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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ(A) DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL


CÍVEL DA UNIDADE JURISDICIONAL DA COMARCA DE FRUTAL – MG.

Processo nº: 5008543-27.2023.8.13.0271


Parte autora: PATRICIA SOUZA MORAIS

MERCADO PAGO INSTITUIÇÃO DE PAGAMENTO LTDA., pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 10.573.521/0001-91, com sede na Av. das Nações
Unidas, nº 3003, Bonfim, Osasco, SP, CEP 06233-903, nos autos da ação em epígrafe
ajuizada por Patricia Souza Morais, vem, por meio de seus procuradores abaixo assinados,
regularmente constituídos, apresentar sua CONTESTAÇÃO, pelos motivos de fato e de
direito a seguir delineados.

O MERCADO LIVRE E O MERCADO PAGO, OS SERVIÇOS PRESTADOS E SEU


COMPROMISSO COM AS AUTORIDADES BRASILEIRAS

O MERCADO LIVRE é a empresa de tecnologia de e-commerce líder na América


Latina, com mais de 182 (cento e oitenta e dois) milhões de anúncios ativos na América
Latina, possuindo hoje mais de 267 (duzentos e sessenta e sete) milhões de usuários
cadastrados na América Latina, com 12 (doze) produtos comprados por segundo em todos
os 18 (dezoito) países nos quais atua; Contém 2.000 (duas mil) lojas oficiais, sendo que 600
(seiscentas) delas estão no Brasil; segundo dados da pesquisa Ecolatina – empresa de
pesquisa e informação de mercado – há mais de 581 (quinhentas e oitenta e uma) mil
pessoas vivendo total ou parcialmente, de renda proveniente de suas vendas no MERCADO
LIVRE, a realçar sua importância social.

O MERCADO PAGO é uma empresa do grupo MERCADO LIVRE, gerenciadora de


pagamentos on-line de origem Latino Americana, criada através da tecnologia mais

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avançada em segurança na Internet, para até então 90 (noventa) milhões de compradores,
atuante em mais de 150 (cento e cinquenta) mil negócios on-line, o que realça o seu alto
nível de atuação nas relações de compra e venda pela internet.

Com efeito, o MERCADO LIVRE e o MERCADO PAGO, atentos às pessoas que


direta ou indiretamente confiam e dependem dos serviços por ele prestados, vem assumindo
uma série de compromissos com a sociedade civil, o que inclusive o levou a receber, a
certificação “empresa amiga da Justiça” do Egrégio TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SÃO PAULO.

O QUE A PARTE AUTORA ALEGA

Trata-se de ação em que a parte Autora alega ter sido negativada sem o
conhecimento do débito.

Por esta razão, ajuizou a presente demanda na qual requer liminarmente a exclusão
do seu nome dos cadastros restritivos de crédito, bem como, indenização por danos morais.

Entretanto, conforme será esclarecido, as alegações da parte Autora não merecem


prosperar. Portanto, não são poucos os fundamentos que impõem a extinção do processo,
sem resolução do mérito, ou a improcedência dos pedidos formulados na inicial, conforme
se verificará adiante.

O QUE SERÁ DEMONSTRADO

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-

ESCLARECIMENTO DOS FATOS AUSÊNCIA DE DANO MORAL

FUNCIONAMENTO DA NÃO INVERSÃO DO ÔNUS DA


PLATAFORMA MERCADO LIVRE E PROVA
MERCADO PAGO

MÉRITO

Esclarecimento dos Fatos

Excelência, a parte autora aduz estar negativada por dívida que desconhece,
entretanto, cabe esclarecer, que a Autora está com um atraso superior a 90 dias visto que a
fatura em aberto se refere ao mês de maio de 2023:

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Ora Excelência, o próprio Autor confessa a dívida pela qual vem sendo cobrado,
assim, indubitavelmente tem ciência de que o débito é legítimo e, como cediço, o
inadimplemento enseja em cobranças. Pois bem, claramente esta Requerida está
apenas exercendo regularmente seu dever de credora, enquanto o Autor permanecer
em mora, receberá cobranças por esta dívida.
Caso seja a vontade do Autor quitar a pendência e cessar as cobranças, cabe a ele

procurar os canais de atendimento da plataforma especializados para negociar um acordo


que viabilize o pagamento do débito.

