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ATUALIZAÇÃO LEGISLATIVA CAPÍTULO I

Dos Fins e da Organização

Art. 44. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),


serviço público, dotada de personalidade jurídica e forma
EAOAB federativa, tem por finalidade:

§ 6º Os atos conclusivos dos órgãos da OAB, salvo quando


reservados ou de administração interna, devem ser
CAPÍTULO VI
publicados na imprensa oficial ou afixados no fórum, na
íntegra ou em resumo. (Vide Lei nº 13.688, de
Dos Honorários Advocatícios
2018) (Vigência)
Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos
inscritos na OAB o direito aos honorários convencionados, aos TÍTULO III
fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência.
Do Processo na OAB
§ 1º O advogado, quando indicado para patrocinar
CAPÍTULO I
causa de juridicamente necessitado, no caso de
impossibilidade da Defensoria Pública no local da prestação
de serviço, tem direito aos honorários fixados pelo juiz, Disposições Gerais
segundo tabela organizada pelo Conselho Seccional da OAB, e
pagos pelo Estado. Art. 69. Todos os prazos necessários à manifestação de
advogados, estagiários e terceiros, nos processos em geral da
§ 2º Na falta de estipulação ou de acordo, os OAB, são de quinze dias, inclusive para interposição de
honorários são fixados por arbitramento judicial, em recursos.
remuneração compatível com o trabalho e o valor econômico
da questão, não podendo ser inferiores aos estabelecidos na § 2º Nos casos de publicação na imprensa oficial do ato ou da
tabela organizada pelo Conselho Seccional da OAB. decisão, o prazo inicia-se no primeiro dia útil
seguinte. (Vide Lei nº 13.688, de 2018) (Vigência)
§ 3º Salvo estipulação em contrário, um terço dos
honorários é devido no início do serviço, outro terço até a
decisão de primeira instância e o restante no final.
Lei nº 13.793/2019: advogados podem visualizar e imprimir
§ 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu processos eletrônicos mesmo sem estarem funcionando nos
contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de autos
levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe
sejam pagos diretamente, por dedução da quantia a ser
recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os Olá amigos do Dizer o Direito,
pagou.
Foi publicada hoje a Lei nº 13.793/2019, que permite que os
§ 5º O disposto neste artigo não se aplica quando se advogados possam visualizar e imprimir processos
tratar de mandato outorgado por advogado para defesa em eletrônicos mesmo sem estarem funcionando nos autos.
processo oriundo de ato ou omissão praticada no exercício da
profissão. Vamos entender.

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem


§ 6º O disposto neste artigo aplica-se aos procuração
honorários assistenciais, compreendidos como os fixados O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º,
em ações coletivas propostas por entidades de classe em XIII, que:
substituição processual, sem prejuízo aos honorários Em regra, é direito do advogado examinar...
convencionais. (Incluído pela Lei nº 13.725, de 2018) - em qualquer órgão do Poder Judiciário
- em qualquer órgão do Poder Legislativo
§ 7º Os honorários convencionados com entidades - ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública
de classe para atuação em substituição processual - os autos de processos judiciais (cíveis/criminais) e
poderão prever a faculdade de indicar os beneficiários - os autos de processos administrativos
que, ao optarem por adquirir os direitos, assumirão as - que ainda estejam em andamento
obrigações decorrentes do contrato originário a partir do - ou que já tenham sido encerrados
momento em que este foi celebrado, sem a necessidade - mesmo sem procuração.
de mais formalidades. (Incluído pela Lei nº 13.725, de
2018) Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de
justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se
possuir procuração.
TÍTULO II
Autos de flagrante e investigações
Da Ordem dos Advogados do Brasil
Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo
para o flagrante, o inquérito e outras investigações de e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do
qualquer natureza? advogado às diligências em curso.
SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:
Art. 7º São direitos do advogado: Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o
(...) dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por que sustentavam não ser possível ao advogado, sem
conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao §
flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo
em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo Eletrônico) que, de fato, era muito mal redigido. Compare a
copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; redação anterior com a atual:
(Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)
Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrônico)
No caso deste inciso XIV, a situação da procuração é a mesma:
• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos Redação anterior Redação atual (dada pela Lei
processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração 13.793/2019)
das partes envolvidas. Art. 11 (...) Art. 11 (...)
• Exceção: será necessário que o advogado apresente § 6º Os documentos § 6º Os documentos
procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § digitalizados juntados em digitalizados juntados em
10, do Estatuto da OAB). processo eletrônico processo eletrônico estarão
somente estarão disponíveis para acesso por
Documentos relacionados a diligências de investigação em disponíveis para acesso por meio da rede externa pelas
andamento meio da rede externa para respectivas partes
Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados suas respectivas partes processuais, pelos advogados,
determinados tipos de diligências que, se forem reveladas ao processuais e para o independentemente de
investigado, se tornarão completamente inúteis. Ministério Público, procuração nos autos, pelos
Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está respeitado o disposto em membros do Ministério
interceptado. lei para as situações de Público e pelos magistrados,
Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na sigilo e de segredo de sem prejuízo da possibilidade
casa do indiciado. justiça. de visualização nas secretarias
dos órgãos julgadores, à
Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a exceção daqueles que
eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o tramitarem em segredo de
investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa justiça.
incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer documento que
lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, Cadastro e demonstração de interesse
nestas hipóteses, a autoridade responsável pela investigação Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter
não junte aos autos os documentos relacionados com as acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele
diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. faça um cadastro para que se prove a condição profissional e
7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016: como uma forma de controle do acesso aos dados.
§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação
poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a
prova relacionados a diligências em andamento e ainda não sua condição de advogado, procurador ou membro do MP e,
documentados nos autos, quando houver risco de automaticamente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade se estiver em segredo de justiça.
das diligências. É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº
13.793/2019:
Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe Art. 11 (...)
também nos processos eletrônicos? § 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos
SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e
era permitido, considerando que não havia motivo razoável membros do Ministério Público cadastrados, mas não
para uma diferenciação, ou seja, para se permitir o acesso do vinculados a processo previamente identificado, acessem
advogado sem procuração aos autos de processo físico e automaticamente todos os atos e documentos processuais
vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado
indiferente. interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de
Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de processos em segredo de justiça.
Justiça que, em seus sistemas informatizados, permitia que o
usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse O que significa a expressão “desde que demonstrado interesse
acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem para fins apenas de registro”?
procuração. A redação não foi muito feliz. Penso, no entanto, que o
O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam
Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da os processos eletrônicos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.)
OAB prevendo o seguinte: devem permitir que advogados, procuradores e membros do
Art. 7º (...) MP cadastrados acessem automaticamente os autos
§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele
aplica-se integralmente a processos e a procedimentos processo, desde que o profissional demonstre interesse em
eletrônicos, ressalvado o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo. acessá-lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em
que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins
de registro, como uma forma de segurança e controle.
CONSTITUCIONAL
Mudança no CPC
O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns
direitos dos advogados (art. 107). Breves comentários à EC 96/2017 (Emenda da
No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos Vaquejada)
autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração,
repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado Olá amigos do Dizer o Direito,
pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.
Veja o inciso I do art. 107 do CPC: Foi publicada hoje (07/06/2017) mais uma emenda
Art. 107. O advogado tem direito a: constitucional.
I - examinar, em cartório de fórum e secretaria de
tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, Trata-se da EC 96/2017, que acrescenta o § 7º ao art. 225 da
independentemente da fase de tramitação, assegurados a CF/88 “para determinar que práticas desportivas que utilizem
obtenção de cópias e o registro de anotações, salvo na
animais não são consideradas cruéis”.
hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado
constituído terá acesso aos autos;
O verdadeiro objetivo desta emenda foi o de superar uma
A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerência no sistema decisão do STF proferida em 2016 na qual o Tribunal declarou
e sendo extremamente cautelosa, também inseriu o § 5º a que a atividade conhecida como “vaquejada” era
esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inconstitucional em virtude de gerar tratamento cruel aos
inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído: bovinos.
Art. 107 (...)
§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se Antes de mostrar o conteúdo da EC 96/2017 vamos relembrar
integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº em que consiste a vaquejada e qual foi a decisão do STF a
13.793/2019) respeito do tema.
Defensores Públicos Vaquejada
A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os
Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006. A vaquejada é uma prática cultural comum nos Estados do
Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem
nordeste do Brasil, em especial no Ceará, no Rio Grande do
advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que
os advogados, considerando que os membros da Defensoria Norte, na Paraíba, em Alagoas e na Bahia.
Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer
aos necessitados assistência jurídica integral e gratuita Na vaquejada, dois vaqueiros, cada um montado em seu
(inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. cavalo, perseguem o boi na arena e, após emparelhá-lo com os
134 da CF/88. cavalos, tentam conduzi-lo até uma região delimitada, onde
Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou deverão derrubar o boi puxando-o pelo rabo.
medida concreta que confira ao Defensor Público menos
prerrogativas funcionais que aos advogados, considerando Se o boi, quando foi derrubado, ficou, ainda que por alguns
que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição instantes, com as quatro patas para cima antes de se levantar,
Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos
o juiz declara ao público “Valeu boi!” e a dupla recebe os
necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o
necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Público pontos.
que não goza das mesmas garantias que um advogado
particular. Se o boi caiu, mas não ficou com as patas para cima, o juiz
Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC anuncia “Zero!”, e a dupla não pontua.
80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos
de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não Algumas regras mudam de acordo com a organização do
sendo necessário, em regra, procuração para isso: evento, mas, em regra, cada dupla enfrenta cinco bois. O
Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública primeiro vale 8 pontos, o segundo 9 pontos, o terceiro 10
da União: pontos, o quarto 11 e o quinto 12, totalizando 50 pontos.
(...)
VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de Críticas e defensores
flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de
cópias e podendo tomar apontamentos; As associações protetoras dos animais criticam bastante as
(...) vaquejadas, alegando que os bois e cavalos envolvidos sofrem
XI - representar a parte, em feito administrativo ou judicial,
maus tratos e que, com frequência, ficam com sequelas
independentemente de mandato, ressalvados os casos para os
quais a lei exija poderes especiais; decorrentes das agressões e do estresse que passam.

Vigência Os defensores da atividade, por sua vez, alegam que os


A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua animais não sofrem maus tratos e que esta prática é
publicação (04/01/2019). centenária, fazendo parte do patrimônio cultural do povo
nordestino. Além disso, argumentam que se trata de um
esporte e que os eventos geram inúmeros empregos e renda
para aquela região do país.
Lei 15.299/2013 Nas questões ambientais, o indivíduo é considerado titular do
direito e, ao mesmo tempo, destinatário dos deveres de
O Ceará editou a Lei nº 15.299/2013, regulamentando a proteção. Daí porque a doutrina fala que existe um verdadeiro
atividade de “vaquejada” no Estado. A norma fixou os critérios “direito-dever” fundamental.
para a competição e obrigou os organizadores a adotarem
medidas de segurança para os vaqueiros, público e animais. Laudos técnicos comprovaram consequências nocivas aos
animais
O Procurador-Geral da República, no entanto, ajuizou ação
direta de inconstitucionalidade contra a lei. O PGR juntou aos autos laudos técnicos que comprovam que
as vaquejadas provocam consequências nocivas à saúde dos
Segundo a ação, com a profissionalização da vaquejada, bovinos, tais como fraturas nas patas, ruptura dos ligamentos
algumas práticas passaram a ser adotadas, como o e dos vasos sanguíneos, traumatismos e deslocamento da
enclausuramento dos animais antes de serem lançados à articulação do rabo e até seu arrancamento, das quais
pista, momento em que são açoitados e instigados para que resultam comprometimento da medula espinhal e dos nervos
entrem agitados na arena quando da abertura do portão. Tais espinhais, dores físicas e sofrimento mental.
práticas acarretam danos e constituem crueldade contra os
animais, o que é vedado pelo art. 225, § 1º, VII, da CF/88: Diante desses dados, o STF concluiu que é indiscutível que os
animais envolvidos sofrem tratamento cruel, o que contraria o
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente art. 225, § 1º, VII, da CF/88.
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à Proibição da crueldade prevalece sobre a proteção cultural
coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações. O STF entendeu que a crueldade provocada pela “vaquejada”
faz com que, mesmo sendo esta uma atividade cultural, não
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao possa ser permitida.
Poder Público:
A expressão “crueldade”, constante da parte final do inciso VII
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as do § 1º do art. 225 da CF/88, engloba a tortura e os maus-
práticas que coloquem em risco sua função ecológica, tratos sofridos pelos bovinos durante a prática da vaquejada,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a de modo a tornar intolerável esta conduta que havia sido
crueldade. autorizada pela norma estadual impugnada.

O pedido do PGR foi acolhido pelo STF? A vaquejada foi Assim, mesmo reconhecendo a importância da vaquejada
considerada uma prática contrária à CF? como manifestação cultural regional, esse fator não torna a
atividade imune aos outros valores constitucionais, em
SIM. especial à proteção ao meio ambiente.
Conflito de normas constitucionais sobre direitos Resultado
fundamentais
O placar foi bastante apertado (6x5):
O caso em tela revela um conflito de normas constitucionais
sobre direitos fundamentais: • Inconstitucionalidade da lei: Ministros Marco Aurélio,
Roberto Barroso, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Celso de
• De um lado, a CF/88 proíbe as práticas que submetam os Mello e Cármen Lúcia.
animais a crueldade (art. 225, § 1º, VII);
• Constitucionalidade da lei (vencidos): Ministros Edson
• De outro, o texto constitucional garante o pleno exercício Fachin, Teori Zavascki (agora falecido), Luiz Fux, Dias Toffoli e
dos direitos culturais, das manifestações culturais e Gilmar Mendes.
determina que o Estado proteja as manifestações das culturas
populares (art. 215, caput e § 1º). Resumindo:

Direito fundamental de terceira geração É inconstitucional lei estadual que regulamenta a


atividade da “vaquejada”.
O art. 225 da CF/88 consagra a proteção da fauna e da flora
como modo de assegurar o direito ao meio ambiente sadio e Segundo decidiu o STF, os animais envolvidos nesta
equilibrado. É, portanto, direito fundamental de terceira prática sofrem tratamento cruel, razão pela qual esta
geração, fundado na solidariedade, de caráter coletivo ou atividade contraria o art. 225, § 1º, VII, da CF/88.
difuso, dotado de "altíssimo teor de humanismo e
universalidade" (BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito A crueldade provocada pela “vaquejada” faz com que,
Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 523). mesmo sendo esta uma atividade cultural, não possa ser
permitida.
A manutenção do ecossistema é um dever de todos em
benefício das gerações do presente e do futuro. A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício
de direitos culturais, incentivando a valorização e a
difusão das manifestações, não prescinde da observância Trata-se de uma "reação" do Poder Legislativo à decisão do
do disposto no inciso VII do § 1º do art. 225 da CF/88, que STF.
veda práticas que submetam os animais à crueldade.
O Congresso Nacional poderia editar esta Lei, em tese,
STF. Plenário. ADI 4983/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado contrariando o que decidiu o STF na ADI 4983? Sim, porque,
em 06/10/2016 (Info 842). como já dito, a decisão do STF restringiu-se a uma lei do
Ceará, que permitia a realização da vaquejada naquele Estado.
O efeito vinculante do acórdão se limita a isso. Assim, esta lei
do Ceará é inconstitucional e ninguém pode contrariar isso. A
Decisão que vale apenas para a Lei do CE
decisão do STF não impede, contudo, que o Congresso
Apesar dos argumentos utilizados pelos Ministros terem sido Nacional ou mesmo outros Estados editem leis permitindo a
muito incisivos, em sentido estritamente técnico, a decisão vaquejada. Formalmente, tais leis não violam a decisão do
acima explicada (ADI 4983/CE) só vale para a lei do Estado do STF.
Ceará.
EC 96/2017
Assim, todas as demais leis que eventualmente tratam sobre o
A Lei nº 13.364/2016, acima mencionada, sozinha, não teria
tema, para serem declaradas inconstitucionais, precisam ser
força jurídica suficiente para superar a decisão do STF. Isso
formalmente questionadas no STF.
porque, na visão do Supremo, a prática da vaquejada não era
De igual modo, se for realizada uma vaquejada em outro proibida por ausência de lei. Ao contrário, a Corte entendeu
Estado da Federação, não se pode propor uma reclamação que, mesmo havendo lei regulamentando a atividade, a
alegando que a decisão do STF está sendo descumprida. Foi o vaquejada era inconstitucional por violar o art. 225, § 1º, VII,
que aconteceu na RCL 25869. da CF/88.

Em Teresina (PI) estava sendo programada a realização de Assim, essa Lei nº 13.364/2016 não ajudava muito os
uma vaquejada. Isso foi questionado na Justiça por entidades partidários da vaquejada e era certo que o STF iria manter a
de proteção aos animais. Contudo, o juiz de 1ª instância negou proibição.
o pedido e manteve a vaquejada.
Ciente disso, o Congresso Nacional decidiu alterar a própria
As entidades de proteção ingressaram, então, com reclamação Constituição, nela inserindo a previsão expressa de que são
no STF contra esta decisão do magistrado. permitidas práticas desportivas que utilizem animais, desde
que sejam manifestações culturais.
As associações alegaram que, ao negar a liminar nos autos de
ação civil pública, o juízo de primeiro grau teria violado a Veja a íntegra do § 7º que foi inserido pela EC 96/2017 no art.
decisão do STF na ADI 4983. 225 da CF/88:

O Ministro Teori Zavascki negou seguimento à reclamação Art. 225. (...)


afirmando que o STF efetivamente decidiu foi a
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º
inconstitucionalidade da lei cearense, não sendo cabível, até o
deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas
presente momento, extrair conclusão no sentido da proibição
que utilizem animais, desde que sejam manifestações
da prática da vaquejada em todo o território nacional.
culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição
STF. Decisão monocrática. Rcl 25869, Rel. Min. Teori Zavascki, Federal, registradas como bem de natureza imaterial
julgado em 07/12/2016. integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser
regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar
Lei nº 13.364/2016 dos animais envolvidos.

Pouco mais de um mês após esta decisão do STF acima


explicada (ADI 4983/CE) o Congresso Nacional editou a Lei nº
13.364/2016, que prevê o seguinte: Foi uma tentativa de superação legislativa da jurisprudência
(reversão jurisprudencial), uma manifestação de ativismo
Art. 1º Esta Lei eleva o Rodeio, a Vaquejada, bem como as congressual. Para maiores informações sobre o tema, veja este
respectivas expressões artístico-culturais, à condição de post.
manifestações da cultura nacional e de patrimônio cultural
imaterial. Efeito Backlash

Art. 2º O Rodeio, a Vaquejada, bem como as respectivas A EC 96/2017 é um exemplo do que a doutrina
expressões artístico-culturais, passam a ser considerados constitucionalista denomina de “efeito backlash”.
manifestações da cultura nacional.
Em palavras muito simples, efeito backlash consiste em uma
reação conservadora de parcela da sociedade ou das forças
políticas (em geral, do parlamento) diante de uma decisão
liberal do Poder Judiciário em um tema polêmico.
George Marmelstein resume a lógica do efeito backlash ao Penso que sim. Conforme já explicado, o direito ao meio
ativismo judicial: ambiente ecologicamente equilibrado é um direito
fundamental de terceira geração, não podendo ser abolido
“(1) Em uma matéria que divide a opinião pública, o Judiciário nem restringido, ainda que por emenda constitucional.
profere uma decisão liberal, assumindo uma posição de
vanguarda na defesa dos direitos fundamentais. (2) Como a Resta saber, no entanto, como o STF entenderá o tema após
consciência social ainda não está bem consolidada, a decisão o backlash, considerando que a primeira decisão foi
judicial é bombardeada com discursos conservadores extremamente apertada.
inflamados, recheados de falácias com forte apelo emocional.
(3) A crítica massiva e politicamente orquestrada à decisão Breves comentários à EC 97/2017: fim das coligações nas
eleições proporcionais e cláusula de barreira
judicial acarreta uma mudança na opinião pública, capaz de
IMPORTANTE!!!
influenciar as escolhas eleitorais de grande parcela da
população. (4) Com isso, os candidatos que aderem ao Olá amigos do Dizer o Direito,
discurso conservador costumam conquistar maior espaço
político, sendo, muitas vezes, campeões de votos. (5) Ao Foi publicada no último dia 05/10, a EC 97/2017, que altera a
vencer as eleições e assumir o controle do poder político, o Constituição Federal para:
grupo conservador consegue aprovar leis e outras medidas • vedar as coligações partidárias nas eleições proporcionais;
• estabelecer normas sobre acesso dos partidos políticos aos
que correspondam à sua visão de mundo. (6) Como o poder
recursos do fundo partidário e ao tempo de propaganda
político também influencia a composição do Judiciário, já que gratuito no rádio e TV.
os membros dos órgãos de cúpula são indicados
politicamente, abre-se um espaço para mudança de PROIBIÇÃO DE COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS NAS ELEIÇÕES
entendimento dentro do próprio poder judicial. (7) Ao fim e PROPORCIONAIS
ao cabo, pode haver um retrocesso jurídico capaz de criar
uma situação normativa ainda pior do que a que havia antes Sistema eleitoral
Sistema eleitoral é o conjunto de regras e técnicas previstas
da decisão judicial, prejudicando os grupos que,
pela CF e pela lei para disciplinar a forma como os candidatos
supostamente, seriam beneficiados com aquela decisão.” ao mandato eletivo serão escolhidos e eleitos.
(Disponível em: No Brasil, atualmente, existem dois sistemas eleitorais:
https://direitosfundamentais.net/2015/09/05/efeito-
a) MAJORITÁRIO b) PROPORCIONAL
backlash-da-jurisdicao-constitucional-reacoes-politicas-a-
atuacao-judicial/).
O mandato eletivo fica com o Terminada a votação,
A EC 96/2017 é inconstitucional? candidato ou partido político divide-se o total de votos
que obteve a maioria dos válidos pelo número de
Este será um belíssimo e imprevisível debate. votos. cargos em disputa, obtendo-
se assim o quociente
No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) Ganha o candidato mais eleitoral. Ex: na eleição para
votado, independentemente vereador houve 100 mil
proposta por meio de emenda constitucional, a invalidação
dos votos de seu partido. votos válidos e eram 20
somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos vagas. Logo, o quociente
limites previstos no art. 60, e seus §§, da CF/88. Em suma, se o eleitoral será 5 mil (100.000
Congresso editar uma emenda constitucional buscando : 20 = 5.000).
alterar a interpretação dada pelo STF para determinado tema,
essa emenda somente poderá ser declarada inconstitucional Em seguida, pega-se os votos
de cada partido ou
se ofender uma cláusula pétrea ou o processo legislativo para
coligação* e divide-se pelo
edição de emendas.
quociente eleitoral, obtendo-
se assim o número de eleitos
Segundo o art. 60, § 4º, da CF/88, não é permitida a edição de de cada partido (quociente
emenda constitucional que acabe ou enfraqueça: partidário). Ex: o Partido X e
seus candidatos tiveram 20
I - a forma federativa de Estado; mil votos. Esses 20 mil serão
divididos pelo quociente
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; eleitoral (5 mil). Logo, esse
partido terá direito a 4 vagas
III - a separação dos Poderes; de Vereador (20.000 : 5.000
= 4).
IV - os direitos e garantias individuais.
Os candidatos mais bem
Essas são as chamadas “cláusulas pétreas”, ou seja, o núcleo votados desse partido irão
intangível da Constituição Federal. ocupar tais vagas.

A grande dúvida será a seguinte: a proibição de que os No Brasil, é o sistema adotado No Brasil, é o sistema
animais sofram tratamento cruel, prevista no art. 225, § para a eleição de Prefeito, adotado para a escolha de
1º, VII, da CF/88, pode ser considerada como uma garantia Governador, Senador e Vereador, Deputado
individual (art. 60, § 4º, IV)? Presidente. Estadual e Deputado
Federal.
Houve alguma mudança no regime das coligações para
* antes da EC 97/2017. eleições majoritárias?
NÃO. As coligações para eleições majoritárias continuam
Eleições proporcionais sendo permitidas sem qualquer alteração.
Quando se fala em “eleições proporcionais” está se referindo
às eleições que adotam o sistema proporcional acima Compare as mudanças operadas pela EC 97/2017 no texto
explicado. É o caso das eleições para Vereador, Deputado constitucional:
Estadual e Deputado Federal.
Redação anterior Redação ATUAL (dada pela EC
97/2017)
Coligações partidárias
Art. 17. (...) Art. 17 (...)
Coligação partidária consiste na aliança (acordo) feita entre
§ 1º É assegurada aos § 1º É assegurada aos partidos
dois ou mais partidos para que eles trabalhem juntos em uma
partidos políticos políticos autonomia para
eleição apresentando o mesmo candidato.
autonomia para definir sua definir sua estrutura interna e
Ex: nas eleições presidenciais de 2014, foi feita uma coligação
estrutura interna, estabelecer regras sobre
denominada “Coligação com a força do povo” para apresentar
organização e escolha, formação e duração
a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República.
funcionamento e para de seus órgãos permanentes e
Esta coligação era formada por 9 partidos (PT, PMDB, PSD, PP,
adotar os critérios de provisóriose sobre sua
PR, PROS, PDT, PC do B e PRB).
escolha e o regime de suas organização e funcionamento
coligações eleitorais, sem e para adotar os critérios de
É possível a realização de coligações partidárias tanto
obrigatoriedade de escolha e o regime de suas
para eleições majoritárias como também proporcionais?
vinculação entre as coligações nas eleições
Antes da EC 97/2017 Depois da EC 97/2017 candidaturas em âmbito majoritárias,vedada a sua
(ATUALMENTE) nacional, estadual, distrital celebração nas eleições
SIM. Era permitida a NÃO. Atualmente só se ou municipal, devendo seus proporcionais, sem
realização de coligações permite coligação partidária estatutos estabelecer obrigatoriedade de vinculação
partidárias tanto para para eleições majoritárias. normas de disciplina e entre as candidaturas em
eleições majoritárias como fidelidade partidária. âmbito nacional, estadual,
também proporcionais. distrital ou municipal,
Essa era a redação vigente da O § 1º do art. 17 da CF/88 foi devendo seus estatutos
Lei nº 9.504/97: alterado pela EC 97/2017 e estabelecer normas de
Art. 6º É facultado aos passou a prever que é vedada disciplina e fidelidade
partidos políticos, dentro da a celebração de coligações nas partidária.
mesma circunscrição, eleições proporcionais.
celebrar coligações para Com isso, o art. 6º da Lei nº Repare que, além de proibir a realização de coligações em
eleição majoritária, 9.504/97 não foi eleições proporcionais, o novo § 1º do art. 17 prevê
proporcional, ou para ambas, recepcionado pela EC expressamente que os partidos políticos gozam de autonomia
podendo, neste último caso, 97/2017. Em linguagem para estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de
formar-se mais de uma comum, mas atécnica, diz-se seus órgãos permanentes e provisórios.
coligação para a eleição que o referido art. 6º foi
proporcional dentre os “revogado” pela EC 97/2017.
partidos que integram a FUNDO PARTIDÁRIO E ACESSO GRATUITO AO RÁDIO E À
coligação para o pleito TELEVISÃO
majoritário.
O que é o fundo partidário?
Qual foi o grande objetivo por trás dessa mudança? Trata-se de um Fundo Especial de Assistência Financeira aos
A intenção foi a de fortalecer os grandes partidos. Isso porque Partidos Políticos que tenham seu estatuto registrado no
não sendo permitida a coligação em eleições proporcionais, Tribunal Superior Eleitoral e prestação de contas regular
dificilmente partidos muito pequenos irão conseguir atingir perante a Justiça Eleitoral.
um quociente partidário que supere o quociente eleitoral. O “Fundo Partidário” é constituído por dotações
Significa dizer que, sozinhos, ou seja, sem coligações, partidos orçamentárias da União, multas, penalidades, doações e
pequenos terão muito dificuldade de eleger Vereadores e outros recursos financeiros previstos no art. 38 da Lei nº
Deputados. 9.096/95.
Além da dificuldade de atingir o quociente eleitoral, os Os valores contidos no Fundo Partidário são repassados aos
partidos pequenos terão poucos segundos no horário partidos políticos por meio de um cálculo previsto no art. 41-
eleitoral, diminuindo sua visibilidade. A, da Lei nº 9.096/95.
Consiste na principal fonte de verbas dos partidos.
Essa proibição de coligações para eleições proporcionais já
irá valer no próximo pleito (2018)? Para que serve o dinheiro do fundo partidário?
NÃO. A EC 97/2017 adiou a produção dos efeitos para as Segundo o art. 44 da Lei nº 9.096/95, os recursos oriundos do
eleições de 2020. Veja: Fundo Partidário serão utilizados pelos partidos políticos
para:
Art. 2º A vedação à celebração de coligações nas eleições I - manutenção das sedes e serviços do partido, permitido o
proporcionais, prevista no § 1º do art. 17 da Constituição pagamento de pessoal, a qualquer título, observado neste
Federal, aplicar-se-á a partir das eleições de 2020. último caso o limite máximo de 50% (cinquenta por cento) do
total recebido;
Dessa forma, em 2018 ainda serão permitidas coligações para II - a propaganda doutrinária e política;
eleições proporcionais. III - o alistamento e campanhas eleitorais;
IV - a criação e manutenção de instituto ou fundação de
pesquisa e de doutrinação e educação política, sendo esta Ex: João é eleito Deputado Federal pelo PNCO (Partido
aplicação de, no mínimo, vinte por cento do total recebido. Nanico). Ocorre que o PNCO não elegeu 15 Deputados
V - a criação e manutenção de programas de promoção e Federais. Logo, João poderá mudar para o PMDB, por
difusão da participação política das mulheres conforme exemplo, não levando consigo essa filiação para fins de
percentual que será fixado pelo órgão nacional de direção aumentar os recursos do fundo partidário e do tempo de rádio
partidária, observado o mínimo de 5% (cinco por cento) do e TV para o partido de destino.
total.
Regra de transição
Direito dos partidos políticos de acesso gratuito ao rádio e Vale ressaltar que essa restrição do novo § 3º do art. 17
à TV (“direito de antena”) somente vai produzir todos os seus efeitos a partir das
Direito de antena consiste no direito dos partidos políticos de eleições de 2030.
terem acesso gratuito aos meios de comunicação. Encontra-se Enquanto isso, a Emenda previu uma regra de transição de
previsto constitucionalmente no § 3º do art. 17 da CF/88. forma que, a cada eleição, os requisitos vão se tornando mais
rigorosos até que atinja os critérios do § 3º do art. 17 em
Cláusula de barreira imposta pela EC 97/2017 2030.
A EC 97/2017 criou uma cláusula de barreira (ou de Veja:
desempenho) prevendo que os partidos somente terão acesso
aos recursos do Fundo Partidário e ao tempo de propaganda Na legislatura seguinte às eleições de 2018:
gratuita no rádio e na televisão se atingirem um patamar Terão acesso aos recursos do fundo partidário e à propaganda
mínimo de candidatos eleitos. Confira: gratuita no rádio e na televisão os partidos políticos que:
a) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no
Redação anterior Redação ATUAL (dada pela EC mínimo, 1,5%(um e meio por cento) dos votos válidos,
97/2017) distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
Art. 17. (...) Art. 17 (...) Federação, com um mínimo de 1% (um por cento) dos votos
§ 3º - Os partidos políticos § 3º Somente terão direito a válidos em cada uma delas; ou
têm direito a recursos do recursos do fundo partidário e b) tiverem elegido pelo menos nove Deputados Federais
fundo partidário e acesso acesso gratuito ao rádio e à distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os Federação;
televisão, na forma da lei. partidos políticos que
alternativamente: Na legislatura seguinte às eleições de 2022:
I - obtiverem, nas eleições para Terão acesso aos recursos do fundo partidário e à propaganda
a Câmara dos Deputados, no gratuita no rádio e na televisão os partidos políticos que:
mínimo, 3% (três por cento) a) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no
dos votos válidos, distribuídos mínimo, 2% (dois por cento) dos votos válidos, distribuídos
em pelo menos um terço das em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um
unidades da Federação, com mínimo de 1% (um por cento) dos votos válidos em cada uma
um mínimo de 2% (dois por delas; ou
cento) dos votos válidos em b) tiverem elegido pelo menos onze Deputados Federais
cada uma delas; ou distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
II - tiverem elegido pelo menos Federação;
quinze Deputados Federais
distribuídos em pelo menos um Na legislatura seguinte às eleições de 2026:
terço das unidades da Terão acesso aos recursos do fundo partidário e à propaganda
Federação. gratuita no rádio e na televisão os partidos políticos que:
a) obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no
Os requisitos acima são muito rigorosos e praticamente mínimo, 2,5%(dois e meio por cento) dos votos válidos,
asfixiam partidos pequenos. No caso do inciso II, a grande distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
maioria dos partidos atualmente não possui 15 Deputados Federação, com um mínimo de 1,5% (um e meio por cento)
Federais. É o caso, por exemplo, do Solidariedade, do PC do B, dos votos válidos em cada uma delas; ou
do PSC, do PPS, PHS, PV, PSOL, REDE e PEN. Logo, em tese, b) tiverem elegido pelo menos treze Deputados Federais
eles terão que se valer do inciso I. distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
Chamo a atenção para o fato de que os requisitos são Federação.
alternativos.
Na legislatura seguinte às eleições de 2030:
Mudança de partido do candidato eleito por uma Terão acesso aos recursos do fundo partidário e à propaganda
agremiação que não atingiu os requisitos gratuita no rádio e na televisão os partidos políticos que:
A EC 97/2017 trouxe, ainda, uma regra peculiar dizendo que I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no
se um candidato for eleito por um partido que não preencher mínimo, 3%(três por cento) dos votos válidos, distribuídos
os requisitos para obter o fundo partidário e o tempo de rádio em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um
e TV, este candidato tem o direito de mudar de partido, sem mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada
perder o mandato por infidelidade partidária: uma delas; ou
Art. 17 (...) II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
previstos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e Federação.
facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido
que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada
para fins de distribuição dos recursos do fundo partidário e de Márcio André Lopes Cavalcante
acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. Professor e Juiz Federal
de 2012 a 2014, em variável, nunca inferior, em
Ainda esta semana irei comentar as alterações promovidas conformidade com plano de cada exercício, ao percentual
pelas Leis nº 13.487 e 13.488, publicadas no último dia 06/10 e pagamento a ser anualmente praticado na data da entrada
que representam uma verdadeira minirreforma eleitoral. apresentado ao Tribunal de em vigor do regime especial a
Justiça local. que se refere este artigo, em
EC 98/2017 conformidade com plano de
pagamento a ser anualmente
apresentado ao Tribunal de
Olá amigos do Dizer o Direito, Justiça local.

Foi publicada no último dia 11/12/2017, a EC 98/2017.


