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Aula 02

Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXV Exame - Com videoaulas


Professor: Renan Araujo

12557693863 - Daniel
DIREITO PENAL para o XXV EXAME DA OAB
Teoria e exerc’cios comentados
Renan Araujo Ð
Prof. Aula 02

AULA 02: CRIME. CONCEITO. ELEMENTOS (PARTE I):


FATO TêPICO; CLASSIFICA‚ÌO DOS CRIMES (DOLOSO,
CULPOSO, CONSUMADO, TENTADO E IMPOSSêVEL).
ILICITUDE.

SUMçRIO

1. DO CRIME .................................................................................................... 3
1.1. Fato t’pico e seus elementos .................................................................... 5
1.1.1. Conduta .................................................................................................. 5
1.1.2. Resultado natural’stico .............................................................................. 7
1.1.3. Nexo de Causalidade................................................................................. 8
1.1.4. Tipicidade .............................................................................................. 14
1.2. Crime doloso e crime culposo ................................................................. 19
1.2.1. Crime doloso ......................................................................................... 19
1.2.2. Crime culposo ........................................................................................ 21
1.3. Crime consumado, tentado e imposs’vel ................................................ 25
1.3.1. Tentativa .............................................................................................. 25
1.3.2. Crime imposs’vel .................................................................................... 28
1.3.3. Desist•ncia volunt‡ria e arrependimento eficaz........................................... 30
1.3.4. Arrependimento posterior ........................................................................ 31
1.4. Ilicitude ................................................................................................. 37
1.4.1. Estado de necessidade ............................................................................ 38
1.4.2. Leg’tima defesa ...................................................................................... 40
1.4.3. Estrito cumprimento do dever legal ........................................................... 43
1.4.4. Exerc’cio regular de direito ...................................................................... 44
1.4.5. Excesso pun’vel...................................................................................... 44
2. RESUMO .................................................................................................... 48
3. EXERCêCIOS DA AULA ............................................................................... 55
4. GABARITO ................................................................................................. 63

Salve, galera!

Na aula de hoje vamos adentrar ao estudo do crime, seu conceito


e elementos, estudando os dois primeiros elementos do crime:
Fato t’pico e ilicitude.

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AlŽm disso, vamos ver as modalidades de CRIME (Doloso,
culposo, consumado, tentado e imposs’vel), conforme as mais variadas
classifica•›es.

Trata-se de um tema MUITO cobrado pela FGV nas provas da OAB.


Aproximadamente 15% das quest›es que a FGV j‡ cobrou no
Exame de Ordem sa’ram desta aula!

Bons estudos!

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1.! DO CRIME

O Crime Ž um fen™meno social, disso nenhum de voc•s duvida.


Entretanto, como conceituar o crime juridicamente?
Muito se buscou na Doutrina acerca disso, tendo surgido inœmeras
posi•›es a respeito. Vamos tratar das principais.
O Crime pode ser entendido sob tr•s aspectos: Material, legal e
anal’tico.
Sob o aspecto material, crime Ž toda a•‹o humana que lesa ou
exp›e a perigo um bem jur’dico de terceiro, que, por sua
relev‰ncia, merece a prote•‹o penal. Esse aspecto valoriza o crime
enquanto conteœdo, ou seja, busca identificar se a conduta Ž ou n‹o apta
a produzir uma les‹o a um bem jur’dico penalmente tutelado.
Assim, se uma lei cria um tipo penal dizendo que Ž proibido chorar
em pœblico, essa lei n‹o estar‡ criando uma hip—tese de crime em seu
sentido material, pois essa conduta NUNCA SERç crime em sentido
material, pois n‹o produz qualquer les‹o ou exposi•‹o de les‹o a bem
jur’dico de quem quer que seja. Assim, ainda que a lei diga que Ž crime,
materialmente n‹o o ser‡.
Sob o aspecto legal, ou formal, crime Ž toda infra•‹o penal a
que a lei comina pena de reclus‹o ou deten•‹o, nos termos do art.
1¡ da Lei de Introdu•‹o ao CP.1
Percebam que o conceito aqui Ž meramente legal. Se a lei cominar a
uma conduta a pena de deten•‹o ou reclus‹o, cumulada ou
alternativamente com a pena de multa, estaremos diante de um crime.
Por outro lado, se a lei cominar a apenas pris‹o simples ou multa,
alternativa ou cumulativamente, estaremos diante de uma contraven•‹o
penal.
Esse aspecto consagra o SISTEMA DICOTïMICO adotado no Brasil,
no qual existe um g•nero, que Ž a infra•‹o penal, e duas espŽcies, que
s‹o o crime e a contraven•‹o penal. Assim:


1
Art 1¼ Considera-se crime a infra•‹o penal que a lei comina pena de reclus‹o ou de deten•‹o,
quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contraven•‹o, a
infra•‹o penal a que a lei comina, isoladamente, pena de pris‹o simples ou de multa, ou ambas.
alternativa ou cumulativamente.

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Vejam que quando se diz Òinfra•‹o penalÓ, est‡ se usando um termo


genŽrico, que pode tanto se referir a um ÒcrimeÓ ou a uma Òcontraven•‹o
penalÓ. O termo ÒdelitoÓ, no Brasil, Ž sin™nimo de crime.
O crime pode ser conceituado, ainda, sob um aspecto
anal’tico, que o divide em partes, de forma a estruturar seu
conceito.
Primeiramente surgiu a teoria quadripartida do crime, que
entendia que crime era todo fato t’pico, il’cito, culp‡vel e pun’vel.
Hoje Ž praticamente inexistente.
Depois, surgiram os defensores da teoria tripartida do crime, que
entendiam que crime era o fato t’pico, il’cito e culp‡vel. Essa Ž a teoria
que predomina no Brasil, embora haja muitos defensores da terceira
teoria.
A terceira e œltima teoria acerca do conceito anal’tico de crime
entende que este Ž o fato t’pico e il’cito, sendo a culpabilidade mero
pressuposto de aplica•‹o da pena. Ou seja, para esta corrente, o
conceito de crime Ž bipartido, bastando para sua caracteriza•‹o que o
fato seja t’pico e il’cito.
As duas œltimas correntes possuem defensores e argumentos de
peso. Entretanto, a que predomina ainda Ž a corrente tripartida.
Portanto, na prova objetiva, recomendo que adotem esta, a menos que a
banca seja muito expl’cita e voc•s entenderem que eles claramente s‹o
adeptos da teoria bipartida, o que acho pouco prov‡vel.
Todos os tr•s aspectos (material, legal e anal’tico) est‹o
presentes no nosso sistema jur’dico-penal. De fato, uma conduta
pode ser materialmente crime (furtar, por exemplo), mas n‹o o ser‡ se
n‹o houver previs‹o legal (n‹o ser‡ legalmente crime). Poder‡, ainda, ser
formalmente crime (no caso da lei que citei, que criminalizava a conduta
de chorar em pœblico), mas n‹o o ser‡ materialmente se n‹o trouxer
les‹o ou amea•a a les‹o de algum bem jur’dico de terceiro.
Desta forma:

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Esse œltimo conceito de crime (sob o aspecto anal’tico), Ž o


que vai nos fornecer os subs’dios para que possamos estudar os
elementos do crime (Fato t’pico, ilicitude e culpabilidade).
O fato t’pico Ž o primeiro dos elementos do crime, sendo a tipicidade
um de seus pressupostos. Vamos estud‡-lo, ent‹o!

1.1.! Fato t’pico e seus elementos


O fato t’pico tambŽm se divide em elementos, s‹o eles:
¥! Conduta humana (alguns entendem poss’vel a conduta
de pessoa jur’dica)
¥! Resultado natural’stico
¥! Nexo de causalidade
¥! Tipicidade

1.1.1.! Conduta
Tr•s s‹o as principais que teorias buscam explicar a conduta: Teoria
causal-natural’stica (ou cl‡ssica), finalista e social.
Para a teoria causal-natural’stica, conduta Ž a a•‹o humana.
Assim, basta que haja movimento corporal para que exista conduta. Esta
teoria est‡ praticamente abandonada, pois entende que n‹o h‡
necessidade de se analisar o conteœdo da vontade do agente nesse
momento, guardando esta an‡lise (dolo ou culpa) para quando do estudo
da culpabilidade.2

2
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 287/288

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Para a teoria finalista, de HANS WELZEL, a conduta humana Ž a
a•‹o volunt‡ria dirigida a uma determinada finalidade. Assim:
Conduta = vontade + a•‹o

Logo, retirando-se um dos elementos da conduta, esta n‹o


existir‡, o que acarreta a inexist•ncia de fato t’pico.
EXEMPLO: Jo‹o olha para Roberto e o agride, por livre espont‰nea
vontade. Estamos diante de uma conduta (quis agir e agrediu) dolosa
(quis o resultado).
Agora, se Jo‹o dirige seu carro, v• Roberto e sem querer, o atinge,
estamos diante de uma conduta (quis dirigir e acabou ferindo) culposa
(n‹o quis o resultado).

Vejam que a ÒvontadeÓ a que me referi como elemento da conduta Ž


uma vontade de meramente praticar o ato que ensejou o crime, ainda
que o resultado que se pretendesse n‹o fosse il’cito. Quando a vontade
(elemento da conduta) Ž dirigida ao fim criminoso, o crime Ž
doloso. Quando a vontade Ž dirigida a outro fim (que atŽ pode ser
criminoso, mas n‹o aquele) o crime Ž culposo. PorŽm, por enquanto
vamos ficar apenas na ÒvontadeÓ (desculpem o trocadilho) e estudar
somente os elementos do fato t’pico.
ESTA ƒ A TEORIA ADOTADA PELO NOSSO CîDIGO PENAL.
Vejamos os termos do art. 20 do CP3:
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o
dolo, mas permite a puni•‹o por crime culposo, se previsto em lei.

Ora, se a lei prev• que o erro sobre um elemento do tipo


exclui o dolo, Ž porque entende que o dolo est‡ no tipo (fato
t’pico), n‹o na culpabilidade. Assim, a conduta Ž, necessariamente,
volunt‡ria.
A grande evolu•‹o da teoria finalista, portanto, foi conceber a
conduta como um Òacontecimento finalÓ4, ou seja, somente h‡ conduta
quando o agir de alguŽm Ž dirigido a alguma finalidade (seja ela l’cita ou
n‹o).
Para terceira teoria, a teoria social, a conduta Ž a a•‹o humana,
volunt‡ria e que Ž dotada de alguma relev‰ncia social.5


3
DOTTI, RenŽ Ariel. Curso de Direito Penal, Parte Geral. 4. ed. S‹o Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 2012, p. 397
4
DOTTI, RenŽ Ariel. Curso de Direito Penal, Parte Geral. 4. ed. S‹o Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 2012, p. 396
5
DOTTI, RenŽ Ariel. Op. cit. p. 397

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H‡ cr’ticas a esta teoria, pois a relev‰ncia social n‹o seria um
elemento estruturante da conduta, mas uma qualidade que esta poderia
ou n‹o possuir. Assim, a conduta que n‹o fosse socialmente relevante
continuaria sendo conduta.6
A conduta humana pode ser uma a•‹o ou uma omiss‹o. A
quest‹o Ž: Qual Ž o resultado natural’stico que advŽm de uma
omiss‹o? Naturalisticamente nenhum, pois do nada, nada surge. Assim,
aquele que se omite na presta•‹o de socorro a alguŽm, pode estar
cometendo o crime de omiss‹o de socorro, art. 135 do C—digo Penal (que
Ž um crime formal, pois a morte daquele a quem n‹o se prestou socorro Ž
irrelevante), n‹o porque causou a morte de alguŽm (atŽ porque este
resultado Ž irrelevante e n‹o fora diretamente provocado pelo agente),
mas porque descumpriu um comando legal.
Entretanto, o art. 13, ¤ 2¡ do CP diz o seguinte:
¤ 2¼ - A omiss‹o Ž penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obriga•‹o de cuidado, prote•‹o ou vigil‰ncia;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorr•ncia do resultado.

Esse artigo estabelece o crime omissivo impr—prio. Nesses crimes,


quando o agente se omite na presta•‹o do socorro ele n‹o responde por
omiss‹o de socorro (art. 135 do CP), mas responde pelo resultado
ocorrido (por exemplo, a morte da pessoa a quem ele deveria proteger).
EXEMPLO: O Pai leva o filho de 04 anos ˆ praia e o deixa brincando ˆ
beira da ‡gua e sai para beber cerveja com os amigos. Quando retorna,
v• que seu filho fora levado ao mar por um maluco que pretendia mata-
lo, tendo a crian•a morrido. Nesse caso o Pai n‹o responde por omiss‹o
de socorro, mas por homic’dio doloso consumado, pois tem a obriga•‹o
legal de cuidar do filho.

Mas como se pode dizer que a conduta do pai matou o filho?


Tecnicamente falando, a conduta do pai n‹o gerou a morte do filho. O que
gerou a morte do filho foi o afogamento. Entretanto, pela teoria
natural’stico-normativa, a ele Ž imputado o resultado, em raz‹o do seu
descumprimento do dever de vigil‰ncia.

1.1.2.! Resultado natural’stico


O resultado natural’stico Ž a modifica•‹o do mundo real
provocada pela conduta do agente.7

6
ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general: Tomo I. Civitas. Madrid, 1997, p. 246/247
7
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 354

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Entretanto, apenas nos crimes chamados materiais se exige um
resultado natural’stico. Nos crimes formais e de mera conduta n‹o h‡
essa exig•ncia.
Os crimes formais s‹o aqueles nos quais o resultado
natural’stico pode ocorrer, mas a sua ocorr•ncia Ž irrelevante para
o Direito Penal. J‡ os crimes de mera conduta s‹o crimes em que
n‹o h‡ um resultado natural’stico poss’vel. Vou dar um exemplo de
cada um dos tr•s:
¥! Crime material Ð Homic’dio. Para que o homic’dio seja consumado,
Ž necess‡rio que a v’tima venha a —bito. Caso isso n‹o ocorra,
estaremos diante de um homic’dio tentado (ou les›es corporais
culposas);
¥! Crime formal Ð Extors‹o (art. 158 do CP). Para que o crime de
extors‹o se consume n‹o Ž necess‡rio que o agente obtenha a
vantagem il’cita, bastando o constrangimento ˆ v’tima;
¥! Crime de mera conduta Ð Invas‹o de domic’lio. Nesse caso, a
mera presen•a do agente, indevidamente, no domic’lio da v’tima
caracteriza o crime. N‹o h‡ um resultado previsto para esse crime.
Qualquer outra conduta praticada a partir da’ configura crime
aut™nomo (furto, roubo, homic’dio, etc.).

AlŽm do resultado natural’stico (que nem sempre estar‡


presente), h‡ tambŽm o resultado jur’dico (ou normativo), que Ž a
les‹o ao bem jur’dico tutelado pela norma penal. Esse resultado
sempre estar‡ presente! Cuidado com isso! Assim, se a banca
perguntar: ÒH‡ crime sem resultado jur’dico?Ó A resposta Ž NÌO!8

1.1.3.! Nexo de Causalidade


Nos termos do art. 13 do CP:
Art. 13 - O resultado, de que depende a exist•ncia do crime, somente Ž
imput‡vel a quem lhe deu causa. Considera-se causa a a•‹o ou omiss‹o
sem a qual o resultado n‹o teria ocorrido.

Assim, o nexo de causalidade pode ser entendido como o v’nculo


que une a conduta do agente ao resultado natural’stico ocorrido no
mundo exterior. Portanto, s— se aplica aos crimes materiais!
Algumas teorias existem acerca do nexo de causalidade:


8
Pelo princ’pio da ofensividade, n‹o Ž poss’vel haver crime sem resultado jur’dico. BITENCOURT,
Cezar Roberto. Op. cit., p. 354

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¥!TEORIA DA EQUIVALæNCIA DOS ANTECEDENTES (OU DA
CONDITIO SINE QUA NON) Ð Para esta teoria, Ž considerada causa do
crime toda conduta sem a qual o resultado n‹o teria ocorrido. Assim, para
se saber se uma conduta Ž ou n‹o causa do crime, devemos retir‡-la do
curso dos acontecimentos e ver se, ainda assim, o crime ocorreria
(Processo hipotŽtico de elimina•‹o de ThyrŽn). EXEMPLO: Marcelo
acorda de manh‹, toma cafŽ, compra uma arma e encontra Jœlio, seu
desafeto, disparando tr•s tiros contra ele, causando-lhe a morte.
Retirando-se do curso o cafŽ tomado por Marcelo, conclu’mos que o
resultado teria ocorrido do mesmo jeito. Entretanto, se retirarmos a
compra da arma do curso do processo, o crime n‹o teria ocorrido.
O inconveniente claro desta teoria Ž que ela permite que se
coloquem como causa situa•›es absurdas, como a venda da arma ou atŽ
mesmo o nascimento do agente, j‡ que se os pais n‹o tivessem colocado
a crian•a no mundo, o crime n‹o teria acontecido. Isso Ž um absurdo!
Assim, para solucionar o problema, criou-se outro filtro que Ž o
dolo. Logo, s— ser‡ considerada causa a conduta que Ž
indispens‡vel ao resultado e que foi querida pelo agente. Assim, no
exemplo anterior, o vendedor da arma n‹o seria responsabilizado, pois
nada mais fez que vender seu produto, n‹o tendo a inten•‹o (nem sequer
imaginou) de ver a morte de Jœlio.
Nesse sentido:
CAUSA = conduta indispens‡vel ao resultado + que tenha
sido prevista e querida por quem a praticou

Podemos dizer, ent‹o, que a causalidade aqui n‹o Ž meramente


f’sica, mas tambŽm, psicol—gica.
Essa foi a teoria adotada pelo C—digo Penal, como regra.

¥!TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA Ð Trata-se de teoria


tambŽm adotada pelo C—digo Penal, porŽm, somente em uma hip—tese
muito espec’fica. Trata-se da hip—tese de concausa superveniente
relativamente independente que, por si s—, produz o resultado9.
Como assim? Vamos explicar desde o come•o!
As concausas s‹o circunst‰ncias que atuam paralelamente ˆ
conduta do agente em rela•‹o ao resultado. As concausas podem
ser: absolutamente independentes e relativamente independentes.
As concausas absolutamente independentes s‹o aquelas que
n‹o se juntam ˆ conduta do agente para produzir o resultado, e
podem ser preexistentes (existiam antes da conduta), concomitantes


9
CUNHA, RogŽrio Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial. 7¼ edi•‹o. Ed. Juspodivm.
Salvador, 2015, p. 232/233

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(surgiram durante a conduta) e supervenientes (surgiram ap—s a
conduta). Exemplos:

EXEMPLO (1) Pedro resolve matar Jo‹o, e coloca veneno em seu


drink. PorŽm, Pedro n‹o sabe que Marcelo tambŽm queria matar Jo‹o
e minutos antes tambŽm havia colocado veneno no drink de Jo‹o, que
vem a morrer em raz‹o do veneno colocado por Marcelo. Nesse caso,
a concausa preexistente (conduta de Marcelo) produziu por si s— o
resultado (morte). Nesse caso, Pedro responder‡ somente por
tentativa de homic’dio.
__________________________________________________
EXEMPLO (2) Pedro resolve matar Jo‹o, e come•a a disparar contra
ele projŽteis de arma de fogo. Entretanto, durante a execu•‹o, o teto
da casa de Jo‹o desaba sobre ele, vindo a causar-lhe a morte. Aqui, a
causa concomitante (queda do teto) produziu isoladamente o resultado
(morte). Portanto, Pedro responde somente por homic’dio tentado.
__________________________________________________
EXEMPLO (3) Pedro resolve matar Jo‹o, desta vez, ministrando em
sua bebida certa dose de veneno. Entretanto, antes que o veneno fa•a
efeito, Marcelo aparece e dispara 10 tiros de pistola contra Jo‹o, o
mantando. Nesse caso, Pedro responder‡ somente por homic’dio
tentado.
__________________________________________________
Em todos estes casos o agente NÌO responde pelo resultado
ocorrido. Por qual motivo? Sua conduta NÌO FOI a causa da
morte (aplica-se a pr—pria e j‡ falada teoria da equival•ncia dos
antecedentes). Se suprimirmos a conduta de cada um destes agentes
(nos tr•s exemplos), o resultado morte ainda assim teria ocorrido da
mesma forma. Logo, a conduta dos agentes NÌO Ž considerada
causa.

