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ACÓRDÃO
PROC. Nº213/95
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TRIBUNAL SUPREMO
Juntou 8 documentos.
- A empresa em causa não abriu concurso público pois, sendo ele o inquilino
do imóvel, seria o primeiro a ter conhecimento dele ao abrigo do direito de
preferência previsto no art.º 5º da Lei 19/91, e num concurso público de tanto
interesse não era de admitir que só aparecessem duas entidades.
- Que o contrato de compra e venda a que o A. alude é ilegal pois a Lei 19/91,
no seu art.º 7º nº 1º, proíbe que cada pessoa singular seja proprietária de mais
de um imóvel familiar e o A. já é proprietário no Namibe de prédio onde habita.
- Que sendo a compra e venda nula não podia o A. impôr a nova renda de NKZ.
60.000,00, nem exigir ao R. que desocupasse o imóvel.
Juntou 9 documentos.
Veio o A. responder à contestação (fls 35) dizendo não ter sido a venda do
imóvel ilegal porquanto a Lei 9/91 refere-se expressamente às residências da
Secretaria de Estado de Habitação quando o imóvel em referência era pertença
da empresa de Edificações e Urbanismo, sendo que o A. agiu de boa - fé ao
adquiri-lo.
Que o negócio foi concluído por escritura pública e portanto válido "erga omnes"
sendo que o contrato de arrendamento celebrado entre o R. e a Secretaria de
Estado de Habitação caducou quando o imóvel foi transferido para o património
do A.
Designado dia para audiência preparatória (fls 41) veio o R. treplicar (fls 44 e
45).
- Que a preferência outorgada aos inquilinos nos termos do art.º 5.º n.º 3 da Lei
19/91 se refere aos imóveis confiscados nos termos das Leis n.º 3/76 e 43/76
sendo que o imóvel em questão foi edificado pela Direcção de Edificações que
pode vender o seu património sem se reger pela referida Lei n.º 19/91.
- A compra efectuada pelo A. Apelado violou o disposto no art.º 5.º n.º 3.º da
Lei 19/91 de 25 de Maio, conjugado com os art.º 416.º e 1458.º do Cód. do
Proc. Civil.
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Juntou dois documentos, os quais aliás já tinham sido juntos aos autos com a
contestação (fls 20 e 27).
- Que não deve ser dado provimento ao recurso pois o Apelante não goza de
qualquer direito de preferência nem o contrato celebrado com a Secretaria de
Estado de Habitação foi dado a conhecer à Empresa de Edificações e
Urbanismo.
Dada vista dos autos ao Digno Representante do M.º P.º nada teve ele a
requerer (fls 119).
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Assim, não deveriam ter sido aceites nem a resposta à contestação (fls 35) nem
a tréplica do R. (fls 44), que esta forma de processo especial não prevê.
Trata-se duma acção de natureza possessória na qual o A., ora Apelado, vem
pedir a condenação do R. na restituição do imóvel que constitui o local de
residência do R.
Como tal, está em causa a residência familiar do R. onde ele sendo casado,
reside com o seu cônjuge ELISA NAMPHUNDO PEQUENINO DUMBO, como
se vê do documento junto a fls. 20.
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Sucede porém que a questão de ilegitimidade do R. não foi invocada por este
e tão pouco o Tribunal recorrido a suscitou oficiosamente no seu despacho
saneador.
Neste despacho (fls 60) mencionou-se que "as partes são legítimas" como mera
fórmula processual. Não obstante tal declaração, a despeito de ter sido feita em
termos genéricos, tem natureza definitiva quanto à questão da legitimidade
desde logo se tenha operado o trânsito em julgado do despacho saneador.
Como já foi decidido no Acórdão proferido por esta Câmara no Proc. nº 216 de
29 de Maio de 95, a decisão proferida nos autos produz efeitos tão só em
relação ao R. marido mas já não em relação ao cônjuge mulher que não foi
chamada a intervir na acção.
Desde logo, se constata que os n.ºs 1.º, 2.º e 3.º do questionário carecem de
base documental em que se apoiem, além de não identificarem como deviam,
a natureza, área, confrontações, tipo de edificação, etc das coisas que refere
tão somente como "imóveis".
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Por demais impreciso é também dizer-se que essa empresa "tinha no Município
da Bibala quatro imóveis".
No quesito 2º, menciona-se que foi aberto concurso público para alienação de
tais imóveis, quando os documentos juntos aos autos são simplesmente
demonstrativos de que, por despachos internos da Delegação Provincial do
Namibe do Ministério da Construção foi ordenada a venda de determinadas
edificações (fls 5).
Também não tem suporte legal o conteúdo do quesito 3º que menciona ter o A
"celebrado um contrato de compra e venda" com a referida empresa pois
nenhum dos documentos juntos pelo A. integrava contrato de compra e venda
de imóvel.
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Por sua vez, o questionário nos seus quesitos 1.º, 3.º e 4.º contém matéria que
já constava da especificação e paradoxalmente volta-se a quesitar se a
Direcção Provincial e Edificações "tinha imóveis no Município de Bibala”, se o
A. adquiriu por compra o imóvel onde residia o R. e se o R. celebrou contrato
de arrendamento com a Secretaria Estado de Habitação.
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Nas suas alegações de recurso pretende o Apelante que por via desse contrato
lhe assista o direito de preferência que é atribuído aos inquilinos dos prédios do
Estado pela Lei da Venda do Património Habitacional do Estado, a Lei 19/91 de
25 de Maio.
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Os beneficiários dessas vendas são os mencionados no n.º 5.º, sendo que o 3.º
deste artigo outorga aos inquilinos o direito de preferência nessa aquisição.
Ora, no caso dos autos, o prédio em causa foi mandado construir por orgãos
do poder local do Estado por contrato de empreitada datado de 1989 (fls 82 e
83), nada tendo a ver com o âmbito de aplicação da referida Lei n.º 19/91.
Acresce que qualquer bem imóvel carece de ser objecto de registo predial que
identifique o imóvel nos termos da lei, e define a titularidade de direitos que
sobre eles recaiam por via de competente inscrição.
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Por outras palavras havia que demonstrar, por via documental, qual o anterior
proprietário do imóvel e que o A. Apelado a ele o adquirira por título válido.
Por fim, importa atentar que a via processual a que o A. Apelado se acolheu, a
de restituição de posse, nunca seria adequada ao fim proposto.
Ora nem o Apelado teve anterior posse do imóvel nem a teve a Direcção
Provincial de Urbanismo e Edificações, pois o imóvel estava na posse da
Secretaria de Estado de Habitação que outorgou o já mencionado contrato de
arrendamento.
Não tendo havido posse, como não houve, é óbvio que não houve esbulho que
permitisse ao A. Apelado vir a Juízo pedir a restituição de algo que nunca lhe
foi retirado.
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