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C o n s e r v a ç ã o d o S o l o e d a Á g u a

Região Autónoma da Madeira


Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais

Manual Básico das Boas Práticas Agrícolas


Conservação do solo e da água

Este documento tem por base o Manual Básico das Práticas Agrícolas Conservação
do solo e da água, publicado pelo Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural
e das Pescas e foi adaptado à Região Autónoma da Madeira por:
Fátima Isabel Correia de Freitas
José Carlos Ferreira Marques

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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO

AGRICULTURA E AMBIENTE NA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

1. A ACTIVIDADE AGRÍCOLA E A QUALIDADE DO AMBIENTE


2. CONSERVAÇÃO DO ECOSSISTEMA AGRÁRIO
3. PRÁTICAS AGRÍCOLAS E CONSERVAÇÃO DO SOLO
3.1 Manter e melhorar a fertilidade do solo
3.1.1.Corrigir a acidez do solo
3.1.2 Corrigir o teor em matéria orgânica
3.1.3 Fertilizar racionalmente as culturas
3.2 Defender o solo contra a erosão
3.3 Proteger o solo da poluição com produtos fitofarmacêuticos
3.3.1 Regras gerais para o uso dos produtos fitofarmacêuticos
3.3.2 Cuidados na aplicação dos produtos fitofarmacêuticos
3.3.3 Armazenar e manusear correctamente os produtos fitofarmacêuticos na exploração
4. PRÁTICAS AGRÍCOLAS E CONSERVAÇÃO DA ÁGUA
4.1 Utilizar racionalmente a água de rega
4.2 Proteger a qualidade da água da poluição com fertilizantes
4.2.1 Escolher a época e as técnicas de aplicação dos adubos azotados
4.2.2 Utilizar racionalmente os efluentes da pecuária
4.2.3 Armazenar e manusear correctamente os adubos
4.2.4 Armazenar correctamente os efluentes da pecuária produzidos na exploração
4.3 Proteger a qualidade da água da poluição com produtos fitofarmacêuticos
4.4 Proteger as ribeiras e as linhas de água
5. ESCOLHA E MANUTENÇÃO DOS EQUIPAMENTOS
5.1 Para mobilização do solo
5.2 Para aplicação de produtos fitofarmacêuticos
5.3 Para rega
5.3.1 Para rega sob pressão
5.4 Para a protecção dos recursos naturais - equipamentos especiais
6. PRÁTICAS AGRÍCOLAS E PROTECÇÃO DA PAISAGEM
DEFINIÇÕES
BIBLIOGRAFIA

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APRESENTAÇÃO

A informação contida nesta publicação sobre as práticas agrícolas mais


adequadas para a conservação do solo e da água é de extrema importância para a
Região Autónoma da Madeira, para os seus habitantes e para os nossos agricultores. A
forma como esta informação é dada, simples e sucinta, faz com que seja fácil
compreender como a actividade agrícola pode contribuir activamente para a
conservação destes recursos.

As diferentes temáticas relacionadas com o Ambiente são cada vez mais


fundamentais para garantir uma qualidade de vida compatível com o
desenvolvimento e crescimento a que temos assistido e que queremos dar seguimento
na nossa Região.

O Ambiente é assumido pelo Governo da Região como uma prioridade, uma


vez que o desenvolvimento regional depende, sobretudo, da capacidade do
Madeirense e da salvaguarda da Natureza, materializada numa política de
desenvolvimento agrícola e rural que visa incentivar uma sólida aliança entre a
Agricultura, enquanto actividade produtiva, e o desenvolvimento sustentável do meio
rural, nas vertentes económica, social e ambiental. Nesta perspectiva o agricultor
assume, para além do papel produtivo, um papel de protector do ambiente,
contribuindo assim para a qualidade ambiental pretendida, aliás, como reconhecido
no Plano Regional de Ambiente.

É neste contexto que surge este Manual Básico das Boas Práticas Agrícolas
Sendo a actividade agrícola um utilizador preferencial destes recursos naturais, ela tem
de ser realizada da forma o mais eficiente possível, garantindo a manutenção destes
recursos para as gerações actuais e vindouras, gerando produtos agrícolas regionais de
qualidade superior, com segurança alimentar e mantendo ao mesmo tempo a
paisagem e garantindo o bem estar da nossa população bem como dos que nos
visitam.

O solo na nossa Região é escasso e fruto dos declives existentes facilmente


podem ocorrer perdas irreversíveis deste recurso. Pois bem, a implementação de
práticas agrícolas para a protecção do solo contra a erosão assume aqui um papel
muito importante. A manutenção da actividade agrícola nos tradicionais poios é um
bom exemplo da forma como a actividade, quando bem feita, pode contribuir para a
manutenção do solo.

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A água é outro recurso muito importante para a nossa Região. A utilização


racional e tecnicamente exacta de fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos, tal como
é explicada neste manual, permite uma actividade agrícola também compatível com
a necessidade de preservar os aquíferos.

Concluindo, a adopção das boas práticas agrícolas pelos agricultores e


técnicos ligados ao sector é fundamental para a melhoria do ambiente e manutenção
dos recursos naturais, garantindo produtos madeirenses de elevada qualidade e
mantendo a paisagem a que nos habituamos e queremos preservar, enfim,
perpetuando e aumentando a qualidade de vida na nossa Região.

Agradecendo o empenho e capacidade de todos os técnicos da SRA que


contribuíram para a elaboração deste Manual, enalteço o papel, empenho e denodo
dos Agricultores Madeirenses, destinatários deste trabalho e artífices de uma parte
decisiva da Alma e do Ser Madeirense.

Funchal, 15 de Outubro de 2001

O Secretário Regional do Ambiente


e dos Recursos Naturais

Manuel António Rodrigues Correia

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AGRICULTURA E AMBIENTE
NA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

A agricultura, tomada como o conjunto das actividades agro-pecuárias e


florestais, é a actividade económica que ocupa maior percentagem do território da
Região.

As características geomorfológicas e climáticas da Região, tornam o seu


território particularmente vulnerável à ocorrência de desastre ambiental, ocasionadas
por razões exclusivamente naturais, ou por razões que combinam factores naturais e
humanos.

Por essa razão, a protecção do ambiente rural e doa “habitats” de montanha


assumem uma grande importância.

Apesar da actividade agrícola poder ter algumas incidências ambientais


negativas, principalmente a contaminação dos solos, da água e do ar, derivada da
utilização de fertilizantes, pesticidas e herbicidas, o impacto mais negativo que a
agricultura tem, não advém da prática agrícola em si, mas do seu abandono,
designadamente no que diz respeito à degradação da paisagem, à destruição dos
muros de suporte de terras, com o consequente aumento dos riscos de erosão, ao
desenvolvimento de espécies infestantes e aos riscos de propagação de incêndios.

Por outro lado, pelo facto do mercado ter vindo a tronar-se cada vez mais
concorrencial e exigente quanto à qualidade dos produtos, assiste-se ao surgimento de
estruturas produtivas, as quais só são mais produtivas e mais rentáveis caso recorram a
sistema de produção e utilizem abrigos e estufas que têm impacto negativo sobre a
paisagem.

A agricultura é um dos factores mais marcantes da paisagem rural, pelo que a


sua manutenção se afigura como fundamental para protecção do património natural e
paisagístico da Região.

De acordo com o “Plano Regional da Política de Ambiente”, a “agricultura é


um actividade que está fortemente relacionada com o ambiente, com incidências
negativas e positivas.”

De entre as incidências positivas destaca:

- Impacte na paisagem.

- Controlo dos riscos de incêndio e da cação dos agentes erosivos naturais.

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Dos impactes negativos destaca:

- Erosão física, química e biológica dos solos.

- Contaminação dos solos, das águas e do ar, e alterações dos ecossistemas.

- Produção de resíduos.

- Consumo de água para a irrigação, com sistemas muito ineficientes.