Entretanto, pode ocorrer de a concausa n‹o produzir por si s— o


resultado (absolutamente independente), afastando o nexo entre a
conduta do agente e o resultado, mas unir-se ˆ conduta do agente e,
juntas, produzirem o resultado. Essas s‹o as chamadas concausas
relativamente independentes, que tambŽm podem ser
preexistentes, concomitantes ou supervenientes.
Mais uma vez, vou dar um exemplo de cada uma das tr•s e explicar
quais os efeitos jur’dico-penais em rela•‹o ao agente. Primeiro come•arei
pelas preexistentes e concomitantes. Ap—s, falarei especificamente sobre
as supervenientes.

EXEMPLO (1) Caio decide matar Maria, desferindo contra ela golpes de
fac‹o, causando-lhe a morte. Entretanto, Caio n‹o sabia que Maria era
hemof’lica, tendo a doen•a contribu’do em grande parte para seu

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—bito. Nesse caso, embora a doen•a (concausa preexistente) tenha
contribu’do para o —bito, Caio responde por homic’dio consumado.
Por qual motivo? Sua conduta FOI a causa da morte (aplica-se a
pr—pria e j‡ falada teoria da equival•ncia dos antecedentes). Se
suprimirmos a conduta de Caio, o resultado teria ocorrido? N‹o. Caio
teve a inten•‹o de produzir o resultado? Sim. Logo, responde pelo
resultado (homic’dio consumado).
___________________________________________________
EXEMPLO (2) Pedro resolve matar Jo‹o, e coloca em seu drink
determinada dose de veneno. Ao mesmo tempo, Ricardo faz a mesma
coisa. Pedro e Ricardo querem a mesa coisa, mas n‹o se conhecem
nem sabem da conduta um do outro. Jo‹o ingere a bebida e acaba
falecendo. A per’cia comprova que qualquer das doses de veneno,
isoladamente, n‹o seria capaz de produzir o resultado. PorŽm, a soma
de esfor•os de ambas (a soma das quantidades de veneno) produziu o
resultado. Assim, Pedro responde por homic’dio consumado.
Por qual motivo? Sua conduta FOI a causa da morte (aplica-se a
pr—pria e j‡ falada teoria da equival•ncia dos antecedentes). Se
suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria ocorrido? N‹o. Pedro
teve a inten•‹o de produzir o resultado? Sim. Logo, responde pelo
resultado (homic’dio consumado).

AtŽ aqui n—s conseguimos resolver todos os casos pela teoria da


equival•ncia dos antecedentes, da seguinte forma:
¥! Nas concausas absolutamente independentes Ð Em todos
os casos a conduta do agente n‹o contribuiu para o
resultado. Logo, pelo ju’zo hip—tese de elimina•‹o, a conduta
do agente n‹o foi causa. Portanto, n‹o responde pelo
resultado.
¥! Nas concausas relativamente independentes
(Preexistentes e concomitantes) Ð Em todos os casos a
conduta do agente contribuiu para o resultado. Logo, pelo
ju’zo hip—tese de elimina•‹o, a conduta do agente foi causa.
Portanto, responde pelo resultado.

Agora Ž que a coisa complica um pouco.


No caso das concausas supervenientes relativamente
independentes, podem acontecer duas coisas:
§! A causa superveniente produz por si s— o resultado
§! A causa superveniente se agrega ao desdobramento natural da
conduta do agente e ajuda a produzir o resultado.

¥! EXEMPLO (1) - Pedro resolve matar Jo‹o (insistente esse cara!),

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e dispara 25 tiros contra ele, usando seu Fuzil Autom‡tico Ligeiro-
Fal, CALIBRE 7.62 (agora vai!). Pedro fica estirado no ch‹o, Ž
socorrido por uma ambul‰ncia e, no caminho para o Hospital,
sofre um acidente de carro (a ambul‰ncia bate de frente com uma
carreta) e vem a morrer em raz‹o do acidente, n‹o dos
ferimentos causados por Pedro.
¥! Nesse caso, Pedro responde apenas por tentativa de
homic’dio.
¥! Por qual motivo? Sua conduta n‹o foi a causa da morte.
Mas, se suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria
ocorrido? N‹o. Pedro teve a inten•‹o de produzir o resultado?
Sim.
¥! Ent‹o por que n‹o responde pelo resultado??
¥! Aqui o CP adotou a teoria da causalidade adequada. A causa
superveniente (acidente de tr‰nsito) produziu por si s— o
resultado, j‡ que o acidente de ambul‰ncia n‹o Ž o
desdobramento natural de um disparo de arma de fogo (esse
resultado n‹o Ž consequ•ncia natural e previs’vel da conduta do
agente10).
¥! Perceba que a concausa superveniente (acidente de carro),
apesar de produzir sozinha o resultado, n‹o Ž
absolutamente independente, pois se n‹o fosse a conduta de
Pedro, o acidente n‹o teria ocorrido (j‡ que a v’tima n‹o estaria
na ambul‰ncia).
¥! Por isso dizemos que, aqui, temos:
§! Concausa superveniente relativamente independente Ð A
conduta de Pedro Ž relevante para o resultado.
§! Que por si s— produziu o resultado Ð Apesar disso, a conduta
de Pedro foi relevante apenas por CRIAR A SITUA‚ÌO, mas n‹o
foi a respons‡vel efetiva pela morte.

¥! EXEMPLO (2) - No mesmo exemplo anterior, Jo‹o Ž socorrido e


chegando ao Hospital, Ž submetido a uma cirurgia. Durante a
cirurgia, o ferimento infecciona e Jo‹o morre por infec•‹o. Nesse
caso, a causa superveniente (infec•‹o hospitalar) n‹o
produziu por si s— o resultado, tendo se agregado aos
ferimentos para causar a morte de Jo‹o. Nesse caso, Pedro
responde por homic’dio consumado.


10
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Ð Parte Geral. Ed. Saraiva, 21¼ edi•‹o.
S‹o Paulo, 2015, p. 324/325

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Mas qual a diferen•a entre o exemplo (1) e o exemplo (2)? A
diferen•a b‡sica reside no fato de que:
§! No exemplo (1) Ð A conduta do agente Ž relevante em
apenas um momento: por criar a situa•‹o (necessidade de ser
transportado pela ambul‰ncia).
§! No exemplo (2) - A conduta do agente Ž relevante em dois
momentos: (a) cria a situa•‹o, ao fazer com que a v’tima
tenha que ser operada; (b) contribui para o pr—prio resultado
(j‡ que a infec•‹o do ferimento n‹o Ž um novo nexo causal).

Segue abaixo um esquema para melhor compreens‹o:

¥! TEORIA DA IMPUTA‚ÌO OBJETIVA Ð A teoria da imputa•‹o


objetiva, que foi melhor desenvolvida por Roxin11, tem por finalidade
ser uma teoria mais completa em rela•‹o ao nexo de causalidade, em
contraposi•‹o ˆs "vigentes" teoria da equival•ncia das condi•›es e
teoria da causalidade adequada.
Para a teoria da imputa•‹o objetiva, a imputa•‹o s— poderia ocorrer
quando o agente tivesse dado causa ao fato (causalidade f’sica) mas,
ao mesmo tempo, houvesse uma rela•‹o de causalidade NORMATIVA,
assim compreendida como a cria•‹o de um risco n‹o permitido para o
bem jur’dico que se pretende tutelar. Para esta teoria, a conduta deve:


11
ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general: Tomo I. Civitas. Madrid, 1997, p. 362/411

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a)! Criar ou aumentar um risco Ð Assim, se a conduta do agente n‹o
aumentou nem criou um risco, n‹o h‡ crime12. Exemplo cl‡ssico: JosŽ
conversa com Paulo na cal•ada. Pedro, inimigo de Paulo, atira um
vaso de planta do 10¼ andar, com a finalidade de matar Paulo. JosŽ v•
que o vaso ir‡ cair sobre a cabe•a de Paulo e o empurra. Paulo cai no
ch‹o e fratura levemente o bra•o. Neste caso, JosŽ deu causa
(causalidade f’sica) ˆs les›es corporais sofridas por Paulo. Contudo,
sua conduta n‹o criou nem aumentou um risco. Ao contr‡rio, JosŽ
diminuiu um risco, ao evitar a morte de Paulo.
b)! Risco deve ser proibido pelo Direito Ð Aquele que cria um risco de
les‹o para alguŽm, em tese n‹o comete crime, a menos que esse
risco seja proibido pelo Direito. Assim, o filho que manda os pais em
viagem para a Europa, na inten•‹o de que o avi‹o caia, os pais
morram, e ele receba a heran•a, n‹o comete crime, pois o risco por
ele criado n‹o Ž proibido pelo Direito.
c)! Risco deve ser criado no resultado Ð Assim, um crime n‹o pode ser
imputado ˆquele que n‹o criou o risco para aquela ocorr•ncia. Explico:
Imaginem que JosŽ ateia fogo na casa de Maria. JosŽ causou um risco,
n‹o permitido pelo Direito. Deve responder pelo crime de inc•ndio
doloso, art. 250 do CP. Entretanto, Maria invade a casa em chamas
para resgatar a œnica foto que restou de seu filho falecido, sendo
lambida pelo fogo, vindo a falecer. Nesse caso, JosŽ n‹o responde
pelo crime de homic’dio, pois o risco por ele criado n‹o se insere
nesse resultado, que foi provocado pela conduta exclusiva de Maria.

1.1.4.! Tipicidade
A tipicidade nada mais Ž que a adequa•‹o da conduta do agente
a uma previs‹o t’pica (norma penal que prev• o fato e lhe descreve
como crime). Assim, o tipo do art. 121 Ž: Òmatar alguŽmÓ. Portanto,
quando Marcio esfaqueia Luiz e o mata, est‡ cometendo fato t’pico, pois
est‡ praticando uma conduta que encontra previs‹o como tipo penal.
N‹o h‡ muito o que se falar acerca da tipicidade. Basta que o
intŽrprete proceda ao cotejo entre a conduta praticada no caso
concreto e a conduta prevista na Lei Penal. Se a conduta praticada
se amoldar ˆquela prevista na Lei Penal, o fato ser‡ t’pico, por estar
presente o elemento ÒtipicidadeÓ.

CUIDADO! Nem sempre a conduta praticada pelo agente


se amolda perfeitamente ao tipo penal (adequa•‹o imediata). Ës vezes
Ž necess‡rio que se proceda ˆ an‡lise de outro dispositivo da Lei
Penal para se chegar ˆ conclus‹o de que um fato Ž t’pico
(adequa•‹o mediata). Por exemplo: Imaginem que Abreu (El Loco)

12
ROXIN, Claus. Op. cit., p. 365

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dispara contra Adriano (El Imperador), que n‹o morre. Nesse caso, como
dizer que Abreu praticou fato t’pico (homic’dio tentado), se o art.
121 diz ÒmatarÓ alguŽm, o que n‹o ocorreu? Nessa hip—tese,
conjuga-se o art. 121 do CP com seu art. 14, II, que diz ser o crime
pun’vel na modalidade tentada. Isso tambŽm se aplica aos crimes
omissivos impr—prios (art. 13, ¤ 2¡ do CP).

(FGV - 2012 - OAB - VIII EXAME DE ORDEM UNIFICADO)


JosŽ conversava com Ant™nio em frente a um prŽdio. Durante a
conversa, JosŽ percebe que Jo‹o, do alto do edif’cio, jogara um
vaso mirando a cabe•a de seu interlocutor. Assustado, e com o fim
de evitar a poss’vel morte de Ant™nio, JosŽ o empurra com for•a.
Ant™nio cai e, na queda, fratura o bra•o. Do alto do prŽdio, Jo‹o
v• a cena e fica irritado ao perceber que, pela atua•‹o r‡pida de
JosŽ, n‹o conseguira acertar o vaso na cabe•a de Ant™nio.
Com base no caso apresentado, segundo os estudos acerca da
teoria da imputa•‹o objetiva, assinale a afirmativa correta.
A) JosŽ praticou les‹o corporal culposa.
B) JosŽ praticou les‹o corporal dolosa.
C) O resultado n‹o pode ser imputado a JosŽ, ainda que entre a
les‹o e sua conduta exista nexo de causalidade.
D) O resultado pode ser imputado a JosŽ, que agiu com excesso e
sem a observ‰ncia de devido cuidado.
COMENTçRIOS: A quest‹o retrata o exemplo mais cl‡ssico sobre a
Teoria da Imputa•‹o Objetiva. Embora JosŽ tenha empurrado Jo‹o, e esta
conduta tenha sido a causa das les›es sofridas por Jo‹o em seu bra•o,
certo Ž que JosŽ n‹o agiu com dolo de ferir Jo‹o, tendo agido assim para
evitar a ocorr•ncia de um evento ainda mais danoso para este, qual seja,
a sua eventual morte em raz‹o do impacto que seria provocado pelo vaso
jogado do alto do prŽdio por Ant™nio.
Assim, como JosŽ evitou a ocorr•ncia de um resultado lesivo ainda maior,
tendo sido movido por essa inten•‹o, pela Teoria da Imputa•‹o Objetiva,
n‹o pode responder pelo delito de les›es corporais.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA C.

(FGV Ð 2014 Ð OAB Ð EXAME DE ORDEM)


Isadora, m‹e da adolescente Larissa, de 12 anos de idade, saiu
um pouco mais cedo do trabalho e, ao chegar ˆ sua casa, da janela
da sala, v• seu companheiro, Frederico, mantendo rela•›es
sexuais com sua filha no sof‡. Chocada com a cena, n‹o teve

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qualquer rea•‹o. N‹o tendo sido vista por ambos, Isadora decidiu,
a partir de ent‹o, chegar ˆ sua resid•ncia naquele mesmo hor‡rio
e verificou que o fato se repetia por semanas. Isadora tinha
efetiva ci•ncia dos abusos perpetrados por Frederico, porŽm,
muito apaixonada por ele, nada fez. Assim, Isadora, sabendo dos
abusos cometidos por seu companheiro contra sua filha, deixa de
agir para impedi-los.
Nesse caso, Ž correto afirmar que o crime cometido por Isadora Ž
a) omissivo impr—prio.
b) omissivo pr—prio.
c) comissivo.
d) omissivo por comiss‹o.
COMENTçRIOS: No caso em tela, Frederico est‡ praticando o delito de
estupro de vulner‡vel, previsto no art. 217-A do CP. A m‹e da v’tima,
Isadora, n‹o est‡ cometendo omiss‹o de socorro, pois ela tem O DEVER
LEGAL de evitar o resultado, j‡ que a v’tima Ž sua filha (tendo o dever de
prote•‹o, cuidado e vigil‰ncia). Assim, Isadora responder‡ pelo mesmo
delito praticado por Frederico (e que ela deveria evitar), ou seja, estupro
de vulner‡vel.
Tal imputa•‹o se d‡ por for•a da causalidade NORMATIVA imposta ˆ
conduta de Isadora (j‡ que do ponto de vista ÒnaturalÓ ela n‹o praticou
qualquer ato relativo ao estupro).
Temos, aqui, o que se chama de crime COMISSIVO POR OMISSÌO, ou
OMISSIVO IMPRîPRIO, nos termos do art. 13, ¤2¼ do CP.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA A.

(FGV Ð X EXAME UNIFICADO DA OAB)


Jo‹o, com inten•‹o de matar, efetua v‡rios disparos de arma de
fogo contra Ant™nio, seu desafeto. Ferido, Ant™nio Ž internado em
um hospital, no qual vem a falecer, n‹o em raz‹o dos ferimentos,
mas queimado em um inc•ndio que destr—i a enfermaria em que
se encontrava.
Assinale a alternativa que indica o crime pelo qual Jo‹o ser‡
responsabilizado.
A) Homic’dio consumado.
B) Homic’dio tentado.
C) Les‹o corporal.
D) Les‹o corporal seguida de morte.
COMENTçRIOS: No caso em tela a morte de Ant™nio se deu em raz‹o de
concausa superveniente RELATIVAMENTE INDEPENDENTE (j‡ que sem a
conduta de Jo‹o, Ant™nio n‹o estaria l‡), mas que produziu, por si s—, o
resultado (que n‹o decorreu das les›es praticadas por Jo‹o).

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Assim, neste caso, nos termos do art. 13, ¤1¼ do CP, Jo‹o responder‡
apenas pelos atos praticados, n‹o sendo imput‡vel a ele o resultado.
Desta forma, responder‡ apenas pela tentativa de homic’dio.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA B.

(FGV Ð IX EXAME UNIFICADO DA OAB)


JosŽ subtrai o carro de um jovem que lhe era totalmente
desconhecido, chamado Jo‹o. Tal subtra•‹o deu-se mediante o
emprego de grave amea•a exercida pela utiliza•‹o de arma de
fogo. Jo‹o, entretanto, rapaz jovem e de boa saœde, sem qualquer
hist—rico de doen•a cardiovascular, assusta-se de tal forma com a
arma, que vem a —bito em virtude de ataque card’aco.
Com base no cen‡rio acima, assinale a afirmativa correta.
A) JosŽ responde por latroc’nio.
B) JosŽ n‹o responde pela morte de Jo‹o.
C) JosŽ responde em concurso material pelos crimes de roubo e
de homic’dio culposo.
D) JosŽ praticou crime preterdoloso.
COMENTçRIOS: No caso em tela, JosŽ praticou o delito de roubo
qualificado pelo emprego de arma de fogo, nos termos do art. 157, ¤2¼, I
do CP. Contudo, a morte de Jo‹o n‹o pode ser imputada a JosŽ, uma vez
que a ocorr•ncia do resultado n‹o entrou na esfera de previsibilidade do
agente, que n‹o podia prever que mataria alguŽm pelo susto. Assim, JosŽ
responde apenas pela conduta praticada, e n‹o pelo resultado que n‹o
pretendeu produzir.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA B.

(FGV Ð 2014 Ð OAB Ð XIV EXAME DE ORDEM)


Wallace, hemof’lico, foi atingido por um golpe de faca em uma
regi‹o n‹o letal do corpo. Jœlio, autor da facada, que n‹o tinha
dolo de matar, mas sabia da condi•‹o de saœde espec’fica de
Wallace, sai da cena do crime sem desferir outros golpes, estando
Wallace ainda vivo. No entanto, algumas horas depois, Wallace
morre, pois, apesar de a les‹o ser em local n‹o letal, sua condi•‹o
fisiol—gica agravou o seu estado de saœde.
Acerca do estudo da rela•‹o de causalidade, assinale a op•‹o
correta.
A) O fato de Wallace ser hemof’lico Ž uma causa relativamente
independente preexistente, e Jœlio n‹o deve responder por
homic’dio culposo, mas, sim, por les‹o corporal seguida de morte.
B) O fato de Wallace ser hemof’lico Ž uma causa absolutamente
independente preexistente, e Jœlio n‹o deve responder por
homic’dio culposo, mas, sim, por les‹o corporal seguida de morte.

