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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CELSO DE FARIA MONTEIRO, protocolado em 31/03/2022 às 14:52 , sob o número WJMJ22405043505 .
DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO/SP

Processo nº 1008024-28.2022.8.26.0002

UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA. ("Uber"), empresa com sede na


Avenida Domingos Odália Filho, nº 301, Sala 1501, 15º andar, Subcondomínio
Com/Loja, Centro, Osasco/SP CEP 06010-067, inscrita no CNPJ sob o número
17.895.646/0001-87, portadora do endereço eletrônico
correspondencias@uber.com, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, apresentar sua CONTESTAÇÃO nos autos que lhe move JEFFERSON
MENDES STEIN DA SILVA, já qualificado, pelas razões de fato e direito a seguir
aduzidas

SUMÁRIO EXECUTIVO

A Uber não é empresa de transporte ou de entrega,


CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O mas sim uma plataforma de tecnologia que
NEGÓCIO DA UBER aproxima motoristas e entregadores, que prestam
os serviços de transporte e de entrega aos usuários
que buscam esses serviços.
IDESATIVAÇÃO LEGÍTIMA DO AUTOR NA Conforme Art. 5º, inciso XX da Constituição Federal
REGIÃO DO AEROPORTO – AUTONOMIA DA e Art. 421 do Código Civil, ninguém é obrigado a
VONTADE – LIBERDADE CONTRATUAL contratar e se manter associado, devendo ser
respeitada a autonomia da vontade. O bloqueio
para realizar viagens na região do Aeroporto
ocorreu por justo motivo, em virtude de
desrespeito às Políticas e Regras da Uber.
VALIDADE JURÍDICA DOS TERMOS E Não houve prática de ato ilícito por parte da Uber,
CONDIÇÕES DA UBER – INEXISTÊNCIA DE que agiu em exercício regular de direito, amparada
CONTRATO DE ADESÃO - AUSÊNCIA DE nos Termos e Condições que prevê a possibilidade
REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE de desativação, motivo pelo qual, não incide a
CIVIL aplicação do Art. 186 do Código Civil.
É certo que, para que esteja caracterizado o lucro
NÃO COMPROVAÇÃO DOS LUCROS cessante, é necessária a comprovação inequívoca
CESSANTES do dano, o que não se verifica no caso concreto,
pois não há nos autos qualquer indício mínimo de
que os ganhos relatados na exordial de fato
aconteceriam.
Não há comprovação de acontecimento capaz de
ensejar abalos de ordem emocional, principalmente
pelo fato de que, mesmo existindo inadimplemento

Tozzini, Freire, Teixeira e Silva


Av. Paulista 2421 8 º andar CEP 01311-300 São Paulo SP
T 11 3291-1000 F 11 3291-1111
TOZZINIFREIRE.COM.BR
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AUSÊNCIA DE DANO MORAL – DA contratual por parte do Autor, o que autorizaria a

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OBSERVÂNCIA AOS ARTIGOS 884 E 944 DO rescisão unilateral, razão pela qual não se pode
CÓDIGO CIVIL imaginar a condenação ao pagamento por danos
morais, especialmente no valor requerido, que se
mostra exorbitante.
A Uber não fornece qualquer tipo de serviço ao
motorista, e tão somente disponibiliza uma parceira
para utilização de sua plataforma para que o
IMPOSSIBILIDADE DE DINAMIZAÇÃO DO motorista exerça sua atividade de transportador,
ÔNUS DA PROVA tratando-se de contratação entre particulares,
restando claro que a relação discutida nos autos
não pode ser considerada uma relação de consumo,
diante da ausência de requisito subjetivo, qual seja,
consumidor e fornecedor.

I - BREVE SÍNTESE DOS FATOS

1. Alega o Autor que atuava como motorista independente através da


plataforma, no entanto, teve sua conta bloqueada para realizar viagens na região
do aeroporto supostamente sem justo motivo.

2. Assim, ingressou com a presente demanda pleiteando a sua reativação na


plataforma, indenização por danos morais no valor de R$ 15.000,00 e lucros
cessantes no valor de R$ 35.548,03; bem como inversão do ônus da prova.

3. No entanto, em que pesem as alegações da parte autora, não merece o


pleito prosperar, conforme a seguir restará demonstrado.

II - CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O SERVIÇO DE TECNOLOGIA DA


UBER

4. A Uber é uma empresa de tecnologia e, como tal, se dedica a ser um


facilitador, ou seja, um simplificador da comunicação entre os motoristas
independentes cadastrados em sua plataforma, que disponibilizam recursos
próprios para prestação de serviços de transportes a usuários.

