SALGUEIRO-PE.
Processo n. ...
CAIO, já qualificado nos autos da ação em epígrafe, através de seu advogado infra-assinado,
com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar
RESPOSTA A ACUSAÇÃO
nos termos dos arts. 396 e 396-A, do Código de Processo Penal, pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos.
I - DOS FATOS
Visando abrir um restaurante, Ítalo pede vinte mil reais emprestados a Caio, assinando, como
garantia, uma nota promissória no aludido valor, com vencimento para o dia 15 de maio de
2020. Na data mencionada, não tendo havido pagamento, Caio telefona para Ítalo e,
educadamente, cobra a dívida, obtendo do devedor a promessa de que o valor seria pago em
uma semana.
Acabado o prazo, Caio novamente procura Ítalo, que, desta vez, afirma estar sem dinheiro,
pois o restaurante não apresentara o lucro esperado. Indignado, Caio comparece no dia 24 de
maio de 2020 ao restaurante e, mostrando para Ítalo uma pistola que trazia consigo, afirma
que a dívida deveria ser saldada imediatamente, pois, do contrário Ítalo pagaria com a própria
vida. Aterrorizado, Ítalo entra no restaurante e telefona para a polícia, que, entretanto, não
encontra Caio quando chega ao local.
O Ministério Público denunciou Caio pela prática do crime de extorsão qualificada pelo
emprego de arma de fogo, previsto no art. 158, §1º, do Código Penal.
A denúncia foi recebida pelo juízo da 1ª Vara Criminal, sendo o réu citado no dia 18.01.2021.
II - DO DIREITO
a) Da atipicidade da conduta
O acusado foi denunciado pelo delito de extorsão qualificada pelo uso de arma de fogo,
disposto no art. 158, §1º, do Código Penal. Porém, o crime de extorsão só se configura quando
o agente tem o intuito de obter para si vantagem econômica indevida. No entanto, o que o
acusado buscava obter era o pagamento de uma dívida que a vítima tinha com ele. Em
momento algum, o réu constrangeu a vítima a fim de obter vantagem econômica indevida.
Logo, requer a sua absolvição sumária, com base no art. 397, III, do Código de Processo Penal,
pois o fato narrado evidentemente não se constitui crime.
a.2) Da decadência
Como dito acima, o que o acusado buscava obter era o pagamento de uma dívida que a vítima
tinha com ele. Em momento algum, o réu constrangeu a vítima a fim de obter vantagem
econômica indevida.
O que Caio queria era fazer justiça com as próprias mãos, buscando a satisfação de uma
pretensão legítima. A sua conduta se amolda aos ditames do art. 345, do Código Penal. Assim,
ele cometera o delito de “exercício arbitrário das próprias razões”.
Logo, requer que o delito de extorsão qualificada seja desclassificado para o crime de exercício
arbitrário das próprias razões.
O réu praticou o crime de “exercício arbitrário das próprias razões”. Como não houve
violência, a ação deveria se proceder apenas mediante queixa, nos termos do parágrafo único
do art. 345, do Código Penal. Ou seja, é um delito de ação privada.
Sendo este delito de ação privada, caberia apenas ao ofendido intentá-la, nos termos do art.
30, do Código de Processo Penal e do art. 100, §2º, do Código Penal. O Ministério Público não
é parte legítima para o ajuizamento desta ação.
Reza o art. 38 do Código de Processo Penal, que o direito de queixa decai se o ofendido não o
exercer dentro do prazo de 6 meses contado do dia em que vier saber quem é o autor do
crime. Desta forma, a partir da data do fato (24.05.2020) transcorreu lapso temporal de mais
de 06 meses, o que significa a decadência do direito de queixa do ofendido, nos termos do art.
38 do Código de Processo Penal, impondo-se, consequentemente, a extinção de punibilidade
do réu.
Logo, requer seja o réu absolvido, com base no art. 397, IV, do Código de Processo Penal, pois
extinta a sua punibilidade.
a) a absolvição sumária, com base no art. 397, III, do Código de Processo Penal;
b) a absolvição sumária, com base no art. 397, IV, do Código de Processo Penal;
Nestes termos,
Pede deferimento
Salgueiro-PE, 28/01/2021.
ROL DE TESTEMUNHAS:
Turma: 8° B