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C) O fato de Wallace ser hemof’lico Ž uma causa absolutamente
independente concomitante, e Jœlio deve responder por homic’dio
culposo.
D) O fato de Wallace ser hemof’lico Ž uma causa relativamente
independente concomitante, e Jœlio n‹o deve responder pela les‹o
corporal seguida de morte, mas, sim, por homic’dio culposo.
COMENTçRIOS: Em rela•‹o ao caso, o fato de Wallace ser hemof’lico Ž
uma causa relativamente independente preexistente, e Jœlio n‹o deve
responder por homic’dio culposo, mas, sim, por les‹o corporal seguida de
morte. Isso porque a hemofilia n‹o produziu sozinha o resultado, mas
agregou-se ˆ conduta de Jœlio (relativamente independente).
Jœlio, porŽm, n‹o responder‡ por homic’dio doloso, pois n‹o teve inten•‹o
de matar. O resultado morte, porŽm, ser‡ a ele imput‡vel, pois decorreu
da conjuga•‹o de dois fatores: hemofilia e conduta de Jœlio.
Jœlio responder‡, portanto, por les‹o corporal seguida de morte.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA A.

(FGV Ð 2013 Ð OAB Ð XII EXAME DE ORDEM)


Odete Ž diretora de um orfanato municipal, respons‡vel por
oitenta meninas em idade de dois a onze anos. Certo dia Odete v•
Elisabeth, uma das recreadoras contratada pela Prefeitura para
trabalhar na institui•‹o, praticar ato libidinoso com Poliana,
crian•a de 9 anos, que ali estava abrigada. Mesmo enojada pela
situa•‹o que presenciava, Odete achou melhor n‹o intervir,
porque n‹o desejava criar qualquer problema para si. Nesse caso,
tendo como base apenas as informa•›es descritas, assinale a
op•‹o correta.
A) Odete n‹o pode ser responsabilizada penalmente, embora
possa s•-lo no ‰mbito c’vel e administrativo.
B) Odete pode ser responsabilizada pelo crime descrito no Art.
244-A, do Estatuto da Crian•a e do Adolescente, verbis:
ÒSubmeter crian•a ou adolescente, como tais definidos no caput
do art. 2o desta Lei, ˆ prostitui•‹o ou ˆ explora•‹o sexualÓ.
C) Odete pode ser responsabilizada pelo crime de estupro de
vulner‡vel, previsto no Art. 217-A do CP, verbis: ÒTer conjun•‹o
carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
anosÓ.
D) Odete pode ser responsabilizada pelo crime de omiss‹o de
socorro, previsto no Art. 135, do CP, verbis: ÒDeixar de prestar
assist•ncia, quando poss’vel faz•-lo sem risco pessoal, ˆ crian•a
abandonada ou extraviada, ou ˆ pessoa inv‡lida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou n‹o pedir, nesses
casos, o socorro da autoridade pœblicaÓ.

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COMENTçRIOS: Neste caso, Odete Ž a respons‡vel pelas crian•as, de
forma que tem o DEVER de evitar a ocorr•ncia do resultado. Assim, como
Odete se OMITIU quando tinha o DEVER de evitar o resultado, deve por
ele responder, na forma do art. 13, ¤2¼ do CP.
Odete, portanto, responder‡ pelo crime praticado pela recreadora
(estupro de vulner‡vel, art. 217-A do CP). Odete n‹o deu causa ao
resultado, mas deveria ter agido para impedi-lo (era sua obriga•‹o),
motivo pelo qual responder‡ pelo delito. Trata-se de crime omissivo
impr—prio.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA C.

1.2.! Crime doloso e crime culposo


O dolo e a culpa s‹o o que
d se pode chamar de elementos
subjetivos do tipo penal.
Com o finalismo de HANS WELZEL, o dolo e a culpa
(elementos subjetivos) foram transportados da culpabilidade para
o fato t’pico13 (conduta). Assim, a conduta (no finalismo) n‹o Ž mais
apenas objetiva, sin™nimo de a•‹o humana, mas sim a a•‹o humana
dirigida a um fim (il’cito ou n‹o).
Vamos estudar cada um destes elementos separadamente.

1.2.1.! Crime doloso


O dolo Ž o elemento subjetivo do tipo, consistente na vontade, livre
e consciente, de praticar o crime (dolo direto), ou a assun•‹o do risco
produzido pela conduta (dolo eventual). Nos termos do art. 18 do CP:
Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Crime doloso(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-
lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O dolo direto, que Ž o elemento subjetivo cl‡ssico do crime, Ž


composto pela consci•ncia de que a conduta pode lesar um bem jur’dico
mais a vontade de lesar este bem jur’dico. Esses dois elementos
(consci•ncia + vontade) formam o que se chama de dolo natural.
Antigamente, quando o dolo pertencia ˆ culpabilidade, a
esses dois elementos era acrescido mais um elemento, que era a
consci•ncia da ilicitude. Esse era o chamado dolo normativo.
Atualmente, com a transposi•‹o do dolo e da culpa para o fato t’pico, os
elementos normativos ficaram na culpabilidade e a consci•ncia da ilicitude
tambŽm, passando, ainda a ser meramente potencial.

13
BITENCOURT, Op. cit., p. 290/291

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Desta maneira, podemos dizer que no finalismo o dolo Ž
natural e no causalismo o dolo Ž normativo.
O dolo eventual, por sua vez, consiste na consci•ncia de que
a conduta pode gerar um resultado criminoso, mais a assun•‹o
desse risco, mesmo diante da probabilidade de algo dar errado.
Trata-se de hip—tese na qual o agente n‹o tem vontade de produzir o
resultado criminoso (n‹o o que aconteceu, embora possa ser outro), mas,
analisando as circunst‰ncias, sabe que este resultado pode ocorrer e n‹o
se importa, age da mesma maneira.
EXEMPLO: Imagine que Renato, dono de um s’tio, e apreciador da
pr‡tica do tiro esportivo, decida levantar s‡bado pela manh‹ e praticar
tiro no seu terreno, mesmo sabendo que as balas possuem longo alcance
e que h‡ casas na vizinhan•a. Renato atŽ n‹o quer que ninguŽm seja
atingido, mas sabe que isso pode ocorrer e n‹o se importa, pratica a
c
conduta assim mesmo. Nesse caso, se Renato atingir alguŽm, causando-
lhe les›es ou mesmo a morte, estar‡ praticando homic’dio doloso por
dolo eventual.

O dolo pode ser, ainda:


¥! Dolo genŽrico Ð Atualmente, com o finalismo, passou a ser
chamado simplesmente de dolo, que Ž, basicamente, a
vontade de praticar a conduta descrita no tipo penal, sem
nenhuma outra finalidade;
¥! Dolo espec’fico, ou especial fim de agir Ð Em
contraposi•‹o ao dolo genŽrico, nesse caso o agente n‹o quer
somente praticar a conduta t’pica, mas o faz por alguma
raz‹o especial, com alguma finalidade espec’fica. ƒ o
caso do crime de injœria, por exemplo, no qual o agente deve
n‹o s— praticar a conduta, mas deve faz•-lo com a inten•‹o
de ofender a honra subjetiva da v’tima;
¥! Dolo direto de primeiro grau Ð Trata-se do dolo comum,
aquele no qual o agente tem a vontade direcionada para a
produ•‹o do resultado, como no caso do homicida que
procura sua v’tima e a mata com disparos de arma de fogo;
¥! Dolo direto de segundo grau Ð TambŽm chamado de Òdolo
de consequ•ncias necess‡riasÓ, se assemelha ao dolo
eventual, mas com ele n‹o se confunde. Aqui o agente possui
uma vontade, mas sabe que para atingir sua finalidade,
existem efeitos colaterais que ir‹o NECESSARIAMENTE
lesar outros bens jur’dicos. Diferentemente do dolo
eventual, aqui a ocorr•ncia da les‹o ao bem jur’dico n‹o
visado Ž certa, e n‹o apenas prov‡vel. Imagine o caso de
alguŽm que, querendo matar certo executivo, coloca uma
bomba no avi‹o em que este se encontra. Ora, nesse caso, o
agente age com dolo de primeiro grau em face da v’tima
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pretendida, e dolo de segundo grau face aos demais
ocupantes do avi‹o, pois Ž certo que tambŽm morrer‹o,
embora este n‹o seja o objetivo do agente;
¥! Dolo geral, por erro sucessivo, ou aberratio causae Ð
Ocorre quando o agente, acreditando ter alcan•ado seu
objetivo, pratica nova conduta, com finalidade diversa, mas
depois se constata que esta œltima foi a que efetivamente
causou o resultado. Trata-se de erro na rela•‹o de
causalidade, pois embora o agente tenha conseguido
alcan•ar a finalidade proposta, somente o alcan•ou
atravŽs de outro meio, que n‹o tinha direcionado para
isso. Exemplo: Imagine a m‹e que, querendo matar o pr—prio
filho de 05 anos, o estrangula e, com medo de ser descoberta,
o joga num rio. Posteriormente a crian•a Ž encontrada e se
descobre que a v’tima 2morreu por afogamento. Nesse caso,
embora a m‹e n‹o tenha querido matar o filho afogado, mas
por estrangulamento, isso Ž irrelevante penalmente,
importando apenas o fato de que a m‹e alcan•ou o fim
pretendido (morte do filho), ainda que por outro meio,
devendo, pois, responder por homic’dio consumado;
¥! Dolo antecedente, atual e subsequente Ð O dolo
antecedente Ž o que se d‡ antes do in’cio da execu•‹o da
conduta. O dolo atual Ž o que est‡ presente enquanto o
agente se mantŽm exercendo a conduta, e o dolo
subsequente ocorre quando o agente, embora tendo iniciado a
conduta com uma finalidade l’cita, altera seu ‰nimo, passando
a agir de forma il’cita. Esse œltimo caso Ž o que ocorre no
caso, por exemplo, do crime de apropria•‹o indŽbita (art. 168
do CP), no qual o agente recebe o bem de boa-fŽ, obrigando-
se devolv•-lo, mas, posteriormente, muda de idŽia e n‹o
devolve o bem nas condi•›es ajustadas, passando a agir de
maneira il’cita.

1.2.2.! Crime culposo


Se no crime doloso o agente quis o resultado, sendo este seu
objetivo, ou assumiu o risco de sua ocorr•ncia, embora n‹o fosse
originalmente pretendido o resultado, no crime culposo a conduta do
agente Ž destinada a um determinado fim (que pode ser l’cito ou n‹o), tal
qual no dolo eventual, mas pela viola•‹o a um dever de cuidado, o
agente acaba por lesar um bem jur’dico de terceiro, cometendo crime
culposo.
A viola•‹o ao dever objetivo de cuidado pode se dar de tr•s
maneiras:
¥! Neglig•ncia Ð O agente deixa de tomar todas as cautelas
necess‡rias para que sua conduta n‹o venha a lesar o bem

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jur’dico de terceiro. ƒ o famoso relapso. Aqui o agente deixa
de fazer algo que deveria;
¥! Imprud•ncia Ð ƒ o caso do afoito, daquele que pratica atos
temer‡rios, que n‹o se coadunam com a prud•ncia que se
deve ter na vida em sociedade. Aqui o agente faz algo que
a prud•ncia n‹o recomenda;
¥! Imper’cia Ð Decorre do desconhecimento de uma regra
tŽcnica profissional. Assim, se o mŽdico, ap—s fazer todos
os exames necess‡rios, d‡ diagn—stico errado, concedendo
alto ao paciente e este vem a —bito em decorr•ncia da alta
concedida, n‹o h‡ neglig•ncia, pois o profissional mŽdico
adotou todos os cuidados necess‡rios, mas em decorr•ncia de
sua falta de conhecimento tŽcnico, n‹o conseguiu verificar
qual o problema do paciente, o que acabou por ocasionar seu
falecimento; 9

A punibilidade da culpa se fundamenta no desvalor do resultado


praticado pelo agente, embora o desvalor da conduta seja menor, pois
n‹o deriva de uma deliberada a•‹o contr‡ria ao direito.
O crime culposo Ž composto de:
¥! Uma conduta volunt‡ria Ð Dirigida a um fim l’cito, ou
quando il’cito, n‹o Ž destinada ˆ produ•‹o do resultado
ocorrido.
¥! A viola•‹o a um dever objetivo de cuidado Ð Que pode se
dar por neglig•ncia, imprud•ncia ou imper’cia.
¥! Um resultado natural’stico involunt‡rio Ð O resultado
produzido n‹o foi querido pelo agente (salvo na culpa
impr—pria).
¥! Nexo causal Ð Rela•‹o de causa e efeito entre a conduta do
agente e o resultado ocorrido no mundo f‡tico.
¥! Tipicidade Ð O fato deve estar previsto como crime. Em
regra, os crimes s— podem ser praticados na forma dolosa, s—
podendo ser punidos a t’tulo de culpa quando a lei
expressamente determinar. Essa Ž a regra do ¤ œnico do art.
18 do CP: Par‡grafo œnico - Salvo os casos expressos em lei,
ninguŽm pode ser punido por fato previsto como crime, sen‹o
quando o pratica dolosamente. (Inclu’do pela Lei n¼ 7.209, de
11.7.1984).
¥! Previsibilidade objetiva - O resultado ocorrido deve ser
previs’vel mediante um esfor•o intelectual razo‡vel. ƒ
chamada previsibilidade do homem mŽdio. Assim, se uma
pessoa comum, de intelig•ncia mediana, seria capaz de
prever aquele resultado, est‡ presente este requisito. Se o
resultado n‹o for previs’vel objetivamente, o fato Ž um
indiferente penal. Por exemplo: Se M‡rio, nas dunas de Natal,
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d‡ um chute em Jo‹o, a fim de causar-lhe les›es leves, e Jo‹o
vem a cair e bater com a cabe•a sobre um motor de Bugre
que estava enterrado sob a areia, vindo a falecer, M‡rio n‹o
responde por homic’dio culposo, pois seria inimagin‡vel a
qualquer pessoa prever que naquele local a v’tima poderia
bater com a cabe•a em algo daquele tipo e vir a falecer.

A culpa, por sua vez, pode ser de diversas modalidades:


¥! Culpa consciente e inconsciente Ð Na culpa consciente, o
agente prev• o resultado como poss’vel, mas acredita que
este n‹o ir‡ ocorrer. Na culpa inconsciente, o agente n‹o
prev• que o resultado possa ocorrer. A culpa consciente se
aproxima muito do dolo eventual, pois em ambos o
agente prev• o resultado e mesmo assim age.
b
Entretanto, a diferen•a Ž que, enquanto no dolo eventual
o agente assume o risco de produzi-lo, n‹o se
importando com a sua ocorr•ncia, na culpa consciente o
agente n‹o assume o risco de produzir o resultado, pois
acredita, sinceramente, que ele n‹o ocorrer‡.
¥! Culpa pr—pria e culpa impr—pria Ð A culpa pr—pria Ž
aquela na qual o agente NÌO QUER O RESULTADO
criminoso. ƒ a culpa propriamente dita. Pode ser consciente,
quando o agente prev• o resultado como poss’vel, ou
inconsciente, quando n‹o h‡ essa previs‹o. Na culpa
impr—pria, o agente quer o resultado, mas, por erro
inescus‡vel, acredita que o est‡ fazendo amparado por
uma causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade. ƒ
o caso do pai que, percebendo um barulho na madrugada, se
levanta e avista um vulto, determinando sua imediata parada.
Como o vulto continua, o pai dispara tr•s tiros de arma de
fogo contra a v’tima, acreditando estar agindo em leg’tima
defesa de sua fam’lia. No entanto, ao verificar a v’tima,
percebe que o vulto era seu filho de 16 anos que havia sa’do
escondido para assistir a um show de Rock no qual havia sido
proibido de ir. Nesse caso, embora o crime seja naturalmente
doloso (pois o agente quis o resultado), por quest›es de
pol’tica criminal o C—digo determina que lhe seja aplicada a
pena correspondente ˆ modalidade culposa. Nos termos do
art. 20, ¤ 1¡ do CP: ¤ 1¼ - ƒ isento de pena quem, por erro
plenamente justificado pelas circunst‰ncias, sup›e situa•‹o de fato
que, se existisse, tornaria a a•‹o leg’tima. N‹o h‡ isen•‹o de
pena quando o erro deriva de culpa e o fato Ž pun’vel como
crime culposo.(Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)

Cuidado! N‹o existe a chamada Òcompensa•‹o de culpasÓ no Direito


Penal brasileiro. EXEMPLO: Imaginem que Jœlio, dirigindo seu ve’culo,

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avan•a o sinal vermelho e colide com o ve’culo de Carlos, que vinha na
contram‹o. Ambos agiram com culpa e causaram-se les›es corporais.
Nesse caso, ambos respondem pelo crime de les›es corporais, um em
face do outro.

H‡ ainda a figura do crime preterdoloso (ou preterintencional). O


crime preterdoloso ocorre quando o agente, com vontade de praticar
determinado crime (dolo), acaba por praticar crime mais grave, n‹o com
dolo, mas por culpa. Um exemplo cl‡ssico Ž o crime de les‹o corporal
seguida de morte, previsto no art. 129, ¤ 3¡ do CP. Nesse crime o agente
provoca les›es corporais na v’tima, mediante conduta dolosa. No
entanto, em raz‹o de sua imprud•ncia na execu•‹o (excesso), acabou
por provocar a morte da v’tima, que era um resultado n‹o pretendido
(culpa). A Doutrina distingue, no entanto, o crime preterdoloso do
crime qualificado pelo resultado14. Para a Doutrina, o crime
qualificado pelo resultado Ž um g•nero, do qual o crime preterdoloso Ž
espŽcie. Um crime qualificado pelo resultado Ž aquele no qual,
ocorrendo determinado resultado, teremos a aplica•‹o de uma
circunst‰ncia qualificadora. Aqui Ž irrelevante se o resultado que
qualifica o crime Ž doloso ou culposo. No delito preterdoloso, o
resultado que qualifica o crime Ž, necessariamente, culposo. Ou
seja, h‡ dolo na conduta inicial e culpa em rela•‹o ao resultado
que efetivamente ocorre.
EXEMPLO: Mariana agride Luciana com a inten•‹o apenas de lesion‡-la
(dolo de praticar o crime de les‹o corporal). Contudo, em raz‹o da for•a
empregada por Mariana, Luciana cai e bate com a cabe•a no ch‹o, vindo
a falecer. Mariana fica chocada, pois de maneira alguma pretendia a
morte de Luciana. Nesse caso, Mariana praticou o crime de les‹o corporal
seguida de morte, que Ž um crime preterdoloso (dolo na conduta inicial,
mas resultado obtido a t’tulo de culpa Ð sem inten•‹o).

(FGV Ð 2013 Ð OAB Ð XII EXAME DE ORDEM)


Wilson, competente professor de uma autoescola, guia seu carro
por uma avenida ˆ beira-mar. No banco do carona est‡ sua noiva,
Ivana. No meio do percurso, Wilson e Ivana come•am a discutir: a
mo•a reclama da alta velocidade empreendida. Assustada, Ivana
grita com Wilson, dizendo que, se ele continuasse naquela
velocidade, poderia facilmente perder o controle do carro e

14
GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 337

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atropelar alguŽm. Wilson, por sua vez, responde que Ivana
deveria deixar de ser medrosa e que nada aconteceria, pois se sua
profiss‹o era ensinar os outros a dirigir, ninguŽm poderia ser mais
competente do que ele na condu•‹o de um ve’culo. Todavia, ao
fazer uma curva, o autom—vel derrapa na areia trazida para o
asfalto por conta dos ventos do litoral, o carro fica desgovernado
e acaba ocorrendo o atropelamento de uma pessoa que passava
pelo local. A v’tima do atropelamento falece instantaneamente.
Wilson e Ivana sofrem pequenas escoria•›es. Cumpre destacar
que a per’cia feita no local constatou excesso de velocidade.
Nesse sentido, com base no caso narrado, Ž correto afirmar que,
em rela•‹o ˆ v’tima do atropelamento, Wilson agiu com
A) dolo direto.
B) dolo eventual.
C) culpa consciente.
D) culpa inconsciente.
COMENTçRIOS: Nesta quest‹o temos um cl‡ssico exemplo de culpa
consciente. O agente agiu com inobserv‰ncia de um dever de cuidado,
por meio de uma conduta imprudente. O agente sabia dos riscos de sua
conduta, mas acreditava que evitaria o resultado, em raz‹o de suas
habilidades. Tem-se, assim, culpa consciente.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA C.