5. Para utilizar os serviços de tecnologia, a empresa disponibiliza aplicativo que


permite a conexão entre usuário e motorista independente, terceiro provedor do
serviço de transporte, através do aparelho celular. Ao efetuar o download do
aplicativo, os interessados aceitam todos os Termos e Condições
disponíveis no site da empresa, que são claros quanto às regras de
utilização e, somente após o aceite, passam a integrar a comunidade da
plataforma.

6. Como se vê, a plataforma digital em questão foi criada para incrementar a


mobilidade das pessoas nas cidades, tendo por finalidade a aproximação dos
usuários cadastrados, sendo patente, portanto, que não presta qualquer
serviço de transporte, não emprega motoristas e não é proprietária de
nenhum veículo, atuando tão somente na conexão que viabiliza uma
interação dinâmica conforme outrora aduzido.

III - MÉRITO

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III.A - DESATIVAÇÃO LEGÍTIMA DO AUTOR NA REGIÃO DO AEROPORTO –

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AUTONOMIA DA VONTADE – LIBERDADE CONTRATUAL

7. O Autor ingressa com a presente ação pretendendo que a Uber seja


OBRIGADA a reativar sua conta como motorista independente para atuar com
viagens com inicio nas regiões dos Aeroportos.

8. Contudo, a pretensão autoral não merece o mínimo sustento, uma vez que
pela teoria geral dos contratos, a Uber tem pleno direito de selecionar e gerenciar
os cadastros de acordo com seus próprios interesses e em atenção às políticas
da empresa.

9. Nesse sentido, considerando que tanto a formação quanto a extinção da


parceria são faculdades da empresa, devidamente amparadas pelos princípios da
autonomia da vontade e liberdade contratual, a conclusão inarredável a que
se chega é a de que não há como impor à Uber a obrigação de reativar o cadastro
do Autor para tais viagens.

10. Destaca-se, ainda, que de acordo com o parágrafo único do artigo 421 do
Código Civil, nas relações contratuais privadas, como a existente no caso sub
judice, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da
revisão contratual. Assim, é juridicamente inexigível a imposição de qualquer
relacionamento contratual de forma compulsória, sob pena de afronta, em última
análise, à Constituição Federal. Logo, juridicamente, a desativação do
cadastro do Autor nestas regiões NÃO constitui uma conduta ilícita.

11. É evidente que a Uber tem plena liberdade de contratação, que está
estritamente ligada à vontade livre e desimpedida garantida por lei, para incluir,
bloquear desativar, estipular normas regulamentadoras de sua atividade e afins.

12. Note-se que o estabelecimento da relação contratual é um direito tanto da


Uber, quanto do motorista, que também pode se desvencilhar a qualquer
momento. Assim, não há que se falar em desequilíbrio contratual, uma vez
que o Autor também possui plena autonomia para contratar ou não com a Uber
conforme o seu interesse.

13. No caso à baila, em consulta ao seu banco de dados, a Uber verificou


que o Autor foi devidamente desativado para receber solicitações de
viagens nas áreas de aeroportos por cancelar um número excessivo de
viagens nessa região, na tentativa de burlar a fila virtual, o que não é
aceito pela plataforma.

14. Explica-se. Foi verificado que o Autor não respeitava as regras de fila virtual
na região de Aeroportos, o que também viola os Termos e Condições da
plataforma, uma vez que para o correto funcionamento da plataforma os
motoristas independentes devem se adequar as regras de aeroportos e de
regulação definidas nas páginas Uber de aeroportos.

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15. Veja que no referido site há regras especificas para estas viagens, com a

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determinação da fila virtual:

16. Foi constatado que, nos 3 meses anteriores à restrição para realizar viagens
na região do aeroporto, o autor recebeu 5631 solicitações de viagens, das quais
apenas 658 foram completas. Entretanto, o mesmo rejeitou 4504 viagens e
cancelou 442, diante disso a taxa de aceitação era de 20,01%, mas de viagens
completas era apenas 11,69%.

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17. Não sendo suficiente, foram identificados relatos de usuários sobre

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comportamentos do Autor nas viagens com destino ou embarque no
Aeroporto. Vejamos alguns desses relatos, sendo que os demais podem
ser visualizados no Anexo 01:

 Relato usuário 01 – majoração de trajeto:

 Para melhor visualização:

 Relato usuário 02 – não finalizou a viagem corretamente:

 Para melhor visualização:

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 Relato usuário 03 – majorou viagem:

 Para melhor visualização:

18. Cabe esclarecer que por ser uma plataforma digital, todos os
registros são mantidos no sistema de forma eletrônica, devendo ser
declaradas válidas as provas acima colacionadas. Nesse mesmo sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. Astreintes. Ausência de demonstração de descumprimento


da medida após a data de 02.07.2020. Ônus que incumbia ao exequente. Tela sistêmica
que, embora seja unilateral, é o único documento apto a comprovar o cumprimento da
obrigação. Inexistência de comprovação de recusa posterior, ainda, que reforça o
cumprimento na data constante no sistema da operadora de plano de saúde. Decisão
mantida. Recurso desprovido. (TJ-SP - AI: 22665583820208260000 SP 2266558-
38.2020.8.26.0000, Relator: Rogério Murillo Pereira Cimino, Data de Julgamento:
08/02/2021, 9ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 08/02/2021).