§ 2º DO ART. 101
A alteração permite às pessoas que tenham mantido qualquer
tipo de relação de trabalho com os ex-territórios de Roraima e Redação anterior Redação dada pela EC 99/2017
do Amapá optarem pelo quadro em extinção do governo Art. 101. (...) Art. 101 (...)
federal se esse vínculo ocorreu entre a data de sua § 2º O débito de § 2º O débito de
transformação em estado (outubro de 1988) e outubro de precatórios poderá ser precatórios será pagocom
1993. pago mediante a utilização recursos orçamentários
de recursos orçamentários própriosprovenientes das
EC 99/2017 próprios e dos seguintes fontes de receita corrente
instrumentos: líquida referidas no § 1º deste
Olá amigos do Dizer o Direito, artigo e, adicionalmente,
poderão ser utilizados recursos
Foi publicada hoje (15/12/2017) mais uma emenda dos seguintes instrumentos:
constitucional. Trata-se da EC 99/2017, que altera os arts. I - até 75% (setenta e cinco
101, 102, 103 e 105 do ADCT da CF/88 com o objetivo de por cento) do montante I - até 75% (setenta e cinco por
“instituir novo regime especial de pagamento de precatórios” dos depósitos judiciais e cento) dos depósitos judiciais e
dificultando, mais uma vez, o recebimento dos créditos. dos depósitos dos depósitos administrativos
administrativos em em dinheiro referentes a
Vale ressaltar que esses mesmos dispositivos agora alterados dinheiro referentes a processos judiciais ou
foram inseridos há menos de um ano na CF/88 pela EC processos judiciais ou administrativos, tributários ou
94/2016. administrativos, tributários não tributários, nos quais sejam
ou não tributários, nos parte os Estados, o Distrito
Veja o quadro comparativo com as mudanças operadas pela quais o Estado, o Distrito Federal ou os Municípios, e as
EC 99/2017. Federal ou os Municípios, respectivas autarquias,
ou suas autarquias, fundações e empresas estatais
CAPUT DO ART. 101 fundações e empresas dependentes, mediante a
estatais dependentes, instituição de fundo garantidor
Redação anterior Redação dada pela EC sejam parte; em montante equivalente a 1/3
99/2017 (um terço) dos recursos
Art. 101. Os Estados, o Art. 101. Os Estados, o levantados, constituído pela
Distrito Federal e os Distrito Federal e os parcela restante dos depósitos
Municípios que, em 25 de Municípios que, em 25 de judiciais e remunerado pela
março de 2015, estiverem março de 2015, se taxa referencial do Sistema
em mora com o pagamento encontravam em mora no Especial de Liquidação e de
de seus precatórios quitarão pagamento de seus Custódia (Selic) para títulos
até 31 de dezembro de 2020 precatórios quitarão, até 31 federais, nunca inferior aos
seus débitos vencidos e os de dezembro de 2024, seus índices e critérios aplicados aos
que vencerão dentro desse débitos vencidos e os que II - até 20% (vinte por depósitos levantados;
período, depositando, vencerão dentro desse cento) dos demais
mensalmente, em conta período,atualizados pelo depósitos judiciais da II - até 30% (trinta por
especial do Tribunal de Índice Nacional de Preços ao localidade, sob jurisdição cento) dos demais depósitos
Justiça local, sob única e Consumidor Amplo Especial do respectivo Tribunal de judiciais da localidade sob
exclusiva administração (IPCA-E), ou por outro índice Justiça, excetuados os jurisdição do respectivo
desse, 1/12 (um doze avos) que venha a substituí-lo, destinados à quitação de Tribunal de Justiça, mediante a
do valor calculado depositando mensalmente em créditos de natureza instituição de fundo garantidor
percentualmente sobre as conta especial do Tribunal de alimentícia, mediante em montante equivalente aos
respectivas receitas Justiça local, sob única e instituição de fundo recursos levantados,
correntes líquidas, apuradas exclusiva administração garantidor composto pela constituído pela parcela
no segundo mês anterior ao deste, 1/12 (um doze avos) parcela restante dos restante dos depósitos
mês de pagamento, em do valor calculado depósitos judiciais, judiciais e remunerado pela
percentual suficiente para a percentualmente sobre suas destinando-se: taxa referencial do Sistema
quitação de seus débitos e, receitas correntes líquidas (...) Especial de Liquidação e de
ainda que variável, nunca apuradas no segundo mês Custódia (Selic) para títulos
inferior, em cada exercício, à anterior ao mês de federais, nunca inferior aos
média do comprometimento pagamento, em percentual índices e critérios aplicados aos
percentual da receita suficiente para a quitação de depósitos levantados,
corrente líquida no período seus débitos e, ainda que b) no caso dos Estados, destinando-se:
50% (cinquenta por cento) (...) parágrafo, sob pena de responsabilização pessoal do dirigente
desses recursos ao próprio b) no caso dos Estados, 50% da instituição financeira por improbidade.
Estado e 50% (cinquenta (cinquenta por cento) desses
por cento) a seus recursos ao próprio Estado e
Municípios; 50% (cinquenta por cento) aos NOVO § 4º DO ART. 101
respectivos Municípios,
conforme a Antes da EC 99/2017 não havia § 4º no art. 101 do ADCT. Veja
circunscrição judiciária onde a redação do dispositivo que foi inserido:
estão depositados os recursos, Art. 101. (...)
e, se houver mais de um § 4º No prazo de até seis meses contados da entrada em vigor
Município na mesma do regime especial a que se refere este artigo, a União,
circunscrição judiciária, os diretamente, ou por intermédio das instituições financeiras
recursos serão rateados entre oficiais sob seu controle, disponibilizará aos Estados, ao
os Municípios concorrentes, Distrito Federal e aos Municípios, bem como às respectivas
proporcionalmente às autarquias, fundações e empresas estatais dependentes, linha
respectivas populações, de crédito especial para pagamento dos precatórios
utilizado como referência o submetidos ao regime especial de pagamento de que trata
III - contratação de último levantamento censitário este artigo, observadas as seguintes condições:
empréstimo, excetuado dos ou a mais recente estimativa I - no financiamento dos saldos remanescentes de precatórios
limites de endividamento populacional da Fundação a pagar a que se refere este parágrafo serão adotados os
de que tratam os incisos VI Instituto Brasileiro de Geografia índices e critérios de atualização que incidem sobre o
e VII do art. 52 da e Estatística (IBGE); pagamento de precatórios, nos termos do § 12 do art. 100 da
Constituição Federal e de Constituição Federal;
quaisquer outros limites de III - empréstimos, excetuados II - o financiamento dos saldos remanescentes de precatórios
endividamento previstos, para esse fim os limites de a pagar a que se refere este parágrafo será feito em parcelas
não se aplicando a esse endividamento de que tratam mensais suficientes à satisfação da dívida assim constituída;
empréstimo a vedação de os incisos VI e VII do caput do III - o valor de cada parcela a que se refere o inciso II deste
vinculação de receita art. 52 da Constituição Federal parágrafo será calculado percentualmente sobre a receita
prevista no inciso IV do art. e quaisquer outros limites de corrente líquida, respectivamente, do Estado, do Distrito
167 da Constituição endividamento previstos em lei, Federal e do Município, no segundo mês anterior ao
Federal. não se aplicando a esses pagamento, em percentual equivalente à média do
empréstimos a vedação de comprometimento percentual mensal de 2012 até o final do
vinculação de receita prevista período referido no caput deste artigo, considerados para esse
Não havia inciso IV. no inciso IV do caput do art. fim somente os recursos próprios de cada ente da Federação
167 da Constituição Federal; aplicados no pagamento de precatórios;
IV - nos empréstimos a que se refere este parágrafo não se
IV - a totalidade dos depósitos aplicam os limites de endividamento de que tratam os incisos
em precatórios e requisições VI e VII do caput do art. 52 da Constituição Federal e
diretas de pagamento de quaisquer outros limites de endividamento previstos em lei.
obrigações de pequeno valor
efetuados até 31 de dezembro
de 2009 e ainda não levantados, NOVO § 2º INSERIDO AO ART. 102
com o cancelamento dos
respectivos requisitórios e a Antes da EC 99/2017 não havia § 2º no art. 102 do ADCT. Veja
baixa das obrigações, a redação do dispositivo que foi inserido:
assegurada a revalidação dos
requisitórios pelos juízos dos Importante
processos perante os Tribunais, Art. 102 (...)
a requerimento dos credores e § 2º Na vigência do regime especial previsto no art. 101 deste
após a oitiva da entidade Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, as
devedora, mantidas a posição preferências relativas à idade, ao estado de saúde e à
de ordem cronológica original e deficiência serão atendidas até o valor equivalente ao
a remuneração de todo o quíntuplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º do art.
período. 100 da Constituição Federal, admitido o fracionamento para
essa finalidade, e o restante será pago em ordem cronológica
de apresentação do precatório.

NOVO § 3º DO ART. 101


NOVO PARÁGRAFO ÚNICO INSERIDO AO ART. 103
Antes da EC 99/2017 não havia § 3º no art. 101 do ADCT. Veja
a redação do dispositivo que foi inserido: Antes da EC 99/2017 não havia parágrafo único no art. 103 do
Art. 101. (...) ADCT. Veja a redação do dispositivo que foi inserido:
§ 3º Os recursos adicionais previstos nos incisos I, II e IV do §
2º deste artigo serão transferidos diretamente pela instituição Importante
financeira depositária para a conta especial referida no caput Art. 103 (...)
deste artigo, sob única e exclusiva administração do Tribunal Parágrafo único. Na vigência do regime especial previsto no
de Justiça local, e essa transferência deverá ser realizada em art. 101 deste Ato das Disposições Constitucionais
até sessenta dias contados a partir da entrada em vigor deste Transitórias, ficam vedadas desapropriações pelos Estados,
pelo Distrito Federal e pelos Municípios, cujos estoques de
precatórios ainda pendentes de pagamento, incluídos os projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma, não
precatórios a pagar de suas entidades da administração contemplando as demais áreas edificadas ou não pertencentes
indireta, sejam superiores a 70% (setenta por cento) das ao proprietário do imóvel original.
respectivas receitas correntes líquidas, excetuadas as
desapropriações para fins de necessidade pública nas áreas de § 3º Consideram-se unidades imobiliárias autônomas aquelas
saúde, educação, segurança pública, transporte público, que possuam isolamento funcional e acesso independente,
saneamento básico e habitação de interesse social. qualquer que seja o seu uso, devendo ser aberta matrícula
própria para cada uma das referidas unidades.

NOVOS §§ 2º e § 3º INSERIDOS AO ART. 105 § 4º O titular do direito real de laje responderá pelos
encargos e tributos que incidirem sobre a sua unidade.
Antes da EC 99/2017 não havia §§ 2º e 3º no art. 105 do
ADCT. Veja a redação dos dispositivos inseridos: § 5º As unidades autônomas constituídas em matrícula
Art. 105. (...) própria poderão ser alienadas e gravadas livremente por seus
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios titulares, não podendo o adquirente instituir sobrelevações
regulamentarão nas respectivas leis o disposto no caput deste sucessivas, observadas as posturas previstas em legislação
artigo em até cento e vinte dias a partir de 1º de janeiro de local.
2018.
§ 3º Decorrido o prazo estabelecido no § 2º deste artigo sem a § 6º A instituição do direito real de laje não implica atribuição
regulamentação nele prevista, ficam os credores de de fração ideal de terreno ao beneficiário ou participação
precatórios autorizados a exercer a faculdade a que se refere proporcional em áreas já edificadas.
o caput deste artigo.
§ 7º O disposto neste artigo não se aplica às edificações ou aos
A EC 99/2017 entrou em vigor na data de sua publicação conjuntos de edificações, de um ou mais pavimentos,
(15/12/2017). construídos sob a forma de unidades isoladas entre si,
destinadas a fins residenciais ou não, nos termos deste Código
Civil e da legislação específica de condomínios.

DIREITO CIVIL § 8º Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor sobre


posturas edilícias e urbanísticas associadas ao direito real de
DIREITO REAL DE LAJE laje.

Um dos pontos mais relevantes e interessantes da MP


759/2016 é que ela altera o Código Civil e passa a prever uma DIREITO REAL DE LAJE
nova espécie de direito real: a laje.
Um dos pontos mais relevantes e interessantes da MP
No art. 1.225 do CC é acrescentado um novo inciso: 759/2016 é que ela altera o Código Civil e passa a prever uma
Art. 1.225. São direitos reais: nova espécie de direito real: a laje. No art. 1.225 do CC é
(...)
acrescentado um novo inciso: Art. 1.225. São direitos reais:
XIII - a laje.
(...) XIII - a laje.
Em que consiste este novo direito real?
O direito real de laje consiste na possibilidade de coexistência Em que consiste este novo direito real?
de unidades imobiliárias autônomas de titularidades distintas
situadas em uma mesma área, de maneira a permitir que o O direito real de laje consiste na possibilidade de coexistência
proprietário ceda a superfície de sua construção a fim de que de unidades imobiliárias autônomas de titularidades distintas
terceiro edifique unidade distinta daquela originalmente situadas em uma mesma área, de maneira a permitir que o
construída sobre o solo (novo art. 1.510-A do Código Civil). proprietário ceda a superfície de sua construção a fim de que
Em outras palavras, o Código Civil passa a permitir algo que já terceiro edifique unidade distinta daquela originalmente
existia na prática: alguém tem um imóvel (uma casa, p. ex.) e construída sobre o solo (novo art. 1.510-A do Código Civil).
cede a outra pessoa a parte de cima deste imóvel (a "laje")
Em outras palavras, o Código Civil passa a permitir algo que já
para que lá ela construa outra edificação autônoma em
relação à construção existente na parte de baixo. existia na prática: alguém tem um imóvel (uma casa, p. ex.) e
cede a outra pessoa a parte de cima deste imóvel (a "laje")
Veja a íntegra do novo artigo inserido no Código Civil: para que lá ela construa outra edificação autônoma em
relação à construção existente na parte de baixo. Veja a
Art. 1.510-A. O direito real de laje consiste na possibilidade de íntegra do novo artigo inserido no Código Civil: Art. 1.510-A. O
coexistência de unidades imobiliárias autônomas de direito real de laje consiste na possibilidade de coexistência
titularidades distintas situadas em uma mesma área, de
de unidades imobiliárias autônomas de titularidades distintas
maneira a permitir que o proprietário ceda a superfície de sua
construção a fim de que terceiro edifique unidade distinta situadas em uma mesma área, de maneira a permitir que o
daquela originalmente construída sobre o solo. proprietário ceda a superfície de sua construção a fim de que
terceiro edifique unidade distinta daquela originalmente
§ 1º O direito real de laje somente se aplica quando se construída sobre o solo. § 1º O direito real de laje somente se
constatar a impossibilidade de individualização de lotes, a aplica quando se constatar a impossibilidade de
sobreposição ou a solidariedade de edificações ou terrenos.
individualização de lotes, a sobreposição ou a solidariedade
§ 2º O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o de edificações ou terrenos. § 2º O direito real de laje
subsolo de terrenos públicos ou privados, tomados em contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos públicos
ou privados, tomados em projeção vertical, como unidade § 2º Aplica-se, no que couber, ao condomínio de lotes o
imobiliária autônoma, não contemplando as demais áreas disposto sobre condomínio edilício neste Capítulo, respeitada
edificadas ou não pertencentes ao proprietário do imóvel a legislação urbanística. (Incluído pela Lei nº 13.465, de
2017)
original. § 3º Consideram-se unidades imobiliárias autônomas
aquelas que possuam isolamento funcional e acesso
independente, qualquer que seja o seu uso, devendo ser § 3º Para fins de incorporação imobiliária, a
aberta matrícula própria para cada uma das referidas implantação de toda a infraestrutura ficará a cargo do
empreendedor. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
unidades. § 4º O titular do direito real de laje responderá
pelos encargos e tributos que incidirem sobre a sua unidade. §
5º As unidades autônomas constituídas em matrícula própria
poderão ser alienadas e gravadas livremente por seus
titulares, não podendo o adquirente instituir sobrelevações DA LAJE
sucessivas, observadas as posturas previstas em legislação (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
local. § 6º A instituição do direito real de laje não implica
atribuição de fração ideal de terreno ao beneficiário ou Art. 1.510-A. O proprietário de uma construção-base
participação proporcional em áreas já edificadas. § 7º O poderá ceder a superfície superior ou inferior de sua
disposto neste artigo não se aplica às edificações ou aos construção a fim de que o titular da laje mantenha unidade
conjuntos de edificações, de um ou mais pavimentos, distinta daquela originalmente construída sobre o
construídos sob a forma de unidades isoladas entre si, solo. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
destinadas a fins residenciais ou não, nos termos deste Código
Civil e da legislação específica de condomínios. § 8º Os § 1o O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou
Municípios e o Distrito Federal poderão dispor sobre posturas o subsolo de terrenos públicos ou privados, tomados em
edilícias e urbanísticas associadas ao direito real de laje. projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma, não
contemplando as demais áreas edificadas ou não pertencentes
TÍTULO II ao proprietário da construção-base. (Incluído pela
Dos Direitos Reais Lei nº 13.465, de 2017)

CAPÍTULO ÚNICO § 2o O titular do direito real de laje responderá pelos


Disposições Gerais encargos e tributos que incidirem sobre a sua
unidade. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)

§ 3o Os titulares da laje, unidade imobiliária autônoma


Art. 1.225. São direitos reais: constituída em matrícula própria, poderão dela usar, gozar e
dispor. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)

§ 4o A instituição do direito real de laje não implica a


XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação
atribuição de fração ideal de terreno ao titular da laje ou a
dada pela Lei nº 13.465, de 2017)
participação proporcional em áreas já edificadas.
(Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
XIII - a laje. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)

§ 5o Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor


sobre posturas edilícias e urbanísticas associadas ao direito
CAPÍTULO VII real de laje. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
Do Condomínio Edilício
§ 6o O titular da laje poderá ceder a superfície de sua
construção para a instituição de um sucessivo direito real de
Seção IV
laje, desde que haja autorização expressa dos titulares da
Do Condomínio de Lotes
(Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) construção-base e das demais lajes, respeitadas as posturas
edilícias e urbanísticas vigentes. (Incluído pela Lei nº
13.465, de 2017)
Art. 1.358-A. Pode haver, em terrenos, partes
designadas de lotes que são propriedade exclusiva e partes
que são propriedade comum dos condôminos. Art. 1.510-B. É expressamente vedado ao titular da
(Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) laje prejudicar com obras novas ou com falta de reparação a
segurança, a linha arquitetônica ou o arranjo estético do
edifício, observadas as posturas previstas em legislação
§ 1º A fração ideal de cada condômino poderá ser
proporcional à área do solo de cada unidade autônoma, ao local. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
respectivo potencial construtivo ou a outros critérios
indicados no ato de instituição. (Incluído pela Lei nº 13.465, Art. 1.510-C. Sem prejuízo, no que couber, das normas
de 2017) aplicáveis aos condomínios edilícios, para fins do direito real
de laje, as despesas necessárias à conservação e fruição das
partes que sirvam a todo o edifício e ao pagamento de II - se a construção-base não for reconstruída no prazo
serviços de interesse comum serão partilhadas entre o de cinco anos. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
proprietário da construção-base e o titular da laje, na
proporção que venha a ser estipulada em contrato. Parágrafo único. O disposto neste artigo não afasta o
(Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) direito a eventual reparação civil contra o culpado pela
ruína. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 1o São partes que servem a todo o
edifício: (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)

I - os alicerces, colunas, pilares, paredes-mestras e Seção III


todas as partes restantes que constituam a estrutura do Da Suspensão e Extinção do Poder Familiar
prédio; (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a
mãe que:
II - o telhado ou os terraços de cobertura, ainda que
destinados ao uso exclusivo do titular da V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de
laje; (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) adoção. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

III - as instalações gerais de água, esgoto, eletricidade,


Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o
aquecimento, ar condicionado, gás, comunicações e
poder familiar aquele que: (Incluído pela Lei nº 13.715, de
semelhantes que sirvam a todo o edifício; e (Incluído 2018)
pela Lei nº 13.465, de 2017)

I – praticar contra outrem igualmente titular do mesmo


IV - em geral, as coisas que sejam afetadas ao uso de poder familiar: (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
todo o edifício. (Incluído pela Lei nº 13.465, de
2017)
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza
grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso
§ 2o É assegurado, em qualquer caso, o direito de envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou
qualquer interessado em promover reparações urgentes na discriminação à condição de mulher; (Incluído pela Lei nº
construção na forma do parágrafo único do art. 249 deste 13.715, de 2018)
Código. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual
Art. 1.510-D. Em caso de alienação de qualquer das sujeito à pena de reclusão; (Incluído pela Lei nº 13.715, de
unidades sobrepostas, terão direito de preferência, em 2018)
igualdade de condições com terceiros, os titulares da
construção-base e da laje, nessa ordem, que serão II – praticar contra filho, filha ou outro
cientificados por escrito para que se manifestem no prazo de descendente: (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
trinta dias, salvo se o contrato dispuser de modo
diverso. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza
grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso
§ 1o O titular da construção-base ou da laje a quem envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou
não se der conhecimento da alienação poderá, mediante discriminação à condição de mulher; (Incluído pela Lei nº
depósito do respectivo preço, haver para si a parte alienada a 13.715, de 2018)
terceiros, se o requerer no prazo decadencial de cento e
oitenta dias, contado da data de alienação. (Incluído b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime
pela Lei nº 13.465, de 2017) contra a dignidade sexual sujeito à pena de
reclusão. (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
§ 2o Se houver mais de uma laje, terá preferência,
sucessivamente, o titular das lajes ascendentes e o titular das
lajes descendentes, assegurada a prioridade para a laje mais
próxima à unidade sobreposta a ser CAPÍTULO V
alienada. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) Dos Excluídos da Sucessão

Art. 1.510-E. A ruína da construção-base implica Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em
extinção do direito real de laje, salvo: (Incluído pela qualquer desses casos de indignidade, será declarada por
Lei nº 13.465, de 2017) sentença.

§ 1o O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou


I - se este tiver sido instituído sobre o
legatário extingue-se em quatro anos, contados da abertura da
subsolo; (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) sucessão. (Redação dada pela Lei nº 13.532, de 2017)
§ 2o Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou
Público tem legitimidade para demandar a exclusão do empresa concessionária de serviços públicos, aplica-se em
herdeiro ou legatário. (Incluído pela Lei nº 13.532, de dobro a pena prevista no caput deste
2017)
artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)

Promoção de migração ilegal


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de
obter vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro em
território nacional ou de brasileiro em país
Art. 799. Incumbe ainda ao exequente: estrangeiro: Incluído pela Lei nº 13.445, de
2017 Vigência

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e


X - requerer a intimação do titular da construção-base,
multa. Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
bem como, se for o caso, do titular de lajes anteriores, quando
a penhora recair sobre o direito real de laje;
(Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) § 1º Na mesma pena incorre quem promover, por
qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a
XI - requerer a intimação do titular das lajes, quando a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar
penhora recair sobre a construção-base. (Incluído pela Lei nº ilegalmente em país estrangeiro. Incluído pela Lei nº
13.465, de 2017) 13.445, de 2017 Vigência

§ 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um


terço) se: Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
DIREITO PENAL
I - o crime é cometido com violência; ou Incluído
pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
CAPÍTULO IV
DO DANO II - a vítima é submetida a condição desumana ou
degradante. Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
Dano
§ 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: prejuízo das correspondentes às infrações
conexas. Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Dano qualificado
CAPÍTULO VI
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
Art. 92 - São também efeitos da condenação:(Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva,
se o fato não constitui crime mais grave
I - a perda de cargo, função pública ou mandato
eletivo: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do
Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo
pública, empresa pública, sociedade de economia mista
igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso
ou empresa concessionária de serviços
de poder ou violação de dever para com a Administração
públicos; (Redação dada pela Lei nº 13.531, de
Pública; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
2017)
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por
CAPÍTULO VII
tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. (Incluído
DA RECEPTAÇÃO pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar,
em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de II – a incapacidade para o exercício do poder
crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos
sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem
ou oculte:
igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho,
filha ou outro descendente ou contra tutelado ou
§ 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado,
curatelado; (Redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018)
do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação
III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado A Lei nº 13.104/2015 veio alterar esse panorama e previu,
como meio para a prática de crime doloso. (Redação dada expressamente, que o feminicídio, deve agora ser punido
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) como homicídio qualificado.

Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não Sujeito ativo
são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na O feminicídio pode ser praticado por qualquer pessoa (trata-
sentença. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) se de crime comum).
O sujeito ativo do feminicídio normalmente é um homem, mas
também pode ser mulher.

Sujeito passivo
Comentários à Lei 13.771/2018: altera as majorantes do Obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino
feminicídio (criança, adulta, idosa, desde que do sexo feminino).
Olá amigos do Dizer o Direito, • Mulher que mata sua companheira homoafetiva: pode haver
feminicídio se o crime foi por razões da condição de sexo
Outra importante novidade legislativa deste fim de ano foi a feminino.
Lei nº 13.771/2018, que alterou três causas de aumento de
• Homem que mata seu companheiro homoafetivo: não
pena do feminicídio (art. 121, § 7º do Código Penal). haverá feminicídio porque a vítima deve ser do sexo feminino.
Esse fato continua sendo, obviamente, homicídio.
Vejamos o que mudou.
Razões de condição de sexo feminino
O que é feminicídio?
O que são “razões de condição de sexo feminino”?
Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher O legislador previu, no § 2º-A do art. 121, uma norma penal
por “razões da condição de sexo feminino”, ou seja,
interpretativa, ou seja, um dispositivo para esclarecer o
desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade significado dessa expressão.
da vítima enquanto mulher, como se as pessoas do sexo § 2º-A Considera-se que há “razões de condição de sexo
feminino tivessem menos direitos do que as do sexo feminino” quando o crime envolve:
masculino. I - violência doméstica e familiar;
O Código Penal prevê o feminicídio como uma qualificadora II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
do crime de homicídio. Confira:
Homicídio simples Causas de aumento de pena
Art. 121. Matar alguem: O § 7º do art. 121 do CP prevê causas de aumento de pena
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. exclusivas para o feminicídio.
(...) A Lei nº 13.771/2018 altera essas causas de aumento de pena.
§ 2º Se o homicídio é cometido:
Vamos comparar:
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. Antes da Lei 13.771/2018 ATUALMENTE
(...) Art. 121 (...) Art. 121 (...)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 7º A pena do feminicídio é § 7º A pena do feminicídio é
aumentada de 1/3 (um aumentada de 1/3 (um terço)
O feminicídio foi incluído no Código Penal pela Lei nº terço) até a metade se o até a metade se o crime for
13.104/2015. crime for praticado: praticado:
I – durante a gestação ou Não foi alterado. Continua a
Feminicídio X femicídio nos 3 (três) meses mesma redação.
Existe diferença entre feminicídio e femicídio? posteriores ao parto;
• Femicídio significa praticar homicídio contra mulher (matar II – contra pessoa menor de II – contra pessoa menor de 14
mulher); 14 (quatorze) anos, maior (catorze) anos, maior de 60
• Feminicídio significa praticar homicídio contra mulher por de 60 (sessenta) anos ou (sessenta) anos, com
“razões da condição de sexo feminino” (por razões de gênero). com deficiência; deficiência ou portadora de
O art. 121, § 2º, VI, do CP, trata sobre FEMINICÍDIO, ou seja, doenças degenerativas que
pune mais gravemente aquele que mata mulher por “razões acarretem condição limitante
da condição de sexo feminino” (por razões de gênero). Não ou de vulnerabilidade física ou
basta a vítima ser mulher. mental;
III – na presença de III – na presença física ou
Como era a punição do feminicídio antes da Lei nº descendente ou de virtual de descendente ou de
13.104/2015? ascendente da vítima. ascendente da vítima;
Antes da Lei nº 13.104/2015, não havia nenhuma punição
Não havia inciso IV. IV – em descumprimento das
especial pelo fato de o homicídio ser praticado contra a
medidas protetivas de
mulher por razões da condição de sexo feminino. Em outras urgência previstas nos incisos
palavras, o feminicídio era punido, de forma genérica, como
I, II e III do caput do art. 22 da
sendo homicídio (art. 121 do CP). Lei nº 11.340, de 7 de agosto
A depender do caso concreto, o feminicídio (mesmo sem ter
de 2006.
ainda este nome) poderia ser enquadrado como sendo
homicídio qualificado por motivo torpe (inciso I do § 2º do
Mudança no inciso II:
art. 121) ou fútil (inciso II) ou, ainda, em virtude de
Foi acrescentada a seguinte hipótese:
dificuldade da vítima de se defender (inciso IV). No entanto, o
A pena imposta ao feminicídio será aumentada de 1/3 a 1/2
certo é que não existia a previsão de uma pena maior para o
se, no momento do crime, a mulher (vítima) era portadora de
fato de o crime ser cometido contra a mulher por razões de
doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou
gênero.
de vulnerabilidade física ou mental. Como exemplo, podemos
citar a esclerose lateral amiotrófica. Na decisão, o magistrado consignou ainda que, em caso de
A vítima, nesse caso, apresenta uma fragilidade (debilidade) descumprimento de quaisquer das medidas impostas, seria
maior, de forma que a conduta do agente se revela com alto aplicada ao requerido multa diária de R$ 100, conforme
grau de covardia. previsto no § 4º, do art. 22 da Lei nº 11.340/2006.
Quais as consequências caso o indivíduo descumpra as
Mudança no inciso III: medidas protetivas de urgência?
A pena imposta ao feminicídio será aumentada se o delito foi • é possível a execução da multa imposta;
praticado na presença (física ou virtual) de descendente ou de • é possível a decretação de sua prisão preventiva (art. 313,
ascendente da vítima. III, do CPP);
Aqui a razão do aumento está no intenso sofrimento que o • o agente responderá pelo crime do art. 24-A da Lei Maria da
autor provocou aos descendentes ou ascendentes da vítima Penha:
que presenciaram o crime, fato que irá gerar graves
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas
transtornos psicológicos.
protetivas de urgência previstas nesta Lei:
Semanticamente, quando se fala que foi praticado “na
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
presença de alguém”, isso não significa, necessariamente, que
a pessoa que presenciou estava fisicamente no local.
Continuando em nosso exemplo:
Assim, particularmente, entendo que, mesmo antes da
Pedro foi regularmente intimado. Apesar disso, uma semana
alteração, já poderia ser aplicada a causa de aumento mesmo
depois procurou Carla em sua casa pedindo para que ela
que não houvesse presença física do ascendente ou
retomasse o relacionamento. Como ela não aceitou, Pedro a
descendente, ou seja, essa presença poderia ser “virtual”.
matou com uma faca.
A fim de evitar polêmicas, o legislador resolveu deixar isso
Neste caso, Pedro responderá por feminicídio e incidirá a
expresso.
causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 7º, IV, do CP.
Desse modo, poderá haver a causa de aumento de pena do
inciso III do § 7º do art. 121 do CP mesmo que o ascendente
Pergunta: responderá também pelo art. 24-A do CP?
ou descendente não esteja fisicamente no mesmo ambiente
NÃO. Isso porque o delito do art. 24-A do CP é absorvido pela
onde ocorre o homicídio. É o caso, por exemplo, em que o filho
conduta mais grave, qual seja, a prática do art. 121, § 7º, IV, do
da vítima presencia, por meio de webcam, o agente matar sua
CP.
mãe; ele terá presenciado o crime, mesmo sem estar
Fazer incidir o art. 24-A da Lei nº 11.340/2006 e também pelo
fisicamente no local do homicídio.
inciso IV do § 7º do art. 121 do CP representaria punir duas
vezes o agente pelo mesmo fato (bis in idem), o que é vedado.
Apenas para relembrar:
• Ascendente: é o pai, mãe, avô, avó, bisavô, bisavó e assim por
Vigência
diante.
A Lei nº 13.771/2018 entrou em vigor na data de sua
• Descendente: é o filho(a), neto(a), bisneto(a) etc.
publicação (20/12/2018).
Por ser uma lei mais gravosa, ela não se aplica para fatos
Atenção: não haverá a causa de aumento se o crime é
ocorridos antes de sua vigência.
praticado na presença de colateral (ex: irmão, tio) ou na
presença do cônjuge da vítima.
Comentários à Lei 13.654/2018:
Inserção do inciso IV:
Vamos entender melhor esse inciso com um exemplo:
Carla decidiu se separar de Pedro. Este, contudo, continuou a
Foi publicada hoje (24/04/2018) mais uma importante
procurá-la insistentemente e a fazer ameaças caso ela não
novidade legislativa.
reatasse o relacionamento.
Diante disso, Carla procurou a Delegacia pedindo que fossem
Trata-se da Lei nº 13.654/2018 que
tomadas providências.
• altera os crimes de furto e roubo previstos no Código Penal;
A autoridade policial lavrou o boletim de ocorrência e enviou
• altera a Lei nº 7.102/83, para obrigar instituições que
um expediente ao juiz com o pedido de Carla para que Pedro
disponibilizem caixas eletrônicos a instalar equipamentos que
não se aproximasse mais dela (art. 12, III, da Lei nº
inutilizem cédulas de moeda corrente.
11.340/2006).
O juiz deferiu o pedido da ofendida e determinou, como
Vamos entender o que foi alterado.
medidas protetivas de urgência, que Pedro mantivesse
distância mínima de 500 metros de Maria e não tentasse
1) FURTO QUALIFICADO PELO EMPREGO DE EXPLOSIVO
nenhum contato com ela por qualquer meio de comunicação,
OU DE ARTEFATO ANÁLOGO QUE CAUSE PERIGO COMUM
conforme autoriza o art. 22, III, “a” e “b”, da Lei nº
11.340/2006: O crime de furto encontra-se tipificado no art. 155 do CP, que
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar tinha seis parágrafos.
contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, Vejamos o que dispõe cada um deles:
de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as • Caput: furto simples.
seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: • § 1º: causa de aumento de pena para os casos em que o furto
(...) é praticado durante o repouso noturno.
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: • § 2º: causa de diminuição de pena, chamada pela doutrina
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das de “furto privilegiado”.
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes • § 3º: a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor
e o agressor; econômico é equiparada à coisa móvel.
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por • § 4º: hipóteses de “furto qualificado”.
qualquer meio de comunicação;
(...)
• § 5º: qualificadora para as hipóteses em que a subtração for aumento do parágrafo 2º do art. 251 do Código Penal. Não há
de veículo automotor que venha a ser transportado para dúvidas quanto a incidência da questionada causa de aumento
outro Estado ou para o exterior. haja vista que em conformidade com o art. 251 do Código
• § 6º: qualificadora para furto de semoventes domesticáveis Penal as penas devem ser majoradas em um terço quando
de produção. presentes alguma das hipóteses do §1°, inciso I, do artigo 250
do Estatuto Repressivo, o que efetivamente ocorreu no caso
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou o § 4º-A ao art. 155 do dos autos, eis que o delito foi praticado contra edifício
Código Penal prevendo uma nova QUALIFICADORA para o destinado ao uso público, qual seja, uma bancária (artigo 250,
crime de furto. Veja a redação do parágrafo inserido: §1°, II, "b", do Código Penal)". (...)
TJRJ. 0021718-13.2015.8.19.0070 – APELAÇÃO, Des(a).
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos
GIZELDA LEITÃO TEIXEIRA - Julgamento: 30/01/2018 -
e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato
QUARTA CÂMARA CRIMINAL
análogo que cause perigo comum.
(...) 3. Demonstrado que a conduta delituosa expôs, de forma
Objetivo
concreta, o patrimônio de outrem decorrente do grande
O objetivo declarado desse novo parágrafo foi o de punir com
potencial destruidor da explosão, notadamente porque o
mais rigor os furtos realizados em caixas eletrônicos
banco encontra-se situado em edifício destinado ao uso
localizados em agências bancárias ou em estabelecimentos
público, ensejando a adequação típica ao crime previsto no
comerciais (ex: drogarias, postos de gasolina etc.).
art. 251 do CP, incabível a incidência do princípio da
Isso porque tem sido cada vez mais comum que grupos
consunção.
criminosos, durante a noite, explodam caixas eletrônicos para
4. Infrações que atingem bens jurídicos distintos, enquanto o
dali retirar o dinheiro depositado.
delito de furto viola o patrimônio da instituição financeira, o
Dessa forma, o objetivo da lei foi o de, em tese, punir mais
crime de explosão ofende a incolumidade pública. (...)
severamente o réu.
STJ. 6ª Turma. REsp 1647539/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 21/11/2017.
Antes da Lei nº 13.654/2018, o agente respondia por qual
delito? Desse modo, perceba o contrassenso: o objetivo do legislador
O entendimento que prevalecia era o de que o agente ao criar o novo § 4º-A foi o de aumentar a pena dos agentes
respondia por furto qualificado pelo rompimento de que praticam furto mediante explosão de caixas eletrônicos.
obstáculo à subtração da coisa, nos termos do art. 155, § 4º do No entanto, o que a Lei fez foi tornar mais branda a situação
CP em concurso formal impróprio com o crime de explosão dos réus. Vamos comparar:
majorada (art. 251, § 2º do CP):
Art. 155 (...)
Antes da Lei 13.654/2018 Depois da Lei 13.654/2018
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o
O agente respondia pelo art. O agente responde apenas
crime é cometido:
155, § 4º, I c/c o art. 251, § 2º pelo art. 155, § 4º-A do CP.
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da
do CP. Pena mínima: 4 anos.
coisa;
Pena mínima: 6 anos.
Art. 251. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o
patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou Com a previsão específica do art. 155, § 4º-A não se pode mais
simples colocação de engenho de dinamite ou de substância falar em concurso porque seria bis in idem. Logo, por mais
de efeitos análogos: absurdo que pareça, a Lei 13.654/2018 melhorou a situação
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. penal dos indivíduos que praticam ou que praticaram furto a
(...) bancos mediante explosão dos caixas eletrônicos.
§ 2º - As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer
das hipóteses previstas no § 1º, I, do artigo anterior, ou é Vale ressaltar, inclusive, que os réus que, antes da Lei nº
visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do 13.654/2018, foram condenados por furto qualificado (art.
mesmo parágrafo. 155, § 4º, I) em concurso formal com explosão majorada (art.
251, § 2º) poderão pedir a redução da pena imposta, nos
A maioria dos Tribunais de Justiça e o STJ acolhiam a tese do termos do art. 2º, parágrafo único do CP:
concurso. Veja: Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior
(...) Quanto ao crime de explosão (art. 251 do Código Penal): deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a
Não há falar em Princípio da Consunção: O crime de explosão execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
majorada pela finalidade de obtenção de vantagem pecuniária Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo
previsto no art. 251, § 2º do CP não pode ser absorvido pelo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
crime menos grave ( de furto, art. 155,§4º, I e IV do CP) . o decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
crime de explosão tem apenação inicial de três anos, além de
haver causa de aumento de 1/3 em seu § 2º, enquanto que a
do furto qualificado inicia-se em dois anos.Se a explosão de O que é explosivo?
que se vale o furtador para arrombar o caixa eletrônico Explosivo é a substância ou artefato que possa produzir uma
"expõe a perigo" a qualquer dos bens jurídicos mencionados explosão, detonação, propulsão ou efeito pirotécnico.
no tipo penal, tem-se um delito autônomo, de perigo concreto. Para ser considerado artefato explosivo, é necessário que ele
Não merece prosperar o pleito do afastamento da causa de seja capaz de gerar alguma destruição. Nesse sentido: STJ. 6ª
aumento de pena prevista no parágrafo 1º do art. 155 do Turma. REsp 1627028/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Código Penal. A prática do crime durante o repouso noturno Moura, julgado em 21/02/2017 (Info 599).
tem maior probabilidade de êxito diante da menor vigilância,
tornando a res mais vulnerável, admitindo-se o delito tanto na Se o agente, durante a noite, explode o caixa eletrônico
forma simples, quanto na qualificada. Precedentes. Melhor para furtar o numerário, ele também responderá pela
sorte não socorre a Defesa quanto ao afastamento da causa de causa de aumento do repouso noturno (art. 155, § 1º)? É
possível aplicar o art. 155, § 4º-A e mais a causa de facilitação na execução do crime” (MASSON, Cleber. ob. cit., p.
aumento do art. 155, § 1º? 644).
SIM. É legítima a incidência da causa de aumento de pena por
crime cometido durante o repouso noturno (art. 155, § 1º) no O que podia ser considerado “arma” para os fins do art.
caso de furto praticado na forma qualificada (art. 155, § 4º ou 157, § 2º, I, do CP?
§ 4º-A do CP). A jurisprudência possuía uma interpretação ampla sobre o
Não existe nenhuma incompatibilidade entre a majorante tema.
prevista no § 1º e as qualificadoras do § 4º ou do § 4º-A. São Assim, poderiam ser incluídos no conceito de arma:
circunstâncias diversas, que incidem em momentos diferentes • a arma de fogo;
da aplicação da pena. • a arma branca (considerada arma imprópria), como faca,
Assim, é possível que o agente seja condenado por furto facão, canivete;
qualificado e, na terceira fase da dosimetria, o juiz aumente a • e quaisquer outros “artefatos” capazes de causar dano à
pena em 1/3 se a subtração ocorreu durante o repouso integridade física do ser humano ou de coisas, como por
noturno. exemplo uma garrafa de vidro quebrada, um garfo, um espeto
A posição topográfica do § 1º (vem antes dos §§ 4º e 4º-A) não de churrasco, uma chave de fenda etc.
é fator que impede a sua aplicação para as situações de furto
qualificado. O que fez a Lei nº 13.654/2018?
STF. 2ª Turma. HC 130952/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado Revogou o inciso I do § 2º do art. 157 do CP.
em 13/12/2016 (Info 851).
STJ. 6ª Turma. HC 306.450-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Isso significa que houve abolitio criminis?
Assis Moura, julgado em 4/12/2014 (Info 554). NÃO. A Lei nº 13.654/2018 acrescentou um novo parágrafo
ao art. 157 prevendo duas novas hipóteses de roubo
2) FURTO QUALIFICADO EM CASO DE SUBTRAÇÃO DE circunstanciado, com pena maior. Veja:
SUBSTÂNCIA EXPLOSIVA Art. 157 (...)
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou também o § 7º ao art. 155
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma
do Código Penal prevendo outra QUALIFICADORA para o
de fogo;
crime de furto. Veja a redação do parágrafo inserido:
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de comum.
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem
sua fabricação, montagem ou emprego. Repare de novo no inciso I acima.
O roubo com emprego de arma de fogo deixou de ser previsto
Substância explosiva “é aquela capaz de provocar detonação, no inciso I do § 2º, mas continua a ser punido agora no inciso I
estrondo, em razão da decomposição química associada ao do § 2º-A.
violento deslocamento de gases.” (MASSON, Cleber. Código Desse modo, quanto à arma de fogo não houve abolitio
Penal comentado. São Paulo: Método, 2014, p. 685). criminis, mas sim continuidade normativo-típica.
Aqui o agente é punido por furtar uma substância explosiva O princípio da continuidade normativa ocorre “quando uma
ou acessório que, conjunta ou isoladamente, possibilite sua norma penal é revogada, mas a mesma conduta continua
fabricação, montagem ou emprego. Ex: sujeito que furta uma sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal
banana de dinamite. continua tipificada em outro dispositivo, ainda que
topologicamente ou normativamente diverso do originário.”
(Min. Gilson Dipp, em voto proferido no HC 204.416/SP).
3) MUDANÇA NO ROUBO CIRCUNSTANCIADO POR Logo, para as pessoas que foram condenadas por roubo com
EMPREGO DE ARMA emprego de arma de fogo antes da Lei nº 13.654/2018, nada
muda.
Roubo circunstanciado
O art. 157 do Código Penal tipifica o crime de roubo:
Novatio legis in mellius para roubo com emprego de arma
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
que não seja de fogo
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de
Como vimos, o roubo “com emprego de arma” deixou de ser
havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
uma hipótese de roubo circunstanciado no art. 157, § 2º.
resistência:
O roubo com emprego de arma de fogo continua sendo punido
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
como roubo circunstanciado no art. 157, § 2º-A, inciso I:
Art. 157 (...)
O § 2º do art. 157, por sua vez, prevê causas de aumento de
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
pena para o roubo.
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de
Desse modo, se ocorre alguma dessas hipóteses, tem-se o
arma de fogo;
chamado “roubo circunstanciado” (também conhecido como
“roubo agravado” ou “roubo majorado”).
Ocorre que o roubo com o emprego de arma “branca” não é
mais punido como roubo circunstanciado. Trata-se, em
Inciso I do § 2º do art. 157
princípio, de roubo simples (art. 157, caput).
O art. 157, § 2º, I, previa o seguinte:
Assim, a Lei nº 13.654/2018 deixou de punir com mais rigor o
Art. 157 (...)
agente que pratica o roubo com arma branca. Pode-se,
§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
portanto, dizer que a Lei nº 13.654/2018, neste ponto, é mais
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
benéfica. Isso significa que ela, neste tema, irá retroagir para
atingir todos os roubos praticados mediante arma branca.
O aumento se justificava por “haver maior risco à integridade
Exemplo: em 2017, João, usando um canivete, ameaçou a
física e à vida do ofendido e de outras pessoas e pela
vítima, subtraindo dela o telefone celular. O juiz, na 1ª fase da
dosimetria, fixou a pena-base em 4 anos. Não havia
agravantes ou atenuantes (2ª fase). Na 3ª fase (causas de A conduta dos agentes amolda-se tanto na majorante do
aumento ou de diminuição), o magistrado aumentou a pena inciso II do § 2º como na causa de aumento do inciso I do § 2º-
em 1/3 pelo fato de o crime ter sido cometido com emprego A do art. 157:
de arma branca (canivete), nos termos do art. 157, § 2º, I, do Art. 157 (...)
CP. 1/3 de 4 anos é igual a 1 ano e 4 meses. Logo, João foi § 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
condenado a uma pena final de 5 anos e 4 meses (pena-base II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
mais 1/3). O processo transitou em julgado e João está (...)
cumprindo pena. A defesa de João pode pedir ao juízo das § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
execuções penais (Súmula 611-STF) que aplique a Lei nº I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma
13.654/2018 e que a sua pena seja diminuída em 1 ano e 4 de fogo;
meses em virtude do fato de que o emprego de arma branca
na prática do roubo ter deixado de ser causa de aumento de O que fazer?
pena. O tema é tratado no art. 68, parágrafo único, do CP:
Art. 68 (...)
Tabelas comparativas Parágrafo único. No concurso de causas de aumento ou de
ROUBO MEDIANTE EMPREGO DE ARMA diminuiçãoprevistas na parte especial, pode o juiz limitar-se a
um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo,
Antes da Lei 13.654/2018 Depois da Lei 13.654/2018 todavia, a causa que mais aumente ou diminua.
(atualmente)
Tanto a arma de fogo como a Apenas o emprego de arma Diante disso, o magistrado terá duas opções:
arma branca eram causas de de fogo é causa de aumento 1ª) Aumentar a pena em 2/3 com fundamento no inciso I do §
aumento de pena. de pena. 2º-A do art. 157 e utilizar a circunstância do inciso II do §2º
O emprego de arma branca (concurso de pessoas) como circunstância judicial
não é causa de aumento de desfavorável (art. 59 do CP). Obs: se o concurso de pessoas
pena. fosse previsto como agravante (arts. 61 e 62), então, assim
O emprego de arma (seja de O emprego de arma de fogo é deveria ser considerado.
fogo, seja branca) era punido punido com um aumento de
com um aumento de 1/3 a 2/3 da pena. 2ª) Aplicar as duas causas de aumento de pena. Neste caso, o
1/2 da pena. segundo aumento irá incidir sobre a pena já aumentada pela
primeira causa. Ex: o juiz fixa a pena-base em 4 anos; depois
aumenta 1/3 por força do inciso I do § 2º, chegando a uma
ROUBO MEDIANTE EMPREGO DE ARMA pena de 5 anos e 4 meses; sobre esse resultado, aumenta mais
2/3, totalizando 8 anos, 10 meses e 20 dias.
Antes da Lei Atualmente
13.654/2018 Essa faculdade judicial de escolher uma das duas opções
Arma de Era causa de aumento Continua sendo causa de acima é criticada por vários doutrinadores, mas já foi acolhida
FOGO de pena aumento de pena. pelo STF:
A pena aumentava de Mas agora a pena (...) 4. Na espécie, o paciente teve sua pena majorada duas
1/3 a 1/2. aumenta 2/3. vezes ante a incidência concomitante dos incisos I e II do art.
Arma Era causa de aumento Deixou de ser causa de 226 do Código Penal, uma vez que, além de ser padastro da
BRANCA de pena. aumento de pena. criança abusada sexualmente, consumou o crime mediante
A pena aumentava de A Lei 13.654/2018 é concurso de agentes. Inexistência de arbitrariedade ou
1/3 a 1/2. mais benéfica e irá excesso que justifique a intervenção corretiva do Supremo
retroagir neste ponto. Tribunal Federal. 5. É que art. 68, parágrafo único, do Código
Penal, estabelece, sob o ângulo literal, apenas uma
Discrepância em relação à extorsão possibilidade (e não um dever) de o magistrado, na hipótese
O roubo e a extorsão são figuras penais muito parecidas e, de concurso de causas de aumento de pena previstas na parte
portanto, sempre mereceram do legislador um tratamento especial, limitar-se a um só aumento, sendo certo que é válida
muito semelhante. A pena básica dos dois crimes é, inclusive, a incidência concomitante das majorantes, sobretudo nas
a mesma: de 4 a 10 anos. hipóteses em que sua previsão é desde já arbitrada em
Com a mudança promovida pela Lei nº 13.654/2018, existe patamar fixo pelo legislador, como ocorre com o art. 226, I e
agora uma grande diferença entre esses dois delitos no que II, do CP, que não comporta margem para a extensão judicial
tange ao emprego de arma: do quantum exasperado. (...)
STF. 1ª Turma. HC 110960, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
Emprego de arma branca Emprego de arma de fogo
19/08/2014.
Roubo simples Roubo majorado (aumento
Extorsão majorada (aumento de 2/3)
de 1/3 a 1/2) Extorsão majorada (aumento 4) ROUBO CIRCUNSTANCIADO EM CASO DE SUBTRAÇÃO
de 1/3 a 1/2) DE SUBSTÂNCIAS EXPLOSIVAS OU DE ACESSÓRIOS
Conforme já explicado, o § 2º do art. 157 prevê causas de
Como fica a dosimetria da pena em caso de roubo com aumento de pena para o roubo.
emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, I) em caso de Desse modo, se ocorre alguma dessas hipóteses, tem-se o
também incidir alguma majorante do § 2º do art. 157? chamado “roubo circunstanciado” (também conhecido como
Imagine a seguinte situação: João e Pedro, com o emprego de “roubo agravado” ou “roubo majorado”).
arma de fogo, subtraem os pertences da vítima. Vale ressaltar A Lei nº 13.654/2018 acrescentou uma nova hipótese de
que os dois combinaram juntos e que nenhum deles pode ser roubo majorado no inciso VI. Veja:
considerado líder. Art. 157 (...)
§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
(...) Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena,
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de quando não constituem ou qualificam o crime:
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem (...)
sua fabricação, montagem ou emprego. II - ter o agente cometido o crime:
(...)
O agente, mediante violência ou grave ameaça, subtrai d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro
substância explosiva ou acessório que, conjunta ou meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo
isoladamente, possibilite a sua fabricação, montagem ou comum;
emprego. Ex: sujeito que, mediante violência ou grave ameaça,
subtrai uma banana de dinamite.
6) NOVA REDAÇÃO DO ROUBO QUE RESULTA LESÃO
CORPORAL GRAVE OU MORTE
5) ROUBO CIRCUNSTANCIADO COM DESTRUIÇÃO OU
A Lei nº 13.654/2018 alterou a redação do § 3º do art. 157 do
ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO MEDIANTE EXPLOSIVO OU
Código Penal.
ARTEFATO ANÁLOGO
Duas mudanças foram verificadas:
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou um novo parágrafo ao art. 1) melhorou a redação dividindo os dois tipos penais em
157 prevendo duas novas hipóteses de roubo circunstanciado, incisos diferentes.
com pena maior. Veja: 2) aumentou a pena do roubo com resultado lesão corporal
Art. 157 (...) grave. Antes era de 7 a 15 anos. Agora é de 7 a 18 anos.
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de Confira:
arma de fogo; Antes da Lei 13.654/2018 Depois da Lei 13.654/2018
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo (atualmente)
mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo Art. 157 (...) Art. 157 (...)
que cause perigo comum. § 3º Se da violência resulta § 3º Se da violência resulta:
lesão corporal grave, a pena é I – lesão corporal grave, a
Inciso I de reclusão, de sete a quinze pena é de reclusão de 7 (sete)
O inciso I já foi analisado acima. O destaque para o inciso I é, anos, além da multa; se a 18 (dezoito) anos, e multa;
repetindo, o fato de que agora, para haver roubo resulta morte, a reclusão é de II – morte, a pena é de
circunstanciado pelo emprego de arma, é necessário que seja vinte a trinta anos, sem reclusão de 20 (vinte) a 30
arma de fogo. Arma branca, arma imprópria não é mais prejuízo da multa. (trinta) anos, e multa.
suficiente para caracterizar causa de aumento de pena no
roubo. Neste ponto, a Lei nº 13.654/2018 é mais gravosa e, portanto,
irretroativa.
Inciso II
O inciso II traz uma hipótese nova.
Para que se caracterize esta causa de aumento de pena é 7) MODIFICAÇÕES NA LEI 7.102/83
necessário o preenchimento de dois requisitos:
a) o roubo resultou em destruição ou rompimento de A Lei nº 7.102/83 institui normas de segurança para os
obstáculo; estabelecimentos financeiros. Em outras palavras, esta Lei
b) essa destruição ou rompimento foi causado pelo fato de o prevê quais equipamentos de segurança as instituições
agente ter utilizado explosivo ou artefato análogo que cause financeiras devem possuir a fim de garantir a incolumidade
perigo comum. dos clientes, dos funcionários e do dinheiro ali depositado. Ex:
câmeras de segurança, porta giratória, cabine blindada etc.
Concomitância das situações dos incisos I e II Vale ressaltar que esta Lei nº 7.102/83 não tem nada de
Vale ressaltar que, como o § 2º-A do art. 157, por se tratar de Direito Penal. Ela é uma lei que traz normas de poder de
roubo, exige obrigatoriamente violência ou grave ameaça à polícia administrativa a serem cumpridas pelos bancos e,
pessoa, na grande maioria dos casos essa violência ou grave indiretamente, normas de proteção ao consumidor.
ameaça será feita mediante emprego de arma de fogo. Isso
porque não é crível imaginar que uma organização criminosa O que fez a Lei nº 13.644/2018?
que irá utilizar explosivos para abrir um caixa eletrônico Acrescentou um novo artigo a essa Lei prevendo um reforço
cometa o roubo sem utilizar arma de fogo. Assim, o emprego para a segurança a fim de evitar os assaltos que têm ocorrido
da arma de fogo já seria suficiente para aumentar a pena em mediante explosão dos caixas eletrônicos. Veja o dispositivo
2/3, sendo “desnecessário” o inciso II para os fins do § 2º-A do que foi inserido:
art. 157.
Vou dar um exemplo sobre o que estou tentando dizer: João e Art. 2º-A As instituições financeiras e demais instituições
seus comparsas entram em uma drogaria e, portando arma de autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, que
fogo, rendem os funcionários e clientes e os trancam em uma colocarem à disposição do público caixas eletrônicos, são
sala. Com a utilização de uma dinamite, explodem o caixa obrigadas a instalar equipamentos que inutilizem as
eletrônico para dali subtrair o dinheiro. cédulas de moeda corrente depositadas no interior das
Neste exemplo, os agentes já responderiam pelo roubo com máquinas em caso de arrombamento, movimento brusco
pena aumentada em 2/3 pelo simples fato de empregarem ou alta temperatura.
arma de fogo (inciso I do § 2º-A do art. 157 do CP).
Diante disso, a circunstância narrada no inciso II (destruição § 1º Para cumprimento do disposto no caput deste artigo, as
ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de instituições financeiras poderão utilizar-se de qualquer tipo
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum) de tecnologia existente para inutilizar as cédulas de moeda
será utilizada como agravante, nos termos do art. 61, II, “d”, corrente depositadas no interior dos seus caixas eletrônicos,
do CP: tais como:
I – tinta especial colorida;
II – pó químico; • Exceção: será da Justiça Federal se o caixa eletrônico for da
III – ácidos insolventes; Caixa Econômica, considerando que se trata de empresa
IV – pirotecnia, desde que não coloque em perigo os usuários pública federal (art. 109, IV, da CF/88).
e funcionários que utilizam os caixas eletrônicos;
V – qualquer outra substância, desde que não coloque em Obs1: se for um caixa eletrônico do Banco do Brasil
perigo os usuários dos caixas eletrônicos. (sociedade de economia mista federal), a competência é da
Justiça Estadual.
§ 2º Será obrigatória a instalação de placa de alerta, que Obs2: o simples fato de a Polícia Federal ter sido chamada
deverá ser afixada de forma visível no caixa eletrônico, bem para investigar os crimes (exceção 2) explicada acima, não
como na entrada da instituição bancária que possua caixa desloca a competência para a Justiça Federal. Ex: Polícia
eletrônico em seu interior, informando a existência do Federal investigou roubos que ocorreram contra caixas
referido dispositivo e seu funcionamento. eletrônicos do Itaú e do Bradesco em diversos Estados do país
pela mesma organização criminosa. Apenas a investigação de
§ 3º O descumprimento do disposto acima sujeitará as tais delitos é que será na esfera federal. Assim, a Polícia
instituições financeiras infratoras às penalidades previstas no Federal realiza o inquérito policial e depois o remete para o
art. 7º desta Lei. Obs: advertência, multa ou interdição do Juiz de Direito e o Promotor de Justiça que irão dar início e
estabelecimento. prosseguimento no processo penal.