1.3.! Crime consumado, tentado e imposs’vel

1.3.1.! Tentativa
Todos os elementos citados como sendo partes integrantes do fato
t’pico (conduta, resultado natural’stico, nexo de causalidade e tipicidade)
s‹o, no entanto, elementos do crime material consumado, que Ž
aquele no qual se exige resultado natural’stico e no qual este resultado
efetivamente ocorre.
Nos termos do art. 14 do CP:
Art. 14 - Diz-se o crime: (Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)
I - consumado, quando nele se reœnem todos os elementos de sua
defini•‹o legal; (Inclu’do pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)
II - tentado, quando, iniciada a execu•‹o, n‹o se consuma por
circunst‰ncias alheias ˆ vontade do agente. (Inclu’do pela Lei n¼ 7.209,
de 11.7.1984)

Assim, nos crimes tentados, por n‹o haver sua consuma•‹o


(ocorr•ncia de resultado natural’stico), n‹o estar‹o presentes, em regra,
os elementos ÒresultadoÓ e Ònexo de causalidadeÓ.

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Disse Òem regraÓ, porque pode acontecer que um crime tentado
produza resultados, que ser‹o analisados de acordo com a conduta do
agente e sua aptid‹o para produzi-los.
EXEMPLO: Imaginem que Marcelo, visando ˆ morte de Rodrigo, dispare
cinco tiros de pistola contra ele. Rodrigo Ž baleado, fica paraplŽgico, mas
sobrevive.
Nesse caso, como o objetivo n‹o era causar les‹o corporal, mas sim
matar, o crime n‹o foi consumado, pois a morte n‹o ocorreu. Entretanto,
n‹o se pode negar que houve resultado natural’stico e nexo causal,
embora este resultado n‹o tenha sido o pretendido pelo agente quando
da pr‡tica da conduta criminosa.

O crime consumado n—s j‡ estudamos, cabe agora analisar as


hip—teses de crime na modalidade tentada.
Como disse a voc•s, pode ocorrer de uma conduta ser
enquadrada em determinado tipo penal sem que sua pr‡tica
corresponda exatamente ao que prev• o tipo. No caso acima,
Marcelo responder‡ pelo tipo penal de homic’dio (art. 121 do CP), na
modalidade tentada (art. 14, II do CP). Mas se voc•s analisarem, o art.
121 do CP diz Òmatar alguŽmÓ. Marcelo n‹o matou ninguŽm. Assim,
como enquadr‡-lo na conduta prevista pelo art. 121? Isso Ž o que
chamamos de adequa•‹o t’pica mediata, conforme j‡ estudamos.
Na adequa•‹o t’pica mediata o agente n‹o pratica exatamente a
conduta descrita no tipo penal, mas em raz‹o de uma outra norma
que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo penal,
ele deve responder pelo crime. Assim, no caso em tela, Marcelo s—
responde pelo crime em raz‹o da exist•ncia de uma norma que aumenta
o alcance objetivo (relativo ˆ conduta) do tipo penal para abarcar tambŽm
as hip—teses de tentativa (art. 14, II do CP). Tudo bem, galera? Vamos
em frente!
O inciso II do art. 14 fala em Òcircunst‰ncias alheias ˆ vontade
do agenteÓ. Isso significa que o agente inicia a execu•‹o do crime, mas
em raz‹o de fatores externos, o resultado n‹o ocorre. No caso concreto
que citei, o fator externo, alheio ˆ vontade de Marcelo, foi provavelmente
sua falta de precis‹o no uso da arma de fogo e o socorro eficiente
recebido por Rodrigo, que impediu sua morte.
O ¤ œnico do art. 14 do CP diz:
Art. 14 (...)
Par‡grafo œnico - Salvo disposi•‹o em contr‡rio, pune-se a tentativa com a
pena correspondente ao crime consumado, diminu’da de um a dois ter•os.
(Inclu’do pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)

Desta forma, o crime cometido na modalidade tentada n‹o Ž punido


da mesma maneira que o crime consumado, pois embora o desvalor da

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conduta (sua reprovabilidade social) seja o mesmo do crime consumado,
o desvalor do resultado (suas consequ•ncias na sociedade) Ž menor,
indiscutivelmente. Assim, diz-se que o CP adotou a teoria dual’stica,
realista ou objetiva da punibilidade da tentativa.15
Mas qual o critŽrio para aplica•‹o da quantidade de
diminui•‹o (1/3 ou 2/3)? Nesse caso, o Juiz deve analisar a
proximidade de alcance do resultado. Quanto mais pr—xima do
resultado chegar a conduta, menor ser‡ a diminui•‹o da pena, e
vice-versa. No exemplo acima, como Marcelo quase matou Rodrigo,
chegando a deix‡-lo paraplŽgico, a diminui•‹o ser‡ a menor poss’vel
(1/3), pois o resultado esteve perto de se consumar. Entretanto, se
Marcelo tivesse errado todos os disparos, o resultado teria passado longe
da consuma•‹o, devendo o Juiz aplicar a redu•‹o m‡xima.
A tentativa pode ser: ==dc29b==

¥! Branca ou incruenta Ð quando o agente sequer atinge o objeto


que pretendia lesar;
¥! Vermelha ou cruenta Ð quando o agente atinge o objeto, mas
n‹o obtŽm o resultado natural’stico esperado, em raz‹o de
circunst‰ncias alheias ˆ sua vontade;
¥! Tentativa perfeita Ð O agente esgota completamente os meios de
que dispunha para lesar o objeto material;
¥! Tentativa imperfeita Ð O agente, antes de esgotar toda a sua
potencialidade lesiva, Ž impedido por circunst‰ncias alheias. Exemplo:
Marcelo possui um rev—lver com 06 projŽteis. Dispara os 03 primeiros
contra Rodrigo, mas antes de disparar o quarto Ž surpreendido pela
chegada da Pol’cia Militar.

ƒ poss’vel a mescla de espŽcies de tentativa entre as duas primeiras


com as duas œltimas (cruenta e imperfeita, incruenta e imperfeita, etc.),
mas nunca entre elas mesmas (cruenta e incruenta e perfeita e
imperfeita), por quest›es l—gicas.


15
Em contraposi•‹o ˆ Teoria objetiva h‡ a Teoria subjetiva, que sustenta que a punibilidade da
tentativa deveria estar atrelada ao fato de que o desvalor da conduta Ž o mesmo do crime
consumado (Ž t‹o reprov‡vel a conduta de ÒmatarÓ quanto a de Òtentar matarÓ). Para esta Teoria,
a tentativa deveria ser punida da mesma forma que o crime consumado (BITENCOURT, Op. cit., p.
536/537). Na verdade, adotou-se no Brasil uma espŽcie de Teoria objetiva ÒtemperadaÓ ou
mitigada. Isto porque a regra do art. 14, II admite exce•›es, ou seja, existem casos na legisla•‹o
p‡tria em que se pune a tentativa com a mesma pena do crime consumado.

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Em regra, todos os crimes admitem tentativa. Entretanto, n‹o admitem


tentativa:
¥! Crimes culposos Ð Nestes crimes o resultado natural’stico n‹o Ž
querido pelo agente, logo, a vontade dele n‹o Ž dirigida a um fim
il’cito e, portanto, n‹o ocorrendo este, n‹o h‡ que se falar em
interrup•‹o involunt‡ria da execu•‹o do crime;
¥! Crimes preterdolosos Ð Como nestes crimes existe dolo na
conduta precedente e culpa na conduta seguinte, a conduta
seguinte Ž culposa, n‹o se admitindo, portanto, tentativa;
¥! Crimes unissubsistentes Ð S‹o aqueles que se produzem
mediante um œnico ato, n‹o cabendo fracionamento de sua
execu•‹o. Assim, ou o crime Ž consumado ou sequer foi iniciada
sua execu•‹o. EXEMPLO: Injœria. Ou o agente profere a injœria e o
crime est‡ consumado ou ele sequer chega a proferi-la, n‹o
chegando o crime a ser iniciado;
¥! Crimes omissivos pr—prios Ð Seguem a mesma regra dos crimes
unissubsistentes, pois ou o agente se omite, e pratica o crime na
modalidade consumada ou n‹o se omite, hip—tese na qual n‹o
comete crime;
¥! Crimes de perigo abstrato Ð Como aqui tambŽm h‡ crime
unissubsistente (n‹o h‡ fracionamento da execu•‹o do crime), n‹o
se admite tentativa;
¥! Contraven•›es penais Ð N‹o se admite tentativa, nos termos do
art. 4¡ do Decreto-Lei n¡ 3.688/41 (Lei das Contraven•›es penais);
¥! Crimes de atentado (ou de empreendimento) Ð S‹o crimes
que se consideram consumados com a obten•‹o do resultado ou
ainda com a tentativa deste. Por exemplo: O art. 352 tipifica o
crime de Òevas‹oÓ, dizendo: Òevadir-se ou tentar evadir-seÓ...
Desta maneira, ainda que n‹o consiga o preso se evadir, o simples
fato de ter tentado isto j‡ consuma o crime;
¥! Crimes habituais Ð Nestes crimes, o agente deve praticar
diversos atos, habitualmente, a fim de que o crime se consume.
Entretanto, o problema Ž que cada ato isolado Ž um indiferente
penal. Assim, ou o agente praticou poucos atos isolados, n‹o
cometendo crime, ou praticou os atos de forma habitual,
cometendo crime consumado. Exemplo: Crime de curandeirismo,
no qual ou o agente pratica atos isolados, n‹o praticando crime, ou
o faz com habitualidade, praticando crime consumado, nos termos
do art. 284, I do CP.

1.3.2.! Crime imposs’vel


Nos termos do C—digo Penal:

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Art. 17 - N‹o se pune a tentativa quando, por inefic‡cia absoluta do meio ou
por absoluta impropriedade do objeto, Ž imposs’vel consumar-se o
crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Como podemos perceber, o crime imposs’vel guarda


semelhan•as com a tentativa, entretanto, com ela n‹o se
confunde.
Na tentativa, propriamente dita, o agente inicia a execu•‹o do
crime, mas por circunst‰ncias alheias ˆ sua vontade o resultado n‹o se
consuma (art. 14, II do CPC).
No crime imposs’vel, diferentemente do que ocorre na tentativa,
embora o agente inicie a execu•‹o do delito, JAMAIS o crime se
consumaria, em hip—tese nenhuma, ou pelo fato de que o meio
utilizado Ž completamente ineficaz ou porque o objeto material do crime Ž
impr—prio para aquele crime. Vou dar dois exemplos:
EXEMPLO: Imaginem que Marcelo pretenda matar sua sogra Maria.
Marcelo chega, ˆ surdina, de noite, e percebendo que Maria dorme no
sof‡, desfere contra ela 10 facadas no peito. No entanto, no laudo
pericial se descobre que Maria j‡ estava morta, em raz‹o de um mal
sœbito que sofrera horas antes.
Nesse caso, o crime Ž imposs’vel, pois o objeto material (a sogra,
Maria) n‹o era uma pessoa, mas um cad‡ver. Logo, n‹o h‡ como se
praticar o crime de homic’dio em face de um cad‡ver.
No mesmo exemplo, imagine que Marcelo pretenda matar sua
sogra a tiros e, surpreenda-a na servid‹o que d‡ acesso ˆ casa.
Entretanto, quando Marcelo aperta o gatilho, percebe que, na verdade,
foi enganado pelo vendedor, que o vendeu uma arma de brinquedo.
Nesse œltimo caso o crime Ž imposs’vel, pois o meio utilizado por
Marcelo Ž completamente ineficaz para causar a morte da v’tima.
Em ambos os casos temos hip—tese de crime imposs’vel.

Na verdade, o crime imposs’vel Ž uma espŽcie de tentativa,


com a circunst‰ncia de que jamais poder‡ se tornar consuma•‹o,
face ˆ impropriedade do objeto ou do meio utilizado. Por isso, n‹o
se pode punir a tentativa nestes casos, eis que n‹o houve les‹o ou sequer
exposi•‹o ˆ les‹o do bem jur’dico tutelado, n‹o bastando para a puni•‹o
do agente o mero desvalor da conduta, devendo haver um m’nimo de
desvalor do resultado.
Cuidado! A inefic‡cia do meio ou a impropriedade do objeto
devem ser ABSOLUTAS, ou seja, em nenhuma hip—tese, considerando
aquelas circunst‰ncias, o crime poderia se consumar. Assim, se M‡rcio
atira em JosŽ, com inten•‹o de mat‡-lo, mas o crime n‹o se consuma
porque JosŽ usava um colete ˆ prova de balas, n‹o h‡ crime imposs’vel,
pois o crime poderia se consumar.

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O STJ j‡ decidiu (sœmula 567 do STJ) que a presen•a


de c‰meras e dispositivos eletr™nicos de seguran•a em
estabelecimentos comerciais n‹o afasta a possibilidade de
consuma•‹o do crime de furto. Logo, n‹o h‡ crime imposs’vel neste
caso.

Como o CP previu a impossibilidade de puni•‹o da tentativa


inid™nea (crime imposs’vel), diz-se que o CP adotou a teoria OBJETIVA
DA PUNIBILIDADE DO CRIME IMPOSSêVEL.16

1.3.3.! Desist•ncia volunt‡ria e arrependimento eficaz


Embora a Doutrina tenha se dividido quanto ˆ defini•‹o da natureza
jur’dica destes institutos, a Doutrina majorit‡ria entende se tratar de
causas de exclus‹o da tipicidade, pois n‹o tendo ocorrido o resultado,
e tambŽm n‹o se tratando de hip—tese tentada, n‹o h‡ como se punir o
crime nem a t’tulo de consuma•‹o nem a t’tulo de tentativa.
Na desist•ncia volunt‡ria o agente, por ato volunt‡rio, desiste de
dar sequ•ncia aos atos execut—rios, mesmo podendo faz•-lo. Conforme a
cl‡ssica FîRMULA DE FRANK:
Na tentativa Ð O agente quer, mas n‹o pode prosseguir.
Na desist•ncia volunt‡ria Ð O agente pode, mas n‹o quer
prosseguir.
Para que fique caracterizada a desist•ncia volunt‡ria, Ž necess‡rio
que o resultado n‹o se consume em raz‹o da desist•ncia do
agente.
EXEMPLO: Se Poliana dispara um tiro de pistola em Jason e, podendo
disparar mais cinco, n‹o o faz, mas este mesmo assim vem a falecer,
Poliana responde por homic’dio consumado. Se, no entanto, Jason n‹o
vem a —bito, Poliana n‹o responde por homic’dio tentado (n‹o h‡
tentativa, lembram-se?), mas por les›es corporais.

No arrependimento eficaz Ž diferente. Aqui o agente j‡


praticou todos os atos execut—rios que queria e podia, mas ap—s
isto, se arrepende do ato e adota medidas que acabam por impedir
a consuma•‹o do resultado.
Imagine que no exemplo anterior, Poliana tivesse disparado todos
os tiros da pistola em Jason. Depois disso, Poliana se arrepende do que


16
BITENCOURT, Op. cit., p. 542/543.

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fez e providencia o socorro de Jason, que sobrevive em raz‹o do socorro
prestado. Neste caso, ter’amos arrependimento eficaz.
Ambos os institutos est‹o previstos no art. 15 do CP:
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na
execu•‹o ou impede que o resultado se produza, s— responde pelos atos
j‡ praticados.(Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)

Para que estes institutos ocorram, Ž necess‡rio que a conduta


(desist•ncia volunt‡ria e arrependimento eficaz) impe•a a consuma•‹o do
resultado. Se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente
responde pelo crime, incidindo, no entanto, uma atenuante de pena
genŽrica, prevista no art. 65, III, b do CP.
A Doutrina entende que tambŽm Hç DESISTæNCIA VOLUNTçRIA
quando o agente deixa de prosseguir na execu•‹o para faz•-la mais
tarde, por qualquer motivo, por exemplo, para n‹o levantar suspeitas.
Nesse caso, mesmo n‹o sendo nobre o motivo da desist•ncia, a Doutrina
entende que h‡ desist•ncia volunt‡ria.
Se o crime for cometido em concurso de pessoas e somente um
deles realiza a conduta de desist•ncia volunt‡ria ou arrependimento
eficaz, esta circunst‰ncia se comunica aos demais, pois como se
trata de hip—tese de exclus‹o da tipicidade, o crime n‹o foi cometido,
respondendo todos apenas pelos atos praticados atŽ ent‹o.

1.3.4.! Arrependimento posterior


O arrependimento posterior, por sua vez, n‹o exclui o crime,
pois este j‡ se consumou, mas Ž causa obrigat—ria de diminui•‹o
de pena. Ocorre quando, nos crimes em que n‹o h‡ viol•ncia ou grave
amea•a ˆ pessoa, o agente, atŽ o recebimento da denœncia ou queixa,
repara o dano provocado ou restitui a coisa. Nos termos do art. 16 do CP:
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem viol•ncia ou grave amea•a ˆ pessoa,
reparado o dano ou restitu’da a coisa, atŽ o recebimento da denœncia ou da
queixa, por ato volunt‡rio do agente, a pena ser‡ reduzida de um a dois
ter•os. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

EXEMPLO: Imagine o crime de dano (art. 163 do CP), no qual o agente


quebra a vidra•a de uma padaria, revoltado com o esgotamento do p‹o
franc•s naquela tarde. Nesse caso, se antes do recebimento da queixa o
agente ressarcir o preju’zo causado, ele responder‡ pelo crime, mas a
pena aplicada dever‡ ser diminu’da de um a dois ter•os.

Vejam que n‹o se aplica o instituto se o crime Ž cometido


com viol•ncia ou grave amea•a ˆ pessoa.

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A Doutrina entende que se a viol•ncia for culposa, pode ser aplicado
o instituto. Assim, se o agente comete les‹o corporal culposa (viol•ncia
culposa), e antes do recebimento da queixa paga todas as despesas
mŽdicas da v’tima, presta todo o aux’lio necess‡rio, deve ser aplicada a
causa de diminui•‹o de pena.
No caso de viol•ncia impr—pria, a Doutrina se divide. A
viol•ncia impr—pria Ž aquela na qual n‹o h‡ viol•ncia propriamente dita,
mas o agente reduz a v’tima ˆ impossibilidade de defesa (ex. Amorda•a e
amarra o caixa da loja no crime de roubo). Parte da Doutrina entende que
o benef’cio pode ser aplicado, parte entende que n‹o pode.
O arrependimento posterior tambŽm se comunica aos demais
agentes (coautores).
A Doutrina entende, ainda, que se a v’tima se recusar a receber
a coisa ou a repara•‹o do dano, mesmo assim o agente dever‡
receber a causa de diminui•‹o de pena.
O quantum da diminui•‹o da pena (um ter•o a dois ter•os) ir‡
variar conforme a celeridade com que ocorreu o arrependimento e a
voluntariedade deste ato.
Vamos sintetizar isso tudo? O quadro abaixo pode ajudar voc•s
na compreens‹o dos institutos da tentativa, da desist•ncia volunt‡ria, do
arrependimento eficaz e do arrependimento posterior:

QUADRO ESQUEMçTICO
INSTITUTO RESUMO CONSEQUæNCIAS

TENTATIVA Agente pratica a conduta Responde pelo


delituosa, mas por crime, com
circunst‰ncias alheias ˆ redu•‹o de pena
sua vontade, o resultado de 1/3 a 2/3.
n‹o ocorre.

