apenas
''HABEASBATA''
entre as partes, não se estendendo a casos análogos, porque o Judi-
ciário não pode legislar, mas tão-somente decidir o caso concreto 1. Co.ncetlo e objeto. 2. Competêncla. 3. Legitimação e procedimento.
que lbe e submetido a julgamento, para dar efetividade ao preceito 4. Julgamento e execução. 5. O "habeas data" na LeI n. 9.507/97.
constitucional a ser assegurado pelo mandado de injunção.
1. Conceito e objeto

Habeas data é o meio constitucional posto à disposição de pes-


soa tisica ou jurídica para lhe assegurar o conhecimento de registros
concernentes ao postulante e constantes de repartIções públicas ou
partIculares acessíveis ao público, para retificação de seus dados
pessoais (CF, art. 5º, LXXII, "a" e "b").l
Trata-se, pois, de urna ação civil especial que deverá desenvol-
ver-se em duas fases, a menos que o ímpetrante já conheça o teor
dos registros a serem retificados ou complementados, quando, então,

1: Não se fo~ou ainda a doutnna brasileira sobre o habeas data, nem háju-
risprudencla a respeito do novo mstituto. havendo apenas alguns artIgOS publicados
na Imprensa. a saber: 10se Afonso da Silva. "Habeas data", O Estado de S. Paulo
de 26.9.8~; Roberto Mortan Cardillo, "A respeito do habeas data", O Estado de
S. Paulo de 29:10.88; Marcos F. O. Nusdeo e Rosolêa M. FolgasJ. "Habeas data",
RDP 87/90; Mlchel Temer, "Algumas notas sobre o mandado de segurança colettvo
o mandado de lOJunção e o habeas data", RPGE-SP 30/11; J. J. Calmon de Passos:
Mandado de Segurança Coletivo. Mandado de lnJunção e "Habeas data" - COnstl-
tUlção e Processo, Forense, 1989. Mais recentemente, Mílton Fernandes, "O habeas
data como defesa â ameaça tecnológica", RT 704/63, e um excelente e objetivo
~go. resummdo as tendências maIs atuais sobre o tema, de Ernesto Lipprnann,
O Habeas Data ViSto pela doutnna e mterpretado pelos Tribunais", RT 723/116.
19. O paragrafo único do art 154 do CPC, introduzido pela Lei n. 11.28012006, Também hã o livro O "Habeas Data", de Tereza Cnstina S. Baracho Thibau, Ed. Dei
autoriza a disciplina pelos Tribunais. no âmbito de suas respectívas Jurisdições. da ~e~. ~e1o,~onzont;~ 1997, e os artigos"O habeas data e a proteção da pnvacidade
prática e comunicação oficial de atas processuais por meIOS eletrônicos. A Lei n. mdlVldual . de Aureho Wander Bastos (RevISta da Umversidade EstàcIO de Sá. 1999
11.419. de 19.12.2006, por sua vez. ampliou ainda tnalS a possibilidade de utilização pp. 63-85) e "O habeas data e sua leI regulamentadora", de Josê Carlos Barbos~
de meios eletrénicos no processo judicial. Moreira (RIL 138 e Revista da EMERJ 1).
304 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 305

pedirá à Justiça que os retifique, mediante as provas que exibir ou atividades,4 para possibilitar a retificação de tais informações. Para
vier a produzir. 2 tanto, o procedimento judicial depende de prova e, por isso, terà nto
O rito do habeas data não depende de uma lei processual espe- ordinário ou especial, conforme dispuser a lei pertinente.5
cial, podendo reger-se pelas normas procedimentais comuns; mas é No entanto, se, com o pedido inicial, o interessado já oferecer
de toda conveniência que o Congresso legisle a respeito desse novo as provas do alegado e com elas concordar a autoridade requerida,
instrumento de defesa das liberdades públicas, introduzido em 1988 o JUizo deverà deferir, de plano, as retificações postuladas; havendo
na ordem constitucional brasileira.' oposição, a ação prosseguirá, para a produção e apreciação das pro-
O objeto do habeas data é, pois, o acesso da pessoa física ou vas necessárias. 6
jurídica aos registros de informações concernentes à pessoa e suas O habeas data não pode substituir a ação declaratéria ou ser
impetrado quando a matéria é controversa. Ajurisprudência entende
2. A Lei n. 9.507/97. que disciplinou o rito do Irabeas data, adotau um proce- que a correção de dados pressupõe, no caso, liquidez e certeza, como
dimento assemelhado ao do mandado de segurança, e com isso impediu a ação em na hipótese do mandado de segurança (TJSP, 2' c.. ApC n. 165.159-
duas fases. Na forma atuaI. portanto, o habeas data será cabível ou para o forneci- 1/3, j. 5.5.92, RT 686/1 09).
mento de informações, ou para a correção de dados. As duas COiSas não poderão ser
obtidas no mesmo processo. Caso a parte peça um habeas data para fornecimento Também se tem salientado o caráter pessoal dos dados e infor-
de tnformações e constate inexatidões, tem que ajuizar urna nova ação para obter a mações a serem obtidos ou corrigidos pelo habeas data. Trata-se de
correção dos dados pertinentes. Discordando, e afirmando que mesmo no regime da garantia constitucional decorrente da chamada "liberdade de infor-
Lei n. 9.507/97 contInua a ser possível o desenvolvimento do habeas data em duas
fases. uma de fornecímento das ínformações e uma segunda de retificação, mediante
mática", dando acesso aos bancos de dados para controle das mfor-
aditameuto posterior da inu::ial: STJ. REsp u. 781.969-RJ. ReL Min. Luiz Fux, RF mações neles constantes a respeito da pessoa. do individuo. em todos
392/392. Em acórdão posteríor, no entanto, a Iii. Seção do STJ decidiu ser "inviável a os seus aspectos, politicos, econômicos, sanitários, familiares etc.,
pretensão de que. em um mesmo habeas data, se assegure o conheCImento de infor- segundo entende a melhor doutrina. Assim, não cabe para resolver
mações e se determine a sua retificação" (HD n. 160-DF. Rela. Min. Denise Arruda,
DJe 22.9.2008).
problemas vinculados.ao registro de imóveis (ApC n. 196.209-1, de
3. O habeas data, embora sem denomínação específica, já constava da Consti- São Paulo,j. 2l.9.93, inJurispruçlência do TSJP 151/64).
tUIção de Portugal de 1976 (art. 35) e da Constituição da Espanha de 1978 (art. lO5, No âmbito do STJ decidiu-se que "o habeas data não fi meio
U
"b Mas antes dessas Constituições já fora estabeiecido por legislação ordinária nos
).

Estados Unidos. ou seja, pelo Freedom oflnftmnanon Act de 1974, alterado pelo Free-
processual idôneo para obter dados sobre o recolhimento do ICMS
dom ofInformation Reform Act de 1978. visando a possibilitar o acesso do particular
às informações constantes de registras públicos ou particulares permitidos ao público. 4. Para uma definição detalhada do objeto e do escopo do cabimento do 110beas
Na França, a Lei sobre Informática e Liberdades. de 6.1.78, garante o direíto de aces- data, v.: STJ, REsp n. 781.969-RJ, ReI. Min. LUlZ Fux. RF 392/392. Esclarecendo
so e retificação de dados pessoais constantes de registros de caráter público. O habeas não caber o mandado de segurança como sucedâneo do habeas data se a pretensão ê
data tambêm foi introduzido na Argentina quando da revisão constitucional de 1994. de obtenção de mformações sobre a pessoa do impetrante, constantes de regIstro ou
como mais uma das modalidades de acción expedita y rapida de amparo (art:. 43). banco de dados de entidade governamentai: STJ. MS n. 8.196-DF, Rei. Min. Félix
I. Fischer, DJU 12.5.2003, p. 210, eRT8161l64.
A acción de amparo argentina, tal como o jUlClO de amparo do Direito mexicano. ê
ação assemelhada ao nosso mandado de segurança. Sobre o habeas data no Direito 5. Como se verâ adiante, a Lei n. 9.507/97 adotou um rito assemelhado ao do
argentino. destacamos as obras de Enrique M. Falcón ("Habeas pata" - Concepto mandado de segurança. e com isso impediu a fuse probatória [la bojo do haheas data.
y Procedimiento. Buenos Aires, Abeledo-Perro1, 1996) e Miguel Angel Ekmedjiam Esta opção do ieglslador apresenta graves mconveriíentes. comõ -veremos nõn~ e
e Calogero Pizzolo ("Habeas Data" - EI Derecho a la Intimidadfrente a la Revolu- obriga o impetrante a apresentar com a iniCial a prova documental pré-constituída
ción Infomuíttca. Buenos Aires. Depalma, 1996). Em ambos os livros encontramos de ~uas alega~ões. Sendo asSIm, se a pretensão do lfllpetrante _d~~~! de cornpro~
uma boa quantidade de ínformações sobre o habeas data no Direito Comparado. Na v~ç=.?_I!~r p_e.I'!Ç.!..a o~ por prova testemunhal, .teni.q~e _~':l5car seus direlto~eíãSVlas.
Argentina a maténa está tratada na Lei Federal n. 25.326, de outubro/2000. V., aInda, ordmanas.· -- .------- ---._--
Carlos Daniel Luque, "El habeas data en la reforma constitucional de 1994 en la --i5:-táinbém aqUI o texto de Hely Lopes Meirelles acabou superado pda Lei n.
República Argentma: nociones elementales", RevIsta Ibero-Americana de Direito 9.507/97. que não contemplou a dilação probatória no procedimento do habeas data.
Público XXIl86-90. 111 trimestrel2006. Como veremos adiante. o Brasil editou a Lei A.creditamos que o autor fana sênas criticas à técnica do legislador. e procuramos VIS-
n. 9.507. de 12.11.97, disciplinando o procedimento do habeas data no Pais. lumbrar quais senam. A questão estâ tratada com maiS profundídade no n. 5, adiante.
IJNIVERSIDJI.DE FUMEC
6ít)h(;(2Ca da FCH
306 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 307

pelo Estado, não tendo a pretensão caráter pessoal, mas relacionan- No caso de sigilo por interesse público (ar!. 5". XXXIII, da
do-se à própria atuação administrativa do Estado" (pet. n. 1.318-MA, Constituição), entendeu o antigo Tribunal Federal de Recursos que
ReI. Min. Francisco Falcão, DJU 12.8.2002, p. 164). A ação fora compete ao juiz compatibilizar o direito individual com a segurança
ajuizada pelo Município de São Luiz, que pretendia questionar os do Estado, examinando o caso concreto (BD n. I, ReI. o Min. Mílton
'- . repasses relativos aos tributos recolhidos pelo Estado do Maranhão. Pereira, cujo acórdão foi publicado no DJU de 2.5.89)?
__o Há jurisprudência entendendo viável o pedido de habeas data Neste sentido, embora o impetrante tenha o direito de acesso às
para obtenção de acesso de ex-empregado de uma empresa à sua informações registradas sobre sua pessoa. a autoridade impetrada não
respectiva ficba cadastral empregatícía (TAMG, ApC n. 119.527-7, está necessariamente obrigada a fornecer dados sobre os informantes,
ReI. Juiz Baia Borges, RT 695/187).7 Esta decísão, no entanto, aca- se houver justificativa relativa à segurança destes últimos (v. TJSP,
bou reformada pelo STF, em acórdão unânime do Plenário (RE n. ApC n. 287.340-5/4, ReI. Des. Machado de Andrade, RT 852/227).
I 65.304-3-MG, ReI. Min. Octávio Gallotti, DJU 15.12.2000). Enten-
Finalmente, o habeas data não se confunde com a garantia cons-
deu a Suprema Corte que as informações cadastrais dos funcionários
titucional de obter certidões, 10 justificando-se pelo SImples interesse,
da companhia - no caso, o Banco do Brasil- não configuram registro
que não necessita de maiores motivações, do impetrante que deseja
de caráter público, na medida em que se destinam ao uso da própria
conhecer o teor dos dados e registros e eventualmente retificá-Ios.
empresa, sem divulgação a terceiros (o acórdão do Plenário do STF
A doutrina dominante considera que só cabe a impetração se a au-
~ foi publicado na íntegra e comentado na RDB 12/79). .
toridade se recusar a prestar as informações ou a fazer as correções
~ Por outro lado, já se julgou que o habeas data não é cablvel em tempo razoável. Assim, já decidiu o antigo TFR que, "inexistmdo
se inexistirem registros e/ou bancos de dados formais. Assim, e pedido administrativo precedente, a configurar o interesse de agIr do
inadmissível para a obtenção de informações com relação a meras
investigações de caráter interno, sem veiculação ou registro que
perpetue os dados apurados (TJMT, BD n. 1/90, ReI. Des. Mauro \ ÇQ~ão; mas discutir o teor desta ficam fora do escopo da impetração. Assim. o
STJ já decidiu que o habeas data não é melO idóneo para a pretensão de revoiver os
Jose Pereira, RT 668/138). Constatada a existência de informações i critérios utilizados na correção de prova prestada em concurso público (AgRgHD n.
em poder do ente contra o qual a impetração se dirige, porem, é ca- 127·DF. ReI. Min. João OlávlO Noronha, DJU 14.8.2006).
bivel o habeas data (TJRJ, ApC n. 14.126/2003, ReI. Des. Fernando 9. v., amda, a Lei n. 11.111. de 5.5.2005. A interpretação quanto ao sigilo da
informação buscada por unpetração de habeas data. no entanto, deve ser cuidadosa e
Cabral,j. 4.11.2003; caso no qual um candidato aprovado nas provas restritiva, pOIS este é exceção. sendo a publicidade a regra. No âmbito do STJ, v.: HD
de conhecimento em concurso público foi eliminado do certame em n. 91-DF. ReI. Min. Arnaldo Esteves Lima, RT 863/162.
razão de "investigação social", recusando-se a comissão do concurso 10. O habem data não se presta a forçar um órgão público a expedir certidão
a fornecer as informações que embasaram a recusa da nomeação). 8 (STJ, HD n. 67·DFIEDecl, Rela. Min. Demse Arruda, DJU 2.8.2004) e REsp n.
78I.969~RJ. Rei. Mm. LUlZ Fux. RF 3921392) ou para a mera obtenção de CÔpJa de
processo arlmmistrativo (STl. REsp n. 904.447-RJ. ReI. Min. Teori Albino Zavascki,
7. No TJRJ. admitmdo a impetração por ex-funCIonário da Petrobrás para DJU24.5.2007). O remédio Jurídico prõpno é o mandado de segurança (TI00. HD
conhecunento do teor de circular interna da' companhia fazendo referênCIas a sua n. 10-7/210, ReI. Dos. Charife Oscar Abrilo. RT7241396; TJRJ, HD n. 02/2003, ReI.
pessoa: Ape n. 4.06412007. Relo Des. Marcos Alcino de Azevedo Torres, RDTJRJ Des. Edson SClsinío,j. 14.10.2003). Tampouco serve o habeas data para impulsionar
75/192. processo admilllstrattvo (STJ, REsp n. 433.471-RJ, ReI. Min. Gílson Dipp, ADV
8. Há decisões interpretando ampliativamente as noções de "infonnações" e 2003. p. 116, em. 104.816).
"dados pessoais" para efeitos de cabimento de habeas data. Assim, já se admitiu Por outro lado. sendo as mfonnações de interesse geral, e não pertinentes a ape-
a impetração para a obtenção de cópia de prova prestada em concurso p~blico e da nas uma pessoa. o remédio cabível ê o mandado de segurança (STF, MS n. 24.725~
respectiva correção da banca (TOO. ApC n. 14.85612004, ReI. Des. Emam KJausner. DF, ReI. Min. Celso de Mello, InJonnatrvo STF33114).
DJRJ 2.6.2005, p. 447). Porém, deve ser observado que uma coísa é a obtenção de Da mesma forma. é cabivel o mandado de segurança, em lugar do habeas data.
côpm de documento. ou o acesso a determinada mformação. Coisa diversa é a discus~ se o impetrante busca informações sobre terceiros. como a identidade dos autores de
são de merito em tomo das razões que levaram a uma dada SItuação lá retratada. ~ agressões e denuncias que lhe foram feitas (STF. RMS n. 24.6174-DF, ReI. Min.
,
ser possível utilízar o habeas data para obter a copia de uma prova e da respectiva
-- ~,---_._-_ .., ---_._--_. -- - - ----_. '--._- Carlos Velloso, RF 382/30 1 e RT 839/164).
308 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 309

requerente, impõe-se o não conhecimento do pedido" (HD n. 7-DF, Conselho Nacional de Justiça ou do Conselho Nacional do Ministério
j. 16.3.89, DJU 15.5.89). No mesmo sentido é a Súmula 2 do STJ, Público, por força da alínea "r" do inc. 11 do art. 102 da CF, introdu-
de acordo com a qual: "Não cabe o habeas data (CF, art. 5·, LXXII, zido pela EC n. 4512004; compete ao STJ julgar o habeas data contra
"a") se não houve recusa de informações por parte da autoridade atos de Ministro de Estado ou do próprio Tribunal (CF, art. 105, I,
administrativa" .11 "b"); compete aos TRFs processar e julgar origmariamente o habeas
data contra ato do própno Tribunal ou de juiz federal (CF, art. 108,
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no mesmo
I, "c"); compete aos juízes federais processar e julgar o habeas data
sentido. O Tribunal Pleno, em acórdão da lavra do Min. Celso de
contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência
Mello, no RHD n. 22-8-DF, salientou que "a prova do anterior
dos Tribunais Federais (CF, art. 109, VIll);l3 compete ao TSEjulgar,
indeferimento do pedido de informação de dados pessoais, ou da
em recurso ordinário, o habeas data denegado pelos TREs (CF, art.
omissão em atendê-lo, constitui requisito indispensável para que se
121, § 42, V). Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar o
concretize o interesse de agir no habeas data. Sem que se configure
habeas data quando estiver envolvida matéria SUjeita à Jurisdição
situação prévia de P.Tel!'nsªo. re~J.stidll,. há carência da ação consti-
trabalhista (CF, art. 114, IV, com a redação dada pela EC n. 45/2004).
tucional do habeas data" (ADV 1995, ementa 71.215). Entretanto,
pode ocorrer que o detentor das informações solicitadas as forneça Quanto à Justiça Estadual, caberá li Constituição do Estado
de maneira insuficiente ou incompleta, e aí caberá o ajuizamento do estabelecer a competência de seus tribunais e Juízes, complementada
habeas data (STJ, l' Seção, HD n. 9-DF, ReI. Min. Miguel Ferrante, pela leI de organização judiciária de cada unidade da Federação (CF,
art.125,§ I').
RT667/169).'2
:;~ As competências para julgamento de habeas data, originaria-
mente ou em grau de recurso, estão discíplinadas detalhadamente nos
2. Competência três incisos do art. 20 da Lei n. 9.507/97. O texto legal, em muitos
Os juízos competentes para o processo e julgamento do habeas trechos, é cópia dos dispositivos acima referidos da Constituição.
data estão indicados na Constituição, assim distribuidos: compete ao
STF processar e julgar em recurso ordinário o habeas data decidido 3. Legitimação e procedimento
em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a de-
cisão (CP. art. 102,11, "a"). Originariamente, cabe ao STF processar o legítimado para requerer habeas data é unícamente a pessoa
e julgar o habeas data contra atos do Presidente da República, das fisica ou juridica diretamente interessada nos registros mencionados
Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal no me. LXXII, Ha" e "b", do art. 52 da CE
de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio O procedimento, como já mencionamos, será o ordinário ou o
Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, "d"); também cabe ao STF especial, visto que no decorrer da ação poderá ou deverá ser produzi-
a apreciação do habeas data quando impetrado em face de atos do da prova da inexatidão dos regísrros, o que propiCIará sua retificação.
Como se disse, o habeas data normalmente se desenvolverá em duas
~ 11. A LeI ll. 9.507/97 acabou consagrando o entendimento da jurisprudência, fases. Assim, o procedimento no habeas data deverá se aproximar,
no art SQ, ao estabelecer a obrigatoriedade. de instrução da petição inicial d~ habeas em certa maneira, ao rito da ação de prestação de contas, regulada
data com a prova da recusaextrajudicml do· acesso do int~~s~âo as inform~ç~~s. o~ nos arts. 914 e ss. do Código de Processo Civil. Aquela ação também
àãTaliã-de anotação no registro das retificações ca~~v_~~~. No STF,jáfiâ-vigência da
nova legislação, ROHD n. 24-2-DF, ReI. Min. Mauricio Corrêa,DJU 13.2.98, p. 31,
e HD n. DF, ReI. Mio. Celso de Mello,DJU 19.102006, p. 52. 13. A competência parajuigamento de habeas data contra diretoria de empresa
12. "0 fornecimento de mformações InSUfiCIentes ou incompletas é o mesmo pública eda Justiça Federal de lil instância, pOIS os TRFs têm a competência. em maténa
que o seu não~forneclmento. legitimando a impetração da ação de habeas data" (STJ. de habeas data, restrita a atas do próprio Tribunal ou de JUIz fedem1 (1RF-4tl Região.
HD n. 160-DF, Rela. Min. Denise Arruda, DJe 22.9.2008). HD n. 93.04.l5427-8-RS, Rei. Juiz Volkmer de Castilho.ADV 1994, ementa 64.118).
310 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 311

é dividida em duas etapas: na primeira o juiz deve decidir se existe Esclarecemos, por fim, que a Constituição isentou de custas e
ou não a obrigação de prestar as contas; se a resposta for positiva, despesas judiciais o processo de habeas data, como os demais atos
abre-se a segunda fase, na qual as contas são prestadas e a sua retidão necessanos ao exercício da soberania popular (CF, art. 5". LXXVII),
é analisada. No habeas data bá um primeiro Julgamento com relação facilitando, assim, o exercício desta ação civil. A Lei do Habeas
à pertinência da requisição das informações; se o pedido for cabível, Data, no art. 21, repetiu o princípio da gratuidade do processo,
as informações deverão então ser prestadas, e poderão ser retíficadas, estendendo-a ii fase da postulação extrajudiciaL
em caso de incorreção comprovada.
Não há possibilidade de aplicação analógica do procedimento 4. Julgamento e execução
do mandado de segurança ou do mandado de injunção, que colimam
Processado o habeas data, nos termos acima expost~s, enquan-
fins diversos, com ritos diferentes. I4 Desejável é que o Congresso
to não sobrevier lei processual pertinente, o Judiciário só garantirá o
Nacional edite norma processual adequada ao procedimento do ha-
acesso às informações relativas á pessoa do postulante e determinará
beas data, indicando as peculiaridades para o processo e julgamento
as retificações decorrentes da prova que vier a ser feita e aceita em
dessa nova garantia constitucional. l5
juizo. Não bastarão as alegações do postulante se desacompanhadas
Relembre-se que a Constituição da República só concede o de prova da sua veracidade, pois a nova disposição constItucional
habeas data para assegurar o conhecimento de informações relativas não assegura cancelamento dos registras pessoais, dos arquivos
à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados públicos e particulares de fornecimento ao público. mas garante sua
de entidades governamentais ou de caráter público, para possibilitar retificação condizente com a realidade. 16
a retificação desses dados, quando o postulante não prefrra fazê-lo Finalmente, é de se esclarecer que nem todo registro sera
por processo administrativo sigiloso (art. 5", LXXII, "a" e "b"). fornecido a quem o desejar, porque aqueles relacionados com a
Entendemos que se aplicam ao habeas data as regras do Código defesa nacional continuarão sigilosos e indevassavels, destinados
de Processo Civil relativas ao litisconsórcio e à assistência, sempre unicamente ao conheCimento do Presidente da República e das
que as informações em foco disserem respeito também a interesses autoridades responsáveis pela segurança da sociedade e do Estado,
jurídicos de terceiros. já ressalvados no inc. XXXIII do art. 52 da mesma CF,'7 como, a

14. Embora discordemos dessa posíção. o TRF da 311 Região já decidiu que o 16. Conforme acórdão da li Seção do STJ:"O pedido de retificação de assenta-
habeas data sena nação cívil especial análoga ao mandado de segurança", e por isso mentos, em habeas data. só tem cabimento quando o requerente já dispõe dos dados
o seu nto lhe poderia ser assemelhado. Sob esse fundamento. fOl considerada obriga- que, por inverossÍmeis (ou outro motivo previsto em lei), pretenda a devida alteração
tóna a mtervenção do Ministeno Público, sohpena de nulidade do processo (ApCHD no registro do órg~o. admlmstrntivo respectivo. A retificação a que a ConstJttução
D. 95.03.069821-9-SP. ReI. Jmz Américo Lacombe. RT 7311444). Essa aproxírnação Federal se refere sã e permitida quando se tratar de mfonnações não verazes a de-
do regíme jurídico do habeas data com o do mandado de segurança, que também já monstrar, o requerente, o seu cabal interesse em que sejam canceladas (ou retiradas),
fora defendida no antigo Tribunal Federal de Recursos no julgamento do HD n. 01 demonstrando com a lrucml, a sua existêncIR, até mesmo para propiCIar ã autoridade
(DJU2.5.89), acabou prevalecendo na Lei n. 9.507/97. Também a obngatoriedade de coatora a formulação de sua resposta" (HD n. 39-DF. ReI. Min. Democnto Reinaldo.
intervenção do Ministéno Público no processo foi consagrada no art. 12 da nova leI. RTJE 1621233).
15. A mércia do legislador em editar as normas procedimentaís relativas ao 17. O inc. XXXIII do art. 5n da CF assím dispõe: "Todos têm direito a receber
habeas data não impedia a parte de requerê-lo. uma vez que se trata de uma das dos orgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletIvo
garantias fundamentais inseridas no art. 52 da Constituíção, e tampouco autoriza a ou geral. que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressal-
parte a substituí-lo pelo mandado de segurança. Neste sentido, TJSC, ApCMS n. vadas aquelas cUJO sigilo seja Imprescindível à s~rança da sociedade e do Estado"
3.987. ReI. Des. João Martins. RT701l129. O Mirustério da JustIça nomeou comis- Esta disposição consutucIonaTfiã queser mterpretada em conjunto com a do me.
são especial para elaborar um anteprojeto sobre a matéria composta pelos Ministros ~XXII. q~e cnou o habeas data. Nesta linha, sob o fundamento de que o sigilo das
Carlos Alberto Direito e Ruy Rosado e pelos Professores Crua TáCito. Ada Pellegnru mformaçoes era assegurado por lei, o TJMG denegou habeas data no qual um candi-
Grinover, Arnoldo Wald e outros, que chegou a minutar um anteprojeto de lei, que dato em 'concurso público pretendia o acesso aos dados colhidos sobre a sua pessoa
ficou prejudicado com a promulgação da Lei n. 9.507/97. em mvestIgação sobre os seus antecedentes pessoais (HD n. 9.640-4, ReI. Des. Mon-
312 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 313

propósito, chamou atenção o então Consultor-Geral da República, 5. O "habeas data" na Lei n. 9.507/97
em dois judiciosos pareceres (cf. J. Saulo Ramos, Parecer n. SR-
13, de 17.10.86, RDA 166/19, e Parecer n. SR-71, de 6.10.88, DOU Como vinham afirmando a doutrina e a jurisprudência, desde a
6.10.88, p. 19.804). criação do habeas data na Constituição Federal de 1988, fazia-se ne-
cessária a edição de uma legislação específica para a disciplina deste
A execução do habeas data, por se tratar de uma ação civil co-
novo instituto. Assim, foi aprovada a Lei n. 9.507, de 12 de novem-
mum, deve ser feita por mandado judicial simplificado em oficio ao
bro de 1997 (DOU 13.11.97), sancionada pelo Presidente Fernando
responsável pelo arquivo, transcrevendo-se o inteiro teor do julgado,
Henrique Cardoso com alguns poucos vetos, que "regula o direito de
com as determinações do Judiciário.
acesso a informações e disciplina o nto processual do habeas data"" 18
Como a Constituição tomou gratuita a ação do habeas data,
Consagrando princípio já consolidado pela Súmula Ii. 2 do Su-
não haverá qualquer execução para pagamento de custas ou recebi-
perior Tribunal de Justiça, segundo a qual não será cabivel a ação de
mento de honorários de advogado (art. 5", LXXVII). habeas data se não houver a prévia recusa de informações por parte
da autoridade admimstratíva, a Lei n. 9.507/97 reservou os primeIros
teiro de Barros. RT 710/125). Sobre o descabimento de habeas data para obtenção artigos ao regrarnento da fase extrajudicial da postulação, deixando
de infonnações sobre documentos apreendidos em investigação penal sigilosa exíste
parecer de Hélcio Alves de Assumpção. RF 3331203. No STJ: "O habeas data não e para uma segunda parte as regras processuais sobre a ação Judicial.
melO processual idóneo para obrigar autorida~e coat~ra a pres~ inf?nnações ~obre
inquérito que tranuta em segredo de justlça, CUJa ~ahdade ~reclpua e a de e!ucldar a O acesso extrajudicial às informações - A Constituição de - "
prática de uma infração penal e cuja quebra de sigIlo podera frustrar seu obJenvo ~e 1988, ao criar o habeas data, no inciso LXXII do art. 5", assegurou
descobrir a autoria e materialidade do delito" (HD D. 98-DF/AgRglEDecI. Rel. Mm. às pessoas em geral o acesso às ínformações sobre elas constantes
TeOIi Albino Zavascki. DJU 11.10.2004, p. 211). Na mesma linha, já se decidiu que a
simples referencia a certas pessoas em depoimento prestado perante autoridades, em de "regrstros ou bancos de dados de entidades governamentais ou
processo sigiloso, não autoriza o manejo do habef!! data por aqueles mencIOnados de caràter público"" Do texto constitucional pode-se extrair que,
(STF, HD n. 71-DF, ReI. Min. Sepiílveda Pertencê. DJUT5.12.20051. em princípio, todos os registras e bancos de dados "OfiCiais" - de
Num caso em que se pedia o acesso a registras relativos ás promoções de entidades governamentais - estão sujeitos â regra (ressalvadas as
oficiais da Força Aerea, a 3il Seção do STJ denegou o habeas data com a seguinte
ementa: "Habeas data - Art. 50., XXXIII - Informação sigilosa - Decreto n. 1.319/94. informações sigilosas por questão de segurança da sociedade e do
O direito a receber dos órgãos públicos informações de interesse partícular, previsto Estado, como restringido pelo inciso XXXIII do mesmo ar! 5" da CF,
no art. 50., XXXIII. não se reveste de carater absoluto, cedendo passo 9.~~~~sA~Qo:? _ regulamentado pela Lei n. 11.111/2005).19 Mas tambem os registras
buscados sejam de uso pnvativo do órgão deposi.~~4~~unfo_I!fl~!_~~~' No caso dos ou bancos de dados particulares poderão ser acessados pelos interes-
autos. as informações- postuladas, pertinentes â avaliação de menta do oficial reque-
rente, se encontravam sob responsabilidade da CPO - Comissão de Promoções de sados, desde que sejam caracterizados como de "caráter público" 20
Oficiais e, nos termos do art. 22 do Decreto n. 1.319/94. eram de exclusivo mteresse E essencial, no entanto, que as informações registradas sejam de
desse õrgão. Depreende-se, pOiS, que o caráter sigiloso das informações buscadas I.
estava, objetivamente, prevísto. Ordem denegada" (HD n. 56-DF, Rei. Min. Félix 18. O livro "Habeas Data", publicado em 1998 peia Ed. RT, com textos de
Fischer, DJU29.5.2000, p. 108). vários juristas e coordenação da Professora Teresa Arruda Alvim Wambier, e a obra
Regulamentando o inciso XXXIII do art. s.o da CF, editou-se a Lei n. 11.111, maiS completa sobre a matéria ii luz da nova legislação. Tambem merecem destaque
de 5.5.2005 (integra no "Apêndice" deste livro). A referida lei e objeto da ADIn~. os livros "Habeas Data", de J. E. CarrelIBAlvim, publicado em 2001 pela Editora
4.077-DF, Rela. Min. Ellen Gracie, no STF, movida pelo Procurador-Gerai da Repu- Forense, e "Habeas Data", de Jose Eduardo Nobre Marta, publicado em 2005 peia
blica.. amda não julgada. Editora Lumen Juns.
Sobre a matéria, merece menção o artigo de Francisco Bilac M. Pinto Filho, 19. A restrição do Sigilo, no entanto, deve ser Interpretada cautelosamente, pOIS
"O segredo de Estado e as limitações ao habeas data", RT 805/35. a regra é a publicidade e a acessibilidade da informação. v., no STJ, HD n. 91-DF,
No entanto, e importante ressaltar que a ínterpretação quanto ao sigilo da Rei. Min. Arnaldo Esteves Lima, RT 863/162.
informação buscada por lmpetração de habeas data deve ser cuidadosa e restritiva, 20. No TOO, considerando de "caráter público" os registras mantidos por InS-
pois este é exceção, sendo a publicidade e a livre acessibilidade a regra (STJ, HD n. tituições financerras com relação âs contas de FGTS: ApC n. 5.541/2002, ReI. Des.
91-DF, ReI. Min. Arnaldo Esteves Lima, RT863/l621. Sérgio Cavalien, DJE 3.10.2002, p. 346.
314 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 315

caráter pessoal do impetrante, como vêm salientando a doutrina e a às informações nos registros ou bancos de dados de entidades gover-
jurisprudência. Dados genéricos, que não digam respeito diretamente namentais ou de caráter público, sem a ressalva quanto às informa-
à pessoa do impetrante, não são acessíveis ou retificáveis pela via do ções sigilosas, garantida na própria Constttuição Federal. Ademais,
habeas data. estabelecia-se a obrigação de fornecimento imediato de cópias de
Logo no parágrafo único do art. I" da Lei n. 9.507/97 são de- documentos aos interessados, além da comunicação li pessoa interes-
fmidos como de caráter público "todo o registro ou banco de dados sada da prestação de informações a seu respeito a qualquer usuário
contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a ou terceiro. Como bem salientado nas razões de veto, taiS obrigações
terceiros ou que não sejam do uso privativo do órgão ou entidade seriam inviáveis e desproporcionais, tanto do ponto de vista práttco
produtora ou depositária das informações". Com efeito, inúmeros quanto juridico.
registros tipicamente comerciais, como serviços de proteção de cre- A Lei n. 9.507/97 disciplinou um rito extrajudicial, estabelecen-
dito2l ou listagens de mala-direta, estarão englobados na definição do que o interessado apresentará o seu requerimento de -fornecimento
legal, na medida em que normalmente são idealizados justamente de informações ao órgão ou entidade depositária do registro ou banco
para transmissão de informações a terceiros. Como a defmição legal de dados, o qual deverá ser apreciado em 48 horas (art. 2", caput).
é bastante ampla, entendemos que deve ser interpretada com tempe- A decisão devera ser comunicada ao requerente em 24 horas (art. 2.,
ramentos, verificando-se, caso a caso, a natureza das informações parágrafo único), sendo que, em caso de deferimento, marcar-se-ão
registradas e o seu potencial eventualmente lesivo aos particulares. 22 dia e hora para a divulgação das informações (art. 3", capul).
Não se pode esquecer que o habeas data foi concebido na Embora haja uma louvável preocupação com a celeridade
Constituição de 1988 como um instrumento essencialmente político. do procedimento, a lei nada dispôs quanto à inobservância destes
Os membros da Assembléia Nacional Constituinte tinbam em mente, prazos. Tratando-se de órgão público, o funciomirio em atraso es-
sobretudo, os registros do antigo Serviço Nacional de Informações tará sujeito às penalidades administrativas cabíveis em função da
- SNl durante o regime militar de 1964 (Jesus Costa Lima, Comen- desobediência a uma obrigação legal; mas, tratando-se de entidades
tários às Súmulas do Superior Tribunal de Justiça, 2' ed., v. I/38, privadas (embora destinadas a atender ao público), há muito pouco
Brasílía Juridica, 1993). que o interessado possa fuzer para que os prazos sejam rigorosamente
A preocupação quanto ao alcance das regras da Lei n. 9.507/97 respeitados. E verdade que o art. 6º estabelecia multas para o des-
foi expressamente manifestada pelo Presidente da República nos cumprimento das obrigações impostas às entidades depositárias dos
vetos ao caput do art. I", ao parágrafo único do art. 3· e à integra do dados ainda na fase extrajudiciaL Mas a falta de especificação quanto
art. 5·. Nestes dispositivos, originalmente aprovados pelo Congresso à desttnação e li gestão das verbas arrecadas, além de uma anômala
Nacional, mencionava-se simplesmente o direito mestrito ao acesso intervenção do Ministério Público, prevista nos §§ lº e 2º,levaram o
Presidente da República a vetar a norma.
21. No TJSP. afirmando ser o habeas data O remédio processual cabível para o O art. 40 da Lei do Habeas Data disciplina a retificação de
acesso aos reglStros do SPC e do SERASA: ApC n. 160.063-4/0-00, ReI. Des. Cézar dados inexatos. O interessado deverá pedir a retificação em petição
Peluso, ADV2001. em. 98.249. V.• aínda, admitindo a impetração para o lançamento acompanbada de documentos comprobatórios da inexatidão (art. 40,
de anotações explicativas do ímpetrante com relação li sua ínscrição em cadastro de
inadimplentes: IA TACSP, AI n. L333.979-8, ReI. Des. ÉlclO Trujillo, RT 837/244. caput), a qual deverá ser efetuada e comunicada ao requerente em
Sobre o tema: Luana Pedrosa de FigueIredo Cruz. "Questões sobre a admissibilidade 10 dias (art. 40, § 1·). Há, ainda, uma situação intermediána, quando
e ações que envolvem mantenedores de bancos de dados'" RePro 156/331. citando não se constatar propriamente uma inexatidão, mas houver alguma
doutrina e jurisprudência. pendência sobre o fato objeto do dado registrado. Nesta hipótese, o
22. Sobre a matéria hã interessante e esclarecedor acórdão do Plenário do STF:
RE n. 165.304-3-MG, ReI. Min. Octávío Gallotti. DJU 15.12.2000, RDE 12179. So-
interessado poderá apresentar "explicação ou contestação", que de-
bre a interpretação do parágrafo UnIco do art. 112 da Lei o. 9.507/97, v.• ainda., DO STJ: verá ser anotada no cadastro (art. 40, § 2"), inclusive para informação
REsp o. 929.381-AL, ReI. Min. Francisco Falcão.DJU25.1O.2007. de terceiros.
316 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 317

Entendemos que, em toda a fase extrajudicial, quando o ban- Por fim, como já afirmava Hely Lopes MeireUes (nesta Qumta
co de dados ou o registro for de órgão ou entidade integrante da Parte, n. 1, retro), o habeas data podem ser impetrado taoto pela pes-
Admimstração Pública, serão cabíveis os recursos administrabvos soa fisica quanto pela pessoa juridica. Não há motivos para excluir as
ordinários, às autoridades hierarquicamente superiores, em caso de pessoas juridicas se a Constituição não o fez. Assim, da mesma forma
indeferimento de quaisquer requerimentos (sobre a matéria, v. Hely como podem impelrar mandado de segurança, as pessoas juridicas
Lopes MeireUes, Direito Administrativo Brasileiro, 35' ed., São também podem impelrar habeas data. Neste particular, vale lembrar
Paulo, Malbeiros Editores, 2009, p. 727). Não obstaote, embora o que a jurisprudência recente do Superior Tribunal de Justiça vem
recurso administrativo possa ser cabível, não se podem exigir do in- aceitaodo a reparabilidade do dano exclusivamente moral causado
teressado a prévia exaustão das vias administrativas para que ajuize o â pessoajuridica, a partir do acórdão no REsp n. 60.033-2cMG (reI.
seu pedido de halieâs dáta 'perante ó Poder Judié1ário, em virtude de Min. Ruy Rosado, RSTJ 85/268), e o habeas data (esp~cialmente
expressa vedação constitucional (CF, art. 5", XXXV). para retificação de dados) pode ser um importante instrumento na

~
defesa do patrlmônio moral, evitaodo a difusão de informações ine-
O cabimento do "habeas data" - O art. 7' da Lei n. 9.507/97 re- xatas ou deturpadas.
pete a redação do inciso LXXII do art. 5" da Constituição, asseguran-
do o cabimento do habeas data para o conhecimento de informações A ação judicial - A petição inicial do habeas data deverá
sobre a pessoa do impetrante e a retificação de dados. Acrescentou- atender aos requisitos do Código de Processo Civil para as demais
se, porém, uma terceira hipótese de cabimento do habeas data, não petições iniciais (CPC, arts. 282-285) e devem ser apresentada em
prevista na Constituição: "para a anotação nos assentamentos do inte- duas vias (inclusive dos documentos). O coatar sem notificado para
ressado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas jus- prestar informações em dez dias, recebendo a segunda via da petição
tificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável" (art. 7·, fi). e documentos. 23 Inexistindo previsão específica quanto â forma da
Quanto à retificação de dados (art. 7·, II), a Lei n. 9.507/97 notificação, entendemos que devem ser feita por oficial de justiça ou
repete a Constituição Federal ao prever a opção, para o interessado, correio, na forma da lei processual (CPC, art. 221 - v. os comentá-
de requerimento mediante "processo sigiloso, judicial ou adminis- rios à notificação no mandado de- segurança, Primeira Parte, n. 11),
trativo". Como a própria Lei do Habeas Data não disciplina este contando-se o prazo da juntada aos autos do oficio (Lei n. 9.507/97,
processo judicial sigiloso, entendemos que deverá seguir o rito ordi- art. 11, c/c CPC, art. 241, I e II).24
nário, correndo sob segredo de justiça (na forma do CPC, art. 155). Disciplinando-se a ação dessa forma, deu-se ao habeas data
O processo administrativo sigiloso, evidentemente, só sem aplicável uma feição similar à do mandado de segurança, no qual não há pro-
às "entidades governamentais", priamente um réu, mas uma autoridade coatora (no caso, a Lei n.
O habeas data para anotação de contestação ou explicação de 9.507/97, nos arts. 9·, 13 e 14, fala simplesmente em "coator").
dado sujeito a pendência deve ser empregado com parcimônia, pois Com efeito, um problema que pode surgir para o lmpetrante é a
não pode servir para satisfação de meros caprichos dos particulares. identificação de quem é o responsável pelo registro das informações
A explicação não só devem ser devidamente instruida e justificada,
como o requerente devem provar o seu interesse processual (CPC, 23. O legislador. nos arts. 82 e 92 da Lei n. 9.507/97, COpiOU a tecmca da re-
vogada Lei n. 1.533/51. que antenonnente dispunha sobre o mandado de segurança
art. 3.), consistente na necessidade de fazer constar a anotação para (arts. 62 e 712) e cUJa sistemática fOI mantida na vigente leI diSCiplinadora do manda-
evitar algum tipo de prejuízo material ou moral. Como regra geral do mus (Lei n. 12.016. de 7.8.2009, arts. 6l! e 72 ).
processo civil, o autor de uma ação deve provar a necessidade que 24. Note-se que o parágrafo umco do art. 154 do CPC, introduzido peja LeI n.
tem de recorrer ao Poder Judiciário; e, portanto, não bastará a mera 11.280/2006. autoriza a disciplina pelos Tribunais, no âmbito de suas resl?ectlvas JU-
risdições, da práttca e comunIcação oficial de atos processuais por meIOS eletrônicos.
vontade do impetrante para justificar o cabimento do habeas data A LeI n.·11.419, de 19.12.2006, por sua vez. ampliou ainda mais a possibilidade de
para simples anotação. utilização da Informática no processo judiCIaI.
318 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 319

sobre a sua pessoa, dentro de urna entidade depositária de registros não for notificado o coator, caberá o aditamento â pehção micial
ou bancos de dados (que pode ser pública ou privada). Ajunsprudên:- (CPC, art. 294). De qualquer maneira, a decisão denegatória do
cia do Supremo Tribunal Fe~er:liI~..<!().Superior Tribunal (kJ~stiç!, habeas data que não tenha apreciado o mérito não impede o ajUlza-
consolidou-senosentido·iIê que a indicação errônea da autondad".. mento de novo pedido (Lei do Habeas Data, art. 18).
coatora no mandãdo d.s:. s~gtlfança leva à extinção do processo se lIl
As informações do coator poderão contestar o cabimento do
julgamento·do -inéritô,por carêllcia de ação. Buscando evitá~la, a
habeas data, por diversos motivos (por faltar caráter público ao
Lei n~IT.õT6709: no art. 60, § 3", passou a prever que se conSidera
banco de dados, por faltar algum documento a inicial, por serem as
autoridade coatora, para fins de impetração do mandamus, ~9.uela
informações sigilosas ou não se referirem ao impetrante, por não
que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane ordem pa~
ter havido a préVia recusa administrativa, ou por qualquer outro
ãsuâ prntica.. Para que se facilite a impetração do habeas data, e
-éõnsiderandô que no âmbito administrativo o requenmento deve ser fundamento relevante). Também poderão, no caso de pedido de re-
feito "ao órgão ou entidade depositária do registro ou banco de da- tificação ou anotação, contestar a correção dos dados apresentados
pelo impetrante.
dos" (Lei n. 9.507/97, art. 3"), o coator deve ser considerado, seI?pre,
este órgão ou entidade, e não urna pessoa que ocupe um deterrm~ado Passado o prazo para as informações, prestadas elas ou não,27 o
cargo. Assim, será legitimado passivo para o habeas data o propno processo será encaminhado ao representante do Ministério Público
órgão ou entidade depositária do registro ou banco de dados, que para parecer (LeI do Habeas Data, art. 12). O dispositivo tem texto
poderá ter personalidade juridica ind:p~ndente ou não, e que sera idêntico ao do art. 10 da revogada Lei n. 1.533/51, que regulamenta-
representado em juízo por quem de drrelto, de acordo com os seus va o mandado de segurança, na vigência da qual a Jurisprudência do
atos constitutivos. estatutos ou regImentos. STJ considerava nulo o writ se não houvesse efetíva manifestação do
É indispensável, sob pena de indeferimento da inicial, a prova Parquet, não bastando sua mera intimação.27 Nas edições anteriores,
por isso, escrevemos, que poderia aplicar-se ao habeas data tal en-
de que a entidade depositári~ do registro ou banc? ~e dados se re~~­
sou a prestar as informações25 (ou deIXOU ?e de~ldrr sobre a mat:na tendimento. Conduto, tendo em vista que a Lei n. 12.016/09, em seu
em dez dias) ou se recusou a fazer as retIficaçoes ou as anotaçoes art. 12, parágrafo único, prevê a conclusão dos autos do mandado de
cabiveis (ou deixou de decidir sobre a matéria em quinze dias). segurança ao juiz "com ou sem o parecer do Ministério Público", é
possível que este entendimento seja alterado (v. Primeira Parte, n. 8).
Consoante o disposto no art. 10 da Lei do Habeas Data, do
eventual indeferimento da inicial, por falta de qualquer dos requisitos Voltando os autos do Ministério Público, caberá ao juiz proferir
legais, caberá apelação?' A lei não prevê a hipótese de e~enda d~ a sentença. Se julgar procedente o pedido, marcará dia e hora para
imcial, mas entendemos que, por medida de econorma, o JUIZ pod~r:' que as informações sejam prestadas ao impetrante ou, no caso de ha-
determiná-la, por aplicação do art. 284 do Código de Processo ClVIl beas data para retificação de dados ou anotações, para que apresente
(cuja aplicação subsidiária pode ser inferida pelo art. 8" da Lei n. em juizo a prova dos novos assentamentos (Lei do Habeas Data,
9.507/97, ao impor como requisitos da petição inicial de habeas data art. 13).
os mesmos dos arts. 282-285 do CPC). Da mesma forma, enquanto Ao longo de toda a Lei n. 9.507/97 percebe-se a grande preocu-
pação do legislador com a celeridade do procedimento, tanto na fase
25. "O fomecímento de informações msuficíentes ou incompletas ~ o mesmo extrajudicíal quanto em juizo. São estabelecidos os prazos de cinco
que o seu não-fornecimento, legitimando a impetração da ação de habeas data" (STJ.
HD n. 160-DF. Rela. Min. Denise Arruda, DJe 22.9.2008).
27. O TJSP já decidiu que a falta de ínformações por parte do impetrado não
26. O ar!. 285-Ado CPC, introduzido pela Lei n. 11.277, de 7.2.2006, .utonza produz os efeitos da revelia, não mduzmdo necessariamente à presunção de veracida-
o indeferimento de pronto da inicial. com apreCIação do menta. "quan~o a matena de dos fatos afirmados na inicial, em VIrtude da natureza Jurídica espeCial do habeas
controvertida for unícamente de direíto e no Juizo já houver sido profenda sentença data. no qual o lmpetrado não equivale ao rêu nas relações processuais de um modo
de total improcedência". devendo ser reproduzida a decisão antenormente prolatada. geral (ApC n. 160.953-4/1-00, ReI. Des. Bóns Kauffinann, ADV2001, em. 97.674).
320 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 321

dias para o parecer do Ministério Público e para a prolação da senten- execução da sentença ao presidente do tribunal ao qual competir o
ça (ar!. 12), e o prazo de vinte e quatro horas para conclusão, a partir conbeclmentodo recurso (Lei do Habeas Data, art. 16).30 Do despa-
da distribuição, além da prioridade sobre os demais feitos judiciais, cho que defem a suspensão _caberá agravo para o tribunal (o prazo
excetuados o habeas corpus e o mandado de segurança (art. 19). do agravo e o respectIvo orgao Julgador dependerão dos regímentos
Também determina a lei que nos tribunais sejam levados a julgamen- internos de cada tribunal). !
to na primeira sessão seguinte â conclusão ao relator. Infelizmente, . Como a lei só previu o agravo para a hipótese de deferimento do l . -
como se sabe, prazos dessa natureza raramente são observados, até pedIdo de ~uspensão, resta saber se, indeferido o pedido peio presi-
mesmo em função do enorme acúmulo de processos e da sistemática dente d2' tnbunat o apelante terá algum outro remédio para impedir a
falta de pessoal no Poder Judiciário. execuçao provlsona da sentença. A questão é especialmente delicada
Em vírtude do seu caráter essencialmente célere e preferencial, nos habeas data em que se pedir o fornecimento das informações. Se
entendemos que, tal como o mandado de segurança, o habeas data o co.at?r entender que não pode divulgá-Ias ao impetrante (em razão
. também deverá tramitar durante as férias forenses coletivas. 28 de SIgIlo ,:onStItuclOnalmente garantido, por exemplo l, o provimento
..-.J De qualquer maneira, o ar!. 14 da Lei do Habeas Data, porém, d.a apelaçao poderá nã? servir de nada se as informações já tiverem
traz salutar inovação ao prever a possibílidade de comunicação da SIdo fornecIdas e o SIgIlo quebrado. Em tais situações excepcionais,
sentença, ao coator, por meio de correio, telegrama, radiograma e.ntendemos qu~ tambem poderá ser cabível o agravo contra o indefe-
ou mesmo telefonema. A utilização de serviços on tecnologias que nmento ?O pedIdo de suspensão (até mesmo em respeito à isonomia
permitam a celeridade da prestação jurisdicional deve ser encoraja- e ao ~evldo processo legal - CF, art. 52, caput, e incisos LIV e LV).
da. desde que preservada a segurança das partes envolvidas (seria o Se nao houver tempo hábil para o julgamento do agravo tambem
caso de se pensar, no futuro próximo, na notificação eletrônica, via entendemos cabível o mandado de segurança para atrib~ir efeito
suspensIvo á apelação (v. Primeira Parte, n. 6).
Internet).2' Aliás, ao permitir a comunicação por telefone, a lei nos
parece ter autorizado o emprego do fax. Embora a lei não o diga, nos . Qualquer coator - entidade governamental ou privada - tera
parece evidente que a notificação da sentença tambem podeni ser legltIm:dade para requerer ao presidente do tribunal a suspensão da
efetivada mediante díligência de oficial de justiça, se assim requerer execuçao da sentença, pois a lei não fez qualquer distinção entre os
o impetrante. coatores "oficiais" e os "privados" de cmter público.
A sentença do habeas data comporta recurso de apelação (art. Nos .casos de competência originária dos tribunais, caberá ao
15 da Lei n. 9.507/97). Na omissão quanto ao prazo, aplica-se a relator a mstrução do processo (Lei do Habeas Data, art. 17). En-
regra geral da lei processual, sendo o prazo de quinze dias (CPC, tenden:os que nestes processos, por analogia, também serão cabíveis
arts. 506-508). O recurso interposto contra sentença concessiva do o~ pedIdos de suspensão de execução do acórdão ao presidente do
habeas data terá efeito meramente devolutivo (Lei n. 9.507/97, art. tribunal superior ao qual couber o eventual recurso.
15, parágrafo OOico), cabendo, nesse caso, o pedido de suspensão da Tanto nos habeas data de competência originaria dos tribunaIS
q~anto naqueles que lá chegarem por meio de recursos sera obriga-
28. A EC fi. 45/2004 limItou as férias forenses coletivas aos Tribunais Superio- tono o parecer do Ministério Público, tal como nos mandados de
res, ficando as mesmas vedadas nos juizos e TribunaIS de segundo grau. de acordo segurança.
com o mcíso XII do art. 93 da-CF.
29. A Lei n. 11.280. de 16.2.2006, trouxe um paràgrafo Unico para o art 154 do O art. 20 da Lei n. 9.507/97 defme as competências para jul-
CPC, autonzando a prática e cornunícação oficIai de atos processuais por meios ele- gamento do habeas data, tanto originariamente como em grau de
trônicos. a ser disciplinada pelos Tribunais. no âmbito de suas respectivas jun'sdições.
A possibilidade de uma ampla mfonnatízação do processo judicial. com O uso de h' 30. Tendo em vista a opção do legislador em aproximar os procedimentos do
meios eletrônicos para a comunicação de atos e a transmíssão de peças processuais, abeas data e do mandado de segurança, os req~lsitos para o pedido de suspensão
está disciplinada na Lei n. 11.419, de 19.122006. devem ser semelhantes, poranalogm. Sobre a matena, v. a Pnmeíra Parte, n. 13, retroo
322 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 323

recurso. A maior parte do texto reproduz as regras de competência A prova pré-constituída poderá ser extremamente dificil de
da Constituição Federal. Embora o ínciso III se limite a mencionar produzir nas hipóteses de habeas data para retificação de dados ou
o recurso extraordínário para o Supremo Tribunal Federal, também anotação de justificativa de informação. Como se sabe, a prova pré-
será cabível o recurso especial para o Superior Tribunal de Justiça constituida diz respeito aos fatos da causa, e, dependendo da natureza
quando o acórdão for proferido por um tribunal estadual ou por um das Informações e do banco de dados, os fatos podem ser altamente
Tribunal Regional Federal em apelação, conforme o permissivo do complexos.
inciso III do art. 105 da Constituição. De qualquer forma, tanto as retificações quanto as anotações de
Tanto o procedimento administrativo quanto a ação judicial justificativas só poderão se fazer sobre fatos concretos, passíveis de
de habeas data são gratuitos (Lei do Habeas Data, art. 21). Assim, prova documental prévia e íncontestável.
estão vedadas quaisquer cobranças de custas ou taxas judiciais dos
litigantes. Também os recursos serão isentos de preparo. A gratuidade
Limites do procedimento - Um outro aspecto decorrente da
aproximação do habeas data ao mandado de segurança foi a impOSSI-
do habeas data já fora consagrada na própria Constituição Federal
bilidade de se obter, no mesmo processo, tanto o fornecimento da in-
(arl 5', LXXVII).3I
formação quanto, num segundo momento, a sua eventual retificação.
"S Algumas questões processuais - De toda a exposição acima,
Se o habeas data for impetrado para fornecimento de informações,
e estas devam ser retificadas, só poderão sê-lo através de um novo
viu-se que acabou prevalecendo na Lei n. 9.507/97 a aproximação
procedimento administrativo e/ou judicial.32
do rito do habeas data com o procedimento do mandado de segu-
rança. Pode não ter sido a melbor solução, como sustentava Hely Sugerimos, anteriormente, que o habeas data tivesse um rito
Lopes Meirelles (v. n. 3 desta Quinta Parte, retro), mas foí a opção do assemelhado ao da ação de prestação de contas, desenvolvendo-se
legislador. Fazemos, abaixo, algumas considerações sobre questões em duas fases (v. n. 3 desta Quinta Parte). A ação de habeas data
que poderão vir a surgir na aplicação da nova lei, esperando que a em duas fases também fora vislumbrada por Hely Lopes Meirelles
(v. cap. I desta Quinta Parte). Evitar-se-ia, dessa maneira, a neces-
jurisprudência se defina o mais rapidamente possível sobre os temas
sidade de dois processos, fazendocse tudo nos mesmos autos, num
mais delicados.
só feito. E na segunda fase poderia haver a produção de provas para
a confirmação da exatidão das ínformações constantes do banco de
Prova pré-constituída - O procedimento do habeas data, como
dados. O legislador, porém, optou pelo caminbo da aproximação com
se encontra disciplinado na Lei n. 9.507/97, não comporta dilação
o mandado de segurança.
probatória. Aplica-se o mesmo princípio da prova pré-constituida do '~
v
mandado de segurança (v. Primeira Parte, n. 4). Assim, a documen- Aplicação analógica do Código de Processo Civil - Embora a
tação acostada à inicial deverá comprovar, por si só e de plano, o Lei n. 9.507/97 não determine a aplicação subsidiária do Código de
direito do impetrante (neste sentido: STJ, HD n. 160-DF, Rela. Min. Processo Civil ao habeas data, esta nos parece indispensável naquilo
Denise Arruda, DJe 22.9.2008). em que não for contrariado o regramento específico. Como se viu
acima, há, Inclusive, algumas lacunas importantes que devem ser
31. Um julgado do TJRJ entendeu que. embora a ação de habeas data seja gra- supridas pela aplicação dos princípios gerais do processo civil.
tuita. a expedição de documento pelos orgãos governamentais de identificação não
teria a sua gratuidade assegurada (TJRJ. ApC n. 13.329/98. ReI. Des. Jaír Pontes de 32. No âmbito do STJ, porem. entendendo ser passivei a retificação dos dados
Almeida.. DJRJ29.4.99, p. 220). A nosso ver, no entanto, se a expedição do documen- no mesmo processo, mediante uma segunda fase, iniCIada com aditamento da imcml
to é detenninada pelo juiz da ação, como forma de cumprunento da decIsãojudicial. e contraditóno: REsp n. 781.969-RJ. Relo Min. Luiz Fux, RF3921392. Em acórdão
não se justifica a cobrança de emolumentos, tendo em vísta os textos constttuclOnal postenor, no entan~. a 111 Seção do STJ decidiu ser "inviável a pretensão de que, em
e legal que asseguram a ampla gratuidade para o exercícIO dos direitos protegidos um meSmo.habeas data. se assegure o conheCImento de mformações e se determine a
pelo habeas data. sua retificação" (HD n. 160-DF, Rela. Min. Denise Arruda. DJe 22.92008).
324 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 325

Assim, por exemplo, se o coator juntar documentos novos com virtUde das circunstâncias excepcionais eXIstentes em determinados
as suas informações, o impetrante deve ter o direito de se manifestar casos.34
sobre eles (CPC, art. 398), até em homenagem ao devido processo Embora dentro do procedimento específico do habeas data não
legal e ao princípio do contraditório. Não obstante, não poderá juntar haja margem, em princípio, para decisões interlocutónas (o procedi-
novos documentos que devessem constar da inicial, pois, como se
mento se resume ao ajuizamento, notificação do coator, parecer do
viu, a prova pré-constituida é indispensável para o deferimento do Ministério Público e sentença), entendemos que o agravo de instru-
pedido. mento deva ser cabível, pelos mesmos motivos por que deve caber no
Questão interessante é saber se é cabível a ação declaratória in- mandado de segurança (Primeira Parte, n. 19). A realidade é sempre
cidental (CPC, art. 5Q) no âmbito de um habeas data. Se aplicarmos mais criativa do que o legislador, e certamente haverá situações nas
o mesmo princípio do mandado de segurança, a declaração incidental quais a falta de um recurso como o agravo poderá causar prejuizo a
será incabivel (v. Primeira Parte, n. 19), remetendo-se a questão para uma das partes.
as vias ordinárias. Não obstante, parece-nos discutivel se a declara-
Quanto ao recurso de embargos infringentes nas apelações jul-
tória incidental não poderá ser cabível em tomo da autenticidade ou
gadas por maioria de votos, parece-nos que a tendência da jurispru-
falsidade de documento (CPC, art. 4", m.
Como se viu, a exigência
dência deve ser no sentido de aplicar, analogIcamente, as SÚInulas
da prova pré-constituída pode ser um e.ntrave a certos pedidos, ~ ~~s
ns. 597 do Supremo Tribunal Federal e 169 do Superior Tribunal de
parece razoável que neste particular haja um pouco maIS de fleXIbIlI-
Justiça. Assim, tal como nas apelações em mandado de segurança,
dade no habeas data do que no mandado de segurança.
não serão cabíveis os embargos infringentes nas apelações em ha-
Recursos e liminar - Por outro lado~ muito se discutiu~ em ma- beas data.
téria de mandado de segurança, quanto à recorribilidade das decisões
interlocutórias. É verdade que a questão sempre se colocou, no man- Honorários de advogado - Da mesma forma, no silêncio da
dado de segurança, essenciahnente em função dos deferimentos ou Lei n. 9.507/97, a tendência dos tribunais deve ser no sentido de
indeferimentos de liminares, e a Lei do Habeas Data não contemplou isentar o sucumbente de honorários advocatícios. A gratuidade a
a concessão liminar do pedido. que se refere o art. 2 I diz respeito exclusivamente às custas e taxas,
mas afirma a vontade do legislador de facilitar o máximo possível o
A liminar e a antecipação de tutela não fazem muito sentido no
acesso de todos a este tipo de ação. Assim, também serão aplicáveIS
habeas data, em razão da extrema celeridade prevista no seu proce-
analogicamente as Súmulas ns. 512 do Supremo Tribunal Federal e
dimento. Ainda assim, em casos excepcionais, se forem relevantes os
105 do Superior Tribunal de Justiça. O descabimento da condenação
fundamentos, a falta de previsão na lei específica não deve impedir a
em honorários de advogado em ação de habeas data já era entendi-
parte de requerer uma cautelar inominada ou até a medida liminar.33
mento de Hely Lopes Meirelles mesmo antes da edição da legislação
Na realidade, nenhum obstáculo existe para a concessão da limi- específica (v. n. 4, retro).
nar em habeas data, pois o silêncio da lei não impede que seja dada.
Basta lembrar que foi reconhecida, mediante construção jurispruden- 34. A pnrneira decisão concesSIva de limínar foi dada no HC n. 27.200, unpe-
cial, a possibilidade de concessão de liminar em habeas corpus, que trado no Supenor Tribunal Militar, por Arnoldo Wald. e a segunda foí do Supremo
não se admitia até 1964 e que passou a ser deferida, pelo Superior Tribunal Federal no HC n. 41.296, impetrado por Sobral Pinto, reportando-se o Re-
Tribunal Militar e, em seguida, pelo Supremo Tribunal Federal, em lator, Min. Gonçalves de Oliveira. à deCisão castrense (RTJ33/590) (Evandro Lins e
Silva, O Salão dos Passos Perdidos, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1997,
pp. 389 e 390, e o estudo de Jurandir Portela ln Paulo Dourado de Gusmão e Semy
33. Imagínamos. como exemplo. uma situação na qual a parte queíra impedir Glanz, O Direito na Década de 1990, Novos Aspectos - Estudos em Homenagem
que as informações inexatas sobre a sua pessoa sejam transmitidas a terc:lros na ao Professor Arnoldo Wold, São Paulo, Ed. RT, 1992, pp. 447 e 448). Ver, também,
pendência do pedido de retificação. ou ao menos que delas conste referencIa ao o artigo "As ongens da liminar em habeas corpus no Direito -Brasileiro'" Arnoldo
ajuizamento da demanda. Wald, RT747/803.
326 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 327

Litisconsórcio e assistência - Como já tivemos a oportunidade Eleitoral contra as decisões de Tribunais Regionais Eleitorais que
de afmnar(v. n. 3, retro), entendemos que se aplicam ao habeas data denegarem habeas data. Enquanto a leI não der competência aos
as regras do Código de Processo Civil relativas ao litisconsórcio e TREs para julgamento de habeas data, O recurso previsto na Cons-
à assistência sempre que as informações em foco disserem respeito tituição encontrará dificuldades na prática, embora se possa admitir,
tambem a interesses jurídicos de terceiros. no caso, uma competência implícita ou decorrente de compreensão.
Assim, se O juiz vislumbrar uma hipótese de litisconsórcio ne- Parece-nos de toda IÓgíca que os habeas data relacionados a matérias
cessário (se uma informação não puder ser retificada sem que se afete eleitorais - relativos a bancos de dados governamentais utilizados em
a informação sobre um terceiro, por exemplo), deverá determinar que eleições ou bancos de dados acessados por partidos políticos - devam
o impetrante providencie a cientificação deste terceiro para integrar a ser julgados no âmbito da Justiça Eleitoral, o que demandaria a alte-
lide, aplicando-se, por analogia, as regras do mandado de segurança. ração do ar!. 20 da Lei do Habeas Data.
Na falta de previsão legal, entendemos ser inviável o ajuiza-
mento de habeas data coletivo, embora seja possivel a formação de Desistência e perda de objeto - O impetrante poderá desistir do
litisconsórcio ativo se as informações em questão forem do interesse habeas data a qualquer momento, independentemente do consenti-
dos vários impetrantes. mento do coator.
Não se coadunam com o procedimento do habeas data as moda- O acolhimento voluntário do pedido antes de proferida a senten-
lidades de intervenção de terceiros. ça, porem, acarretará a extinção do processo, por perda de objeto. Se
a parte não pode impetrar o habeas data sem a prova de que o pedido
Valor da causa e competência - Embora a atribuição de valor à administrativo lhe foi negado, não faria sentido prosseguir-se com o
causa seja indispensável, de acordo com o Código de Processo Civil, julgamento do pedido se o mesmo já foi atendido. 3s
a natureza do pedido, a gratuidade da ação e a isenção de honorários Se o coator corrigir um dado conforme a vontade do impetrante,
advocaticios tornam a sua fixação quase irrelevante. Cabem a atribui- antes de proferida a sentença, o processo devem ser extinto. Se a
ção de um valor estimativo pelo autor. Se a fixação do valor da causa correção for posteriormente cancelada ou alterada, caberá uma nova
tiver alguma influência na futura competência para julgamento de impetração, mas a primeira ação já estará encerrada.
recursos, deve-se evitar que o valor atribuído proporcione algum tipo
de vantagem a uma das partes. Ainda que se atribua um valor baixo à Prazo para impetração - Tendo em vista o camter dinâmico dos
causa, não será possível o seu julgamento por Juizados EspeCIais (Lei bancos de dados, com o constante registro de novas informações, o
n. 9.099/95), pois a competência está enumerada no art. 20 da Lei n. habeas data, em principio, não estará sujeito a qualquer prazo deca-
9.507/97, e não contempla esta possibilidade. ' dencial ou prescricional,36 O pedido sempre podem ser encaminbado
A competência federal ou estadual se define de acordo com a a qualquer momento. E possível, até mesmo, que se façam pedidos
pessoa do coator (CF, ar!, 109, I). Em cada Estado, a competência periódicos a um determinado banco de dados, para verificação sobre
da primeira instáncia e dos tribunais será definida de acordo com as
respectivas Constituições estaduais e leis de organização Judiciária 35. Fornecidas as infonnaç6es perseguidas pelo autor, a ação perde o objeto e
(CF, art. 125, § I", e Lei do Habeas Data, art. 20). Sem competente o processo deve ser extinto (STJ, HD n. 39-DF, ReI. Min. Demócrito Remaldo, RSTJ
105/52; TJRJ, 4' CC, ReL Des, Bernardino Leituga, AD V 1997, emeota 80.419),
a Justiça do Trabalho para processar e julgar o habeas data quando a
36. Em caso julgado no TJRJ, no entanto, decidiu-se que, se todo e qualquer
matéria em discussão for afeta à jurísdição especializada trabalhista direito do lmpetrante contra o ente público do qual fora funcionário estava presento,
(CF, art. 114, V, com a redação dada pelaEC n. 45/2004). uma vez que sua demissão ocorrera há mais de 30 anos, não havena interesse na
impetração de habeas data para obtenção de acesso ao conteudo de processo admi-
O legislador parece ter esquecido a regra constitucional do art. nistrativo a ele referente (ApC n. 12.06712003, ReI. Des. Miguel Ângelo Barros, j.
121, § 40, V, que trata do cabimento de recurso ao Tribunal Superior 4.11.2003).
328 "HABEAS DATA" "HABEAS DATA" 329

se as infonnações continuam as mesmas ou se houve a anotação de deferido, não fará sentido que poucos dias depois a parte impetre
alguma alteração. uma nova ação, sem que haja qualquer indício de que as infonnações
Assim, pelo principio daggí9.nata, a cada pedido administrati- tenham sido alteradas. Como dissemos acima, é necessária a demons-
vo negado estará nascendo a possibilidade de uma nova impetração. tração do interesse processual, e os potenciais coatores - as entidades
E os pedidos admmlstranvos poderão ser apresentados a qualquer depositárias de infonnações de caráter público - não podem ficar
momento, desde que justificados. sujeitos aos caprichos de particulares que impetrem uma ação atrás
Seria recomendável, porém, que se estabelecesse um prazo entre de outra.
o requerimento administrativo e o ajuizamento da ação. Por analogía, Assim. caso o primeiro habeas data tenha sido deferido, enten-
poderia ser aplicado o prazo de cento e vinte dias do mandado de demos que uma nova impetração só se justificará na medida em que
segurança. Passados os cento e vinte dias do requerimento adminis- a parte demonstrar, pelo decurso de um prazo razoável, ou por al-
trativo não atendido, a ação não mais poderia ser ajuizada antes que o gum fato concreto, que tem fundados receios de que as infonnações
pedido administrativo fosse renovado. O prazo não seria fatal, na me- anterionnente prestadas e/ou corrigidas foram alteradas ou aditadas.
dida em que um novo pedido administrativo reabriria a possibilidade
de impetração do habeas data. Entretanto, a fixação do prazo parece
relevante na medida em que a prolongada inercia do impetrante ca-
racteriza a sua momentânea falta de interesse para o pedido.

Prevenção - Em principio não haverá prevenção entre uma


impetração e outra, mesmo que entre as mesmas partes. Aplica-se a
mesma regra do mandado de segurança, tratando-se cada impetração
como um feito processual autônomo (v. Primeira Parte, n. 19).

. ~') Coisa julgada - Considerando-se a natureza dinâmica e mu-


tante dos bancos de dados, já mencionada acima, os efeitos da coisa
julgada material serão limitados e raros. Afinal, uma detenninada
1nfonnação poderá ser exata num momento e incorreta pouco depois,
ou více-versa.
Não obstante, caso o pedido de fornecimento de infonnações
seja negado com julgamento de merito (com base no sigilo da in-
fonnação ou no caráter privado do registro, por exemplo), a coisa
julgada impedirá a renovação do pedido.
A coisa julgada no caso de procedência do pedido para retifi-
cação de dados ou anotação de justificativa não impedirá a entidade
depositária das infonnações de fazer novos registros, desde que
baseados em novas ínfonnações devidamente comprovadas.
Aliás, nos casos de procedência do pedido seria recomendável a
fixação de certas regras para uma nova impetração entre as mesmas
partes. Se um habeas data para fornecimento de infonnações for
CONTROLEABSTRATO DE NORMAS 331

doS estudos desenvolvidos na Comissão composta por Orozimbo


Nonato, Prado Kelly (Relator), Dario de Almeida Magalbães, Frede-
rico Marques e Colombo de Souza, visava a imprimir novos rumos à
estrutura do Poder Judiciário. Parte das mudanças recomendadas já
haVIa sido introduzida pelo Ato Institucional n. 2, de 27.10.65. A Ex-
posição de Motivos encaminhada pelo Ministro da Justiça, Dr. Juracy
Magalbães, ao Presidente da República ressaltava que "a atenção dos
SEXTA PARTE* reformadores tem-se detido enfaticamente na sobrecarga imposta ao
Supremo Tribunal e ao Tribunal de Recursos". Não obstante, o pró-
AÇÃODIRETA prio STF houve por bem sugerir a adoção de dois novos inslltutos de
DE INCONSTITUCIONALIDADE legitimidade constituCIOnal, tal como descrito na referida EXpOSIÇão
AÇÃO DECLARATÓRlA de Motivos:
"a) uma representação de inconstitucionalidade de lei federal,
DE CONSTITUCIONALIDADE
em tese, de exclusiva iniciativa do Procurador-Geral da República, à
EAÇÃODIRETA semelbança do que existe para o Direito estadual (art. 8·, parágrafo
DE INCONSTITUCIONALIDADE único, da Constituição Federal);
POR OMISSÃO "b) uma prejudicial de inconslltucionalidade, a ser suscitada,
exclusivamente, pelo próprio Supremo Tribunal Federal ou pelo
I - FORMAÇÃO HISTÓRICA DO CONTROLE ABSTRATO DE Procurador-Geral da República, em qualquer processo em curso
NORMAS. II - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: perante outro juizo.
1. Legitimidade. 2. Objeto. 3. Parâmetro de controle. 4. Procedimen-
to. 5. Medida cautelar. 6. DeClsão. 111- AÇÃO DECLARATàR1A DE "A representação, limitada em sua inicIallva, tem o mérito de
CONSTITUCIONALIDADE: 1. Cnação da ação. 2. Legitimidade. facultar desde a defimção da 'controvérsia constitucional sobre leis
3. Objeto. 4. Parâmetro de controle. 5. Procedimento. 6. Medida caute-
lar. 7. DecISão. IV -AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
novas, com economía para as partes, formando precedente que orien-
POR OMISSÃO: i. Introdução. 2. Pressupostos de admissibilidade. tará o julgamento dos processos congêneres'. Afeiçoa-se, no rito, às
3. Objelo. 4. Procedimento. 5. Dectsão. V - AS DECISÕES DO Sl'F representações de que cuida o citado preceito constitucional para
NO CONTROLE ABSTRATO DE NORMAS E OS EFEITOS DA DE-
CLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. VI - SEGURANÇA
forçar o cumprimento, pelos Estados, dos princípios que integram a
E ESTABIUDADE DAS DECISÕES EM CONTROLE ABSTRATO DE lista do inciso VII do ar!. 7". De algum modo, a inovação, estendendo
CONSTITUCIONALIDADE. a vigilância às 'leis federais em tese', completa o sistema de pronto
resguardo da Lei Básica, se ameaçada em seus mandamentos.
I - FORMAÇÃO HISTÓRICA "Já a prejudicial agora proposta, modalidade de avocatória,
DO CONTROLE ABSTRATO DE NORMAS utilizável em qualquer causa, de qualquer instância, importaria em
substituir aos juízos das mais diversas categorias a faculdade, que
A EC n. 16 à Constituição de 1946, de 26.11.65, instituiu, ao
lhes pertence, no grau da sua jurisdição, de apreciar a conformidade
lado da representação interventiva, e nos mesmos moldes, o controle
de lei ou de ato com as cláusulas constitucionais. Ao ver da Comís-
abstrato de normas estaduaIS e federais. A reforma realizada, fruto
são, avocatória só se explicaria para corrigir omissões de outros
órgãos judiciários, se vigorasse entre nós, como vigora por exemplo
• A Sexta a Décima Primeira Partes deste livro são da autoria exclusiva do
Professor GILMAR FERREIRA MENDES. O autor agradece a colaboração prestimosa de na Itália, o privilégio de interpretação constitucional por uma Corte
Valéria Porto. Ranuzia Braz: dos Santos, Daniel Augusto Vila-Nova-Gomes. André especializada, a ponto de se lhe remeter obrigatoriamente toda ques-
Rufino do Vale. Chnstine Oliveira Peter da Silva. tão daquela natureza, levantada de oficio ou por uma das partes em
332 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE CONTROLE ABSTRATO DE NORMAS 333

qualquer processo, desde que o juiz ou tribunal não a repute manifes- o parecer aprovado pela Comissão Mista. da lavra do Deputado
tamente mfundada. Tarso Outra. referiu-se, especificamente, ao novo iastituto de controle
"Ao Direito italiano pedimos, todavia, uma formulação mais de constitucionalidade: "A letra 'k', propondo a representação, a cargo
singela e mais eficiente do que a do ar!. 64 da nossa Constituição, da Procuradoria-Geral da República. contra a iaconstitucionalidade
para tomar explícito, a partir da declaração de ilegitimidade, o efeito em tese da lei, constitui uma ampliação da faculdade consignada no
erga omnes de decisões definitivas do Supremo Tribunal, poupando parágrafo único do art. 8", para tornar igualmente vulneráveis as leis
ao Senado o dever correlato de suspensão da lei ou do decreto - ex- federais por essa medida. Ao anotar-se a conveniência da modificação
pediente consentâneo com as teorias de Direito Público em 1934 alvitrada na especie, que assegurará, com a rapidez dos julgamentos
quando ingressou em nossa legislação, mas presentemente suplanta~ sumários, uma maior inspeção jurísdicional da constitucionalidade
da pela formulação contida no art. 136 do Estatuto de 1948: 'Quando das leis, não será inútil configurar o impróprio de uma redação que de-
la Corte dichiara I'illegittimitá costituzionale di una norma di legge via conferir â representação a idéia nitida de oposição à inconstítucio-
o di atto avente forza di legge, la norma cessa di avere efficacia daI nalidade, e o impreciso de uma referência a atos de natureza normati-
giomo successivo alla pubblicazione della decisione' ,'" va de que o nosso sistema de poderes indelegáveis (art. 36, §§ 12 e 22)
conhece apenas uma exceção no § 22 do art. 123 da Constituição",2
Nos termos do Projeto de Emenda à Constituição, o art. 101,
I, "k". passava a ter a seguinte redação: ''k) a representação de in- A proposta de alteração do disposto no art. 64 da CP, com a atri-
constitucionalidade de lei ou ato de natureza normativa, federal ou buição de eficácia erga omnes à declaração de mconstituclOnalidade
estadual, encaminhada pelo Procurador-Geral da República". proferida pelo STF, foi rejeitada.3 Consagrou-se, todavia, o modelo
abstrato de controle de constitucionalidade.
E o art. 52 do Projeto acrescentava os seguiates parágrafos ao
art.lOl: A implantação do sistema de controle de constitucionalidade,
com o objetivo precípuo de "preservar o ordenamento jurídico da in-
"§ 12 . Incumbe ao Tribunal Pleno o julgamento das causas de tromissão de leis com ele inconviventes",4 velO somar, aos mecams-
competência originària (inciso I), das prejudiciais de inconstituciona-
mos já existentes, um instrumento destinado a defender diretamente
lidade suscitadas pelas Turmas, dos recursos interpostos de decisões
o sistema jurídico objetivo.
delas, se divergirem entre si na interpretação do Direito federal, bem
Finalmente, não se deve olvidar que, no tocante ao controle de
como dos recursos ordinários nos crimes políticos (inciso II, 'c') e
constítucionalidade da lei municipal, a EC n. 16 consagrou, no ar!.
das revisões criminaÍs (inciso IV).
124, XIII, regra que outorgava ao legislador a faculdade para "esta-
"§ 22 , Incumbe às Turmas o julgamento detinítivo das matérias belecer processo de competência originária do Tribunal de Justiça,
enumeradas nos incisos II, 'a' e 'b', e III deste artigo. para declaração de inconstítucionalidade de lei ou ato do Municipio
"§ 32 • As disposições de lei ou ato de natureza normativa, con- em conflito com a Constituição do Estado",
sideradas iaconstitucionais em decisão definitiva. perderão eficácia. A Constituição de 1967 não trouxe grandes inovações no sis-
a partÍr da declaração do Presidente do Supremo Tribunal Federal tema de controle de constitucionalidade. Manteve-se incólume o
publicada no órgão oficial da União." controle difuso. A ação direta de inconstítucíonalidade subsistiu, tal
E o art. 64 da CF passava a ter a seguiate redação: "Ar!. 64. In- como prevista na Constítuição de 1946, com a EC n. 16/65.
cumbe ao Presidente do Senado Federal, perdida a eficácia de lei ou A representação para fins de intervenção, confiada ao Procura-
ato de natureza normativa (art. 101, § 32 ), fazer publicar, no Diário dor-Geral da República, foi ampliada, com o objetivo de assegurar
Oficial e na Coleção das Leis, a conclusão do julgado que lhe for
comunicado", 2. Brasil, Constituição (1946), p. 67.
3. Brasil. ConstitUIção (1946), pp. 88-90.
1. Brasil, Constituição (1946): Emendas. Emenda ti ConstitUIção de 1946. n. 4: Celso RibeirO Bastos, Curso de Direito ConslÍtllcional, 5B ed., São Paulo,
16, Reforma do Poder Judiciário. Brasília, Câmara dos Deputados. 1968, p. 24. Saraíva, 1982, p. 65.
334 AÇÚES DE INCONSTITUCIONALIDADE CONTROLEABSTRATO DE NORMAS 335

não só a observância dos chamados princípios sensíveis (art. 10, VII), explícita ou implicitamente, a competência da jurisdição ordinária
mas também a execução de lei federal (arl. lO, VI, primeira parte). para apreciar tais controvérsias.7
A competência para suspender o ato estadual foi transferida para O Portanto, parece quase intuitivo que, ao ampliar, de forma sig-
Presidente da República (arl. li, § 2°). Preservou-se o controle de nificativa, o circulo de entes e órgãos legitimados a provocar o STF
constitucionalidade ln abstracto, tal como estabelecido pela EC n. no processo de controle abstrato de normas, acabou o constitumte
16/65 (arl. 119, I, "I"). por restringir, de maneira radical, a amplitude do controle difuso de
A Constituição de 1967 não incorporou a disposição da EC n. constitucionalidade.
16, que permitia a criação do processo de competência originária dos Assim, se se cogitava no penodo anterior a 1988 de um modelo
Tribunais de Justiça dos Estados para declaração de inconstitucio- misto de controle de constitucionalidade, é certo que o forte acento
nalidade de lei ou ato dos Municípios que contrariassem as Consti- residia, ainda, no amplo e dominante sistema difuso de controle.
tuições dos Estados. A EC n. 1/69 previu, expressamente, o controle O controle direto continuava a ser algo acidental e episódico dentro
de constitucionalidade de lei municipal em face da Constituição do sistema difuso.
estadual, para fins de intervenção no Município (arl. 15, § 3·, "d"). A Constituição de 1988 alterou, de maneira radical, essa sItua-
A EC n. 7/77 introduziu, ao lado da representação de inconstitu- ção, conferindo ênfase não mais ao sistema difuso ou incidente, mas
cionalidade, a representação para fins de interpretação de lei ou ato ao modelo concentrado, uma vez que as questões constitucionais
normativo federal ou estadual, outorgando ao Procurador-Geral da passam a ser veiculadas, fundamentalmente, mediante ação direta de
República a legitimidade para provocar o pronunciamento do STF inconslltucionalidade perante o STF, como indica a tabela abaIXO:
(arl. 119, l, "e"). E, segundo a Exposição de Motivos apresentada ao
AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE
Congresso Nacional, esse instituto deveria evitar a proliferação de
Ações instauradas no período de 1966 a 2008
demandas, com a fixação imediata da correta exegese da lei. 5
Finalmente, deve-se assentar que a EC n. 7/77 pôs termo à con- ADO Ano ADO
1966 22 . 1981 42 1996 159
trovérsia sobre a utilização de limínar em representação de inconsti- .
1967 31 1982 37 1997 206
tucionalidade, reconhecendo, expressamente, a competência do STF
1968 1 1983 26 1998 181
para deferir pedido de cautelar formulado pelo Procurador-Geral da 1969 26 1984 55 1999 189
República (CF de 1967/1969, arl. 119, l, "p").6 1970 15 1985 70 2000 253
1971 23 1986 81 2001 210
A Constitllição de 1988 -A Constituição de 1988 reduziu o sig- 1972 20 1987 114 2002 226
nificado do controle de constitucionalidade incidental ou difuso, ao 1973 17 1988 202' 2003 288
ampliar, de forma marcante, a legitimação para propositura da ação 1974 - 1989 159 2004 276
direta de inconstitucionalidade (arl. 103), permitindo que, pratica- 1975 18 1990 256 2005 266
mente, todas as controvérsias constitucionais relevantes sejam sub- 1976 24 1991 232 2006 196
1977 20 1992 165 2007 14
metidas ao STF mediante processo de controle abstrato de normas.
.1978 29 1993 162 2008 178
Convém assinalar que - tal como já observado por Anschütz 1979 15 1994 197 2009 44
ainda no regime de Weimar - toda vez que se outorga a um tribunal 1980 40 1995 211
especial atribuição para decidir questões constitucionais limita-se, .. Atuahzada em abn1J2009.
... A estatística considera as Reprs e as ADIns (sendo 11 ADIns e 191 Reprs).
5. Mensagem n. 81. de 1976. Diário do Congresso Nacíonal. O Texto Magno de Fontes: Assessoria Estratégica do STF.
1988 não manteve esse instituto no ordenamento constituCIOnal brasileiro.
6. A Constituição de 1988 manteve a competência do STF para conceder limI- 7. GerhardAnschü1z., Verhandlungen des 34. Junstentags. v. II, Berlim e Leip-
nar na ação de Inconstitucionalidade (arl 102. 1. "p"). zig, 1927, p. 208.
336 AÇÓES DE INCONSTITUCIONALIDADE CONTROLE ABSTRATO DE NORMAS 337

Ressalte-se que essa alteração não se operou de fonna ainda A ampla legitimação, a presteza e a celeridade desse modelo
profunda porque o Supremo manteve a orientação anterior, que con- processual- dotado, inclusive, da possibilidade de se suspender ime-
siderava inadmissível o ajuizamento de ação direta contra Direito diatamente a eficácia do ato nonnativo questionado, mediante pedido
pré-constitucional em face da nova Constituição. de cautelar - fazem com que as grandes questões constituCIOnais
Quanto a isso, no entanto, merece destaque o fato de que na sejam solvidas, na sua maioria, mediante a utilização da ação direta,
ADInlMC n. 3.833-DF, proposta contra o Decreto Legislativo federal tipico instrumento do controle concentrado.
n. 444, de 19.12.2002, deparou-se o Tribunal com o fenômeno das A particular confonnação do processo de controle abstrato de
"nOImas pós-constitucionais e prê-constitucíonais"~ que são nonnas nonnas confere-lhe, também, novo significado como instrumento
editadas depois da Constituição mas anteriores a detenninadas emen- federativo, pennitindo a aferição da constitucionalidade das leis fede-
das constitucionais. Na rupótese, o mencionado decreto legislativo rais mediante requerimento de um governador de Estado e a aferição
fora editado após a Constituição de 1988, porém antes da Emenda da constitucionalidade das leis estaduais mediante requerimento do
Constitucional n. 41. O Tribunal finnou entendimento no sentido de Presidente da República.
que, a despeíto da inviabilidade de conhecimento da ação direta de A propositura da ação pelos partidos polítICOS com represen-
inconstitucionalidade, deveria averbar a caducidade da nonna - no tação no Congresso Nacional concretiza, por outro lado, a idéia de
caso, o Decreto Legislativo n. 444 -, tendo em vista a flagrante in- defesa das minorias, uma vez que se assegura até às frações parla-
compatibilidade com a regra constitucional superveniente. mentares menos representativas a possibilidade de argüir a inconsti-
Neste sentido, manifestou-se pelo afastamento da tradição tucionalidade de lei.
fixada no final da prática jurisprudencial sob a Constituição de
1967/1969, para que se possa, pelo menos em casos tão claros, aver-
Eo que indica a tabela a seguir. que relaciona as ações diretas de
inconstitucionalidade ajuizadas no STF, separadas de acordo com os
bar que detenninada nonna não mais está em vigor. Assim, constou
órgãos legitimados a propor referidas ações:
na parte dispositiva do acórdão que a nonna impugnada estaria re-
vogada por emenda constitucional (EC n. 41/2003) a ela posterior. 8 AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE
No julgamento da ADIn n. 3.660 faz-se referência à possibilida- Processos ajuizados n~ período de 1988 a 2009'
de de declarar revogada legislação anterior à Constituição em vigor.
Requerentes Quantidade %
Tendo em vísta o entendimento no sentido de que em controle abs-
Presidente da República 6 0,1%
trato da constitucionalidade das leis exige-se a indicação das nonnas
Mesa do Senado Federai I 0,0%
revogadas que teriam sua vigência e eficácia revigoradas em vírtude
Mesa da Câmara dos Deputados O 0,0%
da declaração de inconstitucionalidade das nonnas revogadoras,
Governador de Estado 1.061 25,2%
observando-se que "poderá o Tribunal conhecer da ação e declarar a
Procurador-Geral da República 901 21,4%
inconstitucionalidade das nonnas posteriores a 5.10.1988 e, na mes- \ Conselho Federal da OAB 176 4,2%
ma decisão, declarar a revogação das nonnas anteriores a essa data"?
Partido Político 752 17.8%
Observa-se que o Tribunal deverá manifestar-se, nos autos da Confederação Sindical ou Entidade de Classe 920 21,8%
ADIn n. 509, sobre conhecimento de ação direta de inconstitucio- Mesa da Assembléia Legislativa 45 1,1%
nalidade em caso de alteração que modifica o parâmetro de controle Mais de um legitimado" 3 0,1%
depois de o processo já ter sido instaurado. Após o Min. Menezes Outros (ilegitimados) 352 8,3%
Direito, Relator, suscitar a questão, foi indicado adiamento. Total 4.217 100%
• Atualizado até março12009.
8. ADInlMC n. 3.833-DF. ReI. ong. Min. Carlos Britto. ReI. para o acórdão
Min. Marco Aurélio, DJU 13.11.2008.
** Confederação smdical ou entidade de classe e partido político.
9.ADln n. 3.660-MS, ReI. Min. GiImar Mendes, DJU8.5.2008. Fontes: Assessona de Gestão Estratégica do STF.
338 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
339
E verdade, ademais, que muitos dos temas mais polêmicos
submetidos ao STF no processo de controle abstrato foram trazidos ALei 11. 9.868, de 10.11.99, eaLei 11. 9.882, de 3.12.99-Como
â baila mediante iniciativa dos partidos políticos. Assim, a discussão elemento de consolidação do processo de evolução do controle de
sobre a constitucionalidade da EC n. 2/92, que antecipou o plebiscito constitucionalidade de normas no Brasil, é importante ressaltar a
sobre a forma e sistema de governo, previsto no art. 2ºdoADCT(cf. aprovação de dois relevantes diplomas legais: a Lei n. 9.868 e a Lei
n.9.882.
ADIn ns. 829, 830 e 831, ReI. Min. Moreira Alves, DJU20.4.93, p.
6.758); o questionamento da legitimidade da lei do salário mínimo Trata-se de dois textos normatívos que disciplinam instrumentos
(ADIn n. 737, proposta pelo Partido Democrático Trabalhísta - ~DT, processuais destinados ao controle de constitucionalidade e da legiti-
ReI. Min. Moreira Alves, DJU 22.10.93, p. 22.252); a controversta midade constitucional em geral.
sobre a legitimidade do pagamento mediante prec~tório para os ~~é­ Ao regular o art. 102, § Iº, da CF, a Lei n. 9.882 estabeleceu os
ditos de natureza alimentícia (ADIn n. 672, ReI. Mm. Marco AurelIo, contornos da argüição de descumprimento de preceito fundamental
DJU 4.2.92, p. 499). Isto para não falar das diversas ações propostas (ADPF), instituto que confere nOVa conformação ao controle de
contra a política econômica do Governo (cf., v.g.: ADIn n. 357, ReI. constitucionalidade entre nós, especiahnente na relação entre o mo-
Min. Carlos VeIloso, DJU 23.11.90, p. 13.622; ADIn n. 562, ReI. delo abstrato e o modelo difuso.I2
Min. Ihnar Gaivão, DJU 10.9.91, p. 12.254; ADIn n. 605, ReI. Min. Já a Lei n. 9.868 - que aqui nos interessa mais diretamente _ re-
Celso de MeIlo, DJU 5.3.93; ADIn n. 931, ReI. Min. Francisco Re- gulamenta o processamento e o julgamento da ação direta de incons-
zeI<, DJU2.9.93). titucionalidade (ADIn) e da ação declaratória de constitucionalidade
Ao lado desta ampla legitimação para a provocação do controle (ADC), exercendo, agora, um papel que era cumprido, em grande
abstrato de normas, cuidou o constituinte de mstituir mecanismo (art. parte, pelo Regunento Interno ou por construções da jurisprudência
5º, LXXI) para a tutela dé direitos subjetivos lesados em decorrência do STE Aliás, este diploma legislativo teve, sem dúvida, a preocu-
de omissão normativa. No mesmo passo, instituiu-se, amda, processo pação de recolher em seu conteúdo boa parte destas construções, não
de controle abstrato da omissão normativa inconstitucional (art. 103, renunciando, porém, à introdução de algumas importantes modifica-
§ 2º), instituto - a exemplo do anterior - ainda carente de conforma- ções em nosso sistema de controle.
ção definitiva. Nas páginas que se seguem procederemos â análise dos princi-
Ainda quanto à ênfase conferida ao modelo concentrado frente pais pontos relativos á ação direta de inconstitucionalidade e à ação
ao sistema difUso ou incidente, merece destaque o fato de que na declaratória de constitucionalidade, levando em conta as recentes
ADCIMC n. 18-5-DF o Min. Marco Aurélio suscítou questão de alterações legíslativas.
ordem em razão de haver recurso extraordinàrio (RE n. 240.785)
versando sobre a mesma matéria e cujo julgamento, já iniciado, 11- AÇÃO DlRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
fora suspenso em razão de pedido de vista. Nesse caso, o Tribunal 1. Legitimidade
reconheceu a precedência dos processos de controle concentrado de
constitucionalidade em relação aos de controle difuso, motivo pelo A atual Constituição brasileira suprimiu o monopólio de ação
.
qual deu-se prosseguunento . Igament o 10-11
ao JU
conferido ao Procurador-Geral da República. Nos termos do art.

10. QO naADCIMC n. 18-5-DF, ReI. Min. Menezes Direito, D!U24.1O.2008. identificava_se com a do referido recurso extraordinãno. Todavl.a, e considerando que
Assim, o Tribunal sobrestou o julgamento do RE n. 240.785 (declsao adotada pelo o últImo voto que faltava para completar o julgamento era o do proprío Min. Marco
Pleno nos autos do RE n. 240.785 em 14.8.2008). Aurélio. não se cogitou da suspensão. Nos autos daADIn n. 4.07 l-DF o Relator, Min.
11. Cabe observar que posteriormente a esse caso, no julgamento do RE n. Menezes Direíto, indefenu a inIciai. uma Vez que a questão objeto da ação direm de
377.457. em seguida ao voto do Min. Marco Aurélio, levantou~5e a questão da s.~­ inconstttuclOnalidade fora decida pelo Pleno do STF no julgamento do RE n. 377.457.
pensão do julgamento em razão de estar em curso aADIn n. 4.071-DF, cUJa marena 12~ Sobre a argUição de descumprimento de preceito fundamental cf., infra.
Séttma Parte do presente estudo.
340 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DlRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 341

103 da CF de 1988, dispõem de legitimidade para propor a ação di- Presidente da República - O Presidente da República pode
reta de inconstitucionalidade o Presidente da República, a Mesa do exercer, conforme dispõe o texto da Constituição Federal e nos
Senado Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados, a Mesa de As- termos do art. 22 , I, da Lei n. 9.868, o direito de propositura da ação
sembléia Legislativa, o Governador de Estado, o Procurador-Geral direta de inconstituclOnalidade, autonomamente, não tendo de sub-
da República, o Conselho Federal da OAB, partido político com meter a proposta inicialmente ao Procurador-Geral da República."
representação no Congresso Nacional e as confederações sindicais O exercicio do direito de propositura da ação direta de inconstitu-
ou entidades de classe de âmbito nacional. A Lei n. 9.868 repetiu, cionalidade poderia revelar-se, todavia, problemático em relação às
quase que integralmente, em seu art. 22 , o conteúdo do dispositivo leis federais, uma vez que, nos termos do art. 66, § 12 , da Consti-
constitucional. A única diferença que deve ser ressaltada ea menção tuição, dispõe o Chefe do Executivo federal de poder de .veto, com
expressa da legitimidade do Governador do Distrito Federal e da fundamento em eventual inconstitucionalidade da lei. 16 Idênticas
Câmara LegislatIva Distrital,13 contida nos incisos IV e V do citado considerações aplicam-se em relação ao Governador de Estado ou do
artigo legal, introduzidos posteriormente no texto constitucional Distrito Federal em face das leis elaboradas nas unidades federadas.
pela EC n. 45/2004. Se o Presidente da República não exercer o poder de veto, nos
A extensa lista de legitimados presentes no texto constitucional termos do art. 66 da CF, e de se indagar se poderia, posteriormente,
e, por via de conseqüência, no texto legal fortalece a impressão de argUir a inconstitucionalidade da lei perante o STF.
que o constituinte pretendeu reforçar o controle abstrato de normas Pode acontecer que a existência de dúvida ou controversia sobre
no ordenamento Juridico brasileiro, como peculiar instrumento de a consntucionalidade da lei impeça ou dificulte sua aplicação, sobre-
correção do sistema geral incidente. tudo no modelo do controle de constitucionalidade vigente no Brasil,
Quanto à capacidade postulatóna, entende o STF que "o Go- onde qualquer juiz ou tribunal està autorizado a deixar de aplicar a
vernador do Estado e as demais autoridades e entidades referidas no lei em caso concreto, se esta for considerada inconstitucional. Nesse
art. 103, incisos I a VII, da Constituição Federal, além de ativamente caso, não podena ser negado ao Presidente da República o direito de
legitimados à instauração do controle concentrado de constitucio- propor a ação com o propósito de ver confirmada a constitucionali-
nalidade das leis e atos normativos, federais e estaduais, mediante dade da leL17 A não-aplicação da lei por juizes ou tribunais diversos
ajuízamento da ação direta perante o Supremo Tribunal Federal, pos- ou por outras autoridades està a indiciar o interesse objetivo de escla-
suem capacidade processual plena e dispõem, ex vi da própria norma recer questão relativa à sua validade.
constitucional, de capacidade postulatória", estando autorizados, Não está, todavia, aqui, respondida a questão sobre a possi-
em conseqüência, enquanto ostentarem aquela condição, a praticar, bilidade de o Presidente da República propor a ação direta com o
no processo de ação direta de inconstitucionalidade, quaisquer atos propósito de ver declarada a inconstitucionalidade de uma leI federal.
ordinariamente pnvativos de advogado. I4 A Constituição não fornece base para limitação do direIto de
Assim, com exceção das confederações sindicais e entidades de propositura. Por outro lado, não resta dúvida de que, ao assegurar
classe de âmbito nacional e dos partidos políticos, todos os demais
legitimados para a ação direta de inconstitucionalidade dispõem de 15. Em sentido contrário Oscar Corrêa, "O 160U amversàno do STF e o novo
capacidade postulatória especial. texto constItuCIOnal", ArqlllVOS do Minzstério da Justiça, 173/67 (76), 1988, que
sustenta dever o Presidente da República encammhar o pedido de argUição ao Procu-
13. Sobre o tema, V., intra, subitens "Governador de Estado/Assembléia Le- rador-Geral da República. que, por sua vez. haverá de submetê-to ao STF.
gislativa e Relação de Pertinência" e "Governador do Distrito Federal e Câmara 16. A Constítuíção assegura o direito de veto ao Presidente da República no
Distrital" , caso de inconstituCIOnalidade ou contrariedade ao interesse público (art. 66, § 11l ).
14. Cf.ADInn. 127. ReI. Min. Celso de Mello,DJU4.12.92. eADIn n. 96, ReI. 17: Sobre a problemática no Direito afemão cf. K. ZeidIer, "Gedank.en zum
Min. Celso de Mello, DJU 10.11.89. Fernseh - Urteil des Bundesverfassungsgenchts", AõR 86/361 (380-381 l, 1961.
342 AÇÚES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 343

uma amplissima legitimação, o constituínte buscou evitar, também, Todavia, é inegãvel que um juízo seguro sobre a inconstitucio-
que se estabelecessem limitações a esse direito. nalidade da lei pode vir a se formar somente após sua promulgação,
Tal como já ressaltado, os titulares do direito de propositura o que legitima a propositura da ação ainda que o Chefe do Poder
atuam no processo de controle abstrato de normas no ínteresse da co- Executivo tenha aposto a sanção ao projeto de lei aprovado pelas
munidade l8 - ou, se quisermos adotar a formulação de Friesenhabn,19 Casas Legislativas.
atuam como autênticos advogados da Constituição. Eventual sanção da lei questionada não obsta, pois, à admissi-
É de se acentuar, aínda, que, se o Chefe do Poder Executivo bilidade da ação direta proposta pelo Chefe do Executivo, mormente
sanciona, por equivoco ou inadvertência, projeto de leijuridicamente se se demonstrar que não era manifesta, ao tempo da sanção, a ilegi-
viciado, não está ele compelido a persistir no erro, sob pena de, em timidade suscitada.
homenagem a uma suposta coerência, agravar o desrespeito â Cons- Dai parecer-nos equivocada a orientação esposada pelo STF
tituição. na ADIn n. 807, segundo a qual, "quando ( ... ) o ato normativo im-
Nesse sentido, já assínalara Miranda Líma, em conhecido pa- pugnado em sede de fiscalização abstrata tiver emanado também do
recer, no qual advogava o descumprimento da lei inconstitucional Chefe do Poder Executivo - a lei, sendo ato estatal subjetivamente
pelo Executivo â falta de outro meio menos gravoso, que "o Poder complexo, emerge da conjugação das vontades autónomas do Le-
Executivo, que deve conferir o projeto com a Constituição, coope- gislativo e do Executivo - e este figurar, em conseqüência, no pólo
rando com o Legislativo no zelo de sua soberania, se o sanciona por passivo da relação processual, tornar-se-á juridicamente impossivel
ínadvertido de que a ela afronta, adiante, alertado do seu erro, no o seu íngresso em condição subjetiva diversa daquela que já ostenta
cumprimento de seu dever constitucional de a manter e defender, hã no processou . 21
de buscar corrigi-lo, e, se outro meio não encontrar para tanto, senão De plano, deve-se observar que se trata, aqui, de um processo
a recusa em a aplicar, deixará de lhe dar aplicação".2o objetivo típico, no qual existe autor ou requerente mas inexiste, pro-
O modelo de ampla legitimação consagrado no ar!. 103 da CF priamente, réu ou requerido.
de 1988 e repetido pela Lei n. 9.868 não se compatibiliza, certamen-
RF 284/101 e ss.). a questão sobre eventuai descumprimento de lei considerada
te, com o recurso a essa medida de quase-desforço concernente ao inconstituCIOnal pelo Poder Executivo deu ensejo a mtensa controvérsia doutrinána
descumprimento pelo Executivo da lei considerada ínconstitucional. e Jurtsprudenclal. Pode-se aflnnar que. até o advento constItucional da EC n. 16, de
1965, que mtroduziu o controle abstrato de nonnas no nosso sistema., era plenamente
Se o Presidente da República - ou, eventualmente, o Governa- majontâría a posição que sustentava a legitimidade da recusa á aplicação da leI con-
dor do Estado - está legitimado a propor a ação direta de ínconstitu- siderada inconstItucIonal (Carlos Maximiliano, Comentários à ConstitUlção de 1891,
cionalidade perante o STF, ínclusive com pedido de medida cautelar, n. 226; Miguel Reate. Revogação e Anulamento do Ato AdmInIStrativo, Rio de Janei-
não se afigura legitimo que deixe de utilizar essa faculdade ordínária ro, 1968, p. 47; Themístocles Brandão Cavalcanb. "Arquivamento de representação
por inconstitucIOnalidade da lei", RDP 161169 e ss.; Caio Mário da Silva Pereira., "Pa-
para valer-se de recurso excepcional, somente concebido e tolerado, recer D-24 do Consultor-Geral da República", DOU 20.6.6 I; Adroaldo MesqUIta da
â época, pela impossibilidade de um desate imediato e escorreito da Costa. "Parecer H n. 184, de 7.5.65", DOU 22.6.65; L. C. Miranda Lima, "Parecer",
controvérsia.21 RDA 81/466 e 55. v., também. as decISÕes do STF: RMS n. 4.211, ReL Min. Cândido
Motta Filho. RTJ2I386-387: RMS n. 5.860, ReL Min. Vilas Boas, acórdão publicado
em audiênCia de 23.2.59: Repr. n. 512. ReL Min. Pedro Chaves, RDA 76/308-309.
18. Cf.. sobre a problemátíca: Sõhn. "Die abstrakte Normenk.ontrolle", ln 1964; RE n. 55.718-SP, ReL Min. Hermes Lima, RTJ321143-147: RMS n. 14.557.
Starck. Bundesveifassungsgencht und Grundgesetz, v. I, p. 292 (306); Stephan, Das ReL Min. Cândido Motta Filho, RTJ331330-338; RMS n. 13.950, ReL Min. Amarai
Rechtsschutzbedürfois. 1967, pp. 147 e 55.; Goessl. Organstreitigkeiten mnerhalb des Santos, RDA 97/116-120,1969).
Bundes,pp.I73e219.
22. ADIn n. 807-RS/QO, ReL Min. Celso de Mello, DJU 11.6.93: ADIn n.
19. Cf. Friesenhahn. Veifassungsgertchtsbarkeit. Jura. 1986, p. 505 (509). 807-RS/QOQO. ReL Min. Sepúlveda Pertence, DJU 13.2.2004. Registre-se que. na
20. L. C. Miranda Lima, "Parecer", RDA 81/466 (470),1965. espécie, após ter sanCionado o projeto de lei, o Governador do Estado do Rio Grande
21. Tal como demonstra Ruy Carlos de Barros Monteiro em minUCIOSO estudo do Sul apresentou pedido de ingresso na causa na qualidade de litisconsorte ativo do
("O argumento de inconstitucionalidade e o repúdio da lei pelo Poder Executívo", Procurador-Geral da República, autor origmmo da impugnação.
344 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 345

Não se pode, pois, cogitar de relação processual, tal como afir- de pertinência da pretensão formulada - da pretendida declaração de
mado expressamente no v. arestoP inconstitucionalidade da lei.25
Essa questão foi discutida na Alemaoha sob o imporio da Cons-
Mesas do Senado e da Câmara - O reconhecimento do direito tituição de Weimar. verificando-se uma controvérsia doutrinária
de propositura â Mesa da Câmara dos Deputados e li Mesa do Se- sobre a admissibilidade. ou não. de uma ação proposta pelo Estado
nado Federal, tal como realizado pelo texto constitucional e pelo da Baviera contra lei da Turíngia.
art. 2", II e III, da Lei n. 9.868/99, demonstra que o constituinte
A falta de autorização constitucional para que o legislador es-
não pretendeu assegurar, aqui. uma proteção específica às minorias
tabeleça outras limitações ao direito de propositura suscita dúvida
parlamentares. Como a direção de cada Casa Legislativa é eleita
sobre a correção do entendimento esposado pelo STF.
pela maioria dos parlamentares. aínda que observada. tanto quanto
possivel, a representação proporcional dos partidos ou dos blocos Tendo em vista a natureza objetíva do processo de controle abs-
parlamentares que participam da respectiva Casa (CF, art. 58, § 1"), trato de normas. seria mais ortodoxo que. na espécie. fosse admitida a
concedeu-se. efetivamente. o direito de propositura li maioria nas ação direta de inconstitucionalidade independentemente de qualquer
referidas Casas. juízo sobre a configuração, ou não. de urna relação de pertinência.
É fácil ver, outrossim, que esses órgãos não estão vocacionados Outra questão relevante a respeito do direito de propositura do
a questIOnar a constitucionalidade de seus próprios atos. 24 Assim. Governador afeta sua capacidade postulatóna. Conforme já referido.
o direito de propositura a eles deferido pode gaohar significado no o STF entende que cabe ao próprio Governador firmar a petição lOi-
âmbito da ação declaratória de constitucionalidade. cial. se for o caso, juntamente com o Procurador-Geral do Estado ou
outro advogado. Entende o STF que o direito de propositura é atri-
Gove7llador de Estado/Assembléia Legislativa e relação de buido ao Governador do Estado. e não â unidade federada. Também
pertinência - Consoante o teor do art. 2·, IV e V, da Lei n. 9.868 e seriam ineptas as ações diretas propostas. em nome do Governador.
o disposto no art. 103 da CF. podem propor ação direta de inconsti- firmadas exclusivamente pelo Procurador-Geral do Estado.lO
tucionalidade os Governadores de Estado e do Distrito Federal, bem
como as Assembléias Legislativas e a Câmara Legislativa Distrital. Governador do Distrito Federal e Câmara Distrital - Embora
Ajurísprudência do STF tem identificado a necessidade de que o status do Distrito Federal no texto constituCIOnal de 1988 seja
o Governador de um Estado ou a Assembléia Legislativa que impug- fundamentalmente diverso dos modelos fixados nas Constituições
na ato normativo de outro demonstre a relevância - isto é. a relação anteriores. não se pode afIrmar, de forma apodítica. que sua situação
jurídica é equivalente li de um Estado-membro. Não sena lícito sus-
23. Anote-se que o Presidente da República usou o direIto de propOSItura de tentar. porém. que se estaria diante de modelos tão diversos que. no
ação direta de mconstitucíonalidade. pela pnmerra vez. somente em 2005, com a caso. menos que uma omissão. haveria um exemplo de silêncio elo-
interposição da ADIn n. 3.599 contra as Leis 11.l6912005 e 11.l7012005. A ação fOI qüente. que obstaria à extensão do direito de propositura aos órgãos
julgada unprocedente (ReI. Min. Gilmar Mendes. DJU 14.9.2007). Posteriormente o
Presidente da República mterpõs as ADIn os. 3.785 (contra resolução admmistrativa do Distrito Federal.
do TRT-13' Região), 3.818 (contra dispositIvo da Lei 7.667/2003), 3.829 (contra O texto constitucional. em vários de seus dispositivos. procura
dispositivos da Lei 12.55712006) e 3.834 (contra disposítivo de resolução do CNMP).
A todas essas ações, em razão da relevâncIa das matenas nelas tratadas. ImpnmiU-se
distinguir a sitoação Jurídica dos Estados da do Distrito Federal:
o rito do ar!. 12 da Lei 9.868/99. "Art. I". A República Federativa do Brasil. formada pela união
24. CE. tambêm. os comentários de Richard Grau sobre o anteprojeto apre- índissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal. (... )",
sentado pelo Ministro do Interior. Dr. Külz, que outorgava direito de propositura ao
Parlamento Federal e ao Conselho Federal (cE Grau, "Zum Gesetzesentwurfüber die
Prüfung der Verfassungsmãssigkeit von Reichsgesetzen und Rechtsverordnung", AõR 25.ADin n. 902, ReI. Min. Marco Aurélio. DJU22.4.94, p. 8.946.
11/287 (298-299), 1926). 26.ADIn n. 1.814. ReI. Mio. MauriCIO Corrê.. DJU 12.12.2001.
346 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 347

"Art. 18. A organização político-administrativa da República Assinale-se que se afigura decisiva para o desate da questão a
Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito disciplina contida no art. 32 da CF, que outorga ao Distrito Federal
Federal e os Municípios, (... ). poder de auto-organização, atribui-lbe as competências legislativas
"(...). dos Estados e Municípios e define regras para a eleição de Governa-
dor, Vice-Governador e Deputados Distritais que em nada diferem do
"§ 32 , Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se
sistema consagrado para os Estados-rnembros.
ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos
Estados ou Territórios Federais, (... )." Destarte, para os efeitos exclusivos do sistema de controle de
constitucionalidade, as posições juridicas do Governador e da Câma-
"Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
ra Legislativa do Distrito Federal não são distintas do slatus juridico
aos Municipios: (... )."
dos Governadores de Estado e das Assembléias Legislativas.
"Art. 20. (... ).
O eventual interesse na preservação da autonomia de suas um-
"§ 1º. É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito dades contra eventual mtromissão por parte do legislador federal e
Federal e aos Municípios, bem como aos órgãos da Administração em tudo semelbante. Também o interesse genérico na defesa das atri-
direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo bUIções específicas dos Poderes Executivo e Legislativo e idêntico.
( ... )."
Portanto, ainda que se possam identificar dessemelbanças sig-
"Art. 21. Compete à União: nificativas entre o Estado-membro e o Distrito Federal e, por isso,
"(0-' )., tambem entre seus órgãos executivos e legislativos, e lícito concluir
"XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério que, para os fins do controle de constitucionalidade abstrato, suas
Público e a Defensaria Pública do Distrito Federal e dos Territórios; posições juridicas são, fundamentalmente, idênticas.
"XIV - organizar e manter a polícia cívil, a polícia militar e o Não haveria razão, assim, para deixar de reconhecer o direito de
corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar propositura da ação direta de inconstitucionalidade ao Governador
assistência fmanceira ao Distrito Federal para a execução de serviços do Distrito Federal e à Mesa da Câmara Legislativa, a despeito do
públicos, por meio de fundo próprio; silêncio do texto constitucional.
"(... )." O direito de propositura do Governador do Distrito Federal foi
"Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: contemplado expressamente pelo STF na ADIn n. 645, reconhecen-
do-se sua legitimidade ativa "por via de interpretação compreensiva
"(,.,).,
do texto do ar!. 103, V, da CFfl988, c/c o art. 32, § 12 , da mesma
"XVII - organização Judiciária, do Ministério Público e da De- Carta",27
fensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios, ( ... )
Na linha dessa jurisprudência, a Lei n. 9.868/99 optou por re-
"(... )," conhecer expressamente a legitimação do Governador e da Câmara
"Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Legislativa do Distrito Federal para a propositura da ação direta de
Federal, exceto para: inconstitucionalidade, de maneira expressa. A questão restou defim-
H(... )." tivarnente superada com a promulgação da EC n. 45/2004 (Reforma
Essas disposições, se não permitem afumar que o modelo cons- do Judiciário), que conferiu nova redação ao art. 103 da CF.28
titucional consagrado para o Distrito Federal e de todo idêntico ao
27. ReI. Min. lImar Gaivão. DJU2I.2.92, p. 1.693; v.. também, ADIn n. 665,
estatuto dos Estados-membros, não autorizam, igualmente, sustentar ReI. Min. Octávio Gallotti,DJU24.4.92, p. 5.376.
que as dessemelbanças sejam tão acentuadas que deveriam mesmo 28. ~'Art. 103. Podem propor a ação direta de tnconstituclOnalidade e a ação
levar à negação do direito de propositura em sede distrital. decIaratóna de constitucionalidade: (redação dada pela EC n. 45/2004)
348. AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DlRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 349

Procurador-Geral da República - Também nos termos da manifesta como autor nas ações de sua iniciativa e como custos legis
Constituição de 1988 e do art. 22 , VI, da Lei n. 9.868/99, tem legi- em todas as ações diretas, nas quais lbe incumbe oferecer um parecer
timação para propor ação direta de inconstitucionalidade o Procu- especiaL
rador-Gerai da República. Deve-se assinalar, no entanto, que esse
órgão ganhou nova conformação, passando a atuar, basicamente, Consellto Federal da Ordem dos Advogados do Brasil- O art.
como representante do interesse público, e não mais como represen- 22 , VIl, da Lei n. 9.868/99 estabelece, em conformidade com o tex-
tante da União. 29 O Procurador-Geral da República, escolhido pelo to constitucional, que o Conselbo Federal da OAB é legítimo para
Presidente da República dentre os membros do Ministério Público da a propositura da ação direta de inconstituCIOnalidade. Trata-se de
União, para um mandato de dois anos, após aprovação pelo Senado, legitllnídade dada em nítida atenção ao relevo Jurídico-institucional
somente pode ser destituído após autorização da maioria absoluta do do qual é dotado a OAB. O STF entende que a Ordem nãó necessita
Senado Federal (art. 128, §§ 12 e 22 ). de demonstração da chamada pertinência temática para a legítima
No processo de controle abstrato de normas o Procurador-Geral propositura da ação. 3o
da República atua por motivação autónoma ou por provocação de
Partidos políticos - Tal como referido, o constituinte de 1988
interessados que continuam a lbe dirigir representações de inconsti-
tucionalidade. concedeu o direito de propositura da ação direta de inconstituciona-
lidade aos partidos políticos com representação no Congresso Nacio-
Detém o Procurador-Geral da República sua posição privile- naL A partir de tal preferência rejeitou-se, expressamente, o modelo
giada no processo da ação direta de inconstitucionalidade, pois se largamente adotado no Direito Constitucional de outros países, o qual
outorga legitimação para instaurar o controle abstrato de normas a
"I - o Presidente da República;
um número determinado de parlamentares.
"ll- a Mesa do Senado Federal;
um _ a Mesa da Câmara dos Deputados; A exigência de que o partido esteja representado no Congresso
"IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Nacional acaba por não conter qualquer restrição, uma vez que sufi-
Federal; (redação dada pela EC n. 45/2004) ciente afigura-se a presença de uma representação singular para que
"V - o Governador de Estado ou do Distnto Federal; (redação dada pela EC se satisfaça a exigência constitucional.
n.4512004)
"VI - o Procurador-Geral da República; Ademais, uma vez que se encontra consolidado o entendimento
"VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; de que, quanto aos partidos políticos, inexiste qualquer exigência de
"VIU - partido político com representação no Congresso NaCional; pertinência temática para o reconhecimento da legitimidade para a
"IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito naCIonaL propositura da ação direta de inconstltucionalidade,31 é de se con-
"§ 1.\1: O Procurador-Geral da República deverá ser preVIamente ouvido nas cluir que o sistema de fiscalização abstrata de normas confere uma
ações de inconstttucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo amplíssima compreensão da chamada defesa da minoria no ãmbito
Tribunal Federal. .
"§ 2n. Declarada a inconstitucíonalidade por omIssão de medida para tornar
da jurisdição constitucional.
efetíva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção E de se indagar se não seria mais adequado, para a preservação
das providênCIas necessânas e, em se tratando de órgão admirustrativo, para fazêwlo da nobreza do instituto do controle abstrato de normas e para o bom
em 30 (trinta) dias.
desempenbo dajurísdição constitucional, que se convertesse o direito
"§ 32 , Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a mconstitucíonalidade,
em tese, de norma iegal ou ato normativo, CItará, previamente. o Advogado-Geral da de propositura dos partidos políticos com representação no Congres-
União, que defendera o ato ou texto Impugnado."
29. A Constituíção rompeu com o sistema h.tôrido consagrado nas Constituíções 30. Cf. ADIn n. 3. ReI. Min. MorerraAlves, RTJ 142/363.
anteriores, instituindo a Advocacia-Geral da União, com o escopo de representar os 31. ADlnIMC o. 1.096, ReI. Min. Min. Celso de MeUo. DJU22.9.95, p. 30.589.
interesses da União em juizo, bem como de exercer as atívidades de consultaria do Cf. ADIn n. 386, ADln n. 138, RTJ 133/1011, ADln n. 893. ADIn n. l.il4. ADln n.
Poder ExecutIvo. 902 e RE n. 98.444, RTJ 107/1.215.
350 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETADE INCONSTITUCIONALIDADE 351

so Nacional em direito de propositura de um detenninado número de de disciplina legal sobre o assunto tornam mdispensàvel que se exa-
deputados ou de senadores. mine, em cada caso, a legitimação dessas diferentes organízações.
O STF entende que, para propor ação direta, suficiente se Causam dificuldade, sobretudo, a definição e a identificação das
afigura a decisão do Presidente do partido, dispensando, assim, a chamadas entidades de classe, uma vez que inexistia critério preciso
intervenção do diretório partidário. Essa orientação não se aplica se que as diferençasse de outras organizações de defesa de ínteresses di-
existir prescrição de caráter legal ou estatutário em sentido diverso." versos. Por isso, está o Tribunal obrigado a verificar especificamente
A orientação jurisprudencial encaminhou-se, todavia, no sentido de a qualificação das confederações síndicais ou organizações de classe
exigir que da procuração outorgada pelo órgão partidário constem, ínstituídas em âmbito nacional,36 a fim de estabelecer sua legitimida-
de maneira detalhada, o número da lei e os dispositivos a serem im- de ativa para a propositura das ações diretas.
pugnados.33
Caso o partido perdesse a representação no Congresso Na- 1. Conceito de entidade de classe: O conceito de âmbito nacional
cional no curso da ação direta de inconstitucionalidade, o Tribunal abarca um grupo amplo e diferenciado de associações, que não podem
vinha considerando que a ação havia de ser declarada prejudicada, ser distinguidas de maneira simples. 3? Essa questão tem ocupado o
ressalvando-se apenas a hipótese de já se ter íniciado o julgamento.34 Tribunal praticamente desde a promulgação da Constituição de 1988.38
Entretanto, em decisão de 24.8.2004 reconheceu o STF que a perda Em deCIsão de 5.4.1989 tentou o Tribunal precisar o conceito de
superveniente de representação parlamentar não afeta a ação direta entidade de classe, ao explicitar que é apenas a associação de pessoas
de ínconstitucionalidade já proposta, em reconhecimento ao caráter que em essência representa o ínteresse comum de uma determínada
eminentemente objetivo do processo. Fica evidente, assim, que a categoria. 39
legitimidade será aferida no momento da propositura.35 Em contrapartida, os grupos formados circunstancialmente -
como a associação de empregados de uma empresa - não poderiam
o direito de propositura das confederações sindicais e das ser classificados como organizações de classe, nos termos do art.
entidades de classe de âmbito nacional - O direito de propositura 103, IX, da CF. 40 "Não se pode considerar entidade de classe - diz
das confederações sindicais e das organizações de classe de âmbito o Tribunal - a sociedade formada meramente por pessoas fisicas ou
nacional prepara significativas dificuldades práticas. Jurídicas que firmem sua assinatura em lista de adesão ou qualquer
A existência de diferentes organizações destinadas à represen- outro documento idôneo (oo.), ausente partlcularidade ou condição,
tação de detenninadas profissões ou atividades e a não-existência objetiva ou subjetiva, que distingam sócios de não-associados",4l
A idéia de um interesse comum essencial de diferentes catego-
32. Cf. ADIn n. 779, ReI. Min. Celso de Mello, DJU 11.3.94.
33. ADIn n. 2.552, Rei. Min. MauricIO Corrêa. DJU 19.12.2001.
rias fornece base para distinção entre a organização de classe, nos
34. Cf. QO (SUSCItada pelo Min. Sepúlveda Pertence) na ADIn n. 2.054, ReI. termos do art. 103, IX, da CF, e outras associações ou organizações
Min. limar Gaivão, DJU 9.4.2003; AgRg nas ADIn ns. 2.202-DF, 2.465-RJ e 2.723- soclais. Dessa forma, deixou assente o STF que o constituinte decidiu
RJ, ReI. Min. Celso de Mello. DJU 13.3.2003.
35. Cf. ADln os. 2.159 e 2.618, ReI. Mio. Carlos Velloso, DJU24.8.2004. Os
36. Cf. ADIn n. 34-DF, ReI. Min. OCtáVIO GalIO!!I, RTJ, 128:481; ADI 43-DF,
~inís~os deram provunen~ a recursos nas duas ações requeridas pelo Partido So-
ReI. Min. Sydney Sanches. RTJ, 129:959.
CIal Liberal (PSLJ que, na epoca do 8Juízamento. tInha representação no Congresso
NacionaL O Min. Carlos Velloso, relator das duas ações. determinou o arquivamento 37. Cf. ADIn n. 433-DF. ReI. Min. Moreira Alves. DJU20.3.92.
delas, POIS. na epoca em que examinou a questão. em fevereiro12003, o PSL não tInha 38. ADIn n. 34-DF, ReI. Min. Octávio GalIO!!I, RTJ 1281481; ADIn n. 39-RJ.
mais representação parlamentar no Congresso, o que impliCaria a perda da Jegíttmi~ ReI. Min. MoreIra Alves, DJU 19.5.89.
dade atIva para propor ação direta de inconstItucIonalidade, de acordo com o art 103. 39. Cf. ADIn n. 34-DF. ReI. Min. OCtáVIO Gallotti, RTJ 1281481.
VIII. da CF. Ao examínar o recurso, entretanto, a maíoria do Plenário vencidos os 40. Cf. ADIn n. 79-DF, ReI. Min. Celso de Mello, DJU 10.9.89, RDA 1881144
Mins. Carios Velloso e Celso de Mello, entendeu que a ação não fica p;eJudicada no (146), 1992.
caso de perda supervemente de representação parlamentar. 41.ADIn n. 52-GO, ReI. Min. Célio Borja. DJU29.9.90.
352 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALlDADE ACÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALlDADE 353

por uma legitimação limitada, não permitíndo que se convertesse o ções", uma vez que, nesse caso, faltar-lbes-ia exatamente a qualidade
direito de propositura dessas organizações de classe em autêntica de entidade de c1asse.47
ação popular.42 Entretanto, em decisão de 12.8.2004 o STF proveu o AgRg
Em outras decisões o STF deu continuidade ao esforço de preci- na ADIu n. 3. I 53 para dar seguimento â ação direta de Inconstitn-
sar o conceito de entidade de classe de âmbito nacional. cionalidade ajuizada pela Federação Nacional das Associações dos
Produtores de Cachaça de Alambique (FENACA). Por OIto votos a
Segundo a orientação firmada pelo STF, não configuraria enti-
dois, o Plemirio do Tribunal entendeu que a Federação teria legitimi-
dade de classe de âmbito nacional, para os efeitos do art. 103, IX,
dade para a propositnra da ação direta porque, apesar de composta
organização formada por associados pertencentes a categorias di-
por aSSOCIações estaduais. poderia ser equiparada a uma entidade de
versas.43 Ou, tal como formulado pelo Tribunal, "não se configuram
classe. Desse modo, com base na peculiaridade de que a FENACA
como entidades de classe aquelas institnições que são integradas por
é entidade de classe que atna na defesa da categoria social, a Corte
membros vinculados a extratos sociais, profissionais ou econômicos Constitncional reconheceu a legitimação excepcional dessa forma de
diversificados, cujos objetivos, individualmente considerados, reve- associação.48
lam-se contrastantes" ,44 Tampouco se compatibilizam nessa noção as
Afirmou-se, também, que "não constitni entidade de classe, para
entidades associativas de outros segmentos da sociedade civil, como,
legitimar-se â ação direta de inconstitnclOnalidade (CF, art. 103, IX),
por exemplo, a União Nacional dos Estndantes - UNE.45
associação civil (Associação Brasileira de Defesa do Cidadãol, vol-
Não se admite, igualmente, a legitimidade de pessoas juridicas tada à finalidade altruísta de promoção e defesa de aspirações civicas
de direito privado que reúnam, como membros integrantes, associa- de toda a cidadania",49
ções de natureza civil e organismos de caráter sindical, cxatamente No conceito de entidade de classe na Jurisprudência do Tri-
em decorrência desse hibridismo, porquanto "noção conceitnal (de bunal não se enquadra, igualmente, a associação que reúne, como
instituições de c/asse] reclama a participação, nelas, dos próprios associados, órgãos públicos, sem personalidade juridica e categorias
individuos integrantes de determinada categoria, e não apenas das diferenciadas de servidores (v.g., Associação Brasileira de Conselbos
entidades privadas constitnídas para representá-Ios".46 de Tribunal de Contas dos Municípios - ABRACCOM).50
Da mesma forma, como regra geral, não se reconhece natnreza
2. Caráter nacional da entidade de c/asse e das confederações:
de entidade de classe àquelas organizações que, "congregando pessoas
Quanto ao caráter nacional da entidade, enfatiza-se que não basta
juridicas, apresentam-se como verdadeiras associações de associa-
simples declaração formal ou manifestação de intenção constante
de seus atos constitntivos. Faz-se mister que, além de uma atnação
42. CEADln n. 79·DF, ReI. Min. Celso de Mello, DJU 10.9.89. RDA 188/144
(146), 1992.
transregional, tenha a entidade membros em pelo menos nove Esta-
43.ADIn n. 57-DF. ReI. Min.llmarGalvão. DJU13.12.91, p. 18.353;ADln n. dos da Federação - número que resulta da aplicação analógica da Lei
108-DF, ReI. Min. Celso de Melln, DJU 5.6.92, p. 8.426. Orgâníca dos Partidos PolíticoS. 51
44. ADIn n. 108-DF, ReI. Min. Celso de Mello. DJU 5.6.92, p. 8.426.
45. CE ADIn o. 894-DF, ReI. Min. Néri da Silverra, DJU20.4.95, p. 9,945. 47, ADIn n. 79-DF, ReI. Min. Celso de Mello, DJU 10.9.89, RDA 188/144
46. ADIn n. 79-DF, Rei. Min. Celso de MeUo, DJU 10.9.89, RDA 188/144 (146), 1992, e ADIn n. 914-DF, ReI. Min. Sydney Sanches. DJU 11.3.94.
(146), 1992; ADln n, 505-DF, ReI. Min. Moreira Alves, DJU 2.8.91, p. 9.916; ADIn 48. ReI. Min. Celso de Mello. relator para o acórdão Min. Sepúlveda Pertence,
n. 530-DF, ReI. Min. Moreira Alves, DJU 22.11.91, p, 16.845; ADIn n. 433-DF, ReI. 12.8.2004, vencidos os Mins. Celso de Mello (Relator) e Carlos Britto.
Min. Moreira Alves. DJU 22.11.91, p. 16.842; ADIn n. 705-SC. ReI. Min. Celso 49.ADIn n. 61-DF, ReI. Min. Sepúlveda Perience,DJU28.9.90, p. 10.222.
de MeUo, DJU 6.4.92, p. 4.442; ADIn n. 511-DF, ReI. Min. Paulo Brossard. DJU 50. ADIn n. 67-DF, ReI. Min. Moreira Alves, DJU 15.6.90, p. 5.499.
15.5.92, p. 6.781; ADIn n. 108-DF, ReI. Min. Celso de Mello, DJU5.6.92, p. 8.426; 51. ADln n. 386-ES. ReI. Min. Sydney Sanches. DJU28.6.91, p. 8.904; ADln
ADIn n. 704-PR. ReI. Min. Carlos Velloso, DJU 4.9.92, p. 14.089; eADIn (AgRg) n. n. 108-DF, ReI. Min. Celso de Mello, DJU 5.6.92, p. 8.427; ADC n. 13, ReI. Min.
706-MG, ReI. Min. Carlos Velloso, DJU 4.9.92. JoaquIm Barbosa, j. 16.2.2007.
354 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 355
No que diz respeíto às confederações, tal corno assentado na gundo os tennos dos arts. 533 e ss. do texto consolidado, devem estar
jurisprudência pacífica do STF,s2 "a legitimação para ação direta de organizadas com um mínimo de três federações.
inconstitucionalidade é privativa das confederações cUJa mclusão
expressa no art. 103, IX, é excludente das entidades sindicais de me- Relativamente à legitimação das entidades de classe de âmbllo
nacional e das confederações sindicais, é dificil admitir a juridicida-
nor hierarquia, quais as federações e sindicatos, ainda que de âmbito
nacíonal".s3 Simples associação sindical - federação nacional que de da exigência quanto à representação da entidade em pelo menos
reúne sindicatos em cinco Estados - não teria legitimidade, segundo nove Estados da Federação, corno resultado decorrente da aplicação
analógica da Lei Orgânica dos Partidos Políticos.
essa orientação, para propor ação direta de inconstitucionalidade.s4
Admitiu-se, inicialmente, a legitimação das federações, por- Ainda que se possa reclamar afixação de um critério preciso so-
quanto "entidades nacionais de classe".ss bre tazs conceitos vagos - "entidade de classe de âmbito naéional" e
"confederação sindical" -, não há dúvida de que eles devem ser fixa-
Essa orientação foi superada por outra, mais restritiva, passan- dos pelo legislador, e não pelo Tribunal, no exercicio de sua atividade
do-se a considerar que apenas as organizações sindicais, cUJa estru- jurisdicionaL O recurso à analogia, aqui, é de duvidosa exatidão.
tura vem disciplinada no art. 535 da CLT, são dotadas de direíto de
propositura. 56 Afasta-se, ass~m, a possib.ilidade de ~ue associações, Tal critério foi proposto por Moreira Alves, quando da aprecia-
ção da cautelar naADIn n. 386-ES.s7
federações ou outras organizações de mdole smdlcal assumam o
lugar das confederações para os fins do art. 103, IX, da CF, que, se- Porém, nesse mesmo precedente, Moreira Alves preconizou que
"esse critério cederá nos casos em que haja comprovação de que a
52. ADln n. 275-DF, ReI. Min. Moreira Alves, DJU 22.2.91, p. 1.258; ADIn categoria dos associados só existe em menos de nove Estados"."
n. 17-DF, ReI. Min. Sydney Sanches, DJU 15.3,91, p. 2.643; ADIn n. 505-DF, ReI.
Min. MoreíraAlves,DJU2.8.91, p. 9.916;ADIn n. 593-GO, Rei. Min. Marco Aure· Foi com base em tal argumento que, no julgamento da ADIn n.
lia, DJU9.!O.91, p. 14.087; ADlnIMC n. 599-DF, ReI. Min. Nérí da Silverrn, DJU 2.866-RN, o Tribunal reconheceu a legitimidade ativa da Associação
15.5.92; ADIn n. 488-DF, Rei. Min. Octávio GallottI. DJU 12.6.92, p. 9.028; ADInI Brasileira dos Extratores e Refmadores de Sal- ABERSAL,s9 a qual
MC n. 772-DF, ReI. Min. Moreira Alves, DJU23.9.92; ADlnIMC n. 364-DF, ReL se enquadrou nessa situação excepcIonal. Na espécie, constatou-se
Min. Sydney Sanches, DJUI9.2.93; ADlnIMC n. 831-DF, ReI. Min. Marco Auré-
lio, DJU 23.6.93; ADlnIMC n. 868-DF, ReI. Min. Morerra Alves, DJU 13.8.93, p. que, além de a produção de sal ocorrer em apenas alguns Estados da
15.676; ADIn n. !.006-PE, ReI. Min. Sepúlveda Períence, DJU25.3.94; ADIIAgRg Federação, cuidava-se de ativídade econômica de patente relevânCia
n. 1.149-DF, ReI. Min. limar Gaivão, DJU 19.9.95; ADIn n. !.343-AM, ReI. Mm. li- nacional, haja vista ser notório que o consumo de sal ocorre em todas
mar Gaivão, DJU27.9.95; ADIn n. 54, ReL Min. Marco Aurélio, DJU 6.9.96; ADInI as unidades da Federação.
MC n. 920-DF, ReI. Min. FrancISCO Rezei<, DJU 11.4.97;ADInlQO n. L562-DF, ReI.
Min. Moreira Alves, DJU 9.5.97; ADIn n. !.795-PA, ReI. Min. MorelI1l Alves, DJU Por fim, merece destaque inovação trazida pela Lei n. 11.648,
30.4.98; ADIn n. 797-DF, reI. Min. Marco Aurélio, DJU 7.8.98; ADln n. 1.785-RJ, de 31.3.2008, que alterou a Consolidação das Leis do Trabalho para
ReI. Min. Nelson Jobirn, DJU 7.8.98; ADlnIMC n. !.003-DF, ReI. Min. Celso de
Mello, DJU 10.9.99; ADIn n. 2.557-MT, ReL Min. limar Galvão, DJU 12.12.2001; reconhecer fonnalmente as centrais sindicais e consideni-Ias corno
ADIn n. 2.152-MS, ReI. Min. Gilmar Mendes, DJU 8.8.2003. entidades de representação geral dos trabalhadores, constituídas em
53. ADInlQO n. !.006-PE, ReL Min. Sepúlveda Pertence, DJU25.3.94. âmbito nacional (ar!. 12 ). Assim, é de se esperar que a elas seja reco-
54. ADIn n. 398-DF, ReI. Min. Sydney Sanches, DJU28.6.91, p. 8.904. nhecida legitimidade para a propositura de ação direta de inconsti-
55. ADInn. 209-DF, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU7.3.91, p. 2.132. tucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade bem corno,
56. Cf. ADIn n. 505-DF, ReI. Min. Moreira Alves, DJU 2.8.91, p. 9.916. V.. conseqüentemente, de argIiição de descumprimento de precetto fim-
também, ADIn n. 569-DF, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 3.9.91, p. 11.866; darnental.
ADIn n. 713-RJ, ReI. Min. OCtáVIO GaUotti,DJU 10.4.92, p. 4.801;ADIn n. 731-DF,
ReI. Min. limar Gaivão, DJU 8.5.92, p. 6.270; ADIn n. 745-PE, ReL Min. Carlos
VeUoso, DJU 4.8.92, p. 11.417; ADIn n. 746-DF, ReI. Min. Nén da Silverrn, DJU 57. ReL Min. Sydney Sanches, DJU28.6.91.
17.8.92, p. 12.446; ADIn n. 744-PE, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU8.9.92, pp. 58. ADIn n. 386-ES, ReI. Min. Sydney Sanches, DJU 28.6.91.
14.293-14.294;ADIn n. 772-DF, ReI. Min. Moreira Alves, DJU23.1O.92, p. 18.780.
59. ReL Min. Gilmar Mendes, DJU 17.10.2003.
356 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DlRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 357

3. Relação de pertinência: Segundo a jurisprudência do STF, ca dessas organizações e à defesa dos interesses de seus membros,
há de se exigir que o objeto da ação de inconstitucionalidade guarde a Constituição assegura o mandado de segurança coletivo (art. 52,
relação de pertinência com a atividade de representação da confede- LXX, "b"), o qual pode ser utilizado pelos sindicatos ou organiza-
ração ou da entidade de classe de âmbito naciona1.60 ções de classe ou, ainda, associações devidamente constituídas há
A jurisprudência do STF, se, de um lado, revela o salntar pro- pelo menos um ano.
pósito de concretizar os conceitos de "entidade de classe de âmbito Tal restrição ao direito de propositura não se deixa compatibi-
nacional" e de "confederação sindical" para os efeitos do art. 103, lizar, igualmente, com a natureza do controle abstrato de normas,
IX, da CF, deixa entrever, de outro, uma concepção assaz restritiva e criana uma injustificada diferenciação entre os entes ou orgãos
do direito de propositura dessas organizações. autorizados a propor a ação - diferenciação, esta, que não,.encontra
O esforço que o Tribunal desenvolve para restringir o direito de respaldo na Constituição.
propositura dessas entidades não o isenta de dificuldades, levando-o, Por isso, a fixação de tal exigência parece ser defesa ao legisla-
às vezes, a reconhecer a legitimidade de determinada organização dor ordinário federal, no uso de sua competência específica.
para negá-la num segundo momento. Foi o que ocorreu com a
Federação Nacional das Associações dos Servidores da Justiça do 2. Objeto
Trabalbo, que teve sua legitimidade reconhecida na ADIn n. 37-DF,
relativa à Medida Provisória n. 44, de 30.3.1989, acolbendo, inclu- Podem ser impugnados por ação direta de inconstitucionalida-
sive, a liminar requerida. Posteriormente essa entidade veio a ter sua de, nos termos do art. \02. I, "a", primeira parte, da CF, leis ou atos
legitimidade infirmada nas ADIn ns. 433-DF, 526-DF e 530-DF. 6i normativos federais ou estaduais. Com isso, utilizou-se o constituinte
A relação de pertinência cuida-se de inequívoca restrição ao de formulação abrangente de todos os atas normativos da União ou
direito de propositura. que, tratando-se de processo de natureza ob- dos Estados.
jetiva, dificilmente poderia ser formulada até mesmo pelo legislador Antes da entrada em vigor da atual Constituição discutíu-se
ordinário. A relação de pertinência assemelba-se muito ao estabe- intensamente sobre a possibilidade de se submeter a lei municipal
lecimento de uma condição de ação - análoga, talvez, ao interesse ao juizo de constitucionalidade abstrato. Enquanto algumas vozes na
de agir -, que não decorre dos expressos termos da Constituição e doutrina admitiam que a Constituição teria uma lacuna de formula-
parece ser estranha à natureza do sistema de fiscalização abstrata de ção - e, por isso, a referência à lei·estadual deveria contemplar tam-
normas. bém as leis municipais62 -, sustentavam outras opiniões autorizadas
Assinale-se que a necessidade de que se desenvolvam critérios que os Estados poderiam, com base na autonomia estadual, instituir o
que permitam identificar, precisamente, as entidades de classe de modelo de ação direta com o objetivo de afem a constitucionalidade
âmbito nacional não deve condicionar o exercício do direito de pro- da lei mumclpa1.63 O STF afastou não só a possibilidade de aferição
positura da ação por parte das organizações de classe à demonstração da constítucionalidade das leis municipais na via direta perante um
de um interesse de proteção específico, nem levar a uma radical tribunal estadual,64 como recusou expressamente a ampliação de sua
adulteração do modelo de controle abstrato de normas. Consideração
62. Votos vencidos dos Mins. Cunha Peixoto e Rafael Mayer no RE D. 92.169,
semelbante já seria defeituosa porque, em relação à proteção Juridi- RTJ 103/l.085.
63. Ada PeUegrini Grinover. "A ação direta de controle da consbtuclonalidade
60. Cf.ADln n. 202-BA, ReI. Min. SepúIveda Pertence, DJU2.4.93, p. 5.612; na ConstituIção paulista" (pp. 55-56), Celso Bastos, "O controle judiCiai da constitu-
ADIn n. I59-PA, ReI. Min. OctáViO GalIotti, DJU2.4.93, p. 5.611; ADIn n. 893-PR. CIonalidade das leis e atos normabvos municipais" (p. 72), J. A. da Silva, "Ação direta
ReI. Min. Carlos VelIoso, DJU3.9.93, p. 17.743. de declaração de inconstitucIOnalidade de lei muruclpal" (p. 85), e Dalmo de Abreu
6l. ADIn n. 433-DF. ReI. Mio. Moreira Alves, DUJ20.3.92, pp. 3.319-3.320; Dallart, "Lei munICipal inconstitucional" (p. 120), todos ín Ação Direta de Controle
ADIn o. 526-DF, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 5.3.93, p. 2.896; eADIn n. 530- de Constlfuclonalidade de LeIS MumcrpalS, 1979.
DF, ReI. Min. Moreira Alves. DJU22.Il.9I, p. 16.845. 64. RE n. 9I.740-RS, ReI. Min. XaVIer de Albuquerque. RTJ93(1 )/455.
358 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 359

competência para aferir diretamente a constitucionalidade dessas legislativo previsto na Constituição Federal, principalmente no que
leis,65 entendendo que tal faculdade para o controle fora confiada for atinente ao trâmite de emenda constitucional (art. 60), e possivel
estritamente e destinava-se apenas à aferição de constitucionalidade a discussão judicial, uma vez que ela passa a ter estatura de contro-
de leis federaIs ou estaduais. A ampliação dessa competência por vérsia constitucional.
via de interpretação traduzíria uma ruptura com o sistema.66 A CF
Sob o império da Constituição de 1988 foram propostas ações
de 1988 introduziu no art. 125, § 22 , a previsão expressa para que o
diretas contra normas constitucionais constantes do texto origimirIo,70
constituinte estadual adote o controle abstrato de normas destinado
contra a EC n. 2, que antecipou a data do plebiscito previsto no art.
à aferição da constitucionalidade de leis estaduais ou municipais em
2" do ADCT,71 contra as disposições da EC n. 3/93 que instituiram
face da Constituição estadual.67
a ação declaratóría de constitucionalidade72 contra o ímposto prOVI-
Com a entrada em vigor da Lei n. 9.882 - que disciplina a argüi- sório sobre movimentações frnanceiras (IPMF),73 bem assim contra
ção de descumprimento de preceito fundamental - este tema ganba diversas emendas constitucIOnais. 74
novos contornos. Consoante o parngrafo único do art. 1· da citada lei,
Essa prática tornou-se tão corrente em sede de sistema brasileiro
a argüição de descumprimento poderá ser utilizada para - de forma
de fiscalização abstrata que, apenas a titulo exemplificalIvo, a EC n.
definitiva e com eficácia geral- solver controvérsia relevante sobre
4112003, que versa sobre a Reforma da Previdência, foi objeto de
a legitimidade do Direito municipal em face da Constituição Federal
pelo STF. ímpugnação em seis ações diretas de inconslItucionalidade.75
2. Leis de todas as formas e conteúdos (observada a especifi-
Leis e aios normativos federais - Devemos entender como leIS cidade dos atos de efeito concreto), uma vez que o constituinte se
e atos llonnativos federais passíveis de ser objeto de ação direta de vinculou a forma legaL Nesse contexto hão de ser contempladas as
inconstitucionalidade: leis formais e materiais:
1. Disposições da Constituição propriamente ditas. Também 2.1 as leis formais ou atos normativos federais, dentre outros;
entre nós é admissível a aferição de constitucionalidade do chamado 2.2 as medidas provisónas, e((pedidas pelo Presidente da Repu-
Direito Constitucional secundário, uma vez que, segundo a doutrina blica em caso de relevância ou urgência, com força de lei (art. 62, clc
e a jurisprudência dominantes, a reforma constitucional deve obser-
varnão apenas as exigências formais do art. 60, I, II e m, e §§ 1.,22 70. ADIn n. 815 (ReI. Min. Moreira Alves), proposta pelo Governador do Esta-
e 3·, da CF, como também as cláusulas pétreas (art. 60, § 40). O ca- do do Rio Grande do Sul, que foi inadmitida,. por impossibilidade jurídica do pedido.
bimento da afenção da constitucionalidade de uma emenda constitu- 71. Cf.. também. ADIn ns. 829, 830 e 833, ReI. Min. Moreira Alves, sobre a
cional, em sentido formal e material, foi reconbecido já em 1926.6' constitucionalidade da antecipação do plebiscíto (EC n. 2, de 25.8.92),
Sob a Constituição de 1967/1969 o Tribunal admitiu o controle judi- 72.ADIn n. 913, ReI. Min. Moreira Alves, DJU23.8.93, p. 16.457.
73. ADIn n. 939, ReI. Min. Sydney Sanches, DJU !8.3.94, p. 5.165.
cial preventivo com o objetivo de impedir a tramitação de projeto de
74.ADIn n. 3.367-DF, ReI. Min. Cézar Pe!uso, DJU 17.32006; ADIn n. 3.685·
emenda constitucional lesiva as cláusulas pétreas.69 Posteriormente a DF, Rela. Min. EUen Gracie, DJU 10.82006; ADIn n. 3.128-DF, ReI. para o acórdão
Corte passou a entender que, se a questão discutida tratar do processo Min. Cézar Pe!uso, DJU 18.2.2005; ADIn n. 3.105-DF, ReL Min. Cézar Pe!uso, DJU
18.2.2005; ADIn n. l.946-DF, ReI. Min. Sydney Sanches, DJU 16.52003; ADInlMC
65. Repr. n. 1.405, ReI. Min. MoreuaAlves, RTJ 127/394. n. l.805-DF, ReI. Min. Néri da Silveua, DJU 14.11.2003; ADInlMC n. l.497-DF,
ReI. Min. Marco Aurélio, DJU 13.12.2002; ADIn n. 2.38!-RS, ReI. Min. SepúIveda
66. Repr. n. 1.405, Rei. Min. Moreira Alves, RTJ 127/394. Perience, DJU !4.I2.2001;ADInlMC n. 1.420·DF, ReI. Min. Nén da Silveira, DJU
67. Art. 125, § 2.!!; "Cabe nos Estados a InstitUIção de representação de InCons- 19.12.97; ADIn n. 997-RS, ReI. Min. Moreua Alves, DJU 30.8.96; ADIn n. 8I5-DF,
titucionalidade de leIS ou atos normativos estaduais ou muniCipaiS em face da Cons- ReL Min. Moreira Alves, DJU 10.5.96; ADInlMC n. 926-DF, ReI. Min. Sydney San-
tihtíção estadual. vedada a atribuíção da legittmação para agIr a um únIco órgão", ches, DJU 6.5.94; ADIn n. 466·DF, ReI. Min. Ceiso de MeUo, DJU 10.5.91.
68. HC n. 18.178.].27.9.26, RF 47/748·827. 75. AD!n ns. 3.I04-DF, 3.105·DF, 3.128-DF, 3. 133-DF, 3.138·DF e 3.143-DF,
69. MS 20.257, ReI. Mio. Moreira Alves, RTJ 99/1.040. todas de relataria da Min. Ellen Gmeie.
360 AÇOES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DlRETA DE INCONSmUCIONALIDADE 361

o art. 84, XXVI). Essas medidas perdem a eficácia se não aprovadas Nacional. há de se ter por prejudicada a ação direta de mconstitucio-
pelo Congresso Nacional no prazo de 60 dias, podendo ser prorroga- nalidade. 78
das uma única vez, por igual periodo (CF, art. 62, § 7·). Nenhuma dú- Igualmente pacífico se afigura o entendimento segundo o qual
vida subsiste sobre a admissibilidade do controle abstrato em relação "não prejudica a ação díreta de inconstitucionalidade material de me-
às medidas provisórias.76 O STF tem concedido inúmeras liminares dida provisória a sua intercorrente conversão em lei sem alterações,
com o propósito de suspender a eficácia dessas medidas como ato do- dado que a sua aprovação e promulgação integrais apenas lhe tornam
tado de força normativa, ressalvando, porém, sua validade enquanto definitiva a vigência. com eficácia ex !Unc e sem solução de contmUl-
proposição legislativa suscetível de ser convertida, ou não, em lei.77 dade, preservada a identidade originária do seu conteudo normativo,
Não se questiona, diante da jurisprudência tradicional do Tribu- objeto da argüição de invalidade",79
nal, que, rejeitada expressamente a medida provisória, ou decorrido Não parece, todavia, isenta de dúvida a jurisprudência que
in albis o prazo constitucional para sua apreciação pelo Congresso entende prejudicada a ação direta de inconstitucionalidade em
decorrência da aprovação da medida provisória com alterações,
76. Em 1990 o Min. Marco Aurélio, no julgamento da ADIn D. 295, chegou considerando inadmissivel até o eventual aditamento da imcial para
a sustentar que não se deveria fazer o controle de constitucionalidade de medida os fins de adequação do pedido originariamente formulado à nova
provIsÓna antes de uma deliberação definittva do Congresso Nacional. A seguinte conformação do texto normativo. 8o
passagem do voto sintetIZa a argumentação desenvolvida pelo MinIStro:
"A medida provisória ( ... ) é editada de forma provisóna., como está na própna As medidas provisórias não se confundem com as leis temporá-
deSignação, para que ocorra o pronunciamento do Congresso Nacional. E, uma vez rias exatamente porque suas disposições são dotadas de pretensão de
decorrendo o prazo - ficando, portanto, fulminada ab mitio a medida provisôna -, ao definitividade e se destinam a ser mantidas sob a forma de lei. 81 Em
Congresso Nacional cumpre disciplinUf as relações Jurídicas dela decorrentes.
outros termos, precaria é apenas a medida provisória enquanto ato
"Indaga-se. frente ti. hannonia entre os Poderes - base de um entendimento
malOr -, se essa apreciação pode ser obstaculizada por uma ação direta de mconsti- normativo: as dispOSições dela constantes estão vocacionadas a uma
tucionalidade? Ê esta a matéria que coloco. A meu ver, não pode ser obstaculizada. vigência indeterminada.
porque, caso contnirio, o Judiciário estará adentrando um campo em relação ao qual Relevante, portanto, para o processo de controle de normas. não
se tem a previsão da atuação de um outro Poder, que e o Poder LegIslativo. E na
apreciação da ação direta de mconstltuclonalidade poder-se-â chegar atê mesmo ii. é saber se determinada medida provisória foi aprovada com altera-
deciaração da pecha e, mediante essa declaração, à retIrada de qualquer efeito da ção, mas, sim, se essas modificações alteraram, substancialmente, o
medida no mundo jurídico. objeto da ação instaurada, de modo a afetar sua própria existência.
"Vejam os eminentes Pares que a Constituição reveía que o Congresso NacIO- É fácil ver que a aprovação de medida provisória com simples
nal. na hipótese de decurso do prazo. deve disciplinar as relações jurídicas decorren-
tes das medidas prOVIsórias. Essa disciplina não pode ser e não é alcançável mediante alteração formal do texto originário não deveria suscitar maiores pro-
uma ação direta de inconstitucionalidade. blemas no juizo abstrato de normas, uma vez que restaria íntegro e
"Por isso. Sr. Presidente, muito embora admitindo a nonnatividade da medida. plenamente válido o pedido formulado, sendo facultado ao Tribunal.
tenho para mim que não cabe, contra essa mesma medida. contra esse instituto, ação se entender devido, requerer novas informações junto ao Poder Exe-
direta de inconsutucíonalidade.
"Ê a maténa preliminar que exponho. convencido que estou da necessidade
de se preservar a própria atuação do Legislativo; da necessidade, atê mesmo. de se 78. ADln n. 525, ReI. Mio. Sepúlveda Pertence, DJU 4.9.91, p. 11.929; ADln
adotar uma política Judiciána que homenageie. no caso, a assunção de responsabili- n. 529, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 4.9.91, p. 11.930; ADln n. 298, ReI. Min.
dade pelos Poderes da União. IniCialmente, portanto, permito-me, frente até mesmo Celso de Mello, DJU2l.l1.90, p. 13.427; ADIn n. 300, ReI. Min. Celso de Mello,
ao Regtmento da Casa, expor esta matéria - não seI se anterionnente foi discutida, DJU2l.l1.90, p. 13.427; ADln n. 292, Rei. Min. Paulo Brossard, DJU 16.4.93, p.
porque tomei posse há pouco -, conclumdo pela impertinência da ação direta de 6.428.
inconstitucionalidade contra medida provísória" (ADIn n. 295, ReI. Min. Marco 79. ADIo n. 691. ReI. Min. Sepúlveda Pertence, D.fU 19.6.92, pp. 9.519-9.520.
Aurélio, DJU 22.8.97). Essa preliminar foi rejeítada categoricamente pelo Tribunal. 80.ADIn n. 258, ReI. Min. Celso de Mello, DJU28.2.92, p. 2.169.
77. ADIn n. 293, ReI. Min. Celso de Mello. DJU 16.4.93, p. 6.429; ADln n. 81.·Cf.. sobre o assunto, no Direíto Italiano. Carla Esposito. "Decreto-Iegge",
427. ReI. Min. Sepúlveda Pertence. DJU 1.2.91, p. 351. in Enciclopedia dei Dintlo, v. 11, Varese. 1962, p. 831 (845).
362 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 363

cutivo, bem como solicitar informações do Congresso Nacional. As sória, desde que houvesse identidade fundamental entre a dispOSição
manifestações da Advocacia-Geral da União e do Procurador-Geral onginalmente impugnada e o texto normativo constante da lei.
da República, se já verificadas, poderiam ser, igualmente, aditadas, A propósito, mencione-se que, nos termos do § 78 da Lei do
sem qualquer prejuizo para a ordem processual. Tribunal Constitucional alemão,83 está a Corte autorizada a estender
Evidentemente, se a medida provisória for aprovada com altera- a declaração de inconstitucionalidade "a outras disposições da mes-
ções de tal monta que importem, mesmo, a derrogação da disposição ma lei" - entendida a expressão não apenas como autorizatíva de
normativa impugnada,sz nada mais resta senão proceder-se ii extinção pronúncia de nulidade em relação a outros dispositivos da mesma lei,
do processo. mas também a disposições semelhantes que alterem ou derroguem o
Ao contrário, subsistente, na sua essência, a disposição que deu texto impugnado.'4
ensejo ii propositura da ação, não deve o feito ser extinto, porque Orientação semelhante poderia ser adotada entre nós, tendo
resta integra a pretensão formulada legitimamente por um d~s titula- em vista, sobretudo, a necessidade de solver o problema - indubi-
res do direito de propositura, inexistindo solução de contmUldade no tavelmente, serio - do controle de constitucionalidade abstrato das
plano de vigência das normas. medidas provisórias.
Assim, se o art. 12 da medida provisória "X" continua a vigorar. 3. Decreto legislativo que contém a aprovação do Congresso aos
na sua essência, como art. I Q ou como art. 2" da lei "Y", não há que tratados e autoriza o Presidente da República a ratificá-los em nome
se cogitar de derrogação ou ab-rogação. do Brasil (CF, art. 49, I). O decreto legislatlvo apenas formaliza, na
Dúvidas poderiam surgir se o texto impugnado da medida pro- ordem Jurídica brasileira, a concordância definitiva do Parlamento
visória fosse aprovado com significativas alterações de forma ou em relação ao tratado. 85 A autorização para aplicação imperativa
conteúdo. somente ocorre, após sua ratificação, com a promulgação através de
Como explicitado, as modificações de indole formal não pa- decreto.'6 O processo do controle abstrato de normas poderia, toda-
recem aptas a afetar a existência do processo de controle abstrato, via, ser instaurado após a promulgação do decreto legislativo, uma
instaurado com o objetivo de aferir a legitimidade de determinada vez que se trata de ato legislativo que produz conseqüênCiaS para a
disposição em face da Constituição, não devendo assumir, por isso, ordem jurídica.87
maior importância o fato de a disposição ter sido aprovada como 4. O decreto do Chefe do Executivo que promulga os tratados e
art. 4" da lei "Y", e não como art. I", tal como proposto na medida convenções.
provisória. Da mesma forma, alterações redacíonais não devem levar
ao entendimento de que se cuida, agora, de uma outra norma, que, 83. Ê a seguinte a redação do § 78 da Lei do Bundesveifassungsgericht
por isso, deve ter sua constítucionalidade aferida em novo processo. "Caso o Tribunal Federai ConstItucional forme a conVIcção que o Direito fe-
A questão poderia merecer disclplin~ legislativa especí~ca deral é incompatível com a Lei Fundamental ou que o Direito estadual conflita com
a ConstitUIção ou outro DireIto federai. deve-se proceder à declaração de inconsti-
tendente a superar o problema, com a autonzação para que o Tnbu- tucionalidade.
nal conhecesse da ação, em semelhantes casos, sempre que não se "Se outras disposições da mesma lei, pela mesma razão. forem incompatíveIS
pudesse afirmar que, no processo de conversão em lei, a disposição com a Lei FundamentaI ou outro Direíto federal, deve o Tribunal Federal Constitu-
impugnada constante da medida provisória sofreu alterações que cional declarar. igualmente. a sua nulidade."
84. Ulsamer, in Maunz e outros. BVer:fGE. § 78, n. 25. v., também, Mendes,
afetaram profundamente sua própria identidade.
Controle de Constitucionalidade, pp. 270 e S5.
Assim, ficaria o Tribunal legitimado a aferir a legitímidade e, 85. J. F. Rezek, Dirello dos Trotados, Rio, 1984, pp. 382-385.
eventualmente, a declarar a inconstítucionalidade tambem de disposi- 86. Idem, p. 333.
ção íncorporada ao texto da lei em que se converteu a medida provi- 87. EXiste pelo menos um processo no qual o controle abstrato de normas foi
instaurado apôs a entrada em vigor do Tratado: Repr. n. 803. ReI. Min. Djaci Falcão,
82. ADIn n. 399, ReI. Min. Nén da Silverra. DJU 72.92, p. 737. RTJ841724 e ss.
364 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
365
5. O decreto legislativo do Congresso Nacional que suspende a
execução de ato do Executivo, em virtude de incompatibilidade com Leis e atos normativos estaduais - Devem ser considerados
a lei regulamentada (CF, art. 49, V).88 como leis ou atos normativos estaduais, podendo ser objeto somente
de ação direta de inconstitucionalidade:
6. Os atos normativos editados por pessoas jurídicas de direito
público criadas pela União, bem como os regimentos dos Tnbunais 1. Disposições das Constituições estaduais, que, embora tenbam
Superiores e dos Tribunais Regionais Federaís,89 podem ser obJeto a mesma natureza das normas da Constituição Federal, devem ser
do controle abstrato de normas se configurado Seu caráter autônomo, compatíveis Com princípios específicos e regras gerais constantes do
não meramente ancilar. Texto Fundamental (CF, ar!. 25, c/c o ar!. 34, VII, principios sensíveis).
7. O decreto legislativo aprovado pelo Congresso Nacional com 2. Leis estaduais de qualquer espécie ou natureza, independen-
o escopo de sustar os atos normativos do Poder Executivo que exor- temente de seu conteudo.
bitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa 3. Leis estaduais editadas para regulamentar matéria de compe-
(CF, art. 49, V).90 tência exclusiva da União (CF, ar!. 22, parágrafo unico).
8. Também outros atos do Poder Executivo com força norma- 4. Decreto editado com força de lei.95
tiva, como os pareceres da Consultoria-Geral da República, devida- 5. Regimentos internos dos tribunaIS estaduais,96 assim como os
mente aprovados pelo Presidente da República (Decreto n. 92.889, regimentos das Assembléias Legislativas.
de 7.7.86).91
6. Atos normativos expedidos por pessoas juridicas de direito
9. Resolução do TSE.92 público estadual podem, igualmente, ser objeto de controle abstrato
10. Súmulas vinculantes do STF também poderão ser objeto de de normas.
ação diretade inconstitucionalidade, em razão do seu inequívoco
caráter normativo. A jurisprudência do Tribunal recusou, porem, o Leis e atos normativos distritais - Tal como afrrmado,97 não
cabímento de ação direta de inconsttucionalidade contra sumula de existia razão juridica para afastar do controle abstrato de constitu-
tribunal, Com base no argumento de que não seria dotada de força cionalidade os órgãos superiores do Distrito Federal. Com a promul-
normativa.93 gação da EC n. 45/2004 a questão ficou definitvamente superada. A
I I. Resoluções de tribunais que deferem reajuste de vencimen- redação conferida ao art. 103 da CF incluiu o Governador do Distrito
toS. 94 Federal e a Mesa da Câmara Legislativa no elenco dos entes e orgãos
autorizados a propor a ação direta de inconstitucionalidade. Razões
88. A ConstitUIção de 1988 incorporou disposição da Constituição que outorga- semelhantes já militavam em favor do controle de constitucionali_
va essa atribUIção ao Sehado Federal. Ta! como reconhecido por Pontes de Miranda. dade na jurisprudência do STF, por via de ação direta de inconstitu-
essa competência outorgava ao Senado. ainda que parcialmente. poderes de Uma Cor- cionalidade, de ato aprovado pelos Poderes distritais no exercicio da
te ConstItuclonat (cf. ComentáriOS à ConstituIção da República dos Estados Unidos competêncía tipicamente estadual.98
do Brasil, v. I, p. 364). CL, também, ADIn n. 748, ReI. Min. Celso de MelIo, DJU
6.11.92, pp. 20.105-20.106.
89.ADIn n. 3.556, ReI. para o acórdão Min. Cézar Peluso,j. 15.2.2007,In}ôr- 95. Cf. ADIn n. 460-3, ReL Min. Sepúlveda Pertence, DJU 10.5.91, p. 5.929;
matlvo STF 456.
ADIn n. 519-7, ReI. Min. MoreiraAlves,DJU 11.10.91, p. 14.248.
90. CL, sobre o assuoto, ADIn n. 748, ReI. Min. Celso de MeIlo, DJU 6. I 1.92, 96. ADIn n. 2.212-CE, Rela. Min. EIlen Gracfe, DJU 14.11.2003; ADIn n.
p.20.105. 2.480, ReI. Min. Sepúlveda Perteoce, DJU 15.6.2007.
91. Cf. ADIn o. 4, ReI. Min. Sydney Sanches, DJU25.6.93, p. 12.637. 97. ef.. supra. n. I, Legitimidade, sllbitens "Governador de Estado/Assembléia
92. ADI n. 3.345, ReI. Min. Marco Aurélio, Informotivo STF 398, 31.8.2005. Legislativa e Relação de PertinênCia" e "Governador do Distrito Federal/Câmara
93. ADIn o. 594-DF, ReI. Mm. Carlos VelIoso, DJU 15.6.94. Distrital",
94.ADln n. 662, ReI. Min. Eras Grau, DJU 10.11.2006. 98. Cf. AUIn n. 61 I, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 11.l2.92; ADIn n.
1.375, ReI. Min. MoretraAlves, DJU23.2.96.
366 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 367

É que, não obstante as peculiaridades que marcam o Distrito formal, não se expõem, em sede de ação direta, à jurisdição constitu-
Federal, os atos normativos distritais - leis, decretos etc. - são subs- cional abstrata do Supremo Tribunal Federal", porquanto "a ausênCIa
tancialmente idênticos aos atos normativos estaduais, tal como deflui de densidade normativa no conteúdo do preceito legal ímpugnado
diretamente do art. 32, § I', na parte em que atribui ao Distrito Fede- desqualifica-o - enquanto objeto juridicamente inidôneo - para o
ral as competências legislativas reservadas aos Estados. 99 controle normativo abstrato".103
Assinale-se, porem, que a própria fórmula constante do art. 32, Em outro Julgado afirmou-se que disposição constante da leI
§ I', da CF está a indicar que o Distrito Federal exerce competências orçamentária que fixava determinada dotação configuraria ato de
legislativas municipais, editando, por isso, leis e atos normativos ma- efeito concreto, insuscetivel de controle jurisdicional de constitu-
terialmente idênticos àqueles editados pelos demais entes comunais. cionalidade por via de ação ("Os atos estatais de efeitos.concretos
Nessa hipótese, diante da impossibilidade de se proceder ao - porque despojados de qualquer coeficiente de normatividade ou
exame direto de constitucionalidade da lei municipal perante o STF, de generalidade abstrata - não são passiveis de fiscalização, em tese,
em face da Constituição, tem-se de admitir que descabe "ação direta quanto ã sua legitimidade constitucional").'04
de inconstítucionalidade cujo objeto seja ato normativo editado pelo Identifica-se esforço no sentido de precisar a distinção entre
Distrito Federal, no exercício de competência que a Lei Fundamental normas gerais e normas de efeito concreto na seguinte reflexão de
reserva aos Municípios"lOo - tal como, por exemplo, "a disciplina e Pertence:
polícia do parcelamento do SOI0".101 "E expressiva dessa orientação jurisprudenciai a decisão que
Atos legislativos de efeito concreto - A jurisprudência do STF não conheceu da ADIn n. 2.100, 17.12.99, Jobim, DJU 1.6.2001:
tem considerado inadmissível a propositura de ação direta de in- 'Constitucional - Lei de Diretrizes Orçamentárias - Vinculação
constitucionalidade contra atos de efeito concreto. Assim, tem-se de percentuais a programas - Previsão da inclusão obngatória de
afumado que a ação direta é o meio pelo qual se procede ao controle investimentos não executados do orçamento antenor no novo -
de constitucionalidade das normas juridicas ln abstracto, não se Efeítos concretos - Não se conhece de ação quanto a lei desta natu-
prestando ela "ao controle de atos administrativos que têm objeto de- reza - Salvo quando estabelecer norma geral e abstrata - Ação não
conhecida' ,
terminado e destinatários certos, ainda que esses atos sejam editados
sob a forma de lei - as leis meramente formais, porque têm forma de "A contraposição, no precedente, da disposição legal de efeitos
lei, mas seu conteúdo não encerra normas que disciplinam relações concretos à regra geral e abstrata amolda-se à distinção, na obra pós-
em abstrato" 102 Na mesma linha de orientação, afirma-se que "atos tuma de Hans Kelsen, entre a norma de caráter individual - quando
estatais de efeitos concretos, ainda que veiculados em texto de lei se toma rndividualmente obrigatória uma conduta única - e a norma
de caráter geral- na qual 'uma certa conduta e universalmente posta
como devida' (Hans Kelsen, Teoria Geral das Normas, trad. de G.
99. ADIn n. 665, ReI. Min. OcIávlO Gano''', DJU24.4.92, p. 5.376.
100. ADInlMC n. 37l-DF, ReI. Min. Paulo Brossard. DJU 192.93: ADInlMC Florentino Duarte, Fabris Editor, 1986, p. 11). 'O caráter individual
n. 409-DF, ReI. Min. Celso de Meno, DJU 15.3.91: ADInlMC n. 611-DF, ReI. Min. de uma norma' - explica o Mestre da Escola de Viena - 'não depende
Sepúlveda Pertence, DJU 11.12.92: ADInlMC n. 880-DF, ReI. Min. Sepúlveda Perten- de se a norma é dirigida a um ser humano individualmente detenni-
ce, DJU 42.94: ADInlMC n. ! .375-DF, ReI. Min. Moreira Alves, DJU 23.2.96: ADIn
nado ou a várias pessoas individualmente certas ou a uma categoria
n. 1.832-DF, ReI. Min. limar Ga!vão, DJU7.8.98: ADIn n. 1.812-DF, ReI. Min. limar
Gaivão, DJU 4.9.98; ADIn n. 209-DF, ReI. Min. Sydney Sanches, DJU 11.9.98: ADInI de homens, ou seja, a uma maioria não individualmente, mas apenas
MC n. 1.472-DF, ReI. Min.llrnarGaivão,DJU9.3.2001:ADInlMC n. 1.750-DF, Rel.
Min. Nélson Joblm, DJU 14.62002: ADInlMC n. 2.448-DF, ReI. Min. Sydney Sanches, 103. ADIn n. 842, ReI. Min. Celso de Meno, DJU 14.5.93, p. 9.002. Cf.. Iam-
DJU 13.6.2003: ADInlMC n. 1.706-DF, ReI. Min. Nelson Joblm, DJU 1.82003. bém,ADIn n. 647, ReI. Min. Moreira Alves, DJU27.3.92, p. 3.801, eADIn n. 767,
101. ADIn n. 611-8, Rei. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 11.12.92, p. 23.662. ReI. Min. Carlos VoUoso, DJU 18.6.93, p. 12.110.
102.ADIn n. 647, ReI. Min. Moreira Alves, DJU27.3.92i p. 3.801. I04.ADIn n. 283, ReI. Min. Celso de MeUo, DJU 12.3.90, p. 1.691.
368 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 369

de certas pessoas de modo geral.Também pode ter caráter geral uma Ademais, não fosse assim, haveria uma superposição entre a
norma que fixa como devida a conduta de uma pessoa individual- típica jurisdição constitucional e a jurisdição ordinária.
mente designada, não apenas uma conduta única, individualmente Outra há de ser, todavia, a interpretação se se cuida de atos
determinada, é posta como devida, mas uma conduta dessa pessoa editados sob a forma de lei. Neste caso, houve por bem o consti-
estabelecida em geral. Assim quando, p.ex., por uma norma moral tuinte não distinguir entre leis dotadas de generalidade e aqueloutras
válida - ordem dirigida a seus filhos -, um pai autorizado ordena conformadas sem o atributo da generalidade e abstração. Essas leIS
a seu filho Paul ir à igreja todos os domingos ou não mentir. Essas formais decorrem ou da vontade do legislador, ou do desiderato do
normas gerais são estabelecidas pela autoridade autorizada pela próprio constituinte, que exige que determinados atos, amda que
norma moral válida; para os destinatários das normas, são normas de efeito concreto, sejam editados sob a forma de lei (v.g., lei de
obrigatórias, se bem que elas apenas sejam dirigidas a uma pessoa orçamento, lei que ínstitui empresa pública, sociedade de economia
individualmente determinada. Se pela autoridade para tanto autori- mista, autarquia e fundação pública).
zada por uma norma moral válida é dirigido um mandamento a uma
Ora, se a Constituição submete a lei ao processo de controle abs-
maioria de sujeitos individualmente determinados e apenas é imposta
trato - até por ser este o meio próprio de inovação na ordem juridica
uma certa conduta individualmente - como, porventura, no fato de
e o instrumento adequado de concretização da ordem constitucIOnal
um pai que ordenou a seus filhos Paul, Jugo e Friedrich felicitarem
-, não parece admissível que o intérprete debilite essa garantia da
seu professor Mayer pelo 50º aniversário -, então, há tantas normas
Constituição, isentando um numero elevado de atos aprovados sob a
individuais quantos os destinatários da norma. O que é devido numa
forma de lei do controle abstrato de normas e, muito provavelmente,
norma - ou ordenado num imperativo - é uma conduta defiuida. Esta
de qualquer forma de controle. É que mUltos desses atos, por não en-
pode ser uma conduta única, individualmente certa, conduta de uma
volverem situações subJetivas, dificilmente poderão ser submetidos a
ou de várias pessoas individualmente; pode, por sua vez, de antemão,
ser um número indeterminado de ações ou omissões de uma pessoa um controle de legitimidade no âmbito da Jurisdição ordinária.
individualmente certa ou de uma determinada categoria de pessoas. Ressalte-se que não se vislumbram razões de indole lógica ou
Esta é a decisiva distinção' ."!O5 jurídica contra a aferição da legitimidade das leis formais no controle
A extensão da Jurisprudência sobre o ato de efeito concreto - abstrato de normas, até porque abstrato - isto é, não vmculado ao
desenvolvida para afastar do controle abstrato de normas os atos caso concreto - há de ser o processo. e não o ato legislativo submeti-
administrativos de efeito concreto - às chamadas (eis formais suscita, do ao controle de constitucionalidade.
sem dúvida, alguma insegurança, porque coloca a salvo do controle Por derradeiro, cumpre observar que o entendimento do STF
de constitucionalidade um sem-número de leis. acima referido acaba, em muitos casos, por emprestar significado
Não se discute que os atos do Poder Público sem caráter de ge- substancial a elementos muitas vezes acidentais: a suposta generali-
neralidade não se prestam ao controle abstrato de normas, porquanto dade, impessoalidade e abstração ou a pretensa concretude e singula-
a própria Constituição elegeu como objeto desse processo os atos ridade do ato do Poder Público.
típicamente normativos, entendidos como aqueles dotados de um Os estudos e análises no plano da Teona do Direito indicam que
minímo de generalidade e abstração. tanto se afigura possivel formular uma leI de efeito concreto - lei
casuistica - de forma genérica e abstrata quanto seria admissivel
105. ADln n. 2.535, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU2LI 1.2003. Porvezes apresentar como lei de efeito concreto regulação abrangente de um
a análise da abstração e generalidade das normas SUSCIta dúvida entre os próprios complexo mais ou menos amplo de situações. I06
Mimstros do STF. Cf. ADIn n. 2.980-DF. ReI. Min. Marco Aurélio, julgamento ini~
ctado em 8.9.2005, InformotlVo STF 400; ADIn n. 1.279-RN, ReI. Min. Eros Omu,).
26.6.2006, InformoUvo STF 433; ADInlQO n. 1.937, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, 106. Cf. J. J. Gomes Canotilho, Direito ConstituCIonal. sa ed., Coimbra. 1992,
J. 20.6.2007, InformaUvo STF 472. pp. 625-626; Pieroth e Schlink, Grundrechte - Stoatsrecht II, Heidelberg, 1988, p. 78.
370 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DlRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 371

Todas essas considerações parecem demonstrar que a jurispru- de normas, uma vez que, nesse caso, cuidar-se-ia de simples aplica-
dência do STF não andou bem ao considerar as leis de efeito concreto ção do princípio lex posterior derogat priori, e não de um exame de
como inidôneas para o controle abstrato de normas. constitucionalidade. Também aqui devemos notar que a Lei n. 9.882,
Sem embargo, é importante ressaltar que o Tribunal l07 reconbe- no parágrafo unico de seu art. I º, altera o rumo das discussões. Ii
ceu o caráter normativo de disposições de lei orçamentária anual da que, consoante o teor desse dispositivo, a argüição de descumpn-
União (Lei n. 10.640/2003, que disciplinou a destinação da receita da mento de preceito fundamental poderá ser utilizada para - de forma
CIDE-Combustiveis 108). Na espécie, por maioria, acolheu-se a pre- definitiva e com eficácia geral- solver controvérSIa relevante sobre
liminar de cabimento de ação direta de inconstitucionalidade contra a legitimidade do Direito ordinário pré-constitucional em face da
lei orçamentária, sob o argumento de que os disposItivos impugnados nova Constituição.
eram dotados de suficiente abstração e generalidade. Assinale-se, porém, que, na sessão de 19.12.2006, o Tribu-
Essa nova orientação parece mais adequada, porque, ao permitir nal entendeu de resgatar o entendimento anterior. Cuidava-se de
o controle de legitimidade no âmbIto da legislação ordinária, garante controvérsia sobre a constitucionalidade de decreto legislatIvo que
a efetiva concretização da ordem constitucionaL autorizava as Casas do Congresso Nacional a fixarem os subsidios
parlamentares em consonância com a remuneração fixada para os
Direito pré-constitllcional - O STF admitiu, inicialmente, Ministros do STEll2 Tal disposição havia sido elaborada sob a vigên-
a possibilidade de examinar no processo do controle abstrato de cia da EC n. 19/98. O Tribunal considerou, em sede de ação direta de
normas a questão da derrogação do Direito pré-constitucional, em inconstitucionalidade, que a norma questionada não foi recebida pela
virtude de colisão entre este e a Constituíção superveníente. Nesse disciplina constitucional adotada pela EC n. 41/2003. 113
caso julgava-se improcedente a representação, mas se reconhecia Vale, ainda, registrar que a sucessão de emendas constitucionaIS
expressamente a existência da colisão e, portanto, a incompatibili- está fazendo surgir um outro fenômeno ligado à questão da lei e do
dade entre o Direito ordinário pré-constitucional e a nova Constitui- Direito Intertemporal. E que a alteração substancial do parâmetro de
çãO. 109 O Tribunal tratava esse tema como uma questão preliminar, controle por emendas constitucionais supervenientes tem levado o
que haveria de ser decidida no processo de controle abstrato de Tribunal a considerar prejudicada a ação direta. ll4
normas. Essa posição foi abandonada, todavia, em favor do entendi- Entende-se que, neste caso, não se justifica o prosseguimento da
mento de que o processo do controle abstrato de normas destma-se, ação, tendo em vista o caráter objetivo do processo, devendo o tema
fundamentalmente, à aferição da constitucionalidade de normas ser discutido no âmbito do sistema difuso. Essa onentação merece
pós-constitucionais. I 10 Dessa forma, eventual colisão entre o Direito
pré-constitucional e a nova Constituição deveria ser simplesmente 112. Decreto-leI n. 444/2002.
resolvida segundo os princípios de Direito lntertempóraL III Assim, 113. ADIn n. 3.833. ReI. Min. Marco Aurélio.
caberia à jurisdição ordinária, tanto quanto ao STF, examinar a vi- 114. Cf. ADlnIMC n. 949, ReI. Min. Sydney Sanches. DJU 12.11.93; ADInI
QO n. 1.836. ReI. Min. MorerraAlves, DJU 4.12.98; ADIn n. LI 37, ReI. Min.lImar
gência do Direito pré-constitucional no âmbito do controle incidente Gaivão. DJU25.3.99; ADInlQO n. 1.907, ReI. Min. OCtáVIO Gallottl. DJU 26.3.99;
ADIn n. 1.674. ReI. Min. Sydney Sanches, DJU 28.5.99; ADlnlMC n. 1.717, ReI.
107. ADIn n. 2.925-DF (Rela. Min. ElIen Gracie),julgada em I1.l2.2003. Min. Sydney Sanches,DJU25.2.2000; ADIn n. 1.434, ReI. Min. Sepúlveda Pertence,
108. ContribUJção de Intervenção no DomíniO Econômico dos Combustíveís. DJU 25.2.2000; ADlnIMC n. 2.112, ReI. Min. Sepúlveda Pertence. DJU 11.5.2000;
ADlnlMC n. 561, ReI. Min. Celso de MeUo. DJU 23.3.2001; ADlnIMC n. 1.946,
109. Re~r. n. 946, ReI. Min. XavIer de Albuquerque, RTJ 82144; Repr. n. 969,
ReI. Mm. AntOnIO Neder. RTJ 99/544. ReI. Min. Sydney Sanches. DJU [4.9.2001; ADln n. 1.550, ReI. Min. MauricIO
Corrêa, DJU 21.9.200 I; ADIn n. 1.717, ReI. Min. Sydney Sanches, DJU 28.3.2003;
, 1l0. Repr. n. 946, ReI. Min. Xavier de Albuquerque, RTJ82144; Repr. n. 969, ADlnIMC n. 2.830, ReI. Min. Sydney Sanches, DJU 2.5.2003; ADIn n. 2.009. ReI.
ReI. Min. Antômo Neder, RTJ 99/544.
Min. Morerra Alves, DJU 9.5.2003; ADIri n. 2.055, Rél. Min. Morerra Alves, DJU
111. Repr. n. LO 12, ReI. Min. Morerra Alves, RTJ 95/990. 4.6.2003; ADIn n. 909. ReI. Min. Nélson Jobim, DJU 6.6.2003.
372 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 373

ser revista, uma vez que acaba por distorcer a função do modelo abs- Geral da União - que demandava a extinção do processo pelo fato
trato de normas, que e o de criar segurança juridica mediante decisão de a norma impugnada (EC n. 45/2004) ter sido publicada após a
dotada de eficácia geral. propositura da ação direta de inconstitucionalidade - e entendeu que
O reconbecimento da prejudicialidade no caso em apreço, em- a publicação superveniente da mesma corrigiU a carência original da
bora reflita a orientação defensiva que tem presidido a jurisprudência ação." 9
da Corte, contribui, decisivamente, para a indefmição do tema, reme-
tendo a questão, inicialmente submetida ao controle abstrato, para o Ato normativo revogado - A jurisprudência do STF considera
modelo difuso. Esse entendimento foi parcialmente revisto no julga- inadmissivel a propositura da ação direta de inconstitucionalidade
mento da ADInlMC-DF n. 3.833 (ReI. orig. Min. Carlos Britto, Rei. contra lei ou ato normativo já revogado. 120 Sob o império da Consti-
para o acórdão Min. Marco Aurélio,j. 19.12.2006), em que o Tribu- tuição de 1967/1969 entendia-se que se a revogação ocorresse após a
nal, ao não conbecer da ação, deixou assentado, na parte dispositiva propositura da ação era possivel que o Tribunal procedesse iI aferição
do acórdão, que a norma impugnada estaria revogada por emenda da constitucionalidade da lei questionada, desde que a norma tIvesse
constitucional posterior. Subsistiria, porém, a indagação quanto ao produzido algum efeito no passado. Caso contrário proceder-se-ia iI
exame da norma impugnada em face da norma constitucional super- extinção do processo, por falta de objeto. 12l Elidia-se, assim, a pos-
veniente. 1I5 Não parece haver razão que impeça o prosseguimento do sibilidade de que o legislador viesse a prejudicar o exame da questão
feito em relação ao parâmetro alterado ou revogado tambem em sede pelo Tribunal através da simples revogação. Esse entendimento do
de ação direta de inconstitucionalidade; todavia, nesse caso o Tribu- Tribunal impôs-se contra a resistência de algumas vozes. Sustentou-
nal deverá se limitar a reconbecer, ou não, a recepção da norma. ll6 se a opinião de que se a lei não está mais em vigor, isto é, se ela não
mais existe, não haveria razão para que se aferisse sua validade no
Projetos de lei - O controle abstrato de normas pressupõe, tam- âmbito do controle de constitucionalidade. 122 O entendimento do-
bém na ordemjuridica brasileira, a existência formal da lei ou do ato minante subsistiu, aInda, sob o regime da Constituição de 1988. 123
normativo após a conclusão definitiva do processo legislativo. Não Tal orientação sofreria mudança a partir do julgamento da Questão
se faz mister, porem, que a lei esteja em vigor. Tal como explicitado de Ordem na ADln n. 709, quando o STF passou a admItIr que a
em acórdão publicado em 1991, a ação direta de inconstituciona- revogação superveniente da norma impugnada, independentemente
lidade somente pode ter "como objeto juridicamente idôneo leis e da eXIstência, ou não, de efeitos residuais e concretos, prejudica o
atos normativos, federais e estaduais, já promulgados, editados e andamento da ação direta. l24
publicados". II7 Essa orientação exclui a possibilidade de se propor
ação direta de inconstitucionalidade de caráter preventivo. l18 Entre- 119. Cf. ADln n. 3.367, ReI. Min. Cêzar Peluso, DJU25.4.2005.
tanto, no julgamento daADln n. 3.367, em 13.4.2005, o Tribunal, por 120. Repr. 1.034, ReI. Min. Soares Munoz, RTJ 111/546; Repr. n. 1.120, ReI.
unanimidade, afastou o vicio processual suscitado pela Advocacia- Min. Décio Miranda, RTJ l07/928~930~ Repr. n. 1.110, ReI. Min. Nén da Silveira,
DJU25.3.83.
115. Cf. manifestação do Min. Gilmar Mendes na ADIn fl. 2.670, da relato- 121. Repr. n. 876, ReI. Min. Bilac PinlO, DJU 15.6.73; Repr. n. 974, ReI. Min.
ria do Min. Mauricio Corrêa, Redatora para o acórdão a Min. Ellen Gracie. DJU Cunha PeIXOto, RTJ 84139; Repr. n. 1.161, Rei. Min. Nên da Silvem!, RTJ 1151576-
25.1 0.2004. 589.
116. Confanne já mencionado no início deste capitulo. o Tribunal aínda deverá 122. Voto vencido do Min. Moreira Alves na Repr. n. 971. ReI. Min. Djaci
manifestar-se, nos autos da ADIn o. 509. sobre conhecimento de ação direta de In- Falcão, RTJ87!758 (765).
constitucionalidade quando há alteração que modifica o parâmetro de controle depois 123. ADIn n. 434, ReI. Min. Octàvio Gallottl, DJU 17.6.91, p. 8.171; ADIn n.
de o processo já ter sido instaurado. 502, ReI. Min. Paulo Brossard, DJU27.5.91, p. 6.906.
117. ADln o. 466-2, ReI. Min. Celso de Mello, DJU lO.5.91, pp. 5.929-5.930. 124. ADIn n. 709, ReI. Min. Paulo Brossard, DJU 20.5.92, p. 12.248; ADln n.
118.ADln n. 466-2, ReI. Min. Celso de Mello, DJU lO.5.91, p. 5.929; v., tam- 262, Rel. Min. Celso de MelIo. DJU 8.3.93; ADIn n. 712. ReI. Min. Celso de MelIo,
bém, Mendes, Controle de Constitucionalidade, p. 264. DJU25.2.93, p. 2.287.
374 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 375