§ 4º As exigências previstas neste artigo poderão ser VIGÊNCIA


implantadas pelas instituições financeiras de maneira A Lei nº 13.654/2018 não possui vacatio legis, de forma que
gradativa, atingindo-se, no mínimo, os seguintes percentuais, entrou em vigor ontem (24/04/2018), dia de sua publicação.
a partir da entrada em vigor desta Lei:
I – nos municípios com até 50.000 (cinquenta mil) habitantes,
50% (cinquenta por cento) em nove meses e os outros 50% CAPÍTULO V
(cinquenta por cento) em dezoito meses; DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA
II – nos municípios com mais de 50.000 (cinquenta mil) até
500.000 (quinhentos mil) habitantes, 100% (cem por cento)
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as
em até vinte e quatro meses;
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma
III – nos municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil)
legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
habitantes, 100% (cem por cento) em até trinta e seis meses.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e
8) ATRIBUIÇÃO E COMPETÊNCIA PARA OS CRIMES DE multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
FURTO E ROUBO ENVOLVENDO EXPLOSÃO DE CAIXAS
ELETRÔNICOS § 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (Incluído
pela Lei nº 9.983, de 2000)
De quem é a atribuição para investigar os crimes de furto e
roubo envolvendo a explosão de caixas eletrônicos?
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra
• Regra: Polícia Civil.
importância destinada à previdência social que tenha sido
• Exceção 1: será da Polícia Federal, se o caixa eletrônico for
descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros
da Caixa Econômica.
ou arrecadada do público; (Incluído pela Lei nº 9.983, de
• Exceção 2: será da Polícia Federal se houver indícios de que
2000)
o furto, roubo ou dano praticado contra a instituição
financeira tiver praticado por associação criminosa que atue
em mais de um Estado da Federação, havendo, portanto, II – recolher contribuições devidas à previdência social
repercussão interestadual que exija repressão uniforme. que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos
à venda de produtos ou à prestação de serviços; (Incluído
Essa exceção 2 está prevista no art. 1º, VI, da Lei nº pela Lei nº 9.983, de 2000)
10.446/2002:
Art. 1º Na forma do inciso I do § 1º do art. 144 da III - pagar benefício devido a segurado, quando as
Constituição, quando houver repercussão interestadual ou respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à
internacional que exija repressão uniforme, poderá o empresa pela previdência social. (Incluído pela Lei nº 9.983,
Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem de 2000)
prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública
arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das § 2o É extinta a punibilidade se o agente,
Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das
dentre outras, das seguintes infrações penais: contribuições, importâncias ou valores e presta as
(...) informações devidas à previdência social, na forma definida
VI - furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído
incluindo agências bancárias ou caixas eletrônicos, quando pela Lei nº 9.983, de 2000)
houver indícios da atuação de associação criminosa em mais
de um Estado da Federação. (Incluído pela Lei nº § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar
13.124/2015) somente a de multa se o agente for primário e de bons
antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983, de
De quem é a competência para julgar os crimes de furto e 2000)
roubo envolvendo a explosão de caixas eletrônicos?
• Regra: Justiça Estadual.
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de
oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social
previdenciária, inclusive acessórios; ou (Incluído pela Lei nº Ato libidinoso é todo ato de cunho sexual capaz de gerar no
9.983, de 2000) sujeito a satisfação de seus desejos sexuais.

II – o valor das contribuições devidas, inclusive Exs: penetração do pênis na vagina (chamada de conjunção
acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela carnal), penetração anal, sexo oral, masturbação, toques
previdência social, administrativamente, como sendo o íntimos etc.
mínimo para o ajuizamento de suas execuções
fiscais. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

§ 4o A faculdade prevista no § 3o deste artigo não Lascívia


se aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo
valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele Lascívia é o prazer sexual, o prazer carnal, a luxúria.
estabelecido, administrativamente, como sendo o mínimo
para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído Obs: luxúria não tem nada a ver com luxo, mas sim com sexo.
pela Lei nº 13.606, de 2018)

Exemplo 1:
As mudanças nos crimes sexuais promovidas pela Lei
13.718/2018 Dentro de um ônibus, determinado homem faz
automasturbação e ejacula nas costas de uma passageira que
Olá amigos do Dizer o Direito, está sentada à sua frente.

Esta conduta abominável, lamentavelmente, tem ocorrido


com certa frequência.
A Lei nº 13.718/2018 publicada no dia 25/09/2018 trouxe
seis importantes mudanças nos crimes contra a dignidade O fato não podia ser enquadrado como estupro (art. 213 do
sexual. Vamos entender o que mudou. CP), considerando que não houve violência ou grave ameaça:

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que
NSERÇÃO DE NOVO CRIME: IMPORTUNAÇÃO SEXUAL
com ele se pratique outro ato libidinoso:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.


A Lei nº 13.718/2018 acrescentou um novo delito no art. 215-
A do Código Penal, chamado de “importunação sexual”:
Também não podia ser classificado como violação sexual
mediante fraude (art. 215 do CP), tendo em vista que o ato
Importunação sexual libidinoso não foi praticado com a vítima:

Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência Violação sexual mediante fraude
ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
lascívia ou a de terceiro:
libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
constitui crime mais grave.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Em que consiste o delito:


Diante disso, essa conduta era “punida” como contravenção
- O agente (que pode ser homem ou mulher) penal:

- pratica contra a vítima (que também pode ser homem ou Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao
mulher) público, de modo ofensivo ao pudor:

- ato libidinoso Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.

- com o objetivo de satisfazer a própria lascívia

- ou a lascívia de terceiro. Agora, com a Lei nº 13.718/2018, este fato é tipificado como
importunação sexual, delito do art. 215-A do CP.

Vale ressaltar que a Lei nº 13.718/2018 REVOGOU a


Ato libidinoso contravenção penal do art. 61 do DL 3.688/41.
Neste caso, a conduta poderá configurar o crime do art. 218-A
do CP:
Exemplo 2:
Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou
O art. 215-A do CP também serve para punir a conduta adolescente
do frotteurismo.
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14
O frotteurismo consiste em “tocar e esfregar-se em uma (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou
pessoa sem seu consentimento. O comportamento geralmente outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de
ocorre em locais com grande concentração de pessoas, dos outrem:
quais o indivíduo pode escapar mais facilmente de uma
detenção (por ex., calçadas movimentadas ou veículos de Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos
transporte coletivo). Ele esfrega seus genitais contra as coxas
e nádegas ou acaricia com as mãos a genitália ou os seios da
vítima. Ao fazê-lo, o indivíduo geralmente fantasia um
A depender de peculiaridades do caso concreto, o fato pode
relacionamento exclusivo e carinhos com a vítima.”
até mesmo ser enquadrado como estupro de vulnerável. Veja
(http://www.psiquiatriageral.com.br/ dsm4/sexual4.htm.
esta situação analisada pelo STJ (com adaptações):
Acesso em 29/09/2018).
O homem convenceu uma criança de 10 anos a ir até o motel
No frotteurismo não há violência ou grave ameaça, razão pela
com ele.
qual não se enquadra como estupro (art. 213 do CP), mas sim
o delito do art. 215-A do CP. Chegando lá, o agente pediu que a garota ficasse nua na sua
frente, tendo sido atendido.

O simples fato de ver a menina nua já satisfez o sujeito que,


“Se o ato não constitui crime mais grave”
após alguns minutos olhando a criança, determinou que ela
Há uma subsidiariedade expressa no preceito secundário do vestisse novamente as roupas.
art. 215-A do CP. Isso significa que, se a conduta praticada
Foram, então, embora do local sem que o agente tenha tocado
puder se enquadrar em um delito mais grave, não será o crime
na garota.
do art. 215-A do CP.
A criança acabou contando o que se passou a seus pais e o
Ex: se o agente “praticar contra alguém e sem a sua anuência
sujeito foi denunciado pelo Ministério Público pela prática de
ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia”,
estupro de vulnerável.
mas utilizando-se de violência ou grave ameaça, poderá
configurar o crime do art. 213 do CP (mais grave e mais O STJ manteve a imputação:
específico).
A conduta de contemplar lascivamente, sem contato físico,
mediante pagamento, menor de 14 anos desnuda em motel
pode permitir a deflagração da ação penal para a apuração do
Bem jurídico protegido
delito de estupro de vulnerável.
É a liberdade sexual.
STJ. 5ª Turma. RHC 70.976-MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
julgado em 2/8/2016 (Info 587).

Sujeito ativo

Crime comum. O sujeito passivo precisa ser uma pessoa específica

Pode ser praticado por qualquer pessoa (homem ou mulher). Conforme explica com muita propriedade Rogério Sanches:

“O tipo exige que o ato libidinoso seja praticado contra


alguém, ou seja, pressupõe uma pessoa específica a quem
Sujeito passivo deve se dirigir o ato de autossatisfação. Assim é não só porque
o crime está no capítulo relativo à liberdade sexual, da qual
Pode ser praticado contra qualquer pessoa (homem ou apenas indivíduos podem ser titulares, mas também porque
mulher). somente desta forma se evita confusão com o crime de ato
obsceno. Com efeito, responde por importunação sexual
Assim, o art. 215-A do CP é crime bicomum.
quem, por exemplo, se masturba em frente a alguém porque
aquela pessoa lhe desperta um impulso sexual; mas responde
por ato obsceno quem se masturba em uma praça pública sem
Se a vítima for pessoa menor de 14 anos visar a alguém específico, apenas para ultrajar ou chocar os
frequentadores do local.” (Lei 13.718/18: Introduz
modificações nos crimes contra a dignidade sexual. Disponível fundamental. crime.
em: http://meusitejuridico.com.br/2018/09/25/lei-13-
71818-introduz-modificacoes-nos-crimes-contra-dignidade- Infração de médio potencial Infração de menor potencial
sexual/. Acesso em 02/10/2018). ofensivo. ofensivo.

Elemento subjetivo Tentativa

O crime é punido a título de dolo. Na teoria, é possível. Isso porque se trata de crime
plurissubsistente.
Exige-se um elemento subjetivo específico (vulgo “dolo
específico”): o agente deve ter praticado a conduta “com o Crime plurissubsistente é aquele no qual a execução pode ser
objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”. fracionada em vários atos.

Não admite modalidade culposa.

Ação penal

Importunação sexual x Ato obsceno Trata-se de crime de ação pública INCONDICIONADA.

Existe um outro crime (ato obsceno) que, no caso concreto, A partir da Lei nº 13.718/2018, todos os crimes contra a
poderia ser confundido com a importunação sexual. Vamos dignidade sexual são crimes de ação pública incondicionada
comparar os dois crimes: (art. 225 do CP).

IMPORTUNAÇÃO SEXUAL ATO OBSCENO

Art. 215-A. Praticar contra Art. 233. Praticar ato Infração de médio potencial ofensivo
alguém e sem a sua anuência obsceno em lugar público,
A importunação sexual possui pena de 1 a 5 anos de reclusão.
ato libidinoso com o objetivo ou aberto ou exposto ao
Logo, classifica-se como infração de médio potencial ofensivo.
de satisfazer a própria lascívia público:
Isso significa que é possível a concessão de suspensão
ou a de terceiro:
Pena - detenção, de três condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95).
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 meses a um ano, ou multa.
(cinco) anos, se o ato não
constitui crime mais grave. Não se trata de crime hediondo

O sujeito passivo é Sujeito passivo é a Dos delitos contra a dignidade sexual, apenas o estupro (art.
determinado (uma pessoa coletividade (crime vago). 213, caput e §§ 1º e 2º), o estupro de vulnerável (art. 217-A,
determinada ou um grupo de caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º) e o favorecimento da prostituição ou
pessoas determinado). de outra forma de exploração sexual de criança ou
adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º)
Exige-se um elemento O elemento subjetivo é o
são crimes hediondos.
subjetivo especial. O agente dolo, não se exigindo do
pratica a conduta “com o sujeito nenhuma finalidade
objetivo de satisfazer a específica.
própria lascívia ou a de
terceiro”. Revogação do art. 61 da Lei de Contravenções Penais

A conduta não precisa ter sido Para que o crime se A Lei nº 13.718/2018, além de inserir o crime do art. 215-A ao
praticada em lugar público, ou configure, é indispensável CP, também revogou o art. 61 do DL 3.688/41 (contravenção
aberto ou exposto a público. que o ato obsceno tenha sido penal que era chamada de importunação ofensiva ao pudor).
Ex: pode ser praticado no praticado em lugar público, Compare:
interior de uma casa. ou aberto ou exposto ao
público. IMPORTUNAÇÃO OFENSIVA IMPORTUNAÇÃO SEXUAL
AO PUDOR
Para que o crime se configure, Não importa se houve ou
é indispensável que o ato não anuência das pessoas Lei de Contravenções Penais Código Penal
libidinoso tenha sido que estavam presentes. Se o (DL 3.688/41)
Art. 215-A. Praticar contra
praticado contra alguém que ato obsceno foi praticado em Art. 61. Importunar alguem, alguém e sem a sua anuência
não concordou com isso. A lugar público, ou aberto ou
em lugar público ou acessivel ato libidinoso com o objetivo
análise da anuência ou não da exposto ao público, haverá o ao público, de modo ofensivo de satisfazer a própria
pessoa atingida é
ao pudor: lascívia ou a de terceiro: A Lei nº 13.718/2018 acrescentou um novo delito no art. 218-
C do Código Penal:
Pena - multa, de duzentos mil Pena - reclusão, de 1 (um) a 5
réis a dois contos de réis. (cinco) anos, se o ato não
constitui crime mais grave.
Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de
Era uma contravenção penal. Trata-se de crime. vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia

Revogada pela Lei nº Incluído pela Lei nº Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
13.718/2018. 13.718/2018. vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar,
por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação
de massa ou sistema de informática ou telemática -,
fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que
Pergunta: houve abolitio criminis? Os indivíduos que estavam contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou
respondendo ou já haviam sido condenados por que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o
importunação ofensiva ao pudor foram beneficiados com a Lei consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou
nº 13.718/2018 e poderão pedir o reconhecimento de abolito pornografia:
criminis?
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não
NÃO. A conduta descrita no art. 61 do DL 3.688/41 passou a constitui crime mais grave.
ser prevista no art. 215-A do Código Penal, ainda que com
outra redação mais abrangente.

Desse modo, não houve houve abolitio criminis, mas sim Em que consiste o crime:
continuidade normativo-típica.
O tipo penal do art. 218-C traz duas situações diferentes que
O princípio da continuidade normativa ocorre “quando uma reputo importante separá-las:
norma penal é revogada, mas a mesma conduta continua
sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal
continua tipificada em outro dispositivo, ainda que
1ª parte
topologicamente ou normativamente diverso do originário.”
(Min. Gilson Dipp, em voto proferido no HC 204.416/SP). O agente...

Logo, para as pessoas que estavam respondendo ou haviam - oferece, disponibiliza ou divulga
sido condenadas pelo art. 61 do DL 3.688/41 antes da Lei nº
13.654/2018, nada muda. - de qualquer forma (gratuitamente ou não)

- por qualquer meio (digital ou não)

Os indivíduos que ejacularam nas vítimas ou que - pela internet ou fora dela
praticaram frotteurismo antes do dia 25/09/2018 poderão
responder pelo crime do art. 215-A do CP? - fotografia, vídeo ou qualquer registro audiovisual

NÃO. Somente podem responder pelo art. 215-A do CP - que contenha cena de estupro (art. 213 do CP)
aqueles que praticaram a conduta a partir do dia 25/09/2018
- ou cena de estupro de vulnerável envolvendo as pessoas do
(se foi no dia 25/09/2018, já incide o art. 215-A).
§ 1º do art. 217-A
Como a Lei nº 13.718/2018 incluiu uma nova infração penal
- ou cena que faça apologia (“propaganda”) ou induza a sua
(art. 215-A do CP) mais grave que a contravenção penal do
prática.
art. 61, ela representa novatio legis in pejus (lei penal mais
grave), não podendo retroagir para alcançar situações
pretéritas (art. 5º, XL, da CF/88).
2ª parte

O agente...

- oferece, disponibiliza ou divulga


II – NOVO CRIME: DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU
DE CENA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO - de qualquer forma (gratuitamente ou não)
OU DE PORNOGRAFIA
- por qualquer meio (digital ou não)

- pela internet ou fora dela

- fotografia, vídeo ou qualquer registro audiovisual


- que contenha cena de sexo, nudez ou pornografia sujeito a obteve clandestinamente (ex: invadiu o computador
da vítima e dali extraiu o vídeo).
- sem que a(s) pessoa(s) que está(ão) aparecendo na
fotografia ou vídeo tenha(m) autorizado a sua publicação. Vale ressaltar, no entanto, que se o agente obteve a mídia
invadindo um dispositivo informático e depois repassou as
fotografias/vídeos, neste caso ele responderá por dois delitos
em concurso material (art. 154-A e art. 218-C do CP).
Diferença entre a 1ª e a 2ª partes do tipo penal

1ª parte do art. 218-C 2ª parte do art. 218-C


“Se o ato não constitui crime mais grave”
O agente divulga uma Aqui não tem nada a ver com
fotografia ou vídeo que estupro. Há uma subsidiariedade expressa no preceito secundário do
contém uma cena de estupro art. 218-C do CP. Isso significa que, se a conduta praticada
(relação sexual sem O agente divulga uma
puder se enquadrar em um delito mais grave, não será o crime
consentimento) ou uma cena fotografia ou vídeo que
do art. 218-C do CP.
que faça apologia ou induza a contém uma cena de sexo
prática de estupro. (consensual), nudez ou
pornografia.
Bem jurídico protegido
A divulgação é feita sem o
consentimento da pessoa que É a liberdade sexual.
aparece na fotografia ou
vídeo.
Sujeito ativo
Ex: agente divulga na deep Ex: Isabela e Ricardo são
web vídeo no qual um homem namorados e costumam Crime comum.
mantém relação sexual com filmar alguns atos sexuais
uma mulher que, por estar que praticam. Isabela termina Pode ser praticado por qualquer pessoa (homem ou mulher).
completamente embriagada, o relacionamento e Ricardo,
não tinha o necessário como forma de vingança, O agente que divulgou o vídeo não precisa ter sido o mesmo
discernimento para a prática divulga os vídeos em um site indivíduo que participou ou filmou o ato. Se for a mesma
do ato nem podia oferecer pornográfico na internet. pessoa, poderá haver concurso de crimes.
resistência.
Ex: imagine que o indivíduo praticou o estupro e filmou o ato.
Em seguida, ele divulgou o vídeo na deep web. Neste caso, ele
terá praticado dois delitos em concurso material: estupro e o
Pessoas que recebem a fotografia ou vídeo cometem o crime do art. 218-C do CP.
crime?

Imagine que João envia, em um grupo do whatsapp o vídeo de


sua ex-namorada nua como forma de vingança pelo fato de ela Sujeito passivo
ter terminado o relacionamento. Os demais integrantes do
A vítima deste crime é a pessoa que aparece na fotografia ou
grupo, que receberam a mídia e salvaram em seus celulares
no vídeo.
para ficarem olhando depois, praticam o crime?
O delito pode ser praticado contra qualquer pessoa (homem
NÃO. Esta conduta de receber a fotografia/vídeo e salvá-lo
ou mulher).
não se amolda em nenhum dos núcleos do tipo que são os
seguintes: “oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender Assim, o art. 218-C do CP é crime bicomum.
ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar”.
Muito cuidado! Se a vítima for pessoa menor de 18 anos, o
Vale ressaltar, no entanto, que se um dos membros do grupo delito será o do art. 241 ou o do art. 241-A do ECA:
incentivou que o ex-namorado enviasse as fotos/vídeos, ele
poderá responder pelo crime na qualidade de partícipe. Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente:

Forma como o agente obteve a fotografia ou vídeo Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Para a configuração do art. 218-C do CP não interessa a forma


como o agente obteve a fotografia ou vídeo. Haverá o delito
tanto no caso em que o agente recebeu a mídia da própria Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
vítima (ex: mulher enviou ao seu então namorado uma distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
fotografia sua despida) como também na hipótese em que o por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia,
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Intenção do agente pode servir para majorar o crime
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Se a intenção do agente ao praticar o crime era a de se vingar
da vítima ou humilhá-la, haverá um aumento de pena de 1/3 a
2/3 (§ 1º do art. 218-C do CP).
Diferença entre o art. 218-C do CP e os arts. 241 e 241-A do
ECA

• Se a cena de sexo explícito ou pornográfica envolver criança Tipo misto alternativo:


ou adolescente: a situação se enquadrará nos arts. 241 e 241-
A do ECA. Trata-se de tipo misto alternativo, ou seja, o legislador
descreveu várias condutas (verbos), porém, se o sujeito
• Se a cena de sexo explícito ou pornográfica envolver adulto: praticar mais de um verbo, no mesmo contexto fático e contra
o crime será o do art. 218-C do CP. o mesmo objeto material, responderá por um único crime, não
havendo concurso de crimes nesse caso.

Desse modo, quando o art. 218-C fala em fotografia ou vídeo


que contenha cena “de estupro de vulnerável”, o que ele está Consumação
se referindo é à situação prevista no § 1º do art. 217-A do CP:
Ocorre no momento em que o agente pratica qualquer dos
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato verbos ali descritos, ou seja, oferece, troca, disponibiliza,
libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: transmite, vende, expõe à venda, distribui, publica ou divulga.

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. Trata-se de crime material.

§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas


no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do Tentativa
ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
Na teoria, é possível. Isso porque se trata de crime
resistência.
plurissubsistente.