DESISTæNCIA O agente INICIA a pr‡tica da Responde apenas


VOLUNTçRIA conduta delituosa, mas se pelos atos j‡
arrepende, e CESSA a praticados.
atividade criminosa (mesmo Desconsidera-se o
podendo continuar) e o Òdolo inicialÓ, e o
resultado n‹o ocorre. agente Ž punido
apenas pelos danos
que efetivamente
causou.
ARREPENDIMENTO O agente INICIA a pr‡tica da Responde apenas
conduta delituosa E pelos atos j‡

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EFICAZ COMPLETA A EXECU‚ÌO DA praticados.
CONDUTA, mas se arrepende Desconsidera-se o
do que fez e toma as Òdolo inicialÓ, e o
provid•ncias para que o agente Ž punido
resultado inicialmente apenas pelos danos
pretendido n‹o ocorra. O que efetivamente
resultado NÌO ocorre. causou.
ARREPENDIMENTO O agente completa a O agente tem a
POSTERIOR execu•‹o da atividade pena reduzida de
criminosa e o resultado 1/3 a 2/3.
efetivamente ocorre.
PorŽm, ap—s a ocorr•ncia do
resultado, o agente se
arrepende E REPARA O DANO
ou RESTITUI A COISA.
1.! S— pode ocorrer nos
crimes cometidos sem
viol•ncia ou grave
amea•a ˆ pessoa
2.! S— tem validade se
ocorre antes do
recebimento da
denœncia ou queixa.

(FGV Ð 2017 Ð OAB Ð XXII EXAME DE ORDEM)


Acreditando estar gr‡vida, P‰mela, 18 anos, desesperada porque
ainda morava com os pais e eles sequer a deixavam namorar,
utilizando um instrumento pr—prio, procura eliminar o feto
sozinha no banheiro de sua casa, vindo a sofrer, em raz‹o de tal
comportamento, les‹o corporal de natureza grave.
Encaminhada ao hospital para atendimento mŽdico, fica
constatado que, na verdade, ela n‹o se achava e nunca esteve
gr‡vida. O Hospital, todavia, Ž obrigado a noticiar o fato ˆ
autoridade policial, tendo em vista que a jovem de 18 anos chegou
ao local em situa•‹o suspeita, lesionada.
Diante disso, foi instaurado procedimento administrativo
investigat—rio pr—prio e, com o recebimento dos autos, o
MinistŽrio Pœblico ofereceu denœncia em face de P‰mela pela
pr‡tica do crime de Òaborto provocado pela gestanteÓ, qualificado
pelo resultado de les‹o corporal grave, nos termos dos Art. 124
c/c o Art. 127, ambos do C—digo Penal.

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Diante da situa•‹o narrada, assinale a op•‹o que apresenta a
alega•‹o do advogado de P‰mela.
A) A atipicidade de sua conduta.
B) O afastamento da qualificadora, tendo em vista que esta
somente pode ser aplicada aos crimes de aborto provocado por
terceiro, com ou sem consentimento da gestante, mas n‹o para o
delito de autoaborto de P‰mela.
C) A desclassificaç‹o para o crime de les‹o corporal grave,
afastando a condena•‹o pelo aborto.
D) O reconhecimento da tentativa do crime de aborto qualificado
pelo resultado.
COMENTçRIOS: A conduta, aqui, Ž at’pica, em raz‹o da ABSOLUTA
IMPROPRIEDADE DO OBJETO, nos termos do art. 17 do CP, pois temos a
figura do crime imposs’vel. Isso se d‡ porque, nessas circunst‰ncias,
P‰mela JAMAIS conseguiria alcan•ar o resultado pretendido (aborto), pois
nunca esteve gr‡vida, e o primeiro pressuposto para o praticar
autoaborto Ž estar gr‡vida.
P‰mela n‹o ir‡ responder, ainda, pela les‹o corporal, eis que a les‹o foi
provocada pela pr—pria v’tima, e o direito penal n‹o pune a autoles‹o.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA A.

(FGV - 2016 - OAB - XIX EXAME DE ORDEM)


Durante uma discuss‹o, Theodoro, inimigo declarado de Valentim,
seu cunhado, golpeou a barriga de seu rival com uma faca, com
intenç‹o de mat‡-lo. Ocorre que, ap—s o primeiro golpe, pensando
em seus sobrinhos, Theodoro percebeu a incorreç‹o de seus atos
e optou por n‹o mais continuar golpeando Valentim, apesar de
saber que aquela œnica facada n‹o seria suficiente para mat‡-lo.
Neste caso, Theodoro
A) n‹o responder‡ por crime algum, diante de seu
arrependimento.
B) responder‡ pelo crime de les‹o corporal, em virtude de sua
desistência volunt‡ria.
C) responder‡ pelo crime de les‹o corporal, em virtude de seu
arrependimento eficaz.
D) responder‡ por tentativa de homic’dio.
COMENTçRIOS: Neste caso ocorreu o que se chama de Òdesist•ncia
volunt‡riaÓ, pois o agente, mesmo podendo prosseguir na execu•‹o do
delito, voluntariamente desiste de dar continuidade. Neste caso, nos
termos do art. 15 do CP, o agente responde apenas pelos atos atŽ ent‹o
praticados, ou seja, pelos resultados atŽ ent‹o efetivamente obtidos, que

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s‹o as les›es corporais provocadas na v’tima, desprezando-se o dolo
inicial (que era de matar).
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA B.

(FGV - 2012 - OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO - VII -


PRIMEIRA FASE)
Filolau, querendo estuprar Filomena, deu in’cio ˆ execu•‹o do
crime de estupro, empregando grave amea•a ˆ v’tima. Ocorre que
ao se preparar para o coito vag’nico, que era sua œnica
inten•‹o, n‹o conseguiu manter seu p•nis ereto em virtude de
falha fisiol—gica alheia ˆ sua vontade. Por conta disso, desistiu de
prosseguir na execu•‹o do crime e abandonou o local. Nesse
caso, Ž correto afirmar que
a) trata-se de caso de desist•ncia volunt‡ria, raz‹o pela qual
Filolau n‹o responder‡ pelo crime de estupro.
b) trata-se de arrependimento eficaz, fazendo com que Filolau
responda t‹o somente pelos atos praticados.
c) a conduta de Filolau Ž at’pica.
d) Filolau deve responder por tentativa de estupro.
COMENTçRIOS: No caso em tela, o agente deixou de prosseguir na
execu•‹o em raz‹o de circunst‰ncias alheias ˆ sua vontade, e n‹o por ter
Òse arrependidoÓ de ter iniciado a conduta.
Assim, teremos crime em sua forma TENTADA (e n‹o desist•ncia
volunt‡ria).
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA E.

(FGV Ð 2015 Ð OAB Ð XVII EXAME DA OAB)


Cristiane, revoltada com a trai•‹o de seu marido, Pedro, decide
mat‡-lo. Para tanto, resolve esperar que ele adorme•a para,
durante a madrugada, acabar com sua vida. Por volta das 22h,
Pedro deita para ver futebol na sala da resid•ncia do casal.
Quando chega ˆ sala, Cristiane percebe que Pedro estava deitado
sem se mexer no sof‡. Acreditando estar dormindo, desfere 10
facadas em seu peito. Nervosa e arrependida, liga para o hospital
e, com a chegada dos mŽdicos, Ž informada que o marido faleceu.
O laudo de exame cadavŽrico, porŽm, constatou que Pedro havia
falecido momentos antes das facadas em raz‹o de um infarto
fulminante. Cristiane, ent‹o, foi denunciada por tentativa de
homic’dio.
Voc•, advogado (a) de Cristiane, dever‡ alegar em seu favor a
ocorr•ncia de
A) crime imposs’vel por absoluta impropriedade do objeto.
B) desist•ncia volunt‡ria.

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C) arrependimento eficaz.
D) crime imposs’vel por inefic‡cia do meio.
COMENTçRIOS: No caso em tela tem-se o que se chama de crime
imposs’vel, pela absoluta impropriedade do objeto, j‡ que um cad‡ver
n‹o pode ser v’tima de homic’dio. A conduta de Cristiane, portanto, n‹o Ž
pun’vel, pois o CP brasileiro adotou a teoria objetiva da punibilidade do
crime imposs’vel, prevendo a aus•ncia de puni•‹o, j‡ que o resultado Ž
imposs’vel, nos termos do art. 17 do CP.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA A.

(FGV Ð 2011 Ð OAB Ð III EXAME DE ORDEM)


Marcus, visando roubar Maria, a agride, causando-lhe les›es
corporais de natureza leve. Antes, contudo, de subtrair qualquer
pertence, Marcus decide abandonar a empreitada criminosa,
pedindo desculpas ˆ v’tima e se evadindo do local. Maria, ent‹o,
comparece ˆ delegacia mais pr—xima e narra os fatos ˆ autoridade
policial.
No caso acima, o delegado de pol’cia
(A) dever‡ instaurar inquŽrito policial para apurar o crime de
roubo tentado, uma vez que o resultado pretendido por Marcus
n‹o se concretizou.
(B) nada poder‡ fazer, uma vez que houve a desist•ncia
volunt‡ria por parte de Marcus.
(C) dever‡ lavrar termo circunstanciado pelo crime de les›es
corporais de natureza leve.
(D) nada poder‡ fazer, uma vez que houve arrependimento
posterior por parte de Marcus.
COMENTçRIOS: De fato, houve desist•ncia volunt‡ria, pois Marcus
espontaneamente desistiu de prosseguir na execu•‹o, nos termos do art.
15 do CP.
Contudo, Marcus ir‡ responder pelos atos j‡ praticados. Os atos j‡
praticados, conforme consta no enunciado, s‹o les›es corporais leves.
Assim, o delegado dever‡ lavrar termo circunstanciado (trata-se de crime
de menor potencial ofensivo, de compet•ncia dos Juizados) pelo crime de
les›es corporais leves.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA C.

(FGV - 2015 - OAB - XVIII EXAME DE ORDEM)


M‡rio subtraiu uma TV do seu local de trabalho. Ao chegar em
casa com a coisa subtra’da, Ž convencido pela esposa a devolvê-
la, o que efetivamente vem a fazer no dia seguinte, quando o fato
j‡ havia sido registrado na delegacia.

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O comportamento de M‡rio, de acordo com a teoria do delito,
configura
A) desistência volunt‡ria, n‹o podendo responder por furto.
B) arrependimento eficaz, n‹o podendo responder por furto.
C) arrependimento posterior, com reflexo exclusivamente no
processo dosimŽtrico da pena.
D) furto, sendo totalmente irrelevante a devoluç‹o do bem a partir
de convencimento da esposa.
COMENTçRIOS: Neste caso, n‹o podemos falar em desist•ncia
volunt‡ria ou arrependimento eficaz, eis que o crime j‡ se consumou (art.
15 do CP).
Contudo, por se tratar de crimes cometido sem viol•ncia ou grave amea•a
ˆ pessoa, a restitui•‹o volunt‡ria da coisa antes do recebimento da
denœncia importa em arrependimento posterior, que Ž causa de
diminui•‹o da pena, de um a dois ter•os, nos termos do art. 16 do CP.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA C.

1.4.! Ilicitude
J‡ vimos que a conduta deve ser considerada um fato t’pico para que
o primeiro elemento do crime esteja presente. Entretanto, isso n‹o basta.
Uma conduta enquadrada como fato t’pico pode n‹o ser il’cita perante o
direito. Assim, a antijuridicidade (ou ilicitude) Ž a condi•‹o de
contrariedade da conduta perante o Direito.
Estando presente o primeiro elemento (fato t’pico), presume-
se presente a ilicitude, devendo o acusado comprovar a exist•ncia
de uma causa de exclus‹o da ilicitude. Percebam, assim, que uma
das fun•›es do fato t’pico Ž gerar uma presun•‹o de ilicitude da conduta,
que pode ser desconstitu’da diante da presen•a de uma das causas de
exclus‹o da ilicitude.
As causas de exclus‹o da ilicitude podem ser:
¥! GenŽricas Ð S‹o aquelas que se aplicam a todo e qualquer crime.
Est‹o previstas na parte geral do C—digo Penal, em seu art. 23;
¥! Espec’ficas Ð S‹o aquelas que s‹o pr—prias de determinados crimes,
n‹o se aplicando a outros. Por exemplo: Furto de coisas comum,
previsto no art. 156, ¤2¡. Nesse caso, o fato de a coisa furtada ser
comum retira a ilicitude da conduta. PorŽm, s— nesse crime!

As causas genŽricas de exclus‹o da ilicitude s‹o: a) estado de


necessidade; b) leg’tima defesa; c) exerc’cio regular de um direito; d)
estrito cumprimento do dever legal. Entretanto, a Doutrina majorit‡ria e a
Jurisprud•ncia entendem que existem causas supralegais de exclus‹o da
ilicitude (n‹o previstas na lei, mas que decorrem da l—gica, como o
consentimento do ofendido nos crimes contra bens dispon’veis).

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1.4.1.! Estado de necessidade


Est‡ previsto no art. 24 do C—digo Penal:
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para
salvar de perigo atual, que n‹o provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito pr—prio ou alheio, cujo sacrif’cio, nas
circunst‰ncias, n‹o era razo‡vel exigir-se.
!
O Brasil adotou a teoria unit‡ria de estado de necessidade, que
estabelece que o bem jur’dico protegido deve ser de valor igual ou
superior ao sacrificado.
EXEMPLO: Marcos e Jo‹o est‹o num avi‹o que est‡ caindo. S— h‡ uma
mochila com paraquedas. Marcos agride Jo‹o atŽ causar-lhe a morte, a
fim de que o paraquedas seja seu e ele possa se salvar. Nesse caso, o
bem jur’dico que Marcos buscou preservar (vida) Ž de igual valor ao bem
sacrificado (Vida de Jo‹o). Assim, Marcos n‹o cometeu crime, pois agiu
coberto por uma excludente de ilicitude, que Ž o estado de necessidade.

No caso de o bem sacrificado ser de valor maior que o bem


protegido, o agente responde pelo crime, mas tem sua pena
diminu’da.17 Nos termos do art. 24, ¤ 2¡ do CP:
Art. 24 (...)
¤ 2¼ - Embora seja razo‡vel exigir-se o sacrif’cio do direito amea•ado, a pena
poder‡ ser reduzida de um a dois ter•os.
!
Assim, se era razo‡vel entender que o agente deveria sacrificar o
bem que na verdade escolheu proteger, ele responde pelo crime, mas em
raz‹o das circunst‰ncias ter‡ sua pena diminu’da de um a dois ter•os,
conforme o caso.
Os requisitos para a configura•‹o do estado de necessidade s‹o
basicamente dois: a) a exist•ncia de uma situa•‹o de perigo a um bem
jur’dico pr—prio ou de terceiro; b) o fato necessitado (conduta do agente
na qual ele sacrifica o bem alheio para salvar o pr—prio ou do terceiro).
Entretanto, a situa•‹o de perigo deve:
¥! N‹o ter sido criada voluntariamente pelo agente (ou seja,
se foi ele mesmo quem deu causa, n‹o poder‡ sacrificar o
direito de um terceiro a pretexto de salvar o seu). EXEMPLO:
O agente provoca ao naufr‡gio de um navio e, para se salvar,
mata um terceiro, a fim de ficar com o œltimo colete dispon’vel.
Nesse caso, embora os bens sejam de igual valor, a situa•‹o

17
Trata-se do chamado ESTADO DE NECESSIDADE EXCULPANTE. BITENCOURT, Op. cit., p.
411/413

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de perigo foi criada pelo pr—prio agente, logo, ele n‹o estar‡
agindo em estado de necessidade.18
¥! Perigo atual Ð O perigo deve estar ocorrendo. A lei n‹o
permite o estado de necessidade diante de um perigo futuro,
ainda que iminente;
¥! A situa•‹o de perigo deve estar expondo ˆ les‹o um bem
jur’dico do pr—prio agente ou de um terceiro.
¥! O agente n‹o pode ter o dever jur’dico de impedir o
resultado.

Quanto ˆ conduta do agente, ela deve ser:


¥! Inevit‡vel Ð O bem jur’dico protegido s— seria salvo daquela
maneira. N‹o havia outra forma de salvar o bem jur’dico.
¥! Proporcional Ð O agente deve sacrificar apenas bens jur’dicos
de menor ou igual valor ao que pretende proteger.

O estado de necessidade pode ser


¥! Agressivo Ð Quando para salvar seu bem jur’dico o agente
sacrifica bem jur’dico de um terceiro que n‹o provocou a
situa•‹o de perigo.
¥! Defensivo Ð Quando o agente sacrifica um bem jur’dico de
quem ocasionou a situa•‹o de perigo.

Pode ser ainda:


¥! Real Ð Quando a situa•‹o de perigo efetivamente existe;
¥! Putativo Ð Quando a situa•‹o de perigo n‹o existe de fato,
apenas na imagina•‹o do agente. Imaginemos que no caso do
colete salva-vidas, ao invŽs de ser o œltimo, existisse ainda
uma sala repleta deles. Assim, a situa•‹o de perigo apenas
passou pela cabe•a do agente, n‹o sendo a realidade, pois
havia mais coletes. Nesse caso, o agente incorreu em erro,
que se for um erro escus‡vel (o agente n‹o tinha como saber
da exist•ncia dos outros coletes), excluir‡ a imputa•‹o do
delito (a maioria da Doutrina entende que teremos exclus‹o da
culpabilidade). J‡ se o erro for inescus‡vel (o agente era
marinheiro h‡ muito tempo, devendo saber que existia mais
coletes), o agente responde pelo crime cometido, MAS NA
MODALIDADE CULPOSA, se houver previs‹o em lei.


18
A Doutrina se divide quanto ˆ abrang•ncia da express‹o ÒvoluntariamenteÓ. Alguns sustentam
que tanto a causa•‹o culposa quanto a dolosa afastam a possibilidade de caracteriza•‹o do estado
de necessidade (Por todos, ASSIS TOLEDO). Outros defendem que somente a causa•‹o DOLOSA
impede a caracteriza•‹o do estado de necessidade (Por todos, DAMçSIO DE JESUS e CEZAR
ROBERTO BITENCOURT). BITENCOURT, Op. cit., p. 419

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Alguns pontos importantes:


ESTADO DE ƒ poss’vel, desde que ambos n‹o tenham criado
NECESSIDADE a situa•‹o de perigo.
RECêPROCO
COMUNICABILIDADE Existe. Se um dos autores houver praticado o
fato em estado de necessidade, o crime fica
exclu’do para todos eles.
ERRO NA EXECU‚ÌO Pode acontecer, e o agente permanece coberto
pelo estado de necessidade. Ex.: Paulo atira em
M‡rio, visando sua morte, para tomar-lhe o
œltimo colete do navio. Entretanto, acerta Jo‹o.
Nesse caso, Paulo permanece acobertado pelo
estado de necessidade, pois se considera
praticado o crime contra a v’tima pretendida,
n‹o a atingida.
MISERABILIDADE O STJ entende que a simples alega•‹o de
miserabilidade n‹o gera o estado de necessidade
para que seja exclu’da a ilicitude do fato.
Entretanto, em determinados casos, poder‡
excluir a culpabilidade, em raz‹o da
inexigibilidade de conduta diversa (estudaremos
mais ˆ frente).

1.4.2.! Leg’tima defesa


Nos termos do art. 25 do CP:
Art. 25 - Entende-se em leg’tima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necess‡rios, repele injusta agress‹o, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem.