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Ora, como o devido respeito, o autor se preocupa com as legitimas cobranças, mas não
se preocupa em saldar sua dúvida, que certamente pode ser renegociada se for o caso. Uma
verdadeira inversão de valores!
O autor sequer contatou a
plataforma ou a empresa de cobranças no
intuito de renegociar sua dívida ou algo
nesse sentido e propõe a presente
demanda no intuito de não mais ser
cobrado e assim permanecer
tranquilamente em mora.
Cumpre ainda esclarecer que a dívida
do Autor permanece em aberto por mais de
03 meses, razão pela qual o débito foi
encaminhado para empresas de cobrança
especializadas neste ramo.
Assim sendo, tendo em vista que esta Ré não está realizando nenhuma cobrança
Funcionamento Da Plataforma Mercado Livre E
indevida em face da parte Autora, inexistem provas de qualquer irregularidade cometida por
Mercado Pago
esta Requerida que enseje o dever de indenizar, desta forma, é imperioso o julgamento
improcedente de todos os requerimentos da parte autora.

Antes de analisarmos as alegações trazidas na inicial, cumpre esclarecer como


funciona a plataforma Mercado Livre e Mercado Pago, visando elucidar este D. Juízo e
trazer mais elementos para o correto deslinde do feito.

O serviço prestado pelo Mercado Livre consiste no oferecimento de espaços em seu


site para que, de maneira preponderante, terceiros anunciem produtos e serviços, após o
devido cadastramento no site e aceitação dos Termos e Condições Gerais de Uso.

Como forma de garantir a praticidade da plataforma e a segurança de seus usuários, o


Mercado Livre também oferece diversos serviços por meio de outras empresas do grupo,
que formam o seu ecossistema. A figura ao lado auxilia na compreensão deste todo.

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O Mercado Pago, por sua vez, é a pessoa jurídica de direito privado que atua como
Instituição de Pagamento Emissora de Moeda Eletrônica, devidamente autorizada pelo
Banco Central do Brasil, e que oferece diversas funcionalidades a seus usuários.

Dentre uma de suas principais atividades, o Mercado Pago atua com o


processamento de pagamentos do site Mercado Livre e de outros sites de comércio
eletrônico, prestando a seus clientes serviços através de uma plataforma tecnológica e, com
soluções para consumidores, vendedores e empresas de todos os portes.

E sob esta ótica deve ser esclarecido que os vendedores de produtos anunciados no
Mercado Livre não são prepostos da empresa.

Funcionamento Do Mercado Pago – Regras


Obrigatórias Seguidas Pela Empresa

Cumpre esclarecer como funciona o Mercado Pago, visando elucidar este D. Juízo e
trazer mais elementos para o correto deslinde do feito.

O serviço prestado pelo Mercado Pago é de pessoa jurídica de direito privado que
atua como Instituição de Pagamento Emissora de Moeda Eletrônica, devidamente autorizada
pelo Banco Central do Brasil, e que oferece diversas funcionalidades a seus usuários.

Com um amplo portfólio, o Mercado Pago facilita o acesso aos meios de pagamento
com solidez e segurança, contribuindo para a democratização do comércio e oferecendo
uma melhor experiência de compra e venda para seus usuários, consoante é possível se
verificar pelas informações constantes do próprio site do Mercado Pago.

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A atividade de prestação de serviços de pagamento realizada pelo Mercado Pago
no Brasil é regulada pela Lei nº 12.865/2013, Resolução do Conselho Monetário
Nacional – CMN nº 4.282/2013, bem como Circulares do Banco Central - BC nºs 3.680,
3.681 e 3.682/2013, dentre outras normas aplicáveis, não sendo classificada como serviço
bancário ou de câmbio.

Destarte, o Mercado Pago deve observar todas as diretrizes contidas nas normas
supramencionadas, em especial os procedimentos a serem adotados para gerenciamento de
riscos, com o objetivo de garantir aos seus usuários confiabilidade, qualidade e segurança
nos serviços de pagamento oferecidos (art. 3º, V e VI da Resolução nº 4.282/2012 – CMN).