19. Destarte, a Uber possui um corpo técnico capacitado para lidar com as
situações como a do caso em apreço, e avaliar qual a melhor medida a ser
tomada.

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20. Destaca-se, ainda, trechos do Código da Comunidade Uber, o qual aponta

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que é vedado o cancelamento excessivo de viagens na plataforma, além de
majorar a distancia de viagens em prejuízo aos usuários, tratando-se de condutas
irregulares 1:

 Quanto aos cancelamentos e alteração de rota:

 Quanto às violações:

 Quanto à direção perigosa:

1 https://www.uber.com/legal/community-guidelines/br-pt/

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21. Imperioso mencionar que DIREÇÃO PERIGOSA não infringe apenas
os Termos e Condições da Uber, mas também o Código de Trânsito
Brasileiro, motivo pelo qual é justa a desativação do Autor na
plataforma.

Art. 28. O condutor deverá, a todo momento, ter domínio de seu veículo, dirigindo-o
com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do trânsito.

22. Veja-se, ainda, a previsão de desativação imediata, parcial ou total,


quando constatada a violação ao Código da Comunidade Uber, em consonância
com a cláusula 12.1 dos Termos de Uso abaixo transcrita:

● Cláusula 12.1:

12. 12.1 Os presentes Termos terão início na data em que forem aceitos por Você e permanecerão em vigor até que
sejam extintos, por Você ou por nós. Você poderá rescindir os presentes Termos a qualquer momento. A RESCISÃO
PODERÁ SER EXERCIDA POR NÓS (i) IMEDIATAMENTE POR DESCUMPRIMENTO DESTES TERMOS, DA POLÍTICA DE
DESATIVAÇÃO, OU DO CÓDIGO DE CONDUTA DA UBER, COM A SUA CONSEQUENTE DESATIVAÇÃO DA PLATAFORMA,
SEM QUALQUER ÔNUS INDENIZATÓRIO OU AVISO PRÉVIO, E (ii) NOS DEMAIS CASOS, MEDIANTE ENVIO DE
NOTIFICAÇÃO A VOCÊ COM 7 DIAS DE ANTECEDÊNCIA.

23. Quanto aos Termos e Condições que seguem anexos consta expressamente
que o motorista deve agir com PROFISSIONALISMO, consoante se denota da
cláusula 6.22.

24. Incontestável, portanto, que o requerente desrespeitou as políticas da Uber,


devidamente expressas no termo de aceite assinado pelo Autor o que não podia
ser ignorado pela Uber, tornando-se correta a desativação da conta do Autor para

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“Cláusula 6.2 -Você deverá possuir e manter a todo tempo a sua carteira nacional de habilitação válida, que deverá conter a informação de que exerce atividade
remunerada. Você também deverá possuir e manter a todo tempo todas as demais licenças, permissões, aprovações e autorizações necessárias para o fornecimento de
serviços de transporte de passageiro na sua região. Se Você atender aos critérios para a utilização do nosso Aplicativo de Motorista, Você receberá credenciais para
acessá-lo. Não compartilhe tais credenciais com ninguém, nem permita que outros as utilizem para usar nosso Aplicativo de Motorista, e nos avise imediatamente se
acreditar que alguém as tenha acessado em seu lugar. Você reconhece que os Usuários(as) esperam que Você realize as Viagens com competência, zelo e diligência,
bem como que Você mantenha padrões elevados de profissionalismo, serviço e cortesia em relação a eles.