O agente deve ter praticado o fato para repelir uma agress‹o.


Contudo, h‡ alguns requisitos:

REQUISITOS PARA A CONFIGURA‚ÌO DA LEGêTIMA DEFESA


¥! Agress‹o Injusta Ð Assim, se a agress‹o Ž justa, n‹o h‡ leg’tima
defesa. Dessa forma, o preso que agride o carcereiro que o est‡
colocando para dentro da cela n‹o age em leg’tima defesa, pois a
agress‹o do carcereiro (empurr‡-lo ˆ for•a) Ž justa.
¥! Atual ou iminente Ð A agress‹o deve estar acontecendo ou prestes a
acontecer. Veja que aqui, diferente do estado necessidade, n‹o h‡
necessidade de que o fato seja atual, bastando que seja iminente.

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Desta maneira, se Paulo encontra, em local ermo, Poliana, sua ex-
mulher, que por vingan•a amea•ou mat‡-lo, e esta saca uma arma,
Paulo poder‡ repelir essa agress‹o iminente, pois ainda que n‹o tenha
acontecido, n‹o se pode exigir que Paulo aguarde Poliana come•ar a
efetuar os disparos (absurdo!).
¥! Contra direito pr—prio ou alheio Ð A agress‹o injusta pode estar
acontecendo ou prestes a acontecer contra direito do pr—prio agente
ou de um terceiro. Assim, se Paulo agride Roberto porque ele est‡
agredindo Poliana, n‹o comete crime, pois agiu em leg’tima defesa da
integridade f’sica de terceiro (Poliana).

Quando uma pessoa Ž atacada por um animal, em regra n‹o


age em leg’tima defesa, mas em estado de necessidade, pois os
atos dos animais n‹o podem ser considerados injustos. Entretanto, se o
animal estiver sendo utilizado como instrumento de um crime
(dono determina ao c‹o bravo que morda a v’tima), o agente poder‡
agir em leg’tima defesa. Entretanto, a leg’tima defesa estar‡ ocorrendo
em face do dono (les‹o ao seu patrim™nio, o cachorro), e n‹o em face do
animal.
Com rela•‹o ˆs agress›es praticadas por inimput‡vel, a Doutrina se
divide, mas a maioria entende que nesse caso h‡ leg’tima defesa, e n‹o
estado de necessidade.
Na leg’tima defesa, diferentemente do que ocorre no estado de
necessidade, o agredido (que age em leg’tima defesa) n‹o Ž
obrigado a fugir do agressor, ainda que possa. A lei permite que o
agredido revide e se proteja, ainda que lhe seja poss’vel fugir!
A rea•‹o do agente, por sua vez, deve ser proporcional. Ou seja, os
meios utilizados por ele devem ser suficientes e necess‡rios a repelir a
agress‹o injusta.
EXEMPLO: Se um ladr‹o furta uma caneta, a v’tima n‹o pode matar
este ladr‹o para repelir esta agress‹o ao seu patrim™nio, pois ainda que
o meio utilizado seja suficiente para que o patrim™nio seja preservado,
n‹o Ž proporcional sacrificar a vida de alguŽm por causa de uma caneta.
Mas nem se for uma Mont Blanc de R$ 5.000,00? N‹o!!!

A leg’tima defesa pode ser:


¥! Agressiva Ð Quando o agente pratica um fato previsto como
infra•‹o penal. Assim, se A agride B e este, em leg’tima defesa,
agride A, est‡ cometendo les›es corporais (art. 129), mas n‹o
h‡ crime, em raz‹o da presen•a da causa excludente da
ilicitude.
¥! Defensiva Ð O agente se limita a se defender, n‹o atacando
nenhum bem jur’dico do agressor.

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¥! Pr—pria Ð Quando o agente defende seu pr—prio bem jur’dico.
¥! De terceiro Ð Quando defende bem jur’dico pertencente a outra
pessoa.
¥! Real Ð Quando a agress‹o a imin•ncia dela acontece, de fato,
no mundo real.
¥! Putativa Ð Quando o agente pensa que est‡ sendo agredido ou
que esta agress‹o ir‡ ocorrer, mas, na verdade, trata-se de
fruto da sua imagina•‹o. Aqui, aplica-se o que foi dito acerca
do estado de necessidade putativo!

A leg’tima defesa n‹o Ž presumida. Aquele que a alega deve provar


sua ocorr•ncia, pois, como estudamos, a exist•ncia do fato t’pico tem o
cond‹o de fazer presumir a ilicitude da conduta, cabendo ao acusado
provar a exist•ncia de uma das causas de exclus‹o da ilicitude.
CUIDADO! A leg’tima defesa sucessiva Ž poss’vel! ƒ aquela na qual
o agredido injustamente, acaba por se exceder nos meios para repelir a
agress‹o. Nesse caso, como h‡ excesso, esse excesso n‹o Ž permitido.
Logo, aquele que primeiramente agrediu, agora poder‡ agir em
leg’tima defesa. Se A agride B com tapas leves, e B saca uma pistola e
come•a a disparar contra A, que se afasta e para de agredi-lo, caso B
continue e atirar, A poder‡ sacar sua arma e atirar contra B, pois a
conduta de A se configura como excesso na rea•‹o, e B estar‡ agindo em
leg’tima defesa sucessiva.

Da mesma forma que no estado de necessidade, se o agredido erra


ao revidar a agress‹o e atinge pessoa que n‹o tem rela•‹o com a
agress‹o (erro sobre a pessoa), continuar‡ amparado pela excludente de
ilicitude, pois o crime se considera praticado contra a pessoa visada, n‹o
contra a efetivamente atingida.
No caso de leg’tima defesa de terceiro, duas hip—teses podem
ocorrer:
¥! O bem do terceiro que est‡ sendo lesado Ž dispon’vel
(bens materiais, etc.) Ð Nesse caso, o terceiro deve concordar
com que o agente atue em seu favor.
¥! O bem do terceiro Ž indispon’vel (Vida, por exemplo) Ð
Nesse caso, o agente poder‡ repelir esta agress‹o ainda que o
terceiro n‹o concorde com esta atitude, pois o bem agredido Ž
um bem de car‡ter indispon’vel.

Voc•s devem ficar atentos a alguns pontos:


Ø! N‹o cabe leg’tima defesa real em face de leg’tima defesa
real, pois se o primeiro age em leg’tima defesa real, sua agress‹o

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n‹o Ž injusta, o que impossibilita rea•‹o em leg’tima defesa.
Ø! Cabe leg’tima defesa real em face de leg’tima defesa
putativa. Assim, se A pensa estar sendo amea•ado por B e o
agride (leg’tima defesa putativa), B poder‡ agir em leg’tima defesa
real. Isto porque a atitude de A n‹o Ž justa, logo, Ž uma agress‹o
injusta, de forma que B poder‡ se valer da leg’tima defesa (A atŽ
pode n‹o ser punido por sua conduta, mas isso se dar‡ pela
exclus‹o da culpabilidade em raz‹o da leg’tima defesa putativa).
Ø! Se o agredido se excede, o agressor passa a poder agir em leg’tima
defesa (leg’tima defesa sucessiva).
Ø! Sempre caber‡ leg’tima defesa em face de conduta que
esteja acobertada apenas por causa de exclus‹o da
culpabilidade (pois nesse caso a agress‹o Ž t’pica e il’cita,
embora n‹o culp‡vel).
Ø! NUNCA haver‡ possibilidade de leg’tima defesa real em face
de qualquer causa de exclus‹o da ilicitude real.

1.4.3.! Estrito cumprimento do dever legal


Nos termos do art. 23, III do CP:
Art. 23 - N‹o h‡ crime quando o agente pratica o fato:
(...)
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exerc’cio regular de direito.

Age acobertado por esta excludente aquele que pratica fato t’pico,
mas o faz em cumprimento a um dever previsto em lei.
Assim, o Policial tem o dever legal de manter a ordem pœblica. Se
alguŽm comete crime, eventuais les›es corporais praticadas pelo policial
(quando da persegui•‹o) n‹o s‹o consideradas il’citas, pois embora tenha
sido provocada les‹o corporal (prevista no art. 129 do CP), o policial agiu
no estrito cumprimento do seu dever legal.

CUIDADO! Quando o policial, numa troca de tiros, acaba por ferir ou


matar um suspeito, ele n‹o age no estrito cumprimento do dever legal,
mas em leg’tima defesa. Isso porque o policial s— pode atirar contra
alguŽm quando isso for absolutamente necess‡rio para repelir injusta
agress‹o contra si ou contra terceiros.19

Se um terceiro colabora com aquele que age no estrito cumprimento


do dever legal, a ele tambŽm se estende essa causa de exclus‹o da
ilicitude. Diz-se que h‡ comunicabilidade.

19
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 431

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ƒ muito comum ver pessoas afirmarem que essa causa


s— se aplica aos funcion‡rios pœblicos. ERRADO! O particular tambŽm
pode agir no estrito cumprimento do dever legal. O advogado, por
exemplo, que se nega a testemunhar sobre fato conhecido em raz‹o da
profiss‹o, n‹o pratica crime, pois est‡ cumprindo seu dever legal de
sigilo, previsto no estatuto da OAB. Esse Ž apenas um exemplo.

1.4.4.! Exerc’cio regular de direito


O C—digo Penal prev• essa excludente da ilicitude tambŽm no art. 23,
III:
Art. 23 - N‹o h‡ crime quando o agente pratica o fato:
(...)
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exerc’cio regular de direito.
Dessa forma, quem age no leg’timo exerc’cio de um direito seu,
n‹o poder‡ estar cometendo crime, pois a ordem jur’dica deve ser
harm™nica, de forma que uma conduta que Ž considerada um direito da
pessoa, n‹o pode ser considerada crime, por quest›es l—gicas. Trata-se
de preservar a coer•ncia do sistema20.
Mas o direito deve estar previsto em lei? Sim! A Doutrina
majorit‡ria entende que os direitos derivados dos costumes locais n‹o
podem ser invocados como causas de exclus‹o da ilicitude.
Quando um atleta entra no octagon (aquela jaula das artes marciais
mistas, antigo vale-tudo), e agride o outro atleta, est‡ causando-lhe
les›es corporais (art. 129 do CP). Entretanto, n‹o comete crime, pois tem
esse direito j‡ que ambos est‹o se submetendo a uma pr‡tica
desportiva que permite esse tipo de conduta.
CUIDADO! Se esse mesmo atleta descumprir as regras do esporte
(chutar a cabe•a do outro atleta ca’do, por exemplo) e causar-lhe les›es,
poder‡ responder pelo crime que cometer, pois n‹o lhe Ž permitido fazer
isso!

1.4.5.! Excesso pun’vel


O excesso pun’vel Ž o exerc’cio irregular de uma causa
excludente da ilicitude, seja porque n‹o h‡ mais a circunst‰ncia que

20
O Prof. Zaffaroni entenderia que, neste caso, o fato Ž at’pico, pois, pela sua teoria da tipicidade
conglobante, um fato nunca poder‡ ser t’pico quando sua pr‡tica foi tolerada ou determinada pelo
sistema jur’dico. Fica apenas o registro, mas essa teoria n‹o Ž adotada pelo CP e Doutrinariamente
Ž discutida. Lembrem-se: Fica apenas o registro.

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permitia seu exerc’cio (cessou a agress‹o, no caso da leg’tima defesa, por
exemplo, seja porque o meio utilizado n‹o Ž proporcional (agredido saca
uma metralhadora para repelir um tapa, no caso da leg’tima defesa). No
primeiro caso, temos o excesso extensivo, e no segundo, o excesso
intensivo. Nesses casos, a lei prev• que aquele que se exceder
responder‡ pelos danos que causar, art. 23, ¤ œnico do CP:
Art. 23 (...)
Par‡grafo œnico - O agente, em qualquer das hip—teses deste artigo,
responder‡ pelo excesso doloso ou culposo.
Aplica-se a qualquer das causas excludentes da ilicitude. Assim, o
policial que, ap—s prender o ladr‹o, come•a a desferir socos em seu rosto,
n‹o estar‡ agindo amparado pelo estrito cumprimento do dever legal,
pois est‡ se excedendo.

(FGV - 2011 - OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO)


Apolo foi amea•ado de morte por Hades, conhecido matador de
aluguel. Tendo tido ci•ncia, por fontes seguras, que Hades o
mataria naquela noite e, com o intuito de defender-se, Apolo saiu
de casa com uma faca no bolso de seu casaco. Naquela noite, ao
encontrar Hades em uma rua vazia e escura e, vendo que este
colocava a m‹o no bolso, Apolo precipita-se e, objetivando
impedir o ataque que imaginava iminente, esfaqueia Hades,
provocando-lhe as les›es corporais que desejava. Todavia, ap—s o
ocorrido, o pr—prio Hades contou a Apolo que n‹o ia mat‡-lo, pois
havia desistido de seu intento e, naquela noite, foi ao seu
encontro justamente para dar-lhe a not’cia. Nesse sentido, Ž
correto afirmar que
A) havia dolo na conduta de Apolo.
B) mesmo sendo o erro escus‡vel, Apolo n‹o Ž isento de pena.
C) Apolo n‹o agiu em leg’tima defesa putativa.
D) mesmo sendo o erro inescus‡vel, Apolo responde a t’tulo de
dolo.
COMENTçRIOS: Nesse caso Apolo agiu no que se chama de leg’tima
defesa putativa, pois agiu acreditando estar acobertando pela excludente
de ilicitude da leg’tima defesa, o que n‹o era o caso, estando, pois,
errada a letra C. No entanto, devemos analisar se o erro de Apolo Ž
desculp‡vel (invenc’vel). Como Apolo j‡ havia sido amea•ado de morte
por Hades e Hades ainda fez men•‹o a colocar a m‹o no bolso
(denotando sacar uma arma), n‹o se podia exigir de Apolo que pensasse
o contr‡rio, motivo pelo qual entendo que se trata de erro venc’vel
(desculp‡vel).

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No caso de ser escus‡vel o erro, Apolo estaria isento de pena, e caso
inescus‡vel, responderia a t’tulo culposo, e n‹o doloso, nos termos do art.
20, ¤1¼ do CP, motivo pelo qual as alternativas B e D est‹o incorretas.
No entanto, mesmo tendo agido em leg’tima defesa e podendo ser punido
a t’tulo culposo ou ser isento de pena (a depender do tipo de erro), o
certo Ž que a conduta de APOLO Ž DOLOSA, eis que ele teve vontade de
atirar contra Hades, com dolo de matar (animus necandi).
Independentemente da circunst‰ncia de agir em leg’tima defesa putativa
(o que influenciar‡ nos reflexos penais), a conduta Ž considerada dolosa,
motivo pelo qual est‡ correta a letra A.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA A.

(FGV Ð 2013 Ð OAB Ð XI EXAME UNIFICADO)


DŽbora estava em uma festa com seu namorado Eduardo e
algumas amigas quando percebeu que Camila, colega de
faculdade, insinuava-se para Eduardo. Cega de raiva, DŽbora
esperou que Camila fosse ao banheiro e a seguiu. Chegando l‡ e
percebendo que estavam sozinhas no recinto, DŽbora desferiu
v‡rios tapas no rosto de Camila, causando-lhe les›es corporais de
natureza leve. Camila, por sua vez, atordoada com o acontecido,
somente deu por si quando DŽbora j‡ estava saindo do banheiro,
vangloriando-se da surra dada. Neste momento, com —dio de sua
algoz, Camila levanta-se do ch‹o, agarra DŽbora pelos cabelos e a
golpeia com uma tesourinha de unha que carregava na bolsa,
causando-lhe les›es de natureza grave.
Com rela•‹o ˆ conduta de Camila, assinale a afirmativa correta.
A) Agiu em leg’tima defesa.
B) Agiu em leg’tima defesa, mas dever‡ responder pelo excesso
doloso.
C) Ficar‡ isenta de pena por inexigibilidade de conduta diversa.
D) Praticou crime de les‹o corporal de natureza grave, mas
poder‡ ter a pena diminu’da.
COMENTçRIOS: N‹o h‡ que se falar em leg’tima defesa no caso, j‡ que
o enunciado deixa CLARO que a agress‹o de DŽbora em face de Camila j‡
havia cessado, logo, n‹o h‡ um dos requisitos para a leg’tima defesa, que
Ž a exist•ncia de injusta agress‹o ATUAL OU IMINENTE (pois j‡ acabou a
agress‹o).
No caso em tela, houve vingan•a, e n‹o leg’tima defesa. Contudo,
embora n‹o tenha havido leg’tima defesa, Ž fato que a conduta de DŽbora
contribuiu (e muito!) para a agress‹o de Camila, j‡ que Camila agiu logo
ap—s injusta provoca•‹o da v’tima (DŽbora).
Assim, considerando o ¤4¼ do art. 129 do CP, Camila deve responder por
les‹o corporal grave, com diminui•‹o de pena, de um sexto a um ter•o.
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PORTANTO, A ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA D.

(FGV Ð 2015 Ð OAB Ð XVI EXAME DE ORDEM)


Carlos e seu filho de dez anos caminhavam por uma rua com
pouco movimento e bastante escura, j‡ de madrugada, quando
s‹o surpreendidos com a vinda de um c‹o pitbull na dire•‹o deles.
Quando o animal iniciou o ataque contra a crian•a, Carlos, que
estava armado e tinha autoriza•‹o para assim se encontrar,
efetuou um disparo na dire•‹o do c‹o, que n‹o foi atingido,
ricocheteando a bala em uma pedra e acabando por atingir o dono
do animal, Leandro, que chegava correndo em sua busca, pois
notou que ele fugira clandestinamente da casa. A v’tima atingida
veio a falecer, ficando constatado que Carlos n‹o teria outro modo
de agir para evitar o ataque do c‹o contra o seu filho, n‹o sendo
sua conduta tachada de descuidada. Diante desse quadro, assinale
a op•‹o que apresenta a situa•‹o jur’dica de Carlos.
A) Carlos atuou em leg’tima defesa de seu filho, devendo
responder, porŽm, pela morte de Leandro.
B) Carlos atuou em estado de necessidade defensivo, devendo
responder, porŽm, pela morte de Leandro.
C) Carlos atuou em estado de necessidade e n‹o deve responder
pela morte de Leandro.
D) Carlos atuou em estado de necessidade putativo, raz‹o pela
qual n‹o deve responder pela morte de Leandro.
COMENTçRIOS: No caso em tela Carlos atuou em estado de
necessidade, nos termos do art. 24 do CP:
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para
salvar de perigo atual, que n‹o provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito pr—prio ou alheio, cujo sacrif’cio, nas
circunst‰ncias, n‹o era razo‡vel exigir-se. (Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209,
de 11.7.1984)
Conforme informado pelo enunciado, a morte de Leandro foi uma
fatalidade, pois a conduta de Carlos n‹o foi descuidada. Assim, n‹o h‡
responsabilidade penal em rela•‹o ˆ morte de Leandro, nem mesmo na
forma culposa.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA C.