Por sua vez, o art. 17 do regulamento anexo à Circular nº 3.682/2013 – BC


determina que o Mercado Pago disponibilize para seus usuários um regulamento no qual
deve constar, de forma clara e objetiva, todas as regras de funcionamento dos serviços de
pagamento (art. 17, §1º), incluindo as regras de utilização da conta, os critérios e requisitos
de suspensão e exclusão do usuário e as penalidades quando do descumprimento das regras
contratuais. Adicione-se que o aludido regulamento é condição essencial para que o Banco
Central autoriza o Mercado Pago a exercer suas atividades (art. 16, VIII).

Em outras palavras, os Termos e Condições de Uso disponibilizados aos usuários do


Mercado Pago, além de reger todo o funcionamento do serviço de pagamento, também é
uma exigência normativa cumprida pela empresa.

Dessa forma, pelo contrato celebrado Termos e Condições de Uso do Mercado


Pago, mais especificamente nas cláusulas 4.10 e 5.13, o serviço para o qual o Mercado Pago
foi contratado refere-se tão somente ao serviço de pagamento.

Inexistência Dos Danos Morais

Pretende a parte autora ser ressarcida por supostos danos morais que teria
experimentado em decorrência da situação narrada na exordial.

Como já dito, cabe à parte autora provar os fatos constitutivos do seu direito, e não
há nenhum documento ou fato que demonstre ter a parte Ré agido de forma contrária aos
serviços que disponibiliza, e que tais condutas teriam culminado nos danos morais alegados.

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Exa., a parte autora além de ser devedor confesso e não demonstrar
minimamente sua vontade de quitar sua dívida, ainda pretende receber valores do
credor! Mais uma vez, beira o inacreditável a propositura da presente demanda!

Ademais, sequer pode se identificar que as ligações demonstradas partiram da


empresa de cobrança! Sabe-se que diversas empresas de diversos seguimentos
realizam ligações e não há prova de que todas partiram da empresa de cobrança.

O reconhecimento da falta do nexo de causalidade — elemento fundamental à


caracterização da responsabilidade civil —, já seria mais do que suficiente para afastar o
pleito autoral.

Para justificar a indenização por danos morais ter-se-ia que admitir que a parte
autora sofreu profundos abalos em razão dos eventos descritos, sentimentos que fujam à
frustração cotidiana e às vicissitudes da vida em sociedade, o que, decerto, não foi o caso.

É evidente que não há nos fatos narrados pela parte autora nada que se possa
entender como extraordinário, ou provocador de qualquer angústia real. Ainda que se
pudesse reconhecer que a situação causou à parte autora algum incômodo, não se
afigura possível efetivamente enquadrá-los na rubrica de “dano moral”, considerando
que meros aborrecimentos não podem ser considerados danos à personalidade,
conforme já assentou há muito tempo o Superior Tribunal de Justiça:

“7. Aborrecimentos decorrentes de relações contratuais, na forma como ocorrido


na hipótese dos autos, estão ligados a vivência em sociedade, cujas expectativas
são desatendidas de modo corriqueiro e nem por isso surgem abalos psicológicos
com contornos sensíveis de violação à dignidade da pessoa humana. 8. Recurso
especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, parcialmente provido. (REsp
1731762/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
22/05/2018, DJe 28/05/2018) – Grifamos.

Já está pacificado no STJ que os danos morais pressupõem ofensa de ordem não
patrimonial, excluindo os meros incômodos ou aborrecimentos cotidianos, devendo ser
comprovado que o fato atingiu a esfera personalíssima da parte autora:

“DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. COMPRA PELA INTERNET.