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realizar viagens na região do Aeroporto. Nesse sentido, vejamos o que entende

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a jurisprudência:

APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CC. INDENIZAÇÃO POR LUCROS


CESSANTES E DANOS MORAIS. Sentença que julgou improcedentes os pedidos.
Insurgência da Autora. Pedido de indenização fundado nos gastos para cumprimento das
exigências não conhecido. Inovação recursal. Alega-se indevido descredenciamento da
Autora da plataforma virtual do Uber, sem a oportunização do contraditório e ampla
defesa, a causar transtornos de ordem material e moral, salientando, ainda, sua conduta
íntegra e ilibada. Recusa baseada em diversas infrações contratuais por parte da Autora:
cancelamento de sucessivas chamadas de clientes sem justificativa, indicando
escopo de obter prioridade na fila de motorista nas proximidades do aeroporto,
viagens marcadas com passageiro e condutas irregulares perante usuários do serviço.
Incontroversas as irregularidades perpetradas ante a falta de réplica impugnando-as
especificamente. Infrações de cláusulas contratuais. Desnecessidade de notificação
prévia. Liberdade de contratar por parte da ré. Ato ilícito não configurado,
evidenciado cenário de exercício regular de direito. Indenizações indevidas.
Precedentes jurisprudenciais. Sentença mantida. Recurso desprovido, na parte
conhecida.
(TJ-SP - AC: 10277625420188260224 SP 1027762-54.2018.8.26.0224, Relator: Airton
Pinheiro de Castro, Data de Julgamento: 23/02/2021, 25ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 23/02/2021) - Grifamos

25. Assim, o pedido de obrigação de fazer consistente no


restabelecimento/reativação da conta do Autor para a região dos Aeroportos,
configura intervenção estatal desproporcional e incompatível com a liberdade de
contratar, devendo tal pedido ser julgado improcedente, ressaltando-se que o
Poder Judiciário somente pode se imiscuir e alterar os contratos de caráter
privado quando constatado eventual ato ilícito, o que não se verifica nos autos.

III.B - VALIDADE JURÍDICA DOS TERMOS E CONDIÇÕES DA UBER –


INEXISTÊNCIA DE CONTRATO DE ADESÃO - AUSÊNCIA DE REQUISITOS DA
RESPONSABILIDADE CIVIL

26. Ao participar da plataforma digital da Uber, todos os integrantes da


comunidade, sejam eles usuários dos serviços ou motoristas, aderem aos Termos
e Condições e se comprometem cumpri-los rigorosamente.

27. Nesse sentido, nos Termos e Condições consta expressamente que a conta
poderá ser desativada unilateralmente e sem aviso prévio, caso seja verificado
qualquer inadimplemento contratual por parte do motorista independente.

28. Como é possível verificar no bojo probatório amealhado aos autos, o Autor
violou claramente os Termos e Condições da Uber que implicou na sua
desativação da plataforma.

29. Ademais, os Termos e Condições de uso é efetivamente um


contrato particular entre a Uber e o requerente, que define os direitos e
responsabilidade de quem o utiliza, visando o bom funcionamento da
plataforma. As suas cláusulas são redigidas de forma clara e simples
para que qualquer pessoa possa lê-las e interpretá-las, não possuindo
caráter de um contrato de adesão, principalmente pelo fato de tratar-se
de uma relação contratual regida pelo Código Civil.

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30. Ademais, nos termos dos arts. 186 e 927 do Código Civil, a

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responsabilidade civil baseia-se na ocorrência de ato ilícito, sendo certo que a
imputação de obrigação de reparar o dano está condicionada à comprovação, por
parte daquele que alega: (i) do fato lesivo culposo ou danoso; (ii) da ocorrência
de um dano patrimonial ou moral; (iii) do nexo de causalidade entre o dano e o
comportamento do agente.

31. Ora, a parte Autora em nenhum momento fez prova de que sua
desativação na plataforma fora indevida, de modo que na hipótese de
inexistir qualquer um dos elementos primordiais para a reparação civil,
não há como sustentar a pretensão indenizatória.

32. Como se vê, não se mostra cabível a obrigação de fazer pleiteada nesta
demanda, sendo os termos e condições válidos, tendo o Autor descumprido com
o estabelecido em contrato, bem como não atendendo os requisitos legais,
devendo ser julgada improcedente a ação.

III.C - NÃO COMPROVAÇÃO DOS LUCROS CESSANTES

33. O Autor ainda pleiteia a indenização por danos materiais na modalidade


lucros cessantes, o que não deve prosperar.

34. Certo é que, os lucros cessantes são regulamentados pelo Código Civil em
seu artigo 402, que determina que salvo as exceções expressamente previstas
em lei, as perdas e danos devidos ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu o que razoavelmente deixou de lucrar.

35. No entanto, para que esteja caracterizado o lucro cessante, é necessária a


comprovação inequívoca do dano, o que não se verifica no caso concreto, pois
não há nos autos qualquer indício mínimo de que os ganhos relatados na exordial
de fato aconteceriam.

36. Ora Excelência, veja-se que a tabela elaborada pelo Autor não tem qualquer
valor probatório, tendo sido realizada sem a mínima comprovação do alegado,
devendo ser totalmente desconsiderada.