Crime plurissubsistente é aquele no qual a execução pode ser


Explicando melhor. O estupro de vulnerável consiste na fracionada em vários atos.
prática de conjunção carnal ou ato libidinoso contra:

a) menor de 14 anos;
Ação penal
b) pessoa que, por enfermidade ou deficiência mental, não
Trata-se de crime de ação pública INCONDICIONADA.
tem o necessário discernimento para a prática do ato sexual;
A partir da Lei nº 13.718/2018, todos os crimes contra a
c) pessoa que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
dignidade sexual são crimes de ação pública incondicionada
resistência.
(art. 225 do CP).

• Se a cena envolve vulnerável que seja criança ou


Infração de médio potencial ofensivo
adolescente, a situação se enquadrará nos arts. 241 e 241-A
do ECA. O crime do art. 218-C possui pena de 1 a 5 anos de reclusão.
Logo, classifica-se como infração de médio potencial ofensivo.
• Se a cena envolve vulnerável que não seja criança ou
Isso significa que é possível a concessão de suspensão
adolescente, o crime será o do art. 218-C do CP.
condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95).

Elemento subjetivo
Não se trata de crime hediondo
O crime é punido a título de dolo.

Não se exige qualquer elemento subjetivo específico.

Não admite modalidade culposa.


Dos delitos contra a dignidade sexual, apenas o estupro (art. não envolve a intenção do como algo que envolve a
213, caput e §§ 1º e 2º), o estupro de vulnerável (art. 217-A, agente. Se o sujeito mantém intenção do agente.
caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º) e o favorecimento da prostituição ou ou manteve relação íntima de
de outra forma de exploração sexual de criança ou afeto com a vítima, ele já Na prática, esta segunda
adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º) receberá o aumento da pena hipótese servirá para punir os
são crimes hediondos. mesmo que não haja provas casos de sujeitos que não
que revelem qual foi a sua mantinham relação íntima de
intenção ao divulgar o vídeo afeto com a vítima.
ou a fotografia. Agiu bem o
Lei penal mais grave Ex: Pedro trabalha com Lúcia
legislador ao prever assim
na mesma empresa. Ambos
Somente podem responder pelo art. 218-C do CP aqueles que porque evita uma difícil
disputaram uma promoção.
praticaram a conduta a partir do dia 25/09/2018 por se discussão sobre a intenção
Pedro divulga na lista de e-
tratar de lei penal mais grave e, portanto, irretroativa. do agente.
mail do trabalho fotografias
Ex: ex-namorado que divulga de Lúcia nua como forma de
fotografias eróticas de sua vingança por ter perdido a
ex-namorada. promoção para ela.

Aumento de pena

§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois


terços) se o crime é praticado por agente que mantém ou
tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou Exclusão de ilicitude
com o fim de vingança ou humilhação.
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas
descritas no caput deste artigo em publicação de
natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica
“Revenge porn” (pornografia de vingança/revanche) com a adoção de recurso que impossibilite a identificação
da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja
Esse § 1º pune uma prática que, infelizmente, ocorre com
maior de 18 (dezoito) anos.
frequência e que é chamada de “porn reveng”. A “revenge
porn” consiste na conduta do ex-namorado ou ex-marido que,
inconformado com o término da relação, divulga, como forma
de punir a sua ex-parceira, fotografias ou imagens nas quais O § 2º traz duas situações. Não haverá o crime se:
ela aparece nua ou em cenas de sexo.
• o agente divulga a fotografia ou o vídeo em publicação de
Obviamente, a “revenge porn” também pode ser praticada natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica sem
pela ex-namorada ou ex-esposa contra o seu ex-parceiro, identificar a vítima;
apesar de não ser o mais comum.
• o agente divulga a fotografia ou o vídeo em publicação de
Antes da Lei nº 13.718/2018 não havia um tipo penal natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica
específico que punisse a “revenge porn”, restando à vítima identificando a vítima, desde que ela seja maior de 18 anos e
buscar uma indenização cível. tenha dado autorização para isso.

Duas situações autônomas Em nenhuma hipótese será permitida a identificação da


vítima se ela for menor de 18 anos, sendo nulo seu
Repare que o § 1º acima traz duas causas de aumento de pena. consentimento ou de seus representantes legais.

São situações alternativas, ou seja, basta que ocorra uma ou


outra.

III – ALTERAÇÃO NO CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL


Causas de aumento de pena do § 1º do art. 218-C do CP

1) Se o agente que praticou o 2) Se o agente praticou o


crime mantém ou tinha crime com o objetivo de se Uma outra alteração promovida pela Lei nº 13.718/2018 foi
mantido relação íntima de vingar da vítima ou de no crime de estupro de vulnerável.
afeto com a vítima. humilhá-la.
O estupro de vulnerável é previsto no art. 217-A ao Código
Esta primeira situação é Esta segunda situação é Penal:
objetiva no sentido de que subjetiva, aqui entendida
Estupro de vulnerável de estupro de vulnerável mesmo que essa relação sexual
tenha sido consentida? Imagine que Rodolfo seja o segundo
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato namorado da moça e que ela já tenha tido relações sexuais
libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: com seu primeiro namorado. Mesmo assim Rodolfo terá
praticado o crime?
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
A resposta é sim.
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas
no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência O STJ apreciou o tema e, a fim de que não houvesse mais
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do dúvidas quanto a isso, editou um enunciado nos seguintes
ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer termos:
resistência.
Súmula 593-STJ: O crime de estupro de vulnerável se
§ 2º (VETADO) configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso
com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
consentimento da vítima para a prática do ato, sua
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. experiência sexual anterior ou existência de relacionamento
amoroso com o agente.
§ 4º Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.


O Congresso Nacional decidiu incorporar na legislação esse
entendimento e acrescentou o § 5º ao art. 217-A do CP
repetindo, em parte, a conclusão da súmula
Esse tipo proíbe, portanto, manter relação sexual (conjunção
carnal ou outros atos libidinosos) com pessoa que é Art. 217-A. (...)
vulnerável. Vale ressaltar que será caracterizado o crime
mesmo que não tenha havido violência ou grave ameaça. § 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste
artigo aplicam-se independentemente do consentimento da
vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais
anteriormente ao crime. (Inserido pela Lei nº 13.718/2018)
Quem é vulnerável para os fins do art. 217-A do CP?

1) Pessoa menor de 14 anos;


Consentimento e pessoas com deficiência
2) Pessoa que, por apresentar alguma enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a Se você observar a Súmula 593 do STJ verá que ela tratou
prática do ato; apenas de uma das hipóteses de pessoa vulnerável, qual seja,
a pessoa menor de 14 anos.
3) Pessoa que, por qualquer causa, não pode oferecer
resistência. Ex: em estado de coma. O novo § 5º, por sua vez, levou o entendimento exposto na
súmula para as outras duas situações de vulnerabilidade
previstas no § 1º do art. 217-A:
Toda pessoa com enfermidade ou deficiência mental será • Pessoa que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem
considerada vulnerável, para os fins do art. 217-A do CP? o necessário discernimento para a prática do ato;
NÃO. Pela leitura do § 1º do art. 217-A do CP, pode-se concluir • Pessoa que, por qualquer causa, não pode oferecer
que a pessoa com enfermidade ou deficiência mental somente resistência.
será considerada vulnerável para fins de estupro de
vulnerável se ela não tiver “o necessário discernimento para a
prática do ato”.
Deve-se ter muito cuidado com a aplicação deste § 5º para as
pessoas com deficiência. Isso porque em regra, a pessoa com
deficiência possui os mesmos direitos de que dispõe uma
Se o agente praticar conjunção carnal (penetração pessoa sem deficiência. Nesse sentido é o art. 4º da Lei nº
vaginal) ou outro ato libidinoso (ex: coito anal) com uma 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com deficiência):
pessoa vulnerável, haverá o crime do art. 217-A do CP
mesmo que a vítima consinta (concorde) com o ato sexual? Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de
oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma
Esse tema foi exaustivamente discutido no que tange às espécie de discriminação.
pessoas menores de 14 anos. Suponhamos, por exemplo, que
Beatriz (13 anos de idade) pratica sexo com Rodolfo (seu
namorado de 18 anos). Neste caso, ele terá cometido o crime
Isso significa que, em regra, a pessoa com deficiência pode
fazer livremente suas escolhas diárias bem como decidir
autonomamente sobre os destinos de sua vida, tendo, IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é
inclusive, liberdade sexual, conforme prevê expressamente o praticado:
art. 6º, II, da Lei nº 13.146/2015:
Estupro coletivo
Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes;
pessoa, inclusive para:

(...)
Estupro corretivo
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;

b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.


Logo, o simples fato de ter havido sexo consensual com pessoa
(Inciso IV inserido pela Lei nº 13.718/2018)
com deficiência não gera o crime de estupro de vulnerável. É
necessário que a pessoa com deficiência seja vulnerável, ou
seja, que ela não tenha o necessário discernimento para a
prática do ato. O estupro coletivo (inciso IV, “a”) é cometido
necessariamente com o concurso de 2 pessoas. Como
Assim, a interpretação do § 5º do art. 217-A, no caso de compatibilizá-lo com o inciso I do art. 226? Quando se
pessoas com deficiência, deve ser a seguinte: a pena prevista aplica um ou o outro?
no § 1º do art. 217-A aplica-se independentemente do
consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido • Inciso IV, “a”: aplicado apenas para os casos de estupro (arts.
relações sexuais anteriormente ao crime se a pessoa com 213 e 217-A do CP). Isso porque o nomen iuris da causa de
deficiência não puder dar um consentimento válido em aumento fala em “estupro coletivo” e “estupro corretivo”.
virtude de não ter o necessário discernimento para a prática
do ato. • Inciso I: aplicado para os casos demais crimes contra a
dignidade sexual.
Por outro lado, se a pessoa com deficiência tiver
discernimento para a prática do ato, seu consentimento será
sim válido e irá excluir o crime do art. 217-A do CP,
Em que consiste esse estupro corretivo?
considerando que, neste caso, a pessoa com deficiência não
será vulnerável. Rogério Sanches explica com maestria o tema:

“Já a majorante do estupro corretivo abrange, em regra,


crimes contra mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais, no
qual o abusador quer “corrigir” a orientação sexual ou o
IV – NOVA CAUSA DE AUMENTO DE PENA PARA OS gênero da vítima. A violação tem requintes de crueldade e é
ESTUPROS COLETIVO E CORRETIVO (ART. 226 DO CP) motivada por ódio e preconceito, justificando a nova causa de
aumento. A violência é usada como um castigo pela negação
da mulher à masculinidade do homem. Uma espécie doentia
de ‘cura’ por meio do ato sexual à força. A característica desta
O art. 226 do Código Penal traz algumas causas de aumento de forma criminosa é a pregação do agressor ao violentar a
pena para os crimes sexuais. vítima.

A Lei nº 13.718/2018 acrescenta uma nova causa de aumento Os meios de comunicação indicam casos em que os agressores
de pena punindo com mais rigor o estupro “coletivo” e o chegam a incitar a “penetração
estupro “corretivo”.
corretiva” em grupos das redes sociais e sites na internet (o
Veja o inciso IV que foi inserido pela Lei nº 13.718/2018: que, isoladamente, pode caracterizar o crime do art. 218-C –
apologia ou induzimento à prática do estupro – caso sejam
Art. 226. A pena é aumentada:
veiculados fotografias ou registros audiovisuais).” (Lei
I - de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 13.718/18: Introduz modificações nos crimes contra a
(duas) ou mais pessoas; dignidade sexual. Disponível
em: http://meusitejuridico.com.br/2018/09/25/lei-13-
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou 71818-introduz-modificacoes-nos-crimes-contra-dignidade-
madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, sexual/. Acesso em 02/10/2018).
preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro
título tiver autoridade sobre ela; Infelizmente são cada vez mais comuns esses abomináveis
casos havendo relatos de lésbicas que foram estupradas por
III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) homens que diziam agora você “vai aprender aprender a
gostar de homem” ou “agora você vira mulher de verdade”
(https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2017/11/02/
vai-virar-mulher-de-verdade-estupro-corretivo-vitimiza- VI – AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE
mulheres-lesbicas.htm) SEXUAL

A ação penal nos crimes sexuais deve ser analisada em três


momentos históricos. Acompanhe:
V – NOVAS CAUSAS DE AUMENTO DE PENA PARA OS
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL (ART. 234-A DO AÇÃO PENAL NOS CRIMES SEXUAIS
CP)
Redação Regra: ação penal privada.
originária

O art. 234-A do Código Penal traz duas causas de aumento de do CP


pena para os crimes contra a dignidade sexual. Tais hipóteses Exceções:
foram alteradas pela Lei nº 13.718/2018:
a) se a vítima ou seus pais não tivessem
dinheiro para o processo: ação pública
condicionada à representação.
Antes da Lei nº 13.718/2018 Depois da Lei nº
b) se o crime era cometido com abuso do
13.718/2018 (atualmente)
poder familiar, ou da qualidade de padrasto,
Art. 234-A. Nos crimes Art. 234-A. Nos crimes tutor ou curador: ação pública incondicionada.
previstos neste Título (crimes previstos neste Título (crimes
c) se da violência resultasse lesão grave ou
contra a dignidade sexual) a contra a dignidade sexual) a
morte da vítima: ação pública incondicionada.
pena é aumentada: pena é aumentada:
d) se o crime de estupro fosse praticado
(...) (...)
mediante o emprego de violência real: ação
III - de metade, se do crime III - de metade a 2/3 (dois pública incondicionada.
resultar gravidez; e terços), se do crime resulta
Redação da Regra: ação penal pública condicionada à
gravidez;
IV - de um sexto até a metade, representação.
Lei
se o agente transmite à IV - de 1/3 (um terço) a 2/3
12.015/09
vitima doença sexualmente (dois terços), se o agente
transmissível de que sabe ou transmite à vítima doença Exceções:
deveria saber ser portador. sexualmente transmissível de
que sabe ou deveria saber ser a) Vítima menor de 18 anos: incondicionada.
portador, ou se a vítima é
idosa ou pessoa com b) Vítima vulnerável: incondicionada.
deficiência.
c) Se foi praticado mediante violência real:
incondicionada (Súm. 608-STF).

Vítima pessoa com deficiência e estupro de vulnerável d) Se resultou lesão corporal grave ou morte:
polêmica, mas prevalecia que deveria ser
Uma das hipóteses de estupro de vulnerável ocorre quando a aplicado o mesmo raciocínio da Súmula 608-
conjunção carnal ou ato libidinoso diverso é praticado com STF.
pessoa que, “por enfermidade ou deficiência mental, não tem
o necessário discernimento para a prática do ato” (art. 217-A, Redação da Ação pública incondicionada (sempre).
§ 1º do CP).
Lei Todos os crimes contra a dignidade sexual são
Desse modo, uma das vítimas do estupro de vulnerável é a 13.718/18 de ação pública incondicionada. Não há
pessoa com deficiência que não tenha discernimento. (quadro exceções!
atual)
Em tais casos, penso que não deve ser aplicada essa nova
causa de aumento de pena do art. 234-A, IV, do CP. Isso
porque haveria aí um bis in idem considerando que, com
Veja a nova redação do art. 225 do CP:
outras palavras, o fato de a vítima ser pessoa com deficiência
é uma das elementares do tipo do art. 217-A, § 1º do CP. Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste
Título, procede-se mediante ação penal pública
incondicionada. (Redação dada pela Lei nº 13.718/2018).
O art. 225 do CP fala apenas nos Capítulos I e II do Título Strepitus judicii
VI. E os crimes previstos nos demais Capítulos deste Título?
Qual será a ação penal neste caso? Em uma tradução literal do latim, strepitus judicii significa o
barulho, o ruído, o escândalo decorrente do julgamento.
Também será ação pública incondicionada. Isso por força do
art. 100 do CP (Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando Quando uma mulher é vítima de um estupro, por exemplo, o
a lei expressamente a declara privativa do ofendido.). fato de se instaurar um inquérito policial e, posteriormente,
uma ação penal gera uma exposição do seu caso na
Assim, repito: todos os crimes contra a dignidade sexual são comunidade. Isso porque, por mais que o processo corra em
de ação pública incondicionada. sigilo (art. 234-B do CP), é normal que a notícia acerca da
existência da ação penal se torne conhecida de outras pessoas,
gerando um sentimento de vergonha na vítima.
Súmula 608-STF Além disso, infelizmente, algumas teses defensivas ainda hoje
procuram transferir ou dividir a responsabilidade pelos
Em 1984, o STF editou uma súmula afirmando que, se o
crimes sexuais para a vítima. Submeter a vítima a ouvir ou ler
estupro fosse praticado mediante violência real, a ação penal
tal espécie de argumentação implica, sem dúvidas, mais
seria pública incondicionada. Confira:
sofrimento.
Súmula 608-STF: No crime de estupro, praticado mediante
violência real, a ação penal é pública incondicionada.
Revitimização

A vítima de um crime, especialmente em delitos sexuais ou


Com a edição da Lei nº 12.015/2009, a maioria da doutrina
violentos, todas as vezes em que for inquirida sobre os fatos,
defendeu a ideia de que esta súmula teria sido superada. Isso
ela é, de alguma forma, submetida a um novo trauma, um
porque, como vimos, com a Lei nº 12.015/2009, a regra geral
novo sofrimento ao ter que relatar um episódio triste e difícil
no estupro passou a ser a ação pública condicionada. Ao tratar
de sua vida para pessoas estranhas, normalmente em um
sobre as exceções nas quais o crime seria de ação pública
ambiente formal e frio. Desse modo, a cada depoimento, a
incondicionada, o parágrafo único do art. 225 não falou em
vítima sofre uma violência psíquica.
estupro com violência real. Logo, para os autores, teria havido
uma omissão voluntária do legislador. Assim, revitimização consiste nesse sofrimento continuado ou
repetido da vítima ao ter que relembrar esses fatos.
O STF, contudo, não acatou esta tese. Para o STF, mesmo após a
Lei nº 12.015/2009, o estupro praticado mediante violência Alguns autores afirmam que a revitimização é uma forma de
real continuou a ser de ação pública incondicionada: “violência institucional” cometida pelo Estado contra a vítima.
A Súmula 608 do STF permanece válida mesmo após o “A revitimização no atendimento às mulheres em situação de
advento da Lei nº 12.015/2009. violência, por vezes, tem sido associada à repetição do relato
de violência para profissionais em diferentes contextos o que
Assim, em caso de estupro praticado mediante violência real,
pode gerar um processo de traumatização secundária na
a ação penal é pública incondicionada.
medida em que, a cada relato, a vivência da violência é
STF. 1ª Turma. HC 125360/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ reeditada.
o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/2/2018 (Info
Além da revitimização decorrente do excesso de depoimentos,
892).
revitimizar também pode estar associado a atitudes e
comportamentos, tais como: paternalizar; infantilizar;
culpabilizar; generalizar histórias individuais; reforçar a
A Lei nº 13.718/2018 retira qualquer dúvida que ainda vitimização; envolver-se em excesso; distanciar-se em
poderia existir e, portanto, o enunciado da súmula 608 do STF excesso; não respeitar o tempo da mulher; transmitir falsas
continua válido, apesar de ser atualmente óbvio/inútil expectativas. A prevenção da revitimização requer o
considerando que todos os crimes contra a dignidade sexual atendimento humanizado e integral, no qual a fala da mulher
são de ação pública incondicionada. é valorizada e respeitada.” (Diretrizes gerais e protocolos de
atendimento. Programa “Mulher, viver sem violência”. Brasil:
Governo Federal. Secretaria Especial de Políticas para
mulheres. 2015).
Por que a ação penal nos crimes sexuais (que são delitos
graves e abomináveis) eram, em regra, de ação penal
pública condicionada à representação?
Por essas duas razões, o legislador entendia que, sendo a
Para evitar o strepitus judicii do processo e a revitimização. vítima maior de idade e pessoa não vulnerável, ela é quem
deveria decidir se desejaria ou não deflagrar a instauração do Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em
processo, ponderando seu desejo de justiça com as agruras mulheres grávidas durante os atos médico-hospitalares
que ainda teria que enfrentar. preparatórios para a realização do parto e durante o trabalho
de parto, bem como em mulheres durante o período de
puerpério imediato. (Redação dada pela Lei nº 13.434, de
2017)
O certo é que o legislador fez uma opção e acabou com a ação
penal condicionada nos crimes sexuais. São todos eles agora
delitos de ação pública incondicionada. Obviamente que, na
prática, a vítima ainda continuará tendo certa autonomia. Isso CAPÍTULO II
porque a maioria desses delitos ocorrem às escondidas, sem
testemunhas, cabendo a decisão à vítima se irá levar tal fato DO EXAME DO CORPO DE DELITO, E DAS PERÍCIAS EM
ao conhecimento das autoridades. GERAL

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será


indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto,
Vigência não podendo supri-lo a confissão do acusado.
A Lei nº 13.718/2018 entrou em vigor na data de sua
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização
publicação (25/09/2018). Como se trata de lei penal mais do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que
gravosa (novatio legis in pejus), ela é irretroativa, não envolva: (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)
alcançando fatos praticados antes da sua vigência.
I - violência doméstica e familiar contra
Essa regra de irretroatividade vale, inclusive, para as ações mulher; (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)
penais. Assim, por exemplo, se, em 24/09/2018, o agente
cometeu contra uma mulher maior de 18 anos um assédio II - violência contra criança, adolescente, idoso ou
sexual (art. 216-A do CP), a ação penal continua sendo pública pessoa com deficiência. (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de
condicionada à representação. 2018)

CAPÍTULO IV
DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL DA PRISÃO DOMICILIAR

Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher


Registro não autorizado da intimidade sexual
gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou
pessoas com deficiência será substituída por prisão
Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, domiciliar, desde que: (Incluído pela Lei nº 13.769, de
por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual 2018).
ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos
participantes: (Incluído pela Lei nº 13.772, de 2018)
I - não tenha cometido crime com violência ou grave
ameaça a pessoa; (Incluído pela Lei nº 13.769, de
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e
2018).
multa.

II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou


Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza
dependente. (Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018).
montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro
registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato
sexual ou libidinoso de caráter íntimo. (Incluído pela Lei nº
13.772, de 2018)
DIREITO ADMINISTRATIVO

Comentários à Lei 13.655/2018, que alterou a LINDB


CÓDIGO DE PROCESSO PENAL prevendo normas de segurança jurídica na aplicação do
direito público

Art. 292. Se houver, ainda que por parte de


terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinada
por autoridade competente, o executor e as pessoas que o Olá amigos do Dizer o Direito,
auxiliarem poderão usar dos meios necessários para
defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se Foi publicada no dia 26/04 mais uma importante novidade
lavrará auto subscrito também por duas testemunhas. legislativa.
Trata-se da Lei nº 13.655/2018, que inclui diversos Justificativa dos juristas que auxiliaram na elaboração do
dispositivo na Lei de Introdução às Normas do Direito anteprojeto
Brasileiro (LINDB). O art. 20 da LINDB tem por finalidade reforçar a ideia de
responsabilidade decisória estatal diante da incidência de
A lei é fruto de um projeto apresentado pelo Senador Antonio normas jurídicas indeterminadas, as quais sabidamente
Anastasia e que foi elaborado pelos Professores Carlos Ari admitem diversas hipóteses interpretativas e, portanto, mais
Sundfeld e Floriano de Azevedo Marques Neto. de uma solução.
O dispositivo proíbe “motivações decisórias vazias, apenas
Vou fazer aqui uns breves comentários sobre a novidade retóricas ou principiológicas, sem análise prévia de fatos e de
legislativa. impactos. Obriga o julgador a avaliar, na motivação, a partir
de elementos idôneos coligidos no processo administrativo,
1. NOÇÕES GERAIS SOBRE A LINDB judicial ou de controle, as consequências práticas de sua
decisão.”
A LINDB (antiga LICC) é o Decreto-lei nº 4.657/42.
“Quem decide não pode ser voluntarista, usar meras intuições,
Trata-se de uma “norma de sobredireito”. Isso quer dizer que
improvisar ou se limitar a invocar fórmulas gerais como
ela é uma norma que tem por finalidade regulamentar outras
'interesse público', 'princípio da moralidade' e outras. É
normas. Em razão disso, dizem que ela é uma “lei sobre lei”
preciso, com base em dados trazidos ao processo decisório,
(lex legum).
analisar problemas, opções e consequências reais. Afinal, as
Outro exemplo de norma de sobredireito: a LC 95/98, que
decisões estatais de qualquer seara produzem efeitos práticos
dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a
no mundo e não apenas no plano das ideias.”
consolidação das leis.
(https://www.conjur.com.br/dl/parecer-juristas-rebatem-
Antigamente, o Decreto-lei nº 4.657/42 era chamado de “Lei
criticas.pdf)
de Introdução ao Código Civil Brasileiro” (LICC). Em 2010, foi
editada a Lei nº 12.376 alterando o “nome” deste DL, que
Esfera administrativa
passou a ser chamado de “Lei de Introdução às normas do
Consiste na instância que se passa dentro da própria
Direito Brasileiro” (LINDB).
Administração Pública, normalmente em um processo
A alteração do nome de LICC para LINDB teve por objetivo
administrativo.
deixar claro que ela se aplica para todos os ramos do direito.
O seu conteúdo interessa à Teoria Geral do Direito e não
Esfera controladora
apenas ao Direito Civil.
Aqui a Lei está se referindo precipuamente aos Tribunais de
Contas, que são órgãos de controle externo.
A LINDB está estruturada da seguinte maneira:
a) Arts. 1º e 2º: tratam sobre vigência das normas
Esfera judicial
b) Art. 3º: obrigatoriedade das leis;
São os processos que tramitam no Poder Judiciário.
c) Art. 4º: integração das normas;
d) Art. 5º: interpretação das normas;
Esse dispositivo proíbe que se decida com base em valores
e) Art. 6º: aplicação da lei no tempo;
jurídicos abstratos?
f) Arts. 7º a 19: aplicação da lei no espaço.
NÃO. Continua sendo possível. No entanto, todas as vezes em
g) Arts. 20 a 30: normas sobre segurança jurídica e eficiência
que se decidir com base em valores jurídicos abstratos,
na criação e na aplicação do direito público (acrescentados
deverá ser feita uma análise prévia de quais serão as
pela Lei nº 13.655/2018).
consequências práticas dessa decisão.
O art. 20 da LINDB introduz a necessidade de o órgão julgador
considerar um argumento metajurídico no momento de
2. LEI 13.655/2018 E NORMAS SOBRE SEGURANÇA
decidir, qual seja, as “consequências práticas da decisão”.
JURÍDICA E EFICIÊNCIA NA CRIAÇÃO E NA APLICAÇÃO DO
Em outras palavras, a análise das consequências práticas da
DIREITO PÚBLICO
decisão passa a fazer parte das razões de decidir.
A Lei nº 13.655/2018 incluiu na LINDB os arts. 20 a 30
prevendo regras sobre segurança jurídica e eficiência na Resumo:
criação e na aplicação do direito público. Vale ressaltar que o • Não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem
art. 25 foi vetado. que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
A interpretação dos arts. 20 a 30, portanto, deve ser a de que • Isso vale para decisões proferidas nas esferas
eles se aplicam para temas de direito público, mais administrativas (ex: em um PAD), controladora (ex:
especificamente para matérias de Direito Administrativo, julgamento das contas de um administrador público pelo TCE)
Financeiro, Orçamentário e Tributário. e judicial (ex: em uma ação civil pública pedindo melhores
Tais regras não se aplicam, portanto, para temas de direito condições do sistema carcerário).
privado.
Tentativa de mitigar a força normativa dos princípios
A Constituição Federal é repleta de “valores jurídicos
3. DECISÃO COM BASE EM VALORES JURÍDICOS abstratos”. São inúmeros exemplos: “dignidade da pessoa
ABSTRATOS humana” (art. 1º, III), “valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa” (art. 1º, IV), “moralidade” (art. 37, caput), “bem-
A Lei nº 13.655/2018 acrescenta à LINDB o art. 20, cujo caput
estar e a justiça sociais” (art. 193), “meio ambiente
possui a seguinte redação:
ecologicamente equilibrado” (art. 225).
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e Esses valores jurídicos abstratos são normalmente
judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos classificados como princípios. Isso porque os princípios são
abstratos sem que sejam consideradas as consequências normas que possuem um grau de abstração maior que as
práticas da decisão. regras.
Em um período histórico chamado de “positivismo”, que ficou
no passado, os princípios, pelo fato de terem esse alto grau de
abstração, não eram nem considerados como normas Vale ressaltar que esse art. 20 revela uma enorme
jurídicas. contradição. Isso porque ele defende que o julgador não deve
Esse período histórico foi superado e, atualmente, vigora o decidir com base em “valores jurídicos abstratos” sem que
“pós-positivismo”. Uma das características do pós-positivismo sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
é o reconhecimento da “normatividade primária dos Ocorre que a própria Lei nº 13.655/2018 introduz na LINDB
princípios constitucionais”. Em outras palavras, atualmente, uma série de expressões jurídicas abstratas, como por
“os princípios são considerados normas jurídicas, ao lado das exemplo: “segurança jurídica de interesse geral”, “interesses
regras, e podem ser invocados para controlar a juridicidade gerais da época”, regularização “de modo proporcional e
da atuação do Estado.” (OLIVEIRA, Rafael Carvalho equânime”, “obstáculos e dificuldades reais do gestor”,
Rezende. Curso de Direito Administrativo. 2ª ed., São Paulo: “orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado”
Método, 2014, p. 23). etc.
Com base na força normativa dos princípios constitucionais, o
Poder Judiciário, nos últimos anos, condenou o Poder Público
a implementar uma série de medidas destinadas a assegurar 4. MOTIVAÇÃO DEVERÁ DEMONSTRAR A NECESSIDADE E
direitos que estavam sendo desrespeitados. Vamos relembrar ADEQUAÇÃO
alguns exemplos:
Veja o que diz o parágrafo único do art. 20 acrescentado pela
• Município condenado a fornecer vaga em creche a criança de
Lei nº 13.655/2018:
até 5 anos de idade (STF. RE 956475, Rel. Min. Celso de Mello,
julgado em 12/05/2016). Art. 20. (...)
• Administração Pública condenada a manter estoque mínimo Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade
de determinado medicamento utilizado no combate a certa e a adequação da medida imposta ou da invalidação de
doença grave, de modo a evitar novas interrupções no ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa,
tratamento (STF. 1ª Turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo inclusive em face das possíveis alternativas.
Lewandowski, julgado em 25/6/2014).
• Estado condenado a garantir o direito a acessibilidade em Motivação
prédios públicos (STF. 1ª Turma. RE 440028/SP, rel. Min. Todas as decisões, sejam elas proferidas pelos órgãos
Marco Aurélio, julgado em 29/10/2013). administrativos, controladores ou judiciais, devem ser
• Poder Público condenado a realizar obras emergenciais em motivadas.
estabelecimento prisional (STF. Plenário. RE 592581/RS, Rel. Isso significa que o administrador, conselheiro ou magistrado,
Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/8/2015). ao tomar uma decisão, deverá indicar os motivos de fato e de
direito que o levaram a agir daquela maneira.
Todas essas decisões foram proferidas com fundamento em
princípios constitucionais, ou seja, com base em “valores Novo requisito da motivação
jurídicos abstratos”. O que o legislador pretendeu, portanto, O administrador, conselheiro ou magistrado quando for...
foi, indiretamente, tentar tolher o ativismo judicial em • impor alguma medida ou
matérias envolvendo implementação de direitos. • invalidar ato, contrato, ajuste, processo ou norma
É como se o legislador introduzisse uma condicionante para a administrativa
força normativa dos princípios: eles somente podem ser
utilizados para fundamentar uma decisão se o julgador ... deverá demonstrar que a decisão tomada é necessária e a
considerar “as consequências práticas da decisão”. mais adequada.
Trata-se, portanto, de uma reação retrógrada à força ... explicando, inclusive, as razões pelas quais não são cabíveis
normativa dos princípios constitucionais. outras possíveis alternativas.

Consequências práticas da decisão Ex: em uma licitação na qual se descobre que houve fraude, o
A expressão “consequências práticas da decisão” é bem ampla. administrador que decidir pela anulação do ato deverá
No entanto, me parece que a principal intenção do legislador demonstrar que essa medida é necessária e adequada para
foi a de impor a exigência de que o julgador considere, resguardar a moralidade administrativa e que não é possível
principalmente, as consequências econômicas da decisão que seja feita a convalidação (possível alternativa),
proferida. considerando que houve superfaturamento e, portanto,
Trata-se da chamada “análise econômica do direito – AED”. prejuízo ao erário, por exemplo.
“De acordo com a Análise Econômica do Direito (AED), a
economia, especialmente a microeconomia, deve ser utilizada Necessidade e adequação
para resolver problemas legais, e, por outro lado, o Direito Esses conceitos de “necessidade” e “adequação” foram
acaba por influenciar a Economia. Por esta razão, as normas emprestados do legislador da explicação que a doutrina dá a
jurídicas serão eficientes na medida em que forem formuladas respeito do princípio da proporcionalidade.
e aplicadas levando em consideração as respectivas O princípio da proporcionalidade divide-se em três
consequências econômicas.” (OLIVEIRA, Rafael Carvalho subprincípios:
Rezende. Curso de Direito Administrativo. 2ª ed., São Paulo: a) subprincípio da ADEQUAÇÃO: no qual deve ser analisado se
Método, 2014, p. 31). a medida adotada é idônea (capaz) para atingir o objetivo
Ex: em tese, pela aplicação do art. 20 da LINDB, o juiz poderia almejado;
deixar de condenar o Estado a fornecer a um doente grave b) subprincípio da NECESSIDADE: consiste na análise se a
determinado tratamento médico de custo muito elevado sob o medida empregada é ou não excessiva; e
argumento de que os recursos alocados para fazer frente a c) subprincípio da PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO
essa despesa fariam falta para custear o tratamento de ESTRITO: representa a análise do custo-benefício da
centenas de outras pessoas (“consequências práticas da providência pretendida, para se determinar se o que se ganha
decisão”). é mais valioso do que aquilo que se perde.

