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A cantiga de amor

O cavalheiro dirige-se à mulher amada como uma figura idealizada, distante. O poeta, na
posição de fiel vassalo, se põe a serviço de sua senhora, dama da corte, tornando esse
amor em um sonho, distante, impossível. Mas nunca consegue conquistá-la, porque eles
pertencem a diferentes níveis sociais.
Neste tipo de cantiga, originária de Provença, no sul de França, o eu-lírico é masculino e
sofredor. Sua amada é chamada de senhor (as palavras terminadas em or como senhor
ou pastor, em galego-português não tinham feminino). Canta as qualidades de seu amor, a
"minha senhor", a quem ele trata como superior revelando sua condição hierárquica. Ele
canta a dor de amar e está sempre acometido da "coita", palavra frequente nas cantigas
de amor que significa "sofrimento por amor". É à sua amada que se submete e "presta
serviço", por isso espera benefício (referido como o bem nas trovas).
Essa relação amorosa vertical é chamada "vassalagem amorosa", pois reproduz as
relações dos vassalos com os seus senhores feudais. Sua estrutura é mais sofisticada.
São tipos de Cantiga de Amor:

 Cantiga de Meestria: é o tipo mais difícil de cantiga de amor. Não apresenta refrão,
nem estribilho, nem repetições (diz respeito à forma.)
 Cantiga de Tense ou Tensão: diálogo entre cavaleiros em tom de desafio. Gira em
torno da mesma mulher.
 Cantiga de Pastorela: trata do amor entre pastores (plebeus) ou por uma pastora
(plebeia).
 Cantiga de Plang:
cantiga de amor
repleta de lamentos.
Exemplo de lírica galego-portuguesa (de Bernardo de Bonaval)
Características gerais: "A dona que eu amo e tenho por Senhor
amostra-me-a Deus, se vos en prazer for,
 Eu lírico masculino se non dade-me-a morte.
 Assunto Principal: o A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
sofrimento amoroso e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
do eu-lírico perante se non dade-me-a morte.
uma mulher Essa que Vós fezestes melhor parecer
idealizada e distante. de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.
 Amor cortês;
A Deus, que me-a fizestes mais amar,
vassalagem amorosa. mostrade-me-a algo possa con ela falar,
 Amor impossível. se non dade-me-a morte."
 Ambientação
aristocrática das
cortes.
 Forte influência provençal.
 Vassalagem amorosa "o eu lírico usa o pronome de tratamento "senhor".
A cantiga de amigo
São cantigas de origem popular, com marcas evidentes da literatura oral (reiterações,
paralelismo, refrão, estribilho), recursos esses próprios dos textos para serem cantados e
que propiciam facilidade na memorização. Esses recursos são utilizados, ainda hoje, nas
canções populares.
Este tipo de cantiga, que não surgiu em Provença como as outras, teve suas origens
na Península Ibérica. Nela, o eu-lírico é uma mulher (mas o autor era masculino, devido à
sociedade feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época), que canta seu amor
pelo amigo (isto é, namorado), muitas vezes em ambiente natural, e muitas vezes também
em diálogo com sua mãe ou suas amigas. A figura feminina que as cantigas de amigo
desenham é, pois, a da jovem que se inicia no universo do amor, por vezes lamentando a
ausência do amado, por vezes cantando a sua alegria pelo próximo encontro. Outra
diferença da cantiga de amor, é que nela não há a relação Suserano x Vassalo, ela é uma
mulher do povo. Muitas vezes tal cantiga também revelava a tristeza da mulher, pela ida
de seu amado à guerra.

São características principais das Cantigas


de Amigo: Exemplo (de D. Dinis)
"Ai flores, ai flores do verde pino,
 Eu lírico feminino. se sabedes novas do meu amigo!
 Presença de paralelismos. ai Deus, e u é?
 Predomínio da musicalidade. Ai flores, ai flores do verde ramo,
 Assunto Principal: saudade se sabedes novas do meu amado!
 Amor natural, espontâneo e possível. ai Deus, e u é?
 Ambientação popular rural ou urbana. Se sabedes novas do meu amigo,
 Influência da tradição oral ibérica. aquel que mentiu do que pôs comigo!
 Deus é o elemento mais importante do ai Deus, e u é?
poema. Se sabedes novas do meu amado,
 Pouca subjetividade. aquel que mentiu do que mi há jurado!
A cantiga de escárnio ai Deus, e u é?"
Ver artigo principal: Cantigas de escárnio e (...)
maldizer
Em cantiga de escárnio, o eu-lírico faz
uma sátira a alguma pessoa. Essa sátira era indireta, cheia de duplos sentidos. As
cantigas de escárnio definem-se, pois, como sendo aquelas feitas pelos trovadores para
dizer mal de alguém, por meio de ambiguidades, trocadilhos e jogos semânticos, em um
processo que os trovadores chamavam "equívoco". O cômico que caracteriza essas
cantigas é predominantemente verbal, dependente, portanto, do emprego de recursos
retóricos. A cantiga de escárnio exigindo unicamente a alusão indireta e velada, para que o
destinatário não seja reconhecido, estimula a imaginação do poeta e sugere-lhe uma
expressão irônica, embora, por vezes, bastante
mordaz.

Características: Exemplo de cantiga de escárnio.


Ai, dona fea, foste-vos queixar
 Crítica indireta; normalmente a pessoa
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
satirizada não é identificada.
 Linguagem trabalhada, cheia de sutilezas, mais ora quero fazer um cantar
trocadilho e ambiguidades. em que vos loarei toda via;
 Ironia. e vedes como vos quero loar:
A cantiga de maldizer dona fea, velha e sandia! (...)

Ao contrário da cantiga de escárnio, a cantiga de


maldizer traz uma sátira direta e sem duplos
sentidos. É comum a agressão verbal à pessoa satirizada, e muitas vezes, são utilizados
até palavras de baixo calão (palavrões). O nome da pessoa satirizada pode ou não ser
revelado.
Exemplo de cantigas
Este texto é enquadrado como cantiga de
escárnio já que a sátira é indireta e não se cita João Garcia de Guilhade
o nome da pessoa especifica. Mas, se o nome
fosse citado ela seria uma Cantiga de "Ai dona fea! Foste-vos queixar
Maldizer, pois contém todas as características Que vos nunca louv'en meu trobar
diretas como sátira da "Dona". Existe a Mais ora quero fazer un cantar
suposição que Joan Garcia escreveu a cantiga En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
anterior uma senhora que reclamava por ele
Dona fea, velha e sandia!
não ter escrito nada em homenagem a ela.
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
Joan Garcia de tanto ouvi-lá dizer, teria
E pois havedes tan gran coraçon
produzido a cantiga. Que vos eu loe en esta razon,
Características principais: Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
 Crítica direta; geralmente a pessoa
Dona fea, nunca vos eu loei
satirizada é identificada
En meu trobar, pero muito trobei;
 Linguagem agressiva, direta, por vezes Mais ora já en bom cantar farei
obscena En que vos loarei toda via;
 Zombaria E direi-vos como vos loarei:
 Linguagem Culta Dona fea, velha e sandia!"

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