37. Ainda que houvesse comprovação de que o autor estaria online na


plataforma realizando o transporte de pessoas, o que de fato não há, fatos
alheios às vontades das partes poderiam influenciar, como por exemplo, viagens,
quebra/furto ou roubo do veículo, diminuição de demanda de usuários entre
outros, motivo pelo qual a Uber não pode ser responsabilizada, conforme
exposto na cláusula 18.1 dos Termos e Condições3.

318. LIMITES DE RESPONSABILIDADE


18.1 NÓS NÃO SOMOS RESPONSAVEIS, POR FORÇA DESTES TERMOS, POR QUALQUER UM DOS ITENS
ABAIXO, SEJA COM FUNDAMENTO NO CONTRATO, ATO ILÍCITO OU QUALQUER OUTRA TEORIA JURÍDICA,
MESMO QUE TENHAMOS SIDO INFORMADOS SOBRE A POSSIBILIDADE DE TAIS DANOS: DANOS
MATERIAIS, PERDA OU IMPRECISÃO DE DADOS, LUCROS CESSANTES, PERDA DE RECEITA, DE LUCROS,
DE USO OU DE OUTRA VANTAGEM ECONOMICA SOFRIDOS POR VOCÊ OU POR TERCEIROS (AS). ESSAS

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38. Ressalta-se que o Autor não acostou nenhum documento apto a
demonstrar os alegados lucros cessantes, visto que as telas juntadas
sequer possuem a sua identificação. Ainda, são de várias viagens
realizadas em toda a cidade, e não apenas de viagens com destino ao
aeroporto como tenta fazer crer o Autor.

39. Assim, não há nenhuma prova dos danos materiais alegados, restando
completamente impugnada a sua pretensão.

40. Ademais, por ser um prestador de serviços independente, dos valores


recebidos através da plataforma, há a taxa de intermediação da plataforma, além
do Autor ainda retirar os gastos com combustível, impostos, manutenção do
veículo, entre outros. Diz-se isso, pois, é de responsabilidade do motorista o
equipamento utilizado para a realização de sua atividade profissional, conforme
exposto na cláusula 2.4 dos Termos e Condições, restando evidente que a
Uber não poderia ser condenada a arcar com tais custos, o que de fato ocorrerá
caso considerado por Vossa Excelência, o valor pleiteado na exordial. Neste
entendimento:

PLATAFORMA DE APLICATIVO (UBER) E SERVIÇOS PROFISSIONAIS. AÇÃO


INDENIZATÓRIA. Sentença de parcial procedência dos pedidos. Gratuidade de justiça
deferida, presentes os requisitos do art. 98 do CPC/2015. Plataforma de aplicativo (Uber)
que bloqueou o usuário do autor, motorista, sem qualquer esclarecimento ou
motivação. Ilegalidade do bloqueio reconhecida em sentença, contra a qual não foi
interposto recurso pela ré. Controvérsia remanescente quanto ao cabimento de
indenização por lucros cessantes e danos morais. Indenização por lucros cessantes
devida. A plataforma de aplicativo de transportes que descredencia motorista,
indevidamente e sem justificativa concreta, deve pagar lucros cessantes pelo período em
que o motorista ficou impedido de exercer sua atividade. Inteligência do art. 402 do
CC/2002. Valor que deverá abranger o período em que o usuário ficou bloqueado
e cuja base de cálculo deve levar em consideração os últimos 12 meses
anteriores ao bloqueio, descontado 40% de custos operacionais. Precedentes em
casos envolvendo a condenação a lucros cessantes quando a vítima é taxista. Danos
morais não configurados. O mero inadimplemento do contrato não justifica a condenação
por danos morais. Precedentes. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSP; Apelação
Cível 1102475-13.2020.8.26.0100; Relator (a): Alfredo Attié; Órgão Julgador: 27ª
Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 12/08/2021) - Grifamos

41. Ainda que se entenda que o Autor teria faturado o valor de R$ 35.000,00
somente com viagens com destino ao aeroporto, o que não se comprova, não há
qualquer indicio de que o Autor tenha obtido prejuízos com supostos retornos
aos locais de origem da viagem, podendo o Autor ter aceitado solicitações assim
que saia do aeroporto.

42. Além disso, poderia o Autor ter se utilizado de plataformas concorrentes para
retornar à cidade, de modo que o pedido do autor é totalmente descabido.

LIMITAÇÕES NÃO TEM A INTÇÃO DE LIMITAR A RESPONSABILIDADE QUE NÃIO PODE SER EXCLUIDA
PELA LEI APLICÁVEL.

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43. Sendo assim, não tendo o Autor demonstrado qualquer prejuízo, deverá o

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pedido ser julgado totalmente improcedente.