“A paisagem rural, em especial na ilha da Madeira, é muito marcada pela


actividade agrícola, nomeadamente pelas manchas verdes de determinadas culturas
e pelos socalcos, que suportam as terras e constituem, também, um meio eficaz de
combate à erosão pelos ventos e pelas chuvas. O abandono dos terrenos agrícolas e
de culturas tradicionais, como a banana, contribuem para a degradação da
paisagem, propiciando ainda, o desenvolvimento de espécies infestantes e a
propagação de incêndios. É de assinalar que, em consequência da modernização das
explorações, o crescimento do número de estufas em certos locais vem alterar a
paisagem constituindo um impacte negativo”.

“... Em termos gerais a actividade agrícola bem orientada tem uma incidência
positiva no ambiente, sobretudo na paisagem. Por seu lado, os impactes negativos da
prática agrícola podem ser minimizados, sendo porventura mais grave o abandono da
própria actividade.”

O mesmo Plano considera como uma das principais medidas de prevenção das
incidências ambientais negativas “consiste em evitar o abandono dos terrenos
agrícolas”. Considera também como fundamental “sensibilizar e apoiar tecnicamente
os agricultores para escolher as culturas mais adequadas e melhorar a produtividade,
sem prejudicar a qualidade dos solos e com um mínimo de impactes negativos”.

Relativamente à actividade pecuária o Plano salienta:

“A pecuária de caracter familiar não coloca grandes problemas ambientais,


quer pela sua reduzida dimensão, quer pela própria dispersão das explorações,
normalmente associadas à actividade agrícola onde, por exemplo, os resíduos são
integrados como fertilizante e, portanto assimilados pelo meio.”

“... Quanto á pecuária industrial, a dimensão das unidades e a concentração


de determinados poluentes podem resultar em problemas ambientais graves. Os
impactes ambientais da pecuária industrial podem ser agrupados em três tipos:

• Efluentes líquidos, principalmente da suinicultura, que podem resultar na


contaminação dos solos e de águas superficiais e subterrâneas, se não forem
tomadas medidas necessárias de tratamento.

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• Resíduos sólidos, principalmente da avicultura, que contribuem para


sobrecarregar os sistemas de gestão de resíduos.

• Emissões de compostos orgânicos, que se traduzem por odores e podem


afectar zonas residenciais e de interesse turístico.

A suinicultura e a avicultura são os grupos pecuários mais representativos em


termos de impactes ambientais.”

“... Convém, no entanto, ter em conta que as explorações avícolas que se


dedicam à engorda não constituem uma grande ameaça para o ambiente, uma vez
que este tipo de exploração é feita no solo e os dejectos são incorporados na “cama”,
permitindo a sua utilização na agricultura tradicional e biológica, o que aliás se
verifica.”

No que se refere à pastorícia, o Plano refere que “as características de alguns


solos e das condições climáticas nas zonas altas, pouco propícias à agricultura,
conduziram ao aproveitamento desses terrenos para pastoreio.”

Considera que as principais consequências da pastorícia são:

- “Erosão dos solos


- Degradação da paisagem
- Redução dos recursos hídricos
- Aumento do risco de aluviões”.

(Plano Regional do Ambiente)

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1. A ACTIVIDADE AGRÍCOLA E A QUALIDADE DO AMBIENTE

A agricultura na Madeira remonta ao povoamento (1425). A floresta original foi


desbravada para dar lugar a terrenos que logo se constatou serem muito férteis. Onde
o declive o exigiu construíram-se paredes com o excesso de pedra, e a água das
inúmeras ribeiras foi captada e conduzida por levadas até aos poios.

Primeiro o trigo, depois a cana do açúcar, de seguida o vinho e depois a


banana, as grandes culturas foram-se sucedendo a par de outras para o autoconsumo.
A economia da Região esteve durante séculos assente na agricultura e nas agro-
industrias.

Actualmente a importância da agricultura diminui de ano para ano e assiste-se


a um cada vez mais acelerado abandono das explorações agrícolas, que não
aguentam a concorrência com os produtos vindos do exterior onde são produzidos
massivamente com recurso a maquinaria, adubos, pesticidas, tecnologia diversa e
muitos subsídios.

Nos pequenos poios o trabalho é intensivo e pesado, a mão de obra é


reclamada por outros sectores, a pressão urbana sobre os melhores e mais bem situados
solos é elevadíssima e a agricultura invariavelmente perde activos e área.

Na Madeira, a actividade agrícola em si, não é, de forma alguma uma ameaça


ao ambiente. No Plano Regional de Política de Ambiente é mesmo apontado o
abandono dos terrenos como a pior ameaça ambiental proveniente da agricultura.

Um terreno agrícola abandonado, além de ser uma mancha triste na paisagem,


fica extremamente vulnerável à erosão: rapidamente se enche de ervas e arbustos, as
paredes de suporte não são reparadas, as levadas estragam-se e entopem, são
depósito de resíduos, esconderijo para os ratos e potenciais focos de incêndios.

Rapidamente se perde o solo formado pela natureza em alguns milhares de


anos e pelos homens e mulheres madeirenses em algumas centenas de anos.

Se durante largas centenas de anos a agricultura foi a base da economia


regional, o seu papel actual não pode ser menosprezado dada a importância que
assume como valor paisagístico atractivo da nossa maior indústria, o turismo.

Por outro lado a sociedade em geral cada vez dá mais importância ao bom
ambiente como factor de desenvolvimento e bem estar social, e preocupa-se com o
valor nutritivo e a segurança dos alimentos, havendo uma crescente procura por
alimentos saudáveis, produzidos em condições não agressivas para o ambiente.

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Neste manual vamos chamar a atenção para as práticas agrícolas que


protegem os nossos solos, a nossa água e a nossa paisagem, em contraponto com
aquelas outras a evitar.

Dá-se assim seguimento às políticas regionais e comunitárias que obrigam ao


cumprimento de Boas Práticas Agrícolas para salvaguarda do ambiente e da
segurança dos alimentos.

2. CONSERVAÇÃO DO ECOSSISTEMA AGRÁRIO

Só é possível alcançar bons rendimentos e mantê-los ao longo do tempo, se


compreendermos e respeitarmos o ecossistema agrário. Ao estudarmos um destes
ecossistemas devemos ter em conta as relações entre os organismos vivos (plantas e
animais) e entre estes e o seu meio ambiente. A planta cultivada ocupa uma posição
central no ecossistema cultivado. O seu desenvolvimento e estado sanitário são
condicionados por um conjunto de factores interdependentes: clima, solo, natureza das
cultivares, rotação, fertilização, rega, desenvolvimento de pragas, doenças, infestantes,
e intervenções culturais.

Adaptado de P. Amaro & M. Baggiolini, ed. "Introdução à Protecção Integrada", Lisboa 1982

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A aplicação de um herbicida para controlo de infestantes ou de um insecticida


para controlo de uma praga, não é uma intervenção simples. Na verdade existe todo
um conjunto de influências e interacções. Além do efeito desejado, provoca também
uma redução e desequilíbrio da actividade biológica do solo contribuindo para o
aumento da pressão de outras pragas e para a diminuição do ritmo de mineralização
da matéria orgânica.

A aplicação de insecticidas de largo espectro elimina grande número de


auxiliares provocando o aumento da população de outras pragas. É exemplo o que
aconteceu na Europa nos anos setenta, onde a aplicação de insecticidas para a
mosca branca, causou o fomento do aranhiço vermelho pela destruição dos seus
auxiliares, situação que conduziu a uma maior consciencialização da luta biológica.

Pelo facto de, na nossa Região, existir uma grande quantidade de auxiliares
podendo falar-se de um ecossistema relativamente intacto quando comparado com
outras realidades, qualquer intervenção deve ser previamente ponderada e avaliada
economicamente, procurando-se manter o equilíbrio.

Por outro lado, certos pesticidas induzem uma maior sensibilidade das plantas às
doenças e pragas. É o caso dos tratamentos com zinebe, propinebe ou manebe usados
para tratamento do míldio da vinha, que invariavelmente têm de ser seguidos por
tratamentos ao oídio devido a alterações fisiológicas que causam maior sensibilidade a
esta última doença.