A posição do Tribunal que obsta ao prosseguimento da ação ção dos tratados até a decisão final (art. 102, I, "p", da CFlpo Em
após a revogação da lei pode levar, seguramente, a resultados insa- 1997 o Tribunal teve a oportunidade de apreciar, na ADIn n. 1.480, a
tisfatórios. Se o Tribunal não examina a constitucionalidade das leis constitucIOnalidade dos atos de incorporação, no Direito brasileiro,
já revogadas, torna-se possível que o legislador consiga isentar do da Convenção n. 158 da OIT. A orientação perfilhada pela Corte é a
controle abstrato lei de constitucionalidade duvidosa, sem estar obri- de que e na Constituição da República que se deve buscar a solução
gado a eliminar suas conseqüências inconstitucionais. É que mesmo normativa para a questão da Incorporação dos atos internacionais
uma lei revogada configura parâmetro e base legal para os atos de ao sistema de Direito Positivo interno brasileiro, pois o prImado
execução praticados durante o periodo de sua vigência.I25.126 da ConstItuição, em nosso sistema jurídico, é oponivel ao princípIO
pacta slInt servanda, inexistindo, portanto, em nosso Direito Positi-
A problemática dos tratados - Ao contrário do sistema adotado vo o problema da concorrência entre tratados InternacionaiS e a Lei
na Alemanba,127 o Congresso Nacional aprova o tratado mediante Fundamental da República, "cuja suprema autoridade normativa
a edição de decreto legislativo (CF, art. 49, I) - ato que dispensa deverá sempre prevalecer sobre os atos de Direito InternacIOnal
sanção ou promulgação por parte do Presidente da República. Tal Públicon131
como observado, o decreto legislativo contém a aprovação do Con- Nos termos do art. 5·, § 3., da CF, na versão da EC n. 45/2004
gresso Nacional ao tratado e, simultaneamente, a autorização para
(Reforma do Judiciário), "os tratados e convenções internacionaiS
que o Presidente da República o ratifique em nome da República
sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Federativa do Brasil. 128 Esse ato não contém, todavia, uma ordem de
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos
execução do tratado no território nacional, uma vez que somente ao
dos respectIvos membros, serão equivalentes âs emendas constitu-
Presidente da República cabe decidir sobre sua ratificação. Com a
cionais". Independentemente de qualquer outra discussão sobre o
promulgação do tratado por meio do decreto do Chefe do Executivo,
tema, afigura-se inequívoco que o tratado de direitos humanos que
recebe aquele ato a ordem de execução, passando, assim, a ser apli-
vier a ser submetido a esse procedimento especial de aprovação
cado de forma geral e obrigatória. 129 Esse modelo permite a propo-
configurará, para todos os efeitos, parâmetro de controle das normas
situra da ação direta para aferição da constitucionalidade do decreto
infraconstltucionais.
legislativo, possibilitando que a ratificação e, portanto, a recepção do
tratado na ordem Juridica interna ainda sejam obstadas. E dispensá-
Lei estadual e cOllcorrêllcia de parâmetros de cOlltrole - Con-
vel, pois, qualquer esforço com vistas a conferir caráter preventivo
vém alertar que a competência concorrente de tribunais constitucIO-
ao controle abstrato de normas na hípótese. É possivel, igualmente,
nais estaduais e federal envolve algumas cautelas.
utilizar-se da medida cautelar para retardar ou suspender a ratifica-
Evidentemente, a sentença de rejeição de inconstitucionalidade
125. Hans-Justus Rinck, "Initiative fiir die Verfassungsmãsslge Prüfung von' proferida por uma Corte não afeta o outro processo, pendente perante
Rechtsnormen", EuGRZ 1974, p. 91 (96). outro tribunal, que há de decidir com fundamento em parâmetro de
126. Com a regulamentação da argüição de descumprimento de preceito fun- controle autônomo. 132
damental pela Leí n. 9.882, o tema do controle ab~trato de constitucionalidade dos
atas normativos revogados ganha outro contorno. E que. conforme estabelece o art.
1.0., paragrafo Unica. I, da lei citada., a argUição de descumprimento de preceIto funda- 130. Não há clareza na JurisprudêncIa do Tribunal sobre o SIgnificado da
mental- ação destinada. basicamente. ao controle abstrata de normas - é cabível em medida liminar no controle abstrato de normas. Às vezes se cogita de suspensão
qualquer controversta constitucional relevante sobre ato normatívo federal. estadual de VIgência ou de suspensão de eficáCIa, ou, amda, de uma suspensão de execução
oumurucipaL (Repr. n. 933, ReI. Min. Thompson Flores, RTJ 761342; Repr. n. 1.391, ReI. Min.
127. Cf. Gilrnar Ferreira Mendes. JurISdição ConstitucIonal, 4B ed., Saraiva, MorerraAlves).
p.120. 131. Cf.ADlnlMC n. 1.480, ReI. Min. Celso de Mello,DJU26.6.2001.
128. José Francisco Rezek, Direito dos Tratados, Forense, 1984, p. 332. 132. BVeljGE 34152 (58); Pestalozza, Verfassungprozessrecht, pp. 376-377:
129. Rezek, Direito dos Tratados, p. 383. Stern, Kommentar. art. 100. n. 49.
376 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 377

Todavia, declarada a inconstitucionalidade de Direito local em Assim, peio menos no que se refere as ações diretas de incons-
face da Constítuição estadual, com efeito erga omnes, há de se reco- titucionalidade juigadas pelo STF poder-se-ia cogitar de um efeito
nhecer a insubsistência de qualquer processo eventualmente ajuizado transcendente se a questão estadual versasse tambem sobre a norma
perante o STF que tenha por objeto a mesma disposição. de reprodução obngatória pelo Estado-membro.
Assim também a declaração de inconstitucionalidade da lei esta- O Tribunal tem entendido que, em caso de propositura de ação
dual em face da Constituição Federal torna insubsistente (gegenstan- direta de inconstitucionalidade perante o STF e perante o Tribunal
dslos) ou sem objeto eventual argüição, pertinente à mesma norma, de Justiça contra uma dada iei estadual, com base em Direito Cons-
requerida perante Corte estadual.l33 titucional federal de reprodução obrigatória pelos Estados-membros,
Ao contrário, a suspensão cautelar da eficácía de uma norma no há de se suspender o processo no âmbito da Justíça estadual até a
juizo abstrato, perante o Tribunal de Justiça ou perante o STF, não deliberação definitiva da Suprema Corte. 135
torna inadmissível a instauração de processo de controle abstrato em O STF acabou, portanto, por consagrar uma causa especial de
relação ao mesmo objeto, nem afeta o desenvolvimento válido de suspensão do processo no âmbito da Justiça local nos casos de tramI-
processo já instaurado perante outra Corte. 134 tação paralela de ações diretas perante o Tribunal de Justiça e perante
Problemática hã de se revelar a questão referente aos processos a própria Corte relatívamente ao mesmo objeto e com fundamento
instaurados simultaneamente perante Tribunal de Justiça estadual em norma constitucional de reprodução obrigatória por parte do
e perante o STF no caso de ações diretas contra determinado ato Estado-membro.
normativo estadual em face de parâmetros estadual e federal de
conteúdo idêntico. Se a Corte federal afmnar a constitucionalidade
3. Parâmetro de controle
do ato impugnado em face do parâmetro federal, poderá o Tribunal
estadual considerá-io inconstítucional em face de parâmetro estadual Nos termos do art. 102, r, "a", da CF, parâmetro do processo
de conteúdo idêntico? de controle abstrato de normas é, exclusivamente, a ConstituIção.
Essa questão dificilmente pode ser solvida com recurso às con- As constantes mudanças ou revogações de textos constitucionais
seqüências da coisa julgada e da eficácia erga omnes, uma vez que levaram o STF a reconhecer a inadmissibilidade do controle abstrato
esses institutos, aplicáveis ao juizo abstrato de normas, garantem de normas se se cuida de aferição de legitimidade de ato em face de
a eficácia do julgado enquanto tal, isto e, com base no parâmetro norma constitucional já revogada. 136 Enquanto instrumento espeCIal
constítucional utilizado. Pretensão no sentido de se outorgar eficácia de defesa da ordem Jurídica, não seria o controle abstrato de normas
transcendente a decisão equivaleria a atribuir força de interpretação o instrumento adequado para a aferição de iegitímidade de lei em
autêntica a decisão do Tribunal federal. face de norma constitucional já revogada. Nesse caso, o controle
No plano dogmático pode-se reconhecer essa conseqüência se se somente seria possível na vIa incidental. Da mesma forma, infmna-
admitir que as decisões do STF são dotadas de efeito vinculante (Bin- se a possibilidade de exame da constítuclonalidade de uma lei se o
dungswirkung), que se não limita a parte dispositiva, mas se estende parámetro de controle foi modificado após a propositura da ação. 137
aos fundamentos determinantes da decisão.
135. Cf. ADInlMC n. 1.423, ReI. Min. Moreira Alves. DJU 22.11.96. Sobre
133. Cf. Pestalozza. Verfassungsprozessrecht, p. 376; Stern. Kommentar, art. a possibilidade de suspensão do processo, cf.. amda. ReclJAgRg n. 425. ReL Min.
100, n. 149. Néri da Silveira, DJU22.1O.93; ADIn n. 3.482, ReI. Min. Celso de MeUo,]. 8.3.2006,
134. Parece evidente que. deferida a suspensão cautelar perante urna Corte. DJU 17.3.2006.
ínadrrllssível e a concessão de limmar por outra, uma vez que manifesta a ausência 136. Repr. n. 1.016, ReI. Min. Morell1lAlves, RTJ951993.
dos pressupostos processuais. 137. Repr. n. 765, ReI. Min. Soares Munoz, RTJ981962.
378 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 379

A única distinção relevante entre as duas situações, do prisma principio tradicional do Direito Constitucional brasileiro!46 - contém
dogmático, diz respeito à forma de extinção do processo: a) em caso algo de novo, na medida em que faz referência expressa aos direitos
de ação proposta com objetivo de aferir a constitucionalidade de uma garantidos por tratados internacionais. Seria lícito indagar se esses
lei em face de parâmetros constitucionais já revogados, reconhece o direitos previstos em tratados estariam dotados de força e hIerarquia
Tribunal a inadmissibilidade da ação; 138 b) em caso de revogação de constitucionais.
parâmetro de controle, julga-se prejudicada a ação. 139 Segundo a opinião dommante, os tratados internacionais têm,
em virtude dos atas de execução e transformação, apenas a força de
Constituição - O conceito de Constituição abrange todas as leI federaL 147
normas contidas no texto constitucional, independentemente de seu Na discussão encetada a propósito da prisão civil do depositário
caráter material ou formal. Tal conceito abrange, igualmente, os infiel, submeti ao Tribunal proposta de revisão desse entendimento,
chamados princzpíos constitucionaIs materiais, que não estão men- sinalizando que as normas, tendo em vista seu peculiar significado de
cionados expressamente na Constituição. 14o ordem constItucional, seriam dotadas de força supralegal. 148
Assim, o Tribunal já se utilizou do principio da proporciona- De resto, o próprio texto constitucional, ao definir a competên-
lidade no contexto das limitações a direitos fundamentais, como a cia do STJ, não estabeleceu distinção fundamental entre o tratado e
liberdade de exercício profissional,141 o direito de propriedade l42 e o a lei federal, atribuindo àquela Corte o poder generico de conhecer,
direito de proteção judiciária. 143 mediante recurso especial, das causas decididas pelos Tribunais fe-
Não estava claro, até muito recentemente, se o Tribunal enten- derais ou estaduais "quando a decisão recorrida contrariar tratado ou
dia configurar o princípio da proporcionalidade postulado imanente lei federal" (CF, art. 105, III, "a"). É certo, por outro lado, que uma
aos direitos fundamentais, se os extraia do próprio princípio da solução que viesse a responder afirmativamente à questão colocada
reserva legal ou do princípio do Estado de Direito. 1M Na deCIsão de teria certamente de admitir que a Constituição, concebida como um
11.5.94 enfatizou, porém, o Min. Moreira Alves que o pnncipio da texto rigído, tornar-se-ia flexível, pelo menos para o efeito da adição
proporcionalidade ou da razoabilidade tinha assento constitucional de novos direitos, até porque, como se sabe, o processo constitu-
na cláusula do devido processo legal, entendida enquanto garantia cional de aprovação dos tratados, entre nós, reforça a idéia de que e
material. 145 de Direito ordinário que se cuida (aprovação de decreto legIslatIvo,
mediante deCIsão da maJoria dos membros presentes de cada uma
O art. 5", § 2", da CF contém cláusula segundo a qual os direitos
das Casas, presente a maIoria absoluta de seus membros - maioria
e garantias constantes da Constituição não excluem outros que deri-
simples; ratificação mediante decreto do Chefe do Poder Executivo)
vem do regime e dos princípios por ela adotados ou dos tratados dos (CF, arts. 49, l, clc o art. 47, e 84, VIll).
quais o Brasil participe. Essa disposição - que reproduz, em parte,
E de se indagar, todavia, se a cláusula constante do art. 5", § 22 ,
da CF, enquanto norma de remissão, permitina que fossem incor-
138. Repr. n. 1.016, ReI. Min. MoreiraAlves,RTJ95/993.
139. Repr. n. 765. ReI. Min. Soares Muiíoz. RTJ98/962.
porados ao texto constitucional princípios de direito suprapositivo.
140. Manoei Gonçalves Ferreira Filho. Curso de Direito ConstItucional, pp. Acentue-se que a dimensão do catálogo dos direitos fundamentais
11·12: Paulo Bonavides, Direito ConstituCional, pp. 57-58.
141. Repr. n. 930, ReI. Min. Rodngues deAlckmin,DJU2.9.77, p. 5.969; Repr. 146. Já na primerra Constituição Republicana, de 1891 (art. 78), assentouwse.
n. 1.054. ReI. Min. MoreuaAlves, RTJllO/937-978. inspirado na Emenda n. IX da ConstItuição americana, cláusula semelhante.
142. RE n. 18.331,j. 21.9.51. ReL Min. OrnzImbo Nonato,RF 1501164-169. 147. RE n. 7I.l54. ReI. Min. Oswaldo TrigueIrO, RTJ 58170 e 55.; RE n. 80.004,
143. Repr. n. 1.077, ReL Min. Moreira Alves. RTJ 112134-66. ReI. Min. Cunha PelXoto, RTJ83/809 e 55. Cf., aproposIto, l. F. Rezek. Direito dos
144. Cf.. a propõsito. Mendes, Controle de Constitucionalidade, p. 54. Tratados. Forense, 1984, p. 464.
145. ADIo n. 958. ReI. Min. Marco Aurélio, DJU 16.5.94, p. 11.675. 148. RE n. 466.343-SP. ReI. Min. Cézar Peluso. O tema pende de definição.
380 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 381

previsto na Constituição brasileira torna dificil imaginar um direito tucionalidade. lsl NaADIn n. 2.903,julgada em 1.12.2005, reafirmou
fundamental que pudesse ser adicionalmente colocado dentre esses o Tribunal esse entendimento, ao enfatizar que "a norma em questão,
direitos basilares com fundamento nessa norma de remissão. ao dispor de forma contrária à prevista na Lei Complementar federal
A EC n. 45/2004 acrescentou novos parágrafos ao art. 5° (§§ 3. n. 80/94, que versa sobre as normas gerais para a organização, nos
e 4"), que rezam, respectivamente, que "os tratados e convenções Estados-membros, da respectiva Defensoria Pública, inclusive as
internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em definidoras de critérios de nomeação para os cargos de Defensor
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos Público-Geral e de Corregedor-Geral, ofende o art. 134, § I º, da CF,
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas que estabelece que lei complementar organiZará a Defensoria Pública
constitucionais" e "o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas
Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão". gerais para sua organização nos Estados-membros".ls2 .
Não obstante, os novos parágrafos do ar!. 5· já vêm suscitando As duas hipóteses supõem a existência de um bloqueio de com-
discussões. O § 3', sobre os tratados e convenções sobre direitos petência levado a efeito pelo Direito federal, de modo que o Direito
humanos, desperta especulações sobre a questão do Direito Inter- estadual em contradição com esses limites deve ser considerado
temporal, ao tentar definir o status dos tratados anteriores à própria inconstitucional. Is3
EC n. 45/2004. 149 Todavia, nesses casos o Direito federal não configura exatarnen-
No que se refere ao § 4", que dispõe sobre o Tribunal Penal te um parâmetro de controle abstrato, mas simples índice para aferi-
InternaCional, residem algumas dúvidas no campo da aplicação do ção da ilegitimidade ou de não-observâncía da ordem de competência
Direito Internacional vis-à-vlS nosso ordenamento juridico interno, estabelecida na Constituição. IS4
como, p. ex., sobre a constitucionalidade do Estatuto de Roma no to- 151. Repr. n. 1.141, ReI. Min. DéCIO Miranda, RTJ 105/490; Repr. n. 1.442.
cante à possibilidade de entrega de nacionais e â aplicação de prisão ReI. Min. Carlos Maderra, DJU 1.7.88.
perpétua. 152. ReI. Min. Celso de Mello. DJU 12.12.2006. Informativn STF 411.
153. Repr. n. 1.141. ReI. Min. Décio Miranda, RTJ 105/490.
Direito feáeral - Ao contrário do Direito alemão, não se pode 154. O constituinte de 1988 entende~ que a referênCia à leI federal-leI esta-
no sistema brasileiro invocar o direito federal como parâmetro do duai contestada emface da lei federai - obngava a transferência dessa matéria para o
âmbito da competência recursal do STJ. uma vez que o problema envolvena simples
controle abstrato de normas. A legislação ordinária federal pode questão legai, não mais submetida, no novo modelo, à junsdição do STF. RaclOcinio
assumir relevância, porém, na aferição de constitucionalidade de leis semelhante foi desenvolvido em relação â. representação para fins de mtervenção no
estaduais, editadas com fundamento na competência concorrente caso de recusa à aplicação do Direito federal (m. 36. IV).
(CF, art. 24, §§ 3º e 4"). É que, existindo lei federal sobre as matérias Um exame mais detido do tema certamente tena demonstrado Que essas con-
trovérsias são. em verdade, típiCas controversías constitucionaIS, porque envolvem
e1encadas no ar!. 24 (incisos I-XVI), não pode o Estado-membro, discussão sobre a validade de lei local em face da lei federai, contempiando. na sua
fazer uso da competência legislativa plena que lhe é assegurada em essêncía. discussão sobre competênCiaS legislativas dos entes politicos.
caso de "vácuo legislativo". A norma federal ordinária limíta e con- Já o clássico João Barbalho asSInalava que o recurso extraordinário, nesse caso,
diciona essa faculdade. ISO destinava~se "a comgir as exorbitânCiaS e usurpações da autoridade estaduallegislatl~
va ou executIva", defendendo a federal, "que de outra sorte ficaria anulada, perdendo
Também nos casos de colisão entre normas do Direito estadual a supremacia que lhe cabe quanto aos assuntos de sua competênCIa" (ConstttU/ção
com as leis complementares admitiu o STF a existência de inconsti- Federal Brazilelra. Comentànos, 1902, p. 246).
O tema mereceu, postenorrnente, a reflexão abalizada de Victor Nunes. tendo
149. Sobre o tema, cf. George Rodrigo Bandeira Galindo, A Reforma do Ju- por base o texto constitucional de 1946:
diciárlo como Retrocesso para a Proteção InternacIonal dos Direitos Humanos: "Confere, porem, a nossa Constituição (art. 101, III. 'c') recurso extraordináno
um Estudo sobre o Novo § 3a do Ar/. ja da ConstituIção Federal, texto ainda não para o STF nas causas em que 'se contestar a validade de lei ou ato dos governos
publicado, gentilmente cedido pelo autor. locais em face da Constttuição. ou de leifederal, e a decisão dó tribunal local julgar
ISO. Cf.• a propósito. Repr. n. 1.442. ReI. Mio. Carlos Madeira, DJU 1.7.88. válida a lei ou o ato impugnado'. As Constituições antenores continham o mesmo
382 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DlRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 383

dispositivo, com pequena diferença de redação. Em face dessa nonna, não se deve 4. Procedimento
porem. concluir 'que o Supremo deva sempre prover o recurso para Julgar invá1idas~
as leís estaduais. As regras destinadas à disciplina da ação direta de inconstitucio-
"Esse caso de recurso é autorizado com base exclusivamente na presunção
de constitucionalidade das leis federais. A aplicação da lei estadual pelo tribunal
nalidade estavam previstas no texto constitucional e no Regimento
local contra uma lei federal contêm, implícita ou explicitamente, uma declaração de Interno do STF.
ínconstitucl0nalidade da nonna federaL Num conflito entre a lei federal e a estadual, Com a entrada em vigor da Lei n. 9.868, de 10.11.99, este
a primeIra só pode ser preterida por motivo de mconstitucionalidade. Mas. como em
favor da lei federal milita a presunção de constitucionalidade. remete-se a questão ao quadro sofreu significativa alteração. É de se ressaltar, porém, que a
STF. que eo órgão judiciãrio mais autorizado para interpretar a ConstitUIção" (Victor nova disciplina legislativa não é, de modo algum, exaustiva, restan-
Nunes Leal. "Leis federaIS e leis estaduais", in Problemas de Direito Público, Rio de do, ainda. diversos pontos importantes que devem ser esclarecidos
JaneIro, 1960, p. 109 [128]). pelas construções da jurisprudência do STF. .
Nenhuma dúvida havia. então, de que se cuidava. na hipótese. de uma típica
questão constitucIOnal, que, por ISSO, se submetia à apreciação do STF.
Digna de transcrição afigura-se, Igualmente, a seguinte passagem do primoroso Requisitos da petição inicial e admissibilidade da ação - A Lei
texto de Victor Nunes: n. 9.868/99 trata, em capítulo destacado, da admissibilidade do pro-
"Por conseguínte. o recurso extraordinário com fundamento na letra 'c' (apli- cedimento da ação direta de inconstitucionalidade (cap. m.
cação de lei estadual contestada em face da Constitmção ou de lei federal) resolve-se,
em última análise, no caso da letra 'b' do art. 101. ID: 'quando se questionar sobre a A petição inicial não está vinculada a qualquer prazo. Porém,
vIgênCIa ou validade de lei federal em face da Constituíção. e a decisão do tribunal seus requisitos são disciplinados pelo art. 32 da Lei n. 9.868.
negar aplicação à lei impugnada'.
O primeiro requisito indispensável à petição inicial é a indicação
"Nesta última hipótese, ainda ri a presunção de constituCIonalidade da lei
federal que fundamenta o recurso. Se a decisão da Justiça local aplica a leí federal do dispositivo ou dispositivos sobre os quais versa a ação, bem como
questtonada. o recurso não cabe, porque aquela presunção foi acolhida pelo julgado. dos fundamentos juridicos do pedido, em relação a cada um deles
Se a leí federal deixou de ser aplicada. então. cabe o recurso, porque o tribunal local (art. 32, Il.
contranou a presunção de constitucIonalidade da leí federal. devendo pronuncJaNe
a respeito o órgão maIS qualificado. que ri o STF. A exigência em questão já constava da jurisprudência do STF.
"A diferença entre os dois casos está em que na hipótese da letra 'h' a lei federal Nesse sentido, já decidiu o Tribunal ser "necessário, em ação direta
deixa de ser aplicada por declaração expressa de sua inconstitucIOnalidade, ao passo de inconstitucionalidade, que venham expostos os fundamentos JU-
que na hipótese da letra 'c'. na quai tambem se deixa de lado a leí federal para apli-
car a estadual. a ínconstItucIonalidade da norma federal pode estar contida de modo ridicos do pedido com relação às nonnas unpugnadas, não sendo de
apenas Implícito no julgado recorrido. Mas, num ou noutro caso, o que ocorre ê a admitir-se alegação genérica sem qualquer demonstração razoável,
não-aplicação da leI federal por mottvo de mconstitucionalidade, motivo que estarã
expresso numa hipótese. mas que na outra estará expresso ou implícito" ("Leis fede-
raís e leis estaduais", ín Problemas de Direito Público, p. 109 [129-30]). Interposto, pois ainda não se trata de deCisão de úmca ou últlma instânCIa, a admitir
Criticando a Inserção da alínea "b" do art. 105, III, da atuaI CF entre os casos recurso extraordinàno; e o do STF, para apreciar o recurso extraordinâno contra o
de recurso espeCial. observou o Min. Moreira Alves: ' decidido, a propósito, no recurso especial, certo como ê que se trata de matena cons-
"(... ) as questões da validade de lei ou de ato normativo de governo local em titucional. sobre a qual cabe â Corte Suprema a palavra finaI)" ("O Supremo Tribunal
face de lei federal não são questões de natureza legal, mas sim constitucIOnal, pois em face da nova ConstituIção", ArqUlvos do MiniStérzo da JustIça 173/35 [40]).
se resolvem pelo ex.ame de existência, ou não. de Invasão de competência da União Também no AI n. 132.755 explicitou o Min. Moreira Alves essa orientação,
ou, se for o caso, do Estado. Hipóteses que devenam, portanto, dar margem não a enfatizando que não há, entre leis federal e estadual. nesse terreno, quando se julga
recurso especial, mas a recurso extraordinário, peta sistemâttca adotada para a divisão a validade desta contestada em face daquela, ViCIO de ilegalidade, mas. sim. VíCIO de
de competência entre o STF e o STJ. Esse equivoco (... ) provavelmente se ongmou mconstituclOnalidade. O confronto entre essas leis se faz para verificar se houve. ou
da circunstância de que a questão de lei ou de ato normativo municipal ou estadual não, invasão de competêncIa por parte da lei local, e não para verificar se a lei esta-
contestado em face de-lei federal aparentemente (Ou, melhor,literalmente) se CIrcuns- dual VIolou a lei federal (decisão de 28.9.89). A questão está, tOdaVIa, superada. A EC
creveria ao campo da legislação não-constitucIonal. Mas, graças a ele, criaram-se. em n. 45/2004 conferiu nova redação aos art. 102. III. e 105, III, da CF, Que transferiu
verdade, para a mesma questão constItucional, quatro graus de junsdição suceSSIVOS: ao STF a competênCIa pam julgar válida lei local contestada em face de lei federal
dois ordinários (o do jmz singular e o do tribunal local ou regional) e dOIS extraor- (art. 102, UI. "d"), restando ao STJ a atribuição de julgar válido ato de governo local
dinários (o do STJ, para julgar o recurso especial que necessariamente terá de ser contestado em face de lei federal.
384 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 385

nem ataque a quase duas dezenas de medidas provisórias em Sua advogado, de instrumento de procuração. Em decisão recente estabe-
totalidade, com alegações por amostragem".I55 leceu o STF que a procuração na ação direta de inconstitucionalidade
É interessante notar que, a despeíto da necessidade legal da deve conter poderes específicos quanto à impugnação da norma a ser
indicação dos fundamentos juridicos na petição inicial, não fica o levada a efeIto na ação. 1S9
STF adstrito a eles na apreciação, que faz, da constitucionalidade Por fim, atenta à necessidade de conferir certa celeridade aos
dos dispositivos questionados. É dominante no âmbito do Tribunal processos da ação direta de inconstitucionalidade, houve por bem a
que na ação direta de inconstitucionalidade prevalece o princípio da Lei n. 9.868 deferir ao relator a possibilidade de indeferir liminar-
callsa pelendi aberta. 1S6 mente a petição inepta, a não-fundamentada e aquela manifestamente
Sobre o tema vale dizer, ainda, que já se determinou o des- improcedente (art. ~). Cabe, de toda maneira, agravo da decisão de
membramento de ação proposta contra 21 leis de diferentes Estados, indeferimento (art.~, parágrafo único), no prazo de cinco dias.
entendendo o Tribunal não ser suficiente a identidade de fundamento Há, ainda, que se ressaltar que, regularmente proposta a ação
juridico para justificar a cumulação, uma vez que o Tribunal não está direta de inconstitucionalidade, não será admissível a desistência
vinculado ao fundamento juridico. l57 (art.52 ).
O segundo requisito indispensável à petição inicial presente
na lei é a formulação, pelo legitimado, do pedido, com suas espe- Modificação da petição illicial- Embora o Regimento Interno
cificações (art. 3º, II). A determinação em questão é fundamental, não contemplasse, expressamente, a possibilidade de alteração da pe-
haja vista que com ela se consagra de forma expressa, entre nós, o tição inicial, reconheceu a jurisprudência do STF a possibilidade de
principio do pedido. aditamentos ou emendas à inicial. I60 Com a Lei n. 9.868/99, embora
ela também não preveja expressamente tal possibilidade, o terna não
Tal princípio é essencial para a jurisdição constitucional, uma
deverá sofrer grandes alterações na jurisprudência da Corte.
vez que dele depende, em determinada medida, a qualificação do
órgão decisório como um tribunal. Alarma judicial constitui ca- E interessante notar que a emenda da inicial já provocou, in-
racteristica peculiar que permite distinguir a atuação da jurisdição clusive, a revisão de medida cautelar, como se verificou na ADIn n.
constitucional de outras atividades, de cunho meramente político. 722, na qual o Tribunal deferiu requerimento do Procurador-Geral
da República para estender a suspensão da eficácia à cláusula de
Ede se ressaltar que o pedido poderá abranger, além da emissão revogação, de modo a permitir a aplicação da lei revogada até a de-
de um juizo definitivo sobre a constitucionalidade da norma ques-
cisão de mérito da ação direta. 161 Da mesma forma, já se procedeu à
tionada, a emissão de um juízo provisório sobre o tema, mediante a
emenda da inicial para redUZIr o âmbito do pedido de argüição de in-
concessão de medida cautelar. 158
constitucionalidade, após concessão de liminar, restringindo, assim,
O parágrafo único do art. 32 da Lei n. 9.868/99 determina que o objeto da ação e, por conseguinte, a amplitude da medida cautelar
ao autor da ação direta de inconstitucionalidade cabe apresentar, deferida. 162
juntamente com a petição inicial em duas vias, cópias da lei ou ato
Todavia, o STF não tem admitido o pedido de aditamento após
normativo que contenham os dispositivos sobre os quais versa a
a requisição das informações ao órgão de que emanou o ato ou a
ação proposta. O mesmo dispositivo em questão estabelece, ainda,
a necessidade de a petição ser acompanhada, quando subscrita por
I59.ADIn n. 2.187, ReI. Min. O.lIottl, Informativo STF 190.
160. Repr. n. l.I82, ReI. Min. Soares Munoz, RTJ I12197 e 55.; ADInlAgRg
155. ADIn n. 259, ReI. Min. Moreira Alves, DJU 19.2.92, p. 2.030. n.474, ReI. Min. Moreira Alves, DJU 8.11.91, p. 15.952; ADIo n. 722, ReI. Min.
156. ADIn n. 2.n8-AM., ReI. Min. MauriCIO Corrêa, DJU20.2.2004. Moreira Alves. DJU 19.6.92, p. 9.520. '
I57.ADIn n. 28, ReI. Min. Oallotti, DJU 25. 10.9 I. 161. ReI. Min. Moreira Alves,DJU9.6.92, p. 9.520.
158. Cf.. mfra. n. 5, sobre as medidas cautelares. 162. ADIo n. 475, ReI. Min. MoreuaAlves. DJU 8.11.91, p. 15.952.
386 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 387

medida impugnada (ADIn n. 437, ReI. Min. Celso de MelIo, DJU que a impugnação deve abranger apenas a cadeia de normas revoga-
9.2.93, p. 2.031). doras e revogadas até o advento da ConstituIção de 1988. 163
Entretanto, na Questão de Ordem na ADIn n. 2.982 o Tribunal Não se pode deixar de considerar, ademais, que nos casos em
permitiu o aditamento ao pedido inicial formulado pelo Procurador- que o requerente, por excesso de cuidado, Impugnou toda a cadeia
Geral da República, por ocasião de seu parecer, em casos em que tal normativa, mesmo as normas anteriores ao texto constitucional de
aditamento tenha o objetivo de incluir normas que façam parte do 1988, poderá o Tribunal conhecer da ação e declarar a inconstitu-
mesmo complexo normativo em que estejam inseridas as normas cionalidade das normas posteriores a 5.10.1988 e na mesma decisão
objeto do pedido inicial. Nessa hípótese dispensam-se novas infor- declarar a revogação das normas anteriores a essa data.
mações dos órgãos e autoridades dos quais emanaram as normas Tese semelbante defendeu o Procurador-Geral da Repüblica na
impugnadas e novos pronunciamentos da Advocacia-Geral da União ADIn n. 3.111-RJ: "(.... ) pode o Supremo Tribunal Federal passar a
e da Procuradoria-Geral da República (ADI-QO n. 2.982, ReI. Min. admItir que, no caso de lei que revoga expressamente direito pré-
Gi1mar Mendes, DJU 12.11.2004). constitucional, continuaria o requerente obrigado a impugnar toda
a cadeia normativa inconstitucional, inclusive as normas anteriores
Cadeia normativa da nonna impugnada - O STF tem exígido á Constituição. Assim, o entendimento seria no sentido de que o
que o requerente, no pedido inícial, delimite de forma precisa o ob- efeito repristlllatório atingiria as normas anteriores à Constituição
jeto da ação, impugnando todo o complexo normativo supostamente de 1988. Nesse caso. a decisão do Tribunal deve declarar a incons-
inconstitucional, inclusive as normas revogadas que teriam sua titucÍonalidade das normas posteriores à Constituição e, ao mesmo
vigência e eficácia revigoradas em vírtude da declaração de Íncons- tempo, declarar a revogação das normas anteriores",
titucionalidade das normas revogadoras (ADIn n. 2.574-AP, ReI. A via para a adoção dessa solução parece ter sido aberta no
Min. Carlos Velloso, DJU 29.8.2003; ADIn n. 2.224-DF, ReI. Min. julgamento daADInlMC n. 3.833-DF (ReI. orig. Min. Carlos Britto,
Nelson Jobim, DJU 13.6.2003; ADInlMC n. 2.621, ReI. Min. Celso ReI. para o acórdão Min. Marco Aurélio, j. 19.12.2006, Informati-
de Mello, DJU 8.8.2002). vo STF 453), no qual o Tribunal, ao não conhecer da ação, deixou
Assim, na delimitação inicial do sistema normativo, o requeren- assentado, na parte dispositiva do acórdão, que a norma impugnada
te deve verificar a existência de normas revogadas que poderão ser - o Decreto Legislativo n. 444/2002 - estaria revogada por emenda
eventualmente repristinadas pela declaração de inconstitucionalidade constitucional (EC n. 41/2003) a ela posterior.
das normas revogadoras. Isso implica, inclusive, a impugnação de Ademais, o art. 27 da Lei n. 9.868/99 e o § 2" do art. 11 dessa
toda a cadeia normativa de normas revogadoras e normas revogadas, lei, na hIpótese de medida cautelar, bem assim o art. 11 da Lei n.
sucessivamente.
163. Tal entendimento acabou prevalecendo nesse Tribunal por ocasião do
Por outro lado, é preciso levar em conta que o processo do con- Julgamento de uma séne de ações diretas de mconstttucionalidade propostas peio
trole abstrato de normas destina-se, fundamentalmente, á aferição da Procurador-Gerai da República contra leiS e atos normativos estaduais que tratavam
constitucionalidade de normas pós-constitucionais (ADIn n. 2, ReI. do tema de íotenas e jogos de bingo. O Tribunal rejeItou questão prelimmar de não-
conhecimento das ações. levantada com fundamento no fato da não-impugnação,
Min. Paulo Brossard, DJU2.2.1992). Dessa forma, eventual colisão pelo Procurador-Geral da República, de diplomas anteriores â Consbtulção de 1988.
entre o Direito pré-constitucional e a nova Constituição deve ser Entendeu-se que taiS diplomas, por constituírem normas pre-constitucionais, não
simplesmente resolvida segundo principios de Direito Intertemporal seriam repristinados pela declaração de inconstitucIOnalidade dos diplomas revoga-
dores. e, portanto. não devenam ter sido unpugnados pelo autor da ação, apesar de
(lex posterior derogat priori). tratarem do mesmo tema das demais leis e atos normativos unpugnados: loterias e
Assim, conjugando ambos os entendimentos professados pela jogos de bingo (ADIn n. 2.995-PE,ADIn n. 3.I48-TO,ADln n. 3. 189-ALe ADIn n.
3.293-MS; todas relatadas peio Min. Celso de Mello, Julgadas em 13.12.2006; ADIn
jurisprudência do Tribunal, a conclusão não pode ser outra senão a de n. 3.063-MA, ReI. Min. Cézar Peluso,). 13.12.2006).
388 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 389

9.882/99 permitem, de forma expressa, que o Tribunal mitigne o cionalidade (art. 9", § I"), especialmente diante da relevância do caso
efeito repristinatório da decisão. ou, amda. em face da notória contribuição que a manifestação possa
Vê-se, assim, que a exigência de impugnação de toda a cadeia trazer para o Julgamento da causa. NaADIn n. 2.690-RN166 o Relator
normativa supostamente inconstitucional, com o objetivo de se evi- admitiu a participação do Distrito Federal, dos Estados de Goiás,
tar o indesejado efeito respristinatório da legíslação anterior eivada Pernambuco e Rio de Janeiro e da Associação Brasileira de Loterias
dos mesmos vícios, pode até mesmo ser relativizada, tendo em vista Estaduais (ABLE); e. ainda. determinou-se uma nova audiência da
que o Tribunal sempre poderá deliberar a respeito da modulação do Procuradoria-Geral da República.
próprio efeito repristinatório da declaração de inconstitucionalidade. Quanto à atuação do amicus curiae, após ter entendido que ela
haveria de se limitar à manifestação escrita,167 houve por bem o Tri-
Intervenção de terceiros e "amicus curiae" - A Lei n. 9.868 bunal admitir a sustentação oral por parte desses peculiares partícipes
preserva a orientação contida no Regimento Interno do STF que veda do processo constitucional. 168 Em 30.3.2004 foi editada emenda regí-
a intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitu- mental 16' que assegurou aos amíCl cur/ae. no processo de ação direta
cionalidade (art. 7"). de inconstitucionalidade. o direito de sustentar oralmente pelo tempo
Constitui, todavia, inovação significativa no âmbito da ação máximo de 15 minutos e, amda. quando houver litisconsortes não
direta de inconstitucionalidade a autorização para que o relator, representados pelo mesmo advogado, pelo prazo contado em dobro.
considerando a relevância da matéria e a representatividade dos pos- Essa nova orientação parece acertada. pois permite, em casos
tulantes, admita a manifestação de outros órgãos ou entidades (ar!. específicos, que a decisão na ação direta de mconstitucionalidade
7", § 2"). Positiva-se, assim, a figura do amicus curiae no processo seja subsidiada por novos argumentos e diferentes alternativas de
de controle de constitucionalidade, ensejando a possibilidade de o interpretação da Constituição.
Tribunal decidir as causas com pleno conbecimento de todas as suas
implicações ou repercussões. l64 Illformações das autoridades das quais emallou o ato nonnati-
Trata-se de providência que confere caráter pluralista ao proces- vo e manifestações do Advogado-Geral da União e do Procurador-
so objetivo de controle abstrato de constitucionalidade. Geral da República - No caso da ação direta de inconstituCIOnali-
Em vista do veto oposto ao § I" do art. 7", surge a indagação dade, sendo positivo o juizo de admissibilidade feito pelo relator, há
sobre qual o momento para o exercício do direito de manifestação duas possibilidades de desenvolvimento do iter procedimental.
por parte do amlCUS curiae.
de já micIado o julgamento da medida liminar. Na espéCIe, considerou-se que a ma-
No que concerne ao prazo para o exercicio do direito de mani- nifestação do amicus curiae ê destmada a instruir a ação direta de inconstitucionali-
festação previsto no art. 7", parece que tal postulação há de se fazer. dade, não sendo passivei, portanto, admiti-la quando jã em andamento o Juigamento
dentro do lapso temporal fixado para apresentação das informações do feito. Restaram vencidos 05 Mins. lImar GaIvão (Relator) e Carlos Velloso. que
por parte das autoridades responsáveis pela edição do ato. referendavam a deCisão monocrátlca.
166. DJU20.1O.2006.
Epossivel. porém, cogítar de hipóteses de admissão de amicus 167. ADlnlMC/QO n. 2.223-DF, reI. Min. Man:o Aurélio. DJU 18.10.2001.
curiae fora do prazo das informações l65 na ação direta de inconstitu- 168. ADInlQO n. 2.675, ReI. Min. Carlos VeIloso. e ADInlQO n. 2.777. ReI.
Min. Cézar Peluso. O Tribunal, por malOna, em 26. I 1.2003. resolvendo questão de
164. O STF tem entendido que a atuação do amlCUS cunae fica limitada ao ordem. admitIU a sustentação ora! dos amici cunae na ação direm de mconstitucIo-
direito de manifestação escrita expresso no art. 7rJ.) § ZU. da LeI n. 9.868/99 (ADlnlAg. nalidade.
n. 2.130. ReI. Mm. Celso de Mello,j. 3.10.2001. DJU 14.12.2001). 169. A Emenda Regimental n. IS do STF. de 30.3.2004 (DJU 1.4.2004), acres-
165. Essa possibilidade. entretanto. não é majoritária na Jurisprudência do STF. centou o § 3.Q ao art. 131 do Regimento Interno, para admitir a mtervenção de tercei-
A esse respeito. cf. ADIo n. 2.238-DF. ReI. Min. Ilmar Gaivão - hipôtese em que.a ros no processo de controle concentrado de constitucionalidade. facultando-se-Ihes a
ASSOCiação Paulista dos Magtstrados formulou pedido de admissão no feito depOIS produção de sustentação oral.
390 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 391

Na primeira não há pedido de medida cautelar. Neste caso, o Neste passo o legislador afastou-se de uma leitura radical do
relator pedirá informações aos órgãos ou às autoridades dos quais modelo hermenêutico clássico, a qual sugere que o controle de nor-
emanou a lei ou ato normativo impugnado através da petição ÍnÍcial mas há de se fazer com o simples contraste entre a norma questiona-
conforme determina o art. 6". Os órgãos e as autoridades deverã~ da e a norma constitucional superior. Essa abordagem simplificadora
responder ao pedido de informações no prazo de 30 dias, contados tem levado o STF a afirmar, às vezes, que fatos controvertidos ou que
do recebimento do pedido (art. 6", parágrafo único). demandam alguma dilação probatória não podem ser apreciados em
ação direta de inconstitucionalidade. i74
Na segunda hipótese há pedido de concessão de medida cau-
Essa abordagem conferia, equivocadamente, maior importância
telar. E de se notar que, neste caso, a audiência dos órgãos ou auto-
a uma pré-compreensão do instrumento processual do que à própria
ridades dos quais emanou a lei ou o ato impugnado também se faz
decisão do constituinte de lhe atribuir a competência para dirimir a
necessária para a deliberação do Tribunal sobre liminar (art. la).
controvérsia constitucional.
Os responsáveis pela edição do ato deverão se manifestar no prazo de
cinco dias. Após o julgamento da cautelar deve, então, o relator pedir Hoje, entretanto, não há como negar a "comunicação entre
as informações sobre o mérito da causa (art. 6").i70 norma e fato''.. que constitui condição da própria interpretação cons-
titucíonal. 175 E que o processo de conhecimento, aqui, envolve a
Em qualquer hipótese, estabelece o art. 82 da Lei n. 9.868/99 investigação integrada de elementos fáticos e Jurídicos.i 76
que, decorrido o prazo das informações, serão ouvidos, sucessiva-
É bem verdade que, se analisarmos criteriosamente a juris-
mente, o Advogado-Geral da União l7l e o Procurador-Geral da Re-
prudência constitucional, verificaremos que também entre nós se
pública, que deverão manifestar-se, cada qual, no prazo de 15 dias. 172
procede ao exame ou à revisão dos fatos legislativos pressupostos
ou adotados pelo legislador. E o que se verifica na Jurisprudência do
Apuração de questões fáticas no controle de constitucionalida-
STF sobre a aplicação do princípio da igualdade e do principio da
de i73 -
Importante inovação consta do art. 92 , § 12 , da Lei n. 9.868/99,
proporcionalidade. i77
que autoriza o relator, após as manifestações do Advogado-Geral da
União e do Procurador-Geral da República, em caso de necessidade Nos Estados Unidos o chamado Brandeis-Brief- memorial uti-
de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato, ou de notória lizado pelo advogado Louis D. Brandeis no case "Müller vs. Oregon"
insuficiência das informações existentes nos autos, requisitar infor-
mações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para emitir 174. Cf.. a propÓSitO. despacho do Min. Celso de Mello prolatado na ADIn n.
1.372, DJU 17.11.95.
parecer sobre a questão ou fixar data para, em audiência pública, ou- 175. Cf. Ernst Gottfried Marenho!z, "VerfassungslOterpretation aus prakttscher
vir depoimentos e pessoas com experiência e autoridade na matéria. Sicht", lO Veifassungsrecht zWlSchen W'lSsenschaft und Richterkunst. homenagem aos
70 anos de Konrad Hesse. Heidelberg, 1990, p. 53 (54).
170. Tem-se aqui uma duplicação do pedido de informações. Alguns mimstros 176. Marenholz, idem, p. 54.
do STF têm dispensado as informações sobre o mérito, entendendo sufiCientes 05 177. Cf., v.g., Repr. n. 1.077. ReI. Min. Moreira Alves, RTJ 112f34 (58·59);
elementos contidos na mformação sobre a cautelar. despacho do Min. Celso de MeUo prolatado naADIn n. 1.372, DJU 17.11.95; ADln
171. Cf. ADInlQO n. 97-RO, ReI. Min. Moreira Alves, J. 22.11.89, DJU D. 3.112-DF. na qual se examinou o Estatuto do Desarmamento. O Tribunal conSl-
30.3.90; ADInlMC-AgRg n. 1.254-RJ, ReI. Min. Celso de MeUo, J. 14.8.96, DJU de.rou raz~âvel o cnteno .u~lizado pelo legIslador ao aumentar de 21 para 25 anos
19.9.97; ADInlQO n. 72-ES. ReI. Min. Sepúlveda Pertence,). 22.3.90, DJU25.5.90. a Idade mlOmm para aqUISIção de arma de fogo. com base em estatística de que a
172. Cf. GiImar Ferreira Mendes. "Considerações sobre o papel do Procurador- víolência com armas de fogo atinge príncípaImente os homens de até 24 anos (ReI.
Geral da República no controle abstrato de normas sob a Constituição de 196711969: Min. Ricardo Lewandowski. DJU26.10.2007); RE 463.629, no qual se discutiu a in-
proposta de releitura". m Direitos Fundamentais e Controle de ConslltuclOnalidade terpretação do art. 453 _da CLT, em face de reclamação trabalhista em que se pleIteava
3' ed., Saraiva, 2004, pp. 221-239. ' aVIso prévio, I3n saláno. fénas mdemzadas e reflexos (Rela Min. Ellen Gmcie, DJU
23.3.2007); ADIn n. 3.510, que analisa a utilização de células-tronco embrionãnas de
173. Cf. GiImar Ferreira Mendes. "Controle de constitucIOnalidade: hermenêu~
embriões humanos para fins de pesquisa - LeI da Biosscgurança (ReI. Min. Carlos
tica constItucIOnal e reVisão de fatos e prognoses iegíslativos pelo órgão judicial", in
Direitos FundamentaIS e Controle de Constítucionalldade, 311. ed., pp. 461-483. Brítto, Infonnatlvo STF 497).
392 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DECLARATORlA DE CONSTITUCIONALIDADE 393

(1908), contendo duas páginas dedicadas as questões jurídicas e ou- em consonância com a jurísprudência do STF, que a cautelar será
tras 110 voltadas para os efeitos da longa duração do trabalho sobre concedida, regularmente, com eficácia ex nunc, salvo se o Tribunal
a situação da mulher - permitiu que se desmistificasse a concepção entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa. Da mesma forma,
dominante segundo a qual a questão constitucional configurava sim- prevê-se que a medida cautelar torna aplicável a legislação anterior
ples "questão jurídica" de aferição de legitimidade da lei em face da acaso existente, salvo expressa manifestação do Tribunal em sentido
ConstituiçãO. 178 contrário (art. 11, § 2·).
Restou demonstrado, então, que até mesmo no chamado controle Também nesta matéria deve-se observar que a já citada lei con-
abstrato de normas não se procede a um simples contraste entre a tém disposição (art. 12) que autoriza ao relator, em face da relevância
disposição do Direito ordinário e os principios constitucionais. Ao re- da matéria e de seu especial significado para a ordem social e a se-
vés, também aqui fica evidente que se aprecia a relação entre a lei e o gurança juridica, submeter o processo diretamente ao Tribunal, que
problema que se lhe apresenta em face do parãmetro constitucional.179 terá a faculdade de julgar definitivamente a ação, após a prestação
Em outros termos, a aferição dos chamados fatos legislativos das informações, no prazo de 10 dias, e a manifestação do Advogado-
constitui parte essencial do controle de constitucionalidade, de modo Geral da União e do Procurador-Geral da República, sucessivamente,
que a verificação desses fatos relaciona-se intima e indissociavel- no prazo de 5 dias.
mente com o exercício do controle pelo Tribunal. Essa providência, além de viabilizar uma decisão definitiva da
Tem-se, assim, que os dispositivos legais acima citados geram controvérsia constitucional em curto espaço de tempo, permite que o
um novo instituto, que, se devidamente explorado pelo STF, servirá Tribunal delibere, de forma ignalmente definitiva, sobre a legitimi-
para modernizar e racionalizar o processo constitucional brasileiro. dade de medidas provisórias antes mesmo que se convertam em lei.

5. Medida cautelar 6. Decisão

No que se refere ao pedido de cautelar na ação direta de incons- Sobre a decisão na ação direta ,de inconstitucionalidade, confe-
titucionalidade optou a Lei n. 9.868/99 por estabelecer que, salvo rir: "As decisões do STF no controle abstrato de normas e os efeitos
em caso de excepcional urgência, o Tribunal somente concederá a da declaração de inconstituCionalidade (n. V, infra).
liminar, por decisão da maioria absoluta de seus membros, após a
audiência dos órgãos ou das autoridades das quais emanou a lei ou o III -AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE
ato normativo impugnado (art. 10). Em caso de excepcional urgência
poderá ser dispensada a audiência dos órgãos dos quais emanou o ato 1. Criação da ação
(art. 10, § 3.). Alei explicita (art. 11), ainda, que a decisão concessiva.
de cautelar terá eficácia erga omnes, devendo sua parte dispositiva No bojo da reforma tributária de emergência introduziu-se no
ser publicada em seção especial do Diário Oficial no prazo de 10 dias sistema brasileiro de controle de constitucionalidade a ação declara-
a contar do julgamento. tória de constitucionalidade. Acolhendo sugestão contida em estudo
Ainda no que tange a medida cautelar no âmbito da ação dire- que elaboramos juntamente com o Professor Ives Gandra, o Deputa-
I ta de inconstitucionalidade, o art. 11, § 1·, da Lei n. 9.868 dispõe, do Roberto Campos apresentou proposta de emenda constitucional"o
com o seguinte teor:
"Ar!. 102. (... ):
178. Cf.. a propósito, Kermit L. Hall. 'I7le Supreme Court. p. 85.
179. Horst Ehmk.e, "Prinzipien der Verfassungsinterpretauon", ln Ralf Dreier "I - (...):
e Schwegmann. Probleme der Veifassungsmterpretion. Baden-Baden. 1976. p. 164
I (172). 180. PEC n. 130/92.
:I
.. \ ..
,>
394 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DECLARATORlA DE CONSTITUCIONALIDADE 395

"a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato nOrmati_


vo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de
lei ou ato normativo federal;
"(... ).
"§ 1Q. A argüição de descumprimento de preceito fundamental,
decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal
Federal, na forma da leL
"§ 2". As decisões defInitivas de mérito, proferidas pelo Supre-
mo Tribunal Federal, nas ações declaratórias de constitucionalidade
de lei ou ato normativo federal, produzirão efIcácia contra todos e
efeito Vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciá-
rio e ao Poder Executivo.
"Art. 103. ( ... ).
"(...).
"§ 40. A ação declaratória da constitucionalidade podeni ser
proposta pelo Presidente da República, pela Mesa do Senado Federal,
pela Mesa da Cãmara dos Deputados ou pelo Procurador-Geral da
República."
Parte dessa proposição, com algumas alterações, foi incorporada
à emenda que deu nova redação a alguns dispositivos da ordem cons-
titucional tributária e autorizou a instituição do imposto sobre movi-
mentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de nature-
za fInanceira, mediante iniciativa do Deputado Luiz Carlos Hauly.181
A EC n. 3, de 17.3.93, disciplinou o instituto, fIrmando a com-
petência do STF para coobecer e julgar a ação declaratória de consti-
tucionalidade de lei ou ato normativo federal; processo cuja decisão
definitiva de mérito possuirá efIcácia contra todos e efeito vinculante
relativamente aos demais órgãos do Executivo e do Judiciário. Confe-
riu-se, inicialmente, legitimidade ativa ao Presidente da República, à
Mesa do Senado Federal, à Mesa da Cãmara dos Deputados e ao Pro-
curador-Geral da República. A EC n. 45/2005 ampliou a legitimação
da ação declaratória de constitucionalidade, que passa a ser a mesma
da ação direta de inconstitucionalidade (art. 103 da CF de 1988).
A tabela a seguir descreve as ações declaratórias de constitucio-
nalidade ajuizadas no STF.

181. Cf.• a propósito. os dois substitutivos apresentados pejo Deputado Benito


Gama.. Relator da Comissão Especial destinada examinar a PEC D. 48-a/91.
Ato Data '"
~
Anal Relator/Mln. Requerente nonnativo de edição Assunto Liminar' Mérito
ADC
3 Nélson Jobim Procumdor-
impugnado
Art. IS, caput
do ato
24,12,96
--
Contribuição Sem liminar Julgamento: 2.12.99
Gemi da e §§ l'e3', social Decisão: lulgou~se
República da Lei fedeml do salário- procedente a ação
n. 9424/96 educação e declarou-se a
constitucionalidade do
art. IS, § I', lc lI,e § ~
o'
3', da Lei 9.424/96
Decisão: DJU
m
14.12,99 ~

I
4 Sydney Sanches Presidente Art. III da 10.,9.97 Aplica-se li tutela Julgamento: 11.2.98 Aguarda
da República; Lei fedeml n, antecipada prevista Resultado: Deferida em julgamento
Mesa do 9,494/97 nos arts. 273 e 461 parte, pam suspender,
Senado (conversão da do CPC o disposto com eficácia ex mmc e
Federal; MP 1.570.-5, nos arts. 512 e seu com efeito vincuhmte,
Mesa da de 21.897) parágrafo único e a prolaçilo de qualquer

I
Câmara das 711 da Lei 4.348, de decisão, sobre pedido de
Deputados 26.6,64, no art til tutela antecipada, contro
e seu § 411 da a Fazenda Pública que
Lei 5.021, de tenha por pressuposto a
9.6,66, e nos arts constitucionalidade ou
J12,31l e 411 da inconstitucionalidade do
Lei 8347, de art, I' da Lei 9,494/97
30.6,92. Acórdão: DJU 21.5 .99
Tutela antecipada
contra a Fazenda
Pública
- --

Ato Data
Anal
Relator/Min. Requerente normativo de edição Assunto Liminar Mérito
ADC
impugnado do ato
1998
5 Nélson Jobim Procurndor- Arts. 1.11, 31l e 51l 10,12,97 Grntuidade Julgamento: 17 II 99 Julgamento: I L62007
Gemida da Lei federal dos serviços Resultado: Liminar Resultado: Julgou ~
>,
República 9,534/97, notariais e de deferida. com eficácia ex procedente a ação. O

~
que dá nova registro relativos mme e força vinculante, Acórdão:
redação ao a nascimentos c para, até o julgamento DiU 5.10.20.0.7

~
art 30 da Lei óbitos, bem como definitivo da presente
n 6 0.15173; o fornecimento ação, sustar a prolação
acrescenta das respectivas de qualquer decisão em O,
inciso ao certidões aos processos que digam
art. til da Lei reconhecidamente respeito à legitimidade ~
n, 9,265/96; e pobres constitucional, eficácia e ti
m
altera os arts, aplicação dos dispositivos

I
30e45 da Lei abaixo mencionados e
n 8.935/94 suspender os efeitos de
todas as decisões não
transitadns emjulgado e de
todos os atas normativos
que negamm legitimidade
constitucional, eficácia
e aplicação, parcial ou
integrol, ao disposto no art
30 da Lei 6 01Sn3, no art,
112, I, da Lei 9265/96 e no
art 45 da Lei K93?/94, com
a redação dada pelos arts.
I
m

til, 312 e 5Q da Lei 9.534/97,


Decisilo: DJU26.II.99 '"
~
w
Ato Data :ll
Anol
ReJatorlMin. Requerente normativo de edição Assunto Liminar Mérito
ADC
impugnado douto
6 Moreira Alves Confederação Alt. 578 da 1943 Contribuição Sem liminar Decisilo monocrática:
dos Servidores CL1 sindical prevista Negado seguimento,
Públicos do no art. 578 da CL1 por ilegitimidade ativa
BrasillCSPB e adcausam
outros Despacho:
DJUI8.9.98 .Fi
o'
1999 m
7 Maurício Correa Cllmnrn
Municipal de
Art, 31 da Lei
Orgdnicndo
1993 Mandato dos
membros da
Sem liminar Decisão monocrática:
Negado seguimento
til
Chorozinho Municfpio de Mesa Diretom por ilegitimidade ativa
Chorozinhol será de dois anos, adcausam
CE podendo sef Despacho:
reeleitos para o DJU20A.99
mesmo, para um
único perrodo
. subseqUente
8 Celso de Mello Presidente Arts. 1.11 e 2.11 28.1.99 Contribuição Julgamento: 13,10.99 Julgamento: 19,.5,2007
da República da Lei federal dos servidores Decisão: Deferida, em Decisão monocrática:
9.783/99 alivos, inativos e parte, a cautelar para, Julgou extinto o
pensionistas para a
Seguridade Social.
em caráler vinculante,
com eficácia erga
processo por perda
superveniente do "'
Possibilidade omites e com efeito objeto
de desconto ex mine, reconhecer a Decisão:
das aHquotas legitimidade constitucional DJU24.5.2004
nas folhas de da contribuição de
pagamento Seguridade Social devida
peJos servidores públicos J

.....
Ato Dnta
Anal
ReJatorlMin. Requerente normativo de edição Assunto Liminar Mérito
ADC impugnado do ato
civis em atividade
(aHquota de 11%
-art.l.llda Lei n, .Fi
~,
9 783/99), suspendendo, O
provisoriamente, até
final julgamento desta
ação declaratório de
§
constitucionalidade - e
apenas quanto aos ~
~
processos, individuais
ou coletivos, em cujo
âmbito se haja instaurndo
controvérsia constitucional til
n
em tomo da exigibilidade,
aos servidores ati vos, da
contribuição em referencia
(alfquotn de 11% a que
alude o art ).11 da Lei
9.783/99) - a prolnção
de decisões liminures,
cautelares ou de mérito
e a concessão de tutela
antecipada, sustando,
ainda, os efeitos futuros
inerentes a decisões
anteriormente proferidas
----_.- -----
Decisão: DJU 22.1 0.99 ~ w
~
~
Anal
Ato Data g
RelntorlMin. Requerente normativo deediçílo Assunto Liminar Mérito
ADC
Impugnado do ato
2001
9 Néri da Silveira Presidente da Arts. 14 a 18 1.6.2001 Cria e instala Julgamento: 28.62001 Julgamento:
República da MP2.152- a Câmam de Resultado: O Tnbunal, 13.12.2001
Relatora para o 212001 Gestão da Crise de preliminarmente, admitiu Decisão: Aç1to

~'"
acórdão a Min Energia Elétrical a nçílo declaratória de procedente
EUen Gracie GCE e estabelece constitucionalidade. pam declarar a
dirctrizes pum O Tribunal, por maioria constitucionalidade
programas de
redução de energia
de votos, deferiu a
cautelar, paro suspender,
dos arts. 14, 15, 16, 17
e 18 da MP 2152-2,
g
eletrica com eficácia ex tUnc e hojesobon. 2.198-5

I
com efeito vinculante, Decisão:
até final julgamento DJU6.22002
da ação, a prolaçllo de
qualquer decisão que
tenha por pressuposto a
constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade dos
arts.14aI8daMP2152- ~
2, de 1.6.2001
Decisão: DJU9.8.2001 ~
2004 '"
10 Carlos Britto Dinete Lessa Art.2.038, 10.12002 Proibição de Sem liminar Decisão monocrática,
§ 111:, I, da Lei constituição de de 25.5.2004:
10.40612002 enfiteuses - CC Negado seguimento
brasileiro, ADCT, por ilegitimidade ativa
art.49 adcausam
Despacho:
- DJU31.5.2004

~" =~-

Ato Data
ADOI Requerente normativo Assunto Liminar'
RelatorlMin. de edição Mérito
ADC
Impugnado do ato
2005
II Cézar Peluso Governador do Art. I"-B da 24.82001 prazo para Julgamento: 28..3.2007 Aguarda julgamento .f;
Distrito Federal Lei 9.494, oposição de Resultndo: >,
de 10.9.97, embargos à Liminar deferida O
acrescentado execuçllo por Decisllo: DJU 10,4.2007 O
pela
MP2180-35,
parte da Fazenda
Pública
P
2006
de 24.8.2001
~
12 Carlos Britto Associação dos Resolução 7,
Magistrados de 18. 10.2005,
18.10.2005 Nepotismo
no Poder
Julgamento: 16.2,2006
(DJU 172 2006)
Aguardajulgamento
~
O
Brasileirosl do Conselho Judiciário Resultado: O Tribunal,
AMB Nacional de por maioria, concedeu '"
Justiça a liminar, com efeito

I
vinculante e erga oml/€S,
paro suspender, até
exame de mérito desta
ação, o julgamento dos
processos que têm por
objeto questionar a

~
constitucionalidade da
Resoluçllo 7, do CNJ;
impedir quejulzes,e
tribunais venham a proferir
decisões que impeçam ou
afastem a aplicabilidade
~-- --------------
da mesma resoluçllo e <!3
r--
Anol
ADC
RelatorlMJn. Requerente
Ato
normativo
Data
deedlçAo Assunto Liminar Mérito
s
Impugnado do ato
suspender, com eficácia
ex lune, os efeitos das
decisões já proferidas,
no sentido de afLlstar
ou impedir a sobreditn

~
aplicação. A decis!1o nilo
se estende ao alt. 311 da
Resolução 712005, tendo
em vista a alteração de ?ii
redaçilo introduzida pela
Resolução 9, de 6. 12.2005
13 Joaquim Barbosa Associaç:ilo Art, Illda 26.122005 IPI- Sem liminar Decisão monocrática,
Brasileira das Resolução 71, Créditcrprêmio de 13.2.2007:
Empresas de 26.12.2005, Negado seguimento
de Tradingl do Senado por ilegitimidade ativa
ABECE Federal adcQusam
. ',"I
14 Gilmar Mendes Associação Arl.16 da 18.1194 Serviços notariais Aguarda julgamento
dos Notários e Lei 8.935, de e de registro
Registradores 18.12.94, com (Lei dos Cartórios)
do BrasiV a rednção da
ANOREGIBR Lei federal
10.506, de
10.7.2002

Ato Data
Anol de edlçilo Assunto Liminar
1
RelntorlMin. Requerente normativo Mérito
ADC Impugnado do ato
2007
15 Cannen Lúcia Associação Promoção! Sem liminar Decisão monocrática
Federal de ascensão de 20.3.2007 .11>,
Polfcia funcional dentro Nilo conhecido O

~
da carreira policial
federal
16 Cezar Peluso Governador do Art. 71, § lll, 21.06.1993 Art. 71, § I', da Julgamento: 10.5.2007 Aguarda julgamento
Distrito Federal da Lei federal Lei n. 8.666/93 Liminar indeferida
n, 8-666, (contratos da (Em 10.5.2007: U( ... ). O·
de 21.6 93,
naredação
Administração
Pública)
2 Inviável a liminar. A
complexidade da causa de ~
dada pela pedir em que se lastreia a ?ii
Lei federal n. pretensão impede, nesse
9.032, de 1995 jufzo prévio e sumário,
que se configure a ve-
rossimilhança necessária
à concessão da medida
urgente. Com efeito, seria
por demais precipitado
deferir, nesse momen-
to, liminar destinada a
suspender o julgamento
de todos os processos que
envolvam a aplicação
do art. 71, § lll, da Lei n
8 666/93 antes que se dote
o processo de outros
8
Anal
RelatorlMJn. Requerente
Ato
normativo
Data
de edição Assunto Liminar Mérito
~
ADC
impugnado do ato
elementos instrutórios
--
aptos a melhor moldar o
convencimento judicial
A gravidade de tal medi~
da, obstrutora do anda-
mento de grande massa de
processos pendentes nos
§
til
vários órgãos judiciais,
desaconselha seu deferi-
g
mento, monnente em face
de seu caráter precário,
3, Do exposto, indefiro
a liminar, Solicitem-se
informações ao TST (...)".
17 Ricardo Governador do Arts, 24, li, 31 20.12.1996 Arts, 24, li, 31 e Aguarda julgamento Aguarda julgamento
Lewandowski Estado do Mato e 32, copUl, da 32, copul, da Lei
Grosso do Sul Lei'n, 9,394, n. 9394/96 (Lei
de 20.12,96 de Oiretrizes e
Bases)
18 Menezes Direito Presidente da Art 3', § 27J 1.1998. Art 31!, § 21!; I, da Julgamento: 13,82008 Ag1;larda julgamento
Republica 2". I, da Lei Lei n 9718/98 Liminar deferida
n, 9.718, de (inclusão do valor Decisão: "Prosseguindo
27..11.98 do ICMS na base no julgamento, o Tribunal,
de cálculo da por unanimidade, rejeitou
COFlNS e do PIS/ as preliminares suscitadas.
PASEP) No mérito, por maioria, i

Ato Data
Anol
RelatorlMln. Requerente normativo de edição Assunto Liminar Mérito
ADC
impugnado do ato
vencido o Sr, Min, Marco
Aurélio, deferiu a medida
cautelar, nos tennos do ~
>,
voto do Relator Votou o O
Presidente, Min" Gilmar
Mendes. Plenário,
13,8,2008",
§
19 Marco Aurélio Presidente da
República
Arts, 1',33
e41daLei
federal n
07,08.2006 Lei Maria da
Penha (Lei n"
II 34012006)
Julgamento: 21,122007
Liminar indeferida:
"(,. ,) eventual aplicação
Aguarda julgamento
~

I 1.340 de distorcida da lei evocada ~
7,8.2006 pode ser corrigida ante o g
sistema recursal vigente e

I
ainda mediante a impug-
nação autônoma que é a
revelada por impetrações.
Que ntuem os órgãos
investidos do oficio judi- n

I
cante segundo a organi-
zação judiciária em vigor,
viabilizando-se o acesso
em geral à jurisdição com
os recursos pertinentes,
Indefiro a medida acaute~
ladora pleiteada, devendo
haver submissão deste ato
ao Plenúrio, pam
~
---- ---------
Anal
Ato Data g
RelatorlMin. Requerente normativo deedtção Assunto Liminar Mérito
ADC impugnado do ato
referendo, quando
da abertum do Ano
Judiciário de 2008, Por
entender desnecessárias
infoooações, deteooino
seja colhido o parecer ~
Q,
do Procumdor~Geml da
República. Publiquem".
m
t:I
2008
'"

i
20 GiImar Mendes Presidente da Art. 9í1• III, 09.12.l993 Art, 911, III, da Aguarda julgamento Aguarda julgamento
República da Lei fedeml Lei 8.745/93
n. 8745, de (contratação
9,12,93, coma por tempo
redação dada dcteooinado
pelo m. 111 da pam atender

I
Lei n. 9.849, a necessidade
de 26.10.99 temporária de
excepcional
interesse público)
21 Menezes Direito Governador do Resolução 2204.2004 Art 2í1 da Julgumento: 17.122008 Aguarda julgamento
Estado de Santa n. 159, de Resolução Liminar indeferida: "(.~,)
Catarina 22.4.2004, n. 15912004 Decido. C,), Neste exame
do Conselho doCon~lho preliminar, contudo, não
Nacional de Nacional de vislumbro a presença dos
Trilnsito- Trlinsito- pressupostos necessários
CONTRAN CONTRAN pam o deferimento da me~
dida cautelar pleiteada;

Ato Data
Anol
RelatorlMin. Requerente normativo de edição Assunto Liminar Mérito
ADC
impugnado do ato
mais especificamente,
não me parece suficien~
temente demonstmdo o ~
>,
interesse objetivo de agir Q
<nu dicção du ADC/QO
n I, Rei Min. Moreim
Alves,i. 27,10,93) ou a ~
~
legitimação pam agir ;11
COI/creIo (.,,) próprios da
açiío declaratória de cons~ Q.
titucionalidade, isto é, a
existt!ncia de controvérsia
~
judicial relevante que po~
g
nha em risco a presunçiío
de constitucionalidade
da noooa (.. ), Ante o
exposto, indefiro a liminar
pleiteada ad relereI/dum
do Plenário. Nilo havendo
tempo hábil para delibem~
ção do Plenário antes do
recesso, encaminhemvse
os autos à Procuradoria~
Geral da República.,.
Publique~se". i

~
408 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE 409

A despeito de sua repercussão na ordem jurídica, a ação dec1a-


ratória de constitucionalidade não parece representar um novum no
modelo brasileiro de controle de constitucionalidade. Em verdade,
o dispositivo não inova. A ímprecísão da fórmula adotada na EC n.
16/65 - representação contra inconstitucionalidade de lei ou ato de
natureza normativa, federal ou estadual. encaminhada pelo Procu-
rador-Geral - não conseguia esconder o propósito inequívoco do
legislador constituinte, que era o de permitir, "desde logo, a defirnção
da controvérsia constitucional sobre leis novas",
Não se fazia mister, portanto, que o Procurador-Gerai estives-
se convencido da inconstitucionalidade da norma. Era suficiente o
requisito obJetivo relativo à existência de "controversia constitu-
ciona]". Dai ter o constituinte utilizado a fórmula equivoca - repre-
sentação contra a inconstitucionalidade da lei. encaminhada pelo
Procurador-Geral da República -, que explicitava, pelo menos, que
a dúvida ou a eventual convicção sobre a inconstitucionalidade não
precisavam ser por ele perfilhadas.
Se correta essa orientação, parece legítimo admiur que o Procu-
rador-Geral da República tanto poderia instaurar o controle abstrato
de normas, COm o objetivo precípuo de ver declarada a inconstitucio-
nalidade da lei ou ato normativo (ação direta de inconstitucionalida-
de ou representação de inconstitucionalidade), como poderia postu-
lar, expressa ou tacitamente, a declaração de constítucionalidade da
norma quesllonada (ação declaratória de constitucionalidade).
A cláusula sofreu pequena alteração na Constituição de 1967 e
de 1967/1969 (representação do Procurador-Geral da República.
por inconstitucionalidade de leI ou ato normativo federal ou esta-
dual- CF de 1967, art. 115, I, "1"; CF de 1967/1969, art. 119, I, "1").
O Regímento Interno do STF, na versão de 1970,182 consagrou
expressamente essa idéia (art. 174): "§ 10, Provocado por autorida-
de ou por terceiro para exercitar a iniciativa prevista neste artigo, o
Procurador-Geral, entendendo improcedente a fundamentação da
.s súplica, poderá encaminhá-la com parecer contrário" .
Essa disposição - que, como visto, consolidava tradição já velha

J no Tribunal- permItia ao titular da ação encamínhar a postulação que


lhe fora dirigida por terceiros, manifestando-se, porém, em sentido
contrário.

182. DJU 4.9.70, pp. 3.971 e 55.


410 AÇOES DE lNCONSTlTUCIONALlDADE AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTlTUCIONALlDADE 411

Assim, se o Procurador-Geral encaminhava súplica ou repre- Entendida a representação de inconstítucíonalidade como insti-
sentação de autoridade ou de terceiro com parecer contrário, estava tuto de conteúdo dúplice ou de caráter ambívalente, mediante o qual
simplesmente a postular uma declaração (positiva) de constitucio- o Procurador-Geral da República tanto poderia postular a declaração
nalidade. O pedido de representação, formulado por terceiro e enca- de inconstitucionalidade da norma como defender sua constitucío-
minhado ao STF, materializava apenas a existência da "controvérsia nalidade, afigurar-se-ia legítimo sustentar, com maior ênfase e ra-
constitucional" apta a fundamentar uma "necessidade pública de zoabilidade, a tese relativa à obrigatoriedade de o Procurador-Geral
controle", submeter a questão constitucional ao STF, quando isto lhe fosse
Essa cláusula foi alterada, passando o Regimento Interno a Con- solicitado.
ter as seguintes disposições: A controvérsia instaurada em torno da recusa do Procurador-Ge-
"Art. 169. O Procurador-Geral da República poderá submeter ao ral da República IB4 em encaminhar ao STF representação de inconsti-
Tribunal, mediante representação, o exame de lei ou ato normativo fe- tucionalidade contra o Decreto-lei n. 1.077/70, que instituiu a censura
deral ou estadual, para que seja declarada a sua inconstitucionalidade. prévia sobre livros e periódicos,IBS não serviu - infelizmente - para
"§ 12 • Proposta a representação, não se admitin; desistência, realçar esse outro lado da representação de inconstitucionalidade. IB6
ainda que afmal o Procurador-Geral se manifeste pela sua improce-
dêncía.~' 184. Ecerto que uma avaliação desse modelo brasileirO de controle abstrata de
normas não pode deixar de considerar as circunstâncias políticas dommantes durante
Parece legítimo supor que essa modificação não alterou, subs- todo o penado de desenvolvimento desse instituto. Os pressupostos mdispensáveis
tancialmente, a idéia bàsica que norteava a aplicação desse instituto. pensados por Kelsen para esse advogado da COnstituIÇão - que, segundo ele, devena
Se o titular da iniciativa manifestava-se, a final, pela constitucionali- ser dotado de todas as garantias ímaginâveís tanto em face do Governo ~uanto em face
dade da norma impugnada, é porque estava a defender a declaração do Parlamento ("Wesen und Entwlcklung der Staatgenchtsbarkeit", VVDS/RL 5130
(75), 1929) - não podenam ser assegurados sob o imperio de um regime de exceção.
de constitucionalidade. O Procurador-Geral da República exercIa, no controle abstrata de normas, o
Na pràtica, continuou o Procurador-Geral a oferecer representa- papel espeCial de advogado da Constituição. interessado exclUSivamente na defesa
ções de inconstitucionalidade, ressaltando a relevância da questão e da ordem constituCIonaL
manifestando-se, a final, muitas vezes, em favor da constitucionali- Com isso. logrou o constitumte brasileiro positivar proposta formulada por
Kelsen quanto ã instituição de um advogado da ConstitUlção (Veifassungsamvalt),
dade da norma. que deveria deflagrar o controie de normas ex offtcio sempre que uma lei se lhe afigu-
A falta de maior desenvolvimento doutrinario e a própria balbúr- rasse incompatível com a ConsbtUlção (idem. ibidem). Ao contnino da representação
dia conceituaI instaurada em torno da representação ínterventiva IB3 interventiva, que pressupõe um interesse da União na preservação de pnncipios fun-
damentaIs da ordem federativa, o controle abstrato de normas índepende de qualquer
- confusão, essa, que contaminou os estudos do novo instituto - não interesse específico, sendo-lhe estranha, mesmo, a idéia de mteresse jUIÍdico a ser
permitiram que essas idéias fossem formuladas com a necessária , protegido (Repr. n. 700. ReI. Min. Amaral Santos, p. 690 (714); AR n. 848, ReI. Min.
clareza. Rafael Mayer,RTJ95/49 (58); Repr. n. 1.405. ReI. Min. MoreIra Alves, DJU 1.7.88).
Por ISSO. dever-se-lam diferençar, de forma clara, as competênCIas do Procura~
Sem dúvida, a disciplina específica do tema no Regimento Inter- dor-Geral da República. No primeiro processo representava ele o interesse da União
no do STF serviria à segurança jurídica, na medida em que afastaria, em face de um determinado Estado que, efetiva ou· supostamente, desrespeitara
de urna vez por todas, as controvérsias que marcaram o tema no principio sensivel estabelecido na Constituição. No controle abstrato atuava como
representante do interesse geral com o propósIto de instaurar o controle judiem!
Direito Constitucional brasileiro. das normas estaduais ou federais (Oswaldo Aranha Banderra de Meno, TeOrIa das
Constituições Rígidas, 211 ed., São Paulo, José Bushatsky Editor. 1980, p. 189; Gilmar
183. Alfredo Buzaid, Da Ação Direta de Declaração de InconstituCionalidade Ferrerra Mendes, Controle de ConstituCionalidade: Aspectos Jurídicos e Polítlcos,
no Direito Brasileiro. São Paulo. 1958, p. 107; Josê Carlos Barbosa Moreira. "As São Paulo, SaraIVa, 1990, pp. 230 e 55.).
partes na ação decJaratóna de constitucionalidade", RevISta de Direílo da Procura
w
185. ReeI. n. 849, ReI. Min. Adalíeio NogueIra, RTJ 59/333.
doria-Geral do Estada da Guanabara 13/67 (75-76), 1964; Themistocies BrandãO 186. ·CE, sobre o assunto, registras da discussão travada no Conselho Federal da
Cavalcantí, Do Controle da Constítuclonalidade, Rio. Forense. 1966, pp. 115 e 55. OAB. em marçonl, inArqulVos do Mimsterio da Justtça 118/23 e 55.,1971.
412 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DECLARATORIA DE CONSTITUCIONALIDADE 413

De qualquer sorte, todos aqueles que sustentaram a obrigatorie- ação demonstrar, de maneira insofismàvel, que perseguia outros
dade de o Procurador-Geral da República submeter a representação desideratos. 190
ao STF, ainda quando estivesse convencido da constitucionalidade Embora o STF tenha considerado inadmissível representação na
da nonna, 187 somente podem ter partido da idéia de que, nesse caso, qual o Procurador-Geral da República afinnava, de plano, a consti-
o Chefe do Ministério Público deveria, necessária e inevitavelmente, tucionalidade da nonna,I91 é certo que essa orientação, calcada numa
fonnular uma ação declaratória - positiva - de constitucionalidade. interpretação literal do texto constitucional. não parece condizente,
Na Repr. n. 1.092, relativa à constitucionalidade do instituto da tal como demonstrado, com a natureza do instituto e com a sua praxis
reclamação, contido no Regimento Interno do antigo TFR viu-se o desde a sua adoção pela EC n. 16/65.
Procurador-Geral da República - que instaurou o processo de contro- Todavia, a Corte continuou a admitir as representações e, mes-
le abstrato de nonnas e se manifestou, no mérito, pela improcedência mo após o advento da Constituição de 1988, as ações diretas de
do pedido - na contingência de ter de opor embargos infringentes da inconstitucionalidade nas quais o Procurador-Geral limitava-se a
decisão proferida, que julgava procedente a ação proposta, declaran- ressaltar a relevância da questão constitUCIOnal, pronunciando-se,
do inconstitucional a nonna impugnada. 188 a fmal, pela sua improcedência. 192
Ora, ao admitir o cabimento dos embargos infringentes opostos Em substãncia, era indiferente que o Procurador-Geral sus-
pelo Procurador-Geral da República contra decisão que acolbeu re- tentasse, desde logo, a constitucionalidade da nonna ou que en-
presentação de inconstitucionalidade de sua própria iniciativa, o STF caminhasse o pedido para, posterionnente, manifestar-se pela sua
contribuiu para realçar esse caráter ambivalente da representação de
improcedência.
inconstitucionalidade. reconhecendo implicitamente, pelo menos,
que ao titular da ação era legítimo tanto postular a declaração de Essa análise demonstra claramente que, a despeito da utilização
inconstitucionalidade da lei - se disso estivesse convencido - como da expressão "representação de inconstitucionalidade", o controle
pedir a declaração de sua constitucionalidade - se, não obstante abstrato de nonnas foi concebido e desenvolvido como processo de
convencido de sua constitucionalidade, houvesse dúvidas ou contro- natureza dúplice ou ambivalente.
vérsias sobre sua legitimidade que reclamassem um pronunciamento Se o Procurador-Geral estivesse convencido da inconstituciona-
definitivo do STF. lidade, poderia provocar o STF para a declaração de inconstitucio-
Everdade que a Corte restringiu significativamente essa orien- nalidade. Se, ao revés, estivesse convicto da legitimidade da norma,
tação em acórdão de 8.9.88. 189 O Procurador-Geral da República en- então, poderia instaurar o controle abstrato, com a finalidade de ver
caminhou ao Tribunal petição fonnulada por grupo de parlamentares conftrmada a orientação questionada. .
que sustentava a inconstitucionalidade de detenninadas disposições Sem dúvida, a falta de um melbor desenvolvimento doutrinário
da Lei de Infonnática (Lei n. 7.232, de 29.10.84). O Tribunal consi- ' sobre essa face peculiar da representação de inconstitucionalidade e a
derou inepta a representação, entendendo que, como a Constituição decisão do STF na Repr. n. 1.349 - que, praticamente, negou a possi-
previa uma ação de inconstitucionalidade, não poderia o titular da bilidade de se instaurar o controle abstrato com pedido de declaração
de constitucionalidade - tornaram inevitável a positivação de um
187. Cf., a propósito: Josaphat Marinho, "Inconstitucionalidade de lei - Repre. instituto especifico no ordenamento constitucional, consubstanciado
sentação ao STF", RDP 121150; Caio Máno da Silva Pereu1L, "Voto" proferido no na ação declaratória de constitucionalidade.
Conselho Federal da OAB, Arquivos do Ministeno da Justíça 118/25; Themistocles
Cavalcanti....Arquívamento de representação por inconstitucionalidade da lei", RDP
16/169; Adaucto LÚCIO Cardoso. "Voto" na Recl. o. 849, RTJ 50/347-348; Celso 190. Idem, p. 41.
Bastos, Curso de Direito Constitucíona/. 1982, p. 69. 191. Idem, ibidem.
188. Embs. na Repr. n. 1.092, ReI. Min. Néri da Silveíra, RTJ 117/921 e S5. 192. Cf., dentre outras. ADio n. 716-5. ReI. Min. Marco Aurelio, DJU29.4.92.
189. Repr. n. 1.349, ReI. Min. Aldir Passarinho, RTJl29/41 e 55. p.5.606.
AçóES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DECLARATÓRlA DE CONSTITUCIONALIDADE 415
414

ALei n. 9.868, de lO.11.99-Com o advento da Lei n. 9.868/99 Evidentemente, são múltiplas as formas de manifestação desse
restou superada a disciplina procedimental anterior contida no Regí- estado de incerteza quanto à legítimidade da norma.
mento Interno do STF com a interpretação fixada na ADC/QO n. 1. A insegurança poderá resultar de pronunciamentos contraditó-
rios da jurisdição ordinàrla sobre a constitucionalidade de determi-
O procedimento da ação declaratória de constitucionalidade está
nada disposição.
integraimente disciplinado nos arts. 13 a 21 da Lei n. 9.868/99.
Assim, se a jurisdição ordinàrla, através de diferentes órgãos,
passar a afirmar a inconstitucionalidade de determinada lei, poderão
2. Legitimidade os órgãos legítimados, se estiverem convencidos de sua constitu-
No que se refere à ação declaratória de constitucionalidade, o cionalidade, provocar o STF para que ponha termo à confrovérsia
art. 103, § 4", da CF estabelecia, tal como observado, que poderiam instaurada.
propô-Ia o Presidente da República, a Mesa do Senado Federal, a Da mesma forma, pronunciamentos contraditórios de órgãos
Mesa da Câmara dos Deputados ou o Procurador-Geral da República jurisdicionais diversos sobre a legítimidade da norma poderão criar o
(EC n. 3/93). AEC n. 45/2004 (Reforma do Judiciário) conferiu nova estado de incerteza imprescindível para a instauração da ação decla-
disciplina à matéria e outorgou a todos os legítímados para a ação ratória de constitucionalidade.
direta de inconstitucionalidade a legitimidade para a propoSitura da Embora as decisões judiciais sejam provocadas ou, mesmo,
ação declaratória de constitucionalidade. Também aqui a Lei n. 9.868 estimuladas pelo debate doutrinàrlo, é certo que simples controvérsia
nada mais fez que repetir, em seu ar!. 13, o teor do citado dispositivo doutrinária não se afigura suficiente para objetivar o estado de incer-
constitucional, na sua versão origínal. teza apto a legítimar a propositura da ação, urna vez que, por si só,
ela não obsta à plena aplicação da lei.
Demonstração da existência de controvérsia judicial na ação Assim, não configurada dúvida ou controvérsia relevante sobre
declaratória de constitucionalidade - Ao lado do direito de propo- a legítimidade da norma, o STF não deverá conhecer da ação pro-
situra da ação declaratória de constitucionalidade - e, aqui, assinale- posta. .
se, estamos a falar tão-somente da ação declaratória de constitucio- Essa questão foi tratada no voto condutor proferido pelo Min.
nalidade, e não da ação direta de inconstitucionalidade - há de se Moreira Alves na ADC/QO n. 1, como se pode ler na seguinte pas-
cogítar também de uma legitimação para agir in concreto, tal como sagem: "( ... ) é também inteiramente improcedente a alegação de que
consagrada no Direito alemão, que se relaciona com a existência de essa ação converteria o Poder Judiciário em legislador, tornando-o
um estado de incerteza gerado por dúvidas ou controvérsias sobre a como que órgão consultivo dos Poderes Executivo e Legíslativo.
legítimidade da leU 93 Há de se configurar, portanto, situação hábil Essa alegação não atenta para a circuns!ãncia de que, visando a
a afetar a presunção de constitucionalidade, que é apanágio da lei. ' ação declaratória de constitucionalidade à preservação da presunção
Embora o texto constitucional não tenha contemplado expressa- de constitucionalidade do ato normativo, é insito a essa ação, para
mente esse pressuposto, é certo que ele é inerente às ações declarató- caracterizar-se o interesse objetivo de agír por parte dos legítimados
rias, mormente às ações declaratórias de conteúdo positivo. para propô-la, que preexísta controvérsia que ponha em risco essa
presunção, e, portanto. controvérsia judicial no exercicio do controle
Assim, não se afigura admissivel a propositura de ação decla-
difuso de constitucionalidade, por ser esta que caracteriza inequivo-
ratória de constitucionalidade se não houver controvérs/O ou dúvida
camente esse risco. Dessa controvérsia, que deverá ser demonstrada
relevante quanto à legítimidade da norma. na inicial. afluem, inclusive, os argumentos pró e contra a consti-
tucionalidade. ou não, do ato normativo em causa, possibilitando a
J93. Cf. GiImar Mendes, Jurisdição.Constituclonal, 56 ed .. São Paulo, SaraIVa.,
esta Corte o conhecimento deles e de como têm sido eles apreciados
2005.
416 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DECLARATÓRlA DE CONSTITUCIONALIDADE 417

judicialmente. Portanto, por meio dessa ação, o STF uniformizará o "Todas estas observaçães, feItas em torno de um dos pressupos-
entendimento judicial sobre a constitucionalidade, ou não, de um ato tos de admissibilidade da ação declaratória de constitucIOnalidade,
normativo federal em face da Carta Magna, sem qualquer caráter, justificam-se ante a circunstância de que o exame dos documentos
pois, de órgão consultivo de outro Poder, e sem que, portanto, atue, que instruem a petição inicial evidencia que o autor, visando a de-
de qualquer modo, como órgão de certa forma participante do pro- monstrar a existência de situação caracterizadora de grave incerteza,
cesso legislativo. Não há, assim, evidentemente, qualquer violação indicou 11 decisães alegadamente favoráveis à validade constItucio-
ao principio da separação de Poderes",I94 nal da Lei n. 9.783/99.
Consagrou-se, portanto, na jurisprudência do Tribunal a exigên- "É importante destacar, quanto às 11 decisães arroladas pelo au-
cia quanto à necessidade de demonstração da controvérsia judicial tor da presente ação declaratória, que tais pronunciamentos judiciais,
sobre a legítimidade da norma a fim de que se possa instaurar o con- em sintese, encerram o seguinte conteudo:
trole abstrato de declaração de constitucionalidade. "a) houve duas decisães proferidas em sede de suspensão de se-
Também na Lei n. 9.868/99 é positivada a exigência quanto "à gurança, pela E. Presidência do TRF-4" Região, sob o fundamento de
existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da grave lesão â ordem e à economia públicas (fls. 207-208 e 211-213),
disposição objeto da ação declaratória" (art. 14, III). sem qualquer análise do fundo da controversia mandamental;
Convém observar que a exigência quanto à configuração de "b) houve duas decisães indeferitórias de limmar mandamental,
controvérsia judicial para que se possa, validamente, propor a ação ambas proferidas em caráter de cognição extremamente sumaria (fls.
declaratória de constitucionalidade enseja, às vezes, aplicação assaz 229 e 33 I), cabendo registrar que, dos dois processos, um - o MS n.
restritiva. 23.374-DF, ReI. Min. Octávio Gallotti - resultou extinto, sem julga-
mento de mérito (fls. 230);
Assim, na ADC n. 8, relativa à contribuição de previdência de
inativos e pensionistas, manifestou-se o Min. Celso de Mello em fa- "c) houve uma decisão, proferida pela Presidência do TRF-I'
vor de uma valoração numérica da controvérsia judicial, enfatizando Região, que suspendeu tutela antecipada concedida em primeira ms-
a necessidade de que "o autor desde logo demonstre que se estabele- tância, sendo de destacar, no entanto, que esse ato de cassação - que
ceu, em termos numericamente relevantes, ampla controvérsia Judi- sequer analisou o mérito da causa - fundamentou-se em aspectos
cial em torno da validade jurídica da norma federal ( ... )", ou que sería absolutamente estranhos à questão constítucionai ora em exame,
"preciso - mais que a mera ocorrência de dissídio pretoriano - que pois limitou-se a proclamar a inidoneidade da ação civil pública para
a situação de divergência jurisdicional, caracterizada pela existência a defesa de direitos individuais homogêneos e a reconhecer a ilegi-
timidade ativa do Ministério Público para o ajmzamento dessa ação
de um volume expressivo de decisães conflitantes, faça instaurar,
coletiva (fls. 215-221);
ante o elevado coeficiente de pronunciamentos judiciais colidentes,
verdadeiro estado de insegurança juridica, capaz de gerar um cenário "d) houve outra decisão, que, proferida em sede de agravo de
de perplexidade social e de grave comprometimento da estabilidade instrumento, pelo egrégio TRF-I" Região, limitou-se a conceder
do sistema de Direito Positivo vigente no país".195 efeito suspensivo ao recurso, 'por entender configurada hipótese de
dano irreparável a eventual direito da parte' (fls. 223), sem qualquer
Essa orientação fica evidente se se considera a aplicação do
incursão, portanto, na análise da controvérsia constitucional ora em
juízo formulado em abstrato ao caso da contribuição de servidores
debate;
ativos, inativos e pensionistas prevista na Lei n. 9.783/99:
"e) registrou-se uma decisão indeferitória de liminar manda-
194. RTJ 157(2)1371, voto do Min. MoreIra Alves, pp. 385-386.
mental, por não vislumbrar, o Magistrado que a proferiu, 'de plano,
195. Despacho na ADCIMC n. 8, ReI. Min, Celso de Mollo, j. 4.8.99, DJU liquidez e certeza do suposto direito alegado pelos Impetrantes', sem
12.8.99, p. 1.076. indicar, no entanto, qualquer outra fundamentação que pusesse em
418 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE 419

evidência, de maneira consistente, a validade constitucional da Lei É fácil ver, pois, que o estabelecimento de uma comparação
n. 9.783/99 (fIs. 239); quantitativa entre o nUmero de decisões judiciais num ou noutro sen-
"f) a decisão de fIs. 244-245, que também sequer tangenciou tido, com o objetivo de qualificar o pressuposto de admissibilidade
o fundo da controvérsia constitucional, restringiu-se a considerar da ação declaratória de constitucionalidade, contém uma leitura re-
satisfativa a liminar mandamental pleiteada, motivo pelo qual veio dutora e equivocada do sistema de controle abstrato na sua dimensão
a indeferi-la; positiva.
"g) houve, finahnente, três decisões indeferitórias de medida li- Parece elementar que se comprove a existência de controvérsia
minar que, de maneira mais específica, porém em camter de cOgnição sobre a aplicação da norma em sede de ação declaratória de consti-
superficial, abordaram a quaestio juris em causa (fIs. 233, 234-238 tucionalidade, até mesmo para evitar a instauração de processos de
e 240-243). controle de constitucionalidade antes mesmo de qualquer discussão
"Esse registro numérico - que, na realidade, se reduz a apenas sobre eventual aplicação da leí.
quatro decisões indeferitórias de medida liminar ('b' e 'g') - suscita A questão afeta a aplicação do principio de separação dos Pode-
uma indagação relevante: a constatação de reduzidíssimo número res em sua acepção mais ampla. A generalização de medidas Judiciais
de decisões favoráveis â validade da Lei n. 9.783/99, todas proferi- contra uma dada lei nulifica completamente a presunção de constitu-
das em sede de cognição sumária, permitiria reconhecer, no caso, a cionalidade do ato normativo questionado e coloca em xeque a efi-
ocorrência de situação de incerteza Jurídica ou a caracterização de càcia da decisão legislativa. A ação declaratória seria o instrumento
efetivo dissidio judicial na interpretação do diploma legislativo em adequado para a solução desse impasse jurídico-político, permltmdo
questâo?"196 que os órgãos legitimados provoquem o STF com base em dados
concretos, e não em simples disputa teórica.
A tentativa de resolver a controvérsia com dados estatísticos
revela-se completamente inadequada. A questão parece estar a mere- Assim, a exigênCia de demonstração de controversia judicial
cer um outro enfoque. hã de ser entendida, nesse contexto, como atinente à existência de
controvérsia jurídica relevante, capaz de afetar a presunção de legi-
A exigência quanto â configuração de controvérsia judicial ou
timidade da lei e, por conseguinte, a eficàcia da decisão legislativa.
de controvérsia juridica associa-se não só à ameaça ao princípio da
presunção de constitucionalidade - esta independe de um nUmero
quantitativamente relevante de decisões de um e de outro lado -, mas 3. Objeto
também, e sobretudo, à invalidação previa de uma decisão tomada
A ação declaratória de constitucionalidade, nos termos da segun-
por segmentos expressivos do modelo representativo. A generaliza-
da parte do art. \02, I, "a", da CF, só poderá versar sobre lei ou ato
ção de decisões contrárias a uma decisão legislativa não inviabiliza.
normativo federaL Por uma dessas ironias do processo legislativo, o
- antes, recomenda - a propositura da ação declaratória de constitu-
legislador constituinte ampliou, na EC n. 45/2004, o direito de pro-
cionalidade. É que a situação de incerteza. na espécie, decorre não
positura da ação declaratória de constitucionalidade sem ampliar seu
da leitura e da aplicação contraditória de normas legais pelos vârios
objeto, que continua a ser o Direito federaL É de se esperar que, em
órgãos judiciais, mas da controvérsia ou dúvida que se instaura entre
um próximo passo, se conclua o aperfeiçoamento dessa ação, com a
os órgãos judiciais, que de forma quase-univoca adotam uma dada ampliação do objeto da ação declaratória de constitucionalidade, que
interpretação, e os órgãos políticos responsáveis pela edição do texto hà de abranger também o Direito estadual, tal como preconizado na
normativo. proposta original, apresentada por Roberto Campos.197

196. Despacho na ADCIMC n. 8. ReI. Min. Celso de Mello, j. 4.8.99. DJU 197. Cf.. supra. item sobre a cnação da ação deciaratoria de constitucionali-
12.8.99, p. 1.076. dade. Na continuação do processo de Reforma do ludiciáno o Senado aprovou pro-

\.JNIVERSIDt>.DE FUMEC
8iblioteca da FCH
420 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE 421

Leis e atos normativos federais - Devemos entender como leis com o propósito de suspender a eficácia dessas medidas como ato do-
e atas normativos federais passiveis de ser objeto de ação declarató- tado de força normativa, ressalvando. porém, sua validade enquanto
ria de constitucionalidade: proposição legislativa suscetível de ser convertida, ou não, em lei.'oo
1. Disposições da Constituição propriamente ditas. Também Quanto às medidas provisórias, aplica-se íntegralmente ás ações
entre nós é admissível a aferição de constitucionalidade do chamado declaratórias de constitucIOnalidade a orientação desenvolvida a pro-
Direito Constitucional secundário, uma vez que, segundo a doutrina pósito da ação direta de inconstitucionalidade.
e a jurisprudência dominantes, a reforma constitucional deve obser- 3. Decreto legislativo que contém a aprovação do Congresso aos
var não apenas as exigências formais do art. 60, I, II e III, e §§ I º, 2º tratados e autoriza o Presidente da República a ratificá-los em nome
e 3º, da CF, como também as cláusulas pétreas (art. 60, § 4"). O ca- do Brasil (CF, ar!. 49, n.
O decreto legislativo apenas formaliza, na
bimento da aferição da constitucionalidade de uma emenda constitu- ordem juridica brasileira, a concordância definitiva do Parlamento
cional, em sentido formal e material, foi reconhecido já em 1926. 198 em relação ao tratado.201 A autorização para aplicação imperativa
2. Leis de todas as formas e conteúdos (observada a especifi- somente ocorre, após sua ratificação, com a promulgação através de
cidade dos atos de efeito concreto), uma vez que o constitumte se decreto.'o, O processo do controle abstrato de normas poderia, toda-
vinculou à forma legal. Nesse contexto hão de ser contempladas as via, ser instaurado após a promulgação do decreto legislatiVO. uma
leis formais e materiais: vez que se trata de ato legislativo que produz conseqüências para a
2.1 as leis formais ou atos normativos federais, dentre outros: ordem juridica.203
2.2 as medidas provisórias, expedidas pelo Presidente da Repú- 4. O decreto do Chefe do Executivo que promulga os tratados e
blica em caso de relevância ou urgência, com força de lei (art. 62, c/c convenções.
o art. 84, XXVI). Essas medidas perdem a eficácia se não aprovadas declaração da pecha e, mediante essa declaração, ã retirada de qualquer efeíto da
pelo Congresso Nacional no prazo de 60 dias, podendo ser prorroga- medida no mundo Jurídico.
das uma única vez, por igual periodo (CF, ar!. 62, § 7º). Nenhuma dú- "Vejam os eminentes Pares que a Constituição revela que o Congresso Nacio-
vida subsiste sobre a admissibilidade do controle abstrato em relação nal, na hipótese de decurso do prazo, deve. diSCiplinar as relações Jurídicas decorren-
tes das medidas proViSÓrias. Essa disciplina não pode ser e não é alcançavei mediante
às medidas provisórias. 199 O STF tem concedido inúmeras limínares uma ação direta de inconstitucionalidade.
"Por isso, Sr. Presidente. muito embora admitindo a nonnatIvidade da medida,
posta de emenda que ampliou o objeto da ação declaratóna de constitucionalidade, tenho para mim que não cabe, contra essa mesma medida, contra esse mstItuto. ação
abrangendo tambem o Direito estadual. O tema está. agora, submetido á apreCiação direm de inconstitucionalidade.
da Câmara dos Deputados (PEC a 358-A). "E a matéria prelimmar que exponho, convencido que estou da necessidade
198. HC n. 18.178,j. 27.9.26, RF471748-827. de se preservar a própria atuação do Legislativo; da necessidade, até mesmo, de se
199. Em 1990 o Min. Marco Aurêlio, no julgamento daADIn n. 295, chegou a adotar uma política judiciãria que homenageIe, no caso, a assunção de responsabili-
sustentar que não se devena fazer o controle de constitucionalidade de medida provi~ , dade pelos Poderes da União. Inicialmente, portanto, pernuto-me. frente até mesmo
sana antes de uma deliberação definitiva do Congresso Nacíonal. A segumte passa- ao Regimento da Cas~ expor esta maténa - não sei se antenonnente fOi discutida.
gem do voto sintetiza a argumentação desenvolvida pelo eminente Ministro, verbis: porque tomei posse bã pouco -, concluindo pela impertinênCIa da ação direta de
"A medida provisõria ( ... ) e editada de fonna provlsóri~ como estâ na prõpria inconstttucIOnalidade contra medida provisória" (ADIn n. 295. Rei. Min. Marco
designação, para que ocorra o pronuncíamento do Congresso Nacional. E, uma vez Aurélio, DJU22.8.971.
decorrendo o prazo - ficando, portanto, fulmmada ab initio a medida provIsóna -, ao Essa preliminar foí rejeitada categoncamente pelo Tribunal.
Congresso Nacional cumpre diSCIplinar as relações jurídicas dela decorrentes. 200. ADln n. 293. ReI. Min. Celso de MelIo. DJU 16.4.93, p. 6.429; ADIn n.
"Indaga-se, frente á harmonia entre os Poderes - base de um entendimento 427. ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 1.2.91, p. 351.
maior -, se essa, apreciação pode ser obstaculizada por uma ação direta de inconstI- 201. J. F. RezeI<. Direito dos Trotados. Rio, 1984, pp. 382-385.
tucionalidade? B esta a matéria que coloco. A meu ver, não pode ser obstaculizada. 202. Idem, p. 333.
porque, caso contrãrio. o Judiciário estará adentrando~ um campo em relação ao qual 203. EXIste pelo menos um processo no qual o controle abstrato de nonnas foi
se tem a previsão da atuação de um outro Poder, que é o Poder LegislatIvo. E na instaurado após a entrada em vigor do Tratado: Repr. n. 803, ReI. Min. Djaci Falcão.
aprecÍação da ação direta de inconstitucionalidade poder-se-ã chegar até mesmo à RTJ 84/724 e ss.
422 AÇOES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DECLARATÓRlADE CONSTITUCIONALIDADE 423

5. O decreto legislativo do Congresso Nacional que suspende a face de norma constitucional já revogada. Nesse caso, o controle
execução de ato do Executivo, em virtude de incompatibilidade com somente seria passivei na via incidental. Da mesma forma, ínfrrma-
a lei regulamentada (CF, art. 49, V).204 se a possibilidade de exame da constitucionalidade de uma [ei se o
6. Os atos normativos editados por pessoas juridicas de direito parâmetro de controle foi modificado após a propositura da ação. 208
público criadas pela União, bem como os regimentos dos Tribunais A Unica distinção relevante entre as duas situações, do prisma
Supenores, podem ser objeto do controle abstrato de normas se con- dogmático, diz respeito à forma de extinção do processo: a) em caso
figurado seu careter autônomo, não meramente ancilar. de ação proposta com objetivo de aferir a constitucionalidade de uma
7. O decreto legíslativo aprovado pelo Congresso Naciona[ com let em face de parâmetros constitucionais já revogados, reconbece o
o escopo de sustar os atas normativos do Poder Executivo que exor- Tribuna[ a inadmissibilidade da ação;209 b) em caso de revogação de
bitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legís[ativa parâmetro de controle, julga-se prejudicada a ação.2to
(CF, ar!. 49, V).205 Sobre parâmetro de controle na ação declaratória de constitucio-
8. Também outros atas do Poder Executivo com força norma- nalidade, confira-se a orientação desenvolvida a propósito da ação
tiva, como os pareceres da Consultaria-Geral da República, devida- direta de lllconstitucionalidade.
mente aprovados pelo Presidente da República (Decreto n. 92.889,
de 7.7.86).20.
5. Procedimellto
9. Tratados internacionais aprovados e incorporados à ordem
juridica nacional. A propósito dos tratados internacionais, aplica-se A ação declaratória de constitucionalidade foi aplicada, im-
â ação declaratória de constitucionalidade a orientação desenvolvida cialrncntc. Com base cm normas constitucionais e em construção
sobre a ação direta de inconstitucionalidade. jurisprudencia!.2"
Com a entrada em vigor da Lei n. 9.868, de 10.11.99, este
4. Parâmetro de controle
quadro sofreu significativa alteração. E de se ressaltar, porém, que a
Nos termos do art. 102, I, "a", da CF, parâmetro do processo nova disciplina legíslativa não é, de modo algum, exaustiva. restan-
de controle abstrato de normas é, exclusivamente, a Constituição. do, ainda, diversos pontos importantes que devem ser esclarecidos
As constantes mudanças ou revogações de textos constitucionais pelas construções da jurisprudência do STF.
levaram o STF a reconbecer a inadmissibilidade do controle abstrato
de normas se se cuida de aferição de legitimidade de ato em face de Requisitos da petição inicial e admissibilidade da ação - A Lei
norma constitucional já revogada. 207 Enquanto instrumento especial n. 9.868/99 trata, em capítulo destacado, da admissibilidade e do
de defesa da ordem juridica, não seria o controle abstrato de norma,s procedimento da ação declaratória de constitucionalidade, instituída
o instrumento adequado para a aferição de legítimidade de lei em pela EC n. 3/93 (cap. III). Tendo em vista o careter "dúplice" ou
"ambivalente" das ações diretas e 'das ações declaratórias, as regras
204. A ConstItuição de 1988 incorporou dispOSIÇão da Constituição que ou- de admissibilidade e de procedimento aplicáveis à ação direta de
torgava essa atribUIção ao Senado Federal. Tal como reconhecido por Pontes de
Miranda. essa competênCIa outorgava ao Senado, ainda que parCIalmente, poderes de inconstitucionalidade são, na sua essência, extensiveis â ação decla-
uma Corte Constitucional (cf. Comentàrios ri Constituição da República dos Estados ratória de constitucionalidade.
Unidos do Brasil. v. 1, p. 364). Cf., também, ADIn n. 748, Rei. Min. Celso de MeUo,
DJU 6. I 1.92, pp. 20.1 05-20. I06.
205. Cf., sobre o assunto,ADIn n. 748, Rei. Min. Celso de MelIo.DJU6.11.92. 208. Repr. n. 765, ReI. Min. Soares Munoz, RTJ98/962.
p.20.105. 209. Repr. n. 1.016, ReI. Min. Moreira Alves, RTJ95/993.
206. Cf. ADIn n. 4, ReL Min. Sydney Sanches, DJU25.6.93, p. 12.637. 21.0. Repr. n. 765, ReI. MÍlL Soares Munoz, RTJ98/962.
207. Repr. n. 1.016, ReL Min. Moreira Alves, RTJ95/993. 211.ADCn.I.DJUI6.6.95.
424 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DECLARATÓRlA DE CONSTITUCIONALIDADE 425

A petição inicial não está vinculada a qualquer prazo. Porém, É de se ressaltar que o pedido poderá abranger, além da emissão
seus requisitos são disciplinados pelo art. 14 da Lei n. 9.868. de um juízo defimtivo sobre a constitucionalidade da norma ques-
O primeiro requisito indispensável â petição inicial é a indicação tionada, a emissão de um juízo provisório sobre o tema, mediante a
do dispositivo ou dispositívos sobre os quais versa a ação, bem como concessão de medida cautelar.21 '
dos fundamentos jurídicos do pedido, em relação a cada um deles Há, ainda, legalmente estabelecido, um terceiro requisito: a m-
(art. 14, I). dicação da existência de controvérsia judiCiai relevante sobre a apli-
A exigência em questão já constava da jurisprudência do STF. cação da disposição objeto da ação declaratória (ar!. 14, III). A pro-
Nesse sentido, já decidiu o Tribunal ser "necessário, em ação direta pósito dessa questão, considere-se a reflexão desenvolvida sobre o
de inconstitucionalidade, que venbam expostos os fundamentos ju- requisito de admissibilidade pertinente â demonstração da existência
ridicos do pedido com relação às normas impugnadas, não sendo de de controvérsiajudicial.216
admitir-se alegação genéríca sem qualquer demonstração razoável, O parágrafo único do art. 14 da Lei n. 9.868/99 determina que
nem ataque a quase duas dezenas de medidas provisórias em sua ao autor da ação declaratória de constítucíonalidade cabe apresentar,
totalidade, com alegações por amostragem" .212 juntamente com a petição inicial em duas vias, cópias da lei ou ato
É interessante notar que, a despeito da necessidade legal da normativo que contenbam os dispositivos sobre os quais versa a ação
indicação dos fundamentos jurídicos na petição inicial, não fica o proposta. O mesmo dispositivo em questão estabelece, ainda, a ne-
STF adstrito a eles na apreciação que faz da constitucionalidade dos cessidade de as petíções serem acompanbadas, quando subscritas por
dispositivos questionados. É dominante no âmbito do Tribunal que advogado, de instrumento de procuração. Em decisão de 24.5.2000
na ação declaratória de constitucionalidade prevalece o princípio da estabeleceu o STF que a procuração na ação direta de mconstitucio-
causa petendi aberta.213 nalidade deve conter poderes específicos quanto â impugnação da
norma a ser levada a efeito na ação.2 17
Sobre o tema vale dizer, ainda, que já se determinou o des-
membramento de ação proposta contra 21 leis de diferentes Estados, Por fim, atenta â necessidade de conferir certa celeridade â
entendendo o Tribunal não ser suficiente a identidade de fundamento ação declaratória de constítucionalidade, houve por bem a Lei n.
jurídico para justificar a cumulação, uma vez que o Tribuna[ não está 9.868 deferir ao relator a possibilidade de mdeferir liminarmente as
vinculado ao fundamento jurídico. 214 petições ineptas, as não-fundamentadas e aquelas manifestamente
improcedentes (art. [5). Cabe, de toda maneira, agravo da decisão
O segundo requisito indispensável â petição inicial presente de indeferimento (art. 15, parágrafo imlco), no prazo de cinco dias.
na lei é a formulação, pelo legitimado, do pedido com suas espe-
Ressa[te-se, ainda, que, regularmente proposta a ação declarató-
cificações (art. 14, II). A determinação em questão é fundamental,
ria de constitucionalidade, não será admlssive[ a desistência (art. 16).
haja vista que com ela se consagra de forma expressa, entre nós, o,
Quanto â modificação da petição inicial, conferir a orientação adota-
princípio do pedido.
da a propósito da ação direta de inconstitucionalidade (cf. supra. n. II,
Tal princípio é essencial para a jurísdição constitucional, uma nAção Direta de Inconstitucionalidade", n. 4, Procedimento j.
vez que dele depende, em determinada medida, a qualificação do
órgão decisório como um tribunal. A Jorma judicial constitui ca- Intervenção de terceiros e "alllicus curiae" - A Lei n. 9.868
racterística peculiar que permite distinguir a atuação da jurisdição preserva a orientação contida no Regimento Interno do STF que
constitucional de outras atividades, de cunbo meramente polítíco.
215. Cf..lOfra, n. 6, sobre as medidas cautelares.
212. ADIn n.-259, ReI. Min. MoreiraAlves,DJU 19.2.92, p. 2.030. 216. Cf., supra, n. lW2. Legitimidade, item sobre a "Demonstração da eXIstên-
213. ADIn n. 2.728, ReI. Min. MauriCIO Corrêa, DJU20.2.2004. cia de controversiajudicial na ação declaratóna de constitucíonalidade·'.
214.ADIn n. 28, ReI. Min. Gallotti, DJU25.l0.91. 217.ADIn n. 2.187, Rei. Min. G.llOlti, DJU 12.12.2003.
426 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DECLARATÓRlA DE CONSTITUCIONALIDADE 427

veda a intervenção de terceiros no processo de ação declaratória de . Epossível, porém, cogitar de hipóteses de admissão de amícus
constitucionalidade (art. 18). curiae depois da audiência do Procurador-Geral da República na
ação declaratória de constitucionalidade (art. 20, § 12), espeCIalmente
No âmbito da ação direta de ínconstitucionalidade o relator,
diante da relevância do caso ou, ainda, em face da notóna contnbU!-
considerando a relevância da matéria e a representatividade dos pos-
ção que a manifestação possa trazer para o Julgamento da causa.
tulantes, poderá admitir a manifestação de outros órgãos ou entidades
(art. 7º, § 2º).
Procedimento - No que concerne â ação declaratória de cons-
Trata-se de providência que confere caráter pluralista ao proces- titucionalidade o Uer procedimental é bastante simplificado, sendo
so objetivo de controle abstrato de constitucionalidade. nonnattvamente prevista apenas a manifestação do Procurador-Geral
Em vista do veto oposto aos §§ 1º e 2' do art. 18, surgem duas da República no prazo de 15 dias (art. 19). Havendo pedido ae caute-
questões: (a) se o direito de manifestação assegurado a eventuais lar, poderá haver O julgamento antes da manifestação do Procurador-
interessados aplica-se â ação declaratória de constitucionalidade e Geral da República.2I9
(b) qual o momento para o exercicio do direito de manifestação por Igualmente relevantes afiguram-se os dispositivos contidos
parte do amicus curiae nessa ação. na Lei n. 9.868 que pennitem que o relator, tanto na ação direta de
Tendo em vista a idêntica natureza das ações diretas de constitu- inconstitucionalidade como na ação declaratóna de constitucionali-
cionalidade e de inconstitucionalidade, não parece razoavel qualquer dade, solicite informações aos Tribunais Superiores. aos Tribunais
conclusão que elimine o direito de manifestação na ação declaratória federais e aos Tribunais estaduais acerca da aplicação da norma
de constitucionalidade. O perfil objetivo desse processo recomenda impugnada no âmbito de sua jurisdição (arts. 92 , § 22 , e 20, § 2º).
igualmente a adoção do instituto apto a lhe conferir um caráter plural Trata-se de providência que, além de aperfeiçoar os mecanismos de
e aberto. Assim, a despeito do veto aos parágrafos do art. 18 da Lei informação do Tribunal, permite uma maior integração entre a Corte
n. 9.868/99, é de se considerar aplicável â ação declaratória de cons- Suprema e as demais Cortes federais e estaduais.
titucionalidade a regra do art. 7', § 2', da Lei n. 9.868, que admite o
Após a manifestação do Procurador-Geral da República poderá
direito de manifestação de entidades representativas na ação direta de
o relator solicitar dia para o julgamento da ação declaratóna de cons-
inconstitucionalidade.
titucionalidade (art. 20, capul).
Também no que diz respeito ao momento para o exercicio do
direito de manifestação há de se operar, em princípio, antes que os Apuração de questões fálicas no controle de constituciona-
autos sejam conciusos ao relator, para julgamento definitivo. Assim, lidade'-'-° - Importante inovação consta do art. 20, § Iº, da LeI n.
o direito de manifestação na ação declaratória de constttucionalidade 9.868/99, que autoriza ao relator, após as manifestações do Advoga-
será exercido, regularmente, antes da audiência do Procurador-Geral do-Gerai da União e do Procurador-Geral da República, em caso de
da República. Parece ser esse, pelo menos, o espírito dI! norma cons- .
tante da parte fmal do art. 7', § 2', da Lei n. 9.868/99. E verdade que que se refere o artigo anterior, podendo apresentar memonals ou pedir a Juntada de
essa disposição remete ao parágrafo anterior - § 1,218 -, que restou documentos reputados úteiS para o exame da matena"; "O relator, ,conSIderando a
vetado pelo Presidente da República. relevância da rnaténa e a representatividade dos postulantes. podere, por despacho
irrecorrivel. admitir. observado o prazo estabelecido no parágrafo antenor, a mam-
festação de outros orgãos ou entidades",
218. O § I' do art. 7' do Projeto de Le. n. 2.960/97-CD (n. 10 do Senadol
219. Cf.ADC n. 9. Rela. para o acórdão Min Ellen Gracie,j. procedente. DJU
dispunha que: "Os demais titulares referidos no art. 2" poderão manifestar~5e. por
23.4.2004.
escrito. sobre o objeto da ação e pedir a juntada de documentos reputados óteÍs para
o exame da maténa, no prazo das infonnações. bem como apresentar memoriais", 220. Cf. Gilmar Ferreira Mendes, "Controle de constitucionalidade: hermenêu-
E os §§ 12 e 22 do art. 18: "Os demais titulares referidos no art. 103 da Constituição tica constituCIOnal e reVisão de fatos e prognoses legIslatIvos pelo órgão judicial". in
Federal poderão manifestar-se, por escnto, sobre o objeto da ação declaratória de Direitos FundamentaIS e Controle de ConstitUCionalidade, 3ned.. São Paulo, Saraiva,
constitucionalidade no prazo de 30 (trinta) dias a contar da publicação do edital a 2004, pp. 461-483.
428 AÇOES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DlRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 429

necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou NaADC n. 12 (nepotismo) o Tribunal também concedeu caute-
de notória insuficiência das informações existentes nos autos, requi- lar, com eficacía ex flInc e efeitos vinculantes e erga omnes, para sus-
sitar informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos pender, até o exame de merito da ação, o julgamento dos processos
para emitir parecer sobre a questão ou fixar data para, em audiência que têm por objeto questionar a constituCIOnalidade da Resolução n.
pública, ouvir depoimentos e pessoas com experiência e autoridade 7 do CNJ; ademais, essa medida tem por objetivo impedir que juizes
na matéria. e tribunais venham a proferir decisões que impeçam ou afastem a
Sobre o tema, confira-se a orientação adotada a propósito da aplicabilidade da mesma resolução e suspender, com eficácia ex (une,
ação direta de inconstitucionalidade. os efeitos das decisões já proferidas no sentido de afastar ou impedir
a aplicação da referida resolução.224
Questão controvertida que se pode colocar diz respeito à even-
6. Medida calltelar tual possibilidade de prorrogação do prazo da cautelar.
Outro importante ponto presente na Lei n. 9.868 refere-se à Embora não seja recomendável, tendo em vista a repercussão
admissão de cautelar em ação declaratória de constitucionalidade,22! sobre as situações concretas, afigura-se inevitável tal providência
que há de consistir na determinação, por parte da maioria absoluta do se o Tribunal não lograr um pronunciamento definitivo no prazo
STF, de que os juizes e tribunais suspendam o julgamento dos pro- estipulado.
cessos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto
da ação até seu julgamento definitivo, que, de qualquer sorte, há de 7. Decisão
se verificar no prazo de 180 dias (art. 21).
Considerando a natureza e o escopo da ação declaratória de Tal como a decisão proferida na ação direta de inconstItucionali-
constitucionalidade, a eficacia erga omnes e o efeito vinculante das dade, a decisão proferida na ação declaratória de constItucionalidade
decisões proferidas nesse processo, parece ter sido acertada a admis- é irrecorrível (admitem-se apenas embargos de declaração) e insus-
são por parte do legislador, de maneira explícita, da concessão de me- cetível de ser rescindida (Lei n. 9.?68/99, art. 26).
dida cautelar, a fim de evitar o agravamento do estado de insegurança Após o trânsito em julgado, a decisão será publicada em seção
ou de incerteza jurídica que se pretendia eliminar.222 especial do Diário Oficial da União e no Diário da Justiça (art. 28).
Observe-se que naADC n. 9 (racionamento) o STF, por maioria Sobre a decisão na Ação Declaratória de Constitucionalidade,
de votos, deferiu o pedido cautelar para suspender, com eficãcia ex conferir "As decisões do STF no controle abstrato de normas e os
/unc e com efeito vinculante, até o final do julgamento da ação, a efeitos da declaração de inconstitucionalidade" (n. V, infra).
prolação de qualquer decisão que tivesse por pressuposto a consti-
tucionalidade ou a inconstitucionalidade dos arts. 14 a 18 da MP n: IV -AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
2.152/2001. 223 POR OMISSÃO

221. O STF já admitia em sua jurisprudência a possibilidade de concessão 1, Introdllção


de medida cautelar em ação declaratória de constitucíonalidade (cf. ADe n. 4, ReI.
Min. Sidney Sanches, DJU21.5.99, e ADe n. 7, Rei. Min. Celso de Mello, DJU E possível que a problemática atinente à inconstitucionalidade
22.10.99). por omissão constitua um dos mais tormentosos e, ao mesmo tempo,
222. NaADC n. 9 (ReI. Min. Néri da Silveira) concedeu~se a cautelar solicita- um dos mais fascinantes temas do Direito Constitucional moderno.
da. com eficácia ex tunc, para suspender qualquer decisão que tenha por pressuposto
a constttucionalidade dos arts. 14 a 18 da MP n. 2.15212001. Suspensos ainda, com a Ela envolve não só o problema concernente à concretização da
mesma eficáCIa., os efeitos futuros das deCisões limÍnares já proferidas.
223. Relatara para o acórdão Min. Ellen Gracle,j. 13.12.2001, DJU 6.2.2002. 224. ReI. Min. Carlos Bntto, limmar julgada em 16.2.2006, DJU 17.2.2006.
430 AÇÕES DE INCONSTrruCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 431

Constituição pelo legislador e todas as questões atinentes à eficácia querer arriscar uma profecia, pode-se afirmar, com certa margem de
das normas constitucionais. Ela desafia também a argúcia do jurista segurança, que elas hão de continuar sem uma resposta satisfatória
na solução do problema sob uma perspectiva estrita do processo ainda por algum tempo!
constitucional. Quando se pode afirmar a caracterização de uma la-
Esse estado de incerteza decorre, em parte, do desenvolvimento
cuna inconstitucional? Quais as possibilidades de colmatação dessa
relativamente recente de uma "Teoria da Omissão Inconstitucional"
lacuna? Qual a eficácia do pronunciamento da Corte Constitucional
Aqueles que quiserem se aprofundar no exame do tema perceberão
que afirma a inconstitucionalidade por omissão do legislador? Quais
que seu estudo sistemático constituía, até muito pouco tempo, mo-
as conseqüências juridicas da sentença que afirma a inconstituciona-
nopólio da dogmática constitucional alemã. Esse aspecto contribuIU,
lidade por omissão?
sem dúvida, para que a questão fosse tratada, inicialmente, como
Essas e outras indagações desafiam a dogmática jurídica aqui e quase uma excentricidade do modelo constitucional desenvolvido a
a!bures. Não pretendemos, aqui, dar uma resposta definitiva e cabal partir da promulgação da Lei Fundamental de Bonn.
a essas questões - não só pelos limites do estudo proposto, mas, Observe-se, contudo, que o reconhecimento da inconstitucio-
sobretudo, porquanto tal tarefa transcenderia de muito os limites das nalidade por omissão configura fenômeno relaUvamente recente
nossas próprias forças. também na dogmática jurídica alemã.
O constituinte de 1988 emprestou significado impar ao controle Em 1911 ressaltava Kelsen que a configuração de um dever
de constitucionalidade da omissão com a instituição dos processos do Estado de editar determinada lei afigurava-se inadmissível. 225
de mandado de injunção e da ação direta de inconstitucionalidade da Anteriormente, reconhecera Georg Jellinek que a impossibilidade de
omissão. Como essas inovações não foram precedidas de estudos cri- formular pretensão em face do legislador constituia communis Opi-
teriosos e de reflexões mais aprofundadas, afigura-se compreensível mO.'26 Sob o império da Constituição de Weimar (1919) negava-se,
o clima de insegurança e perplexidade que elas acabaram por suscitar igualmente, a possibilidade de se formular qualquer pretensão contra
nos primeiros tempos. o legislador. Esse entendimento assentava-se, de um lado, na idéia de
E, todavia, salutar o esforço que se vem desenvolvendo no uma irrestrita liberdade legislativa e, de outro, na convicção de que o
Brasil para descobrir o significado, o conteúdo, a natureza desses legislador somente atuava no interesse da coletividade. 221
institutos. Todos os que, tópica ou Sistematicamente, já se depararam Essa concepção sofreu significativa mudança com o advento da
com uma ou outra questão atinente à omissão inconstitucional hão Lei Fundamental de 1949. A expressa Vinculação do legislador aos
de ter percebido que a problemática é de transcendental importância direitos fundamentais (art. I·, § 3Q ) e à ConsUtuição como um todo
não apenas para a realização de diferenciadas e legítimas pretensões (art. 20, III) estava a exigir o desenvolvimento de uma nova concep-
individuais. Ela é fundamental, sobretudo, para a concretização da ção. Já em 1951 passa a doutrina a admitir, pela voz eloqüente de
Constituição como um todo, isto é, para a realização do próprio Es~ Bachof, a possibilidade de responsabilização do Estado em virtude
tado de Direito Democrático, fundado na soberania, na cidadania, na de ato de indole normativa,228 caracterizando uma ruptura com o
dignidade da pessoa humana, nos valores sociais do traba!bo e da ini-
ciativa privada e no pluralismo político, tal como estabelecido no art. 225. Hans Kelsen. Hauptprobleme de Staatsrechtslehre, Tübingen, Mam. 1911.
I Q da Carta Magna. Assinale-se, outrossim, que o estudo da omissão p.410.
inconstitucional é indissociável do estudo sobre a força normativa da 226. Georg Jellinek, Sys/em der subjektiven õffentlichen Rechte, 2a ed .. Tübin-
gen. 1905, p. 80. nota L
Constituição. 227. Gerhard Anschütz e Richard Thoma (orgs.), Handbuch des Deutschen
Não obstante o esforço da doutrina e da jurísprudência, muitas Staatsrechts. t II, Tilbingen. Mohr. 1932. p. 608; Felix Genzmer. Die Venvaltungsge-
questões sobre a omissão inconstitucional continuam em aberto ou nchtsbarkeit. Handbuch des Deutschen Staatsrechts. t. II. 1932, pp. 506 e 5S.
228. Otto Bachof. Die venva/tungsgerichtliche Klage au! Vomahme emer
parecem não ter encontrado, ainda, uma resposta adequada. Sem Amtshandlung, 2' ed., Tfibingen, MaM, 1968, p. 18.
432 AÇÕES DE lNCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE lNCONSTITUCIONALlDADE POR OMISSÃO 433

entendimento até então vigente, baseado na própria jurisprudência deral que fIxava a remuneração de funcionarios públicos, a Corte de-
do Reichsgericht.229 Bachofrejeitava, porém, a pretensão à edição de clarou que, embora não estivesse legItimada a fIxar os vencimentos
uma lei, por entender que isso seria incompatível com o principio da de funcionarios públicos, dispunha ela de elementos sufICientes para
divisão de Poderes.23o constatar que, em virtude da alteração do custo de vida, os valores
A Corte Constitucional alemã viu-se compelida a arrostar ques- estabelecidos na referida lei não mais correspondiam aos parâmetros
tão atinente à omissão do legislador logo no seu primeiro ano de mínimos exigidos pelo ar!. 33(5) da Lei Fundamental. 234 Não se
atividade. Na decisão de 19.12.51 o Tribunal negou a admissibilidade declarou, ali, a nulidade do ato normativo, até porque uma cassação
de recurso constitucional contra a omissão do legislador, que, se- agravaria amda mais o estado de inconstitucionalidade. O Tribunal
gundo alegado,fixara a pensão previdenciária em valor insuficíente limitou-se a constatar a ofensa a direito constitucional dos impetran-
para a satisfação das necessidades básIcas de umafamília. Segundo tes, em virtude da omissão legislativa. .
o entendimento então esposado pelo Tribunal, os postulados conti- Portanto, a jurisprudência da Corte Constitucional alemã iden-
dos na Lei Fundamental não asseguravam ao cidadão, em princípio, tifIcou, muito cedo, que confIgura a omissão inconstitucional não
qualquer pretensão a uma atividade legislativa suscetivel de ser per- só o inadimplemento absoluto de um dever de legislar (omissão
seguida mediante recurso constitucional.231 total), mas também a execução falha, defeituosa ou incompleta desse
mesmo dever (omissão parcial - Teilunterlassung). Assentou-se,
As decisões proferidas em 20.2.57 e em 11.6.58 estavam a sina-
lizar a evolução jurisprudenclal que haveria de ocorrer. Na primeira igualmente, que a lacuna inconstitucional poderia decorrer de uma
mudança nas relações fálicas, confIgurando para o legislador imedia-
decisão, proferida em processo de recurso constitucional, a Corte
Constitucional alemã admitiu, expressamente, o cabimento de medi- to dever de adequação.
da judicial contra omissão parcial do legislador, reconhecendo que, A identifIcação da omissão mconstitucional do legislador, no
ao contemplar determinado grupo ou segmento no ãmbito de apli- juizo de constitucionalidade, tornava imperioso o desenvolvimen-
cação de uma norma, o legislador poderia atentar contra o principio to de novas técnicas de decisão, que se afIgurassem adequadas a
da isonomia, cumprindo de forma defeituosa o dever constitucional eliminar do ordenamento Jurídico essa peculiar forma de afronta
de legislar. 232 Na decisão de 11.6.58, também proferida em recurso à Constituição, sem violentar a própria sistemática constítucional
constitucional (Verfassungsbeschwerde)233 impetrado contra lei fe- consagrada na Lei Fundamental. A Corte Constitucional recusou, de
plano, a possibilidade de substituir-se ao legislador na colmatação
229. Cf. acórdão do Reichsgerichl in RGZ 125/282, no qual se assentou, ex- das lacunas eventualmente identiftcadas, entendendo que a tarefa
pressamente, a Impossibilidade de responsabilização do Estado por ato iegislatlvo. de concretização da Constituição foi confIada, primordialmente, ao
230. Orta Bachar, Die venvaltungsgericht/iche Klage aul Vomahme emer legislador. Assim, tanto o principio da divisão de Poderes quanto o
Amtshandlung, 2i!. ed., p. 18. postulado da Democracia obstavam a que os tribunais se arrogassem
23!. BVer:flJE 1I97 (100).
ao direito de suprir lacunas eventualmente identifIcadas.
232. BVer:flJE 6/257.
233. Acentue-se que o ordenamento alemão não dispõe de mstrumentos es- Essa orientação fez com que o Tribunal desenvolvesse, como
peciais para o controle JudiCial da omissão. O recurso constttucional- Veifassungs- técnica de decisão aplicável aos casos de lacuna inconstitucional,
beschwerde - constituI, na esfera do Bundesverfassungsgerrcht, o linico instrumento a declaração de inconstitucionalidade sem a pronúncia da nulidade
processual autônomo de que o cidadão dispõe para atacar diretamente a omissão do
legislador, desde que logre demonstrar eventual ofensa a um dos direItos fundamen-
(Unvereinbarerkliirung). Trata-se de decisão de caroter mandamen-
taIS. Na maÍoria dos casos cuida-se de Verfassungsbesclnverde dirigida contra ato
normativo. quando se admite que o legIslador satisfez de forma íncompleta o dever de beschwerde). A Urteil- Verfassungsbeschwerde cumpre, em determinada medida, fun-
proteção (Sclmlzpflicht) dimanado de um ou de outro direito fundamental. A maioria ção semelhante à do nosso recurso extraordimmo pertinente à ofensa constitucional,
dos casos refere-se. porém. não às Verfassungsbesclnverde propostas diretamente podendo ser interposta nos casos de lesão aos direitos fundamentais mediante erro do
contra a omissão legislativa. seja ela parcial ou total. mas àquelas dirigidas contra juiz ou tribunal na interpretação e aplicação do Direito.
deCIsão da última instânCIa da junsdição ordinária (chamadas Urteils-Verfassungs- 234. BVer:flJE 8/1 (28).
434 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DlRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 435

tal, que obriga o legislador a suprimir, com a possivel presteza, o 2. Pressllpostos de admissibilidade
estado de inconstitucionalidade decorrente da omissão.235 Essa forma
Considerações preliminares - A adoção de instrumentos espe-
de decisão, construída pela jurisprudência, foi incorporada à lei que
ciais destinados a defesa de direitos subjetivos constitucionalmente
disciplina o processo perante a Corte Constitucional.
assegurados e à proteção da ordem constitucional contra omissão
Outra técnica de decisão, desenvolvida sobretudo para os casos hábil a afetar a efetividade de norma constitucional está a indicar a
de omissão ínconstitucional, é o apelo ao legislador (Appellentschei- existência, em muitos casos, de uma pretensão individual a uma ati-
dung), decisão na qual se afirma que a situação jurídica em apreço vidade legislatIva, emprestando forma jurídica a uma questão até hli
ainda se afigura constitucional, devendo o legislador empreender pouco tratada tradicionalmente como típica questão política.
as medidas requeridas para evitar a consolidação de um estado de Tal como a ação direta de inconstItucionalidade, o processo de
inconstitucionalidade. Essa técnica de decisão assumiu relevância controle abstrato da omissão (ação direta de inconstitucionalidade
ímpar nos casos da legislação pré-constitucional incompatível com a por omissão) não tem outro escopo senão o da defesa da ordem
Lei Fundamental. A cassação dessas leis pre-constitucionais poderia fundamental contra condutas com ela incompatíveis. Não se des-
levar, em muitos casos, a uma situação de autêntico caos jurídico. tina, pela própria indole, à proteção de situações individuais ou de
Dai ter a Corte Constitucional reconhecido que o legislador haveria relações subJetivadas, mas visa, precipuamente, a defesa da ordem
de dispor de um prazo razoável para adaptar o Direito ordinário à jurídica. Não se pressupõe, portanto, aqui, a configuração de um
nova ordem constitucional, reconhecendo como "aínda constitu- ínteresse jurídico específico ou de um interesse de agir. Os órgãos
cional" o Direito anterior, que deveria ser aplicado nessa fase de ou entes incumbidos de instaurar esse processo de defesa da ordem
transição. A doutrina constitucional mais modema considera que jurídica agem não como autores, no sentido estritamente processual,
o apelo ao legislador (Appellentscheidung) configura apenas uma mas como advogados do interesse público - ou, para usar a expressão
decisão de rejeição de inconstitucionalidade, caracterizando-se essa de Kelsen, como advogados da Constituição.238 O direito de instaurar
recomendação dirigida ao legislador como simples obíter dictum. 236 o processo de controle não lhes foi outorgado tendo em vista a defesa
Essa qualificação não retira a eficãcia desse pronunciamento, não de posições subjetivas. Afigura-se suficiente, portanto, a configura-
havendo, até agora, registro de qualquer caso de recalcítrância ou ção de um interesse público de controle. Tem-se aqui, pois - para
de recusa do legislador no cumprimento de dever constitucional de usarmos a denominação usada por Triepel239 e adotada pela Corte
legislar. Constitucional alemã -, tipico processo objetivo.240
No Brasil a ação direta por omissão teve até agora uma aplica- Ressalte-se que, a despeito do entendimento quanto à natureza
ção restrita. Menos de uma centena de ações diretas de inconstitucio- diversa da ação direta de inconstitucionalidade e da ação direta por
nalidade por omissão foram propostas perante o STF.237 omissão, pelo menos quanto ao resultado, o Supremo Tribunal Fe-
deral não distingue os institutos no que concerne à sua autonomia
235.1õm Ipsen, Rechtsfolgen der Veifassungswidngkeit von Norm und Einze- processual, contemplando a ação direta por omissão na mesma lista
lakt. Baden-Baden, 1980, pp. 268-269. numérica das ações diretas em geral (cf. art. 102, l, "a", da CF de
236. Cf.. a propósito: Brun-Otto Bryde. Verfassungsentwicklung, Stabilitãt und 1988 e Resolução n, 230/2002 do STF). Dai a dificuldade para o
Dynamik zm Verfassungsrecht der Bundesrepublik Deutschland, Baden-Baden, 1982,
pp. 397 e 55.; ]õm Ipsen, Rechtsfolgen der Veifassungswidrigkelt von Norm und
238. Nesse sentido, v. Hans Kelsen, Jurisdição Constitucional. São Paulo,
Einzelakt, p. 125. Sobre a diferenciação entre ratio decidendi e obter dictum ("coisa
dita de passagem") (acessoriamente. v. Paulo RónaI. Não Perca o seu Latim, Rio de Martins Fontes, 2003, pp. 175-176.
Janeiro. Nova Fronte~ 1984) - isto é. entre os fundamentos essenciais à prolação 239. O 3rt. 13, § 2u, da ConstItuição de Weimar previa expressamente a afenção
do julgado e aquelas considerações que integram os fundamentos da decísão, mas que abstrata da validade de uma norma na relação entre o Direito federal (Relchsrecht) e
são perfeitamente dispensâveis -, v. Wilfried Sch1üter, Das Obiter Dictum. Munique, o Direito estadual (Landesrecht).
1973, pp. 77 e 55. 240. Cf. também GiImar Ferreira Mendes. Controle de Constilucianalidade:
23? Dados obtidos na Secretaria Judiciária do STF. em janeiro!200? Aspectos Jurídicos e Politicas, São Paulo, SaraIva, 1990, pp. 249 e 55.
436 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 437

estudioso de identificar até mesmo o número de ações díretas por Parâmetro de


ADInn. Objeto
omissão já propostas. controle
Ocorre aqui fenômeno assemelhado ao verificado com a repre- 15 0477IDF Fixação do salário minimo - Leí n. CF, art. 72 , IV
8.178/91
sentação interventiva e a representação por inconstitucionalidade
(controle abstrato) sob a Constituição de 1967/1969, quando acabou 16 0480IDF Vmculação dos beneficios da ADCT, art. 59
previdência social ao salário miníma
por não distinguir a representação de inconstitucionalidade da repre-
17 0529IDF Remuneração dos servidores públicos CF, arts. 37, X, e
sentação interventiva. civis e militares da União - MP D. 296, 39, § I"
arts. 1",2",3',4",5',62 e 72
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 0535IDF Erradicação do analfabetismo e
18 ADCT. art. 60
POR OMISSÃO incentivo ao ensíno fundamental
obrigatório e gratolto - Lei n. 8.175/91
Parâmetro de
ADIoo. Objeto
controle 19 0607IDF Organização da seguridade social e ADCT, art. 59
instituição do Plano de Custeío e de
01 19/AL Aplicação de teta de remuneração para CF, arts. 37. XI e
Beneficios da PrevidêncIa Social -
servidor estadual XII, e 39, § 12
Leis os. 8.212/91 e 8.213/91
02 0022/DF Lei n. 4.215/63 (Estatoto da OAB)
20 0635/RS Isonomia de vencimentos entre os CF, ar!. 39, § I"
03 0023/SP Isonomía de vencimentos dos CF, ar!. 241 Auditores de Finanças Públicas e
Delegados de PolícIa de carreira com os Fiscais de Tributos Estaduals.
outras carreiras jurídicas Constitoição/RS, ar!. 31
04 0031IDF Coovêmo ICM n. 66/88 ADCT. ar!. 40 21 0652IMA Diversos disposihvos da Lei CF, ort. 18, § 4"
05 0033IDF Coovêmo ICM o. 66/88, ar!. 32 , §§ I", CF. art. 155. X. "a" Complementarn.IO/91-MA
22 e 311 ADCT, ar!. 34, § 8" 22 0713/RJ Omissão na sanção e mtempestiva de CF, arts. 34. VI e
06 01301DF Organização e funcionamento da ADCT, ar!. 29, § I" veto aposto por Governador de Estado VII; 36, I, e § 3';
Advocacía-Geral da União oa Lei o. 1.057/86-RJ e66,§§ I 2 e3 2
07 0206IDF Organização da seguridade social e ADCT, ar!. 59 23 0720/RJ OmIssão na sanção e intempestiva de CF, arts. 34, VI e
dos pianos de custeio e beneficío veto aposto por Governador de Estado VII; 36, I, e § 3';
08 0267IDF Elevação da representação do Estado CF, ar!. 45, § 12 na LeI n. 1.057/86-RJ e66,§§ J'e3"
de São Paulo para 70 deputados 24 0799IDF LeI o. 7.719/89 CF, art. 39, § 12
09 0296IDF Instituíção do sistema de carrerra do CF, art. 39 e §§ 25 0823IDF Demarcação de terras mdígenas pela CF, ar!. 231, capu!,
serviço civil da União FUNA!. cUJo orçamento depende parte final
10 0297IDF Revisão do cálculo de aposentadorias ADCT, ar!. 20 de lei orçamentária anual e créditos ADCT, art. 67
e pensões de servidores públicos suplementares ou especíaís
11 0336/SE Várias dispositIvos da Constituição CF, arts. 37. I, II, X 26 0877IDF Implantação da seguridade SOCial e CF. arts. 203, V.
do Estado de Sergtpe. Interveoção do e XIII; 39, § I"; 41; respectivos planos de custeio e 204
Estado nos Municípios; remunerações 48, X; 61, II. "a"; e ADCT, ar!. 59
de servidores e magistrados 167, IV 27 0889IDF Aproveitamento dos censores federais CF, ar!. 61, § I', II.
12 0343IDF Erradicação do analfabetismo e ADCT, art. 60 "a", "c" e "e"
incentivo ao ensino fundamental ADCT, ar!. 23.
obrigatóno e gratoito - Lei o. 7.999/90 paragrafo Unico
13 0361IDF Regulamentação da Lei n. 7.990/89 CF, art. 20, § 1" 28 0986IDF Portaria o. 699/93 do Ministério da CF, art. 150, VI,
14 04431MG Equiparação de indices de reajuste CF, ar!. 37, X Fazenda "d"
entre funcionàrios públicos civis e 29 09891MT ConstitoiçãolMT, ar!. 147, §§ 2". 3' CF, arts. 5". capu!;
militares - LeIo. 1O.364/90-MG e4" 37, capu!, XV
438 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 439

Parâmetro de Parâmetro de
ADInD. Ohjet. ADInn. Ohjet.
controle controle
30 1.177/DF Normas regulamentadoras do CF, ar!. 21, XI 42 1.830/DF MP n. 1.656/98, art. I', parágrafo CF, arts. 7', IV, e
processamento de dados lotéricos Urnco 201, § 2'
31 1.338/DF Estruturação da Polícia Rodoviána CF, art. 144, § 2' 43 1.836/SP Isonomía de vencimentos entre as CF, art. 241
Federal carreíras de Advogado do Estado.
32 1.387/DF MP 0.1.184/95, ar!. I'medida CF, ar!. 39, § I' Defensores Públicos e Delegados de
provisória reeditada sob os os. 1.547- Polícia
30/97 e 1.547-31 44 1.877/DF MP n. 1.663-12/98, arts. 7', 8', 9', lO, CF, arts. 7', IV;
33 1.458/DF Medida Provisória n. 1.415/96, art. I' CF, ar!. 7', IV 11,12,13,14.15,16,17 e28 194, IV; 201, § 2';
medida provIsória reeditada sob o D. e 202
1.463 e reeditada sob os os. 1.463-2. 45 1.987/DF Normas sobre o criténo de rateío do CF, art. 161, II
1.463-3 e 1.463-4, todas de 1996 Fundo de ParticIpação dos Estados
34 1.466/DF Revisão geral de vencimentos, soldos CF. arts. 7', VI; 37, 46 1.996/DF MP n. 1.824/99, arts. I', parágrafo CF, arts. 7', IV; 14
e proventos de servidores públicos X, XII e XV; 39, Unico. 2!l:. 32 e 4Sl medida provísória (EC-20); 68, § I'; e
civís e militares e seus mativos e § 2'; e 194, IV reeditada sob os os. 1.824-01. 1.824- 201, §§ 2', 3' e 42
pensionistas 02, 1.824-03. 1.824-05, todas de 1999
35 1.468/DF MP n. 1.463/96, arts. 1',2',3',42,5' e CF, arts. 5', 47 2.017/DF CompetêncIa do Poder ExecutIvo para CF, ar!. 163
10 MPn. 1.440/96, ar!. 8', §§ 1',2'e XXXVI; 7'. IV;
apresentar projeto de lei compiementar EC o. 19, art. 30
ao Congresso Nacional (Finanças
311 medidas provísórias reeditadas sob 194, parágrafo
Públicas)
00. 1.463·2/96 e os. 1.488/96 e 1.488- único, IV; 195,
13/96 medidas provisórias reeditadas § 6"; 201, § 2'; e' 48 2.061/DF Elaboração da leí anual de revísão CF, art. 37. X
gerai da remuneração dos servidores (EC-19)
sob o o. 1.463-3/96 e o. 1.488-14/96 202
da União
36 1.484/DF Le, o. 9.295/96 CF, arts. 21, XI;
49 2.076/AC Preãmbulo da ConslÍtuição/AC ADCT, ar!. 11
173, § 42; e 220,
50 2.1401RO Lei Complementar n. 96/99 CF, arts. 37; 39; 48,
§ 5'
X; 61, § I', II,
37 1.495/DF Resolução n. 2.303/96 CF, arts. 5', "a"; 84, XXV; e
XXXII; 170, V; e 169, §§ 3', I e II,
174 e6"
38 1.638/DF Lacração de estação de serviço CF, ar!. 215, §§ I'
51 2.154/DF Le, n. 9.688/99, arts. 26, parte final, CF, arts. S', I, II e
de radiodifusão sonora FM pela e2' e27 XXXV. e 102, uj"
Delegacia Regional do Ministéno das CF, arts. 5'.
52 2. 162/DF MP n. 1.933-1012000, arts. I' a 5'
ComunicaçõeslRJ XXXVI; 6"; 7', IV;
39 1.698/DF Erradicação do analfabeusmo e CF, arts. 6"; 23, V; 194, IV; 195, § 6";
incentivo ao ensino fundamental 208, I; e 214 201, § 2'; e 202
obrigatório e gratuito 53 2.205/SP Projeto de lei para a revisão anual da CF, ar!. 37, X
40 1.81O/DF Norma regulamentadora para o CF, ar!. 193 remuneração de servidores (EC-19)
transporte alternativo complementar públicos estaduaIs
I por vans e congêneres 54 2.3 I 8/SE Projeto de lei relativo a reajuste de CF. ar!. 37, X, dc o
41 1.820/DF MP o. 1.652-42/98, ar!. I', parágrafo CF, art. 39, § I' venClIDentos de servidores estaduaIs art. 96, II, "b" .
Unico medida provisória reeditada 55 2.368/DF Projeto de lei relativo à revIsão anual CF, art. 37, caput, e
sob o n. 1.652-43/98 Lei o. 9.641198. da remuneração dos servidores da inciso X
conversão em lei da MP o. 1.652-43 Justiça Trabalhista
440 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETADE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 441

Parâmetro de ADInn, Parâmetro de


ADIDD. Objeta Obje!.
controle controle
56 2.445/DF Projeto de lei para revisão da CF, art. 37, X 70 2.506/CE Elaboração da lei anuai de revIsão CF, arts. 25 e 37, X
remuneração dos servidores da União (EC-19) gerai da remuneração dos servidores
57 2.4811RS Elaboração da lei anual de revísão CF, art. 37, X estaduais
geral da remuneração dos servidores 71 2.507/AL Elaboração da lei anual de revisão CF, arts. 25; 37, X.
estaduais geral da remuneração dos servidores
58 2.486/RJ Elaboração da leI anual de revisão CF, arts. 22, estaduaís.
geral da remuneração dos servidores parágrafo tinico, I; 72 2.508/PA Elaboração da lei anual de revisão CF, arts. 25 e 37, X
estaduaís 25; 37, X; e 169, geral. da remuneração dos servidores
§ ln estaduais
59 2.490/PE Elaboração da leI anual de revisão CF, arts. 25 e 37, X 73 2.509/AM Elaboração da lei anual de revIsão CF, arts. 25 e 37, X
geral da remuneração dos servidores geral da remuneração dos servidores
estaduaÍs estaduais
60 2.491/GO Elaboração da lei anual de reVIsão CF, arts. 25 e 37, X 74 2.5!O/AP Elaboração da leI anual de revisão CF, arts. 25 e 37, X
geral da remuneração dos servidores geral da remuneração dos servidores
estaduais estaduais
61 2.4921SP Elaboração da lei anual de revIsão CF, arts. 25 e 37, X 75 2.511/PB Elaboração da lei anual de revisão CF, arts. 25 e 37, X
" geral da remuneração dos servidores geral. da remuneração dos servidores
estaduais estaduais
62 2.493/PR Elaboração da lei anual de revisão ----=-=
CF, arts. 25 e 37, X 76 2.5121MT Elaboração da lei anual de revIsão CF, arts. 25 e 37, X
gerai da remuneração dos servidores geral da remuneração dos servidores
estaduais estaduais
63 2.495/SC Projeto de lei sobre a revisão geral CF, arts. 25 e 37, X 77 2.516/AC Elaboração da lei anu~l de reVIsão CF, arts. 25 e 37, X
anual da remuneração dos servidores geral da remuneração dos servidores
estaduais estaduaIs
64 2.496/MS Elaboração da lei anual de revisão CF, arts. 25 e 37, X 78 2.517/SE Elaboração da lei anual de revIsão CF, arts. 25 e 37, X
geral da remuneração dos servidores geral da remuneração dos servidores
estaduais estadUaIS
65 2.497/RN Elaboração da lei anual de revIsão CF, arts. 25 e 37, X
79 2.518/R0 Elaboração da leí anual de revisão CF, arts. 25 e 37, X
geral da remuneração dos servidores

66 2.498/ES
estaduais
Elaboração da lei anual de revIsão CF, arts. 25 e 37, X
. geral da remuneração dos servidores
estaduais
80 2.519/RR Elaboração da lei anual de revisão CF, arts. 25 e 37, X
geral da remuneração dos servidores
geral da remuneração dos servidores
estaduais
estaduais
67 2.503/MA Elaboração da leí anual de revisão CF, arts. 25 e 37, X
geral da remuneração dos servidores 81 2.520/PI Elaboração da lei anual de revisão CF, arts. 25 e 37, X
estaduais geral da remuneração dos servidores
estaduais
68 2.504/MG Elaboração da lei anual de revisão CF, arts. 25 e 37, X
geral da remuneração dos servidores 82 2.523/BA LeI n. 6.677/94, art. 258 CF, arts. 25 e 37, X
estaduais 83 2.524rrO Elaboração da lei anual de revisão CF, arts. 25 e 37, X
69 2.505/BA Projeto de lei para a revisão da CF, arts. 25 e 37, X geral da remuneração dos servidores
remuneração dos servidores estaduais estaduaís
442 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 443

Parâmetro de Parâmetro de
ADIn n. Obíeto ADInD. Objeto
controle cODtrole
84 2.52S/DF Elaboração da lei anual de revísão CF. arts. 2S e 37. X 101 ADO Plano de cargos do Poder Judiciáno CF. art. 39, § I'
geral da remuneração dos servidores 3-RJ
distritais (ADI
8S 2.537/SE Elaboração da lei anual de revisão CF. arts. 2S e 37. X 3.364-RJ)
geral da remuneração dos servidores 102 ADO Revisão geral anual da remuneração CF. art. 37. X (EC
distritaIS 4-AM de servidores públicos estaduaís 19)
86 2.5S7/MS Projeto de lei de reVisão geral anual CF. art. 37. X (ADI
da remuneração de servidores do 2.740-
Iudiciário estadual AM)
87 2.563/DF Fixação de subsídio de Ministro CF. ar!. 37. XI 103 ADO Revisão geral anual da remuneração CF. art. 37. X (EC
do STF e implantação de teta (EC-I9) S-DF dos servidores públicos da JustIça do 19)
remuneratório estadual (ADI Trabalho
88 2.634/DF MP n. 1.911/99 CF. ar!. 194. VII 2.36S-
(EC-20) DF)
89 2.740/AM Constitwção/AM. ar!. 109. VIII. CF. ar!. 37. X. 104 ADO Subsídios às carreiras do Ministério CF. arts. 128. § S".
90 2.778/MG ConstitUlção/MG. arts. 141. clc ar!. CF. ar!. 144. §§ 4" 6-PR Público, Procuradores, Advogados e I, "c", 135, 144, §
136. I. e 139 e6J! Defensores Públicos, Policíais Civís, 9·. e 39. § 4"
3.276/CE Constituição/CE. arts. 71, § 2'. I e II, e CF. arts. 73, § 2'.
Policiais Militares e Bombeíros
91
79, § 2'. II. "c" (EC-54) I. e 75 !OS ADO Subsídios de magístrados estaduaÍs CF. art. 93. V
7-AM
92 3.302IMS Revisão geral anual da remuneração CF, art. 37. X
dos servidores públicos (EC-19) * A classe ADO foi criada em outubro12008, tendo sido decidido pela Presidência do STF
93 3.303/DF Lei n.10.331/2001. ar!. I· CF. arts. 37. X. e que as ações diretas de inconstituCIOnalidade por omissão em tramitação senam reautuadas
61, § }12, II. "a" em tal classe.
94 3.364/RJ Lei n. 3.89312002. ar!. S", § I'. I e II CF. ar!. 39, § I' ** Atualizada em abri1l2009.
9S 3.57S/DF Remuneração dos advogados federais, CF. ar!. 13S Fonte: Dados obtidos nas bases do STF.
integrantes da Advocacia-Geral da
União
Legitimação para agir - Todos hão de concordar que. no to-
96 3.622/DF Implantação da Defensoria Pública da CF. arts. S·,
União LXXXVLe 134
cante à ação direta de inconstitucionalidade por omissão. a fórmula
97 3.682IMT Criação de Municipío CF, ar!. 18, § 4" escolhida pelo constituinte, já do ponto de vista estritamente formal.
(EC-IS) não se afigura isenta de criticas. O art. 102 da Constituição Federal.
98 3.902IMA Padrões remunerativos das carreiras CF. arts. 52, capzll. que contém o elenco das competências do Supremo Tribunal Federal.
do cargo de ofictal de jusuça de e 39 § I' não contempla a ação direta por omissão. limitando-se a mencionar
primeiro grau a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal
99 ADO Subsídios dos Ministros do STF CF. art. 48. XV ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato
l-DF * normativo federal (art. 102. I, "a", com redação da EC n. 3/93).
(ADI
2.563-DF) No art. 103. capu!, fixam-se os entes ou órgãos legitimados a
100 ADO Implantação da Defensaria Pública da CF. arts. S'. propor a ação direta de inconstitucionalidade. Parece evidente que
2-DF União LXXIV, e 134. essa disposição refere-se à ação direta de inconstitucionalidade de
(ADI lei ou ato normativo estadual ou federal. prevista no art. 102. I. "a",
3.622-DF)
já menCIonado.
444 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 445

Se tivermos o cuidado de investigar o Direito Comparado, ha- 3. Objeto


veremos de perceber que o constituinte português de 1976 tratou de
forma diversa os processos de controle abstrato da ação e da omissão, Considerações preliminares - Nos termos do ar!. 103, § 2·, da
CE a ação direta de inconstitucionalidade por omissão visa a tomar
também no que concerne ao direito de propositura. Enquanto o pro-
efetiva norma constitucional, devendo ser dada ciência ao Poder
cesso de controle abstrato de normas pode ser instaurado mediante
competente para adoção das providências necessárias. Tratando-se
requerimento do Presidente da República, do Presidente da Assem-
de órgão administrativo, será determinado que empreenda as medidas
bléia, do Primeiro-Ministro, do Provedor da República. de um déci-
reclamadas no prazo de 30 dias.
mo dos Deputados à Assembléia da República (ar!. 201·, 1, "an ), o
ObJeto desse controle abstrato da inconstitucionalidade ti a mera
processo de controle abstrato de omissão, propriamente dito, somente
inconstitucionalidade morosa dos órgãos competentes para à concre-
pode ser instaurado a requerimento do Presidente da República e do
tização da norma constitucional. A própria formulação empregada
Provedor de Justiça (ar!. 283·).
pelo constituinte não deixa dúvida de que se teve em vista, aqui,
Ressalte-se que a afirmação segundo a qual os órgãos e entes não só a atividade legislativa, mas também a atividade tipicamente
legitimados para propor a ação direta de inconstitucionalidaile de lei administrativa que pudesse, de alguma maneíra, afetar a efetividade
ou ato normativo, nos termos do ar!. 103, caput, estariam igualmente de norma constitucional.
legitimados a propor a ação direta de inconstitucionalidade por omis- Questão relevante diz respeito à competência do Supremo
são prepara algumas dificuldades. Tribunal Federal para apreciar eventual inconstitucionalidade por
Deve-se notar que, naquele elenco, dispõem de direito de ini- omissão de órgãos estaduais.
ciativa legislativa. no plano federal, tanto o Presidente da República O texto constitucional outorgou ao Supremo Tribunal Federal
como os integrantes da Mesa do Senado Federal e da Mesa da Câma- a competência para julgar a ação direta de inconstitucionalidade de
ra do Deputados (CF, ar!. 61). lei ou ato normativo federal ou estadual (ar!. 102, I, "an ). A função
de guardião da Constituição, que Jb.e foi expressamente deferida, e a
Assim, salvo nos casos de iniciativa privativa de órgãos de ou- idéia subjacente a inúmeros institutos de controle, visando a concen-
tros Poderes - como é o caso do STF em relação ao Estatuto da Ma- trar a competência das questões constitucionais na Excelsa Corte, pa-
gistratura (ar!. 93, caput, da CF) -, esses órgãos constitucionais não recem favorecer o entendimento que estende ao STF a competência
poderiam propor ação de inconstitucionalidade, porque, enquanto para conbecer de eventuais omissões de órgãos legislativos estaduaIS
responsáveis ou co-responsáveis pelo eventual estado de inconstitu- em face da Constituição Federal no âmbito dessa peculiar ação direta.
cionalidade, seriam eles os destinatários primeiros da ordem judicial
de fazer, em caso de procedência da ação. Omissão legislativa, Considerações preliminares - Não pa-
rece subsistIr dúvida de que a concretização da Constituição há de
Todavia. diante da indefinição existente, será inevitável - com
ser efetivada. fundamentalmente, mediante a promulgação de lei.
base, mesmo, no princípio de hermenêutica que recomenda a ado-
Os princípios da Democracia e do Estado de Direito (ar!. 1°) têm na
ção da interpretação que assegure maior eficácia possível á norma
lei instrumento essencial. Não se trata. aqui, apenas de editar normas
constitucional - que os entes ou órgãos legitimados a propor a ação reguladoras das mais diversas relações, mas de assegurar sua legiti-
direta contra ato normativo - desde que sejam contempladas as pe- midade mediante a aprovação por órgãos democraticamente eleitos.
culiaridades e restrições mencionadas - possam instaurar o controle
A Administração Pública está vinculada expressamente, den-
abstrato da omissão.241
tre outros, ao principio da legalidade (ar!. 37). Toda a organízação
políticocadministrativa fundamental, no âmbito federal, estadual e
241. Cf. Projeto de Lei n. 2.227/2007, no "Apêndice". municipal, há de ser realizada mediante lei (cf., V.g.. arts. 18, §§ 2· a
446 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 447
AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE

42,25, caput e § 3', 29, 32, 33, 39, 43, 93, 128, § 5R, 131, 142, § IR, e Nos casos de iniCIativa reservada não há dúvida de que a ação
146). O sistema tributário nacional, o sistema das finanças públicas e direta de inconstitucionalidade por omissão buscara, em primeira
o sistema financeiro nacional dependem de lei para sua organização linba, desencadear o processo legislativo.
e funcionamento (arts. 146, 163 e 165). Questão que ainda estâ a merecer melhor exame diz respeito à
O art. 5R, II, da CF reproduz a clássica formulação do Direito i/1ertia delibera/1di (discussão e votação) no âmbito das Casas Legis-
Constitucional brasileiro segundo a qual "ninguém será obrigado a lativas.243 Enquanto a sanção e o veto estão disciplinados, de forma
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei", Con- relativamente precisa, no texto constitucional, inclusive no que con-
sagrando, de forma ampla, o princípio da reserva legal. O princípio cerne a prazos (art. 66), a deliberação não mereceu do constituinte,
da reserva legal e da anterioridade da lei definidora de crime está no tocante a esse aspecto, uma disciplina mais minuciosa. Rçssalvada
constitucionalmente assegurado (arl. 5R, XXXIX). As diversas res- a hipótese de utilização do procedimento abreviado previsto no art.
trições aos direitos fundamentais somente poderão ser estabelecidas 64, §§ IR e 2', da CF, não foram estabelecidos prazos para a apre-
mediante lei, que não pode afetar seu núcleo essencial, como expres- ciação dos projetos de lei. Observe-se que mesmo nos casos desse
são da cláusula pétrea consagrada no art. 60, § 42, da CF. procedimento abreviado não há garantia quanto á aprovação dentro
Todas essas considerações estão a demonstrar que a concreti- de determinado prazo, uma vez que o modelo de processo legislativo
zação da ordem fundamental estabelecida na Constituição de 1988 estabelecido pela Constituição não contempla a aprovação por de-
carece, nas linhas essenciais, de lei. Compete ás instâncias políticas curso de prazo.
e, precipuamente, ao legislador a tarefa de construção do Estado Quid ju"s, então, se os órgãos legislativos não deliberarem
Constitucional. Como a Constituição não basta em si mesma, têm dentro de um prazo razoável sobre projeto de lei em tramitação? Ter-
os órgãos legislativos o poder e o dever de emprestar conformação se-ia, aqui, uma omissão passível de vir a ser considerada morosa no
à realidade social. A omissão legislativa constitui, portanto, objeto processo de controle abstrato da omissão?
fundamental da ação direta de inconstitucionalidade em apreço. O STF tem considerado que, desencadeado o processo legislativo,
Esta pode ter como objeto todo o ato complexo que forma o não ha que se cogitar de omissão inconstitucional do legislador.244
processo legislativo, nas suas diferentes fases. Destinatário principal
Essa orientação há de ser adotada com temperamento.
da ordem a ser emanada pelo órgão judiciário é o Poder Legislativo.
O sistema de iniciativa reservada, estabelecido na Constituição Fe- A complexidade de algumas obras legislativas não permite que
deraI, faz com que a omissão de outros órgãos, que têm competência elas sejam concluídas em prazo exíguo. O próprio constituinte houve
para desencadear o processo legislativo, seja também objeto dessa por bem excluir do procedimento abreViado os projetos de código
ação direta de inconstitucionalidade.242 (CF, art. 64, § 42), reconbecendo expressamente que obra dessa en-
vergadura não poderia ser realizada de afogadilho. Haverá trabalhos
242. Nos termos do art. 61. § l!:t, da CF. são de íníciativa do Presidente da '
República as leIS que: (a) fixem efetivos das Forças Annadas: (b) disponham sobre extinção de cargos de seus serviços auxiliares e a fixação de vencimentos de seus
(1) criação de cargos. funções ou empregos públicos na Administração direta e au- membros e servidores.
tárquIca ou aumento de sua remuneração; (2) organízação admmtstrativa e Judiciâna. Também os Tribunais Superiores dispõem de iniciat:J.va reservada para as leis
matéria tributária. orçamentária, serviços públicos e pessoal da adrninístração dos de alteração do número dos membros dos tribunaiS Inferiores. a criação e extmção
Terntónos; (3) servidores públicos da União e Territónos, seu regune Jurídico, pro- dos cargos e fIXação dos vencunentos de seus membros, dos Juizes. inclusive dos
vímento de cargos. estabilidade e aposentadoria de civis, reforma e transferênCia de tribunaiS inferiores, onde houver, e dos serviços auxiliares e os dos JUizos que lhe
militares para a matividade; (4) organização do Ministério Público e da Defensona
forem vinculados (art. 96, !l, "b"l.
Pública da União. bem como normas geraIS para organização do Ministêrio Público e
da Defensaria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; (5) criação e 243. A referênCIa. aqui. diz respeíto âs fases de discussão e deliberação do
estruturação e atribuíções dos Ministérios e órgãos da Administração Pública. processo legislativo.
Da mesma forma. é da iniciativa exclUSiva do STF a leí complementar dis- 244. Cf., nesse sentido: ADIn n. 2.495, ReI. Min. limar Gaivão, J. 2.5.2002,
pondo sobre o Estatuto da Magistratura (art 93), as leis que prevêem a criação e a DJU2.8.2002.
448 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 449

legislativos de Igualou maior complexidade. Não se deve olvidar, Tem-se omissão absoluta quando o legislador não empreende a
outrossim, que as atividades parlamentares são caracterizadas por providência legislativa reclamada. Constatam-se semelhanças com a
veementes discussões e dificeis negociações, que decorrem, mesmo, omissão total ou absoluta nos casos em que eXiste um ato normativo
do processo democrático e do pluralismo político reconhecido e con- que, todavia, atende parcialmente à vontade constitucional. 24 ' Trata-
sagrado pela ordem constitucional (art. 12 , caput e inciso I). Orlando se de omissão parcial.
Bittar, distinguindo os Poderes, dizia que o Legislativo é intennitente;
o Executivo, pennanente; e o Judiciário só age provocado. Ou seja, Entretanto, como ressaltado, a Jurisprudência do STF somente
o Legislativo pode parar por algum tempo - isto é, entrar em recesso. reconhece a omissão inconstitucional se se verifica o madimple-
mento do dever constitucíonal de legislar. TodaVIa, é de se indagar
Essas peculiaridades da atividade parlamentar - que afetam,
sobre as normas conslltucionais que impõem um dever constitucional
inexoravelmente, o processo legislativo - não justificam, todavia,
uma conduta manifestamente negligente ou desidiosa das Casas de legislar de conteMo definido, hábil a ser aferido nos processos
Legislativas; conduta, esta, que pode pôr em risco a própria ordem especiais de controle da omissão. Dai parecer coerente um levan-
constitucional. tamento de algumas questões decorrentes da aplicação dos direitos
fundamentais.
Não temos dúvida, portanto, em admitir que também a inertia
deliberandi das Casas Legislativas pode ser obJeto da ação direta de
A omissão parcial- Tanto a introdução de uma especial garan-
inconstitucionalidade por omissão. Assim, pode o STF reconhecer a
tia processual para a proteção de direitos subjetivos constitucional-
'I mora do legislador em deliberar sobre a questão, declarando, assim,
mente assegurados quanto a adoção de um processo abstrato para
a inconstitucionalidade da omissão.245
o controle da ínconstitucionalidade por omissão legislativa estão a
A omissão inconstitucIOnal pressupõe a inobservância de um de-
demonstrar que o constitumte brasileiro partiu de uma nitida dife-
ver constitucional de legislar, que resulta tanto de comandos explíci-
renciação entre a inconstitucionalidade por ação e a inconstitucío-
tos da Lei Magna246 como de decisões fundamentais da Constituição
nalidade por omissão.
identificadas no processo de interpretação.>47
A tentativa de proceder a essa· clara diferenciação não se afigura
245. Em 9.52007 o STF, por unammidade,julgou procedente a ADIn n. 3.682, isenta de dificuldades. 249 Se se considera que, atendida a maioria das
ReI. Gilmar Mendes. ajuizada pela Assembléia Legíslativa do Estado de Mato Grosso exigências constitucionais de legislar, não restarão senão os casos
contra o Congresso NaCIonal, em razão da mora na elaboração da lei complementar
federal a que se refere o art. 18, § 40, da CF. na redação da EC n. 15/96 (nA criação. a de omissão parcíal (Teilunterlassung), seja porque o legislador pro-
incorporação. a fusão e o desmembramento de MuníciploS far-se-ão por lei estadual. mulgou norma que não corresponde, plenamente, ao dever constitu-
dentro do período detenninado por lei complementar federal ...."). Não obstante os donal de legislar, seja porque uma mudança das relações juridicas
vânos projetas de lei complementar apresentados e discutidos no âmbito das duas
Casas Leglslatívas, entendeu-se que a mertia deliberandi (discussão e votação?
também podena configurar omissão passível de vir a ser reputada mconstitucional no 247. BVeifGE 56/54 (70 e ss.) e 55137 (53); Peter Hem, Die Unvereinbarkel-
caso de os órgãos legislativos não deliberarem dentro de um prazo razoável sobre o tklãnmg veifosslmgswidnge Gesetze durch das Bundesveifassungsgericht, Baden-
projeto de lei em tramitação. No caso, o lapso temporal de mais de 10 anos desde a Baden, 1988, p. 57; BVeifGE, Vorprufungsaussehuss NJJV 1983/2931 (Waldsterben).
data da publicação da EC n. 15/96 evidenCIOU a jnatividade do legjslador. Ademais, 248. Peter Lerche, "Das Bundesverfassungsgericht und die Verfassungsdirekti-
a omissão legislativa produziu íncontestáveis efeitos durante o longo tempo transcor- ven, Zu den 'meht erfilllten Gesetzgebungsauftrãgen"', AâR 901341 (352), 1965;
rido, no qual varios Estados-membros legislaram sobre o tema e diversos Mumdpios Fríednch JOlicher, Die Veifossungsbeschwerde gegen Urteile bel gesetzgebenschem
foram efetivamente criados com base em requisítos definidos em antigas legislações Unterlossen, p. 33; Stern, Bonner Kommentar, 2i! tIr.. art. 93, RdNr. 285; Hans
estaduais, alguns, incíusíve. declarados Inconstitucionais pelo STF (DJU 6.9.2007). Lechner, "Zur Zulãssigkeit der Verfassungsbeschwerde gegen Unterfassungen des
246. BVeifGE 61257 (264); Christian Pestalozza. "'Noeh verfassungsmiisSlge' Gesetzgebers", NJJV 19551181 e ss.; Sehmidt-Bleibtreu, ln Maunz e outros, B VeifGG.
und 'bloss verfassungswidrige' Rechtslagen", In Bundesveifassungsgericht und § 90, RdNr. 121.
Grundgesetz, v. I, TUbingen, 1976, p.- 526; Fnedrích Jülicher. Die Verfossungsbes- 249. Hans-Uwe Encbsen. Staatsrecht und Veifossungsgerichtsbarkeu. 2i1 ed.. v.
c/nverde gegen Urteile bei gesetzgeberischem Unterlossen, Berlim, 1972, p. 13. II, Munique, 1979, pp. 169-170.
450 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 451

ou fáticas impõe-lhe um dever de adequação do complexo existente Embora a omissão do legislador não possa ser. enquanto tal.
(Nachbesserungspjlicht).250 objeto do controle abstrato de nonnas.256 não se deve excluir a pos-
Destarte. decorrido algum tempo da promulgação da Lei Magna. sibilidade de que. como já mencionado. essa omissão venha a ser
não se logrará identificar - com a ressalva de uma ou de outra exce- examinada no controle de nonnas.
ção - uma omissão pura do legislador. O atendimento insatisfatório Dado que no caso de uma omissão parcial existe uma conduta
ou incompleto de exigência constitucional de legislar configura. sem positiva. não ha como deixar de reconhecer a admissibilidade. em
dúvida. afronta ii Constituição. 251 A afirmação de que o legíslador principio. da aferição da legitimidade do ato defeituoso ou incomple-
não cumpnu integralmente dever constitucional de legislar25 2 con- to no processo de controle de nonnas, aioda que abstrato.257
tém. implícita. uma censura da própria nonnação positiva.253 Tem-se. pois. aqui. uma relativa mas ioequívoca fungibilidade
A declaração de inconstitucionalidade da omissão parcial do entre a ação direta de inconstitucionalidade (da lei ou ato nonnativo)
legislador - mesmo nesses mecanismos especiais como o mandado e o processo de controle abstrato da omíssão. uma vez que os dois
processos - o de controle de nonnas e o de controle da omíssão -
de iojunção e a ação direta de ioconstitucionalidade por omissão -
acabam por ter o mesmo objeto. fonnal e substanCialmente; isto é.
contém. portanto. a declaração da inconstitucionalidade da lei.254
a inconstitucionalidade da nonna. em razão de sua iocompletude 258
A imprecisa distinção entre ofensa constitucional por ação ou
É certo que a declaração de nulidade não configura técnica ade-
por omissã0255 leva a uma relativização do significado processual-
quada para a eliminação da situação ioconstitucional nesses casos de
constitucional desses instrumentos especiais destinados à defesa da
omíssão. Uma cassação aprofundaria o estado de ioconstitucionalida-
ordem constitucional ou de direitos individuais contra a omissão
de. tal como ja admítido pela Corte Constitucional alemã em algumas
legislativa. De uma perspectiva processual. a principal problemá- decisões. A soma de duas omissões não gera uma ação ou afirmação.
tica assenta-se. portanto. menos na necessidade de instituição de mas uma "omissão ao quadrado". Ou, Marx: a soma de dois "erros"
detenninados processos destinados a controlar essa fonna de ofensa não dá um acerto~ mas um "erro ao quadrado",
constitucional que na superação do estado de inconstitucionalidade
O STF. em Julgado relativo à suposta exclusão de beneficio
decorrente da omissão legislativa.
incompatível com o principio da igualdade. afmnou que não caberia
à Corte converter a ação direta de ioconstitucionalidade em ação de
250. Cf.. a propÓSitO. Fnedrich Jil.licher, Die Veifassungsbeschwerde gegen
Urteile bel gesetzgebenschem Unterlassen, p. 33; Peter Lerche, "Das Bundesverfas-
inconstitucionalidade .por omíssão. Tratava-se de argüição na qual
sungsgencht und die Verfassungsdirektiven...... AõR 90/341 (352), 1965. se sustentava que o ato da Receita Federal. "ao não reconhecer a
251. Wolf-Rndiger Schenke. Rechtsschutz bel normalivem Unrecht. Berlim, não-incidência do imposto [IPMF] apenas quanto à movimentação
1979. p. 169; Chnstoph Gusy, Parlamentanscher Gesetzgeber und Bundesver- bancária ocorrida nas aquisições de papel destmado à unpressão de
fassungsgenclzt, Berlim. 1985, p. 152; Bernd JUrgen Schneider, Die Funl..1ion der Iivros,jornais e periódicos promovidas pelas empresas jornalísticas",
Nonnenkontrolle und des nchterlichen Prüfongsrechts 1m Rahmen der Rechtsfolgen-
bestimmung veifassungsswidriger Gesetze. Frankfurt am Main, 1988, p. 148. estaria "impondo a exigênCIa do imposto relativamente às demais
252. Cf. Gilmar Ferreira Mendes. Die abstrakte Normenkontrolle vor dem operações financeiras de movimentação e transferência praticadas
Bundesverfassungsgenchts und vor dem brasiliamschen Supremo Tribunal Federal,
Berlim. 1991. 256. Ernst Friesenhahn. Die Verfassungsgenehtsbarkelt m der Bundesrepublik
253. Peter Lerche, "Das Bundesverfassungsgericht und die Verfassungsdirektt- DeutseMand. KõlnlBerlim/Bonn/Munique, 1963, p. 65.
ven...". AaR 90/341 (352), 1965; Gerhard Ulsamer. f i Maunz e outros. BVerfGG. 257. Chnstoph Gusy, Parlamentanscher Gesetzgeher und Bundesverfassun-
§ 78. RdNr. 22.Fn. 3; cf.• a propósito. BVerfGE II 10 1; 6/257 (264),8/1 (10). gsgencht, p. 152.
254. BVerfGE 8/1 (10) e 22/349 (360). 258. Sobre o tema, v. o voto do Min. Sepúlveda Pertence no Julgamento do
255. Hans-Uwe Erichsen. Staatsrecht und Veifassungsgerichtsbarkeit. 211 ed., v. pedido de concessão de medida cautelar na ADIn n. 526, contra a MP n. 296/91.
II, pp. 129-170; Chnstian Pestalozza, "'Noch verfassungsmãssige' ....., in Bundesver- transcrito -nesta Sexta Parte, n. V. item "Declaração de inconstitucIOnalidade com
fassungsgeneht und Gnmdgesetz, v. 1, p. 519 (526,530). efeitos ex tunc e declaração de inconstitucionalidade com efeitos ex nunc".
452 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 453

por essas empresas. em operações vinculadas à feitura do jornal. Portanto, a questão fundamental reside menos na escolha de um
livros e periódicos, tais como pagamentos a fornecedores de outros processo especial que na adoção de uma técnica de decisão apro-
insumos. pagamentos de mão-de-obra e serviços necessários à Con- priada para superar as situações inconstitucionais propiciadas pela
- d'
fiecçao o Jornal(.... )"259
. chamada omissão legislativa.
E fundamenta a Corte: "Configurada hipótese de ação de in- E fácil ver, assim, que a introdução de um sistema peculiar
constitucionalidade por omissão, em face dos termos do pedido. com para o controle da omissão e o entendimento de que, em caso de
base no § 2~ do art. 103 da Lei Magna. o que incumbe ao Tribunal- constatação de uma ofensa constitucional em virtude da omissão do
afIrma o Relator. Min. Néri da Silveira - é negar curso à ação direta legislador, independentemente do processo em que for verifIcada, a
de inconstitucionalidade ui art. 102. l, 'a', do Estatuto Supremo". Na falha deve ser superada, mediante ação do órgão legiferante, colo-
mesma linha de argnmentação. concluiu o Min. Sepúlveda Pertence caram os pressupostos para o desenvolvimento de uma declaração
que "o pedido da ação direta de inconstitucionalidade de norma é de de inconstitucionalidade sem a pronUncia da nulidade também no
todo diverso do pedido da ação de inconstitucionalidade por omis- Direito brasileiro.
são", o que tornaria "inadmissível a conversão da ação de inconstitu-
cionalidade positiva. que se propôs. em ação de inconstitucionalidade Casos relevantes de omissão legislativa na jurisprudência do
por omissão de normas".260 STF-Já em 1989 o STF fIrmou tese, no Julgamento daADIn n. 19
(Rel. Min. Aldir Passarinho), no· sentido de que não cabe a ação dire-
Ao contrário do afumado na referida decisão. o problema não
'i - ta por omissão para deterininar a prática de ato administrativo, uma
decorre propnamente do pedido, até porque, em um ou em outro vez que essa ação destina-se ao tratamento da inconstitucionalidade
caso. tem-se sempre um pedido de declaração de inconstitucionali- por omissão de cunho normativo. Também na ADIo n. 130 (ReI. Min.
dade. Tratando-se de omissão, a própria norma incompleta ou defeI- Sepúlveda Pertence) a Corte concluiu pela perda de objeto de ação
tuosa há de ser suscetível de impugnação na ação direta de inconstí- direta por omissão quando dirigida exclUSIvamente contra ausência
tucionalidade, porque é de uma norma alegadamente inconstítucional de miciatíva do Chefe do Poder Executivo Federal, quando o projeto
que se cuida, ainda que a causa da inconstítucionalidade possa residir de leijá tinha sido encaminhado ao Congresso Nacional (14.12.89).
na sua incompletude.
Na liminar referente à ADIn n. 336, concedida parcialmente
Evidentemente, a cassação da norma inconstítucional (declara- para suspender os efeitos de dispositívos específIcos da Constituição
ção de nulidade) não se mostra apta. no mais das vezes, para solver do Estado de Sergipe até o julgamento fInal da ação. o STF inaugu-
os problemas decorrentes da omissão parcial, mormente da chamada rou jurisprudência no sentído de que a concessão da liminar pode
exclusão de beneficio íncompalível com o principio da igualdade. ocorrer nos casos de omissão parcial.26l
É que ela haveria de suprimir o benefIcio concedido, em princípi~ Nas ADIn ns. 529 e 525, julgadas em 1991. o STF enfrentou o
licitamente, a certos setores. sem permitir a extensão da vantagem dilema entre a declaração de inconstitucionalidade por ação de uma
aos segmentos discriminados. norma e a inconstitucionalidade por omissão da mesma norma. Tam-
A técnica da declaração de nulidade, concebida para eliminar a bém, nesses precedentes. fIrmou posicionamento no sentído de que
inconstitucionalidade causada pela intervenção indevida no âmbito quando se trata de omissão total não cabe a liminar.262
de proteção dos direitos individuais. mostra-se insufIciente como Em 1992, no julgamento do MI n. 395 (Rel. Min. Moreira
meio de superação da inconstítucionalidade decorrente da omissão Alves), o STF fIrmou tese de que não são fungíveis o mandado de
legislativa.
261. Liminarjlllgada em 24.9.90. Nesse mesmo sentido:ADIn n. 652 (18.12.91)
259. ADIn n. 986. ReI. Min. Néri da Silveira, DJU 8.4.94. eADIn n. 2.040 (15.12.99).
260. Idem, ibidem. 262. No mesmo sentido as ADIo os. 361 (3.8.98) e 267 (8.8.2002).
454 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 455

injunção e a ação direta por omissão. A impossibilidade de conversão ajuizadas nos últimos anos)265 parecem ter dado ensejo a iniciativas
da ação direta de inconstitucionalidade em ação direta de incons- legislativas no âmbito federal e estadual- o que pode revelar alguma
titucionalidade por omissão ficou consignada na ADInlMC n. 986 vitalidade para um instituto até então condenado a uma certa letargia
(ReI. Min. Néri da Silveira), na ADIu n. 1.439 (Rel. Min. Celso de ou ineficácia, se for considerada sua históna no âmbito da Jurispru-
MeIlo) e na ADInlQO n. 1.442 (também da relatoria do Min. Celso dência do STF.
de MeIlo).263
Omissão de providência de índole administrativa. Exercício
A Corte Suprema registrou a mora do Chefe do Poder Executivo de poder regulamentar - Embora as omissões de providências de
para enviar projeto de lei ao Congresso Nacional na ADIn n. 2.06 I indole administrativa não se afigurem adequadas, em principio, para
(29.6.2001), fixando prazo para as providências relativas á omissão, afetar, primariamente, a efetividade de uma norma constitucIOnal
no que tange à elaboração da lei anual de revisão geral da remunera- (até porque, como resulta da própria estrutura constitucional, essa
ção dos servidores da União. tarefa foi confiada, primordialmente, ao legislador), não se pode ne-
Em 2005 o STF julgou procedente a ADIu n. 3.276 (2.6.2005) gar que o constituinte contemplou eventual omissão das autoridades
para declarar a inconstitucionalidade por omissão em relação à cria- admímstrativas como objeto dessa modalidade de controle direto de
ção das carreiras de auditores e de membros do Ministério Público ínconstitucionalidade.
Especial junto ao TCE, no Estado do Ceará. E possivel que a omissão de ato ou providência administra-
Em 9.5.2007, julgando a ADIu n. 2.240, declarou a inconstitu- tIva mais relevante, nesse âmbito, se refira ao exercício do poder
cionalidade, sem pronúncia da nulidade, da Lei n. 7.619/2000, do regulamentar. Não raras vezes a lei fixa prazo para a edição de ato
Estado da Bahia, que criou o Município de Luis Eduardo Magalhães regulamentar. fixando uma condUto para sua execução. Nesse caso,
e manteve a vigência da citada lei pelo prazo de 24 meses, lapso cumpre ao ExecutIvo diligenciar a regulamentação no prazo estabe-
temporal razoável para o legislador estadual reapreciar o tema, tendo lecido ou, se julgá-lo exiguo, postular na Justiça contra a violação do
como base os parâmetros da lei complementar federal a ser edita- seu direito-função. 266 Sua omissão não tem o condão de paralisar a
da.264 eficácia do comando legal, devendo ser entendido que, decorrido o
Na mesma data, julgando a ADIu n. 3.682, entendeu o STF que lapso de tempo estabelecido pelo legislador para a regulamentação
a inenia deliberandi (discussão e votação) também configura omis- da lei, esta será eficaz em tudo que não depender do regulamento.267
são passível de vir a ser reputada inconstitucional se os órgãos legis-
lativos não deliberarem dentro de um prazo razoável sobre projeto de 265. ADIo os. 336·SE; 443-MG; 529-DF; 1.466-DF; 2.061-DF; 2.205-SP;
2.318-SE; 2.445-DF; 2.481-RS; 2.486-RJ; 2.490-PE; 2.491-00; 2.492-SP; 2.493-PR;
lei em tramitação. No caso, fixou-se prazo de 18 meses para o Con- 2.495-SC; 2.496-MS; 2.497-RN; 2.498-ES; 2.503-MA; 2.504-MG; 2.505-BA; 2.506·
gresso Nacional adotar todas as providências legislativas necessárias CE; 2.507-AL, 2.508-PA; 2.509-AM; 2.51O-AP; 2.511-PB; 2.512-MT; 2.516-AC;
ao cumprimento do dever constitucional imposto pelo art. 18, § 4J1, , 2.517-SE; 2.518-RO; 2.519-RR; 2.520-PI; 2.523-BA; 2.524-TO; 2.525-DF; 2.537-
da CF (EC n. 15/96), devendo contemplar as situações inJperfeitas SE; 2.557-MS; e 3.302-MS.
266. Pontes de Miranda, ComentáriOS à Constituição de 1967 com a Emenda
decorrentes do estado de inconstitucionalidade gerado pela omissão. n. I deI969, t III, São Paulo, Ed. RT, 1973, p. 319.
Registre-se que as decisões adotadas a propósito da revisão sa- 267. Pontes de Miranda, ComentáriOS â Constitlllção de 1967. com a Emenda
larial anual (as quais ocupam boa parte das ações diretas por omissão n. 1 de 1969, CIt. p. 318; Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, PnnciPtoS GeraIs de
Direito Admmrstratlvo, 3il ed., vaI. I. São Paulo. Malheiros Editores, 2007, p. 378;
Hely Lopes Melrelles, Direito Admlntstrativo Brasileiro. 35il ed.. São Paulo, Malliei-
263. Essa visão afiguraMse-nos eqUivocada (cf., infra. item "Omissão de pro- ros Editores, 2009, p. 131; Carlos Medeiros Silva, Parecer ln RDA 34/408-410. ont./
vidência de indole administratIva. Exercicio de poder regulamentar", e n. 4, ítem dez. 1953~ Homero Freire. Parecer ín RDA 96/291-294, abrJjun. 1969; InocêncIO
Cautelar). Martins Coelho, Parecer ln RDA 125/399-404, JuUset. 1976; Roque AntOniO Car-
264. No mesmo seotido as ADIo os. 3.616 e 3.689, DJU29.6.2007, e a ADIo razza. O Regulamento no Direito Tributáno BrasileIra, São Paulo, Ed. RT, 1981, p.
0.3.489, DJU3.8.2007, todas da relatona do Min. Eros Grau. 112; Diógenes Gasparini. Poder regulamentar, 211 ed., São Paulo, Ed. RT, 1982, p. 60.
456 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 457