(FGV Ð 2014 Ð OAB Ð XIII EXAME DE ORDEM)


Jaime, objetivando proteger sua resid•ncia, instala uma cerca
elŽtrica no muro. Certo dia, Cl‡udio, com o intuito de furtar a casa
de Jaime, resolve pular o referido muro, acreditando que
conseguiria escapar da cerca elŽtrica ali instalada e bem vis’vel
para qualquer pessoa. Cl‡udio, entretanto, n‹o obtŽm sucesso e
acaba levando um choque, inerente ˆ atua•‹o do mecanismo de

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prote•‹o. Ocorre que, por sofrer de doen•a cardiovascular, o
referido ladr‹o falece quase instantaneamente. Ap—s a an‡lise
pericial, ficou constatado que a descarga elŽtrica n‹o era
suficiente para matar uma pessoa em condi•›es normais de
saœde, mas suficiente para provocar o —bito de Cl‡udio, em
virtude de sua cardiopatia. Nessa hip—tese Ž correto afirmar que
A) Jaime deve responder por homic’dio culposo, na modalidade
culpa consciente.
B) Jaime deve responder por homic’dio doloso, na modalidade
dolo eventual.
C) Pode ser aplicado ˆ hip—tese o instituto do resultado diverso do
pretendido.
D) Pode ser aplicado ˆ hip—tese o instituto da leg’tima defesa
preordenada.
COMENTçRIOS: No caso concreto pode ser aplicado o instituto da
leg’tima defesa, em sua modalidade preordenada. A leg’tima defesa
preordenada ocorre quando o agente estabelece dispositivos de defesa de
um determinado bem jur’dico, com a finalidade de proteg•-lo (cacos de
vidro sobre o muro, cerca elŽtrica, etc.). Quando, eventualmente, alguŽm
tenta agredir o bem jur’dico protegido pelo dispositivo, pode vir a ser
repelido por este (levar um choque, cortar-se com os cacos de vidro do
muro, etc.). Em casos tais, diz-se que houve leg’tima defesa
preordenada.
A leg’tima defesa preordenada deve, tambŽm, ser proporcional ˆ
agress‹o injusta que se pretende evitar. Caso o choque da cerca elŽtrica
fosse capaz de matar uma pessoa normal, seria poss’vel considerar que
houve excesso na leg’tima defesa preordenada realizada por Jaime.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA D.

2.! RESUMO

CONCEITO DE CRIME
O Crime pode ser entendido sob tr•s aspectos: Material, formal (legal) e
anal’tico:
¥! Formal (legal) Ð Crime Ž a conduta prevista em Lei como crime.
No Brasil, mais especificamente, Ž toda infra•‹o penal a que a lei
comina pena de reclus‹o ou deten•‹o
¥! Material Ð Crime Ž a conduta que afeta, de maneira significativa
(mediante les‹o ou exposi•‹o a perigo), um bem jur’dico relevante
de terceira pessoa.
¥! Anal’tico Ð Ado•‹o da teoria tripartida. Crime Ž composto por fato
t’pico, ilicitude e culpabilidade.

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FATO TêPICO E SEUS ELEMENTOS


O fato t’pico tambŽm se divide em elementos, s‹o eles:
¥! Conduta humana (alguns entendem poss’vel a conduta
de pessoa jur’dica) Ð Ado•‹o da teoria FINALISTA: conduta
humana Ž a a•‹o ou omiss‹o volunt‡ria dirigida a uma
determinada finalidade.
¥! Resultado natural’stico Ð ƒ a modifica•‹o do mundo real
provocada pela conduta do agente. Apenas nos crimes
materiais se exige um resultado natural’stico. Nos crimes
formais e de mera conduta n‹o h‡ essa exig•ncia. AlŽm do
resultado natural’stico (que nem sempre estar‡ presente), h‡
tambŽm o resultado jur’dico (ou normativo), que Ž a les‹o
ao bem jur’dico tutelado pela norma penal. Esse resultado
sempre estar‡ presente.
¥! Nexo de causalidade Ð Nexo entre a conduta do agente e o
resultado. Ado•‹o, pelo CP, da teoria da equival•ncia dos
antecedentes (considera-se causa do crime toda conduta sem
a qual o resultado n‹o teria ocorrido). Utiliza•‹o do elemento
subjetivo (dolo ou culpa) como filtro, para evirar a Òregress‹o
infinitaÓ. Ado•‹o, subsidiariamente, da teoria da causalidade
adequada, na hip—tese de concurso de causas (concausas).
OBS.: Teoria da imputa•‹o objetiva n‹o foi expressamente
adotada pelo CP, mas h‡ decis›es jurisprudenciais aplicando a
Teoria.
¥! Tipicidade Ð ƒ a adequa•‹o da conduta do agente ˆ conduta
descrita pela norma penal incriminadora (tipicidade formal). A
tipicidade material Ž o desdobramento do conceito material de
crime: s— haver‡ tipicidade material quando houver les‹o (ou
exposi•‹o a perigo) significativa a bem jur’dico relevante de
terceiro (afasta-se a tipicidade material, por exemplo, quando
se reconhece o princ’pio da insignific‰ncia). OBS.: Adequa•‹o
t’pica mediata: Nem sempre a conduta praticada pelo agente
se amolda perfeitamente ao tipo penal (adequa•‹o
imediata). Ës vezes Ž necess‡rio que se proceda ˆ
conjuga•‹o de outro dispositivo da Lei Penal para se
chegar ˆ conclus‹o de que um fato Ž t’pico (adequa•‹o
mediata). Ex.: homic’dio tentado (art. 121 + art. 14, II do CP).

CRIME DOLOSO E CRIME CULPOSO


Crime doloso

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Dolo direto de primeiro grau - composto pela consci•ncia de que a
conduta pode lesar um bem jur’dico + a vontade de violar (pela les‹o ou
exposi•‹o a perigo) este bem jur’dico.
Dolo direto de segundo grau - tambŽm chamado de Òdolo de
consequ•ncias necess‡riasÓ. O agente n‹o quer o resultado, mas sabe
que o resultado Ž um efeito colateral NECESSçRIO, e pratica a
conduta assim mesmo, sabendo que o resultado (n‹o querido) ocorrer‡
fatalmente.
Dolo eventual - consiste na consci•ncia de que a conduta pode gerar
um resultado criminoso + a assun•‹o desse risco, mesmo diante da
probabilidade de algo dar errado. Trata-se de hip—tese na qual o agente
n‹o tem vontade de produzir o resultado criminoso, mas, analisando as
circunst‰ncias, sabe que este resultado pode ocorrer e n‹o se importa,
age da mesma maneira. OBS.: diferen•a em rela•‹o ao dolo direto de
segundo grau: aqui o resultado n‹o querido Ž POSSêVEL OU PROVçVEL;
no dolo direto de segundo grau o resultado n‹o querido Ž CERTO
(consequ•ncia necess‡ria).

O dolo pode ser, ainda:


¥! Dolo genŽrico Ð ƒ, basicamente, a vontade de praticar a
conduta descrita no tipo penal, sem nenhuma outra
finalidade.
¥! Dolo espec’fico, ou especial fim de agir Ð Em
contraposi•‹o ao dolo genŽrico, nesse caso o agente n‹o quer
somente praticar a conduta t’pica, mas o faz por alguma
raz‹o especial, com alguma finalidade espec’fica.
¥! Dolo geral, por erro sucessivo, ou aberratio causae Ð
Ocorre quando o agente, acreditando ter alcan•ado seu
objetivo, pratica nova conduta, com finalidade diversa, mas
depois se constata que esta œltima foi a que efetivamente
causou o resultado. Trata-se de erro na rela•‹o de
causalidade, pois embora o agente tenha conseguido alcan•ar
a finalidade proposta, somente o alcan•ou atravŽs de outro
meio, que n‹o tinha direcionado para isso.
¥! Dolo antecedente, atual e subsequente Ð O dolo
antecedente Ž o que se d‡ antes do in’cio da execu•‹o da
conduta. O dolo atual Ž o que est‡ presente enquanto o
agente se mantŽm exercendo a conduta, e o dolo
subsequente ocorre quando o agente, embora tendo iniciado a
conduta com uma finalidade l’cita, altera seu ‰nimo, passando
a agir de forma il’cita.

Crime culposo

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No crime culposo a conduta do agente Ž destinada a um determinado fim
(que pode ser l’cito ou n‹o), mas pela viola•‹o a um dever de
cuidado, o agente acaba por lesar um bem jur’dico de terceiro,
cometendo crime culposo. Pode se dar por:
¥! Neglig•ncia Ð O agente deixa de tomar todas as cautelas
necess‡rias para que sua conduta n‹o venha a lesar o bem
jur’dico de terceiro.
¥! Imprud•ncia Ð ƒ o caso do afoito, daquele que pratica atos
temer‡rios, que n‹o se coadunam com a prud•ncia que se
deve ter na vida em sociedade.
¥! Imper’cia Ð Decorre do desconhecimento de uma regra
tŽcnica profissional para a pr‡tica da conduta.

O crime culposo Ž composto de:


¥! Uma conduta volunt‡ria
¥! A viola•‹o a um dever objetivo de cuidado
¥! Um resultado natural’stico involunt‡rio Ð O resultado
produzido n‹o foi querido pelo agente (salvo na culpa
impr—pria).
¥! Nexo causal
¥! Tipicidade Ð Ado•‹o da excepcionalidade do crime culposo.
S— haver‡ puni•‹o a t’tulo de culpa se houver expressa
previs‹o legal nesse sentido.
¥! Previsibilidade objetiva - O resultado ocorrido deve ser
previs’vel mediante um esfor•o intelectual razo‡vel. ƒ
chamada previsibilidade do Òhomem mŽdioÓ.

Modalidades de culpa
¥! Culpa consciente e inconsciente Ð Na culpa consciente, o
agente prev• o resultado como poss’vel, mas acredita que
este n‹o ir‡ ocorrer (previsibilidade SUBJETIVA). Na culpa
inconsciente, o agente n‹o prev• que o resultado possa
ocorrer (h‡ apenas previsibilidade OBJETIVA, n‹o subjetiva).
¥! Culpa pr—pria e culpa impr—pria Ð A culpa pr—pria Ž
aquela na qual o agente NÌO QUER O RESULTADO
criminoso. ƒ a culpa propriamente dita. Pode ser consciente,
quando o agente prev• o resultado como poss’vel, ou
inconsciente, quando n‹o h‡ essa previs‹o. Na culpa
impr—pria, o agente quer o resultado, mas, por erro
inescus‡vel, acredita que o est‡ fazendo amparado por uma
causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade. A culpa,
portanto, n‹o est‡ na execu•‹o da conduta, mas no momento
de escolher praticar a conduta.

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OBS.: crime preterdoloso (ou preterintencional): O crime
preterdoloso ocorre quando o agente, com vontade de praticar
determinado crime (dolo), acaba por praticar crime mais grave, n‹o com
dolo, mas por culpa.

CRIME CONSUMADO, TENTADO E IMPOSSêVEL


Crime consumado Ð ocorre quando todos os elementos da defini•‹o
legal da conduta criminosa est‹o presentes.
Crime tentado Ð h‡ crime tentado quando o resultado n‹o ocorre por
circunst‰ncias alheias ˆ vontade do agente. Ado•‹o da teoria objetiva
da punibilidade da tentativa: como regra, o agente responde pela
pena do crime consumado, diminu’da de um a dois ter•os. EXCE‚ÌO: (1)
crimes em que a mera tentativa de alcan•ar o resultado j‡ consuma o
delito. Ex: art. 352 do CP (Evas‹o mediante viol•ncia contra a pessoa);
(2) outras exce•›es legais.
Crime imposs’vel (tentativa inid™nea ou crime oco) Ð o resultado
n‹o ocorre por ser absolutamente imposs’vel sua ocorr•ncia, em raz‹o:
(1) da absoluta impropriedade do objeto; ou (2) da absoluta inefic‡cia do
meio. Ado•‹o da teoria objetiva da punibilidade da tentativa
inid™nea: a conduta do agente n‹o Ž pun’vel.
Desist•ncia volunt‡ria - Na desist•ncia volunt‡ria o agente, por ato
volunt‡rio, desiste de dar sequ•ncia aos atos execut—rios, mesmo
podendo faz•-lo. FîRMULA DE FRANK: (1) Na tentativa Ð O agente
quer, mas n‹o pode prosseguir; (2) Na desist•ncia volunt‡ria Ð O agente
pode, mas n‹o quer prosseguir. Se o resultado n‹o ocorre, o agente n‹o
responde pela tentativa, mas apenas pelos atos efetivamente praticados.
Arrependimento eficaz - Aqui o agente j‡ praticou todos os atos
execut—rios que queria e podia, mas ap—s isto, se arrepende do ato e
adota medidas que acabam por impedir a consuma•‹o do resultado. Se o
resultado n‹o ocorre, o agente n‹o responde pela tentativa, mas apenas
pelos atos efetivamente praticados.
Arrependimento posterior - N‹o exclui o crime, pois este j‡ se
consumou. Ocorre quando o agente repara o dano provocado ou restitui a
coisa. Consequ•ncia: diminui•‹o de pena, de um a dois ter•os. S—
cabe:
¥! Nos crimes em que n‹o h‡ viol•ncia ou grave amea•a ˆ pessoa;
¥! Se a repara•‹o do dano ou restitui•‹o da coisa Ž anterior ao
recebimento da denœncia ou queixa.

ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE)
ƒ a condi•‹o de contrariedade da conduta perante o Direito. Em regra,
toda conduta t’pica Ž il’cita. N‹o o ser‡, porŽm, se houver uma causa de
exclus‹o da ilicitude. S‹o elas:

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¥! GenŽricas Ð S‹o aquelas que se aplicam a todo e qualquer crime.
Est‹o previstas na parte geral do C—digo Penal, em seu art. 23;
¥! Espec’ficas Ð S‹o aquelas que s‹o pr—prias de determinados crimes,
n‹o se aplicando a outros.

CAUSAS GENƒRICAS DE EXCLUSÌO DA ILICITUDE

ESTADO DE NECESSIDADE

Conceito Ð ÒConsidera-se em estado de necessidade quem pratica o fato


para salvar de perigo atual, que n‹o provocou por sua vontade, nem
podia de outro modo evitar, direito pr—prio ou alheio, cujo sacrif’cio, nas
circunst‰ncias, n‹o era razo‡vel exigir-seÓ.
Se bem sacrificado era de valor maior que o bem protegido Ð N‹o
h‡ justifica•‹o. A conduta Ž il’cita. O agente, contudo, tem a pena
diminu’da de um a dois ter•os.
Requisitos
¥! N‹o ter sido criada voluntariamente pelo agente (ou seja,
se foi ele mesmo quem deu causa, n‹o poder‡ sacrificar o
direito de um terceiro a pretexto de salvar o seu).
¥! Perigo atual Ð O perigo deve estar ocorrendo. A lei n‹o
permite o estado de necessidade diante de um perigo futuro,
ainda que iminente.
¥! A situa•‹o de perigo deve estar expondo ˆ les‹o um bem
jur’dico do pr—prio agente ou de um terceiro.
¥! O agente n‹o pode ter o dever jur’dico de impedir o
resultado.
¥! Bem jur’dico sacrificado deve ser de valor igual ou
inferior ao bem protegido - Se o bem sacrificado era de
valor maior que o bem protegido, n‹o h‡ justifica•‹o. A
conduta Ž il’cita. O agente, contudo, tem a pena diminu’da de
um a dois ter•os.
¥! Atitude necess‡ria Ð O agente deve agir nos estritos limites
do necess‡rio. Caso se exceda, responder‡ pelo excesso
(culposo ou doloso).
EspŽcies:
¥! Agressivo Ð Quando para salvar seu bem jur’dico o agente
sacrifica bem jur’dico de um terceiro que n‹o provocou a
situa•‹o de perigo.
¥! Defensivo Ð Quando o agente sacrifica um bem jur’dico de
quem ocasionou a situa•‹o de perigo.
¥! Real Ð Quando a situa•‹o de perigo efetivamente existe.

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¥! Putativo Ð Quando a situa•‹o de perigo n‹o existe de fato,
apenas na imagina•‹o do agente.

LEGêTIMA DEFESA
Conceito Ð ÒEntende-se em leg’tima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necess‡rios, repele injusta agress‹o, atual ou
iminente, a direito seu ou de outremÓ.
Requisitos:
¥! Agress‹o Injusta Ð Assim, se a agress‹o Ž justa, n‹o h‡
leg’tima defesa.
¥! Atual ou iminente Ð A agress‹o deve estar acontecendo ou
prestes a acontecer.
¥! Contra direito pr—prio ou alheio Ð A agress‹o injusta pode
estar acontecendo ou prestes a acontecer contra direito do
pr—prio agente ou de um terceiro.
¥! Rea•‹o proporcional Ð O agente deve repelir a agress‹o
injusta, valendo-se dos meios necess‡rios, mas sem se exceder.
Caso se exceda, responder‡ pelo excesso (culposo ou doloso).
OBS.: Na leg’tima defesa, diferentemente do que ocorre no estado de
necessidade, o agredido (que age em leg’tima defesa) n‹o Ž obrigado a
fugir do agressor, ainda que possa.
EspŽcies de leg’tima defesa:
¥! Agressiva Ð Quando o agente pratica um fato previsto como
infra•‹o penal.
¥! Defensiva Ð O agente se limita a se defender, n‹o atacando
nenhum bem jur’dico do agressor.
¥! Pr—pria Ð Quando o agente defende seu pr—prio bem jur’dico.
¥! De terceiro Ð Quando defende bem jur’dico pertencente a
outra pessoa.
¥! Real Ð Quando a agress‹o a imin•ncia dela acontece, de fato,
no mundo real.
¥! Putativa Ð Quando o agente pensa que est‡ sendo agredido
ou que esta agress‹o ir‡ ocorrer, mas, na verdade, trata-se de
fruto da sua imagina•‹o.
T—picos importantes:
¥! N‹o cabe leg’tima defesa real em face de leg’tima defesa real.
¥! Cabe leg’tima defesa real em face de leg’tima defesa putativa.
¥! Cabe leg’tima defesa sucessiva
¥! Sempre caber‡ leg’tima defesa em face de conduta que esteja
acobertada apenas por causa de exclus‹o da culpabilidade

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¥! NUNCA haver‡ possibilidade de leg’tima defesa real em face de
qualquer causa de exclus‹o da ilicitude real.

ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL


Conceito Ð Ocorre quando o agente pratica fato t’pico, mas o faz em
cumprimento a um dever previsto em lei.
Observa•›es importantes:
¥! Se um terceiro colabora com aquele que age no estrito
cumprimento do dever legal, a ele tambŽm se estende essa causa
de exclus‹o da ilicitude (h‡ comunicabilidade).
¥! O particular tambŽm pode agir no estrito cumprimento do dever
legal.

EXERCêCIO REGULAR DE DIREITO


Conceito Ð Ocorre quando o agente pratica fato t’pico, mas o faz no
exerc’cio de um direito seu. Dessa forma, quem age no leg’timo exerc’cio
de um direito seu, n‹o poder‡ estar cometendo crime, pois a ordem
jur’dica deve ser harm™nica. Ex.: Lutador de vale-tudo que agride o
oponente.
Excesso pun’vel Ð Da mesma forma que nas demais hip—teses, o agente
responder‡ pelo excesso (culposo ou doloso). O excesso, aqui, ir‡ se
verificar sempre que o agente ultrapassar os limites do direito que possui
(n‹o estar‡ mais no exerc’cio REGULAR de direito).

Bons estudos!
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3.! EXERCêCIOS DA AULA

01.! (FGV Ð 2017 Ð OAB Ð XXII EXAME DE ORDEM)


Acreditando estar gr‡vida, P‰mela, 18 anos, desesperada porque ainda
morava com os pais e eles sequer a deixavam namorar, utilizando um
instrumento pr—prio, procura eliminar o feto sozinha no banheiro de sua
casa, vindo a sofrer, em raz‹o de tal comportamento, les‹o corporal de
natureza grave.
Encaminhada ao hospital para atendimento mŽdico, fica constatado que,
na verdade, ela n‹o se achava e nunca esteve gr‡vida. O Hospital,
todavia, Ž obrigado a noticiar o fato ˆ autoridade policial, tendo em vista
que a jovem de 18 anos chegou ao local em situa•‹o suspeita, lesionada.