III.D - AUSÊNCIA DE DANO MORAL – OBSERVÂNCIA AOS ARTIGOS 884


E 944 DO CÓDIGO CIVIL

44. Diante dos fatos narrados, a parte autora almeja sucessivamente a


condenação da Uber ao pagamento de indenização por danos morais no valor de
R$ 15.000,00 (quinze mil reais) por não poder realizar viagens com partida dos
Aeroportos.

45. E como visto, a desativação desta modalidade de viagem ocorreu de forma


assertiva, dada a diversas violações as regras da plataforma nestas viagens, além
de diversos relatos de má conduta frente aos usuários da plataforma.

46. No entanto, não houve qualquer ato ilícito por parte da Uber, pois ainda que
o Autor não pudesse atuar como motorista nesta plataforma, qual o dano
decorrente? Este bem poderia ter atuado em outras plataformas que
disponibilizam serviços semelhantes ao da Uber, e por isso não faz jus ao
recebimento da indenização pretendida.

47. Somado a isto, além da inexistência de qualquer ato ilícito praticado pela
Uber, tem-se que eventual “fato” decorreu tão somente de ato praticado pelo
próprio Autor ao não observar os Termos de Uso da plataforma. Ressalta-se que
em caso de descumprimento contratual a Uber possui o direito de desativar os
usuários IMEDIATAMENTE e SEM AVISO PRÉVIO. Nesse sentido, vejamos
recentíssima decisão acerca do tema:

Apelação cível. Ação indenizatória e obrigação de fazer. Uber.


Descredenciamento de motorista parceiro. Sentença que julgou improcedentes
os pedidos ante a regularidade na conduta da empresa. Iterativos
cancelamentos de viagens, pelos usuários. Para além disso, a relação jurídica
existente entre as partes está baseada na liberdade de contratar (art. 421 do
CC), e a cláusula 12 do contrato é expressa quanto à possibilidade de ambas
as partes rescindirem o negócio jurídico sem a necessidade de justa causa.
Recurso desprovido. (0005304-09.2018.8.19.0207 – APELAÇÃO - Des(a).
AGOSTINHO TEIXEIRA DE ALMEIDA FILHO - Julgamento: 04/05/2020 -
DÉCIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL).

48. No mais, além da ausência de ato ilícito, verifica-se que também que NÃO
HÁ DANO MORAL.

49. O autor limita-se a requerer indenização por danos morais, sem qualquer
justificativa plausível, o que claramente demonstra seu interesse em se
enriquecer ilicitamente às custas da Uber, o que não deve prosperar.

50. Não se pode questionar que o dano moral é um tipo de dano causado ao
homem em sua personalidade, de caráter grave e que o fere profundamente em
sua psique, abalando sua autoestima e sua motivação.

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51. E ainda que se entenda por descumprimento contratual por parte da Uber,

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o que não se admite, este descumprimento contratual não possui o condão de
gerar danos a personalidade do Autor. Nesse sentido:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL.


ATRASO NA ENTREGA. DANO MORAL. NÃO CABIMENTO. INEXISTÊNCIA DE SITUAÇÃO
EXTRAORDINÁRIA. MERO DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. SÚMULA 83/STJ.
RECURSO NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de
que o simples descumprimento contratual, por si só, não é capaz de gerar danos
morais. 2. No caso, a inexistência de circunstância especial que extrapole o mero
aborrecimento decorrente do atraso na entrega do imóvel enseja a manutenção da
decisão monocrática que determinou o afastamento da indenização por danos morais. 3.
Agravo interno não provido. (STJ - AgInt no AREsp: 1554453 RJ 2019/0223637-8,
Relator: Ministro RAUL ARAÚJO, Data de Julgamento: 25/05/2020, T4 - QUARTA TURMA,
Data de Publicação: DJe 04/06/2020) – Grifamos.

52. Destaca-se ainda a Súmula da Turma Uniformização do Sistema de Juizados


Especiais do Estado de São Paulo:

“SÚMULA Nº 6 - Mero inadimplemento contratual, sem circunstâncias


específicas e graves que a justifiquem, não dá ensejo a indenização por
danos morais.”

53. Ou seja, o Autor foi incapaz de narrar qualquer acontecimento capaz de lhe
causar abalos de ordem emocional que ultrapassem, quiçá, o mero dissabor,
razão pela qual não se pode imaginar a condenação ao pagamento por danos
morais.