Todavia, a omissão do regulamento pode assumir relevância tribunais de distrito, que deveriam guiar-se por princípios de eqüi-
para o controle abstrato da omissão inconstitncional se, no caso dos dade, tradicionalmente caracterizados "pela flexibilidade prática na
chamados regulamentos autorizados, a lei não contiver os elementos determinação de remédios e pela facilidade de ajustar e conciliar as
minímos que assegurem sua plena aplicabilidade. Nesses casos a necessidades públicas e privadas". Todavia, esses tribunais devenam
ação direta terá por objeto a omissão do poder regulamentar. exigir das autoridades escolares "um pronto e razoável" início da
execução, competindo-lbes verificar a necessidade de que se outor-
Omissão de medidas 011 atas administrativos - Cumpre indagar, gasse um prazo adicional para a conclusão das reformas exigidas.268
finalmente, se a omissão na prática de atos administrativos propria- Essa jurisprudência teve continuidade em outras deCIsões que exi-
mente ditos (de indole não-normativa) poderia ser objeto da ação giam ou determinavam a concretização de reformas em p,esídios e
direta de inconstitncionalidade por omissão. instituições psiquiátricas.269
A exegese literal do disposto no art. 103, § 2", da CF parece Não se pode, portanto, excluir de plano a possibilidade de que
sugerir resposta afmnativa, uma vez que ali são referidos "medidas", a ação direta de inconstitncionalidade por omissão tenha por objeto
"providêncías necessárias" e "órgãos adminístrativos". Por força do a organização de determinado serviço ou a adoção de determinada
próprio princípio do Estado de Direito e de um dos seus postnlados providência de indole administrativa.
básicos - o principio da legalidade da Administração -, é dificil No entanto, na ADIn n. 19, da relatoria do Min. Aldir Passari-
imaginar ato administrativo indispensável, primariamente, para nho, asseverou o STF qne a ação direta por omissão "não é de ser
tomar efetiva norma constitncional. Até mesmo as medidas estatais proposta para que seja praticado determinado ato administrativo em
de indole organizatória, que, na modema dogmática dos direitos fun- camter concreto, mas sim visa a que seja expedido ato normativo que
damentais, são abrangidas pela ampla designação de "direíto à orga- se torne necessário para o cumprimento de precetto constttncional
nização e ao processo" (Recht aufOrganisation und aufVeifahren), que, sem ele, não poderia ser aplicado"Po
pressupõem a existência de lei autorizadora. Como se vê, essa orientação merece ser revista.
De qualquer forma, não há como deixar de admitir que, a des-
peito da existência de lei, a omissão das autoridades na adoção de 4. Procedimento
diferentes providências administrativas pode dificultar ou impedir a
concretização da vontade constitncional. Considerações gerais - O STF entende que a regra de legi-
timação ativa prevista no art. 103 (legitimados para a ação direta
Alguns exemplos poderiam ser mencionados: (I) a organização
de inconstitncionalidade) aplica-se igualmente à ação direta por
do Poder Judiciário, sem a qual não se pode assegurar a própria
omissão. 271 Apresentada a ação, deverá o relator pedir informações
garantia da proteção judiciária (art. 5", XXXV); (2) a organização
às autoridades eventnalmente responsáveis pela reclamada omissão.
dos serviços de Defensoria Pública, impreSCindível para assegurar
o direito à assistência juridica dos necessitados (art. 5Q, LXXIV, c/c Após as informações, será ouvido o Procurador-Geral da Repu-
o ar!. 134); (3) a organização e estrutnração dos serviços de assistên- blica, devendo os autos, em seguida, ser submetidos ao relator, que,
CIa social (art. 203); e (4) a organização e estrutnração do sistema de
268. Cf.. a propósito, Leda Boechat Rodnglles. A Corte Suprema e o Direlto
ensino (arts. 205 e ss.). Conslttucwnaí Americano. Rio de JaneIro. Forense. 1958. pp. 303-304.
No Direito Comparado tem-se o clássico exemplo do caso "Brown 269. CE "Bounds et aI. VS. Smith etal.... 430 US 817 (reproduzido parcialmente
vs. Board of Education of Topeka", da Suprema Corte americana, in Europãischen Grondrechtszeitschrifl, 1977, pp. 5.099 e 55.). Cf., a propósito. Hel-
ga Seibert, "Der Supreme Court und sein Verhãltnis zu den anderen Staatsgewalten,
de 1955, quando se reiterou a inconstitncionalidade da discrimi- Bencht über Vortrags- und Diskussionsabend der Deutsch-amerikamschen Junsten-
nação racial nas escolas públicas, proferida na decisão de 17.5.54, vereimgung", ln Europãische GnmdrechtszeItschrift. 1978. p. 384 (386),
determinando-se que as leis federais, estaduais e municipais fossem 270, DJU 14.4.89.
ajustadas a essa orientação. Confiou-se a execução do julgado aos 271. ADIn n. 3.682-MT, ReI. Min. Gilmar Mendes,). 9.5.2007, DJU 6.9.2007.
458 AÇÕES DE INCONSTITUCiONALIDADE
AÇÃO DIRETA DE INCONSTiTUCIONALIDADE POR OMISSÃO
459
tão logo conclua sua análise, pedirá dia para julgamento e fará distri-
a in~~p!ência do dever ,constitucional de legislar. Parece que essa
buir o relatório. O STF tem entendido não ser necessária manifesta_
posIçao nao corresponde a natureza complexa da omissão, especial-
ção do Advogado-Geral da União na ação direta por omissão, tendo mente nos casos de omIssão parciaL
em vista a expressão literal do disposto no art 103, § 32, da CF.272
Se se admite que um dos possíveis efeitos da declaração de
Essa orientação deveria sofrer, porém, alguma revisão se se
inconstitucionalidade sem a pronUncia da nulidade a ser proferida
admitisse a propositura de ação direta em razão de omissão parcial, em relação à omissão parcial, no processo de controle abstrato de
Urna vez que, nesse caso, ter-se-ia, a um só tempo, o controle de ato
no~as ou naação direta por omissão, seja a Suspensão de aplicação
normativo e da omissão normativa. da leI mconstItuci?nal até a deliberação do órgão legislativo, não se
afigura desproposItado cogitar da suspensão previa da aplic,ação da
Calltelar - O STF tem entendido que não cabe cautelar em sede
non;na, em s~de de cautelar, permitindo que o Tribunal, desde logo,
da ação direta de inconstitucionalidade por omissão, tendo em vista
advIrta o legIslador sobre os riscos quanto à aplicação da disposição
que, no mérito, a decisão que declara a mc~nstituci?na!idade ~or questionada.
omissão autorizaria o Tribunal apenas a cIentIficar o orgao madIm-
Ao revés, tudo está a índicar que, sempre que a Corte puder
plente para que este adotasse as providências necessárias à superação
constatar que, no caso de eventual declaração de ínconstitucionali-
do estado de omissão inconstitucional.273
dade sem a prontíncia da nulidade, Se afigura recomendável a sus-
Essa onentação foi inicialmente firmada na ADInJMC n. 267- pensão de aplicação da lei inconstitucional, poderá ela, presentes os
DF, da relatoria de Celso de Mello, enfatizando-se que "a suspensão reqUIsItos para a concessão da cautelar, deferir a medida solicitada.
liminar de eficácia de atos normativos, questionados em sede de
Portanto, aceita a tese concernente à fungibilídade (relativa) en-
controle concentrado, não se revela compatível com a natureza e
tre a ação direta de inconstítucionalidade e a ação direta por omissão,
finalidade da ação direta de inconstitucionalidade por omissão, eis
espe~Ialmente no que Se relaciona com a chamada omissão parcial, e
que, nesta, a linica conseqüência ~olí~íco-jurídka P?ssivel traduz-se admItIda a necessidade de adoção de Urna técnica de decisão diferen-
na mera comunicação formal, ao orgao estatal madImplente, de que
ciada (declaração de inconstitucionalidade Sem a prontíncia da nuli-
está em mora constitucíonal",274
dade
276
?,parece qw:, se haverá de adITútir, igualmente, a possibilidade
Na ADInJMC n. 1.458 deixou assente o Tribunal: "Não assiste de o Tnbuna! deferlf providências cautelares, desde que essa decisão
ao STF, contudo, em face dos próprios limites fixados pela Carta seja compatlvel com o pronunciamento que venha eventualmente
Política em tema de inconstitucionalidade por omissão (CF, art. 103, a p:oferir (declaração de inconstitucionalidade sem a pronUncia da
§ 22) a prerrogativa de expedir provimentos normativos com o ob- nulIdade, com a suspensão de aplicação da norma, se for o caso l.
jetiv~ de suprir a inatlvidade do órgão legislativo inadimplente",215
Essa orientação parte de uma premissa - amda hOJe dommante 5. Decisão
no Tribunal - segundo a qual a decisão proferida em sede de ação
direta de inconstitucionalidade por omissão limita-se a reconhecer Considerações preliminares - O STF deixou assente na decisão
proferida no MI n. 107, da relatoria do Mín. Moreira Alves,m que
272. ADIn n. 480-DF, R. Min. Paulo Brossard,J. 13.10.94, DJU 25.1 1.94, p. a Corte d_ev~ limitar-se: nesses processos, a declarar a configuração
32.298. da omIssao mconstltuclOnal, deterrnínando, assim, que o legislador
273. ADInlMC 267-DF, Rei. Min. Celso de MeUo, DJU 19.5.95; ADlIMC 361- empr:enda a colmatação da lacuna. Tal corno a decisão proferida
DF, ReI. Min. Marco Aurélio, DJU 26.10.90; ADlIMC 1387-DF, ReI. Min. Carlos
na açao dlfeta por orrussão, a decisão tem, para o legislador, caráter
VeUoso, DJU293.96; eADlIMC 1.458-DF, ReI. Min. Celso de Mello, DJU20.9.96.
274. DJU 19.5.95. Cf tambem ADInlMC n. 361, Rei. Min. Marco Aurélio,
DJU 26.1 0.90. 276. NaADIn n. 2.240 (ReI. Min. Ems Grau,J. 9.5.2007, DJU3.8.2007) o Tri-
bunal declarou a InconstitucIOnalidade de lei estadual sem pronunciar sua nulidade.
275. J. 23.5.96, DJU20.9.96, p. 34.531. 277. DJU28.11.89.
460 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 461

obrigatório. Ambos os ínstrumentos buscam a expedição de uma or- vontade constitucional, devendo verificar-se a execução da ordem
dem judicial ao legislador, configurando o chamado Anordnungskla_ judicial no prazo de 30 dias.
gerecht ("ação mandamental") de que falava Goldschmidt.278 Assim, As formas expressas de decisão, seja no caso de omissão legis-
abstraídos os casos de construção jurísprudencíal admissíveF79 e de lativa ou de omissão administrativa prevIsta no art. 103, § 2", da CF,
pronlíncia de nulidade parcial que amplie o âmbito de aplicação da parecem insuficientes para abarcar o complexo fenômeno da omissão
norma,280 deveria o Tribunal limitar-se, por razões de ordem jurídico- inconstítucional.
funcional, a constatar a declaração de ínconstitucionalidade da omis- No que concerne â omissão administratIva, deverá o órgão ad-
são do legislador.281 mínistrativo ser cientificado para atuar em 30 dias. Considerando o
No mesmo sentido, afirmou a Corte Constítucional alemã, já no quadro diferenciado que envolve a omissão de ato admínístrativo,
começo de sua judicatura, que não estava autorizada a proferir, fora afigura-se algo ilusório o prazo fixado.
do âmbito da regra geral, uma decisão para o caso concreto, ou de Se se tratar de edição de ato administrativo de caráter regu-
determínar qual norma geral haveria de ser editada pelo legislador.282 lamentar, muito provavelmente esse prazo há de se revelar extre-
Também o STF deixou assente, na decisão proferida no MI n. \07, mamente exíguo. Em outros casos, que demandem realização de
que a Corte não está autorizada a expedir uma norma para o caso medidas admmistrativas concretas (construção de escolas, hospitais,
concreto ou a editar norma geral e abstrata, uma vez que tal conduta presídios, adoção de determinadas políticas complexas etc.), esse
não se compatibiliza com os principios constitucionais da Democra- prazo se mostrará ainda mais ínadequado.
cia e da divisão de Poderes.283 Tal como observado na ADIn n. 3.682, o Tribunal houve por
Como ressaltado. a ação direta de inconstitucionalidade por bem estipular o prazo de 18 meses para que o Congresso Nacional
omissão - assim como o mandado de ínjunção - pode ter como ob- conferisse disciplína legislativa ao tema, contemplando as situações
jeto tanto a omissão total, absoluta, do legislador quanto a omissão imperfeitas verificadas em razão da omissão legislativa.
parcial, ou o cumprimento incompleto ou defeituoso de dever consti- Eis a parte fínal da decisão:
tucional de legislar. Caso reconheça a existência de omissão morosa "Um dos problemas relevantes da dogmática constitucIOnal
do legislador, o Tribunal haverá de declarar a inconstitucionalidade refere-se aos efeitos de eventual declaração de inconstitucionalidade
da omissão, devendo, nos termos da Constituição (art. 103, § 2°), da omissão.
dar ciência da decisão ao órgão ou aos órgãos cujo comportamento "Não se pode afirmar, simplesmente, que a decisão que constata
moroso se censura, para que empreendam as medidas necessárias. a existênCIa da omissão ínconstituclOnal e determina ao legislador
Nos casos de omissão dos órgãos administrativos que interfira que empreenda as medidas necessárias li colmatação da lacuna in-
na efetívidade de norma constitucional. determinar-se-á que a Ad- constitucional não produz maiores alterações na ordem jurídica. Em
mínistração empreenda as medidas necessárias ao cumprimento da' verdade, tem-se, aqui, sentença de caráter nitidamente mandamental,
que impõe ao legislador em mora o dever, dentro de um prazo ra-
278. James Goldschmidt, Zivilprozessrecht, 2' edoo Berlim. 1932, § 15', p. 61. zoável, de proceder â eliminação do estado de inconstItucionalidade.
279. Cf., a propÔSltO: Friedrich ]üIicher. Die Veifassungsbeschwerde gegen Ur- "O dever dos Poderes constitucionais ou dos órgãos adminis-
/eile bel gesetzgeberlschem Unterlassen. p. 22; Wolf-Rildiger Schenke, Rechtsschutz trativos de proceder â Imediata elimínação do estado de inconstItu-
bei normativem Unrecht, p. 178: Chnstian Pestaloz:za, "'Noch verfassungsmãssl-
ge' ...", in Bundesveifassungsgencht und Grundgesetz. v. 1, p. 519 (526). cionalidade parece ser uma das conseqüênCIas menos controvertidas
280. BVeifGE 8/1 (36); 221349 (360); e 221156 (174). da decisão que porventura venha a declarar a inconstitucionalidade
281. Cf., a propÓSitO. rvu n. 107. cit.. Rei. Min. Moreira Alves. DJU28.11.89. de uma omissão que afete a efetividade de norma constitucional.284
282. BVeifGE 6/257 (264) e 8/1 (19); Herzog, m MaunzIDüngIHerzogiScholz,
Ar!. 20 III, RdNr. 13. 284: Cf. BVeifGE 6/257 (265 e ss.); 37/217 (262); 5111 (28); 57/361 (388). Cf.,
283. ReI. Min. MoreuaAlves, DJU28.l1.89. tambem: Jõrn Ipsen. Rechtsfolgen der Verfassungswidngkeil von Nonn und EinzelaÃ'1.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 463
462 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE

"O princípio do Estado de Direito (art. 1°), a cláusula que asse- , "Assim sendo, voto no sentido de declarar o estado de mora
gura a imediata aplicação dos direitos fundamentais (art. 5º, § 1°) e o em que se encontra o Congresso NaCiOnal, a fim de que, em prazo
disposto no art. 5', LXXI - que, ao conceder o mandado de injunção razoável de 18 meses, adote ele todas as providências legislativas ne-
para garantir os direitos e liberdades constitucionais, impõe ao legis- cessárias ao cumprimento do dever constitucional unposto pelo art.
lador o dever de agir para a concretização desses direitos -, exigem 18, § 42, da CF, devendo ser contempladas as situações imperfeitas
ação imediata para eliminar o estado inconstitucionalidade. decorrentes do estado de inconstitucionalidade gerado pela omissão.
"Considerando que o estado de inconstitucionalidade decorrente ''Não se trata de impor um prazo para a atuação legislativa do
da omissão pode ter produzido efeitos no passado - sobretudo se se Congresso Nacíonal, mas apenas da fixação de um parâmetro tem-
tratar de omissão legislativa -, faz-se mister, muitas vezes, que o ato poral razoavel, tendo em vista o prazo de 24 meses determinado pelo
destinado a corrigir a omissão inconstitucional tenba carnter retroativo. Tribunal nas ADIn ns. 2.240, 3.316, 3.489 e 3.689 para que as leiS
"Evidentemente, a amplitude dessa eventual retroatividade so- estaduais que criam Municípios ou alteram seus limites territoriais
mente poderá ser aferida em cada caso. Parece certo, todavia, que, continuem vigendo, até que a lei complementar federal seja promul-
em regra, deve a lei retroagir, pelo menos até a data da decisão JU- gada contemplando as realidades desses Municípios."285
dicial em que restou caracterizada a omissão indevida do legiSlador. A solução alvitrada acabou por ensejar variante de decisão que
''No caso em questão, a omissão legislativa inconstitucional estabelece prazo para superação do estado de inconstitucionalidade
produziu evidentes efeitos durante esse longo periodo transcorrido decorrente da omissão.
desde o advento da EC n. 15/96. Diante da inexistência da lei com-
plementar federal, vários Estados da Federação legislaram sobre o SlIspellsão de aplicação da Ilorma eivada de omissão parcial
tema e diversos Municipios foram efetivamente criados ao longo de elOII aplicação excepciollal - Como ressaltado, abstraídos os casos
todo o país. de omissão absoluta, que devem ser cada vez mais raros, com a pro-
"Municípios criados, eleições realizadas, Poderes municipais mulgação da maioria das leis expressamente reclamadas pelo texto
devidamente estruturados, tributos municipais recolbidos, domicílios constitucional, hão de assumir relevânCia os casos de omissão par-
fixados para todos os efeitos da lei etc.; enfim, toda uma realidade cial, seja porque o legislador atendéu de forma incompleta ao dever
fática e juridica criada sem qualquer base legal ou constitucional. constitucional de legislar, seja porque se identifica a concessão de
É evidente que a omissão legislativa em relação à regulamentação beneficio ao arrepio do princípio da isonomia.286
do art. 18, § 4", da CF acabou dando ensejo à conformação e à con- Cumpre indagar se a regra que é considerada inconstitucional,
solidação de estados de inconstitucionalidade que não podem ser em virtude de sua incompletude, deve continuar a ser aplicada até
ignorados pelo legislador na elaboração da lei complementar federal. a implementação das correções reclamadas, ou se ela deve ter sua
aplicação suspensa até a deliberação do legislador.
pp. 211-213; KIaus Schlaich, Das Bundesveifassungsgericht. Stellung. Verfahren, Como não se verifica, aqui, a eliminação da norma defeituosa
Entscheidungen, Mumque, 1985, p. 172; Christoph Gusy, Parlamentanscher Gesetz-
geber und Bundesvetfassungsgencht, p. 191; Peter Hein. Die Unvereinbakeitklãrnng do ordenamento juridico, poder-se-ia sustentar que a situação Juridi-
veifassungswidnge Gese12e durch das Bundesverfassungsgencht. pp. 168 e 55.; ca em questão subsiste integralmente. Poder-se-ia invocar, em favor
Heyde, "Gesetzgeberische Konsequenzen aus der Verfassungswidrig-ErkIãrung von desse entendimento, que na ação direta de inconstitucionalidade - as-
Nonnen'" FS Faller, pp. 53 (54 e 55.); Apostolo Gerontas. "Die Appellentscheidun-
gen. Sondervotumsappelle und die bloBe unvereinbarkeitsfeststellung ais Ausdruck sim como no mandado de injunção -limita-se o Tribunal a constatar
der funktionellen Grenzen der Verfussungsgerichlsbarkeit", DVEI. 19821486 (488); a inconstitucionalidade da situação jurídica, sem pronunciar sua
Hermann HeuBner. "Folgen der Verfassungswidngkett emes Gesetzes ohne Nichti-
gerldãrung". NJW 1982/257; Hartmut Maurer. "Zm Verfassuogswidrigerldãrung 285. ADIn n. 3.682, ReI. Min. Gilmar Mendes, DJU 6.9.2007.
von Gesetzen". tO FS W. Weber, Berlim. 1974, p. 362; Bemd JOrgen Schneider. Die
FunktlOn der Normenkontrolle und des richter/ichen Prüfungsrechts 1m Rahmen der 286.· Jõm lpsen. Rechtsfolgen der Verfassungswidngkeit von Norm und Einze-
RechtsfoIgenbestimmung verfassungswidnger Gesetze, p. 162. íakt, p. 214.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 465
464 AÇÔES DE INCONSTITUCIONALIDADE

cassação. A norma antiga deveria preservar sua força normativa até o principio do Estado de Direito, consagrado no art. 1 da CF. 2

edição da nova disposição.287 a e a vinculação dos órgãos estatais aos direitos fundamentais. como
A concepção que advoga a subsistência da norma inconstitucio_ uma decorrência do disposto no arl. 52, § 1Q, não podem ser atendidos
290
nal até sua revogação pelo Direito superveniente, sob o argumento com a simples promulgação da lei. Tal como afrrma Ipsen para o
Direito alemão, a lei exigida não é qualquer lei, mas uma lei com-
de que o STF somente poderia identificar, nesses processos especiais
patível com a Constituição. O principio do Estado de Direito (ar!.
de controle da omissão, a declaração de inconstitucionalidade, sem
1'), a vinculação dos Poderes do Estado aos direitos fundamentais
a pronúncia de sua nulidade, não parece compatibilizar-se com o
(arl. 5', § I'), a proteção dos direitos fundamentais contra a revisão
princípio da nulidade da lei inconstitucional, dominante entre nós.
constitucional (arl. 60. § 4") bem como o processo especial de revI-
Acentue-se que esse entendimento encontra base na própria são constitucional (arl. 60) consagram não só a diferença hierárquica
Constituição. Tanto o princípio do Estado de Direito, constitucio- entre a Constituição e a lei e o princípio da supremacia constitucio-
nalmente consagrado (ar!. 1"), a vinculação de todos os órgãos es- nal, mas também as condições de validade que devem ser satisfeitas
tatais ii Constituição, como derivação imediata e inevitàvel, quanto na promulgação da lei.291
o processo especial de revisão constitucional (art. 60) e a cláusula A aplicação irrestríta da lei declarada inconstitucional somente
pétrea consagrada no art. 60, § 4", que assegura a intangibilidade podena legitimar-se, enquanto regra geral, se se pudesse identifi-
dos direitos fundamentais, consagram a pretensão de eficácia e a car no Direito brasileiro "alternativa normativa que, ii semelhança
supremacia da Constituição. A cláusula prevista no art. 52, LXXI, do disposto no ar!. 140, §§ 5' e 7Q , da Constituição austríaca. le-
que assegura o mandado de injunção "sempre que a falta de norma gillmasse a continuada aplicação do Direito incompativel com a
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades Constituição". A simples afrrmação de que, consoante a sistemática
cons~itucionais"; contém: além de uma garantia processual, princípio consagrada para o controle da omissão, o Tribunal deve limitar-se
de direito matenal que vmcula os órgãos estatais não só aos direitos a constatar o estado de inconstitucionalidade não se afigura sufi-
fundamentais (arl. 52, § IQ), mas a todos os direitos constitucional- ciente para legitimar ii aplicação da lei após a declaração de sua
mente assegurados?" inconstttucionalidade. Como se pode depreender da jurisprudência
.. A faculdade reconhecida a todo juiz de afastar a aplicação da do Bundesveifassungsgericht,292 a declaração de inconstítuciona-
lei mconstitucional, no caso concreto (arts. 97 e 102, III, "a", "b", lidade sem a pronúncia da nulidade resulta, nos casos de omissão
"c" e "d"), pressupõe a invalidade da lei e, com isso, sua nulidade. legJslatíva. da especialidade dessa forma de inconstitucionalidade. o
A competência do juiz para negar aplicação ii norma incompatível que exige técnica especial de decisão para sua eliminação,293 e não
com a Constituição encontra correspondência no direito do indiví- do tipo de processo em que é proferida.294 A simples declaração de
duo de não se submeter a uma norma inconstitucional, o que lhe é
assegurado até com a possibilidade de interpor recurso extraordinário' 290. Jõm Ipsen. Recfrlsjolgen der Verfassllngswidngkeit von Norm und Einze-
contra decisão de última instância que, de alguma forma, contrarie a lakt, p. 214.
291. Alfredo Buzaid. Da Ação Direta de Declaração de Inconstitucionalidade
Constituição (CF, art. 102, III, "a")?89 Tanto a competência do JUiZ no Direito BrasileIro, São Paulo. Saraiva, 1958. p. 131; Rui Barbosa, Os Atos Incons-
sl.ngular para. negar aplicação ii norma inconstitucional quanto o titucionaIS do Congresso e do Executivo (reimpr.). Rio de Janeiro. 1962, pp. 70-71;
FranCISCO LUlZ da Silva Campos. Direito Constitucional. v. l. Rio de Janeiro, 1956,
drrelto do mdividuo de não se submeter a uma norma incompatível
pp. 430-431.
com a Constituição demonstram que o constituinte pressupôs a nuli-
292. BVerjGE 6/257 (264); 8/1 (19); e 30/292.
dade da lei inconstitucional. 293. Cf.• a proposíto, Hartmut Maurer, "Zur Verfassungswidngerklãrung von
GeselZen". in FS W. Weber, p. 345 (353. 360. 368).
287. Idem, ibidem. 294. "Rechtsprechung des BVerfGGs zum Normenkontrollverfahren", BVerfGE
288. Cf., a propósito. MI n. 107. ReI. Min. Moreira Alves. DJU28.11.89. 17/210 (215); 44170 (88); 45/376 (384); 47/55; 48/281; 63/152 (166); 641158 (168);
289. Repr. n. 980. ReI. Min. Moreira Alves, RTJ96-21496. 64/243 (247); BVerjGE 431154 (167).
466 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 467

inconstitucionalidade, sem a pronúncia da nulidade, não autonza a portanto, a suspensão de aplicação da norma constltui conse-
aplicação continuada da lei inconstitucional. qüênCIa fundamental da decisão que, em processo de controle abs-
A imica conduta condizente com a ordem constitucIOnal é trato da inconstitucionalidade por omissão, reconhece a existência
aquela que, no caso da declaração de inconstitucionalidade sem a de omissão parcial. Todavia, ter-se-á de reconhecer, inevitavelmente,
pronúncia da nulidade no processo de controle abstrato da omissão, que a aplicação da lei mesmo após a pronuncia de sua inconstitucio-
admite a suspensão de aplicação da lei censurada. A aplicação geral nalidade pode se justificar inteiramente do prisma constitucional.
e irrestrita da lei declarada inconstitucional configuraria ruptura com Trata-se daqueles casos em que a aplicação da lei mostra-se indispen-
o princípio da supremacia da Constituição. sável no periodo de transição, até a promulgação da nova lei.
Se se deve admitir que a suspensão da aplicação da lei cons- Destarte, se o Tribunal declara a inconstitucionalidade da omis-
titui conseqüência jurídica da decisão que dá pela procedência da são legislativa. por cumprimento defeituoso ou incompleto de dever
ação direta de inconstitucionalidade, nos casos de omissão parcial, constitucional de legislar, pronuncia eie a inconstitucionalidade de
afigura-se inevitável considerar que a ordem constitucional exige, em todo o complexo nonnativo em questão. com eficácia geral. Com a
muitos casos, a aplicação do Direito anterior. Urna suspensão geral pronuncia da inconstitucionalidade da lei. por incompleta ou defei-
de aplicação - tal corno eventual cassação da norma nos processos de tuosa. no processo de controie abstrato da omissão, fica vedada aos
controle de omissão - haveria de emprestar maior gravidade à ofensa órgãos estatais, por força dos principios do Estado de Direito (art.
constitucionaL l Q) e da vinculação dos Poderes Públicos aos direitos fundamentais
Tal fato poderia ser demonstrado com base no exame de algumas (arl. 5Q), a prática de qualquer ato fundado na lei inconstitucional.
normas constitucionais que requerem expressamente a promulgação. Vê-se, assun, que, nesse caso, a declaração de inconstitucionalidade
Um único exemplo há de explicitar esse entendimento. Nos termos sem a pronuncia da nulidade importa. também no Direito brasileiro.
do arl. 72 , IV, da CF, o trabalhador faz jus a "salário mínimo, fixado suspensão de aplicação da norma defeituosa ou incompleta.
em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidade A pronúncia da inconstitucionalidade da omissão parciai com
vitais bãsicas e ãs de sua familia, com moradia, alimentação, educa- eficácia erga omnes retira o cará!er de obrigatoriedade da iei, nin-
ção, saude, vestuãrio, higiene, transporte e previdência social, com guem estando compelido a lhe prestar obediência ou a requerer sua
reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo (... )". aplicação. Os órgãos estatais e a Administração não podem continuar
Essa norma contém expresso dever constitucional de legislar, a aplicar as normas consideradas inconstitucionais. urna vez que eles
que obriga o legislador a fixar, legalmente, salário mínimo que estão submetidos. nos termos dos arts. 12 e 52. § 1º. da CF, ao princi-
corresponda às necessidades básicas dos trabalhadores. Se o STF pio do Estado de Direito. somente podendo agir de forma legítima.
chegasse à conclusão, em processo de controle abstrato da omissão
(tal corno ocorreu com a Corte Constitucional alemã a propósito da Suspellsão dos processos - Da suspensão de aplicação da lei
lei de retribuição dos funcionàrios públicos em processo de recurso impõe-se o dever de suspender os respectivos processos judiciais ou
constitucional - Veifassungsbeschwerde),295 de que a lei que fixa administrativos pendentes. urna vez que a lei anterior não mais deve
o salário minimo não corresponde às exigências estabelecidas pelo ser aplicada, até a decisão final dos órgãos legislativos. 296
constituinte, configurando-se, assim, tipica inconstitucionalidade em Destarte, propicia-se ao eventual interessado a possibilidade de
virtude de omissão parcial, a eventual suspensão de aplicação da lei se beneficiar da nova situação jurídica sem que contra ele se levantem
inconstitucional- assim corno sua eventual cassação - acabaria por as fórmulas de preclusão. corno. v.g., a coisajulgada.297 A suspensão
agravar o estado de inconstitucionalidade, urna vez que não haveria
lei aplicável â espécie. 296. B Ver:fGE 28/324 (363); 29/71 (83); 3111 (7); e 37/217 (261).
29-7. Klaus Schlaích, Das Bundesverfassungsgerzcht. Stellllng, Verfahren.
295. BVer:fGE 8/1 (19). Entscheidungen, p. 173.
468 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 469

dos processos administrativos pode-se afigurar recomendável, igual- encerramento do processo e evitando a interpOSição de recursos de
mente, nos casos de omissão absoluta, mormente se se discute ou se caráter notadamente protelatário.
se pretende evitar a aplicação de Direito ordinário pré-constitucional, A Lei n. 9.868 estabelece, ainda, que, dentro de 10 dias após o
considerado incompatível com o novo ordenamento. trânsito em julgado, o STF fará publicar a parte dispositiva do acór-
dão proferido, em seção especial do DiárIO Oficzal da União e do
À gllisa de conclllsão - A proximidade da ação direta de incons- Diário da Justiça (art. 28).
titucionalidade e da ação direta de inconstitucionalidade por omissão
Observe-se que, no caso de deferimento de medida cautelar, esta
parece recomendar a adoção de uma disciplina legal que assegure
produz efeitos a partír da data da publicação da ata de julgamento no
a aplicação dos princípios informadores do controle abstrato de
Diário da Justiça da União?98
normas, contemplando, porém, as singularidades da ação direta de
inconstitucionalidade por omissão.
Declaração de nlllidade - Nos termos do art. 27 da Lei n.
No "Apêndice" apresentamos um anteprojeto de lei que preten- 9.868/99, a regra continua a ser a declaração de nulidade da lei
de conferir disciplina legal inovadora à ação direta de inconstitucio- inconstitucional. Somente em casos excepcionais, devidamente jus-
nalidade por omissão. tificados, inclusive pela manifestação de dOIS terços dos Ministros,
podere o Tribunal optar por uma das possiveis fórmulas restritivas.
V-ASDEC~ÕESDOSTF
A inconstitucionalidade de uma lei pode levar, também no
NO CONTROLE ABSTRATO DE NORMAS E OS EFEITOS
Direito brasileiro, a diferentes variantes de declaração de nulidade:
DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
declaração de nulidade total como expressão de unidade técnico-
Procedimento de tomada de decisões - No que se refere às deci- legislativa; declaração de nulidade total; declaração de nulidade
sões na ação direta de inconstitucionalidade e na ação declaratória de parcial;'99 declaração parCIal de nulidade sem redução de texto.
constítucionalidade, a Lei n. 9.868 preservou a orientação constante
de norma regimental do STF que estabelece que o julgamento dessas Extensão da declaração de inconstitllcionalidade - A declara-
ações somente sere efetuado se presentes na sessão pelo menos oito ção de inconstitucionalidade de uma lei pode ter diversas extensões:
Ministros, devendo-se proclamar a constítucionalidade ou a mcons- 1. Declaração de nulidade total corno expressão de unidade
titucionalidade da lei ou do ato normatívo questionado se num ou técnico-legislativa: Defeitos formais, tais como a inobservância das
noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis (arts. 22 e 23). disposições atinentes à iniciativa da lei ou competência legislativa,
O art. 24 acentua o careter "dúplice" ou "ambivalente" da ação levam, normalmente, a uma declaração de nulidade total, uma vez
direta de inconstitucionalidade ou da ação declaratória, estabelecen- que, nesse caso, não se vislumbra a possibilidade de divisão da lei
do que, proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a em partes válidas e inválidas, nem tampouco de ínterpretação con-
ação direta ou procedente eventual ação declaratória; e, proclamada a forme.
inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou impro-
cedente eventual ação declaratória. 298. Cf. ADInlQO n. 71 I, ReI. Min. Nén da Silveira. DJU 11.6.93. aSSIm
ementada: "Ação direta de constitucIOnalidade - Medida cautelar deferida - Questão
A Lei n. 9.868, em seu art. 26, assume posição clara em relação de ordem - (... ). 4. O deferimento da medida cautelar produz seus efeitos a partIr da
à irrecorribilidade e à não-rescindibilidade da decisão proferida na data da publicação da ata de julgamento no Diário de Justiça da União - Petição
ação direta de inconstítucionalidade e na ação declaratória de cons- conhecida como questão de ordem e decidida nos tennos aCima", Cf.. mnda, Recl.
2.576, Rela. Min. Ellen Oraeie. DJU20.8.2004; ReclJAg. 3.473, ReI. Min. Carlos
títucionalidade. Além de ser plenamente condizente com a atuação Velloso, DJU 9.12.2005; Pet 3.476, ReI. Min. Oilmar Mendes, DJU 6.10.2005.
da jurisdição constítucional, tal providência rende homenagem à 299-. C. A. LuclO Bittencourt. O Controle Junsdicional da Constitucionalidade
segurança jurídica e à economia processual, permitindo o imediato das LeIS, Rio, 1968, pp. 126-127.
470 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 471

Assim, o STF declarou a nulidade de emendas âs Constituições estão presentes as condições obJetivas de divisibilidade. Para ISSO
estaduais relativas a matérias que, nos termos da Constituição de impõe-se aferir o grau de dependência entre os dispositivos. isto é,
196711969, somente poderiam ser disciplinadas mediante iniciativa examinar se as disposições estão em uma relação de vinculação que
do Executivo.30o O mesmo se dá quando o Poder Legislativo invade impediria sua divisibilidade. 307 Não se afigura suficiente, todaVia,
âmbito de iniciativa de outros órgãos ou poderes (Tribunais de Jus- a existência dessas condições objetivas de divisibilidade. Impõe-se
tiça ou Tribunal de Contas).301 Também a mobservância de outras verificar, igualmente, se a norma que há de subsistir após a decla-
normas fixadas na Constituição sobre o procedimento legislativo ração de nulidade parcial corresponderia â vontade do legislador.30'
torna inevitável a declaração de inconstitucionalidade de toda a lei.302 Portanto, devem ser investigadas não só a existência de uma relação
2. Declaração de nulidade total: O STF profere a declaração de de dependênCia (unilateral ou reciproca),30' mas também a.possibili-
nulidade total de uma lei se identifica uma relação de dependência dade de intervenção no âmbito da vontade do legzslador. 3IO
ou de interdependência entre as partes constitucionais e inconstitu- No exame sobre a vontade do legislador assumem peculiar
cionais do dispositivo. 303 Se a disposição principal da lei há de ser relevo a dimensão e o significado da intervenção que resultará da
considerada inconstitucional, pronuncia o STF a inconstitucionalida- declaração de nulidade. Se a declaração de nulidade tiver como con-
de de toda a lei, salvo se algum dispositivo puder subSistir, autono- seqüência a criação de uma nova leI, que não corresponda às concep-
mamente, sem a parte considerada inconstitucional. Trata-se, aqui, de ções que inspiraram o legislador, afigura-se inevitável a declaração
uma declaração de nulidade em virtude de dependência unilateraP04 de inconstitucionalidade de toda a lei.3Il
A indivisibilidade da lei pode resultar, igualmente, de uma forte 4. Declaração parcial de nulidade sem redução de texto: Já em
integração entre suas diferentes partes. Nesse caso tem-se a declara- 1949 identificara Lúcio Bittencourt os casos de inconstitucionalidade
ção de nulidade em virtude da chamada "dependência reciproca "305 da aplicação da lei a determmado grupo de pessoas ou de situações
3. Declaração de nulidade parcial: A doutrina e a Jurisprudência como hípótese de inconstitucionalidade parcial. 312
brasileiras admitem plenamente a teoria da divisibilidade da leI, de Nesse sentido, ensinava o emêrito constitucionalista: "Ainda no
modo que, tal como assente, o Tribunal somente deve proferir a in- que tange â constitucionalidade parcial, vale considerar a situação
constitucionalidade daquelas normas viciadas, não devendo estender paralela em que uma lei pode ser válida em relação a certo número de
o juízo de censura âs outras partes da lei, salvo se elas não puderem casos ou pessoas e inválida em relação a outros. E a hipótese, V.g., de
subsistir de forma autônoma. 306 Faz-se mister, portanto, verificar se certos diplomas redigidos em linguagem ampla e que se consideram
inaplicáveis a fatos pretéritos, embora perfeitamente válidos em re-
300. Repr. n. 1.318, ReI. Min. Carlos Madeira, RDA 169/60-66, julho-setem- lação âs situações futuras. Da mesma forma, a lei que estabelecesse,
bro/87; Repr. n. 1.478. ReI. Min. Octávio GaUottl, RDA 172/95, abril-Junho/88; Repr. entre nós, sem qualquer distinção, a obrigatoriedade do pagamento
n. 1.433. ReI. Min. Francisco Rezek, RDA 171/107. janeiro~março/88.
de imposto de renda, incluindo na incidência deste os proventos de
301. Cf. Repr. n. 1.304, ReI. Min. Célio B01]a, RDA 171/109-118, Janeiro-
março/88.
302. Cf.. dentre outras: Repr. n. 980, ReI. Min. MoreIra Alves, RTJ 96/496 e 307. Bittencourt, idem, p. 127.
55.; ADIn n. 574, ReI. Min. limar Gaivão, DJU 11.3.94, p. 4.111; ADIn n. 89, ReI. 308. Bittencourt. idem, p. 125.
Min. I1mar GaIvão, DJU20.8.93, p. 16.316; ADIn n. 80S, ReI. Min. Celso de MeUo, 309. Repr. n. 1.305, ReI. Min. Sydney Sanches. RDA 170/46-60, outubro-
DJU 8.4.94, p. 7.225. dezembro/87; Bittencourt, O Controle Jurisdicional... , pp. 125-127; Gilmar FerreIra
303. Repr. n. 1.305, ReI. Min. Sydney Sanches, RDA 170/46; Repr. n. 1.379, Mendes. Controle de ConstihiclOnalidade, p. 269.
ReI. Min. Moreira Alves, DJU 11.9.87. 310. Repr. n. 1.379, ReI. Min. Moreira Alves, DJU 11.9.87. V., tambem: Bit-
304. Cf.• a propósito: Giimar Ferreíra Mendes, Controle de Constitucionalida- tencourt, O Controle JUriSdiciOnaL, pp. 125-127; Gilmar Ferrerra Mendes. Controle
de, p. 284; Bittencourt. O Controle JurISdiCional..., p. 127. de Constitucionalidade, p. 269.
305. Repr. n. 1.379, ReI. Min. MoreíraAlves, DJU 1 1.9.87. 311. Repr. n. 1.379, ReI. Min. MorerraAlves,DJU 11.9.87.
306. Bittencourt, O Controle JUrISdiCIOnal... , pp. 126-127. 312. Bittencourt, O Controle JunsdicIonal...• p. 128.
472 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONTROLEABSTRATO 473

qualquer natureza, seria inconstitucional no que tange à remuneração partir do ajuizamento da causa. A locução 'a partir do ajuizamento da
dos jornalistas e professores".3I3 causa' há de refem-se a causa proposta depOiS que a LeI n. 6.899 en-
Não raro constata o STF a inconstitucionalidade da cobrança de troU em vigor. Interpretação diversa, como a adotada pelo v. acórdão
tributo sem a observância do princípio da anterioridade (CF de 1946, recorrido, importa em atribuir à Lei n. 6.899 efeito retroativo (...)".318
art. 141, § 34: CF de 1967/1969,314 art. 153, § 29: CF de 1988, art. Também aqui limita-se o Tribunal a considerar inconstitucional
150, m, "b").31S Destarte, fmnou-se orientação surnulada segundo a apenas determinada hipótese de aplicação da lei, sem proceder à al-
qual "é inconstitucional a cobrança de tributo que houver sido criado teração do seu programanonnativo.
ou aumentado no mesmo exercício financeiro" (Súmula n. 67). Em decisão mais moderna adotou o STF, expressa e inequivoca-
Como se vê, essas decisões não levam, necessariamente, à mente, a técnica da declaração de inconstitucionalidade sem redução
cassação da lei, uma vez que ela padeci ser aplicada, sem qualquer de texto, tal como se pode depreender da seguinte passagem da emen-
mácula, já no próximo exercício financeiro. ta concernente à ADIn n. 3 I 9-4, formulada contra a Lei n. 8.039/90:
Em outros casos considera o Tribunal que a aplicação de leis "Exame das mconstituclonalidades alegadas com relação a cada um
sobre correção monetária a situações já consolidadas revela-se in- dos artigos da mencionada lei - Ofensa ao princípio da irretroativi-
constitucionaL 316 dade com relação à expressão 'março' contida no § 52 do art. 2" da
É o que se constata, V.g., na seguinte decisão: "Correção mo- referida lei - Interpretação conforme á Constituição aplicada ao caput
netária. A fixação da sua incidência a partir do ajuizamento da ação do ar!. 2", ao § 5º desse mesmo artigo e ao art. 4", todos da lei em
viola o princípio da não-retroatividade da lei (art. 153, § 32 , da causa - Ação que se julga procedente em parte, para declarar a incons-
Constituição Federal), destoando, inclusive, da jurisprudência do titucionalidade da expressão 'março'. contida no § 52 do art. 22 da Lei
Supremo Tribunal Federal- Aplicação da Lei n. 6.899, de 8.4.81, aos n. 8.039/90. e, parcialmente, o caput e o § 22 do art. 2º, bem como o
processos pendentes, a parttr de sua vigência (art. 3· do Decreto n. art. 4", os três em todos os sentidos que não aquele segundo o qual de
86.649/8 I) - Provimento do recurso extraordinário".317 sua aplicação estão ressalvadas as hipóteses em que, no caso concreto,
ocorra direito adquirido, ato juridico perfeito e coisajulgada"319
Ou, ainda, na seguinte passagem do voto do Min. Alfredo Bu-
zaid: "É certo que a Lei n. 6.899 dispõe, no art. I., que a correção Uma redução do âmbito da aplicação da lei pode ser operada,
monetária incide sobre qualquer débito resultante de decisão judicial. igualmente, mediante simples interpretação conforme à Constitui-
E depois de dizer no § 12 que, na execução por título de dívida líqui- ção.32o
da e certa, se calcularia a correção a contar do respectivo vencimento, Assim, ao apreciar a constitucionalidade de dispositivo constan-
estabelece, no § 22 , que nos demais casos se procede ao cálculo a te da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 5.540/68), houve
por bem o Tribunal afirmar que a exigência de lista triplice para o
313. Idem, ibidem preenchimento de cargos de direção supenor das Universidades so-
314. Essa disposição foi. igualmente, incorporada à Constituição de 1988 (art. mente se aplicava às Universidades federais,321 com o fundamento de
J50,m. que essa regra não integrava as linhas básicas do sistema de ensino
315. RMS n. 11.853, ReI. Min. LUlz OaUottl, DJU 17.8.66; RMS n. 13.208, que deveriam estar disciplinadas na referida lei. Com a utilização da
ReI. Min. ViUas Boas, DJU 11.5.66; RMS n. 13.694. ReI. Min. Carlos MedeIrOS da
Silva, DJU 10.8.66; RMS n. 16.588, ReI. Min. Victor Nunes, DJU 12.3.68; RMS n. expressão "desde que", acabou o Tribunal por excluir as Universida-
16.661, ReI. Min. Evandrn Lins e Silva,RTJ59/185; RE n. 6 Ll02, ReI. Min. Oswal-
do Trigueiro. DJU 14.2.68. 318. RE n. 100.317, ReI. Min.A1fredo Buzaid, RTJ 11411.138 (Ll401.
316. RMS n. 16.986. ReI. Min.Aliomar Baleeiro. RTJ43/575; RMS n. 16.661, 319. ReL Min. Moreira Alves, DJU 30.4.93, p. 7.563.
ReL Min. Evandro Uns e Silva. RTJ 59/185~ ERE n. 69.749, ReI. Min. Bilac Pinto, 320. Sobre o conceito de "interpretação conforme â Constituição" e sua relação
RTJ611130; RE n. 63.318, ReI. Min. Victor Nunes Leal. RTJ 461205; RE n. 99.180, com a declaração de inconstitucionalidade sem redução do texto, V., mfra. subitem "A
ReI. Min. Djaci Falcão, RTJ 106/847. interpretação conforme â ConstitUição"_
317. RE n. 97.816. ReI. Min. Djaci Falcão.DJU 12.11.82, p. 11.489. 321. Repr. n. 1.454, ReI. Min. OCtáVIO OaHoltl, RTJ 125/997.
474 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 475

des estaduais do âmbito de aplicação da norma impugnada, como se A interpretação conforme á Constituição levava sempre, no Di-
vê da ementa do acórdão: "Universidades e estabelecimentos oficiais reito brasileiro, à declaração de constitucionalidade da le1. 327 Porém,
de nível superior - A determinação do nUmero dos componentes das como já se disse, há hipóteses em que este tipo de interpretação pode
listas destinadas á escoIba dos seus dirigentes, não sendo matéria de levar a uma declaração de inconstitucionalidade sem redução do
diretriz e base, escapa á competência legislativa da União, em rela- texto. Tais casos foram levantados pela primeira vez por ocasião da
ção ás entidades oficiais de ensino situadas fora do âmbito federal propositura cumulativa de uma representação interpretatiw:i328 e de
(Constituição, art. 82 , XVII, 'q" e art. 177), valendo, apenas, no que uma representação de inconstítucionalidade; suscitou-se a indagação
concerne às mantidas pela União - Representação Julgada improce- sobre o significado dogmático da interpretação conforme à Consti-
dente, desde que se interprete o § 12 do art. 16 da Lei n. 5.540/68, tuição.329
com a redação dada pela de n. 6.420/77, como somente aplicável às No caso, o STF, seguindo orientação formulada pelo Min. Mo-
Universidades e estabelecimentos superiores no âmbito federal" reiraAlves, reconbeceu que a interpretação coiforme à Constituição,
Mais recentemente reconbeceu-se a possibilidade de "explici- quando fixada no JUizo abstrato de normas, corresponde a uma pro-
tação, no campo da liminar, do alcance de dispositivos de uma certa núncia de inconstitucionalidade. Dai entender íncabível sua aplicação
lei, sem afastamento da eficácia no que se mostre consentânea com a no âmbito da representação interpretativa. 33o
Constituição Federal".322 Não se pode afirmar com segurança se na jurisprudência do STF
a interpretação conforme à Constituição hã de ser, sempre, equipara-
A interpretação conforme à Constitllição - Consoante pos-
da a uma declaração de nulidade sem redução de texto.
tulado do Direito americano incorporado à doutrina constitucional
brasileira, deve o juiz, na dúvida, reconbecer a constitucionalidade Deve-se acentuar, porem, que em decisão de 9.11.87 deixou
da lei. Também no caso de duas interpretações possíveis de uma leI assente o STF que a interpretação conforme à Constituição não deve
hã de se preferir aquela que se revele compatível com a Constituição. ser vista como um simples princípio de interpretação, mas sim como
uma modalidade de decisão do controle de normas, equipanivel a
Os Tribunais devem, portanto, partir do principio de que o legis-
uma declaração de inconstitucíonálidade sem redução de texto. 3J '
lador busca positivar uma norma constítucional.323
Assinale-se, porém, que o Tribunal não procedeu, inicialmente, a
Há muito vale-se o STF da mterpretação conforme à Constitui- qualquer alteração na parte dispositiva da decisão, que continuava a
ção, passando a ser utílizada também no âmbito do controle abstrato afirmar a improcedência da argüição, desde que adotada determinada
de normas. 324 interpretação.
Consoante o entendimento ordinário, limita-se o Tribunal a de- As decisões proferidas nas ADIn ns. 491 e 319, da relatoria do
clarar a legitimidade do ato questionado, desde que interpretado em
Min. Moreira Alves, parecem sinalizar que pelo menos no controle
conformidade com a Constítuição.325 O resultado da interpretação,
abstrato de normas o Tribunal tem procurado, nos casos de exclusão
normalmente, é incorporado, de forma resumida, na parte dispositiva
da decisão.326 327. cr.. a propósíto. Bittencourt, O Controle Junsdicwnal ...• p. 95.
328. A chamada representação interpretatIva fOI mtroduzida no Direito bra-
322. ADIn n. 1.045. ReI. Min. Marco Aurélio, DJU 6.5.94, p. 10.485. sileiro pela EC n. 7/77 e deveria contribuir - tai como ressaltado na Exposição de
323. Bittencourt, O Controte Jurrsdictonal.... p. 93. Mottvos do Governo - para dinrnir controvérsías sobre interpretação de lei ou ato
324. Repr. n. 948, ReI. Min. Moreira Alves, RTJ82155-56; Repr. n. !.lOO, RTJ normativo federal ou estadual. O direito de propositura fOi confiado exclUSIvamente
II 5/993 e ss. ao Procurador-Geral da República (CF de 1967/1969, ar!. 119, I, "I"). A CoostitUlção
325. Cf., a propÓSIto, Repr. n. 1.454, ReI. Min. Octávio Gallotti, RTJl25/997. de 1988 não incorporou esse lnstituto.
326. CE, a propósito, Repr. n. 1.389. ReI. Min. Oscar Corrêa. RTJ 1261514; 329. CE Repr. n. 1.417, ReI. Min. Moreira Alves, RTJ 126/48 e ss.
Repr. n. 1.454, ReI. Min. OCtávIO Gallotti. RTJ 1251997; Repr. n. 1.399, ReI. Min. 330.Voto na Repr. n. 1.417, DJU 15.4.88, RTJ 126148 e ss.
Aldir Passarinho. DJU 9.9.88. 33!. Repr. n. 1.417, ReI. Min. Moreira Alves, RTJ 126/48.
AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 477
476

de determinadas hipóteses de aplicação ou hipóteses de interpretação A prática demonstra que o Tribunal não confere maior signifi-
do âmbito normativo, acentuar a equivalência dessas categorias.332 cado à chamada intenção do legislador, ou evita investigá-la, se a
interpretação conforme à Constituição se mostra possivel dentro dos
De nossa parte, cremos que a equiparação, pura e simples, da
limites da expressão literal do texto.337
declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto à interpre-
tação conforme à Constituição prepara dificuldades significativas.
ElItre a illterpretação cOIiforme e a decisão manipulativa de
A mais relevante delas advém do fato de que, ao fixar como efeitos aditivos - Muitas vezes, porém, esses limites não se apresen-
constitucional dada interpretação e, expressa ou implicitamente, tam claros e são de dificil definição. Como todo tipo de linguagem,
excluir determinada possibilidade de interpretação, por inconstitucio- os textos normativos normalmente padecem de certa indet"rminação
nal, o Tribunal não declara - nem poderia fazê-lo - a inconstituciona- semântica, sendo passíveis de múltiplas interpretações. Assim, é
lidade de todas as possíveis interpretações de certo texto normativo. possível entender, como o faz Rui Medeiros, que "a problemática dos
Neste tema, parece que o legislador fez - pelo que se depreende limites da interpretação conforme à Constituição está indiSSOCIavel-
do art. 28, parágrafo único, da Lei n. 9.868 - uma clara opção pela mente ligada ao tema dos limites da interpretação em geral",338
separação das figuras da declaração de inconstitucionalidade sem
A elimmação ou fixação, pelo Tribunal, de determinados senti-
redução do texto e da interpretação conforme à Constituição.
dos normativos do texto quase sempre tem o condão de alterar, ainda
Admissibilidade e limites da interpretação cOIiforme à Consti- que minimamente, o sentido normativo original determinado pelo
tuição - Também entre nós a doutrina e a jurisprudência utilizam-se legislador. Por isso, muitas vezes a interpretação conforme levada a
de uma fundamentação diferenciada para justificar o uso da inter- efeito pelo Tribunal pode transformar-se numa decisão modificativa
pretação conforme à Constituição. Ressalte-se, por um lado, que a dos sentidos originais do texto.
supremacia da Constituição impõe que todas as normas Jurídicas A experiência das Cortes Constitucionais européias - desta-
ordinárias sejam mterpretadas em consonância com seu texto.33J Em cando-se, nesse sentido, a Corte CostituzlOnale italiana33 ' - bem
favor da admissibilidade da interpretação conforme à Constituição demonstra que, em certos casos, o recurso às decisões interpretativas
milita também a presunção da constitucionalidade da lei, fundada na com efeitos modificativos ou corretivos da norma constitui a única
idéia de que o legislador não poderia ter pretendido votar lei incons- solução viável para que a Corte Constitucional enfrente a incons-
titucionaL334 titucionalidade existente no caso concreto, sem ter que recorrer a
Segundo a jurisprudência do STF, a interpretação conforme à subterfúgios indesejáveis e soluções simplistas como a declaração de
Constituição conhece liruites. Eles resultam tanto da expressão literal inconstitucionalidade total ou, no caso de esta trazer conseqüências
da lei quanto da chamada vontade do legislador. A interpretação con- drásticas para a segurança juridica e o interesse social, a opção pelo
forme à Constituição é, por isso, apenas admissivel se não configurar mero não-conhecimento da ação.
violência contra a expressão literal do texto335 e não alterar o SIgnifi-
cado do texto normativo, com mudança radical da própria concepção MoreIra Alves, DJU 15.4.88; ADIn n. 3.046-SP, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU
original do legislador. 336 28.5.2004.
337. Repr. n. 1.454, ReI. Min. Octávio GaIlottt, RTJ 125/997; Repr. n. 1.389,
332.ADInlMC n. 491, ReI. Min. MorerraAlves. RTJ 137/90; ADIn n. 319, ReI. ReI. Min. Oscar Corrêa, RTJ 126/514; Repr. n. 1.399, ReI. Min. Aldir Passarinho,
Min. Morerra Alves. DJU 30.4.93. DJU9.9.88.
333. Bittencourt, O Controle JurisdicionaL. pp. 93-94. 338. Rui MedeIros. A Decisão de InconstitUCionalidade. Os Autores. o Con-
334. Idem, p. 95. feiido e os Efeitos da Deczsão de InconstituCIOnalidade da Lei, Lisboa. Universidade
Católica Editora, 1999, p. 301.
335. Idem. ibidem.
336. ADIn n. 2.405-RS, ReI. Min. Carlos Bntto, DJU 17.2.2006; ADIn n. 339. Cf. Augusto Martin de la Vega. La Sentencra Constllucional en ItaUa,
1.344-ES, ReI. Min. Joaquim Barbosa,DJU 19.4.2006; Repr. n. 1.4I7-DF, ReI. Min. Madn. Centro de Estudios Políticos y Constltucionales. 2003.
478 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 479

Sobre o tema, ê digno de nota o estudo de Joaquin Brage dade com efeitos pro foturo a partir da decisão ou de outro momento
Camazano,340 do qual citamos O seguinte trecho: "La raiz esencialmen_ que venha a ser determinado pelo Tribunal.
te pragmática de estas modalidades atípicas de sentencias de la cons- Nesse contexto, a jurisprudência do STF tem evoluido significa-
títucionalidad hace suponer que su uso es prácticamente inevitable, tivamente nos últimos anos, sobretudo a partir do advento da Lei n.
con una u otra denominación y con unas u otras particularidades, por 9.868/99, cujo art. 27 abre ao Tribunal uma nova via para a mitigação
cualquier órgano de la constitucionalidad consolidado que goce de una de efeitos da decisão de inconstitucionalidade. A prática tem demons-
amplia jurisdicción, en especial si no seguimos condicionados inercial- trado que essas novas técnicas de decisão têm guarida tambêm no
mente por la majestuosa, pero hoy ampliamente superada, concepción âmbito do controle difuso de constitucionalidade.34!
de Kelsen dei TC como una suerte de 'legislador negativo'. Si alguna Uma breve análise retrospectiva da prática dos tribunais consti-
vez los tribunales constítucionales fueron legisladores negativos, sea tucionais e de nosso STF bem demonstra que a ampla utilização des-
como sea, hoy es obvio que ya no lo son; y justamente el rico' arsenal' sas decisões. comumente denomínadas "atípicas''. as converteu em
sentenciador de que disponen para fiscalizar la constitucíonalidad de modalidades "típicas" de decisão no controle de constitucionalidade,
la ley, más allá dei planteamíento demasiado simple 'constitucionali- de forma que o debate atual não deve mais estar centrado na admis-
dadl inconstitucionalidad', es un elemento más, y de importancia, que sibilidade de tais decisões, mas nos limites que elas devem respeitar.
viene a poner de relieve hasta qué punto es asi. Y es que, como Fer-
O STF, quase sempre imbuído do dogma kelseniano do legis-
nández Segado destaca, 'Ia praxis de los tribunales constitucionales no
lador negativo, costuma adotar uma posição de self-restraint ao se
ha hecho sino avanzar en esta dirección' de la superación de la idea de
deparar com situações em que a interpretação conforme possa des-
los mismos como legisladores negatIvos, 'certificando (asi) la quiebra
cambar para uma decisão mterpretativa corretiva da lei. 342
deI modelo kelseniano deI legislador negativo".
Ao se analisar detidamente a jurisprudência do Tribunal, no
Certas modalidades atípicas de decisão no controle de constitu- entanto, é possive! verificar que em muitos casos a Corte não atenta
cionalidade decorrem, portanto, de uma necessidade prática comum para os limites, sempre imprecisos, entre a interpretação conforme
a qualquer jurisdição constitucional. delimItada negativamente pelos sentidos literais do texto e a decisão
Assim, o recurso a técnicas inovadoras de controle da consti- interpretatIva modificativa desses sentidos origmais postos pelo le-
tucionalidade das leis e dos atos normativos em geral tem sido cada gislador.343
vez mais comum na realidade do Direito Comparado, na qual os No julgamento conjunto das ADIn ns. l.l05-DF e l.l27-DF,
tribunais não estão mais afeitos às soluções ortodoxas da declaração ambas de relatoria do Min. Marco Aurélio (relator para o acórdão o
de nulidade total ou de mera decisão de improcedência da ação, com Min. Ricardo Lewandowski), o Tribunal, ao conferir interpretação
a conseqüente declaração de constitucionalidade. conforme à Constituição a vários dispositivos do Estatuto da Advo-
Além das muito conhecidas técnicas de interpretação conforme cacia (Lei n. 8.906/94), acabou adicionando-lhes novo conteúdo nor-
à Constituição, da declaração de nulidade parcial sem redução de tex- mativo, convolando a decisão em verdadeira interpretação corretiva
to, da declaração de inconstitucionalidade sem a pronóncia da nulida- da lei. 344
de, da aferição da "lei ainda constitucional" e do apelo ao legislador,
são também muito utilizadas as técnicas de limitação ou restrição de 341. RE n. 197.917-SP, ReI. Min. Mauricio Corrê.. DJU7.5.2004.
342. ADIn n. 2.405-RS. ReI. Min. Carlos Bnttn, DJU 17.2.2006; ADIn n.
efeitos da decisão, o que possibilita a declaração de inconstitucionali- l.344-ES, Rel. Min. More"" Alves, DJU 19.4.96; Repr. n. 1.417-DF, Rel. Min. Mo-
re""Alves. DJU 15.4.88.
340. Joaquln Brage Camazano. "Interpretación constitucional. dec1araciones 343. ADIn ns. !.l05, !.l27, 1.344, 1.668, 1.797, 1.946,2.084,2.087,2.209.
de mconsritucíonalidad y arsenal sentenciador (un sucinto inventario de algunas 2332,2.405,2.596,2.652,3.046 e 3.324.
sentenCIas <atípICas')", ln Eduardo Ferrer Macgregor (ed.), La Interpretación COnsti- 344..ADIn n. 1.105-DF eADIn n. 1.127-DF, rel.ong. Min. Marco Aurélio. ReI.
tuCIOnal, MéXICO. PorrUa. 2005. para o acórdão Min. Ricardo Lewandowski.
480 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 481

Em outros vários casos mais antigos também é possível verificar parlamentar dos partidos políticos, o Tribunal pr?fenu típica decisão
que o Tribunal, a pretexto de dar interpretação conforme á Constitui_ manípulatlva de efeitos aditivos, ao utlhzar a tecOlca da interpreta-
ção a determinados dispositivos, acabou proferindo o que a doutrina ção conforme â Constituição para atribuir aos arts. 56 e 57 da Lei
constitucional, amparada na prática da Corte Constitucional italiana, dos partidos Políticos o sentido de que as normas de transição neles
tem denominado de decisões manipulativas de efeitos aditivos.34' contidas continuem em vigor até que o legislador discipline nova-
Sobre a evolução da jurisdição constitucional brasileira em tema mente a matéria, dentro dos limites esclarecidos pelo Tribunal nesse
de decisões manipulativas, o constitucionalista português Blanco de julgamento.
Morais fez a seguinte análise: Em futuro próximo o Tribunal voltará a se deparar com o pro-
"(... ) o fato e que a Justiça Constitucional brasileira deu, 1I anos blema no julgamento da ADPF n. 54 (ReI. Min. Marco Auréliol, que
volvidos sobre a aprovação da Constituição de 1988, um importante discute a constitucionalidade da criminalização dos abortos de fetos
passo no plano da suavização do regime típico da nulidade com efei- anencéfalos. Caso o Tribunal decida pela procedência da ação, dando
tos absolutos, através do alargamento dos efeitos manipulativos das interpretação conforme aos arts. 124 a 128 do CP, invanavelmente
decisões de inconstitucionalidade. proferirá uma tipica decisão manlpulativa com eficáCia aditiva.
"Sensivelmente, desde 2004 parecem tambem ter começado a Ao rejeitar a questão de ordem levantada peJo Procurador-Geral
emergir com maior pragnância decisões jurisdicionais com efeitos da República. o Tribunal admitiu a possibilidade de, ao julgar o
aditivos. merito da ADPF n. 54, atuar como verdadeiro legislador positivo,
"Tal parece ter sido o caso de uma acção directa de inconstitu- acrescentando mais uma excJudente de punibilidade - no caso de o
cionalidade, a ADIn n. 3.105, a qual se afigura como uma sentença feto padecer de anencefalia - ao crime de aborto. 347
demolitória com efeitos aditivos. Esta eliminou, com fundamento Portanto, é possível antever que o STF acabe por se livrar do
na violação do principio da igualdade, uma norma restritiva que, de vetusto dogma do legislador negativo e se alie â mais progressiva
acordo com o entendimento do Relator, reduziria arbitrariamente, linha jurisprudencial das decisões interpretativas com eficácia adi-
para algumas pessoas pertencentes à classe dos servidores públicos, tiva, já adotadas pelas principais Cortes Constitucionais do mundo.
o alcance de um regime de imunidade tributária que a todos aprovei- A assunção de uma atuação criativa peJo Tribunal poderá ser deter-
taria. Dessa eliminação resultou automaticamente a aplicação, aos minante para a solução de antigos problemas relacionados à incons-
referidos trabalhadores inactivos, de um regime de imunidade contri- titucionalidade por omissão, que muitas vezes causam entraves para
butiva que abrangia as demais categorias de servidores públicos."346
Assim, no julgamento dasADInns. 1.354 e 1.351 (em 7.12.2006), 347. O Tribunal asSIm procedeu ao analisar os processos abaIXO, sinalizando
nas quais se impugnava a denominada "cláusula de barreira" institui- para novos honzontes relat1vamente asentença de perfil aditivo:
da pelo art. 13 da Lei n. 9.096/95 como restrição ao funcionamento - RE n. 405.579, Rel. Min. Joaquím Barbosa, julgamento micíado em
17.10.2007. Em VotO-ViSta propus a extensão do beneficIO tributário (redução de
Imposto de importação) a empresas não contempladas no inc. X do § 12 do art 5n
345. Sobre a difusa tenninología utilizada. v.: Carlos Blanco de MoraiS. Justiça da Lei n. 10.182/2001. O Julgamento acha-se pendente. em razão de pedido de VIsta.
ConstituclOnal, t II. "O ContencIoso ConstItucional Português Entre o Modelo Misto - MI n. 670. Rei. para o acórdão Min. Gilmar Mendes; 1-11 n. 708, ReI. Min.
e a Tentação do Sistema de Reenvio", Coímbra., Coímbra Editora. 2005, pp. 238 e GilmarMendes. e MI n. 712, Rei. Min. Eras Grau,j. 25.10.2007, nos quais se deter-
55.; Augusto Martin de ta Vega, La SentencIa ConstitucIonal en Italia. Madn. Centro minou a aplicação. aos servidores públicos, da LeI n. 7.783/89, que dispõe sobre o
de Estudios Políticos y Constitucionales. 2003~ Francisco Javier Díaz Revono. Las exerClClO do direito de greve na Ímclatlva privada Cf.. supra, Mandado de lnJunção.
SentencIas Interpretativas deI Tribunal Constitucional, Valadolid, Lex Nova, 2001; - MS ru. 26.602-DF (PPS), 26.603·DF (PSDB) e 26.604-DF (Democratas), da
Héctor Lopez Bofill, DeclSlones Interpretativas en el Controi de ConstituclOnalidad relatona dos Mins. Eras Grau. Celso de Mello e Cármen LUCIa, respectIvamente. Em
de la Ley, ValenCia, Tirant lo Blanch, 2004. julgamento realizado em 4.10.2007 o Tribunal decidiu que o abandono, pelo parla-
346. Carlos Blanco de Morais. Justzça Constitucional. t II, "O ContencIoso mentar. da. legenda pela qual fOi eleito tem como conseqüênclaJuridica a extinção do
Constitucional Português ...... pp. 238 e ss. mandato. Cf. capitulo "DireItos Políticos na Constituição",
482 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 483

a efetivação de direitos e garantias fundamentais assegurados pelo Essa orientação corresponde, sem dúvida, à natureza do proces-
texto constitucional. so de controle abstrato de normas, que se destina não só a eliminar
da ordem jurídica, pronta e eficazmente, a lei inconstitucional, mas
A declaração de cOllStitucionalidade das leis - Embora na Ex- também a espancar, de forma definitiva. dúvidas porventura surgidas
posição de Motivos que encaminhou a proposta de EC n. 16/65 tenba sobre a constitucionalidade das leis válidas. 351
o Governo acentuado que a representação, limitada em sua iniciati- Tal entendimento parece tanto mais plausível se se considera
va, teria o mérito de facultar desde logo a definição da controvérsia que o STF não está adstrito, no controle abstrato de normas, aos
constitucional sobre leis novas, formando precedente que orientaria fundamentos invocados pelo autor, podendo declarar a inconstitu-
O julgamento de processos congêneres,348 a doutrina constitucional cionalidade por fundamentos diversos dos expendidos na inicial.352
brasileira não conferiu maior atenção à decisão que reconbecia a
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de uma lei no proces- A declaração de cOllstitllcionalidade e a "lei ainda consti-
so de controle abstrato de normas. Considerando que o conteudo e os tllciollal" - Em decisão de 23.3.94 teve o STF a oportunidade de
efeitos da decisão foram disciplinados apenas de forma fragmentada ampliar a já complexa tessitura das técnicas de decisão no controle
nas diferentes disposições, não lograram, doutrina e jurisprudência, de constitucionalidade, admitindo que lei que concedia prazo em do-
precisar, inicialmente, o significado dogmático da declaração de bro para a Defensoria Pública era de ser considerada constituCional
enquanto esses órgãos não estivessem devidamente habilitados ou
constitucionalidade no juizo abstrato. 34'
estruturados.353
Posteriormente, passou o Tribunal a admitir que as decisões de
Ressalvou-se, portanto, de forma expressa, a possibilidade de
inconstitucionalidade proferidas no processo de controle abstraIo de
que o Tribunal possa vir a declarar a inconstitucionalidade da dispo-
normas tinham eficácia erga omnes, deixando, assím, de submetê-las
ao Senado FederaJ.350 351. Essa orientação. que é dominante na doutrina gennânica, parece cor-
É que, ao contrário do que se verifica em alguns sistemas, o responder, tal corno demonstrado acima. à natureza e aos objehvos do processo de
controle abstrato adotado no Brasil desde a EC n. 16/65. Deve-se assinalar, porem.
STF não se limita a declarar a improcedência da ação, declarando que a doutnna constitucional Italiana e, mais recentemente, a doutrina espanhola e
expressamente a constitucionalidade da norma por decisão de maio- a portuguesa atribuem eficâcia extremamente reduzida â "sentença de rejeIção de
ria qualificada (seis votos), presentes pelo menos oito integrantes da inconstItucionalidade". Tal como observado por Zagrebelsky, "Ie deCISlOnt di ngetto
della Corte CostItuzlonale possegono dunque un 'efficacIa assai limitata, e comunque
Corte. Era o que dispunbam os arts. 143 e 173 do Regimento Interno non paragonabile a queIla propna dei gllldicato di Cul sono fomite regola sentenze
do STF, e agora o art. 23 da Lei n. 9.868/99. delIa giunsdizIone comune" (La Giustizla Costítuz/Onale, Bolonha. 1977, p. 185).
Também Raul Sierra Bocanegra rejeIta a possibilidade de se outorgar eficacia â
sentença confrrmatôria da constitucionalidade, porquanto «esa sentencIa dispondria
348. Cf. Emendas aConstituição de 1946. n. 16. Refonna do Poder Judiciáno.
de un valor supenor aI de las Ieyes mlsmas, un valor constitucional totalmente ina-
Câmara dos Deputados, Brasília, 1968, p. 19 (24).
ceptable en un mstrumento Jurídico de esa clase, que vendria a poner en cuestiôn, por
349. Cf.. a propósito: Buzaid, Da Ação Direta...• p. 87: Bittencourt, O Controle lo demâs, muy senamente. el progreso y la capacidad de cambio y adaptación de la
JurisdiCIonaL, p. 143. Constttuciôn. ai volver definitIvamente el sistema hacia uno de los paIos ({ue en esta
350. Parecer do Min. Rodrigues de Alckmin. de 19.6.75 (sessão administrati· matena entron en tensiôn" (cf. EI Vaior de las Sentencias dei Tribunal Conslltuclona/,
va),DJU 16.5.77,p. 3.124; parecer do Min. MoreiraAlves,de 11.11.75 (sessão adIm- Madrí. 1982, p. 254). No mesmo sentido é a opinião de Gomes Canotilho e de Jorge
nistrativa). DJU 16.5.77, p. 3.123. V., também, O. A. Bandeira de Mello, Teona das Miranda em relação â sentença de rejeição de mconstituclOnalidade proferida pela
COnstituIÇÕes Rígidas, 1980, p. 213. Em 18.6.77 o Presidente do STF, Min. Thomp- Corte ConstitucIonal portuguesa (Canotilho, Direito ConslltuclOnal. 5ll ed. Coimbra,
son Flores. detenninoll que as comunicações ao Senado Federai para os fins do art. 1992, p. 1.089; Miranda. Manual de Direito Constltuclonal, 2n ed., t 2, COimbra,
42, VII. da CF de 1967/1969 se restnngissem às declarações de inconstitucIonalidade 1983, p. 384).
proferidas incidenter tantum (cf. Ana Valderez Ayres Neves de Alencar, "A compe- 352. Cf., a propÓSIto, GiImar Ferreíra Mendes. Controle de Constitucionalida-
tência do Senado Federal para suspender a execução dos atas inconstItucionaIS", R1L de, p. 268.
57/260 (305), 1978). 353. HC n. 70.514,J. 23.3.94, DJU27.6.97.
484 AÇÕES DE INCONSTlTUClONALIDADE DEClSÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 485

sição em apreço, uma vez que a afirmação sobre a legitimidade da judicial que se apresente, de alguma forma, em contradição com a
norma assentava-se em uma circunstãocia de fato que se modifica CF (art. 102, III, "a").355
no tempo.354 Tanto o poder do juiz de negar aplicação ii lei mconstitucional
Fica evidente, pois, que a nossa Corte deu um passo significa- quanto a faculdade assegurada ao indivíduo de negar observáncia ii
tivo rumo à flexibilização das técnicas de decisão no juizo de con- lei inconstitucional demonstram que o constitumte pressupôs a nuli-
trole de constitucionalidade, introduzindo, ao lado da declaração de dade da lei inconstitucional. Dai se segue que a sentença que declara
inconstitucionalidade, o reconbecimento de um estado imperfeito, a inconslltucionalidade tem eficacla ex tunc.
insuficiente para justificar a declaração de ilegitimidade da lei. Porém, a Lei n. 9.868 contém disposição (art. 27) que autonza o
STF, tendo em vista razões de segurança juridica ou de excepcional
Declaração de inconstitucionalidade com efeitos "ex tllne" interesse social, a restringir os efeitos da declaração de inconstitucio-
e declaração de inconstitucionalidade com efeitos "ex nunc" - nalidade ou a estabelecer que ela tenba eficácia a partir de seu trán-
O poder de que dispõe qualquer juiz ou tribunal para deixar de apli- sito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado, desde
car a lei inconstitucional a um determinado processo (CF, arts. 97 e que tal deliberação seja tomada pela maioria de dois terços de seus
102, III, "a", "b" e "c") pressupõe a invalidade da leí e, com isso, a membros. A inovação em tela merece ser justificada.
sua nulidade. A faculdade de negar aplicação á leí inconstitucional
corresponde ao direito do indivíduo de se recusar a cumprir a lei A falta de um instituto que permita estabelecer limites aos
inconstitucional, assegurando-se-lhe, em última instãocia, a possi- efeitos da declaração de inconstitucionalidade acaba por obrigar os
bilidade de interpor recurso extraordinário ao STF contra decisão tribunais, muitas vezes, a se absterem de emitir um juizo de censura,
declarando a constitucionalidade de leis manifestamente inconstitu-
354. Posteriormente. no REcrim. n. 147.776-8, da relataria do Min. Sepúlveda
cionaís.
Pertence. o tema voltou a ser agítado de forma pertinente. A ementa do acórdão reve~ Por isso, assevera. Garcia de Enterna, forte na doutrina ame-
la, por si só, o significado da decisão para a atual evolução das tecmcas de controle ricana, que "la alternativa a la prospectividad de las sentencias no
de constItucionalidade: es, pues, la retroactividad de las mismas, sino la abstención en el
"Ministéno Público - Legitimação para promoção. no juízo civel, do ressarci w

mento do dano resultante de crime. pobre o titular do direito â reparação - Cpp, art. descubrimiento de nuevos criterios de efectividad de la Constitución,
68. amda constitucional (cf. RE n. 135.328) - Processo de inconStltucionalização el estancamiento en su interpretación, la renunCia. pues, a que los
das leis. tribunales constitucionales cumplan una de sus funciones capitales,
"I. A alternativa radicai da junsdição constitucional ortodoxa entre a constitu- la de hacer una living-Constitution, la de adaptar paulatinamente esta
CIonalidade plena e a declaração de inconstttucionalidade ou revogação por incons-
titucionalidade da lei com fulminante eficácia ex tunc faz abstração da evidênCIa de a las nuevas condiciones sociales",356
que a Implementação de uma nova ordem constitucional não é um fato instantâneo, E interessante notar que nos próprios Estados Unidos da Amé-
mas um processo. no qual a possibilidade de realização da norma da Constituição - rica, onde a doutrina acentuara tão enfaticamente a idéia de que a
ainda quanto teoncamente não se cuide de preceíto de eficácía limitada - subordina-
se muitas vezes a alterações da realidade fátíca que a viabilizem. expressão "lei inconstitucional" configurava uma contradictio in ter-
"2. No contexto da Constttuição de 1988, a atribuição anteriormente dada ao minis, uma vez que "the inconstitutional statute is not law at all",357
Ministério Público pelo art. 68 do CPP - constituindo modalidade de assistência
judiciárIa - deve reputar-se transferida para a Defensoria Pública: essa, porem, para
esse fim, só se pode considerar exístente onde e quando orgaruzada, de direito e de 355. Cf., a propósito, Repr. n. 980, ReI. Min. Moreua Alves, RTJ96/496 (5081.
fato, nos moldes do art. 134 da própria Constituição e da lei complementar por ela 356. Eduardo Garcia de Enterria. "JllStiCIa Constitucional. Ia doctrina prospec-
ordenada. Até que - na União ou em cada Estado considerado - se implemente essa tiva en la declaración de meficacIa de las ieyes inconstttucionales", RDP 9215 (14).
condição de viabilização da cogitada transferência constitucional de atribuições, o art. 357. Cf. Westel Woodbury Willoughby, The ConstitutlOnal Law o/llle United
68 do CPP será considerado ainda vigente: é o caso do Estado de São Paulo, como States, v;L Nova York, 1910, pp. 9-10; cf.. também, Thomas M. Cooley, Treallse on
decidiu o Plenário no RE n. [35.328" (Lex-JSTF238/390). lhe Constitulional Limita/ions. 411 ed.. Boston, 1878, p. 227.
486 AÇOES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISOES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 487

passou-se a admitír, após a Grande Depressão, a necessidade de se uma excessiva rigidez que pudesse comportar; destina-se a eVitar
estabelecer limites à declaração de inconstitucionalidade.35B que, para fugir a conseqüências demasiado gravosas da declaração.
A Suprema Corte americana vem considerando o problema o Tribunal Constitucional viesse a não decidír pela ocorrência de
proposto pela eficácia retroativa de juízos de inconstitucionalidade a inconstitucionalidade; é uma válvula de segurança da própria finali-
propósito de decisões em processos criminais. Se as leis ou atos in- dade e da efetividade do sistema de fiscalização.
constitucIOnais nunca existiram enquanto tais, eventuais condenações "Uma norma como a do ar!. 2822 , n. 4, aparece, portanto, em
neles baseadas quedam ilegítimas e, portanto, o juízo de inconstitu- diversos paises, se não nos textos, pelo menos na jurisprudência.
cionalidade ímplicaria a possibilidade de ímpugnação ímediata de "Como escreve Bachof. os tribunais constítucionaÍs consideram-
todas as condenações efetuadas sob a vigência da norma inconstitu- se não só autorizados mas inclusivamente obrigados a ponderar as
cional. Por outro lado, se a declaração de inconstitucionalidade afeta suas dec,isões. a tomar em consideração as passiveis conseqüências
tão-somente a demanda em que foi levada a efeito, não há que se destas. E assím que eles verificam se um possivel resultado da de-
cogitar de alteração de julgados anteriores. cisão não seria manifestamente injusto, ou não acarretaria um dano
Sobre o tema, afirma Tribe: "No caso 'Linkletter vs. Walker', para o bem público, ou não Iria lesar interesses diguos de proteção de
a Corte rejeitou ambos os extremos: 'a Constituição nem proíbe cidadãos singulares. Não pode entender-se isto, naturalmente, como
nem exige efeito retroativo', Parafraseando o Justice Cardozo pela se os tribunais tomassem como ponto de partida o presumivel resul-
assertiva de que 'a Constituição Federal nada diz sobre o assunto', tado da sua decisão e passassem por címa da Constituição e da lei em
a Corte de Lmkletter tratou da questão da retroatividade como um atenção a um resultado desejado. Mas a verdade é que um resultado
assunto puramente de política (política judiciária), a ser decidido injusto. ou por qualquer outra razão duvidoso, é também em regra -
novamente em cada caso. A Suprema Corte codificou a abordagem embora não sempre - um resultado juridicamente errado.
de Linkletter no caso 'Stovall vs. Denno': 'Os critérios condutores "À primeira vista, oposto à fixação dos efeitos é o judicial self-
da solução da questão ímplicam (a) o uso a ser servido pelos novos restraint. que consiste (como o nome indica) numa autolimitação
padrões, (b) a extensão da dependência das autoridades responsáveis dos tribunais ou do tribunal de constituCionalidade, não ajuizando aí
pelo cumprimento da lei com relação aos antigos padrões e (c) o onde considere que as opções políticas do legislador devem prevale-
efeito sobre a administração da justiça de uma aplicação retroativa cer ou ser insindicáveis. Mas talvez se trate apenas de uma aparente
dos novos padrões" .359 restrição, porquanto não interferir, não fiscalizar, não julgar, pode
Por sua vez, a Constituição portuguesa, na versão da Lei Cons- inculcar, já por si, uma aceitação dos juízos do legislador e das suas
titucional de 1982, consagrou fórmula segundo a qual quando a estatuições e, portanto, também uma defmíção (embora negativa) da
segurança juridica, razões de eqüidade ou interesse público de excep- inconstitucionalidade e dos seus eventuais efeitos ...360
cional relevo o exigirem, poderá o Tribunal Constitucional fixar os Embora a Constituição espanhola não tenha adotado instituto
efeitos da inconstitucionalidade ou da ilegalidade com alcance mais semelhante, a Corte Constitucional, marcadamente influenciada pela
restrito que o previsto em geral (ar!. 281"-4). experiência constitucional alemã, passou a adotar. desde 1989. a
Vale registrar, a propósito. a opinião abalizada de Jorge Miranda: técnica da declaração de inconstitucionalidade sem a pronúncia da
nulidade, como reportado por Garcia de Enterna:
"A fixação dos efeitos da inconstitucionalidade destina-se a
adequá-los às situações da vida. a ponderar o seu alcance e a mitigar "La reciente publicación en el Boletín Oficial de! Estado de 2 de
marzo últJmo de la ya famosa Sentencia n. 45/89, de 20 de febrero,
358. Cf. Laurence Tribe. The Amencan Constitutionai Law. Mineola. New
York, The FoundatlOn Press. 1988, p. 27. 360. Jorge Miranda. Manual de Direito Constitucronal. 3i\ cd., t II. Coimbra,
359. Tribe, The Amencan Constitutional Law, p. 30. 1991, pp. 500-502.
488 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 489

sobre inconstitucionalidad dei sistema de liquidación conjunta dei "A consagração positiva da teoria da inconstitucionalidade por
impuesto sobre la renta de la 'unidad familiar' matrimonial. permite omissão cnou, no entanto, dilema cruciante quando se trate, ao con-
a los juristas una reflexión pausada sobre esta importante decisión trario, de ofensa ii isonomia pela outorga por lei de vantagem a um
dei Tribunal Constitucional, objeto ya de multitud de comentanos OU mais grupos com exclusão de outro ou outros que, sob o ângulo
periodísticos. considerado, deveriam se incluir entre os beneficiários.
"La decisión es importante, en efecto, por su fondo, la íncons- "E a hípótese, no quadro constitucional brasileiro, de lei que, â
titucíonalidad que declara, terna en el cual no parece haberse produ- vista da erosão inflacionária do poder de compra da moeda, não dê
cido, hasta ahora, discrepancía alguna. Pero me parece bastante más alcance universal ii revisão de vencimentos, contrariando o art. 37, X,
importante, atin por la innovación que ha supuesto en la deterrnina- ou que, para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas, fixe ven-
ción de los efectos de esa inconstitucionalidad, que el fallo remite a cimentos díspares, negando observância à imposição de tratamento
lo 'que se indica en el Fundamento Undécimo', y éste explica como igualitário do art. 39, § I", da Constituição.
una eficada pro futuro, que no permite reabrir las Iiquidaciones "A alternativa que ai se põe ao órgão de controle é afirmar a
administrativas o de los propios contribuyentes (autoliquidaciones) inconstitucionalidade positiva de norma concessiva do beneficio ou,
anteriores."361 sob outro prisma, a da omissão parcial consistente em não ter esten-
O próprio STF tem apontado as insuficiências existentes no dido o beneficio a quantos satisfizessem os mesmos pressupostos
âmbito das técnicas de decisão no processo de controle de constitu- de fato subjacentes ii outorga (Canotilho, Constituição Dirigente e
cionalidade. Vinculação do Legislador, 1992, pp. 333 ss. e 339; Direito Constttu-
Os casos de omIssão parcial mostram-se extremamente dificeIS czonal, 1986, p. 831; Gilmar F. Mendes. Controle de Constituciona-
de serem superados no âmbito do controle de normas em razão da lidade, 1990, pp. 60 e ss.; Regina Ferrari, Efeitos da Declaração de
insuficiência das técnicas de controle disponiveis. Inconstitucionalidade, 1990, pp. 156 e ss.; Càrrnem LUCIa Rocha, O
Principio Constitucional da Igualdade, 1990, p. 42): 'a censurabili-
Essa peculiaridade restou evidenciada naADIn n. 526, oferecida
dade do comportamento do legislador' - mostra Canotilho (Consti-
contra a MP n. 296/91, que concedia aumento de remuneração a seg-
tuição Dirigente, cit., p. 334), a partir da caracterização material da
mento expressivo do funcionalismo público em alegado desrespeito
omissão legislativa - 'tanto pode residir no acto positivo - exclusão
ao disposto no art. 37, X, da CF. Convém se registre passagem do
arbItraria de certos grupos das vantagens legais - corno no procedi-
voto proferido pelo Relator, Min. Sepúlveda Pertence, no julgamento
mento omissivo - emanação de uma lei que contempla positivamente
do pedido de concessão de medida cautelar:
um grupo de cidadãos, esquecendo outros'.
"Põe-se aqui, entretanto, um problema sério e ainda não des-
"Se se adota a primeira solução - a declaração de inconstitu-
lindado pela Corte, que é um dos tormentos do controle da cons-
cionalidade da lei por 'não-favorecimento arbitrário' ou 'exclusão
titucionalidade da lei pelo estalão do principio da isonornía e suas
inconstitucional de vantagem' -, que é a da nossa tradição (v.g., RE
derivações constitucionais.
n. 102.553,21.8.86, RTJ 120/725), a decisão tem eficácia fulmmante,
"Se a ofensa ii isonomia consiste, no texto da norma questiona- mas conduz a iniqüidades contra os beneficiados, quando a vantagem
da, na imposição de restrição a alguém, que não se estenda aos que não traduz privilégio, mas imperativo de circunstâncIas concretas,
se encontram em posição idêntica, a situação de desigualdade se não obstante a exclusão indevida de outros, que ao gozo dela se apre-
resolve sem perplexidade pela declaração da invalidez da constrição sentariam com os mesmos títulos.
discrirnínatória.
"É o que ocorreria, no caso, com a suspensão cautelar da efi-
361. "JustIcia Constitucional, la doctrina prospectiva en ta declaración de ínefi- cácia da medida provisória, postulada na ADIn n. 525: estaria pre-
cacia de las leyes inconstItucl0naIes", RDP 9215. outubro-dezembro/89. judicado o aumento de vencimentos da parcela mais numerosa do
AÇÚES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÚES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 491
490

funcionalismo civil e militar, sem que daí resultasse beneficio algum declaração de nulidade se mostre inadequada (v.g., lesão positiva ao
para os excluidos do seu alcance. principio da isonomia) ou nas hipóteses em que a lacuna resultante
da declaração de nulidade possa dar ensejo ao surgimento de uma
"A solução oposta - a da omissão parcial - seria satisfatória se
situação ainda mais afastada da vontade constitucional.
resultasse na extensão do aumento - alegadamente, simples reajuste
monetário - a todos quantos sofrem com a mesma intensidade a de- As decisões proferitl11s na ação direta de inconstitucionalidade
preciação inflacionária dos vencimentos. por omissão e sua eficácia mandamental- O STF teve a oportunidade
"A essa extensão da lei, contudo, faltam poderes ao Tribunal, de apreciar pela primeira vez as questões suscitadas pelo controle de
que, à luz do art. 103, § 2·, da CF, declarando a inconstitucionalidade constitucionalidade da omissão em decisão de 23.11.89.363
por omissão da lei - seja ela absoluta ou relativa -, há de cingir-se a A inexistência de regras processuais específicas eXIgia que o
comunicá-Ia ao órgão legislativo competente, para que a supra. Tribunal exanunasse, como questão preliminar. a possibilidade de se
"De resto, como assinalam estudiosos de inegável autoridade aplicar esse instituto com base tão-somente nas disposiçães constitu-
(v.g., Gilmar Mendes, cit, p. 70), o alvitre da inconstitucionalidade cionais. A resposta a essa questão dependia. porém, da definição da
por omissão parcial ofensiva da isonomia - se pôde ser construída, natureza e do siguificado desse novo instituto.
a partir da Alemanha, nos regimes do monopólio do controle de A Corte partiu do principio de que a solução que recomendava
normas pela Corte Constitucional - suscita problemas relevantes a expedição da norma geral ou concreta haveria de ser desde logo
de possível rejeição sistemática se se cogita de transplantá-la para afastada. A regra concreta deveria ser excluída em determinados
a delicada simbiose institucional que se traduz na convivência, no casos, como decorrência da natureza especial de determinadas pre-
Direito brasileiro, entre o método de controle direto e concentrado no tensões - V.g., daquelas eventualmente derivadas dos postulados de
Supremo Tribunal e o sistema difuso. Direito Eleitoral.364
"Ponderaçães, que não seria oportuno expender aqui, fazem, Como omissão deveria ser entendida não só a chamada "omiS-
porém, com que não descarte de plano a aplicabilidade, no Brasil, são absoluta" do legislador, isto é, a total ausência de normas, como
da tese da inconstitucionalidade por omissão parcial. Ela, entretanto, também a "omissão parcial", na hÍpótese de cumprimento imperfeito
não admite antecipação cautelar, sequer, limitados efeitos de sua ou insatisfatório de dever constitucional de legISlar. 36s
declaração no julgamento defmitivo; muito menos para a extensão Tanto quanto a deCisão a ser proferida no processo de controle
do beneficio aos excluídos, que nem na decisão final se poderia abstrato da omissão, a decisão que reconhece a inconstttucionalida-
obter."362 de da omissão no mandado de injunção tem eficácia mandamental.
Evidente, pois, que a declaração de nulidade não configura téc- As duas ações são destinadas a obter ordem judicial dirigida a um
nica adequada para a eliminação da situação inconstitucional nesses outro órgão do Estado. Ter-se-ia, aqui, um exemplo daquela ação
casos de omissão legislativa. Uma cassação aprofundaria o estado de
inconstitucionalidade. 363. O mandado de injunção havia sido proposto por oficial do Exército contra
O Presidente da República, que, segundo se alegava, não teria encamInhado, tempes-
Entendeu, portanto, o legislador que, ao lado da ortodoxa decla- hvamente. ao Congresso Nacíonal projeto de lei disciplinando a duração dos serviços
ração de nulidade, há de se reconhecer a possibilidade de o STF, em temporários, tal como expressamente eXigido pela Constituição (art. 42, § 92). O im-
casos excepcionais, mediante decisão da maioria qualificada (dois petrante haVia prestado serviço por nove anos e sena compelido a passar~ara a reser-
va ao implementar o décimo ano se fosse aplicada a legíslação pre-constitucIOnaL Dai
terços dos votos), estabelecer limites aos efeitos da declaração de ter requerido a promulgação da norma prevIsta constItucionalmente. Ao lado desse
inconstitucionalidade, proferindo a inconstitucionalidade com efi- pleito pnncipal requereu ele, igualmente, a concessão de liminar que garantisse seu
cácia ex nunc ou pro futuro, especialmente uaqueles casos em que a status funCIOnai até a pronUncia da decísão definitiva
364. MI n. 107. ReI. MIn. MoretraAlves, RTJ 133/11 e 55.
362. ReI. Min. SepúIveda Pertence. RTJl45/1O 1 (112-113). 365. MI n. 107, ReI. Min. Moreira Alves. RTJl33/11 (31).
492 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 493

que James Goldschmidt366 houve por bem denominar ação manda- mento de sua incidência dependerá de um severo juizo de ponderação
mentaf.3 67 que, tendo em vista análise fundada no principio da proporcionalida-
Essa ação mandamental eXige a edição de ato normativo por de, faça prevalecer a idéia de segurança jurídica ou outro principio
parte do Poder Público. O processo de controle da omissão, previsto constitucionalmente relevante, manifestado sob a forma de interesse
no art. 103, § 2", da CF, é abstrato e, consoante sua própria natureza, social relevante. Assim, aqui, como no Direito português, a não-apli-
deve a decisão nele proferida ser dotada de eficácia erga omnes. J68 cação do principio da nulidade não se há de basear em consideração
Segundo a orientação do STF, o constituinte pretendeu conferir aos de política judiciária, mas em fundamento constituCIOnal proprio.
dois institutos significado processual semelbante, assegurando às de- O principio da nulidade somente há de ser afastado se se puder
cisões proferidas nesses processos idênticas conseqüências jurídicas. demonstrar, com base numa ponderação concreta, que a declaração
A garantia do exercicio de direitos prevista no art. 5", LXXVI, da CF, de inconstitucionalidade ortodoxa envolveria o sacrificio dã seguran-
pertinente ao mandado de injunção, não se diferenCia, fundamental- ça jurídica ou de outro valor constitucional materializável sob a for-
mente, da garantia destinada a tornar efetiva uma norma constItucIO- ma de interesse social.37! Entre nós, cuidou o legislador de conceber
nal referida no art. 103, § 2", da CF, concernente ao controle abstrato um modelo restritívo também no aspecto procedimental, consagran-
da omissão. 369 do a necessidade de um quórum especial (dois terços dos votos) para
As decisões proferidas nesses processos declaram a mora a declaração de inconstítucionalidade com efeitos limitados.
do órgão legiferante em cumprir dever constitucional de legislar, Vê-se, pois, que também entre nós teni significado especial o
compelindo-o a editar a providência requerida. Destarte, a diferença principIO da proporCIOnalidade, especialmente a proporCIOnalidade
fundamental entre o mandado de injunção e a ação direta de controle em sentido estrito, como instrumento de aferição da justeza da decla-
da omissão residiria no fato de que, enquanto o primeiro destina-se li ração de inconstitucionalidade (como efeito da nulidade), tendo em
proteção de direitos subjetivos e pressupõe, por isso, a configuração vista o confronto entre os interesses afetados pela lei inconstitucional
de um interesse jurídico, o processo de controle abstrato da omissão, e aqueles que seriam eventualmente sacrificados em conseqüência da
enquanto processo objetivo, pode ser instaurado independentemente declaração de inconstitucionalidade.372
da existência de um interesse jurídico específico.370 Nos termos do art. 27 da Lei n. 9.868/99, o STF podeni profe-
É tambem importante ressaltar que a introdução da declara- rir, em tese, tanto quanto já se pode vislumbrar, uma das seguintes
ção de inconstitucionalidade com efeito ex nunc confere ao STF a decisões:
possibilidade de solver o intrincado problema da omissão parcial, a) declarar a inconstitucionalidade apenas a partir do trânsIto
procedendo à declaração de inconstitucionalidade do complexo emjulgado da decisão (declaração de inconslltucionalidade ex nunc),
normativo sem a pronuncia da nulidade. Nesse caso, a Corte poderá com ou sem repristinação da lei anterior;
declarar a inconstitucionalidade da situação nonnativa, sem pronun-
b) declarar a inconstitucionalidade com a suspensão dos efeitos
cia da nulidade, autorizando, ou não, a aplicação da lei considerada
por algum tempo a ser frxado na sentença (declaração de inconstitu-
inconslltucional.
cionalidade com efeíto pro foturo), com ou sem repristinação da lei
A limitação de efeitos e o art. 27 da Lei 11. 9,868/99 - O princí- antenor;
pio da nulidade continua a ser a regra no Direito brasileiro. O afasta- c) declarar a inconstitucionalidade sem a pronúncia da nulida-
de, permitindo que se opere a suspensão de aplicação da lei e dos
366. James GoIdschmidt, Zivilprozessrecht, 2' ed., Berlim, 1932, § 15·a, p. 61.
367. MI n. 107, ReI. Min. Morerra Alves, RTJ 133/11 (35). 371. Cf., a propósito do Direito português, Rui Medeiros. A DeCIsão de Incons-
368. MI n. 107, ReI. Min. MorerraAIves, RTJ 133/11 (38-39). tituclOnalidade. Lisboa, Umversidade Católica Editora, 1999, p. 716.
369. MI n. 107, ReI. Min. Moreira Alves, RTJ 133/11 (38-39). 372. Cf., sobre o assunto. Medeiros. A DeCisão de Inconstitucionalidade, pp.
370. MI n. 107, ReI. Min. Moreira Alves. RTJ 133/11 (38-39). 703-704.
494 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONTROLE ABSTRATO 495

processos em curso até que o legislador, dentro de prazo razoável, sem qualquer ressalva poderá importar, outrossim, o agravamento
venha a se manifestar sobre a situação inconstitucional (declaração do quadro de desigualdade verificado. Assim, um juízo rigoroso de
de inconstitucionalidade sem pronúncia da nulidade = restrição de proporcionalidade poderá recomendar que se declare a inconstitu-
efeitos); e, eventualmente, cÍonalidade sem nulidade, congelando a situação jurídica existente
d) declarar a inconstitucionalidade dotada de efeito retroativo, até o pronunciamento do legislador destinado a superar a situação
com a preservação de determinadas situações. inconstitucional.
Assim, tendo em vista razões de segurança jurídica, o Tribunal Finalmente, poderá ser declarada a inconstitucionalidade com
poderá afirmar a inconstitucionalidade com eficácia ex nunc. Nessa efeitu retroativo (hipótese "d"), desde que sejam preservadas situações
hipótese a decisão de inconstitucionalidade eliminará a lei do orde- singulares (v.g., razões de segurançajuridica), que, segundo e)ltendi-
namento jurídico a partir do tránsito em julgado da decisão (cessação mento do Tribunal, devam ser mantidas incólumes.
da ultra-atividade da lei)373 (hipótese "a").
Outra hipótese (hipótese "b") expressamente prevista no art. A aplicação do ar/. 27 da Lei 9.868/99 na jllrisprlldência do
27 diz respeito á declaração de inconstitucionalidade com eficácia a STF - O STF já teve a oportunidade, em alguns casos, de discutir a
partir de um dado momento no futuro (declaração de inconstitucIO- aplicação do art. 27 da Lei n. 9.868/99.374
nalidade com efeito pro fi/turo). Nesse caso a lei reconhecida como No primeiro controvertia-se sobre a constitucionalidade do pa-
inconstitucional, tendo em vista fortes razões de segurança jurídica rágrafo único do art. 62 da Lei Orgãoica n. 222, de 31.3.90, do Muni-
ou de interesse social, continuará a ser aplicada dentro do prazo fixa- cípio de Mira-Estrela/SP, que teria fixado seu numero de vereadores
do pelo Tribunal. A eliminação da lei declarada inconstitucional do em afronta ao disposto no art. 29, IV. da CF. E que tal disposição
ordenamento submete-se a um termo pré-fixo. Considerando que o constitucional prevê que o numero de vereadores seja fixado pro-
legislador não fixou o limite temporal para a aplicação excepcIOnal porcionalmente à população local, observando-se, nos Municípios
da lei inconstitucional, caberá ao próprio Tribunal essa definição. de até um milhão de habitantes, a relação de um minimo de 9 e um
Como se sabe, o modelo austriaco consagra fórmula que permite máximo de 21. Entendi corretas as premissas assentes no voto do
ao Tribunal assegurar a aplicação da lei por periodo que não exceda Relator, Maurício Corrêa, como tanlbém a conclusão, na parte em
18 meses. Ressalte-se que o prazo a que se refere o art. 27 tem em que declarava a inconstitucionalidade da lei orgânica do Município
vista assegurar ao legislador um período adequado para a superação paulista, para fixar que, na espécie, o número de vereadores não
do modelo jurídico-Iegislativo considerado inconstitucional. ASSIm, poderia ser superior a 9. Tendo em vista, porém, a repercussão que
ao decidir pela fixação de prazo deverá o Tribunal estar atento a essa a decisão teria para o caso concreto (e para as situações similares),
peculiaridade. achei por bem recomendar que se adotasse, na espécie, a declaração
Poderão ainda surgir casos que recomendem a adoção de uma de inconstitucionalidade com efeito pro foturo.
pura declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia da nuli- O segundo caso diz respeito á mudança de orientação jurispru-
dade (suspensão de aplicação da lei e suspensão dos processos em dencial a propósito da exigência de recolhimento à prisão para que
curso) (hipótese "c"). Poderá ser o caso de determinadas lesões ao o acusado pudesse apelar. Cuidava-se de hipótese em que a jurispru-
príncípio da isonomía (exclusão de beneficio incompatível com dência pacífica do Tribunal encaminhava-se no sentido de considerar
o princípio da igualdade). Nessas situações, muitas vezes não pode o legítima a fórmula legislativa constante do direito pré-constitucional e
Tribunal eliminar a lei do ordenamento jurídico, sob pena de suprimir que vinha sendo reproduzida em diversos textos legislativos posterio-
urna vantagem ou avanço considerável. A preservação dessa situação res. O STF vinha reconhecendo, sob o regime constitucional em vigor,

373. Cf.. sobre especificidades. infra. item referente à repercussão da decisão 374. Cf. RE n. 197.917, ReI. Min. MauriCiO Corrêa, DJU7.5.2004. e ReeI. n.
restritiva em relação aos casos concretos. 2.391. Relo Min. Marco Aurélio.
496 AÇÕES DE lNCONSmUCIONALIDADE DECISÕES DO STF NO CONfROLEABSTRATO 497

a legitimidade da exigência do recolhimento ii prisão para interpOSição mudança de interpretação podem dar ensejo à declaração de inconsti-
de recurso. A questão foi bastante discutida no HC n. 72.366, da rela- tucionalidade com efeitos restritos.
taria de Néri da Silveira, quando o Plenário, por maioria, reconheceu Um terceiro caso refere-se à decisão proferida na ADIn n. 3.022,
a validade do art 594 do CPP em face da Constituição de 1988. A I' de 18.8.2004 (ReI. Min. Joaquim Barbosa),375 na qual o Tribunal
Turma, na Recl. n. 2.391, posicionou-se no sentido de afetar a ma- declarou a inconstitucionalidade de lei do Rio Grande do Sul. Nesse
téria ao Pleno, uma vez que a decisão poderia acarretar a revisão da julgamento a Corte declarou a inconstitucionalidade do ~. 45.da
jurisprudência da Corte. Cézar Peluso manifestara-se no sentido da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul e de expressao contida
concessão do habeas corpus de oficio, no que fOl acompanhado por na alínea "a" do Anexo II da Lei Complementar estadual n. 10.194,
Joaquim Barbosa, Carlos Britto e Marco Aurélio. Sustentou-se a in- de 30.5.94, também do mesmo Estado, reconhecendo, porém, que a
constitucionalidade do art 9" da Lei n. 9.034, de 3.5.95. Com relação decisão haveria de ter eficácia a partir de 3.12.2004.
ao art. 3" da Lei n. 9.613, de 3.3.98, propôs-se interpretação confonne
Trata-se do primeiro caso no qual se declarou a inconstituciOna-
ii Constituição Federal, para se entender que o juiz decidirâ, fundamen-
lidade de dispositivo legal determmando-se, entretanto, que a decisão
tadamente, se o réu poderá apelar, ou não, em liberdade, no sentido de
teria eficácia pro futuro.
se verificar se estão presentes, ou não, os requisitos da prisão cautelar.
No julgamento do HC n. 82.959376 o Tribunal, por maioria,
Tal entendimento veio a ser estendido para as leis especiais
que exigem a prisão do condenado para a interposição de recurso de deferiu o pedido de habeas corpus e declarou, incidenter tanturn, a
inconstitucionalidade do § 12 do art. 22 da Lei n. 8.072/90, que veda
apelação.
a possibilidade de progressão do regime de cumprimento da pena
No aludido caso proferi voto-vista acompanhando os votos dos nos cnmes hediondos definidos no art. 1Q do mesmo diploma legal.
Mins. Marco Aurélio e Cézar Peluso, no sentido da concessão do
Inicialmente o Tribunal resolveu restnngir a análise da matéria à
habeas corpus de oficio, e propus que se declarasse, incidentalmente, progressão de regime, tendo em conta o pedido formulado. Quanto
a inconstitucionalidade do art. 92 da Lei n. 9.034/95, emprestando ao a esse ponto, entendeu-se que a vedação de progressão de regime
art. 32 da Lei n. 9.613/98 interpretação conforme à Constituição, no
prevista na norma impugnada afronta o direito à individualização da
sentido de que o juiz, na hipótese de sentença condenatória, funda- pena (CF, art. 52, LXVI), já que, ao não permitlr que se considerem
mentasse a existência, ou não, dos requisitos para a prisão cautelar. as particularidades de cada pessoa, sua capacidade de reintegração
Considerando o fato de que, na espécie, estaríamos revisando juris-
social e os esforços aplicados com vistas à ressocialização, acaba
prudência firmada pelo STF, amplamente divulgad~.o com ~e.g~veis tornando inócua a garantia constitucional. Explicitou o Tribunal, no
repercussões no plano material e processual, admiti a possibihdade
caso concreto, que a declaração incidental de inconstitucionalidade
da limitação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade pre-
do preceito legal em questão não geraria conseqüências jurídicas
vista no art. 27 da Lei n. 9.868/99, em sede de controle difuso, ao
com relação às penas já extintas naquela data, tendo em vista a
emprestar efeitos ex nunc à decisão.
decisão plenária envolver, unicamente, o afastamento do óbice re-
Embora a referida reclamação tenha sido declarada prejudicada, presentado pela norma ora declarada inconstitucional, sem prejuízo
por perda de objeto (DJU 12.2.2007), o entendimento que estava a da apreciação, caso a caso, pelo magistrado competente, dos demais
se finnar, portanto, pressupunha que eventual custódia cautelar, após requisitos pertinentes ao reconhecimento da possibilidade de pro-
a sentença condenatória e sem trânsito em julgado, somente podena gressão.
ser implementada se devidamente fundamentada, nos termos do art.
312 do CPP. II 375. Cf.. supra. comentário sobre a referida ADIn n. 3.022. Item "A aplicação
É certo, porém, que além de indicar a aplicação do art. 27 ao do art. 27 da Lei 9.868/99 naJunsprudência do STF',

1
controle incidental de normas, a discussão demonstra que os casos de 376. HC n. 82.959, ReI. Min. Marco Aurélio,]. 23.2.2006, DJU 8.3.2006.
498 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 499

Mencione-se, ainda, o julgamento dos embargos declaratórios inconstitucionalidade da norma declarada constitucional? Estana
opostos contra o acórdão naADIn n. 1.498,377 que declarou a incons- ele vmculado à decisão anterior? O tema suscitou controvérsias na
titucionalidade do art. <)Q da Lei n. 9.880/93. Pretendia-se, na espé- Alemanha.
cie, a aplicação do art. 27 da Lei n. 9.868/99, a fim de preservar as A/orça de leI da decisão da Corte Constitucional que confirma a
relações estabelecidas durante a vigência da lei inconstitucional, em constitucionalidade revelar-se-ia problemálIca se o efeito vinculante
razão da circunstância de já existirem diversas serventias providas geral, que se lhe reconhece, impedisse que o Tribunal se ocupasse
dessa maneira, cuja desconstituição acarretaria despesa de grande novamente da questão.378
vulto para os cofres do Estado. O Tribunal, por maioria, rejeitou os Por isso, sustenta Vogel que a aplicação do disposto no § 31-2,
embargos, por entender não haver qualquer omissão, obscuridade da Lei Orgânica do Tribunal às decisões confmnatórias somente tem
ou contradição a serem sanadas no acórdão embargado, porquanto a significado para o dever de publicação, urna vez que a lei não pode
declaração de inconstitucionalidade de lei tem efeitos ex func, salien- atribuir efeitos que não foram previstos pela própria Constituição.
tando, ademais, que o art. 27 da Lei n. 9.868/99, cuja constitucionali-
Do contrário ter-se-ia a possibilidade de que outras pessoas
dade está sendo questionada na ADIn n. 2. 154-DF, prescreve urna fa- não-vinculadas pela coisa julgada ficassem impedidas de queslIonar
culdade a ser exercida em casos excepcionais, e não urna imposição a constitucionalidade da lei, o que acabaria por atribUIr à chamada
ao julgador para se manifestar sobre sua aplicação em todos os casos. eficácia erga omnes (força de lei) o significado de autênlIca norma
constitucional. 379
VI -SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES E o que afmna na segninte passagem de seu estudo sobre a
EM CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE eficácia das decisões da Corte Constitucional: "A proteção para as
decisões confirmatórias da Corte ConslItuclonal que transcendesse a
Eficácia "erga OIn1zes" e a declaração de constitucionalidade
própria coisa julgada não encontraria respaldo no art. 94, II, da LeI
- O art. 102, § 22 , da CF e o art. 28, parágrafo único, da Lei n. 9.868
Fundamental. Semelhante proteção, que acabana por impedir que
prevêem que as decisões declaratórias de constitucionalidade têm
pessoas não-atingidas pela coisa julgada sustentassem que a decisão
eficácia erga omnes. Também ajurisprudência utiliza-se largamente
estaria equivocada e que, em verdade, a lei confmnada seria incons-
do conceito de "eficácia erga omnes". Não obstante, não cuidou a
titucional, importaria na conversão da força de lei em força de Cons-
doutrina brasileira, até aqui, de conferir ao termo em questão maior
tituição. (...). O § 31, II, da Lei Orgânica da Corte ConslItucional faz
densidade teórica.
com que a força de lei alcance também as decisões confirmatórias
Parece assente entre nós orientação segundo a qual a eficácia erga de constitucionalidade. Essa ampliação somente se aplica, porém,
omnes da decisão do STF refere-se à parte dispositiva do julgado. ao dever de publicação, porque a lei não pode conferir efeito que a
Se o STF chegar à conclusão de que a lei questionada é consti- Constituição não prevê ( ... )".380
tucional, haverá de afirmar expressamente sua constitucionalidade, A Lei Fundamental e a Lei Orgânica da Corte Constitucional
julgando procedente a ação declaratória de constitucionalidade pro- não legitimam essa conclusão, seja porque a norma constitucional
posta. Da mesma forma, se afirmar a improcedência da ação direta de
inconstitucionalidade, deverá o Tribunal declarar a constitucionalida- 378. Cf., a propósílo: BVeifGE 33/199 (203 e ss.); Haos Brox, "Zur ZuBisSi-
de da lei que se queria fosse julgada inconstitucional. gkeit der erneuten Überprüfung emer Norm durch das Bundesverfassungsgericht". in
Festschrift for W. Geiger, p. 810 (825); Klaus Lange, "Rechtskraft, Bindungswírkung
Questão que tem ocupado os doutrinadores diz respeito, to- und Gesetzeskraft der Entscheidung des Bundesverfassungsgerichts". JuS 1978, p. 1
davia, à eventual vinculação do Tribunal no caso da declaração de (6 e ss.).
constitucionalidade. Poderia ele vir a declarar, posteriormente, a 379. Klaus Vogel, "Rechtskraft und Gesetzeskraft", fi Clm,uno Slarck (org.),
Bundesveifassungsgencht und Gnmdgesetz, v. I, TUbingen. 1976, p. 568 (613).
377. ReI. Min.llmarGalvão,j. 10.42003. DJU5.122003. 380. Idem. íbídem.
500 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 501

autoriza expressamente o legislador a definir as decisães da Corte Não se pode cOgitar, portanto, de superação ou de convalidação
Constitucional que devem ser dotadas de força de lei, seja porque o de eventual inconstitucionalidade da lei que não teve sua impugnação
legislador não restringiu a eficácia erga omnes apenas às decisães de acolhida pelo Tribunal. 385
indole cassatória. É certo, por outro lado, que a conclusão de Vogel se A fórmula adotada pelo constItuinte brasileiro, e agora pelo
afiguraria obrigatória se, tal como ressaltado por Bryde, se conferisse legislador ordinário, não deixa dúvida, lambem, de que a decisão
caráter material àforça de lei prevista no § 31-2 da Lei Orgânica da de mérito proferida na ação declaratória de constitucionalidade tem
Corte Constitucional.381 eficácia contra todos (eficacia erga omnes) e efeito VInculante para os
Se. todavia, se considera a força de lei, tal como a doutrina órgãos do Poder Executivo e do Poder Judiciário. Do prisma estrita-
dominante, como instituto especial de controle de normas - e, por mente processual a eficácia geral ou a eficacia erga omnes.obsta, em
isso. como um instituto de indole processua[382 -, não expressa primeiro plano, a que a questão seja submetida uma vez mais ao STE
esse conceito outra idéia senão a de que não pode o Tribunal. num Portanto, não se tem uma mudança qualitativa da situação jU-
novo processo, proferir decisão discrepante da anteriormente pro- ridica. Enquanto a declaração de nulidade importa a cassação da leI,
ferida. 383 não dispõe a declaração de constitucionalidade de efeito análogo.
Convém registrar, a propósito. o pensamento de Bryde: "Essa A validade da lei não depende da declaração judicial e a lei
idéia (que reduz a força de lei, nos casos de declaração de consti- vige, apôs a decisão, tal como vigorava anteriormente. 386 Não fica o
tucionalidade, ao simples dever de publicação) somente se afigura legislador, igualmente. impedido de alterar ou, mesmo, de revogar a
obrigatória se se considerar a força de lei nos termos do § 31, II, da norma em apreço.
Lei Orgânica da Corte Constitucional como um instituto de caráter É certo, pois, que, declarada a constitucionalidade de uma
material. Efetivamente, uma decisão da Corte Constitucional não norma pelo Supremo Tribunal, ficam os órgãos do Poder Judiciáno
pode transformar uma lei inconstitucional em uma lei conforme à obrigados a seguir essa orientação, uma vez que a questão estaria
Constituição. Todavia, se se contempla a força de lei como institu- definitivamente decidida pelo STF.
to de coisa julgada específico para o controle de normas. então, a
vinculação erga omnes não significa uma convalidação de eventual Limites objetivos da eficácia "erga omnes": a declaração de
inconstitucionalidade da lei confirmada,.mas, tão-somente, que essa constitucionalidade da norma e a reapreciação da qllestão pelo
questão já não mais poderá ser suscitada no processo constitucional. STF - Se o instituto da eficácia "erga ornnes" entre nós, tal como
Contra essa concepção não se levantam objeçães de indole constitu- a força de lei no Direito tedesco, constituI categoria de Direito Pro-
cional. A idéia de Estado de Direito (mais exatamente, a vinculação cessual específica. afigura-se lícito indagar se seria admissivel a
constitucional da atividade legislativa, art. 20) exige a possibilidade submissão de lei que teve sua constituCIOnalidade reconhecida a um
de controle de normas, mas não impõe a abertura de incontáveis vias novo juizo de constitucionalidade do STF.
para esse fim".384 Analisando especificamente o problema da admissibilidade de
uma nova aferição de constitucionalidade de norma declarada cons-
381. Brun-Otto Bryde, Veifasszmgsengsentwicklung, Stabilitãl und Dynamik titucional pelo Bundesveifassungsgerícht. Hans Brox a considera
im Veifassungsrecht der Bundesrepublik Deutschland. Baden-Baden. 1982, p. 408. possiveI desde que satisfeitos algiffis pressupostos. É o que anota na
382. Brox, "Zur ZuliísSlgkeit ..", ln Festschriftfiir Iv. Ge/ger. p. 809 (818);
Maunz, in Maunz e outros, Bundesverfassungsgerlchtsgesetz, § 31. n. 42; Bryde. 385. Bryde, Verfassungsentwlck1ung, p. 408; Maunz.. in Mauns e outros, Bun-
Verfassungsentwlck/ung, p. 409. desveifassungsgerrchtsgesetz. § 31, n. 37.
383. Lange, "Rechtskraft. Bindungswirkungund Gesetzeskraft. ..". JuS 1978, p. 386. Theodor Maunz.. in Maunz e outros. Bundesverfassungsgerichtsgesetz, §
1 (6 e 55.); Bryde. Verfassungsentwlcklung, p. 408. 31, n. 42; Christoph Gusy, Parlamentarischer Gesetzgeber und Bundesverfassungs-
384. Bl)'de, VeryassungsenIWlcklrmg, pp. 408-409. gencht, Berlim, 1985, p. 223.
502 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 503

seguinte passagem de seu ensaio sobre o tema: "Se se declarou, na 'relações fáticas', Nossos conhecimentos sobre o processo de muta-
parte dispositiva da decisão, a constitucionalidade da norma, então, ção constitucional exigem, igualmente, que se admita nova aferição
se admite a instauração de um novo processo para aferição de SUa da constitucionalidade da lei no caso de mudança da concepção
constitucionalidade se o requerente, o tribunal suscitante (controle , '
conslItuclOna I."388
concreto) ou o recorrente (recurso constitucional = Verfassungsbes_
Em síntese, declarada a constitucionalidade de urna leI, ter-se-a
chwerde) demonstrar que se cuida de uma nova questão. Tem-se tal de concluir pela inadmissibilidade de que o Tribunal se ocupe uma
situação se, após a publicação da decisão, se verificar uma mudança
vez mais da aferição de sua legitimidade, salvo no caso de significa-
do conteúdo da Constituição ou da norma objeto do controle, de
tiva mudança das circunstâncias fáticas 3.' ou de relevante alteração
modo a permitir supor que outra poderá ser a conclusão do processo
das concepções jurídicas dominantes. 39o
de subsunção. Uma mudança substancial das relações fáticas ou da
concepção jurídica geral pode levar a essa alteração",3.7 Também entre nós se reconhece, tal como ensinado por Liebman
com animo em Savigny,391 que as sentenças contêm Implicitamente
Na mesma linha de entendimento, fornece Bryde resposta afir-
a cláusula rebus sic stantibus,392 de modo que as alterações poste-
mativa â indagação formulada:
riores que modifiquem a realidade normativa bem como eventual
"Se se considera que o Direito e a própria Constituição estão modificação da orientação jurídica sobre a matéria podem tornar
sujeitos a mutação e, portanto, que uma lei declarada constitucional inconstituCIOnal norma anteriormente considerada legítima (incons-
pode vir a tornar-se inconstitucional, tem-se de admitir a possibilida- titucionalidade superveniente).393
de de a questão já decidida poder ser submetida novamente â Corte
Dai parecer-nos plenamente legitimo que se suscite perante o
Constitucional. Se se pretendesse excluir tal possibilidade, ter-se-ia a
STF394 a mconstitucionalidade de norma já declarada constituCIOnal,
exclusão dessas situações, sobretudo das leis que tiveram sua consti-
em ação direta ou em ação declaratória de constituCIOnalidade.
tucionalidade reconhecida pela Corte Constitucional, do processo de
desenvolvimento constitucional, ficando elas congeladas no estágio
388. Bryde. Veifassungsentwlcklung, pp. 412-413.
do parãmetro de controle à época da aferição. O objetivo deve ser 389. BVeifGE33/199 e 391169.
uma ordemjuridica que corresponda ao respectivo estágio do DireIto 390. Bryde, Verfassungsentwicklung, p. 409; Brox. "Zur Zulãssigkeit...", ln
Constitucional, e não uma ordem formada por diferentes níveis de Festschriftfiir W. Geiger, p. 809 (818); Stern. Bonner Kommentar. ,art. 100, n. 139;
desenvolvimento, de acordo com o momento da eventual aferição Gusy, Pariamentanscher Gesetzgeber und Bundesveifassungsgencht, p. 228.
de legitimidade da norma a parâmetros constitucionaIs diversos. 391. Cf. Enríco Tullio Liebman, Eficacia e Autoridade da Coisa Julgada,
Rio. 1984, pp. 25-26: "De certo modo, todas as sentenças contêm ímplicítamente a
Embora tais situações não possam ser eliminadas faticamente, é certo cláusula rebus SlC stantibus (Savigny, Sistema (trad. it), VI, p. 378), enquanto a cOisa
que a ordem processual-constitucional deve procurar evitar o surgi- julgada não impede absolutamente que se tenham em conta os fatos que intervierem
mento dessas distorções. sucessivamente li emanação da sentença (... ). O que hã de diverso nestes casos [refe-
re-se ás chamadas sentenças detenmnatlVas ou dispositivasJ não é a ngidez menor
"A aferição da constitucionalidade de uma lei que teve sua le- da COIsa Julgada, mas a natureza da relação Jurídica, que contmua a VIver no tempo
gitimidade reconhecida deve ser admitida com base no argumento com contendo ou medida determinados por elementos essenCIalmente variáveIS,
de que a lei pode ter-se tornado inconstitucional após a decisão da de maneira que os fatos que sobrevenham podem mflUIr nela. não só ~o sentido, de
extingui-la. fazendo, por isso, extinguIr o vaior da sentença, mas tambem no sentido
Corte. ( ... ). Embora não se compatibilize com a doutrina geral da
de exigIr mudança na determinação dela. feita anteriormente"
coisa julgada, essa orientação sobre os limites da coisa julgada no 392. Cf., tamhem. dentre outros.AdolfSchõnke. Derecho Procesal Civil, trad.
âmbito das decisões da Corte Constitucional é amplamente reco- da 5a ed. alemã, Barcelona. 1950, pp. 273 e ss.
nhecida pela doutrina e pela jurisprudência. Não se controverte, 393. Gilmar FerreIra Mendes, Controle de Constitucionalidade: Aspectos JUrl-
pois, sobre a necessidade de que se considere eventual mndança das dicos e Políticos, 1990, p. 73.
394. O STF reconhece expressamente a possibílidade de alteração da coisa
julgada provocada por mudança nas CIrcunstânCIas fátIcas (cE. a propÓSIto, RE n.
387. Brox. "Zur Zulãssigkelt ..", fi Festschriftfiir W. Geiger, p. 809 (826). 105.012-8. ReI. Min. Néri da Silveira,DJU 1.7.88).
504 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 505

Eficácia "erga omnes" na declaração de inc01lStitucionalidade inconstitucionalidade afeta todos os atos praticados com fundamento
proferida em ação declaratória dt; constitucionalidade ou em ação na lei inconstitucional.
direta de inconstitucionalidade - E possivel que o STF venha a reco- Embora a ordem jurídica brasileira não contenha regra expressa
nhecer a improcedência da ação declaratória de constitucionalidade sobre o assunto e se aceite, genericamente, a idéia de que o ato fun-
ou a procedência da ação direta de inconstitucionalidade. Nesses dado em lei inconstitucional está eivado, igualmente, de iliceidade,396
casos haver'; de declarar a inconstitucionalidade da lei questionada. concede-se proteção ao alo síngular, procedendo-se a diferenciação
Em face dos termos expressos do texto constitucional e da Lei entre o efeito da decisão no plano nonnatívo e no plano do ato smgu-
n. 9.868, não subsiste dúvida de que a decisão de merito sobre a lar mediante a utilização das fórmulas de prec/lIsão.397
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade e dotada de eficáCIa Os atos praticados com base na lei inconstitucional que não mais
contra todos. se afigurem suscetíveis de revisão não são afetados pela declaração
Significa dizer que, declarada a inconstitucionalidade de uma de inconstitucionalidade. 39'
norma na ação declaratória de constitucionalidade, deve-se reconhecer, Em outros termos, somente serão afetados pela declaração de
pso jure, sua imediata eliminação do ordenamento juridico, salvo se, inconstitucionalidade com eficácia geral os atos ainda suscetíveis de
por algum fundamento específico, puder o Tribunal restringir os efei- revisão ou impugnação.3••
tos da declaração de inconstitucionalidade (v.g., declaração de incons-
titucionalidade com efeito a partir de um dado momento no futuro l. Importa, portanto, assinalar que a eficáCIa erga omnes da decla-
ração de inconstitucionalidade não opera uma depuração total do or-
Aceita a idéia de nulidade da lei inconstitucional, sua eventual
denamento juridico. Ela cria, porém, as condições para a eliminação
aplicação após a declaração de inconstitucionalidade equivaleria à
dos atos singulares suscetiveis de revisão ou de impugnação.
aplicação de cláusula juridicamente inexistente.
Efeito necessário e imediato da declaração de nulidade há de A eficácia "erga Ollmes" da declaração de incOllStitucionali-
ser, pois, a exclusão de toda ultra-atividade da lei inconstitucional. dade e a slIperveniência de lei de teor idêlltico - Poder-se-ia indagar
A eventual eliminação dos atos praticados com fundamento na lei se e eficácia erga omnes teria o condão de vincular o legislador, de
inconstitucional há de ser considerada em face de todo o sistema modo a impedi-lo de editar norma de teor idêntico aquela que foi
juridico, especialmente das chamadas fórmulas de prec/usão. objeto de declaração de inconstitucionalidade.

A eficácia "erga omnes" da declaração de nulidade e os atos proferidas com base em uma leí declarada nula, nos termos do § 78. É ilegítima a
singulares praticados com base no ato normativo declarado in- execução de semelhante deCisão. Se a execução forçada tiver de ser realizada nos
c01lStitucional- A ordemjuridica brasileira não dispõe de preceitos termos das disposições do Código de Processo Civil, aplica-se o disposto no § 767
semelhantes aos constantes do § 79 da Lei da Corte Constitucional do Código de Processo Civil. Excluem pretensões fundadas em enriqueCImento
sem causa."
alemã, que prescreve a intangibilidade dos atos não mais suscetíveis 396. CE, a propósito, RMS n. 17.976, ReI. Min. Amaral Santos, RTJ 55/744.
de impugnação.395 Não se deve supor, todavia, que a declaração de 397. Jõrn Ipsen, Rechtsfoigen der VerfassungslVidngkeit von Normen ulId Ein-
zelakt, Baden-Baden, 1980, pp. 174 e ss.
395. § 79 da Lei do Bundesveifassungsgericht: 398. CE RE n. 86.056. ReI. Min. Rodngues de Alckmin, DJU 1.7.77.
"(I) Elegítimo o pedido de revisão criminal nos termos do Código de Processo 399. Fnse-se. por oportuno. que, a teor do paràgrafo uruco do art. 741 do CPC
Penal contra a sentença condenatória penal que se baseia em uma norma declarada - na redação da MP n. 2.180-35, de 24.8.2001, transformada na Lei 11.232/2005-,
Inconstitucional (sem a pronUncia da nulidade) ou nuI~ ou que se assenta em uma considera-se mexigíveI o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados
interpretação que o Bundesverfossungsgerlcht considerou incompatível com a Lei inconstitucionaiS pelo STF ou fundado em aplicação ou interpretação de lei ou ato
Fundamental. normativo tidas pelo STF como incompatíveís com a Constttulção Federal. Isso para
"(2) No mais, ressalvado o disposto no § 92 (2), da Lei do Bundesverfas- efeito de embargos à execução contra a Fazenda Pública que versem sobre mexlgl-
sungsgerrcht ou uma disciplina legal específica, SubSIstem íntegras as decisões bilidade de titulo.
506 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 507

A doutrina tedesca, fume na orientação segundo a qual a eficá- Tal como assente em estudo que produzimos sobre este assunto,
cia erga omnes - tal como a coisa julgada - abrange exclusivamente que foi incorporado às justificações apresentadas no aludido Projeto,
a parte dispositiva da decisão, responde negativamente à indaga_ a eficacia "erga omnes" e o efeíto vinculante deveriam ser tratados
ção.4oO Uma nova lei, ainda que de teor idêntico ao do texto normati- como institutos afins, mas distintos.405
vo declarado inconstitucional, não estaria abrangida pelaforça de leí.
A EC n. 3, promulgada em 16.3.93, que, no que diz respeIto à
Também o STF tem entendido que a declaração de inconstitu_ ação declaratóna de constitucionalidade, inspirou-se direta e ime-
cionalidade não impede o legislador de promulgar lei de conteúdo diatamente na Emenda Roberto Campos, consagra que "as decisões
idêntico ao do texto anteriormente censurado. 4ol definitivas de mento, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas
Tanto é assim que, nessas hipóteses, tem o Tribunal processado ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato normativo
e julgado nova ação direta, entendendo legitima a propositura de uma
nova ação direta de inconstitucionalidade. "'§ 2". As deCiSÕes definitivas proferidas pelo Supremo Tribunal, nos processos
de controle de constituCIOnalidade de leis e atos normativos e no controle de constI-
Conceito de "efeito vinculante" - A expressão "efeito VInculan- tuCIonalidade da omissão, têm eficàcla erga omnes e efeito vinculante para os órgãos
e agentes públicos.
te" não era de uso comum entre nós. O Regimento Interno do STF, ao
"'§ 3". Lei complementar poderá outorgar a outras decisões do Supremo Tribu-
disciplinar a chamada representação ínterpretativa, introduzida pela nal Federal eficàcia erga omnes. bem como dispor sobre o efeito VInculante dessas
EC n. 7/77,402 estabeleceu que a decisão proferida na representação decisões para os órgãos e agentes públicos.'
interpretativa seria dotada de efeito vinculante (art. 187 do Regimen- '''Art. 103. (... ).
to Intern0403 ). Em 1992 o efeito vinculante das decisões proferidas ...
'''( ).
em sede de controle abstrato de normas foi referido em projeto de "'§ 4". Os órgãos ou entes referidos nos melSOS I a X deste artigo podem pro-
por ação declaratõna de constItucionalidade. que vinculara as mstâncias ínferiores,
emenda constitucional apresentado pelo Deputado Roberto Campos quando decidida no mérito....
(PEC n. 130/92). 405. Vale transcrever, a propósito, a segumte passagem da justificação desen-
No aludido projeto distinguia-se nitidamente a eficácía geral volvida: '
(erga omnes) do efeito vinculante.404 "Além de confenr eficacla 'erga omnes' às decisões proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal em sede de controle de constituCIOnalidade, a presente Proposta de
Emenda ConstItucional introduz no Direíto brasileíro o conceito de efeito vinculante
400. Cf. Christian Pestalozza., Verfassungsprozessrechl. 3.íl ed., Berlim, 1991, p. em relação aos ôrgãos e agentes públicos. Trata-se de mstttuto Jurídico desenvolvido
333~ Bryde, Veifassungsentwlcldung, p. 407. no Direito Processual alemão, que tem por objetivo outorgar maior eficâcla as deCI-
401. ADIn n. n. 907. ReI. Min. Umar Gaivão. RTJ 150/726: ADIn n. 864. ReI. sões proferidas por aquela Corte Constitucional, assegurando força vmculante não
Min. Morerra Alves. RTJ 151/416. apenas â parte dispositiva da deCIsão, mas tambem aos chamados fundamentos ou
402. Cf. EC n. 7/77. ar!. 9", "A partir da data da publicação da ementa do motIVos detennmantes (tragende Gründe).
acórdão no DiárIO OfiCial da União, a Interpretação nele :fixada terá força VInculante, "A declaração de nulidade de uma leI não obsta à sua reedição, ou seja. a
implicando sua não-observância negativa de vigência do texto interpretado", repetição de seu conteúdo em outro diploma legaL Tanto a cOisa julgada quanto a
403. Eis o teor do art. 187 do Regírnento mterno do STF: UA partir da publi- força de lei (eficâcia erga omnes) não lograriam evitar esse fato. Todavia. o efeito
cação do acórdão, por suas conclusões e ementa. no DiárIO da Justiça da União, a VInculante. Que deflUI dos fundamentos determínantes (tragende Gründe) da decisão.
interpretação nele fixada tera força vinculante para todos os efeitos"_ obriga o legÍslador a observar estntamente a interpretação que o Tribunal conferiu á
404. A PEC n. 130/92. apresentada pelo Deputado Roberto Campos, tInha o Constituição. ConseqUênCia semelhante se tem quanto as chamadas nonnas parale-
seguInte teor: las. Se o Tribunal declarar a inconstitucíonaIidade de uma lei do Estado <N, o efeito
"Art, 111• Suprima-se o inciso X do art 52. renumerando-se os demaIS. vmculante terá o condão de ímpedir a aplicação de norma de conteúdo semelhante do
Estado 'B' ou 'C' (cE Christian Pesta!ozza, 'Comentário ao § 31, I, da Lei do Tribuna!
"Art. 211, Os arts. 102 e 103 da Constituição passam a vigorar com a seguinte
ConstituCIonal Alemão (Bundesveifassungsgenchtsgesetz)', in Direilo Processual
redação:
ConstitUCIonal (Veifassungsprozessrecht), 211 ed., Munique, Verlag C.H. Bedc, 1982,
"'Art. 102. ( ... ). pp. 170-171, que explica o efeito VInculante. suas conseqUências e a diferença entre
'" § lll. A argüição de descumprimento de preceito fundamental decorrente desta ele e a eficácia seja mler partes ou erga omnes)" (<<Proposta de Emenda ConstItucio-
ConstItuíção sera apreCiada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma desta Lei. nal n. 130/92", DCN-I. 2.9.92, p. 19.956, coi. 1).
508 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 509

federal, produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativa_ proposta na sua inteíreza, é certo que o efeito vznculante, na parte
mente aos demais órgãos do Poder Judiciário e do Poder Executivo" que foi positivada, deve ser estudado â luz dos elementos contidos na
(art. 102, § 22 ). proposta Original.
Embora o texto inicialmente aprovado revelasse algumas defi- Assim, parece legítimo que se recorra â literatura alemã para
ciências técnicas,4°6 não parecia subsistir dúvida de que também o explicitar o siguificado efetivo do instituto.
legislador constituinte, tal como fizera a Emenda Roberto Campos, A primeira indagação, na espécie, refere-se às decisões que
procurava distinguir a eficácia "erga omnes" (eficácia contra todos)
seriam aptas a produzir o efeito vinculante. Afirma-se que, funda-
do efeito vinculante, pelo menos no que concerne ii ação declaratória
mentalmente, são vinculantes as decisões capazes de transitar em
de constitucionalidade.
julgado.40? Tal como a coisa julgada, o efeito vinculante refere-se ao
A Lei n. 9.868, por sua vez, em seu art. 28, parágrafo único, momento da decisão. Alterações posteriores não são alcançadas.4oB
conferiu tratamento uniforme e coerente ii matéria, prevendo que
as declarações de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, Problema de inegavel relevo diz respeito aos limites objetivos do
inclusive a interpretação conforme ii Constituição e a declaração par- efeito vznculante, isto é, ii parte da decisão que tem efeito vinculante
cial de mconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia con- para os órgãos constitucionaIs, tribunais e autoridades administrativas.
tra todos e efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Em suma, indaga-se, tal como em relação ii cOIsa julgada e â força de
Judiciário e da Administração Pública federal, estadual e municipal. lei, se o efeito vinculante está adstrito â parte dispositiva da deCIsão,
A EC n. 45/2004 conferiu nova redação ao art. 102, § 22 , assen- ou se ele se estende tambem aos chamadosfimdamentos determinan-
tando que: tes, ou. ainda, se o efeito vinculante abrange também as considerações
marginais, as coISas ditas de passagem, isto é, os chamados ohiter
"As decisões defmitivas de mérito, proferidas pelo Supremo dicta. 4o,
Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas
ações declaratórias de constitucionalidade produzirão efic.cia contra Enquanto em relação à coisa julgada e â força de lei domma
todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder a idéia de que elas hão de se limitar ii parte dispositiva da deCIsão,
Judiciário e ii Administração Pública direta e indireta. nas esferas sustenta o Tribunal ConstituCIOnal alemão que o efeito vinculante se
federal, estadual e municipal" estende, igualmente, aos fundamentos determinantes da decisão.41O
Segundo esse entendimento, a eficáCIa da decisão do Tribunal
Limites objetivos do efeito vinculante - A concepção de efeito transcende o caso singular, de modo que os principios dimanados da
vinculante consagrada pela EC n. 3/93 está estritamente vinculada ao parte dispositíva e dos fundamentos determinantes sobre a interpre-
modelo germânico disciplinado no § 31-2 da Lei Orgânica da Corte tação da Constituição devem ser observados por todos os tribunais e
Constitucional. A própria justificativa da proposta apresentada pelo autoridades nos casos futuroS. 411
Deputado Roberto Campos não deixa dúvida de que se pretendia
outorgar não só eficácia erga omnes, mas também efeito vinculante, Outras correntes doutrinárias sustentam que, tal como a coisa
à decisão, deixando claro que estes não estariam limitados apenas julgada, o efeito vinculante limita-se à parte dispositíva da decisão,
à parte dispositiva. Embora a EC n. 3/93 não tenba incorporado a
407. Christian Pestalozza. Veifassungsprozessrecht, p. 324.
408. Idem, p. 325.
406. O tratamento diferenciado conferido à ação declaratória SUSCIta inurneros
problemas. Por que conferir legitimação específica a determmados órgãos? Qual a 409. Cf. Maunz, ln Maunze outros, BVerfGG, § 31, I, n. 16.
razão de se limitar o objeto da ação declaratória apenas ao DireIto federal? Ademais, 410. BVerfGE 1114 (37), 4/31 (38),5/34 (37), 19/377 (392), 20/56 (86), 24/289
a atribUlção expressa de efeito vmculante à decisão defmÍtiva proferida em ação (294),33/199 (203) e 40/88 (93). Cf., tambem: Maunze outros, BVerfGG, § 31, I, n.
declaratóna permite mdagar, inevitavelmente. sobre a qualidade da decisão proferida 16; Norbert Wiscbermann, Rechtskrafi und Bindungswirkung, Berlin, 1979, p. 42.
em ação declaratóna de constitucionalidade. 411. BVerfGE 19/377.

UNIVeRSIDADE. FUMIEC
8ibiioteca da FCH
510 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 511

de modo que, do prisma objetivo, não haveria distinção entre a coisa fundamental do Tribunal Constitucional alemão consiste na extensão
julgada e o efeito vinculante.4!2 de suas decisões aos casos ou situações paralelas.4!9
A diferença entre as duas posições extremadas não é meramente Tal como já anotado, parecia inequivoco o propósito do legisla-
semântica ou teórica,413 apresentando profundas conseqüências tam- dor alemão, ao formular o § 3 I da Lei Orgânica do Tribunal, de dotar
bém no plano prátíco. a decisão de uma eficáCia transcendente.42o
Enquanto no entendimento esposado pelo Tribunal Constítucio- É certo, por outro lado, que a limitação do efeito vinculante à
nal alemão importa não só a proibição de que se contrarie a decisão parte dispositiva da decisão tornaria de todo despiciendo esse ms-
proferida no caso concreto em toda a sua dimensão, mas também tituto, uma vez que ele pouco acrescentaria aos institutos da coisa
a obrigação de todos os órgãos constitucionais de adequarem sua julgada e daforça de lei. Ademais, tal redução diminuiria.significa-
conduta, nas situações futuras, à orientação dimanada da decisão,4!4 tivamente a contribuição do Tribunal para a preservação e desenvol-
a concepção que defende uma interpretação restritiva do § 3 I -I, da vimento da ordem constitucional.42 !
Lei Orgânica do Tribunal Constitucional considera que o efeito vin- Aceita a idéia de uma eficácia transcendente à própria cOisa
culante há de ficar limitado à parte dispositiva da decisão, realçando, julgada, afignra-se legítimo indagar sobre o significado do efeito
assim, sua qualidade judicial.4!5 vinculante para os órgãos estatais que não são partes no processo.
A aproximação dessas duas posições extremadas é feita median- Segundo a doutrina dominante, são as seguintes as conseqüên-
te o desenvolvimento de orientações mediadoras que acabam por cias do efeito vinculante para os não-partícipes do processo:
fundir elementos das concepções principais. "(1) ainda que não tenham integrado o processo, os órgãos cons-
Assim, propõe Vogel que a coisa julgada ultrapasse os estritos titucionais estão obrigados, na medida de suas responsabilidades e
limites da parte dispositíva, abrangendo também a nonna decisoria atribuições, a tomar as necessárias providências para o desfazimento
concreta.4 !6 A norma decísória concreta seria aquela "idéia juridica do estado de i1egítirnidade;
subjacente à formulação contida na parte dispositiva, que, concebi- "(2) assim, declarada a inconstítucionalidade de uma lei esta-
da de forma geral, permite não só a decisão do caso concreto, mas dual, ficam os órgãos constítucionais de outros Estados nos quais
também a decisão de casos semelhantes",417 Por seu lado, sustenta vigem leis de teor idêntico obrigados a revogar ou a modificar os
Martin Kriele que a força dos precedentes, que presumivelmente referidos textos legislativos;422
vincula os tribunais, é reforçada no Direito alemão pelo disposto no "(3) também os órgãos não-partícipes do processo ficam obriga-
§ 3 I-I da Lei do Tribunal Constítucional alemão. 418 A semelhante re- dos a observar, nos limites de suas atribuições, a decisão proferida,
sultado chegam as reflexões de Otto Bachof, segundo o qual o papel sendo-lhes vedado adotar conduta ou praticar ato de teor semelhante
àquele declarado inconstitucional pelo Bundesverfassungsgericht
412. Cf.. sobre o assunto. Norbert Wischerrnann. Rechtskraft und Bindungswi- (proibição de reiteração em sentido lato: Wiederholungsverbo/ 1m
rkung. p. 42.
weiteren Sinne oder Nachahmungsverbot).423 A Lei do Tribunal
413. Subjacente â discussão sobre a amplitude do efeito vinculante reside uma
questão mais profunda. relativa à própria idéia deJurtsdição constituclonal (Veifassun-
gsgenchtsbarkeit) (Norbert Wischermann., Rechtskraft und Bindungnvirkung, p. 43). 419. Otto Bacbof. «Die Prüfungs und Verwerfungskompetenz der Verwaltung
414. Wischennann. Rechtskraft und Bindungswlrlcung, p. 45. gegenüber dem verfassungswidrigen und bundesrechtswidngen Gesetz", AõR 87/25,
1962.
415. Idem, p. 43.
420. Cf. Brnn-Otto Bryde, Verfassungsentwícklung, p. 420.
416. Vogel, "Rechtskraft und Gesetzeskraft", ln ChristIan Slan;k (org.), Bundes-
verfassungsgencht und Grundgesetz. v. I, Tübingen, 1976, p.568 (589). 421. Idem, ibidem.
417. Idem, p. 568 (599). 422. Cf. BVéifGE 40/88; v., lambem. Maunz, io Maunz e outros. BVeifGG.
§ 31. I, n. 25.
418. Martin Kríete. Theorie der Rechtsgewínnung, 2" ed., Berlim, 1976, pp.
291 e 312-313. 423. Cf. Pestalozza. Verfassungsprozessreclzt. p. 323.
512 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 513

Constitucional alemão autoriza o Tribunal, no processo de recurso "Como visto, revela-se de fundamental importãncia o resguardo
constitucional (Veifassungsbeschwerde), a incorporar a proibição de à eficiência das decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal,
reiteração da medida considerada inconstitucional na parte dispositi_ sendo inadmissivel a desobediência perpetrada contra a exegese
va da decisão (§ 95, I, 2)."424 constitucional consagrada em seus julgados, mesmo naquelas hipó-
A posição do STF sobre o tema está bem sintetizada na seguinte teses em que a violação ocorre de forma oblíqua. No presente caso,
passagem do voto do Min. Mauricio Corrêa, relator da Recl. n. 1.987: a autoridade reclamada, pretendendo afastar-se da regra suspensa,
"Não há dúvida, portanto, de que o Tribunal, no julgamento de procurou em outra norma juridica o fundamento para o ato, embora
mérito da ADIn n. 1.662-SP, decidiu que a superveniência da EC n. a circunstância fática fosse exalamente a mesma rejeitada pela Corte.
30/2000 não trouxe qualquer alteração â disciplina dos seqüestros no A ordem impugnada contrariou, em substância, o entendim~nto por
âmbito dos precatórios trabalhistas, reiterando a cautelar que o saque ela assentado no julgamento do pedido liminar e, de forma direta e
forçado de verbas públicas somente está autorizado pela Constituição literal, o que expressamente fixado quando da apreciação do merito.
Federal no caso de preterição do direito de precedência do credor. "( ... ).
sendo inadmissíveis quaisquer outras modalidades. "A questão fundamental é que o ato impugnado não apenas
"Se assim é, qualquer ato, administrativo ou judicial, que de- contrastou a decisão definitiva proferida na ADIn n. 1.662, como,
termine o seqüestro de verbas públicas em desacordo com a umca essencialmente, está em confronto com seus motivos determinantes.
hipótese prevista no art. 100 da Cons.tituição rev~la-se contrano ~o A propósito, reporto-me à recente decisão do Min. Gilmar Mendes
julgado e desafia a autoridade da declsãode mentotomada na açao (Recl. n. 2.126, DIU 19.8.2002), sendo relevante a consideração de
direta em referência, sendo passiveI, pOIS, de ser Impugnado pela importante corrente doutrinária segunda a qual 'a eficácia da decisão
via da reclamação. Não vejo como possa o Tribunal afastar-se dessa do Tribunal transcende o caso singular, de modo que os principias
premissa. No caso, a medida foi. proposta por parte, legítíma e o ato dímanados da parte dispositiva e dos fundamentos determmantes so-
impugnado afronta o que decidIdo de forma defimtiva pela Corte, bre a interpretação da Constituição devem ser observados por todos
os Tribunais e autoridades nos casos futuros' - exegese que fortalece
razão pela qual deve ser conhecida e provida, sob pena de mcentIvo
a contribuição do Tribunal para pn:servação e desenvolvimento da
ao descumprimento sistemático das decisões da maIS alta Corte do
ordem constitucional. "425
pais, em especial essas que detêm eficácia vinculante, o que e ma-
ceitável. Nesses termos, resta evidente que o efeito vinculante da deCIsão
não está restrito â parte dispositiva, mas abrange tambem os próprios
"Oportuna a lição da doutrina de José Frederico Marques: fundamentos determinantes.
'O Supremo Tribunal, sob pena de se comprometerem as elevadas
funções que a Constituição lbe conferiu, não pode ter seus Julgados Como se vê, com o efeuo vinculante pretendeu-se conferir
desobedecidos (por meios diretos ou oblíquos), ou vulnerada sua eficácia adicional à decisão do STF, outorgando-lhe amplitude trans-
cendente ao caso concreto. Os órgãos estatais abrangidos pelo efeito
competência, Trata-se ( ... ) de medida de Direito Processual Cons-
vinculante devem observar, pois, não apenas o conteúdo da parte
titucional, porquanto tem como causa finalis assegurar os poderes
dispositiva da decisão, mas a norma abstrata que dela se extraI, isto e,
e prerrogativas que ao Supremo Tribunal foram dados pela ConstI-
que determinado tipo de situação, conduta ou regulação - e não ape-
tuição da República' (apud Celso de MelIo, Recl.lQO n. 1.723-CE,
nas aquela objeto do pronunciamento jurisdicional- é constttucional
DJU 6.4.2001 - grifei).
ou inconstitucíonal e deve, por isso, ser preservado ou eliminado.
424. O Bundesveifassungsgericht pode estabelecer também que qualquer Cabe ressaltar, ainda, a decisão na RecI./AgRg/QO n. 1.880,
repetição da providêncía quesuonada. configura lesão à Lei Fun~amental (..... Das que decidiu que todos aqueles que fossem atingidos por decisões
Bundesverfassungsgericht kann zuglelch aussprechen. dass auch Jede Wiederholung
der beanstandeten Massnahme das Grundgesetz verletzt"). 425. RecI. 1.987, ReI. Min. MauriCIO Corrêa, DJU21.5.2004,
514 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 515

contrárias ao entendimento firmado pelo STF no julgamento de Com a positivação dos institutos da eficácia erga omnes e do
mérito proferido em ação direta de inconstitucionalidade seriam efeito vinculante das decisões proferidas pelo STF na ação declara-
considerados partes legitimas para a propositura de reclamação e tória de constitucionalidade e na ação direta de inconstituCIOnalidade
declarou a constitucionalidade do parágrafo único do art. 28 da Lei deu-se um passo significativo no rumo da modernização e racionali-
n. 9.868/99.426 zação da atividade da jurisdição constitucional entre nós.
Embora o STF, na Recl n. 2.475,427 tenba se manifestado pela
não-transcedência dos motivos determinantes - vencidos os Mins. Limites sllbjetivos - A primeira questão relevante no que con-
Gilmar Mendes, Celso de Mello, Carmen Lúcia e Joaquim Barbosa cerne à dimensão subjetIva do efeito vinculante refere-se à possibili-
-, esse posicionamento parece não ser definitivo. dade de a decÍsão proferida vincular. ou não. o próprio STF,
A propÓSitO, cabe ressaltar que o STF, em decisão de 17.12.2007, Embora a LeÍ Orgânica do Tribunal Constitucional alemão não
julgou parcialmente procedentes duas rec1amações428 ajuizadas con- seja explícita a propósito. entende a Corte Constitucional ser inad-
tra decisões proferidas pela Justiça do Estado do Pará que determi- missível construir-se. aqui. uma autovinculação. Essa orientação
naram a reserva de vagas a candidatos aprovados em concurso pú- conta com o aplauso de parcela significativa da doutrina. pois, além
blico para o provimento do cargo de promotor de justiça no referido de contribuir para o congelamento do Direito ConstituCIOnal. tal so-
Estado-membro mas excluídos do certame por não comprovarem o lução obrigaria o Tribunal a sustentar teses que considerasse errôneas
requisito de três anos de atividade jurídica, contido no edital. Fun- ou já superadas.43o
damentou-se a decisão no que assentado na ADIn n. 3.460-DF (ReI. A fórmula adotada pela EC n. 3/93 - e repetida pela Lei n. 9.868
Min. Carlos Britto, DJU 15.6.2007), no sentido de que o art. 129, - parece excluir também o STF do âmbito de aplicação do efeito
§ 3", da CF fixava o periodo de atividade juridica a partir da data de vinculante. A expressa referência ao efeito vinculante em relação
obtenção do título de bacharel. devidamente comprovada. AADIn n. "aos demais órgãos do Poder Judiciário" legitima esse entendimento.
3.460 impugnou o art. 7" da Res. n. 35/2002 do Conselho Superior do De um ponto vista estritamente material. também é de se excluir
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. uma autovinculação do STF aos fundamentos determinantes de uma
Destaque-se. ainda, que está atualmente em discussão nos autos decisão anterior, pois isto poderia significar uma renúncia ao próprio
da Recl. n. 3.014429 a possibilidade de o Tribunal. mesmo que não desenvolvimento da ConstItuição, tarefa imanente aos órgãos de
se empreste eficácia transcendente à decisão em controle abstrato de jurisdição constitucionaL
constitucionalidade. analisar em sede de reclamação a constitucio- Todavia. parece importante, tal como assinalado por Bryde.
nalidade de lei de teor idêntico ou semelhante à lei que já foi objeto que o Tribunal não se limite a mudar uma orientação eventualmente
da fiscalização abstrata de constitucionalidade perante o STF. En- fixada, mas que o faça com base em uma critica fundada do entendi-
tendimento que segue a tendência da evolução da reclamação como mento anterior, que explicite e justifique a mudança.431
ação constitucional voltada à garantia da autoridade das decisões e
Ao contrário do estabelecido na proposta original. que se referia
da competência do STF.
à vinculação dos órgãos e agentes públicos. o efeito vinculante con-
sagrado na EC n. 3/93 ficou reduzido. no plano subjetivo. aos órgãos
426. ReI. Min. MauriCIO Correa. DJU 19.3.2004.
do Poder Judiciáno e do Poder Executivo.432
427. Reei. n. 2.475. Rei. Min. Marco Aurélio. DJU 1.2.2008.
428. Recl. 05. 4.906 e 4.939, ReI. Min. Joaquim Barbosa,J. 17.12.2007, Infor-
mativo SrF 493. 430. Cf., a propósito. Brun~Otto Bryde. Verfassungsentwlcklung, p. 426;
429. ReeI. n. 3.014. ReI. Min. Carlos Britto. Votaram pela ímprocedência. Maunz. m Maunz e outros. BVer:fGG, § 31. I. n. 20.
acompanhando o Relator, a Min. Cármen Lucia e o Min. Sepúlveda Pertence; e pela 431. Bryde, Verfassungsentwick/ung, p. 426.
procedênCia da reclamação o Min. GiImar Mendes. O julgamento acha-se suspenso 432.-AEC n. 4512004 conferiu nova redação ao § 212 do art. 102 da CF de 1988.
em virtude de pedido de vísta do Min. Ricardo Lewandowski. que estabeleceu que "as decisões definitivas de mento, proferidas pelo Supremo Tri-
516 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 517

Proferida a declaração de constitucionalidade ou inconstitu_ culante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e do
cionalidade de lei objeto da ação declaratória, ficam os tribunais e poder Executívo".434
órgãos do Poder Executivo obrigados a guardar-lhe plena obediência. Portanto, afigurava-se correta a posição de vozes autorizadas do
Tal como acentuado, o caráter transcendente do efeito vinculante STF, como a do Min. Sepúlveda Pertence, segundo o qual, "quando
impõe que seja considerado não apenas o conteúdo da parte dispo- cabivel em tese a ação declaratória de constltucionalidade, a mesma
sitiva da decisão, mas tambem a norma abstrata que dela se extrai, força vinculante haverá de ser atribuída à decisão defimtiva da ação
isto é, a proposição de que determinado tipo de situação, conduta direta de inconstitucÍonalidade".435
ou regulação - e não apenas aquela objeto do pronunciamento juris- De certa forma, esse foi o entendimento adotado pelo STF na
dicional - e constitucional ou inconstitucional e deve, por isso, ser ADC n. 4, ao reconhecer efeito vinculante à deCIsão proferida em
preservado ou eliminado.433 sede de cautelar, a despeito do silêncio do texto constitucIOnal.
É certo, pois, que a não-observância da decisão caracteriza Nos termos dessa orientação, a decisão proferida em ação direta
grave violação de dever funcional, seja por parte das autoridades de inconstitucionalidade contra lei ou ato normativo federal haveria
administrativas, seja por parte do magistrado (cE, também, CPC, art. de ser dotada de efeito vinculante, tal como ocorre com aquela profe-
133,1). rida na ação declaratória de constltucionalidade.
Em relação aos órgãos do Poder Judiciário convem observar Observe-se, ademais, que, se entendermos que o efeito vincu-
que eventual desrespeito a decisão do STF legitima a propositura de lante da decisão está intimamente vinculado à própria natureza da
reclamação, pois estarà caracterizada, nesse caso, inequívoca lesão à jurisdição constitucional em um dado Estado Democrático e à função
autoridade de seu julgado (CF, art. 102, I, "I"). de guardião da Constituição desempenhada pelo Tribunal, temos de
admitIr, igualmente, que o legislador ordinário não está impedido
Efeito vinculante de decisão proferida em ação direta de in- de atribuir - como, alias, o fez por meio do art. 28, parágrafo único,
constitucionalidade - Questão interessante dizia respeito à possivel da LeI n. 9.868 - essa proteção processual especial a outras decisões
extensão do efeito vinculante à decisão proferida em ação direta de de controversias constitucionais proferidas pela Corte.
inconstitucionalidade. Em verdade, o efeito vinculante decorre do particular papel
Aceita a idéia de que a ação declaratória configura uma ação di- político-mstitucional desempenhado pela Corte ou pelo Tribunal
reta de inconstitucionalidade com sinal trocado, tendo ambas caráter Constltucional, que deve zelar pela observância estrita da Constitui-
dúplice ou ambivalente, afigura-se dificil não admitir que a decisão ção nos processos especiais concebidos para solver determinadas e
proferida em sede de ação direta de inconstitucionalidade tenha específicas controvérsias constitucionais.
efeitos ou conseqüências diversos daqueles reconhecidos para a ação Na sessão de 7.11.2002 o STF pacificou a discussão sobre a
declaratória de constitucionalidade. legitlmidade da norma contida no parágrafo único do art. 28 da Lei
Argumenta-se que ao criar a ação declaratória de constitu- n. 9.868/99, que reconhecia efeito vmculante às decisões de mérito
cionalidade de lei federal estabeleceu o constituinte que a decisão proferidas em sede de ação direta de inconstitucionalidade. O Tribu-
definitiva de mérito nela proferida - incluída aqui, pois, aquela que, nal entendeu que "todos aqueles que forem atingidos por decisões
julgando improcedente a ação, proclamar a inconstitucionalidade da contrárias ao entendimento firmado pelo STF, no julgamento do
norma questionada - "produzira eficácia contra todos e efeito vin- mérito proferido em ação direta de inconstitucionalidade, sejam con-
siderados como parte legitima para a propositura de reclamação",436
huna} Federal. nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratónas de
constitucionalidade produzírão eficàcia contra todos e efeito vinculante. relativamen- 434.Art. 102, § 2'. daCF de 1988.
te aos demats orgãos do Poder Iudiciâno e áAdmimstração Pública direta e indireta. 435. Despacho na ReeI. n. 167, RDA 206/246 (247).
nas esferas federal. estadual e municipal", 436. Informativo STF 289/2002, 4 a 8.11.2002 (ReclJAg.lQO n.1.880-SP. ReI.
433. Cf., aproposito. Bryde. Verfassungsentwtck1ung, p. 428. Min. MauriCiO Corrêa).
518 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 519

A controvêrsia está completamente superada em razão do ad- que tenha por pressuposto a constitucionalidade ou a inconstitucio-
vento da EC n. 45/2004, que conferiu nova redação ao art. 102, § 2", nalidade do art. I" da Lei n. 9.494, de 10.9.97, sustando, ainda, com
da CF, segundo o qual: "As decisões definitivas de mérito, proferidas a mesma eficácia, os efeitosfuturos dessas decisões antecipatórias de
pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucio_ tutela já proferidas contra a Fazenda Pública, vencidos, em parte,
nalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão o Min. Néri da Silveira, que defena a medida cautelar em menor
eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais extensão, e, integralmente, os Mins. Ilmar GaIvão e Marco Aurélio,
órgãos do Poder Judiciário e áAdministração Pública direta e indire- que a indeferiam""'8
ta. nas esferas federal, estadual e municipal". O conteúdo dessa deCIsão foi expliCItado pelo Min. Celso de
Mello em despacho proferido em pedido de suspensão.de tutela
Efeito vinculante da cautelar em ação declaratória de consti- antecipada, esclarecendo que a decisão cautelar: "(a) incide, uni-
tucionalidade - O silêncio do texto constitucional quanto á possibili- camente, sobre pedidos de tutela antecipada, formulados contra a
dade de concessão cautelar em sede de ação declaratória deu enseja a Fazenda Pública, que tenham por pressuposto a constItucionalidade
significativa polêrnica quando o Presidente da República e as Mesas ou a inconstitucionalidade do art. 1" da Lei n. 9.494/97; (b) inibe a
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal intentaram ação de- prolação, por qualquer juiz ou tribunal, de ato decisório sobre o pedi-
claratária com objetivo de ver confirmada a constitucionalidade da do de antecipação de tutela que, deduzido contra a Fazenda Pública,
Lei n. 9.494/97, que proibia a concessão de tutela antecipada para tenha por pressuposto a questão específica da constItucionalidade, ou
assegurar o pagamento de vantagens ou vencimentos a servidores não, da norma inscnta no art. I" da Lei n. 9.494/97; (c) não se aplica
públicos.437 retroativamente aos efeitos já consumados (como os pagamentos
Na ADC n. 4, da relatoria do Min. Sydney Sanches, o STF já efetuados) decorrentes de decisões antecipatónas de tutela ante-
considerou cabivel a medida cautelar em sede de ação declaratária. riormente proferidas; (d) estende-se às antecipações de tutela, ainda
Entendeu-se admissivel que o STF exerça, em sede de ação decla- não executadas, qualquer que tenha sido o momento da prolação do
ratória de constitucionalidade, o poder cautelar que lhe é inerente, respectivo ato decisório; (e) suspende a execução dos efeitos futuros
"enfatizando, então, no contexto daquele julgamento, que a prática relativos a prestações pecuniárias 'de trato sucessivo, emergentes de
da jurisdição cautelar acha-se essencialmente vocacionada a conferir decisões antecipatárias que precederam ao julgamento, pelo Plenário
tutela efetiva e garantia plena ao resultado que deverá emanar da do Supremo Tribunal Federal, do pedido de medida cautelar formu-
decisão final a ser proferida naquele processo objetivo de controle lado na ADC n. 4_DF'.4'9
abstrato". Portanto, o STF entendeu que a decisão conceSSIva da cautelar
É que, como bem observado pelo Min. Celso de Mello, o Ple- afetava não apenas os pedidos de tutela anteCipada ainda não deci-
nário do STF, ao deferir o pedido de medida cautelar na ADC n. 4, didos, mas todo e qualquer efeito futuro da deCIsão proferida nesse
expressamente atribuiu eficácia vinculante e subordinante à sua deci- tipo de procedimento.
são, com todas as conseqüências juridicas daí decorrentes. Segundo essa orientação, o efeito vinculante da decisão conces-
O STF, ao conceder o provimento cautelar requerido na ADC siva da medida cautelar em ação declaratória de constitucionalidade
n. 4, proferiu, por maioria de nove votos a dois, a seguinte decisão: não apenas suspende o julgamento de qualquer processo que envolva
"O Tribunal, por votação majoritária, deferiu, em parte, o pedido de a aplicação da lei questionada (suspensão dos processos), mas tam-
medida cautelar, para suspender, com eficácia ex nunc e com efeito bêm retira toda ultra-atividade (suspensão de execução dos efeitos
vinculante, até final julgamento da ação, a proZação de qualquer de-
cisão sobre pedido de tuteZa antecipada, contra a Fazenda Pública, 438. CE ADC n. 4, deCIsão liminar publicada no DJU 16.2.98.
439. Cf. Petição em MC n. !.416-SP, ReI. Min. Celso de MeUo. DJU 1.4.98,
437. Cf. ADC n. 4, ReI. Min. Sydney Sanches, DJU 16.2.98. p.I!.
520 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 521

futuros) das decisões judiciais proferidas em desacordo com o enten- Estando assente que a liminar deferida opera no plano da Vigên-
dimento preliminar esposado pelo STF. cia da lei, podendo ter o condão até mesmo de restaurar provisona-
mente a vigência de norma eventualmente revogada, não hã como
Efeito vinculante da decisão concessiva de cautelar em ação deixar de reconhecer que a aplicação da norma suspensa pelos órgãos
direta de inconstitucionalidade - No quadro de evolução da nossa ordinários da Jnrisdição implica afronta à decisão do STF.
jnrisdição constitucional, parece dificil aceitar o efeito vinculante Em absoluta coerência com essa orientação mostra-se a deci-
em relação à cautelar na ação dec1aratória de constitucionalidade e são, tomada tambem em questão de ordem, na qual se determinou a
deixar de admiti-lo em relação à liminar na ação direta de inconsti- suspensão de todos os processos que envolvessem a aplicação de de-
tucIOnalidade. terminada vantagem a servidores do TRT-15ª Região tendo'em ViSta
Na primeira hipótese, tal como resulta do art. 21 da Lei n. a liminar concedida na ADIn n. 1.244-SP, contra resolução daquela
9.868/99, tem-se a suspensão do julgamento dos processos que en- Corte que havia autorizado o pagamento do beneficio.
volvam a aplicação da lei ou ato normativo objeto da ação declara- É o que foi afirmado pela Corte na ADInlQO n. 1.244-SP,441
tória até seu término; na segunda tem-se a suspensão de vigência da de cujo voto se extrai: "Se e certo que, em principio, não cabe re-
lei questionada na ação direta e, por isso, do julgamento de todos os clamação por descumpnmento de decisão do STF em ação direta de
processos que envolvam a aplicação da lei discutida. inconstitucionalidade, se o ato contrário ao Julgado não provem de
Assim, o sobrestamento dos processos ou, pelo menos, das de- requerido na demanda de inconstitucionalidade, eis que a previsão
cisões ou julgamentos que envolvam a aplicação da lei que teve sua Judicial desta Corte concerne, tão-só, à validade, em abstrato, da lei
vigência suspensa em sede de ação direta de inconstitucionalidade ou ato normativo impugnado, compreendo, entretanto, que, no plano
haverá de ser uma das conseqüêncIas inevitáveis da liminar em ação dos efeitos do decisum do STF, em medida judicial dessa natureza,
direta. Em outras palavras, a suspensão cautelar da norma afeta sua quanto ii regra em tese, cumpre conferir-lbe um mínimo de eficácia
vigência provisória, o que impede que os tribunais, a Administração erga omnes, de referência a fatos jnridicos eventualmente nascidos
e outros órgãos estatais apliquem a disposição que restou suspensa. por virtude de invocação da lei ou ato normativo, posteriormente à
decisão desta Corte, suspendendo-lhe, erga omnes, a vigência, até o
Esse foi o entendimento firmado pelo STF no julgamento do julgamento final da ação. Refiro-me, em especial, a decisões judiciais
RE/QO n. 168.277-RS: prolatadas ostensivamente em conflito com o pronunciamento do
"Ementa: Recurso extraordinário fundado no art. 4", parágrafo STF, por provocação dos próprios destinatários da lei ou ato normati-
único, da Lei Gaucha n. 9.117/90, cUJa eficácia foi suspensa pelo STF vo com eficácia suspensa, erga omnes. Se o STF determina que fique
na ADIn n. 656. suspensa certa norma e, por conseqüência imediata, o pagamento de
"Configuração de hipótese em que se impõe a suspensão do vantagem nela prevista, por natural efeito de suspender a norma que
julgamento do recurso. o autorizaria, não e possível admitir que os destinatários da mesma
nOrma suspensa, contornando a proibição deste Tribunal, por via
"Diretriz fixada na oportunidade, pelo Tribunal, no sentido de
oblíqua, em decisão cautelar ou em antecipação de tutela, possam
que deve ser suspenso o julgamento de qualquer processo que tenha
usufruir, imediatamente, daquilo que o STF ordenou não lbes fosse
por fundamento lei ou ato estadual cuja eficácia tenha sido suspensa,
entregue até o julgamento final da ação direta de inconstitucionalida-
por deliberação da Corte, em sede de ação direta de inconstituciona-
de, por virtude, direta e imediata, da suspensão de vigência da norma
lidade, até final julgamento desta. que ampararia a outorga",
"Questão de ordem acolhida."44<l
Nesse mesmo julgamento, consignou Sepúlveda Pertence:

440. Plenário, ReI. Min. limar GaIvão, DJU29.5.98. 441. Rei. Min. Néri da SilveIra, DJU28.5,99.
522 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 523

"Tenho sustentado que. necessariamente. o mesmo efeito Vrn- nalidade. de modo a cassar decisão administrativa de um governador
culante hã de ser dado à decisão tomada em ação direta de incons_ de Estado. Assmalo-o apenas para marcar o evento.
titucionalidade, que é também uma ação dúplice. da qual. segundo ''No mérito, não tenho dúvida. Trata-se de impugnação a uma lei
a nossa doutrina, explicitada no art. 173 do Regimento. tanto pode que revogou as leis anteriores do sistema previdenciário do Estado
resultar a declaração de inconstitucionalidade quanto a declaração de do Rio de Janeiro por completo. Revogação de um sIstema por outro.
constitucionalidade da lei. É manifesto que, em tal hipótese, não há cogitar-se, se se declaram
"Disso continuo convencido. ao menos nos limites da ação inconstitucionaIs tópícos da lei nova, da repristinação de tópicos
declaratória de constitucionalidade. vale dizer, quando o objeto da da leI antiga. A mnos assim nessa toada descoberta pelo Governo
argüição for lei ou ato normativo federal. fluminense, chegaríamos muito em breve a repristinação .de textos
"Claro, tudo isso se diz das decisões definitivas, a meu ver, nas das Ordenações Filipmas - quiçá, do seu Livro V - o dia em que se
duas ações de controle abstrato da constitucionalidade de normas. pretender' descriminalizar' ou descriminar alguma conduta tipifica-
da na lei penal de hoje, como nelas, igualmente. mais severamente
"Quidjuris com relação à decisão cautelar?
íncriminadas" ,442
"A decisão cautelar, lemos nos compêndios, destina-se a res-
Vê-se. pois, que a decisão concessiva de cautelar em ação di-
guardar. a salvaguardar, o efeito útil do processo contra o risco de
reta de inconstitucionalidade e também dotada de efeito vinculante.
sua própria demora.
A concessão da liminar acarreta a necessidade de suspensão dos
''Não vejo outra solução, Sr. Presidente, admitido o efeito vincu- julgamentos que envolvam a aplicação on a desaplicação da lei cuja
lante que tem a decisão de mérito, a não ser atribuir ii decisão cautelar vigência restou suspensa.
efeíto suspensivo dos processos cuja decisão pende da aplicação, ina-
Esse entendimento foi sufragado no julgamento da Recl. n.
plicação ou declaração de inconstitucionalidade em concreto da lei
2.256-RN. de minha relatoria.443
que teve a sua eficácia suspensa por força de decisão cautelar do STF.
"Do contrário, a convivência, já difícil, dos dois sistemas de Efeito vil/culal/te de decisão {I/deferitória de cal/telar em ação
controle de constitucionalidade que praticamos conduzira ao caos. direta de il/collStitl/ciol/alidade - Com alguma freqüência apresenta-
''Note-se: sequer para adotar decisão no sentido da decisão cau- se ao Tribunal pedido de reclamação contra deCIsões tomadas pelas
telar do Supremo poderá ser julgada a ação proposta perante o juizo instâncias ordinárias que afirmam a inconstitucionalidade de uma ou
ordinário, porque da nossa decisão de mérito podem resultar, afinal, outra lei federal ou estadual em face da ConstituIÇão Federal. Essas
em sentido contràrio, a declaração de constitucionalidade da lei. reclamações alegam que a competência pode estar sendo usurpada
"Desse modo, a cautelar não compele o juiz a que julgue a causa exatamente porque o STF indeferiu pedido de liminar formulado com
como se a lei fosse inconstitucional, porque a lei ainda não está de- obJetivo de se suspender a norma impugnada em sede de ação direta
clarada inconstitucional. de inconstitucionalidade. Outras vezes alega-se que a matéria pende
de apreciação no âmbito do controle abstrato de normas perante o
"A única solução, assim, é a suspensão do andamento do feito STF. cabendo a ele conferir orientação uniforme ao tema.
ou, pelos menos, a suspensão da decisão que nele se tenha que tomar,
Na primeira hipótese alega-se que já no julgamento da liminar
num ou noutro sentido, até a decisão de mérito da ação direta no
STF." na ação direta de inconstituCIOnalidade o STF, ainda que em um juizo
preliminar, afastou a inconstitucionalidade da lei. Assim. não pode-
Na Recl./QO n. 1.507-RJ desenvolveu Sepúlveda Pertence a riam as instâncias ordinárias deliberar em sentido contràrio.
seguinte consideração:
e
"(... ). Creio que a primeira vez que o Tribunal está a aplicar o 442. ReI. Min. Néri da Silverra. DJU 1.3.2002.
efeito vinculante da decisão anterior, em ação direta de inconstitucio- 443. ReI. Min. GiImar Mendes. DJU30.4.2004.
524 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 525

É O caso da Recl. n. 2.121, da relatoria de Nélson Jobim.444 O ar!. "I - O incidente de inconstitucIOnalidade de lei ou ato normativo
l da Lei n. 227/92, alterado pela Lei n. 464/93, dispôs: "Ar!. 12 • Fi-
Q
do Poder Público pode ser suscitado pela parte, como via de defesa,
cam isentas de imposto territorial urbano, e das taxas e tarifas pelo até a sustentação oral, incluslve sendo lícito ao órgão fracionário
fornecimento de água e energia elétrica, as entidades assistenciais e suscitá-lo ex officio, desde que em momento anterior à proclamação
beneficentes, declaradas de utilidade pública do Distrito Federal". do acórdão (precedentes do egrégio STJ).
Em 1998 foi editada a Lei 2.010, que, no parágrafo único do art. "II - Não pode o Poder Público local estabelecer isenção de
IQ, estabelece: pagamento de tarifas ou preço público para entidades assistenciais e
"Ar!. 1Q. Fica reconhecida como entidade de utilidade pública do beneficentes, pois a União é o ente político de direito público com-
Distrito Federal a Fundação Universidade de Brasília - FUB, Institui- petente para discriminar isenções, sob pena de usurpação.e invasão
ção educacional de nível superior. de sua competência.
"Parágrafo unico. Fica aplicado à Fundação Universidade de "m - À Uníão compete, com exclusividade, dispor, disciplinar
Brasília- FUB o disposto no art. 12 da Lei n. 227, de 9 de janeiro de e legislar sobre a política tarifária e energia elétrica.
1992, alterada pela Lei n. 464, de 22 de julho de 1993." "IV - Afronta aos arts. 22, inciso IV, e 175, parágrafo único, in-
Em 21.9.94 o STF, na ADln n. 1.104, proferiu a seguinte de- ciso m, da CF reconhecida - Remessa ao órgão especial do Tribunal
cisão, em sede de cautelar: "Ação direta de inconstitucionalidade para análise do acórdão e prolação da declaração de inconstituciona-
- Medida cautelar - Lei n. 464, de 22.6.93, do Distrito Federal, art. lidade (art. 97 da CF)."
12 - Norma que isentou das taxas e tarifas pelo fornecimento de água A CEB propôs ação de cobrança contra a Fundação Universida-
e energia etétrica as entidades assistenciais e beneficentes, declara- de de Brasília - FUB, exigindo o pagamento de importâocias relati-
das de utilidade pública, atuando no Distrito Federal. 2. Alegação de vas â prestação de serviço de energia elétrica. A reclamante ajuizou
ofensa aos arts. 21, XII, 'b', e 22, IV, ambos da CE 3. Não se trata, na ação declaratória de isenção tributária e ação cautelar inominada con-
espécie, de lei distrital sobre água e energia elétrica, mas, apenas, no tra a CEB. O Juiz da 9ªVara Federal da Seção Judiciária do Distrito
dispositivo atacado se dispõe acerca de isenção de retribuição pelos Federal julgou improcedentes as ações da reclamante e procedente
serviços de água e energia elétrica. 4. Medida cautelar indeferida, por a da CEB. Daí a reclamação contra a referida decisão da instância
não presentes os pressupostos à concessão". monocrática, sob a alegação de ofensa a julgado do STF.
No plano da jurisdição ordinária, a Associação das Pioneiras O Min. Jobim deferiu liminar, em 11.9.2002, na Recl. n. 2.121,
Sociais impetrou mandado de segurança contra o Juiz da 4' Vara da interposta pela FUB, pleiteada com base nos seguintes fundamentos:
Fazenda Pública do Distrito Federal. A Cia. Energética de Brasília- "Na espécie, afigura-se inequívoco que o STF indeferiu a li-
CEB figurou como litisconsorte passiva. minar pelos fundamentos resumidos na ementa do acórdão: 'Ação
Em 13.3.96 a 2" Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito direta de inconstitucionalidade - Medida cautelar - Lei n. 464, de
Federal e Territórios decidiu, em Arglnconst. no MS n. 4.448/95: 22.6.93, do Distrito Federal, art. 12 - Norma que isentou das taxas e
"Argüição de incidente de inconstitucionalidade de lei - Arts. tarifas pelo fornecimento de água e energia elétrica as entidades as-
206 a 209 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Distrlto sistenciais e beneficentes, declaradas de utilidade pública, atuando no
Federal e Territórios - Lei distrital n. 464/93 - Isenção por lei local Distrito Federal. 2. Alegação de ofensa aos arts. 21, XII, 'b', e 22, IV,
de pagamento de tarifa de energia elétrica - Suscitação de inconsti- ambos da CF. 3. Não se trata, na espécie, de lei distrital sobre agua e
tucionalidade acolhida. energia elétrica, mas, apenas, no dispositivo atacado se dispõe acerca
de isenção de retribuição pelos serviços de água e energia elétrica.
444. A relatona do processo e. desde 23.2.2005. do Min. Eras Grau (art. 38 do 4. Medida cautelar indeferida, por não presentes os pressupostos â
Regimento Interno do STF). concessão J•
526 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE SEGURANÇA E ESTABILIDADE DAS DECISÕES 527

"Corno se pode depreender, não se trata de uma simples decisão "O próprio carnter dúplice ou ambivalente sugere cuidado na
de indeferimento, por ausência dos pressupostos processuais formais. compreensão da decisão que indefere a limínar afIrmando, in genere,
Na espécie. resta evidente que, pelo menos num juizo severo de a possivellegítímidade da lei.
exame liminar, o Tribunal afastou a ilegitimidade da lei em questão. "O Tribunal, ao negar a limínar na ADIn n. 1.104, a contrario
"Observe-se, outrossim, que o Tribunal tem entendido que, em sensu, presume-se declarar a constitucionalidade da Lei n. 464/93.
caso de propositura semelhante de ação direta de ínconstitucionalida_ "A lei distrital contínua vigente para reconbecer a isenção da
de perante o STF e perante o Tribunal de Justiça contra lei estadual, Fundação Universidade de Brasília.
há de se suspender o processo no âmbito da Justiça estadual até a "Estão presentes os requisitos da liminar.
deliberação definitiva desta Corte.
"Defiro-a.
"Há precedentes: 'Rejeição das prelimínares de Iitispendência
e de continência, porquanto, quando tramitam paralelamente duas "Suspendo a eficáCia das decisões proferidas pelo Juiz da 9ª
ações diretas de inconstitucionalidade, uma no Tribunal de Justiça Vara Federal da Seção JudiciárIa do Distrito Federal e de todo e qual-
local e outra no STF, contra a mesma lei estadual, impugnada em quer ato dela resultante (Ação OrdinárIa n. 2000.34.00.021446-3;
face de principios constitucionais estaduais que são reprodução de Ação Cautelar Inomínada n. 1999.34.00.033578-7 e Ação OrdínárIa
principios da Constituição Federal, suspende-se o curso da ação dire- n. 1999.34.00.036446-5).
ta proposta perante o tribunal estadual até o julgamento fmal da ação "E de manter-se a plena eficácia da Lei n. 464, de 22.6.93, até a
direta proposta perante o STF, conforme sustentou o Relator da pre- decisão de mérito naADIn n. 1.104, que tramita neste TribunaL"445
sente ação direta de inconstitucionalidade em voto que proferiu, Contra essa decisão fOI ínterposto agravo regímen tal, tendo o
em pedido de vista, na Recl. n. 425' (ADInlMC n. 1.423, ReI. Min. Min. Eros Gran, sucessor do Mín. Jobim, reconsiderado a decisão
Moreira Alves, DJU 22. 11.96). Ainda: 'Julgado o pedido de medida liminar e negado seguimento â reclamação.
liminar em ação direta ajuizada pela Associação dos Membros dos
Interpôs-se novo agravo regimental. que, apreciado pelo STF
Tribunais de Contas do Brasil - ATRICON contra o § 3° do art. 47 da
em 20.2.2008,julgou prejudicada a reclamação pela perda do obJeto,
Lei n. 12.509/95, do Estado do Ceará, acrescentado por força do art.
tendo em vista a revogação da Lei n. 464/93.
22 da Lei n. 13.037/2000, do mesmo Estado, que retira do controle
do Tribunal de Contas estadual o conteúdo de pesquisas e consul- A questão posta na referida reclamação mostra uma nova faceta
torias solicitadas pela Administração para direcionamento de suas da relação entre os dois sistemas de controle de constitucionalidade,
ações, bem corno de documentos relevantes, cuja divulgação possa agora no que concerne it decisão do STF que índefere o pedido de
importar em danos para o Estado - Prelimínarrnente, o Tribunal re- cautelar em ação direta de inconstitucionalidade. Como acentua-
jeitou o alegado prejuízo da ação direta de ínconstitucionalidade pelo do na decisão da relatoria de Jobim, hã casos em que, ao mdeferir
ajuizamento concomitante de representação de inconstitucionalidade a cautelar, o Tribunal enfatiza, ou quase, a não-plausibilidade da
perante o TJCE contra a mesma norma em face de preceito da Cons- impugnação. Em outras hipóteses o indefenmento assenta-se em
tituição estadual que reproduziu dispositivo da Constituição Federal, razões formais, corno o tempo decorrido da edição da lei ou não-
e determinou a suspensão da representação perante o Tribunal de configuração de urgência.
Justiça até o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade pelo Na primeira hipótese é possível Justificar a reclamação sob o
STF - Precedente citado: Recl./AgRg n. 425-RJ (DJU 22.10.93); argumento de violação da autoridade da deCisão do STF. Na segunda
ADInlMC n. 2.361, reI. Min. Mauricio Corrêa, 11.10.2001 (ADIn-
2.361)' (Informativo 245). 445. ReeI. n. 2.121, ReI. Min. Eros Grau, deCIsão de 17.92002. A ADIn n.
1.104. mencionada na decisão, foi julgada prejudicada por perda do objeto. vez que
"E mais: ADInlMC n. 824, Francisco Rezek; ADIn n. 2.146, a Lei n. 434/93 foi revogada peja Leí n. 3.58812005, ambas do Distnto Federal (ReI.
Sepúlveda Pertence. Min. Gilmar Mendes DJU 26.9.2006).
528 AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE

o argumento é mais tênue, uma vez que sequer houve uma manifes_
tação substancial do Tribunal sobre o assunto.
É verdade, porém, que em ambas as situações podem ocorrer
conflitos negativos para a segurança jurídica, com pronunciamentos
contraditórios por parte de instâncias judiciais diversas.
Assím, talvez se pudesse cogitar, em semelhantes casos (inde-
ferimento de liminar na ação direta de inconstitucionalidade com
possibilidade de repercussão nas instâncias ordinàrias), de adotar fór-
SÉTIMA PARTE
mula semelhante à prevista no art. 21 da Lei n. 9.868/99 para a ação ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO
declaratória de constitucionalidade: determina-se a suspensão dos DE PRECEITO FUNDAMENTAL
julgamentos que envolvam a aplicação da lei até a decisão final do
STF sobre a controvérsia constitucional.446 A vantagem técnica dessa 1. Introdução. Ongens da leI sobre a argüição de descumprimento de
fórmula é a de que ela alcança resultado semelhante, no que concerne preceito fundamental. 2. Legitimidade para argl7ir o descumprimento
à segurança jurídica. sem afirmar, a priori, o efeito vinculante da de- de preceito fondamental. 3. Objefo da argüição de descumprimento de
preceIto fondamentai. 4. Parâmetro de controle. 5. Procedimento. 6. Me-
cisão provisória adotada pelo Tribunal em sede de cautelar. dida caule/ar. 7. As decisões do STF na argiiição de descumprimento.