Previsão contraditória
5. DECISÃO QUE ACARRETE INVALIDAÇÃO DE ATO, Exemplo de aplicação do dispositivo: no caso de invalidação
CONTRATO, AJUSTE, PROCESSO OU NORMA de contrato administrativo, a autoridade pública julgadora
ADMINISTRATIVA que determinar a invalidação deverá definir se serão ou não
preservados os efeitos do contrato, como, por exemplo, se os
A Lei nº 13.655/2018 demonstrou uma preocupação muito
terceiros de boa-fé terão seus direitos garantidos. Deverá,
grande com decisões que acarretem invalidação de ato,
ainda, decidir se é ou não o caso de pagamento de indenização
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa. Por isso,
ao particular que já executou as prestações, conforme
inseriu na LINDB dois dispositivos para tratar sobre o tema: o
disciplinado pelo art. 59 da Lei nº 8.666/93.
parágrafo único do art. 20 e o art. 21.
(https://www.conjur.com.br/dl/parecer-juristas-rebatem-
O art. 20, parágrafo único, vimos acima. Confira agora o caput
criticas.pdf)
do art. 21:
Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa,
controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato, 6. INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS SOBRE GESTÃO
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa PÚBLICA
deverá indicar de modo expresso suas consequências
Primado da realidade
jurídicas e administrativas.
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública,
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste
serão considerados os obstáculos e as dificuldades reais
artigo deverá, quando for o caso, indicar as condições
do gestor e as exigências das políticas públicas a seu
para que a regularização ocorra de modo proporcional e
cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.
equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou
podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas
validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
que, em função das peculiaridades do caso, sejam
administrativa, serão consideradas as circunstâncias
anormais ou excessivos.
práticas que houverem imposto, limitado ou
condicionado a ação do agente.
Justificativa dos juristas que auxiliaram na elaboração do
anteprojeto
Uma das principais teses de defesa dos administradores
O art. 21 “exige o exercício responsável da função judicante do
públicos nos processos que tramitam nos Tribunais de Contas
agente estatal. Invalidar atos, contratos, processos configura
ou nas ações de improbidade administrativa é a de que não
atividade altamente relevante, que importa em consequências
cumpriram determinada regra por conta das dificuldades
imediatas a bens e direitos alheios. Decisões irresponsáveis
práticas vivenciadas, em especial quando se trata de
que desconsiderem situações juridicamente constituídas e
Municípios do interior do Estado. Alega-se, por exemplo, que
possíveis consequências aos envolvidos são incompatíveis
não se apresentou a prestação de contas porque a internet no
com o Direito. É justamente por isso que o projeto busca
interior é ruim. Argumenta-se também que não se apresentou
garantir que o julgador (nas esferas administrativa,
o balanço contábil porque no Município não há contadores e
controladora e judicial), ao invalidar atos, contratos,
assim por diante.
processos e demais instrumentos, indique, de modo expresso,
Em geral, tais argumentos não são acolhidos porque os
as consequências jurídicas e administrativas decorrentes de
Tribunais de Contas e o Poder Judiciário entendem que essas
sua decisão.” (https://www.conjur.com.br/dl/parecer-
dificuldades são previamente conhecidas e que os
juristas-rebatem-criticas.pdf)
administradores públicos já deveriam se preparar para elas.
Assim, o objetivo do dispositivo foi o de tentar “abrandar”
Exigências de motivação
essa jurisprudência pugnando que o órgão julgador considere
Conjugando os arts. 20 e 21 da LINDB, podemos concluir que
não apenas a literalidade das regras que o administrador
a decisão que acarrete a invalidação de ato, contrato, ajuste,
tenha eventualmente violado, mas também as dificuldades
processo ou norma administrativa deverá...
práticas que ele enfrentou e que possam justificar esse
• demonstrar a necessidade e adequação da invalidação;
descumprimento.
• demonstrar as razões pelas quais não são cabíveis outras
O grupo de juristas que auxiliou na elaboração do anteprojeto
possíveis alternativas;
assim justificou a nova previsão legal:
• indicar, de modo expresso, suas consequências jurídicas e
“(...) a norma em questão reconhece que os diversos órgãos de
administrativas.
cada ente da Federação possuem realidades próprias que não
podem ser ignoradas. A realidade de gestor da União
Vale ressaltar que tais exigências são aplicáveis para as
evidentemente é distinta da realidade de gestor em um
esferas administrativa, controladora ou judicial.
pequeno e remoto município. A gestão pública envolve
especificidades que têm de ser consideradas pelo julgador
Regularização
para a produção de decisões justas, corretas.
A invalidação de um ato, contrato, ajuste, processo ou norma
As condicionantes envolvem considerar (i) os obstáculos e a
pode acarretar graves prejuízos para a parte envolvida, para a
realidade fática do gestor, (ii) as políticas públicas acaso
própria Administração e também para terceiros. Pensando
existentes e (iii) o direito dos administrados envolvidos. Seria
nisso, o parágrafo único do art. 21 trata sobre o tema, assim
pouco razoável admitir que as normas pudessem ser
como sobre a possiblidade de regularização da situação:
ignoradas ou lidas em descompasso com o contexto fático em
Art. 21 (...) que a gestão pública a ela submetida se insere.”
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste (https://www.conjur.com.br/dl/parecer-juristas-rebatem-
artigo deverá, quando for o caso, indicar as condições criticas.pdf)
para que a regularização ocorra de modo proporcional e
equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se Interessante também fazer um contraponto e trazer a crítica
podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas da Professora Irene Nohara a esse dispositivo:
que, em função das peculiaridades do caso, sejam “Os elaboradores do texto normativo chamam essa exigência
anormais ou excessivos. de primado da realidade. Todavia, podem existir vários
olhares sobre essa previsão, por exemplo: (a) desnecessária,
pois já deveria estar pressuposta na interpretação jurídica
feita na área da gestão, que não pode se estabelecer sem que Justificativa dos juristas que auxiliaram na elaboração do
se considere a realidade; (b) ineficaz, porque podem existir anteprojeto
interpretações variáveis e que não deixam de ser “Ninguém nega que as instituições públicas, na administração,
especulativas, abstratas, portanto, sobre quais seriam os no sistema de controle ou no Poder Judiciário, possam alterar
obstáculos e dificuldades; e, por fim, (c) perigosa: se for suas interpretações sobre o Direito. É normal que, com o
utilizada como uma brecha capciosa para se alegar que, por devido cuidado, o façam, inclusive em decorrência de novas
exemplo, como a realidade não nos permitiu cumprir demandas e visões que surgem com o passar do tempo.
adequadamente as exigências legais, então, podemos nos Contudo, as relações jurídicas pré-existentes não podem ser
eximir de garantir direitos… ignoradas. Elas seguem existindo e, se for o caso, terão de se
(...) adequar às novas interpretações ou orientações. Necessário,
Aqui é interessante que essa determinação normativa não seja então, que seja previsto regime jurídico de transição que lhes
utilizada, portanto, como um pretexto para o argumento no dê tempo e meios para que realizem a conformação, segundo
sentido de que a realidade vence o direito… ou seja, que se as parâmetros de razoabilidade e proporcionalidade, tal qual
circunstâncias de cumprimento da lei forem muito penosas, tem se dado em matéria de modulação de efeitos nas
vamos questionar tal requisito, ou pior, negociar o seu declarações de inconstitucionalidade e, mais recentemente,
cumprimento por um regime de transição, conforme será com mera modificação de posição dominante do Supremo
visto na sequência… Tribunal Federal – STF.
Uma alegação dos elaboradores do projeto foi no sentido da Mudanças de interpretação não podem lançar situações
necessidade de se estreitar o contato dos órgãos anteriores em regime de incerteza. Orientar a transição é
fiscalizadores com os órgãos fiscalizados… Mas isso já era dever básico de quem cria nova regulação a respeito de
uma tendência dos Tribunais de Contas, no sentido de qualquer assunto.” (https://www.conjur.com.br/dl/parecer-
intensificar um monitoramento preventivo e concomitante, juristas-rebatem-criticas.pdf)
baseado na orientação também, ou seja, de uma fiscalização
não apenas punitiva, mas também ponderada em função das Requisitos para a aplicação do regime de transição:
dificuldades práticas existentes.” (Disponível em: < a) A decisão administrativa, controladora ou judicial deve
http://direitoadm.com.br/proposta-de-alteracao-da-lindb- estabelecer uma interpretação ou orientação nova;
projeto-349-2015/). b) Essa interpretação nova deve recair sobre uma norma de
conteúdo indeterminado;
Critérios para aplicação de sanções c) Por conta dessa interpretação, será imposto novo dever ou
§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a novo condicionamento de direito;
natureza e a gravidade da infração cometida, os danos d) O regime de transição mostra-se, no caso concreto,
que dela provierem para a administração pública, as indispensável para que o novo dever ou condicionamento de
circunstâncias agravantes ou atenuantes e os direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e
antecedentes do agente. eficiente;
e) A imposição desse regime de transição não pode acarretar
Critérios a serem considerados na aplicação das sanções: prejuízo aos interesses gerais.
a) Natureza e gravidade da infração cometida;
b) Danos causados à Administração Pública; Cabe ao órgão julgador a análise dos preenchimentos dos
c) Agravantes; requisitos acima, sendo passível de recurso caso o interessado
d) Atenuantes; entenda que deveria ter direito ao regime de transição.
e) Antecedentes.
Dispositivo do CPC
Sanções de mesma natureza deverão ser consideradas O CPC/2015 possui um dispositivo tratando sobre a
§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em possibilidade de modulação dos efeitos de decisão judicial.
conta na dosimetria das demais sanções de mesma Ressalte-se, contudo, que a redação do CPC é bem superior à
natureza e relativas ao mesmo fato. do art. 23 da LINDB, sendo mais clara e objetiva. Confira:
Art. 927 (...)
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do
7. MUDANÇA DE INTERPRETAÇÃO OU ORIENTAÇÃO E Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou
MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode
haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e
Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial
no da segurança jurídica.
que estabelecer interpretação ou orientação nova sobre
norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever
ou novo condicionamento de direito, deverá prever
8. REVISÃO DEVERÁ LEVAR EM CONTA A ORIENTAÇÃO
regime de transição quando indispensável para que o
VIGENTE NA ÉPOCA DA PRÁTICA DO ATO
novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido
de modo proporcional, equânime e eficiente e sem Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa,
prejuízo aos interesses gerais. controladora ou judicial, quanto à validade de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja
Se houver uma mudança na forma como tradicionalmente a produção já se houver completado levará em conta as
Administração Pública, os Tribunais de Contas ou o Poder orientações gerais da época, sendo vedado que, com base
Judiciário interpretavam determinada norma, deverá ser em mudança posterior de orientação geral, se declarem
previsto um regime de transição. inválidas situações plenamente constituídas.
Este regime de transição representa a concessão de um prazo
para que os administradores públicos e demais pessoas Algumas vezes demoram anos para que a Administração
afetadas pela nova orientação possam se adaptar à nova Pública (controle interno), o Tribunal de Contas ou o Poder
interpretação. É como se fosse uma modulação dos efeitos. Judiciário examine a validade de um ato ou contrato
administrativo (em sentido amplo) que já tenha se permite que seja realizada uma negociação entre a autoridade
completado. Nesse período, pode acontecer de o administrativa e este particular a fim de sanar essa
entendimento vigente ter se alterado. Caso isso aconteça, o irregularidade.
ato deverá ser analisado conforme as orientações gerais da Para que esse compromisso seja realizado, é indispensável a
época e as situações por elas regidas deverão ser declaradas prévia manifestação do órgão jurídico (ex: AGU, PGE, PGM).
válidas, mesmo que apresentem vícios. Em alguns casos de maior repercussão, é necessária também a
realização de audiência pública.
O Prof. Jacintho Arruda Camara, Vice-Presidente da Sociedade Confira a redação do caput do art. 26:
Brasileira de Direito Público, defende o dispositivo:
Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica
“A norma fortalece a ideia de irretroatividade do direito em
ou situação contenciosa na aplicação do direito público,
prejuízo de situações jurídicas perfeitas, constituídas de boa-
inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade
fé, em coerência com o ordenamento à época vigente. Visa dar
administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e,
segurança no longo prazo para situações jurídicas plenamente
quando for o caso, após realização de consulta pública, e
constituídas à luz de um entendimento geral válido. Para isso,
presentes razões de relevante interesse geral, celebrar
estabelece que eventual revisão da validade de ato
compromisso com os interessados, observada a legislação
administrativo (leia-se: ato, contrato, ajuste, processo ou
aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua
norma) deverá considerar o entendimento consolidado à
publicação oficial.
época de sua produção. O dispositivo dá amparo legal à
racionalidade que deve estar presente em procedimentos de
Requisitos do termo de compromisso:
revisão de ato administrativo: a invalidação do ato por
§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo:
mudança de orientação não torna ilegal situação constituída
I - buscará solução jurídica proporcional, equânime,
na vigência da orientação anterior.”
eficiente e compatível com os interesses gerais;
(http://antonioanastasia.com.br/documentos/)
II – (VETADO);
III - não poderá conferir desoneração permanente de
De outro lado, o Ministério Público Federal, em Nota Técnica,
dever ou condicionamento de direito reconhecidos por
afirma que se trata de previsão perigosa porque amplia muito
orientação geral;
a possibilidade de “convalidação” dos atos viciados, não
IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o
fazendo qualquer ressalva quanto a ilegalidades graves:
prazo para seu cumprimento e as sanções aplicáveis em
“O dispositivo, a rigor, traz mais justificativas abertas para
caso de descumprimento.
eventual convalidação de ato ou de contrato inexistentes ou
§ 2º (VETADO).
nulos. De fato, os atos anuláveis, convalidados, seriam até
aceitáveis. O dispositivo, no entanto, abre espaço para que,
considerando a passagem do tempo, a estabilidade das
10. IMPOSIÇÃO DE COMPENSAÇÃO
relações, a “orientação geral” que não foi à época contestada, o
ato inexistente ou o ato nulo se tornem válidos. Assim, esses Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa,
atos não seriam mais considerados inexistentes ou nulos com controladora ou judicial, poderá impor compensação por
efeitos ex tunc. Esse tipo de conduta/previsão, no entanto, benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos
fere os princípios constitucionais da legalidade, resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos.
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. § 1º A decisão sobre a compensação será motivada,
Importante relembrar que a validação do ato administrativo ouvidas previamente as partes sobre seu cabimento, sua
depende da verificação contrastada entre ele e a ordem forma e, se for o caso, seu valor.
jurídica, sendo que descompasso constatado deve possibilitar § 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser
a reposição ao estado de legalidade.” celebrado compromisso processual entre os envolvidos.
(https://www.conjur.com.br/dl/nota-tecnica-pgr-lindb.pdf)
Veja a opinião da Sociedade Brasileira de Direito Público a
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as respeito desse artigo:
interpretações e especificações contidas em atos públicos “O dispositivo em questão visa evitar que partes, públicas ou
de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou privadas, em processo na esfera administrativa, controladora
administrativa majoritária, e ainda as adotadas por ou judicial aufiram benefícios indevidos ou sofram prejuízos
prática administrativa reiterada e de amplo anormais ou injustos resultantes do próprio processo ou da
conhecimento público. conduta de qualquer dos envolvidos. O art. 27 tomou o
cuidado de exigir que a decisão que impõe compensação seja
O parágrafo único procura conceituar o que seriam motivada e precedida da oitiva das partes. Há, também nesse
“orientações gerais”. No entanto, a conceituação é por demais caso, a possibilidade de celebração de compromisso
vaga e emprega expressões abstratas e genéricas. processual entre os envolvidos.”
(http://antonioanastasia.com.br/documentos/)

9. COMPROMISSO PARA ELIMINAR IRREGULARIDADE,


INCERTEZA JURÍDICA OU SITUAÇÃO CONTENCIOSA NA 11. RESPONSABILIDADE DO AGENTE PÚBLICO
APLICAÇÃO DO DIREITO PÚBLICO
Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por
Em que consiste esse compromisso suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou
O art. 26 da LINDB prevê a possibilidade de a autoridade erro grosseiro.
administrativa celebrar um acordo (compromisso) com os
particulares com o objetivo de eliminar eventual Segundo a Sociedade Brasileira de Direito Público, “o art. 28
irregularidade, incerteza jurídica ou um litígio (situação quer dar a segurança necessária para que o agente público
contenciosa). Ex: determinado particular estava possa desempenhar suas funções. Por isso afirma que ele só
desenvolvendo clandestinamente atividade econômica que responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões em
exigiria prévia licença. Esta situação é descoberta e o art. 26 caso de dolo ou erro grosseiro (o que inclui situações de
negligência grave, imprudência grave ou imperícia grave) (...)” CPC/2015 e do art. 49, I, da LC 35/79 (Lei Orgânica da
(http://antonioanastasia.com.br/documentos/). Magistratura):
Art. 143. O juiz responderá, civil e regressivamente, por
Apesar disso, parece-me que o art. 28 da LINDB vai de perdas e danos quando:
encontro ao art. 37, § 6º da CF/88, senão vejamos. I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude;

Se um servidor público, no exercício de suas funções, Art. 49. Responderá por perdas e danos o magistrado, quando:
pratica ato ilícito que causa prejuízo a alguém, ele poderá I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude;
ser responsabilizado?
SIM. No entanto, essa responsabilidade é: Esse mesmo texto era repetido pelo art. 133, I, do CPC/1973 e
• subjetiva (terá que ser provado o dolo ou a culpa do pelo art. 121, I, do CPC/1939.
servidor); e A razão para isso é simples. Uma disposição legal que estipule
• regressiva (primeiro o Estado terá que ser condenado a responsabilidade do juiz por erro grosseiro (culpa) seria
indenizar a vítima e, em seguida, o Poder Público cobra do inconstitucional por tolher, de forma desproporcional, a
servidor a quantia paga). independência judicial, afrontando a separação dos Poderes
(art. 60, § 4º, III, da CF/88).
Esse regime de responsabilidade está previsto na parte final A decisão judicial é naturalmente passível de recurso. Aliás, o
do § 6º do art. 37 da Constituição: que não faltam são recursos. Toda decisão judicial que fosse
Art. 37 (...) reformada em instância superior poderia, em tese, ser
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito considerada como errada. A classificação desse erro como
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos “grosseiro” é exageradamente subjetiva. Em última análise,
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a todo magistrado que tivesse uma decisão reformada poderia
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responder a um processo de indenização no qual seria
responsável nos casos de dolo ou culpa. discutido se o seu erro foi ou não grosseiro. O resultado seria
uma enorme insegurança para o exercício da função típica dos
Art. 28 abranda o regime constitucional ao exigir erro juízes.
grosseiro Dessa forma, seja por força da previsão específica, seja por
O art. 28 da LINDB afirma que o agente público responderá conta do princípio da separação dos poderes, penso que os
pessoalmente em caso de dolo ou erro grosseiro. Este magistrados, na sua função típica, continuam regidos pelo art.
dispositivo se afasta da regra constitucional em dois pontos: 143, I, do CPC e art. 49, I, da LOMAN. Contudo, caso o
1º) Para que o agente público responda, o art. 28 exige que ele magistrado esteja agindo na sua função atípica de
tenha agido com dolo ou erro grosseiro. Ocorre que a CF/88 administrar, ou seja, enquanto gestor público, aí sim se
se contenta com dolo ou culpa. mostra possível a aplicação do art. 28 da LINDB. É o caso, por
A doutrina divide a culpa em três subespécies: culpa grave, exemplo, do Presidente de um Tribunal que conduz uma
leve e levíssima. licitação.
O erro grosseiro é sinônimo de culpa grave. Assim, é como se
o art. 28 dissesse: o agente público somente responde em caso Membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da
de dolo ou culpa grave. Há ainda uma outra observação: Advocacia Pública
alguns autores afirmam que a culpa grave é equiparada ao De igual forma, também penso que os membros do Ministério
dolo. Público, da Defensoria Pública e da Advocacia Pública não
estão regidos pelo art. 28 da LINDB considerando que, para as
2º) O art. 37, § 6º da CF/88 exige que a responsabilidade civil três carreiras existem disposições específicas que não foram
do agente público ocorra de forma regressiva. O art. 28, por revogadas, considerando que a previsão do art. 28, apesar de
seu turno, não é explícito nesse sentido, devendo, no entanto, ser posterior, é genérica, não revogando lei específica.
ser interpretada a responsabilidade como sendo regressiva O sistema de responsabilidade dos membros do MP, da
por força da Constituição e daquilo que a jurisprudência Advocacia Pública e da Defensoria está previsto nos seguintes
denomina de teoria da dupla garantia: dispositivos do CPC:
A vítima somente poderá ajuizar a ação contra o Estado Art. 181. O membro do Ministério Público será civil e
(Poder Público). Se este for condenado, poderá acionar o regressivamente responsável quando agir com dolo ou fraude
servidor que causou o dano em caso de dolo ou culpa. O no exercício de suas funções.
ofendido não poderá propor a demanda diretamente contra o
agente público. Essa posição foi denominada de tese da dupla Art. 184. O membro da Advocacia Pública será civil e
garantia. regressivamente responsável quando agir com dolo ou fraude
STF. 1ª Turma. RE 327904, Rel. Min. Carlos Britto, julgado em no exercício de suas funções
15/08/2006.
STF. 1ª Turma. RE 593525 AgR-segundo, Rel. Min. Roberto Art. 187. O membro da Defensoria Pública será civil e
Barroso, julgado em 09/08/2016. regressivamente responsável quando agir com dolo ou fraude
no exercício de suas funções.
Haverá polêmica quanto à abrangência do conceito de
“agente público”. Quando se fala em “agente público”, Responsabilidade do parecerista
estão incluídos os magistrados, por exemplo? Ressalte-se que existe um precedente do STF, anterior ao
NÃO. Apesar de a expressão “agente público” ser ampla, não CPC/2015, reconhecendo a responsabilidade de advogado
me parece que o objetivo do legislador tenha sido o de público pela emissão de parecer de natureza opinativa, desde
alcançar os agentes políticos. que configurada a existência de culpa ou erro grosseiro:
A tradição histórica do Brasil é a de que os magistrados (...) 3. Esta Suprema Corte firmou o entendimento de que
respondem por suas decisões, no entanto, apenas nos casos de “salvo demonstração de culpa ou erro grosseiro, submetida às
dolo ou fraude e apenas regressivamente, ou seja, depois de o instâncias administrativo-disciplinares ou jurisdicionais
Estado ter sido condenado. Essa é a redação do art. 143, I, do próprias, não cabe a responsabilização do advogado público
pelo conteúdo de seu parecer de natureza meramente
opinativa” (MS 24.631/DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ de observadas as normas legais e regulamentares
1º/2/08). (...) específicas, se houver.
STF. 1ª Turma. MS 27867 AgR/DF, rel. Min. Dias Toffoli, § 2º (VETADO).
18/9/2012 (Info 680).
“O art. 29, ao prever a consulta pública prévia à edição de atos
Segundo a doutrina e o voto do Min. Joaquim Barbosa no MS normativos por autoridade administrativa, procura trazer
24.631/DF (DJ 01/02/2008), existem três espécies de transparência e previsibilidade à atividade normativa do
parecer: Executivo. Trata-se de medida consentânea com as melhores
práticas.” (http://antonioanastasia.com.br/documentos/).
Facultativo Obrigatório Vinculante
O administrador O administrador é O
NÃO É obrigado a obrigado a solicitar administrador 13. INSTRUMENTOS PARA AUMENTAR A SEGURANÇA
solicitar o parecer do o parecer do órgão É obrigado a JURÍDICA
órgão jurídico. jurídico. solicitar o
parecer do Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para
órgão jurídico. aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas,
O administrador O administrador O inclusive por meio de regulamentos, súmulas
pode discordar da pode discordar da administrador administrativas e respostas a consultas.
conclusão exposta conclusão exposta NÃO pode Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput
pelo parecer, desde pelo parecer, desde discordar da deste artigo terão caráter vinculante em relação ao órgão
que o faça que o faça conclusão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.
fundamentadamente fundamentadament exposta pelo
. e com base em um parecer. Nova hipótese de dispensa de licitação (novo inciso XXXV
novo parecer. Ou o do art. 24)
administrador
decide nos
termos da No art. 24 da Lei nº 8.666/93 existem diversos incisos que
conclusão do espelham situações nas quais o administrador pode ou não
parecer, ou, realizar a licitação.
então, não Esse rol de situações do art. 24 é taxativo (exaustivo), ou seja,
decide. somente são dispensáveis as hipóteses expressamente
Em regra, o Em regra, o Há uma previstas ali.
parecerista não tem parecerista não tem partilha do A Lei nº 13.500/2017 acrescentou mais um inciso ao art. 24,
responsabilidade responsabilidade poder de criando uma nova hipótese de licitação dispensável. Veja:
pelo ato pelo ato decisão entre o Art. 24. É dispensável a licitação:
administrativo. administrativo. administrador (...)
e o parecerista, XXXV - para a construção, a ampliação, a reforma e o
Contudo, o Contudo, o já que a aprimoramento de estabelecimentos penais, desde que
parecerista pode ser parecerista pode ser decisão do configurada situação de grave e iminente risco à segurança
responsabilizado se responsabilizado se administrador pública.
ficar configurada a ficar configurada a deve ser de
existência de culpa existência de culpa acordo com o Alteração no art. 26, parágrafo único
ou erro grosseiro. ou erro grosseiro. parecer. Como foi acrescentada uma nova hipótese de licitação
dispensável, a Lei nº 13.500/2017 também precisou alterar a
Logo, o redação do inciso I do parágrafo único do art. 26 da Lei nº
parecerista 8.666/93 exigindo que o processo formal de dispensa
responde demonstre qual é o “grave e iminente risco à segurança
solidariament pública” que autoriza a contratação direta. Compare:
e com o
administrador Redação anterior Redação dada pela Lei
pela prática do 13.500/2017
ato, não sendo Art. 26 (...) Art. 26. (...)
necessário Parágrafo único. O processo Parágrafo único. O processo
demonstrar de dispensa, de de dispensa, de
culpa ou erro inexigibilidade ou de inexigibilidade ou de
grosseiro. retardamento, previsto neste retardamento, previsto neste
artigo, será instruído, no que artigo, será instruído, no que
couber, com os seguintes couber, com os seguintes
12. CONSULTA PÚBLICA elementos: elementos:
I - caracterização da situação I - caracterização da situação
Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos emergencial ou calamitosa emergencial, calamitosa ou
normativos por autoridade administrativa, salvo os de que justifique a dispensa, de grave e iminente risco à
mera organização interna, poderá ser precedida de quando for o caso; segurança pública que
consulta pública para manifestação de interessados, justifique a dispensa, quando
preferencialmente por meio eletrônico, a qual será for o caso;
considerada na decisão.
§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e Mão-de-obra oriunda do sistema prisional
fixará o prazo e demais condições da consulta pública, A fim de estimular a contratação de ex-detentos, a Lei nº
13.500/2017 acrescentou um novo dispositivo à Lei nº
8.666/93 prevendo que a Administração Pública poderá a) bens móveis inservíveis para a administração (até R$ 650
exigir que as empresas contratadas pelo Poder Público mil);
tenham um mínimo de funcionários que sejam oriundos do b) produtos legalmente apreendidos ou penhorados;
sistema prisional. Veja: c) bens imóveis, cuja aquisição haja derivado de
procedimentos judiciais ou de dação em pagamento.
Art. 40. (...)
§ 5º A Administração Pública poderá, nos editais de licitação
Perceba que as três modalidades utilizadas para a
para a contratação de serviços, exigir da contratada que um
contratação de compras e serviços são a concorrência, a
percentual mínimo de sua mão de obra seja oriundo ou
tomada de preços e o convite. A pergunta que surge é a
egresso do sistema prisional, com a finalidade de
seguinte: qual é o critério que define a modalidade de
ressocialização do reeducando, na forma estabelecida em
licitação que deverá ser utilizada?
regulamento.
O art. 23 da Lei nº 8.666/93 prevê que esse critério é baseado
no valor da contratação:
Bem, estas foram as alterações da Lei nº 13.500/2017 sobre a
Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os
Lei de Licitações.
incisos I a III do artigo anterior serão determinadas em função
dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da
Como eu disse, existem outras mudanças relacionadas com a
contratação:
Lei do FUNPEN. Se você trabalha como esta matéria, vale a
I - para obras e serviços de engenharia:
pena ler a íntegra da nova Lei.
a) convite - até R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais);
Breves comentários ao Decreto 9.412/2018, que
b) tomada de preços - até R$ 1.500.000,00 (um milhão e
atualizou os valores previstos no art. 23 da Lei de
quinhentos mil reais);
Licitações:
c) concorrência: acima de R$ 1.500.000,00 (um milhão e
quinhentos mil reais);
MODALIDADES DE LICITAÇÃO
A Lei nº 8.666/93 prevê “modalidades” de licitação. Isso
II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior:
significa que, a depender do objeto ou serviço que se irá
a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);
contratar e também a depender do valor dessa contratação, a
b) tomada de preços - até R$ 650.000,00 (seiscentos e
lei obriga que o administrador público adote determinada
cinquenta mil reais);
modalidade de licitação.
c) concorrência - acima de R$ 650.000,00 (seiscentos e
A Lei nº 8.666/93, em seu art. 23, prevê cinco modalidades de
cinquenta mil reais).
licitação:
I - concorrência;
Esse art. 23 pode ser assim resumido:
II - tomada de preços;
Modalidade Obras e serviços Compras e
III - convite;
IV - concurso; de engenharia serviços que não
sejam de
V - leilão.
engenharia
Obs: fora da Lei nº 8.666/93 existem ainda o pregão e a CONVITE Até R$ 150 mil Até R$ 80 mil
consulta. TOMADA DE Até R$ 1 milhão e Até R$ 650 mil
PREÇOS 500 mil
Características de cada uma das modalidades: CONCORRÊNCIA Acima de R$ 1 Acima de R$ 650
Concorrência: é a modalidade de licitação mais complexa e milhão e 500 mil mil
rigorosa da Lei nº 8.666/93, sendo utilizada para
contratações que envolvem grandes quantias. Envolve Qual era o “problema”?
quaisquer interessados e exige uma publicidade maior. Nesta Esses limites foram estipulados em 1998 pela Lei nº
espécie, os interessados deverão, já na fase inicial da 9.648/98.
habilitação preliminar, comprovar que possuem os requisitos Já havia se passado 20 anos e os valores encontravam-se
mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de desatualizados.
seu objeto. O poder de compra de R$ 8 mil em 1998 não é o mesmo de
2018 em virtude da inflação.
Tomada de preços: é considerada a modalidade intermediária. Assim, esses valores tornaram-se muito abaixo da realidade
Nesta espécie, a competição ocorre entre interessados do mercado e “engessaram” o administrador público.
devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as
condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia Diante desse cenário, o que fez o Governo Federal?
anterior à data do recebimento das propostas, observada a O Presidente da República editou um decreto atualizando os
necessária qualificação. valores do art. 23 da Lei nº 8.666/93.
Trata-se do Decreto nº 9.412/2018. Veja o que diz o art. 1º do
Convite: é a modalidade de licitação destinada para Decreto:
contratações de menor valor. Nesta espécie, é a administração Art. 1º Os valores estabelecidos nos incisos I e II do caput do
que envia cartas-convite para, pelo menos, 3 empresas do art. 23 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, ficam
ramo, a fim de que apresentem suas propostas. atualizados nos seguintes termos:
I - para obras e serviços de engenharia:
Concurso: é a modalidade de licitação para escolher trabalho a) na modalidade convite - até R$ 330.000,00 (trezentos e
técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de trinta mil reais);
prêmios ou remuneração aos vencedores. b) na modalidade tomada de preços - até R$ 3.300.000,00
(três milhões e trezentos mil reais); e
Leilão: é a modalidade de licitação utilizada quando a c) na modalidade concorrência - acima de R$ 3.300.000,00
Administração Pública quer vender: (três milhões e trezentos mil reais); e
II - para compras e serviços não incluídos no inciso I:
a) na modalidade convite - até R$ 176.000,00 (cento e setenta
e seis mil reais); Dispensada Dispensável Inexigível
b) na modalidade tomada de preços - até R$ 1.430.000,00 (um Art. 17 Art. 24 Art. 25
milhão, quatrocentos e trinta mil reais); e Rol taxativo Rol taxativo Rol
c) na modalidade concorrência - acima de R$ 1.430.000,00 exemplificativo
(um milhão, quatrocentos e trinta mil reais). A lei determina a A lei autoriza a não Como a licitação é
não realização realização da uma disputa, é
ATUALIZAÇÃO DO DECRETO 9.412/2018 da licitação, licitação. Mesmo indispensável
Compras e serviços obrigando a sendo dispensável, a que haja
Obras e serviços de contratação Administração pode pluralidade de
Modalidade que não sejam de
engenharia direta. decidir realizar a objetos e
engenharia
Antes: até 150 mil Antes: até 80 mil licitação pluralidade de
CONVITE Agora: até 330 mil (discricionariedade). ofertantes para
Agora: até 176 mil
que ela possa
Antes: até 1 milhão ocorrer. Assim, a
e 500 mil Antes: até 650 mil
TOMADA DE lei prevê alguns
Agora: até 3 Agora: até 1 milhão
PREÇOS casos em que a
milhões e 300 mil e 430 mil
inexigibilidade se
Antes: acima de 1 verifica porque
Antes: acima de 650 há
milhão e 500 mil mil
CONCORRÊNCIA Agora: acima de 3 impossibilidade
Agora: acima de 1 jurídica de
milhões e 300 mil milhão e 430 mil competição.
Ex.: quando a Ex.: compras de Ex.: contratação
Quais são as duas principais consequências? Administração pequeno valor (inciso de artista
1) Aumentam as situações nas quais o administrador público Pública possui II). consagrado pela
estará autorizado a utilizar a modalidades de CONVITE e uma dívida com crítica
TOMADA DE PREÇOS. o particular e, especializada ou
Assim, com a atualização do valor, houve uma ampliação dos em vez de pagá- pela opinião
casos nos quais a administração pública poderá realizar la em espécie, pública para
modalidades menos complexas de licitação. transfere a ele fazer o show do
Ex: em maio de 2018, se a Administração Pública fosse um bem público aniversário da
construir a sede de um órgão público e esta obra de desafetado, cidade.
engenharia fosse orçada em R$ 3 milhões, ela deveria fazer a como forma de
licitação sob a modalidade concorrência (com critérios mais quitação do
rígidos). Se essa mesma construção for feita em agosto de débito. A isso
2018, a Administração Pública poderá realizar uma tomada de chamamos de
preços. dação em
pagamento (art.
2) Aumenta o limite de valor (“teto”) que o administrador 17, I, "a").
público tem para contratar diretamente, sem licitação.
Vamos entender com calma essa segunda consequência nos LICITAÇÃO DISPENSÁVEL
tópicos abaixo. O art. 24 da Lei nº 8.666/93 prevê um rol de situações nas
quais seria possível realizar uma licitação, mas a lei desobriga
OBRIGATORIEDADE DE LICITAÇÃO (dispensa) o administrador de fazer o procedimento
Regra: obrigatoriedade de licitação licitatório.
Como regra, a CF/88 impõe que a Administração Pública
somente pode contratar obras, serviços, compras e alienações Licitação dispensável pelo pequeno valor
se realizar uma licitação prévia para escolher o contratante Duas hipóteses bem conhecidas de licitação dispensável estão
(art. 37, XXI). nos incisos I e II do art. 24 da Lei nº 8.666/93. Veja:
Art. 24. É dispensável a licitação:
Exceção: contratação direta nos casos especificados na I - para obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez
legislação por cento) do limite previsto na alínea "a", do inciso I do
O inciso XXI do art. 37 da CF/88 afirma que a lei poderá artigo anterior, desde que não se refiram a parcelas de uma
especificar casos em que os contratos administrativos mesma obra ou serviço ou ainda para obras e serviços da
poderão ser celebrados sem esta prévia licitação. A isso, a mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas
doutrina denomina “contratação direta”. conjunta e concomitantemente;
II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por
Resumindo: cento) do limite previsto na alínea "a", do inciso II do artigo
A regra na Administração Pública é a contratação precedida anterior e para alienações, nos casos previstos nesta Lei,
de licitação. Contudo, a legislação poderá prever casos desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço,
excepcionais em que será possível a contratação direta, sem compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada
licitação. de uma só vez;