54. No ponto, imperioso asseverar que diversamente à tese formulada pela


parte adversa, o “caráter pedagógico/punitivo” da condenação por danos morais
não deve ser acolhido como fundamento ou parâmetro para fixação do quantum
indenizatório. Ou seja, não se pode condenar a Uber ao pagamento de
indenização como instituto punitivo, o qual não é admitido pelo ordenamento
jurídico pátrio, como bem aponta Judith Martins-Costa em reflexão sobre o
instituto dos punitive damages:

No Direito norte-americano, há nítida cisão entre o dano moral (noneconomic damages),


cujo caráter é compensatório à vítima, e a indenização punitiva (punitive damages),
categoria restrita, inconfundível com o dano moral e cabível, dentro de limites
constitucionalmente impostos, em face do alto grau de reprovabilidade social da conduta
do ofensor, a ser aferido pelo júri. Portanto, não há caráter punitivo ínsito às
indenizações por dano extrapatrimonial, as quais devem ser fixadas tendo em
vista exclusivamente a extensão do dano sofrido pela vítima. (Grifou-se).

55. No mesmo sentido, o STJ já reconheceu4 a impossibilidade de imposição de


condenação ao pagamento de indenização por danos imateriais com finalidade
de (I) punição ou (II) imposição de melhoria na qualidade do serviço oferecido
pelo suposto ofensor, hipótese em que se qualifica como enriquecimento sem
causa, visto que, de acordo com o artigo 944, a indenização deve ser proporcional
à extensão do dano efetivamente verificado.

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. LIMITE DE TEMPO DE


ESPERA EM FILA DE BANCO ESTABELECIDO POR LEI LOCAL. RELAÇÃO DE CONSUMO.

4 REsp 1647452/RO

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OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. EXSURGIMENTO. CONSTATAÇÃO DE DANO.

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NECESSIDADE. SENTIDO VULGAR E SENTIDO JURÍDICO. CONFUSÃO.
DESCABIMENTO. FATO CONTRA LEGEM OU CONTRA JUS. CIRCUNSTÂNCIAS NÃO
DECISIVAS. USO DO INSTITUTO DA RESPONSABILIDADE CIVIL COM O FITO DE
PUNIÇÃO E/OU MELHORIA DO SERVIÇO. ILEGALIDADE. DANO MORAL. LESÃO A
DIREITO DA PERSONALIDADE. IMPRESCINDIBILIDADE. ABORRECIMENTO,
CONTRATEMPO E MÁGOA. CONSEQUÊNCIA, E NÃO CAUSA. IMPLANTAÇÃO DA POLÍTICA
NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO. AÇÃO GOVERNAMENTAL. (...) 2. Como bem
adverte a doutrina especializada, constitui equívoco tomar o dano moral em seu sentido
natural, e não no jurídico, associando-o a qualquer prejuízo economicamente
incalculável, como figura receptora de todos os anseios, dotada de uma vastidão
tecnicamente insustentável, e mais comumente correlacionando-o à dor, ao sofrimento
e à frustração. Essas circunstâncias não correspondem ao seu sentido jurídico, a par de
essa configuração ter o nefasto efeito de torná-lo sujeito a amplo subjetivismo do
magistrado. 3. Com efeito, não é adequado ao sentido técnico-jurídico de dano a
sua associação a qualquer prejuízo economicamente incalculável, como caráter
de mera punição, ou com o fito de imposição de melhoria de qualidade do
serviço oferecido pelo suposto ofensor, visto que o art. 944 do CC proclama que
a indenização mede-se pela extensão do dano efetivamente verificado. 4. O art.
12 do CC estabelece que se pode reclamar perdas e danos por ameaça ou lesão a direito
da personalidade, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Dessarte, o direito
à reparação de dano moral exsurge de condutas que ofendam direitos da
personalidade, bens tutelados que não têm, per se, conteúdo patrimonial, mas
extrema relevância conferida pelo ordenamento jurídico. 7. Recurso especial
parcialmente provido. (...) (REsp 1647452/RO, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 26/02/2019, DJe 28/03/2019). Grifou-
se.

56. Certo é que no caso em tela não se aplica o disposto no art. 186 do Código
Civil, pois, conforme a situação fática, não houve ação injusta por parte da
Uber, devendo os pedidos autorais serem julgados improcedentes.

57. Contudo, em observância ao princípio da eventualidade, cumpre ressaltar


que na remota e improvável hipótese de indenização, está deverá ser
moderada, sob pena de acarretar punição extrema à Uber e fatídico
enriquecimento sem causa ao Autor, o que é veementemente rechaçado
pelas Cortes Brasileiras, sob pena de negar vigência ao disposto no art. 5º. da
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, artigos 186, 884 e
944, Parágrafo único, todos do Código Civil, e ainda, ao artigo 5º, X, da
Constituição Federal.