1. Introdução. Origem da lei sobre a argüição


de desCllmprimento de preceito fundamental
As mudanças ocorridas no sistema de controle de constituciona-
lidade brasileiro a partir de 1988 alteraram radicalmente a relação que
havia entre os controles' concentrado e difuso. A ampliação do direito
de propositura da ação direta e a criação da ação dec1aratória de cons-
titucionalidade vieram reforçar o controle concentrado em detrImento
do difuso. Não obstante, subsistiu um espaço residual expressivo para o
controle difuso relativo às matérias não suscetíveis de exame no contro-
le concentrado (interpretação direta de cláusulas constituclonais pelos
juizes e tribunais, direito pré-constitucional, controvérsia constitucional
sobre normas revogadas, controle de constitucionalidade do direito
municipal em face da Constituição Federal). Eexatamente esse espaço.
ímune à aplicação do sistema direto de controle de constitucionalidade.
que tem sido responsável pela repetição de processos. pela demora na
definição das decisões sobre ímportantes controversias constituclOnais
e pelo fenômeno social e jurídico da chamada "guerra de liminares",
Foi em resposta a esse quadro de incompletude que surgiu a
idéia de desenvolvimento do chamado "incidente de inconstituclOna-
!idade" (CL, infra, "Incidente de inconstitucionalidade e argüição de
446. Em voto~vista por mim proferido quando do julgamento do último agravo
regimental interposto na mencionada Reei. n. 2.121 deíxei consignada essa posição. descumprimento"). Também foi nesse contexto que, juntamente com
muito embora em obiter dictum (informativo STF 497). o Professor Celso Bastos. passamos a nos indagar se a chamada "ar-
530 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 53 i

güição de descumprimento de preceíto fundamental", prevista no ar!. 102 da CE Estabeleceram-se o rito perante o STF, o elenco dos entes
102, § 1., da CF, não teria o escopo de colmatar ímportantes lacunas coro legitimidade ativa, os pressupostos para suscitar o incidente e os
identificadas no quadro de competências do STF. efeitos da decisão proferida e sua irrecorribilidade.
O Professor Celso Bastos elaborou o primerro esboço do antepro- Tendo em vista que a argüição de descumprimento de preceíto
jeto que haveria de regular a argüição de descumprimento de preceito fundamental afetava as atribuições do STF, resolveu-se, ainda, colher
fundamental. Tomando por base o texto inaugural, cuidamos nós de ela- a opinião daqnela Corte (AvisolMJ n. 624, de 4.5.98). Em 7.5.98 o
borar uma segunda versão introduzindo-se o incidente de inCOnstituciO- Min. Celso de Mello infonnou ter encaminbado copia do texto do
nalidade. Essa proposta traduziu-se num amálgama conscíente das COn- anteprojeto para todos os Ministros do STF (Oficio n. 076/98). Em
cepções constantes do Projeto Celso Bastos, do Projeto da Comissão 30.6.98 o trabalho realizado pela Comissão Celso Bastos fo(divulga-
Caio Tácito' e o do incidente de inconstitucionalidade, contemplado em do em artigo publicado na revista Consulex 18/18-21, ano II, v. I, sob
várias propostas de emenda constitucional sobre o Judiciári02 (CL, ínfra, título "Preceito fundamental: argüição de descumprimento".
"Incidente de inconstitucionalidade e argüição de descumprimento"). É necessário observar, todavia, que desde março de 1997 tramí-
Afigurava-se recomendável que o tema fosse submetido a uma tava no Congresso Nacional o Projeto de Lei n. 2.872, de autona da
Comissão de especialistas. A sugestão foi elevada â consideração do ilustre Deputada Sandra Starling, objetivando, também, diSCiplinar
Ministro Íris Resende, da Justiça, que, em 4.7.97, editou a Portaria o instítuto da argüição de descumprimento de preceito fundamental,
n. 572, publicada no DOU de 7.7.97, instituindo Comissão destinada sob o nomenjuris de "reclamação". A reclamação restringia-se aos
a elaborar estudos e anteprojeto de lei que discíplinasse a argüíção casos em que a contrariedade ao texto da Lei Maior fosse resultante
de descumprimento de preceito fundamental. Foram designados de interpretação ou de aplicação dos Regimentos Internos das Casas
para compor a Comissão os Professores Celso Ribeiro Bastos (Pre- do Congresso Nacional, ou do Regimento Comum, no processo
sidente), Arnoldo Wald, Ives Gandra Martins, Oscar Dias Corrêa e o legislativo de elaboração das nonnas previstas no ar!. 59 'da CE
autor deste estudo. Após intensos debates realizados em São Paulo, a Aludida reclamação haveria de ser fonnulada ao STF por um décimo
Comíssão chegou ao texto final do anteprojeto, que foi encaminbado dos deputados ou dos senadores, devendo observar as regras e os
pelo Professor Celso Bastos, acompanbado de relatório, ao Ministro procedimentos instituidos pela Lei n. 8.038, de 28.5.90.'
da Justiça, em 20.11.97. Em 4.5.98 o projeto de lei da Deputada Sandra Starling recebeu
A proposta de anteprojeto de lei cuidou dos principais aspectos parecer favorâvel do Relator, o ilustre Deputado Prisco Viana, pela
do processo e julgamento da argüíção de descumprimento de preceito aprovação do projeto na fonna de substitutivo de sua autoria. Como
fundamental, nos tennos e para os efeitos do disposto no § 1· do art. então se verificou, o substitutivo Prisco Viana ofereceu discíplina
que muito se aproximava daquela contida no anteprojeto de lei da
1. Projeto de Lei n. 2.960, de 1997 (PLC n. 10. no Senado Federal) sobre ação Comissão Celso Bastos.
direta de inconstItucIOnalidade e ação declaratóna de constituCIonalidade, convertido
na lei n. 9.868, de 10.11.99.
3. "Projeto de Lei D. 2.872. de 1997 [da Sra. Sandra Starling] - Dispõe sobre
2. Substituttvo do Deputado AloyslO Nunes Ferreira à PEC n. 96-A/92: a reclamação ao Supremo Tribunal Federal em caso de descumpnmento de preceito
"Ar!. 103. ( ... 1. constitucional no processo legislativo e dá outras providências.
"(... ). "O Congresso Nacíonal decreta: Art. 12 . Caberá reclamação de parte interes-
"§ 51:1, O Supremo Tribunal Federal, a pedido das pessoas e entidades mencIOna- sada ao Supremo Tribunal Federal mediante pedido de um décimo dos membros da
das no art. 103, de qualquer tribunal, de Procurador-Geral de Iustlça, de Procurador- Câmara dos Deputados ou do Senado Federal. quando ocorrer descumprimento de
Geral ou Advogado-Geral do Estado, quando for relevante o fundamento de contro- preceIto fundamental do texto constitucional. em face de mterpretação ou aplicação
vérsIa judicial sobre a constitucIonalidade de lei, ato nonnatívo federal ou de outra dos Regimentos Internos das respectivas Casas. ou comum, no processo legislativo de
questão constitucional, federal, estadual ou municípal, poderâ., acolhendo mcidente de elaboração de normas prevístas no arl 59 da Consutuição. Paràgrafo umco. Aplicar-
ÍDconstItuclOnalidade, determmar a suspensão, salvo para medidas urgentes, de proces- se-ão. no que couberem, areclamação prevista neste artigo, as dispOSições dos arts.
sos em curso perante qualquer JUizo ciú tribunal, para profenr deCISão exclUSivamente 13 a 18 da LeI n. 8.038, de 28 de maIO de 1990. Art. 2U• Esta LeI entra em vigor na
sobre matéria consútuclOnal suscitada. ouvido o Procurador-Geral da República." data de sua publicação. Art. 32 . Revogam~se as disposições em contràno."
532 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 533

Aludido substitutivo, aprovado na Comissão de Constituição e


Art. 2'_ Podem propor argilição Art 111• Podem propor argüição
Justiça e de Redação da Câmara dos Deputados, foi referendado pelo de descumprimento de preceIto fun- de descumpnmento de preceito fun-
Plenário da Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, tendo sido damental: damental:
snbmetido ao Presidente da República, que o sancionou: com veto I - os legitimados para a ação dire- I - os legitimados para a ação dire-
ao inciso II do paragrafo único do art. Iº, ao inciso II do art. 2", ao ta de inconstítucíonalidade~ ta de inconstitucionalidade;
I1 - qualquer pessoa lesada ou II - qualquer pessoa !esada ou
§ 2" do art. 2º, ao § 4º do art. 5º, aos §§ 1º e 2" do art. 8" e ao art. 90, ameaçada em decorrêncía de ato do ameaçada por ato do Poder Público.
poder Público.
QUADRO COMPARATIVO
§ 1'. A pessoa lesada ou ameaçada § 1.2, Na hipótese do mciso n.
Substitutivo do Dep. prisco Viana em decorrênCIa de ato do Poder Público faculta-se ao interessado.' mediante
solicita.ra, mediante representação, a representação. solicitar a propositura
Anteprojeto de Lei ao Projeto de Lei n. 2.872, de 1997
propOSItura de argüição de desCUID- de argüição de descumprunento de
da Comissão Celso Bastos, (entre parênteses as expressões
prunento de preceito fundamental ao preceito fundamental ao Procurador-
de maio de 1997 inseridas pela CCJR. da Câmara Geral da República que, exaromando
Procurador-Geral da República que,
dos Deputados~ na redação final)
examinando os fundamentos jurídicos os fundamentos jurídicos do pedido,
Dispõe sobre o processo e Julga- Dispõe sobre o processo e julga- do pedido, decidirá do cabimeoto do decidirá do cabimento do seu ingresso
mento da argilição de descumprimen- menta da argiiição de descumprimen- seu ingresso em juizo. emjuízo.
to de preceitojimdamental. nos lennos to de preceitofundamental, nos termos § 2U Contra o indeferunento do § 22 . Contra o mdefenmento do
do § ]a do arf. ]02 da Constftuição. do § ]a do arf. 102 da Constituição pedido, cabem representação ao pedido, caberá representação ao
Federal. Supremo Tribunal Federal, no pra- Supremo Tribunal Federal, no pra-
zo de CinCO dias. que será processa- zo de cmco dias. que será processa-
Art. l!1. A argUição prevista no art. Art. lº. A argüição prevista no
da e julgada na forma estabelecida da e Julgada na fonna estabelecida
102, § 1a, da COnstituIçãO será pro- § 12 do art. 102 da Coosbtwção no Regnnento Interno do Supremo
no Regimento Interno do Supremo
posta perante o Supremo Tribunal Federal será proposta perante o Tribunal Federal. Tribunal Federal.
Federal. e teci por objeto evitar ou Supremo Tribunal Federal, e teci por
reparar lesão a preceito constitucio- objeto evitar ou reparar lesão a pre~ Art. 32 • A petição inícial devem Art. 32 , A petição inIciai deverá
nal fundamental. resultante de ato do ceito fundamental, resultante de ato conter: conter:
Poder Público. do Poder Público. I - a mdicação do preceito funda- I - a indicação do preceito funda-
mental que se considera violado; mental que se considera violado;
Parágrafo unico. Cabem também Parágrafo Unico. Caberá também II - a indicação do ato questIonado; II - a indicação do ato questIOnado;
argüição de descumprimento de argüição de descumprimento de pre~ III - a prova da Violação do pre- III - a prova da vioiação do pre-
preceito fundamental quando for ceito fundamental: ceito fundamental; ceito fundamenta!;
relevante o fundamento da contro- I - quando for relevante o funda- IV - o pedido, com suas especifi- rv - o pedido, com suas especifi-
vérsia constItucional sobre leI ou mento da controversía constitucional cações; cações:
ato normativo federal. estadual ou sobre leí ou ato normativo federal, V - se for o caso, a comprovação V - se for o caso, a comprovação
municipal, mcluídos os anteriores â estadual ou municipal, incluídos os da existência de controvérsia judi- da eXIstênCIa de controversia Judicíal
Constituição. anteriores â ConstituIção: cial relevante sobre a aplicação do relevante sobre a aplicação do pre-
II - em face de interpretação ou preceito fundamental que se consi- ceito fundamental que se considera
aplicação dos Regimentos Internos dera violado. violado.
das respectivas Casas. ou Regtmento
Comum do Congresso NaCIonal, no Parágrafo úníco. A petição inICial, Parágrafo UnICO. A petição ínicial.
processo legislativo de elaboração acompanhada de Instrumento de acompanhada de instrumento de
das normas previstas no art. 59 da mandato, se for o caso, será apresen- mandato. se for o caso, sem apresen-
Constituição (Federal). tada em duas vias. devendo conter tada em duas vias. devendo conter
cópias do ato questionado e dos do- cópias do ato questIonado e dos do-
cumentos necessários para compro- cwnentos necessanos para compro-
4. Lei n. 9.882, de 3.12.99. var a impugnação. var a impugnação.
534 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL
ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 535

Art 42. A petição inicial sem in- Art. 41'-. A petição mícial será in-
deferida liminarmente. pelo relator, § 42, Se necessàno para eVItar le-
deferida limmarmente. pelo relator.
quando não for o caso de argUição são à ordem constitucIOnal ou dano
quando não for o caso de argUição
de descumprimento de preceíto fun- irreparável ao processo de produ-
de descumprimento de preceito fun- ção da norma jurídica, o Supremo
damentai, quando faltar algum dos damentaJ, (quando) faltar algum dos Tribunal Federal podem. na forma
requisitos prescritos nesta LeI ou requísltos prescritos nesta Lei ou do capu/, ordenar a SUspensão do
quando for inepta. (quando) for inepta. ato impugnado ou do processo le-
gislativo a que se refira. ou aInda da
§ I·, Não será admitida argUição § I·, Não será admitida argUição promulgação ou publicação do ato
de descumprimento de preceIto fun- de descumprimento de preceito fun- legIslativo dele resultante.
damental quando houver qualquer damental quando houver qualquer
outro meio eficaz de sanar a lesiVI- outro meio eficaz de sanar a Ieslvl- Art. @. Apreciado o pedido de Art. 6J!. Apreciado o pedido de
dade. dade. limInar. o relator solicitará as infor- limínar, o relator solicitará as Infor-
mações âs autoridades responsáveIS mações às autoridades responsáveis
§ 22 • Da decisão de indeferimento § 22 • Da decisão de mdeferimento pela prática do ato questionado. no pela prática do ato quesnonado, no
da petição inícíal caberà agravo. no da petição Iniciai caberá agravo, no prazo de dez dias. prazo de dez dias.
prazo de cinco dias. prazo de cinco dias.
§ 12 , Se entender necessário, po- § }2, Se entender necessàno. po-
Art. 5J!. O Supremo Tribunal Fe· Art. 5J!. O Supremo Tribunal Fe- dem o relator ouvir as partes nos derá o relator ouVir as partes nos
deral. por decisão da maioria abso- derai, por decisão da maiona abso- processos que ensejaram a argüição, processos que ensejaram a argfiição,
luta de seus membros. poderá deferir requisitar informações adiCIOnais,
luta de seus membros, poderá deferir requisitar mformações adicionais.
pedido de medida limmar na argUi- deSIgnar pento ou comissão de pe- deSIgnar pento ou comiSsão de pe-
pedido de medida limmar na argüi-
ção de descumprimento de preceíto ntos para que emita pareccr sobre ntos para que emIta parecer sobre
ção de descumprimento de preceito
a questão, ou ainda, fixar data para a questão. ou ainda. fixar data para
fundamentaL fundamental.
declarações, em audiência pública, declarações, em audiência pública,
§ ln. Em caso de extrema urgência § ID.. Em caso de extrema urgêncía de pessoas com experiência e auto- de pessoas com experiência e auto-
ridade na maténa. ridade na matéria.
ou perigo de lesão grave, ou ainda, ou perigo de lesão grave, ou ainda,
em penado de recesso, podem o re- em penado de recesso. poderá o re- § 2" Poderão ser autorizadas, a
lator conceder a liminar, ad referen- latar conceder a liminar, ad referen-
§ 22 , Poderão ser autonzadas, a
critério do relator, sustentação oral critério do reiator, sustentação oral
dum do Tnbunal Pleno. dum do Tnbunal Pleno. e juntada de memoriais, por requeri- e juntada de memoriaís, por requeri-
mento dos interessados no processo. menta dos mteressados no processo.
§ 2.11:. A liminar poderá consistir na § 22 • A liminar podem consistír na
determinação de que juizes e tribu- determínação de que juízes e tribu- Art 72 • Decorrido o prazo das in- Art. 79.. Decorrido o prazo das in-
nais suspendam o andamento de pro- nais suspendam o andamento de pro- formações, o relator lançam o relatO- formações, o relator lançará o relató-
cessos ou os efeitos de decisões ju- cessas ou os efeitos de decisões ju- no, com cópia a todos os MinIstros, rio, com cõpia a todos os Ministros,
diciais ou de qualquer outra medida dicíaís. ou de qualquer outra medida e pedirá dia para Julgamento. e pedirâ dia para Julgamento.
que apresente relação com a matéria que apresente relação com a matéria
objeto da argUição de descumpri- objeto da argüição de descumpri- Parágrafo Unico. O Mirustério PÚ-
mento de preceito fundamental. menta de preceito fundamental, sal- blico. nas argüições que não houver
vo se decorrentes de cOÍsa julgada. formulado. terá vista do processo,
por cinco dias. apõs o decurso do
§ 3 2, O relator poderá OUVIr os ór- § 32• O relator poderá OUVir os ór- prazo para informações.
gãos ou as autoridades responsáveis gãos ou as autoridades responsáveis Art. 8!l. A decisão sobre a argili_ Art. 8!l. A deCIsão sobre a argüí-
pelo ato questionado, bem como pelo ato questionado, bem como ção de descumprimento de preceito ção de descumprimento de preceIto
o Advogado-Geral da União ou o o Advogado-Geral da União ou o fundamental SOmente serâ tomada se fundamental somente será tomada se
Procurador-Geral da República, no Procurador-Geral da República, no presentes na sessão pelo menos OIto
prazo comum de cinco dias. presentes na sessão pelo menos dois
prazo comum de cinco dias. Ministros. terços dos Ministros.
536 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRlMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRlMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 537

§ I", Efetuado O íulgamento, pro- § lO., Consíderar-se-à procedente § 22 • A decisão terà eficácia contra § 3Jl• A decisão terá eficàcia contra
clamar-se-á a procedência ou a ím- ou improcedente a argUição se num todos e efeIto vinculante relativa- todos e efeito vinculante relativa-
procedência da argUição de descum- ou noutro sentido se tiverem mani- mente aos demais órgãos do Poder mente aos demaIS orgãos do Poder
primento de preceito fundamental. se restado pelo menos dois terços dos Público. Público,
num ou noutro sentido se tiverem ma- Ministros.
nifestado pelo menos seis Minístros. Art. 10. Ao declarar a inconstitu- Art. 11. Ao declarar a inconstitu-
cionalidade de lei ou ato normativo, cionalidade de iei ou ato normativo,
§ 22 • Se não for alcançada a rnaío- § 20.. Se não for alcançada a maio- no processo de argUição de descum- no processo de argUição de descum-
ria necessána ao julgamento da ar- ria necessãria ao julgamento da ar- primento de preceIto fundamental. e prímento de preceito fundamental, e
güição, estando ausentes Ministros güição, estando ausentes Ministros tendo em Vista razões de segurança tendo em vista razões de segurança
em número que possa influir no jul- em número que possa ínfluír no jul- jurídica ou de excepcional ínteresse jurídica ou de excepclOnàl interesse
gamento. este serà suspenso a fim de gamento, este será suspenso a fim de social, podeci o Supremo Tribunal social, poderá o Supremo Tribunal
aguardar-se o comparecimento dos aguardar-se sessão plenária na qual Federal, por mmoria de dOIS terços Federal, por maioria de dOIS terços
Minístros ausentes. até que se atinja se atinja o quorom rn1nímo de votos. de seus membros, restringír os efei- de seus membros, restnngír 05 efei-
o número necessário para proiação tos daquela declaração ou decidir tos daquela declaração ou decidir
da decisão num ou noutro sentido. que ela sô tenha eficãcla a partir de que ela só tenha eficacla a partir de
seu trânSIto em julgado ou de outro seu trânSIto em Julgado ou de outro
Art, 9", Julgando procedente a momento que venba a ser fixado. momento que venha a ser fixado.
argUição, o Tribunal cassará o ato
ou decisão exorbitante e, conforme Art. 11. A decIsão que julgar pro- Art. 12. A decIsão que julgar pro-
o caso, anulará os atos processuaIs cedente oUlIDprocedente o pedido em cedente ou llllprocedente o pedido em
legislativos subseqUentes. suspen- argilição de descumprimento de pre- argilição de descumprimento de pre-
derà os efeitos do ato ou da norma ceíto fundamental e irrecorrivel, não celta fundamental e rrrecorrlvel, não
jurídica decorrente do processo le- podendo ser objeto de ação rescisona podendo ser objeto de ação rescisória
gíslativo ímpugnado, ou determinará
medida adequada â preservação do Art. 12. Cabeci reclamação contra Art.13. Cabem reclamação contra
,.
preceito fundamental decorrente da o descumprimento da decisão profe- . o descumprimento da decisão profe-
ConstituÍção. rida pelo Supremo Tribunal Federal, rida pelo Supremo Tribunal Federal.
na forma do seu Regtmento Interno. na fonna do seu Regimento Interno.
Art 9Jl• Julgada a ação, far-se-a a Art. 10. Julgada a ação, far-se-a
comunicação ás autoridades ou or- comunIcação ás autoridades ou or- Art. 13. Esta Lei entra em vigor Art. 14. Esta LeI entra em vigor
gãos responsáveis pela prática dos gãos responsaveis pela prática dos na data de sua publicação. na data de sua publicação.
atas questIOnados, fixando-se as atas questionados, fixando-se as
condições e o modo de interpretação condições e o modo de interpretação
e aplicação do preceito fundamental. e aplicação do preceito fundamental. A controvérsia sobre a constitucionalidade da Lei 1~ 9,882/99
-A OAB propôs aADIn n. 2.231 contra a integra da Lei n, 9,882/99,
§ I", O presidente do tribunal de-
distribuída ao Min, Néri da Silveira, na qual se alegava, em síntese, a
terminara o imediato cumprimento
da decísão, lavrando-se o acórdão inconstitucionalidade do parágrafo úmco, inCISO I, do art, 12 , do § 32
posteriormente. do art 5", do art, 10, capul e § 3", e do art. 11, todos da mesma lei.
§ I", Dentro do prazo de dez dias § 2", Dentro do prazo de dez dias O Min, Néri da Silveira, na sessão do dia 5.12.2001, acolheu
contados a partir do trânsito em ju[- contados a partir do trânsíto em jul- em parte a argüição, para suspender, com eficácia ex nunc e até o
gado da decisão, sua parte dispositi- gado da decÍsão, sua parte dispositl- Julgamento final da ação a vigência do § 3" do art. 5" da referida lei,
va serà publicada em seção especial va sem publicada em seção especíal por estar relacionado com a argüição incidental em processos em
do Diário da JustIça e do DiáriO do Diárzo da Justiça e do DiáriO concreto, e conferir interpretação conforme fi Constituição ao inciso I
Oficiai da União. OfiCial da União.
do parágrafo Urúco do ar!. 1°, excluindo de sua aplicação controvérsia
538 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECErro FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 539

constitucional concretamente já deduzida em processo judicial em ilegitimidade de atos de teor idêntico editados pelas diversas entidades
curso. municipais.
Nas palavras do Min. Néri da Silveira: "(... ) a Lei n. 9.882/99,
com a suspensão do art. 5Q, § 3Q, e com a interpretação conforme do Illcidellte de illcollstitllciollalidade e argiiição de descllmpri-
inciso I do parágrafo único do art. 1Q, não se esvazía, à evidência, lIlellto - Na Revisão Constitucional de 1994 afigurou-se acertado
permanecendo com as condições para regular, de forma completa. o introduzir-se o chamado "incidente de inconstitucionalidade", que
permitiria fosse apreciada diretamente pelo STF controvérsia sobre
processo e julgamento da argüíção de descumprimento de preceito
a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal. estadual ou
fundamental prevista no art. 102, § I·, da Constituição".5
muniCipal, inclusive os atos anteriores à Constituição, a pedido do
O julgamento foi interrompido em razão de pedido de vista do Procurador-Geral da República. do Advogado-Geral da União, do
Min. Sepúlveda Pertence. procurador-Geral de Justiça ou do Procurador-Geral do Estado, sem-
Embora ainda penda de decisão a ADIn n. 2.231, o julgado do pre que houvesse perigo de lesão à segurança jurídica, à ordem ou às
STF sobre a admissibilidade da ADPF n. 546 parece ter superado o finanças públicas. A Suprema Corte poderia, acolhendo incidente de
debate sobre a constitucionalidade da Lei n. 9.882/99. Também no inconstitucionalidade, determinar a suspensão de processo em curso
julgamento do mérito da ADPF n. 33 (ReI. Min. Gilmar Mendes, perante qualquer juizo ou tribunal para proferir decisão exclusiva-
sessão de 7.12.2005, DJU 27 .10.2006) o Tribunal, por unanimidade, mente sobre a questão constitucional suscitada.'
rejeitou pedido formulado por amicus curiae, com o objetivo de sus- Referido instituto destinava-se a completar o complexo sistema
pender o julgamento da ação até o pronunciamento definitivo sobre a de controle de constitucionalidade brasileiro, permitindo que o STF
constitucionalidade do instituto. pudesse dirimir~ desde /ogo~ controvérsia que, do contnirio, daria
De qualquer sorte, convém assinalar, tal comO apontado em ensejo certamente a um sem-número de demandas, com prejuÍzos
razões apresentadas pela Advocacia-Geral da União, que a argiiição para as partes e para a própria segurança juridica. A proposta não foi,
de descumprimento de preceito fundamental amplia o controle de entretanto, recepcionada.
constitucionalidade, dando a necessàría ênfase à defesa dos preceitos No substitutivo apresentado pelo Deputado Jairo Carneiro ao
fundamentais, especialmente nos casos ainda não amparados pelos Projeto de Emenda Constituci9nal n. 96/92 ("Emenda do Judiciário")
outros meios de controle concentrado de constitucionalidade. Além de propunha-se a adoção do incidente de inconstitucionalidade, nos
permitir a antecipação das decisões sobre controvérsias constitucionais termos seguintes:
relevantes, a argiiição de descumprimento de preceito fundamental "Art. 107. (... ).
poderá ser utilizada para solver controvérsia sobre a legitunidade "( ... ).
do direito ordinàrío pré-constitucional em fitce da Constituição, que
"§ 5". Suscitada, em determinado processo, questão relevante
anteriormente somente poderia ser veiculada mediante a utilização
sobre a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, estadual
do recurso extraordinàrío. Ademais, as decisões proferidas pelo STF
ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição, e concorrendo
nesses processos, haja vista a eficácia erga omnes e o efeito vinculan-
os pressupostos do art. 98, § lQ, o Supremo Tribunal Federal, a reque-
te, fornecerão a diretriz segura para o juízo sobre a legitimidade ou a
rimento dos órgãos ou entes referidos no caput deste artigo, poderá
processar o incidente e determinar a suspensão do processo, a fim
5. Voto do Min. Néri da Silveira na ADIn n. 2.231. da qual era relator (DJU
17.122001),julgamento pendente.
de proferir decisão com efeito vinculante exclusivamente sobre a
6. ADPF n. 54. ReI. Min. Marco Aurélio. Em sessão de 27.42005, suscitada matéria constitucionaL"
questão de ordem. o Tribuna!, por maioria, admitiu o cabimento da argüição de
descumprimento de preceIto fundamental. A apreciação do mérito da argO.ição de 7. Cf. Relatona da RevISão ConstítucIonal, 1994. Pareceres Produzidos (His-
descumprimento de preceito fundamental, entretanto. ainda está pendente. tórico), lI, p. 317.
540 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 541

Assim, mediante provocação de qualificados autores do pro- 140, (1); Lei Fundamental de Bonn, art. 100, I, e Lei Orgânica da
cesso judicial, a Corte Suprema ficaria autorizada a suspender o Corte ConstItucional, §§ 13, n. II, e 80 e ss.).
processo em curso e proferir decísão exclusivamente sobre a questão Todavia, as diferenças eram evidentes.
constitucional.
Ao contrário do que ocorre nos modelos concentrados de con-
Na versão do Relatório sobre a Reforma do Judiciário apresen_ trole de constítucionalidade, nos quais a Corte Constitucional detém
tada pelo Deputado Aloysio Nunes Ferreira reiterou-se a idéia do à monopólio da decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstttu-
incidente de inconstitucionalidade, tal como se pode ler na proposta cionalidade da lei, o incidente de inconstitucionalidade não alterana,
de redação do art. 103, § Sº, verbis: em seus fundamentos, o sistema difoso de controle de constitucio-
"Art.103. (... ). nalidade, introduzido entre nós pela ConslItuição de 1891:Juizes e
"(... ). tribunais continuariam a decidir também a questão constituCIOnal, tal
"§ S". O Supremo Tribunal Federal, a pedido das pessoas e como faziam anteriormente, cumprindo ao STF, enquanto guardião
entidades mencionadas no art. 103, de qualquer tribunal, de Procu- da Constituição, a uniformização da interpretação do Texto Magno,
rador-Geral de Justiça, de Procurador-Geral ou Advogado-Geral do mediante o julgamento de recursos extraordiminos contra deCIsões
Estado, quando for relevante o fundamento de controvérsia judicial judiciais de única ou última instância.
sobre constítucionalidade de lei, de ato normativo federal ou de A proposta apresentada pelo Deputado Aloysio Nunes Ferreira
outra questão constitucional, federal, estadual ou municipal, podera. continha uma novidade específica em relação às propostas anteriores,
acolbendo incidente de inconstitucionalidade, determinar a suspen- pOIS permitía que o próprio tribunal encarregado de julgar a questão
são, salvo para medidas urgentes, de processos em curso perante constitucional provocasse o pronunciamento unifonnizador do STF.
qualquer juizo ou tribunal, para proferir decisão exclusivamente Nesse caso, ao inves de decidir a questão constitucional, na
sobre a matéria constítucional suscitada, ouvido o Procurador-Geral forma do art. 97, a Corte a quo poderia provocar um pronunciamento
da República." defmitivo do STF sobre a questão. Introduzir-se-ia, assim, modifi-
Ressalte-se de imediato que, a despeito da aparente novidade, cação significativa no chamado "modelo incidental" de controle de
técnica semelbante já se adota entre nós desde 1934, com a chamada constitucionalidade. Ao lado da possibilidade de declarar a mconsti-
"cisão funcional" da competência, que permite, no Julgamento da tucionalidade da lei, na forma do ar!. 97, poderia o tribunal submeter
inconstitucionalidade de norma perante tribunais, ao Plenário ou ao a questão, direlamente, ao STF.
Órgão Especial julgar a inconstítucionalidade ou a constitucionalida- E fácil ver, pois, aqui, uma aproximação maior entre o incidente
de da norma, cabendo ao órgão fracíonárío decidir a espécie à vista de inconstitucionalidade e o chamado "processo de controle concre-
do que restar assentado no julgamento da questão constitucional. to" do sistema concentrado europeu. Observe-se que, ao contrário do
Sem dúvida, o incidente poderia ensejar a separação da questão que ocorre no sistema europeu, que confere o monopólio de censura
constttucional para o seu julgamento não pelo Pleno do Tribunal ou ao Tribunal Constitucional - e, portanto, obriga o juiz ou o tribunal
por seu Órgão Especial, mas, diretamente, pelo STF. Ao invés de a encaminhar a questão constitucional à Corte especializada -, o
cisão funcional no plano horizontal, tal como prevista no art. 97 da modelo proposto no relatório Aloysio Nunes limitava-se a facultar a
CF, ter-se-ia uma cisão funcional no plano vertical. submissão da controvérsia constitucional ao STF.
Daí o inevitável simile com a técnica consagrada nOS modelos O modelo de incidente de inconstitucionalidade proposto ofe-
de controle concentrado de normas, que determina seja a questão recia, ainda, solução adequada para a dificil questão do controle de
submetida direlamente à Corte Constitucional toda vez que a norma constitucionalidade da lei municipal em face da Constituição Federal.
for relevante para o julgamento do caso concreto e o juiz ou tribunal Os embaraços que se colocam à utilização da ação direta de incons-
considera-la inconstitucional (cf., v.g., Constituição Austríaca, ar!. titucionalidade contra a lei municipal perante o STF, até mesmo pela
542 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 543

impossibilidade de se apreciar o grande número de atas normativos ao direito pré-constitucional e o efeito vinculante das decisões, tudo
comunais, poderiam ser afastados com a introdução desse mstituto, reforça a semelhança entre os institutos.
que permite ao STF conhecer das questões constitucionais mais rele- É certo, por outro lado, que, diferentemente do incidente de
vantes provocadas por atas normativos municipais. inconstitucionalidade, a argüição de descumprimento tem como parâ-
A eficácia erga omnes e o efeito vinculante das decisões pro- metro de controle os preceítos fundamentais identificados ou identi-
feridas pelo STF nesses processos haveriam de fornecer a diretriz ficáveis na Constituição. Trata-se de elemento menos preCiSO do que
segura para o juizo sobre a legitimidade ou a ilegitimidade de atas o parâmetro de controle do incidente de inconstitucionalidade (toda
de teor idêntico editados pelas diversas entidades comunais. Essa a Constítuição). Assim, até que o STF se pronuncie acerca do efetivo
solução é superior, sem dúvida, a uma outra alternativa oferecida, alcance da expressão "preceitos fundamentaiS", ter-se-á de asSiStir ao
que consistiria no reconhecimento da competência dos Tribunais debate entre os defensores de uma interpretação ampla e aberta e os
de Justiça para apreciar, em ação direta de inconstitucionalidade, defensores de uma leitura restritiva do texto constitucionaL
a legitímidade de leis ou atos normativos municipais em face da
Constituição Federal. Além de ensejar múltiplas e variadas inter- Assinale-se, outrossim, que, diversamente do incidente, a argüição
pretações, essa solução acabaria por agravar a crise do STF, com a de descumprimento, tal como formulada na Lei n. 9.882, de 1999, po-
multiplicação de recursos extraordinários interpostos contra decisões derá ser utilizada, em casos excepcionais, também de forma principal,
proferidas pelas diferentes Cortes Estaduais. Outra virtude aparente assumindo a feição de um recurso de amparo ou de uma Verfassungs-
do instituto residiria na possihilidade de sua utilização para solver beschwerde (recurso constítucional) autônoma no Direito Brasileiro.
controvérsia relevante sobre a legitimidade do direíto ordinário pré- Como se pode ver, o novo instituto introduziu profundas altera-
constitucional em face da nova Constítuição. Aprovado o referido ções no sistema brasileiro de controle de constitucionalidade de leis
instituto, passaria o ordenamento juridico a dispor também de um ou atas concretos.
instrumento ágil e célere para dirimir, de forma definitiva e com Em primeiro lugar, porque permite a antecipação de decisões
eficácia geral, as controvérsias relacionadas com o direito anterior sobre controvérsias constitucionais relevantes, evitando que elas ve-
à Constituição, que, por ora, somente podem ser veiculadas me-
nham a ter um desfecho definitivo após longos anos, quando muitas
diante a utilização do recurso extraordinário. Por último, convém
situações já se consolidaram ao arrepio da "interpretação autêntica"
ressaltar a importância da inovação contida no aludido instituto, que doSTF.
permite a instauração do incidente não apenas em relação a lei ou ato
normativo federal, estadual ou municipal, mas também em relação li Em segundo lugar, porque poderá ser utilizado para - de forma
interpretação constitucional. definiTIva e com eficácia geral- solver controvérsia relevante sobre a
Embora tenha sido mantido no Projeto de Reforma do Judiciário legitímidade do direito ordinário pré-constítucional em face da nova
(substitutívo Zulaiê Cobra), o texto foi retirado pelo Plenário da Câ- Constítuição, que, até o momento, somente poderia ser veiculada
mara dos Deputados (pEC n. 96192). mediante a utilização do recurso extraordinário. 8
Um exame acurado da argüição de descumprimento de pre-
8. Ressalte-se que. conforme comentado no capitulo anterior. na ADInlMC n.
ceito fundamental, tal como regulada na Lei n. 9.882, de 1999, há 3.833-DF. ajuizada contra o Decreto Legíslativo federal n. 444, de 19.12.2002. o Tri-
de demonstrar que, afora os problemas decorrentes da limitação do bunal deparou-se com o fenômeno das normas pós-constIruclOnals e pré-constituclO-
parâmetro de controle, o texto normativo guarda estrita vinculação nais, que são normas editadas depois da ConsutuIção mas anteriores a determínadas
com as propostas de desenvolvimento do incidente de inconstitu- emendas constituCIOnaiS. Na hipótese, o mencionado decreto legislatIVO fora editado
após a Constituição de 1988 porém antes da Emenda ConstitucIonal n. 41. O Tribunal
cionalidade. A estrutura de legitimação, a exigência de configuração finnou entendimento no sentido de que, a despeito da inViabilidade de conhectrnento
de controvérsia judicial ou jurídica para a instauração do processo, 'da ação direta de inconstitucionalidade, deve-se averbar a caducidade da norma - no
a possibilidade de sua utilização em relação ao direito municipal e caso, o Decreto Legíslativo n. 444.
544 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 545

Em terceiro, porque as decisões proferidas pelo STF nesses (suspensão dos processos em que a controvérsIa constitucional foi
processos, haja vista a eficácia erga omnes e o efeito vínculante, suscitada e remessa da questão prejudicial à Corte Constitucional) ou
fornecerão a diretriz segura para o juízo sobre a legitimidade ou a à cisão funcional que se realiza, entre nós, no controle de constitucio-
ilegitimidade de atos de teor idêntico editados pelas diversas entida_ nalidade illcidental (art. 97), com o destaque da questão prejudiCIal
des municipais. surgida perante o órgão fracionário para ser apreciada pelo Plenário
Finalmente, deve-se observar que o novo instituto pode oferecer do Tribunal. Diferentemente do que se verifica no controle inciden-
respostas adequadas para dois problemas básicos do controle de cons- tal, no qual se realiza uma cisão funcional no plano horizontal (do
titucionalidade no Brasil: o controle da omissão inconstitucional e a órgão fracionário para o Plenário ou para o Orgão Especial), tem-se
ação decIaratória nos planos estadual e municipal (cf., infra, "Omissão na argüição de descumprimento de preceIto fundamental u)Ila cisão
legislativa e controle de constitucionalidade no processo de controle funcIOnal no plano vertical (de órgãos das instâncIas ordinárias para
abstrato de normas e na argüição de descumprimento de preceito o STF). Daí por que haverá de se cogitar, normalmente, nesses casos,
fundamental" e ''Pedido de declaração de constitucionalidade (ação de suspensão cautelar dos processos ou de julgamento dos feitos até
declaratória) do direito estadual e municipal e argüição de descumpri- a deliberação definitiva do STF (Lei n. 9.882/99, art. 59, § 39).
mento").
A argiiição de descumprimento de preceito fundamental na
Todas essas peculiaridades realçam que, no que respeita à di- jurisprudência do STF - Desde a aprovação da Lei n. 9.882/99
versidade e amplitude de utilização, a argüição de descumprimento até fevereiro/2008 foi proposta, perante o STF, pouco mais de uma
de preceito fundamental revela-se superior à fórmula do íncidente de centena de argüições de descumprimento de preceito fundamentaL
ínconstitucionalidade. Em verdade, o novo instituto vem completar A primeira admitida pelo Tribunal foi a de n. 4, na qual se procurava
o sistema de controle de constitucionalidade de perfil relativamente evitar lesão a preceito fundamental e dinmir controvérsia sobre ato
concentrado no STF, uma vez que questões relevantes, até então normativo efetivado pelo Presidente da República quando da fixação
excluidas de apreciação no âmbito do controle abstrato de normas, do salário mínimo por meio da MP n. 2019, de 20.4.2000 (DOU,
serão objeto de exame no âmbito do novo instituto. Seção 1,22.4.2000).
Posteriormente, em 25.11.2002,9 por decisão monocrática, foi
Características processuais - Como tipico instrumento do mo-
concedida liminar na ADPF n. 33. Nesse caso, sobre a vinculação do
delo concentrado de controle de constitucionalidade, a argüição de
quadro de salários das autarquias ao salário mínimo, o Governador
descumprimento de preceito fundamental tanto pode dar ensejo a
do Estado do Pará, com fundamento no art. 2', !, da Lei n.9.882, de
impugnação ou questionamento direto de lei ou ato normativo fe-
3.12.99, e arts. 102, § 12 , e 103, V, da CF, apresentou argüição de des-
deraI, estadual ou municipal como pode acarretar uma provocação a
cumprimento de preceito fundamental que tinha por objeto Impugnar
partir de situações concretas, que levem â impugnação de lei ou ato
o art. 34 do Regulamento de Pessoal do Instituto de Desenvolvimen-
normativo. No primeiro caso tem-se um tipo de controle de normas
to Económico-Social do Pará (lDESP), com o fim de fazer cessar
em caráter principal, opera-se de forma direta e imediata em relação
lesão ao principio federativo e ao direito social ao salário minimo.
à lei ou ao ato normativo. No segundo questiona-se a legitimidade
A liminar foi concedida para determinar a suspensão dos Julgamen-
da lei tendo em vista sua aplicação em uma dada situação concreta
tos com base no ato normativo impugnado, bem corno os efeitos das
(controle incidental). Aqui a instauração do controle de legitimidade
decisões judiciais proferidas sobre a matéria. Por unanimidade, o
da norma na argüição de descumprimento de preceito fundamental
Plenário do Tribunal referendou a decisão referida. !O O julgamento
repercutirá diretamente sobre os casos submetidos à jurisdição ordi-
do merito deu-se em 7.12.2005, tendo o Tribunaljulgado procedente
nária, uma vez que a questão prejudicial a ser dirimida nesses pro-
cessos será levada à apreciação do STF. No que concerne à prática, 9. ReI. Min. Gilmar Mendes, DJU2.I2.2002.
esse controle assemelha-se ao controle concreto do Direito europeu 10. DJU 6.8.2004.
546 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 547

a argüíção de descumprimento de preceito fundamental para decla_ No mérito, o julgamento foi suspenso em razão de pedido de vista do
rar a ilegitimidade (não-recepção) do Regulamento de Pessoal do Min. Eras Grau. JS
IDESP, em face do principio federativo e da proibição de vinculação C," Confira-se, abaixo, o quadro sobre o ajuizamento de argüições
de salários a múltiplos do salário mínimo." , de descumprimento de preceito fundamental no STF.
Na ADPF n. 54 - caso do aborto de feto anencéfalo - foi con-
cedida, em 2.8.2004, limínar requerida para, além de determinar o ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL
sobrestamento dos processos e decisões não transitadas em julgado, Ações ajuizadas em 2000-2009
reconhecer o direito constitucional da gestante de se submeter à
operação terapêutica de parto de fetos anencefálicos. Na sessão de Ano N. de Processos Recebidos
20.10.2004 o Tribunal negou referendo à liminar concedida. 12 2000 10
Na ADPF n. 47, da relataria do Min. Eros Grau, o Tribunal, por 2001 16
unanimidade, na sessão plenária de 7.12.2005, defenu medida caute- 2002 11
lar, determínando a suspensão do trâmite de todos os feitos em curso 2003 9
e dos efeitos de decisões judiciais ainda não transitadas em julgado 2004 16
que versem sobre a aplicação do art. 2g do Decreto n. 4.726/87, do 2005 24
Estado do Pará. A questão é semelbante àquela posta naADPF n. 33, 2006 20
2007 28
pois o referido decreto estadual vinculava os vencimentos dos servi-
2008 32
dores da autarquia estadual ao salário mínimo. 13
2009 7'
Na ADPF n. 79 o Presidente da Corte deferiu liminar, ad re-
ferendum do Plenário, para, nos termos do § 3g do art. 5" da Lei n. * Atualizado em 7.4.2009. Fonte: Assessoria de Gestão Estratégica do STF.
9.882/99, determínar a suspensão de todos os processos em curso,
inclusive as eventuais execuções, e dos efeitos de decisões judiciais 2. Legitimidade para argüir
que tratem da elevação dos vencimentos de professores do Estado de o descllmprimento de preceito fllndamelltal
Pernambuco, com base no principio da isonomia. '4
Considerações preliminares - Nos termos da Lei n. 9.882, de
Na ADPF n. 130, proposta contra a Lei de Imprensa (Lei n. 3.12.99, podem propor a argüição de descumprimento de preceito
5.250), diploma normativo de 1967, o Tribunal conheceu da ação e
fundamental todos os legitimados para -a ação direta de inconstitu-
referendou liminar concedida monocraticamente (ReL Min. Carlos cionalidade (CF, ar!. 103).
Britto, Informativo STF 496), tendo em conta o principio da subsi-
diariedade. A versão aprovada pelo Congresso Nacional admitia expres-
samente a legitimidade processual de qualquer cidadão. A falta de
Mencione-se, ainda, a ADPF n. 101, ajuizada contra decisões qualquer disciplina ou limitação ao exercício do direito de propositu-
judiciais que autorizaram a importação de pneus usados de qualquer ra levou o Chefe do Poder Executivo a vetar o aludido dispositivo.' 6
espécie. O STF conheceu da ação, vencido o Min. Marco Aurélio.
15. ADPF n. 101, Rela. Min. Cármen LUCIa, Informativo SrF 538.
II. DJU 27.10.2006.
16. Veto presidencial ao art. 22, U, Mensagem n. 1.807, de 3.12.99. nos seguintes
12. ReI. Min. Marco Aurélio. C1t. O Tribunal. por malOna, admitiu o cabimento termos: nA dispOSlçãO insere um mecamsmo de acesso direto. urestrito e individual ao
da argUição de descumprimento de preceito fundamental em questão de ordem julga- Supremo Tribunal Federal sob a alegação de descumpnmento de preceíto fundamen-
da em 27.4.2005. A aprecIação do merita, entretanto, ainda está pendente. tai por 'qualquer pessoa lesada ou ameaçada por ato do Poder Público'. A admissão
13. DJU 16.12.2005. de um acesso individual e irrestrito e incompatível com o controle concentrado de
14. ReI. Min. Cêzar Peluso, DJU 4.8.2005.0 legitimidade dos atos estatais - modalidade em que se Insere o Instituto regulado
548 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 549

Não se hà de negar, porém, que o reconhecimento do direitó Observe-se que está em tramitação no Congresso Nacional o
de propositura aos cidadãos em geral afigura-se recomendável e Projeto de Lei n. 6.543/2005, da Comissão Especial Mista "Regula-
até mesmo inevitável em muitos casos. E que a defesa de preceito mentação da Emenda n. 45", que visa a alterar a Lei n. 9.882/99, com
fundamental confunde-se, em certa medida, com a própria proteção VIStas a possibilitar a propositura de argüição de descumprimento de
de direitos e garantias individuais. Nessa hipótese a matéria está a preceito fundamental às pessoas lesadas ou ameaçadas de lesão por
reclamar uma disciplina normativa que, a um só tempo, permita ao ato do Poder Público. A exigência para tal legitimação, segundo o
cidadão a possibilidade de levar o seu pleito ao STF sem afelar o Projeto, é que a questão constitucional discutida atenda aos mesmos
funcionamento da Corte, pelo excesso de demandas. requisitos exigidos para a caracterização da repercussão geral a que
Não há dúvida de que, na ausência de mecanismo específico, se refere o § 3" do art. 102 da CF. l8
poderá o cidadão representar ao Procurador-Geral da República. Ademais, poder-se-ia também considerar, nos casos de con-
De lege ferenda, poder-se-ia conceber fórmula que associasse o trole de constitucionalidade em ação civil pública, a suspensão do
uso da argüição de descumprimento ao manejo do recurso extraor- processo e posterior remessa da questão constitucional ao STF, via
dinário. Assim, qualquer um dos legitimados para propor a argüição argüição de descumprimento de preceito fundamental. Tal mudança
poderia, v.g., solicitar que o STF convertesse o julgamento de um poderia ser concretizada por simples alteração nas Leis ns. 9.882/99
recurso extraordinário em julgamento de eventual argüição de des- (ADPF) e 7.347/85 (ACP), o que evitaria que decisões conflitantes
cumprimento. Ou, ainda, seria legítimo cogitar-se da possibilidade fossem exaradas no âmbito dos tribunais a qua e no âmbito do STF,
de se interpor o recurso extraordinário juntamente com a argüição preservando, assim, o principiO da segurança Juridica e a coerência
de descumprimento, facultando-se ao STF a discricionariedade ne- do sistema de controle de constitucionalidade.
cessária para apreciar a controvérsia constitucional posta no recurso Essas breves digressões demonstram que o instituto da argüição
individual ou na ação de caráter objetivo. I7 de descumprimento parece dotado de grande flexibilidade, o que
pode permitIr desenvolvimento de soluções cnativas para a adequa-
pelo projeto de lei sob exame. A inexistência de qualquer requisito específico a ser ção do modelo juódico-institucion~l âs demandas dos novos tempos.
ostentado pelo proponente da argUição e a generalidade do objeto da impugnação
fazem presurmr a elevação excessiva do número de feitos a reclamar apreciação pelo
Supremo Tribunal Federal, sem a correlata exigência de relevânCia social e consistên- Legitimação ativa - Poderão propor argüição de descumpri-
cia jurídica das argüíções propostas. Dúvida não há de que a viabilidade funcional do mento de preceito fundamental o Presidente da República, as Mesas
Supremo Tribunal Federal consubstancia um objetivo ou principio implícíto da ordem da Câmara e do Senado Federal. os Governadores dos Estados e o
constituclOna~ para cuja máxima eficácia devem zelar os demais Poderes e as nonnas Governador do Distrito Federal, as Mesas das Assembléias Legisla-
infraconstítucionals. De resto, o amplo rol de entes legitimados para a promoção do
controle abstrato de normas Inscrito no art. 103 da Constituição Federal assegura a tivas e a Mesa da Câmara Distrital, o Procurador-Geral da República,
veicu(ação e a seleção qualificada das questões constltucIOnais de maior relevânCia e o Conselho Federal da OAB, partido político com representação no
consistêncIa. atuando como verdadeiros agentes de representação social e de asSistên- Congresso Nacional, as confederações sindicais e entidades de classe
Cia à cidadania. Cabe Igualmente ao Procurador-Gera1 da República. em sua função de âmbito nacional. Aplicam-se, aqui, fundamentalmente, as orienta-
precipua de Advogado da Constituição, a formalização das questões constitucionais
carentes de decisão e socialmente relevantes. Afigura-se correto supor, portanto, que ções desenvolvidas a propósito da ação direta de inconstitucionalida-
a existênCIa de uma pluralidade de entes social e juridicamente legitimados para a de (cf., supra, Sexta Parte, sobreADI,ADC e ADIO, ns. II, III e IV).
promoção de controle de constitucionalidade - sem prejuízo do acesso individual ao
controle difuso - torna desnecessano e pouco eficiente admitir-se o excesso de feitos COlltrovérsia judicial ou jurídica nas ações de caráter illci-
a processar e julgar certamente decorrentes de um acesso rrrestnto e individual ao Su-
premo Tribunal Federal. Na medida em que se multiplicam os feitos a exammar sem
dental- Tal como a Lei n. 9.868, de 1999, na parte que disciplinou
que se assegure sua reíevância e transcendência social, o comprometlmento adicíonal os pressupostos da ação declaratória de constituCIOnalidade (arts. 13-
da capacidade funCIOnal do Supremo Tribunal Federal constitui inequívoca ofensa ao
interesse público. Impõe-se, portanto, seja vetada a disposição em comento". 18. Cf. tambem a Lei n. 11.418/2006. que trata da repercussão gerai em recurso
17. Cf. Projeto de Lei n. 6.54312006. extraordináno.
550 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRlMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 55 I

20), a Lei n. 9.882, de 1999, pressupõe, basicamente, a existência de tração de controvérsia judicial há de ser entendida como atinente â
controvérsia judicial ou jurídica relativa à constitucionalidade da lei existência de controvérsia jurídica relevante, capaz de afetar a pre-
ou â legitimidade do ato para a instauração da argüição de inconsti_ sunção de legitírnidade da lei ou da interpretação judicial adotada e,
tucionalidade. Portanto, também na argüição de descumprimento de por conseguinte, a eficáCIa da decisão legislativa.
preceito fundamental há de se cogitar de uma legitimação para agir
in concreto, tal como consagrada no Direito alemão, que se relaciona 111existêllcia de ol/tro meio eficaz: prillcípio da sl/bsidiarieda-
com a existência de um estado de incerteza, gerado por dúvidas ou de - O desenvolvimento desse instituto dependera da interpretação
controvérsias sobre a legitimidade da lei. É necessário que se confi- que o STF venha a dar â lei. A esse respeito, destaque-se que a Lei n.
gure, portanto, Situação hábil a afetar a presunção de constitucionali- 9.882, de 1999, unpõe que a argüição de descumprimento de preceito
dade ou de legitimidade do ato questionado. fundamental somente será admitida se não houver outro méio eficaz
de sanar a lesividade (arl. 4J!, § 12 ).
Evidentemente, são múltiplas as formas de manifestação desse
estado de incerteza quanto à legitimidade de norma. A insegurança à primeira vista poderia parecer que somente na hipótese de
poderá resultar de pronunciamentos contraditórios da jurisdição ordi- absoluta mexistência de qualquer outro meio eficaz para afastar a
nária sobre a constitucionalidade de determinada disposição. eventual lesão poder-se-ia manejar, de forma útil, a argüição de des-
cumprimento de preceito fundamentaL É fácil ver que uma leitura
Assim, se a jurisdição ordinária, pela voz de diferentes órgãos, excessivamente literal dessa disposição, que tenta introduzir entre
passar a afirmar a inconstitucionalidade de determinada lei, poderão
os órgãos legitimados, se estiverem convencidos de sua constitu-
nós o principio da subsidiariedade vigente no Direito alemão (recurso
constitucional) e no Direito espanhol (recurso de amparo), acabana
.
cionalidade, provocar o STF para que ponha termo à controvérsia por retirar desse instituto qualquer significado prático.
instaurada.
De uma perspectiva estritamente subjetíva, a ação somente
Da mesma forma, pronunciamentos contraditórios de órgãos poderia ser proposta se já se tivesse verificado o exaurimento dos
jurisdicionais diversos sobre a legitimidade da norma poderão criar o meios eficazes para afastar a lesão no âmbito judicial. Uma leitura
estado de incerteza imprescindível para a instauração da ação decla- mais cuidadosa há de revelar, poréio, que na análise sobre a eficáCIa
ratória de constitucionalidade. da proteção de preceito fundamental nesse processo deve predominar
Embora as decisões judiciais sejam provocadas ou mesmo es- um enfoque objetivo ou de proteção da ordem constitucional objetI-
timuladas pelo debate doutrinário, é certo que simples controvérsia va. Em outros termos, o princípio da subsidiariedade - inexistência
doutrinária não se afigura suficiente para objetivar o estado de incer- de outro meio eficaz de sanar a lesão -, contido no § 12 do art. 4J! da
teza apto a legitimar a propositura da ação, uma vez que, por si só, Lei n. 9.882, de 1999, há de ser compreendido no contexto da ordem
ela não obsta à plena aplicação da lei. constitucional global.
A controvérsia diz respeíto à aplicação do princípio da separa- Nesse sentido, se se considera o caráter enfaticamente objetivo
ção dos Poderes. A generalização de medidas judiciais contra uma do instituto (o que resulta, inclUSive, da legitimação ativa), melO
dada lei nulifica completamente a presunção de constitucionalidade eficaz de sanar a lesão parece ser aquele apto a solver a controvérsia
do ato normativo questionado e coloca em xeque a eficácia da deci- constitucional relevante de forma ampla, geral e imediata.
são legíslativa. A argüição de descumprimento seria o instrumento No DireIto alemão a Verfassungsbeschwerde (recurso cons-
adequado para a solução desse impasse jurídico-político, permitindo titucional) está submetida ao dever de exaurimento das instâncias
que os órgãos legitimados provoquem o STF com base em dados ordinárias. Todavia, a Corte Constitucional pode decidir de imediato
concretos, e não em simples disputa teórica. um recurso constitucional se se mostrar que a questão é de interesse
Assim, tal como na ação declaratória, também na argüição de geral ou se demonstrado que o requerente poderia sofrer grave lesão
descumprimento de preceito fundamental a exigência de demons- caso recorresse á via ordinária (Lei Orgânica do Tribunal, § 90, II).
554 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 555

ficado da solução da controvérsia para o ordenamento constitucional envolvam a aplicação direta da Constítuição - alegação de contrarie-
objetivo, e não à proteção judicial efetíva de uma situação singular. dade à Constituição decorrente de decisão judicial ou controversia
Assim, tendo em vista o caráter acentuadamente objetivo da sobre int,:rpretação adotada pelo Judiciário que não envolva a aplica-
argüição de descumprimento, o juizo de subsidiariedade há de ter ção de leI ou normativo infraconstitucíonal.
em vista, especialmente, os demais processos objetivos já consolida_ Nesse sentido, merece destaque a ADPF n. 101, ajuizada contra
dos no sistema constitucional. Nesse caso, cabível a ação direta de decisões judiciais que autorizaram a importação de pneus usados de
inconstitucionalidade ou de constitucionalidade, não será admissível qualquer espécie. O STF conheceu da ação, vencido o Min. Marco
a argüição de descumpnmento. Em sentido contrário, não sendo Aurélio. No mérito, o julgamento foi suspenso em razão de pedido
admitida a utilização de ações diretas de constituCIOnalidade ou de de VIsta do Min. Eros Grau. 27 •

inconstitucionalidade - isto é, não se verificando a existência de meio Da mesma forma, controvérsias concretas fundadas na eventual
apto para solver a controvérsia constitucional relevante de forma inconstitucionalidade de lei ou ato normatívo podem dar ensejo a
ampla, geral e Imediata -, há de se entender possível a utilização da uma pletora de demandas, insolúveis no âmbito dos processos ob-
argüição de descumprimento de preceito fundamental. jetivos.
É o que ocorre, fundamentalmente, nas hipóteses relativas ao Não se pode admitir que a existência de processos ordinários
controle de legitimidade do direito pré-constitucional, do direito mu- e recursos extraordinários deva excluir, a priOri, a utilização da ar-
mClpal em face da Constituição Federal e nas controvérsias sobre di- güição de descumprimento de preceito fundamental. Até porque. tal
reito pós-constitucional já revogado ou cujos efeitos já se exauriram. como assmalado, o instituto assume, entre nós, feição marcadamente
Nesses casos. em face do não-cabimento da ação direta de inconsti- obJetiva.
tucionalidade, não há como deixar de reconhecer a admissibilidade A propósito, assinalou o Min. Sepúlveda Pertence. na ADC
da argüição de descumpnmento. n. l-DF (ReI. Min. Moreira Alves, j. l.I2.93, DJU 16.6.95), que a
Também é possível que se apresente argüição de descumpri- conVIvência entre o sÍstema difuso e o sístema concentrado ~'não se
mento com pretensão de ver declarada a constitucionalidade de lei faz sem uma permanente tensão dialética na qual, a meu ver, a ex-
estadual ou municipal que tenha sua legitimidade questionada nas periência tem demonstrado que será inevitável o reforço do sistema
instâncias inferiores. Tendo em vista o objeto restrito da ação de- concentrado, sobretudo nos processos de massa; na multiplicidade
claratória de constitucionalidade, não se vislumbra aqui meio eficaz de processos a que inevitavelmente, a cada ano, na dinâmica da
para solver, de forma ampla, geral e imediata., eventual controvérsia legisl?ção, sobretudo da legislação tributária e matérias próximas,
instaurada (cf., infra, "Pedido de declaração de constituCionalidade levara se não se criam mecanismos eficazes de deCisão relativamente
(ação declaratória) do direito estadual e municIpal e argüição de rápida e uniforme; ao estrangulamento da máquina judiciária, acima
descumprimento"). de qualquer possibilidade de sua ampliação e, progressivamente, ao
maior descrédito da Justiça. pela sua total incapacidade de responder
Afigura-se igualmente legítimo cogítar de utilização da argüição
â demanda de centenas de milbares de processos rigorosamente idên-
de descumprimento nas controvérsias relacionadas com o principio
ticos, porque reduzidos a uma só questão de direito".
da legalidade (lei e regulamento), uma vez que, assim como assente
na jurisprudência. tal hipótese não pode ser veiculada em sede de A possibilidade de incongruênCiaS hermenêulIcas e confusões
controle direto de constitucionalidade (cf., infra, "Preceito funda- jur~prudenciais decorrentes dos pronunciamentos de múltiplos
mentai e principio da legalidade: a lesão a preceito fundamental orgaos pode configurar uma ameaça a preceito fundamental (pelo
decorrente de ato regulamentar"). menos, ao da segurança juridica), o que também está a recomendar
uma leitura compreensiva da exigência aposta â lei da argüição, de
A própria aplicação do princípio da subsidiariedade está a indi-
car que a argüição de descumprimento há de ser aceita nos casos que 27. ADPF 10 I, Rela. Min. Cármen LÚCIa, Infonnatlvo STF 538.
556 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 557

modo a admitir a propositura da ação especial toda vez que uma Da decisão de mérito, proferida em 7.12.2005 (Rel. Min. Gilmar
definição imediata da controvérsia mostrar-se necessária para afastar Ferreira Mendes, DJU 27. 10.2006).
aplicações erráticas, tumultuárias ou incongruentes, que comprome_ Da mesma forma, na ADPF n. 46 (monopólio dos correios) o
tam gravemente o princípio da segurança jurídica e a própria idéia de Tribunal (ReI. Min. Marco Aurélío, julgamento não concluído) reco-
prestação judicial efetiva. nbeceu o preenchimento do requisito relativo a subsidiariedade, ain-
Ademais, a ausência de definição da controvérsia - ou a própria da que o tema pudesse ser discutido nas vias recursais. Considerou-
decisão prolatada pelas instâncias judiciais - poderá ser a concretiza- se, no caso, a jurisprudência pacífica do STF no sentido de não ser
ção da lesão a preceito fundamental. Em um sistema dotado de órgão cabível o questionamento de normas pré-constitucionais mediante o
de cúpula que tem missão de guarda da Constituição a multiplicidade ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade - e, portanto. a
ou a diversidade de soluções pode constituir-se, por si só, em uma ineXIstência de outro meio apto a sanar a possível lesividade a que
ameaça ao principio constitucional da segurança jurídica e, por con- se alegam submetidas as empresas distribuidoras de encomendas em
seguinte, em uma autêntica lesão a preceito fundamental. todo o território nacional.
Assim, tendo em vista o perfil objetivo da argüição de descum- Na ADPF n. 54 (aborto de feto anencefálico - ReI. Min. Marco
primento, com legitimação diversa, dificilmente poder-se-á vislum- Aurélio, J. 20.10.2004, julgamento de mérito não concluído) assim
brar uma autêntica relação de subsidiariedade entre o novel instituto se posicionou o Min. Marco Aurélio (Relator) em díscussão de ques-
e as formas ordinárias ou convencionais de controle de constitucio- tão de ordem: "Observe-se a importância dos processos objetivos.
nalidade do sistema difuso, expressas, fundamentalmente, no uso do Neles, o STF tem oportunidade de enfrentar de imediato questões
recurso extraordinário. de repercussão maior, que interessam ii SOCIedade como um grande
todo. Em vez de se aguardar demorada tramitação processual para
Como se vê, ainda que aparentemente pudesse ser o recurso
se obter, no julgamento do recurso extraordinário, passados cerca de
extraordinário o meio eficaz de superar eventual lesão a preceito fun-
cinco anos - tempo médio - da propositura da ação, a palavra final
damental nessas situações, na prática, especialmente nos processos
da Corte que está no apice do Poder Judiciário, atua o Supremo de
de massa, a utilização desse instituto do SIstema difuso de controle
pronto, e o faz em prol da unidade do próprio DireIto, no que apli-
de constitucionalidade não se revela plenamente eficaz, em razão do
cável, de forma linear, no território nacional. Mediante o processo
limitado efeito do julgado nele proferido (decisão com efeito entre
objetivo ensejador do controle concentrado de constitucionalidade,
as partes). o Supremo exerce, na plenitude, a atribUIção que Ibe é precípua, isto
Assim sendo, é possível concluir que a simples existência de é, de guardar a Constituição Federal. e, com isso, afasta a desinteli-
ações ou de outros recursos processuais - vias processuais ordinárias gência de julgados, decisões que, em última análise, Implicam a in-
_ não podera servir de óbice à formulação da argüição de descumpri- terpretação do ordenamento jurídico com base na formação técnica e
mento. Ao contrário, tal como explicitado, a multiplicação de proces- humanística dos integrantes do órgão que atue, fenômeno que ocorre
sos e decisões sobre um dado tema constitucional reclama, as mais a partir de ato de vontade. Daí a conveniência de não ficar a Corte
das vezes, a utilização de um instrumento de feição concentrada, que a reboque, a pronunciar-se processo a processo, de modo irracional,
permita a solução definitiva e abrangente da controvema. visando ii prevalência do Direito posto, especialmente do Direito
No julgamento da liminar na ADPF n. 33 o Tribunal acolheu, Constitucional. Passo a passo, o Constituinte alargou o âmbito de
em linhas gerais, a orientação acima sustentada, tendo considerado atuação do Tribunal em tal campo, começando com a representação
cabível, em principio, argüição de descumprimento de preceito fun- interventiva, e hoje conta-se não só com a ação direta de inconstitu-
damental movida em relação a lei estadual pre-constitucional que cionalidade nas duas modalidades, englobado o VíClO da omissão, a
indexava o reajuste dos vencimentos de determinado grupo de fun- declaratória de constitucionalidade, mas também com a mais nova
ciomirios ao valor do salário mínimo. Essa orientação foi reafumada irmã dessas ações, a argüição de descumprimento de preceito funda-
558 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 559

mental. ( ... ). Conforme assinalei ao deferir a medida acauteladora, o legislador brasileiro, tendo em vista especialmente o caráter marca-
óbice da existência de meio eficaz para alcançar-se a preservação da damente objetivo que se conferiu aó instituto.
Carta da República não se faz presente. ( ...). Sim, há de se concluir Assim, o STF poderá, ao lado de outros requisitos de admissi-
que esta Corte, a não ser via argüição de descumprimento de preceito bilidade, emitir juízo sobre a relevância e o interesse público contido
fundamental, Jamais terá oportunidade, dado o período limitado de na controvérsia constitucional, podendo recusar a admissibilidade da
gestação, nunca ultrapassando nove meses, de se pronunciar a res- argüição de descumpnmento de preceíto fundamental sempre que
peito (...)". não vislumbrar relevância Juridica na sua propositura.
Igualmente, na ADPF n. 130 o Tríbunal entendeu configurada a Essa leitura compreensiva da cláusula da subsidiariedade conti-
plausibilidade jurídica do pedido, haja vista que o diploma normati- da no art. 4", § 1·, da Lei n. 9.882/99 parece solver, com superiorida-
vo impugnado - Lei n. 5.250/67 (Lei de Imprensa) - não pareceria de, a controvérsia em torno da aplicação do princípio do exaunmento
serviente ao padrão de democracia e de imprensa vigente na Consti- das instâncias.
tuição de 1988 (ADPF n. 130, Rel. Min. Carlos Britto, Informativo
STF496).
3, Objeto da argiiição
O Tríbunal, do mesmo modo, reconheceu a subsidiariedade ao
de descllmprimento de preceito fllndamental
apreciar a ADPF n. 101, "tendo em conta a pendência de múltiplas
ações judiciais, nos diversos graus de jurisdição, inclusive no Supre- Considerações preliminares - Nos termos da Lei n. 9.882, de
mo, nas quais há interpretações e decisões divergentes sobre a maté- 1999, cabe a argüição de descumprimento de preceito fundamental
ria, o que tem gen!!lo situação de insegurança jurídica, não havendo para evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato
outro meio hábil a solucionar a polêmica sob exame".28 do Poder Público (art. 1', caput).
Nessas hipóteses, ante a inexistência de processo de indole ob- O parágrafo único do art. I· explicita que caberá também a
jetiva apto a solver, de uma vez por todas, a controvérsia constitucio- argüição de descumprimento quando for relevante o fundamento
nal, afigura-se integralmente aplicável a argüição de descumpnmento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal,
de preceito fundamental. É que as ações originárias e o próprio estadual ou municipal, inclusive anteriores à Constituição (leiS pré-
recurso extraordinário não parecem, as mais das vezes, capazes de
constitucionais).
resolver a controvérsia constitucional de forma geral, definitiva e
imediata. A necessidade de interposição de nma pletora de recursos Vê-se, assim, que a argüição de descumprimento poderá ser
extraordinários idênticos poderá, em verdade, constituir-se em amea- utilizada para solver controvérsias constitucionais sobre a constitu-
ça ao livre funcionamento do STF e das próprias Cortes ordinárias. cionalidade do direito federal, do direito estadual e também do direito
municipal.
Dessa forma, o Tribunal poderá conhecer da argüição de des-
cumprimento toda vez que o princípio da segurança jurídica restar Tal como já observado, a argüição de descumprimento vem
seriamente ameaçado, especialmente em razão de conflitos de mter- completar o sistema de controle de constitucionalidade de perfil
pretação ou de incongruências hermenêuticas causadas pelo modelo relativamente concentrado no STF, uma vez que as questões até
pluralista de jurisdição constitucional, desde que presentes os demais então não apreciadas no âmbito do controle abstrato de constitucio-
pressupostos de admissibilidade. nalidade (ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de
É fácil ver também que a fórmula da relevância do interesse constitucionalidade) poderão ser objeto de exame no âmbito do novo
público para justificar a admissão da argüição de descumprimento procedimento.
(explícita no modelo alemão) está implícita no sistema criado pelo
Direito pré-constitucional - As Constituições Brasileiras de
28. ADPF 101, Reia. Min. Cármen Lúcia, Informattvo STF 538. 1891 (art. 83), de 1934 (art. 187) e de 1937 (ar!. 183) estabeleceram
560 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 561

cláusulas de recepção, que, tal como as cláusulas de recepção da 'con,stituCtOflal;33 é tratado de forma diferenciada em cada sistema
Constituição de Weimar e da Constituição de Bonn (respectivamente, . jurídiCO.
art. 178, II, e art. 123, I), continham duas disposições: A práxis austriaca parte do principio de que o objeto do controle
a) assegurava-se. de um lado. a vigência plena do direito pré- abstrato de normas, nos termos do art. 140 da Lei Constitucional,
constituctonal~ não são apenas as leis federais e estaduais, mas também as antigas
b) estabelec/Q-se, de outro. que o direito pré-constitucional in- leis do Reich e dos Estados, desde que tenham sido recebidas em
compatível com a nova ordem perdia a Vigência desde a entrada em conformidade com o preceituado nas "Disposições Constitucionais
Transitórias" de 1920.34 A discussão sobre a constitucionalidade des-
vigor da nova Constituição. 2•
sas leis antigas deve ser examinada, todavia, em face das djsposições
O STF admitíu inicialmente a possibilidade de examinar, no constitucionais vigentes á época.3s
processo do controle abstrato de normas, a questão da derrogação do
Segundo esse entendimento, a colisão entre o direIto pré-constI-
direito pré-constitucional em virtude de colisão entre a Constituição
tucional e a Constituição configura questão de direito intertemporal,
superveniente e o direito pré-constitucionaL Nesse caso, Julgava-se não estando submetida á competência exclusiva da Corte ConslItu-
improcedente a representação, mas reconhecia-se expressamente a ciona!.36 Tal questão pode ser apreciada tanto pelo Tribunal ConstI-
existência da colisão e, portanto, a incompatibilidade entre o direito tucional como por outros tribunais como uma questão preliminar.'7
ordinário pré-constitucional e a nova Constituição.3o O Tribunal
A Corte Constitucional alemã desenvolveu uma espécie de solu-
tratava esse tema como uma questão preliminar, que haveria de ser
ção de compromISso, assentando que tanto as leis pós-constitucionais
decidida no processo de controle abstrato de normas.
quanto as pré-constitucionais podem ser objeto do controle abstrato
Essa posição fOI abandonada, todavia, em favor do entendi- de normas. Estão submetidas, porém, ao processo de controle concre-
mento de que o processo do controle abstrato de normas destina-se, to de normas apenas as leis pós-constitucionais, uma vez que, nesse
fundamentalmente, à aferição da constitucionalidade de normas caso, a decisão sobre a colisão de normas não ameaça a autoridade
pós-constitucionais.3I Dessa forma, eventual colisão entre o direito do legislador constitucional.38
pré-constítucional e a nova Constituição deveria ser SImplesmente A Corte Constitucional Italiana já na primeira decisão sobre
resolvida segundo os principios de direito intertemporaL32 o tema, em 5.6.56, reconheceu sua competência para examinar a
Assim, caberia á jurisdição ordinária, tanto quanto ao STF, exa-
minar a vigência do direito pré-constítucional no âmbito do controle 33. Kelsen, "Wesen und Entwicklung der Staatsgerichtsbarkeit", VVDStRL
incidente de normas, uma vez que, nesse caso, cuidar-se-Ia de sim- 5/64,1929.
34. Cf., a propósito, L. Adamovich e Hans Spanner, Handbuc/t des õsterreichi-
ples aplicação do principio lex posterior derogat priori, e não de um schen Veifassungsrechts, 6il ed.. Viena/Nova York. 1971, p. 456.
exame de constitucionalidade. 35. Cf.: L. Adarnovich e Hans Spanner. Handbuch des 6sterreichischen Veifas-
Esse problema, que já fora contemplado por Kelsen no fa- sungsrechts, p. 456; BVerjGE2I124 (130); 21138, 218; 3/48; 4/339; 6/64; 71335; 10158,
127, 131, 159; 111129; 121353; 14/65; 15/183; 161231; 171162; 181252. Crítico, a pro-
moso Relerat sobre a natureza e o desenvolvimento da jUrisdição pósito, lpsen, Reclltsfoigen der Verfassungswidngkett von Nomz und Einzeiakt, p. 164.
36. Cf. L. Adamovich e Hans Spanner, Handbuc/l des õsterreichíscilen Verfas-
29. João Barbalho, Constituição Federal Brasileira, Comentarias. p. 356; sllngsrechts, p. 456.
cf., sobre o assunto. no Direito alemão: Jõm Ipsen, Rechtsfolgen der Veifassungs- 37. L. Adamovlcn e Hans Spanner, idem, ibidem. Adamovich recomendou que
widngkelt von Norm und Einzefakt. Baden-Baden, 1980, p. 161. se dotasse a Corte Const1tuclOnaI Ausmaca de competência para decidir com eficacm
30. Repr. n. 946, ReI. Min. Xavier de Albuquerque, RTJ 82144; Repr. n. 969, erga omnes as questões de derrogação (cf. Handbuch des õsJem?lchischen Veifassungs-
ReI. Min. Antônio Neder. RTJ99/544. rechls, 5' ed.. VienaINova York, 1957, p. 398).
31. Repr. n. 946, ReI. Min. Xavier de Albuquerque, RTJ 82144; Repr. n. 969, 38. BVerjGE 21124 (130); 21138, 218; 3/48; 41339; 6/64; 7/335; 10158, 127,
ReI. Min. Antônio Neder, RTJ99/544. 131, 159; llf129; 121353; 14/65; 15/183; 16/231; 171162; 18/252. Critico, a propó-
32. Repr. n. 1.012, ReI. Min. Moreira Alves,RTJ95/990. síto. Ipsen. RecfJIsjolgen der Verfassungswidngkeit von Norm und Einzelafet, p. 164.
562 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 563

constitucionalidade do direito pré-constitucional,39 porque tanto o É certo, pois, que, com a exceção da Corte Constítucional aus-
art. 134 da Constituição quanto a Lei Constitucional, de 9.2.48, n. tríaca, procuram os modernos Tribunais Constitucionais assegurar
1, cuidavam apenas da constitucionalidade da lei, e entre a lei or- sua competência para aferir a constituCIonalidade das leis pré-consti-
dinária e a Constituição existe uma diferença de hierarquia, sendo, tucionaIS em face da Constituição vigente.45
por isso, irrelevante a distinção entre direito pré-constitucional e
A Constituição brasileira de 1988 não tratou expressamente da
. pós-constitucional.'o
questão relativa à constituCIonalidade do direito pre-constitucional.
A Constituição portuguesa, de 1976, consagrou expressamente Ajurisprudência do STFque se desenvolveu sob a vigência da Cons-
a chamada "inconstitucionalidade superveniente" (art. 2822, § 22),
tituição de 1967/1969 tratava dessa colisão, tal como já mencionado,
reconhecendo a competência da Corte Constitucional para examinar
com base no principio fex posterior derogat priori.
a compatibilidade do direito pré-constitucional em face da nova
Constituição." Sob o império da nova Constituição teve o STP a oportunidade
O Tribunal Constitucional espanhol optou por uma linha inter- de discutir amplamente a questão na ADln n. 2, da relatoria do Min.
mediária, que lhe permite dividir a competência com a jurisdição Paulo Brossard. Embora o tema tenha suscitado controvérsia, provo-
ordinária em relação ao direito pré-constitucional, e outorga-lhe cada pela clara manifestação do Min. Sepúlveda Pertence em favor
em relação ao direito pós-constitucional o monopólio da censura." da revisão da jurisprudência consolidada do Tribunal, prevaleceu a
Configura-se, pois, competência concorrente para apreciar a compa- tese tradicional, esposada pelo Min. Paulo Brossard.
tibilidade entre o direito pré-constitucional e a nova Constituição." Em síntese, são os seguintes os argumentos expendidos pelo
A Lei Orgâníca do Tribunal Constitucional espanhol prevê, no Min. Brossard:
art. 33, um prazo de três meses para a instauração do processo de "A idéia nuclear do raciocinio reside na superioridade da lei
controle abstrato de normas a contar da publicação da lei ou do ato constitucional em relação as demais leis. A Constituição e superior as
normativo com força de lei. Nos termos do art. 22 das "Disposições leis por ser obra do poder constituinte; ela indica os Poderes do Esta-
Transitórias" dessa lei, aplica-se ao controle abstrato de normas, ao do, atraves dos quais a nação se governa, e amda marca e delimita as
recurso constítucional e aos conflitos de competência o prazo previs- atribuições de cada um deles.
to de três meses para os atos anteriormente editados, a contar da data
de instituição do Tribunal (15.7.80).44 "Do Legislativo, inclusive. Tendo este a sua existência e a exten-
são dos seus poderes defmidos na ConstituIção, nesta hã de encon-
39. Paoto Biscaretti di Ruffia, Derecho Constitucional, p. 268; Gustavo Zagre- trar, com a enumeração de suas atribuições, a extensão delas. E na
belsky, La GiustizlQ CostituzlOllale, p. 42; Franco Pierandrei, "Corte Costituzionale", medida em que as exceder estará praticando atos não autorizados por
in Encic/opedia dei Diritto, v. 10. Milão. 1962, p. 908. Cf., a propósíto: T. Ritterspach. ela. Procede à semelhança do mandatáno que ultrapassa os poderes
"Probleme der italiemschen Verfassungsgenchtsbarkelt: 20 Jahre Corte Costituzlo-
nale". AOR 104/137 (1380, 1979; Aldo Sandulli, "Die Verfassungsgenchtbarkelt fi conferidos no mandato.
ltalien", in Mosler. Vérfassungsgerrchtbarkeu in der Gegenwart, p. 292 (306-307), "Assim, uma lei é inconstitucional se e quando o legislador dis-
40. Acórdão de 5.6.56, n. 1. Cf.. a propósito. Gaetano Sciascta, "Die Rechtspre-
põe sobre o que não tínha poder para fazê-lo, ou seja, quando excede
chung des VerfassungsgerichtshofS derltalieníschen Republik",JõR. NF 6/1 (6), 1957.
41. Cf.. a propÓSIto, J. J. Gomes Canotilho. Direito Constl/tlclOnal. Coimbra. os poderes a ele assinados pela Constituição, à qual todos os Poderes
1986, p. 838. estão sujeitos.
42. Cf. A. Weber. "Die Verfussungsgenchtsbarkeit fi Spanien".JÕR, NF34/245
(257-258), 1985. 45. Como ressaltado, essa idéia não se aplica de forma irrestrita para a Corte
43. A. Weber, "Die Verfassungsgenchtsbarkelt ln Spanien", JõR. NF 34/245 Constitucional Espanhola. uma vez que após o decurso do prazo fixado não dispõe
(258),1985. mais de competência para conhecer da questão no JUízo abstrato. No SIstema Italiano,
44. CC, a propõsito, A. Weber. "Die Verfassungsgerichtsbarkelt in Spanien", que não conhece o controle abstrato de normas~ impôs-se, desde o início. a idéia de
JõR, NF 34/245 (254), 1985. uma mconstihlclOnalidade Sllpervemente.
564 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECElTO FUNDAMENTAL 565

"Disse-se que a Constituição é a Lei Maior, ou a Lei Suprema, "Com todas as vênias, não me convenci de que o argumento, de
ou a Lei Fundamental. e assim se diz porque ela e superior à lei ela- fascinante cintilação retórica, tivesse maior peso jurídico.
borada pelo poder constituído. Não fora assim e a lei a ela contrária. "A inconstitucionalidade é apenas o resultado de um Juizo de
obviamente posterior, revogaria a Constituição sem a observância incompatibilidade entre duas normas, ao qual é de todo alheia qual-
dos preceitos constitucionais que regulam sua alteração. quer idéia de culpabilidade ou responsabilidade do autor da norma
"Decorre daí que a lei só podeci ser inconstitucional se estiver questionada pela ilicitude constitucional.
em litígio com a Constituição sob cujo pálio agiu o legislador. A cor- "A razão. por isso, cabe a Jorge Miranda (Manual, cit., II1250)
reção do ato legislativo, ou sua incompatibilidade com a lei maior. quando anota que 'a inconstitucionalidade não é primitiva ou sub-
que o macula, há de ser conferida com a Constituição que delimita seqüente, originária ou derivada, inicial ou ulterior. A sua abstrata
os poderes do Poder Legislativo que elabora a lei. e a cujo império o realidade Jurídico-formal não depende do tempo de produção dos
legislador seci sujeito. E em relação a nenhuma outra. preceitos' .
"O legislador não deve obediência à Constituição antiga. já "Atemporal e impessoal. a inconstitucionalidade repele, pois, o
revogada. pois ela não existe mais. Existm, deixou de existir. Muito que, embora a outro propósito, Calamandrei ("Ilegitimidade constitu-
menos à Constituição futura, inexistente, por conseguinte, por não cional de las leyes", em Estudios, cit.• IIII89) chamou de 'concepção,
existir ainda. De resto, só por adivinhação poderia obedecê-Ia, uma por assim dizer, antropomórfica do que. na realidade, e somente um
vez que futura e, por conseguinte, ainda inexistente. conflito objetivo de normas'.
"É por esta singelíssima razão que as leis anteriores à Consti- "Ao contrário, quando se cuida de inconstitucionalidade su-
tuição não podem ser inconstitucionais em relação a ela, que veio
perveniente - que advém do cotejo de uma norma editada sob uma
a ter existência mais tarde. Se entre ambas houver inconciliabili-
ordem constitucional com as normas e princípios de um outro orde-
dade, ocorreci revogação, dado que, por outro princípio elementar.
namento, futuro - a declaração da invalidade sucessiva da lei pode
a lei posterior revoga a lei anterior com ela incompatível, e a lei
até significar o reconhecimento da lealdade do seu autor aos valores
constitucional, como lei que é, revoga as leis anteriores que se lhe
constitucionais da sua época.
oponham,'>46
"Tanto assim e, já antes se observou. que o mesmo conteúdo
O Min. Sepúlveda Pertence sustentou, por seu turno, a aplica-
normativo da regra legal fulmmada de inconstitucionalidade super-
ção do principio da supremacia da Constituição também à lei pre-
veniente podeci seguir regendo os fatos anteriores à nova Lei Funda-
constitucional. A seguinte passagem contém uma boa síntese dos
mental, se assim o determinarem os cânones do direito intertemporai
argumentos expendidos pelo Min. Sepúlveda Pertence:
pertinente."47
"Indaga, a propósito. o eminente Relator, com a eloqüência
que o singulariza, 'como poderia o legislador observar Constituição As teses acima contrapostas contêm bons argumentos aptos a
inexistente ao tempo em que elaborou a lei, como poderia quebrantar legitimar qualquer uma das possiveis conclusões.
normas constitucionais que só mais tarde viriam a ser promulgadas'. Não se deve olvidar, outrossim. tal como enfatizado pelo Min.
'''Mesmo que o legislador fosse vidente' - responde S. Exa - 'e Sepúlveda Pertence,48 que o debate sobre a inconstitucionalidade ou
tivesse a antevisão do que iria acontecer. e de antemão soubesse que revogação do direito pré-constituclOnal em face do direito constitu-
uma Constituição com tais e quais preceitos viria a ser promulgada,
47. Cf. ADIn n. 2. ReI. Min. Paulo Brossard, DJU 12.2.92; V., tambêm. José
mesmo assim não lhe poderia obedecer, por estar sujeito aos precei- Paulo Sepúlveda Pertence, "Ação direta de inconstitucIOnalidade e as normas ante-
tos e termos da Constituição vigente'. riores: as razões dos vencidos", in ArqUfvos do Mimsteno da Justiça 180/148 (170),
julho-dezembro de 1992.
46. "A Constituição e as leis anteriores", Arquivos do Mimsten'o da Justiça 48 .. "Ação direta de inconstitucIonalidade e as normas anteriores: as razões dos
180/125 (126-127), 1992. vencidos'!., In Arquivos do Mimstério da Jusliça 180/148 (170).
566 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 567

cional superveniente está imantado por uma opção polítiCO-consti_ "Questão relativa â aplicação da lex prior ou da lex posterior
tucional e pragmática, que, diante da inequivoca razoabilidade das somente pode surgir no caso de normas de idêntica densidade nor-
orientações, faz prevalecer uma das duas posições ou, ainda, perunte mativa. Se duas leis, para situações idêntIcas, determinarem conse-
desenvolver fórmulas de compromisso, com vistas à preservação de qüências diversas, estará o aplicador do DireIto diante do problema
competência da jurisdição ordinária para conhecer de questões nos sobre a aplicação da lei 'A: ou da lei 'B', se o conflito não puder ser
sistemas de controle concentrado. solvido mediante interpretação (redução teleológica ou extensão l.
E inegável, todavia, que a aplicação do principio lex posterior Á deCIsão não fica ao seu alvedrio, devendo, segundo o postulado
derogat priori na relação lei/Constituição não é isenta de problemas, da lex posterior, deixar de aplicar a lei anterior e decidir a questão
uma vez que esse postulado pressupõe idêntica denSIdade normati- segundo os parâmetros da lei posterior.
va.49 Até porque, como expressamente contemplado no art. 22 da Lei "Outra é a situação quando se tem um conflito entre lei e Consti-
de Introdução ao Código Civil Brasileiro, a derrogação do direito tuição. A Constituição estabelece, freqüentemente - seja nos direItos
antigo não se verifica se a nova lei contiver apenas disposições gerais fundamentais, nos principios constitucionais ou nas disposições pro-
ou especiais sobre o assunto (lex generalis ou lex specialis). gramátIcas -, apenas assertivas gerais que reclamam concretização
Portanto, pode-se afirmar que o princípio lex posterior derogot para que possam desenvolver eficácia normativa. Se o juiz ou outro
priori pressupõe, fundamentalmente, a existência de densidade nor- aplicador chegar á conclusão de que a lei contraria a Constituição,
mativa idêntica ou semelhante,50 estando, primordialmente, orientado não poderá ele aplicar, indiscriminadamente, a ConstItuição em lugar
para a substituição do direito antigo pelo direito novo. 51 A Constitui- da leI, uma vez que, a despeito de qualquer esforço, dificilmente se
ção não se destina, todavia, a substituir normas do direito ordinário.52 logra extrair da ConstItuição uma regulação positiva sobre situações
Vale registrar, a propósito, o magistério de Ipsen sobre o tema: específicas. (... ). Enquanto a regra de colisão relativa à lex posterior
pressupõe duas leis contraditórias de idêntIca densidade normativa,
"As regras de colisão da ordemjuridica não representam juizos
surge na contradição entre a lei e a Constituição um déficit normati-
lógicos a priOri, mas normas que, juntamente com outras regras de
vo: a lex superior não logra colmatar diretamente as lacunas surgidas.
interpretação e de aplicação, podem ser designadas como 'direito
(... ). Pode-se avançar um passo: Quando se cuidar de colisão de nor-
de aplicação' (Rechtsanwendungsrecht). Sua contingência histórica
mas de diferente hierarquia, o principio da lex superior afasta outras
já foi ressaltada inúmeras vezes. O postulado da lex superior e fruto
regras de colisão. A utilização de uma ou de outra regra de colisão
do moderno pensamento constitucional, enquanto o princípio da lex
poderia levar ao absurdo de permitir que a lei ordimina - enquanto
posterior é conseqüência do pensamento juridico racional. ( ... l. A lei
lei especial ou posterior - afastasse a incidência da Constituição en-
posterior pode ser, simultaneamente, uma lei geral, o que permite
quanto lei geral ou lex prlOr."53
indagar se a lei especial ou a lei posterior há de ter a primazia. Esses
problemas de aplicação do Direito não se deixam solver de forma Conclusão bastante semelhante foi sustentada por Castro Nunes
abstrata; (...). Tem-se, assim, que a regra sobre a força derrogatória da já nos idos de 1943:
lex posterior refere-se a uma constelação totalmente diferente daque- "Não contesto que a incompatibilidade se resolve numa revoga-
la pertinente á supremacia do postulado da lex superior. ção, o que resulta da anterioridade da norma. Mas perde-se de vista o
outro elemento, a diversidade hierárquica das normas.
49. Cf., a propôsito: Ipsen. Rechtsfolgen der Veifassungswidrigkell von Nonn
und Einzenlakt, p. 163; Jose de Castro Nunes. Teona e Prática do Poder Judiciário, "A teoria da ab-rogação das leis supõe normas da mesma au-
pp. 603-604. toridade. Quando se diz que a lei posterior revoga, ainda que tacita-
50. Cf., a propósito. Ipsen. Rechtsfolgen der Verfassungswidrigkeit von Norm mente, a anterior, supõem-se no cotejo leis do mesmo nível. Mas se a
und Einzelakt, p. 164.
51. Cf. Ipsen, Richterrecht und Veifassung, Berlim. 1975, p. 165. 53. Ipsen, Rechtsfolgen der Verfassungswidngkell VOII Nonn und Einzelakt.
52. Cf. Ipsen, Richterrecht und Verfassung, p. 165. pp. 162-164.
568 ARGÜICÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlCÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 569

questão está em saber se uma nonna pode continuar a viger em face .:E fácil ver que o constituinte não concebeu a contranedade a
das regras ou princípios de uma Constituição, a solução negativa só C;~t:a C:on:stituição, em qualquer de suasfonnas, inclusive no que con-
é revogação por efeito daquela anterioridade; mas tem uma desig_ cerne á aplicação de leis pré-constitucionais, como simples questão
nação peculiar a esse desnível das nonnas, chama-se declaração de .de direito iutertemporal, pois do contrário despiciendo seria o recurso
inconstitucionalidade."'4 extraordinário. Da mesma fonna, aflnnar a validade de lei ou ato
de governo local contestado em face desta Constituição não parece
Assim, há de se partir do principio de que, em caso de colisão
traduzir juízo de mera compatibilidade entre o direito ordinário e a
de nonnas de diferente hierarquia, o postulado da [ex superior afasta
Constituição, tendo em vista também o postulado da lex posterior.
outras regras de colisão. 55 Do contrário chegar-se-ia ao absurdo
destacado por Ipsen, de que a lei ordinária, enquanto lei especial o~ Essa conclusão resulta aiuda mais evidente da cláusula contida
[ex posterior, pudesse afastar a nonna constitucional enquanto lex na art. 102, III, "b", que admite o recurso extraordinário contra deCI-
generalis ou [ex prior.56 são que declarar a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal.
Significa dizer que qualquer juízo sobre a incompatibilidade entre
Um último argumento - não trazido à baila pelos defensores da
a lei federal ou o tratado pré-constitucional e a Constituição atual
tese que equipara, sob o prisma conceituai, a incompatibilidade ori-
levado a efeito pela instância a quo é valorado pela Constituição
ginária ou superveniente da lei com a Constituição - extrai-se das re-
como declaração de inconstitucionalidade, dando ensejo, por isso,
gras disciplinadoras do recurso extraordinário no Direito Brasileiro.
ao recurso extraordinário.
Nos termos do art. 102~ m~ "a" "b''., ~'c" e "d'\ da CF. o recur-
1

Tais reflexões pennitem afinnar que, para os fins de controle de


so extraordinário somente poderá ser admitido quando a decisão
constituCIOnalidade incidenter tantum no âmbito do recurso extraor-
recorrida:
diuário, não assume qualquer relevânCia o momento da edição da lei,
a) contrariar dispositivo desta Constituição; configurando questão de constitucionalidade eventual contrariedade
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; à Constitulção atual, e não mero conflito de nonnas, a se resolver
c) Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face com aplicação do princípio da lex posterior.
desta Constituição; Diante de todos esses argumentos e considerando a razoabilida-
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. de e o significado para a segurança juridica da tese que recomenda
a extensão do controle abstrato de nonnas também ao direito pré-
Embora a doutrina e a jurisprudência não tenham dúvida em
constitucional, não se afiguraria despropositado cOgitar-se da revisão
aflnnar o cabimento de recurso extraordinário se se assevera a in-
da jurisprudência do STF sobre a matéria.
constitucionalidade da lei em face de Constituições anteriores, parece
inequívoco que o constituinte concebeu esse instituto, fundamental- A lei que disciplina a argüição de descumprimento de preceito
mente, para a defesa da Constituição atual. Tanto é que nos casos das fundamental estabeleceu, expressamente, a possibilidade de exame
alineas "a" e "c" do art. 102, III, estabelece-se, expressamente, que o da compatibilidade do direito pré-constitucional com nonna da
recurso será cabível quando a decisão contrariar a Constituição ou Constituição Federal. Assim, toda vez que se configurar controvérsia
quando Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face relevante sobre a legitimidade do direito federal, estadual ou munici-
desta Constituição. pal anteriores à Constituição em face de preceito fundamental desta,
poderá qualquer dos legitimados para a ação direta de inconstitucio-
54. Castro Nunes, Teoria e Prática do Poder Judiciário, pp. 602-603. nalidade fonnular a argüição de descumprimento.
55. Cf. Ipsen, RechtsfoIgen der Verfassungswidngkeit von Norm und Einzelakt. Também essa solução vem colmatar um lacuna importante no
p.I64. sistema constitucional brasileiro, permitindo que controvérsias rele-
56. Cf., a propôsíto. Ipsen. Rechtsfolgen der Veifassungswidrigkett von Nonl1
und Einzelakt. p. 164. vantes afetas ao direito pré-constitucional sejam solvidas pelo STF
570 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 571

com eficàcía geral e efeito vinculante no âmbito de um processo s,md'eST-eC/I/ for/gilt) ou constatar a vigência enquanto direito federal
objetivo. (das Gesetz ~ls Bundesrechtfortgilt).6o
" Entre nóS a referência ao tema parece limitada aos estudos de
Lei pré-constitllcional e alteração de regra constitllcional de l'ontes de Miranda, que formula as seguintes proposições sobre o
competência legislativa - A admissibilidade do controle de legitimi_
assunto:
dade do direito pro-constitucional em sede de argüição de descum_
primento de preceito fundamental permite solver o~tra questão grave
,'o "Sempre que a Constituição dá à União a competência sobre
certa matéria e havia legislação anterior, federal e local, em contra-
concemente as competências legislatIvas e de orgaos mtegrantes da
dição, a Conslttuição ab-rogou ou derrogou a legislação federal ou
estrotura federal no âmbito do controle concentrado. Trata-se da sen-
local em choque com a regra jurídica de competência. Não sé precisa,
sível questão da chamada incompetênc/G legislativa supervemente.
para se decidir em tal sentido, que se componha a maioria absoluta
A Corte Constitucional italiana tem reconhecido a vigência das do art. 116.
leis estatais anteriores que disciplinam matéria agora reservada à le- "Se a legislação, que existia, era só estadual, ou municipal, e
gislação regIOnal, admitindo sua integração no ordenamento regional a Constituição tornou de competência legislativa federal a maté-
até a promulgação de lei nova (principio da continuidade).'7 Enfatiza ria, a superveniência da Constituição faz contràrio a Constttuição
Zagrebelsky que "a prova de que não se cuida de mvalid~d.e é que a qualquer ato de aplicação dessa legislação no que ela, com a nova
lei estatal que deixa de ser aplicada na região que tenha utthzado sua regra Jurídica de competência, seria sem sentido. A maioria do art.
competência legislativa continua a ser validamente utilizada em outra 116 não o necessària. Aliter, se só há a ab-rogação ou a derrogação
região que não a tenha exercido",58 se inconstitucional a continuação da incidênCIa; e.g., se antes de ser
No Direito alemão, a matéria mereceu especial atenção do cons- estadual, ou municipal, fora federal (discute-se se há repristinação ou
tituinte (Lei Fundamental, arts. 124-126), que outorgou ao Tribunal inconstitucionalidade).
Constitucional (Bundesverfassungsgericht) a competência para di- "Se havia legislação federal e estadual e a competência passou a
rimir eventuais dúvidas sobre a vigência de lei como direito federal ser, tão-só, do Estado-membro ou do Município, a legislação federal
(ar!. 126). Portanto, cabe à Corte Constitucional aferir, no âmbito persiste, estadualizada ou municipalizada, respectivamente, até que o
do controle concreto ou abstrato de normas, a vigência de lei pré- Estado-membro ou o Município a ab-rogue, ou derrogue."61
constitucional como direito federaL Não se trata, pois, de verificar Evidentemente, não há cogitar de uma federalização de normas
a validade (Geltung), mas a qualidade da norma (Rang der NO/m). estaduais ou municípais por força de alteração na regra de compe-
"A validade da norma - diz Pestalozza - pode constituir uma questão
tência.
preliminar, mas não o objeto principal do processo" .'9
Nesse caso há de se reconhecer eficácia derrogatória à norma
Assim, pode o Tribunal concluir que a lei foi revogada por con- constitucional que tornou de competência legislativa federal matéria
trariar dispositivo constitucional (das Gesetz nicht mehr gilt), reco- anteriormente afeta ao âmbito estadual ou municipal.
nhecer sua insubsistência como direito federal (das Gesetz nicht ais
TodaVIa, se havia legislação federal e a matéria passou a esfera
de competência estadual ou municipal, o complexo normativo pro-
57. Gustavo Zagrebelski. La Giustizia Costituzionale. Bolonha, II Mulino. mulgado pela União subsiste estadualizado ou municipalizado !lté
1979, p. 48.
58. Gustavo Zagrebelski. La Giustizia Costituzionale, cil, p. 48: "a ripro~?
que se proceda a sua derrogação por lei estadual ou municipal. E o
dei fatto che di invaliditâ Don si tratta si puô osservare che [a legge statale, non piU
operativa neHa regl.One che abbia esercitato la propoa potestâ legislativa, .continua 60. Theodor Maunz e outros, Bundesveifassungsgerichtsgesetz: Kommentar,
validamente a trovare applicazlOne nelle regione che. vlceversa, non l'abblano (an- Munique. C. H. Beek. 1985, §§ 86. ns. 3 e 4. e 89, os. 3 e 4.
cora) esercltata". 61. Pontes de Miranda, Comentân'os ao Código de Processo Civil. v. 6, Rio de
59. Chnsuan Pestalozza. Verfassungsprozessrecht, 2aed., Munique, 1982, p. 160. JaneIro. Forense, 1975, pp. 66-67.
572 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 573

que parece autorizar o próprio princípio da continuidade do ordena' tuidonalida:de no Município "A", mas toda e qualquer lei municIpal
mento jurídico.62 ,;
idêntico teor não mais poderá ser aplicada.
Tem-se aqui, pois, mais uma aplicação de grande significado "':"', Em outras palavras, se o STF afirmar, em um processo de ar-
prático para a argüição de descumprimento de preceito fundamental 'guição de descumpnmento, que a Lei n. "X", do Município de São
Paulo, que prevê a insutuição do IPTU, é inconstitucional, essa de-
O controle direto de constitucionalidade do direito lmmicip~í bisão terá efeito não apenas em relação a esse texto normativo mas
em face da Constituição F ederal- A Constituição de 1988 autorizou ilimbém em relação aos textos normativos de teor idêntico edÚados
o constituínte estadual a ínstituir o controle abstrato de normas d~ por todos os demais entes comunais. 65
direito estadual e municipal em face da Constituição estaduaL Su~ • Aínda que possam surgir dúvidas sobre a adequação dógmática
sistia. porém, ampla insegurança, em razão da falta de um mecani.: dessa solução, será sempre admissível a propositura de reclamação
mo expedito de controle de constitucionalidade do direito municipal ~ob a alegação ?e não observância da decísão do STF, no caso origi-
frente á Consutuição FederaL Deve-se observar, outrossim, que, dacta uma, com pedIdo de declaração de inconstitucionalidade incidental
a estrutura diferenciada da Federação Brasileira, algumas entidades da norma de teor idêntico que foi obJeto da declaração de inconstitu-
comunais tem importância idêntica, pelo menos do prisma econômi~ cionalidade em argüição de descumprimento de preceito fundamental
co e social, à de muitas unidades federadas, o que conferia gravidade
(cf. RecL n. 595, ReL Min. Sydney Sanches, DJU23.5.2003).
à ausência de controle normativo eficaz.
No contexto da Revisão Constitucional de 1994 esforçou-se Pedido de declaração de constitucionalidade (ação declarató-
para superar, aínda que parcialmente, essa situação, adotando-se o ria) do direito estadual e municipal e argüição de descumprimento
chamado "incidente de inconstitucionalidade", que haveria de ser - A Lei n. 9.882, de 1999, previu, expressamente, a possibilidade
suscitado perante o STF, em caso de dúvida ou controvérsia sobre a de controle de constitucionalidade do direito estadual e do direito
constitucionalidade de leis ou atos normativos federais, estaduais e municipal no processo de argüição de descumpnmento de preceito
municipals.63 fundamentaL
ALei n. 9.882, de 1999, veio, em boa hora, contribuir para asu- Poderá ocorrer, assim, a formulação de pleitos com o objetivo de
peração dessa lacuna, contemplando expressamente a possibilidade
obter a declaração de constitucionalidade ou de ínconstitucionalidade
de controle de constitucionalidade do direito municipal no âmbito
toda vez que da controvérsia Judicial instaurada possa resultar sério
desse processo especiaL prejuízo á aplicação da norma, com possível lesão a preceito funda-
Ao contrário do imaginado por alguns, não será necessário que mental da Constituição.
o STF aprecie as questões constitucionaIs relativas ao direito de
todos os Municipios. Nos casos relevantes, bastará que decida uma De certa forma, a instItuição da argüição de descumprimento de
preceIto fundamental completa o quadro das "ações declaratórias",
questão-padrão com força vinculante.
ao permllIr que não apenas o direito federal mas também o direito
Se entendermos que o efeito vinculante abrange também os
estadual e municipal possam ser objeto de pedido de declaração de
fundamentos determinantes da decisão,"4 poderemos dizer, com
constitucionalidade.66
tranqüilidade, que não apenas a lei objeto da declaração de lDCOnsti-

62. Nesse sentido. cf. I'Tunna, RE n. 218.160, ReI. Min. MoreIra Alves, DJU . ,65. Cf: infra. Oitava Parte, "O Controle Incidental ou Concreto de Normas no
6.3.98. D!relto B~sl~elro". D. 3. item "A suspensão de execução da lei pelo Senado e muta-
çao constttuclOnal"_
63. V. Relatono da Revisão Constitucronai. 1994, Pareceres Produzidos (His-
tórico), t. I. Parecer n. 27, pp. 312 e 55. . 66. Na,Reforma do Judiciãrio o Senado Federal aprovou proposta que amplia o
64. Cf., sobre o efeito VInculante, nesta Parte, o. 1. o Item "Incidente de mCODS- obJeto da açao declaratóna de constitucíonalidade. contemplando também o Direito
tituclonalidade e argUíção de descumprimento". acima desenvolvido. estadual (pEC n. 358-A).
574 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 575

A lesão a preceito decorrente de mera interpretação judicial ,Assim, o legislador poderia atribuir ao recorrente no recurso
- Pode ocorrer lesão a preceito fundamental fundada em simples é'extra'Jrdinano o direito de propor simultaneamente a argüição, de-
interpretação Judicial do texto constituCional. Nesses casos a con- i :~!~:,~::ao~n~S~TF a possibilidade de apreciar a controversia posta
troversia não tem por base a legitimidade ou não de uma lei ou de ; no recurso ou também na ação especial.
um ato normativo, mas se assenta simplesmente na legitimidade oti
não de uma dada interpretação constitucional. No âmbito do recursó Contrariedade à COlIStitllição decorreI/te de decisão jlldicial
extraordinário essa situação apresenta-se como um caso de decisãó sem base legal (ollfimdada emfalsa base legal) - Problema igual-
judicial que contraria diretamente a Constituição (art. 102, m, "a").. mente relevante coloca-se em relação às decisões de unica ou de
últíma instância que, por falta de fundamento legal, acabam por lesar
Não parece haver dúvida de que, diante dos termos amplos dà
relevantes pnncípios da ordem constitucionaL
art. IOda Lei n. 9.882, de 1999, essa hipótese poderá ser objeto de ar-
Uma decisão judicial que, sem fundamento legal, afete Situação
güição de descumprimento -lesão a preceito fundamental resultante
individual revela-se igualmente contrária à ordem constitucional,
de ato do Poder Público -, até porque se cuida de uma situação trivial
pelo menos ao direito subsidiário da liberdade de ação (Auffang-
no âmbito de controle de constitucionalidade difuso.
grundrecht).69
Assim, o ato Judicial de interpretação direta de um preceito fim- Se se admite, como expressamente estabelecido na Constitui-
damental poderá conter uma violação da norma constitucional. Nessa ção, que os direitos fundamentais vmculam todos os Poderes e que
hipótese caberá a propositura da argüição de descumprimento para
a decisão judicial deve observar a Constituição e a lei, não é dificil
afastar a lesão a preceito fundamental resultante desse ato judicial do compreender que a decisão judiCial que se revele desprovida de base
Poder Público, nos termos do art. 1· da Lei n. 9.882, de 1999. legal afronta algum direito individual específico, pelo menos o prin-
É o que se verificou na ADPF n. 101, conhecida pelo STF, em cípio da legalidade.
que se discute se decisões judiciais que autorizam a importação de A propósito, assinalou a Corte Constitucional alemã: "na in-
pneus usados ofendem os preceitos inscritos nos arts. 196 e 225 da terpretação do direito ordinário, especialmente dos conceitos gerais
CF.67 indeterminados (GeneralklauseT), devem os tribunais levar em conta
Neste passo vislumbra-se, de lege ferenda, a possibilidade de os parâmetros fixados na Lei Fundamental. Se o tribunal não observa
conjugação dos institutos da argüição de descumprimento e do re- esses parâmetros, então ele acaba por ferir a norma fundamental que
curso extraordinário. 68 deixou de observar; nesse caso, o julgado deve ser cassado no pro-
cesso de recurso constitucíonal",70
67. ADPF 10 1. Rela. Min. Cánnen LucIa. Informativo STP 538.
68. Está em trrumtação no Congresso Nacional o Projeto de Lei n. 6.54312005, aos requiSitos exigidos para a caracterização da repercussão geral a que se refere o §
que altera a Lei n. 882/99 para legitimar para a propOSItura de argfiição de descum- 312 do art.l 02 da Constituição.'
pnrnento de preceito fundamental as pessoas lesadas ou ameaçadas de lesão por ato "Art. 2.11.. O art 3-11. da Lei n. 9.882, de 3 de dezembro de 1999, passa a vigorar
do Poder Público, e dá outras providênCiaS: acrescido do segumte mcíso VI:
"O Congresso Nacional decreta: '''Ar!. 32 . ( ••• ):
uArt. 12, O art. 22 da Lei n. 9.882, de 3 de dezembro de 1999, passa a viger "'(...);
acrescido dos seguintes incIso fi e § 311: '''VI - no caso da propositura da argüição pelas pessoas referidas no inciso
"'Art. 2'. (... ): m do art 2.11.. a comprovação dos requisítos a que se refere o § 3.11. do mesmo artigo;
"'(... ); '''( •.• 1.'
,um _qualquer pessoa lesada ou ameaçada de lesão por ato do Poder Público. "Art. 3!2. Esta Lei entra em vIgor 90 (noventa) dias após a sua publicação."
'''(... ). 69. Schlaích, Das Bundesveifassungsgencht, p. 108.
m § 3U. A propOSitura da argiiição pelas pessoas referidas no inciso III do caput 70. Verfassungsbesclnverde (BVeJjGE 7/198 (207); 121113 (124); 13/318 (325),
deste artigo deverâ observar os reqUISitos fixados no Regimento Interno do Supremo 18/85 (92 e 55.); cf.. tambem, Rüdiger Zuck, Das Recht der Veifassungsbeschwerde.
Tribunal Federal, exigrndo-se que a questão constítucíonal discutida no caso atenda 2' edoo Munique, 1988, p. 220.
576 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 577

Não há dúvida de que essa orientação prepara algumas difi- observância do direito ordinário pode configurar uma afronta ao pró-
culdades, podendo converter a Corte Constitucional em autêntico prio direito constituclOnal tem aplicação também entre nós.
tribunal de revisão. É que, se a lei deve ser aferida em face de toda a Essa conclusão revela-se tanto mais plausível se se considera
Constituição, as decisões hão de ter sua legitimidade verificada em que, tal como a Administração, o Poder Judiciário está vin~ulado â
face da Constituição e de toda a ordemjuridíca. Se se admitisse que constituição e as leis (CF, art. 5", § I').
toda decisão contniria ao direito ordinário é uma decIsão inconsti-
Certamente afigurava-se extremamente dificil a aplicação desse
tucional, ter-se-ia de acolher, igualmente, todo e qualquer recurso
entendimento, entre nós, no âmbIto do recurso extraordinário. O ca-
constitucional interposto contra decisão judicial i1egal. 71
ráter marcadamente individual da impugnação, a fragmentariedade
Enquanto essa orientação prevalece em relação â leis mconsti-
das teses apresentadas nesse processo, a exigêncla estrita de preques-
tucionais, não se adota o mesmo entendimento no que concerne ás
tionamento, contribuíam para dificultar a aplicação da orientação
decisões judiciais.
acuna desenvolvida no âmbito do recurso extraordinário.
Por essas razões, procura o Tribunal formular um critério que
limita a impugnação das decisões judiciais mediante recurso cons- A argüição de descumprimento de preceito fundamental vem
titucional. Sua admissibilidade dependeria, fundamentalmente, da libertar dessas amarras o questíonamento da decisão judicial con-
demonstração de que, na interpretação e aplicação do Direito, o creta.
juiz desconsiderou por completo ou essencialmente a influência
dos direitos fundamentais, de que a decisão se revela grosseira e Omíssão legíslativa no processo de controle abstrato de nor-
manifestamente arbitrària na interpretação e aplicação do direito mas e na argiiição de descumprimento de preceito fundamental -
ordinário ou, ainda, de que se ultrapassaram os limites da construção Tal como vem sendo amplamente reconhecido, configura-se omissão
jurísprudencial.72 Não raras vezes observa a Corte Constitucional que legislativa não apenas quando o órgão legislativo não cumpre o seu
determinada decisão judiciaI afigura-se insustentável porque assente dever, mas também quando o satisfaz de forma incompleta. Nesses
em interpretação objetivamente arbitrária da norma legal.73 casos - que configuram, em termos numéricos, a mais sIgnificallva
Ássim, uma decisão que, V.g., amplia o sentido de um texto categoria de omissão na jurisprudência da Corte Constitucional ale-
normativo penal para abranger uma dada conduta é considerada mã75 - é de se admitir tanto um controle principal, ou direto, como
inconstítucional, por afronta ao principio nullum crimen nul/a poena um controle incidental, uma vez que existe, aqui, norma que pode ser
sine lege (Lei Fundamental alemã, art. 103, TI). objeto de exame judicia!.76
Essa concepção da Corte Constitucional levou á formulação de
Embom a omissão do legislador não possa, enquanto tal, ser
uma teoria sobre os graus ou sobre a intensidade da restrição imposta
obJeto do controle abstrato de normas,77 não se deve excluir a possi-
aos direitos fundamentais (Stufentheorie), que admite uma aferição
bilidade de que essa omIssão venha a ser examinada no controle de
de constitucionalidade tanto mais intensa quanto maior for o grau de
74 normas.
intervenção no âmbito de proteção dos direitos fundamentais.
Embora o modelo de controle de constitucionalidade exercido Dado que no caso de uma omissão parcial hà uma conduta posi-
pelo Bundesveifassungsgericht revele especificidades decorrentes, tiva, não há como deixar de reconhecer a admissibilidade, em princi-
sobretudo, do sistema concentrado, é certo que a idéia de que a não-
75. BVerfGE 15/46 (76); 221329 (362); 23/1 (10); 25/101 (110); 321365 (372);
71. Schlaich, Das Bundesverfassllngsgencht, p. 109. 47/1 (33); 521369 (379).
72. Cf.. sobre o assunto, Schlaich, Das Bundesverfassungsgencht, p. 109. 76. Cf.• a propÓSIto, Christoph Gusy, Parlamentanscher Gesetzgeber und Bun-
73. BVerfGE 64/389 (394). desverfassungsgencht, Berlim, 1985~ p. 152, nota 34.
74. Rüdiger Zuck. Das Recht der Veifasstlngsbeschwerde, 211 ed., MUnique, 77. Ernst Fnesenhahn. Die Verfassungsgenchtsbarkeit ln der Bundesrepublik
1988, p. 221. Deutsch/and, Kõln, 1963, p. 65.
578 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 579

pio, da aferição da legitimidade do ato defeituoso ou incompleto no o controle do ato regulamentar - Sobre o ato regulamentar
processo de controle de normas, ainda que abstrato. 78 objeto da argüição de descumprimento examinar as considerações a
Tem-se, pois, aqui, uma relativa mas inequivoca fungibilidade propósito do preceito fundamental e principio da legalidade (infra,
entre a ação de inconstitucionalidade - direta ou no contexto da "Preceito fundamental e principio da legalidade: a lesão a preceito
argüição de descumprimento - e o processo de controle abstrato fundamental decorrente de ato regulamentar").7'
da omissão, uma vez que as duas espécies - o controle de normas e o
controle da omissão - acabam por ter, formal e substancialmente, o 4. Parâmetro de controle
mesmo objeto, isto é, a inconstitucionalidade da norma em razão de Considerações preliminares - É muito difícil indicar, a priori,
sua incompletude. os preceitos fundamentais da Constttuição passiveis de tesão tão
Ressalte-se que o problema do controle da omissão não decorre grave que justifique o processo e julgamento da argüição de descum-
propriamente do pedido, até porque, em um ou em outro caso, tem-se primento. 80
sempre um pedido de declaração de inconstitucionalidade. Tratando- Não hã dúvida de que alguns desses preceitos estão enunciados,
se de omissão a própria norma incompleta ou defeituosa há de ser de forma explícita, no texto constitucional.
suscetível de impugnação na ação direta de inconstitucionalidade, Assim, ninguém poderá negar a qualidade de preceitos funda-
porque é de uma norma alegadamente inconstItucional que se cui- mentais da ordem constitucional aos direitos e garantias individuaIS
da, amda que a causa da inconstitucionalidade possa residir na SUa (ar!. 5·, dentre outros l. Da mesma forma, não se poderá deixar de
incompletude. atribUir essa qualificação aos demais princípios protegidos pela cláu-
O art. lO da Lei n. 9.882, de 1999, ao estatuir que o STF fixará sula pétrea do ar!. 60, § 4", da CF: o princípio federatIvo, a separação
as condições e o modo de interpretação e aplicação do preceito fun- de Poderes e o voto direto, secreto, universal e periódico.
damental vulnerado, abre uma nova perspectiva, não por criar uma Por outro lado, a própria Constituição explicIta os chamados
nova via processual própria, mas justamente por fornecer suporte "princípios sensíveis", cuja violação pode dar ensejo á decretação de
legal direto ao desenvolvimento de técnicas que permitam superar o intervenção federal nos Estados-membros (art. 34, VII).
estado de inconstitucionalidade decorrente da omissão. É fácil de ver que a amplitude conferida às cláusulas pétreas e
Nesse sentido, o STF dividiu-se, literalmente, a propósito do a idéia de unidade da Constítuição (Einheit der Veifassung) acabam
conhecimento ou não da Argüição de Descumptimento de Preceito
Fundamental (ADPF) n. 4, movida contra a MP n. 2.019, de 2000, 79. Cf. deCISão na ADPF n. 87 (ANOREG), ReI. Min. GiImar Mendes, Que,
ao reconhecer a meXlstência de óbice para que se analise, em condições especiais,
que fixou o valor do salário minimo: cinco Ministros entenderam ad- a constItucIOnalidade de atas regulamentares em face da Constituição, uma vez que
missível a ação (Sepúlveda Pertence, Celso de Mello, Marco Aurélio, a questão constitucional mUltas vezes é posta de fonna tal que se afigura paSSivei
limar GaIvão e Carlos Velloso) e cinco consideraram-na inadmissível a ofensa aos postulados da legalidade e da mdependência e separação de Poderes,
indeferiu a liminar. por considerar o tema complexo. especialmente em face dos
, (Octávio Gallotti, Nélson Jobim, Maurício Corrêa, Sydney Sanches limItes amda não precisamente definidos da argüição de descumprimento de precelto
" e Moreira Alves). Colhido o voto de desempate do Min. Néri da Sil- fundamental. Nesse caso, considerou o Relator que a concessão da limmar acabaria
veira, o Tribunal concluiu pela admissibilidade da argüição. A ação, por trazer maIOres preJulZos a todo o sistema jurídico instituCional.
entretanto, restou prejudicada, tendo em vista a edição de normas 80. A prática Jurisdicíonaí do STF é um importante guia para a elucidação desta
questão. Nesse sentido, merecem destaque exemplos como o da ADPF n. 33. Rel.
alterando o valor do salário mínimo (ADPF n. 4, ReI. Min. Octávio Min. Gilmar Mendes, julgada procedente sob o fundamento de ofensa ao pnncipio
Gallotti, DJU22.9.2006). federatiVO (art. 60. § 451, da CF) e â vedação consutucional de vinculação do saláno
minimo para qualquer fim (art. 72 , N, da CF), e o da ADPF n. 54, ReI. Min. Marco
Aurélio, em que e argUida a Violação a dignidade da pessoa humana, legalidade,
78. Gusy. Parlamentarischer Gesetzgeber und Bundesveifassungsgencht. p. 152. liberdade, autonomia da vontade e direito asaúde.
580 ARGÜ1ÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜ1ÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 581

por colocar parte significativa da Constituição sob a proteção dessas se estenda, por força do disposto no art. IQ, III, a toda a ordem cons-
garantias. Tal tendência não exclui a possibilidade de um engessa- titucional. tem-se de admitir que o postulado da dignidade humana
mento da ordem constitucional, obstando à introdução de qualquer protegido no art. 79, III, não se realiza sem contemplar outros direitos
mudança de maior siguificado. 81 fundamentaIS. Idêntico raclocinio há de se desenvolver em relação a
Daí afirmar-se, correntemente, que tais cláusulas hão de ser outros princípios referidos no art. 79, III. Para o Estado de Direito da
República Federal da Alemanha afigura-se mais relevante o art. 19,
interpretadas de forma restritiva.
IV (garantia da proteção judiciária), do que o princípio da proibição
Essa afirmação SImplista. ao invés de solver o problema, pode de lei retroativa que a Corte Constitucional extraiu do art. 20. E, fora
agravá-lo, pois a tendência detectada atua no sentido não de uma in- do âmbito do direito eleitoral, dos direitos dos partidos políticos e dos
terpretação restritiva das cláusulas pétreas, mas de uma interpretação chamados direitos fundamentais de índole polítIca, não há liuute para
restritiva dos próprios princípios por elas protegidos. a revisão constitucional do princípio da democracia"83
Essa via, ao ínvés de permitir um fortalecimento dos principios Essas assertivas têm a virtude de demonstrar que o efetivo conteú-
constitucionais contemplados nas garantias de eternidade, como do das garantias de eternidade somente será obtido mediante esforço
pretendido pelo constituinte, acarreta. efetivamente, seu enfraque- hermenêutico. Somente essa atividade poderá revelar os principios
cimento. constitucionais que, ainda que não contemplados expressamente nas
Assim, parece recomendável que eventual interpretação restriti- cláusulas pétreas, guardam estreita vinculação com os pnncípios por
va se refira à própria garantia de eternidade sem afetar os princípios elas protegidos e estão, por isso, cobertos pela garantia de imutabili-
por ela protegidos. 82 dade que delas dimana.
Por isso, após reconhecer a possibilidade de que se confira uma Tal como enunciados normalmente nas chamadas "cláusulas
interpretação ao art. 79, III, da Lei Fundamental que não leve nem ao pétreas", os princípios merecedores de proteção parecem despidos
engessamento da ordem constitucional, nem à completa nulificação de conteMo específico.
de sua força normativa, afirma Bryde que essa tarefa é prenhe de di- Que significa, efetivamente, "separação de Poderes" ou "forma
ficuldades: "Essas dificuldades residem não apenas na natureza assaz federativa"? Que é um "Estado de Direito Democrático"? Que signi-
aberta e dependente de concretização dos principios constitucionais, fica "proteção da dignidade humana"?
mas também na relação desses princípios com as concretizações que Essas indagações somente podem ser respondidas, adequada-
eles acabaram por encontrar na Constituição. Se parece obrigatória a mente, no contexto de determinado sistema constitucIOnal. É o exa-
conclusão de que o art. 79, III, da Lei Fundamental não abarcou todas me sistemático das disposições constitucionais íntegrantes do modelo
as possíveis concretizações no seu âmbito normativo, não se afigura constituCIOnal que permitirá explicitar o conteudo de determínado
menos certo que esses principios seriam despidos de conteudo se não principio e sempre à luz de um caso concreto.
levassem em conta essas concretizações. Isso se aplica sobretudo
porque o constituinte se esforçou por realizar, ele próprio, os prin- Ao se deparar com alegação de afronta ao princípio da divisão
cípios básICOS de sua obra. O principio da diguidade humana está de Poderes de Constituição estadual em face dos chamados "prin-
protegido tão amplamente fora do âmbito do art. I Q, que o siguificado cipios sensiveis" (representação interventiva), assentou o notável
Castro Nunes em lição que, certamente, se aplica à interpretação das
da disposição nele contida acabou reduzido a uma questão secundá-
ria (defesa da honra), que, obviamente, não é objeto da garantia de cláusulas pétreas: "( ... l. Os casos de intervenção prefigurados nessa
eternidade prevista no art. 79, III. Ainda que a referência ao IQ não enumeração se enunciam por declarações de principios, comportan-
do o que possa comportar cada um desses princípios como dados
81. Cf. Otto~Brun Bryde. Verfassungsengsentwlcklung, Stabilitãt und Dynamik doutrinàrios, que são conhecidos na exposição do direito público. E
im Veifassungsrecht der Bundesrepublik Deutschland. Baden-Baden, 1982. p. 244.
82. Otto-Brun Bryde. Veifassungsentwlck/ung 0'0' p. 244. 83. Otto-Brun Bryde. Verfassungsentwrck1ung .... p. 245.
582 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 583

por isso mesmo ficou reservado o seu exame, do ponto de vista do mas também a disposições que confiram densidade normativa ou
conteudo e da extensão e da sua correlação com outras disposições significado específico a esse princípio.
constitucionais, ao controle judicial a cargo do Supremo Tribunal Tendo em vista as interconexões e interdependências dos prin-
Federal. Quero dizer com estas palavras que a enumeração é limita- cipios e regras, talvez não seja recomendável proceder-se a uma dis-
tiva como enumeração. (... ). A enumeração é taxativa, é limitativa, tinção entre essas duas categorias, fixando-se um conceito extensivo
é restritiva, e não pode ser ampliada a outros casos pelo Supremo de preceito fundamental, abrangente das normas básicas contidas no
Tribunal. Mas cada um desses princípios é dado doutrinário que tem texto constitucional.'6
de ser examinado no seu conteudo e delimitado na sua extensão. Dai
decorre que a interpretação é restritiva apenas no sentido de limitada Preceito fUlldamental e princípio da legalidade: a lesijo a pre-
aos princípios enumerados; não o exame de cada um, que não está ceito ftmdamental decorrente de ato reglllamentar - A Constituição
nem podeci estar limitado, comportando necessariamente a explora- Federal de 1988 estabelece ser admissível recurso extraordinário
ção do conteúdo e fixação das caracteristicas pelas quais se defma quando a decisão recorrida contrariar dispositivo da Constituição,
cada qual deles, nisso consistindo a delimitação do que possa ser declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal ou julgar
consentido ou proibido aos Estados". 84 válida lei ou ato do governo local contestado em face do texto cons-
Essa orientação, consagrada pelo STF para os chamados "princí- titucional e julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
pios sensíveis", há de se aplicar it concretização das cláusulas pétreas Assim, ao contrário do que se verifica em outras ordens cons-
e, também, dos chamados "preceitos fundamentais". titucionais. que limitam. muitas vezes, o recurso constitucional aos
É o estudo da ordem constitucional no seu contexto normativo casos de afronta aos direitos fundamentais, optou o constituinte
e nas suas relações de interdependência que permite identificar as brasileiro por admitir o cabimento do recurso extraordinário contra
disposições essenciais para a preservação dos principios basilares e qualquer decisão que, em única ou última instância, contrariar a
dos preceitos fundamentais em um determinado sistema. Tal como Constituição.
ensina J. J. Gomes Canotilho em relação it limitação do poder de re- Portanto, a admissibilidade do recurso constitucional não está
visão, a identificação do preceito fundamental não pode divorCiar-se limitada, em tese, a determinados parâmetros constitucionais, como
das conexões de sentido captadas do texto constitucional, fazendo-se é o caso da Veifassungsbeschwerde na AJemanha (Lei Fundamental,
mister que os limites materiais operem como verdadeiros limites art. 93, n. 4), destinada, basicamente, à defesa dos direitos funda-
textuais implícitos.85 mentais.
Destarte, um juizo mais ou menos seguro sobre a lesão de pre- Assinale-se, porém, que mesmo nos sistemas que admitem o
ceito fundamental consistente nos princípios da divisão de Poderes, recurso constitucional apenas com base na alegação de ofensa aos
da forma federativa do Estado ou dos direitos e garantias individuais direitos fundamentais surgem mecanismos ou técnicas que acabam
exige, preliminarmente, a identificação do conteúdo dessas catego- por estabelecer uma ponte entre os direitos fundamentais e todo o
rias na ordem constitucional e, especialmente, das suas relações de sistema constitucional, reconhecendo-se que a lei ou ato normativo
interdependência. que afronta determinada disposição do direito constitucional objetivo
Nessa linha de entendimento, a lesão a preceito fundamental ofende, ipso Jure, os direitos individuais, seja no que se refere à liber-
não se configurará apenas quando se verificar paSSIvei afronta a um dade de ação, seja no que diz respeito ao princípio da reserva legal.
princípio fundamental, tal como assente na ordem constitucional, A Corte Constitucional alemã apreciou pela primeira vez a ques-
tão no chamado Elfes-Urteil, de 16.1.57, deixando assente que uma
84. Repr. n. 94, ReI. Min. Castro Nunes, Archivo Judicrario 85/31 (34-35),
'1947. 86. CE. sobre o assunto, a discussão desenvolvida no Julgamento da ADPF 33,
85. Canotilho. Direíto ConstituclOllai, Coimbra. 1992, p. 1.136. ReI. Min. Gilmar Mendes,julgada em 7.122005, DJU 27. 10.2006.
584 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 585

norma jurídica lesa a liberdade de ação (Handlllngsfreiheit) se con_ da restrição ao direito de liberdade é uma condição de sua constí-
traria disposições ou princípios constitucionais, tanto no que se refere tncionalidade; a violação à lei constitui uma afronta aos próprios
ao aspecto formal quanto no que diz respeito ao aspecto materiaL" direitos fundamentais", 89
No referido julgado explicitou a Corte alemã orientação que Orientação semelbante é enfatizada por Klaus Schlaich, ressal-
seria repetida e aperfeiçoada em decisães posteriores: "De tudo o tando que também a incompatibilidade entre as normas regulamenta-
que se afumou, resulta que uma norma jurídica somente pode res- res e a lei formal enseja a interposição de recurso constitncional sob
tringir, eficazmente, o âmbito da liberdade individual se corresponder alegação de afronta a um direito geral de Iiberdade. 9o
às exigências estabelecidas pela ordem constitucional. Do prisma Tal como enunciado por Christian Pestalozza,91 configuram-se
processuaL significa dizer: todos podem sustentar, na via do recurso hipóteses de afronta ao direito geral de liberdade (Lei Fundamental
constitucional, que uma lei que estabelece restrição à liberdade indi- alemã, art. 22 , 1), ou a outra garantia constitncional expressa:
vidual não integra a ordem constitucional, porque afronta, formal ou
- a não-observância pelo regulamento dos limites estabelecidos
materialmente, disposições ou principias constitucionais; ( ... )" (Lei
em lei (Lei Fundamental, art. 80,1);92
Fundamental alemã, art. 2, 1).88
- a lei promulgada com inobservância das regras constitncionais
Essa decisão permitiu que o BlIndesveifasslIngsgerícht aprecias-
de competência;93
se na via excepcional da Veifassllngsbeschwerde (recurso constitu-
cional) a alegação de afronta não apenas aos direitos fundamentais, - a lei que estabelece restrições incompatíveiS com o principio
mas a qualquer norma ou princípio constitucional. da proporcionalidade. 94
E que, como observa Hans-Jürgen Papier, qualquer inconsti- Embora essa orientação pudesse suscitar alguma dúvida, espe-
tucionalidade de lei restritiva de direito configura, tambem, afronta cialmente no que se refere à conversão da relação lei/regulamento
aos direitos fundamentais: "O significado dos direitos fundamentais numa questão constitncional, é certo que tal entendimento parece ser
nos termos da Lei Fundamental não se limita mais exclusivamente o único adequado a evitar aflexibilização do principio da legalidade,
a garantir a legalidade (Gesetzmiissigkeít) das restrições impostas tanto sob a forma de postnlado da supremacia da lei quanto sob a
à liberdade individual pelo Executívo e pelo Judiciário. Mediante modalidade de princípio da reserva legal.
a vinculação do Poder Legislativo aos direitos fundamentais não Do contrário restaria praticamente esvaziado o significado do
Se suprime, mas se reforça e se completa a função de proteção dos principio da legalidade, enquanto princípio constitncional em relação
direitos fundamentais. Administração e Justiça necessitam para a à atividade regulamentar do Executivo. De fato, a Corte Constitucio-
intervenção nos direitos fundamentais de uma dupla autorização. nal estaria impedida de conhecer de eventual alegação de afronta, sob
Além da autorização legal (gesetzliche Ermiichtígung) para a inter- o argumento da falta uma ofensa direta à Constituição. Especialmen-
venção, deve-se exigir tambem uma autorização constítuclOnal para te no que diz respeito aos direitos individuais, não há como deixar de
a limitação dos direitos fundamentais. Se os direitos fundamentais reconhecer que a legalidade da restrição aos direitos de liberdade e
da Lei Fundamental não se exaurem na legalidade do segundo e do lima condição de slla constitucionalidade.
terceiro Poder, surge, ao lado da reserva legal, a idéia de uma reserva
da Constítuição. Então afigura-se lícito admitir que, de uma pers- 89. Hans-Jürgen Papler, "Spezifisches Verfassungsrecht' und 'Einfaches Recht'
aIs Argumentationsformal des Bundesverfassungsgenchts", ln Bundesverfassllngsge-
pecllva jurídico-material, os direitos fundamentais protegem contra r/chl un Gundgesetz, v. I, Tübingen, 1976, p. 432 (433-434).
restrições ilegais ou contra limitações sem fundamento legal levadas 90. Schlaich., Das Bundesverfassllngsgericht, Munique, 1985, p. 108.
a efeito pelo Poder Executivo ou pelo Poder Judiciário. A legalidade 91. Verfassungsprozessrecht, 2I1.ed., Munique, 1982, pp. 105-106.
92. BVerfGE 41/88 (116); 42/374 (385).
87. BVerfGE6/32 (36 e SS.; 41). 93. BVerfGE 38/288 (298 e 55.); 40/56 (60); 42/20 (27).
88. BVerfGE 6/32 (33). 94. BVerfGE 38/288 (298).
586 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRlMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 587

Não há dúvida, igualmente, de que esse entendimento aplica-se Nas ações propostas em razão de processos que tramitam nas
ao nosso modelo constitucional, que consagra não apenas a legalida- diversas instâncias - estes deverão ser os mais relevantes - o re-
de como principio fundamental (art. 5°, II), mas exige também que querente deverá demonstrar a existência de controvérsia judicial ou
os regulamentos observem os limites estabelecidos pela leI (CF, art controvérsia jurídica relevante (cf., supra, "Controvérsia judicial ou
84, IV). juridica nas ações de caráter incidental"). Sobre o assunto aplicam-se
as considerações desenvolvidas a propósito de semelhante exigência
quanto ao procedimento da ação declaratória (cf., supra, Sexta Parte,
5. Procedimellto
relativa à ADI, ADC e ADIO).
Em suas linhas gerais, a Lei n. 9.882, de 1999, adotou procedi- O parágrafo único do art. 3° da Lei n. 9.882, de 1999, est.abelece
mento similar ao consagrado pela Lei n. 9.868, de 1999. que ao autor da argüição de descumprimento de preceito fundamen-
tal cabe apresentar, juntamente com a petição inicial em duas vias,
Reqllisitos da petição illicial e admissibilidade das ações - Tal cópias do ato questionado e documentos necessários à comprovação
como a Lei n. 9.868, de 1999, a Lei n. 9.882, de 1999, estabelece que do alegado. Aludida disposição prevê, também, a necessidade de se-
a petição inicial deverá conter (a) a indicação do preceito fundamen- rem as petições acompanhadas, quando subscritas por advogado, de
tal que se considera violado, (b) a indicação do ato questionado, (c) a instrumento de procuração. Tal como já foi destacado em relação à
prova da violação do preceito fundamental, (d) o pedido com suas es- ação direta de inconstitucionalidade, afigura-se recomendável que a
pecificações e, se for o caso, (e) a demonstração da controvérsia judi- procuração contemple poderes específicos para impugnar as normas
cial relevante sobre a aplicação do preceito fundamental questionado. atacadas na inicia1.96
Mais ainda do que nas ações diretas de inconstitucionalidade, a Nos termos da Lei n. 9.882, de 1999, a petição inicial sem indefe-
indicação do preceito fundamental violado assume peculiar signifi- rida liminarmente, pelo relator, em caso de manifesta madequação da
cado na argüição de descumprimento. Não será suficiente a simples ação, na hipótese de não atendimento de qualquer dos requisitos legais
indicação de uma possível afronta à Constituição, devendo caracteri- ou, ainda, em caso de inépcia da inicial (art. 4", capllt). Da decisão
zar-se, fundamentadamente, a violação de um principio ou elemento de indeferimento caberá agravo no prazo de cinco dias (art. 4", § 20).
básico (sobre o assunto cE, supra, "Parâmetro de controle"). Também Ao contràrio da Lei n. 9.868, de 1999 (arts. 5º e 16), não se
aqui se faz indispensável fundamentar o pedido em relação a cada prevê na disciplina da ação de descumprimento de preceIto funda-
uma das impugnações. mental proibIção expressa de desistência. Tendo em vista, porém, o
De qualquer sorte, a despeito da exigência quanto à fundamen- caráter igualmente objetivo desse processo e seu manejo na defesa de
tação do pedido, não está o Tribunal vinculado aos fundamentos por- interesse público geral, é provável que o STF venha a adotar entendi-
ventura expendidos pelo requerente, devendo a argüição de descum- mento semelhante em relação a essa ação especial.
primento de preceito fundamental, em razão de seu caráter ob]etivo,
submeter-se ao postulado da callsa petelldi aberta, pelo menos no III/armações e mallifestações do Advogado-Geral da Ullião e
que concerne aos demais preceitos fundamentais. do Procllrador-Geral da República - O desenvolvimento do proces-
so da argüição de descumprimento de preceito fundamental também
Tal como nas ações diretas de constitucionalidade ou de incons- está vinculado à existência ou não de pedido de limmar.97
titucionalidade, deverá o legitimado formular precisamente o pedido,
fazendo as devidas especificações. 95 96. Cf., sobre o assunto, aADln n. 2.187, ReI. Min. Gallotti. Infonnallvo STF
190.
95. Cf. Sexta Parte, relativa à ação direta de inconstituCIonalidade. n. IU4. e 97. Sobre a ação direta de inconstitucionalidade. cf. Sexta Parte, n. ll/4, item
à ação declaratória de constitucionalidade n. IIII5. "Requisítos da petição imclal e "Informações das autoridades das quais emanou o ato normativo e manifestações do
admissibilidade da ação", Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República",
588 ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 589
i'!
Se não houver pedido de limínar, deverá o relator solicitar apresentar manifestação escrita como fazer sustentação oral (art. 6",
informações às autoridades responsáveis pelo ato questionado, que §§ 12 e 22 , da Lei n. 9,882/99).
disporão do prazo de lO dias para oferecê-las (art. 6", caput). Em principio, o pedido para a habilitação há de ser feito no pra-
Havendo pedido de liminar, poderá o relator ouvir as autori- zo das ínformações.
dades responsáveis pelo ato questionado, bem como o Advogado_ Na ADPF n. 33, entretanto, admitiram-se como amici curiae
Geral da União e o Procurador-Geral da República, no prazo comum as partes dos processos originários, a despeito de o pedido de par-
de cinco dias (art. 52, § 22 ). Ap6s a decisão formular-se-á pedido de ticipação se ter verificado após o parecer da Procuradoria-Geral da
informações, desta feita relativas à própria controvérsia material República.9B
(art.62 ).
Apuração de questões fáticas e densificação de informações
A Lei n. 9.882, de 1999, não eXIge a audiência do Advogado- na ação de descumprimento de preceito fUlldamelltal- Na linha do
Geral da União acerca do ato impugnado, prevendo apenas, caso o estabelecido nos arts. 9', § 12 , e 20, § 12 , da Lei n. 9.868, de 1999-
relator entenda oportuno, a possibilidade de sua audiência em sede que autorizam ao relator, após as manifestações do Advogado-Geral
de liminar. da União e do Procurador-Geral da República, em caso de neceSSI-
A audiência do Mínistério Público (procurador-Geral da Repú- dade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de
blica) somente será obrigatória, após as informações, nas argüições notória msuficiência das informações existentes nos autos. requisitar
que não forem por ele formuladas (art, 72 , parágrafo linico). informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para
que emita parecer sobre a questão ou fixar data para, em audiênCIa
Intervellção de terceiros e "amiclls curiae" - A Lei n. 9.882, pública, ouvir depoímentos e pessoas com experiência e autoridade
de 1999, faculta ao relator a possibilidade de ouvir as partes nos pro- na matéria - a Lei n. 9.882, de 1999, prevê, igualmente, a possibili-
cessos que ensejaram a argüição (art. 6", § 12 ). Outorga-se, assim, ás dade de o relator autorizar a audiência das partes nos processos que
partes nos processos subjetivos um limitado direito de participação ensejaram a argüição, requisítar informações adicionais, designar
no processo objetivo submetido à apreciação do STF. E que talvez, perito ou comissão de peritos e determinar a realização de audiênCIaS
em decorrência do universo demasiado amplo dos passiveis interes- públicas com experts (art. 6", § 12 ).
sados, tenha pretendido o legislador ordinário outorgar ao relator Tem-se também aqui um processo estruturalmente aberto. que
algnma forma de controle quanto ao direito de participação dos mi- permitirá não só a participação dos interessados nas causas que,
lhares de interessados no processo. eventualmente, tenham dado ensejo à propositura da ação de des-
Em face do caráter objetivo do processo, é fundamental que cumpnmento de preceito fundamental, mas também a manifestação
possam exercer direito de manifestação não s6 os representantes de de peritos e especialistas no tema. Aplica-se, fundamentalmente, a
potenciais interessados nos processos que deram origem à ação de orientação adotada no processo de ação direta de inconstitucionali-
descumprimento de preceito fundamental, mas também os legitima- dade e ação declaratóna de constitucionalidade (cf. Sexta Parte, no
dos para propor a ação. Independentemente das cautelas que hão de n. II, n. 4, "Apuração de questões fáticas no controle de constitucio-
nalidade").
ser tomadas para não ínviabilizar o processo, deve-se anotar que tudo
recomenda que, tal como na ação direta de inconstitucionalidade e
na ação declaratória de constitucionalidade, a argüição de descum- 6. Medida cautelar
primento de preceito fundamental assuma, igualmente, uma feição A Lei n. 9.882, de 1999, prevê a possibilidade de concessão de
pluralista, com a participação de amicus curiae. medida liminar na argüição de descumprimento, mediante deCIsão
Tal como na ação direta de inconstitucionalidade e na ação
declaratória de constitucionalidade, os amlei curiae tanto podem 98. ReI. Min. Gilrnar Mendes.]. 7.12.2005. DJU27.1O.2006.
590 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 59l

da maioria absoluta dos membros do Tribunal. Em caso de extrema bilidade. 102 Medidas cautelares também foram concedidas na ADPF
urgência ou de perigo de lesão grave, ou ainda durante o periodo de n. 47, da relataria do Ministro Eras Grau, e na ÁDPF n. 79, deferida
recesso, a liminar poderá ser concedida pelo relator ad referendum do pelo Presidente do STF, em 29.7.2005, ad referendum do plenário. 103
Tribunal Pleno (ar!. 52 e § 12). por fim, o Tribunal referendou decisão liminar concedida pelo Min.
Carlos Britto na ADPF n. 130, em 27.2.2008. 104
Diferentemente do estabelecido na Lei n. 9.868, de 1999, não se
revela obrigatória a audiência da autoridade responsável pela edição Anote-se que, na ausência de norma específica, o Tribunal
do ato antes da concessão da liminar em argüição de descumprimen- empregou, por analogia, dispositivo da Lei n. 9.868/99 ao procedi-
to. A lei autoriza, porem, o relator a deferir a audiência tanto da au- mento da argüição de descumprimento de preceito fundamental. ao
toridade responsável pela edição do ato quanto do Procurador-Geral determinar o julgamento de mérito da ação no prazo de 180 dias, a
da República e do Advogado-Geral da União (art. 52, § 22 ). Talvez contar da data da sessão em que referendada a decisão liminar (art.
21, parágrafo úmco),105
fosse recomendável, tendo em vista a semelhança de situações, que o
relator adotasse condutas idênticas nas duas espécies de procedimen-
to, determinando-se a audiênCia dos responsáveis pela edição do ato 7. As decisões do Supremo Tribunal Federal
impugnado antes da decisão sobre a liminar requerida. na argiiição de descumprimento
Além da possibilidade de decretar a suspensão direta do ato Procedimento de tomada de decisões - A decisão sobre a ar-
impugnado, admite-se na cautelar prevista para a argüição de des- güição de descumpnmento somente será tomada se presentes pelo
cumprimento a determinação de que os juízes e tribunais suspendam menos dois terços dos Ministros (oíto Ministros). Embora o texto
o andamento de processo ou os efeitos de decisões Judiciais ou de seja silente, também aqui se há de aplicar a regra do art. 23 da Lei n.
qualquer outra medida que guarde relação com a matéria discutida na 9.868, de 1999, segundo a qual a decisão de procedência ou improce-
ação (art. 52, § 32). Confere-se, assim, ao Tribunal um poder cautelar dência haverá de ser tomada pela maioria absoluta dos membros do
expressivo, impeditivo da consolidação de situações contra a passi- Tribunal. Em reforço desse argumento milita a disposição contida na
veI decisão definitiva que venha a tomar. Nesse aspecto, a cautelar Lei n. 9.882, de 1999, que exige seja a cautelar deferida por deCisão
da ação de descumprimento de preceito fundamental assemelha-se da maioria absoluta dos membros do Tribunal (art. 52, capul). Não se
à disciplina conferida pela Lei n. 9.868, de 1999, à medida liminar pode adotar para a decisão defmitiva critério menos rigoroso do que
na ação declaratória de constitucionalidade (art. 21). Dessa forma, a aquele fixado para a liminar.
liminar passa a ser também um instrumento de economia processual Julgada a ação, deverá ser feita comunicação as autoridades
e de uniformização da orientação jurisprudencial. responsáveis pela prática dos atos questionados, fixando-se, se for o
Como já mencionado, foi concedida liminar na ADPF n. 33 caso, as condições e o modo de interpretação e aplicação do preceito
em 25.11.2002,9' por decisão monocrátíca, referendada por una- fundamental.
nimidade pelo plenário do STF, em 29,10.2003. 100 Em sessão O Presidente do Tribunal deve determinar o imediato cumpri-
plenária de 7.12.2005, o Tribunal, por unanimidade, julgou proce- mento da decisão, publicando-se, dentro de 10 dias a contar do trân-
dente a ADPF.IOI Também na ADPF n. 54 foi concedida limmar em
2.8.2004, tendo o Tribunal, na sessão de 20.1 0.2004, negado refe-
I02.ADPF n. 54. ReI. Min. Marco Aurélio, Clt Em sessão de 27.4.2005, sus-
rendo â referida liminar concedida, mas reconhecendo sua admissi- CItada questão de ordem, o Tribunal, por maioria, admitiu o cabimento da ADPF. A
apreciação do merito daADPF, entretanto, ainda está pendente.
99. DJU2.12.2002. 103. ADPF n. 79. ReI. Min. Cézar Peluso, DJU de 4.8.2005.
100. DJU6.l1.2003. 104. bifonnativa STF 496.
I01.ADPF n. 33, Rei. Min. GilmarMendes.J. 7.122005,DJU27.10.2006. 105.ADPF n. 130, ReI. Min. Carlos Bntto,lnfonnativa STF 496.
592 ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ARGÜlÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 593

sito emjulgado, sua parte dispositiva em seção especial do Diárro de A Lei n. 9.882, de 1999, reconbece igualmente a possibilidade
Justiça e do Diário Oficial da União (art. 10, §§ 1" e 2"). de que por maioria de dois terços se declare a inconstitucionalidade
Tal como a Lei n. 9.868, de 1999, também a Lei n. 9.882, de da lei com efIcácia ex nunc ou com efeito a partir do momento que
1999 (art. 12), define-se claramente em relação à irrecorribilidade e venba a ser estabelecido pelo Tribunal (art. (1). Valem aqui as consi-
à não-rescindibilidade da decisão proferida na argüição de descum_ derações expendidas sobre o art. 27 da Lei n. 9.868, de 1999. 108
primento. Assinale-se, ainda, que, nos termos da Lei n. 9.882, de 1999, a
decisão (de mérito) proferida na ação de descumprimento de preceito
Técnicas de decisão, efeitos da declaração de ilegitimidade, fundamental terá efIcácia contra todos e efeito vinculante relativa-
segllrança e estabilidade das decisões - Tendo em vista o amplo mente aos demais órgãos do Poder Público (art. 10, § 3Q ).'?' Quanto
I' objeto de impugnação no âmbito da argüição de descumprimento, o à efIcácia erga omnes da decisão, não parece haver dúvida de que se
Tribunal, reconbecendo sua procedência ou improcedência, poderà cuida de um consectário da natureza objetiva do processo. Trata-se
declarar a legitimidade ou ilegitimidade do ato questionado. Se de um processo "sem partes", no qual se discute amplamente a tutela
incidir sobre ato normativo adotar-se-ão as técnicas de decisão do do interesse público de forma geral.
controle de constitucionalidade abstrato. Nesse caso aplicam-se in-
Tal como assinalado na Sexta Parte, n. VI "Segurança e estabi-
tegralmente as considerações desenvolvidas neste estudo a propósito
lidade das decisões em controle abstrato de constitucionalidade", se
das técnicas de decisão no controle de constitucionalidade da ação
concebermos o efeito vinculante como atributo da própria junsdição
direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucio-
constitucional não há dificuldade em reconbecermos legitimidade à
nalidade (cf., supra, Sexta Parte, n. V. item "Procedimento de tomada decisão legislativa que outorga efeito vinculante a outras decisões
de decísões").
constitucionais relevantes tomadas pelo STF.
Tendo por objeto o direito pré-constitucional, deverá o Tribunal
limitar-se a reconbecer a legitimidade (recepção), ou não, da lei, em
face da norma constitucional superveniente.,o6
Incidindo, porém, sobre ato de efeito concreto (ato administrativo
singular, sentença), o tribunal afinnará sua ilegitimidade. Pode ser que
o ato singular questionado (v.g., uma decisão Judicial) afIrme a incons-
titucionalidade de uma lei ou de uma dada aplicação ou interpretação
do próprio texto constitucional. Nessa hipótese, reconbecida a proce-
do art. 5Q, § 3Q, da Lei n. 9.882, de 1999. e. ainda, no merito, a procedênCIa do pedido.
dência da ação de descumprimento de preceito fundamental, ter-se-á
impondo-se ao TRF as condições e o modo de mterpretação e aplicação do art. 58 do
a declaração de ilegitimidade do ato questionado, com a afinnação da ADCT, com a decorrente eficàcIa erga omnes e efeito vincuiante. Em abril de 2001 o
constitucionalidade da lei ou da aplicação constitucional discutida. 107 processo amda pendia do exame da limmar requerida. Conforme já discutido. é o que
se pretende tambem nos autos da ADPF n. 101. Constam dos pedidos a deciaração
106. Cf.. sobre o tema, a discussão desenvolvida no Julgamento da ADPF n. 33. de mconstttucionalidade das decisões judiCIaIS que autorizam a importação de pneus
ReI. Min. Gilmar Mendes, J. 7.12.2005, DJU 27.10.2006. usados de qualquer espécie e a declaração de constituCIOnalidade dos atos normativos
107. Exemplificativa da submIssão de controversia constItucional onunda de infralegaJs que vedaram a importação de taiS pneus. Em março12009 o Julgamento foi
ato judicial é a questão posta naADPF n. 6-8/800 (ReI. Min. Celso de Melloi. ofere- suspenso em razão de pedido de vista do Min. Eros Grau (ADPF n. 101, Rela. Min.
cida pelo Presidente da República. Cuida-se de controvérsIa fundada na onentação ju- Cármen LUCIa., Infonnativo STF 538).
risprudencial do TRF da 2.i1 Região (RJ) que fIXOU em sUmula (n. 17) mterpretação do 108. Cf., a propósíto. Sexta Parte. V. "As decisões do STF no controle abstrato
art. 58 do ADCT incompatível com a firme e reIterada jurisprudência do STF sobre o de normas e os efeitos da declaração de inconstitucIonalidade".
tema - critério de reajuste de beneficio previdenciário. Na ação solicitou-se ao STF a 109. NaADln n. 2.231, o Min. Relator, Néri da Silveira., reconheceu a constitu-
suspensão tíminar de todos os processos, sobre a matéria, em curso no TRF da 2a Re- Cionalidade do efeito VInculante, preVIsto na LeI n. 9.882/99. em voto no sentido do
gião, bem como dos efeitos de decisões amda não transitadas em julgado. nos termos indefenmento da liminar. A ação, entretanto, pende de Julgamento.
o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 595

um modelo híbrido ou misto de controle. Não obstante, o monopólio


da ação direta exercido pelo Procurador-Geral da República - que,
em grande medida, realizava a idéia de designação de um advogado
da Constituição, defendida por Kelsen em 1928 1 - não produziu uma
alteração de monta em todo o sistema de controle. A ação direta sub-
sistiu como um elemento acidental no âmbIto de um sistema difuso
predominante.
OITAVA PARTE Se a intensa discussão sobre o monopólio da ação por parte do
o CONTROLE INCIDENTAL Procurador-Geral da República não levou a uma mudança na juris-
prudência consolidada sobre o assunto, e fácil constatar que ela foi
OU CONCRETO DE NORMAs decisiva para a alteração introduzida pelo constituinte de 1988, com
NO DIREITO BRASILEIRO a significativa ampliação do direito de propositura da ação direta (CF,
art. 103).
1. Introdução. 2. Pressupostos de admíssibilidade do controle concrnto. O constituinte manteve o direito de o Procurador-Geral da
3. O controle mcidental de normas no STF. 4. Notas peculiares sobre o
controle rncidental na Constitwção de 1988.
República propor a ação de inconstitucionalidade. Este é, todavia,
apenas um dentre os diversos órgãos ou entes legitimados a tomar
essa iniciativa (CF, art. 103).
1. Introdllção
Com ísso satisfez-se apenas parcialmente a exigêncía daqueles
Consagrou-se, com o advento da República, o modelo difuso do que solicitavam fosse assegurado o direito de propositura da ação a
controle de constitucionalidade. Em 1934 procedeu-se à introdução um grupo de, V.g.. dez mil cidadãos, ou que defendiam até mesmo a
da ação direta, como procedimento preliminar do processo interven- introdução de uma ação popular de inconstitucionalidade?
tivo (CF de 1934, art. 12). Em 1946 consolida-se o desenvolvimento Esse fato fortalece a impressão de que, com a introdução desse
da representação interventiva contra lei ou ato normativo estadual sistema de controle abstrato de normas, com ampla legitimação e,
(CF de 1946, art. 8", parágrafo único). E somente em 1965, com a particularmente, a outorga do direito de propositura a diferentes
adoção da representação de inconstitucionalidade, passa a integrar órgãos da SOCIedade, pretendeu-se reforçar o controle abstrato de nor-
o nosso sistema a modalidade de controle abstrato de normas (EC mas no ordenamento juridico brasileiro como peculiar mstnlmento
n. 16/65 à Constituição de 1946). No âmbito da unidade federada, a de correção do sistema geral incidente.
Constítuição de 1967/1969, além de propor a representação interven- Não é menos certo, por outro lado, que a ampla legitimação
tiva em face do Direito estadual (CF, art. 11, § 1°, "c"), estabeleceu conferida ao controle abstrato, com a inevitável possibilidade de se
a representação de lei municipal, pelo chefe do Ministério Público submeter qualquer questão constitucional ao STF, operou uma mu-
local, tendo em vista a intervenção estadual (art. IS, § 3", "d"). Fi- dança substancial- ainda que não desejada - no modelo de controle
nalmente, a EC n. 7/77 outorgou ao STF a competência para apreciar de constitucionalidade até então vigente no Brasil.
representação do Procurador-Geral da República para interpretação
de lei ou ato normativo federal ou estadual, completando, assim, o 1. Hans Kelsen, "Wesen und Entwicklung der Staatsgerichtsbarkeit", VVDSt-
instrumentarium do controle de constitucionalidade no Direito pátrio. RL, Caderno 5,1929, p. 75.
Ao final dos anos 80 conviviam no sistema de controle de cons- 2. Cf., a propósito. as propostas de Vílson Souza e Vivaldo Barbosa aCOffi1ssão
de Organização de Poderes e Sistema de Governo da Assembléia Constítuínte. m
titucionalidade, portanto, elementos do sistema difuso e do sistema Assembléia Naclonal Constitumte, Emendas Oferecidas â ComlSsão da Organtzação
concentrado de constitucionalidade, dando ensejo ao surgimento de dos Poderes e Sistema de Governo. 1988, pp. 214 e 342.
596 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 597

Convém assinalar que - tal como já observado por Anschü!z do habeas data e da ação civil pública, consagra-se no sistema cons-
ainda no regime de Weimar - toda vez que se outorga a Um Tribunal titucional brasileiro: a) a ação direta de inconstituCIOnalidade do di-
especial atribuição para decidir questões constitucionais limita-se reito federal e do direito estadual em face da Constituição, mediante
explícita ou implicitamente, a competência da jurisdição ordinàri~ provocação dos entes e órgãos referidos no art. 103 da CF; b) a ação
para apreciar tais controversias.' declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal
A Constituição de 1988 conferiu ênfase, portanto, não mais ao em face da Constituição Federal, mediante provocação dos entes e
sIstema difoso ou incidente, mas ao modelo concentrado, uma vez órgãos referidos no art. 103 da CF; c) a representação interventiva,
que, praticamente, todas as controversias constitucionais relevantes formulada pelo Procurador-Geral da República, contra ato estadual
passaram a ser submetidas ao STF, mediante processo de controle abs- considerado afrontoso aos chamados principios sensíveiS 9U, ainda,
trato de normas. A ampla legitimação, a presteza e a celeridade desse para assegurar a execução de lei federal; d) a ação direta por omissão,
modelo processual- dotado inclusive da possibilidade de se suspender mediante provocação dos entes e orgãos referidos no art. 103 da CF.
imediatamente a eficácia do ato normativo questionado, mediante E, portanto, nesse novo contexto que se há de apreciar o controle
pedido de cautelar - constituem elemento explicativo de tal tendênCIa. incidental ou concreto de normas.
A amplitude do direito de propositura faz com que até mesmo Como se sabe, adotou-se entre nós, de início, o modelo difu-
pleitos tipicamente individuais sejam submetidos ao STF, mediante so de declaração de inconstitucionalidade. 5 O Decreto n. 848, de
ação direta de inconstitucionalidade. 11.10.1890, consagrava que, "na guarda e aplicação da Constituição
Assim, o processo abstrato de normas cumpre entre nós uma du- e das leis nacionais, a Magistratura só intervirá em espéCie e por
pla função: é a um só tempo instrumento de defesa da ordem objetiva provocação da parte". O desenvolvimento posterior veio a consolidar
e de defesa de posições subjetivas.4 essa tendência, como se depreende do disposto nos arts. 59, § 12 , "a"
e "b", e 60 da CF de 1891 e no art. 13, § 10, da Lei de Organização
A EC n. 3, de 17.3.93, introduziu a ação dec1aratória de cons-
da Justiça Federal (Lei n. 221, de 20.11.1894). A Reforma de 1926
titucionalidade, firmando a competência do STF para conhecer e
não introduziu modificação siguificativa nesse âmbito, limitando-se
julgar a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato nor-
a restringir o acesso ao Judiciário nas questões polítícas. 6
mativo federal- processo cuja decisão detinítiva de mérito possuirá
eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demaiS A matéria não sofreu alterações profundas nos textos subse-
órgãos do Executivo e do Judiciário. Conferiu-se legitimidade ativa qüentes.
ao Presidente da República, à Mesa do Senado Federal, á Mesa da A declaração de inconstitucionalidade por via de exceção engm-
Câmara dos Deputados e ao Procurador-Geral da República e, com a se, inicialmente, em dogma do regime republicano. A "inconstitu-
EC n. 45/2004, outorgou-se a todos os legitimados para a ação direta cionalidade - ensinava Rui - não se aduz como alvo da ação, mas
de inconstitucionalidade a legitimidade para a propositura da ação
declaratória de constitucionalidade. 5. Carlos Alberto Lucia Bittencourt. O Controle JUrisdiCIonal da COnstitUClO-
nalidade das LeIS, 211 ed., Rio de Janeiro. Forense. 1968, p. 99; Celso Agricola Barbi.
Assim, ao lado do amplo sistema difuso, que outorga aos juízes "Evolução do controle da constitucionalidade das leis no Brasil''. RDP 1(4)/37;
e tribunais o poder de afastar a aplicação da lei in concreto (CF de Oswaldo Aranha Bandeira de Mello. TeOria das Constumções Rígidas, 26 ed., São
1988, arts. 97,102, III, "a"-"d", elOS, n, "a" e "b"), e dos novos ins- Paulo, Bushatsky Editor, 1980, p. 156.
6. O art. 60 da CF recebeu nova redação, estabelecendo. no seu § 5.1!, que
titutos do mandado de segurança coletivo, do mandado de injuução, "nenhum recurso Judiciâno e permítido para a Justtça Federal, ou local, contra a
intervenção nos Estados, a dedaração de estado de sítio e a verificação de poderes. o
3. Gerhard Anschutz, Verhandlungen des 34. Juristentags, v. II, Berlim e Lei- reconhecimento, a posse, a legitimidade, a perda de mandato aos membros do Poder
pzig, 1927, p. 208. Legislativo ou Executivo. Federal ou Estadual; assim como, na VigênCia do estado
4. Peter Hãberle. "Grundprobleme der Verfassungsgenchtsbarkeít", ln Peter ' de sítio. não poderão os Tribunms conhecer dos atas praticados em VIrtude dele pelo
HãberIe, Vetfassungsgerrchtsbarkeit, Dannstadt, 1976, p. 1 (14). Poder Legtslatlvo ou Ex.ecutIVo"
598 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 599

apenas como subsídio à justificação do direito, cuja reivindicação se Entre nós, a instituição das garantias constitucionais do habeas
discute'''? uma vez que "o remédio judicial contra os atas inconsti- c0'P,tts e do mandado de segurança individual e coletivo ampliou
tucionais, ou ilegais, da autoridade política não se deve pleitear por sigmficatIvamente a chamada "via de defesa ou de exceção" contra
ação direta ou principal".8 E, dentre os requisitos elementares ao o ato ou omissão eivados de inconstitucíonalidade, admitindo-se,
exercicio do controle de constitucionalidade no Direito brasileiro, inclusive, a utilização desses remédios em caráter preventivo. 14
reputava imprescindível "que a ação não tenba por objeto diretamen- Reconbeceu-se, igualmente, a legitimidade da ação declaratória
te o ato inconstitucional do Poder Legislativo, ou Executivo, mas se como instrumento processual hábil a obter a pronuncia de inconstitu-
refira à inconstitucionalidade dele apenas como fundamento, e não cionalidade de lei ou ato desconforme com a ordem constitucionaLI5
alvo, do libelo" 9 A ação popular passa a constituir, tambem, forma jUdicial idpnea para
Essa concepção ortodoxa sofreu profunda modificação na sua provocar o controle jurisdicional da constitucionalidade.16
própria matriz, conforme demonstra George Jaffin no artigo intitu- Não se cuida mais, ou exclusivamente, de simples defesa contra
lado "Evolução do controle jurisdicional de constitucionalidade das a aplicação de um ato inconstitucional, tal como lmcialmente defmi-
leis nos Estados Unidos".lo A ampla utilização da ínjunction como do por Lúcio Bittencourt,11 ou de alegação de inconstitucionalidade
técnica do controle de constitucionalidade permitiu que se atenuas- emanada de pessoa cujos direitos tenbam sido ofendidos pela lei,
sem, significativamente, as exigências para obter "uma declaração como preconizado por Buzaid. 18
Judicial sobre a validade da lei", ensejando a propositura de ações Ao revés, o controle de constitucionalidade difuso, concreto,
visando a impedir que determinado agente oficial desse execução a ou incidental caracteriza-se, fundamentalmente, também no Direito
uma lei inconstitucionaLlI Admitia-se - como observado por Benja- brasileiro, pela verificação de uma questão concreta de inconstI-
min Cardozo - "que o prejudicado chorasse antes de sentir dor"P tucionalidade, ou seja, de dúvida quanto à constitucionalidade de
O reconbecimento da legitimidade da ação declaratória como instru- ato normatIvo a ser aI!licado num caso submetido à apreciação
mento de controle de constitucionalidade outorgou maior flexibilida- do Poder Judiciário. "E mister - diz Lucio Bittencourt - que se
de ao sistema, superando a exigência de uma controvérsia ou de um trate de uma controvérsia real, decorrente de uma situação Juridica
contraditório rigido e nem sempre autêntico. 13 objetiva" .19
Anote-se que não se faz imprescindível a alegação dos litigan-
7. Rui Barbosa, "Os atas inconstitucionais do Congresso e do Executivo", ín
Trabalhos Jurídicos, Rio de Janeiro, Casa de Rui Barbosa, 1962, p. 82. tes, podendo o juiz ou o tribunal recusar-lhe aplicação, a despeito do
8. Rui Barbosa, "Os atas inconstltucíonals ...... m Trabalhos Jurídicos, p. 81.
silêncio das partes. 20
9. Rui Barbosa, "Os atas Ínconstítucionais ...... ln Trabalhos Juridicos, p. 95. e
O Direito do Amazonas ao Acre Septentnonal. v. 1. Rio de Janeiro. Jornal do Com- 14. Ltic~o ~<ittencourt, o Controle JurISdicIonal .... 2n ed., pp. 101 e 105-110;
mereio, 1910, p. 103. Alfredo Buzald, JUlClO de amparo e mandado de segurança", RevISta de Dirello
10. RF 86/285 e ss. Processual Civil 5/69; Celso RibeIro Bastos, Curso de Direito ConstituCIonal. 511 ed.,
São Paulo, Saralva, 1982, pp. 58.60.
1L George H. Jaffm. "Evolução do controlejurísdiclOnal da constitucionalida-
de das leis nos Estados Unidos", RF86/279-292 (pp. 287 e 281); LÚCIO Bittencourt, 15. Lúcio Bittencourt. O Controle JurisdicIonal ...• 211 ed., pp. 102-105.
O Controle JurisdicIOnal .... 21l ed., p. IOl~ Alfredo Buzaid, Da Ação Direta de De- . 16. Cf., a propósito, Jose Afonso da Silva. Ação Popular ConstitUCional: Dou-
claração de InconstítuclOnalidade no Direíto BrasileIro, São Paulo, Saraiva, 1958, trmae Processo, 2!1ed., São Paulo, Malhelros Editores, 2007, p. 121.
pp. 24-26. 17. Lúcio Bittencourt, O Controle JurisdicIOnal ...• 211 ed., p. 97. Cf., a propÓSI-
12. Apud Lucio Bittencourt. O Controle Jurisdicional ...• 2i1 ed., p. 101. to, Ceiso Bastos, Curso .... 5& ed., p. 58.
13. ''Nasnwille C. and SI. Louis Railway vs. WaUace", 288 U.s. 249. Lúcio 18. Alfredo Buzaid, Da Ação Direta ... , p. 24.
Bittencourt, O Controle Jurisdicional ...• 211 ed., p. 101; Alfredo Buzaid, Da Ação Vi- 19. Lúcio Bittencourt, O Controle Jurisdicional ... , 2il ed., pp. 111-112. Cf., so-
reta "', pp. 27-29; George Jaffin, "Evolução do controle ...",RF861290-291; Eduardo bre O tema, José Joaquim Gomes Canotilho, Direito ConstituCIOnal, 41 ed., Coimbm,
Jim.enez Arechaga. "A ação declaratária de mconstitucionalidade na Constituição Alrnedina, 1986, p. 795.
Uruguaia de 1934", RF861293-300. 20. Ludo Bittencourt, O Controle Jurisdicional ...• 2il ed., p. 113.
600 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 601

Convém ressaltar que a distinção consagrada na doutnna entre Como observado, a Constituição de 1934 consagrou a compe-
os controles "abstrato" e "concreto'" ou entre controle por via de tência do Senado Federal para suspender a execução de qualquer lei
ação e controle por via de exceção, não tem a relevância teórica que ou ato declarado inconstitucional pelo STF (ar!. 91, IV, c/c o art. 96).
normalmente se lhe atribui. E, no ar!. 179, condicionou a declaração de inconstitucIOnalidade
Nos modelos concentrados, a diferenciação entre controle pelos Tribunais ao sufrágio da maioria absoluta.
concreto e abstrato assenta-se, basicamente, nos pressupostos de Tais modificações são reveladoras de uma nítida diferencIação
admissibilidade (Zuliissígkeitsvorausselzungen). O controle Con- no âmbito do controle difuso de constitucionalidade.
creto de normas tem origem em uma relação processual concreta, Embora preservasse a competência do juiz smgular para apre-
constituindo a relevância da decisão (Entscheídungserheblichkeít) ciar a questão constitucional, o constituinte estabelecIa pressupostos
pressuposto de admissibilidade.2I O chamado controle abstraio, por para a declaração de inconstitucionalidade das leis pelos Tribunais.
seu turno, não está vinculado a uma situação subjetiva ou a qualquer Em verdade, o Anteprojeto da Comissão Constítucional atenuava ou
outro evento do cotidiano (Lebensvorgang).22 Schlaich ressalta a até retírava o carnter difuso da declaração de inconstitucionalidade da
equivocidade desses conceitos, porquanto o controle realizado, a lei federal, concentrando a decisão final no STF.25
decisão proferida e as conseqüências jurídicas são verdadeiramente A proposta foi rejeitada, introduzindo-se, em seu lugar, a exigên-
abstratos, na medida em que se processam independentemente do cia do quorum especial para a declaração de inconstitucionalidade.
feito originário. Em outros termos, o controle e o julgamento levados Subordinou-se a eficàcia erga omnes da decisão do STF que de-
a efeito pelo Tribunal estão plenamente desvinculados do processo clarasse a inconstitucionalidade da lei ou ato â resolução do Senado
originário. tendo, por ísso, conseqüências jurídicas idênticas. 23 Federal (ar!. 91, IV).
Assim, a caracteristica fundamental do controle concreto ou Essa atribuição reconhecida ao Senado mereceu critica de Arau-
incidental de normas parece ser seu desenvolvimento inicial no curso jo Castro, que entendia indevido o deslocamento da maténa da esfera
de um processo, no qual a questão constitucional configura "antece- Judiciária. 26 Ressalte-se que, na Assembléia Constítuinte, o Deputado
dente lógico e necessário à declaração judicial que há de versar sobre Godofredo Vianna apresentou emenda do seguinte teor: "Sempre
a existência ou inexistência de relação jurídica" .24 que o Supremo Tribunal declarar, em mais de um aresto, a incons-
titucionalidade de uma lei, esta sem considerada como inexistente.
21. Klaus Schlaích, Das Bundesveifassungsgericht; 311 ed.. Stellung Verfahren. O Procurador-Geral da República fará publicar a última decisão no
Entscheidungen. Munique, C. H. Bede, 1994, p. 92: Chnstian Pestalozza. Verfassun·
gsprozessrecht; die Verfassungsgerichtsbarkeit des Bundes und der Lãnder. 3i1 ed., órgão oficial da União e no Estado, a fim de que comece a obrigar
MunIque, C. H. Beck, 1991, p. 202. CE, também: Mauro CappellettI. La PreglU- nos prazos estabelecidos pela lei civil",2?
dizlalitâ Costituzlonale ne/ Processo Civile, 2i!. ed., Milão, Giuffrê. 1972, pp. 4-10; Não obstante, o sistema de declaração de inconstitucionalidade
Piero Calamandrel, "La iIlegíttlmitâ. costItuziona!e delle Ieggí nel processo clvile", in
Opere Giuridiche. v. 3, Nápoles, Morano, 1968, pp. 373 e 55.; Gustavo Zagrebelsky, por todos os juizes e tribunais - exigida, no caso destes, a obser-
La Giustizia Costituzronale, Bolonha. II Mulino. 1979, pp. 84 e 55. vância do quórum especíal- e a suspensão pelo Senado Federal do
22. K1aus Schlalch. Das Bundesveifassungsgertchl, 3i1. ed., p. 92: Chnstian ato declarado inconstítucional, pelo STF foram incorporados pela
Pestalozza, Veifassungsprozessrechl ...• 3i1. ed., p. 202; Hartmut Sõhn, "Die abstrakte Constituição de 1946 (arts. 101, III, "b" e "e", 200 e 64), pela Cons-
Normenk.ontrolle", ín ChristIan Starck (org.), Bundesveifassungsgertcht und Gnmd-
gesetz, Iii. ed., v. 1, Tübingen, Mohr, 1970, p. 296; Theodor Maunz et aI., Bundesver- tituição de 1967/1969 Carts. 119, III, "a". "b" e "c", 116 e 42, VII) e
fassungsgerichtsgesetz; Kommentar. Muníque, C. H. Beck., Okt. 1985, § 13, n. 58. pela Constítuição de 1988 Carts. 97 e 52, Xl.
23. K1aus Schlruch, Das Bundesveifassungsgericht, 3i1 ed., pp. 91-92. Cf. Lei do
Bundesverfassungsgencht, §§ 31, (1) e (2) (efeito vinculanIe e gemi), e 78 (oulidade). 25. Araújo Castro. A Nova Constituição BrasileIra, Rio de Janeiro. Freitas
24. Alfredo Buzaid, "JUlcío de amparo ...", ReviSta de Direito Processual Civil Bastos, 1935, p. 249.
5/69. Cf., tarnbem: Gustavo Zagrebelsky, La Giustizia COsIllUZlonale, p. 84; Mauro 26. Araújo Castro, A Nova Conslitwção BrasileIra, p. 247.
Cappelletti, La Pregmdizialilâ ... , 2Jl ed., pp. 4-10. 27. Apud Araújo Castro, A Nova Constituição BrasileIra, p. 247.
602 o CONrROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS o CONrROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 603

2. Pressllpostos de admissibilidade do controle concreto todavia, o entendimento que afirmava a competência do JUiz singular
para apreciar a controversia constitucional.34
Reqllisitos sllbjetivos - O controle de constitucionalidade con-
creto ou incidental, tal como desenvolvido no Direito brasileiro, e Reqllisitos objetivos - Não existe uma disciplina minudente da
exercido por qualquer órgão judicial, no curso de processo de sua questão constitucional no controle íncidenter tantum.
competência?' A decisão, "que não é feita sobre o objeto principal O Decreto n. 848/1890 consagrou fórmula segundo a qual, "na
da lide, mas sim sobre questão prévia, indispensável ao julgamento guarda e aplicação da Constituição e leis federais, a Magistratura
do merito'?" tem o condão, apenas. de afastar a incidência da nor- Federal só intervirá em especie e por provocação da parte". E a Lei
ma viciada. Dai recorrer-se â suspensão de execução, pelo Senado, de Organização da Justiça Federal e~stabeleceu, no art. 13, § 10, que
de leis ou decretos declarados inconstitucionais pelo STF (CF de "os juizes e Tribunais não aplicarão aos casos ocorrentes às leis e
1967/1969, art. 42, VII - orientação inalterada pelo ordenamento regulamentos manifestamente inconstitucionais" ~ Os Textos Magnos
constitucional de 1988, art. 52, X).'o passaram a exigir, a partir de 1934, que a declaração de inconstitucio-
A questão de constitucionalidade há de ser suscitada pelas partes nalidade nos Tribunais somente fosse proferida pelo voto da maioria
ou pelo Ministério Público, podendo vir a ser reconhecida ex officio absoluta dos juizes.
pelo juiz ou tribuna!.3I Todavia, perante o Tribunal a declaração de A questão constituczonal mereceu pouca atenção do legislador.
inconstitucionalidade somente poderá ser pronunciada "pelo voto da A exigência quanto à declaração de inconstitucionalidade dos atos
maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo manifestamente inconstitucionais não foi recebida pela legislação
órgão especial", disciplinado no art. 144, V, da CF de 1967/1969 (art. subseqüente, tendo-se assentado, entre nós, como regra de bom
93, XI, da CF de 1988).32 aviso, que recomenda ao juiz um mínimo de seIf-restraillt. 35 Esse
postulado conjuga-se, normalmente, com a máxima segundo a qual
A exigência de maioria absoluta dos votos para a declaração de
"o juiz deve abster-se de se manifestar sobre a inconstitucionalida-
inconstitucionalidade de leiS pelos Tribunais, introduzida pela Carta
de toda vez que, sem isso, possa julgar a causa e restaurar o direito
de 1934 (art. 179) e reproduzida nas subseqüentes (CF de 1937, art.
violado",36 Sem mfmnar a valia desse principio como referencial de
96; CF de 1946, art. 200; CF de 1967/1969, art. 116; CF de 1988.
autolimitação para o juiz, deve-se reconhecer que o STF já não lhe
art. 97), deu ensejo a acesa polêmíca sobre a possibílídade de o JUiz
empresta adesão, conforme se depreende do disposto no art. 176 do
singular pronunciar-se sobre a inconstitucionalidade.33 Prevaleceu,
Regimento Interno. Anteriormente já havia sustentado Lúcio Bitten-
28. Lúcío Bittencourt. O Controle JztrlsdiclOnai da ConstItuCIonalidade das court que, "sempre que, legitimamente, o exame da constitucionali-
Leis. 211 ed.. Rio de Janeiro, Forense, 1968, pp. 36-37 e 46. dade se apresente útil ou conveniente para a decisão da causa, não
29. Celso Bastos, Curso de Direito CanstituclOna/, 5i1. ed., São Paulo, SaraIva. devem os Tribunais fugir à tese",37
1982, p. 59; Alfredo Buzaid. "JUiCIO de amparo e mandado de segurança", RevÍsta de
Direito Processual Civi/5/69.
A lei processual de 1939 não continha disciplina específica so-
30. A amplitude emprestada ao controle abstrata de nonnas e a adoção de novos bre o controle de constitucionalidade.
institutos - como o mandado de injunção - pernutem indagar se não sena maIS coe-
rente reconhecer eficàcla erga omnes à pronUncia de inconstttucIOnalidade proferida 34. UICIO Bittencourt, o Controle Jurisdicional .... 2ned.. pp. 36-38; Oswaldo
incidentalmente pelo STF. Não hã dúvida de que já não mais subsistem as razões que Aranha Bandeira de Mello. Teorza das COnstitUlÇÕes Rígidas. 211 ed.. São Paulo.
determínararn a adoção desse instituto pelo Direito Constitucional brasileIro. Bushalsky Editor, 1980, pp. 161-162.
31. Lucia Bittencourt., O Controle Jurisdicional .... 2a ed.. p. 113. 35. Lúcio Bittencourt, O Controle Junsdiclonal ...• 2n ed., pp. 115-116; The-
32. Esse princípIO foi mantido na CF de 1988. art. 97. místocles Brandão Cava!canti. Do Controle da Constitucionalidade. Rio de JaneIro.
33. PatrociníolIvlG. Juizo de Direíto da comarca. Martins de Oliverra. "Incons- Forense. 1966, pp. 81-84; cf., tambem. a crítica de Jose de Castro Nunes. Teoria e
Prática do Poder Judiciáno, Rio de Janeiro. Forense, 1943, p. 591.
titucionalidade das leis ...... RF 65/170; Vicente Chermont Miranda, "Inconstitucio-
nalidade e incompetênc1a do juiz smgular', RF 921582; Alcides de Mendonça Lima. 36. Luclo Bittencourt, O Controle JurzsdiclOllal .... 2a ed., pp. 116-118.
"Competência para declarar a inconstitucIonalidade das leis". RF 123/347 e 352. 37. Luclo Bittencourt, O Controle JurisdicIonal .... 2i! ed., p. 118.
604 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 605

o Código de Processo Civil de 1973 introduziu, nos arts. 480 a :.o:.lidad, ou a inconstitucionalidade, e ao órgão fracionário. depois, à
482, breve disciplina do controle de constitucionalidade lnloidenter, do que houver assentado o Plenário. decidir a eSpeCle"43
tantum, exercido por órgãos fracionários dos Tribunais.3' Argüida, . Assente-se que o Plenario somente pode pronunciar-se sobre o
a qualquer tempo, a questão, o relator devera submetê-Ia à Turma que efetivamente foi acolhido pelo órgão fracionário. sendo-lhe defe-
ou à Câmara competente para julgar o processo, após a audiência so emitir juízo sobre a questão Julgada inadmissível ou rejeitada pela
do órgão do Ministério Público (art. 480). Rejeitada a questão, terá Turma ou Câmara. A argüição de inconstitucionalidade sera acolhida
prosseguimento o feito; acolhida, há de ser lavrado o acórdão, a fim se lograr reunir a maioria absoluta dos votos, pelo menos em relação
de ser submetida ao Tribunal Pleno (art. 481). a um dos vários fundamentos. Do contrario, mdependentemente do
A argüição de inconstitucionalidade poderá ser rejeitada, no resultado da votação. as conseqüências são as mesmas. 44
órgão fracionario. por inadmissível ou improcedente, nos termos A decisão do Plenário. que e irrecorrivel.45 vincula o órgão fra-
seguintes: a) a questão há de envolver ato de natureza normativa a cionário no caso concreto. incorporando-se ao 'Julgamento do recurso
ser aplicado à decisão da causa. devendo ser rejeitada a argüição de ou da causa. como premissa inafastâvel".46 Publicado o acórdão. reini-
inconstitucionalidade de ato que não tenha natureza normativa ou cia-se o Julgamento da questão concreta perante o órgão fraclOnano.
não seja oriundo do Poder público;39 b) a questão de inconstituCio- Acentue-se que a aplicação do art. 97 da CF de 1988 obriga a
nalidade há de ser relevante para o julgamento da causa, afigurando- que se proceda à juntada do acórdão proferido no Pleno ou no Órgão
se "inadmissível a argüição impertinente. relativa a lei ou a outro Especial sobre a inconstitucionalidade da lei. sob pena de. no caso de
ato normativo de que não dependa a decisão sobre o recurso ou a interposição de recurso extraordinário. entender o STF que não pode
causa";40 c) a argüição sera improcedente se o órgão fracionário, pela conhecer do apelo extremo. por ausência de peça essenCIal para o
maioria de seus membros, rejeitar a alegação de desconformidade da julgamento defimtlvo. É o que se lê. V.g.. no AgRgRE n. 158.540. da
lei com a norma constitucional. relatoria do Min. Celso de MeIlo. no qual se acentua que "a ausência
O pronunciamento do órgão fracionário pela rejeição ou aco- do acórdão plenário que reconheceu a ilegitImidade constItuCIOnal
lhimento da argüição de inconstitucionalidade é irrecorrível. 41 de atos normativos emanados do Poder Público impede - ante a es-
Rejeitada a argüição. "prosseguira o julgamento". podendo o órgão sencialidade de que se reveste essa'peça processual- que o Supremo
fracionário aplicar à espécie a lei ou ato normativo acoimado de Tribunal Federal aprecie. de modo adequado. a controversia jurídica
inconstitucional. suscitada",47 AJurisprudêncía do Tribunal enfatiza não ser suficiente
Acolhida a argüição. que poderá ser por maioria simples. "será a transcrição do decidido pelo Órgão Especial ou pelo Plenario. ou a
lavrado o acórdão. a fim de ser submetida a questão ao Tribunal Ple- juntada do voto-condutor, porquanto "é no acórdão do Plenário que
no" (art. 481), ou ao Órgão Especial (CF de 1988, art. 97).42 Contra se há de buscar a motivação da decisão recorrida. com respeito ã
essa decisão. ainda que não unânime. não cabera recurso de embar- argüição de rnconstitucíonalidade".48
gos infringentes (Súmula n. 293 do STF). Dá-se "a cisão funcionàl da Ao contrario. se se trata de declaração incidente de constitucio-
competência: ao Plenário caberá pronunciar-se sobre a constitucio- nalidade - e não de inconstitucionalidade - "o acórdão do Plenário

38. José Carlos Barbosa Moreira. Comentanos ao Código de Processo Civil. v. 43. José Carlos Barbosa Moreira, ComentáriOS ...• v. 5, p. 50.
5. Rio de Janeiro. Forense, 1973, p. 41; Pontes de Miranda, ComentáriOS ao Código 44. Jose Carlos Barbosa Moreira., Comentários .... v. 5, p. 53.
de Processo Civil. v. 6, Rio de JaneIrO, Forense. 1975, pp. 79 e 55. 45. SÚITIula n. 513 do STF; cr., também. SÚITIula n. 293.
39. José Carlos Barbosa Moreíra. Comentànos .... v. 5, p. 48. 46. Jose Carlos Barbosa Morell1l, Comentários ...• v. 5, p. 54. Cf. SÚInula n. 455
40. José Carlos Barbosa Morerra,. Comentários ...• v. 5, p. 46; Pontes de Miran- do STF: "Da deCisão que se seguir ao Julgamento de constItucionalidade pelo Tribu-
da., ComentarlOs ...• v. 6, p. 82. nal Pleno, são madITIlSsiveis embargos mfringentes quanto amatena constltucIonal".
41. Cf. Súrnulas ns. 293 e 513 do STF. 47. AgRgRE n. 158.5404, Rcl. Min. Celso de Mello. DJU23.5.97, p. 21.375.
42. Pontes de Miranda, Comentanos .... v. 6, p. 82. 48. AgRgRE n. 164.569. ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 4.2.94, p. 923.
o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 607
606

que, decidindo incidente suscitado em outro processo, já houver . Em outros termos, um novo procedimento na forma do art. 97 da
resolvido no mesmo sentido a prejudicial de inconstitucionalidade CF somente seria necessário no caso de nma mudança de orientação
é mero precedente de jurisprudência, que não Ú}tegra, formalmente, por parte do próprio Tribunal.
porém, a decisão da Câmara ou da Turma".49 E que a competência Questão interessante apreCiada pela jurisprudênCia do STF diz
5o respeito à necessidade de se utilizar o procedimento previsto no art.
para decidir pela constitucionalidade de lei é da Turma.
Ressalte-se que, segundo a jurisprudência pacífica do STF, a 97 da CF por parte dos tribunais ordinários na hIpótese de existir pro-
declaração de inconstitucionalidade tanto podem dar-se de forma ex- nunciamento da Suprema Corte que afirme a inconstitucionalidade
plícita como de forma implícita, quando, V.g., "afasta a incidência da da lei ou do ato normativo.
norma ordinária pertinente à lide para decidi-Ia sob critérios diversos Em acórdão proferido no RE n. 190.728 teve a I'Turma-do STF
alegadamente extraídos da Constituição" (I' To, RE n. 240.096, ReI. a oportunidade de, por maioria de votos, vencido o Min. Celso de
Min. Sepúlveda Pertence, DJU21.5.99). MeUo,52 afirmar a dispensabilidade de se encaminhar o tema cons-
Nesses casos, a questão que se põe refere-se à validade, ou não, titucional ao Plenário do Tribunal desde que o Supremo já se tenha
da decisão de inconstitucionalidade, sendo muito comum decisões
que dão provimento ao recurso extraordinário para anular o julga- 52. O voto do Min. Celso de Mello enfatiza os seguintes aspectos:
mento e determinar que outro seja proferido pelo órgão competente, "O sistema de fiscalização mcidental de constítucionalidade acha-se regido. no
âmbito do Supremo Tribuna! Federal, pelos arts. 176-177 e 101 de seu RegImento
em razão de ofensa ao art. 97 da CE Interno, que foram recebidos. nesse ponto, pelo novo ordenamento constitucional,
Tema que também merece realce concerne à necessidade - ou com força nonnattva de lei.
não - de observar a regra do art. 97 da CF no caso de não aplicação "Tratando-se, no entanto, dos demais Tribunais judiciános. o controle de cons-
tituclOnalídade pelo sistema difuso está disciplinado pelos arts. 480 a 482 do Código
de uma dada norma ou de não adoção de uma determinada interpre- de Processo Civil, em nonnas que, ao contrâdo do que prescreve o art. 10 1 do RISTF.
tação sem afetar a expressão líteral (declaração de inconstitucionali- não atribuem ã decísão emanada do Plenário caráter Vinculante fora do âmbito da-
dade sem redução de texto l. Que!e específico processo em que foi SUSCitada. concretamente, a argüição Incidental.
"DaI a observação feita por José Carlos Barbosa Moreira, que, ao tratar do tema
Entendemos qne também nesse caso tem-se inequívoca decla- pertinente à eficáCia da decisão plenána proferida no julgamento da questão prejudi-
ração de inconstitucionalidade - e, por isso, obrigatória se afigura a cml de ínconstitucionalidade, esclarece, com inteira propnedade, que:
observância do disposto no art. 97 da CE "'A deCisão do Plenàrio (ou do Órgão Especial), num sentido ou noutro, é natu-
ralmente vinculatIva para o órgão fracionário, no caso concreto. MaiS exatamente, a
Outro ponto digno de nota, no que se refere à interpretação do solução dada à prejudicial incorpora-se no julgamento do recurso ou da causa, como
art. 97 da CF, tem por base a necessidade ou não de se provocar o premissa inafastável.
Plenário ou o Órgão Especial do Tribunal toda vez que se renovar, "'Nenhuma regra legal existe, porem, que a torne obrigatória ad futu17.lm. Se a
em outro caso, a discussão sobre a constitucionalidade de uma lei que inconstttuclOnalidade foi declarada, o órgão fracionáno não pode deIXar de levá-la em
conta ao decidir. mas, ressuscitada que seja a questão a {Jropósíto de outro recurso ou
já teve sua legitimidade discutida no âmbito do Tribunal. O STF tem de outra causa da sua competênCIa ongmária, ou devoivida por força do art. 475, fica
entendido que, fixada a orientação do Pleno ou do Orgão Especial, o órgão fraclonáno, à luz do Código, livre de entender constitucional a mesma lei ou
nos termos do art. 97 da CF, em um caso qualquer, poderá o órgão o mesmo ato e, sendo o caso, aplicar este ou aquela à nova espécie. Se não se decla-
fOU a inconstítucíonalidade, nenhum dispositivo do Código obsta a que, noutro feito,
fracíonário decidir como de direito, devendo guardar observância da
volte a argUição a ser suscitada. ac0II!ida pelo órgão fraclOnário e, eventualmente,
decisão sobre a questão constitucionaL51 pelo próprio Tribunal Pleno, ou pelo 'Orgão Especial'. No plano da lei, a eficácm do
pronunciamento é só intraprocessuaL
49. AgRgRE n.149,478,Rel. Min. SepúlvedaPertence,DJU23,4.93, p. 6.926. '''Não hã que cogitar aqUI de aue/oritas rei iudieatae. O Código expressamente
50. AgRgRE n. 161.475, ReI. Min. Carlos VeUo,o, DJU 11.2.94, p. 1.496. limIta a extensão objetiva da cOisa julgada ao julgamento da lide (art. 468) e exc1U1
51. RE n. 190.728, ReI. pi o acórdão Min. llmar Gaivão, DJU30.5.97: RE a. desse âmbito 'a apreciação da questão prejudicÍal, decidida mcidentemente no ,pro-
191.896, ReI. Min. Sepúlveda Pertence. DJU29.8.1997, RElAgRg n. 433.806, ReI. cesso' (art. 469. mciso nD' (Comentanos ao Código de Processo Civil, v. 42. Item
Min. Sepúlveda Pertence. DJU 1.4.2005. 37.6' ed., 1993, Forense - grifei).
608 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INClDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 609

pronunciado sobre a constitucionalidade ou a iI'lcclns'titu[cí(lDalidad~ Supremo Tribunal Federal -, descabe o deslocamento previsto
da lei questionada. 97 do referido Diploma Maior. O Julgamento de plano pelo
É o que se pode depreender do voto proferido pelo Min. mcionado homenageia não só a racionalidade, como também
Gaivão, designado Relator para o acórdão: <Íillpl1<:a interpretação teleológica do art. 97 em comento, evitando a
. burocratização dos atas judicíais no que nefasta ao principio da eco-
"Esta nova e salutar rotina que, aos poucos, vai tomando corpo'-'-' >. e da celeridade. A razão de ser do preceito está na necessidade
de par com aquela anteriormente assinalada, fundamentada na 'este'll1I
evitar-se que órgãos mcionados apreciem, pela vez primeira, a
da orientação consagrada no art. 101 do RISTF, onde está preseritá . de inconstitucionalidade argüida em relação a um certo ato
que 'a declaração de constitucionalidade ou inconstitucionalidade dê
honnativo" 54
lei ou ato normativo, pronuncíada por maioria qualificada, aplica-se
aos novos feitos submetidos ás Turmas ou ao Plenário' -, além de Orientação semelhante foi reafirmada em decisão n~ qual se
por igual, não merecer a censura de ser afrontosa ao principio inscuI: explicitou que "o acórdão recorrido deu aplicação ao decidido pelo
pido no art. 97 da CF, está em perfeita consonância não apenas com o STF nos RE ns. 150.755-PE e 150.764-PE", não havendo necessi-
princípio da economia processual, mas tambem com o da segurança dade, por isso, de a questão ser submetida ao Plenário do Tribuna!."
jurídica, merecendo, por isso, todo encômio, como procedimento que Em acórdão de 22.8.97, houve por bem o Tribunal ressaltar, uma
vem ao encontro da tão desejada racionalização orgânica da institui- vez mais, que a reserva de Plenário da declaração de inconstitucio-
ção judiciária brasileira. nalidade de lei ou ato normativo funda-se na presunção de constitu-
"Tudo, portanto, está a indicar que se está diante de norma que cionalidade que os protege, somada a razões de segurança juridica.
não deve ser aplicada com rigor literal. mas, ao revés, tendo-se em AssÍill sendo, "a decisão plenária do Supremo Tribunal declaratória
mira a finalidade objetivada, o que permite a elasticidade do seu ajus- de ínconstitucionalidade de norma, posto que incidente, sendo pres-
tamento ás variações da realidade circunstancial."53 suposto necessário e suficiente a que o Senado lbe conftra efeitos
erga omnes, elide a presunção de sua constitucionalidade; a partir
Na ocasião, acentuou-se que referido entendimento fora igual- dai, podem os órgãos parciais dos outros tribunais acolhê-la para
mente adotado pela 2' Turma, como consta da ementa do acórdão fundar a decisão de casos concretos ulteriores, prescindindo de sub-
proferido no AI-AgR n. 168.149, da relataria do Min. Marco Au- meter a questão de constitucionalidade ao seu próprio Plenário" (RE
rélio: "Versando a controvérsia sobre o ato normativo já declarado n. 191.898, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 22.8.97, p. 38.781).
inconstitucional pelo guardião maior da Carta Política da República
Tal posição sinaliza uma (ainda que tÍOlida) equiparação entre
"A disciplina ritual que rege a declaração incidental de íncoostltucionalidade. os efeitos da declaração de inconstitucionalidade em sede de controle
especialmente no ponto em que se impunha a atuação do princiPiO da reserva de incidental com os efeitos da declaração em controle concentrado.
Plenário, não foi observada no caso presente. Decide-se autonomamente com fundamento na declaração de in-
"Como já enfatizado. o acórdão ora questionado nesta sede recursal extra-
ordinâria - e que veIculou declaração de inconstitucionalidade de ato de caráter
constitucionalidade (ou de constitucionalidade) do STF proferida
legíslativo - emanou de simples órgãofracJOnano do Tribunal a quo. circunstância incidenter tantum.
esta que faz transparecer. de modo evidente. o claro descumprimento. no caso em ALei n. 9.756, de 17.12.98, introduziu um parágrafo unico ao
análise. do postulado constItucional da reserva de Plenário consagrado pelo art. 97
da ConstItuição.
art. 481 da Lei n. 5.869, de 11.1.73 (Código de Processo Civil), que
"Sendo assim. conheço e dou provimento ao recurso extraordinãno fundado DO positiva a orientação jurísprudencial acima referida, nos seguintes
art. 102. m. <a'. da Constituição, para. cassando o acórdão ora Impugnado, deter- termos:
minar que o órgão- fraciODãriO do Tribunal a quo - tendo presente a disciplina ritual
fixada pelo Código de Processo Civil (arts. 480-482) e, sobretudo. a regra inscrita no "Art. 481. ( ... ).
art 97 da Carta Política - proceda como entender de direito" (RE n. 190.728, DJU
30.5.97). 54.AgRgAI n. 168.149, Rel.Min. Marco Aurélio, DJU 4.8.95, p. 22.520.
53. DJU30.5.97. 55. AgRgAl n. 167.444, ReI. Min. Carlos Velloso,DJU 15.9.95, p. 29.537.
610 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 611

"Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não sub- . "A decisão foi contrária. Nós declaramos a constitucionalidade
meterão ao Plenário, ou ao Órgão Especial, a argüição de inconshtu, ~. Plenário do Tribunal Regional declarou a inconstitucionalidade:
cionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do Plenário provavehnente já teria declarado a inconstitucionalidade quando nós
do Supremo Tribunal Federal sobre a questão." decidimos o caso, e a Turma aplicou a decisão plenária deles, cuja
fundamentação nós não conbecemos.
A fórmula adotada consagra in tatum a jurisprudência do STF
sobre a matéria, assentando a dispensabilidade. da submissão da "Então, mantenbo, data venia, a minha decisão."56
questão constitucional ao Tribunal Pleno ou ao Orgão Especial na Não parece que assim deva ser.
hipótese de o próprio Tribunal já ter adotado posição sobre o tema Se o órgão fracionário não està obrigado a submeter ao Plenário
ou, ainda, no caso de o Plenário do STF já se ter pronunciado sobre a do Tribunal a questão de constitucionalidade quando já houver pro-
controversia (declaração de inconstitucionalidade). nunciamento do STF sobre a questão no sentido de inconstitucionali-
E se o STF se tiver manifestado no sentido da constitucionalida- dade (CPC, parágrafo único do art. 481) - numa clara demonstração
de da norma declarada inconstitucional pelo Tribunal a qua, haverá da força do entendimento emanado pela Corte no exercicio da sua
necessidade da juntada do acórdão (da declaração de inconstituciona- competência constitucional -, manter a citada exigência quando o
lidade) para que o recurso extraordinário seja conbecido? STF já se pronunciou pela constitucionalidade da lei parece configu-
rar desmedido formalismo.
No RE n. 196.752 indagou-se sobre a coguoscibilidade do
recurso extraordinário interposto contra acórdão que declarara a Ressalte-se que, após o exame da constitucionalidade da norma
inconstitucionalidade de lei sem que houvesse a necessária juntada pelo Pleno, não mais se espera qualquer modificação desse entendi-
do acórdão do incidente de inconstitucionalidade. Tratava-se de mento. Tanto assim que, quando se tratar de declaração de mconstitu-
declaração de inconstitucionalidade de norma reconbecida como cionalidade, a partir desse momento eefetivada a pertinente comuni-
cação ao Senado Federal. E, cuide-se de juizo de constItucionalidade
constitucional pelo STF.
ou de inconstitucionalidade, dá-se início à aplicação do disposto no
O Min. Pertence, no seu voto, sustentou: ar!. 557 do CPC, que - queiramos, ou não - euma forma brasileira de
"Tenbo julgado na Turma diversos casos desses, em que se alega atribuição de efeito vinculante às decisões deste Tribunal.
que a aplicação do novo art. 481 - provavehnente nem vigente no E que a fixação de tese pelo Plenário desta Corte, no julgamento
caso, por que e recente, no RE n. 196.000, velbo - pressupõe que o de recurso extraordinário, no sentido da constitucionalidade, ou não,
órgão parcial do Tribunal a qua vã aplicar o precedente do STF. Não de determinada norma legal antecipa o efeito juridico de seus julga-
quando ele julga contra o Supremo. dos em sede de controle de constituCIOnalidade incidental. Até ou-
"O Supremo declarou a constitucionalidade ou a inconstitucio- saria dizer que, se a decisão de inconstitucionalidade ainda depende
nalidade da lei 'A:. Esta lei vem à tela num Julgamento de Turma, da intervenção do Senado para ter eficacia erga amnes, a declaração
de Câmara, de um Tribunal de segundo grau. O Tribunal teria, pelo de constitucionalidade proferida em sede de controle mcidental pelo
sistema antigo do Código, que, considerando relevante a argüição, Plenário vale per se, independentemente de qualquer providência
submetê-la ao Pleno ou ao Órgão Especial, e aí julgar vinculadamen- adicional.
te ao Órgão Especial. Veio a lei e disse: 'Isso tudo é inútil, porque já Ora, se ao STF compete, precipuamente, a guarda da Constitui-
se pronunciou a respeito o STF. Então, para decidir de acordo com o ção Federal, é certo que a interpretação do texto constitucional por
STF - é assim que leio o dispositivo -, não e preciso que se manifeste ele fixada deve ser acompanbada pelos demaIS Tribunais, em decor-
o Órgão Plenário' . rência do efeito detinihvo outorgado à sua decisão.
"Agora, se a Turma vai decidir contra o STF, e nesse sentido 56. Voto do Min. Sepúlveda Pertence no RE n. 196.752/AgRg, Rei. Min. Sepúl-
ela tem uma decisão plenária daquela Casa, ela està vinculada a ela. veda Pertence, na sessão plenàna de 6.5.2004. Julgamento não concluído.
612 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 613

Não se pode diminuir a eficacia das decisães do STF com Assim, segundo essa orientação, que encontra respaldo na reda-
manutenção de decisães divergentes. De resto. a manutenção ção do paragrafo único do art. 481 do CPC, se o Tribunal ja houver
soluções divergentes, sobre o mesmo tema. em instãncias inferiores analisado controversia sobre a constitucionalidade de determinada
provocaria, além da desconsideração do próprio conteúdo da decisão ~orma, bastaria que o acórdão recorrido extraordinariamente con-

desta Corte, última intérprete do texto constitucional, o enfraqued: tivesse elementos suficientes para a verificação da identidade entre
mento da força normativa da Constituição. amatéria debatida no Tribunal de origem e a apreciada na Suprema
Corte. Este seria. portanto, o prequestionamento eXIgido para o co-
Tendo o STF fixado a tese sobre a constitucionalidade de de- hlIecímento do recurso extraordinário interposto pela alínea "b" do
terminada norma, dificilmente se poderá alegar que os fundamentos permissivo constitucional.
da declaração incidental de inconstitucionalidade utilizados pelo , Merece destaque a situação específica dos Juizados Especiais,
Órgão Especial do Tribunal de origem eram desconhecidos. É que em que os recursos são julgados pela Turma Recursal, inexistíndo
este Tribunal tera considerado. certamente, os diversos fundamentos órgão especial a que possa ser enviada a questão constituCIOnal. Em
do julgamento do incidente de inconstitucionalidade pela Corte a acórdão proferido no AI n. 560.036 (AgRg/EDecl) a 2' Turma do
quo. Dessa forma, a manifestação do Pleno do STF será a definitiva STF teve a oportunidade de declarar, por unanimidade, nos termos do
a respeito da questão. voto do Relator, Min. Cézar Peluso: "A regra da chamada reserva do
Assim, caso não seja dispensada a Juntada, o STF estaria man: Plenário para declaração de inconstitucionalidade (art. 97 da CF) não
tendo uma decisão do Tribunal de origem contrária li orientação por se aplica, deveras, ás Turmas Recursais de Juizado Especial. Mas tal
ele firmada - e, conseqüentemente, colaborando para a sobrecarga circunstãncia em nada atenua nem desnatura a rigorosa exigência de
de trabalho no Poder Judiciário, pois não restaria outra opção à parte juntada de cópia integral do precedente que tenha, ali, pronunciado
prejudicada senão o ajuizamento de ação rescisória. a inconstitucionalidade de norma objeto de recurso extraordinário
fundado no arl. 102, III, 'b'. da Constituição da República, pela mes-
Ressalte-se que a dispensa de juntada da decisão no incidente
missima razão por que, a igual titulo de admissibilidade do recurso,
de inconstitucionalidade deve limitar-se aos casos em que o Tribunal não se dispensa juntada de cópia de acórdão oriundo do Plenário","
tenha apreciado e fixado tese a respeito da constitucionalidade, ou
não, da norma declarada inconstitucional pela Corte a quo. Participação de "amicus cllriae", do Ministério Público e de
Nesses termos, pouco importa que a decisão do Tribunal de
Olltros interessados no incidente de inconstitllcionalidade perante
os Tribunais - Diante dos múltíplos aspectos que envolvem a própria
origem tenha sido proferida antes daquela do STF no leading case,
argumentação relacionada com os fundamentos da inconstituciona-
pois, inexistindo trânsito em julgado e estando a controvérsia cons-
lidade, sustentamos a razoabilidade - se não a obrigatoriedade - de
titucional submetida à análise deste Tribunal, não ha qualquer óbice
que se reconhecesse a todos aqueles que partiCIpam de demandas
para a aplicação do entendimento fixado pelo órgão responsável pela
semelhantes no âmbito do primeiro grau. o direito de partiCIpação no
guarda da Constituição Federal. julgamento a ser levado a efeito pelo Pleno ou pelo Órgão Especial
Todavia. naqueles casos em que o STF não houver proferido do Tribunal. Idêntica participação deveria ser deferida ao Ministério
juizo sobre a adequação constitucional de determinada regra legal Público e à pessoa juridica de Direito Público responsavel pela edi-
prevalece o entendimento quanto li necessidade de juntada da decisão ção do ato normativo.
no incidente de inconstítucionalidade exarado pelo órgão jurisdicio- Essa proposta acabou sendo incorporada ao texto do art. 482 do
nal com competência para tanto (arl. 97 da CF de 1988), pois essa CPC com a redação dada pela Lei n. 9.868/99 (arl. 29), nos termos
fundamentação passa a ser necessária quando do exame do recurso seguintes:
extraordinário, conforme reiterada jurisprudência da Corte (RE n.
158.540/AgRg, ReI. Min. Celso de Mello, DJU23.5.97). 57. AI n. 560.036 (AgRglEDecl), ReI. Min. Cézar Peluso. DJU23.11.2007,
614 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 615

"Ar!. 482. (... ). presentatívidade dos eventuaIS requerentes, a manifestação de outros


"§ 1Q, O Ministério Público e as pessoas jurídicas de Direito Pú' órgãos e entIdades na condição de amici curiae. 58
blico responsãveis pela edição do ato questionado, se assim o requi:: Embora a legislação tenha consagrado a irrecorribílídade da de-
rerem, poderão manifestar-se no incidente de inconstitucionalidade' Cisão, tal como nos casos de admissão de amícus curiae no controle
observados os prazos e condições fixados no Regimento Interno d6 abstrato de normas, afigura-se inequívoco que se deu em passo sig-
Tribunal. nificativo na estrutura de um processo de controle incidental aberto
103
"§ 22 , Os titulares do direito de propositura referidos no art. e plural. no qual as diferentes visões sobre a questão constitucional
da Constituição poderão manifestar-se, por escrito, sobre a questã6 posta poderão revelar-se de forma integral.
constitucional obJeto da apreciação pelo órgão Especial ou pelo Pleno Essa opção legíslatíva parece coerente com a orientação ado-
do Tribunal, no prazo fixado em Regimento, sendo-lbes assegurado o tada pelo STF segundo a qual, decidido o incidente pelo Órgão Es-
direito de apresentar memoriais ou de pedir a juntada de documentos. pecial ou pelo Plenãrio, ficarão os órgãos fracionanos dispensados
"§ 32 , O relator, considerando a relevância da matéria e repre- de submeter a controvérsia a novo exame (CPC, art. 481, parágrafo
sentatividade dos postulantes, podem admitir, por despacho irrecor- OOico).
rivel, a manifestação de outros órgãos ou entidades." Tal entendimento acaba por fixar um efeito vinculante iI/tema
Nesse passo, vê-se que a Lei n. 9.868/99 conferiu estrutura plu- corporís (limitado ao âmbito do próprio Tribunal). Assim sendo,
ral e aberta ao procedimento de controle incidente. afigura-se fundamental que os diversos contendores interessados na
controvérsia constitucional possam participar do debate por ocasião
A alteração introduzida pela referida lei admite a manifestação, da apreciação do tema no âmbito do Plenãrio ou do Órgão Especial.
no incidente de inconstitucionalidade, do Ministério Público, das
pessoas juridicas responsãveis pela edição do ato e dos titulares Tem-se, assim, oportunidade para uma efetiva abertura do pro-
de direito de propositura na ação direta de inconstitucionalidade, cesso de controle de constitucionalidade incidental, que passa, nesse
observados os prazos e condições fixados no Regimento Interno do ponto, a ter uma estrutura semelbante à dos processos de indole
Tribunal. estritamente objetiva (ação direta de inconstItucionalidade, ação de-
claratória de constitucionalidade e argüição de descumprimento de
Quanto ao Ministério Público, hã de se entender que seu pro- preceito fundamental).
nunciamento afigura-se obrigatório no incidente de inconstituciona-
lidade. O art. 82, III, do CPC preconiza sua intervenção nas causas COl/trole illcidelltal de I/onl/as e parâmetro de cOl/trole - Dife-
em que presente o interesse público. rentemente do que se verifica com o controle abstrato de normas, que
A manifestação da pessoa jurídica de direito público responsavel tem como parâmetro de controle a Constítuição vigente, o controle
pela edição da norma questionada (União, Estado, Município) permi- incidental realiza-se em face da Constituição sob cujo império foi
te que a Corte analise a controvérsia constitucional com conhecimen- editada a lei ou ato normativo. Assim, não é raro constar a declaração
to das razões que embasaram a edição do ato normativo. de inconstItucionalidade de uma norma em face da Constituição de
A lei consagrou, igualmente, o direito de manifestação aos titu- 1967/69.59
lares do direito de propositura da ação direta de inconstitucionalida-
58. No RE n. 416.827 (ReI. Min. Gilmar Mendes) o Plenário do Tribunal, em
de, assegurando-se-lbes o direito de apresentar memoriais ou de pedir questão de ordem. admitiu a parttcipação de ameeI cunae, vencidos os Mins. Marco
a juntada de documentos. Aurélio, Eras Grau e Cezar Peluso (DJU26.1O.2007; cf. também RE n. 415.454, ReI.
Min. Gilmar Mendes, DJU26.1O.2007).
O § 32 do art. 482 do CPC, na redação adotada pela Lei n.
59. Cf. o RE n. 148.754. ReI. para o acórdão Min. Francisco Rezek, DJU
. 9.868/99, confere ao relator do incidente de inconstitucionalidade 4.3.1994; RE n. 290.079, ReI. Min. lImar Gaivão, DJU 4.4.2003; e RE n. 2ó9.700,
a faculdade de admitir, tendo em vista a relevância do objeto e a re- Rei. para o acordão Min. lImar Gaivão, DJU23.5.2003.