CONTRATAÇÃO DIRETA A redação dos incisos é um pouco confusa, mas o que ele quer
A Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93) prevê três grupos de dizer é o seguinte:
situações em que a contratação ocorrerá sem licitação prévia. • Inciso I: o administrador público pode optar por realizar a
Trata-se das chamadas licitações dispensadas, dispensáveis e contratação direta (ou seja, sem licitação), no caso de obras ou
inexigíveis. Vejamos o quadro comparativo abaixo:
serviços de engenharia se o valor não for maior do que 10%
do limite previsto no art. 23, I, “a”.
Diante disso, com essa mudança nos valores do art. 23, veja
• Inciso II: o administrador público pode optar por realizar a como ficou o reflexo na contratação direta dos incisos I e II
contratação direta (ou seja, sem licitação), no caso de compras do art. 24:
e serviços (que não sejam de engenharia) cujo valor não seja
maior do que 10% do limite previsto no art. 23, II, “a”. CONTRATAÇÃO DIRETA PELO PEQUENO VALOR (ART. 24,
I e II)
E quais são os limites previstos no art. 23, I, “a” e II, “a”? (Com a atualização do Decreto 9.412/2018)
Inciso I
O inciso I, alínea “a” do art. 23 prevê R$ 150 mil: Pode haver contratação direta (sem licitação) nos seguintes
Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os casos:
incisos I a III do artigo anterior serão determinadas em função Obras ou serviços de Compras e serviços
dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da engenharia: diferentes de engenharia:
contratação:
I - para obras e serviços de engenharia: Antes: para haver a Antes: o valor da compra ou
a) convite - até R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais); contratação direta, o valor do serviço deveria ser de até
deveria ser até R$ 15 mil. R$ 8 mil.
Logo, 10% desse valor representava R$ 15 mil. Agora: o valor da obra ou do Agora: para contratar sem
serviço deve ser de até R$ 33 licitação, o valor da compra
Inciso II mil. ou do serviço deve ser de até
O inciso II, alínea “a” do art. 23 (obras e serviços que não R$ 17.600,00 (17 mil e 600
sejam de engenharia) prevê R$ 80 mil: reais).
Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os
incisos I a III do artigo anterior serão determinadas em função
dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da Alguns de vocês devem estar se perguntando: mas como é
contratação: possível que um Decreto “altere” os valores que estão
II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior: previstos em uma lei? Como o Decreto nº 9.412/2018 pode
a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais); ter atualizado os valores trazidos pelo art. 23 da Lei nº
8.666/93?
Logo, 10% desse valor representava R$ 8 mil. Por mais estranho que pareça, a autorização para isso está no
art. 120 da Lei nº 8.666/93:
Conjugando o art. 24, I e II com o art. 23, I, “a” e II, “a”, o Art. 120. Os valores fixados por esta Lei poderão ser
cenário que se TINHA era o seguinte: anualmente revistos pelo Poder Executivo Federal, que os fará
publicar no Diário Oficial da União, observando como limite
CONTRATAÇÃO DIRETA PELO PEQUENO VALOR superior a variação geral dos preços do mercado, no período.
Não era necessário fazer licitação no caso de...
Obras ou serviços de Compras e serviços Como a produção de uma lei é bem mais demorada que a de
engenharia: diferentes de engenharia: um decreto, a intenção do legislador foi a de dinamizar esse
se o valor não fosse maior do se o valor não fosse maior processo, permitindo uma atualização rápida. Vale ressaltar,
que R$ 15 mil. que R$ 8 mil. no entanto, a ressalva feita ao final no sentido de que essa
Fundamento: art. 24, I c/c art. Fundamento: art. 24, II c/c atualização deve respeitar “a variação geral dos preços do
23, I, “a” art. 23, II, “a” mercado, no período”. Em outras palavras, não se trata de um
aumento real, mas sim de uma mera recomposição da
variação dos preços no período.
O que aconteceu?
Como vimos, os valores previstos no art. 23 foram ampliados
Esse Decreto nº 9.412/2018 produz também efeitos no
pelo Decreto nº 9.412/2018.
âmbito das Administrações Públicas estadual, distrital e
Como o art. 24, I e II faz remissão (referência) ao art. 23, os
limites do art. 24, I e II foram também, por via de municipal? Em outras palavras, ele vale também para
consequência, ampliados. Estados, DF e Municípios?
Vamos relembrar: SIM. As normas gerais da Lei nº 8.666/93 são aplicáveis no
âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios. O Decreto nº 9.412/2018 foi editado com
ATUALIZAÇÃO DO DECRETO 9.412/2018
base na autorização conferida pelo art. 120 da Lei nº
Compras e serviços 8.666/93, que outorga ao “Poder Executivo Federal” a
Obras e serviços de
Modalidade que não sejam de atribuição de atualizar os valores fixados na Lei de Licitações.
engenharia
engenharia Logo, o Decreto editado produz efeitos para todos os entes.
Antes: até 150 mil Antes: até 80 mil
CONVITE Agora: até 330 mil Vacatio legis
Agora: até 176 mil
O Decreto nº 9.412/2018 possui vacatio legis de 30 dias e
Antes: até 1 milhão
Antes: até 650 mil entra em vigor em 19/07/2018.
TOMADA DE e 500 mil
Agora: até 3 Agora: até 1 milhão
PREÇOS Responsabilidade civil do Estado em caso de suicídio de
milhões e 300 mil e 430 mil
preso - panorama atual
Antes: acima de 1 Antes: acima de 650
milhão e 500 mil mil Se um detento é morto dentro da unidade prisional, haverá
CONCORRÊNCIA Agora: acima de 3 responsabilidade civil do Estado?
Agora: acima de 1
milhões e 300 mil milhão e 430 mil SIM. A CF/88 determina que o Estado se responsabiliza pela
integridade física do preso sob sua custódia:
Art. 5º (...) XLIX - é assegurado aos presos o respeito à contra legem e a opinio doctorum a teoria do risco integral, ao
integridade física e moral; arrepio do texto constitucional.
6. A morte do detento pode ocorrer por várias causas, como, v.
Logo, o Poder Público poderá ser condenado a indenizar pelos g., homicídio, suicídio, acidente ou morte natural, sendo que
danos que o preso venha a sofrer. Esta responsabilidade é nem sempre será possível ao Estado evitá-la, por mais que
objetiva. adote as precauções exigíveis.
Assim, a morte de detento gera responsabilidade civil objetiva 7. A responsabilidade civil estatal resta conjurada nas
para o Estado em decorrência da sua omissão específica em hipóteses em que o Poder Público comprova causa impeditiva
cumprir o dever especial de proteção que lhe é imposto pelo da sua atuação protetiva do detento, rompendo o nexo de
art. 5º, XLIX, da CF/88. causalidade da sua omissão com o resultado danoso.
Vale ressaltar, no entanto, que a responsabilidade civil neste 8. Repercussão geral constitucional que assenta a tese de que:
caso, apesar de ser objetiva, é regrada pela teoria do risco em caso de inobservância do seu dever específico de proteção
administrativo. Desse modo, o Estado poderá ser dispensado previsto no artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal, o
de indenizar se ficar demonstrado que ele não tinha a efetiva Estado é responsável pela morte do detento.
possibilidade de evitar a ocorrência do dano. Nas exatas 9. In casu, o tribunal a quo assentou que inocorreu a
palavras do Min. Luiz Fux: "(...) sendo inviável a atuação comprovação do suicídio do detento, nem outra causa capaz
estatal para evitar a morte do preso, é imperioso reconhecer de romper o nexo de causalidade da sua omissão com o óbito
que se rompe o nexo de causalidade entre essa omissão e o ocorrido, restando escorreita a decisão impositiva de
dano. Entendimento em sentido contrário implicaria a adoção responsabilidade civil estatal.
da teoria do risco integral, não acolhida pelo texto 10. Recurso extraordinário DESPROVIDO.
constitucional (...)". STF. Plenário. RE 841526, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
30/03/2016.
Em suma:
• Em regra: o Estado é objetivamente responsável pela morte Exemplo:
de detento. Isso porque houve inobservância de seu dever Imagine que um detento está doente e precisa de tratamento
específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da médico. Ocorre que este não lhe é oferecido de forma
CF/88. adequada pela administração penitenciária. Há claramente
• Exceção: o Estado poderá ser dispensado de indenizar se ele uma violação ao art. 14 da LEP. Neste caso, se o preso falecer,
conseguir provar que a morte do detento não podia ser o Estado deverá ser responsabilizado, considerando que
evitada. Neste caso, rompe-se o nexo de causalidade entre o houve uma omissão específica e o óbito era plenamente
resultado morte e a omissão estatal. previsível.
O STF fixou esta tese em sede de repercussão geral: Suponha, no entanto, que o preso estivesse bem e saudável e,
Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção sem qualquer sinal anterior, sofre um mal súbito no coração e
previsto no art. 5º, inciso XLIX, da CF/88, o Estado é cai morto instantaneamente no pátio do presídio. Nesta
responsável pela morte de detento. segunda hipótese, o Poder Público não deverá ser
STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em responsabilizado por essa morte, já que não houve omissão
30/3/2016 (repercussão geral) (Info 819). estatal e este óbito teria acontecido mesmo que o preso
estivesse em liberdade.
Veja a ementa do julgado:
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO Caso uma pessoa que esteja presa cometa suicídio, o
GERAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR MORTE Estado terá o dever de indenizar seus familiares? Em caso
DE DETENTO. ARTIGOS 5º, XLIX, E 37, § 6º, DA positivo, qual seria o tipo de responsabilidade?
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A responsabilidade do Estado é objetiva.
1. A responsabilidade civil estatal, segundo a Constituição A responsabilidade civil do Estado pela morte de detento em
Federal de 1988, em seu artigo 37, § 6º, subsume-se à teoria delegacia, presídio ou cadeia pública é objetiva. Nesse sentido:
do risco administrativo, tanto para as condutas estatais STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1305249/SC, Rel. Min. Og
comissivas quanto paras as omissivas, posto rejeitada a teoria Fernandes, julgado em 19/09/2017.
do risco integral.
2. A omissão do Estado reclama nexo de causalidade em Isso significa que o Estado deverá sempre ser condenado a
relação ao dano sofrido pela vítima nos casos em que o Poder indenizar os familiares do preso que se suicidou?
Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir NÃO.
para impedir o resultado danoso. Somente haverá a responsabilização do Poder Público se, no
3. É dever do Estado e direito subjetivo do preso que a caso concreto, o Estado não cumpriu seu dever específico de
execução da pena se dê de forma humanizada, garantindo-se proteção previsto no art. 5º, XLIX, da CF/88.
os direitos fundamentais do detento, e o de ter preservada a Como se adota a teoria do risco administrativo, o Estado
sua incolumidade física e moral (artigo 5º, inciso XLIX, da poderá provar alguma causa excludente de responsabilidade.
Constituição Federal). Assim, nem sempre que houver um suicídio, haverá
4. O dever constitucional de proteção ao detento somente se responsabilidade civil do Poder Público.
considera violado quando possível a atuação estatal no O Min. Luiz Fux exemplifica seu raciocínio com duas situações:
sentido de garantir os seus direitos fundamentais, • Se o detento que praticou o suicídio já vinha apresentando
pressuposto inafastável para a configuração da indícios de que poderia agir assim, então, neste caso, o Estado
responsabilidade civil objetiva estatal, na forma do artigo 37, deverá ser condenado a indenizar seus familiares. Isso porque
§ 6º, da Constituição Federal. o evento era previsível e o Poder Público deveria ter adotado
5. Ad impossibilia nemo tenetur, por isso que nos casos em medidas para evitar que acontecesse.
que não é possível ao Estado agir para evitar a morte do • Por outro lado, se o preso nunca havia demonstrado
detento (que ocorreria mesmo que o preso estivesse em anteriormente que poderia praticar esta conduta, de forma
liberdade), rompe-se o nexo de causalidade, afastando-se a que o suicídio foi um ato completamente repentino e
responsabilidade do Poder Público, sob pena de adotar-se imprevisível, neste caso o Estado não será responsabilizado
porque não houve qualquer omissão atribuível ao Poder considerando que um fato ocorrido há anos ou mesmo
Público. décadas poderia ser questionado.
A prescrição está presente nos diversos ramos do Direito,
Vale ressaltar que é a Administração Pública que tem o ônus inclusive no Direito Administrativo.
de provar a causa excludente de responsabilidade.
Prescrição e atos de improbidade administrativa
O acórdão do STF no RE 841526/RS “é claro ao afirmar que a Os atos de improbidade administrativa, assim como ocorre com
responsabilização do Estado em caso de morte de detento as infrações penais, também estão sujeitos a prazos
somente ocorre quando houver inobservância do dever prescricionais.
específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da Logo, caso os legitimados ativos demorem muito tempo para
Constituição Federal. Logo, se o Estado nada pôde fazer para ajuizar a ação de improbidade administrativa contra o
evitar o sinistro, não há falar em responsabilidade civil do responsável pelo ato ímprobo, haverá a prescrição e a
ente estatal, pois a conclusão em sentido contrário ensejaria a consequente perda da pretensão punitiva.
aplicação da inconstitucional teoria do risco integral.” (Min.
Mauro Campbell Marques). Qual é o prazo prescricional para a propositura de ações
de improbidade administrativa?
Foi o que decidiu o STJ em um dos seus mais recentes julgados Como regra, 5 anos. Isso está previsto no art. 23 da Lei
sobre o tema: nº 8.492/92. Confira o texto legal:
(...) 2. A decisão monocrática deu provimento ao apelo nobre Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções
para reconhecer a responsabilidade civil do ente estatal pelo previstas nesta lei podem ser propostas:
suicídio de detento em estabelecimento prisional, sob o I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de
argumento de que esta Corte Superior possui jurisprudência cargo em comissão ou de função de confiança;
consolidada no sentido de que seria aplicável a teoria da II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica
responsabilização objetiva ao caso. para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do
3. O acórdão da repercussão geral é claro ao afirmar que a serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou
responsabilização objetiva do Estado em caso de morte de emprego.
detento somente ocorre quando houver inobservância do III - até cinco anos da data da apresentação à administração
dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, pública da prestação de contas final pelas entidades referidas
da Constituição Federal. no parágrafo único do art. 1o desta Lei.
4. O Tribunal de origem decidiu de forma fundamentada pela
improcedência da pretensão recursal, uma vez que não se Exceção: ressarcimento ao erário em casos de atos de
conseguiu comprovar que a morte do detento foi decorrente improbidade praticados dolosamente
da omissão do Estado que não poderia montar vigilância a fim A Lei nº 8.429/92 prevê, em seu art. 12, uma lista de sanções
de impedir que ceifasse sua própria vida, atitude que só a ele que podem ser aplicadas às pessoas condenadas por ato de
competia. improbidade administrativa. São elas:
5. Tendo o acórdão recorrido consignado expressamente que • perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente;
ficou comprovada causa impeditiva da atuação estatal • perda da função pública;
protetiva do detento, rompeu-se o nexo de causalidade entre a • suspensão dos direitos políticos;
suposta omissão do Poder Público e o resultado danoso. Com • multa civil; e
efeito, o Tribunal de origem assentou que ocorreu a • proibição de contratar com o poder público ou receber
comprovação de suicídio do detento, ficando escorreita a benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios;
decisão que afastou a responsabilidade civil do Estado de • ressarcimento integral do dano.
Santa Catarina.
6. Em juízo de retratação, nos termos do art. 1.030, inciso II, Uma das sanções acima é imprescritível: o ressarcimento
do CPC/2015, nego provimento ao recurso especial. integral do dano. O fundamento para isso está na parte final
STJ. 2ª Turma. REsp 1305259/SC, Rel. Min. Mauro Campbell do § 5º do art. 37 da CF/88:
Marques, julgado em 08/02/2018. Art. 37 (...)
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a
Imprescritibilidade da ação de ressarcimento ao erário suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
em caso de atos de improbidade praticados dolosamente indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na
Prescrição forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal
Se um direito é violado, o titular deste direito passa a ter a cabível.
pretensão de buscar judicialmente a reparação do dano (de § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos
forma específica ou pelo equivalente em dinheiro). praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem
Essa pretensão, contudo, deve ser exercida dentro de um prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
prazo previsto na lei. Esgotado esse prazo, extingue-se a ressarcimento.
pretensão. A extinção dessa pretensão pelo decurso do prazo
é chamada de prescrição. Tese contrária à imprescritibilidade
Isso está previsto no art. 189 do Código Civil, valendo, como Apesar da redação do § 5º do art. 37, muitas vozes se
regra geral: levantavam contra a tese da imprescritibilidade.
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a Argumentavam que a intenção do Poder Constituinte não foi a
qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os de fixar a imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao
arts. 205 e 206. erário.
Segundo essa tese, a correta interpretação dos §§ 4º e 5º do
A prescrição tem como fundamentos a pacificação social e a art. 37 deveria ser a seguinte:
segurança jurídica. Se não existisse prazo para o titular do • o constituinte deu um comando ao legislador
direito exercer a sua pretensão, todas as relações jurídicas infraconstitucional: faça uma lei prevendo atos de
seriam sempre marcadas pela incerteza e instabilidade, improbidade administrativa (§ 4º).
• as sanções para os atos de improbidade são a suspensão dos Portanto, a ressalva do § 5º do art. 37 permitiu a recepção dos
direitos políticos, a perda da função pública, a prazos prescricionais existentes para as ações de
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário (§ 4º); ressarcimento decorrentes de graves condutas de
• a lei deverá prever prazos prescricionais para a imposição enriquecimento ilícito, por influência ou com abuso de cargo
dessas sanções (§ 5º); ou função pública pela legislação então em vigor, até que fosse
• enquanto não houver lei prevendo quais são os atos de editada a lei específica exigida pelo §4º do mesmo artigo; não
improbidade administrativa, não poderão ser ajuizadas ações tendo, portanto, estabelecido qualquer hipótese implícita de
de improbidade administrativa pedindo a aplicação das imprescritibilidade.”
sanções previstas no § 4º;
• ficam ressalvadas dessa proibição as ações de ressarcimento O STF concordou com essa tese? O ressarcimento ao erário
(parte final do § 5º), ou seja, mesmo sem lei expressa, as ações em caso de atos de improbidade administrativa também
de ressarcimento já poderiam ser propostas. prescreve da mesma forma que as demais sanções?
NÃO. O STF entendeu que a ação de ressarcimento decorrente
Desse modo, para essa tese, o que a parte final do § 5º quis de ato doloso de improbidade é realmente imprescritível.
dizer foi unicamente que, mesmo sem Lei de Improbidade
Administrativa, poderiam ser ajuizadas ações pedindo o A regra, no ordenamento jurídico, é, de fato, a
ressarcimento ao erário. Isso porque o § 5º deve ser prescritibilidade
interpretado em conjunto com o § 4º. Como reforço a esse A prescrição é um instituto pensado para garantir a
argumento, alegaram que a Lei de Improbidade somente foi estabilização das relações sociais, sendo, portanto, uma
editada em 1992 (Lei nº 8.429/92). Logo, o objetivo do expressão do princípio da segurança jurídica, que faz parte da
constituinte foi o de evitar que se alegasse que o estrutura do Estado de Direito.
ressarcimento ao erário somente poderia ser exigido com a
edição de lei. Prescrição → estabilização das relações sociais → segurança
Por fim, argumentavam que a Constituição Federal, quando jurídica → Estado de Direito
quis, determinou a imprescritibilidade de forma expressa. Ex:
art. 5º, XLII (racismo) e XLIV (ação de grupos armados, civis Justamente por isso, a regra geral no ordenamento jurídico é a
ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado de que as pretensões devem ser exercidas dentro de um
Democrático). marco temporal limitado. Em outras palavras, a regra geral é
que exista prescrição.
Veja as palavras do Min. Alexandre de Moraes, um dos Há, no entanto, algumas exceções explícitas no texto
adeptos dessa tese: constitucional, nas quais se reconhece a imprescritibilidade
“A preocupação do legislador constituinte foi legítima, pois, em determinadas situações. É o caso, por exemplo, dos crimes
em virtude da exigência do § 4º de edição de lei específica de racismo (art. 5º, XLII, CF/88) e da ação de grupos armados,
para a definição dos “atos de improbidade administrativa”, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
bem como da forma e gradação da aplicação das sanções de Democrático (art. 5º, XLIV).
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, O art. 37, § 5º da CF/88 é uma dessas exceções
poderiam surgir dúvidas sobre a recepção do ordenamento Vamos relembrar a redação do art. 37, § 5º:
jurídico que, desde a década de 1940, permitia ações de Art. 37 (...)
ressarcimento no caso de improbidade administrativa, apesar § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos
da inexistência de conceituação e de tipificação específica dos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem
denominados “atos de improbidade administrativa”. prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
Em outras palavras, com a promulgação da Constituição ressarcimento.
Federal de 1988, que ampliou a possibilidade de sanções por
atos de improbidade administrativa, e em respeito aos Em sua primeira parte, o dispositivo prevê que:
princípios da reserva legal e da anterioridade, passou-se a - a lei deverá estabelecer os prazos de prescrição para ilícitos
exigir a edição de lei específica para tipificar as condutas - praticados por qualquer pessoa (servidor ou não)
correspondentes a atos de improbidade administrativa. Nesse - que gerem prejuízo ao erário.
momento, houve o justo receio do legislador constituinte
quanto à ocorrência de interpretações que passassem a Na segunda parte, o constituinte disse o seguinte: não se
impossibilitar ações de ressarcimento ao erário pela prática aplica o que eu falei antes para as ações de ressarcimento. O
de atos ilícitos tradicionalmente entendidos como que isso quer dizer? Que a lei não poderá estabelecer prazos
improbidade administrativa, desde a década de 1940, mas de prescrição para tais ações, sendo elas, portanto,
ainda não tipificados pela nova legislação, que somente foi imprescritíveis.
editada em 1992.
A ressalva prevista no § 5º do art. 37 da CF não pretendeu Assim, o texto constitucional é expresso ao prever a ressalva
estabelecer uma exceção implícita de imprescritibilidade, mas da imprescritibilidade da ação de ressarcimento ao erário.
obrigar constitucionalmente a recepção das normas legais
definidoras dos instrumentos processuais e dos prazos Imprescritibilidade não vale para ressarcimento
prescricionais para as ações de ressarcimento do erário, decorrente de outros ilícitos civis
inclusive referentes a condutas ímprobas, mesmo antes da O § 5º do art. 37 da CF/88 deve ser lido em conjunto com o §
tipificação legal de elementares do denominado “ato de 4º, de forma que ele se refere apenas aos casos de
improbidade” (Decreto 20.910/1932, Lei 3.164/1957, Lei improbidade administrativa.
3.502/1958, Lei 4.717/1965, Lei 7.347/1985, Decreto-Lei Se fosse realizada uma interpretação ampla da ressalva final
2.300/1986); mantendo, dessa maneira, até a edição da futura contida no § 5º, isso faria com que toda e qualquer ação de
lei e para todos os atos pretéritos, a ampla possibilidade de ressarcimento movida pela Fazenda Pública fosse
ajuizamentos de ações de ressarcimento. imprescritível, o que seria desproporcional.
(...) A prescrição é um instituto importante para se garantir a
segurança e estabilidade das relações jurídicas e da
convivência social. É uma forma de se assegurar a ordem e a Critério objetivo Critério
paz na sociedade. subjetivo
Desse modo, a ressalva contida na parte final do § 5º do art. Art. 9º — Atos de improbidade que
37 da CF/88 deve ser interpretada de forma estrita e não se importam enriquecimento ilícito do agente Exige DOLO
aplica para danos causados ao Poder Público por força de público
ilícitos civis. Pode ser DOLO
Foi como decidiu o STF ainda em 2016: Art. 10 — Atos de improbidade que
ou, no mínimo,
É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública causam prejuízo ao erário
CULPA
decorrente de ilícito civil. Art. 10-A — Atos de improbidade
Dito de outro modo, se o Poder Público sofreu um dano ao administrativa decorrentes de concessão
erário decorrente de um ilícito civil e deseja ser ressarcido, Exige DOLO
ou aplicação indevida de benefício
ele deverá ajuizar a ação no prazo prescricional previsto em financeiro ou tributário
lei.
Art. 11 — Atos de improbidade que
STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado atentam contra princípios da Exige DOLO
em 03/02/2016 (repercussão geral). administração pública
Ex: João dirigia seu carro quando, por imprudência, acabou
Tese fixada pelo STF
batendo no carro de um órgão público estadual em serviço.
O STF fixou a seguinte tese para fins de repercussão geral:
Ficou provado, por meio da perícia, que o particular foi o
São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário
culpado pelo acidente. O órgão público consertou o veículo,
fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de
tendo isso custado R$ 10 mil. Sete anos depois do acidente, o
Improbidade Administrativa.
Estado ajuizou ação de indenização contra João cobrando os
STF. Plenário. RE 852475/SP, Rel. orig. Min. Alexandre de
R$ 10 mil gastos com o conserto do automóvel. A defesa de
Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
João alegou que houve prescrição. A alegação da defesa está
08/08/2018.
correta. Isso porque o prejuízo ao erário não decorreu de um
ato de improbidade administrativa, mas foi decorrente de um
Placar
ilícito civil. Logo, incide prazo prescricional neste caso.
Vale ressaltar que o placar de votação foi bem apertado, com
resultado de 6 x 5 em favor da tese vencedora.
Desse modo, podemos fazer a seguinte distinção:
Votaram pela prescritibilidade:
Ação de reparação de danos à é PRESCRITÍVEL
• Alexandre de Moraes
Fazenda Pública (STF RE 669069/MG). • Dias Toffoli
decorrentes de ilícito civil • Ricardo Lewandowski
Ação de ressarcimento decorrente é PRESCRITÍVEL • Gilmar Mendes
de (devem ser propostas • Marco Aurélio.
ato de improbidade administrativa no prazo do art. 23 da
praticado com CULPA LIA). Votaram pela imprescritibilidade:
Ação de ressarcimento decorrente é IMPRESCRITÍVEL • Edson Fachin
de (§ 5º do art. 37 da • Rosa Weber
ato de improbidade administrativa CF/88). • Cármen Lúcia
praticado com DOLO • Celso de Mello
• Luiz Fux
Imprescritibilidade somente vale para atos de • Roberto Barroso
improbidade praticados com DOLO
O STF entendeu, portanto, que as ações de ressarcimento ao Uma peculiaridade está no fato de que os Ministros Luiz Fux e
erário envolvendo atos de improbidade administrativa são Roberto Barroso inicialmente votaram em favor da
imprescritíveis. No entanto, o Tribunal fez uma “exigência” a prescritibilidade. Ocorre que uma semana depois, revisaram o
mais que não está explícita no art. 37, § 5º da CF/88. posicionamento e alteraram o entendimento, votando em
O Supremo afirmou que somente são imprescritíveis as ações favor da tese da imprescritibilidade.
de ressarcimento envolvendo atos de improbidade
administrativa praticados DOLOSAMENTE.
Assim, se o ato de improbidade administrativa causou
prejuízo ao erário, mas foi praticado com CULPA, então, neste
caso, a ação de ressarcimento será prescritível e deverá ser
proposta no prazo do art. 23 da LIA.
DIREITO TRIBUTÁRIO
E existem atos de improbidade administrativa CULPOSOS
que causam prejuízo ao erário?
SIM. Isso é possível, nos termos do art. 10 da Lei nº 8.429/92:
Local de recolhimento do ISS
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que
causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou
culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, Uma das principais mudanças na legislação tributária
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das apontada por advogados foi a alteração do local de cobrança
entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: do Imposto sobre Serviços (ISS) para setores como o de
(...) operadoras de cartões, planos de saúde e seguros. A cobrança
do tributo, que começou a valer em janeiro de 2018, será
Vale ressaltar que apenas o art. 10 da Lei nº 8.429/92 admite realizada nos municípios de domicílio dos clientes do serviço.
a prática de ato CULPOSO de improbidade administrativa. Até então o imposto era devido na cidade onde se localizava a
Relembre: sede das empresas.
A nova regra resultou da derrubada de um veto presidencial base de cálculo. “Tem perda de arrecadação por conta da base
na Lei Complementar 157/2016 pelo Congresso Nacional. Em menor, então o governo quer recompor essas perdas. Fizeram
sessão conjunta em maio de 2017, deputados e senadores parecido quando o STF determinou a exclusão do ICMS do
mantiveram a redação original do texto. PIS/Cofins importação”, disse.

O tributarista Thiago Sarraf, do escritório Nelson Wilians e Guerra fiscal


Advogados Associados, avalia que a mudança aumenta a
complexidade de apuração e pagamento do ISS. A partir deste ano, produz efeitos a lei complementar
Consequentemente, crescem as despesas das empresas com 160/2017, que propõe solucionar ou ao menos amenizar a
contabilidade e outras áreas dedicadas à tributação. “A guerra fiscal entre os estados. A lei proíbe a concessão de
tendência é que os custos sejam repassados em forma de novos benefícios fiscais em troca de autorizar a manutenção,
preço aos consumidores. São mais de 5.400 municípios”, por até 15 anos, dos incentivos já concedidos à revelia do
projeta. Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).

ISS sobre Streaming Antes da mudança, era preciso que todos os estados
concordassem com a concessão para aprovar o benefício, o
A lei complementar 157/2016 também passou a autorizar a que levava muitos entes federativos a fazerem acordos
incidência do ISS sobre o streaming, oferecido por independentemente do Confaz. Como resultado, aumentaram
plataformas como o Netflix e o Spotify. A cobrança depende de dívidas tributárias cobradas em razão de um estado não
cada cidade regulamentar as próprias leis para exigir o reconhecer a subvenção dada pelo outro.
tributo, como fizeram, por enquanto, os municípios de São
Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Para resolver o impasse, a lei complementar permite que o
Confaz aprove a remissão dessas dívidas com o fisco e
O advogado Túlio Terceiro Neto Parente Miranda, sócio do autoriza a manutenção dos benefícios por até 15 anos,
Rivitti e Dias Advogados, considera que há uma controvérsia propondo uma espécie de anistia às subvenções já concedidas.
jurídica em relação à cobrança do ISS sobre o streaming. “Um Em contrapartida, os estados abrem mão de ampliar ou
serviço pressupõe a obrigação de fazer. No caso do streaming, instituir novos benefícios, e devem aumentar a transparência
há uma cessão provisória de conteúdo. Então é discutível a fiscal.
constitucionalidade da exigência”, argumenta.
Para aprovar o perdão de dívidas será necessário que entrem
Já o tributarista Thiago Sarraf, do escritório Nelson Wilians e em acordo 18 dos 27 estados do Confaz, desde que ao menos
Advogados Associados, argumenta que alguns municípios, por um terço deles seja de cada região do Brasil. Os estados
serem muito pequenos, não têm estrutura para cobrar e deverão publicar em uma espécie de portal da transparência
fiscalizar adequadamente esse tributo. Além de ser necessário informações detalhadas sobre os incentivos que
editar a lei, a cobrança demanda servidores e a instituição de permanecerão em vigor.
novas obrigações acessórias para controle dos valores. “A
intenção do governo federal é distribuir melhor essas receitas Imposto de Renda sobre benefícios fiscais
para contemplar parcela maior de municípios menores, mas é
duvidoso que isso se transforme em efetivas receitas na Outra discussão relacionada à lei complementar 160/2017 é a
medida em que muitos têm organização precária”, afirma. incidência do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IR-PJ), da
Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), do PIS e da
ICMS na base de cálculo do PIS e da Cofins Cofins sobre valores relacionados a benefícios fiscais.

Deve causar impacto relevante no ano que vem o julgamento Para sair da base de cálculo, a União argumenta que o recurso
do Supremo Tribunal Federal (STF) que excluiu o ICMS da economizado com subvenções deve ser aplicado apenas no
base de cálculo do PIS e da Cofins. Apesar de não alterar a lei, empreendimento desenvolvido como contrapartida. Ou seja, o
a decisão com repercussão geral é um marco na dinheiro teria um “carimbo”. Por outro lado, o contribuinte
jurisprudência. defende que basta a renúncia fiscal não ser distribuída para os
sócios. Desde que o dinheiro continue dentro da empresa, não
Os efeitos da decisão vão depender de como o Supremo deveria ser tributado.
julgará os embargos de declaração apresentados pela
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). A União O presidente Michel Temer havia vetado um trecho da lei
pediu que a decisão de março só valha a partir do julgamentos complementar que impedia a tributação de subvenções para
dos embargos. Caso a Corte module a decisão conforme pede investimento. Porém, o Congresso Nacional derrubou o veto
a Fazenda, a União reduzirá o valor a ser restituído pelos em novembro de 2017. Assim, manteve-se a redação original
contribuintes. do dispositivo, mais favorável ao contribuinte. O trecho exclui
o incentivo fiscal da base de cálculo, a menos que a empresa
Sócio conselheiro do escritório Sacha Calmon Misabel Derzi distribua os valores em forma de lucros para os sócios.
Consultores e Advogados, o advogado Igor Mauler considerou
muito agressiva a modulação pedida pela Fazenda. Mauler Apesar disso, o advogado Raphael Lavez, do escritório Rivitti
acredita que a Corte decidirá de forma intermediária. “Deve e Dias Advogados, argumenta que o dispositivo tem redação
resguardar quem já tem ação judicial, e não passar a dúbia e pode ser interpretado de formas diferentes pela
borracha”, afirma. Justiça. “Tudo vai depender de como a lei vai ser aplicada pelo
Judiciário e pelo Carf [Conselho Administrativo de Recursos
O tributarista Thiago Sarraf, do escritório Nelson Wilians e Fiscais] nos próximos anos”, afirma.
Advogados Associados, acredita que a União deve aumentar
as alíquotas de PIS e Cofins em decorrência da restrição na Valores em espécie
A partir deste ano, pessoas físicas e jurídicas que receberem A lei complementar 155/2016 majorou o limite para inclusão
valores em espécie acima de R$ 30 mil estão obrigadas a de empresas no regime tributário do Simples Nacional. Até
informar a operação à Receita Federal. O contribuinte deverá então o faturamento anual permitido era de até R$ 3,6
fornecer informações sobre o comprador e detalhar em troca milhões. O valor subiu para R$ 4,8 milhões.
de quê recebeu o dinheiro, seja em operações de alienação,
aluguel, prestação de serviços ou cessão onerosa de bens e Além disso, o dispositivo tornou as alíquotas progressivas em
direitos. função da receita bruta. Cada percentual é aplicado segundo
seis faixas de valores. A alíquota menor incide sobre a
A Instrução Normativa (IN) nº 1.761/2017 instituiu a extensão mais baixa do faturamento, e assim progride
obrigação acessória e criou a Declaração de Operações sucessivamente. Antes, o faturamento era enquadrado em
Liquidadas com Moeda em Espécie (DME). Em casos de uma determinada faixa e a alíquota correspondente era
omissão ou declaração incompleta há multa de 1,5% a 3% do aplicada sobre o valor total.
valor transferido. A Receita afirma que a obrigação acessória
tem como objetivo monitorar transações de origem inidônea, O tributarista Thiago Sarraf, do escritório Nelson Wilians e
decorrentes de corrupção, lavagem de dinheiro ou tráfico de Advogados Associados, considera que as mudanças colaboram
drogas e armas. para que empresas menores sejam mais competitivas. “A
tributação é em função do faturamento, o que é uma
O tributarista Fábio Alexandre Lunardini, do escritório vantagem para elas”, afirma.
Peixoto & Cury Advogados, alerta contribuintes que realizam
negócios lícitos a prestarem atenção à nova obrigação. “O fisco eSocial
tem série de meios para detectar [operações em espécie]. Aí a
empresa além de ter que se explicar precisa pagar multa. Desde o início de 2018, as empresas com faturamento anual
Além disso, os contribuintes precisam tomar cuidado para acima de R$ 78 milhões devem utilizar o eSocial. No portal, as
apresentar uma série de informações sobre a fonte pagadora, companhias têm que incluir informações sobre os
porque o fisco também vai cruzar com outros dados”, diz. trabalhadores e a folha de pagamento para fins de apuração
do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) e da
Fundos de investimento contribuição previdenciária. A obrigação acessória se
estenderá para os demais empregadores e contribuintes a
Outra alteração tributária que pode ter efeitos a partir deste partir de 1º de julho.
ano se refere aos ganhos em fundos de investimento fechados.
Até então a tributação com alíquotas regressivas ocorria Empresas devem especificar no eSocial quanto recebem os
apenas na distribuição final dos valores. Com a medida trabalhadores, qual é a retenção de imposto e contribuições
provisória 806/2017, entretanto, passa a valer o sistema de previdenciárias, informações sobre condições ambientais de
come-cotas, semelhante ao vigente em fundos abertos. trabalho e saúde do empregado, entre outras. O cadastro
gradual dos dados ocorrerá segundo cronograma
A tributação ocorrerá sucessivamente ao longo de todo o determinado pelo governo.
investimento, mesmo sobre valores que ainda não foram
resgatados. A MP determina a primeira incidência do Imposto Retenções
de Renda (IR) em maio de 2018 e, a partir de então, os lucros
são tributados de seis em seis meses. Em maio, o imposto O mesmo cronograma do eSocial será usado para
ainda incidirá retroativamente, sobre os ganhos acumulados. implementar a Escrituração Fiscal Digital de Retenções e
Ainda, reestruturações societárias como cisões, incorporações Outras Informações Fiscais (EFD-Reinf). Deverão entregar a
ou fusões tornam o rendimento disponível para tributação. EFD-Reinf empresas que retiveram Imposto de Renda e
contribuições sociais (como PIS, Cofins e CSLL), bem como as
O tributarista Fábio Alexandre Lunardini, do Peixoto & Cury que optaram por recolher contribuições previdenciárias sobre
Advogados, avalia que o novo sistema prejudica o interesse a receita bruta.
pelo modelo de investimento. “Os fundos fechados não
perdem totalmente a atratividade, mas perdem a vantagem A ideia é que o documento substitua outras obrigações
que tinham em relação aos abertos”, afirma. acessórias que detalham principalmente retenções na fonte e
pagamentos feitos a pessoas jurídicas. São exemplos a
Como a MP não foi aprovada no Congresso em 2017, a própria Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF) e a
vigência da norma fica em discussão. De um lado, advogados Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de
argumentam que a medida aumenta a arrecadação federal, o Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP).
que configura elevação de impostos. Com isso, caso seja
convertida em lei apenas este ano, os efeitos seriam STJ define tese sobre prescrição intercorrente que afetará
produzidos em 2019. Por outro lado, a Receita Federal pode mais de 27 milhões de processos
defender que o dispositivo não aumentou impostos, mas
antecipou o recolhimento do Imposto de Renda Retido na Nesta quarta-feira, 12, a 1ª seção do STJ definiu em
Fonte (IRRF) que receberia de qualquer forma. Assim, não se julgamento de recurso repetitivo como devem ser aplicados
aplicaria o princípio da anterioridade. o artigo 40 e parágrafos da lei de execução fiscal (6.830/80)
e a sistemática para a contagem da prescrição intercorrente.
O advogado Raphael Lavez, do escritório Rivitti e Dias O processo começou a ser julgado em 2014.
Advogados, considera inconstitucional a tributação retroativa  Veja a íntegra do acórdão.
dos ganhos acumulados nos fundos. Por maioria, nos termos do voto do relator, ministro Mauro
Campbell, o colegiado aprovou as seguintes teses:
Simples Nacional 1) O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do
respectivo prazo prescricional previsto no art. 40, §§ 1º e 2º
da lei 6.830/80 - LEF tem início automaticamente na data da de intimação da Fazenda quanto ao despacho que determina
ciência da Fazenda Pública a respeito da não localização do suspensão da execução fiscal, ou arquivamento, bem como a
devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no endereço falta de intimação para sua manifestação antes da decisão
fornecido, havendo, sem prejuízo dessa contagem que decreta a prescrição intercorrente não acarreta nenhum
automática, o dever de o magistrado declarar ter ocorrido a prejuízo à exequente, tendo em vista que ela pode alegar
suspensão da execução; possíveis causas suspensivas ou interruptivas do prazo
1.1) Sem prejuízo do disposto no item 1, nos casos de prescricional a qualquer tempo.
execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza No recurso ao STJ, a Fazenda alegou que houve violação
tributária (cujo despacho ordenador da citação tenha sido desse artigo, uma vez que não transcorreu o prazo de cinco
proferido antes da vigência da LC 118/05), depois da citação anos exigido para a configuração da prescrição
válida, ainda que editalícia, logo após a primeira tentativa intercorrente, já que toda e qualquer manifestação da
infrutífera de localização de bens penhoráveis, o Juiz exequente nos autos compromete a caracterização da
declarará suspensa a execução. inércia, e que o TRF considerou como data para início da
1.2) Sem prejuízo do disposto no item 1, em se tratando de prescrição o primeiro momento em que foi determinada a
execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza suspensão do processo por 90 dias, sendo que houve
tributária (cujo despacho ordenador da citação tenha sido manifestação fazendária posterior.
proferido na vigência da LC 118/05) e de qualquer dívida Voto do relator
ativa de natureza não tributária, logo após a primeira Relator, o ministro Mauro Campbell proferiu voto na sessão
tentativa frustrada de citação do devedor ou de localização de 26 de novembro de 2014, quando o julgamento foi
de bens penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução. iniciado, no sentido de desprover o recurso da Fazenda. Na
2) Havendo ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou ocasião, ele ressaltou que o espírito do artigo 40 da LEF é o
não pronuciamento judicial nesse sentido, findo o prazo de 1 de que nenhuma execução fiscal já ajuizada poderá
(um) ano de suspensão inicia-se automaticamente o prazo permanecer eternamente nos escaninhos do Poder Judiciário
prescricional aplicável (de acordo com a natureza do crédito ou da procuradoria fazendária encarregada da execução das
exequendo) durante o qual o processo deveria estar respectivas dívidas fiscais.
arquivado sem baixa na distribuição, na forma do art. 40, §§ O ministro enfatizou que, não havendo a citação de qualquer
2º, 3º e 4º da lei 6.830/80 - LEF, findo o qual o Juiz, depois devedor (marco interruptivo da prescrição) ou não sendo
de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora,
prescrição intercorrente e decretá-la de imediato; inicia-se automaticamente o procedimento previsto no
3) A efetiva constrição patrimonial e a efetiva citação (ainda artigo 40 e o respectivo prazo, ao fim do qual estará
que por edital) são aptas a interromper o curso da prescrito o crédito fiscal. "Em execução fiscal, não
prescrição intercorrente, não bastando para tal o mero localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por
peticionamento em juízo, requerendo, v.g., a feitura da um ano, findo o qual se inicia o prazo da prescrição
penhora sobre ativos financeiros ou sobre outros bens. Os quinquenal intercorrente. Esse é o teor da Súmula 314 do
requerimentos feitos pelo exequente, dentro da soma do STJ."
prazo máximo de 1 (um) ano de suspensão mais o prazo de Para o ministro, somente a lei, e não o juiz nem a
prescrição aplicável (de acordo com a natureza do crédito procuradoria da Fazenda Pública, é a senhora do termo
exequendo) deverão ser processados, ainda que para além inicial do prazo de um ano de suspensão previsto no caput
da soma desses dois prazos, pois, citad os (ainda que por do artigo 40 da LEF. “Não cabe ao juiz ou à procuradoria a
edital) os devedores e penhorados os bens, a qualquer escolha do melhor momento para o seu início. Constatada a
tempo – mesmo depois de escoados os referidos prazos –, não localização do devedor ou a ausência de bens pelo oficial
considera-se interrompida a prescrição intercorrente, de Justiça e intimada a Fazenda Pública, inicia-se
retroativamente, na data do protocolo da petição que automaticamente o prazo”.
requereu a providência frutífera. No caso julgado, o ministro entendeu ser indiferente o fato
4) A Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar de a Fazenda Pública ter peticionado requerendo a
nos autos (art. 245 do CPC/73, correspondente ao art. 278 suspensão do feito por 30, 60, 90 ou 120 dias a fim de
do CPC/15), ao alegar nulidade pela falta de qualquer realizar diligências, sem pedir a suspensão do feito pelo
intimação dentro do procedimento do art. 40 da LEF, deverá artigo 40 da LEF. “O que importa para a aplicação da lei é
demonstrar o prejuízo que sofreu (exceto a falta da que a Fazenda Pública tenha tomado ciência da inexistência
intimação que constitui o termo inicial - 1., onde o prejuízo é de bens penhoráveis no endereço fornecido”, disse o relator,
presumido), por exemplo, deverá demonstrar a ocorrência concluindo que isso é o suficiente para inaugurar o prazo, de
de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição. acordo com a lei.
5) O magistrado, ao reconhecer a prescrição intercorrente, Como foram quase quatro anos de julgamento, houve uma
deverá fundamentar o ato judicial por meio da delimitação sequência de votos do relator a cada voto dos ministros que
dos marcos legais que foram aplicados na contagem do compõe a 1ª seção até que o julgamento fosse concluído e a
respectivo prazo, inclusive quanto ao período em que a tese final (v. acima) fosse fixada. Isso porque a cada voto
execução ficou suspensa. foram feitas sugestões para a tese inicialmente proposta
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, a decisão do pelo relator.
STJ nessa matéria pode gerar reflexos em mais de 27 No último aditamento ao voto original, o ministro Mauro
milhões de processos de execução fiscal em curso no país. Campbell explicou as situações em que as teses devem ser
O caso tratou da hipótese de falta de intimação da Fazenda aplicadas pelos Juízos de Execução Fiscal e pelos respectivos
Nacional sobre o despacho que determina sua manifestação tribunais.
antes da decisão que decreta a prescrição intercorrente. A Por exemplo, se a citação for negativa e não forem
questão jurídica discutida pela Corte era definir se tal encontrados bens, intimada a Fazenda Pública inicia-se
ausência ilidiria a decretação da prescrição intercorrente. automaticamente a suspensão de 1ª (havendo ou não
No processo, a Fazenda Nacional recorreu contra decisão do decisão judicial nesse sentido), devendo a Fazenda Pública
TRF da 4ª região que reconheceu de ofício a prescrição tomar as providências para a promover a citação por edital
intercorrente e extinguiu a execução fiscal com base no (se for o caso) dentro do prazo de suspensão somado ao
artigo 40, parágrafo 4º, da LEF. O TRF sustentou que a falta prazo de prescrição intercorrente a fim de interromper o
prazo de prescrição intercorrente se já iniciado, sendo que o portuguesa puder me esclarecer esta divergência.* (veja
prazo iniciará ou reiniciará com a citação por edital, atualização do post ao final)
conforme o caso. Posteriormente, deverá a Fazenda Pública
tomar as providências para a promover a efetiva constrição Voltando aos aspectos jurídicos:
patrimonial dentro do prazo de prescrição intercorrente
iniciado ou reiniciado, a fim de o interromper de forma Qual é a natureza jurídica dos tratados internacionais
retroativa à data em que protocolada a petição que ensejou a promulgados pelo Brasil? Os tratados internacionais são
providência que foi efetivada. equivalentes a que espécie normativa?
Caso a citação seja positiva - para o caso de despacho que Podemos organizar o tema da seguinte maneira:
ordenou a citação para a cobrança de dívida ativa de
natureza tributária antes da vigência da LC 118/05 - e não Qual é a natureza jurídica dos tratados internacionais
forem encontrados bens, afasta-se o fluxo da prescrição promulgados pelo Brasil?
ordinária (a interrupção da prescrição pela citação retroage Os tratados internacionais são equivalentes a que espécie
à data da propositura da ação - repetitivo REsp. n.º normativa?
1.120.295 - SP). Assim, intimada a Fazenda Pública de que
não foram encontrados bens inicia-se automaticamente a 1) Tratados internacionais que não tratem Status de
suspensão de 1a. (havendo ou não decisão judicial nesse sobre direitos humanos lei ordinária
sentido), devendo a Fazenda Pública tomar as providências 2) Tratados internacionais que versem sobre Status
para a promover a efetiva constrição patrimonial dentro do direitos humanos, mas que não tenham sido supralegal
prazo de suspensão somado ao prazo de prescrição aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da
intercorrente a fim de interromper o prazo de prescrição CF/88
intercorrente de forma retroativa à data em que protocolada 3) Tratados internacionais sobre Direito Status
a petição que ensejou a providência que foi efetivada. Tributário (art. 98 do CTN) supralegal*
Se a citação for positiva - para o caso de despacho que 4) Tratados internacionais sobre matéria Status
ordenou a citação para a cobrança de dívida ativa de processual civil (art. 13 do CPC/2015) supralegal*
natureza tributária depois da vigência da LC n. 118/2005 e 5) Tratados internacionais que versem sobre Emenda
de qualquer dívida ativa de natureza não tributária - e não direitos humanos e que tenham sido constitucional
forem encontrados bens afasta-se o fluxo da prescrição aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da
ordinária (a interrupção da prescrição pelo despacho que CF/88
ordena a citação retroage à data da propositura da ação -
repetitivo REsp. n.º 1.120.295 - SP). Assim, intimada a * Posição defendida por Paulo Portela (Direito Internacional
Fazenda Pública de que não foram encontrados bens inicia- Público e Privado.Salvador: Juspodivm, 2016, p. 136) e pela
se automaticamente a suspensão de 1a. (havendo ou não maioria dos internacionalistas. Vale ressaltar, contudo, que o
decisão judicial nesse sentido), devendo a Fazenda Pública tema é polêmico e que há posições em sentido contrário,
tomar as providências para a promover a efetiva constrição especialmente entre os autores de Direito Tributário. Para
patrimonial dentro do prazo de suspensão somado ao prazo fins de prova, acho importante conhecer a redação da
de prescrição intercorrente a fim de interromper o prazo de previsão legal:
prescrição intercorrente de forma retroativa à data em que
protocolada a petição que ensejou a providência que foi Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam
efetivada. ou modificam a legislação tributária interna, e serão
Em todos os casos acima, o ministro destaca que é dever do observados pela que lhes sobrevenha.
magistrado declarar o início do prazo de suspensão de 1ª no
primeiro momento em que constatar que a citação foi Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais
negativa e/ou que não foram encontrados bens, mas a brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas
ausência dessa declaração não impede o fluxo dos prazos. em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o
Brasil seja parte.
DIREITO INTERNACIONAL
Status supralegal
Quando se diz que um tratado possui status supralegal isso
significa que ele está hierarquicamente acima da legislação
Olá amigos do Dizer o Direito, ordinária, mas abaixo da Constituição Federal. É o caso, por
exemplo, da Convenção Americana de Direitos Humanos
Foi publicado no dia de ontem (09/10/2018), o Decreto nº (Pacto de San José da Costa Rica), que foi incorporada ao
9.522/2018, que promulgou o Tratado de Marraqueche, Direito brasileiro antes da EC 45/2004 e, portanto, tem status
assinado pelo Brasil em 27 de junho de 2013, na cidade de supralegal (STF. Plenário. RE 466343, Rel. Min. Cezar Peluso,
Marraqueche, localizada no Marrocos. julgado em 03/12/2008).
O status normativo supralegal dos tratados internacionais de
O grande destaque deste Tratado é que ele foi aprovado pelo direitos humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a
Congresso Nacional conforme os requisitos do art. 5º, § 3º da legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela
CF/88, de forma que ele é incorporado ao Direito brasileiro anterior ou posterior ao ato de adesão (STF. Plenário. RE
com status de norma constitucional. 349703, Rel. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, DJ 5/6/2009).