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3. PRÁTICAS AGRÍCOLAS E CONSERVAÇÃO DO SOLO

Na Madeira o agricultor desde logo adoptou práticas de conservação do solo


consciente da fragilidade da sua posição face à natureza. São exemplo a construção
das paredes de suporte de terras, a armação do terreno segundo as curvas de nível
dentro dos poios, as estrumações e siderações frequentes, as plantações sob coberto
na vinha e em fruteiras, a sementeira em viveiro e transplante antes da retirada da
cultura precedente, etc. Aparecem problemas de erosão quando estas práticas não
são respeitadas, e quando os terrenos são abandonados.

3.1 MANTER E MELHORAR A FERTILIDADE DO SOLO

"A agricultura é a arte de extrair do solo, pela cultura e de uma maneira mais ou
menos permanente, o máximo da produção com o mínimo de despesas e de esforço"
(A. Chevalier).

Sendo assim, para assegurar uma fertilidade equilibrada e duradoura é


necessário abordar a questão da fertilização do solo numa perspectiva de médio prazo
tendo em conta o balanço húmico e todo um conjunto de aspectos relacionados com
a biologia e estrutura do solo. Não se deve portanto abordar a fertilização numa
perspectiva isolada da cultura a instalar.

3.1.1. Corrigir a acidez do solo

Os solos na ilha da Madeira são no geral ácidos variando o pH entre 4,5 e 6. A


calagem é imprescindível, mas deve ser precedida por uma análise de terras que é
gratuita se solicitada ao Laboratório Agrícola da Madeira. A Região dá um subsídio à
aquisição de correctores.

A manutenção de um pH dentro da neutralidade é importante na


disponibilização à cultura dos nutrientes do solo, evita carências e protege as culturas
da absorção de metais pesados incorporados por adubos e pesticidas ou preexistentes
nos solos de origem basáltica. Refira-se também que o cálcio quando em níveis
equilibrados, pode induzir resistências a pragas e doenças.

O calcário é o corrector de acidez mais usado, mas apareceram recentemente


no mercado outros correctores, à base de algas, nalguns casos complementados com
fosfatos. Estes últimos têm a vantagem de, em simultâneo, corrigir o pH e fornecer o
fósforo necessário o que é muito importante na nossa região. Estes correctores dão
resultados mais imediatos já que são moídos mais finamente e fornecem elevada
diversidade de micronutrientes.

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Necessidade em CaO e quantidade de calcário para atingir o pH 6,5

"% de Argila" + 5 * "% de mo" = 40 "% de Argila" + 5 * "% de mo" = 60

pH actual 4.0 4.5 5.0 5.5 6.0 6.3 4.0 4.5 5.0 5.5 6.0 6.3

Necessidades em cálcio em kg/are 54 49 42 33 19 8 82 74 64 49 28 12

Total em kg/100m2 108 98 84 66 38 16 164 148 128 98 56 24

Duração da aplicação (em anos) 6 5 4 3 2 1 6 5 4 3 2 1


Necessidades em cálcio em kg/100
10 15 20 20 20 20 15 20 30 30 30 30
m2
Adaptado da Fórmula da Station Agronomique de LAON (França), aplicável para solos ácidos com uma massa
superior a 4 000 toneladas/hectare.

Sendo os correctores de solo aplicados em função da matéria orgânica


existente e do pH inicial, a decisão de correcção deve ser precedida da respectiva
análise e realizada sempre antes da aplicação de qualquer tipo de matéria orgânica.
Caso contrário correr-se-á o risco de a quantidade de correctivo a aplicar ter de ser
muito maior, pois a matéria orgânica exercerá o seu poder tampão.

ASSIMILAÇÃO DOS PRINCIPAIS NUTRIENTES


EM FUNÇÃO DO pH DO SOLO

pH 4,5 5 5,5 6 7
30 43 77 89 100
Azoto

23 34 48 52 100
Fósforo

33 52 77 100 100

Potássio

Fonte: Folheto de divulgação da FHN Portugal, Lda

Com pH 4,5, dos 100 kg de fósforo aplicados ao solo, apenas 23 são assimiláveis
pelas plantas. O mesmo já não acontece quando o pH se aproxima da neutralidade
(pH 7), em que os 100 kg aplicados são assimilados na totalidade. Pode-se também
observar que o mesmo acontece com o azoto e com o potássio.

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Na maioria dos casos o agricultor recorre aos adubos tipo 10-10-10 e não tem
cuidado com as correcções do pH, o que leva muitas vezes a custos unitários elevados
na adubação, que não se reflectem em termos de produção. Com apenas uma
correcção e uma pequena aplicação de fósforo, conseguir-se-ía um aproveitamento
superior dos nutrientes já existentes no solo e um aumento consequente da produção.

Podemos concluir assim que a correcção do pH é um dos factores mais


importantes para a obtenção de boas produções.

3.1.2 Corrigir o teor em matéria orgânica

Os solos na Madeira são em geral ricos em matéria orgânica, atingindo-se


frequentemente um teor de 5 e 6%. Atendendo à orografia existente e ao regime
torrencial da precipitação existe um perigo iminente de erosão. Assim, a prática da
incorporação de matéria orgânica está de certa forma enraizada nos produtores
madeirenses motivo pelo qual, se mantém ainda a criação de uma cabeça de gado
com a finalidade da produção de estrume. Com frequência se ouve dizer,
principalmente no norte da ilha, que é preciso “pôr estrume para segurar a terra”.

A matéria orgânica do solo para além dos benefícios em termos de


estrutura e de fertilidade, é também o suporte e promotor da vida no solo, mas que só é
eficaz quando associada a práticas agrícolas que evitem o uso de insecticidas e
herbicidas.

Uma boa estrutura leva à formação de agregados mais estáveis facilitando


uma boa circulação da água e do ar no solo.

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Um solo com um teor elevado em matéria orgânica tem maior capacidade de


retenção da água, aumentando a eficiência e reduzindo o consumo deste precioso
líquido. A matéria orgânica do solo assume um efeito de esponja evitando que a água
e alguns nutrientes se percam em profundidade.

A manutenção de um bom teor de matéria orgânica, induz sistemas radiculares


sãos e bem desenvolvidos permitindo uma melhor absorção dos nutrientes. Experiências
efectuadas nesta região, na cultura da bananeira, evidenciaram este facto.

Na nossa região, grande quantidade de materiais podem ser usados como


correctivos orgânicos:

• Estrumes provenientes da própria exploração tradicional


• Estrumes da produção pecuária intensiva (aves, porcos, bovinos e ovinos)
• Bagaço de cana e uva*
• Desperdícios da indústria da cerveja*
• Casca de vime*
• Desperdícios vegetais das próprias explorações agrícola
• Serradura e aparas da indústria da madeira*
• Materiais provenientes da limpeza das florestas*
• Desperdícios de jardim (incluindo a relva de campos de golfe e estilha)

*Estes produtos não devem ser incorporados no solo sem que sejam compostados
previamente; no entanto, quando usados em cobertura de solo, principalmente em
pomares ou em bananeiras, evitam as infestantes e a longo prazo são correctores
orgânicos.

A prática recente de colocação dos restos da bananeira na manta tem-se


revelado positiva no controlo de infestantes e na manutenção do teor de matéria
orgânica nos bananais.

Os adubos verdes também enriquecem os solos em matéria orgânica o que é


especialmente útil em parcelas de acesso difícil.

Na aplicação de correctivos orgânicos deve-se tomar as seguintes precauções


básicas:
• Incorpore os correctivos orgânicos imediatamente após a sua distribuição
sobre o terreno evitando assim a perda de azoto por arrastamento da água
e a secagem pelo Sol.
• A distribuição deve ser o mais uniforme possível.
• Deve-se evitar aplicações de matéria orgânica que doseiem mais de 170
unidades de azoto por hectare e por ano.
• Faça uma análise anual ao solo para um melhor acompanhamento da
evolução da matéria orgânica.