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o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 617
616

3. O controle incidental de normas no STF '" Não sera declarada a mconstitucionalidade se não for alcançada
a maioria de seis votos (RISTF, art. 173. c/c o art. 174). Declarada.
Considerações preliminares - A disciplina do controle incide~: porém. a inconstitucionalidade. no todo ou em parte. serão comuni-
tal de constitucionalidade perante o STF sofreu significativa mUdan, cados os órgãos interessados. remetendo-se cópia autêntica da deci-
ça. Traduzindo as concepções então vigentes. o Regimento Intemg são ao Presidente do Senado Federal, para os fins do disposto no art.
do STF de 1940 consagrava. no art. 85, paràgrafo unico. que: "Se 52. X. da CF (RISTF. art. 178).
por ocasião do julgamento de qualquer feito se verificar que ê im: . A declaração de constítucionalidade ou de inconstitucionalida-
prescindível decidir-se sobre a constitucionalidade ou não de algnm~ de. firmada nos termos do art. 178 do Regimento Interno. aplica-se
lei, ou de certa e determinada disposição nela contida. ou de ato dó a todos os casos submetidos ás Turmas ou ao Plenário (RI8TF, art.
Presidente da República, o Tribunal. por proposta do relator. ou de 103. c/c o art. 11. I e II), assegurando-se. porém. a qualquer Minis-
qualquer de seus membros. ou a requerimento do Procurador-Geral, tro o direito de propor, em novos feitos. a revisão do entendimento
depois de findo o relatório. suspenderá o julgamento para deliberar assentado.
na sessão seguinte, preliminarmente, sobre a argüida inconstitucio- Evidentemente. no caso de declaração de inconstítucionalidade
nalidade. como prejudicial". essa revisão não mais deverá ocorrer após a comunicação da decisão
O art. 86 do Regimento previa que, se a argüiçãO de inconsti- ao Senado Federal.
tucionalidade ocorresse perante qualquer das Turmas. competia ao Ou. amda que isto se afigure posslvel, em hipóteses excepciona-
Tribunal Pleno julgar a prejudicial de inconstitucionalidade da lei ou líssimas. não produzirá efeito algum a revisão da jurisprudência após
ato impugnado. a publicação da resolução suspensiva pelo Senado Federal. É este ato
O Regimento do STF consagra. no art. 176: "Argüida a inconsti- que. segundo a concepção dominante. atribui eficácia geral â decla-
tucionalidade de lei ou ato normativo federal. estadual ou municipal, ração de inconstítucionalidade.
em qualquer outro processo submetido ao Plenário, será ela julgada
em conformidade com o disposto nos arts. 172 a 174. depois de ou- Possibilidade de declaração incidental de inconstitucionalida-
vido o Procurador-Geral". de pelo STF sem que se verifique a relevância da aplicação da lei
Não mais se enfatiza a imprescindibilidade do julgamento da para o caso concreto - Ao contrário do que se verifica nas demais
questão para a decisão do caso concreto, afigurando-se suficiente a instâncias. que só poderão declarar a inconstitucIOnalidade de norma
argüição de inconstitucionalidade. Nos processos de competência das que deva ser aplicada à causa. o STF entende possivel que. verificada
Turmas. dar-se-á a remessa do feito ao julgamento do Plenário. em a inconstitucionalidade em sede de controle difuso. deva ele emitir
caso de relevante argüição de inconstitucionalidade (RISTF. art. 176. juizo quanto á validade da norma ainda que esta se mostre dispensá-
vel à solução da controvérsia.
§ 12 • c/c o art. 6". II, "a").
O julgamento da matéria eXige quorum de oito Ministros No julgamento do MS n. 20.505-DF (ReL Min. Marco Aurélio,
(RISTF, ar!. 143, parágrafo único), somente podendo ser proclamada j. 30.10.85, DJU 8.11.91) surgiu a alegação de direito líquido e certo
a constítucionalidade ou a inconstítucionalidade do preceito ou ato em decorrência de ato do Presidente da República que designou pre-
impugnado se. num ou noutro sentido, se tíverem manifestado seis feito pro tempore. A autoridade coatora fundamentou o ato com base
Ministros (RISTF, art. 173. caput, c/c o ar!. 143). No caso de ausência na descaracterização do Municipio de OsóriolRS enquanto "Municí-
de Ministros em número que possa influir no julgamento. proceder- pio de interesse da segurança nacional", nos termos do Decreto-lei
n.2.183/84.
se-a à sua suspensão. aguardando-se o comparecimento dos ausentes
(RISTF. art. 173. paràgrafo único), ou convocando-se Ministros do O Min. Néri da Silveira (Relator) votou no sentído de que, tendo
TFR (RISTF. ar!. 40). em vista a ilegalidade do ato presidencial, não haveria necessidade de
618 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 619

se examinar sua inconstitucionalidade, por ser a questão irrelevante O Tribunal, considerando que os juizes auditores foram contem-
para a resolução do caso concreto. plados indevidamente com o auxílio-alimentação, entendeu que não
Na espécie, porém, o Tribunal abandonou o entendimento clás- seria passivei, a título de isonomia, invocar tal situação ilegitima para
sico da teoria estadunidense do controle difuso (conforme sustentava justificar nova ilegalidade.
o Relator), ao interpretar que, uma vez suscitada a inconstitucio_ Tem-se aqui, também, um quid de objetivação do processo de
nalidade de "lei federal" (em sentido amplo), a questão deveria ser controle incidental no âmbito do STF.
apreciada, em razão da tarefa institucional de guardião da Constitui-
ção. A demanda foi resolvida, portanto, no sentido de se reconhecer o recllrso extraordillário cOlltra decisão de Jllizados Espe-
o direito líquido e certo do impetrante, sob duplo fundamento: o da ciais Federais e COI/Ira decisão dos Tribllllais de Jllstiça '!OS casos
ilegalidade e o da inconstitucionalidade. repetitivos - A Lei n. 10.259, de 12.7.200 I, estabeleceu as seguintes
Nessa mesma linha, no julgamentu do RE n. 102.553-DF (Rel. regras aplicaveis ao recurso extraordinário interposto contra decisão
Min. Francisco Rezek,j. 21.8.86, DJU 13.2.87, RTJ 120/725), o Tri- das Turmas Recursais dos Juizados Especiais:
bunal assumiu a condição de titular da guarda da Constituição para "Art. 14. Caberá pedido de uniformização de mterpretação de
examinar a constitucionalidade de outras normas, ainda que não inte- lei federal quando houver divergênCIa entre decisões sobre questões
ressasse ao recorrente. Tratava-se da apreciação de uma resolução do de direito material proferidas por Turmas Recursais na interpretação
Senado Federal que versava matéria de alíquota de ICMS. No caso, da lei.
na terminologia adotada â epoca, o Tribunal conheceu do recurso "§ IQ. O pedido fundado em divergência entre Turmas da mesma
extraordinário do contribuinte c negou-lhe provimento, declarando, Região será julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito,
porem, a inconstitucionalidade da resolução questionada. sob a presidênCia do Juiz Coordenador.
Outro precedente interessante foi a decisão no AgRg na SE n. "§ 2Q • O pedido fundado em divergênCIa entre decisões de Tur-
5.206 (ReI. Min. Sepúlveda Pertence,j. 12.12.2001, DJU30.4.2004), mas de diferentes Regiões ou da proferida em contrariedade a sumula
originária do Reino da Espanha e relatada pelo Min. Sepúlveda ou jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça será
Pertence. No caso concreto, apesar de a Corte, por unanimidade, Julgado por Turma de Uniformização, integrada por Juizes de Turmas
ter homologado a referida sentença, entendeu-se que se impunha o Recursais, sob a presidência do Coordenador da Justiça Federal.
exame, pelo Tribunal, da constitucionalidade de disposições da Lei "§ 3Q• A reunião de juízes domiciliados em cidades diversas será
de Arbitragem. feita pela via eletrônica,
Mencione-se, ainda, o julgamento da Ação Originária n. 499 "§ 4". Quando a orientação acolhida pela Turma de UniformIza-
(ReL Min. Mauricio Corrêa, DJU 1.8.2003). Tratava-se, na espécie, ção, em questões de direito material, contrariar sUmula ou jurispru-
de mandado de segurança impetrado por Ministro do STM que, dência dominante no Superior Tribunal de Justiça, a parte interessada
fundado no princípio da isonomia, pleiteava a concessão do auxílio- poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência
alimentação que lhe fora negado pelo Conselho de Administração "§ 52. No caso do § 4", presente a plausibilidade do direito invo-
daquele Tribunal. Tendo em vista que a Lei Orgânica da Magistra- cado e havendo fundado receio de dano de difícil reparação, padeci o
tura Nacional - LOMAN (Lei Complementar n. 35179) não mclui Relator conceder, de ofício ou a requerimento do interessado, medida
o direito ao auxílio-alimentação entre aqueles direitos e vantagens liminar determinando a suspensão dos processos nos quais a contro-
dos magistrados, enumerados, de forma exaustiva, na referida lei, o vérsia esteja estabelecida.
Tribunal declarou, de ofício, a inconstitucionalidade do Ato n. 274 do "§ 62. Eventuais pedidos de uniformização idênticos, recebidos
STM, que concedera aos Juizes Auditorês da Justiça Militar da União subseqüentemente em quaisquer Turmas Reeursais, ficarão retidos nos
o direito ao auxílio-alimentação. autos, aguardando-se pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça.
620 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 621

"§ 7Q • Se necessário, o Relator pedini informações ao Presidente art. 21 da Lei n. 9.868/99, que prevê a cautelar na ação declaratória
da Turma Recursal ou Coordenador da Turma de Uniformização e de constitucionalidade, e no art. 52 da Lei n. 9.882/99, que autoriza
ouvirá o Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias. Eventuais a cautelar em sede de argüição de descumprimento de preceito fim-
interessados, ainda que não sejam partes no processo, poderão se damental.
manifestar, no prazo de 30 (trinta) dias. ., Observe-se, ademais, que, afastando-se de urna perspectiva es-
"§ 82 • Decorridos os prazos referidos no § 7Q , o Relator incluirá Íritamente subjetiva do recurso extraordinârio, a Lei n. 10.259/2001,
o pedido em pauta na Seção, com preferência sobre todos os demais no art. 14, § 7Q , autorizou o relator a pedir informações adicionais,
feitos, ressalvados os processos com réus presos, os habeas corpus e se assim entender necessário, ao Presidente da Turma Recursal ou ao
os mandados de segurança. Coordenador da Turma de Uniformização, podendo também· ouvir o
"§ 92 • Publicado o acórdão respectivo, os pedidos retidos refe- Ministério Público no prazo de cinco dias. Na mesma linha. a aludida
ridos no § 6" serão apreciados pelas Turmas Recursais, que poderão disposição permitiu que eventuais interessados, ainda que não sejam
exercer juizo de retratação ou declará-los prejudicados, se veicularem partes no processo, se manifestem no prazo de 30 dias (art. 14, § 7Q ,
tese não acolhida pelo Superior Tribunal de Justiça. segunda parte) . Trata-se de um amplo reconhecimento da figura do
"§ 10. Os Tribunais Regionais, o Superior Tribunal de Justíça e amicus clIriae, que, corno se sabe, já foi prevIsta na Lei n. 9.868/99
o Supremo Tribunal Federal, no âmbito de suas competências, expe- (arts. 7Q e 18, referentes ii ação direta de inconstitucionalidade e ii
dirão normas regulamentando a composição dos órgãos e os proce- ação declaratória de constitucionalidade; art. 482 do CPC, relativo
dimentos a serem adotados para o processamento e o julgamento do ao incidente de inconstitucionalidade) e na LeI n. 9.882/99 (art. 6",
pedido de uniformização e do recurso extraordinário. § 12 , a propósito da argüição de descumprimento de preceito ftmda-
"Art. 15. O recurso extraordinário, para os efeitos desta Lei, sera mental). Assinale-se que, na Questão de Ordem no RE 416.827,61 o
processado e julgado segundo o estabelecido nos §§ 4Q a 92 do art. 14, Tribunal admitiu, pela primeira vez, a manifestação de amlci curzae
além da observância das normas do Regimento." em processo de competência do STF proveniente das Turmas Recur-
Embora referentes ao incidente de uniformização a ser desenvol- sais dos Juizados Especiais.
vido perante o STJ, as regras dos §§ 4Q a 92 do art. 14 aplicavam-se Esse novo modelo legal traduz, sem dúvida, um avanço na
também ao recurso extraordinârio, por força do art. 15 da aludida lei. concepção vetusta que caracteriza o recurso extraordinàrio entre nós.
Depreende-se do plexo de normas em referência que o recurso Aludido instrumento deixa de ter caniter marcadamente subJetivo ou
extraordinârio das decisões dos Juizados Especiais Federais mereceu de defesa de interesse das partes, para assumir, de forma decisiva,
tratamento diferenciado por parte do legislador. A norma regulamen- a ftmção de defesa da ordem constitucional objetiva. Trata-se de
tadora admite, expressamente, o encaminhamento de alguns recursos orientação que os modernos sistemas de Corte Constitucional vêm
ao STF e a retenção dos recursos idênticos nas Turmas recursais (art. conferindo ao recurso de amparo e ao recurso constitucional. Nesse
14, § 6"). sentido, destaca-se a observação de Hãberle segundo a qual "a fim-
Tendo em vista a possibilidade de reprodução de demandas ção da Constituição na proteção dos direitos individuais (subjectívos)
idênticas, autoriza-se ao relator conceder liminar para suspender, de é apenas urna faceta do recurso de amparo", dotado de uma "dupla
oficio ou a requerimento do interessado, a tramitação dos proces-
sos que versem sobre idêntica controvérsia constitucional (art. 14, julgamento final e determinar a suspensão na ongem, ate o pronunciamento da Corte
§ 5Q ).60 Trata-se de disposição que se assemelha ao estabelecido no sobre a rnaténa, de todos os processos em tramítação perante os Juizados Especiais e
Turmas Recursais da Seção Judiciâna Federal do Estado do Rio de Janeiro n05 qUais
60. Na Me em Ação Cautelar fl. 272. da relataria da Min. Ellen GmeIe (DJU se discutIsse a desconsideração de acordos firmados em decorrência do termo de
25.2.2005), o Tribunal concedeu a liminar requerida, nos termos do art. 14, § @, adesão preVIsto na Leí Complementar D. 110/2001.
da Lei D. 10.259/2001, para confenr efeito suspensIvo ao RE D. 418.918 atê seu 61. Plenáno, RE n. 416.827, ReI. Gilmar Mendes, DJU 26. 10.2007.
622 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 623

função", subjetlva e objetiva, "consistindo esta última em assegunu- De certa forma, é essa visão que - com algum atraso e relativa
o Direito Constitucional objetivo".·2 timidez, ressalte-se - a Lei n. 10.259/2001 buscou imprimir aos re-
Essa orientação ha muito mostra-se dominante também no Di- cursos extraordinmos, ainda que, inicialmente, apenas para aqueles
interpostos contra as decisões dos Juizados EspeciaIS FederaIS. A fór-
reito Americano.
mula adotada para o recurso extraordinmo no âmbito dos Juizados
Já no primeiro quartel do século passado afirmava Triepel que Especiais Federais foi estendida para os recursos extraordinários
os processos de controle de normas deveriam ser concebidos como regulares, nos quais se discutam matérias repetitivas ou os chamados
processos objetivos. Assim, sustentava ele, no conhecido Referat :'casos de massa" (Lei n. 11.418/2006).
sobre "a natureza e desenvolvimento da jurisdição constitucional",
A referida lei recomenda a adoção de sistemática idên~ca para
que, quanto mais políticas fossem as questões submetidas ii jurisdi-
os recursos extraordinmos regulares. Eis o teor do art. 543-B:
ção constitucional, tanto mais adequada pareceria a adoção de um
processo judiCiai totalmente diferenciado dos processos ordinmos. "Art. 543-B. Quando houver multiplicidade de recursos com
"Quanto menos se cogitar, nesse processo, de ação (... ), de condena- fundamento em idêntica controvérsia, a análise da repercussão geral
ção, de cassação de atos estatais - dizia Triepel -, mais facilmente seci processada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tri-
poderão ser resolvidas, sob a forma judicial. as questões políticas, bunal Federal. observado o disposto neste artigo.
que são, igualmente, questões juridicas" .•3 Triepel acrescentava. "§ 12 . Caberá ao Tribunal de origem selecionar um ou mais
então, que "os americanos haviam desenvolvido o mais objetivo dos recursos representativos da controvérsia e encaminhá-los ao Supre-
processos que se poderia imaginar" (Die Amerikaner haben for Ver- mo Tribunal Federal, sobrestando os demais até o pronunciamento
fassungsstreitigkeiten das objektivste Verfahren eingefohrt, das sich definitivo da Corte.
denken ltisst)." "§ 2'. Negada a existência de repercussão geral, os recursos so-
Portanto, hã muito resta evidente que a Corte Suprema America- brestados considerar-se-ão automaticamente não admitidos.
na não se ocupa da correção de eventuais erros das Cortes ordinmas. "§ 3º. Julgado o mérito do recurso extraordinmo, os recursos
Em verdade, com o Judiciary Act de 1925 a Corte passou a exercer sobrestados serão apreciados pelos' Tribunais. Turmas de Uniformi-
um pleno domínio sobre as matérias que deve ou não apreciar.·s Ou. zação ou Turmas Recursais, que poderão declará-los prejudicados ou
nas palavras do Chief Justice Vinson, "para permanecer efetiva, a retratar-se.
Suprema Corte deve continuar a decidir apenas os casos que con- "§ 4". Mantida a decisão e admitido o recurso, podeci o Supre-
tenham questões cuja resolução haverá de ter importânCIa imediata mo Tribunal Federal, nos termos do Regimento Interno, cassar ou
para além das situações particulares e das partes envolvidas" (To re- reformar, liminarmente, o acórdão contrário ii orientação firmada.
main eJfective, the Supreme Court must continue to decide only those
cases which present questions whose resolutions will have immediate
"§ 52. O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal dispo-
rá sobre as atribuições dos Ministros, das Turmas e de outros órgãos,
importance for beyond the particular facts and parties involved).··
na análise da repercussão geraL"
62. Peter Hãberle. "O recurso de amparo no SIstema germâmco", Sub Judice Vê-se, assim. que também o recurso extraordinano regular inse-
20-21/33 (49), 2001. rido no contexto das questões de massa, independentemente de cui-
63. Heinrich Triepel. "Wesen und Entwjck.Iung der Staatsgerichtsbarkeit", dar de impugnação de decisão dos juizados especiais ou dos tribunais
VVDStRL 5/26 (1929). em geral. passa a ter uma única disciplina.
64. Triepel. idem. ibidem.
65. Cf.. a propósito, Stephen M. Griffio, The Age Df Marbury. 111eones of Repercussão geral e controle incidental de constitucionalida-
Judicial Revlew VS. Theories Df Constítutional Interpretation. 1962-2002, paper
apresentado na reunião anual da American Politicai Science Associatlon. 2002. p. 34. de no STF - A EC n. 4512004 (Reforma do Judiciário) consagrou
66. Griffin. The Age ofMarbury .... Clt, p. 34. no art. 102. § 30. da CF o instituto da repercussão geral, segundo
624 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 625

o qual "no recurso extraordinário o recorrente devera demonstrar a H( ... )."


repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso' Tem-se, aqui, signifIcatíva mudança do modelo de controle inci-
nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão d~ dental, uma vez que os recursos extraordinários terão de passar pelo
recurso, somente podendo recusá-la pela manifestação de dois terços crivo da admissibilidade referente à repercussão geral.
de seus membros". '
Com a fmalidade de regulamentar, no plano interno, o procedi-
A Lei n. 11.418/2006 introduziu no art. 543-A do CPC a novi roento de análise e julgamento da repercussão geral,.7 o STF editou a
disciplina do recurso extraordinário, tendo em vista a exigência de , Emenda Regimental n. 21, de 30.4.2007.
demonstrar, em preliminar do recurso, a existência da repercussão A principal novidade da aludida disciplina foi o estabelecimento
geral; de sessão eletrônica de julgamento da repercussão geral, "dispondo
"Art. 22. A Lei n. 5.869, de II de janeiro de 1973 - Código de que, quando não for o caso de inadmissibilidade do recurso extraor-
Processo Civil, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 543-A e dinário por outro motivo, o relator submetera sua manifestação sobre
543-B: a existência, ou não, de repercussão geral, por meio eletrônico, aos
'''Art. 543-A. O Supremo Tribunal Federal, em decisão Írre- demais mmistros. 68
corrivel, não conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão Referida emenda regimental tambem previu a repercussão geral
constitucional nele versada não oferecer repercussão geral, nos ter- presumida, que, uma vez caracterizada, dispensa o procedimento de
mos deste artigo. análise eletrônica da repercussão. Sera presumida a repercussão geral
'" § 12 • Para efeito da repercussão geral, será considerada a exis~ quando a questão já tiver sido reconhecida ou quando o recurso ex-
tência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico, traordinàno impugnar decísão contrária a sumula ou jurisprudência
polítíco, social ou juridico, que ultrapassem os interesses subjetivos dominante da Corte. 69
da causa. O procedimento para a análise de eventual existência de reper-
'''§ 22 . O recorrente deverá demonstrar, em preliminar do re- cussão geral ficou assim estabelecido: a sessão eletrônica tem a du-
curso, para apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a ração de 20 dias corridos, passadôs os quais o próprio sistema fara a
existência da repercussão geral. contagem dos votos sobre a existência, ou não, de repercussão geral.
Se decorrido o prazo sem manifestações dos ministros do STF, consi-
"'§ 32 • Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar
derar-se-á existente a repercussão. 7o Lembre-se que há a necessidade
decisão contrária a sÚInula ou jurisprudência dominante do Tribunal.
da manifestação expressa de pelo menos oito ministros, recusando a
"'§ 42. Se a Turma decidir pela existência da repercussão geral repercussão geral, para que seja reputada sua inexistência.71
por, no mínimo, 4 (quatro) votos, ficará dispensada a remessa do
As deCIsões pela inexistência da repercussão geral são irre-
recurso ao Plenário.
corriveis, valendo para todos os recursos que versem sobre questão
'" § 52. Negada a existência da repercussão geral, a decisão idêntica.72 Uma vez decidida a repercussão geral, a Presidência do
valera para todos os recursos sobre matéria idêntica, que serão in- STF deverá promover ampla e específica divulgação do teor dessas
deferidos limínarmente, salvo revisão da tese, tudo nos tennos do
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. 67. Nos termos do que estabelece o art 3!!. da Lei n. 11.418/2006.
'" § 62. O relator podera admitir, na análise da repercussão geral, 68. RISTF. art. 323, capllt (redação da Emenda Regimental n. 21/2007).
a manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos 69. RISTF, art. 323. § l' (redação da Emenda Regimental n. 2112007).
tennos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. 70. RlSTF, art 324. capu! e parágrafo ÓI1ico (redação da Emenda Reglrnental
n. 2112007).
'" § 72 • A súmula da decisão sobre a repercussão geral constará 71. CF, art. 102, § 3'.
de ata, que será publicada no Diário OfiCial e valera como acórdão.' 72. RISTF, art. 326 (redação da Emenda Regimental n. 2112007).
626 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 621

decisões, bem como diligenciar para a formação e atualização de 8.212/91 e do ar!. 5', parágrafo único, do Decreto-lei n. 1.569, em
banco de dados eletrânico sobre o assunto. 73 fiice do art. 143, m "b", da CE
Outra questão que merece destaque é a possibilidade de a Pre~ Nessa Questão de Ordem aplicou-se a disciplina do art. 328 do
sidência do STF ou qualquer relator de recursos extraordinários; RlSTF,18 que determinou, especificamente em relação aos processos
que possam reproduzir-se em múltiplos feitos, comunicar o fato aos iIlúltiplos, o sobrestamento e/ou devolução dos feitos aos tribunais de
tribunais a quo para frns de cumprimento do ar!. 543-B do CPC.14 origem. Consignou-se que, ao se verificar a subida ou a distribuição
Ademais, "quando se verificar a subida ou a distribuição de múltiplos de múltiplos recursos com fundamento em idêntica controvérsia,
recursos com fundamento em idêntica controvérsia, a Presidência do a Presidência do Tribunal ou o relator selecionará um ou mais re-
Tribunal ou o relator selecionará um ou mais representativos da ques- presentativos da questão e determinará a devolução dos d.emais aos
tão e determinará a devolução dos demais aos tribunais ou turmas de tribunais ou turmas do Juizado Especial de origem para aplicação dos
Juizado Especial de origem, para aplicação dos parágrafos do art. parágrafos do art. 543-B do cpc.
543-B do Código de Processo Civil".75 Com tal medida o Tribunal deu consecução ao modelo desen-
O instituto da repercussão geral sera conformado pela prática volvido para evitar o acUmulo de processos repetidos na Corte, nos
jurisprudencial do STF. Em junho/2007, em julgamento plenário, termos do art. 543-B do CPC."9
restou decidido pelo STF que a fundamentação da repercussão geral A adoção do novo instituto devera maximizar a feição objetiva
somente poderia ser exigida nos recursos extraordinários cnJo inicio do recurso extraordinário.
do prazo para sua interposição tenba ocorrido após o dia 3.5.2007. Ressalte-se, ainda, como resultado da adoção de medidas de ra-
data em que foi publicada a Emenda Regimental n. 21 do STF."6 cionalização processual e de filtros recursais voltados a solucionar o
A Corte firmou entendimento, ainda, no sentido de que cabe antigo desafio dos recursos idênticos e mecanicamente protocolados,
exclusivamente ao STF reconbecer a efetiva existência da repercus- a expressiva redução no nUmero de processos distribuidos no STF no
são geral, não obstante tanto o Supremo quanto os demais tribunais ano de 2008. Pela primeira vez o Tribunal experimentou significativa
de origem possam verificar a existência da demonstração formal e diminuição no total de processos distribuídos - cerca de 41 % -, obtí-
fundamentada da repercussão geraL
Em setembro/2007, ao resolver Questão de Ordem no RE n. 78. Na redação da Emenda RegímentaI n. 2112007.
556.664,n o Plenário do STF determinou a suspensão do envio de 79. Registrem-se os dOIS primeiros processos nos qUaIS o Tribunal manifestou
juizo sobre a eXIStênCia da repercussão geral.
recursos extraordinários e agravos de instrumento ao Supremo que - RE n. 559.607, ReI. Min. Marco Aurélia, J. 26.9.2007: a Tnbunal enteo-
versassem sobre a constitucionalidade dos arts. 45 e 46 da Lei n. deu que a matéria tInha repercussão geral, confonne o § 3!l do art. 102 da CF.
Tratava-se de discussão acerca da constttucionalidade do inciso I do 3ft 72 da Lei
73. RlSTF, art. 329 (reda,ão da Emenda Regimental n. 2112007. n. 10.86512004, que dispõe sobre a base de cálculo da contribuição para o PIS/CO-
FINS. cuja segunda parte fOI declarada inconstitucIOnal pelo TRF-4I! Região. Nesta
74. Na redação da Lei n. 11.41812006.
ocasião. o Min. Marco Aurélio indicou que. em pnncíplo. teriam repercussão gerai
75. RISTF. art. 328. paragrafo único (redação da Emenda Regimentai D. todos os recursos extraordinânos processados pela alínea "b" do 3ft 102. III, da CF
2112007. {Informativa STF 481 l.
76. AJlQO n. 664.567, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 6.9.2007, no qual - RE n. 559.943, Rela. Min. Carmem LÚCia: fOI o primeiro recurso extraor-
se questionou a necessidade de se demonstrar. na petição de recurso extraordináno dinàno submetido â sessão eletrônica de julgamento (art 323. caput. do RISTF),
que cuidava de matêria crimmal. a exístênc13 de repercussão geral das questões havendo manifestação de todos Os Minístros da Corte, sendo nove pela repercussão
abordadas. De acordo com o voto do Min. Sepúlveda Pertence, relator do agravo geral e dois peia não-repercussão (DJU 7.12.2007). A deCisão pela repercussão geral
de instrumento. o Plenârio entendeu que esse ínstituto se aplica a todos os recursos submete a questão discutida nos autos (exigêncía de lei complementar para dispor
extraordinanos, seja em matéria cível. criminal. eleitoral ou trabalhista. sobre prescrição e decadência tributárias aplicaveis às contribuições sociaiS para
77. RElQO n. 556.664, Rei. Min. Gilmar Mendes, j. 12.9.2007, InformatIVa constttUlção de crédito tributário e da respectiva ação de cobrança) à decisão de
STF479. merito do Plenâno do STF.
628 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 629

da principalmente com a aplicação do instituto da repercussão geral Indaga-se, ainda, sobre a pertinência da suspensão do pronunciamen-
abrindo espaço para que o Tribunal possa se concentrar no debate d~ to de inconstitucionalidade incidenter tantum, ou sobre sua aplicação
assuntos de maior impacto social. às decisões proferidas em ação direta.
Embora a doutrina pátria reiterasse os ensinamentos teóricos e
Controle preventivo de projeto de emenda constitucional em
jurisprudenciais americanos, no sentido da inexistência juridica ou
mandado de segurança - Singularidade digna de destaque é a impe-
da ampla ineficàcia da lei declarada inconstitucional, não se indicava
tração de mandado de segurança por parlamentar contra tramitação
a razão ou o fundamento desse efeito amplo." Diversamente, a não-
de projeto de emenda constitucional.
aplicação da lei no Direito norte-americano constitui expressão do
Ainda sob a Constituição de 1967/69 o STF, no MS n. 20.257, stare decisls, que empresta efeitos vinculantes às decisões das Cortes
entendeu admissivel a impetração de mandado de segurança contra
Superiores. Daí ter-se adotado, em 1934, a suspensão de execução
ato da Mesa da Câmara ou do Senado Federal, asseverando-se que,
pelo Senado como mecanismo destmado a outorgar generalidade
quando "a vedação constitucional se dirige ao próprio processamen-
ii declaração de inconstitucionalidade. E, como observado, a enge-
to da lei ou da emenda (... ), a inconstitucionalidade ( ... ) já existe
nhosa fórmula mereceu reparos na própria Assembléia Constitumte.
antes de o projeto ou de a proposta se transformarem em lei ou em
O Deputado Godofredo Viarma pretendeu que se reconhecesse, V.g.,
emenda constitucional, porque o próprio processamento já desres-
peita, frontalmente, a Constituição" (ReI. Min. Moreira Alves, RTJ a inexistência jurídica da lei após o segundo pronunciamento do STF
99(3)/1.040). sobre a inconstitucionalidade do diploma.'2
Esse entendimento vem sendo adotado pelo Tribunal em diver- Mas que efeitos hão de ser reconhecidos ao ato do Senado que
sos precedentes,80 o que demonstra que o Tribunal acabou, aqui, por suspende a execução da lei inconstitucional?
adotar um controle preventivo de constitucionalidade, na modalidade Lúcio Bittencourt afirma que "o objetivo do art. 45, n. IV, [a
incidental ou concreta (embora se cuide propriamente de um manda- referência diz respeito ti Constituição de 1967] é apenas tornar pu-
do de segurança contra projeto de lei). blica a decisão do Tribunal, levando-a ao conhecimento de todos os
cidadãos"," Outros reconhecem que o Senado Federal pratica ato
O papel do Senàdo Federal - A suspensão da execução pelo
político que "confere efeito geral ao que era particular ( ... ), generaliza
Senado Federal do ato declarado inconstitucional pela Excelsa
os efeitos da decisão","
Corte foi a forma definida pelo constituinte para emprestar eficácia
erga omnes às decisões definitivas sobre inconstitucionalidade nos
81. Lucio Bittencourt, O Controle JzmsdiclOnal da Constitucronalidade das
recursos extraordinários. A aparente onginalidade da fónnula tem Leis. 21 ed.. Rio de Janerro. Forense. 1968, p. 14l.
dificultado seu enquadramento dogmático. Discute-se, assim, sobre 82. Araújo Castro. A Nova COnStituição BrasileIra, Rio de Janeiro, Freitas
os efeitos e natureza da resolução do Senado Federal que declare Bastos, 1935, p. 247. Cf. Ana ValderezAyres Neves de Alencar, "A competência do
suspensa a execução da lei ou ato normativo. Questiona-se, igual- Senado Federai para suspender a execução dos atos declarados inconstitucIOnais",
ReviSta de lnfonnação LegiSlatrva 15(57)f234-237,janelro-marçoI78.
mente, sobre o carnter vinculado ou discricionário do ato praticado
83. Lúcio Bittencourt. O Controle Junsdicional .... 211 ed., p. 145.
pelo Senado e sobre a abrangência das leis estaduais e municipais. 84. Paulo Brossard, "O Senado e as leís mconstitucíonais", RevISta de Infor-
mação LegIslatrva 13(50)/61. Cf. Josaphat Marinho, "O art. 64 da Constituição e
80. Cf. MS n. 20.257, ReI. Min. Moreira Alves, DJU 8.10.80 (leading case); o papel do Senado", RevISta de Infonnação LegISlatIva 1(2); Alfredo Buzaid, Da
MS n. 21.303/AgRg, ReI. Min. Octávio GaUotü, DJU 2.8.91; MS n. 24.356, ReI. Ação Direta de Declaração de InconstitucIOnalidade no Direito Brasilerro, São
Min. Carlos VeUoso, DJU 12.9.2003; MS n. 20.452, ReI. Min.Aldir Passannho, DJU Paulo, Saraiva, 1958, pp. 89-90; Themístoc1es Brandão Cavalcanti, Do Controle da
11.10.85; MS n. 24.645, ReI. Min. Celso de MeUo, DJU 15.9.2003; MS n. 24.593- Constítuclonalidade, Rio de JaneIro. Forense. 1966, pp. 162-166; Oswaldo Aranha
DF, ReI. Min. Maurício Corrêa. DJU 8.8.2003; MS n. 24.576, Rela. Min. EUen Gra- BandeIra de MeIlo, Teoria das COnstitlllÇÕes Rígidas, 21 ed., São Paulo. Bushatsky
ele, DJU 12.9.2003; MS 24.667/AgRg, ReI. Min. Carias VeUoso. DJU23.04.2004; Editor. 1980, p. 210; Celso Bastos, Curso de Direito Constitllcional~ 5i! ed., São Pau-
MS 24.430/QO, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 9.5.2003. lo, Saraiva. 1982, p. 84.
630 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 631
,
I!

o STF parece ter adrnítido que o ato do Senado empresta eficá- de "atos jurídicos formalmente perfeitos" ou de "efeitos futoros dos
cia gem:rica à decisão definitiva. Assim, a suspensão teria o condão direitos regularmente adquiridos" com fundamento em lei íncons-
de dar alcance normativo ao julgado da Excelsa Corte. 85 titucional. De resto, é fácil de ver que a constitucionalidade da lei
Mas qual seria a dimensão dessa eficácia ampla? Seria a de re- parece constituir pre~supostoínarredável de categorias como direito
conhecer efeito retroativo ao ato do Senado Federal? adquirido e ato JurídICO perfeIto.
Também aqui não se logravam sufrágIOS unãnimes. E verdade que a expressão utilizada pelo constituínte de 1934
(ar\. 91, N), e reiterada nos textos de 1946 (art. 64) de 1967/1969
Tbemístocles Cavalcanti responde negativamente, sustentando (art. 42, VII) e de 1988 (art. 52, X) - suspender a execução de lei ou
que a "única solução que atende aos ínteresses de ordem pública é decreto -, não é isenta de dúvida. Originariamente, o Substitutivo da
que a suspensão produzira os seus efeitos desde a sua efetivação. Comissão Constitucional chegou a referir-se à "revogação ou lmspen-
não atingindo as situações juridicas criadas sob a sua vigência"." são da leI ou ato",9° Mas a própria raflo do dispositIvo não autoriza
Da mesma forma, Bandeira de Mello ensína que "a suspensão da leJ a equiparação do ato do Senado a uma declaração de inefietieta de
corresponde à revogação da lei", devendo "ser respeitadas as situa- caráter prospectivo. A proposta de Godofredo Vianna reconbecia a
ções anteriores definitivamente constituidas, porquanto a revogação inexistência juridica da leI desde que fosse declarada a sua inconsti-
tem efeito ex nune"87 Enfatiza que a suspensão "não alcança os atos tucionalidade "em mais de um aresto" do STF. Nos debates realiza-
juridicos formalmente perfeitos, praticados no passado, e os fatos dos preponderou, porém, a idéia de se outorgar ao Senado - erigido,
consumados, ante sua irretroatívidade, e mesmo os efeitos futoros então, ao papel de coordenador dos Poderes - a suspensão da lei
dos direitos regularmente adquiridos". "O Senado Federal- asseve- declarada inconstitucional pelo STF.
ra Bandeira de Mello - apenas cassa a lei, que deixa de obrigar, e,
Na discussão travada no Plenárío da Constituínte destacaram-se
assim, perde a sua executoriedade. porque, dessa data em diante, a
as objeções de Levi Carneiro, contrário à incorporação do ínstituto ao
revoga simplesmente".88 Texto Magno. Prevaleceu a tese perfilhada, dentre outros, por Prado
Não obstante a autoridade dos seus sectários, essa doutrína pa- Kelly, tal como resumida na seguinte passagem:
rece confrontar com as premissas basilares da declaração de íncons- "Na sistemática preferida peló nobre Deputado, Sr. Levi Car-
titucionalidade no Direito brasileiro. neiro, o Supremo Tribunal decretaria a inconstítucionalidade de uma
Afirmava-se quase íncontestadamente, entre nós, que a pronun- lei, e os efeitos dessa deCIsão se limitariam às partes em litígIO. Todos
cia da inconstítucionalidade tem efeito ex /une, contendo a decisão os demais cidadãos, que estivessem na mesma situação da que foi
judicial caráter eminentemente declaratório.89 Se assim fora, afigu- tutelada num processo próprio, estariam ao desamparo da lei. Ocor-
rava-se inconcebivel cogitar de "situações juridicamente criadas", reria, assim, que a Constituição teria sido defendida na hipótese que
permitiu o exame do Judiciário, e esquecida, anulada, postergada, em
85. MS n. 16.512, Rel. Min. Oswaldo TrigueIro, RTJ38(1)120. 21, 23 e 28. todos os outros casos (... ).
86. Themistocles Brandão Cavalcanti. Do Controle da ConstítuclOnalidade,
p.164. "Certas Constituições modernas têm criado Cortes jurisdicionais
87. OswaldoAranha Bandeira de Meno, Teoria ...• 211 ed., p. 211. para defesa da Constituição. Nós continuamos a atribuir à Suprema
88. Oswaldo Aranha Bandeira de Meno. Teona ... , 2a ed, p. 211. Corte a palavra defmitiva da defesa e guarda da Constituição da
89. Rui Barbosa., "Os atas inconstitucionais do Congresso e do Executivo", in República. Entretanto, permitimos a um órgão de supremacia polí-
Trabalhos Jurídicos. Rio de Janeiro, Casa de Rui Barbosa. 1962, p. 49. e O Direito tica estender os efeitos dessa decisão, e estendê-los para o fim de
do Amazonas ao Acre Sep/entnonal, v. 1. Rio de Janeiro. Jornal do Commercío.
1910, pp. 51-52; Josêde Castro Nunes. Teoría e PrátIca do PoderJudiciárzo. Rio de suspender a execução, no todo ou em parte, de qualquer lei ou ato,
Janeiro. Forense. 1943, p. 588: Alfredo Buzaid, Da Ação Díreta ...• p. 128; Francísco
Luiz da Silva Campos. Direito ConstituclOnal. v. 1, Rio de Janeiro, Freitas Bastos. 90. Ana Valderez Ayres Neves de Alencar, "A competência do Senado Federa!
1956, pp. 460-461. ...... RevIsta de lnfonnação LegISlatIva 15(57)/247.
632 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 633

deliberação ou regulamento, quando o Poder Judiciário os declara mesma coisa, atribui-se ao Senado a faculdade de suspender o ato
inconstítucionais."91 no todo ou em parte, quando o Judiciário haja declarado inconstÍ-
Na Assembléia Constituinte de 1946 reencetou-se o debate tucional, porque, desde que o Judiciário declara inconstitucional, o
tendo-se destacado, uma vez mais, na defesa do instituto, a voz d~ Presidente da República não pode declarar constitucional".93
Prado Kelly: Parecia evidente aos constituintes que a suspensão da execução
"O Poder Judiciário só decide em espécie. da lei, tal como adotada em 1934, importava a extensão dos efeitos
do aresto declaratório da inconstitucionalidade, configurando, inclu-
"E necessário, porém, estender os efeitos do julgado, e esta é
sive, instrumento de economia processual. Atribuia-se, pois, ao ato
atribuição do Senado.
do Senado eaniter ampliativo, e não apenas paralisante ou derroga-
"Quanto ao primeiro ponto, quero lembrar que na Constituição tório do diploma viciado. E não fosse assim, inócuo seria o instituto
de 1934 existe idêntico dispositivo. com referência à maioria das situações formadas na vigência da lei
"Participei da elaboração da Constituição de 1934. De fato, ten- declarada inconstitucional.
tou-se a criação de um quarto Poder; entretanto, já há muito o Senado Percebeu essa realidade o Senador Accioly Filho, que defendeu
exercia a função controladora, fiscalizadora do Poder Executivo. a seguinte orientação:
"O regime democrático é um regime de legalidade. No mo- "Posto em face de uma decisão do STF que declara a mconslItu-
mento em que o Poder Executivo pratica uma ilegalidade, a pretexto cionalidade de lei ou decreto, ao Senado não cabe tão-só a tarefa de
de regulamentar uma lei votada pelo Congresso, exorbita nas suas
promulgador desse decisório.
funções. Há a esfera do Judiciário, e este não está impedido, desde
que é violado o direito patrimonial do individuo, de apreciar o direito "A declaração é do Supremo, mas a suspensão é do Senado. Sem
ferido. a declaração o Senado não se movimenta, pOIS não lhe é dado sus-
pender a execução de lei ou decreto não declarado inconstitucional.
"Se, entretanto, se reserva ao órgão do Poder Legislativo - no
Essa suspensão é mais do que a revogação da leI ou decreto, tanto
caso, o Senado - a atribuição fiscalizadora da lei, não estamos
pelas suas conseqüências quanto por desnecessitar da concordância
diante de uma função judicante, mas de fiscal do arbítrio do Poder
da outra Casa do Congresso e da sanção do Poder Executivo. Em
ExecutIvo. O dispositivo já constava da Constituição de 1934 e não
suas conseqüências, a suspensão vai mUlto além da revogação. Esta
foi impugnado por nenbum autor ou comentador que seja do meu
opera ex nune, alcança a lei ou ato revogado só a partir da vigência do
conbecimento. Ao contrário, foi um dos dispositivos mais festejados
ato revogador, não tem olhos para trás, e, assirn, não desconstitui as
pela crítica, porque atendia, de fato, às solicitações do meio político
situações constituidas enquanto vigorou o ato derrogado. Já, quando
brasileiro."'2
de suspensão se trate o efeito é ex /une, pois aquilo que é inconsti-
Ante as criticas tecidas por Gustavo Capanema, ressaltou Nereu tucional é natimorto, não teve vida (cf. Alfredo Buzaid e Francisco
Ramos: "A lei ou regulamentos declarados inconstitucionais são Campos l, e, por isso, não produz efeitos, e aqueles que porventura
juridicamente inexistentes, entre os litigantes. Uma vez declarados, ocorreram ficam desconstituídos desde as suas raízes, como se não
pelo Poder Judiciário, inconstitucionais ou ilegais, a decisão apenas tivessem existido.
produz efeito entre as partes. Para evitar que os outros interessados,
amanbã, tenham de recorrer também ao Judiciário, para obter a "Integra-se, assim, o Senado numa tarefa comum com o STF
equivalente àquela da alta Corte Constitucional da Áustria, do Tríbu~
91. Ana Valderez Ayres Neves de Alencar. "A competência do Senado Federal nal Constitucional alemão e da Corte Constitucional italiana. Ambos,
... n. ReviSta de Informação Legislat.va 15(57)/260.
92. Ana Valderez Ayres Neves de Alencar, "A competência do Senado Federal 93. Ana Valderez Ayres Neves de Alencar. nA competência do Senado Federal
... n, ReviSta de Informação LegiSlallva 15(57)1267-268. ....., RevIsta de InJonnação LegIslativa 15(57)/268.
634 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 635

Supremo e Senado, realizam, na Federação brasileira, a all1ibuição ''Há, pois, distânCia a separar o conceito de revogação daquele
que é dada a essas Cortes européias. _,
'o, '
suspensão de execução de lei ou decreto declarado inconstitu-
"Ao Supremo cabe julgar da inconstitucionalidade das leIS oú: cional. O ato de revogação, pois, não supre o de suspensão, não o
atos, emitindo a decisão declaratória quando consegue atingir o quó: . iiUpede, porque não produz os mesmos efeitos."95
111m qualificado. 'i " Esta colocação parecia explicitar a natureza smgular da atri-

"Todavia, ai não se exaure o episódio se aquilo que se deseja é buição deferida ao Senado Federal. A suspensão constituía ato po-
dar efeitos erga omnes ii decisão. lítico que retira a leí do ordenamento jurídico, de forma definitiva
"A declaração de inconstitucionalidade, só por ela, não temã e com efeitos retroativos. É o que ressaltava, igualmente, o STF ao
virtude de produzir o desaparecimento da lei ou ato, não o apaga, enfatizar que "a suspensão da vigência da lei por inconstitucionali-
eis que fica a produzir efeitos fora da relação processual em que se dade torna sem efeito todos os atas praticados sob o império da lei
proferiu a decisão. inconstitucional",96
"Do mesmo modo, a revogação da lei ou decreto não tem" Vale recordar, a propósito, que no MS n. 16.512 (ReI. Min. Os-
alcance e a profundidade da suspensão. Consoante já se mostrou, e waldo Trigueiro), de 25.5.66, o STF teve a oportunidade de discutir
é tendência no Direito brasileiro, só a suspensão por declaração de largamente a natureza do instituto, infirmando a possibilidade de o
inconstitucionalidade opera efeito ex tunc, ao passo que a revogação Senado Federal revogar o ato de suspensão anteriormente editado,
tem eficácia só a partir da data de sua vigência. ou de restringir o alcance da decisão proferida pelo STF, Cuidava-se
de mandado de segurança impetrado contra a Resolução n. 93, de
"Assim, é diferente a revogação de uma lei da suspensão de sua
14.10.65, que revogou resolução anterior (n. 32, de 25.3.65) pela qual
vigência por inconstitucíonalidade. "94
o Senado suspendera a execução de preceito do Código Paulista de
Adiante, o insigne parlamentar concluia: Impostos e Taxas.
"Revogada uma lei, ela continua sendo aplicada, no entanto, as O STF pronunciou a inconstitucIOnalidade da resolução re-
situações constituidas antes da revogação (art. 153, § 32 , da Cons- vogadora, contra os votos dos Mins. Aliomar Baleeiro e Hermes
tituição). Os juizes e a Administração aplicam-na aos atos que se Lima, conhecendo do mandado de segurança como representação,
realizaram sob o império de sua vigência, porque então ela era a
norma jurídica eficaz. Ainda continua a viver a lei revogada para essa 95. Brasil, Congresso, Senado Federal. Parecer n. 154171. ReI. Seno AcclOly
aplicação, continua a ter existência para ser utilizada nas relações Filho, Revista de lriformaqão Legislaflva 12(48)/268.
jurídicas pretéritas (... ). 96, RMS n. 17.976, ReL Min. Amaral Santos, RDA I05/111 (113). Evidente-
mente, esta eficácia ampla há de ser entendida com temperamentos. A pronuncia de
"A suspensão por declaração de inconstitucionalidade, ao con- mconstltuclOnalidade não retIra do mundo Jurídico. automaticamente, os atos prati-
I!1ário, vale por fulminar, desde o instante do nascimento, a lei ou cados com base na lei mconstituclOnal, cnando apenas as condições para eventual
decreto inconstitucional, in3porta manifestar que essa lei ou decreto desfazunento ou regulação dessas sítuações. Tanto a COIsa Julgada quanto outras
fórmulas de preclusão podem tornar Irreversíveis as decisões ou atos fundados na lei
não existiu, não produziu efeitos válidos. censurada. Assim, operada a decadência ou a prescrição, ou decorrido ln a/bis o prazo
"A revogação, ao contrário disso, importa proclamar que, a par- para a prOpOSItura da ação resclsória, não há mais que se cogitar da reVisão do ato
tir dela, o revogado não tem mais eficácia. Viciado. Alguns sistemas jurídicos - como o alemão - reconhecem a subsistêncIa dos
atas e decisões praticados com base na leI declarada inconstituclOnal desde que taIS
"A suspensão por declaração de inconstitucIOnalidade diz que at05 já não se afigurem suscetíveIs de impugnação. A execução desses atos ê, toda-
a lei ou decreto suspenso nunca existiu, nem antes nem depois da via. ínadmlssive1. Exclui~se. igualmente, qualquer pretensão de enriqueCImento sem
causa. AdmIte-se, porem, a revisão, a qualquer tempo, de sentença penal condenatóna
suspensão. baseada em lei declarada mconstItucíonal (Lei do Bundesveifassungsgencht. § 79).
A limItação da retroatlvidade expressa. nesses casos, a tentativa de compatibilizar
94. Brasil, Congresso. Senado Federai, Parecer n. 154nl. ReI. Seno Accioly principios de segurançaJurídica e critenos de JustIça. Acentue-se que tais limItações
Filho, Revista de Informação Legislativa 12(48)/266-268. ressaltam, outrossím, a necessãria autonomIa jurídica desses atos.
636 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 637

tal como proposto pelo Procurador-Geral da República. Dr. Alcino a suspensão superveniente não deverá produzir conseqüência
Salazar."7 juridi.carneu,!e relevante.
Reconheceu ainda a Suprema Corte que o Senado não Finahnente, deve-se observar que "a função política exercida
obrigado a proceder à suspensão do ato declarado íncon,;tituci,cii Senado é abrangente dos atas estaduais e municipais". E não se
nal. Nessa linha de entendimento, ensínava o saudoso Min. Víctor restringe â leí ou decreto, tal como prescrito no texto constitucional,
Nunes: "(. .. ) o Senado tere seu próprio critério de conveniência e contemplando as várias modalidades normativas, de diferentes deno-
oportunidade para praticar o ato de suspensão. Se uma questão foi minações, "que de decretos fazem as vezes".102
aqui decidida por maioria escassa e novos Ministros são nomeadosi As conclusões assentadas acima parecem consentâneas com a
como há pouco aconteceu, é de todo razoável que o Senado agnarde natureza do instituto. O Senado Federal não revoga o ato declarado
novo pronunciamento antes de suspender a lei. Mesmo porque não ínconstitucional, até porque lhe falece competência para tanto. 103
há sanção específica nem prazo certo para o Senado se manifestar" .98 Cuida-se de ato político que empresta eficácia erga omnes â deCIsão
Todavia, procedendo-se â suspensão do ato que teve a incons- do STF proferida em caso concreto. Não se obriga o Senado Federal
titucionalidade pronunciada pelo STF, não poderia aquela Alta a expedir o ato de suspensão, não configurando eventual omissão
Casa do Congresso revogar o ato anterior.99 Da mesma forma. o ato qualquer infringência a pnncípio de ordem constitucional. Não pode
do Senado haveria de se ater â "extensão do julgado do Supremo a alta Casa do Congresso, todavia. restríngir ou ampliar a extensão
Tribunal",100 não tendo "competência para examinar o mérito da de- do julgado proferido pela Excelsa Corte.
cisão (... ), para ínterpretá-Ia, para ampliá-la ou restringi-Ia".101 Tais colocações estão a demonstrar qne o instituto da suspensão
Vê-se, pois, que, tal como assentado no acórdão do STF, o ato pelo Senado Federal é pertínente â declaração de inconstitucionalida-
do Senado tinha o condão de outorgar eficácia ampla à decisão judi- de tncidenter tantum. A evidência. não há que se cogttar de extensão
eial, vinculativa, Inicialmente, apenas para os litigantes. de efeitos, senão do pronunciamento vinculativo das partes. 104
Ressalta-se que a inércia do Senado não afeta a relação entre os
Poderes, não se podendo vislumbrar qualquer violação constitucional A suspensão pelo Senado Fed~ral da execução de lei declarada
na eventual recusa â pretendida extensão de efeitos. Evidentemente, il/col/stituciol/al pelo STF na COl/Stitllição de 1988 - A exigência de
se pretendesse outorgar efeito genérico á decisão do STF, não preci- que a eficácia geral da declaração de inconstitucionalidade proferida
saria o constituinte valer-se dessa fórmula complexa. pelo STF, em casos concretos, fique a depender de uma decisão do
Senado Federal, introduzida entre nós com a Constituição de 1934 e
Caberia índagar se o STF poderia vir a reconhecer a constitucio-
preservada na Constituição de 1988, perdeu grande parte do seu sig-
nalidade de lei anteriormente declarada inconstitucional, mesmo após
nificado com a ampliação do controle abstrato de normas, sofrendo,
a regular comunicação ao Senado. Considerando o lapso de tempo
mesmo, um processo de obsolescência.
decorrido entre a comunicação e o novo julgado, a resposta podeci
ser afirmativa. Assim como o Senado não está obrigado a suspender A amplitude conferida ao controle abstrato de normas e a pos-
imediatamente o ato declarado inconstitucional pelo STF, nada obsta sibilidade de que se suspenda liminarmente a eficácia de leis ou atos
a que o Tribunal reveja a orientação anteriormente firmada. Neste normativos, com eficácia geral, contribuíram, certamente, para que

102. Cf. Ana Valderez Ayres Neves de Alencar, "A competência do Senado
97. RTJ38(1 )/8-9. Federal ...". RevISta de Informação LegISlatiVa 15(57)/304; RlSTF. 8ft 178, de o
98. MS n. 16.512, voto do Min. VíetorNunes Leal, RTJ38(l)/23. 8ft 176.
99. Nesse sentido, v. votos proferidos pelos Mins. Gonçalves de OliveÍra e 103. MS n. 16.512, voto do Min. Prado KelJy, RTJ38(l)/16.
Cândido Motta Filho, RTJ38(1)/26. 104. Adotando essa orientação. o STF não mais dá ciência ao Senado Federal
IDO. MS n. 16.512, voto do Min. VíctorNunes Leal, RTJ38(1)/23. da pronUncia de lDconstItucionalidade ln abstracto. desde 1977 (Pareceres da Comis-
lO!. MS n. 16.512, voto do Min. Pedro Chaves, RTJ38(1)/12. são de Regulamento, DJU 16.5.77).
638 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 639

se quebrantasse a crença na própria justificativa desse instituto, ,Também nessas hipóteses a suspensão de execução da lei ou do
se inspirava diretaIDente numa concepção de separação de Poderes .' '~Ito '110rma.hvo pelo Senado revela-se problemática, porque não se
hoje, necessária e inevitavelmente ultrapassada Se o STI pode, de afastar a incidência de disposições do ato impugnado, mas
ação direta de inconstitucionalidade, suspender lirnínannente a 'IEio-l;onlenle de um de seus significados normativos.
cáda de uma lei, até mesmo de uma emenda constitucional, por ", Não é preciso dizer que a suspensão de execução pelo Senado
haveria a declaração de inconstitucionalidade, proferida no controle . não tem qualquer aplicação naqueles casos nos quais o Tribunal se
incidental, de valer tão-somente para as partes? liroíta a rejeitar a argüição de inconstítucionalidade. Nessas hipóteses
A únÍca resposta plausível nos leva a acreditar que o instituto da aâecisão vale per se. Da mesma forma, o vetusto instituto não tem
suspensão pelo Senado assenta-se hoje em razão de indole exclusi- qualquer serventia para reforçar ou ampliar os efeitos da decisão do
vamente histórica. Tribunal naquelas matérias nas quais a Corte, ao prover ou não um
Deve-se observar, outrossim, que o instituto da suspensão da dado recurso, fixa uma interpretação da Constítuição.
execução da lei pelo Senado mostra-se inadequado para assegurar Da mesma forma, a suspensão da execução da lei inconstitucio-
eficácia geral ou efeito vinculante às decisões do STF que não nal não se aplica à declaração de não-recepção da lei pré-constitu-
declaram a inconstitucionalidade de uma lei, limitando-se a fixar a cional levada a efeito pelo STE Portanto, das decisões possíveis em
orientação constitucionalmente adequada ou correta. Isto se verifica sede de controle, a suspensão de execução pelo Senado está restrita
quando o STI afirma que dada disposição há de ser interpretada aos casos de declaração de inconstitucionalidade da lei ou do ato
desta ou daquela forma, superando, assim, entendimento adotado normativo.
pelos Tribunais ordinários ou pela própria Administração. A decisão É certo, outrossim, que a admíssão da pronúncia de ínconstí-
do STF não tem efeito vinculante, valendo nos estritos limites da tucíonalidade com efeito limitado no controle incidental ou difuso
relação processual subjetiva. Como não se cuida de declaração de (declaração de inconstitucionalidade com efello ex nunc), cuja
inconstitucionalidade de lei, não há que se cogitar, aqui, de qualquer necessidade já vem sendo reconhecida no âmbito do STF, parece
intervenção do Senado, restando o tema aberto para inúmeras con- debilitar, fortemente, a intervenção do Senado Federal - pelo menos
trovérsias. aquela de conotação substantiva.105 É que a "decisão de calibragem"
Situação semelhante ocorre quando o STF adota uma interpreta- tomada pelo Tribunal parece avançar taIDbém sobre a atívidade ini-
ção conforme ã Constituição, restringindo o significado de uma dada ciaI da Alta Casa do Congresso. Pelo menos, não resta dúvida de que
expressão literal ou colmatando uma lacuna contida no regramento o Tribunal assume, aqui, uma posição que parte da doutrina atribuia,
ordinário. Aqui o STF não afirma propriamente a ilegitimidade da anteriormente, ao Senado Federal.
lei, limitando-se a ressaltar que uma dada interpretação é compatível Tais considerações expliCItam o significado do instituto de
com a Constituição ou, ainda, que, para ser considerada constítu- suspensão de execução pelo Senado no contexto normativo da Cons-
cional, determinada norma necessita de um complemento (lacuna tituição de 1988. 106
aberta) ou restrição (lacuna oculta - redução teleológica). Todos
esses casos de decisão com base em uma interpretação conforme à Repercussão da declaração de inconstitucionalidade proferida
Constituição não podem ter sua eficácia ampliada com o recurso ao pelo STF sobre as decisões de outros Tribunais - Tal como apon-
instituto da suspensão de execução da lei pelo Senado Federal. tado, questão interessante agitada pela jurisprudência do STF diz
Mencionem-se ainda os casos de declaração de inconstitucio-
105. Cf. RE n. 197.917 (ação civil pública contra lei mUnICIpal que fixa o nu-
nalidade parcial sem redução de texto, nos quais se explicita que um mero de vereadores), ReI. Min. Mauricio Corrêa., DJU31.3.2004.
significado normativo é inconstitucional sem que a expressão literal 106. Cf.. tnfra, Reclamação e suspensão da execução de íel pelo Senado, n. 5
sofra qualquer alteração. da Décima Parte.
640 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 641

respeito à necessidade de se utilizar o procedimento previsto no já atribuiam eficácia geral às decisões proferidas em sede de
97 da CF, por parte do tribunal a quo, na hipótese de existir pronun, ' /cc)lltrole abstrato de normas, tais como o previsto na Constitoição de
ciamento da Suprema Corte que afirme a inconstitocionalidade da lei Weirnarde 1919 e no modelo austriàco de 1920.
ou do ato normativo. cH Tal como observado,108 a suspensão de execução da lei declara-
Em acórdão proferido no RE n. 190.728, teve a l' Turma do da inconstitocional teve o seu significado normativo fortemente aba-
STF a oportunidade de, por maioria de votos - vencido o Min. Cei, lado com a ampliação do controle abstrato de normas na ConsUtoição
so de MeIlo -, afirmar a dispensabilidade de se encaminhar o tema Federal de 1988.
constitocional ao Plemirio do Tribunal, desde que o STF já se tenha Se a intensa discussão sobre o monopólio da ação por parte do
pronunciado sobre a inconstitocíonalidade da lei questionada. 10; Procurador-Geral da República não levou a uma mudança na juris-
Observou-se, então, que semelhante orientação fora adotada pela 2' prudência consolidada sobre o assunto, é fácil constatar que ela foi
Turma, como consta da ementa do acórdão proferido no AgRgAI n. - decisiva para a alteração introduzida pelo constitointe de 1988, com
168.149, da relataria do Min. Marco Aurélio (DJU 4.8.95, p. 22.520). a significativa ampliação do direito de propositora da ação direta.
Orientação idêntica foi reiterada em outra decisão, na qual se ex, O constitointe assegurou o direito do Procurador-Geral da Re-
plicitou que "o acórdão recorrido deu aplicação ao decidido pelo STF pública de propor a ação de inconstitocionalidade. Este é. todaVIa,
nos RE ns. 150.755-PE e 150.764-PE", não havendo necessidade, apenas um dentre os diversos órgãos ou entes legitimados a propor a
por isso, de a questão ser submetida ao Plenário do Tribunal (AgRg ação direta de inconstitocionalidade.
no AI n. 167.444, ReI. Min. Carlos VeIloso,DJU 15.9.95, p. 29.537),
Nos termos do ar!. 103 da CF de 1988, dispõem de legitimi-
Idêntico entendimento foi sufragado no acórdão no RE n. 191.898
dade para propor a ação de inconstitucionalidade: o Presidente da
(ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU22.8.97, p. 38.781).
República, a Mesa do Senado Federal, a-Mesa da Câmara dos Depu-
Esse entendimento marca uma evolução no sistema de controle tados, a Mesa de Assembléia Legislativa, o Governador de Estado,
de constitocíonalidade brasileiro, que passa a equiparar, praUca- o Procurador-Geral da República, o Conselho Federal da OAB, os
mente, os efellos das decisões proferidas nos processos de controle partidos políticos com representação -no Congresso Nacional e as
abstrato e concreto. A decisão do STF, tal como colocada, antecipa confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional.
o efeito vinculante de seus julgados em matéria de controle de cons-
titocíonalidade incidental, permitindo que o órgão fracíonário se Tal fato fortalece a impressão de que, com a introdução desse
desvincule do dever de observância da decisão do Pleno ou do Órgão sistema de controle abstrato de normas, com ampla legitimação e,
Especial do Tribunal a que se encontra vinculado. Decide-se autono- particularmente, a outorga do direito de propositora a diferentes
mamente com fundamento na declaração de inconstitocionalidade órgãos da sociedade, pretendeu o constitointe reforçar o controle
(ou de constitocionalidade) do STF proferida incidenter tantum. abstrato de normas no ordenamento juridico brasileiro como peculiar
instrumento de correção do sistema geral incidente.
A suspensão de execução da lei pelo Senado e mutação cons- Não é menos certo, por outro lado, que a ampla legitímação
titucional - Todas essas reflexões e práticas parecem recomendar conferida ao controle abstrato, com a inevitável possibilidade de se
uma releitora do papel do Senado no processo de controle de cons- submeter qualquer questão constitocional ao STF, operou uma mu-
titocionalidade. dança substancial- ainda que não desejada - no modelo de controle
Quando o Ínstitoto foi concebido no Brasil, em 1934, dominava de constítocionalidade até então vigente no Brasil.
uma determinada concepção da divisão de Poderes, há muito supe- O monopólio de ação outorgado ao Procurador-Geral da Re-
rada. Em verdade. quando da promulgação do texto de 1934. outros pública no sistema de 1967/1969 não provocou uma alteração pro-

107. RE n. 190.728. ReI. para o acórdão Min. limar Galvão. DJU30.5.97. 108. Cf. item anterior.
642 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 643

funda no modelo incidente ou difuso. Este continuou pn~dclminilJlte, , solvidas, na sua maioria, mediante a utilização da ação direta,
integrando-se a representação de inconstitucionalidade a ele >típico instrumento do controle concentrado. Assim, se continuamos
um elemento ancilar, que contribuia muito pouco para auerenç'l_ló " aJer um modelo misto de controle de constttucionalidade, a ênfase
dos demais sistemas difosos ou mcidentes de controle de constitu_" passou a residir não mais no sistema difuso, mas no de perfil con-
cionalidade. .~-j
centrado.
A Constituição de 1988 reduziu o significado do controle dé Essa peculiaridade foi destacada por Sepúlveda Pertence no
constitucionalidade incidental ou difuso, ao ampliar, de forma mar! voto que proferiu naADC n. I, verbis:
cante, a legitimação para propositura da ação direta de inconstitu_ "( ... l. Esta ação é um momento inevitável na prática da consoli-
cionalidade (CF, art. 103), permitindo que, praticamente, todas as dação desse audacioso ensaio do constitucionalismo brasileu:o - não,
controvérsias constitucionais relevantes sejam submetidas ao STF apenas como nota Cappelletti, de aproximar o controle difuso e o
mediante processo de controle abstrato de normas. controle concentrado, como se observa em todo o mundo, mas, sim, de
convivência dos dois sistemas na integralidade das suas caracteristicas.
Convém assinalar que, tal como já observado por AnschützI09
ainda no regime de Weimar, toda vez que se outorga a um Tribunal ''Esta convivência não se faz sem uma permanente tensão dia-
espeCIal atribuição para decidir questões constitucionais, limita-se, lética na qual, a meu ver, a experiência tem demonstrado que sera
explícita ou implicitamente, a competência da jurisdição ordinária inevitável o reforço do sistema concentrado, sobretudo nos processos
para apreciar tais controvérsias. ' de massa; na multiplicidade de processos que inevitavelmente, a cada
ano, na dinâmica da legislação, sobretudo da legislação tributána
Portanto, parece quase intuitivo que, ao ampliar, de forma signi- e matérias próximas, levará, se não se criam mecanismos eficazes
ficativa, o cIrculo de entes e ôrgãos legitimados a provocar o STF no de decisão relativamente rapida e unifonne, ao estrangulamento da
processo de controle abstrato de normas, acabou o constituinte por máquina judiciária, acima de qualquer possibilidade de sua amplia-
restringir, de maneira profunda, a amplitude do controle difuso de ção, e, progressivamente, ao maior descrédito da Justiça, pela sua
constitucionalidade. total incapacidade de responder à demanda de centenas de milhares
Assim, se se cogitava, no periodo anterior a 1988, de um modelo de processos rigorosamente idênticos, porque reduzidos a uma só
misto de controle de constitucionalidade, é certo que o forte acento questão de direito.
residia, ainda, no amplo e dominante sistema difuso de controle. "Por outro lado, ( ... ), o ensaio dificil de convivência integral dos
O controle direto continuava a ser algo acidental e episódico dentro dois métodos de controle de constitucionalidade do Brasil só se toma
do sistema difuso. possível na medida em que se acumularam, no STF, os dois papéis,
A Constituição de 1988 alterou, de maneira radical, essa situa- o de órgão exclusivo do sistema concentrado e o de órgão de cúpula
ção, confenndo ênfase não mais ao sistema difoso ou incídentol, mas do sistema difuso.
ao modelo concentrado, uma vez que as questões constitucionais "De tal modo, o peso do Supremo Tribunal, em relação aos
passaram a ser veiculadas, fundamentalmente, mediante ação direta outros órgãos de jurisdição, que a ação declaratória de constituciona-
de inconstitucionalidade perante o STF. lidade traz, é relativo, porque, já no sistema de convivência dos dois
A ampla legitimação, a presteza e a celeridade desse modelo métodos, a palavra final é sempre reservada ao STF, se bem que, de-
processual- dotado, inclusive, da possibilidade de se suspender ime- clarada a inconstttucionalidade no sistema difuso, amda conVIvamos
diatamente a eficácia do ato nonnativo questionado, mediante pedido com o anacronismo em que se transformou, especialmente após a
de cautelar - fazem com que as grandes questões constitucionais criação da ação direta, a necessidade da deliberação do Senado para
dar eficácia erga omnes à declaração incidente.""o
109. Gerbard Anschütz. Die Verfassung des deutschen Re,cilS. 211 ed.. Berlim,
1930, 110, RTJ 159/389-390.
o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 645
644

Assinale-se, outrossim, que a interpretação que se deu à sus- :c' Em verdade, ainda que não pertencente ao universo específico
pensão de execução da lei pela doutnna majoritária e pela própria dajudicial review. o instituto do stare decisis desonerava os consti-
jurisprudência do STF contribuiu decisivamente para que a afirma, <
tucionalistas americanos, pelo menos em parte, de um dever mais
ção sobre a teoria da nulidade da lei inconstitucional restasse sel!! aprofundado de fundamentação na espécie. Como esse mecanismo
concretização entre nós. .) assegura efeito vinculante ás decisões das Cortes Superiores, em caso
de declaração de inconstitucionalidade pela Suprema Corte tinha-se a
Nesse sentido, constatou Lúcio Bittencourt que os constitucio_
segurança de que, em pnncipio, nenhum Tribunal haveria de conferir
nalistas brasileíros não lograram fundamentar nem a eficacia erga
eficácia à norma objeto de censura. Assim, a ausência de mecanismo
omnes. nem a chamada "retroatividade ex /une" da declaração de
processual assemelhado à "força de lei" (Gesetzeskraft) do Direito
inconstitucionalidade proferida pelo STF. alemão não impediu que os autores americanos sustentassem a nuli-
É o que se lê na seguinte passagem de seu magoo trabalho: dade da lei inconstitucional. 112
"(... ) as dificuldades e problemas surgem, precisamente, no
que tange à eficacia indíreta ou colateral da sentença declaratória da 112.. A dou~a con~tItuclOna! ai~mã hà muito vinha desenvolvendo esforços
inconstitucionalidade, pois, embora procurem os autores estendê-la para ampliar 05 limItes obJetivos e subJettvos da cOisa Julgada no âmbito da junsdi-
ção esta~l (S:aatsgenclltsbarkeit). Importantes autores sustentaram, sob o lmperio
a situações jurídicas idênticas, considerando indíretamente anulada da Consti~1Çao de Weimar, que a força de ler não se limitava à questão julgada.
a lei, porque a 'sua aplicação não obteria nunca mais o concurso da contendo, Igualmente, uma proibição de reiteração (Wiederholungsverbot) e uma
justiça', não têm, todavia, conseguido apresentar fundamento técni- I~POSIÇãO, para que nonnas de te~r idêntico, que não foram objeto da deCisão Judi-
Cial, ~bem delxassel? ~e ser aphcad~ ~or força da eficàcla geral. Essa concepção
co, razoavelmente aceitável, para justificar essa extensão. refletia. certamente, a Ideia dommante a epoca de que a deCisão proferida pela Corte
"Não o apontam os tratadistas americanos - infensos à siste- tena ~ãO as qualidades de lel (GesetzeselgenschaftenJ. mas, efetivamente. aforça
matização, que caracteriza os países onde se adota a codificação do de leI (Gesetzeskraft). Afumava-se inclusive que o Tribunal assumia, nesse caso as
atribuiçõ:s do Parlamento, ou, amda, que se cuidava de uma mterpretação autên;lca
Direito Positivo -, limitando-se a enunciar o princípio, em termos - tarefa tlplca do legislador. Tratando-se de interpretação autêntica da Constituição,
categóricos: a lei declarada inconstitucional deve ser considerada, não se cuidana de slmpies legisiação ordinâna, mas, propnamente, de legisiação
para todos os efeitos, como se jamais, em qualquer tempo, houvesse ou re!onna CO~Stltucl.onal (Verfassungsgesetzgebung; Verfassungsãndenmg) ou de
declsao com hierarqUIa constitucIonal (Entscheidung mil VerfassungsrangJ. A força
possuído eficáCia jurídica - is to be regarded as having never. at any
de lei estã prevista no ru:. 92 da Lei Fundamental e no § 31(2) da Lei Orgâmca da
time, been possessed ofany legal force. Corte ConstitucIOnal, aplicando-se às decisões proferidas nos processos de controle
"Os nossoS tratadistas também não indicam a razão juridica de co~títucio~alidad:. A convicção de que a força de lez significava apenas que a
~eclsao pro?UZ1n~ efeltos.se~elhantes aos de uma leí (gesetzãhn/ich) (mas não pode-
determinante desse efeito amplo. Repetem a doutrina dos escritores na ser conSiderada ela propna como uma lei em sentido formal e material) parece ter
americanos e as afirmações dos Tribunais, sem buscar-lhes o motivo, levado a doutnna a desenvolver mstttuto processual destinado a dotar as decisões da
a causa ou o fundamento. Nem o grande Rui, com o seu gêmo estelar, Corte COnStItucIOnal de qualidades outras não contidas nos conceitos de "coisa julga-
nem os que subseqüentemente, na sua trilha luminosa, versaram o da" e de "força de lei". Observe-se que o instituto do efeito vmculante. contemplado
n~ § 31, I, da Lei do Bundesverfassungsgencht, não configura novidade absoluta no
assunto, com a proficiência de um Castro Nunes. DIreito alemão do Pós-Guerra. Antes mesmo da promulgação da Lei Orgâmca da
"É que em face dos princípios que orientam a doutrina de coisa Corte ConstttuclOnaI- e, portanto, da instituíção do Bundesveryassungsgencht - al-
gumas íeiS que disciplinavam o funCIOnamento de Cortes ConstitucIonaiS estaduaiS
julgada, e que são comumente aceitos entre nós, é difícil, se não
j,á c2'nsagravam expressamente o efeito vinculante das decisões proferidas por esses
impossivel, justifícar aqueles efeitos, que, aliás, se verificam em orgaos. Embora o conceito de Bindungswlrkung (efeito vinculante) corresponda a
outras sentenças, como, por exemplo, as que decidem matéria de uma t:adição do Direíto alemão. tendo sido tambem adotado por diversas leiS de
estado civil, as quais, segundo entendimento geral, prevalecem erga o~amzação de Trib~als constItuCIOnaiS estaduaIS aprovadas após a promulgação da
Le.1 Fundamental, nao se pode afirmar que se trate de um inStItuto de compreensão
omnes."lll uDl~oca pel~ doutrIna. Não são poucas as questões que se suscitam a propósito desse
mstltu.to, seja no que concerne aos seus limites objetIvos. seja no que respeita aos
111. Lucio Bittencourt. O Controle JurISdiCional ... , pp. 140-141. seus hmites subjetivos e temporais (Gilmar Ferrerra Mendes, "O efeito vmculante
646 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 647

Sem dispor de um mecanismo que emprestasse força de lei 'Assinale-se que, se a doutrina e a jurisprudência entendiam que
que, pelo menos, conferisse caráter vinculante ás decisões do inconstituclODal era !PSD jure nula, deveriam ter defendido, de
para os demais Tribunais, tal como o stare decisis arrleri.ca,oo;n coerente, que o ato de suspensão a ser praticado pelo Senado
contentava-se a doutrina brasileira em ressaltar a evidência da destin!.va-seexclusivamente a conferir publicidade à decisão do STF.
dade da lei inconstitucional 114 e a obrigação dos órgãos estatais , .Essa foi a posição sustentada, isoladamente, por LúcIO Bitten-
absterem de aplicar disposição que teve a sua mc:onstíltucioflalida(le . "Se o Senado não agír, nem por isso ficará afetada a eficácia da
declarada pelo STF.115 A suspensão da execução pelo Senado '.d.,cisão, a qual continuará a produzir todos os seus efeitos regulares,
mostrou apta a superar essa incongruência, especialmente nn.'n"," que, de fato, independem de qualquer dos Poderes. O objetivo do art.
emprestou a ela um sentido substantivo que talvez não devesse . 4~, IV, da Constituição [a referênCia ti ao texto de 1967] ç apenas
Segmodo entendinoento amplamente aceito,"6 esse ato do Senado tômar pública a decisão do Tribunal, levando-a ao conhecimento de
Federal conferia eficácia erga omnes à declaração de inconstituciri_ . todos os cidadãos. Dizer que o Senado 'suspende a execução' da lei
nalidade proferida no caso concreto. 1I7 inconstitucional é, positivamente, Impropriedade técnica, uma vez
Ainda que se aceite, em principio, que a suspensão da execuç;id que o ato, sendo 'inexistente' ou 'ineficaz', não pode ter suspensa a
da lei pelo Senado retira a lei do ordenamento juridico com eficáci~ ~ua execução~'.118
ex func, esse instituto, tal como foi interpretado e praticado entre nós~ .' Tal concepção afigurava-se absolutamente coerente com o
configura antes a negação do que a afirmação da teoria da nulidadé fundamento da nulidade da lei inconstitucional. Uma orientação
da lei inconstitucional. A não-aplicação geral da lei depende excltié dogmática mininrramente consistente haveria de se encanunhar nesse
sivamente da vontade de um órgão eminentemente político, e nã~ sentido, até porque a atribuição de funções substantivas ao Senado
dos órgãos judiciais incumbidos da aplicação cotidiana do Direito. Federal era a própria negação da idéia de nulidade da lei devidamente
Tal fato reforça a idéia de que, embora tecêssemos loas à teoria d. declarada pelo órgão máximo do Poder Judiciário.
nulidade da lei inconstítucional, consolidávamos institutos que iam Não foi o que se viu inicialmente. Como apontado, a jurispru-
de encontro à sua implementação. dência e a doutrina acabaram por conferir significado substancial à
decisão do Senado, entendendo que somente o ato de suspensão do
das decisões do Supremo Tribunal Federal nos processos de controle abstrata de nor- Senado se mostrava apto a conferir efeitos gerais à declaração de m-
mas'" Revzsta Juridica Virtual 1-4, agosto/99, http://geocities.yahoo.com.brlprofpital
oefeitovinculantegilmar.html). constituclOnalidade proferida pelo STF, cuja eficácia estaria limitada
113. Cr.. sobre o assunto. a observação de Rui Barbosa a propõsito do Direito às partes envolvidas no processo.
americano: "(... ) se o julgamento foi pronunciado pelos mais altos Tribunais de recur- De qualquer sorte, a ampliação do controle abstrato de normas,
so, a todos os cidadãos se estende, imperativo e sem apelo, no tocante aos pnncípios
constitucionais sobre o que versa". Nem a legislação "tentam contrariá-lo, porquanto inicialmente realizada nos termos do ar!. 103, e posteriormente com
a regra stare declSls exige que todos os Tribunais dai em diante o respeitem como o advento da ação declaratória de constitucionalidade, alterou signifi-
resjudicata ( ... )" (cf. Comentarias à Constituição Federal BrasileIra, coligidos por cativamente a relação entre o modelo difuso e o modelo concentrado.
Homero Pires. v. rv, p. 268). A propósíto, anotou Lucio Bittencourt que a regra stare Assino, passou a dominar a eficácia geral das decisões proferidas em
declSlS não tinha o poder que lhe atribuíra Rui. mUlto menos o de elimmar a lei do
ordenamento jurídico (O Controle JurisdicIOnal ... , p. 143, nota 17). sede de controle abstrato (ADIo e ADC).
114. Cf.• a propósito, Lúcio Bittencollrt, O Controle Junsdicional ...• pp. 140- A disciplina processual conferida à argüição de descumprimento
141. de preceito fundamental, que constitui instrumento subsidiário para
115. LÚCIO Bittencollrt, O Controle JurlSdiclOnaÍ .... p. 144; José de Castro
solver questões não contempladas pelo modelo concentrado (ADIn
Nunes. Teoria e PrátIca ...• p. 592.
116. Cf. n. 3. item Considerações prelimmares. supra.
e ADC), revela, igualmente, a inconsistência do atual modelo. A de-
117. Manoel Gonçaíves Ferreíra Filho. Curso de Direito ConstituCional. 31J1 cisão do caso concreto proferida em argüição de descumprimento de
ed., Saraiva. 2003, p. 35~ Jose Afonso da Silva, Curso de Direito ConstitucIOnal
Positivo. 30it ed.. São Paulo. Malheiros Editores. 2008, p. 52. 118. O Controle Jurisdicional ... , pp. 145-146.
648 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 649

preceito fundamental, por se tratar de processo objetivo, sera ~V'4U'l cas, oriundas de Municípios diversos. Em suma, tem-se considerado
de eficácia erga omnes; a mesma questão resolvida no processo de: dispensável, no caso de modelos legais idêntlcos, a submissão da
controle incidental tera eficácia inter parles. c,' questão ao Plenmo.
No que se refere aos recursos especial e extraordinmo, a Lei~: '. Nesse sentido, Mauricio Corrêa, ao julgar o RE n. 228.844-
8.038/90 havia concedido ao relator a faculdade de negar seguimento " Sp1l9 - no qual se discutia a ilegitimidade do IPTU progressivo
a recurso manifestamente intempestivo, incabível, improcedente ou cobrado pelo Municipio de São José do Rio Preto, no Estado de São
prejudicado, ou, ainda, que contrariasse súmula do STF ou do STJ. Paulo -, valeu-se de fundamento fixado pelo Plenmo do Tribunal em
O Código de Processo Civil, por sua vez, em caráter ampliativo; precedente oriundo do Estado de Minas Gerais, no sentido da incons-
incorporou disposição que autoriza o relator a dar provimento ao titucíonalidade de lei do Município de Belo Honzonte que instituiu
recurso se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com alíquota progressiva do IPTU.
súmula ou com a Jurisprudência dominante do respectivo Tribunal; Também Nélson Jobim, no exame da mesma matéria (progres-
do STF ou de Tribunal Superior (art. 557, § l"-A, acrescentado pelá' sividade do IPTU) em recurso extraordinmo interposto contra lei do
Lei n. 9.756/98). Município de São Bernardo do Campo, aplicou tese fixada em julga-
Tem-se, pois, que, com o advento dessa nova fórmula, passou-s~ mentos que apreciaram a inconstitucionalidade de lei do Municipio
a admitir não só a negativa de seguimento de recurso extraordinmo, de São Paulo. 12o
nas hipóteses referidas, mas também o provimento do aludido recur- Ellen Gracie utilizou-se de precedente oriundo do Município
so nos casos de manifesto confronto com a jurisprudência do STF, de Niterói, Estado do Rio de Janeiro, para dar provimento a recurso
mediante decisão unipessoal do relator. extraordinário no qual se discutIa a ilegitimidade de taxa de ilumina-
Também aqui parece evidente que o legislador entendeu pos~ ção pública Instituida pelo Municipio de Cabo Verde, no Estado de
sível estender de forma geral os efeitos da decisão adotada pelo Minas Gerais. I21
Tribunal, tanto nas hipóteses de declaração de inconstitucionalidade Carlos Velloso aplicou jurisprudência de recurso proveniente
incidental de determinada lei federal, estadual ou municipal - hi- do Estado de São Paulo para fundamentar sua decisão no AI n.
pótese que estaria submetida â intervenção do Senado -, quanto 423.252,122 onde se discutia a inconstitucionalidade de taxa de coleta
nos casos de fixação de uma dada interpretação constitucional pelo e limpeza pública do Municipio do Rio de Janeiro, convertendo-o
Tribunal. em recurso extraordinário (art. 544, §§ 3" e 4", do CPC) e dando-lhe
Ainda que a questão pudesse comportar outras leituras, é certo provimento.
que o legislador ordinário, com base na jurisprudência do STF, con- Sepúlveda Pertence lançou mão de precedentes originários do
siderou legítima a atribuição de efeitos ampliados â deCisão proferida Estado de São Paulo para dar provimento ao RE n. 345.048,123 no
pelo Tribunal, até mesmo em sede de controle de constitucionalidade qual se argüia a inconstitucionalidade de taxa de limpeza pública do
incidental. Munícipio de Belo Horizonte.
Observe-se, ainda, que nas hipóteses de declaração de incons-
Celso de Mello, ao apreciar matéria relativa á progressividade
titucionalidade de leis municipais o STF tem adotado uma postura do IPTU do Mumcípio de Belo Horizonte, conheceu e deu provi-
significativamente ousada, conferindo efeito vinculante não só à
parte disposítiva da decisão de inconstitucionalidade, mas também 119. RE n. 228.844-SP, ReI. Min. MauriCIO Corrê", DJU 16.6.99.
aos próprios fundamentos determinantes. E que são numericamente 120. RE n. 221.795, ReI. Min. Nélson Jobirn,DJU 16.11.2000.
expressivos os casos em que o STF tem estendido, com base no art. 121. RE n. 364.160, Rela. Min. EUen GraCle, DJU 7.2.2003.
557, capul e § 1"-A, do CPC, a decisão do Plenmo que declara a 122. AI n. 423.252, ReI. Min. Carlos VeUoso, DJU 15.4.2003.
inconstitucionalidade de norma municipal a outras situações idênti- 123. RE n. 345.048, ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 8.4.2003.
650 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 651

mento a recurso extraordinário tendo em conta diversos precedentes' . Se a decisão proferida nesses processos tem eficácia erga omnes
onundos do Estado de São Paulo."4 " (Lei n. 7.347, de 24.7.85, art. 16), afigura-se dificil justificar a ne-
Tal procedimento evidencia - ainda que de forma tímida --'b cessidade de comunícação ao Senado Federal. A propósito, convem
efeito vmculante dos fundamentos determinantes da decisão exarada recordar que em alguns casos há uma quase-confusão entre o objeto
pelo STF no controle de constitucionalidade do Direito Municipal. da ação civil pública e o pedido de declaração de mconstItuclonali-
Evidentemente, semelhante orientação somente pode vicejar caso se dade. Nessa hipótese não há como cogitar de uma tipica decisão com
admita que a decisão tomada pelo Plenário seja dotada de eficácia êficácia ínter partes. 126
transcendente, sendo, por isso, dispensável a manifestação do Senado Outra situação curiosa advini da adoção de sÚInula vinculante
Federal. (art. 103-A da CF, mtroduzido pela EC n. 45/2004), na qual se ,afir-
Um outro argumento, igualmente relevante, diz respeito ao ma que determinada conduta, dada prátIca ou uma interpretação e
controle de constitucionalidade nas ações coletivas. Aqui, somente inconstitucional. Nesse caso, a sumula acabará por dotar a declara-
por força de uma compreensão ampliada ou do uso de uma figura de ção de inconstitucionalidade proferida em sede incidental de efeito
linguagem pode-se falar em decisão com eficácia mler parles. vinculante.
Como sustentar que uma decisão proferida numa ação coletiva, A súmula vinculante, ao contrário do que ocorre no processo
numa ação civil pública ou em um mandado de segurança coletivo, objetivo, decorre de decisões tomadas em casos concretos, no mo-
que declare a inconstJtucionalidade de uma lei determinada, terá efi- delo incidental, no qual também existe, não raras vezes, reclamo por
cácia apenas entre as partes? solução geral. Ela só pode ser editada depois de decisão do Plenário
Nesses casos a suspensão de execução da lei pelo Senado, tal do STF ou de decisões repetidas das Turmas.
como vinha sendo entendida até aqui, revela-se - para dizer o míni- Afigura-se inequívoco que a referida súmula conferirá eficáCIa
mo - completamente inútil caso se entenda que ela tem uma outra geral e vinculante às decisões proferidas pelo STF sem afetar dire-
função que não a de atribuir publicidade à decisão declaratória de tamente a vigência de leis porventura declaradas inconstitucionais
ilegitimidade. no processo de controle incidental. E isso em função de não ter sido
Recorde-se, a propósito, que o STF, em decisão unânime de alterada a cláusula clássica constante do ar!. 52, X, da CF, que ou-
7.4.2003, julgou prejudicada aADIn n. 1.919 (Rela. Min. Ellen Gra- torga ao Senado a atribuição para suspender a execução de lei ou ato
cie), proposta contra o Provimento n. 556/97, editado pelo Conselho normativo declarado inconstitucional pelo STF.
Superior da Magistratura Paulista. A referida resolução previa a des- Não resta dúvida de que a adoção de sumula vinculante em
truição física dos autos transitados em julgado e arquivados há mais situação que envolva a declaração de inconstitucionalidade de lei ou
de cinco anos em primeira instância. A decisão pela preJudicialidade ato normativo enfraquecerá ainda mais o já debilitado mstItuto da
decorreu do fato de o STJ, em mandado de segurança coletivo,l25 suspensão de execução pelo Senado. É que esta sumula confere m-
impetrado pela Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), ter terpretação vinculante à decisão que declara a inconstItucionalidade
declarado a nulidade daquele ato. sem que a lei declarada inconstitucional tenha sido eliminada for-
Em outros termos, o STF acabou por reconhecer eficácia erga malmente do ordenamento juridico (falta de eficácia geral da decisão
omnes à declaração de ilegitimidade do ato normativo proferida em declaratória de inconstitucionalidade l. Tem-se efeito vinculante da
mandado de segurança pelo STJ. Quidjuris, então, se a declaração sÚInula, que obrigará a Administração a não mais aplicar a lei obJeto
de inconstitucionalidade for proferida pelo próprioSTF em sede de
ação civil pública? 126. RE n. 197.917. Relo Min. Maurício Correa, DJU31J.2004 (inconstitucIo-
nalidade de lei mUnIcipal que fixa numero de vereadores). e ReclMC n. 2.537. Rei.
Min. Cézar Peluso. j. 29.12.2003. DJU 2.2.2004 (a propÓSIto da legitimidade de leI
124. RE n. 384.521, ReI. Min. Ceiso de MeUo, DJU30.5.2003. estadual sobre -Jotenas, atacada, simultaneamente, mediante ação CIvil pública, nas
125. ROMS n. 11.824. ReI. Min. Francisco Peçonha Martms. DJU27.5.2002. Instâncias ordinànas. e ação direta de inconstitucionalidade, perante o STF).
652 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 653

da declaração de inconstitucionalidade (nem a orientação que dela se " Por último, observe-se que a adoção da técnica da declaração
dessume), sem eficácia erga omnes da declaração de inconstitució'- . de inconstitucionalidade com limitação de efeitos 128 parece sinalizar
nalidade. • que o Tribunal entende estar desvinculado de qualquer ato do Senado
Assim, parece legítimo entender que, hodiernamente, a fórmulà . Federal, cabendo tão-somente a ele - Tribunal- definir os efeitos da
relativa â suspensão de execução da lei pelo Senado Federal há dé decisão.
ter simples efeito de publicidade. Desta forma, se o STF, em sede de O tema está em discussão no Plenário do STF, nos autos da
controle incidental, chegar ii conclusão, de modo definitivo, de que Rec!. n. 4.335,129 ajuizada pela Defensoria Pública da União em face
a lei é mconstitucional, essa decisão terá efeitos gerais, fazendo-se a de ato de Juiz do Estado do Acre. A reclamante alegou o descumpri-
comunicação ao Senado Federal para que publique a decisão no Diá- mento da decisão do STF no HC n. 82.959,130 na qual a Corte afastou
rio do Congresso. Tal como assente, não é (mais) a decisão do Sena- a vedação de progressão de regime aos condenados pela prática de
do que confere eficácIa geral ao julgamento do STF. A própria deci- crimes hediondos, ao considerar inconstitucional o art. 2Q, § I Q. da
são da Corte contém essa força normativa. Parece evidente ser essa Lei n. 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos).
a orientação implícita nas diversas decisões judiciais e legislativas Com base nesse julgamento, a Defensoria solicitou fosse con-
acima referidas. Assim, o Senado não terá a faculdade de publicar ou cedida progressão de regime a determinados apenados, tendo o JUIZ
não a decisão, uma vez que se não cuida de uma decísão substantiva. de Direito da Vara de Execuções PenaIs indeferido o pedido, fazendo
mas de simples dever de publicação, tal como reconbecido a outros afixar, nas dependências do fórum, aviso do seguinte teor: "Comu-
órgãos políticos em alguns sistemas constitucionais (ConStituição nico aos Srs. Reeducandos, familiares, advogados e comunidade em
austriaca. art. 140,5 -publicação a cargo do Chanceler Federal-, e geral que a recente decisão plenária do STF proferida nos autos do
Lei Orgãnica da Corte Constitucional alemã, art. 31 (2) - publicação HC n. 82.959, a qual declarou a inconstitucionalidade do dispositivo
a cargo do Ministro da Justiça). A não-publicação não terá o condão da Lei dos Cnmes Hediondos que vedava a progressão de regime pri-
de impedir que a decisão do STF assuma sua real eficácia. sional (art. 22, § 12, da Lei n. 8.072/90), somente terá eficácia a favor
Esta solução resolve de forma superior uma das tormentosas de todos os condenados por crimes hediondos ou a eles equiparados,
questões da nossa jurisdição constitucional. Superam-se, assim, que estejam cumprindo pena, a partir da expedição, pelo Senado
também as incongruências cada vez mais marcantes entre a Jurispru- Federal, de resolução suspendendo a eficácia do dispositivo de lei de-
dência do STF e a orientação dominante na legislação processual, de clarado inconstitucional pelo STF, nos termos do art. 52, X, da CF",
um lado, e, de outro, a visão doutrinária ortodoxa e - permitam-nos Proferiu-se voto l3l reafIrmando posição no sentido de que a fór-
dizer - ultrapassada do disposto no art. 52, X, da CF de 1988. No jul- mula relativa ii suspensão de execução da lei pelo Senado há de ter
gamento da Rec!. n. 4.335, contra decisão do Juiz de Direito da Vara simples efeíto de publicidade, ou seja, se o STF, em sede de controle
de Execuções PenaIs da comarca de Rio BrancolAC, propusemos incidental, declarar, definitivamente, que a lei é inconstitucional, essa
que o Tribunal efetivasse a revisão do entendimento anterior, passan- decisão terá efeitos gerais, fazendo-se a comunicação âquela Casa
do a reconbecer eficácia erga omnes e efeito vinculante às decisões legislativa para que publique a decisão no Diárzo do Congresso. 132
proferidas no processo de controle incidental. 127 Dessa forma, julgava-se procedente a reclamação por se entender
Ressalte-se que a adoção da sUmula vinculante reforça a idéia
128. Cf. GilmarMendes. JUrISdição ConstituCIOnal, sa ed., São Paulo. Saraiva.
de superação do art. 52, X, da CF, na medida em que permite aferir a 2005, pp. 387-413.
inconstitucionalidade de determinada orientação pelo próprio Tribu- 129. ReI. Min. Gilmar Mendes.
nal, sem qualquer interferência do Senado Federa!. 130. Plenário, ReI. Min. Marco Aurélio,). 23.2.2006, DJU 1.9.2006.
131. Min. Gilmar Mendes.
127. o julgamento acha-se suspenso em virtude de pedido de vista do Min. 132. Tese acompanhada pelo Min. Eras Grau. Divergiram dessa posição os
Ricardo Lewandowsk.i. Mins. Sepúlveda Pertence e JoaqUim Barbosa.
o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 655
654