Uma curiosidade preliminar: o Decreto nº 9.522/2018 utiliza a Tratados com status de norma constitucional
grafia “Marraqueche”, ou seja, com “CH”. Provavelmente, isso Como vimos acima, existem alguns tratados e convenções
deve ter sido feito com base na consultoria de algum internacionais que, depois de promulgados, possuem
especialista em língua portuguesa. No entanto, até onde eu natureza de norma constitucional. Para isso, no entanto, é
sabia, a grafia correta da palavra seria “Marraquexe” (com X). necessário que preencham dois requisitos:
Assim, eu, desde já, agradeço se algum estudioso da língua 1) O tratado ou convenção internacional deve tratar sobre
direitos humanos;
2) Depois de assinado pelo Brasil, o tratado ou convenção durante o período de intervenção federal no RJ, violou o
internacional deve ter sido aprovado, em cada Casa do art. art. 60, § 1º da CF/88?
Congresso Nacional (Câmara e Senado), em dois turnos de NÃO.
votação, por 3/5 dos votos dos respectivos membros. Um tratado internacional, depois que ele é assinado pelo
Brasil, ele precisa ainda ser ratificado e internalizado em
Ocorrendo isso, esse tratado ou convenção será equivalente a nosso ordenamento jurídico. Isso ocorre por meio de duas
uma emenda constitucional. etapas:
É o que prevê o art. 5º, § 3º, da CF/88: 1) aprovação do tratado pelo Congresso Nacional, conforme
Art. 5º (...) prevê o art. 49, I, da CF/88:
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
internacionais que acarretem encargos ou compromissos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas
gravosos ao patrimônio nacional;
constitucionais.
Essa aprovação do tratado pelo Congresso é
Diante do que foi explicado acima, podemos concluir que
instrumentalizada por um Decreto-legislativo.
existem normas constitucionais que não estão dentro do texto
da CF/88.
2) em seguida, é necessária a promulgação do tratado, ato de
competência do Presidente da República por meio de decreto.
Existem atualmente tratados que possuem esse status?
SIM. São eles:
O art. 5º, § 3º da CF/88 prevê que os tratados sobre direitos
humanos serão equivalentes às emendas constitucionais se
TRATADOS INTERNACIONAIS EQUIVALENTES A EMENDA eles forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional,
CONSTITUCIONAL em dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros.
Assim, a vedação constante no art. 60, § 1º da CF/88 deve ser
CONVENÇÃO DE NOVA analisada no momento da votação do tratado no Congresso
YORK TRATADO DE Nacional.
(E SEU PROTOCOLO MARRAQUECHE
FACULTATIVO) No caso do Tratado de Marraqueche, ele foi aprovado pelo
Tratado firmado com o Decreto-legislativo nº 261/2015, votado pelo Congresso
Convenção Internacional objetivo defacilitar o acesso Nacional no ano de 2015, quando não havia nenhuma
sobre osDireitos das a obras publicadas às intervenção federal em curso.
Pessoas com Deficiência e pessoas cegas, com Não há qualquer problema no fato de haver uma intervenção
seu Protocolo Facultativo. deficiência visual ou com federal no momento da promulgação do tratado. Isso porque a
outras dificuldades para ter aprovação do ato já ocorreu e a promulgação apenas atesta
acesso ao texto impresso. que foram cumpridas todas as formalidades e que aquele ato é
válido, estando pronto para publicação.
Assinados em Nova York, em Assinado em Marraqueche,
30 de março de 2007. em 27 de junho de 2013.
Segue abaixo um RESUMO sobre o Tratado de Marraqueche:
Aprovado pelo Congresso
Aprovado pelo Congresso
Nacional por meio do
Nacional por meio do Decreto PRINCIPAIS PONTOS DO TRATADO DE MARRAQUECHE
Decreto legislativo nº
Legislativo nº 261/2015. (DECRETO 9.522/2018)
186/2008

Promulgado pelo Presidente Promulgado pelo Presidente Objeto


da República por meio do da República por meio do O tratado tem por objetivo permitir que...
Decreto nº 6.949/2009. Decreto nº 9.522/2018. • pessoas cegas;
• pessoas com deficiência visual;
• pessoas com outras dificuldades para ter acesso ao texto
Desse modo, tais tratados compõem o chamado bloco de impresso
constitucionalidade, ou seja, são considerados normas
constitucionais e eventual lei ou ato normativo que estiver em ... possam ter acesso às obras publicadas (livros, apostilas
confronto com eles deverá ser julgada inconstitucional. etc.).
Tratado de Marraqueche e intervenção federal Princípios que fundamentam o tratado
O Tratado de Marraqueche foi promulgado pelo Decreto nº • Princípio da não discriminação;
9.522/2018, publicado em 09/10/2018. Ocorre que, neste • Princípio da igualdade de oportunidades;
momento, estamos passando por um período de intervenção • Princípio da acessibilidade;
federal no Estado do Rio de Janeiro. • Princípio da participação;
O art. 60, § 1º da CF/88 estabelece que “a Constituição não • Princípio da inclusão plena e efetiva na sociedade.
poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de
estado de defesa ou de estado de sítio”. Em diversos momentos, o Tratado vai falar em
O Tratado de Marraqueche foi aprovado segundo os “beneficiários”. Quem são os beneficiários do Tratado?
requisitos do art. 5º, § 3º da CF/88 para ser considerado Será beneficiário toda pessoa:
equivalente a uma emenda constitucional. a) cega;
b) que tenha deficiência visual ou outra deficiência de
Diante disso, indaga-se: a promulgação do Tratado de percepção ou de leitura que não possa ser corrigida para se
Marraqueche com status de emenda constitucional, obter uma acuidade visual substancialmente equivalente à de
uma pessoa que não tenha esse tipo de deficiência ou • obter de outra entidade autorizada uma obra em formato
dificuldade, e para quem é impossível ler material impresso acessível e
de uma forma substancialmente equivalente à de uma pessoa • fornecer tais exemplares para o beneficiário, por qualquer
sem deficiência ou dificuldade; ou meio, inclusive por empréstimo não-comercial ou mediante
c) que esteja impossibilitada, de qualquer outra maneira, comunicação eletrônica.
devido a uma deficiência física, de sustentar ou manipular um
livro ou focar ou mover os olhos da forma que normalmente Para isso, no entanto, é necessário que sejam cumpridos
seria apropriado para a leitura. alguns requisitos:
a) a entidade autorizada que pretenda realizar tal atividade
A pessoa será considerada beneficiária se estiver em uma deve ter tido acesso legal à obra ou a um exemplar da obra;
dessas três situações acima descritas, independentemente de b) a obra pode ser convertida para um exemplar em formato
quaisquer outras deficiências, ou seja, mesmo que não acessível, mas não se pode introduzir outras mudanças que
apresente nenhuma outra deficiência. não as necessárias para tornar a obra acessível aos
beneficiários;
Algumas definições do Tratado: c) os exemplares da obra no formato acessível devem ser
a) OBRAS: são as obras literárias e artísticas, em forma de fornecidos exclusivamente para serem utilizados por
texto, notação e/ou ilustrações conexas, que tenham sido beneficiários; e
publicadas ou tornadas disponíveis publicamente por d) a atividade deve ser realizada sem fins lucrativos.
qualquer meio.
Importante: incluem-se, nesta definição, as obras em formato Adaptação feita pelo próprio beneficiário
de áudio, como os audiolivros. O beneficiário, ou alguém agindo em seu nome, poderá
produzir um exemplar em formato acessível da obra para uso
b) EXEMPLAR EM FORMATO ACESSÍVEL: significa a pessoal, mas desde que o beneficiário tenha tido acesso legal a
reprodução de uma obra de uma maneira ou forma essa obra.
alternativa que dê aos beneficiários acesso à obra, inclusive
para permitir que a pessoa tenha acesso de maneira tão Direito de tradução da Convenção de Berna não foram
prática e cômoda como uma pessoa sem deficiência visual ou alteradas
sem outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso. O Tratado de Marraqueche não reduz nem estende o âmbito
O exemplar em formato acessível é utilizado exclusivamente de aplicação das limitações e exceções permitidas pela
por beneficiários e deve respeitar a integridade da obra Convenção de Berna no que diz respeito ao direito de
original, levando em devida consideração as alterações tradução, com referência a pessoas com deficiência visual ou
necessárias para tornar a obra acessível no formato com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso.
alternativo e as necessidades de acessibilidade dos
beneficiários. Importação de Exemplares em Formato Acessível
A legislação nacional dos Estados signatários deverá permitir
c) ENTIDADE AUTORIZADA: significa uma entidade que é que o beneficiário, alguém em seu nome ou as entidades
autorizada ou reconhecida* pelo governo para prover aos autorizadas possam importar um exemplar em formato
beneficiários, sem intuito de lucro, educação, formação acessível para o proveito dos beneficiários, sem a autorização
pedagógica, leitura adaptada ou acesso à informação. do titular do direito.
Inclui, também, instituição governamental ou organização
sem fins lucrativos que preste os mesmos serviços aos Obrigações Relativas a Medidas Tecnológicas
beneficiários como uma de suas atividades principais ou Os Estados, ao estabelecerem proteção legal às obras em
obrigações institucionais. meios tecnológicos, deverá assegurar meios para que esses
* “Entidade reconhecida pelo governo” poderá incluir mecanismos de proteção não impeçam que os beneficiários
entidades que recebam apoio financeiro do governo para possam fazer as necessárias adaptações para transformar a
fornecer aos beneficiários, sem fins lucrativos, educação, obra em um exemplar em formato acessível.
formação pedagógica, leitura adaptada ou acesso à
informação. Respeito à Privacidade
Na implementação das limitações e exceções previstas no
d) PARTES CONTRANTES: são os Estados que assinaram o Tratado, os Estados (Partes Contratantes) irão se empenhar
tratado. em proteger a privacidade dos beneficiários em condições de
igualdade com as demais pessoas.
Limitações e Exceções na Legislação Nacional sobre
Exemplares em Formato Acessível Cooperação para Facilitar o Intercâmbio Transfronteiriço
Os Estados que assinaram o Tratado deverão prever em suas Os Estados farão esforços para promover o intercâmbio
leis de direitos autorais regras que facilitem a disponibilidade transfronteiriço de exemplares em formato acessível
de obras em formatos acessíveis aos beneficiários, ainda que incentivando o compartilhamento voluntário de informações
isso represente uma “limitação” ou “exceção” aos direitos para auxiliar as entidades autorizadas a se identificarem.
autorais. Em outras palavras, a legislação nacional de cada O Escritório Internacional da Organização Mundial da
país deve permitir que sejam feitas as alterações necessárias Propriedade Intelectual (OMPI) estabelecerá um ponto de
para tornar a obra acessível em formato alternativo para os acesso à informação para essa finalidade.
beneficiários.
Princípios Gerais sobre Implementação
Adaptação feita por entidades autorizadas As Partes Contratantes poderão exercer os seus direitos e
Os Estados signatários poderão alterar a sua legislação para cumprir com as obrigações previstas no Tratado por meio de
permitir que a entidades autorizadas (veja o conceito acima), limitações ou exceções específicas em favor dos beneficiários,
mesmo sem a autorização do titular dos direitos autorais, outras exceções ou limitações, ou uma combinação de ambas
possam: no âmbito de seus ordenamentos jurídicos e práticas legais
• produzir um exemplar em formato acessível da obra; nacionais. Estas poderão incluir decisões judiciais,
administrativas ou regulatórias em favor dos beneficiários, Lei 13.486/2017: dever dos fornecedores de higienizar os
relativa a práticas, atos ou usos justos que permitam equipamentos e utensílios
satisfazer as suas necessidades, em conformidade com os
direitos e obrigações que as Partes Contratantes tenham em
virtude da Convenção de Berna e de outros tratados Olá amigos do Dizer o Direito,
internacionais.
Foi publicada hoje mais uma novidade legislativa.
Outras Limitações e Exceções
O Tratado de Marraqueche não prejudica outras limitações e Trata-se da Lei nº 13.486/2017, que acrescenta o § 2º ao art.
exceções conferidas para as pessoas com deficiência e que 8º do CDC estabelecendo um “novo” dever aos fornecedores
estejam previstas pela legislação nacional. de produtos e serviços. Veja o dispositivo inserido:
É o caso, por exemplo, do Brasil. A Lei nº 13.146/2015
(Estatuto da Pessoa com Deficiência) já traz alguns direitos Art. 8º Os produtos e serviços colocados no mercado de
até mais amplos para as pessoas com deficiência visual. Nesse consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos
sentido, confira o art. 42, § 1º e o art. 68 do Estatuto: consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis
Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os
esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações
com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso: necessárias e adequadas a seu respeito. (Sem alterações no
I - a bens culturais em formato acessível; caput do art. 8º)
II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras (...)
atividades culturais e desportivas em formato acessível; e § 2º O fornecedor deverá higienizar os equipamentos e
III - a monumentos e locais de importância cultural e a utensílios utilizados no fornecimento de produtos ou serviços,
espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e ou colocados à disposição do consumidor, e informar, de
esportivos. maneira ostensiva e adequada, quando for o caso, sobre o
§ 1º É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em risco de contaminação. (Incluído pela Lei nº 13.486/2017)
formato acessível à pessoa com deficiência, sob qualquer
argumento, inclusive sob a alegação de proteção dos direitos O argumento do autor do projeto de lei – o ex-senador
de propriedade intelectual. Marcelo Crivella (PRB-RJ) – foi o de que existem pesquisas
(...) que demonstram que carrinhos de supermercado e mouses
em lan houses são repletos de bactérias. Logo, a lei seria para
Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de incentivo obrigar tais fornecedores a higienizar tais equipamentos.
à produção, à edição, à difusão, à distribuição e à
comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusive Penso, contudo, que a mudança é desnecessária e incompleta.
em publicações da administração pública ou financiadas com
recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com É desnecessária porque o dever de “higienizar os
deficiência o direito de acesso à leitura, à informação e à equipamentos e utensílios utilizados no fornecimento de
comunicação. produtos ou serviços” é algo óbvio e que não precisaria
§ 1º Nos editais de compras de livros, inclusive para o constar na lei. Imagine se fosse necessário haver lei dizendo
abastecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas em que o cozinheiro do restaurante deve lavar as mãos antes de
todos os níveis e modalidades de educação e de bibliotecas preparar a comida ou que uma lanchonete não pode servir
públicas, o poder público deverá adotar cláusulas de alimentos vencidos ao consumidor. Tais deveres, quando
impedimento à participação de editoras que não ofertem sua muito, devem ser tratados por meio de instruções normativas
produção também em formatos acessíveis. dos órgãos de vigilância sanitária, que possuem uma série de
§ 2º Consideram-se formatos acessíveis os arquivos digitais itens que devem ser observados pelos fornecedores de bens e
que possam ser reconhecidos e acessados por softwares serviços.
leitores de telas ou outras tecnologias assistivas que vierem a
substituí-los, permitindo leitura com voz sintetizada, É incompleta porque é extremamente genérica e não explica o
ampliação de caracteres, diferentes contrastes e impressão que significa esse “risco de contaminação”. Em tese, todo e
em Braille. qualquer equipamento sofre o risco de contaminação, como
§ 3º O poder público deve estimular e apoiar a adaptação e a por exemplo, um corrimão de escada, um banco de ônibus, um
produção de artigos científicos em formato acessível, inclusive brinquedo do playground etc.
em Libras.

Denúncia do Tratado ECA:


A denúncia é o ato unilateral por meio do qual uma Parte
Contratante manifesta a sua vontade de deixar de ser Parte no Título II
tratado.
O Tratado de Marraqueche prevê que qualquer Parte Dos Direitos Fundamentais
Contratante poderá denunciar o referido Tratado mediante
notificação dirigida ao Diretor-Geral da OMPI.
Capítulo I
A denúncia produzirá efeitos após um ano da data em que o
Diretor-Geral da OMPI tenha recebido a notificação.
Do Direito à Vida e à Saúde
Depositário
O Diretor-Geral da OMPI é o depositário do presente Tratado. Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à
saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:

DIREITO DO CONSUMIDOR VI - acompanhar a prática do processo de amamentação,


prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a
mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo Antes da Lei 13.509/2017 ATUALMENTE
técnico já existente. Prazo máximo de Prazo máximo de
permanência da criança e do permanência da criança e do
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, adolescente em programa de adolescente em programa de
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de acolhimento institucional: 2 acolhimento institucional: 18
cuidados intermediários, deverão proporcionar condições anos, salvo comprovada meses, salvo comprovada
para a permanência em tempo integral de um dos pais ou necessidade que atenda ao necessidade que atenda ao
responsável, nos casos de internação de criança ou seu superior interesse, seu superior interesse,
adolescente. devidamente fundamentada. devidamente fundamentada.

§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos Convivência integral da mãe adolescente com seu filho(a)
seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro A Lei nº 13.509/2017 acrescenta dois parágrafos ao art. 19
instrumento construído com a finalidade de facilitar a prevendo que se uma adolescente estiver em programa de
detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da acolhimento institucional e ela for mãe, deverá ser assegurado
criança, de risco para o seu desenvolvimento que tenha convivência integral com seu(sua) filho(a), além de
psíquico. (Incluído pela Lei nº 13.438, de ter apoio de uma equipe especializada (exs: psicóloga,
2017) (Vigência) assistente social etc.):
Comentários à Lei 13.509/2017, que facilita o processo de § 5º Será garantida a convivência integral da criança com a
adoção mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional.
§ 6º A mãe adolescente será assistida por equipe
especializada multidisciplinar.
Olá amigos do Dizer o Direito,

Foi publicada no último dia 23/11/2017 mais uma PROCEDIMENTO CASO A GESTANTE OU MÃE MANIFESTE
importantíssima novidade legislativa. INTERESSE DE ENTREGAR O FILHO PARA ADOÇÃO

Trata-se da Lei nº 13.509/2017, que altera o ECA, o Código Encaminhamento ao Juizado


Civil e a CTL para trazer novas normas incentivando e A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu
facilitando o processo de ADOÇÃO. filho para adoção, antes ou logo após o nascimento, será
encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude (art. 19-A
Vejamos um resumo das principais mudanças operadas pela inserido pela Lei nº 13.509/2017).
nova lei.
Oitiva por equipe interprofissional
ALTERAÇÕES NO ECA No Juizado da Infância e Juventude, a gestante ou mãe será
ouvida por equipe interprofissional, que apresentará relatório
REDUÇÃO DO PRAZO MÁXIMO DE ACOLHIMENTO ao juiz. A equipe deverá levar em consideração, inclusive, os
INSTITUCIONAL eventuais efeitos do estado gestacional e puerperal.
Programa de acolhimento institucional Atendimento especializado
O ECA prevê que se a criança ou o adolescente estiver em De posse do relatório, o magistrado poderá determinar o
situação de risco (art. 98), o juiz da infância e juventude encaminhamento da gestante ou mãe, mediante sua expressa
poderá determinar medidas protetivas que estão elencadas no concordância, à rede pública de saúde e assistência social para
art. 101. atendimento especializado.
Uma dessas medidas é o chamado acolhimento institucional
(art. 101, VII). Preferência que a criança fique com o pai ou com alguma
Acolhimento institucional significa retirar a criança ou o representante da família extensa
adolescente de seu lar original e colocá-lo para residir, Se a mãe indicar quem é o pai da criança, deve-se tentar fazer
temporariamente, em uma entidade de atendimento com que este assuma a guarda e suas responsabilidades como
(antigamente chamada “abrigo”) a fim de que ali ele fique genitor.
protegido de situações de maus tratos, desamparo ou Se não houver indicação de quem é o pai ou se este não
qualquer outra forma de violência (física ou moral) que estava manifestar interesse na criança, deve-se tentar acolher a
sofrendo. criança em sua “família extensa”.
O acolhimento institucional é uma medida provisória e Família extensa ou ampliada é aquela que se estende para
excepcional, utilizável como forma de transição para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada
reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente
colocação em família substituta, não implicando privação de convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (art. 25,
liberdade (art. 101, § 1º). parágrafo único do ECA). Ex: tios.
Reitero que o acolhimento institucional somente pode ser Essa busca à família extensa não pode ser feita de forma
determinado pelo magistrado. indefinida e, por isso, deverá durar, no máximo, 90 dias,
prorrogável por igual período.
Permanência da criança e do adolescente em programa de
acolhimento institucional Não sendo possível ficar com o pai nem com a família
Não é saudável que a criança ou adolescente fique muito extensa
tempo no acolhimento institucional, sendo essa uma medida Se a mãe não indicar quem é o genitor e se não houver
provisória e excepcional. representante da família extensa apto a receber a guarda, o
Em razão disso, o ECA estipula um prazo máximo no qual a juiz deverá:
criança ou adolescente pode permanecer em programa de a) decretar a extinção do poder familiar e
acolhimento institucional.
b) determinar a colocação da criança sob a guarda provisória Perfil da criança ou adolescente a ser apadrinhado
de quem estiver habilitado a adotá-la ou de entidade que O “ideal” seria que a criança ou adolescente voltasse para o
desenvolva programa de acolhimento familiar ou seu lar ou fosse adotado (família substituta). No entanto, nem
institucional. sempre isso é possível e a criança ou adolescente vão ficando
anos no “abrigo” ou na família acolhedora.
Prazo para a ação de adoção É para essas crianças e adolescentes que o programa de
Quem receber a guarda da criança terá o prazo de 15 dias apadrinhamento é especialmente voltado. Justamente por
para propor a ação de adoção, contado do dia seguinte à data isso, o legislador previu no novo § 4º do art. 19-B do ECA:
do término do estágio de convivência.
Art. 19-B (...)
§ 4º O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado
Desistência do desejo de entregar a criança
será definido no âmbito de cada programa de
Pode acontecer de a mãe e o pai da criança manifestarem o
apadrinhamento, com prioridade para crianças ou
desejo de entregar a criança para adoção enquanto a mulher
adolescentes com remota possibilidade de reinserção familiar
ainda está grávida, mas depois que o bebê nasce, eles
ou colocação em família adotiva.
mudarem de ideia. Neste caso, o pai ou a mãe deverá
manifestar esta desistência em audiência ou perante a equipe
Segundo estudo do CNJ, “o apadrinhamento afetivo é um
interprofissional.
programa voltado para crianças e adolescentes que vivem em
A criança será, então, mantida com o(s) genitor(es) e será
situação de acolhimento ou em famílias acolhedoras, com o
determinado pela Justiça da Infância e da Juventude o
objetivo de promover vínculos afetivos seguros e duradouros
acompanhamento familiar pelo prazo de 180 dias.
entre eles e pessoas da comunidade que se dispõem a ser
padrinhos e madrinhas. As crianças aptas a serem
Sigilo
apadrinhadas têm, quase sempre, mais de dez anos de idade,
A mãe que optar por entregar o filho à adoção deverá ter seu
possuem irmãos e, por vezes, são deficientes ou portadores de
sigilo respeitado, ou seja, esse procedimento ficará em sigilo.
doenças crônicas – condições que resultam, quase sempre, em
Vale ressaltar, contudo, que o adotado tem direito de
chances remotas de adoção.”
conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso
(http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/79680-apadrinhamento-
irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus
afetivo-proporciona-convivencia-familiar-para-criancas-do-
eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos (art.
df)
48).
O padrinho ou madrinha detém a guarda da
criança/adolescente?
PROGRAMA DE APADRINHAMENTO
NÃO. O apadrinhamento é diferente de adoção. Assim, o
padrinho ou a madrinha será uma referência afetiva na vida
Em que consiste
da criança, mas não possui a sua guarda. A guarda continua
O ECA prevê que se a criança ou o adolescente estiver em
sendo da instituição de acolhimento ou da família acolhedora.
situação de risco (art. 98), o juiz da infância e juventude
poderá determinar medidas protetivas que estão elencadas no
Somente pessoas físicas podem apadrinhar crianças ou
art. 101.
adolescentes?
Destacam-se duas importantes e frequentes medidas de
NÃO. Pessoas jurídicas também podem apadrinhar criança ou
proteção:
adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvimento
• o acolhimento institucional (art. 101, VII); e
(art. 19-B, § 3º).
• o acolhimento familiar (inciso VIII).
Violação das regras
O apadrinhamento consiste, portanto, em proporcionar
Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os
(estimular) que a criança e o adolescente que estejam em
responsáveis pelo programa e pelos serviços de acolhimento
“abrigos” (acolhimento institucional) ou em acolhimento
deverão imediatamente notificar a autoridade judiciária
familiar possam formar vínculos afetivos com pessoas de fora
competente.
da instituição ou da família acolhedora onde vivem e que se
dispõem a ser “padrinhos”. Veja a redação do art. 19-B, caput
e § 1º, inseridos pela Lei nº 13.509/2017 ao ECA:
ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de
acolhimento institucional ou familiar poderão participar de Em que consiste o estágio de convivência?
programa de apadrinhamento. Antes que a adoção efetivamente seja concretizada, o ECA
§ 1º O apadrinhamento consiste em estabelecer e exige que ocorra um “estágio de convivência” entre adotante e
proporcionar à criança e ao adolescente vínculos externos à adotando.
instituição para fins de convivência familiar e comunitária e Estágio de convivência é um período de teste no qual a criança
colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, ou adolescente que será adotado ficará morando alguns dias
moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro. com o(s) requerente(s) da adoção a fim de que se avalie se
(...) existe ou não compatibilidade entre adotante e adotando, bem
como se o interessado está efetivamente preparado, na
As crianças ou adolescentes têm encontros com seus prática, para adotar.
“padrinhos”, fazem passeios, frequentam a casa, participam de Como explica Nucci:
aniversários, datas especiais, como Dia das Crianças, Natal, “(...) é o período no qual adotante e adotando convivem como
Ano Novo etc. se família fossem, sob o mesmo teto, em intimidade de pai e
A intenção do programa de apadrinhamento é fazer com que a filhos, já devendo o adotante sustentar, zelar, proteger e
criança ou adolescente receba afeto e possa conhecer como educar o adotando. É um período de teste para se aquilatar o
funciona uma saudável vida em família, com carinho e amor. grau de afinidade entre ambos os lados e, se, realmente,
fortalecem-se os laços de afetividade, que são fundamentais
para a família.” (NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da Onde é realizado o estágio de convivência?
Criança e do Adolescente comentado. Rio de Janeiro: Forense, O estágio de convivência deve ser cumprido no território
2014, p. 170). nacional, preferencialmente na comarca de residência da
criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade
O estágio de convivência será acompanhado pela equipe limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da juízo da comarca de residência da criança (§ 5º do art. 46,
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos acrescentado pela Lei nº 13.509/2017).
responsáveis pela execução da política de garantia do direito à
convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso
acerca da conveniência do deferimento da medida (art. 46, § AÇÃO DE PERDA OU SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR
4º do ECA).
Início
Qual é o prazo do estágio de convivência? O procedimento para a perda ou a suspensão do poder
familiar inicia-se por provocação do Ministério Público ou de
Antes da Lei 13.509/2017 ATUALMENTE quem tenha legítimo interesse (art. 155 do ECA).
O art. 46 do ECA previa que o O art. 46 foi alterado para
prazo do estágio de dizer que a autoridade Liminar de suspensão do poder familiar
convivência seria fixado pela judiciária continua tendo Havendo motivo grave, a autoridade judiciária pode, ouvido o
autoridade judiciária, liberdade para fixar a Ministério Público, decretar a suspensão do poder familiar,
observadas as peculiaridades duração do estágio de liminar ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da
do caso concreto. convivência, mas o prazo causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa
máximo tem que ser de 90 idônea, mediante termo de responsabilidade (art. 157).
dias, observadas a idade da
criança ou adolescente e as Determinação de realização de estudo social ou perícia
peculiaridades do caso. A Lei nº 13.509/2017 determinou que, recebida a petição
inicial, a autoridade judiciária deverá determinar,
Desse modo, antes não havia prazo máximo para o estágio de concomitantemente ao despacho de citação e
convivência e agora este é de 90 dias. O objetivo foi o de independentemente de requerimento do interessado, a
encurtar o tempo de duração do processo de adoção realização de estudo social ou perícia por equipe
considerando que, na prática, algumas vezes se observava interprofissional ou multidisciplinar para comprovar a
estágios de convivência de até 1 ano. presença de uma das causas de suspensão ou destituição do
poder familiar, caso ainda não tenha sido realizado (novo § 1º
A Lei nº 13.509/2017 acrescenta dispositivo prevendo que o do art. 157 do ECA).
prazo do estágio de convivência poderá ser prorrogado a
critério do magistrado: Pais indígenas e presença da FUNAI
Art. 46 (...) Se os pais da criança/adolescente forem oriundos de
§ 2º-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste artigo comunidades indígenas, deverá haver a intervenção, junto à
pode ser prorrogado por até igual período, mediante decisão equipe interprofissional ou multidisciplinar, de representante
fundamentada da autoridade judiciária. da FUNAI (novo § 2º do art. 157 do ECA).