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Diante disso, foi instaurado procedimento administrativo investigat—rio
pr—prio e, com o recebimento dos autos, o MinistŽrio Pœblico ofereceu
denœncia em face de P‰mela pela pr‡tica do crime de Òaborto provocado
pela gestanteÓ, qualificado pelo resultado de les‹o corporal grave, nos
termos dos Art. 124 c/c o Art. 127, ambos do C—digo Penal.
Diante da situa•‹o narrada, assinale a op•‹o que apresenta a alega•‹o do
advogado de P‰mela.
A) A atipicidade de sua conduta.
B) O afastamento da qualificadora, tendo em vista que esta somente
pode ser aplicada aos crimes de aborto provocado por terceiro, com ou
sem consentimento da gestante, mas n‹o para o delito de autoaborto de
P‰mela.
C) A desclassificaç‹o para o crime de les‹o corporal grave, afastando a
condena•‹o pelo aborto.
D) O reconhecimento da tentativa do crime de aborto qualificado pelo
resultado.

02.! (FGV - 2016 - OAB - XIX EXAME DE ORDEM)


Durante uma discuss‹o, Theodoro, inimigo declarado de Valentim, seu
cunhado, golpeou a barriga de seu rival com uma faca, com intenç‹o de
mat‡-lo. Ocorre que, ap—s o primeiro golpe, pensando em seus sobrinhos,
Theodoro percebeu a incorreç‹o de seus atos e optou por n‹o mais
continuar golpeando Valentim, apesar de saber que aquela œnica facada
n‹o seria suficiente para mat‡-lo.
Neste caso, Theodoro
A) n‹o responder‡ por crime algum, diante de seu arrependimento.
B) responder‡ pelo crime de les‹o corporal, em virtude de sua desistência
volunt‡ria.
C) responder‡ pelo crime de les‹o corporal, em virtude de seu
arrependimento eficaz.
D) responder‡ por tentativa de homic’dio.

03.! (FGV - 2015 - OAB - XVIII EXAME DE ORDEM)


M‡rio subtraiu uma TV do seu local de trabalho. Ao chegar em casa com a
coisa subtra’da, Ž convencido pela esposa a devolvê-la, o que
efetivamente vem a fazer no dia seguinte, quando o fato j‡ havia sido
registrado na delegacia.
O comportamento de M‡rio, de acordo com a teoria do delito, configura
A) desistência volunt‡ria, n‹o podendo responder por furto.
B) arrependimento eficaz, n‹o podendo responder por furto.
C) arrependimento posterior, com reflexo exclusivamente no

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processo dosimŽtrico da pena.
D) furto, sendo totalmente irrelevante a devoluç‹o do bem a partir de
convencimento da esposa.

04.! (FGV Ð 2011 Ð OAB Ð III EXAME DE ORDEM)


Marcus, visando roubar Maria, a agride, causando-lhe les›es corporais de
natureza leve. Antes, contudo, de subtrair qualquer pertence, Marcus
decide abandonar a empreitada criminosa, pedindo desculpas ˆ v’tima e
se evadindo do local. Maria, ent‹o, comparece ˆ delegacia mais pr—xima e
narra os fatos ˆ autoridade policial.
No caso acima, o delegado de pol’cia
(A) dever‡ instaurar inquŽrito policial para apurar o crime de roubo
tentado, uma vez que o resultado pretendido por Marcus n‹o se
concretizou.
(B) nada poder‡ fazer, uma vez que houve a desist•ncia volunt‡ria por
parte de Marcus.
(C) dever‡ lavrar termo circunstanciado pelo crime de les›es corporais
de natureza leve.
(D) nada poder‡ fazer, uma vez que houve arrependimento posterior
por parte de Marcus.

05.! (FGV - 2012 - OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO - VII -


PRIMEIRA FASE)
Filolau, querendo estuprar Filomena, deu in’cio ˆ execu•‹o do crime de
estupro, empregando grave amea•a ˆ v’tima. Ocorre que ao se preparar
para o coito vag’nico, que era sua œnica inten•‹o, n‹o conseguiu
manter seu p•nis ereto em virtude de falha fisiol—gica alheia ˆ sua
vontade. Por conta disso, desistiu de prosseguir na execu•‹o do crime e
abandonou o local. Nesse caso, Ž correto afirmar que
a) trata-se de caso de desist•ncia volunt‡ria, raz‹o pela qual Filolau
n‹o responder‡ pelo crime de estupro.
b) trata-se de arrependimento eficaz, fazendo com que Filolau
responda t‹o somente pelos atos praticados.
c) a conduta de Filolau Ž at’pica.
d) Filolau deve responder por tentativa de estupro.

06.! (FGV - 2011 - OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO)


Apolo foi amea•ado de morte por Hades, conhecido matador de aluguel.
Tendo tido ci•ncia, por fontes seguras, que Hades o mataria naquela
noite e, com o intuito de defender-se, Apolo saiu de casa com uma faca
no bolso de seu casaco. Naquela noite, ao encontrar Hades em uma rua

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vazia e escura e, vendo que este colocava a m‹o no bolso, Apolo
precipita-se e, objetivando impedir o ataque que imaginava iminente,
esfaqueia Hades, provocando-lhe as les›es corporais que desejava.
Todavia, ap—s o ocorrido, o pr—prio Hades contou a Apolo que n‹o ia
mat‡-lo, pois havia desistido de seu intento e, naquela noite, foi ao seu
encontro justamente para dar-lhe a not’cia. Nesse sentido, Ž correto
afirmar que
A) havia dolo na conduta de Apolo.
B) mesmo sendo o erro escus‡vel, Apolo n‹o Ž isento de pena.
C) Apolo n‹o agiu em leg’tima defesa putativa.
D) mesmo sendo o erro inescus‡vel, Apolo responde a t’tulo de dolo.

07.! (FGV - 2012 - OAB - VIII EXAME DE ORDEM UNIFICADO)


JosŽ conversava com Ant™nio em frente a um prŽdio. Durante a conversa,
JosŽ percebe que Jo‹o, do alto do edif’cio, jogara um vaso mirando a
cabe•a de seu interlocutor. Assustado, e com o fim de evitar a poss’vel
morte de Ant™nio, JosŽ o empurra com for•a. Ant™nio cai e, na queda,
fratura o bra•o. Do alto do prŽdio, Jo‹o v• a cena e fica irritado ao
perceber que, pela atua•‹o r‡pida de JosŽ, n‹o conseguira acertar o vaso
na cabe•a de Ant™nio.
Com base no caso apresentado, segundo os estudos acerca da teoria da
imputa•‹o objetiva, assinale a afirmativa correta.
A) JosŽ praticou les‹o corporal culposa.
B) JosŽ praticou les‹o corporal dolosa.
C) O resultado n‹o pode ser imputado a JosŽ, ainda que entre a les‹o e
sua conduta exista nexo de causalidade.
D) O resultado pode ser imputado a JosŽ, que agiu com excesso e sem a
observ‰ncia de devido cuidado.

08.! (FGV Ð 2014 Ð OAB Ð EXAME DE ORDEM)


Isadora, m‹e da adolescente Larissa, de 12 anos de idade, saiu um pouco
mais cedo do trabalho e, ao chegar ˆ sua casa, da janela da sala, v• seu
companheiro, Frederico, mantendo rela•›es sexuais com sua filha no
sof‡. Chocada com a cena, n‹o teve qualquer rea•‹o. N‹o tendo sido
vista por ambos, Isadora decidiu, a partir de ent‹o, chegar ˆ sua
resid•ncia naquele mesmo hor‡rio e verificou que o fato se repetia por
semanas. Isadora tinha efetiva ci•ncia dos abusos perpetrados por
Frederico, porŽm, muito apaixonada por ele, nada fez. Assim, Isadora,
sabendo dos abusos cometidos por seu companheiro contra sua filha,
deixa de agir para impedi-los.
Nesse caso, Ž correto afirmar que o crime cometido por Isadora Ž
a) omissivo impr—prio.

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b) omissivo pr—prio.
c) comissivo.
d) omissivo por comiss‹o.

09.! (FGV Ð IX EXAME UNIFICADO DA OAB)


JosŽ subtrai o carro de um jovem que lhe era totalmente desconhecido,
chamado Jo‹o. Tal subtra•‹o deu-se mediante o emprego de grave
amea•a exercida pela utiliza•‹o de arma de fogo. Jo‹o, entretanto, rapaz
jovem e de boa saœde, sem qualquer hist—rico de doen•a cardiovascular,
assusta-se de tal forma com a arma, que vem a —bito em virtude de
ataque card’aco.
Com base no cen‡rio acima, assinale a afirmativa correta.
A) JosŽ responde por latroc’nio.
B) JosŽ n‹o responde pela morte de Jo‹o.
C) JosŽ responde em concurso material pelos crimes de roubo e de
homic’dio culposo.
D) JosŽ praticou crime preterdoloso.

10.! (FGV Ð X EXAME UNIFICADO DA OAB)


Jo‹o, com inten•‹o de matar, efetua v‡rios disparos de arma de fogo
contra Ant™nio, seu desafeto. Ferido, Ant™nio Ž internado em um hospital,
no qual vem a falecer, n‹o em raz‹o dos ferimentos, mas queimado em
um inc•ndio que destr—i a enfermaria em que se encontrava.
Assinale a alternativa que indica o crime pelo qual Jo‹o ser‡
responsabilizado.
A) Homic’dio consumado.
B) Homic’dio tentado.
C) Les‹o corporal.
D) Les‹o corporal seguida de morte.

11.! (FGV Ð 2013 Ð OAB Ð XI EXAME UNIFICADO)


DŽbora estava em uma festa com seu namorado Eduardo e algumas
amigas quando percebeu que Camila, colega de faculdade, insinuava-se
para Eduardo. Cega de raiva, DŽbora esperou que Camila fosse ao
banheiro e a seguiu. Chegando l‡ e percebendo que estavam sozinhas no
recinto, DŽbora desferiu v‡rios tapas no rosto de Camila, causando-lhe
les›es corporais de natureza leve. Camila, por sua vez, atordoada com o
acontecido, somente deu por si quando DŽbora j‡ estava saindo do
banheiro, vangloriando-se da surra dada. Neste momento, com —dio de
sua algoz, Camila levanta-se do ch‹o, agarra DŽbora pelos cabelos e a
golpeia com uma tesourinha de unha que carregava na bolsa, causando-
lhe les›es de natureza grave.

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Com rela•‹o ˆ conduta de Camila, assinale a afirmativa correta.
A) Agiu em leg’tima defesa.
B) Agiu em leg’tima defesa, mas dever‡ responder pelo excesso doloso.
C) Ficar‡ isenta de pena por inexigibilidade de conduta diversa.
D) Praticou crime de les‹o corporal de natureza grave, mas poder‡ ter a
pena diminu’da.

12.! (FGV Ð 2015 Ð OAB Ð XVI EXAME DE ORDEM)


Carlos e seu filho de dez anos caminhavam por uma rua com pouco
movimento e bastante escura, j‡ de madrugada, quando s‹o
surpreendidos com a vinda de um c‹o pitbull na dire•‹o deles. Quando o
animal iniciou o ataque contra a crian•a, Carlos, que estava armado e
tinha autoriza•‹o para assim se encontrar, efetuou um disparo na dire•‹o
do c‹o, que n‹o foi atingido, ricocheteando a bala em uma pedra e
acabando por atingir o dono do animal, Leandro, que chegava correndo
em sua busca, pois notou que ele fugira clandestinamente da casa. A
v’tima atingida veio a falecer, ficando constatado que Carlos n‹o teria
outro modo de agir para evitar o ataque do c‹o contra o seu filho, n‹o
sendo sua conduta tachada de descuidada. Diante desse quadro, assinale
a op•‹o que apresenta a situa•‹o jur’dica de Carlos.
A) Carlos atuou em leg’tima defesa de seu filho, devendo responder,
porŽm, pela morte de Leandro.
B) Carlos atuou em estado de necessidade defensivo, devendo
responder, porŽm, pela morte de Leandro.
C) Carlos atuou em estado de necessidade e n‹o deve responder pela
morte de Leandro.
D) Carlos atuou em estado de necessidade putativo, raz‹o pela qual n‹o
deve responder pela morte de Leandro.

13.! (FGV Ð 2015 Ð OAB Ð XVII EXAME DA OAB)


Cristiane, revoltada com a trai•‹o de seu marido, Pedro, decide mat‡-lo.
Para tanto, resolve esperar que ele adorme•a para, durante a madrugada,
acabar com sua vida. Por volta das 22h, Pedro deita para ver futebol na
sala da resid•ncia do casal. Quando chega ˆ sala, Cristiane percebe que
Pedro estava deitado sem se mexer no sof‡. Acreditando estar dormindo,
desfere 10 facadas em seu peito. Nervosa e arrependida, liga para o
hospital e, com a chegada dos mŽdicos, Ž informada que o marido
faleceu. O laudo de exame cadavŽrico, porŽm, constatou que Pedro havia
falecido momentos antes das facadas em raz‹o de um infarto fulminante.
Cristiane, ent‹o, foi denunciada por tentativa de homic’dio.
Voc•, advogado (a) de Cristiane, dever‡ alegar em seu favor a ocorr•ncia
de
A) crime imposs’vel por absoluta impropriedade do objeto.

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B) desist•ncia volunt‡ria.
C) arrependimento eficaz.
D) crime imposs’vel por inefic‡cia do meio.

14.! (FGV Ð 2014 Ð OAB Ð XIV EXAME DE ORDEM)


Wallace, hemof’lico, foi atingido por um golpe de faca em uma regi‹o n‹o
letal do corpo. Jœlio, autor da facada, que n‹o tinha dolo de matar, mas
sabia da condi•‹o de saœde espec’fica de Wallace, sai da cena do crime
sem desferir outros golpes, estando Wallace ainda vivo. No entanto,
algumas horas depois, Wallace morre, pois, apesar de a les‹o ser em
local n‹o letal, sua condi•‹o fisiol—gica agravou o seu estado de saœde.
Acerca do estudo da rela•‹o de causalidade, assinale a op•‹o correta.
A) O fato de Wallace ser hemof’lico Ž uma causa relativamente
independente preexistente, e Jœlio n‹o deve responder por homic’dio
culposo, mas, sim, por les‹o corporal seguida de morte.
B) O fato de Wallace ser hemof’lico Ž uma causa absolutamente
independente preexistente, e Jœlio n‹o deve responder por homic’dio
culposo, mas, sim, por les‹o corporal seguida de morte.
C) O fato de Wallace ser hemof’lico Ž uma causa absolutamente
independente concomitante, e Jœlio deve responder por homic’dio
culposo.
D) O fato de Wallace ser hemof’lico Ž uma causa relativamente
independente concomitante, e Jœlio n‹o deve responder pela les‹o
corporal seguida de morte, mas, sim, por homic’dio culposo.

15.! (FGV Ð 2014 Ð OAB Ð XIII EXAME DE ORDEM)


Jaime, objetivando proteger sua resid•ncia, instala uma cerca elŽtrica no
muro. Certo dia, Cl‡udio, com o intuito de furtar a casa de Jaime, resolve
pular o referido muro, acreditando que conseguiria escapar da cerca
elŽtrica ali instalada e bem vis’vel para qualquer pessoa. Cl‡udio,
entretanto, n‹o obtŽm sucesso e acaba levando um choque, inerente ˆ
atua•‹o do mecanismo de prote•‹o. Ocorre que, por sofrer de doen•a
cardiovascular, o referido ladr‹o falece quase instantaneamente. Ap—s a
an‡lise pericial, ficou constatado que a descarga elŽtrica n‹o era
suficiente para matar uma pessoa em condi•›es normais de saœde, mas
suficiente para provocar o —bito de Cl‡udio, em virtude de sua
cardiopatia. Nessa hip—tese Ž correto afirmar que
A) Jaime deve responder por homic’dio culposo, na modalidade culpa
consciente.
B) Jaime deve responder por homic’dio doloso, na modalidade dolo
eventual.
C) Pode ser aplicado ˆ hip—tese o instituto do resultado diverso do
pretendido.

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D) Pode ser aplicado ˆ hip—tese o instituto da leg’tima defesa
preordenada.

16.! (FGV Ð 2013 Ð OAB Ð XII EXAME DE ORDEM)


Wilson, competente professor de uma autoescola, guia seu carro por uma
avenida ˆ beira-mar. No banco do carona est‡ sua noiva, Ivana. No meio
do percurso, Wilson e Ivana come•am a discutir: a mo•a reclama da alta
velocidade empreendida. Assustada, Ivana grita com Wilson, dizendo que,
se ele continuasse naquela velocidade, poderia facilmente perder o
controle do carro e atropelar alguŽm. Wilson, por sua vez, responde que
Ivana deveria deixar de ser medrosa e que nada aconteceria, pois se sua
profiss‹o era ensinar os outros a dirigir, ninguŽm poderia ser mais
competente do que ele na condu•‹o de um ve’culo. Todavia, ao fazer uma
curva, o autom—vel derrapa na areia trazida para o asfalto por conta dos
ventos do litoral, o carro fica desgovernado e acaba ocorrendo o
atropelamento de uma pessoa que passava pelo local. A v’tima do
atropelamento falece instantaneamente. Wilson e Ivana sofrem pequenas
escoria•›es. Cumpre destacar que a per’cia feita no local constatou
excesso de velocidade. Nesse sentido, com base no caso narrado, Ž
correto afirmar que, em rela•‹o ˆ v’tima do atropelamento, Wilson agiu
com
A) dolo direto.
B) dolo eventual.
C) culpa consciente.
D) culpa inconsciente.

17.! (FGV Ð 2013 Ð OAB Ð XII EXAME DE ORDEM)


Odete Ž diretora de um orfanato municipal, respons‡vel por oitenta
meninas em idade de dois a onze anos. Certo dia Odete v• Elisabeth, uma
das recreadoras contratada pela Prefeitura para trabalhar na institui•‹o,
praticar ato libidinoso com Poliana, crian•a de 9 anos, que ali estava
abrigada. Mesmo enojada pela situa•‹o que presenciava, Odete achou
melhor n‹o intervir, porque n‹o desejava criar qualquer problema para si.
Nesse caso, tendo como base apenas as informa•›es descritas, assinale a
op•‹o correta.
A) Odete n‹o pode ser responsabilizada penalmente, embora possa s•-lo
no ‰mbito c’vel e administrativo.
B) Odete pode ser responsabilizada pelo crime descrito no Art. 244-A, do
Estatuto da Crian•a e do Adolescente, verbis: ÒSubmeter crian•a ou
adolescente, como tais definidos no caput do art. 2o desta Lei, ˆ
prostitui•‹o ou ˆ explora•‹o sexualÓ.
C) Odete pode ser responsabilizada pelo crime de estupro de vulner‡vel,
previsto no Art. 217-A do CP, verbis: ÒTer conjun•‹o carnal ou praticar
outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anosÓ.

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D) Odete pode ser responsabilizada pelo crime de omiss‹o de socorro,
previsto no Art. 135, do CP, verbis: ÒDeixar de prestar assist•ncia,
quando poss’vel faz•-lo sem risco pessoal, ˆ crian•a abandonada ou
extraviada, ou ˆ pessoa inv‡lida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo; ou n‹o pedir, nesses casos, o socorro da autoridade
pœblicaÓ.

4.! GABARITO

1.! ALTERNATIVA A 10.!ALTERNATIVA B


2.! ALTERNATIVA B 11.!ALTERNATIVA D
3.! ALTERNATIVA C 12.!ALTERNATIVA C
4.! ALTERNATIVA C 13.!ALTERNATIVA A
5.! ALTERNATIVA E 14.!ALTERNATIVA A
6.! ALTERNATIVA A 15.!ALTERNATIVA D
7.! ALTERNATIVA C 16.!ALTERNATIVA C
8.! ALTERNATIVA A 17.!ALTERNATIVA C
9.! ALTERNATIVA B

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