desrespeitada a eficácia erga omnes da decisão. praferida na HC n o cumprimenta de abrigaçãa de fazer au de não. fazer. É, partanta,
~~~ . aIllplíssima a abjeta da açãa civil pública na ardem jurídica brasilei-
ra, estando. sua utilização. candicianada, fundamentalmente, apenas
â própría definição. da canceita juridica indeterminada relativa aas
4. Notas pecllliares sobre o controle incidental
"interesses difusos e coletivos".
na Constitllição de 1988
Esse abjeta extremamente ampla tem ensejada, não. raras vezes,
COlISiderações preliminares - Tal cama amplamente ressaltada a utilização. da açãa civil pública cama instrumenta de cantrale de
a sistema de cantrale de canstitucianalidade encantra-se numa fas~ constitucianalidade. A despeita da embaraça que provoca, a tema
de transição., reclamando. alguns aperfeiçaamentas na plana da direi: não. tem merecida - cam uma au autra exceçãa - reflexão. mais acu-
ta pasitiva au, até mesma, na plana exclusivamente jurisprudencial. rada no âmbito. da nassa Dagmática Canstitucianal. .
A adaçãa da açãa civil pública e sua eventual utilização. cama A pergunta básica que se pretende intraduzir é a seguinte: é
instrumenta de cantrale de canstitucianalidade têm dada enseja a legítima a utilização. da açãa civil pública na ardem juridica brasi-
uma intensa discussão. sabre a adequação. desse instrumenta camo leira para abter a declaração. de incanstitucianalidade de lei au ata
mecanismo. de contrale incidental de narmas. narmativa? Evidentemente, essa questão. sugere desdabramentas: em
Tenda em vista a sucessão. de narmas canstitucianais na expe- face das próprías especificidades processuais que caracterizam a açãa
riência histórica brasileira, desenvalveu-se arientaçãa - haje pacífica civil pública, pader-se-ia ainda cagitar de um cantrale meramente
- segunda a qual uma dada lei editada sab a vigência de determinada incidental au cancreta de canstitucianalidade cuja eficácia restaría
Canstituiçãa padería ter sua canstitucianalidade aferida em face limitada às partes envalvidas na cantravérsia? Ou, de fato., estamas
dessa Canstituiçãa na cantrole incidental de narmas a despeita da diante de um processo especialíssimo~ de caractenstíca notoriamente
campleta superação. da ardem constitucianal par uma autra. Assim, abjetiva, isto. é, sem partes, na qual a requerente atua na defesa gené-
é relativamente camum verificar-se a aferição. de canstitucionalidade rica da interesse pública?
de um decreta-lei editada sab a vigência da Canstituiçãa de 1967/69 Em face das caracteristicas especiais que amam a açãa Civil
em face daquela Canstituiçãa (cf. RE n. 408.830, ReI. Min. CarIas pública, seria lícita indagar sabre sua ildequaçãa para a cantrale de
Vellasa, DJU 4.6.2004; AI n. 435.386/AgRg/EDecl, ReI. Min. Nél- canstitucianalidade das leis na madalidade de cantrale incidental au
san Jablm, DJU25.5.2004). cancreta. Em autras termas, sería passível que a Juiz, ao. apreciar
pedida farmulada em açãa civil pública, afastasse tapicamente a
A amplitude canferida pela Canstituiçãa de 1988 ao. cantrale
incidência au a aplicação. de uma dada narma federal au estadual em
abstrata de narmas cantribuiu para tamar visíveis as inadequaçães ou
face da Canstituiçãa Federal? Qual seria a eficacia dessa decisãa?
insuficiências da madela difusa de cantrale de canstitucianalidade.
É fácil ver, desde lago., que a açãa civil pública não. se canfunde,
Não. só a natória superação. da instituto. da suspensão. de execução. da
pela própria farma e natureza, cam as processas cagnaminadas de
lei pela Senado. Federal, mas também a camplexidade e a demara na
"processos subjetivos".
abtençãa de um julgamento. definitiva da questão. canstitucianal pela
STF, na via incidental, estão. a clamar par uma refarma mais radical A parte ativa nesse pracessa não. atua na defesa de interesse
da sistema difusa de cantrale de canstitucianalidade entre nós. própría, mas pracura defender um interesse pública devidamente
caracterízada. Assim senda, afigura-se difícil - se não. impassivel
A ação civil pública como instrllmento de controle de consti- - sustentar que a decisão. que, eventualmente, afastasse a incidência
tllcionalidade- Cama se sabe, na Brasil, a Lei n. 7.347, de 24.7.85, de uma lei cansiderada incanstitucianal, em açãa civil pública, tería
efeito. limitada ás partes processualmente legitimadas.
cansagrau a açãa civil pública cama instrumenta de defesa das
chamadas "interesses difusas e caletivas". Nas termas da própría lei E que, cama já enunciada, a açãa civil pública apraxima-se mui-
especia~ a açãa civil pública paderá ter par abjeta a candenaçãa au ta de um típica pracessa sem partes au de um pracessa abjetiva, na
656 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 657

qual a parte autora atua não na defesa de situações subjetivas, agin_ das decisões proferidas nesses processos apenas às partes formais do
do, fundamentalmente, com escopo de garantir a tutela do interesse processo redundaria na sua completa nulificação.
público. 133 Não foi por outra razão que o legislador, ao disciplinar a , Em outros termos: admitida a utilização da ação civil pública
eficácia da decisão proferida na ação civil, viu-se compelido a esta, como instrumento adequado de controle de conslltucionalidade,
belecer que "a sentença civil fará coisa julgada erga oml/es". tem-se ipso jure a outorga à jurisdição ordinária de primeiro grau de
Isso significa que, se utilizada com o propósito de proceder ao poderes que ~ Constituição não assegura sequer ao STF. Eque, como
controle de constitucionalidade, a decisão que em ação civil pública visto, a deCIsão sobre a constitucionalidade de lei proferida pela
afastar a incidência de dada norma, por eventual incompatibilidade Excelsa Corte no caso concreto tem, necessária e inevitavelmente
com a ordem constitucional, acabará por ter eficácia semelhante à eficácia inter partes, dependendo sua extensão de atuação da Senad~
das ações diretas de inconstitucionalidade - isto é, eficácia geral e Federal. .
írrestrita. E certo, ademais, que, ainda que se desenvolvam esforços no
Já o entendimento esposado pelo STF no sentido de que essa es- sentido de formular pretensão diversa, toda vez que na ação CIvil
pécie de controle genérico da constitucionalidade das leis constituina pública ficar evidente que a medida ou providência que se pretende
uma atividade política de determinadas Cortes realça a impossibilida~ questIOnar é a própria lei ou ato normativo, restará inequivoco que se
de de utilização da ação civil pública com esse escopo. Em verdade, trata, mesmo, é de uma impugnação direta de lei.
ainda que se pudesse acrescentar algum outro desiderato adicional a Nessas condições, para que se não chegue a um resultado que
uma ação civil pública destinada a afastar a incidência de dada norma subverta todo o sistema de controle de constitucionalidade adotado
infraconstitucional, e certo que seu objetivo precípuo haveria de ser no Brasil, tem-se de admitir a completa inidoneidade da ação civil
a impugnação direta e frontal da legitimidade de ato normativo. Não pública como instrumento de controle de constitucionalidade, seja
se trataria de discussão sobre aplicação de lei a caso concreto, porque porque ela acabaria por instaurar um controle direto e abstrato no
de caso concreto não se cuida. Ao revés, a própria parte autora ou plano da jurisdição de primeiro grau, seja porque a decisão haveria
requerente legitima-se não em razão da necessidade de proteção de de ter, necessariamente, eficácia transcendente das partes formais.
um interesse específico, mas exatamente de um interesse genérico Afigura-se digno de referência acórdão no qual o STF acolheu
amplíssimo, de um interesse público. Ter-se-ia, pois, uma decisão reclamação que lhe foi submetida pelo Procurador-Geral da Repu-
(direta) sobre a legitimidade da norma. blica, determmando o arqUIvamento de ações ajuizadas nas 2' e 3'
Deve-se acrescentar, ademais, que o julgamento desse típo de Varas da Fazenda Pública da Comarca de São Paulo, por entender
questão pela jurisdição ordinária de primeiro grau suscita um outro caracterizada a usurpação de competência do STF, uma vez que a
problema, igualmente grave, no âmbito da sistemáuca de controle pretensão nelas veiculada não visava ao julgamento de uma relação
de constitucionalidade adotada no Brasil. Diferentemente da deci- Juridica concreta, mas ao da validade de lei em tese. "4
são lncidenter tantum proferida nos casos concretos, inclusive pelo A propósito, mencione-se a seguinte passagem do voto do Re-
STF, cuja eficácia fica adstrita às partes do processo, a decisão sobre lator, Min. Francisco Rezek: "A leitura do acervo aqui produzido
a constituCiOnalidade de lei proferida pelo Juiz de primeiro grau faz ver que o objeto precípuo das ações em curso nas 2' e 3' Varas
haveria de ser dotada de eficácia geral e abstrata. Nem poderia ser da Fazenda Pública da comarca de São Paulo é, amda que de forma
diferente: como as partes na ação civil pública atuam não na defesa dissimulada, a declaração de inconstitucionalidade da lei estadual
de interesse juridico específico, mas, propriamente, na proteção do em face da Carta da República. As requerentes, ao proporem a provi-
interesse público, qualquer pretensão no sentido de limitar a eficácia dência cautelar, preparatóna da ação principal, deixam claro que esta
visa a '( ... ) decretar a ilegalidade da medida (... )' (fis. 34). Ocorre que
133. Harald Koch. Prozessfiihrung im õffentlichen Interesse, Frankfurt am
Maln, 1983, pp. 1 e ss. 134. ReeI. n. 434, ReI. Min. FrancISCO Rezek,DJU9.l2.94.
658 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 659

a 'medida' tida por ilegal é a própria lei. E o juízo de ínc:onstitucio' poupança, com vencimento entre 14 a 30.4.90, mais juros de 0,5%
nalidade da lei só se produz como incidente no processo COlnUln1" ao mês, correção sobre o saldo, devendo o valor a ser pago a cada
controle difuso - ou como escopo precipuo do processo declaratório' oro fixar-se em liquidação de sentença' - 3. Ação julgada procedente
de ínconstitucionalidade da lei em tese - controle concentrado". 135 > em ambas as instâncias, havendo sido interpostos recursos especial
Essa orientação do STF reforçava, aparentemente, a idéia de' . e extraordínário - 4. Reclamação em que se sustenta que o acórdão
senvolvida de que eventual esforço dissimulatório por parte do re, . da Corte reclamada, ao manter a sentença, estabeleceu 'uma íncons-
querente da ação civil pública haveria de restar aínda mais evidente: . titucionalidade no plano nacional, em relação a alguns aspectos da
porquanto, diversamente da situação aludida no precedente referido, Lei n. 8.024/90, que somente ao STF caberia decretar' - 5. Não se
o autor, aqui, pede tutela genérica do ínteresse público, devendo, por trata de hipótese suscetível de confronto com o precedente da Corte
isso, a decisão proferida ter eficácia erga omnes. Assim, eventual na Reci. n. 434-IISP, onde se fazia inequivoco que o objetivo da ação
pronúncia de ínconstitucionalidade da lei levada a efeito pelo juizo ~ivil pública era declarar a ínconstitucionalidade da Lei n. 7.844/92,
monocrático teria força idêntica à da decisão proferida pelo STF no do Estado de São Paulo - 6. No caso concreto, diferentemente a
controle direto de ínconstitucionalidade. ~çãO obJetiva relação jurídica decorrente de contrato expressame~te
Todavia, o STF julgou improcedente a Recl. n. 602-6/SP, de qu~ identificado, a qual estaria sendo alcançada por norma legal subse-
foi relator o Mín. limar Ga[vão, em data de 3.9.97, cujo acórdão está q!iente, cuja aplicação levaria a ferir direito subJetivo dos substituí-
assim emeutado: dos - 7. Na ação civil pública, ora em julgamento. dá-se controle
"Reclamação - Decisão que, em ação civil pública, condenou de constitucionalidade da Lei n. 8.024/90, por via difusa. Mesmo
ínstituição bancária a complementar os rendimentos de caderneta admitindo que a decisão em exame afasta a incidência de lei que
de poupança de seus correntistas, com base em índice até então vi- seria aplicável á hipótese concreta, por ferir direito adquirido e ato
gente, após afastar a aplicação da norma que o havia reduzido. por jurídico perfeito, certo está que o acórdão respectivo não fica imune
considerá-Ia íncompatível com a Constituição - Alegada usurpação ao controle do STF, desde logo, á vista do art. 102, III, letra 'b', da
da competência do Supremo Tribunal Federal, prevista no ar!. 102, Lei Maior, eis que decisão definitiva de Corte loca[ terá reconhecido
I, 'a', da CE a inconstitucionalidade de lei federai, ao dirimir determinado conflito
"Improcedência da alegação, tendo em vista tratar-se de ação de interesses. Manifesta-se, dessa maneira, a convivência dos dois
ajuizada, entre partes contratantes, na persecução de bem juridico sistemas de controle de constitucionalidade: a mesma lei federal ou
concreto, índividual e perfeitamente definido, de ordem patrimonial, estadual poderá ter declarada sua invalidade, quer em abstrato, na via
obJetivo que jamais poderia ser alcançado pelo reclamado em sede concentrada, originariamente, pelo STF (CF, art. 102, I, 'a'), quer na
de controle ln abstracto de ato normativo - Quadro em que não sobra via difusa, incidenter tantum, ao ensejo do desate de controvérsia, na
espaço para falar em ínvasão, pela Corte reclamada, da jurisdição defesa de direitos subjetivos de partes interessadas, afastando-se sua
concentrada privativa do Supremo Tribunal Federal- Improcedência incidência no caso concreto em julgamento - 8. Nas ações coletivas
da reclamação." não se nega, à evidência, também, a possibilidade da declaração de
No mesmo dia (3.9.97) e no mesmo sentido, o julgamento da inconstitucionalidade, incidenter tantum, de lei ou ato normativo
Recl. n. 600-0/SP, relatada pelo Min. Néri da Silveira, estando a federal ou local - 9. A eficácia erga omnes da decisão, na ação civil
decisão assim resumida, verbis: "Reclamação - 2. Ação civil pú- pública, ut art. 16 da Lei n. 7.347/97, não subtrai o julgado do con-
blica contra ínstituição bancária, objetivando a condenação da ré ao trole das instâncias superiores, inclusive do STF. No caso concreto,
pagamento da 'diferença entre a inflação do mês de março de 1990, por exemplo, já se interpôs recurso extraordinário, relativamente
apurada pelo IBGE, e o índice aplicado para crédito nas cadernetas ao qual, em situações graves, é viável emprestar-se, ademais, efeito
suspensivo - lO. Em reclamação, onde sustentada a usurpação, pela
135. ReeI. n. 434. ReI. Min. Fl1lIlcisco Rezek,DJU9.12.94. Corte local, de competência do STF, não cabe, em tese, discutir em
660 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 661

tomo da eficácia da sentença na ação civil pública (Lei n. 7.347/85 . decisão definitiva em sede da ação direta. Ressaltou-se, no ponto,
art. 16), o que poderá, entretanto, constituir, eventualmente, tem~ que a s~spensão das ações decorria não da .sustentada us~ação da
do recurso extraordinário - 11. Reclamação julgada improcedente competencIa,138 mas sIm do obJettvo de cOlbrr eventual transito em
cassando-se a limínar". ' julgado nas referidas ações, com o conseqüente esvaziamento da
Essa orientação do STF permite, aparentemente, distinguir â decisão a ser proferida nos autos da ação direta. 139
ação cívil pública que tenha por objeto, propriamente, a declaraçãó Essa decisão revelou a necessidade de abertura de um diálogo
de inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo daqueloutra na ou de uma interlocução entre os modelos difuso e abstrato, especial-
qual a questão constitucional configura simples questão prejudicial mente nos casos em que a decisão no modelo difuso, como é o caso
da postulação principal. da decisão de controle de constitucionalidade em ação civil.pública,
É o que foi afirmado na Recl. n. 2.224, da relatoria do Min: acaba por ser dotada de eficácia ampla ou gerai.
Sepúlveda Pertence, na qual se enfatizou que "ação civil pública As especificidades desse modelo de controle, seu carater ex-
em que a declaração de inconstítucionalidade com efeitos erga' cepcional. o restrito deferimento dessa prerrogativa no que se refere
omnes não é posta como causa de pedir, mas, sim, como o próprio à aferição de constitucionalidade de lei ou ato normativo estadual
objeto do pedido, configurando hipótese reservada â ação direta de ou federal em face da Constttuição Federal apenas ao STF, a legiti-
inconstituclOnalidade",136 mação restrita para provocação do STF - somente os órgãos e entes
De qualquer sorte, não se pode negar que a abrangência que se referidos no art. 103 da CF estão autorizados a instaurar o processo
empresta - e que se há de emprestar - â decisão proferida em ação de controle -, a dimensão política inegável dessa modalidade, enfim,
civil pública permite que com uma simplcs decisão de caratcr pre- tudo leva a se não recomendar o controle de legitimidade de lei ou
judicial se retire qualquer efeito útil da lei, o que acaba por se cons- ato normativo federal ou estadual em face da Constituição no âmbito
títuir, mdiretamente, numa absorção de funções que a Constituição da ação civil pública.
quis deferir ao STF. No quadro normativo atual, poder-se-ia cogitar, nos casos de
Colocado novamente frente a esse tema no julgamento da controle de constitucionalidade em ação Civil pública, de suspen-
RecI. n. 2.460-RJ, o STF arrostou a questão da existência ou não de são do processo e remessa da questão constitucional ao STF VIa
usurpação de sua competência constitucional (CF, art. 102, I, "an ), argüíção de descumprimento de preceito fundamental, mediante
em virtude da pendência do julgamento da ADIn n. 2.950-RJ e do provocação do juiz ou tribunal competente para a causa. Simples al-
deferimento de liminares em diversas ações civis públicas ajuizadas teração da Lei n. 9.882/99 e da Lei n, 7.347/85 140 poderia permItir a
perante juízes federais e estaduais das instâncias ordinárias, sob o mudança proposta, elidindo a possibilidade de decisões conflitantes,
fundamento de inconstitucionalidade da mesma norma impuguada
em sede direta. 137 Na espécie, o Tribunal entendeu que, ainda que se 138. DeCIsão na MeRecI D. 2.460, ReI. Min. Marco Aurélio. em 21.10.2003.
DJU28.1O.2003.
preservassem os atos acautelatórios adotados pela Justiça local, seria
139. ErnJulgamento da MeRecI. n. 2.460, de 10.3.2004, DJU 6.8.2004, o Tri-
recomendável determinar a suspensão de todas as ações civis até a bunal, por maioria, negou referendo li deCIsão concessiva de limmar e determinou a
suspensão. com eficácia ex nunc, das ações CivÍs públicas em curso. Restou mantida
136. DJU 10.2.2006, p. 76. Cf., ainda, a ReeI. n. 1.017-SP (ReI. Min. Sepúlve- a tutela anteCIpada nelas deferida, tendo em vista a existênCia de trarmtação de ação
da Pertence. DJU 3.6.2005): "Reclamação: usurpação da competência do STF (CF, direta de ínconstitucionalidade perante o STF.
art. 102, I, 'l') - Ação popular que, pela causa de pedir e pelo pedido de provímento 140. Lei n. 7.347/85: "Art. .... No caso de necessidade de controle de consti-
mandamental fonnulado. configura hipótese reservada à ação direta de inconstitucio- tuCionalidade de lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal em ação civil
nalidade por omissão de medidas administrativas, de privativa competência onginâria pública, o juiz ou tribunal deverá submeter a questão CODstítuclonal ao Supremo
do Supremo Tribunal- Procedência". Tribunal Federal, na forma da Lei n. 9.882/99",
137. Ci Decreto n. 25.723/99, do Rio de Janeiro, que regulamenta a exploração Lei n. 9.882199:
da ativídade de loterias pelo Estado do Rio de Janeiro. "Art. 1.2. (... ).
662 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 663

no âmbito das instâncias ordinárias e do Supremo Tribunal Federal, Vale ressaltar que nos próprios Estados Unidos da America, onde
com sérios prejuízos para a coerência do sistema e para a segurança a doutrina acentuara que the znconstitutional statute is not law at all, 14 1
jurídica. passou-se a admItir, após a Grande Depressão, a necessidade de se
estabelecer linútes à declaração de mconstitucionalidade. 142
"Causa petelldi" aberta do recurso extraordillário -:- Como j~ Segundo a doutrina, a Jurisprudência americana evoluiu para
observado, a jurisprudência do STF revela uma tendência de não- admitir, ao lado da decisão de inconstitucionalidade com efeitos
estrita subjetivação ou de maiOr objetivação do recurso extraordi_
retroativos amplos ou limitados (limtted retrospectivity), a superação
nário, que deixa de ter caráter marcadamente subjetivo ou de defesa
prospectiva (prospective overruling), que tanto pode ser limitada
de interesse das partes para assumir, de forma decisiva, a função de
(limited prospectivityj, aplicável aos processos iniClados apóS a deCI-
defesa da ordem constitucional objetíva. Assim, a Corte tem admi-
são, inclusive ao processo originário, como ilimitada (pure prospec-
tido a possibilidade de conhecer de recurso extraordinário sem vin-
tivity), que sequer se aplica ao processo que lbe deu origem. 143
cular-se á fundamentação do caso específico. Essa nova orientação
permite ao Tribunal examinar o mérito do recurso, provendo-o ati Vê-se, pois, que o sistema difuso ou incidental mais tradicional
não, tendo como parâmetro toda a Constituição (RE n. 298.694-SP, do mundo passou a admitir a mitigação dos efeitos da declaração de
ReI Min. Sepúlveda Pertence, DJU 14.8.2003; RE n. 172.058, Rel. inconslltucionalidade, e, em casos determinados, acolheu ate mesmo
Min. Marco Aurélio; RE n. 416.827-SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, a pura declaração de inconstitucionalidade com efeito exclusiva-
DJU 15.2.2007; RE n. 388.830-RJ, ReI. Min. Gilmar Mendes, DJU mente pro foturo. 144 De resto, assinale-se que, antes do advento da
24.2.2006). Lei n. 9.868/99, talvez fosse o STF, mUlto provavelmente, o único
órgão importante de jUrisdição constitucional a não fazer uso~ de
o COlltrole illcidelltal e a aplicação do art. 27 da Lei 11. modo expresso, da limitação de efeitos na declaração de inconsl!-
9.868/99 - Embora a Lei n. 9.868, de 10.11.99, tenha autorizado o tucionalidade. Não só a Suprema Corte americana (caso "Linkletter
STF a declarar a inconstitucionalidade com efeitos limitados, é lícito vs. Walker"), mas também uma série expressiva de Cortes Conslltu-
indagar sobre a admissibilidade do uso dessa técnica de decisão no clonais e Cortes Supremas adota a técnica da limitação de efellos. 145
âmbito do controle difuso.
Ressalte-se que não se está a discutir a constitucionalidade do 141. Westel Woodbury Willoughby, The ConstitutlOllal Law ofthe United
art. 27 da Lei n. 9.868/99. Cuida-se, aqui, tão-somente de examinar S/ates, v. 1, Nova York, 1910, pp. 9-10; cf. Thomas M. Cooley, TreatIes on lhe Cons-
a possibilidade de aplicação da orientação nele contida no controle titutional LimIlattons. 1878, p. 227.
142. Laurence Tribe. Tire American ConstitutlOnal Law, Mineola, Nova Yorie,
incidental de constitucionalidade. The Foundanon Press. 1988, p. 30.
Para tanto, faz-se necessária, inicialmente, uma análise da 143. Oswaldo LUlZ Palu, Controle de ConstitucIonalidade. 2a ed., São Paulo.
questão na Direito americano, que é a matriz do sistema brasileiro 2001, p. 173; Rui Medeiros. A DeCISão de InconstitucIonalidade. Lisboa, Umversi-
dade Católica Editora, 1999.
de controle.
144. Cf., a propÓSIto, Sesrna, EI Precedente ... , pp. 174 e ss.
145. Cf., v.g., a Corte ConstItucional austríaca (Constituição, art 140), a Corte
"Parágrafo unica. Caberá tambem argUição de descumpnrnento de preceito ConstItucional alemã (Lei Orgâmca, § 31, 2 e 79, 1), a Corte ConstitucIOnal espanho-
fundamental: la (embora não expressa na Constituição, adotou. desde 1989, a técmca da declaração
UI _ quando for relevante o fundamento da controversia constitucional sobre lei de tnconstituclOnalidade sem a prominclG da nulidade - cf. Garcia de Entema, "JuStl-
ou ato normatlvo federal. estadual ou munic1pal, mcluídos os anteriores â Consutuição; Cla ConstitucIOnal", RDP 92/5), a Corte Constitucional portuguesa (ConstItuição, art
"II - (vetado); 2822, n. 4), O Tribunal de Justiça da Comunidade Européia (art. 174.2. do Tratado
"III - na ação civil pública, se o juíz ou tribunal verificar a necessidade de de- de Roma), o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (caso "Markx", de 13.6.79).
cidir sobre a validade de leí federal. estadual ou mUnIcIpal em face da Constituição. Cf., ainda, Carlos Roberto Siqueira Castro. "Da declaração de mconstitucionalidade
deverá submeter a matêna ao Supremo Tribunal Federal, que se pronunciará tão- e seus efeitos em face das LeiS ns. 9.868 e 9.882/99", m Daniel Sarmento (org.), O
somente sobre a questão constitucIOnal, na fonna do RegImento Interno." Controle de ConstituCIonalidade e a Lei 9.868/99. Rio de JaneIro. 2001.
o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 665
664

No que ínteressa para a discussão em apreço, ressalte-se que o c Um argumento que pode ser suscitado diz respeito ao direito
modelo difuso não se mostra íncompatível com a doutrina da limita, < fundamental de acesso à Justiça, tal como já argüido no Direito
ção dos efeitos. português. afirmando-se que haveria a frustração da expectativa da-
queles que obtiveram o reconhecimento jurisdicional do fundamento
Sem dúvida, afigura-se relevante no sistema misto brasileiro
de sua pretensão. 147
o significado da decisão limitadora tomada pelo STF no C011tf<11e
abstrato de normas sobre os julgados proferidos pelos demais Juízes A propósito dessa objeção, Rui Medeiros apresenta as seguíntes
e Tribunais no sistema difuso. . respostas:
O tema relativo à compatibilização de decisões nos modelos "É sabido, desde logo, que existem domínios em que a restríção
concreto e abstrato não é exatamente novo, e foi suscitado micial- do alcance do julgamento de inconstitucionalidade não e, por.defi-
mente na Áustria, tendo em vista os reflexos da decisão da Corte nição, susceptível de pôr em causa esse direito fundamental (v.g<,
Constitucional sobre os casos concretos que deram origem ao inci_ invocação do n. 4 do art. 2822 para justificar a aplicação da norma
dente de ínconstítucionalidade (1920-1929). Optou-se ali por atribuir << penal inconstitucional maIs favorável ao argüido do que a norma re-
efeito ex tunc excepcional à repercussão da decisão de inconstitucio, pristinada).
nalidade sobre o caso concreto (Constituição austríaca, art 140, n. 7, "Além disso, mostra-se claramente claudicante a representação
segunda parte). <.. do direito de acção judicial como um direito a uma sentença de me-
No Direito americano o tema poderia assumir feição delicada, rito favorável, tudo apontando antes no sentido de que o art. 20º da
tendo em vista o caráter íncidental ou difuso do sistema, isto e, mo- Constituição não vincula os Tribunais a 'uma obrigação-resultado
delo marcadamente voltado para a defesa de posições subjetivas< (procedência do pedido), mas a uma mera obrigação-meio, isto e, a
Todavia, ao contrário do que se poderia ínlaginar, não é rara a pro- encontrar uma solução justa e legal para o conflito de interesse entre
núncia de inconstitucionalidade sem atribuição de eficácia retroativa, as partes'.
especialmente nas decisões judiciais que introduzem alteração de "Acresce que, mesmo que a limitação de efeitos contranasse o
jurisprudência (prospective overruling). Em alguns casos a nova direito de acesso aos Tribunais, ela seria Imposta por razões juridico-
regra de decisão aplica-se aos processos pendentes (limited prospec- constttucionais, e, por isso, a solução não poderia passar pela abso-
tivity); em outros, a eficãcia ex tunc exclui-se de forma absoluta (pure luta prevalência do ínteresse tutelado pelo art. 20º da Constituição,
prospectivity). Embora tenham surgido no contexto das alterações postulando ao inves uma tarefa de harmonízação entre os diferentes
jurísprudenciais de precedentes, as prospectivity têm íntegral aplica- interesses em conflito<
ção as hipóteses de mudança de orientação que leve à declaração de "Fínalmente, a admissibilidade de uma línlitação de efeitos na
ínconslltucionalidade de uma lei antes considerada constitucionaL 146 fiscalização concreta não significa que um Tribunal possa desaten-
A prática da prospectivity, em qualquer de suas versões, no sis- der, com base numa decisão puramente discricionána, à expectativa
tema de controle americano, demonstra, pelo menos, que o controle daquele que iniciou um processo jurisdiCIOnal com a consciência da
incidental não é íncompatível com a idéia da limitação de efeitos na ínconstitucíonalidade da lei que se opunha ao reconhecínlento da sua
decisão de inconstitucionalidade. pretensão. A delimitação da eficácia da decisão de ínconstitucionali-
Há de se reconhecer que o tema assume entre nós peculiar com- dade não ê fruto de 'mero declsionismo' do órgão de controlo. O que
plexidade, tendo em vista a ínevitável convivência entre os modelos se verifica e tão-somente que, à luz do ordenamento constitucional
difuso e direto. Quais serão, assim, os efeitos da decisão ex nunc do no seu todo, a pretensão do autor à não-aplicação da lei desconforme
STF, proferida in abstracto, sobre as decisões já proferidas pelas íns- com a Constituição não tem, no caso concreto, fundamento."I48
tâncias afirmadoras da ínconstitucionalidade com eficácia ex tunc?
147. CLRui Medeiros, A DeCIsão de InconstituCIOnalidade, p. 746.
146. Cf. Rui Mederros. A DeCISão de Inconstituclonalidade, p. 743. 148. Cf. Rui Medeiros, A Deczsão de InconstihlclOnalidade, pp. 746-747.
666 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 667

Essas colocações têm a virtude de demonstrar que a declaração cia ex nunc nos casos concretos. A inconstitucionalidade da lei há de
de inconstitucionalidade in concreto também se mostra passivei de ser reconhecida a partir do trãnsito em julgado. Os casos concretos
limítação de efeitos. A base constítuclOnal dessa limitação - ne- ainda não tranSItados em Julgado hão de ter o mesmo tratamento (de-
cessidade de um outro princípio que justifique a não-aplicação do cisões com eficácia ex nunc) se e quando submetidos ao STF.
principio da nulidade - parece sugerir que, se aplicável, a declaração É verdade que, tendo em vista a autonomia dos processos de
de inconstitucionalidade restrita revela-se abrangente do modelo controle incidental ou concreto e de controle abstrato, entre nós, mos-
de controle de constitucionalidade como um todo. É que, nesses tra-se passivei um distanciamento temporal entre as decisões profe-
casos, tal como já argumentado, o afastamento do principIO da ridas nos dois sistemas (decisões anteriores, no sistema incidental,
nulidade da lei assenta-se em fundamentos constitucionais, e não com eficácia ex tune, e decisão posterior, no sistema abstrato, com
em razões de conveniência. Se o sistema constitucional legitima a eficácia ex nune). Esse fato poderá ensejar uma grande insegurança
declaração de inconstitucionalidade restrita no controle abstrato, esta jurídica. Daí parecer razoável que o próprio STF declare, nesses ca-
decisão poderá afetar, igualmente, os processos do modelo concreto sos, a inconstitucionalidade com eficácia ex nune na ação direta, res-
ou incidental de normas. Do contrário poder-se-ia ter, inclusive, um salvando, porém, os casos concretos já julgados ou, em determinadas
esvaziamento ou uma perda de significado da própna declaração de situações, até mesmo os casos sub judiee, até a data de ajuizamento
inconstitucionalidade restrita ou limitada. da ação direta de inconstitucIOnalidade. Essa ressalva assenta-se
A questão tem relevância especial no Direito português, porque, em razões de índole constituCIOnal, especialmente no princípio da
ao lado do modelo abstrato de controle, de perfil concentrado, adota a segurança jurídica. Ressalte-se aqui que, além da ponderação central
Constituição um modelo concreto de perfil incidental, à semelhança entre o princípio da nulidade e outro princípio constitucional, com a
do sistema americano ou brasileiro. Trata-se de herança do sistema finalidade de definir a dimensão básica da limitação, deverá a Corte
adotado pela Constituição portuguesa de 1911. fazer outras ponderações, tendo em vista a repercussão da decisão
E claro que, nesse contexto, tendo em vista os próprios fim- tomada no processo de controle in abstracto nos diversos processos
damentos legitimadores da restrição de efeitos, poderá o Tribunal de controle concreto.
declarar a inconstitucionalidade com efeitos limitados, fazendo, Dessa forma, tem-se, a nosso ver, uma adequada solução para o
porém, a ressalva dos casos já decididos ou dos casos pendentes até dificil problema da convivência entre os dOIS modelos de controle de
um determinado momento (v.g., até a decisão ín abstracto l. É o que constitucionalidade existentes no Direito brasilerro, também no que
ocorre no sistema português, onde o Tribunal Constitucional ressal- diz respeito à técnica de decisão.
va, freqüentemente, os efeitos produzidos até a data da publicação Aludida abordagem responde a uma outra questão intimamente
da declaração de inconstitucionalidade no Diário da República, ou, vinculada a esta. Trata-se de saber se o STF poderia, ao apreciar
ainda, acrescenta no dispositivo que são excetuadas aquelas situações recurso extraordinário, declarar a inconstitucionalidade com efeitos
que estejam pendentes de impugnação contenciosa.1 49 lirmtados.
Essa orientação afigura-se integralmente aplicável ao sistema Não parece haver dúvida de que, tal Como já exposto, a limita-
brasileiro. ção de efeito eum apanágio do controle judicml de constitucionalida-
Assim, pode-se entender que, se o STF declarar a inconstitucio- de, podendo ser aplicado tanto no controle direto quanto no controle
nalidade restrita, sem qualquer ressalva, essa decisão afeta os demais incidental.
processos com pedidos idênticos pendentes de decisão nas diversas Tal entendimento vem sendo aceito pelo STF.
instâncias. Os próprios fundamentos constitucionais legitimadores da Como referido em outra parte, ISO o STF já teve a oportunidade,
restrição embasam a declaração de inconstitucionalidade com eficá- em alguns casos, de discutir a aplicação do art. 27 da Lei n. 9.868/99.

149. Cf. Rui Medeiros. A Decisão de InconstituCionalidade, p. 748. 150. CE o capitulo sobre a ação direta de inconstitucionalidade.
668 o CONTROLE INCIDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS O CONTROLE INClDENTAL OU CONCRETO DE NORMAS 669

No RE n. 197.917 discutiu-se sobre a constitucionalidade de veis ao modelo de controle incidental, antes dotadas de ampla feição
disposItivo de lei municipal que teria fixado seu número de vereado_ i subjetiva. com simples eficácia inter partes.
res em afronta ao disposto no art. 29, IV, da CP. O Tribunal acabo~ A adoção de uma estrutura procedimental aberta para o processo
por acolber proposta por mim formulada em voto-vista, no sentido de controle difuso (participação de amicus curiae e outros interessa-
de determinar que a decisão de inconstitucionalidade seria dotada de . dos), a concepção de um recurso extraordinário de feição especial
efeito pro foturo.'5' . para os Juizados Especiais, o reconhecimento de efeito transcendente
Proficuos debates sobre a relevância dos efeitos da decisão fo' para a declaração de inconstitucionalidade incidental, a lenta e gra-
ram travados durante o julgamento da Recl. n. 2.391, que discutiu a·" dual superação da fórmula do Senado (ar!. 52, Xl, a incorporação do
possibilidade de reconbecimento do direito de recorrer em liberdade: instituto da repercussão geral no âmbito do recurso extraordinário e
Embora a referida reclamação tenba sido declarada prejudicada, a desformalização do recurso extraordinário, com o reconbecimento
por perda de objeto,'52 consagrou-se a relevância da discussão em de ~a possível causa petendi aberta, são demonstrações das mudan-
tomo dos efeitos da decisão nos casos de revisão de jurisprudência ças verificadas a partir desse diálogo e intercâmbio entre os modelos
amplamente consolidada no âmbito do Tribunal, considerando que de controle de constitucionalidade positivados no Direito brasileiro.
tais mudanças certamente repercutirão sobre casos já julgados. No Em alguma medida, pode-se apontar, dentre as diversas transfor-
caso, o Tribunal encaminhava-se para reconbecer que eventuai mações detectadas, uma inequívoca tendência para ampliar a feição
declaração de inconstitucionalidade haveria de ser declarada com objelIVa do processo de controle incidental entre nós.
efeitos ex nunc.
Por fim, no julgamento do HC n. 82.959, de 23.2.2006, o Tri-
bunal deferiu, por maioria, o pedido de habeas corpus e declarou,
incidenter tantum, a inconstitucionalidade do § I" do ar!. 2" da Lei n.
8.072/90, que veda a possihilidade de progressão do regime de cum-
primento da pena nos crimes hediondos. Entretanto, o Tribunal ex-
plicitou que a referida declaração incidental de inconstitucionalidade
não geraria conseqüências jurídicas com relação ás penas já extintas
na data do julgamento, conferindo o Tribunal, mais uma vez, efeitos
restritivos à declaração de inconstitucionalidade.'53

À guisa de conclusão - A convivência do modelo incidental


difuso tradicional com um sistema de múltiplas ações diretas (ação
direta de inconstitucionalidade, ação declaratória de constitucionali-
dade, argüição de descumprimento de preceito fundamental e repre-
sentação interventiva) operou uma significativa mudança no controle
de constitucionalidade brasileiro.
Uma observação talvez trivial revele uma tendência de dessub-
jetivização das formas processuais, especialmente daquelas aplicá-

IS\. ReI. Min. MauriCIO Corrêa,DJU7.5.2004.


152. ReI. Min. Marco Aurélio, DJU 12.2.2007.
153. ReI. Min. Marco Aurélio, DJU 13.3.2006.
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 671

" Não se cuidava de fórmula consultiva, mas de um litígiO consti-


tUc'ior.ral, que poderia dar ensejo à intervenção federal.' Outorgou-se
àtitul~uidade da ação ao Procurador-Geral da República, a quem,
" como chefe do Ministério Público Federal, competia defender os
, iriteresses da União (art. 126). Esse mecanismo não descaracteriza a
representação interventiva comO peculiar modalidade de composição
de conflitos entre a União e os Estados-membros. A fórmula adotada
·;:1
NONA PARTE parece revelar que na ação direta interventiva, menos que um subs-
títuto processual: ou parte,5 o Procurador-Geral exerce o mister de
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVÁ representante judicial da União." .
No Estado Federal a Constituição impõe deveres aos Estados-
i. Introdução. 2. Pressupostos de admissibilidade da representQça~ membros, cUJa inobservância pode acarretar providências de indole
mterventiva. 3. Parâmetro de controle. 4. Procedimento. 5. DecISão. 6:
interventiva, visando a assegurar a integridade do ordenamento
.A. guísa de conclusão.
constitucional ou - como pretende Kelsen - da Constituição total
(Gesamtveifassung). AssÍm, a violação de um dever pelo Estado-
1. Introdução membro é condição da intervenção federaU "O fato ilícito é impu-
tado ao Estado enquanto tal, assim como a intervenção federal se
A ação direta de inconstitucionalidade foí introduzida, entre
dirige contra o Estado enquanto tal, e não contra o individuo.'"
nós, como elemento do processo interventivo, nos casos de ofensa
aos chamados princípios constitucionais sensíveis (CF de 1934, art. Na Constituinte de 1891 já se esboçara tendência no sentido de
12, § 22 ; CF de 1946, art. 8º, parágrafo único; CF de 1967/1969, judicÍalizar os conflitos federativos para fins de intervenção, tal como
ficou assente nas propostas formuladas por João Pinheiro e Júlio de
art. II, § Iº, "c"; CF de 1988, art. 34, VII, c/c o art. 36, III). Inicial-
Castilhos" A reforma constitucional de 1926 consagrou expressa-
mente provocava-se o STF com o objetivo de obter a declaração de
mente os princípios constitucionais da União (art. 6", II), outorgando
constitucíonalidade da lei interventiva (CF de 1934, art. 12, § 22).'
ao Congresso Nacional a competência privativa para decretar a
A Constituição de 1946 consagrou, porém, a ação direta de incons-
intervenção (art. 6", § 1O). Reconheceu-se, assim, ao Parlamento a
titucionalidade nos casoS de lesão aos princípios estabelecidos no
faculdade de caracterizar, preliminarmente, a ofensa aos principios
art. 7º, VII. Imprimiu-se, assim, traço próprio ao nosso modelo
de controle de constitucionalidade, afastando-o do sistema norte- 3. BUZJlid, Da Ação Direta ... , pp. 100-107.
americano.2 4. Buzaid. Da Açãa Direta ...• p. 107.
5. Jose Carlos Barbosa Morerra., "As partes na ação declaratóna de inconstitu-
1. A CF de 1934 previa. no § 12 do art. 12. que. "na hipótese do n. VI (reor w CIOnalidade", RevISta de DireIto da Procuradorza-Geral do Estado da Guanabara
13/75-76.
gamzação das finanças dos Estados que. sem motivo de força malar. suspenderem.
por mais de dOIS anos consecutivos. o serviço de sua divida fundada) ass1m como 6. Oswaldo Aranha Bandeíra de Mello, Teono das Constituições Rígidas. 2i!
para assegurar a observância dos principlos const1tucíonais (art. 72 , I) a Intervenção ed., São Paulo, José Busbatsky Editor, 1980, p. 192.
será decretada por lei federal. que lhe fixará a amplitude e a duração, prorrogâvel por 7. Hans Kelsen, "L'esecuzione federale", in La Giustizza Costiluzíonale. Mila-
nova lei". O § 2st do art. 12 estabelecia tambem que, "ocorrendo o primeiro caso do n, no, Giuffre Editare, 1981, p. 87.
V, (assegurar a observância dos pnndpios constitucionais especificados nas letras . 8. Kelsen, "L'esecuzione federaIe", ln La Giustizzo Costiluzlonale p. 87 (no
"a" a "h" do art. "jfl, I) a íntervenção só se efetuara del'OIs que a Corte Suprema, ongmal: "La fattispecíe ilIecuta - afmna Kelsen - vlene imputata alio Stak, ín quanto
mediante provocação do Procurador-Geral da República. tomar conheCimento da lei tale e c?sí pure l'es~~one federale si dirige contra lo Stato fi quanto tale e non già
que a tenha decretado e lhe declarar a constítucíonalidade". contra li smgolo indlV1duo".
2. Alfredo Buzaid, Da Ação Direta de Declaração de Inconstitucionalidade no 9. Brasil, Assembléia Constituinte (189 1), Annaes, p. 432; cf., tambem, Ernesto
Direito Brasileíro, São Paulo, Saraiva., 1958, p. 100. Leme, A Intervenção Federal nos Estados, pp. 90-91.
672 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 673

constitucionais sensíveis, atribuindo-se-Ihe, ainda que de >~::~~~~~~'~i:de uma relação contenciosa, consistente na eventual
limitada e ad hoc, uma função de controle de C01lStJ!tuc:iollalidacle,1 .;. de deveres constitucionais, que há de ser aferida como
A Consutuição de 1934" e, posteriormente, as Constituições de !1ntec,~dente necessário de qualquer providência interventiva. "Amda
e de 1967/1969 consolidaram afonnajudicial como mUUdllUalle,d YQuanc10 não se estabeleça para mi investigação um procedimento
verificação prévia de ofensa constitucional no caso de C01ltrC)vérsi 'oartic:ul'lf - ensina Kelsen - está prevism a intervenção federal para
sobre a observância dos principios constitucionais da União, ou de ilícito - ela não pode ser entendida coerentemente de outra
prover â execução de lei federal (CF de 1967/1969, art. 10, VI). se aceitamos que, ao menos, quando se confia a decisão sobre
Em verdade, o Procurador-Geral da República representava a intervenção a um determinado órgão, há de se autorizá-lo a apurar,
a Constituição de 1946 - e essa orientação subsistiu nos textos 4~ modo autêntico, a ocorrência do ilícito".14
teriores - os interesses da União nessa relação processual atiner1té'à'. c' A Constituição de 1988 manteve o sistema anterior de controle
observância de determinados deveres federativos. E esta o~~~~~~~~ de legitimidade dos atos estaduais em face dos princípios sensivels
afigura-se tanto mais plausível se se considerar que nas ( ,perante o STF (art. 34, VII, c/c o art. 36, III). Outorgou-se, porém, ao
ções, desde 1891, cumpria ao Procurador-Geral da República STJ a competência para Julgar a representação do Procurador-Geral
sempenbar, a um tempo, as funções de chefe do Ministério Público' da República no caso de recusa à execução da leI federal (CF, art. 34,
Federal e de representante judicial da União. 12 VI, primeira parte, c/c o art. 36, IV). Essa fórmula sofreu alteração
Tem-se, pois, uma relação conflitiva, decorrente de eve:ntti,âi com o advento da Reforma do Judiciário (EC n. 45/2004), que de-
violação de deveres constitucionais, competindo ao órgão especi"I; volveu ao STF a competência para processar e julgar a representação
ou ao próprio órgão encarregado de intervenção, verificar a nos casos de recusa â execução de lei federal (CF, art. 36, III).
figuração do ilícito. 13 Tal colocação demonstra, inequivocamente, A fórmula adotada parece traduzir aquilo que Kelsen houve por
bem denominar "accertamento giudiziale dell'illecito ( ... ) ehe con-
10. "O desrespeito aos princípios constltucÍonaes da União pode ser de fato e de diziona l'esecuzione federale",15 Evidentemente, esse accertamento
direito. De/acto, 'se o Estado embaraça. por atos materiaes. o exercíCIO desses direi- giudizlale - ou o contencioso da inconstitucionalidade, como referido
tos'. De direito, 'se o Estado elabora leis contrarias a essas disposições, negando em
leIs locaes esses direItos affirrnados pela ConstitUIção Federal'" (Herculano Freitas, por Castro Nunes 16 - diz respeito ao próprio conflito de interesses,
"Intervenção federal nos Estados", RT 47n3). potencial ou efetivo, entre União e Estado, no tocante à observâncla
11. A CF de 1934 estabeleceu. no § lll: do art. 12, que "na hipõtese do n. VI de determinados principios federativos. Portanto, o Procurador-Geral
(reorganização dasfinanças dos Estados que, sem motNo deJorça maIOr, suspenderem, da República instaura o contencioso de inconstltucíonalidade não
por maIS de dOIS anos consecutivos. o servIço de sua dívidafundada) assim como para
n
assegurar a observância dos princípios constttucionais (art. 72 • a intervenção sera como parte autônoma, mas como represenmnte judicial da União Fe-
decretada por lei federal. que lhe fixará a amplitude e a duração, prorrogável por nova derai, que "tem interesse na integridade da ordem jurídica, por parte
lei". Acrescentava-se, arnda. que a Câmara dos Deputados poderia eleger o rnterventor dos Estados-membros", 17
ou autorizar o Presidente a nomeá-lo. O § 2.11 do referido art. 12 estabelecia também que,
"ocorrendo o pnrneiro caso do n. V (assegurar a observânCIa dos pnnciplOs constitu-
cionais especificados nas letras "o" a "h" da art. "/fl. I), a mtervenção só se efetuarà 14. Kelsen. "L'esecuzione federale", m La Giustizia Costituzionale. p. 113
depois que a Corte Suprema. mediante provocação do Procurador-Geral da República, (no origmal: "Anche quando non stabilisce per tale accertamento una partlcotare
tomar conhecímento da lei que a tenha decretado e lhe declarar a consntucíonalidade", procedura essa se prevede l'esecuzlOne per iI caso d'iIlecito - non puà evidente-
12. Bandeira de Mello, Teoria das Constituições Rígidas. 2° ed., p. 192. mente essere intesa se non nel senso, quanto meno, che quando aflida la deCISlOne
13. Kelsen, "L'esecuzione federale", in La Giustizla Costituzlonale, p. 113 ("La sull'esecuzIone federale ad un determinato organo. lo autorizza, can ciô stesso. ad
accertare m modo autenttco che ê stato compiuto un illecito").
differenza decísiva tra guerra nel senso dei diritto intemazionale ed esecuzíone fede-
rale non conSIste tanto nelIa loro fattispecie estema. nspetto alIa quale sono uguali, 15. KeIsen, "L'esecuzione federale", inLa Giusttzia Costituzionale, pp. 114 e S5.
ma - coro'e statto già accennato - neI fatto che, prevedendo la Costituzione, ln caso 16. Repr. n. 94-DF. ArqUIVO Judiciario (AJ) 85/33.
d'illeciti compiuti da uno Stato-membro. l'esecUZlone federafe, essa deve prevedere 17. Pontes de Miranda, Comentanos á Constituição de 1967 com a Emenda
l'accertamento della fattlspecie illecíta o da parte di un organo specifico o da parte n. J de 1969, 2' <d., t. II (arts. 8"-31), São Paulo. Ed. RT. 1970, p. 253; cf., lambem,
dell'organo mcaricato di tale esecuzione"). Bandeira de Mello, TeorIa das Constituições Rigidas. 20 ed., pp. 186 e 55.
674 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTNA
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 675

Esta colocação empresta adequado enquadramento dOgrrláti>co.' consulta, antecipando sua opinião quanto à constitucionalidade
à chamada representação interventiva, diferenciando-a do C011tn.le do .art. 2· do Ato das Disposições Transitórias da ConstituIção de
abstrato de nOfilas, propriamente dito, no qual se manifesta o inte,
Pernambuco, o STF houve por bem conhecer do pedido, admitindo
resse público genérico na preservação da ordem jurídica.
a caracterização da controvérsia constitucional, na medida em que
o interventor federal se recusava a transferir a chefia do Executivo
2. Pressupostos de admissibilidade da representação illtervelltivd' ao Presidente da Assembléia Legislativa, tal como previsto na Carta
,,-O" estadual.
COllsiderações preliminares - Caracterizada a questão constic
Nesse sentido, parecem elucidativas as considerações constan-
tueional sobre a observância dos principios sensíveis ou a execução
tes do voto do Min. Orozimbo Nonato: "Não há, insistimos, po caso
de lei federal pelo Estado-membro como uma controvérsia entre
dos autos, s~ples consulta ao Supremo Tribunal Federal, que não é
a União e Estado, não se vislumbram maiores dificuldades em se
órgão consultJvo, senão judicante, mas a exposição de um conflito de
afÍffilar a existência, na representação interventiva, de uma relação
natureza constitucional, elemenlarnlente constitucional, não ocultan-
processual contraditória, instaurada pelo Poder Central com o escopo
do a fOfila, algo dubitativa, das comunicações a ocorrênCIa do tumul-
de assegurar a observância de princípios fundamentais do sistema
to, uma vez que, apesar de promulgada a Constituição, que defere a
federativo (CF de 1967/1969, art. 10, VII e VI, prinleira parte, c/c ó
Chefia do Executivo, no caso, e episodicamente, ao Presidente da As-
art. 11, § I Q, "c").
sembléia, o Interventor persiste em continuar a ocupar aquela Chefia
Embora tenha preservado a sistemática consagrada pela Canse e o Governo Federal declara abster-se de qualquer providência, antes
tituição de 1967/1969 (representação do Procurador-Geral da Re' da deliberação do Judiciário. Tais atitudes apenas encontram expli-
pública, agora dirigida ao STF, se se tratar de ofensa aos princípios cação em se haver por inconstitucional o texto aludido, embora essa
constantes do art. 34, VII; ou ao STJ, no caso de recusa á execução convicção se desvele na fOfila discreta de heSItação e de dúvida. Por
de lei federal- art. 34, VI), o constituinte de 1988 fixou como prin- outro lado, a opinião do eminente Sr. Procurador-Geral da República
cipios basicos, cuja lesão pelo Estado-membro poderá dar ensejo constitui, sem dúvida, dado precioso à solução da controvérsia, por
à mtervenção federal: a) fOfila republicana, sistema representativ<1 seu prestígio pessoal de publicista, por sua autoridade de doutnnador.
e regime democràtico; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia Mas não exclui a postulação da controvérsia, uma vez que ele tomou,
municipal; e d) prestação de contas da Administração Pública, direta fOfilalmente, a iniciativa a que alude o paràgrafo único do art. 8. da
e indireta (art. 34, VII). Constituição Federal, isto é, submeteu ao Supremo Tribunal Federal
A alteração adotada pela versão primeira da Constituição de o exame do ato argüido de inconstitucionalidade". 19
1988 parece resultar de um equivoco produzido pelo literalismo, Como se vê, assumia relevância não a manifestação do Procu-
que levou o constituinte a atribuir ao STJ matéria que envolvesse a rador-Geral da República, por si só, mas a caractenzação da contro-
aplicação de lei federal. versía constílucional, consistente no juízo dos agentes federais _ no
De qualquer sorte, cumpre ressaltar que o STF entendeu, em caso, representados pelo Interventor e pelo Ministro da Justiça _
alguns julgados, que se cuidava de um conflito federativo, tendo quanto à inconstitucionalidade do preceito em discussão.
assentado na Repr. n. 94-DF (ReI. Min. Castro Nunes) que a decisão
proferida punha fim ao contencioso de inconstitucionalidade." Na Legitimação aliva "ad causam" - Embora a doutrina não o
Repr. n. 95 (ReI. Min. Orozinlbo Nonato) esse entendimento foi tenha afIrmado expressamente,20 é certo que, se o titular da ação en-
reafÍffilado de fOfila ainda maís inequívoca. Embora o Procurador·
Geral da República tivesse proposto a representação em fOfila de 19. Repr. n. 95-DF,AJ85/58-59.
20. Única exceção parece ser Victor Nunes Leal. que., em palestra proferida na
18. AJ 85/33. yrr
Conferência NacIOnal da OAB/Curitiba. em 1978. reconheceu expressamente que,
em caso de representação com parecercontráno, o que se tem, na realidade, (... ) ê uma
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA A REPRESENTAÇÃO INTERVENTrVA 677
676

caminhava ao STF um pedido de argüição de inconstitucionalidade União e Estado-membro atinente â observãncia de deveres constitu-
com manifestação em sentido contrário era porque est{I\)a postulan" cionalmente impostos ao ente federado (Lei n. 4.337/64, arts. 1',2' e
do não a decloração de inconstitucionalidade, mas sim a declaração 3"; RISTF, arts, 169 e 170).
de constitucionolidade da norma questionada, Como enfaticamente acentuado, a representação interventiva
A representação interventiva não se confundia com um processo pressupõe a configuração de controvérsia constitucional entre a
de controle abstrato de normas. Ao contrário, cuidava"se propriamenc União, que "tem interesse na integridade da ordem jurídica, por parte
te da judicialização de um conflito entre União e Estado no tocante à dos Estados-membros", e oEstado-membro.
observãncia dos principios sensiveis. O Procurador"Geral da Repu" Identifica-se aqui, pois, nitidamente, o interesse jurídico (Rechts-
blica, nesse processo, não era o substituto processual da sociedade', schutzbedüifnis) da União, como guardiã dos postulados fe'deralÍ-
como pretendeu Buzaid;21 nem atuav~ ne.s~e process~ como cust~s vos, na observância dos princípios constitucionais sensíveis. E mes-
legis:n mas sim como representante judlcml ~e Umao. A au:açao mo a outorga da representação processual ao Procurador-Geral da
do Procurador-Geral da República não dependia de provocaçao de República (CF de 1988, art. 36, III) - acentue-se que, tal como nos
terceiros, como imaginado inicialmente, porquanto a matéria relativa modelos constitucionais de 1946 e de 1967/1969, o Procurador-
à observância dos principios sensiveis dizia respeito exclUSivamente Geral da República atua nesse processo, hOje em careter excepcio-
ao interesse da União na observãncía destes. ' nalíssirno, como representante Judicial da União - não se mostra
Toda eSsa confusão conceitua!. se não teve outra virtude, sere hábil a descaracterizar a representação interventIva como peculiar
viu pelo menos, para aplainar o caminho que haveria de levar à modalidade de composição judicial de conflitos entre a União e a
instituiçãO do controle abstrato de normas no Direito Constitucional unidade federada.
brasileiro. , A propósito, relembre-se que Pontes de Miranda chegou a sus-
Deve-se ressaltar, pois, que na prática distorcida do instituto tentar que, "se foi o Presidente da República que remeteu a espéCie
da representação interventiva está o em~rião da .representação d: ao Procurador-Geral da República, para exame pelo Supremo Tribu-
inconstitucionalidade em tese, da ação dITeta de mconstltuclOnalI- nal Federal, o Supremo Tribunal Federal declara, não desconstitui, e
dade e, natlrralmente, da ação declaratória de constitucíonalidade,23 o Procurador-Geral da República não tem arbítrio para representar
positivada agora no art. 102, I, "a", da CF. ou não".24
A instauração do processo de controle de constitucionalict;td~,
para fins de intervenção, é privativa do procurador-Geral da RepublI- Objeto da controvérsia - A controversía envolve os deveres
ca, como representante judicial da União. Têm legitimidade passiva do Estado-membro quanto à observância dos princípios constitucio-
os órgãos estaduais que editaram o ato questionado. Como assentado, nais sensíveis (CF de 1988, art. 34, VII; CF de 1969, arts, 13, I, e
diversamente do que ocorre no processo de controle abstrato de nor- 10, VII) e à aplicação da lei federal (CF de 1988, art. 34, VI; CF de
mas, que é um processo objetivo (objektives Veifahren), :e,m-se, na 1967/1969, art. !O, VI, primeira parte).
representação interventiva uma relação processual contradl!ona entre Essa violação de deveres consiste, fundamentalmente, na edição
de atos normativos infringentes dos principios federativos previstos
representação de constitucionalidade" (cf. "Representação de inconstitucIOnalidade no art, 34, VII, da CF de 1988.25 "O legislador constituinte usou da
perante o Supremo Tribunal Federal: um aspecto mexplorado", RDP 53-54/25 -p: 33).
palavra ato - lecionava Castro Nunes - na sua acepção mais am-
21. Buzaid. Da Ação Direta de Declaração de InconstitUCiOnalidade no DIreIto
BrasileIro. São Paulo, Saraiva. 1958, p. 107.
22. ThemÍstocles Brandão Cavalcanti. Do Controle da ConstitucIonalidade, 24. Pontes de Miranda. Comentários â Constituição de 1967 com a Emenda n.
Rio de Janeiro Forense, 1966, pp. 115-118, 1 de 1969, 2'ed., t II (arts. 8'-31), São Paulo, Ed. RT, 1970, p. 257.
23. No ~ 12, § 211.. da CF de 1934 formulava-se pretensão de mera declaração 25. Oswaldo Aranha BandeIra de MeIlo. TeOria das Constituições Rígidas, 2.íl
de constitucionalidade da leí federal que decretava a intervenção. ed., São Paulo, José Bushalsky Editor, 1980, p. 189.
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA A REPRESENTAÇÃO INTERVENTfVA 679
678

pia e compreensiva, para abranger no plano legislativo as nn,~". geral, e in abstracto, das regras jurídicas principais, a do art. 10, VI,
de qualquer hierarquia que comprometam algum dos principios é tipicamente referente a casos concretos (... )"29
enumerados" ,26 .; Sem dúvida, a execução de lei federal pode ser obstada pela
Na mesma linha de entendimento, ressalta Pontes de Miranda: promulgação de ato normativo estadual, em desrespeito à competên-
cia legislativa da União. Nesse caso, afirmada, preliminarmente, a
"( ...) a regra jurídica referente à intervenção por infração de princí",
validade da lei federal, há de se proferir a declaração de mconstItu-
pios sensíveis (art. 10, Vil) assegura o respeito do Direito escrito, od
cionalidade do diploma estadual.
não-escrito, da Constituição estadual e das leis estaduais ou muniJ
cípais àqueles principios; o inciso IV diz que se atenda ao reclamo . Todavia, a execução da lei federal envolve, igualmente, a edição
dos Estados-membros, ainda quando, existindo Constituição ou lei de atas administrativos e a criação de pressupostos e condições ne-
perfeitamente acorde com os principios enumerados como sensíveis; cessàrios à realização da vontade do legislador federal. Assim, tanto
a ação quanto a omissão do Poder Público estadual podem exigir que
se não esteja a realizar, como fora de mister, a vida das instituições
se proveja à execução da lei federal, submetendo-se a questão, pre-
estaduais".27 viamente, à Excelsa Corte (CF de 1967/1969, art. 10, VI).3D
Vê-se, pois, que a afronta aos princípios contidos no art. 10;
VII, da CF de 1967/1969 haveria de provir, basicamente, de atos Representação interventiva e atas concretos - Indagação que
normativos dos poderes estaduais, não se afigurando suficiente, em se colocou, sob a vigência da Constituição de 1988, diz respeito à
principio, a alegação da ofensa, em concreto. "A violação, em con- utilização da representação interventiva não apenas para atos norma-
creto, por parte do Estado Federado - ensinava Bandeira de Mello-, tivos que se revelassem afrontosos aos principios, mas também aos
não diz respeito aos princípios constitucíonais propriamente ditos, à atos concretos ou às omIssões atribuíveis a autoridades do Estado-
que devia observar, mas ao exercicio da ação dos poderes federais, membro que se mostrassem incompatíveis com os aludidos postula-
de execução das leis federais (...)".28 dos. Discutia-se, na espécie, representação interventiva proposta pelo
A Constituição de 1967/1969 manteve essa orientação ao Procurador-Geral da República sob o fundamento de lesão aos direi-
condicionar a intervenção, no caso de execução de lei federal, ao tos da pessoa humana que tena sido perpetrada pelo Estado de Mato
provimento, pelo STF, de representação do Procurador-Geral da Grosso. Negava-se que, ao não oferecer proteção adequada a presos,
República (art. 10, VI, primeira parte, c/c o art. 11, § I", "c"). Dai que foram arrancados, por populares exaltados, das mãos de policiais
assentar Pontes de Miranda que, "enquanto a intervenção federal e assassinados em praça pública (linchamento), o Estado teria lesado
os direitos da pessoa humana inscritos no art. 34, VIl, "b", da CF."
para assegurar a observância dos princípios constitucionais inerentes
ii forma republicana, ii independência dos Poderes e outros cânons, O Min. Celso de Mello manifestou-se pelo não conhecimento
consignados na Constituição de 1967, concerne no respeito, amda em da representação interventiva, por entender que "o desrespeIto con-
creto aos direitos da pessoa humana, mesmo que lamentavelmente
26. Repr. n. 94-DF, AJ 85/32.
traduzidos em atos tão despreziveis quão inaceitáveis, como estes,
27. Pontes de Miranda. ComentàrlOs à Constituição de 1967, .. , 2i ed .. t. n. decorrentes do triplice linchamento ocorrido em MatupálMT, não
pp. 219 e 223. tem o condão de justificar a cognoscibilidade desta representação
28. Sobre a Constituição de 1967/1969. v. Oswaldo Aranha Bandeira de Mello,
Teoria das ConstitUlçõeS Rígidas. 2ã ed., p. 189. Em verdade. temOS de reconhecer 29. Pontes de Miranda, Comentarios a COnstituIÇão de 1967 .... 2i1. ed., t II,
que não se mostra imune acritica a afirmação segundo a qual a lesão aos prmciplDs p.223.
sensíveis hã de proVIr. exclusivamente. de atas normativos. Evidentemente, a Cons-
30. A Constituição de 1988 outorgou ao STJ a competência para julgar a re-
titUIÇão do Estado-membro pode não incorporar principios basilares estabelecidos
presentação do Procurndor-Geral da República, no caso de recusa à execução de lei
na ConstItuiÇão Federal. Nesse caso, a lesão decorrerá não do ato normativo pro-
federal (ar!. 36. lV).
priamente dito, mas da omissão do constituinte estadual, que deiXOU de atender às
31. IF n. 114, ReI. Min. Nén da Silveira, DJU27.9.96, RTJ 160/1 (3).
eXIgências expressas da Constituição Federal.
680 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 681

interventiva, cujo objeto - reitero - só pode ser ato estatal, de Destarte, restou assentado - com boas razões - na jurisprudên-
normativo, apto a ofender, de modo efetivo ou potencial, '1u'"qulel do STF. que não sà os atos normativos estaduais, mas também
dos principios sensiveis elencados no inciso VII do art. 34 administralivos, atos concretos ou até omissões poderiam dar
tuição Federal".32 Posição idêntica foi sustentada pelo Min. lVl()rellr. à representação intervenliva no contexto da Constituição de
Alves.33
Por maioria de votos, o Tribunal entendeu de conhecer da
Os argumentos em favor da cognoscibilidade da ação foram Representação interventiva e recusa à execução de lei federal
didos no voto do Min. Pertence, ao observar que, a despeito de .;!No caso de recusa à execução de lei federal- talvez seja mais indi-
ignorar a própria disposição do texto constitucional, que cogita cado falar-se em recusa à execução do Direito federal - atriflUiu-se,
suspensão do ato impugnado por decreto do Poder Executivo inicialmente, ao STJ a competência para Julgar a representação (CF,
art. 36, § 3"), não poderia ignorar a parte final do dispositivo, art. 34, VI, primeira parte, ele o art. 37, vn.
cebida de forma condicional ("... o decreto limitar-se-á a suspelld~r Cuida-se de equivoco cometido a partir da análise errônea de
a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabe~ que a aplicação da lei federal envolveria, naturalmente, a competên-
lecimento da normalidade"). Acrescentou, ainda, Pertence que,
da do STJ. Na Reforma do Judiciário aprovada em dezembro/2004
contrário dos textos de 1934 - "A intervenção só se efetivará depois
(EC n. 45/2004) essa confusão foi superada, passando-se ao STF
de o Supremo Tribunal Federal declarar a constitucionalidade da lej .
que a decretar" - e de 1946 - "(... ) depois que o Supremo Tribun~! também a competência para processar e julgar a representação no
Federal, mediante representação do Procurador-Geral da República; caso de recusa à execução da lei federal por parte do Estado-membro
julgar inconstitucional o ato impugnado" -. nos textos consti~; :'- (CF - com a redação da EC n. 45/2004 -, art. 36, III).
cionais seguintes afirma-se, tão-somente, que, em tais hipóteses;~ Portanto, O STF assume, de direito, a competência para pro-
intervenção dependerá de provimento pelo STF de representação dê cessar e Julgar a representação intervenliva não apenas nos casos de
Procurador-Geral da República, "se for o caso, representação funda- violação dos principios sensiveis, mas também naqueles vinculados
da na violação dos princípios constitucionais sensíveis, violação quê à recusa de aplicação da lei federal.
( ... ) tanto pode dar-se por atos formais, normativos ou não, quanto
por ação material, ou omissão de autoridade estadual" 34 Em geral, identifica-se nesses casos negativa de vigência do Di-
reito federal por parte da autoridade local, com base na afirmação de
Dai ter concluído Pertence: "(...) já não há agora o obstáculo,
que há conflito entre o Direito federal e o Direito estadual, devendo-
que a literalidade das Constituições de 1934 e de 1946 represen-
tavam para que a representação interventiva, que, no passado, era se reconhecer a legitimidade deste.
exclusivamente uma representação por inconstitucionalidade de atos Pode ocorrer, Igualmente, que a autoridade estadual se recuse a
sirva, hoje, à verificação de situações de fato. E claro que isso im- dar cumprimento à lei federal independentemente da invocação de
porá adequações, se for o caso, do procedimento desta representação legitimidade do Direito local.
à necessidade da verificação, não da constitucionalidade de um ato
Em todas essas hipóteses caberá a representação interventiva
formal, mas da existência de uma grave situação de fato atentatória
perante o STF.
à efetividade dos princípios constitucionais, particularmente, aos
direitos humanos fundamentais".35
36. Em trabalho desenvolvido em 1987 para o Mestrado em DireIto da Univer-
sidade de Brasília, posteriormente publicado sob o título Controle de Constitucio-
32. IF n. 114. ReI. Min. Néri da Silveira,DJU27.9.96, RTJl60/1 (3). nalidade - Aspectos Jurídicos e Politicas (São Paulo. Saraiva, 1990), sustenteI que
33. Idem, ibidem. a representação mterventlva seria voltada. fundamentalmente, para o ato normatIVo
34. IF n. 114, ReI. Min. Néri da Silveira, DJU27.9.96. RTJl60/1 (3). estadual. Parece-me, porém. que essa orientação. fortemente calcada na JUflS\?rudên-
35. Idem. ibidem. ela do STF, desenvolvida sob a Constituição de 1946, já não mais se sustenta.
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 683
682 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA

disposições constitucionais, ao controle judicial a cargo do


3. Parâmetro de controle
Supremo Tribunal Federal. Quero dizer com estas palavras que a
Nos termos da Constituição de 1988, são os seguintes os lerIuoleraçêio é limitativa como enumeração. ( ... ). A enumeração é
pios sensíveis cuja violação pode dar e.nsejo à propositura da ',"" ••tliva. é liroitativa, é restrítlva, e não pode ser ampliada a outros
sentação interventiva: a) forma repubhcana, sIstema re!lre"en.tativ(j' casos pelo Supremo Tribunal. Mas cada um desses principIaS é dado
e regime democrático; b) direitos da pessoa hum~a; ~) a.utonoIniã doutrinário que tem de ser examinado no seu conteúdo e delimitado
municipal; d) prestação de contas da AdmmIstraça~ PublIca, "'> na sua extensão. Dai decorre que a interpretação é restritiva apenas
e indireta; e) aplicação do mínimo exigido da receIta resultante no sentido de linutada aos principias enumerados; não o exame de
iropostos estaduais, compreendida a proveniente de u.ransfe,rêlIcülS, cada um, que não está nem poderá estar liroitado, comportando ne-
na manutenção e desenvolviroento do ensmo e nas açoes e ,ervic~, cessariamente a exploração do conteMo e fixação das características
públicos de saúde (art. 34, VII). pelas quais se defina cada qual deles, nisso conSIstindo a delimitação
Tem.se, como se pode constatar, uma alteração substan,:ial!" do que possa ser consentido ou proibido aos Estados" 37
pelo menos quanto ao aspecto nominal, em relação ao elenco de Assiro, o elenco do art. 34, Vil, da CF é fixado de forma taxati-
principias constante da Constituição Federal de 1967/1969 (art. 10, va, ou em numerus clausus, mas a sua leitura comporta abertura de
VII): a) forma republicana representativa; b) temporanedade dos entendiroento.
mandatos eletivos, cuja duração não excedera a dos mandatos fede- Na Repr. n. 95 o tema voltou a ser apreciado. Registre-se, uma
rais correspondentes; c) independência e harmonia entre os Poderes; vez mais, o magistério de Castro Nunes:
d) garantias do Poder judiciário; e) au~o~0.:nia municipal; f) prestação "Devo dizer ao Tribunal que considero a atribuição hOJe confe-
de contas da Administração; e g) prOlbIçao ao deputado estadual da rida ao Supremo Tribunal excepcionalíssiroa, só quando for possível
prática de ato ou do exercicio de cargo, função ou ~mprego mencio- entroncar o caso trazido ao nosso conhecimento a algum dos princí-
nados noS incisos I e il do art. 34, salvo o de secretimo de Estado. pios enumerados no art. 72 , n. 7, será possivel conhecer da argüição.
O caráter aberto dos chamados principias sensíveis exige um Não basta ser levantada uma dúvida constitucional, não basta que
significativo esforço hermenêutlco. Quando se terá como caracteri- exista uma controvérsia constltucional. Se não for possível entronca-
zada uma lesão ao principio da forma republicana? Em que caso se la com um dos principios enumerados, penso que o Tribunal deverá
pode afumar que a unidade federada feriu o principio representatIvo abster-se de qualquer deliberação. Nesse sentido, aliás, foi o voto do
ou o regime democrático? Essas indagações somente pod~m ser eminente Sr. Min. Hainlemarm Guimarães, que salientou também
respondidas, ad~quadament~, no ~~ntexto d~ det~~mado s~stema esse aspecto, iguainlente ressaltado pelo eminente Sr. Min. Relator,
constitucional. E o exame sIstematIco das dISposIçoes constItucIO- em seu voto.
nais integrantes do modelo constitucional que permitira explicitar o ''No caso de dúvida, ou quando duvidosa ou remota aquela
conteudo de determinado principio. articulação, o Tribunal não deverá conhecer da representação, que
Ao se deparar com alegação de afronta ao principio da divisã? se poderia transformar em expediente de rotina ou meio de consulta
de Poderes de Constituição estadual em face dos chamados prmcI- do Governo em todos os casos em que lhe conviesse provocar uma
pios sensíveis (representação interventiva), assentou Castro Nunes manifestação do Supremo Tribunal, Aliás o caráter excepcional da
lição qne conbinua prenhe de atualidade: "(... ). Os casos de mt:rven- atribuição decorre da sanção mesma, que é a intervenção."38
ção prefigurados nessa enumeração se enunCIam por declaraçoes de Sobre o significado da forma republicana, anota Magnus Ca-
princípios, comportando o que possa comportar ~ada um dess,:s FrIO - valcante de Albuquerque, em dissertação de Mestrado apresentada li
cípios como dados doutrinários, que são conheCIdos na expoSIçao do
Direito Público. E por isso mesmo ficou reservado o seu exame, do 37. Repr. n. 94, ReI. Min. Castro Nunes, AJ8513I (34-35), 1947.
ponto de vista do conteudo e da extensão e da sua correlação com 38. ReI. Min. Orozimbo Nonato, AJ 85nO.
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 685
684

UnE sobre o tema: "Da idéia de República, pela qu:ase-urtanimida(le que os mandatos não mais são temporários, nem envolve, indire-
doutrinal, infere-se a noção de temporariedade e eletividade da ,taJlllellte, sua adoção de fato, como sustentam os impetrantes, sob a
fia de Estado, o que a singulariza em relação a outras espécies all~gaÇao de que, a admitir-se qualquer prorrogação, infima que fosse,
orgmização governamental. Sampaio Dória, porém, acena ,e,,!aI'-Se-l'a a admitir prorrogação por 20, 30 ou mais anos. Julga-se á
seis outros principios por ele considerados corolários do 'A'.'_," vista do fato concreto, e não de suposição, que, se vier a concretizar-
republicmo: a inelegibilidade continuada do chefe do Ex'ecutiv(,,:... , ~e, merecera, então, Julgamento para aferir-se da existência, ou não,
alheamento do Presidente na escolha do seu sucessor, a respollsalbi:' de fraude á proibição constitucional"43
!idade dos funcionários, a representação das minorias, a seleção d() Alerte-se que o conceito de "República" envolve também a não-
eleitorado e a liberdade política",39 patrimonialização do Poder e sua não-colocação a serviço de'grupos
É ainda Magnus Albuquerque quem recorda ter o STF afinnadó ou pessoas."
que a dualidade de governos em uma unidade federada confignra grave Qumto ao sistema representativo e democrático, o texto consti-
perturbação da ordem republicma.40 Convém registrar a seguinte '' tucional prevê que "a soberania popular sem exercida pelo sufrágio
sagem do acórdão proferido no HC n. 6.008, de 1920: "A dé universal e pelo voto direto e secreto, como valor Igual para todos, e,
governos em um Estado da Federação importa grave perturbação da nos termos da lei, medimte: I - plebiscito; II - referendo; III - ini-
fOrnla republicana federativa, o que autoriza a intervenção do Governo ciativa popular" (CF, art. 14). As normas sobre elegibilidade e inele-
Federal paJra assegura-Ia. O preceito constitucional que rege a interven- gibilidade estão fixadas na Constituição, podendo lei complementar
ção federal qumdo se referiu à 'forma republicma federativa' não pôs a federal estabelecer outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua
vista exclusivamente no Governo Nacional; preocupou-se, ao contnirio, cessação (CF, art. 14, § 92).
e principalmente, com a organização governamental dos Estados"'" Convem observar que, tendo em vista as claras prescnções
No MS n. 20.257 42 o STF entendeu que a prorrogação de moo- constitucionais federais sobre os direitos políticos (art. 14), o mi.-
dato de prefeitos, para fazê-los coincidir com os mmdatos estaduai~ mero de deputados, o sistema eleitoral, eleição de governador e de
e federais, não configurava afronta ao principio republicano, uma vice-governador, inviolabilidade e imunidade, remuneração, perda
vez que não se cuidava de um projeto que traduzisse continuidade de mandato, licenças e impedimentos (arts. 27 e 28), dificilmente o
ou pemlmência dos mmdatos, mas simples prorrogação por razões Estado-membro tem condições de atentar contra o regime democrálI-
técnico-políticas (coincidência das eleições nos planos federal, esta· co representativo fOmlal mediante ato nOmlativo sem que incorra em
duais e municipais). flagrmte inconstitucionalidade. De mais a mais, a própria legislação
A propósito da emenda constitucional que prorrogava o mandato
eleItoral e de competência pnvativa da União (art. 22, n.
de prefeitos e vereadores pelo prazo de dois mos, ressaltou o Min. Assim, é possível que eventual lesão ao regime representativo e
Moreira Alves: "A Emenda Constitucional, em causa, não viola, democrático, se vier a se verificar, derive de atos concretos.
evidentemente, a República, que pressupõe a temporariedade dos Questão interessmte envolve saber se no conceIto de regIme
mmdatos eletivos. De feito, prorrogar mmdato de dois para quatro democrático (CF, art. 34, VII, "a") estariam presentes os princípios
mos, tendo em vista a conveniência da coincidência de mmdatos relativos â independência e harmonia entre os Poderes e ás garantias
nos vários níveis da Federação, não implica introdução do princípio do Poder Judiciário, constantes dos textos constituCIonais anteriores.
Desde logo pode-se afimlar que o regime democrático de que
39. Magnus Albuquerque. Aspectos do Instituto da Intervenção Federal no
cuida o art. 34, VII, in fine, somente poderá ser o regime do Estado
Brasil. Dissertação de Mestrado, Brasília, UnB. 1985, p. 135.
40. Idem. ibidem.
41. Cf. transcrição in Magnus Albuquerque, Aspectos do Instituto da Interven~ 43. MS 20.257, ReI. Min. More.raAlves. RTJ99/1.031.
ção FederaJ~ cit., p. 135. 44. CE Josê Afonso da Silva, Curso 'de Direito ConstitUCiOnal PositIVO. 3Qi1 ed.,
42. ReI. Min. Moreira Alves, DJU27 .2.81, RTJ99(3)/I.040. São Paulo. Malbeiros Editores, 2008, pp. 103-104.
686 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA
A REPRESENTAÇÃO lNTERVENT1VA
687
Democrático de Direito, tal como enunciado no ar!. I" da CF. Nesse
e â intensidade da lesão, tendo em vista a necessária compatibilização
contexto, afigura-se igualmente inequivo~o que ~ inde~e~dência e
do processo interventivo - marcadamente excepcional- com a auto-
harmonia entre os Poderes são inseparáveis da propna Ideia de Es' nomia do ente federadO. 48
tado de Direito Democrático. Nesse sentido, anota Canotllho que o
princípio do Estado de Direito é informado por duas idéias orden.a~o­ Dai por que o Tribunal, na IF n. 114-MT, embora tenha consi-
ras: "(1) idéia de ordenação subjectiva, garantm.doum status jundl~o derado deploniveis os fatos (linchamento de presos arnmcados das
aos individuas essencialmente ancorado nos drreltos fundamentais; mãos da Polícia)," houve por bem julgar improcedente a represen-
(2) idéia de ordenação objectiva, assente no princípio estruturante da tação interventiva formulada pelo Procurador-Geral da República.
divisão de Poderes".4s Embora o STF tenha considerado admissivel a representação
Da mesma forma, o próprio conceito de Estado de Direito interventiva contra ato concreto ou omissão administrativa do Estado-
Democrático pressupõe, como demonstrado, o resp~ito aos direitos membro, cuidou de estabelecer que tal ação judicial não há de ser
fundamentais e â independência dos Poderes, assummdo a mdepen, aceita para questionar fatos isolados, episódicos, que não sejam aptos
dêncla do Poder Judiciário papel central no funcionamento desse a indicar uma sistemática violação dos direitos da pessoa humana.
sistema. Em verdade, como anota Martin Kriele, um catálogo de di- Enfatizou-se que orientação contrária poderia afetar gravemente o
reitos fundamentais é perfeitamente compativel com o Absolunsmo, próprio principio federativo. Nesse sentido, observou Sepúlveda Per-
com a Ditadura e com o Totalitarismo. A Inglaterra g~nu. Poré~ tence ser necessário que "haja uma síl!Jação de fato de insegurança
os direitos humanos sem necessidade de uma Consntulçao escnta. global de direitos bumanos, desde que imputável não apenas a atos jU-
É que a independência judicial- c?nclui .ele - é mais imp0:ta~~ que rídicos estatais, mas á ação material ou â omissão por conivêncía, por
o catálogo de direitos fundamentais conndos na ConstltUlçao. negligência ou por impotência dos poderes estaduais responsáveís"50
Parece inquestionável que também e~tre nós as garanti,;, do Na oportunidade anotou Pertence que, se se cuidasse de fato
Poder Judiciário integram o próprio conceito de Estado de Drr~!Io isolado, apto a comprometer gravemente a ordem pública no Estado,
Democrático e, para os fins de intervenção, o conceito de regrme estar-se-ia em face de outra hipótese de intervenção federal, não
democrático. dependente da representação do Procurador-Geral, mas da iniciativa
privativa do Presidente da RepúblicaS! (CF, art. 34, III).
No texto de 1988 a inclusão dos "direitos da pessoa humana" no
elenco dos principios sensíveis amplia a perplerida~e ou :: in~egu­ Na linha da tradição brasileira (CF de 1946, ar!. 7", VIl , "e";
rança, na medida em que se exige do Tribunal a Identlfi~açao na? do CF de 1967/1969, art. 10, VIl, "e"), manteve-se a autonomia mu-
, i, conteúdo de um dado princípio, mas de todos os paSSiveiS conteudos mcipal como princípio sensível (CF, art. 34, VII, "c"). Observe-se
dos princípios relacionados com os direitos da pessoa humana. que o texto constitucional de 1988 conferiu ênfase ao Município no
Ainda que se busque fundamento na própria ordem constitucio- sistema constitucional federativo, referindo-se a ele até mesmo como
integrante do sistema federativo (art. I").
nal para explicitar o conteúdo desse princípio ser:s,~el, e certo que
não se poderá fazer abstração do pnnclplO da dlgmda~e humana, Reconheceu-se ao Municipio competência para legislar sobre
previsto no art. 1", III, e dos postulados constantes do ca:alogo de di- assuntos de interesse local, suplementar a legislação federal e es-
reitos e garantias individuais (CF, art. 5" e §§ I" e 2"). EVIdentemente,
o Tribunal terá que desenvolver critério relativo ao significado amplo 48. Cf.• sobre o tema., decÍsão proferida na IF n. 114-MT, ReI. Min. Néri da
Silveíra, DJU27.9.96.
49. Cf. considerações acima desenvolvidas sobre o objeto da representação
45. Cf. J.l. Gomes Canotilho. Direito ConstituCIonal, 5il ed., Coimbra, 1992. interventiva.
46. Cf. Martin Knele. lntroducción a ia Teorfa dei Estado. Buenos Aires, 1980,
p.160. 50.1F n. 114, ReI. Min. Néri da SilvelJ1l, DJU27.9.96; ef. voto do Min. Sepúl-
veda Pertence, RTJ 160/1 (3).
47. Idem, ibidem, pp. 159-160. 51. Idem, ibidem.
688 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 689

tadual no que couber, instituir e arrecadar os tributos de Sua


tóS e outros recursos. na forma prevista em lei complementar (CF,
petência (taxas, imposto predial e territorial urbano, transrnissãb art 198, §§ 2· e 32 ). Enquanto não for editada a lei complementar de
Inter vivos, por ato oneroso, de bens imóveis. serviços de qualquer que trata o art. 198. § 22 • da CF aplicam-se as regras constantes do
natureza) (art. 30 e 156), e previu-se a aprovação de uma lei orgânica art 77 do ADCT.52
municipal. com a observância dos principios estabelecidos na COm;,
títuição (eleição de prefeito. vice-prefeito e vereadores. número de
4. Procedimento
vereadores. sistema remuneratório dos agentes políticos. iniciativ~
popular. inviolabilidade dos vereadores por suas opiniões, palavras~ , Consider~ções gerais - Os limites constitucionais da represen-
votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município. li, tação mterventtva mereceram a precisa reflexão de Castro Nunes.
mites de gastos do Poder Legislativo Municipal. sistema de prestaçã(l Na Repr. n. 94 enfatizou-se o caráter excepcional d~sse ins-
de contas e de controle externo (arts. 28 e 29). Em reforço á autono- trumento: "Outro aspecto. e condizente com a atitude mental do
mia municipal. estabelece a Constituição um sistema de transferênci~ intérprete. em se tratando de intervenção - ensinava - é o relativo
de recursos do Estado-membro e da União para os Municipios (arts. ao caráter excepcional dessa medida, pressuposta neste regimen a
158. IV, e 159, I. "a"). . autonomia constituinte, legislativa e administrativa dos Estados-
Esses contornos institucionais permitem fornecer alguma den- membros, e, portaoto. a preservação dessa autonomia ante o risco de
sidade para o parâmetro de controle da autonomia muniCIpal. Atos ser elidida pelos Poderes da União. Castro Nunes aduzia que a enu-
normativos ou administrativos ou até mesmo atos concretos que meração contida no art. 7·, VII, da Constituição de 1946 'e taxativa
violem essa garantia poderão ser atacados em sede de representação é limitativa. é restritiva e não pode ser ampliada a outros casos pel~
interventiva. Supremo Tribunal Federal"'.53
A Constituição de 1988 consagra ainda, como principio sensl~ ALei n. 2.271. de 22.7.54. determinou que se aplicasse â argüi-
velo a prestação de contas da Administração Pública, direta e indireta ção de inconstitucionalidade o processo do mandado de segurança
(CF, art. 34. VI, "d"). Trata-se da especificação do princípio republi- (art. 4<». A primeira fase continuou a ser processada. porem, na
cano, que impõe ao administrador o dever de prestar contas relativas Procuradoria-Geral da República, tal COmo no periodo anterior ao
á res publica. advento da disciplina legal (art. 22 ). "Era o Procurador-Geral- diz
Tbemistocles Cavalcanti - quem recebia a representação da parte e.
Finalmente. o texto constitucional prevê. enquanto principio de
no prazo de 45 dias improrrogáveis, contados da comunicação da res-
observância obrigatória por parte do Estado-membro. sob pena de
pectiva assinatura, ouvia, sobre as razões da Impugnação do ato, os
intervenção, a "aplicação do minimo exigido da receita resultante de
órgãos que o tivessem elaborado ou prattcado",54 A Lei n. 4.337/64
impostos estaduais. compreendida a proveniente de transferências. modificou o procedimento então adotado. determinando que. após a
na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços argüição. o relator ouvisse sobre as razões de impugnação do ato, no
públicos de saúde" (CF, art. 34, VII. "e"). prazo de 30 dias, os órgãos que o tivessem elaborado ou expedido.
O arl 212 da CF estabelece que a União aplicam. anualmente.
nunca menos de 18%. e os Estados, o Distrito Federal e os MUniCl- 52 O art. 77 do ADCT, incluído pela EC n. 2912000. prevê a quantidade de
pios 25%, "no mínimo. da receita resultante de impostos. compre- recursos mínimos a serem aplicados nas ações e serviços públicos de saude. TaiS
valores tenam aplicabilidade atê o exercicio financeiro de 2004. O § 42 do mesmo
endida a proveniente de transferências. na manutenção e desenvol- art. 77 do ADCT reportou-se á ausência da leí complementar prevista no § 3.2 do art.
vimento do ensino". No caso das ações e serviços de saúde prevê a 198 da CF. determmando a aplicação do captll do art. 77 atê que Se edite a lei com-
Constituição que a União, os Estados. o Distrito Federal e os Municí- plementar referida.
pios aplicarão. anualmente. recursos minimos derivados da aplicação 53. Repr. n. 94, ReI. Min. Castro Nunes,). 17.7.47, AJ85/31.
de percentuais calculados sobre o produto de arrecadação de impos- 54. Themistocles Cavaicanti, Do Controle da ConstltuclOnalidade. Rio de
Janeiro, Forense, 1966, p. 127.
690 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA
691
Admitia-se, contudo, o julgamento imediato do feito em caso de
urgência e relevante interesse de ordem pública, dando-se ciência da ~~ev::nte interesse de or~em pública, poderia requerer, com prévia
supressão do prazo às partes. ClenCla das P~es, a rrnedIata convocação do Tribunal, e este, sentin-
do-se esclareCido, podena suprimir os prazos do arl 3' e proferir seu
Cuidava-se na Lei n. 2.271/54 de rito processual curioso: o
pronunciamento, com as cautelas do art. 200 da CF (voto da maiona
Procurador-Geral da República poderia submeter a representação ao absoluta dos membros do Tribunal) (art. 5.).
exame do STF toda vez que tivesse conbecimento de iofração ao art
72 , VII, da CF. Se se cuidasse, porém, de representação de "parte in- e) E:am admi~síveis embargos (infringentes) caso houvesse pelo
menos tres votos divergentes (art. 60).
teressada", deveria o Procurador-Gemi submetê-Ia ao conbecimento
do STF no prazo de 90 dias (art. I', parágrnfo único). Nesse caso; f) Se a decIsão. final fosse pela inconstitucionalidade, o Presi-
competia ao Procurador-Gemi pedir informações aos órgãos respon- dente do STF rrned~atamente a comunicaria aos órgãos estaduais
sáveis pela sua elaboração ou expedição, no prazo improrrogável de mteressados, e, publtcado que fosse o acórdão, levá-lo-ia ao conbe-
45 dias. ciment~ do Congresso Nacional para os [ms dos arts. 8., parágrnfo
unlCO ( 'No .caso do n. VII, o ato argüido de inconstitucionalidade
Submetido o processo à apreciação do STF, aplicava-se o ritei
sem submetIdo pelo Procurador-Gemi ao exame do Supremo Tribu-
procedimental do mandado de segurança, sendo admissíveis embar~
nal Federal, e, se este a declarar, será decretada intervenção") e 13
da C;: de 1946 (''Nos casos do art. 7°, n. VII, observado o dispo~to no
gos (infringentes) de decisão não unânime. .
art 8-, Pa:agrnfo uruco, o Congresso Nacional se limitará a suspender
Procedimento da representação interventiva segundo a Lei ti
a execuçao do ato argüido de inconstitucionalidade se essa medida
4.337/64 e o Regimento Interno do STF - A Lei n. 4.337/64 alterou
bastar para o restabelecimento da normalidade no Estado").
substancialmente o procedimento da representação interventiva, que
pode ser assim resumido: g) Caso não se revelassem suficientes as providências determi-
2
nadas no art. 7 , e sem prejuizo da iniciativa que pudesse competir ao
a) No caso de representação por parte de interessado, disporia o Poder LegIslattvo: o Procurador-Gemi da República poderia solicitar
Procurador-Geral da República do prazo de 30 dias pam apresentar fosse decretada a mtervenção fedeml )10S termos do art. 8., pará fo
o pedido ao STF (art. 2°). . umco, da CE grn
b) O relator designado deveria ouvir os órgãos responsáveis pela
elabomção ou expedição do ato no prazo de 30 dias. A fase das infor-
t?
Regimento Interno do STF (RISTF), que passou a disciplinar
a matenapor. forçado disposto no art. 119, § 30, da CF de 1967/1969,
mações passava a se realizar no âmbito do próprio TribunaL Findo o fixou proce?rrnento OOICO para a representação interventiva e para a
prazo para informações, disporia de prazo idêntico para apresentar o representaçao de mconstItuclOnalidade ln abstracto (arts. 169-175).
relatório (art. 3°).
. Com a edição da Lei 9.868/99 as disposições regimentais re-
c) Apresentado o relatório, cujas cópias seriam remetidas a todos fendas passaram a ser aplicáveis exclusivamente ao processo da
os Ministros, competia ao Presidente designar o dia do julgamento representação interventiva.
pelo Tribunal Pleno, dando ciência aos interessados. Na sessão de
_ A ação, há de serpr,?posta pelo Procurador-Geral da República,
julgamento, [mdo o relatório, podiam usar da palavra, na forma do
n~o se admltmdo deslstencia, ainda que a final o requerente se ma-
Regimento Interno do Tribunal, o Procurador-Gemi da República, mfeste pela sua improcedência55 (RISTF, art 169, § 10). Compete
sustentando a argüíção, e o Procurador dos órgãos estaduais interes- ao Relator deSignado solicitar informações â autoridade da qual
sados, defendendo a constitucionalidade do ato impugnado (arl 4" e tIver emanado o ato, que deverão ser prestadas no prazo de 30 dias,
parágrafo único).
contados do recebunento do pedido (RISTF, art 169, § 2.). O relator
d) Se, ao receber os autos, ou no curso do processo, o Ministro
o

Relator entendesse que a decisão da espécie em urgente, em face de . 55. Essa prâtica - de encamIDhamento do pedido e emissão de parecer em sen-
tido Contrario - desenvolveu-se amda no íniCIO da VIgência da ConstituIção de 1946.
692 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 693

poderá dispensar a apresentação de informações. ad referendum do Entendeu-se, então, não ser admissivel a cautelar em sede de
Plenário. Caso haja pedido de liminar. o relator deverá submetê-la à representação interventiva, dadas as singularidades do processo polí-
apreciação do Plenário. e somente após a decisão haverá de solicitar tico em que se encontrava inserida aquela ação.
informações (RlSTF. art. 169, § I"). A Lei n. 2.271/54 fixou, no art. 4", a seguinte regra: "Aplica-
Se o relator. ao receber os autos ou no curso do processo. enten- se ao Supremo Tribunal Federal o rito do processo do mandado de
der que a decisão é urgente, em face de relevante interesse de ordem segurança, de cuja decisão caberão embargos caso não haja unani-
pública, poder';' com prévio conhecimento das partes, submetê-lo ao midade".
conhecimento do Tribunal, que poderá julgá-lo com os elementos de Essa disposição permitiu que o STF, ainda que com alguma
que dispuser (RlSTF, art. 170, § 3"). resistência, passasse a deferir o pedido de liminar, suspendendo a
Recebidas as informações. deve ser aberta vista ao Procurador_ eficácia do ato normativo impugnado, em consonância com a onen-
Geral da República, pelo prazo de 15 dias, para emitir parecer (RlSTF; tação consagrada na Lei do Mandado de Segurança. 57
art 171). Decorrido o prazo do art. 171 do RlSTF ou dispensadas as A Lei n. 4.337/64 não previu expressamente a concessão de
informações em razão da urgência, será lançado o relatório. do qual cautelar, estabelecendo, no art. 5', que, "se. ao receber os autos, ou
a Secretaria remeterá cópia a todos Ministros, e solicitado dia para no curso do Processo, o Ministro Relator entender que a decisão da
julgamento (RlSTF, art. 172). espécie e urgente em face de relevante interesse de ordem pública,
poderá requerer, com prévia ciência das partes, a imediata convoca-
Cautelar na representação interventiva - O STF viu-se con- ção do Tribunal, e este, sentindo-se esclarecido, poderá suprimir os
frontado com pedido de suspensão provisória de ato normativo no prazos do art. 3" desta Lei [30 dias para informações e 30 dias para
julgamento da Repr. n. 94, de 17.7.47, atinente às disposições par- apresentação de relatório] e proferir seu pronunciamento, com as
lamentaristas constantes da Constituição do Estado do Rio Grande cautelas do art. 200 da Constituição Federal" [maioria absoluta].
do SuL A Lei n. 5.778/72, que disciplina a representaçao interventiva no
Naquela oportunidade, deixou assente o Relator, Min. Castro âmbito munlcipal (CF de 196711969, art. 15, § 3", "d"), estabelece
Nunes, verbis: "Devo informar ao Tribunal que o Exmo. Sr. Procu- que poderá o relator, a requerimento do chefe do Ministério Público
rador encaminhou-me ( ...) o pedido formulado pelo Governador do estadual, mediante despacho fundamentado, suspender liminarmente
Estado para que fosse suspensa provisoriamente a Constituição, até o o ato impugnado.
pronunciamento provocado. Mandei juntar aos autos a petição, sem
despachar. O pedido de suspensão provisória não poderia ser deferi- Procedimento da representação interventiva - Necessidade de
, \, do por analogia com o que se prescreve no processamento do man- nova lei - A clara separação entre a ação direta de mconstituci~na­
dado de segurança. A atribuição ora conferida ao Supremo Tribunal e lidade, agora, sob a Constituição de 1988, submetida a um regrme
sui generis, não tem por objeto ato governamental ou administrativo, de iniciativa múltipla (inclusive do Procurador-Geral da República),
senão ato constituinte ou legislativo; não está regulada em lei, que, e a representação interventiva, que continua a ser de iniciativa do
aliás, não poderia dispor para estabelecer uma tramitação que en- Procurador-Geral da República, está a exigir uma revisão completa
torpecesse a solução, de seu natural expedita, da crise institucional do rito processual desta ação peculiar inserida no contexto complexo
prefigurada. Acresce por sobre tudo isso que o poder de suspender o da intervenção federal.
ato argüido de inconstitucional pertence ao Congresso, nos termos É certo, ademals. que a nítida separação entre o controle abstrato
expressos do art. 13, como sanção articulada com a declaração da de normas e a representação interventiva - fruto do desenvolvimento
inconstitucionalidade",56
57. Repr. n. 466, ReI. Min. Ari Franco. RTJ 23/1 (8); Repr. n. 467, ReI. Min.
56. Repr, n. 96, ReL Min. Castro Nnnes, AJ 85/3 I (32), VíctorNunes,RTJ 19/5.
694 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 695

dos estudos sobre controle de constitucionalidade - reclama também . "§ II:!. Em caso de extrema urgêncI3 ou pengo de lesão grave, ou. amda, em
uma revisão da disciplina processual do tema. . penodo de recesso, poderá o reiator conceder a limmar, ad referendum do Plenáno.
"§ 2Jl. O relator poderâ ouvír os órgãos ou autoridades responsâvels pejo ato
Parece imperiosa a necessidade de promulgação de lei especiai questionado. bem como o Advogado-Geral da União ou o Procurador-Geral da Re-
que confira adequada conformação ao instituto, com as devidas' . pública, no prazo comum de 5 (CinCO) dias.
adaptações do instituto aos novos tempos e sem as deformações e "§ 311 , A liminar poderá consistir na determinação de que se suspenda o an-
deturpações do passado. damento de processo ou os efeitos de decisões judicIais ou administratIvas. ou de
qualquer outra medida que apresente relação com a materia objeto da representação
Na nova disciplina processual há de se reconhecer que o Procu~ interventiva.
radar-Geral da República atua, na representação interventiva, como "Art. 62. Apreciado o pedido de liminar. o relator solicItara as informações âs
representante judicial da União, o que justifica que se confira realce autoridades responsavels pela prática do ato questIOnado. que as prestaracr no prazo
tambem ii manifestação desta, por parte do Advogado-Geral e de ou- de 10 (dez) dias.
tros representantes do Poder Público federal. Este processo, que re- "Parágrafo unico. Decorrido o prazo para prestação das informações, serâ ou-
vido o Procurador-Geral da República, no prazo de 10 (dez) dias.
sulta de um conflito federativo, é tipicamente subjetivo, relacionado "Art. 7r!. Se entender necessário, podem o relator reqUISItar mformações adicIO-
aos direitos e deveres da União e dos Estados-membros - e, por isso, nais. designar pento ou comIssão de peritos para que elabore laudo sobre a questão,
há de assumir perfil inequivocamente contraditório, assegurando-se ou, amda, fixar data para declarações, em audiênCia pública, de pessoas com expe-
as partes plena igualdade de oportunidade de demonstrar a correção riência e autoridade na maténa.
dos entendimentos perfilhados.58 "Parãgrafo único. Poderâ ser autonzada, a cnteno do relator, a manifestação e
a juntada de documentos por parte de interessados no processo.
"Art. gu Vencidos os prazos prevIstos no art. 62, ou, se for o caso, realizadas as
58. Anote-se que està em tramItação no Congresso NaCIOnal o PLS n. 5112006 diligencias de que tm.ta o arL 72 , o relator lançará o relatóno. com copia para todos os
- apresentado pelo senador Jose Jorge -, que regulamenta o art. 36. III, da CF, para
mmistros, e pedira dia para julgamento.
dispor sobre o processo e julgamento da representação interventiva perante o STF:
"Art. 92 • A deCisão sobre a representação interventiva somente será tomada se
uArt. 12. Esta Lei dispõe sobre o processo e julgamento da representação inter-
presentes na sessão pelo menos g (OitO) mínístros.
ventiva prevista no art. 36, mClso m, da ConstituIção Federal.
"Art. 10. Realizado o julgamento, proç:lamar-se-a a procedêncía ou improce-
"Art. 22 • A representação será proposta pelo Procurador-Geral da Repúblíca.,
dênCia do pedido formulado na representação interventIva se num ou noutro sentido
em caso de VIolação aos principias referidos no art. 34, inciso VIT, da Constituição
Federai. ou de recusa, por parte de Estado-membro, à execução de lei federal. se tiverem manifestado pelo menos 6 (seís) mÍnistros.
"Art. 32 • A petição iniCIal deverá conter: "Parágrafo úmco. Estando ausentes mimstros em numero que possa influir na
deCIsão sobre a representação interventiva, o julgamento será suspenso, a fim de se
"1 - a indicação do princípio constitucional que se considera violado, ou, se for
aguardar o comparecimento dos mmlstros ausentes, até que se atinja o numero neces-
o caso de recusa à aplicação de lei federal. das disposições questionadas;
sâno para a prolação da decisão.
"II - a indicação do ato normatIVO, do ato admímstratIvo. do ato concreto ou
da omIssão questIOnados; "Art. 11. Julgada a ação, far-se-á a comunícação as autoridades ou órgãos
responsáveis peja prática dos atos questionados e, se a decisão final for pela proce-
"III - a prova da VIolação do pnndpío constitucional ou da recusa de execução
de lei federal; dênCIa do pedido formulado na representação mterventIva, o Presidente do Supremo
Tribunal Federal, publicado o acórdão, leva-lo-a ao conhecimento do Presidente da
"rv - o pedido, com suas especificações. República, para os fins do art. 36, §§ Ir! e 32, da Constituição Federal.
"Parágrafo único. A petIção inicial será apresentada em duas Vtas, devendo
conter, se for o caso, cópia do ato questIOnado e dos documentos necessãrios para "§ 1.11. Dentro do prazo de 10 (dez) dias, contados a partrr do trãnsltO emjulgado
da decisão, a parte disposihva será publicada em seção especial do DiárIO da Jus/Iça
comprovar a Impugnação.
e do Diário OfiCIal da União.
"Art. 42. A petição íniciai sera indeferida limínannente. pelo relator, quando
não for o caso de representação interventiva, faltar algum dos requisitos estabelecidos "§ 22 • A deCisão será dotada de efeito vinculante relativamente aos demaIS
nesta Lei ou for inepta. órgãos do Poder Público.
"Parágrafo üoico. Da decisão de mdeferimento da petição inicial cabem agravo, "Art. 12. A decisão que julgar procedente ou improcedente o pedido da re-
no prazo de 5 (cinco) dias. presentação mterventiva é urecorrlvel, sendo insuscetível de impugnação por ação
"Art. 52, O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maíona absoluta de seus rescisóna.
membros, poderà deferir pedido de medida liminar na representação interventiva. "Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação."
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 697
696 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTNA

A adoção de parâmetros de controle como os direitos da P""Uii 5. Decisão


humana, a não-aplicação de percentual de recursos na educação e nii, O julgamento há de efetuar-se com o quorum de oito Ministros,
saúde, parece indicar que a representação interventiva já não se IimiÚ!" íÍ~vendo-se declarar a inconstitucionalidade ou constitucionalidade
mais ao simples exame de constitucionalidade de lei ou ato normatij da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem mani-
vo, destinando-se também á verificação de situações de fato. E claró ' festado seis Ministros. Não alcançada a maioria necessária, estando
_ observa Pertence - "que isso imporá adequações, se for o caso, do licenciados ou ausentes Ministros em número que possa influir no
procedimento desta representação à necessidade de ~e~fi?ação nãq julgamento, este será suspenso a fim de aguardar-se o compareci-
da constitucionalidade de um ato formal, mas da eXlstencla de um" mento de Ministros ausentes (RISTF, art. 173 e parágrafo lÍOico l.
grave situação atentatória à efetividade dos principios constitucio: Na representação interventiva, se o Tribunal julgar improce-
"
nais, particularmente aos d \feitos humanos fund amenta'IS"59
, ,', dente a ação, haverá de reconhecer a constitucionalidade da medida
questionada em face dos chamados principios sensíveis (CF, art. 34,
Tema delicado diz respeito à admissão da cautelar em sede d~
VIl) ou a não-configuração de indevida recusa à execução de lei
representação interventiva. federal (CF, art. 34, VI).
A rigor, não seria de admitir-se a cautelar com objetivo de SUS" ,
Como ressaltado, a preocupação com uma modalidade de ac-
pender lei ou ato normativo ~stadual, especialmen;ese se, cons~efll; certamento gludiziale dell'il/ecito nos casos de intervenção federal
que a decisão que se profere e meramente declaratona da infraçao (e remonta à Constituinte de 1891, quando João Pinheiro e Júlio de
não da inconstitucionalidade do ato normativol, traduzindo, por isso, Castilhos formularam propostas com o objetivo de submeter ii apre-
simples juizo de constatação (Feststellungsurteil) que legitimaria a ciação do STF as controvérsias relativas à ofensa a principio cardeal
deflagração do processo interventivo. da ConstItuição pelo Estado-membro"o A diSCiplina da matéria, in-
Como se viu, porém, a tradição brasileira encaminhou-se para corporada ao texto constitucional de 1934, ganhou forma definitiva
reconhecer o cabimento da cautelar em sede de representação inter- na Constituição de 1946 (art. 7', VII, c/c o art. 8', parágrafo único).
ventiva a partir da aplicação, por extensão, da Lei do Mandado de Nos termos do art. 8º, caput e parágrafo único, da CF de 1946,
Segurança. a intervenção haveria de ser decretada por lei federal, após a decla-
Essa tradição legislativo-constitucional e a peculiar atividade ração de inconstitucionalidade do ato estadual pelo STF, em repre-
desenvolvida pelo STF nos demais conflitos federativos, enquanto sentação formulada pelo Procurador-Geral da República. A medida
Tribunal da Federação, parecem recomendar a preservação da caute- interventiva limitar-se-Ía a suspender a execução do ato argüido de
inconstitucionalidade, se isso bastasse para o restabelecimento da
, ;
lar como instrumento de dissuasão e solução antecipada de discórdias
;, normalidade no Estado (art. 13). Essa mesma orientação foi preser-
federativas. vada na Constituição de 1967/1969, atribuindo-se ao Presidente da
Outra indagação relevante afeta à admissão, ou não, de amicus República a função anteriormente deferida ao Congresso Nacional
curiae na representação interventiva. (art. 10, VII e VI, primeira parte, c/c o art. 11, §§ 1', "c", e 2').
Tendo em vista o caráter subjetivo do processo, poder-se-ia sus- Na CF de 1988, o art. 34, § 3', também estabelece que, nos ca-
tentar que tal participação seria indevida. O elevado interesse contido sos do art. 34, VI (recusa à execução de lei federal) e 34, VII (ofensa
nas controvérsias federativas para as demais unidades federadas e, aos principios sensíveis), dispensada a apreciação pelo Congresso
muitas vezes, para os cidadãos em geral parece recomendar resposta Nacional, o decreto há de limitar-se a suspender a execução do ato
positiva a essa questão. impugnado, se a medida for suficiente para a superação do estado de
anormalidade.
59. IF n. 114, Rei. Min. Néri da Silveira. voto de Sepúlveda Pertence, DJU
60. Brasil, Assembléia ConstIlUmte (1891), Annaes, p. 432.
27.9.96, RTJ 160/1 (3).
698 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA 699

Não se cuida aqui, obviamente, de aferir a cOlnstitu<cionalidald~ el1[1llI,a a leieventualmente declarada inconstitucional do ordenamen-
ln abstracto da norma estadual, mas de verificar, para fins de jurídico e não obriga, per se, o ente federado, nem o condena, ex-
venção e no contexto de um conflito federativo, se determinado ore~sc.,""mt", a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. A decisão insere-
editado pelo ente federado, afronta princípios basilares da Se no contexto do processo político de mtervenção como um elemento
federativa, ou se determinada ação ou omissão do Poder Púl,li~;: .essencial â decisão a ser adotada pelo Presidente da República.
estadual impede a execução da lei federal. Tal como estabelecido no ordenamento constitucional brasileiro,
Não se declara a nulidade ou a inefiCaác~:i~a;:d~~o~~at~o~~~::~ti~:~~ici ã decisão do STF constitui conditio juris das medidas interventivas,
limitando-se a afirmar a violação do texto C· no âmbito que não poderão ser empreendidas sem a prévia declaração judicial de
de um procedimento complexo que poderá levar â decretação dll inconstitucionalidade. Todavia, o julgado não tem o condão de.anular
intervenção federal. " ou de retirar a eficácia do ato impugnado. Tanto é asSlm que os cons-
Nesse sentido ensinava Pontes de Miranda que: "(... ) a deciSã~ tituintes de 1946, de 1967/1969 e de 1988 referiram-se â suspensão
do Supremo Tribu<oal Federal é para a intervenção federal, a . do ato (CF de 1946, art. 13; CF de 1967/1969, art. 11, § 2'; CF de
preponderável é só declarativa, pois a suspensão pelo Presidente da 1988, ar!. 34, § 3°), pressupondo, pois, sua subsistência mesmo após a
República é que desconstituí. Se a decisão não é para a fmalidade da pronúncia de ilegitimidade. Esse mecanismo foi incorporado â Cons-
intervenção federal, não: desconstitui-se O ato estadual, inclusive a titulção de 1988, conforme se pode depreender da leitura do art. 36,
lei~ in casu" ,61 . § 3° ("Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a
É o que entende o STF, conforme se depreende de voto proferi' apreciação pelo Congresso Nacional, o decreto limitar-se-á a suspen-
do por Moreira Alves: "A representação interventiva é instrumento der a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabe-
jurídico que se integra num processo político - a intervenção - para lecimento da normalidade"). Portanto, também no atual Texto Magno
legitimá-lo. Embora diga respeito â lei em tese, não se apresenta, limita-se o STF a declarar a inconstitucionalidade da providência ou
propriamente, como instrumento de controle concentrado de cons- do ato normativo estadual, sem lbe retirar a eficácia. O ato impugnado
titucionalidade, uma vez que a declaração de inconstitucionalidade somente será retirado do ordenamento jurídico mediante providência
nela obtida não opera erga omnes, mas apenas possibilita (como elo do ente federado (revogação), ou através da suspensão, nos termos do
de uma cadeia em que se conjugam poderes diversos) ao Presidente art. 36, § 3°. Tem-se, aqui, um inequívoco exemplo de que a mconsti-
da República (ou ao governador, ser for ocaso) suspender a execução tucionalidade de uma lei nem sempre implica sua nulidade.
do ato irnpugnado",62 Tal como no chamado Feststellungsurteil, que o Bundesveifas-
Vê-se, pois, que o STF limita-se, em princípio, a constatar ou sungsgericht pronuncia no conflito entre órgãos (Organstreitzgkeiten)
a declarar a ofensa aos princípios sensiveis ou a recusa â execução "Rechtskraft und Gesetzeskraft der Entscheidungen des Bundesverfassungsgenchts",
da lei federal. in Christian Starck (arg.), Bundesveifassungsgericht und Gnmdgesetz, líl ed., v. 1.
Túbingen, Mahr, 1976, pp. 587-588; Theo Ritterspach, Legge sul Tribunale Cos-
A decisão configura, portanto, aquilo que a doutrina constitu- titllz/Onale della RepubbJica Federale di Gennama. Firenze, CEDEUR 1982, pp.
cional alemã denomina Feststel/ungsurteil (sentença meramente 115-1616: "La sentenza riguardante la nchiesta de! neorrente stabilisce soitanto che
declaratória).63 Do ponto de vista estritamente formal, o julgado não un determmato comportamento (azione od omisslOne) dei convenuto ha vlOlata una
specifica disposiziane castituzianale (vedi in proposIta E 20, 120,44, 127; 45, 3 s.).
La sentenza non stabilisce nessuna sanzione per la conciotta errata e nserva agli organi
61. Pontes de Miranda. Comentarias à Constituição de 1967 com a Emenda n. costituzionali interessati la faeaIro di trarre le concluslOni del easo (eventualmente po-
1 de 1969, 2' ed., t II (arts. 8"-31), São Paulo, Ed. RT, 1970, p. 257. litiche). Vinterpretazl0ne deUa CostItuztane che conduce ai dispositivo della sentenza
62. RE n. 92.l69-SP,RTJ 103(3)11.112-1.113. ê esposta solo nella motivazíone. ln un procedimento relatIVO aUa controversla tra
63. Christian Pestalozza, Verfassungsprozessrecht. 2i! ed.. Munique. C. H. Bede, organi non puo essere ne accertata l'inefficacIa di una disposlzlone, nê dichiarnta nuHa
1982, pp. 65-66; KJaus Schlaich. Das Bundesveifassungsgerzcht: Stellung Veifahren, una legge (E- 1, 351[371]; 20,119.129). AI contrario ê ammesso aggiungere ad una
Entscheidungen. Iii ed.• Muníque. C. H. Beck. 1985, pp. 158 e 47-48; KIaus Vogel, sentenza che respmge l'instanza, un 'capoverso esplicativo' (E 1,351[352, 37l e s.])".
700 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA
A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA
701

e na controvêrsia entre União e Estado (foderative StJeeí"iglCei!'en:I;;a '. Tal como já ressaltado, a decisão que se profere aqui limita-se
decisão proferida pelo STF na representação interventiva co:nst'ta::
constalllr a ev,:'ntual I~São a um princípio sensível ou a possível
existência ou inexistência de violação à ordem federativa, Vlcleul ..
a execuçao da lei federal. A decisão que constata ou declara
do as partes representadas na relação processual. Não se tem
. inconstitucionalidade não elimina a lei do ordenamento
propriamente, uma declaração de nulidade ou de ineficácia do jurídico; não tem, pois, eficacia erga omnes.
estadual, mas uma declaração de que determinado ato, pn)vume,nt():
ou medida promulgados pelos Poderes Públicos estaduais atr')nlllrn" li Todavia. tal decisão poderá ser dotada de efeito vinculante _ se
princípios fundamentais da Federação ou obstam à execução assrn: ~ier a_estabelecer a legislação - para os órgãos públicos e a
federal. , Adrmmstraçao em geral, tendo em vista o significado singular do
julgado para o sistema federal. .
Não obsllmte a aparente sutileza. a distinção assume relevilnci.
na sistemática do controle de constitucionalidade.
6. À guisa de conclusão
A declaração de inconstitucionalidade pronunciada ln ab.,tr'7ri"
innporta, em princípio, o reconbecinnento da nulidade da lei. A de~ . Tal :omo s~ percebe, a representação interventIva _ cuja
cisão proferida na representação interventiva, concebida como poslllvaçao no Direito Conslltucional brasileiro se deu de forma
accertamento giudiziale deli 'illedto, para fins interventivos, lirnitií! incipiente, em 1934 - ganbou nova conformação com o ~dvento da
se a constalllr a configuração da ofensa constitucional. A suspensão Consti.:uição de 1946 (a Constituição de 1937 não cuidava da repre-
do ato pelo Presidente da República, com a conseqüente outorga de. sentaçao mtervenllva). A atribuição da legitimação ao Procurador-
eficácia erga omnes ao julgado, somente se dani se o Estado-membrb Geral da República para propor a ação gerou uma forte insegurança
não empreender, moto próprio, a suspensão ou a revogação do ato conce~:ual. Atuava o Procurador-Geral como representante Judicial
declarado incompatível com a ordem federativa. 64 .':
da Un,tao ou como chefe do Ministério Público nesse peculiar proces-
Se se cuidar de recusa à execução de lei federal, esta poderá so? Amda que essa questão não tenba sido posta com toda a clareza
decorrer tanto de norma ou ato editado pelo Estado-membro como de . perante o STF, parece que o Tribunal I?anifestava Uma compreensão
conduta administrativa calcada em interpretação que se faz da Conse amblvalente sobre o tema: ora reconbecia que o Procurador-Geral era
tituição e da competência do Estado-membro. Na primeira hipótese o represenllmte judicial da União num conflito federativo tiplCO, ora
(eventual incompatibilidade entre o Direito federal e o Direito esta- adrnitta que ele era um autêntico custos legts, legitimado a provocar
dual) o Tribunal poderá julgar procedente a representação interven- a instauração do controle abstrato de normas.
tiva e declarar a inconstituciOnalidade da norma estadual. Se, porém, Não há dúvida de que essa ambigüidade contribuiu para que
o Tribunal entender que a lei estadual não extravasa a competência se avançasse na smgular experiência brasileira do controle abstrato
da unidade federada. pode-se eslllr diante de aplicação da lei federal de normas. Foi o que se verificou sob a vigência da Constituição de
em desconformidade com a Constituição. Aqui, a lei federal poderá 1946 especialmente após o advento da EC n. 16/65, que mtroduziu
reclamar interpretação conforme ou até mesmo ensejar uma decla- o co~tr?le a?strato de normas por iniciativa do Procurador-Geral da
ração incidental de inconstitucionalidade Gulga-se improcedente a RepUblica: E verd~de também que o novo instituto (representação
representação e declara-se, incidentalmente, a inconstitucionalidade d:, mconslltucionalida.de abstrata) acabou por absorver a representa-
da lei federal cuja execução se reclamava). çao mterventIva naqUilo que ela significava controle de leis ou atos
Finalmente, cumpriria indagar sobre os efeitos da decisão profe- normativos estaduais em face da Constituição Federal. A distinção
rida em sede de representação interventiva. entre a repre~entação de inconstitucionalidade (controle abstrato) e
arepresentaçao mterventiva prallcamente desapareceu, tendo o Re-
64. Cláudio Pacheco. Tratado das Constituições BrasileIras. v. III. Rio de Ja- gtmento Interno elo STI estabelecido que, se a lei estadual viesse a
neíro, Freitas Bastos, 1965, pp. 78-79.
ser declarada inconstitucional com base em algum prrncipio sensível,
702 A REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA

dar-se-ia a comunicação ao Presidente da República para os fins


suspensão do ato questionado (art. 175, parágrafo úníco).
Ao conferir nova sistemátíca ao controle abstrato de
titncionalidade, com ruptnra do monopólio da ação por parte··
Procurador-Geral da República e ampliação do direito de pnlpositirra.
da ação direta de inconstítncionalidade, a Constitnição
caminbo para a revisão do modelo desenvolvido sob a Consbituil;ão
anterior, dando ensejo a uma clara separação entre os dois slstenlag
de controle de constitncionalidade.
DÉCIMA PARTE
A adoção de novos parâmetros de controle no âmbito da repre' A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NOSTF
sentação interventiva - como o principio dos direitos da pessoa hUJ 1. Considerações prelimmares. 2. Objeto da reclamação. 3. DeCISão em
mana - indica que essa ação já não mais se ocupará exclusivamente atpJição de descumprzmento de preceito fondamenta/ e reclamação. 4.
de lei ou ato normativo estadual, abrangendo também os atas admi- . Sumula Vinculante e reciamação constituCIOnal. 5. Reclamação e SllS-
pensão da execução de lei peio Senado. 6. Procedimento. 7. Conclusão.
nístratívos, omissões e até mesmo os atas concretos daAdministração:
O exame de outros atos que não apenas os atos normativ,iS I. Considerações preliminares
confere novas perspectívas á representação interventiva, afastando á
possibilidade de sua completa absorção no âmbito da ação direta de A reclamação para preservar a competência do STF ou garan-
inconstitncionalidade. . ;) tir a autoridade de suas decisões é fruto de criação íUrÍsprudencíaL
A outorga ao STF de competência para aferir a legitímidade q;; ~va-se que ela decorreria da idéia dos impli'êdI2Qwers deferidos
ao Tnbunal. O STF passou a adotar essa doutrina para a solução de
recusa à execução de lei federal, no âmbito da representação, rea;
prob~eItlas operacionais c1iY!'J;los. A falta de contornos definidos so-
\izada agora pela EC n. 45/2004, reforça também o institnto co~p
fre o institnto da reclamação f~z: portanto, com que SUa constituição
instmmento tipicamente federativo e autônomo em relação á açã~
1mcJaI repousasse sobre a ~.~.osp()dere~Í!l!P.!!citos.
direta de inconstitncionalidade. É que, aqui. haverá um controle di;
reto, o da lei estadual. do ato administrativo ou do ato concreto e~ E o que se deduz da lição do Min. Rocha Lagoa (Relator) na
ReeI. n. 141/52, assím ementada: "A competência não expressa dos
face do Direito federal.
Tribunais Federais pode ser ampliada por construção constituCIOnal.
Finalmente. as novas configurações atnbuidas á representação Vão seria o poder outorgado ao STF de julgar em recurso extraordiná-
interventiva estão a exigir a edição de lei que supere os vetnstos para, rio as causas decididas por outrus tribunais se lhe não fora possivel fa-
digmas estabelecidos pela Lei n. 4.337/64 e pelo Regimento Int~mo zer prevalecer os seus próprios pronunciamentos. acaso desatendidos
do STF. Daí a sugestão que fazemos, apresentando o anteprojeto pelas Justiças locais. A criação de um remédio de direito para vindicar
referido no Apêndice deste livro. Referida proposta foi convertida o cumpnmento fiel das suas sentenças está na vocação do STF e na
em Projeto de Lei n. 51/2006. por iniciativa do Senador José Jorge a,mplitnde constitncional e natnral de seus poderes. Necessária e legí-
(PFLlPE) (v. Apêndice). tima e asStnl a admí~são do processo de reclamação. como o Supremo
De lege ferenda, seria de cogitar-se até mesmo de. em even- Tnbunal tem feltp. E de ser julgada procedente a reclamação quando
tnal reforma da Constitnição, outorgar a legitimação não mais ao a JustIça local deIXa de atender a decisão do STF" (DJU 25.1.52).
Procurador-Geral da República. mas sím ao Advogado-Geral da Em 1957 aprovou-se a incorporação da reclamação no Regi-
União. Nesse caso, caberia ao Procurador-Geral do Estado - e não ao mento Interno do STF. I
Procurador-Geral da Justiça - a propositnra da representação inter-
1. A reclamação foi adotada pelo RlSTF em 2.10.57, dentro da competência que
ventiva no âmbito do Estado-membro. lhe dava a CF de 1946, em seu art. 97. II. quando foi aprovada proposta dos Mins. La-
704 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 705

fayette de A_ndrada e Ribeíro da Costa no sentido de incluir o instituto no Regínlenl · A Constituição Federal de 1967,2 que autorizou o STF a es-
Inferno. em 5eUTil II. Cap. V-"A". mtitulado "Da Reclamação";
"Ata da Trigeslma Sessão do Tribunal Pleno. em 2 de Outubro de 1957
tabelecer a disciplina processual dos feitos sob sua competência,
sidência do Exrno. Sr. Min. Oroslmbo Nonato da Silva - Procurador-Geral da . conferindo força de lei federal às disposições do Regimento Interno
blica o Exmo. Sr. Dr. Carlos Medeiros Silva - Secretário. Sr. Hugo Mosca, di·irelor él~ seus processos, acabou por legitimar definitivamente o instituto
servJço. na ausência justificada da Sra. Olga Menge S. Wood. více-diretora. da reclamação, agora fundamentada em dispositivo constitucional.
...
"( ).
"Emenda do Regimento Interno Com o advento da Carta de 1988 o mstituto adquiriu, finalmen-
"O Sr. Min. Ribeiro da Costa propôs pela Comissão do Regimento a ,eglliníê te, slalUs constitucional (art. 102, I, "I"). A Constituição consignou
Emenda: ainda o cabimento da reclamação perante o STJ (art. 105, I, "f'),
"'Inclua-se no Regimento Interno - no Títuio III. como Capítulo V-A: igualmente destinada li preservação da competência da Corte e à
......... Da Rec{amaçiiô\ garantia da autoridade das decisões por ela exaradas .
""Ari. lll. cfSupremo Tribunal Federal poderá admitir reclamação do
dor-Geral da República, ou de interessado na causa, a fim de preservar a ".lte!:rid'de/~
Numa tentativa de sistematizar a evolução do instituto no Su-
de sua competência ou assegurar a autoridade de seu julgado. premo Tribunal Federal, José da Silva Pacheco, em excelente artigo
... Art. 2.0.. Ao Tribunal competirá, se necessário: sobre a reclamação no STF e no STJ, identificou quatro fases dis-
"'I - avocar o reconhecirnçnto de proces~oJ~!!I que se verifique manifesta USUf- tintas da reclamação: "lO) a primeira vai desde a criação do STF até
p~çiiq de sua c().mp~tênda~õu desreSpeIto de_4~c.í~ª?_9.1!~_h~la.p_rpXeqg5~~ .----; 1957; 2°) a segunda começa em 1957, com a inserção da medida no
'''II - determinar lhe sejam envIados os autos de recurso para ele mterposto-e RISTF, até 1967; 30 ) a terceira, a partir do disposto na CF de 1967
cuja remessa esteja sendo mdevidamente retardada.
... Art. 311• A reclamação. em qualquer dos casos previstos no artigo anterior,
art. 115, parngrafo único, 'c', que foi reproduzido na EC 1/69, art:
devera ser instruída com prova documental dos requisItos para a sua admIssão. >- 120, parngrafo único, 'c' e, posteriormente, após a EC 7, de 13.4.77,
'''§ l0, O relator. a quem for distribuída a reclamação. requisitará mformações com o dIsposto no art. 119, I, 'o', sobre a avocatória, e no § 32 • 'c',
da autoridade, que as prestará dentro de 48 horas. "1; autorizando que o RISTF estabelecesse 'o processo e o Julgamento
,.. § 2.11.. Em face de prova convincente, poderá ser ordenada a suspensão do dos feitos de sua competência origimiria ou recursal e da argüição de
curso do processo. ou a imediata remessa dos autos ao TribunaL '
relevância da questão federal'; 4") a 9!:!.arta, com o advento da CF de
<"§ 3.G, Qualquer dos mteressados poderâ impugnar por escrito o pedido do
reclamante. 5.10.88, cujQsarts. 102, I, '1' eI05-;-I,'f',prevêem, expressamenie:-
"'§ 4.G. Salvo quando por ele requerida, o Procurador-Geral da República se~ a~aç_ão como da competência origmária do STF e do§I1o':' ..
ouvido no prazo de três dias sobre a reclamação.
"'Art. 4.G. A reclamação serâ incluída na pauta da pnrneira sessão do Tribunal de que se revestem, eXigem a pronta aplicação de corretivo em!rgIco. Imediato e efi-
que se realizar após a devolução dos autos pelo relator â Secretaria. caz que Impeça a prossecução de violência ou atentado à ordem jurídica.
"'Parágrafo umco. O Presidente do Tribunal detenninará o ímediato cumprt~ · "Assim. a proposição em apreço entende com a atribuição concedida a este
mento da decisão, lavrando-se depois o respectívo acórdão.' .. Tnbunal pelo art. 97. II. da Carta Magna. e vem supnr omissão contida no seu Re-
"Justificação gunento Interno.
<iA medida processual de caráter acentuadamente diSCIplinar e correcIonal uRio. 2 de outubro de 1957 -A. C. Lafayette deAndrada-A. M Ribeiro da
Costa, relator. -_.. '"' .-'-" - ~. -.. ". --.
denominada reclamação, embora não prevista., de modo expresso. no art. 101. I a IV.
da CF, tem sido admitida pelo STF, em várias oportunidades, exercendo-se, nesses "Falaram, apOiando, os Srs. Mins. Ary Franco e Hahnemann Gunnarães.
casos. sua função corregedora, a fim de salvaguardar a extensão e os efeitos de seus "Foi aprovado em sessão de 2 de outubro de 1957. Inclua~se no Regimento-
julgados, em cumprimento dos quais se avocou legítima e oportuna mtervenção. Orosimbo Nanata."
"A medida da reclamação compreende a faculdade cometida aos órgãos do
Poder Judiciário para, em processo especial. conigrr excessos. abusos e irregularida-
SF
· 2. ';': de 1967, art. 115, parágrafo único, "c", e EC n. 1/69, art 120, paragra-
fo umCD, c . Postenormente, EC n. 7, de 13.4.77. art. 119. I, "o", sobre a avocatória,
des derivados de atas de autoridades judiciárias. ou de serventuáríos que lhe sejam e ~ 3 , "c", do mes~o dispositivo, que autorizou o RISTF estabelecer "o processo e
11
subordinados. Visa a manter em sua inteireza e plenitude o prestígio da autoridade, a o Julgamento dos feItos de sua competêncIa originària ou recursal e da argUição de
supremacIa da lei. a ordem processual e a força da coisa julgada. relevânCia da questão federa)",
UE. sem dúvida, a reclamação meio idóneo para obvIar os efeitos de atas de 3. José da Silva Pacheco, O Mandado de Segurança e Outras Ações Constitu-
autoridades. administrativas ou JudiCiárias. que, pelas CírCuDstânCIaS excepcionais cionaiS TípICas, 4Il ed.• São Paulo, Ed. RT, Capítulo Umco, pp. 601-635.
706 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 707
'-,
~
Importante discussão reside na natureza da reclamação, tal . No tocante à natureza jurídica, a posição dominante parece ser
se vê no ínventário feito por Celso de Mello (Relator) na RecL ; ;aiquo,a que atribui à reclamação natureza de ação propriamente dita,5
"Reclamação - Natureza jurídica - Alegado desrespeito à aUltorida!!e . :adespeito de outras vozes autorizadas da doutrina identificarem na-
de decisão emanada do STF - Inocorrência - Improcedência. A . ttireza diversa para o instituto, como já referido, seja como remedio
mação, qualquer que seja a qualificação que se lhe dê - ação processual,6 incidente processuaF ou recurso. 8
de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, t Tal entendimento justifica-se pelo fato de serem possíveis, por
Forense), recurso ou sucedâneo recursal (Moacyr Amaral Santos, meio da reclamação, a provocação da jurisdição e a formulação de
561546-548; Alcides de Mendonça Lima, O Poder Judiciário e a pedido de tutela jurisdicional, além de conter em seu bojo uma lide
Constituição, p. 80, 1989, Aide), remedia incomum (OI,osimbo }irom;:! a ser solvida, decorrente do conflito entre aqueles que persist,em na
to, apud Cordeiro de MeIlo, O Processo no Supremo Tribunal Fe,der.ál invasão de competência ou no desrespeito das decisões do Tribunal e,
v. 1/280), íncidente processual (Moniz de Aragão, A Correição por outro lado, aqueles que pretendem ver preservada a competência
cial, p. 110, 1969), medida de Direíto Processual COI1.S~~~~itu~c~io~n~a~l;r! e a eficácia das decisões exaradas pela Corte.
Fredenco Marques, Manual de Direito Processual Civil, Anote-se, ainda, que, com o desenvolvimento dos processos de
parte, p. 199, item n. 653, 9' ed., 1987, Saraiva) ou índole obJetiva em sede de controle de constitucionalidade no plano
suaI de caráter excepcional (Min. Djaci Falcão, RTJ ., federal e estadual (inicialmente representação de inconstitucionalida-
configura, modernamente, ínstrumento de extração constitucionái, de, e posterionnente ação direta de inconstitucionalidade, ação direta
ínobstante a origem pretoriana de sua criação (RTJ 1121504), destinado de inconstitucionalidade por omissão, ação declaratória de constitu-
a víabilizar, na concretização de sua dupla função de ordem politica:: clOnalidade e argüição de descumprimento de preceito fundamental),
Jurídica, a preservação da competência e a garantia da autoridade das a reclamação, enquanto ação especial, acabou por adquirir - como se
.decisões do STF (CF, art. 102, I, 'I') e do STJ (CF, art. 105, !, 'r). verá no presente estudo - contornos diferenciados na garantia da au-
Não constitui ato ofensivo à autoridade de decisão emanada do STF o toridade das decisões do STF ou na preservação de sua competência.
procedimento de magistrado inferior que, motivado pela existência de A EC n. 45/2005 consagrou a sÚInula vinculante no âmbito da .. '
várias execuções penais ainda em curso, referentes a outras condena- competência do STF e previu que sua observância seria assegurada
ções não desconstituídas pelo writ, deixa de ordenar a soltura imediata pela reclamação (art. 103-A, § 3': "Do ato administrativo ou decisão
de paciente beneficiado por habeas corpus concedido, em caso diverso Judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente
e específico, por esta Corte" G. 19.12,90, DJU 15.3.91). a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal, que,
Como se vê, a definição de sua natureza jurídica não constitui julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a de-
tarefa fácil, por inexistir consenso na doutrina e na jurisprudência.
Pacificado está somente o entendimento de se tratar a reclamação 5. Cf. Pontes de Miranda, Comentarias ao Código de Processo Civil. l V, Rio
de medida jurisdici()nal, pondo fim a antiga discussão no sentido de Janeiro, Forense, p. 384.
a
de que reClarriã';ão constituiria mera medida administratIva: Tal 6. Cf. Cândido Rangel Dinamarca, "A reclamação no processo Civil brasileiro".
in Nélson Nery Jr. e Teresa Arruda Alvim Wambier. Aspectos Polémicos e AtuolS dos
entendimento se deu quando o instituto era identificado com a cor- Recursos e Outros J\1elOs de Impugnação âs DeciSões JudiclGlS, vaI. 6, São Paulo,
reição parcial. Mas, como explicita Marcelo Navarro Dantas, o fato Ed. RT, 2002, pp. 100-10 1. Cf., ainda, Ada Pellegrini Grinover, Antómo Magalhães
de a jurisprudência do STF reconhecer, na reclamação, seu poder de Gomes Filho e Antômo Scarance Fernandes. Recursos no Processo Penal, 3aed., São
Paulo. Ed. RT. 2001, p. 423. V. também voto-vista do Min. Rafael Mayer na Repr. n.
produzir alterações em decisões tomadas em processo jurisdicional e 1.092, ReI. Min. Djaci Falcão, DJU 19.12.84: Orosimbo Nonato, apud Cordeiro de
o fato de a decisão em reclamação produzir coisa julgada confirmam Mello, O Processo no Supremo Tribunal Federal, vaI. 1, p. 280.
seu caráter jurísdicionaL4 7. Cf. E. D. Moniz de Aragão. A Correu;ão Parcial, São Paulo. José Bushatsky
Editor, 1969, p. 106.
4. Marceio Navarro Ribeiro Dantas. Reclamação Constitucional no Direito 8. Cf. Moacyr Amaral Santos, mRTJ 561546-548; Alcides de Mendonça Lima,
BrasileIro, Porto Alegre, Fabrís, 2000, pp. 438439. O Poder JudiciárIO e a Nova Constituição, Rio de Janeiro. Aide. 1989, p. 80.
A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 709 ;
708
V
cisão judicial reclamada, e determinara que outra seja proferida A reclalltação para preservar a colltpetência do STF - Caso
ou sem aplicação da SÚInula, conforme o caso"). , se verifique a usurpação da competência do STF, cabível será a
A análise do quadro abaixo transcrito, sobre o número de . reclamação.
clamações propostas nos anos de 1990 a 2007, parece iodicar que o É muito comum a propositura de reclamação com o obJetívo de
referido instituto ganbou significativo relevo no âmbito da compeé defmir a competência do STF para dirimir conflitos entre Estados-
tência do STF? membros ou entre estes e a União.
Mencione-se a Ree!. n. 1.061, na qual se afirmou que ação
Reclamações Constitucionais no Supremo Tribunal Federal, proposta por Estado da Federação contra órgão da Admmistração
Período de 1990 a 2009 índireta de outro Estado cara~teriza ~f!itoJegerativo, que há de ser
resolVIdo pelo STF (ReI. Mm. OctaVIO Gallotti, DJU 20.2.2004).10
Ano N. de Processos Ano N. de Processos
Tambem na Recl. n. 424 entendeu-se que haveria conflito federativo,
1990 20 2000 522 uma vez que os autores populares (ação popular), pretendendo agir
1991 30 2001 228 no interesse de um Estado-membro, postulavam a anulação de de-
1992 44 2002 202 creto do Presidente da República - e, pois, de ato imputável â União
275 (ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 6.9.96).
1993 36 2003
491 Na Recl. n. 3.074, da relatoria do Min. Sepúlveda Pertence Q.
1994 45 2004
4.8.2005, DJU 30.9.2005), o Tribunal julgou procedente a recla-
1995 49 2005 933 mação ajuizada contra ato de Juiz Federal Substituto da 12' Vara
1996 49 2006 837 da Seção Judiciária de Minas Gerais, para avocar o conbecimento
1997 62 2007 897 de ação civil pública proposta pelo Estado de Minas Gerais e seu
2008 1.684 Ministério Público contra o Instttuto Brasileiro do Meio Ambiente
1998 275
e dos Recursos Naturais Renovaveis - IBAMA. Entendeu-se, nesse
1999 200 2009 697'
caso, configurada a possibilidade de conflito federattvo, suficiente
, Atualizada em abri1l2009. Fonte: Sítio do STF. a justificar a competência originária do STF (CF, art. 102, I, "r'),
consideradas a magnitude do projeto governamental em jogo e as
2. Objeto da reclamação conseqüências sobre o tempo de sua implementação e sobre sua
própria viabilidade.
Tal como observado, a reclamação destina-se (a) a preservar a
competência do STF ou (b) a garantir a autoridade de suas decisões. Na Recl. n. 2.833 (ReI. Min. Carlos Britto, j. 14.4.2005, DJU
5.8.2005) também foram discutidos o conflito federativo e a usur-
A competência do STF está hoje fixada claramente no art. 102 pação da competência do STF em processo sobre a demarcação de
da CF, desdobrando-se em competência origioária e recur~1. E esta, terras iodígenas. O Tribunal julgou procedente o pedido formulado,
por sua vez, em ordioária e extraordinária. para reconbecer sua competência para o julgamento de diversos fei-
tos, dentre os quais uma ação popular em trâmite perante a I' Vara da
9. Quanto ao critério de numeração das reclamações no STF. vale ressaltar que
a Secretaria do Tribunal reglstraVI4 até a entrada em vIgor do RISTF de 1970. em Seção Judiciária de Roraima na qual se discutia a validade juridica
15.10.70, as reclamações e as representações em um mesmo "Livro de Andamento da Portaria n. 820/98 do Ministério da Justiça, que demarcou a área
Processual de Representações e Reclamações". e na mesma seqUênCIa numerica (tal iodígena "Raposa Serra do Sol". Entendeu-se, no caso, caracterizada
seqUênCIa atmgiu o n. 854, em processo distribuído em 2.10.70). A partrr do novo a hipótese de conflito federativo prevista no art. 102, I, "r', da CE
Regunento a Secretaria passou a registrar somente as representações no referido livro.
iniciando novo regIstro para as reclamações. Assim. em 4.11.70 o novo "Livro de An-
damento Processual de Reclamações" regístrou. mais uma vez. a "Reclamação n. 1"_ IO. Cf. tambem ReeI. n. 199, ReI. Min. Célia Borja, DJU8.8.86.
710 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 711

'--> Da mesma forma, não raro acontecem casos de abertura de inconstitucionalidade formulada contra lei municipal em face de
parâmetro constitucional estadual que, na sua essência, reproduzia
quérito ou de oferecimento de denúncias contra autoridade sullm"tidâ
ao foro especial do STF. disposição constitucional federal. Afirmava-se usurpação da compe-
Assim, na Recl. n. 2.349 (ReI. para o acórdão Min. Cézar . tência do STF para afem a legitimidade de lei ou ato murnclpal (ou
luso, DJU 5.8.2005) assentou-se que compete ao STF supervisiona"· estadual) em face da Constituição Federal.
inqmirito policial em que senador tenba sido intimado para esc:lar,ece:r.' Cuidava-se de controvérsia sobre a legitimidade do IPTU ins-
imputação de crime que lhe fez indiciado; ou, alUda, na Recl. n. tituido por leI municipal de São Paulo, Capital (Lei municipal n.
(ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 7.6.2002, p. 84) se afirmou 11.152, de 30.12.91). Concedida a liminar pelo TJSP, opôs a Prefei-
no caso de crime eleitoral, compete ao STF a supervisão tura da capital daquele Estado reclamação perante o STF, sustentando
inquérito. H --_. - • que, embora fundada em inobservância de preceitos constitucionais
Na Recl. n. 1.861 (ReI. Min. Celso de Mello, DJU 21.6.2002) estaduais, a ação direta acabava por submeter à apreciação do Tribu-
julgou-se procedente o pedido, uma vez que havia sido recebida nal de Justiça do Estado o contraste entre a lei municipal e normas da
núncia contra 32 indiciados, dentre os quais um deputado federal. 12 ·, Constituição Federal. 16
Da mesma forma, converteu-se.el!Uegl<YJlaç.ão hab~C1~ Anteriormente, julgando a Recl. n. 370 (Rel. Min. Octávio
impetrado em favor de chefe de missão diplomática de caráter per1 Gallotti, j. 9.4.92, DJU 29.6.2001), afirmara o STF que faleceria
manente, assentando-se que, ainda que o crime imputado tenba sido competência aos Tribunais de Justíça estaduais para conbecer de
cometido antes do exercicio funcional, a competência para o proces~ representação de inconstItucionalidade de lei estadual ou municipal
so é do STF enquanto durar o referido exercício, não importando a em face de parâmetros formalmente estaduais, mas substancialmente
data do início do inquerito ou da ação penal. l3 •• , integrantes da ordem constitucional federaL Considerou-se, então,
Também se acolhe reclamação contra propositura de ação res" que a reprodução na ConstituIção estadual de normas constitucionais
cisória perante Tribunal de Justiça em relação a matéria que, embora obrigatórias em todos os níveis da Federação "em termos estrita-
não conbecida em recurso extraordinário, tiver sido apreciada pelo mente jurídicos" seria "ociosa". Asseverou-se que o texto local de
STF.I4 reprodução formal ou material, "não obstante a forma de proposição
Igualmente cabível a reclamação contra ato dos Juizados Espe- normativa do seu enunciado, vale por simples explicitação da absor-
ciais que nega seguimento a recurso extraordinário quanto â matéria ção compulsória do preceito federal; essa, a norma verdadeira, que
ls extrai força de sua recepção pelo ordenamento local. exclusivamente,
constitucional debatida pelos órgãos recursais.
da supremacia hlenirquica absoluta da Constituição Federal",
Suscitou-se, já sob a Constituição de 1988, questão relativa à
competência de Tribunal estadual para conbecer de ação direta de A tese concernente â ociosidade da reprodução de normas
constitucionais federais obrigatórias no texto constitucional estadual
II. Cf. também ReeI. D. 1.258. ReI. para o acórdão Min. Marco Aurélio, DJU esbarra já nos chamados principios sensíveis, que impõem, inequi-
6.2.2004. vocamente, aos Estados-membros a rigorosa observância daqueles
12. Cf. também ReeI. n. 1.121, ReI. Min.llrnar Gaivão, DJU 16.6.2000; Reei. estatutos minimos (CF, art. 34, VIl). Nenbuma dúvida subsiste de
n. 530. ReI. Min. Umar Gaivão, DJU 10.11.95; ReeI. n. 511, ReI. Min. Celso de
que a simples omissão da Constituição estadual quanto â inadequada
MeUo, DJU 15.9.95, p. 29.506.
13. ReeI. o. 583, Rei. Min. Mauricio Corrêa, DJU22.1.2001, p. 24. positivação de um desses postulados no Texto Magno estadual já
14. ReeI. n. 377, ReI. Min.IImar Gaivão, DJU30A.93, p. 7.563. configuraria ofensa suscetível de provocar a instauração da represen-
15. Cf. ReeI. n. 1.025, ReI. Min. Celso de MeUo, DJU 28.2.2003; ReeI. n. tação interventiva.
2.132, ReI. Min. Celso de MeUo, DJU 14.2.2003; ReeI. n. 634, ReI. Min. Sepúlveda
Perteoee, DJU 14.12.2001; ReeI. n. 1.574, ReI. Min. Nélson Jobim. DJU 5.12.2002;
ReeI. n. 2.514. ReI. Min. Gilmar Mendes. DJU 4.6.2004. 16. ReeI. n. 383. ReI. Min. More,raAlves,). 11.6.92. DJU 2 1.5.93.
A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 713
A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF
712
norm.as secundárias que correm necessariamente a sorte das normas
Não é menos certo, por outro lado, que o Estado-membro prunanas, como sucede com o regulamento, que caduca quando a
observar outras disposições constitucionais estaduais, de modo lei regula:nentada é revogada. Em se tratando de norma ordinária de
adotada a orientação esposada ínicialmente pelo STF, ficaria o repraduçao ou .de, norma constitucional estadual da mes manatureza,
constitucional estadual - substancial - reduzido, talvez, ao pr"âm< pa,r terem
" d e fiIcaCla no seu âmbito de atuação,' se a norma conslltu- '
bulo e ás cláusulas derrogatórias. Até porque, pelo modelo amllítico, ciona1 le eral reproduzida for revogada, elas por terem fi ' ,
de Constituição adotado entre nós, nem mesmo o direito tritmtiíriCt· seu âmbito de atuação, persistem como no~as J' uríd' e CaCta no
d ixaram de s O ' .. ICas que nunca
estadual pode ser considerado, segundo uma orientação ortodoxa" e, er. S prrncipIOs reproduzidos, que, enquanto vigentes,
um direito substancialmente estadual, já que, além dos principias' se Impunham obngatoriamente por força apenas da ConstituIção
gerais, aplicáveis á União, aos Estados e Municípios (arts. 145-149), ',' Federal.
. d quando
" ' 'revogados,
'' permanecem , no âmbI'to de ap I'Icaçao
- das
e das limitações ao poder de tributar (arts. 150-152), contempla IeIS or manas ,ederals ou constitucionais estaduais gra c • fi . ,
delas resultante." ' "as a e ICaCIa J
texto constitucional federal, em seções autónomas, os impostos '
Estados e do Distrito Federal (Título VI, Capitulo !, Seção IV, art.: A prevalecer a orientação advogada na Reei
m letam t . d . n.
370 .
, restiaria
1:-.
155) e os impostos municipais (Título VI, Capítulo I, Seção V, ar!. CD p en e esvazIa a a cláusula contida no art. 125, § 2·, da
156). Como se vê, é por demais estreito o espaço efetivamente vago CE ,uma v~z que, antes de qualquer decisão, deveria o Tribunal de
deixado ao alvedrio do constituinte estadual. Jusllça ve,:ficar, como questão preliminar, se a norma constitucional
São elucidativas, a propósito, as seguintes passagens do voto estadual nao era mera reprodução do direito constitucional federal.
do Min. Moreira Alves (relator) na RecI. n. 383 G· 11.6.92, D~ ~esto, não estaria afastada a possibilidade de que, em qual-
quer hIP.otese, fosse chamado o STF, em reclamação, para dirimir
21.5.93):
"Ê petição de Parincil1io dizer-se que as normas das Constituições controverSta
controle. sobre o carater federal ou estad ua I d o parametro
• de
estaduais que repro uzem, formal ou materialmente, principias cons-
A propÓSIto, anotou, ainda, o Min. Moreira Alves' "( )
j~rídico açã~ d~~ta
titucionais federais obrigatórios para todos os níveis de governo na
Federação são inócuas, e, por isso mesmo, não são normas jurídicas ' nosso s,Istema de controle constitucional, a e:
estaduais, até por não serem jurídicas, já que jurídicas, e por isso mconslltucIOnahdade
nal'd d fi d tem. como
.. causa petendi não' " ' ; '
a mcon,,,tucIO-
eficazes, são as normas da Constituição Federal reproduzidas, razão I a e em . ace os dISpOSItIVOS invocados na inictal como vio-
por que não se pode julgar, com base nelas, no âmbito estadua!, ação :dOS, ~as a mconslltucionalidade ~m face de qualquer dispositivo
direta de inconstitucionalidade, íneiusive, por identidade de razão, o parametro adotado (a ConstituIção Federal ou a Constituição
estadual). Por I~SO e que não há necessidade, para a declaração de
que tenha fmalidade interventiva. (... ).
InCOnstltucIOnahdade
. . b do ato normativo
. ~
. ' impugnado ' de que se lorme
"Essas observações todas servem para mostrar, pela inadmissi-
~~IO;a a soluta quanto a? dISpOSItivo constitucional que leve cada
bilidade das conseqüências da tese que se examina, que não é exato JUIZ a Corte a declarar a mconstitucionalidade do ato Ora p
pretender-se que as normas constitucionais estaduais que reproduzem concluir, em r:cIamaçao,
_ que, .
a mconstitucionalidade argüida,ara
em face se
as normas centrais da Constítuição Federal (e o mesmo ocorre com as da Cons:ltulçao estadual sena uma argilição s6 adntissível em face
leis federais ou até estaduais que fazem a mesma reprodução) sejam de pnnclpIO de reprodução estadual que, em verdade, seria principio
inócuas e, por isso, não possam ser consideradas normas juridicas. conslltucIOnal federal, mIster se faria que se examinasse a argüição
Essas normas são normas jurídicas, e têm eficacia no seu âmbito formulada perante o Tribunal local não apenas - como o parecer da
de atuação, até para permitir a utilização dos meios processuais de ~rocuradona-Geral da República fez no caso presente, no que foi
tutela desse âmbito (como o recurso especial, nO tocante ao art. (j1 ficompanhadopelo emmente Min. VelIoso no voto que proferiu - em
da Lei de Introdução ao Código Civil, e as açôes diretas de incons- ace dos preceItos constItuCIOnais indicados na iniCial, mas também
titucionalidade em face da ConstituiçãO estadual). Elas não são
r
I

714 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 715

de todos os da Constituição estadual. E maís, julgada prc1ce(!enlie,.' i t()sernplieque se impugnar a aplicação de norma pela Admínistração
reclamação, estar-se-ía reconhecendo que a lei municipal ouesl:adl1~ "oU pOlU Judiciário em contranedade ii orientação adotada pelo STF,
impugnada não feriria nenhum preceito conStituci.oon~a~ln:~.~:~~~~~ com tao"u vinculante.
estadual, o que impossibilitaria nova argüição de ir . Em julgamento de 1.7.2005 a Recl. n. 3.436 (Rel. Min. Celso
dade em face de qualquer desses preceitos se, na conversão feita . Mello) foi admitida e concedido o pedido limínar, por ter restado
meio da reclamação, a ação direta estadual em face da COlnstitullÇãij' catcacl:eriza(ja a usurpação da competência do STF. Trata-se, no caso,
Federal fosse julgada improcedente, por não violação de quaLlquier de reclamação que, ajuizada pelo Distrito Federal. sustenta que o
preceito constitucional federal que não apenas os ínvocados na . .Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, ao declarar a
cia!. E como, com essa transformação, o STF não estaria sujeito inconstítucionalidade da Lei distrital n. 2.721/2001, teria usurpado a
exame da ínconstitucionalidade da lei estadual ou municipal em face competência do STF, pelo fato de o paradigma de confronto invocado
dos preceitos constitucionais ínvocados na ínicial perante o Tribunal rio processo de controle abstrato ínstaurado perante o Tribunal de
de Justiça, e tidos, na reclamação, como preceitos verd'Ldeir'arnienlte .•.• Justiça local residir em texto da própria Constituição Federal.
federais, mudar-se-!a a causa petendi da ação: de inconstituciona_ Vale mencionar, aínda, no tocante ii usurpação da competência
lidade em face da Constituição estadual para inconstitucionalidade do STF, as RecL ns. 2.069 (ReI. Min. Carlos Velloso, j. 27.6.2002,
em face da Constítuição Federal, sem limitação, evidentemente, ao~ DJU 1.8.2003) e 2.040/QO (ReI. Min. Néri da Silveira,J. 21.2.2002,
_____<, preceitos invocados na ínicial",l1 " DJU27.6.2003), que discutiram questões processuais no "caso Gló-
~ A partir da decisão na Recl. n.383 assentou-se não configurada ria Trevin •
a usurpação de competência quando os Tribunais de Justiça analisam, Na primeira reclamação o STF entendeu serem da sua com-
em controle concentrado, a constitucionalidade de leis municipais petência o processo e o julgamento de mandado de segurança
ante normas constitucionais estaduais que reproduzem regra dà impetrado por Glória Trevi perante o juízo de primeiro grau, vez
Constituição de observância obrigatória.!' . que questões relacionadas com extradições são da competência do
O STF sempre entendeu ilegítimo, porém, o exercicio do con- Tribunal mdependentemente da qualidade da autoridade apontada
trole de constítucionalidade concentrado pelos Tribunais de Justiça como coatora, tratando-se tanto de habeas corpus como de mandado
estaduais com base em norma constitucional federal. de segurança. Na discussão da Questão de Ordem na Reclamação n.
Na Recl. n. 595 (Rel. Min. Sydney Sanches, DJU 23.5.2003) 2.040 o Tribunal, por maioria, coilheceu como reclamação do pedido
discutia-se ação direta contra Direito municipal, com liminar defe- formulado contra a decisão do Juízo Federal da 10' Vara da Seção
rida tendo como parâmetro norma constituclOnal federal, tal como Judiciária do Distrito Federal que autorizara a coleta da placenta de
\,i pre~isto na Constituição do Estado d~ ~ergipe. O Tribu?al julgou extraditanda 19 grávida, após o parto, para a realização de exame de
r ~ procedente a reclamação e declarou, mc!dentalmente, a mconstitu- DNA. Considerou-se que, estando a extraditanda em hospital público
cionalidade da norma constítucional que autorizava o controle de sob a autorização do STF e havendo a mesma se manifestado expres-
constitucionalidade do Direito muníc!pal em face da ConstituIção samente contra a coleta de qualquer material recolhido de seu parto,
Federal, ínvocando o precedente fixado na ADIn n. 409 (ReL Mín. a autorização só poderia ser dada pelo STE
Sepúlveda Pertence, DJU26.4.2002). Outra questão relevante para o controle de constitucionalidade
A possibilidade de declaração de inconstitucionalidade inciden- diz respeito ii ação civil pública ou ii ação popular com desiderato
tal em sede de reclamação abre ensanchas para a utilização do ínstitu- exclusivo de obter urna declaração de inconstitucionalidade de lei.
17. ReeI. n. 383, ReI. Min. MoreiraAlves,j. 11.6.92, DJU21.5.93. Embora a ação civil pública tenha objeto defínido, é certo que a
18. ReeI. n. 2.976, ReI. Min. lImar Gaivão, DJU 8J 1.2002; ADIIQO n. 1.529, abrangência desse objeto e a eficácia erga omnes da decisão que nela
ReI. Min. Octávio GallOlti. DJU 28.2.97; ReeI. n. 4.432. ReI. Min. Gilmar Mendes.
DJU 10.10.2006. 19. ExIr. n. 783, ReI. Min. Néri da SilvelIll,j. 7.12.2000. DJU 5.10.2001.
716 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 717

se profere (Lei n. 7.347/85, art. 16) suscitam sérias dúvidas sobre sua tude da pendência do julgamento da ADIn n. 2.950 e do deferimento
correta utilização em sede de controle incidental de constitucionali- de liminares em diversas ações civis públicas ajUIZadas perante juízes
dade. federais e estaduais das instãocias ordinárias, sob o fundamento de
Na Recl. n. 434 (ReI. Min. Francisco Rezek, DJU 9.12.94) o inconstitucionalidade da mesma norma impugnada em sede direta.21
STF julgou procedente a pretensão formulada pelo Procurador-Geral No caso, o Tribunal considerou que, ainda que se preservassem
da República, por entender que o objeto da ação civil era a própria os atos acautelatórios adotados pela Justiça local. seria apropriado
constitucionalidade da lei estadual. determinar a suspensão de todas as ações civis até a decisão defmi-
No julgamento das RecL ns. 602 (ReI. Min. IImar Gaivão, DJU tiva em sede da ação direta. Ressaltou-se, no ponto, que a suspensão
14.2.2003) e 600 (ReL Min. Néri da Silveira, DJU 5.12.2003), em das ações decorria não da sustentada usurpação da comp.,tência,22
3.9.97, o Tribunal firmou orientação no sentido de que na ação civil mas sim do objetivo de coibir eventual trânsito em julgado nas
pública proposta com o objetivo de proteger direito difuso ou cole- referidas ações, com o conseqüente esvaziamento da decisão a ser
proferida nos autos da ação direta?3
tivo pode-se verificar, licitamente, a declaração de inconstituciona-
lidade incidental, não se podendo, por isso, cogitar de usurpação de Na RecL n. 1.017, julgada em 7.4.2005 (reL Min. Sepúlveda
competência do STF. Pertence, DJU 3.6.2005), proposta contra ação popular cujos pedido
e causa de pedir coincidiam com os da ação direta por omissão, con-
Tal entendimento dá ensejo a uma distinção entre a ação civil
siderou-se usurpada a competência da Corte: "Reclamação - Usur-
pública que tenha por objeto, propriamente, a declaração de in-
pação da competência do STF (CF, art. 102, 1, '1') - Ação popular
constitucionalidade da lei ou do ato normativo daqueloutra na qual
que, pela causa de pedir e pelo pedido de provimento mandamental
a questão constitucional configura simples questão prejudicial da
formulado, configura hipótese reservada à ação direta de inconsli-
postulação principaL
tucionalidade por omissão de medidas administrativas, de privalIva
É o que foi afumado na RecL n. 2.224, da relatoria do Min. Se- competência originária do Supremo Tribunal- Procedência".
púlveda Pertence (DJU 10.2.2006), na qual se enfatizou: "Ação civil Tem-se, aqui, pois, nesse último rol de casos, uma amplíssima
pública em que a declaração de inconstitucionalidade com efeitos utilização do instituto da reclamaçãó, não só para assegurar a compe-
erga amnes não é posta como causa de pedir, mas, sim, como o pró- tência do STF, mas também para assegurar sua competência em sede
prio objeto do pedido, configurando hipótese reservada à ação direre de controle jurisdicional de constitucionalidade.
de inconstitucionalidade". ft
Não há como negar, porém, como observado,2o que a amplitude A reclamação para assegllrar a alltoridade das decisões do
que se confere - e que se há de conferir - à decisão proferida em STF. Considerações gerais - O Tribunal tem-se valido da recla-
ação civil pública permite que com uma simples decisão de caráter mação para assegurar a eficácia das decisões tomadas em habeas
prejudicial se retire qualquer efeito útil da lei, o que acaba por se corpus24 ou para garantir a autoridade da decisão em recurso extra-
constituir, indiretamente, numa absorção de funções que a Constitui-
ção quis deferir ao STF. 21. Cf. Decreto n. 25.723/99 do Rio de Janeiro, que regulamenta a expfomção
da atividade de loterias pelo Estado do Rio de Janeiro.
Confrontado novamente com esse tema no julgamento da Reci. 22. DeCisão na RecI. n. 2.4601MC, Rei. Min. Marco Aurélio, em 21.10.2003,
n. 2.460, o STF enfrentou a questão da existência. ou não, de usurpa- DJU28.1O.2003.
ção de sua competência constitucional (CF, art. 102, I, "a"), em vir- 23. No julgamento da ReeI. n. 2,460IMC, de 10.3.2004, DJU 6.8.2004, o Tri-
bunal, por malOna, negou referendo à decisão concessiva de liminar e determmou a
20. Cf.• supra, na Oitava Parte ("O Controle Incidental ou Concreto de Nor~ suspensão. com eficãcia ex nunc, das ações civis públicas em curso. Restou mantida
mas no Direito Brasileiro"), n. 4 (Notas Peculiares sobre o Controle Incidental na a tutela antecipada nelas deferida, tendo em vista a existência de trarnttação de ação
Constituição de 1988), o item "A ação CIvil pública como instrumento de controle de direta de inconstitucIOnalidade perante o STF.
constitucionalidade" 24. ReeI. n. 2.190. ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 14.10.2005, p. 107.
A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 719
718

ordinário, V.g., como verificado na Recl. n. 1.865 (ReI. Min. Carlos de constitucionalidade - O STF considerava, iniCialmente, inadmis-
Britto, DJU 16.12.2005), em que se alegava que, "cassados os efeí-. sivel a reclamação em sede de controle abstrato de normas.'6
tos da segurança concedida pelo TJPI, formularam os impetrantes' Em diversas oportunidades o Tribunal manifestou-se no sentido
um novo pedido de equiparação remuneratória junto à 2' Vara àà. do não-cabimento da reclamação, como confirma a decisão da Recl.
Fazenda Pública de Teresina, com a mesma causa de pedir do RE n. 354/AgRg, da relatoria do Min. Celso de Mello (DJU 28.6.91):
n.216.647". '. "Agravo regimental- Reclamação que busca garantir a autoridade de
Na Recl. n. 430 (ReI. Min. Celso de Mello, DJU20.8.93) assen- decisão tomada em processo de controle concentrado de constltucio-
tou-se a possibilidade de conversão em reclamação do habeas corpus nalidade - Inadmissibilidade - Recurso improvido. Ajurisprudência
impetrado quando nele se formula protesto contra descumprimento do STF firmou-se no sentido do não-cabimento de reclamação na
de decisão proferida pelo Tribunal. hipótese de descumprimento de decisão tomada em sede de controle
Também na Recl. n. 1.728 (ReI. Min. Néri da Silveira, DJU concentrado de constitucionalidade, dada a natureza eminentemente
19.12.2001) enfatizou o Tribunal não ser cabível invocar contra objetiva do processo de ação direta - Precedentes da Corte".
aresto transitado em julgado a existência de "óbices intransponíveis. Posteriormente passou o Tribunal a admitir o cabimento da re-
de ordem legal", inclusive a não mais existência do cargo reclamado. clamação em sede de ação direta de inconstitucionalidade, desde que
Deferiu-se o pedido para que a autoridade reclamada (Ministro do ajuizada por legitimado para a propositura da própria ação direta de
Trabalho) procedesse à efetivação dos atos de nomeação dos recla- inconstitucionalidade e que tivesse o mesmo objeto.27
mantes no prazo de 30 dias. Em julgado de 25.11.92 o Min. Celso de Mello, em importante
Como já referido, expressiva novidade trouxe a Reforma do precedente, expressou a necessidade de que o entendimento Juns-
Judiciário quanto à reclamação para garantir a autoridade da decisão prudencial no sentido do não cabimento da reclamação em tal sede
do STF consagrada em sUmula vinculante (EC n. 45/2004). fosse revisto, abrindo caminbo para a possibilidade de se admitir a
O modelo constitucional adotado consagra, portanto, a admis- reclamação para atacardesobediência às decisões do STF em sede
sibilidade de reclamação contra ato da Administração ou contra de controle concentrado. Nesse caso, reconheceu o Tribunal que
ato judicial em desconformidade com a súmula dotada de efelto estariam legitimados aqueles entes e órgãos que, apesar de não terem
vinculante. sido parte na ação direta de inconstitucionalidade em cuja decisão se
Trata-se, certamente, de grande inovação do sistema, uma vez fundamenta a reclamação, fossem titulares de legitimidade concor-
que a reclamação contra atos judiciais contrários à orientação com rente para requerer ação idêntica.
força vinculante é largamente praticada.25 E certo que, excetuados É o que demonstra a decisão adotada na Recl. n. 397/QOIMC
os casos de usurpação de competência do Tribunal e de flagrante (ReI. Min. Celso de Mello, DJU21.5.93):
descumprimento de decisão por ele proferida, a :ecla~ação estava "Reclamação - Garantia da autoridade de decisão proferida pelo
(quase que) limitada às decisões dotadas de efeito vmculante nos STF em ação direta de inconstitucionalidade - Excepcionalidade
processos objetivos. do seu cabimento - Ausência de legitimidade ativa - Pedido não
conbecido.
A reclamação para assegurar o cumprimento de decisão de
"(... ).
mérito em ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória
26. Cf. MS n. 20.875/QO, ReI. Min. Aldir Passannho, DJU 28.4.89; Reei. n.
25. Assinale~se que na ReeI. n. 1.507-RJ observou Sepúlveda Pertence que era
136. ReI. para o acórdão Min. Oscar Corrêa, DJU 1.1 I.82; ReeI. n. 224. ReI. Min.
"a primeira vez que o Tribunal estava a 'aplicar o efeito vmculan~e_da dec~5~D ante-
Célio BOIJa, DJU 18.9.87; Reei. n. 208, ReI. para o acórdão Min. Moreira Alves,
rior. em ação &reta de inconstitucionalidade, de modo a cassar de.clsao .admml~tratIVa
DJU6.12.9I; ReeI. n. 235/QO, ReI. Min. Néri da SilveIra, DJU29.II.9I, p. 17.325.
de um Governador de Estado'" (ReeI. n. 1.507-RJ/QO. ReL Mm. Nen da Sdveu<t,
27. ReeI. n. 385/QO, ReI. Min. Celso de MeUo,]. 26.3.92. DJU 18.6.93.
DJU 1.3.2002).
I!
720 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 721

"A natureza eminentemente objetiva do controle normativo "Um dos aspecto,s q~e mais, têm preocupado o pais, pelo prisma
trato afasta o cabimento do instituto da reclamação por me,bs,ervân(:ia da nova o.:de:n constitucional, e a valorização dos jUizados de pri-
de decisão proferida em ação díreta (Recl. n. 354, ReI. Min. Celso r;'erra mstãncla -louvavel conquísta da c!dadanza - sem a contrapar-
de Mellol. Coloca-se, contudo, a questão da conveniência de que Se tIda de um mstrumento processual de umformização célere. omissão
atenue o rigor dessa vedação jurísprudencial, notadamente em facé incompreensivel do constituinte na conformação do controle difuso
..
da notória insubmissão de alguns Tribunais Judiciários às teses jurí: . e concen trado d e constítucionalidade.
dicas consagradas nas decisões proferidas pelo STF em ações direÚl§ "A força outorgada aos juízes de primeira mstância, sem um ins-
de inconstitucionalidade. trumentai adequad~ de ação para os Tribunais Superiores, subverte a
"A expressão 'parte interessada', constante da Lei n. 8.038/90, hlerar~Ula necessan,a ~ -: mais que isto - a tranqüilidade para a pre-
embora assuma conteúdo amplo no âmbito do processo subjetivo; servaçao da ordem JundICa, pOIS qualquer questão constítucional da
abrangendo, inclusive, os terceiros juridicamente interessados, maior relev~cia pode ser decidida de forma satisfativa, desde que o
deverá, no processo objetivo de fiscalização normativa abstrata, tnbunallmedlatamente supenor não suspenda a eficácia de decisões
limitar-se apenas aos órgãos ativa ou passivamente legitimados li Sua que ganmtam beneficios ou direitos.
instauração (CF, art. 103 ). (... )." "Pod~ndo .:'m juiz, de prime~ra instãncia, na hipótese aventada,
Tambem o julgamento da Recl. n. 399, em 7.10.93 (ReI. Min. ofertar satlsfaç~o defimtIva do direIto pleiteado e não podendo um
Sepúlveda Pertence, DJU 24.3.95), representou importaote avanço mmlst~o de Tnbunal Superior agir senão quando, na tramitação
no uso da reclamação em sede de controle concentrado, de constítu- procedimental, as questões forem-lhe submetidas, não é desavisado
cionalidade, ao admiti-Ia sob determinadas condições. E o que lê na dizer que hoje um juiz de primeira instância, mormente na Justi-
ementa do acórdão, verbís: "Reclamação - Hipótese de admissibili- ça. Federal, em determinadas circunstâncias, e mais forte que um
dade e procedência para salvaguarda da autoridade de decisão caute- M:mstr? do STJ ou STF, q~e só pode julgar os grandes temas, em
lar ou definitiva em ação de inconstitucionalidade. A jurísprudêncía açoes dlretas de mconstItuclOnalidade, ou nos processos em grau de
do Supremo Tribunal admite a reclamação para assegurar a autorida- recurso. Por outro lado, a avocatória obJeto de emenda do Governo
de de suas decisões positivas em ação díreta de inconstitucionalidade, está marc~da pe~o e~tl~a ~o regime totalitário e é utilizada para
quando o mesmo órgão de que emanara a norma declarada inconsti- suspender declsoesJundlcas , à luz de 'argumentos políticos', como
tucional persiste na prática de atos concretos que lhe pressuponam a os de grave lesão à ordem pública, econômlCa ou fmanceÍra.
validade (cf. Recl. ns. 389, 390 e 393) (... )", "E~tre as v~ntagens do presente projeto sobre aquele que pre-
Reconheceu-se, assim, o cabimento de reclamação quando o tende ~el.ntroduzlf a avocatória, militam: a) a competência do STF
próprio órgão responsável pela edição da lei declarada inconstítu- se~ o~gl~~a e, não decorrencial; b) os motivos para sua propOSIção
cional persistisse em prática de atos concretos que pressuponam a serao JundICos e não meramente 'polítícos'; c) não haverà inter-
validade da norma declarada inconstitucional.28 ferênc.Ia díreta nas decisões de primeira instância suspendendo sua
Com o advento da EC n. 3/93, que introduziu a ação declaratória eficacla sem fundamentos jurídicos, mas decisão definitiva sobre a
de constitucionalidade em nossO ordenamento Jurídico, admitiu-se ~uestão su.scitada; d) em questões polêmicas, a uniformização far-se-
expressamente a reclamação para preservar aa?toridade da decisão a com rapidez, ofertando-se ao cidadão e ao Estado uma mterpreta-
ção defmitiva."
do STF na decisão de mérito na ação declaratóna.
Nesse sentido, vale ressaltar passagem da justificativa do Depu- O Min. Moreira Alves (Relator), no julgamento da ADC n. 11
tado Roberto Campos na PEC n. 130/92, que resultou na EC n. 3/93: QO (DJU27.10.93), destacou as singularidades do novo instituto nos
termos seguintes:
28. Cf. Julgamentos nas ReeI. ns. 399 (ReI. Min. Sepúlveda Pertence, j. 7.10.93. . "( ... ). Para enfrentar esse problema, a ação direta de incons-
DJU24.3.95) e 556 (ReI. Min. MaUnCIO Corrêa,j. Il.l1.96. DJU 3. 10.97). titucionalidade não é instrumento suficiente em virtude de duas
722 A RECLAMAÇÃO CONSTITUClONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTlTUClONAL NO STF
723

círcunstâncias: a de que - como ficou assentado no julgamento da anteriormente -que deu margem à sua criação. De feito, se a eficáCIa
ReprInconst n. 1.349 (RTJ 129/41 e ss.) - não é ela cabível quando o erga omnes q~e também possuem suas decisões de mérito lhe dá a
autor a propõe sustentando a constitucionalidade do ato normativo,e mesma eficacIa que têm as decisões de mérito das ações diretas de
pretendendo, portanto, obter a declaração de sua constitucionalidade' inconstitucionalidade (e - note-se - é em virtude dessa eficácia erga
pela via indireta da decisão de improcedência dessa ação; e a de qué . omnes que esta Corte, por ser alcançada igualmente por ela, não
a eficácia da decisão dessa ação, quer de procedência, quer de Ímpro:. , pode voltar atras na declaração que nela fez anteriormente l, do efeito
cedência, apenas se estende a todos (eficácia erga omnes) no sentido vínculante que lhe é próprio resulta: a) se os demais órgãos do Poder
de que, em face de todos, sua eficácia se exaure na declaração de que . Judiciário, nos casos concretos sob seu julgamento, não respeitarem
o ato normativo é inconstitucional (e, portanto, nulo desde a origem) . ' a deCIsão prolatada nessa ação, a parte prejudicada poderá valer-se
ou constitucional (e, conseqüentemente, válidol, o que implica a pos" do Instituto da reclamação para o STF. a fim de que esté garanta a
sibilidade de o Poder Judiciário, por suas instâncias inferiores, poder outorid~de dess~ deci~ão [grifos nossos]; e bl essa decisão (e ISSO
continuar a julgar em contrário, hipótese em que, ás partes prejudi' se restnnge ao dISPOSItIVO dela, não abrangendo - como sucede na
cadas nos casos concretos, só restará, em recurso extraordinário, ver Alemanha -: os seus fundamentos determinantes. até porque a EC n.
respeitada, pelo STF, sua decisão na ação direta de inconstitucionali_ 3 so atnbUl efeIto vínculante à própria decisão definItiva de mérito)
dade sobre o ato normativo que dela foi objeto; e mais: essa eficacia - ~ssa deCIsão, repito - ~lcança os atos normativos de igual con-
erga omnes da ação díreta de inconstitucionalidade não impede que teudo daquele que deu ongem a ela mas que não foram seu objeto.
o Poder ou órgão de que emanou o ato normativo julgado inconsti~ para o fim de, rndependentemente de nova ação, serem tidos como
tucional volte a reincidir na inconstitucionalidade, editando novo ato constitucionais ou ínconstitucionais, adstrita essa eficácia aos atas
com o mesmo conteúdo do anterior, hipótese em que será necessária nonnativos emanados dos demais órgãos do Poder Judiciário e do
a propositura de nova ação direta de inconstitucionalidade, pois a Poder Executivo, mna vez que ela não alcança os atas editados pelo
declaração anterior não alcança esse segundo ato. Poder LegislatIvo".
"O mesmo não ocorre com a ação declaratória de constituciona' Assim, se havia dúvida sobre o cabimento da reclamação no
Iidade como foi instituída pela EC n. 3, de 1993. Com efeito, sendo processo de controle abstrato de normas,29 a EC n. 3/93 encarregou-
uma ação que visa díretamente à obtenção da declaração de que o ato se de espanca-la, pelo menos no que concerne à ação declaratória de
normativo seu objeto é constitucional, é ela cabivel exatamente para constitucionalidade.
esse fim, embora, se julgada improcedente, essa decisão de improce- Subsistiu, porém, a controvérsia sobre o cabimento de reclama-
dência implique a declaração de inconstitucionalidade do ato norma- ção em sede de ação direta de inconstitucionalidade.
tivo em causa. Por outro lado, estabelecendo a EC n. 3, de 1993. que Eram minoritárias as vozes que sustentavam - como a de Sepúl-
'as decisões defrnitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal veda Pertence - que, "quando cabível em tese a ação declaratória de
Federal, nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato constitucionalidade, a mesma força vínculante haverá de ser atribuida
normativo federal produzirão eficácia contra todos e efeito vinculan- à decisão definitiva da ação díreta de inconstitucionalidade".30
te, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder
A jurisprudência do STF no tocante à utilização do instituto da
Executivo'. essas decisões, sejam de procedência (constitucionalida- reclamação em sede de controle concentrado de normas deu smais
de) ou de improcedência (inconstitucionalidadel, não apenas terão de grande evolução no julgamento da Reci. n. 1.880/QO/AgRg, em
eficácia erga omnes mas também força vinculante relativ~ente 23:5.2002 (rel Mm. Mauricio Corrêa, DJU 19.3.2004), quando no
aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo. E um Tnbunal restou assente o cabimento da reclamação para todos aque-
plus com relação à ação díreta de inconstitucionalidade, graças ao
qual se dá ao novo ínstrurnento de controle de constitucionalidade 29. CL. sobre o assunto, ReeI. n. 397, Rei. Min. Celso de Meno, DJU21.5.93.
a eficácia necessária para enfrentar o problema - como salientado 30. ReeI. n. 167, despacho, RDA 206/246 (p. 247).
724 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 725

les que comprovarem prejuizo resultante de decisões contrárias sede de reclamação, a constitucionalidade de lei de teor idêntico
teses do STF, em reconhecimento à eficácia vinculante erga ou semelhante ao da lei que já foi objeto da fiscalização abstrata de
das decisões de mérito proferidas em sede de controle conc':ntradc,~: constitucionalidade perante o STF. Entendimento que segue a ten-
Tal decisão foi assim ementada: dência da evolução da reclamação como ação constitucional voltada
à garantia da autoridade das decisões e da competência do STF.
"Questão de ordem - Ação direta de inconstitucionalidade_
gamento de merito - Parágrafo único do art. 28 da Lei n. 9.E:681'99\
Cabimento da reclamação para preservar a alltoridade de de-
constitucionalidade - Eficácia vinculante da decisão - R,~f1exm,j::
cisão do STF em calltelar concedida em ação declaratória de cons-
Reclamação - Legitimidade ativa. titllcionalidade e em ação direta de inconstitllcionalidade - Consa-
"( ... ). " grando o texto constitucional de 1988 a possibilidade de éoncessão
"4. Reclamação - Reconhecimento de legitimidade ativa aa de cautelar em ação direta de inconstitucionalidade (CF, art. 102, l,
causam de todos que comprovem prejuizo oriundo de decisões," "p"), parece que também essa decísão há de ser dotada de eficácia
orgãos do Poder Judiciário, bem como da Administração Púhlie, geral. E que se cuida de suspender a vigência de uma norma32 até o
todos os niveis, contrárias ao julgado do Tribunal - Ampliação
conceito de 'parte interessada' (Lei n. 8.038/90, art. 13) - ",euexm 32. li freqüente a indagação sobre a repercussão da cauteia em sede controle
processuais da eficácia vinculante do acórdão a ser preservado. abstrato de normas, se ela opera no plano de vigênCia da norma ou no plano da eficá-
Cia. No Direito Alemão, o Bundesverfassungsgencht tem-se utilizado da competênCia
"( ._.) " n, para expedir providênCias cautelares (emstweilige Anordnung) (§ 32 da Lei de Orga-
É certo, portanto, que qualquer pessoa afetada ou atingida pelo nização do Tribunal), suspendendo, prOVIsoriamente, a execução da lei questionada
ato contrário à orientação fixada pelo STF disporá de legitimidade (BVeifGE I, I (2); 7, 367 (373); 14, 153,43,47 (51)). Sempre se afumou, porém. que
a decisão proferida na medida cautelar não contemplava as razões eventuais que per-
para promover a reclamação. mitiam ao requerente sustentar a nulidade da leí, até porque. nesse processo, não se
A controvérsia restou defmitivamente superada com o advento podena procedera umJuizo de validade (BVeifGE3, 34 (37); 6,1 (4); 43,198 (200);
da EC n. 45/2004, que expressamente estabeleceu que "as deCIsões Ipsen, Rechtsfolgen der Veifassungswidrigkeit van Norm und Einzelalct, Baden-
definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, Baden, 1980, p. 227). Parecena correto, portanto, supor que a suspensão limmar se
refere, aqUI, tão-somente. à execução ou à aplicação da lei, restando mcólume a lei
nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias propriamente no plano da validade (lpsen. Rechtsfolgen der Veifassungswidngkezt
de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito von Nonn und Einzelakt, cit, p. 227). Não havia dúvida. outrossim, de que o efeito
vinculante, relativamente aos demais orgãos do Poder Judiciário e à VInculante (Bindungswirkung - § 31 (l) da LeI de OrganIzação do Tribunal) das
decisões do Bundesveifassungsgencht era suficiente para assegurar a não-aplicação
Admimstração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual
de uma norma pelos ôrgãos constitucIOnais, autoridades admímstrativas e tribunais,
e municipal" (redação dada pela EC n. 45/2004 ao art. 102, § 2°, da suspendendo. aSSIm, sua vigênCIa fátlca ou sua eficacIa (lpsen, Rech/sfolgen der
CF de 1988). Veifassungswidrigkeit von Norm und Einzelakt, cit., p. 229). Entretanto. essa questão
ganhou novos desenvolvimentos com a medida limmar deferida pelo Bundesverfas-
Por fim, conforme já anotado na Sexta Parte deste livro, quando
szmgsgencht, em 21.6.74, nos termos do § 32 da LeI de Orgamzação do Tribunal,
da discussão a respeito da segurança e estabilidade das deCIsões em para (a) suspender a VigênCIa do § 218a do CP, na sua nova redação; (b) determinar
controle abstrato de constitacionalidade, merece destaque o atual que o disposto nos §§ 218b e 219 do CP, na sua nova versão, se aplicasse, igual-
debate em curso nos autos da Rec!. n. 3.01431 quanto à possibilidade mente. aos casos de aborto praticados nas primeIras 12 semanas desde a concepção;
(c) estabelecer que o aborto praticado por médico com o assentimento da gestante,
de o Tribunal, mesmo que não se empreste eficácia transcendente nas primeiras 12 semanas, não sena punível se a gestante houvesse sido vitima de
à decisão em controle abstrato de constitucionalidade, analisar, em cnmes previstos nos §§ 176, 177 ou 179, I, e houvesse fortes razões para admitir que
a gravidez resultara desse fato (BVeifGE 37,324 (325)).
31. ReeI. n. 3.014, ReI. Min. Carlos Britto. Votaram pela improcedência, Posteriormente a Corte Constitucional Alemã concedeu medida cautelar para
acompanhando o Relator. a Min. Cármen Lúcia e o Min. Sepúlveda Pertence; e pela (a) suspender a execução da lei que emprestava nova redação ao estatuto sobre o
procedênCia da reclamação o Min. Gilmar Mendes. O julgamento acha-se suspenso serviço militar obrigatório (Wehrpjlichtgesetz), a partir de 16.12.77 ate a pronúnCIa
em virtude de pedido de vista do Min. Ricardo Lewandowski. de decisão definitIva; (b) determinar, a partir de 16.12.77. a aplicação das leis sobre
726 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF
727

pronunciamento definitivo do STF. Corno urna conseqüência direta .•. inconstitucionalidad~, é lícito indagar se essa decisão seria, igual-
da natureza objetiva do processo, a decisão conceSSiva de . . ... roente, dotada de efeIto vinculante.
em sede de ação direta de inconstitucionalidade produz eficácia com··
. Essa i~dagação tem relevância especialmente porque, COmo se
relação a todos.
viu. da qualidade especial do efeito vinculante decorre, no nosso siste-
Se não subsiste dúvida relativamente a eficácia erga omnes d~ ma de controle direto, a possibilidade de propositura de reclamação,3J
decisão concessiva proferida em sede de cautelar na ação direta de Aceita a idéia de que a ação declaratória configura uma "ação
direta de inconstitucionalidade com sinal trocado", tendo ambas ca-
o serviço militar obngatório (Wel:rpjlichtgesetz) e sobre o serviço cIvil (Zivildiens.;.
tgesetz), nas versões vigentes em 31.7.77, até a publicação da de.cisão definitiv~
ráter dúplice ou ambivalente, afigura-se dificil admitir que a decisão
(c) reconhecer a subsIstência das relações jurídicas do serviço cIvil (Zivíldienst) proferida em sede de ação direta de inconstitucionalidade seria dota-
estabelecidas até 15.12.77 (BVerfGE 46, 337 (338». .. da d: efeitos o~ ~onseqüências diversos daqueles reconbe~idos para
Essas decisões suscitaram novas indagações, POiS já não se tratava apenas d~ a açao declaratona de constltuclOnalidade.
expedir ordem para que as autoridades administrattvas e ?S Juizes se abstl.:'essem ,de
aplicar, tempornnamente. detenmnada norma. Como J~stlficar a ~utonzaçao. contida Argumenta-se que, ao criar a ação declaratória de constitu-
expressamente na medida cautelar, para que fosse aplIcado '? Drrelto.~tenor? Essa cionalidade de lei federal, estabeleceu o constituinte que a decIsão
autonzação somente poderia ser aceIta se se afigurasse passlvel adtmhr que as pro- defmitlva de mérito nela proferida - incluída aqui, pois, aquela que,
vidências cautelares, previstas no § 32 da Leí do Bundesveifassungsgen'cht. afetam, Julgando Improcedente a ação, proclamar a inconstitucionalidade da
eventualmente. não só a chamada vigência fática (faklische Geltung), mas também a
V1gêncla normahva (nonnatiVe Gelhmg) (Ipsen, Rechtsfolgen der Verfassungswidrigkeit nonna questionada - produzirá eficácia contra todos e efeito VIn-
von Nonn und Einzelakt. cit, p. 230). culante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e do
Do contIlÍno ter-se-ia de presumir que, na primeira hipótese. a punibilidade do Poder Executívo (arl. 102, § 22 , da CF de 1988).
aborto praticado nas pnmelras 12 semanas decorreria não da lei propriamente, tal
como exigido pela Constituição (art. 103. II), mas da medida cautelar deferida pelo Nos tennos dessa orientação, a decisão proferida em ação direta
Tnbunal (Ipsen. Rechtsfolgen der Verfassungswidrrgkeit von Norm und Einzelafet, de inconstítucionalidade contra lei ou ato nonnatívo federal haveria
cit. p. 230). Da mesma forma, o reconhecImento das razões .d~ consciênCIa para de ser dotada de efeito vinculante, tal corno ocorre COm aquela profe-
prestar o serviço militar não teria fundamento na leI, tal como eXIgIdo pelo art. 4Sl-, III, rida na ação declaratória de constitucionalidade.
da Lei FundamentaL mas na medida cautelar (lpsen. Rechlsfolgen der VeifassungswJ-
dngkeit von Norm und Einzelakt, ci~.• pp. 230-231). Adem~i~•. situado o pro.blema ,?aí ter o STF reconhecido, na RecL n. 1.880-SP/AgRgfQO,
apenas no plano da eficácia. surgiria, inevitavelmente. a POSSIbIlIdade de conflito por sessao de 7.11.2.002 (ReI. Min. Mauricio Corrêa), corno já apontado,
demais embaraçoso. no plano estrito da validade. entre o DireIto antenor, que passa a a conslltuclOnahdade do art. 28, paragrafo tinico, da Lei n. 9.868/99,
ser aplicado temporariamente, por força da medida cautelar, e.a noma supervemente.
que teve sua eficácia suspensa em deco~ncla da mesma me?lda. E que, de u:na pers- q?e atribui efeito VInculante as decisões de mérito proferidas em ação
pectiva estritamente normativa, subsistinam, ainda .q~e por lapso de tempo IU11ltado, dlreta de inconstítucionalidade,
duas nonnas válidas regulando a mesma SItuação fauca. Em outros termos. o abo~ Se entendennos que o efeito vinculante da decisão está intima-
pral1cado nas 12 pnrneiras semanas não constituiria cnme, segundo a regra contlda
no ar!. 219 do CP Alemão. mente vinculado à própria natureza da Jurisdição constitucional em
Aparentemente, o dilema somente pode ~e: solvi.do se se puder, a~tir .que a um dado Estado Democrático e â função de guardião da Constítuição
medida cautelar suspensiva diz respeIto não 50 a eficacta mas tambem a vahd~d_e, des.empenbad~ pelo Tribunal, ternos de admitir, igualmente, que o
afetando a vigênCIa da lei tanto no plano fático quanto no plano nonnatIvo. A. declsao legrslador ordmano e o próprio Tribunal não estão impedidos de re-
proferida na medida cautelar mosrn:u--se-la, ~sim. hábil a suspender, temp~ranamente.
a própria validade da norma questI~nad.a, dando e~sefo, even~almente, a repnstma- conbecer essa proteção processual especial a outras decisões de con-
ção do Direito anterior. A questão e delicada no Drrelto Alemao, tendo em Vista que trovérsias constitucionais proferidas pela Corte. Assinale-se nessa
a cautelar, em princípio, tem sustentação exclUSIvamente legal. T~l como se p~d~ra mesma linba, que essa Corte não estará exorbitando de suas funções
constatar, entre nós o tema não oferece as mesmas dificuldades venficadas no Direito ao rec.onbecer efeito vmculante a decisões paradigmáticas por ela
Processual ConstitucIonal Tedesco, especialmente porque desde 1977 o texto consum-
Clonai brasileJfO (CF de 1967/69, com a EC n. 7n7, ar!. 1I9,l, "p", e CF de 1988, ar!. profendas na guarda e na defesa da Constituição.
102, I, "p") atribui competência originária ao STF parã julgar o. pedido de m~didacau­
telar nas representações e nas ações diretas de inconstItucIonalIdade, respectivamente. 33. Cf. ADC n. liQO, ReI. Min. Moreíra Alves, DJU27.1O.93.
728 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSmUCIONAL NO STF 729

Em verdade, o efeito vinculante decorre do particular papel decisão sobre pedido de tutela antecipada, contra a Fazenda Pública.
político-institucional desempenhado pela Corte ou pelo Tribunal que tenha por pressuposto a constitucionalidade ou a inconstitucio-
Constitucional, que deve zelar pela observância estrita da Constitui_ nalidade do art. 1Q da Lei n. 9.494, de 10.9.97, sustando, ainda, com
ção nos processos especiais concebidos para solver determinadas e a mesma eficãcia, os efeItos futuros dessas decisões antecipatórias
específicas controvérsias constitucionais. de tutela já proferidas contra a Fazenda Pública, vencidos, em parte,
Assim, independentemente da positivação do instituto no direi- o Min. Néri da Silveira, que deferia a medida cautelar em menor
to ordinário, o argumento decisivo em favor da adoção da cautelar extensão, e, integralmente, os Mins. I1mar Gaivão e Marco Aurélio,
em ação declaratória advinha da própria especificidade do instituto, que a indeferiam" (DJU21.5.99).
destinado a solver controvérsias constitucionais de grande magnitu_ Portanto, considerou o Tribunal que a decisão concessiva da
de entre os diversos órgãos judiciários, administrativos e políticos. cautelar afetava não apenas os pedidos de tutela antecipada ainda não
Entendi, então, que da própria competência que se outorga ao STI' decididos, mas todo e qualquer efeito futuro da decisão proferida nes-
para decidir, com eficãcia erga omnes e efeito vinculante, a ação se tipo de procedimento. Em outros termos, o Poder Público Federal
declaratória de constitucionalidade, tendo em vista a necessidade de ficava desobrigado de observar as decisões judiciais concessivas de
definição de uma controvérsia constitucional, decorre a atribuição tutela firndadas na eventual inconstitucionalidade da Lei n. 9.494/97
para conceder cautelar que, pelo menos, suspenda o julgamento dos a partir da data da decisão concessiva da cautelar em ação declarató-
processos ou seus efeitos até a prolação de sua decisão definitiva.J4 ria, independentemente de a decisão judiCIal singular ter sido profe-
Na ADC n. 4 (reI. Min. Sydney Sanches, DJU 21.5.99) o STI' rida em periodo anterior. E, mais, que, em caso de não observância
acabou por adotar, nas suas linhas bãsicas, a argumentação acima ex- por parte dos órgãos jurisdicionais ordinários, o remédio adequado
pendida, consagrando o cabimento da medida cautelar em sede de ação haveria de ser a reclamação.
declaratória para que os juízes e os tribunais suspendam o julgamento
dos processos que envolvam a aplicação do ato normativo impugnado.
3. Decisão em argiiição de descumprimento
Entendeu-se admissível que o Tribunal passasse a exercer, em de preceito fundamental e reclamação
sede de ação declaratória de constitucíonalidade, o poder cautelar
que lhe é inerente, "enfatizando-se que a prãtica da jurisdição cau- Os vários óbices à aceitação do instituto da reclamação em sede
telar acha-se essencialmente vocacionada a conferir tutela efetiva e de controle concentrado parecem ter sido superados, estando agora
garantia plena ao resultado que deverã emanar da decisão [mal a ser o STF em condições de ampliar o uso desse importante e singular
proferida naquele processo objetivo de controle abstrato". instrumento da jurisdição constitucional brasileira.
É que, como bem observado por Celso de MelIo, o Plenãrio do Com o advento da Lei n. 9.882/99, que estendeu o reconheci-
STF, ao deferir o pedido de medida cautelar na ADC n. 4-DF, expres- mento do efeito vinculante aos demais órgãos do Poder Público, a
samente atribuiu, à sua decisão, eficácia vinculante e subordinante, questão assume relevo prãtico em razão, especialmente. do objeto
com todas as conseqüências juridicas daí decorrentes. amplo da argüição de descumprimento de preceito fundamental. que
O STF, ao conceder o provimento cautelar requerido na ADC n. envolve até mesmo o Direito municipal.
4-DF, proferiu, por maioria de nove votos a dois, a seguinte decisão: Não hã dúvida de que a decisão de mérito proferida em argüição
"O Tribunal, por votação majoritária, deferiu, em parte, o pedido de de descumprimento de preceíto firndamental serã dotada de efeíto
medida cautelar, para suspender, com eficácia ex nunc e com efeito vinculante. dando azo. por isso. à reclamação para assegurar a auto-
vinculante, até final julgamento da ação, a prolação de qualquer ridade da decisão do STF.
Não impressiona, igualmente. o fato de o efeito vínculante ter
34. Cf. Gilrnar Ferreira Mendes. in Repertono de Jurrsprudêncla JOB 20/97, 2ll sido estabelecido em lei (e não estar expressamente previsto na Cons-
qUinzena de outubro/97. Caderno I, pp. 501-504.
A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 731
730 A RECLAMAÇÃO CONSmUCIONAL NO STF

~, Em geral. tem-se dado resposta negativa a essa pergtmta, com


tituição). Ê que, como observado ~cima, o e~eito vínculante COI,lfi.:ura
base no argumento relativo iI não-aplicação do efeito vinculante iI
apanágio da jurisdição constitucIOnal e nao depende, por ISSO"
atividade legislativa.
regra expressa na Constituição. 3s '
Assim, lei de teor idêntico àquela declarada inconstitucional
Nesse sentido foi também a manifestação do Min.
, somente poderia ser atacada por ação autônoma.
da Silveira (Relator) na ADIn n. 2.2311MC Ci· 5.12.2001,
17.12.2001), que questionava a constitucionalidade, den~; Ê possivel, porem, que essa controvérsia tenha perfil, hOJe,
§ 32 do art. lO da Lei n. 9.882/99, deixando assent:, que ?e.ste. acentuadamente acadêmico.
de cautelar, nada está, assim, aJustificar a suspensao da vlgencla, Ê que, ainda que não se empreste eficáCIa transcendente (efeito
§ 32 do art. lO da Lei n. 9.882/99, das express?"s.: '~efeito vinculante " vínculante dos fundamentos determinantes) à decisão," o Tribunal,
relativamente aos demais órgãos do Poder Publico. Indefiro, assim; , em sede de reclamação contra aplicação de lez zdêntica àquela
a cautelar, quanto ao art. 10, caput, e § 32, da Lei n. 9.882/99",36 . ·i ',,' declarada inconstitucional, poderá declarar. incidentalmente, a
Da mesma forma. cabivel a reclamação para assegurar a inconstitucionalidade da leI ainda não atingida pelo juízo de incons-
ridade da decisão proferida em argüição de descumprimento de titucionalidade.39
ceito fundamental, não hã razão para não reconhecer tambem o '" Nesse sentido, refira-se uma vez mais a RecI. n. 595 (ReI. Min.
vinculante da decisão proferida em cautelar na argülção de descum' Sydney Sanches), na qual a Corte declarou a inconstitucionalidade de
primento de preceito fundamental (~. 52, § 32, da _Lei n. 9.882/~~)i expressão contida na alínea "c" do ínciso I do art. 106 da Constitui-
o que importa, igualmente, a adrnlssao d~ reclamaçao para garantug ção do Estado de Sergipe, que outorgava competência ao respectivo
cumpn'menta de decisão adotada pelo Tnbunal em sede de cautelar.; ." Tribunal de Justiça para processar e julgar ação direta de Inconstitu-
Se não parece haver dúvida quanto à legítmúdade do efeito vió.: Cionalidade de normas municipaiS em face da Constituição Federal.
culante - e, portanto, sobre o cabimento de reclamação em sede de Assim, em relação a lei de teor idêntico aquela declarada in-
decisão de mérito em argüição de descumprimento de preceito funda- constitucional - ainda que se afrrm~ o não-cabimento de reclamação
mental-, a fórmula um tanto abrangente utilizada pelo legislador:. no - poder-se-à impugnar sua aplicação por parte da Administração ou
§ 32 do art. IOda Lei n. 9.882/9931 pode suscitar alguma apreensao: do Judiciàrio, requerendo-se a declaração incidental de Inconstitu-
Ê que, levada às últ1ITlas conseqüências, ter-se-ia que admi~ cionalidade.
tambem uma vinculação do legislador à decisão profenda em argui- Essa solução terá um inegável efeito prático, na medida em que
ção de descumprimento de preceito fundamental. dispensará a utilização da via específica do processo obJetivo para
Como se sabe, cuida-se de tema assaz dificil no âmbito da teoria (re)afirmar a constitucionalidade de norma já apreciada pela Corte.
da jurisdição constitucional, tendo em vista .o perigo de um enges- De fato, não faria muito sentido se o Tribunal tergiversasse,
samento da ordem juridica objetiva. AdemaiS, cabena Indagar se a não conhecendo de reclamação por questões meramente formais, e
fórmula adotada pelo legislador no § 32 do art. lO da Lei n. 9.882/99 exigisse do Interessado a propositura da argüição de descumprimento
1ITlportaria a possibilidade de abarcar, com efeito vínculante, as leiS de preceito fundamental para atestar a constitucionalidade de lei mu-
de teor idêntico àquela declarada ínconstltuclOnaI. rucipal ou estadual de teor idêntico a outra que já teve a legitimidade
constitucional reconhecida pela própria Corte.
35. Cf.. sobre o assunto, acíma, no n. 2 (Objeto da Reciam'!.çào), ~ Item ",:.~e.
clamação para assegurar a autoridade das deCisões do STF. Conslderaç~es Ge~ls .
38. Cf. ReeI. n. 1.987, ReI. Min. Maurieío Corrêa, DJU21.5.2004.
36. Julgamento não concluído em vírtude de pedido de Vista do Mm. Sepulveda
39. Cf.. supra. na Sexta Parte n. VI, "Segurança e Estabilidade das Decisões
Pertence. fi - em Controle Abstrato de ConstttuciOnalidade", o item A eficáCia "erga omnes" da
37. Leí n. 9.882/99. art.IO, § 32, '"A decisão terá :fi:àc!~ contra todos e e elto
declaração de inconstitucionalidade e a superveniência de leI de teor idêntico.
vinculante relativamente aos demaiS órgãos do Poder Publico ,
732 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 733

Nessa perspectiva, parece bastante lógica a possibilidade A reclamação constitucional - sua própria evolução o de-
que, em sede de reclamação, o Tribunal analise a C011stitUloionalidELde monstra - não mais se destina apenas a assegurar a competência
de leiS cujo teor é idêntico, ou mesmo semelhante, ao de outras leis e a autoridade de decisões específicas e bem delimitadas do STF,
que já foram objeto do controle concentrado de constitucionalidade. mas também se constltui como ação voltada á proteção da ordem
perante o STE40 . constitucional.

40. O Tribunal está a discutir o tema na Reei. n. 3.014. proposta pelo Municí~ Tal como já explicitado em relação á ação direta de incons-
pio de IndaiatubaJSP contra decIsão proferida pelo TRT~ 15í1 Região. A controvérsia: titucionalidade e à ação declaratória de constitucionalidade,41 a
constitucíonal posta ao crivo do Tribunal. no caso, e a corn{)atibilidade. ou não. da Lei não-observância de decisão concessiva de cautelar em argüição de
muníclpai n. 4.233/2002 com o art. 87 do ADCT - questão constitucional idêntica â
que foi objelo da ADIn n. 2.868-PI. '. descumprimento de preceito fundamental poderá dar ensejo também
O Min. Carlos Bntto, Relator, votou pelo não-conhecimento da ação, por consi. â reclamação, nos expressos termos do art. 13 da Lei n. 9.882/99.
derar que seu cabimento passa pelo exame da possibilidade de se atribuir efeitos irra~
diantes aos motlVos determinantes da decisão tomada no controle abstrata de nomas,
E que a decisão concessiva de liminar na argüição de descum-
Em votO-VISta, considerei que não se está a falar, na hipótese, de aplicação da primento de preceito fundamental será, igualmente, dotada de efeito
teoria da transcendência dos motivos determInantes da decisão tomada no controle vinculante.
abstrato de constItucíonalidade. Trata-se - isto. SIm - de um poder mslto à própria
competência do Tribunal de fiscalizar íncidentalmente a constitucionalidade das leis
e dos atos normativos. E esse poder é realçado quando a Corte se depara com leIS de 4. SÚlllula vinculante e reclalllação cOllStitllcional
teor idêntico aquelas já submetidas ao seu crivo no âmbito do controle abstrato de
constitucionalidade. Estabelece o art. 103-A, § 3·, da CF de 1988 que, "do ato ad-
NaADIn n. 2.868-PI. Relator para o acórdão o Min. Joaquim Barbosa., o Tribu-
nal fixou o entendimento de que ê constituCIonal a lei da entidade federattva que fixa ministrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou
valores diferencíados daquele estipulado, em caráter transltóno, pelo art. 87. II, do que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal
ADCT. Entendeu-se, assun, que o art. 100, § 5!l, da CF permíte que a lei fixe valores Federal que, Julgando-a procedente, anulara o ato administrativo ou
distintos como referencial de "pequeno valor" apto a afastar a mcidêncIa do sistema
de pagamento por meio de precatarias dos débitos da Fazenda Pública. cassará a decisão jUdicial reclamada, e determinará que outra seja
A teleolOgia das nOrmas constitucionais é a de assegurar a autonomia das entI- proferida com ou sem a aplicação da sümula, conforme o caso" o

dades federativas, de forma que Estados e Municipios possam adequar o sistema de A reclamação constitucional vem prevista no ar!. 102, I, "1", do
pagamento de seus débitos ãS peculiaridades financeIras locaIS: O referencial "peque-
no valor". para afastamento da aplicação do sistema de precatemos, deverá ser fixado Texto Constitucional para preservar a competência e garantir a auto-
conforme as especificidades orçamentárias de cada ente da Federação. ridade das decisões do STF. O modelo constitucional adotado consa-
Parece claro, da mesma forma, que essa autonomía do ente federatIvo devere gra a admissibilidade de reclamação contra ato da Administração em
respeitar o pnncípío da proporcionalidade. É dizer: não poderá o Estado ou o Muni-
cípIO estabelecer um valor demasIado, além., ou aquem., do que sena o valor razoâveI desconformidade com a sÚInula. E, na certa, essa é a grande inovação
de "pequeno valor". conforme suas disponibilidades financerras. Cada caso ê um do sistema, uma vez que a reclamação contra atos judiciais contrános
caso, cujo juízo de proporCionalidade pressupõe a análise dos orçamentos de cada â orientação com força vinculante já era largamente praticada. É cer-
ente federatIvo.
A lei do Município de IndatatubaJSP, no entanto. fixou um valor de R$ 3.000,00,
que parece bastante razoável. mesmo se comparado com os parâmetros do arl 87 ração". A lei de cada ente da Federação poderá fixar outros valores não Vinculados
do ADCT. Neste ponto, no julgamento da ADIn n. 2.868-PI o Tribunal considerou ao salário mínImo.
razoàvel valor mferior a esse, no montante de cinco salános minimos. Entendo, portanto, que, diante do que já fOi decidido pelo Tribunal na ADIn
AdemaiS, ainda que o Tribunal não tenha se pronunciado expressamente sobre n. 2.868~PI, deve-se conhecer da reclamação para afirmar a constitucionalidade da
este tópíco, a autonomia conferida aos entes federativos pelo art. 100, § 5!l, da CF e LeI munICIpal n. 4.233/2002, do Municlpio de IndaiatubalSP tendo em vista o teor
peio art. 87 do ADCT abrange, inclusive, a possibilidade de que o referencial "pe- idêntico (julgamento íniciado em 8.8.2007, Informativo STF 475).
queno valor' não seja necessariamente fixado em quantidade de salânos mlnunos: 41. Cf., supra, Sexta Parte. sobre "Ação Direta de Inconstitucionalidade, Ação
O art. 87 do ADCT deixa claro que os valores nele estabeiecidos têm vigênCia "até Declaratóna de ConStitucIonalidade e Ação Direta de Inconstitucionalidade por
que se dê a publicação oficial das respectivas leis defmidoras pelos entes da Fede- Omissão",
734 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 735

to que também essa reclamação estava limitada ás decisões dOltad,l!i' Reclamação e suspel/são da execução de lei pelo Senado
de efeito vínculante nos processos objetivos.
De qualquer sorte, tem-se, aqui, a clara convicção de que :'. O STF está a examínar a Recl. n. 4.335, ajuízada pela Defenso-
ministração Pública contribui, decisivamente, para o II'lCn!m,mt(ld!ci'. fía pública da União contra o Juiz de Direito da Vara de Execuções
Penais da comarca de Rio BrancolAC.
demandas judiciais de caráter homogêneo. Dai situar-se na seara:<la
Admmistração Pública o grande desafio na implementação da Alega-se o descumpnmento da decisão do STF no HC n.
la vinculante em toda a sua amplitude. 82.959, da relatoría do Min. Marco Aurélio, julgado em sessão
A adoção da sÚInula vinculante para a Administração púhli,"· plenária de 23.2.2006 (DJU 1.9.2006), no qual a Corte declarou a
vai exigir a promulgação de normas de organização e pn)cedirne[li~ inconstitucionalidade do art. 2°, § !º, da Lei n. 8.072/90 ("Lei dos
que permitam assegurar a observância, por parte desta, dos ditames Crimes Hediondos"), que vedava a progressão de regrrne em casos
contidos na súmula sem que se verifique rrma nova e adicional sobre~ de crimes hediondos.
carga de processos - agora, de reclamações - para o STF. Entendeu o Magistrado de primeira instância que a deCisão do
Dai, provavelmente, a necessidade de que a lei preveja STF somente teria eficacía "a partír da expedição, pelo Senado Fede-
dimento administrativo adequado de modo a permitir, tanto '1~'~'" ral, de resolução suspendendo a eficacia do dispositivo de lei decla-
possivel, que as questões eventualmente suscitadas possam ser re- rado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, nos termos do
solvidas na própria esfera da Administração.42 Parece abUSiVO, nesse aft 52, inciso X, da Constituição Federal".
contexto, que se admita a reclamação sem que se envidem esforços O tema merece algrrmas considerações.
para a solução da controvérsia no âmbito administrativo. Aqui reside
rrm dos pontos mais delicados e mais relevantes do novo Sistema . A ampliação do sistema concentrado, Com a multiplicação de
inaugurado pela EC n. 45/2004. É que não se pode substituir a crise deCisões dotadas de eficácia geral, acabou por modificar radicalmen-
numérica, ocasionada pelo recrrrso extraordinário, pela multiplica- te a concepção que dominava entre nós sobre a divisão de Poderes,
ção de reclamações formuladas direlamente contra a Administração tornando comum no sistema a decisão com eficácia geral, que era
perante o STF. excepcional sob a Emenda Constitucional n. 16/65 e sob a Carta de
196711969.
A súmula vinculante somente será eficaz para reduzir a crise do
STF e das instâncias ordinárias se puder ser adotada em tempo social N~ sistema constitucional de 1967/1969 a ação direta era apenas
e politicamente adequado. Em outras palavras, não pode haver um rrma idiOssincraSia no contexto de um amplo e dominante modelo
espaço muito largo entre o surgimento da controvérsia com ampla re- difuso. A adoção da ação direta de inconstitucionalidade, posterior-
percussão e a tomada de decisão com efeito vinculante. Do contráno mente, conferiu perfil diverso ao nosso sistema de controle de consti-
a sÚInula vinculante perderá seu conteúdo pedagógico-institucional, tucionalidade, que continuou a ser rrm modelo misto. A ênfase passou
não cumprindo a função de orientação das instâncias ordinárias e a residir, porém, não mais no modelo difuso, mas nas ações diretas.
da Administração Pública em geral. Nesse caso, sua eficácia ficam O advento da Lei n. 9.882/99 conferiu conformação à argüição de
restrita aos processos ainda em tramitação. descumprimento de preceito fundamental, admitindo a impugnação
A Lei n. 11.417, publicada em 19.12.2006, disciplinou a edição, ou a discussão direta de decisões Judiciais das instâncias ordinanas
a revísão e o cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo perante o STF. Tal como estabelecido na referida lei (art. 10, § 30),
STF. a decisão proferida nesse processo ha de ser dotada de eficáCia erga
Omnes e de efeito vinculante. Ora, resta evidente que a argüição de
42. Cf. LeI n. 9.784, de 29.1.99. que regula o processo admÍnístratlVO no
âmbito da Administração Pública federaL No que se refere ao procedimento para
descumprimento de preceito fundamental estabeleceu uma ponte en-
cumprimento de deCIsões judiciaiS pela via administrativo no âmbito estadual. cf. a tre os dois modelos de controle, atribuindo eficácia geral a decisões
Lei estadual n. 10.177. de 30.12.98, do Estado de São Paulo. de perfil incidental.

ONIVERSID.J.\OE fUMEC
8ibiiofpr" ri" Frl-l
736 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 737

Vê-se, assim, que a Constituição de 1988 modificou de Como se vê, as decisões proferidas pelo STF em sede de con-
ampla o sistema de controle de constitucionalidade, sendo m"vitáv,,;, trole illcidental acabam por ter eficácia que transcende o âmbito da
as reinterpretações ou releituras dos institutos vinculados ao COntf<>lé decisão, o que indica que a própria Corte vem fazendo uma releitura
incidental de inconstitucionalidade, especialmente da ex.igêncià~í.r : do texto constante do art. 52, X, da CF de 1988, que, como já obser-
maIOria absoluta para declaração de inconstitucionalidade e da vado, reproduz disposição estabelecida, illicialmente, na Constituição
pensão de execução da lei pelo Senado Federal. de 1934 (art. 91, IV) e repetida nos textos de 1946 (art. 64) e de
O STF percebeu que não poderia deixar de atribuir significadl8' 196711969 (art. 42, VIII).
juridico à declaração de inconstitucionalidade proferida em Portanto, é outro o contexto normativo que se coloca para a sus-
controle incidental, ficando o órgão fraciomirio de outras Cortes pensão da execução pelo Senado Federal no âmbito da Constituição
nerado do dever de submeter a declaração de ü'lccmstittlci')o8Ilidá(Íi! de 1988. .
ao Plenàrio ou ao Órgão Especial, na forma do art. 97 da CF. Não hã , Ao se entender que a eficácia ampliada da decisão está ligada ao
dúvida de que o Tribunal, nessa hipótese, acabou por reconhecer papel espeCIal da jurisdição constitucional, e, espeCIalmente, se con-
to juridico transcendente à sua decisão. Embora na fundamentaçã() siderarmos que o texto constitucional de 1988 alterou substancial-
desse entendimento se fale em quebra da presunção de constitucio" mente o papel desta Corte, que passou a ter uma função preeminente
nalidade, é certo que, em verdade, a orientação do STF acabou po~ na guarda da Constituição a partir do controle direto exercido na ação
conferir à sua decisão algo assemelhado a um efeito vinculante, Ín- direta de Ínconstitucionalidade, na ação declaratória de constitucIO-
dependentemente da intervenção do Senado. Esse entendimento está nalidade e na argüição de descumprimento de preceito fundamental,
hoje consagrado na própria legislação processual civil (CPC, ar!. 481, não hã como deixar de reconhecer a necessidade de uma nova com-
pamgrafo único, parte final, na redação da Lei n. 9.756, de 17.12.98). preensão do tema.
Essa é a orientação que parece presidir o entendÍlllento que Jul- A aceitação das ações coletivas como instrumento de controle
ga dispensável a aplicação do art. 97 da CF por parte dos Tribunais de constituCIOnalidade relativiza enormemente a diferença entre os
ordinários, se o STF já tiver declarado a ÍllconstitucIOnalidade da processos 4e índole objetiva e os processos de caráter estritamente
lei, ainda que no modelo incidental. Na oportunidade, ressaltou .; subjetivo. E que a decisão proferida' na ação civil pública, no man-
Relator para o acórdão, Min. limar Gaivão, no já mencionado RE n. dado de segurança coletivo e em outras ações de camter coletivo não
190.728, que o novo entendimento estava "em perfeita consonância mais padeci ser considerada uma decisão tnter partes,
não apenas com o principio da economia processual, mas também De qualquer sorte, a natureza idêntica do controle de constitu-
com o da segmança juridica, merecendo, por isso, todo encômio, cionalidade, quanto às suas fmalidades e aos procedimentos comuns
como procedimento que vem ao encontro da tão desejada racionali- dominantes para os modelos difuso e concentrado, não mais parece
zação orgânica da instituição judiciária brasileira", ressaltando que legitimar a distinção quanto aos efeitos das decisões proferidas no
se cuidava "de norma que não deve ser aplicada com rigor literal, controle direto e no controle incidental.
mas, ao revés, tendo-se em mira a finalidade objetivada, o que Somente essa nova compreensão parece apta a explicar o fato de
permite a elasticidade do seu ajustamento ás variações da realidade O Tribunal ter passado a reconhecer efeitos gerais à decisão proferida
circunstancial".43 E ela também demonstra que, por razões de ordem em sede de controle illcidental, illdependentemente da intervenção
pragmática, a jurisprudência e a legislação têm consolidado fórmulas do Senado. O mesmo há de se dizer das várias decisões legislativas
que retiram do instituto da suspensão da execução da lei pelo Senado que reconhecem efeito transcendente às decisões do STF tomadas em
Federal significado substancial ou de especial atribuição de efeitos sede de controle difuso.
gerais â decisão proferida no caso concreto. Esse conjunto de decisões judiciais e legislativas revela, em
verdade, uma nova compreensão do texto constitucional no âmbito
43. DJU30.5.97. da Constituição de 1988.
738 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 739

É possivel, sem qualquer exagero, falar-se, aqui, de uma incidental - esta, muito mais morosa, porque, em geral, tomada após
tica mutação constitucional, em razão da completa reformulação :munJ,ta\:ao da questão por todas as instãncias - continue a ter eficácia
sistema jurídico e, por conseguinte, da nova compreensão que se ,'iresOma entre as partes.
feriu ii regra do art. 52, X, da CF de 1988. valendo-no~;d~~O~~S::;~~~~~• Explica-se, assim, o desenvolvimento da nova orientação a
da doutrina constitucional a propósito da mutação 'propósito da decisão do Senado Federal no processo de controle de
poder-se-ia cogitar, aqui, de uma autêntica reforma da tonstiruclOnalídade, no contexto nonnativo da Constituição de 1988.
sem expressa modificação do texto. 44 A prática dos últimos anos, especialmente após o advento da
Em verdade, a aplicação que o STF vem conferindo ao dislPosto .Constituição de 1988, parece dar razão - pelo menos agora - a Lucio
no art. 52, X, da CF indica que o referido instituto mereceu uma Bittencourt, para quem a fmalidade da decisão do Senado era, desde
nificativa reinterpretação a partir da Constituição de 1988. sempre, "apenas tornar pública a decisão do Tribunal, levando-a ao
E possível que a configuração emprestada ao controle abstrató conhecimento de todos os cidadãos",<'
pela atual Constituição, com ênfase no modelo abstrato, tenha sidó Sem adentrar o debate sobre a correção desse entendimento no
decisíva para a mudança verificada, uma vez que as decisões com passado, não parece haver dúvida de que todas as construções que
eficacia erga omnes passaram a se generalizar. " se vêm fazendo em torno do efeito transcendente das decisões pelo
A multiplicação de processos idêntícos no sistema difuso - nq- STF e pelo Congresso Nacional- com o apoio, em muitos casos, da
tória após 1988 - deve ter contrib~ído, igualmen~e, p~ que a Cort~ jurisprudência da Corte'6 - estão a indicar a necessidade de revisão
percebesse a necessidade de atualização do aludido ~nstttuto ..~ess~ da orientação dominante antes do advento da Constituição de 1988.
contexto, assume relevo a decísão que afirmou a dlspensablltdade Assím, parece legítimo entender que. hodiernamente, a fórmula
de se submeter a questão constitucional ao plenário de qualquer tri: relativa à suspensão de execução da lei pelo Senado Federal há de
bunal se o STF já se tiver manifestado pela inconstitucionalidade do ter simples efeito de publicidade. Desta forma, se o STF, em sede
diploma. Tal como observado, essa decisão acaba por conferir uma de controle incidental, chegar à conclusão, de modo definítivo, de
eficácia mais ampla - talvez até mesmo um certo efeito vmculante ~ que a lei é inconstirucional, essa decisão terá efeitos gerais, fazendo-
it decísão do Plenário do STF no controle incidental. Essa onentação se a comunicação ao Senado Federal para que este publique a decisão
está devidamente incorporada ao Direito Positivo (CPC, art. 481, pa- no Diário do Congresso. Tal como assente, não é (mais) a decisão do
rágrafo único, parte fmal, na redação da Lei n. 9.756/98). N~ ~~smo Senado que confere eficácia geral ao julgamento do STF. A própria
contexto situa-se a decisão que outorgou ao relator a pOSSibilidade decisão da Corte contém essa força normativa. Parece evidente ser
de decidir monocraticamente os recursos extraordinários vinculados essa a orientação implícita nas diversas decisães judiciais e legislati-
às questões já resolvidas pelo Plenário do Tribunal (CPC, art. 557, vas acima referidas. ASSim, o Senado não terá a faculdade de publicar
§ l"-A).
De fato, é dificil admitir que a decisão proferida em ação direta 45. Lucia Bittencourt, O Controle Junsdicronal de Constitucionalidade das
de inconstitucionalidade ou ação declaratória de constitucionalidade Lels, p. 145.
e na argUição de descumprimento de preceito fundamental possa ser 46. MS n. 16.512, ReI. Min. OswaldoTrigueiro, RTJ38-1/23: RMS n. 17.976,
ReI. Min. Amaral Santos, RDA lOS/III (I13); A1AgR n. 168.149, ReI. Min. Marco
dotada de eficada geral e a decisão proferida no âmbito do controle Aurélio, DJU 4.8.95: AIAgR n. 167.444. ReI. Min. Carlos VeUoso, DJU 15.9.95: RE
n. 190.728, ReI. Min. Celso de MeIlo, DJU 30.5.97: RE n. 191.898, ReI. Min. Se-
44. Georg Jellinek. Reforma y Mutaôón de la Constituôón, trad. espanhola púlveda Pertence, DJU22.8.97; RE n. 228.844-SP. ReI. Min. MauriCIO Corrêa. DJU
de Christian Fõrster. Madri. Centro de Estudios Constituclonales, 1991, pp. 15-35; 16.6.99: RE n. 221.795. ReI. Min. Nélson Jobim, DJU 16.11.2000: RE n. 364.160,
HsO Dau-Lin Mulación de la Constitución, trad. espanhola de Christian Fõrster e Rela. Min. Ellen Graeie. DJU 7.2.2003; AI n. 423.252. Rei. Min. Carlos VeIloso,
Pablo Lucas Verdú, Bilhao, IVAP,1998, pp. 68 e 55.: Anna Cândida da Cunha Ferraz, DJU 15.4.2003: RE n. 345.048. ReI. Min. Sepúlveda Pertence, DJU8.4.2003: RE n.
Processos InformaIS de Mudança da ConstitUição. São Paulo. Max Limonad, 1986, 384.521, ReI. Min. Celso de MeIlo, DJU30.5.2003: ADIn n. 1.919, Rela. Min. EUen
pp. 64e 55. e 102ess. Gracie, DJU 1.8.2003.
A RECLAMACÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 741
740

ou não a decisão, uma vez que não se cuida de uma decisão subs' ii A reclamação poderá ser proposta pelo Procurador-Geral da
tantiva. mas de simples dever de publicação, tal como reconhecido' República ou por qualquer interessado. Ressalte-se que a expansão
a outros órgãos políticos em alguns sistemas constitucionais do efeito vinculante no controle concentrado (ação direta de incons-
tituição austríaca, art. 140, 5 - publicação a cargo do Chlan,cel,oii titucionalidade, ação declaratória de constitucionalidade, argüição de
Federal, e Lei Orgânica da Corte Constitucional alemã, art. 31, (2h
descumprimento de preceito fundamental) e, mais recentemente, a
publicação a cargo do Ministro da Justiça). Tais decisões proferi~ . adoção da súmula vrnculante contribulram (e amda hão de contribuir)
em processo de controle de normas são publicadas no Diário Oficial para ampliar a legitimação para a propositura da reclamação. E que:
nos termos do entendimento hoje dominante, especialmente a partir
e têmforça de lei (Gesetzeskraft) (Lei do Bundesverfassungsgericht,
da Recl. n. 1.880/AgRg (rel. Min. Mauricio Corrêa, DJU 19.3.2004),
§ 31, (2)). Segundo K1aus Vogel, o § 31, II, da Lei Orgâmca da Cortê
toda e qualquer pessoa afetada pela decisão contrária ii orientação
Constitucional alemã faz com que a força de lei alcance tambem .;s com efeito vinculante poderá questionar esse ato em reclamação
decisães confirmatórias de constitucionalidade. Essa ampliação so-
perante o STF.
mente se aplicaria, porem, ao dever de publicação, porque a lei nã~
7 O pedido deve estar devidamente instruído com prova docu-
pode conferir efeito que a Constituição não prevê" ...
mental (RlSTF, art. 156 e parágrafo único; Lei n. 8.038/90, art.13 e
Portanto, a não-publicação, pelo Senado Federal, de resoluçã~ parágrafo único).
que, nos termos do art. 52, X, da CF, suspenda a execução da lei de,
O reconhecimento da reclamação como ação constitucional
clarada inconstitucional pelo STF não terá o condão de impedir que voltada para á proteção da autoridade das deCIsões do STF não deve
a decisão do Supremo assnrna sua real eficácia juridica. dar azo, entretanto, á formulação de pedidos desproporcionais, dado
Esta solução resolve de forma superior uma das tormentosas o rito sumãrio especial da ação.
questões da nossa jurisdição constitucional. Superam-se, assim; Na Rec!. n. 5.470 49 pretendeu o autor a desconstituíção de
também, as incongruências cada vez mais marcantes entre a jurispru- cerca de 208 decisães de conteúdos diversos emanadas de diferentes
dência do STF e a orientação dominante na legislação processual, de órgãos Jurisdicionais. Hipóteses tais toroam Impraticável a mstrução
um lado, e, de outro, a visão doutrinária ortodoxa e - permitam-nos do processo por meio de múltiplas informações, prejudicam a análise
dizer - ultrapassada do disposto no art. 52, X, da CF de 1988. célere da controvérsia pelo Ministério Público e inviabilizam a cog-
No julgamento da Rec!. n. 4.335 apresentamos voto no sentido mçãodo pedido pelo órgão julgador.
da procedência do pedido. A conclusão do julgamento pende de pe- E certo, por outro lado, que a reunião, em uma única reclama-
dido de vista formulado pelo Min. Eros Grau"· ção, de múltiplas decisões pode decorrer, em alguns casos específi-
cos, de um imperativo da própria celeridade e economia processuais,
evitando a dispersão do pedido em diversas reclamações individuali-
6, Procedimento
zadas, o que poderia abrir a possibilidade, de fato, de decisões contra-
Linhas gerais - A estrutura procedimental da reclamação é bas- ditórias. Nesses casos, porem, é necessário que os atos impugnados
tante singela e coincide, basicamente, com o procedimento adotado tenbam ongem em uma mesma autoridade coatora, ou pelo menos
para o mandado de segurança. As regras básicas estão previstas nos sejam de conteúdo idêntico, tornando possivel sua reunião em uma
arts. 156 a 162 do RlSTF e nos arts. 13 a 18 da Lei n. 8.038/90. única ação.
No âmbito do controle abstrato de constitucionalidade, o Tribu-
47. KIaus Voget. URechtskraft und Gesetzeskraft der Entscheidungen des Bun- n~ljá teve a oportunidade de determinar o desmembramento de ação
desverfassungsgenchts", in ChristIan Starck (org.). Bundesveifassungsgencht und dITeta proposta contra 21 leis de diferentes Estados. Como o Tribunal
Gnmdgesetz, I' ed.. v. I, Tnbingen, Mohr, 1976, pp. 568-613.
48. Cf.. supra, "A suspensão pelo Senado Federai da execução de lei declarada
inconstitucional pelo STF na Constituição de 1988". no n. 3 da Oitava Parte. 49. ReeI. n. 5.470, ReI. Min. Gilmar Mendes,j. 29.2.2008, DJU 10.3.2008.
742 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF 743

não fica vinculado aos fundamentos apresentados na peça inicial. r oU ação declaratória de constitucionalidade pode abnr ensejo a uma
identidade de causas de pedir não justifica a cumulação dos ' multiplicidade de reclamações contra atas supostamente a elas con-
em uma única ação.so Também na reclamação o entendimento trários. Nesse caso, a distribuição de todas as ações ao mesmo relator
pode ser diverso. Nesse tipo de ação é passivei que, ante o da ação direta de inconsntuclOnalidade ou da ação declaratória de
menta de violação a determinada decisão, identifique o Tribrunal constttucionalidade principal tornaria impraticável o desenvolvunen-
afronta a outra decisão não especificada na petição inicial, to regular dos trabalhos no Tribunal.s4
como, de outro modo, reconheça usurpação de sua com~leti;ncia;ie, A autoridade reclamada deverá prestar informações no prazo de
além disso, declare a inconstitucionalidade de norma de teor idênti,:o dez dias (Lei 8.038/90, art. 14,1). O pedido do reclamante podeni ser
ao de outra que já foi objeto do crivo do Tribunal no controle ab'l!rato" impuguado por qualquer interessado (arl. 159).
de constitucionalidade.
Nos termos do RISTF, poderá o relator determínar a suspensão
Assím, se a reclamação constitui, como ressaltado, ação do curso do processo em que se tenha verificado o ato reclamado, ou
nada à proteção da ordem constitucional como um todo - e, a remessa dos respectivos autos ao Tribunal (arl. 158).
forma, não fica o Tribunal vinculado ao fundamento delimitado pelo :
Nas reclamações não formuladas pelo Procurador-Geral da Re-
autor -, a identidade de causas de pedir não pode servir de lastro parã
pública será concedida vista ao chefe do Ministério Público, após as
a formulação de pedido inviável cujo objeto é constituído de centenas
informações (RISTF, art. 160).
de atas de conteúdos variados e emanados de autoridades diversas.
Das decisões adotadas pelo relator caberá agravo regimentaL
Com efeito, uma única decisão do Tribunal, dotada de efei:
to vinculante, ou uma única sumula vinculante poderão servir dê Se julgada procedente a reclamação, poderá o Tribunal, ou a
parâmetro para a impugnação, com ampla legítimação ativa,SI ilé Turma, se for o caso (RISTF, art. 161): a) avocar o conhecimento do
qualquer ato administrativo ou decisão judicial que a elas sejam con- processo em que se verifique usurpação de sua competência; b) or-
trários - ainda que de forma oblíqua" -, sejam eles provenientes da denar que lhe sejam remetidos, com urgência, os autos do recurso
Adminístração direta ou índireta, Federal, Estadual ou Municipal, ou para ele interposto; c) cassar a decisão exorbitante de seu julgado ou
de qualquer outro órgão do Poder Judiciário. . determinar medida adequada à observância de sua jurisdição.
Para evitar problemas procedimentais, decorrentes principal' A Emenda Regimental n. 13/2004 autorizou o relator a decidir
mente de um pedido cujo objeto abranja uma multiplicidade de ataS monocraticamente em caso de situações repetitivas ou idênticas,
e decisões que torne impraticável o próprio desenvolvimento regular objeto de jurisprudência consolidada do Tribunal (art. 161, parágrafo
do processo, o Tribunal deve fixar as balizas para a propositura e o úníco, do RISTF).
trâmite da reclamação. Por exemplo, a Presidência da Corte adotou a
praxe de não aplicar, na hipótese de reçlamação por afronta a decisão 7. COllclusão
tomada em processo objetivo de controle de consntucionalidade,
o arl. 70 do RISTF e a parte fmal do parágrafo único do art. 13 da Em linhas gerais, pode-se constatar que a reclamação constttu-
Lei n. 8.038/90, que determinam a distribuição da ação ao relator cional perante o STF passou por uma transformação radical especial-
da causa principal. S3 Outro não poderia ser o entendimento. Uma mente a partir de 1992/93, com a ampliação da competência do STF
ímportante decisão em sede de ação direta de inconstitucionalidade em sede de controle concentrado de normas.
Como examinado, o cabímento da reclamação no controle con-
50. ADIIQO n. 28, ReI. Min. Octávio Gallotti, DJU25.1 0.91. centrado de normas encontra-se pacificado na Corte, entendendo-se
51. RecllAgR o. 1.880-SP, ReI. Min. Mauricio Corrêa, DJU 19.3.2004.
52. ReeI. n. 1.987-DF, ReI. Min. Maurie,o Corrêa,DJU21.5.2004. 54. V. deCisão na ReeI. n. 5.470. ReI. Min. Gilmar Mendes,j. 29.2.2008, DJU
53. ReeI. n. 2.091, DJU21.6.2002; Ree!. n. 4.238, DJU 14.6.2006. 10.3.2008.
744 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NO STF

que o efeito vinculante abrange os fundamentos determinantes


decisão.
No que se refere à argüição de descumprimento de
fundamental, assentado o efeito vinculante da decisão (arl. 10,
não parece que se possa adotar disciplina diversa daquela_
para a ação declaratória de constitucIOnalidade e para a açao
de inconstitucionalidade.
DÉCIMA PRIMEIRA PARTE
O CONTROLE ABSTRATO
DE CONSTITUCIONALIDADE DO
DIREITO ESTADUAL E DO DIREITO MUNICIPAL
1. Considerações preliminares. 2. Controle do direito estadual e
mUniCIpal na Constitmção de 1988 e a coexIstênCIa de jUrisdições
constitucionaiS estaduaIS e federal. 3. ConcorrênCIa de parâmetros de
controle. 4. Parâmetro de controle estadual e questão constituCIOnal
federal. 5. Ação declaratória de constitucionalidade no âmbito estadual.
6. A argüição de descumprimento de preceito fondamentar e o controte
de atos mUnicipais emface da Constituu;ão Federai. 7. O controle da
omiSsão legislativa no piano estadual 011 distrital. 8. O controle de cons-
. ,, tituCionalidade no âmbito do Distrito Federai. 9. Reclamação no âmbito
estadual. 10. Eficizcla "erga omnes" das decisões proferidas em sede de
controle abstrato no âmbito estadual.

1. C01lsiderações prelimi1lares
O texto constitucional de 1988 contemplou expressamente a
questão relativa ao controle abstrato de normas nos âmbitos estadual
e municipal em face da respectiva Constituição, consagrando no ar!.
125, § 22 , que compete "ao Estado a instituição de representação
de inconstitucionalidade de leis on atos normativos estaduais ou
municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição
da legítimação para agir a um linico órgão". Todas as Constituições
estaduais, sem exceção, disciplinaram o instituto, com maior ou me-
nor legitimação.
Algumas unidades federadas não se limitaram, porém, a consa-
grar o controle abstrato de normas dos atos normativos estaduais e
municipais em face da Constituição Estadual, institumdo, igualmen-
te, a ação direta por omíssão.'
L Cf., v.g., Constituição do Estado do Acre. arl 104, § 32.; Constituição do
Estado do Amazonas, art 75, § 32.; Constituição do Estado da Bahia, arl 134, § 42.;
746 DIREITO ESTADUAlJMUNlCIPAL - CONTROLE ABSTRATO DIREITO ESTADUALlMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO 747

A ausência de menção expressa ao Distrito Federal no art. 125. atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição
§ 22 , da CF tem dado ensejo a certa insegurança jurídica quanto ao estadual (CF, art. 125, § 2Q ).
controle de constitucionalidade do direito distrital em face da Lei
•! Orgânica.
Surgem, agora, outras questões. Indaga-se, V.g., sobre os efei-
tos das decisões proferidas pelos tribunais de justiça com base em
A instituição da ação declaratória de constitucionalidade no pla- e
normas constitucionais estaduais cuja reprodução expressamente
no federal (EC n. 3/93) introduz a indagação sobre a possibilidade de exigida ou determmada pelo constituinte federal. Pergunta-se sobre
adoção desse novo instrumento no âmbito estadual. o cabimento do recurso extraordimino contra decisão proferida pelo
Como se sabe. o controle de constitucionalidade da lei muni- tribunal estadual em sede de ação direta. A introdução da ação de-
cipal. em tese, suscitou amplo debate nos meios acadêmicos e nos claratória no âmbito federal permite que se suscite indagação sqbre
tribunais. A controvérsia assumiu maior realce em face do silêncio a possibilidade de criação de ação análoga no âmbito estadual. Da
da Carta Magua de 196711969, que contemplou tão-somente a re- mesma forma, afigura-se legítimo indagar sobre a admissibilidade do
presentação do chefe do Ministério Público local para assegurar a controle abstrato no plano do Distrito Federal.
observância dos principios indicados na Constituição estadual, bem A amplitude da jurisdição constitucional no Estado Federal sus-
como para prover a execução da lei (CF de 1967/1969, art. 15, § 32 , cita inumeras questões. A inexistência de regras de colisão - como é o
"d" - representação interventiva). caso da Alemanha e do Brasil- enseja insegurança, em deternunadas
Admitindo a existência de um "campo deixado em branco pela situações. quanto à competência da jurisdição estadual ou federaL4
Constituição Federal", houve por bem a Assembléia Legislativa do Como os atos do Poder estadual estão submetidos às jurisdições
Estado de São Paulo consagrar, na Constituição de 1967, modalidade constitucionais estaduais e federal, toma-se evidente, em certos ca-
genérica de controle abstrato de constitucionalidade, cuja iniciativa sos, a concorrência de competências,5 afigurando-se possível subme-
ficou a cargo do Procurador-Geral do Estado (art. 51, parágrafo uni- ter uma questão tanto à Corte estadual quanto à Corte constitucional,
co, da Constituição estadual).2 nos casos de dupla ofensa.
No Julgamento do RE n. 91.740-RS, ReI. Min. Xavier de Albu- Todavia, como enunciado, os parâmetros para o exercício do
querque, datado de 12.3.80, o Pleno do STF entendeu, porém. que o controle de constitucionalidade pela Corte constitucional alemã hão
Estado do Rio Grande do Sul não poderia instituir representação de de ser, fundamentalmente, a Constituição e as leis federais. 6 Da mes-
inconstitucionalidade para aferir a legitimidade do direito municipal ma forma, o parâmetro para o controle de constitucionalidade exerci-
em face da Constituição estadua!.3 do por uma Corte constitucional estadual é a Constituição estadual, e
não a Lei Fundamental ou as leis federais. 7
2. Controle do direito estadual e municipal Situação semelhante verifica-se entre nós. O parâmetro de con-
na Constituição de 1988 e a coexistência trole do juizo abstrato perante o STF haverá de ser apenas a Cons-
de jurisdições constitucionais estaduais e federal tituição Federal. O controle abstrato de normas perante o tribunal
A Constituição de 1988 pôs termo à discussão, autorizando os 4. Chrisllan Pestalozza, Verfassungsprozessrecht. 3a ed.. Mumque. 1991, pp.
Estados a instituir representação de inconstitucionalidade de leis ou 374-375.
I: ConstituIção do Estado do Rio Grande do Sul. art. 95. XII. "d"; Constituição do Es-
5. Idem. ibidem.
6. BVeifGE 6/382; BVeifGE 11/94; Ernst Fnesenhahn, "Zur Zustãndigkeitsa-
tado do Rio de JaneIro. art. 159, § 211; Constituição do Estado de Rondônia, art. 88, § bgrenzung zwischen Bundesverfassungsgerichtsbarkelt und Landesverfassungsgeri-
3-2 ; Constituição do Estado de Santa Catanna, art. 84, § 311~ e Constituição do Estado chtsbarkeit", ln Christian Starck, Bundesveifassungsgericht und Gnmdgesetz. v. I,
de São Paulo. art. 90. caput. Túbingen, 1976, p. 754.
2. RE n. 92.169-SP. ReI. Cunha Peíxoto,RTJI03/1.085. 7. Ernst Fnesenhahn, "Zur Zustãndigkeitsabgrenzung zwIschen Bundesver-
3. RE n. 91.740-RS, ReI. Min. XavIer de Albuquerque, RTJ93/460-466; RE n. fassungsgenchtsbarkelt und Landesverfassungsgenchtsbarkeit", in Christian Starck,
96.169, ReL Min. Cunha PeIXoto, RTJ 103/1.085. Bundesverfassungsgencht und Grondgesetz, v. I, p. 754.
748 DIREITO ESTADUALlMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO DIREITO ESTADUALlMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO 749

de justiça estadual ou do Distrito Federal será apenas e tão-somente mativo estadual ou municipal em face do Texto Magno pareceria
a Constituição estadual. para o caso dos Estados-membros; e a Lei totalmente lncompatível com o exercício do controle concentrado de
Orgânica distrital, como veremos a seguir, para o Distrito Federal. constitucionalidade pela Corte constitucional federal.
Tais afirmações não logram afastar toda a problemática que Esta questão foi suscitada, entre nós, pelo Min. Moreira Alves,
envolve o tema. Observe-se que no caso alemão a Lei Fundamental no RE n. 92.l69-SP, nos termos seguintes: "(... ) se fosse possível
outorga ampla competência à União (arts. 73, 74, 74a, 75, 104a, lOS aoS tribunais de justiça dos Estados o julgamento de representações
e 107). Algumas disposições contidas na Lei Fundamental, como as dessa natureza, com relação a leis municipaIS em conflito com a
que disciplinam os direitos fundamentais, integram, obrigatoriamen_ Constituição Federal, poderia ocorrer a seguinte situação esdnixula.
te, o direito estadual. 8 E da indole dessa representação - e isso hoje ematéria pacífica nesta
Não obstante a existência de esferas normativas diferenciadas Corte - que ela. transitando em Julgado, tem eficácia erga omnes,
afigura-se legítima a conclusão de Christian Pestalozza segundo ~ independentemente da participação do Senado Federal, o que s6 se
qual a existência das jurisdições estaduais e federal outorga ao lesado exige para a declaração incidenter tantum. O que implica dizer que,
uma dupla proteção, seja quando o ato se afigure incompativel com se transitasse em julgado a decisão nela proferida por tribunal de jus-
disposições federais e estaduais materialmente diversas, seja quando tiça, esta Corte Suprema estaria vinculada à declaração de inconstitu-
malfrra preceitos concordantes da Constituição Federal ou da Carta cionalidade de tribunal que lhe é inferior; mesmo nos casos concretos
estadual. futuros que lhe chegassem por via de recurso extraordinário. O ab-
surdo da conseqüência, que é da indole do instnunento, demonstra o
Como observado, a coexistência de jurisdições constitucionais
absurdo da premissa" (RTJ 103(3)11.115).
federal e estaduais enseja dúplice proteção judicial, independente-
mente da coincidência ou divergência das disposições contidas na As considerações então expendidas faziam referência à instituição
Carta Magna e na Constituição estadual. A ampla autonomia de que de mecarusmo de controle de constitucionalidade no âmbito da unida-
gozam os Estados-membros em alguns modelos federativos milita de federada, tendo em vista as especificidades do direito constitucional
em favor da concorrência de Jurisdições constitucionais. positivo brasileiro. Todavia, parece lícito enfatizar que a possibilidade
de coexistência de jurisdições constitucionais federal e estadual pres-
Portanto, uma mesma lei estadual pode ser compatível com
supõe, em uma estrutura federativa, expressa previsão constitucional e
a Lei Maior e incompatível com a Carta estadual. Daí se abster a
uma definição dos "parâmetros de controle",
Corte constitucional alemã de se pronunciar sobre a validade da
lei estadual, limitando-se a declarar sua compatibilidade com a Lei Dessarte, mesmo quando as disposições dos textos constitucio-
Fundamental ou com o direito federal. 9 E às objeções quanto à ine- nais federal e estadual tiverem idêntico conteúdo, há de se admitir a
xistência de objeto no controle de constitucionalidade em face da autonomia dos pronuncIamentos jurisdicionais da Corte federal ou
LeI Fundamental no caso de inconstítucionalidade diante da Carta de tribunal estadual.
estadual responde Friesenbabn, com proficiência: "Tal restnção não A Corte constitucional alemã frrmou entendimento no sentido
leva em conta que, no direito constitucional, há que se distinguir o de que a adoção pela Constituição estadual de normas com conteúdo
juízo sobre a validade da competência para apreciar essa validade ou idêntico a preceitos constitucionais federais dilarga a dúplice garantia
declarar a invalidade". jurisdicional, permitindo que os recursos constitucionais e o controle
Não se deve olvidar, outrossim, que pronunciamento genérico de normas possam ser instaurados perante o tribunal constitucional
de Corte estadual quanto à inconstitucionalidade de lei ou ato nor- estadual, nos termos da Constituição estadual, ou perante a Corte
constitucional federal, tendo como parâmetro a Lei Fundamental. 10
8. Chnstian Pestaloz:za, Veifassungsprozessrecht, 311 ed., p. 17.
9. Hartmut Sõhn, "Die abstrakte Normenkontrollc", in Christian Starck, Bun- 10. BVerjGE 36/342 (368); cf.. também, Christian Pestalozza, Veifassungs-
desveifasslmgsgericht und Grondgesetz, v. I, pp. 318-319. prozessrecht. 3i1 ed., p. 375. Nesse caso não seria de aplicar o prinCI'plO Bundesrecht
750 DIREITO ESTADUAUMUNlCIPAL - CONTROLE ABSTRATO DIREITO ESTADUAUMUNlCIPAL - CONTROLE ABSTRATO 751

Em caso de dissídio jurisprudencial específico entre a Corte Wlnstl~,.. sendo aplicável, por isso, ás situações juridicas análogas ou seme-
tucional alemã e a Corte constitucional estadual, há de prevalecer . lhantes instituídas pelos Estados. Assim, muitos Estados reproduzem
orientação consolidada pelo órgão federal." ou até mesmo ampliam o catálogo de direitos fundamentais previstos
Na Alemanha consagra-se o principio Bundesrecht bricht Lan- na Lei Fundamental.
desrecht (ou seja, o direito federal rompe o direito estadual) (LF, art,· Sob o imporio da Constituição de 1988 suscitou-se, entre nós,
31). Considerando a amplitude da competência legislativa confurida,i questão relativa ii competênCIa de tribunal estadual para conhecer de
no Direito alemão, à União - muito menos analítico que as Comi' ação direta de inconstítucionalidade formulada contra lei municipal
tituições brasileiras em geral. especialmente a de 1988 -, o texto em face de parâmetro constitucional estadual que, na sua essência,
da Lei Fundamental deixa ainda significativo espaço para o consti- reproduzia disposição constitucional federal. Cuidava-se de contro-
tuinte estadual, sobretudo no que concerne à organização polítiCIr vérsia sobre a legitimidade do IPTU instituido por lei municipal de
administratíva e á polítíca educacional. Nesse particular, o nivel de São Paulo (Lei n. 11.152, de 30.2.1). Concedida a liminar pelo Tri-
detalhamento do texto da Constituição de 1988 suscita considerável' bunal de Justiça local, a Prefeitura de São Paulo ajuizou reclamação
singularidade no que concerne á definição de competências legislati- perante o STF, sustentando que, embora fundada em inobservância
vas expressas, residuais, delegadas, concorrentes e suplementares em de preceitos constitucionais estadUaiS, a ação direta acabava por sub-
relação à União FederaL ao Distrito Federal e aos Estados-membros. meter à apreciação do Tribunal de Justiça do Estado o contraste entre
O próprio principio de homogeneidade (Homogenttiitsgebot), a lei municipal e as normas da Constituição Federal (Recl. n. 383,
previsto no ar!. 28 da Lei Fundamental, é suficientemente impreciso ReI. Min. Moreira Alves, RTJ 147/404 e 451/452).
para perruitir aos Estados-membros alguma liberdade na eoneretíza- Anteriorruente, julgando a RecI. n. 370, afirruara o STF que
ção dos postulados da República, Democracia e Estado de Direito faleceria aos tribunais de justiça estaduais competência para co-
Social. nhecer de representação de inconstitucionalidade de lei estadual
Por outro lado, a própria Corte constítucional fmnou orientação ou muniCipal em face de parâmetros - formalmente - estaduais
no sentido de que disposições constítucionais estaduais de conteúdo mas substancialmente integrantes da ordem conslItucional federal.
idêntico às do direito constitucional federal não são atingidas pela Considerou-se, então, que a reprodução na Constituição estadual de
cláusula do art. 31. 12 Argumenta-se que o principio do prevaleci- norruas constitucionais obrigatórias em todos os níveis da Federação
mento do direito federal sobre o direito estadual (Bundersrecht bricht "em termos estritamente jurídicos" seria "ociosa", 13 Asseverou-se
Landesrecht) disciplina a colisão (entre norruas contraditórias), não que o texto local de reprodução forrual ou material, "não obstante a
forrua de proposição norruativa do seu enunciado, vale por simples
explicitação da absorção compulsória do preceito federal, essa a nor-
bricht Landesrecht. constante do art. 31 da Lei Fundamental. uma vez que. segundo o
Bundesverfassungsgericht, "direIto constItucIOnal federal não quebra direIto constitu- ma verdadeira, que extrai força de sua recepção pelo ordenamento
cional estadual de conteúdo idêntico" (Bundesverfassungsrecht bricht inhaitsgleiches local exclusivamente, da supremacia hierárquica absoluta da Cons-
Landesveifassungsrechl nrchl - BVerfGE 36/342 (343)). tituição Federal" 14
>

Ademais. no tocante aos direitos fundamentais, é de admitir que o principio


constante do art. 131 sofre restrições decorrentes da aplicação do disposto no art. 142, A tese concernente à ociosidade da reprodução de norruas
que admIte a subsistência do direíto constitucional estadual pertinente às garantias constítuclOnais federais obrigatórias no texto constituCional estadual
individuais. esbarra já nos chamados prmcípios sensiveis, que impõem, inequi-
II. BVerfGE 36/342 (368-369). Klaus Stern (Kommenlar zum Grundgesetz vocamente, aos Estados-membros e ao Distrito Federal a rigorosa
(Zweitbearbeitung), art. IDO, ns. 268~274) anota que, assim como o Bundesveifas w

sungsgericht vê~se compelido a aplicar. incidentemente. direito estadual. devem as observância daquele estatuto mínimo (CF, ar!. 34, VIl). Nenhuma
Cortes estadUaiS aplicar. muitas vezes. de forma incidentai ou prmclpaliter, o direito
federal. 13. ReeI. n. 370. ReI. Min. Octávio Gallo"', DJU29.6.2001.
12. BVerfGE 361366. 14. Idem. ibidem.
752 DIREITO ESTADUAUMUNICIPAL-CONTROLEABSTRATO DIREITO ESTADUAUMUNICIPAL- CONTROLE ABSTRATO 753

dúvida subsiste de que a simples omissão da Constituição estadual Essas normas são normas juridicas, e têm eficacia no seu âmbito
ou da lei orgânica distrital quanto à inadequada positivação de uni de atuação, até para permitir a utilização dos meios processuais de
desses postulados no texto magno da respectiva unidade federada já tutela desse âmbito (como o recurso especial, no tocante ao art. 6"
configuraria ofensa suscetível de provocar a instauração da represen" da LlCC, e as ações diretas de inconstitucionalidade em face da
tação ínterventiva. Constituição estadual). Elas não são normas secundárias que correm
necessariamente a sorte das normas primárias, como sucede com o
Não é menos certo, por outro lado, que o Estado-membro está
regulamento, que caduca quando a lei regulamentada é revogada. Em
obrigado a observar outras disposições constitucionais estaduais, de
se tratando de norma ordinária de reprodução ou de norma constitu-
modo que, adotada a orientação esposada inicialmente pelo STF,
cional estadual da mesma natureza, por terem eficácia no seu âmbito
ficaria o direito constitucional estadual - substancial - reduzido, de atuação, se a norma constitucional federal reproduzida for revo-
talvez, ao preâmbulo e às cláusulas derrogatórias. Até porque, pelo gada, elas, por terem eficácia no seu âmbito de atuação, persistem
modelo analitico de Constituição adotado entre nós, nem mesmo o como normas juridicas, que nunca deixaram de ser. Os principios
direito tributário estadual pode ser considerado, segundo uma orien- reproduzidos, que, enquanto vigentes, se impunham obrigatoria-
tação ortodoxa, um direito substancialmente estadual, já que, além mente por força apenas da Constituição Federal, quando revogados,
dos principios gerais, aplicáveis à União, aos Estados e Municípios permanecem, no âmbito de aplicação das leis ordinárias federais ou
(arts. 145-149), e das limitações ao poder de tributar (arts. 150-152), constitucionais estaduais, graças à eficácia delas resultante."
contempla o texto constitucional federal, em seções autónomas, os
A prevalecer tal orientação advogada na Recl. n. 370, restaria
impostos dos Estados e do Distrito Federal (Título VI, Capitulo I,
completamente esvaziada a cláusula contida no art. 125, § 2Q, da
Seção IV - art. 155) e os impostos municipais (Seção V - art. 156). CF, uma vez que, antes de qualquer deCisão, deveria o tribunal de
Como se vê, é por demais estreito o espaço efetivamente vago dei' justiça verificar, como questão preliminar, se a norma constituCIOnal
xado ao alvedrio do constituinte estadual e, por extensão, do poder estadual não era mera reprodução do direito constitucional federaL
distrital de editar lei orgânica.
De resto, não estaria afastada a possibilidade de que, em qual-
São elucidativas, a propósito, as seguintes passagens dos votos quer hipótese, fosse chamado o STF, em reclamação, para dirirmr
do Min. Moreira Alves: controvérSia sobre o caráter federal ou estadual do parâmetro de
"É petição de principio dizer-se que as normas das Constituições controle.
estaduais que reproduzem, formal ou materialmente, princípios cons- A propósito, observou o Min. Moreira Alves: "(. .. ) em nosso
titucionais federais obrigatórios para todos os niveis de governo na sistema juridico de controle constitucional, a ação direta de íncons-
Federação são inócuas, e, por isso mesmo, não são normas juridicas titucionalidade tem como causa petendi não a inconstitucionalidade
estaduais, até por não serem juridicas, já que juridicas, e por ISSO em face dos dispositivos ínvocados na ínicial como violados, mas a
eficazes, são as normas da Constituição Federal reproduzidas, razão inconstitucionalidade em face de qualquer dispositivo do parâmetro
por que não se pode julgar, com base nelas, no âmbito estadual, ação adotado (a Constituição Federal ou a Constituição estadual). Por isso
direta de ínconstituc[onalidade, ínclusive, por identidade de razão, é que não há necessidade, para a declaração de inconstitucionalidade
que tenha [malidade ínterventiva. ( ... l. do ato normativo impugnado, de que se forme maioria absoluta quan-
"Essas observações todas servem para mostrar, pela inadmissi- to ao disposiltvo constitucional que leve cada JUiz da Corte a declarar
bilidade das conseqüências da tese que se examína, que não é exato a inconstitucionalidade do ato. Ora, para se concluir, em reclamação,
pretender-se que as normas constitucionais estaduais que reproduzem que a inconstitucionalidade argüida em face da Constituição estadual
as normas centrais da Constituição Federal (e o mesmo ocorre com as seria uma argüição só admissível em face de principio de reprodu-
leis federais ou até estaduais que fazem a mesma reprodução) sejam ção estadual que, em verdade, seria principio constitucional federal,
inócuas e, por isso, não possam ser consideradas normas juridicas. mister se faria que se examinasse a argüição formulada perante o
DIREITO ESTADUAUMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO DIREITO ESTADUAUMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO 755
754

Tribunal local não apenas - como o parecer da Procuradoria-Geral dà o conteúdo dessa cláusula. As controvérsias político-constitucionais
República fez no caso presente, no que foi acompanhado pelo MiIt instauradas levaram o constituinte derivado, na Reforma de 1926, a
Venoso no voto que proferiu - em face dos preceItos constitucionais' elencar expressamente esses pnncípios.I 8 Essa tendência foi preser-
indicados na inicial, mas também de todos os da Constituição està~ vada pelas Constituições que lbe sucederam. 19
dual. E mais, julgada procedente a reclamação, estar-se-ia reconhe' A doutrina brasileira tem-se esforçado para classificar esses
cendo que a lei municipal ou estadual impugnada não feriria nenhum princípios constítuclOnais federais que integram, obrigatoriamente,
preceito constitucional estritamente estadual, o que impossibilitaria o direito constitucional estadual. Na conhecida classificação de José
nova argüição de inconstitucionalidade em face de qualquer desses Afonso da Silva, esses postulados podem ser denominados principios
preceitos se, na conversão feita por meio da reclamaçã~, a ação direta constitucionais sensiveis~ extensiveis e estabelecidos. Os pr-incipios
estadual em face da Constituição Federal fosse Julgada unprocedente, constítuclonais sensíveÍs são aqueles cuja observãncia e obngatóna,
por não-violação de qualquer preceito constitucional federal que nã(l sob pena de intervenção federal (CF de 1988, art. 34, VID. Osprmcl~
apenas os invocados na inicial. E co~o, com essa ~nsformação, o pios constítucionais extensÍVeis consistem nas regras de organização
STF não estaria sujeito ao exame da mconsntuclOnalIdade da leI es~ que a Constituição estendeu aos Estados-membros (v.g., CF, art. 25).
tadual ou municipal em face dos preceitos constitucionais invocados Os principios constitucionais estabelecidos senam aqueles princípIOS
na iniCIal perante o Tribunal de Justiça, e tidos, na reclamação, como que limItam a autonomia organizatária do Estado.20
preceitos verdadeiramente federais, mudar-se-i~ a ,c,:"sa petendi da A Constituição de 1988 foi moderada na fixação dos chamados
ação: de inconstitucionalidade em face da ConstItuIçao estadual para
princípios sensíveis. Nos termos do art. 34, VIl, devem ser observa-
inconstitucionalidade em face da Constituição Federal, sem limItac
ção, evidentemente, aos preceitos invocados na inlcial".l5 18. Cf. Emenda Constitucional de 1926. art. 62'
Não se deve olvidar que o chamado poder constituinte decor- "Art 6U_ O Governo Federal não poderá intervir em negócIOs peculiares aos
rente do Estado-membro é, por sua natureza, nm poder constituinte Estados, salvo:
limitado; ou, como ensina, Anna Cãndida da Cunha Ferraz, é um UI _ para repelir mvasão estrangeIra, ou de um Estado em outro;
poder que "nasce, vive e atua com fundamento na Co~stítuiç~o Fe- "II - para assegurar a integridade nacional e o respeIto aos segumtes principIos
constituCionaiS:
derai que lhe dá supedãneo; é um poder, portanto, SUjeIto a limItes "a) forma republicana;
jurídicos, impostos pela Constituição Maior".I6 Essas Iimitaçõe~ são "b) o regtme representativo;
de duas ordens: as Constítuições estaduais não podem contranar a Ue) o governo presidenCial;
Constituição Federal (limitação negativa); as Constituições estaduais "d) a independêncIa e a hannonia dos Poderes;
devem concretizar no ãmbito territorial de sua vigência os preceitos, Ue) a temporanedade das funções eletivas e a responsabilidade dos funcionàrios;
O espírito e os fms da Constituição Federal (limitação positiva),n "'O a autonomia dos Municípios;
"g) a capacidade para ser eleitor ou elegivel nos termos da ConstitUIção;
A idéia de limitação material (positiva ou negativa) do poder
"h) um regime eleitoral que penníta a representação das minanas;
constituinte decorrente remonta, no direito constitucional brasileiro,
"i) a inamovibilidade e VitaliCiedade dos magistrados e a irredutibilidade dos
à Constítuição de 1891, que, no art. 63, previa que cada Estado seria seus vencimentos;
regido "pela Constítuição e pelas leis" que adotasse, "respeit:dos os "j) os direitos políticos e mdividuais assegumdos pela ConstttuIção;
princípios constitucionais da União". Embora o texto não expliCItasse O<k) a não-reeleição dos presidentes e governadores; a possibilidade de reforma
quais eram esses principios, havia certo consenso na doutrma sobre constitucional e a competênCia do Poder Legislativo para decretá-Ia."
19. Consutuição de 1934 (arts. 7' e 12, V); Consutulção de 1937 (arts. 21, I, e
IS. ReeI. n. 383, ReI. Min. MorerraAlves, RTJI47(2)/404. 9', "e"); Constituição de 1946 (arts. 7', VII, e 18); Constttulção de 1967/1969 (arts.
16. Anna Cândida da Cunha Ferraz. Poder Constituinte do Estado-Membro. 10, VII, e 13); COnsutulçãO de 1988 (arts. 25 e 34, VII).
20. Jose Afonso da Silva, Curso de Direito ConslitUClOnal Positzvo. 3Qa ed .. São
São Paulo. Ed. RT, 1979, p. 130.
Paulo. Malheuos Editores, 2008, pp. 612 e S5.
17. Idem, p. 133.
DIREITO ESTADUAUMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO DIREITO ESTADUALlMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO 757
756

dos pelo Estado-membro, sob pena de íntervenção: a) fonna Todavia. declarada a inconstituCionalidade de direito local em
blicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos face da Constituição estadual, com efeito erga omnes. ha de se reco-
pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas nhecer a insubSIstência de qualquer processo eventualmente ajuizado
Administração pública direta e índireta. perante o STF que tenha por objeto a mesma dispOSIção.
O texto constitucional contém, todavia, uma pletora de cUspo!;i]: Assim também a declaração pelo STF de inconstitucionalidade
ções que afetam a organização da unidade federada, como um da lei estadual em face da Constituição Federal torna insubsistente
Pretender que a reprodução dessas normas federaIS no texto . (gegenstandslosj ou sem objeto eventual argüição. pertinente à mes-
tucional estadual implica sua descaracterização como parâmetro:de . ma norma, requerida perante Corte estadual. 24
controle estadual revela-se assaz perigoso para a própria segurança' Ao contrmo, a suspensão cautelar da eficacia de uma' norma
juridica. Até porque haveria imensa dificuldade em se identificar, :: no juízo abstrato. perante o tribunal de justIça ou perante o STF. não
com precisão, uma nonna ontologicamente estadual. Não é preciso' toma inadmissível a instauração de processo de controle abstrato em
dizer que adoção do critério proposto na Recl. n. 370 lmportana, relação ao mesmo objeto. nem afeta o desenvolvimento válido de
sua essência, o completo esvaziamento da jurisdição constitucional processo já mstaurado perante outra Corte."
estadual. Problemática ha de se revelar a questão referente aos processos