Estágio de convivência em caso de adoção por pessoas que Possibilidade de citação por hora certa
moram fora do Brasil A Lei nº 13.509/2017 acrescentou um parágrafo ao art. 158
Se uma pessoa que mora fora do Brasil quiser adotar uma prevendo a possibilidade de citação por hora certa na ação de
criança ou adolescente brasileiro também deverá se submeter perda ou suspensão do poder familiar:
ao estágio de convivência, que será realizado em nosso país. Art. 158 (...)
O ECA prevê que esse estágio deverá ser de, no mínimo, 30 § 3º Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver
dias. A Lei nº 13.509/2017 alterou o ECA para estabelecer que procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o
o prazo máximo será de 45 dias. Veja: encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, informar
Antes da Lei 13.509/2017 ATUALMENTE qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho
do dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação, na hora
Art. 46 (...) Art. 46 (...)
que designar, nos termos do art. 252 e seguintes da Lei nº
§ 3º Em caso de adoção por § 3º Em caso de adoção por
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
pessoa ou casal residente ou pessoa ou casal residente ou
domiciliado fora do País, o domiciliado fora do País, o
Possibilidade de citação por edital
estágio de convivência, estágio de convivência será
A Lei nº 13.509/2017 também acrescentou um parágrafo
cumprido no território de, no mínimo, 30 (trinta)
prevendo a possibilidade de citação por edital:
nacional, será de, no mínimo, dias e, no máximo, 45
Art. 158 (...)
30 (trinta) dias. (quarenta e cinco) dias,
§ 4º Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local
prorrogável por até igual
incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo de 10
período, uma única vez,
(dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios
mediante decisão
para a localização.
fundamentada da autoridade
judiciária.
Vale ressaltar que, mesmo não havendo previsão expressa no
ECA antes da Lei nº 13.509/2017, a doutrina e a
Ao final do prazo previsto para o estágio de convivência da
jurisprudência já admitiam a possibilidade de citação por
adoção internacional (art. 46, § 3º), deverá ser apresentado
hora certa e por edital nas ações de suspensão e perda do
laudo fundamentado pela equipe interprofissional, que
poder familiar.
recomendará ou não o deferimento da adoção ao juiz.
Se o pedido não for contestado
Se o pai/mãe da criança/adolescente não contestar o pedido, Prazo máximo de conclusão
e já tiver sido concluído o estudo social ou a perícia realizada O prazo máximo para conclusão do procedimento é de 120
por equipe interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade dias.
judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público para que No caso de notória inviabilidade de manutenção do poder
ele, como custos legis, ofereça parecer, no prazo de 5 dias, familiar, caberá ao juiz dirigir esforços para preparar a
salvo se o autor da ação foi o próprio MP. criança ou o adolescente com vistas à colocação em família
Em outras palavras, o Promotor de Justiça só oferece parecer substituta (nova redação do art. 163).
se o MP não foi o autor da ação.
Após a manifestação do MP, o juiz decidirá a ação, também no
prazo de 5 dias. PROCEDIMENTO DE COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA
POR JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA (SEM CONTRADITÓRIO)
Oitiva de testemunhas
A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das Hipóteses
partes ou do Ministério Público, determinará a oitiva de Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou
testemunhas que comprovem a presença de uma das causas suspensos do poder familiar, ou houverem concordado
de suspensão ou destituição do poder familiar (novo § 1º do expressamente, o pedido de colocação da criança ou
art. 161 do ECA). adolescente em família substituta poderá ser formulado
As causas de suspensão ou destituição do poder familiar estão diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios
previstas nos arts. 1.637 e 1.638 do Código Civil: requerentes, dispensada a assistência de advogado (art. 166
Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, do ECA).
faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens
dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Audiência judicial
Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada Na hipótese de concordância dos pais, o juiz:
pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes,
poder familiar, quando convenha. devidamente assistidas por advogado ou por defensor
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder público, para verificar sua concordância com a adoção, no
familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença prazo máximo de 10 (dez) dias, contado da data do protocolo
irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos da petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por
de prisão. termo as declarações; e
II - declarará a extinção do poder familiar.
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a
mãe que: Livre manifestação de vontade dos detentores do poder
I - castigar imoderadamente o filho; familiar
II - deixar o filho em abandono; São garantidos a livre manifestação de vontade dos
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo informações (nova redação do § 3º do art. 166).
antecedente.
V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de Consentimento dos pais em perderem o poder familiar
adoção. O consentimento prestado pelos pais por escrito não terá
validade se não for ratificado na audiência judicial.
Atenção para o inciso V do art. 1.638 do CC, pois se trata de O consentimento é retratável até a data da realização da
novidade inserida pela Lei nº 13.509/2017. audiência judicial, e os pais podem exercer o arrependimento
no prazo de 10 dias, contado da data de prolação da sentença
Depoimento pessoal dos pais de extinção do poder familiar.
É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles forem
identificados e estiverem em local conhecido, ressalvados os Orientação da equipe técnica
casos de não comparecimento perante a Justiça quando A família natural e a família substituta receberão a devida
devidamente citados (§ 4º do art. 161). orientação por intermédio de equipe técnica interprofissional
a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
Audiência preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público, serão execução da política municipal de garantia do direito à
ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmente o parecer convivência familiar.
técnico, salvo quando apresentado por escrito.
Em seguida, o requerente se manifesta, depois o requerido e,
por fim, o Ministério Público oferece parecer oral. HABILITAÇÃO À ADOÇÃO
O tempo para cada um falar é de 20 minutos, prorrogável por
mais 10 minutos. Cadastro de adoção (art. 50)
O juizado da infância e adolescência de cada comarca deverá
Sentença manter um banco de dados contendo as crianças e
A decisão será proferida na audiência, podendo a autoridade adolescentes que estão em condições de serem adotadas e as
judiciária, excepcionalmente, designar data para sua leitura pessoas que estão interessadas em adotar. Isso está previsto
no prazo máximo de 5 dias. no art. 50 do ECA:
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou
Curador especial foro regional, um registro de crianças e adolescentes em
Quando o procedimento de destituição de poder familiar for condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas
iniciado pelo Ministério Público, não haverá necessidade de na adoção.
nomeação de curador especial em favor da criança ou
adolescente (novo § 4º do art. 162). Da Habilitação de pretendentes à adoção (arts. 197-A a
197-E)
As pessoas interessadas em adotar deverão apresentar Quando o adotante candidatar-se a uma nova adoção, será
petição inicial ao juiz na qual constarão os seguintes dados: dispensável a renovação da habilitação, bastando a avaliação
I — qualificação completa; por equipe interprofissional (novo § 3º do art. 197-E).
II — dados familiares;
III — cópias autenticadas de certidão de nascimento ou Se o postulante habilitado recusar, por três vezes, adotar
casamento, ou declaração relativa ao período de união as crianças/adolescentes disponíveis
estável; Após 3 recusas injustificadas, pelo habilitado, à adoção de
IV — cópias da cédula de identidade e do CPF; crianças ou adolescentes indicados dentro do perfil escolhido,
V — comprovante de renda e domicílio; haverá reavaliação da habilitação concedida (novo § 4º do art.
VI — atestados de sanidade física e mental; 197-E).
VII — certidão de antecedentes criminais;
VIII — certidão negativa de distribuição cível. Se o postulante habilitado desistir da guarda que ele já
havia recebido ou devolver a criança/adolescente após a
Vale ressaltar que, quando o interessado se inscreve, ele adoção
informa o perfil da criança ou do adolescente que deseja A desistência do pretendente em relação à guarda para fins de
adotar (idade, cor da pele, sexo, condições de saúde etc.). adoção ou a devolução da criança ou do adolescente depois do
Depois disso, o postulante se submeterá a um procedimento trânsito em julgado da sentença de adoção importará na sua
de habilitação no qual são exigidas diversas formalidades do exclusão dos cadastros de adoção e na vedação de renovação
interessado, inclusive a sua participação em um programa da habilitação, salvo decisão judicial fundamentada, sem
oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude, com cursos, prejuízo das demais sanções previstas na legislação vigente
palestras e entrevistas. (novo § 5º do art. 197-E).
Ao final de todo o procedimento, haverá um parecer do
Ministério Público e a decisão do juiz deferindo ou não a Prazo máximo para conclusão do processo de habilitação
habilitação do interessado. O prazo máximo para conclusão da habilitação à adoção será
de 120 dias, prorrogável por igual período, mediante decisão
Postulantes devem participar de programa destinado à fundamentada da autoridade judiciária (novo art. 197-F).
preparação para adotar
É obrigatória a participação dos postulantes em programa
oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude, PRAZO NOS PROCEDIMENTOS DO ECA
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela Como se sabe, o CPC/2015 trouxe, como uma das suas
execução da política municipal de garantia do direito à inovações, a contagem dos prazos em dias úteis (art. 219).
convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção Além disso, o Código previu expressamente prazo em dobro
devidamente habilitados perante a Justiça da Infância e da para a Fazenda Pública (art. 183) e para o MP (art. 180).
Juventude, que inclua preparação psicológica, orientação e
estímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de adolescentes IMPORTANTE. Essas regras de contagem do prazo do
com deficiência, com doenças crônicas ou com necessidades CPC/2015 aplicam-se aos procedimentos do ECA?
específicas de saúde, e de grupos de irmãos (art. 197-C, § 1º). NÃO. A Lei nº 13.509/2017 acrescentou um dispositivo ao
Sempre que possível e recomendável, esta etapa obrigatória ECA prevendo expressamente que os prazos são contados em
da preparação incluirá o contato com crianças e adolescentes dias corridos e que não há prazo em dobro para a Fazenda
em regime de acolhimento familiar ou institucional, a ser Pública e o MP. Confira:
realizado sob orientação, supervisão e avaliação da equipe Art. 152 (...)
técnica da Justiça da Infância e da Juventude e dos grupos de § 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus
apoio à adoção, com apoio dos técnicos responsáveis pelo procedimentos são contados em dias corridos, excluído o dia
programa de acolhimento familiar e institucional e pela do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em
execução da política municipal de garantia do direito à dobro para a Fazenda Pública e o Ministério Público.
convivência familiar (art. 197-C, § 2º).
O § 2º do art. 152 do ECA não falou em Defensoria Pública...
Crianças e adolescentes também devem ser preparadas A Defensoria Pública goza de prazo em dobro nos
para adoção procedimentos do ECA, por força da previsão do art. 128, I,
É recomendável que as crianças e os adolescentes acolhidos da LC 80/94?
institucionalmente ou por família acolhedora sejam A questão é altamente polêmica, mas penso que não.
preparados por equipe interprofissional antes da inclusão em Mesmo se sabendo das deficiências estruturais do órgão, não
família adotiva (art. 197-C, § 3º) há motivo razoável para se admitir prazo em dobro para a
Defensoria Pública e se negar a mesma prerrogativa ao MP e à
Deferimento da habilitação (art. 197-E) Fazenda Pública. O tratamento legal e jurisprudencial para
Sendo deferida a habilitação, o postulante será inscrito no Defensoria e MP tem preconizado justamente a paridade de
cadastro de interessados na adoção (art. 50), sendo a sua armas, ou seja, a isonomia entre as Instituições, não havendo
convocação para a adoção feita de acordo com ordem sentido em se excepcionar a situação no caso do ECA.
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de Parece-me claro que o objetivo do legislador foi o de imprimir
crianças ou adolescentes adotáveis. celeridade aos procedimentos do ECA, sendo isso
A ordem cronológica das habilitações somente poderá deixar incompatível com prazo em dobro para qualquer Instituição,
de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses por mais relevante que seja seu trabalho.
previstas no § 13 do art. 50 do ECA, quando comprovado ser Vale ressaltar que a jurisprudência entende que, mesmo sem
essa a melhor solução no interesse do adotando. previsão expressa, é possível afastar o prazo em dobro para a
Defensoria Pública em alguns procedimentos norteados pela
Renovação da habilitação celeridade. É o caso, por exemplo, dos Juizados Especiais,
A habilitação à adoção deverá ser renovada no mínimo onde prevalece o entendimento de que não se aplica o prazo
trienalmente mediante avaliação por equipe interprofissional em dobro para a Defensoria Pública mesmo sem que haja
(novo § 2º do art. 197-E).
dispositivo vedando textualmente. Esse mesmo raciocínio indispensáveis ao indispensáveis ao
poderá ser aplicado para os procedimentos do ECA. ajuizamento da demanda. ajuizamento da demanda.
Importante esclarecer, contudo, que, em provas objetivas ou
em concursos para Defensor Público, deve-se adotar a IMPORTANTE. Prioridade para adoção de crianças em
literalidade do art. 152, § 2º sustentando-se a ideia de que não determinadas situações
há vedação legal para o prazo em dobro em favor da A Lei nº 13.509/2017 acrescentou o § 15 ao art. 50 do ECA
Instituição. prevendo prioridade para adoção de crianças ou adolescentes
em determinadas situações.
Assim, será assegurada prioridade no cadastro a pessoas
OUTRAS ALTERAÇÕES NO ECA interessadas em adotar criança ou adolescente:
• com deficiência
Princípio da prevalência dos interesses do adotando • com doença crônica
A Lei nº 13.509/2017 acrescentou mais um parágrafo ao art. • com necessidades específicas de saúde
39 do ECA reforçando o princípio da prevalência dos
interesses do adotando, inclusive em relação à posição dos Além disso, também será assegurada prioridade no cadastro
seus pais biológicos: de pessoas interessadas em adotar grupo de irmãos.
Art. 39. (...)
§ 3º Em caso de conflito entre direitos e interesses do Prazo máximo para duração da ação de adoção
adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, A Lei nº 13.509/2017 acrescentou mais um parágrafo ao art.
devem prevalecer os direitos e os interesses do adotando. 47 do ECA prevendo prazo máximo de duração da ação de
adoção:
Prazo para o MP ajuizar ação de destituição do poder Art. 47 (...)
familiar § 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção será
Se a criança ou adolescente estiver em situação de risco, de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez por
deverão ser adotadas algumas das medidas de proteção igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade
previstas no art. 101 do ECA. judiciária.
Caso esta situação de risco esteja sendo causada pela ação ou
omissão dos pais, em geral, o juiz determina que a criança ou Possibilidade de nomeação de peritos caso não haja
adolescente seja acolhida em entidade de acolhimento servidores do próprio Poder Judiciário para elaborar os
institucional ou inserida em programa de acolhimento estudos
familiar. O Poder Judiciário deverá manter, na estrutura dos Juizados
Imediatamente após o acolhimento da criança ou do da Infância e da Juventude, uma equipe interprofissional (exs:
adolescente, a entidade responsável pelo programa de psicólogos, assistentes sociais etc) com competência para:
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano • fornecer subsídios ao juízo, por escrito (mediante laudos) ou
individual de atendimento, visando à reintegração familiar, verbalmente (na audiência); e
ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em • desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação,
contrário de autoridade judiciária competente, caso em que encaminhamento e prevenção em assuntos relacionados com
também deverá contemplar sua colocação em família a proteção das crianças e adolescentes.
substituta (art. 101, § 4º).
O plano individual será elaborado sob a responsabilidade da Infelizmente, contudo, a realidade mostra que essa equipe não
equipe técnica do respectivo programa de atendimento e existe na maioria das cidades do país. Pensando nisso, a Lei nº
levará em consideração a opinião da criança ou do 13.509/2017 previu que, na ausência desses profissionais, o
adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável (§ 5º). magistrado poderá designar um perito (de fora do Poder
Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da Judiciário) para elaborar os estudos necessários à tramitação
criança ou do adolescente à família de origem, os técnicos irão dos processos. Veja o parágrafo inserido no art. 151 do ECA:
encaminhar relatório fundamentado ao Ministério Público Art. 151 (...)
recomentando a destituição do poder familiar ou destituição Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servidores
de tutela ou guarda (§ 9º). públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis pela
Recebido o relatório, o Ministério Público terá 15 dias para realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer outras
analisar o caso, podendo adotar uma das seguintes opções: espécies de avaliações técnicas exigidas por esta Lei ou por
a) ajuizar ação de destituição do poder familiar; ou determinação judicial, a autoridade judiciária poderá
b) requisitar a realização de estudos complementares ou proceder à nomeação de perito, nos termos do art. 156 da Lei
outras providências que entender indispensáveis ao nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
ajuizamento da demanda.

A Lei nº 13.509/2017 reduziu este prazo do MP de 30 para 15 ALTERAÇÕES NA CLT


dias. Veja:
Antes da Lei 13.509/2017 ATUALMENTE A Lei nº 13.509/2017 também promoveu três alterações na
CLT, todas com o objetivo de estimular a adoção. Veja:
Art. 101 (...) Art. 101 (...)
§ 10. Recebido o relatório, o § 10. Recebido o relatório, o
Estabilidade provisória para empregado adotante
Ministério Público terá o Ministério Público terá o
O art. 391-A da CLT prevê que a confirmação do estado de
prazo de 30 (trinta) dias para prazo de 15 (quinze)
gravidez advindo no curso do contrato de trabalho, ainda que
o ingresso com a ação de diaspara o ingresso com a
durante o prazo do aviso prévio trabalhado ou indenizado,
destituição do poder familiar, ação de destituição do poder
garante à empregada gestante estabilidade provisória
salvo se entender necessária familiar, salvo se entender
prevista na alínea “b” do inciso II do art. 10 do ADCT da CF/88
a realização de estudos necessária a realização de
(desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o
complementares ou outras estudos complementares ou
parto).
providências que entender de outras providências
A Lei nº 13.509/2017 acrescenta um parágrafo ao art. 391-A entre si materiais de pedofilia, além de atraírem crianças e
da CLT afirmando que o empregado adotante também terá adolescentes para que estas sejam posteriormente vítimas de
direito à estabilidade provisória: estupro de vulnerável, corrupção de menores, favorecimento
Art. 391-A. (...) da prostituição, entre outros.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se ao A investigação desses crimes é muito complexa porque os
empregado adotante ao qual tenha sido concedida guarda criminosos interagem em redes sociais fechadas, com
provisória para fins de adoção. pseudônimos e códigos, sendo extremamente difícil que a
Polícia consiga descobrir onde estão ocorrendo essas
Licença-maternidade para mulher que adotar criança ou comunicações e troca de material de pedofilia.
adolescente A única forma de descobrir a real identidade dos criminosos e
O art. 392-A da CLT previa que a mulher que obtivesse guarda coletar provas da materialidade é conseguir fazer com que os
de criança para fins de adoção teria direito à licença- policiais consigam ingressar e participar por um tempo dessa
maternidade de 120 dias. Ocorre que esse dispositivo não rede de pedófilos.
falava nada sobre quem obtivesse a guarda de adolescente (de Essa prática é, inclusive, utilizada em outros países do mundo,
12 a 18 anos incompletos). como os EUA, nos quais agentes do FBI se fazem passar por
Diante disso, a Lei nº 13.509/2017 alterou o art. 392-A da CLT pedófilos e conseguem ter acesso aos grupos fechados que
para corrigir esta falha: trocam esse tipo de material.
Pensando nisso, foi editada a Lei nº 13.441/2017, que
Antes da Lei 13.509/2017 ATUALMENTE autoriza expressamente a infiltração de agentes de polícia na
Art. 392-A. À empregada que Art. 392-A. À empregada que internet com o fim de investigar crimes contra a dignidade
adotar ou obtiver guarda adotar ou obtiver guarda sexual de criança e de adolescente.
judicial para fins de adoção judicial para fins de adoção de O tema foi tratado nos arts. 190-A a 190-E do ECA que foram
de criança será concedida criança ou adolescente será acrescentados pela nova Lei.
licença-maternidade nos concedida licença-
termos do art. 392. maternidade nos termos do O que é a infiltração de agentes?
art. 392 desta Lei. A infiltração de agentes é uma técnica especial de investigação
por meio da qual um policial, escondendo sua real identidade,
Descanso para amamentação finge ser também um criminoso a fim de ingressar na
O art. 396 da CLT prevê que a empregada mulher terá direito, organização criminosa e, com isso, poder coletar elementos
durante a jornada de trabalho, a 2 descansos especiais de informativos a respeito dos delitos que são praticados pelo
meia hora cada um, para amamentar seu filho. grupo, identificando os seus integrantes, sua forma de
A Lei nº 13.509/2017 altera esse dispositivo a fim de prever atuação, os locais onde moram e atuam, o produto dos delitos
esse direito também para a empregada que adotar um filho. e qualquer outra prova que sirva para o desmantelamento da
Veja: organização e para ser utilizado no processo penal.
Antes da Lei 13.509/2017 ATUALMENTE
Por que a infiltração policial precisa de regulamentação?
Art. 396. Para amamentar o Art. 396. Para amamentar seu
O policial infiltrado terá que esconder sua real identidade,
próprio filho, até que este filho,inclusive se advindo de
forjar documentos de identificação falsos, acompanhar
complete 6 (seis) meses de adoção, até que este complete
criminosos e, eventualmente, poderá até mesmo ser obrigado
idade, a mulher terá direito, 6 (seis) meses de idade, a
a praticar condutas típicas.
durante a jornada de mulher terá direito, durante a
Desse modo, são atividades que precisam de um
trabalho, a 2 (dois) jornada de trabalho, a 2 (dois)
acompanhamento e fiscalização por parte do Ministério
descansos especiais, de meia descansos especiais de meia
Público e do Poder Judiciário a fim de que, em uma
hora cada um. hora cada um.
ponderação de interesses, seja analisada a proporcionalidade
de sua adoção no caso concreto, evitando-se abusos e o
desvirtuamento da medida.
Comentários à infiltração de agentes de polícia na internet
para investigar crimes contra a dignidade sexual de criança e
Infiltração policial na Lei do Crime Organizado
de adolescente
A infiltração policial não é uma novidade em nosso país.
Essa técnica de investigação já havia sido prevista no art. 53, I,
da Lei nº 11.343/2006 e no art. 10 da Lei do Crime
Olá amigos do Dizer o Direito,
Organizado (Lei 12.850/2013).
A Lei 12.850/2013 traz regras sobre investigação criminal,
Foi publicada ontem (09/05/2017) mais uma importante
prova e procedimento aplicáveis às:
novidade legislativa.
• Infrações penais praticadas por organização criminosa (art.
1º, § 1º);
Trata-se da Lei nº 13.441/2017, que altera o ECA para prever
• Infrações penais previstas em tratado ou convenção
a infiltração de agentes de polícia na internet com o fim de
internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado
investigar crimes contra a dignidade sexual de criança e de
tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
adolescente.
reciprocamente;
• Organizações terroristas internacionais, reconhecidas
Vamos fazer breves comentários a respeito dessa Lei.
segundo as normas de direito internacional, por foro do qual o
Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo, bem
Investigação de crimes relacionados com pedofilia na
como os atos preparatórios ou de execução de atos
internet
terroristas, ocorram ou possam ocorrer em território
Infelizmente, apesar de toda a repressão policial e da
nacional.
sociedade, ainda são comuns os crimes sexuais tendo como
vítimas crianças e adolescentes. Tais delitos são, em geral,
praticados por meio da internet, onde os criminosos trocam
Agora nós temos uma terceira previsão de infiltração policial o certo é que a regulamentação foi restrita, limitando-se a
no Brasil disciplinada pelos arts. 190-A a 190-E do ECA, esses crimes.
inseridos pela Lei nº 13.441/2017. Além disso, o agente policial infiltrado, a fim de não ser
descoberto, pratica, em tese, condutas que poderiam ser
INFILTRAÇÃO POLICIAL NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA crimes. Justamente por isso, o art. 190-C do ECA afirma que
"não comete crime o policial que oculta a sua identidade para,
Lei do Crime ECA por meio da internet, colher indícios de autoria e
Lei de Drogas
Organizado (arts. 190-A a 190- materialidade dos crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A,
(art. 53, I)
(arts. 10 a 14) E) 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218,
Principais Principais Principais 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
características: características: características: 1940 (Código Penal)."
• Não prevê prazo • Prazo de 6 meses, • Prazo de 90 dias, Como esse art. 190-C do ECA isenta o policial de crime apenas
máximo. podendo ser sendo permitidas para a investigação dos delitos nele listados, conclui-se que o
• Não disciplina sucessivamente renovações, mas o agente que se infiltrasse para a prática de outros crimes
procedimento a prorrogada. prazo total da estaria sujeito a responder penalmente por ocultar a sua
ser adotado. • Só poderá ser infiltração não identidade.
adotada se a prova poderá exceder
não puder ser 720 dias. Importante mencionar, contudo, que a Lei nº 12.850/2013
produzida por • Só poderá ser (Lei do Crime Organizado) também permite a infiltração de
outros meios adotada se a prova agentes de polícia. A Lei nº 12.850/2013 não trata de forma
disponíveis. não puder ser específica sobre a infiltração na internet, mas ao prever a
produzida por infiltração de forma genérica, abarca tanto o mundo físico e o
outros meios virtual.
disponíveis. Desse modo, além do rol do art. 190-A do ECA, é possível
• A infiltração de também a infiltração de agentes policiais na internet nos
agentes ocorre seguintes casos tratados pela Lei nº 12.850/2013:
apenas na • Infrações penais praticadas por organização criminosa;
internet. • Infrações penais previstas em tratado ou convenção
internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado
Vamos aqui estudar, então, essa nova modalidade de tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
infiltração prevista no ECA. reciprocamente;
• Organizações terroristas internacionais, reconhecidas
Crimes para os quais poderá haver a infiltração de que segundo as normas de direito internacional, por foro do qual o
trata o ECA Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo, bem
Segundo o novo art. 190-A do ECA, a infiltração de agentes de como os atos preparatórios ou de execução de atos
polícia na internet pode ocorrer para investigar os seguintes terroristas, ocorram ou possam ocorrer em território
crimes: nacional.
1) Produzir, filmar, registrar etc. cena de sexo explícito ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente (art. 240 do Serendipidade
ECA); Vale ressaltar que é perfeitamente possível que o agente
2) Vender vídeo que contenha cena de sexo explícito ou policial seja infiltrado para investigar algum dos delitos do art.
pornográfica envolvendo criança ou adolescente (art. 241 do 190-A do ECA e, durante a infiltração, descubra outros crimes,
ECA); como, por exemplo, tráfico de drogas, tráfico de pessoas,
3) Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir etc. fotografia ou favorecimento da prostituição de adultos etc.
vídeo que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica Neste caso, os elementos indiciários ("provas") desses outros
envolvendo criança ou adolescente (art. 241-A do ECA); crimes, coletados pelo agente infiltrado, também serão
4) Adquirir, possuir ou armazenar fotografia ou vídeo que considerados válidos. Isso porque, neste caso, ocorreu o
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo chamado fenômeno da serendipidade, que consiste na
criança ou adolescente (art. 241-B do ECA); descoberta fortuita de delitos que não são objeto da
5) Simular a participação de criança ou adolescente em cena investigação.
de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração de A serendipidade (tradução literal da palavra inglesa
fotografia ou vídeo (art. 241-C do ECA); serendipity), também é conhecida como “descoberta casual”
6) Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer ou “encontro fortuito”.
meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar Esse é o entendimento do STJ nos casos de interceptação
ato libidinoso (art. 241-D do ECA); telefônica, raciocínio que pode ser transportado para a
7) Invadir dispositivo informático alheio (art. 154-A do CP); infiltração policial. Confira precedente recente do Tribunal:
8) Estupro de vulnerável (art. 217-A do CP); (...) 1. Não há violação ao princípio da ampla defesa a
9) Corrupção de menores (art. 218 do CP); ausência das decisões que decretaram a quebra de sigilo
10) Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou telefônico em investigação originária, na qual de modo
adolescente (art. 218-A do CP); fortuito ou serendipidade se constatou a existência de indícios
11) Favorecimento da prostituição de criança, adolescente ou da prática de crime diverso do que se buscava, servindo os
vulnerável (art. 218-B do CP). documentos juntados aos autos como mera notitia criminis,
em razão da total independência e autonomia das
É possível ampliar esse rol de crimes? Em outras palavras, investigações por não haver conexão delitiva.
é permitida a infiltração policial na internet para a 2. O chamado fenômeno da serendipidade ou o encontro
investigação de outros delitos que não os acima listados? fortuito de provas - que se caracteriza pela descoberta de
Penso que não. Apesar de a lei não ter expressamente outros crimes ou sujeitos ativos em investigação com fim
proibido a utilização da infiltração policial para outros delitos, diverso - não acarreta qualquer nulidade ao inquérito que se
sucede no foro competente, desde que remetidos os autos à
instância competente tão logo verificados indícios em face da No caso da interceptação telefônica, penso que seria adequada
autoridade. (...) uma mudança legislativa para fixar um prazo máximo. Talvez
(RHC 60.871/MT, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA 2 anos, o que equivale a 730 dias. No entanto, na hipótese de
TURMA, julgado em 04/10/2016, DJe 17/10/2016) infiltração do policial na internet, penso que essa limitação
não deveria existir por três razões:
Decisão judicial
A infiltração somente será permitida se for previamente A primeira é que as redes criminosas que envolvem pedofilia
autorizada por decisão judicial devidamente circunstanciada e na internet são extremamente fechadas e restritas. O agente
fundamentada, que estabelecerá os limites da infiltração para policial não conseguirá se infiltrar facilmente no meio desses
obtenção de prova. grupos, considerando que tais criminosos se cercam de várias
O magistrado não deverá, portanto, deferir pedidos de cautelas e não admitem a participação de qualquer pessoa,
infiltração feitos de forma genérica e sem elementos salvo após um longo processo de aquisição de confiança, que
relacionados com o caso concreto. pode sim durar anos.
Antes de decidir, o juiz deverá ouvir o Ministério Público, caso Logo, limitar esse prazo a 720 dias significa dizer que, em
este não tenha sido o autor do pedido. alguns casos, a infiltração terá que ser interrompida quando o
agente policial estava muito próximo de ingressar na rede
Caráter subsidiário criminosa ou quando havia acabado de penetrar neste
A infiltração de agentes de polícia na internet não será submundo, mas ainda não tinha conseguido identificar a real
admitida se a prova puder ser obtida por outros meios (art. identidade dos criminosos ou dados de informática que
190-A, § 3º do ECA). permitam uma medida de busca e apreensão, por exemplo.
Desse modo, a infiltração policial deverá ser considerada Dessa forma, este prazo de 720 dias, apesar de parecer longo,
a ultima ratio, ou seja, trata-se de prova subsidiária. mostra-se, para quem trabalha com o tema, um período
insuficiente para o desmantelamento dos grandes grupos
Quem pode requerer? criminosos que, quanto maiores, mais se cercam de anteparos
A infiltração será apreciada pelo juiz a partir de: para não serem descobertos.
a) requerimento do Ministério Público; ou
b) representação do Delegado de Polícia A segunda razão pela qual penso que não deveria haver prazo
está no fato de que a medida de infiltração, ao contrário da
Requistos do requerimento interceptação telefônica, não relativiza, de forma tão intensa,
O requerimento ou a representação pedindo a infiltração direitos fundamentais dos investigados.
deverá demonstrar: No caso da interceptação telefônica existe uma invasão
• a necessidade da medida; profunda na intimidade dos interlocutores, que terão todas as
• o alcance das tarefas dos policiais; suas conversas telefônicas ouvidas pelo Estado.
• os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando Já na hipótese da infiltração policial, a intervenção estatal nos
possível, direitos fundamentais é bem menor, considerando que o
• os dados de conexão ou cadastrais que permitam a investigado é quem irá revelar, para o policial infiltrado,
identificação dessas pessoas; aspectos relacionados com a sua intimidade, não havendo,
contudo, interceptação feita por terceiro que não participa do
Dados de conexão são as informações referentes a hora, data, relacionamento.
início, término, duração, endereço de Protocolo de Internet
(IP) utilizado e terminal de origem da conexão. A terceira razão está no fato de que a infiltração policial
prevista na Lei do Crime Organizado (Lei nº 12.850/2013)
Dados cadastrais, por sua vez, são as informações referentes a não prevê limite para o número de renovações, permitindo
nome e endereço de assinante ou de usuário registrado ou que elas ocorram tantas vezes quantas forem necessárias (art.
autenticado para a conexão a quem endereço de IP, 10, § 3º). Vale ressaltar que a infiltração policial da Lei do
identificação de usuário ou código de acesso tenha sido Crime Organizado é muito mais grave porque envolve a
atribuído no momento da conexão. presença física do agente policial no âmbito da organização
criminosa, enquanto que o art. 190-A do ECA autoriza apenas
Prazo de duração a infiltração pela internet.
A infiltração não poderá exceder o prazo de 90 dias, sendo
permitidas renovações, desde que demonstrada sua efetiva Desse modo, para a interceptação telefônica e para a
necessidade. infiltração de agentes da Lei do Crime Organizado, situações
Apesar de a Lei não ser expressa, penso que o prazo máximo graves, não existe prazo máximo. No entanto, para a
de cada renovação também é de 90 dias. infiltração do art. 190-A do ECA, o legislador fixou o limite de
Pode haver sucessivas renovações ("várias renovações"), mas 720 dias.
o prazo total da infiltração não poderá exceder 720 dias
(pouco menos de 2 anos). Medidas para ocultar a identidade do policial infiltrado
A renovação da infiltração, assim como ocorre com o seu A fim de garantir o sucesso da infiltração e não ser
deferimento inicial, também depende de autorização judicial descoberto, o policial será obrigado a adotar uma identidade
devidamente fundamentada. falsa. Para tanto, a Lei prevê que o juiz poderá determinar aos
órgãos de registro e cadastro público que incluam nos seus
Crítica à fixação de prazo máximo bancos de dados as informações necessárias para efetivar a
O objetivo da Lei nº 13.441/2017, ao fixar o prazo máximo de identidade fictícia criada.
720 dias para a infiltração, foi o de evitar que, assim como Essa inclusão deverá ser feita por meio de procedimento
ocorre com a interceptação telefônica, houvesse medidas que sigiloso numerado e tombado em livro específico. Isso
durassem períodos muito longos, como 3 ou 4 anos. significa, por exemplo, que os cartórios de Registro de Pessoas
Apesar da preocupação do legislador não ser desarrazoada, Naturais deverão manter esse livro específico para fazer tais
não concordo com a escolha feita. registros.
Excludente de responsabilidade penal oportunidade de ter acesso ao relatório da infiltração,
A Lei prevê que não comete crime o policial que oculta a sua podendo impugná-lo.
identidade para, por meio da internet, colher indícios de O que se veda é a publicidade da infiltração durante o período
autoria e materialidade dos crimes para os quais é permitida a em que ela estiver ocorrendo, sob pena de frustrar a medida.
infiltração (art. 190-C do ECA).
Ex: se o agente policial tem que fazer uma carteira de Direitos do agente policial infiltrado
identidade falsa e utilizá-la para não ser descoberto pela A atividade de infiltração policial pode se revelar bastante
organização criminosa, não responderá por uso de documento penosa e arriscada ao agente incumbido dessa diligência. Caso
falso (art. 304 do CP). descoberto, o policial infiltrado pode ser morto. Após a
organização criminosa ser desmantelada, seria também
Vale ressaltar que esse art. 190-C do ECA disse menos do que possível a ocorrência de retaliações contra o agente que
deveria. Além dos delitos relacionados com a ocultação de sua estava infiltrado.
identidade, o agente policial também não irá responder por Ciente dessa situação, a Lei nº 12.850/2013, ao tratar sobre a
outros crimes que ele seja obrigado a cometer para ingressar infiltração de agentes nos casos de organização criminosa,
ou se manter na organização criminosa e coletar informações previu alguns direitos do agente infiltrado. Confira o texto
sobre o grupo. legal:
Ex: se o agente for obrigado a retransmitir para outro Art. 14. São direitos do agente:
integrante da organização imagens pornográficas de crianças I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada;
que ele recebeu, não responderá pelo crime do art. 241-A do II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o
ECA por inexigibilidade de conduta diversa (causa excludente disposto no art. 9º da Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999,
de culpabilidade), podendo ser invocada a regra do art. 13, bem como usufruir das medidas de proteção a testemunhas;
parágrafo único, da Lei nº 12.850/2013: III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e
Art. 13 (...) Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da demais informações pessoais preservadas durante a
infiltração, a prática de crime pelo agente infiltrado no curso investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão
da investigação, quando inexigível conduta diversa. judicial em contrário;
IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou
Excessos são punidos filmado pelos meios de comunicação, sem sua prévia
O agente policial infiltrado que deixar de observar a estrita autorização por escrito.
finalidade da investigação responderá pelos excessos
praticados (art. 190-C, parágrafo único do ECA). Penso que seja possível estender esses direitos também ao
Ex: o agente foi infiltrado para investigar crimes de agente infiltrado de que trata o art. 190-A do ECA por duas
pornografia infantil na internet. Não há sentido que ele mate razões:
alguém, por exemplo, para demonstrar lealdade ao líder da a) trata-se de analogia com a finalidade de proteger a
organização criminosa. Neste caso ele responderia por integridade física de um agente estatal;
homicídio doloso e não poderia invocar a excludente tendo b) a maioria dos grupos criminosos que praticam delitos
em vista a desproporcionalidade existente entre a sua contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes na
conduta e a finalidade da investigação. Nesse sentido: NUCCI, internet caracterizam-se como organizações criminosas (art.
Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais. Vol. 2, 8ª 1º, § 1º da Lei nº 12.850/2013), aplicando-se, por
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. consequência, o art. 14 dessa Lei.

Relatório circunstanciado Quem poderá atuar como agente infiltrado?


Concluída a investigação, todos os atos eletrônicos praticados A infiltração é feita por "agentes de polícia" (art. 190-A do
durante a operação deverão ser registrados, gravados, ECA).
armazenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público, O art. 144 da CF/88 menciona a existência dos seguintes
juntamente com relatório circunstanciado. órgãos:
Esses atos eletrônicos deverão ser reunidos em autos I - polícia federal;
apartados e apensados ao processo criminal juntamente com II - polícia rodoviária federal;
o inquérito policial. III - polícia ferroviária federal;
Deverá ser preservada a identidade do agente policial IV - polícias civis;
infiltrado e a intimidade das crianças e dos adolescentes V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
envolvidos.
Desse rol, a Polícia Federal e a Polícia Civil são os dois órgãos
Relatórios parciais que possuem a função precípua de apurar infrações penais
Além disso, a autoridade judicial e o Ministério Público (investigar crimes), nos termos do art. 144, § 1º, I e § 4º da
poderão requisitar relatórios parciais da operação de CF/88. Os demais têm funções mais relacionadas com
infiltração antes do término do prazo da medida. policiamento ostensivo.
Assim, conclui-se que quem poderá atuar como agente
Sigilo das informações da operação infiltrado, no caso do art. 190-A do ECA, são os agentes de
As informações da operação de infiltração serão Polícia Federal e de Polícia Civil.
encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela
autorização da medida, que zelará por seu sigilo. Obs1: mesmo que os fatos estejam sendo apurados pelo
Antes da conclusão da operação, o acesso aos autos será Ministério Público por meio de procedimento de investigação
reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao Delegado de criminal (PIC), não será possível designar servidores do órgão
Polícia responsável pela operação, com o objetivo de garantir para atuarem como agentes infiltrados, considerando que não
o sigilo das investigações. se tratam de agentes policiais.

Contraditório diferido Obs2: agentes do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) e


Diz-se que o contraditório é diferido (postergado) porque, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não podem atuar
somente após o encerramento da diligência, a defesa terá
como agentes infiltrados, considerando que são classificados
como agentes de inteligência (e não agentes de polícia).

Obs3: é proibida a infiltração de particulares. "No entanto,


caso um dos integrantes da organização criminosa resolva
colaborar com as investigações para fins de ser beneficiado
com a celebração de possível acordo de colaboração
premiada, há quem entenda ser possível que o colaborador
atue de modo infiltrado. Nesse caso, por mais que esse
colaborador não seja servidor policial, desde que haja
autorização judicial para a conjugação dessas duas técnicas
especiais de investigação - colaboração premiada e agente
infiltrado -, é possível que o colaborador mantenha-se
infiltrado na organização criminosa com o objetivo de coletar
informações capazes de identificar os demais integrantes do
grupo." (LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal
especial comentada. 3ª ed., Salvador: Juspodivm, 2015, p. 574).

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