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A correcção do teor de matéria orgânica é um investimento importante e que


se paga a si próprio tendo em conta os benefícios acima referidos. No entanto o seu
excesso pode também originar poluição, como acontece com a aplicação de
estrumes frescos.

3.1.3 Fertilizar racionalmente as culturas

A decisão de aplicação de adubos e correctivos deve ser precedida do


conhecimento das potencialidades do solo, das necessidades da cultura em questão, e
de uma avaliação económica dos efeitos esperados.

O Laboratório Agrícola da Madeira realiza gratuitamente as análises de solo e o


aconselhamento.

A selecção dos fertilizantes deve ter em consideração a formulação mais


adequada, a altura e o modo de aplicação mais apropriados.

Especial atenção deve ser dada ao equilíbrio da nutrição da planta sabendo-


se dos efeitos nefastos em termos de resistência a doenças e pragas por exemplo de
um excesso de adubação azotada, e do contributo positivo do potássio e do cálcio na
resistência das plantas ao ataque das pragas e doenças.

Por exemplo, na cultura do tomate, quando a relação cálcio/fósforo aumenta,


diminuem os ataques de botrytis.

Na cultura da batata, quando se aplicam adubos azotados em excesso quer


em adubação de fundo quer através de lavagens de estrume em fases precoces,
promove-se um desenvolvimento acelerado da planta tornando-a mais vulnerável ao
míldio (mangra ou mal preto).

Para o equilíbrio nutritivo adequado não são suficientes os adubos ternários tipo
10-10-10 ou seja em que são doseados apenas os macronutrientes principais. Para que
esse equilíbrio seja conseguido torna-se necessária a aplicação de adubos que
forneçam também o cálcio, o magnésio e os micronutrientes.

Adaptado de J. Quelhas dos Santos, "Fertilizantes,


Fundamentos e aspectos práticos da sua aplicação"

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Nesta imagem, em que o nível da água representa a produção, e as aduelas


(tábuas) representam os diferentes elementos nutritivos, podemos observar que, tal
como o nível da água não pode subir pelo facto da aduela estar baixa, também a
produção agrícola não pode aumentar desde que falte um nutriente. Na nossa Região,
os factores limitantes são geralmente o fósforo e o cálcio.

É sempre preferível optar por aplicações moderadas de azoto em fundo e, caso


se detectem carências ou fraco desenvolvimento da cultura, ecorrer-se então a
adubações de cobertura ou foliares.

Uma rotação apropriada permite uma melhor racionalização da aplicação de


fertilizantes uma vez que diferentes espécies exploram camadas distintas de solo e têm
exigências nutritivas diferentes.

O uso de estrumes de aviário terá de ser alvo de cuidados extremos, pois para
além de ser um produto bastante ácido, doseia uma elevada quantidade de azoto.
Deve ser misturado com materiais carbonatados como serradura, aparas, feiteira, e
devidamente compostado.

Sempre que possível, registe as quantidades de fertilizantes aplicados e guarde


as análises de terras para poder seguir a evolução da fertilidade do solo ao longo dos
anos.

A compostagem é um processo de fermentação aeróbia que pretende


melhorar aquilo que era tradicionalmente feito nesta Região em que se misturavam
estrumes das camas dos animais com feiteira ou outros materiais lenhosos colhidos
geralmente na serra. Eram usados materiais muito diversos como restos de culturas,
infestantes, desperdícios domésticos, etc.

Actualmente os conhecimentos das técnicas da compostagem permitem obter


um produto final com valor fertilizante muito superior nomeadamente nas quantidades
de azoto, obtido num período de tempo mais curto, e num estado de evolução
superior, próximo do húmus. Pelo facto de, no decorrer do processo, se atingirem
temperaturas elevadas (60 a 80 graus), há uma destruição de alguns organismos
fitopatogénicos e das sementes da maioria das infestantes.

3.2 DEFENDER O SOLO CONTRA A EROSÃO

Como vimos o sistema tradicional agrícola na Madeira é a melhor defesa


contra a erosão: a construção dos poios, a armação do terreno dentro dos poios, as
práticas de estrumação, e a sucessão de culturas no terreno.

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Aparecem problemas graves de erosão em situação de abandono, nas


desmatações para novas plantações, na abertura de acessos, nas lavouras profundas
quando os horizontes naturais do terreno são invertidos e sempre que não são tomadas
as devidas precauções.

Situações a evitar a todo o custo, a par de um controlo da rega por levada,


(“de manta cheia”) e da rega por aspersão que tem de ser regulada à capacidade de
infiltração do solo sob risco de se perder água e solo.

Quando não houver possibilidade de cultivo de determinada parcela, deverão


pelo menos ser controladas as infestantes arbustivas junto aos muros de suporte,
mantidas as levadas desimpedidas, e se possível semeada uma leguminosa
(tremoceiro, serradela, faveira, etc.).

Na inexistência de muros de suporte a plantação de uma sebe viva (por


exemplo urze de jardim ou buxo) no limite das parcelas pode favorecer a fixação do
solo.

3.3 PROTEGER O SOLO DA POLUIÇÃO COM PRODUTOS FITOFARMACÊUTICOS

Como norma devem adoptar-se práticas culturais que previnam o


aparecimento de pragas e doenças. Exija o catálogo das variedades à firma
fornecedora de sementes e, sempre que possível, escolha as mais resistentes às pragas
e doenças que afectam a sua exploração.

A protecção do solo e da água implica a redução do uso de produtos


fitofarmacêuticos, a sua selecção e a sua utilização correcta. Recorra sempre que
possível a técnicas ou soluções alternativas evitando produtos fitofarmacêuticos que
destruam o equilíbrio biológico do solo.

Por exemplo na cultura do pepino ou do tomate, quando existe uma


população elevada de nemátodos no solo deve-se fazer suceder culturas e variedades
menos sensíveis a esta praga como sejam alface, feijão verde, pimento sem descuidar
outros cuidados culturais como evitar feridas nas raízes e regas em excesso.

Alguns pesticidas mantêm-se no solo dezenas de anos onde provocam


desequilíbrios na fauna e flora do solo e prejudicam os processos de evolução da
matéria orgânica nomeadamente da mineralização. É o caso do lindano e outros com
elevada persistência no solo.

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C o n s e r v a ç ã o d o S o l o e d a Á g u a

3.3.1 Regras gerais para o uso dos produtos fitofarmacêuticos

A comercialização e a utilização de produtos fitofarmacêuticos em Portugal


estão dependentes da atribuição pela Direcção Geral de Protecção das Culturas
(DGPC) de um título de autorização de venda. Isto significa que um produto só pode ser
utilizado para as finalidades (cultura, organismo nocivo a combater ou efeito a obter) e
nas condições para as quais foi estudado. Estas informações constam do rótulo da
respectiva embalagem.

Para decidir do uso de um produto fitofarmacêutico, tenha em conta os


seguintes aspectos:
• Identifique correctamente o organismo nocivo ou o efeito a obter e sempre
que possível recorra a uma análise fitopatológica.
• Considere os aspectos económicos do uso do produto, nomeadamente,
assegure-se de que o organismo nocivo acarreta prejuízos significativos.
• Considere outras técnicas alternativas ao seu uso dentro dos princípios da
Boa Prática Fitossanitária e da Produção Integrada.

Quando decidir usar um produto fitofarmacêutico observe as seguintes regras :


• Use sempre produtos contidos em embalagens originais com rótulo em
português.
• Verifique se o produto tem Autorização de Venda.
• Verifique se o produto está aprovado para a finalidade pretendida (cultura
e organismo nocivo ou efeito a obter).
• Escolha o produto mais selectivo, o que apresente menor risco para os
animais domésticos e para o ambiente e o menos tóxico para o homem.
• Sempre que possível opte por tratamentos localizados; não faz sentido
aplicar um insecticida para afídios em toda a parcela quando só algumas
plantas estão parasitadas.
• Leia todas as indicações técnicas do rótulo e as informações adicionais
existentes em folhetos técnicos, e, sempre que surjam dúvidas, consulte os
Serviços Oficiais.
• Respeite as concentrações recomendadas para a cultura em causa.
• Na escolha do produto tenha sempre em consideração o Intervalo de
Segurança e respeite as restrições de entrada na área tratada. Seja ainda
mais prudente nas estufas.
• Cumpra as condições de aplicação, nomeadamente doses,
concentrações, época, número de tratamentos e intervalo entre
tratamentos, indicados no rótulo.
• Cumpra também as precauções constantes do rótulo para evitar problemas
de toxicidade.
• Mantenha um registo actualizado de todos os tratamentos efectuados.