Portanto, a decisão proferida pelo STF na Recl. n. 383 veio instaurados simultaneamente perante tribunal de justiça estadual
restabelecer a melhor doutrina,21 assentando que, posta a questão da e perante o STF no caso de ações diretas contra determinado ato
constitucionalidade da lei municipal (ou da lei estadual) em face da normativo estadual em face de parâmetros estadual e federal de
Constituição estadual, tem-se uma questão constitucional estadual. conteúdo idêntico. Se a Corte federal afirmar a constitucionalidade
Vê-se que, dados o camter vínculativo e a índole genérica íne- . do ato impugnado em face do parâmetro federal. poderá o tribunal
rentes ao modelo concentrado de controle de constitucionalidade, a estadual considera-lo inconstitucional em face de parâmetro estadual
possibilidade de coexistência entre jurisdições constitucionais federal de conteúdo idêntico?
e estadual em uma ordem federativa exige, igualmente, a definição
22 Essa questão dificilmente pode ser resolvida com recurso às
de parâmetros de controle autônomos e diferenciados.
conseqüêncías da coisa julgada e da eficácia erga omnes, uma vez
que esses institutos. aplicãveis ao juizo abstrato de nonnas, garantem
3. COllcorrêllcia de parâmetros de cOlltrole a eficácía do julgado enquanto tal, isto e. com base no parâmetro
constitucíonal utilizado. A pretensão no sentido de se outorgar efica-
Convém alertar que a competência concorrente de tribunais
cia transcendente à decisão equivaleria a atribuir força de interpreta-
constituCIOnais estaduais e federal envolve algumas cautelas.
ção autêntica à decisão do Tribunal federal.
Evidentemente, a sentença de rejeIção de inconstitucionalidade
proferida por uma Corte não afeta o outro processo penden:e perante No plano dogmático pode-se reconhecer essa conseqüência se se
outro tribunal, que hã de decidir com fundamento em parametro de admitir que as decisões do STF são dotadas de efeito vinculante (Bin-
dungswirkung), que não se limita à parte dispositiva. mas se estende
controle autônomoP
aos fundamentos determinantes da decisão.
2 L Cf.. sobre o assunto, Gilmar Ferrerra Mendes. Controle de ConstitucIOnali-
dade: Aspectos Juridicos e Políticos, São Paulo, Saraiva, 1990. 24. Cf. Chnstian Pestalozza, Verfassungsprozessrecht, 311. cd .• p. 376; Klaus
22. RE n. 92.I69-SP. ReI. Min. Cunha Peixoto. RTJ I03(3l1I.l15. Stern, KommenJar zum Gnmdgesetz (Bonner Kommentar), art. 100, n. 149.
23. BVeljGE 34/52 (58); Chrisllan Pestalozza. Veifasszmgsprozessrech', 3' eà.• . ~5._ Parece evidente que, deferida a suspensão cautelar perante uma Corte,
pp. 376-377; KJaus Stern. Kammentar zum Gnmdgesetz (Bonner Kommentar), art. madInlSSlvel"e a concessão de limmar por outra, uma vez que manifesta a ausênCIa
dos pressupostos processuais.
100. n. 49.
DIREITO ESTADUAUMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO DIREITO ESTADUAUMUNiCIPAL - CONTROLE ABSTRATO 759
758

Assim, pelo menos no que se refere às ações diretas de incons_· 4, Parâmetro de controle estadual
titucionalidade julgadas pelo STF se poderia cogitar de um efeito e questão constitucional federal
transcendente se a questão estadual versasse lambem sobre a norma Considerações preliminares - Essas colocações não devem
de reprodução obrigatória26 pelo Estado-membro. levar á idéia de que o controle de constitucionalidade da lei estadual
Observe-se, outrossim, que o Supremo tem entendido que, em ou municipal em face da Constituição estadual não se mostra apto a
caso de propositura de ação direta de inconstitucionalidade perante o suscitar questão federal que deva, eventualmente, ser dirimida pelo
STF e perante o tribunal de Justiça contra dada lei estadual, com base STF.
em direito constitucional federal de reprodução obrigatóna pelos Es- Pode ocorrer que o tribunal estadual considere ínconstitucional
tados-membros, há de se suspender o processo no âmbito da Justiça o próprio parâmetro de controle estadual, por ofensivo â Constituição
estadual até a deliberação definitiva da Suprema Corte. E o que resul- Federal. No sistema concentrado clássico, a Corte estadual submete-
ta da orientação manifestada na Medida Cautelar na ADIn n. 1.423- ria a questão, uo âmbIlo do controle concreto de normas, ao tribunal
SP (ReI. Min. Moreira Alves, DJU 22.11.96), verbls: "Rejeição das constitucional federalY
preliminares de litispendêncía e de continência, porquanto, quando Todavia, como haverá de proceder, entre nós, o tribunal de jus-
tramitam paralelamente duas ações diretas de inconstitucionalidade, tiça que identificar a ínconstitucionalidade do própno parâmetro de
uma no tribunal de justiça local e outra no STF, contra a mesma lei controle estadual?
estadual impugnada em face de principios constitucionais estaduais Nada obsta a que o tribunal de justiça competente para conbe-
que são reprodução de principios da Constituição Federal, suspende- cer da ação direta de inconstitucionalidade em face da Constituição
se o curso da ação direta proposta perante o tribunal estadual até o estadual suscite ex officio a questão constitucional - ínconstitucio-
julgamento final da ação direta proposta perante o STF, conforme nalidade do parâmetro estadual em face da Constituição Federal
sustentou o Relator da presente ação direta de inconstItucionalidade -. declarando, incidentalmente, a inconstitucionalidade da norma
em voto que proferiu, em pedido de vista, na Recl. n. 425". constitucional estadual em face da Constituição Federal e extinguin-
Da aludida Recl. n. 425-RJ (AgRg, ReI. Min. Néri da Silveira, do, por conseguinte, o processo, ruite a impossibilidade juridica do
DJU 22.10.93), examine-se parte da ementa, que trata da possibili- pedido (declaração de inconstitucionalidade em face de parâmetro
dade de suspensão do processo: "(... ). Em se tratando, no caso, de lei constitucional estadual violador da Constituição Federal).
estadual, esta poderá, também, ser, simultaneamente, impugnada no Portanto, da decisão que reconbecesse, ou não, a inconstitucIO-
STF, em ação direta de inconstitucionalidade, com base no art. 102, nalidade do parâmetro de controle estadual seria admissivel recurso
I, 'a', da Lei Magna federal. Se isso ocorrer, dar-se-á a suspensão do extraordinário para o STF. que tanto poderia reconhecer a legitimi-
processo de representação no tribunal de justiça, até a decisão final dade da decisão, confirmando a declaração de inconstitucionalidade,
do STF ( ...)" (grifos nossos). como revê-la, para admitir a constitucionalidade de norma estadual,
o que implicaria a necessidade de o tribunal de justiça prosseguir uo
Portanto, o STF acabou por consagrar uma causa especial de
julgamento da ação direta proposta.
suspensão do processo no âmbito da Justiça local nos casos de trami-
tação paralela de ações diretas perante o tribunal de justiça e perante Isso já demonstra que não se pode cogitar de uma separação
a própria Corte relativamente ao mesmo objeto e com fundamento absoluta entre as jurisdições constitucionais estaduais e federal.
em norma constitucional de reprodução obrigatória por parte do
Recurso extraordinário e norma de reprodução obrigatória
Estado-membro. - Mais séria e complexa revela-se a indagação sobre o cabimento
26. Sobre norma de reprodução obrigatória cE decisão na Reei. D. 4.432. Rel,
27. Christian Pestalozza, Verfassungsprozessrecill, 3;) ed., p. 377.
Min. Gilmar Mendes, DJU 10.1 0.2006.
DIREITO ESTADUAlJMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO DIREITO ESTADUALlMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO 761
760

de recurso extraordinário na hipótese de o tribunal de justiça, em E se não houver a interposição do recurso extraordinário? A
ação direta de inconstitucionalidade, adotar interpretação de norma decisão transitará em julgado para o STF?
estadual de reprodução obrigatória que, por qualquer razão, se revele Tal como já apontado, duas são as situações possíveis: a) o tri-
incompatível com a Constituição Federal. bunal afirmará a improcedência da argüição de inconstitucionalidade,
Ora, se existem principios de reprodução obrigatória pelo declarando, com eficacia erga omnes, que a lei estadual ou mumcipal
Estado-membro, não só sua positivação no âmbito do ordenamento é compativel com a Constituição estadual; b) o tribunal afirmará a
jurídico estadual como também sua aplicação por parte da Adml, procedência da argüição, reconhecendo a inconstitucionalidade da lei
mstração ou do Judiciário estadual podem se revelar inadequadas, estadual ou municipal, com eficácia gera!.
desajustadas ou incompatíveis com a ordem constitucional federal. Na primeira hipótese não há de se cogitar de eficácia da decisão
Nesse caso, não ha como deixar de reconhecer a possibilidad~ em relação ao STF, podendo vir a conhecer da questão no processo
de que se submeta a controvérsia constitucional estadual ao STF, de controle difuso ou direto de constitucionalidade. No caso de de-
mediante recurso extraordinário. claração de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo estadual ou
municipal. com trânsito em julgado, não haverá obJeto para a argüi-
Essa questão foi contemplada pelo Min. Moreira Alves (Rela-
ção de inconstitucionalidade no âmbito do STF.
tor) na Rec!. n. 383 (RTJ 147/451-452): "(oo.) nas ações diretas de
inconstitucionalidade estaduais, em que lei municipal ou estadual É o que também sustenta o Min. Moreira Alves (Relator) na
seja considerada inconstitucional em face de preceito da Constitui- seguinte passagem do voto proferido na Recl. n. 383:
ção estadual que reproduza preceito central da Constituição Federal, "(oo.) na hípótese de não interposição de recurso extraordinário
nada impede que nessa ação se impugne, como inconstitucional, (ou de não oferecimento de reclamação como acima observei), se
a interpretação que se dê ao preceito de reprodução existente ná a decisão do tribunal de justiça, na ação direta, for pela sua im-
Constituição do Estado por ser ela violadora da norma reproduzida. procedência - o que vale dizer que a lei municipal ou estadual fOI
que não pode ser desrespeitada, na Federação, pelos diversos uiveis tida como constitucional -, embora tenha ela também eficácia erga
de governo. E a questão vim a esta Corte, como, aliás, tem vindo, omnes, essa eficácia se restringe ao âmbito da Constituição estadual,
nos vários recursos extraordinários interpostos em ações diretas d~ ou seja, a lei então impugnada. ai, não poderá mais ter sua constitu-
inconstitucionalidade de leis locais em face da Constituição Federal cionalidade discutida em face da Constituição estadual, o que não
ajuizadas nas Cortes locais, a questão da impossibilidade jurídica implicará que não possa ter sua inconstitucionalidade declarada. em
dessas argüições (RE ns. 91.740, 93.088 e 92.169, que foram todos controle difuso ou em controle concentrado (perante esta Corte, se se
conhecidos e providos)". tratar de lei estadual), em face da Constituição Federal, inclusive com
Não há dúvida. pois, de que sera cabivel o recurso extraordiná~ base nos mesmos principios que serviram para a reprodução. E isso
rio contra decisão do tribunal de justiça que, sob pretexto de aplicar se explica não só porque a causa petendi (inconstitucionalidade em
o direito constitucional estadual, deíxar de aplicar devidamente a face da Constituição Federal, e não da Constituição estadual) é outra,
norma de reprodução obrigatória por parte do Estado-membro. como também por ter a decisão desta Corte eficácia erga omnes na-
cional, impondo-se, portanto, aos Estados.
É interessante notar que a decisão proferida em sede de recurso
extraordinário no STF que implique o reconhecimento da procedên~ "Se, porém, a decisão do tribunal de justiça, na ação direta, for
cia ou improcedência da ação direta proposta no âmbito estadual será pela procedência - o que implica a declaração de nulidade da norma
igualmente dotada de eficacia erga omnes, o que ressalta outra pecu- municipal ou estadual impugnada -, a sua retirada do mundo juridi-
liaridade dessa situação de inevitável convivência entre os sistemas co, com eficácia retroativa à data do inicio de sua vigência, se faz no
difuso e concentrado de controle de constitucionalidade no Direito âmbito mesmo em que ela surgiu e atua - o estadual-, o que impede
brasileiro. que, por haver a norma deíxado de existir na esfera do ordenamento
DIREITO ESTADUAL/MUNlClPAL-CONTROLEABSTRATO 763
762 DIREITO ESTADUAL/MUNlC1PAL - CONTROLE ABSTRATO

pelo Min. Moreira Alves: "A EC n. 3, de 1993, ao instituÍ! a ação


que integrava, seja reavivada, em face da Carta Magna federal, ques-
declaratória de constitucionalidade, já estabeleceu quais são os legi-
tão cujo objeto não mais existe" CRTJ 147/452).
timados para propô-la e quais são os efeitos de sua decisão definitIva
Essa decisão forneceu as novas bases do sistema de controle di- de merito. Silenciou, porém, quanto aos demais aspectos processuais
reto de constitucionalidade do direito estadual e municipal perante o aserem observados com referência a essa ação. Tendo em vista, po-
tribunal de justiça, assentando a autonomia dos parâmetros de contro, rem. que a natureza do processo relativo a essa ação é a mesma da
le e a possibilidade de que a questão suscitada perante o tribunal local ação direta de inconstitucionalidade, é de adotar-se a disciplina desta
se converta numa questão constitucional federal, especialmente nos nesse partIcular, exceto no que se diferenciam pelo seu fim ímediato,
casos de aplicação das chamadas normas de reprodução obl"lgatóri~ que e oposto - a ação direta de inconstitucionalidade visa diretamen-
por parte do Estado-membro. te à decl,:""ção de In~onstítucionalidade do ato normativo, 'ao passo
Assinale-se, por último, uma outra singularidade processual. que a açao declaratona de constItucionalidade visa diretamente á
A decisão que se profere neste peculiar recurso extraordináno será declaraç~o .de constituCIOnalidade do ato normativo - e que acarreta
dotada de eficácia erga omnes porque prolatada em processo de a lIDPOSslbllldade da aplicação de toda a referida disciplina".
índole objetiva.28 . Na oportun.idade assentou o STF que a sentença de rejeição de
~constItuclOnal!dade proferida no referido processo tem valor espe-
5. Ação declaratória de cOllstituciollalidade 110 âmbito estadual Cl.fico, afirmando-se que, no caso de ímprocedência da ação, terá o
tnbunal de declarar a inconstitucionalidade da norma.
Em face do silêncio do texto constitucional na versão da EC ri: . Como se sabe, a EC n. 3/93, ao criar a ação declaratóna de cons-
3/93, cabe indagar se os Estados-membros poderiam instituir a ação
declaratória de constitucionalidade no âmbito da unidade federada: titucionalidade de lei federal, estabeleceu que a decisão definitiva
com o objetivo de afirmar a legitimidade de atos normativos esta- ~e mérito nela proferida - incluída aqUi, pois, aquela que, Julgando

duais e municipais em face da Constituição estadual. lIDprocedente a ação, proclamar a inconstitucionalidade da norma
questIonada - "produzirá eficácia contra todos e efeito vmculante
A imprecisão da fórmula adotada na EC n. 16/65, que introdu~
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e do Pode;
ZÍu o controle abstrato de normas no Brasil - representação contra
Executivo C... )". Por essa razão, eminentes membros do STF como o
inconstitucionalidade de lei ou ato de natureza normativa. federal
Min. Sepúlveda Pertence, sustentaram e têm sustentado que, ;'quando
ou estadual. encaminhada pelo Procurador-Geral -, não conseguiá
cablvel em tese a ação declaratóría de constitucionalidade a mesma
esconder o propósito inequivoco do legislador constituinte, que era
o de permitir, "desde logo, a definição da controvérsia constitucional
f~rça vinculante haverá de ser atribuida á decisão defimtl;a da ação
dITeta de inconstitucionalidade",29
sobre leis novas", .
Todos esses elementos reforçam o caráter dúplice ou amblvalen-
E entendida a representação de inconstitucionalidode como
te que marca tambem a ação declaratória no plano federal.
instituto de conteúdo dúplice ou de caráter amblValente, mediante o
qual o Procurador-Geral da República poderia tanto postular a decla- Assim, não parece subsistir dúvida de que a ação declaratória de
ração de inconstitucionalidade da norma como defender a declaração constituclOnalidade tem a mesma natureza da ação direta de mcons-
títucion~lid?de, podendo-se afirmar, até, que aquela nada mais é que
de sua constitucionalidade. '
uma açao dlreta de InconstItucionalidade com sinal trocado. 3o
Assinale-se que no julgamento da Questão de Ordem suscitada
na ADC n. 1 enfatizou-se a natureza idêntica dos processos de ação 29. ReeI. n. 167, despacho, RDA 2061246-247.
direta de inconstitucionalidade e de ação declaratória de constituci<Í' ~O. CE. a propósito, Gilmar Ferreira Mendes. "A ação deciaratória de constitu-
nalidade, como se pode ler na seguinte passagem do voto proferido, c~onahdade: a Inovação da Emenda Constitucional D. 3. de 1993", ln Ives Gandra da
Sil~a MartI~s e Gilmar Ferreira Mendes (orgs.). Ação DeclaratórIQ de ConstituclO-
nabdade. Sao Paulo. 1994, p. 56.
28. Cf. RE n. 199281. ReI. Min. MorerraAlves. DJU 12.3.99.
764 DIREITO ESTADUAUMUNIClPAL - CONTROLE ABSTRATO DIREITO ESTADUALIMUN1CIPAL - CONTROLE ABSTRATO 765

Ora, tendo a Constituição de 1988 autorizado o constituinte ao permitir que não apenas o direito federal mas também o direito
estadual a criar a representação de inconstitucionalidade de lei ou afu estadual e municipal possam ser objeto de pedido de declaração de
normativo estadual ou municipal em face da Carta Magna estadual constitucionalidade.
(CF, art. 125, § 2Q ) e restando evidente que tanto a representação de ..
inconstitucionalidade, no modelo da EC n. 16/65 e da Constituição d~
7. O controle da omissão legislativa
1967/1969, quanto a ação declaratória de constitucionalidade previstá.
no plano estadual ou distrital
na EC n. 3/93 têm caráter dúplice ou ambivalente, parece legítimo
concluir que, independentemente de qualquer autorização expressá Muitas ConstItuições estaduais consagraram, ao lado do contro-
do legislador constituinte federal, estão os Estados-membros legiti~ le abstrato de normas, a ação direta por omissão.3l Assim sendo, é de
mados a insbtuir a ação declaratória de constitucionalidade. .I se indagar se as unidades federadas estariam autorizadas a instituir o
É que, como afirmado, na autorização para que os Estados procedimento de controle da omissão, tendo em vista especialmente
instituam a representação de inconstitucionalidade, fica implícita a o disposto no art. 125, § 2Q , da CF.
possibilidade de criação da própria ação declaratória de constitucio~ Tal como reconhecido pela própria jurisprudência do STF,
nalidade. configura-se omissão legislativa não apenas quando o órgão legisla-
tivo não cumpre seu dever, mas também quando o satisfaz de forma
6. A argüição de descumprimento de preceito fundamental incompleta.
e o controle de atos mllllicipais Nesses casos - que configuram, em termos numéricos, a mais
em face da Constituição Federal significativa categoria de omIssão na jurisprudência da Corte Cons-
titucional alemã32 - é de se admitir tanto um controle principal ou
Considerações gerais - Nos termos da Lei 9.882/99, cabe a direto como um controle incidental, já que existe, aqui, norma que
argüíção de descumprimento de preceito fundamental para eVitai pode ser objeto de exame Judicial.
ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder
Público (arts. 12 , caput, e 102, § 12 , da CF). Embora a omissão do legislador não possa ser, enquanto tal,
objeto do controle abstrato de normas,33 não se deve excluir a pos-
O paragrafo único do art. 1Q explicita que cabera também a sibilidade de que essa omissão venha a ser examinada no controle
argUição de descumprimento quando for relevante o fundamento concreto de normas.
da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal,
estadual ou municipal, inclusive anteriores à Constituição (leis pré- Dado que no caso de omissão parcial há uma conduta positiva,
constitucionais). não há como deíxar de reconhecer a admissibilidade, em principio,
da aferição da legitimidade do ato defeituoso ou mcompleto no pro-
Vê-se, assim, que a argüição de descumprimento podera ser
cesso de controle de normas, ainda que abstrato. 3'
manejada para solver controvérsias constitucionais sobre a constitu-
cionalidade do direito federal, do direito estadual e também do direito Tem-se, pois, aqui, uma relativa mas inequivoca fungibilidade
municipal. entre a ação direta de inconstitucionalidade e o processo de controle
Podera ocorrer, assim, a formulação de pleitos com objetivo de abstrato da omissão, uma vez que os dois processos - o de contro-
obter a declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade 31. Cf. nota n. I, supra.
toda vez que da controvérsia judicial instaurada possa resultar sério 32. BVeifGE 15/46 (76); 221329 (362); 23/1 (la); 25/101 (llO); 321365 (372);
prejuizo â aplicação da norma, com possível lesão a preceito funda- 47/1 (33); 521369 (379).
mental da Constituição. 33. Ernst Fnesenhahn, Die Veifassungsgerichtsbarkelt ln der Bundesrepublik
Deutschland, KõInlBerlimIBonnIMunique. 1963, p. 65.
De certa forma, a instituição da argüíção de descumprimento de 34. Christoph Gusy, Parlamentanscher Gesetzgeber ulld Bundesverfassungs-
preceito fundamental completa o quadro das "ações declaratórias", gericht, Berlim. 1985, p. 152.
766 DIREITO ESTADUAlJMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO DIREITO ESTADUALIMUNICIPAL- CONTROLEABSTRATO 767

le de normas e o de controle da falta de normas - acabam por ter concluiu o Min. Sepúlveda Pertence que "o pedido da ação direta de
- formal e substancialmente - o mesmo objeto, isto é, a inconstitu" inconstítucionalidade de norma é de todo diverso do pedido da ação
cionalidade da norma, em razão de sua incompletude. " de inconstitucionalidade por omissão, o que tornaria inadmissivel a
. Essa peculiaridade restou evidenciada na ADIn n. 526 (ReI. conversão da ação de inconstitucionalidade positiva, que se propôs,
Min. Sepulveda Pertence, RTJ 145(1)/112"113), oferecida contra a em ação de inconstitucionalidade por omissão de normas".36
MP n. 296, de 29.5.91, que concedia aumento de remuneração a seg" Também naADln n. 1.458, da relatoria do Min. Celso de Mello
mento expressivo do funcionalismo público em alegado desrespeito (DJU20.9.96), reiterou o STF essa orientação.
ao disposto no art. 37, X, da CF. Ao contrário do afirmado nas referidas decisões, o problema, tal
É certo que a declaração de nulidade não configura técnica ad~~ como já amplamente enfatizado, não decorre propriamente do pedi-
quada para a eliminação da situação inconstitucional nesses casos de do, até porque, em um ou em outro caso (impugnação de ato norma-
omissão inconstitucional. Uma cassação aprofundaria o estado dé tivo ou de omissão parcial), tem-se sempre um pedido de declaração
inconstitucionalidade, tal como já admitido pelo Bundesveifassungs~ de inconstitucionalidade de uma dada situação normativa.
gericht em algumas decisões, mencionadas páginas atrás. Tratando-se de OITllssão, a própria norma incompleta ou defeituosa
Portanto, a principal problemática da omissão do legislador há de ser suscetível de impugnação na ação direta de inconstitucio-
nalidade, porque é de uma norma alegadamente inconstitucional
situa-se menos na necessidade da instituição de determinados proces-
que se cuida, ainda que a causa da ilegitimidade possa residir na sua
sos para o controle da omissão legislativa que no desenvolvimento
incompletude.
de fórmulas que permitam superar, de modo satisfatório, o estado de
inconstitucionalidade. Portanto, a questão fundamental reside menos na escoIba de um
pr?cesso especiai que n~ adoção de uma técnica de decisão apro-
Em outro julgado, também relativo à suposta exclusão d~
pnada para superar as SItuações inconstitucionais propiciadas pela
beneficio incompatível com o principio da igualdade, o STF vem
chamada omissão legislativa.
de afirmar que não caberia à Corte converter a ação direta de in-
constitucionalidade em ação de inconstitucionalidade por omissão. Se se entender que, na verdade, a ação direta por inconstitu-
Tratava-se de impugnação na qual se sustentava que o ato da Receita cionalidade de lei ou ato normativo e a ação direta de inconstitucio-
nalidade por omissão têm, em grande parte, um obJeto comum - a
Federal, "ao não reconbecer a não-incidência do imposto (IPMF)
apenas quanto a movimentação bancária ocorrida nas aquisições omissão parcial -, então, parece correto admitir que a autorização
contida na Constituição Federal para a inslltuição da representação
de papel destinado à impressão de livros, jornais e periódicos pro-
de inconstitucionalidade no plano estadual ou distrital é abrangente
movidas pelas empresas jornalísticas", estaria "impondo a exigên-
tanto da ação direta de inconstitucionalidade em razão de ação como
cia do imposto relativamente às demais operações financeiras de
da ação direta por omissão.
movimentação e transferência praticadas por essas empresas, em
operações vinculadas à editoração de jornaIS, livros e periódicos, tais . . Assirr: sendo, as Constituições estaduais que optaram por dis-
como pagamentos a fornecedores de outros insumos, pagamentos CIplInar, drretamente, o controle abstrato da omissão acabaram por
de mão-de-obra e serviços necessários á confecção do jornal (...)"." consagrar fórmula plenamente compatível com a ordem constitucio-
"Configurada hipótese de ação de inconstitucionalidade por omissão, nal vigente.
em face dos termos do pedido, com base no § 22 do art. 103 da Lei
Magna, o que incumbe ao Tribunal- afirma o Relator, Min. Néri da 8. O controle de constitllciollalidade no âmbito do Distrito Federal
Silveira - é negar curso à ação direta de inconstitucionalidade ui art Considerações prelimillares - O texto originário da Constitui-
102, 1. 'a', do Estatuto Supremo". Na mesma linba de argumentação, ção não contemplou expressamente o direito de propositura da ação

35. ADln n. 986. ReI. Min. Nén da Silveira. DJU 8.4.94. 36. Idem, ibidem.
768 DIREITO ESTADUALlMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO
DIREITO ESTADUALlMUNlCIPAL - CONTROLE ABSTRATO
769
direta de inconstitucionalidade pelo governador do Distrito Federal,
nem tampouco pela Câmara Legislativa do Distnto Federal. Somen~ que, para os fIns do controle de constitucionalidade abstrato, suas
te com a edição da EC n. 45/2004 (Reforn:a do Judiciãrio) essas posições juridicas são, fundamentahnente, idênticas.
aparentes lacunas constitucionais foram ~xphCl.:amente colmatadas, Não haveria razão, assim, para deixar de reconhecer o direito de
O atual texto constitucional, contudo, amda nao esclarece sobre a propositura da ação direta de inconstitucionalidade ao governador do
aplicação do art. 125, § 22 , ao âmbito do Distrito Federal., .. Distrito Federal e à Mesa da Câmara Legislativa, a despeito do silên-
Embora o status do Distrito Federal no texto constItucIOnal de cio do texto constitucional até a edição da EC n. 45/2004.
1988 seja fundamentahnente diverso dos modelos fixad?~ nas Cons- O direito de propositura do governador do Distrito Federal foi
tituições anteriores, não se pode afIrmar, de forma apOdltIca, que sua' contemplado expressamente pelo STF na ADIn n. 645, reconhecen-
situação juridica é equivalente à de um Estado-membro. .,.) do-se sua legitimidade ativa "por via de interpretação compreensiva
Não seria lícito sustentar, porém, que se estaria d~ante de mode; . do texto do art. 103, V, da CF de 1988, c/c o art. 32, § 12, da mesma
Carta",37
los tão diversos que, no caso, menos que .un:a onns~ao, ha~ena lIIr!
exemplo de silêncio eloqüente, que obstaria a ex:.ens~o do du;elto d~ Assim, não exlste razão juridica para afastar do controie abstrato
propositura aos órgãos do Distrito Federal em açao dITeta de mcons- de constitucionalidade os órgãos superiores do Distrito Federal.
titucionalidade, no plano do STF, bem como à adoção do co?tr~le Razões semelhantes militam a favor do controle de constitu-
abstrato de direito distrital perante o Tribunal de JustIça do DIStrit? cionalidade de ato aprovado pelos Poderes distritais no exercido da
Federal e dos T e r r i t ó r i o s . " competênCia tipicamente estadual.
Assinale-se que se afIgura decisiva para o desate da questão.a E que, não obstante as peculiaridades que marcam o Distrito
disciplina contida no art. 32 da CF: q~e outorga a? Distnto Fed~~l Federal, os atos normativos distritais -leis, decretos etc. _ são subs-
d r de auto-organização, lhe atnbUl as competenclas legislativa!; tanciahnente idênticos aos atos normativos estaduais, tal como deflui
poe I'-d .
dos Estados e Municípios e define regras . para
, . a Pe elçao
b e gover- diretamente do art. 32, § 12 , na parte em que atribui ao Distrito Fede-
nador, vice-governador e deputados dlstntal.s. ,erce e-se q~e a ral as competências legislativas resefliadas aos Estados."
disciplina constitucional das competênCIas legislatIvas e executIv~
Assinale-se, porém, qne a própria fórmula constante do art. 32,
do Distrito Federal em nada difere do sistema co~s~grado P::r" os
§ 1·, da CF està a indicar que o Distrito Federai exerce competências
Estados-membros. O mesmo é de dizer no tocante a mtervenç~o ~e.­
legislativas municipais, editando, por isso, leis e atos normativos ma-
deral- ar!, 34 -, cujo regime é o mesmo para os Estados e o DIStnt~
teriahnente idênticos àqueles editados pelos demais entes comunais.
Federal. ..
Nessa hipótese, diante da impossibilidade de se proceder ao
Dessarte, para os efeitos exclusivos do sistema de controle ~e,
exame direto de constitucionalidade da lei municipal em face da
constitucionalidade, as posições juridicas do g?vernador e. da ~a­
Constituição Federal perante o STF, tem-se de admitir, com o STF,
mara Legislativa do Distrito Federal em nada dlfen:~ das ~Ituaçoes
que descabe "ação direta de inconstitucionalidade cUJo objeto seja
juridicas dos governadores de Estado e das AssembleiaS LeglslatIv~.
ato normativo editado pelo Distrito Federal, no exercíCIO de compe-
O eventual interesse na preservação da autono~ia de suas um: tência que a Lei Fundamental reserva aos Municípios", tal como "a
dades contra eventual intromissão por parte do legislador federal ,e disciplina e polícia do parcelamento do soio".39 Tal afIrmação não
em tudo semelhante. Também o interesse genéric? na def~sa ~as,atri~ invalida, entretanto, o reconhecimento do cabimento da argüição de
buições específIcas dos Poderes Executivo e LegIslatIvo e IdentIc~.
Portanto, ainda que se possam identifIcar dessemelhanças, Slp- 37. ADIn n. 645, ReI. Min. limar Gaivão, DJU 21.2.92, p. 1.693. V. também
nifIcativas entre o Estado-membro e. o Di~trit~ Fed~n:l ,e, por ISS~, ADIn n. 665, ReI. Min. Octávio Gallotti, DJU24.4.92, p. 5.376.
também entre seus órgãos executivos e legIslativos, e hCltO concluI! 38. ADIn n. 665, ReI. Min. OCtáVIO Gallotti, DJU24.4.92, p. 5.376.
39. ADIn n. 611, ReI. Min. Sepúlveda Pertence. DJU I 1.12.92, p. 23.662.
DIREITO ESTADUALlMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO 771
770 DIREITO ESTADUALlMUNlClPAL - CONTROLE ABSTRATO

descumprimento de preceito fund~ental para a sub~issão. de fisc~­ Câmara Legislativa do Distrito Federal possa disciplinar a instituIção
lização abstrata de inconstitucionalidade com relaçao a .dIsposIça~ da ação direta perante o Tribunal de JustJça do Distrito Federal e dos
contida na Lei Orgãnica do Distrito Federal, ou ~m I~I dIStrit:'1 edI- Territórios.
tada em sede de regulamentação tipicamente eqUIpara:el ao ambIto É que, como se sabe, o TJDF é um órgão federal, competmdo à
normativo constitucionahnente reservado aos MumcIpIos (art. 30 da União dispor sobre sua organização e sobre a organização do Poder
Judiciário do Distrito Federal (CF, art. 21, XII).
CF de 1988).
Vê-se, assim, que o STF levou em conta o propósito ampl~tivo Ainda que haja boas razões para justificar a extensão ao Distrito
do constituinte, somente posteriormente posItivado n~ redaçao. da Federal do tratamento constitucional que, na matéria, se conferiu aos
Constituição, em relação ao controle de constItuCIonalIdade no am, Estados-membros, há de se ter por inquestionável que, se o Tribunal
bIto estadual, para reconhecer que também o DIStntO Federal deveria de Justiça não é um orgão integnmte do Distrito Federal, não pode
ser compreensivamente abrangido pelas norma~ dos .arts. 102 e 103 ele ter suas competências acrescidas por decisão do órgão legislativo
da CF, a respeito do controle direto de constituCIOnalidade. distrital.
Essa observação parece obstar a que a própria Câmara Legisla-
A possibilidade de instituição de ação direta no âmbito Jó tiva do Distrito Federal venha a mstituir a ação direta de inconstitu-
' tr't
D IS 10", E'ederal- Tal como observado, a Constituição
Ih dotou o- Dis- ., cionalidade.
trito Federal de autonomia política, outorgando- e compete~cIas Todavia, se se entende - como estamos a fazê-lo - que, em
legislativas específicas dos Estados-membros e dos MUnICIpIOS e verdade, o texto constitucional não proíbe - antes, recomenda - a
atribuindo-lhe poder para votar urna lei orgãnica. Cumpre indagar, instituição de um modelo duplo de controle direto de constitucionali-
ainda, se ao Distrito Federal seria lícito, iguahnente, definIr um mo- dade do direito de índole estadual, então, afigura-se legítimo índagar
delo de controle de constitucionalidade, tal como preVISto no art. 125, se a própria União não poderia, com fundamento em sua competên-
§ 2~, da Carta Magna. ," cia para legislar sobre direito processual federal e para dispor sobre
A pergunta pode ser assim formulada: estamos dIante .de uma organização do Judiciário local, disciplinar a ação direta do direito
lacuna que pode ser superada por analogia ou, .ao reves, dIante de distrital em face da Lei Orgãnica do Distrito Federal.
inequívoco silêncio eloqüente do texto const~tucIOnal? .._ Poder-se-ia sustentar - reitere-se - que o silêncio do texto
Não subsiste dúvida de que, ao contrarIO da CO~stJtuI.çao dé constitucional, na espécie, é um silêncio eloqüente, não se podendo
1967/1969, o texto constitucional de 1988 fez um~ opçao delIberada superar a lacuna verificada senão mediante emenda constitucional.
em favor de duplo sistema de control~ direto d? dIreIto estadual e de Embora não se possa negar que eventual emenda constitucional
um sistema de controle direto do direIto mUnICIpal em face da Cons- daria solução definitiva aquestão,40 é certo que a sistemática vigente
tituição estadual (CF, art. 125, § 2~). .' .' . sugere a possibilidade de disciplina do terna mediante decisão legis-
Tendo o Distrito Federal personalidade jurídica de direito publi- latíva ordimiria, desde que exercida pelos órgãos competentes.
co e autonomia política, que o resguarda contra u;tervenção fora ~~ Forte nesse entendimento, a Comissão de Juristas4I encarregada
hipóteses do art. 34 da CF e lbe permite não só edItar uma I~I orgaru: de formular um anteprojeto de lei sobre o processo e julgamento da
ca, a título de Constituição local, mas tambem le~sl~, no amMo de
seu território, sobre todas as matérias de compete~cIa dos Estados e 40. Cf. Relatona da Revísão Constitucional (Pareceres Produzidos). t. 2, Bra-
Municipios, parece estranho que se lbe negue aqUIlo que se assegura sília, 1994, pp. 60 e ss.
41. A Comissão fOI composta pelos professores Caio Tácito (Presidente),
a todos os entes federados. Amoldo Wald. Ada Pellegrini Gnnover. Álvaro Villaça Azevedo, Antômo Jamyr
É bem verdade que se afigura complexa uma l~itura ampli~ti~: DaU'Agnol,"Luiz Rob"erto Barroso. Roberto Rosas, Carlos Alberto Direito, Gílmar
do texto constitucional, no art 125, § 2~, para admitir que a prop Ferreira Mendes (Relator do AnteproJeto), Manoel Andrê da Rocha e Ruy Rosado de
772 DIREITO ESTADUAUMUNIcrPAL - CONTROLE ABSTRATO
DlRElTO ESTADUAUMuNrClPAL - CONTROLE ABSTRATO
773
-o direta de inconstitucionalidade e da ação dec\aratória de consti_
aça sistema de controle de normas, uma vez que o texto constitucional
tucionalidade apresentou proposta que confenui ' dlSClp
" \ ,ma ao t ema,42
não cuidou diretamente do tema".
Tal como assente no Relatório que explicita as razões das pro-
Essa proposta foi convertida na Lei n, 9.868, de 10,11.99.
tas Dormuladas o antepro;eto propôs que se alterasse a, legislação
pos " de Organização Judiclana
ordimiria federal (Lei .. ' d o D'IStrito Fe dera,i Como se pode ver, aludida lei adota os lineamentos básicos do
a Lei n. 8.185/9 I) para admitir, expressamen~e, o, condtr0DI: abstraFtodde controle de constitucíonalidade direto aplicaveis no âmbito do STF,
as e o controle abstrato da omissão no amblto o IStritO e e- determmando que as normas sobre processo e julgamento da ação
norm , 'fi ti la
ral, com o propósito inequívoco de "colmatar Slgm ca va Cuna no direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucio-
nalidade perante o STF são aplicáveis, no que couber, ao processo e
Aguiar Jr. O anteprojeto referido foi con~ertido no P:ojeto de Leí n. 2.960, encami_ julgamento do controle de constitucionalidade no âmbito do 'Distrito
nhado pelo Executivo ao Congresso NaCIOnal em abnU97. Federal.
42. "Art. 30. Àcrescentem-se ao ar!. 8"- da Lei n. 8.185, de 14 de maio de 1991,
as seguintes disposições: Tal solUÇão parece inteiramente compatível com o ordenamento
"'M 8", ( ...l, constitucional brasileiro, que reconbece, hoje, o processo abstrato de
~~ . ' , normas como instrumento regular de controle de constítucionalidade,
"'n) a ação direta de lnconstitucíonalidade de lei ou ato normatIVO do Distrito no âmbito das llOidades federadas,
Federal em face da sua Lei Orgâmca;

:::~··3;. São partes legítimas para propor a ação direta de inconstitucIOnalidade: 9. Reclamação no âmbito estadual
'''a) o Governador do DistrIto Federal;
'''b) a Mesa da Câmara Legíslatíva; No período anterior à ordem constitucional vigente o STF en-
'''c) o Procurador-Gemi de Justiça; . , . tendeu ser o instituto da reclamação monopólio do STF, em face da
'''d) a Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do D1S~to Federal, previsão constitucional inserida no art. 119, § 3Q , "c", da CF de 1967,
.U e} as entidades sindicaIS ou de classe. de atuação no DIStnt? F~de~l. demons-

trando que a pretensão por elas deduzida guarda relação de pertmencla dlreta com os
que autorizava a Corte a legislar sobre "o processo e julgamento dos
seus objetivos instltucionaÍs; A ~, feitos de sua competência origináría e recursal", única exceção â
'''fI os partidos políticos com representação na Cam~ ~eglslat1va. , competência legislativa privativa da União sobre direito processuaL
"'§ 42. Aplicam-se ao processo e julgamento da açao drre~.de InCOnstitucIO-
Esse entendimento firmou-se julgamento da Repr. n, 1.092 (ReI.
nalidade perante o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Temtonos as segumtes
dispOSIções: . . _. Min, Djaci Falcão), que impugnara normas regimentais do extinto
'''a) o Procurador-Geral de Justiça sem sempre OUVIdo nas açoes dlretas de TFR Criadoras de instituto idêntico para preservar a competência
constitucíonalidade ou de inconstitucIOnalidade; . daquela Corte ou garantir a autoridade das suas decisões, que restou
'''b) declarada a inconstitucíonalidade por omissão de medIda p'ara tornar efe- assim sintetizado:
tiva norma da Lei Orgânica do Distrito Federal, a ~e~isão serã comumcada ao ~od:r
competente para adoção das providências ?ecesSárlas. e. em se tratando de orgao "Reclamação - Instituto que nasceu de uma construção preto-
administrativo, para fazê-lo em 30 (tnnta) dias; . _ riana, visando à preservação, de modo eficaz, da competência e da
'''e) somente pelo voto da maIOria absoluta de seus membros ou de seu Orgao
autoridade dos julgados do STF - Sua inclusão, a 2.10.57, no Regi-
Es eCla~ poderá o Tribunal de Justiça declarar a íncons~ituclOnali_dade_ de leI oU,de
auinormatlvo do Distrito Federal ou suspender a sua vlgencla em decISao de medida mento Interno do órgão maior na hierarquia jUdicial e que desfruta
de singular posição,
cautelar. . d - d' eta de
"'§ 511.Aplicam-se. no que couber. ao procesS? d~ julgamento a açao Ir ,
ínconstitucionalidade de lei ou ato normativo do DIStrito Feder.ai em f~ce da s~a ~l "Poder reservado exclusivamente ao STF para legislar sobre
Orgânica. as normas sobre o processo e o jul~e?to da ação drreta de InCOnsO,tuCIO- 'o processo e o julgamento dos feitos de sua competência originária
nalidade e da ação dec1aratáría de constltuclonalidade perante o Supremo Tnbunal ou recursal', mstituido pela Constituição Federal de 1967 (art, 115,
Federal'." parágrafo unico, 'c', hoje art. 119, § 3Q , 'c').
776 DIREITO ESTADUAUMUNIClPAL- CONTROLE ABSTRATO DIREITO ESTADUAUMUNIClPAL - CONTROLE ABSTRATO 777

Ressalte-se que a própria suspensão de execução pelo Senado, esses casos de decisão com base em uma interpretação conforme â
tal como compreendida e praticada no ãmbito federal, dá sinalS Constituição não podem ter sua eficácia ampliada com o recurso ao
evidentes de superação ou obsolescência, como registramos ante- instituto da suspensão de execução da lei pelo Senado Federal.
riormente.
Finalmente, mencionem-se os casos de declaração de incons-
A amplitude conferida ao controle abstrato de normas e a possi- titucionalidade parcial sem redução de texto, nos quais se explicita
bilidade de que se suspenda, liminarmente, a eficácia de leis ou atos que um dado sigriIficado normativo é inconstitucional, Sem que a
normativos, com eficácia geral, contribuíram, certamente, para que expressão literal sofra qualquer alteração.
se quebrantasse a crença na própria justificativa desse instituto, que
Também nesses casos a suspensão de execução da lei ou do ato
se inspirava diretamente numa concepção estanque da separação de
normativo pelo Senado revela-se problemática, porque não se cuida
Poderes - hoje, necessana e inevitavelmente ultrapassada. Se o STF
de afastar a incidência de disposições do ato impugoado, mas tão-
pode, em ação direta de inconstitucionalidade, suspender liminar-
somente de um de seus significados normativos. E sigoificados não
mente a eficácia de uma lei, até mesmo de uma emenda constitucio- são textos.
nal, por que haveria a declaração de inconstitucionalidade, proferida
no controle incidental, de valer tão-somente para as partes (eficácia Todas essas razões demonstram a inadequação - o carater ob-
inter partes)? soleto, mesmo - do institoto da suspensão de execução pelo Senado
no atual estágio do nosso slstema de controle de constitucionalidade.
A única resposta plausível indica que o instituto da suspensão
pelo Senado de execução da lei declarada inconstitucional pelo STF Tais processos "sem partes formais" somente têm sentido se as
assenta-se, hoje, em razão de índole exclusivamente hístórica. decisões mais relevantes neles proferidas forem dotadas de eficácia
contra todos.
Deve-se observar, outrossim. que o instituto da suspensão da
execução da lei pelo Senado se mostra inadequado para assegurar efi- Alguns autores chegam a sustentar que a eficácia erga omnes
cácia geral ou efeito vinculante ás decisões do STF que não declaram constitui apanágio dos processos objetivos.
a inconstitucionalidade de uma lei, limitando-se a fixar a orientação Esse parece ser também o entendimento do STF, que desde 1977
constitucionalmente adequada ou correta. Isso se verifica quando o vem afirmando a eficácia geral da decisão proferida em representa-
STF afirma que dada disposição há de ser interpretada desta ou da- ção de inconstitucionalidade, como autêntico apanaglO do seu carater
quela forma, superando, assim, entendimento adotado pelos tribunais objetivo.
ordinários ou pela própria Administração. A decisão do STF não tem Somente nos anos de 1974/1975 começou o STF a defmir sua
efeito vinculante, valendo nos estritos limites da relação processual doutrina da eficácia erga omnes da declaração de inconstítucionalida-
subjetiva. Como não se cuida de declaração de inconstitucionalidade de proferida no processo de controle abstrato de normas. 45
de lei, não há de se cogitar, aqui, de qualquer intervenção do Senado, O parecer do Min. Rodrigues de Alckmm foi emitido em
restando o tema aberto para inúmeras controvérsias. consulta formulada pelo Diretor-Geral da Secretaria do STF que
Situação semelhante ocorre quando o STF adota uma interpre- manifestava dúvida sobre a execução da sentença proferida na Repr.
tação conforme á Constituição, restringindo o significado de dada n. 898, relativa á Lei n. 7.214, de 13.11.68, do Estado de Goiás, de-
expressão literal ou colmatando uma lacuna contida no regramento clarada inconstitucional por infringência de principio sensivel (CF de
ordinano. Aqui, o STF não afuma propriamente a ilegitimidade da 1967/1969, art. !O, VII, "e'').
lei, limitando-se a ressaltar que uma dada interpretação é compativel
com a Constituição ou, ainda, que, para ser considerada constitu- 45. Parecer do Min. Rodrigues deAlckmin de 19.6.75, DJU 16.5.77, p. 3.124;
cional, determinada norma necessita de um complemento (lacuna Parecer do Min. Moreira Alves, de 11.11.75, DJU 16.5.77, p. 3.123. V. tambem
Oswaldo Aranha Bandeírn de Mello, Teona das Constituições Rígidas, 2.i1 ed., São
aberta) ou restrição (lacuna oculta - redução teleológica). Todos Paulo, 1980, p. 213.
778 DIREITO ESTADUAIJMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO DIREITO ESTADUALIMUNlCIPAL - CONTROLE ABSTRATO 779

A orientação adotada, que reconhecia eficácia erga omnes à A rnaioría da Mesa de Matéria Constitucional inclinou-se
pronúncia de inconstitucionalidade no processo de controle abstrato porém, por considerar que os demais atos normativos declarados m~
de normas, foi aprovada pelo Presidente da Comissão de Regimento constitucionais, incidentalmente, pelo STF deveriam ter, igualmente,
do STF, Min. Luíz Gallotti (5.8.74), e posteriormente pelo Presidente a suspensão de sua execução declarada pelo Senado Federal. Em
do Tribunal, Min. Eloy da Rocba (19.12.74).46 18.6.77 o Presidente do STF, Min. Thompson Flores, determinou que
Àquela época já tramitava no STF consulta formulada pelo Se- as comunicações ao Senado Federal, para os fins do art. 42, VII, da
nado com vistas a esclarecer o papel que haveria de desempenhar no CF de 1967/1969, se restringissem às declarações de inconstítucio-
controle de constitucionalidade, mormente se haveria de suspender nalidade proferidas inCldenter tantum. 49
todos os atos declarados inconstitucionais ou se a atribuição estava Reconheceu-se, portanto, que a decisão proferída no processo
adstrita à suspensão de execução de leis e decretos, tal como expresso objetivo do controle abstrato de normas tinha eficácia erga omnes,
no art. 42, VII, da CF.47 independentemente da intervenção do Senado Federal.
Submetida a questão à Mesa de Matéria Constitucional do STF, Entendimento idêntico há de ser adotado no que se refere ao
sustentou o Min. MoreiraAlves, em parecer datado de 11.11.75: "10. controle abstrato de normas no plano estadual. Até porque, como
Em conclusão, e circunscrevendo-me apenas ao objeto da consulta observado, no controle incidental o instltuto da suspensão de execu-
(sou dos que entendem que a comunicação ao Senado só se faz em ção da lei tem por escopo tão-somente imprimir eficácia geral a uma
se tratando de declaração de inconstitucionalidade incidente, e não decisão com efeitos inter partes. Sua extensão ao controle abstrato
quando decorrente da ação direta, caso em que, se relativa a interven- iroplica retirar do órgão jurisdicional qualquer capacidade de declsão
ção federal, a suspensão do ato é da competência do Presidente da definitiva sobre a matéria, porque nesse processo não existe nenhum
República, e, se referente a declaração de mconstitucionalidade em vinculo subjetívo entre as partes. Assim sendo, admltir em processo
tese, não há que se falar em suspensão, pois, passando em julgado objetivo - e, portanto, sem partes formais - que a eficácia da decisão
o acórdão desta Corte, tem ele eficácia erga omnes e não há que se sobre a constitucionalidade depende da aprovação de um órgão polí-
suspender lei ou ato normatívo nulo com relação a todos), em con- tico é submeter a eficácia da própria decisão judiCial proferida nesse
clusão - repito - e circunscrevendo-me ao objeto da consulta, sou de processo a uma deliberação tipicamente política.
parecer de que só se deverá fazer a comunicação, a que alude a parte E fácil perceber, pois, que não se está diante de uma alternativa
final do art. 180 do Regimento Interno, quando se tratar de declara- de política legislativa mais ou menos aceitável, dependendo da pers-
ção de inconstitucionalidade de lei (que abrange o elenco das figuras pectiva acadêmica ou dogmática que se adote.
compreendidas no art. 46 da Emenda n. 1/69) ou de decreto, e não de
Trata-se de reconhecer que o controle abstrato de nOrmas do
quaisquer outros atos normativos".48
direito estadual e municipal em face da Constttuição, tal como au-
torizado no ar!. 125, § 2", da CF e disciplinado em diversas Consti-
46. Cf. Ana Valderez Ayres Neves de Alencar. "A competência do Senado Fe w

dera! para suspender a execução dos atas declarados inconstItucionais'" Revista de


tuições estaduais, não se compatibiliza com fórmulas limitadoras da
Informação LeglSlaliva 57/260 (293), 1978. eficácia da decisão, como a prevista no art. 52, X, da CF. A decisão
47. Cf. Parecer da Comissão de Constituição e Justiça. ReI. senador Accioly proferida em controle abstrato há de ter eficácia erga omnes, sob
Filho, 10 Ana Valderez Ayres Neves de Alencar, "A competênCIa do Senado Federal pena de se subverter ou de se descaracterizar por completo o próprio
para suspender a execução dos atas inconstitucionais", Revista de lnfonnação Legzs w

laliva 57/297. sistema judicial de controle de constitucionalidade, subordinando-se


48. Parecer da Min. MareiraAlves de I I.I 1.75,DJU 16.5.77, p. 3.123; cf. taro-
bémAna Valderez Ayres Neves de Alencar. "A competência do Senado Federal para 49. CE Ana Valderez Ayres Neves de Alencar, "A competência do Senado Fe-
suspender a execução dos atos inconstitucionaís". RevISta de Informação LeglSiativa deral p"ara suspender a execução dos atos inconstitucionais", ReVIsta de Informação
57/303-304. Leglsiativa 57/305.
'I"
Ir:
780 DIREITO ESTADUAlJMUNICIPAL - CONTROLE ABSTRATO

a eficácia do pronunciamento judicial definitivo a uma decisão -


reitere-se - tipicamente política de um órgão legislativo. '''1
Não há dúvida, pois, de que as disposições contidas nas diversas
Constituições que condicionam a eficácia da decisão proferida em
sede de controle abstrato, no âmbito estadual, à decisão de um órgãó
político estadual ou municipal parecem afrontar a própria Constitui_
ção Federal, que autoriza a instituição de um controle de constitucio_
nalidade exercido por órgão jurisdicional, e não por órgão político. APÊNDICE

1. Constitllição da República Federativa do Brasil,


de 5 de olltllbro de 1988

Art. 5". Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na-
tureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, li liberdade. li igualdade. li segurança e li
propriedade, nos tennos segulOtes: (... )

LXIX - conceder-se-a mandado de segurança para proteger direito


líquido e certo~ não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando
O responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública
ou agente de pessoa jurídica no exercicio de atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segnnmça coletivo pode ser Impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional:
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados:
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucIonais e das prerrogatlvas inerentes â nacíonalidade, à soberania
e à cidadania;
LXXII - conceder-se-a habeas da/a:
a) para assegurar o conhecímento de infonnações relativas à pessoa
do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de carnter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por pro-
cesso sigiloso, judicial ou administrativo;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular
que vise a anular ato teslvo ao patrImônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa. ao meio ambiente e ao patri-
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 783
782

mônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento § 2". Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para
de custas judiciaís e do ônus da sucumbêncía; tomar efettva nonna constitucIOnal, será dada ciênCia ao Poder competente
para a adoção das providênCIas necessárias e, em se tratando de órgão ad-
nunístrativo, para fazê-lo em 30 (trinta) dias.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a
§ 3!l, Quando o Supremo Tribunal Federal apreCIar a inconstitucio-
guarda da Constituição, cabendo-lhe:
nalidade. em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o
I - processar e julgar. originariamente:
Advogado-Geral da União, que defenderã o ato ou texto impuguado.
§ 4". (Revogado pela EC n. 4512004)
d) o habeas corpus, sendo pacIente qualquer das pessoas referidas
Art: 103-A •. O Supremo Tribunal Federal poderã, de oficio ou por
nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra
provocaçao, medIante decisão de dOIS terços dos seus membros, .após rei-
atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do
teradas deci~ões_sobre matéria constitucional, aprovar sumula que, a partir
Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da
de sua pubh.caçao na Imprensa OfiCial. terã efeito vinculante em relação
República e do própno Supremo Tribunal Federal;
aos demats orgãos do Poder Judiciário e â Administração Pública direta e
indireta, ~as esferas federal. estadual e municipal, bem corno proceder à
q) o mandado de inJunção, quando a elaboração da norma regulamen- sua reVIsao ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (lncluido pela
tadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, EC n. 45/2004)
da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas . § 12.. A sumula terã por objetivo a validade, a interpretação e a eficà-
Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais CIa de normas determinadas. acerca das quais haja controvérsía atual entre
Supenores, ou do própno Supremo Tribunal Federal; órgãos judiciãrios ou entre esses e a Administração Pública que acarrete
r) as ações contra o Conselho NaCIonal de Justiça e contra o Conselho grave ínsegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre
Nacional do Ministéno Público; (incluida pela EC n. 45/2004) questão idêntica.
II - íulgar, em recurso ordinário: . ~ 22 . Sem prejuizo do qu~ vier a ser estabelecido em lei, a aprovação,
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o man- reVlsao ou cancelamento de sumula poderá ser provocada por aqueles que
dado de ínjunção decididos em unica Instância pelos Tribunais Superiores, podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.
se denegatória a decisão; § 32 . Do ato administratívo ou decisão judicial que contrariar a sumula
ap~icàvel ou que inde~idamente a aplicar, caberâ reclamação ao Supremo
Art.103_ Podem propor a ação direta de rnconstitucionalidade e a ação Tnbunal Federal que, julgando-a procedente, anulara o ato administrativo
declaratória de constitucionalidade: (redação dada pela EC n. 45/2004) o.u cassarà a decísão judicial reclamada. e determinarã que outra seja profe-
I - o Presidente da República; nda com ou sem a aplicação da sumula, conforme o caso.
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados; Art.10S. Compete ao SupenorTribunal de Justiça:
N - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do I - processar e julgar, originariamente:
Distrito Federal; (redação dada pela EC n. 45/2004)
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; (redação dada b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro
pela EC n. 45/2004) de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou
VI - o Procurador-Geral da República; do própno Tribunal; (redação dada pela EC n. 23/99)
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso NaCIOnal; h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regula-
IX _ confederação smdical ou entidade de classe de âmbIto nacional. mentadora for atribUição de órgão, entidade ou autoridade federal, da
§ I". O Procurador-Geral da República deverã ser previamente ouvido AdminIstração direta ou indireta, excetuados os casos de competência
nas açàes de inconstítucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça
EleItoral, da Jusoça do Trabalho e da Justiça Federal;
do Supremo Tribunal Federal.
784 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 785

II - julgar, em recurso ordinãrio: IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma


da lei.
b) os mandados de segurança decididos em única mstâncía pelos § I". Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger àrbltrOS.
Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito § 2"> Recusando-se qualquer das partes â negOCIação colettva ou à
Federal e Territórios. quando denegatóría a decísão; arbítragem. é facultado âs mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio cole-
tivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o confli-
Art, 108. Compete aos Tribuoals Regionais FederaIS: to. respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem
como as convencionadas anteriormente.
I - processar e julgar. originariamente:
§ 32 , Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de
lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajUIZar
c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio dissídio coletívo, competmdo â Justiça do Trabalho decidir o conflito.
Tribunal ou de juiz federal;
Art. 121. leI complementar disporá sobre a organIzação e competên-
Art. 109. Aos juizes federais compete processar e julgar: cia dos tribunais, dos juizes de direito e das juntas eleitoraís.

VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de auto- § 32 . São irrecorríveís as decisões do Tribunal Superior Eleitoral. sal-
ridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; vo as que contrariem esta Constituição e as denegatórias de habeas corpus
ou mandado de segurança.
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (redação
dada pela EC n. 45/2004)1
1. Súmulas do STF e do STJ
I - as ações oriuodas da relação de trabalho, abrangidos os entes de
Direito Público externo e da Administração Pública direta e indireta da A) Do STF
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos MuoiciplOS;
II - as ações que envolvam exercício do direíto de greve;
101 - O mandado de segurança não substitui a ação popular.
248 - É competente, originaríarnente,o STF para mandado de segurança
III - as ações sobre representação sindical, entre síndicatos. entre sin~
contra ato do TCU.
dicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;
266 - Não cabe mandado de segurança contra leI em tese.
N - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando
o ato questíonado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; 267 - Não cabe mandado de segurança contra ato JudiCIal passiveI de re-
curso ou correlção.
V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhis·
268 - Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsItO
ta, ressalvado o disposto no ar!. 102, I, "o";
em julgado.
VI - as ações de indenízação por dano moral ou patrimonial, decor-
269 - O mandado de segurança não é substítutívo de ação de cobrança.
rentes da relação de trabalho;
270 - Não cabe mandado de segurança para impugnar enquadramento da
VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos
Lei n. 3.780, de 12.7.60, que envolva exame de prova ou de SItuação fun-
empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;
cional complexa.
vm - a execução. de oficío. das contribuíções socíaís prevístas DO 271 - Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrímo-
art. 195. l. "a". e li. e seus acréscimos legais. decorrentes das sentenças
maIS, em relação a penado pretérito. os quais devem ser reclamados admi-
que proferir; nistrativamente ou peta via judicial própria.
294 - São inadmissíveis embargos infringentes contra decisão do STF em
L No julgamento da AClADIn n. 3.684-0-DF (ReI. Min. Cézar Peluso. DJU mandado de segurança.
3.8.2007) o STF defenu liminar para atribuír interpretação conforme à Constituição
Federal ao art. 114, I. IV e IX, da própria CF. declarando que no âmbito da jurisdição 304 - Decisilo denegatória de mandado de segurança, não fazendo COlsa
da Justiça do Trabalho não entra competêncía para processar e julgar ações penais. julgada contra o impetrítnte, não impede o uso da ação própria.

:rJ"
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 787
786

330 - O STF não é competente para conhecer de mandado de segurança 626 - A suspensão de liminar em mandado de seguraoça, salvo determina-
contra atos dos Tribunais de Justiça dos Estados. ção em contrário da decisão que a deferir, vigorara até o trânsito em Julgado
365 _ Pessoajuridica não tem legítimidade para propor ação popular. da decisão defrnitíva de concessão da segurança, ou. havendo recurso, até a
392 - O prazo para recorrer de acõrdão concessivo de segurança conta~se sua manutenção pelo STF, desde que o obJeto da liminar deferida comcida,
da publicação oficIal de suas conclusões, e não da anterior ciência à autori_ total ou parCIalmente, com o da impetração.
dade para cumprimento da decisão. 627 - No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da com-
405 _ Denegado o maodado de seguraoça pela sentença, ou no Julgamento petência do Presidente da República, este é considerado autoridade coatora.
do agravo, dela interposto, fica sem efeito a liminar concedida, retroagmdo ainda que o fundamento da impetração seja nulidade ocorrida em fase an-
os efeitos da decisão contrâria. terior do procedimento.
429 - A existência de recurso adminístratívo com efeito suspensivo não 629 - A impetração de mandado de segurança coletlVo por entidade de
Impede o uso do mandado de segurança contra omissão da autoridade. classe em favor dos associados rndepende de autorização destes.
430 _ Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o 630 - A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança
prazo para o maodado de seguraoça. ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respec~
433 _ li competente o TRT para julgar mandado de seguraoça contra ato de tiva categona.
seu Presidente em execução de sentença trabalhista. 631 - Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não
474 - Não há direito líquido e certo, amparado pelo mandado de seguraoça, promove, no prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo necessano.
quando se escuda em lei cujos efeitos foram anulados por outra, declarada 632 - É constitucional lei que fixa o prazo de decadênCia para a impetração
constitucional pelo STF. de seguraoça.
506 - O agravo a que se refere o ar!. 4J! da Lei n. 4.348, de 26.6.64, cabe, 643 - O Ministério Público tem legitimidade para promover ação Civil pu-
somente. do despacho do Presidente do STF que defere a suspensão da blica cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades esco-
liminar, em mandado de segurança; não do que a denega. lares.
(Súmllla cancelada no julgamento da SSeg n. 1.945-AL.RTJ 186/112.) 701 - No mandado de segurança impetrado pelo Mimstério Público contra
510 _ Praticado o ato por autoridade, no exercicio de competência delega- deCIsão proferida em processo penal é obrigatória a CItação do reu como
da, contra ela cabe o mandado de segurança ou medida judicial. litisconsorte passivo.
511 - Compete à Justiça Federal, em ambas as instâncias, processar e Jul- 735 - Não cabe recurso extraordinário contra acôrdão que defere medida
gar as causas entre autarquias federais e entidades públicas locaís, inclusi w
liminar.
ve mandados de seguraoça, ressalvada a ação fiscal, nos tenDaS da CF de
1967, ar!. 119, § 3". B) Do STJ
512 _ Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de man w

02 - Não cabe o habeas data (CF, art. S", LXXII. letra "a") se não houve
dado de seguraoça. recusa de informações por parte da autoridade admmístrativa.
597 - Não cabem embargos infringentes de acórdão que, em maodado de
41 - O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e
segurança, decidiu, por maioria de votos, a apelação.
julgar, origmariarnente, mandado de seguraoça contra ato de outros tribu-
622 _ Não cabe agravo regimental contra decísão do relator que concede ou
nais ou dos respectivos órgãos.
indefere liminar em mandado de seguraoça.
99 - O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em
623 _ Não gera por Si só a competência originária do STF para conhecer do
que oficiou como fiscal da lei, amda que não haja recurso da parte.
mandado de seguraoça com base no ar!. 102, I, "n", da Constituição dirigrr-
se o pedido contra deliberação administrativa do Tribunal de origem, da (Obs.: O MP funciona sempre como fiscal da lei nos processos de mandado
qual haja participado a maioria ou a totalidade de seus membros. de segurança, ação popular e "habeas data ".)
624 _ Não compete ao STF conhecer originariamente de mandado de segu- 105 - Na ação de mandado de seguraoça não se admite condenação em
rança contra atas de outros Tribunais. bonorârios advocatícíos.
625 _ Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de man~ 169 - São inadmissíveis embargos infringentes no processo de mandado
dado de seguraoça. de seguraoça.
790 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 791

documentos que ínstruirem a primeira reproduzidos na segunda e índicará. § 32 , Os efeitos da medida liminar. salvo se revogada ou cassada, per-
além da autoridade coatora. a pessoa juridíca que esta integra, à qual se sIstirão até a prolação da sentença.
acba vinculada ou da qual exerce atribuições. § 4". Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para jul-
§ 1.2.. No caso em que o documento necessário á prova do alegado se gamento.
ache em repartíção ou estabelecimento público ou em poder de autorida_ § 52, As vedações relacionadas com a concessão de liminares previstas
de que se recuse a fornecê~io por certidão ou de terceiro, o juiz ordenarã, neste artígo se estendem ii tutela antecipada a que se referem os arts. 273 e
preliminarmente~ por oficio. a exibição desse documento em origmal ou 461 da Lei n. 5.869, de II de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
em cópia autêntica e marc~ para o cumprimento da ordem, o prazo de Art. 8". Será decretada a perempção ou caducidade da medida limmar
10 (dez) dias. O escrivão extrairá cópías do documento para íuntá-Ias a ex officio ou a requerimento do Ministério Público quando, concedida a
segunda via da petição. medida. o impetrante criar obstáculo ao nonnaI andamento do processo ou
§ 2". Se a autoridade que tiver procedido dessa manetra for a própria deixar de promover, por mais de 3 (três) dias úteIS. os atas e as diligênCiaS
que lhe cumprirem.
coatora, a ordem far-se-à no próprio ínstrumento da notificação.
Art. 9". As autoridades administrativas, no prazo de 48 (quarenta e
§ 32, Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato
oito) horas da notificação da medida liminar. remeterão ao Minístério ou
impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática. órgão a que se acham subordinadas e ao Advogado-Geral da União ou a
§ 4". (Velado) quem tiver a representação judicial da União, do Estado. do Municipio ou
§ 52.. Denega-se o mandado de segurança nos casos previstos pelo art. da entidade apontada corno coatora CÓpIa autenticada do mandado notifica-
267 da Lei n. 5.869, de II dejaneiro de 1973 - Código de Processo Civil. tório, assim como indicações e elementos outros necessários as providên-
§ 6". O pedido de mandado de segunmça poderá ser renovado dentro cias a serem tomadas para a eventual suspensão da medida e defesa do ato
do prazo decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver aprecíado o apontado corno ilegal ou abusivo de poder.
menta. Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada,
Art. 7Sl• Ao despachar a ímcial. o jUiz ordenará: quando não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos
requisitos legaIS ou quando decorrido o prazo legal para a impetração.
I - que se notifique o coator do conteúdo da petição ínícial, enviando-
§ I". Do indeferimento da ínicial pelo juiz de pnmelro grau caberá
lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que,
apelação e, quando a competênCia para o julgamento do mandado de segu-
no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações;
rança couber originariamente a um dos tribunaIS, do ato do relator caberá
II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da agravo para o órgão competente do tribunal que integre.
pessoa jurídica interessad~ enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, § 22., O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o despa-
para que, querendo. ingresse no feito; cho da petição inicial.
liI - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver Art. 11. FeItas as notificações. o serventuãrio em cujo cartório corra
fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficàcía da o feito juntam aos autos cópia autêntica dos oficios endereçados ao coator
medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exígtr do Impetrante e ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada. bem
caução, fiança ou depósito. com o objetivo de assegurar o ressarcimento â como a prova da entrega a estes ou da sua recusa em aceitá-los ou dar reci-
pessoa jurídica. bo e, no caso do art. 40 desta LeI. a comprovação da remessa.
§ I". Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar Art. 12. Findo o prazo a que se refere o mciso I do capul do art. 72
a liminar cabem agravo de Ínstrumento. observado o disposto na Lei n. desta LeI. o juíz ouvirá o representante do Ministério Público. que opínará,
5.869, de II deíaneiro de 1973 - Código de Processo Civil. dentro do prazo ímprorrogãvel de 10 (dez) dias.
§ 2". Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a com- Parágrafo imico. Com ou sem o parecer do MinÍstério Público, os au-
pensação de créditos tributários. a entrega de mercadorias e bens prove- tos serão conc1usos ao juiz, para a decisão, a qual deverâ ser necessaria-
nientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos mente proferida em 30 (trinta) dias.
e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de .Art. 13. Concedido o mandado, o juiz iransmitirn em oficio, por inter-
qualquer natureza. médio do oficial do juízo. ou pelo correio, mediante correspondência com
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTlTUC[ONAlS APÊNDICE 793
792

avíso de recebimento. o inteirO teor da sentença â autoridade coatara e à Art.16. Nos casos de competência originària dos tribunais, cabem. ao
relator a instrução do processo. sendo assegurada a defesa oral na sessão
pessoa jurídica ínteressada. '
do Julgamento.
Parâgrafo único. Em caso de urgência. poderá o juíz observar o dis-
Parágrafo úníco. Da deCIsão do relator que conceder ou denegar a
posto no art. 4" desta Lei. • medida liminar caberá agravo ao órgão competente do tribunal que integre.
Art. 14. Da sentença. denegando ou concedendo o mandado, cabe
Art. 17. Nas decisões proferidas em mandado de segurança e nos
apelação. . respectivos recursos, quando não publicado, no prazo de 30 (trinta) dias,
§ ln. Concedida a segurança, a sentença estara sujeIta obrigatoriamen_ contado da data do Julgamento, o acórdão será substItuído pelas respectivas
te ao duplo grau de jurisdiçãO. Dotas taquigráficas. independentemente de reVIsão.
§ 2!l. Estende-se â autoridade coatara o direito de recorrer. Art 18. Das decisões em mandado de segurança proferidas em'úníca
§ 3". A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser exe- instância pelos tribunais cabe recurso especial e extraordinário, nos casos
cutada provisoriamente. salvo nos casos em que for vedada a concessão da legalmente prevIstos. e recurso ordinário, quando a ordem for denegada.
medida liminar. Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança,
§ 42, O pagamento de vencimentos e vantagens pecuni~as a.ss~gura­ sem decidir o merito, não impedirá que o requerente. por ação própria.
dos em sentença concessiva de mandado de segurança a serv~d?r publIco d.a pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais.
administração direta ou autárquica federal, estadual e muruclpal somente Art. 20. Os processos de mandado de segurança e os respectivos re-
sem efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data cursos terão prioridade sobre todos os atas judicIais. salvo habeas corpus.
do ajuizamento da inicial. § 12 . Na instância superior, deverão ser levados a julgamento na pri-
Art. 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público meira sessão que se seguir à data em que forem conc1usos ao relator.
interessada ou do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, § 22 , O prazo para a conclusão dos autos não poderá exceder de 5
à saude. à segurança e â economía públicas. o presidente do tribunal ao (cinco) dias.
qual couber o conhecimento do respectivo recurso suspender, 7m decisã~ Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por par-
fundamentada. a execução da liminar e da sentença. dessa deCIsão cabera tido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus
agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de S (cinco) dias, que será levado interesses legíttmos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária.,
a julgamento na sessão seguinte à sua mterposlção. ou por organízação sindical. entidade de classe ou associação legalmente
§ ln. Indeferido o pedido de suspensão ou provido o agravo a que se constituída e em funcíonamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa
refere o caput deste artigo. caberá novo pedido de suspensão ao presidente de direItos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros
do tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou ex- ou associados, na fonna dos seus estatutos e desde que pertinentes âs suas
traordinário. finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.
§ 22. É cabível também o pedido de suspensãoa que se ref~re o § \" Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança
deste artigo. quando negado provimento a agravo de Instrumento mterposto coletivo podem ser:
contra a liminar a que se refere este artigo. 1- coletívos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindivÍ-
§ 3". A interposição de agravo de instrumento contra limmar concedida dums, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pes-
nas ações movidas contra o poder público e seus agentes não prejudica ~em soas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica;
condiciona o julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artIgo. II - índividuaís homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei,
§ 4". O presidente do tribunal poderá conferir ao. pe.dido efeito. s~s­ os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da
peusivo liminar se constatar, em juizo prevío. a plaUSibilIdade do dIreito totalidade ou de parte dos asSOCIados ou membros do ímpetrante.
invocado e a urgência na concessão da medida. Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fara coisajul-
§ S'. As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em gada liIrutadamente aos membros do grupo ou categoria substItuídos pelo
uma ünica decisão. podendo o presidente do tribunal estender os efeItos impetrante.
da suspensão a liminares supervenietltes. mediante simples aditamento do § \2, O mandado de segurança coletivo não mduz litIspendência para
as ações individuaIS, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o
pedido original.
794 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 795

impetrante a título individual se não requerer a desistêncía de seu mandado Art. 1!1.. Conceder-se-a Art. 1.11, Conceder-se-â Art. 1.11. Conceder-se-á
de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da mandado de segurança mandado de segurança mandado de segurança
impetração da segurança coletIva. para proteger direito lí- para proteger direito líqUI- paro proteger direito líqUI-
§ 22. No mandado de segurança coletívo. a liminar só poderá ser Cau. quido e certo, não ampa- do e certo, não amparado do e certo, não amparado
cedida após a audiência do representante Judicial da pessoa jurídica de di~ rado por habeas corpus, por habeas COipUS ou ha- por habeas corpus ou ha-
relto público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) sempre que, ilegalmente beas data. sempre que, beas data, sempre que,
horas. ou com abuso do poder, ilegalmente ou com abuso ilegalmente ou com abuso
alguem sofrer violação de poder. qualquer pessoa de poder, qualquer pessoa
Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extingulr-se-á ou houver Justo receio de fisica ou jurídica sofrer fislca ou Juridica sofrer
decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciêncía, pelo interessada sofre-Ia por parte de auto- violação. ou houver Justo ViOlação ou houver JUsto
do ato Impuguado. ' ridade, seja de que catego- receio de sofrê-Ia, por par- receiO de sofrê-la por par-
Art. 24. Aplicam-se ao mandado de segurança os arts. 46 a 49 da Lei na for e sejam quaiS forem te de autoridade. seja de te de autoridade, seja de
D. 5.869, de 11 de Janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. as funções ~ue exerça. que categoria for e sejam que categoria for e sejam
quais forem as funções quais forem as funções
Art. 25. Não cabem, no processo de mandado de segurança, a inter-
que exerça. que exerça.
posição de embargos Infringentes e a condenação ao pagamento dos ho-
§ 111, Consideram-se § 1.11, Equiparam-se as § 111_ EqUiparam-se as
noràrios advocatíclos, sem prejuizo da aplicação de sanções no caso de autoridades, para os efei- autoridades, para os efei-
autoridades, para os efei-
litigância de ma-fé. tos desta lei. 05 represen- tos desta Lei, os represen- tos desta Lei, os represen-
Art. 26. ConstItUI crime de desobediência, nos termos do art. 330 do tantes ou admmlstradores tantes ou órgãos de I;lartl- tantes ou orgãos de parti-
Decreto-lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940, o não cumprimento das das entidades aumrquicas dos políticos e os admi- dos políticos e os admi-
decisões proferidas em mandado de segurança, sem prejuízo das sanções e das pessoas naturais ou mstradores de entidades nistradores de entidades
administrativas e da aplicação da Lei n. 1.079, de 10 de abril de 1950, Jurídicas com funções de- autárquicas, bem como autârqUlcas, bem como
quando cabivels. legadas do Poder Público, os dingentes de pessoas os dirigentes de pessoas
somente no que enten- jurídicas ou as pessoas na- jurídicas ou as pessoas na-
Art. 27. Os regimentos dos tribunais e. no que couber, as leis de orga- turais no exercício de atn-
der com essas funções. turais no exercício de atn-
nização judiciãria deverão ser adaptados às disposições desta Lei no prazo (Redação dada pela LeI n. buições do Poder Público. bUlções do poder público,
de 180 (cento e oitenta) dias, contado da sua publicação. 9.259. de /996) somente no que disser res- somente no que disser res-
Art. 28. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. peito a essas atribUiÇões. peIto a essas atribUições.
Art. 29. Revogam-se as Leis ns. 1.533, de 3 I de dezembro de 1951, § 211 • Quando o direito § 2!1.. Não cabe manda- § 2!1.. Não cabe manda-
4.166, de 4 de dezembro de 1962.4.348, de 26 dejunbo de 1964,5.021, ameaçado ou violado cou- do de segurança contra os do de segurança contra os
de 9 de junho de 1966; o ar!. 3" da Lei n. 6.014, de 27 de dezembro de ber a vanas pessoas, qual- atas de gestão comercial atas de gestão comerCIai
quer delas poderã requerer praticados pelos admi- praticados pelos adxm-
1973, o art. I" da Lei n. 6.071, de 3 de julho de 1974, o art. 12 da Lei n.
o mandado de segurança. nistradores de empresas mstradores de empresas
6.978, de 19 de janeiro de 1982, e o art. 2" da Lei n. 9.259, de 9 de Janeiro
públicas, de sociedade de públicas, de sociedade de
de 1996. economia m1sta e de con- economia mista e de con-
cesslOnanas de serviço cesslOnanas de servIço
QUADRO COMPARATIVO ENTRE A LEI N. 1.533/1951, público. público.
O PROJETO DE LEI N. 5.067/2001 EALEI N.12.016/2009 § 3!1.. Quando o direito § 311, Quando o direito
ameaçado ou Violado cou- ameaçado ou Violado cou-
ber a várias pessoas. qual- ber a varias pessoas, qual-
Projeto de Lei n. 5.067.
Lei n. 1.533. Lei n. 12.016, quer delas poderá requerer quer delas poderá requerer
de 2001 (Redução mIeial
de 31.12.1951 de 7.8.2009 o mandado de segurança. o mandado de segurança.
do Executivo)
Art 211• Considerar-se-á Arf. 2.11. Considerar-se-á Art. 2!l. Considerar-se-a
Altera dispOSições do DisCIplina o mandado DisCIplina o mandado
federal a autoridade coa- federal a autoridade coa- federal a autoridade coa-
Código do Processo Civil, de segurança Individual e de segurança Individual e
tora se as conseqilencias tora se as conseqUênCIas tora se as consequencms
relativas ao mandado de cole/Ivo. e dá outras pro- cofetJvo e dá outras pro-
de ordem -patrimomal do ue ordem patnmomal do de ordem patnmomal do
segurança. vidências. vidêncras.
ato contra o qual se requer ato contra o qual se requer ato contra o qual se requer
796 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 797

o mandado houverem de o mandado houverem de o mandado houverem de - serão observadas as re- serão observadas as re-
ser suportadas pela união ser suportadas pela União ser suportadas pela União gras da Infta-Estrutura de gras da Inm-Estrutura de
federal ou pelas entidades ou entidade por ela con- ou entidade por ela Con- Chaves Públicas BrasileIra Chaves Públicas Brasileua
autárqUIcas federais. trolada. trolada. - ICP-Brnsil. - ICP-Brnsil.
Art. 3'. O titular de Ar!. 31. O títular de di- Art. 39-. O titular de di- Art. 9. Não se darâ Art. SSl. Não se conce- Art. SSl. Não se conce-
direito liquido e certo reito liquido e certo decor- reito líquido e certo decor_ mandado de segurança dem mandado de seguran- derá mandado de seguran-
decorrente de direito. em rente de direito, em condi- rente de direItO. em condi- quando se tratar: ça quando se tratar: ça quando se tratar.
condições idênticas. de ções idênticas. de terceIrO. ções idênticas, de terceiro I - de ato de que caI- I - de ato do qual caiba I - de ato do quaí caiba
terceiro. {Jodem unpetrar podem lmpetrar mandado podem impetrar mandado ba recurso administrativo recurso arumnistrativo com recurso admmIStratlvo com
mandado de segurança a de segurança a favor do de segurança a favor do com efeito suspenSIVO, efeito suspensivo. mdepen- efeito suspensiVO, mdepen-
favor do direito orígmmo. direita origmário. se o seu direito originâtio. se o independente de caução. dentemente de caução; dentemente de cau~ão;
se o seu títular não o fizer. titular não o fizer, no pra- seu titular não o fIZer, no
II - de despacho ou II - de deCIsão judicml II - de decisão JudiCial
em prazo razoável. apesar zo de trinta dias, quando prazo de 30 (trinta) dias,
decisão JudiCiai, quando da qual caiba recurso com da qual caiba recurso com
de para isso notificado JUM notificado judicialmente. quando notificado judi-
haja recurso previsto nas efeito suspensivo: efeito suspensIvo:
dictalmente. cialmente.
leis processuaIs ou possa
Parãgrafo Unico. O Paràgrafo ÚOlCO. O ser modificado por via de
exercício do direito pre- exerclclo do direito pre- correlção.
visto no caput deste artigo VISto no caput deste artIgo
III - de decisão judicial III - de deCisão judiCiai
submete-se ao prazo fixa- submete-se ao prazo fi-
tranSitada emjulgado. tranSItada em juigado.
do no art. 23, contado da xado no art. 23 desta LeI,
notificação. Parágrafo UnIco. O Parágrafo Unlco. (J1?ta-
contado da notificação.
mandado de segurança do)
Art. 42. Em caso de Art. 4Jl. Em caso de Art. 4ll. Em caso de poderá ser i.mpctrado. ill- Razão do veto:
urgência, é permitido. urgência, ê pennitido, ob- urgênCIa, é pennitido, ob- dependentemente de re- nA exigênCia de notifi-
observados os requIsitos servados os requisitos le- servados os reqUisitos le- curso hierárqUICO, contra cação previa como condi-
desta lei. iml'ctrar o man- gaiS, impetrar mandado de gais, impetrar mandado de omissões da autoridade, ção para a propOSitura do
dado de segurança por segurança por telegrama, segurança por telegrama, no prazo de cento e vinte Mandado de Segurança
telegrama ou radiograma radiograma. fax ou outro radiograma, fax ou outro dias, após sua notificação pode gerar questionamen-
ao jUlZ competente. que meio eletrõnico de auten- meio eletrõnico de auten- JudiCiai ou extrajudiCial. tos quanto ao micto da
poderá determmar seja ticidade comprovada ticidade comprovada. contagem do prazo de 120
feita pda mesma forma a dias em VIsta da ausênCia
notificação à autoridade de penado razoâvel para a
coatora. prátIca do ato pela auton-
Vide art. 4S'. infine. § IIl. Poderá o juiz, em § 1.11. Poderá o juiz. em dade e, em especial, pela
caso de urgência, notificar caso de urgênCIa, notificar possibilidade da autori-
a autoridade por telegra- a autoridade por telegra- dade notificada não ser
ma., radiograma ou outro ma, radiograma ou outro competente para supnr a
meío que assegure a au- mela que assegure a au- omissão."
tenticidade do documento
e a imediata ciência pela
tenticidade do documento m- de ato disciplinar,
e a imediata ciência peta salvo quando praticado por
autoridade. autoridade. autoridade incompetente
§ 2". O texto original da § 2n. O texto onginai da ou com inobservânCia de
petição deverá ser apre- petição deverá ser apre- formalidade essencia1.
sentado nos cmco dias sentado nos 5 (cinco) dias
uteis seguintes. úteis seguintes. Art. @I. A pettção im- Art @I. A petição mi- Art. &to A petição 101-
§ 3". Para os fins des- § 3 n. Para os fins des- clal, que deverâ preencher ciaI. que devem preencher ciaI, que deverá preencher
te artigo, em se tratando te artigo, em se tratando os requiSitos dos artlgos os reqUisitos estabeleCI- os reqUIsitos estabelecidos
de documento eletrõnico. de documento eletrõOlco, 158 e 159 do Código do dos pela lei processual, pela lei processual, sem
798 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 799

Processo Civil. será apre- será apresentada em duas apresentada em 2 § 411. SUSCitada a ilegi- § 4l!. (Vetado)
sentada em duas vias e os vias com os documentos Vias Com os docurnei,Io.; timidade pela autoridade Razão do veto:
documentos. que instru- que instruirem a primerra
que Instruirem a P~~1'~ 11 coatom, o lmpetrante po-
"A redação conferida
irem a pnrneira, deverão reproduzidos na segunda, reproduzidos na -. derá emendar a micial no ao dispositivo durante o
ser reproduzidos. por có- e mdicara. além da auto- e Indicarã, além prazo de dez dias.
trâImte legisiativo penm-
pia, na segunda. ridade coatora, a pessoa ridade coatora, a te a interpretação de que
jurídica que esta integra, jurídica que esta devem ser efetuadas no
à qual se acha vInculada à qual se acha v'r",,"o•.,' correr do prazo decaden-
ou da qual exerce atribuI- ou da qual exerce clal de 120 dias eventuaIS
ções. emendas á petição micml
Parágrafo umco. No § ln, No caso em que com VIStas a c~mg1r a
caso em que o documen- o documento necessàno li o documento ne',es;:;';~-;I:!'·.' autoridade Impetrada. Tal
to necessàrio a prova do prova do alegado se ache prova do alegado se entendimento prejudica
alegado se acha em repar- em repartição ou esta- em repartição ou a utilização do remédio
tição ou estabelecimento belecimento público, ou lecimento público constitucional, em espe-
publico. ou em poder de em poder de autoridade poder de autoridade que ctai, ao se considerar que
autoridade que recuse que recuse fornecê-lo por se recuse a fornecê-lo ?Or a autoridade responsável
fornece-lo por certidão. certidão. ou de terceiro, certidão ou de terceiro, o pelo ato ou omissão Im-
o JUIZ ordenará, preliIm- o juiz ordenará. prelimi- pugnados nem sempre ê
juiz ordenará, preliminar_
narmente. por OfiCIO, a evidente ao cidadão co-
narmente, por oficio, a mente, por oficio. a ex!-
mum."
exibíção desse documento exibição desse documento bição desse documento
em ongmal ou em CÓpta
§ 551.. Denega-se o man- § SIl. Denega-se o man-
em ongmal ou em cópia em ongInal ou em copIa
dado de segurança nos ca_ dado de segurança nos ca-
autêntica e marcará para autêntlca e marcará. para autênuca e marcará, parn
sos prevIstos pelo art. 267 sos previstos peio art. 267
cumpnrnento da ordem o cumprimento da ordem, o cumpnrnento da ordem.,
da Lei n. 5.869. de 11 de da Lei n. 5.869, de 11 de
o prazo de dez dias. Se a o prazo de dez dias. O es- o prazo de 10 (dez) dias. janeiro de 1973 - Código janelfO de 1973 - Código
autoridade que tIVer pro- crivão extramí CÓp1as do O escrivão ex:trairá có- de Processo Civil. de Processo Civil.
cedido dessa maneua for documento para juntá-las pias do documento para
Vide art. 16 da Lei. § 611. O pedido de man- § 611. O pedido de man-
a própria coatora. a ordem á segunda VI8 da petição. juntá-Ias 11 segunda via da
dado de segurança poderá dado de segurança poderá
far-se-à no llrópno instru- petição.
ser renovado dentro do ser renovado dentro do
mento da notificação. O prazo decadencial, se a prazo decadencial, se a
escrivão extrauá copias decisão denegatória não deCisão denegatóna não
do documento para Juntá- lhe houver apreciado o lhe houver apreciado o
las â segunda VIa da peti- ménto. mento.
ção. (Redação dada peia
Lei n. 4.166. de 1962) Art. 751., Ao despachar Art. 751., Ao despachar Art. 7J1• Ao despachar
§ 2n, Se a autoridade § 21!.. Se a autoridade a imelal. ojuiz ordenará: a inicial, o jUlZ ordenará: a iniCiaI. o jUlZ ordenará:
que tIVer procedido des- que tiver procedido des- I - que se notifique o I - que se notifique o I - que se notifique o
sa maneua for a própria sa maneira for a propoa coator do conteúdo da coator do conteúdo da pe- coator do conteúdo da pe-
coatora. a ordem far-se-á coatora, a ordem far-se-á petição entregando-lhe a tIção iniciai, enViando-lhe Ução Inlcml. enViando-lhe
segunda via apresentada a segunda via apresentada a segunda Via apresentada
no próprio Instrumento da no próprio instrumento da
pelo requerente com as có- com as cópias dos docu- com as cópms dos docu-
notificação. notificação.
pias dos documentos a fim mentos, a fim de que, no mentos. a fim de que, no
§ 31l, Considera-se au- § 31!., Considera-se au- de que no prazo de qumze prazo de dez dias. oreste prazo de 10 (dez) dias.
toridade coatora aqueia toridade coatora aquela dias preste as mforrnações as Informações; preste as mformações;
que tenha praticado o ato que tenha praticado o ato que achar necessíinas.
impugnado ou da qual impugnado ou da quai (Redaçãa dada pela LeI
emane a ordem para a sua emane a ordem para a sua n. 4.166, de 1962) (prazo:
prática. práttca vide Lei n. 4.348, de 1964)
800 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 801

II - que se de ciência U - que se dê ciência § 51l_ As vedações re- § 511• As vedações re-
do feito ao orgão de repre- do feito ao ÓQl:ãode ren're_ I. lacionadas Com a conces- laCiOnadas com a conces-
sentação judicial da pes- sentação judicial da pes_ são de linunares preVIStas são de liminares prevIstas
soa jurídica rnteressada, soa jurldica interessada, neste artigo se estendem á neste artlgo se estendem a
envlando-lhe CÓpia da int- enviando-lhe cópia da mi- tutela anteCIpada a que se tutela antecipada a que se
cialsem documentos. para cialsem documentos, para referem os arts. 273 e 461 referem os arts. 273 e 461
que, querendo, Ingresse que, querendo, Ingresse do Código de Processo da LeI n. 5.869, de 11 ja-
no feito: no feito; Civil. neiro de 1973 - Código de
II - que se suspenda o m- que se suspenda III - que se suspenda Processo Civil.
ato que deu moUva ao pe- o ato que deu motívo ao o ato que deu motIVO ao
dido quando for relevante pedido, quando houver pedido, quando houver Art. 82. Será decretada Art 82. Será decretada
o fundamento e do ato un- fundamento relevante e do fundamento relevante e do a perempção ou caducida- a perempção ou caducida-
pugnado puder resultar a ato lmpugnado puder re- ato impugnado puder re- de da medida limmar ex de da medida limmar ex
meficácia da medida. caso sultar a ineficácIa da me- sultar a ineficácia da me- OffiC10 ou a requenmen- officio ou a requerimen-
seja deferida. dida. caso seja fmalrnente dida, caso seja finalmente. to do Ministério Público to do MiDtstêno Público
deferida, sendo facultado deferida, sendo facultado quando, concedida a me- quando, concedida a me-
eXIgir. do lmpctrante, cau- eXigir do impetrante cau- dida, o Impetrante criar dida, o impetrante cnar
ção. fiança ou deposito, ção, fiança ou depõslto, obstáculo ao normal an- obstáculo ao normal anda-
com o objetivo de asse- com o objetivo de asse- damento do processo ou mento do processo ou dei-
gurar o ressarcimento à gurar o ressarcimento a deIxar de promover, por xar de promover, por mais
pessoa jurldica. pessoa jurídica. mais.de três dias úteIS, os de 3 (três) dias úteis. os
§ 12 , Da decisão do § 12 . Da deCIsão do atas e as diligênCIas que atos e as diligênCias que
juiz de pnmeiro grau. que JUIz de pnmeiro grau que lhe cumprirem. lhe cumprirem.
conceder ou denegar a li- conceder ou denegar a
minar. caberà agravo de Art. 9Jl. As autoridades Art. 92. As autoridades
liminar caberá agravo de
adrmmstrativas. no prazo admInlstrattvas, no prazo
instrumento. observado instrumento, observado o
o disposto no Código de de quarenta e oito horas de 48 (quarenta e oito)
disposto na Lei n. 5.869.
Processo Civil da notificação da mediM horas da notificação da
de 11 de janeiro de 1973-
Código de Processo Civil. da limmar, remeterão ao medida liminar, remeterão
mmlstêno ou órgão a que ao Minlstêno Ou órgão a
§ 211• Não será con- § 211.. Não será con-
se acham subordinadas que se acham subordinaM
cedida medida limmar cedida medida liminar
e ao Advogado--Geral da das e ao Advogado--Geral
que tenha por objeto a que tenha por objeto a
União ou a quem ttver da União ou a quem tiver
compensação de créditos compensação de créditos
a representação judicial a representação JudiCIal
tributános, a entrega de tributanos. a entrega de
da União, do Estado, do da União, do Estado. do
mercadona e bens pro- mercadorias e bens pro--
vementes do extenor, a MumcipiO ou da entidade MUnIcípiO ou da entidade
venientes do extenor, a
apontada como coatora, apontada como coatora
reciassificação ou equi- reclassificação ou equi-
paração de servidores paração de servidores cópia autenttcada do man- cópIa autenticada do man-
públicos e a concessão de publicos e a concessão de dado notificatôno, assim dado notificatóno, asSIm
aumento ou a extensão de aumento ou a extensão de como indicações e ete- como indicações e ele-
vantagens ou pagamento vantagens ou pagamento mentos outros necessários mentos outros necessânos
de qualquer natureza. de qualquer natureza. às providênCIas a serem às providênclUs a serem
tomadas para a eventual tomadas para a eventual
§ }SI. Os efeitos da medi- § 32• Os efeitos da medi-
suspensão da medida e suspenSão da medida e
da liminar. salvo se revoga- da liminar, salvo se revoga-
defesa do ato apontado defesa do ato apontado
da ou cassada, persIStirão da ou cassada, persistirão
até a prolação da sentença. até a prolação da sentença. como ilegal ou abUSIVO de como ilegal ou abusivo de
poder. poder.
§ 4'. Deferida a medi- § 4'. Deferida a medi-
da liminar, o processo tem da limmar, o tJfOCe5SO tera ArL 811.. A IDlcial será Art. 10. A imcial será Art. 10. A inicial sCl'á
pnoridade parajulgamento. prioridade parnjulgamento. desde logo mdeferidaqunn- desde logo indeferida, por desde logo indeferida, por
802 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 803

do não for caso de man- decisão motIvada, quando decisão motIvada. quando Parágrafo Uruco. Com Parágrafo umco. Com ou
dado de segurança ou lhe não for o caso de mandado não for o caso de mandado ou sem o parecer do Mi- sem o parecer do Ministéno
faltar algum dos requisítos de segurança ou lhe faltar de segurança ou lhe faltar mstério Público, os autos Público. os autos serão
desta leI. algum_ dos requisitos te- algum dos requisitos le- serão conclusos ao jUlZ, conclusos ao jUtz. para a
gaís ou quando decorrido gais ou quando decorrido para a decísão, a quai de- deCisão. a qual deverá ser
o llrazo legal para a tmpe- o prazo legal para a unpe- verá ser necessariamente necessanamente proferida
tração. tração. proferida em tnnta dias. em 30 (trinta) dias.
Parágrafo iínico. De § 11l:, Do indeferimen- § }11. Do indefenmen_
despacho de índeferimen- to da inieml pelo juiz de to da imcIaI pelo jUiZ de Art. 11. Julgado pro- Art. 13. Concedido o Art. 13. Concedido o
to cabem o recurso prevIs- primeiro grau caberá ape- pnmetrO grau caberâ ape- cedente o pedido, o JUIZ mandado, o JUiz transmi- mandado. o juiZ transml-
to no art. 12. lação e, quando a compe- lação e. quando a compe- transmitirá em OfiCIO, por tua em oficio. por inter- tIni em oficio, por mter-
tência para Q julgamento tência para o julgamento mão do ofiCial do JUizo médio do oficial do juízo. médio do ofiCiai dIJ juízo,
do mandado de segurança do mandado de segurança ou pelo correiO, median- ou pelo correio. mediante ou pelo correio. mediante
couber origínanamente a couber origmanamente a te regtstro com recibo de correspondência com aVIM correspondênclR com aVI-
um dos tribunais. do ato um dos tribunais. do ato volta, ou por telegrama, so de recebimento, o mtel- so de recebimento. o mtei-
de relator caberá. agravo do relator caberâ agravo radiograma ou telefone~ ro teor da sentença fi auto- ro teor da sentença â auto-
para o órgão competente para o órgão competente ma, conforme o reQ.uerer o ridade coatora e à pessoa ridade coatora e li pessoa
do tribunal que integre. do tribunal que integre. petlcíonâno, o interro teor jurídica interessada. jurídica interessada.
§ 2n. O ingresso de li- § 211• O mgresso de liM da sentença a autoridade
tisconsorte ativo não será tisconsorte atlvo não será coatora.
admitido após o despacho admitido após o despacho Parágrafo úmco. Os Parágrafo úmco. Em Parágrafo umco. Em
da 'Petição iniciaL da petlção inicial. originais, no caso de caso de urgênCIa., poderâ caso de urgência, poderâ
Art. 11. Feitas as no- transmissão telegráfica, o jUiZ observar o disposto o JUiZ observar o disposto
Art. 9U. Feita a notifi- Art. 11. Feitas as noti-
tificações. o serventuário rndioromca ou teleromca., no art. 42. no art 4Il desta Lei.
cação, O serventuário em ficações, o serventuãrio.
em cujo cartóno corra o deverão ser apresentados
cujo cartório corra o feito em cUJo cartório corra o
feito.juntarâ aos autos có- feito juntara aos autos cá-- a agência expedidora com
juntará aos autos cópia au-
pia autêntica dos oficios pia autêntIca dos oficlOs a fIrma do JUiZ devida~
têntica do ofiCIO endereça-
do ao coator, bem como a endereçados ao coator e endereçados ao coator e mente reconhecida.
prova da entrega a este ou ao órgão de representação ao órgão de representação
judicial da pessoa jurídica Art. 12. Da sentença., Art. 14. Da sentença. Art. 14. Da sentença.,
da sua recusa em aceitá-lo judiciai da pessoa jurídica
interessada. bem como a negando ou concedendo denegando ou conceden- denegando ou conceden-
ou dar recibo. interessada. bem como a
prova da entrega a estes prova da entrega a estes o mandado cabe apelação. do o mandado, cabe ape- do o mandado, cabe ape-
ou da sua recusa em acei- ou da sua recusa em acei M (Redação dada peia leI n. lação. lação.
tá-los ou dar recibo e, no tá-los ou dar recibo e, no 6.014. de 1973)
caso do art. 4Il. a compro- caso do art. 4Il desta Lei. a Parágrafo umco. A § lfl. Concedida a se- § IfI. Concedida a se-
vação da remessa. comprovação da remessa. sentença. que conceder o gurança. a sentença estará gurança, a sentença estarã
mandado. fIca sujeita ao sujeita obrigatonamente sUjeita obngatonamente
Art. 10. Findo o prazo Art.12. Findo o prazo a Art. 12. Findo o prazo duplo grau de juosdição. ao duplo grau de junsdi- ao duplo grau de Juosdi-
a que se rerere o item I do que se refere o inciso I do a que se refere o inciso I podendo, entretanto, ser ção. ção.
art. 7f1. e ouvido o represen- art. 7f1., o juíz ouvirá o re- do caput do art 7f1. desta
executada provisomunen-
tante do Ministério Público presentante do Ministéno Leí, o juiz OUVIl1l o reM te. (Redação dada pela
dentro em cinco dias. os Público. que opmani. den- presentante do Ministério
Lei n. 6.071. de 1974)
autos serão conclusos ao tro do prazo lmprorrogâ- Público, que opmani. den-
vei de dez dias. tro do prazo improrrogà- § 211• Estende-se a auto- § 211• Estende-se ii. auto-
juiz, independente de so-
vel de la (dez) dias. ridade coatora o direito de ridade coatora o direito de
liCitação da Parte. para a
recorrer. recorrer.
decísão, a qual deverá ser
proferida em cinco dias. Vide art. 12. parâgrafo § 3n. A sentença que § 311 A sentença que
tenham sido ou não pres- tinlco. ln fine. concedera mandado de se- conceder o mandado de se-
tadas as infonnações pela gurança pode ser executa- gurança pode ser executa-
autoridade coatora. da provlsonarnente, salvo da provlsonarnente. salvo
804 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 805

nos casos em que for ve- nos casos em que for Ve- provimento a agravo de provunento a agravo de
dada a concessão da medi- dada a concessão da medi- InStrumento interposto con- instrumento mterposto con-
da liminar. da liminar. tra a liminar a que se refe- tra a liminar a que se refe-
§ 40-. O pagamento de § 411, O pagamento de re este arttgo. re este artigo.
vencimentos e vantagens vencimentos e vantagens § 32• A interposição de § 311 • A mterposlção de
pecuniânas assegurados pecuniánas assegurados agravo de mstrumento agravo de mstrurnento
em sentença concesSiva em sentença concessiva contra limmar concedida contra liminar concedida
de mandado de segurança de mandado de segurança nas ações movidas contra nas ações movidas contra
a servidor público da ad- a servidor público da ad- o Poder Público e seus o poder público e seus
mÍmstração direta ou nu- mímstração direta ou au- agentes não prejudica nem agentes não prejudica nem
tirrquica federal. estadual tárqUica federal. estadual condiciona o julgamento condiCIOna o Jt!lgamento
e municipal somente será e municipal somente será do pedido de suspensão a do pedido de suspensão a
efemado relatlvamente as efetuado relativamente as que se refere este arttgo. que se refere este artigo.
prestações que se vence- prestações que se vence- § 411. O presidente do § 411, O presidente do
rem a contar da data do rem a contar da data do tribunal padeci confem tribunal podem. conferir
ajutzamento da inIcia!. ajuizamento da iniCiai. ao pedido efeito suspen- ao pedido efeito suspen-
SIVO liminar, se constatar, SIVO Hnunar se constatar,
Ar<. 13. Quando o Art. 15. Quando. a re- Ar!. 15. Quando, a re- em juizo preVia, a plausi- em juizo prevlo. a plaUSI-
mandado for concedido e querimento de pessoa Juri- querimento de pessoa jurí- bilidade do direito invoca- bilidade do direito invoca-
o Presidente do Tribunal. dica de direito público in- dica de direito público ffi- do e a urgênCia na conces- do e a urgênCia na conces-
ao qual competir o conhe- teressada ou do Ministério teressada ou do Ministério são da medida. são da medida.
cimento do recurso, or- Público, e para eVitar gra- Públíco e para evitar grave § 52. As limmares cUJo § 511.. As limmares cujo
denar ao juiz a suspensão ve lesão li ordem. â saúde, lesão à ordem. á saúde, ii objeto seja idêntico pode- ohjeto seja idêntlco podc-
da execução da senten- li segurança e li economia segurança e à economia rão ser suspensas em uma rdO ser suspensas em uma
ça. desse seu ato caberá públicas. o presidente do públicas, o presidente do umca deCisão, podendo umca deciSão, podendo
agravo para o Tribunal tribunal, ao qual couber o tribunal ao qual couber o o presidente do tribunal o presidente do tribunal
a que presida. (Redação conhecimento do respectt- conhecimento do respecti- estender os efeitos da sus- estender os efeitos da sus-
dada pela LeI n. 6.014. de vo recurso, suspender, em vo recurso suspender, em pensão a Iirmnares super- pensão a Iimmares super-
1973) dectsão fundamentada. a decisão ftmdamentada. a vementes, mediante Stm- vementes, mediante sim-
execução da limmar e da execução da limInar e da pies aditamento do pedido ples aditamento do pedido
sentença. dessa decisão sentença, dessa decísão original. ongma!.
caberá agravo. sem efeito caberá agravo, sem efeito
suspensivo, no prazo de suspensiVO, no prazo de 5 Art. 14. Nos casos de Art. 16. Nos casos de Art. 16. Nos casos de
(cmco) dias. que será leva- competência do Supremo competência origmàna dos competência onginàna dos
cmco dias. que será levado
do a julgamento na sessão Tribunal Fedeml e dos tribunais, caberá ao relator tribunais, caberá ao relator
a julgamento na sessão se-
segumte à sua intetpOsição. demais tribunaiS caberá a InStruçãO do processo, a InStrução do processo,
gumte à sua mterposição.
ao relator a mstrução do sendo assegurada a defesa sendo assegw-ada a defesa
§ I'. Indeferido o pedido § 111. Indeferido o pedido
processo. oral na sessão do julga- ornl na sessão do julga-
de suspensão ou provido o de suspensão ou provido o
mento. mento.
agravo a que se refere o agravo a que se refere o
caput deste artIgo, caberá Parágrafo unico. Da de- Parágrafo UDlCO. Da de-
caput. cabem novo pedido
novo pedido de suspensão CISão do relator, que con- cisão do relator que con-
de suspensão ao presiden-
ao presidente do tribunal ceder ou denegar a medi- ceder ou denegar a medi-
te do tribunal competente
competente para conhecer da liminar. caberá agravo da limmar caberá agravo
para conhecer de eventual
de eventual recurso espe- ao orgão competente do ao órgão competente do
recurso especial ou extra- tribunal que mtegre.
cial ou extraordinário. tribunal que íntegre.
ordinário.
§ 211• Ê cablvel também § 211• É cabível também Art. 17. Nas deCISÕes Art. 17. Nas deCisões
o pedido de suspensão a o pedido de suspensão a proferidas em mandado proferidas em mandado
que se refere o parngrafo que se refere o § 12 des- de segurança e nos res- de segurança e nos res-
anterior, quando negado te artigo, quando negado pectIvos recursos, quando pectIVos recursos. quando
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 807

não publicado. no prazo não publicado. no prazo mstância pelos tribunais instânCia petos tribunaiS
de tnota dias contados de 30 (trinta) dias. COnta. cabe recurso espeCial e cabe recurso especial e
da data do julgamento. o do da data do julgamento. extraordinãrio. nos casos extraordinâno, nos casos
acôrdão sem substituído Q acórdão serâ substituído legalmente prevÍstos, e re- legalmente previstos, e re-
pelas respectivas notas ta- pelas respectivas notas ta- curso ordinâno, quando a curso ordinâno, quando a
qUlgráficas. independen- quigráficas. independen_ ordem for denegada ordem for denegada.
temente de revísão. temente de revisão.
Art. 19. Aplicam-se ao Vide art. 24 do Projeto. Vide art. 24 da lei.
Vide art. 19 do Projeto. Vide art. 19 da Lei. processo do mandado de
Art. 15. A decisão do
segurança os artIgos do
mandado de segurança
Código de Processo Civil
não unpedirá que o reque-
que regulam o Iitisconsór-
rente, por ação própria, CIO. (Redação dada pela
pleiteie os seus direitos e
Lei 11. 6.071. de 1974)
os respectIvos efeitos pa-
trimoniaís. Vide art. 15 da Lei. Art. 19. A sentença ou Art. 19. A sentença ou
Vide 3rt. 6', § 6', da o acórdão que denegar o acórdão que denegar
Art. 16. O pedido de Vide 3rt. 6'. § 6', do
Lei. mandado de segurança, mandado de segurança,
mandado de segurança Projeto.
sem decidir o merito, não sem decidir o merito, não
podem ser renovado se a impedini. que o reque- impedirá que o reque-
decísão denegatória não rente, por ação propna, rente, por ação pràpria,
lhe houver aprecIado o pleiteie os seus direÍtos e pleiteie os seus direitos e
mérito. os respectivos efeitos pa- os respectIvos efeitos pa-
Art. 17. Os processos Vide arL 20. caput e § Vide art. 20. caput e § trunonims. trimoniais.
de mandado de seguran- lO., do ProJeto. 1.!l, da Lei.
Vide art. l1 da Lei. Art. 20. Os processos Art. 20. Os processos
ça terão pnoridade sobre de mandado de segurança de mandado de segurança
todos os atas Judiciais. e os respectivos recursos e os respectlvos recursos
salvo habeas corpus. Na terão {'noridade sobre to- terão pnoridade sobre to-
instância supenor deverão dos os atas judiciais, salvo dos os atas JudiCIaiS. salvo
ser levados a julgamento habeas corpus. habeas corpus.
na primeira sessão que se Vide art. 11 da Lei. § III, Na mstância supe- § 12• Na InstânCJa supe-
seguir a data em que, feita rior. deverão ser levados nor, deverão ser levados
a distribuiçãO, forem con- a julgamento na pnmeIra a julgamento na primeIra
cIusos ao relator. sessão que se seguir á data sessão que se seguir â data
Parágrnfo Uruco. O Vide art. 20, § 211, do Vide 3rt. 20, § 2'. da em que forem conclusos em que forem conclusos
prnzo para conclusão não Projeto. leI. ao relator. ao relator.
poderá exceder de vinte e Vide art. 11, parágrafo § 22 . O prazo para a § 22 • O prazo para a
quatro horas, a contar da único, da LeI. conclusão dos autos não conciusão dos autos não
distribuIÇão. poderá exceder de CInCO poderá exceder de 5 (cin-
Vide art 23 da LeI. dias. co) dias.
Art. 18. O direito de Vide art 23 do Projeto.
requerer mandado de se- Ar!. 21. O mandado Art. 21. O mandado
gurança exungurr-se-á de segurança colelIvo de segurança coletivo
decorridos cento e vmte pode ser impetrado por pode ser impetrado por
dias contados da ciênCIa. partido político com re- partido político com re-
peio interessado. do ato presentação no Congresso presentação no Congresso
impugnado. Nacionai, na defesa de NaCIOnal, na defesa de
Art. 18. Das deciSões Ar!. 18. Das decisões seus mteresses legítimos seus interesses legítimos
em mandado de seguran- em mandado de seguran- relativos a seus mtegran- relatlVOS a seus Integran-
ça proferidas em Uruca ça proferidas em iliuca tes ou â finalidade partI- tes ou à finalidade parti-
808 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS
APÊNDICE 809
dána. ou por organizaÇão dária, ou por organização trante a titulo mdividua!
sindical. entidade de classe trante a título individua!
sindícal, entidade de classe se não requerer a desistên-
ou associação legalmente se não requerer a desiS-
ou associação legalmente cia de seu mandado de se- tênCia de seu mandado de
constituída e em fimcÍona- constituída e em fimcio- gurança no prazo de tnnta segurança no prazo de 30
mente hã, pelo menos, um namento há. pelo menos., dias a contar da ciêncía (trinta) dias a contar da
ano, em defesa de direttos I (um) ano, em defesa de comprovada da tmpetra- ciêncla comprovada da
líquidos e certos da totali- direitos líquidos e certos ção da segurança coletíva. lmpetração da segurança
dade. ou de parte. dos seus da totalidade, ou de par- coletiva.
membros ou assocmdos, te. dos seus membros ou
na foona dos seus estatutos § 211• No mandado de § 211• No mandado de
assocíados, na fonna dos
segurança coletivo, a li-
e desde que pertInentes as seus estatutos e desde que segurança coletivo, a limi-
mlOar 50 podem ser con- nar sÓ poderá ser conce-
suas fmalidades. dispensa- pertinentes às suas finalida_
cedida após a audiênCia dida apos a audiêil.cla do
da, para tanto, automação des. dispensada, para tanto,
do representante JudiCiai representante Judicial da
especial. autorização especial.
da pessoa jurídica de di- I?essoa Juridica de direi-
Parágrafo Unlco. Os di- Parágrafo úmco. Os di- reito público, que deverá to público. que deverá se
reitos protegidos pelo man- reitos protegidos pelo man~ se pronunciar no prazo de pronunciar no prazo de 72
dado de segurança coJeovo dado de segurança cOletivo setenta e duas horas. (setenta e duas) horas.
podem ser: podem ser.
1- colelivos. assim en- 1- coletivos, asSim en- Vide art. 18 da Lei. Art. 23. O direíto de Art. 23. O direito de
tendidos, para efeito desta tendidos, para efeito desta requerer mandado de se- requerer mandado de se-
LeI.. os transíndividuais, Lei. os transindividuals. gurança exungurr-se-à. de- gurança extmgulf-se-ã de-
de natureza indivIsível. de de natureza tndivlsivei, de corridos cento e vmte dias, corridos 120 (cento evmte)
que seja titular grupo ou que seja titular grupo ou contados da ciência. pelo dias, contados da ciêncIR,
categoria de pessoas liga- categona de pessoas liga- interessado, do ato unpug- pelo interessado, do ato
das entre SI ou com a parte das entre SI ou com a parte nado. impugnado.
contrària por uma relação contrária por uma relação Vide art. 19 da Lei. Art. 24. Aplicam-se ao Art. 24. Aplicam-se
Jurídica bàsica; jurídica baslca;
mandado de segurança os ao mandado de seguran-
II - mdividuais homo- II - individuais homo- arts. 46 a 49 do Código de ça os arts. 46 a 49 da Lei
gêneos, assIm entendidos, gêneos. assim entendidos, Processo Civil. . n. 5.869, de II de janei-
para efeito desta Lei, os para efeito desta Lei. os ro de 1973 - Código de
decorrentes de origem decorrentes de ongem Processo Civil.
comum e da atívidade ou comum e da atividade ou
situação especifica da t0- situação especifica da to- Art. 25. Não cabem. no Art. 25. Não cabem, no
talidade ou de parte dos talidade ou de parte dos processo de mandado de processo de mandado de
associados ou membros associados ou membros segurança, a interposição segurança, a InterpOSição
da impetrante. do lmpetrante. de embargos mfringentes de embargos mfringentes
e a condenação ao paga- e a condenação ao paga-
Art. 22. No mandado Art. 22. No mandado mento dos honorânos ad- mento dos honorànos ad-
de segurança coletivo. a de segurança coleuvo, a vOcati"cIOS. sem prejuízo vocatíclOS, sem preJulzo
sentença fará coísa ju1- sentença fará cOisa jul- da aplicação de sanções da aplicação de sanções
gnda limitadamente aos gada limítadamente aos no caso de litigâncla de no caso de liUgâncla de
membros do grupo ou ca- membros do grupo ou ca- ma-fé. má-fé.
tegoria substituídos pelo tegOria substituídos pelo
impetrnnte. ímpetrante. Art. 26. Ás autoridades Art. 26. Constitui cri-
§ 111. O mandado de admmistrativas que não me de desobediênCIa,
§ }Il O mandado de
segurança coletivo não cumpnrem as deCisões nos teanos do art. 330 do
segurança coletivo não
proferidas em mandado Decreto-lei n. 2.848. de
índuz litispendênclR para índuz litispendência para
de segurança aplicar-se- 7 de dezembro de 1940,
as ações individuais, mas as ações individuais, mas
á a pena prevista no art. o não cumpnmento das
os efeitos da coisa julgada os efeitos da coisa julgada
330 do Decreto-Iet n. decisões flroferidas em
não beneficiarão o unpe- não benefiCiarão o unpe-
2.848. de 7 de dezembro mandado de segurança,
810 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 811

de 1940 - Código Penal, sem prejuÍZo das sanções 4. Legislação sobre ação popular
sem prejuizo das sanções admmistratIvas e da apli~
admimstratIvas cabíveis. cação da LeI n. 1.079, de
LEIN. 4.717, DE 29 DE JUNHO DE 1965
10 de abril de 1950, quan-
do cabíveis.
Regula a ação popular.
Art. 27. Os regimentos Art. 27. Os regimentos
dos tribunais e, no que dos tribunais e. no que Da ação popular
couber, as leis de organi- couber. as leis de orgam-
zação judiciária deverão zação judiciána deverão Art. I" Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação
ser adaptados às disposi- ser adaptados as disposi_ ou a declaração de nulidade de atos lesÍvos ao patrimônio da União, do
ções desta Lei no 'Prazo de ções desta Lei no prazo Distnto Federal. dos Estados. dos Municípios, de entidades autárqu,cas. de
cento e Oitenta dias. conta- de 180 (cento e oitenta)
dos da sua publicação.
sociedades de economia mista (CF. art. 141. § 38), de sociedades mútuas
dias. contado da sua pu-
blicação. de seguro nas quaís a União represente os segurados ausentes, de empresas
públicas, de serviços SOCiaiS autônomos. de instituições ou fundações para
Art. 20. Revogam-se Art 28. RevoganHe a Vide art. 29 da Lei. cuja cnação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com
os disl'ositivos do Código Lei D. 1.533. de 31 de de-
do Processo Civil sobre zembro de 1951; a Lei n. mais de 50% do patrimônio ou da receíta ânua. de empresas incorporadas
o assunto e mais disposi- 4.166, de 4 de dezembro ao patrtmônio da União. do Distnto FederaL dos Estados e dos Mumcipios.
ções em contrario. de 1962; a Leí n. 4.348, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencIOnadas pelos cofres
de 26 de junho de 1964; a públicos.'
Lei n. 5.021, de 9 dejunho
de 1966; o art. 30. da Lei n. § 1º. Consideram-se patrimônio público, para os fins referidos neste
6.014, de 27 de dezembro artigo. os bens e direitos de valor econômico. artístico. estético, histórico
de 1973; o art. lU da Lei ou turístico. (redação dada pelo arfo 33 da Lei n. 6.513. de 20.12.77)
n. 6.071. de 3 de julho de
1974; o art. 12 da Lei n. § 22 , Em se tratando de instituições ou fundações, para cuja criação ou
6.978. de 19 de janeiro de custeio o tesouro público concorra com menos de 50% do patrirnônio ou da
1982; e o art. 2.0. da Lei n. receita ânua, bem corno de pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas.
9.259. de 9 de janeiro de as conseqüêncIas patrimoniais da invalidez dos atas leSIVOS terão por limite
1996.
a repercussão deles sobre a contribuição dos cofres públicos.
Art 21. Esta lei entrara )urt.29. Esta Leí entra Ar!. 28. Esta Lei entra § 32.. A prova da cidadania., para ingresso em juizo, será feita com o
em vigor na data da sua em vigor na data de sua em vigor na data de 5U3 título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.
publicação. publicação. publicação.
§ 42-. Para instruir a inicial, o cidadão podem requerer às entidades. a
Art. 29. Revogam-se que se refere este artigo. as certidões e informações que julgar necessárias.
as Leis os. 1.533. de 31 bastando para ISSO indicar a finalidade das mesmas.
de dezembro de 1951.
4.166. de 4 de dezembro § 5". As certidões e mformações. a que se refere o parágrafo antenor.
de 1962. 4.348. de 26 de deverão ser fornecidas dentro de 15 dias da entrega, sob recibo, dos respec-
Junho de 1964. 5.021. de tivos requerimentos, e sê poderão ser utilizadas para a instrução de ação
9 de Junho de 1966; o art. popular.
3I1. da Lei n. 6.014, de 27
de dezembro de 1973, o § 6". Somente nos casos em que o interesse público. devidameote JUs-
art. 12 da Lei n. 6.071. de tificado. impuser sigilo, podem ser negada certidão ou informação.
3 dCJulho de 1974. o art.
12 da LeI n. 6.978. de 19
deJanclfOde 1982.eoart 3. A remissão ao art. 141, § 38. da CF de 1946 deve ser entendida. agora, como
2I! da Lei n. 9.259. de 9 de feita ao art 52, LXXIII. da CF de 1988. Observe-se, ainda. que a nova disposição
janeiro de 1996. constitucional alterou a redação. Esta lei, portanto. deve ser mterpretada e aplicada
COm adaptação ao novo texto constitucionaL
812 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 813

§ 7", Ocorrendo a hipótese do parágrafo antenor, a ação poderá ser Ill- A empreitada, a tarefa e a concessão do serviço público, quando:
proposta desacompanhada das certidões ou informações negadas, cabendo a) o respectivo contrato houver sido celebrado sem prévÍa concorrên-
ao juiz. após apreciar os motivos do mdeferimento.. e salvo em se tratando cia pública ou administrativa, sem que essa condição seja estabelecida em
de razão de segurança nacional, requisitar umas e outras; feita a requisição. lei. regulamento ou norma geral~
o processo correm em segredo de justíça. que cessam com o trânsito em
b) no edital de concorrência forem incluídas cláusulas ou condições,
julgado de sentença condenatóna. que comprometam o seu caráter competitivo:
Art.22 . São nulos os atas lesivos ao patrimônio das entidades mencio~
. c) a concorrência administrativa for processada em condições que im-
nadas no artígo anterior, nos casos de: plIquem na limItação das possibilidades normaIS de competIção.
a) incompetência~
IV -:- .As modificações ou vantagens. inclusive prorrogações, que fo-
b) vício de forma; rem admItIdas, em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos
c) ilegalidade do obJeto; d~ empreItada, tarefa e concessão de serviço público. sem que estejam pre-
d) inexístência dos motivos; VIstas em leI Ou nos respectIvos mstrumentos.
e) desvIo de tinalidade. V - A compra e venda de bens móveis ou imôveis. nos casos em que
Parágrafo Unica. Para a conceítuação dos casos de nulidade observar- não cabível concorrência pública ou admínistrativa, quando:
se-ão as segumtes normas: a) for real~da com desobediência a normas legais. regulamentares,
a) a íncompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas ou constantes de mstruções gerais;
atribuições legais do agente que o praticou; b) o preço de compra dos bens for superior ao corrente no mercado
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observâncía íncompleta na época da operação; .
ou írregular de formalidades indispensãvels á existêncía ou seriedade do ato; c) o preço de venda dos bens for inferior ao corrente no mercado na
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em época da operação. .
violação de lei, regulamento ou outro ato normativo~ VI - A concessão de licença de exportação ou importação. qualquer
d) a inexístêncía dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou que seja a sua modalidade, quando:
de direito, em que se fundamentou o ato. é materialmente inexIstente ou a) houver sido praticada com violação das nOrmas legais e regulamen-
juridicamente inadequada ao resultado obtido; tares ou de instruções e ordens de serviço;
e) o desvío de fmalidade se verifica quando o agente pratica o ato vi- b) resultar em exceção ou privilégiO, em favor de exportador ou im-
sando a fim diverso daquele previsto, expIícíta ou implicítamente. na regra portador.
de competência. >Vil -: A operação de redesconto quando, sob qualquer aspecto, in-
Art. JD.. Os atas lesivos ao patrimônio das pessoas de direito público clUSIve o lImIte de valor, desobedecer a normas legais. regulamentares ou
ou privado. ou das entidades mencionadas no art. 1st, cujos vIcias não se constantes de ínstruções gerais.
compreendam nas especificações do artigo anterior, serão anuláveis. se- Vil! - O empréstimo concedido pelo Banco Central da República,
gundo as prescrições legais. enquanto compatíveís com a natureza deles. quando:
Art. 4". São também nulos os seguintes atas ou contratos, praticados a) concedido com desobediêncía de quaisquer normas legaís. regula-
ou celebrados por quaIsquer das pessoas ou entidades referidas no art 1", mentares, regimentais ou constantes de instruções gerais;
I - A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência. b) o valor dos bens dados em garantia, na epoca da operação. for in-
quanto às condições de habilitação, das normas legais, regulamentares ou fenor ao da avaliação.
constantes de mstruções gerais. IX - A emissão. quando efetuada sem observância das normas consti-
n - A operação bancma ou de crédito real, quando: tucionaís. legaís e regulamentadoras que regem a especle.
a) for realizada com desobediêncía a normas legais. regulamentares.
estatutárias. regimentais ou intemas~ Da competência
b) o valor real do bem dado em hipoteca ou pcnhor for mfenor ao Art. 5". Conforme a origem do ato impugnado, e competente para
constante de escritura. contrato ou avaliação. conhecer da ação. processa-la e julga-la o juiz que, de acordo com a or-
814 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 815

gamzação judiciária de cada Estado, o for para as causas que íuteressem à Do processo
União. ao Distrito Federal. ao Estado ou ao Municfpio. Art. 7J1., A ação obedecerã ao procedimento ordinãrio, preVIsto no
§ I', Para fins de competência, equiparam-se a atas da União, dó Código de Processo Civil. observadas as seguintes normas modificatívas:
Distnto Federal, do Estado ou dos MUnIcípios os atas das pessoas criadaS I - Ao despachar a inicial. o juiz ordenará:
ou mantidas por essas pessoas jurídicas de direito público. bem Como os
a) além da citação dos reus, a íntímação do representante do Ministério
atas das sociedades de que elas sejam acionistas e os das pessoas ou en.:
Público;
tidades por elas subvencionadas ou em relação as quais tenham interesse
b) a requisição, às entidades indicadas na petição iniCIal, dos docu-
patrimoniaL ,"
mentos que tiverem sido referidos pelo autor (art. 1Q. § &1), bem como a de
§ 22 , Quando o pleito mteressar simultaneamente à União e a qualquer outros que se lhe afigurem necessários ao escJarecímento dos fatos, fixando
outra pessoa ou entidade, serà competente o juíz das causas da União. se prazos de IS a 30 dias para o atendimento. .
houver; quando interessar símultaneamente ao Estado e ao Municiplo, será
§ I', O representante do Mínisténo Público providenciará para que
competente o juiz das causas do Estado, se houver.
as requisíções, a que se refere o inciso anterior, sejam atendidas dentro dos
§ 32 , A propositura da ação prevenírà a jurisdição do juizo para todas prazos fixados pelo juiz.
as ações. que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e § 22 . Se os documentos e informações não puderem ser oferecidos nos
sob os mesmos fundamentos.
prazos assínalados. o juiz poderá autorizar prorrogação dos mesmos, por
§ 4", Na defesa do patrimônio público caberá suspensão limmar do ato prazo razoável.
lesivo Impugnado. (acrescentado pelo art. 24 da Lei n. 6,513/77)
ll- Quando o autor o preferir. a citação dos beneficiários far-se-á por
edital com o prazo de 30 dias, afixado na sede do juizo e publicado 3 vezes
Dos sujeitos passivos da ação e dos assistentes
no jornal oficial do Distrito Federal. ou da Capítal do Estado ou Território
Art. ()!!. A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e em que seja ajuizada a ação. A publicação será gratuIta e deverá iniciar-se
as entidades referidas no art. 12 • contra as autoridades, funcionários ou ad- no mâxímo 3 dias após a entrega, na repartição competente, sob protocolo,
ministradores que houverem autorizado. aprovado. ratificado ou praticado de uma vía autentícada do mandado.
o ato impugnado ou que, por omíssas, tiverem dado oportunidade à lesão. e III - Qualquer pessoa, beneficiada ou responsável pelo ato impugna-
contra os beneficiários diretos do mesmo. do. cuja exístêncla ou identidade se tome conhecida no curso do processo e
§ 12 , Se não houver beneficiário direto do ato lesivo, ou se for ele antes de proferida a sentença final de prtmeíra instância, deverá ser cítada
indetermínado ou desconhecido. a ação serâ proposta somente contra as para a mtegração do contraditório, sendo-lhe restituído o prazo para con-
outras pessoas indicadas neste artigo. testação e produção de provas. Salvo, quanto a beneficiário, se a citação se
§ 22 • No caso de que trata o inciso II, Item "b". do arl. 4", quando o houver feito na forma do inciso anterior.
valor real do bem for inferior ao da avaliação. citar-se-ão como reus. além N - O prazo de contestação é de 20 dias, prorrogáveis por mais 20, a
das pessoas públicas ou privadas e entidades referidas no art. 12 , apenas os requerimento do interessado. se particularmente dificil a produção de prova
responsáveis pela avaliação mexata e os beneficiários da mesma. documental, e será comum a todos os interessados, correndo da entrega em
§ 3". A pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, cujo cartório do mandado cumprido. ou. quando for o caso, do decurso do prazo
ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido ou assinado em editaL
poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao íuteresse V - Caso não requerída, até o despacho saneador, a produção de prova
público, a juizo do respectivo representante legal ou dirigente. testemunhal ou pericial. o juíz ordenara vlsta às partes por 10 dias, para
§ 4", O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar alegações. sendo-lhe os autos conclusos. para sentença. 48 horas após a
a produção da prova e promover a responsabilidade. civil ou criminal. dos expiração deste prazo~ havendo requerunento de prova. o processo tomará
que nela íucidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer bipótese, assumir a de- o rito ordinàrio.
fesa do ato impugnado ou de seus autores. VI - A sentença. quando não prolatada em audiência de instrução e
§ S". ii facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litIsconsorle ou íulgamento, deverá ser proferída dentro de IS dias do recebimento dos au-
assistente do autor da ação popular. tos pelo JUIZ.
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 817
816

Parágrafo único. O proferimento da sentença além do prazo estabe_ § 3" Quando o réu condenado perceber dos cofres públicos, a exe-
lecido privará o juiz da Inclusão em lista de merecírnento para promoção. cução far-se-â por desconto em folha até o integral ressarCImento do dano
durante dois anos. e acarretará a perda, para efeito de promoção por antio:' causado, se assim mais convier ao ínteresse público.
güidade. de tantos dias quantos forem os do retardamento; salvo motivo § 42. A parte condenada a restituír bens ou valores ficam sujeita a se-
justo. declinado nos autos e comprovado perante o órgão disciplinar com- qUestro e penhora, desde a prolação da sentença condenatóna.
petente. .. Art_ 15. Se, no curso da ação, ficar provada a mfringência da lei penal
Art. 8!t. Ficará sujeita apena de desobediência, salvo motivo justo de~ ou a prátíca de falta disciplinar a que a lei comine a pena de demIssão ou a
vidamente comprovado. a autoridade. o administrador ou o dirigente, que de rescisão do contrato de trabalho, o juiz, ex OffiClO, detenmnará a remessa
deixar de fornecer, no prazo fixado no art. lJa) § 52. ou naquele que tiver sido de cópia autenticada das peças necessárias as autoridades ou aos adminis-
r.
estipulado pelo jUiZ (art. 7", "bU ) , informações e certidão ou fotocópia de tradores a quem competir aplicar a sanção.
documentos necessários á instrução da causa. " Art_ 16. Caso decorridos 60 dias da publicação da sentença condena-
Parágrafo úníco. O prazo contar-se-â do dia em que entregue, sob re- tória de segunda instância. sem que o autor ou terceiro promova a respec-
cibo, o requerimento do interessado ou oficio de requisição (art. I", § 5", e tiva execução, o representante do Ministério Público a promoverá nos 30
U
ar!. 7", I, ''b ).
dias segnmtes, sob pena de falta grave.
Art 9". Se o autor desistir da ação ou der motivo à absolvição da ins- Art 17. E sempre permitido às pessoas ou entidades referidas no art.
tâncía, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7rJ., I!:!. arnda que hajam contestado a ação, promover, em qualquer tempo, e no
II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do que as beneficiar, a execução da sentença contra os demais réus.
Ministério Público, dentro do prazo de 90 dias da última publicação feita, Art. 18. A sentença terà eficácia de coisa julgada oponivel erga om-
promover o prosseguimento da ação. nes, exceto no caso de haver sido a ação julgada Improcedente por deficiên-
Art. 10. As partes só pagarão custas e preparo a final. cia de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra ação com
Art 11. A sentença que, Julgando procedente a ação popular, decretar idêntlco fundamento. valendo-se de nova prova.
a invalidade do ato impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos Art. 19. A sentença que concluir pela carênCIa ou peta improcedên-
os responsàveis pela sua prática e os beneficiários dele, ressalvada a ação cia da ação está sujeita ao duplo grau de Jurisdição. não produzindo efeito
regressiva contra os funcionários causadores de dano, quando incorrerem senão depOiS de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente
em culpa. caberá apelação. com efeito suspensivo.
Art. 12. A sentença incluirá sempre, na condenação dos réus, o pa w
§ 12 . Das decisões interlocutórias cabe agravo de instrumento.
gamento, ao autor, das custas e demaís despesas, judiciaís e extrajudicíaís, § 22 • Das sentenças e decisões proferidas contra o autor da ação e
diretamente relacionadas com a ação e comprovadas, bem como o dos ho~ suscetíveis de recursos, podem recorrer qualquer cidadão e tambem o
norârios de advogado. Ministéno Público. (redoção dado pela LeI n. 6. OI 4173)
Art 13. A sentença que, apreCiando o fundamento de direito do pedi-
do, julgar a lide manifestamente temerária. condenara o autor ao pagamen~ Disposições geraiS
to do décuplo das custas.
Art. 20. Para os fins desta Lei, consideram-se entidades autárquicas:
Art 14. Se o valor da lesão ficar provado no curso da causa, serà
indicado na sentença; se depender de avaliação ou perícia, serâ apurado na a) o serviço estatal descentralizado com personalidade jurídica, custea-
do mediante orçamento próprio, independente do orçamento geral~
execução.
§ I". Quando a lesão resultar da falta ou isenção de qualquer pagamen- b) as pessoas jurídicas especialmente instítuidas por lei, para a exe-
to, a condenação imporá o pagamento devido. com acréscimo de juros de cução de serviços de interesse público ou social, custeados por tributos de
qualquer natureza ou por outros recursos oriundos do tesouro público;
mora e multa legal ou contratual, se houver.
§ 2", Quando a lesão resultar da execução fraudulenta, Simulada ou c} as entidades de direito público ou privado a que a lei tiver atribuído
írreal de contratos, a condenação versarâ sobre a reposição do débIto, com competência para receber e aplicar contribUIções parafiscais.
juros de mora. Art. 21. A ação prevista nesta Leí prescreve em cmco anos.
818 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUC10NA1S APÊNDICE 819

Art. 22. Aplicam-se á ação popular as regras do Código de Processo Art. 4". Poderá ser ajuizada ação cautelar para os frns desta Lei, ob-
Civil. naquilo em que não contrariem os dispositivos desta Leí. nem a na- jetívando. inclusive. evitar o dano ao meio ambiente, ao consumidor. à or-
tureza específica da ação. . dem urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico. estético. históri-
co, turístico e paisagístico (velado). (redação dada pela Lei 11. 10.257. de
10.7.2001)
5. Legislação sobre ação civil pública
Art. 5". Têm legitimidade para propor a ação prinCIpal e a ação caute-
lar: (redação dada pela Lei n. 11.448. de 15.1.2007)
I - o Ministério Público;
LEI N. 7.347, DE 24 DE JULHO DE 19854
II - a Defensona Pública;
Disciplina a ação cMl pública de responsabilidade por danos causa- III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os MunicipIOS;
dos ao meio ambiente. ao consumidor. a bens e direitos de valor artístico IV - a autarqui~ empresa pública. fundação ou sociedade de econo-
estético. histórico, turistico e paisagistico (vetado), e dá outras providências: míamista;
V - a associação que. concomitantemente:
Art. I". Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da açãÓ
popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoníais cau- a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei cívil;
sados: b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio
I - ao meio ambiente; ambiente. ao consumidor, à ordem econômic~ à livre concorrência ou ao
patrimônÍo artístIco, estético, histórico. turistico e paísagistIcO.
II - ao consumidor.
§ }º-. O Ministério Público, se não intervier no processo como parte,
III - â ordem urbanístIca;
atuara obrigatoriamente como fiscal da leí.
IV - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico. turistico e
paisagístíco; § 22 • Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitima-
das nos termos deste artigo habilitar-se como littsconsortes de qualquer das
V - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;
partes.
VI- por íofração da ordem econônuca e da economia popular. (reda-
§ 31t, Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por as-
ção dada pela Lei n. 10.257. de 10.7.2001)
sociação legitimad~ o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a
Paragrafo único. Não sera cabível ação civil pública para veicular pre-
titularidade ativa.
tensões que envolvam tributos~ contribuições previdenciárias, o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço-FGTS ou óutros fundos de natureza Insti-
§ 4", O reqUIsito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo JUIZ,
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou ca-
tucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados. (in-
cisos Ve VI e paràgrafo unico com redação dada pela MP n. 2.180-35. de racteristica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
24.8.2001) § SIl, Admitrr-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios
Art. 22.. As ações prevIstas nesta Lei serão propostas no foro do local Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interes-
onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência fundonal para processar ses e direitos de que cuida esta lei.
e julgar a causa. § 6". Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos mteressados
Parágrafo Unico. A propositura da ação prevenirá a jurtsdição do juízo compromISSO de ajustamento de sua conduta âs exigêncías legais, mediante
para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma cau- cominações, que terá. eficácia de título executivo extrajudicial.
sa de pedir ou o mesmo objeto. (redação dada pela MP n. 2.180-35. de Art. 6ll, Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provo-
24.8.2001) car a iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe infonnações sobre
Art. 3". A ação civil poderá ter por objeto a condenação ou o cumpri- fatos que constituam objeto da ação civil e indicando-lhe os elementos de
mento de obrigação de fazer ou não fazer. conVIcção.
Art. 7'. Se, no exerciclO de suas funções, os juízes e TribunaIS tiverem
4. Com a redação da Lei n. 8.078. de 11.9.90, da Lei n. 8.884, de 11.6.94. e da conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura da ação cívil, re-
leI n. 9.494, de 10.9.97. meterão peças ao Minístério Público para as providêncías cabíveís.
820 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 821

Art. 82. Para instruir a inicial. o interessado poderá requerer às aut(}. § I". A requerimento de pessoa juridica de direito público mteressa-
ridades competentes as certidões e informações que julgar necessárias, -a da, e para eVItar grave lesão à ordem. à saude, ti segurança e ti economía
serem fornecidas no prazo de 15 dias. . pública, podem o Presidente do Tribunal a que competIr o conhecimento
§ I". O Mimstério Público podem instaurar, sob sua presidêncIa. ín' do respectivo recurso suspender a execução da liminar. em decísão funda-
quérito civil, ou reqUIsitar, de qualquer organismo público ou particular, mentada, da qual caberá agravo para uma das Tunnas julgadoras, no prazo
certidões. informações, exames ou pencias. no prazo que assinalar. o qual de cinco dias a partIr da publicação do ato.
não podem ser mferior a 10 dias úteIS. ..: § 211• A multa cominada liminarmente só será eXlgivei do réu após o
§ 2". Somente nos casos em que a lei impuser sigilo poderá ser negad~ trânsito em julgado da decisão favomvel ao autor, mas sem devida desde o
certidão ou informação. hipótese em que a ação podem ser proposta desa- dia em que se houver configurado o descumprimento.
companhada daqueles documentos, cabendo ao juiz requisita-los. Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano
Art. ')ll. Se o órgão do Ministéno Público, esgotadas todas as dili- causado revertem a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por
gências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da Conselhos EstaduaIS de que participarão necessariamente o Mínisténo
ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou dcili Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à
peças infonnativas, fazendo-o fundamentadamente. reconstituÍção dos bens !esados.
§ I". Os autos do inquérito civil ou das peças de infonnação arqUIva- Parágrafo úmco. Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheI-
das serão remetidos. sob pena de se incorrer em falta grave. no prazo de três ro ficará deposItado em estabelecimento oficial de credito, em conta com
dias, ao Conselho Superior do Ministério Público. correção monetâria.
§ 2". Até que, em sessão do Conselho Supenor do Ministério Público, Ar!. 14. O jlllZ podem confenr efeIto suspensivo aos recursos, para
seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as as- evitar dano rrreparável à parte.
sociações legítimadas apresentar razões escritas ou documentos. que serão Art. 15. Decorridos 60 dias do trânsito em julgado da sentença conde-
juntados aos autos do inquérito ou anexados ás peças de informação. natóna, sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-
§ 3". A promoção de arquivamento sem submetida a exame e delibe- lo o Ministério Público, facultada igual inicianva aos demais legitimados.
ração do Conselho Superior do Ministério Público. conforme dispuser o Ar!, 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites
seu Regimento. da competência territorial do órgão prolator. exceto se o pedido for julgado
§ 4", Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitI-
arquivamento. designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público mado podem lDtentar outra ação com idêntico fundamento. valendo-se de
para o ajuizamento da ação. nova prova
Art. 10. COnstituI crime, punido com pena de reclusão de I a 3 anos, Art. 17. Em caso de litigância de ma-fé, a associação autora e os di-
mais multa de !O a 1.000 ORTN,' a recusa. o retardamento ou a onussão de retores responsâveis pela propositura da ação serão solidariamente conde-
dados técnicos indispensáveis ti propositura da ação civil, quando reqUIsi- nados ao décuplo das custas, sem prejUízo da responsabilidade por perdas
tados pelo Ministério Público. e danos.
Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação Ar!. 18. Nas ações de que trata esta Lei não havem adiantamento de
de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da custas, emolumentos. honocirios penciais e quaisquer outras despesas. nem
atívidade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução condenação da associação autora. salvo comprovada ma-fé, em honorários
específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou com- de advogado, custas e despesas processuais.
patível. independentemente de requerimento do autor. Art. 19. Aplica-se li ação civil pública, prevista nesta Lei, o Código de
Ar!, 12. Podem o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justifi- Processo Civil, aprovado pela Lei n. 5.869, de 11.1.73, naquilo em que não
cação previa, em decisão sujeíta a agravo. contrarie suas disposíções.
Art. 20. O fundo de que trata o art. 13 desta Lei sem regulamentado
pelo Poder Executivo no prazo de 90 dias.
5. A ORTN foi extinta. tendo sido criada a OTN. no Plano Cruzado. Por ocasião
do Plano Verão foi extmta a OTN e depois criado o BTN. que, por sua vez. foi extinto Art. 21. Aplicam-se li defesa dos direitos e interesses difusos, coleu-
no Plano Collor-ll. A Lei n. 8.383. de 30.12.91, estabeleceu a Unidade Fiscal de Refe- vos e lDwviduals, no que for cabivel, os dispositivos do Tit. liI da lei que
rência-UFIR como índexador de multas e penalidades de qualquer natureza (art. 11l). instituiu o Código de Defesa do Consumidor.
822 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 823

Art. 22. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação. § 32 , Os recursos arrecadados pelo FDD serão aplicados na recupe-
Art. 23. Revogam-se as disposíções em contrãrio. ração de bens, na promoção de eventos educatIvos, científicos e na edição
de material informativo especificamente relaCIonados com a natureza da
infração ou do dano causado, bem como na modemIzação administrativa
LEI N. 9.008, DE 21 DE MARÇO DE 1995 dos órgãos públicos respollsãveis pela execução das políticas relativas as
áreas menCIOnadas no § 12 deste artigo.
Cria. na estrotura organiZacional do Ministério da Justíça, o Conselho Art. 2'. O CFDD, com sede em Brasília, será integrado pelos seguin-
Federal de que trata o artigo 13 da Lei n. 7.347. de 24 dejulho de 1985. tes membros:
altera os artigos 4". 39. 82. 91 e 98 da Lei n. 8.078. de 11 de setembro de
I - um representante da Secretaria de Direito Econômlco do MinIstério
1990. e dá outras providências.
da Justiça, que o presidirá;
Faço saber que o Presidente da República adotou a Medida Provisória II - um representante do Ministério do Mela Ambiente. dos Recursos
n. 913, de 24 de fevereíro de 1995, que o Congresso Nacional aprovou, é Hídricos e da Amazôma Legal;
eu, José Sarney, Presidente, para os efeitos do disposto no parágrafo OOico III - um representante do Ministério da Cultura;
do artigo 62 da Constltuição Federal, promulgo a seguinte Lei: IV - um representante do Ministério da Saude, VInculado â ãrea de
Art.. 1Jl , Fica criado, no âmbíto da estrutura organizacional do vigilância sanitária;
Ministéno da Jnstlça, o Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de V - um representante do Ministério da Fazenda;
Direitos Difusos - CFDD.
VI - um representante do Conselbo AdministralIvo de Defesa
§ 1', O Fundo de Defesa de Direitos Difusos - FDD, cnado pela Lei Econômica - CADE;
n. 7.347, de 24 de julho de 1985, tem por finalidade a reparação dos danos
VII - um representante do Ministério Público Federal;
causados ao meio ambiente. ao consumidor. a bens e direitos de valor artís-:
tico. estético, histórico, turistico, paisagístico, por infração à ordem econô- VIII - três representantes de entidades civis que atendam aos pressu-
mica e a outros rnteresses difusos e coietivos. postos dos incISOS I e II do artigo 52 da Lei n. 7.347/85.
§ 2', Constituem recursos do FDD o produto da arrecadação: Art. 3". Compete ao CFDD:
I - das condenações judiciais de que tratam os artlgos 11 e 13 da Lei I - zelar pela aplicação dos recursos na consecução dos objetivos pre-
n. 7.347/85; vistos nas Leis ns. 7.347/85, 7.853/89, 7.913/89, 8.078/90 e 8.884/94, no
II - das multas e indernzações decorrentes da aplicação d. Lei n: âmbito do disposto no § l' do artigo l' desta Lei;
7.853, de 24 de outubro de 1989, desde que não destinadas à reparação de II - aprovar e firmar convênios e contratos objetivando atender ao
danos a ínteresses individuais; dísposto no incISO I deste artigo;
IlI- dos valores destinados à União em vírtude da aplicação da multa III - examinar e aprovar projetas de reconstituição de bens lesados,
prevísta no artigo 57 e seu parágrafo único e do produto da indenização inclusíve os de carnter científico e de pesquisa;
prevista no artigo 100, parágrafo unico, da Lei n. 8.078, de 11 de setembro IV - promover. por meio de órgãos da AdmInIStração Pública e de
de 1990; entidades cÍvis interessadas. eventos educativos ou científicos;
IV - das condenações Judiciais de que trata o § 2' do artigo 22 da Lei V - fazer editar, inclusive em colaboração com ôrgãos oficiais, mate-
n. 7.913, de 7 de dezembro de 1989; rial mformativo sobre as matérias mencionadas no § 12 do artigo 12 desta
V - das multas referidas no artlgo 84 da Lei n. 8.884, de 11 de junho Lei;
de 1994; VI - promover atividades e eventos que contribuam para a difusão da
VI - dos rendimentos auferidos com a aplicação dos recursos do cultura, da proteção ao meio ambiente. do consumidor, da livre concorrên-
Fundo; cia, do patrimônío hístÓríco. artístico, estético. turístico, paisagístico e de
Vil - de outras receitas que vierem a ser destinadas ao Fundo; outros interesses difusos e coletivos:
VilI - de doações de pessoas tisicas ou jurídicas. nacionaís ou estran- VII - examinar e aprovar os projetas de modernização administrativa
geiras. a que se refere o § 32 do artigo I" desta Lei.
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 825
824

Art. 4". Fica o Poder Executivo autorizado a regulamentar o funcio- LEI N. 7.853, DE 24 DE OUTUBRO DE 1989
namento do CFDD.
Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua in-
Art. 5". Para a primeira composição do CFDD. o Ministro da JustiÇa tegração soctal. sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da
disporá sobre os critérios de escolha das entidades a que se refere o incisõ Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE. institui a tutela Jurisdicional
Vill do artIgo 22 desta Lei, observaodo, dentre outros, a representatividade de interesses co/etivos ou difusos dessas pessoas. disciplina a atllação do
e a efetíva atuação na tutela do interesse estatutariamente previsto. - :', Ministério Público. define crzmes, e dá outras providências.
Art.6" O § 22 do artigo 22 da Lei n. 7.913/89 passa a vigorar com a
seguinte redação: ": Art. 3!i!.. As ações cívís públicas destinadas à proteção de interesses
u§ 2!J.. Decairá do direito â habilitação o investidor que não o exercer coletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficiência poderão ser pro-
no prazo de dois anos, contado da data da publicação do edital a que alude postas pelo Mimstério Público, pela União, Estados, Municipios é Distnto
o parágrafo anterior, devendo a quantia correspondente ser recolhida ao Federal; por associação constituída hã mais de um ano, nos termos da lei
Fundo a que se refere o artigo 13 da Lei n. 7.347, de 24 de Julho de 1985." civil. autarquía. empresa pública, fundação ou sociedade de economia mis-
Art. 72 • Os artigos 4", 39. 82, 91 e 98 da Lel n. 8.078/90, que "dispõe ... ,',;;,;. ta que inclua, entre suas finalidades ínstitucionais, a proteção das pessoas
sobre a proteção do consumidor~ e dá outras providências", passam a Vigo- portadoras de deficiência.
rar com a seguinte redação: § 111• Para instruir a inicial. o interessado poderá requerer às autorida-
"Art. 4". A Política Nacional das Relações de Consumo tem por ob- des competentes as certidões e informações que julgar necessárias.
jetivo o atendimento das necessidades dos consumidores. o respeito á sua § 22 . As certidões e mformações a que se refere o parágrafo anterior
dignidade. saúde e segurança, a proteção de seus interesses económicos, a deverão ser fornecidas dentro de IS dias da entrega, sob recibo, dos respecti-
melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmoníá vos requerimentos. e só poderão ser utilizadas para a ínstrução da ação civil.
das relações de consumo, atendidos os seguíntes princípíos: § 32 . Somente nos casos em que o interesse público, devidamente jus-
.. " tificado, ímpuser sigilo. poderá ser negada certidão ou informação.
"Art. 39 ....
§ 42. Ocorrendo a hlpótese do parágrafo aotenor, a ação poderá ser
proposta desacompaobada das certidões ou informações negadas, cabendo
ao juiz, após apreciar os motivos do indeferimento. e, salvo quando se tratar
"XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação de razão de segurança nacional, requiSitar umas e outras; feita a requisição,
ou deixar a fixação de seu termo ínicial a seu excluslvo cnteno." o processo correrá em segredo de justiça. que cessara com o trânsito em
"Art. 82. Para os fins do artigo 81, parágrafo ÓIlico, são legitimados julgado da sentença.
concorrentemente:
.. . § S2. Fica facultado aos demais legitimados atívos habilitarem-se
como litisconsortes nas ações propostas por qualquer deles.
"Art. 91. Os legitimados de que trata o artigo 82 poderão propor, em § 6". Em caso de desistência ou abandono da ação, qualquer dos co-
nome próprio e no interesse das vítimas ou seus sucessores, ação civil co- legitimados pode assumrr a tltularidade atíva.
letiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo Art. 4". A sentença terá eficácia de coisa Julgada oponível erga omnes,
com o disposto nos artigos seguintes." exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência
"Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legi- de prova, hIpótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação
timados de que trata o artlgO 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações com idêntiCO fundamento, valendo-se de nova prova.
já tiverem sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuíza- § 12 • A sentença que conclurr pela carência ou pela improcedência da
mento de outras execuções. ação fica sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
." depois de confinnada pelo tribunal.
Art. SO. Ficam convalidados os atas praticados com base na Medida § 2Jl, Das sentenças e decisões proferidas contra o autor da ação e
Provisória n. 8S4, de 26 de Janeiro de 1995. suscetíveis de recurso, poderá recorrer qualquer legíttmado attvo, Inclustve
Art. 92. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. o Mimstério Público.
826 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 827

Art 5". O Mimstério Público intervirá obrigatoriamente nas ações pu- Art. 22 • As ímportâncias decorrentes da condenação. na ação de que
blicas. coletivas ou individuais, em que se discutam interesses relacionados trata esta leí. reverterão aos investidores lesados. na proporção de seu pre-
a deficiêncía das pessoas. juÍZo.
Art. 6". O Ministério Público poderà instaurar. sob sua presidência; § I". As importâncias a que se refere este artigO ficarão depositadas
inquérito civil. ou requisitar. de qualquer pessoa fisica ou juridica, públicá em conta remunerada. á disposição do juízo. até que o investidor. convo-
ou particular. certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que aS- cado mediante edital, habilite-se ao recebimento da parcela que lhe couber.
sinalar. não inferior a 10 dias úteis. § 2.!l, Decairá do direito à habilitação o investidor que não o exercer
§ 12 • Esgotadas as diligências. caso se convença o órgão do Ministéno no prazo de dOiS anos, contado da data da publicação do edital a que alude
Público da ineXistência de elementos para a propositura de ação civil, pro, o parâgrafo anterior, devendo a quantia correspondente ser recolhida como
movem fundamentadamente o arquivamento do inquérito CIvil. ou das peçaS receita da União.
infonnatívas. Neste caso, deverá remeter a reexame os autos ou as respec~ Art_ 3". Á ação de que trata esta Lei aplica-se, no que couber. o dis-
tivas peças, em três dias, ao Conselho Superior do Ministério Público, que posto na Lei n. 7.347, de 24.7.85.
os examinarâ, deliberando a respeito. conforme dispuser seu Regímento .. Art. 4". Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
§ 22 • Se a promoção do arqUivamento for reformada, o Conselho Art. 5". Revogam-se as disposições em contrano.
Supenor do Ministério Público designam desde logo outro orgão do
Ministério Público para o ajuízamento da ação.
Art 72 • Aplicam-se á ação civil pública. prevista nesta Lei. no que LEI N. 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990
couber. os dispositivos da Lei n. 7.347, de 24.7.85.
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. e dá outras
providências.
LEI N. 7.913, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1989
Capitulo V
Dispõe sobre a ação cívil pública de responsabilidade por danos cau- Do Mimstério Público
sados aos investídores no mercado de valores mobiliários.
Art. 201. Compete ao Ministério Público:
Art. I". Sem preJuÍZo da ação de indenização do prejudicado, o
Ministério Público. de oficio ou por solicitação da Comissão de Valores
Mobiliários - CVM, adotarà as medidas judiciaiS necessanas para evitar v - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção
prejufzos ou obter ressarcimento de danos causados aos titulares de valores dos ínteresses individuaís. difusos ou coletivos. relativos à inf'ancia e à ado-
mobiliários e aos investidores do mercado, especíalmente quando decorre- lescêncía. inclusive os definidos no art. 220, § 3', inciso II. da Constituição
rem de: Federal;
I - operação fraudulenta, pràtica não eqüitativa, manipulação de pre-
ços ou criação de condições artificiais de procura. oferta ou preço de valo-
Capitulo VII
res mobiliários:
Da proteção judicial dos interesses individuazs, difusos e coletivos
II - compra ou venda de valores mobiliários, por parte dos adminis-
tradores e aClOnistas controladores de companhia aberta, utilizando-se de Art 208. Regem-se pelas dispOSições desta Lei as ações de respon-
ínformação relevante~ ainda não divulgada para conhecimento do mercado sabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente,
ou a mesma operação realizada por quem a detenha em razão de sua profis- referentes ao não oferecimento ou oferta irregular:
são ou função, ou por quem quer que a tenha obtido por intermédio dessas I - do ensino obrigatório;
pessoas; II - de atendiniento educaCional espeCializado aos portadores de de-
III - omissão de informação relevante por parte de quem estava obri- ficiência;
gado a divulgâ-la, bem como sua prestação de forma incompleta, falsa ou III -:de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis
tendenciosa. anos de idade;
828 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 829

N - de ensino noturno regular, adequado as condições do educando; Ar!. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esta LeI,
V - de programas suplementares de oferta de material didático eSCt>- são admlssiveis todas as espéCIes de ações pertinentes.
lar. transporte e assistência à saúde do educando do ensino fundamental; § 1Sl, Aplicam-se ás ações prevístas neste capítulo as normas do
VI - de servíço de assistência social visando â proteção à família, â Código de Processo Civil.
maternidade, á inIancia e à adolescência., bem como ao amparo às crianças § 22 , Contra atos ilegaIS ou abusivas de autoridade pública ou agente
e adolescentes que dele necessitem; de pessoa jurídica no exercicio de atribuíções do Poder Público. que lesem
VII - de acesso às ações e serviços de saude; direit~ líquido e certo previsto nesta Leí. caberã ação mandamental. que se
VIII - de escolanzação e profissionalização dos adolescentes priva- regera pelas nonnas da lei do mandado de segurança.
dos de liberdade. Ar!. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação
§ 12. AJ; hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judi- de fazer ou não fazer, o juiz concederã a tutela específica da obrigação ou
cial outros Ínteresses individuais, difusos ou coletivos, próprios da lnf'ancia determinarà providêncías que assegurem o resultado prátíco equivalente ao
e da adolescência. protegidos pela Constituição e pela leí. (Renumerado do adimplemento.
pela Le. n. 1l.259/2005) § 12 • Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo Justificado
§ 22. A investigação do desaparecimento de cnanças ou adolescentes receio de ineficâcia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela
sem realizada imediatamente após notificação aos órgãos competentes. que limínarmente ou apõs justificação previa, citando o réu.
deverão notificar o fato aos portos. aeroportos. Polícia Rodoviária e com- § 22 , O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença,
panhias de transporte interestaduais e internacionais. fornecendo-lhes todos impor multa diária ao réu. independentemente de pedido do autor, se for
os dados necessãrios à identificação do desaparecido. (Acrescentado pela suficiente ou compatível com a obrigação. fixando prazo razoável para o
Lei n. 1l.259/2005) cumpnmento do preceito.
Art. 209. AJ; ações previstas neste capítulo serão propostas no foro § 32 • A multa só será exigível do réu após o trânsito em Julgado da
do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omíssão, cujo juízo terá sentença favorável ao autor. mas serâ devida desde o dia em que se houver
competêncía absoluta para processar a causa, ressalvadas a competêncía da configurado o descumprimento.
Justiça Federal e a competência origmáría dos Tribunais Superiores. Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo
Art 210. Para as ações CÍveis fundadas em interesses coletivos ou Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectIvo Município.
difusos, consideram-se legitimados concorrentemente: § 1 2 • AJ; multas não recolhidas até 30 dias após o trânsito em julgado
I - o Ministêno Público; da deCIsão serão exigidas através de execução promovida pelo Ministéno
II - a União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal e os Terri- Público. nos mesmos autos. facultada igual inícíativa aos demaIS legitimados.
tórios; § 22 , Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheIrO ficará de-
fi - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e positado em estabelecimento ofiCÍal de crédito. em conta com correção
que incluam entre seus fins institucionaís a defesa dos interesses e direitos monetária.
protegidos por esta lei, dispensada a autorização da assembléia, se houver , Art. 215. O juíz poderá conferir efeito suspenSiVO aos recursos, para
prévia autorização estatutária. eVItar dano irreparável à parte.
§ 12. Admitir-se-a litisconsórcio facultativo entre os Ministérios PÚ- Art. 216. TransItada em julgado a sentença que impuser condenação
blicos da União e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que ao Poder Público, o juiz determínarã a remessa de peças â autoridade com-
cuida esta Lei. petente, para apuração da responsabilidade CIvil e administrativa do agente
§ 2Sl. Em caso de desistência ou abandono da ação por assocíação le- a que se atribua a ação ou omissão.
gitimada. o Ministério Público ou outro legitimado poderá assumir a tItu- Art. 217. Decorridos 60 dias do trânsito em julgado da sentença conde-
laridade ativa. natória sem que a associação autora lhe promova a execução. deverã fazê-lo
Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interes- o Ministério Público, facultada igual inicÍatíva aos demais legitimados.
sados compromisso de ajustamento de sua conduta âs exigêncías legaís. o Ar!. 218. O JUIz condenará a asSOCIação autora a pagar ao réu os ho-
qual terá eficacia de título executivo extrajudicial. norários advocaticios arbitrados na confonnidade do § 42 do art. 20 da LeI
830 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITIlCIONAlS APÉNDICE 831

n. 5.869, de 11.1.73 - Código de Processo Civil quando reconhecer que a LEI N. 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990
pretensão e manifestamente infundada.
Parágrafo único. Em caso de litígãncia de má-fé, a associação autora Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.
e os díretores responsáveIs pela propositura da ação serão solidariamente
TITULOm
condenados ao décuplo das custas, sem prejuizo de responsabílídade por
DA DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO
perdas e danos.
Art. 219. Nas ações de que trata este capítulo, não havem adiant;~ CapitulaI
menta de custas, emolumentos, honorãrios periciaís e quaisquer outras des~ Disposições gerais
pesas. Art. 81. A defesa dos ínteresses e direitos dos consumidores e das
Art. 220. Qualquer pessoa podem e o servidor público devem pro- vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletIvo.
vocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe infonnações sobre Parágrafo Unico. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
fatos que constituam obJeto de ação civil. e índicando-lhe os elementos de I - ínteresses ou direitos difusos, assÍm entendidos, para efeitos deste
convicção. Código. os tran5índividuais, de natureza indivísível, de que sejam títulares
Art. 221. Se, no exercícío de suas funções, os juizes e tribunais tive- pessoas indetermínadas e ligadas por circunstâncias de fato;
rem conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura de ação civil, II - ínteresses ou direítos coletivos, assim entendidos, para efeitos
remeterão peças ao Ministério Público para as providências cablveis. deste Código. os transindividuais de natureza indiVIsível de que seja tItular
Art. 222. Para instruir a petição micial, o interessado poderá requerer grupo. categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte con-
às autoridades competentes as certidões e informações que julgar necessà- traria por uma relação jurídica base;
rias, que serão fornecidas no prazo de 15 dias. . m- ínteresses ou direitos Índividuais homogêneos. assÍm entendidos
Art. 223. O Ministério Público podem instaurar, sob sua presidência. os decorrentes de origem comum.
inquérito civil,. ou requísítar, de qualquer pessoa, organísmo público ou par- Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitunados con-
ticular, certidões, informações, exames ou perídas, no prazo que assinaIar~ correntemente: (redação dada pela Lei n. 9.008, de 213.95)
o qual não padeci ser inferior a 10 dias úteis. I - o Ministério Público;
§ 12 • Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, II - a União. os Estados, os Municipios e o Distrito Federal;
se convencer da inexístêncía de fundamento para a proposítura da ação m - as entidades e órgãos da Administração Pública, díreta ou índi-
cível, promoverá o arquivamento dos autos do ínquérito civil ou das peças reta. aInda que sem personalidade jurídica. especificamente destínados à
informativas, fazendo-o fundamentadamente. defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código;
§ 22 , Os autos do inquérito civil ou as peças de informação arquivados IV - as associações legalmente constituídas hã pelo menos um ano e
serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de três que incluam entre seus fins instituCionais a defesa dos interesses e direitos
dias, ao Conselho Supenor do Minísténo Público. protegidos por este Código, dispensada a autorização assemblear.
§ 32 • Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de arquiva- § 12 . O requiSIto da pré-constituição pode ser dispensado pelo JUIZ,
mento, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, poderão nas ações previstas no art. 91 e ss., quando haja manifesto ínteresse social
as assocíações legítímadas apresentar razões escritas ou documentos, que evídendado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do
serão Juntados aos autos do inquêrito ou anexados às peças de ínformação. bem jurídico a ser protegido.
§ 4". A promoção de arquivamento sem submetida a exame e delibe- § 22 • (Vetada)
ração do Conselho Superior do Mínísténo Público, conforme dispuser o § 3", (Vetada)
seu Regimento. Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este
§ 52, Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de Código são admlssiveis todas as espêcies de ações capazes de propiciar sua
arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público adequada e efetíva tutela.
para o ajuizamento da ação. Parágrafo único. (Vetado)
Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições Art. .84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação
da Lei n. 7.347, de 24.7.85. de fazer ou não fazer, o jUlZ concederá a tutela específica da obrigação ou
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇOES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 833
832

determinará providências que assegurem o resultado pràtico equivalente ao Art. 92. O Ministério Público. se não ajuizar a ação. atuará sempre
como fiscal da lei.
do adimplemento.
§ 10. A conversão da obrigação em perdas e danos somente será ad- Parágrafo único. (Vetado)
mísslvel se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a Art. 93. Ressalvada a competênCIa da JustIÇa Federal, é competente
obtenção do resultado prático correspondente. para a causa a Justiça local:
§ 2". A mdenização por perdas e danos se fará sem prejuizo da multa I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de
(art. 287 do CPC). âmbito local;
§ 3". Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado II - no foro da Capital do Estado ou no do Distnto Federal, para os
receio de ineficácia do provimento final, ê lícito ao jmz conceder a tutela danos de âmbito nacional ou regional. aplicando-se as regras do Código de
liminannente ou após justificação prévia. citado o reu. Processo Civil aos casos de competência concorrente.
§ 4". O JUiz poderá, na hipótese do § 3" ou na sentença, impor multa Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim
diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficíente ou de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes,
compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento sem prejuizo de ampla divulgação pelos meios de comunÍcação socíaI por
do preceito. parte dos órgãos de defesa do consumidor.
§ SO. Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será gene-
equivalente, podem o juiz determinar as medidas necessárias, tais como rica. fixando a responsabilidade do reu pelos danos causados.
busca e apreensão. remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, Art. 96. (Vetado)
impedimento de attvidade nociva, além de requisição de força policiaL Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promo-
Art. 85. (Vetado) vidas pela vítima e seus sucessores, assim como pelos legitimados de que
Art. 86. (Vetado) trata o arl. 82.
Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este Código não haverá Parágrafo único. (Vetado)
adiantamento de custas, emolumentos. honorários periciais e quaisquer ou- Art. 98. A execução podem ser coletiva, sendo promovida pelos le-
tras despesas. nem condenação da associação autora. salvo co~provada gitimados de que trata o art. 82. abrangendo as vítimas cujas indenizações
má-fé. em honorários de advogados, custas e despesas processuais. já tiverem sido fixadas em sentença de ljquidação, sem prejuízo do ajuíza-
Parágrafo úníco. Em caso de litígância de ma-fé, a associação autora menta de outras execuções. (redação dada pela Lei n. 9.008/95)
e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidanamente § 12 , A execução coletíva far-se-a com base em certidão das sentenças
condenados em honoràrios advocatícios e ao décuplo das custas, sem pre- de liquidação, da qual deverà constar a ocorrêncía ou não do trânsito em
juízo da responsabilidade por perdas e danos. julgado.
Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo úníco, deste Código, a ação § 22 , E competente para a execução o juizo:
de regresso podem ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possi- I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de
bilidade de prosseguír-se nos mesmos autos. vedada a denunciação da lide. execução individual;
Art. 89. (Vetado). II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.
Art. 90. Aplicam-se as ações previstas neste titulo as normas do Art. 99. Em caso de concurso de créditos decorrentes de condenação
Código de Processo Civil e da Lei n. 7.347, de 24.7.8S, inclusive no que prevista na LeI n. 7.347, de 24.7.8S, e de indenizações pelos prejuizos In-
respeita ao ínquerito civil. naquilo que não contrariar suas disposições. dividuais resultantes do mesmo evento danoso, estas terão preferêncía no
pagamento.
CapimlolI Parágrafo único. Para efeito do disposto neste artigo, a destinação da
Das ações coletivas para a defesa de ínteresses individuaís homogéneos importância recolhida ao fundo cnado pela LeI n. 7.347, de 24.7.85, ficará
Art. 91. Os legitimados de que trata o ar!. 82 poderãO propor, em sustada enquanto pendentes de decisão de segundo grau as ações de in-
nome prõprio e no interesse das vítimas ou seus sucessores, ação cívíl co- denízação pelos danos individuais. salvo na hipótese de o patrimõmo do
leliva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo devedor ser manifestamente suficiente para responder pela integralidade
com o disposto nos artigos seguintes. (redação dada pela LeI n. 9.008/95) das dívidas.
834 MANDADO DE SEGURANCAE ACÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 835

Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessa_ III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para bene-
dos em nUmero compatível com a gravidade do dano, poderão os legítíma_ ficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inc. III do parâgrafo
dos do art. 82 promover a liquidação e execução da IOderuzação devida. único do art. 81.
Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o § 1Q. OS efeitos da coisa julgada preVIstos nos InCS. I e II não preJu-
fundo cnado pela Lei n. 7.347, de 24.7.85. dicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do
grupo, categoria ou classe.
Capitulo 111 § 2.ll. Na hipótese prevista no inc. III. em caso de 1IDprocedência do
Das ações de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços pedido, os interessados que não tiverem intervíndo no processo corno litis-
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produ- consortes poderão propor ação de indenização a título individuaL
tos e servíços, sem prejuízo do disposto nos caps. I e II deste título, serão § 3·, Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combmado
com o art. 13, da Lei n. 7.347, de 24.7.85, não prejudicarão as ações de in-
observadas as seguintes normas:
denização por danos pessoalmente sofridos. propostas individualmente ou
I - a ação pode ser proposta no domIcílio do autor~
na forma prevlsta neste Código. mas, se procedente o pedido, beneficiarão
II - o reu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá as vitimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execu-
chamar ao processo o segurador. vedada a Íntegração do contraditório pelo ção, nos termos dos arts. 96 a 99.
Instituto de Resseguros do BrasiL Nesta hipótese, a sentença que julgar
§ 4". Aplica-se o disposto no parágrafo antenor à sentença penal con-
procedente o pedido condenará o reu nos termos do art. 80 do CPC. Se o
denatóna.
reu houver sido declarado falido. o síndico será intimado a informar a exis-
Art. 104. As ações coletivas, previStas nos incs. I e II do parágrafo
têncía de seguro de responsabilidade. facultando-se, em caso afirmativo, o
ajulzamento de ação de índenização diretarnente contra o se.gura~or. veda- único do art. 81. não Índuzem litispendência para as ações individuais. mas
da a denuncíação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasll e dIspensado os efeitos da COIsa julgada erga omnes ou uftra partes a que aludem os ines.
II e III do artigo antenor não beneficiarão os autores das ações individUaiS,
o litisconsórclo obrigatório com este.
se não for requerida sua suspensão no prazo de 30 dias, a contar da ciência-
Art. 102. Os legitimados a agIr na forma deste Código poderão propor nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
ação visando a compelir o Poder Público competente a proibir, em todo o
temtório nacional. a produção. divulgação. distribuição ou venda. ou a de-
termínar alteração na composição, estrutura. fórmula ou acondiclonamento TÍTULO VI
de produto, cujo uso ou consumo regular se revele nOClVO ou perigoso â DISPOSIÇÕES FINAIS
salide pública e à incolumidade pessoaL Ar!. 109. (Velado)
§ 1'. (Velado) Ar!. 110. Acrescente-se o seguinte mc. IV ao art. I" da Lei n. 7.347,
§ 2'. (Velado) de 24.7.85:
"IV - a qualquer outro interesse difuso ou colettvo",
Capitulo IV
Ar!. 111. O inc. II do art. 5" da Lei n. 7.347, de 24.7.85, passa a ter a
Do cOIsa julgoda
seguIOte redação:
Ar!. 103. Nas ações coleuvas de que trata este Código, a sentença fará "II - inclua, entre suas finalidades Ínstitucionais, a proteção ao meio
coisa julgada: ambiente, ao consumidor. ao patrimômo artístico. estétlco, hístÓrico. turis-
I - ergo omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por in- tíco e palsagistico, ou a qualquer outro interesse difuso ou coletIvo".
suficiênCIa de provas. hlpótese em que qualquer legitimado podera m~e~tar Ar!. 112. O § 3. do art. 52 da Lei n. 7.347, de 24.7.85, passa a ter a
outra ação, com idêntico fundamento. valendo-se de nova prova. na hlpote- seguinte redação:
se do inc. I do parágrafo único do ar!. 81; "§ 32 Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por
II - uftra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ~u classe, associação legItimada, o Ministério Público ou outro legitimado assurrurâ
salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos ~o mCIS? ~­ a lItularidade ativa".
terior, quando se tratar da hÍpótese prevista no me. II do paragrafo umco Ar!. 113. Acrescentem-se os seguintes §§ 4', 5" e (5l! ao art. 5" da Lei
do art. 81; n. 7.347, de 24.7.85:
836 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 837

"§ 4", O requisito da pré-constituíção poderá ser dispensado pelo juiz, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distnto Federal, dos
quando haja manifesto interesse sOClal evidenciado pela dimensão ou ca- Municipios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público
racterística do dano, ou pela relevância do bernjurídico a ser protegido. ou de entidade para cuja criação ou custem o erário haja concorrido ou con-
«§ 5!l. Admítlr-se-à o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios corra com maís de 50% do patrimõniO ou da receita anual, serão punidos
Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interes- na forma desta Lei.
ses e direitos de que cuida esta Leí. Parágrafo único. Estão também SUjeitos âs penalidades desta LeI os
"§ 6", Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos mteressados atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba
compromisso de ajustamento de sua conduta às exígências legais, mediante subvenção, beneficio ou mcentivo, fiscal ou creditício, de õrgão público
comínações. que terá eficácia de título executivo extrajudicIal". bem como daquelas para cuja criação ou custelO o erário haja concorrido ou
Art. 114, O art 15 da Lei n, 7,347, de 24,7,85, passa a ter a seguinte concorra com menos de 50% do patrimôruo ou da receita anua~ limitando-
redação: se, nestes casos, a sanção patrimonial á repercussão do ilícito sobre a con-
"Art, 15, Decorridos 60 dias do trânsito em Julgado da sentença conde- tribuição dos cofres públicos.
natóna. sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo Art, 2', Reputa-se agente público, para os efeItos desta Lei, todo
o Minístério Público, facultada Igual íniciatíva aos demaIs legItImados", aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por
Art 115, Suprima-se o caput do ar!. 17 da Lei n, 7,347, de 24,7,85, eleição, nomeação, designação. contratação. ou qualquer outra forma de
passando o parngrafo úmco a constituír o caput, com a seguinte redação: investidura ou vínculo, mandato, cargo. emprego ou função nas entidades
"Art. 17. Em caso de litigãncia de má-fé, a danos'" menCIonadas no artigo anterior.
Art 116. Dê-se a segumte redação ao art. 18 da Lei n. 7,347, de Art. 3.!1..As dispasíções desta Lei são aplicàvels. no que couber, àquele
24.7.85: que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática
"Art, 18. Nas ações de que trata esta lei, não havere adiantamento
do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou
de custas, emolumentos~ honorârios periciaiS e quaisquer outras despesas, indireta.
nem condenação da associação autora. salvo comprovada má-fé, em honow
rârios de advogado, custas e despesas processuais". Ar!. 4". Os agentes públicos de qualquer nível ou hIerarqUIa são obri-
gados a velar pela estrito observãncía dos princípios de legalidade, im-
Art, 117. Acrescente-se á Lei n. 7.347, de 24.7.85, o seguínte disposi-
pessoalidade. moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhes são
tivo. renumerandowse os seguintes:
afetos.
"Art. 21. Aplicam-se á defesa dos direitos e interesses difusos, cole-
tivos e individUaIS, no que for cabivel, os dispositivos do Til. III da lei que Art 5'l. Ocorrendo lesão ao patrirnônío público por ação ou omissão,
instituiu o Código de Defesa do Consumidor", dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarci-
mento do dano.
LEI 8,429, DE 2 DE JUNHO DE 1992 Art. @!. No caso de enriquecimento ilícito. perderâ o agente público
ou terceiro beneficiário os bens ou valores acrescidos ao seu patnmônio.
Dispõe sobre as sanções aplicàvezs aos agentes públicas nos casas Art. 79., Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio pu-
de enriquecimento ilícita no exerdcio de mandato. cargo. emprego ou fun- blico ou ensejar enriqueCImento ilícito. caberã à autoridade administrattva
ção na Admmistração. Pública direta. indireta o.ufundacional e dá outras responsável pelo inquérito representar ao Ministéno Público, para a mdisw
providências. ponibilidade dos bens do indiciado.
Capitulo! Parágrafo unica. A índisponibilidade a que se refere o caput deste ar-
Das DispOSIções Gerais tigo recaírá sobre bens que assegurem o integrai ressarcimento do dano. ou
sobre o acréscimo patnrnonial resultante do enriquecimento ilícito.
Art, 1'. Os atas de improbidade praticados por qualquer agente públi-
co, servidor ou não. contra a Administração direta, mdireta ou fundacíonal Art. 8'. O sucessor daquele que causar lesão ao patnmôrno público ou
se ennquecer ilicítamente está sujeito as cominações desta Lei até o limite
6. Truncado na publicação oficial do valor da herança.
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇOES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 839
838

Capítulo II . IX - perceber vantagem econômica para mtermediar a liberação ou


Dos Atas de Improbidade Administrativa aplicação de verba pública de qualquer natureza;
X - receber vantagem econôrnica de qualquer natureza, direta ou indi-
Seção I re~ente. para omítir ato de oficio, providência ou declaração a que esteja
Dos atos de improbidade admmistrativa obngado;
que tmportam enriquecímento ilícito
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patnmônio bens rendas
Art. 9ft• Constitui ato de improbidade administrativa importando enri· verbas ou valores integrantes do acervo patrImonial das entidades ~encio~
quecimento ilícito aufenr qualquer tipo de vantagem patnmonial indevida nadas no art. I" desta Lei;
em razão do exercício de cargo~ mandato, função, emprego ou atlvidade nas XII - usar. em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores inte-
entidades mencionadas no art. 1R desta Lei. e notadamente: grantes do acervo patrimonial das entidades menCIonadas no art. 1Q desta
1- receber, para si ou para outrem. dinherro. bem móvel ou imóvel. ou Lei.
qualquer outra vantagem econômÍca, direta ou indireta. a titulo de comis-
Seção . I!
são, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto
Dos atos de Hnprobidade admmlstratíva que causam prejuízo ao erário
ou indireto. que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decor-
rente das atribuições do agente público; ~rt 10. Constitui ato de tmprobidade administrativa que causa lesão
I! _ perceber vantagem econômlca, direta ou indireta, para facilitar a ao erano. qualque.r ação ou. omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
aquisição. permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação patrimomaí. desvIO, apropnação, malbaratamento ou dilapidação dos bens
de servíços pelas entidades referidas no art. 1Q por preço superior ao valor ou haveres das entidades referidas no art. 12 desta LeI, e notadamente:
de mercado~ , I =- facilitar ou concorrer por qualquer forma para a íncorporação ao
rn _perceber vantagem econômica. direta ou indireta, para facilitar a patnmomo partIcular. de pessoa física ou jurídica. de bens. rendas, verbas
alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de servi- ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades menCiOnadas no
ço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado: ar!. 1ft desta LeI;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular. veículos. máquinas. equi- .. II - permitir ou concorrer para que pessoa fíSIca ou jurídica privada
pamentos ou matenal de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição utilize ?ens, rendas.. verbas ou va[ore~ íntegrantes do acervo patrimonial
de qualquer das entidades mencionadas no art. 1Sl desta Lei, bem como o das ~ntldades menCionadas no art. 12 desta Lei, sem a observânCIa das for-
trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por malIdades legaIS ou regulamentares aplicáveis á espéCIe;
essas entidades; . III - doar á pessoa fiSIca ou jurídica bem como ao ente despersona-
V _ receber vantagem econômica de qualquer natureza. direta ou in- lIzado, amda que de fms educativos ou assístenciaÍs, bens, rendas, verbas
direta, para tolerar a exploração ou a prática de Jogos de azar. de lenocinio, ou valores do patnmônio de qualquer das entidades mencionadas no art.
de narcotráfico. de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade
1ft de,sta L~í, sem observância das fonnalidades legais e regulamentares
ilícita. ou aceitar promessa de tal vantagem~ aplIcavels a espeCle~
VI _ receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou m-
IV - permítír ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem in-
direta. para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras
tegrante do patnmônío de qualquer das entidades referidas no ar!. I" desta
públicas ou qualquer outro sefV1ço, ou sobre quantidade, peso, medida.
Lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao
qualidade ou caracteristlca de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer
de mercado;
das entidades mencionadas no art. 111 desta Lei;
VII - adquirir, para sí ou para outrem, no exercido de mandato, car- , V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou
go, emprego ou função pública. bens de qualquer natureza cUJO valor seja servIço por preço superior ao de mercado;
desproporcIOnal à evolução do patnmônio ou à renda do agente público; VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atívidade de consultaria regulamentares ou aceItar garantis msuficlente ou inidônea'
ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse sus- VI! - conceder beneficIO adminlstranvo ou fiscal sem a observàncJa
cetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à especie~
atribUIções do agente público, dunmte a atividade;
840 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 841

VIII - frustrar a licitude do processo licitatório ou dispensà-lo inde- Capítulo 111


vidamente~ Das Penas
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em Art. 12. Independentemente das sanções penais. civis e administrati w

lei ou regulamento; vaso preVIstas na legíslação específica, está o responsável pelo ato de im w

X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem probidade sujeito às seguintes cominações:
como no que diz respeíto á conservação do patrimônio público; I - na hipótese do art. 92 , perda dos bens ou valores acrescidos ili w

XI -liberar verba pública sem a estrita observância das normas perti- citamente ao patnmôruo. ressarcimento integra! do dano. quando houver,
nentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular; perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 8 alO anos,
Xli - permitir. facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça pagamento de multa civil de até 3 vezes o valor do acréSCImo patrimonial e
ilicitamente; proibição de contratar com o Poder Público ou receber beneficios ou incen-
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veiculas. tívos fiscais ou crediticios. direta ou índiretamente. ainda que por interme-
máquinas. equipamentos ou material de qualqu~r natureza. de propnedade dio de pessoajuridica da qual seja sócio majontàno, pelo prazo de 10 anos;
ou à disposição de qualquer das entidades menCIOnadas no art. l!l desta Leí, II - na hipótese do ar!. 10, ressarcimento integral do daoo, perda dos
bem como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros contra- bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio. se concorrer esta cir-
tados por essas entidades; cuostância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de CfiCO
XN - celebrar contrato ou outro instrumento que tenba por objeto a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e
a prestação de serviços públicos por meío da gestão associa.da sem obser w
proibíção de contratar com o Poder Público ou receber beneficios ou incen-
var as formalidades previstas na lei; (acrescentado pela Lei n. 11.107, de tivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio
6.4.2005. art. 18) de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritârio, pelo prazo de cinco anos;
XV - celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e III - na hipótese do art. II, ressarCImento mtegral do dano, se houver,
prévia dotação orçamentária. ou sem observar as formalidades previstas na perda da função pública. suspensão dos direitos polítícos de 3 a 5 anos, pa-
lei. (acrescentado pela Lei n. 11.107, de 6.4.2005. art. 18) gamento de multa civil de até 100 vezes o valor da remuneração percebida
pelo agente e proibíção de contratar com o Poder Público ou receber be-
Seção m neficias ou incentivos fiscais ou creditíclOS, direta ou indiretamente, amda
Dos atas de ímprobidade adminístrativa que atentam
que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário. peta
contra os principiaS da administração pública
prazo de 3 anos.
Art_ 11. Constitui ato de Improbidade admmistrativa que atenta con- Parãgrafo único. Na fixação das penas previstas nesta Lei o juiz levará
tra os principios da Administração Pública qualquer ação ou omissão que em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimoníal
viole os deveres de honestidade. imparcialidade, legalidade, e lealdade às obtido pelo agente.
instituíções. e notadamente:
I - praticar ato visando fIm proibido em lei ou regulamento ou diverso Capítulo IV
daquele previsto. na regra de competêncía~ Da Declaração de Bens
1I- retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de oficiO;
Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicionados
TIl - revelar fato ou circunstância de que tem ciêncía em razão das á apresentação de declaração dos bens e valores que compõem o seu patn-
atribuições e que deva permanecer em segredo; i mônio pnvado, a fim de ser arquívada no Serviço de Pessoal competente.
IV - negar publicidade aos atos ofiCiais; § 12 • A declaração compreendem imóveis, móveis, semoventes. di-
V - frustrar a licitude de concurso público; nheiro, títulos, ações, e qualquer outra especie de bens e valores patrimo-
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo; niais. localizados no pais ou no exterior, e, quando for o caso, abrangerá
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro. ~~ os bens e valores patrimoníais do cônjuge ou companheíro, dos filhos e
. tes da respectiva divulgação oficía1. teor de medida politica ou econômlca de outras pessoas que VIvam sob a dependência econômica do declarante,
capaz de afetar o preço de mercadoria., bem ou serviço. excluídos apenas os objetos e utensílios de uso domestico.
842 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 843

§ 22• A declaração de bens será anualmente atuatizada e na data em que § .2º-, Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o
o agente público deixar o exercicío do mandato, cargo, emprego ou função. ~lo~uelO de bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas peta
§ 3 2• Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço público, mdlcmdo no extenor, nos termos da lei e dos tratados internacíonais.
sem prejuizo de outras sanções cabfveis, o agente público que se reCUsar a Art. 17. A ação prinCIpal, que terá o rito ordinário, será proposta peto
prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a prestar Mimsténo Público ou pela pessoa juridica interessada, dentro de 30 dias da
falsa. efetivação da medida cautelar.
§ 4". O declarante, a seu cntério, poderá entregar CÓplO da declaração § 12 , Ê vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que
anual de bens apresentada à DelegaclO da Receita Federal na conformidade trata o caput.
da legISlação do imposto sobre a renda e os proventos de qualquer natureza, § 2". A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverà as ações ne-
com as necessárias atualizações. para suprir a exigência contida no caput e cessárias à complementação do ressarcímento do patrimônio público.
no § 2" deste artigo. § 32 , No caso de a ação princípal ter sido proposta pelo Ministério
Público, aplica-se, no que couber, o disposto no § 32 do ar!. 6" da Le. n.
Capitulo V
4.717, de 29 de Junho de 1965. (redação dada pela Leí n. 9.366/96)
Do Procedimento Administrativo e do Processo Judicial
§ 49-, O Minístério Público, se não intervir no processo como parte,
Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar â autoridade admimstra- atuarà obrigatoriamente como fiscal da leI, sob pena de nulidade.
tiva competente para que seja instaurada investigação destinada a apurar a § 51.!. A propositura da ação prevenirã a jurisdição do juizo para todas
prática de ato de improbidade. as ações postenormente mtentadas que possuam a mesma causa de pedir ou
§ 12 . A representação. que será escrita ou reduzida a termo e assinada, o mesmo objeto. (acrescentado pela MP n. 2.180-35, de 24.8.2001)
contem a qualificação do representante. as informações sobre o fato e sua §.62. A ação será mstruída com documentos ou justificação que conte-
autana e a indicação das provas de que tenha conhecimento. nham mdícios suficíentes da eXistência do ato de lITIprobidade ou com ra-
§ 2.12. A autoridade administrativa rejeitará a representação, em des- Zões fundamentadas da Impossibilidade de apresentação de qualquer dessas
pacho fundamentado. se esta não contiver as formalidades estabelecidas provas, observada a legíslação VIgente, inclUSIve as dispOSIções inScritas
no § 12 deste artigo. A rejeição não impede a representação ao Ministério nos arts. 16 a 18 do Código de Processo Civil.
Público, nos tennos do art. 22 desta Lei. § 7", Estando a miclOl em devida fonna, o juiz mandara autua-la e
§ 3D.. Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determi- ordenara a notificação do requerido, para oferecer manifestação por eSCrito.
nara a imediata apuração dos fatos que. em se tratando de servidores fede- que poderá ser instruída com documentos e justificações, entro do prazo
raIS, será processada na forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei n. 8.112, de quinze dias.
de 11 de dezembro de 1990, e, em se tratando de servidor militar, de acordo § 82 . Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de tnnta dias, em de-
com os respecnvos regulamentos disciplinares. cisão fundamentada. rejeItará a ação, se convencido da inexístência do ato
Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Minístério de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita.
Público e ao Tribunal ou Conselbo de Contas da eXlstênclO de procedimen- § 92. Recebida a penção ínícíal, serâ o rêu cítado para apresentar con-
to administrativo para apurar a prátIca de ato de improbidade. testação.
Paràgrafo Iimco. O Mimstério Público ou Tribunal ou Conselho de § 10. Da decísào que receber a petição inicial. caberá agravo de ins-
Contas poderá, a requerimento, designar representante para acompanhar o trumento.
procedimento administrativo. , § 11. Em qualquer fuse do processo, reconhecida a inadequação da ação
Ar!. 16, Havendo fundados mdicíos de responsabilidade, a comIssão de Improbidade, o juíz extinguirá o processo sem julgamento do mérito.
representarâ ao Ministério Público ou à Procuradoria do órgão para que § 12. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos pro-
requeira ao JUIzo competente a decretação do seqüestro dos bens do agente cessos regidos por esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 12 , do Código
ou tercerro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patri- de Processo Penal. (§§ 6" a 12 acrescentados pela MP n. 2.225-45. de
mômo público. 4.9.2001)
§ I". O pedido de seqüestro será processado de acordo com o disposto Art. 18. A sentença que Julgar procedente ação CIvil de reparação de
nos arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil. dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinara o paga-
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 845
844

menta ou a reversão dos bens. conforme o caso, em favor da pessoa jurídica LEI N. 10.257. DE 10 DE JULHO DE 2001
(Estatllto da Cidade)
prejudicada pelo ilícito.
Regulamenta os arls. 182 e 183 da Constitwção Federal. estabelece
Capitulo VI
diretrizes gerais da polítíca urbana e dá outras provldências.
Das Disposições Penais
Ar!. 19. Constitui crime a representação por ato de improbidade con· Ar!. 52. Sem prejuizo da punição de outros agentes públicos envolvidos
tra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o e da aplicação de outras sanções cabíveis, o Prefeito incorre em improbidade
sabe inocente: admilllstratIva, nos termos da Lei n. 8.429, de 2 de Junho de 1992. quando:
Pena - detenção de 6 a 10 meses e multa. l-(Vetadol
Parágrafo llilico. Além da sanção penal. o denunciante está sujeIto a II - deIxar de proceder, no prazo de cínco anos, o adequado aproveIta-
indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou á imagem que mento do imóvel incorporado ao patrimônÍo público. conforme o disposto
houver provocado. no § 4" do art. 82 desta LeI;
Ar!. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direItos políticos III - utilizar àreas obtidas por meio do direIto de preempção em desa-
só se efetívam com o trânsíto em julgado da sentença condenatória. cordo com o disposto no art. 26 desta LeI;
Parágrafo Üflico. A autoridade judiciai ou administrativa competente N - aplicar os recursos auferidos com a outorga onerosa do direito
poderá determmar o afastame~t~ do agente públic_o do exercício do ~argo. de constrUIr e de alteração de uso em desacordo com o previsto no art. 31
emprego ou função, sem prejulZo da remuneraçao, quando a medida se desta Lei;
fizer necessâria à instrução processuaL V - aplicar os recursos auferidos com operações consorcíadas em de-
Art. 21. A aplicação das sanções prevIstas nesta Lei independe: sacordo com o previsto no § ln do art. 33 desta Lei;
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público~ VI - ímpedir ou deíx.ar de garantir os requiSItos contidos nos incisos I
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle mtemo a III do § 4" do ar!. 40 desta Lei;
ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas. VII - deixar de tomar as providências necessànas para garantir a ob-
Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o Ministério servância do disposto no § 32 do ar!. 40 e no aIt. 50 desta LeI;
Público, de oficio. a requerimento de autoridade administrativa ou med~an­ VIII - adqUlnr imóvel objeto de direito de preempção. nos termos
te representação formulada de acordo com o dispost? no art. 14, podem re- dos arts. 25 a 27 desta Lei, pelo valor da proposta apresentada, se este for,
quísitar a instauração de inquento poliCIal ou procedImento admInIstrativO. comprovadamente. superior ao de mercado.

Capitulo VII
Da Prescrzção LEI N. 10.628, DE 24 DE DEZEMBRO DE 2002
Art. 23. As ações destinadas a levar a efeito as sanções previstas nesta Altera a redação do art. 84 do Decreto-lei n. 3.689. de 3 de outubro
Lei podem ser propostas: de 1941 - Código de Processo Penal.
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo
em comíssão ou de função de confiança; Art. 1', O art. 84 do Decreto-leI n. 3.689, de 3 de outubro de 1941-
II _ dentro do prazo prescncional previsto em leI específica para faltas Código de Processo Penal, passa a vigorar com a seguinte redação:
disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público. nos casos uArt. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo
de exercído de cargo efetivo ou emprego. Tribunal Federal, do Supenor Tribunal de JustIça, dos Tribunais RegIOnaiS
Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal. relativa-
Capitulo VIII mente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e
Das Disposições Finais de responsabilidade.
Ar!. 24. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. "§ ln. A competência espeCial por prerrogatIva de função, relatIva a
Art. 25. Ficam revogadas as LeIS ns. 3.164, de 12 de junho de 1957. atas admínistratívos do agente, prevalece ainda que o· ínquerito ou a ação
e 3.502. de 21 de dezembro de 1958, e demrus disposições em contr.irio. judicial sejam iniciados apôs a cessação do exercícIO da função pública.
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 841
846

"§ 20 • A ação de improbidade. de que trata a Lei n. 8.429. de 2 de Art. 70. O Poder Público poderã coar Varas especializadas e exclu-
junho de 1992. serã proposta perante o tnbunal compete~te para processar sivas do idoso.
. I ar coominalmente o funcionãrio ou autondade na hlpotese de prerroga- Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e proce-
etiva de foro em razão do exerciclo de funçao publ'lea. ob servad o o di sposto
JU g o - '
dimentos e na execução dos atas e diligências judiCIais em que figure como
oo§l~ . _ parte ou intervemente pessoa com idade igualou supenor a 60 (sessenta)
Art. 2'. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaçao.. . anos, em qualquer instância.
(Ob . P maioria o Plenàno do STF declarou a mconstltuclOnahda- § lO. O mteressado na obtenção da prioridade a que alude este artigo.
de dos §;-io ~~o do art: 84 do CPP. com a redação da Lei n. 10.628/2002. fazendo prova de sua idade. requerem o beneficio á autoridade judiciária
no julgamento das ADlns ns. 2.797-DF e 2.860-DF. em 15.9.2005.) competente para decidir o feito, que determinará as providêncías a serem
cumpridas, anotando-se essa circunstância em local visível nos autos do
processo.
LEI N. 10.671, DE 15 DE MAIO DE 2003
(Estatuto de Defesa do Torcedorj § 22 . A prioridade não cessarâ com a morte do beneficíado. estenden-
do-se em favor do cônjuge supêrstite. companheiro ou companheira, com
Dispõe sobre o Estatuto de Defesa do Torcedor e dá outras providên- união estável, maior de 60 (sessenta) anos.
cias. § 3!!. A prioridade se estende aos processos e procedimentos na
Art. 32.. Para todos os efeitos legais. equiparam-se .a fornecedor. ?-os Adminístração Pública, empresas prestadoras de serviços públicos e instl-
o 8 078 de 11 de setembro de 1990. a entldade responsavel tuíções financeiras, ao atendimento preferencíaljunto á Defensona Pública
tennos da Lei n.. • . d .' d rt
pela organização da competíção. bem como a entIdade e pratIca espo 1- da União. dos Estados e do Distrito Federal em relação aos SefV1ços de
va detentora do mando de jogo. Assistência Judiciária.
(... ). d .. b § 42, Para o atendimento prioritário sera garantido ao idoso o fácil
Art. 40. A defesa dos interesses e direítos dos torce ores em)UlZO o - acesso aos assentos e caixas, identificados com a destinação a idosos em
. e couber a mesma disciplina da defesa dos consumIdores em local vísível e caracteres legíveís.
servara. no qu • d 1990
juizo de que trata o Título m da LO! n. 8.078. de 11 de setembro . e o .
Art. 41. A União. os Estados. o Distrito Federal e os M,uniCiplOS pro- Capitulo II
moverão a defesa do torcedor. e. com a finahdade de fiscahzar o cumpn- Do Ministérzo Público
menta do disposto nesta LeI, poderão:
Art. 72. (Vetado)
I _ constituir orgão espeCializado de defesa do torcedor; ou
II _ atribuir a promoção e defesa do torcedor aos órgãos de defesa do Art. 73. As funções do Ministério Público. previstas nesta Lei. serão
exercidas nos tennos da respectíva Lei Orgânica.
consumidor.
Art. 74. Compete ao Ministério Público:
I - instaurar o mquérito civil e a ação civil pública para a proteção
LEI N. 10.741. DE I' DE OUTUBRO DE 2003
(Estatuto do Idoso) dos direitos e interesses difusos ou coletívos, individuais indisponíveis e
individuais homogêneos do idoso;
Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. TI - promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total
ou parcial. de designação de curador especíal, em círcunstâncias que justifi-
TÍTULO V quem a medida, e oficiar em todos os feitos em que se discutam os direitos
DO ACESSO Â JUSTIÇA de idosos em condições de risco;
Capitulo I m- atuar como substituto processual do idoso em situação de risco,
Disposições gerais confonne o disposto no art. 43 desta Leí;
IV - promover a revogação de instrumento procuratóno do idoso, nas
Art. 69. Aplica-se. subsidiariamente. às disposições de~te Capítulo. o
procedimento sumário previ~to no Código de Processo Clv!l. naqUilo que
hipóteses, prevístas no art. 43 desta LeI, quando necessário ou o interesse
público Justificar;
não contrarie os prazos preVIstos nesta LeI.
848 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇOES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 849

v _instaurar procedimento administrativo e. para ínstrui-lo: Capitulo III


a) expedir notificações. colher depotmentos ou esclarecimentos e, em Da proteção judicial dos interesses difusos
caso de não-comparecimento injustificado da pessoa notificada. requisitar coletivos e individUaIS indisponivels ou homogêneos
condução coercitiva. mclusive pela PoliCia Civil ou Militar; ArL 78. As manifestações processuais do representante do Ministêrio
b) requisitar informações. exames, pericias e documentos de autori- Público deverão ser fundamentadas.
dades mumcipais. estaduais e federais. da Administração direta e índireta, Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsa-
bem como promover mspeções e diligências investigatórias~ bilidade por ofensa aos direitos assegurados ao idoso, referentes â omissão
c) requisitar informações e documentos particulares de instituições ou ao oferecímento ínsatísfatório de:
privadas; I - acesso as ações e serviços de saude; _
VI - Instaurar sindicâncias, requisitar diligências ínvestigatórias e a II - atendimento especíalizado ao idoso portador de deficiência ou
instauração de inqueríto policial, para a apuração de ilícitos ou infrações âs com limitação incapacitante;
normas de proteção ao idoso; m - atendimento especializado ao idoso portador de doença infecto-
Vil - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legaís assegu- contagIosa;
rados ao idoso, promovendo as medidas judiciais e extrajudictalS cabíveís~ IV - serviço de assistência social visando ao amparo do idoso.
VIII _ mspeclOnar as entidades públicas e particulares de atendiroento Paràgrafo Unico. As hipóteses prevístas neste artIgo não excluem da
e os programas de que trata esta Lei. adotando de pronto as medidas admi- pr~teção judicial outrosinteresses difusos. coletivos, mdividuais indisponí-
nistrativas ou judiciaiS necessmas à remoção de irregularidades porventura veis ou homogêneos, próprios do idoso, protegidos em lei.
verificadas; Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do
IX - requisítar força policial. bem como a colaboração dos serviços domicílio do idoso, cujo JUIZO terá competência absoluta para processar
de saude, educacionais e de asSlstêncía social, públicos, para o desempenho a causa, ressalvadas as competências da Justiça Federal e a competênCia
origínària dos Tribunais Superiores.
de suas atribuições;
Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em mteresses difusos. coletl-
X _ referendar transações envolvendo Ínteresses e direitos dos idosos
vos. individuais indisponiveis ou homÇJgêneos, consideram-se legitimados.
previstos nesta Lei. concorrentemente:
§ I". A legitimação do Minísténo Público para as ações cíveIs previs- I - o Mimstério Público;
tas neste artigo não impede a de terceíros, nas mesmas hipóteses, segundo
fi - a União, os Estados. o Distrito Federal e os Municipios~
dispuser a lei. m - a Ordem dos Advogados do Brasil;
§ 2". As atribuições constantes deste artigo não excluem outras. desde
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano
que compatíveis com a finalidade e atribUIções do Ministéno Público.
e que mcluam entre os fins ínstitucionais a defesa dos interesses e direItos
§ 32_ O representante do Ministério Público. no exercício de suas fim- da pessoa idosa. dispensada a autorização da assembléia, se houver prévia
ções. terá livre acesso a toda entidade de atendimento ao idoso. autorização estatutária.
Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuam § 12 , Admitir-se-à litisconsórclo facultativo entre os Minístêrios
obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de Públicos da União e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que
que cuida esta Lei, hipóteses em que terá vísta dos autos depois das partes, cuida esta LeI.
podendo juntar documentos. requerer diligêncIas e produção de outras pro- § 22 . Em caso de desistência ou abandono da ação por associação le-
vas, usando os recursos cabiveis. gítimada. o Ministério Público ou outro legitimado deverá assumir a títu-
Art. 76. A intimação do Ministério Público. em qualquer caso. será laridade ativa.
feita pessoalmente. Art. 82. Para defesa dos ínteresses e direitos protegidos por esta Lei.
Art. 77. A falta de mtervenção do Ministério Público acarreta a nuli- são admissiveis todas as espécies de ação pertinentes.
dade do feIto. que será declarada de oficio pelo juiz ou a requerimento de . Parâgrafo ünico. Cont.ra atas ilegais ou abusivas de autoridade pu-
qualquer ínteressado. blIca ou agente de pessoa jurídica no exercicio de atribuições de Poder
850 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS
APÊNDICE
851
Público, que lesem direito líquido e certo prevísto nesta Lei, cabem.
tos que ~onstítuam ob]eto de ação civil e mdicando-lh I
ação mandamental, que se regerá pelas normas da Lei do Mandado de convlCçao. e os e ementos de
Segurança.
Art. 90. Os agentes públicos em geral " .
Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação cício de suas funções, quando tiverem conh OS,JutZes e Tnbunais. no exer-
de fazer ou não-fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação Ou configurar crime de a ão ública . eclmento de fatos que pOssam
determinará providêncías que assegurem o resultado prático equivalente ao ação para sua defesa, deve~ enca~~~tra idoso Ou ensejar a proposit:rra de
adimplemento. ar
Público, para as providênCias cabiveis. as peças pertInentes ao Mimstério
§ I". Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo Justificado
Arl. 91. Para ÍDStrair a pettção iniclOl ' ,
receio de ineficàcia do provÍmento final, e lícito ao JUIz conceder a tutela â.s autoridades competentes as certidões e lllfio rnter:ss ado podera requer~r
liminarmente ou após justificação prévia, na forma do art 273 do Código nas, que serão fornecidas no praz d 10 (d o~açoes que julgar neceSSa-
de Processo Civil. o e ez) dIas. ,
Art. 92. O Ministéno Público od ,.
§ 2" O juiz poderá. na hipótese do § I" ou na sentença. impor multa ínquerito CIvil ou requisItar de qu i p era mstaurar ~ob sua presidêncIa.
diária ao réu, independentemente do pedido do autor, se for suficiente ou ttcular certidõ'es inCa .: a quer pessoa, orgamsmo público ou par-
• • 1.1 nnaçoes. exames ou penc' .
compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento o qual não poderá Ser inferior a 10 (dez) dias. tas, no prazo que assmalar:,
do preceito. 2
§ 1 . Se o órgão do Mimsténo Público
§ 3". A multa s6 será exigível do réu após o trânsito em julgado da se, convencer da mexistêncía d fimd . esgotadas todas as diligências.
sentença favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver CIVIl. ou de peças ínfonnativas de t amento para a p
_._ _ raposl'tura d a açao
-
configurado. fundamentadamente. . e ermmara o Seu arqUivamento, fazendo-o
Art. 84. Os valores das multas previstas nesta Le, reverterão ao 2
§ 2 Os autos do mquérito c,vil ou as d' _
Fundo do Idoso, onde houver, ou, na relta deste, ao Fundo MuniCipal de dos serão remetidos sob pena d _ peças e mformaçao arquiva_
AsSIstênCIa Social. ficando vinculados ao atendimento ao idoso. . e se mcorrer
3 (três) dias. ao Conselho Su erior do M' em falta
• . .grave, no prazo de
Parágrafo umco. As multas não recolhidas até 30 (trinta) dias após o Coordenação e Revisão do M~nistérío Pú~~~~~no PublIco ou â Câmara de
trânsíto em julgado da decisão serão ex.igidas por meio de execução pramo~ 2
§ 3 , Até que sela homologado ou reeitado o
vida pelo Ministério Público. nos mesmos autos, facultada 19ual iniciativa Conselho Supenor do Minísténo P' bl" ' ,arquIVamento, pelo
aos demaís legitimados em caso de ínércia daquele. e Revísão do Minlsténo P 'bI" u ~co_ou_por C~r:nara de Coordenação
Art. 85. O juiz poderá conferir efeito suspenslVo aos recursos, para sentar razões escritas ou :oc~:~: assocmçoe..s legItImadas poderão apre-
evitar dano irreparável à parte. peças de informação. os. que serao Juntados Ou anexados às
Art. 86. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao , § 4". De,xando o Conselho Supenor u C _
Poder Público. o Juiz determmará a remessa de peças à autoridade compe- Revisão.do Ministério Público de h I o a amara de Coordenaçao e
tente, para apuração da responsabilidade civil e admirustratíva do agente a serà deSignado outro membro do M~:~t~~:p~b~~moção de ~quívamento,
que se atribua a ação ou omissão. ação. co para o ajUlZamento da
Art. 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sen-
tença condenatória favorãvei ao idoso sem que o autor lhe promova a exe-
cução. deverá fazê-lo o Ministério Público. facultada ,gualmictatíva aos PROJETO DE EMENDA CONSTITUCIONAL
demaís legitimados. como assistentes ou assumindo o pólo ativo, em caso DO SENADOR JUTAHY MAGALHÃES
de ínercía desse orgão.
Dê-se ao lOciso III do art 129 a seguinte red - .
Arl. 88. Nas ações de que trata este Capitulo, não haverá adianta- uArt 129 S- fim açao.
mento de custas, emolumentos. honorários periciais e quaisquer outras " . . ao ções do Ministéno Público:
despesas.
"ID-romovero' "_. -
Parâgrafo únIco. Não se imporo sucumbência ao Ministério Público. da exclusiv~mente para~~~:~:o_cl~l e a açã~ c~vil ~ú~1ica que será utiliza-
Art. 89. Qualquer pessoa poderá. e o servidor deverá, provocar a ambiente e de outros interesse;:fu~ patnm~mo pUbl:co e s.ocmI. do meio
iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os fa- direitos individuais homogêneos disp~~:e~~..~tlVoS, nao podendo amparar
852 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS
APÊNDICE 853
Justificativa
, Para tornar certos os limItes da ação cívil pública e evítar o conges-
A ação civil pública tem sofrido sérias distorções legais e juríspruden- tIonamento do Poder Judiciário com demandas mfundadas, apresenta-se a
ciais e a emenda visa a manter a coerência do texto constitucional, evitar presente proposta.
abusos e sobretudo o uso índevido do novo instrumento.
Efetivamente, o art. 129, III, deve coadunar-se com o ar!. 127, que 6. Legislação sobre concessão de medidas cautelares
atribui ao Mimstério Público a defesa da ordem jurídica, do regime demo- e tlltela antecipada
crático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Ocorre que a Lel Orgânica do Ministério Público permite que a ação LEI N, 8.437, DE 30 DE JUNHO DE 1992
pública seja mtentada para a defesa de direitos individuais homogêneos
disponíveis e. por outro lado. a jurisprudêncía revela ~ue estão sendo In- Dispõe sobre a concessão de medidas cautelares contra atos do Poder
Público e dá outras providências.
tentadas numerosas ações civis públicas, com a fmahdade de declarar a
inconstitucionalidade de tributos e obter a restituição dos mesmos ou até Art I". Não serà cabivel medida liminar contra atos do Poder Público
para declarar a ínconstitucionalidade de determinadas normas federais. no procedimento cautelar ou em quaisquer outras ações de natureza caute~
Neste último caso. como a ação cívil pública tem efeitos erga omnes, lar ~u preventiv~ toda vez que providêncía semelhante não puder ser COn-
o juiz de primeira instância está usurpando atribuição do STF. Assim, o cedida em ações de mandado de segurança, em virtude de vedação legal.
TARS chegou a ementar um dos seus acõrdãos num caso em que se discutia 2
§ 1 , Não serâ cabível. no JUIzo de primeiro grau, medida cautelar ino-
a constítucíonalidade do IPTU do seguinte modo: minada ou a sua limínar, quando impugnado ato de autoridade sujeita, na
"Ação civil pública - Ação direta de inconstítucionalidade travestida VIa de mandado de segurança, à competência originária de tribunal.
de ação civil pública - Descabunento" (Ação Civil 191130194, f i JTARE 2
_ § 2 , O disposto no pacigrafo anterior não se aplica aos processos de
811216). açao popular e de ação civil pública
Por sua vez, o STJ decidiu que: § 32.. Não sem cabivel medida liminar que esgote, no todo ou em parte,
HAção Civil pública - Mensalidades escolares. o objeto da ação.
"Repasse de aumento dos professores - Minístério Público - Parte ,§ 42. Nos casos em que cabível medida liminar. sem prejuízo da Co-
ilegítima. Não se cuidando de interesses difusos ou coletiv~s, mas d: ~­ ~~Icação ao dirigente do õrgão ou entidade, o respectivo representante
teres ses índividuais de um grupo de alunos de um deternunado coleglO. JudIcml dela sem ímediatamente intimado.
afasta-se a legitimidade do Ministério Público" (REsp 35.644,j. 10.9.93). . § 52. Não serà cabível medida limmar que defira compensação de cre-
Finalmente, o TJSP também decidiu que: ditos tnbutános ou previdenciários. (§§ 4" e 52 acrescentados pela MP 17.
2.180-35, de 24.8.2001)
"Ação civil pública - Legítimação do Múustêrio Público. Não pode
o Parquel exercer o mlinus que a leí concedeu ao advogado, pena de msu- . Art 2". No mandado de segurança coletívo e na ação civil pública, a
portivel usurpação e virtual obsolescência da nobre alÍvidade" (TJSP, 4ll C.
~Im~n~ será concedida, quando cabivet após a audiência do representante
JudIcml da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no
Cíve~ ApC 162.175-114, São Vicente, in RDM87/53). prazo de setenta e duas horas.
Por sua vez, a doutrina tem condenado as distorções sofridas pela ação
Art.32 , O recurso voluntário ou ex officio, ínterposto contra sentença
civil pública, na qual são concedidas liminares que pertmb~ tanto o bom
em processo cautelar,_ proferida contra pessoa jurídica de direito público
funcionamento da Admirustração Pública como a manutençao da propna ou seus agentes. que tmporte em outorga ou adição de vencimento ou de
ordem jurídica. como salientado em recentes estudos dos ProfS. ~~g~~o reclassificação funcionaL tem efeito suspensivo.
Lauría Tucci ("Ação civil pública e sua abusiva utilização pelo MmlSteno
Art. 4", Compete ao presidente do tribunal. ao qual couber o conhe-
Público", Ajurís 56/431), Kazuo Watanabe ("Demandas coleuvas e os
címent~ do re~p~ctlvo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a
problemas emergentes da praxis forense", in RePro 67/15) e Amoldo
execuçao da IImmar nas ações movidas contra o Poder Público ou seus
Wald ("notas de atualização" constantes da 1411 ed. da obra de Hely Lopes
ag,ente~, a, re~uerirnento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de di-
MeireUes Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública). reito publIco Interessada. em caso de manifesto interesse público ou de fla-
854 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS
APÊNDICE
855
grante ilegitimidade, e para evítar grave lesão á ordem, â sande, à segurança Carlos Magalhães, Presidente, para os efeitos do disposto no parágrafo um-
e â economia públicas. co do art. 62 da Constituição Federal, promulgo a segumte lei:
§ 1". Aplica-se o disposto neste artigo à sent:nça proferida em ~roces- Art. 1'. Aplica-se it tutela antecipada prevIsta nos arts. 273 e 461 do
50 de ação cautelar inominada. no processo de açao popular e na açao civIl
Código de Processo Civil o disposto nos arts. 59. e seu parágrafo único e
pública, enquanto não transitada em julgado. . . 7" da Lei n. 4.348, de 26 de Junho de 1964, no art. I" e seu § 42 da LeI n.
§ 2". O Presidente do Tribunal poderá ouvir o autor e o MInIstério 5.021, de 9 de junho de 1966. e nos arts. 1",3 2 e 42 da LeI n. 8.437, de 30
Público, em setenta e duas horas. de junho de 1992.
§ 311• Do despacho que con~eder ou n~gar a suspensão. c~berá agravo, Art. l"-A. Estão dispensadas de depósito prevlO, para interposIção de
no prazo de cinco dias, que sera levado a Julgamento na sessao segulnte a recurso, as pessoas jurídicas de direito público federais. estaduaIS, distritaIS
sua ínterposíção. e municIpais.
§ 4". Se do julgamento do agravo de que trata o § 3" resultar a manu: Art. l"-B. O prazo a que se refere o caput dos arts. 730 do Código
tenção ou o restabeleclffiento da deCisão que se .pretende suspender, cabera de Processo Civil. e 884 da Consolidação das LeIS do Trabalho. aprovada
novo pedido de suspensão ao Presidente do Tn~~n~l competente para co- pelo Decreto-lei n. 5.452, de 12 de maio de 1943, passa a Ser de trinta dias.
nhecer de eventual recurso especial ou extraordmano.
Art. 1tLC. Prescrevem em cinco anos o direito de obter indenização
§ 5". E cabivel também o pedido de suspensão a que se refere o § 42, dos danos causados por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de
quando negado provimento a. agravo de lDstrumento mterposto contra a pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de servIços públicos.
liminar a que se refere este artIgO.
Art. lS!-D. Não serão devidos honorànos advocaticios pela Fazenda
§ 6<'. A interposIção do agravo de instrumento contra limt~ar concedi- Pública nas execuções não embargadas.
da nas ações movidas contra o Poder Público e seus agentes nao prejUdICa
. Art l!LE. São passíveís de revisão. pelo Presidente do Tribunal. de
. nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão a que se refere este
OfiCIO OU a requerimento das partes. as contas elaboradas para afem o valor
artigo. . . . dos precatórios antes de seu pagamento ao credor.
§ 7". O Presidente do Tribunal poderá confenr ao pedIdo efeIto sus-
Art. l!LR Os juros de mora, nas condenações impostas à Fazenda
pensivo liminar, se constatar, em juizo pré:Io, a plaUSIbIlIdade do direIto
Pública para pagamento de verbas rel1lUneratórias devidas a servidores
invocado e a urgência na concessão da medIda.
e empregados públicos. não poderão ultrapassar o percentual de seis por
§ 82. As liminares cujo objeto s,eja idêntico ~oderão ser suspensas .em cento ao ano. (arts. l"-A a I"-F acrescentados pela MP n. 2.180-35. de
uma ÚllÍca decisão, podendo o PreSIdente do Tnbunal estend~r os efeltos 24.8.2001)
da suspensão a liminares supervenientes. mediante símples adItamento do
Art. 2". O art. 16 da Lei n. 7.347, de 24 de Julho de 1985, passa a
pedido original. . . " vígorar COm a seguínte redação:
§ 9". A suspensão deferida pelo Presidente do Tnbunal vIgorara ate
"Art. 16. A sentença CIvil farã coisa julgada erga omnes. nos limites
o trânsito em julgado da decisão de ménto na ação principal. (§§ 2" a 9"
~a competêncIa territorial do órgão prolator. exceto se o pedido for julgado
acrescentados pela MP n. 2.180-35. de 24.8.2001)
lmprocedent.e por ínsuficiêncIa de provas. hipótese em que qualquer legitt-
Art. 5". Esta Lei entra em vIgor na data de sua publicação.
mado podera mtentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de
Art.6<'. Revogam-se as disposições em contrário. nova prova."
Art. 2"-A. A sentença cívil prolatada em ação de caráter coleuvo pro-
LEI N. 9.494, DE 10 DE SETEMBRO DE 1997 posta por entidade assocIativa. na defesa dos interesses e direitos dos seus
ass~ciados. abrangem .apenas os substituídos que tenham. na data da pro-
DisCiplina a aplicação da tutela antecipada c~ntra a Faze~d~ P~blica. pOSltura da ação, domIcílio no âmbito da competência territorial do órgão
altera a Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, e da outras proVIdenCIas. prolator.
Parâgrafo unico. Nas ações coletivas propostas contra a União. os
Faço saber que o Presidente da República adotou a Medida Provls~ria Estados, o Distrito Federal, os Munícípios e suas autarquias e fundações.
n. 1.570-5, de 1997, que o Congresso Nacional aprovou, e eu, Amomo a petIção iniCIal deverã obrigatoriamente estar instruida com a ata da as-
856 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS
APÊNDICE
857
sembléia da entidade assocIativa que a autorizou, acompanhada da relação
"II - as razões do pedido de refonna da decísão~
nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços.
Art. 21l..B. A sentença que tenba por objeto a liberação de recurso, In.
"III - o nome e o endereço completo dos advogados, constantes do
processo.
clusão em folha de pagamento, reclassificação, equiparação. concessão de
aumento ou extensão de vantagens a servidores da União, dos Estados. do "Alt. 525. A petíção de agravo de instrumento será Instruída:
Distrito Federal e dos Municípios, mclusive de suas autarquias e fundaçães, "I - obrigatOriamente. com cópias da decísão agravada, da certidão
somente poderá ser executada após seu trânsito em julgado. (art. 2'-A e B e da respectiva intimação e das procurações outorgadas aos advogados do
agravante e do agravado~
paragrafo único acrescentados pela MP n. 2.180-35, de 24.8.2001)
Art. 3". Ficam convalidados os atas pratícados com base na Medida "II - facultativamente, com outras peças que o agravante entender
úteís.
ProvIsória n. 1.570-4, de 22 de julho de 1997.
"§ 1 • Acompanhará a pettção o comprovante do.pagament~ das res-
2
Art. 4". Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
pectivas custas e do porte de retomo, quando devidos, confonne tabela que
será publicada pelos tribunaIS.
7. Legislação sobre agravo, 2
u§ 2 . No prazo do recurso, a petição será protocolada no tribunal, ou
com reperclIssões na lItilização do mandado de segllrança postada no correio sob registro cam aviso de recebimento, ou, ainda, inter-
posta por outra forma prevIsta na lei local.
LEI N. 9.139, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1995 "Art. 526. O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá Juntada,
aos autos do processo, de côpia da petição do agravo de instrumento e do
Altera dispositivos da Lei n. 5.869, de Il.l.1973 (que institui o Código comprovante de sua mterposição, assim COrno a relação dos documentos
de Processo Civil), que tratam do agravo de instromento. que Ínstruíram o recurso.
Art.l". Os artígos 522, 523, 524, 525, 526, 527, 528 e 529 do Código "Alt. 527. Recebido o agravo de mstrumento no tribunal, e distn-
de Processo Civil. Livro 1. Título X. Capítulo III, passam a vIgorar, sob o buído incontinentl, se não for caso de indeferimento limínar (artigo 557),
o relator:
titulo "Do Agravo", com a seguinte redação:
"Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 "I - poderá requisítar infonnações ao Juiz da causa, que as prestam no
prazo de 10 (dez) dias; .
(dez) dias, retido nos autos ou por instrumento.
"Parágrafo úmco. O agravo retido mdepende de preparo. "TI - poderá atriburr efeito suspensIvo ao recurso (artigo 558), comu-
nicando ao juiz tal decisão;
"Art. 523. Na modalidade de agravo retido o agravante requererá que
o tribunal dele conbeça, preliminarmente, por ocasião do julgamento da "III - íntimarâ o agravado, na mesma oportunidade, por OfiCIO diri-
apelação. gido ao seu advogado. sob registro e com aviso de recebímento, para que
responda no prazo de 10 (dez) dias, facultando-lhe juntar cópIas das peças
"§ ln, Não se conhecerá do agravo se a parte não requerer expressa-
que entender convenientes~ nas comarcas sede de tribunal, a intimação far-
mente. nas razões ou na resposta da apelação, sua aprecíação pelo tribunal. se-; pelo órgão oficial;
"§ 2'. Interposto o agravo. o JUIZ poderá reformar sua decisão, apôs
"IV - ultimadas as providênCIas dos incisos anteriores, mandarà ouvrr
ouvida a parte contrária, em 5 (cinco) dias.
o Mimstério Público, se for o caso, no prazo de 10 (dez) dias.
"§ 32., Das decisões interlocutórias proferidas em audi~ncia, admitir-
"Paragrafo linico. Na sua resposta, o agravado observará o disposto
se-à ínterposição oral do agravo retido, a constar do. respectIvo te~o-= ex- no § 2' do artígo 525.
postas sucíntamente as razões que justifiquem o pedIdo de nova declsao.
"Art. 528. Em prazo não superior a 30 (trinta) dias da intimação do
"§ 4". Será sempre retido o agravo das decisões posteriores à sentença, agravado, o relator pedirá dia para julgamento.
salvo caso de inadmissão da apelação.
UM 529. Se o juíz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o
"Art. 524. O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribu- relator considerará prejudicado o agravo."
nal competente, atravês de petição com os seguintes requisitos:
UI - a exposição do fato e do direito; Art. 22. Os artigos 557 e 558 do Código de Processo Civil passam a
VIgorar com a seguínte redação:
858 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS
APÊNDICE
859
UArt. 557. O relator negarã seguimento a recurso manifestamente
inadmissivel. ímprocedente, prejudicado ou contrârio astimula do respecti_ Federal ou em sUmula deste Tribunal ou do Tribunal S .
tente." upenor compe-
vo tribunal ou tribunal superior.
"Parágrafo U111CO. Da decisão denegatóna cabera agravo, no prazo de 5 malo~~e4~!;0?:~~~g~!:~Slti"..0 do acór~ão contiver julgamento por
(cinco) dias. ao ôrgão competente, para o julgamento do recurso. Interposto infringentes. o prazo para recurs~=traune'd~ ,o~em Interpostos embargos
o agravo a que se refere este paragrafo, o relator pedira dia.
Iat lvamente ao julgamento un fi ar _mano ou recurso espe
ft

. I
. Cla. re-
"Art. 558. O relator poderà. a requerimento do agravante, nos casos decisão nos embargos. anune, cara sobrestado até a intimação da
de prisão Civil. adjudicação. remIção de bens. levantamento de dinheiro
"Pará :fi"
sem caução idônea e em outros casos dos quaís possa resultar lesão grave gra o ~lCO. Quando não forem interpostos embargos infri
t es, o prazo relativo à parte ..' d d '_. ngen-
e de difícil reparação, sendo relevante a fundamentação, suspender o cum- a uele em ' , unaDIme a eCIsao tera como dia de inÍCÍo
primento da decisão até o pronunciamento definitivo da tunna ou Câmara. q "Art que tranSItar em Julgado a decisão por maíoria de votos""
UParãgrafo único. Aplicar-se-á o disposto neste artlgo âs hípóteses do 515. ( ... l.
artigo 520." "(... l.
Art. 3". Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a Sua publi- "§ 32 • Nos casos de exti - d .
cação. (art 267) , o T'b . nçao o processo sem julgamento do mento
n unal pode Julgar desde logo r d
exctuslvamente d d' - a 1 e, sea Causa versar questão
Art 42. Revogam-se as disposições em contrário. "M e lrelto e estiver em condições de Imediato julgamento."
520. ( ... l.
Brasília, 12 de novembro de 1997 «( ... );
"VII - confinoar a antecipação dos efeitos da tutela;
LEI N. 10.352, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2001 "(... l."
"Art. 523. ( ... l.
A/tera dispositívos da Lei n. 5.869, de 11 dejt:melro de 1973 - Código
de Processo Civil, referentes a recursos e ao reexame necessáno. "(· .. l.
"§ 2". Interposto o agravO 'd
d" . o, e ouvIa o agravado no prazo de lO (d )
Art. I". Os artigos da LeI n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, que Íns- iaS, ~ JUlZ podera refonnar sua decisão. ' ez
tituiu o Código de Processo Civil, a seguir mencionados, passam a vigorar (... l.
com as seguintes alterações:
"Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo instru·~~o4tl, S~rà retido o agravo das decísões proferidas na audiênCIa de
efeito senão depois de confirmada pelo tribunaL a sentença: dano de di~~~ :~~nto e das postenores à sentença. salvo nos casos de
e Incerta reparação nos de inadm· - d ia
"I-proferida contra a União, o Estado, o Distnto Federal. o MuniciplO, relativos aos efeitos em que a apelação e recebida "lssao a ape ção e nos
e as respectIvas autarquias e fundações de direito público; "Art. 526. ( ... l. .
"II - que julgar procedentes. no todo ou em parte, os embargos à exe·
cução de dívida ativa da Fazenda Pública (art. 585, VI). que ~~~fO um~o. O fão-cumprimento do disposto neste artigo, desde
"§ 12.. Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos vo." prova o pe o agravado, unporta inadmissibilidade do agra-
autos ao tribunal, haja ou não apelação~ não o fazendo, devem o presidente
do Tribunal avoca-Ios. . "Art: 527: Recebido o agravo de instrumento no Tribunal e distribui
do mcontmentl. o relator: ,-
"§ 22 . Não se aplica o disposto neste artígo sempre que a condenação,
"I - negar-Ihe-á seguime t I' .
ou o díreíto controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) " . no, lmmarmente, nos casos do art. 557'
salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do de· II - podera converter o agravo de instrumento e . .
vedar na execução de dívida ativa do mesmo valor. ~~ ~~~:dgraOs~e~~~ ~~fíPr?lvisãO jurisdicional de urgên:aa!::~u~!~d;;~~~
"§ 32 . Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sen- CI ou mcerta reparação remete d
tença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal ~ut~s ao j~iz<! ~a cau~a, onde serdO apensados ao~ Princ,;ai~, ~:::~~~c~:~
o essa eClsao ao orgão colegiada competente;
860 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS
APÊNDICE
861
"m - poderá atribuir efeito suspenslvo ao recurso (art. 5~8), ou de-
ferir, em antecipação de tutela. total ou parCIalmente. a pretensao recursal. oferece~ resposta, podendo instruí-la com cópias das peças que entender
comunicando ao juíz sua decisão; convemente. Em seguida, subirá o agravo ao Tribunal Superior onde será
processado na forma regimental. '
"IV - poderá reqUlsitar informações ao juiz da causa, que as prestará "(...)."
no prazo de lO (dez) dias; "Art 547. ( ... ).
"V - mandará intimar o agravado. na mesma oportunidade, por oficio
dirigido ao seu advogado. sob registro e com avíso de r~cebime_~to, para . "Parâgrafo ÚflÍCO. Os serviços de protocolo poderão, a critério do
Tnbunal, ser descentralizados, mediante delegação a oficlOs de Justiça de
que responda no prazo de lO (dez) dias, facultando-lhe Ju~tar COPlas das pnmerro grau."
peças que entender converuentes; .nas comarcas-::d~ de T~buna~ e ~aqu:­
las cujo expediente forense for divulgado no Dlano OficIai. a mtimaçao "Ar!. 555. No julgamento de apelação ou de agravo, a declsão serà
far-se-à mediante a publicação no órgão oficíal; tomada, na Câmara ou Turma, pelo voto de 3 (trêsj juízes. .
"VI - ultimadas as providências referidas nos incisos I a V, mandará u§ 1~, Ocorrendo relevante questão de direito. que faça convenien-
ouvir o Ministério Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo te prevemr ou compor divergência entre Câmaras ou Turmas do Tribuna!
de lO (dez) dias. po~erà o relat?r propor seja o recurso julgado pelo orgão colegiada que ~
regunento mdlcar, reconhecendo o mteresse público na assunção de com-
"(... )." petêncIa, esse órgão colegíado julgam o recurso.
"Art. 530. Cabem embargos infringentes quando o acórdão não-unâ-
. "§ 2". A qualquer JUlZ integrante do órgão julgador é facultado pedir
nime houver reformado. em grau de apelação. a sentença de méri~o, ou
VIsta por uma sessão, se não estiver habilitado a proferir imediatamente o
houver julgado procedente ação rescisória. Se o desa~ordo for parCIal. os seu voto."
embargos serão restritos à matéria objeto da divergêncm."
Art_ 2". Esta Lei entra em vlgor 3 (três) meses após a data de sua
"Art. 531. Interpostos os embargos, abrir-se-â vista ao recorrido para publicação.
contra-razões~ apôs, o relator do acórdão embargado apreCIam a admíssibi-
lidade do recurso."
"Ar!. 533. Admitidos os embargos. serão processados e Julgados con- LEI N. 11.187, DE 19 DE OUTUBRO DE 2005
forme dispuser o regunento do Tribunal."
HArt. 534. Caso a norma regímental determine a escolha de novo re- .. Altera a LeI n. 5.869. de 11 dejanelro de 1973 - Código de Processo
lator, esta recatrá. se possíveL em juiz que não haja participado do julga- CIVrl. para conferIr nOva diSCiplina ao cabimento dos agravos retído e de
Instrumento, e dá outras providências.
mento anterior."
"Ar!. 542. Recebida a petição pela Secretaria do Tribunal, será intima- Art. 1-. Os arts. 522, 523 e 527 da Lei n. 5.869, de II de janeiro de
do o recorrido. abrindo-se-lhe vista, para apresentar contra-razões. 1973 - Código de Processo Civil passam a vIgorar com a segumte redação:
"( ... )." "Art.. 522. Das decis~es rnterlocutónas caberá agravo, no prazo de
"Ar!. 544. ( ... ). lO (dez) dlas. na forma retlda, salvo quando se tratar de decisão suscetível
H§ 1st. O agravo de mstrumento sera instruído com as peças ap:esen- de ?ausar, à parte tesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos
tadas pelas partes, devendo constar obrigatoriamente, sob pena de na~ co- de m~dmIssão da ap~lação ~ nos relatívos aos efeItos em que a apelação é
nhecimento, cópias do acórdão recorrido. da certidão da respectiva I~hma­ recebIda, quando sera adnuttda a sua mterposição por instrumento.
ção, da petição de interposição do recurs~ de~egado. _das contra-razoes,_da "( ... ).
decisão agravada, da certidão da respectlva mtunaçao e das procuraçoes "Ar!. 523. (... ).
outorgadas aos advogados do agravante e do agravado. As captas das peças "( ... ).
do processo poderão ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob
"§ ).2, Das decísões interlocutórias proferidas na audiência de instru-
sua responsabilidade pessoal. . . çã.o e j~lgamento caberá agravo na forma retida, devendo ser interposto oral
"§ 2". A petição de agravo será dirigida à Presidêncla do Tnbunal e unedIatamente, bem como constar do respectivo tenno (art. 457), nele
de origem, não dependendo do pagamento de custas e despesas postals. expostas sucintamente as razões do agravante.
O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de lO (dez) dlas "( ... ).
APrnDICE 863
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS
862
d d Art. 3". Ao dderir o pedido, o depositário do regIstro ou do banco
UM 527. ( ... ). , eC. adas .:narcara dIa e hora para que o requerente tome conhecimento das
"( ...). InLOrmaçoes.
uII _ convertem o agravo de instrumento em agravo retido~ salvo Paràgrafo úmco. (Vetado)
quando se tratar de decisão suscetivel de causar ~ parte lesão grave e de . Art. 4". Constatada a inexatidão de qualquer dado a seu respeIto o
difícil reparação. bem como nos casos de ínadmlssão da apelação e nos mte~ressado, em petI~ão acompanhada de documentos comprobatórios ~o-
relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, mandando remeter os dera requerer sua retificação. '
autos ao juiz da causa~ §" ln, Feita a r~tificaçã~ em, no mâxímo. dez dias após a entrada do
U{... ); req~ex:~ento, a .entIdade ou orgão deposítàrio do registro ou da mforma ão
'~ _ mandarà intimar o agravado, na mesma oportunidade, por oficio dara ClenCla ao mteressado. ç
dirigido ao seu advogado. sob registro e com aviso de recebunento. para
2
qu~
§ 22 • Aind? não se constate a ínexatidão do dado, se o ~teressado
que responda na prazo de 10 (dez) dias (ar!. 525, § 2 ), facultando-lhejun- apres:n~ expbcaçao ou contestação sobre o mesmo, justificando possIvel
tar a documentação que entender conveniente, sendo que. nas comarcas pendencla sobre o fato objeto do dado, tal explicação será anotada -
sede de Tribunal e naquelas em que o expediente forense for divulgado no dastro do mteressado. no ca
Diário OfiCial. a intimação far-se-à mediante publicação no órgão oficial; Art. 5". (Vetado)
"VI _ ultimadas as providências referidas nOS incísos m a V do caput Art. 6'>. (Vetado)
deste artigo, mandará ouvir o MinistériO Público. se for o caso, para que se Art.7f!, Conceder-se-á habeas data:
pronunCIe no prazo de 10 (dez) dias. . I - para assegurar o conhecimento de ínformações relatIvas à pessoa
"Parãgrafo único. A decísão liminar, proferida nos casos dos incisos TI do lmpetrante, constant::s de .re~stro ou banco de dados de entidades 0-
e m do caput deste artigo, somente e passivei de reforma no momento do vernamentaIs ou de carater publIco; g
julgamento do agravo. salvo se o prõprio relator a reconsiderar." II - para a retificação de dados quando não se prefira c-I
ro '1 >.,' Laze- o por
Art. 2", Esta LeI entra em vigor após decorridos 90 (noventa}dias de p cesso SIgI aso, JudICIal ou administratívo~
sua publicaçãO ofiCIal. III.- p~ a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação
Art. 3". É revogado o § 4" do ar!. 523 da Lei n. 5.869, de 11 de janeIro o~ expl~ca?ao sobre dado verdadeIrO m,as justificavel e que esteja sob pen-
de 1973 - Código de Processo Civil. dencIa JudIcml ou armgave1.
Art. 8f!. A ~et.ição intcial. que deverâ preencher os requisitos dos arts.
282 a 285 do Codlgo de Processo Civil, será apresentada em duas ViOS e
8. Legislação sobre "habeas data" os documentos que mstruírem a primeIra serão reproduzidos por cõpia ~a
LEI N, 9.507, DE 12 DE NOVEMBRO DE 1997 segunda.
Paragrafo unico. A petiç~o iniCial deverá ser mstruída com prova:
Regula o direito de acesso a infonnações e diSCiplina o rito processual . I - da n~c~~;a ao acesso ãs mformações ou do decurso de maIS de dez
do "habeas data" dIas sem declsao~
. II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mats de qum-
Art. 1'. (Vetado) ze dIas, sem deCIsão; ou
parágrafo único. Considera-se de caráter público todo regIstro ou ban- III - da recusa em faze~-se a ~otação a que se refere o § 212 do art. 4E-
co de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmi· ou do decurso de maIS de qumze dtas sem decisão.
tidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade Art. 9f!:. Ao despachar a imcial, o JUiz ordenará que se notifique o coa-
produtora ou depositária das informaçães. tor do conteudo da petIção. entregando-lhe a segunda via apresentada peta
Art. 2i!, O requerimento será apresentado ao órgão ou entidade depo· l~petrante. co~ as cóp~as dos documentos. a fim de que, no prazo de dez
sitária do registro ou banco de dados e será deferido ou indeferido no prazo dIas, preste as mfonnaçoes que julgar necesánas.
de quarenta e oito horas. Art. 10. A micial serâ desde logo indeferida, quando não for o caso
parágrafo único. A decisão será comunicada aO requerente em vínte de habeas data, ou se lhe faltar algum dos reqUIsitos previstos nesta LeI.
e quatro horas.
866 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS
APÊNDICE
867
]ºrà ajo único elo ar!. 3f!. e arl. jº Razões do veto
"CapZlt"
2 do art. ,pa gr direito de acesso a infonnaçàes relatiVas
"Act. 1 , Toda pessoa tem, o ou banco de dados de entidades gover-
à sua pessoa, constantes d~ r~gtstro No que se refere à multa, preVista no art. 6ll, não se vê qualquer in-
namentais ou de caráter pubhco. dicação quanto: a) à Sua deStinação; b) â disciplina da gestão das verbas
"(...)" decorrentes de sua aplicação.
2
Identifica-se, pOÍs, aqui uma lacuna que há de ser colmatada mediante
"Art. 3 • ("0) _ eu edido serão imediatamente nova iniciatIva legislatIva
«Pará~fo umca. A.0 req~e~~~~:nto:de se~ interesse." 2
fornecidascóptasxerografica~ ~ d '!ária do registro ou do banco de O § 1 confere ao MinIstério Público o encargo de tomar providências
"Art. 59.. O órgão ou enhda e eposl o t de informações a seu necessãrias para a apuração da mfração e conseqüente aplicação da multa.
• < teressada o fomeclmen o Tal atribUição não parece compatível COm as finalidades do Ministério
dados comumcarã. a pessoa ln _. ar terceiros. fornecendo a identí-
respeíto. solicitadas por seus usuano; OllaP o-es Público (art. 127 ele an. 129 da ConstItuIção) .
Como demonstrado~ o texto do projeto apresenta íncorreções que
I" t e o teor das tnLorm ç .
ficação do 50 teitao e _ estada ao usumo ou a terceiro,
"Paragrafo ll.n1co. Da mformaçao ~Plicação ou contestação a que se comprometem. em parte, sua constitucIonalidade. bem Como o atendimen_
to ao interesse público.
o depositário fará constar. se houver, a e
'0 "
refere o § 2" do art. ..-,
Necessàrio, pois, o veto dos seguintes dispositivos: caput do art. ll.!:,
parágrafo tintco do art. 3º-, art. 52 e Seu parágrafo único, art. 62, caput,
§§ I" e 2"
Razões do veto , , I

Os preceItos desbordam ~ens~


. 'velmente a configuração constttuclOna Ê certo que detenninados aspectos merecem ser regulamentados, es-
entes governamentais ou de ca-
do habeas data, impondo obngaides aO~arta ConstitucIOnal. A definição
pecialmente quanto às eventuais lacunas e omissões no que se refere ao nto
processual do habeas data, bem COrno às restrições necessàrias em razão do
ráter público sem qualquer resp~ o na a não permitíndo a confonnação preceIto contido no art. 5·, XXXIII, da ConstItuição.
constitucional do habea~ ~ data e precls ,
pretendida nestes dis~OSltiVOS., aI uer sorte de ressalva as hipóteses Não há dúvida, porem, de que eventuais imperfeIções tópicas não jus-
tificam o veto integral.
Não é estabelecIda, ademals~ qd': ql' guranca do Estado e da socie-
' '1 ati ra-se imprescrn lve a se y Assim, cabe ressaltara possibilidade de o Poder Executivo enviar pro-
em que o SlgI o gu, _ ria Constituição (art. 52, XXXIII).
jeto de lei sobre as matérias que carecem de uma disciplina mais preCIsa.
dade, confonne detennma a prop , to I'medl'ato de cópIas xerográfi-
' o fomeclmen Estas, Sr. Presidente. as razões que me levaram a vetarem parte o pro-
Mora o aspecto aCIma, , _ à pessoa mteressada quanto
' & ' . ' 'co) e a comumcaçao .r , jeto em causa. as quais ora submeto â elevada apreciação dos Srs. Membros
cas (art. 3º", paragralo
d .rID um ações a seus res pel'to (art. 52) são invlavelS e do Congresso Nacional.
~~s~~~:cr:::~~s, :OlpO~: de vista prático e jurídico.
Brasília, 12 de novembro de 1997

Art. 6" . d' to nos artigos anteriores sujei- LEI N. lI.ll1, DE 5 DE MAIO DE 2005
"Ar!. 6". O descumpnmento do ISpOS ' _ ta Unidades Fiscais
. 1 1 rdevmteacmquen _ .
tará o depositário
-,
a mu ta no va o d
UFIRs ou Indexa or qu
e venha a substituí-la em valor
Regulamenta a parte final do disposto no inCISO XXXIII do "capUI"
de ReferencIa - , • no caso de reincidências. do arfo j!l.da Constituição Federal e dá outras prOVidênCIas.
equivalente, e ao decuplo r • _ li mediante representação. ter
"§ 1·, O Ministério PublIco, de oficIO o _ d cão e conseqüente
Ar!, 1·. Esta LeI regulamenta a parte final do disposto no inciso
mfra'

"
mará as providências necessanas p ara a apuraçao a y '. >,
XXXm do caput do art. 5" da ConstituIção FederaL
aplicação da multa. '_ ta -o ao Ministério Públicó, Art. 2.2. O acesso aos documentos públicos de interesse particular ou
"§ 2!l, O interessado encatmnhara represen ça
juntando as provas do alegado." de interesse coletivo ou geral serâ ressalvado excLusivamente nas hipóteses
em que o sigilo seja ou pennaneça Imprescindível â segurança da Socleda_
868 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS
AP~ICE
de e do Estado, nos termos do disposto na parte final do inciso xxxm do
caput do art. 52 da Constituição Federal. a '
o ou CÓpia do documento -
recaí o di.sposto no incÍso X d' que expurgue ou Oculte a Parte sobre a I
Ar!. 3". Os documentos públicos que contenham informações cujo p'. Ocaputdoart 52d C '. qua
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado poderão ser . aragrafo UOlCO. As informa _ . a OnstItulçao Federal
classificados no mais alto grau de sigilo, conforme regulamento.
Ar!. 4'. O Poder Executivo instituir:!, no ámblto da Casa Civil
da Presidência da República, Comissão de Avenguação e Análise de
Informações Sigilosas, com a finalidade de decidir sobre a aplicação da
ressalva ao acesso de documentos, em conformidade com o disposto nos
=
~lS0 X do caput do act. 5t! da C ~oe~ :obre as quaís recaí o disposto "
a pes~oa diretamente ínteressa~:~~tu;:~ F:::erat terão o seu acesso re:~~~
~~~uge. ,ascendentes ou desceddente~ tando de morto ou ausente, ao
Ar!. 8". Esta Leí entra em
i
a LeI n. 8.159, de 8 de janeiro de 9~~ prazo de que trata o § 3" do
.
VIgor na data de sua publicação.
parágrafos do ar!. 6" desta Lei.
Ar!. 5". Os Poderes Legislativo e Jndiciário, o Ministério Público da 9. Legislação SObreinlervenção da l/; . - F. '
União e o Tribuna! de Contas da União disciplinarão internamente sobre a mao ederalnos processos
necessidade de manutenção da proteção das informações por eles produzi.
LEI N, 9.469, DE 10 DE JULHO DE 1997
das, cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado,
bem como a possibilidade de seu acesso quando cessar essa necessidade, Regulamenta o disposto no InCiso VI
observada a Lei n. 8.159, de 8 dejaneiro de 1991, e o disposto nesta LeI. n. 73, de lO defevereiro de 1993: disnõ dobO an 4Il da Lei Complementar
causas em que figurarem r e so re a mtervenção da UJ ._
Ar!. 6", O acessO aos documentos públicos classificados no mais alto indireta' . como autores ou reus mao nas
grau de SIgilo poderá ser restringido pelo prazo e prorrogação previstos no . regula os pagamentos dev ~ , entes da Admimstra ão
§ 2" do art. 23 da Lei n. 8.159, de 8 de janeíro de 1991. te ~entençaJudiciária; h?Voga a Le: no~~~a Fazenda Pública em Vtri~de
e1 n.9.081.de19dejulhodeI995 'ti.: 7. de 27dejunho de 1991. ea
§ 12 , Vencido o prazo ou sua prorrogação de que trata o caput deste '" . e a outras proVIdênCIaS.
artigo, os documentos dassificados no rnaís alto grau de sigilo tornar-se-ão
de acesso público. . Ar!. 50. A União poderá mterv'
autoras ou rés autar . Ir nas causas em que fi
§ 22 • Antes de expirada a prorrogação do prazo de que trata o caput . , qUIas, firndações p 'br gurarem, como
deste artigo, a autoridade competente para a classificação do documento no mIsta e e~presas públicas federaIS. u lcas. sOCÍedades de economia
Parágrafo . ,
maIS alto grau de sigilo poderá provocar, de modo justificado, a manifesta· umco. As pessoas j rld'
ção da ComIssão de Averiguação e Análise de Informações Sigilosas para c~usas c~ja deCIsão possa ter reflex~ l~asd de direit? público poderão. nas
que avalie se o acesso ao documento ameaçará a soberania. a integridade nOIDlca, mtervir independent s, azn a que mdlretos de natureza
para l' emente da demo tra - ' eco_
territonal nacional ou as relações íntemacionais do pais. caso em que "a es~ ~ecer questões de fato e de d" ns çao de Interesse jurídico
Comissão podem manter a pennanêncÍa da ressalva ao acesso do docurrien.l memonalS reputados u'te'S rrelto, podendo Juntar docum t '
h ' 1 aoexamed ' enose
to pelo tempo que estipular. d:;:~ese em que, para fins de deslocru:e:~t~na e, se for o caso, recorrer
as partes. e competêncía, serão consl~
§ 3 2 , Qualquer pessoa que demonstre possuir efelIvo mteresse poderá
provocar. no momento que lhe convier, a manifestação da Comissão de
Averiguação e Análise de Informações Sigilosas para que reveja a deCIsão
de ressalva a acesso de documento público classificado no mais alto grau 10. Legislação sobre ação direta ti .
de sigilo. ação declaratória de COhoUt ~ l1/c~nstilacioltalidade.
§ 4<'. Na hipótese a que se refere o § 3" deste artigo, a Comissão d" - dr .~ uCUJllalidade
açao trela de iltConstilucio l' '
Averiguação e Análise de Informações Sigilosas decidir:! pela: . e argiiiçãa de descul • lia idade por omissão
I - autorização de acesso livre ou condicíonado ao documento~ ou npnmelt/o depreceitofiUltuamental
J