NÃO ENTREGA DA MERCADORIA. VIOLAÇÃO DE DIREITO DE
PERSONALIDADE NÃO COMPROVADA. MERO ABORRECIMENTO. DANOS
MORAIS INDEVIDOS. 1. Segundo a jurisprudência do STJ, os aborrecimentos
comuns, os dissabores próprios do convívio social não ensejam danos morais
indenizáveis. 2. A falha na entrega de mercadoria adquirida pela internet
configura, em princípio, mero inadimplemento contratual. Apenas se comprovada
ofensa a direito da personalidade é que se poderá mensurar a indenização por
danos morais. 3. Aplica-se o óbice da Súmula n. 284/STF ao recurso especial

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cujos fundamentos não apresentam contrariedade ao acórdão recorrido. 4.
Recurso especial não conhecido. (RECURSO ESPECIAL Nº 1.465.636 - MG
(2014/0162556-4) Relator MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA Recorrente
LUIZ CLÁUDIO RIBEIRO MENDES Recorrido EBAZAR.COM.BR LTDA
Interessado MERCADOLIVRE. COM ATIVIDADES DE INTERNET LTDA)”
(grifo nosso)

Ante o exposto, ausente a prova de danos que extrapolem a ocorrência de mero


aborrecimento, deve ser julgado improcedente o pedido indenizatório e, subsidiariamente, se
por acaso se entender pela ocorrência do dano moral, a reparação deve ser cabível em valor
condizente com a razoabilidade e com a relevância dos fatos especificamente relatados neste
caso, evitando-se o enriquecimento ilícito da parte autora vedado pelo artigo 884 do Código
Civil.

DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Contudo, se por acaso se entender pela ocorrência do dano moral, o que se admite
apenas por argumentação, vale ressaltar que a reparação deve ser cabível na medida exata
extensão do dano sofrido.

Além disso, qualquer prejuízo que a parte Autora possa alegar foi causado por sua
própria conduta, não podendo imputar tal fato a esta empresa Ré.

Pela narrativa da inicial, não se pode concluir que tenha a parte autora padecido
de dor psíquica a justificar a indenização pleiteada, pois não relata especificamente nenhum
acontecimento vexatório.

Dessa forma e por esses relevantes aspectos novamente suscitados, não se pode
admitir que seja o instituto reparatório do dano moral aproximado da famigerada hipótese de
enriquecimento sem causa, impondo-se a fixação da eventual e improvável condenação (o
que se admite apenas por hipótese) em valor condizente com a razoabilidade e com a
relevância dos fatos especificamente relatados neste caso.

Não Inversão do Ônus da Prova

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O CPC/2015 consagrou a Teoria do Ônus da Prova Dinâmico 1, isto é, cabe ao
magistrado determinar o ônus da elaboração de cada prova com base em quem possui a
maior facilidade de produzi-la.

Neste contexto, inobstante o inciso VIII do artigo 6° do CDC conceder ao


consumidor o benefício da inversão do ônus da prova se as alegações forem verossímeis,
sabe-se que incumbe à parte autora provar o mínimo constitutivo do seu direito.

A não comprovação pela parte autora do mínimo constitutivo do seu direito fere a
regra estabelecida no inciso I do artigo 373 do CPC/2015, que estabelece que o ônus da
prova incumbe a autora quanto a fato constitutivo do seu direito.

Vale esclarecer que as próprias provas colacionadas pela parte autora em sua
peça inaugural afastam qualquer responsabilidade da parte Ré.

Ademais, resta amplamente evidenciado que não há verossimilhança nos fatos


alegados na inicial, totalmente insuficientes para comprovar que a parte Ré tenha
praticado algum ato ilícito que pudesse ensejar a pretensão perseguida.

Em conclusão, diante ausência dos pressupostos necessários (fato verossímil e


hipossuficiência do consumidor para a produção probatória), inadmite-se a inversão do ônus
da prova no caso em testilha.

REQUERIMENTOS

Por todo o exposto, requer a parte Ré:

(i) Seja a ação julgada improcedente em sua totalidade, face à inexistência de vício
na prestação dos serviços da parte Ré;

(ii) Por fim, requer a expedição e veiculação de todas as publicações e intimações


relativas ao presente feito, exclusivamente, sob pena de nulidade, em nome do Dr.
EDUARDO CHALFIN, inscrito na OAB/BA sob nº 45.394.

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Nestes termos,
Pede deferimento.
Bahia, 13 de novembro de 2023

EDUARDO CHALFIN
OAB/BA 45.394

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