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C o n s e r v a ç ã o d o S o l o e d a Á g u a

3.3.2 Cuidados na aplicação dos produtos fitofarmacêuticos

Prepare volumes de calda adequados à dimensão das áreas a tratar, para


reduzir os excedentes e a necessidade da sua eliminação.

Avalie se o material de aplicação está adaptado às características de utilização


do produto.

Efectue as aplicações de modo a reduzir o escoamento para o solo.

Evite o arrastamento da calda, o qual é influenciado por:


• Diâmetro das gotas de pulverização (gotas de diâmetro reduzido têm
alcance imprevisível).
• Velocidade do vento.
• Temperatura do ar.
• Estabilidade das condições atmosféricas locais.
• Combinação de temperaturas elevadas com humidade relativa reduzida
aumenta o risco de arrastamento das gotas da pulverização.
• Tipo dos bicos e pressão de trabalho do equipamento de aplicação.
• Orientação dos bocais de pulverização (dispersores).
• Velocidade da aplicação.
• Calibração do material de aplicação.

Para reduzir o arrastamento efectue as aplicações de manhã cedo, em dias


sem vento e evite temperaturas elevadas.

O uso de aderentes é uma boa solução para aumentar a eficácia do produto e


evitar perdas por arrastamento.

3.3.3 Armazenar e manusear correctamente os produtos fitofarmacêuticos na


exploração

Não se esqueça que devem ser seguidas escrupulosamente todas as


recomendações quanto ao tipo de material de protecção individual a utilizar durante o
manuseamento de produtos fitofarmacêuticos, assim como as restantes precauções
inscritas nos rótulos.

Garanta condições de armazenamento das embalagens que evitem a


ocorrência de derrames, para, em caso de acidente, o solo e a água não serem
contaminados. Escolha um local seco, fresco, sombrio e impermeabilizado, situado a
mais de 10 metros de distância de nascentes, ribeiras, valas ou condutas de drenagem,
e levadas.

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C o n s e r v a ç ã o d o S o l o e d a Á g u a

Os eventuais excedentes de calda, depois de diluídos, e os excedentes de


lavagem de equipamentos, devem ser aplicados até ao seu esgotamento em terreno
com cobertura vegetal, beneficiando, assim, da retenção por parte das plantas

Evite derramar o líquido dos depósitos.

Envie as embalagens a entidades especializadas na sua recolha e tratamento.


Nunca as deixe sobre o terreno na exploração nem junto aos fontanários ou levadas,
não as queime nem as enterre.

4. PRÁTICAS AGRÍCOLAS E CONSERVAÇÃO DA ÁGUA

"Não é possível deitar pesticidas na água em qualquer parte sem prejudicar a


pureza da água em toda a parte" (Raquel Carson Primavera Silenciosa).

A água de rega é, na nossa Região, um factor decisivo na rentabilidade das


explorações agrícolas. Na Madeira é captada geralmente na Costa Norte e conduzida
por levadas a todas e cada uma das parcelas que dela beneficiam. O aproveitamento
da água começou no século XV e implicou grandes despesas e esforços sobre-
humanos na abertura de túneis de captação e condução e na construção de levadas.

Ainda hoje se fazem captações e os muitos quilómetros de levadas constituem


um património alvo de obras de manutenção constantes e que necessita de um
verdadeiro batalhão de levadeiros para ser gerido.

A água é um bem precioso que importa proteger, utilizar sem desperdício e não
conspurcar.

Na agricultura algumas normas são de referir para proteger e melhorar a


qualidade da água de rega.

4.1 UTILIZAR RACIONALMENTE A ÁGUA DE REGA

Desde logo na Madeira, a poupança de água passa pela selecção do sistema


de rega a usar, sendo que na rega tradicional por levada é mais difícil manter elevados
níveis de eficiência que em rega localizada. Embora a instalação de sistemas de rega
implique um elevado investimento inicial, permite diminuir bastante a mão de obra e
aumentar a eficiência.

A introdução de rega por microaspersão em bananeira é um investimento a


que aderiram muitos agricultores e que se tem mostrado positivo do ponto de vista da
gestão da água: diminui a mão de obra e possibilita a fertirrigação.

A instalação de rega localizada numa exploração agrícola deve ser precedida


de um estudo onde se determine as necessidades de bombagem, sendo muitos os

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C o n s e r v a ç ã o d o S o l o e d a Á g u a

casos em que a localização do tanque de rega e a diferença de cota entre os poios é


suficiente para o funcionamento do sistema sem recurso a energia. Essa possibilidade
deve ser sempre ponderada pois pode ser possível instalar sistemas mais baratos e com
custos de funcionamento inferiores. Também é de estudar a possibilidade de combinar
diferentes tipos de rega como por exemplo rega gota a gota, que precisa de menos
potência, nos poios junto ao tanque e microaspersão nos restantes.

Em horticultura a instalação deve prever mais do que um sistema de rega,


permitindo uma maior variabilidade nas espécies a incluir no plano de rotação.

A escolha do tipo de sistema de rega deve ter em atenção a cultura e o tipo


de solo. Por exemplo, culturas como o tomate, feijão, pepino, não se adaptam à rega
por aspersão, por razões fitossanitárias, enquanto que a alface, o nabo e a cenoura
beneficiam da aspersão, sendo culturas onde a gota a gota não aproveita tão bem o
espaço.

Quando utilizar o sistema de rega tradicional por gravidade, em culturas


sensíveis a doenças do colo (citrinos, abacateiro, nogueira), evite o contacto da água
com o colo da planta. Como se pode observar na figura a zona radicular ultrapassa a
copa da árvore e é nessa zona que existe maior concentração de raízes.

Uma prática a evitar é regar nas horas de maior insolação que, para além de
promover determinados problemas fitossanitários, leva a maiores perdas por
evaporação. No caso particular de viveiros de hortícolas ao ar livre uma forma de
proteger as plântulas contra fungos do colo é a aplicação de uma camada de estrume
curtido ou de turfa sobre a sementeira o que permite uma maior capacidade de
absorção de água evitando as regas nos períodos de maior calor.

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As levadas e os equipamentos de distribuição têm de ser mantidos em boas


condições, prevenindo-se fugas de água e distribuição irregular. No caso de rega
localizada deve ser feita regularmente a verificação do débito de cada gotejador ou
microaspersor. Mantenha as condutas de abastecimento enterradas por forma a evitar
o aquecimento da água que, em culturas mais sensíveis, por exemplo no pepino e em
estufa, poderá ser fatal.

4.2 PROTEGER A QUALIDADE DA ÁGUA DA POLUIÇÃO COM FERTILIZANTES

Parte da água que entra numa exploração sai dela quer no seguimento da
levada quer por lixiviação profunda. Sendo os nossos solos assentes sobre rocha com
declive, essa água vai aparecer mais abaixo em poços-furna de onde é novamente
aproveitada.

Cada agricultor tem a responsabilidade de manter e se possível melhorar a


qualidade da água que usa.

A nível mundial, os principais problemas da água de consumo têm origem na


aplicação de adubos azotados e de pesticidas na agricultura.

Embora não havendo registos da ocorrência deste problema na nossa Região,


algumas práticas devem ser seguidas para prevenir este tipo de problemas.

4.2.1 Escolher a época e as técnicas de aplicação dos adubos azotados

Falemos primeiro dos nitratos. Os adubos, especialmente os azotados têm de ser


usados com parcimónia e eficiência.