n - permanência da ressalva ao seu acesso. LEI N. 9.868, DE 10 DE NOVE'~


Ar!. 7'. Os documentos públicos que contenham informações ",.oRO DE 1999
Dispõe sobre o '
nadas á íntimidade, vida privada, honra e imagem de pessoas, e que
ou venham a ser de livre acesso, poderão ser franqueados por meio n'6
nalid d d processo e julgamento da a - d'
a e[ e a ação declaratÓria de constitu ' ça? lreta de inconstitucio_
rI una Federal ClOna lIdade perante o LJUpremo
o

APÊNDICE 871
n "'CA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS
MANDADO DE SEGU"",'
870
Parágrafo Unico. As informações serão prestadas no prazo de trinta
Capítulo I . dias contado do recebimento do pedido.
Da ação direta de inconstituCÍonallda~e Art. 72 • Não se admitirã intervenção de terceiros no processo de ação
da ação declaratória de constituClonalzdade direta de inconstitucionalidade.
e , . _ b rocesso e julgamento da açao - d'Ireta
§ 12 • (Vetado)
Ar!. 1", Esta LeI dlspoe 50 :e ~ p laratória de constítucionalidade pe- § 22 . O relator, considerando a relevâncía da matéria e a representa-
de inconstituclOnalidade e da açao ec
tividade dos postulantes, poderã, por despacho irrecornvel, admitir, obser-
rante o Supremo Tribunal Federal.
vado o prazo fixado no parágrafo antenor, a manifestação de outros órgãos
Capítulo I! ou entidades.
Da ação direta de inconstitucionalidade Art. 8J.!.. Decorrido o prazo das informações, serão ouvidos: suceSSI-
vamente. o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República.
Seção I
Da admISsibilidade e do procedimento
que deverão manifestar-se. cada qual, no prazo de quinze dias.
da ação direta de inconstitucíonalidade Art. 9'1. Vencidos os prazos do artigo antenor. o relator lançam o rela-
tório. com cópta a todos os Ministros, e pedira dia para julgamento.
- direta de ínconsutucionalidade:
Art. Z". podem propor a açao § 1.2_ Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou cir-
I - o Presidente da República; cunstância de fato ou de notória ínsuficiência das ínformações existentes
1I- a Mesa do Senado Federal; nos autos, poderá. o relator requisítar ínformações adicionais. designar peri-
to ou comissão de peritos para que emíta parecer sobre a questão, ou fixar
III
- a Mesa da Câmara dos Deputad,os; , ~-
I t ou a Mesa da .....amara data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com expe-
IV-a M esa d e Assembléia LegIs alva riência e autoridade na maténa.
Legislativa do Distrito Federal;d Governador do Distrito Federal; § 211 , O relator poderá, ainda, solicitar mformações aos Tribunais
V _ o Governador de Esta o ou ~ . Superiores, aos Tribunais federais e aos Tribunats estaduais acerca da apli-
P dor-Geral da RepublIca; , cação da norma impugnada no âmbito de sua jurisdição.
~_oo ~:=hO Federal da ordemtadO~~:~~::;e~~::'~~~nal; § 3 2 . As informações. periclas e auçliêncías a que se referem os pará-
art" d olítico com represen ç - I grafos antenores serão realizadas no prazo de trinta dias. contado da soli-
VIlI - P I o P " 'dad de classe de âmbito oaClOna .
IX _ confederação smdIcal ou entl e citação do relator.
parágrafo unlCo. (Vetado)
Seção II
Ar!. 3". A petição mdicará: , . ugnado e os funda- Da medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade
, , d i ' ou do ato normauvo Imp
1 - o disposltIvo ~ el 1 - cada uma das impugnações: Art. 10. Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação direta
mentos jurídicos do pedIdo em re a.çao a _
serã concedida por decisão da maioria absoluta dos membros do Tribunal,
Il- o pedido. com suas especdicaçoes. auhada de instrumento de observado o disposto no art. 22. após a audiência dos órgãos ou autori-
" A tição lIDclal. acomp -
Parãgrafo UnIco. pe d d ra' apresentada em duas VIas, dades dos quaIS emanou a leI ou ato normativo impugnado, que deverão
d bscríta por a voga o. se d
procuração. quan ,o ~u 'd nnatívo ímpugnado e dos ocu- pronunCIar-se no prazo de cinco dias.
devendo conter COpIaS da leI oU o at?mnpougnação. § 1", O relator, julgando mdispensável. ouvim o Advogado-Geral da
.' para comprovar a 1
mentos necessanos .. _ fundamentada e a manifestamen- União e o Procurador-Geral da República. no prazo de três dias.
Art. 4'. A peu~ão mIcial m:;:'i~~~feridas pelo relator. , ' § 2". No julgamento do pedido de medida cautelar. serà facultada sus-
te improcedente semo hmmann d d -o que indeferir a petíção ml- tentação oral aos representantes judiciaís do requerente e das autoridades
parágrafo único. Cabe agravo a eCIsa ou órgãos responsáveis peja expedição do ato. na forma estabelecida no
eiaI. _ d" t ão se admitirã desistêncía. Regimento do Tribunal.
Art. 5". Proposta a açao Ire a. n § 3" Em caso de excepcional urgênCIa. o Tribunal podem deferir a
parágrafo único. (Vedtado) formações aos órgãos ou as autoridades das medida cautelar sem a audiênCIa dos órgãos ou das autoridades das quais
Art. 6". O relator pe Ira m .' d emanou a lei ou o ato normativo impugnado.
. anoU a lei ou o ato normatIvO unpugna o.
quaIs em
APÊNDICE 873
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS
872
. Art- 15. A petição inicial inepta. não fundamentada e a manifestamen-
Art. 11. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal
te Improcedente serão liminannente mdeferidas pelo relator.
fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário
da Justiça da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, Parágrafo tinico. Cabe agravo da decisão que indefenr a pelIção im-
devendo solicitar as informações â autoridade da qual tiver emanado o ato, CIaI.
observando-se, nO que couber, o procedimento estabelecido na Seção I des- Ar!. 16. Proposta a ação declaratória, não se admitirá desistência,
te Capítulo. Art 17. (Vetado)
§ I". A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedi- Art.. !8. Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação
da com efeito ex nunc. salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe declaratóna de constitucionalidade.
eficácia retroatíva. § I". (Vetado)
§ 2". A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação an- § 2". (Vetado)
terior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrâno. Art. 19. Decorrido o prazo do artigo anterior, será aberta vista ao
Art 12. Havendo pedido de medida cautelar, o relator, em face da Procurador-Geral da República, que devera pronunciar-se no prazo de
relevância da matéria e de seu especial significado para a ordem social e a qumzedias.
segurança íuridica, poderá. após a prestação das informações, no prazo de . Art. ~O~ Vencido o prazo do artigo anterior, o relator lançara o relató-
dez dias, e a manifestação do Advogado-Geral da União e do Procurador- no, com CÓpIa a todos os Mirustros. e pedirâ dia para julgamento.
Geral da República., sucessivamente. no prazo de cínco dias. submeter o
§ lº. Em caso de necessidade de esclarecimento de maténa ou CÍr-
processo diretamente ao Tribunal. que terá a faculdade de íulgar definiti-
cunstâncla de fa~o ou de notória insuficiência das rnformações existentes
vamente a ação. nos autos, podera o relator requisitar informações adicionais, designar pe-
Capítulo III nto ou comíssão de peritos para que emita parecer sobre a questão ou fixar
Da ação declaratóría de constitucionalidade d.~ta para, em ~udiência pú~lica, ouvir depoimentos de pessoas com expe-
nenCIa e autondade na maténa.
Seção I § 2", O relator poderá solicitar, ainda, informações aos Tribunais
Da admissibilidade e do procedimento da ação declaratória Superiores. aos Tribunaís federaÍs e ao~ Tribunais estaduais acerca da apli-
de constituCiOnalidade cação da norma questionada no âmbito de sua jurisdição.
Ar!. 13. Podem propor a ação declaratória de constitucionalidade de § 32 , As informações. pericIas e audiências a que se referem os para-
leí ou ato normativo federal: grafos antenores serão realizadas no prazo de trinta dias. contado da soli-
I - o Presidente da República; citação do relator.
II - a Mesa da Câmara dos Deputados;
Seção II
m- a Mesa do Senado Federal; Da medida cautelar em ação deciaratóIia de constitucionalidade
IV - o Procurador-Geral da República.
Art 14. A pellção inicial indicará: Art. 21. O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maiona abso-
I _ o dispositívo da lei ou do ato normatívo questionado e os funda- luta de seus membros. podera deferir pedido de medida cautelar na ação
de.claratória ~e constitucíonalidade, consistente na determmação de que os
mentos íuridicos do pedido;
JUIZes e os Tnbunms suspendam o julgamento dos processos que envolvam
TI - o pedido, com suas especificações;
a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento
III _ a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação
definitIvo.
da disposição objeto da ação declaratória. Parágrafo timco. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal
parágrafo Uníco. A petição inicial, acompanhada de instrmuento de
Federal fara publica: em seção espeCIal do Diário Oficial da União a parte
procuração. quando subscrita por advogado. será apresentada em duas ViaS,
dlSpOSltIva da decIsao, no prazo de dez dias, devendo o Tribunal proceder
devendo conter cópias do ato normattvo questíonado e dos documentos ne-
ao Julgamento da ação no prazo de cento e oítenta dias, sob pena de perda
cessàríos para comprovar a procedência do pedido de declaração de cons-
de sua eficãcía.
titucionalidade.
874 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS
APÊNDICE 875
Capitulo IV
Capitulo V
Da decisão na ação direta de inconstitucionalidade
Das disposú;ões gerais e finais
e na ação declara/oria de constitucionalidade
Ar!. 29. O art. 482 do Código de Processo Civil fica acrescido dos
Art. 22. A decísão sobre a constttucionalidade ou a ínconstltucionali- segníntes parágrafos:
dade da lei ou do ato normativo somente sem tomada se presentes na sessão
"Ar!. 482 .............................................................................................. .
pelo menos oito Ministros. _ _ _ .
"§ I". O Ministério Público e as pessoas juridicas de direito público
Art 23. Efetuado o julgamento, proclamar-se-a a constitucIOnalidade
responsãveis pela edição do ato questionado. se assÍm o requererem. po-
ou a mconstltucíonalidade da disposição ou da norma impugnada se num
derão manifestar-se no incidente de inconstitucionalidade. observados os
ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos selS Mirustros. quer
prazos e condições fixados no Regímento Interno do Tribunal.
se trate de ação direta de ínconstituclOnalidade ou de ação declaratória de
constítucionalidade. "§ 2". Os titulares do direito de propositura referidos no art. 103 da
C:0nstítui?ão poderão manifestar-se, por escrito, sobre a questão constitu-
Paràgrafo Unica. Se não for alcançada a maioria necessma ii declara-
Cional obJeto de apreCiação pelo órgão espectai ou pelo Pleno do Tribunal,
ção de constttucíonalidade ou de inconstitucionalidade, estand? ausentes
no prazo fixado em Regímento. sendo-lhes assegurado o direIto de apresen-
Ministros em numero que possa ínfluir no julgamento. este sera suspenso tar memonais Ou de pedir a juntada de documentos.
a fim de aguardar-se o comparecimento dos Mi.n1stros ausentes, até qu~ se 2
"§ 3 . O relataI; considerando a relevância da matén'a e a representa-
atinja o nUmero necessário para prolação da decisão num ou noutro sentIdo.
tividade dos postulantes, poderá admitír, por despacho írrecorrivei. a manI-
Ar!. 24. Proclaruada a constitucionalidade, julgar-se-a improcedente festação de outros órgãos ou entidades."
a ação direta ou procedente eventual ação declaratóna; e, proclamada a m-
Art 30. O art. 8" da Lei n. 8.185, de 14 de mato de 1991, passa a
constltuclOnalidade, julgar-se-a procedente a ação direta ou unprocedente
vigorar acrescido dos seguintes dispositivos:
eventual ação dec1aratória.
"Art. 8º-, ................................................................................................
Ar!. 25. Julgada a ação, far-se-à a comunicação a autoridade ou ao "I - ........................................................................................................
órgão responsavel pela expedição do ato.
. ............................................................................................................
Art. 26. A decisão que declara a constitucionalidade ou a ínconstitu-
cionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação decla- "n) a ação direta de inconstitucionalidade de leI ou ato nonnativo do
ratória é irrecorrivel. ressalvada a interposição de embargos declaratórios. Distrito Federal em face da sua Lei Orgânica;
não podendo. igualmente, ser obJ-eto de ação resclsôria. .............................................................................................................
Art. 27. Ao declarar a mconstitucionalidade de lei ou ato normativo, "§ 32 . São partes legítimas para propor a ação diteta de inconstitucio-
nalidade:
e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional Ínteresse
social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de do~s .terços de "I - o Governador do Distrito Federal;
seus membros. restringir os efeitos daquela declaração ou decldrr que ela "II - a Mesa da Câmara Legislativa;
só tenha eficada a partir de seu trânSitO em Julgado ou de outro momento "III - o Procurador-Geral de Justiça;
que venha a ser fixado. "N - a Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Distrito Federal;
Art 28. Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da "V - as entidades sindicais ou de classe, de atuação no Distnto
decisão, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção espectai do Federal, demonstrando que a pretensão por elas deduzida guarda relação de
Diário da Justiça e do Diário Oficial da União a parte dlSpOSltlVa do acor- pertinência direta com os seus objetivos institucionaiS;
dão. . "VI - os partidos polítiCOS com representação na Câmara Legislativa.
Paràgrafo único. A declaração de constitucionalidade ou de inconstl- "§ 4". Aplicam-se ao processo e julgamento da ação direta de
rucionalidade. inclusive a interpretação conforme a ConstitUlçã? e a de~t~­ Inconstitucionalidade peraute o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
ração parcial de inconstitucionalidade sem red~ão de texto, tem e?~~c~a Territórios as seguintes disposições:
contra todos e efeito vinculante em relação aos orgãos do Poder Judiclano
"I - o Procurador-Geral de Justiça serâ sempre ouvido nas ações dire-
e á Administração Pública federal, estadual e muniCipal. tas de constítucionalidade ou de ínconstítuclOnalidade;
APÊNDICE 877
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS
876
daquelas entidades para a propositura de ação direta de Ínconstltucionali-
"II _ declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para
dade (cf., entre outros, ADlnlMC n. 689, ReL Min. Néri da Silveira; ADlnI
tomar efetiva norma da Lei Orgânica do Distrito Federal, a decisão será CO~
MC n. 772, ReL Mm. Moreira Alves; ADlnlMC n. 1.003 , ReI. MI'n
. C eso
1
mumcada ao Poder competente para adoção das providências necessárias,
e e o).
dMII
e, tratando-se de órgão administrativo, para fazê-lo em !nnta dias;
• ' E verdadeque a .opOSição do veto à dispOSição contida na paràgrafo
"Ill- somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou de
UnICO lmpo_rt~ n~ ehmmaçã~ do texto na parte em que determina que a
seu órgão especlOI, poderá o Tribunal de Justiça declarar a inconstitucio-
confedera~ao smdIcal ou entIdade de classe de âmbito nacional (art. 2n,
nalidade de lei ou de ato normativo do Distrito Federal ou suspender a sua
IX) ~evera demonstrar q~e ~ pretensão por elas deduzidas tem pertinên-
VIgência em decisão de medida cautelar. CIa dIreta com os seus obJettvos mstítucionaÍs. Essa eventual lacuna serâ
"§ S". Aplicam-se, no que couber, ao processo de Julgamento da ação
certamente, colmatada pela junsprudência do Supremo Tribunal Federal:
direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Distrito Federal
haja ViSta que tal restrição já foi estabelecida em precedentes daquela Corte
em face da sua Leí Orgânica as normas sobre o processo e o julgamento da
(cf.. entre outros, ADlnlMC n. 1.464, ReL Min. Moreira Alves; ADInlMC
ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal."
n. L: 03, ReL Min, Néri da Silveira. ReL para o acórdão Min. MauriCIO
Art. 31. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Correa; ADlnIMC n. 1.519, ReL Min. Carlos VeIloso).

RAZÕES DO VETO PRESIDENCIAL Paragrafo único do ar/o 5!1 e ar/o 17

Mensagem n. 1.674, de 10 de novembro de 1999 "Art. 5". (... ).


"Parágrafo linico. O relator determinam a publicação de edital no
Sr. Presidente do Senado Federal, Diário da Jus:iça.e no Diário OfiCIal, contendo informações sobre a pro-
2
Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do § 1 do art. 66 da pOSItura da açao dIreta de mconstrtuclOnalidade, o seu autor e o dispositivo
Constituição Federal, decidi vetar, parcíalmente, o Projeto de Lei n. lO, de da leI ou do ato normatívo."
1999 (n. 2.960/97 na Câmara dos Deputados), que~"Dispõe sobre o proces- "Art. 17. O relator detenninarà a publicação de edital no DiáriO da
so e julgamento da ação direta de ínconstitucíonal.idade e da açã~ declara
w

Ju~tíça e no I?~ário OfiCI~/ contendo informações sobre a propositura da


tória de constitucionalidade perante o Supremo Tnbunal Federal . açao declaratóna.de constttucIonalidade, o seu autor e o dispositivo da leI
Decidi vetar. por lllconstitucionalidade e contrariar o mteresse públi- ou do ato normattvo."
co, os dispOSItiVOS a seguir transcritos:
Razões do veto
Paragrafo úníco do arfo 2"
E fato que o número de ações diretas de inconstitucionalidade e de
"Art. 2". (... ). a,ções declaratórÍas de constitucionalidade propostas perante o Supremo
"Parágrafo unica. As entidades referidas no inciso IX. inclusive as ~­ e bastante volumoso, de modo que a aplicação do dispOSitivo Implicara
derações sindicais de âmbito nacional. deverão demons~r que a pretensao ~us:os elevados ~ comprometImento da celeridade do processo sem uma
por elas deduzida tem pertínência direta com os seus obJetlVo s mstltuclO- JustificatIva razo8.veL O objetivo de conferir publicidade jã se encontra as-
nais.n segurado, ~ma ~ez que é publicada no DiáriO da Justiça a distribuição de
todas as açoes dlfetas de mconstltuclOnalidade e de todas as ações declara-
Razões do veto tórias de constitucíonalidade.
2
Duas razões básícas justificam o veto ao parágrafo unico do art. 2 •
ambas decorrentes da jurisprudência do Supremo Tribunal em relação ao § 12 do art. 7"
incISO IX do art. 103 da Constituição. "Art. 7", (... ).
Em primelro lugar, ao mcluir as federações sindicaIS entre os legitima-
"§ ln_ Os demais titulares referidos no art. 22 poderão manifestar-se
dos para a proposítura da ação direta, o dispositívo co~traria .fro~~~ente por escnto, sobre o objeto da ação e pedir a juntada de documentos repu~
a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, no sentido da !legitimidade
878 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS
APÊNDICE 879
tados úteis para o exame da matéria, no prazo das mfonnações, bem como
apresentar memoriais." . Estas. Sr. Presidente. as razões que me levaram a vetar em parte o pro-
Jeto em causa. as quaís ora submeto â elevada apreciação dos Srs. Membros
do Congresso Nacional.
Razões do veto
A aplicação deste dispositivo poderá importar em prejuizo à celerida- Brasília. 10 de novembro de 1999
de processual.
A abertura pretendida pelo precelto ora vetado já é atendida pela dis- ANTEPROJETO DE LEI N..... DE ...
posíção contida no.§ 22 do mesmo artigo. Tendo em vista o volume de pro-
cessos apreciados pelo Supremo Tribunal Federal, afigura-se prudente que Altera a Lei n. 9.868/99. para inserir conferir disciplina legal à ação
o relator estabeleça o grau da abertura. conforme a relevância da maténa e direta de tnconstituclOnalidade por omfssão. >

a representatividade dos postulantes.


. ,Introduza-se na Lei n. 9.868/99 o segumte capítulo a propÓSIto da
Cabe observar que o veto repercute na compreensão do § 22 do mes- dISCIplIna processual da ação direta de inconstitucionalidade por omissão:
mo artigo, na parte em que este enuncia "observado o prazo fixado no pa-
rágrafo anterior". Entretanto, eventual dúvida poderá ser superada com a "Capítulo II-A
utilização do prazo das informações previsto no parágrafo único do art. 6". "Da ação dire/a de inconstitucionalidade por omissão

§§ l"e 22doart.l8 "Seção I


"Da admissibilidade e do procedimento
"Ar!. 18. ( ...). da ação direta de inconstitucionalidade por omíssão
"§ 12 • Os demaIS titulares referidos no art. 103 da Constituição Federal
"Art. 12-A. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade por
poderão manifestar-se, por escrito, sobre o obíeto da ação declaratóna de
omissão os legitímados à proposítura da ação direta de inconstítuclOnalida_
constitucionalidade no prazo de triota dias a contar da publicação do edital de e da ação declaratória de constItucionalidade.
a que se refere o artigo anterior, podendo apresentar memoriais ou pedir a "Ar!. 12-B. A petIção indicara:
juntada de documentos reputados uteis para o exame da maténa.
"§ 22 . O relator, considerando a relevância da matêria e a representa-
"I - a omissão inconstítucional total ou parcial quanto ao cumprimen-
to de dever constitucional de legislar ou quanto à adoção de providênCia de
tividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrivel, admítir. obser- indole admirustratIva;
vado o prazo estabelecido no parágrafo anterior, a manifestação de outrns
"fi - o pedido. com suas especificações.
órgãos ou entidades."
''Parágrafo úmco. A petição imcial, acompanbada de instmmento de
Razões do veto procuração. se for o caso, será apresentada em duas vias, devendo conter
cópías dos documentos necessàrios para comprovar a alegação de omissão.
Em relação ao § ln, a razão é a mesma do veto ao § 12 do ar!. 72 , "Ar!. 12-C. A pelIção inicial inepta, não fundamentada e a manifesta-
O veto ao § 22 constitui conseqüência do veto ao § 12.. Resta assegu- mente improcedente serão liminannente indeferidas pelo relator.
rada, todavia, a possibilidade de o Supremo Tnbuna1 Federa~ por meio de "Parágrafo único. Cabe agravo da decÍsão que indeferir a petição ini-
interpretação sistemátic~ admitir no processo da ação declaratória a aber- ciaL
tura processual prevista para a ação direta no § 22 do art. 72 •
"Ar!. 12-D. Proposta a ação díreta de mconstitucionalidade por omis-
Cabe observar que o veto a esses dispositivos repercute na com- são. não se admltirâ desistêncía.
preensão dos arts. 19 e 20. na parte em que enunciam, respectivamente,
"Ar!. l2-E. Aplicam-se ao procedimento da ação díreta de mconstltu-
"Decorrido o prazo do artigo anterior" e "Vencido o prazo do artigo ante- cionalidade por omissão. no que couber, as disposições constantes da Seção
rior". Entretanto, eventual dúvida poderá ser superada contando-se o prazo I do Capítulo II desta Lei.
de manifestação do Procurador-Geral da República a partir de despacho do
relator detennmando a abertura de vista. "§ .lº, Os demais títulares referidos no art. 2º desta Lei poderão mani-
festar-se, por escrito, sobre o objeto da ação e pedir a juntada de documen-
880 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇOES CONSTITUCIONAIS
APÊNDICE
881
tos reputados úteis para o exame da matéria. no prazo das ínformações. bem
como apresentar memoriais.
"§ 2., O relator poderá solicitar a manifestação do Advogado-Geral da
União, que deveci ser encaminhada no prazo de 15 (quinze) dias.
"§ 3", O Procurador-Geral da República, nas ações em que não for
LEI N. 9,882, DE 3 DE DEZEMBRO DE 1999
autor. terá vista do processo, por 15 (quinze) dias, apôs o decurso do prazo
para informações, Dispõe sobre o processo e julgamento d .. - _

"Seção II
to de preceito fundamental, nos tennos do §
Federal.
1:~gzllçalo0de descumprzmen_
o art. 2 da ConstitUição
"Da medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade
por orníssão , Art.1E• A argüição preVIsta no § 12 do art 102 d " _ .
Sera proposta perante o Supremo Tribunal F.i I a C~nstltulçao Federal
..Art. 12-F. Em caso de excepcional urgência e relevância da maténa, ou reparar [ - , e era. e tera por obJeto eVItar
o Tn'bunal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, observado , esaoa preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público
o disposto DO arl 22. poderã conceder medida cautelar, após a audiência Paragrafo UOICO Caberá també ,,' - d '
ceíto fundamental: . m argUlçao e descumprimento de pre-
dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão lllconstituclonal. que
deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias. I - quando for relevante o fundaroento d ' .
"§ 10, A medida cautelar padeci consistirna suspensão da aplicação da sobre leI ou ato normativo federal. estad t a controversl~ con.sfltuclonal
lei ou do ato normativo questionado, no caso de omissão parcial. bem Como teriores â Constítuíção; ua ou mUniCIpal, tnclUldos os an-
na suspensão de processos judiciais ou de procedimentos adminístrativos, I! - (Vetado)
ou ainda em outra providência a ser fixada pelo TribunaL Ar!. 2". Podem propor ar -'" d d
"§ 2., O relator, julgando indispensável, ouvirá o Procurador-Geral da damental: gUlçao e escumprimento de preceito fun-
República, no prazo de 3 (três) dias,
I - os legitímados para a ação direta de inconstItucionalidade-
"§ 3·, No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada I! - (Vetado) ,
sustentação oral aos representantes judiciais do requerente e das autorida~
§ I" Na hipótese d ' . I!
des ou órgãos responsàveis pela omissão inconstitucional. na forma estabe-
lecida no Regtmento do Tribunal.
represen~ção. solicitar a ~r~;~~~~ ~aec~~~~~ã~odm~ressado•. mediante
preceIto fundamental ao Procurador-Gerai da Re ú ~ escumpnrnento de
"Art. 12-G, Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal os fundamentos Jurldicos do pedido decid' ~ d P bbhca. que, exanunando
fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da em Juízo. • Ira o ca lmento do seu mgresso
Justiça da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de 10 (dez) dias,
devendo solicitar as informações à autoridade ou órgão responsâvel pela § 2", (Vetado)
omissão inconstitucional. observando~se. no que couber. o procedimento Art. 3". A petição inicial deverá conter:
estabelecido na Seção I do Capitulo II desta Lei, I - a indi~açã~ do preceito fundamenta! que se considera violado'
II - a mdlcaçao do ato questíonado~ ,
"Seção III
III - a prova da violação do preceito fundamental'
"Da decisão na ação direta de inconstitucíonalidade por omissão N - o ped'd '
I o, com suas especificações;
"Art. l2-H, Declarada a ínconstituclOnalidade por omissão, com ob- V-seforocaso a compro - d - ~ ,
servância do disposto no art. 22. sem dada ciência ao Poder competente c~al relevante sobre a ~plicação d:a~:~ce~::~:a dtaelcontroversia !udi-
para a adoção das providências necessârias. VIolado. en que se conSIdera
u§ 12. Em caso de omissão imputável a órgão admínistrativo. as pro- P , r.'
vidênclOs deverão ser adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo aragra o umco, A pellção miClOI, acompanhada de inStrume t d
razoável a ser estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista
as circunstâncias específicas do caso e o interesse público envolvido.
~:~~o~t~e :~~S~I~~~~~S:~~;~~~~:~~t~~ :euc~s:~as,
Impugnação.
devendo con~~Cà~
nos para comprovar a
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 883
882

Art. 4". A petição inicial sem índeferida liminarmente, pelo relator, § 2'. (Vetado)
quando não for o caso de argüição de de~cumpriment? de pre"ceito funda- Ar!. 9". (Vetado)
mental, faltar algum dos reqUIsitos prescritos nesta Lei ou for mepta. Art. 10. Juígada a ação, far-se-á comunicação âs autoridades ou ór-
§ I". Não sem admitida argüição de descumprimento de preceito fun- gãos responsàveis pela prática dos atas questionados. fixando-se as condi-
damental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a leslVldade. ções e o modo de interpretação e aplicação do preceito fundamental.
§ 2". Da decisão de indeferimento da petição ínieial cabem agravo, no § I", O presidente do Tribunal determmara o Imediato cumprimento
prazo de cinco dias. , , da decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente.
Art. 5". O Supremo Tribunal Federal, por decisão da malOna absoluta § 2". Dentro do prazo de dez dias contado a partir do trânsito em Jul-
de seus membros, podem deferir pedido de medida liminar na argüição de gado da decisão, sua parte dispOSltiva será publicada em seção especial do
descumprimento de preceito fundamental. Diário da Justiça e do Diário OfiCial da União.
§ 12. Em caso de extrema urgêncía ou perigo de.lesão grave. ou ainda, § 32 . A decisão terá eficácia contra todos e efeito vinculante relativa-
em penado de recesso, poderá o relator conceder a ltmmar. ad referendum mente aos demais órgãos do Poder Público.
do Tribunal Pleno. Art.. 11. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo,
§ 22.. O relator poderá ouvir os órgãos ou autorida~:s responsáveis pelo no processo de atgüição de descumprimento de preceito fundamental, e
ato questionado, bem como o Advogado-Geral'!" Umao ou o Procurador- tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse
Geral da República. no prazo comum de cmco dias. socml, poderà o Supremo Tribunal Federal. por maiorÍa de dois terços de
§ 32. A liminar poderá consistír na determinação .de que juí~e~ e t;n- seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela
bunais suspendam o andamento de processo ou os efeIto: de deClsoes }~­ só tenha eficáCIa a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento
diciais, ou de qualquer outra medida que aprese~te relaçao com a matena que venha a ser fixado.
objeto da argüição de descumprimento de preceito fundamental, salvo se Ar!. 12. A deCisão que julgar procedente ou improcedente o pedido
decorrentes da coisa julgada. em argüição de descumpnmento de preceito fundamental e irrecorrivel,
§ 4". (Vetado) não podendo ser objeto de ação rescisôna.
Ar!. 6". ApreCiado o pedido de limmar, o relator solicitará as informa- Art. 13. Caberà reclamação contra p descumprimento da decisão pro-
ções âs autoridades responsáveís pela prática do ato questIOnado. no prazo ferida pelo Supremo Tribunal Federal, na forma do seu Regimento Interno.
de dez dias. Art. 14. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
§ 1g, Se entender necessmo, pod~~ o -:elator oU':Ír as ?artes _nos p~o­
cessas que ensejaram a argUição. reqUISItar mformaçoes adICIOnaIS, des:g-
nar perito ou comissão de peritos para que ~~it:l pa:ec.er sobre a questão, RAZÕES DO VETO PRESIDENCIAL
ou ainda, fixar data para declarações, em audlencla pubhca. de pessoas com
Mensagem n. 1.807, de 3 de dezembro de 1999
experiência e autoridade na matéria.
§ 211. Poderão ser autorizadas. a critério do relator. sustent:lção oral e Sr. Presidente do Senado Federal,
juntada de memoriais, por requerimento dos ínteressados no proc.esso. , Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do § I" do art. 66 da
Ar!. 7'. Decorrido o prazo das informações, o relator lançara o relata- Constituição Federal, deeidi vetar, parcialmente, o Projeto de Lei n. 17, de
ria, com cópia a todos os ministros. e pedirâ dia para julgamento. 1999 (n. 2.872/97 na Câmara dos Deputados), que "Dispõe sobre o proces-
Paragrafo único. O Ministério Público, nas argüições que não bouver so e julgamento da argUição de descumprimento de preceito fundamental,
formulado. teci vÍsta do processo, por cinco dias, após o decurso do prazo nos termos do § I" do art. 102 da Constituição Federal"
para informações. , Decidi vetar os dispositivos a seguír transcritos:
Ar!. 8'. A decisão sobre a argüição de descumprimento de preceito
fundamental somente será tomada se presentes na sessão pelo menos dois Incíso II do paragrafo unico do arfo la., § 4(1 do art. 52 e art. sr-
terços dos Ministros.
"Ar!. I". ( ... ).
§ I", (Vetado)
MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 885
884

"Parágrafo uruco. ( ... ): der o âmbito constitucionalmente autorizado de intervenção do Supremo


Tribunal Federal em matéria mtema corporis do Congresso Nacional. No
"( ... );
que toca à mtervenção constituCIonalmente adequada do Supremo Tribunal
"li - em face de interpretação ou aplicação dos regímentos Ínter-
Federal, seria oportuno considerar a colmatação de eventual1acuna relatIva
nos das respectivas Casas. ou regimento comum do Congresso Nacional,
no processo legislativo de elaboração das normas previstas no art. 59 da
a sua admissão, em se tratando da estrita fiscalização da observância das
normas constttucionrus relativas a processo legislativo.
Constituição Federal." A seu turno, impõe-se o veto do § 4!l do art. 52 pelas mesmas razões
"Art. 5'. (... ). aduzidas para vetar-se o inCiSO II do parágrafo umco do art. 12 , consubstan-
"(... ). ciadas, fundamentalmente, em intervenção excessíva da junsdição consti-
'"§ 42. Se necessário para evitar lesão à ordem constitucional OU dano tucional no processo legíslativo, nos termos da menCIOnada jurisprudência
irreparável ao processo de produção da normajurldica, o Supremo Tribunal do Supremo Tribunal Federal.
Federal poderá. na forma do caput. ordenar a suspensão do ato impugnado O art. 92 , de modo análogo. confere ao Supremo Tribunal Federal in-
ou do processo legíslativo a que se refIra, ou amda da promulgação ou pu~ tervenção excessiva em questão mlerna corporis do Poder Legisfativo, tal
blicação do ato legislativo dele decorrente." como asseverado no veto oposto ao inciso II do parágrafo único do art. 12_
"Art. 92. Julgando procedente a argüição. o Tribunal cassará o ato ou Com efeito, a disposição encontra-se vinculada â admissão da ampla inter-
decisão exorbitante e. conforme o caso, anulam os atas processuais legis- venção do Supremo Tribunal Federal nos processos legislativos in genere.
lativos subseqüentes. suspenderá oS efeitos do ato ou da norma jurídica Assím, opostos vetos as disposições insertas no inciso II do paràgrafo unico
decorrente do processo legislativo impugnado. ou determinará medida ade- do art. 12 e ao § 4º do art. 52, torna-se imperativo seja vetado também o art.
quada â preservação do preceito fundamental decorrente da Constituição." 92 •

Razões dos vetos Inciso II do arl. 2!1.


Impõe-se o veto das disposíções acíma referidas por ÍnconstitucÍona- "Art. 2". (... ).
lidade. "(... )
Não se faculta ao egrégio Supremo Tribunal Federal a intervenção "II - qualquer pessoa lesada ou ameaçada por ato do Poder Público."
ilimitada e genérica em questões afetas a "interpretação ou aplicação
dos regimentos Íntemos das respectIvas Casas. ou regimento comum do Razões do veto
I
,I
Congresso Nacíonal" preVIsta no inciso II do pilràgrafo único do art. 1
2

Tais questões constituem antes matéria interna corporís do Congresso A disposíção insere um mecanismo de acesso direto. írrestrito e in-
Nacional. A intervenção autorizada ao Supremo Tribunal Federal no âmbíto dividuai ao Supremo Tribunal Federal sob a alegação de descumprimento
das normas constantes de regimentos internos do Poder Legislativo restrin- de preceito fundamental por "qualquer pessoa lesada ou ameaçada por ato
ge-se àquelas em que se reproduzem normas constitucíonaís. Essa orienta- do Poder Público", A admissão de um acesso individual e lrrestrito e 10-
ção restou assentada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do MS compatível com o controle concentrado de legitimidade dos atas estatais
n. 22.503-DF. ReI. para o acórdão Min. Mauricio Corrêa. DJU 6.6.97. p. - modalidade em que se lUsere o instituto regulado pelo projeto de lei sob
24.872. Do mesma modo. no julgamento do MS n. 22.183-DF. ReI. Min. exame. A inexistência de qualquer requísíto específico a ser ostentado pelo
Marco Aurélio. o Supremo Tribunal Federal assentou: "3. DeCisão funda- proponente da argUição e a generalidade do objeto da impugnação fazem
da, exclusivamente. em norma regimental referente à composíção da Mesa presumIr a elevação excessiva do numero de feitos a recfamar apreciação
e índicação de candidaturas para seus cargos (art. 82 ). 3.1 O fundamento pelo Supremo Tribunal Federal, sem a correiata exigência de relevânCia
regimental, por ser matéria interna corporis, só pode encontrar solução no saciai e consistência jurídica das argüições propostas. Dúvida não hã de
âmbito do Poder Legislativo. não ficando sujeito á apreciação do Poder que a viabilidade funcional do Supremo Tribunal Federal consubstanCia um
2
Judiciário. 3.2 Inexistêncla de fundamento constitucional (art. 58. § 1 ), objetivo ou principiO implícito da. ordem constítucional, para cuja máxima
caso em que a questão poderia ser submetida ao Judiciáno" (DJU 12.12.97. eficácia devem zelar os demais Poderes e as normas infraconstitucionais.
p. 65.569). Dito isso. impõe-se o veto da referida disposição por transcen- De resto. o amplo rol de entes legitimados para a promoção do controle
886 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 887

abstrato de normas mscrito no art. 103 da Constituição Federal assegura te -: tal como no caso ocorre - se a tutela junsdicional é invocada para pa-
a veículação e a seleção qualificada das questões constitucionais de maior ralIsar o curso regular de processo de reforma da Carta Política instaurado
relevância e consistência, atuando corno verdadeiros agentes de represenw perante ôrg~o ~o.mpetente". Por outro lado, a existência de amplo rol de en-
tação socIal e de assistência à cidadama. Cabe Igualmente ao Procurador- tes SOCIal e jundIcamente legitImados para a promoção do contro le abstrato
Geral da República, em sua função precipua de Advogado da Constituição, de normas assegura a adequada veiculação das questões constitucionais de
a formalização das questões constitucionaís carentes de decísão e social- ~damentação relevante e consístente, sem prejuízo do amplo acesso índi-
mente relevantes. Afigura-se correto supor. portanto. que a existêncía de vIdual ao controle difuso de constítucionalidade. Nessa medida, mexistindo
uma pluralidade de entes social e juridicamente legitunados para a promo- direito subjetivo a um acesso imediato ao Supremo Tribunal Federal ao
ção de controle de constitucionalidade - sem prejuízo do acesso individual ao m~smo tempo em que se asseguram outras e amplas vias para o processo
controle difuso - torna desnecessário e pouco eficiente admitír-se o excesso e Julgamento das controverslas constituCIonais pertmentes, a admissão de
de feitos a processar e julgar certamente decorrentes de um acesso irrestrito um recurso ao Supremo Tnounal Federal na hipótese de indeferimento da
e individual ao Supremo Tribunal Federal. Na medida em que se multipli- representação desqualifica o necessário exame de relevânCIa e consistência
cam os feítos a examinar sem que se assegure sua relevância e transcen- pelo Procurador-Geral da República e cria, em verdade, procedimento adi-
dência social. o comprometimento adicíonal da capacídade funcíonal do cional e desnecessâno a demandar processamento e julgamento específico.
Supremo Tribunal Federal constitui inequivoca ofensa ao interesse público. Impõe-se, destarte, o veto da disposíção por contrariar o interesse público.
Impõe-se, portanto. seja vetada a dísposíção em comento.
§§ I' e 2" do arfo 8º
§ 2' do arfo 2' "Art. 8". ( ... ).

"Art. 2". (... l.


"'§ lll. Considerar-se-á procedente ou improcedente a argüição se
num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos dois terços dos
"( ... ). Minístros.
u§ 22. Contra o indeferimento do pedido. caberá representação ao
"§ 22_ Se não for alcançada a maioria necessâria ao )ulgamento da
Supremo Tribunal Federal. no prazo de cínco dias. que serâ processada e
argüição, estando ausentes Minístros em numero que possa inflmr no jul-
julgada na forma estabelecida no Regimento Interno do Supremo Tribunal
g~mento, este sera suspenso a fim de aguardar-se sessão plenária na qual se
Federal." atmja o quórum minímo de votos."

Razões do veto Razões do veto


A eXIgência de um juízo favorável do Procurador-Geral da República O § I" do ar!. 8" exige, para o exame da argüição de descumpnmento
acerca da relevâncía e da consistência da fundamentação da representação de preceito fundamental, quorum superior mclusive àquele necessmo para
(prevista no § 12 do art. 22) conslItui um mecanismo adequado para assegu- o exame do ménto de ação direta de ínconstitucÍonalidade. Tal disposição
rar a legItimidade da argüição de descumprimento de preceito fundamental. con~t~tuírá, portanto, restnção desproporcional á celeridade, ti capacidade
A legítimidade da eXIgência reside não só na necessidade de resguardar a declsona e ti eficiênCIa na prestação jurisdicional pelo Supremo Tribunal
Viabilidade funCIOnal do Supremo Tribunal Federal- por meio da mdaga- Federal. A isso. acrescente-se a consideração de que o escopo fundamental
ção substancial acerca da relevâncía e da consistêncía das questões a serem do projeto de lei sob exame reside em ampliar a eficácía e o alcance do
apreciadas - bem como em razão da ínexistência de um direito subjetivo sistema de controle de constituclOnalidade, o que certamente resta frustrado
a essa prestação junsdiclOnaL Com efeito, ao apreciar o MS n. 23.565-DF diante do excessÍvo quorum exígido pelo dispositivo ora vetado. A fideli-
(ReI. Min. Celso de Mello), asseverou ainda o Supremo Tribunal Federal: da.de à Constituição Fed~ral impõe o veto da disposição por interesse pú-
«Em suma: a eventual pretensão de terceiro. em não sofrer os efeitos deri- blIco, resguardando-se, amda urna vez, a VIabilidade funcional do Supremo
vados de norma legal ou de emenda à ConstituIção. ainda em rase de elabo- Tnbunal Federal e a presteza nas suas decisões.
ração, e alegadamente ofensiva de qualquer das cláusulas constitucionais. Opõe-se ao § 22 do arl 8" veto decorrente do veto oposto ao § I" do
não se eleva, por si só, à condição de direito líquido e certo para fins do art. 82 , de cUJO conteudo normativo o § 2º- encontra-se ineqUivocamente
) processo mandamental e de ativação da jurisdição do Estado. especiaLmen- dependente e de cujos vícios comunga.
:1
i:1
.:1
888 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 889

Estas. Sr. Presidente, as razões que me levaram a vetar em parte o pro w


§ 12.. Em caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave, ou, ainda,
jeto em causa. as quais ora submeto aelevada apreciação dos Srs. Membros em penodo de recesso, poderá o relator conceder a liminar, ad referendum
do Congresso NaclOnaL do Plenário.
§ 2º. O relator poderá ouvír os órgãos ou autoridades responsaveis pelo
Brasília, 3 de dezembro de 1999
ato questlOnado, bem como o Advogado-Geral da União ou o Procurador-
Geml da República, no pmzo comum de 5 (cinco) dias.
11. Legislação sobre a representação interventiva § 32 . A liminar poderá consistir na determínação de que se suspenda
o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais ou adminis-
PROJETO DE LEI trativas, ou de qualquer outra medida que apresente relação com a matéria
DO SENADO N. 51, DE 2006 objeto da representação interventiva.
Art. 6". Apreciado o pedido de liminar, o relator solicitará as infor-
Regulamenta o ar/o 36, inCiSO III. da Constituição Federal, para dis- mações âs autoridades responsãveis pela prática do ato questionado, que as
por sobre o processo ejulgamento da representação interventiva perante o prestarão no pmzo de 10 (dez) dias.
Supremo Tribunol Federa/. Parágrafo único. Decortido o pmzo paro prestação das rnformações,
será ouvido o Procumdor-Geml da República, no pmzo de 10 (dez) dias.
Art. I". Esta lei dispõe sobre o processo e julgamento da representa- Art. 7fJ... Se entender necessàrio, poderá o relator requisitar informa-
ção interventiva prevista no art. 36, m, da Constituição FedemL ções adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que elabore
Art. 2". A representação será proposta pelo Procumdor·Geml da laudo sobre a questão, ou, aind~ fixar data para declarações, em audiência
República, em caso de vlOlação aos principias referidos no ar!. 34, VII, da pública, de pessoas com experiência e autoridade na matéria.
Constituição Federal ou de recusa, por parte do Estadowmembro, à execu- Parágrafo único. Poderá ser autorizada, a critério do relator, a mani-
ção de lei fedem!. festação e a juntada de documentos por parte de interessados no processo.
Art. 3f!.. A petição inicial deverá conter: Art. sa. Vencidos os prazos previstos no art. &t, ou, se for o caso, rea-
I - a indicação do principio constitucional que se considera violado, lizadas as diligências de que. trata o art. 72 , o relator lançará o relatório com
ou. se for o caso de recusa fi. aplicação de lei federal. das disposições ques- cópia paro todos os Ministros, e pedirá dia paro julgamento.
tionadas; Art. 9ll. A decisão sobre a representação interventiva somente sera
II - a índicação do ato normativo, do ato administrativo, do ato con-
tomada se presentes na sessão pelo menos 8 (oito) Ministros.
creto ou da omissão questlonados; Art. 10. Realizado o julgamento, proclamar-se-á a procedência ou Ím-
procedência do pedido formulado na representação interventiva se num ou
lll- a prova da violação do pnncípio constItucional ou da recusa de
noutro sentido se tIverem manifestado pelo menos 6 (seis) Ministros.
execução de lei fedeml;
Paràgrafo -unico. Estando ausentes MinÍstros em número que possa
IV - o pedido. com suas especificações.
ínfluÍf na decisão sobre a representação interventiva. o julgamento será sus-
Parágrafo úmco. A petição inicial será apresentada em duas vias. de- penso, a fim de se aguardar o comparecímento dos Ministros ausentes, até
vendo conter, se for o caso, cópias do ato questionado e dos documentos que se atinja o numero necessãrio para a prolação da deCisão.
necessários para comprovar a impugnação. Art. 11. Julgada a ação, far-se-á comunicação às autoridades ou ór-
Art. 42. A petição iniCial sem indeferida liminarmente, pelo relator. gãos responsâveis pela prática dos atas questionados e, se a decisão final
quando não for o caso de representação interventiva. faltar algum dos re- for pela procedência do pedido formulado na representação interventtv~ o
quísitos estabelecidos nesta Lei ou for inepta. Presidente do Supremo Tribunal Fedeml, publicado o acórdão, levá-Io-; ao
Parágrafo úmco. Da decisão de indeferimento da petição micml cabe- conbecimento do Presidente da República, paro os fins do art. 36, §§ 1" e
rá agravo, no prazo de 5 (cinco) dias. 3", da Constítuição Fedem!.
Art. 5". O Supremo Tribunal Fedem!, por decisão da malOna absoluta § 1". Dentro do pmzo de 10 (dez) dias, contados a partir do trânsito em
de seus membros, poderá deferir pedido de medida limInar na representa- julgado da deCISão, a parte dispositíva será publicada em seção especial do
ção interventiva. Diário da Justiça e do Diário Oficial da União.
I 890 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 891

I: § 2º·. A decisão sem dotada de efeito vinculante relativamente aos de- cancelamento de enunCiado de sumula Vinculante pelo Supremo Tribunal
mais órgãos do Poder Público.
I', Art. 12. A decisão que julgar procedente ou improcedente o pedido de
Federal. e dá outras providências.

representação mterventíva é irrecorrivel. sendo insuscetível de impugnação Art. 1.lt. Esta Lei disciplina a edição, a revisão e o cancelamento de
por ação resclsôria. enunciado de súmula vmculante pelo Supremo Tribunal Federal e dá outras
Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. providências.
Art. 22 • O Supremo Tribunal Federal poderá, de oficIO ou por provo-
Justificação cação. após reiteradas decisões sobre matéria constítucional. editar enun-
ciado de súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial terá
O presente projeto, lOspirado em sugestão que nos foi feita pelo emi-
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
nente Min. Giimar Ferreira Mendes, do Supremo Tnbunal Federal, tem por
admInIstração pública direta e índíreta, nas esferas federal. estadual e muni-
objetivo disciplinar o processo e o julgamento das representações interven-
cípal, bem como proceder â sua revÍsão ou cancelamento, na forma prevista
tivas, previstas pelo arl. 36. mciso m, da Constituição da República com
nesta Lei.
a redação dada pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004 (Reforma do
Judiciáno). § 12 • O enunCiado da súmula tera por obJeto a validade, a interpretação
e a eficâcia de normas determínadas. acerca das quais haja. entre órgãos
Elaborado com o rigor técnico-científico de um dos maiores espe-
Judiciários ou entre esses e a administração pública. controvérsia atuai que
cialistas brasileiros no assunto, o projeto resgata normas de procedimento
acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos
corriqueIro no Supremo Tribunal FederaL sem descurar de estabelecer ri-
sobre idêntica questão.
gidos parâmetros para o deferimento de liminares e o acolhunento final do
pedido. tendo em vista a grave repercussão da medida no pacto federativo. § 22 . O Procurador-Geral da República. nas propostas que não houver
Ê por isso que se estabelece que o deferimento de medidas liminarcs, formulado, manifestar-se-á previamente á edição, revisão ou cancelamento
salvo hipóteses excepcionais. ocorrem apenas por decisão da malOrla abso- de enunctado de sUmula vlDculante.
luta dos membros da Suprema Corte. Tal regra impedirá que se torne regra § 3R• A edição, a revisão e o cancelamento de enunciado de sumula
a situação em que apenas um Ministro. em decisão isolada e dissociada do com efe!lo vinculante dependerão de decisão tomada por 2/3 (dois terços i
entendimento de seus Pares. adote medida de amplo impacto nos pilares da dos membros do Supremo Tribunal Federal. em sessão plenána.
República. § 4". No prazo de 10 (dez) dias após a sessão em que editar, rever ou
Por outro lado, a proposição não olvida que sítuações urgentes podem cancelar enunciado de súmula com efeito vinculante, o Supremo Tribunal
ocorrer. ASSIrO. em seu art. 52, § 12, prevê a possibilidade de deferimento de Federal fará publicar. em seção especial do DiáriO da Justiça e do Diário
medida liminar ad referendum do Plenário. que deverâ confirmar ou cassar Oficial da União, O enunciado respectivo.
a decisão. a seu talante. Art. 311• São legitimados a propor a edição. a revisão ou o cancelamen-
Trata-se. sem dúvida. de maténa relevante que não pode pender de to de enunciado de sUmula vinculante:
regulamentação, razão pela qual conclamamos os nobres Pares a aprova- I - o Presidente da República:
rem-na. convictos que estamos de sua grande utilidade para a sociedade II - a Mesa do Senado Federa~
brasileira. m - a Mesa da Câmara dos Deputados:
Sala das Sessões. 13 de março de 2006 -José Jorge. N - o Procurador-Geral da República:
V - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil:
12. Leis de modernização do processo civil VI - o Defensor Público-Geral da União:
VII - partido polítICO com representação no Congresso NaCIOnal:
LEI N. 11.417. DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006 vm - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito naCIOnal:
IX - a Mesa de Assembléia LegislatIva ou da Câmara Legislativa do
Regulamenta o art. 103-A da Constituição Federal e altera a Lei n. Distnto Federa~
9.784, de 29 de janeIro de 1999. disciplinando a edição. a revisão e o X - o Governador de Estado ou do Distnto Federal:
892 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS APÊNDICE 893

XI - os Tribunais Supenores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do Art. 9". A Lei n. 9.784. de 29 de Janeiro de 1999, passa a vIgorar
I Distrito Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais acrescida dos seguintes arts. 64-A e 64-B:
RegIOnais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os TribunaiS "Art. 64-A. Se o recorrente alegar violação de enunciado da sumula
Militares, vinculante. o órgão competente para decidir o recurso explicitam as razões
ri § I", O Município padeci propor, incidentalmente ao curso de proces- da aplicabilidade ou Inaplicabilidade da súmula, confonne o caso."
so em que seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de "Ar!. 64-B. Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclamação
11
,I sumula vinculante, o que não autoriza a suspensão do processo. fundada em violação de enunciado da sUmula Vinculante, dar-se-à ciência a
,ii
[
§ 2º-, No procedimento de edição. revIsão ou cancelamento de enuu-
dado da sumula vínculante. o relator poderã admitir. por decisão irrecor-
autoridade prolatora e ao órgão competente para o juigamento do recurso.
que deverão adequar as futuras decísões administrativas em casos seme-
rível, a manifestação de terceiros na questão. nos termos do Regimento
,
,I
Interno do Supremo Tribunal FederaL ,
lhantes, sob pena de responsabilização pessoal nas esferas civel; admmis-
trativa e penal."
I, Art. 4!!.. A sumula com efeíto vinculante tem eficâcia ímediata. mas o \ Art. 10. O procedimento de edição, revisão ou cancelamento de enun-
ii Supremo Tribunal Federal, por decisão de 2/3 (dOiS terços) dos seus mem- t dado de siimula com efeito vinculante obedecerá, subsidianamente. ao dis-
II bros, podem restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só tenha eficá-
cia a partir de outro momento. tendo em vísta razões de segurança jurídica
posto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.
Art. 11. Esta Lei entra em vigor 3 (três) meses após a sua publicação,
ou de excepcional interesse público.
Art. 5". Revogada ou modificada a leI em que se fundou a edição de
enunciado de súmula vinculante, o Supremo Tnbunal Federal, de oficio
I
í
Brasília. 19 de dezembro de 2006; 185" da independênCIa e 1182 da
República,
ou por provocação, procedem à sua revisão ou cancelamento, conforme o
caso.
LEI N. 11.418, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006
Art. 6". A proposta de edição. revisão ou cancelamento de enunciado
de sUmula vinculante não autoriza a suspensão dos processos em que se Acrescenta à LeI n. 5,869. de 11 de Janeiro de 1973 - Código de
discuta a mesma questão. Processo Civil. disposítivos que regulamentam o § 31! do art. 102 da
Art. 79.. Da decisão judicial ou do ato admínistrativo que contrariar COnstItUiÇão Federal.
enunciado de sÚIDula vínculante, negar-lhe vigência ou aplicà-lo índevida-
mente caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal. sem prejuizo dos Art. I". Esta Le! acrescenta os arts. 543-A e 543-B iI Lei n. 5.869. de
recursos ou outros meios admissíveis de impugnação. II de Janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, a fim de regulamentar o
§ I", Contra omissão ou ato da admmistração pública, o uso da recla- § 30 do art. 102 da Constituição Federal.
mação só será admítido após esgotamento das vÍas administrativas. Art. 2'. ALei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo
§ 2". Ao julgar procedeote a reclamação. o Supremo Tribunal Federal Civil, passa a vIgorar acrescida dos seguintes arts. 543-A e 543-B:
anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicíalimpugnada. de- "Ar!. 543-A. O Supremo Tribunal Federal. em decisão irrecorrivel.
terminando que outra seja proferida com ou sem aplicação da sumula. con- não conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão constitucional
forme o caso. nele versada não oferecer repercussão geral, nos termos deste artigo.
Art 8". O art. 56 da Le! o. 9,784. de 29 de janeiro de 1999, passa a "§ l ll . Para efeíto da repercussão geral, será considerada a existência,
vigorar acrescido do segumte § 32 , ou não. de questões relevantes do ponto de vista econômico, políttco. SOCIal
"Ar!. 56. (... ) oujuridico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa.
"§ 32 , Se o recorrente alegar que a decisão administrativa contraria "§ 22., O recorrente deverà demonstrar. em preliminar do recurso, para
enuncíado da sumula vinculante, caberâ â autoridade prolatora da decisão apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a eXIstêncía da reper-
ímpugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes de encaminhar o recurso cussão geral.
iI autoridade superior, as razões da aplicabilidade ou maplicabilidade da "§.3 ll• Haverá repercussão geral sempre que o recurso ímpugnar deCI-
súmul~ conforme o caso." são contràna a sumula oujunsprudência dominante do Tribunal.
894 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÔES CONSTITUCIONAIS

"§ 4'1 Se a Turma decidir pela existência da repercussão geral por,


1
I
\
APÊNDICE

LEI N, 11.419, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006


895

no minimo. 4 (quatro) votos. ficará dispensada a remessa do recurso ao


Plenário. Dispõe sobre a infonnatízação do processo judicial; altera a Lei n.
5.869. de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil: e dá outras
"§ 52. Negada a existência da repercussão geral, a decisão valerá para
provídências.
todos os recursos sobre matéria idêntica, que serão indeferidos liminar-
mente, salvo revisão da tese, tudo nos termos do Regimento Interno do Capítulo I
Supremo Tribunal Federal. Da fnfonnatização do processo judicíal
"§ 6". O Relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a Art. 1Sl. O uso de meío eietrônico na tramitação de processos Judiciais,
manifestação de terceiros. subscrita por procurador habilitado, nos termos comunicação de atas e transmissão de peças processuais serà admitido nos
do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. termos desta Lei. .
'"§ 72-. A Súmula da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, § 1 . Aplica-se o disposto nesta Lei, indistintamente, aos processos
2

que será publicada no Diário Ofidal e valerá como acórdão." cívil, penal e trabalhista. bem como aos juizados especiais. em qualquer
grau de junsdição.
"Art. 543-B. Quando houver multiplicidade de recursos com funda-
mento em idêntica controversia. a análise da repercussão geral serà pro- § 22 • Para o disposto nesta Lei, considera-se:
cessada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, I - meio eletrônico qualquer forma de annazenamento ou tráfego de
documentos e arquivos digitais;
observado o disposto neste artigo.
II - transmissão eletrônica toda forma de comunicação a distância
"§ 12 • Caberá ao Tribunal de origem selecíonar um ou mais recur- com a utilização de redes de comunicação, preferencía1mente a rede mun-
sos representatIvos da controversia e encaminhá-los ao Supremo Tribunal dial de computadores;
Federal, sobrestando os demais até o pronunciamento definitivo da Corte. m - assÍnatura eletrômca as seguintes formas de identificação inequí-
'"§ 22.. Negada a existêncía de repercussão geral, 05 recursos sobresta- voca do signatário:
dos considerar-se-ão automaticamente não admitidos. a) assinatura digital baseada em certificado digItal emitido por
u§ 32.. Julgado o mérito do recurso extraordinário. os recursos 50- Autoridade Certificadora credencia~ na forma de lei específica~
brestados serão aprecíados pelos Tribunais. Turmas de Uniformízação ou b) mediante cadastro de usuârío no Poder Judiciãrio, conforme diSCI-
Turmas Recursais. que poderão declará-los prejudicados ou retratar-se. plinado pelos órgãos respectivos.
"§ 42. Mantida a decisão e admitido o recurso, poderá o Supremo Art. 2n.. O envio de petições, de recursos e a prátíca de atos pro-
Tribunal Federal, nos termos do Regimento Interno, cassar ou reformar, cessualS em geral por melO e[etrônÍco serão admitidos mediante uso de
limínarmente. o acórdão contrãrio a orientação fIrmada. assinatura eletrônica, na forma do art. I II desta LeI, sendo obrigatório o
crede.nciamento prévio no Poder Judiciário. conforme disciplinado pelos
"§ 52. O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal disporá so-
bre as atribuiçães dos Mimstros, das Turmas e de outros órgãos, na análise !i órgãos respectívos.
I § l ll . O credenciamento no Poder Judiciário serâ realizado mediante
da repercussão geral."
procedimento no qual esteja assegurada a adequada identificação presen-
Art, 32 • Caberá ao Supremo Tribunal Federal, em seu Regimento cial do interessado.
Interno, estabelecer as normas necessárias à execução desta Leí. § 2º-. Ao credenCiado sera atribuído registro e melO de acesso ao siste-
Art. 42. Aplica-se esta Lei aos recursos mterpostos a partir do primei- ma, de modo a preservar o sígilo, a identificação e a autenticidade de suas
ro dia de sua vígência.
Art, SOo Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de sua
publicação.
I!. I
comurucações.
§ 32 . Os órgãos do Poder Judiciário poderão criar um cadastro único
para o credenciamento prevísto neste artigo.
Art. 3S!., Consideram-se realizados os atas processuais por meio ele-
Brasília, 19 de dezembro de 2006; 185 2 da Independência e 1182 da I" trónico 110 dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciãrio, do que
República. deverâ ser fornecido protocolo eletrônico.
896 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS
1
! APÊNDICE 897

Parágrafo único. Quando a petição eletrônica for enviada para atender evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema, o ato processual deverá
prazo processual~ serão consideradas tempestivas as transmítidas até as 24 ser realizado por outro melO que atinja a sua finalidade, conforme determI-
(vinte e quatro) horas do seu último dia. nado pelo JUiz.
§ 62. As intimações feitas na forma deste artigo. incluslve da Fazenda
Capítulo!! Pública, serão consideradas pessoaIs para todos os efeitos legais.
Da comunIcação elelrónica dos aios processuais
Ar!. 62. Observadas as formas e as cautelas do art. 52 desta Lei, as Cita-
Ar!. 4". Os tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico, dispo- ções, inc1usíve da Fazenda Pública, excetuadas as dos Direitos Processuais
nibilizado em sítio da rede mundial de computadores, para publicação de Crimínal e Infracionai. poderão ser feitas por meio eletrônico, desde que a

I
atas judiciais e administrativos próprios e dos orgãos a eles subordinados. integra dos autos seja acessivel ao citando.
bem como comunicações em geral. Art. 7fl• As cartas precatórias, rogatórias. de ordem e, de.um modo
§ 12 , O sítio e o conteúdo das publicações de que trata este artigo geral. todas as comunicações oficiais que transitem entre órgãos do Poder

I deverão ser assinados digitalmente com base em certificado emítido por


Autoridade Certificadora credencíada na forma da lei específica.
§ 22 • A publicação eletrônica na forma deste artigo substitui qualquer
Judiciário, bem como entre os deste e os dos demais Poderes, serão feItas
preferentemente por meío eletrânico.

I outro meío e publicação oficial, para quaisquer efeitos legaís. à exceção dos
casos que, por lei, exigem ínttmação ou vista pessoal.
§ 32 . Considera-se como data da publicação o primeiro dia titil seguin-
Capitulo !II
Do processo eletrônico

I
Ar!, 8", Os órgãos do Poder Judiciário poderão desenvolver sIStemas
te ao da disponibilização da informação no Diãrto da Justiça eletrôníco.
eletrônicos de processamento de ações judiciais por meio de autos total
§ 42. Os prazos processuais terão inicio no primeiro dia útil que seguir
ou parcíalmente digitais, utilizando. preferencialmente, a rede mundial de
ao considerado como data da publicação.
computadores e acesso por meio de redes ínternas e externas.
§ 52. A criação do Diário da Justiça eletrôruco devera ser acompanha-
Parágrafo único. Todos os atas processuaIS do processo eletrônico se-
da de ampla divulgação, e o ato admínistratívo correspondente será publi-
rão assinados eletronicamente na forma estabelecida nesta Lei.
cado durante 30 (trinta) dias no diário oficial em uso.
Art. 92 • No processo eletrônico. todas as citações, intImações e noti-
Ar!. 5". As intimações serão feitas por melO eletrônico em portal pró-
ficações, inclusive da Fazenda Pública. serão feitas por mela eletrônico, na
prio aos que se cadastrarem na forma do art, 211 desta Lei. dispensando-se a
publicação no órgão oficiaL inclusive eletrônico. forma desta Lei.
§ lll, Considerar-se-á realizada a intímação no dia em que o intiman- § 1!l. As citações, intimações, notificações e remessas que víabilizem
do efetivar a consulta eletrôruca ao teor da ínttmação. certificando-se nos o acesso â integra do processo correspondente serão consideradas vista pes-
autos a sua realização, soal do interessado para todos os efeitos legais.
§ 22 • Na hipótese do § 12 deste artigo, nos casos em que a consulta se § 22., Quando, por motivo técmco, for inviável o uso do melO eletrôm-
dê em dia não útil, a intimação será considerada como realizada no primei- co para a realização de citação, intimação ou notificação. esses atos proces-
ro dia útil seguinte. suais poderão ser pratIcados segundo as regras ordinárias. digítalizando-se
§ 32. A consulta refurida nos §§ 12e 22 deste artigo deverá ser feita em o documento fisico. que deverá. ser posteriormente destruído.
até 10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena Ar!. 10. A distribUIção da penção irucial e a juntada da contestação,
de considerar-se a intímação automaticamente realizada na data do término dos recursos e das petições em geral, todos em formato digital, nos autos
desse prazo. de processo eletrônico. podem ser feitas diretamente pelos advogados pú-
§ 42, Em caráter informativo, podem ser efetivada remessa de cor- blicos e privados. sem necessidade da intervenção do cartório ou secretaria
respondência eletrônica. comunicando o envio da intimação e a abertura judicial, situação em que a autuação deverâ se dar de forma automática.
automática do prazo processual nos termos do § 32 deste artigo, aos que fornecendo-se recibo eletrônico de protocolo.
manifestarem interesse por esse serviço. § 12 , Quando o ato processual tiver que ser praticado em determinado
§ 511• Nos casos urgentes em que 'a intimação feíta na forma deste ar- prazo, por meio de petição eletrâníca, serão considerados tempestivos os
tigo possa causar prejuízo a quaisquer das partes ou nos casos em que for efetlvados até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia.
.
'1"""'::
898 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS I APÊNDICE 899
I

§ 22 . No caso do § 12 deste artigo, se o Sistema do Poder Judiciário se § 32 • No caso do § 22 deste artIgO, o escrivão ou o chefe de secretaria
tomar mdisponível por motivo técnico. o prazo fica automaticamente pror- certificará os autores ou a origem dos documentos produzidos nos autos,
rogado para o pnmerro dia útil segumte à resolução do problema. acrescentando, ressalvada a hipótese de existir segredo de JUStIça, a fonna
§ 32 • Os órgãos do Poder Judiciário deverão manter equipamentos de pela qual o banco de dados poderá ser acessado para afenr a autenucidade
digitalização e de acesso á rede mundial de computadores à dispoSIção dos das peças e das respectivas assinaturas digitais.
ínteressados para distribuição de peças processuais. § 4". FeIta a autuação na fonna estabelecida no § 2' deste artigo. o
Art.ll. Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos pro- processo seguírà a tramitação legalmente estabelecida para os processos
cessos eletrônicos com garantia da origem e de seu sígnatàrio. na forma esta- fisicos.
belecida nesta Lei. serão considerados originais para todos os efeitos legais. § 52. A digitalização de autos em mídia não digital, em tramitação ou
§ 12 , Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados já arqUIvados. será precedida de publicação de editaIS de mtimações ou da
aos autos pelos órgãos da Justiça e seus auxiliares, pelo Ministéno Público íntimação pessoal das partes e de seus procuradores, para que. no prazo
e seus auxiliares, pelas procuradorias. pelas autoridades policiais, pelas preclusivo de 30 (trinta) dias, se manifestem sobre o desejO de manterem
repar!Jções públicas em geral e por advogados públicos e privados têm a pessoalmente a guarda de algum dos documentos originais.
mesma força probante dos originais. ressalvada a alegação motivada e n.m-
Art. 13. O magIstrado poderá detenninar que sejam realizados por
damentada de adulteração antes ou durante o processo de digItalização.
meío eletrômco a exibição e o envío de dados e de documentos necessanos
§ 22 . A argUição de falsidade do documento onginal será processada
á instrução do processo.
eletronicamente na forma da lei processual em vigor.
§ 12 . Consideram-se cadastros públicos, para os efeItos deste artigo.
§ 32 , Os originais dos documentos digitalizados, mencionados no §
dentre outros existentes ou que venham a ser criados, ainda que mantidos
22 deste artigo, deverão ser preservados pelo seu detentor até o trânsito em
por concessionárias de serviço público ou empresas privadas. os que conte-
julgado da sentença ou. quando admitida, até o final do prazo para interpo-
nham infonnaç5es indíspensáveis ao exercido da função judicante.
sição de ação rescisória.
§ 4". (vetado) § 22 , O acesso de que trata este artigo dar-se-á por qualquer meio
tecnológíco disponível, preferentemente o de menor custo, considerada sua
§ 52, Os documentos cuja digítalização seja tecnicamente ínviável de-
eficiência.
vido ao grande volume ou por motivo de ilegibilidade deverão ser apresen-
tados ao cartório ou secretaria no prazo de !O (dez) dias contados do envio § 32 • (Vetado)
de petição eletrôrnca comunicando o fato, os quaís serão devolvidos à parte
Capítulo IV
após o trânsito em julgado.
Disposições gerais e finais
§ 6", Os documentos digitalizados juntados em processo eletrônico
somente estarão disponiveis para acesso por meio da rede externa para suas Art, 14, Os sistemas a serem desenvolvidos pelos órgãos do Poder
respectivas partes processuaís e para o Ministério Público, respeitado o dis- Judiciário deverão usar, preferenCialmente, programas com código aberto,
posto em lei para as situações de sigilo e de segredo de justiça. acessivels ininterruptamente por meio da rede mundial de computadores,
Art. 12. A conservação dos autos do processo poderá ser efetuada priorizando-se a sua padronização.
total ou parciaimente por meio eletrônÍco. Parágrafo único. Os sistemas devem buscar identificar os casos de
§ 1'. Os autos dos processos eletrômcos deverão ser protegidos por ocorrência de prevenção, litispendência e coisa julgada.
meio de sistemas de segurança de acesso e annazenados em meio que ga- Art. 15. Salvo impossibilidade que comprometa o acesso á jusuça, a
ranta a preservação e integridade dos dados. sendo dispensada a fonnação parte deverá !Ofonnar, ao distribuir a petição imcial de qualquer ação Judi-
de autos suplementares. cial, o nUmero no cadastro de pessoas tisicas ou jurídicas. conforme o caso,
§ 22 • Os autos de processos eletrônicos que tiverem de ser remetidos a perante a Secretana da Receita Federal.
outro juízo ou !OstânCIa superior que não disponham de sistema compatível Parágrafo unico. Da mesma forma, as peças de acusação criminaIS
deverão ser impressos em papel, autuados na fonna dos arts. 166 a 168 da deverão ser instruídas petos membros do Minístério Público ou pelas au-
Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, ainda ioridades policiais com os nUmeras de· registras dos acusados no Instituto
que de natureza criminal ou trabalhista, ou pertinentes a juizado especIaL Nacional de Identificação do Ministério da Justiça, se houver.
900 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS

Art. 16. Os livros cartorários e demais repositórios dos órgãos do


l ,
I
APÊNDICE 901

"Parágrafo único. As intimações podem ser feItas de forma eletrôruca,


Poder Judiciário poderão ser gerados e armazenados em meío totalmente conforme regulado em lei própria."
eletrônico. "Art. 365. (...)
Art.17. (Velado) "V - os extratos digitais de bancos de dados, públicos e privados, des-
Art. 18. Os órgãos do Poder Judiciário regulamentarão esta Lei. no de que atestado pelo seu emitente. sob as penas da leI, que as informações
que couber, no âmbito de suas respectivas competêucías. conferem com o que consta na origem;
Art. 19. Ficam convalidados os atas processuais praticados por meio "VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento, público ou
eletrônico até a data de publicação desta Lei. desde que tenbam atmgido particular, quando juntados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus auxi-
sua finalidade e não tenba havido prejuizo para as partes. liares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas
Arl. 20. ALei n. 5.869. de 11 dejaneíro de 1973 - Código de Processo repartíções públicas em geral e por advogados públicos ou pnvaçios, ressal-
Civil, passa a vigorar com as seguintes alterações: vada a alegação motivada e fundamentada de adulteração antes ou durante
"Art. 38. ( ... ) o processo de digitalização.
"Paragrafo unica. A procuração pode ser assinada digitalmente com "§ 111 , Os originais dos documentos digitalizados, mencionados no Ín-
base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credencÍada, na ciso VI do caput deste artígo, deverão ser preservados pelo seu detentor até
forma da lei especifica." o final do prazo para interposição de ação rescÍsôria.
"Art. 154. (... ). u§ 22, Tratando-se de côpia digital de título executivo extrajudicial ou
outro documento relevante à instrução do processo, o juiz poderá determi-
''Parágrafo único. (Velado).
nar o seu depósito em cartóno ou secretaria."
"§ 22 . Todos os atas e termos do processo podem ser produzidos, trans-
"Art. 399. (... )
mítidos, armazenados e assinados por meío eletrônico. na forma da lei."
u§ 111, Recebidos os autos. o juiz mandam extraIr. no prazo rnaxlrno e
"Ar!. 164. (... )
improrrogàvel de 30 (trinta) dias, certidões ou reproduções fotográficas das
"Parágrafo unÍco. A assinatura dos juízes, em todos os graus de juris~ peças indicadas pelas partes ou de oficio; findo o prazo, devolverá os autos
dição, pode ser feita eletronicamente, na forma da lei." à repartição de origem.
"Art. 169. (... ) "§ 22 • As repartições públicas poderão fornecer todos os documentos
"§ 1º". É vedado usar abreviaturas. em meio eletrônico conforme disposto em lei, certificando, pelo mesmo
"§ 22 , Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrônico. meio, que se trata de extrato fiel do que consta em seu banco de dados ou
os atas processuaIS praticados na presença do juiz poderão ser produzidos do documento digItalizado."
e armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrôníco invio~ "Art. 417. (... )
lável. na forma da lei. mediante registro em termo que sem assinado digi- "§ I" O depoimento será passado para a versão datilográfica quando
talmente pelo juiz e pelo escrivão ou chefe de secretana, bem como pelos houver recurso da sentença ou noutros casos, quando o juiz o determinar,
advogados das partes. de oficlO ou a requerimento da parte.
"§ 3". No caso do § 22 deste artIgO, eventuaIs contradições na trans- '"§ 22 , Tratando-se de processo eletrônico. observar-se-ã o disposto
crição deverão ser suscitadas oralmente no momento da realização do ato. nos §§ 22 e 3" do art. 169 desta Lei."
sob pena de precIusão. devendo o juiz decidir de plano. registrando-se a "Art. 457. ( ... )
alegação e a decisão no termo."
"( ... )
"Art. 202. ( ... ) "§ 4". Tratando-se de processo eletrômco, observar-se-a o disposto
"§ 3". A carta de ordem. carta precatória ou carta rogatória pode ser nos §§ 22 e 3" do art. 169 desta Lei."
expedida por meio eletrôruco. situação em que a assinatura do Juiz deverá "Art. 556. ( ... )
ser eletrônica. na forma da lei."
"Parágrafo Unico. Os votos. acôrdãos e demais atas processuais po-
"Ar!. 221. ( ... ) dem ser registrados em arquivo eletrônico mviolável e assínados eletroni-
"IV - por meio eletrôníco. conforme regulado em lei própria." camente, na forma da leI, devendo ser impressos para Juntada aos autos do
"Art. 237. (... ) processo quando este não for eletrônico."
\

902 MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÕES CONSTITUCIONAIS


\ APÊNDICE 903

LEI N. 11.672. DE 8 DE MAIO DE 2008 "§ 8". Na hipótese prevista no inciso II do § 7" deste artigo, mantida a
decísão divergente pelo tribunal de origem, far-se-á o exame de adnussibl-
Acresceoart. 543-CàLein. 5.869. de 11 deJlmeirode 1973 -Código lidade do recurso especial.
de Processo Civil. estabelecendo o procedimento para o julgamento de re- "§ 92 • O Superior Tribunal de Justiça e os tnbunals de segunda ins-
cursos repetitivos no âmbito do Superior Tribunal de Justiça. tância regulamentarão. no âmbito de suas competêncías, os procedimentos
Art I". ALei n. 5.869, de 11 dejanerro de 1973 -Código de Processo
relativos ao processamento e julgamento do recurso especial nos casos pre-
vistos neste artigo."
Civil, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 543-C:
Art. 2.2. Aplica-se o disposto nesta Lei aos recursos já interpostos por
"Ar!. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com funda-
ocasião da sua entrada em vigor.
mento em idêntica questão de direito. o recurso especial serã processado
nos termos deste artigo. Art. 3". Esta Lei entra em vIgor 90 (noventa) dias após a data de sua
publicação.
u§ 12, Caberá ao presidente do tribunal de origem admitir um ou mais
recursos representatívos da controvérsía, os quais serão encaminhados ao Brasília, 8 de maio de 2008; 187" da independência e 1200 da República
Supenor Tribunal de Jusllça. ficando suspensos os demais recursos espe-
cÍals até o pronunciamento definítivo do Superior Tribunal de Justiça.
"§ 2". Não adotada a providêncía descrita no § I" deste artigo, o relator
no Superior Tribunal de Justiça. ao identificar que sobre a controvérsia já
existe jurisprudêncla dominante ou que a matéria já está afeta ao co legiado,
podem determinar a suspensão, nos tribunais de segunda ínstâncía., dos re-
cursos nos quais a controvérsía esteja estabelecida.
u§ 32, O relator poderá solicitar informações, a serem prestadas no
prazo de IS (quinze) dias, aos tribunaIs federais ou estaduais a respeito da
controvérsia.
'~§ 420 O relator, conforme dispuser o regimento interno do Superior
Tribunal de JustIça e considerando a relevância da matéria, poderá admi-
tír manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com ínteresse na con-
trovérsia.
"§ 5º-. Recebidas as informações e, se for o caso, após cumprido o
disposto no § 42 deste artigo, terá vista o Mirustério Público pelo prazo de
IS (quínzeJ dias.
"§ 62. Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia
do relatório aos demais Ministros, o processo será incluído em pauta na
seção ou na Corte Especial, devendo ser julgado com preferêncIa sobre
os demais feítos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de
habeas corpus.
"§ 7". Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça. os recur-
sos especiais sobrestados na origem:
"I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido
coincidir com a orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou
"II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipó-
tese de o acórdão recorrido divergir da onentação do Superior Tribunal de
Justiça.
indice alfabético-remissivo
A - interesses difusos, 184-185,227
AÇÃOCIVIL - isenção de custas. 195. 218-219
- ação popular. 148 - legitimação atIva, 193,212,220,
- coletiva, 222 222,228
- mandado de se~ça. 30. 81 - legitimação passiva, 204
AÇÃO CIVIL PUBLICA - litisconsórcio, 204
- ações conexas. 206-207 - medida limmar, 208
- arquívamento do inquérito. 203 - meio ambiente, 185
- bens e direítos, 187 - Mimsteno Público, 193, 203, 218-
- características, 229 219,222,228.229
- corno instrumento de controle de - na defesa do consumidor, 222
constitucionalidade, 654 - no Estatuto da Cnança e do Ado-
- competência para processamento, lescente, 226
206 - obJeto. 184
- conceito e objeto. 183 - ônus da sucumbência. 218-219
- consumidor. 186. 222 - partes, 193, 260
- custas. 218-219 - patologia, 266
- defesa do réu. 214 - poderes do Minísténo Público, 193
- direItos individuais homogêneos. - prescrição, 191
278 - processo, 204
- disposições constitucionais, 185 - recurso contra liminar, 208
- e ação de improbidade administra- - responsabilidade do reu, 212
tiva, 232 - sanções admmistrativas, 212
- e ação direta de inconstitucionali- - sentença, 212
dade.269. 270. 273 - sucumbêncIa,218-219
- e ação popular. 158.189-190 - suspensão da liminar, 208
- e direito material. 268 - tutela anteCIpada. 211
- e infrações da ordem econôrnica. - usos e abusos, 259
229 AÇÃO DE DESCUMPRIMENTO
- e mercado de capitais, 219 DE PRECEITO FUNDAMENTAL
- evolução, 259 - Ver: Argüição de descumprimento
- extensão da jurisdição, 275 de preceito fundamental
- foro e processo. 204 AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMI-
- impacto ambiental. 185 NISTRATIVA
- indeniLação.214-215 - afastamento preventivo do acusa-
- inquento CIvil. 199-200. 229 do,254
II
906 MANDADO DE SEGURANÇA iNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO 907

- atentado aos princípios da Admi- - decisão, 429 - legitimidade, 339: confederações - reqUIsitos de admissibilidade das
mstração Pública, 231-232 - direito estadual e municipal, 573 sindicais e entidades de classe de ações,383
- cautelar, 235, 251-252 - histónco, 393: Lei n. 9.868/99, ãmbito nacional (conceito), 350; - Ver também: Controle abstrato de
- competência para julgamento, 414 Conselho Federal da Ordem dos constitucionalidade
235-236, 240 - íntervenção de terceiros e Hamicus Advogados do Brasi~ 349; Governa- AÇÃO DIRETADE INCONSTITU-
- dano ao patrimônío público, 235 curiae", 425 dor de Estado/Assembléia Legislati- CIONALIDADE POR OMIS-
- defesa prévia, 257 - legitimidade, 414 va, 344; Governadnr do SÃO, 429
- devido processo legal, 243, 255 - medida cautelar, 428 Distrito Federal e Câmara Distntal, - cautelar, 458
- e ação civil pública, 232 - no ãmbito estadual, 762 345; Mesas do Senado e da Cãmara, - deCIsão. 459-468
- enriquecimento ilícito. 231, 232. _ objeto de controle. 419: lei ou ato 344; partidos politicos, 349; perti- - e eficácia mandamental, 491
251 normativo federal, 420 nêncía temática. 344; Presidente da - legitImação para agir, 443··
- extinção do processo, 258 - parâmetro do processo de controle República, 341; Procurador-Geral da - obJeto. 445-457
- falecímento do réu no curso do abstrato de normas, 422 República, 348 - omissão legíslativa, 445: casos re-
processo. 254 _ petIção ínicial: requlsítos e admis- - limItação de efeitos e o art. 27 da levantes na jurisprudência do STF,
- foro privilegIado (Lei n. sibilidade da ação, 424 Lei n. 9.868/99, 492 443; medidas ou atos admmístrati-
10.628/2002), 238 - procedimento, 423-427 - manifestação do Advogado-Geral vos, 456; parcial. 449 (suspensão de
- indisponibilidade de bens do agente - processamento e julgamento (Lei da União e do Procurador-Geral da aplicação da norma, 463); providên-
improbo ou de terceiro, 251, 256 n. 9.868/99), 414 República, 389 cia de indole administrativa, exerci-
- ínquérito prévio. 248 - questões fáticas no controle. 427 - medida cautelar, 392 cio do poder regulamentar, 455
- litigãncia de má-fé, 257 - reclamação constitucional no STF: - no ãmbito do Distrito Federal, 770 - pressupostos de admIssibilidade.
- medida cautelar, 251-252 para assegurar o cumprimento da - objeto de controle. 357: ato norma- 435-444
- MinIstério Público, 231, 241-242, decisão de mérito. 718; para pre- tivo revogado. 373; atas legislati- - procedimento, 457-459
248 servar a autoridade da decísão do vos de efeito concreto. 366; direito - suspensão de aplicação de norma
- modalidades, 231-233 STF,725 pre-constitucional, 370; lei estadual eivada de omissão parcial e/ou
- natureza civil. 231-232, 235 - Ver também: Argüíção de descum- e concorrêncIa de parâmetros de aplicação excepcional, 463
- normas processuais. 244-249 primento de preceito fundamental. controle. 375; leí ou ato normativo - suspensão dos processos, 467
- partes, 242 Controle abstrato de constituciona- distrital. 365; lei ou ato normativo AÇÃO POPULAR
- pessoa jurídica ínteressada, 248 lidade estadual, 365; leI ou ato normativo - ato leSIVO, 151, 159-160
- petição inicial, 248 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITU- federal, 358; medidas proVlsónas, - características, 150
- prejuízo ao erário, 232 CIONALIDADE 359; projeto de lei, 372; tratados, - coisa Julgada, 178

I
'j
- prescrição, 233
- prevenção do juizo, 252
- procedimento administrativo. 233-
- aplicação do ar!. 27 da Lei n.
9.868/99 najurisprudêncIa do
STF,495
-
374
parâmetro do processo de controle
abstrato de normas, 377: Consti-
- competênCIa para seu julgamento.
165
- conceito, 148
I 234
- processo, 233
- declaração de inconstitucIonali-
dade: eficàcia «erga ommes". 504 -
tuição, 378; direIto federal, 380
petição inicial: modificação. 385;
- condição de eleitor, 151
- contestação, 168-168
- processo cautelar, 251 (e superveniência de lei de teor requisitos e admissibilidade da - contratos lesivos, 159-160
- responsabilidade do sucessor, 254 idêntico, 505~ efeito vinculante de ação,383 - custas, 169
- ressarcimento do dano, 248 decisão em cautelar. 520; exten- - prazo para intervenção, 388 - declaração de inconstitucionalida-
- sanções ao agente improbo. 235 são, 469-474) - procedimento, 383-392 de de lei ou ato normatívo, 179
- seqüestro de bens do agente im- - histórico, 330: Constituição de - processamento e julgamento (Lei - desvio de poder da Administração,
probo ou de terceiro. 251 1988,334; Lei 9.868/99: 339; Lei n. 9.868/99 e LeI n. 9.882/99), 339 154-155
- terceiro não-ocupante de função 9.882/99: 339 - questões fáticas no controle. 390 - disposição constItucional, 149
pública, 247 . _ informações dos õrgãos e das auto- - reclamação constitucional no S1F: - e ação civil pública, 158, 189-190
AÇÃO DECLARATORlA DE ridades editoras do ato impugnado para assegurar o cumprimento da - e ação direta de inconstituclonali-
CONSTITUCIONALIDADE e dos tribunais superiores, 389 decísão de mérito, 718; para pre- dade,179-180
- controvérsia judicial e demonstra- - intervenção de terceiros e "amícus servar a autoridade da decisão do - execução da sentença, 173, 180
ção de sua existência, 414 curiae".388 STF,725 - fins da ação, 155-158
908 MANDADO DE SEGURANÇA ÍNDICEALFABETICO-REMISSIVO 909
i.
- ilegalidade ou ilegitimidade do - Advogado-Geral da União: infor- - informações, 589 ASSISTÊNCIA
ato, 151 e 55. mações e manifestações, 587 - intervenção de terceiros e "amicus - na ação popular, 163
- íntervenção de terceiros, 163 - audiência pública com «experts". curiae", 588 - no mandado de segurança. 75
- lei de efeitos concretos, 160 589 - legalidade e preceito fundamentai, ATO
- lei em tese, 160 - características processuais, 544 583 - admínistratIvo, 27, 36
- lesividade do ato, 152, 159 - cautelar. ver: Medida cautelar - legitimidade processual. 547 e ss. - avocado, 68
- litisconsórcio e assístêncía.. 163 - conceito de "preceito fundamen- - medida cautelar. 589: audiêncía da - de autoridade, 31
- medida linuoar, 169 tal": cláusu1as pétreas, direitos e autoridade responsável. 589; limi- - de dirigente de estabelecimento
- Ministério Público. 164 garantias individuais, princípios nar, 589-591; suspensão do anda- particular, 49
- objeto, 158 sensiveis. 579~581 mento de processos ou efeítos de - disciplinar: mandado de seguran-
- ónus da sucumbência, 169 - constitucionalidade da Leí decisões judiciais. 589; suspensão ça,48
- partes, 161 9.882/99,537 do ato impugnado, 589 - em arbitragem. 50
- património público, 155 - contornos (Lei n. 9.882/99), 339 - na jurisprudência do STF, 545 - inconstitucionalidade declarada
- peculiaridades do procedimento. - controle de constitucionalidade: - objeto, 559: ato regnlamentar, 579, pelo STF. 616: suspensão da exe-
150-151 direito estadual e municipal em 583~ deCIsão judicíal sem base legal cução pelo Senado Federal, 628
- presunção de ilegitImidade e lesi- face da Constituição Federal, 572; (ou fundada em falsa base legal), - judicial, 32, 40. 46: com efeito
vidade, 159-160 e omissão legislativa. 577 575; direito estadual e munícipal, suspensivo, 40
- processo e liminar, 168 - controvérsia judicial ou jurídica, 572-573; direito pre-constitucional, - mandado de segurança. 36, 37, 42
- recursos, 177-178 549 559-560; mterpretação judiCIal, - parlamentar. 32
- requiSItos da ação,150-155 - deCIsão do STF, 563: efeitos da 574; omissão legislativa. 577 ATO DE IMPROBIDADE
- rito ordinário, 168 declaração de inconstitucionali- - omíssão legislativa e controle de - Ver: Ação de improbidade admí-
- sentença. 173,176,179 dade, 591; nas ações de carnter constitucionalidade. 577 nistrativa
- sucumbência. 169 incidental. 549; procedimento. - Origem da lei. 529: anteprojeto de ATO DISCIPLINAR
- tutela antecipada. 170 591; segurança e estabilidade, 592; lei da Comissão Celso Bastos e - mandado de segurança, 48
ADVOGADO-GERAL DA UNIÃo técnicas, 592 sUbStitutIVO Prisco Vian~ quadro ATO REGULAMENTAR
- Ver: Argüição de descumprimento - decisão judicial sem base legal (ou comparativo, 532 - Ver: Argüição de descumprimento
de preceitq fundamental fundada em falsa base legal), 575 - parâmetro de controle, 579 e ss. de preceito fundamental
AGENTE PUBLICO - direito estadual e munícípal: con- - perito, 589 ATOS MUNICIPAIS
- Ver: Ação de improbidade admi- trole direto de constitucionalidade - petição inIcial, 586 - argüíção de descumprimento de
mstrattva em face da Constituíção Federal. - princípio da legalidade e preceIto preceito fundamental, 764
"AMICUS CURlAE"
572 fundamental, 583 - controle, 764
- Ver: Ação declaratória de cons-
- e ação declaratória de constitu- - prinCIpio da subsidiariedade, 551 ATRIBUIÇÕES DELEGADAS
titucIonalidade. Ação direta de
inconstitucionalidade, Argüição cionalidade do direíto municipal - pnncípio da supremacIa da Consti- - conceIto, 68
de descumprimento de preceIto estadual, 573 tuição e direito pn!-constituclonal, AUTORIDADE
fundamental. Incidente de incons- - e direito intertemporal, 561, 569 563-564 - coatora, 62-66: mcompetente. 48. 67
titucionalidade, Representação - e direito pós-constítucional. 560 - pnncípio «lex posterior derogat - conceito, 30
interventiva - e direíto pre-constitucíonal, 559- priori", 560, 563, 566, 569 - omissão, 32. 40
ANTECIPAÇÃO DA TUTELA 560: cláusulas de recepção, 559 - procedimento, 586-589 AVOCAÇÃO
- e ação civil pública. 211 - e incidente de inconstítucIOnalida- - processo, 544: "sem partes", 593 - de ato inferior. 68
- e ação popular, 170 de,539 - Procurador-Geral da República:
- e mandado de segurança. 86 - e legalidade, 583 informações e manifestações, 587 C
ARBITRAGEM - e reclamação constitucional no - questões fáticas: apuração, 589 CAUÇÃO
- cabimento em mandado de segu- STF,729 - requisição de ínfonnações adicio- - mandado de segurança, 58
ran\,a. 50 - e segurança jurídica. 555 nais, 589 CAUTELAR
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRI- - exaurimento das instâncias, 551 - subsidianedade, 551 - Ver: Medida cautelar
MENTO DE PRECEITO FUN- - inexistêncía de outro meio eficaz - supremacia da Constituição e CIDADÃO
DAMENTAL de sanar a lesividade, 551 e ss. direito pré-constitucIOnal. 563~564 - requisito para ação popular, 150
910 MANDADO DE SEGURANÇA ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO 91l

CLÁUSULAS DE RECEPÇÃO - do direito estadual e do direito nalidade proferida pelo STF sobre - lúnttação de efeitos e o art. 27 da
- direito intertemporal, ver: Argüi- municipal. 745; ação direita por as decisões de outros Tribunais, Le, n, 9.868/99, 492
ção de descumprimento de preceI- omissão, 745; admissibilidade 639; a suspensão da execução da - possibilidade de declaração ínci-
to fundamental do controle abstrato no plano do lei pelo Senado e mutação cons- dental pelo STF sem que" se veri-
CLÁUSULASPÉTREAS Distrito Federal, 747 titucional, 640; a suspensão peio fique a relevânCIa da aplicação da
- Ver: Argüição de descumprimento - no ãmbito estadual, 775 Senado Federal da execução de lei para o caso concreto, 617
de preceíto fundamental - segurança e estabilidade das deci- lei declarada inconstitucional pelo - Ver também: Argüição de descum-
COISA JULGADA sões, 498-528: declaração de cons- STF na Constituição de 1988,637; pnroento de preceíto fundamental
- ação popular, 178 titucionalidade e eficácia "erga o papel do Senado Federal, 628); Supremo Tribunal Federal
- formal e material. 120 omnes", 498 e 501 (reapreciação histónco, 594-602; pressupostos DECRETO
- "habeas data", 328 da questão pelo STF, 501); decla- de admissibilidade, 602-616; re- - de efeíto concreto, 37
- mandado de iníunção, 294 ração de ínconstítucionalidade e percussão geral. 624 DEFESA PRÉVIA
- mandado de segurança, 47, 119 eficácia "erga omnes": 504 e 504 - descabimento em ação popular. 179 - Ver: Ação de Improbidade admi-
- mandado de segurança coletivo. (atos praticados com base no ato - no âmbito do Distrito Federal. 767 nistrativa
33,121,135 normativo declarado ínconstitu- - Ver também: Ação civil pública. DELIBERAÇÓES
COMPETÊNCIA clonaI. 504; proferida em ação Ação declaratória de constI- - legislativas. 37
- autoridade coatara. 64 declaratória de constitucionalidade tucionalidade, Ação direta de DESCUMPRIMENTO DE PRECEI-
- para julgamento: da ação de im- ou em ação direta de Ínconshtuclo- inconstitucionalidade. Argüição TO FUNDAMENTAL
probidade admmlStrativa, 235; da nalidade, 504) de descumpnmento de preceito - Ver. Argüição de descumprimento
fundamental, Controle abstrato de
ação popular, 165; do "habeas efeito vinculante: cautelar em ação de preceito fundamental
constitucíonalidade. Mandado de
data", 308; do mandado de fi- decIaratória de constitucionalida- DESOBEDIÊNCIA LEGAL A OR-
segurança, Senado Federal, Supre-
Junção, 290, 294; do mandado de de. 518; cautelar em ação direta de DEM
mo Tribunal Federal
segurança, 75 inconstitucionalidade, 520 e 523; - crime de desobediência, 111
CONTROVÉRSIA JUDICIAL OU
- Ver também: Supremo Tribunal conceito. 506: decisão proferida JURÍDICA DEVIDO PROCESSO LEGAL
'Federal em ação direta de inconstituciona- - Ver: Ação de improbidade admt-
- Ver: Argüição de descumprimento
CONEXÃO lidade, 516; histónco, 330; limites de preceito fundamental mstrativa
- em ação civil pública, 206-207 objetivos, 508; limites subjetivos, CUSTAS DIREITO
CONSTITUCIONALIDADE 515; parãmetros, 377 (Constitu,- - Isenção: ação CIvil pública, 195- - coletivo, 33-36: de categoria ou
- Ver: Argüição de descumprimento ção, 378; direito federal, 380) 196,218-219; ação popular, 169; classe. 122
de preceito fundamental. Controle CONTROLE DE CONSTITUCIO- "babeas data", 311, 325 - individual, 33
de constItucionalidade, Incidente NALIDADE - líquido e certo. 33
de inconstitucionalidade - controle abstrato, ver: Controle D - subjetivo do ímpetrante. 62
CONSUMIDOR abstrato de constitucionalidade DANO AO PATRIMÓNIO PÚBLICO DIREITO ESTADUAL E MUNI-
- conceito, 186 - controle concentrado de nonnas: - Ver: Ação de improbidade admi- CIPAL
CONTROLE ABSTRATO DE reclamação constitucional no STF, IUstratIva - controle direto de constítucionalil.,;-
CONSTITUCIONALIDADE, 468 703-744 DECISÃO dade em face da ConstItuição. 572
- decisões do STF, 468-498: de- - controle concreto: controle inci- - em m.andado de segurança, 105 - Ver também: Argüição de descum-
claração de constitucionalidade dental de nonnas na Constituição DECISOES JUDICIAlS primento de preceIto fundamental
das leis, 482-483 (e a "lei ainda de 1988,334 (ação civil pública - mandado de segurança, 38 DIREITO INTERTEMPORAL
constitucional", 483; extensão, como instrumento de controle de - Ver também: Argüição de descum- - Ver: Argüição de descumprimento
469); declaração de nulidade, 469; constitucionalidade, 654; con- primento de preceito fundamental de preceito fundamentaL
mterpretação conforme à Consti- siderações prelimínares, 654; e DECLARAÇÃO DE INCONSTI- DIREITO PÓS-CONSTITUCIONAL.
tuição, 474-482 (admissibilidade e a aplicação do art. 27 da Le, n. TUCIONALIDADE,484 - Ver: Argüição de descumprimento
limites, 476; entre a interpretação 9.868/99,662; notas peculiares, - decisões proferidas na ação direta de preceito ~damental
conforme e a decisão manipulativa 654-669); controle incidental de de inconstitucionalidade por ol'I+is- DIREITO PRE-CONSTITUCIONAL
de efeítas aditivos. 477); procedi- normas no STF, 616 (a repercus- são e eficáCia mandamental. 491 - cláusulas de recepção, 559
mento de tomada de decísões. 468 são da declaração de lnconstitucio- - efeitos "ex nunc" e "ex tunc", 484 - e supremacia da Constttuição, 563
912 MANDADO DE SEGURANÇA iNDICE ALFABETICO-REMISSIVO 913

- Ver tambem: Argüição de descum- FAZENDA PÚBLICA IMPETRADO INTERPRETAÇÃO JUDICIAL


primento de preceito fundamental - prazo para recurso,1I8-1I9 - autoridade coatora, 62 - Ver: ArgUição de descumprimento
DIREITOS E GARANTIAS INDI- - Varas privativas. 80 - Urformações,104 de preceito fundamental
VIDUAIS FORO IMPETRANTE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
- Ver: Argüíção de descumprimento - ação civil pública, 204 - direito subjetivo, 62 E "AMICUS CURIAE"
de preceito fundamental FORO PRIVILEGIADO - do mandado de segurança, 61 - Ver: Ação direta de inconstitucio-
- ação de improbidade admínistrati- IMPROBIDADE ADMINISTRA- nalidade, Argüição de descumpri-
E va (Lei n. 10.628/2002),238 TIVA mento de preceIto fundamental
EFEITO CONCRETO - Ver: Ação de ímprobidade admi- INTERVENÇÃO FEDERAL
- de lei e decreto, 36-37 H nistrativa - Ver: Representação interventIva
EFEITO SUSPENSIVO "HABEAS DATA" INCIDENTE DE INCONSTITU-
- pretensão em mandado de segu- - ação judicial, 317 CIONALIDADE J
rança, 43-46, 132 - acesso extrajudicial âs informa- - e argUição de descumprimento de JUlZADOS ESPEClAIS FEDERAlS
EFEITO VINCULANTE ções,313 preceito fundamental, 539 - recurso extraordinârio contra sua
- Ver: Ação direta de ínconstitucio- - aplicação analógica do Código de - participação de uamícus curiae", decIsão, 619
nalidarle, Controle abstrato de cons- Processo Civil, 323 do Mirusténo Público e de outros JUÍZO COMPETENTE
titucionalidade - cabimento, 316 ínteressados. 613 - mandado de segurança, 75
EFICÀCIA "ERGA OMNES" DAS - coisa julgada, 328 INCONSTITUCIONALIDADE JULGAMENTO
DECISÕES PROFERIDAS NO - competência para seu julgamento. - Ver: Ação direta de inconstItucio· - ação popular, 165
ÂMBITO ESTADUAL, 775 308 nalidade, Declaração de inconsti- - "habeas data", 308, 311
ELEITOR - conceIto e objeto, 303 tucíonalidade. Incidente de mcons- - mandado de ÍnJunção, 291, 294
- requIsito para ação popular, 150 - custas, 311 titucíonalidade - mandado de segurança, 75
EMENDA CONSTITUCIONAL - desistência e perda do objeto, 327 INDISPONIBILIDADE DE BENS JURISDIÇÔES CONSTITUCIO-
- projeto -.controle preventivo em - honorános de advogado, 325 - Ver: Ação de improbidade admi- NAIS ESTADUAIS E FEDERAlS
mandado de segurança,. 628 - julgamento e execução, 311 nístratíva - coexistência, 746
ENRIQUECIMENTO ILICITO INFORMAÇÕES - competêncIa, 756
- legitímação e procedimento, 309
- Ver: Ação de Improbidade admi- - em argüição de descumpriinento
- liminar, 324
nistrativa de preceito fundamental, 589 L
- limites do procedimento. 323
ESTABELECIMENTO PARTICU- - em mandado de segurança, 34, LEGALIDADE
- objeto, 304
LAR - ónus da sucumbência, 311
103 - e preceito fundamental, 583
- ato de dirigente, 49 INFRAÇÕES DA ORDEM ECO- LEGmMIDADE
EXAURIMENTO DAS INSTÂN- - prazo de impetração, 327 NÔMICA - ação declaratória de constituCIOna-
CIAS - prevenção. 328 - e ação CIvil pública, 229 lidade, 414
- Ver: Argüição de descumprimento - procedimento, 309 INICIAL - ação direta de inconstitucionalida-
de preceIto fundamental - prova pré-constituída, 322 - Ver: Petição inicial de,339
EXECUÇÃO DA SENTENÇA - recursos, 321, 324 INQUÉRITO - "habeas data", 309
- ação popular, 178 - valor da causa, 326 - Ver: Ação de improbidade admi- - mandado de segurança, 25, 61
- concessiva da segurança, 108 HONORÁRIOS ADVOCATicIOS mstratlva - mandado de segurança coletivo,
- «habeas data". 311 - em mandado de segurança, 108 INQUÉRITO CIVIL 121-129,135
- mandado de ínJunção, 301 - isenção: ação cívil pública, 195- - na ação CIvil pública, 199, 229 LEGlTlMIDADE PASSIVA
EXTINÇÃO DO PROCESSO 196,218-219; ação popular, 169; INTERESSES DIFUSOS - ação CIvil pública, 204
- Ver: Ação de improbidade admi- "habeas data", 311 - ação civil pública, 184, 227 LEGITIMIDADE PROCESSUAL
nIstrativa - mandado de segurança co[etivo, - Ver: Argilição de descumprimento
I 121-129,135 de preceIto fundamental
F ILEGALIDADE "INTERNA CORPORlS" LEI
FALECIMENTO DO RÉu - na ação popular, 151 - conceito, 33 - de efeito concreto, 36-37
- Ver: Ação de improbidade admi- IMPACTO AMBIENTAL - descablmento do mandado de - suspensão de execução pelo Sena-
nistrativa - conceito. 185 segurança,36,38 do Federai: e mutação constituclo-
914 MANDADO DE SEGURANÇA iNoICEALFABÉTICO-REMISSrvO 915

na1, 640~ e reclamação constítucLO~ - alteração dos fundamentos, 131 - direito subjetívo do impetrante, 62 - questões processuais, 129
nal,735 - argüições incidentes, 131 - disposições constitucíonais, 25-26 - recurso judicial sem efeito suspen-
LEI EM TESE - atendimento do pedido antes da - e mandado de mjunção, 288, 291 sivo, 39-40
- mandado de segurança: descabl- sentença, 134 - efeito suspensivo a recurso, 43-46, - recursos, 113: comuns ineficazes,
mento.36 - ato administrativo. 39 1I6 42
LEI FEDERAL - ato de autoridade, 30 - eleitoral, 81 - renovação do pedido, 120
- recusa de execução. ver: Repre- - ato de dirigente de estabelecimen- - em medida cautelar, 42 - repreSSIVO, 29, 106
sentação interventiva to particular, 49 - execução da sentença, 108 - sentença, 105; denegatória da
"LEX POSTERIOR DEROGAT - ato disciplinar, 48 - férias forenses, 129 segurança, 112
PRIORI", 560, 563, 566, 569 - ato "interna corporis". 36, 38 - hononirios advocatícíos, 108 - sucumbência, 107-108
LIMINAR - ato judicíal, 32, 40: efeito suspen- - unpetrado,62 - suspensão: da liminar ou da sen-
- Ver: Medida liminar sivo,39-40 - impetrante, 61 tença, 95; da sentença, 91, 95,100,
LITIGÂNClA DE MÁ-FÉ - ato parlamentar, 32 - incidentes processuaís, 131 112
- Ver: Ação de improbidade adnu- - ato passIveI de recurso admínistra- - indeferimento da inicIal, 84 - terceirO prejudicado. 70
nlstratíva tivo, 39 - individual, 26 - trabalhISta, 81
LITISCONSÓRCIO - ato pratícado em arbitragem, 50 - inexeqUibilidade, 66 - tutela antecipada, 86
- ação cIvil pública, 204 - atribuições delegadas, 68 - ínfonnações,103 - vaJor da causa, 134
- ação popular, 163 - autoridade coatora, 62, 65: mcom- - ínícial e notificação, 81 - Varas privativas, 80
- mandado de segurança, 71 petente,66 - intervenção de terceiro, 72 MEDIDA CAUTELAR
- avocação de ato inferior. 68 - intimações, 83 - ação CIvil pública, 208
M - cabimento, 39, 86 - juizo competente. 75 - ação de improbidade administratí-
MANDADO DE INJUNçÃO - caução, 58, 86 - legítimação ativa e passiva, 60 e va,251
- coisa julgada, 294 - citação. 82 ss. - argUíção de descumprunento de
- coletivo, 293 - cOlsajulgada, 47, 119 - leis: e decretos de efeitos concre- preceito fundamental. 589
- competêncIa, 290-291, 294 - coletívo,121-129 tos, 37; em tese, 36-37 - mandado de segurança impetrado
- conceito e objeto. 287 - competência para o julgamento. - litisconsôrcio e asslsténcí~ 71 da concessão, 42
- decadência e prescnção. 292 75: Varas privativas da Fazenda - medida liminar. 85; cassação, 93, - Ver também: Ação declaratôna de
- disposições constitucíonrus. 287 Pública, 80 1I2 constitucionalidade, Ação direta
- e mandado de segurança; 288, 291 - conceito e legitimidade, 25 - Ministéno Público, 69 de mconstitucionalidade
- execução da sentença, 301 - contagem de prazo, 57 - natureza processual, 30 MEDIDA LIMINAR
- Julgamento, 294 - contra órgão colegiado, 68 - notificação do coator, 81 - ação civil pública: '"fumus bani
- medida limmar, 292 - controle preventivo de projeto de - objeto,36 juns", 208; "periculum ln mora",
- objeto, 287 emenda constitucíonal, 628 - omIssões adrnínístrativas, 32 208
- partes, 293 - correíção parcíal, 40 - ônus da sucumbência, 107-108 - ação popular, 169
- prazo da impetração, 293 - cnminal, 81 - ordem pública, 95 - argUição de descumprimento de
- prejudiclalidade, 300 - decisão repressiva e preventiva, - órgãos colegiados, 68 preceito fundamental, 589
- pressupostos para cabimento, 289 106 - órgãos públicos, 27-28 - "habeas data", 324
- procedimento, 290-291, 299 - deCisões judiciatS, 38 - partes, 60 - mandado de injuoção, 292
- recurso especiai da decisão. 301 - deferimento da Íniciai. 82 - pedido de reconsideração, 58 - mandado de segurança: deferimen-
- recursos. 300 - deliberações legislativas, 37 - petição inicial. 81 to e mdeferimento, 84-85; "fumus
MANDADO DE SEGURANÇA - descabimento contra lei em tese, - prazo para impetração, 40, 57 boniJuris", 44. 86; matéria tribu-
- ação cívil. 81 36 - prazo para recurso, 117 târia, 86; "periculum m mora", 44.
- agente político, 28 - desistência. 132 - prevenção de competência e litís- 86; suspensão: 95, 101
- agente público, 31 - desobediênc18 da ordem, III consórcio umtário, 133 - mandado de segurança coletIvo,
- agravo de mstrumento, 44, 92, - direito coletivo, 33-36 - prevenllvo, 29, 106 121
113,115-116 - direito índividual e colerivo. 33 - processo, 30 MEIO AMBIENTE
- alteração do pedido, 130 - direIto líquido e certo, 33-36 - prova, 34 - conceito, 185
916 MANDADO DE SEGURANÇA lNDICEALFABÉTlCO-REMISSIVO 917

MlNISTERIO PÚBLICO ÓRGÃOS PÚBLICOS - mandado de segurança, 81: indefe- - argüição de descumprimento de
- ação civil pública, 193, 203, 218- - mandado de segurança, 28 rimento,84 preceito fundamental, 586-589
219,222,228,229: legitimação PODER PúBLICO - uhabeas data", 309
ativa,191-192, 220, 228; poderes, P - Ver: Argüição de descumprímento - mandado de injunção, 290
193 PARECER de precelto fundamental PROCESSO
- ação de improbidade administrati- - oferecimento, ver: Mandado de PRAZO - ação civil pública, 204
va, 231, 240, 247 se&,1IDUlça (prova) - "habeas data''. 327 - ação de improbidade administrati-
- ação popular, 164: parte autôno- PARAMETROS DE CONTROLE- - ímpetração de mandado de segu- va,233
ma, 164 CONCORRÊNCIA, 756 rança, 57; modo de contagem, 59 - ação popular, 168
- íncidente de inconstitucIonalidade - controle estadual e questão constí- PRECEITO FUNDAMENTAL - argUição de descumpnmento de
perante os Tribunais, 613 tuclOnal federal, 759 - conceíto.579 preceito fundamental, 544
- mquénto civil, 199, 229 PARTES - e princíplo da legalidade, 583 - mandado de segurança. 30
- mandado de segurança: parte autô- - Ver também: Argüição de descum- PROCURADOR-GERAL DA RE-
- ação civil pública, 193,260
noma.69 prim~nto de prece.ito fundamental PÚBLICA
- ação de improbidade admínístrati-
MUNICiPIO PREJUIZO AO ERARIO - Ver: Argüição de descumprimento
va, 242
- representação judicial, 63 - Ver: Ação de Improbidade adlm- de preceíto fundamental
- ação popular, 161 PROJETO DE EMENDA CONSTI-
- mandado de injunção, 293 nistrativa
N PRESCRIÇÃO TUCIONAL
- mandado de segurança, 60 - controle preventivo em mandado
NORMAS - Ver: Ação civil pública., Ação de
PARTES AUTÔNOMAS de segurança, 628 .
- Ver: Controle abstrato de constitu- ímprobidade administrativa
- Ministério Público, 69, 164, 241- PREVENÇÃO DO JUizo PROVA pRE-CONSTITUIDA
cIonalidade. Controle de constitu- 242
cionalidade - Ver: Ação de improbidade admi- - "habeas data", 322
PARTIDO POLÍTICO nistrativa
NOTIFICAÇÃO - legitimidade para ímpetração de
- autoridade coatora, 64 PRINCiPIO DA LEGALIDADE
mandado de segurança cofetivo. - e preçeito fundamental, 583 QUESTÕES FÁT?cAS
- mandado de segurança, 81 121 PRINCIPIO DA SUBSIDlARlEDA- - Ver: Argüição de descumprimento
PATRIMÔNIO LÍQUIDO DE de preceito fundamental
o - Ver: Ação de improbidade admi- - Ver: Argüição de descumprunento
OMISSÃO nístrativa de pr~ceIto fundamental R
- de autoridade, 32 PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO PRINCIPIO DA SUPREMACIA DA RECEPÇÃO
OMISSÃO LEGISLATIVA - não interrompe prazo para ímpe- CONSTITUIÇÃO - direíto intertemporal, ver: Argüi-
- e controle de constitucionalidade, tração do mandado de segurança, - e dire.ito pré-constttucional. 559 ção de descumprimento de preceI-
577 58 PRINCIPIO "LEX POSTERIOR to fundamental
- no plano estadual ou distrital, 765 PERITO DEROGAT PRIORI", 560, 563, RECLAMAÇÃO CONSTITUCIO-
- Ver também: Argüição de descum- - Ver: Argüição de descumpnmento 566,569 NAL,703-744
primento de preceito fundamental de preceito fundamental PRINCiPIOS CONSTITUCIONAIS - controle concentrado de nonnas,
ORDEM DOS ADVOGADOS DO PESSOA JURÍDICA SENSiVEIS 743-744
BRASIL - Ver. Ação de improbidade admi- - tesão, ver: Representação interven- - decísão em argüição de descumpn-
- legítirnidade: ação direta de in- nistratIva uva mento de preceito fundamental, 729
constitucionalidade. 349; mandado PETIÇÃO INICIAL PRINCÍPIOS SENsiVEIS - objeto, 708
de segurança coletivo, 128 - ação de improbidade administrati- - Ver: ArgUição de descumprimento - para assegurar: a autoridade das
ORDEM ECONÔMICA va,249 de preceíto fundamental decisões do STF, 717; o cumpri-
- fnfrações:, e ação civil pública. 229 - ação declaratória de constituclOna- PROBIDADE ADMINISTRATIVA mento de deCIsão de merito em
ORDEM PúBLICA lidade,423 - Ver: Ação de improbidade admi- ação direta de inconstitucíonalida-
- mandado de segurança: suspensão - ação direta de inconstituclonalida- njstrativa de e ação declaratóría de constitu-
. da liminar ou da sentença. 95 de,383,385 PROCEDIMENTO cionalidade, 718
ORGÃOS COLEGIADOS - argUição de descumprimento de - ação de Improbidade administratí- - para preservar: a autoridade de de-
- mandado de segurança, 68 preceito fundamental, 586 va,233-234 cisão do STF em ação declaratóría

" ,"
918 MANDADO DE SEGURANÇA
P
I INDICE ALFABÊTICO-REMlSSIVO 919

de constitucionalidade e em ação - parâmetro de controle, 682, 693; SERVIDOR PÚBLICO ou garantia da autoridade de suas
direta de inconstitucionalidade, recusa à execução de lei federal, - vencímentos, pagamento: proibI- deCisões, 703-744
725; a competêncía do STF, 709 682 ção de concessão de limmar em - Súmula n. 394: cancelamento, 239
- procedimento, 740 - pressupostos de admissibilidade, mandado de segurança, 89, 90 - Ver também: Controle de constitu-
- sÚInula vínculante, 733 674-689 SUBSIDIARIEDADE cionalidade. Representação ínter-
- suspensão da execução de lei pelo - procedimento. 689: e "amicus - Ver: ArgUição de descumprimento ventiva
Senado, 735 curiae'\ 696; necessidade de nova de preceito fundamental SUSPENSÃO
RECLAMAÇÃO NO ÂMBITO lei, 693, 701 SUBSTITlJIÇÃO PROCESSUAL - da liminar, 95
ESTADUAL, 773 - segundo a Lei n. 4.337/64, 690 - mandado de segurança coletivo. - da sentença, 95
RECURSO - segundo o Regimento Interno do 124
- ação popular, 177
- "habeas data", 321, 324
STF, 692-696
RESPONSABILIDADE I SUCESSÃO
- Ver: Ação de improbidade admí- TERCEIRO
T

- mandado de injunção, 300


- mandado de segurança, 113; efeito
devolutivo, 116; efeito suspensivo
pretendido, 43, 132; prazo, 57;
terceíro prejudicado, 70
- réu na ação civil pública. 212
- sucessor na ação de improbidade
administrativa, 254
RESSARCIMENTO DO DANO
- Ver: Ação de improbidade admi-
l nIstratlva
SUCUMBÊNCIA
- ação Civil pública, 218-219
- ação popular, 169
- "habeas data", 311
- Ver: Ação de Improbidade admi-
nístrativa
TERCEIRO PREJUDICADO
- decisão em mandado de seguran-
ça: recurso, 70
RECURSO ADMINISTRATIVO nistrativa - mandado de segurança, 107-108 TRIBUTO
- ato de que caiba: descabimento de SúMULA VINCULANTE - cobrança inconstitucional: manda-
mandado de segurança, 39 S - reclamação constitucional. 733 do de segurança preventivo, 29
- sem efeíto suspensivo. 39-40 SANÇÕES SUPREMACIA DA CONSTITUI- TUTELA ANTECIPADA
RECURSO ESPECIAL - Ver: Ação de improbidade admi- çÃO - ação Civil pública, 211
- decisão em mandado de injunção, nIstrativa - e direIto pre-constitucional. 563 ~ ação popular. 170

301 SEGURANÇA SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - mandado de segurança, 86


- indeferimento da inicial de manda- - Ver: Mandado de segurança - controle mcidental de constltucio-
do de segurança, 84 SEGURANÇA JURÍDICA nalidade, 651-652: e repercussão u
RECURSO EXTRAORDINÁRIO - Ver: ArgUição de descumprimento geral, 624; papel do Senado Fede- UNIÃo FEDERAL
- cabimento contra decisão pro- de preceito fundamental ral, 628, 637; repercussão da decla- - mtervenção: ação popular. 166-
ferida por TJ em ação direta de SENADO FEDERAL ração de 167; mandado de segurança, 79
inconstItucIOnalidade, 747 - e mutação constitucional, 640 inconstitucionalidade proferida
- decísão de Juizarlos Especiais - e reclamação constitucional, 735 pelo STF sobre as decisões de V
Federais, 619 - suspensão da execução de ato de- outros TribunaIS. 639 VALOR DA CAUSA
clarado ínconstituclOnal pelo STF, - decisão em argilição de descumpri- - "habeas data", 326
REPERCUSSÃO GERAL
628,637 mento de preceito fundamental. 591 VARAS PRIVATIVAS
- e controle íncidental de constitu-
- possibilidade de declaração incí- - da Fazenda Pública: competência
cionalidade no STF, 624 SENTENÇA
dental de inconstitucionalidade sem para o mandado de segurança, 80
REPRESENTAÇÃO INTERVEN- - ação civil pública, 212
que se verifique a relevância da VENC~NTOSDESERVlDOR
TIVA - ação popular, 173, 176, 178
aplicação da lei ao caso concreto. PÚBLICO
- decisão: efeitos, 697~701 - mandado de segurança, lOS, 112: 617
denegatória, liberação imediata do - pagamento: proibIção de conces-
- e representação de inconstitucio- - reclamação constitucional para são de liminar em mandado de
nalidade, 701 ato. 112; suspensão, 95 preservação da sua competência segurança, 89, 90
- histórico, 670 - execução; ação popular, 180;
- Julgamento, 696 "habeas data''. 311; mandado de
- legitimação ativa "ad causam", 675 illJunção, 301; mandado de segu-
- medida cautelar, 692-696 rança, 105 * * *
- obJeto da controvêrsia, 677: atos SEQÜESTRO DE BENS
concretos ofenSiVOs aos principios - Ver: Ação de lIIlprobidade adml-
constitucionaIs sensiveis, 679 nístrativa '

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