III.E - DA IMPOSSIBILIDADE DE DINAMIZAÇÃO DO ÔNUS DA PROVA

58. Vislumbra-se, ainda, que a parte autora pugna pela dinamização do ônus
da prova, alegando a Teoria da Distribuição Dinâmica do ônus da Prova,
requerendo assim, seja aplicada a inversão do ônus da prova com base no art.
373, §1° do CPC.

59. Contudo, importante destacar que o artigo 373, do Código de Processo Civil
distribui o ônus da prova em seus incisos I e II, o que certamente, se aplica ao
caso em apreço.

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60. Ora, o ônus da prova de fatos constitutivos do direito autoral, deve ser

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provado por ele, que é o interessado na causa e movimentou a máquina judiciária
a fim de ver satisfeitos seus direitos.

61. A empresa Uber, por ser uma plataforma digital, funciona apenas como
facilitadora de relacionamento, aproximando clientes e empresas. A missão é
conectar interesses e pessoas, promovendo interações de valor entre os
envolvidos. Assim, a relação com o motorista parceiro é exclusivamente uma
relação civil, não possuindo a Uber qualquer responsabilidade por seus atos, eis
que não fornece a atividade de transporte e muito menos existe vínculo
empregatício.

62. Fato é que o Autor utiliza a plataforma como meio para exercício de sua
atividade de transporte de pessoas e, nesse contexto, jamais pode ser
considerado destinatário final de serviço, ou seja, consumidor, pois a plataforma
Uber é apenas insumo para o desenvolvimento da sua atividade de motorista.

63. Destarte, a Uber não fornece qualquer tipo de serviço ao motorista, e tão
somente disponibiliza uma parceira para utilização de sua plataforma para que o
motorista exerça sua atividade de transportador, tratando-se de contratação
entre particulares, restando claro que a relação discutida nos autos não pode ser
considerada uma relação de consumo, diante da ausência de requisito subjetivo,
qual seja, consumidor e fornecedor.

64. No mais, não há que se falar em inversão do ônus da prova, pois cabe ao
Juiz verificar se estão presentes a verossimilhança ou a hipossuficiência,
pressupostos que o autorizam a assim proceder, conforme preleciona o art. 6º,
VIII, do Código de Defesa do Consumidor e artigo 373, §1° do CPC.

65. É importante destacar que esses elementos não nascem simplesmente da


palavra do consumidor, pois dependem de reais indícios trazidos aos autos, o
que não ocorreu. Deste modo, não está presente a hipossuficiência, tampouco a
verossimilhança, e sequer a relação de consumo, para justificar eventual
inversão do ônus probatório.

66. Diante do exposto, torna-se evidente que o Código de Defesa do


Consumidor não é aplicável ao caso em tela e tampouco poderia se falar em
inversão do ônus da prova.

IV - PEDIDO

50. Ante o exposto, requer-se que seja:

I. Seja julgada improcedente a demanda diante da impossibilidade de


obrigar a Uber a reativar o cadastro do prestador de serviço independente
de forma compulsória, pois impera nas relações contratuais a liberdade de
contração consubstanciada no direito fundamental da autonomia da
vontade;

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II. Seja julgado totalmente improcedente o pedido de lucros cessantes, pois
não se presumem;

III. Seja julgado improcedente o pedido indenizatório, em razão da


inexistência de danos morais praticados pela Uber, posto que inexiste
responsabilidade civil para tanto. Subsidiariamente, deverá a indenização
ser arbitrada com razoabilidade.

51. Requer, outrossim, a produção de todas as provas admitidas em direito.

67. Outrossim, requer-se, também, sejam anotados, para fins de intimação, o


nome do seguinte patrono da ora Contestante, Dr. Celso de Faria Monteiro,
OAB/SP 138.436, SOB PENA DE NULIDADE, A TEOR DO DISPOSTO NO
ARTIGO 272, §1º e 5º, DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

Termos em que,
Pede deferimento.

São Paulo, 31 de março de 2022.

Janaina Castro Felix Nunes Celso de Faria Monteiro


OAB/SP 148.263 OAB/SP 138.436

16


coronavírus.

Relato usuário 04 – alteração de rota:


ANEXO 01

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Relatos de usuários sobre comportamentos do Autor.

Relato usuário 03 – uso incorreto de máscara durante a pandemia do

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Relato usuário 06 – cancelamento:


Relato usuário 05 – cancelamento:

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Relato usuário 07 – alteração de rota:

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Relato usuário 08 – não encerrou a viagem corretamente:

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coronavírus.

Relato usuário 10 – cancelamento:


Para melhor visualização:
Para melhor visualização:

Relato usuário 09 - uso incorreto de máscara durante a pandemia do

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Relato usuário 11 – direção perigosa:

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Relato usuário 12 – cancelamento:

Relato usuário 13 – alteração de rota:


Para melhor visualização:

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