É importante fraccionar a adubação principalmente nas culturas de Outono


Inverno; não aplique adubos sólidos azotados antes de regar; nem outros adubos
azotados se a previsão for de chuva forte nas próximas 48 horas. Não aplique adubos
azotados nos meses de maior precipitação. Se considerar que é necessária a aplicação
nestes meses opte pelas formas amoniacais.

A aplicação de estrumes ou outros adubos orgânicos disponibilizam


quantidades suficientes de azoto na fase inicial de qualquer cultura, sendo apenas
necessárias adubações de cobertura com adubos azotados numa fase de crescimento
intenso. Esta prática permite um maior desenvolvimento radicular inicial e contrariar o
desenvolvimento desequilibrado da parte aérea, que provocaria maior sensibilidade a
doenças e pragas.

Nos pomares e na vinha as aplicações azotadas devem ser realizadas no final


do Inverno. Nos solos encharcados não aplique adubos azotados, devendo aguardar
que o solo retome o seu estado normal.

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Adopte rotações culturais que permitam manter o solo com vegetação a


maior parte do ano, particularmente durante a época das chuvas. Aquando da
instalação de uma cultura, existe sempre azoto mineral que foi aplicado na cultura
anterior ou proveniente da mineralização da matéria orgânica. Por exemplo,
tradicionalmente na nossa Região, a cultura do feijão verde sucede à cultura da
batata, e é prática corrente a aplicação de adubos azotados em fundo para a cultura
do feijão verde. Esta prática é incorrecta pois o azoto restante da cultura da batata é
suficiente para a cultura do feijão e, sendo esta uma leguminosa, tem a capacidade
de absorver o azoto atmosférico.

4.2.2 Utilizar racionalmente os efluentes da pecuária

O uso agrícola dos efluentes das pecuárias (estrumes e chorumes) apresenta


vantagens:
• fornece nutrientes às plantas, reduzindo as quantidades de adubos a
adquirir fora da exploração;
• melhora o teor de matéria orgânica do solo;
• permite dar uso adequado a um produto que pode ser altamente poluente
das águas superficiais e subterrâneas;
• pode também constituir um rendimento alternativo quando devidamente
transformado. O composto é a técnica mais eficaz e ecológica para
transformar e valorizar estes efluentes. Quando não compostados, torna-se
necessário alguns cuidados a fim de evitar a poluição das águas por nitratos
e as perdas de azoto para a atmosfera.

A Região importa já quantidades significativas destes compostos que chegam a


preços elevados devido ao transporte.

Como regra geral, o período de tempo que decorre entre a aplicação dos
efluentes da pecuária e a instalação da cultura deve ser o mais curto possível. Deste
modo, evitam-se perdas e a cultura pode utilizar em maior quantidade os nutrientes que
aqueles contêm. Pela mesma razão, devem ser incorporados superficialmente no solo
logo após a sua distribuição.

• Incorpore o chorume no solo imediatamente após a sua distribuição.

• A aplicação de lavagens de estrumes é uma prática a incentivar desde que


não se utilizem grandes quantidades e que não sejam aplicados na fase
inicial da cultura.

• Antes de aplicar um efluente orgânico não proveniente da sua exploração


solicite uma análise e respectivo parecer técnico. Não ultrapasse a
quantidade máxima de azoto a aplicar de acordo com a recomendação
de fertilização.

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Nas culturas de Primavera

Aplique os efluentes da pecuária na altura das sementeiras.

4.2.3 Armazenar e manusear correctamente os adubos

No armazenamento e manuseamento dos adubos na exploração, sobretudo os


azotados, cumpra as regras básicas para diminuir os riscos de poluição das águas.

Os adubos sólidos e, sobretudo os líquidos, devem ser armazenados em locais


secos e impermeabilizados.

No caso dos adubos líquidos é necessário que os depósitos em que se


encontram guardados sejam resistentes à corrosão.

4.2.4 Armazenar correctamente os efluentes da pecuária produzidos na exploração

Desde o momento em que os efluentes da pecuária são produzidos e até serem


aplicados ao solo podem ocorrer perdas importantes de nutrientes, sobretudo de azoto.

Interessa reduzir estas perdas ao mínimo, a fim de manter o seu valor como
fertilizante e reduzir os riscos de poluição do ambiente.

O bom armazenamento destes produtos é fundamental, para prevenir a


ocorrência de tais problemas.

As instalações pecuárias devem permitir uma limpeza fácil e com baixo


consumo de água de lavagem, a fim de diminuir o grau de diluição dos dejectos e a
capacidade das fossas onde são armazenados.

As fossas e tanques de recolha e de armazenamento dos chorumes devem ter


paredes e pavimentos impermeabilizados, para impedir a sua infiltração no solo.

A capacidade das estruturas de armazenamento dos efluentes de pecuária


deve ter em conta a sua produção total diária e, no mínimo, ser suficiente para
armazenar o que é produzido durante o período de tempo em que não é
recomendável a sua aplicação ao solo (3-4 meses no caso dos estrumes e 5-6 no caso
dos chorumes).

Os estrumes e outros correctivos orgânicos sólidos devem ser armazenados em


recintos próprios, protegidos da água da chuva, com pavimento impermeável, em
pilhas cuja altura não deve ultrapassar 2 metros para facilitar o seu manuseamento

Os correctivos orgânicos sólidos podem ocasionalmente ser empilhados no solo


desde que não haja risco de poluição por escoamento superficial.

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As pilhas dos estrumes devem distanciar pelo menos 10 m de cursos de água ou


de drenos, ou 50 m de fontes, furos ou poços cujas águas sejam para consumo humano
ou para abeberamento do gado.

4.3 PROTEGER A QUALIDADE DA ÁGUA DA POLUIÇÃO COM PRODUTOS


FITOFARMACÊUTICOS

Sendo a água um importante recurso natural que importa preservar, a


aplicação de produtos fitofarmacêuticos deverá revestir-se dos maiores cuidados de
modo a evitar a sua contaminação. Pretende-se, deste modo, proteger a qualidade da
água destinada ao consumo humano e os organismos aquáticos, tanto vertebrados e
invertebrados como plantas.

Para evitar a contaminação das águas superficiais, além das recomendações


já referidas no ponto 3.3.2, relativas ao problema do arrastamento, tenha ainda em
atenção os seguintes aspectos:

• Não aplique herbicidas ou outros produtos tóxicos nas bermas de estradas


que são simultaneamente aproveitadas como canais de rega.
• Deixe uma faixa de protecção às ribeiras, na qual não aplique produtos
fitofarmacêuticos (veja as recomendações do ponto 4.4).
• Prepare as caldas a mais de 10 metros de distância de poços, nascentes,
ribeiras, valas, condutas de drenagem e levadas.
• Nunca contamine valas, tanques, cursos de água ou levadas com
excedentes de calda ou excedentes de lavagem de material de
aplicação; e não utilize os recipientes sujos para colher água limpa das
levadas.
• Aplique os eventuais excedentes de calda, depois de diluídos, em terreno
com cobertura vegetal, beneficiando assim da retenção por parte das
plantas
• Proceda do mesmo modo com os excedentes de lavagem de
equipamentos depois de cada operação .

Para reduzir a contaminação das águas subterrâneas:


• Utilize os produtos que pelas suas características de persistência e
mobilidade no solo, tenham menor risco de contaminação das águas
subterrâneas. Quando da escolha de um herbicida dê preferência aos de
baixo poder residual, como por exemplo o glifosato.
• Respeite as restrições à utilização de produtos fitofarmacêuticos em zonas
vulneráveis à contaminação de águas subterrâneas e em perímetros de
protecção de captações de águas destinadas ao abastecimento público.

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4.4 PROTEGER AS RIBEIRAS E AS LINHAS DE ÁGUA

Na Madeira é frequente as explorações agrícolas serem atravessadas por ou


confluírem com ribeiras, ribeiros, ou pequenas linhas de água. Devido ao declive, são
geralmente caudalosos e são as únicas vias de escoamento em caso de chuvas
repentinas. São também vias de escoamento para os sobejos de levadas.

É fundamental mantê-las desimpedidas de vegetação, e nunca em caso algum


servirem de vazadouro. Os muros de partilha com estas linhas de água têm de ser
mantidos em boas condições e livres de vegetação que os possam danificar.

A água destas linhas não deve em nenhum caso ser conspurcada com águas
de lavagem de equipamentos usados na fertilização ou em tratamentos fitossanitários.
Ela será usada a jusante por outros agricultores.

5. ESCOLHA E MANUTENÇÃO DOS EQUIPAMENTOS

Para escolher o tipo de equipamento necessário à mecanização de


determinada operação é necessário conhecer as condições em que o trabalho vai ser
realizado e o período de tempo que se espera ter para o fazer.

De acordo com os normativos em vigor, as máquinas à venda no mercado


devem cumprir um conjunto de exigências essenciais de segurança e saúde, terem a
marcação CE aposta e serem acompanhadas do Manual de Instruções e da
Declaração de Conformidade CE em língua portuguesa (e na do país de origem se não
forem de fabrico nacional).

Quando da compra de uma máquina nova, deve optar apenas por máquinas e
equipamentos certificados e exigir o Manual de Instruções e a Declaração de
Conformidade CE.

Antes de colocar uma máquina em serviço deve ser lido o respectivo Manual
de Instruções. A sua utilização, regulação e manutenção deve ser feita exclusivamente
de acordo com as recomendações do fabricante.

5.1 PARA MOBILIZAÇÃO DO SOLO

Sendo a preparação do solo feita à enxada geralmente na nossa terra, ainda


assim há que chamar a atenção para os casos em que à feita uma desmatação e
cava com recurso a máquinas.

Em caso de recorrer a máquinas pesadas (da construção civil), evite a inversão


de horizontes, isto é, das várias camadas de que é constituído o solo.

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A escolha do momento oportuno e dos meios a utilizar dependem da


topografia e dimensão da parcela, das características do solo e do seu estado inicial,
das exigências da cultura a instalar, das condições climáticas, dos dias disponíveis para
a realização das operações e, finalmente, do equipamento disponível.

Qualquer que seja a opção escolhida, é fundamental que o objectivo


agronómico seja atingido sem degradar o solo.

5.2 PARA APLICAÇÃO DE PRODUTOS FITOFARMACÊUTICOS

Os pulverizadores são equipamentos complexos que exigem cuidados especiais


na sua utilização, regulação e manutenção.

A aplicação de produtos fitofarmacêuticos deve garantir que se cumpram com


precisão as condições de aplicação prescritas nos rótulos das embalagens dos mesmos.
Para isto, é necessário que o equipamento de aplicação esteja adaptado à cultura, à
quantidade a aplicar e ao tipo de produto e, ainda, bem regulado e submetido a uma
manutenção periódica cuidada.

Tenha em conta as seguintes regras na selecção dos pulverizadores:


• Possibilidade de realizar os tratamentos em condições de segurança para a
saúde do operador, para as culturas a tratar e para o ambiente.
• Possibilidade de aplicar um determinado volume por hectare de modo
homogéneo e regular sobre as áreas a tratar.
• Adaptação a diferentes volumes por hectare em correspondência com as
diferentes intervenções a realizar.

Nos pulverizadores de pressão de jacto projectado a pulverização é feita por


pressão e o transporte do líquido resulta da própria energia; são usados
fundamentalmente em culturas baixas. Nestes equipamentos o volume da calda
aplicada, por 1000m2 varia entre 70 a 100 litros (alto volume) respectivamente para
culturas herbáceas e para as arbustivas.

Embora pouco divulgados na nossa região, os pulverizadores mais utilizados em


pequenas explorações de viticultura e horticultura são os atomizadores ou
pulverizadores pneumáticos. Nestes casos a calda é transportada até à extremidade do
bocal por gravidade e existe uma turbina que provoca um jacto de ar originando a
formação das gotas da calda e o seu transporte. Nestes equipamentos o volume da
calda varia entre 40 a 60 litros por 1000m2 .

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Na nossa Região este equipamento


pode vir a ser mais usado, pois permite
tratamentos mais eficazes, na medida em
que a planta fica totalmente embebida em
microgotículas, e não há escorrimento da
calda. O tratamento é bastante mais rápido
(consegue-se tratar 2000m2 de batata em
apenas 20 minutos). Nos tratamentos em
estufa, permite uma redução do volume da
calda e consequente redução da humidade
relativa. Nalguns modelos é possível adaptar
acessórios para pulverização em ultra baixo
volume ou para polvilhação. Os únicos inconvenientes: o investimento inicial e a
exigência de uma maior protecção do aplicador (máscara, impermeável, luvas, e
protector auricular).

Tendo em vista a preservação do meio ambiente e a segurança do operador, o


pulverizador deve ser regulado, utilizado e submetido a uma manutenção de acordo
com as recomendações do fabricante, expressas no manual de instruções.

Pela sua importância realçam-se os seguintes aspectos:


• Verifique cuidadosamente a estanquicidade dos circuitos de distribuição e
respectivas ligações.
• Verifique o bom funcionamento do manómetro e, se necessário, substitua-o.
• Controle regularmente o débito dos bicos e substitua-os logo este se afaste
da média exigida.
• Faça a lavagem do depósito, dos circuitos e dos filtros diariamente e
sempre que mude de produto.
• Faça a lavagem do pulverizador a mais de 10 metros das levadas e das
ribeiras, de valas ou de condutas de drenagem, de poços, furnas ou
nascentes.
• Distribua as águas de lavagem do depósito, sempre que possível, sobre
terreno com cobertura vegetal.

5.3 PARA REGA

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5.3.1 Para rega sob pressão

A rega por aspersão e a rega localizada são adaptáveis à nossa Região.

As instalações totalmente automáticas podem ter associados sistemas de


aplicação de fertilizantes solúveis ou de produtos fitofarmacêuticos, requerendo a sua
boa aplicação o seguimento das indicações referidas nos pontos 3.3.1 e 3.3.2.

Respeite ainda as seguintes recomendações:


• Escolha o equipamento de bombagem adequado às condições de
funcionamento (caudal, altura manométrica, etc.): racionalize a utilização
da água disponível e o custo de investimento.
• Faça a manutenção e conservação periódica do equipamento para que
opere o mais próximo possível das condições óptimas de funcionamento.
• Instale uma válvula anti-refluxo (válvula disconectora) de modo a garantir
que, se for feita a incorporação de fertilizantes ou produtos
fitofarmacêuticos na água da rega, não haja contaminação da água do
tanque com a calda.

Sistemas automatizados
• As instalações eléctricas dos equipamentos de comando devem obedecer
ao regulamento das instalações eléctricas.
• Faça o seu dimensionamento por forma a evitar o consumo de energia
durante as horas de ponta. Regue sempre ao fim do dia ou durante a noite,
poupando nos custos.

Sistemas de rega localizada


• Opte sempre por sistemas duráveis.
• Em zonas declivosas utilize gotejadores auto-compensantes para evitar
diferenças de dotações entre emissores no mesmo sector.
• Utilize gotejadores auto-limpantes para reduzir o problema do entupimento.
• Dimensione os filtros para os caudais que prevê utilizar.

5.4 PARA A PROTECÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS - EQUIPAMENTOS ESPECIAIS

Em princípio, os equipamentos não afectam negativamente o ambiente. A sua


má utilização, regulação e manutenção é que pode levar à degradação do solo e da
água.

Existem, no entanto, dispositivos específicos concebidos com a preocupação

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suplementar de preservarem o ambiente, de que são exemplos:


• Dispositivos anti-gotejo – válvulas de membrana integradas nos porta-bicos
dos pulverizadores a fim de manter a calda no circuito quando este deixa
de estar sob pressão. Deste modo evitam-se os derrames quando o
equipamento é desligado.
• Bicos anti-arrastamento. – tipo de bicos de pulverização que, pela sua
concepção, permitem reduzir o efeito de arrastamento (deposição da
calda em local diferente do pretendido).
• Deflectores – para orientação do fluxo de ar nos equipamentos de
aplicação de produtos fitofarmacêuticos em culturas arbóreas ou
arbustivas.

6. PRÁTICAS AGRÍCOLAS E PROTECÇÃO DA PAISAGEM

O principal factor de degradação da paisagem é, na nossa Região, o


abandono da agricultura.

Nos terrenos não cultivados, os muros e as levadas não são alvo de


manutenção e rapidamente se degradam. As infestantes arbustivas invadem os
terrenos, agravando o estado dos muros e aumentando o perigo de incêndio. As
levadas podem entupir e em caso de acumulação de águas, provocar erosão e perda
de solo, para mais em terrenos em que a capacidade de absorção está diminuída.

Se não tem possibilidade de cultivar uma parte da sua exploração mantenha o


terreno o mais possível limpo de infestantes arbustivas, semeie tremoço, favas ou deixe
crescer as ervas naturais roçando-as frequentemente.

Mantenha os muros e as levadas em bom estado. Não permita o uso menos


próprio como a acumulação de lixos.

As construções agrícolas devem ter o menor impacto na paisagem. Escolha


locais pouco visíveis e/ou respeite a traça regional.

Prefira reconstruir muros e acessos com a pedra original. Os muros de suporte


foram erguidos pelos nossos antepassados com o maior esforço, e merecem o nosso
respeito.

Se tiver de construir um muro em betão, faça-o com a menor altura possível e


tente disfarçá-lo plantando na sua base árvores, arbustos ou estendendo suportes para
o tutoramento de maracujazeiros, pimpineleiras ou qualquer outra espécie “de correr”.

Evite ao máximo as movimentações de terras, e se tiver que o fazer respeite a


posição da terra arável, não permitindo a inversão dos horizontes.

Respeite o declive natural do terreno.

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Evite abrir acessos na linha de maior declive.

Evite vedações ostensivas.

Evite quebra-ventos de blocos de cimento. Prefira-os em malha resistente, e se


possível verde.

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DEFINIÇÕES

As definições que a seguir se apresentam são consideradas apenas para efeitos


deste Manual Básico das Práticas Agrícolas.
Adubo azotado - adubo elementar cujo macro-nutriente principal é o azoto, que se
pode encontrar nas formas nítrica, amoniacal, amídica ou em associações destas
formas, como a nítrico amoniacal.

Adubo mineral ou adubo químico - adubo de origem mineral ou obtido industrialmente


por processos físicos e/ou químicos.

Adubo orgânico - adubo cujos nutrientes são, na sua totalidade, de origem vegetal
e/ou animal.

Adubos verdes - plantas cultivadas com o objectivo principal de adubar a cultura


seguinte, incorporados ao solo no estádio de floração, pouco tempo antes da cultura a
fertilizar. As plantas mais usadas são as leguminosas (de vagem) como o tremoço, a
fava, a ervilha, a ervilhaca, o trevo e a serradela. São plantas com a capacidade de
fixação do azoto atmosférico na raiz, pela acção da bactéria rizóbio. Podem também
ser usadas plantas de outras famílias, como o centeio e a aveia, e crucíferas como o
rábano e a colza.

Auxiliar - todo o organismo que auxilia o agricultor no combate às pragas e doenças


das culturas. Pode ser ave (coruja), insecto (joaninha) ou até bactéria (Bacillus
thuringiensis). Podem existir naturalmente (inimigos naturais) ou serem largados na
cultura (luta biológica).

Azoto mineral - azoto sob forma nítrica ou sob forma amoniacal. Por convenção, o
azoto amídico dos adubos químicos (ureia e seus derivados, cianamida cálcica e
outros), embora de natureza orgânica, é considerado mineral.

Azoto orgânico - azoto que faz parte de matérias orgânicas de origem animal ou
vegetal, presentes no solo ou nos fertilizantes.

Azoto total - azoto orgânico e mineral contido no solo ou nos fertilizantes.

Chorume - mistura de dejectos sólidos e líquidos dos animais, com maior ou menor grau
de diluição, contendo, por vezes, restos de rações, de palhas ou de fenos. As
escorrências provenientes das nitreiras também são vulgarmente designadas por
chorume.

Composto - resultado de um processo de fermentação aeróbia sobre materiais de


origem animal e vegetal, dando origem a um produto castanho escuro num estado de
evolução próximo do húmus.

Concentração da calda - quantidade de produto que deve diluir-se por 100 litros de
água.

Correctivo agrícola - fertilizante cuja função principal é melhorar as características


físicas, químicas e/ou biológicas do solo.

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Correctivo orgânico - correctivo de origem vegetal, ou vegetal e animal, utilizado


principalmente com o objectivo de aumentar o nível de matéria orgânica do solo. A
maioria dos estrumes, dos compostos e a generalidades das turfas, são correctivos
orgânicos. Os correctivos orgânicos veiculam maiores ou menores quantidades de
nutrientes que progressivamente disponibilizam para as plantas.

Dose - normalmente referida ao hectare (litro ou kg/hectare), é a quantidade de


produto que deve ser distribuída por hectare de terreno. Refira-se que a dose/hectare
não está directamente relacionada com o volume da calda a gastar. De facto, para
aplicar 5 Kg/hectare de um produto podem gastar-se 200, 500, 1000 ou mais litros de
água. O volume de calda gasto dependerá, entre outros factores, do tipo de produto,
do desenvolvimento da cultura e do equipamento de aplicação utilizado.

Ecossistema agrário - sistema constituído por uma biocenose evoluindo num biótopo
correspondente a uma área em que se desenvolvem actividades agrícolas, como uma
cultura agrícola, uma pastagem e o respectivo gado, uma cultura florestal ou, ainda,
uma região natural integrando esses três tipos de actividade agrária.

Vida do solo - conjunto de organismos animais e vegetais que habitam o solo; são
exemplo minhocas, insectos, ácaros, nemátodos, fungos, bactérias e algas. Um solo fértil
é um mundo vivo com milhões de organismos, numa quantidade que pode chegar a
várias toneladas por hectare.

Erosão - perda de solo por acção da água e/ou do vento que acontece quando se
quebra o equilíbrio entre o coberto vegetal e as condições naturais do terreno.

Estilha - restos de jardim triturados e na Madeira geralmente fornecidos pela Câmara


Municipal do Funchal.

Estrume - mistura de dejectos sólidos e líquidos dos animais com resíduos de origem
vegetal, como palhas e matos, com maior ou menor grau de decomposição.

Fertilizante - adubo ou correctivo para fertilização do solo e da cultura.

Húmus - fracção da matéria orgânica do solo numa fase de degradação bastante


avançada exibindo considerável resistência à decomposição, de cor escura e de
natureza heterogénea.

Lithothamne - algas marinhas da espécie Lithothamnium calcareum e L. corallioides


que se apresentam em forma de talos duros, colhidas no mar sendo as mais conhecidas
as colhidas na costa da Bretanha francesa, que depois são lavadas, secas e moídas.

Lixiviação - processo de lavagem de substâncias solúveis, em especial sais, por acção


das águas de percolação.

Luta biológica - consiste sobretudo em recorrer à acção de espécies de insectos ou de


outros organismos patogénicos a fim de reduzir as populações de inimigos naturais; é
exemplo na nossa Região as largadas de machos esterilizados de mosca da fruta.

Mineralização do azoto - é um processo essencialmente biológico que transforma os


resíduos orgânicos em formas minerais de azoto principalmente a de nitrato.

Nitrificação - processo pelo qual os microorganismos existentes no solo transformam


compostos amoniacais em nitritos e em nitratos.

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Nitreira - local de deposição de resíduos animais e vegetais.

pH - indicador da acidez ou da alcalinidade do solo que varia entre 0 e 14, o valor


médio é o pH 7, sendo que abaixo desse valor se considera que o solo é ácido e acima
alcalino.

Produto fitofarmacêutico - pesticida agrícola, ou seja substância ou mistura de


substâncias utilizadas para prevenir ou combater espécies nocivas à produção vegetal.

Rotação das culturas - sequência das culturas no mesmo terreno ao longo dos anos.

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